Thomas Watson
A CEIA DO SENHOR
Thomas Wats Watson
OS PURITANOS
A CEIA DO SENHOR
Thomas Wats Watson
OS PURITANOS
EPÍST ÍSTOLA OLA AO LEIT LEITOR OR Leitor cristão, uando contemplo a santidade e solenidade do bendi■ ■ to sacra sacrame mento nto,, outra coisa coisa não não me ocorre senã senão o certa punção em meu espírito, e vejo em mim a obrigação de maf maffler este este mistér mistériio na mais mais elevada elevadavenera neração ção. Os elemento elementoss do pão e vinho nho são são em si mesm mesmo os comuns, comuns, mas mas sob sob estas estas repre repre sentações simbólicas jazem ocultas excelências divinas. Eis aqui a mel melhor hor das das gulo gulose seiimas: mas: De D eus no nos conv convida à sua festa. ta. Eis aqui o fruto fruto da Árvore rvore da V ida; eis aqui a “ca “casa sa do banquete” banquete” onde onde a bandeira bandeira da livre livre graça raça é glorio loriosa same mente nte exib exibiida: “L “Levo evouu-me me à casa casa do ba banquete, e seu seu esta estandarte ndarte sobre bre mim mim era o amor” mor” (C (Ct 2. 2.4). 4). No sacra sacrame mento nto vemos vemos Cri Cristo sto partido partido diante diante de nó nós, e seu seu cor po pa partido rtido é o único único conforto conforto para para o coraçã coração o alquebra alquebrado do.. Enquan nquan to nos ass assenta entamos mos em torno desta desta mesa, sa, o precio precioso so condi condimento mento de Cristo Cristo exala sua fragrânci ragrância a de méri mérito to e graça raça.. O sacra sacrame ment nto oé tanto uma ordenança curadora quanto seladora. Aqui nosso Sal va vador conduz seu povo ao Monte da Tr Tra ansfig figuração e lhes dá um vi vislumbre do pa paraíso. Quã Quão be bem-vi -vindo de deve ser este jubileu da da alma, ma, no qual Cri Cristo sto se mani maniffesta no espl esplendor endor de sua beleza e tra traça doura douradas das linhas nhas de amo amorr no centro do coraçã coração o crente. crente. Oh! Que Que chamas chamas de devoçã devoção o deveríam deveríam arder arder em em no nosso sso cora cora ção! ção! Quã Quão o ágei geis e lépido épidoss dever deveriamos iamos ser, ser, subi subindo ndo com com asa asass de querubins, quando somos capacitados a encontrar o Príncipe da
A CEI CEIA A DO SENHO ENHOR R —
Thomas Watso Watson
Supper Tra raduzi duzido do do original original ing inglês lês:: TheL ord’s Suppe
Os Puritan Puritanos os © 2015. Portug guês uês - Junho Junho de 2015 - .000 exem 1.aEdição em Portu exemplar plares. es. 1
parcial al desta publ publicaçã icação o sem sem a É proibida proibida a reprodu reprodução ção tot total al ou parci escrito do edit edito or, exceto exceto cita citaçõe ções em em rese resenhas nhas.. autoriz autorizaçã ação o por por escrito EDITOR: Manoel Canuto TRADUTOR: Valter Graciano Martins REV REVISORES RES: Márcio Márcio Santana Sobrinho, Waldemir Mag Magalhães hães DESIGNER: Heraldo Almeida
ISBN: 978978-85 85--6282 628288-29 29--4 Gravura da capa: pa: “A Scott cottiish Sacrament” crament” (óle óleo sobre tela) do pint pinto or Henry John Dobson Dobson (1858 1858--1928 1928)) que retrata retrata a admi dministra nistraçã ção o da Ceia eia do Senhor enhor em uma uma igreja igreja presbit presbiteria eriana escoce scocesa sa. A pint pintura ura está agora na Galeria deArte Cart Cartwri wright ght Hall Hall,, em Bradf Bradford, ord, Ingl nglaterra.
SUMÁRIO Epístola ao Leitor............................................................................7 Apresentação do Editor da Versão em Inglês
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1.
O Mistério da Ceia do Senhor
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2. A Consagração dos Elementos...........................................17 3. Os Benefícios da Ceia do Senhor.....................................25 4. O Amor de Cristo Exibido no Sacramento
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5. O Corpo Partido de Cristo
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6. O Sangue de Cristo..............................................................41 7. Autoexame................................................................................47 8. Verdadeira e Falsa Fé.............................................................55 9. Objeçóes Contra o Achegar-se ao Sacramento
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10. Gratidão a D eus
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11. Consolação para os Crentes e Advertências Para os Incrédulos...........................................................................81
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Glória, que traz em sua boca o ramo de oliveira de paz e cujos ósculos deixam uma marca celestial impressa na alma. O propó sito deste discurso que se segue é exercitar santos ardores de alma quanto à participação neste sacramento. Não se deve pensar que é suficiente ser exteriormente devoto junto à mesa de Deus, achegando-se a ele com os lábios, quan do o coração está longe dele: “este povo se aproxima de mim, e com sua boca, e com seus lábios me honra, mas seu coração se afasta para longe de mim e seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído; portanto, eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro; porque a sabedo ria de seus lábios perecerá, e o entendimento de seus prudentes se esconderá” (Is 29.13-14). O que é isto senão que Efraim se achega a Deus com mentiras (Os 11.12)? Os que se achegam a Deus com meras exibições, ele lhes despedirá com meros sinais. Os que prestam a Deus apenas uma obediência rasa terão de contentar-se com uma casca de conforto. A espiritualidade é a vida do culto. Se nos achegamos ao sa cramento em devida ordem, veremos aquele a quem nossas al mas amam: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice” (ICo 11.28). O Senhor nos dará aqui um antegozo, e reservará a fruição da glória para o reino celestial. Que isto seja efetuado é a oração deste que é vosso na obra do evangelho, Thomas Watson Londres, 1665.
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APRESENTAÇÃO DO EDITOR DA VERSÃO EM INGLÊS sta rara obra foi originalmente publicada em 1665 com o título The Holy Eucharist, ou The Mystery of the Lords Supper Briefly Explained. Ainda que sucinto, ele é digno de perfilar com outros escritos de Thomas Watson republicados pelaTrust.[1] Para Watson, a Ceia do Senhor era um espelho no qual contemplamos os sofrimentos e morte de Cristo, e era, em certos aspectos, um meio de graça mais excelente do que a pregação da Palavra: “Um sacramento é um sermão visível. E nisto o sacramento sobressai à Palavra pregada. A Palavra é uma trombeta que proclama Cristo; o sacramento é um espelho que o representa... Deus, para ajudar nossa fé, não só nos dá a Palavra audível, mas também um sinal visível.” Ele cria que o sacramento era uma inestimável dádiva do Salvador à igreja, em cujo correto uso a fé do povo de Deus é confirmada e fortalecida e suas almas recebem grande benefício. Ele cria que se devem evitar dois extremos. Um deles é a doutrina da transubstanciação, a qual vai de encontro tanto à Escritura quanto à razão e profana a instituição da Ceia feita por
E
[1] A Body of Divinity, TheTenCommandments, e TheLordsPrayer, que, juntos, . formam o Watsons BodyofPractical Divinity, e, na série de brochuras puritanas, All Ihingsjòr Good, TheDoctrineof Repentance, TheGodlyMarisPicturee TheGreat Gain
ofGodliness.
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Cristo. O outro é o erro dos que consideravam a Ceia apenas como uma sombra vazia sem nenhuma eficácia intrínseca para os crentes: “Por que a Ceia do Senhor é chamada ‘a comunhão do corpo de Cristo’ (lCo 10.16), senão porque na celebração correta dela temos doce comunhão com Cristo? (...) Fazer do sacramento apenas uma representação de Cristo é apequenar o sacramento, o que redunda em pouco conforto.” Esse ponto de vista se fundamenta no ensino de Calvino que considerava o sa cramento um meio de graçapelo qual, através da fé, Cristo opera eficazmente no crente. Alguns protestantes podem estar dispostos a dissentir desta posição, mas ninguém que ama a nosso Senhor Jesus Cristo dei xará de ser tocado e abençoado pelo ardor e devoção ao Salvador que se encontram na exposição de Watson. Os editores desejam agradecer ao Sr. Roger N. McDermott que transcreveu cuidadosamente a obra de Watson de uma có pia da Bodleian Library, Oxford, e ajudou a prepará-la para sua publicação.
O EDITOR Edinburgh Janeiro de2004
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O MISTÉRIO DA CEIA DO SENHOR “Enquanto comiam, tomouJesus umpão, e, abençoando-o, o partiu, e odeu aosdiscípulos, dizendo: Tomai, comei; isto éo meu corpo. A seguir, tomou um cálicee, tendo dadograças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei deletodos;porqueisto éo meu sangue, o sangueda [nova] aliança, derramado emfavor de muitos, para remissãodepecados”(Mt26.26-28). estas palavras, temos a instituição da Ceia do Senhor. Os gregos chamam o sacramento de musteriom um mistério. Há nela um mistério de maravilha e um mis tério de misericórdia. “A celebração da Ceia do Senhor é a co memoração da maior bênção que o mundo já desfrutou”, diz Crisóstomo.121Um sacramento é um sermão visível. E nisto o sacramento sobressai à Palavra pregada. A Palavra é uma trombeta que proclama Cristo; o sacramento é um espelho que o representa.
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Mas, por que o sacramento da Ceia do Senhor foi instituído?Acaso aPalavranão ésuficienteparaconduzir-nos ao céu?2 Pergunta:
[2] João Crisóstomo (347-407), “a boca de ouro”; bispo de Constantinopla e notável pregador.
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R e spo st a: A
Palavra é para a implantação da fé; o sacramento é para a confirmação da fé. A Palavra nos conduz a Cristo; o sacra mento nos edifica nele. A palavra é a fonte em que somos batiza dos com o Espírito Santo; o sacramento é a mesa onde somos ali mentados e nutridos. O Senhor condescende à nossafraqueza. Se fôssemos formados somente de espírito, não haveria necessidade de pão e vinho; todavia, somos criaturas compostas. Por isso Deus, para socorrer nossa fé, não só nos dá uma Palavra audível, mas também um sinal visível. “Et sensus fovetur, et fides firmatur” [O sentido é alimentado e a fé é fortalecida]. Recorro aqui à palavra de nosso Salvador: “Se não virdes sinais e milagres, não crereis” 0o 4.48). “Por sermos alimentados por coisas externas, Deus aumenta em nós a fé por meio desses símbolos” (Gualter).131 Aquilo que entra pelos nossos olhos opera em nós mais do que aquilo que entra pelos ouvidos. Uma grave cena de morte nos afeta mais do que uma oração. Assim, quando vemos Cristo partido no pão, como se fosse crucificado diante de nós, isso afeta mais nosso coração do que a mera pregação da cruz. E assim passo ao texto de Mateus 26.26-28 para dar início a estes cinco particulares em referência ao sacramento: 1. O autor; 2. O tempo; 3. O modo; 4. Os participantes; e 5. Os benefícios. 1. O autor do sacramento é Jesus Cristo. “Jesus tomou o pão.”Instituir sacramentos pertence por direito a Cristo, e é o ornamento de sua coroa. Somente aquele que pode outorgar graça pode instituir os sacramentos, os quais são o selo da graça. Sendo Cristo o fundador do sacramento, ele lhe concede glória e esplendor. Quando um rei faz uma festa, ele lhe adiciona mais pompa e magnificência. “Jesus tomou o pão”, aquele cujo Nome é acima de todo nome (Fp 2.9); Deus bendito para todo o sempre.3 [3] Quia externis ducimur, hiscesymbolisfidem in nobis adauget Deus. Rudolf Gualter (1519-86) foi um reformador suíço e sucessor de Bullinger em Zurique.
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2. O tempo emque Cristo instituiu o sacramento. Quanto ao tempo em que Cristo instituiu o sacramento, pode mos observar duas circunstâncias: i. Isso se deu quando haviam ceado (Lc 22.20: “depois de cear”); ceia que continha mistério, para mostrar que a meta do sacramento é ser principalmente um banquete espiritual, não visa a empanturrar os sentidos, e sim a suprir as graças. Isso se deu “depois de cear”. ii. A outra circunstância de tempo é que Cristo instituiu o sacramento pouco antes de seus sofrimentos. “O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão” (ICo 11.23). Ele tinha plena ciência dos problemas que sobreviriam aos seus discípulos; a perplexidade deles não seria pouca por ver seu Senhor e Mestre crucificado; e logo depois teriam de beber com ele um cálice amargo; por isso, para armá-los contra tal momento e animarlhes o espírito, naquela mesma noite em que foi traído ele lhes dá seu corpo e sangue no sacramento.
Isto pode nos sugerir que em toda aflição mental, especial mente ante a aproximação do perigo, é necessário que recorra mos à Ceia do Senhor. O sacramento é, respectivamente, um antídoto contra o temor, e a restauração da fé. “Na noite em que foi traído, ele tomou o pão” (ICo 11.23). 3. O modo da instituição, no qual há quatro coisasa serem observadas:
i. O ato de tomar o pão; ii. O ato de abençoá-lo; iii. O ato de parti-lo; iv. O ato de administrar o cálice. 13
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. O ato de tomar opão: “Jesus tomou opão. ”
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Pe r g u n t a : O que está implícito na frase “tomou o pão”?
O ato de Cristo tomar o pão do uso comum implicava um duplo mistério. R e spo st a :
a. Significava que Deus, em seu decreto eterno, separou Cristo para a obra de nossa redenção. Ele era o kechorismenos, separado dos pecadores (Hb 7.26). b. O ato de Cristo separar os elementos do pão e do vinho comuns revelava que ele não se destina à nutrição de pessoas comuns. Deve ser divinamente purificado aquele que toca estas santas coisas de Deus. Devem ser exteriormente separados do mundo e interiormente santificados pelo Espírito. Pe r g u n t a :
Por que Cristo tomou o pão, em vez de outro
elemento? R e spo st a : Porque o pão o prefigura. Cristo
foi tipificado (a) pelo pão da proposição\ “Tzmbém fez Salomão todos os objetos que convinham à casa do Se n h o r ; o altar de ouro, e a mesa de ouro, sobre a qual estavam os pães da proposição” (lRs 7.48); (b) pelopão queMelquisedeque ofereceu a Abraão. “E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho” (Gn 14.18); e (c) pelopão queo anjo trouxea Elias. “E olhou, e eis que àsua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas” (lRs 19.6). Portanto, Cristo tomou o pão em correspondência ao tipo. Cristo tomou o pão também por causa da analogia; pão o lembra bem de perto: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6.48). Há uma tríplice semelhança.
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O pão é útil. Outros confortos servem mais ao deleite que à utilidade. A música deleita aos ouvidos; as cores, aos olhos; mas o pão é o arrimo da vida. Portanto, Cristo é proveitoso. Não há subsis tênciasem ele: “quem de mim sealimentapor mim vivera’ (Jo 6.57). a.
b. O pão satisfaz. Se uma pessoa tem fome e você lhe traz flores ou quadros, tais coisas não satisfazem; mas o pão satisfaz plenamente. Assim Jesus Cristo, o pão da alma, satisfaz; ele sa tisfaz os olhos com beleza, o coração com dulçor, a consciência com paz. c. O
pão fortalece. “O pão que fortalece o coração do ho mem” (SI 104.15, ACRF). Assim Cristo, o pão da alma, trans mite vigor. Ele nos fortalece contra as tentações, comunica vigor para realizar e suportar trabalho. Ele é como o pão que o anjo levou ao profeta: “Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus” (lRs 19.8).
ii. A segunda coisa na instituição é Cristo abençoando o pão. Ele o abençoou: “Pela bênção de Cristo, o pão comum ad quiriu uso santo” (Gualter).[4)5Esta foi a consagração dos elemen tos. Cristo, por sua bênção, os santificou e fez deles símbolos de seu corpo e sangue: “Consagrar significa tornar solenes coisas em si mesmas indiferentes aos mistérios religiosos, tal como o sacra mento do corpo esangue de Cristo” (Chamier, DeEucharistia).151 Nossa análise disto continua no próximo capítulo.
[4] BenedictioneChristipaniscommunis insacrummutatusest. [5] Comecratiovocabulumestsolennesignificamidquopersealienasunt a mysteriis religiosis, sintsacramentacorporisetsanguinisChristi. A referência é a uma obra de Daniel Chamier publicada em Genebra em 1626.
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A CONSAGRAÇÃO DOS ELEMENTOS “Jesus tomou opão e, abençoando-o... E, tomando o cálice, dandograças”(Mt26.26-27). a consagração dos elementos celebrada por Cristo po dem ser vistas três coisas:
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a. Cristo, ao abençoar os elementos, abriu aos apóstolos a na tureza do sacramento. Ao fazer isso, ele solucionou este mistério. Cristo revelou-lhes que, tão seguramente como receberam fisica mente os elementos, assim seguramente o receberam espiritual mente no coração. b. O ato de Cristoabençoar oselementossignificava sua oração por uma bênção sobrea ordenança. Ele orou para que estes sím bolos de pão e vinho, através da bênção e operação do Espírito Santo, santificassem os eleitos e lhes selassem todas as mercês e privilégios espirituais. c.
O ato de Cristo abençoar os elementos constituiu sua açã
degraças. “[Dar graças] foi sempre o costume dos judeus, como transparece dos escritores Talmúdicos, antes de tomar o ali
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mento ou o vinho” (Josefo).161Por isso, no grego: Eucharistia — “Ele deu graças.”
Cristo deu graças porque Deus o Pai tinha, nas infinitas ri quezas de sua graça, dado seu Filho para expiar os pecados do mundo. E se Cristo deu graças, quanto mais nós devemos ren der graças! Se ele, que havia de derramar seu sangue, deu graças, quanto mais devemos nós, que havemos de bebê-lo, dar graças!
Cristo deu graças porque Deus deu estes elementos de pão e vinho, não só para que fossem sinais, mas também selos de nossa redenção. Como o selo serve para ratificar uma transferência de terra, assim o sacramento, como um selo espiritual, serve para comunicar Cristo e o céu a quem dignamente o recebe. A terceira coisa na instituição é o ato departir opão. “E o partiu.” Isto prefigurava a morte e a paixão de Cristo, com todos os tormentos de seu corpo e alma: “ao Senhor agradou moêlo” (Is 53.10). Quando condimentos são moídos, então exalam suave aroma. Assim, quando Cristo foi moído na cruz, ele nos exalou a mais doce fragrância. O corpo de Cristo, sendo crucifi cado, foi a quebra de um invólucro de precioso unguento, o qual encheu céu e terra com seu perfume. mi .
Pe r g un t a: Mas, por que o corpo de Cristo foi partido? Qual
foi a causa de seu sofrimento? R e spo st a : Seguramente, não por haver nele alguma falta: “será morto o Ungido e já não estará” (Dn 9.26). No original hebraico: “Ele será cortado, e não haverá nada nele.” Não está nele a razão porque deve sofrer. O sumo sacerdote, quando en trava no tabernáculo, primeiro oferecia “por si mesmo” (Hb 9.7);6 [6] Morissemper iudaeisfuit, ut ex thalmudicisscriptoribusapparet, antecibumaut vinumsumptum. Josefo foi um historiador judeu, 37-100 d.C.
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ainda que portasse sua mitra, a lâmina de ouro e usasse vestes santas, mesmo assim não era puro nem inocente; ele tinha de oferecer sacrifício por si mesmo, tanto quanto pelo povo. Mas Jesus Cristo, o grande Sumo Sacerdote, embora tenha oferecido um sacrifício sangrento, todavia nãofoi por si mesmo. Pe r g un t a: Por que, pois, seu bendito corpo foi partido?
Foi por nossos pecados. “Tu te afligiste, Senhor, não por tuas feridas, e sim pelas minhas” (Ambrósio).171“Mas ele foi ferido por nossas transgressões” (Is 53.5). A palavra he braica para ferido tem uma ênfase dupla; pode significar que ele foi traspassado como que por um dardo: perforatus-, ou que foi profanado: profanatus. Ele foi usado como alguma coisa comum, vil; e isso em nosso favor: “Ele foi ferido por nossas transgressões.” “Um peca e outro é punido” (Lutero).181De modo que, se a ques tão fosse posta diante de nós, como uma vez a Cristo, “Profetiza: quem te feriu?” (Lc 22.64), poderiamos responder imediata mente: Foram nossos pecados que o feriram. Nosso orgulho fez Cristo usar uma coroa de espinhos. Como disse Zípora a Moisés, “Tu és para mim um esposo sanguinário” (Ex 4.25); então Cristo podería dizer à sua igreja: Tu tens sido para mim uma esposa sanguinária; tu me custaste meu próprio sangue. R e spo st a :
Mas como podería Cristo sofrer, sendo Deus? A deidade é insensível. R e spo st a : Cristo sofreu somente em sua natureza humana, não na divina. Damasceno191o explica fazendo uso deste símile: Se alguém derrama água sobre o ferro em brasa, o fogo sofre pela água e é extinto, mas o ferro não sofre. Assim a natureza humana de Cristo podia sofrer a morte, mas a natureza divina7 9 8 Pe r g un t a:
[7] Doles, Domine, non tua vulnera sedmea. Ambrósio (340-97), pai latino mais conhecido por seu caráter impoluto e habilidade de pregação. [8] Aliuspeccat, aliusplectitur. [9] João de Damasco (Damasceno), 676-760(?).
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não é culpável de qualquer paixão. Quando Cristo estava, na natureza humana, sofrendo, ele foi, na natureza divina, triun fante. Como nos extasiamos com o nascer do Sol da Justiça em sua encarnação, assim podemos extasiar-nos com a descida deste Sol em sua paixão. Mas, se Cristo sofreu somente em sua natureza humana, como é possível que seu sofrimento fizesse satisfação pelo pecado? R espo st a : Em razão da união hipostática,[10) estando a natu reza humana unida à divina; a natureza humana sofreu, a divina fez satisfação. A deidade de Cristo deu aos seus sofrimentos, res pectivamente, majestade e eficácia. Cristo foi Sacrifício, Sacer dote e Altar. Ele foi Sacrifício, como homem; Sacerdote, como Deus e homem; Altar, como Deus. A propriedade do altar é san tificar a coisa oferecida nele (Mt 23.14). Pe r g un t a:
Então o altar da natureza divina de Cristo santificou o sacri fício de sua morte e a fez meritória. Ora, concernente ao sofrimento de Cristo na cruz, observe duas coisas: 1. Sua amargurapara ele: “Elefoi moido. ” Os próprios pensamentos de seu sofrimento o deixaram em ago nia. “E, posto em agonia, orava mais intensamente. E seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até o chão” (Lc 22.44). Ele foi tão fulminado pela dor que seu coração não pôde conter-se: “Minha alma está cheia de tristeza até a morte” (Mt 26.38).
[10] Um termo usado para denotar a união entre as naturezas divina e humana em Cristo.
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A CONSAGRAÇÃO DOS ELEMENTOS
A Crucificação de Cristo foi:
i. Uma morte lenta.111] Era melhor que Cristo sofresse uma hora do que termos de sofrer para todo o sempre; mas sua morte foi prolongada; ele pendeu três horas da cruz. Ele morreu mil mortes antes de morrer uma. “A morte envolve menos dor do que nossa espera pela morte” (Ovídio).1 [2) 1 ii. Uma morte dolorosa. Suas mãos e pés foram pregados, estando estas partes entremeadas de nervos e, portanto, em extremo sensíveis, tornando sua dor muitíssimo profunda e cortante; e ter a envenenada flecha da ira de Deus penetrando seu coração foi uma catástrofe pavorosa, que causou vociferação e gritos na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46; Mc 15.34). A justiça de Deus estava agora inflamada e intensificada na mais plena extensão. “Deus não poupou seu próprio Filho” (Rm 8.32). Nadaseriaabatido da dívida. Cristo sentiu as dores do inferno; muito embora não localmente, pelo menos o equivalente. No sacramento vemos esta tragédia em ação diante de nós. Ui. Uma morteignominiosa. Cristo está in mediopositus, colocado no meio; ele pendeu entre dois ladrões (Mt 27.38), como se fosse o principal malfeitor. A lâmpada celestial pode bem ter subtraído sua luz e se escondido nas trevas, como se envergonhado de contemplar o Sol da Justiça em um eclipse. E difícil dizer qual eramaior: o sangue da cruz ou avergonha da cruz (Hb 12.2). iv. Uma mortemaldita (Dt 21.23). Este tipo de morte era tão execrável que Constantino promulgou uma lei que nenhum cristão morresse na cruz. O Senhor Jesus Cristo suportou isto: “Foi
[11] Non citiusjuit, quamprofuit. [12] Morsqueminuspoenae, quammora mortishabet (Ovídio, Ep. Heroides, x.8/ 2).
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feito maldição por nós” (G13.13). Aquele que era “Deus bendito para sempre” (Rm 9.5) se submeteu à maldição. 2. Considere sua doçurapara nós: “Tão logofoifeito, senos tomou benéfico. " A chaga de Cristo é a nossa cura: “por suas pisaduras fomos sara dos” (Is 53.5). Calvino denomina a crucificação de Cristo Cardo salutis, a dobradiça em torno da qual gira nossa salvação. E Lutero a denomina Fons salutis, a fonte do evangelho aberta para re frigerar os pecadores. De fato, o sofrimento de Cristo é consolo no leito de morte; é um antídoto a expulsar nosso medo. O pecado atribula? Cristo já o venceu por nós. Junto aos dois ladrões crucificados com Cristo havia dois outros ladrões invisí veis crucificados com ele: o pecado e o diabo.
iv. O quarto particular na instituição da Ceia do Senhor é a administração do cálicede Cristo\ “ E tomou o cálice.” O ato de tomar o cálice exibiu a redundância1131do mérito de Cristo e a profusão de nossa redenção. Cristo não usou de parcimônia; ele deu não só o pão, mas também o cálice. Podemos dizer com o salmista: “no Senhor há misericórdia e nele há abundante reden ção” (SI 130.7). Se Cristo deu o cálice, como ousam os papistas subtraí-lo?Cortam e mutilam a ordenança. Rasuram a Escritura e deveríam temer aquela condenação: “e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap 22.19). que significa tomar o cálice de Cristo? R e spo st a : O cálice é figurativo; é uma metonímia do sujeito; o cálice é expresso pelo vinho contido nele. Com isto Cristo sig-1 3 Pe r g un t a: O
[13] Isto é, superabundância, transbordamento.
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nificava o derramamento de seu sangue na cruz; quando seu san gue foi derramado, então avideira foi podada e purgada; agora o “Lírio dos Vales” foi tingido de cor púrpura. “Eles lhe deram um manto escarlate, embora ele mesmo tingisse de púrpura o vestu ário de seu corpo com muito mais nobreza pelo derramamento de seu sangue” (Bernardo).1141Mas, para nós, ele é o cálice da salvação. Quando Cristo bebeu este cálice de sangue, na verdade podemos dizer que ele bebeu à saúde do mundo inteiro. Ele era o “precioso sangue” (lPe 1.19). Neste sangue vemos o pecado plenamente punido e plenamente perdoado. E por isso a esposa de Cristo pôde dizer: “eu te daria a beber do vinho aromático e do mosto das minhas romãs” (Ct 8.2), quando Cristo lhe deu de beber de seu sangue cálido, aromatizado com seu amor e perfu mado com a natureza divina. 4. Oshóspedes convidados à Ceia do Senhor A quarta coisa diz respeito aos “hóspedes convidados para esta Ceia”, ou às pessoas a quem Cristo distribuiu os elementos; “Ele o deu aos discípulos e disse: Tomai e comei.” O sacramento é o pão dos filhos. Se um homem faz uma festa, ele chama seus amigos. Cristo chama seus discípulos; se achasse que havia um público melhor, certamente os faria saber. “Não há espaço para mais sombras” (Horácio).1151 “Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22.19). Isto é, por vós “pistoi”, crentes. Cristo deu seu corpo e sangue para os discípulos, principalmente sob esta ideia: porque eram crentes. Como Cristo derramou suas orações sobre os crentes (Jo 17), assim seu sangue, foi derramado somente para os crentes; veja1 5 1 4 [14] Stolamcoccineamdederunt ei, quamvisipsevestemcorporissanguinaria effusione multonobilittspurpuravit. Bernardo de Clairvaux (1090-1153), chamado por Lutero o monge mais temente a Deus de toda a Idade Média. [15] Nort locusestpluribus umbris. Neste contexto, uma “sombra” era um hóspede não convidado pelo anfitrião, e sim levado por algum outro hóspede de importância como parte de sua festa.
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quão perto o coração de Cristo está de todos os crentes! O corpo de Cristo foi partido na cruz e seu sangue derramado por eles — “mas a eleição o alcançou” (Rm 11.7). Cristo ignorou outros, e morreu intencionalmente pelos eleitos. Pecadores impenitentes não têm nenhum benefício da morte de Cristo, senão um curto indulto. Cristo é dado aos perversos em ira. Ele é “uma rocha de ofensa” (lPe 2.8). O sangue de Cristo é como um óleo que sana alguns pacientes, porém mata outros. Judas sugou morte daArvore daVida. Deus pode converter pedras em pão, e um pecador pode converter pão em pedras; o pão da vida em pedra de tropeço.
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OS BENEFÍCIOS DA CEIA DO SENHOR Meu sangue... éderramado... para a remissãodepecados (Mt26.28)
A
quinta coisa observável no texto (Mt 26.26-28) é o be nefício desta Ceia, nestas palavras: “para a remissão de pecados.” Esta é uma mercê de primeira magnitude, o summumgentis, a suprema bênção: “Quem perdoa todas as tuas iniquidades... quem te coroa com longanimidade” (SI 103.3-4). A todo aquele a quem foi concedida esta carta régia, o nome está arrolado no Livro da Vida: “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada” (SI 31.1). Sob as palavras “remissão de pecados”, por sinédoque, estão compreendidas, na Ceia do Se nhor, todas as benesses celestiais: justificação, adoção, glória, de cujos benefícios podemos, com Crisóstomo, chamar de “o ban quete da cruz”. Esta doutrina do sacramento refuta a opinião da transubstanciação. “Não é a transubstanciação que está subentendida, nem transformação, mas a união sacramental do sinal com a subs tância” (Beza).1161Quando Cristo diz “Isto é o meu corpo”, os papistas afirmam que o pão, após a consagração, se converte na1 6 [16] Non Transbstantiatiointelligitur, vel trajisfusio, sedsigni rei coniunctio sacramentalis (Beza).
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substância do corpo de Cristo. Afirmamos que o corpo de Cristo está espiritualmente no sacramento, mas os papistas dizem que ele está ali carnalmente; eis uma opinião mui absurda e ímpia.
1. É absurda, porquanto é contrária (i) à Escritura. As Escrituras asseveram que o corpo de Cristo está local e numericamente no céu. “A quem o céu deve receber até os tempos da restituição de todas as coisas” (At 3.21). Se o corpo de Cristo está circunscrito no céu, então não pode estar materialmente na Ceia do Senhor. E contrária (ii) à razão. Como é possível imaginar que uma coisa seja mudada em outra espécie, e ainda assim continuar sendo a mesma? Que o pão no sacramento seja comunicado e con vertido em carne, e ainda continue sendo pão? Quando a vara de Moisés se converteu numa serpente, ela não podia ser ao mesmo tempo e respectivamente uma vara e uma serpente. Que o pão no sacramento seja mudado no corpo de Cristo e ainda permanece sendo pão é uma perfeita contradição. Se os papistas dizem que o pão se desvanece, isto é mais apropriado numa lenda do que em nosso credo; pois a cor, a forma e o sabor do pão ainda permanecem.
2. Esta opinião de transubstanciação é ímpia; como transparece emduas coisas: i. E uma profanação do corpo de Cristo; pois se o pão no sacramento é o corpo real de Cristo, então ele pode ser comido não só pelos perversos, mas também pelos répteis e vermes, os quais ha veríam de denegrir e lançar desdém sobre Cristo e sua ordenança.
ii. Inevitavelmente, os homensprosseguem nopecado; pois atra vés deste equívoco, de que o pão é o próprio corpo de Cristo, o culto divino é dado ao pão, o que é idolatria; como também oferecer o sacrifício do corpo, ou a hóstia, na missa constitui 26
OS BENEFÍCIOS DA CEIA DO SENHOR
blasfêmia contra o ofício sacerdotal de Cristo, como se seu sacri fício na cruz fosse imperfeito. Portanto, concluo com Pedro Mártir1171que esta doutrina da transubstanciação deve ser repugnada e demolida, florescendo apenas nas fantasias dos homens, mas não germinando no cam po das Santas Escrituras. Esta doutrina do sacramento refuta osqueconsiderama Ceia do Senhor apenas como umafigura ou sombra vazia, que lembra a morte de Cristo, mas que não tem em si nenhuma eficácia. Seguramente, esta gloriosa ordenança é mais que uma efígie ou representação de Cristo. Por que a Ceia do Senhor é chamada “a comunhão do corpo de Cristo” (ICo 10.16), senão porque, na celebração correta dela, temos doce comunhão com Cristo? Nesta ordenança evangélica, Cristo não só revela sua beleza, mas também exibe sua virtude. O sacramento não é apenas uma figu ra desenhada, mas é o leite sugado; ele nos dá um sabor antecipa do de Cristo, bem como uma antevisão dele (lPe 2.3). Fazer do sacramento simplesmente uma representação de Cristo é almejar muito pouco do mistério e receber um conforto insuficiente. O sacramento nos diz várias coisas. Ele nos mostra a necessidadede buscar a Ceia do Senhor. Jesus Cristo já arcou com todos os custos para o banquete? Então certamente devemos ser seus convivas. “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22.19). Não se trata de fazermos nossaescolha, se iremos ou não, mas esse é um dever simplesmente indispensável: “Comamos deste pão e bebamos deste cálice” (ICo 11.28). Estas palavras não são apenas persuasivas, elas constituem um imperativo: como se um rei dissesse: “Seja feito!” Negligenciar o sacramento leva os ho mens a se privarem do evangelho. O sacramento exprime a infinita bondade em Cristo, perfura aquele bendito vaso de seu corpo e faz seu bendito sangue jorrar; e ao omitirmos voluntariamente esta ordenança, na qual o tro-1 7 [17] Pietro Martire Vermigli (1499-1562), um eminente reformador italiano.
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féu da misericórdia é tão ricamente exibido e nossa salvação tão intimamente envolvida, Cristo poderia muito bem tomar isto como uma subvalorização dele e interpretá-lo como não mais do que a obrigação de manter para si mesmo o seu banquete. Quem não observasse a Páscoa, “essa alma será eliminada de seu povo” (Nm 9.13). Quão irado ficou Cristo com aqueles que ficaram ausentes da ceia referida na parábola! Acreditavam que podiam usar de evasivas com cortesia, mas Cristo sabia como construir sua escusa com uma recusa: “Nenhum daqueles ho mens que foram convidados provará de minha ceia” (Lc 14.24). A rejeição da misericórdia evangélica é um pecado tão tene broso que Deus não fará outra coisa senão puni-lo por menos prezo. Alguns necessitam de uma espada flamejante para impedir seu acesso à mesa do Senhor; e outros necessitam do azorrague de cordas de Deus para conduzi-los a ela. Talvez alguns digam que estão acima do sacramento. É estranho ouvir um homem dizer que está acima do seu alimento! Os apóstolos não estavam acima desta ordenança, e porventura alguém presumirá ter uma posição mais elevada que a dos após tolos? Que todos os entusiastas consultem aquela Escritura: “to das as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anun ciais a morte do Senhor até que ele venha” (ICo 11.26). A morte deve ser rememorada sacramentalmente, até que venha o juízo. Veja a miséria dos incrédulos: mesmo que o Senhor tenha designado esta gloriosa ordenança de seu corpo e sangue, eles não colhem nenhum benefício dela. É verdade que se chegam ao sacramento, seja para conservarem seu crédito, ou fechar a boca da consciência, mas nada obtêm para suas almas. Vêm vazios da graça e se vão vazios de conforto: “Será também como um faminto que sonha que está a comer, porém, acordando, sente-se vazio” (Is 29.8). Assim os homens ímpios imaginam comer do banquete espiritual, mas têm apenas um sonho dourado: “Nada
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OS BENEFÍCIOS DA CEIA DO SENH OR
resta para o perverso, senão uma exibição sem conteúdo” (Da venant).1181 Ah! Eles não conseguem “discernir o corpo do Senhor”. O maná jazia ao redor do acampamento de Israel, mas eles não o conheciam: “Porque não sabiam o que era” (Ex 16.15). E assim as pessoas carnais veem os elementos externos, porém Cristo não lhes é conhecido em suas virtudes salvíficas: há mel na Rocha Es piritual, o qual eles nunca degustam. Nutrem-se do pão, porém não de Cristo no pão: “Comem o pão do Senhor, porém não o Pão que é o Senhor.”1191Isaque comeu o cabrito, quando cria estar comendo cervo (Gn 27.25). Os incrédulos se vão com a sombra do sacramento; eles têm a casca e a palha, não a essência. Comem o cabrito, não o cervo.9 1 8
[18] Impiisnihil restatpraeterinanespectaculum. A citação parece ser do Dr. John Davenant, 1572-1641, Bispo de Salisbury. [19] EduntpanemDomini, nonpanemDominum.
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O AMOR DE CRISTO EXIBIDO NO SACRAMENTO
Isto éo meu sangue, osangueda nova aliança, queé derramadopor muitos (Mt26.28). eja neste texto, como num espelho, o infinito amor exibido.
1. Contemple o amor deDeus o Pai em dar Cristopara serpartido por nós. Que Deuspenhorariatal joiacausaespanto nos anjos: “De tal modo Deus amou o mundo que deu seu Filho unigênito” 0o 3.16). Este é um padrão de amor sem paralelo; foi uma expressão mais profun da do amor de Deus dar seu Filho para morrer por nós do que se ele tivesse voluntariamente nos absolvido da dívida, sem qualquer satisfação [de nossaparte]. Quando um súdito é desleal com o seu soberano, há no rei mais amor em dar seupróprio filho paramorrer por aquele súdito do que em perdoar graciosamente o seu erro. 2. Contemple o espantoso amor de Cristo. Seu corpo foi partido. A cruz, diz Agostinho, foi o púlpito em que Cristo proclamou seu amor pelo mundo. Vejamos na cruz um santo clímax do amor de Cristo.
A CEIA DO SENH OR
i. Foi umamor maravilhosoquefez comque Cristo, quenunca teve a víbora dopecado picando-o, fosse reputadopecador, aquele que odiava o pecado “se fez pecado” (2Co 5.21); aquele que é contado entre as Pessoas da Trindade foi “contado com os trans gressores” (Is 53.12).
ii. Foi um amor maravilhoso quefez com que Cristo sofressea morte. “Senhor”, disse Bernardo, “tu me amaste mais do que a ti mesmo, pois por mim renunciaste tua vida.”[20]2 1O imperador Trajano12'1rasgou uma parte de seu próprio manto e enfaixou as feridas de um de seus soldados. Cristo rasgou sua própria carne por nós; mais do que isso, Cristo morreu como se fosse o “maior dos pecadores” (Lutero), recebendo sobre si o peso dos pecados de todos os homens; eis o amor usquead stuporem dulcis (doce ao ponto de causar espanto). Ele deixa todos os anjos do céu pasmos.
Ui. Foi um amor maravilhoso quefez com que Cristo morresse livremente. “Eu dou minha vida” (Jo 10.17); “[Seus atos] não foram feitos por necessidade, e sim por escolha” (Jerônimo).1221 Não havia lei que lhe ordenasse, nenhuma força que lhe obrigas se. Isto é chamado “oferecimento do corpo de Jesus Cristo” (Hb 10.10). O que poderia prendê-lo à cruz senão o elo de ouro do amor?
iv. Foi um amor maravilhoso quefez com que Cristo morres porpessoas como nós. O que somos? Não só vaidade, mas também inimizade. Enquanto lutávamos, ele morria; enquanto tínhamos as armas em nossas mãos, ele tinha a lança fincada em seu lado (Rm 5.8). [20] Dilexisti me, Domine, magisquamteipsum. [21] Trajano, imperador romano, 98-117 d.C. [22] Nonsunt ex necessitate, sedex voluntate. Jerônimo (340-420), estudioso bíblico e tradutor da Bíblia Vulgata Latina.
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O A MOR DE CRISTO EXIBIDO N O SACRAMENTO
Foi um amor maravilhoso quefez com que Cristo morressepor nós, quando absolutamente nada poderia esperar de nós em nenhuma situação. Fomos reduzidos à penúria; ficamos em tal v.
situação que não poderiamos merecer o amor de Cristo nem requerê-lo; Cristo, ao morrer por nós quando vivíamos numa situação tão baixa, foi a própria quintessência do amor. Um homem pode estender bondade a outro enquanto este for apto a retribuir; mas se ele cair em decadência, então o amor começa soçobrar e a arrefecer. Mas quando vivíamos engolfados na miséria, e caímos em decadência, quando perdemos nossa beleza, maculamos nosso sangue, desperdiçamos nossa porção, então Cristo morreu por nós. Oh! Espantoso amor, mais profun do que todos os nossos pensamentos!
Foi um amor maravilhoso quefez com que Cristo não voltasseatrás em seus sofrimentos: “Ele verá o doloroso trabalho de vi.
sua alma e ficará satisfeito” (Is 53.11). Esta é uma metáfora que evoca uma mãe que, ainda que enfrente penosas dores de parto, todavia não se arrependerá delas, quando vê o filho nascido; as sim Cristo enfrentou penoso trabalho na cruz, contudo não se arrependeu dele, porém pensa que todo seu suor e sangue vale ram a pena, porque vê que o filho do homem trouxe a redenção ao mundo. “Ele se sente plenamente satisfeito com esta única re compensa de seu trabalho. Agora repousa; agora possui profusão de deleites.”[23] “Ele ficará satisfeito.” A palavra hebraica significa aquele saciar que um homem sente em um deleitoso banquete.
Foi umamor maravilhoso quefez com que Cristo morresse antespor nós e nãopelos anjos quecaíram. Estes eram criaturas de vii.
uma essência mais nobre, e com toda probabilidade poderiam ter produzido maior profusão de glória a Deus; todavia, o fato de Cristo passar por alto aqueles vasos de ouro e transformar-nos, [23] Hocuno laborissuipraemioaffatimsaturatur; nuncquiescit, nuncdeliciisaffluit.
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A CEIA DO SENH OR
torrões de argila, em estrelas de glória - Oh, hipérbole do amor de Cristo!
viii. Vem ainda outro passo do amor de Cristo (pois, co as águas do santuário, ele se mostra ainda mais sublime): Foi ainda mais maravilhosoofato queoamor de Cristo não cessou na hora da morte. Escrevemos em nossas cartas: “Seu amigo até a morte!” Cristo, porém, escreveu em outro estilo: “Seu amigo após a mor te!” Cristo morreu uma vez, porém ama para sempre. Ele ainda continua testificando-nos seu afeto; ele continua construindo e preparando mansões para nós (Jo 14.2). Ele continua interce dendo por nós (Hb 9.24). Ele comparece ante o tribunal como advogado em defesa do réu. Assim que acabou de morrer, jamais parou de amar: “Eles perfuraram o lado de Cristo com a pene trante lança da fúria, lado esse que foi ferido muito antes com a espada do amor” (Bernardo).1241Quem meditaria sobre isto sem ser tocado pelo êxtase? Foi por isso que o apóstolo o chamou “amor que excede todo o entendimento” (Ef 3.19). Quando você divisar Cristo partido no sacramento, lembre-se deste amor. E assim vemos que amoráveis e plenários afetos devemos nu trir por Cristo, o qual nos dá seu corpo e sangue na Eucaristia. Se ele possuira algo de maior valor, no-lo teria concedido. Oh, que Cristo se ponha ainda mais perto de nossos corações! Que ele seja nossaArvore da Vida e nós não aspiremos nenhum outro fruto. Que ele seja nossa Estrela da Manhã e que não nos regozi jemos em nenhuma outra luz. Como a beleza de Cristo, assim sua generosidade o faça ama do por nós; ele nos deu seu sangue como o preço e seu Espíri to como a testemunha de nosso perdão. No sacramento, Cristo outorga todas as boas coisas. Ele tanto imputa sua justiça como2 4
[24] Foderuntlatus Christi intimafurorislancea, qtiodiamdudumamorislanceafuit
vulneratum. 34
O AM OR DE CRISTO EXIBIDO NO SACRAMENTO
confere sua benignidade. Ele dá um antegozo daquela ceia que será celebrada no Paraíso de Deus. Em resumo, na bendita Ceia, Cristo dá a si mesmo aos crentes; e o que mais poderia dar? Querido Salvador, “Suave é o aroma dos teus unguentos; como o unguento derramado é o teu nome” (Ct 1.3). Os persas cultuam o sol como seu Deus; cultuemos o Sol da Justiça! Muito embora Judas vendesse Cristo por trinta moedas de prata, nós, ao contrário, não abandonemos esta Pérola sem preço. Cristo é aquele Tubo de Ouro através do qual corre o óleo de ouro da salvação que nos é transmitido (cf. Zc 4.12).
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O CORPO PARTIDO DE CRISTO
Isto éo meu corpo (Mt26.26)
O
corpo partido de Cristo, que nos é exibido no sacra mento, nos inspira a refletir:
O corpo de Cristofoi partido ?
Entáo podemos visualizar o odioso pecado no espelho vermelho dos sofrimentos de Cristo. Na verdade, o pecado deve ser abo minado por haver expulsado Adão do Paraíso e lançado anjos no inferno. O pecado é o interruptor da paz; é como um incendiá rio na família, o qual põe esposo e esposa em desavença; faz Deus ficar contra nós. O pecado é o ventre de nossas dores e o túmulo de nossos confortos. Mas aquilo que pode mais que tudo desfigurar o rosto do pecado e fazê-lo parecer horripilante, é que ele crucificou nosso Senhor; ele se tornou um véu para a glória de Cristo e fez jorrar seu sangue. Se uma mulher viu a espada que matou seu marido, quão odiosa ela será à vista dela! Acaso consideraríamos leve aquele pe cado que fez a alma de Cristo “profundamente triste até a morte” (Mc 14.34)? Acaso nos seria motivo de júbilo aquilo que fez o Senhor Jesus Cristo “um homem de dores” (Is 53.3)? Acaso ele não clamou: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mt 27.46)? Acaso esqueceriamos aquele pecado que fez Cristo
A CEIA DO SENH OR
esquecer-se de si mesmo? Oh, que olhemos para o pecado com profunda indignação! Quando uma tentação vem trazer pecado, digamos como Davi: “Guarda-me, Senhor, de fazer tal coisa; beberia eu o sangue dos homens que foram com risco de sua vida?” (2Sm 23.17). Então, digamos, acaso não é este pecado que derra mou o sangue de Cristo? Que nossos corações se encham de fúria contra o pecado. Quando os senadores de Roma exibi ram ao povo o manto ensanguentado de César, o povo se en fureceu contra aqueles que o mataram. O pecado dilacerou o alvo manto da carne de Cristo e o tingiu da cor carmesim; busquemos ser vingados de nossos pecados. Sob a lei, se um boi chifrasse um homem, de modo que morresse, esse boi ti nha de ser morto (Ex 21.28). O pecado traspassou e escorneou nosso Salvador: que ele seja morto. Que lamentável seria se ainda tivesse direito a viver aquilo que não permitiu que Cris to vivesse! Façamos este uso de seu sofrimento na cruz, para aprender mos a não nos maravilharmos muito se nos depararmos com tribulações no mundo. Cristo sofreu quando “não conheceu nenhum pecado”? Acaso achamos estranho o sofrer de quem nada sabe senão pecar? Cristo sentiu a ira de Deus? Acaso é exagero sentirmos a ira dos homens? A Cabeça seria coroada de espinhos e os membros jazeriam entre rosas? Disfrutaría mos de nossos braceletes e diamantes enquanto Cristo sentiu a lança e os pregos perfurando seu coração? De fato os que são culpados devem esperar os açoites, mas aquele que era inocen te não pôde sair livre. Um emprego adicional da doutrina do sacramento é o exer cício da exortação. Ocupar-nos-emos das seções desta matéria em boa parte do que vem a seguir.
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O COR PO PARTIDO DE CRISTO
Oprecioso corpo de Cristofoipartido por nós?Deixemonos afetar com a imensa bondade de Cristo. Quem pode esmagar estes carvões em brasa sem que seu coração arda? Quem não bradaria com Inácio:1251“Cristo, meu amor, foi crucificado!”?Se um amigo morresse por nós, nosso coração não seria profundamente afetado por sua bondade? Que o Deus do céu morresse por nós, como esta estupenda mercê não nos in fluenciaria com a máxima ternura? O corpo de Cristo partido é suficiente para quebrantar o coração mais empedernido. Na paixão de nosso Senhor, as próprias pedras foram fendidas: “fenderam-se as pedras” (Mt 27.51). Aquele que não sentir-se afetado por isto tem um cora ção mais duro que as pedras. Se Saul não deixou de perceber a mercê de Davi em poupar sua vida (ISm 24.16), como pode riamos não nos deixar afetar pela benignidade de Cristo, que poupou nossavida com a perda da sua? Oremos para que, assim como Cristo foi “cruci-fixus”, também sejamos “cordi-fixus” como ele foi “cravado” na cruz, igualmente seja ele “cravado” em nosso coração. Jesus Cristo nos é espiritualmente exibido no sacramento? Então demos-lhe o máximo valor e estima. Valorizemos o corpo de Cristo. Cada partícula deste pão da vida é precioso: “Minha carne é verdadeira comida” (Jo 6.55). E “o exce lente Pão que transcende a substância”, no dizer de Cipriano.1261 O maná foi um vivido tipo e emblema do corpo de Cristo. O maná era doce: “era como semente de coentro branco, e seu sabor como bolos de mel” (Ex 16.31). Era um alimento delicio so; por isso foi chamado “comida dos anjos” (SI 78.25), por sua excelência. Assim Cristo, o Maná Sacramental, é doce às almas dos crentes: “seu fruto é doce ao meu paladar” (Ct 2.3). Tudo em2 6 2 5 [25] Bispo de Antioquia do século II martirizado em Roma. [26] Paniseximiusetsupersubstantialis. Cipriano foi pai e mártir da igreja no século III, Bispo de Cartago, 249-258.
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Cristo é doce - seu Nome é doce, suas virtudes são doces. Este “Maná” adoça “as águas de Mara”. Não só isso, a carne de Cristo excede o maná: i.
O maná era uma comida, porém não somentefísica. Se os
israelitas ficassem doentes, o maná não podería curá-los; mas este bendito maná do corpo de Cristo é não só alimento, mas também medicina. “O corpo de Cristo é medicina para os doen tes” (Bernardo).1271 Cristo traz “cura em suas asas” (Ml 4.2). Ele cura o olho cego e o coração empedernido. Leve esta medicina para bem perto de seu coração e você será curado de todos os destemperos espiri tuais. ii.
O maná era corruptível. Ele cessou quando Israel entrou
em Canaã; mas este bendito maná do corpo de Cristo jamais cessará. Os santos se alimentarão com infinito deleite e satisfação da alma, em Cristo, para toda a eternidade. Os júbilos celestiais cessariam se este maná cessasse. O maná foi posto na arca em um vaso de ouro, para que fosse preservado ali. Assim o bendito maná do corpo de Cristo, sendo posto no vaso de ouro da natureza divina, é depositado na arca celestial para os santos festejarem para sempre. Então; podemos dizer que o bendito corpo de Cristo “é verdadeira comida”. “Na plenitude do corpo de Cristo, que desce da cruz, encon tramos a pérola da salvação.”2 [28] 7
[27] Corpus Christi aegrismedicina. [28] Fossoagro corporis Christi, margarita salutisinvenitur.
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O SANGUE DE CRISTO
Porqueisto éo meu sangue, o sangueda nova aliança, queé derramadopor muitos, para remissãodospecados (Mt26.28).
V
alorizemos o sangue de Cristo no sacramento. Ele é “ver dadeirabebida” (Jo 6.55). “O cacho de uva de meu corpo foi levado para o lagar da cruz para tua salvação, e dele foi espremido o novo vinho de tua redenção” (Bernardo).[29]3 0Eis o Néctar e A mbrosid301 do qual o próprio Deus se deleita em degustar. Isto é tanto um bálsamo quanto um perfume. Para que ponhamos um valor mais elevado no sangue de Cristo, nele mostrarei sete virtudes sobrenaturais.
1. O sangue de Cristo é um sangue reconciliador “A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo, vos re conciliou no corpo de sua carne, pela morte, para vos apresentar santos perante Ele, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1.21-22). No mesmo instante em que a mensagem chegou a Davi, de que “Urias foi morto” (2Sm 11.21), a ira de Davi foi aplacada. No mesmo instante em que o sangue de Cristo foi derramado, a ira de Deus foi pacificada. O sangue de Cristo é “o sangue da expiação”. [29] Egobotrus carnisprosalutetuaportatussumadtorcularemcrucis, indeeliquatum
est mustumtuaeredemptionis. [30] Na mitologia grega, os alimentos dos deuses.
A CEIA DO SENH OR
Mais ainda, ele é náo só um sacrifício, mas também “uma propiciação” (ljo 2.2), o que denota conduzir-nos ao favor de Deus. Uma coisa é um traidor ser perdoado, outra é ele ser in troduzido ao favor. O pecado nos separa de Deus, o sangue de Cristo nos une a Deus. Se possuíssemos tanta graça como pos suem os anjos, ainda assim náo poderiamos ter comprado nossa reconciliação. Se oferecéssemos milhões de sacrifícios, se enxu gássemos rios de lágrimas, isto jamais teria apaziguado a ira da Deidade; somente o sangue de Cristo pode agraciar-nos com o favor de Deus e levá-lo a olhar-nos com um aspecto sorridente. Quando Cristo morreu, o véu do templo rasgou-se; isto náo era destituído de mistério, para mostrar que, através do sangue de Cristo, o véu de nossos pecados é rasgado, o qual se interpunha entre Deus e nós. 2 O sangue de Cristo é um sangue vivificante .
“Quem... bebe o meu sangue tem a vida eterna” (Jo 6.54); e am bos geram vida e previnem a morte - “a vida da carne está no sangue” (Lv 17.11). Com toda certeza, a vida de nossa alma está no sangue de Cristo. Quando contraímos a morte do coração somos como vinho que já perdeu suas essências, o sangue de Cristo possui um poder que eleva e nos imprime vivacidade, fa zendo-nos vivos e ativos em nossos movimentos. “Subirão com asas como águias” (Is 40.31). 3 O sangue de Cristo é um sanguepurificador. .
“Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a nossa consci ência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo” (Hb 9.14). Como o mérito do sangue de Cristo pacifica a Deus, assim a virtude dele nos purifica. Ele é o banho do Rei do Céu. E o lavacrumanimae (o lugar de lavagem da alma), um lavabo em que lavar-se. Ele lava o coração carmesim de um pecador fazendo-o 42
O SANGUE DE CRISTO
branco como o leite: “O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (ljo 1.7). A Palavra de Deus é um espelho translúcido que exibe nossas mazelas; e o sangue de Cristo é a fonte que as lava (Zc 13.1). Mas este sangue náo lavará se estiver misturado com algo mais. A água não limpará a menos que esteja misturada com sabão ou cânfora; mas se misturarmos algo com o sangue de Cristo, sejam os méritos dos santos, ou a oração dos anjos, ele não lavará. Que o sangue de Cristo seja puro e sem mistura, e não ha verá mancha que não lave. Ele purgou a embriaguez de Noé e o incesto de Ló. Na verdade, existe uma mancha que é tão negra que o sangue de Cristo não pode lavar, a saber, o pecado contra o Espírito Santo; não que a virtude do sangue de Cristo não seja suficiente para lavar; mas aquele que peca contra o Espírito de Cristo não será lavado; esse condena o sangue de Cristo “e o pisa sob a planta de seus pés” (Hb 10.29).4 4. O sanguede Cristo é um sanguequeenternece Nada existe tão duro que não possa ser amolecido se for embebido em seu sangue; ele amolecerá uma pedra. A água amolecerá a terra, muito embora não amoleça uma pedra, mas o sangue de Cristo amolece uma pedra, ele abranda um coração de pedra. “O qual converteu o rochedo em lago de águas e o seixo em fonte de água” (SI 114.8). O coração que antes era como um pedaço cortado de uma rocha, sendo embebido no sangue de Cristo se torna tenro e as águas do arrependimento fluem dele. Assim se deu com o coração do carcereiro que se dissolveu e se tornou terno quando “o sangue da aspersão” o atingiu! “Senhor, que devo fazer para ser salvo?” (At 16.30). Agora seu coração era como cera derretida. Agora Deus podia pôr sobre ele a impressão de seu selo.
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5. O sanguede Cristo é umsanguequerefrigera
i. Refrigera o coração empecado. Naturalmente, o coração é dominado por um calor destemperado; necessariamente, ele está sendo “posto no fogo do inferno”. Queima em sua luxúria e paixão; o sangue de Cristo abranda esse calor e apaga a chama do pecado.
ii. Refrigera o calor da consciência. No tempo de deserção, a consciência arde com o calor do desprazer de Deus; agora o sangue de Cristo, aspergido na consciência, a refrigera e pacifica. E, neste sentido, Cristo é comparado a “rios de água” (Is 32.2). Quando o coração arde e se acha em agonia, o sangue de Cristo é como água lançada no fogo: ele tem a virtude de extinguir o fogo e trazer refrigério. 6. O sangue de Cristo é umsanguequeconforta Ele é bom contra desvanecimentos. O sangue de Cristo é melhor que o vinho; ainda que o vinho alegre o coração de um homem que está bem, não alegrará seu coração quando ele assume o aspecto da pedra1311ou quando as angústias da morte já se encontram nele; mas o sangue de Cristo alegrará o coração em momentos como esses. Ele é melhor na aflição. Cura o tremor do coração. Uma consciência aspergida com o sangue*de Cristo pode, como o rouxinol, cantar com um espinho em seu peito. O sangue de Cristo pode transformar uma prisão em palácio. Ele transformou as chamas dos mártires em leitos de rosas: “Os mártires são feridos e se regozijam; morrem e contemplam o triunfo. Por quê? Porque, embebidos no sangue da cruz, não temem a morte, mas esperam por ela.”13212 3 1 [31] Um episódio de dor resultante de cálculos renais ou biliares. [32] Feriunturmartyres, gaudent; moriuntur, et eccetriumphant; quare? Quia,
sanguinecrucisperfusi, nonmortemmetuunt, sedsperant. 44
O SANGUE DE CRISTO
O sangue de Cristo ministra conforto no momento da morte. Como disse certa vez um homem santo em seu leito mortuário, quando lhe trouxeram um cardeal: “Nenhum cardeal se compara ao sangue de Cristo.” 7 O sangue de Cristo é um sangue que conquista o céu .
“Através do lado de Cristo, ele nos abriu a vereda para o céu” (Bernardo).[331Israel atravessou o Mar Vermelho rumo a Canaã. Assim, através do Mar Vermelho do sangue de Cristo, entramos na Canaã celestial. “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus” (Hb 10.19). Nossos pecados fecharam o céu. O sangue de Cristo é a chave que nos abre o portão do paraíso. “Pela árvore do conhecimento, morremos; pelo madeiro da cruz, ressuscitamos.”1341Daí Teodoreto1351chamar a cruz de “Árvore da Salvação”, porque o sangue que goteja da cruz destila salvação. Portanto, valorizemos o sangue de Cristo e com Paulo determinemos: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (lCo 2.2). As coroas dos reis são apenas cruzes, mas a coroa de Cristo é a única coroa.3 5 4
[33] Perlatus Christi nobispatefecit in coelumintroitum. [34] Morimurperlignumscientiae, orimurper lignumcrucis. [35] Umcomentarista da Bíblia ehistoriador eclesiástico doséculo V. 45
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AUTOEXAME
Examine-se, pois, o homema si mesmo, eassimcoma destepão ebeba destecálice(ICo 11.28).
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risto nos ofereceseu corpo e sangue na Ceia? Então, com que solene preparação deveriamos achegar-nos a uma or denança tão sublime! Não é suficiente fazer o que Deus designou, mas como ele designou. “Preparai o coração ao Senhor” (ISm 7.3). Primeiramente, o músico afina bem seu instrumento antes de tangê-lo. Primeiramente, o coração deve estar prepara do e bem afinado antes de ir ao encontro de Deus nesta solene ordenança do sacramento. Acautelemo-nos da temeridade e ir reverência. Se não chegarmos bem preparados, não beberemos, mas derramaremos o sangue de Cristo: “qualquer que comer este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor” (ICo 11.27). Isto é, dizTeófilo,1361 será julgado alguém que derrama o sangue de Cristo. Lemos so bre o cálice do vinho do furor na mão de Deus (Jr 25.15). Aquele que se achega à Ceia do Senhor sem o devido preparo converte o cálice do sacramento no “cálice da furia”; “Transforma o cálice do sangue no cálice da ira.”1371 Oh, com que reverência e devoção devemos recorrer a estes santos mistérios! Os santos são chamados “vasos... preparados”7 3 6 [36] Bispo deAntioquia no final do século II. [37] Calicemsanguinismutat in calicemfuroris.
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(Rm 9.23). Estes vasos devem estar sempre bem preparados, por quanto se destinam a conter o precioso e santo sangue de Cristo. O pecador condenado é o primeiro preparado. Os homens não vão para o inferno sem algum tipo de preparação. Eles são “va sos... preparados para a destruição” (Rm 9.22). Se esses vasos cheios de ira estão preparados, muito mais preparados devem estar os que recebem Cristo no sacramento. Vistamo-nos diante do espelho bíblico antes de nos achegarmos à mesa do Senhor; e, como a esposa do Cordeiro, estejamos prontos (Ap 19.7). Pe r gun t a: Como devemos estar corretamente qualificados e
preparados para a Ceia do Senhor? R e spo st a : Se estivermos com os corações preparados, deve-
mos comparecer:
1. Com o coração devidamente examinado:
“Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice” (ICo 11.28). Não basta que outros pensem que estamos prontos para vir, devemos examinar a nós mesmos. A palavra grega para examinar, dokimazo, é uma metáfora toma da do ourives que, curiosamente, testa seus metais. Assim, antes de virmos à mesa do Senhor, temos de fazer em nós mesmos um exame perscrutador e crítico pela Palavra. O autoexame, sendo um ato reflexivo, é difícil: “É rnais fácil justificar um vício do que expulsá-lo” (Sêneca).1381É difícil olhar para dentro de si e ver a face de sua própria alma. O olho pode ver tudo, menos a si mesmo. Mas esta obra probatória é necessária: i. Se não nos examinarmos, permanecemos na incerteza sobre nosso estado espiritual; não sabemos se estamos interessados na aliança ou se temos direito ao selo.8 3
[38] Malumus vitiumexcusarequamexcutere.
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AUTOEXAME
ii. Deus nos examinará. A pergunta do dono da festa soou dolorosa: “Amigo, como entraste aqui, náo tendo veste nupcial?” (Mt 22.12). Então será terrível quando Deus disser a um ho mem: “Como você chegou à minha mesa com o coração orgu lhoso, futil e incrédulo? O que você veio fazer aqui com seus pe cados? Você está contaminando minhas coisas santas.” Portanto, quanta necessidade há de se fazer um exame do coração antes de achegar-se à mesa do Senhor! Visualizemos nossos pecados para que sejam mortificados; nossas carências, para que sejam supridas; nossas dignidades, para que sejam consolidadas. “Ele a ninguém convida para que examine outros, mas a si mesmo, instaurando um tribunal priva do e uma convicção sem testemunha” (Crisóstomo). 2. Devemosachegar-nos com um coração sério. Nosso espírito é frágil e leviano; é como um navio sem lastro, que flutua sobre as águas, porém sem velas. Vagamos nos santos deveres e nos deixamos levar por vãs excursões, mesmo quan do estamos lidando com Deus e estamos engajados em questões de vida e morte. Aquilo que poderia consolidar nosso coração e firmá-lo com seriedade é considerar que os olhos de Deus estão agora postos especialmente sobre nós, quando nos achegamos à sua mesa. “O rei entrou a observar os convivas” (Mt 22.11). Deus conhece cada comungante, e se vê em nós alguma levian dade e indecência de compostura, indigna de sua presença, ficará profundamente desgostoso e nos expulsarácom a culpa pelo san gue de Cristo, em vez de seu conforto. 3. Devemosachegar-nos com um coração inteligente. Deve haver uma competente medida de conhecimento, paraque possamos “discernir o corpo do Senhor”. Como devemos “orar com o entendimento” (ICo 14.15), assim devemos comungar à mesa do Senhor com entendimento. 49
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Caso nos falte conhecimento, náo podemos prestar um “culto racional” (Rm 12.1). Os que não conhecem o mistério, não sentem o conforto. Devemos conhecer Deus o Pai em seus atributos, Deus o Filho em seus ofícios, Deus o Espírito Santo em suas graças. Há quem diga que possui bom coração, contudo é carente de conhecimento; podemos também chamar isso de bons olhos aos quais falta visão. 4. Devemosachegar-nosao sacramento comcoraçõessolícitos.
Diriamos, com Cristo, “Desejei muito comer convosco esta páscoa” (Lc 22.15). Se Deus prepara uma festa, devemos comparecer com apetite. Por que Deus desaprovou seu povo de outrora senão para punir sua apatia e provocar seu apetite? À semelhança de Davi que suspirou pela água do poço de Belém (2Sm 23.15), assim devemos suspirar por Cristo no sacramento. Desejos são as velas da alma que são hasteadas para receber a brisa de uma benesse celestial. Para ajudar os santos desejos em suas aspirações: i. Consideremos a magnificência e realeza desta Ceia: ela é um banquete celestial. “O Se n h o r dos Exércitos dará neste monte a todos os povos um banquete de coisas gordurosas, uma festa com vinhos velhos, pratos gordurosos com tutanos e vinhos velhos bem clarificados” (Is 25.6). “Estes são os suaves'deleites; aqui se bebem os rios de mel, as gotas do bálsamo celestial” (Bernardo).1391Eis o suco daquela uva que vem da videira verdadeira. Sob estes elementos do pão e vinho Cristo e todas as suas benesses nos são exibidos. O sacramento é abunde aromatum [ricamente aromático], um recipiente e celeiro de bênçãos celestiais. Aqui se põem diante de nós vida, paz e salvação! Todas as dulcia fercula [doces iguarias] do céu são servidas nesta festa.3 9 [39] Haesuntsuavesdelitiae, hicbibunturflumina mellis, liquoresbalsami coelestis. 50
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ii. Paraprovocar o apetite, consideremos que necessidade temosdestereposto espiritual. O anjo persuadiu a Elias a tomar um pouco de páo e a botija de água, para que não desfalecesse em sua jornada: “Levanta-te e come, porque o caminho te será sobremodo longo” (lRs 19.7). Portanto, realmente temos uma grande jornada da terra para o céu, daí termos necessidade de nos prover para o caminho. Quantos pecados a nos subjugar! Quan tos deveres a cumprir! Quantas necessidades a suprir! Quantas graças a consolidar! Quantos adversários a enfrentar! De modo que, não nos abatendo pelo caminho, nos alimentando do corpo e sangue do Senhor, nossa “juventude se renove como a da águia” (SI 103.5). iii. Consideremosa prontidão de Cristo em dispensar-nos as divinas benesses nesta ordenança. Jesus Cristo não é uma “fonte selada”, e sim “uma fonte corrente”. Temos apenas que cla mar, e ele nos saciará. Temos apenas que ter sede, e ele nos abrirá a torneira. “Quem tem sede venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida” (Ap 22.17). Como as nuvens têm a propensão natural de gotejar sua umidade sobre a terra, assim Cristo há de jorrar suas graciosas virtudes e influências na alma. iv. Nesta Ceia não há perigo de excesso. Com frequência, outras festas enfrentam excessos. Esta Ceia não é assim. Quan to mais tomamos do pão da vida, mais saudáveis somos e mais alcançamos a perfeição espiritual. Aqui, plenitude não aumenta extravagâncias, e sim confortos; nas coisas espirituais não há ex tremos. Ainda que uma gota do sangue de Cristo seja dulcíssima, ele é ainda muito melhor, mais profundo, mais doce: “bebei abundantemente, ó amado” (Ct 5.1). No original, temos: “Que vos embriagueis com meu amor.”
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v. Não sabemos quanto tempo estafesta pode durar. En quanto o maná durar, portemos nosso recipiente. Nem sempre Deus manterá a toalha na mesa. Se uma pessoa perde seu apetite, ele convocará o inimigo para remover o banquete. vi. Nutrirmo-nos de Cristo sacramentalmente será um bom preparopara ossofrimentos. O pão da vida nos ajudará a nos nu trirmos do pão da aflição. O “cálice da bênção” nos capacitará a beber do cálice da perseguição. O sangue de Cristo é um vinho que contém em si o bom aroma, e está cheio de vitalidade. Por isso Cipriano nos informaque, quando os cristãos primitivos tinham de comparecer perante os tiranos cruéis, costumavam receber o sacra mento e, então, se levantavam da mesa do Senhor como leões res pirando o fogo da coragem celestial (tanquamleones ignemspiritus)\ Que as seguintes considerações sejam também condimento a aguçar nosso apetite à mesa do Senhor. Deus se deleita em ver-nos famintos nutrindo-nos do pão da vida. 5. Devemosachegar-nosa estaordenança bempreparados, achegando-noscomumcoraçãopenitente, “cuja alma temsido traspassada, ainda que não seja comespada” (Agostinho). A páscoa tinha de ser comida com “ervas amargas”. Temos de trazer nossa “mirra” de arrependimento que, muito embora nos seja amarga, é doce para Cristo: “e olharão para aquele a quem traspassaram; pranteá-lo-ão” (Zc 12.10). Um Cristo partido tem de ser recebido com um coração quebrantado. Se temos pecado com Pedro, então choremos com Pedro. Nossos olhos têm de inundar-se com lágrimas e nosso coração tem de estar embebido nas salmouras do arrependimento. Digamos: “Senhor Jesus, ain da que eu não traga suaves especiarias e perfume para teu corpo, como fez Maria, contudo, lavarei teus pés com minhas lágrimas.” Quanto mais amargura degustamos no pecado, mas doçura de gustaremos em Cristo. 52
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6. Devemos vir com um coração sincero. As tribos de Israel, sofrendo aperturas oportunamente, careciam de algumas purificações legais; contudo, porque o coração deles eram sincero, e vinham com anseio de encontrar-se com Deus na páscoa, por isso o Senhor curou o povo (2Cr 30.19). Os maus intentos despojarão as boas ações. Um arqueiro tanto pode errar o alvo olhando de soslaio como atirando a curta distância. Qual é nosso desígnio quando nos achegamos ao sacramento? Finis nobilitat opus (o fim faz conhecida a obra). E para que tenhamos mais vitória sobre nossas corrupções e sejamos mais confirmados em santidade? Então Deus nos será bondoso e nos sarará. A sinceridade, como o verdadeiro ouro, terá alguns pigmentos per mitidos para sua delicadeza.
7. Devemos achegar-nos com um coração abrasado de amorpor Cristo. A esposa sentia-se em chamas de amor: “porque desfaleço de amor” (Ct 5.2). Demos a Cristo a beber o vinho de nosso amor e pranteemos se não o pudermos amar ainda mais. Queremos ter a exultante presença de Cristo na Ceia? Encontremo-lo com fortes apreços de afeto. Basílio1401compara o amor ao suave unguento: Cristo se deleita aspirando este perfume. O discípulo que amou mais, Cristo o tomou em seu seio. Habitus sine exercitio similis est taciturnaelyrae [Uma disposição que não é posta em prática se assemelha a uma lira silenciosa].0 4
[40] Basílio o Grande (329-79), um dos pais capadócios. Ele se opôs veementemente ao arianismo quando bispo de Cesareia.
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VERDADEIRA E FALSA FÉ “Examine-seo homema si mesmo, eassimcoma destepão e beba destevinho” (1Co 11.28) xercitemos os olhos da fé. A fé tem olhos de águia: ela penetra as coisas a uma grande distância do sentido, vê as coisas profundas de Deus. Ela contempla Jesus que foi le vantado na cruz. Se a serpente de bronze não fosse contemplada, não havería nela nenhuma virtude; ela não curaria um israelita cego: assim, muito embora Cristo já tenha sido levantado no madeiro da cruz, não salvará os que não olham para ele. Olhe para Cristo com olhos crentes, e um dia você o verá com olhos glorificados. Exercitemos também a boca da fé. Quidpar est dentrem et ventrem? Credeet manducasti [O que é apropriado para a boca e o ventre? Crer e comer] (Agostinho). Eis o pão partido. Adão mor reu, comendo; nós vivemos, comendo. No sacramento, o Cristo pleno nos é servido, as naturezas, divina e humana. Todos os ti pos de virtudes vêm dele: mortificação, abrandamento, conforto. Oh, então nutramo-nos dele! Esta graça da fé é a grande graça que é posta em ação no sacramento.
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Pe r gun t a: Mas a virtude está simplesmente na fé? R e spo st a : Não
na fé considerada meramente como uma gra ça, mas quando tem a ver com o objeto. A virtude não está na
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fé, e sim em Cristo. Se um anel tem em si uma pedra preciosa que deterá o sangue, dizemos que o anel detém o sangue; mas a virtude não está meramente no anel, e sim na pedra incrustada nele. Assim a fé é o anel, Cristo é a pedra preciosa; tudo o que a fé faz é provar os méritos de Cristo em benefício da alma e então esta é justificada; a virtude não está na fé, e sim em Cristo. Mas, por que a fé leva mais de Cristo no sacra mento do que qualquer outra graça? R e spo st a : Porque a fé é a graça mais receptiva; ela é o reci piente de ouro enriquecido. E assim a fé, recebendo do mérito de Cristo e enchendo a alma com toda a plenitude de Deus, necessita ser uma graça enriquecida. No corpo há veias que ab sorvemos nutrientes que entram no estômago; a fé é aquela veia que absorve aquilo que vem da virtude de Cristo, por isso ela é chamada uma “fé preciosa” (2Pe 1.1). Pe r g u n t a:
l.A fé tem mais dos benefícios de Cristo agregados a siporque ela é a graça mais simples. Se o arrependimento pudesse adquirir a justificação de Cristo, um homem estaria pronto a dizer: “Isto foi por minhas lágrimas.” Mas a fé é humilde, é uma mão vazia, e que mérito podería haver nisso? Um pobre que estende sua mão merece uma esmola?
Se devemos apresentar-nos devidamentepreparadospara o sa cramento, então que venhamos com um coração humilde. Vemos Cristo se humilhando na morte; e um Cristo humilde deveria ser recebido comum coração orgulhoso? “Ele honrou o Pai, não para que fosse desonrado; mas, ao contrário, para que admiremo-lo e aprendamos dos seus atos que ele é um genuíno Filho que honra seu Pai mais que todos juntos” (Crisóstomo). Que a visão da glória de Deus e a visão do pecado nos hu milhem. Cristo era humilde, ele que era pureza plena? E somos 56
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orgulhosos, nós que somos leprosos? Oh, que venhamos com o senso de nossa própria vileza! Quão humilde seria aquele que recebesse uma esmola de livre graça! Jesus Cristo é o “lírio dos vales” (Ct 2.1), náo das monta nhas. A humildade nunca foi perdedora. Quanto mais vazio for o cântaro, e mais fundo for o poço, mais água comportam; então, quanto mais vazia é de si mesma a alma, e mais baixo se sujeita à humildade, mais ela captado poço da salvação. Deus virá a um coração humilde para recebê-lo (Is 57.15). Isso não é parte do templo de Cristo que não é construído com um teto baixo.
Devemos achegar-nos com corações celestiais.O mistério do sacramento é celestial; então, o que um verme rastejante faz aqui? Não está devidamente preparado para nutrir-se do corpo e sangue de Cristo aquele que, como a serpente, lambe pó. O sacramento é chamado koinonia, “comunhão” (ICo 10.16).Que comunhão pode um homem terreno ter com Cristo? Primeiro, deve haver conformidade, para que haja comunhão: aquele que é terreno não possui maior semelhança com Cristo do que a que uma nuvem de pó possui com uma estrela. Um homem terreno faz do mundo seu deus. Então que tal homem não pense em receber outro Deus no sacramento. Oh, cultivemos atitudes ce lestiais e subamos com a asa da graça!
Devemos achegar-nos com um coração crente. Cristo deu o sa cramento aos apóstolos principalmente por serem crentes. Os que se achegam sem fé se vão sem fruto. Nem é suficiente ter o hábito da fé, mas temos de nos exercitar, nos empenhar com ações vigorosas de fé nesta ordenança. De modo que, em virtude da fé ser humilde e dar a Cristo e a livre graça toda a glória, Deus põe grande honra sobre ela; esta é a graça a que pertencem Cristo e todos os seus méritos.
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A CEIA D O SENH OR
Portanto, acima de todas as graças, a fé opera no sacramento. “Pela fé sugamos o sangue de Cristo e penetramos nossa língua nas feridas de nosso Redentor” (Cipriano).1411 A fé sai em busca de todas as provisões. Este é o balde que tira água do poço da vida. No mundo, porém, existe uma fé bastarda. Plínio1421 nos conta sobre uma pedra de Cipriano que em cor e resplendor se assemelha ao diamante, porém não é genuína, pois se quebra com o martelo. E assim há uma fé falsa que emite centelhas e faz exibição aos olhos do mundo, porém não é genuína; ela se quebra com o martelo da perseguição. Portanto, para prevenir equívocos, para que não sejamos enganados pensando que cre mos segundo nossa presunção, eu lhe darei seis diferenças entre uma fé sincera, que é a flor do Espírito, e uma fé hipócrita, que é fruto de fantasia. 1. Umafé hipócrita éfacilmenteperceptível. Ela é como a semente da parábola, a qual germinou “de repente” (Mc 4.5). Uma fé falsa brota sem quaisquer convicções e submis são da alma. Isaque indagou [de seu filho]: “Como é isto, que tão cedo a achaste [a caça], meu filho?” (Gn 27.20); assim, como é possível que tal homem adquirisse fé tão depressa? Seguramente, ela é de uma natureza diferente da genuína, e depressa se desva necerá. “Solentpraecocia súbitoflaccescere” [As coisas que madu ram prematuramente em geral apodrecem subitamente]. Mas a fé verdadeira, sendo uma planta de outras paragens [estrangeira] e de uma essência celestial, dificilmente aparece; ela custa muitos suspiros e lágrimas (At 2.37). Esta infância espiritual não nasce sem dores.4 2 1 [41] Perfidem Christi sanguinemsugimuset inter redemptorisnostri vulnera linguam
figimus. [42] Plínio o Velho (23-79 d.C.), autor de uma vasta HistóriaNatural. Ele morreu observando a erupção do Monte Vesúvio no ano de 79 d.C.
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VERDADEIRA E FALSA FÉ
2. A fé hipócrita estremecequando vem a provação. O hipócrita gostaria antes que sua fé fosse enaltecida em vez de examinada. Ele náo pode suportar uma prova bíblica mais do que um metal falsificado pode suportar a pedra de toque. Ele é como um homem que tem roubado os bens de sua casa e não tem nenhuma disposição de permitir que sua casa seja inspecionada. Enquanto a fé verdadeira se dispõe a enfren tar uma prova: “Examina-me, Senhor, e prova-me; esquadrinha meus rins e meu coração” (SI 26.2). Davi não teve medode ser examinado por um júri; não, ainda que o próprio Deus fosse um do júri. As boas mercadorias nunca se esquivam da luz. 3. Afé hipócritafaz pouco caso dafé verdadeira. O hipócrita ouve outros falarem do louvor da fé, mas ele indaga onde jaz a virtude dela. Ele olha para a fé como uma droga ou alguma mercadoria vil que não se pode vender; ele abandonará toda a fé que tem por uma moeda de prata, e pode ser que ele ainda estime extremamente o prêmio. Mas aquele homem que possui fé verdadeira, esse lhe dá valor supremo; ele conta esta graça entre as joias. “Plusfulgetfides quam aurum” [A fé brilha mais que o ouro] (Agostinho). O que o incorpora a Cristo, senão a fé? O que o póe no esta do de filiação, senão a fé (G14.26). Oh, preciosafé! O crente não troca seu “escudo da fé” por uma coroa de ouro. 4. Umafé hipócrita tem uma mão incapaz. Com uma mão, ela tomaria Cristo, porém não o faz; com a outra, ela renuncia a Cristo. Ela tomaria Cristo por amor à segurança, porém não se dá a ele em rendição. Entretanto, “subiata quicunqueparte integrante toüitur toturn [Ao remover qualquer parte essencial, você está removendo a totalidade]. Enquanto isso, a fé verdadeira é imparcial —toma Cristo como Salvador e se subme
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te a ele como Príncipe. Cristo diz: “Eu te doto com meu corpo e meu sangue”; e a fé diz: “Eu te adoro com minha alma”. 5 Umafé hipócrita é impura. .
O hipócrita diz
que crê, todavia prossegue no pecado. Ele adere ao credo, porém não aos mandamentos. Ele crê, contudo toma o nome de Deus em vão: “Pai meu, tu és o amigo da minha mo cidade?... Sim, assim me falas, mas cometes maldade a mais não poder” (Jr 3.4-5). Tais impostores chamariam Deus “meu Pai”, contudo peca ram tão decisivamente quanto puderam. Pois um diz que tem fé, contudo vive no pecado; é como se um homem dissesse que desfrutava de saúde enquanto seus órgãos vitais perecem. Mas a fé verdadeira estájungida à santidade: “Guardando o mistério da fé numa consciência pura” (lTm 3.9). A joia da fé é sempre de positada na vitrine de uma boa consciência. A mulher que tocou em Cristo pela fé sentiu uma virtude curadoravinda dele. Ainda que a fé não remova totalmente o pecado, contudo o subjuga. 6. Afé hipócrita é umafé morta, não degusta a seiva ou a doçura de Cristo. O hipócrita degusta algo no vinho e no azeite; ele acha conten tamento nos deleites carnais e lascivos do mundo, porém não a doçura de uma promessa; o próprio Espírito Santo não lhe traz alento. Essa é uma fé morta que não sente nenhum sabor. Mas a fé verdadeira acha profunda delícia nas coisas celestiais. A Palavra é mais doce que o favo de mel (SI 19.10). O amor de Cristo é melhor que o vinho (Ct 1.2). Assim, notamos certa diferença entre a fé verdadeira e a espúria. Quantos não imaginaram que haviam obtido o filho vivo da fé, quando se provou que o que tinham era um filho morto.
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VERDADEIRA E FALSA FÉ
Acautelemo-nos da presunção, mas acalentemos a fé. A fé aplica Cristo e faz uma conjunção de seu corpo e sangue. “Tu vens a Cristo não pela carne, e sim pelo coração; eu apreendo Cristo não com a boca, e sim com a fé” (Agostinho).[43] Esta Ceia se destinava principalmente aos crentes (Lc 22.19). O sangue de Cristo para o descrente é como aqua vitae [água viva] na boca de um homem morto: perde toda a sua virtude.
Devemosachegar-nosà mesadoSenhorcomumcoraçãogeneroso. “Lançai fora o velho fermento... não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia” (ICo 5.7-8). O fer mento da malícia leveda para nós a ordenança. Ainda que venha mos com lágrimas amargas, ainda assim podemos não estar com espíritos amargos. A Ceia do Senhor é “ágape”: festa de amor (Inácio). O sangue de Cristo foi derramado para reconciliar-nos não só com Deus, mas também uns com os outros. O corpo de Cristo foi quebrado para desfazer as brechas entre cristãos. Que triste é o fato que os que professam comer a carne de Cristo no sacramento rasguem a carne uns dos outros! “Todo aquele que odeia a seu irmão é homicida” (ljo 3.15). Aquele que se achega à mesa do Senhor nutrindo ódio é um Judas para Cristo e um Caim para seu irmão. Que benefício pode tal pessoa receber no sacramento, cujo coração está envenenado com malícia? Se alguém sorve peçonha e ainda assim aparenta ser cordial, com certeza tal cordialidade não o fará bom. Os que se deixam envenenar pelo rancor e malícia não se fazem melhores com cor dialidade no sacramento. O que não se achega ao sacramento com um coração generoso nada usufrui de Deus, pois “Deus é amor” (ljo 4.8). Esse tal nada sabe do evangelho em seu caráter salvífico, pois este é o “evangelho da graça” (Ef 6.15). Ele nada possui da sa bedoria que vem do céu, pois a graça “primeiramente é pura, [43] Accedisad Christumnon carnesedcorde, edisco Christumnon dentesedfide.
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depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos” (Tg 3.17). Oh, que os cristãos sejam, no dizer de Inácio, “radicados e cimentados juntos no amor”!Acaso os demônios unirão e os san tos dividirão? E isso que apreendemos de Cristo? Porventura o Senhor Jesus não nos tem amado até a morte? Que maior opróbrio pode sobrevir à amorável Cabeça do que os seus membros se ferindo reciprocamente? Que o bom Senhor apague o fogo da contenda e acenda o fogo do amor e amizade em nosso coração!
Devemos achegar-nos ali com um coração súplice. Cada orde nança, assim como cada criatura, é “santificada pela... oração” (lTm 4.5). “Oratio mutat elementum in alimentum [A oração converte o elemento em alimento]. Quando enviamos ao céu a pomba da oração, ela traz uma folha de oliveira em sua boca. Devemos orar para que Deus enriqueça sua ordenança com sua presença; para que ele faça o sacramento eficaz a todos aque les fins e propósitos santos para os quais foi designado; para que seja a festa de nossas graças e o funeral de nossas corrupções; para que não seja somente um sinal a representar, mas um instrumen to que comunica Cristo a nós, e seja um selo que nos assegure de nossa adoção [união] celestial. Se tivermos a gordura e a doçura desta ordenança, então enviemos oração adiante, como um pre cursor, a anunciar uma benesse. Muitos parecem tão distraídos com cuidados mundanos que não conseguem poupar tempo algum para a oração preceder o sacramento. Acaso acreditam que a árvore da bênção gotejará seu fruto em sua boca quando nunca o comeram pela oração? Deus não expõe seus mistérios de qualquer maneira,nem os lan ça aos que não os buscam (Ez 36.37). Não é suficiente orar, mas é preciso que se ore com fervor e intensidade de alma. Jacó lutou em oração (Gn 32.24). Orações frias, como pretendentes frios, nunca prosperam. Oração deve 62
VERDADEIRA E FALSA FÉ
incluir suspiros e gemidos (Rm 8.26). Deve ser feita “no Espírito Santo” (Jd 20). Aquele que pretende falar com Deus, diz Ambrósio, deve falar-lhe em seu próprio idioma, o qual ele entende, isto é, no idioma de seu Espírito. E, finalmente, devemos achegar-nosà mesa do Senhor com um coração abnegado. Quando estivermos preparados da melhor ma neira possível, acautelemo-nos de não depositar confiança em nossas preparações. “Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fi zemos somente o que devíamos fazer” (Lc 17.10). Use o dever, porém não o idolatre. Devemos usar os deveres que nos prepa ram para Cristo, mas não façamos de nossos deveres um Cristo. O dever é a veredade ouro por onde caminhamos, mas não uma muleta de prata em que nos apoiamos. Ah, que são todas as nossas preparações? Deus pode ver um buraco em nossas melhores roupas. “Ai do homem, se o exami nares e o pesares” (Agostinho).1441“Todas as nossas justiças são trapos de imundícia” (Is 64.6). Quando estivermos preparados, quando esperarmos na mer cê de Deus, então que nos neguemos como merecedores de sua justiça. Se nossos mais santos serviços não forem aspergidos pelo sangue de Cristo, não serão melhores do que os pecados mais notáveis; e, como a carta para Urias, trarão em si o motivo de nossa morte. Cumpramos como dever, mas confiemos nossa aceitação aCristo e à livre graça. Sejamos como a pomba enviada por Noé: ela fez uso de suas asas para voar, porém, para sua segu rança, confiou na arca. Vimos como devemos ser qualificados para termos acesso à mesa do Senhor. E, assim, ao nos achegarmos, encontraremos os amplexos da misericórdia. Teremos não só uma representação, mas também uma participação de Cristo no sacramento; levare-4 4 [44] Vaehomini si eumtrutina discutias, etc.
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mos náo sópanis [pão], mas também salutaris [saúde]; estaremos “cheios de toda plenitude de Deus” (Ef 3.19).
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OBJEÇÕES CONTRA O ACHEGAR-SE AO SACRAMENTO “E, chegando-se opovo ao bosque, eis quecorria mel; porém ninguém chegou a mão à boca, porque opovo temia a conjuração”
(ISm 14.26).
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T esus Cristo já preparou seu banquete evangélico? Ele é, resI pectivamente, o anfitrião e o banquete? Então que os pobres
I cristãos em dúvida se animem para se achegar à mesa do nhor. Satanás criaria obstáculo ao sacramento, como fez Saul ao povo impedindo-o de comer mel (ISm 14.26). Mas, será que há alguma alma que se humilha e se deixa esmagar pelo pecado, cujo coração suspire secretamente por Cristo, mas, mesmo as sim, permanece temeroso e não ousa aproximar-se destes santos mistérios? Então que eu encoraje aquela alma a vir: “Tem bom ânimo, levanta-te” (Mc 10.49). O bjeção 1: Mas eu soupecador e indigno, e por que me envol
vería com coisas tão santas? R e spo st a: Por quem Cristo morreu, senão por tal criatura? “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores” (lTm 1.15). Ele tomou sobre si os nossos pecados, bem como a nossa nature za. “Certamente, ele tomou sobre si as nossas tristezas” (Is 53.4). No hebraico lê-se nossas enfermidades. Lança teus pecados, diz
A CEIA DO SENH OR
Lutero, sobre Cristo, e então eles já não são teus, e sim dele.1451 Nossos pecados devem nos humilhar, mas não devem nos afastar de Cristo; quanto mais enfermos, mais devemos descer ao Poço de Siloé. A quem Cristo convida para a ceia, senão os pobres, os coxos e os aleijados (Lc 14.21)? Isto é, aqueles que se veem indignos e fogem para o santuário de Cristo. O sacerdote tinha que tomar um ramo de hissopo e mergulhá-lo no sangue e aspergi-lo sobre o leproso (Lv 14.7). Você que tem em si a lepra do pecado, e como um leproso sente nojo de si mesmo, o precioso sangue de Cristo é aspergido sobre você. O bjeção 2: Mas eu tenhopecadopresunçosamentecontra a mi-
sericórdia. Tenho contraído culpa depois de ter-me achegado à mesa do Senhor; será que o sangue de Cristo não é para mim? R e spo st a : Deveras é grave usar mal a misericórdia: esse foi o agravo do pecado de Salomão; seu coração se afastou do Senhor, “o qual lhe apareceu duas vezes” (1Rs 11.9). Pecados presunçosos abrem a boca da consciência para incriminar e fecham a boca do Espírito de Deus para não falar de paz. Não abandone suaâncora, erga os olhos para o sangue de Cristo; ele pode perdoar pecados contra a misericórdia. Acaso não pecou Noé contra a misericór dia, o qual, ainda que fosse tão miraculosamente preservado do dilúvio, contudo, assim que saiu da arca, se embriagou?' Não pecou Davi contra a misericórdia quando, depois de Deus fazê-lo rei, conspurcou sua alma com luxúria e seu manto com sangue? Todavia, ambos os seus pecados foram lavados na quela fonte que foi aberta diante de Judá (Zc 13.1). Acaso os discípulos não trataram Cristo perversamente no momento de seu sofrimento? Pedro o negou e todos os demais abandonaram suas insígnias: “Então todos os discípulos o aban-4 5 [45] Aspicepeccata tua humeris Christi imposita, tumdices, peccata mea, nonsunt mea,
sedaliena. 66
OBJEÇÓES CONTRA O ACHEGAR-SE AO SACRAMENTO
donaram e fugiram” (Mt 26.56). Todavia, Cristo não tirou van tagem da fraqueza deles, nem desistiu deles, mas lhes envia ju bilosas notícias de sua ressurreição (Mt 27.7); e de sua ascensão: “mas vai ter com meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17). E para que Pedro não pensasse que já não era do número dos que não se interessavam pelo amor de Cristo, este enviou-lhe uma mensagem especial, pelo anjo, para confortá-lo: “Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galileia; lá o vereis, como vo-lo disse” (Mc 16.7). De modo que, onde nosso coração é sincero, e nossos desvios são mais provenientes de um defeito em nossa força do que em nossavontade, o Senhor Jesus não tirará vantagem de cada falha, mas gotejará seu sangue em nós, o qual tem em si uma voz que “fala melhor do que o de Abel” (Hb 12.24). O bjeção 3: Mas descubro tal desvanecimento efragilidade em
minha alma quenão ousoachegar-meà mesa do Senhor. R espo st a ; Mas você tem a necessidade de prosseguir: “usa de
um pouco de vinho por causa... de tuas frequentes enfermidades” (lTm 5.23). Não seria estranho um homem argumentar assim: “Meu corpo é frágil e declinante, por isso não irei ao médico”? Ao contrário, teria de ir. Nossa fraqueza nos impele a Cristo; seu sangue é mortífero para o pecado e vital para uma disposição positiva. Você afirma que tem defeitos em sua alma; se não tivesse nenhum, não teria havido necessidade de Mediador, nem Cristo teria uma obraa fazer. Portanto, abandone sua objeção incrédula, disponha-se a vir a esta bendita Ceia. Então descobrirá que Cris to continua doando-lhe suas doces influências, e sua disposição positiva vicejará como a erva.
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O bjeção 4: Mas achego-me com frequência a esta ordenança,
e não encontro bom resultado e o conforto não enche meu coração. R e spo st a: Deus só pode satisfazê-lo numa ordenança quan do você a discernir. Cristo estava com Maria, contudo ela não sabia que era ele. Você pensa que Cristo não o satisfaz em sua mesa só porque você não recebe o devido conforto. i. Ainda que ele não o enchade conforto, elepode enchê-lo deforça. Cremos que não temos resposta de Deus em nosso servir, a menos que ele nos encha de alegria. Mas Deus pode ma nifestar sua presença seja para fortalecimento ou para conforto. Se tivermos o poder celestial para derrotar nossas corrupções, e para andarmos mais perto e perenemente com Deus, então esta é uma resposta dele. “E eu os fortalecerei no Senhor, e andarão em seu nome” (Zc 10.12). Oh, cristão, se você não tem o braço de Deus a envolvê-lo, mas se tem seu braço a fortalecê-lo, este é o fruto de uma ordenança. ii. Se Dem não enche seu coração de alegria, mas ench sem olhos de lágrimas, este é o encontro dele comvocê em sua mesa. Quando você visualiza Cristo partido na cruz, e pondera sobre o amor dele e sua ingratidão, isso faz o orvalho começar cair, e seus olhos se assemelham às “piscinas do Hesbom” (Ct 7.4) transbordantes de água. Este é o gracioso encontro de Deus com você no sacramento. Bendito é o seu nome por isso. E um sinal, e o Sol da Justiça já nasceu sobre nós quando nosso cora ção de bronze se derrete em lágrimas por causa do pecado. iii. Se sem confortos sãopoucos, mas se as ações de suafé são muitas, esta éa manifestação desuapresença na Ceia. Os emblemas sensíveis do amor de Deus são subtraídos, mas as ven turas da alma estão no sangue de Cristo; ela crê que se achega a ele e ele sustentará firme o cetro de ouro (Jo 6.37). Esta gloriosa 68
OBJEÇÕES CONTRA O ACHEGAR-SE AO SACRAMENTO
ação da fé, e a tranquilidade interior que a fé desenvolve, é o ben dito retorno de uma ordenança. “Tornará a apiedar-se de nós; sujeitará nossas iniquidades, e lançarás todos os seus pecados nas profundezas do mar” (Mq 7.19). Os confortos da igreja estavam obscurecidos, mas sua fé se manifesta como o sol de uma nuvem. “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20.29). O bjeção 5: Mas não consigo achar no sacramento nenhuma
dessas coisas; meu coração está morto efechado; não tenho como voltar. R e spo st a : Espere a resposta de Deus na ordenança. Ele não
prometeu saciar a alma? “Promissa Dei cadunt in debitum” [As promessas de Deus lhe constituem uma obrigação]. “Pois fartou a alma sedenta e encheu de bens a alma faminta” (SI 107.9). Se não com entusiasmo, contudo com bondade; a alma deve estar cheia, do contrário, como pode a promessa cumprir-se? Cristão, Deus falou, portanto espere. Você não crerá em Deus, a menos que ouça uma voz do céu? O Senhor lhe deu sua promessa; e acaso não é uma segurança maior ter um recibo na mão do que apenas a palavra da boca? Contentemo-nos em es perar por algum tempo, e a misericórdiavirá. As mercês de Deus na Escritura não são chamadas mercês expeditas, mas são “mercês seguras” (Is 55.3).
Acaso Cristojá não nos deu seu corpo esangue?Então, quando nos encontramos diante desta ordenança evangélica, lembremo-nos do Senhor Jesus ali. O sacramento é uma ordenança que lembra Cristo: “fazei isto... em memória de mim” (ICo 11.25). Deus designou esta festa espiritual para preservar aviva memória da morte de nosso Salvador. O dia do sacramento é um dia de comemoração.
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1. Lembra a paixão de Cristo. “Memoriampassionis meae animis vestris recolite" [Trazendodevolta
à vossa mentea memória deminhapaixão]. “Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do abismo de fel” (Lm 319). Posso alterar um pouco as palavras: “Lembrando o vinagre e o fel.” Se o maná teve de ser guardado na arca para que a memória dele fosse preservada, como a morte e o sofrimento de Cristo não deveríam ser mantidos em nossa mente como um memorial, quando nos encontramos à mesa do Senhor? 2. Lembra osgloriosos benefícios que recebemosdo corpopartido de Cristo. Frequentemente, nos lembramos daquelas coisas que nos são vantajosas. O corpo partido de Cristo é um anteparo que se in terpõe entre nós e o fogo da ira de Deus. Ao ser partido o corpo de Cristo, a cabeça da serpente é esmagada. Quando Cristo é partido na cruz, uma caixa de joias preciosas é aberta: agora te mos acesso a Deus com ousadia. O sangue derramado na cruz abriu uma via para o trono da graça. Agora fomos feitos filhos e herdeiros; e ser herdeiro da promessa é melhor que ser herdeiro de uma coroa [humana]. Cristo, ao morrer, nos fez parentes próximos da bendita Trinda de; somos candidatos e expectadores da glória. A via sangrenta da cruz é nossa via lactea, nossa bendita via para o fcéu. Jesus Cristo bebeu o fel para que bebêssemos os doces mananciais de Canaã. Sua cruz ficou cravejada, para que nossa coroa fosse com pletamente coberta dejoias. E assim podemos lembrar Cristo no bendito sacramento. Mas não basta uma mera lembrança da morte de Cristo. Aquele que tem uma ternura natural de espírito pode sentir-se afetado pela história da paixão de Cristo; mas esta lembrança de Cristo tem em si pouco conforto. Lembremo-nos de Cristo no sacramento de uma maneira correta: 70
OBJEÇÕES CO NTRA O ACHEGAR-SE AO SACRAMENTO
i. Lembremo-nos da morte de Cristo comalegria“M.as lon ge esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (G1 6.14). Quando vemos Cristo no sacramento, crucifi cado ante nossos olhos, podemos contemplá-lo naquela postura enquanto estava na cruz, estendendo seus benditos braços para receber-nos. Oh, que motivo de triunfo e aclamação é este! Mes mo que nos recordemos de nossos pecados com tristeza, toda via devemos lembrar-nos dos sofrimentos de Cristo com alegria. Choremos aqueles pecados pelos quais ele derramou seu sangue, contudo, alegremo-nos naquele sangue que lava nossos pecados. ii. Recordemos de tal modo a morte de Cristo que nos con formemos a ela. “Sendo feito conforme à sua morte” (Fp 3.10). Então, lembremo-nos da morte de Cristo corretamente, na qual morremos com ele; nosso orgulho e paixão foram mortos. A morte de Cristo por nós faz morrer o pecado em nós; então lembremo-nos corretamente da crucificação de Cristo: quando somos crucificados com ele, estamos mortos para os prazeres e preferências do mundo. “O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (G1 6.14).
SeJesus Cristojá nosdeu esta almafestivapara ofortalecimento de nossa disposição, labutemospara sentir alguma virtudefluindo para nósdesta ordenança. Que o sacramento não seja uma mama sem leite. Seria estranho se um homem não recebesse de seu alimento nenhuma nutrição. Para este sacramento, seria um des crédito se não obtivéssemos aumento de graça. A pobreza entra ria em nossa alma num “banquete de coisas gordurosas”? Cristo nos dá seu corpo e sangue para o aumento da fé; ele espera que colhamos algum proveito e rendimento, e que nossa fraqueza, nossa fé diminuta, floresça em uma grande fé: “Oh mulher, grande é tua fé!” (Mt 15.28). Seria bom examinar se, após nos-
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sa frequente celebração de sua Santa Ceia, temos atingido uma cc j r/ » grande re . Como posso saber se possuo esta grande fé? R e s p o s t a : Para a solução disto, estabelecerei seis eminentes sinais de uma “grande fé”; e se pudermos mostrar pelo menos um deles, já teremos feito boa proficiência no sacramento. Pe r g u n t a:
1. Umagrandefépode confiar emDeus sempenhor ougarantia. Ela pode contar com a providência na deficiência das provisões externas. “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos cur rais não haja gado, todavia eu me alegro no Senhor, exulto no Deus de minha salvação” (Hc 3.17-18). Um incrédulo deve ter algo para alimentar seus sentidos ou render o espírito. Quando ele está no fim de suas riquezas, se sente no fim de suas faculdades. A fé não pergunta se Deus fará provisão, ainda que não veja de onde virão as provisões. “Fides famem nonformidaf [A fé não teme a fome]. Deus lhe pôs o seu selo: “verdadeiramente serás alimentado” (SI 37.3). A fé põe sua obrigação em ação: “Senhor”, diz a fé, “tu alimentarás as aves do céu e não me alimentarás? Sofrerei carência quando meu Pai possui a provisão?” O bom cristão, com a vara da fé, fere a rocha celestial, e algum dinheiro e azeite entram em cena para a provisão de suas presentes necessidades. 2. Umagrandefé é aquela que operaprodígios. Ela pode fazer aquelas coisas que excedem o poder da natureza. Uma grande fé pode abrir o céu, pode vencer o mundo (ljo 5.4); pode coibir a tendência para o pecado (2Sm 22.24); pode prefe 72
OBJEÇÕES CONTRA O ACHEGAR-SE AO SACRAMENTO
rir a glória de Deus em vez do interesse secular (Rm 9.1); pode alegrar-se na aflição (lTs 1.6). Pode refrear a intemperança da paixão; pode resplandecer no hemisfério de suas relações; pode realizar os deveres de uma ma neira mais refinada e sublimada, misturando amor com dever, os quais a adoçam e fazem com que ela se mostre mais prazerosa. Ela pode antecipar a glória: “Fides attingit inaccessa, prospicit novíssima [A fé alcança o que é inatingível e antecipa as últimas coisas]. Ela une as coisas que se encontram à máxima distância. A fonte mestra da fé se eleva mais alto que a natureza. Um homem, pelo poder da natureza, tem tanta força quanto tem o ferro para nadar ou a terra para ascender. 3. Umagrandefé éfirme e estáveL
A fé fraca é com frequência abalada com temores e dúvidas. Uma grande fé é como um carvalho que espalha suas raízes e não é levado facilmente pelo vento (Cl 2.7). Uma grande fé é como a âncora ou cabo de um navio que o torna seguro e inabalável no meio das tempestades. O cristão que é robustecido com esta fé heróica é estabelecido nos mistérios da religião. O Espírito de Deus gravou tão solidamente as verdades celestiais em seu co ração que remover os santos princípios daquele que o absorveu equivale a remover o sol do firmamento. Eis aqui uma coluna do templo (Ap 3.12). 4. Umagrandefé pode confiar em um Deus irado.
Ela crê no amor de Deus mesmo que enfrente sua reprovação (Jo 2.4). Uma fé vigorosa, ainda que seja rejeitada e rechaçada, virá outra vez e insistirá diante de Deus com santa obstinação. A mulher cananeia foi três vezes repelida por Cristo; contudo, sem considerar que ele lhe negava, voltando animada com novos argumentos, fazia novas investidas diante dele, até que, por fim, pelo poder da fé, ela o venceu: “Ó mulher, grande é tua fé; que se 73
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faça segundo a tua vontade” (Mt 15.28). A chave de sua fé abriu as entranhas de Cristo e então ela pôde ter o que queria dele. Quando uma vez conquistou seu coração, pôde possuir também seu tesouro. 5. Umagrandefé pode nadar contra a maré.
Ela pode transpor, respectivamente, o sentido e a razão. A razão corrupta diz, como Pedro, “apieda-te de ti, Senhor” (Mt 16.22); a fé diz: É preferível sofrer a pecar. A razão busca segurança; a fé porá em risco a segurança para preservar a santidade. Um crente pode velejar rumo ao céu, ainda que a onda da razão e o vento da tentação sejam contra ele. Enquanto caminhava ao encontro do sacrifício de seu filho, Abraão não convocou a razão como conselheira. Quando Deus disse: “Oferece teu filho Isaque”, isso seria suficiente para deixar perplexo não só a sabedoria carnal, mas até mesmo a própria fé. Pois aqui os mandamentos de Deus pareciam colidir. Em um mandamento, o Senhor disse: “Não matarás”; e eis aqui um mandamento totalmente adverso: “Oferece teu filho.” De modo que Abraão, ao obedecer a um mandamento, era como se deso bedecesse a outro. Além disso, Isaque era o filho da promessa; o Messias havia de vir da linhagem de Isaque (Hb 11.18). E se ele fosse elimina do, de onde viría ao mundo um Mediador? Aqui havia-bastante para atribular e confundir este santo patriarca, contudo a fé de Abraão desata todos estes nós e a faca sangrenta está preparada. Abraão creu que, quando Deus o mandou, isso não era ho micídio, e sim sacrifício; e que o Senhor, ao fazer a promessa de que a geração de Cristo viria dos lombos de Isaque, e que essa promessa não cairia por terra, era capaz de suscitar descendência das cinzas de Isaque. Eis aqui uma grande fé, para a qual o pró prio Deus ofereceu um troféu de honra: “Por mim mesmo jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação, e não me negaste teu 74
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filho, teu único filho, que deveras te abençoarei e multiplicarei grandemente a tua descendência...” (Gn 22.16,17). 6. Umagrandefépodesuportargrandes delongas. Ainda que Deus náo dê uma resposta imediata à oraçáo, a fé crê que terá a resposta no devido tempo. Uma fé fraca logo desiste; e se não recebe a misericórdia imediatamente, começa a desfale cer; enquanto que, o que possui uma fé forte e vibrante, “não se apressará” (Is 28.16). Uma grande fé se contenta em descansar em Deus. A fé permutará com Deus o tempo. “Senhor”, diz a fé, “Se eu não tiver a mercê que quero agora, continuarei confiando; eu sei que meu dinheiro está em boas mãos; haverá de vir uma resposta de paz. Talvez a mercê ainda não esteja sazonada, ou talvez eu ainda não esteja maduro para a mercê. Senhor, faças como parecer bem aos teus olhos.” A fé sabe que as viagens mais tediosas têm os regressos mais ricos; e quanto mais longa for a expectativa pela mercê, mais doce será sua fruição: “Quo longius defertur cor suavius laetatuf [Quanto mais o coração continua esperando, mais deleitosamente se regozija]. Eis aqui uma fé gloriosa. Se tivermos uma fé como esta para mostrar, então esse é um bendito fruto de nosso diálogo sacra mental com Deus. Eu, porém, não desestimulo crentes infantis. Se sua disposição não chegar ao tamanho e proporção de uma grande fé, mas se ela for do tipo adequado, então achará aceita ção. O Deus que nos convida a receber aquele que é “fraco na fé” (Rm 14.1), não irá rejeitá-lo. Se sua fé não alcançou a estatura de um cedro, sendo antes uma “cana esmagada”, é boa o suficiente para ser quebrada (Mt 12.20). Uma fé fracapode apegar-se a um Cristo forte. Uma mão paralítica pode unir-se em matrimônio. Que os cristãos, pois, não descansem em medidas inferiores de graça, mas aspirem graus mais elevados. Quanto mais forte
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for nossa fé, mais firme é nossa união com Cristo e mais doce influência extrairemos dele. É isto que honra o bendito sacramento, quando podemos mostrar um aumento de graça; e, sendo fortes na fé, produzimos glória a Deus (Rm 4.20).
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GRATIDÃO A DEUS “Oferecer-te-ei sacrifícios delouvor, einvocarei o nomedo Se n h o r ” (Sl
116.17).
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omo Jesus Cristo providenciou esse bendito banque te para nós? E verdade que ele não nos trata como estrangeiros, mas nos alimenta em seu próprio seio, com seu próprio sangue? Então tentemos corresponder ao grande amor de Cristo. E verdade que nunca conseguimos corresponder perfeitamente ao seu amor; todavia, demonstremos nossa gratidão. Não podemos fazer nada satisfatoriamente, mas podemos fazer algo gratamente. Cristo se deu por nós em oferta pelo pecado, então nos demos nós mesmos a ele como oferenda de gratidão. Se um homem redime outro de uma dívida, acaso o redimido será in grato? Quão profundamente estamos agradecidos a Cristo, ele que nos redimiu do inferno! “Quando eu lhe tiver dado tudo o que sou, tudo o que possuo, o que é uma fagulha para o sol, uma gota para o rio e um grão para o celeiro? Nada tenho além de duas míseras migalhas, corpo e alma” (Bernardo).1461E devemos demonstrar nossa gratidão de duas maneiras.4 6 [46] Cumei donavero quicquidsum, quicquidpossum, non est tanquamscintilla ad
solem, guttaadfluvium, gntnttmadacervum?Nonhabeonisi minutaduo, corpuset animam. [Uma alusão à história das moedinhas da viúva (Mc 12.41-44; Lc 21.1-4).]
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1. Demonstremos nossagratidão a Cristo com coragem. Cristo nos deu um exemplo; ele não temia o homem, porém “su portou a cruz” e “desprezou o opróbrio”. Que nossa coragem seja como o aço, estando prontos a sofrer por Cristo, o que é, segun do Crisóstomo, ser batizado com o batismo de sangue. Cristo suportou por nós a ira de Deus e não haveriamos de suportar por ele a ira dos homens? Nossa glória é enfrentar a luta de Cristo. “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (lPe 4.14). “Não é possível que o homem siga o curso da virtude sem se expor à tristeza, tribulação e tentações, pois como pode esca par aquele que está transitando pelo caminho áspero e estreito?” (Crisóstomo). Oremos pela fornalha da graça, a fim de sermos como aque les três filhos: “E, se não, fica sabendo ó rei que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste” (Dn 3.18). Antes ser queimado do que ser dobrado. Oh, que o espírito como o que estava em Cipriano nos faça sobreviver! Quando o Procônsul Galério tentou dissuadi-lo da religião, e disse: “Consule tibi [Consulta a tua segurança], ele replicou: “Numa causa tão justa, não há necessidade de consulta.” Quando a sentença de morte foi lida, Cipriano replicou: “Deo gratias” [Graças a Deus!]. Não sabemos a que momento pode vir a tenta ção. Mas recordemos bem que o corpo de Cristo foi partido, seu sangue, derramado; não temos derramado por ele nosso sangue, como ele derramou o seu por nós. 2. Demonstremos nossagratidão a Cristopelosfrutos. Não sejamos uma árvore seca, mas, pela graça de Cristo, de monstremos ser ramo frutífero (Ambrósio).1471 Produzamos os açucarados frutos da paciência, da disposição celestial e das boas obras. Isso significa viver não para nós mesmos, mas para aquele4 7 [47] Lignumaridumfactus, sedpergratiam Christipomifera arborpullulasti.
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GRATIDÃO GRATIDÃO A DEUS
que morreu morreu e ress ressus uscito citou u por nós nós (2C (2Co o 55-15). 15). Se alegra legrarmo rmos so cora coraçã ção o de Cristo Cristo e não não o fiz fize ermo rmos sent sentiir-se r-se pesa pesaroso roso po por seus seus sofrime sofrimento ntos, s, então então sere serem mos fé férteis rteis na na obediência. Os sábio sábios s do do oriente riente não não só adora adorara ram m a Cristo risto,, mas mas também lhe lhe ofe oferece recera ram m dádiv dádiva as, “ouro, ince incenso nso e mirra” mirra” (M (Mt 2.11) 2.11). Ofereçamos a Cristo os melhores frutos de nossa hortaliça; entregue ntreguemo mos s a ele no nosso sso amor, essa ssa flor lor deleito deleitosa. sa. Os santo santos s não são são some somente nte compa comparado rados s a estre estrelas las por por seu seu conh conheciment ecimento o, mas mas também também a árvores rvores aro aromá máti tica cas s por por sua sua fertilid ertilida ade. Cristo risto se delei delei tou nos nos seio seios s de sua esposa, sposa, porque porque eles eles eram eram como como que que “cacho “cachos s de uva uvas” s” (C (Ct 7.7) 7.7).. O sang sangue ue de de Cristo Cristo,, rece recebido bido de uma maneira maneira espiritual, espiritual, se asseme ssemelha lha à “á “água do ciúme”, ciúme”, a qual qual tin tinha a virtude rtude de matar matar e de fazer zer frutíf rutífe ero (Nm (Nm 5.275.27-28) 28).. O sang sangue ue de Cristo Cristo mata o pecado pecado e faz o coraçã coração frutif rutificar em graça raça.. 3. Demons monstremos noss nossa agratidão atidão a Cristo istopelo zelo. zelo. Quão zeloso foi Cristo por nossa redenção! O zelo converte um santo santo em se seraf rafim. Um verdade verdadeiro iro cristão cristão tem um duplo duplo batismo: batismo: de água e de fogo. Ele Ele é batiz batizado com com o fo fogo do zelo. zelo. “Ze “Zelus est grau u intenso intenso de gradus radus intensuspur purae affe affectio tioni nis" s" [O zelo é um gra pura pura afeição eição]. Sejamos zelo zelosos sos pelo nome nome e culto culto de Cristo. O zelo é intensif ntensifiicado cado pela pela oposiçã posição o; ele traça traça seu seu cami caminh nho o através través das das ro rochas. chas. O zelo ama ainda ainda mai mais a verdade erdade quando enfrenta enfrenta desdita e ódio. “Já é tempo Se n h o r , para inter interv vires, ires, pois pois a tua lei está sendo sendo vi violada. ada. Amo Amo os teus teus mandame mandament nto os mai mais do que o ouro uro, e mais mais do que o ouro ref refinado inado” (SI 119.126-127) 119.126-127).. Quão pouca gratidão demonstra a Cristo quem não tem zelo por por sua honra honra e interesse nteresse!! São como como Ef Efrai raim: “E “Efrai raim é um pão pão não não rev revirado irado” ” (O (Os 7.8): 7.8): assa ssava de um lado e ficava icava cru do do outro. Cristo Cristo abomin bomina a ainda mais mais um tempe tempera rame mento nto morno (Ap (Ap 3.15). 3.15). Ele sent sente e aversão rsão por por tais tais mestres mestres.. Os que escr escre evem sobre sobre a situaçã situação o da Inglaterra nglaterra diz dizem que ela está está asse assent nta ada ent entre re as zona zonas s quent quentes es e frias; rias; o cli clima nem é muito muito
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A CEI CEIA A DO SENHOR
quente quente nem muito muito frio. rio. G ostaria staria que este náo náo fosse osse o te tempera mpera mento do povo povo,, e que nosso nosso cora coraçã ção o não não fosse ssem de acordo cordo com com o cli clima em que vivem vivemos. os. Que o Senho Senhorr faça com que o fog fogo o do santo santo zelo esteja sempre sempre queimando queimando no altar altar de no nosso coraçã coração! o! 4. Demons emonsttremos emos nossa nossagratidão ratidão pela sujeiçã sujeição o univ iver ersal sala Crist isto. Isto to torna a Ceia do Senhor, em um senti sentido do espirit espiritua ual, l, uma fes ta de dedica dedicaçã ção o, quando reno renovam vamo os nossos nossos votos votos e nos nos co consa nsa gramo ramos s ao ao servi serviço ço de de De Deus. “O Senhor, nhor, devera deveras s sou sou teu ser serv vo; teu se servo, rvo, filho de tua se serva; quebraste quebraste as minhas minhas cadeias cadeias” ” (SI 116.16) 116.16).. Senhor, nhor, tudo o que tenho é teu. Min Minha cabeça cabeça será será tua tua para estudar estudar para ti; minh minhas as mão mãos serã serão o tuas para trabalh trabalhar ar para ti; ti; meu coraçã coração o será será teu para adora dorarr-te; te; minh minha a língua se será tua tua para louvar-te!
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CONSOLAÇÃO PARA OS CRENTES E ADVERTÊNCIAS PARA OS INCRÉDULOS Pa Para vós outros, portanto, os quecredes, éapreciosidade; mas, par para os descrente ntes, apedra dra queos constr onstrutore utores re rejeitaram aram, essa veio a ser apri principal palpedra dra angular, ular, epedra dra de tro tropeço e rocha de ofensa. São estes osquetropeçam napal palavra vra, sendo ndo desobedie diente ntes, para para o quetam tambémforam orampostos stos (IPe2.72.7-8) 8)..
S
e Jesus sus Cristo Cristo prov providencio idenciou uma uma ordenança rdenança como é o sa sa cramento cramento,, andemos ndemos de acordo cordo com com ele. ele. Já Já re recebe cebemos mos Cri Cris s to em nosso nosso coraçã coração? o? Prove Provemo-lo mo-lo mediante noss nossa a atitude atitude celestial.
1. Apres esen enttemos Cristo isto po por meio meio de nossa nossaspalav lavras celestiais.
Falem Falemos os “a lingua linguag gem de Canaã Canaã”. ”. Quando uando o Espírito Espírito Santo veio sobre os apósto apóstolo los, s, este estes s fa falaram laram em em outras língua línguas s (At (At 2.4). 2.4). En quanto quanto falarmos rmos as as pal palavras ras de graça graça e sobri sobrieda edade, de, noss nossos os lá lábio bios exalam exalam o cheiro sua suave do perfume perfume e destil destilam go gotas tas de mel mel. 2. Apres esen enttemos Cr Cristopor meio meio de nossos afetos afetos celest celestiais. iais.
Q ue nossos nossos ge gemido midos s e suspiros suspiros por por Deus subam subam como nuv nuvem em de de incenso: ncenso: “Pensai Pensai nas nas coisa coisas s que sã são de cima, cima, não nas nas que são são da
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terra terra” ” (Cl 3.2) 3.2).. Faça Façamos mos com com no nossos ssos af afetos o que os lavra lavradores dores fazem com com seus seus grã grão os; se o grão grão for depo depositado sitado em um luga lugarr úmido úmido,, corre o risco risco de apodre podrece cer. r. Porta Portanto nto,, ele tem de ser ser posto posto em um lugar lugar mai mais al alto para que sej seja mantido mantido em bom bom esta estado. do. Ass Assim nossos afe fettos, se for forem postos na terra, correm o risco de corro corrompermper-se se e perder o sabor. sabor. Por Por isso isso, temo temos de estar estar em em um lugar mais al alto, to, acima acima do do mundo mundo,, para que se sejamos prese preserva rvados dos puros. puros. Suspi uspirar pelas descob descobe ertas mai mais plena plenas s de Deu Deus s é desejar desejar “alcança “a lcançarr a re ressur ssurre reiçã ição o dos mo mortos” rtos” (Fp (Fp 3.11) 3.11). Quant uanto o mais mais nos nos sos afetos tos forem eleva levados dos ao céu, mais doce doce alegria sentirem sentiremo os. Quant uanto o mais mais alto as cotovi cotovia as voarem, rem, mais mais doce é o seu seu canto canto.. 3. Apres presen enttemos Cr Cristo istopor meio meio de nossa conversaçã sação o celestial elestial (Fp (Fp 3.20) 3.20).. Os hipócritas hipócritas podem, podem, num espa spasmo smo da co consciênc nsciência, ia, nutri nutrirr al al guns bons af afetos, poré porém m sã são como um jato de calo calorr no rosto que vem e se vai. Mas a essênci essência a de nossa nossa vida tem de ser ser sant santa a. Temos de transp transpiirar rar certo certo tipo tipo de sant santiidade angelical; ngelical; como se dá com uma moeda moeda:: ela traz traz nã não só a imagem imagem do sobe sobera rano no dentro dentro do círculo círculo;; mas mas seu seu sobrescrito sobrescrito do lado de fora fora.. E assim assim não não bas bas ta ter a imagem magem de Cristo Cristo no cora coraçã ção o, mas mas também é nece necessá ssário rio ter o sobre sobrescr scrit ito o do la lado de fora; ra; algo de Cristo Cristo tem de ser ser escrit scrito o na vida. A vida es escandalosa de de mu muitos comungantes cons onstitui um opróbrio para o sacra sacrame mento nto,, e tenta tenta outros ao ao ateísmo ateísmo.. Quão uão odioso dioso é o fà fàto que tais mão mãos, que têm re recebi cebido do os eleme elemento ntos s consa consag grado rados, s, aceitem ceitem suborno subornos! s! Que Que os olho olhos, s, que se se enchem de lágri ágrimas mas à mesa do Senhor, mais tarde tarde se encham encham de inv inveja! Que Que os dentes dentes que têm mordi mordido do o santo pão esmag esmaguem também ao ao pobre pobre!! Que Que os lábios lábios que têm toca tocado do o cálice cálice sacra sacramental mental osc oscuulem uma uma prosti prostituta! tuta! “Ele “Eles lava lavam as as mão mãos, poré porém m os fe feitos itos fica ficam m por por lavar” (Bernardo) ernardo).[48] Q ue aqu aquel ela a boca boca que bebeu o vi vinho nho [48] Suntlo lotis tismani anib bui ui,, sedil illotis tisoperib ribus.
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consagrado se encha dejuramentos! Que os que parecem deificar a Cristo na Eucaristia o conspurquem em seus membros! Numa palavra, que os que pretendem comer o corpo de Cristo e beber seu sangue, na Igreja, “comam o pão da perversidade e bebam o vinho da violência”, em suas próprias casas (Pv 4.17). Esses são como os italianos de quem tenho lido, que no sacramento se mostram táo devotos, como se cressem que Deus está no pão; mas na vida sáo táo profanos como se não cressem que Deus está no céu. Pessoas assim sáo capazes de fazer o mundo pensar que o evangelho é mera fantasia ou uma fraude religiosa. O que eu lhes diria? Eles, como Judas, recebem o diabo no bocado de pão e não são melhores que os que crucificaram o Senhor da glória. “Tripudiam o Senhor sob a planta de seus pés e poluem o sangue que extraem da mais doce videira” (Bernardo).1491Como seu pe cado é hediondo, assim sua punição será na mesma proporção, “porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor” (ICo 11.29). Se uma das virgens vestais que se consagravam à religião fosse deflorada, os romanos a condenavam a ser sepultada viva (Plutarco).1501Os que têm sobre si um voto sacramental, porém mais tarde defloram a virgindade da alma mediante pecados es candalosos, Deus os sepultará vivos nas chamas do inferno. Oh, que tão eminente e majestosa santidade lance chispas nas vidas dos comungantes para que outros digam: “Estes têm andado com Jesus!”, e que a consciência deles jaza sob o poder desta convicção: que o sacramento tem em si uma virtude que confirma e transforma! Um uso ulterior da instituição do sacramento é o de confortar opovo deDeus .0 5 9 4 [49] ConculcantDominum, etsanguinemdulcisstmaevitisducuntpollutum. [50] Plutarco de Queroneia (46-120 d.C.). Na antiguidade romana, um número de virgens se devotavam a manter uma chama em honra da deusaVesta. Seus votos envolviam a castidade.
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1. Do corpopartido de Cristo, e seu sanguederramado, extraiamos este conforto: que elefoi umglorioso sacrifício. i. Foi um sacrifício demérito infinito. Foraapenas um anjo que sofreu, ou fora Cristo um mero homem - como alguns blasfemamente sonham: “Beberam na opinião ebionita concernente à mera humanidade” (Tertuliano)[51) - então poderiamos deses perar-nos da salvação. Mas sofreu por nós aquele que era tanto Deus quanto homem. Portanto, o apóstolo o chama expressamente “SanguisDei” o sangue de Deus (At 20.28). E o homem que peca; é o Deus que morre. Esta é uma soberana cordialidade para os crentes. Cristo tendo derramado seu sangue, é agora a justiça de Deus perfeitamente satisfeita. Deus ficou infinitamente mais satisfei to com os sofrimentos de Cristo no monte Calvário do que se morréssemos no inferno e enfrentássemos sua ira para sempre. O sangue de Cristo apagou a chama da furia divina. E agora o que temeriamos? Todos os nossos inimigos são reconciliados ou subjugados; Deus é um inimigo reconciliado, e o pecado é um inimigo subjugado. “Quem lançará acusação contra os eleitos de Deus?... É Cristo que morreu” (Rm 8.33-34). Está registrado que, quando certa vez Satanás apareceu a Lutero, e pensava que ele ficaria amedron tado, Lutero lhe mostrou aquela Escritura: “E porei irfimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15), com isso Satanás desapareceu. Então, quando o diabo nos acusar, mostre mos-lhe a cruz de Cristo. Quando ele trouxer seu pincel e come çar a pintar nossos pecados com todas as cores, apresentemos-lhe a esponja do sangue de Cristo que os apagará outra vez. Todas as obrigações são canceladas; tudo quanto de que a lei nos acusava [51] Tertuliano (c. 150-220), primeiro dos Pais latinos. Watson cita de sua obra ContraPraxeas. 84
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é desconsiderado. O escrito de dívida é cancelado pelo sangue do Cordeiro. ii. Foi um sacrifício de duração eterna. O benefício dele é perpetuado. “Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (Hb 9.12). “O apóstolo tem em mente que o sacrifício de Cristo é sempre váli do para verdadeira e perene paz.”1521Portanto, lemos que Cristo é “sacerdote para todo o sempre” (Hb 5.6), porque a virtude e a consolação de seu sacrifício permanece para sempre. 2. O sangue de Cristo, uma vez derramado, dá aos crentes o direito de reivindicarem todos osprivilégios celestiais. Serão ratificados pela morte do testador. “Um testamento tem força onde houve morte” (Hb 9.17). No texto podemos obser var que Cristo chama seu sangue “o sangue do Novo Testamen to”: “Sanguis quofoedus solenniter sancitur” [O sangue pelo qual a aliança é solenemente ratificada] (Grotius).1531Cristo deixou aos santos uma vontade ou testamento bem como ricos legados: perdão dos pecados, graça e glória. As Escrituras são os rolos nos quais estes legados se acham registrados. O sangue de Cristo é o selo da vontade. Sendo este sangue derramado, os cristãos podem tomar posse destes legados; “Senhor, perdoa os meus pecados, Cristo já mor reu para meu perdão. Dá-me graça, pois Cristo já a comprou com seu sangue.” Tendo o Testador morrido, a vontade entra em vigor. Cristão, porventura você não se enche de alegria? Acaso você já não possui o céu? No entanto, você já está confirmado por uma Vontade em um Testamento. O homem que não tem um documento selado, transferindo terras e prédios, depois de [52] Innuit apostolus, Christi sacrificiumad veram, semperquemansummvaluisse. [53] Hugo Grotius (1583-1645), jurista e teólogo holandês.
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passar uns poucos anos, ainda que atualmente conte com pouca ajuda, contudo se conforta quando contempla seu documento selado, com esperanças daquilo que virá. E assim, ainda que no momento não desfrutemos de privilégios de consolação e glorificação, contudo, podemos alegrar nosso coração com isto: “a Escritura está selada”, a Vontade e o Testamento estão ratificados pelo sangue derramado de Cristo. 3. O sangue de Cristojá foi derramado?Eis uma consolação emface da morte. Um Salvador moribundo adocica as dores da morte. Seu Senhor já foi crucificado? Desfrute de bom conforto, pois Cristo, ao morrer, já venceu a morte. Ele já cortou o cadeado do pecado, onde jaz a forçada morte. Cristo já arrancou os dentes deste leão. Ele já arrancou o aguilhão da morte, para que ela não ferroe a consciência do crente. “Onde estão, ó morte, as tuas pragas?” (Os 13.14). Cristo desarmou a morte e tirou todas as suas armas mortais; de modo que, ainda quando fira, não pode picar um crente. Cristo extraiu a peçonha da morte, e mais ainda, fez da morte uma amiga. “Cristo despojou o aguilhão da morte e quebrou seu poder, e agora consuma a abolição do pecado e a passagem para uma vida melhor.” t54] Este “cavalo amarelo” (Ap 6.8) carrega um filho de Deus de sua casa para a casa de seu Pai. A fé dá uma propriedade"celestial; a morte dá uma posse. Que doce consolação podemos extrair da crucificação de nosso Senhor! Seu precioso sangue faz a face pálida da morte de compleição rubra e bela. O uso final da doutrina do sacramento consiste em advertir
opecador não arrependido. Este é um lado escuro da nuvem a todas as pessoas profanas que vivem e morrem no pecado. Elas não têm parte no sangue [54] Mortisaculeumretudit Christus, et viminfregit, iamquefitpeccati abolitio, et ad
vitammelioremtransitio. 86
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de Cristo. Sua condição será pior do que se Cristo não morresse! Cristo, que é a pedra ímã que atrai os eleitos ao céu, será a pedra de moinho que afundará os perversos no mais profundo inferno. Há uma companhia de pecadores que desconsidera o sangue de Cristo e jura por ele; saibam os tais que este sangue há de clamar contra eles. Têm de sentir a mesma ira que Cristo sentiu na cruz; e porque não podem suportá-la imediatamente, terão de suportá-la por toda a eternidade (2Ts 1.9). Tão inconcebivelmente torturante será isto, que os condenados não sabem como suportá-lo e nem mesmo como evitá-lo. Os pecadores não creem nisto até ser tarde demais. A tou peira é cega durante toda sua vida; contudo, no dizer de Plínio, ela começa a ver quando morre: “Ao morrer, o homem começa a abrir os olhos que estiveram fechados enquanto vivia.”1551Os perversos, enquanto vivem, são cegados pelo ouro deste mundo (2Co 4.4). Mas quando estão morrendo, os olhos de sua cons ciência começarão a abrir-se e verão a ira de Deus, chamejante diante de seus olhos; essa visão será um doloroso prólogo a uma eterna tragédia.
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Óculosincipitaperiremoriendoquosclausoshabuit vivendo. 87