A crise do sistema feudal e a emergência do capitalismo mercantil
A Idade Média pode ser analisada analisada por diversos viés e divisões, sendo a mais utilizada a divisão entre Alta Idade Média (séculos V a XI) e Baixa Idade Média (XI a XV). A Baixa Idade Média é caracterizada pelo desenvolvimento e consolidação do cristianismo, fortalecimento da Igreja Católica, expansão do modelo feudal, Cruzadas e crises e transformações na sociedade europeia feudal, principalmente no que tange aos aspectos culturais. O fim da Idade Média, concebido historicamente a partir do século XV, se dá por conta da crise do sistema feudal e pelo início da formação do capitalismo mercantil. A esse novo momento é dado o nome de Modernidade , onde esses processos irão se desenvolver. A História da Idade Moderna, portanto, é o período período que abarca os séculos XV (alguns fatores como a tomada de Constantinopla pelos turco-otomanos (1453), viagem de Colombo para as Américas (1492) e/ou de Vasco da Gama para as Índias (1498) são considerados marcos para a periodização) até a Revolução Francesa, em 1789. É durante esse período de 3 séculos que podemos ver a transição do modelo econômico feudal para o capitalista. 1.1. A ampliação dos horizontes físicos e mentais do homem europeu.
1.1.1 Fim da Idade Média
Para entender a crise do sistema feudal, é preciso antes delimitar que, como sistema econômico, o feudalismo era composto basicamente pela “pirâmide social”, onde o campesinato e os servos
ocupam a grande base; cavaleiros e monges um pouco acima, compondo parte pouco menor; a nobreza (senhores feudais) e o alto clero compõem a parte mais superior; e, acima de todos, está o rei.
Ex.: Modelo de pirâmide social do feudalismo
Ao final da Idade Média, uma das categorias sociais que se desenvolve fortemente e não é considerada nessa pirâmide são os burgueses. Os burgueses eram os pequenos mercadores, artesãos, banqueiros e demais moradores das cidades. As feiras medievais, o progresso do artesanato, as oportunidades de lucro, o desenvolvimento do comércio e das técnicas (invenções e avanço científico) permitem que as cidades cresçam. A isso, se soma a expansão das rotas comerciais (tanto terrestres quanto marítimas), que tornam o comércio um grande atrativo para os senhores feudais e os reis. Os senhores feudais começaram então a libertar os servos das terras, tornando as propriedades privadas, com objetivo de gerar excedente a ser vendido para os burgueses e terem lucro. 1.1.2 Expansão Marítima
A partir do século XV, os países europeus (tais como Inglaterra, França, Holanda, Portugal, Espanha e França) iniciam seus lançamentos aos mares, em busca de especiarias, catequização (por conta das perdas de fiéis durante a Reforma Protestante) e conquistas de novas terras - fator crucial para a manutenção do mercantilismo. As rotas por terra em direção às Índias eram dominadas por muçulmanos, enquanto as rotas marítimas no Mediterrâneo eram dominadas pelos “Italianos”, o que
motiva os outros países a seguirem o caminho do Atlântico.
Ex.: Rotas comerciais terrestres e marítimas antes da expansão marítima
O primeiro país a conquistar os mares foi Portugal, por conta da invenção das caravelas - mais resistentes aos perigos do mar aberto e mais manejável que as embarcações da época. Consegue, assim, ser um dos primeiros países a conquistar rotas marítimas em direção á América, África e Índia. Durante os séculos seguintes, XVII e XVIII surgem as disputas pela hegemonia continental e marítima,
porém isso se altera com a vitória inglesa do controle marítimo a partir das guerras da sucessão espanhola e dos Sete Anos. Essa expansão gera lucro para a burguesia europeia e transferência de metais preciosos.
Ex.: Primeiras rotas comerciais marítimas no início da expansão marítima 1.1.3 Renascimento
Neste panorama, é importante entender que o renascimento (ou renascença) não foi um movimento apenas artístico - mas sim um movimento social, cultural, político e científico. Surge primeiramente como uma forma de resgate dos valores da antiguidade clássica, valorizando depois conceitos como o humanismo, racionalismo, individualismo, etc. Este movimento permite que as discussões acerca da ciência retomem lugar na sociedade, como na antiguidade - controlada totalmente pela Igreja na Idade Média - e surjam debates e invenções que auxiliam nas navegações (bússola, mapas, astronomia, matemática, física, etc). As inovações nas pinturas, músicas, arquitetura, esculturas e estudos científicos são alguns dos sinais de que a sociedade que compunha o mundo feudal e da Idade Média já não tinha mais espaço nessas novas culturas que surgiam. Abrem-se as portas para o desenvolvimento da ciência e do pensamento sobre a importância do ser humano, assim como o questionamento acerca de fenômenos naturais e do próprio cristianismo. O resgate de filósofos antigos que debatem democracia, a liberdade humana e o regime republicano é fundamental para pavimentar o caminho de transição entre duas eras. Surge e é disseminada, também, a imprensa. Contudo, o Renascimento ocorre de forma diferente em cada local da Europa, sendo a Itália o centro principal das produções de pintura, esculturas, etc.
Ex: 1. Pintura renascentista de Jan Van Eyck, com utilização de técnicas como representação do espaço, corpo humano, natureza, etc.
2. Pintura de autor desconhecido do século XII, típica da época - religiosa, traços sem profundidade, etc.
1.2. A geografia do capitalismo 1.2.1 Surgimento do mercantilismo
Considerando os avanços científicos que surgem com o Renascimento e, logo após, a expansão marítima, aumentam-se as rotas comerciais e o fortalecimento do Mercantilismo. O processo de liberação dos servos da terra e início de cercamentos para venda de exce dentes, onde o “ex -servo” trabalha em troco de uma pequena quantia, é a origem do salário nos feudos. Por outro lado, o rei começa a unificar e criar leis mais rígidas, criando um Estado absolutista. Diferente da Idade Média, onde os senhores feudais tinham maior liberdade em relação às terras e aos pactos/guerras, começa a surgir a ideia de Estado-nação, com o rei como figura principal e aumento da importância dos burgueses e nobreza sobre a religião, assim como surgimento do intervencionismo do Estado na economia. Esse processo é chamado de acumulação primitiva de capitais, o surgimento do mercantilismo como sistema econômico. Outros fatores importantes que corroboram para esta transformação política-econômica é o advento do Iluminismo - uma forma de continuação do Renascimento - e, consequentemente dele, a Revolução Inglesa.
Bibliografia:
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado absolutista , São Paulo, Brasiliense, 2004. BASCHET, Jerome. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo, 2006. BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo. Séculos XV-XVIII , São Paulo, Martins Fontes, 2005. FLORENZANO, Modesto. Notas Sobre Tradição e Ruptura no Renascimento e na Primeira Modernidade , In: Revista de História n. 135 – 2º semestre de 1996, pp. 19-29.