CULTURA NARCISISMO a
. i C U L T
t l Ü A
d o N
A
R
C
I S I S M
O
A v ida ida mncricann tuma cra de
www.facebook.com/groups/livrosparadownload
www.slideshare.net/jsfernandes/documents
Christopher Lasch
A Cultura do Narcisismo A V ida id a A mer me r ica ic a na numa num a Er a de Esperanças em Declínio
Série Logoíeca Direção de JAYME SALOMÃO
CCSP Divisão Divisão de Biblioteca s
I M A G O E D IT IT O R A L T D A . Rio de Janeiro
THE CULTURE OF NARCISISM Copyright Copyright © 197 1979 by W . W . Norton & Company, Company, Inc. A ll r ig hts r eser es er ved. ve d. Published simultaneously in Canada by George J. McLeod Limited, Toronto. Printed in the United States of America.
Editoração: Coordenação editorial e gráfica: Márcia Salomão Pech T radução: E rnaní Pav aneli Moura Copydesk: Carlos Alberto Pavanelli Revisão: Edson de Oliveira Rodrigues e Carlos Alberto Pavanelli Capa: Rita Ivanissevich
1985
Direi ireito toss adq adqu uirid ridos por IMA IMA G O ED IT OR A LT DA . Rua Visconde de Pirajá, 550 — loja 324 Rio de Janeiro — RJ Tels.: 274-8297 — 294-9391
Todos os direitos de reprodução, divulgação e tradução são reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida por fotocópia, micro filme ou outro processo fotomecânico.
Impresso no Brasil Printed in Brazil
A K ate
For she is wise, if I can judge of her, A nd f a ir she is, if that tha t mine eyes be true, A nd true tr ue she is, as she hath hat h prov pr ov ’d hers her s elf; el f; A nd theref ther efore ore,, lik e hers her s elf, elf , w ise, f a ir a nd true, Shall she be placed in my constant soul. O Mercador de Veneza, II. vi
ín d ic e
Prefácio ........................................... . ................ .. .............. Ag A g r adeciment adec imentos os ........................................ ............................................. ..... ....................
11 19
I O Movimento pela Conscientização e a Invasão Social do Eu O Enfraquecimento do Sentido de Tempo Histórico . . . A S e nsibilida ns ibilidade de T er apêutica apêutic a ........................................... ........................................... Da Política à Introspecção .......................................... ............................................. ... Confissã Confiss ão e A nticonf nticonfiss iss ão .......... ......................................
O Vazio Interior .......................................................... A C r ítica ític a Prog Pr ogre ress ssista ista ao P r ivat iv atis ismo mo ............................. A C r ítica ític a do P r ivat iv atis ismo mo:: R icha ic harr d S ennett ennet t s obre a Q ueda ............................... do Homem Público ................... ............................... .
23 27 34
38 43 47 50
II A Per Pe r s onalidade onal idade Narci Nar cisi siss ta de Nossos Dias Dia s O Narcisismo como uma Metáfora da Condição Humana Psicologia e Sociologia ..................................................... O Narcisismo na Literatura Clínica Recente ................ Influências Sociais sobre o Narcisismo ........................... O Ponto de Vista do Mundo sobre o Resignado ..........
55 58 61 66 76
III Meios Variáveis de Obter Resultados: De Hor atio A lger à A legre legr e Prostitu Prost ituta ta ......... .............. .......... .......... ........ ... O Significado Original da Êtica do Trabalho ................
79 79
Da “A utocultura” à A utopromoção utopromoção por por meio de de “ Imagens magens de Vitória” . . . . .........................................................
83
O
87
Eclipse da Realização ........................... ...................... A A r te da S obrev obr ev ivência iv ência S ocial oc ial .................................... A A poteos e do Ind Indiv iv idua idu a lis m o ................................. .
91
94
IV A B analid ana lidade ade da PseudoPs eudo- A utoconscie utocons cientiz ntização: ação: O T eatro eatr o da Política e a Existência Cotidiana A P r opag opa g anda das Me Merc rcado adoria riass .................................... V erdade er dade e C r e dibilida dibilid a de ............... ...................... ............... ................ ............... ....... . . .
101
............ .. ................................
105 108 112 11 2 115 11 5
Publicidade e Propaganda
A O A O
P olític ol ític a como E s petáculo pe táculo .......................................... Radicalismo como como Teatro de de Rua ........................... A dor ação aç ão do H e r ói e a Idea Ide a lizaç liz ação ão Narc Na rcisis isis ta ......... Narcisismo e o T eatro do A bsurdo ............. ..............
T eatro eatro da V ida ida Cotidiana Cotidiana ........................... ............... Distanciamento Irônico Irônico como como Fuga Fuga àRotina ............ Sem Saída' .. .. ....................................................................... O O
.
101
116 122 122
127 128
V A Deg r adação ada ção do Esport Es portee O E spírito do fogo fog o versus versus a Mania Ma nia da Ex altação altação Nacional Nac ional Huizinga sobre o Homo Ludens ............................ ...... A A
C r ítica ític a do Esporte Es porte ............. ........................... .............. T r iv ializa ial iza ção do A tle tis mo .............................. .........
O Imperiali Imperialismo smo e o Culto Culto da V ida E né r g ica ................. Lealdade Empresarial e Competição ............................... Burocracia e “Trabalho de Equipe” ......................... Os Esportes e a Indústria do Entretenimento .......... .... ....................... ................ ................ ........ ................ .................. .. O Lazer como Fuga ...............
133 135 135 137 137
142 144 148 153 154 158
VI
A E ducaç duc ação ão Esco Es col? l? ’* e o Nov No v o A nalf nal f abeti abe tiss mo A D ifus if us ão do E s tupor tupo r ................................................... A A tr o f ia da Compe Co mpetên tência cia ............................................. Origens Históricas do Sistema Escolar Moderno .......... Da D isc iplina iplina Industr ial à Seleção Seleção de MãoMão- de- Obra Obra . . . Da A mer icanizaç icanizaçãão à “A daptaçã daptaçãoo à V ida” .................. Educação Básica versus Educação da Defesa Naciona O Movimento dos Direitos Civis e as Escolas ............ Pluralismo Cultural e o Novo Paternalismo .................. A A s cenção ce nção da M ultiv ult ivee r s idade ida de ...................................... O “Elitismo” Cultural e seus Críticos .......................... A E ducaç duc ação ão como com o M e r cado ca dorr ia ............................ ..........
161 164 166 169 172 176 179 182 183 188 190
V I I A S ocia oc ialilizz ação aç ão da Repr Re proo dução e o Colapso Col apso da A utor uto r idade ida de A “ S o c ializ ia lizaa ção do O pe r ário ár io”” ...................................... O T ribunal de Menores Menores .................................................. Educação de Pais ............................................... .. ............. A P e r miss mis s ividade iv idade Re cons co nside iderr ada .................................... O Culto da Autenticidade ............................................. Repercussões Psicológicas da “Transferência de Funções” Narcisismo, Narcisismo , Esquizofrenia e a Família .......................... O Narcisismo e o “Pai Ausente” ..................................... A A bdic bdi c a ção da A utor uto r idade ida de e a T r ans for fo r mação ma ção do Superego ........................................ ............................................................ ............................. ......... A R e lação la ção da F a m ília com O utros utr os A g entes do C ontr ont r ole Social .......................................................................... Relações Relações Humanas no T rabalh ra balho: o: A Fábrica Fábrica como como uma uma Família ........................................................................ .
V I I I A F uga ug a ao S entiment ent imento: o: Sociopsicologia da Guerra entre os Sexos
193 195 199 201 205 209 20 9 211 213 217 222 224
A T r iv ializaç ializ ação ão das Relações Rela ções Pessoais Pess oais ........................... A G uer ue r r a entre os Sex os: S ua H istór is tór ia S ocial oc ial . . . . . . . . A “ R e v olução ol ução”” Sexual .....................................................
229 231
.................................... .......................... .......................... ..................... ......... Proximidade ........................ O Feminismo e a Intensificação da Guerra entre os Sexos ...................................... ..................... ......... Estratégias de Acomodação .......................... A Mulhe Mul herr Cas tradora tra dora da Fanta F antasia sia Masculina .................
237
A A lma lm a do Home Ho mem m e da Mulhe M ulherr sob oSocialismo oSocialismo . . . .
233 238 23 8 241
245 24 5 249
I X A Fé A balada bal ada na Reg eneração ener ação da V ida O Horror à Velhice ........................................................ 251 Narcisismo e Velhice ........................................................ 253 A T eoria eor ia S ocial ocia l do E nvel nv elhec hecime imento: nto: O “Cr “C r es cimento” cime nto” ................................... ............ 256 como Obsoletismo Planejado ....................... Longevidade: A Teoria Biológica do Envelhecimento
..
259
X Paternalismo Sem -Pai
...................................... ....................... ........... O NovoNovo- Rico Rico e o V elho .......................... A E lite lit e A dminis dm inis tr ativ at iv a e P rofis ro fis s ional iona l como Classe ...................................... .............. .. Dominante ......................... ..........................
O Progressismo e o Surgimento do Novo Paternalismo A C r ítica ític a L iber ibe r al à P r ev idência E s tata ta tall ....................... Dependência Burocrática e Narcisismo ........................ A Cr ítica Conser Cons ervv adora ador a da B urocra uroc racia cia ........ .................. Notas índice
.................................................................................. Remissiv o
.......................... ...................................... ........................ .......................... ..............
263
266 26 6 268 26 8 270 274 27 4 278 285 309
Prefácio
Pouco mais de um quarto de século após Henry Luce ter pro clamado “o século americano”, a confiança americana come çou a declinar. Aqueles que até há pouco tempo sonhavam com o. poder poder mundial, mundia l, se desesp eses peram hoje com o governo gov erno da cidade de Nova Iorque. A derrota no Vietnam, a estag nação econômica e a exaustão iminente dos recursos natu rais resultaram num sentimento de pessimismo em círculos mais elevados, que se comunica ao resto da sociedade à me dida que as pessoas vão perdendo a fé em seus dirigentes. A mesma crise cris e de conf co nfia iança nça apossou apossou-- se de outros outr os países capi ca pi talistas. Na Europa, o crescente fortalecimento dos partidos comunistas, o ressurgimento de movimentos fascistas e uma onda de terrorismo são, todos, fatos que atestam, de diferentes maneiras, o enfraquecimento dos regimes estabelecidos e a exaustão da tradição estabelecida. Até mesmo o Canadá, há muito tempo um bastião da estólida dependência ao sistema burguês, ora vê no movimento separatista em Quebec uma ameaça à sua própria existência como nação. As A s dimensõ dimens ões inte int e r nacio nac ionais nais do atual at ual mal- estar indic ind icam am que que isto não pode ser atribuído a uma perda de coragem da Amé rica. A sociedade burguesa parece ter esgotado por toda parte seu estoque de idéias construtivas. Perdeu tanto a capacidade como a vontade de se confrontar com as dificuldades que ameaçam sub subjugájugá- la. A crise política política do capitalis mo reflete reflete uma crise geral da cultura ocidental, que se revela por um desespero difundido de compreender o curso da história mo derna ou sujeitá sujeitá-- lo a uma dir direção eção racional. O liberalis liber alis mo, a teoria política da burguesia em ascensão, há muito perdeu a capacidade de explicar os eventos no mundo da previdência estatal ou da empresa multinacional; nada ocupou seu lugar. 11
Politicamente falido, o liberalismo também é intelectualmente falido. As ciências a que ele deu apoio, uma vez confiantes cm sua capacidade de dissipar as trevas dos tempos, não mais proporcionam explicações satisfatórias para os fenôme nos que pretendem elucidar. A teoria neoclássica da econo mia não consegue explicar a coexistência de desemprego e inflação; a sociologia recua diante da tentativa de esboçar uma teoria geral da sociedade moderna; a psicologia acadê mica recua diante do desafio de Freud, passando para a me dição de trivialidades. As ciências naturais, tendo feito exa geradas reivindicações para si, ora apressam-se a anunciar que a ciência não oferece curas milagrosas para os proble mas sociais. Nas humanidades, a desmoralização chegou ao ponto de uma admissão geral de que o estudo humanista não tem como contribuir para uma compreensão do inundo moderno. Os filósofos não mais explicam a natureza das coisas, nem pre tendem dizer-nos como viver. Estudiosos de literatura tratam o texto não como uma representação do mundo real, mas como um reflexo do estado mental interior do artista. Os his toriadores admitem um “sentido de irrelevância da história”, nas palavras de David Donald, “e da desolação da nova era que ora adentramos”. Devido à cultura liberal ter sido sempre bastante dependente do estudo da história, o colapso desta cultura encontra uma ilustração especialmente aguda no co lapso da fé histórica, que antes cercava o registro de eventos públicos com uma aura de dignidade moral, patriotismo e otimismo político. No passado, os historiadores admitiram que o homem aprendia a partir de erros anteriores. Agora que o futuro fut uro parece contur bado e incerto, o pass passado ado parece parece “ irre irr e levante” mesmo àqueles que devotam suas vidas a investigálo. “ A era da abundância abundância chegou ao fim fi m ” , escreve escreve Donald. “ A s ‘lições’ ‘lições ’ ensinadas pelo passado americano ameri cano sã s ão hoje hoje não não só irrelevantes, mas perigosas... Talvez minha função mais útil seja livrar (os estudantes) do fascínio da história, ajudálos a ver v er a irre ir relev lev ância ância do passado, pass ado, . . . lembrarlembrar- lhes com que medida limitada os seres humanos controlam seus pró prios destinos.” 12
T al é a v isão do topo topo — a desesperad desesperadora ora vis v isão ão do do futuro, ora completamente compartilhada por aqueles que governam a sociedade, moldam a opinião pública e supervisionam o conhecimento científico de que depende a sociedade. Se, por outro lado, perguntarmos o que pensa o homem comum a respeito de suas perspectivas, encontraremos bastantes evi dências para confirmar a impressão de que o mundo mo derno vê o futuro sem esperança; mas temos, também, o outro lado do quadro, que qualifica esta impressão e sugere que a civilização ocidental ainda pode gerar os recursos mo rais para transcender à sua atual crise. Uma difundida des confiança pelos que estão no poder, tornou a sociedade cada vez mais difícil de ser governada, do que a classe governante repetidamente se queixa sem compreender sua própria con tribuição para essa dificuldade; contudo, esta mesma descon fiança pode proporcionar a base de uma nova capacidade de autogoverno, que terminaria por abolir a necessidade que dá origem, em princípio, a uma classe governante. Aquilo que aos cientistas políticos parece ser apatia dos que votam, pode representar um saudável ceticismo quanto a um sis tema político políti co,, no qual a mentir a públic públic a torn tornou ou-- se endêmica endêmica e rotineira. Uma desconfiança pelos especialistas pode aju dar a diminuir a dependência dos especialistas, a qual estro piou a capacidade capac idade de de auto- suficiência. suficiência. A mode r na buroc bur ocrr acia ac ia debil de bil itou it ou as primi pr imiti tivv as tradições tr adições de ação local, cuja revivescência e extensão mantêm a única esperança de que uma sociedade decente emergirá dos es combr combr os do capitalis capita lis mo. A inadequação inade quação das das soluçõ soluções ditadas de cima hoje força as pessoas a inventarem soluções de baixo. O desencanto com as burocracias governamentais começou a se estender estender também t ambém às às burocr burocracias acias empres empresariais ariais — os v erda deiros centros de poder na sociedade contemporânea. Em pequenas cidades e populosas vizinhanças urbanas, inclusive em subúrbios, homens e mulheres iniciaram modestos expe rimentos em cooperação, destinados a defender seus direitos contra as corporações e o Estado. A “fuga à política”, como se afigura às elites administrativa e política, pode significar a crescente falta de vontade do cidadão de participar do sis tema político polític o como consumidor de espetácu espetáculos los pré- fabricados. fabricados. 13
Isto pode significar, em outras palavras, não um recuo em relação à política, em absoluto, mas o início de uma revolta política geral. Muito poderia ser escrito sobre os sinais da nova vida nos listados Unidos. Este livro, no entanto, descreve um modo de vida v ida que que está está mor ibundo — a cultura do indiv indiv idualis mo competitivo, o qual, em sua decadência, levou a lógica do individualismo ao extremo de uma guerra de tudo contra tudo, à busca da felicidade em um beco sem saída de uma preocupação narcisista com o eu. As estratégias narcisistas de sobrev sobre v ivência iv ência ap apresentam resentam-- se, hoje, como a liber tação de de con dições repressoras do passado, dando, assim, origem a uma “ rev oluçã oluçãoo cultur cul tur al” al ” , que que reprodu r eproduzz os piores piores aspect aspectos os da ci vilização em colapso que ela pretende criticar. O radicalismo cultura cult urall torn tornou ou-- se tão em voga vog a e tão pernicioso pernicios o no apoio a poio que inconscientemente proporciona ao status quo, que qualquer crítica à sociedade contemporânea que pretenda ser penetrante lem de criticar, ao mesmo tempo, uma boa parte do que eomumente recebe o nome de radicalismo. Os eventos tornaram as críticas liberacionistas à sociedade moderna desesperançadamente ultrapassadas, assim como gran de parte da primitiva crítica marxista. Muitos radicais ainda dirigem sua indignação contra a família autoritária, a mora lidade sexual repressora, a censura literária, a ética do tra balho e outros fundamentos da ordem burguesa, que têni sido enfraquecidos ou destruídos pelo próprio capitalismo desen volvido. Estes radicais não vêem que a “personalidade auto ritária” não mais representa o protótipo do homem econômico. O próprio homem econômico deu lugar ao homem psicoló g ico de de nos nosso soss tempos tempos — o pro produ duto to f inal do indiv idualis mo burguês. O novo narcisista é perseguido não pela culpa, mas pela ansiedade. Ele procura não infligir suas próprias in certezas aos outros, mas encontrar um sentido para a vida. Libertado das superstições do passado, ele duvida até mesmo da realidade de sua própria existência. Superficialmente tran qüilo c tolerante, vê pouca utilidade nos dogmas de pureza racial e étnica, mas, ao mesmo tempo, vê-se privado da segu rança de lealdade do grupo e considera os outros como ri vais pelos favores conferidos por um Estado paternalista. Suas 14
atitudes sexuais são mais permissivas do que puritanas., muito embora sua emancipação de velhos tabus não lhe tenha tra zido a paz sexual. Ferozmente competitivo em seu desejo de aprovação e reconhecimento, desconfia da competição, por associ associáá- la inconscie inconscientemente ntemente a uma irref irr efreável reável necessida necessidade de de de destruir. Desse modo, repudia as ideologias competitivas que floresceram em um estágio anterior do desenvolvimento capi talista e desconfia até de sua limitada expressão em esportes e jogos. Exalta a cooperação e o trabalho de equipe, enquanto abriga profundos impulsos anti-sociais. Exalta o respeito a regras e regulamentos, na crença secreta de que estes não se aplicam a ele. Ganancioso, no sentido de que seus desejos não têm limites, ele não acumula bens e provisões para o futuro, como o fazia o ganancioso individualista da econo mia política do século dezenove, mas exige imediata grati ficação e vive em estado de desejo, desassossegada e perpe tuamente insatisfeito. O narcisista não se interessa pelo futuro porque, em parte, tem muito pouco interesse pelo passado. Acha difícil interio rizar associações felizes ou criar um estoque de lembranças amoráveis para enfrentar a última parte de sua vida, a qual, embora nas melhores condições, sempre traz tristeza e dor. E m uma sociedad sociedadee narcisista narcisis ta — uma sociedade sociedade que dá cres cres cente cente pro proeminência eminência e encorajamento encor ajamento a traços traços narcisistas — , a desvalorização cultural do passado reflete não só a po breza das ideologias predominantes, as quais perderam o pul so da reali re alidade dade e cederam ceder am à tentativ a de domin domináá- la, mas a pobreza da vida interior do narcisista. Uma sociedade que fez da “nostalgia” uma mercadoria comercial, repudia, pelo lado cultural, a sugestão de que a vida no passado era, sob qualquer aspecto, melhor que a vida atual. Tendo trivializado za do o passado, pass ado, ao igualáigualá- lo a estilos ultrapass ultra passados ados de con sumo, modas e atitudes, dos quais abriram mão, as pessoas, hoje em dia, ressentem-se de qualquer um que recorra ao passado para sérias discussões sobre as condições contempo râneas, ou que tente usar o passado como um padrão com que julgar o presente. O atual dogma crítico equaciona qual quer referência ao passado como sendo ela própria uma ex pressão de nostalgia. Como observou Albert Parr, este tipo 15
tle raciocínio “afasta inteiramente quaisquer critérios adqui ridos, e quaisquer valores alcançados, pela experiência pes soal, uma vez que tais experiências são sempre localizadas no passado e, conseqüentemente, na esfera da nostalgia”. Discutir as complexidades de nossa relação com o passado sob o título de de “ nostalg ia” s ubstit ubstitu ui a propagandização propaga ndização pela crítica social objetiva, com a qual esta atitude tenta associarse. O menosprezo em voga, que hoje em dia acolhe automa ticamente qualquer recordação aniorável do passado, tenta explorar os preconceitos de uma sociedade pseudoprogressista em favor do status quo. Contudo, sabem sabemos os agora ag ora — graças graças à obra de Christopher Hill, E. P. Thompson e de outros historiadores istoriadores — que que muitos muitos movimentos r adicais adicais do passado passado extraíram força e sustento do mito ou memória de uma era áurea no passado ainda mais distante. Esta descoberta histó rica reforça o critério psicanalítico de que as recordações amoráveis se constituem numa fonte psicológica indispensável na maturidade, e que aqueles que não conseguem recorrer às recordações de relações amoráveis no passado sofrem, como res ultado, tormentos terr íveis. A crença de de que, que, em alguns aspectos, o passado foi um tempo mais feliz, de modo algum baseia-se numa ilusão sentimental; tampouco leva a uma para lisação retrógrada e reacionária da volição política. Meu próprio ponto de vista sobre o passado é justamente o oposto oposto ao de de Dav id Dona Do nald. ld. Longe de considerá considerá-- lo uma uma sobrecarga inútil, vejo o passado como um tesouro político e psicológico do qual extraímos as reservas (não necessaria mente sob a forma for ma de de “ lições” ) de qu que precisamo precis amoss para par a en frentar o futuro. A indiferença de nossa cultura pelo pas sado sado — que que facilmente encobre encobre hos hos tilidade tilidade ativa e rejeição rejeição — fornece a prova mais palpável da falência dessa cultura. A atitude predominante, tão animadora e avançada na super fície, é derivada de um empobrecimento narcisista da psique, assim como de uma incapacidade de basear nossas necessi dades na experiência da satisfação e do contentamento. Em lugar de recorrermos à nossa própria experiência, permitimos que especialistas definam por nós nossas necessidades e, de pois, nos surpreendemos desejando saber por que essas ne cessidades jamais parecem ser satisfeitas. “À medida que as 16
pessoas se tornam alunos capazes de aprender como ter ne cessidade”, escreve Ivan Illich, “ a capacidade de moldar de sejos a partir da satisfação experimentada torna-se rara com petência dos muito ricos ou dos seriamente desprovidos.” Por todas essas razões, a desvalorização do passado tornouse um dos sintomas mais importantes da crise cultural, à qual se dirige este livro, com freqüência recorrendo à expe riência histórica para explicar o que há de errado com nosso atual sistema. Uma negação do passado, superficialmente pro gressista e otimista, mostra, a uma análise mais cuidadosa, o desespero de uma sociedade que não consegue enfrentar o futuro.
17
Ag A g radecimentos ra decimentos
A lg umas uma s das das idéias deste liv r o f oram or am aguçadas ag uçadas por meio da correspondência e de conversas com Michael Rogin e Howard Shevrin, aos quais desejo agradecer pelo interesse por meu trabalho e por suas valiosas sugestões. Quero também salien tar minha dívida para com os escritos de Philip Rieff e Russell Jacoby, os quais tanto fizeram para clarificar as questões culturais e psicológicas a que se destina este livro. Nenhum desses estudiosos deve ser responsabilizado por minhas con clusões, com algumas das quais podem eles, talvez, julgar ser impossível concordar. O manuscrito foi beneficiado por uma leitura crítica de minha mulher e de Jeannette Hopkins, que, por mais de uma vez, ve z, poup pouparamaram- me de de fazer faze r formulaçõ for mulações es descuidadas descuidadas ou des des necessariamente abstratas. Quero agradecer a Jean DeGroat, mais uma vez, por sua habilidade e paciência como datilografa. Ver V ersões sões pre liminar limi nares es de parte deste mater mate r ial — ora or a rees truturado além de qualquer semelhança com aqueíes primeiros ensaio en saioss — apareceram apareceram em The New York Review (“The Nar cissist Society” , 30 de de setembro setembro de 1976; 197 6; “ Planned Obsoles Obsoles cence”, 28 de outubro de 1976; “The Corruption of Sports”, 28 de abril de 1977; “The Siege of the Family”, 24 de no vembro de 1977); Partisan Review (“The Narcissistic Perso nality of Our Time”, 1977, n? 1); Hasting Center Report (“Aging in a Culture without a Future”, agosto de 1977); Marxist Perspectives (“The Flight from Feelings”, primavera de 1978); e Psychology Today (“To be Young, Rich and En titled”, março de 1978).
19
A C UL T U R A D O N A R C IS IS M O
I
O Movimento pela Conscientização e a Invasão Social do Eu O ser marivaudiano é, de acordo com Poulet, um homem sem passado e sem futuro, nascido de novo a cada instante. Os instantes instantes são pontos pontos que se or ganizam em uma linha, mas o que é importante é o instante, não a linha. O ser mariva udiano, udiano, em certo sentido, não possui história. Nada se segue ao que viera antes. Ele é constantemente surpreendido. Não consegue predizer sua própria reação aos even tos. Está constantemente sendo levado pelos aconte cimentos . Cercaerca- o uma condição de ex citação citação e des des lumbramento. DONALD BARTHELME È simplesmente irritante pensar que se poderia estar em outro lugar qualquer. qualquer. A qui estam estamos agora. agora. JOHN CAGE
O Enfraquecimento do Sentido de Tempo Histórico. À me dida que o século vinte se aproxima do fim, aumenta a con v icção de que que muitas outras coisas também ta mbém estão, se aca bando. Sinais de tempestades, presságios, insinuações de ca tástr tástrofes ofes persegu perseg uem nosso nossoss dias. O “ sentido de de um fim f im ” que que tanto tem moldado a literatura do século vinte, ora invade também a imaginação popular. O holocausto nazista, a amea ça de aniquilamento nuclear, o esgotamento de recursos na turais, as predições bem fundamentadas de desastre ecológico preencheram a profecia poética, dando substância histórica concreta ao pesadelo, ou desejo de morte, que os artistas vanguardistas foram os primeiros a exprimir. A questão de saber se o mundo terminará em fogo ou em gelo, com um estrondo ou em lamúrias, deixou de interessar somente aos artis tas. O desastre em suspen suspenso so tornou tornou-- se uma preocupação preo cupação cotidiana, tão comum e familiar, que ninguém mais pensa em 23
como o desastre pode ser afastado. Ao invés, as pessoas ocu ocupamam- se com estratégias estr atégias de s obrev ivência, iv ência, medidas medidas destina dest ina das a prolongar suas próprias vidas, ou programas garantidos que assegurem boa saúde e paz de espírito.* Aquele A queless que cav ca v am abrig abri g os atô at ômicos mico s esper es peram am s obrev obre v iver iv er,, rodean rodeand do- se dos dos mais recentes recentes produtos da moderna moder na tecno logia. Os adeptos das comunas no campo aderem a um plano oposto: oposto: libertarlibertar- se da dependência dependência da tecnolog ia e, assim, assim, sobreviver à sua destruição ou colapso. Um visitante de uma comuna comuna na na Car Ca r olina do Norte escreve: escreve: “ T odos odos parecem com partilhar esta sensação de iminente juízo final”. Stewart Brand, editor do W hole ho le E ar th Catal Ca talog og ue, relata que que “ as vend ve ndas as do Survival Book (Livro da Sobrevivência) estão aumentando; é um de nossos itens de maior saída”. Ambas as estratégias refletem a crescente desesperança de modificar a sociedade, até mesmo de de entend entendêê- la, que que está também ta mbém implícit impl ícitaa no culto da expansão da consciência, da saúde e do “crescimento” pessoal, hoje tão predominantes. A pós a e buliç bul ição ão políti pol ítica ca dos anos sessenta, ses senta, os america amer icanos nos recuaram para preocupações puramente pessoais. Desesperan çados de incrementar suas vidas com o que interessa, as pessoas conve convenceram nceram-- se de que o impor i mporta tante nte é o autoc autocrescirescimento psíquico: entrar em contato com seus sentimentos, comer alimentos saudáveis, tomar lições de dança clássica ou dançado-ventre, mergulhar na sabedoria do Oriente, correr, apren dei a se “ re lacionar” lacionar ” , sup superar o “ medo medo do prazer ” . Por si * ‘‘O sentido de um fim . . . é . . . e ndêmico ndêmico ao que que chamamos chamamos de moderni modernismo”, smo”, escrev escrevee Frank K er mode. " . . . Em geral, parece arece que que com binamos um sentido de decadência na sociedade — conforme evidenciado pelo conceito de alienação, o qual, apoiado por um novo interesse pelo primitivo Marx, jamais gozou de estima maior — a um utopismo tecnológico. Em nossos modos de pensar sobre o futuro, há contra dições que, se consideradas abertamente, poderiam evocar algum esforço no sentido da complementaridade. Mas, via de regra, elas são pro fundamente mentirosas.” Susan Sontag, observando que “as pessoas encaram as novas sobre seus destinos de modos diversos”, contrasta a imaginação apocalíptica de eras passadas com a atual. No pas sado, as espectativas do apocalipse, com freqüência, forneciam “a ocasião para uma ra dical des associação associação da sociedade” , enquanto enquant o em nossos dias dias provocam “uma resposta inadequada”, sendo recebidas “sem grande agitaçã agitação” .
24
sós inofensivas, essas buscas, elevadas ao nível de um pro grama e embrulhadas na retórica da autenticidade e da cons ciência, significam um recuo da política e um repúdio ao passado recente. De fato, parece que os amejicanos desejam esqu esquecerecer- se não só dos dos anos sessenta, das passeatas, da nova nov a esquerda, dos “rachas” nos campus universitários, do Vietnam, Wate Wa terr g ate at e e a pres idência de Nix Ni x on, mas de todo seu pas sado coletiv colet ivo, o, até mesmo pelo pelo modo antianti- séptico séptico como f oi comemorado durante o Bicentenário. O filme Sleeper, de Woo W oody dy A llen, ll en, de 1973 19 73,, agudamente ag udamente captou capt ou os sentimentos se ntimentos dos dos anos setenta. Modelado com muita propriedade em forma de uma paródia da ciência da ficção futurista, o filme encontra muitos meios de passar a mensagem de que “soluções políti cas não funcionam”, como Allen anuncia objetivamente, a certa altura. Perguntado sobre suas crenças, Allen, depois de ex cluir a política, a religião e a ciência, declara: declara: “ A credito no sexo e na morte — duas duas ex periências únicas únicas em uma existência.” V iv e r para o momento mome nto é a paix ão predo pr edominan minante te — v iver iv er para si, não para os que virão a seguir, ou para a posteri dade. Estamos rapidamente perdendo o sentido de continui dade histórica, o senso de pertencermos a uma sucessão de gerações que se originaram no passado e que se prolongarão no futuro. É o enfraquecimento do sentido do tempo histó rico — em particular partic ular,, a erosão erosão de de qualquer preocupação preocupação maior com a poster idade — que dist distingue ingue a crise crise espiritual es piritual dos anos setenta das erupções mais primitivas da religião milenar, com as quais mantém uma semelhança superficial. Muitos comen taristas taris tas apoiaram apoiaram-- se nesta semelhança como um meio de com preender a “revolução cultural” contemporânea, ignorando os aspectos que a distinguem das religiões do passado. Há pou cos anos, Leslie Fiedler proclamava uma “Nova Era de Eé”. Mais recentemente, Tom Wolfe interpretou o novo narcisismo como um “terceiro grande despertar”, uma irrupção de re ligiosidade orgiástica, extática. Jim Hougan, em um livro que parece apresen apresentartar- se simultaneamente simultane amente como uma crítica cr ítica e como uma celebração da decadência contemporânea, compara os atuais sentimentos ao milenarismo da Idade Média decadente. “As ansiedades da Idade Média não diferem muito das atuais”, 25
escreve ele. Como agora então se verifica, a revolta social deu origem orig em a “ seita seitass milenaris tas” tas ” .* Porém, tanto Hougan como Wolfe, inadvertidamente, pro porcionam evidências que solapam uma interpretação religio sa do “movimento da consciência”. Hougan observa que a sobrevivência se transformou no “lema dos anos setenta” e “o narcisismo coletivo”, na disposição predominante. Uma vez que que “ a sociedade” sociedade” não não tem futuro, futur o, faz sentido sentido viver v ivermo moss somente para o momento, fixarmos nossos olhos em nossos próp próprios “ desempenh esempenhos os particulare part iculare s” , tornarm tornarmoo- nos peritos peritos em nossa própria própria decadên decadência, cia, cultivar c ultivar mos uma “ autoauto- atençã atençãoo transcendental”. Estas não são as atitudes historicamente asso ciadas a erupções milenaristas. Os anabatistas do século de zesse zesseis is aguar ag uardar daram am o apocalipse apocalipse não com autoauto- atençã atençãoo trans t rans cendental, mas com impaciência mal dissimulada pela era áurea que que se esperava vir ia a inau inaugura gurarr- se. T ampouco ampouco eram indi indifer ferentes entes ao passado. passado. Antig A ntigas as tradiçõ tradições populare opularess do “ rei adormecido” ador mecido” — o líder líder que retornar re tornaráá à sua sua gente gente e restau rará uma uma era áu áurea perdida perdida — informav infor mavam am sobre sobre os os mov i mentos milenaristas desse período. O Revolucionário do Alto Reno, autor anônimo do Book of a Hundred Chapters, decla rou que que “ Os alemães alemães já tiver tiv er am todo o mundo em suas suas mãos mãos e o terão novamente, com poder maior do que nunca”. Pre v iu que o ressu ress uscitado scitado Frederico Fre derico II , o “ Imper Imper ador dos Úl timos Dias”, reinstalaria a primitiva religião germânica, mu daria a capital da Cristandade de Roma para Trier, aboliria a propriedade privada e nivelaria as distinções entre pobres e ricos. Tais tradições, freqüentemente associadas à resistência na cional à conquista estrangeira, floresceram em muitas épocas e sob muitas formas, inclusive a visão cristã do Juízo Final. Seu conteú conte údo ig ualitário ualit ário e pseudoseudo- histórico istórico sugere sugere que mesmo mesmo * O livr o de Houg an reflete reflete a crença atual na futilidade de “ sim ples les s oluçõ oluções es política s” (“ a rev olução olução nada mais conseg conseg uiria uiria do que uma mudança na administração da enfermidade”) e exemplifica a resposta inadequada face aos desastres, que Sontag considera tão característica de nossos dias. “É surpreendentemente simples”, anuncia Hougan no início. “ T udo se se desmorona. Na da se pode pode faze r. Que um sorriso sorriso lhe lhe sirva de proteção.”
26
as religiões mais radicalmente sobrenaturais do passado ex primiam uma esperança de justiça social e um sentido de contin co ntinuidade uidade com geraçõ ger ações es anteriores. A ausência destes estes va v a lores caracteriza a mentalidade sobreviventista dos anos se tenta. O “ponto de vista mundial que emerge entre nós”, escreve Peter Peter Mar in, cen centraliz tralizaa- se “ unicamente unicamente no eu” e tem na “sobrevivência individual seu único bem”. Numa tentativa de identificar os aspectos peculiares da religiosidade contem porânea, o próprio Tom Wolfe observa que “muitas pessoas, historicamente, não viveram suas vidas, como se pensassem, ‘Só tenho uma vida para viver’. Ao invés, viveram como se vivessem a vida de seus ancestrais e a vida de seus descen den entes tes . . . ” Estas Estas observaçõ observações es muito se aprox aprox imam do âmago âmago do problema, mas põem em dúvida sua caracterização do novo narcisismo como um terceiro grande despertar.* A S e nsibil ns ibilida idade de T er apêutica. apêutic a. O clima contemporâneo é tera pêutico, não religioso. Hoje em dia, as pessoas desejam não a salvação pessoal, para não dizer a restauração de uma era áurea primitiva, mas o sentimento, a ilusão momentânea de bem bem- estar pessoal, pessoal, saú sa úde e seg urança psíquica. Mesmo o ra di calismo dos anos sessenta serviu, para muitos dos que o abra çaram, mais por motivos pessoais do que políticos, não como uma religião substituta, mas como forma de terapia. A polí tica radical preencheu vidas vazias, proporcionou um sentido de significação e finalidade. Em suas memórias a respeito dos W e athe at herr me n,* * Susan Stern descreveu a atração destes pela linguagem, que mais deve à psiquiatria e à medicina do que à religião. Quando tentou evocar seu estado de espírito du rante as demonstrações de 1968 na Convenção Democrática Naciona Nac iona l em Chicag Chicag o, em luga lugarr de fazê- lo, ela escreveu sobre sobre *
Como um ex emplo da nova disposição disposição,, que que repudia o ponto de vista do eu “como parte de uma grande corrente biológica”, Wolfe cita um anúncio para tintura de cabelos: “Se só tenho uma vida, quero vivêla loura!” Outros exemplos poderiam ser citados ad infinitum: o slogan para Schlitz (“Você só vive uma vez, portanto tem de agarrar todo o prazer que puder”); o título de uma novela popular, One Life to Live (Uma vida para viver), e assim por diante. * * Gr upo estudantil de de esquerda esquerda ra dical. (N . do T .)
27
seu próprio pr óprio estado es tado de de saúde. saúde. “ E u me me sentia bem. P odia sen tir meu corpo elástico, forte e esguio, e capaz de correr mi lhas, com minhas pernas se movendo com segurança e velozes sob mim.” Algumas páginas adiante, ela fala: “Sentia-me real”. Repetidamente, ela explica que a associação com pessoas im portantes ortantes faz f azia ia-- a sen sentirtir- se impor importante tante.. “ Sentia que fazia f azia parte de uma vasta rede de pessoas intensas, excitantes e brilhan tes.” tes.” Quando Q uando os líd líderes a quem idealizav a desapo desapontavam ntavam-- na, como sempre acontecia, saía à procura de novos heróis que os su s ubstituíssem, bstituísse m, esperando esper ando aqu aquecerecer- se em seu “ br ilho” ilh o” e superar seu sentimento de insignificância. Em sua presença, ela, ocasionalmente, ocas ionalmente, senti sentiaa-se se “ forte for te e s ólida” — só para verver-se se repelida, quando voltava a se instalar o desencanto, pela “arrogância” daqueles a quem anteriormente havia admirado, por por “ seu menosprezo menosprezo por por todos todos à sua sua volta v olta ” . Muitos dos detalhes no relato de Stern sobre os We W e ather at herme menn seriam familiares aos estudiosos da mentalidade revolucioná ria em épocas anteriores: o fervor de seu compromisso revo lucionário, as intermináveis discussões do grupo a respeito de pontos pontos sutis sutis do dogma político, a incansável incansáve l “ autocr autoc r ítica” ítica ” a que eram constantemente exortados os membros da seita, a tentativa de remodelar cada faceta da vida de cada um, em conformidade com a fé revolucionária. Contudo, todo movi mento revolucionário compartilha a cultura de sua época, e este, em particular, continha elementos que, imediatamente, o identificavam como um produto da sociedade americana em uma era de de esperanç esperanças as cada vez v ez menores. menores. A atmosf atmosfera era na qual viviam os Wea W eather therme menn — uma uma atmosfer atmosferaa de de violên v iolên cia, perigo, drogas, promiscuidade sexual, caos moral e psí quico quico — , prov inha não não tanto de uma uma tra t radiçã diçãoo rev r ev olucionária olucionária mais antiga, mas da desordem e da angústia narcisistas da A mér ica ic a conte co ntempor mporânea ânea.. A preo pr eocupação cupação com o estado es tado de sua saúde psíquica, junto à sua dependência dos outros para al cançar um senso de identidade, distinguiu Susan Stern do tipo de investigador religioso que se volta para a política a fim de buscar uma salvação secularizada. Ela sentia necessi dade de estabelecer uma identidade, não de mergulhar sua identidade em uma causa mais ampla. O narcisista difere tam bém, na tênue qualidade de sua identidade, de um tipo an28
terior ter ior de de individualis ta americano, o “ A dão americano” , ana lisado por R. W. B. Lewis, Quentin Anderson, Michael Rogin, e por observadores do século dezenove, como Tocqueville. O narcisista contemporâneo guarda semelhança superficial, em süa süa autoauto- absorçã absorçãoo e ilusões ilusões de g randeza, com o “ eu imper ial” ia l” , com tanta freqüência celebrado na literatura americana do século dezenove. O Adão americano, tal como seus descen dentes hoje, proc urou libertarlibertar- se do pass passado ado e estabeleceu o que Emers on chamou de “ uma relaçã rel açãoo orig or iginal inal .com o uni verso”.. Os escritores e oradores do século dezenove reafir mara ma ra m sempre, sempre, em grand gr andee variedade va riedade de formas,a formas, a doutrina de J effer eff erson son de que que a terra pertence aos viv entes. A A r uptura uptur a com a Europa, a abolição da primogenitura e o enfraqueci mento dos laços familiares deram substância à sua fé (mesmo que esta fosse, no final, uma ilusão) de que os americanos, sós entre os povos do mundo, poderiam escapar à influência embaraçosa do passado. Eles imaginavam, de acordo com T ocquev ocque v ille, ille , que que “ todo seu destino está em suas suas próprias mãos ” . As condiçõ condições es sociais sociais nos nos Estados Unidos, escreveu Tocqueville, cortaram o laço que a princípio ligava uma ge ração à outra. “A trama do tempo é, a cada instante, partida e são apagados os traços das gerações. Os que se foram, logo são esquecidos; esquecidos; dos que que v irão, ninguém ning uém faz qualquer idéia; o interess interessee do home homem m confin confinaa- se àqu àquele eless que estão estão em estreita estre ita proximidade consigo mesmo.” A lg uns críticos descrev descr ever eram am o narcis nar cisis ismo mo dos. dos. anos 70 em linguagem semelhante. As novas terapias geradas pelo movi mento do potencial humano, de acordo com Peter Marin, ensinam ens inam que que “ a volição voli ção indiv idual é todotodo- poderosa oderosa e deter mina totalmente o destino de cada um”; conseqüentemente, elas elas intensificam intens ificam o “ isolamento do eu” . Esta linha de ar gu mento é parte de uma bem estabelecida tradição americana do pensamento social. O apelo de Marin pelo reconhecimento do “ imenso meio meio-- termo da comunidade huma na” na ” faz lembrar lembra r V an W y ck B rooks ro oks,, que criti cr iticou cou os trans tr anscendent cendentali alist stas as da Nov a Inglater ra por por ignorare ignora rem m “o “ o genial genial meio meio-- termo termo da da tr adição adição humana”. O próprio Brooks, ao formular sua própria acusa ção formal à cultura americana, recorreu a esses críticos an teriores, tais como Santayana, Henry James, Orestes Brownson 29
c Tocqueville.* A tradição crítica que estabeleceram ainda tem muito a nos dizer sobre os males do individualismo sem obs táculos; táculos; mas é preciso rec iso lemb lembrar- se de de levar em conta as dife renças entre o Adamismo do século dezenove e o narcisismo de nossos próprios dias. A crítica ao “privatismo”, embora ajude a manter viva a necessidade da comunidade, torna-se cada vez mais ilusória, na medida em que a possibilidade de ge nuína privacidade diminui. O americano contemporâneo pode ter falhado, assim como seus predecessores, em estabelecer qualquer espécie de vida comum; contudo, as tendências integracionistas da moderna sociedade industrial, ao mesmo tem po, solaparam seu “isolamento”. Tendo aberto mão da maioria de suas capacidades técnicas em favor da corporação, ele não mais consegue satisfazer a suas necessidades materiais. À medid me didaa que a f amíli am íliaa perde per de não somente suas f unções unções pro pr o dutivas, mas também muitas de suas funções reprodutoras, os homens e mulheres não mais conseguem criar seus filhos sem o aux aux ílio de especia especialistas listas g arantidos. arantidos. A atrofia atr ofia das tra diçõ dições es mais antigas de autoauto- suficiência mino u a comp c ompetência etência cotidiana, em uma área após outra, e tornou o indivíduo dependente do Estado, da corporação e de outras burocracias. O narcisismo representa a dimensão psicológica dessa de pendência. Não obstante suas ocasionais ilusões de onipo tência, o narcisista depende de outros para validar sua autoestima. Ele não consegue viver sem uma audiência que o admire. Sua aparente liberdade dos laços familiares e dos constrangimentos institucionais não o impedem de ficar só consigo mesmo, ou de se exaltar em sua individualidade. Pelo contrário, ela contribui para sua insegurança, a qual ele somente somente pode pode superar superar quando q uando vê seu “ eu g r andios o” refle r efle tido nas atençõ at enções es das outras pessoas, ou ao ligarligar- se àqu àqueles eles *
Em 1857, 1857, Br ow nson critico u o indiv idualis mo atomizante da vida moderna com palavras que antecipam queixas similares do século vinte. “A obra de destruição, iniciada pela Reforma, que introduzira uma era de crítica e revolução, havia, pensava eu, sido levada muito longe. T udo que que era dissolúvel, dissolúvel, tinha sido diss diss olv ido. T udo que que podia ser destruído, tinha sido destruído, e era tempo de começar a obra da reconstruçã reconstruçãoo — uma obra obra de reconciliação reconciliação e a m o r ... A primeira primeira coisa coisa a ser feita é cessar nossa hostilidade para com o passado.”
30
que irradiam celebridade, poder e carisma. Para o narcisista, o mundo é um espelho, ao passo que o individualista áspero o via como um deserto vazio, a ser modelado segundo seus próprios desígnios. Na imaginação americana do século dezenove, o vasto con tinente que se estendia em direção ao Oeste simbolizava tan to a promessa como a ameaça de uma fuga ao passado. O Oeste representava uma oportunidade de construir uma nova sociedade não onerada por inibições feudais, mas também tentava os homens a se desvencilhar da civilização e voltar ao estado selvagem. Por meio de compulsiva diligência e incansável repressão sexual, os americanos do século deze nove conseguiram um frágil triunfo sobre o id. A violência com que se voltaram contra os indígenas e contra a natu reza, originavaoriginava- se não no impulso impulso irrefr irr efr eável, mas mas no superego superego angloanglo- saxão branco, branco, que temia a brutalidade bruta lidade do Oeste Oeste por que esta objetivava a selvageria que havia dentro de cada indivíduo. Enquanto celebravam o romance da fronteira em sua literatura popular, na prática os americanos impuseram ao deserto uma nova ordem destinada a manter controlado o impulso,' ao mesmo tempo em que davam livre curso à ganância. O acúmulo de capital em benefício próprio subli mav a o apetite apetite e subor dinava dinav a a persecuç pers ecuçãão do autoauto- interesse interesse ao serviço das gerações futuras. No calor da luta para do minar o Oeste, o pioneiro americano deu livre curso à sua capacidade e crueldade assassina, mas tinha sempre os olhos v oltados para par a o resultado res ultado — não sem apreensõ apreensões, es, ex pressas em um nostálgico nostálgico culto da inocência perdida — como uma comunidade pacífica, respeitável, freqüentadora de igrejas, se gura para suas mulheres e filhos. Ele imaginava que seus filhos, filhos , criado criadoss sob a infl uência moralmente refinada re finada da “ cul tura” feminina, cresceriam cidadãos americanos sóbrios, res peitadores das leis, domesticados, e o pensamento das van tagens que eles herdariam justificava sua labuta e desculpava, pensava ele, seus freqüentes deslizes quanto à brutalidade, ao sadismo e à violação. Hoje em dia os americanos são dominados, não pelo senso das infinitas possibilidades, mas pela banalidade da ordem
social que erigiram contra elas. Tendo interiorizado os freios sociais, com os quais, a princípio, procuraram manter as pos sibilidades sibilidades dentro dentro de limites civ ilizados, sentira sentiram m- se esmaga dos pelo tédio aniquilador, como animais cujos instintos se definharam no cativeiro. Um retorno ao estado selvagem amea ça-os tão pouco que anseiam precisamente por uma existência instintiva mais vigorosa. Atualmente as pessoas queixam-se da incapacidade de sentir. Cultivam experiências mais vívidas, procuram reanimar a carne preguiçosa, tentam reavivar ape tites enfraquecidos. Condenam o superego e exaltam a perdida vida dos sentidos. As pessoas do século vinte erigiram tantas barreiras psicológicas contra emoções fortes e investiram essas defesas com tanta energia derivada de impulsos proibidos, que não mais conseguem sentir o que é deixar-se inundar pelo desejo. Ao contrário, tendem a ser consumidas pelo ódio, que se deriva das defesas contra o desejo e dão origem, por sua vez, a novas defesas contra o próprio ódio. Suaves, sub missas e sociáveis por fora, elas fervem em um ódio interior para o qual uma sociedade densa, superpopulosa e burocrá tica pode divisar poucas saídas legítimas. O crescimento da burocracia cria uma intricada rede de relações pessoais, premia as habilidades sociais e torna in sustentável o egoísmo desenfreado do Adão americano. Con tudo, ao mesmo tempo, ela destrói todas as formas de auto ridade patriarcal, enfraquecendo, assim, o superego social, a princípio representado pelos pais, professores e pregadores. O declínio da autoridade institucionalizada, em uma sociedade ostensivamente permissiva, no entanto, não leva a um “de clínio do superego” nos indivíduos. Pelo contrário, encoraja o desenvolvimento de um superego severo, punitivo, que ex trai a maior parte de sua energia psíquica, na ausência de proibições sociais autoritárias, dos impulsos destrutivos e agres sivos do id. Elementos inconscientes e irracionais do superego passam a dominar sua operação. À medida que as figuras de autoridade na sociedade moderna perdem sua “credibilidade”, o superego nos indivíduos cada vez mais tem origem nas pri mitiva mitivass f antasias infantis sobre sobre seus seus pais pais — fantasias carre gadas de ódio ódio s ádico — e não de ideais do ego interioriza32
dos, formados pela experiência posterior com modelos amados e respeitados de conduta social.* A luta para par a manter mant er o e quilíb qui líbrr io psíquico ps íquico,, em uma socie dade que exige submissão às regras de relações sociais, mas que se recusa a fundamentar essas regras em um código de conduta mor al, encoraja encora ja uma forma fo rma de autoauto- absorçã absorçãoo que que pouco tem em comum com o narcisismo primário do eu im perial. Elementos arcaicos dominam cada vez mais a estru tura. da pers onalidade, e “ o eu se se retr re trai” ai” , nas palavras alav ras de Morris Dickstein, “para um estado passivo e primevo, no qual o mundo permanece incriado, informe”. O eu imperial egomaníaco, devorador de experiências, regride a um eu gran dioso, dioso, narcisista, narcisista, inf antil ant il e oco: oco: um “ buraco buraco s ombrio ombrio e úmi úmi do”, como escreve Rudolph Wurlitzer em Nog, “ onde onde tudo tudo encontra seu caminho, mais cedo ou mais tarde. Eu continuo próximo à entrada, manuseando as mercadorias à medida que são impelidas para dentro, ouvindo e concordando. Vou pouco a pouco me dissolvendo dentro desta cavidade.” Perseguido pela ansiedade, pela depressão, por vagos des contentamentos, e por uma sensação de vazio interior, o “ homem psic ológic ológ ico” o” do século vinte não busca busca nem o au autotocrescimento individual, nem a transcendência espiritual, mas a paz de espírito, sob condições que, cada vez mais, comba * O super superego, ego, agente da sociedade na mente, consis consiste te sempre se mpre em representações interiorizadas de pais e outros símbolos de autoridade, mas é importante distinguir entre aquelas representações derivadas das impres impres sões arcaicas, pré- edipianas, edipianas, e as as que se baseia m em impres impres sões posteriores, refletindo, portanto, uma importância mais realista dos po deres parentais. Estritamente falando, esses últimos contribuem para a formação do “ideal do ego” — a interiorização das expectativas dos outros e dos traços que amamos e admiramos neles; ao passo que o superego, distintamente do ideal do ego, deriva-se de fantasias primiti vas, que contêm uma grande mescla de agressão e ódio, que se originam do inevitável fracasso dos pais em satisfazer a todas as exigências instintiv as do fi lho . Cont udo, a parte agr essiva, punitiv a e mesmo auto auto-destrutiva do superego é geralmente modificada pela experiência poste rior, que abranda primitivas fantasias dos pais como monstros devora dores . Se fica fa ltando esta ex periência — como acontec acontecee co m tanta freqüência em uma sociedade que desvalorizou radicalmente todas as for mas de autor idade — , pode-se e- se esperar que o s uperego sádico dese n volva- se à custa do ideal do ego, o supere go des trutiv o à custa da severa, mas solícita, voz interior, a que chamamos consciência.
33
tem contra ela. Os terapeutas, e não padres ou pregadores populare popularess da auto- suficiência sufic iência ou de de modelos modelos de su s ucesso como como os capitães capitães da indúst indústrr ia, tornam tornam-- se seus seus principais pr incipais aliados aliados na luta pela tranqüilidade; aquele se volta para estes, na esperança de atingir o equivalente moderno para a salvação, a “saú “ saúd de me ntal” nta l” . A terap ter apia ia estab estabelece eleceu u- se, ela própr própr ia, como como a sucessora tanto do áspero individualismo como da religião; contudo, contudo, isto não não quer quer dizer que que o “ triun tr iunfo fo da ter apêutica” apêutica” se lenha tornado uma nova religião por direito próprio. A terapi ter apiaa constitu constituii- se numa anti- relig ião, ião, nem sempre, sempre, é certo, certo, por ligar-se à explicação racional ou a métodos científicos de cura, como seus praticantes gostariam que acreditássemos, mas porque a sociedade moderna “não tem futuro” e, em conseqüência, não dedica seus pensamentos a qualquer outra coisa além de suas necessidades imediatas. Mesmo quando os terapeu terapeutas tas falam fa lam da necessida necessidad de de “ s entido” e de “ amor ” , definem eles amor e sentido simplesmente como o preenchi mento das necessidades emocionais do paciente. Dificilmente oco ocorre- lhes lhes — nem há há razão por que que deveria deve ria ocorrer, ocorr er, dada a natureza da emp empresa res a ter apêutica apêutica — encorajar encora jar o sujeito a su bordinar suas necessidades e interesses aos de outras pessoas, a alguém ou a alguma causa ou tradição fora dele mesmo. O “ amor amo r ” como como autoauto- sacrifício ou autodegr autodegr adação, adação, o “ sen tido” ti do” como submiss submiss ão a uma lealdade le aldade mais elev el evada ada — essas essas sublimações parecem à sensibilidade terapêutica intoleravel mente opressivas, ofensivas ao senso comum e injuriosas à saúde saúde e ao bem bem-- estar pess pessoais. oais. Liber L iber ar a humanida huma nida de de tais idéias idéias ultr apass apas s adas de amor e dev dever er tornou tornou- se a mis missão são das das terapias terapias póspós- freud fr eudiana ianass e, partic par ticular ularmente mente,, de de seus seus conver ti dos e divulgadores, para quem a saúde mental significa a destruição de inibições e a imediata gratificação de qualquer impulso. Da Política à Introspecção. Tendo desbancado a religião como a moldura organizadora da cultura americana, a visão tera pêutica ameaça também desbancar a política, o último refúgio da ideologia. A burocracia transforma as queixas coletivas em problemas pessoais acessíveis à intervenção terapêutica; ao 34
clarificar este processo, esta trívialização do conflito político, a nova esquerda dos anos sessenta fez uma de suas mais im portantes contribuições para a compreensão política. Nos anos setenta, contudo, muitos dos antigos radicais abraçaram, eles próprios, a sensibilidade terapêutica. Rennie Davis abandona a política radical para seguir o guru adolescente, Maharaj Ji. A bbie bbi e Hof Ho f f man, ma n, antig ant igoo líder dos dos Y ippie s , decide que mais im portante é manter una sua cabeça do que mover multidões. Seu antigo associado, Jerry Rubin, tendo atingido a temível idade de trinta anos e tendo-se visto face a face com seus próprios próprio s temores temores e ansiedades, mu mudada- se de Nova Nov a Ior Io r que para par a S ão Francisco, Francisco, onde onde compra com vor acidade — com uma uma renda aparentemente inexaurível —■nos supermercados espi rituais da Costa Costa Oeste. Oeste. “ Em cinco cinco anos” anos” , diz Rubin, “ de 1 97 í a 1975, experimentei diretamente est, terapia da ‘Gestalt’, bioenergética, rolfing, massagem, corrida, alimentação natural, tai chi, Esalen, hipnotismo, dança moderna, meditação, Controle da Mente de Silva, A r ica, ica , acupuntura, terapia sexual, terapia reichiana e More House — um cu curso v ariado sobre sobre a Nova Nov a Consciência.” Em seu livro de memórias, modestamente intitulado de Growing (Up) at Thirty-seven (Amadurecendo aos Trinta e Sete Anos), Rubin atesta os efeitos salutares de seu regime terapêutico. Após anos de negligência de seu corpo, ele se deu “ permissão permissão de de ser sadio” e rapidamente ra pidamente perdeu trinta tr inta libras. Alimentos saudáveis, corrida, ioga, sauna, quiropráticos e acupunturistas acupunturis tas fizer amam- no sen sentir-se, tir- se, aos aos trinta tr inta e sete sete anos, anos, “como se tivesse vinte e cinco”. O progresso espiritual igual mente provou ser gratificante e indolor. Retirou sua armadura protetora, seu sex ismo, ismo, seu “ vício pelo amor” amo r” , e apre aprend ndeu eu “ a amaramar- me bastante para par a que não sinta necessid necess idade ade de de outra pessoa para para fazer- me fe liz ” . Compre Compreendeu endeu que sua sua política revolucionária ocultava um “condicionamento puritano”, que ocasionalmente o fazia sentir-se incomodado com sua celebridade e seus ganhos materiais. Não parece que tenham sido necessários quaisquer esforços psíquicos vigorosos para con vencer Rubin Rub in de que que “ nada há de de mal em gozar os os prazeres prazeres da vida trazidos pelo dinheiro”. 35
A pre pr e ndeu nde u a coloca col ocarr o sexo sex o “ em seu dev ido lug lu g a r ” e a gozá gozálo sem investiinvesti- lo de de sig nificado “ s imbólico imbólico”” . Sob a influência de uma sucessão de apoiadores apoiador es psíquicos, psíquicos , voltouvoltou- se contra contr a seus pais e contra o “juiz” virtuoso e punitivo que havia den tro de si, aprendendo eventualmente a “perdoar” seus pais e seu supere superego. go. Cor C ortou tou o cabelo, r aspou a barba bar ba e “ gostei do que vi”. Agora “eu entrava nos lugares e ninguém me reco nhecia, pois não cabia na imagem que faziam de mim. Tinha trinta e cinco anos, mas parecia ter vinte e três.” Rubin vê sua “viagem para dentro de mim” como parte do “movimento da consciência” dos anos setenta. No entanto, sua “sólida introspecção” produziu poucas indicações de autoconhecimento, pessoal ou coletivo. A autoconsciência perma nece atolada atola da em lugar lugareses- comu comuns lib li beracioni er acionist staS. aS. R ubin ub in discu discute te “meu lado mulher”, a necessidade de uma visão mais tole rante da homossexualidade e a necessidade de “estabelecer a paz” pa z” com co m seus seus pais, como se esse essess lugar lugareses- comu comuns rep re presen re sen tassem percepções arduamente alcançadas sobre a condição humana. Como habilidoso manipulador do dinheiro comum, um confesso “fissurado pela mídia” e propagandista, ele admi te que todas as idéias, traços de caráter e padrões culturais derivam-se da propaganda e do “condicionamento”. Descul pand ando- se por sua heteros ete rosse sexx ualidade, ualidade, escreve escreve ele, “ Os homens não fazem minha cabeça, porque fui bombardeado pela pro paganda quando era criança para pensar que a homossexuali dade ade era uma doença” . Na terapia, ter apia, tentou tentou inver inver ter “ a pro g ramação ramação negativa negat iva da inf ância ânc ia”” . Con Convencen vencend do- se de que que um descondicionamento proporcionaria a base para a mudança social e política, tentou construir uma ponte raquítica entre suas atividades políticas nos anos sessenta e sua atual preo cupação cupação com o próprio própri o corpo e os “ s entimentos” entimentos ” . T al como muitos muitos ex ex-- radica radicais, is, só f oi bembem- sucedid sucedidoo em substit s ubstituir uir pelos pelos atuais slogans terapêuticos os slogans políticos que costumava macaquear com igual desconsideração por seus conteúdos. Rubin sustenta que a “revolução interior dos anos setenta” desenvolveu esenvolveu-- se a par tir de uma conscientiza c onscientizaçã çãoo de que que o radi ra di calismo cali smo dos dos anos anos sessenta sessenta hav ia deix ado de de voltarvoltar- se para para a qualidade da vida pessoal ou para questões culturais, na crença errônea de que as questões de “crescimento pessoal”, em suas 36
palav ras, ra s, podiam podia m esperar esperar “ até passar a rev re v olução’ olução’''. Esta acusa ção contém algumas verdades. A esquerda, com bastante fre qüência, serviu de refúgio para os terrores da vida interior. Outr Out r o ex- radica radical,l, Paul Zw eig , disse disse que que se se tornara comunista no fina f inall dos dos anos anos cinqü c inqüenta enta porque porque o comunismo “ libertoulibertou- o. . . dos quartos minguados e vasos partidos de uma vida mera mente privada”. Na medida em que exercem uma fatal atração sobre aqueles que procuram afogar a sensação de fracasso pessoal na ação coletiva colet iva — como se se a ação ação coletiv a, de alg um modo, obstasse uma rigorosa atenção para com a qualidade da vida pessoal — , os movimentos políticos pouco terão a dizer a respeito da dimensão pessoal da crise social. Entretanto, a nova esquerda (diferentemente da antiga es querda) de fato começou a interessar-se pelo assunto, no breve período de seu florescimento, na metade dos anos sessenta. Naqueles Naqueles anos, anos, hav ia um crescen crescente te reconh re conhecimento ecimento — de modo alg um confinado aos anos anos associ ass ociad ados os à nova es querda querda — de que a crise pessoal, na escala que então acabava de assumir, representa uma questão política em direito próprio, e que uma profunda análise da sociedade e da política modernas tem de explicar, entre outras coisas, por que o crescimento e o desen volvimento pessoais se tornaram tão árduos de ser atingi dos; por que o temor de amadurecer e de ficar velho persegue nossa sociedade; por que as relações pessoais se tornaram tão instáveis e precárias; e por que a “vida interior” não mais oferece qualquer refúgio para os perigos que nos envolvem. A emerg emer g ência de uma nova nov a f orma or ma lite li terr ária nos anos sessenta, ses senta, que combinava crítica cultural, reportagem política e remi niscências, representou uma tentativa de explorar esses assun tos tos — de iluminar ilumina r a interseçã interseçãoo entre entre a vida pessoal e a polí tica, a história e a experiência privada. Livros como A rmies rm ies uf the Night, de Norman Mailer, ao se utilizar da conven ção da objetividade jornalística, com freqüência penetravam mais fundo nos acontecimentos do que os relatos escritos por observ observ adores adores que que se diziam imparc iais. iais . A ficção desse desse período, no qual o escritor não fazia qualquer esforço para ocultar sua presença ou seu ponto de vista, demonstrava como o ato de escrever escrev er podia podia tornartornar- se assunto de ficção fic ção em direito direi to próprio. própri o. A crític cr íticaa cultur cul tural al ass as s umiu um car áter pessoal e autobi aut obiog og r á 37
fico, que, na pior das hipó hipóteses, teses , degenerou em autoauto- ex ibiçã ibição, o, enquanto, na melhor delas, mostrou que a tentativa de com preender a cultura tinha de incluir a análise do modo como ela modela a própria consciência do crítico. Os levantes polí ticos imiscuí imiscuíam am-- se em todos todos os os debates debates e impos impo s s ibilit ibi litav av am que que fossem ignoradas as conexões entre cultura e política. Ao sola par a ilusão da cultura como manifestação distinta e autôno ma, não influenciada pela distribuição das riquezas e do poder, o levante lev ante político políti co dos anos anos sessenta também inclinou inclinou-- se a sola par a distinção entre cultura superior e cultura popular e em fazer da cultura popular um objeto de debate sério. Confissão e Anticonfissão. A popularidade do modo confes sional atesta, naturalmente, o novo narcisismo que invade toda a cultura americana; contudo, a melhor obra deste filão tenta, precisamente precisamente por meio de de au auto- ex expo posiçã sição, o, alcançar alc ançar um dis tanciamento crítico do eu e atingir uma percepção das forças históricas, reproduzidas sob a forma psicológica, que torna ram cada vez mais problemático o próprio conceito de indivi dualidade. O simples ato de escrever já pressupõe um certo distanciamento do eu; e a objetivação da própria experiência, como mostraram estudos psiquiátricos a respeito do narcisis mo, torna possível às “profundas fontes de grandiosidade e do ex ibicionismo — apó após ser ser devidamente devidamente inibidas quanto ao seu seu objetiv o, domadas domadas e neutralizadas — encontrar o acesso” à realidade.* Contudo, a crescente interpenetração da ficção, do jornalismo e da autobiografia inegavelmente indica que muitos escritores acham cada vez mais difícil chegar ao distanciamento indispensável à arte. Em vez de transformar em f icção o materi mate rial al pessoal ou de reorden reor denáá- lo de outra * O trabalho útil e criativo, que que confronta o indiv íduo com "pro "pro ble mas intelectuais e estéticos não resolvidos” e que, portanto, mobiliza o narcisismo em nome de atividades fora do eu, proporciona ao narci sista, de acordo com Heinz Kohut, a melhor esperança de transcender a esta condição. “Uma pequena quantidade de potencial criativo — ainda que seu objetivo seja estrito — situa-se na esfera da experiência dc muitas pessoas, e a natureza narcisista do ato de criação (o fato de que o objeto do interesse criativo é investido de libido narcisista) pode ser abordada por meio de simples simples autoauto- observaçã observaçãoo e e mpatia.”
38
forma fo rma,, prefer iram apresen apresentá tá-- lo não não digerido, dige rido, deix ando ando que o leitor chegue às suas próprias interpretações. Em vez de explo rar suas lembranças, muitos escritores atualmente apóiamse na mera autoauto- expo ex posiçã sição, o, para para manter o leitor interess inter essado ado,, apelando não para sua compreensão, mas para sua lasciva curiosidade sobre as vidas privadas de pessoas famosas. Nas obras de Mailer e nas de muitos de seus imitadores, aquilo que tem início como uma reflexão crítica sobre a própria ambição do escritor, francamente reconhecida como uma ten tativa para alcançar a imortalidade literária, muitas vezes ter mina em gárrulo monólogo, onde o escritor negocia sua pró pria celebridade, preenchendo página após página com mate rial que não tem qualquer outra intenção além da associação a um nome famoso. Quando se expõe à atenção pública, o es critor goza de um mercado já aberto para confissões verda deiras. Assim, Erica Jong, depois de conseguir uma audiência, ao escrever sobre sexo com tão pouco tato como um homem, imediatamente produziu outra novela sobre uma jovem mu lher que se torna uma celebridade literária. Mesmo o melhor entre os escritores desta linha caminha sobre uma linha sutil entre a autoauto- análise análise e o comodis mo. Seus livros — A dver dv er tisem tis ement entss f or My self, se lf, de Norman Mailer, M a king It, de Norman Podhoretz, Portnoy’s Complaint, de Philip Roth, Three Journeys, de Paul Zweig, A F a n’s n’s Notes, Notes , de Fre derick Exley Ex ley — oscilam entre entre a rev elação elação pessoa pessoall ar duamente duamente alcançada, purificada pela angústia espúria, cuja única reivin dicação que faz à atenção do leitor é que descreve eventos de interesse imediato ao autor. A ponto de alcançar uma percepção interna, esses escritores freqüentemente recuam para a autoparódia, procurando desarmar a crítica com sua ante cipação. Tentam encantar o leitor, em lugar de reivindicar a importância de sua narrativa. Usam o humor, não tanto para se distanciar do material, mas para se insinuar, conseguir a atenção do do leitor leito r , sem pediredir- lhe lhe que que leve lev e a sério o escritor es critor ou sua obra. Muitas das histórias de Donald Barthelme, tão brilhante bril hante e com freqü fre qüência ência tão comove comovente nte em sua sua “ Cr itique de la Vie Quotidienne”, sofrem deste mal, devido à incapa cidade de de Barthelme Bar thelme de de resistir a um riso fácil. E m “ Perp Per pe 39
tua” tua ” , por por ex emplo, emplo, sua sátira sátira aos aos recém r ecém-- divorciados, divorciados, com sua sua sociabilidade para passar o tempo e “estilos de vida” pseudoliberados, cai no humor sem objetivo. A pós pós o concer conce r to, e l a . . . v estiu es tiu seu jean jea n acam ac amurça urçado, do, sua blusa feita de vários lenços coloridos, costurados uns aos outros, sua gargantilha de madeira esculpida e a capa de D ’A rtag nan com com forro for ro prateado prateado.. Perpetua não conseguia lembrar que ano era este e qual tinha sido sido o anter ior. T inha acontecido algo, naquele mome n to, ou acontecera muito tempo atr ás? E la encon encontrava trava-- se com muitas pessoas novas. “Você é diferente”, falou Perpetua para Sunny Marge. “Bem poucas entre as moças que conheço usam uma tatuagem com o rosto de Marshal Foch nas costas.” Woo W oody dy A lle ll e n, um magis mag istr tral al parodis par odista ta de lugareslugar es- comuns comuns terapêuticos e da introspecção que dá origem a eles, várias vezes subverte suas próprias idéias com o humor perfunctório, mandatório e autodepreciativo, que veio a tornar-se uma parte do estilo conversante americano. Em suas paródias sobre a pseudcpseudc- introspecção, introspecção, em um mundo W itho ith o ut Feathers Fea thers — sem esperan esperança çass — , A Alle lle n solapa solapa a ironia iro nia com piadas piadas que f luem, todas, com grande abundância, de um manancial ilimitado. Bem Deus, por que me sinto tão culpado? Será porque eu odiava meu pai? Provavelmente foi o incidente com o bife à parmigiana. Bom, mas o que ele estava fazendo em sua car teira teira de de dinheir o? . . . Que homem homem triste! triste! Quando m inha inha pri pr i meira peça, A Cyst for Gus, foi produzida no Liceu, ele com pareceu à estréia de casaca e com máscara contra gases. Q ue há na morte e que tanto me incomoda? Provavelmente as horas. Olhe para mim, pensou ele. Cinqüenta anos. Meio século. A no que vem, ve m, terei ter ei cinqüen cin qüenta ta e um. Depois De pois,, cinqüen cin qüenta ta e dois. Usando este mesmo raciocínio, podia calcular minha idade no máximo por mais cinco anos. 40
A f or ma confes conf essi sional onal permite per mite a um honesto honest o escr es critor itor como Exley ou Zweig fazer um relato aflitivo da desolação espiri tual de nossos dias, como permite, também, a um escritor pre g uiçoso perd perderer- se na na “ espécie espécie de autoauto- revelaçã rev elaçãoo imodes imodesta, ta, que, em última análise, esconde mais do que admite’'. A pseudopercepção do narcisista sobre sua própria condição, geralmente exp ex pressa ress a em lugares lugares-- comu comuns psiquiátr psiquiátricos icos,, serveserve-lh lhee como um meio de desviar-se da crítica e de negar a responsabilidade por seus seus atos. “ Estou Est ou cônsc cônscio io de que que este liv r o é espan es pantos tosamente amente porco chauvinista”, escreve Dan Greenberg em seu Scoring: A S ex ual Me Memo moir ir.. “ Bom, que que posso dize r - lhes ? ... Ou seja seja,, é isto o que que nós nós som s omos os — portanto, port anto, qual qua l é a novidade? novida de? Não estou condenando a atitude, só a estou relatando.” A certa altura, Greenberg descreve como fez sexo com uma mulher que que hav ia caído em estup est upor or alcoólico e não não podia defend efender- se, só para informar ao leitor, no capítulo seguinte, que “não havia uma única verdade” em todo seu relato. Como se sente agora? Está contente? Todo esse incidente imag ima g inário com Irene Ire ne fêfê- lo pensar que eu era muito doente e nojento, para que continuasse a ler meu livro? Acho que não, pois obviamente você continuou a ler este capítulo. . . Talvez tenha-se sentido traído, talvez esteja começando a pensar que, se lhe contei uma única mentira, poderia ter-lhe contado outras mais. No entanto, não o fiz — tudo mais neste livro. . . é absolutamente verdadeiro, verdadeiro , e você pode acreditar ou não, como quiser. E m Snow White, Donald Barthelme recorre a um truque se melhante, que, uma vez mais, envolve o leitor na invenção do escritor. Na metade do livro, o leitor encontra um questionário solicitando sua opinião sobre o progresso da história e cha mando sua atenção para os meios pelos quais o autor partira do conto de fadas or iginal. ig inal. Quando T . S. E liot anexou notas notas referenciais a The Wasteland, tornou tornou-- se um dos primeiros primeir os poe tas a chamar atenção para sua própria transformação imagina tiva da realidade, mas o fez de modo a expandir a consciência do leitor para as alusões e para criar uma ressonância ima 41
ginativa ginativ a mais prof pr ofund undaa — e não, não, como como nest nestes es casos casos mais re centes, para demolir a confiança do leitor no escritor. O narrador em quem não se pode confiar, parcialmente cego, é outro truque literário de longa data. No passado, no entanto, os novelis novelistas tas usaramusaram- no com f r eqüência eqüência para che che gar a uma justaposição irônica da percepção imperfeita dos eventos pelo narrador, com a própria visão mais aguda do autor. Hoje em dia, a convenção de um narrador fictício foi abandonada em escritos mais experimentais. O autor hoje fala com sua própria voz, mas avisa ao leitor que não deve confiar em sua versão da verdade. “Nada neste livro é ver dade”, Kurt Vonnegut anuncia logo na primeira página de Cat's Cradle. Tendo chamado atenção para si próprio como agente, o escritor destrói a capacidade do leitor de cessar de descrer. Confundindo a distinção entre verdade e ilusão, ele pede ao leitor que acredite em sua história, não porque pode ria ser verdadeira, ou mesmo porque diz que é, mas simples mente por achar que ela poderia, concebivelmente, ser verda deira — ao menos menos em parte — , se se o leitor se disp dispu usesse a acreditar nele. O escritor acena com o direito de ser levado a sério, fugindo, ao mesmo tempo, às responsabilidades que estão implícitas no ser levado a sério. Pede ao leitor, não com preensão, mas indulgência. Ao aceitar a confissão do escritor de que ele mentiu, o leitor, por sua vez, acena com o direito de considerar o escritor responsável pela verdade de seu relato. A s s im, o escr es crito itorr tenta cati ca tivv ar o leit le itor or,, em v ez de tentar te ntar con vencê vencê-- lo, lo, contando co ntando com a ex citação prov ocada pela pseud seudorevelação, a fim de manter o interesse do leitor. Empreendidos neste modo evasivo, os escritos confessionais degeneram em autoconfissão. O registro da vida íntima tornase, sem querer, uma paródia da vida íntima. Um gênero lite rário que parece confirmar interioridade, na verdade nos diz que é precisamente a vida íntima que não pode ser levada a sério. Isto explica por que Alien, Barthelme e outros satíri cos tanto parodiam, como estratégia literária deliberada, o estilo confessional de uma época anterior, quando o artista desnudava suas lutas íntimas, na crença de que elas repre sentavam um microcosmo do mundo mais vasto. Hoje, as “con fissões” do artista são notáveis somente por sua profunda ba42
nalidade. Woody Allen escreve uma paródia das cartas de V a n Go g h a seu irmão, ir mão, nas quais o artis ar tista ta passa a ser um dentista preocupado preocupado com “ profilax prof ilax ia or al” al ” , “ tratamento de de canal” e a “maneira mais adequada de escovar os dentes”. A v iag em ao inte r ior não mostr a senã se nãoo um v azio. az io. O escri es critor tor não mais vê a vida refletida em sua própria mente. O oposto é que acontece: ele vê o mundo, mesmo em sua vacuidade, como um espelho de si mesmo. Ao registrar suas experiências “ íntimas íntima s ” , procura procura f ornecer não não um um relato r elato objetivo de uma uma parte representativa da realidade, mas seduzir os outros para que lhe dêem atenção, aplauso ou simpatia, e, conseqüente mente, escorar seu senso titubeante do eu. O Vazio Interior. A despeito das das defesas com c om as as quais quais se cer cam as confissões contemporâneas, estes livros muitas vezes permitem entrever a angústia que dá origem à busca da paz psíquica. Paul Zweig fala de sua crescente “convicção, che gando até a ser uma fé, de que minha vida foi organizada em torno de um núcleo de brandura, que irradiava anonimidade sobre tudo o que eu tocava”; da “hibernação emocional que durou duro u até eu chegar chegar aos aos trinta tr inta anos” ; da persistente persistente “ suspeita suspeita de vazio pessoal, que toda minha conversa e minhas ansiosas tentativas de encantar envolvem e enfeitam, mas no qual não penetram ou mesmo chegam perto”. No mesmo filão, Frederick Ex ley escreve: escreve: “ Que r eu seja, seja, ou não, não, um escritor, tenho. te nho. . . cultivado o instinto de um, uma aversão pelo rebanho, sem, em meu infeliz caso, a capacidade de dominar e de articular esta aversão”. Os meios de comunicação de massa, com seu culto da cele bridade e sua tentativa de cercá-la de encantamento e exci tação, fizeram dos americanos uma nação de fãs, de freqüen tadores tadores de cinema. A “ mídia míd ia ” dá s ubstância ubstância e, por consegui conseg uin n te, intensifica os sonhos narcisistas de fama e glória, encoraja o home homem m comum a identificaridentificar- se com as estrelas e a odiar o “ re banho” , e torna torna cada vez mais mais difícil difíc il para ele aceitar aceitar a banalidade banalidade da da existência existência cotidian cotidiana. a. Fr ank Gif ford fo rd e os os G i gantes de Nova Iorque (New York Giants), escreve Exley, “sustentaram para mim a ilusão de que a fama era possível”. 43
Perseguido e, em sua própria visão, destruído por “este hor rível son s onho ho com a fama fa ma”” , esta “ ilusão de de que que eu poder poderia ia f ugir da desoladora anonimidade da vida”, Exley descreve a si mesmo ou a seu narr ador — como sem s emp pre, a distinçã dist inçãoo não é clara — como como um vácuo vácuo voraz, vor az, uma uma fome insaciável, insaciável, um vazio à espera de ser preenchido com as ricas experiências reservadas para os poucos escolhidos. Um homem comum em muitos muitos aspecto aspectos, s, “ Ex ley ” sonh s onhaa com “ um destino destino que que é gran gr and de demais para mim! Como o Deus de Michelangelo estendendo sua mão para A dão, não desejo menos do que estend estender- me pelos tempos e deixar as marcas de meus dedos sujos na pos ter idade! idade! . . . Nada ex existe iste que que eu não não deseje! Quer Que r o isto, e aquilo, e quero quero — bem, bem, tudo ! ” A moderna moderna propaganda de de mercadorias e da boa vida sancionou a gratificação do im pulso pulso e tor nou necessário para par a o id desculp esculparar- se por seu seus desejos ou disfarçar suas proporções grandiosas. Contudo, esta mesma propaganda tornou insuportáveis o fracasso e a perda. Quando finalmente ocorre ao moderno Narciso que ele pode “viver não só sem a fama, mas sem o eu, viver e morrer sem jamai ja maiss ter tor to r nado seus seus amigos amig os conscientes conscie ntes do espaço es paço micros micr os cópico que ocupa neste planeta”, ele experimenta esta desco berta não só como um desapontamento, mas como uma explo são são de de seu senso de de identidade ident idade . “ O pensamento pensame nto quase quase me do minou”, escreve Exley, “e eu não podia lidar com ele sem que ficasse insuportavelmente deprimido.” Em sua vacuidade e insignificância, o homem de capacida des comuns tenta aquecer-se com o brilho refletido pelas es trelas. Em Pages from a Cold Island, Exley fala de seu fascínio por Edmund Ed mund W ils on e conta conta como tentou ap aproxim rox imarar- se de seu seu ídolo, após a morte de Wilson, entrevistando os que sobrevi veram ao grande homem. Uma vez que o registro destas entre vistas referè-se mais ao próprio Exley do que a Wilson, e desde que Exley, repetidamente, exalta os sucessos literários de Wils Wil s on na retórica retórica do tribu tri buto to convencional convencional — “ um do dos gran gr and des homens homens do século século vinte vin te ” ; “ cinqüenta cinqüenta anos anos de dedica dedica ção incansável à sua arte”; “as letras americanas... jamais v iram alg uém uém como como ele” ele” — é claro claro que que Wils W ils on represen representa ta para Exley uma presença mágica, mesmo na morte, cuja asso ciação confere importância vicária a seus admiradores literá44
rios e seguidores póstumos. O próprio Exley diz que agia como se "a proximidade com Wilson fosse me trazer sorte”. Outros autobiógrafos descrevem, sem a consciência de Exley, a mesma tentativa de viver vicariamente através de outros mais brilhantes. Susan Stern dá a impressão de que gravitava em torno dos Wea W eathe therm rmen, en, porque a associação com as estrelas da mídia, como Mark Rudd e Bernadine Dohrn, faziafazia- a sentir que que havia hav ia finalmente f inalmente encontrado seu seu “ lugar adequado na v ida” . Dohr n imp impressionou ressionou-- a como como uma uma “ rainha” ra inha” , uma “ alta- sacerdotisa”, sacerdotisa”, cujo “ esplend es plendor” or” e “ nobreza” sepa separaravamvam- na da da “ lider liderança ança se cundá cundária” ria” e “ terciária” ter ciária” do SDS . “ Q ualq ua lque uerr que que fosse a qualidade qualida de que possuí possuísse, sse, eu a queria para mim. Queria ser apreciada e respeitada como era Ber nadine.” Quando o julgamento de Seattle 7 fez de Stern uma celebridade da mídia, por direito próprio, ela achou-se “alguém” finalmente, “pois havia tanta gente ao meu redor, fazendofazendo- me pergun perg untas, tas, procurand procura ndoo saber saber minhas resposta respostas, s, ou ou somente olhando para mim, oferecendo-se para fazer coisas por mim, para conseguir um pouco do brilho da notorie dade” . A gora em seu “ apoge apogeu u” ela se imaginava, e tentava tentava impressionar os outros, como sendo “espalhafatosa e vulgar, dura dura e engraçada, engraçada, agressiva e dra dramática” mática” . “ Onde quer que eu fosse, as pessoas me adoravam.” Sua eminência na ala mais v iolenta da esquerda esquerda americana a mericana capacito capacitou u- a a demonstr demonstr ar, ante ante uma grande audiência, a fantasia do ódio destrutivo que estava por baixo de seu desejo de ser famosa. Ela se imaginava uma Fúria vingadora, uma Amazona, uma Valquíria. Na parede de sua casa casa pintou pint ou “ uma mulher nua de dois dois metros e meio de altura alt ura,, com cabelos lourolouro- esverde esver dead ados os ondulante ondulantess e uma bandeira americana em fogo saindo de sua vagina!” Em seu “ delírio delír io ácido” , ela diz, “ pintara 0 que que eu quer queria ia ser ser bem bem no fundo de minha mente; alta e loura, nua e armada, consu mindo — ou desca descarregan rregand do — uma uma A mérica mérica em fogo” . Nem Ne m drogas, nem fantasias de destruiçã dest ruiçãoo — mesmo quando as fan f antasias tasias são são objetivadas objetivadas na “ práxis rev olucionária” olucionária” — apaziguam a fome interior de onde se origina. As relações pessoais fundamentadas na glória refletida, na necessidade de admirar e ser admirada, provam ser fugazes e pouco subs tanciais. As amizades e casos de amor de Stern geralmente 45
terminavam em desilusão, animosidade, recriminação. Ela se queixa de uma incapacidade de sentir qualquer coisa: “Torneime mais mais fr ia por por dentro, dentro, mais mais v iva por f or a” . Embora sua sua vida girasse em torno da política, o mundo político não possui realidade em suas memórias; só tem significado como uma projeção de seu próprio ódio e desconforto, um sonho de an siedade e violência. Muitos outros livros de nossos dias, mes mo livros que são o produto da sublevação política, transmi tem a mesma sensação da irrealidade da política. Paul Zweig, que passou dez anos em Paris nos anos cinqüenta e sessenta e tomou parte na agitação contra a guerra da Argélia, diz que que a guerra “ g radativamente tornou tornou-- se um meio que que impreg impreg na cada aspecto” de sua existência; mesmo assim, os eventos externos desempenham um papel indistinto em sua narrativa. Possuem a qualidade de alucinação, uma vaga experiência de “terror e vulnerabilidade”. No auge do violento protesto con tra a guerra guer ra da A rg élia, “ ele record recordou ou-- se de de uma frase fr ase que que havia lido em um livro, sobre o sentimento interior da esqui zofrenia. O paciente, com a pungência de um oráculo, dissera: 'La terre bouge, elle ne m’inspire aucune confiance'.” confiance '.” O mes mo sentimento, diz Zweig, mais tarde apossou-se dele no de serto do Saara, Saa ra, onde tentou super superar ar sua sua “ secura secura inter int er ior” ior ” testan testando- se, sozinho, sozinho, contra contra os rigores da nature natureza. za. “ A terra se move, não posso confiar nela.” No relato da vida de Zweig, os amigos e as amantes pro porcionam momentos do que se poderia chamar de felicidade, mas suas suas presenças presenças não não conseg conseg uem reprimir repr imir “ o v azio az io girar de sua existência interior”. Ele morou por algum tempo com uma moça de de nome nome Michelle , que “ lutou contra sua impass ibi lidade, sem sucesso”. Uma cena cuidadosamente descrita, des tinada a captar a qualidade de sua ligação, capta também a qualidade indefinível da narrativa de Zweig, a zombaria volta da contra si pretendia encantar e desarmar as críticas e a ter rível convicção de inautenticidade que está por trás dela: Como que para zombar da angústia no quarto, a massa cin zenta iluminada da Notre Dame flutua na noite, a uma dis tância de carros mágicos e murmurantes. A moça está sentada no chão, perto de pincéis espalhados e de uma paleta de ma 46
deira escura. O rapaz, aos pedaços, ou assim sente-se ele, na cama, está dizendo num murmúrio estrangulado, teatral: “ Je ne veux pas être un homme’'. Para tornar mais claro o que queria dizer, ou seja, para elevar sua ansiedade à esfera inte lectual, repete: “ Je ne veux pas pas ‘êt ‘être re un homme’ ” , sugerindo uma questão de princípio, que a moça aparentemente é inca paz de apreender, pois deixa escapar um lamento e começa a chorar. A pós seis seis anos disto, dis to, “ eles se casar cas aram am e se div orci or ciar aram am no período de umas poucas semanas estimulantes”. O exílio de Zw e ig chegou chegou ao ao f im e, com ele, sua sua tentativ tentat ivaa “ de represen represen tar sua existência com a agilidade de alguém que nada mais tem a perder”. O v azio interior, no entanto, entanto, persiste: persiste: “ a ex periência do vazio interior, o aterrorizante sentimento de que, em algum nível da existência, não sou ninguém, de que minha identi dade entrou em colapso e que lá no fundo não existe nin guém”. Coube ao Swami Muktananda, um guru bastante admi rado ra do por novanova- iorquinos iorquinos em busca busca de cura espiritual, es piritual, ensinar ens inar a Zw eig como como fazer fazer seu seu “ duplo” dormir. dormir. “ Baba” — pai — ensina “ a futilida futi lidade de dos processos rocessos mentais ” . Sob sua sua instru inst ru ção, Zweig experimentou “o delírio da libertação”. Tal como Jerry Rubin, ele atribui esta “cura”, esta sensação de estar “curado e animado”, à destruição de suas defesas psíquicas. “Não mais preso ao exercício da autodefesa”, ele anestesiou esta part partee de si mesmo, que é “ cons truíd tr uídaa por ocup oc upaçõ ações es men tais . . . agarrada agarr adass umas umas às outras outras pelo pensamento obsessivo e postas a fun f uncionar cionar pela ansied a nsiedade” ade” .
A C r ítica ític a Prog Pr ogre ress ssista ista ao P r ivatis iv atis mo. mo . A popular popularização ização dos dos mo delos delos psiquiátr psiquiátricos icos de pensamento, pensamento, a difusão do “ moviment mov imentoo da nova conscientização”, o sonho de fama e a angustiante sensação de fracasso, que dão, todos, uma urgência adicional à busca de panacéias espirituais, compartilham uma qualidade de intensa intens a preocupação preo cupação com o eu. Esta autoauto- absorção absorção define def ine o clima moral da sociedade contemporânea. A conquista da natureza e a busca de novas fronteiras deram lugar à busca 47
da autoauto- satisfaçã satis fação. o. O narcis narc isis ismo mo torno tornou u- se um dos dos temas temas cen trais da cultura americana, como sugeriram de várias maneiras Jim Hougan, Tom Wolfe, Peter Marin, Edwin Schur, Richard Sennett e outros escritores recentes. A menos que estejamos satisfeitos meramente em moralizar, sob a capa do jargão psi quiátrico, precisamos, contudo, usar este conceito com maior rigor do que é ele usado na crítica social popular, e com uma conscientização de suas implicações clínicas. Os críticos do narcisismo contemporâneo e da nova sensi bilidade terapêutica condenam erroneamente a orientação psi quiátr quiátr ica como o ópio ópio da alta classe classe média. A autoauto- absorçã absorção, o, de acordo com Marin, protege os americanos afluentes contra os horr horrores ores que que os os cercam — a pobreza, pobreza, o r acismo, acis mo, a injus tiça tiça — e “ acalma sua sua consciência consciência perturbada per turbada”” . Schur Schur ataca ataca a “ mania man ia da conscientiz consc ientização” ação”,, basean aseand do- se em que que ela trata dos problemas proble mas peculiares aos aos bem bem-- sucedid sucedidos, os, neglig neg lig encia os os do pobre pobre e converte converte “ o des descontentamen contentamento to social s ocial em inadequa inade qua ção pessoal”. Ele acredita que é “criminoso” para “os cida dãos dãos brancos de classe média torn tornarar- se complacentement complace ntementee preocupados consigo mesmos, enquanto seus irmãos america nos menos menos afor a for tunados batal bat alham ham e passam passam fo me” me ” . Mas a auto auto-preocupação sobre a qual o movimento da conscientização ca pitaliza, tem origem não na complacência, mas no desespero; tampouco é este desespero confinado à classe média. Parece que Schur pensa que o caráter transitório, provisório, das rela ções pessoais é um problema somente para os executivos afluentes em constante mudança. Podemos acreditar que as coisas sejam diferentes entre os pobres? Que os casamentos nas classes operárias sejam felizes e livres de conflitos? Que o gueto produza amizades estáveis, amoráveis e não manipuladoras? Estudos sobre a vida da classe mais baixa mostra ram repetidamente que a pobreza destrói o casamento e a amizade. O colapso da da vida vi da pessoal originaorigina- se não não nos nos tor mentos espirituais da afluência, mas na guerra de tudo contra tudo, que está agora se difundindo, da classe mais baixa, que há muito é assolada por ela, sem interrupção, para o resto da sociedade. Por serem as novas terapias geralmente custosas, Schur co mete o erro de supor que tratem de problemas que só inte48
ressam aos aos ricos, e qu que sejam s ejam inerentemente triviais tr iviais e “ irr eais". ea is". Ele critica escritores escritores tais como George Georg e e Nena Nena O ’Neill Nei ll (os (os apóstolos apóstolos do “casamen “ casamento to aberto” ), por manter manterem em “ um ponto ponto dc vista incrivelmente etnocêntrico da crise pessoal, aparente mente baseado em seus próprios valores e experiências de classe média”. Jamais ocorre aos especialistas em conscien tização, ele se queixa, “que recursos econômicos poderiam ajudar uma pessoa a enfrentar uma crise, ou até mesmo a evitá ev itá-- la” . Estes especialistas especialista s escrevem escre vem como como se as classes classes sociais eo eos conflitos confli tos sociais sociais não não existissem. ex istissem. Por esta r azão, Schur considera “difícil de imaginar” que o movimento para a conscientização, a despeito de tentativas de sua populari zação por meio de manuais pouco dispendiosos e de clínicas g ratuitas, rat uitas, venh ve nhaa a ter, alg al g um dia, muito apelo para para os pob pobres res.. Com certeza, cer teza, é concebíve conce bívell pensar que mesmo uma pessoa pobre poderia sentir-se um pouco melhor como resultado de alg umas das novas novas técnicas técnicas de de autoauto- realização. realização. Contudo, C ontudo, na melhor das hipóteses, esta felicidade tenderia a ser de curta duração. duração . Seduzidos a interiorizar seus problemas, os pobres somente seriam desviados das tarefas mais urgentes de me lhorar seus interesses coletivos reais. A o estabelecer es tabelecer uma oposição opos ição ex cessiv ces siv amente s implif impl ific icada ada entre questõ questões es “ reais” re ais” e pessoai pessoais, s, Schur S chur ignora ig nora o fato fat o de que as questões questões sociais inev itav ita v elmente elme nte apresentam apresentam-- se também como pessoais. O mundo real é refratado em experiências fa miliares e pessoais, que dão cor ao modo como o percebemos. Experiências de vazio interior, de solidão e de inautenticidade não são de modo algum irreais ou, no que diz respeito ao assunto, desprovidas de conteúdo social; tampouco tem origem ex clusiva em “ condiçõ condições de v ida das classe classess média média e alta ” . Originam- se das condiçõ condições es hostis que que invadem inv adem a sociedade sociedade americana, dos perigos e incertezas que nos cercam e de uma perda de confiança no futuro. Os pobres sempre tiveram de viver o presente, mas agora uma preocupação desesperada pela sobrevivência pessoal, às vezes disfarçada de hedonismo, engloba também a classe média. 49
O própr própr io Schu S churr observa que “ o que que parece, parece, em última lt ima aná lise, emergir desta mensagem bastante ambígua é uma ética de autopreservação”. Contudo, sua condenação da ética de sobrevivência como um “recuo para o privatismo” falha em atingir o alvo. Quando as relações pessoais são conduzidas sem outro objetivo além da sobrevivência psíquica, o “priva tismo” deixa de proporcionar um refúgio de um mundo sem coração. Pelo contrário, a vida privada assume as próprias qualidades da ordem social anárquica, para a qual supõe-se que ela proporcione refúgio. É a devastação da vida pessoal, não o recuo para o privatismo, que precisa ser criticada e con denada. O problema do movimento pela conscientização não é que ele se destine a questões triviais ou irreais, mas que proporcione soluções que impliquem autoderrota. Originan do-se de uma insatisfação penetrante para com a qualidade das relações pessoais, ele aconselha às pessoas a não fazer investimentos muito grandes no amor e na amizade, a evitar dependência excessiva de outras pessoas e a viver o momento — justamente as condições que criaram a crise das relações, em primeiro lugar. A C r ítica do P r ivat iv atis ismo mo:: R icha ic harr d S ennett ennet t sobre a Q ueda ue da do Homem Público. A crítica de Richard Sennett ao narcisismo, mais sutil e penetrante do que a de Schur, em sua insistência de que que “o “ o nnar arcisis cisismo mo é o justo oposto oposto do forte amor- próprio” próprio” , não obstante implica uma desvalorização semelhante do nível pessoal. As melhores coisas na tradição da cultura oci dental, segundo o ponto de vista de Sennett, derivam das con venções que haviam regulado as relações impessoais em públi co. Estas convenções, hoje condenadas como sendo restritivas, artificiais e mortais para a espontaneidade emocional, estabe leciam primitivamente os limites civilizados entre as pessoas, limitavam as demonstrações públicas de sentimentos e promo viam o cosmopolitismo e a civilidade. Na Londres ou Paris do século dezoito, a sociabilidade independia da intimidade. “ Estranh Estr anhos os que se encontrava encontra vam m em parqu parques es ou nas ru r uas, sem qualquer embaraço podiam falar uns com os outros.” Eles compartilhavam um fundo comum de signos públicos, que 50
possibilitava às pessoas de níveis desiguais conduzir uma conversação civilizada e cooperar em projetos públicos, sem ter a sensação de estar expondo seus segredos mais íntimos. No século dezenove, porém, irrompeu a reticência e as pes soas passaram a acreditar que as ações públicas revelavam a personalidade íntima do agente. O romântico culto da since ridade e da autenticidade rasgou as máscaras que as pessoas haviam usado em público e destruiu os limites entre vida pública e privada. À medida que o mundo público passou a ser visto como um espelho do eu, as pessoas perderam a capa cidade de distanciamento e, conseqüentemente, do encontro lúdico, que pressupõe um certo distanciamento do eu. E m nossos nossos próp pr óprr ios dias,ias,- de acordo acor do com Sennett, Se nnett, as rela re la ções em público concebidas como uma forma de auto-revelação, torna tornaram ram-- se pr pr ofundamente of undamente sérias. A conver conversa sa assu ass ume a qualidade de confissão. Declina a consciência de classe; as pessoas percebem sua posição social como um reflexo de suas próprias capacidades capacidades e culp culpam am-- se pelas injustiças injust iças cometidas c ometidas contra elas. A política degenera em uma luta, não para uma mudança social, s ocial, mas para par a a auíoauío- realização. realização. Quando Qua ndo os limites entre o eu e o resto do mundo entram em colapso, torna-se impossíve imposs ívell a busca busca do autoauto- interesse interesse esclar es clarecido, ecido, que que antes informara cada fase da atividade política. O homem político de uma época anterior sabia como exigir, de preferência a de sejar (a definição de Sennett de maturidade psicológica) e jul gava a política, como julgava a realidade em gerai, para ver “o que há nela para ele, e não se ela é ele”. O narcisista, por outro lado, “sustém os interesses do ego”, em um delírio d.e desejo. Muito mais complexo e sugestivo do que possa indicar um. breve sumário, o argumento de Sennett muito tem a ensinarnos a respeito da importância do autodistanciamento no jogo e nas dramáticas reconstruções da realidade, a respeito da projeção da busca do eu na política e a respeito dos efeitos perniciosos da ideologia da intimidade. Contudo, a idéia de Sennett de que a política leva ao egoís mo esclarecido, o cuidadoso cálculo da vantagem pessoal e de classe, dificilmente faz justiça aos elementos irracionais que sempre caracterizaram as relações entre as classes domi51
nantes e as subordinadas. Ela dá pouca atenção à capacidade do rico e do poderoso de identificar sua ascendência com prin cípios morais arrogantes, os quais fazem da resistência um crime não só contra o Estado, mas contra a própria humani dade. As classes dirigentes sempre procuraram instilar em seus subordinados a capacidade de experimentar a explo ração e a privação material como uma culpa, enquanto se en g anavam anav am dizen dizend do- se que que seus seus própr própr ios interesses interesses materiais coincidiam com os da da humanidade humanidade em geral. Deix ando de de lado a duvidosa validade da relação de Sennett entre o fun cionamento do ego bem- sucedid sucedidoo e a capacidade capacidade de “ ex exigir, igir, de preferência a desejar”, que parece exaltar a rapacidade como a única alternativa para o narcisismo, o fato é que os homens jamais perceberam seus interesses com perfeita cla reza e, portant por tanto, o, inclin inclinaramaram- se, através atr avés da his história tória,, a proj projetar etar aspectos irracionais de si próprios no campo da política. Pôr a culpa dos aspectos irracionais da política moderna no nar cisismo, na ideologia da intimidade ou na “cultura da perso nalidade” não somente exagera o papel da ideologia no desen volvimento histórico, como também subestima a irracionali dade da política em épocas anteriores. O conceito de Sennett de política adequada como sendo a política do egocentrismo compartilha com a tradição pluralística tocquevilleana, da qual ele evidentemente se origina, um elemento ideológico próprio. A tendência desta análise é exaltar o liberalismo burguês como a única forma civilizada de vida política e a “civilidade” burguesa como a única forma não corrompida de conversação pública. Do ponto de vista pluralista, as imperfeições admissíveis da sociedade burguesa permanecem inacessíveis à correção política, já que a vida po lítica é vista como, inerentemente, uma esfera de imperfeição radical. Assim, quando homens e mulheres exigem alterações fundamentais no sistema político, estão realmente projetando ansiedades pessoais na política. Neste aspecto, o liberalismo define-se como o limite mais externo da racionalidade política e repele todas as tentativas de ir além do liberalismo, inclu sive toda a tradição revolucionária, como a política do narci sismo. A adoção, por Sennett, de uma perspectiva tocquevil52
leana deixa-o incapaz de distinguir entre a corrupção da polí tica radical do fim dos anos sessenta pelos elementos irracio nais da cultura americana e a validade de muitos objetivos radicais. Seu método de análise torna automaticamente sus peitas todas as formas de política que procuram criar uma sociedade não baseada na exploração. A despeito de sua idea lização da vida pública do passado, o livro de Sennett parti cipa da atual atual r evoluçã ev oluçãoo contra contra a política — ou seja, seja, a revo rev o lução contra a esperança de usar a política como um instru mento de mudança social. A grande gr ande ânsia de Sennett Se nnett em rest re staurar aurar uma disti dis tinção nção entre entr e vida pública e privada, sobretudo, ignora os meios pelos quais são elas sempre interligadas. A socialização dos jovens repro duz a dominação política ao nível da experiência pessoal. Em nossos próprios dias, esta invasão da vida privada pelas for ças ças da dominação org or g anizada aniza da tornou tornou-- se tão penetr penetrante, ante, que a vida pessoal quase cessou de existir. Invertendo causa e efeito, Sennett culpa o mal-estar contemporâneo pela invasão da esfera pública cometida pela ideologia da intimidade. Para ele, assim como para Marin e Schur, a atual preocupação com a descoberta de si mesmo, o desenvolvimento psíquico e as relações pessoais íntimas, representa impropriamente autoabsorção, e o romantismo fluiu exuberante. De fato, o culto da intimidade origin originaa- se não não da afir mação da pers pers onalidade, onalidade, mas de seu colapso. Hoje os poetas e novelistas, longe de glo rif icar o e u ,. tornam tor nam crônica crônica sua desintegraçã desintegração. o. As terapias terapias que atendem ao ego fragmentado transmitem a mesma men sagem. Nossa sociedade, longe de favorecer a vida privada à custa da vida pública, tornou cada vez mais difíceis de ser conquistadas amizades profundas e duradouras, casos de amor e casamentos. À medida que a vida social se toma cada vez mais hostil e bárbara, as relações pessoais, que ostensivamente proporcionam alívio para estas condições, assumem o caráter de combate. Algumas das novas terapias dignificam este com bate bate como send sendoo “ afirm af irmação” ação” e “ luta eqüitativ eqüitativ a no amor amor e no no casamento”. Outras celebram as ligações não duradouras sob fórmulas tais tais como como “ casamento aber to” e “ comp compromissos sem prazo para terminar”. Elas, assim, intensificam a doença que 53
pretendem curar. Assim o fazem, contudo, não por meio de um desvio da atenção de problemas sociais para problemas pessoais, de questões reais para falsas questões, mas através de um obscurecimento das origens sociais do sofrimento — que que não não deve ser conf co nfundid undidoo com c om autoauto- absorção absorção complac complacente ente — que é doloroso, porém falsamente experimentado como puramente pessoal e privado.
54
II
A Pers Pe rsonalidade onalidade Narcis Nar cisis ista ta de Nossos Nossos Dias Dia s
O Narcisismo como uma Metáfora da Condição Humana. Os críticos atuais do novo narcisismo não somente confundem causa e efeito, atribuindo a um culto do privatismo manifes tações que derivam da desintegração da vida pública; usam o termo narcisismo tão livremente, que este conserva muito pouco de seu conteúdo psicológico. Erich Fromm, em The Heart of Man, esvazia a idéia de seu significado clínico e a expande para abarcar abarcar todas todas as formas formas de “ v aidade ” , “ autoauto- admiração” admiração” e “au “ autoto- glorif icaçã icação” nos nos indiv íduos íduos,, assim como como todas todas as for mas de paroquialismo, preconceito étnico ou racial e “fana tismo” em grupos. Em outras palavras, Fromm usa o termo como um sinônimo de indiv idualis mo antianti- social” social” , o qual, qual, em sua sua versão de de dogma progressista progressista e “ humanista” , solapa solapa a cooperação, o amor fraternal e a busca de lealdades mais amplas . O. narcisis mo aparece ass im, im, simp s imples lesmente, mente, ,como a antíte se , daquele daquele amor diluído pela humanidade humanidade (desin (desinteres teres sado “amor pelo desconhecido”), advogado por Fromm sob o nome de socialismo. A discussã discuss ão de F r omm om m sobre o “ narcis nar cisis ismo mo indi in divv idua id uall e social”, devidamente publicada em uma série de livros devo tados tados a “ Perspectivas Perspectivas Religios Re ligiosas” as” , nos nos dá um um excelente excelente exem ex em plo da inclinação, em nossa era terapêutica, de vestir os cha vões moralistas com um estilo psiquiátrico. (“Vivemos em um período histórico caracterizado por uma aguda discrepância entre en tre o desenvolv desenvolv imento imento intelectu intelectual al do homem . . . e seu seu de de senvolv se nvolvimen imento to mentalmental- emocion emocional, al, que que ainda a inda o deixou em um estado de marcante narcisismo, com todos os seus sintomas pato lógicos.”) Ap passo que Sennett rios recorda que o narcisismo tem mais em comum com o ódio voltado para o próprio indi 55
v íduo cio cio que que com autoa uto- admiração, Fr F r omm perde de de vista v ista mes mo até este fato clínico bem conhecido, em sua ânsia de fazer um sermão sobre as bênçãos do amor fraterno. Como de de hábito hábito na obra obra de Fr omm, o problema origin originaa- se cm sua tentativa mal dirigida e desnecessária de socorrer o pensamento de Freud de suas bases “mecanicistas” do século dezenove dezenove e de com compeli- lo ao ao serv iço do “ realismo re alismo humanis ta ” . Na prática, isto significa que o rigor teórico dá margem a slogans e sentimentos eticamente elevados. Fromm observa de passagem que o conceito original de Freud a respeito do nar cisismo admitia que a libido tem origem no ego, como um “ grand gr andee reser res ervat vató ório” de de amoramor- próprio próprio nã não difer enciado, ao passo que, que, em 1922, 19 22, ele ele af irmou, ir mou, ao contrário, contr ário, que “ devemos reconhecer o id como o maior reservatório da libido”. Fromm passa por cima deste aspecto, no entanto, ao observar: “A questão teórica sobre saber se a libido tem origem no ego ou no id não tem importância substancial para o significado do conceito conceito [ de nar narcisis cisismo mo em si mes me s mo] ” . De fato, a teoria te oria estr estru uturalista da mente, estabelecida por Freud em Group Psychology e em The Ego and the Jd, exigia modificações de suas primeiras idéias que muito se apóiam na teoria do narcisismo. A teoria teor ia e str st r utural utur al fez Freud Fr eud aban ab ando dona narr a s imples dicoto dico tomia mia entre instinto e consciência e reconhecer os elementos incons cientes do ego e do superego, a importância dos impulsos não sexuais (a agressão ou o “instinto de morte”), e a aliança entre o superego e o id, o superego e a agressão. Estas descobertas, por sua vez, tornam possível uma compreensão do papel das relações de objeto no desenvolvimento do narcisismo, conse qüentemente revelando ser este, essencialmente, uma defesa contra os impulsos agressivos, em lugar de significar amorpróprio. A precis prec isão ão teórica teóric a sobre o narcis nar cisis ismo mo é impor tant ta ntee não só por ser a idéia tão prontamente suscetível à inflação mora lista, mas porque a prática de equacionar o narcisismo com tudo o que é egoísta e desagradável se abranda contra a espe cificidade histórica. Os homens sempre foram egoístas, os gru pos sempre foram etnocêntricos, nada se ganha em se atribuir 56
a essas qualidades um rótulo psiquiátrico. Contudo, a emer gência das desordens do caráter como as mais proeminentes formas de patologia psiquiátrica, junto com a mudança na es trutura da personalidade que este desenvolvimento reflete, derivam eriv am-- se de de mudanças bem específicas em e m nossa nossa sociedade s ociedade e cultura cultur a — da burocra burocracia, cia, da prol prolife iferação ração de ima imagens, gens, de ideologias terapêuticas, da racionalização da vida interior, do culto do consumismo e, em última análise, das mudanças na vida familiar, assim como de padrões variáveis de socializa ção. T udo isto desaparecerá desaparecerá se se o narcisismo narcis ismo tornartornar-se se sim s im plesmente a “metáfora da condição humana”, como acontece em outra interpretação humanista, existencial, a de Sin and Madness: Síudies in Narcissism, de Shirley Sugerman. A recusa de críticos cr íticos recentes do narcis narc isis ismo mo a discutir disc utir a etiologia do narcisismo ou a dar muita atenção ao crescente volume de escritos clínicos sobre o assunto, provavelmente representa uma deliberada decisão, que tem origem no receio de que a ênfase sobre os aspectos clínicos da síndrome narci sista prejudique a utilidade do conceito para a análise social. A decisão, decis ão, contudo, co ntudo, tem prov ado ser um erro. err o. A o ignor ig norar ar a dimensão psicológica, estes autores também perdem de vista a social. Deixam de explorar qualquer dos traços de caráter associados ao narcisismo psicológico, os quais, sob forma me nos extrema, aparecem com bastante profusão na vida coti diana de nossos dias: dependência do calor vicário proporcio nado por outros, combinada a um medo da dependência, uma sensação de vazio interior, ódio reprimido sem limites, e dese jos orais ora is insatis insa tisff eitos. eit os. T ampouco discutem disc utem o que que poderia poder ia ser chamado de características secundárias do narcisismo: pseudoautopercepção, sedução calculada, humor nervoso e autodepreciat pre ciativ ivo. o. PrivamPrivam- se, assim, de de qualquer base base sobre sobre a qual qual fazer conexões entre o tipo de personalidade narcisista e cer tos padrões característicos da cultura contemporânea, tais como o temor intenso da velhice e da morte, o senso de tempo alterado, o fascínio pela celebridade, o medo da competição, o declínio do espírito lúdico, as relações deterioradas entre homens e mulheres. Para estes críticos, o narcisismo perma nece, em seu sentido mais impreciso, como um sinônimo de 57
egoísmo e, no pólo oposto, como uma metáfora, e nada além disso, que descreve o estado mental no qual o mundo parece ser um espelho do eu. Psicologia e Sociologia. A psicanálise lida com indivíduos, não com grupos. Os esforços feitos para generalizar descobertas clínicas para o comportamento coletivo sempre enfrentam a dificuldade dific uldade de que que ooss grup g rupos os têm uma uma v ida própri própria. a. A mente mente coletiva, se houver tal coisa, reflete as necessidades do grupo como um todo, não as necessidades psíquicas do indivíduo, as quais, quais , de de fato, fat o, têm de subordin subordinarar- se às às exig ex igências ências do viv er coletivo. De fato, é justamente a sujeição dos indivíduos ao grupo que a teoria psicanalítica, por meio de um estudo de suas repercussões psíquicas, promete esclarecer. Ao fazer uma análise intensiva de casos individuais, que estão presentes mais na evidência clínica do que em impressões do senso comum, a psicanálise nos diz algo sobre as operações internas da pró pria sociedade, precisamente pelo ato de dar as costas à socie dade e de imergir-se no inconsciente individual. T oda soci s ocied edad adee re produ ro duzz sua sua cultura cultura — suas suas normas, normas, suas presunções subjacentes, seus modos de organizar as experiências — no indivíduo, na forma da personalidade. Como disse Durkheim, a personalidade é o indivíduo so cializado. O processo de socialização, efetuado pela fa mília e, secundariamente, pela escola e por outros agentes de formação do caráter, modifica a natureza humana para que esta se sujeite às normas sociais dominantes. Cada sociedade tenta tenta resolver a crise univ univer ersal sal da infância — o trauma da separação da mãe, o medo do abandono, a dor de competir com outr outros os pelo amor da mãe mãe — à sua sua maneir manei r a, e o modo pelo qual ela lida com estes eventos psíquicos produz uma forma característica de personalidade, uma forma característica de deformação psicológica, por meio das quais o indivíduo reconciliareconcilia- se com a priv pri v ação dos instintos inst intos e sub submete- se às às ex i g ên ências cias da existên exis tência cia social. A insistência insist ência de de Freud Fr eud na conti co nti nuidade entre saúde psíquica e enfermidade psíquica possibilita ver as neuroses e as psicoses, em certo sentido, como a expres são característica de uma determinada cultura. “As psicoses”, 58
escreveu Jules Jules Henry He nry , “ são são o res ultado ultado final fi nal de tudo que que há de errado em uma cultura.” A psicanálise psic análise esclarece melhor mel hor a conex ão entre a sociedade soci edade e o indivíduo, a cultura e a personalidade, precisamente quan do se confina ao cuidadoso exame dos indivíduos. Ela nos diz mais sobre a sociedade quando menos determinada a fazêlo ela está. está. A ex e x trapolaç tr apolação ão de de Freud Fr eud dos dos princípios princ ípios psicanalísicanalílicos para a antropologia, a história e a biografia pode ser ignorada com segurança pelo estudioso da sociedade, mas suas investigações inves tigações clínicas constituem constituem-- se num reserv res erv atório de de idéias idéias indispensáveis, desde que fique entendido que a mente incons ciente representa a modificação da natureza pela cultura, a imposição da civilização sobre o instinto. Freud não deve ser reprovado [ escreveu escrev eu T. W . Ado Adorno rno~\ por ter negligenciado a dimensão social concreta, mas por ler-se mantido mantido impertu imperturbá rbável vel com com a origem origem soci social al da . . . jig id e z do inconsciente, a qual ele registra com a indesviável objetividade do cientista nat ura l. . . A o fazer faze r a transição tr ansição das das imagens psi cológicas para a realidade histórica, esqueceu-se do que ele próprio havia descoberto — que toda realidade sofre modifi cação ao penetrar no inconsciente — e ê, assim, levado erra damente a postular tais eventos factuais, como o assassínio do pai pela horda primeva.* A queles quele s que desejar dese jarem em compree compr eender nder o narcis nar cis ismo is mo conte co ntem m porâneo como um fenômeno social e cultural, deverão recor * “ Em . . . seu seu domínio fam iliar” , acrescentou acrescentou A dorno, “ a psica psica nálise implica em convicção específica: quanto mais se afasta desta esfera, mais são suas teses ameaçadas alternadamente de superficialidade e supersuper- sistematizaçã sistematizaçãoo s elvag em. Se alguém comete comete um um lapso de lin guagem e surge uma palavra sexualmente carregada, se alguém sofre de agorafobia ou se uma moça caminha durante o sono, a psicanálise não só tem suas melhores oportunidades de sucesso terapêutico, como também seu campo adequado, o indivíduo monadológico, autônomo, como a arena do conflito inconsciente entre impulso instintivo e proi bição. Quant o mais se afasta desta desta área, área, mais tiranicamente tem de prosseguir e mais tem ela de introduzir o que pertence à dimensão da realidade externa nas sombras da imanência psíquica. Sua ilusão ao fazêfazê- lo não não é difer ente da ‘onipotê ‘onipotê ncia do do pensament pens amento’, o’, que ela pró pria criticou como infantil.”
59
rer, em primeiro lugar, ao crescente volume de escritos clíni cos sobre o assunto, que não faz qualquer reivindicação quanto à importância social ou cultural e deliberadamente repudia a proposição de que “as mudanças na cultura contemporânea”, como como escreve escreve Otto K ernb er nber ergg , “ têm efeitos efeitos sobre sobre os padrõ padrões es das relações de objeto”.* Na literatura clínica, o narcisismo serve mais do que como um termo metafórico para a autoabsorção. Enquanto formação psíquica, na qual “o amor rejei tado volta-se contra o eu como ódio”, o narcisismo veio a ser reconhecido como um importante elemento nas chamadas de sordens do caráter, que absorveram muito da atenção clínica, antes antes dada à hister ia e às às neuroses obsessivas. DesenvolveuDesenvolveu- se uma nova teoria do narcisismo, baseada no conhecido ensaio de Freud Fr eud sobre sobre o assunto assunto (que trata o narcisis mo — investi inves ti mento mento libid li bidin inaa l do eu eu — como uma pré- condi condiçã çãoo necessária necessária do objeto amoroso), devotada, porém, não ao narcisismo pri mário, mas ao narcisismo secundário, ou patológico: a incor poração de grandiosas imagens de objetos como defesa contra a ansiedade e a culpa. Ambos os tipos de narcisismo tornam indistintos os limites entre o eu e o mundo dos objetos, mas há uma importante import ante diferença difer ença entre eles. eles. O recé r ecém m- nascido ascido — o narcisis narcisis ta primári pri márioo — ainda não não perceb percebee sua mãe mãe como pos pos suindo uma existência separada da sua própria, e, em conse qüência, confunde a dependência da mãe, que satisfaz suas necessidades logo que surgem, com sua própria onipotência. * A queles que arg umentare m, em oposição à tese tese do presente estudo, estudo, que não tem havido mudança subjacente na estrutura da personalidade, citam esta esta pass passag agem em para para a poiar a arg umentação de de que, embora embora “ ve jamos ja mos r ea lmen lm ente te certas cer tas conste cons tela lações ções de s intoma int omass e de des ordens or dens da per sonalidade, com mais ou menos freqüência que no tempo de Freud, ... este desvio da atenção ocorreu primariamente devido a um desvio em nossa ênfase clínica, por causa dos tremendos progressos de nossa compreensão compreensão da estr utura utura da pers onalidade” . À luz lu z desta des ta contr co ntr ov érs ér s ia, ia , é impo im porr ta nte nt e obser obs er v ar que K er nber nbe r g acrescenta acrescenta à sua obser obser vação uma qualifica ção: “ Isto não quer quer dizer que tais mudanças nos padrões de intimidade [e de relações de objeto cm geral] não pudessem ocorrer num período de várias gerações, se, e quando, as mudanças nos padrões culturais afetaram a estrutura fami liar a tal ponto que a mais primitiva manifestação na infância seria influe nciada ” . É ex atamente atamente isto que que apresentarei como como ar gumento no Capítu Capítulo lo V II.
60
“ Passa Passam m- se várias várias sem s eman anas as após após o desenvolv imento póspós- natal.. nata l.. . antes que a criança perceba que a fonte de sua necessidade. .. está dentro e que a fonte de gratificação está fora do eu.” O narcisismo secundá secundário, rio, por outro outro lado, “ tenta tenta anular a dor do [objeto de] amor desapontado”, assim como a raiva da criança contra aqueles que não respondem imediatamente às suas necessidades; contra aqueles que são vistos, agora, respondendo a outros, além da criança, e que, portanto, pare cem tê-la abandonado. O narcisismo patológico, “que não pode ser considerado simplesmente como uma fixação ao nível do narcisismo primário normal”, surge somente quando o ego desenvolveu desenvolveu-- se ao ponto de distinguirdistinguir- se dos dos objetos que o cercam. Se a criança, por qualquer razão, experimenta este trauma da separação com intensidade especial, ela pode tentar restabelecer relações mais anteriores, criando em suas fanta sias uma mãe ou pai onipotentes, que se mesclam a imagens de seu próprio eu. “ Por meio da inter iorização, iori zação, o paciente paciente pro cura recriar uma relação amorosa desejada, que pode ter exis tido antes, e simultaneamente anular a ansiedade e a culpa motivadas por impulsos agressivos, dirigidos contra o objeto frustrante e desapontador.” O Narcisismo na Literatura Clínica Recente. A mudança nos estudos clínicos, desviados do narcisismo primário para o se cundário, reflete tanto a mudança, na teoria psicanalítica, do estudo do id para o do ego, como uma mudança no tipo de pacientes que procuram o tratamento psiquiátrico. De fato, a própria mudança, de uma psicologia dos instintos para uma psicolog psico logia ia do ego, desenvolveuesenvolveu- se, em parte, de um reconheci mento de que que os pacientes pacientes que que começar co meçar am a apresen apresentartar- se para tratamento nos anos 40 e 50 “muito raramente lembra vam as neuroses clássicas que Freud descrevera com tanta profundidade”. Nos últimos vinte e cinco anos, o paciente fronteiriço, que vai ao psiquiatra não com sintomas bem defi nidos, mas com insatisfações difusas, tornou-se cada vez mais comum. Ele não sofre de fixações ou fobias debilitantes, ou de conversão de energia sexual reprimida em moléstias nervo sas; sas; ao invés, ele ele se queix queix a “ de insa insatisf tisf ação ação difusa, v aga, com
a v ida ” , e sente sente que que sua “ ex istência amorfa é f útil e sem f ina lidade”. Ele descreve “sentimentos de vazio sutilmente expe rimentados, embora penetrantes, e de depressão”, “oscilações violentas da autoauto- estima” estima” e “ uma uma incapacidade incapacidade geral de pro g r edir” edir ” . Ele g anha anha “ uma uma sensaçã s ensaçãoo de de autoauto- estima estima aumentada somente quando se liga a figuras admiradas e fortes, cuja acei tação ele deseja muito, e por quem precisa sentir-se apoiado”. Embora empreenda suas responsabilidades cotidianas e chegue mesmo à distinção, a felicidade o ilude e a vida freqüente mente não é, para ele, digna de ser vivida. A psicanáli psi canáliss e, uma ter te r apia que teve orig or igem em na ex periênci per iênciaa com indivíduos severamente reprimidos e moralmente rígidos, os quais quais precisam pre cisam cheg chegar ar a um acordo com um “ censor” inte rior rigoroso, hoje se vê cada vez mais confrontada com um “caráter caótico e impulsivo”. Ela precisa lidar com pacientes que “exprimem” (“act out”) seus conflitos, em vez de reprimilos ou subli sublimá má-- los. Estes Estes pacientes, emb e mbora ora muitas vezes agra agr a dáveis, tendem a cultivar uma superficialidade protetora nas relações relações emocionais. emocionai s. Falta- lhes lhes a capacidade capaci dade de sentir se ntir pesar pesar,, pois a intensidade de sua ira contra os objetos amorosos per didos, em particular contra seus pais, impede que revivam experiências felizes ou que as guardem na memória. Sexual mente mais promíscuos do que reprimidos, não obstante acham difícil “ elaborar o impulso impulso sex s ex ual” ou abordar o sexo sexo com espírito lúdico. Evitam envolvimentos íntimos, que poderiam liberar sentimentos intensos de ira. Suas personalidades con sistem, em grande parte, em defesas contra esta ira e contra sentimentos de privação oral, que têm sua origem no estádio pré- edipiano edipiano do desenvolv dese nvolv imento psíquico. psíquico. Estes pacientes, com freqüência, sofrem de hipocondria e queixameixam- se de de uma uma sensaçã sensação de de v azio interior inter ior.. A o mesmo mesmo tempo, nutrem fantasias de onipotência e uma forte crença em seu direito de explorar os outros e de ser gratifica dos. Elementos arcaicos, sádicos e punitivos predominam nos supereg superegos os desses desses pacientes pacientes e ajustam ajustam-- se às às regr r egras as sociais mais por medo da punição do que por um sentimento de culpa. Experimentam suas próprias necessidades e apetites, sufocados pela raiv a, como prof undame undame nte perigosos, e armam armam-- se com 62
defesas que são tão primitivas quanto os desejos que procuram reprimir. Com base no princípio de que esta patologia representa uma uma versão v ersão intensif icada da da normalidade, normal idade, o “ narcisismo narcisis mo pato lógico” encontrado em desordens do caráter deveria dizer-nos algo sobre o narcisismo enquanto fenômeno social. Estudos de desordens da personalidade que ocupam a linha fronteiriça entre a neurose e a psicose, embora escritos para clínicos, sem pretender lançar luz sobre questões sociais ou cultu rais, pintam um tipo de personalidade que poderia ser ime diatamente reconhecível numa forma mais reduzida, por obser vadores do cenário cultural contemporâneo: hábil em admi nistrar as impressões que transmite aos outros, ávido de admiração, mas desdenhando daqueles a quem manipula para obtêobtê- la; insaciavelmente insaciav elmente faminto fa minto de ex periências eriências emocionais emocionais com as quais preencher um vazio interior; aterrorizado com o envelhecimento e a morte. A s ex plicações plicações mais convincente conv incentess das origens orig ens psíquica s dessa síndrome síndrome fronte f ronteiriça iriça aproximamaproximam- se da tradiçã tra diçãoo teórica estabelecida por Melanie Klein. Em suas investigações psicanalíticas com crianças, Klein descobriu que sentimentos pri mitivos de raiva excessiva, dirigidos especialmente contra a mãe e secundariamente contra a imagem interiorizada da mãe como um monstro voraz, tornam impossível para a criança sintetizar imagens parentais “boas” ou “más”. Em seu medo da agressã agres sãoo de de pais pais malv ados — projeçõ roje ções es de sua sua própria própr ia raiv ra ivaa — ela idealiz idealizaa os pais pais bons bons que que v irão em seu seu socorro. As A s imagens image ns inte r ioriza ior izadas das de outros outr os,, enterr ente rradas adas na mente inconsciente inconscie nte em pouca idade, idade, tornam tornam-- se também ta mbém autoauto- imagens. imagens. Se a experiência posterior deixa de qualificar ou de introduzir elementos de realidade nas fantasias arcaicas a respeito de seus pais, encontra dificuldade em distinguir entre imagens do eu e dos objetos objetos f ora do eu. Estas imagens image ns fu f undem ndem-- se para ar a formar uma defesa contra as representações más do eu e dos objetos, do mesmo modo fundidos sob a forma de um superego severo e punitivo. Melanie Klein analisou um me nino de dez anos de idade, que pensava inconscientemente em sua mã mãe como como um um “ v ampir o” ou “ pássaro ss aro horrendo” horr endo” e inte riorizara esse medo como hipocondria. Ele temia que as pre 63
senças más dentro de si devorariam as boas. A rígida separa ção entre imagens boas e más do eu e dos objetos, por um lado, e a fusão das imagens do eu e dos objetos, por outro, surgiram da incapacidade do menino de tolerar a ambivalência e a ansiedade. Por ser sua raiva tão intensa, não podia admitir que abrigava sentimentos agressivos contra as pessoas a quem amava. “ Medo e culpa relativos re lativos a essa essass fantas ias destrutivas modelaram toda sua vida emocional." Uma criança que se sente tão seriamente ameaçada por seus própr própr ios impulsos impulso s agressiv agr essivos os (projetados (proje tados nos nos outros outr os ..e, depois, depois, interiorizados novamente como “monstros” internos), tenta comp compen ensarsar- se de suas suas sensações sensações de raiva rai va e invej inv ejaa com c om fant f anta a sias de riqueza, beleza e onipotência. Estas fantasias, junto das imagens interiorizadas dos pais bons, com as quais tenta defenderefender- se, torn tornam am-- se o núcl núcleo eo de uma “co “ concepção ncepção grandiosa gr andiosa do eu”. Uma espécie de “otimismo cego”, de acordo com Otto Kernberg, protege a criança narcisista dos perigos internos e dos que a envolvem — particularmente da dependência dos outros outros,, que que . são são percebidos ercebidos como não não confiá confi áv eis, eis , sem exceç ex ceçãão. “ A projeção proj eção constante do eu e de imag imagens ens dos dos objetos ‘intei ‘int ei ramente ramente maus’ ma us’ perpetua erpetua um mundo mundo de de objetos objetos ameaçad ameaçadores ores e perigosos, contra os quais as imagens do eu ‘inteiramente boas’ são usadas defensivamente, e as imagens do eu ideal megalomaníaco são construídas.” A separação das imagens determinadas por sentimentos agressivos, das imagens deriva das dos impulsos libidinais, torna impossível para a criança tomar conhecimento de sua própria agressão, experimentar culpa e interesse por objetos investidos simultaneamente de agressão e libido, ou sentir pesar pelos objetos perdidos. A depressão nos pacientes narcisistas toma a forma, não de pesar, com seu seu componente componente de culpa, descrito por Freud Fr eud em “ L uto e Melancolia”, mas de raiva impotente e “sentimentos de der rota por forças externas”. — Por ser o mundo intrapsíquico destes pacientes tão pobre mente povoado pov oado — consistindo consis tindo somen somente te no “ eu g r andioso” andios o” , nas palavras de de Kernberg, Kernberg, “ de; imagens imagens desvaloriza esv alorizad das, indist indistin in tas, do eu e dos outr outros, os, e de perseg uidores potenc pot encia iais is”” — , estes experimentam intensos sentimentos de vazio e de inautenticidade. Embora o narcisista possa funcionar no mundo 64
cotidiano e, com freqüência, encantar outras pessoas (não me mos que que com a “ pseudopercepção inter inte r na de sua própr ia per sonalidade”), a desvalorização de outros, junto à falta de curiosidade a respeito deles, empobrece sua vida pessoal e re for ça a “ ex periência periência subjetiva de de v azio” . Faltand Faltandoo- lhe lhe qual quer quer comprom compromisso isso intelectual real com o mundo — não não obs obs tante uma estimativa freqüentemente inflacionada de suas próprias capacidades intelectuais —-, ele possui pouca capaci dade de sublimação. Depende, conseqüentemente, dos outros para constantes injeções de aprovação e admiração. Ele “pre cisa ligar[-se] a alguém, vivendo [uma existência] quase para sita”. Ao mesmo tempo, seu medo de dependência emocional, junt ju ntoo à sua abor dag em ex plorador plor ador a, manipu ma nipula lador dor a , das rela re la ções pessoais, tornam essas relações amenas, superficiais e profundamente insatisfatórias. “ A relação relação ideal ideal para para mim m im seria um relacionamento de dois meses”, disse um paciente fron teiriço. “Assim não haveria compromisso. Ao final dos dois meses, eu simplesmente me separaria.” Cronicamente entediado, incansável na procura de instantâ nea intimidade — de excitação excitação emocional sem envolv envol v imento e sem dependê dependência ncia — , o narcisista narcisis ta é promíscuo e, fr eqü eqüente ente mente, também pansexuaí, já que a fusão dos impulsos prégenitais e edipianos a serviço da agressão encoraja a perversão polimorf a. A s más más imagens que que ele interiorizou tornam tornam-- no também cronicamente inseguro quanto, à sua saúde, e a hipo condria, por sua vez, proporcio proporciona na-- lhe lhe uma afinidade especia especiall com terapias terapias e com grup gr upos os e movimentos mov imentos terapê ter apêutico uticos. s. ' Como paciente psiquiátrico, o narcisista é um candidato maduro para a análise interminável. Ele procura na análise uma religião ou modo de vida e espera encontrar na relação terapêutica o apoio externo para suas fantasias de onipotência e de eterna juventude. A força de suas defesas, no entanto, tornatorna- o resistente resistente à análise análise bem- sucedida sucedida,, A superfici super ficialidade alidade de sua v ida emocional e mocional mais das vezes imp impedeede- o de de desenvolver des envolver uma ligaçã lig açãoo íntima com o an analista* alista* muito embora embora eíe “ fre qüentemente qü entemente ’use sua percepção percepção intele ctual interna para con cordar verbalmente com o analista e para recapitular, como suas próprias palavras, o que fora analisado nas sessões ante riores”. Ele usa o intelecto antes a ,serviço da evasão do que
da autodescoberta, recorrendo a algumas das mesmas estraté gias de ofuscamento que apareceram na literatüra confessional das décadas décadas mais recentes. recentes. “ O paciente usa usa as interpretações interpre tações analíticas, mas priva-as rapidamente de vida e de significado, dc forma que só restam palavras sem sentido. As palavras são então sentidas como sendo da própria lavra do paciente, a qual ele idealiza e que lhe dá uma sensação de superiorida de.” Embora os psiquiatras não mais considerem as desordens narcisistas como sendo inerentemente não analisáveis, poucos deles têm uma visão otimista das perspectivas de sucesso. De acordo com Kernberg, o grande argumento para se fazer, afinal, a tentativa, face às muitas dificuldades apresentadas por pacientes narcisistas, é o efeito devastador do narcisismo sobre sobre a seg unda nda metade metade de suas suas vidas v idas — a certeza certeza do terrível ter rível sofrimento que está à sua espera. Em uma sociedade que tem horror à velhice e à morte, o envelhecimento implica um terror especial para os que temem a dependência e cuja autoestima requer a admiração geralmente reservada à juventude, à beleza, à celebridade ou ao encanto pessoal. As defesas usuais contra as devastaçõ devastações es da idade — identificação identif icação com co m valores éticos e artísticos fora do interesse imediato, curiosidade inte lectual, o consolador calor emocional derivado de relações felizes felizes no pass passad ado, o, por por parte do indiv íduo — nada podem podem fazer pelo narcisista. Incapaz de extrair qualquer conforto que advenha da identificação com a continuidade histórica, ele acha acha impossível imposs ível,, ao contr ário, “ aceitar o fato fa to de que que uma geração mais jovem possua agora muitas das gratificações, antes apreciadas, de beleza, riqueza, poder e, particularmente, de criatividade. Ser capaz de apreciar a vida em um processo que envolve uma crescente identificação com a felicidade e realizações de outras pessoas está tragicamente além da capa cidade das personalidades narcisistas.” Influências Sociais sobre o Narcisismo. Cada época desenvolve suas próprias formas peculiares de patologia, que exprimem, cm forma exagerada, sua estrutura de caráter subjacente. No tempo de Freud, a histeria e as neuroses obsessivas levavam a extremos os traços de personalidade associados à ordem 66
capitalista em um estágio mais anterior de seu desenvolvi mento — g anância, anância, devoção devoção fanática ao trabalho e uma fer oz repressão da sexualidade. Em nossos dias, as desordens préesquizofrênicas fronteiriças, ou da personalidade, têm atraído crescente atenção, tanto quanto a própria esquizofrenia. Esta “mudança na forma das neuroses vem sendo observada e des crita, desde a Segunda Guerra Mundial, por um número cada vez maior de psiquiatras”. De acordo com Peter L. Giovacchini, “os clínicos constantemente vêem-se face a face com um número aparentemente crescente de pacientes que não se ajus tam às atuais categorias de diagnósticos” e que sofrem não de '‘sintomas definidos”, mas de “queixas vagas, mal definidas”. “ Quando Qua ndo me refir re firoo a ‘e ‘este tipo tipo de de paciente’ pacie nte’ ” , escreve escreve ele, “ pra ticamente todos todos sabem a quem estou me me ref r efer erindo.” indo.” A cres cente proeminência das “desordens do caráter” parece signi ficar uma mudança subjacente, na organização da personali dade, do que tem sido chamado de direcionamento interior para o narcisismo. A lle ll e n Whee Wh eeliliss arg ar g umentou ument ou em 1958 19 58 que a mudan mud ança ça nos “ padrõ adrões es da neuros neurose” e” fazia f azia “ parte da ex periência eriência pessoal pessoal de psiquiatras mais antigos”, enquanto os mais jovens “dela se conscientizam a partir da discrepância entre as descrições mais antigas de neuroses e os problemas apresentados pelos pacien tes que diariamente chegam a seus consultórios. A mudança é de neuroses sintomáticas para desordens do caráter.” Heinz Lichtenstein, que questionou a afirmação adicional de que ela refletia uma mudança na estrutura da personalidade, não obs tante escreveu em 1963 que a “mudança nos padrões neuró ticos” já constituía um “fato bem conhecido”. Nos anos seten ta, tais relatos tornaram tornaram-- se cada vez mais comuns comuns . “ Não é por por acaso”, observa Herbert Hendin, “que atualmente os eventos dominantes em psicanálise são a redescoberta do narcisismo e a nova ên ênfase sobre sobre a importância importância psicológica psicológica da morte .” “ O que a histeria e as neuroses obsessivas foram para Freud e para seu seus prinjeiros coleg as. . . no início início deste deste século”, escreve escreve Michael Micha el Beldoch, B eldoch, “ as desorden desordenss narcisistas narcisis tas sã s ão para os atuais analistas destas poucas últimas décadas, antes do próximo milênio. Os pacientes de hoje, de modo geral, não sofrem de paralisias histéricas das pernas ou de compulsões de lavar 67
as mãos; ao invés, são seus eus psíquicos como um todo que ficaram insensíveis ou que têm de esfregar e reesfregar, em um esforço exaustivo e interminável para limpar.” Estes pa cientes cientes sofr s ofrem em de de “ sentimentos sentimentos penetrantes de vaz io e de de pro fundos fundos distúrbios distúrbios da autoauto- estima” estima” . Burne Burness ss E. Moor e observ observ a que as desordens narcisistas têm-se tornado cada vez mais comuns. De acordo com Sheldon Bach, “Você costumava ver pessoas chegando com compulsões de lavar as mãos, fobias e neuroses familiares. Agora, vê uma grande maioria de narci sistas.” Gilbert J. Rose sustenta que a visão psicanalítica, “inadequadamente transplantada da prática analítica” para a vida cotidiana, tem contribuído para a “permissividade glo bal” e para a “excessiva domesticação do instinto”, as quais, por sua vez, contribuem para a proliferação das “desordens narcisistas de identidade”. De acordo com Joel Kovel, a esti mulação de desejos infantis por meio de anúncios, a usurpação da autoridade parental pelos meios de comunicação de massa e pela escola e a racionalização da vida interior, acompanhadas pela falsa promessa de satisfação pessoal, criaram um novo tipo de de “indiv “ indiv íduo s ocial” . “ O res ultado nã não são as neu neuroses roses clássicas, onde um impulso infantil é reprimido pela autori dade patriarcal, mas uma versãõ moderna, na qual o impulso é estimulado, pervertido e ao qual não é dado nem um objeto adequado com o qual satisfaze satisfazerr- se, nem nem formas f ormas coerent coerentes es de controle. controle. . . . O comp complex o inteiro, ex aurido aurido em um meio meio mais de alienação do que de controle direto, perde a clássica forma de sintoma — e a clá clássica ssica oportunidade opor tunidade terapêu ter apêutica tica de sim plesmente resgatar um impulso para a consciência.” O aumento registrado no número de pacientes narcisistas não indica necessariamente que as desordens narcisistas sejam mais comuns agora do que eram antes, na população como um todo, ou que se tenham tornado mais comuns do que as clássicas neuroses conversivas. Talvez elas tenham alcançado com maior rapidez a atenção psiquiátrica. Ilza Veith argu menta que, “com a crescente conscientização das reações con versivas e com a popularização da literatura psiquiátrica, as exp ex pressões ressões somá s omáticas ticas ‘antiquadas ‘anti quadas ’ da hist histeria eria tornaram tornaram-- se sus sus peitas entre as classes mais sofisticadas e, em conseqüência, muitos médicos observam que os sintomas conversivos óbvios 68
são, hoje, raramente encontrados e, quando são, isso ocorre somente entre os que que não não poss possuem uem ins tr ução.” A atençã ate nçãoo dada às desordens do caráter na recente literatura clínica provavel mente faz com que os psiquiatras fiquem mais alertas em sua presença. Contudo, esta possibilidade absolutamente não dimi nui a importância do testemunho psiquiátrico sobre a predo minância do narcisismo, especialmente quando este testemu nho aparece no mesmo tempo em que jornalistas começam a especular sobre o novo narcisismo e a tendência pouco sadia para a autoauto- absorção. absorção. O narcis nar cisist istaa chama a atençã ate nçãoo dos dos psi quiatras, devido a algumas das mesmas razões por que ele chega a posições de proeminência, não só em movimentos de conscientização e outros cultos, como também em corpora ções comerciais, organizações políticas e burocracias governa mentais. Apesar de todo seu sofrimento íntimo, o narcisista possui muitos traços que permitem o sucesso em instituições burocráticas, as quais valorizam a manipulação de relações interpessoais, desencorajam a formação de ligações pessoais profundas e, ao mesmo tempo, dão ao narcisista a aprovação que que ele precisa para v alidar sua autoauto- estima. estima. Embora E mbora possa recorrer a terapias que prometem dar sentido à vida e superar seu senso de vazio, em sua carreira profissional o narcisista, com freqüência, goza de sucesso considerável. O controle de impressões pessoais ocorre nele naturalmente e o domínio de suas complexidades é, para ele, útil nas organizações políticas e comerciais, onde o desempenho agora conta menos da que “visibilidade”, “ímpeto” e um registro de vitórias. À medida que o “homem da organização” cede lugar ao “manipulador” burocrático burocrático — a “era “ era da da lealdade” do comércio comércio americano à era do do “jogo “j ogo ex ecutivo do sucesso” sucesso” — , o narcisist narcisistaa encontra seu lugar. Em um estudo de 250 administradores de doze grandes com panhias, Michael Maccoby descreve o novo líder corporativo, com certa dose de simpatia, como uma pessoa que trabalha mais com pessoas do que com materiais e que procura não construir um império, ou acumular riquezas, mas experimentar “ a alegria de de dirig ir sua equipe equipe e alcançar v itórias” itória s” . Ele deseja deseja “ ser ser conhecido conhecido como venced ve ncedor or e seu mais pro fundo temor é ser rotulado como perdedor”. Em vez de opor-se a uma tarefa 69
material ou a um problema que exige solução, ele opõe-se aos outros, por uma “necessidade de ter as coisas sob controle”. Conforme é apresentado em um recente livro para adminis tradores, tradores, o sucesso sucesso hoje em dia não n ão sig s ignifica nifica “ somente somente subir de posto”, mas “passar à frente de outros”. O novo executivo, pueril, brincalhão e “sedutor” deseja, segundo Maccoby, “man ter uma ilusão de opções sem limites”. Possui pouca capaci dade de manter “intimidade pessoal e compromissos sociais”. Sente pouca lealdade até mesmo para com a empresa para a qual trabalha. Um executivo diz que experimenta o poder “como não ser pressionado pela empresa”. Em sua escalada hierárquica, este homem cultiva clientes poderosos e tenta usá-los contra sua própria empresa. “Você precisa de um g rande cliente” cliente ” , de de acordo com seus seus cálculos, cálculos, “ que esteja sem pre em apuros e que exija mudanças da empresa. Deste modo, você automaticamente adquire poder junto à empresa, bem como junto ao cliente. Gosto de deixar minhas opções em aberto.” Um professor de administração endossa esta estraté gia. “A excessiva identificação” com a empresa, em seu ponto de vista, “produz uma corporação com enorme poder sobre as carreiras e destinos daqueles que acreditam nela verdadei ramente”. Quanto maior a empresa, mais importante acredita ele ele que que seja para par a os os execu ex ecutivos tivos “ administr administ r ar su s uas carreiras em termos termos de de suas suas próprias própri as . . . livres escolhas” escolhas” e de “manter o mais amplo conjunto possível de opções”.* * Não é só o “ man ipulador ” que "teme ser ser apris ionado” . Sey mour mour B. Sarason acha este sentimento predominante entre profissionais e estu dantes dantes em tr einamento para seguir carreiras prof issionais. Ele também sugere uma ligação entre o receio da armadilha e o conjunto de valores culturais com a mobilidade da carreira e seu equivalente psíquico, “o cres cimento cimento pessoal” . “ ‘Não se pre nda’, 'mante nha abertas suas opçõ opções’, es’, ‘fique calmo’ — essas precauções emergem do sentimento de que a sociedade arma todos os tipos de armadilhas que tiram a liberdade, sem a qual o crescimento é impossível.” Esse temor de aprisionamento ou de estagnação está intimamente relacionado, por sua vez. com o medo da velhice e da morte. A mania da mobilidade e o culto do “ crescimento” podem, eles eles próprios, ser ser vis tos, em parte, como uma expressão do medo da velhice, que se tornou tão tão intenso intenso na sociedade sociedade amer icana. A mobilidade e o crescimento as seguram ao indivíduo que ele ainda não caiu na morte em vida que a velhice significa.
70
Segu Seg undo ndo Maccoby Maccoby , o “ manipulado mani puladorr ” “ é aberto a novas idéias, idéias, mas faltapifaltapi- Ihe Ihe convicções” . Ele negociará neg ociará com qual quer regime, ainda que não aprove seus princípios. Mais inde pendente e cheio de recursos do que o homem da corporação, ele tenta usar a empresa para seus próprios fins, temendo que, de outra forma, seja “totalmente emasculado pela corpora ção”. Evita a intimidade como a uma armadilha, preferindo a “atmosfera excitante, sensual” com a qual os modernos exe cutivos se cercam no trabalho, “onde secretárias adoráveis, de minissaias, constantemente flertam com ele”. Em todas as suas suas relaçõ relações pessoais, pessoais, o “ manipula ma nipula dor ” depend dependee da admira admir a ção ou do temor que inspira em outras pessoas, para certificarse de suas suas credenciais cr edenciais'' como um “ v encedor” ence dor” . À medida medi da que que envelhece, acha cada vez mais difícil exigir o tipo de atenção na qual ele floresce. Chega a um plano além do qual não pro gride em seu trabalho, talvez porque as mais altas posições, conforme observ observ a Maccoby, ainda sejam ocupadas ocupadas por “ aque aque les que são capazes de renunciar à rebelião da adolescência e torn tornarar- se, ao menos menos em certa medida, me dida, pessoas que acre ditam na organização”. O trabalho começa a perder seu sabor. Tendo pouco interesse pela perícia profissional, o executivo do novo estilo não vê prazer em seus empreendimentos, já que começa a perder o encanto adolescente sobre o qual re pousam. A meia- idade idade atin atinge- o com a f orça de um desastre: desastre: “Uma vez perdidos sua juventude, vigor e mesmo a emoção de vencer, torna-se deprimido e sem objetivo, questionando a finalidade de sua vida. Não mais extraindo energia da luta pela equipe e incapaz inca paz de ded dedicaricar- se a algo que acre a credita dita estar além dele mesmo... vê-se completamente só.” Não é sur preendente, dada a predominância deste padrão de carreira, que que a psicolog ia popular popular recorra com tanta f reqü re qüência ência à “ crise crise da meia- idade” idade” e aos meios meios de combatêcombatê- la. Na novela de Wilfrid Sheed, Office Politics, uma esposa pergun perg unta: ta: “ H á problemas problemas reais entre entre o Sr. Fine Fine e o Sr. Tyler T yler,, não é mesmo?” Seu marido responde que os problemas são triviais; “enganar o ego é o problema verdadeiro”. O estudo de Eugene Emerson Jennings sobre a chefia, que celebra a extinção do homem da corporação e o advento da nova “era da mobilidade”, insiste em que a “mobilidade” empresarial 71
“ é mais do que que o simples simples desempenh des empenhoo de f unçõe unçõe s ” . O que que conta é o “estilo... a fanfarronice... a capacidade de dizer c fazer quase tudo sem antagonizar quem quer que seja”. O executivo em ascensão, de acordo com Jennings, sabe como lidar com as as pesso pessoas as que que o cercam — o “ prete pre terr ido” , que que sofre de “ mobilidade mobili dade par pa r alis ali s ada” e invej inv ejaa o sucesso sucesso;; o “ abso absorvervedor”; o “convencido”. O “executivo inteligente” aprendeu a “ ler” ler ” as relações relações de poder poder em sua empres empresaa e “ a ver o lado menos visível e audível de seus superiores, principalmente como se se porta por tam m com seu seus iguais ig uais e seus seus super superior iores es”” . Ele “ pode inferir a partir de um mínimo de pistas, quais são os centros de poder e procura ser bastante visível e se expõe diante deles. Cultiva assiduamente sua posição e suas oportunidades junto àqueles e agarra toda oportunidade de aprender com eles. Utiliza suas oportunidades no mundo social para ligar-se aos homens que são centros de patrocínio no mundo empresarial.” Compar ando constantemente o “ jogo do suce sucesso sso do do executi ex ecuti vo” a uma competição atlética ou a um jogo de xadrez, Jen nings trata a substância da vida executiva como se fosse tão arbitrária e irrelevante para o sucesso, como a tarefa de chutar uma bola para dentro da rede ou de mover as peças de um tabuleiro de xadrez. Ele nunca menciona as repercussões sociais e econômicas das decisões administrativas ou o poder que os administradores exercem sobre a sociedade em geral. Para o administrador de empresa em ascensão, o poder consiste não não em dinheir dinheiroo e infl influência, uência, mas no “ ímpet ímpeto” o” , em uma uma “ ima gem de vencedor”, em uma reputação como vencedor. O poder situa-se no olhar do observador e, assim, não possui qualquer referência objetiva.* A v isão is ão do mundo mun do do admini ad miniss tr ador ad or , conf co nfor orme me descrita descr ita por Jennings, Maccoby e pelos próprios administradores, é a do narcisista, que vê o mundo como um espelho de si mesmo e * De fat o, não tem qualquer ref erência fora do eu. O novo ideal ideal de sucesso não tem conteúdo. “O desempenho significa chegar”, diz Je nn nnings. ings. O sucesso sucesso igual igualaa- se ao sucesso. Obser ve m a conver g ência ência entre sucesso nos negócios e celebridade na política ou no mundo das diver sões, que também dependem de ‘‘visibilidade” e de "carisma” e só podem scr definidos por si mesmos. O único atributo importante da celebridade é que ela é celebrada; ninguém pode dizer por quê.
72
não se interessa por eventos externos, a não ser que devol vam um reflexo de sua própria imagem. O denso meio am biente interpessoal da burocracia moderna, na qual o trabalho assume uma qualidade abstrata, quase que inteiramente divorciada do desempenho, por sua própria natureza elicia, e quase sempre recompensa, uma resposta narcisista, No entanto, a burocracia é somente uma entre muitas influências sociais, que estão dando a um tipo narcisista de organização da personali dade uma proeminência cada vez maior. Outra dentre tais influências é a reprodução mecânica da cultura, a proliferação de imagens visuais e auditiv auditivas as na “ sociedade sociedade dos dos es petáculos” petáculos” . V iv emos num tor v elinho el inho de imagens imag ens e ecos ecos que paral par alis is am a ex periência e repõ repõemem- na em funcioname nto em mar marcha cha lenta. As A s câmaras e os aparelhos apar elhos de reg istro istr o de sons sons e imagens imag ens não somente transcrevem a experiência, como alteram sua quali dade, dando a muitos aspectos da vida moderna o caráter de uma enorme câmar a de de eco, eco, uma uma sala s ala de espelhos. espelhos. A v ida se apresenta como uma sucessão de imagens ou de sinais ele trônicos, de impressões registradas e reproduzidas por meio da fotografia, filmes animados, televisão e sofisticados apare lhos lhos registrad reg istradores. ores. A v ida moderna é tão tão profundamente inv a dida por imagens eletrônicas, que não podemos deixar de res ponder aos aos outros como se suas suas ações ações — e nossas nossas próp pr óprr ias — estivessem sendo registradas e simultaneamente transmitidas a uma audiência invisível, ou armazenadas para minucioso escr utínio utínio posterior. posterior. “ Sorria, Sorr ia, você está sendo sendo foca lizado.” A intrusão na vida cotidiana deste olho que a tudo vê, deixou de ser surpresa para nós ou de nos surpreender com nossas defesas arriadas. Não precisamos de ninguém que nos lembre de sorrir. Um sorriso está permanentemente gravado em nos sos rostos e já sabemos, entre os vários ângulos, qual deve ser o fotografado, com melhores resultados. A prol pr olififer er ação das imagens imag ens reg re g istra ist radas das mina min a nosso senso de realidade. Conforme observa Susan Sontag em seu estudo sobre a fotog raf ia: “ A realidad re alidadee passou a parece arecerr- se cada vez mais com o que que as câmaras câmaras nos most ra m” . Desconfiamos Desc onfiamos de nossas percepções até que a câmara as atestem. As imagens fotog ráficas dão- nos prov prov a de nossa nossa ex istência, sem a qual acharíamos difícil até mesmo reconstruir uma história pessoal. 73
As f amília am íliass bur bur g uesas uesa s dos séculos dezoit dez oitoo e dezenov deze nove, e, como indica Sontag, posavam para retratos de forma a proclamar o status da família, ao passo que, hoje em dia, o álbum de fo tografias da família atesta a existência do indivíduo: o registro documental de seu desenvolvimento desde a infância propor cion ciona- lhe lhe a únic únicaa ev idência idência de su s ua v ida, que ele reconhece reconhece como totalmente válida. Entre os “muitos usos narcisistas” que que Sontag Sontag atr a tr ibui à câmar câmara, a, a “ autov ig ilância ilância”” situ situa-se a- se en entre tre os mais importantes, não só porque ela proporciona os meios técn técnicos icos de incessa incessannte au a uto- escru escr utínio, tínio, mas mas porque torna tor na o senso senso de identidade identida de depend dependente ente d o ' consumo de imag imagens ens do eu, ao mesmo tempo colocando em questão a realidade do mundo exterior. A o preser pres ervv ar as imagens imag ens do eu em v ários estágios es tágios do desen volvimento, a câmara ajuda a enfraquecer a antiga idéia de desenvolvimento como educação moral e a promover uma idéia mais passiva, de acordo com a qual o desenvolvimento consiste em atravessar os estágios da vida no tempo certo e na hora certa. O atual fascínio pelo ciclo vital engloba uma consciência de que o sucesso na política ou nos negócios de pende de se chegar a certos objetivos segundo um esquema; contudo, ele também reflete a facilidade com a qual o desen volvimento pode ser eletronicamente registrado. Isto leva-nos a outra mudança cultural que elicia uma resposta narcisista largamen larg amente te dif undida e, neste neste caso, caso, dá dá- lhe lhe uma uma sanção sanção f ilo sófica: a emergência de uma ideologia terapêutica que sus tenta um esquema normativo de desenvolvimento psicossocial, dando dando assim as sim um encorajamento encoraja mento a mais mais ao autoauto- escrutín escrutínio io an sioso. O ideal de desenvolvimento normative cria o receio de que qualquer desvio da norma tenha uma origem patoló gica. Os médicos fizeram um culto do exame geral periódico — uma investig inves tigaçã açãoo mais mais uma vez efetuad ef etuadaa por meio de de câma câma ras ras e outros outros instrumentos de registro reg istro — e impla implanta ntarr am em seus clientes a noção de que a saúde depende da eterna vigi lância e da detecção precoce de sintomas, conforme verifi cada pela tecnologia médica. O cliente não mais sente-se física ou psicologicamente seguro, até que sua radiografia confirme uma “ficha limpa de saúde”. 74
A medic me dicin inaa e a psiqui ps iquiat atrr ia — mais g er almente alme nte,, o ponto pont o de vista e a sensibilidade terapêuticos que invadem a sociedade moderna — ref orçam o padrão criado cria do por por outras influências culturais, nas quais o indivíduo examina-se interminavelmen te, à procura de sinais de velhice e doença, de sintomas indi cadores de tensão psíquica, por manchas e imperfeições que possam diminuir sua atração, ou, por outro lado, para con* firmar as indicações de que sua vida está seguindo de acordo com o esquema. esquema. A medicina medic ina moderna moder na domino dom inou u as as pragas pragas e epidemias, que antes tornavam a vida tão precária, só para criar novas formas de insegurança. Do mesmo modo, a buro cracia tornou a vida previsível e mesmo tediosa, enquanto revivia, sob nova forma, a guerra de tudo contra tudo. Nossa sociedade superorganizada, onde predominam as organizações de grande porte que perderam a capacidade de impor sujeição, em alg uns aspecto aspectoss aproximaaproxima- se mais de uma condiçã co ndiçãoo de ani a ni mosidade universal do que no tempo do primitivo capitalismo, no qual Hobbes modelou seu universo. As condições sociais hoje em dia encorajam uma mentalidade de sobrevivência, expressa em sua forma mais rude nos filmes de catástrofes ou em fantasias de viagens espaciais, que permitem uma fuga vicária do planeta condenado. As pessoas deixam de sonhar com a superação de dificuldades, mas simplesmente passam a sobreviver a elas. Nos negócios, de acordo com Jennings, “a luta é para sobreviver emocionalmente” — “ preserv ar ou ou acen tuar nossa identidade ou nosso ego”. O conceito normativo dos estágios do desenvolvimento promove uma visão da vida como uma corrida de obstáculos: o objetivo é simplesmente chegar ao fim da corrida, com um mínimo de problemas e de sofrimento. A capacidade de manipular aquilo a que Gail Sheehy Sheehy se refere, para usar usar uma metáfora médica, como “ sis temas de apoio à vida”, ora parece representar a forma mais elevada de sabedoria: o conhecimento que nos move, como ela coloca, sem pânico. Aqueles que dominam a “abordagem sem pânico da velhice” de Sheehy e os traumas do ciclo da vida serão capazes de dizer, nas palavras de um de seus sujei tos: tos: “ Sei qu que pos posso so so bre v iv er .. . não não mais mais entro entro em pânico” pânico” . Esta, contudo, é dificilmente uma forma exaltada de satisfação. “ A atual ideolo g ia”, escreve escreve Sheeh Sheehy, y, “ parece ser ser uma uma mistura 75
dc sobrevivência pessoal, renascimento religioso e cinismo”; contudo, seu guia enormemente popular para as “crises previ síveis da vida adulta”, com seu hino, superficialmente otimis ta, ta, do do crescimento, crescimento, desenvolv des envolvimen imento to e “ autoauto- realização” realização” , não não desafia esta ideologia. Meramente a restabelece sob uma forma mais “humanista”. O “crescimento” tornou-se um eufemismo para a sobrevivência. O Ponto de Vista do Mundo sobre o Resignado. Novas for mas sociais requerem novas formas de personalidade, novos modos de socialização, novos modos de se organizar a expe riên ri ência. cia. O conceito de de nar nar cisismo cisis mo proporcionaroporciona- nos nos não não um de terminismo psicológico feito sob medida, mas um meio de compreender o impacto psicológico das recentes mudanças sociais — admitindoadmitindo- se que tenhamos t enhamos em e m mente não só s ó suas suas origens clínicas, mas a série contínua entre a patologia e a normalidade. Proporcion Proporcionaa- nos ele, em outras outras palavr as, um re r e trato toleravelmente agudo da personalidade “liberada” de nossos dias, com seu encanto, sua pseudoconsciência de sua própria condição, seu pansexualismo promíscuo, seu fascínio pelo sexo oral, seu temor da mãe castradora (Sra. Portnoy), sua hipocondria, sua superficialidade protetora, sua evitação da dependência, sua incapacidade de sentir, pesar, seu horror à velhice e à morte. O narcisismo parece realisticamente representar a melhor maneira de lutar em igualdade de condições com as tensões e ansiedades da vida moderna, e as condições sociais predo minantes tendem, em conseqüência, a fazer aflcrar os traços narcisistas presentes, em vários graus, em todos nós. Estas con dições também transformaram a família, que, por sua vez, modela a estrutura subjacente da personalidade. Uma socie dade que teme não ter futuro, muito provavelmente dará pouca atenção às necessidades da geração seguinte, e o sempre pre sente sente sentido de de des continu conti nuidade idade histórica his tórica — o câncer câncer de nnossa ossa sociedad sociedadee — cai, com efeito par particular ticularmente mente devastador, deva stador, sobre sobre a família. fa mília. A tentativ a dos dos pais pais moder modernnos de fazer com qu que os filhos se sintam amados e desejados, não disfarça uma frieza fr ieza subjacente subjacente — o distanciamento dos que pouco pouco têm a 76
passar à geração seguinte e que, de qualquer modo, dão prio ridade a seu seu próprio dire ito de autoauto- satisfação. satisfação. A combinação combinação de distanciamento emocional com as tentativas de convencer uma criança de sua posição de predileção na família, é uma boa prescrição para a estrutura de uma personalidade narcisista. Por intermédio inte rmédio da f amília , os padrões padrões s ociais ociais reprod reproduzemzem- se na personalidade. Os arranjos sociais subsistem no indivíduo, sepultados na mente, abaixo do nível da consciência, mesmo após haver eles se tornado objetivamente indesejáveis e des necessários — como c omo bem sabemos sabemos ter acontec a contecido ido com muitos de nossos atuais arranjos. A percepção do mundo como um lugar perigoso e repulsivo, embora tenha origem em uma conscientização realista da insegurança da vida social contem porânea, recebe reforço da projeção narcisista de impulsos agressivos. A crença de que a sociedade não tem futuro, em bora se baseie em certo realismo sobre os perigos do devir, também incorpora uma incapacidade narcisista de identificarse com a posteridade ou de sentir-se parte do fluxo da história. O enfraquecimento dos vínculos sociais que têm origem no estado predominante predo minante do bem bem-- estar social, ao mesmo mesmo tem te m po reflete uma defesa narcisista contra a dependência. Uma sociedade hostil tende a produzir homens e mulheres que são basicamente basic amente anti- sociais. sociais. Não deve deveria, ria, porta por tanto, nto, surpreen surpreend dernos que, embora o narcisista concorde com as normas so ciais, por medo de represália externa, ele pensa, com fre qüência, qüência , sobre sobre si mesmo como um forafora- da- lei e vê os os outros, outros , da mesma mes ma maneira, “ como basicamente basicamente desonestos esonestos e pouco pouco confiáveis, ou somente confiáveis por causa de pressões ex ter nas” . “ Os sistemas sistemas de de valores valores das das personali pers onalidad dades es nar ci sistas são geralmente corruptíveis”, escreve Kernberg, “em contraste com a rígida moralidade da personalidade obsessiva.” A ética étic a da autopres autopr eser ervv ação e da s obrev obre v ivência iv ência psíquica ps íquica está, então, radicada não meramente nas condições objetivas da guerra econômica, nas elevadas taxas de crimes e no caos social, mas na experiência subjetiva do vazio e do isolamento. Ela reflete ref lete a convicçã convic çãoo — tanto uma proje ção ção de ansiedad ansiedades es interiore inter iores, s, como c omo uma percepçã perc epçãoo de como sã s ão as coisas coisas — de que a inveja e a exploração dominam até mesmo as relações mais íntimas. O culto das relações pessoais, que se torna cada 77
vez mais intenso à medida que diminui a esperança de so luções políticas, esconde um profundo desencanto pelas re lações pessoais, assim como o culto da sensualidade implica um repúdio da sensualidade em todas as suas formas, com exceç ex ceçãão das mais mais primitiv primit ivas as.. A ideologia ideolog ia do crescimento pes soal, superficialmente otimista, irradia um profundo deses pero e resignação. É a fé dos que não têm fé.
78
Ill
Meios Variáveis de Obter Resultados: De Horatio Alger à Alegre Prostituta A s ocieda oci edade de ame ri cana ca na é mar ma r ca da por uma ênfas ênf asee central sobre os empreendimentos pessoais, em espe cial os empree empree ndimentos ndimentos ocupacionais ocupacionais seculares. A “história do sucesso” e o respeito que se tem pelo homem que se faz por si mesmo, são distintamente americanos, americanos, se algo o f o r . .. [A sociedad sociedadee american americana] a] endossou Horatio Alger e glorificou o lenhador que se tornou presidente. ROBIN WILLIAMS O homem ambicioso ainda existe entre nós, como sempre existiu, mas ele necessita, agora, de uma iniciativa mais sutil, uma capacidade maior de mani pular a democracia das emoções, se for sua intenção manter distinta sua identidade e aumen aumentá tá-- la sig nifi cativamente pelo sucesso. sucesso . . . Os problemas sexuais do neurótico que competia pela glória na Manhattan da metade do século são muito diferentes dos pro blemas do neurótico neurótico na V iena da mudança do sé culo . A hist ória muda a expressão da neurose, neurose, ainda que não mude seus mecanismos subjacentes. PHILIP RIEFF
O Significado Original da Ética do Trabalho. Até recentemente, a ética protestante do trabalho era um dos mais importantes sustentáculos da cultura americana. De acordo com o mito da empresa capitalista, a parcimônia e a atividade eram as chaves chaves do suce sucesso sso mater mater ial e da da satisfação sat isfação espiritual. espiri tual. A re pu tação da América como uma terra de oportunidades baseavase em sua alegação de que a destruição dos obstáculos here ditários ao progresso havia criado as condições segundo as quais a mobilidade social dependia somente da iniciativa in dividual. O homem que se faz por si mesmo, personificação arquetípica do sonho americano, devia seu progresso a há bitos de atividade, sobriedade, moderação, autodisciplina e 79
evitação de dívidas. Ele vivia para o futuro, evitando a autoindulgência, em favor de uma acumulação paciente, diligente; e na medida em que a perspectiva coletiva via o todo com tanto fulgor, ele encontrava no adiamento da gratificação não só sua gratificação principal, mas também uma fonte abun dante de lucros. Em uma economia em expansão, podia-se esperar que o valor dos investimentos se multiplicasse com o tempo, te mpo, como o portaporta- voz da auto- suficiência, sufic iência, de toda sua sua celebração do trabalho como sua própria recompensa, rara mente deixava de apontar. Em uma era de esperanças cada vez menores, as virtudes dos Protestantes deixaram de causar entusiasmo. A inflação corrói os investimentos e as poupanças. A propaganda solapa o horror ao endividamento, exortando o consumidor a com prar agora e a pagar mais tarde. À medida que o futuro se torna ameaçador e incerto, só os tolos deixam para o dia seguinte o prazer que podem ter hoje. Uma profunda mu dança em nosso sentido do tempo transformou os hábitos do trabalho, seus valores e a definição de sucesso. A autopreservação substituiu o autocrescimento como o objetivo da exis tência terrena. Em uma sociedade sem leis, violenta e im previsível, na qual as condições normais da vida cotidiana chegam a assemelhar-se àquelas que antigamente eram confi nadas ao submundo, os homens vivem por meio de sua saga cidade. Esperam não tanto prosperar, mas simplesmente so breviver, embora a própria sobrevivência necessite cada vez mais de ganhos maiores. Em épocas anteriores, o homem que se f azia por si mesmo mesmo orgulh orgulhavaava- se de seu julg amento ame nto do caráter e da probidade; hoje, ele perscruta ansiosamente os rostos de seus concidadãos, não tanto para avaliar seus cré ditos, mas para avaliar sua suscetibilidade a suas próprias palavras lisonjeiras. Ele põe em prática as artes clássicas da sedução e com a mesma indiferença por sutilezas morais, esperando ganhar seu coração, enquanto mete a mão em seu bolso. A alegre prostituta tomou o lugar de Horatio Alger como o protótipo do sucesso pessoal. Se Robinson Crusoe per sonificava o tipo ideal do homem econômico, o herói da so ciedade burguesa em ascensão, o espírito de Moll Flanders estabelece sua decrepitude. 80
A nova nov a ética da autoprese autopre serv rvação ação há muit o vem ve m tomando to mando forma; ela não surgiu da noite para o dia. Nos primeiros três séculos de nossa história, a ética do trabalho mudava constantemente de significado; estas vicissitudes, freqüente mente imperceptíveis naquela época, prenunciavam sua even tual transformação em uma ética de sobrevivência pessoal. Para os Puritanos, um homem temente a Deus trabalhava di ligentemente por sua vocação, pelo chamamento, não tanto para acumular riquezas pessoais, mas para maior conforto e conveniência da comunidade. Todo cristão tinha uma “vo cação geral” para servir a Deus e uma “vocação pessoal”, nas nas palavras de Cotton Cott on Mather, “ segun seg undo do a qual qual sua sua Util U til i dade na Comunidade é reconhecida”. Esta vocação pessoal originavaoriginava- se da cir cunstância de de que que “ Deus Deus f ez o homem homem uma Criatura Sociável”. Os Puritanos reconheciam que um homem podia enriquecer por evocação, o chamamento, mas viam o enaltecimento pessoal como incidental com relação ao trabalho tr abalho social — a transf ormação coletiva coletiva da nature natureza za e do progresso de artes e conhecimentos utilitários. Instruíam os homens que prosperavam a não dominar seus vizinhos. O verdadeiro cristão, de acordo com os conceitos calvinistas de uma existência honrada e devota, suportava tanto a boa como a má sorte sorte com equanimidade, equanimida de, contentan contentando do-- se com c om o que que lhe chegasse chegasse às mãos. mãos. “ Isto ele apr apr endera ender a a f azer aze r ” , disse John Cotton, “se Deus lhe permitisse prosperar, ele aprendera a não se envaidece env aidecer, r, e se tivesse de exporexpor- se à pobre pobreza, za, po deria fazê-lo sem resmungar. É o mesmo ato de descrença que faz um homem reclamar na adversidade, que o enche de vaidade na prosperidade.” Quaisquer que fossem as reservas morais com as quais o Calvinismo cercava a busca da riqueza, muitos de seus prati cantes, especialmente na Nova Inglaterra, ficaram gordos e prósperos com o comércio de aguardente e de escravos. À medida que o Puritano dava lugar ao Ianque, emergia uma versão popularizada da ética protestante. Enquanto Cotton Mather aconselhava o não endividamento, fundamentado em que eJ.e prejudicava o credor (“Que lhe cause incômodo pen sar sempre, tenho em minhas Mãos muitas Propriedades de outros homens, e eu, para seu prejuízo. prejuízo . as detenho para mim”), 81
Benjamin Franklin argumentou que as dívidas prejudicavam ao próprio devedor, ficando este nas mãos de seu credor. Os sermões puritanos sobre o chamamento citavam copiosamente a Bíblia; Franklin codificou o senso comum popular nos provérbios de Poor Richard. Deus ajuda a quem se ajuda. O tempo que se perde nunca mais é recuperado. Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Se quiser saber quanto vale o dinheiro, tente tomar algum emprestado; pois quem toma emprestado se aborrecerá. Os Puritanos realçavam a importância do trabalho social mente útil; o Ianque estimulava o autocrescimento. Contudo, entendia ele que o autocrescimento consistia em mais do que ganhar dinheiro. Este importante conceito também im plicava autodisciplina, treinamento e cultivo de talentos dados por Deus, sobretudo o cultivo da razão. O ideal de prosperidade do século dezoito incluía não só conforto ma terial, mas também boa saúde, boa disposição mental, sabe doria, utilidade e a satisfação de saber que se conseguiu obter boas opiniões dos outros. Na seção de sua A utobio uto biogg r aphy ap hy de votada a “The Art of Virtue” (“A Arte da Virtude”), Fran klin resumiu os resultados de um programa de autocrescimento moral de toda uma existência: Á Temperança ele atribui sua saúde duradoura, e o que ainda lhe resta de uma boa Constituição. À Diligência e à Frugalidade, as primeiras Facilidades de suas Circunstâncias, e a Aquisição de sua Fortuna, com todo o Conhecimento que que o capacitou capaci tou a ser ser um um Cida C idadão dão útil útil,, dand dandoo- lhe certo Gr G r au de Reputação entre os Esclarecidos. À Sinceridade e à Jus tiça, a Confiança de seu Pais, e as honrosas Funções a ele atribuídas. E à influência conjunta de toda a Massa de Vir tudes, a regularidade de Temperamento, e essa Animação na Conversação que ainda faz com que sua Companhia seja procurada, sendo agradável até mesmo a seus jovens Co nhecidos. A v ir tude compensa, compensa , na v ersão er são do século dezoit dez oitoo da ética do trabalho; mas o que ela recompensa não pode ser me dido simplesmente pelo dinheiro. A verdadeira recompensa 82
da virtude é ter pouco do que se desculpar ou do que se arrepender, no fim da vida de alguém. A riqueza deve ser valorizada, mas principalmente por servir como uma das précondições necessárias ao cultivo moral e intelectual.* Da " A utoc ut oc ult ur a ” à A utopr uto promo omoção ção por meio de “ Imag Ima g en enss de V itór it ória ia”” . No século dezenove, o ideal de autodesenvolvimento degenerou em um culto compulsivo da diligência. P. T. Barnum, que fez fortuna atendendo a um chamamento (evocação), cuja natureza natureza os os Puritanos Puritanos teriam condenad condenadoo (“T (“ T odo chama mento em que Deus vier a ser Desonrado; todo chamamento onde nada além dos Desejos dos homens é Alimentado: . . . todos todos os os chamamentos chamamentos como como esse essess devem devem ser ser Rejeitados Reje itados ” ), fez várias conferên conferências cias francamente francamente intituladas de de “ A A rte de Ganhar Dinheiro”, que resumia o conceito de sucesso mun dano do século dezenove. Barnum citava livremente Franklin, mas sem a preocupação deste último com relação à busca da sabedoria sabedoria ou à promoção promoção de de conhecim conhecimentos entos úteis. úteis. A s “ in formações” só interessavam a Barnum enquanto um meio de dominar o mercado. Ele, assim, condenou a “falsa economia” da mulher da fazenda, que apaga sua vela ao anoitecer, em vez de acender uma outra para ler, sem perceber que as “ informaçõ infor mações es”” adquiridas adquiridas com a leitura sã s ão muito mais va liosas do que que o preço preço das das velas. “ L eiam eia m sempre sempre um jor nal * Os esforços esforços para reduzir a “ arte da vir tude” de Fr ank lin a uma ética puramente prudencial de ganhar dinheiro e de autoprogresso não atingem suas variações mais sutis. “Todas as atitudes morais de Fran klin”, escreveu Max Weber em The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, “ são são colori colorida dass pel peloo utilita ris mo ... As v irt udes ... são são vir tudes tudes somente somente na medida em que que sejam úteis úteis para o in di v ídu o .. . O homem é dominado pelo desejo de ganhar dinheiro, pela aquisição como a finalidade suprema de sua vida.” D. H. Lawrence expressou opinião mais ou menos semelhante em Studies irt Classic American Uterature. Estas interpretações ignoram as ligações, tão importantes na visão bur guesa do século dezoito, entre ganhar dinheiro, sociabilidade e o pro gresso das partes utilitárias; entre o espírito do capitalismo e o espírito da invenção e do artes anato. O autodes env olv imento não é o mesmo que autoprogresso, no modo de ver de Franklin; de fato, a ambição, no século dezoito, era muito mais uma virtude hamiltoniana, do que frankliniana ou jeffersoniana.
83
confiável”, aconselhava Barnum a jovens em ascensão, “e man tenh tenhamam- se prof pr of undamente undame nte atentos ate ntos quanto às às transaçõ tr ansações es do mun do. Quem não lê um jornal está excluído de sua espécie.” Barnum valorizava a opinião positiva de outros, não como um sinal da utilidade de alguém, mas como um meio de se ter crédito. “A integridade inflexível do caráter não tem pre ço.” O século dezenove tentou expressar todos os valores em termos monetários. Tudo tinha seu preço. A caridade era um dever moral porque “o homem liberal merecerá o am paro, enquanto o sórdido miserável pouco caridoso será evi tado” . O pecado do do org or g ulho ulho não estava em ofender a Deus, Deus, mas em levar a gastos extravagantes. “Um espírito orgulhoso e vaidoso, quando permitido ter todo o poder, é a lagarta imortal que corrói os próprios órgãos vitais das posses ter renas de um homem.” O século dezoito fez da temperança uma virtude, mas não condenou a indulgência moderada a serviço da sociabilidade. “ O diá diálogo r acional” , ao contrário, pareci pareciaa a Frankl Fr anklin in e a seus contemporâneos representar um importante valor em di reito próprio. O século dezenove condenou a própria socia bilidade, baseado em que ela poderia interferir nos negócios. “ Quantas boas oportunidades não terão terão passado, par paraa nunca nunca mais voltar, enquanto um homem estava tomando um ‘gole social’ social ’ com um amig am ig o! ” As A s prédicas sobre sobre a autoauto- suficiência suficiência inspiravam agora o espírito do empreendimento compulsivo. Henry Ward Beecher definiu “o beau ideal da felicidade” como como um estado es tado de espí es pírit rito, o, no qual qual “ um homem [ é] tão tão ocupado ocupado que que não sabe sabe se é feliz fel iz ou não” n ão” . Russ Russ ell Sage obser obser vou que o “trabalho tem sido a principal e, podemos assim dizer, a única fonte de prazer em minha vida”. Mesmo no auge da Era de Ouro, contudo, a ética protes tante não chegou a perder completamente seu sentido original. Nos manuais de sucesso, as antologias de McGuffey, os Li vros de Peter Parley, e os escritos exortativos dos próprios gran gr and des capitalistas, as v irtudes irtudes protestan rotestantes — diligência, dilig ência, par cimônia, temp te mper erança ança — ainda apareciam apar eciam não não só como degr degrau auss do sucesso, mas como sua própria recompensa. O espírito do autodesenvolvimento sobreviveu, sob forma av iltada, no culto culto da “ autocultura autoc ultura”” — cuidad cuidados os e treinamento treinamento 84
adequados da mente e do corpo, nutrição da mente por meio de “bons livros”, desenvolvimento do “caráter”. A contri buição social da acumulação individual sobrevivia ainda, como uma tendência, na celebração do sucesso, e as condições so ciais do capitalismo industrial primitivo, no qual a busca da fortuna inegavelmente aumentou o suprimento de objetos úteis, deram alguma substância à alegação de que “capital acumu lado significa progresso”. Ao condenar a especulação e a extravagância, ao sustentar a importância da diligência pa ciente, ao estimular os jovens a começar de baixo e a se submeter “à disciplina da vida cotidiana”, até mesmo os mais declar ados expoentes do auto- enriquecimento apegaramapegaramse à noção de que a riqueza extrai seu valor de suas contri buiçõ buições es para o bembem- estar geral e para para a felicidade fel icidade das f u turas gerações. O culto do sucesso do século dezenove surpreendentemente deu pouca ênfase à competição. Ele media o progresso não pelo progresso dos outros, mas por um ideal abstrato de dis ciplina e abnegação. Na mudança do século, contudo, as pré dicas sobre o sucesso começaram a acentuar a vontade de vencer. A burocratização da carreira empresarial mudou as condições de autoprogresso; os jovens ambiciosos tinham ago ra de competir com seus pares pela atenção e aprovação de seus superiores. A luta para superar a geração anterior e prover para a seguinte, deu lugar a uma forma de rivalidade fraternal, na qual homens com capacidades aproximadamente iguais colidem uns contra os outros, na competição por um número limitado de postos. O progresso dependia agora da “força de vontade, autoconfiança, energia e iniciativa” — qualidades celebradas em escritos exemplares, tais como as Letters from f rom a Self- Made ade Merchant to his his Son, de George Lorimer. “No final do século dezenove”, escreve John Ca we w e lti lt i em seu estudo es tudo do mito do sucesso, “ os livros liv ros de auto auto-suficiência eram dominados pelo caráter da habilidade do ven dedor e do encorajamento. O magnetismo pessoal, qualidade que supostamente capacitava um homem a influenciar e do mina r outros, tornou tornou-- se uma das maiores chaves chaves do sucesso.” Em 1907, tanto o Saturday Evening Post, de Lorimer, como a revista Success, de Orison Swett Marden, inauguraram de85
partamentos partamentos de instruçã instr uçãoo sobre a “ arte da conv conv ersa er saçã ção” o” , moda moda c “ cultura” cultura ” . A administ administra raçã çãoo das das relaç r elaçõ ões interpessoais interpessoais veio v eio a ser considerada a essência do autoprogresso. O capitão de indústria deu lugar ao homem de confiança, o perito em cau sar boas boas impress impressõ ões. DiziaDizia- se aos aos jovens jov ens que tinham tinha m de vend ve nder er sua imagem para conseguir sucesso. A prin pr incc ípio, ípio , a intros intr ospecção pecção por meio da compet co mpetição ição per maneceu quase indistinguível da autodisciplina moral e da autocultura, mas a diferença veio a tornar-se óbvia, quando Dale Carnegie e depois Norman Vincent Peale restabeleceram e transformaram a tradição de Mather, Franklin, Barnum e Lorimer. Como fórmula de sucesso, fazer amigos e influenciar pessoas pouco tinha a ver com diligência e parcimônia. Os profetas do pensamento pensamento positiv positiv o fizer f izeram am pouco pouco “ do velho adágio que diz que só o trabalho árduo é a chave que abrirá a porta aos nossos desejos”. Exaltavam o amor pelo dinheiro, oficialmente condenado até mesmo pelos mais rudes materia listas da Era do Ouro, como incentivo útil. “Você nunca po derá acumular grandes quantidades de bens”, escreveu Napoleon Hill, em seu Think and Grow Rich (Pense e Enriqueça), “ a não ser que se compenetr compenetree do branco branc o calor cal or do desejo de ter ter dinheir dinhe ir o” . A busca busca da f or tuna perdeu os pou poucos frag fr ag mentos de senso moral que ainda estavam ligados a ela. A princípio, as virtudes protestantes pareceram ter um valor próprio independente. Mesmo quando se tornaram puramente instrumentais, na segunda metade do século dezenove, o pró prio sucesso continha sobretons morais e sociais, em virtude de sua contribuição para a soma de conforto e progresso humanos. Agora, o sucesso aparece como um fim em si mes mo, a vitória sobre seus adversários, que por si só continha a capacidade de ins ins tilar tila r um sentido se ntido de de autoauto- aprovação. aprovação. Os manuais de sucesso mais recentes diferem dos mais antigos — chegam chegam a ultrapass ar o cinismo cinis mo de de Dale Carnegie e Peale Peale — em sua aber aberta ta aceitação ace itação da necess necessidad idadee de ex plorar plor ar e de de intimidar os outros, em sua falta de interesse pela substân cia do sucesso, e pela franqueza com que insistem que as aparênc aparências ias — “ as im imagens de v itória” itór ia” — contam mais mais do que o desempenho, a atribuição mais do que a realização. Um autor parece deixar implícito que o eu consiste pouco 86
mais do qu que em sua sua “ imag em” ref r efletida letida nos olhos olhos dos outros outros.. “Embora não esteja sendo original ao dizer isto, estou certo de que concordarão em que o modo como se vêem, refle tirá a imagem que vocês passam aos outros.” Nada faz mais sucesso do que a aparência de sucesso. O Eclipse da Realização. Em uma sociedade na qual o so nho do sucesso foi esvaziado de qualquer sentido além do seu próprio, os homens nada possuem para medir seus pró prios pri os feitos, f eitos, a não ser os feitos de outros homens. homens. A auto auto-aprovação depende do reconhecimento e aclamação públicos, e a qualidade desta aprovação sofreu importantes mudanças por direito próprio. A opinião positiva de amigos e vizinhos, que antigamente informava a um homem que ele havia vivido uma vida útil, baseava-se na apreciação de suas realizações. Hoje em dia, os homens buscam o tipo de aprovação que aplaude não suas ações, mas seus atributos pessoais. Dese ja j a m não tanto tant o ser estimados es timados,, mas s im admir ados. ados . Desej Des ejam am não a fama, mas o fascínio e a excitação da celebridade. Que rem, antes, ser invejados do que respeitados. O orgulho e a ganância, os pecados do capitalismo ascendente, deram lugar à vaidade. Muitos americanos ainda definiriam o sucesso como bens, fama e poder, mas suas ações mostram que têm pouco interesse pelo conteúdo desses dotes. O que faz um homem tem menos interesse do que o fato de que ele “fez”. Enquanto a fama depende do desempenho de atos notáveis, aclamados em biograf ias e obras históricas históricas,, a celebridad celebr idadee — o prêmio dos dos que que projet projetam am um exterio ex teriorr v ívido ou- ag radável, radável , ou que, que, de alg a lg um modo, atr at r aíram aír am a ate a tenção nção sobre s obre si mesmos mes mos ■ — é aclamada nas notícias dos meios de comunicação de massa, em colunas de mexericos, nos espetáculos, em revistas devo tadas às “personalidades”. Portanto, ela é evanescente como as próprias notícias, que perdem o interesse quando perdem seu caráter de novidade. O sucesso mundano sempre levou em seu bojo uma certa pungência, uma consciência de que “ você não pode pode leválevá- lo consig consig o” ; mas, em nosso nossoss dias, quando o sucesso é tão profundamente uma função da juventude, do fascínio e da novidade, a glória é mais fugaz do que nunca, 87
e aqueles que conseguem a atenção do público temem inces santemente perdêerdê-la. la. O sucesso, em nossa sociedade, tem de ser ratificado pela publicidade. O magnata que vive na obscuridade, o cons trutor de impérios que controla o destino das nações por trás do pano, são tipos em extinção. Mesmo os burocratas não eletivos, ostensivamente preocupados com questões de alta política, polític a, têm de de manteranter- se constantemente em evidência; evi dência; toda política torna-se uma forma de espetáculo. É bem sabido que a Madison Avenue embrulha os políticos e os negocia como se fossem cereais ou desodorantes; mas a arte das relações públicas penetra ainda mais profundamente na vida pública, transformando a própria feição política. O príncipe moderno não não mais se pre preocup ocupaa com o fato f ato de que que “ há um tr abalho a ser feito” — o slogan do capitalismo americano, em um es tágio mais anterior e empreendedor de seu desenvolvimento; o qque ue lhe interessa interessa é que que “ audiências audiências importante impor tantess ” , no dia leto dos Jornais do Pentágono, têm de ser aduladas, cativa das, das, seduzidas. s eduzidas. Ele conf c onf unde a conse consecuçã cuçãoo bembem- sucedid sucedidaa de uma tarefa qualquer com a impressão que causa ou espera causar em outros. Assim, os burocratas americanos cometeram grave erro na guerra do Vietnam, porque não conseguiram distinguir os interesses militares e estratégicos do país, de “nossa reputação como fiadores”, como um deles se expres sou. Mais preocupados com as armadilhas do que com a rea lidade li dade do poder poder,, convenceram convenceram-- se de de que que o fracasso fracass o da in tervenção danificaria a “credibilidade” americana. Tomaram emprestada a retórica da teoria dos jogos, para dignificar sua obsessão pelas aparências, argumentando que a política americana no Vietnam deveria dirigir-se às “importantes ‘au diências ’ dos atos atos dos dos Estado Es tadoss Unidos ” — os comunistas comunistas,, o V ietn ie tnam am do S ul, “ nossos nossos aliados al iados (que devem dev em conf co nfia iarr em nós nós como ‘seguradores’)”, e o público americano. Quando o fazer político, a busca do poder e a persecução da riqueza não possuem outro objeto além de excitar a admi ração ou a inveja, os homens perdem seu senso de objetivi dade, sempre precário, na melhor das circunstâncias. As im pressões eclipsam as realizações. Os homens públicos inquie tam-se por suas capacidades de se erguer para enfrentar 88
uma crise, de projetar uma imagem de decisão, de mos trar um convincente desempenho do poder executivo. Seus críticos recorrem aos mesmos padrões: quando se começou a pôr em dúvida a liderança da administração de Johnson, eles focalizaram focalizaram-- se na “ brecha brecha da cr edibilidade edibil idade ” . Os relaç relaçõ ões-p es- públicas blicas e a propag anda ex altaram altar am a imagem imag em e o pseu pseud do- evento. evento. As A s pessoas “ f ala al a m const co nstant anteme emente nte”” , escreve escr eveu u Danie Da nie l Boor Bo orst stin, in, “não das coisas, mas de suas próprias imagens.” Na estrutura empresarial, assim como no governo, a retó rica da realização, da devoção sincera pela tarefa disponível — a retórica do desempenho, da eficiência e da produtivi dade dade — deixou deix ou de de proporcionar uma correta descrição descrição da luta pela sobrevivência pessoal. “O trabalho árduo”, de acordo com Eugene Eugene Emers Emerson on Jennings Jennings,, “ . . . con constitu stituii- se em uma cau sa necessária, porém insuficiente, para a ascensão. Não é uma estrada para o topó.” Um jornalista com experiência tanto em jorn jo rnal alis ismo mo como no Consel Cons elho ho Reg Re g ional iona l S ulista ulis ta r elat el atou ou que que “em nenhum dos dois, eu percebi, importava às pessoas en carregadas carregadas quão quão bem ou mal eu me me eempe mpenhas nhas s e... e. .. Não Não os os objetivos, mas manter a organização em funcionamento, tor nou-se a coisa mais importante.” Até o bem da organização, no entanto, deixou de excitar o entusiasmo que havia ge rado nos nos anos anos cinqüenta cinqüenta.. O “ homem da companhia, abnega do” , escreve escreve J ennings, ennings, tornou tornou-- se “ um óbvio óbvio anacronis mo”.* mo” .* O executivo de uma corporação, em ascensão, “não se vê como um homem homem da org or g anizaçã aniza ção” o” . Sua Sua “ postura postura antiorganizacioantiorganizacional”, de fato, emergiu como sua “principal característica”. Ele progride nas fileiras da corporação, não servindo à organização, * Nos anos cinqüenta, o homem da org anização pensava em uma esposa atraente, socialmente bem dotada, como um importante recurso para sua carreira. Hoje em dia, os executivos são avisados sobre os “aparentemente sérios conflitos entre casamento e uma carreira como administrador es ” . Um r ecente ecente rela tório compara o “ corpo de elite elite de de administradores profissionais” aos janízaros, soldados de elite do im pério otomano, que eram separados de seus pais quando crianças, cria dos pelo pelo E stado, e a quem não não se per mitia o casamento. casamento. “ Um jov em que esteja pensando em seguir uma carreira [como administrador] bem que deveria pensar a seu respeito como um janízaro moderno — e con siderar com muito cuidado se o casamento está, de qualquer modo, con forme com a vida que escolheu.”
89
mas sim convencendo a seus camaradas que possui os atri butos de um “vencedor”. Como o objeto objeto da carreira empres empresarial arial muda “ da orienta ção e controle de tarefas, para o controle dos movimentos do outro jogador”, nas palavras de Thomas Szasz, o sucesso depender dependeráá das “ infor mações mações a respeito respeito da da perso per sonalidade nalidade dos outros jogadores”. Quanto mais o executivo ou burocrata de uma corporação compreender as características pessoais de seus subordinados, melhor poderá ele explorar seus erros, de modo a control controláá- los, para para reafir re afirmar mar sua pr pr ópr ópr ia supremacia. supremacia. Se ele souber que seus subordinados mentem para ele, a mentira mentir a comu comunica- lhe a importante import ante inf i nfor ormaç mação ão de de que que o te mem e desejam agr adar. “ A o aceitar aceitar o suborno, por por assim dizer, da lisonja, da adulação ou da pura subserviência im plícita na mentira, aquele que a admite indica, com efeito, que deseja permutar esses itens pela verdade.” Por outro lado, a aceitação da mentira reassegura ao mentiroso que não será punido, enquanto lembralembra- lhe lhe de de sua sua dependência dependência e subordi subor di nação. “Deste modo, ambas as partes ganham uma medida. .. de segurança.” Na novela Something Happened, de Joseph Heller, o patrão do protagonista esclarece que espera de seus subordinados, não “bom trabalho”, mas “colite espástica e exaustão nervosa”. Co’os diabos, quero que as pessoas que trabalham para mim fiquem em pior estado do que eu, não em melhor. Ê por esta razão que lhes pago tão bem. Quero ver vocês no limite de suas forças. Quero que isto fique bem claro. Quero ser capaz c apaz de ouvir isto de uma ' voz g aguejante, perturbada, insegura. . . . Não confiem em mim. Eu não confio em li sonja, lealdade ou sociabilidade. Não confio em deferência, respeito ou cooperação. Confio no medo. De acordo com Jennings, a “ética da lealdade” entrou em declínio nos negócios americanos, entre outras razões porque a lealdade pode ser “simulada ou disfarçada com muita faci lidade por aqueles mais desejosos de vencer”. O argumento de que as organizações burocráticas devotam mais energia à manutenção das relações hierárquicas do que 90
à eficiência diligente, é reforçado pela consideração de que a produção produção do moderno moder no capitalis capitalis ta originou originou-- se, em pri princípio, ncípio, não porque fosse necessariamente mais eficiente do que ou tros métodos de organização do trabalho, mas porque dava aos capitalistas maiores lucros e poder. O caso do sistema fabril, de acordo com Stephen Marglin, repousava, não em sua superioridade tecnológica sobre a produção manufaturada, mas no controle mais efetivo da força de trabalho que per mitia ao empregador. Nas palavras de Andrew Ure, o filó sofo das manufaturas, a introdução do sistema fabril capaci tava ao capitalis ta “ dominar o temper temperamento amento insubm insubmiss iss o dos dos operários”. À medida que a organização hierárquica do tra balho invade a própria função administrativa, o escritório assume as características da fábrica, e o reforço das linhas de dominação e subordinação claramente demarcadas no in terior da administração assume tanta importância quanto a subordinação do trabalho pela administração como um todo. Na “era da mobilidade empresarial”, no entanto, as linhas de superioridade e subordinação flutuam constantemente e o bu rocrata rocra ta bembem- sucedido sucedido sobrevive, sobrev ive, não por meio de de apelação à autoridade de seu posto, mas pelo estabelecimento de um padrão de movimento de ascensão, cultivando superiores em ascensã ascensãoo e ministr minis tr ando “ doses oses homeopáticas homeopáticas de humilha humi lha ção” aos que ele vai deixando para trás em sua ascensão para o topo. A A r te da S obrev obr ev ivênci iv ênciaa S ocia oc iall. A transformação do mito do suce sucesso sso — da defi de finição nição do sucesso sucesso e das das qualidades quali dades que se acredita qu que o promovam promov am — é um desenvolv des envolv imento a longo longo prazo, origin orig inand andoo- se não não de even ev entos tos históricos históricos particulares particulares , mas de mudanças gerais na estrutura da sociedade: a mu dança da ênfase da produção capitalista para o consumo; o crescimento de grandes organizações e burocracias; as con dições cada vez mais perigosas e hostis da vida social. Mais de vinte e cinco anos se passaram desde que David Riesman argumentou que a transição da “mão invisível” para a “re cepção cordial” marcou uma mudança fundamental na orga nização da personalidade, do tipo orientado para o interior, dominante no século dezenove, para o atual tipo orientado 91
para os outros. Outros estudiosos daquela época, quando o interesse por estudos sobre a cultura e a personalidade era mais forte do que atualmente, propuseram descrições seme lhantes da estrutura do caráter em mutação da sociedade ca pitalista desenvolvida. O “homem da organização”, de William H. Whyte, Whyt e, a “ personalidade personalidade orientada para para o mercado” mer cado” , de Erich Fromm, a “personalidade neurótica de nossos dias”, de Karen Horney, e os estudos sobre o caráter nacional ameri cano, de Margaret Mead e Geoffrey Gorer, todos captaram aspectos essenciais do novo homem: sua ânsia de se relacio nar bem com os outros; sua necessidade de organizar até mesmo sua vida privada de acordo com as exigências das grandes organizações; sua tentativa de vender a própria ima gem, como se sua própria personalidade fosse uma mercado ria com um valor de mercado transmissível; sua necessidade neurótica de afeto, segurança e gratificação oral; a corrup tibilidade de seus valores. Em um aspecto, no entanto, estes estudos da cultura e da personalidade americanas criaram uma impressão errônea das mudanças que ocorreram por baixo do que que Ries man chamou de de a “ superfície superf ície suave da sociabi lidade americana”. Os críticos dos anos quarenta e cinqüenta confundiram esta superfície com a realidade mais profunda. De acordo com Erich Fromm, os americanos perderam a capacidade de ter sentimentos espontâneos, até mesmo de raiva. Um dos “objetivos essenciais do processo educacional” era eliminar o antagonismo, cultiv cultiv ar uma “ afabilidade af abilidade comer comer cializ ada” . “ Se você não não sorrir, sor rir, julgam que lhe lhe falta f alta uma ‘per ‘personalidad sonalidadee ag radável’ — e você precisa recisa de de uma uma persona persona lidade agradável se quiser vender seus serviços, sejam eles como balconista, vendedor ou médico.” Assim como muitos cientistas sociais, Fromm exagerou o grau a que podem ser socializados os impulsos agressivos; via o homem como sendo inteiramente um produto da socialização, não como uma cria tura de instintos, cujos impulsos parcialmente recalcados ou sublimados ameaçam sempre eclodir com toda sua ferocidade original. O culto americano da afabilidade mascara, mas não erradica, uma competição mortal por bens ou posição; de fato, fat o, esta competição co mpetição tornou tornou- se mais mais selvage selv agem m numa era er a de de esperanças cada vez menores. 92
Nos anos cinqüenta, a afluência, o lazer e a “qualidade de vida” assomaram como os pontos mais importantes. O ser v iço estatal es tatal do do bem bem-- estar supostamente supostamente erra er radicou dicou a pobre pobreza, za, as desigualdades econômicas mais gritantes e os conflitos a que antigamente davam origem. Os aparentes triunfos do capi talismo americano deixou aos críticos sociais pouco com que se preocupar, com exceção do declínio do individualismo e da ameaça de conformação. O Willy Loman de Arthur Miller, o vendedor que só quer na vida ser “benquisto”, simbolizava as qu questõ est ões que que per turbav tur bavam am o período do pó pós- guerra. guerra. Nos anos setenta, um tempo mais cruel, parece que a prostituta, e não o vendedor, melhor exemplifica as qualidades indispen sáveis ao sucesso na sociedade americana. Ela também se ven de para viver, mas sua sedução pouco tem de um desejo de ser benquista. Deseja a admiração, mas zomba de quem a dá, e assim extrai pouca gratificação de seus sucessos sociais. Tenta mover os outros, enquanto permanece, ela própria, imó vel. O fato de viver em um meio de relações interpessoais não faz dela uma conformista ou um tipo “orientado para os outros”. Ela permanece sendo um ser solitário, dependente de outros somente como um gavião depende de galinhas. Ela explora a ética do prazer que substituiu a ética da realização, mas sua carreira, carr eira, mais do que que qualquer qualque r outra, outr a, recorda recorda-- nos que o hedonismo contemporâneo, do qual ela é o símbolo máx imo, tem origem orige m não na bu busca do prazer, prazer , mas mas numa guerra de tudo contra tudo, na qual mesmo as relações mais íntimas torna tornam m- se uma for ma de mútua mútua ex ploração. ploração. Não é simplesmente que o prazer, uma vez definido como um fim em si mesmo, assuma as qualidades do trabalho, como Martha Wolfenstein observou em seu ensaio sobre a “mora lidade lida de do prazer” praze r” — que que o ato é agora “ medido medido por pa drões de realização anteriormente aplicáveis somente ao tra ba lho lh o ” . A medida me dida do do “ desempenh desempenhoo sex ual” , a insistência de de que que a satisfação satisfação sex ual depend dependee de “ técnica” técnica ” adequad a dequadaa e a crença generalizada g eneralizada de que ela só pode pode ser “ alcançada” alca nçada” apó após esforço, prática e estudos coordenados atestam, todos, a in vasão do ato pela retórica da realização. Contudo, aqueles que deploram a transformação do ato em desempenho, confinam sua atenção à superfície do ato, no caso presente à super 93
fície das relações sexuais. Por trás da preocupação com o desempenho, reside uma determinação mais profunda de ma nipular os sentimentos de outros em benefício próprio. A busca de vantagens competitivas, por meio de manipulação emocional, cada vez mais modela não só as relações pessoais, como também as relações de trabalho; é por esta razão que a sociabilidade pode agora funcionar como uma extensão do trabalho tr abalho por por outros outros meios. A v ida pessoal, pessoal, não mais mais um re fúgio das priv priv ações ações sofrida sofr idass no trabalho, tr abalho, tornou tornou-- se tão anár anár quica, tão hostil e tão cheia de tensão, como o próprio mer cado. A reunião para coquetéis reduz a sociabilidade ao com bate social. Especialistas escrevem manuais táticos sobre a arte da sobrevivência social, aconselhando o freqüentador de reuniões à procura de siatus a assumir uma posição de comando no salão, a cercar-se de um bando leal de assis tentes e evitar voltar suas costas para o campo de batalha. A atual at ual v oga og a da “ ter apia da s egurança eg urança”” , um contr co ntrapr aprog ogrr ama destinado a equipar o paciente com defesas contra a mani pulação, apela para o crescente reconhecimento de que a agilidade nas relações interpessoais determina o que, na su perfície, se parece com a realização. O treinamento da segu rança procura tirar do paciente “sentimentos de ansiedade, ig norân nor ância cia e culpa c ulpa que. que . . . são são usados usados eficient ef icientemente emente por ou tras pessoas para que façamos o que elas desejam”. Outras formas de terapia lúdica alerta os pacientes para os “jogos que que as as pesso pessoas as jog am” e tentam, assim as sim,, promover promov er a “ intimi int imi dade sem manobras”. A importância desses programas, no entanto, reside não tanto em seus objetivos, mas na ansiedade para a qual apelam e na visão da realidade que lhes dá in f ormação or mação — a per percepçã cepçãoo de que o sucesso sucesso depende depende de mani man i pulação psicológica e de que tudo na vida, até mesmo a esfera ostensivamente orientada à realização do trabalho, centralizase na luta pela vantagem interpessoal, o jogo implacável de intimidar amigos e seduzir pessoas. A A poteos e do Indiv Indi v idua lis li s mo. mo . O medo que assombrava os críticos e teóricos teóricos sociais sociais dos anos cinqü ci nqüent entaa — de que que o rigoroso individualismo havia sucumbido à conformação e à 94
“ sociabilidade sociabilidade de baix a pressã ress ão” — parece, em retrosp retrospecto ecto,, ter sido prematuro. Em 1960, David Riesman queixou-se de que os os jovens não tinha m muita “ presença” prese nça” social, tend tendo-lh o- lhes es sua educação proporcionado não “uma personalidade refinada, mas uma personalidade afável, casual, adaptável, adequada à frágil articulação e intenso movimento de empregos, nas orga nizações em expansão de uma sociedade afluente”. É verdade que que “ um hedonismo hedonismo orientado orie ntado par paraa o pres presente” ente”,, com comoo Riesman Rie sman prosseguiu argumentando, substituiu a ética do trabalho “en tre as mesmas classes que, nos estágios iniciais da industria lização, foram orientadas para o futuro, para objetivos dis tantes e gratificação adiada”. Contudo, este hedonismo é uma fraude; a busca do prazer disfarça uma luta pelo poder. Os americanos, na verdade, não se tornaram mais sociáveis e cooperativos, como os teóricos da orientação para os outros g ostar ost ariam iam que que acreditá acreditásse ssem mos; meramente tornaram tornaram-- se mais adeptos da exploração, das convenções das relações interpes soais em benefício próprio. As atividades empreendidas os tensivamente somente para o prazer têm, com freqüência, o objetivo real de lograr os outros. Ê sintomático da tendência subjacente da vida americana que os termos vulgares para o ato sexual também transmitem o sentido de tirar o melhor de alg a lguém uém,, de exp ex plorálorá- lo, absorvê absorvê-- lo, lo, impondo sua v ontade por meio de astúcia, fraude ou força superior. Os verbos asso ciados ao prazer sexual adquiriram, mais do que o usual, sobretons de violência e exploração psíquica. No violento mundo do gueto, cuja linguagem ora impregna a sociedade americana como um todo, a violência associada ao ato sexual é dirigida com especial intensidade por homens contra mu lheres, esp es pecificamente contra contra suas suas mã mães. A linguag em da agressão e abuso ritualizados lembra àqueles que a usam que a exploração é a regra geral e alguma forma de depen dência, o destino comum; que “o indivíduo”, nas palavras de Lee Rainwater, “não é suficientemente forte ou adulto para atingir seu objetivo de um modo legítimo, mas é, ao contrário, quase uma criança, dependente de outros, que to leram suas manobras infantis”; portanto, os machos, mesmo os adultos, com freqüência dependem da mulher para apoio e nutrição. Muitos deles têm de alcovitar para viver, insinuan95
do-se junto a uma mulher para tirar seu dinheiro; as relações sexu sex uais torn tornam am-- se, assim, manipuladoras manipuladora s e pre pre datórias. datórias . A sa tisfação depende de pegar o que se quer, em vez de esperar pelo que é justo receber. Tudo isto entra na linguagem coti diana que liga o sexo à agressão e a agressão sexual a senti mentos profundamente ambivalentes para com as mães.* Sob certos aspectos, a s ociedade classe média médi a tornou tornou-- se uma pálida cópia do gueto negro, como a apropriação de sua lin guagem nos levaria a crer. Não precisamos minimizar a po breza do gueto ou o sofrimento infligido pelos brancos aos negros, para vermos que as condições cada vez mais perigo sas e imprevisíveis da vida da classe média deram origem a estratégias similares de sobrevivência. De fato, a atração da cultura negra pelos brancos descontentes sugere que, agora, a cultura negra fala a uma condição geral, cujo aspecto mais importante é uma perda generalizada de confiança no futuro. Os pobres sempre tiveram de viver para o presente, mas, agora, uma desesperada preocupação com a sobrevivência pes soal, às vezes disfarçada de hedonismo, também atinge a classe média. Hoje em dia, quase todos vivem em um mundo peri goso, do qual há pouca escapatória. O terrorismo internacional e a chantagem, bombas e os assaltos afetam arbitrariamente a ricos e pobres igualmente. O crime, a violência e as guerras entre quadrilhas tornam as cidades inseguras e ameaçam espalharalhar- se para os subúrbios subúrbios.. A v iolência r acial nas ruas e * No fi m dos anos anos sessenta, sessenta, os radicais de raça bra nca adotar am o slogan “Para o Paredão, Fodedor da Mãe!” Contudo, há muito o termo perdeu suas suas associaç associaçõ ões re vo lucionárias, lucionárias, assim como out r os . idiomas idiomas negros popularizarampopularizaram- se, a pr incípio , entre entre os brancos por meio de de polí ticos ticos r adicais e portaorta- vozes da contr acultura , e em for ma lig eira mente ex purg purg ada tornou tornou-- se tão aceito, que que o termo “ mãe” torn tornou ou-- se, em toda parte, mesmo entre os adolescentes, um termo da familiaridade ou des prezo nat ura l. De modo semelhante, semelhante, os os Ro lling Stones e outros ex po entes do “hard rock” ou do “acid rock”, os quais usaram a obscenidade do gueto para transmitir uma postura de alienação militante, deram lugar a grupos que cantam com mais doçura, mas ainda com pronúncia do gueto, sobre um mundo do qual você só leva o que estiver prepa rado para levar. Tendo-se evaporado a capa de solidariedade revolu cionária, à medida que os viciados em drogas da “Nação de Woodstock” se deteriorav am no caos caos mortífe ro de A ltam ont, o cinismo s ub jace ja cente nte v em à s uper f ície com co m ma io r clar cl arez ezaa do que nunc nu nc a . Ca da f i lho da mãe por si!
96
escolas cria uma atmosfera de tensão crônica e ameaça irrom per a qualquer momento em conflito racial de larga escala, ü desemp desemprego reg o generalizageneraliza- se dos dos pobres pobres para par a a classe classe dos exe cutivos, enquanto a inflação esvai as poupanças daqueles que esperavam se aposentar confortavelmente. Muito do que é conhecido eufemisticamente como classe média, meramente por que ela se veste para ir trabalhar, está agora reduzido a con dições proletárias de existência. Muitas funções executivas não exigem mais capacidade e pagam menos ainda do que as fun ções ções assalariadas, ass alariadas, confer conferind indoo- ihes ihes pouco pouco status ou segurança. A propag pro pag anda da morte mort e e da destr des truição, uição, emanandoemanando- se inces santemente dos meios de comunicação de massa, soma-se à atmosfera predominante de insegurança. A escassez de pro dutos, terremotos em regiões remotas, guerras e insurreições distantes atraem a mesma atenção como se fossem eventos próximos. A impressão de arbitrariedade no relato de cala midades reforça a qualidade arbitrária da própria experiên cia, e a ausência de continuidade na cobertura de eventos, de como a crise atual produzirá amanhã uma nova crise sem conex cone x ão com a prim pr imee ir a, acrescen acrescenta- se à sensação sensação de desco desconntinuidade histórica — a sensaçã sensaçãoo de viver viv er em um mundo no qual o passado não serve de guia para o presente e o futuro tornou-se completamente imprevisível. Anti A ntigg os conceitos conceit os de sucesso sucesso pre pr e s s upunham um mund mu ndoo em rápido movimento, no qual as fortunas eram rapidamente ganh ga nhas as e perdidas e novas novas opor tunidades desdo desdob bravamravam- se a cada dia. No entanto, eles também pressupunham uma certa estabilidade, um futuro que possuía alguma semelhança com o presente e com o passado. O crescimento da burocracia, o culto do consumismo com suas gratificações imediatas, mas, sobretudo, o rompimento do sentido de continuidade histórica, transformaram a ética protestante, enquanto levavam os prin cípios subjacentes da sociedade capitalista à sua conclusão lógica. A busca do próprio interesse, a princípio identificada com a busca racional de ganhos e a acumulação de rique zas, tornou tornou-- se uma uma busca do pra prazer zer e da s obreviv obrev ivência ência ps ps í quica. Às condições sociais agora se aproximam da visão da sociedade republicana concebida pelo Marquês de Sade, logo no início da era republicana. Em muitos aspectos, o mais 97
abrangente e, certamente, o mais perturbador dos profetas do individuali indiv idualism smo, o, Sade defe defend ndeu eu a auto- indulgência indulgência (comodis (comodis mo) ilimitada como a culminação lógica da revolução nas re lações lações de propriedade proprie dade — o único único modo de de ating at ingir ir a frater fr ater nidade revolucionária em sua forma mais pura. Regredindo em seus escritos ao nível mais primitivo de fantasia, Sade sinistramente intuiu todo o subseqüente desenvolvimento da vida pessoal sob o capitalismo, terminando não em fraterni dade revolucionária, mas em uma sociedade de pessoas de origem comum, que sobreviveram e repudiaram suas origens revolucionárias. Sade imaginou uma utopia sexual, na qual todos têm o direito a todos, onde os seres humanos, reduzidos a seus ór gãos gãos sex uais, tornam tornam-- se absolutame abs olutamente nte anônimos e intercam intercam-biáveis. Sua sociedade ideal assim reafirmava o princípio ca pitalista de que os seres humanos são, em última análise, redutíveis a objetos intercambiáveis. Ele também incorporou, e levou a uma nova conclusão surpreendente, a descoberta de Hobbes de que a destruição do paternalismo e a subor dinação de todas as relações sociais ao mercado haviam des mantelado os estorvos restantes e as ilusões calmantes da guerra de tudo contra tudo. No estado resultante de anar quia organizada, como Sade primeiro percebeu, o prazer tor na- se a única ativ idade da vida v ida — o prazer prazer , no entanto, que não se distingue do estupro, dos assassinatos, da agressão de senfreada. Em uma sociedade que reduziu a razão a mero cálculo, esta pode deixar de impor limites à busca do prazer — à imediata imedia ta gr g r atificação atif icação de todo desejo, desejo, não não impor tando quão perverso, insano, criminoso ou simplesmente imoral. Pois os padrões que poderiam condenar o crime ou a crueldade derivamerivam- se da relig rel igião, ião, da compaix co mpaix ão ou do tipo de razã raz ão que rejeita aplicações puramente instrumentais; e nenhuma destas formas ultrapassadas de pensamento ou sentimento tem qualquer posição lógica em uma sociedade baseada na pro dução de mercadorias. Em sua misoginia, Sade percebeu que o esclarecimento burguês, levado a suas conclusões lógicas, condenava até mesmo o culto sentimental da feminilidade e da família, que a própria burguesia levara a extremos sem precedentes. 98
A o mesmo tempo, te mpo, v iu ele que a condenação co ndenação da “ ador ação da mulher” teria de seguir paralela à defesa dos direitos sex uais das das mulheres mulheres — o direito de dispor de seus seus pró pr ó prios corpos, como as feministas diriam hoje. Se o exercício desse direito, dire ito, na utopia uto pia de Sade, resumiaresumia- se ao dever de tornartornarse um instrumento do prazer de outrem, não era tanto por que Sade odiasse as mulheres, mas porque odiava a huma nidade. Ele percebeu, mais claramente do que as feministas, que todas as liberdades sob o capitalismo, no final, resumemse na mesma coisa, na mesma obrigação universal de sentir e de dar prazer. No mesmo fôlego e sem violar sua própria lógica, Sade queria para as mulheres o direito “de plenamente satisf sat isfazer azer a todos todos os seus seus desejos” e “ todas as partes partes de seus seus cor pos” e afir af irmou, mou, categoricamente, categ oricamente, que que “ todas todas as mulheres mulheres devem submeter-se ao nosso prazer”. O puro individualismo resultou, assim, no repúdio mais radical da individualidade. “Todos os homens, todas as mulheres, se parecem uns com os outros”, de acordo com Sade; e para aqueles entre seus compatriotas que se tornariam republicanos, ele acrescenta este aviso agou ag ourento: rento: “ Não pensem pensem que que podem ser ser bons bons re publicanos, se isolar em suas famílias as crianças que de v eriam er iam pertencer somente somente à r e públic pública” a” . A defesa burg burg uesa da priv acidade c ulmina — não não só no pensamento pensamento de de Sad S ade, e, mas também na história que se seguiria, tão corretamente pressagiada no mesmo excesso, loucura e infantilismo de suas idéias idéias — no ataqu ataque mais pr pr ofundo à privacid privac idade; ade; a glor ifi cação do indivíduo, em seu aniquilamento.
99
$ £ *
% I a
IV
A B analidade ana lidade da Pseu Pse udo- A utoconscientizaçã utoconscientização: o: O Teatro da Política e a Existência Cotidiana A mor te da cons co nsci ciênc ência ia não nã o é a mor te da autoc aut ocons ons ciência. ciência . HARRY CROSBY
A P r opag opa g anda das Merca Mer cador dorias ias . Nos primórdios do capitalis mo industrial, os empregadores viam os operários como nada mais que uma uma besta de de carg cargaa — “ um homem do tipo do boi”, nas palavras do especialista em eficência, Frederick W. Taylor. Os capitalistas consideravam o operário puramente como um ser produtor; não cuidavam das atividades do tra balhador balha dor em seu tempo tempo de de lazer — o pequeno pequeno períod per íodoo de lazfc.: que lhe restava após doze ou quatorze horas dentro da fábrica. Os patrões tentavam supervisionar a vida do ope rário pelo trabalho, mas o controle terminava quando o ope rário deixava a fábrica no fim do expediente. Mesmo quando Henry Ford estabeleceu um Departamento Sociológico na Fábrica de Motores Ford, em 1914, ele considerava a super visão da vida privada dos operários meramente como um meio de fazer deles homens sóbrios, seres produtores diligen tes, parcimoniosos. Os sociólogos da Ford tentaram impor uma antiquada moralidade puritana sobre a força de trabalho; investiram contra o tabaco, o álcool e contra a dissipação. Somente uns poucos empregadores daquela época compreen deram que o trabalhador poderia ser útil ao capitalista como consumidor; que ele precisava ser imbuído de um gosto por coisas mais elevadas; que uma economia baseada na produ ção de massa exigia não somente a organização capitalista da produção, mas também a organização do consumo e do lazer . “A “ A produção produção de massa massa”” , disse o mag mag nata das lojas de departamentos de Boston, Edward A. Filene, em 1919, “exige a educação das massas; as massas devem aprender a compor101 101
tar-se como seres humanos em um mundo de produção ma ciça . . . Devem Dev em ter, não não a sim s imp ples alf abetizaçã abetiza ção, o, mas cul tura.” Em outras palavras, o moderno fabricante tem de “ educar educar”” as as massas massas na cultura cultura do cons cons umo. A produção produção ma ciça de mercadorias em abundância sempre crescente exige um mer mercado cado maciço para absorvêabsorvê- las. A econo ec onomia mia amer icana, ica na, tendo te ndo cheg ado ao ponto pont o em que sua tecnologia passou a ser capaz de satisfazer necessidades materiais básicas, agora confiava na criação de novas exi gências gências pelo consumidor co nsumidor — convencendo conv encendo as as pessoa pessoass a com prar mercadorias para as quais não têm consciência de ter qualquer necessidade, até que a “necessidade” seja trazida forçosamente à sua atenção pelos meios de comuni caçã cação de de massa. A publicidade, publicidade, disse disse Calv in Coolidge, Coolidg e, “ é o método pelo qual é criado cr iado o dese desejo jo de melhore melhoress coisas” coisas ” . A tentat te ntativ ivaa de “ c iv iliz il iz a r ” as massas ass as deu, e ntão, orig or ig em a uma sociedad sociedadee dominada dom inada pelas ap a parências ar ências — a sociedad sociedadee do espe táculo. No período de acumulação primitivo, o capitalismo subordinou o ser ao ter, o valor de uso das mercadorias a seu v alor de troca. Ele agora s ubor ubordina dina a própria posse à aparência e mede o valor de troca como a capacidade de uma uma mercadoria confer c onferir ir pres prestígio tígio — a ilusão ilusão de de pros prosperi peri dade dade e bemem- estar. “ Quando Qua ndo a necessidad necess idadee econômica se resu re su me na necessidade de desenvolvimento econômico ilimitado”, escreve escreve Guy Debor Debo r d, “ a satisfação satis fação de de necessid necessidad ades es humanas básicas e g eralmen er almente te reconhecidas reconhecidas cede cede lugara lugar a uma fabri cação ininterrupta de pseudonecessidades.” Em uma época mais simples, a publicidade meramente cha mava a atenção para o produto e exaltava suas vantagens. Hoje em dia, ela procria um produto próprio: o consumidor, perpetuamente insatisfeito, intranqüilo, ansioso e entediado. A publici publi cida dade de serve serv e não tanto ta nto par a anunci anun ciar ar produt pr odutos os,, mas para promover o consumo como um modo de vida. Ela “edu ca” as massas para ter um apetite inesgotável não só por bens, mas por novas experiências e satisfação pessoal. Ela defende o consumo como a resposta aos antigos dissabores da solidão, da doença, da fadiga, da insatisfação sexual; ao mesmo tempo, cria novas formas de descontentamentos pe culiares culiares à era moderna. J oga sedu s edutor toramente amente com o malmal- estar 102
da civilização industrial. Seu trabalho é tedioso e sem sen tido? Deixa-o com sentimentos de futilidade e fadiga? Sua vida é vazia? O consumo promete preencher o doloroso vazio; em conseqüência, a tentativa de cercar as mercadorias de uma aura de romance; com alusões a lugares exóticos e a vívidas experiências; e com imagens de seios femininos, dos quais fluem todas as bênçãos. A propag pro paganda anda de mercadori merc adorias as serve serv e a uma dupla f unção. Em primeiro lugar, ela defende o consumo como uma alter nativa para o protesto e a rebelião. Paul Nystrom, um antigo estudioso da moderna mercadologia, certa vez observou que a civilização industrial dá origem a uma “filosofia da futi lida li dade de”” , uma fadig a penetrante, penetrante, um “ desapontamento desapontamento com os empreendimentos”, que encontra uma saída na mudança das “coisas mais superficiais sobre as quais reina a moda”. O cansado operário, em vez de tentar mudar as condições de seu trabalho, procura a renovação ao tornar mais animado seu ambiente imediato, com novos bens e serviços. Em segundo lugar, a propaganda do consumo transforma a própria alienação em uma mercadoria. Ela se dirige à deso lação espiritual da vida moderna e propõe o consumo como sendo a cura. Ela não somente promete diminuir todas as velhas infelicidades, das quais a carne é herdeira; cria ou ex acerba novas novas formas for mas de de infelicidade infelic idade — inseg urança urança pes pes soal, ansiedade pelo status, ansiedade dos pais sobre sua ca pacidade de satisfazer às necessidades dos mais jovens. Parece fora de moda perto de seus vizinhos? Tem um carro inferior ao deles? Seus filhos têm tanta saúde quanto os deles? são tão tão populares populares ? saem saem-- se tão bem bem na escola? A publicidade institucionaliza a inveja e suas ansiedades resultantes. Servidora do status quo, a publicidade, não obstante, temse identificado com uma radical mudança de valores, uma “ revolução re volução nos nos costum costumes e na na mor al” al ” que começou começou nos nos pri pr i meiros anos do século vinte e continua até o presente. As exigências da economia do consumo de massa tornaram obso leta a ética do trabalho, até mesmo para os trabalhadores. A ntig nti g amente ame nte os g uardiães uar diães da saú sa úde e da moral mor alida idade de públic públicas as 103 10 3
incitavam o trabalhador a trabalhar como se fosse uma obri gação moral; agora lhe ensinam a trabalhar para que com partilhe os frutos do consumo. No século dezenove, somente as elites obedeciam às leis da moda, trocando velhas posses por novas, sem outra razão além de que elas tinham saído de moda. A ortodoxia econômica condenava o resto da so ciedade a uma vída de trabalho enfadonho e de mera subsis tência. A produção maciça de produtos de luxo estende agora os hábitos aristocráticos às massas. O aparelho de promoção das massas ataca ideologias baseadas no adiamento da gra tificação; ele se alia à “revolução” sexual; apóia, ou parece apoiar, as mulheres contra a opressão masculina e os jovens contra a autoridade dos mais velhos. A lógica da criação de demandas exige que as mulheres fumem e bebam em público, se movimentem com liberdade, e assegura seus di reitos à felicidade, em vez de viver para os outros. A in dús dús tria da propaganda propag anda encoraja, encoraj a, assim, as sim, a pse pseud udoo- emancip emancipaçã açãoo das mulhere mulheres, s, lison lis onjean jeand do- as com o seu insinuante ins inuante lembrete lembrete “Você progrediu bastante, menina”, e disfarçando a liber dade de consumo de genuína autonomia. Da mesma forma, ela lisonjeia e exalta a juventude, na esperança de elevar o pessoal jovem ao status de consumidores desenvolvidos por direito próprio. Cada qual com um telefone, um aparelho de televisão e um aparelho de som em seu próprio quarto. A “ e ducação” duca ção” das massas ass as alter alt erou ou o e quilíbr quil íbrio io de f orças orça s den tro da família, enfraquecendo a autoridade do marido em relação à mulher e dos pais em relação aos filhos. Ela eman cipa mulheres e crianças da autoridade patriarcal, contudo, somente para sujeitá-las ao novo paternalismo da indústria da publicidade, da corporação industrial e do Estado.* * A v ida fa miliar , de acordo com Ny str om, tende tende inerentemente a promover os costumes, a antítese da moda. “A vida familiar privada é mais efetivamente dirigida pelos costumes do que a vida pública ou se mipública.” mipública.” Por outro lado, “o conf lito dos jovens com as as convenções” convenções” encoraja rápidas mudanças no consumo de roupas e da moda. Em geral, argumenta Nystrom, a vida rural, o analfabetismo, a hierarquia social e a inércia apóiam os costumes, enquanto a moda — a cultura do consumo — deriva-se das forças progressistas em ação da sociedade moderna: educação pública, livre expressão, circulação de idéias e in formaçõ formações, a "filoso fia do progresso” progresso” .
104
V er dade e Cre Cr e dibilida dibil idade de.. O papel dos meios de comunicação de massa na manipulação da opinião pública tem recebido muita atenção atenção angus a ngustiada, tiada, se não malmal- orientada. orientada. Muito Muit o desse esse comentário admite que o problema é evitar a circulação de mentiras óbvias, ao passo que é evidente, como os críticos mais penetrantes da cultura de massa apontaram, que o sur gimento dos meios de comunicação de massa toma as cate gorias de verdade e falsidade irrelevantes para uma avaliação de sua influência. A verdade cedeu lugar à credibilidade, os fatos às declarações, que soam autoritárias sem transmitir quaisquer informações autoritárias. Declarações que anunciam que um dado produto é prefe rido por autoridades líderes, sem dizer o que é preferível fa zer, declarações que reivindicam a superioridade de um pro duto em relação a competidores inespecíficos, declarações que deixam implícito que uma determinada característica pertence unicamente ao produto em questão, quando de fato ela per tence também a seus rivais, servem todas para toldar a dis tinção entre verdade e falsidade numa névoa de plausibilida de. Tais reivindicações são “verdadeiras”, ainda que radical mente mente mal- orientad orientadas. as. O secretário secretário de de impre imprensa nsa de Richar d Nix on, Ron Ro n Ziegler Zieg ler,, certa vez demonstr demonstrou ou o uso uso político des des tas técnicas, quando admitiu que suas declarações anteriores sobre sobre Waterg Water g ate tinh tinhamam- se tornado “ inoper inoperantes antes ” . Muitos co mentaristas admitiram que Ziegler estava procurando um modo eufemístico de dizer que ele mentira. O que ele queria dizer, contudo, era que não mais se devia acreditar em suas decla rações anteriores. Não sua falsidade, mas sua incapacidade de impor a concor concordâ dância ncia torn tornou ou-- as “ inoper inoperantes antes ” . A ques questão tão de saber se eram verdadeiras ou não, não vinha ao caso. Publicidade e Propaganda. Como indicou Daniel Boorstin, vi v emos em um mundo de pseud pseudoo- eventos eventos e quasequase- informaçõ informações, no qual a atmosfera está saturada de declarações que não são nem verdadeiras, nem falsas, mas simplesmente críveis. Con tudo, até mesmo Boorstin minimiza o grau segundo o qual as aparênci aparências as — as “ imagens” — dominam a sociedad sociedadee am a me ricana. Recuando das implicações mais perturbadoras de seu 105 10 5
estudo, ele extrai uma falsa distinção entre publicidade e pro paganda, que lhe permite postular uma esfera de racionali dade dade te tecnológica cnológica — uma que inclui incl ui as oper operaçõ ações es do estado estado e muito da rotina da da indúst indústri riaa moderna moderna — na qual a irra cionalidade da formação de imagem não pode penetrar. A propaganda, que ele identifica exclusivamente com regimes totalitários , consiste consiste em “ informações informações intencionalmente intencionalmente tenden tenden ciosas” , de acordo acordo com Boor stin, — infor mações mações,, além alé m do do mais, mais, que que “ depend dependem em primar primar iamente de seu seu apelo apelo emociona l” — , ao passo que um pseu pseud do- evento representa representa uma “ verdade ve rdade am bígua” bíg ua” que apela para para o “ nosso hon honesto esto desejo de ser ser infor info r mado”. Esta distinção não se sustenta. Ela repousa em uma concepção imperfeita da moderna propaganda, uma arte que há muito tempo havia incorporado as técnicas mais avança das da moderna publicidade. O propagandista perito, assim como o especialista em pu blicidade, evita apelos emocionais óbvios e esforça-se por obter um tom que seja consistente com a qualidade prosaica da vida moderna — uma trivialidade seca, suave. Tampouco o propagandista faz circular informações “intencionalmente ten denciosas”. Ele sabe que verdades parciais servem mais de instrumentos eficientes de fraude do que mentiras. Ele, assim, tenta impressionar o público com estatísticas de crescimento econômico, ec onômico, que deix am de de dar o an ano- base a partir par tir do qual qual o crescimento foi calculado, com fatos corretos, mas sem sig nificação nifica ção sob sobre o padrão de v ida — com dado dadoss brutos e não interpretados, em outras palavras, a partir dos quais a au diência é convidada a tirar a inexorável conclusão de que as coisas estão melhorando e que o atual regime, em conse qüência, merece a confiança do povo, ou, por outro lado, qué as coisas estão piorando tão rapidamente, que se devia dar ao atual regime poderes de emergência para lidar com a crise em desenvolvimento. Ao usar detalhes corretos para deixar implícito um quadro enganoso do todo, o propagan dista hábil, já foi dito, transforma em verdade a principal forma de falsidade. Na propaganda, como na publicidade, a consideração im portante não é se as informações descrevem corretamente uma situação objetiva, mas se esta soa verdadeira. Às vezes 106
torna-se necessário suprimir informações, ainda que elas re sultem em crédito para o governo, sem nenhuma outra razão senão que os fatos soam implausíveis. Jacques Ellul explica, em seu estudo sobre a propaganda, por que, em 1942, os alemães não revelaram que o invencível General Rommel es tava ausente da África do Norte, no momento da vitória de Monígomery: “Todos teriam considerado este fato uma men tira para explicar a derrota e provar que Rommel não havia sido derrotado”. O Serviço de Informações de Guerra dos Estados Unidos, ávido para usar as atrocidades para infla mar a opinião pública contra a Alemanha, deliberadamente evitou a atrocidade mais terrível de todas, o extermínio dos judeus, jude us, baseado base ado em que a histór his tória ia seria ser ia “ confusa conf usa e mal ma l dir di r i gida, se parecesse estar afetando simplesmente o povo judeu”. A v erdade er dade tem te m de ser s uprimi upr imida da,, se soar como propag pro pag anda. anda . “ A única razão para sup s uprimir rimir uma parte das das notícias notícias”” , diz diz um livro dos Aliados usado na Segunda Guerra Mundial, “é se ela for incrível.” É verdade que a propaganda apela sutilmente para as emo ções. Ellul observa que a propaganda usa os fatos não para apoiar um argumento, mas para exercer pressão emocional. Porém o mesmo também procede quanto à publicidade. Em ambos os casos, o apelo emocional permanece em silêncio e indireto; ele se liga aos próprios fatos; tampouco é incon sistente com o “honesto desejo de ser informado”. Sabendo que um público educado deseja fatos e não alimenta senão a ilusão de ser bem informado, o moderno propagandista evita usar slogans retumbantes; raras vezes apela para um destino mais elevado; poucas vezes apela para o heroísmo e o sacrifício, ou faz lembrar à sua audiência o passado glo rioso. Ele se atém aos “fatos”. A propaganda funde-se, assim, à “informação”. Uma das principais funções da burocracia federal bastante ampliada é a de satisfazer à demanda deste tipo de infor mação. A burocracia não só proporciona supostamente infor mações confiáveis a altos funcionários; ela proporciona de sinformação ao público. Quanto mais técnico e misterioso for este produto, mais convincente soará. Daí a penetração, em nossa cultura, do jargão ofuscador da pseudociência. Esta lin 107
guagem cerca tanto os apelos de administradores como o de publicitários com uma aura de distanciamento científico. O que é mais importante, ela é calculadamente obscura e inin teligível telig ível — qualidades qualidades que a r ecomendam a um públic públicoo que se sente informado na proporção em que é atordoado. Em um de seus pronunciamentos característicos, durante uma con ferência de imprensa em maio de 1962, John F. Kennedy pro clamou o fim da ideologia, com palavras que apelavam para estas estas duas duas necessidades necessidades do público públic o — a neces necessidade sidade de acre ditar que as decisões políticas estão nas mãos de especialistas desapaixonados, bipartidários, e a necessidade de acreditar que os problemas com os quais lidam os especialistas são ininteligíveis ao leigo. A maio ma iorr ia de nós nós é condic co ndicion ionada ada durant dur antee muitos muito s anos a possuir um ponto de vista político — republicano ou demo crata, liberal, conservador ou moderado. A verdade é que muitos destes problemas . . . que ora enfrentamos, são pro blemas técnicos, são problemas administrativos. São juízos bas tante sofisticados, que não se prestam ao grande número de movimentos passionais que abalaram este país com tanta fre qüência no passado. [ Eles] Eles ] tratam de questões que estão agora além da com c ompreensão preensão da maior ma ior ia dos dos homens . . . A Polít Po lític icaa como Es petáculo. pet áculo. Os analistas de sistemas e os “contabilistas sociais” consideram questão de princípio que, “ com o aumento aumento da complex complex idade da da s ociedade” ociedade” — como como um deles, A lber t B iderman, certa vez se se expressou — , “ a ex pe riência imediata com seus eventos desempenha um papel cada vez menor como fonte de informações e como base de julga mento, em contraste com as informações simbolicamente me diadas sobre esses eventos”. Mas a substituição de informa ções simbolicamente mediadas pela experiência imediata — de pseu pseud do- eventos eventos par paraa eventos ver dadeiros dadeiros — não tornou o governo mais racional e eficiente, como admitem tanto os burocratas como seus críticos. Ao contrário, ela deu origem a uma atmosfera penetrante de irrealidade que, em última análise, atordoa os próprios criadores de decisões. O contá 108
gio da ininteligibilidade atinge todos os níveis do governo. Não é só o fato de que os propagandistas sejam vitimados por sua própria propaganda; o problema é mais profundo. Quando políticos e administradores não têm outro objetivo a não ser v ender ender sua liderança ao público, eles se privam de padrões de inteligência com os quais definir os objetivos de polí ticas específicas ou avaliar o sucesso ou o fracasso. Porque o prestígio e a credibilidade se tornaram a única medida de efetividade é que a política americana no Vietnam pôde ser conduzida sem considerar a importância estratégica do Vietnam ou a situação política naquele país. Porquanto não havia objetivos claramente definidos em vista, nem sequer foi pos sível dizer como se deveria reconhecer a derrota ou a vitória, exceto que o prestígio americano não devia sofrer como re sultado. O objeto da política americana no Vietnam foi de finido desde o início como a preservação da credibilidade americana. Esta consideração, que chegava à obsessão, repe tidamente sobrepujou princípios elementares da arte de go vernar, tais como a evitação de riscos excessivos, a avaliação das possibilidades de sucesso e de fracasso, e o cálculo das conseqüências estratégicas e políticas da derrota. A arte do contr cont r ole de crises, agora ag ora larg lar g amente s abido ser a essência da política, deve sua voga à mescla de política e espetáculo. A propaganda procura criar no público uma crô nica sensação de crise, a qual, por sua vez, justifica a expan são do poder executivo e dos segredos que o cercam. O executivo afirma, então, suas qualidades “presidenciais”, ao transmitir sua determinação de enfrentar a crise, qualquer que aconteça aconteça ser ser a crise crise do momento — correr riscos, testar seu ânimo, não recuar diante de perigos, recorrer à ação arro jada ja da e decisiv decis iva, a, até mesmo quando qua ndo a ocasião ocas ião aconsel acons elha ha pr u dência e cuidado. As carreiras de Kennedy e Nixon atestam a obsessão predominante pela administração de crises e de impressões. Kennedy, em sua ânsia de superar a impressão de fraqueza deixada pelo fiasco da Baía dos Porcos — ela própria o produto de um medo persecutório de que a revo lução cubana houvesse solapado o prestígio americano na A mér ica ic a L a tina ti na — , v ocife oci ferr ou contr cont r a Nik Ni k ita it a K hrusc hr uschche hchevv em V iena, ie na, proc pr ocla lamou mou B e r lim li m “ o maior ma ior s ítio da prov a da corag cora g em 109
e da vontade do ocidente” e arriscou-se a uma guerra nu clear com a crise dos mísseis cubanos, muito embora os mís seis soviéticos em Cuba, deliberadamente provocadores como eram, de modo algum tivessem alterado o equilíbrio do poder. Em muitos aspectos, o evento mais importante da adminis tração tração K enn ennedy edy — seu seu ponto alto, a part partir ir do qual tudo tudo mais foi um declínio declínio — foi, fo i, contudo, o inaug inaug ural, um espetácu espetáculo lo que solidificou o mito de Camelot, antes mesmo de Camelot chegar a existir. “A tocha tem sido passada para uma nova geração de americanos, nascidos neste século, temperados pela guerra, guerra, disciplinad disciplinados os por por uma uma paz paz amarga amarga e á r d u a . . . ” Nes Nes tas palavras, Kennedy invocou suas preocupações com a dis ciplina, a determinação e a temperança, em favor da crença de toda toda uma geraçã ger açãoo — tão logo abalada a balada — de que ela es tava situada nos portais da grandeza. “Não perguntem o que seu país pode fazer por vocês; perguntem o que vocês podem fazer por seu país.” Nenhum outro Presidente exemplificara tão completamente a subordinação da política ao prestígio nacional, à aparência e à ilusão de grandeza nacional. Com Nix on, a política política do espetáculo espetáculo atingiu ating iu um um clímax tra tragicômico. Desinteressado por princípios e programas, motiva do somente pela ambição e um vago ressentimento contra o sistema sistema liberal liber al do Leste, Nix on devotou dev otou a maior parte art e de sua sua carreira à arte de impressionar uma audiência invisível, com seus poderes de liderança. Os pontos decisivos de sua carreira, as “crises” sobre as quais escreveu tão reveladoramente, apre sentaram sentaram-- se como ocasiõ ocasiões es nas quais sentiu sentiu-- se tentado tent ado a deixar deix ar o campo livr e, mas per perman maneceu eceu — em cada cada caso, por meio de uma demonstraçã demonstr açãoo pú pública blic a — para mostrar sua çapacidad çapacidadee de enfrentar a situação. Com sua concepção teatral de política, Nix on org orgu ulhavalhava- se de sua capacidade capaci dade de disting dis ting uir entre um desempenho convincente e um mau desempenho, como no caso Hiss, quando se certificou de que Whittaker Chambers estava dizendo dize ndo a v er dade, pois pois “ Não senti s enti [se [ seu u desempenh desempenho] como uma representação”. Após assistir pela televisão às audições Ex ército- McCarthy, cCarthy, observ observou ou ironicamente iro nicamente “ Prefir Pr efiroo atores atores pro fissionais a amadores”. Durante seu famoso debate com Nikita Khruschchev, Nixon estava certo de que este “estava repre sentando”, e mais tarde reprovou o Marechal Georgi Zhukov 110 110
por subestimar a intelig ência do povo soviético. s oviético. “ Eles Eles não são são burros. Sabem quando alguém está representando e quando não não está — particular mente quando quando os os atos for am tão tão ama dorísticos.” Em um de seus debates pela televisão com Kennedy em 1960, Nix on denunciou denunciou Kennedy Kennedy por exigir ex igir maior apoio apoio ativo das forças f orças anticastristas anticastristas em Cuba Cuba — a mesma mesma estratégia que que estava sendo efetuada em segredo, em parte por instigação do próprio Nixon, pela administração Eisenhower. Ainda mais notável do que este próprio desempenho, no qual Nixon for mulou as críticas mais expressivas de uma política com a qual ele próprio concordava, é o distanciamento com que Nixon a discute em Six Crises. Ele comenta seu próprio desempenho com a mesma objetividade com que comenta as atuações de Hiss e Chambers, observando com certo prazer — mas com completa indife indifere rença nça pela pela ironia ir onia da situação situação — que que contar contaraa “o exato oposto da verdade” com tanta eficácia, que vários jor jo r nais liberais liber ais o elog el ogiar iar am v igoro ig orosa samente mente e até mesmo f or çaram Kennedy a modificar sua própria posição. Como Presidente, Nixon herdou as tensões e confusões do mésticas que haviam sido geradas pelo espetáculo culminante dos anos sessenta, a guerra no Vietnam. Ele não se limitou, no entanto, a tentativas para abafar a oposição e de destruir as esquerdas. Ao invés, montou um ataque em larga escala a um único indivíduo (Daniel Ellsberg), instituiu um elabo rado programa de segurança para evitar vazamentos posterio res do que eram consideradas informações vitais de segurança, e convenceu convenceu-- se de de que que Ellsber Ell sbergg estava, estav a, de algum alg um modo, lig ado ao líder democrático candidato à Presidência. Essas medidas de “ seg urança” urança” , embora embora altamente altamente irr acionais, acionais, provav elmente elmente originaram- se na crença bem razoável razoáv el de que que o poder poder presi dencial veio a se repousar na capacidade de manipular as in formações e que este poder, de modo a ser completamente efi caz, tinha de ser reconhecido por todos como sendo indivisível. Qua ndo Watergat Water gatee transform transformou ou-- se numa numa “ crise” madur madur a, • Nix Ni x on devotouevotou- se a convencer conv encer a nação de que que iria, ir ia, por todos os meios, provar estar à altura da emergência. No final, abor dou suas crescentes dificuldades como um problema de rela ções públicas. Em longas conversas com seu principal conse 111
lheiro, ele próprio um homem de relações públicas, Nixon e H. R. Haldeman mostraram mostra ram uma uma indifer indifer ença pela verdade, que que ultrapassa ultrapass a o cinismo — uma indife rença re nça que só pode pode ser ser explicada com base em que o conceito de verdade, para ho mens que exercem poderes irresponsáveis, perdeu muito de seu seu sig nificado. “ A cho que temos temos de de encontrar um meio de fazer declarações” declarações” , Nix on disse a certa altura, alt ura, “ . . . qualquer tipo de decl de clar ar ação. ação . . . tão geral g eral quanto poss pos s ível ív el.. . . para que que algué alg uém m possa dizer dizer que . . . foi feita uma uma declaração declaração pelo Pre sidente, na qual ele baseou a sua própria, com a finalidade de mostrar mostrar sua confiança em sua sua equi equip pe. . . . Eu não não fiz f iz isto, isto, não não fiz aquilo, tatata, tatata, taíaía, tatata. Haldeman não fez isto, Erlichman não fez aquilo. Colson não fez aquilo outro.” A respo res post staa de Hald Ha ldem eman an — “ eu não diria dir ia que esta seja toda a verdade” — evidencia uma hesitante capacidade em distin guir entre verdade e falsidade, mas não altera o fato de que as palavras escolhidas puramente por seu efeito público rapi damente perdem qualquer referência com a realidade. A dis cussão política fundamentada nesses princípios degenera em palavrório sem sentido, até mesmo quando é levada a efeito a portas fechadas. O Radicalismo como Teatro de Rua. A degeneração da polí tica em espetáculo não só transformou o fazer político em publicidade, como degradou o discurso político e transformou as eleições em eventos esportivos, nos quais cada lado reivin dica a v antagem antage m do “ mome mom e ntum” ntum ” , mas também ta mbém tornou mais mais difícil do que nunca organizar uma oposição política. Quando as imagens do poder encobrem a realidade, os que não têm poder se vêem lutando contra fantasmas. Particularmente em uma sociedade onde o poder poder gosta de de apresen apresentartar- se disf arçado ar çado de benevolência — onde onde o governo gover no raramente recorre recorre ao puro puro uso da força — é difícil identificar o opressor, muito menos person ers onificáificá- lo ou sustentar um senso senso candente candente de injustiça nas nas massas. Nos anos sessenta, a nova esquerda tentou superar esta insubstancialidade do sistema, recorrendo à política da confrontação. Ao provocar deliberadamente a repressão vio lenta, ela esperava prevenir a cooptação da dissidência. A ten
tativa de dramatizar a repressão oficial, contudo, aprisionou a esquerda em uma política de teatro, de gestos dramáticos, de estilo sem conteú conte údo — uma imag em especular especular da polític a de irrealidade, cujo desmascaramento deveria ter sido o pro pósito da esquerda. Os teóricos da guerra fria viram as táticas da “escalada” como um meio de impressionar “audiências importantes” com a força do propósito da nação; os estrategistas da esquerda, igualmente obcecados pelas aparências, acreditavam que os gestos de aumentar a oposição eventualmente fariam o sistema cair ca ir de joelhos. joelhos. E m ambos os os casos, a política pareci pareciaa- se com um jogo, cujo objetivo era comunicar ao oponente o custo crescente de suas próprias políticas. Quando estivesse sufi cientemente impressionado com o custo, nesta hipótese, ele abandonaria a intransigência, em favor da conciliação. Assim, os oponentes da guerra no Vietnam anunciaram, em 1967, com gran gr andes des fanfar ras, ra s, que que pretendiam pret endiam passar “ da diss diss idência idência para para a resistência”, esperando que a resistência teria de ser enfren tada por medidas repressivas intoleráveis à opinião pública. “ Será sangr sangr ento”, ento” , disse disse um um radicai r adicai em defesa de de um protesto particularmente fútil, “mas o sangue deixa loucos os liberais.” Entretanto, longe de provocar uma reação liberal, os políticos do teatro de rua solidificaram a oposição à esquerda e criaram uma crescente crescente demanda dema nda da lei e da ordem. or dem. A escalada de táti cas militantes fragmentou a esquerda e levou os elementos mais “revolucionários” a uma confrontação suicida com a po lícia e com a Guarda Nacional. “Estamos trabalhando para montar uma força de guerrilha em um meio urbano”, anun ciou em 1967 o secretário nacional do SDS. De fato, o SDS estava preparando o terreno para seu próprio colapso, dois anos mais tarde. A ilusão ilus ão de que o teatro teat ro de r ua r epres epre s entava entav a a f or ma mais nova de luta de guerrilha, ajudou a afastar uma incômoda impressão de que aquele não representava mais do que uma forma de autopromoção, por meio da qual as estrelas dos meios de comunicação de massa de esquerda atraíram para si próprias a atenção nacional, com suas recompensas concomi tantes. Um expoente do “teatro da guerrilha”, após exortar seus seguidores a viver por meio de seus próprios enge 113
nhos, depressa explicou que "viver por meio dos próprios en genhos não é imitar a prostituta, que é uma capitalista de classe classe baix a, mas o g uerr ilheiro ilheir o latinolatino- americano, que é um socialista de classe baixa”. Tal conversa serviu não só para reassegurar reassegurar a fiel fie l audiência, audiência, mas para adular “ import importante ante au diência” dos militantes negros e do Terceiro Mundo, para quem a esquerda branca se havia tornado indevidamente sensível e a quem ela queria desesperadamente impressionar, com seu machismo machismo rev olucionário. olucionário. A retó ret órica do pod poder er negro corr c orr om peu igualmente as esquerdas branca e negra, substituindo uma política dos meios de comunicação de massa pelas lutas pelos direitos civis, antes empreendidas com grande seriedade no Sul. Na medida em que os retoricistas do poder negro cooptaram o movimento dos direitos civis, também cativaram os libe rais brancos, que procuravam apaziguar a culpa associada com o “privilégio da pele branca”, adotando os gestos e a lingua gem da militância negra. Tanto os brancos como os negros abraçaram o estilo radical, em vez de o conteúdo radical. Por volta de 1968, quando a nova esquerda se reuniu para seu “festival de vida” fora da Convenção Democrática Na cional em Chicago, a proeminência da Juventude Internacio nal, dirigida por Jerry Rubin e Abbie Hoffman, tornou claro que uma concepção teatral da política havia desviado os con ceito ceitoss mais racionais da esfera da ação. ação. “ Os Y ippies ippie s são são o teatro gestalti ges taltista sta das das ruas ”, R ubin sustentou sustentou,, “ obrig ando as as pessoas, pelo exemplo, a modificar suas consciências. En trar em uma sala de audiências do Congresso usando uma roupa de Paul Revere ou usar vestes jurídicas em uma sessão do tribunal é um meio de exteriorizar fantasias e de dar um fim às repressões.” Exteriorizar fantasias, contudo, não acaba com repressões; meramente dramatiza os limites permissíveis do comport com portame amento nto anti- social. Nos anos sessenta sessenta e início iníci o dos setenta, os radicais que transgrediram estes limites, na ilusão de que que estav am fomentando a insurre ição ição ou “ fazendo faz endo terap ter apia ia da gestalt com a nação”, segundo as palavras de Rubin, quase sempre pagaram um alto preço: bordoadas, encarceramento, aborrecimentos com a polícia, ou mesmo a morte, no caso dos terroristas — os Weat We athe herr men me n e os recrutas do Exército Simbionês Simbionês de Liber tação tação — que que segu seg uiam a lóg lóg ica do teatro teatro 114 11 4
de guerrilha até seu fim inevitável. No entanto, estes radicais tiveram tão poucos resultados práticos a mostrar por seus sa crifícios, que somos levados a concluir que abraçaram a polí tica radical, em primeiro lugar, não porque esta prometesse resultados práticos, mas porque servia como um novo meio de autodramatização. A A dor a ção do H e r ói e a Idea Ide a liz li z ação aç ão Narcis Nar cisis ista. ta. Às margens do movimento radical, muitos espíritos torturados buscaram ativamente um martírio, tornado duplamente atraente pelo fas cínio da moder moder na public publicidade idade.. A esquerda, com sua sua visão vis ão de de levante social, sempre atraiu muitos lunáticos, mais do que devia, mas os meios de comunicação de massa conferiram uma espécie espécie curiosa curiosa de leg itimidade a atos antianti- sociai sociais, s, s imples imples mente ao relatá relatá- los. O manifes tante em e m um um jogo de futebol torn tornaa-se, se, por um momento, momento , 0 centro' centr o' de todos todos os olhares. olhares . O criminoso que mata ou rapta uma celebridade assume o fascí nio de sua sua vítima. vítima . A quadr ilha Manson, Mans on, com o assassínio assassínio de de Sharon Tate e seus amigos, o Exército Simbionês de Liberta ção, com o rapto de Patty Hearst, compartilham com os assas sinos de Presidentes e quase assassinos dos recentes anos uma psicologia semelhante. Estas pessoas exibem, de forma exage rada, a obsessão predominante pela celebridade e uma deter minaç min ação ão de de consegu conseguii- la mes mesmo mo a custo de autoauto- interesses interesses ra cionais e da segurança pessoal. O narcisista divide a sociedade em dois dois g rupos: rupos: os ricos, r icos, gran gr andes des e .famosos, de um lado, l ado, e o rebanho comum, do outro. Os pacientes narcisistas, de acordo com Kernberg, "temem não fazer parte dos grandes, ricos e poderosos, e pertencer, ao contrário, ao grupo ‘medío cre', o que significa para eles sem valor e desprezível, e não ‘â média mé dia’, ’, no sentido comum do do ter mo” . Idola Idolatr tr am os heróis heróis só para par a se v olta ol tarr •contr co ntraa eles, quando qua ndo •são desapontados des apontados.. “ Inconscientemente Inconscientemente fix ados ados em um autoauto- objeto objeto idealizado, idealizado, ao qual continuam c ontinuam a desejar, desejar, . . . estas estas pessoa pessoass estão estão sempre sempre em busca de poderes onipotentes exteriores, de cujo apoio e apro vação tentam extrair força.” Desta forma, o assassino de Pre 115 11 5
sidentes estabelece com sua vítima uma intimidade mortífera, segue seus movimentos, liga-se à sua estrela ascendente. A máquina de promoção de massas encoraja esta identificação, ao exaltar e ao humanizar, simultaneamente, os Olímpicos, dotand otando- os dos dos mesmos mesmos apetites e ex centricidades centri cidades que reco r eco nhecemos em nossos vizinhos. Por meio de seu ato desespe r ado, o assassino ou qu quase- assassino assassino participa par ticipa de sua ex altada companhia. O próp pr óprr io assassín ass assínio io tom toma- se uma uma for f orma ma de espe espe táculo, táculo, e as v idas interiores interiore s de assassinos assassinos — as dificuldades dificuldade s de Oswald com Marina, o estado de espírito de Bremer, con forme registr reg istrado ado em seu diário — proporcionam propor cionam o mesmo mesmo en tretenimento popular que as vidas privadas de suas vítimas ou quasequase- vítimas. vítimas. Os pacientes narcisistas, de acordo com Kernberg, “com freqüência admiram algum herói ou indivíduo destacado” e “ ex perimen erimentam tam-- se como como part partee desta pessoa pessoa destacada” desta cada” . V êem o indivíduo a quem admiram como “mera extensão de si pró prios”. Se a pessoa os rejeita, “experimentam imediato ódio e medo, e reagem desvalorizando o antigo ídolo”. Assim como o heroísmo difere de modos sutis da celebridade, também a adoração do herói, que aprecia as ações do herói e espera emu emulálá- las, ou, pelo menos, menos, prov ar ser ser dignas dig nas de seu ex em plo, deve ser distinguida da idealização narcisista. O narcisista admira e iden identificatifica- se com c om “ venced ve ncedores ores”” , por medo de de ser ser rotulado de perdedor. Procura aquecer-se em seu brilho refle tido; contudo, seus sentimentos contêm uma forte mistura de inveja e sua admiração quase sempre se transforma em ódio, se o objeto de sua ligação faz algo que lhe lembre sua própria insignificância. Ao narcisista falta confiança em suas próprias capacidades, que o encorajariam a modelar-se pelo exaltado exemplo de outra pessoa. Assim, o fascínio narcisista pela cele bridade, tão exaltado em nossa sociedade, coincide historica mente com o que Jules Henry chama de “a erosão da capaci dade dade de emulação, emula ção, perda da capacidade capac idade de m mod odelarelar- se auto auto-conscientemente conscie ntemente segun seg undo do outra outr a pessoa” . Um dos estudantes estudantes de ensino médio entrevistados por Henry, disse sucintamente: “ A cho que que uma pessoa não não dev ia mol mold dar- se seg s egun undo do uma uma outra”. 116 11 6
Escolher uma pessoa para servir de modelo [escreve Henry] é um ato agressivo de vontade, e Bill é muito ansioso e pas s ivo iv o para par a fazê-lo. fazê- lo. . . . Qua ndo o cinismo, a resig re sig nação nação e a passividade entram na vida, o primeiro faz com que toda es colha emulativa de propriedades pareça vã, e a passividade e a resignação enfraquecem a vontade necessária à decisão emulativa. Mas positivamente, para se fazer uma escolha emu lativa moralmente profunda, deve estar presente alguma fé em si mesmo; uma certa porção de otimismo ingênuo e uma certa quantidade de vontade. Quando o superego consiste não tanto em ideais conscientes do ego, mas em fantasias arcaicas e inconscientes a respeito dos dos pais de dimensões dimensões sobre- hum humanas, a emulação e mulação tornatorna-se se quase inteiramente inconsciente e exprime não a busca de mo delos, delos, mas mas a vacuidade v acuidade das das autoauto- imagens. imagens. O protag onista de Something Happened, de Heller, a quem falta totalmente um “ otimismo otimismo ing ênuo” e um sen senso so do do eu, experimenta experimenta um “ ins ins tinto quase escravizante de ser quase que como todas as pes soas com quem estou. Acontece não só em assuntos de lin g uagem, uage m, mas também com açõ ações físicas. . . . Ele oper operaa incons cientemente. ciente mente. . . com uma uma determi deter minaçã naçãoo própria, própria, a despeito despeito de de minha vigilância e aversão, e geralmente não percebo que assumi a personalidade de outra pessoa, senão quando já estou completamente tomado.” O narcisista não con consegu seg ue identi identificarficar- se com alg uém, sem ver o outro como uma extensão de si mesmo, sem obliterar a identidade do outro. Incapaz de identificação, em primeiro lugar com os pais e outras figuras de autoridade, ele é, por tanto, incapaz de adorar algum herói ou de bloquear a des crença, que possibilita penetrar imaginativamente nas vidas de outros, ao mesmo tempo que são conscientes de sua existência independente. Uma sociedade narcisista idolatra antes a cele bridade do que a fama e substitui pelo espetáculo formas mais antigas de teatro, que encorajavam a identificação e a emula ção precisamente porque preservavam cuidadosamente uma certa distância entre a audiência e os atores, entre o adorador de heróis e o herói. 117
O Narcisismo e o Teatro do Absurdo. Ao mesmo íempo que a vida pública e até mesmo a privada assumiram as qualida des de espetáculo, um contramovimento procura moldar o espetáculo, o teatro, todas as formas de arte, à realidade — obliterar a própria distinção entre a arte e a vida. Ambos os processos popularizam um sentido do absurdo, este indicador da sensibilidade contemporânea. Observem a íntima ligação entre uma fartura de espetáculos, uma cínica consciência da ilusão que eles criam até mesmo em crianças, a inacessibili dade ao choque e à surpresa, e a resultante indiferença para com a distinção entre ilusão e realidade. Somos cínicas [escreve Joyce Maynard a seu próprio res peito e a respeito de uma filha de quatro anos, a quem levou ao circo], que vêem o alçapão no número do mágico, a almo fada na barriga dos Papais Noéis do Exército da Salvação, os truques de câmaras em comerciais da TV (“Não é verdade que a mão de um gênio saia da máquina de lavar”, Hanna me diz, “é só um ator usando luvas”.) Assim, no circo . . . ela enco en costo stou u- se em s ua poltr ona, minha min ha f ilha de quatro quatr o anos. anos . . . antecipando as quedas, duramente, tristemente, sabiamente, idosamente desencantada, mais interessada pelo algodão doce do que pelo Maior Espetáculo da Terra. . . . fá vimos espe táculos maiores, sem emoção, todo nosso mundo ê um excesso visual, um circo com dez picadeiros, com o qual nem mesmo os Irmãos Ringling podiam competir. Um homem enfiou sua cabeça na boca de um tigre e eu o apontei, com espanto maior do que sentia na verdade, para minha imperturbável e tran qüila amiga, e quando ela não olhou. . . virei sua cabeça, forcei-a a olhar. O tigre poderia ter arrancado a cabeça do domador, creio, e comido por inteiro e virado um macaco e ela nem teria piscado um olho. Vimos o que podia ter sido duas dúzias de palhaços sair de um Volkswagen, sem que Hanna soubesse o que aquilo queria dizer. Também não era só o conhecimento de que eles emergem de um alçapão escon dido pela serragem do chão que a impedia de olhar. Ainda que conhecesse o truque ali envolvido, pouco ter-se-ia im portado. portado . 118
A s uper uperex ex posição a ilusões f abrica abr icadas das log o destr des tró ói seu poder de representação. A ilusão de realidade se dissolve, não em uma sensação exacerbada da realidade, como pode ríamos esperar, mas em uma notável indiferença pela reali dade. Nosso senso de realidade parece repousar, bastante curiosamente, em nosso desejo de ser envolvidos pela ilu são representada da realidade. Mesmo uma compreensão ra cional das técnicas por meio das quais uma dada ilusão é pro duzida, não destrói necessariamente nossa capacidade de expe rimentá rimentá-- la como como representação representação da realidade. A ânsia de com preender os truques de um mágico, como o recente interesse pelos efeitos especiais por trás de um filme como Star Wars (Guerra nas Estrelas), compartilha, com o estudo de literatura, um desejo de aprender dos mestres da ilusão lições sobre a própria realidade. Contudo, uma completa indiferença até mesmo pela mecânica da ilusão denuncia o colapso da pró pria idéia de realidade, dependente, em todos os pontos, de uma distinção entre natureza e artifício, realidade e ilusão. Esta indiferença trai a erosão da capacidade de se interessar por algo que seja exterior ao eu. Assim, a criança conhecedora do mundo, mundo , sem s em se emocionar emo cionar , se enche de algod alg odãão- doce doce e “nem liga”, ainda que soubesse como vinte e quatro palhaços haviam conseguido entrar juntos em um só carro. A históri his tóriaa da inov ino v ação aç ão teatral teat ral ilustr ilus traa o princ pr inc ípio de que um senso de realidade viceja nas convenções da ilusão formalizada e s-e contrai quando quan do essas essas convenç convençõ ões entra m em colapso. O teatro experimental durante muito tempo promoveu uma guerra contra a ilusão, tentando solapar as convenções teatrais que encorajam o espectador a aceitar a peça como uma repre sentação da realidade. Ibsen, mestre dessas convenções, disse a respeito de sua obra: “A ilusão que eu queria criar era a de realidade”. Os dramaturgos de vanguarda no século vinte, por outro lado, acreditam que a própria realidade seja uma ilusão e, assim, não fazem qualquer tentativa de sustentar ilu sões em suas obras. As peças de Pirandello exploravam a rela ção entre fato e ilusão e “questionavam o direito do mundo comum de ser considerado mais real do que o mundo fabri cado da peça”. Brecht, em vez de tentar disfarçar as conven ções do palco, deliberadamente chamava a atenção para elas, 119 11 9
de modo a subverter a suspensão da descrença. Do mesmo modo, novelistas experimentais fizeram o que puderam para alienar o leitor, leit or, impedirimpedir- lhe lhe a identif identif icação ica ção com os os persona pers ona gens gens de suas suas obras, obras , e de de recordar- lhe lhe em todas as opor opo r tuni tun i dades ades que que a arte arte — assim como como a própr própr ia vida v ida — é uma f ic ção: a imposição arbitrária de sentido a experiências, de outro modo sem sentido. Os escritores modernos inverteram a fór mula de Ibsen: a realidade que desejam recriar em suas obras é a da ilusão. Os realistas do século dezenove compreenderam que a ve rossimilhança dependia em parte da capacidade do artista de manter uma distância entre a audiência e a obra de arte. A distância, mais claramente exemplificada na separação física entre atores e assistência no teatro, paradoxalmente permitiu ao espectador observar eventos no palco como se fossem cenas da vida real. “ O efeito da da peça” , escreveu escreveu Ibs Ibs en, “ depend dependee muito de fazer com que o espectador se sinta como se estivesse, na verdade, sentado, ouvindo e olhando para eventos que estavam estav am acontecendo na na vida vid a r e al.” Ele queixou queixou-- se de qu que uma produção de Ghosts (Espectros) em 1883 deixou pouco espaço entre espectadores e o palco. Em Beyreuth, Wagner construiu um segundo arco de proscênio sobre a beira do poço da orquestra, além do arco sobre o palco, para criar um "espaço es paço místico” místi co” entre a audiência e o palco. palco. “ Faz com que o espectador imagine que o palco esteja bem distante, embora o veja com toda a clareza de sua proximidade real; e isto, por sua vez, dá origem à ilusão de que as pessoas que estão estão nnele ele possuem estatura estatura maior ma ior , sobres obre- human humana.” a.” Na medida em que a arte abandona a tentativa de tecer ilu sões em torno da audiência e de apresentar uma versão au mentada da realidade, ela tenta fechar o espaço entre audiên cia e atores. Algumas vezes ela justifica este procedimento, invocando teorias que remontam às origens do drama como ritual religioso, comunhão crgiástica. Infelizmente, a tentativa de restaurar um senso de adoração coletiva não consegue res taurar a unidade de crença que antes dava vida a essas formas. A mistur mis turaa dos atores e audiênc audi ência ia não f az do especta es pectador dor um comung comung ante; ela meramente meramente lhe proporciona proporc iona — se não não o em purr purr ar ao mesmo tempo tempo para fora f ora do teatro teatro — a oportunidade 120
de admiraradmirar- se a si mes mesmo mo no novo papel pa pel de pseud pseudoo- ator, uma experiência qualitativamente não diferente (mesmo que vestida com a retórica da vanguarda) daquela da audiência de estúdio em espetáculos de televisão, que se apaixona por imagens de si mesma periodicamente refletidas nos monitores. Nos desem penhos do Living Theater, na produção bastante aclamada Dionysus’69 e em outras sensações de curta duração do final dos anos sessenta, os atores alternadamente insultavam os espectado espectadores res e fazi fa ziam am amor com eles, eles, exortand exortando- os a se jun tar aos aos atores no palco em pseud pseudoo- orgias ou gestos gestos de soli s oli dariedade política. “Não desejo interpretar Antígona”, disse Judith Malina, “quero interpretar Judith Malina”. Essas estra tégias abolem a audiência, conforme observou Eric Bentley, só para aumentar a companhia atuante. O s urg imento do do teatro do do absurdo, argument argumentou ou-- se, “ parece espelhar a mudança na forma predominante de desordens men tais que têm sido observadas e descritas, desde a Segunda Guerra Mundial, por um número cada vez maior de psiquia tras”. Enquanto o drama “clássico” de Sófocles, Shakespeare e Ibse Ibse n voltavavoltava-se se para conflitos c onflitos associados associados a neuroses neuroses cláss clássi i cas, o teatro do absurdo de Albee, Beckett, Ionesco e Genet centraliza centraliza-- se no vaz io, no isolamento, is olamento, na solidã sol idãoo e no deses deses pero, experimentados pela personalidade fronteiriça. A afini dade entre o teatro teatr o do absurdo e o “ medo de relações relações ínti ínt i mas”, “sentimentos resultantes de impotência, perda e raiva”, “medo de impulsos destrutivos” e “fixação na onipotência pri mitiva” do fronteiriço está não só no conteúdo dessas peças, mas — no espírito espírito da presente presente discuss discussãão — em sua sua for ma. O dramaturgo contemporâneo abandona o esforço de retratar verdades coerentes e geralmente reconhecidas, e apresenta a intuição pessoal da verdade do poeta. A característica desva lorização da linguagem, uma incerteza quanto ao tempo e o lugar, cenários esparsos e falta de desenvolvimento do enredo evocam o mundo árido do fronteiriço, sua falta de fé no cres cimento ou desenvolvimento das relações de objeto, sua “ob servação várias vezes repetida de que as palavras não impor tam, só a ação é importante”, e, sobretudo, sua crença de que o mundo consiste consiste em ilusõ ilusões. es. “ Em vez ve z do caráter caráter neurótico, com conflitos bem estruturados em torno do sexo proibido, 121
da autoridade ou da dependência e independência no interior de um sistema familiar, vemos caracteres cheios de incerteza a respeito do que é real.” Esta incerteza hoje invade toda forma de arte e cristaliza-se em uma imagística do absurdo que entra na vida cotidiana e encoraja uma abordagem tea tral da existência, uma espécie de teatro absurdo do eu. O Teatro da Vida Cotidiana. Várias correntes históricas con vergiram em nossos dias para produzir não somente em artis tas, mas em hGmens e mulheres comuns um ciclo crescente de autoconscientização autoconscientiz ação — um sentido do eu como um ator sob sob o constante escrutínio de amigos e estranhos. Erving Goffman, o sociólogo do eu atuante, escreve em uma passagem carac terística: terística: “ Como sere seress humanos humanos , somos somos pre press umiv umivelmente elmente cria cri a turas de impulsos variáveis, com humores e energias que mu dam a cada momento. Como caracteres representando para uma audiência, no entanto, não podemos estar sujeitos a altos e baixos. baix os. . . . Esp Esperaera- se uma certa burocr bur ocrat atiza ização ção do espírito espíri to de forma que possamos confiar em mostrar um desempenho homogêneo a cada momento indicado.” Esta “burocratização do espírito” tem-se tomado cada vez mais opressiva e é, agora, amplamente reconhecida, graças a Goffman, como um impor tante elemento do malmal- estar estar contemporâneo. contemporâneo. A autocons autoc onsciên ciência cia que zomba zo mba de todas as tentat te ntativ ivas as de ação ação ou recreação espontâneas tem origem, em última análise, na crença declinante na realidade do mundo exterior, que perdeu sua proximidade com uma sociedade impregnada de “infor mações ações s imbolicamente mediadas media das”” . Quanto Quan to mais o homem se se transforma em objeto em seu trabalho, mais a realidade assume a aparência de ilusão. Como as maquinações da economia e da ordem or dem social modernas tornamtornam- se cada vez mais inacessív inacessíveis eis à inteligência comum, a arte e a filosofia abdicam da tarefa de ex exp plicálicá- las às às ciências supostamente suposta mente objetiv as da sociedade, as quais, elas próprias, recuaram do esforço de dominar a r ealidade, substituin substituindo do-- a pela classificaçã class ificaçãoo de de triv tri v ialidades. ialidades . A realidade, assim, apresenta-se, de forma igual a leigos e a “cientistas”, como uma rede impenetrável de relações sociais — como “ desempenh desempenhoo de de papéis papéis ” , a “ representaç repres entaçãão do eu na 122
vida cotidiana”. Para o eu atuante, a única realidade é a identidade que ele pode construir a partir de materiais forne cidos pela publicidade e pela cultura de massa, temas de filmes e de ficção populares, e fragmentos tirados de vasto espectro das tradições culturais, todos eles contemporâneos à mente contemporânea.* De modo a polir e aperfeiçoar o papel que escolheu para si, o novo Narciso olha para seu próprio reflexo, não tanto por admiração, mas por uma incessante procura de imperfeições, sinais de fadiga, decadência. A vida torn tornaa- se uma obra obra de arte, ar te, ao passo passo que que “ a primeira primeir a obra obr a de arte de um artista”, de acordo com o pronunciamento de Norman Mailer, “é a modelagem de sua própria personalida de”. O segundo destes princípios tem sido adotado, agora, não * E m Slaughterh Slaughterhou ousese- Five, novela escrita "um pouco no estilo te legráfico esquizofrênico dos contos” (isto é, com deliberado descaso pelo sentido convencional de tempo), Kurt Vonnegut faz uma observação de passagem, que ilustra o ecletismo com o qual a moderna sensibilidade aborda a cultura do passado. “O que amamos em nossos livros é a profundidade de muitos momentos maravilhosos, vistos todos ao mesmo tempo.” O impacto fragmentador dos meios de comunicação de massa, de acordo com Marshall McLuhan, "torna todas as civilizações contem porân porâneas eas à nossa” nossa” . É interessante comparar essas expressões animadas da sensibilidade contemporânea com a argumentação de dois críticos marxistas da lite ratura, William Phillips e Philip Rahv, de que o senso crítico está neces sariamente radicado no sentido histórico, no sentido de continuidade. "Faltando- lhe uma cont inuidade de de dese nvol vimento , a crítica torn tornaa- se inconsciente de sua própria história, e considera toda crítica passada como uma ordem simultânea de idéias. Em qualquer ensaio crítico, podemos encontrar as idéias de Aristóteles, Hegel e Croce, por exemplo, suavemente repousando lado a lado... Dentro deste caos, a necessidade social afirmaafirma- se, natura natura lmente [ ou seja, seja, a moda muda ; a conscie conscie ntização muda; novas gerações amadurecem e são influenciadas pelo peso acumu lado do passado], porém somente como uma força cega, imprevisível, ela mesma soman somando do-- se à confusão de cr íticos íticos incapazes incapazes de compre compre en der as correntes de mudança que nunca esmorecem.” Embora essas reflexões tenham sido dirigidas ao humanismo literário dos anos vinte e trinta, elas se aplica m com ig ual força à rev olta póspós- modernista modernista contra o tempo. “ Não se se espera espera que que as pessoa pessoass olhem par a trás” , escreve V onne g ut. “Com certeza eu não mais o farei.” De acordo com o estudo da per sonalidade fronteiriça e do teatro do absurdo, já citado, "Clinicamente, muitos dos pacientes fronteiriços exprimem uma tal incapacidade de integrar experiências passadas ao presente e têm sentimentos quase de pânico forçados forçados a fazêfazê- lo” lo” .
123 12 3
só por aqueles que escrevem “recados para mim mesmo”, para publicação, mas pelo artista comum nas ruas. Todos nós, atores e espectadores igualmente, vivemos cer cados de espelhos. Neles, procuramos segurança quanto à nossa capacidade de cativar ou impressionar outras pessoas, ansiosamente procurando por manchas que possam prejudicar a aparência que que desejam desejamos os projeta projetar. r. A indús indús tria tr ia da publici public i dade encoraja deliberadamente esta preocupação com as apa rências. Nos anos vinte, “as mulheres em anúncios estavam constantemente observ observan and do- se, sem s emp pre autocríticas autocr íticas.. . . . Uma notável proporção de anúncios em revistas dirigidas às mulhe res res represen representavatava- as olhan olhando do-- se em espelhos. espelhos. . . . Os anúncios anúncios dos anos 20 eram bem explícitos a respeito desse imperativo narcisista. Usavam declaradamente figuras de nus velados e mulhere mulheress em poses poses autoauto- eróticas eróticas para encor ajar a autoc autocom om-paração e recordar às mulheres a primazia de sua sexualida de.” Um fascículo anunciando conselhos de beleza colocou em sua sua capa capa um nu com um título: “ Sua Ob Obra- Prima — V ocê” . Hoje em dia o tratamento de tais temas é mais explícito do que nunca; sobretudo, a publicidade encoraja tanto homens como mulheres a ver a criação do eu como a forma mais alta de criatividade. Num dos primeiros estágios do desenvol vimento capitalista, a industrialização reduziu o artesão ou o campon camponês ês a um proletá prolet ário, tirou tirou- lhe lhe terra e ferr amentas, e encalh encalhou ou-- o no mer mercado, cado, sem nada para vend ve nder er,, a não ser seu poder de trabalho. Em nossos dias, a eliminação de habilida des, não só do trabalho manual, mas também de funções exe cutivas, tem criado condições nas quais o poder de trabalho mais assume a forma da personalidade, do que da força ou da inteligência. Homens e mulheres, igualmente, têm de pro jeta je tarr uma imag ima g em atrae atr aente nte e de tornartornar- se s imultane imult aneame amente nte atores e conhecedores de seus próprios desempenhos. As A s mudança muda nçass nas nas relações re lações sociais socia is de produç pr odução, ão, que deram der am à sociedade a aparência de algo opaco e impenetrável, deram origem também à nova idéia da personalidade, descrita por Richard Sennett em The Fali of the Public Man. Enquanto o conceito de caráter do século dezoito acentuava os elemen tos comuns à natureza humana, o século dezenove começou a ver a personalidade como a expressão ímpar e idiossincrática 124
de traços individuais. A aparência externa, sob este ponto de vista, involuntariamente exprimia o homem interior. As pes soas soas logo log o tornaram tornaram-- se obcecadas, de acordo com S enn ennett, ett, com o medo de se mostrar, inadvertidamente, por meio de suas ações, expressões faciais e detalhes das roupas. No mesmo sé culo, como mostrou Edgar Wind, o crítico de arte Giovanni Morelli propôs a teoria de que as pinturas originais poderiam ser distinguidas das falsificações pelo exame minucioso de detalhes detalhes insig nificantes nifica ntes — a exp ex pressã ress ão característica caracter ística de uma orelha ore lha ou de um olho — a mão presente presente do mestre. mestre. “ Cada pintor”, Morelli insistiu, “tem suas próprias peculiaridades que lhe escapam, sem que delas tenham consciência.” Naturalmente, estas descobertas sobre a personalidade e sua expressão involuntária tiveram o efeito, não só em críticos e em artistas, mas também no leigo, de encorajar o auto-escrutínio autoconsciente. Nunca mais puderam os artistas ficar inconscientes ao detalhe; de fato, a nova atenção sobre o de talhe, como apontou um crítico, obliterou até mesmo a noção de detalhe. De modo semelhante, na vida cotidiana o homem médio médi o tornou tornou- se um conhecedor de seu próprio própr io desemp dese mpenho enho e do desempenho dos outros, levando as habilidades de um novelist nove listaa à tarefa tare fa de de “ decodificar decodif icar detalhes detalhes isolad is olados os de de aparên cia”, conforme escreve Sennett sobre Balzac, “aumentando o detalhe, que que se torna tor na o emblema do do homem tot al” . Contudo, Cont udo, o domínio dessas novas habilidades sociais, ainda que aumen tando a satisfação estética, criou novas formas de incômodo e ansiedade. Preso em sua autoconsciência, o homem moderno sonha com a inocência perdida do sentimento espontâneo. In capaz de exprimir emoções sem calcular seus efeitos sobre os outros, ele duvida da autenticidade de suas expressões sobre os outros e, conseqüentemente, extrai pouco conforto das rea ções da audiência quanto a seu próprio desempenho, ainda que aquela afirme estar profundamente emocionada. Andy Wa W a r hol ho l queixa- se: Dia após dia olho no espelho e ainda vejo algo — uma nova espin es pinha. ha. . . . Mer g ulho um cotonete J ohnson & J ohnson no álcool álcoo l Johnson J ohnson & J ohnson ohnso n e eesfreg sfregoo- o contra contr a a espin es pinha. ha. . . . 125
Enquanto o álcool está secando não penso em nada. Como é de bom bom-- tom. tom. Sempre S empre de bom bo m gosto. g osto. . . . Q uand ua ndoo o álcool álco ol seca, estou pronto para aplicar um curativo cor-de-carne para espin es pinhas. has. . . . E ntão, agora, ag ora, a espinha e spinha está coberta. cobert a. Mas, e eu, eu, estarei coberto? Tenho de olhar para o espelho à procura de mais algumas pistas. Nada está faltando. Está tudo lá. O olhar sem afeto. afeto. . . . A lang l anguid uidez ez entediada, a palidez sombria. sombria. . . . Os lábios lábios cinzentos. cinzentos. O cabelo cabel o brancobranco- prateado hirs hirs uto, macio e metálico. . . . Nada Na da está f alta al tando. ndo. Sou tud t udoo o que que meu álbum álbu m de recortes diz que sou. A sensação se nsação de seg se g urança dada pelo espelho prov pr ov a ser f ugaz. uga z. Cada novo confronto com o espelho traz novos riscos. Warhol con confessa que é “ ainda obcecado pela idéia de olhar olha r no espelho espelho e não ver ninguém, nada”. A análise anális e de relaçõ re lações es interpess inter pessoais oais no teatro teat ro da v ida coti cot i diana — uma análise que que deliber adamente está aliada à super super fície da relação social e que não faz tentativas de descobrir suas suas profun prof undezas dezas psicológicas sicológicas — leva lev a a conclu conclusões sões semelhan s emelhan tes às da psicanálise. A descrição psicanalítica do narcisista patológico, cujo senso de individualidade depende da valida ção de outros a quem ele deprecia, não obstante, coincide, em muitos aspectos, com a descrição do eu atuante da crítica lite rária e da sociologia da vida cotidiana. O desenvolvimento que criou uma nova consciência de motivos e expressões involun tários tários — entre eles eles está nada menos menos que que a popular ização iz ação dos modelo modeloss psiquiátricos psiquiátric os de pensamento — não não pode pode ser sepa sepa rado das mudanças históricas que produziram não só um novo conceito de personalidade, mas uma nova forma de organi zação da personalidade. O narcisista patológico revela, a um nível mais profundo, as mesmas ansiedades que, em forma mais branda, bra nda, tornaramtornaram- se tão tão comuns às às relações relações cotidia c otidianas nas.. As A s for fo r mas predo pr edomina minante ntess de v ida id a social soc ial,, como v imos , enco rajam muitas formas de comportamento narcisista. Sobretudo, elas alteram o processo de socialização — como veremos no Capítulo V II — em aspec aspecto toss que dão dão um posterior posterior enco e ncora ra jament ja mentoo a padrões padr ões narcis narc isis istas tas,, enraizandoenra izando- os nas ex periências per iências primeiras do indivíduo.
O Distanciamento Irônico como Fuga à Rotina. Ainda não esgotamos, contudo, o que pode ser aprendido somente do papel da teoria. Em nossa sociedade, o autoauto- escru escr utínio tínio ansioso (não confundi- lo com introspecção intro specção crítica) não não só serve para regular a informação assinalada a outros e interpretar os sinais recebidos; ele também estabelece uma distância irônica da mortal rotina da vida cotidiana. Por outro lado, a degradação do trabalho torna as habilidades e a competência cada vez mais irrelevantes para o sucesso material, encorajando, assim, a apresentação do eu como uma mercadoria; por outro lado, desencoraja compromissos com o trabalho e leva as pessoas, como única alternativa para o tédio e o desespero, a ver o trabalho com distanciamento autocrítico. Quando os traba lhos consistem em pouco mais do que movimentos sem senti do, e quando as rotinas sociais, antes elevadas à dignidade de rituais, degeneram em representação de papéis, o traba lhador lha dor — quer quer ele se se canse canse numa linha lin ha de montagem montage m ou fique com um trabalho bem remunerado em uma grande burocracia — procura proc ura escapar da da sensação sensação resu res ultante de inautenticidade , criando cr iando uma uma distância irôn ir ônica ica de sua sua rotina diária. T enta transformar a representação de papéis em uma elevação sim bólica da vida diária. Procura refúgio em piadas, zombarias e no cinismo. Se solicitado a desempenhar uma tarefa desa gradável, torna claro que não acredita nos objetivos de au mento de eficiência e de maiores saídas da organização. Se vai a uma reunião social, mostra, por suas ações, que tudo é um jogo — falso, artificial, insincero; uma caricatura gro tesca de sociabilidade. Deste modo, ele tenta tornar-se invul nerável às pressões da situação. Ao recusar-se a levar a sério as rotinas que tem de executar, nega a capacidade delas de lhe causar danos. Embora assuma ser impossível alterar os limites férreos impostos a ele pela sociedade, uma conscientização dis tanciada desses limites parece fazer com que tenham menor importância. Ao desmistificar a vida cotidiana, transmite para si e para os outros a impressão de que a superou, ainda que faça os movimentos que se esperam dele. À medida me dida que que um nú núme merr o cada vez ve z maior ma ior de pessoas se v ê trabalhando em funções que estão de fato abaixo de suas capa cidades, a postura de cínico distanciamento torna-se o estilo 127
dominante da relação cotidiana. Muitas formas de arte popular apelam apela m para este senso senso de de esperteza e, porta por tanto, nto, reforçam ref orçam-- no. no. Elas parodiam papéis e temas familiares, convidando a au diência a con considerarsiderar- se superior às circunviz cir cunviz inhanças. inhanças . Formas populare popularess começam come çam a parodiar- se a si mesmas: wester wes terns ns re produzem we weste stern rnss-,, seriados como Fernwood, Soap e Mary Hartman, Mary Hartman, asseguram ao espectador sua própria sofisticação, ironizando as convenções das novelas seriadas. Todavia, muito da arte popular continua sendo romântica e escapista, foge deste teatro do absurdo e promete fuga à rotina, em vez de distanciamento irônico. A publicidade e o romance popular fascinam suas audiências com visões de rica experiên cia e aventura. Prometem não o distanciamento cínico, mas uma parte da ação, uma parcela do drama, em vez de cínico testemunho. Emma Bovary, consumidor prototípico da cultura de massa, sonha ainda; e seus sonhos, compartilhados por mi lhões, intensificam a insatisfação com trabalhos e rotina social. A acomo ac omodação dação não r ef lex le x iva iv a à r otina ot ina tornatorna- se progre prog ress ssiv iva a mente mais difícil de ser alcançada. Enquanto a moderna in dústria condena as pessoas a trabalhos que insultam sua inte ligência, a cultura de massa da fuga romântica enche suas cabeças com visões de experiência que estão além de suas pos ses ses — assim como de de suas suas capacid ca pacidades ades emocionais e imagi imag i nativas nativas — , contribui contri buindo, ndo, portanto, para uma ainda maior des valorização da rotina. A disparidade entre romance e realidade, o mundo das celebridades e o mundo do trabalho diário, dá origem a um irônico distanciamento que anestesia a dor, mas também invalida a vontade de mudar as condições sociais, de fazer melhoramentos, ainda que modestos, no trabalho e no lazer, e de restaurar o significado e a dignidade da vida cotidiana. Sem Saída. A fuga por meio da ir onia e da da autocon autoconscientiza scientiza-ção crítica é, em qualquer caso, ela própria, uma ilusão; na melhor das hipóteses, dá somente alívio momentâneo. O dis tanciamento logo se torna rotina por si mesmo. A conscien tização, comentando come ntando a conscientização, conscientiz ação, cria um . ciclo crescen crescente te de autoconsciência, que inibe a espontaneidade. Ela intensi128
fica a sensação de inauteníicidade que surge, a princípio, do ressentimento contra os papéis sem sentido, prescritos peia indústria moderna. Papéis autocriados tornam-se tão constran gedores como os papéis sociais dos quais se pretende que proporcionem o distanciamento irônico. Sonhamos com a sus pensão da da autoconsciência autocons ciência,, da atitude atit ude pseudo pseudo-- analítica que que se tornou a segunda natureza; contudo, nem a arte, nem a reli gião, historicamente os grandes emancipadores da prisão do eu, retêm o poder de bloquear a descrença. Em uma sociedade baseada tão amplamente em ilusões e aparências, as ilusões supremas, arte e religião, não têm futuro. Credo quia absurdum, o paradoxo da experiência religiosa no passado, tem pouco sentido em um mundo onde tudo parece absurdo, não somente os milagres associados à fé e à prática religiosas. Quanto à arte, ela não só deixa de criar a ilusão de reali dade, mas sofre da mesma crise de autoconscientização que aflige o homem na rua. Os novelistas e dramaturgos chamam a atenção para o artificialismo de suas próprias criações e desencorajam o leitor a se identificar com os personagens. Por meio de ironia e ecletismo, o escritor se distancia de seu tema, mas, ao mesmo tempo, torna-se tão consciente desta técnica de distanciamento, que acha cada vez mais difícil escrever sobre algo, com exceção da dificuldade de escrever. Escrever sobre o escrever torna-se então, em si mesmo, um objeto de autoparódia, como quando Donald Barthelme insere em uma de suas suas histórias histórias a estranh estr anhaa reflex ref lexãão: “ Outr a histó hist ória sobre sobre es crever uma história! Outro regressus in infinitum! Quem não prefere uma arte que, ao menos exteriormente, imite algo mais do que seus próprios processos? Que não proclame continua mente ‘Não se esqueça de que que sou s ou um um a r tif ti f ício! íci o! ’ ” No mesmo filão, John Barth pergunta, no decorrer da com posição de uma novela: “Como se escreve uma novela? Como encontrar o canal, emaranhado nestes córregos e fendas? Con tar histórias não é o que faço de melhor; não é de ninguém; meu enredo enredo não não sobe e cai em estágios estágios sem sentido m a s . . . faz digressões, recua, hesita, geme em seu interior, et cetera, entra em colapso, morre.” O “distanciamento emocional” do escritor experimental, de acordo com Morris Dickstein, ameaça desintegraresintegrar- se em catatonia. Desis Des istindo tindo do esforço de de “ domi 129 12 9
nar nar a realidade” re alidade” , o escritor recu r ecuaa para uma autoauto- aná análise super super ficial que destrói não só o mundo exterior, mas também a s ubjetiv ubjetiv idade mais mais profunda, pro funda, “ que que dá asa asass à imag ima g inação. . . . Suas incursões pelo eu são tão superficiais como suas excur sões no mundo.” A análise anális e psicológi psic ológica ca mais uma vez r eforça ef orça o que aprende apr ende mos da sociologia da arte e da sociologia do desempenho de papéis na vida cotidiana. Embora a incapacidade de bloquear a descrença se origine nas convenções artísticas variáveis e na autoconsciência pela qual tentamos nos distanciar da vida diária (e que nos nos apris iona por si mes mesma), ma), este este autoauto- escru escr utínio tínio vigilante possui também uma base psicológica. Aqueles que se sentem seguros com a capacidade do ego de controlar o id, de acordo com Kohut, encontram prazer em adiar ocasional mente o processo secundário (por exemplo, no sono ou na ativ idade sex se x ual), desde desde que saibam sa ibam qu que podem retomá retomá- lo quando o desejar. O narcisista, por outro lado, considera seus próprios desejos tão ameaçadores que, com freqüência, experimenta a maior dificuldade em dormir, em elaborar o impulso impulso sex ual em fantasia (“ o melhor melhor campo campo para par a provar a capacidade de uma pessoa de desinvestir os processos secun dários”), ou em suspender a realidade corrente durante as sessões psicanalíticas. O narrador de Something Happened, de Heller, Heller , confessa: confessa: “ SintoSinto- me g eralm eral mente conster conster nado nado ao ao acor acor dar de um sono profundo, sem sonhos, para perceber quão longe da vida tenho estado, e quão indefeso eu era enquanto estava estava lá. . . . Poderia Poderia nã não ser capaz de retornar. ret ornar. Não gosto gosto de perder o contato com a realidade, inteiramente.” Em sessões psiquiátricas como no teatro, as convenções que cercam a relação psicanalítica normalmente suportam o “de sinvestimento da realidade corrente”: a “diminuição dos estí mulos das circunvizinhanças” torna possível voltar-se “para um mundo de lembranças tratadas imaginativa e artistica mente”. Com alguns pacientes, no entanto, a “incapacidade de tolerar o desinvestimento da realidade corrente e de aceitar a ambigüidade da situação analítica” torna-se, ela própria, o problema central da análise. Como sempre, Kohut acrescenta, não é bom confrontar o paciente com um argumento moral 130
contra esta incapacidade incapacida de ou pers persu uadi- lo ou exortá ex ortá-- lo a mudar seus modos. O recente ataque à ilusão teatral, que mina a religião da arte do século vinte tão eficazmente quanto o ataque às ilu sões religiosas do século dezenove minou a própria religião, participa parti cipa do temor da fantas ia, associado associado à resistên res istência cia ao “ de sinvestimento da realidade corrente”. Quando a arte, a reli gião e, finalmente, até o sexo perdem seu poder de propor cionar um alívio imaginativo da realidade cotidiana, a banali dade da pse pseud udoo- autoconscientização autoconscientiz ação torn tornaa- se tão tão esmagadora, esmag adora, que os homens acabam por perder sua capacidade de prever qualquer saída, exceto na anulação e desolação totais. Warhol nos dá uma boa descrição do estado mental resultante: A melhor me lhor mane ma neir iraa de amar am ar é não pensar pensa r em amor. amor . A lg umas pessoas podem jazer sexo e realmente deixam suas mentes vazias va zias e enchemenchem- nas de de sexo; outras pessoas nunca conseg uem esvaziar suas mentes e enchê-las de sexo, portanto, enquanto fazem sexo estão pensando “Será que está realmente aconte cendo comigo? Estou realmente jazendo isto? Isto é muito estranho. Há cinco minutos eu não estava fazendo isto. isto . Daqui a pouco não estarei fazendo isto. O que diria mamãe? Como terão as pessoas pensado em fazer isto, um dia? Portanto, o primeiro tipo de pessoa. pessoa . . . está em melhores condições. O outro tipo tem de encontrar algo mais para se relaxar e se perder. Preso na na pseudopseudo- autocon autoconsciênc sciência ia de si próprio próprio,, o nov o Nar Na r ciso, de bom gra g rado, do, refugiarrefugiar- se em uma idée fixe, uma com pulsão pulsão neurótica, neurótica, uma “ sublime sublime obsess obsessãão” — qualquer coisa coisa para afastar sua mente de sua própria mente. Áté mesmo a aquiescência não reflexiva ao trabalho duro diário, na me dida em e m que que a poss pos s ibilidade ibilida de de conseg consegu ui- la recua recua na distância dis tância histórica, chega a parecer-se com um estado mental quase inve jáv e l. É um tr ibuto ao horr hor r or peculia pec uliarr da v ida conte con tempor mporânea ânea,, que faz os piores piores aspect aspectos os de de tempos tempos primitiv os — o estupor estupor das massas, as vidas obsessivas e dirigidas da burguesia — parecer atraentes por comparação. O capitalista do século dezenove, compulsivamente diligente na tentativa de livrar-se 131
da tentação, sofria tormentos infligidos por demônios interio res. O homem contemporâneo, torturado, por outro lado, pela autoconsciência, volta-se para novos cultos e terapias, não para se libertar de obsessões, mas para encontrar sentido e finali dade na vida, encontrar algo pelo que viver, abraçar, precisa mente uma obsessão, ainda que a passion maítresse da própria terapia. Ele, de boa vontade, trocaria sua autoconsciência pelo esquecimento, e sua liberdade de criar novos papéis por algu ma forma de ordem externa, quanto mais arbitrária for, me lhor. O herói de uma recente novela renuncia à livre escolha e vive viv e de acordo acordo com a ordem or dem dos dos dados: dados: “ Estabeleci em minha mente, neste instante, e para sempre, o princípio jamais questionado de que o que os dados ditarem, eu executarei”. Os homens costumavam lançar impropérios contra a ironia do destino; agora preferem a ironia da incessante autocons ciência. Enquanto épocas anteriores procuraram substituir a razão pela ordem arbitrária, tanto de fora como de dentro, o século vinte julga a razão, na forma contemporânea aviltada da autoconsciência irônica, um senhor severo; procura reviver formas mais anteriores de escravização. A vida de prisão do passado parece-se, em nossos tempos, com a própria libertação.
132
V
A Deg radação ra dação do Espo Es porte rte
O Espírito do Jogo versus a Mania da Exaltação Nacional. Entre as atividades pelas quais o homem busca alívio para a vida cotidiana, os jogos oferecem, em muitos aspectos, a forma mais pura de fuga. Assim como o sexo, as drogas e as bebidas, obliteram aqueles a consciência da realidade diária, mas o fazem não pela diminuição da consciência, mas por sua elevação a uma nova intensidade de concentração. Sobretudo, não possuem efeitos colaterais, ressacas ou complicações emo cionais. Os jogos satisfazem simultaneamente à necessidade do livre fantasiar e da procura de dificuldades gratuitas; com binam exuberância infantil e complicações criadas deliberada mente. Ao estabelecer condições de igualdade entre os joga dores, de acordo com Roger Caillois, os jogos tentam substituir as condições ideais pela “confusão normal da vida cotidiana”. Recriam a liberdade, a lembrada perfeição da infância e a distinguem da vida comum por meio de limites artificiais, den tro dos quais os únicos empecilhos são as regras, às quais os jog jo g adores ador es se s ubmete ubmet e m esponta es pontanea neament mente. e. Os jogos jog os atr at r aem ae m a habilidade e a inteligência, a máxima concentração quanto às finalidades, em nome de atividades profundamente inúteis que não contribuem para a luta do homem contra a natureza, para a riqueza ou para o conforto da comunidade, ou para sua sobrevivência física. A inut in utililid idad adee dos jogos jog os tornatorna- os ofens of ensiv ivos os a r efor ef ormist mistas as sociais, voluntários da moralidade pública ou críticos funcionalistas da sociedade, como Veblen, que viu na futilidade dos esportes da classe alta um sobrevivente anacrônico do milita rismo e das façanhas. Todavia, a “futilidade” do jogo, e nada mais , ex plica seu apelo -— seu artif art ificia icialis lismo, mo, os os obstá obst áculos 133
arbitrários que estabelece, sem outro propósito senão desafiar os jogado joga dores res a sup superáerá- los, a ausência de qualquer qualque r obje o bjetiv tiv o uti ut i litário ou enaltecedor. Os jogos rapidamente perdem seu en canto quando impostos a serviço da educação, do desenvol vimento do caráter ou do melhoramento social. Hoje, o ponto de vista oficial sobre os efeitos benéficos e globais do esporte, que substituiu as várias ideologias utilitá rias do passado, acentua suas contribuições para a saúde, apti dão dão e, conseqü conse qüente entemente, mente, para par a o bembem- estar da nação, conside c onside rado como a soma dos “recursos humanos” da nação. A versão “socialista” desta ideologia dificilmente difere da capitalista promulgada, por exemplo, por John F. Kennedy em seus can sativos pronunciamentos sobre a aptidão física. Tentando jus tificar a criação de seu Conselho Presidencial para a Aptidão da Juventude (dirigido pelo técnico de futebol de Oklahoma, Bud Wilkinson), Kennedy citou o consistente declínio da força e da aptidão, medido por testes padrão. “Nosso crescente amo lecimento, nossa crescente falta de aptidão física, é uma amea ça à nossa segurança.” Este ataque à “moleza” segue paralelo a uma condenação do posto de espectador. Os pronunciamentos socialistas soam deprimentemente se melhantes. O governo cubano anunciou em 1967 que o esporte devia ser considerado como parte do “elemento inseparável de educação, cultura, saúde, defesa, felicidade e desenvolvi mento do povo, como uma nova sociedade”. Em 1925, a co missão central do partido comunista soviético declarou que o esporte deveria ser usado conscientemente “como um meio de reunir as grandes massas de trabalhadores e camponeses em torno dos vários partidos soviéticos e de organizações da União Comercial, por meio dos quais as massas de trabalha dores e camponeses devem ser envolvidas na atividade social e política”. Felizmente, as pessoas de todas as nações tendem intuitivamente a resistir a tais exortações. Sabem que os jogos continuam gloriosamente sem objetivo e que assistir a uma partida esportiva excitante, além do mais, pode ser emocio nalmente quase tão cansativo como a própria participação — dificilmente é a experiência “passiva” que pretendem os guar diães da saúde e da virtude públicas. 134 13 4
Huizinga sobre o Homo Ludens. Tendo a indústria moderna reduzido muitas funções a uma rotina, os jogos assumem um sentido a mais em nossa sociedade. Os homens procuram no jog o as dific dif iculda uldades des e ex igências ig ências — tanto tant o intele inte lect ctuais uais como físicas físicas — que que deixaram deix aram de de encontrar encontrar no tr abalho. abalho. T alvez não não seja a monotonia e a rotina em si mesmas que tiram o prazer do trabalho, pois qualquer trabalho válido encerra uma certa dose de maçada, mas sim as condições peculiares que predo minam em grandes organizações burocráticas e, também, cada vez mais na fábrica moderna. Quando o trabalho perde sua qualidade tangível, palpável, quando perde o caráter de trans formação da matéria pela faculdade inventiva humana, ele se torna totalmente abstrato e interpessoal. A intensa subjeti vidade do trabalho moderno, exemplificada ainda mais clara mente nos escritórios do que nas fábricas, faz com que homens e mulheres duvidem da realidade do mundo externo e que se aprisionem, como observamos no capítulo anterior, numa con cha de ironia protetora. O trabalho agora retém tão poucos traços lúdicos, e a rotina diária proporciona tão poucas opor tunidades de fuga da autoconsciência irônica, tendo assumido ela própria as qualidades de uma rotina, que as pessoas pro curam o abandono no jogo com intensidade maior que a usual. “ Numa época época em que que a imagem é uma das palavras mais fre qüentemente usadas na língua e literatura americanas”, obser va Joseph Jos eph Epstein Epst ein em um ensaio recen r ecente te sobre sobre esportes, “ não não se descobre com muita freqüência a coisa real.” A histór his tória ia da cult cul t ura, ur a, como mostr mos trou ou Huizi Hui zing ng a em seu clás sico estudo sobre os jogos, Homo Ludens, parece, sob uma perspectiva, consistir na erradicação gradual do elemento lúdi co de de todas todas as formas for mas de cultura cultur a — da relig rel igião, ião, do do direito dir eito,, da guerra e, sobretudo, do trabalho produtivo. A racionalização dessas atividades deixa pouco espaço para o espírito de inven ção arbitrária ou para a disposição de deixar que as coisas aconteçam ao acaso. acaso. O risco, ris co, a ousadia ous adia e a incer incerteza teza — com ponen ponentes tes importantes importa ntes do jogo jog o — não têm espaço espaço na indús indús tria tr ia ou em atividades infiltradas por padrões industriais, que pro curam precisamente predizer e controlar o futuro e eliminar o risco. Da mesma forma, os jogos assumiram uma importância sem precedentes até mesmo na Grécia antiga, onde tanta coisa 135
da vida social girava em. torno das competições. Os esportes, que também satisfazem à necessidade ardente de esforço físico — para uma reno re nova vaçã çãoo do sentido da da base base física física da vida — , tornaram tornaram-- se um entusias entus iasmo mo nem nem tanto t anto das massas massas,, mas mas dos que se dizem a elite cultural. A ascensão dos esportes de a udiênc udiê ncia ia à sua atual at ual impo im porr t ân cia coincide historicamente com a ascensão da produção de massa, que intensifica as necessidades a que o esporte satisfaz, enquanto cria a capacidade técnica e promocional de comer cializar competições para uma vasta audiência. Contudo, de acordo com uma crítica comum ao esporte moderno, estes mes mos desenvolvimentos destruíram o valor do atletismo. A co mercialização transformou o jogo em trabalho, subordinou o prazer do atleta ao do espectador e reduziu o próprio especta dor a um estado de de pass passividade ividade veg ve g etativa etativ a — a pr pr ópr ópr ia antítese antítese da saúde e vigor que o esporte idealmente promove. A mania de vencer encorajou uma ênfase exagerada ao aspecto compe titivo do esporte, a ponto de excluir as experiências mais modestas, ainda que mais satisfatórias, da cooperação e da competência. O culto da vitória, proclamado por técnicos de futebol, tais como Vince Lombardi e George Allen, transfor mou em selvagens os jogadores e em fanáticos chauvinistas seus seguidores. A violência e o partidarismo dos esportes mo dernos levam alguns críticos a insistir que o atletismo trans mite valores militaristas aos jovens, inculca irracionalmente orgulho local e nacional no espectador, e serve como um dos mais fortes bastiões do chauvinis chauv inismo mo mas masculino. culino. O próprio Huizinga, que antecipou alguns destes argumentos, tendo-os colocado de maneira muito mais persuasiva, argumentou que os jogos jogos e esportes esportes moder moderno noss f oram or am arruinados ar ruinados por uma “ mu dança fatal no sentido da excessiva seriedade”. Ao mesmo tempo, sustentou que o jogo havia perdido seu elemento de ritual, rit ual, tinh tinha- se tornado tor nado “ prof pro f ano” ano ” , e, conseqüentemente, conseqüentemente, ces ces sara de de ter ter qualquer qualque r “ lig ação org or g ânica ânica com a estr es trutu utura ra da so ciedade” cie dade” . A s massas desejam agora agor a “ recreação recreação triv tr ivial ial e sen sensacionalis sa cionalis mo rude r ude”” , e atiram atiram-- se a essas essas bu buscas com c om uma inten inte n sidade muito superior a seus méritos intrínsecos. Em vez de jog ar com co m a liber li ber dade e a inte int e nsida ns idade de das crianças cr ianças,, jog am com uma “mistura de adolescência e barbarismo”, a que 136 13 6
Huizinga chama de puerilismo, investindo os jogos de fervor marcial e patriótico, enquanto tratam sérios objetivos como jogos. jog os. “ Ocorr Oco rr eu uma conta co ntamina minação ção ex tensa do jog o e da a tiv ti v i dade dade séria s éria ” , de acordo com Huizing a. “ A s duas duas esferas esferas estão estão se misturando. Nas atividades de natureza exteriormente séria escon esconde- se um elemento lúdico. O jogo j ogo r econhecido, por outro outr o lado, não mais é capaz de manter seu caráter lúdico verda deiro, como resultado de ter sido levado muito a sério e de ter sido tecnicamente superorganizado. As qualidades indis pensáveis de distanciamento, naturalidade e de satisfação ficam assim perdidas.” A Cr ítica íti ca do Esporte Es porte.. Uma análise da crítica do esporte mo derno, em sua forma vulgar, bem como na versão mais refi nada de Huizinga, traz à luz um número de falsos juízos co muns a respeito da sociedade moderna e esclarece algumas das questões centrais deste estudo, especialmente a natureza do espetáculo e a diferença entre espetáculo e outras espécies de desempenho, ritual e competição. Uma grande porção de lite ratura sobre esportes foi acumulada em anos recentes, e a sociolog ia do esporte esporte firmou firmou-- se mesmo como um r amo menor da ciência social. Muitos desses comentários não têm propósito maior do que promover o atletismo ou explorar o mercado jor jo r nalís nal ísti tico co que cr iar am, mas, de certo cert o modo, mod o, aspir as piram am à crític cr íticaa social. Entre aqueles que formularam a acusação, hoje fami liar , ao esporte esporte org anizado inclu incluemem- se: o sociólogo sociólogo Har ry Edwards; o psicólogo e antigo tenista Dorcas Susan Butt, que acredita que o esporte deveria promover a competência, em vez da competição; atletas profissionais desiludidos como Dave Meggyesy e Chip Oliver; e críticos radicais da cultura e da sociedade, notadamente Paul Hoch e Jack Scott. Um debate sobre seus trabalhos ajuda a isolar o que é his toricamente tori camente específico ao ao atual malmal- estar estar cultural. cultura l. Os críticos do esporte, em seu desejo de descobrir evidências de corrup ção e declínio, atacam os elementos intrínsecos do atletismo, elementos essenciais para seu apelo em todas as épocas e luga res, na errônea suposição de que a assistência, a violência e a competição refletem condições peculiares aos tempos moder 137
nos. Por outro lado, esquecem-se da contribuição característica da sociedade contemporânea para a degradação do esporte e, conseqüente conseqüentemente, mente, enganam enganam-- se quanto à naturez natur ezaa desta degra dação. dação. Concentram Concentram-- se em questõ questões es tais como “ex “ excessiv cessivaa serie dade”, que são fundamentais para uma compreensão do espor te, na verdade para a própria definição de jogo, mas que são periféricas ou irrelevantes para seu desenvolvimento histórico e sua transformação contemporânea. Tomemos a queixa comum de que os esportes modernos são “mais orientados para o espectador, do que para o partici pante”. Os espectadores, sob este aspecto, são irrelevantes para o sucesso do jogo. Que ingênua teoria da motivação humana isto implica! A consecução de certas habilidades ine vitave vit avelmente lmente dá origem orig em a um desejo de de dem demon onstrástrá- las. A um nível mais alto de domínio, o atleta não mais deseja simples mente ex ibir seu v irtuo irt uosis sismo mo — pois o verdadeir ve rdadeiroo conheced conhecedor or pode facilmente distinguir entre o atleta que joga para a turba e o artista superior que compete com o pleno rigor de sua própria própria arte — , mas ratificar ra tificar um feito sumam sumamente ente difícil; dar prazer; forjar um vínculo entre si mesmo e a audiência, que consiste na apreciação compartilhada de um ritual executado sem imperfeições, com profundo sentimento e senso de estilo e proporção.* * Isto não quer quer dizer que que o vir tuosis mo seja o prin cipal compo nente do esporte. Ao deixar implícita uma comparação, aqui e acolá, entre os desempenhos atléticos e musicais, desejo estabelecer justamente o ponto oposto. Um executante que procure meramente encantar a au diência com proezas de brilho técnico, joga com o nível mais baixo da compreensão, adiantand adiantandoo- se aos aos riscos que adv adv êm de um compromisso emocional intenso com o próprio material. No tipo mais satisfatório de desempenho, o executante se torna inconsciente da audiência e perde-se em seu dese mpenho. No es porte, o momento moment o que impor ta é o que que um um antigo jogador de basquete descreve como o momento "em que toda aquela ge nte na platéia platéia não tem import ância” . O jog ador em questão, questão, agora um estudante, abandonou o esporte de tempo integral, quando descobriu que dele esperavam que não tivesse vida fora do esporte, mas conserva maior percepção da natureza dos jogos do que Dave Meggyesy, Chip Oliver e outros ex-atletas. Ao rejeitar o radicalismo simplista, de acordo com o qual a “comercialização” corrompeu os es portes, portes, diz ele: “ O dinheir o [ nos esportes esportes profiss profiss ionais] ionais] nada tem a ver com o capitalismo, proprietários proprietários ou prof prof iss ionalismo. Há o momento em alguns jogos em que não importa quem esteja olhando, tudo o que
138
Em todos os jogos, particularmente nas competições atléti cas, a exibição e a representação constituem um elemento cen tral — uma uma lemb le mbra rança nça das das antigas antigas conex conexõ ões entre jogo, jogo, ritual e drama. Os jogadores não competem simplesmente; partici pam de uma cerimônia familiar que reassegura valores comuns. A cer ce r imônia requer re quer tes temunhas temunhas:: espectado es pectadore ress entusiásticos entus iásticos , conhecedores das regras do desempenho e de seu sentido sub jacent jac ente. e. L onge de destr des truir uir o v alor al or dos dos esportes, esportes , a assis as sistência tência dos espectadores torna-os completos. De fato, uma das virtu des do esporte contemporâneo reside em sua resistência à erosão de padrões e em sua capacidade de apelo a uma au diência conhecedora. Norman Podhoretz argumentou que o público de esportes permanece mais discriminatório do que o de artes e que que a “ ex celência celência é relativ rela tivamente amente inconteste inconteste como um julgamento do desempenho”. O mais importante é que todos concordam com os padrões segundo os quais a exce lência deveria ser medida. O público de esportes consiste ainda em grande parte de homens que participaram de espor tes durante a infância e assim adquiriram um sentido do jog o e uma capac ca pacidade idade de disti dis ting ng uir entre entr e vários vár ios níve nív e is de excelência. O mesmo dificilmente pode ser dito da audiência para um desempenho artístico, ainda que músicos, dançarinos, atores e pintores amadores participem como um pequeno núcleo da audiência. O constante experimento nas artes criou tanta con fusão de padrões, que a única medida sobrevivente de exce lência são os valores de novidade e choque, os quais, em uma época cansada, com freqüência residem na pura fealdade e banalidade da obra. No esporte, por outro lado, a novidade conta é aquele instante em que o modo como você joga irá determinar qual a equi equipe pe a vencer e qual qual a perder” perder” . Se o virtuosismo fosse a essência do esporte, poderíamos prescindir do basquete e contentarmocontentarmo- nos com ex ibições ibições de merg ulho e dribles . Contudo, dizer que a arte real consiste não de técnica fascinante, mas de trabalho de equipe, noção de tempo e senso do momento, uma com preens ão do do meio, e a capacidade de perderperder- se no jogo, não não quer o bv ia mente dizer que os jogos teriam o mesmo significado se ninguém os olhasse. Quer dizer simplesmente que o desempenho superior tem a qualidade de passar despercebido.
139 13 9
e rápidas mudanças de estilo desempenham pequeno papel no apelo dos jogos, para uma audiência discriminatória. Todavia, mesmo aí, já começou a contaminação dos padrões. Confrontados com custos ascendentes, os proprietários pro curam aumentar a assistência em eventos esportivos, instalan do painéis explosivos, transmitindo cargas de cavalaria grava das, distribuindo capacetes e bastões, e cercando os espectado res res de de animadoras de torcidas, balizas e dançarinas . A televisã televis ão ampliou a audiência dos esportes, ao mesmo tempo em que diminuiu o nível de sua compreensão; ao menos esta é a su posição de comentaristas esportivos, que dirigem à audiência um fluxo interminável de instruções sobre os aspectos básicos do jogo, e dos promotores, que reformam um jogo após o outro, para ficar à altura dos gostos de uma audiência suposta mente incapaz de apreender seus aspectos mais sutis. A adoção pela Liga Americana da regra do batedor designado, que tira dos lançadores a necessidade de rebater e diminui a impor tância da estratégia diretiva, proporciona um exemplo espe cialmente gritante da diluição dos esportes pelas exigências da promoção de de massa. massa. Um outro é o “D “ Devil- T ake- thethe- Hind Hindm most Mile”, uma maratona inventada pelo Examiner de São Fran cisco, na qual o último corredor nos estágios iniciais da corrida é eliminado — uma uma regra que que encoraja uma uma luta inicial para evitar a desqualificação, mas que diminui a qualidade geral do evento. Quando as redes de televisão descobriram o surfismo, insistiram em que os eventos fossem mantidos de acordo com um esquema preestabelecido, sem considerar as condições atmosf atmosféricas. éricas. Um su s urfista rf ista qu queixoueixou- se: “ A televisã telev isãoo está des truin tr uindo do nosso nosso esporte esporte.. Os produ produtores de T V estão estão transfor transf or mando em circo um esporte e uma arte.” As mesmas práticas produzem os mesmos efeitos em outros esportes, forçando joga dores de beisebol, por exemplo, a disputar partidas do Cam peonato Mundia Mun dia l em geladas noites noites de outubro. A s ubs ubs titui ção por superfícies artificiais da grama no tênis, que reduziu o ritmo do jogo, reforçou a confiabilidade e a paciência e reduziu o elemento de brilho tático e de velocidade superior, deve-se aos produtores de televisão, porque fazem do tênis um jogo jog o para todas as estações estações e per mitem mit em até mesmo mes mo que seja jog ado em ambientes ambient es f echados, em s antuários do esporte, es porte, como 140
o Caesar’s Palace, em Las Vegas. A televisão redistribuiu o calendário atlético e assim privou os esportes de sua ligação familiar com as estações, diminuindo seu poder de alusão e de rememoração. À medida me dida que os espectadores se tor to r nam na m menos conhecedo conhe cedo res dos jogos a que assistem, passam a voltar-se para o sensacionalismo e a ficar sedentos de sangue. O aumento da vio lência do hóquei no gelo, muito além do ponto em que desem penha um papel funcional no jogo, coincidiu com a expansão do hóquei profissional em cidades sem qualquer ligação tradi cional ciona l com o esporte esporte — cidades cidades onde onde as condiç condiçõ ões atmosf é ricas, de fato, sempre haviam impedido tal tradição de jogo local. Contudo, a importância de tais mudanças não está em que os esportes devam ser organizados, como imaginam alguns críticos da atualidade, unicamente para a edificação dos joga dores e que a corrupção se estabelece quando os esportes começam a ser jogados para os espectadores visando a lucros. Ning uém nega o desejo de de participação partic ipação nos nos esporte esportess — não porque ele construa corpos fortes, mas porque traz prazer e alegria. É olhando aqueles que dominaram um esporte, no entanto, que extraímos padrões com os quais medimos a nós mesmos. Ao entrarmos, em imaginação, em seus mundos, expe rimentamos de forma elevada a dor da derrota e o triunfo da persistência face à adversidade. Um desempenho atlético, como outros desempenhos, evoca uma rica cadeia de associações e fantasias, modelando percepções inconscientes da vida. A assistência não é mais “passiva” do que os devaneios, desde que o desempenho seja de tal qualidade que elicie uma res posta emocional. É um erro supor que o atletismo organizado sirva sempre somente aos interesses dos jogadores, ou que a profissionali zação inevitavelmente corrompa todos os que dele participam. A o g lor lo r ifica if icarr o amado am adorr ismo, is mo, ao ig ualar uala r a assistência ass istência à pass i vidade e ao deplorar a competição, as críticas recentes do esporte fazem eco ao falso radicalismo da contracultura, da qual tantas delas se originam. Elas mostram seu desprezo pela excelência, ao propor romper a distinção “elitista” entre jog adores ador es e espectadores espectador es.. Pr opõem s ubstit ubs tituir uir os esportes com co m petitivos profissionais, os quais, não obstante seus defeitos, 141
mantêm padrões de competência e bravura que de outro modo poder poderiam iam extin ex tingu guirir- se, por um brando r egime de divers diversõ ões cooperativas, nas quais todos podem participar, não impor tando a idade idade ou a capacidade capacidade — “ novos novos esportes esportes para os não competitivos”, sem ter “outro objeto, realmente”, de acordo com um um desabafo desa bafo típico, a não ser levar lev ar “ as pessoas pessoas a sentir prazer umas com as outras”. Em seu desejo de remover do atletismo o elemento que sempre esteve subjacente em seu apelo à imaginação, a rivalidade encenada da capacidade supe rior, este este “ radicalis ra dicalis mo” propõe propõe meramente meramente completar a degra degra dação já iniciada pela mesma sociedade, que os radicais da cultura professam criticar e subverter. Vagamente incomoda dos com as respostas emocionais evocadas pelos esportes com petitivos, os críticos da assistência “passiva” desejam incluir o esporte ao serviço do exercício físico saudável, reprimindo ou e limin li minan ando do o elemento de de fantas fa ntasia, ia, de faz- de- cont conta, a, e de de representação de papéis, que sempre esteve associado aos jogos. jog os. A demanda de manda de maio ma iorr par ticipa ti cipação, ção, como a desconf des confiança iança pela competição, compet ição, parece parece originar- se do medo de que que impuls impulsos os e fantasias inconscientes nos subjuguem, se lhes permitirmos expressão.* A T r iv iali ia liza zação ção do A tlet tl etis ismo. mo. O que corrompe um desempe nho atlético, como acontece com qualquer outro, não é o pro fissionalismo ou a competição, mas uma quebra das conven ções em torno do jogo. É nesse ponto que o ritual, o drama e os esportes degeneram todos em espetáculo. A análise de Huizinga sobre a secularização do esporte ajuda a clarificar este ponto. No grau em que os eventos atléticos perdem seu elemento de ritual e de festividade pública, de acordo com Huizing Huizi ng a, deterioram em “ recreação recreação triv tr ivial ial e em sensac sensacio ionna* De qualquer modo, o ar g umento muito em vog a a respeito da necessidade de maior participação nos esportes é inteiramente irrele vante para uma discussão de sua importância cultural. Podíamos igual mente avaliar o futuro da música americana contando o número de músicos amadores. Em ambos os casos, a participação pode ser uma experiência eminentemente satisfatória; mas, em nenhum, o nível de participação nos diz muito a respeito do status da arte.
142
lismo rude”. Até mesmo Huizinga engana-se, porém, quanto à causa causa deste deste desenvolv desenv olvimento. imento. Ela dif di f icilmente icil mente está na “ fatal fat al mudança no sentido sentido da da seriedade seriedade ex acerbad acer bada” a” . O próprio própri o Huizinga, quando escreve, mais dizendo sobre a teoria do jog jo g o do que que sobre o colaps col apsoo do “ jog jo g o g e nuíno” nuíno ” em noss nossos os próprios dias, compreende muito bem que o jogo, na melhor das hipóteses, é sempre sério; de fato, que a essência do jogo repousa no levar a sério atividades sem propósito que não servem a nenhum fim utilitário. Ele nos lembra que a “maioria das competições gregas foram consideradas da maior serieda de” e discute sob a categoria de jogos os duelos nos quais os contendores lutam até a morte, esportes aquáticos, nos quais o objetivo é afogar o adversário, e torneios cujos treinamentos e preparação consomem toda a existência do atleta. A degr deg r adação do esporte es porte consiste, consis te, e ntão, não em ser lev le v ado demasiado a sério, mas em sua trivialização. Os jogos tiram seu poder de investimento de atividades aparentemente tri v iais de objetivos objetiv os sérios. s érios. Ao A o sub submeter- se sem reservas às às regras reg ras e convenções do jogo, os jogadores (e também os espectadores) cooperam na criação de uma ilusão de realidade. Sob este as pecto, o jogo torna-se uma representação da vida e assume também o caráter de encenação. Em nossos dias, os jogos — em particular par ticular os esporte esportess — estão estão per perdend dendoo r apidamente apidamente a qualidade de ilusão. Intranqiiilo na presença da fantasia e da ilusão, nosso tempo parece ter resolvido a questão da destrui ção de gratificações substitutas inofensivas, que antigamente proporcionavam encanto e consolo. No caso dos esportes, o ataque à ilusão vem tanto de jogadores, promotores, como dos espectadores. Os jogadores, ávidos para se apresentar como artistas (em parte para justificar seus salários inflacionados), negam a seriedade do esporte. Os promotores incitam os fãs a se tornar fanáticos partidários, mesmo em esportes ante r iormente iorme nte regidos regidos pelo decoro, decoro, tal como o tênis. tênis. A telev t elev isão cr ia uma uma nova nov a audiência nos lares lares e faz dos dos espectad espectadores ores “ ao vivo” participantes que se empenham diante das câmaras e tentam atrair sua atenção agitando bandeiras, comentando a ação não no campo, mas na cabina de imprensa. Às vezes os fãs interferem no jogo com maior agressividade, ao invadir 143 14 3
a quadra, ou ao danificar o estádio após uma importante vitória. A crescente v iolênci iol ênciaa das multidões mult idões , r otineir oti neir amente ame nte consi cons i derada culpada pela violência dos esportes modernos, e o hábito de levá levá-- los los muito a sério, sér io, orig origina inam m- se, ao contr ário, de uma falha fal ha de leválevá- los los a sério o bastante — respeitar res peitar as con venções que deveriam ligar tanto os espectadores como os jogadores jog adores . A pós pós a ex citante cit ante parti par tida da entre V ilas il as e Connors Connor s , nas finais do T orneio A berto bert o dos dos Estados Estados Unidos (U.S. Open) em Forest Hills, em 1977, uma multidão desordenada invadiu a quadra imediatamente após o último ponto, quebrando assim as horas de tensão que deveriam ter sido quebradas pelo tra dicional dicio nal aperto a perto de de mão entre entre os própr própr ios jogadore j ogadoress — incid inciden en-talmente permitindo a Connors escapar do estádio sem assistir à vitória de seu rival, ou tomar parte nas cerimônias de encer ramento. Repetidas transgressões desta espécie minam a ilusão criada pelos jogos. Quebrar as regras é quebrar a magia. A mistura de jogadores e espectadores, aqui como no teatro, evita a suspensão da descrença e destrói, portanto, o valor de repre sentação do atletismo organizado. O Imperialismo e o Culto da Vida Enérgica. A história recente dos esportes é a história de sua submissão regular às demandas da realidade cotidiana. A burguesia do século dezenove repri miu os esportes e festivais populares como parte de sua cam panha para estabelecer o reino da sobriedade. As feiras e o futebol, o esporte de açular cães contra touros, as brigas de peixes e o boxe ofendiam os reformistas da classe média, devido à sua crueldade e porque bloqueavam as vias públicas, interrompiam a rotina diária dos negócios, distraíam o povo de seu trabalho, encorajavam hábitos de preguiça, de extra vagância e de insubordinação, e dava origem à licenciosidade e ao deboche. Em nome do prazer racional e do espírito do desenvolvimento, estes reformistas exortavam o homem que trabalhava a renunciar a seus esportes e passeios públicos de sordeiros, e a permanecer ao pé da lareira, no respeitável con forto do círculo doméstico. Quando falhou a exortação, recor reram à ação política. Na Inglaterra do princípio do século 144
dezenove, eles eram opostos por uma coalizão conservadora, que cruzava as linhas entre as classes, tendo sido os Comuns acompanhados na defesa de seus prazeres “imemoriais” pelos tradicionalistas da pequena nobreza, especialmente a da pro víncia, ainda não infectada pela piedade evangélica, pelo humanitaris mo sentimental sentimental e pelo pelo dogma da emp empresa. “ Qual Qua l seria a Conseqüência”, perguntaram eles, “se todas essas Di versões versões fossem completamente completamente banidas? A Gente Comum, vend vendo- se alijada alij ada de toda Esperança Esper ança quanto a esse essess praze prazere res, s, torn tornar ar-- sese- ia inerte inerte e des animada. animada . . . : E não não só isto, isto, mas mas devido à absoluta Necessidade de se divertir, às vezes, ela se ligaria possivelmente a Prazeres menos justificáveis.” Nos Estados Unidos, a campanha contra as diversões popu lares, intimamente associada à cruzada contra o álcool e ao movimento para uma observação mais estrita do dia de des canso, assumiu o caráter de um conflito, tanto étnico como de classe classes. s. A classe classe oper operária, ária, na maior mai oria ia constituída c onstituída por imi i mi grantes e católicos, lutou, com freqüência em incômoda aliança com o “elemento esportivo” e com a “sociedade da moda”, para defender suas bebidas e seus jogos, contra as arremetidas da respeitabilidade da classe média. Na Nova Iorque da me tade do século dezenove, por exemplo, o partido dos Whigs iden identificavatificava- se com empre empreendi endimento mento,, desenvolvim desenvolv imento, ento, sob s obrie rie dade, dade, piedade, piedade, parcimô parc imônia, nia, “ hábitos hábitos de reg ularidade” , “ leitu ra de livros” e a estrita observância do dia de descanso; en quanto os Democratas, ao mesmo tempo o partido da reação rural e das massas imigrantes, apelavam, entre outras cliente las , par paraa a dos dos esportes esportes — na caracter cara cterizaçã izaçãoo de Lee Benson, aos amantes de “bebidas fortes, mulheres e cavalos rápidos, e ling uajar forte, picante picante”” . A passagem das blue laws* que con sideraram ilegais muitas diversões populares e levou-as à clan destinidade, atesta o fracasso político da aliança entre o es porte e a moda. Os reformistas da classe média apreciavam a vantagem não só do acesso superior ao poder político, mas também de um um sentid s entidoo cand candente de objetivo objetiv o moral. G espírito da primitiva sociedade burguesa era profundamente antitético * Leis ex tremamente tre mamente rigorosas, destinadas a regular re gular a mor al e a conduta, na Nova Inglaterra colonial. (N. do T . )
145
quanto ao jogo. Não só os jogos em nada contribuíram para a acumulação de capital, não.só encorajávam a jogatina e os gastos estouvados; como continham um importante' elemento de fing imento, ilusão, mimetis mimetis mo e fazfaz- de- con conta. ta. A descon fiança burguesa pelos jogos refletia uma desconfiança mais profunda pela farsa,' pelo histrionismo, pelas roupas e costu mes elaborados. Veblen, cuja sátira contra a sociedade de classe média incorporou muitos de seus próprios valores, in clusive seu ódio pela ludicidade inútil e improdutiva, condenou os esp esport ortes es da cla classe sse alta, fundamentado fundamenta do em sua sua “ f utilidad util idadee ” ; tampouco omitiu a ligação entre esporte e exibição histriónica; “ É notáv notáv el, por ex emplo, emplo, que que até mes mesmo mo homens homens de maneir maneiras as suaves e prosaicas que saem para caçar, sejam capazes de transportar um excesso de armas e vestes, de modo a impres sionar sua própria imaginação com a seriedade de sua em preitada. Esses caçadores são também inclinados a exibições histriónicas, saltitantes, e a um elaborado exagero de movi mentos, quer de ação secreta ou de ataque violento, envolvidos em seus atos exploratórios.” A s átira átir a de V e ble n contra cont ra a “ classe do l aze az e r ” f alho al hou; u; na A méric mér ica, a, onde o lazer laz er e ncont nc ontrr ou sua única nic a jus t ific if icaa tiv ti v a na capacidade de renovar a mente e o corpo para o trabalho, a classe alta recusou-se a se transformar em uma classe do lazer. Temerosa de ser afastada pelos arrivistas em ascensão, ela dominou a arte da política de massas, impôs seu controle sobre as corporações industriais emergentes e abraçou o ideal da “vida enérgica”. Os esportes desempenhavam uma parte im portante nesta reabilitação morai da classe dominante. Tendo reprimido ou marginalizado muitas das recreações do povo, a haute bourgeosie prosseguiu adaptando os jogos de classes inimigas a seus próprios propósitos. Nas escolas particulares, que preparavam seus filhos para as responsabilidades dos ne gócios e do império, os esportes foram postos a serviço da for mação mação do do caráter. caráter. A nova ideologia do imperialis imperia lismo, mo, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, glorificava o campo dos jogos como a fonte de qualidades essenciais à grand.eza e ao sucesso marcial da nação. Longe de cultivar o esporte como uma forma de exibição e de futilidade esplêndida, a nova burg burgu uesia es ia da nação nação — a qual, no fim fi m do século, século, s ubst ubstituiu ituiu 146 14 6
as elites locais mais antigas antigas — celebrou precisamen precisamente te sua sua capacidade de instigar a “vontade de vencer”.* Numa época em que os populares pregadores do sucesso estavam redefinindo a ética do trabalho para salientar o elemento da competição, a competição atlética assumiu uma nova importância, como uma preparação para a luta pela vida. Em um fluxo interminável de livros destinados a satisfazer a crescente demanda por ficção sobre esportes, os autores po pulares apontaram Merriwell e outros atletas como modelos para a juventude americana. O jovem em ascensão, anterior mente aconselhado a entrar para os negócios com pouca idade e a domi dominá ná-- los de cima abaix o, aprendia apr endia agora o segredo do do sucesso no campo dos jogos, na competição ardente, porém amigável, com seus pares. Os proponentes da nova energia insistiam que o atletismo treinava a coragem e a masculinida de, que promoveriam não só o sucesso individual, como tam bém a ascensão ascensão à classe classe alta. “ E m muitos países” , de de acordo com Theod Theodore Roosevelt, Roosevelt, “ a ‘Burg ‘Burguesia’ uesia’ — a cla class ssee média média moralis mora lista, ta, respeitável, respeitável, comercial comercial — é olhada com certo des des prezo, que se justifica por sua timidez e falta de combativi dade. Contudo, no momento em que a classe média produz homens como Hawkins e Frobisher nos mares, ou homens como o soldado médio da União na Guerra Civil, ela adquire o respeito caloroso dos outros, que bem merece.” Roosevelt acreditava que os esportes ajudariam a produzir tais líderes; ao mesmo tempo, aconselhou a seus filhos para que não vissem o futebol, o boxe, a equitação, o tiro-ao-alvo, e as caminhadas e o remo como “o fim ao qual todas as suas energias devam devotar-se, ou mesmo a maior parte delas”. * O fundador das das modernas modernas Olimpíada s, Pierre de Couber tin, ad mirava os ingleses e atribuía seu sucesso imperial à influência da for mação de caráter do atletismo. “O Arnoldismo será aplicável à França?”, ele se perg untav untav a. Philip Goo dhart e Chris Chris topher topher Chatawa y , em seu seu relato sobre a ascensão deste novo culto dos esportes, desenvolvido do caráter e do império, tornam claro que a nova visão dos esportes era uma visão de classe média, que se desdobrava em oposição tanto às tra dições dições ar istocráticas como às às popular popular es . En quan to o críquete, críquete, o boxe e as as corridas de cavalo tinh tinhamam- se ident ific ado com os jogos, a classe classe média tentava usar os esportes para promover a respeitabilidade, o pa triotismo e o vigor másculo.
147
A competi compe tição ção atlét at lética ica també ta mbém m lanço la nçou u as bases da g r andeza ande za nacional, de acordo com os ideólogos do novo imperialismo. Wa lte lt e r Camp, Ca mp, cujas inovações inov ações táticas em Y ale al e der am orig ori g em ao jogo de futebol moderno, argumentou durante a Primeira Guerra Mundial que “foi o elevado espírito do fazer-ou-morrer, que que impõ impõe limites aos aos ataques ataques,, que que fez ChateauChateau- T hierry hierr y ” . O General Gener al Doug Doug las MacA Mac A rthur rt hur fez eco a esse sses lugareslugares- com comuns na Segunda Guerra Mundial: “Nos campos de batalha amigos são plantadas as sementes, as quais, em outros dias, em outros campos, contefão as sementes da vitória”. Por essa ocasião, contudo, o culto da vida enérgica era tão obsoleto quanto o racismo explícito que havia animado a ideologia imperialista. O próprio MacArthur era um anacronismo, em sua resplandescência e em sua fé reacionária na vida limpa e no pensa mento elevado. À medida que o imperialismo americano se aliava a valores mais liberais, o culto das “artes másculas” sobrevivia como um tema importante somente na ideologia da ultradireita. Nos anos sessenta, os ideólogos reacionários enalteceram o atletismo como “uma fortaleza que sustentou as muralhas contra os elementos radicais”, nas palavras do principal técnico de futebol da Universidade do Estado de Was Wa s hing hin g t on; on ; ou, como co mo S piro pir o A g ne new w colocou, col ocou, “ uma das poucas poucas gotas de cola que mantém unida a sociedade”. Max Rafferty, superintendente de escolas na Califórnia, defendia o ponto de vista de que que “ o tr abalho abal ho de de um técnico era fazer faze r homens de meninos aindaainda- nosnos- cueiros” cueiros” e tentav te ntavaa reassegurarreassegurar- se de qu que “o amor aos esportes limpos e competitivos está profunda mente enraizado na matriz americana, parte essencial da trama e urdidura de nosso povo livre, que jamais se inclinará diante dos incendiários de certificados de reservista, barbudos e de olhos ver v ermelhos, melhos, que que odeia ode iam m e invej inv ejam am O' O' atleta atl eta,, pois este estess são algo que eles nunca conseguirão ser — homens” homens ” . Lealdade Empresarial e Competição. Os críticos do esporte de esquerda fizeram dessas declarações o foco de seu ataque — outro outro ex e x emplo emplo do modo modo pelo qual qual o radicalismo cultural, postulan ostuland do- se como uma uma ameaça rev r ev olucionár olucionár ia ao status quo, na realidade confina sua crítica a valores já em obsoletismo 148
e a padrões do capitalismo americano que há muito foram substituídos. A crítica de esquerda ao esporte dá um dos exemplos mais vívidos do caráter essencialmente conformista da “revolução cultural”, com a qual ela se identifica. De acordo com Paul Hoch, Jack Scott, Dave Meggyesy e outros radicais da cultura, o esporte é um “reflexo especular” da sociedade, que doutrina a juventude com os valores domi nantes. Na América, o atletismo organizado ensina o milita rismo, o autoritarismo, o racismo e o sexismo, desta forma perpetuando a “falsa conscientização” das massas. Os esportes servem como um “ópio” do povo, afastando as massas de seus problemas reais, por meio de um “mundo encantado” de fas cínio e excitação. Promovem a rivalidade sexual entre os ma chos — enquanto “virgens vestais” animam a torcida nas margens do campo campo — e evita, assim, as sim, que que o prole proletar tariado iado atinja ati nja a solidariedade revolucionária em face de seus opressores. O atletismo competitivo força o “id orientado para o prazer” a submeter-se à “hegemonia do ego recalcado” de modo a sus tentar a família nuclear — a forma básica do autoritarismo — e a desviar a energia sexu sex ual a serviço da ética ética do trabalho. traba lho. Por todas essas razões, a competição organizada deveria ser substituída por “esportes intramuros, destinados a fazer de cada indiv íduo íduo um jog ador ” . Se todos todos “ tivessem trabalhos trabalhos cria tivos, satisfatórios, não precisariam procurar a pseudo-satisfação de ser fãs”. Esta acusação, ofensiva, em primeiro lugar, em sua suposi ção de que os radicais da cultura compreendem as necessida des e os interesses das massas melhor do que elas próprias, também ofende cada princípio da análise social. Ela confunde a socialização com doutrinação e toma os pronunciamentos mais reacionários como valor nominal, como se os atletas auto maticamente sorvessem as opiniões de direita de alguns de seus seus mentores mentores e portaporta- vozes. O esporte r ealmente tem seu papel na socialização, mas as lições que ele ensina não são necessariamente aquelas que os técnicos e professores de edu cação física procuram comunicar. A teoria especular do es porte, assim como quaisquer interpretações reducionistas da cultura, não faz qualquer concessão à autonomia das tradi ções culturais. No esporte, estas tradições passam de uma 149
geração de jogadores para outra, e embora o atletismo real mente reflita valores sociais, elas jamais podem ser incorpo radas a esses valores. De fato, elas resistem à assimilação de modo mais eficaz do que muitas outras atividades, uma vez que os jogos aprendidos na juventude fazem suas próprias exigências e inspiram lealdade, antes ao próprio jogo do que a programas progr amas que os os ideólogos ideólogos procuram proc uram imporimpor- lhe. De qualquer modo, os valores reacionários supostamente perpetuados pelo esporte não mais refletem as necessidades dominantes do capitalismo americano. Se uma sociedade de consumidores não precisa da ética protestante do trabalho, tampouco precisa do apoio de uma ideologia do racismo, da masculinidade e do valor marcial. O racismo já proporcionou apoio ideológico ao colonialismo e a sistemas de trabalho retrógrados, baseados na escravidão ou na empreitada. Estas formas de exploração repousavam na apropriação direta, indisfarçada, de mais valia, pela classe dominante, a qual jus tificava sua denominação com base em que as ordens infe riores, desqualificadas para o autogoverno em virtude de inferioridade racial ou de nascimento, precisavam de proteção de seus senhores e eram por ela beneficiadas. O racismo e o pater nalismo nalis mo eram er am du duas faces da mesma moeda, a “ carga do homem branco”. O capitalismo gradativamente substituiu o livre mercado pelas formas diretas de dominação. Nos países adiantados, converteu o servo ou escravo em trabalhador livre. Revolu cionou também as relações coloniais. Em vez de impor regu lamentos militares a suas colônias, as nações industriais hoje g overnam ove rnam por meio de estadosestados- clien clientes, tes, ost ostensiv ensivamente amente sobe sobe ranos, que mantêm a ordem em seu lugar. Tais mudanças tor naram cada vez mais anacrônicos tanto o racismo como a ideo logia da conquista marcial, apropriados a um estágio primitivo da construção do império. Nos Estadas Unidos, a transição do jacobinismo de Theodore Roosevelt para o neocolonialismo liberal de Woodrow Wil W ilss on, on , já s ig nifica nif icavv a o obsole obso letis tis mo da ideol ide olog og ia da antig anti g a su premacia angloanglo- saxô sax ônica. ica. O colapso colapso do racismo racis mo “ científico” cient ífico” nos anos vinte e trinta, a integração das forças armadas na Guerra da Coréia e o ataque à segregação racial nos anos 150
cinqüenta e sessenta marcaram uma mudança ideológica de bases profundas, radicadas em modelos variáveis de explora ção. Naturalmente, a relação entre vida material e ideologia nunca é simples, menos ainda no caso de uma ideologia tão irracional como o racismo. De qualquer modo, o racismo de facto continua a florescer sem uma ideologia racial. Na ver dade, é precisamente o colapso do racismo de jure no Sul e a descoberta do racismo de facto no Norte, encobertos pela ideologia da tolerância, que distinguem a fase mais recente do problema racial nos Estados Unidos. A ideologia da supre macia branca, no entanto, não parece mais servir a qualquer função social importante. “ O machismo mar cial” cia l” , como como Paul Hoch o chama, é igual mente irrelevante para uma época de guerra tecnológica. A ética militar, além do mais, exigia que o atleta ou o soldado se submetesse a uma disciplina comum, que se sacrificasse pelo bem de uma causa maior; assim, ela sofre a erosão geral da lealdade à organização, em uma sociedade onde homens e mu lheres percebem a organização como um inimigo, até mesmo as organizações para as quais trabalham. No esporte como nos negócios, as lealdades de grupos não mais temperam a competição. Os indivíduos procuram explorar a organização em seu próprio benefício e antecipam seus interesses não só contra organizações rivais, mas contra seus próprios colegas de equipe. O jogador de uma equipe, assim como o homem da orga or ganização, nização, torno tornou u- se um um anacr onismo. A alegaçã aleg açãoo de de que que o esporte cultiva um espírito de competição pouco sadio precisa ser clarificada, na medida em que o esporte mede a realização individual segundo padrões abstratos de excelência, encoraja a cooperação entre a equipe e força regras de honestidade, dá expressão ao ímpeto competitivo, mas também ajuda a dis cipliná cipliná-- lo. A crise da competição competição atlética hoje tem orig or igem, em, não não na persistência de uma ética marcial, no culto da vitória, ou na obsessão pela realização (que alguns críticos ainda vêem como o “credo dominante nos esportes”), mas no colapso das convenções que antigamente refreavam a rivalidade, ainda que a glorificassem. A frase fr ase de Geor Ge orgg e A lle ll e n — “ v encer não é o mais impor impo r tante, tante, é tudo” — represen representa ta uma última trincheira do espírito espírito 151
de equipe, em face de sua deterioração. Tais pronunciamentos, geralmente citados como evidências de uma exagerada ênfase sobre sobre a competição, compet ição, talv ez ajudem aj udem a man mantêtê- la dentr dentroo de de lim l imites ites.. A intrusão intr usão do mercado mer cado em cada ca da canto cant o da cena esport es portiv iva, a, con tudo, recria todos os antagonismos característicos da atual sociedade capitalista. Com o esquema do passe livre, a escalada dos salários do atletismo e o instantâneo estrelato conferido pelos meios de comunicação de massa ao sucesso atlético, a competição entre organizações rivais degenerou em um valetudo. Não causa surpresa que a crítica da competição tenha emergido como o principal tema nas críticas crescentes ao es porte. Hoje em dia. as pessoas associam a rivalidade à agres são sem limites e acham difícil conceber a competição que não leve diretamente a pensamentos de morte. Kohut escreve a respeito respeito de de um de seu seus pacien pacientes tes:: “ A inda criança, cr iança, tinha ficado f icado temeroso da competitividade, investida emocionalmente de medo, das fantasias subjacentes (quase ilusórias) de exercer poder sádico, absoluto”. Herbert Hendin diz dos estudantes que analisou e entrevistou entrev istou em Columbia Co lumbia que que “ não não conseg uiam conceber qualquer competição que não resultasse no aniqui lamento de alguém”. A pre pr e domin do minânci ânciaa desses esses temores ajuda aj uda a e x plicar plic ar por que que os americanos se tornaram intranqüilos com a rivalidade, a menos que esteja acompanhada pela negação de que vencer e perder não importa e que os jogos são, afinal de contas, pouco importantes. A identificação da competição com o dese jo de a niquil niq uilaa r os advers adve rsários ários inspir ins piraa a acusação acus ação de Dorcas Dorca s Butt de que os esportes competitivos fizeram de nós uma nação de militaristas, fascistas e egoístas predatórios; encora jar ja r am “ a baix a e s por tiv ti v idade” ida de” em todas as relaçõ re lações es sociais: sociais : e extinguiram a cooperação e a compaixão. Ela inspira o grito lamentoso de Paul Hoch: “ Por que que ligar lig ar em vencer ou fazer pontos ontos no jog o? Não seria suficie suficiente nte somen somente te apreciá apre ciá-- lo?” lo? ” Com toda certeza, os mesmos receios estão por trás do desejo de Jack Scott de encontrar um “equilíbrio” adequado entre competição e cooper cooperaçã ação. o. “ O esporte esporte comp co mpet etitiv itiv o está em apu ros”. diz Scott, “quando o equilíbrio tende para a competi ção.” ção .” Um atleta atlet a dev dever eria ia emp empenharenhar- se pela reali re alização, zação, de acordo com Scott, mas mas não “ à custa custa de si mesmo ou de de outr os” os ” . 152
Estas palavras exprimem uma crença de que a excelência é alcançada à custa dos outros, de que a competição tende a tornar-se mortífera, a menos que seja equilibrada pela cooperação, e de que a rivalidade atlética, se ficar fora de controle, dá expressão à raiva interior que o homem contem porâneo procura desesperadamente reprimir. Buro Burocr craacia cia e “ Trabal Trabalh ho de de E q u i p e O modo predominante de interação social é hoje a cooperação antagonística (como David Riesman a chamou em The Lonely Crowd), na qual um culto do trabalho de equipe disfarça a luta pela sobrevi vência em organizações burocráticas. No esporte, a rivalidade entre equipes, ora esgotada em sua capacidade de evocar lealdades locais ou regionais, reduz-se (como a rivalidade entre corporações de negócios) a uma luta por parcelas do mercado. O atleta profissional não se importa se sua equipe vence ou perde (já que que os perdedores perdedores c ompar tilham tilha m a “ bolada” bola da” ), desd desdee que permaneça atuando. A prof pr of iss is s ionaliz iona lizaç ação ão do esporte e a ex tensão do atleti atl etismo smo profissional pelas universidades, que servem hoje em dia como um sistema de liga esportiva da categoria secundária, subsi diária das ligas maiores, destruiu o velho “espírito de es cola” e deu origem, entre os atletas, a uma abordagem pro fundamente comercial de suas habilidades. Os atletas hoje consideram os apelos à inspiração, de técnicos ultrapassados, com divertido cinismo; tampouco se submetem prontamente à disciplina autoritária. A proliferação de privilégios e a fre qüência com a qual se movem de uma localidade para outra, solapam as lealdades locais, tanto entre participantes como entre espectadores, e desencorajam tentativas de modelar um “espí rito de equipe” inspirado em patriotismo. Em uma sociedade burocrática, todas as formas de lealdade de corporação per dem sua força, e, embora os atletas ainda se esforcem por subordinar suas próprias realizações às da equipe, eles assim o fazem para promover relações fáceis com seus colegas e não porque a equipe como uma unidade de corporação trans cenda a interesses individuais. Pelo contrário, o atleta como um artista profissional procura sobretudo aumentar seus pró153 15 3
prios lucros e, de boa vontade* vende seus serviços a quem lhe pagar melhor. mel hor. Os melhores atletas tornam tornam-- se celebridades dos meios de comunicação da massa e suplementam seus salá rios com endossos que geralmente excedem os próprios salários. Todas essas manifestações tornam difícil pensar no atleta como um herói local ou nacional, como representante de sua classe ou raça, ou, de qualquer modo, como a personificação de alguma unidade de uma corporação mais vasta. Somente o reconhecimento de que os esportes vieram a servir como forma de entretenimento justifica os salários pagos a atletasestrelas e sua projeção nos meios de comunicação de massa. Conforme Howard Cosell observou candidamente, os esportes não podem mais ser vendidos ao público como “puramente esporte esportess ou como r elig el ig ião. . . Os esporte esportess não não são são a v ida e a morte. São entretenimento.” Ainda que a audiência televi siva exija a apresentação de esportes como forma de espe táculo, o ressentimento difundido contra os astros do atle tismo tis mo entre os os apre apreciadores ciadores do esporte esporte — um ress r ess entimento entimento dirigido contra os salários inflacionados, negociados por seus agentes e contra sua vontade de se tornar publicitários, pro motores e celebridad celebr idades es — indica indic a a persistência persis tência de de uma neces neces sidade de acreditar que o esporte representa algo mais do que entretenimento, algo que, conquanto não seja em si mes mo vida e morte, retém alguma capacidade persistente de dramatizar e clarificar essas experiências. Os Esportes e a Indústria do Entretenimento. A secularização do esporte, que começou tão logo o atletismo foi pressionado para a causa do patriotismo e da formação do caráter, tornouse completa quando o esporte se transformou em objeto de consumo de massa. O primeiro estágio neste processo foi o estabelecimento do atletismo em tempo integral na universi dade e sua difusão da Liga Ivy para as grandes escolas pú blicas e particulares, e, logo depois, descendo para as escolas de nível médio. A burocratização da carreira de negócios, que deu ênfase sem precedentes à competição e ao desejo de vencer, estimulou o crescimento dos esportes em outro aspecto. aspecto. T ornou or nou a aquisição aquis ição de créditos educacionais esse essenn154
ciai para uma carreira comercial ou profissional, criando, assim, em grande número, um novo tipo de estudante, pro fundamente indiferente pelos estudos mais avançados, mas f orçado or çado a sub submeter- se a eles eles por motiv os puramente puramente econô micos. Os programas atléticos em larga escala ajudaram os colégios a atrair esses estudantes, com ofertas competitivas para par a matrícu matr ículas las,, e a en entret tretêê- los los uma vez v ez matriculados. matr iculados. Nos anos finais do século dezenove, de acordo com Donald Meyer, o desenvolvimento de associações de alunos graduados, cen tralizadas em clubes, fraternidades, centros acadêmicos, levan tamento de fundos, cerimônias de iniciação e no futebol, teve origem na necessidade de os colégios não só levantar fun dos em grande quantidade, mas de atrair “uma clientela para quem a sala de aula não tinha nenhum significado real, mas que não estava de modo algum preparada para soltar seus filhos no mundo aos dezoito anos”. Na Notre Dame, como Frederick Rudolph observou, “o atletismo intercoleg i a l . . . foi conscien conscientem tement entee desenvolvid desenvolvidoo no nos anos anos 1890 como como uma agência para recrutamento de estudantes”. Em 1878, o Presidente McCosh de Princeton escreveu a um aluno em K entucky : “ Seria um gran gr ande de obséquio obséquio que que V. V . Sa. nos nos faria, far ia, caso publicasse . . . sobre sobre o colégio nos nos jornais jor nais de de Lou Louisv ille il le . . . Devemos evemos perseverar perseverar em nossos ssos esforç esforços os para para anga riar ria r aluno alunoss de de sua sua reg ião ião . . . O Sr. Brand Br and Ballar d deueu- nos gran gr an de reputação como capitão da equipe de futebol, que venceu tanto Harvard como Yale.” De modo a acomodar as crescentes hordas de espectadores, os colégios e universidades, às vezes auxiliados por interesses comerciais locais, construíram generosos estabelecimentos para atletis atl etis mo — enormes casas casas de de campo, estádios estádios de futebol f utebol no pretensioso estilo imperial do início do século vinte. O cres cente investimento em esportes originou, por sua vez, uma crescente necessidade de manter um registro de vitórias: um novo interesse pelo sistema, eficiência e eliminação de riscos. As A s inovações inov ações de Ca mp em Y a le dav a m ênfase ênfas e ao tr eino, ei no, à disciplina, ao trabalho de equipe. Como na indústria, a ten tativa de coordenar os movimentos de inúmeros homens criou a demanda demanda de de “ adminis administr tração ação científ ica” ica ” e da da ex pansão ansão de de 155 15 5
pessoal para essa gestão. Em muitos esportes, os treinadores, os técnicos, os médicos e os especialistas em relações públi cas logo superaram os jogadores. O acúmulo de registros es tatísticos elaborados surgiu da tentativa da administração de reduzir a vitória a uma rotina, de medir o desempenho efi ciente. A própria competição atlética, cercada por um amplo aparelho de informação e promoção, parecia, agora, ser quase incidental incidenta l na dispendiosa dispendiosa preparação prepara ção ex igida ig ida par paraa colo colocá cá-- la em função. O surgimento s urgimento de de um novo novo tipo de de jornalis jor nalismo mo — o jorna lismo amarelo de que foram pioneiros Hearst e Pulitzer, os quais vendiam sensações, em vez de relatar fatos — aju dou a profissionalizar o atletismo amador, a assimilar o es porte para a promoção e a fazer do atletismo profissional uma indústria mais ampla. Até os anos vinte, os esportes profissionais, onde estes se verificavam, atraíam pouca aten ção pública, dissipada no futebol estudantil. Até mesmo o beisebol, o mais antigo e mais organizado entre os esportes profissionais, sofria com suas associações um tanto de mau gosto — seu apelo para a classe oper operária ária e para a massa massa esportiva, suas origens rurais. Quando um aluno de Yale queixou eix ou-- se a W alte al te r Ca mp sobre sobre a ên ênfas fasee excessiva ex cessiva dada ao futebol, ele não pôde pensar em melhor modo de dramatizar o perigo perigo do que que citar o ex emplo emplo do beisebol: beisebol: “ O linguajar linguaja r e as cenas que são, com freqüência, testemunhados [nas par tidas de futebol] são tais que degradam o estudante colegial, e fazemfazem- no descer ao ao mes mesmo mo nível, nível , ou mesmo mesmo a nível níve l infer inf erior, ior, do do jogador de beisebol profissional médio”. O escândalo do Campeonato Mundial em 1919 confirmou a má reputação do beisebol, mas também deu impulso às re formas de Kenesaw Mountain Landis, o novo encarregado, trazido tr azido pelos pro propriet prietários ários,, de limpar o jogo jog o e dar- lhe lhe me me lhor imagem pública. O regime de Landis, o sucesso dos eminentemente respeitáveis e eficientes New York Yankees e a “ idoliza idoli zação” ção” de de Babe Babe Ruth R uth logo log o fizer am do beiseb beisebol ol pro fissional “o passatempo número um da América”. Ruth tornou-se o primeiro atleta moderno a ser vendido ao público, tanto por sua cor, personalidade e apelo às multidões, como 156
por suas notáveis habilidades. Seu agente de imprensa, Christy Wa W a ls h, criador cr iador de um s indicato indicat o de escritores escr itores fantas fa ntasmas, mas, que que vendiam livros e artigos sob os nomes de heróis dos esportes, arranjou excursões por cidades pequenas do interior, endossos e papé papéis is em filmes fi lmes,, ajudando, aj udando, assim ass im,, a fazer do “ S ultão do Golpe Violento” uma celebridade nacional. No quarto de século que se seguiu à Segunda Guerra Mun dial, os empresários estenderam as técnicas de promoção de massa, a princípio aperfeiçoadas na comercialização do fute bol colegial e do beisebol profissional, a outros esportes pro fissionais, notadamente o hóquei, o basquete e o futebol. A televisão fez por esses jogos o que o jornalismo de massa e o r ádio ádio haviam hav iam f eito pelo beisebol, elevand elevando- os a novas al turas de popula popularr idade ida de e, ao ao mesmo mesmo temp te mpo, o, reduzind reduzindoo- os a entretenimento. Em seu recente estudo sobre o esporte, Michael Novak observa que a televisão diminuiu a qualidade dos relatos esportivos, liberando os locutores da necessidade de descrever descrev er o curso curs o do jogo jog o e encorajandoencorajando- os, ao invés, a adotar o estilo es tilo dos mestres- de- cerimô cerimônia profis pr ofis sionais. sionais . A invas inv asãão do esporte esporte pela “ ética ética do entretenimento*’, entre tenimento*’, de acordo acor do com Novak, destruiu os limites entre o mundo ritualístieo do jog jo g o e a s ór dida r ealidade, eal idade, da qual ele está destinado des tinado a dar fuga. Locutores como Howard Cosell, que personificam a “virulenta paixão pelo fim da pieguice no país”, equivocadamente importam padrões de crítica, mais apropriados ao relato político, para a cobertura dos esportes. Os jornais re latam o “lado comercial” dos esportes na página de esportes, em vez de de confináconfiná- lo à seçã seção comercial comerci al a qu que pertence. erte nce. “ Ê importa importante” nte” , argu arg umenta Novak Novak,, " . . . manter anter os os espo esportes rtes tão tão afastados quanto possível dos negócios, do entretenimento, da política e até até mesmo dos mex exerico ericoss . . . A preservaçã reser vaçãoo de de par tes da vida não formadas na política e no trabalho é essen cial ao espírito humano.” Especialmente quando a política vem torn tornan and do- se “ um negócio negócio brutal e hor horrr ível” íve l” e o tr abalho (não o esporte) o ópio do povo, somente o atletismo, no ponto de vista de de Novak Nov ak,, oferece oferece um um lampejo da “ coisa coisa r eal” . Ele Ele partici par ticipa pa de de um “ mundo fora f ora do tempo” tem po” , que que deve ser ser pre pre servado da corrupção que o cerca. 157 15 7
ü Lazer como Fuga. O grito angustiado do verdadeiro fã, que traz para os esportes um sentido adequado de respeito, para enco en conntrátrá- los corr ompidos ompidos internamente inter namente pela difus ão da “ ética ética do entretenimento”, lança mais luzes sobre a degradação dos esportes do que as observações dos críticos de esquerda, que desejam abolir a competição ao dar ênfase ao valor dos esportes como exercícios que promovem a saúde, e promo vem uma uma concepçã concepçãoo mais mais “ cooperativ a” do atletismo atlet ismo — em outras palavras, fazem dos esportes um instrumento de tera pia pessoal e social. A análise de Novak, contudo, minimiza a extensão do problema e interpreta erroneamente sua causa. Em uma sociedade dominada pela produção e pelo consumo de imagens, nenhuma parte da vida pode continuar imune à invasão inva são do espetáculo. T ampouco pode pode esta invasão inv asão ser culpada pelo espírito de desilusão. Ela tem origem, de modo paradoxal, precisamente na tentativa de estabelecer uma es fera distinta do lazer não contaminado pelo mundo do tra balho e da política. O jogo, por sua própria natureza, sem pre se isolou da vida prosaica; ainda assim, ele mantém uma ligação orgânica com a vida da comunidade, em vir tude de sua capacidade de dramatizar a realidade e de ofe recer uma representação convincente dos valores daquela. As antigas ligações entre jogos, ritual e festividade pública su gerem que, embora os jogos ocorram dentro de limites arbi trários, eles são radicados em tradições compartilhadas, às quais dão expressão objetiva. Os jogos e as competições atlé ticas proporcionam mais um dramático comentário da reali dade, dade, do que uma uma fuga f uga a ela — um rest re stabelecimento abelecimento recr u descido de tradições comunitárias, e não o repúdio destas. É só quando os jogos e os esportes vêm a ser valorizados pura mente como forma de fuga, que perdem a capacidade de pro porcionar esta fuga. O aparecimento, na história, de uma concepção escapista do “lazer” coincide com a organização do lazer como uma extensão da produção de mercadorias. As mesmas forças que organizaram a fábrica e o escritório, também organizaram o lazer, redu r eduzind zindoo- o a um apêndice apêndice da indús indús tr ia. D o mesmo modo, o esporte passou a ser dominado não tanto por uma ênfase indevida na vitória, como pela ânsia desesperada de 158
evitar a derrota. Os técnicos, não os capitães das equipes, dirigem a ação, e o aparelho de gestão empreende todos os esforços para eliminar o risco e a incerteza que contribuem tão essencialmente para o ritual e o sucesso dramático de qualquer competição. Quando os esportes não podem mais ser praticados com o adequado abandono, perdem a capaci dade de elevar os espíritos de jogadores e espectadores, de transportá transportá-- los a uma esfera mais mais elev ada ada da existên exis tência. cia. A pru dência, a precaução e o cálculo, tão proeminentes na vida cotidiana, mas tão hostis ao espírito dos jogos, passam a mol dar os esportes, como moldam a tudo mais. A o mesmo tempo te mpo que deplora deplor a a s ubordina ubor dinação ção do esporte ao entretenimento, Novak admite a separação entre trabalho e lazer que dá origem, em primeiro lugar, a esta invasão do jog o pelos padrões do mundo mun do prosaico. pros aico. Ele El e não v ê que a degr deg r adação do jogo jog o origin originaa- se na na degr adação do tr abalho, abal ho, a qual cria tanto a necessid ecess idad adee como a oportunid oport unidade ade para a “ re creação” comercializada. Como Huizinga mostrou, é precisa mente quando o elemento lúdico desaparece do direito, da política e de outras formas culturais, que os homens se voltam para o jogo, não para testemunhar um restabelecimento dra mático de suas vidas comuns, mas sim para buscar diver são e sensação. A esta altura, os jogos e o esporte, longe de ser levados muito a sério, como Huizinga erroneamente concluiu, conc luiu, tornam tornam-- se, ao contrário, uma “ coisa coisa sem conseqü conse qüên ên cias”. Conforme mostra Edgar Wind em sua análise da arte moderna, a trivialização da arte já estava implícita na exal tação modernista da arte, a qual admitiu que “a experiência da arte será mais intensa se ela tirar o espectador de seus hábitos e preocupações comuns”. A estética modernista ga rante o status socialmente marginal da arte, ao mesmo tempo que abre a arte à invasão do estilo estético comercializado — um processo que culmina, por uma lógica curiosa, porém ine x orável, oráv el, na ex igência pó pós- modernista odernista da abolição abolição da arte arte e de sua assimilação à realidade. O desenvolvimento do esporte segue o mesmo padrão. A tentativa de criar uma esfera isolada de jogo puro, totalmente isolado is olado do do trabalho, tr abalho, dá origem a seu oposto oposto — a insistência, insis tência, segundo as palavras de Cosell, de que “os esportes não são 159 15 9
isolados e afastados da vida, um ‘Mundo Encantado' especial onde tudo é puro e sagrado e acima de criticas’’, mas um negócio sujeito aos mesmos padrões e aberto ao mesmo es crutínio, como qualquer outro. As posições representadas por Novak e Cosell são simbioticamente relacionadas e surgem do mesmo desenvolvimento histórico: a emergência do espe táculo como a forma predominante de expressão cultural. O que começou como uma tentativa de investir o esporte de sig nificado religioso, r eligioso, de fato transformá transformá- lo numa numa religiã relig iãoo subs subs tituta por direito próprio, acaba na desmistificação do esporte, na assimilação do esporte pelo mundo dos espetáculos.
160 16 0
VI
,4 Educação Escolar e o Novo Analfabetismo
A Dif usão us ão do Estupor Es tupor.. A extensão da educação escolar for mal a grupos dela excluídos anteriormente é um dos desen volvimentos mais notáveis na história moderna. A experiên cia da Europa Ocidental e dos Estados Unidos nos últimos 200 anos sugere que a educação de massa proporciona um dos fundamentos principais do desenvolvimento econômico e os modernizadores de todo o mundo tentaram reproduzir a realização do Ocidente de levar educação às massas. A fé nos poderes maravilhosos da educação tem provado ser um dos componentes mais duradouros da ideologia liberal, facilmente assimilados por ideologias hostis ao resto do liberalismo. Con tudo, a democratização da educação pouco conseguiu para jus tif ti f icar ic ar esta fé. Nem desenv des envolv olveu eu a compreens compre ensão ão popular da nova sociedade, ou aumentou a qualidade da cultura po pular, nem reduziu o abismo entre riqueza e pobreza, que permanece tão grande como sempre foi. Por outro lado, con tribuiu para o declínio do pensamento crítico e para a ero são dos padrõ padrões es intele i ntelect ctuais, uais, forçand f orçandoo- nos nos a consider ar a pos pos sibilidade de que a educação de massa, como os conservado res sempre argumentaram, é intrinsecamente incompatível com a manutenção da qualidade educacional. As A s críticas cr íticas conser cons ervv adoras ador as e radicai ra dicaiss do sistema sis tema e ducacional ducaci onal concor dam em um arg umento umento central — que os os padrões padrões in telectuais são inerentemente elitistas. Os radicais atacam o sistema escolar, na medida em que este perpetua uma cultura literária que está caindo em desuso, a cultura "linear" da palavra escrita, e a impõe às massas. Os esforços para manter padrões de expressão literária e de coerência lógica, de acordo com este ponto de vista, servem somente para deixar as mas sas em seus lugares. O radicalismo educacional involuntaria161
mente faz eco ao conservadorismo, o qual admite que as pessoas comuns não podem esperar dominar a arte do racio cínio ou conse consegg uir clareza de exp ex pressão res são,, e qu que expô expô- las for f orço ço samente à cultura superior termina, inevitavelmente, no aban dono do rigor acadêmico. Os radicais da cultura assumem a mesma mesma posi posiçã ção, o, com efeito, mas usamsam- na para justifi just ificar car padrões mais baixos como um passo para a emancipação cultural dos oprimidos. Forçados a escolher entre estas posições, aqueles que acre ditam no pensamento pensamento crítico como c omo uma prépré- condi condiçã çãoo indis pensável para o progresso social ou político deveriam renun ciar à própria possibilidade de progresso e ficar ao lado dos conservadores, que, ao menos, reconhecem a deterioração in telectual, telectual, quando a enxerg enx erg am, e não não tentam t entam disfar disfarçá çá-- la de libertação. Contudo, a interpretação conservadora do colapso dos padrões é demasiado simplista. Os padrões estão deterio rando até mesmo em Harvard, Yale e Princeton, as quais dificilmente podem ser descritas como instituições de educa ção de massa. Uma comissão da faculdade em Harvard expõe: “A faculdade de Harvard não se importa com o ensino”. De acordo com um estudo sobre educação geral em Columbia, os professores perderam “seu senso comum sobre que tipo de ignorâ ig norância ncia é inaceitável” inaceitável ” . Como resultado: resultado: “ Os estudan estudantes, tes, ao ler a descrição de Rabelais sobre distúrbios civis, atri buemem- nos nos à Rev olução ol ução Francesa. Uma classe de de vinte vint e e cinco cinco nunca nunca ouv ouv ira falar fal ar do complex complexoo de Édipo Édipo — ou de de Édipo. Somente um aluno em uma classe de quinze pôde atribuir uma data à Revolução Russa no espaço de uma década.” De qualquer modo, o declínio da aptidão literária não pode ser atribuído unicamente à falha do sistema educacional. As escolas em sociedades modernas servem, em grande parte, para treinar pessoas para o trabalho, mas muitos dos em pregos disponíveis, até mesmo na camada econômica mais elevada, deixaram de exigir um alto nível de competência técnica ou intelectual. De fato, a maioria dos trabalhos con siste tanto em rotina e depende tão pouco de empreendimento e de recursos, que qualquer um que complete com sucesso um dado curso de estudos logo se vê “superqualificado” para a maior ia das posiçõ posições es disponíveis disponíveis . A deterioração do sistema sistema 162
educacional reflete, assim, a demanda social declinante, de iniciativa, empreendimento e a compulsão da realização. Contrariamente aos pronunciamentos de muitos teóricos so ciais e de seus aliados nas ciências sociais, a sociedade in dustrial adiantada não mais repousa em uma população ma dura para realizações. Ela requer, ao invés, uma população estupidificada, resignada a um trabalho que é trivial e mal desempenhado, predisposta a procurar sua satisfação no tem po que lhes resta para o lazer. Tal é, pelo menos, a crença mantida, embora nem sempre reconhecida, por aqueles que controlam contro lam a maior parte do pod poder er na A mérica. “ A crise de de nossa cult ura” ur a” , como R. P. B lackmur lac kmur observ ou em 1954,' 1954,' “ sur ge da falsa crença de que nossa sociedade só requer cérebro bastante para criar e zelar pelas máquinas, junto ao sufi ciente do novo analfabetismo explorado por outras máquinas — as de nossos nossos meios meios de comunicação comunica ção de mass massa. a. Esta Es ta é, talvez, a forma de sociedade mais dispendiosa e esbanjadora de talento humano que a humanidade já produziu.” A aná lise de Blackmur ganhou força de convicção com a passagem do tempo. Escrevendo às vésperas de uma expansão sem pre cedentes das oportunidades acadêmicas, ele viu além do cres cimento acadêmico, previu a depressão acadêmica dos anos setenta e relacionou esta depressão aos excedentes de talento endêmico na moder moderna na sociedad sociedadee indus indus tr ial. “ Os exced ex ceden entes tes de talento existentes no proletariado acadêmico na Europa Ocidental [isto é, o número crescente de pessoas saídas de instituições de aprendizado superior que ‘não há nada de sé rio a fazer de seu treinamento’] são somente uma forma avan çada dos excedentes que aparecerão em 1970 e mais tarde, na América.” Não só a economia americana tem sobrevivido à necessi dade de grandes quantidades de trabalhadores altamente es pecializados pecializ ados — um fato f ato que os níveis níveis elevados elevados de desem prego entre pó pós- grad gr adu uados ados e g raduados raduados univ univer ersitários sitários eloqü elo qüen en temente atestam — mas o poder poder político polític o não mais procura cercar-se de justificativas filosóficas. Mesmo o patriotismo, cuja imposição antes se constituía em uma das tarefas esco lares mais importantes, tornou-se supérfluo na defesa do status quo. A deterioração deter ioração do do treinamento tr einamento em história, polílí163 16 3
tica e filosofia reflete seu síafus cada vez mais marginal como parte do aparelho de controle social. ,4 A tr of ia da Competênci Compet ência. a. Mudanças sociais radicais, refle tidas na prática acadêmica, estão, assim, por trás da deterio ração do sistema escolar e da conseqüente difusão da estu pidez. A educação de massa, que começou como uma pro missora tentativa de democratizar a cultura superior das clas ses privilegiadas, terminou por estupidificar os próprios pri vilegiados. A sociedade moderna chegou a taxas sem prece dentes de alfabetização formal, mas, ao mesmo tempo, pro duziu novas formas de analfabetismo. As pessoas cada vez mais se vêem incapazes de usar a linguagem com fluência e precisão, de se recordar de fatos da história de seu país, de fazer deduções lógicas, de compreender quaisquer tex tos escritos, exceto os mais rudimentares, ou. mesmo, de compreender seus direitos constitucionais. A conversão de tradições populares de autoconfiança em conhecimento esoté rico administrado por especialistas encoraja a descrença de que a competência comum em quase todos os campos, até mesmo a arte de autogoverno, está além do alcance do leigo. Declinam os padrões de ensino, as vítimas do ensino inferior compartilham a baixa opinião dos especialistas sobre suas ca pacidades e os prof profess essores ores queix queixam am-- se de estudantes es tudantes a quem é impossível ensinar. Estudo após estudo documentam o declínio regular das ca pacidades intelectuais básicas. Em 1966, os formandos da es cola de ensino médio conseguiram uma média de 467 pontos na parte verbal do Teste de Aptidão Escolar — dificilmente um motivo de celebrações. Dez anos mais tarde, alcançaram somente 429. Os pontos da parte de matemática, do teste, caíram de uma média de 495 para 470. Muitos editores sim plificaram os livros escolares, em resposta a queixas de que uma nova geração de estudantes, criados pela televisão e pelo cinema, e pel peloo que que um educador educa dor chama de “ as usurpaçõ usurpações es antiling antil inguag uagem em de de nossa nossa cultur cul tur a” , acha acha inintel inintelig igívei íveiss os livros escolares existentes. O declínio da competência intelectual não pode ser atribuído, como alguns observadores querem, à hi 164 16 4
pótese reacionária de que mais estudantes de grupos minori tários e de baixa renda estão participando dos testes, indo a colégios e fazendo baixar o número de pontos. A proporção destes estudantes permaneceu inalterada nos últimos dez anos; entrementes, o declínio das realizações acadêmicas estendeuse a escolas de elite, como também aos colégios comunitários, escolas primárias e escolas públicas de ensino médio. A cada ano. de 40 a 60 por cento dos estudantes na Universidade da Califórnia vêem-se solicitados a se matricular em clas ses de recuperação de inglês. Em Stanford, somente um quarto dos estudantes da classe que entrou em 1975 conseguiu pas sar pelo teste de colocação em inglês da universidade, muito embora estes estudantes tenham alcançado altos resultados no Teste de Aptidão Escolar. Em escolas particulares de en sino médio, a média dos resultados dos testes em matemática e em inglês caiu de oito a dez pontos em um único ano, en tre 1974 e 1975. Tais estudos meramente confirmam o que sabem todos aque les que ensinaram a estudantes de ensino médio ou superior nos últimos dez ou quinze anos. Mesmo nas melhores escolas do país, a capacidade dos estudantes de usar seu próprio idioma, seu conhecimento de línguas estrangeiras, seus pode res de raciocínio, seus estoques de informações históricas e seus conhecimentos dos grandes clássicos da literatura, todos sofreram um contínuo processo de deterioração. De acordo com o deão deão da da Univers Unive rs idade do Oreg Ore g on: “ Eles Eles não não lêem bas bas tante, não receberam prática bastante em raciocínio e com posição. O resultado é que, quando você entra em uma sala de aulas, não deve esperar tanto de um estudante como se esperaria, digamos, há quinze anos. Este é um fato da vida profis sional.” sio nal.” Um professor de de psicologia psicologia da da UCL UC L A relata “ a preocupação quase universal das faculdades para com a com posição, os ensaios bastante deficientes e a tremenda quanti dade de estudantes que necessitam de trabalho de recupera ção”. Um professor de inglês do Estado de Ohio observou “ um aumento nas nas queix queix as nos nos últ últimos imos três três anos” anos ” , entre as faculdades da universidade, “a respeito do analfabetismo fun cional da divisão mais baixa dos estudantes”. Tampouco é este analfabetismo funcional confinado aos calouros e estu165
dantes do segundo ano. O desempenho no Exame de Gradua dos também declinou. Em vista de toda esta evidência, não deveríamos ficar sur presos com o fato de que os americanos estão ficando cada vez mais ignorantes a respeito de seus próprios direitos como cidadãos. Quarenta e sete por cento de uma amostra de in divíduos de dezessete anos, às vésperas de se tornar aptos para votar, não conheciam o fato simples, de. acordo com re cente estudo, de que cada Estado elege dois senadores dos Estados Unidos. Mais da metade daqueles e mais de três quartos dos indivíduos de treze anos no estudo não conse guiram explicar a importância da proteção dada pela Quinta Emenda contr contraa a autoauto- incriminaçã incriminação. o. Um em cada oito ind i víduos de dezessete anos acreditava que o Presidente não tem de obedecer às leis e um em cada dois estudantes de ambas as idades acreditava que o Presidente indica os mem bros do Congresso. Metade dos de treze anos pensava que a lei proíbe qualquer pessoa de fundar um novo partido político. Quase nenhum dos estudantes dos dois grupos con seguiu explicar que medidas a Constituição permite ao Con gresso tomar para impedir que o Presidente declare uma guer ra, sem a aprovação do Congresso. Se um eleitorado educado é a melhor defesa contra o governo arbitrário, a sobrevivên cia da liberdade política parece, na melhor das hipóteses, incerta. Grande número de americanos, hoje, acredita que a Constituição sanciona o poder executivo arbitrário, e a recente história política, com seu crescimento regular do poder presi dencial, só pode ter reforçado tal hipótese. Que aconteceu com o antigo sonho republicano? A educação pública uni versal, em vez de criar uma comunidade de cidadãos autosuficientes, contribuiu para difundir o torpor intelectual e a passividade política. As razões para esta anomalia repousam nas condições históricas peculiares nas quais se desenvolveu o sistema educacional moderno. Origens Históricas do Sistema Escolar Moderno. A democra tização da educação ocorreu por duas razões: dar ao Estado moderno cidadãos esclarecidos e treinar uma eficiente força 166 16 6
de trabalho. No século dezenove, predominaram as conside rações políticas; a reforma educacional seguiu paralela à am pliação do sufrágio, à separação entre o Estado e a Igreja e ao estabelecimento de instituições republicanas. Como essas outras inovações, o sistema escolar comum surgiu da revo lução democrática, que criou um novo tipo de cidadania ba seado na igualdade perante a lei e no governo limitado — um “ governo gov erno de de leis, não não de de homens” homens ” . O cidadã cidadão- modelo modelo da primitiva teoria republicana sabia quais eram seus direitos e defend defendiaia- os da infr ação por parte part e de seu seus concidadãos e pelo Estado. Ele não era enganado por demagogos ou sur preendido pelo ofuscamento de eruditos profissionais. Os ape los à autoridade não o impressionavam. Sempre alerta quanto ao logro, possuía ele, sobretudo, bastante sabedoria mundana a respeito dos motivos dos homens, compreensão dos princí pios do raciocínio crítico e habilidade no uso da linguagem, para detectar fraude intelectual sob qualquer forma que se apresentasse. Treinar tais cidadãos exemplares obviamente requeria um novo sistema sistema de de educaçã educaçãoo — embora embora muito mais importante, importante , nas mentes dos primeiros teóricos republicanos, fosse a con sideração de que aquele pressupunha uma nação de pequenos proprietários e uma distribuição de riquezas mais ou menos igual. A educação republicana tinha como seu objetivo, nas palavras palavra s de J effers eff erson, on, “ difundir o conhecimento conhecimento de de for ma mais geral pela massa popular”. Ele dava ênfase àquilo que o século dezoitp teria chamado de conhecimento útil, espe cialmente história antiga e moderna, que, Jefferson tinha es peranças, poderia ens inar os jovens a julg ar “ as ações ações e desíg nios dos homens, conhecer a ambição sob qualquer disfar ce que ela possa possa ass a ss umir umir;; e, conhecend conhecendoo- a, derrot der rotar ar seus seus desígnios”. O contraste entre a primitiva sociedade americana e Es tados mais atrasados esclarece as condições que a educação republicana estava destinada a superar. Na França, por exem plo, nem mesmo a revolução pôs fim ao estupor vegetativo das massas, que os reformistas sociais viram como um obs táculo maior para um maior progresso. A seus olhos, a po 167
pulação rural permaneceu não só analfabeta, mas também irracionalmente ligada às maneiras tradicionais, mergulhada na superstição. Michael Chevalier terminou seu estudo sobre a sociedade americana, escrito nos anos 1830, com uma série de observações que cristalizam vivamente a questão. O progresso da raça humana, de acordo com Chevalier. podia ser conce bido como uma uma “ inic iação" ia ção" progressiva progress iva das massas massas às às desco bertas intelectuais, às “conquistas da mente humana“, que começaram começaram com a Reforma. Refor ma. Na A mérica, méric a, “ as grand gr andes es desco bertas da ciência e da arte” já haviam sido “expostas aos olhos do do pov povoo e colocadas ao alcance de de todos” t odos” . A França, Fr ança, por outro lado, especialmente a província francesa, apresen tava o quadro deprimente de antiquíssima ignorância. Examinem a população de nossos clisiritos rurais , investi guem os cérebros cie nossos camponeses, e verão que a fonte de todas as suas ações é uma confusa mixórdia de parábolas bíblicas com. lendas de grosseira superstição. Tentem a mesma operação com um fazendeiro americano e verão que as gran des tradições das escrituras estão harmonicamente combinadas em sua mente com os princípios da ciência moderna, conforme ensinados por Bacon e Descartes, com a doutrina da inde pendência pendência moral mor al e religiosa procla pr oclamada mada por L utero, e com as noções ainda mais recentes de liberdade política. Ele é um dos iniciados. Apó A póss coment co mentar ar sobre a mor alida al idade desex sexu ual superior super ior e há bitos domésticos mais organizados do fazendeiro americano. Chevalier prosseguiu observando que, também nos assuntos políticos, políticos , “ a massa americana amer icana chegou cheg ou a um grau gr au mais mais alto alt o de iniciação do que a européia, pois não precisa ser gover nada; cada homem aqui [nos Estados Unidos] tem dentro de si o princípio de autogoverno em grau mais alto, e está melhor capacitado para participar dos assuntos públicos”. A diferença estendia-se também à vida econômica, de acordo com Chevalier; o mecânico americano era um melhor traba lhador, em grande parte em vir tude de ser ser autoconf iante e “cheio de respeito próprio”. 168
Da Dis ciplina cipl ina Industr Indust r ial à Seleção Seleção de de Mã Mão- de- Obra. Obra. ironica mente, estas observações apareceram no exato momento em que as condições da Europa estavam para se reproduzir nos Estados Unidos sob a forma de uma migração maciça de trabalhadores e camponeses europeus. Começando pelos ir landeses em 1840, a imigração de elementos politicamente atrasados, como eram geralmente considerados, aguçou o re ceio, já então uma corrente subterrânea no pensamento social americano, de que os Estados Unidos regridiriam a um odiado padrão antiqüíssimo de conflitos de classes, pobreza heredi tária e despotismo político. Na atmosfera de tais ansiedades, os reformistas educacionais tais como Horace Mann e Henry Barnard ganharam uma audiência para propostas de esta belecer um sistema de educação compulsória e de ampliar o currículo além do treinamento puramente intelectual, ima ginado pelos primeiros reformistas. A partir daí, o problema de aculturação da população imigrante nunca se desviou muito do centro centr o da da empres empresaa educaci educacional onal amer icana. A “ american americaniização” tornou-se o modelo especificamente americano da edu cação, concebido como iniciação à cultura moderna. Por apre sentar-se a tarefa de iniciação sob esta forma, a escola ame ricana, em contraste com a européia, deu muita ênfase ao lado não acadêmico do currículo. A finalidade democrática de levar os frutos da cultura moderna às massas, deu lugar, na prática, a uma preocupação com a educação como forma de controle social. Mesmo nos anos 1830, a escola comum já se incumbia inc umbia,, em parte, part e, de um meio de desencora dese ncorajar jar sutilsutilmente as massas a aspirar à “cultura”. A o s olicitar olic itar o apoio apoi o públi público co,, os refor re for mistas mista s do século dezenove apelaram para a crença de que a escola, sob lide rança profissional adequada, facilitaria a mobilidade social e a gradativa erradicação da pobreza ou, alternativamente, para a esperança assaz diferente de que o sistema promoveria a ordem, ao desencorajar ambições incompatíveis com as posi ções e perspectivas dos estudantes. O último argumento, pro vavelmente, teve apelo mais forte junto aos ricos benfeitores e ao governo do que o primeiro. Ambos levavam às mesmas conclusões: a de que os melhores interesses da sociedade re pousavam em um sistema de educação compulsória nacional, 169 16 9
que isolaria o estudante de outras influências e o sujeitaria ao regime regular, e que o sistema devia ser operado por uma burocracia profissional centralizada. As A s difere dife renças nças entre os sistemas sis temas amer icano e e uropeu uro peu de educação pública não devem ser exageradas. Os sistemas eu ropeu ropeuss também ta mbém der deram am muita atençã ate nçãoo à instruçã inst ruçãoo moral. mora l. A m bos serviam aos mesmos propósitos gerais: treinar cida dãos autoconfiantes, superar atrasos provincianos e também — o que que nem semp sempre foi fácil disting dist inguir uir dess desses es objet objetivos ivos — unificar as nações modernas, eliminando variações lingüísti cas e regionais, inculcando o patriotismo e injetando lealdade aos princípios de 89, 76, à Revolução Gloriosa, ou a algum outro evento ev ento que que simbolizass simbolizassee o nascimento do Estado. Es tado. A m bos os sistemas, desde os primórdios, combinavam, assim, as pectos democráticos e não democráticos; à medida que os objetivos políticos da educação pública deram lugar a uma crescente preocupação com objetivos industriais, os aspectos não democráticos democráticos torn tornaram aram-- se cada ca da vez mais mais pronunciados. pronunciados . A princ pr incípio ípio,, os estud es tudiosos iosos da s ociedade do s éculo deze nove viram uma íntima ligação entre “iniciação” política e econômica. Conceberam o treinamento industrial como uma extensão do treinamento para a cidadania republicana. Os mesmos esmos hábitos hábitos mentais mentais que faz f azia iam m bon bonss cidadã c idadãos os — auto confiança, res peito próprio, próprio, v ersatilidad ers atilidadee — pareceram arecer am ser ser essenciai essenciaiss à boa boa mã mão- de- obra. A o levar lev ar a cultura cultur a moder moderna na às massas, o sistema escolar também iria inculcar a disci plina industrial sentido mais amplo do termo. Falar de disciplina industrial, hoje em dia, encerra conotações infe lizes de arregimentação, de subordinação de homens às má quinas, da substituição das leis do mercado pelas leis da natureza. O que a disciplina industrial significava para uma tradição democrática primitiva, hoje quase extinta, foi me lhor expresso por um de seus últimos opositores, Veblen, que acreditava que a indústria moderna se nutria dos hábitos men tais tais das classes classes produ produtoras toras “ iconoclast iconoclastas as”” — o ceticismo, uma uma atitude crítica em relação à autoridade e à tradição, uma visão “materialista” e científica, e um desenvolvimento do “ins tinto artesanal” além do possível, em formas de sociedade mais primitivas. Uma força de trabalho eficiente, do ponto 11 0
170
de vista desta tradição, não implicava trabalhadores dóceis e subservientes; ao contrário, implicava uma força de traba lho, nos termos de Chevalier, que não precisava ser governada. Dura nte o per períod íodoo pr pr óx imo à mudança do século século — o mesmo período no qual a “americanização” tornou-se o slogan semisemi- oficial dos dos educado educadores res amer american icanos os — uma segu seg unda nda e mais incipiente forma de educação industrial, que acentuava o treinamento tr einamento manual e a educação educação v ocacional, insinu insinuouou- se nas escolas escolas públicas públicas sob o lema lema da “ eficiência ef iciência ” . De acordo com educadores educadores e portaporta- vozes indust industrr iais , as esco escolas las têm t êm uma uma responsabilidade de instruir as categorias mais baixas nas ha bilidades manuais, o que faria delas trabalhadores produtivos e cidadã cida dãos os úteis. teis . Georg Ge org e Eas Ea s tman, após após queixarqueixar- se de de que que os negros eram “profundam “pr ofundamente ente ignorantes” ig norantes” , concluiu concluiu que que “ a única esperança da raça negra e a resolução deste problema estão na na educação educação adequada do tipo Hampton Hampton-- T uskeg ee, que é dirigido quase que inteiramente para fazer deles cidadãos úteis, através da educação em linhas industriais”. Em 1908, um grupo de homens de negócios persuadiu a Associação Nacional de Educação a introduzir mais cursos em assuntos comerciais e industriais no currículo elementar. Setenta por cento dos alunos em escolas elementares, apontaram eles, nun ca entravam para a escola de ensino médio, e o melhor trei namento para estes estudantes era “primeiro, o utilitário, e, depois, o cultural”. O treiname tr einamento nto da mão- de- obra obra manti ma ntinha nha a mesma relação re lação com a “disciplina industrial” no sentido de Veblen, que a doutrinação política política — o “ treinamento treinamento para para a cidadania” , como veio ve io a ser ser hoje hoje chamada — mantinha mant inha com a “ iniciaç inic iação” ão” política. Ambas as inovações representavam versões degrada das da prática democrática, atraentes para aqueles que as ressentiam do que consideravam ser a ênfase demasiada da escola sobre a “cultura”. Ambas as reformas pertenciam a um movimento mais amplo para tornar a escola mais “efi ciente cie nte”” . Em resp res posta a um clamor público a respeito respeito do alto percentual de fracasso acadêmico nas escolas, um clamor que se avolumou em coro por volta de 1910, os educadores in troduziram sistemas de teste e acompanhamento, que tiveram o efeito ef eito de relegar os os “ fracassos” fracass os” acadêmicos acadêmicos a programas progr amas 171 17 1
de treinamento manual e industrial [onde muitos continuavam a fracassar]. Os protestos contra a cultura elegante, a ênfase excessiva ex cessiva sobre sobre assun as suntos tos acadêmicos, a educação educação de de “ cava cav a lheiros”. e o “desembaraço civilizado na sala de aula, de tranqüilidade e refinamento nas salas especiais”, com fre qüência coincidiam com uma insistência de que a educação e a “cultura” superiores não deveriam, em qualquer dos caso casos, s, ser ser “ desejadas desejadas pela plebe ” . O períod per íodoo progre progressista ssista v iu, assim, o pleno florescimento da escola como um agente maior do recrutamento industrial, da seleção e da certificação. Dos três meios pelos quais as escolas treinam uma eficiente força de trabalho tra balho — inculcação inculcação da da dis disciplina ciplina industr ial, treiname tr einamen n to vocacional e seleção — o terceiro, daí por diante, tornouse longe longe o mais importante importante;; “ adequar ade quar o homem homem ao tr abalho” aba lho” , no jargão dos reformistas educacionais, ao tempo da Primeira Guerra Mundial.
Da Americanização à “Adaptação a Vida". Mesmo no século vinte, contudo, o sistema escolar não tinha, em absoluto, um efeito universalmente desmoralizante para aqueles que passa vam por ele. Nos anos trinta e quarenta, os grupos com uma tradição cultural que valorizava o aprendizado lormal. notadarnente os judeus, conseguiram fazer uso do sistema, até mesmo de um sistema cada vez mais dirigido para o propó sito de recrutamento industrial, como uma alavanca para o autodesenvol autodese nvol vi mento. Sob condições condições favor fa vorááv eis, eis , a ênfase da escola escola no no “ A mer icanis ica nismo” mo” e sua promoção promoção de de normas uni versais teve um efeito liberador, ajudando indivíduos a promover uma frutífera quebra nas tradições étnicas paro quiais. A recente crítica da escola, que às vezes iguala edu cação de massa a uma rígida forma de doutrinação e condi cionamento totalitários, compartilha do sentimentalismo pre dominante a respeito de etnoeentrismo. Ela deplora a desin tegração da cultura popular e não dá atenção ao grau se gundo o qual a desintegração era, com freqüência, o preço pago para a emancipação intelectual. Quando Randolph Bourne (um favorito dos historiadores radicais, que acreditam que sua crítica da educação antecipa as deles próprios) exaltou o
pluralismo cultural, tinha ele em mente, como modelo, não as culturas imigrantes intactas dos guetos, mas a cultura dos imigrantes intelectuais duplamente desarraigados, que ele en contr ou em e m Columbia. Co lumbia. Uma dessa essas imig imig rantes intelectuais. intelectuais. Mary Antin, escreveu um relato sobre sua educação escolar, que demonstra como a americanização poderia levar, em al guns casos, a um novo senso de dignidade. Aprender a res peito de de George Georg e Was W ashing hing ton to n ensino ensinou u- lhe, lhe, ela ela diz. “ que que eu estava mais nobremente relacionada do que antes supunha. Eu tinha parentes e amigos que foram pessoas notáveis, sob todos os asp aspecto ectoss — eu jamais me sen s enti ti enver env ergg onhada onhada de mi nha família fa mília — , mas est estee George George Was Wa s hington, hingt on, que que morreu morr eu muito tempo antes de eu ter nascido, foi como um rei na grandeza, e ele e eu éramos Concidadãos.” Mais recentemente. Norman Podhoretz descreveu sua introdução à cultura lite rária, nos anos 1940, nas mãos de uma professora que exem plificava todas as limitações da sensibilidade refinada, mas transmitia para seu aluno um indispensável senso do mundo, que estava além da experiência dele. As A s r eformas ef ormas do período per íodo progres rog ressis sista ta deram der am orig ori g em a uma burocracia educacional sem imaginação e a um sistema de recrutamento industrial que. eventualmente, minou a capaci dade da escola de servir como agente de emancipação inte lectual; contudo, muito tempo decorreu, antes que os maus efeitos dessas mudanças se tornassem penetrantes. A medida que os educadores se convenciam, com o auxílio de testes de inteligência, de que muitos estudantes jamais poderiam do minar um currículo acadêmico, consideraram necessário pen sar em outr outros os meios meios de man mantêtê-los los ocupados ocupados.. A intr i ntr odução de cursos de economia doméstica, saúde, cidadania e outros assuntos não acadêmicos, junto à proliferação de programas de atletismo e de atividades extracurriculares, refletia o dog ma de que que as as escolas escolas tinha t inham m de de educar a “ criança cr iança tot t otaa l’’; mas mas refletia, também, a necessidade prática de preencher o tempo dos alunos e con conservá serv á- los razoav elmente contentes contentes.. Tais T ais pro pr o g ramas ra mas difun difundiramdiram- se r apidamente pelas pelas escolas escolas públicas públicas nos anos vinte e trinta, muitas vezes justificados pela necessidade de fazer “da boa cidadania", nas palavras do deão do Teachers College, Colleg e, “ um objetivo objetiv o dominante da escola pú pública ameri ameri-173
cana”. Os Lynds relataram em Middletown que a educação vocacional, contabilidade, estenografia, “inglês comercial”, eco nomia doméstica, educação física e atividades extracurricula res — habilidades e pass passatemp atempos os anteriormente anter iormente centrados centr ados no lar ou ensinad ensinados os por meio de de aprendizado a prendizado — ocupavam a maior parte do tempo, antes devotado ao grego, ao latim, à história, à gramática e à retórica. Os reformistas educacionais trouxeram o trabalho da fa* mília para a escola, na esperança de fazer da escola um ins trumento não só de educação, mas também de socialização. Pouco reconhecendo reconhecendo que que em muita muitass áreas — precisamente rec isamente aquelas aquelas que que estão estão fora do currículo formal for mal — a ex periência eriência ensina mais que os livros, os educadores então passaram a abolir os livros: importar experiência para o ambiente aca dêmico, recriar os modos de aprendizagem antes associados à família, encorajar os estudantes a “aprender fazendo”. Ten do imposto um currículo acadêmico estagnante a todas as fases da experiência da criança, eles exigiram, demasiado tarde, que a educação fosse feita em contato com a “vida”. Dois educadores escreveram, em 1934, sem qualquer cons ciência da ironia de suas prescrições: A o traze tr azerr par a as escolas aqueles aquel es que são r ealiz ea lizador adores es exp ex pe rimentados na vida prática . . . para suplementar e estimular o ensino daqueles cujo treinamento tenha sido jeito na es cola normal, a educação pode ser revitalizada. Como pode remos ter esperanças de que um indivíduo adquire “domínio de seus instrumentos”, se ele não jor jamais exposto ao exem plo de mestria? Por meio de algum desses meios, a educação pode ser aproximada mais intimamente da vida e pode apro ximar-se das vantagens da educação prática de tempos passados. Na prática, este conselho ditava uma contínua busca de programas de estudo pouco exigentes. A busca atingiu novos níveis nos anos quarenta, quando o estabelecimento educacio nal intr int r oduziu oduz iu outra de uma uma série s érie de de panacéias panacéias — a edu cação para “adaptação à vida”. Em Illinois, proponentes da adaptação à vida instaram as escolas a dar mais atenção a esses “problemas dos jovens do ensino médio”, como “me 174
lhorar a aparência pessoal”, “escolher um dentista da famí li a ” , e “ a desenvolv desenvolver er e manter relaç r elaçõ ões sau s audá dáveis veis entre e ntre meninos e meninas”. Alhures, observadores relataram ter ou v ido debates debates em salas de de aula sobre sobre tó t ópicos tais como “ Como posso ser ser popula r ? ” , “ Por que que meu meuss pais são tão tão sever os?” os? ” , “ Dev De v o segu seg uir minha minh a tur ma ou obedecer obedecer aos aos desejos desejos de de meus meus pais?” Dado o compromisso americano subjacente à escola média integ ral ra l — a recusa recusa em especializar especializar a preparação para o en sino universitário e o treinamento técnico em instituições dis tintas — , programas progr amas de aulas aulas práticas, atletis mo, mo, atividades extracurriculares e a ênfase penetrante do estudante quanto à sociabilidade corromperam não só os programas vocacio nais e de adaptação à vida, mas também o curso prepara tório para a universidade. O conceito de disciplina industrial deterioroueteriorou- se a ponto de o treinamento tre inamento intele inte lectual ctual e, até mes mo, o manual, manual , tornartornar- se incidental à inculcação de háb hábitos itos metódicos. De acordo com um relato do Conselho Nacional de M Mãão- de- Obra, Obra, publicado em 195 4: “ A escola escola reforça um esquema regular, ao estabelecer horas de entrada e de fre qüência; atribui tarefas que devem ser executadas; premia a diligência, a responsabilidade e a capacidade; corrige sem cuida do e com inépcia; encoraja e ncoraja a ambição” am bição” . Contudo, quanto mais próx ima ficav f icavaa a educação desse ideal v azio, mais efe tivamente desencorajava a ambição de qualquer espécie, ex ceto, talvez, a de sair da escola, por meio de um expediente qualquer . A o priv ar o currículo c urrículo não não só do do conteúdo conteúdo acadê mico como do prático, os educadores privaram os estudan tes tes de desafiar desaf iar o trabal tr abalho ho e de de forçá forçá- los a encontrar e ncontrar outros outros meios para preencher o tempo, que a lei, não obstante, exigia que passassem na escola. A compulsiva sociabilidade dos estudantes de nível médio, antes concentrados no que W il l a r d W a lle ll e r c hamou ham ou de “ complex comple x o da popula pop ula r idade ida de”” , e mais recentemente em drogas, surgiu, em parte, do puro tédio com o curso prescrito dos estudos. Embora os professores e administradores geralmente deplorassem a obsessão dos alunos pela popularidade, eles próprios a encorajavam, dando tanta atençã ate nçãoo à ne necessidad cessidadee da conviv conv ivência ência com os outros outros — para 175 17 5
o domínio de hábitos de cooperação considerados indispensá veis ao sucesso industrial. Educação Básica versus Educação da Defesa Nacional. Aí pelos anos cinqüenta, a trivialização do currículo do ensino médio tornara-se inequívoca. Dois grupos de críticos emergiram. 0 primeiro, encabeçado por Arthur Bestor, Albert Lynd, Morti mer Smith e pelo Conselho de Educação Básica, atacou a ex pansão imperialista do sistema escolar. Negavam que a escola devesse socializar a “criança total’’, assumir as funções da família e da Igreja ou servir de agente de recrutamento indus trial. Argumentaram que a única responsabilidade da escola era proporcionar treinamento intelectual básico e estender esse treinamento a todos. Deploravam o antiintelectualismo, mas condenavam, também, o sistema de acompanhamento. De acordo com Smith, os educadores tinham usado a idéia de Dewey de que a escola deveria servir às necessidades da criança como uma desculpa para evitar sua responsabilidade de estender a educação básica a todas as crianças. Este dogma capacitava ao professor “que considera Johnny ou Mary pouco dotados para os assuntos acadêmicos, a diminuir a carga de estudos impostos a eles, baseado em uma suposta falta de interess interessee e de capacidade, capacidade , e a empurráempurrá- los para mais cursos de treinamento manual ou artes industriais, ou economia do méstica, onde as habilidades mecânicas têm precedência sobre o pensamento”. Um segundo grupo de críticos atacou a educação americana, não por ser esta tanto antiintelectual como antidemocrática, mas porque deixou de produzir bastantes cientistas e técnicos de alto nível. Reformistas educacionais como Vannevar Bush, James James B. B. Conant Conant e o V ice- A lmirante lmirante Hyman Hy man G. G . Rickover insis insis tiram em que os Estados Unidos ficaram atrás da União So viética em armamentos porque as escolas haviam falhado em propor pr opor cionar cio nar um sistema sist ema eficie ef iciente nte de seleção de mã mão- de- obra. obra. Depois que os russos lançaram uma cápsula espacial em 1957, este tipo de crítica forçou os educadores a instituir novos métodos de treinamento em ciências e matemática, que acen tuavam mais a assimilação de conceitos básicos do que a me176
morização de faíos. Embora Conant, Rickover e seus segui dores exigissem um retorno às bases, seu programa pouco tinha em comum com as reformas advogadas pelo Conselho de Educação Básica. Eles não questionaram a função da escola como instrumento de recrutamento militar e industrial; sim plesmente procuraram tornar mais eficiente o processo de seleção. Tanto Conant como Bush foram a favor de um sistema de serviço militar universal em debates sobre esta questão, no final dos anos quarenta. Viam tal sistema tanto como um meio de recrutar os jovens para o serviço do Estado e como um dispositivo de seleção eficaz, onde as exigências de mãode- obra obra podiam ser ser avaliadas av aliadas à luz da necessid necessidad adee militar milit ar . Quando o serviço militar universal foi finalmente derrotado pelos que recuaram em atribuir aos militares o completo con trole tr ole do recr rec r utamento de mã mão- de- obra, obra, o país país adotou adot ou um siste s iste ma de recrutamento em alguns aspectos ainda mais antidemo crático. Sob o Ato do Serviço de Seleção de 1951, promul gado no auge da Guerra da Coréia, o serviço militar tornou-se uma obrigação universal, exceto para aqueles que conseguis sem a qualificação para a isenção acadêmica. O sistema de adiamento acadêmico, quando combinado com as reformas educacionais destinadas a recrutar uma elite científica c técnica, técnica , criou um sistema s istema nacional naci onal de seleção seleção de de mã mão- de- obra, obra, no qual as minorias e os pobres proporcionavam recrutas para um grande exército em tempos de paz, enquanto a classe mé dia, desejosa de escapar do serviço militar, freqüentava as universidades, em números sem precedentes. O Ato de Educação da Defesa Nacional de 1958, destinado a acelerar a formação de engenheiros e cientistas, deu um im pulso adicional ao incremento da educação superior, que durou até o início dos anos 1970. Entrementes, as escolas devotaram crescente atenção à identificação de estudantes capazes e ao desencorajamento dos demais. Sistemas mais eficientes de acompanhamento, junto à ênfase maior à matemática e à ciência, recrutaram números crescentes de estudantes univer sitários, mas pouco fizeram para incrementar seu treinamento. Os esforços para estender técnicas, a princípio aperfeiçoadas por professores da “nova matemática”, às ciências sociais e 177 17 7
às humanidades, produziram estudantes deficientes em conhe cimentos factuais e intolerantes à instrução que não se desti nasse às às suas suas necessidades necessidades de “ cr iati ia tivv idade ida de”” e “ auto auto-- expresexpressão”. “ Quando Qua ndo escrevíam escrevíamos na escola” , conforme confor me lembra lembra Joyce Maynard sua experiência no início dos anos sessenta, “éramos encorajados a nos preocupar com a livre autoexpressão — talvez não escrever, afinal de contas, mas, em seu seu lugar, comunicarmo comunicarmo-- nos não não v erbalmente er balmente .” Evidências da difusão de tais métodos e de seu efeito de sastroso nas mentes dos estudantes poderiam ser citadas em profusão. Encobertos por ideologias esclarecidas, os professo res (assim como os pais) seguiram a linha de menor resistên cia, esperando pacificar seus estudantes e suavizar o tempo que tinham de passar na escola, tornando a experiência tão pouco dolorosa quanto possível. Esperando evitar confronta ções e lutas, deixaram os estudantes sem um guia, enquanto os tratavam como se fossem incapazes de aplicação séria. Frederick Exley, que ensinou por algum tempo nas escolas públi cas do Estado de Nova Iorque, descreve os efeitos desmoralizantes zantes da regra não escrita de de que que “ todos todos passa pas sam” m” : As A s f aculda ac uldades des transf tr ansformar ormaramam- se em monstros monstr os morais mora is.. S oli ol i citados a manter um olho aberto, frio e distante na apreciação da metade dos estudantes, devíamos deixar o outro olho pesta nejando, enquanto o restante dos estudantes era passado de grau em grau e, eventualmente, para um mundo que ficaria muito contente de ensina ensinarr- lhes, lhes, à medida que que fossem f ossem compeli c ompeli dos rudemente do desapontamento ao desastre, aquilo que a escola devia estar lhes ensinando: que até mesmo na Amé rica o fracasso faz parte da vida. vida . * * Q ua ndo os mais velhos nada ex igem dos mais jove ns, tornam quase quase impossív el que que estes estes cresçam. Um antigo al uno meu, r epelido pelas pelas condições que hoje enfrenta como professor do Evergreen State College, em Washington, escreve criticando as recentes mudanças no currículo, em declaração a seus colegas: “"A traição para com a juventude em Evergreen começa da suposição — compartilhada por muitos professores e adminis trador tr ador es — de que os os es tudantes tudantes de de pr ime ira ir a série estão . .. somente interessados em se espojar em sua própria subjetividade e
178
As instit ins tituiçõ uições es de transmis tr ansmissão são de cultura cult ura (escola, igre ig reja, ja, f a mília) as quais esperava-se que se opusessem à tendência nar cisista de nossa cultura, ao invés, foram modeladas à sua imagem, enquanto um crescente conjunto de teorias progres sistas justifica esta capitulação, com base em que essas insti tuições servem melhor à sociedade quando lhe dão um reflexo especular. A tendência descendente da educação pública con tinua nâ mesma conformidade: a diluição regular dos padrões intelectuais em nome da relevância e outros slogans progres sistas; o abandono das línguas estrangeiras; o abandono da história em favor fav or dos dos “ problemas problemas s ociais” ; e um recuo gene ralizado da disciplina intelectual de qualquer espécie, geral mente forçado pela necessidade de formas mais rudimentares de disciplina, para manter padrões de segurança mínimos. O Movimento dos Direitos Civis e as Escolas. Nem mesmo a luta pela integração racial interrompeu este declínio, em bora tenha desafiado o status qao em outros aspectos. Nos anos sessent sessenta, a, os os portaporta- vozes do do mov imento ime nto pelos pelos direitos dir eitos hu manos e, mais tarde, do poder negro atacaram a grande injus tiça do sistema educacional. A disparidade no desempenho acadêmico de estudantes negros e brancos dramatizou o fra casso da educação americana com mais clareza do que outro ponto qualquer. Precisamente por esta razão, os educadores têm semp sempre tentado te ntado explicáexplicá- lo, seja com base base na na infer inf er ior idade racial ou, quando o racismo se tornou cientificamente ina ceitável, com base na “privação cultural”. A antropologia cul tural, que derrubou o racismo científico dos anos trinta, pro porcionou aos educadores uma nova desculpa para seu fracasso cm educar crianças da classe baixa: elas provinham de meios culturalmente privados e às quais, portanto, era-se inca paz de de ensinar. K enneth B. B. Clark assinalou ass inalou;; “ Os cientistas cientistas e educadores sociais, no uso e prática do conceito de privação repelem o pensamento pensamento de fazer o tr abalho a cadêmico” . Na e sperança sperança de aumentar o número de matrículas, diz ele, a faculdade e a admi nistr ação trans for mar am o curr curr ículo do prime iro ano em “ local de auto auto-ex ploraçã ploração” o” . 179
cultural, proporcionaram um estabelecimento educacional que já era resistente res istente à m u d a n ç a . . . com co m uma jus tif ti f icat ic ativ iv a pela contínua ineficiência, muito mais respeitável e muito mais aceitável na metade do século vinte do que o racismo”. A luta pela integ inte g r ação troux tr ouxee par a a superf super f ície a cont co ntrr a di ção inerente entre o compromisso americano com a educação universal, de um lado, e as realidades de uma sociedade de classes, do outro. Os americanos, no século dezenove, adota ram um sistema de escolaridade comum, sem abrir mão de sua crença na inevitabilidade da desigualdade social. Endossa ram o princípio de igual oportunidade educacional, enquanto mantinham um sistema educacional que encorajava as crianças de classe baixa a se dirigir para o treinamento de acordo com sua posição e suas perspectivas sociais. Embora se tenham recusado a institucionalizar a desigualdade na forma de um sistema separado de treinamento técnico, recriaram muitas formas de discriminação de jacto dentro do sistema escolar academicamente integrado, que haviam imaginado como alter nativa para o sistema europeu. Nos anos sessenta, a exceção mais patente patente à desiguald desig ualdade ade oficia of iciall — o sistema sistema racialmente r acialmente segregad segreg adoo de de educaçã educaçãoo escolar “ sep se parada, por porém ém ig ual” ual ” — começou a desmoron esmoronarar- se diante do ataque combinad combi nadoo dos tribu tr ibunais, nais, do pr pr ocurador geral g eral e da burocr burocracia acia fed f ederal eral — para somente dar lugar a novos padrões de discriminação em esco las ostensivamente integradas, juntamente com evidência ine quívoca dessa discriminação no empobrecimento educacional de crianças negras. Os conflitos sobre a política educacional nos anos cinqüenta tornaram claro que o país enfrentava uma escolha entre a educação básica para todos e uma complicada burocracia edu cacional, que funcionava como um agente de seleção de mãode- obra. obra. A mesma questão, questão, com f reqü re qüência ência encob e ncober erta ta pela retórica inflamada, jaz sob as lutas mais amargas dos anos sessenta e setenta. Para os negros, especialmente para os negros egr os em ascensã asce nsão, o, nos nos quais a paix paix ão pela pela educação queima com O mesmo fulgor verificado em descendentes de Puritanos e em imigrantes judeus, a integração representava uma pro180
messa de educação igual, nas matérias básicas indispensáveis à sobrevivência econômica, mesmo em uma sociedade moderna analfabeta sob outros aspectos: ler, escrever e contar. Os pais negros, negros , parecer pareceria, ia, apegaram apegaram-- se ao que que hoje parece parece uma uma ultr a passada, do ponto de de vista dos dos “ inovadore inov adore s ” educacionais educacionais uma irremediavelmente reacionária, concepção de educação. De acordo com esta visão supostamente tradicional, a escola fun ciona melhor quando transmite as habilidades básicas de que as sociedades alfabetizadas dependem, quando mantêm altos padrões de excelência acadêmica e quando permite que os estudantes façam seus esses padrões. A luta pela educação escolar integrada implicava um ataque não só à discrimi nação racial, mas à proposição, há muito engastada na prática das escolas, de que os padrões acadêmicos são inerentemente elitistas e que a educação universal, conseqüentemente, exige a diluição dos padrões — o nivelamento por baixo dos padrões a origens de classe e a expectativas sociais. A demanda pela integração envolvia mais do que um compromisso renovado de igual oportunidade; ela também envolvia um repúdio do separatismo cultural e uma crença de que o acesso a tradições culturais cultur ais comuns comuns continua c ontinuavv a a ser ser a pré- condiçã condiçãoo de de progr progress essoo para grupos minoritários desprotegidos. Profundamente classe média em sua derivação ideológica, o movimento pela educação igual, não obstante, envolvia exi gências que não podiam ser satisfeitas sem uma radical revisão de todo o sistema educacional — e de muito mais coisas, além desta. Foi abandonado face à prática educacional há muito estabelecida. Continha ele implicações intragáveis não só para burocratas educacionais entrincheirados, mas para os progres sistas, que acreditavam que a educação tinha de ser talhada para as “necessidades” dos jovens, que a ênfase excessiva nas matérias acadêmicas inibia a “criatividade” e que muita ênfase à competição acadêmica encorajava o individualismo à custa da cooperação. A tentativa de reviver a educação básica, por parte dos negros e de outras minorias, cortou pela raiz a expe rimentação rime ntação educacional — a sala sala de de aulas aberta, a escola sem paredes, a tentativa de promover a espontaneidade e minar o autoritarismo supostamente desmedido na sala de aula. 181 181
Pluralismo Cultural e o Novo Paternalismo. No final dos anos sessenta, à medida que o movimento pelos direitos civis dava lugar ao movimento pelo poder negro, os radicais da esfera educacional educacional começaram a iden identificartificar- se com uma nova nov a teoria da cultura negra, uma versão inversa da teoria da privação cultural, que defendia a subcultura do gueto como uma adap tação funcional à vida do gueto; na realidade, como uma alter nativa atraente para a cultura da classe média branca, para as realizações competitivas. Os radicais, agora, criticavam a escola por impor a cultura cultur a branca bra nca aos pob pobres res.. Os O s porta- vozes do poder negro, ávidos de explorar a culpa do liberal branco, juntaram juntaram-- se ao ataque, ex igindo ig indo prog programas ramas separados separados de estudos negros, um fim à tirania da palavra escrita, ins trução em inglês como um segundo idioma. Ostensivamente um avanço radical quanto ao movimento de classe média pela integração racial, o poder negro proporcionava uma nova base lógica para as escolas segregadas de segunda classe, da mesma forma for ma qu que os críticos críticos radicais r adicais da educaçã educaçãoo escolar “ tradicio tr adicio nal” favoreceram o estabelecimento educacional, ao conde nar a educação básica como sendo imperialismo cultural. Em vez de criticar a expansão da burocracia educacional, estes críticos voltaram seus ataques contra o alvo seguro da própria educação, legitimando uma nova erosão dos padrões, em nome da criatividade pedagógica. Em vez de instar a escola a moderar suas pretensões e a retornar à educação básica, exi giram uma expansão do currículo que incluísse programas sobre a história negra, inglês negro, consciência cultural negra e orgulho negro. O radicalismo educacional do final dos anos sessenta, com toda sua militância revolucionária, deixou intacto o status quo e, até mesmo, reforçoureforçou- o. Por f alta al ta de crítica r adical, adica l, restou res tou a moderados como Kenneth Clark fazer uma questão genui namente radical da alegação de que “as crianças negras ou outro grupo qualquer de crianças não podem desenvolver o orgulho dizendo somente que o possuem, cantando uma can ção sobre ele ou dizend dizendo- se somos negras neg ras e belas, belas , ou som s omos os brancas e superiores”. O orgulho racial, insistiu Clark, provém de “ realizaçõ realizações demonstráveis demonstráveis”” . Contra o “ sentim se ntimentalismo entalismo po sitivo, farisaico”, dos reformistas da escola, como Jonathan 182
Kozol e Herbert Kohl, os veteranos do movimento pelos direi tos civis argumentaram que os professores não precisam amar a seus alunos, desde que exijam deles bom trabalho. Ao man ter os padrões e exigir que todos os alcancem, os profes sores transmitem mais respeito para seus alunos, de acordo com ess essees portaporta- vozes da classe classe média negra bastante c alunia al unia da, do que transmitem quando protegem a cultura do gueto e procura procuram, m, como como foi f oi colocad colocadoo por por Hy lan Lewis, L ewis, “ doura dourarr a pílula”. A longo long o prazo, pra zo, não importa impor ta às v ítimas ítima s se o mau ma u ensino ens ino justifica- se pelas bases r eacioná eac ionárr ias de que que os pobre pobress não podem esperar dominar as complexidades da matemática, da lógica lógi ca e da composição compos ição em inglês ing lês,, ou se, se, por outr o lado, pseu se udodo- radicais condenam c ondenam os padrões padrões acadêmicos acadêmicos como sendo parte do aparelho de controle cultural do homem branco, que, propositadamente, impede que os negros e outras minorias tenham consciência de seu potencial criativo. Em qualquer dos casos, os reformistas com as melhores intenções condenam a classe baixa a uma educação de segunda classe e, assim, aju dam a perpetuar as desigualdades que procuram abolir. Em nome da igualdade, preservam a forma mais insidiosa de eli tismo, o qual, sob um disfarce ou outro, mantém as massas incapacitadas para o esforço intelectual. O problema geral da educação americana pode ser assim resumido: na sociedade americana, quase todos identificam a excelência intelectual com o elitismo. Esta atitude não somente garante a monopoli zação de vantagens intelectuais pela minoria; ela diminui a qualidade da educação da própria elite e ameaça instituir um reino de ignorância universal. A A scensão sc ensão da Multiv Mult ivee r s idade. idade . Os recentes desenvolvimento? na educação superior têm progressivamente diluído seu con teúdo e reproduzido, a um nível mais alto, as condições que prevalecem nas escolas públicas. O colapso da educação geral; a abolição de qualquer esforço sério para instruir os estudan tes em idiomas estrangeiros; a introdução de muitos progra mas de estudos para negros, estudos para mulheres, e outras formas de aumento de conscientização, sem outro propósito 183
senão deter o descontentamento político; a onipresente infla ção ção dos dos graus — tudo isto dimi di minuiu nuiu o valor de uma educação educação universitária, ao mesmo tempo que os crescentes custos da instrução a colocam fora do alcance de todos, com exceção dos afluentes. A crise cris e do ensino ens ino s uper uper ior, ior , nos anos sessen sess enta ta e setenta, se tenta, ori or i ginou-se de manifestações anteriores. A universidade moderna tomou forma no início do século vinte, como produto de uma série de ajustamentos. A partir da década de 1870 até a Pri meira Guerra Mundiai, os defensores da pesquisa, do serviço social e da cultura liberai disputaram o controle da univer sidade. sidade. As A s faculdades f aculdades dividiam dividiam-- se en entre tre os os defensores defensores de um ou outro desses programas, enquanto alunos e administradores introduziam seus próprios interesses no debate. No final, ne nhuma dessas facções alcançou uma vitória decisiva, mas cada qual conseguiu concessões substanciais. A introdução de maté rias opcionais, juntamente com diversões extracurriculares de vários tipos, ajudaram a pacificar os estudantes. O sistema de matérias opcionais representava, também, um ajuste entre as demandas da universidade não graduada, ainda organizada em torno de um velho conceito de cultura geral, e a graduada, orientada para a pesquisa, e escolas profissionais que estavam sendo superpostas àquela. àquela. “ A esperança esper ança de de que que o sistem sist emaa de de conferências transformaria o professor de instrutor a estudioso criativo, dependia de se dar ao professor bastante latitude para apresentar uma matéria que ele conhecia profundamente, além de livrá livr á- lo de alunos alunos para quem a freqüência fr eqüência era uma tarefa tar efa mal acolhida/' Infelizmente, o sistema de matérias opcionais também livrou a faculdade da necessidade de pensar a res peito dos dos propó propósit sitos os mais amplos da educaçã educaçãoo — inclusive inclusiv e a possibilidade de que, para muitos alunos, a freqüência às aulas aulas em si já se se tornara tornar a uma uma “ tarefa taref a mal acolhid ac olhida” a” — e sobre sobre a relação de um ramo do conhecimento com outros. Ao mes mo tempo, a união da universidade e das escolas profissionais na mesma instituição preservava a ficção da educação geral, para a qual os administradores da universidade se voltavam para fazer seus apelos de verbas. Um aparelho administrativo bastante ampliado então emer gia, não só como um elemento a mais em uma comunidade 184
pluralista, mas como o único corpo responsável pela política da universidade como um todo. A decisão de combinar o trei namento profissional e a educação liberal na mesma institui ção, e os ajustes ajustes necessários necessários para imp i mplementá lementá-- la, tor t ornar naram am a faculdade incapaz de enfrentar questões mais profundas de política acadêmica. Esta, agora, tornavatornava- se responsabilidad r esponsabilidadee das burocracias administrativas, que se desenvolveram para gerir a crescente complexidade das instituições, que incluíam não só escolas não graduadas e graduadas, como também escolas profissionais, escolas vocacionais, institutos de pesquisas e de desenvolvimento, programas de áreas, programas de atletismo semiprofissional, hospitais, operações imobiliárias em larga es cala e inúmeros outros empreendimentos. As políticas empre sariais da univ univer ersidade, sidade, tanto externa ex ternass como internas internas — adição de novos departamentos e programas, cooperação na pesquisa da guerra, participação em programas de renovação urbana — tinham, agora, de ser realizadas por administradores, e a idéia da universidade de serviço, ou multiversidade, cujas vanta gens eram teoricamente disponíveis a todos (mas, na prática, somente aos que pagassem mais), justificava sua própria pre dominância na estrutura acadêmica. A faculdade aceitava este novo estado de coisas porque, como disse Brander Matthews, certa vez, ao explicar a atração de Columbia, exercida sobre homens de de letras letras humanas humanas como ele próprio: “ Desde que que faça fa ça mos mos nosso trabalho f ielmente, som s omos os autorizados a fazê fazê-- lo à nossa própria maneira”.* * Julg ado por este este teste, teste, Matthews v er ificou que que “ não não existe uni versidade nos Estados Unidos, onde a posição do professor seja tão ag radáve l como em C olu mbi a-’ a-’ . Infe lizme nte, estas estas observ observ ações ações descre vem condições de Columbia melhor do que a descrição idealista do que deveria ser a educação superior, escrita por um dos deãos de Columbia, Frederick P. K eppel: “ Um gr upo upo de de jovens jovens v ive ndo e trabalhando, pen pen sando e sonhando junto, livres para deixar que seus pensamentos e sonhos determinem seu futuro; esses jovens, a cada hora aprendendo muito uns com os outros, são colocados em contato com o saber do passado, as circunstâncias do presente, as visões do futuro, por um grupo de alunos mais velhos, que se empenham em proporcionar àqueles idéias , mais mais do que crenças, guiand guiandoo- os em suas pr pr ópr ópr ias obser vações sobre as as leis leis da natureza e as relações relações humana s ” . Ra ndolph Bourne (um graduado de Columbia) sarcasticamente apontou o abismo entre ideal e re alidade . Os professores “ enfaticamente não se vêem como ‘alunos ‘alunos mais mais velhos’ velhos’ o currícu currículo lo demo demonnstra pou pouca ca preocu preocupa paçã çãoo pela pelass “lei “leis
185 18 5
O melhor que se pode dizer a respeito da universidade ame ricana, no que se poderia chamar de seu período clássico — aprox apro x imadamente de 1870 a 1960 — , é que que ela proporcionou proporcio nou um meio bem pouco exigente no qual os vários grupos que construíram a universidade gozaram a liberdade de fazer quase tudo o que quiseram, desde que não interferissem com a liber dade dos outros, ou que esperassem que a universidade como um todo proporcionasse uma explicação coerente de sua exis tência. Os alunos aceitaram o novo status quo, não só porque tinham muitas diversões não acadêmicas, mas porque o caos intelectual do currículo não graduado ainda não estava plena mente evidente; porque a pretensão de que um diploma uni versitário significava melhores empregos tinha alguma relação com a realidade; e porque, em suas relações com a sociedade, a universidade parecia ter-se identificado com o melhor, e não não com o pior, pior , da da v ida amer icana. O que que precipito pre cipitou u a crise dos dos anos sessenta sessenta não foi somente somente a pressão de um número sem precedentes de alunos (muitos dos quais teriam, de bom grado, passado sua juventude alhu res), mas uma fatal conjuntura de mudanças históricas: a emergência de uma nova consciência social entre alunos, ati vados pela retórica moral da Nova Fronteira e pelo movimento pelos direitos civis, e o simultâneo colapso das pretensões da universidade, de legitimidade moral e intelectual. Em vez de oferecer um programa acabado de ensino humano, a univer sidade, agora, servia francamente de lanchonete, onde os alu nos tinham de escolh escolher er tantos “ créditos ” .Em vez de difundir dif undir a paz paz e o esclar es clarecimento, ecimento, ela alioualiou- se àmáquina máq uina da gu g uerra. err a. da natureza natureza e relaçõ relações humanas ” ; e prevalece ali um “ sistema prof un damente mecânico e desmoralizante de medir o progresso intelectual por ‘pontos' e ‘créditos’, um sistema que cultiva o ‘fazer um curso’ e não o estudo de uma matéria... Parece haver pouca hesitação no processo de complicar a máquina de manufaturar o grau, de se livrar de pro fessores objetivos e idealistas e de deixar o ensino cada vez mais nas mãos de jovens instrutores medíocres.” Em resumo: “Não existe fato mais óbvio a respeito da universidade americana do que o de que sua organização administrativa e curricular não tem sido, nestes últimos poucos anos de padronização, de modo algum, dirigida pelo ideal da ‘comunidade intelectual do jove m' ” .
186
Eventualmente, até mesmo suas pretensões de proporcionar melhores empre empregos gos tornaram tornaram-- se suspeitas. O levante dos anos sessenta começou como um ataque à ideologia da multiversidade e sua expressão mais avançada, a Universidade da Califórnia, em Berkeley; e qualquer que tenha sido a transformação subseqüente do movimento, este permaneceu em parte como uma tentativa de reafirmar o con trole do estudante de faculdade sobre a política mais ampla da unive univers rsidad idadee — ex exp pansã ansãoo por por cir cunv cunv izinhanças izinhanças urbanas, urbanas, pesquisa esquisa da da guerra, ROT R OT C .* O desenvolv imento imento total total da da uni v ersidad ers idadee americana america na — seu crescim cres cimento ento casual casual por por acréscimo, acr éscimo, a falta de uma base lógica subjacente, a inerente instabilidade dos ajustes que cercaram sua expansão — tornou um tal acerto de contas quase inevitável. A o mesmo tempo, te mpo, o mov imento ime nto e s tudanti tuda ntill pers per s onifica onif icavv a um antiintelectualismo militante próprio, que o corrompeu e eventualmente o absorveu. A exigência da abolição da atri buição de notas, embora defendida com base em princípio pe dagógico elevado, veio, na prática — conforme revelado por ex periências com curs cursos os sem notas e opçõ opções es aprovaraprova r- rep re provar rov ar — , a refletir reflet ir um desejo desejo de de meno menoss trabalho tr abalho e de evitar o jul g amento de de sua sua qualida qualidade. de. A ex igência de de cu cursos mais mais “ rele v antes ante s ” com f r eqüência resu r esum miuiu- se a um desejo desejo de um cur rículo intelectualmente pouco exigente, no qual os alunos pudessem passar pelos créditos acadêmicos por meio de ativ ismo is mo político, político, autoauto- ex exp pressão, ressão, meditação medita ção transcenden tr anscendental, tal, tera ter a pia transacional e o estudo e prática de magia. Ainda que seriamente adiantado, em oposição ao pedantismo acadêmico estéril, o slogan de relevância escondia um antagonismo sub jacente jac ente pela própri pr ópriaa educação educaç ão — uma incapa inc apaci cidade dade de se interessar por qualquer coisa além da experiência imediata. Sua popularidade atestou a crescente crença de que a educa ção deveria ser indolor, livre de tensão e de conflito. Aqueles que interpretaram a “relevância” como um ataque acadêmico conjunto ao racismo e ao imperialismo, além do mais. mera mente inverteram o expansionismo dos administradores da universidade. Quando propuseram alinhar a universidade ao *
Corpo de T reinamento reinamento dos Of iciais da Reserva. (N. do T .)
187
lado da reforma social, fizeram, antes de mais nada, eco ao ideal de serviço que justificava a expansão do império da multiversidade. Em vez de tentar manter a universidade limitada a um conjunto mais modesto de objetivos, os críticos radicais da educação superior aceitaram a premissa de que a educação podia resolver qualquer tipo de problema social. O “Elitismo” Cultural e seus Críticos. Nos anos setenta, a crítica mais comum à educação superior gira em torno da carga de elitismo cultural. Um manifesto bastante conhecido, escrito por dois professores de inglês, argumenta que “a cul tura superior propaga os valores daqueles que governam”. Dois colaboradores de um relatório da Comissão Carnegie sobre educação condenam a idéia de que “existem certos tra balhos que deviam ser familiares a todos os homens educados” como uma “noção inerentemente elitista”. Tais críticas geral mente aparecem acompanhadas do argumento de que a vida acadêmica deveria refletir a variedade e a desordem da socie dade moderna, em vez de tentar criticar e, assim, transcender a essa essa confusão. conf usão. O próprio própr io conceito de de crítica crític a tornou tornou-- se quase quase que universalmente suspeito. De acordo com uma linha de argumento em voga, a crítica, em vez de ensinar aos alunos como como “ ficar fi car env olv idos” , exige deles deles que que “ se afastem de de eventos em e m desenvol dese nvolvi vimento, mento, para comp compreend ree ndêê- los e an analisáalisálos”. A crítica paralisa a capacidade de ação e isola a univer sidade sidade dos dos conflit conflitos os que que estão estão ex plodindo plodindo no “ mundo real re al”” . Os colaboradores da Comissão Carnegie argumentam que, sendo sendo os os Estados Estados Unidos uma soci s ocieda edade de plura pluralis lista, ta, “ a ade rência ex clusivamente às às doutrinas doutr inas de qualquer escola. . . far ia com que o ensino superior ficasse em grande dissonância com a sociedade”. Dada a predominância dessas atitudes entre professores e educadores, não é surpreendente que alunos de todos os níveis do sistema educacional tenham tão pouco conhecimento sobre os clássicos da literatura mundial. Um professor de inglês em Deerf Dee rf ield, Illinois Ill inois , relata: “ Os estudan estudantes tes estão estão acostumados acostumados a ser entretidos. Estão acostumados à idéia de que, se se sentir levemente entediados, poderão girar o dial e mudar 188
de canal”. Em Albuquerque, somente quatro estudantes ins creveramcreveram- se par paraa um curs cursoo de de nív nív el médio sob s obre re a novela novel a in glesa, enquanto enquanto um Cu Curso intitula do “ Mistério- Sobrenatural” atraiu tantos estudantes, que teve de ser dado em cinco ses sões sões separadas. separadas. E m uma escola escola de nív nív el médio “ sem paredes” paredes ” em Nova Orléans, os alunos podem receber créditos em inglês pelo trabalho como locutores em uma estação de rádio e pela leitura de How to Become a Radio Disc Jockey (Como Tornarse um Locutor de Rádio) e Radio Programming in Action (Programação de Rádio em Ação). Em San Marino, Califórnia, o departamento de inglês da escola de nível médio aumentou suas suas matrículas ao oferecer oferecer matérias opcionais opcionais em “ Grandes Gr andes Histórias Histórias de A mor A mericanas” , “ Mito e Folclore” Folclore” , “ Ficçã Ficçãoo Científica” e “A Condição Humana”. Aqueles A queles que dão aulas para alunos al unos de curs cursoo unive univ e r s itári it árioo hoje em dia vêem, em primeira mão, o efeito dessas práticas, não somente na reduzida capacidade dos estudantes de ler e escrever, mas no estoque diminuto de seus conhecimentos sobre as tradições culturais que, supõe-se, devam eles herdar. Com o colapso da religião, as referências bíblicas, que antes penetra v am profundamente pr ofundamente na consciên consciência cia cotidiana, torn tornaram aram-- se incompreensíveis, e o mesmo está acontecendo agora com a literatura e a mitologia da Antiguidade — de fato, com toda a tradição literária do Ocidente, que sempre recorreu às fontes bíblicas e clássicas. No espaço de duas ou três gerações, enor mes períod períodos da “ tradiçã tr adiçãoo judaic judaicoo- cristã crist ã” , com tanta fr eqü eqüên ên cia invocada por educadores, mas, de alguma forma, tão pouco ensinada, passaram ao esquecimento.* A perda efetiva de tra* Out ra fonte de sabedoria popula r, o conto de fadas, esgoto esgotou u- se, graças novamente aos ideólogos progressistas que desejam proteger a criança contra essas histórias supostamente aterrorizantes. A censura aos contos de fadas, como o ataque à literatura “irrelevante” em geral, faz parte de um ataque geral à fantasia e à imaginação. Uma era psicologista rouba das pessoas sublimações inofensivas, em nome da relevância e do realismo; no entanto, o efeito deste treinamento em realismo, como mostra Bruno Bettelheim, é acentuar a descontinuidade entre as gerações (já que a criança vem a sentir que seus pais habitam um mundo total mente estranho ao seu próprio) e fazer a criança desconfiar de sua pró pria experiência. Antes, a religião, o mito e o conto de fadas manti nham bastantes elementos infantis para oferecer uma convincente visão do mundo para uma criança. A ciência não os substitui. Daí, a difun-
189 18 9
dições culturais em tal escala faz a crença em uma nova Idade Média precar precar iamente iamente fr ívola. T odav ia, esta esta perda coincide coincide com com um excesso de informação, com a recuperação do passado por especialistas e com uma explosão de conhecimentos sem pre ceden cedentes tes — sem que nenhum dos dos quais, c ont udo, inter fir a na experiência cotidiana ou modele a cultura popular. A E duc a ção c o mo Me r c a dor do r ia. ia . A divisão resultante entre co nhecimentos gerais e o conhecimento especializado, engastada em obscuros diários e escrita em símbolos lingüísticos ou ma temáticos ininteligíveis ao leigo, deu origem a um crescente volume de críticas e exortações. O ideal da educação geral na universidade, contudo, sofreu o mesmo destino da educação básica nas escolas primárias. Até mesmo aqueles professores universitários que louvam a educação geral na teoria, acham que sua prática esgota a energia de sua pesquisa especializada, interferindo, assim, com o progresso acadêmico. Os adminis tradores têm pouco uso para a educação geral, já que ela não atrai dotações e apoio governamental em larga escala. Os estudantes objetam quanto à reintrodução de exigências na educação geral, porque o trabalho exige muito deles e quase nunca leva a empregos lucrativos. Sob estas condições, a universidade continua sendo uma instituição difusa, informe e permissiva, que absorveu as maio res res correntes correntes do moder nism o cult ur al e reduziu reduziu-- as a uma uma rala mistura, uma ideologia esvaziadora de mentes da revolução cultural, da satisfação pessoal e da alienação criativa. A paró dia de Donald Barthelme do ensino superior da Branca de Neve — como todas todas as par ódias ódias em uma era de de absurdos — parec arecee- se tão tão pr óx ima da re alidade, que que quase quase se torna ir re conhecível como paródia. O Beaver College foi onde ela foi educada. Estudou A Mu lher Moderna, Seus Privilégios e Responsabilidades: a natureza dida regressão dos jovens ao pensamento mágico do tipo mais primi tivo: o fascínio pela magia e pelo ocultismo, a crença na percepção extra- sensoria sensorial. l. a pr olife ra ção de de pr imitiv os cultos cris tãos. tãos.
190
e nutrimenío das mulheres e seu papel na evolução e na his tória, inclusive cuidados com o lar, criação de filhos, manu tenção da paz, cuidados médicos e devoção, e como estes itens contribuem para a reumanização do mundo moderno. Ela depois estudou Guitarra Clássica I, utilizando os métodos de Sor, Tarrega, Segovia etc. Após, estudou Poetas Românticos Ingleses II: Shelley, Byron, Keats. Estudou depois Fundamen tos Teóricos da Psicologia: mente, consciência, mente incons ciente, personalidade, o eu, relações interpessoais, normas psipsi cossexuais, jogos sociais, grupos, adaptação, conflito, autori dade, individuação, integração e saúde mental. Estudou depois Pintura a óleo I, levando para a primeira aulaj conforme ins~ trução, trução, A marelo- Claro de de Cádmio, Cádmio, A marelo- Médio Médio de de Cádmio, Cádmio, V e r melho me lho-- Clar Cl ar o de C ádm io , L acaac a- Es cura, cur a, A z ul- U ltr lt r a mar ma r , A zulde- Cobalto Cobalto,, V iridia no, P reto- Eban Ebano, o, SombraSombra- Natural, Natural, Amarelo Amarelo-Oc a, T erra de de Siena- Queimad Queimada, a, Branco. Es tudou tudou depois depois Re cursos Pessoais I e II: autoauto- avaliação, avaliação, desenv olvimento da da coragem de responder ao meio, abertura e uso da mente, ex periência individual, treinamento, uso do tempo, redefinição madura de objetivos, projetos de ação. Depois estudou Rea lismo e Idealismo na Novela Italiana Contemporânea: Palazzeschi, Brancati, Bilenchi, Pratolini, Moravia, Pavese, Levi, Silone, Berto, Cassola, Ginzburg, Malaparte, Calvino, Gadda, Bassani, Landolfi. Depois estudou ■ — Eis uma educação eminentemente adequada à heroína da novela de Barthelme, uma jovem comum que deseja experiên cias que poderiam ocorrer a uma princesa de conto de fadas. Uma moderna Madame Bovary, Branca de Neve é uma típica vítima da cultura de massa, a cultura das mercadorias e do consumismo, com sua sugestiva mensagem de que as expe riências riência s antes antes reserv rese rvadas adas aos. bembem- nascidos, nascidos, os os de pro funda compreensão ou de conhecimento prático da vida, podem ser apreciadas por todos, sem esforços, na compra da mercadoria adequada. A educação de Branca de Neve é, ela própria, uma mer cadoria, c ujo consumo promete “ satisfazer seu potencial otencial cr iat iv o” , no jar g ão da pseudoseudo- emancip emancipação. ação. Que todos todos os estudantes são ‘‘criativos” sem esforços e que a necessidade de liberar essa criatividade tem precedência sobre a necessi 191 19 1
dade, digamos, de treinar pessoas com a capacidade, em vias de desap desaparecer, arecer, de s ilêncio e reserva — estes estes são os os ma is altos entre os dogmas reguladores dos educadores americanos. O ecletismo negligente da educação de Branca de Neve reflete o caos da vida contemporânea e a irracional esperança de que os estudantes atingirão por si sós a coerência intelectual, que seus seus professores professores não mais pode m dar- lhes. lhes. Os profes sores des culpam seu seus próprios próprios fracassos com o pre pre tex to de de “ vestir a instrução segundo as necessidades do estudante individual”. Os instrutores de Branca de Neve admitem que o ensino superior idealmente inclua tudo, assimile toda a vida. E é verdade que nenhum aspecto do pensamento contemporâneo provou ser imune à educacionalização. A universidade reduziu toda toda ex periência eriência a “ curs curs os” de de estudo estudo — uma imag em c uliná ria adequada ao ideal subjacente do consumo esclarecido. Em sua avidez de abraçar a experiência, a universidade passa a servir como um substituto para ela. Assim fazendo, contudo, ela meramente meramente compõe compõe suas suas f alhas intelectuais intelectuais — não não obstante obstante sua sua pretensão retensão de de pre pre parar estudantes estudantes para a “ v ida ” . Não só a educação superior destrói a mente dos estudantes; ela tam bém os incapacita incapacita e mocionalme nte, tornan tornand do- os incapazes incapazes de enfrentar a experiência, sem recorrer a livros de textos, notas notas e pontos pontos de vis ta pré- dige dige ridos. ridos. L onge de pre pre para r es tu dante antess para v iver “ autenticamente” , o ensino s uperior uperior na A mér mé r ic a tornator na- os inca in ca paz pa z e s de e x e c uta ut a r a ma is s imple im ple s ta refa — preparar uma r efeição, efeição, ou ir ir a uma re união, união, ou ou ir para a cama com um membr o do sexo oposto oposto — sem ela bo rada instrução acadêmica. A única coisa que ela deixa ao acaso é o ensino superior.
192
V I I
A S o c ia l iz a ç ão da R e pr o d ução uç ão e o Colapso da Autoridade
A “ S oc ia liz li z a ção do O p e r á r i o A s obr e v iv ênc ia de qua qu a lque lq ue r forma de sociedade humana depende da produção das neces sidades da vida e a reprodução da própria força de trabalho. A té r e cente ce nte mente me nte , o tr a ba lho lh o da r e prod pr odução ução,, que inc in c lui lu i não só a propagação das espécies, mas também os cuidados e a nutrição dos jovens, ocorreu em grande parte na família. O sistema fabril, estabelecido no século dezenove, socializou a produção, mas deixou intactas outras funções da família. A socialização da produção, no entanto, provou ser o prelúdio da própria própria s ocialização ocialização da da r epr odução odução — a apropriação das das funções de criação de filhos por pais substitutos, responsáveis não perante à família, mas perante ao Estado, à indústria privada ou aos seus próprios códigos de ética profissional. No curso de levar cultura às massas, a indústria da publicidade, os meios de comunicação de massa, os serviços da saúde e do bemem- estar e outros outros agentes agentes de de inst rução de massas massas as sumira m muitas das funções socializadoras do lar e colocou as que restaram sob a direção da ciência e da tecnologia modernas. É sob este aspecto que devemos ver a apropriação pela escola de muitas das funções de treinamento, antes desempe nhadas pela família, inclusive treinamento manual, artes do mésticas, instruções sobre maneiras e moral, e educação sexual. “ Mudanças sociais, sociais, polí políticas ticas e indust r iais ’’, anunc iou um par par de educad educadores ores líderes líderes em 19 18 , “ força ram a escola a ass umir umir re sponsabilidades sponsabilidades an antes ass umid umidas as pelo lar. A ntig ame nte, a escola tinha principalmente de ensinar os elementos do conhe cimento; hoje em dia, ela é também encarregada do treina mento físico, mental e social da criança.” Estas palavras refle tiam um consenso, consenso, entre entre as as “ profiss ões aux iliare s ” , de que que a família não mais podia cobrir suas próprias necessidades. 193
Médicos, psiquiatras, especialistas em desenvolvimento infan til, porta-vozes dos tribunais de menores, conselheiros matri moniais, líderes do movimento pela higiene pública, todos dis seram a mesma coisa coisa — no entanto, ge ralmente rese rv ando ando para suas próprias especialidades o papel principal no cuidado dos jovens. Ellen Richards, fundadora da moderna profissão de serviço serviço social, ar g umentou: umentou: “ Na re pública pública s ocial, ocial, a criança como futuro cidadão é um encargo do Estado, não propriedade de seu seus pais. pais. Cons eqüenteme eqüente mente, nte, seu bem bem-- estar é do interess interessee direto do Estado.” Especialistas em saúde mental, procurando expandir sua própria jurisdição, deploraram “os danos, fre qüentemente qü entemente quase quase ir re paráve is, que os os pais pais mais bem- inten inten cionados podem causar a seus filhos”. Muitos reformistas de sesperaram de instilar nos pais os princípios da saúde mental e sustentaram que “ o único me io prático e ef icaz de aumenta r a saúd saúde me ntal de uma nação é o sistema e scolar. Os lares são por demais inacess,veis.” Opositores do trabalho pela criança argumentaram segundo as mesmas linhas. Convencidos de que os pais imigrantes pobres obres ex plora v am o tr aba lho de de seus seus filhos em todas todas as oportunidades , ex igir am ele eless não só a pro ibição, por parte do Estado, do trabalho pela criança, mas também a colocação desta sob a custódia da escola. De modo similar, aqueles que lidav lidav am com a delinqüência delinqüência juv en il v iam os os lares lares “ desfeitos” ou, de outro modo, defeituosos, como a fonte geradora do crime, e tentaram levar o ofensor juvenil à custódia protetora dos tribunais. Os direitos dos pais sobre seus filhos, de acordo com a nova ideologia da reforma social, dependiam da exten são de seu desejo de cooperar com as autoridades dos tribu nais nais de de menores menores . “ Deve ser dada toda a juda ao pai c ompe tente”, escreveram Sophonisba P. Breckinridge e Edith Abbott, mas “ não não se deve fazer qua lquer concessão concessão ao pai a v iltado ” . Pela mesma lóg ica, como um o utro portaporta- voz das profissões profissões auxiliares explicou, a recusa em cooperar com os juizados e outros outros agentes do bemem- estar prov av a que um pai “ possui uma visão distorcida da autoridade, sendo, portanto, incapaz de utilizar os recursos sociais”, negando, assim, seu direito a seus filhos, ou, pelo menos, criando fortes dúvidas sobre sua com petência como pai. 194
Os reformistas conceberam a ‘‘socialização do operário” como a alter nativ a para o c onf lito de class classes. es. “ Se os os homens homens de qualquer país aprenderem desde a infância a se considerar como membros de uma ‘classe ‘classe ’ ” , escreveu E dw in L . Ear p, caracteristicamen caracteristicamente te dirigin irigind do- se ao “ homem prof iss ional” , bem bem como às às ordens mais baixas, baix as, “ . . . será então então impossív el evitar ev itar o atrito social, o ódio de classe e o conflito de classes.” Um portaorta- voz do ev ange lho social, E ar p pros pros seg uiu ex plicando que a Igreja podia socializar o operário com maior eficácia “ do que que as uniõ uniões es trabalhistas tr abalhistas , pois têm esta estass consciênc ia cla classista e são . . . egoí eg oístas stas,, e nquanto nqua nto a Ig re ja, ja , por por outr o utroo lado, la do, está consciente de um reino terreno de honradez, paz e alegria e, em muitos casos, pelo menos menos,, é espera nçosamente alt r uísta ” . Quase todos concordavam em que a família promovia uma mentalidade estreita, paroquial, egoísta e individualista, im pedindo, assim, o desenvolvimento da sociabilidade e da cooperação. Este raciocínio levou inexoravelmente à conclusão de que agentes externos tinham de substituir a família, em especial a família da classe operária, que muitos reformistas, não obstante, desejavam preservar e fortalecer. Se a escola estava relutantemente “substituindo a família”, de acordo com Elle n Ric hards, har ds, isto se se devia a que “ o ponto de v ista pessoal, ora inculcado pelas modernas condições de luta pelo dinheiro, tão certo como deve ter sido pela luta dos bárbaros em épocas prépré- civilizadas, deve deve ser s uplantado pelo ponto ponto de vista mais mais am plo do do bem bem-- estar estar da da ma ior ia ” . A s leis leis férreas férreas da ev oluçã oluçãoo social social ditava m a subordinaçã subordinaçãoo do ind iv íduo ao “ destino destino da da raça”. O Tribunal de Menores. O movimento para subordinar os ofensores juvenis a jurisdição especial ilustra, em sua forma mais clara, as ligações entre altruísmo organizado, a nova concepção terapêutica do Estado, e a apropriação de funções familiais por agentes externos. Quando os reformistas e os humanistas penais estabeleceram um novo sistema de justiça juv j uv e n il, il , no f in a l do s éculo dez de z e nov no v e , conce co ncebe bera ramm- no como co mo um substituto para o lar. Em seu ponto de vista, o reformatório deveria conter “elementos essenciais de um lar normal”. No 195
Illinois, a lei que estabelecia o tribunal de menores (1889) anunciava que o ato asseguraria “que o cuidado, a custódia c a dis ciplina cipl ina de uma uma cr iança deve aprox aprox .im .imar- se tanto quan to poss poss ível dos dos que que dev er iam ser dados dados por seus seus pais pa is ” . Se os os pais “ v irtualmente deix ava m órf ãos ” seu seus filhos “ por por s ua in inadequaçao, negligência ou tratamento cruel”, os poderes pa avam- lhe lhe o direito direito rentais do Estado — parens patriae — davamde remover as crianças da custódia de seus pais. sem julga mento, e de trazê-las para ficar sob seus próprios cuidados. De acordo com a Srta. Breckinridge, o tribunal de menores “ ajudav ajudav a a socorrer socorrer a criança de de pais pais irres ponsá ponsáveis veis e . . . in dicava o caminho para uma nova relação entre a família e a comunidade”. Pelo fato de que cs novos tribunais tratavam a ofensores juvenis mais como vítimas de um meio deficiente do que como criminosos, eliminaram eles a relação adversa entre a criança e o Estado e fizeram da prevenção do crime, não não da da punição, o pr pr inci pal obje tiv o da lei lei — aos aos olhos dos reformistas, um grande avanço no sentido de um sistema de jus j usti tiça ça mais ma is hum hu m a n o e c ie nt íf ic o . “ O e le ment me ntoo de c o n f l it o f oi absolutamente eliminado”, escreveu Jane Addams, “e, com ele, todas as noções sobre punição.” Uma antiga história do movimento do tribunal de menores dizia que, que, apó após a abolição dos procedimentos advers os, “ as relações dos filhos com seus pais e outros adultos e com o Estado ou a sociedade são definidos e ajustados sumariamente de acordo com as descobertas científicas sobre a criança e seu meio”. Os magistrados deram lugar a “juizes orientados para o social, que ouvem e ajustam os casos não de acordo com rígidas regras da lei, mas conforme as exigências dos inte resses da sociedade e os da criança ou da boa consciência”, fúris, acusadores e advogados de defesa capitularam ante “ funcionários funcionários en encarreg carreg ados ados dos dos réus réus beneficiados por sursis. médicos, médicos, psicólogos sicólogos e psiquiatr psiquiatr as . . . . Nesta nova nova corte, eli minamos o preconceito, o ódio e a hostilidade primitivos pelo infr inf r ator at or da lei, numa das das mais intra táve is •!e todas todas as ins tit ui ções humanas, o tribunal de justiça.” Como acontece com freqüência na história moderna, as re formas que se apresentaram como o máximo de esclarecimento ético carcomeram os direitos do cidadão comum. Concebendo 196
o problema do controle social sobre o modelo da saúde públi ca, as “profissões auxiliares” pretenderam atacar as causas do crime, em vez de meramente tratar de suas conseqüências. A o conv co nver er ter te r os t r ibuna ib unais is em agente ag entess de ins in s t r ução mor mo r a l e de “ aux ílio" psíquico, contudo, contudo, abolira m ela elass as as salv agu ag uardas comuns contra a apreensão e detenção arbitrárias. Suas refor mas deram força aos tribunais para introm intrometereter- se em assun as sun tos tos familiar es ; remover crianças crianças de “ lares lares inade quados ” ; sen tenci tenciáá- las las a períodos inde ter te r minados de encar cer amento, sem provar sua culpa; e invadir o lar do delinqüente para super visionar os termos do sursis. O sistema de sursis, de acordo com um reformista, criou “um novo tipo de reformatório, sem paredes e sem muita coerção”; na verdade, porém, o estabele cimento desse reformatório sem paredes estendia os poderes coercitivos do Esta do, agora disf disf arçados ar çados de um desejo desejo “ de agir como amigo amig o e de aj udar uda r ” , em todos os cantos da sociedad s ociedade. e. O Estado podia, agora, segregar transviados sem outra razão qualquer além da que eles ou seus pais se tinham recusado a cooperar com os tribunais, especialmente quando a recusa em cooperar aparecia como evidência prima facie de um meio ambiente deficiente. defic iente. Juizes que que se se considera cons idera v am “ especialistas especialistas na arte das relações humanas” procuravam “extrair toda a verdade ve rdade a respeito re speito de uma uma cr iança ian ça”” , nas palavr as de Mir iam ia m V a n W a te r s , do mes me s mo m o do que um “ médi mé dicc o proc pr oc ura ur a s aber de cada cada detalhe da condição condição de urn urn paciente” . Um j uiz or g u lha lhava- se do do “ tato pess pess oal” com que que abordava rapazes rapazes delin qüentes: qü entes: “ Fr eqü eqüentemente entemente obser vei que, que, se se estivesse sentado em uma alta plataforma, atrás de uma alta mesa, tais como as que tínhamos no tribunal de nossa cidade, estando o rapaz no banco de réus a alguma distância, minhas palavras tinham pouco efeito sobre ele; mas se pudesse chegar bem perto dele e colocar minha mão sobre sua cabeça ou ombros, ou meu braço em torno dele, quase sempre conseguia que confiasse em m im ” . Com efeito, efe ito, a corte agora atestava o- “ pacient paci ente” e” no que Talcott Parsons chamou de papel de doente. Logo que o rapaz admit ia sua sua necess necess idad idadee de ajuda — o sentido se ntido real, neste ambiente essencialmente terapêutico, de dar ao juiz sua “ co nfia nça” — , ele ele trocava trocava seu seus direitos legais legais pela c ustódia ustódia protetora do Estado, que, na prática, geralmente provava ser 197
tão severa e inflexível quanto a punição, da qual o novo siste ma de terapia judicial, em princípio, o havia livrado. Ocasionalmente, um juiz com idéias antiquadas insistia que “a verdadeira função de um tribunal é determinar judicial mente os os fatos apres apresentad entados os a ele” — e que que “ as investigaçõ inves tigações es das vidas, meio ambiente, ou hereditariedade de delinqüentes, a aplicação de punição e a supervisão do sursis instituciona lizam as cortes e são repugnantes a cada doutrina da ciência do direito”. Tal raciocínio, contudo, ia de encontro à juris prudência sociológica corrente, a qual parecia justificar um papel bastante extenso para os tribunais. Em meados dos anos 20, Van Waters argumentou que o Estado tinha uma obri gação de “proteger” as crianças não só contra lares desfeitos, que que alimentav alimenta v am o crime, crime, mas mas “ contra pais, pais, cujo tratamen tr atamento to resulta em uma personalidade inválida ou distorcida”. Seu livro, Parents on Probation, relacionou re lacionou em um um c apítulo “ de zenove zenove modos modos de ser ser um mau pa i” , que que incluía incl uía “ tutela per pétua”, “uma visão distorcida de autoridade” e fracasso em tornar-se “orientado ao mundo moderno”. Van Waters admitia que que a maior parte dos f ilhos de “ pais deficientes def icientes”” , quando podiam escolher entre a custódia do tribunal de menores e a de seus pais, preferiam retornar a seus lares, ainda que des moronados. Esta “incurável lealdade de crianças por adultos pouco dignos”, embora fosse “o desespero do assistente social”, não obstante sugeria que “o próprio lar de uma criança davalhe algo que a mera bondade e fartura do lar adotivo não podia propor pro porcio cionar nar ” . Contudo, Cont udo, estas estas consideraçõ considerações es não não impediram impedir am V an Wate Wa terr s de ar g umentar umenta r que não só lares desf eitos eit os,, mas também lares “normais” muitas vezes produzem crianças des truídas e que o dever do assistente social de interferir nos negócios domésticos de outras pessoas logicamente não co nhecia nhecia limites . “ À medida que que aumentam aument am nossas nossas descrições descrições de de casos na clínica e em conferências, a riqueza de evidências de que o lar ‘normal’, tanto como o lar desfeito, abriga a des nutrição, física e espiritual, que formação de hábitos sórdidos e desajustamentos morais ocorrem nas ‘melhores’ famílias, cresce a conclusão, não de que os pais precisam de educação, mas de que seria melhor que um agente especializado assu misse o problema da criação de crianças.” 198
Educação de Pais. Aqueles que resistiam a tal formulação radical dos poderes do Estado in loco parentis, agarraram agarraram se à
esperança de que a “educação de pais” melhoraria a qualidade do cuidado com a criança e tornaria desnecessários ataques mais drásticos à família. Reformistas como Washington Gladden, bastante conhecido como um expoente do evangelho social, socia l, admitia a dmitia a maioria maior ia dos princ princíp ípios ios associad associados os ao novo humanitar humanitar ismo is mo — com a reform refor ma escolar escolar e a nova nova juris j urispruprudência socioló s ociológica gica em par particular ticular — , todavia todav ia questionou suas suas aplicações mais extremas. Gladden endossou o ponto de vista de que “a punição deve ser auxiliar da reforma” mas se perguntou se a “reação contra a severidade dos castigos da antiga penologia” não havia carcomido “princípios éticos fundamentais” e “debilitado, perceptivelmente, o senso de responsabilidade moral”. Muitos “reformistas sentimentais da prisão”, observou ele, falavam sobre prisioneiros “como se fossem pessoas totalmente inocentes e amigáveis”. Embora Gladden tenha aceitado o ponto de vista predominante de que “o real trabalho da educação é, hoje em dia, feito fora da família” e que esta colocação, além do mais, representava uma eficiente divisão do trabalho, ele o aceitou sojnente com apreensão. Concordou Concor dou com com Dew Dewey ey em que que “ a escola escola deve deve encontrar um meio de cultiyar a têmpera social, o hábito de cooperação, o espírito do serviço, a consciência da fraternidade”; entretanto, ao concordar com esta expansão sem precedentes da responsabilidade da escola pela socialização, ele queria que a educação perman ermanecesse ecesse “ fundamentalmente fundamental mente uma função parent par ental” al” . Desde o início, o movimento pela melhoria do lar — a única nic a tentativ tentat iva, a, parecia, pareci a, de de ignorá ignorá lo ou de de sub substituí stituí lo — debateu ebateu se em mei meioo a estas estas contradiçõ contra dições es.. Os professores rofes sores da “ciência doméstica”, especialistas acadêmicos em “matrimônio e família”, conselheiros matrimoniais, terapeutas familiares e muitos assistentes sociais tentaram fortalecer a família contra as forças que que tendia t endiam m a miná iná la. Um assistente assistente social, Frank Fr ank Dekker Watson, objetou quanto à “filosofia ilusória, que volta as costas aos pais como se fossem sem esperanças e propõe salvar o filho. Não podemos salvar as crianças separadamente”, insistiu ele. “Devemos alcançar e salvar a família como um todo.” Todavia, todos esses especialistas, em seu ávido 199
desejo de “salvar” a família, admitiram a premissa dominante de que a família não mais podia prover suas necessidades sem assistência externa. Em particular, desconfiavam da família imigrante e viam o movimento para a educação de pais como parte de um esforço mais amplo de civilizar as massas — isto é, americanizar os imigrantes e impor disciplina industrial à classe operária. As massas urbanas, escreveu Gladden, “devem ser civilizadas, educadas, inspiradas por novas idéias”. Florence K elley ell ey,, uma socialista socialist a notável, notáve l, qu queixou eix ou s£ de que que uma moça italiana típica, ainda que exposta a anos de educação escolar, escolar , esqu esquecia ecia se de de tudo que aprender a prendera, a, assi as sim m que se casava, e continuava a criar, “da maneira mais irracional, a grande família que continua até a segunda geração nas colônias italianas. Ela alimentará seus bebês com bananas, macarrão, cerveja e café; e muitos desses cidadãos nativos potenciais morrerão em seu primeiro ano de vida, envenenados pela desesperançada ignorância de sua mãe escolarizada.” Esses reformistas, desesperançados quanto à escola, esperavam fazer da própria família um dos principais agentes de esclarecimento — mas som s omente ente inspecionan inspecionando do a, de acordo acor do com os últimos lt imos princípios da interação matrimonial e do cuidado com a criança. •Estes Estes princípi pr incípios os,, naturalme natur almente nte,, pas passar saram am por elabor el aboração ação e revisão contínuas, como o ditava a moda da profissão. Se considerarmos a literatura sobre criação de filhos somente — deixando de lado a igualmente volumosa literatura sobre os problemas do casamento, que, em grande parte, consistia de especulações conflitantes sobre a atração dos opostos ou a importânci por tânciaa da semelhança s emelhança de origens orig ens e gostos —• , v erif er ific icamos amos que a opinião dò especialista evoluía segundo quatro estágios, cada um pretendendo representar um notável avanço em relação ao anterior. Nos anos vinte e trinta, o behaviorismo manteve o controle. Autoridades como John B. Watson e Arnold Gesell acentuaram a necessidade de padrões de alimentação estritos e contatos entre filhos e pais cuidadosamente regulados. Em seu recuo inicial contra remédios caseiros, métodos práticos e “ instinto inst into mater mate r nal” , os pediatras pediatras e psi psiqu quiatr iatras as con denaram denaram a ; “ superproteçã superproteçãoo maternal mate rnal”” e incitaram incitar am os pais a respeitar respeitar a “ind “ independ ependên ência cia emocional” emoci onal” da da criança. Muitas Muitas mães, de acordo com Emest e Gladys Groves, achavam “a 200 20 0
coisa mais assombrosa que o amor materno fosse considerado pela ciência como inerentemente perigoso, e algumas delas começaram a entrar em pânico, à medida que deixavam a im portância dos novos ensinamentos penetrar em seus pensa^ mentos ” . Com o passar passar do tempo, tempo, no entanto, os novos novos ensi namentos permitiriam aos pais conceder a seus filhos a bên ção inestimável da “libertação do vínculo emocional com seus pais”.* A P ermis er misss iv idade ida de Recons Re conside iderr ada. Nos últimos anos das déca das de trinta e quarenta, a popularização da educação progres sista e das versões aviltadas da teoria freudiana suscitaram uma reação em favor da “permissividade”. Esquemas de alimenta ção deram lugar à alimentação a pedido; tudo agora tinha de girar em torno das “necessidades” da criança. O amor veio a ser considerado não como um perigo, mas como um dever * Grov es e Grov es não estavam sozinhos sozinhos ao observar, observar, mesmo naquela época, certos efeitos perturbadores do ensino profissional sobre os pais. Miria m V an Wate rs escreveu: escreveu: “ T em sido sido escrita tanta literatura popular alarmante a respeito de crianças deficientes, que um diagnós tico da deficiência ou sérias desvantagens como epilepsia ou constituição neur ótica deix am os os pais gelados de desespero” desespero” . T ais observ ações, ações, no entanto, raras vezes induziam aqueles que as fizeram a questionar a sabedoria do ensino profissional, o qual, por sua própria natureza — mesmo quando procura estabelecer uma uma reas seg uração uração — , sustenta sustenta uma norma de desenvolvimento infantil, cujos desvios necessariamente dão origem ao alarme parental, a outras demandas de intervenção profis sional e, com freqüência, à medida que intensificam o sofrimento, em vez de aliviáaliviá- lo. A que le s que obs er v ar am que o ataque at aque ao ins in s tint ti nt o mater mat er nal na l min a v a a confiança materna, não sentiram reservas a respeito deste desenvol vimento, pois, em seu ponto de vista, a confiança destruída pela medi cina repousava, em primeiro lugar, na ignorância e na complacência. De acordo com Lorine Pruette, “A severa crítica aos hábitos da mãe mediana para com seus filhos, feita por assistentes sociais, psiquiatras e educadores, ajudou a destruir uma grande complacência, que antes era a prote prote ção ção da jove m m ãe .. . O ditado de de que que a mãe mãe sabe melhor melhor e o dogma dos instintos naturais da maternidade tanto caíram em desgraça, que que só se se ref ugiam neles os os ig norantes e os estúpidos estúpidos .” Um escr itor em Good Housekeeping observou em 1914: “Almas cheias de amor trazem também cabeças cheias de ignorância... ‘O instinto diz à mãe o que faze r’ . Oh , é uma ve lha cantile na, e tão cient ífica quanto a clássica clássica afirmação de que um garfo em pé significa alguém que chega, ou que a lua lua é feita de queijo fres co. O instinto, dever as! ”
201
positivo. Os métodos de controle de natalidade desenvolveramse, de acordo com o credo progressista, e liberaram os pais da carga de criar filhos não desejados, mas esta liberdade, na prática, parecia reduzir-se à obrigação de fazer com que as crianças se sentissem desejadas em todos os momentos de suas vidas. ‘‘O erro comum do aconselhamento psicológico”, escre veu Hilde Bruch em 1952, “está em ensinar aos pais técnicas de transmitir ao filho uma sensação de ser amado, em vez de acredi acre ditar tar em seus seus verdadeiros v erdadeiros sentimento sentimentoss inatos inatos de amor.” a mor.” * A permis per misss iv idade ida de cedo ce do pro pr o duziu duz iu sua própr pr ópria ia r eação, ea ção, uma insistência em que os pais deveriam consultar suas próprias necessidades, assim como as de seu filho. O instinto maternal, bastante ridicularizado pelos primeiros especialistas, fez um retorno em Baby and Child Care, do Dr. Spock, publicado pela primeira vez em 1946. “Confiem em si mesmas”, Spock anun ciava ciav a no início. i nício. “ O que que os os bons pais e mães sentem que que é certo certo fazer com seus bebês, é geralmente o melhor.” Muitas vezes acusado pelos excessos da criação de filhos permissiva, Spock deveria, ao invés, ser visto como um de seus críticos, ao pro curar restaurar os direitos dos pais em face de uma preocupa ção exagerada pelos direitos do filho. Ele e outros especialistas dos anos anos quarenta quar enta e cinqüenta tornaram tornaram-- se, com certo atras o, conscientes do modo como seus próprios conselhos tinham minado a confiança dos pais. Eles começaram a sugerir, a princípio à guisa de tentativas, que os pais não deveriam ser * E m Kinfliks, de Lise Alther. a mãe da heroína, um produto do período permissivo, queixa-se: “Se algo foi enfiado em sua cabeça nos seus anos de maternidade, foi que não se deve bater com força nas crianças. Poderia impedir seu desenvolv imento imento adequado. A g ora, nosso nosso próprio desenvolvimento não tem nenhuma importância.” A im por po r tânc tâ nc ia de f ilho il hoss “ des de s e jados ja dos ” cheg che g ou ao status de dogma logo em 1912, quando Mary Roberts Coolidge argumentou que a educação organizada para a maternidade, juntamente com melhorias na anticoncepção, logo fariam da maternidade “algo mais do que uma obediência cega cega à natureza e à humanidade” . A maternidade maternidade logo se tornaria “ uma alta vocaçao, digna do melhor preparo e da mais profunda devoção”, de acordo com Coolidge . Liv res da carça de de criar f ilhos indesejados, indesejados, as mulheres enfrentariam a criação de filhos não como uma carga — algum dever biológico — , mas como uma carreira carreira desafiadora, que que ex igiria cui dadoso dadoso estudo e aplicação aplicação de de técnica rac ional. “ Estamos rapidamente passando de uma maternidade puramente instintiva para uma materni dade consciente e voluntária.”
202 20 2
res ponsabilizados ponsabilizados por todas todas as faltas de seu seus filh f ilhos. os. “ As raízes raízes mais profundas”, escreveu um pediatra, “não estão nos erros dos pais, mas em atitudes culturais das quais os pais são me ros intermediários.” Outro especialista considerava que as fracass fr acassadas adas abordagens abordag ens à educação educaçãode pais pais lev antar am uma “ hostilida host ilidade” de” ir r acional “ pelos especialistas especialistas e conselheiros conselheiros de de f a míl ia ” . Exp Ex postos aos aos conselheiros conselheiros qu que dav am ênfase ênfase a “ pro blemas, em vez de de teorias” teori as” , muitos muitos pais “ sentiram, de alg um modo, que que tinham ti nham falhado fa lhado em fazer faz er por seu seus filhos o que que seus pais tinham feito por eles e, no entanto, não sabiam por que, ou onde, tinham falhado, ou o que poderiam fazer a esse respeito”. Tais considerações, contudo, não levaram os espe cialistas cialis tas a desistir do assunto as sunto de educação de de pais. pais. Pelo contrário, eles, agora, ampliaram o objetivo de suas reivindi cações cações,, colocan colocando do-- se como c omo médicos par a toda t oda a sociedade. socie dade. A té mesmo os críticos cr íticos mais penetrantes penetr antes dos dos dogmas permis per mis sivos siv os opu opuseramseram- se a eles, não não com uma uma declara decl araçã çãoo mais mo desta do que a medicina e a psiquiatria poderiam esperar atin gir, mas simplesmente com novos dogmas. Os limites da auto crítica psiquiátrica emergiram mais claramente em Don’t Be A f r a id of Y our Child Chi ld,, de Hilde Bruch, obra de uma psiquiatra humana e sensível que, não obstante, em nada contribuiu para certos assuntos que abordou. Às vezes, a Dra. Bruch partia de seu ataque à permissividade e atacava o próprio imperia lismo psiquiátrico, que havia inibido a “espontaneidade” e suscitara suscitar a em muitos muitos pais um “ estado de de ansiedade superpos t o” . T emerosos emerosos de repetir re petir os os erros de seus seus própr própr ios pais, os pais modernos repudiaram as práticas úteis do passado e abraçar abra çaram am as as “ rotineiras rotineira s meias- verdad verdades es dos dos especialistas especialistas como as leis da vida”. Melhor que quase todos os outros comenta ristas da psiquiatria americana, a Dra. Bruch compreendeu seu ataque maciço contra o passado e a devastação deixada por esta demolição de formas mais antigas de autoridade. T ornou ornou-- se moda em todo o mundo mundo da psiquiatria psiquiatr ia e da psi cologia, não somente em sua relação imediata com as práticas da criação de filhos, falar em termos dramáticos e radicais sobre o efeito opressor da autoridade e da tradição. O fracas so em reconhecer os aspectos essencialmente válidos e enco203
rajadores rajadores dos métodos métodos tradicionais tr adicionais e difer diferenci enciáá- los de medidas medidas ultrapassadas maléficas e excessivamente restritivas, resultou em uma desmoralizada confusão dos pais modernos e, assim, assim, teve um desastroso efeito sobre os filhos. A Dra. Dra . B r uch foi ainda ai nda mais ionge. Ela compre co mpreende endeu u a transformação social e cultural que fez da ciência criada da indúst indústrr ia — neste caso a psiquiatr psiquia tria ia a criada cr iada da publicidade, publicidade , que recruta a psiquiatria, na tentativa de explorar os "desejos dos pais pais de de querer querer o melhor para seu seus filh f ilhos os ” . A o manter os pais em um estado de ansiedade crônica, a psiquiatria frus tra. assim, os desejos cuja satisfação a publicidade pode então reivindicar. Ela estabelece o fundamento emocional para a insistência da indústria da publicidade de que a saúde e a segurança dos jovens, a satisfação de suas exigências nutri cionais diárias, de seu desenvolvimento emocional e intelec tual, e sua capacidade de competir com seus pares pela popularidade e sucesso dependem de consumo de vitaminas, esparadrapo, creme dental que previne as cáries, cereais, higie ne bucal e laxativos. Tendo enfrentado, ou pelo menos percebido, tudo isto, a Dra. Bruch traiu suas próprias percepções ao atribuir os pro blemas que havia identificado, não às ambições inerentemente expansionistas da moderna psiquiatria, mas, antes, ao uso errô neo da psiquiatria por uns poucos praticantes irresponsáveis. Com muita freqüência, escreveu ela, os pais consultavam "es pecialistas autodesignados, não licenciados", quando deveriam ter ido a um ‘‘especialista psiquiátrico médico” que traba lhasse em conjunto com um clínico. Apesar de todas as farpas que lançou contra sua própria profissão, ela apoiou a maior parte de seus seus lugareslugares - comu comuns: "a educação dos dos pais veio para f icar ic ar ” ; "não há como como v oltar atr ás” ; "o qu que era ‘senso ‘senso comum' no século passado é capaz de ser inútil e estar irremediavel mente em descompasso em nossos dias”. Seu ataque à criação permiss iva iv a de de filhos fil hos reduziu reduziu-- se a uma crítica da má aplicação da psiquiatria. Embora instasse os pais "a reconhecer seus próprios próprios recu r ecursos rsos interiores e sua sua capacidade capacidade de julg amento” ame nto” , seu livro, assim como o do Dr. Spock, abundava em avisos lúgubres sobre os danos que pais ignorantes podiam infligir 204 20 4
a seus filhos. Spock minou seu próprio apelo de confiança, ao lembrar aos pais que o fracasso em dar aos filhos amor e segurança poderia levar a “dano irreparável". De modo se melhante, Bruch condenou a permissividade, baseada em que ela ela podia produzir “ perturbação perturbação emocional emocional prof pro f unda” no no f ilho. Tais pronunciamentos tiveram o efeito de enfraquecer a con fiança fi ança parental, pelo próprio ato de de tentar restaurá restaurá-- la.* O Culto da Autenticidade. Como a crítica da permissividade raramente desafiasse a ortodoxia psiquiátrica, ela logo crista lizou lizou- se em um nov novoo dogma dog ma — o dogma da autenticidade. autentic idade. No princípio, os especialistas aconselhavam os pais a seguir um * O mesmo procede quant o à crítica da permissividade difundida por um grupo de ensaios psiquiátricos reunidos em 1959 por Samuel Liebman, Emotional Forces in the Family. Esses ensaios contêm a mesma mistura mist ura de senso senso e de pseudo pseudo-- senso. Em “T he De ve lopment lopme nt oí the the Fa mily in the the T echnical A g e", Joost A . M. Meer loo analisa, com gr ande ande discernimento, a “invasão” da família pela cultura de massa e por idéias psiquiátricas malmal- assimiladas, assimiladas, que que se tornam, então, instrumentos de combate entre entre os os sexos sexos e as gerações. gerações. Uma “ intelectualiz ação imposta das e moções” moções” , de acordo com Meerloo, torno tornou u- se “ um s ubstituto ubstituto para a ação ação ma dur a” . A “ ilusão de ex plicação plicação substitui o ato adequado. Pa la vras, palavras, só palavras são proferidas, e não a boa vontade e a boa ação. O próprio sexo é expresso em palavras , em vez de afeto. Nos ensaios ensaios restantes, restantes, no entanto, a análise análise da “ psicolog ização” e da “ilusão de explicação” dá lugar à crítica a uma forma de psicologi zação, o dogma dogma da da permis siv idade. Ber tram Schaff ner escreve, no mesmo filão fi lão de Hilde H ilde Br uch e do D r . Spoc Spock., k., que “ as chamadas escolas escolas de de pensame pens ame nto das ‘relações ‘relações huma nas ’ ” , tanto na cri ação de de filhos f ilhos como na gestão industrial, foram muito longe no sentido da permissividade e assumiram muito prontamente que a “criança nada podia fazer de mal'’. “ No quadr o confuso r ecente ecente das relações relações paispais- filhos, filhos, alguns alguns pais acha acha ram que o conceito [de dar segurança ao filho) significava que a criança devia ter todo desejo e necessidade satisfeitos, não deveriam passar pela experiência de ser rejeitados.” O ataque de Schaffner à "abdicação da autoridade na família e no trabalho” lembra o apelo de Bruch por “um pai ou mãe que possam dizer ‘Não’, sem passar por uma elabo rada repres entaçã entação” . Os que contribuíram para o volume de Liebman, como outros crí ticos da permissividade, escrevem como se a autoridade parental pu desse ser restaurada pela exortação profissional, ao mesmo tempo que repetem a injunção convencional contra deixar a criação de filhos por conta do instinto. “£ nossa responsabilidade”, conclui Lawrence S. Kubie, “reexaminar criticamente tudo o que costumava ser deixado por conta dos impulsos incultos da mã mãe e do do pai, sob lugares- comun comunss eufe
205
conjunto ou outro de prescrições; depois, os especialistas diziam diziam-- lhes lhes para conf iar em seus seus própri próprios os instintos . Não importava o que fizessem, estaria certo, contanto que o fizes sem espontaneamente. “As crianças não são facilmente enga nadas sobre verdadeiros sentimentos”, avisou a Dra. Bruch. “ O tre t reinam inamento ento da eficiência ef iciência dos dos pais pais ” , a última última moda na criação de filhos, popularizou o culto da autenticidade, o qual começou a emergir nos anos cinqüenta. Como outras formas de autoauto- auxílio psíquico, psíquico, o tr einamento da efi e ficiência ciência dos dos pais ensina a necessidad necessidadee “ de entrar entr ar em contato contat o com seus seus s enti mentos” e de basear a relação cotidiana na comunicação desses sentimentos aos outros. Se os pais puderem entender suas próprias necessidades e desejos e passá-los para os filhos, enco rajand rajando- os a devolv er do mesmo modo, serão se rão cap capazes azes de eliminar muitas fontes de atrito e conflito. Declarações obje tivas deveriam ser excluídas do debate com a criança, de acordo com este raciocínio, em primeiro lugar porque ninguém pode argumentar racionalmente a respeito de crenças, e, em segundo lugar, porque declarações sobre a realidade transmitem julg amento ame ntoss éticos e, em cons eqüência, dão mar g em a fortes for tes emoções. “Quando uma criança diz ‘Nunca tenho sorte’, ne nhum argumento ou explicação mudará esta crença.” “Quando uma criança narra um evento, algumas vezes é aconselhável responder, não ao evento em si, mas aos sentimentos que o místicos, tais como ‘instinto’ e ‘amor’, que o amor materno mascara amor- próprio próprio e o amor pate pate rno mascar a impulsos inconscientes inconscientes de des des truição.” Os psiquiatras afinal têm a última palavra. Gilbert J. Rose criticou “a permissividade global no desenvolvi mento de filhos” nas mesmas bases, mas com mais sensibilidade para com o mal da psicologização como tal. A ‘‘tendência analítica de olhar com suspeita a ação como possível atuação, ... inadequadamente trans ferida da prática analítica”, encoraja a passividade na vida cotidiana, de acordo com Rose. “Alguns pais, por exemplo, são incapazes de coisas como mandar seu filho para a cama, devido aos protestos deste, ou de refrear a agressão dos filhos. ... A evitação de ser judicioso na aná lise é, às vezes, generalizada para um distanciamento moral na vida cotidiana. Esta suspensão do senso moral, com freqüência combinada a uma hipertrofia da atitude terapêutica, leva a chamar alguma coisa de ‘enfer ma’ onde não há ev idência cl ínica e de de não chamá chamá-- la ‘nociva ’ embora isto seja seja óbv óbv io. A ing ênua idéia de que a enfer midade é res ponsável pela nocividade e que esta, necessariamente, resulte do fato de ser incompreendido, é o preconceito de uma moralidade terapêutica.”
206
env olv em.” J á que “ todos todos os os sentimentos sentimentos são são leg le g ítimos” , sua sua expressão não devia ser comemorada nem com louvor, nem com culpa. Se uma criança faz algo para aborrecer o pai, o pai deve exprimir seu aborrecimento, em vez de condenar a crian ça ou a ação. Se o filho exprime emoções que parecem des proporcionais para a ocasião, o pai, em vez de apontar esta discrepâ discre pância ncia — em vez de fazer uma declaraçã declara çãoo objetiva objetiv a sobre sobre a realidade r ealidade e as emoçõ emoções es adequadas a ela — deve indicar indic ar ao filho que compreende seus sentimentos e admite seu direito de exprimiexprimi- los. “ É mais mais importante import ante para uma criança cria nça saber saber o que ela sente, do que o porquê do sentimento.” A criança precisa aprender “ que que sua sua própr própr ia r aiva não não é catastr catas tró ófica, que ela pode ser descarregada sem destruir quem quer que seja”.* O culto da autenticidade reflete o colapso da orientação dos pais e dá a ele uma justificativa moral. Ele confirma, e veste com o jargão da liberação emocional, a impotência dos pais em instruir a criança sobre o mundo, ou transmitir pre ceitos éticos. Ao glorificar esta impotência como uma forma mais elevada de conscientização, ele legitima a proletarização da paternidade pater nidade — a apropria apr opriação ção de de técnicas técnicas de criação de de filhos pela pelass “ profissões rofissões aux iliares ” . Conforme J ohn ohn R. Seel Seeley ey observou em 1959, a transferência do conhecimento parental * O ar g umento de que que o tr einamento einame nto para a eficiência ef iciência dos dos pais pais e outras técnicas esclarecedoras de criação de filhos, originadas nos anos cinqüenta, surpreenderá aos comentaristas, que não conseguem lemb lembrar- se de de nada mais antig o do que que o últ últim imoo nú númer mer o do New York Times News of the Week in Review, e que consideram os anos cin qüenta, qü enta, do do mesmo mesmo modo, como a Idade M édia da paternidade “ tra di cional” — um período, por exemplo, no qual “a educação sexual geral mente mente não não chegav chegav a a mais mais do que que uma brev e conversa conversa embaraçosa” . Nancy McGrath, uma jornalista autônoma, descobriu um pouco tarde o culío da espontaneidade em 1976 e concluiu que ele representava uma completa inversão da “permissividade” encorajada pelo Dr. Spock. De fat o, Spock antecip antecipou ou-- se a recent recentes es escritores em sua insis tência em que que os pais tinham direitos tão importantes quanto os dos filhos — um dos principais dogmas do treinamento da eficiência dos pais. Ele e Hilde Bruch condenaram os estilos permissivos de criação de filhos precisa mente nos mesmos termos com que Nancy McGrath hoje condena o IIow to Parent, Parent, de Fitzhugh Dodson e o How to Raise a Human Being, de Lee Salk — que tal ensino erroneamente instrui os pais a “se adap tar às necessidades do bebê, e não a esperar que o bebê se adapte às deles”.
207
para outros agentes corre paralela à expropriação do conheci mento técnico do operário pela administração moderna — "re tirar tir ar do oper ário ári o a triste tris te necessidade neces sidade de de ab abastecerastecer- se com os os meios de produção”. Ao “auxiliar” a aliviar o operário de ‘‘tais responsabilidades onerosas”, como as de prover as suas necessidades e as dos filho fi lhoss , a sociedade liberou- o, como escre escre veu Seeley, “de tornar-se um soldado no exército da produção e uma cifra no processo de decisão”.* A rev re v olta contra contr a os dogmas behavior behavi oris istas tas e progres rog ressis sistas, tas, que exageraram o poder dos pais de deformar a criança, encorajou a sociedad sociedadee a “ responsabilizar re sponsabilizar s omente omente marg mar g inal mente” os pais, como observou recentemente Mark Gerzon, “ pelo crescimen cres cimento to de seu seu f ilho. . . . Os obstetras obstetras en encarregam carregam-se do nascimento, os pediatras são responsáveis pelas enfer midades e curas de uma criança; o professor, por sua inteli gência; o supermercado e a indústria da alimentação, por sua nutrição; a televisão, por seus mitos.” Ironicamente, a desvalo rização da paternidade coincide com um movimento tardio de devolver à família funções que ela havia cedido aos aparelhos da terapia e do ensino organizados. Taxas crescentes de crime, delinqüência juvenil, suicídio e colapso mental finalmente con venceram muitos especialistas, até mesmo muitos assistentes do bem bem-- estar, de que que as as agências ag ências para o bem bem-- estar são um substituto deficiente da família. A insatisfação com os resul * Como res ultado ultado da invas ão da paternidade pela indústr indústr ia da saúde, Seeley concluiu: "Encontramos pais convencidos de sua impo tência, agarrados à doutrina de enfrentar o fato consumado, faltos de espontaneidade (ou, (ou, equivalente mente, forçand forçandoo- se. como uma r otina, a ‘ser espontâneos'), cheios de culpa, em dúvida sobre sua própria ca pacidade de discriminação, sob dupla tutela — a do próprio filho e a de seu agente, o 'especialista' — , permeáveis , indefesos, indefes os, crédulos c seguros somente de que. embora ainda não esteja à vista, o dia da salvação está à mão". Em outro ensaio na mesma coleção, Seeley observou que a sociedade moderna apresenta "uma divisão social do trabalho, na qual a carga da racionalidade é ... exteriorizada, forçada para um corpo de profissionais, e. portanto, colocada além da própria capacidade de alguém de cometer erros. Com efeito, deve-se tornar racional, não por alg uma luta inter na e pessoal, pessoal, mas colocand colocandoo- se em mov ime nto um um processo público a que. uma vez iniciado, não se pode resistir — um processo no qual se seleciona uma elite para granjear para si mesma e para os outros o ambiente que melhor contribua para o comportamento racional."
208
tados do bem bem-- estar socia s ocializa lizado do e as crescentes despesas despesas para man mantê- lo ora ins ins piram esforços esforços para devolv er ao lar as fun f un ções ções da saú sa úde e do bembem- estar.* estar .* Repercussões Psicológicas da “Transferência de Funções”. É muito tarde, no entanto, para evocar uma revivescência da família patriarcal, ou mesmo da família “compassiva” que a substituiu. subs tituiu. A “ transf erência de de funções funções ” , como como é conhecida conhecida no antianti- séptico séptico jarg jar g ão das das ciências ciências sociais sociais — na realidade, re alidade, a deter ioraçã iora çãoo do do cuidado com a criança cr iança — , há muito muito está em ação e muitas de suas conseqüências parecem ser irreversíveis. O primeiro passo no processo, já dado em algumas sociedades no fim do século dezoito, foi a segregação das crianças do mundo adulto, em parte como política deliberada, em parte como o resultado inevitável da retirada do lar de muitos pro cessos de trabalho. À medida que o sistema industrial mono * Em 1976, 1976, o Centr o para Pesquisas Pesquisas Políticas (Nov a Iorque) or ganizou uma conferência sobre a dependência, baseado na premissa de que que “ as resposta respostass públicas públicas tradicionais perder perder am muito da legitimidade, se não toda”, e que a institucionalização e cuidado profissional torna ramram- se bastante bastante “ suspeitos” . T anto no seu ataque ata que a asilos asilos quan to em sua atitude suspeita em relação ao “motivo da benevolência”, esta con ferência reflete agudamente a revolta atual contra o bem-estar sociali zado e a educação escolar revisionista que apóia esta revolta, depre ciando os os motivos dos dos r efor mistas e descrev endo os os asilos asilos como “ insti tuiç tuiçõ ões totalitárias” totalitárias” . As obras de de Erving G of fm an, T homas homas Szasz, Eliot Freidson, David Rothman e outros ajudaram a modelar a nova orto dox ia, que que critica a inst itucionalização itucionalização e a “ dominação dominação profiss ional”, mas deixa de ver a ligação entre estas manifestações e a ascensão da moderna administração, ou a degradação do trabalho. Na prática, a crítica ao profissionalismo raramente vai além do nível de um movi mento de consumidores, enquanto, na teoria, ela já se tinha cristalizado em um um lugar lugar - comum. comum. Para os histo histo riadores, o “ controle social” serve ao mesmo fim , nos anos setenta, a que que a “ ansiedade pelo status” serviu nos nos anos anos cinqüenta cinqüenta . Ele oferece uma uma ex plicação plicação abrange nte, que que se adapta a qualquer caso ou contingência e que pode, agora, ser manipu lada descuidadamente. A té mesmo os os melhores melhores estudo estudoss sobre o controle social tendem, nas palavras de Richard Fox, “a exagerar as novidades das percepções sobre a desordem, do século dezenove, a materializar os ‘controladores’ a um ponto em que se tornam ou uma elite homogênea ou, como no caso de Rothman, indistinguível da sociedade como um todo, e a admitir que as instituições são impostas por essa elite ou so ciedade a sujei sujeitos tos passivos, maleáveis” .
209
polizava a produçã pro dução, o, o trabalho tra balho íornavaíornava- se cada vez v ez menos menos visível para a criança. Os pais não mais podiam trazer traba lho para casa ou ensinar aos filhos as habilidades a ele rela cionadas. Em um estágio posterior desta alienação do trabalho, a monopolização da administração de habilidades técnicas, se guida, em um estágio ainda mais posterior, pela socialização das técnicas de criação de filhos, deixou pouco para os pais transmitirem a seus filhos, exceto o amor; e amor sem disci plina não basta para assegurar a continuidade das gerações, da qual depende toda cultura. Em vez de guiar a criança, a geração mais velha luta, agora, para “acompanhar os garo tos”, dominar seu jargão incompreensível e, até mesmo, imitar seus modos de vestir e de se comportar, na esperança de pre servar uma aparência e uma perspectiva jovens. Estas mudanças, que são inseparáveis do desenvolvimento total da indústria moderna, vêm tornando cada vez mais difícil para os filhos formar identificações psicológicas fortes com seus pais. A invasão da família pela indústria, pelos meios de comunicação de massa e pelos agentes da paternidade socia lizada alterou sutilmente sutilmente a qualidade da ligaçã lig açãoo pais— pais— filhos. Criou um ideal de paternidade perfeita, enquanto destruía a confiança dos pais em sua capacidade de desempenhar as funções mais elementares de criação de filhos. A mãe ameri cana, de acordo com Geoffrey Gorer, depende tão intensa mente de especialistas, que ela “jamais pode ter a auto-segurança tranqüila, quase inconsciente, da mãe em sociedades mais padronizadas, que está seguindo métodos que sabe ser inquestionavelmente corretos”. De acordo com outro obser v ador, a mã mãe americana amer icana “ imatur ima tura, a, narcisista, narcisis ta, . . . é tão tão estéril em manifestação espontânea de sentimentos maternais”, que redo re dobra bra sua sua dependência dependência ao aconselh aconsel hamento ex terno. “ Ela es es tuda atentamente todos os novos métodos de criação de filhos e lê tratados a respeito de higiene mental e física.” Age não de acordo com seus próprios sentimentos ou julgamentos, mas segundo a “imagem do que deveria ser uma boa mãe”. A mulher mulhe r que f oi a um psiqui ps iquiat atrr a , após após ler liv r os sobre de senvo se nvolv lvimento imento de crianças crianças sob s obre re os quais quais ela “ sentiu se ntiu qu que não tinha sido capaz de aprender nada”, dramatiza, de forma acentuada, o compromisso do pai moderno. Ela procurava essas 210
informações, relatou seu psiquiatra, “como se estivesse inte ressada em passar em algum tipo de exame, ou em produzir um f ilho que que iria ir ia vencer v encer alg al g uma uma competição. c ompetição. . . . T inha de se se tornar uma mãe perfeita.” Mesmo assim, suas relações com seu filho sofriam sofr iam de de “ uma uma notáve notávell falta f alta de afeto” . A tormen tor men tada por um “sentimento de inexperiência e falta de jeito para lidar com tarefas sobre as quais não possuía experiência pré v ia” , ela se se comparav comparav a a alguém que que jamai j amaiss havia v isto ou dirig dir ig ido um carro carro e estava aprendendo a dirigidirigi- lo a partir part ir de um manual de um mecâni mecânico. co. O utra utr a mãe “ sentia qu que nada s abia sobre o que que era er a ser mãe, mãe, litera lite ralmente lmente.. . . . Ela El a podia mecanicamente atender às necessidades de sua filha, mas jamai ja maiss compreendeu compre endeu r ealmente eal mente o que sua f ilha il ha ex igia, ig ia, e sentia que respondia automaticamente, sem empatia, como alguém que seguisse automaticamente instruções de um manual.” Narcisismo, Esquizofrenia e a Família. A evidência clínica do cumenta os efeitos freqüentemente devastadores deste tipo de cuidados maternos sobre a criança. A “ s uperf icialidade e im imprevisibilidade das respostas de sua mãe”, de acordo com Heinz Kohut, produziram em um de seus pacientes o padrão de dependência narcisista tantas vezes encontrado em condi ções fronteiriças, nas quais o sujeito íenta recriar em suas fantasias inconscientes a onisciência da primeira infância e procura proc ura manter de pé sua sua autoauto- estima, estima, ligand ligando- se a “ fig uras fortes, admira das” . A ligaçã liga çãoo mã mãe- filho, filho, na visã vis ão de de K ohut e de muitos outros, repousa idealmente em “frustrações favo ráveis”. À medida que a criança começa a perceber as limi tações e a falibilidade de sua mãe, renuncia à imagem da per feição materna e começa a assumir muitas de suas funções — prover seu próprio cuidado e conforto. Uma imagem ideali zada da mãe subsiste nos pensamentos inconscientes da crian ça. No entanto, diminuída pela experiência diária da falibili dade maternal, ela passa a ser associada não a fantasias de onipotência infantil, mas ao domínio crescente e modesto de seu ambiente pelo ego. O desapontamento com a mãe, susci tado não só pelos lapsos inevitáveis de atenção da mãe, mas também pela percepção, por parte da criança, de que não 211
polizava a produção, o trabalho tornava-se cada vez menos visível para a criança. Os pais não mais podiam trazer traba lho para casa ou ensinar aos filhos as habilidades a ele rela cionadas. Em um estágio posterior desta alienação do trabalho, a monopolização da administração de habilidades técnicas, se guida, em um estágio ainda mais posterior, pela socialização das técnicas de criação de filhos, deixou pouco para os pais transmitirem a seus filhos, exceto o amor; e amor sem disci plina não basta para assegurar a continuidade das gerações, da qual depende toda cultura. Em vez de guiar a criança, a geraç ger açãão mais mais velha luta, agora, para “ acompanhar acompanhar os garo gar o tos”, dominar seu jargão incompreensível e, até mesmo, imitar seus modos de vestir e de se comportar, na esperança de pre servar uma aparência e uma perspectiva jovens. Estas mudanças, que são inseparáveis do desenvolvimento total da indústria moderna, vêm tornando cada vez mais difícil para os filhos formar identificações psicológicas fortes com seus pais. A invasão da família pela indústria, pelos meios de comunicação de massa e pelos agentes da paternidade socia lizada alterou alter ou sutilmente sutilmente a qualidade qualida de da ligação pais— pais— filhos. Criou um ideal de paternidade perfeita, enquanto destruía a confiança dos pais em sua capacidade de desempenhar as funções mais elementares de criação de filhos. A mãe ameri cana, de acordo com Geoffrey Gorer, depende tão intensa mente de especialistas, que ela “jamais pode ter a auto-segurança tranqüila, quase inconsciente, da mãe em sociedades mais padronizadas, que está seguindo métodos que sabe ser inquestionavelmente corretos”. De acordo com outro obser v ador, ador, a mãe mãe amer american icanaa “imatura “ imatura , narcisista, narcisista, . . . é tão tão estéril em manifestação espontânea de sentimentos maternais”, que redo re dobra bra sua sua dependência dependência ao aconselham aconsel hamento ento ex terno. “ Ela es es tuda atentamente todos os novos métodos de criação de filhos e lê tratados a respeito de higiene mental e física.” Age não de acordo com seus próprios sentimentos ou julgamentos, mas segundo a “imagem do que deveria ser uma boa mãe”. A mulher mulhe r que f oi a um psiqui ps iquiat atrr a , após após ler liv r os sobre de senvolv se nvolv imento de de crianças crianças sob s obre re os quais quais ela “ sentiu se ntiu qu que não tinha sido capaz de aprender nada”, dramatiza, de forma acentuada, o compromisso do pai moderno. Ela procurava essas 210
informações, relatou seu psiquiatra, "como se estivesse inte ressada em passar em algum tipo de exame, ou em produzir um f ilho ilh o que que iria ir ia vencer v encer alg a lguma uma competição. competi ção. . . . T inha de se tornar uma mãe perfeita.” Mesmo assim, suas relações com seu filho sofriam de “uma notável falta de afeto”. Atormen tada por um “sentimento de inexperiência e falta de jeito para lidar com tarefas sobre as quais não possuía experiência pré v ia” ia ” , ela se se comparav a a alguém alg uém qu que jamais havia v isto ou dirig dir ig ido um carro e estava aprendendo a dirigidirigi- lo a par partir tir de um manual de um mecânico. Outra mãe “sentia que nada s abia sobre sobre o que que era ser mãe, mãe, litera lite ralmente lmente.. . . . Ela El a podia mecanicamente atender às necessidades de sua filha, mas jama ja mais is compree compr eendeu ndeu r ealmente eal mente o que sua f ilha il ha ex igia, ig ia, e sentia que respondia automaticamente, sem empatia, como alguém que seguisse automaticamente instruções de um manual.” Narcisismo, Esquizofrenia e a Família. A evidência clínica do cumenta os efeitos freqüentemente devastadores deste tipo de cuidados maternos sobre a criança. A “ s uper uperfic ficialidade ialidade e im imprev pre v isibilidade is ibilidade das respostas respostas de sua mãe” , de acordo com Heinz Kohut, produziram em um de seus pacientes o padrão de dependência narcisista tantas vezes encontrado em condi ções fronteiriças, nas quais o sujeito íenta recriar em suas fantasias inconscientes a onisciência da primeira infância e proc ura manter de pé sua sua autoauto- estima, estima, ligand ligando- se a “fig “ fig uras fortes, admiradas ” . A ligaçã liga çãoo mã mãe- filho, filho, nnaa visã vis ão de K ohut e de muitos outros, repousa idealmente em “frustrações favo ráveis”. À medida que a criança começa a perceber as limi tações e a falibilidade de sua mãe, renuncia à imagem da per feição materna e começa a assumir muitas de suas funções —• prover seu próprio cuidado e conforto. Uma imagem ideali zada da mãe subsiste nos pensamentos inconscientes da crian ça. No entanto, diminuída pela experiência diária da falibili dade maternal, ela passa a ser associada não a fantasias de onipotência infantil, mas ao domínio crescente e modesto de seu ambiente pelo ego. O desapontamento com a mãe, susci tado não só pelos lapsos inevitáveis de atenção da mãe, mas também pela percepção, por parte da criança, de que não 211
ocupa o lugar exclusivo em seus afetos, torna possível à crian ça ceder a seu amor não dividido, enquanto interioriza a imagem do amor materno (por um processo psíquico análogo ao luto) e incorporando suas funções de dar a vida. As A s atençõ ate nções es incessantes, incess antes, ainda ai nda que curios cur iosame amente nte mecânicas , da mãe narcisista por seu filho interfere a cada ponto com o mecanismo da frustração favorável. Por ver, com tanta fre qüência, a criança como uma extensão de si mesma, ela esban ja atençõ ate nções es à crian cr iança ça que estão es tão “ desas des astr tradamente adamente em descom des com passo” ass o” com suas suas necessidades, necessidades, dandodando- lhe um excesso ex cesso de de cuida cuid a dos aparentemente solícito, mas com pouco calor real. Ao tratar a criança como uma “ propriedade ex clusiva” clusiv a” , ela enco enco raja um senso exagerado de sua própria importância; ao mes mo tempo, dificulta à criança conhecer seu desapontamento com suas deficiências. Na esquizofrenia, a separação entre as percepções da criança dos cuidados mecânicos e superficiais de sua mãe, assim como de sua devoção aparentemente ínte gra, gr a, tornatorna-se se tã t ão dolorosa doloros a que a criança cr iança recusarecusa-se se a perceb percebêê- la. Defesas regres r egressivas, sivas, “ perda er da dos dos limites do eu” , ilusõ ilusões es de onisciência e pensamento mágico aparecem, em forma branda, nas desordens narcisistas. Embora a esquizofrenia não possa ser absolutamente considerada simplesmente como uma forma exagerada de narcisismo, ela compartilha com os distúrbios narcisistas uma quebra dos limites entre o eu e o mundo dos objetos. objetos. “ A posição posição psicanalítica psica nalítica contempor co ntemporâânea” , de acordo acordo com um psiquiatr psi quiatra, a, é que que “ a esquizofr es quizofr enia é, é, sobret s obretud udo, o, uma uma desordem narcisista.” Não causa surpresa, em conseqüência, que os estudos do meio familiar de pacientes esquizofrênicos apontem para inúmeros aspectos também associados a famílias narcisistas. Em ambos os casos, uma mãe narcisista esbanja atenções sufocantes, ainda que emocionalmente distantes de seu seu filho. fi lho. O narcisista, como o es quizofr quizofr ênico, geralm ger almen ente te ocupa uma posição especial na família, seja por causa de seus dotes reais, seja porque um dos pais o trata como um subs tituto de um pai, mãe ou cônjuge ausentes. Esse pai* às vezes atrai toda a família para a teia de sua própria neurose, que os membros da família conspiram tacitamente favorecer de *
212
Ou “ essa ssa mãe” mãe” . (N . do T .)
modo a manter seu equilíbrio emocional. Na “família presa neste modo de viver”, de acordo com um estudioso do narcisismo, cada membro tenta validar as expectativas e desejos projetados dos outros. “Esta tautologia familiar, juntamente com o trabalho tr abalho necessário par paraa mantêla, antê la, é um aspecto aspecto que identifica a família que se mantém unida pelo modo de viver narcisista.” De acordo com Kohut, tais famílias sofrem, antes, de desordem de caráter de um membro, do que de uma psicose manifesta, uma vez que o genitor psicótico é confinado a um asilo ou, pelo menos, consegue menos apoio de seu ambiente social imediato. O Narcisismo e o “Pai Ausente”. Famílias deste tipo surgem
na América não só em resposta à patologia de um membro em particular, mas como uma resposta normal a condições sociais predominantes. À medida que o mundo dos negócios, o trabalho e a política tornamse cada vez mais ameaçadores, a família tenta criar para si uma ilha de segurança em meio à desordem que a cerca. Ela lida com tensões internas neg ando sua sua exist ex istência, ência, agarrando agarrandose se desesperadam deses peradamente ente a uma ilusão de normalidade. Contudo, o quadro da vida doméstica harmoniosa, pelo qual a família tenta modelarse, originase não de sentimentos espontâneos, mas de fontes externas, e o esforço esf orço de de igualá igualá los, conse conseqü qüentemen entemente, te, mergulh merg ulhaa a famíl f amília ia em uma charada de proximidade ou de “pseudomutualidade”, como um estudioso da esquizofrenia a chama. A mãe em particular, sobre quem o trabalho de criação do filho recai por negligência, tenta tornarse um genitor ideal, compensando sua f alta al ta de sentim s entimento ento espontân espontâneo eo pelo filho, fi lho, sufocan sufocand do o com solicitude. Abstratamente convencida de que seu filho merece o melhor de tudo, ela arranja cada detalhe de sua vida com um zelo escrupuloso, que mina sua iniciativa e destrói sua capacidade de de auto auto solicitude. solicitude. Ela deixa deix a o filho, fi lho, de acordo com K ohut, com c om a sensação sensação de de que ele “nã “ nãoo tem te m uma uma mente própria”. Suas impressões idealisticamente infladas sobre a mãe persistem não modificadas pela èxperiência posterior, misturando em seu inconsciente pensamentos e fantasias de onipotência infantil. 213
Ura caso relatado por Annie Reich mostra de forma exage rada o que a ausência do pai faz às relações entre mãe e filho. A paciente, pacie nte, uma jov jo v e m bril br ilha hante nte que ingres ingr essa sara ra em uma car reira bem bem-- sucedid sucedidaa como como profe profess ssora, ora, “ f lutuav a entre seus seus sen timentos de grandiosidade e uma consciência de que não era tão grande como gostaria”. Secretamente, ela acreditava ser um gênio que, seg undo undo suas suas pr pr ópr ópr ias palavras alav ras,, “ subitamente se revelaria e se sobressairia como um obelisco”. O pai da moça morrera poucos meses depois de ela ter nascido. O irmão de sua mãe também morrera jovem. A mãe recusou-se a v oltar a se se casar e cobriu a fil ha de atenções, atenções, tratandotratando- a como alguém raro e especial. Ela tornou claro que a criança iria substituir o pai. e o tio mortos. A filha, devotando seu próprio crescimento cre scimento a esta comunicação, comunicaç ão, “ imag inou que que a mãe mãe hav ia devorado o pai no ato sexual, o que se igualava a tê-lo cas trado, ao arrancar- lhe lhe o pênis. pênis. Ela El a (a paciente) paciente) era o pênis pênis do pai pai — ou o pai ou o tio rev re v iv idos.” Como muitas mulhe res narcisistas, ela dirigiu seus interesses “em um grau enor me, para seu próprio corpo”, o qual ela, inconscientemente, relacionava a um falo, na fantasia de “ficar de pé como um enorme obelisco”, admirado por todos à sua volta. Contudo, a consciência de sua feminilidade, que contradizia esta fanta sia fálica, comb combinavainava- se a um um “ superego superego infle x íve l” (em parte parte derivado do “id megalomaníaco”), para produzir sentimentos de desvalor e violentas “ oscilaçõ oscilações de autoauto- estima” estima” . Os aspectos mais notáveis deste material, assim como tantos casos referentes a pacientes narcisistas, são a persistência de fantasias arcaicas, o caráter regressivo das defesas contra a perda e a incapacidade incapacidade de s ublimar — por por ex e x emplo, emplo, encon trar prazer no trabalho, para o qual a paciente já demons trara considerável aptidão. Vimos como uma dependência exa gerada da mãe, encorajada pela própria mãe, dificulta à crian ça reconciliarreconciliar- se consigo consig o mes mesma ma após após um período de pesar pesar com sua perda. No presente caso, a morté do pai, combinada com o uso da filha, pela mãe, como um substituto para o pai, permitiu que a fantasia da menina com um pai fálico, gran dioso, florescesse sem a influência corretora do contato coti diano. “ O impacto nor mal da realidade rea lidade sobre sobre este este sujeito da fantasia, que teria ajudado a alcançar algum grau de desse214
xuaíização [à medida que a criança passava a compreender que seu pai tinha outras qualidades, além da sexuall e tam bém a reduzir à dimensão normal a figura do pai, que era vista em dimensões tão sobrenaturais, estava ausente neste caso — daí, o caráter f álico não sublimado s ublimado do ideal ideal do ego e de seu objetivo megalomaníaco.” Mulhere Mulheress com “ personalidades bem integ integradas radas em outros outros aspectos”, de acordo com a Dra. Reich, procuram inconsciente mente agradar a mãe narcisista, substituindo o pai ausente, seja elabora ela borando ndo fantas ias grandiosas g randiosas de sucesso sucesso ou ligandoligando- se a homens homens bembem- sucedido sucedidos. s. Uma paciente disse que que “ durante durant e o ato sexual, ela se sentia como se fosse o homem, com o corpo fálico fazendo amor com ela própria, a moça”. Outra paciente alcançou algum sucesso como atriz e descreveu a euforia de ser admirada pela audiência como “uma intensa excitação ex perimentada por toda a superfície do corpo e uma sensação de estar est ar de pé, pé, ereta, com todo t odo seu seu-- eor-p r- pQ^ Obv iame nte ela sentia sentia-se como um falo, com todo seu corpo^k^slesses pacientes, o superego ou ideal do ego consiste em representações arcaicas do pai não suavizadas pela realidade. A identificação de si mesmas com um órgão sexual, suas ambições grandiosas e os sentimentos de desvalor, que se alternam com ilusões de gran deza, atestam a origem primitiva do superego e a agressivi dade com a qual este pune os fracassos de viver para o ideal ex agera ag erado do de um pai todo- poderoso. oderoso. Por trás trás desta desta imag em do pai fálico está uma ligação ainda mais anterior à mãe primi tiva, igualmente não suavizada por experiências que poderiam reduzir as fantasias primárias à escala humana. Mulheres nar cisistas procuram substituir o pai ausente, a quem a mãe cas trou, tr ou, un unindo indo-- se, desta maneir maneira, a, à mã mãe da primeira infância inf ância.. Com base na hipótese de que a patologia representa uma versão aumentada da normalidade, podemos ver, agora, por que a ausência do pai americano veio a ser um aspecto tão crucial da família americana: não tanto porque ela priva a criança do modelo de papel a representar, mas por permitir que fantasias primitivas com o pai dominem o desenvolvi mento subseqüente do superego. A ausência do pai, além do mais, deforma as relações entre mãe e filho. De acordo com uma teoria popular mal- orientada, a mã mãe toma t oma o lugar do 21 5
pai e confunde a criança ao assumir um papel masculino (“ Momis mo”).* mo” ).* Nas fantasias fantasias da criança, no no entanto, nã não é a mãe quem substitui o pai, mas a própria criança. Quando uma mãe narcisista, já disposta a ver em seu filho extensões de si mesma, tenta compensar aquele pela deserção do pai (e também ajustar-se aos padrões de maternidade ideal social mente definidos), suas atenções constantes, porém mecânicas, suas tentativas de fazer com que a criança se sinta desejada e especial, e seu seu desejo de f azer com que que “ se sobress sobre ss aia” , co municam nicam-- se à criança de uma for ma carreg carr egada ada e altamente altamente perturbadora. A criança imagina que a mãe engoliu ou castrou seu pai e abrig abrig a a fantasia fantas ia grandiosa g randiosa de substituí substituí-- lo, alcan alc an çando a f ama ou ligand ligando- se a alg uém que que rep r epres resente ente um tipo fálico de sucesso, suscitando, deste modo, uma extasiada união com a mãe. A intens int ens idade ida de da dependênci depe ndênciaa da criança cr iança pela mãe imp impedeede- a de perceber as limitações desta, as quais, de qualquer modo, são disfarçadas por uma aparência de contínua solicitude. A ausência emocional do pai em relação à família faz da mãe o genitor dominante; contudo, sua dominação faz-se sentir principalmente nas fantasias da criança (onde também o pai desempenha um papel ativo) e não na vida cotidiana. Neste sev.tido. a mije americana é também um genitor ausente. Espe cialistas externos tiraram dela muitas de suas funções práticas e ela, geralmente, se desencarrega das que restaram, de um modo mecânico que se ajusta não às necessidades da criança, mas a uma idéia preconcebida de maternidade. Em vista dos cuidados sufocantes, ainda que emocionalmente distantes, que recebem de mães narcisistas, não causa surpresas que tantos jovens jov ens — por ex emplo, os alie al ienados nados estudantes es tudantes entrev entr evis istados tados por por K enneth Keniston Ke niston e Herbert Herber t Hendin — descrevem descrevem suas suas mães ao mesmo tempo como sedutoras e desinteressadas, devo radoras e indifer indiferentes entes.. T ampouco é surpreendente surpreendente que tantos tantos pacientes narcisistas experimentem a sedução materna como * A do r a ção popul po pulaa r ex cessiv ces siv a e demas de mas iada ia dame ment ntee s enti en time ment ntal al das mães, que se sustenta ser de natureza edipiana e se acredita que permita a mães superprotetoras e pegajosas negar inconscientemente a eman cipação emocional de seu filho, permitindo, assim, que se estabeleçam psiconeu siconeuroses. roses. (N . do T .)
216
uma forma de ataque sexual. Suas impressões inconscientes de mãe são tão florescentes e tão fortemente influenciadas por impulsos agressivos, e a qualidade dos cuidados dela vê-se tão pouco em sintonia com as necessidades da criança, que, nas fantasias desta, ela aparece como um pássaro devorador, uma vagina cheia de dentes. A A bdicaç bdic ação ão da A utor uto r idade ida de e a T r ans f ormação or mação do Supereg Super ego. o. Os padrões psicológicos associados ao narcisismo patológico, que, em for ma menos menos ex agerad ager ada, a, man manifestam ifestam-- se em tantos pa drões drões da cultura americana a mericana — no fascínio fas cínio pela pela f ama e pela pela celebridade, no medo da competição, na incapacidade de deter a descrença, na superficialidade e na qualidade transitória das relações relações pessoais, no horror horr or à morte morte — , originam originam-- se na estrutura peculiar da família americana, a qual, por sua vez, originaorigina- se em modos modos de pr pr odução odução var v ariá iáve veis. is. A produção indus trial tira o pai de casa e diminui o papel que ele representa na vida consciente do filho. A mãe tenta suprir para o filho a perda do pai, mas ela, geralmente, tem tão pouca experiência prática de criação de filhos, sente-se tão perdida para entender o que necessita o filho, e apóia-se tão fortemente em especia listas externos, que suas atenções deixam de proporcionar a seu filho uma sensação de segurança. Ambos os pais procuram fazer da família um refúgio contra as pressões do exterior, ainda que os mesmos padrões pelos quais medem seu sucesso e as técnicas técnicas pelas quais tenta t entam m suscitá suscitá-- lo originemoriginem- se, em grande parte, na sociologia industrial, na administração de pessoal, na na psicologia psicologia infantil infa ntil — em resu res umo, no org anizado aparelho de controle social. A luta da família para ajustar-se a um ideal de solidariedade familiar e de paternidade exter namente imposto, cria uma aparência de solidariedade à custa custa do sentim sentimento ento espontâ espontâneo, neo, uma uma “ re lação” lação” r itualiza da, vazia de substância real. Por ser esses padrões familiares tão profundamente radi cados nas condições sociais criadas pela indústria moderna, não podem ser modificados por reformas profiláticas ou “edu 217
cacionais” destinadas a aumentar a qualidade de comuni cação, diminuir tensões e promover habilidades interpes soais. Tais reformas, ao estender o controle das profis sões sões de de s aúde aúde e bemem- estar, ger g eralmente almente causam caus am mais danos do que benefícios. A determinação de sentir emoção espon tânea não torna mais fácil o sentir. De qualquer modo, os padrões psicológicos promovidos pela família são reforçados por condições exteriores à família. Porque esses padrões, pare cem encontrar sua expressão mais clara na patologia do nar cisismo e, em última análise, na esquizofrenia, não devemos concluir que a família produz desajustados, pessoas que não conseguem funcionar eficientemente na sociedade industrial moderna.* Em muitos aspectos ela fez um bom trabalho de preparar a criança para as condições que irá encontrar quando sair de de casa. Outras instituiç inst ituiçõ ões — por ex emplo, emplo, a escola escola e os grup gr upos os de adolescentes adolescentes de de mes mesma ma idade idade — meramente mer amente f or talecem padrões mais primitivos, ao satisfazer expectativas criadas criadas pela pela família. fa mília. Conforme Conf orme escreve escreve [ule [uless Henry: Henry : “ Há uma uma constante interação entre cada família e a cultura como um todo, uma reforçando a outra; cada educação familiar única dá origem a necessidades, na criança, que são satisfeitas por um ou outro outr o aspecto da da cultu culturara- do- adolesc adolescen entete- e- escola” escola”.. De acordo com Henry e outros observadores da cultura americana, o colapso da autoridade parental reflete o colapso * K ennelh K eniston, Philip Slater e outros outros críticos críticos personianos personianos da cultura americana argumentaram que a família nuclear, nas palavras de Keniston, “produz profundas descontinuidades entre a infância e a idade adulta-’. A crítica de “privatismo”, que emergiu como um dos temas dominantes no recente radicalismo cultural, encontra um alvo óbvio na família nuclear, que ostensivamente encoraja um individualismo pre datório e anacrônico, incapacitando, assim, as crianças perante as exi gências do viver cooperativo, em uma sociedade complexa, “interde pendente” pendente” . G er almente associada associada à psiquiatr ia radical de de R. D. Laing e Wilhelm Reich. e a urgentes apelos para uma revolução cultural, esta crítica à família nuclear somente atualiza e veste com o último jar ja r g ão libe li berr ac ionis io nis ta uma acusa ac usação ção à f a m ília íl ia , a pr inc in c ípio ípi o a r tic ti c ulad ul adaa por assistentes sociais, educadores, reformistas penais e outros patologistas sociais, e utilizada por esses especialistas para justificar sua apropriação das funções funções da fam ília. A o asso associ ciarar- se à crítica da psiquiatr ia à fa mília, a “revolução cultural” reafirma, assim, uma das tendências mais fortes na sociedade que ela pretende criticar.
218
de “ antigos controles de impuls o” e a mudança “ de uma uma socie dade na qual os valores do Superego (os valores do autodo mínio) estavam em ascensão, para uma sociedade na qual se dava cada vez mais reconhecimento aos valores do id (os va lores lores da autoa uto- indulg indulgência)” ência)” . A inver são das relaçõ relações normais as gerações, gerações, o declínio decl ínio da disc iplina pare ntal, a “ socia e ntre as lização” de muitas das funções parentais e as ações “egocên tricas, dominadas por impulsos, distantes, confusas” de pais americanos dão dão origem orig em a características que “ podem podem ter resul tados seriamente patológicos, quando presentes em forma ex trema”, mas que, em forma mais branda, permitem que o jov jo v em v iva iv a em uma s ociedade ocie dade permiss per missiv ivaa org or g aniza ani zada da em torno tor no dos prazeres do consumo. Arnold Rogow argumenta, por linhas semelhantes, que os pais americanos, alternadamente “ permissivos ermissivos e evasiv os” ao lidar com o jovem, “ acham acham mais fácil conseguir a conformidade pelo uso de suborno, do que enfrentar a confusão emocional, quando reprimem as exigências do filho”. Deste modo, eles minam a iniciativa do filho e tornam impossível para ele desenvolver o autodomí nio ou a autodisciplina; contudo, desde que, afinal, a socie dade americana não mais valoriza essas qualidades, a abdica ção da própria autoridade parental instila no jovem os traços de caráter exigidos por uma cultura corrupta, permissiva e hedonista. O declínio da da autoridade parental reflete reflete o “ declí nio do superego” na sociedade americana como um todo. Estas interpretações, que lucidamente captam os estilos pre dominantes da disciplina parental, seu impacto sobre o jovem e as ligações entre a família e a sociedade, precisam ser mo dificadas em um importante detalhe. As condições mutantes da vida f amiliar amilia r levam leva m não não tanto a um “ declínio do do sup supereg o” , mas a uma alteração de seus conteúdos. O fracasso dos pais de servir de modelos de autodomínio disciplinado ou de reprimir o filho, não significa que a criança cresça sem um superego. Pelo contrário, ele encoraja o desenvolvimento de um superego punitivo e severo, baseado, em grande parte, em imagens arcaicas dos dos pais, fundido f undido com autoauto- imagens imagens gra g ran n diosas. Sob essas condições, o superego consiste em introjeções 219
parentais, em vez de identificações. Ele mantém para o ego um padrão exaltado de fama e sucesso e o condena com sel vagem ferocidade, quando não preenche esse padrão. Daí, as oscilações oscilações da autoauto- estima tão freqü fr eqüent enteme emente nte associada as sociada ao narcisismo patológico. A f úria úri a com a qual qua l o supereg supere g o pune os fracassos fr acassos do ego, eg o, sugere que ele extraia muito de sua energia de impulsos agres sivos do id, não misturados à libido. A supersimplificação con vencional, que relaciona o superego e o id, o “autodomínio” e a “auto“ auto- indulg indulgência” ência” , tratand tratando- os como se se fossem fossem radical ra dical mente opostos, ignora os aspectos irracionais do superego e a aliança entre agressão e uma consciência punitiva. O declínio da autoridade parental e das sanções externas em geral, en quanto de de muitas maneir maneiras as enfraquece o supereg superego, o, parado para do xalmente reforça os elementos agressivos e ditatoriais no su perego e, assim ass im,, torna mais difícil do que que nunca aos aos desejos esejos instintivos encontrar encontrar saídas saídas aceitá aceitáveis. veis. O “ declínio declínio do su perego” pereg o” em uma uma sociedad s ociedadee permissiva ermiss iva é melhor compre compreen en dido como a criação de um novo tipo de superego no qual são predominantes os elementos arcaicos. As mudanças sociais que que dific ultam ulta m às às crianças crianças interiorizar interior izar a autoridade autoridade paren tal, não aboliram o superego, mas simplesmente fortaleceram a aliança alia nça entre entre este este e T anatos — essa essa “ cultura pura pura do ins tinto de morte”, como Freud o chamou, que dirige contra o ego uma torrente de críticas ferozes, impiedosas. A nov a per miss mis s iv idade estend estende- se à ex pressã press ão de instint ins tintos os libidinais, não à agressão. Uma sociedade burocrática que dá ênfase à cooperação, ao dar e receber interpessoal, não pode permitirermitir- se muitas muitas saídas legítim leg ítimas as para a raiv a. Mesmo na família, que supostamente permite expressões de sentimentos cuja expressão é negada em outras partes, a raiva ameaça o equilíbrio precário que os membros da família tentam tão duramente preservar. Ao mesmo tempo, a qualidade mecânica do cuidado parental, tão notavelmente falto de afeto, dá ori gem, na criança, a desejos orais vorazes e a uma raiva sem limites contra contr a os que que deix am de de gratificá gr atificá-- los. Muito dessa 220
raiva, ferozmente recalcada pelo ego, encontra seu caminho para o superego, com os resultados descritos por Henry e Y e l a L ow owee nfel nf eld. d. A f unção inibi in ibitt ória óri a , contr co ntr olado ol adorr a e de g uia do super supereg ego, o, que se mescla baste ao ego, é debilitada pela fraqueza dos pais, pela educação indulgente, que deixa de treinar o ego. e pelo clima cl ima social s ocial geral g eral de per permiss missiv ividad idade. e. . . . Contudo, Cont udo, o severo superego da primeira infância ainda vive no indivíduo. A f unção unç ão de contr co ntrol olee do supereg o, que ex trai tr ai s ua f orça or ça da identificação com figuras parentais fortes e que pode proteger o indivíduo contra sentimentos de culpa conscientes e incons cientes, é deficiente; seu poder punitivo e autodestrutivo ainda parece afetar afe tar a mu muitos. O resultad res ultadoo é intranqü intr anqüilidade ilidade,, des des contentamento, modos depressivos, desejos de satisfações substitutas. E m Something Happened, de Heller, que descreve com tal quantidade de detalhes deprimentes a psicodinâmica da vida de família na atualidade, o pai acredita, com boas razões, que sua rebelde filha adolescente deseja que ele a puna; e, como muitos pais americanos, recusa-se a dar a ela esta satisfação, ou mes mesmo mo a reconh re conhecer ecer sua leg le g itimidade iti midade.. Recusand Recusando- se a ser ser manobrado para administrar punição, ele, ao contrário, alcan ça v itórias itória s psicológicas psicológica s sobre a f ilha il ha,, subm submetendoetendo- se a seu seus desejos, evitando, assim, as brigas que ela quer provocar. No entanto, ambos os seus filhos, não obstante seu desejo, pelo menos no caso caso de de seu f ilho, ilho , de ass as s umir umir o papel papel do “ melhor amig o”, o” , incon inconscientemen scientemente te consid consideram eram-- no um tir ano. Ele E le se perde em espanto: “ Não sei sei por por que que [ meu filho] sente, sente, com com tanta freqüência, que vou bater nele, embora nunca faça isso; nunca fiz; não sei por que tanto ele como minha filha acre ditam que eu costumava bater muito neles quando eram me nores, quando não acredito que alguma vez tenha batido em qualquer dos dois”. A abdicação da autoridade pelo pai mais intensifica do que suaviza o medo da criança de ser punido, ao passo que identifica pensamentos de punição com mais 221
firmeza do que nunca com o exercício da violência, arbitrária e esmagadora.* A Rela Re lação ção da F a mília míli a com Outr Out r os A g entes do Contr Co ntr ole ol e S ocial oci al A sociedade soci edade r efor ef orça ça estes estes padrões não só pela “ educação educa ção in dulgente” e pela permissividade geral, mas também pela publi cidade, criação de demanda e pela cultura de massa do hedo nismo. À primeira vista, uma sociedade baseada no consumo de massa massa parece encorajar a auto- indulgência indulgência em sua forma for ma mais mais eviden ev idente. te. No entanto, e ntanto, estritamen estr itamente te consideran considerando do-- se, a publicidade publicidade moderna procura promover não n ão tanto a auto auto-- in dulgência, mas a autodúvida. Ela procura criar necessidades, não satisfazê satisfazê-- las, gerar novas ansiedades, ansiedades, em vez v ez de de atenuar antigas. Cercando o consumidor de imagens de boa vida e associan associando do-- as ao fascínio fas cínio da celebridade cele bridade e do sucesso, sucesso, a cultu cul tu ra de massa encoraja o homem comum a cultivar gostos ex traordiná tr aordinários rios,, a id iden entific tificarar- se com a minor ia priv ileg iada con tra os demais e juntar-se a ela, em suas fantasias, em uma vida de conforto e de refinamento sensual. No entanto, a propa ganda de mercadorias simultaneamente o faz profundamente infeliz com seu quinhão. Ao abrigar aspirações grandiosas, abriga também autod autodeg egeneraçã eneraçãoo e autod autodesprezo. esprezo. A cultura cultura do consumo, em sua tendência central, recapitula deste modo a socialização antes proporcionada pela família. Ex periências periências com autor autoridade idade — na escola, escola, no no tr abalho, no no campo político — completam completa m o treinamento treinamento do cidadão, cidadão, em incômoda aquiescência com as formas predominantes de con trole. A qui, mais uma vez, o controle controle social social não promove promove nem auto- indulgência indulgência nem a autocr ítica culposa, culposa, antes antes inflig inf lig ida por * Na escola estudada estudada por Jules Henry , um menino de onze onze anos anos escreveu, agradecido, que seu pai “me ensina [beisebol e] outros espor tes tes [e] [e] me dá tanto quanto pode” , mas queixou queixou-- se de que “ nunca me dá uma surra quando faço algo erra do” . Henry observa: observa: “ O que que esta esta criança parece estar querendo dizer é que o pai ... não consegue dar o que o filho precisa, para fazer dele uma pessoa: punição por sua má ação. É surpreendente para pessoas em uma cultura primitiva aprender que não receber dor pode ser sentido como uma privação. No entanto, é mais doloroso para algumas crianças suportar a culpa sem punição do que receber uma surra.”
222
um superego moralista, mas ansiedade, incerteza, insatisfação inquieta. Na escola, nas corporações comerciais e nos tribu nais, as autoridades disfarçam seu poder com uma fachada de benev benevolência. olência. Colo Colocan cand do- se como aux aux iliares iliare s amigá amig áv eis, eis , dis ciplinam seus subordinados tão pouco quanto possível, pro curando, ao invés, criar uma atmosfera amigável na qual todos falam livremente o que pensam. Jules Henry verificou que os professores de escolas de ensino médio, na verdade, temiam a quietude e a repressão em suas salas de aula, justificando suas falhas em estabelecer a ordem com base em que esta imposição do silêncio interferiria na expressão espontânea e criar cr iaria ia medo medoss desnecessário desnecessários. s. “ Uma sala de de aula quie quieta ta pode ser uma situação terrivelmente atemorizante para alguém”, fala um professor, cuja sala de aula passou a ser tão baru lhenta que os próprios estudantes gritavam pedindo silêncio. De acordo a cordo com Henry , a sala de aula ensina ens ina às às crianças “ suas suas primeiras lições sobre como viver nos climas ‘amigáveis’, ‘relaxados’, das burocracias contemporâneas dos negócios e do governo”.* A aparência apar ência de permis per misss ividade iv idade escond es condee um sistema sis tema de con co n trole rigoroso, tão mais efetivo porque evita confrontações diretas entre autoridades e as pessoas sobre as quais procuram impor sua vontade. Porque as confrontações provocam dis cussões a respeito de princípios, as autoridades, sempre que possível, delegam a disciplina a terceiros, de modo que pos sam ficar fica r como conselheiras, conselheiras, “ pessoas essoas para o recurso” e ami a mi gas. Ass A ss im, os pais apóiam apóiam-- se nos nos médicos médicos,, psiquiatras psiquiatra s e nos nos próprios companheiros dos filhos, para impor regras so ciais à criança e cuidar para que se adapte a elas. Se a criança se recusa a comer o que seus pais pensam que ela * Qua ndo A nn La nders nders aconselhou aconselhou um estudante estudante de nív nív el médio a queixar- se ao dire dire tor sobre sobre outros outros estud est udantes antes que ti nham ativ idades sexuais na lanchonete, aquele lhe disse que o “diretor é provavelmente um covarde” e que “os professores sabem o que acontece e quem são os ofensores, mas não querem mexer no problema, para que eles fiquem quietos quietos ” . A mesma coluna publicou uma carta de uma me nina de dezes dezes seis anos, que insistia que os adolescentes que se queixam de “estar debaix o das asas asas dos dos pais ” , dever iam consid considerarerar- se afor a for tunados por não ter “pais que preferem não se intrometer, e não ficam ao lado dos filhos por odiar discussões”.
223
deve comer, os pais apelam para a autoridade do médico. Se for insubordinada, chamam o psiquiatra para ajudar a criança com seu “problema”.* Deste modo, os pais fazem de seu seu próprio proble ma — a insubordinação insubordinaç ão — o problema proble ma de seu filho. Do mesmo modo, na escola, a criança vê-se cer cada por autoridades que somente desejam ajudar. Se um dos alunos alunos “ sai da linha ” , enviamenviam- no a um cons cons elheiro elheir o para “acompanhamento”. Os próprios alunos, de acordo com o estudo de Edgar Friedenberg sobre a escola de nível médio americana, rejeitam tanto as medidas autoritárias como as libertárias e consideram o controle social como “um proble ma técnico, técnico, a ser resolv re solvido ido pelo especialista especialista adequa a dequado” do” . A ssim, ss im, se um professor encontra um aluno insubordinado fumando no banheiro, banheir o, ele ele não não deveria dever ia “ bater nele nele calma e friamente fr iamente e com repress repressãão emocional” emocio nal” , nem hum humilhá ilhá-- lo publica publicamente mente,, por um lado, e, por outro, tampouco deveria ignorar a ofensa como uma infração menor que não fosse contribuir para a reputação do aluno como criador de problemas. O professor devia enviáenviá- lo, então, ao psiquiat ps iquiatrr a da escola. Espancá Espancá-- lo to torná-lo-ia mais indisciplinado do que nunca, do ponto de vista dos estudantes, ao passo que a solução do psiquiatra, com efeito, envolve sua própria cooperação na tentativa da escola de contr controlá olá-- lo. Relações Humanas no Trabalho: A Fábrica como uma Família. Especialistas em administração de pessoal introduziram téc nicas semelhantes na empresa moderna, ostensivamente como um meio de “ humanizar humaniz ar ” o local de trabalho. tr abalho. A ideologia ideologia da moderna administração explora o mesmo corpo de teoria e prática terapêuticas, que informam sobre a educação e a cria * “ A comunidade ex primiu sua preocupação preocupação pela infância criando instituiçõ instituições” es” , escreveu V an Wate rs . "É cada vez mais mais com um que os partos partos se jam feitos em hospitais hospitais ; a alime ntação inf ant il tornou tornou- se um um rito esotérico, que poucos pais tentariam enfrentar sem assistência de um especialista; quando as as crianças adoecem, são cuidadas por espe espe cialista cialistass muito mais mais bem equipados equipados do que os os pais. . . . A cada ca da estági es tágioo da vida da criança algum agente agente org anizado moderno dirá aos aos pais: pais: 'Podemos fazer isto melhor do que que vocês’.”
224
~
ção de de filhos fi lhos progres progressistas. sistas. Esf orços orços recentes recentes para “ democrati democrat i zar” as relações industriais completam o desenvolvimento que teve início quando especialistas em administração científica co meçaram a estudar dinâmica de grupo no escritório e na fábrica, para remover os atritos e aumentar os resultados. Cientistas sociais então aplicaram as idéias, a princípio apli cadas ao estudo de pequenos grupos, ao estudo e tratamento da família, argumentando que a maioria dos conflitos origi nava-se da tentativa de impor controles autoritários ultrapas sados a uma instituição que estava evoluindo de uma forma autoritária para uma forma democrática. Nos anos cinqüenta, quase todos os psiquiatras, assistentes sociais e cientistas so ciais condenaram os valores associados à família tradicional ou autoritária. “Nossos compêndios”, escreveu uma equipe de especia especialistas, listas, “ discutem o sistem sistemaa f amilia r ‘democrático’ ‘democrático’ e a participação da autoridade”. Nos últimos anos das décadas de cinqüenta e sessenta, os especialistas em relações industriais começaram a estender essas idéias aos problemas de gestão. Em The Human Side of Enterprise (1960), Douglas McGregor instou os executivos de empresas a aceitar os “limites de autoridade”. Defi nindo a autoridade, com bastante crueza, como a ordem san cionada pela força, McGregor argumentou que a autoridade representava uma forma ultrapassada de controle social, numa era de “interdependência”. A ordem permanece em vigor, raciocinou ele, somente na medida em que os trabalhadores ocupam uma posição dependente e aviltada na hierarquia in dustrial, e encontram dificuldade até mesmo em satisfazer suas necessidades materiais. O psiquiatra Abraham Maslow demonstrou que, assim que os seres humanos satisfazem a necessidade básica de pão, teto e segurança, devotam sua aten ção ção a satisfazer a ne necessid cessidad adee de de “ autoauto- realizaçã realização” . T oda via, os dirigentes industriais, queixou-se McGregor, ainda fa ziam uma abordagem “sedutora” do operário, admitindo, de modo pouco científico, que as pessoas detestam o trabalho e têm de ser ser coagidas coag idas a desempenh desempenháá- lo ou sedu se duzidas zidas com re compensas materiais. McGregor tornou claro que não queria ver uma abdicação da responsabilidade dos dirigentes. Como os Drs. Spock e 225
Bruch, rejeitou as abordagens “permissivas” de seus prede cessores, que, alegadamente, contaminaram experimentos an teriores em “relações humanas”. A experiência invertera a suposição suposição de de que que “ a satisfaçã satisf açãoo do empreg ado” lev ava av a a uma uma maior produtividade ou que que “ a saúd saúde da indúst indúst ria [ fluía] automaticamen automaticamente te com a eliminação de . . . conf lito” lito ” . O tra balhador ainda necessitava de direção, mas tinha de ser abor dado como um sócio na empresa, não como uma criança. O executivo esclarecido encorajava seus subordinados a partici par de discussões de grupo, a “comunicar” suas necessi dades e sugestões à direção, e, até mesmo, a fazer críticas “construtivas”. Da mesma forma como conselheiros matrimo niais haviam aprendido a aceitar o conflito como uma parte normal da vida matrimonial, McGregor tentou imprimir um ponto de vista semelhante a administradores de empresas. Disse-lhes que erravam ao ver os interesses do indivíduo como opostos aos do grupo. “Se olharmos para a família, talvez reconheçamos as possibilidades inerentes ao ponto de vista oposto.” Pesquisas com grupos pequenos, de acordo com McGregor, mostraram que os grupos funcionam melhor quando todos falam o que pensam; quando as pessoas ouvem tanto quanto falam; quando os desacordos vêm à superfície sem causar “ tensõ tensões es óbv óbvias ias ” ; quando o “ presid res idente” ente” não não tenta dominar dominar seus subordinados; e quando as decisões repousam em um consenso.* Estes preceitos, receit os, que a esta altura altur a torn t ornaram aram-- se a moeda comum com um das das ciências, sociais, sociais, resum res umem em a v isão terapê ter apêu u tica da autoridade. A crescente aceitação desta visão, em to * O influente livr o de McGr eg or, expressão expressão tão característica característica da cultura dos anos cinqüenta, não só complementava o ataque psiquiá trico à família autoritária, que veio a dar fruto nessa década, pois tam bém restabelecia muitos dos temas da sociologia parsoniana da família. Em 1961, Parsons criticou a análise de David Riesman sobre a abdica ção da autoridade parental (em The Lonely Crowd), Crowd ), baseado em que os pais modernos melhor equipam os jovens para a vida numa sociedade industrial complexa, quando os encorajam a tornar-se autoconfiantes, em vez de tentar supervisionar cada detalhe do crescimento do filho. Como Parsons, McGregor argumenta que aquilo que parecia uma abdi cação cação da autor idade — neste neste caso, a autoridade autoridade a dministra tiva — , re presentava, ao contrário, uma transição para uma forma de controle mais eficaz, terapêutica e científica. Assim como os alarmistas reacio
226
dos os níveis da sociedade americana, torna possível preser var formas hierárquicas de organização sob o disfarce de “ participação” partic ipação”.. Ela provê uma socied sociedade ade dominada por eli tes empresariais com uma ideologia antielitista. A populari zação dos modos terapêuticos de pensamento desautoriza a autoridade, em especial no lar e na sala de aula, enquanto deixa a dominação sem críticas. As formas terapêuticas de controle social, ao abrandar ou eliminar a relação adver sa entre subordinados e superiores, torna cada vez mais dif ícil para os os cidadãos cidadãos defend efender- se contra contra o Estado, Es tado, ou para os os oper operáários resistir às às demandas demandas da corporação corpor ação.. À medida que as idéias de culpa e inocência perdem seu sen tido moral e até mesmo legal, os que estão no poder não mais impõem suas regras por meio de éditos autoritários de juizes juiz es , magis mag istr trados ados,, professor profes sores es e pregadores preg adores.. A sociedade soc iedade não mais espera que as autoridades articulem um código de leis e de moralidade claramente racional e elaboradamente jus tificável; tampouco espera que o jovem interiorize os pa drões morais da comunidade. Exige somente conformidade às convenções das relações cotidianas, sancionada por definições psiquiátricas do comportamento normal. Nas hierarquias do trabalho e do poder, assim como na família, o declínio da autoridade não provoca o colapso das restrições sociais. Ele meramente priva essas restrições de uma base racional. Do mesmo modo como o fracasso dos pais em administrar punição justa para o filho mais mina a auto auto-- estima estima deste deste do que que a fortalece, fortal ece, a cor r uptibilidade uptibilidad e das autoridades pública públicass — sua sua aquies aquiescência cência em f ormas menores enores nários nários (às (às vezes vezes em com um com te óricos sociais sociais bem- intencionados, intencionados, porém equivocados) deploraram prematuramente o colapso da autoridade parental, também os homens de negócios, previsivelmente, denunciaram a nova brandura introduzida nos negócios pelos especialistas em rela ções ções industr industr iais, iais , ex ig indo ação disc iplinar sobre sobre os os sindicatos, uma in versão do New Deal e o retorno aos velhos bons dias da autocracia industrial. McGregor não tinha paciência para essa perspectiva ultra passada. Ela repousava, segundo ele, numa incompreensão da autori dade e numa simplificação dos modos alternativos de exercer o poder. "A abdicação abdicação não é uma antít antítese ese adequada para o autor itar ismo. . .. Somente quando pudermos nos libertar da noção de que somos limitados a uma só dimens dime nsão ão —- a de de mais ou menos auto rida de — , escaparemos es caparemos de nosso presente dilema.”
227
de má más ações ações — lembra aos aos s ubor ubordinad dinados os sua s ubordinação, fazend fazendo- os depend dependentes entes da indulg ência ênc ia dos dos que estão acima deles. O burocrata do novo estilo, cuja “ideologia e caráter suportam a hierarquia, muito embora ele não seja nem pa ternalista, nem autoritário”, conforme Michael Maccoby co loca em seu estudo do “manipulador” da corporação, não mais dispõe indiscriminadamente de seus inferiores; contudo, ele descobriu des cobriu meios mais mais sutis de man mantêtê- los em e m seus seus lu l ugare ga res. s. Muito embora seus subalternos geralmente percebam que fo ram ra m “enganad “ enganados, os, levados, levados, manipulados ma nipulados ” , acham acham difícil dif ícil .resis tir a essa essa op opressã ress ão natura natural.l. A difusão da responsabi re sponsabilidad lidadee em grandes organizações, além do mais, permite ao moderno administrador delegar disciplina a outros, imputar à compa nhia em geral decisões impopulares e, assim, preservar sua posição como conselheiro amigável daqueles que estão abaixo dele. Todavia, todo o seu comportamento transmite a seus subordinados que ele continua sendo um vitorioso, em um jog o que a maior ma ior ia está es tá des tinada tina da a perder. perder . Já que todos supostamente jogam este jogo segundo as mes mas regras, r egras, ning uém pode pode invejáinvejá- lo por por seu sucesso; sucesso; tam pouco podem os perdedores fugir ao pesado senso de seu próprio fracasso. Em uma sociedade sem autoridade, as or dens inferiores não mais experimentam a opressão como culpa. A o invés inv és,, inte int e r ior izam iz am uma idéia idé ia g r andiosa andios a das opor op or t unida unid a des abertas a todos, junto a uma opinião inflacionada de suas próprias capacidades. Se o homem em posição inferior ressente-se dos que estão acima dele, é só porque suspeita que estes violentam os regulamentos do jogo, como ele próprio gostaria de fazer, se ousasse. Nunca passa por sua cabeça insistir em um novo conjunto de regras.
228
V II I
A Fuga ao S entimento: entime nto: Sociologia da Guerra entre os Sexos De repente, ela desejou estar com outro homem qualquer , não com E dw ar d. . . . Pia olhou para EdEd w ar d. O lh o u par pa r a s ua bar ba r ba v er melha, mel ha, seus óculos imensos. Não gosto dele, ela pensou. Essa barba ve rmelha, esse essess óculos imens os . .. Pia disse a Edward que ele era a única pessoa que ela amara por tanto tempo. “Quanto tempo faz?" DONALD BARTHELME Penso cada vez mais .. . que não não ex iste isso de de racionalidade em relacionamentos. Penso que você é obrigado a dizer tudo bem, é isto o que você está sentindo neste momento e o que faremos a respei to. .. . Crei o que todos devem ser capazes de faze r o que realmente desejam, desde que não firam os outros. RECÉM-CASADO LIBERADO
<4 Trivialização das Relações Pessoais. Certa vez Bertrand Russell Russel l predisse redisse que a socialização socia lização da reprodu repr odução ção — a subs subs tituição tituição da família pelo Estado Estado — “ tornaria o próprio próprio a mor sexual mais trivial”, encorajaria “uma certa trivialidade em todas todas as as relaçõ relações pessoais” e “ tornaria tor naria muit o mais mais difíci dif ícill a alguém interessar-se por qualquer coisa depois da própria morte” morte ” . À primeira vista, vis ta, os os desenv desenvolvimen olvimentos tos recen recentes pare cem ter refutado a primeira parte da previsão. Hoje em dia, os americanos investem as relações pessoais, particularmente as relações entre homens e mulheres, de grande importância emocional. O declínio da criação de filhos como a preocupa ção mais importante liberou o sexo de seu vínculo com a procriação e possibilitou às pessoas valorizar a vida erótica em si mesmo. Na medida em que a família se reduz à união marital, pode-se argumentar que homens e mulheres respon dem mais prontamente às necessidades emocionais uns dos 229
outros, em vez de viver vicariamente por intermédio dos filhos. Tendo o contrato matrimonial perdido seu caráter de ligação, os casais, hoje, acham ser possível, de acordo com muitos observadores, basear as relações sexuais em algo mais sólido do que a compulsão legal. Em suma, a crescente de terminação de viver o momento, não importa o que isto te nha causado às relações entre pais e filhos, parece ter esta belecido as pré- condi condiçõ ções es de uma nova intimid int imidade ade entre ho mens e mulheres. Esta aparência é uma ilusão. O culto da intimidade es conde uma uma crescente desesperança de encontráencontrá- la. A s relações relações pessoais desintegr desintegram am-- se sob s ob o peso peso emociona emo cionall com c om o qual são carregadas. A incapacidade “ de inte interes ressa sarr- se por qualquer coi sa depois da própria morte”, que dá tanta urgência à pro cura de relações pessoais no presente, torna a intimidade mais ilusória do que nunca. Os mesmos desenvolvimentos que ha viam debilitado os laços entre pais e filhos, também minaram as relações entre homens e mulheres. De fato, a deterioração do casamento contribui, por si só, para a deterioração do cui dado com os jovens. Este último ponto é tão óbvio que só uma propaganda vigo rosa em nome do do “ casamento aberto” aber to” e do “ divórcio criati cr iati v o” nos nos impede de apreendê apreendê-- lo. Está claro, por ex emplo, que que a crescente incidência de divórcios, junto à sempre presente possibilidade de que qualquer casamento terminará em co lapso, soma-se à instabilidade da vida familiar e priva a crian ça de uma medida de segurança emocional. A opinião escla recida desvia a atenção deste fato geral, ao insistir que, em casos específicos, os pais podem causar mais danos a seus filhos fil hos mante ndo um um casamento, do qu que dissolvendodissolvendo- o. É ver dade que muitos casais preservam seu casamento, de uma forma ou de outra, à custa dos filhos. Às vezes, passam a levar uma vida cheia de distrações, que os defendem con tra os envolvimentos emocionais cotidianos com seus filhos. Às vezes, um dos dos pais concor co ncorda da com co m a neuros neurosee do outr out r o (como na configuração da família que produz tantos pacientes es quizofrênicos), com medo de perturbar a paz precária do lar. Com mais freqüência, o marido abandona seus filhos deixando-os com a mulher, cuja companhia ele acha insuportável, 230
1
e a mulher sufoca os filhos de atenções incessantes, ainda que mecânicas. Esta solução particular para o problema da tensão matrimonial tornou-se tão comum, que a ausência do pai impressiona muitos observadores como o fato mais no tável na família contemporânea. Sob essas condições, um di vórcio, no qual a mãe fica com a custódia dos filhos, mera mente mente ratif r atif ica o estado de coisas existent ex istentee — a deserçã deserçãoo emocional efetiva da família pelo pai. Contudo, a reflexão de que o divórcio muitas vezes deixa de causar mais danos aos filhos do que o próprio casamento, dificilmente inspira comemorações. A G uer ue r r a entre entr e os Sex os: S ua His Hi s t óri ór i a S ocial. oci al. Embora a guerra crescente entre homens e mulheres tenha suas raízes psicoló gicas na desintegração da relação marital, e mais amplamente nos padrões em mutação da socialização, esboçados no capí tulo anterior, muito de sua tensão pode ser explicado sem se fazer referência ref erência à psicologia. sicolog ia. A guerra en entre tre os sexos sexos tam bém constitui um fenômeno social, com história própria. As razões para a recente intensificação do combate sexual re pousam na transformação do capitalismo, de sua forma pa ternalista e familiar, em um sistema administrativo, empre sarial e burocrático de controle quase total: mais especifica mente, no colapso do “cavalheirismo”; a liberação do sexo de muitas de suas restrições anteriores; a busca do prazer sexual como um fim em si mesmo; a sobrecarga emocional das relações pessoais; e, mais importante de tudo, a resposta masculina irracional à emergência da mulher liberada. Tem ficado claro, há algum tempo, que “o cavalheirismo morreu”. A tradição da galanteria antes mascarava, e, até certo ponto, suavizava, a opressão organizada das mulheres. Enquanto os machos monopolizavam o poder político e eco nômico, tornavam mais digerível sua dominação da mulher, cercando-a de um elaborado ritual de deferência e politesse. Puseram Puseram-- se como protetores do sexo mais fraco, fr aco, e esta esta ficção f icção enjoativa, porém útil, limitou sua capacidade de explorar as mulheres pelo simples emprego da força física. A contraconvenção do droit de seigneur, que justificava as explorações 231
predatórias das classes privilegiadas contra mulheres social mente inferiores à sua, não obstante mostrou que o sexo masculino, em tempo algum, tinha cessado de considerar a maioria das mulheres como animais de caça. A longa histó ria de estupro e sedução, além do mais, servia para lembrar que a força animal continuava a ser a base da ascendência masculina,'masculina,'- manife manifest stada ada aqui em sua f orma mais mais direta dire ta e bru br u tal. Todavia, convenções polidas, ainda que não passassem de fachada, davam às mulheres força ideológica em sua ba talha para domesticar a brutalidade e selvageria dos ho mens. Elas cercavam as relações essencialmente exploradoras com uma rede de obrigações recíprocas, que nada mais era do que exploração mais fácil de ser suportada. A inter inte r dependê de pendênci nciaa s imbiótic imbi óticaa entre entr e ex plorador plor adores es e e x plo rados, tão característica do paternalismo em todas as épocas, sobreviveu sobrev iveu nas nas relações relações machomacho- fêmea, muito te mpo depo depois is do colapso da autoridade patriarcal em outras áreas. Contudo, por ser a convenção da deferência para com o sexo frágil tão ligada ao paternalismo, ela vivia escondida, uma vez que as revoluções democráticas dos séculos dezoito e dezenove ha viam destruído as últimas bases do feudalismo. O declínio do paternalismo e do rico cerimonial público a ele relacio nado anteriormente, significou o fim da galanteria. As pró prias mulheres começaram a perceber a conexão entre seu aviltamento e sua exaltação sentimental, rejeitaram sua po sição de confinamento no pedestal da adoração masculina e exigiram a desmistificação da sexualidade feminina. A democr democ r a cia e o f e minis mini s mo, e ntão, des piram pira m o v éu da convenção de cortesia e subordinação das mulheres, revelando os antagonismos antag onismos sex uais antes antes disfarçados disf arçados pela “ mística fe minina”. Ilusões de cortesia negadas, os homens e mulheres acham cada vez mais difícil do que nunca seu confronto como amigos e como amantes, e ainda menos como iguais. À me dida que a supremacia masculina torna-se ideologicamente in sustentáve sustentável,l, incapaz de justificarjustificar- se como prot proteção, eção, os os ho mens asseguram sua dominação mais diretamente, em fanta sias e, ocasionalmente, em atos de pura violência. Conseqüen temente, o tratamento das mulheres no cinema, de acordo com um estud es tudo, o, mudou mudou “ da reverência rev erência para para o estup est uprr o” . 232
A s mulher mulheres es que a bando ba ndonam nam a seg se g urança dos papéis sociais restritivos, ainda que bem definidos, sempre se expuseram à exploração sexual, tendo desistido das habituais reivindicações de respeitabilidade. Mary Wollstonecraft, tentando viver como uma mulher liberada, viu-se brutalmente abandonada por Gilbert Imlay. Mais tarde, as feministas foram privadas dos pri vilégios do sexo e das origens classe média, quando fizeram campanha pelos direitos das mulheres. Os homens insultaramnas publicamente como mulheres masculinizadas e assexuadas e abordavamabordavam- nas par particular ticular mente como mulheres mulheres fáceis. Um cervejeiro de Cincinnati, esperando ser admitido no quarto de hotel hotel de de Emma G oldma ol dman, n, ao encon encontrá trá-- la sozinha, ficou f icou alarmado quando ela ameaçou acordar todo o estabelecimento. Ele protestou protestou: “ Pensei Pensei qu que você acreditava em amor livr liv r e” . Ingrid Bengis relata que, quando andava de carona pelo país, os homens esperavam que ela pagasse as caronas com favores sex uais. Sua recu recusa eliciava eliciav a a prev prev isível réplica: réplica: “ Bom, entã entãoo as moças não deviam pegar caronas por aí”. O que distingue o presente do passado é que o desafio às convenções sexuais cada vez menos apresenta-se como um ponto de escolha individual, como foi para as pioneiras do feminismo. Uma vez que a maioria dessas convenções já en trou em colapso, mesmo uma mulher que não reivindique seus direitos, não obstante, acha difícil reivindicar os privi légios tradicionais de seu sexo. Todas as mulheres vêem-se identificadas com a “ liberação liberação feminista” feminis ta” , meramente eramente em vir tude de seu sexo, a menos que, por meio de vigorosos des mentidos, elas se identifiquem com seus inimigos. Todas as mulheres compartilham as cargas, bem como os benefícios, da “ liber libe r ação” , podendo ambo amboss ser resumidos resumidos dizen dizend do- se que os homens deixaram de tratar as mulheres como damas. A “ Re v olução ol ução”” S ex ual. A desmistificação da feminilidade se gue paralela à sublimação da sexualidade. A “anulação da reserva” dissipou a aura de mistério em torno do sexo e re moveu a maioria dos obstáculos para sua exposição pública. A segr se greg egaçã açãoo sex ual ins tituc ti tucio iona naliliza zada da deu lugar lug ar a arr ar r anjos anj os que promovem a mistura dos sexos em cada estágio da vida. 233
A nticonc ntic oncepc epciona ionais is eficazes ef icazes , abor abo r to leg le g aliza al izado do e uma aceitação ace itação “ realista” realis ta” e “ saudá sa udávv el” do corpo enfraqueceram os laços laços que que antes ligavam o sexo ao amor, ao casamento e à procriação. Homens e mulheres buscam, hoje em dia, o prazer sexual como um fim em si mesmo, não mediado nem mesmo pelas armadilhas convencionais do romance. O sexo valorizado, por si só, perde toda referência para com o futuro e não dá esperança de relações permanentes. As A s ligações lig ações sex uais, inclusi incl usivv e o casamento, cas amento, podem pode m ser inte r rompidas à vontade. Isto quer dizer, como Willard Waller demonstrou há muito tempo atrás, que os amantes foram pri vados do direito de ser ciumentos ou de insistir na fide lidade como uma condição da união erótica. Em sua sá tira sociológi sociológica ca dos dos recémrecém- divorciados, divorciados, Wa lle r apontou a pontou qu que os boêmios dos anos vinte tentavam evitar compromissos emo cionais, ao passo que os eliciavam em outros. Uma vez que o boêmio “não estava pronto para responder com toda sua personalidade pelas conseqüências do relacionamento, nem dar qualquer segurança de sua continuidade”, ele perdeu o direito direito de ex igir tal segurança segurança de outros. outros. “ Mostrar ciúme” ciúme” , sob estas condições condições,, tornou tornou- se “ nada menos menos que um crime. cr ime. . . A ssim, ss im, se alg al g uém se apaix apa ix ona na B oêmia, ele o escond es condee de seus amigos da melhor maneira possível.” Em estudos seme lhantes sobre o “complexo da popularidade” nas universida des, Waller verificou que os alunos que se apaixonavam atraíam o ridículo de seus pares. As ligações exclusivas deram lugar a uma promiscuidade negligente, como o padrão normal de re lações sexuais. A popularidade substituiu a pureza como a medida do valor social de uma mulher; o culto sentimental da virgindade deu lugar à “divisão brincalhona da mulher”, que “não tinha efeito negativo”, conforme Wolfenstein e Leites apontaram em seu estudo sobre filmes, “nas relações amigáveis entre os homens”.* Nos anos trinta e quarenta, * A trans ição, nos nos filmes americanos, da vamp para a “moça boaboa- má” má” , de acor do com Wolf ens te in e Leites, ilustra o declínio do do ciúme ciúme e a substituição da paix paix ão sex ual pela pela ex citação citação sex ual. “ A pericu ericulosilosidade da vamp estava associada à intolerância do homem de comparti lhá lhá- la com outros outros homens . Sua apar ência se dutora dutora e presteza presteza para o amor continham uma forte sugestão de que teria havido, e poderia haver,
234
a fantasia cinematográfica na qual uma bela moça dança com um grupo de homens, sem dar preferência a um ou outro em particular, expressava um ideal para o qual a realidade cada vez mais se adaptava. Em Elmtown’s Youth, August Hollingshead descreve uma caloura que violou os tabus convencio nais contra contra bebid bebidas, as, cigarros e comportamento comportamento “ av ançado” e, ainda assim, manteve sua posição no mais proeminente grupo exclusivo da escola, em parte por causa da riqueza de sua família, mas, em grande parte, por causa de sua promis cuidade cuida de cuidadosa cuidadosamente mente medida. “ Ser visto em sua sua compa nhia nhi a aumenta o pre press tígio tíg io do rapaz no gr upo upo de elite . . . Ela briga brig a com seus seus namorados discretamente discr etamente — nunca nunca vai v ai muito longe, long e, somente somente o bastante para para fazêfazê-lo loss v oltar olt ar .” Na escola escola de ensino médio, assim como na universidade, o grupo tenta, por meio de ridicularização e de vituperação convencionais, evitar que seus membros se apaixonem pelas pessoas erra das, na verdade, que se apaixonem simplesmente; pois, con forme for me Hollings Holling s head obser observou, vou, os os amantes amantes “ afasta afastam m- se do mun do adolescente, com seus entusiasmos quixotescos e ativida des grupais variadas”. Estes estudos mostram que os aspectos principais da cena sexual contemporânea já se haviam estabelecido muito antes da celebrada “ rev re v olução olução sex s ex ual” dos anos anos sessenta sessenta e setenta: setenta: promiscuidade casual, uma cuidadosa evitação de compromis sos emocionais, um ataque ao ciúme e à possessividade. Ma nifestações recentes, contudo, introduziram uma nova fonte de tensão: a demanda cada vez mais insistente da mulher pela satisfação sexual. Nos anos vinte e trinta, muitas mu lheres ainda abordavam as relações sexuais com uma hesi tação que combinava o pudor a um temor realista das con seqüências. Superficialmente sedutoras, tinham pouco prazer no sexo, mesmo quando falavam no jargão da liberação se xual e professavam viver para os prazeres e as emoções. Os médicos preocup preocupavam- se com a frig fr igidez idez fe minina e os os outros outros homens homens em em sua v i d a . . .. A moça boaboa- má está está associada associada com uma tolerânc tolerância ia maior quanto quanto a compartilhar compartilhar a m ul he r .. .. Com efeito, efeito, a atração da mulher é aumentada pela sua associação com outros homens. T udo que é preciso para e limina r o des agr ado é a seg urança de que essas relações não tenham sido sérias.”
235
psiquiatras não tinham problemas para reconhecer entre suas pacientes os padrões clássicos da histeria descritos por Freud, onde uma exibição da sexualidade coquete geralmente coexiste com uma poderosa repressão e uma moralidade rí gida, puritana. Hoje em dia, as mulheres deixaram cair muitas de suas re servas sexuais. Aos olhos dos homens, isto as torna mais acessíveis como parceiras sexuais, porém também mais amea çadoras. çadoras. A ntigamente ntig amente os homens homens queix queixavam avam-- se da falta fal ta de de resposta sexual em mulheres; agora, consideram esta resposta intimidante e agonizam quanto à sua capacidade de satisfazêlas. “ S into tanto que que elas elas tenh te nham am percebido percebido que também po dem ter orgasmos”, diz Bob Slocum, de Heller. O famoso relatório re latório de de Masters Masters-- Johnson Johnson sobre sobre a sex se x ualidade ualidade feminina fe minina so mou-se a essas ansiedades, ao caracterizar as mulheres como sexualmente insaciáveis, inexauríveis em sua capacidade de experimentar orgasmos sucessivos. Algumas feministas usa ram o relatório Masters para atacar o “mito do orgasmo vaginal”, para assegurar a independência feminina dos ho mens ou para escarnecer dos homens com sua inferioridade sexual. “Teoricamente, uma mulher poderia ter orgasmos in definidamente, se não interferisse a exaustão física”, escreve Mary Jane Sherfey. De acordo com Kate Millett, “enquanto o potencial sexual do macho é limitado, o da fêmea parece ser, biologicamente, próximo da inesgotabilidade”. O “desem penho” sexual torna-se, assim, uma outra arma na guerra en tre homens e mulheres; as inibições sociais não mais impe dem as mulheres de explorar a vantagem tática que a atual obsessão pelas medidas sexuais lhes deu. Enquanto a mu lher histérica, mesmo quando se apaixonava e desejava des con contrair- se, raramente r aramente super superav avaa su s ua aversã avers ão subjacente subjacente pelo sexo, a mulher pseudoliberada do Cosmopolitan explora sua sexualidade de um modo mais deliberado e calculista, não só porque tem menos reservas a respeito do sexo, mas por que consegue com mais sucesso evitar vínculos emocionais. “As mulheres com personalidades narcisistas”, escreve Otto K ernb er nber ergg , “ podem podem parecer parecer bem 'histéricas histér icas ’ na super superfície, fície, com seu extremo coquetismo e exibicionismo, mas a qualidade calculista fria, astuta, de sua sedução contrasta marcantemente 236
com uma uma qualidade qual idade de pse pseud udoo- hiper hipersex sex ualidade ualidade histér histérica ica mais calorosa e emocionalmente envolvida.” Proximidade. Tanto homens como mulheres vieram a abordar as relações pessoais com uma avaliação aumentada de seus riscos emocionais. Determinados a manipular as emoções dos outros, enquanto se protegem contra danos emocionais, ambos os sexos cultivam uma superficialidade protetora, um distanciamento cínico que, no fundo, não sentem, mas que logo se torna um hábito e que, de qualquer modo, torna amar gas as relações pessoais, quando se torna repetitivo. Ao mesmo tempo, as pessoas exigem das relações pessoais a riqueza e intensidade de uma experiência religiosa. Embora, em alguns aspectos, os homens e mulheres tenham tido de modificar suas exigências a respeito uns dos outros, especialmente em sua incapacidade de exigir compromissos de fidelidade se xual para toda a vida, em outros aspectos fazem mais exigên cias do que nunca. Na classe média americana, sobretudo, homens e mulheres vêem-se muito uns aos outros e acham difícil colocar suas relações sob uma perspectiva adequada. A degra deg radação dação do tr abalho aba lho e o empobre empobr e cimento cime nto da v ida co mum forçam as pessoas a se voltar para a excitação sexual, para satisfazer satis fazer a todas todas as suas suas necess necessid idades ades emocionais. A n tigamente o antagonismo sexual era temperado não só por convenções cavalheirescas, paternalistas, mas também por uma aceitação mais relaxada das limitações do outro sexo. Os ho mens e mulheres tomaram conhecimento das deficiências uns dos outros, sem fazer delas a base de uma acusação abran gente. Em parte por ter encontrado mais satisfação do que comumente encontram em relações casuais com seu próprio sexo, não tiveram eles de elevar a própria amizade a um programa político, uma alternativa ideológica para o amor. Um desprezo negligente e cotidiano pelas fraquezas do outro sexo, institucionalizado como sabedoria popular a respeito da incompetência emocional dos homens ou a falta de miolos das mulheres, manteve a inimizade sexual dentro de limites e im pediupediu- a de de tornartornar- se uma obsessã obsess ão. 237
O feminismo e a ideologia da intimidade desacreditaram os estereótipos sexuais, que mantinham as mulheres em seus lugares, mas também possibilitaram tomar conhecimento do antagonismo antag onismo sex ual, sem eleváelevá- lo ao ao nível da maior guerra possível. Hoje, o folclore das diferenças sexuais e a aceitação do atrito entre os sexos sobrevivem somente na classe média. As A s f eminis emi nista tass de classe média mé dia inv ejam ej am a capac ca pacida idade de das m u lheres operárias de ter a consciência de que os homens estão estão em seu caminho, cami nho, sem precisar odiá odiá-- los. “ Estas mu lheres ficam menos iradas com seus homens, porque não pas sam muito tempo com eles”, de acordo com um observador. “ As mulhere mulheress de cclasse lasse média são são aqu aquelas a quem foi fo i dito que os homens tinham de ser seus companheiros.”* O Feminismo e a Intensificação da Guerra entre os Sexos. Não só o culto do companheirismo e da “proximidade” se *
Estud Es tudos os psiquiátr psiquiátr icos e sociológicos sobre sobre a v ida da classe classe ope rária confirm ar am essa essass obser obser vações. Uma esposa esposa amer icana de de classe classe média tem de esperar que seu marido a trate como uma igual”, escre veu um psiquiatr psiquiatr a em 1957. 1957. “ . . . Ela espera espera cooperação, cooperação, divisão de responsabilidade e consideração individual -- Na família italiana de clas classe se baix baix a . . . a mulher mulher . . . não não espera espera se ser tratada como igual. Antes, ela espera que ele tome tome as as pr incipa is decisões, ecisões, aliviandoaliviando- a da re spon sabilidade, de modo que ela tende para as necessidades da ninhada de filhos.” Rainwater, Coleman e Handel relataram em seu estudo sobre as esposas da classe operária: “As esposas da classe média ten dem a ver um maior intercâmbio entre os parceiros matrimoniais quanto ao tra balho que deve deve ser fe ito. H á muito mais em se fazer coisas junto ju ntoss , quer que r seja sej a lav la v ar prat pr atos os ou pint pi nt a r as parede par edes; s; a ‘pr o x imid im idaa de’ de ’ é, ostensivamente, um valor da classe média.” V int e anos após ter s ido feita fe itass estas descr des crições, ições, a ideol ide olog og ia do companheirismo marital progrediu na classe operária, tanto quanto nas famílias de classe média, enquanto o feminismo, penetrando finalmente nas consciências das mulheres da classe operária, tornou suspeita a estereotipagem sexual convencional e dificultou as pessoas a abandonarse em depreciação rotineira do sexo oposto sem autoconsciência. À me dida did a que as mulher mulhe r es da classe clas se tr abal ab alha hador dor a come co meça çam m a af ir mar ma r seus direitos, ou, pelo menos, a ouvir idéias feministas, seus maridos vêem, nesta volta dos acontecimentos, outro golpe contra seu próprio auto-respeito, a indignidade acumulada sobre o operário por um libera lismo de classe média, que já destruiu suas economias, levou seus filhos a escolas distantes, minou sua autoridade sobre eles e agora ameaça até mesmo sua esposa contra ele.
238
xual, mas o próprio feminismo, fizeram com que as mulheres fizessem novas exigências aos homens e que os odiassem quando não conseguiam corresponder a essas exigências. O aumento da conscientização feminista, sobretudo, tem tido efeitos irreversíveis. Uma vez que as mulheres começam a questionar a inevitabilidade de sua subordinação e a rejeitar as convenções antes associadas a ela, não podem mais recuar para a segurança dessas convenções. A mulher que rejeita o estereótipo da fraqueza e da dependência feminina não pode mais mais achar muito conforto no lugar lugar-- comu comum de de que to dos os homens são uns animais. Ela não tem outra escolha senão acreditar, ao contrário, que os homens são seres hu manos, e acha acha dif ícil perdoa erdoarr- lhes lhes quando agem como ani mais. Embora suas próprias ações que violam as convenções da passiv idade idade f eminina emi nina — e, em conseqüência, conseqüência, parecem aos aos homens homens uma uma for f orma ma de agressão — , ajudem a evocar açõ ações animalescas animales cas nos nos machos, machos , a própria compre compreensão ensão desta, dinâ din â mica não facilita muito fazer concessões ao adversário. “Você quer muita coisa”, uma mulher idosa diz a uma mais jovem. “Você não quer se comprometer. Os homens nunca serão tão sensíveis ou conscienciosos como são as mulheres. Não está na natureza deles. Portanto, você vai ter de se acostu mar com isto isto e s^tisfa s^tisfaze zerr- se . . . seja com a satisfaçã satis façãoo inte lectual, seja com a inteligência teórica, seja em ser amada e não compreendida, ou então ficar sozinha e fazer as coisas que quiser.” Uma mulher que leva a sério o feminismo, como um pro grama que objetive levar as relações entre homens e mulhe res a novas bases, não pode mais aceitar uma tal definição de alternativ as disponív disponív eis, eis , sem reconh reconhecê ecê-- la como como uma for ma de rendição. A mulher mais jovem replica, corretamente, que ninguém devia satisfazer-se com menos do que uma .combi nação de sexo, compaixão e compreensão inteligente. A ten tativ tat ivaa de incrementar essa essass demandas, demandas, contudo, expõeexpõe- na a repetidos desapontamentos, especialmente desde que os ho mens parecem considerar a solicitação de ternura tão amea çadora para sua segurança emocional como a exigência de satisfação sexual. A paixão contrariada, por sua vez, faz sur 239
gir nas mulheres a poderosa raiva contra os homens, tão inesquecivelmente expressa, por exemplo, nos poemas de Sylvia Plath: Não há um dia sem que tenha notícias suas, A ndando nda ndo pela Á f r ica ic a , talv tal v ez, mas pensando pens ando em mim. mi m. A raiv ra ivaa das das mulheres mulher es contra contr a os homens origina- se não só nos desapontamentos eróticos, ou na consciência da opressão, mas em uma percepção do casamento como a suprema arma dilha, a suprema rotina em uma sociedade rotinizada, a suprema expressão da banalidade que impregna e sufoca a vida moderna. Para a heroína de The Bell far, o casamento repre senta a apoteo apoteose se do cotidiano: “ Sig nificar nific aria ia levantarlevantar- me às às sete e preparar para ele ovos e bacon, torradas e café, e andar a esmo com minha camisola de dormir e rolos de ca belo, depois que ele saiu para trabalhar, para lavar os pratob sujos e arrumar a cama e, depois, quando ele chegasse à casa de volta, após um dia vívido, fascinante, ele esperaria um grande jantar, e eu passaria o resto da noite lavando pratos ainda mais sujos, até a hora de cair na cama, profundamente exausta”. Se o homem protesta que ele também está exausto e que seu seu “ dia fas fa s cinante cina nte”” consiste consiste de de tr abalho abal ho penoso penoso e hu milhação, sua mulher suspeita que ele deseja meramente dar à sua prisão doméstica a aparência de um chalé coberto de rosas. Teoricamente, necessariamente seria possível que as femi nistas ultrapassassem o presente estágio de recriminação se xual, passando a considerar os homens simplesmente como um inimigo da classe, involuntariamente preso na defesa dos privilégios masculinos e, conseqüentemente, isentos de culpa pessoal. pessoal. A -inter dependência dependência simbiótica entre homens homens e m mu u lheres, contudo, dificulta chegar-se a tal distanciamento in telectual telect ual na v ida cotidiana. cot idiana. O “ inimig o da classe” classe” apresen apresentatase, na existência comum, como um amante, um marido ou um pai, de quem as mulheres continuam a exigir coisas que os homens não conseguem dar. De acordo com a própria análise das feministas do modo pelo qual a sujeição das mu lheres causa danos a estas e empobrece a vida emocional dos homens, estes, possivelmente, não podem corresponder 240
a todas as exigências eróticas das mulheres sob a ação dos arranjos sexuais existentes; todavia, o próprio feminismo dá a essas exigências o mais forte apoio ideológico. Ele, por tanto, intensifica o problema para o qual, simultaneamente, oferece a solução. Por um lado, o feminismo aspira a mudar as relações entre homens e mulheres, para que estas não mais sejam forçadas a representar o papel de “vítima e bruxa”, nas palavras de Simo-ne de Beauvoir. Por outro lado, ele ge ralmente torna as mulheres mais briguentas do que nunca em suas relações cotidianas com os homens. Esta contradição permanece inevitável enquanto o feminismo insistir que os homens oprimem as mulheres e que esta opressão é intole rável, ao mesmo tempo incitando as mulheres a abordar os homens não simplesmente como opressores, mas como ami gos e amantes. Estratégias de Acomodação. Por sèr tão dolorosas as con tradições expostas (e exacerbadas) pelo feminismo, o movi mento feminista sempre considerou tentador renunciar a suas próprias percepções e programas e recuar para algum tipo de acomodação com a ordem existente, com freqüência disfarçada de militância aguerrida. No século dezenove, as feministas americanas afastaram-se gradualmente de seus programas ori ginais, que visavam não só à igualdade econômica, mas a uma reforma radical do casamento e das relações sexuais, para uma campanha demorada pelo sufrágio feminino. Hoje em dia, muitas feministas argumentam, mais uma vez em nome do realismo político, que as mulheres precisam estabelecer sua influência dentro do sistema bipartidarista, como uma es pécie de oposição leal, antes que possam levantar questões mais amplas. Tais táticas meramente servem para adiar in definidamente a discussão de questões mais arnplas. Assim como o movimento pelo direito das mulheres do século deze* nove cedeu a discussões sobre amor e casamento, quando enfrentar a hostilidade pública, importantes forças na Or ganização Nacional de Mulheres hoje propõem melhorar a imagem da mulher, mostrar que o feminismo de modo algum ameaça os homens, homens, e culpam culpa m as “ condiçõ condições es sex se x uais” ais ” ou as 241
más atitudes, e não a supremacia masculina, pela subordina ção do sexo feminino. Formas mais sutis de acomodação posam de desafios radi cais à corrente feminista predominante e ao status quo. A l gumas militantes têm revivido teorias desacreditadas das ori gens matriarcais ou mitos da superioridade moral das mu lheres, lheres, con consoland solando- se, assim ass im,, por su s ua falta fal ta de força. f orça. A pelam para a ilusória solidariedade da irmandade, para evitar de bates sobre os objetivos próprios do movimento feminista. A o ins t ituci it uciona onaliliza zarr as ativ at ivida idades des das das mulher mulheres es comó co mó “ al ternativas para a cultura masculina decadente”, elas evitam desafiar essa cultura e proteger as mulheres da necessidade de competir com os homens por empregos, poder político e atençã ate nçãoo públic pública. a. A quilo quil o que começou começou como como uma real r ealização ização tática de que as mulheres devem lutar por seus direitos, sem esperar que os homens lhos outorguem, degenerou na fan tasia de um mundo sem homens. Como observou um crítico, o “ aparente vigor vig or [ do movimento] movi mento] vem a ser ser mera ocupaçã ocupaçãoo com recursos autoperpetuadores: nele, muita coisa serve de impulso para dar a suas especialistas mais sensatas prestí gio, contratos de livros e subvenções, e, às sonhadoras, uma ilusória utopia matriarcal”. As “ lésbicas lés bicas r adica adi cais is”” lev le v am a lógica da s eparação epar ação à sua futilidade extrema, cedendo a cada estágio da luta contra a dominação masculina, enquanto dirigem uma corrente uni forme de insultos contra homens e mulheres que se. recusam a tomar conhecimento de suas tendências homossexuais. Ao proclamar sua independência dos homens, as lésbicas mi litantes, na verdade, prevêem um território protegido para si próprias, dentro de uma sociedade dominada pelo homem. T odavia, odavia , esta forma de rendição — o sonho de de uma uma ilha segura segura contra a invas invas ão masculina masc ulina — permanece permanece atraente a mulheres que repetidamente fracassam em conseguir uma união de sexualidade e ternura em suas relações com os homens. À medida me dida que esse essess desapont des apontament amentos os se tor to r nam cada vez mais comuns, o separatismo separati smo sex ual recom recomen end da- se como o subst substituto ituto mais plausível da liberação. Todas estas estratégias de acomodação tiram sua energia emocional de um impulso muito mais predominante do que 242
o feminismo: a fuga ao sentimento. Por muitas razões, as relações pessoais têm-se tornado cada vez mais arriscadas — obviamente, porque não mais implicam qualquer seguran ça de permanência. Os homens e mulheres fazem extra vagantes exigências uns aos outros e experimentam raiva e ódio irracionais, quando aquelas não são satisfeitas. Sob estas condições, não causa surpresa que um número cada vez maior de pessoa pessoass desejem o distancia dist anciamento mento emocional ou que que “ apre ciem o sexo”, conforme escreveu Hendin, “somente em si tuações nas quais possam definir e limitar a intensidade do r ela cionamento” cioname nto” . Uma lésbica confes confessa: sa: “ Os únicos únicos homen homenss com quem fui capaz de apreciar o sexo foram aqueles por quem nada sentia. Então eu podia relaxar, pois não me sen tia vulnerável.” O separatismo sexual é uma só entre muitas estratégias para controlar e fugir a fortes sentimentos. Muitos preferem a fuga pelas drogas, que dissolvem a ira e o desejo em um ardor de bons sentimentos e cria a ilusão de intensa expe riência sem emoção. Outros simplesmente decidem viver sós, repudiando ligações com um ou outro sexo. O aumento veri ficado de lares com uma só pessoa, sem dúvida, reflete um novo gosto pela independência pessoal, mas também expressa uma revolta contra ligações emocionais íntimas de qualquer tipo. A crescente taxa de suicídios entre os jovens pode ser atribuída, em parte, à mesma fuga aos vínculos emocionais. O suicídio, nas palavras de Hendin, representa o “entorpeci mento supremo”. A f orma or ma mais predo pr edominant minantee de f uga à complex comple x idade emo cional é a promiscuidade: a tentativa de chegar-se a uma estrita separação entre sexo e sentimento. Aqui, mais uma vez, a fuga mascara-se de liberação, a regressão de progresso. A ideolog ideol ogia ia progres progr essis sista ta dos “ compromisso compromis soss des de s v inculado incul adoss ” e “ sexo tr anqüilo” faz do desengajament desengajamentoo emocion emocional al uma v ir tude, enquanto pretende criticar a despersonalização do sexo. A utor idades idade s esclar es clarecidas ecidas como A lex le x Comf ort, or t, Nena e Georg Geor g e O ’Neill, Neill , Robert e A nna Fr ancoeur ancoeur insistem insiste m na necessidad necessidadee da humanização do sexo, fazendo dele uma “experiência total”, em vez de urn urn desemp desempenho enho mecânico; todavia. todavia. mesmo fô110
243
Icgo, condenam as emoções humanas de ciúme e possessiv idade idade e censuram as as “ ilusõ ilusões es romântica r omânticass ” . A sabed sa bedoria oria tera ter a pêutica êutica “ r adica l” impele impele homens homens e mu mulheres lheres a ex primir suas suas necessidad necessi dades es e desejos desejos sem s em reserv res ervas as — desde que que todas todas as necessid necessidad ades es e desejo desejoss tenham t enham igual ig ual leg le g itimidade — , mas avisa-lhes que não devem esperar que uma única relação lhes satisfaça. Este programa procura atenuar as tensões emocio nais, com efeito, ao reduzir as exigências de que homens e mu lheres lheres se tor nem mais mais capazes de satisfazêsatisfazê- las. A promoção pro moção do sexo como uma parte “saudável”, “normal”, da vida mas cara um desejo de retirar dele a intensidade emocional que inevitavelmente lhe é inerente: as lembranças de primitivos vínculos com os pais, a “doentia” inclinação de recriar aque las relações nas relações com os amantes. A insistência escla recid re cidaa de de que que o sexo sexo não não é “ s ujo” ujo ” ex prime um desejo de de higienizá- lo, limpandolimpando- o de de suas suas associações associações inconscientes. inconsciente s. A crític cr íticaa humanis humani s ta da “ des pers per s onaliz ona lização” ação” sex se x ual mexe, ex e, assim, com a superfície do problema. Mesmo quando prega a necessidade de combinar o sexo com o sentimento, ela dá legitimidade ideológica à fuga protetora contra fortes emo ções. Condena a ênfase excessiva sobre a técnica, enquanto exalta as relações sexuais que são hermeticamente livres de afeto. Exorta os homens e as mulheres a “resolver sobre a liberdade liber dade e a ‘nã ‘não- possess oss essiv ividad idade’ e’ ” , conforme confor me escreve InIngrid gr id Bengis, que que “ torturam o âmag âmag o da da intimida intim idade de”” . Satir iza as fantasias pornográficas grosseiras, vendidas pela “mídia”, que idealiza mulheres sem cabelos, com seios inflados, mas o faz por uma aversão à própria fantasia, a qual raramente se adapta às definições sociais do que é sadio. Os críticos do sexo desumanizado, como os críticos dos esportes, espe ram abolir a assistência e transformar cada indivíduo em participante, esperando que o exercício vigoroso expulse pen samentos pouco sadios. Atacam a pornografia, não porque de sejem promover fantasias mais. complicadas e satisfatórias a respeito do sexo, mas porque, ao contrário, desejam que se aceite uma visão realista da feminilidade e das exigências re duzidas, que homens e mulheres têm o direito de se fazer uns aos outros. 244 24 4
1
A Mulh Mu lhee r Cas trador tr adoraa da Fantas Fa ntas ia Mas culina culi na.. A fuga ao sen timento, quer se justifique ou não sob a ideologia de com promissos sem vínculo, assume, sobretudo, a forma de uma fuga à fantasia. Isto mostra que ela representa mais do que uma reação defensiva a desapontamentos externos. Hoje em dia, homens e mulheres procuram escapar da emoção, não só porque tenham sofrido muitos ferimentos nas batalhas do amor, mas porque experimentam seus próprios impulsos in ternos como sendo intoleravelmente insistentes e ameaçado res. A fuga ao sentimento tem origem não só na sociologia da guerra entre os sexos, mas também na psicologia que a acompanha. Se “muitos de nós”, conforme observa Ingrid Bengis a respeito de mulheres e como outros observaram também ta mbém a respeito respeito dos dos homens, homens, “ tivemos tiv emos de anestesiar anestesiar [ nossas] ossas] necessidades”, é o próprio caráter dessas necessidades (e as defesas erigidas contra elas) que dá origem à crença de que elas não podem ser satisfeitas nas relações heterossexuais — talv ez não devessem devessem ser ser satisfeitas de for ma alg uma uma — e que, que, em conseqüência, incitam as pessoas a fugir de relações emocionais intensas. Os desejos instintivos sempre ameaçam o equilíbrio psí quico e, por esta razão, não lhes é dada expressão direta. Em nossa sociedade, no entanto, eles se apresentam como in toleravelmente ameaçadores, em parte porque o colapso da autoridade removeu tantas das proibições externas contra a expressão de impulsos perigosos. O superego, em sua bata lha contra o impulso, não mais consegue aliar-se às autorida des externas. Ele tem de confiar quase que inteiramente em seus próprios recursos; e estes também diminuíram sua efi cácia. Não só os agentes sociais da repressão perderam muito de sua força, como suas representações internas no superego também sofreram, não obstante, um declínio similar. O ideal do ego, que coopera no trabalho de repressão tornando o próprio comportamento socialmente aceitável um objeto de investimento da libido, tem-se tornado cada vez mais pálido e ineficaz na ausência de modelos morais constrangedores fora do eu. Isto significa, como vimos, que o superego tem de apoiar-se cada vez mais em preceitos severos, punitivos, ori g inados dos dos impulso impulsoss agressivos no no id, e dirigidirigi- los contra contra o ego. ego. 245
O narcisista sente-se consumido por seus próprios apetites. A intensi inte nsidade dade de sua f ome oral or al leva-o leva- o a f azer aze r ex igências ig ências de sordenadas a seus amigos e parceiros sexuais; todavia, no mesmo fôlego, repudia essas exigências e solicita somente uma ligação casual, sem promessa de permanência de ambas as partes. Ele deseja livrar-se de sua própria fome e raiva, che gar a um calmo distanciamento além da emoção e superar sua dependência dos outros. Ele deseja a indiferença a rela cionamentos humanos e à própria vida, que o capacitaria a tomar conhecimento de sua passagem, na frase lacônica de K urt V onneg onneg ut, “ Então é ass im”, im” , que que tão tão habilmente habilmente ex prime a aspiração extrema do pesquisador psiquiátrico. Contudo, embora o homem psicológico de nossos dias'' se encha de medo da intensidade de suas próprias necessidades interiores interior es,, as as necessidad necessidades es dos outros intimidami ntimidam- no não não me nos do que as suas próprias. Uma razão por que as exi gências que ele, inadvertidamente, impõe aos outros, o in comodam, é que elas podem justificar que os outros lhe façam exigências. Os homens, especialmente, temem as exigências das mulheres, não só porque as mulheres não mais hesitam em pression ress ionáá- los, mas mas também por que os os homens homens acham ac ham di fícil imaginar uma necessidade emocional que não deseje consumir aquilo do que se apodera. As A s mulheres mulher es,, hoje, querem quer em duas coisas de suas relaçõ rel ações es com os homens: satisfação sexual e ternura. Quer separada mente ou combinadas, ambas as demandas parecem transmi tir a muitos muitos machos a mesma mensag mensagem em — as mulhere mulheress são são vorazes, insaciáveis. Por que deveriam os homens responder deste modo a demandas que a razão lhes diz ter óbvia legitimidade? Argumentos racionais notoriamente hesitam em face a ansiedades inconscientes; as demandas sexuais das mulheres aterrorizam os homens porque repercutem a níveis tão profundos da mente masculina, evocando fantasias pri mitivas de uma mãe possessiva, sufocante, devoradora e cas tradora. tradora. A persistên ers istência cia de de tais tais fan f antasias tasias na vida v ida adulta in tensifica e traz à superfície o secreto terror que sempre foi parte importante da imagem masculina da feminilidade. A força dessas essas f antasias pré- edip edipian ianas, as, no tipo narcis narcisista ista de per sonalidade, faz com que seja provável que os homens abor246 24 6
darão as mulheres com sentimentos irremediavelmente divi didos, dependentes e exigentes, em sua fixação com o seio, mas atemorizados pela vagina, que ameaça comê-los vivos; das pernas, que a imaginação americana dota à heroína ame ricana, pernas que, presumivelmente, podem estrangular ou cortar as vítimas até a morte; do próprio seio perigoso, fá lico, envolvido em armadura rija, que, no terror inconsciente, mais lembra um equipamento de destruição do que uma fonte de nutrição. A fêmea sexualmente voraz, há muito uma figura comum da pornografia masculina, no século vinte emergiu até a superfície da respeitabilidade literária. De modo simi lar, a mulher cruel, destruidora, dominadora, la belle dame sans merci, saiu da periferia da literatura e de outras artes para uma posição próxima do centro. Antes fonte de deli ciosa excitação, de gratificação sadomasoquista colorida de fascinação horrorizada, ela agora inspira aversão e receio ine quívocos. Sem coração, dominadora, queimando (como disse Leslie Fiedler) de “lascívia, mais dos nervos do que da carne”, ela emascula todo homem que sucumbe ao seu fascínio. Na ficção americana, ela assume uma variedade de disfarces, todos variações do mesmo tema: a heroína maliciosa de Hemingway, Faulkner e Fitzgerald; a Faye Greener, de Nathanael West, cujo “convite era não para o prazer, mas para a luta, dura e aguda, mais perto do crime do que do amor”; a Maggie Tolliver, de Tennessee Williams, impaciente como umà gata em teto de zinco quente; a esposa dominadora, cujo domínio sobre o marido, como no humor sem alegria de James Thurber, lembra a dominação da mãe castradora so bre seu filho; a Mamãe comedora de homens, denunciada, em agudo falsete, em Generation of Vipers, de Philip Wylie, Man and Boy, de Wright Morris, The American Dream, de Edward Albee; a sufocante mãe judia, a Sra. Portnoy; a vam pira de Hollywood (Theda Bara), a intrigante sedutora (Marlene Dietrich) ou a loura malvada (Marilyn Monroe, Jayne Mansfield); a precoce sedutora de Loliía, de Nabokov, ou a precoce assassina de The Bad Seed, de William March. Menina ou mulher, esposa ou mãe, esta fêmea corta os homens em pedaços ou os engole inteiros. Ela viaja acom panhada por eunucos, por homens machucados, que sofrem 247
de ferimentos inomináveis, ou por alguns homens fortes, der rubados por suas tentativas desorientadas de fazer dela uma verdadeira mulher. Quer a real incidência da impotên cia tenha tenha aumentado aument ado entre os machos americanos a mericanos ou não — e não não há r azão para não não acr editarmos editar mos que que tenha — , o espectro espectro da impotência persegue a imaginação contemporânea, não menos porque focaliza o temor de que uma cultura anglosaxônica esgotada esteja prestes a cair, ante o avanço de raças mais duras duras.. A natureza da impotênci a, além al ém do mais, mais, passou por uma importante mudança histórica. No século dezenove, homens respeitáveis às vezes experimentavam fracassos sexuais embaraçosos com mulheres de sua própria classe, ou então sofriam daquilo que Freud chamou de “impotência psíquica” — a característica divisão vitoriana entre sensualidade e afei ção. Embora a maioria desses homens tivesse respeitosas re lações com suas esposas, conseguiam satisfação sexual so mente nas relações com prostitutas ou com mulheres de outro modo degradadas. Conforme explicou Freud, esta síndrome psíqui psíquica ca — “ a forma for ma mais pre pre dominante dominante de deg deg radaçã ra dação” o” na v ida erótica de de seu tempo — originavaoriginava- se no complex o de de Édipo. Após a dolorosa renúncia da mãe, a sensualidade so mente procura objetos que não evoquem sua lembrança, en quanto a própria mãe, juntamente com outras mulheres “pu ras” (socialmente respeitáveis), é idealizada como estando além do alcance do sensual. Hoje, a impotência parece origin originarar- se tipicamente não da da renúncia à mãe, mas de experiências mais anteriores, freqüen temente reativadas pelas aberturas aparentemente agressivas de mulheres sexualmente liberadas. O temor da mãe devoradora da fantas ia prépré- edipiana edipiana dá dá orig em a um temor gener g eneralizado alizado às mulheres, que pouca semelhança tem com a adoração sen timental que os homens antes concediam a mulheres que os faziam sentir-se sexualmente incomodados. O medo das mu lheres, intimamente associado a um medo dos desejos que os consomem interiormente, revela-se não só como impotên cia, mas como raiva sem limites contra o sexo feminino. Esta raiva, cega e impotente, que parece predominar na época atual, somente superficialmente representa uma reação mas culina de defesa contra o feminismo. É somente porque a 248
recente revivescência do feminismo mexe com lembranças tão profundas, que ele dá origem a reações tão primitivas. O medo do homem pela mulher, além do mais, excede a ameaça real a seus privilégios sexuais. Enquanto o ressentimento de mulheres contra os homens, na maior parte das vezes, tem sólidas raízes na discriminação e no perigo sexual aos quais as mulheres estão constantemente expostas, o ressentimento dos homens contra as mulheres, quando aqueles ainda con trolam a maior parte do poder e riqueza na sociedade e, não obstante, se sentem ameaçados em sua' autoridade — intimi dados, emasculad emasculados os — , parec parecee prof prof undamente undamente irracional irr acional e, por esta razão, pouco provável de ser apaziguado por mu danças nas táticas feministas, destinadas a reassegurar aos homens que as mulheres liberadas não os ameaçam. Quando até Mamãe é uma ameaça, não há muita coisa que as femi nistas possam dizer para abrandar a guerra entre os sexos ou para reassegurar a seus adversários que homens e mu lheres viverão felizes juntos, quando ela acabar. A A lm a do Home Ho mem m e da Mulher Mulhe r sob o S ociali oci aliss mo. Viveriam homens e mulheres mais felizes juntos, sob outra forma qual quer de organização social? Viveriam eles mais felizes sob o socialis social ismo? mo? A resposta a esta perg unta unta não mais mais su s urpreende a muitas pessoas como evidente por si mesma, como sur preendeu a gerações anteriores de socialistas. O movimento feminista expôs sem cerimônias a superficialidade da antiga análise socialista, de acordo com a qual uma revolução nas relações de propriedade automaticamente revolucionariam as relações entre homens e mulheres. Com exceção dos socia listas mais rígidos e dogmáticos, todos já admitiram a jus tiça desta crítica feminista e a incorporaram ao seu próprio trabalho, notadamente em recentes estudos de Juliet Mitchell, Eli Zaretsky e Bruce Daneis. Pela primeira vez, um grande número de socialistas começou a perceber o desafio histó rico do feminismo ao socialismo. Como Mary White Ovington coloco colocou u., já em 1914 19 14,, o socialismo socialis mo “ não sig nifica nific a som s omente ente um estô est ômago cheio cheio — isso era era geralm ger almente ente alcançado sob s ob a escra v idão idão — mas uma v ida plena” ple na” . A discuss discussãão de qu questões estões pe pes249
soai soaiss não não pode pode mais mais ser ser afastada afas tada como forma for ma de de “ s ubjeti ubjetivv idade burguesa”. Ao contrário, parece que a exploração das mu lheres pelos homens, longe de constituir uma formação se cundária, dependente, de um modo ou de outro, da orga nização da produção, antecede o estabelecimento da produ ção baseado na propriedade privada e pode, com probabili dades, sobreviver à sua falência. A justi jus tiça ça da crític cr íticaa f emini em iniss ta ao s ocialis ocia lis mo, no entant ent anto, o, não justifica as conclusões que algumas feministas dela ex traem tr aem — a de de que que a op opress re ssãão das das mulhere mulheress representa repres enta a forma básica e primária de exploração e que ela se subor dina, e determina, a todas as outras relações sociais. A ex ploração de mulheres evoluiu de muitas formas históricas e a importância dessas mudanças não deve ser obscurecida, tra tando-se o sexismo como um fato imutável da vida, que pode ser abolido somente com a abolição da própria sexualidade e a instituição do reino da androginia. A forma de opressão sexual específica da recente sociedade capitalista elevou as tensões sexuais a nova intensidade, ao mesmo tempo que encorajou uma nova independência entre as mulheres, que as leva a rejeitar a subordinação. Não parece desarrazoado acreditar, mesmo na passividade política e no quietismo dos anos 70, que uma profunda transformação de nossos sistemas sociais continua a ser uma possibilidade e que uma revolu ção ção socialista socialista aboliria o novo pater nalismo — a dependên dependên cia de cidadãos comuns de especialistas, a degradação tanto do trabalho tr abalho como da da v ida domést doméstica ica — do qual ora deriva deriv a tanto conteúdo do antagonismo entre homens e mulheres. O estabelecimento da igualdade entre os sexos, a transforma ção da família e o desenvolvimento de novas estruturas da personalidade de modo algum conduziriam a uma utopia an drógina, mas tampouco deixaria sem mudanças essenciais a batalha entre os sexos. A abolição das tensões sexuais é, de qualquer modo, um objetivo pouco válido; o ponto está em viver com elas mais dignamente do que com elas convivemos no passado.
250
IX
A F é A bala ba lada da na Regeneração da Vida
O Horror à Velhice. Sob certos aspectos, a expressão mais característica dos tempos é a campanha contra a velhice, que, hoje em dia, encerra um terror especial para as pessoas. à medida que que a proporção de de velhos velhos na população aumenta, o problema da velhice atrai a atenção ansiosa de médicos, demógrafos, psiquiatras, pesquisadores médicos, sociólogos, re formistas for mistas sociais, políticos e futurólog futurólogos. os. Um número número cres cente de ciências e pse pseud udociências ociências preocup reocupa- se es pecificamen pecif icamen te com o envelhecimento e a morte: a geriatria, a gerontologia, a tanatologia, a criônica, criônica, o “ imort alis mo” . Muitas Muitas o u tras, notadamente a genética, a engenharia genética e a me dicina comunitária, aderiram à luta para aliviar ou abolir os estragos estrag os do temp te mpoo — uma luta cara car a ao coraçã cora çãoo de de uma cultura moribunda. Duas abordagens ao problema da idade emergiram. A pri meira procura não prolongar a vida, mas melhorar sua quali dade, especialmente a qualidade do que costumava ser co nhecido como os anos do declínio. Resistindo à relação entre velhice e perda de forças, os proponentes desta abordagem exigem um papel social mais ativo para aqueles que, embora tenham te nham passado passado da meiameia- idad idade, e, de de modo alg um sobrev iviam iv iam à sua utilidade. Os humanistas insistem que a velhice é uma categoria social, não uma categoria biológica. O moderno pro blema da velhice, sob este ponto de vista, tem origem menos no declínio físico, do que na intolerância da sociedade para com os idosos, em sua recusa de fazer uso de sua sabedoria acumulada e em sua tentativa de relegá-los à margem da exis tência social. A seg se g unda unda abor abo r dag em propõe lida li darr com a v elhice como “um problema médico”, nas palavras de Albert Rosenfeld — 251
“um problema sobre o qual seu médico espera, um dia, poder fazer algo”. Atribuindo falsamente à medicina moderna um aumento da expectativa de vida, que, na verdade, deriva-se de um padrão de vida mais elevado, ela assume que a medi cina tem o poder de estender a vida ainda mais e de abolir os horrores da velhice.* Por volta do ano 2025, como acre dita Rosenfeld, Rosenf eld, “ a maioria dos mistérios mistérios mais importantes importante s do processo rocesso de de envelh envel hecimento terá ter á sido sido soluciona s olucionada” da” . A despeito despeit o de suas suas difer dife r enças, enças , as soluções soluções médica médic a e s ocial para a velhice têm mais em comum do que parece a prin cípio. Ambas repousam mais na esperança — e em uma forte aversão aver são pela per perspectiv spectivaa da da decadência deca dência física — do que que no exame crítico da evidência. Ambas consideram a velhice e a morte como “uma imposição sobre a raça humana’, nas pa lavras lavras do novelista novelista Ala n Har ring ton — como como algo “ não não mais mais aceitável”.** O que está por trás dessa aversão ao processo de envelhe cimento, que parece estar se tornando cada vez mais comum na sociedade industrial adiantada? * A maior ia dos historiadores historiadores e demóg demóg rafos acre dita, agora, que que os melhoramentos na dieta, na higiene e em padrões gerais de vida, não os melhoramentos da tecnologia médica, são responsáveis pelo au mento da expectativa de vida, desde o século dezoito. A explicação superficialmente plausível sobre o declínio da mortalidade, aceita por Rosenfeld e outros deterministas tecnológicos — de que ele provém de melhoramentos melhoramentos na medicina — , foi “ tão tão completamente demolida por por Thomas McKeown e R. G. Brown, em 1955"’, nas palavras de William L . Lang er, “ que. desde desde então, tem sido em geral abando nada por ou tros estudiosos estudiosos do pr oblem a” . Não N ão im por tando o que que estes estes estudiosos estudiosos pensam a respeito da causa real da explosão demográfica, concordam cm descontar descontar a influência influência da me dicina. Recentemente, Recentemente, McK eow n esti mou que. entre 1848 e 1971, a vacinação contra a varíola foi respon sável somente por 1,6 por cento da queda da taxa de mortalidade na Inglaterra. Até mesmo os antibióticos, que, inegavelmente, influenciaram a taxa de mortalidade, não foram introduzidos até a década de 1930 e, portanto, não poderiam ter contribuído para uma revolução demográ fica que estava em processo desde o século dezoito. ** Defensores da da teoria teoria social social do envelhecimento poderia m facil mente concordar com a descrição de Harrington de seus sintomas e do medo que estes evocam — “o medo de perder nossas forças e de ser deixados sozinhos, ou nas mãos de enfermeiros indiferentes, e saber que chegará o momento em que não mais veremos as pessoas a quem quem amamos , e tudo tudo f icará escuro” . Contudo, enquanto Harr ing ton se voltav a para a “ engenharia médica e para para nada mais ” em busca busca de
252
Narcisismo e Velhice. Obviamente, os homens sempre teme ram a morte e desejaram viver eternamente. Todavia, o medo da morte assume nova intensidade em uma sociedade que se privou da religião e demonstra pouco interesse pela posteri dade. A velhice inspira, além do mais, apreensão, não só porque representa o início da morte, mas porque a condição das pessoas idosas tem-se deteriorado objetivamente nos tem pos modernos. Nossa sociedade notoriamente encontra pouco uso para os mais velhos. Ela os define como inúteis, força-os a se aposentar antes de ter exaurido sua capacidade para o trabalho e reforça seu senso de superfluidade em todas as oportunidades. Insistindo, ostensivamente, em um espírito de respeito e amizade, que eles não perderam o direito de gozar a vida, a sociedade lembra às pessoas idosas que elas não têm outra coisa melhor para fazer com seu tempo. A o desv des v alor alo r izar iza r a ex periênci per iênciaa e dar da r muito muit o v alor al or à f orça or ça física, destreza, adaptabilidade e à capacidade de surgir com novas idéias, a sociedade define a produtividade em modos que que automaticamente automatic amente ex cluem os “ cidadãos mais mais velhos” v elhos” . O conhecido culto da juventude enfraquece ainda mais a po sição social dos que não são mais jovens. Portanto, “nossas atitudes em relação ao envelhecimento”, como observa um crítico recente, “não são acidentais”. Elas se originam de mudanças sociais a longo prazo, que redefi niram o trabalho, criaram uma escassez de empregos, desva lorizaram a sabedoria da idade e trouxeram má reputação a todas as formas de autoridade (inclusive à autoridade da ex periência). periência). Por ter ter a força e o status dos idosos causas sociais de raízes profundas, somente fazer propaganda a seu favor ou formular políticas mais humanas não serão suficien tes para aliviar seus destinos. Aqueles que argumentam ser a velhice mais uma questão social do que médica, ainda têm “salvação”, insistindo que “nossos messias estarão usando jalecos bran cos”, aqueles que consideram o envelhecimento um problema social argumentam que “perder nossas forças”, “ser deixados sozinhos” e ser entregues a “enfermeiros indiferentes” são expcriências infligi das desnecessariamente aos idosos por uma sociedade empedernida, e tornadas ainda mais dolorosas pela irrefletida aceitação, por parte das pessoas idosas, de sua própria desvalorização social.
253
de compreender o quão profundamente social ela é e, em con seqüência, quão resistente a soluções paliativas. Nada menos que uma completa reordenação do trabalho, da educação, da família fa mília — de cad cada instituição instituição importante importante — tornará s upor tável a velhice. Mesmo assim, a biologia limita o grau até onde a velhice pode ser tornada genuinamente agradável, em oposição a menos dolorosa —•ouíro fato inflexível que os teóricos sociais do envelhecimento e da morte (tão otimistas em seu “meliorismo” reformista, como o são os teóricos da “longevidade”, com sua fé em milagres médicos) firmemente se recusam a enfrentar. O problema proble ma da da velhi ve lhice ce permanece ermanece nã não tratável por por outr outraa razão. Ele possui uma dimensão psicológica, assim como uma dimens dimensão ão social e biológica. biológi ca. A mudança s ocial man manifestaifesta- se, tanto interna como externamente, em percepções, hábitos men tais e associações inconscientes em mutação. Se nossa época tem um horror especial à velhice e à morte, este horror deve originar-se em alguma predisposição interior. Ele deve refletir não somente mudanças objetivas na posição social dos mais velhos, mas experiências subjetivas, que tornam intolerável a perspectiva pers pectiva da velhice. O medo da da velh vel hice pode pode originaroriginar- se na estimativa racional, realista, do que acontece com as pes soas idosas na sociedade industrial adiantada; mas tem suas raízes no pânico irracional. O sinal mais óbvio deste pânico é que ele surge nas vidas das pessoas muito prematuramente. Homens e mulheres começam a temer a velhice antes mesmo de cheg chegar ar à meiameia- idad idade. e. A chamada crise da meiameia- idad idadee apresenta-se como uma compreensão de que a velhice assoma à nossa porta. Os americanos experimentam o quadragésimo aniversário como o início do fim. Até mesmo o apogeu da j v ida, ida , ass as s im, v em a ser obscur obs curec ecido ido pelo medo do que v irá. ir á. Este terror irracional da velhice e da morte está intimamente associado à emergência da personalidade narcisista como o tipo dominante de estrutura da personalidade na sociedade contemporânea. Por ter o narcisista tão poucos recursos inte riores, ele olha para os outros para validar seu senso do eu. Precisa ser admirado por sua beleza, encanto, celebridade ou poder poder — atribu atr ibutos tos que que ger g eralm almente ente declinam com o tempo. tempo. 254
Incapaz de alcançar sublimações satisfatórias nas formas de amor e de trabalho, ele percebe que terá pouco para sustentálo, quando a juventude passar. Ele não encontra interesse no futuro e nada faz para prover para si os consolos tradicionais da velhice, dos quais o mais importante é a crença de que as gerações futuras, em certos aspectos, levarão adiante o traba lho de sua sua v ida. O amor e o trabalho tr abalho unemem- se em uma preo pre o cupação pela posteridade, e especificamente numa tentativa de equipar a geração mais jovem para levar adiante as tarefas dos mais velhos. O pensamento de que vivemos vicariamente em nossos filhos (mais ostensivamente, em futuras gerações) reconcilia reconcilia-- nos nos com nossa nossa própria s ubst ubstituiçã ituiçãoo — o sofr imento central da velhice, ainda mais angustiante do que a fragilidade e a solidão. Quando o elo “geracional” começa a desgastar-se, tais consolos não se mantêm mais. A emerg emer g ência da pers per s onalidade onali dade narcis nar cisis ista ta reflet re flete, e, entre entr e ou tras coisas, uma mudança drástica em nosso sentido de tempo histórico. O narcisismo emerge como a forma típica de estru tura de caráter, em uma sociedade que perdeu o interesse pelo f uturo. utur o. Os psiquiatras que que dizem dizem aos aos pais pais para para não não viver viv er através de seus filhos; casais que adiam ou rejeitam a pater nidade, geralmente por boas razões práticas; os reformistas sociais que recomendam o crescimento zero da população; todos atestam uma penetrante intranqüilidade a respeito da re produção produção — difundem dif undem dúv dúv idas, de fato, f ato, sobre sobre se nossa nossa so ciedade dever ia absolutamente absolutament e reprodu reproduzir- se. Sob estas estas con dições, o pensamento de nossa eventual substituição e morte torna-se profundamente insuportável e dá origem a tentativas de se abolir a velhice e prolongar a vida indefinidamente. Quando os homens se vêem incapazes de se interessar pela vida terrena após sua própria morte, desejam eles a eterna juv entude en tude,, pela mesma mes ma r azão por que não mais cuida cui dam m de se re produzir. Qua ndo a perspectiva perspectiva de de ser ser substituído torn tornaase intolerável, a própria paternidade, que garante que isto acontecerá, aparece quase como uma forma de autodestruição. E m Kinflicks, de Lisa Alther, um rapaz explica por que razão não quer quer ter filhos. filhos . “ Sempre Sempre v i o mundo como um palco. . . . E qualquer filho meu seria um jovem ator ansioso para apa255
recer, que que iria ir ia quer querer er tirar- me do palco palco,, obser observando vando-- me e espe espe r ando ando para en enterrarterrar- me, para que que ele pudesse assumir o centro do palco.” A T eoria eor ia S ocia oc iall do E nvel nv elhec hecime imento nto:: o “ Cr es ciment ci mento” o” como Obsoletismo Planejado. A interpretação social da velhice fa cilmente degenera em uma espécie de pensamento positivo, que objetiva meramente aumentar o nível da “imagem” dos mais velhos e encorajar as pessoas idosas a se conscientizar de suas suas enfermidades enfe rmidades sem perder o gosto pela pela v ida. ida . A lex Comfort, bastante conhecido como um proponente de um estilo de sexualidade mais relaxado, defendeu uma abordagem simi lar aos aos problemas problemas do envelhecimento. envelhecimento. “ Intensidades Intensidades trágicas” trágicas ” , na visã vis ão de de Comfor Comf ort, t, “ tendem tendem a produzir ‘v iagens’ iage ns’ desagr adá adá veis.” veis .” A ss im como procura “ transfer transf erir ir o sexo sexo e suas suas ansie ansie dades, da categoria ‘quente’, prescrita por uma cultura irra diante, para a categoria ‘fria’, baseada em não ansiedade, não compulsão e reconhecimento da pessoalidade”, também Com fort pleiteia por “uma mudança em nossa visão da idade”. A ciência ciênci a moder mode r na, ele ar g umenta, umenta , “ indica indic a que uma alta al ta pro pr o porção das mudanças mentais e de atitudes observadas em pessoas ‘velhas’ não são efeitos biológicos”, mas “o resultado do desempenho de papéis”.* No mesmo filão, Gail Sheehy tenta convencer as pessoas de qque ue a v elhice não é neces necessar sariamen iamente te um desastre esastr e — sem, sem, no entanto, desafiar as condições sociais que fazem com que tantas tantas pessoas pessoas a exp ex perimen er imentem tem como tal. T r anqiiiliz anqii ilização ação deste tipo facilmente derrota seu próprio objetivo. Como apontaram alguns críticos, Sheehy faz pela idade adulta o que fez o Dr. Spock pela infância. Ambos asseguram ao leitor ansioso que * A emergência de Comfo rt como defensor defensor de abordagens mais “humanistas” da velhice provoca a mesma suspeita que a emergência de Masters e Johnson como defensores de uma abordagem menos mecanicista do sex o. B enjamin enja min DeMott DeM ott escreve sobre sobre seu reconhecimento re conhecimento tardio da “ lealdade e fidelidade, honr a e confiança” : “ Parec Parecee- me no mínimo questionável que uma decisão de Masters e lohnson de reabi litar esta linguagem perdida, desacompanhada de qualquer admissão de seu própri pr óprioo papel pape l em desacreditádesacreditá- la e desonrá desonrá-- la, poss possaa susten sustentartar- se como um ato mental significativo” .
256
a conduta que ele considera complexa ou perturbadora, quer seja em seus filhos, em sua mulher ou em si mesmo, pode ser vista como meramente uma fase normal do desenvolvi mento emocional. Mas, embora possa ser reconfortante saber que uma criança de dois anos gosta de contradizer seus pais e, fr eqü eqüentemente entemente se recusa a obed obedece ecerr- lhes, lhes, se o des desenv envolv olv i mento da criança deix a de ad adaptaraptar- se ao esqu es quema ema adequado, o pai ou a mãe ficarão alarmados e procurarão aconselha mento médico ou psiquiátrico, que pode remexer em temores mais profundos. profundos. A aplicação aplicação da da psicolog psicologia ia do “ ciclo v ita l” para a vida adulta terá o mesmo efeito. Medindo a experiên cia segundo um modelo normativo estabelecido por médicos, as pessoas ver-se-ão tão perturbadas por desvios da norma, como o são pelas próprias “crises previsíveis da vida adulta”, para as quais se pretende que as normas médicas proporcio nam segurança. O espírito do livro de Sheehy, como o de Comfort, é generoso e humano, mas repousa em definições médicas da realidade que permanecem altamente suspeitas, não menos porque dificultam passar-se pela vida sem a aten ção constante de médicos, psiquiatras e religiosos. Sheehy traz para o assunto do envelhecimento, que necessita ser abordado sob uma perspectiva moral e filosófica, uma sensibilidade tera pêutica incapaz de transcender a suas próprias limitações. Sheehy reconhece que a sabedoria é um dos poucos con fortos da idade, mas ela não vê que pensar na sabedoria pura mente como um consolo despe-a de qualquer sentido ou valor mais amplos. O valor real da sabedoria acumulada de uma existência é que ela pode ser passada às futuras gerações. Nossa sociedade, no entanto, perdeu este conceito de sabedo ria e conhecimento. Ela conserva um ponto de vista instru mental do conhecimento, de acordo com o qual a mudança tecnológica constantemente torna o conhecimento obsoleto e, em conseqüência, intransferível. Á geração mais velha nada tem para ensinar à mais jovem, de acordo com este tipo de raciocínio, ra ciocínio, exceto ex ceto equip equipáá- la com os os recursos recursos emocionais e inte lectuais para fazer suas próprias escolhas e lidar com situa ções ções “ desestrutu deses truturadas” radas” , para as quais quais não ex istem preceden precedentes tes ou preceitos confiáveis. Àceita-se sem discussões que as crian ças rapidamente aprenderão a achar as idéias de seus pais 257
antiquadas e obsoletas, e os próprios pais tendem a admitir a definição social de sua própria superfluidade. Tendo criado seus filhos até a idade na qual ingressaram na faculdade ou no trabalho, as pessoas em seus quarenta ou cinqüenta anos acham que nada mais têm a fazer como pais. A descoberta coincide com outra, a de que nem os negócios, nem a indús tria, precisam pre cisam mais mais delas. A s uper uper fluidade das pessoa pessoass de meia- idad idadee e mais mais v elhas elhas originaorigina- se no rompimento r ompimento do s entido entido de continuidade histórica. Pelo fato de a geração mais velha não mais pensar que sobreviverá à seguinte, que alcançará uma imortalidade vicária na posteridade, ela não cede, dignamente, lugar luga r aos aos jovens. A s pessoas essoas agarramagarram- se à ilusão de juve ntude, até que esta não possa mais ser mantida, ponto em que são obrigadas ou a aceitar seu staíus supérfluo ou cair em negro interesse pela vida. Sheehy parece aquiescer com a desvalorização da paterni dade, pois quase nada tem a dizer a respeito. Tampouco cri tica as pressões sociais que tiram as pessoas de seus empregos passand assando-as o- as para aposentadorias cada vez mais prematuras. prematuras . De fato, fat o, ela admite admite esta tendência como como desejável. desejável. “ Um nú núme me ro surpreendentemente grande de trabalhadores está escolhen do aceitar a aposentadoria prematura”, diz ela brilhantemen te, “ desde esde que isto não não sig s ig nifique uma queda drástica nos nos salá rios.” Sua solução para a crise do envelhecimento é encontrar novos interesses, novos modos de se manter ocupado. Ela rela ciona o crescimento com o man manterter- se em movimento. mov imento. Ela incita os leitores leitores a descobrir “ a excitaçã ex citaçãoo de de aprend apre nder er algo alg o de de novo após os quarenta e cinco anos”. Aprender a esquiar, ou a jogar golfe, ou a andar de bicicleta. Aprender a tocar piano. Você V ocê não f ar á muitos progress progr essos, os, “ mas, e d a í ? . . . A ques questão tão está em derrotar a entropia que diz, diminua o ritmo, desista disto, assista à televisão, e em abrir outro caminho que possa reviver todos os sentidos, inclusive a sensação de que se é somente um cão velho.” De acordo com Sheehy, “é nossa visão a nosso próprio res peito que determina deter mina a riqu ri queza eza ou esca escassez ssez da da meia- idade” idade” . Com efeito, ela estimula as pessoas a se preparar para a meia- idade idade e a velhice, ve lhice, de tal modo mo do que que possam poss am bater em reti reti-2 58
rada sem fazer faze r muito muit o estardalhaço. est ardalhaço. A psicologia do cres cres cimento, do desenvolv imento e da “ autoauto- realização” realização” apresenta a sobrevivência como progresso espiritual, a resignação como renovação. Numa sociedade em que a maioria das pessoas acha difícil armazenar experiências e conhecimentos (para não falar em dinheiro) contra a velhice, ou transmitir a experiência acumulada a seus descendentes, os especialistas do crescimento compõem o problema estimulando as pessoas que passaram dos quarenta anos a cortar seus laços com o passado, a abraçar novas carreiras e novos casamentos (“divórcio cria tivo”), arranjar novos passatempos, viajar, manter-se em mo vimento. Esta é uma receita não para o crescimento, mas para o obsoletismo planejado. Não causa surpresa que a indústria americana tenha admitido o “treinamento da sensibilidade” como uma parte essencial da administração de pessoal. A nova terapia proporciona ao pessoal o que a mudança anual de modelo proporciona a seus produtos; aposentadoria rápida do uso ativo. Os planejadores de empresas muito têm a apren der com o estudo do ciclo vital efetuado pela psicologia hu manista, a qual provê técnicas por meio das quais as pessoas possam prematuramente retirar-se da vida ativa, sem sofri mentos e sem “pânico”. Longevidade: A Teoria Biológica do Envelhecimento.
Alex Comfort e outros defensores da abordagem cultural ao enve lhecimento avisaram a seus seguidores contra a esperança de uma extensão médica da vida, ainda que o próprio Comfort, em um momento de descuido, certa vez houvesse predito que “se os recursos científicos e médicos somente dos Estados Uni dos fossem mobilizados, o envelhecimento poderia ser resol vido dentro de uma década”. Após sua descoberta do huma nismo, Comfort tornou-se mais cauteloso, A pesquisa médica poderia esperar somente “fazer chegar aos setenta, digamos, quem hoje chega aos sessenta”. Aqueles que concordam com uma teoria biológica do envelhecimento, por outro lado, apóiam sua fé em uma grande ofensiva médica. August Kinzel, antigo presidente do Instituto Salk, declarou em 1967 que “ v amos' amos ' vencer completamente completamente o proble ma do envelhecimento, e nvelhecimento, 259
de forma que os acidentes serão essencialmente a única causa da morte”. Dez anos mais tarde, Robert Sinsheimer, do Ins tituto Californiano de Tecnologia, disse objetivamente: “Não conhecemos limites intrínsecos para a duração da vida. Quanto tempo você gostaria de viver?” Tais declarações sempre contêm a qualificação, implícita ou explícita, de que o progresso depende do envolvimento de enormes recursos para a luta contra a velhice. Seu objetivo não é descrever o que a ciência verdadeiramente conhece, mas levantar fundos para mais pesquisas, ou, no caso da radical previsão de Sinsheimer, amedrontar os cientistas até o autodo mínio. “A curiosidade”, diz Sinsheimer, “não é necessaria mente mente a maior maio r v irtude ir tude — e a ciênc ci ênc ia. ia . . . não deve merecer envolvimento total.” Podemos concordar plenamente com este sentimento, ao mesmo tempo que continuamos não convictos de que a ciência médica esteja prestes a “erradicar” a velhice, como coloca Albert Rosenfeld. Os biólogos ainda não concor dam sobre as causas do envelhecimento e postularam uma gr ande ande var v ariedad iedadee de teorias teorias conflitantes para ex plicá licá- las. A superabundância das teorias sugere que os gerontologistas tra balham em um campo que ainda está nos primeiros estágios do desenvolvimento. Todavia, Rosenfeld e outros publicistas da profissão médica, confiantes em que todas estas idéias de alg um modo prov prov arã ar ão conter conter parte da verdade verdade — como se se a pura proliferação de hipóteses se somasse ao progresso cien tífico — , cons cons ider ideram am a conquis conquista ta médica da v elhice um f ato indiscutível e devotam a maior parte de suas atenções à ten tativa tativ a de de debelar debelar dúv dúv idas e “ receios” que obtusamente obtusamente sen s en timos, diz Rosenfeld, a respeito da intromissão na margem de duração da vida do homem. A o ass as s ociar ocia r esta “ inquie inq uie ta ção” ção ” ao humani huma nita tarr is mo s entimen ent imen tal e à resistência supersticiosa ao progresso científico, estes publicis publicistas tas apresen apresentam tam-- se como realistas realis tas obstinados, obs tinados, que dese dese ja m “ pensar pens ar o impe nsáv ns ávee l” , como co mo outr out r o f utur ólog o, He Herr man ma n Kahn, certa vez colocou, ao tentar reconciliar a raça huma na com a perspectiva da guerra nuclear. Os profetas da longe v idade idade orgulh orgulham am-- se de sua capacidade de de enfr entar ques ques tões proibidas. Estagnaria a sociedade, se a morte perdesse sua capacidade de causar sofrimento? Evitariam as pessoas 260
os riscos, devotando todas suas energias meramente em per manecer vivos? Recusariam as pessoas idosas, ainda men talmente jovens, dar espaço para novos adventos? Tornar-se-ia a socieda sociedad de indifer indifer ente para com o futur fut uro? o? Desnecessário Desnecessário dizer, dizer , Rosenf R osenfeld eld tr anqü anqüiliza- se, em cada caso, caso, com que que as coisas não chegarão a tão mau estado. Assim, as pessoas fica riam mais, não menos, atentas quanto ao futuro, ele argu menta, se se tornassem sua “própria posteridade” e tivessem de conviver com as conseqüências de sua loucura negligente. Contudo, o notável deste raciocínio não é que Rosenfeld o tenha adulterado, argumentando que o progresso médico é inevitável, a despeito dos “enjôos” que provoca nas pessoas ternas, mas que sua fixação nas conseqüências hipotéticas da longevidade o impeça de ver que as possibilidades que ele projeta em um futuro imaginário, de ficção científica, já se arraigaram na realidade prosaica, cotidiana, do presente. A futurologia, em sua paixão louca pela utopia tecnológica à distância (tão diferente de uma preocupação genuína pela pos teridade), não consegue ver o que está a um palmo de seu nariz. Despida de perspectiva histórica, ela não tem como reconhecer reconhecer o futuro, futur o, quando qua ndo o futuro torn tornou ou-- se o aqui e o agora. Aqueles que se orgulham de enfrentar sem medo o “choque do futuro” retraem-se do pensamento mais aterrador de todos: o de que a estagnação social não é somente uma possibilidade hipotética, mas uma realidade que já nos tem em suas mãos. De fato, o próprio movimento pela longevidade (juntamente com a futurologia em geral) reflete o caráter es tagnado da atual cultura capitalista. Ela surge não como uma resposta natural a melhoramentos médicos que tenham pro longado a expectativa de vida, mas como relações e atitudes sociais em mutação, que fazem com que as pessoas percam interesse pelos jovens e pela posteridade, que se agarrem de sesperadamente a sua própria juventude, que procurem por todos todos os meios poss possíveis íveis prolong ar, ar , suas suas próprias próprias v idas, e que que dêem espaço, somente com grande relutância, às novas gerações. “No final, a descoberta de que se está velho é inescapável”, escreve escreve David Dav id Hack ett Fischer. “ Contudo, a maioria dos dos ame ricanos não está prepar ada para fazê- la.” Ele descreve com 261
simpática ironia o desespero com que os adultos hoje macaqueiam os estilos jovens. Este historiador observou uma matrona de Boston que estava chegando aos sessenta, que poderia ter usado uma graciosa pala na Roma antiga, vestida de minissaia e botas de couro. V iu um homem home m j á entra ent rado do nos sessenta ses senta que pocler pocleria ia terter-se se ves tido com a dignidade de uma toga, usando calças jeans aper tadas e uma camiseta tingida. Testemunhou um homem de ne gócios conservador, o qual uma geração antes teria hesitado cada manhã entre usar preto ou cinza, indo para o escritório com sapatos brancos de plást plástico, ico, calças de de cor verdev erde- amarelada amarelada e camisa cor-de-cereja, óculos vermelhos de aviador e um corte de cabelo Príncipe Valente. Mais surpreendentes eram professores universitários que deixaram de lado seus ternos de lã feita a mão e adotaram cada moda adolescente passageira, com um entusiasmo desproporcional a seus anos de vida. Uma temporada foi a jaqueta Nehru; em outra, dashiki; na seguin te, sobretudos ferroviários. No início dos anos 70 foram cola res de contas e casacos de couro. Cada volta da moda adoles cente revolucionava seus costumes. Mas sempre o velho estava “por fora” e o jovem “por dentro”. A negação neg ação da idade na A méric mér icaa culmin cul minaa no mov iment ime ntoo pela longevidade, que espera abolir junto a velhice. Contudo, o terror à velhice origina-se não de um “culto da juventude”, mas de um culto do eu. Não só em sua indiferença natósista pelas gerações futuras, mas em sua visão grandiosa de uma utopia tecnológica sem velhice, o movimento pela longevidade ex emplifica emplifica a fantas ia do do “ poder poder absoluto, absoluto, sádico” , o qual, qual, de acordo com Kohut, colore tão profundamente a perspectiva narcisista. Patológico em suas origens e inspiração psicológi cas, supersticioso em sua fé pela opinião do médico, o movi mento pela longevidade exprime de forma característica as ansiedades de uma cultura que não acredita ter futuro.
262
X
Paternalismo Sem Pai
O NovoNovo- Rico Rico e o V elho. elho. A maioria maior ia dos males males discutid disc utidos os neste neste livro origina-se de um novo tipo de paternalismo, que surgiu das ruínas do velho paternalismo dos reis, sacerdotes, pais autoritários, donos de escravos e proprietários de terras. O capitalismo rompeu os vínculos de dependência pessoal so mente para reviver a dependência sob a capa da racionalidade burocrática. Tendo derrubado o feudalismo e a escravidão e, depois, superado sua própria forma pessoal e familiar, o capi talismo desenvolveu uma nova ideologia política, o liberalismo do bem bem-- estar estar social, o qual absolve os indiv íduos de respon res pon sabilidade moral e trata-os como vítimas da circunstância social. Desenvolveu novos modos de controle social, que lida com o transviado como um paciente e substitui a reabilitação médica pela punição. Deu origem a uma nova cultura, a cultura nar cisista de nossos dias, que traduziu o individualismo predatório do Adão Americano para um jargão terapêutico, o qual cele bra não tanto o individualismo, mas o solipsismo, justificando a au autoto- absorç absorçãão como “ autenticidade” e “ conscientização” . Ostensivamente igualitário e antiautoritário, o capitalismo americano rejeitou a hegemonia de sacerdotes e monarcas, so mente mente para su s ubstituíbstituí- la pela hegemon hege monia ia da corp cor poração comer cial, das classes administrativas profissionais, que operam o sistema e o estado empresariais. Surgiu uma nova classe domi nante de administradores, burocratas, técnicos e especialistas, a qual retém tão poucos dos atributos antes associados a uma classe classe dominante dominante — org ulho ulho da da posição, posição, “ hábitos hábitos de coman do” do ” , desdém desdém pelas ordens ordens infer infer iores — , que que sua sua existência ex istência como classe classe muitas veze v ezess não não é notada. A diferença difer ença entre a nova elite administrativa e a velha elite proprietária define a diferença entre uma cultura burguesa que hoje sobrevive 263
somente às margens da sociedade industrial e a nova cultura terapêutica do narcisismo. A difer dif erença ença emerge emerg e mais clar cl ar amente ame nte nos estilos es tilos contr co ntr asta as tan n tes tes de de criaçã cr iaçãoo de filhos. En Enquant quantoo os no novos- ricos ricos comparti compar ti lham a confusão predominante quanto aos valores que os pais deveriam transmitir aos jovens, os velhos-ricos têm idéias fir mes a respeito da criação cr iação de de filhos fi lhos e não hesitam hes itam em colocá colocá-- las em prática. Tentam impressionar os filhos com as responsabi lidades que acompanham os privilégios que herdarão. Fazem o que podem para inculcar uma certa dureza, que inclui não só uma presteza em superar obstáculos, mas também uma aceitação não sentimental das diferenças sociais, Para que as crianças privilegiadas se tomem administradores e curadores de grand gr andes es riquezas — presid res identes entes de emp empresas, proprie pr oprietários tários de minas, colecionadores, conhecedores, mães e pais de novas dinastias dinastias — , têm ele eless de de aceitar a inevit abilidade da desigu desig ual dade, a inexorabilidade da classe social. Estas crianças têm de parar de se pergun perg untar tar se a vida v ida é justa para x om suas suas vítimas. Têm de parar de “devanear” (como seus pais vêem) e têm de prosseguir com os negócios sérios da vida: estudos, preparação para uma carreira, lições de música, de equitação, dança, dança, tênis, festas, festas, reuniõ reuniões es dançantes, dançantes, sociabilidade — a roda diligente de atividades, aparentemente sem objetivo a um ob servador casual (ou mesmo a um observador mais próximo, como Veblen), com as quais o rico proprietário adquire dis ciplina, coragem, persistência e autodomínio. Nas famílias da? velhas elites de proprietários, os pais pare cem fazer mais exigências sobre seus filhos do que pais mais “ modernos” moder nos” e a riqueza dá- lhes lhes o poder de sustentar essa essass exigências. Quando têm de procurar por aconselhamento pro fissional, lidam com especialistas a partir de uma posição de poder. Possuem a autoconfiança que vem com o sucesso — com um padrão de sucessos repetido, em muitos casos, por várias geraçõ gerações. A o lidar com c om seus seus filhos, insistem não só em sua própria autoridade, mas também na autoridade do passado. As famílias ricas inventam lendas históricas sobre si mesmas, que os jovens interiorizam. Em muitos aspectos, a coisa mais importante que dão a seus filhos é o sentido de continuidade geracional, tão raramente encontrado alhures, na 264
sociedade americana. James, o filho de um especulador do algo dão de Nova Orléans, “admite”, de acordo com Robert Coles, que ele próprio “terá um filho” e que “a família perdurará” como "tem "te m feito há séculos séculos — através de guerras, rev oluçõ oluções, es, desastres naturais e provocados pelo homem”. O sentido de continuidade se enfraquece notavelmente à medida que a elite administrativa toma o lugar da alta classe de velhos propr proprietários ietários . A alta burguesia, burgues ia, que tira tir a seus seus ganhos ganhos da posse, antes de propriedades do que de salários, ainda re presenta a cúpula da fortuna, mas, embora possua lojas de departamentos, imóveis urbanos, grandes plantações e corpora ções multinacionais, no Sul e no Oeste, não mais controla as corporações nacisnais e multinacionais, nem desempenha um papel predominante na política nacional. Ela é uma classe moribunda, obcecada, na verdade, por seu próprio declínio. Mesmo em declínio, no entanto, ela implanta nos jovens um poderoso senso de orgulho local, geralmente colorido com a impressão de que as influências externas (ianques, imigrantes do Sun Belt, o governo) estão a tudo destruindo. A lealdade de classe que as famílias proprietárias instilam em seus filhos, é forjada em meio a cenas impressionantes de lutas de classe, em partes do país país — no delta do Missis Miss issipi, sipi, nos nos lar anjais da Flórida, em A ppala ppalachia chia — onde onde a luta permanece permanece v iva e in tensa. A g eneralizaçã enera lizaçãoo de que que hoje hoje em dia os filhos f ilhos pouco pouco vêem vêe m seus seus pais pais no trabalh tr abalho., o., dificil difi cilmente mente aplica aplica-- se às às crianças cri anças que experimentam com muita vividez o que fazem seus pais para sobreviver: mandar nos pobres. Os pais da velha classe empresarial não são nem ausentes, nem impotentes. De fato, sua capacidade de impor não só respeito, mas medo, torna seus filhos intranqüilos. Todavia, a maioria dessas crianças eventualmente aprende a reprimir seu senso de justiça, a acei tar as responsabilidades da riqueza e a se identificar com a fortuna da família em todos os sentidos. Quando passamos dos ricos proprietários para os muito mais numerosos ricos homens de corporações (o que significa passar de famílias de ganhos anuais médios que chegam a $ 400.0 40 0.000 00,, para o nível níve l mais modesto, porém ainda seleto, dos dos que excedem a $ 5 0.000 0.0 00), ), o padrão padrão muda. A qui, encontramos encontramos executivos sempre em movimento, cujos filhos não aprendem 265
qualquer senso de localidade. O trabalho torna-se abstrato, institucionalizado o conflito de classes, sua existência evitada ou negada. Nas grandes cidades do Norte, os pobres tendem a se tornar invisíveis e o problema da injustiça não mais se apresenta tão rigoroso como alhures. Em antigas famílias de empre empresários sários,, as as crianç cri anças as preocupam preocupam-- se com a pers pectiva pectiv a de de que as casas de suas famílias sejam arrombadas e suas posses roubadas. As crianças de famílias de administradores não pos suem o senso de permanência que dá origem a este medo. A v ida, ida , para par a elas, elas , impor impo r ta e m uma série de desloca des locamentos mentos e seus pais se reprovam por não proporcionar um lar real — por não ser “melhores pais”. Em uma das famílias estudadas por Coles, que exemplifica à perfeição este novo padrão administrativo emergente de falta de raízes e de normas, o pai, um executivo em uma companhia de eletrônica da Nova Inglaterra, bebe muito e se pergunta, de vez em quando, “ se vale a pena pena a luta para par a chegar chegar ao topo” topo ” . A mãe mãe bebe bebe em segredo seg redo e se desculpa desculpa perante pera nte os filhos f ilhos por “não “ não ser ser uma uma mãe mãe melhor mel hor”” . A filha fi lha deles, deles, criada cr iada por por uma sucessão de empregadas, está crescendo com ansiedades e res sentimentos indefinidos, com pouca culpa, mas com muita ansiedade. Ela El a se se tornou tor nou uma criançacriança- problema. problema. Por duas duas vezes fugiu de casa. Agora vai ao psiquiatra e não mais se sente sente “ difer dife r ente” ente ” por isso, isso, j á que que a maior ia de seus seus amigos também v ai ao psiquiatra. A f amília está para se se mudar novamente.
A E lite A dministr dminis trat ativ iva a e Pr ofis of isss ional como como Classe Classe Dominante. Dominante .
À medida me dida que até mesmo mes mo os r icos perdem per dem o senso de loca lo calili dade e de continuidade histórica, o sentimento subjetivo de “qualificação”, que considera um fato indiscutível as vanta gens herdadas, dá lugar ao que os médicos chamam de “qua lificação narcisista” — ilusõ ilusões es g randiosas, randiosas, v azio interior. As v antagens que os os ricos confer conf erem em a seus seus filhos fi lhos redu reduzemzem- se ao dinheir o, somente. somente. À medida me dida que que a nova elite se se descarta da persp ers pectiva da velha burg uesia, iden identific tificaa- se não com a ética do trabalho, ou com as responsabilidades da riqueza, mas com uma ética do lazer, hedonis mo e au auto- satisfaçã satisf ação. o. Embora 266
continue a administrar as instituições americanas nos interes ses da propriedade privada (propriedade corporativa, em opo sição à propriedade empresarial), ela substituiu a formação do caráter pela permissividade, a cura de almas pela cura da psique, a justiça cega pela justiça terapêutica, a filosofia pela ciência social, a autoridade pessoal por uma autoridade igual mente irracional de especialistas profissionais. Temperou a competição com cooperação antagônica, enquanto abolia mui tos dos rituais nos quais os impulsos agressivos antes encon traram expressão civilizada. Cercou as pessoas com “informa ções simbolicamente mediadas” e substituiu imagens da reali dade pela própria realidade. Sem o pretender, criou novas formas de analfabetismo, no próprio ato de estabelecer um sistema de educação universal. Minou a família, ao tentar socorrê-la. Rasgou o véu do cavalheirismo, que antes mode rara a exploração de mulheres, levando homens e mulheres a se enfrentar como antagonistas. Expropriou o conheci mento do trabalhador sobre sobre seu mister mister e o “ instinto” mater no da criação de filhos e reorganizou este conhecimento como um corpo de erudição esotérica, acessível somente aos inicia dos. dos. A nova classe classe g overnante ove rnante elaborou ela borou novos novos padrõ padrões es de dependência, tão efetivamente como seus antepassados erradi caram a dependência do camponês de seu senhor, do apren diz de seu mestre e da mulher de seu homem. Não desejo deixar implícita uma ampla conspiração contra nossas liberdades. Estas coisas têm sido feitas à plena luz do dia e foram feitas, no todo, com boas intenções. Tampouco surgiram como uma política unificada de controle social. A política polít ica social nos Estados Est ados Unidos desdob desdobrourou- se em resposta a uma série de emergências imediatas, e aqueles que fazem política raramente vêem além dos problemas que estão à mão. O culto do pragmatismo, além do mais, justifica sua falta de vontade ou de capacidade de fazer planos de longo alcance para o futuro. O que unifica suas ações é a necessidade de promover e defender o sistema do capitalismo de corporação do qual eles — os administradores e profissionais que operam o sistema sistema — ex traem a maior parte dos dos benefícios. benefícios. A s necessi dades do sistema modelam a política e estabelecem limites permissíveis ermissív eis para o debate debate público público.. A maiori maio riaa de nós nós pode 267
ver o sistema, mas não a classe que o administra e monopo liza a riqueza que ele cria. Resistimos a uma análise da classe da sociedade moderna como a uma “teoria conspiratória”. Evitamos, portanto, nossa própria compreensão de como sur giram nossas atuais dificuldades, por que persistem elas e como poderiam ser resolvidas. O Progressismo e o Surgimento do Novo Paternalismo. O novo paternalismo emergiu na segunda metade do século deze nove, encontrou expressão política no movimento progressista e, mais tarde, no New Deal, e gradualmente abriu seu cami nho para todos todos os aspect aspectos os da sociedade sociedade americana. amer icana. A rev re v olu ção democrática dos séculos dezoito e dezenove, que culminou na Guerra Civil, não só acabou com a monarquia, como minou a religião estabelecida, as elites de proprietários de terras e, finalmente, derrubou a oligarquia mantenedora da escravidão no Sul. A revolução deu origem a uma sociedade baseada no individualismo, na competição e na busca do ponto principal. Gerou também exigências para mudanças mais profundas, que amadureceram no período que imediatamente se seguiu à Guerra Civil. Tendo destruído a escravidão em nome do tra balho livre, os líderes do movimento democrático inadvertida mente encorajaram os trabalhadores do Norte a exigir a liberdade de controlar os termos de seu trabalho, não me ramente vender seu trabalho a preço vil. A lógica da demo cracia exigiu o confisco de propriedades confederadas e sua distribuição entre os homens libertados; exigiu o sufrágio fe minino; exigiu, em suma, uma reorganização mais radical da sociedade do que aquela que séus líderes haviam contemplado. Procurando somente libertar a propriedade de suas restrições feudais e mercantis, os radicais burgueses nos anos 1860 e início dos anos 1870 viram-se confrontados com um ataque incipiente à própria propriedade, do qual a maioria recuou horrorizada. A pós o colaps col apsoo da r econs ec onstr truçã uçãoo e da ag itação ita ção r adic ad ical al a ela associada, o liberalismo americano não mais falou pelo arte são, pelo pequeno fazendeiro e pelo empresário independente — as “classes produtoras” que foram a espinha dorsal do 268
movimento democrático. Visto com intranqüilidade em casa e com os óculos da comuna de Paris no exterior, o liberalismo agora agor a id iden entificavatificava- se, nas nas palavras de E. L. G odk in, com “ as classes mais abastadas e observadoras”. Empreendeu a reforma da sociedad sociedadee de cima abaix o — a prof profiss issionalizaçã ionalizaçãoo do serv iço iço civil, a quebra do poder da máquina urbana, e pôs “os me lhores homens” para trabalhar. Quando tais medidas falha ram em impedir a maré ascendente da militância trabalhista e do radicalismo agrário, os reformistas apresentaram sua pró pria versão da “comunidade cooperativa”, em nome do progressismo: educação universal, capitalismo do bem-estar social, administração científica da indústria e do governo. O Ne New w Deal completou o que o progressismo havia iniciado, solidifi cando can do as as bases bases do bem bem-- estar estatal estata l e acrescentando acres centando muito também da superestrutura. Na indústria, a administração cien tífica cedeu o lugar à escola de relações humanas, que tentou substituir a cooperação pelo controle autoritário. Mas esta cooperação repousava no monopólio da tecnologia pela admi nistração e na redução do trabalho a rotinas compreendidas incompletamente pelo trabalhador e controladas pelo capita lista. De modo semelhante, a expansão dos serviços de bemestar pressupunham a redução do cidadão a um consumidor de especialidades. O progressismo americano, que se opôs com sucesso ao radicalismo agrário, ao movimento trabalhista e ao movimento feminista ao aprovar partes selecionadas de seu programa, hoje perdeu quase todos os vestígios de suas origens no liberalismo do século dezenove. Ele rejeitou a concepção liberal do ho mem, que admitia a primazia do egoísmo racional, e instalou em seu lugar uma concepção terapêutica, que admite impul sos racionais e procura dirigi-los para canais socialmente cons trutivos. Rejeitou o estereótipo do homem econômico e tentou submeter o “homem total” ao controle social. Em vez de regu lar somente as condições de trabalho, agora regula também a vida privada, organizando o tempo de lazer segundo princípios científicos de higiene pessoal e social. Expôs os segredos mais íntimos da psique a escrutínio médico e, assim, encorajou há bitos de autoauto- escrutínio escrutínio ansioso, superf icialmente icia lmente remin reminiscen iscen-tes da introspecção religiosa, mas radicados mais na ansiedade 269
do que que numa consciência c onsciência culpada — antes antes num tipo t ipo de pers perso o nalidade narcisista do que num tipo compulsivo ou histérico, A Cr ítica ític a L ibe ib e r a l à Pr e v idência idênc ia Esta Es tatal tal.. Os novos modos de controle social associados à ascensão do progressismo estabi lizaram o capitalismo, sem resolver qualquer um de seus pro blema blemass su s ubjacen bjacentes tes — o abismo entre riqueza e pobreza, a falha em fazer o poder de compra seguir paralelo à produtivi dade, a estagnação econômica. O novo paternalismo impediu que as tensões sociais assumissem forma política, mas não re moveu suas origens. À medida que essas tensões encontram expressão cada vez maior no crime e na violência fortuitos, os críticos começaram a se perguntar se o sistema do bem-estar libera tudo o que fora prometido. O sistema, além do mais, tornou-se de operação cada vez mais dispendiosa. Mesmo aque les que continuam leais às premissas subjacentes do capitalis mo americano, começaram a exprimir alarma pelos custos ascend ascenden entes tes para par a man mantêtê- lo. Propostas para sub s ubss tituir o sistem sis temaa do bem-estar por uma renda garantida ou um imposto de renda negativo ganharam audiências simpáticas. Em seu livro sobre a velhice, David Hackett Fischer argumenta que um sistema de herança nacional, onde uma doação de capital ao nascer acumularia os juros e supriria o cidadão em sua velhice, pro var ia ser ser “ mais barato do do que que os atuais atuais sistemas” sistemas” . A modifica modific a ção ção ou abandono aba ndono do sistem sis temaa de bem bem-- estar estar ora or a se apres apresenta enta não como um sonho utópico, mas como uma questão de prá tica comercial profunda. As A s indústr indús tr ias ia s da s aúde aúde e do bemem- estar, que tanto ta nto f izer ize r am para promover o novo paternalismo ao profissionalizar ati vidades antes desempenhadas na oficina, na vizinhança ou no lar, começaram, elas próprias, a abrigar segundas intenções quanto aos resultados de seus próprios trabalhos. Os membros das “profissões assistenciais” começaram a questionar a efi ciência das das insti ins tituições tuições públic públicas as e de de agentes agentes do bem bem-- estar que que monopolizam os conhecimentos antes administrados pelos ci dadã dadãos comuns c omuns — o hospital, hospita l, o asilo asi lo par paraa doentes doentes mentais, mentais , o tribunal de menores. A profissão médica, depois de manter o hospital como uma alternativa indispensável para a família, 270
agora começa a pensar que os pacientes talvez se sentissem melhor se lhes fosse permitido morrer em casa. Os psiquia tras têm estado especulando por linhas semelhantes, não só porque as instituições existentes estão superlotadas, mas por que fracassaram em alcançar altas taxas de curas, antes pre vistas com grande confiança. Os advogados começaram a cri ticar os tribunais por remover de seus lares crianças “negli genciadas”, sem evidência de que tais crianças sofressem de sério dano e sem prova de que a institucionalização ou trans ferência para pais adotivos proporcionariam alguma solução. A té mesmo mes mo a prete pre tensão nsão da escola sobre a cr iança começou começo u a ceder ante ante a pretensão prete nsão dos dos pais pais.. E m Wis W isco cons nsin in v. Y oder ode r (1972), a Corte Suprema decidiu que os pais amish* têm o direit dir eitoo de não não enviar env iar seus seus filhos f ilhos a escolas escolas públicas públicas.. “ A criança não é mera criatura do Estado”, falou a Corte; “aque les que nutrem e dirigem seu destino têm o direito, aliado ao mais alto alt o dever dever,, de reconh reconhecêecê- la e prepará prepará-- la par paraa obr obr igaçõ ig ações es adicionais.”** No entanto, mesmo com as melhores intenções, aqueles que criti cr itica cam m o bem bem-- estar estatal pressupondo pres supondo que este este seja sub subja* Perte ncente ou re lativ o a uma seita fe chada de menonitas de A m ã que se es tabel ta belec ecer er am na A mér mé r ica ic a . (N. (N . do T .) ** O juiz juiz W illiam O . Dou Douglas, glas, discordan discordando do em Y ode r , apresentou o argumento em favor da intervenção estatal sob a forma mais atraente. Suponhamos que uma criança amish desejasse seguir uma ocupação que a obrigasse a romper com a tradição cultural de seus pais. Suponhamos que ela desejasse tornar-se “uma pianista, ou astronauta, ou oceanógrafa ” . A decisão decisão da da Corte tornou tal coisa coisa imposs imposs ível, arg umentou umentou Dou glas. Sem consultar as preferências das próprias crianças, a Corte en tregou-as a um ambiente estreito, retrógrado e paroquial, proibindolhes “para sempre” o “mundo novo e surpreendente da diversidade”. Por mais persuasivo que possa parecer à primeira vista, este argumento em exame prova ser um exemplo clássico da sentimentalidade do humanitarismo liberal, o qual invoca a “diversidade” como apoio a um sistema de escolaridade compulsória uniforme e propõe socorrer a crian ça da cultura retróg re tróg rada de seu seus pais, pais, ao colocá colocá- la sob os os ternos cuida dos do Estado. O argumento é sobretudo sentimental, em sua suposição de que o Estado pode livrar a criança, que decide separar-se das tradi ções de seus pais, da dor, do sofrimento e da culpa a que tal separação necessariamente obriga — cuja confrontação, contudo, constitui-se no valor psicológico e educativo de uma tal experiência. No verdadeiro estilo paternalista, Douglas afastaria os dolorosos obstáculos para o pro gresso da cr iança, esquecen esquecend do- se de que o progr progr esso consiste consiste pre cisa mente em superar esses obstáculos.
271 27 1
cente a uma economia capitalista, não conseguem confrontar a revolução nas relações sociais que o abandono do sistema do bemem- estar estar ex igiria. igir ia. A crítica cr ítica libera liberall do nov novoo paternalismo parece-se com a “humanização” do local de trabalho, a qual tenta dar ao trabalhador a ilusão de participação, enquanto permite à administração um controle constante. A tentativa de aliv iar a monotonia da linha de produção, produção, permitin ermitind do- se ao trabalhador executar mais que uma simples operação, não altera as as condi condiçõ ções es que que degr adam o trabalho tr abalho — o monopó mono pólio lio do conhecimento técnico, por meio do qual a administração designa todas as fases da produção, enquanto o trabalhador meramente executa a ordem do departamento de planejamen to. Propostas recentes para modificar o sistema do bem-estar sofrem do mesmo tipo de limitação. Assim, um estudo sobre a família solicitado pela Corporação Carnegie discorda da hi pótese convencional da incompetência parental, enquanto deixa intocada a definição dos pais como consumidores de serviços profissionais. Kenneth Keniston e outros autores do relatório Carnegie, Carneg ie, conscientes conscientes de pertencer a “ um consenso emer gente” ge nte”,, sustentam sust entam que que os pais pais “ ainda sã s ão os os maiores esp es pecia listas do mundo a respeito das necessidades de seus próprios filhos”. Reconhecem eles que muitos dos agentes que ostensi vamente vamente atend ate ndem em à fam ília, minaramminaram- na, em vez disso. disso. O “ mal- estar” parental, de acordo com K eniston, enist on, está está na “ sen sação de não haver guias ou suportes para a criação de filhos, o sentimento de não exercer controle como pais, a sensação difundida de culpa pessoal para o que parece não estar dando certo”. A r e abili abi lita tação ção da pate pat e r nidade nida de,, parece, parec e, impli im plicc a um ata que ao profissionalismo e ao bem-estar estatal. Todavia, Keniston não pressiona muito esta linha de ataque. Ele con sidera indiscutível a dependência da família destes especia listas e procura simplesmente regularizar e regular esta rela ção. “Poucas pessoas discutiriam o fato de que vivemos em uma sociedade onde os pais devem cada vez mais apoiar-se em outras pessoas, à procura de auxílio para a criação de seus filhos.” A economia familiar desapareceu; as crianças repre sentam antes um encargo financeiro do que um bem, a escola assumiu as funções educacionais da família; e a profissão mé 272
dica assumiu a maior parte da responsabilidade pelo cuidado com a saúde. Estas mudanças, de acordo com Keniston, dei xam os pais na posição de “executivos em uma grande em presa res a — respo res ponsá nsávv eis pela coordenaçã coor denaçãoo suave das das várias vári as pes soas e processos que devem trabalhar em conjunto para pro duzir o produto final”. Esta linha de análise leva à conclusão não de que os pais devem coletivamente confirmar seu controle sobre a criação dos filhos, mas de que a política federal deve procurar equa cionar a relação entre especialistas e pais. Todavia, o próprio raciocínio de Keniston mostra que os pais ocupam uma posição mais próxima de proletários do que de executivos. Assim como estão hoje as coisas, de acordo com Keniston, “os pais têm pouca autoridade sobre aqueles com quem dividem a tarefa de criar seus filhos”; eles “lidam com aqueles outros de uma posição osição de de infer ioridade e impotência” . A razão óbvia para isto é que o Estado, não os pais, paga a conta pelos serviços profissionais, ou, pelo menos, assina os cheques de pagamento. (Os cidadãos, como pagadores de impostos, pagam no fim das contas.) Se os pais se organizassem e pagassem seus próprios especialistas, as coisas poderiam ser diferentes. Não é necessário dizer que essas soluções não são reco mendadas por membros da instituição de orientação política. Medidas deste tipo são muito intimamente associadas ao populismo, ao localismo e à resistência residual ao progresso cen tralizado. Elas se tornaram duplamente objetáveis, e por mo tivos de cuja força até mesmo os inimigos do sistema devem tomar conhecimento, pelas conseqüências da batalha Ocean Hill- Br ownsv ille do f inal dos dos anos anos sessenta, sessenta, quando o “ con trole comunitário” degenerou em racismo às avessas e a edu cação em propaganda racial. Todavia, a alternativa para o controle comunitário é ainda mais burocracia. Em lugar de enfrentar a escolha, os reformistas liberais tentam ter as coisas de ambos os modos. Enquanto defendem uma extensão dos serviços governamentais à família, uma garantia federal de pleno emprego, maior proteção dos direitos legais das crianças e um programa amplo de cuidados com a saúde, propõem eles reforçar a “participação dos pais” em todos esses programas. T ratam ra tam da ascendência ascendência dos dos especialistas especialistas como uma uma inev ine v itável itáve l 273
condição da sociedade industrial, até mesmo quando procuram qualificar esta ascendência, melhorando a posição dos consu midores. Admitem que as exigências de uma sociedade com plexa ditam o triunfo da produção fabril sobre a produção manufatureira e a ascendência das “profissões assistenciais” sobre a família. Dependência Burocrática e Narcisismo. Estudos recentes sobre a profissionalização mostram que o profissionalismo não emer giu, no século dezenove e início do século vinte, em resposta a necessidades sociais claramente definidas. Ao invés, as pró prias novas profissões inventaram muitas das necessidades que diziam satisfazer. Jogaram com os temores públicos de desor dens e de enfermidades, adotaram um jargão deliberadamente mistificador, ridicularizaram as tradições populares de autosuficiência como retrógradas e não científicas e, deste modo, criaram ou intensificaram (não sem oposição) uma demanda de seu seus própri próprios os serviços. A ev idência idência de autopromoção autopr omoção pro fissional não pode mais ser descartada com o ato de confir mar o truísmo sociológico de que “a sociedade moderna en volve volv e o indiv ind iv íduo em relações relações . . . que que são são muitís s imo mais complexas complexas do que que [ aquelas] aquelas] contra as quais quais seus seus ancestrais ancestrais . . . tiveram de lutar”.* A dependênc depe ndência ia da f a mília míl ia dos serviços serv iços profi pro fiss s ionais iona is,, sobre os quais ela tem pouco controle, representa uma forma de um fenômeno mais geral: a erosão da autoconfiança e da compe * Já que o autor dessas palavr as, as , T homas L. Has ke ll, tentou rela cionar a crítica das profissões a uma oposição cega e obstinada à busca da verdade, devo esclarecer que meu argumento não deve ser malcompreendido como sendo uma condenação não qualificada do profissiona lismo. Obv iame nte, as profissões profissões encerram valores importante importante s. Em par ticular, mantêm padrões de correção, honestidade, verificação e de ser viço, que que poder iam, de de outro modo, desaparecer desaparecer complet amente . Mas não é verdade, como Paul Goodman argumentou em sua defesa algo constrangedora do profissionalismo (“A Nova Reforma”, citada por Haskell e outros como a última palavra sobre o assunto), que “os pro fissionais são indivíduos autônomos em débito quanto à essência das coi sas e ao julgamento de seus pares, e obrigados, por um juramento explí cito ou implícito, a beneficiar seus clientes e a comunidade”. O modo como os profissionais constroem e se desencarregam dessas responsabi
274
tência comum pelo crescimento de corporações gigantescas e do estado burocrático que serve a elas. As corporações e o Estado hoje controlam tanto do necessário conhecimento, que a imagem da sociedade de Durkheim como a “mãe nutriz”, de quem fluem todas as benesses, coincide cada vez mais com a experiência cotidiana do cidadão. O novo paternalismo subs tituiu a dependência pessoal, não pela racionalidade burocrá tica, como os teóricos da modernização (começando por Max We W e ber be r ) a dmiti dmi tirr a m quase que unanime unani meme ment ntee , mas por uma nova forma de dependência burocrática. Aquilo que parece aos cientistas sociais como um tecido sem costuras costuras de “ inter dependência”, representa, na realidade, a dependência do indi víduo da organização, o cidadão do Estado, o trabalhador do administrador e os pais das “profissões assistenciais”. O “con senso dos qualificados”, conforme Thomas L. Haskell se refere às profissões em seu estudo sobre a profissionalização da ciên cia social, surgiu com a redução do leigo à incompetência. À medida me dida que a justi jus tiça ça e qüitati qüita tivv a cede lugar lug ar à justi jus tiça ça tera ter a pêutica, aquilo que começou como protesto contra a excessiva simplificação moral termina por destruir o próprio sentido de responsabilidade moral. A justiça terapêutica perpetua a de pendência infantil na idade adulta e priva o cidadão de recur sos legais contra o Estado. Antes o direito repousava sobre uma relação adversa entre o Estado e o ofensor e admitia o poder superior do Estado, ao dar vantagens processuais importantes ao defenso defensor. r. A jurispr udência udência médica, por outro lado, com promete o ofensor com seu próprio controle. Liberado de res lidades naturalmente reflete o meio social onde operam. O profissiona lismo americano foi corrompido pelo capitalismo administrativo do qual é tão íntimo aliado, assim como o profissionalismo na União Soviética tem sido muito mais completamente corrompido pela ditadura do par tido. Haskell escreve: “ A participação participação em uma comunidade comunidade ver dadeira mente profissional [não pode] ser baseada no encanto pessoal, na po sição pessoal, no bom caráter, ou até mesmo na decência, mas somente no mérito intelectual demonstr ado” . Has ke ll não não faz apre apre ciação ciação sobre sobre quão facilmente o “mérito intelectual” pode ser confundido com a mera aquisição de credenciais profissionais ou, pior ainda, com a lealdade a um consenso ideológico não pronunciado — quão facilmente o indis pensável ideal do desinteresse profissional pode ser desvirtuado e dis torcido pelo contexto social e político no qual se desenvolveu.
275
ponsabilidade moral, quando assegurado no papel de doente, ele coop coopera com os os médi médicos cos em sua sua própria “ cura ” . A crític cr íticaa psiqui ps iquiátr átric icaa do direi dir eito to,, como o ataq at aque ue ter te r apêutico apêutic o à autoridade em geral, torna uma virtude a substituição do tratamento pessoal pela autoridade arbitrária impessoal dos tribunais. Assim, um especialista na sociologia do direito, cons ciente ciente de de sua sua intenção de de “ s ubstituir ter apias apias científic c ientíficas as por sançõ sanções es legais — pela ‘jus ‘justiça tiça’’ ” — , certa certa vez deplorou a irra irr a cionalidade cionalida de dos dos processo processoss legais: leg ais: “ H á no no conceito conceito de justiça just iça um elemento do ‘destino’ que está ausente do conceito de tratamento científico. O próprio criminoso foi quem escolheu.” Enquanto “o modo de o advogado lidar com um problema hu mano é tipicamente não científico”, a terapia trata o criminoso ou paciente como uma vítima e, assim, coloca a questão em seu lugar adequado. A mudança de “pecado” para “doença”, segundo este escritor, representa o primeiro passo no sentido da “ intr odução da ciência e das das reações reações pessoais pessoais [ nos] conf co nfli li tos humanos” e para o reconhecimento dos problemas sociais como problemas médicos médicos,, nos nos quais “ a coopera cooperação ção com o ter apeuta” apeuta” torn tornaa-se se “ provave prova velmente lmente o problema mais cr ítico ítico para o transviado”. A jus tiça ti ça médica médic a compa co mparr tilha ti lha com a cria cr iação ção de f ilhos ilho s escla es cla recida e com a pedagogia uma tendência de promover a depen dência como um modo de vida. Os modos terapêuticos de pen samento e a prática isentam seu objeto, o paciente, de julga mento crítico e livra-o de responsabilidade moral. A doença representa, por definição, uma invasão do paciente por forças fora de seu controle consciente, e o reconhecimento realista do paciente dos limites de sua própria responsabilidade — sua admissão de sua condição de enfermidade e impotência — constitui o primeiro passo no sentido da recuperação (ou inva lidez permanente, conforme o caso). A terapia rotula como doença aquilo que, de outro modo, poderia ser julgado como ações débeis ou obstinadas; ela equipa, assim, o paciente para lutar contra (ou resignar-se com) a doença, em vez de irracio nalmente colocar a culpa sobre si próprio. Inadequadamente estendida além do consultório, no entanto, a moralidade tera pêutica encoraja uma suspensão permanente do senso moral. Há íntima relação, por sua vez, entre a erosão da responsabi 276
lidade moral e o enfraquecimento da capacidade para autosuficiência — nas nas categorias usadas usadas por J ohn R. Seeley, Seeley, entre entre a eliminação da culpabilidade e a eliminação da competência. “ O que que diz ‘v ‘v ocê não não é culpado’, culpa do’, também tam bém diz ‘você ‘você não pode pode ajudar-se a si mesmo’.”A terapia legitima o desvio como doen ça, mas simultaneamente pronuncia o paciente como incapaz de dir igir ig ir sua própria pr ópria v ida e coloc colocaa- o nas nas mãos mãos de um especi es pecia a lista. Assim como os pontos de vista terapêuticos e a prática ganham aceitação geral, um número cada vez maior de pes soas vê-se, com efeito, desqualificado para o desempenho de responsabilidades adultas e torna-se dependente, de alguma forma, da autoridade médica. A ex pressão pres são psic ps icológ ológic icaa desta dependênci depe ndênciaa é o narci nar ciss ismo. is mo. Em sua forma patológica, o narcisismo se origina como uma defesa contra sentimentos de dependência impotente na pri meira infância, que ele tenta opor ao “cego otimismo” e a ilusões ilusões grand gr andiosas iosas de auto- suficiência suficiência pessoal. pessoal. Desde que que a sociedade moderna prolonga a experiência da dependência pela vida adulta, ela encoraja formas mais brandas de narci sismo em pessoas que, de outro modo, poderiam enfrentar os limites inexoráveis de sua própria liberdade e poder pessoais — limites inerentes inerentes à condição humana — ao desenvolver a competência como trabalhadores e como pais. Contudo, ao mesmo tempo em que a sociedade torna cada vez mais difícil o encontro da satisfação no amor e no trabalho, ela cerca o indivíduo de fantasias manufaturadas de gratificação total. O novo paternalismo prega não a abnegação, mas o egocentrismo. Favorece os impulsos narcisistas e desencoraja sua modifica ção proveniente do prazer de tornar-se autoconfiantes, ain da que num campo limitado, e que, sob condições favorá veis, acompanham a maturidade. Enquanto encoraja sonhos grandiosos de onipotência, além do mais, o novo paternalismo mina fantasias mais modestas, corrói a capacidade de tolher a descrença e, assim, torna cada vez menos acessíveis as gra tificações substitutas inofensivas, notadamente a arte e o jogo, ■que ajuda aj udam m a mit m itig ig ar o senso de impot im potênc ência ia e o medo me do de dependência que, de outro modo, se expressam em traços narcisistas. 277
Nossa sociedade é narcisista, portanto, num duplo sentido. Pessoas com personalidades narcisistas, embora não necessa riamente mais numerosas que antes, desempenham um papel proeminente na vida contemporânea, com freqüência chegando a posições de eminência. Vicejando na adulação das massas, estas celebridades impõem o tom da vida pública e também da vida privada, já que a maquinaria da celebridade não re conhece limites entre as esferas pública e privada. Os “beautiful people” — para usar usarmo moss esta reveladora ex pressão ressão que que inclui não só ricos globeglobe- trott trotters, ers, mas todos aqueles que se expõem, ainda que brevemente, ao pleno brilho das câmaras — vivem a fantasia do sucesso narcisista, que consiste em nada mais substancial do que num desejo de ser amplamente admirado, não para suas realizações, mas para si próprias, acriticamente e sem reservas. A mode r na sociedade soc iedade capita ca pitalis lis ta não só elev ele v a os narcisis narci sistas tas à proeminência, mas também elicia e reforça traços narcisistas em cada um de nós. Ela assim o faz de muitos modos: exibin do o narcisismo tão proeminentemente e sob formas tão atraen tes; minando a autoridade parental e tornando difícil aos filhos crescer; mas, sobretudo, ao criar tantas variedades de dependência burocrática. Esta dependência, cada vez mais difundida em nossa sociedade, que não é só paternalista mas também maternalista, torna cada vez mais difícil para as pes soas superar os terrores da infância ou gozar os consolos da idade adulta. A C r ítica ític a Cons Co nser ervv adora ador a da B urocr uro crac acia. ia. A crítica do novo pa ternalismo, na medida em que permanece aprisionada pelas pretensões do liberalismo político, faz objeção ao custo da manutenção manutenção do bem bem-- estar estar estatal — o “ custo custo huma no” , bem bem como o custo dos dos pagadore pagadoress de impostos impostos — , sem criticar cr iticar a ascendência das classes administrativas e profissionais. Outra linha de ataque que isola a burocracia como o mal predomi nante, nante, origin originaa- se de de uma uma idealização conserv adora adora do indiv indi v i dualismo ultrapassado. Menos equivocada em sua oposição à centralização centr alização burocrática burocrática — exceto quando quando v em de de direitistas direitistas que denunciam a regulação governamental da indústria e ainda 278
pleiteiam por por um sistema sistema milita r gigantesco gigantesco — , a crítica con servadora da burocracia lembra superficialmente a crítica ra dical esboçada no presente estudo. Deplora a erosão da auto ridade, a corrupção dos padrões escolares e a difusão da permissividade. Contudo, recusa-se a tomar conhecimento da rela ção entre estes desenvolvimentos e a ascensão do capitalismo monop monopolista olista — en entre tre burocra burocracia cia no governo g overno e burocr burocr acia na indústria. “ O gr ande ande conflito confli to histórico entre entre indiv idualis mo e coleti leti-vismo está dividindo a humanidade em dois campos hostis”, escreveu Ludwig von Mises em seu estudo sobre a burocracia. A liv r e empresa empres a capital ca pitalis ista ta,, ar g umentou ument ou ele, r epousa no cál culo racional de lucros e perdas, ao passo que a administração burocr burocrát ática ica “ não não pode ode ser ser ver ificada por por cálculos cálculos e conômicos” conômicos” . Estendida além de seu domínio legítimo da coação legal e da defesa nacional, a burocracia mina a iniciativa individual e substitui “o controle governamental da livre empresa”. Subs titui a ditadura do Estado pelo controle legal. O capitalismo de livre mercado, ao tornar o trabalho uma mercadoria, “libe ra o assalariado de qualquer dependência pessoal” e separa “ a avaliaçã ava liaçãoo do do esforço esforço de cada indivídu indiv íduoo . . . de quaisquer quaisquer considerações pessoais”. O coletivismo burocrático, por outro lado, mina a “fria racionalidade e objetividade das relações capitalistas” e torna o “cidadão comum” dependente do “pro pagandista profissional da burocratização”, que confunde o cidadão com seus “slogans vazios” e seu ofuscamento esotéri co. co. “ Sob o capitalis capital ismo, mo, cada cada qual qua l é o arquiteto arquiteto de sua pró pria for f or tuna.” tuna .” Mas, Mas , sob o socialismo — e “ não não há acordo pos pos sível entre entre estes estes dois dois sistem s istemas” as” , segun seg undo do Mises, Mises, “ nenhum ter ceiro sistema” — , o “p “ percurso no sentid se ntidoo da pr pr omoção nã não é o empreendimento, mas o favor dos superiores”. Este argumento padece da idealização conservadora da au tonomia pessoal, possibilitada pelo livre mercado e sua dispo sição de conceder ao Estado enormes poderes de declarar guer ras, desde que não interfiram com a empresa “privada”. Ele não explica a difusão da burocracia pela própria indústria. “A tendência à rigidez burocrática não é inerente à evolução dos negócios” negócios” , de acordo com com Mises. “ É um resultado re sultado da interfe interf e rência do governo nos negócios.” Tal é sua resposta ao argu279
mento liberal de que a tendência inexorável da concentração econômica dá origem a um crescente abismo entre a profundade e o controle da corporação, cria uma nova elite admi nistrativa e dá existência a um Estado centralizado como o único agente capaz capaz de cont controlá rolá-- la. A própr própr ia análise análise liberal, liber al, no entanto, precisa precisa ser modif modif icada. ica da. Não é o “ divó div ór cio entre propriedade e controle” que criou a oligarquia administrativa, mas o divórcio entre produção e planejamento. Tendo alcan çado uma completa separação entre trabalho manual e trabalho mental, a administração monopoliza o conhecimento técnico e reduz o trabalhador a uma máquina humana; contudo, a administração e contínua elaboração deste conhecimento re quer um aparelho gerencial cada vez maior, ele próprio or ganizado segundo os princípios da fábrica, com sua intrincada subdivisão de tarefas. Estudos sobre o progressismo e o Ne New w Deal mostraram que a regulação governamental dos negócios geralmente surgiu em resposta às demandas dos próprios ho mens de negócios. Os agentes reguladores tiram a maior parte de seu pessoal dos negócios. Nem a política reguladora, nem a do bem-estar estatal repousam em “um ódio implacável pelos negócios privados e pela livre empresa”, como Mises sustenta. Pelo contrário, a regulação controla a competição e estabiliza o mercado, merc ado, enquanto e nquanto o sistema sis tema do do bem bem-- estar socializa socia liza os “ custo custoss humanos ” da da produção produção capitalista — aumento do desemprego, escalas salariais inadequadas, seguro inadequado contra a doença e a v elhice — e ajuda a evitar ev itar soluçõ soluções mais radicais. É verdade que uma elite profissional de médicos, psiquia tras, cientistas sociais, técnicos, assistentes sociais e servidores civis hoje desempenham um papel de liderança na adminis tração do Estado e da “indústria do conhecimento”. Contudo, o Estado e a indú indús tr ia do conhecime conhecimento nto sob s obrep repõ õemem- se em mui m ui tos aspectos às empresas comerciais (que passaram a se inte ressar cada vez mais por cada aspecto da cultura) e os novos profissionais compartilham tantas características com os diri gentes industriais, que a elite profissional precisa ser conside rada não como uma classe independente, mas como um ramo da administração moderna. A ética terapêutica, que substituiu a ética utilitária do século dezenove, não serve somente aos 280
“ intere interesses sses da classe” classe” de prof prof issionais, iss ionais, como Danie l P. Moynioynihan e outros argumentaram; serve aos interesses do capitalismo monopolista como um todo. Moynihan aponta que, ao dar ênfase mais ao impulso do que ao cálculo, como o determi nante da conduta humana, e ao responsabilizar a sociedade pelos problemas enfrentados pelos indivíduos, uma classe pro fissional “orientada para o governo” tentou criar uma demanda de seus próprios serviços. Os profissionais, observa ele, têm um interesse investido no descontentamento, pois as pessoas desconten descontentes tes volt v oltam am-- se para os serv iços iços profissionais profis sionais em e m busca busca de alívio. Contudo, o mesmo princípio forma a base de todo o capitalismo moderno, o qual tenta continuamente criar novas demandas e novos descontentamentos, que só podem ser ame nizados pelo consumo de mercadorias. Moynihan, consciente desta ligação, tenta apresentar o profissional como o sucessor do capitalista. A ideologia da “compaixão”, diz ele., serve aos interesses interesses da classe classe do “ exced ex ceden ente te póspós- indu industrial str ial de funcion func ioná á rios que, à maneira dos industrialistas que antes se voltaram para a publicidade, induzem a demanda de seus próprios produtos”. O autoauto- enaltecim enalteciment entoo profiss prof issional, ional, contudo, cresceu cresceu par para a lelo à indústria da publicidade e deve ser visto como outra fase do mesmo processo, a transição de capitalismo competi tivo para capitalismo monopolista. O mesmo desenvolvimento histórico que transformou o cidadão em cliente, transformou o trabalhador de produtor a consumidor. Assim, o ataque mé dico e psiquiátrico contra a família, como setor tecnologica mente retrógrado, seguiu paralelo ao movimento da indústria da publicidade, para induzir as pessoas a acreditar que as mercadorias compradas em lojas são superiores às caseiras. Tanto o crescimento da administração como a proliferação de profissões representam novas formas de controle capita lista, lis ta, que, que, a princ pr incípio, ípio, estabele estabelece ceu u- se na fábrica fábric a e se espalhou, es palhou, depois, depois, por toda a sociedad sociedade. e. A luta contra c ontra a burocracia burocr acia,, con seqüentemente, requer uma luta contra o próprio capitalismo. Os cidadãos comuns não conseguem resistir à dominação pro fissional sem que também se assegurem do controle da pro dução e do conhecimento técnico, nos quais repousa a produ ção moderna. moder na. Uma r eafirmação eaf irmação do “ senso senso comum” co mum” , de acordo 281 28 1
com Mises, “evitará que o homem se tome presa” de “fan tasias ilusórias” de burocratas profissionais. Mas o senso comum não basta. De modo a quebrar o padrão de dependên cia existente e pôr um fim à erosão da competência, os cida dãos terão de tomar a solução de seus problemas em suas próprias mãos. Terão de criar suas próprias “comunidades de competência”. Só então as capacidades produtivas do capita lismo moderno, juntamente com o conhecimento científico que agora lhe serve, virão a servir aos interesses da huma nidade. Em uma cultura moribunda, o narcisismo parece personifi car car — sob os disfarces disfarces de “ crescim cres cimento” ento” e “ consciência” pes pes soai soaiss — a mais alta realizaçã real izaçãoo da iluminação ilumina ção espiritual. e spiritual. Os curadores da cultura esperam, no fundo, meramente sobrevi ver a seu colapso. A v ontade de cons cons truir uma socied s ociedade ade me lhor, contudo, s obreviv obrevive, e, nas nas tradiçõ tradições locais, no autoauto- aux aux ílio ílio e na ação comunitária, que somente precisam da visão de uma nova sociedade, uma sociedade decente, para dar-lhes novo vigor. A disciplina moral, antes associada à ética do tra balho, ainda retém um valor independente do papel que já desempenhou anteriormente, em defesa dos direitos de pro priedade. Esta Es ta disciplina disc iplina — indispensável indispensável à tarefa de cons cons truir tr uir uma nova ordem — perdura sobretudo sobretudo naqu naqueles que que conheceram a velha ordem somente como uma promessa que brada, mas que levaram a promessa com mais seriedade do que aqueles que meramente a aceitaram como um fato indiscutível.
282
Notas
Prefácio Página 12 Dav id Dona ld, sobre sobre a irre levância levância da história. New York Times, 8 de setembro de 1977. 16 “ afas ta inteir amente .. I esfera da nostalg ia.” A . E . Par Pa r r , “ Pr oblems obl ems of Reas Re as on, F eelin ee lingg a nd H a bit bi t a t ” , A r c hi tectural Association Quarterly 1 (1969 (1969): ): 9. 16-17 “À medida que que as pessoas essoas se tor nam alunos alunos capazes capazes . . . dos seriamente desprovidos.” Ivan Illich, Toward a History of Needs (Nova Iorque: Pan theon, 1978), p. 51.
I. O Movimento pela Conscientização e a Invasão So cial do Eu Página 23 “ O ser ser mar iva udiano . . . ex citaçã citação e deslumbramento.” Donald Barthelme, “Robert Kennedy Saved from Drowing”, em Unspeakable Practices, Unnatural Acts (Nova Iorque: Far rar, Straus and Giroux, 1968), p. 46. 23 “ É simplesmente simplesmente irritante . . . estamos estamos agora.” }ohn Cage, Silences, citado por Susan Sontag, Styles of Radical W il l (Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 1969), p. 94. 24 “ O sentido sentido de um fim .. . profundamente ment mentirosas. irosas.”” Frank Kermode, The Sense of an Ending: Studies in the Theory of Fiction (Nov a Iorque: Iorque: Ox fo rd University Press, Press, 1967), 1967), ps. 98-100. 24 “ as pessoas essoas encaram . . . sem gr ande ande agitação.” agitação.” Susan Sontag, “The Imagination of Disaster” (1965), em A g ains ai ns t Interpretation (Nova Iorque: Dell, 1969), ps. 212-28. 24 “ todos todos parecem parecem compartilhar . . . itens de maior saída.” saída.” Sara Davidson, “Open Land: Getting Back to the Communal Garden” (1970), reimpresso em Marriage and Family in a De cade of Change, ed. Gwen B. Carr (Reading, Mass.: Addison Wes We s ley , 1972), 19 72), p. 197. 197 .
283
25
Leslie A . Fiedl Fiedler, er, “ T he Bir th of G od and the the Death of Ma n” , Salmagundi, n.° 21 21 (1973), ps. ps. 3- 26; T om W olf e, “ T he ‘Me ‘Me ’ De cade and the Third Great Awakening”, Nova Iorque, 23 de agosto de 1976, ps. 26-40; Jim Hougan, Decadence: Radical Nostalgia, Narcissism, and Decline in the Seventies (Nova Ior que: Mor Mo r r ow , 1975), 1 975), ps. ps . 3232- 37, 37, 137, 144, 144, 151, 186186-88, 88, 234. 234 . 26 Rev olucionário olucionário do A lto Re no. Norman Cohn, The Pursuit of the Millennium, 2.* ed. (Nova Iorque, Har per T orchbooks , 1961), 1961), ps. 114 114- 23. 26 Peter Peter Marin, “T he New Narcissism”, Narcissism”, Harper’s, outubr o de 1975, p. 46; Wolfe, “The ‘Me’ Decade”, p. 40. 27 Susan Stern, W it h the the Weathermen: Weathermen: T he Personal J ournal of a Revolutionary Woman (Nova Iorque: Doubleday, 1975), ps. 23, 27, 87. 29 R . W . B. Lewis, T he A merican A dam: Innocence, Innocence, T ragedy, ragedy, and Tradition in the Nineteenth Century (Chicago: University of Chicago Press, 1955): Quentin Anderson, The Imperial Self (Nova Iorque: Knopf, 1971); Michael Paul Rogin, Fathers and Children: Andrew Jackson and the Subjugation of the American Indian (Nova Iorque: Knopf, 1975) e “Nature as Politics and Nature as Romance in America”, Political Theory 5 (1977): 5-30. 29 “ a vo lição lição individual . . . isolamento isolamento do eu” ; “ o imenso imenso mei meioo Ale A le x is de T ocque oc que v ille ill e , Democracy in America (Nova Iorque: Knopf, 1951), 2: 99. 29 “ a v olição olição individual . . . isolamento isolamento do eu” ; “ o imenso imenso meioiotermo da comunidade humana.” Marin, “New Narcissism”, p. 48. 29 “oge “oge nial meio meio-- termo termo da tr adição humana humana .” V a n W y c k B r ooks ook s , A me r ica ic a ’s ComingComing - ofof - A g e (Nova Iorque: Doubleday, 1958 [1915]), p. 38. 30 “A obra “A obra de destruição destruição . . . hostilidade para com o passado.” passado.” Orestes Brownson, 1857, citado em The American Transcendentalists: talists: T heir heir Prose Prose and Poetry, Poetry, ed Perry Mille r (Nova Iorque: Doubleday, 1957), ps. 40-41. 33 “ o eu se retrai . . . dissolv endo dentro dentro desta cav idade.” Morris Dickstein, Gates of Eden: American Culture in the Six ties (Nova Iorque: Basic Books, 1977), ps. 227-28. 35-36 5-36 Jer ry Rub in, Growing (Up) at Thirty-seven (Nova Iorque: M. Ev ans, 1976), 1976), ps. 19 (“ (“ viag em para para dentro de de mim ”); 20 20 (“ (“ es tabelecer a paz”; “maciça introspecção”; “um curso variado sobre a Nova Consciência”); 34 (“permissão de ser sadio”; “como se tivesse vinte e cinco”); 45 (“meu lado mulher”); 55 (“vício”); 93 (“fissurado pelos meios de comunicação de mas sa”); 100 100 (“ (“ gostei do do que que vi” ; “ eu entrava nos lugar lugar es” ); 103 103 (“condicionamento puritano”; “nada há de mal”); 116 (“medo do prazer”); 120 (“bombardeado pela propaganda quando era criança”); 122 (“em seu devido lugar”); 124 (“programação ne gativa”); 139 (“juiz”); 154 (“perdoar”). 37 “ libe libertou rtou-- o . . . v ida meramente priva da.” Paul Zweig, Three Journeys: An Automythology (Nova Iorque: Basic Books, 1976), p. 96.
38
40
40 41 43 43 44
44 45
46-47
48 49-50
50 50 50
“profundas fontes de grandiosidade . .. acesso” Heinz Kohut, The Analysis of the Self: A Systematic Approach to the Psychoanalytic Treatment of Narcissistic Personality Di sorders (Nova Iorque: International Universities Press, 1971, ps. 178, 315. “Após o concerto ... nas costas.” Dona ld Barthelme, “ Critique Critique de la la V ie Quotidienne” e “ Per petua”, ambos em Sadness (Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 1972), ps. 3, 40. “Bom Deus ... por mais cinco anos.” W o o dy A ll e n, W it ho ut Feat Fe ather herss (Nova Iorque: Warner, 1976), ps. 8-10, 205. Dan Greenberg, Scoring: A Sexual Memoir (Nova Iorque: Dou bleday , 19 72), ps. 13, 13, 8181- 82. 82. A lle ll e n, W it ho ut Feat Fe ather hers, s, ps. 199-204. “convicção, chegando até a uma fé ... o que eu tocava.” Zweig, Three Journeys, ps. 46, 67. Frederick Exley, A F a n’s Notes Not es : A F ic ti on a l Me mo ir (Nova Ior que: Random House, 1968), ps. 99 (“espaço microscópico”); 131 (“il usão de que a fa ma era poss poss ível” ); 231 231 (“ horr íve l so nho com a fama”; “desoladora anonimidade”); 328 (“tudo!”); 361 361 (“ avers ão pelo pelo rebanho” ). Frederick Exley, Pages from a Cold Island (Nova Iorque: Ran dom House, 1974), ps. 37, 41, 170, 206. Stern, With the Weathermen, ps. 89 (“lugar adequado na v ida” ); 143- 44 (Ber nadine nadine Do hr n); 231 231 (“e spalhafatosa spalhafatosa e v ul gar”; “fria por dentro”); 243 (“nua e armada”); 255 (“gente ao meu redor”); 262 (“as pessoas me adoravam”). Zweig, Three Journeys, ps. 49 (“secura interior”); 73 (“je ne veux pas”); 79 (“representar sua existência”); 80 (“umas pou cas semanas estimulantes”); 82 (“o vazio girar”); 106 (“impassi bilidade”); 108-9 (“terror e vulnerabilidade”; esquizofrenia); 149 149- 50 (“ ex periência de de va zio interio r” ); 150 150 (“ delírio da da liber tação”); 150, 158 (“cura”); 156 (“futilidade dos processo men tais”), 164 (“curado e animado”); 167 (“exercício da auto-defesa”); 172 (“duplo”; “ocupações mentais”). “acalma sua consciência perturbada.” Marin, “New Narcissism”, ps. 47-48. Edwin Schur, T he Aw areness T rap: Self- Absorption Absorption instead of Social Change (Nova (Nova Iorqu Iorque: e: Quadrangle Quadrangle — New Y ork Times, Times, 1976), ps. 89-91 89-91 (“ valor es e ex periências de de classe classe mé dia ”); 99 (“o descontentamento social em inadequação pessoal”); 122 (“ética da autopreservação”); 182 (“criminoso”); 193 (proble mas “reais”). “ o narcisismo . . . amoramor- própri róprio.” o.” Richard Sennett, The Fall of Public Man (Nova Iorque: Knopf, 1977), p. 324. “civilidade” ibid., ps. 264-65. “ Estranhos Estranhos . . . falar uns uns com os outros.” outros.” ib id ., p. 86. “signos”/ibid., ps. 73 e segs. 285
51 52 53
“ o que que há nela . . . é ele”; “ sustém sustém os interesses interesses do ego” ibid., ps. 220, 223. “ ex igir, de prefer ência ência a desejar” ; “ ideologia da intimida de” ; “cultura da personalidade.” ibid., ps. 220, 259 e passim; p. 264. “ afirmação” ; “ luta eqüitativa eqüitativa ” ; “ casament casamentoo aberto.” aberto.” Para ex emplos emplos desta desta ideologia, ideologia, ver Nena O ’Ne ill e Georg e O ’Neill, Open Marriage: Marriage: A New L ife Style- for Cou Coup ples (Nova Iorque: New American Library, 1972); Robert Fiancoeur e A nn a Fr anc oe ur, Hot and Cool Sex: Cultures in Conflict (Nova Iorque: Harcourt Brace Jovanovich, 1975); Mel Krantzler, Crea tive Divorce: A New Opportunity for Personal Growth (Nova Iorque: New American Library, 1973); George R. Bach e Peter W e y de n, The Intimate Enemy: How to Fight Fair in Love and Marriage (Nova Iorque: Avon, 1968); Manuel J. Smith, W he n I Say No, No, I Feel Feel Guilty: How to Cope, Cope, Using Using the Skills of Sys tematic Assertive Therapy (Nova Iorque: Bantam, 1975).
II. A Per sonalidad sonalidadee Narcisista Narcisista de Nossos Dias Página 55 Er ich From, The Heart of Man: Its Genius for Good and Evil (Nova Iorque: Harper and Row, 1964), cap. 4. 56 “ devemos evemos reconh reconhecer o id . . . libido.” Sigmund Freud, Group Psychology and the Analysis of the Ego (1921), em The Standard Edition of the Complete Psychological W or k s of S ig mund mu nd Fr eud, eu d, ed. James Strachey (Londres: Ho garth Press, 1955-64), 18:130. 57 Shirley Suger man, Sin and Madness: Studies on Narcissism (Fi ladélfia: Wes tminster Press, 1976), 1976), p. 12. 58-59 “ A s psico sicoses .. . cultura.” cultura.” Jules Henry, Culture against Man (Nova Iorque: Knopf, 1963), p. 322. 59 T . W . A dorno, “ Sociol Sociology ogy and and Psycholo Psychology gy ”, New Left Re view, n.° n.° 47 47 (19 68), ps. 80, 96. 60 Otto F. Ker nberg, nberg, Borderline Conditions Conditions and Pathological Pathological Nar cissism (Nova Iorque: Jason Aronson, 1975), p. 223. 60 “ vejamos realmente certas certas constelaç constelaçõ ões de sintomas sintomas . . . com preensão da estrutura da personalidade.” James H. Gilfoil ao autor, 12 de outubro de 1976. 61 T eorias recentes recentes sobre o narcisis mo W ar r e n R . B r odey , “ Imag Ima g e, Obje Ob je ct , a nd Nar cis s is tic R e la ti on ships”, A me r ic a n J our ou r na l of Or thop th opss y chia ch iatr tr y 31 (1961): 505 (“amor rejeitado”); Therese Benedek, “Parenthood as a Develop mental Phase”, Journal of the American Psychoanalytic Asso ciation 7 (1959); 389-90 (“várias semanas do desenvolvimento pós-natal”); Thomas Freeman, “The Concept of Narcissism in Schizofrenic States”, International Journal of Psychoanalysis 44 (1963); 295 (“anular a dor”; “recriar a relação amorosa dese ja da ” ); K er nber g , Borderline Conditions and Pathological Nar
286
cissism, p . 283 (“ (“ não pode pode ser ser consider ado”) . Sobre a distinção entre narcisismo primário e secundário e as características deste último, ver também H. G. Van der Waals, “Problems of Nar cissism”, Bulletin of the Manninger Clinic 29 (1965): 293-310; W a r r e n M . B r ode y , “ O n the Dy nami na micc s of Nar Na r cis ci s s is m” , Psy choanalytic Study of the Child 20 (1965): 165-93; James F. Bing e Rudolph O . Marburg, “Narcissism”, “Narcissism”, Journal of the American Psychoanalytic Association 10 (1962): 593-605; Lester Schwartz, “Techniques and Prognosis in Treatment of the Narcissistic Per sonality”, Journal of the American Psychoanalytic Association 21 (1973): 617-32; Edith Jacobson, The Self and the Object W o r ld (Nova Iorque: International Universities Press, 1964), cap. 1, especialmente especialmente ps. 17-19; -19; James James F . Bing, Francis Mc L au ghlin e Rudolph Marburg, “The Metapsichology of Narcissism”, Psychoanalytic Study of the Child 14 (1959: 9-28. “On Narcis sism: An Introduction”, de Freud, (1914), aparece na Standard Edition, 3:30-59. 62- 63 característica característicass das das desorden desordenss do caráter; caráter; Peter L . G iov ac hini, Psychoanalysis of Character Disorders (Nova Iorque: Jason A r ons on s on, on , 19 75), 75 ), ps. ps . x v (“ muit mu it o r ar amen am ente te lemb le mbrr a v a m as neur ne ur o ses ses clássicas” clássicas” ), 1 (“ insatisf ação ação difusa, vaga” ), 31 (“ incapacidade geral de progredir”); Heinz Kohut, The Analysis of the Self (Nova Iorque: International Universities Press, 1971), p. 16 (“sentimentos de vazio e depressão”), 62 (“sensação de autoestima aumentada”), 172 (“elaborar o impulso sexual”); Annie Reich, “ Pathologic Pathologic Forms Forms of SelfSelf- Estee Esteem m Regulation” , Psychoa nalytic Study of the Child 15 (1960): 224 (“oscilações violen tas”). Ver também, para uma descrição antecipada das condi ções dos fronteiriços, Robert P. Knight, “Borderline States” (1953), em Psychoanalytic Psychiatry and Psychology: Clinical and Theoretical Papers, eds. Robert P. Knight e Cyrus R. Friedman (Nova Iorque: International Universities Press, 1954), ps. 97-109; e para a importância do pensamento mágico nestas condições, Thomas Freeman, “The Concept of Narcissism in Schizophrenic States”, International Journal of Psychoanalysis 44 (1963): 293-303; Géza Róheim, Magic and Schizophrenia (Nova Iorque: International Universities Press, 1955). 6262- 66 psicodinâmica do narcisismo patológico Melanie Klein, “The Oedipus Complex in the Light of Early A n x ’eties” ’etie s” (19 (1 9 45 ), r m suas Contributions to Psychoanalysis (Nova Iorque: McGraw - Hill, 1964), 1964), ps. 339-67; 9-67; Melanie Melanie K lein, “Notes on Some Schizoid Mechanisms” (1946) e Pau’ \ Heimann, “Certain Functions of Introjection and Projection in Early In fancy”, em Melanie Klein et al., Developments in Psychoanaly sis (Londres (L ondres : Hog ar th Press, Press, 1952, ps. 122 122- 68, 68, 292292- 320; 320; Paula Pa ula Heimann, “A Contribution to the Réévaluation of the Oedipus Complex: The Early Stages”, em Melanie Klein et al., Ne w Directions in Psychoanalysis (Nova Iorque: Basic Books, 1957), ps. 23-38; Kernberg, Borderline Conditions and Pathological Narcissism, especialmente ps. 36 (“projeção constante”), 38 (“ otimis mo cego”), 161 (“ (“ pseudo pseudo-- percepçã percepção”), o”), 213 213 (“ v azio” ), 282 (“eu grandioso”), 310-11 (envelhecimento e morte); Roy
Z&7
67
69
69-70
70
288
R. Grinker et al.f The Borderline Syndrome (Nova Iorque: Ba sic Books, 1968), ps. 102 (ligações "parasitas”), 105 (“relação de dois meses”); Otto Kernberg, “A Contribution to the EgoPsychological Critique of the Kleinian School”, International Journal of Psychoanalysis 50 (1969); 317 317-- 33 (cita ndo Herbert A . Rosenfeld sobre o uso de palavras para frustar a interpretação, por parte de pacientes narcisistas). A r espeito es peito do lut o, v er “ M o ur ni ng a nd Me la nc holi ho liaa ” , de também Kohut, A naly na ly s is of the S elf el f ; Giovacchini, Psychoana lysis of Character Disorders; Brodey, “Dynamics af Narcissism”; Thomas Freeman, “Narcissism and Defensive Processes in Schi zophrenic States”, International Journal of Psychoanalysis 43 (1962); 415-25; Nathaniel Ross, “The ‘As If’ Concept”, Journal of the American Psychoanalytic Association 15 (1967): 59-83. A r es peit o do lut o, v er “ Mo ur ning ni ng a nd Me la nc holi ho liaa ” , de Freud (1917), Standard Edition, 8:152-70; Martha Wolfenstein, “How is Mourning Possible?” Psychoanalytic Study of the Child 21 (1966): 93-126; e a respeito da psicanálise como meio de vida, Gilbert J. Rose, “Some Misuses of Analysis as a Way of L ife: A nalysis Interminable and Inter minable ‘Analys ‘Analys ts’ ” , International Review of Psychoanalysis 1 (1974): 509-15. padrões padrões patológicos patológicos var iáve iáve is Giovacchini, Psychoanalysis of Character Disorders, ps. 316-17; A lle ll e n W hee lis , The Quest for Identity (Nova Iorque: Norton, 1958), ps. 40-41; Heinz Lichtenstein, “The Dilemma of Human Identity”, Journal of the American Psychoanalytic Association 11 (1963): 186186- 87; 87; Her ber t He ndin , The Age of Sensation (Nova Iorque: Norton, 1975), 1975), p. 13; 13; Michael Michael Beldoch, “ T he T hera peutic as Narcissist”, Salmagundi, n.° 20 (1972), ps. 136, 138; Burness E. Moore, “Toward a Clarification of the Concept of Narcissism”, Psychoanalytic Study of the Child 30 (1975): 265; Sheldon Bach, citado em Time, 20 de setembro de 1976, p. 63; Rose, “Some Misuses of Analysis”, p. 513; Joel Kovel, A C o m plete Guide to Therapy (Nova Iorque: Pantheon, 1976), p. 252; Ilza Veith, Hysteria: the History of a Disease (Chicago: Uni versity of Chicago Press, 1965), p. 273. "v isibilidade ”, “ ímpeto” ímpeto” Rosabeth Moss Kanter, Men and Women of the Corporation (Nova Iorque: Basic Books, 1977), passim; Eugene Emerson Jennings, Routes to the Executive Suite (Nova Iorque: McGrawHill, 1971), passim, especialmente cap. 5 (“The Essence of Visiposuro”). Michael Maccoby , The Gamesman: The New Corporate Leaders (Nov a Iorque: Sim on and Schuster, Schuster, 1976), ps. 100 100 (“ a alegria ... rotulado como perdedor”); 104 (“necessidade de ter as coisas sob controle”); 106 (“aberto a novas idéias”; "renunciar à rebelião da adolescência”); 107 ("ilusão de opções sem li mites”); 108 (“pressionado pela empresa”; “um grande cliente”); 110 110 (“uma vez perdidos perdidos s ua juv juv entude entude . . . completamen completamente te s ó”); 115 115 ("totalmente emas culado”); 122 122 (“ sedutor” ); 162 162 (“secre tárias adoráveis, de minissaias”). “ somente somente subir subir de posto . . . de de outros outros .” Jennings, Routes to the Executive Suite, p. 3.
70 70 71 72 73 75 75 77
‘‘A excessiva identificação . . . o mais amplo conjunto possível possível de opções.” ibid., ps. 307-8. Sey mor, B. Sar ason, Wor W or k , A g ing in g , a nd S oc ial ia l Cha ng e (Nova Iorque: Free Press, 1977), cap. 12. W ilf r id Sheed, Office Politics (Nova Iorque): Farrar, Straus and Giroux, 1966), p. 172. Jennings, Routes to the Executive Suite, ps. 61, 64, 66, 69, 72, 181. Sontag sobre a câmara Susan Sontag. “Photography Unlimited”, New York Review, 23 de junho de 1977, ps. 26, 28, 31. “ a luta . . . nossa nossa identidade ou nosso nosso ego.” ego.” Jennings, Routes to the Executive Suite, p. 4. G ail Sheehy, Passages: Passages: Predictable Crises Crises of A dult L ife (Nova Iorque: Dutton, 1976), ps. 59, 199, 201, 345. Kernberg, Bo rder line Conditions and Pathological Narcissism, p. 238.
II I.
Meios Meios V ariáve ariáveis is de Obter Resultados Resultados
Página 79 “ A sociedad sociedadee americana . . . se se tornou presidente.” presidente.” Robin Williams, A me r ic a n S ociet oci ety y (Nova Iorque: Knopf, 1970), ps. 454-55. 79 “ O homem ambicioso . . . mecanismos subjacen subjacentes.” tes.” Philip Rieff, Freud: The Mind of the Moralist (Nova lorque: Doubleday, 1961), p. 372. 81 Cotton Mather . A Christian at His Call ing (1701), reimpresso reimpresso por Moses Rischin, ed., The American Gospel of Success (Chica go: Quadrangle Books, 1965), ps. 23, 25, 28; John Cotton, “Christian Calling” (164). reimpresso por Perry Miller e Thomas H. Johnson, Johnson, e ds ., The Puritans (Nova lorque: American Book Company, 1938), p. 324. 83 “ T odas odas as atitudes atitudes morais de Fr ank lin . . . finalidade suprema suprema de sua vida.” Max Weber, The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, trad. Talcott Parsons (Nova lorque: Scribner’s, 1958 [1904-5]), ps. 52-53. Para outra interpretação do significado de autodese nvolv imento, mais atenta a suas suas nuanças , ver J ohn G . Ca w e lti, lt i, A pos tles tl es of the Self Se lf-- Made M a n (Chicago: University of Chicago Press, 1965), cap. 1. 83 P. T . Bar num, num, “ T he A rt of MoneyMoney- Gettin Getting” g” , em Gospel of Success, de Rischin, ps. 47-66. 84 Beecher, Beecher, a res peito do " beau ideal da felicidade” citado em Cawelti, A postl pos tlee s of the Se lflf - Made Ma n, p. 53. 84 “o trabalho tem sido a principal . . . prazer em minha v ida.” citado citado em Irv in G . Wy llie, T he SelfSelf- Made ade Man in Amer ica: The Myth of Rags to Riches (Nova lorque: Free Press, 1966), p. 43.
28'^
85
85 86 86 87 88
89 89 89 89
89 90 90 90 91 91 92
290
"Capita l acumulado sig nifica progresso” James Freeman Clarke, Self- Cultu Culture: re: Phys Phys ical, Intellectual, M o ral and Spiritual (Boston: Osgood, 1880), p. 266: “disciplina da vida cotidiana”: industrialista não identificado, citado em Wyllie, Self- Made ade Man, p. 96. Sobre autocultura, ver também Cawelti, A postl pos tles es of the S elf el f - Made Ma n, cap. 3. Cawelti, A pos tles tl es of the S elf - Made M a n, ps. 171; 176-77; 176-77; 182-83 (“força de vontade”; “habilidade do vendedor e do en corajamento”). “ do velho adág adág io . . . noss nossos os desejos.” esejos.” Dale Carnegie, citado em ibid., p. 210. Napoleo n Hil l citado em ibid., p. 211. “ Embora não não esteja esteja sendo sendo orig inal . . . passam passam aos aos outros.” outros.” Robert L. Shook, W inni in ning ng Imag es (NovaIorque: (Nova Iorque: Macmillan, 1977), p. 22. “ audiê audiências ncias importantes ” ; “ nossa re putação putação como fiadores” ; “ nossos ssos aliad aliados os . . . ‘segurad seguradores’” . John McNaughton, citado em Neil Sheehan et al., The Pentagon Papers (Nova Iorque: Iorque: New Y ork T imesimes- Quad Quadrangle, rangle, 1971), 1971), ps. 366, 442. “ falam constantemente constantemente . . . de de suas suas próprias próprias imagens.” imagens.” Daniel Boorstin, T he Image Image : A G uide to Pseud Pseudo- Events Events in Ame rica (Nova Iorque: Atheneum, 1972 [1961]), p. 204. “ o trabalho árduo . . . para para a ascensão.” ascensão.” Emerson Jennings, Routes to the Executive Suite (Nova Iorque: McGr aw - Hill, 1971), 1971), ps. 2929- 30. “ em nenhum dos dois dois . . . a coisa coisa mais importante.” Pat Watters, T he Angry Midd iddle- Ag ed Man (Nova Iorque: Grossman, 1976), p. 24. “ homem da companhia abnegado abnegado . . . anacronismo” ; “não se vê ... homem da organização”; “postura antiorganizacional ... característica.” Jennings, Routes to the Executive Suite, ps. ps . 12, 240. devem os ex ecutivos se casar? O. William Battalia e John J. Tarraut, The Corporate Eunuch (Nova Iorque: Crowell, 1973), ps. 65, 71. T homas homas S. Szasz, The Myth of Mental Illness (Nova Iorque: Harper and Row, 1961), ps. 275-76. Jos eph Helle r, Something Happened (Nova Iorqu Iorque: e: K nopf, 1974), p. 414. “ simulad simuladaa . . . veneer” veneer” Jennings, Routes to the Executive Suite, p. 7. “ dominar o temper amento insubmiss insubmiss o dos operários” , citado em Stephen Marglin, “What Do Bosses Do?” Review of Radical Political Economics 6 (1974): 60-112; 7 (1975): 20-37. “ doses oses homeopáticas de humil haç ão” Michael Maccoby, The Gamesman: The New Corporate Leaders (Nov a Iorque: Simo n and Schuster, Schuster, 1976), p. 102. 102. caráter amer icano em mutação ver David Riesman, The Lonely Crowd: A Study of the Chan ging American Character (New Haven: Yale University Press,
1950) 1950);; W illiam illiam H . Whyte, J r ., The Organization Man (Nova Iorque: Simon and Schuster, 1956); Erich Fromm, Escape from Freedom (Nova Iorque: Rinehart, 1941) e Man for Himself (Nova Iorque: Holt, Rinehart, and Winston, 1947); Karen Hor* ney, The Neurotic Personality of Our Time (Nova Iorque: Nor ton, 1937); Margaret Mead, A n d K ee p Y o ur P ow de r Dr y (Nova Iorque: Morrow, 1943); Geoffrey Gorer, The American People: A S tudy tu dy in N a ti ona on a l Cha r acte ac te r (Nova Iorque: Norton, 1S48); A ll e n W hee he e lis li s , The Quest for Identity (Nova Iorque: Norton, 1958). 92 “ objetivos essenci essenciais ais . . . afa bilidade comercializada” ; “ se você não sorrir ... médico.” Fromm, Escape from Freedom, ps. 24243. 93 mora lidade do prazer Martha Wolfenstein, “Fun Morality” (1951), reimpresso em Mar garet Mead and Martha Wolfenstein, eds., Childhood in Con temporar y Cultur es ' (Ch (Chicago icago-- . University of Chicago Press, 1955), ps. 168-76. 94 terapia da segurança; segurança; intimidade semmanobras semmanobras Manuel J . Smith, Smith, Whe W he n I S ay N o, I Feel Fee l G uil ui l t y (Nova Iorque: Bantam, 1975), p. 22; Eric Berne, Games People Play: The Psychology of Human Relationships (Nova Iorque: Ballantine, 1974), passim. 95 Dav id Riesman, Robert I . Potter, e Jeanne Jeanne Wa tson, “ Sociabi Sociabi lity, Permissiveness, and Equality”, Psychiatry 23 (1960): 334-36. 95 Lee Rainwate r, Be hind hind Ghetto Walls : Black Famil Families ies in a Fe deral Slum (Chicago: Aldine, 1970), ps. 388-89. 97-98 Sade, “ O n the the Republican Utopia” , La Philosophia dans le Boudoir, em Oeuvres Complètes du Marquis de Sade (Paris: Cercle du Livre Précieux, 1966), 3:504-6.
IV . A B analidade analidade da Pseud Pseudo- A utoconscient toconscientizaç izaçãão Página 101 101 “ A mor te da consciência não é a morte da autoconsciência.” citado em Malcom Cowley, Exile’s Return: A Literary Odyssey of the 1920s (Nova Iorque: Penguin, 1976 [1934]), p. 261. 101-02 101-02 o mov ime nto pela ef iciência e a administ ração cient ífica Raymond E. Callaham, Education and the Cult of Efficiency (Chicago: University of Chicago Press, 1962); Samuel Haber, Efficiency and Uplift: Scientific Management in the Progressive E r a (Chicago: University of Chicago Press, 1964); David F. Noble, A me r ica ic a by De s ig n: S cie nce, nce , T ecnol ec nolog og y , a nd the Ris Ri s e of Corporate Capitalism (Nova Iorque: Knopf, 1977); Harry Braverman, Labor and Monopoly Capitàl (Nova Iorque: Monthly Re v iew Press, Press, 1974), 1974), parte 1. A citação citação de T ay lor vem de Cal lahan, Education and the Cult of Efficiency, p . 40 . Par a as dèclarações de Filene, ver Stuart Ewen, Captains of Consciousness: A dv e r tis ti s ing a nd the S ocia oc iall Ro ot s o f the C ons on s ume r C ult ul t ur e (Nova Iorque: McGra w - Hill, 1976), 1976), ps . 5454- 55. 55. Sobre Sobre os os ex perimen perimentos tos 291
102 102 102
103 104 105-06 107
108
108
110 111
111
113
114 114 115
292
de Ford em “sociologia”, ver Roger Burlingame, Henry Ford (Nova Iorque: New American Library, 1956), ps. 64-65. Coolidge citado em Ewen, Captains of Counsciousness, p. 37. Guy Debord, La Société du Spectacle (Paris: Buche Buchett- Chastel, Chastel, 1967), p. 36. Paul H. Nystrom, Economics of Fashion (Nova Iorque: Ronald Press, 1928), ps. 67-68. ibid., ps. 73, 134-37. Boorstin, The Image, Image , p. 34. Jacques Ellul, Propaganda: The Formation of Men’s Attitudes, trad. Konrad Kellen e Jean Lerner (Nova Iorque: Knopf, 1965), ps. 53n (Allied handbook) e 57n (Rommel); para aposição da O W I sobre sobre o holocau holocausto, sto, ver memorando, Ar thur Sweetser Sweetser a Leo Rosten, 1.° de fevereiro de 1942, citado em Eric Hanin, “War on Our Minds: The American Mass Media in World War I I ” (te (tese se P h .D ., Univers ity of Roch Rochester, 1976), 1976), cap. 4, n. 6. “A maioria de nós é condicionada ... compreensão da maioria dos homens.” citado em Dav id Eakins, “ PolicyPolicy- Planni Planning ng for the the Establish ment”, em Ronald Radosh e Murray Rothbard, eds., A Ne New w History of Leviathan (Nova Iorque: Dutton, 1972), p. 198. “ com o aumento da da complex idade da sociedad sociedadee . . . sobre sobre ess essees eventos.” citado em Andrew Kopkind, “The Future Planners”, New Re public, 25 de fevereiro de 1967, p. 19. Theodore C. Sorensen, Kennedy (Nova Iorque: Harper and Row, 1965), ps. 245-48, 592. debate debate Nix Nix on- Ke nnedy nnedy Richard M. Nixon, Six Crises (Nova Iorque: Doubleday, 1962), ps. 251, 277, 353-58; Bruce Mazlish, In Search of Nixon (Nova Iorque: Basic Books, 1972), ps. 72-73. Wat W atee r g ate at e J. Anthony Lukas, Nightmare: The Underside of the Nixon Y ea r s (Nov a Iorque: V ik ing , 1976), 1976), especialmente especialmente p. 297, para o diálogo entre Nixon e Haldeman, 20 de março de 1973. teatro de rua da nova esquerda Dotson* Rader, “Princeton Weekend with the SDS”, New Repu blic, 9 de dezembro de de 1967, ps. 15-16 (“ sang ue” ); Gr eg Ca l vert, citado em New York Times, 1 de maio de 1967 (“força de guer rilha” ). Sobre a ascençã ascençãoo e declínio do S DS , ver K ir k patrick Sale, S DS (Nova Iorque: Random House, 1973). “viver por meio de seus engenhos ... socialista de classe baixa.” R. G. Davis, citado no ExpressExpress- Times Times de São Francisco, 21 de março de 1968. “Os Yippies ... dar um fim às repressões.” Jerry Rubin, Growing (Up) at Thirty-seven (Nova Iorque: M. Evans, 1976), p. 49. “ temem não fazer parte . . . sentido com um do ter mo.” Otto F. Kernberg, Borderline Conditions and Pathological Nar cissism (Nova Iorque: Jason Aronson, 1975), p. 234.
“ Inconscien Inconscientement tementee fix fix ados ados . . . ex trair trair força.” Heinz Kohut, The Analysis of the Self (Nova Iorque: Inter national Universities Press, 1971), p. 84. Humanização dos olímpicos 116 Edgar Morin, L ’Esprit du T emps emps (Paris: Bernard Grasset, 1962), cap. 10. Kernberg, Borderline Conditions and Pathological Narcissism, 116 ps. 234-36; }ules Henry, Culture against Man (Nova Iorque: Knopf, 1963), ps. 223, 226, 228-29. 117 Joseph Heller, Something Happened (Nova Iorque: Knopf, 1974), p. 72. Joyce Maynard, Looking Back: A Chronicle of Growing Up 118 Old in the Sixties (Nova Iorque: Doubleday, 1973), ps. 3-4. 119-20 realis mo e antianti- realismo no no teatro Elizabeth Burns, Theatricality: A Study of Convention in the Theatre and in Social Life (Nova Iorque: Harper and Row, 1972), ps. 47, 76-77; Richard Sennett, The Fall of Public Man (Nova Iorque: Knopf, 1977), p. 208. 121 Eric Bentley, “ I Reject th the L iving T heater,” (Nova Iorque, Times de 20 de outubro de 1968. 121 teatro do absurdo Norman S. Litowitz e Kenneth M. Newman, “The Borderline Personality and the Theatre of the Absurd”, A r chiv chi v es of G e neral Psychiatry 16 (1967): 268-70. 122 Erving Goffman, The Presentation of Self in Everyday Life, (Nova Iorque: Doubleday, 1959), p. 56. Sobre o “eu atuante”, ver também Richard Poirier, The Performing Self (Nova Iorque: Ox for d Unive Unive rs ity Press, Press, 1971), 1971), es pecialm pecialment entee o ensaioensaio- titulo, titulo, ps. 86-111. 123 Kurt Vonnegut, Jr., Slaughterh Slaughterhou ousese- Five (Nova Iorque: Delacorte Press, 1969), ps. 19-76; Marshall McLuhan, The Mecha nical Bride (Nova Iorque: Vanguard Press, 1951), p. 3; William Phillips e Philip Rahv, “Some Aspects of Literary Criticism”, Science and Society 1 (1937 (1937): ): 213; 213; Litow itz and and New man, “ Bor Bor derline Personality and the Theatre of the Absurd”, p. 275. 123 “a primeira obra de arte ... sua própria personalidade.” Norman Mailer, The Presidential Papers (Londres: André Deutsch, 1964), p. 284. 124 “ as mul mulheres heres em anúnci anúncios os . . . Sua ObraObra- Prima Prima — Você.” Ewen, Captains of Consciousness, ps. 177, 179-80. 125 “Cada pintor ... consciência.” Edgar Wind, A r t and an d A nar na r c hy (Nova Iorque: Knopf, 1963), p. 40. 125 obliteração da idéia de detalhe na arte moderna Richard Wollheim, “What is Art?” (revisão de A r t a nd A nar na r chy ch y , de Wind), New York Review, 30 de abril de 1964, p. 8. 125 “decodificar detalhes isolados ... homem total.” Sennett, Fall of the Public Man, p. 169. 125-26 “ Dia apó após dia . .. não ver ninguém, nada.” A ndy nd y W a r ho l, The Phylosophy of Andy Warhol (Nova Iorque: Harcourt Brace Jovanovich, 1975), ps. 7-10. 115
293
127 127
129 130-31 131 132 132
distância irônica da sua rotina ro tina diária Para um estudo desses mecanismos, ver Stanley Cohen e Laurie Taylor, Escape Attempts: The Theory and Practice of Resistance to Everyday Life (Londres: Allen Lane, 1976). escrev er sobre o escrever Morris Dickstein, Gates of Eden (Nova Iorque: Basic Books, 1977), ps. 219219-20 20,, 226-27, 226-27, 233, 238, 240. K ohut oh ut,, A naly nal y s is of the S elf el f , ps. 172172- 73, 73, 21 1, 255; 255 ; Hel H elle lerr , S o mething Happened, p. 170. “ A melhor maneira de amar . . . e se perder.” W a r hol, ho l, Philosophy, ps. 48-49. “ Estabeleci em minha mente mente . . . eu ex ecutarei.” ecutarei.” Luke Rhinehart, The Dice Man (1971), citado em Cohen e Tay lor, Escape Attempts, p. 184.
V. V . A Deg De g r a dação da ção do E s porte por te Página 133 Roger Caillois, Caillois, “ T he Structure Structure and Classification Classification of Games” , em John W . Loy, J r ., e Ger ald S. Ke nyon, nyon, Sport, Culture, and Society (Nova Iorque: MacMillan, 1969), p. 49. 134 134 versões versões capitalistas e socialistas da ideolog ia da aptidão apt idão nacional John F. Kennedy, “The Soft American” (1960), reimpresso em John T . T alamini e Charles Charles H . Page, Page, Sport and Society: An A ntho nt holo lo g y (Boston: Little, Brown, 1973), p. 369; Philip Goodhard e Christopher Chataway, Wa W a r w itho it hout ut We Weapo apons ns (Londres: (Londres: W . H . A llen, 1968) 1968),, ps. 80, 80, 84. 135 J ohan Huizing a, Homo L udens: udens: A Study Study of the Play Element in Culture (Bos ton: B eacon Press, 1955 1955 [ 1944]), ps. 197-98, 197-98, 205; Huizinga, In the Shadow of Tomorrow (Nova Iorque: Norton, 1936), p. 177. recente crítica dos esportes 137 Harr y Edwar ds, The Sociology of Sport (Homewood, 111.: Dor sey Press, 1973) e The Revolt of the Black Athlete (Nova Iorque: Free Press, 1969); Dorcas Susan Butt, Psychology of Sport (Nova Iorque: Van Nostrand Reinhold, 1976); Dave Meggyesy, Out of Their League (Berkeley: Ramparts Press, 1970); Chip Oliver, High for the Game (Nova Iorque: Morrow, 1971); Paul Hoch, Rip Off the Big Game: The Exploitation of Sports by the Power Elite (Nova Iorque: Doubleday, 1972); Jack Scott, The Athletic Revolution (Nova Iorque: Free Press, 1971). 139 139 Podhor etz sobre sobre a ex celência celência citado em Michael Novak, The foy of Sports (Nova Iorque: Basic Books, 1976), p. 176. 140 140 mara tona e sur fis mo/S mo/S cott, A thle th le tic ti c R e v ol utio ut ion, n, ps. 97- 98. 98. 140 140 “ novos esportes esportes para os não competitiv os.” “Games Big People Play”, Mother fones, sete mbrombro- outub outubro ro de 1976, p. 43; ver também Terry Orlick, The Cooperative Sports and Games Book: Challenge without Competition (Nova Iorque: Pantheon, 1978). 294 29 4
142-43 144 144
Huizinga, Homo Ludens, p. 48. Partida V ilasilas- Conno Connors rs A g r adeç ad eçoo a Her He r bert be rt B e nham nha m por estas s ugest uge stõ ões. es . 144 campanha do século século dezenove contr a diversões diversões populares populares Robert M. Malcolmson, Popular Recreations in English Society, 1750-1850 (Cambridge: Cambridge University Press, 1973), p. 70. 145 Lee Be nson, The Concept of Jacksonian Democracy (Nova Ior que: Atheneum, 1964), p. 201. 146 146 T horstein V eblen, The Theory of Leisure Class (Nova Iorque: Modern Library, 1934 [1899]), p. 256. 147 147 Goo dhart e Chataw ay , W a r w it hout ho ut W eapons ea pons , ps. 4- 5, 28-29. 28- 29. 147 “ Em muitos países, países, a ‘Burg uesia’ . .. maior parte parte delas .” Elting E. Morison, ed., The Letters of Theodore Roosevelt (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1951), 2: 1444; 3: 615. 148 148 “ foi o elevado espírito espírito do fazerfazer- ouou- morrer orrer . . . ChateauChateau- T hierry hierry .” Donald Meyer, “Early Footbal”, trabalho não publicado. 148 148 “ Nos campos campos de batalha amigos . . . semen sementes tes da vit ória.” citado em Scott, A thle th le tic ti c R e v ol utio ut io n, p. 21. 148 Embor a os lugareslugares- comu comuns aqui aludidos não possam ser ser ver i ficados em todas as críticas radicais aos esportes, o livro de Hoch cita-os em rica profusão e os expressa no mais puro jar ja r g ão r e v o luc io nár io . V er Rip Off the Big Game, ps. 7, 18, 20, 122, 154, 158, 162-6, 117. 149 ret órica re acionária ibid., ps. 17-21; Hoch, Rip Off the Big Game, ps. 2-4. 151 151 “ o credo domina nte nos nos esportes” Edwards, Sociology of Sports, p. 334. Cf. ]erry Rubin, G r o w ing (U p) at T hirty - seve se venn (Nova Iorque: M. Evans, 1976), p. 180: “The ethic of competition, achievement, and domination is the core of the American system.” (“A ética da competição, da realização e da dominação é o núcleo do sistema ameri cano.”) . 152 152 Heinz K ohut, The Analysis of th Self (Nova Iorque: Interna tional Univer sities Press, 1971), p. 196; 196; Herber t Hen din, T he A g e of S ens en s atio at ionn (Nova Iorque: Norton, 1975), p. 167. 153-54 Butt, Psychology of Sport, ps. 18, 32, 41, 5555- 58, e passim; Hogh, Rip Off the Big Game, p. 158; 158; J ack Scott, “ Sport” (1972), ci tado em Edwards, Sociology of Sport, p. 338. 154 Cos ell/citado ell/citado em Nova k, Joy of Sports, p. 273. 155 155 associaçã associação de alunos alunos de póspós- gr aduaçã aduação/ o/Meyer Meyer , “ Early Fo otboll” ; Frederick Rudolph, The American College and University (Nova Iorque: Vintage, 1962), p. 385. 156 156 Walter Camp Meyer, “ Early Football” Football” . 157 Novak, Joys of Sports, cap. 14. 159 159 Edgar W ind, A r t a nd A nar na r chy ch y (Nova Iorque: Knopf, 1963), p. 18. 160 “ os esportes esportes não são são isolados .. . a cima de críticas.” citado em Novak, Joy of Sports, p. 276. 295
V I. A E ducaç duc ação ão E s cola co larr e o Nov No v o A nalf na lfaa betis be tis m o Página 162 162 163 164 164
166 166 167 167 168 168 170
171
171
172 172
296
declínio dec línio de padrões padrões em unive rs idades de elite Newsweek, 6 de fevereiro de 1978, ps. 69-70. R. P. Blackmur, "T ow ar d a Modus Modus V ive ndi”, em The Lion and and the Honeycomb (Nova Iorque: Harcourt, Brace and World, 1955), ps. 3-31. ev idências e comentários coment ários sobre o declínio das das habilida ha bilida des e da capacidade de ler e escrever ver o estudo feito por Jack McCurdy e Don Speich, original mente publicado no Times de Los Angeles e reimpresso no Democrat and Chronicle de Rochester, 29 de agosto de 1976; um relatório da Associated Press sobre registro de testes. De mocrat and Chronicle de Rochester, 19 de setembro de 1976; e um item do Times de Nova Iorque, de 7 de novembro de 1974, 1974, a respeit res peitoo da s implif icação icaç ão dos com pêndios . a ig nor ância dos dos cidadãos sobre seus seus direitos Times de Nova Iorque, de 2 de janeiro de 1977. T homas homas Jef fers on, on, Notes on the State of Virginia (Nova Iorque: Harpe Ha rpe r Torchbooks T orchbooks , 1964 [ 1785] 1785] ), ps. 139-40 139-40,, 142. Michae l Cheva lier, lier , Society, Manners , and Politics inthe in the United States: Letters on North America (Nova Iorque: Doubleday, 1961 [1838]); cap. 34. V eble n sobre sobre a disciplina disc iplina na indúst indústri riaa Thorstein Veblen, The Theory of Business Enterprise (Nova Ior que: Scribner’s, 1904), cap. 9, “The Cultural Incidence of the Machine Proce Process” ss” . East Ea stman, man, NA M sobre sobre educação na indúst indústria ria Carl W . Ackerman, Ackerman, George Eastman (Boston: Houghton Mif flin, 1930), p. 467; Raymund E. Callahan, Education and the Cult of Efficiency (Chicago: University of Chicago Press, 1962), p. 10. O ata que à “ educação educação de cav alheiro s” e à af irmação ir mação de que que a plebe não deveria aspirar à cultura apareceu em uma série de artigos no Saturday Evening Post (1912); o ataque ao “de sembaraço civilizado”, em um artigo em Educational Review (1913); ambos são citados por Callahan, Education and the Cult of Efficiency, ps. 50, 102. Sobre o movimento pela eficiência na educação, educação, ver ver também Joel H. Spring, Education and the Rise of the Corporate State (Boston: Beacon Press, 1972). Para um estudo do movimento progressista da educação, infeliz mente mente quase quase que que totalmente não não criticado, v er L awr ence A . Cremin, The Transformation of the School: Progressivism in A me r ica ic a n E duca duc a t ion io n (Nova Iorque: Vintage, 1964). Ra ndolp h Bourne, “ T rans- National National A mer ica” (1916), reimpresso reimpresso em Carl Resek, ed., Wa W a r a nd the Inte Int e lle ll e ctual ct ualss (Nova Iorque: Harper T orchbooks, 1964), 1964), ps. 107 107- 23; Mary A nti n, The Pro mised Land (Boston: Houghton Mifflin, 1912), ps. 224-25; Nor man Podhoretz, Making It (Nova Iorque: Random House, 1967), cap. 1.
174 174
Robert S. L y nd e Helen Merrell L y nd, Middletown: A Study in American Culture (Nova Iorque: Harcourt, Brace, 1956 [1929]), cap. 14. 174 “ A o trazer para as escol escolas as . . . tempos passados.” Katherine Glover e Evelyn Dewey, Children of the New Day, . (Nova Ior que: A ppletonppleton- Century, Century, 1934), 1934), ps. 318-19. 318-19. . 174 adaptação à v ida Joel Spring, The Sorting Machine: National Educational Policy since 1945 (Nova Iorque: David McKay, 1976), ps. 18-21. 175 ' •“ A escola ref orça um esquema esquema reg ular . . . encoraja a ambição.” citado em ibid., p. 87. 176 sociabilidade do aluno W illa il la r d W a lle ll e r , “ T he Ra t ing and an d Da t ing in g Co mple mpl e x ” , A me r ica ic a n Sociological Review 2 (1937): 727-34; August B. Hollingshead, Elmtown’s Youth (Nova Iorque: W iley , 1949), cap. 9; J ames ames S. Coleman, The Adolescent Society: The Social Life of the Teenager and Its Impact on Education (Glencoe, 111.: Free Press, Press, 1962); 1962); Ernest A . Smit h, A me r ica ic a n Y out ou t h Cultu Cul turr e: G r o up Life in Teenage Society (Glencoe: Free Press, 1962); Henry, Culture against Man, caps. 6, 7. 176 debates debates sobre polític a educacio nal nos anos 1950 Spring, Sorting Machine, caps. 1-3. 178 “ Quando escrevíamo escrevíamoss na na escola escola . . . mas, em seu lugar, comu nicarm nicarmoo- nos nos não v erbalmente .” Joyce Maynard, Looking Back (Nova Iorque: Doubleday, 1973), p. 154. 179 Frederick Frederick Ex ley, A F a n’s n’s Notes Not es (Nova Iorque: Random House, 1968); ps. 6-7. 179 Kenneth B. Clark et al., The Educationally Deprived (Nova Iorque: Metropolitan Applied Research Center,1972), p. 79. 182 “ as crianças negras ou outro g rupo qual quer - .'., brancas e su periores”; “realizações demonstráveis”; “sentimentalismo posi tivo, farisaicò.” K enneth B . Clar k, entrev ista, 18 de outubr o de 1969, mim mimeoeografada e distribuída pelo Conselho de Educação Básica, Wash ington ington,, D . C . 183 183 “ dourar dourar a pílula.” . Clark et al., The Educationally Deprived, p. 36. 183 183- 84 emergência da univer univer sidade Laurenc Laurencee R . V eysey, The Emergence of the American Uni versity (Chicago: University of Chicago Press, 1965), parte 1; Oscar Handlin e Mary F. Handlin, Facing Life: Youth and the Family in American History (Boston: Little, Brown, 1971), ps. 2034; Burton Bledstein, The Culture of Professionalism: The Middle Class and the Development of Higher Education in America (Nova Iorque: Norton, 1976), cap. 8. 185 185 “ Desde Desde que que façamos nosso nosso trabalho . . . a nossa própria ma neira.” citado em Randolph Bourne, “A Vanishing World of Gentility”, Dial 64 (1918): 234-35. 185 185 Randolph Bourne, revisão de Frederick R . Keppel, The Un dergraduate and His College, Dial 64 (1918): 151-52..
297
188 188
1-88 -88 188 188 189 189
191
“ a cultura cultura superior superior propaga propaga os valores daquel daqueles es que que gov ernam.” Louis Kampf e Paul Lauter na introdução à sua antologia, The Politics of Literature (Nova Iorque: Pantheon, 1972), p. 8. Para pontos de vistas semelhantes, ver Richard Ohmann, E n glish in America: A Radical View of the Profession (Nova Iorque: Oxford University Press, 1975); e para crítica a eles, Gerald Graff, “Radicalizing English”, Salmagundi, n.° 36 (1977), ps. 110-16. “ existem certos certos trabalhos . . . noção noção elitista . . . aderência aderência ex clu sivamente . . . disso nância nância com a sociedade.” sociedade.” Citado em um manuscrito não publicado de Gerald Graffe. “ ficar env olvidos” ; “ que que se afastem . . . anali analisá sá-- los.” los.” Estas palavras aparecem em um artigo, cuja referência extra viou-se, criticando o treinamento de voluntários do Peace Corps. desapar ecimento dos clássicos clássicos Times de Nova Iorque, 29 de maio de 1977. contos de fadas Bruno Bettelheim, T he Use Usess of Enchantment: T he M Meaning eaning and Importance of Fairy Tales (Nova Iorque: Vintage, 1977), espe cialmente ps. 49, 65. Dona ld Bar thelme, thelme, Snow White (Nova Iorque: Atheneum, 1967), ps. 25-26.
V II. A S ocia oc ializ lizaa ção da R e prod pr odução ução e o Colapso da Autoridade Página 193 193
“ for çaram a escola lar.” A br a ham ha m Flex Fl ex ner e F r ank an k P . B a chma ch man, n, The Gary Schools: A General Account (Nova Iorque: General Education Board, 1918), p. 17. 194 “ Na repúbli república ca social . . . intere interesse sse direto do Estado.” Ellen H. Richards, Euthenics: The Science of Controllable En vironment (Boston: Whitcomb and Burrows, 1910), p. 133. 194 “ os danos, danos, com fre qü qüentemente entemente . . . seu seus filhos .” James H. S. Bossard, Problems of S ocial WellWell- Being Being (Nova Ior que: Harper and Brothers, 1927), ps. 577-78. 194 “ o único meio prático e eficaz . . . por demais demais inacessí inacessíveis.” veis.” Jessie Taft, “The Relation of the School to the Mental Health of the Average Child”, Mental Hygiene 7 (1923): 687. 194 Sophoni Sophonisba sba P. Breckinridge Breckinridge e Edith A bbott, The Delinquent Child and the Home (Nova Iorque: Charities Publication Com mittee, 1912), ps. 173-74. 194 194 “v isão isão distorcid distorcidaa da autoridade” autoridade” / Miria n V an Waters, Parents on Probation (Nova Iorque: New Republic, 1927), p. 80. 195 Edw in L . Earp, Earp, The Social Engineer (Nova Iorque: Eaton and Mains, 1911), ps. 4041, 246. 195 Richards, Euthenics, ps. 78-79. 195-96 195-96 ascenção ascenção do tr ibuna l de de menores menores A nt ho ny Plat Pl att, t, The Child Savers: The Invention of Delinquency
298
197 197
198 198
199
200
201 201
(Chicago: (Chicago: Univers Univers ity of Chicago Press, Press, 1969) 1969),, p. 63 (R. R . Reeder, 1905, sobre o reformatorio como um “lar normal”; G. E. Howe, Í880, sobre os "órfãos virtuais”); Robert M. Mennel, Thorns and Thistles: Delinquents in the United States, 1825-1940 (Hano (Hanover, ver, N. H .: Univer Universit sityy of New New Hampshi Hampshire re Press, 1973), p. 149 (citações de Juvenile Courts in the United States, de Herbert Lon), p. 156 (Breckinridge sobre o socorro); Jane Addams, My Friend, Julia Lathrop (Nova Iorque: Mac Millan, 1935), p. 137. impacto do tr ibunal de menores sobre sobre a fa mília Platt, The Child Savers, p. 143 143 (V an Waters sobre “ a arte arte das das relações humanas”; Juiz Stubbs, tribunal de menores de Indianápolis, nápolis, sobre o "tato pessoal”); V an Water s, Parents on Pro bation, p. 35 ("personalidade inválida ou distorcida”), p. 61 (“orientado ao mundo moderno”); p. 95 (“tutela perpétua”), p. 169 169 (“inc uráve l lealdade” ); p. 170 (“ mera bondade e far tura”), p. 253 (‘assumir o problema”); Mennel, Thistles and Thorns, ps. 142 142- 43 (Home r Folks sobre “um nov o tipo de rereformatório”); Joseph M. Hawes, Children in Urban Society: Juv enile Delinquency Delinquency in Ninet Nineteent eenthh- Centu Century ry A merica (Nova Ior que: que: O x fo r d Univers ity Press, Press, 1971), p. 188 188 (juiz municipal não identificado do Colorado, sobre “a verdadeira função de um tr ibunal” ). Sobre o papel de de doente, doente, ver T alcott Parsons, “ Illness Illness a nd the the Role of the the Phy Phy sician: A Sociologic al Perspec tive”, tive”, em Clyde Kluckhohn e Henry A . Murray , eds., Perso nality in Nature, Society, and Culture, 2.“ ed. (Nová Iorque: Knopf, 1954), ps. 609-17. Wa shingto n Gla dden, Social Salvation (Boston, Houghton Mif fl in, 1902), 1902), ps. 105-6 (“ sever idade idade dos dos castigos” castigos” ; “ refor mistas sentimentais sentimentais da pris ão”), p. 136 136 (“ enfr aqueceu aqueceu o senso senso de res res ponsa bilidade mor al” ), p . 179 179 (“ real t rabalho da da educação”), educação”), p. 181 (“fundamentalmente uma função parental”), p. 192 (“cultivar a têmpera social”), p. 228 (“civilizadas, educadas, inspi inspiradas. radas.”) ”) . educação educa ção dos pais Frank Dekker Watson, The Charity Organization Movement in the United States (Nova Iorque: Mac Millan, 1922), 1922), p. 115 (“não pode salvar separadamente as crianças”); Florence Kelley, Some Ethical Gains through Legislation (Nova Iorque: MacMil lan, 1905), ps. 180-84 (sobre mães italianas). rev olta contra a “ superproteção superproteção mater na” John B. Watson, Psychological Care of Infant and Child (Nova Iorque: Norton, 1928); Arnold Gesell e Frances L. Ilg, T he Child from Five to Ten (Nova Iorque: Harper, 1946); Ernest R. Groves e Gladys H. Groves, Parents and Children (Filadél fia: L ippincott , 1928), ps. 5, 116. A respeito respeito de modas mu mutantes de criação de filhos, ver Daniel R. Miller e Guy E. Swanson, The Changing American Parent: A Study in the De troit Area (Nova Iorque: Wiley, 1958), passim; Hilde Bruch, Don’t Be Afraid of Your Child (Nova Iorque: Farrar, Straus, and Young, 1952), ps. 38-39. V an Waters, Parents on Probation, p. 42; Lorine Pruette, “Why W o m e n F a il ” , em S amuel am uel S c hma lha use us e n, e d ., W o m a n’s C o ming mi ng
299
202 202
202 202
203 203
203-05
205
206
207
208 208 209
300
of Age (Nova Iorque: Liveright, 1931), p. 247; Sarah Comstock, "Mothercraft: A New Profession for Women”, Good House keeping 59 (1914): 677. Bruch, Don’t Be Afraid of Your Child, p. 57. Lisa Alther, Kinflicks (Nova Iorque: Knopf, 1976), p. 152; Mary Roberts Coolidge, W hy W ome om e n A r e S o (Nova Iorque: Holt, 1912), p. 334. Benjamin Spock, Baby and Child Care (Nova Iorque: Pocket Books, 1957), ps. 3-4. “As raízes mais profundas ... meros intermediários.” Judd Marmor, “Psychological Trends in American Family Re lationships”, Marriage and Family Living 13 (1951); 147. “ hostilidade hostilidade pelo peloss espec especiali ialistas stas de de famílias . . . o que que poderiam poderiam fazer a esse respeito.” Jerome D. Folkman, “A New Approach to Family Life Educa tion”, Marriage and Family Living 17 (1955): 20, 24. Bruch, Don’t Don’t Be A fr aid of Y our Child Child,, ps. 7-8 (“estado de an siedade superposto”), p. 12 (“recursos interiores e sua capaci dade de de julg ame nto” ), p. 13 (“v eio para f icar ”), ps. 16-17 16-17 (“ não há como voltar atrás”; “irremediavelmente em descompasso”); p. 33 (“ rotineiras meiasmeias- verdades”); verdades”); p. 45 (“ desejos esejos de que rer o melhor melhor para seu fil ho” ); p. 54 (“e feito opressor opressor da auto ridade e da tradição”), p. 85 (perturbação emocional profun da ” ), ps. 164 164- 65 (“ especialistas especialistas autoauto- designados, designados, não não licencia dos”); Spock, Baby and Child Care, ps. 575, 597. Samuel Liebman, ed., Emotional Forces in the Family (Filadél fia: Lippincott, 1959), ps. 9 (Meerloo), 127-29 (Schaffner), 136 (Kubie); Bruch, Don’t Be Afraid of Your Child, p. 75 (“um pai ou mãe mãe que possam dizer dizer ‘Não’ ”); Gilbe rt J. Rose, “ Some Misuses of Analysis as a Way of Life”, International Review of Psychoanalysis 1 (1974): (1974): 513 513- 15. 15. trainamento da eficiência dos pais Bruch, Don’t Don’t Be A fr aid of of Y our Child, Child, p. 59 (“não são facil mente mente enganada enganadas” s” ); Ha im G . Ginott , Between Parent and Child: New Solutions to Old Problems (Nova Iorque: Avon Books , 1965), p. 31 (“não ao evento em si”), p. 36 (“ nunca tenho sorte”), p. 38 (“todos os sentimentos são legítimos”), p. 39 (“mais importante para uma criança”), p. 59 (“descarre gada sem destruir destruir quem quer que que seja”) seja”) . V er também Thomas Gordon, P . E . T . in A c t io io n (Nova Iorque: Wyden, 1976). Nancy McGrath, “By the Book”, New York Times Magazine, 27 de junho de 1976, ps. 26-27; Fitzhugh Dodson, How to Parent (Los Angeles: Nash, 1970); Lee Salk, How to Raise a Human Being (Nova Iorque: Random House, 1969). John R. Seeley, “Parents — The Last Proletariat?” (1959); em The Americanization of the Unconscious (Nova Iorque: Inter nat ional Science Science Press, 1967), ps. ps. 134, 134, 323, 326. Mark Gerzon, A C hi ld ho o d f or Ev er y C hild hi ld : T he Polit Po lit ics of Parenthood (Nova Iorque: Outerbridge and Lazard, 1973), p. 222.
Erving Goffman, A s y lums lum s : Ess ays ay s on the S ocia oc iall S itua it uati tion on of Mental Patients and Other Inmates (Nova Iorque: Doubleday, 1961); Thomas S. Szasz, The Myth of Mental Illness (Nova
210 210
211 211 212
212
212
213 213
214
216 21 6
Iorque: Harper and Row, 1961); Eliot Freidson, Professional Dominance: The Social Structure of Medical Care (Nova Iorque: A the th e r ton, to n, 1 970); 97 0); Da v id R o t hma hm a n, The Discovery of the Asylum (Boston: Houghton Mifflin, 1971); Richard Fox, “Beyond ‘So cial Control’: Institutions and Disorder in Bourgeois Society”, History of Education Quarterly 16 (1976): 203-7. Geoffrey Gorer, The American People: A Study in National Character (Nova Iorque: Norton, 1948), p. 74. “ imatura, narcisista . . . do que que dever ia ser ser uma boa mãe.” mãe.” Beata Rank, “Adaptation of the Psychoanalytical Tecnique for the Treatment of Young Children with Atypical Development”, A me r ican ic an j o ur n a l of Or thop th opss y chia ch iatr tr y , 19 (1949); 131-32. ex emp emplos de “ mater nidade nidade perf eita” Peter L. Giovacchini, Psychoanalysis of Character Disorders (Nova Iorque: Jason Aronson, 1975), ps. 32, 108-9. psicodinâmica psicodinâmica da “ frustração frustração fav oráve l” Heinz Kohut, The Analysis of the Self (Nova Iorque: Interna tional Universities Press, 1971), ps. 61-64. maternag em narcisista War W ar r e n M . B r odey ode y , “ O n the Dy nami na micc s of Nar Na r cis ci s s ism” is m” , Psychoa nalytic Study of the Child 20 (1965); 184; Giovacchini; Psy choanalysis of Character Disorders, p . 27. esquizofrenia Gregory Bateson et al., “Toward a Theory of Schizophenia”, Behavioral Science 1 (1956) (1956):: 251-64 251-64;; T heodore eodore Lidz, “ Schizo Schizo phrenia and the Family”, Psychiatry 21 (1958): 21-27; William McCord et al., "The Familial Genesis of Psychoses”, Psychia try 25 (1962): 60-71. Es quizofr quizofr enia e narcisismo War W ar r e n R . B r odey , “ Imag e , O bje bj e c t , and an d Nar cis s isti is ticc R e la t io n ships”, A me r ica ic a n J o urna ur nall o f Or thps th psyy chia chi a tr y 31 (1961): 69-73; L. R. Ephron, "Narcissism and the Sense of Self”, Psychoanaly tic Review 54 (1967): 507-8;T 507-8;T homans homans Freeman, Freeman, “ T he Concep Conceptt of Narcissism in Schizophrenic States”, InternationalJournal International Journal of Psychoanalysis 44 (1963): 293-303. “ tautologia tautologia fam iliar ” do narcisismo. narcisismo. Brodey, Brodey, “ Dy namics of Narcissism”, Narcissism”, p. 188; 188; K ohut, ohut, A naly nal y s is of the Self, p. 255. pseudomutualidade Lyman C. Wynne et al., “Pseudomutualidade in the Family Relations of Schizophrenics”, Psychiatry 21 (1958): 207, 210-11; Kohut, A naly na ly s is of the Self Se lf,, ps. 4040- 41, 41, 81 . A nnie Reich, “ Early Identifications Identifications as A rchaic Elements Elements in the the Superego”, Journal of the American Psychoanalytic Association 2 (1954): 218-38; Annie Reich, “Narcissistic Object Choice in W o m e n” , A me r ica ic a n J o urna ur na l of Ps y choanal choa nalyy s is 1 1953 953): 22-44 -44. V er ta mbém mb ém B . D . L e w in, in , “ T he B ody as P hall ha llus us”” , Psychoa nalytic Quarterly 2 (1933): 24-27. alunos alienados alie nados e suas suas mães mães Kenneth Keniston, The Uncommitted: Alienated Youth in Ame rican Society (Nova Iorque: Harcourt, Brace, 1965); Herbert Hendin, The Age of Sensation (Nova Iorque: Norton, 1975), 301
ps. 72, 75, 98, 108, 129, 130, 133, 215, 297; G iov io v ac chini, chi ni, Psy choanalysis of Character Disorders, ps. 60-62. 218Keniston, 218 Keniston, The Uncommitted, ps. 309-10; Philip Slater, The Pur suit of Loneliness (Bos ton; Beacon Press, Press, 1970), cap. ca p. 3. 219 “ declínio decl ínio do supereg supereg o” Jules Henry, Culture against Man (Nova lorque: Knopf, 1963), p. 127 127 (colapso (colapso de “ antigos controles controles do impuls o” ), p. 238 238 (interação família/cultura), p. 337 (“efeitos patológicos”); Ar nold nold A . Rogow, The Dying of the Light (Nova lorque: Put nam’s 1975), cap. 2, “The Decline of the Superego”, especial mente p. 67. 220 220 estr uturas uturas var iáve iáveis is do supereg superegoo Sigmund Freud, The Ego and the Id (Nova lorque: Norton, 1962 1962 [1923]), [1923]), ps. 42-43 42-43;; Henry Low enfeld e Y ela Low enfeld, “Our Permissive Society and the Superego”, Psychoanalytic Quarterly 39 (1970): 590-607. 221 221 J oseph ose ph Heller Hell er,, Something Happened (Nova lorque: Knopf, 1974), ps. ps . 141, 160, 160, 549. 549 . 222 Henry, Culture against Man, p. 139. 223 salas de aula “ amigáv eis” eis ” ibid., ps. 314-17. 223 223 A nn Landers, Democrat and Chronicle de Rochester, 18 de fevereiro de 1978. 224 224 V an Waters, Parentes on Probation, p. 36. 224 224 controle contr ole social como um “ proble ma técnica” Edgar Z. Friedenberg, Coming of Age in America: Growth and A cquies cqui es cenc ce ncee (Nova lorque: Random House, 1965), ps. 73-92. 225 225 “ Nossos Nossos compênd compêndios ios discutem discutem . . . participação participação da autoridade.” Simon Dinitz et al., “Preferences for Male and Female Children: Traditional or Affectional?” Marriage and Family Living 16 (1954): 127. 225 Douglas Douglas McGregor , The Human Side of Enterprise (Nova lor que: que: McGr aw - Hill, 1960), 1960), p. 21 21 (“limitações (“limitações da autoridade”), p. 23 (“ inter dependência” ), ps. 35-42 (hier ar quia das das necessi necessi dades, de Maslow), p. 46 (crítica da permissi.vidade), cap. 9 (participação), p. 234 (crítica “construtiva”), ps. 232-35 (ca racterísticas de um gr upo de atuação atuação f ácil), p. 240 (analog ia entre entre a indústr indústr ia e a fam ília) . Para uma popular popular ização de al gumas dessa dessass idé idéias, ias, ver O . W illia m Batta lia e J ohn J. T arr ant, The Corporate Eunuch (Nova Iorque: Crowell, 1973). 226 226 T alcott Parsons, Parsons, “ T he L ink Between Character and Society” Society” , em Social Structure and Personality (Nova lorque: Free Press, 1964), ps. 183 183- 235; McG re g or Human Side of Enterprise, p. 31. 227-28 Michael Maccoby, The Gamesman (Nova lorque: Simon and Schuster , 1976), 1 976), ps. 102, 122, 122, 129, 137.
V III. II I. A F uga ug a ao S en entime timento nto Página 229 229 Do nald Barthelme, "Ed w ar d and Pia” , em Unspeakable Prac tices, Unnatural Acts (Nova lorque: Farrar, Straus and Giroux, 1968), p. p . 87; Riane Ria ne ■ T ennenhaus enne nhaus Eisler , Dissolution: Divorce, 302 30 2
Marriage, an dthe Future of American Women (Nova Iorque: McGr aw - Hill, 1977), 1977), ps. 170 170- 71. 229 229 Ber trand Russ Russ ell, Marriage and Morals (Nova Iorque: Bantam, 1959 [ 1929]), ps. 127, 137. 230 celebraçõ celebrações da nova intimi dade mar ital A lv in T of f le r , Future Shock (Nova Iorque: Random House, 1970), 1970), caps. 11, 11, 14; 14; Margar et Mead, “ Marriag e in T wo Steps” (1966), em Robert S. W inch e G ra ham B. S panier, panier, eds ., Se lected Studies in Marriage and the Family (Nova lorque: Holt, Rinehart, and Winston, 1974), ps. 507-10. 232 232 Molly Haske ll, FromReveren From Reverence ce to Rape: Rape: T he T reatment reatment of W o men in the Movies (Baltimore: Penguin, 1974). 232 mulheres mulheres livres Wol W olls ls tone to necr cr af t: R a lp h M . War W ar dle dl e , Mary Wollstonecraft: Wollstonecraft: A Cr i tical Biography (Lawrence, K an: Univer Univer sity of Kansas Kansas Pres Press, s, 1951), caps. 7-8; Margaret George, One Woman’s “Situation”: A S tudy of Ma r y W olls ol ls tone to necr cr af t (Urbana, 111.: University of Illinois Press, 1970), cap. 8; Goldman: Richard Drinnon, Rebel in Paradise (Chicago: University of Chicago Press, 1961), p. 151; Bengis: Ingrid Bengis, Combat in the Erogenous Zone (Nova lorque: Knopf, 1972), p. 16. 234 declínio decl ínio do ciúme W il la r d W al le r , The Old Love and the New: Divorce and Read jus tme tm e nt (Nova lorque: Liveright, 1930), ps. 6-7, 84, 88; “The Rating and Dating Complex”, A me r ic an S ociol oc iol og ical ic al Re v ie w 2 (1937): 727-34; Martha Wolfenstein e Nathan Leitas, Movies: A Ps y cholo cho logg ical ic al S tudy (Nova lorque: Atheneum, 1970 [1950]), p. 33; August B. Hollingshead, Elmtown’s Youth: The Impact of Social Classes on Adolescents (Nova lorque: Wiley, 1949), ps. 237, 317-18. 235-35 235-35 Filmes Wol fe nst ein e Leites, Movies, ps. 31-33. 235235- 36 o org asmo fe minino Heller, Something Happened, p. 424; William H. Masters e V ir g inia in ia J ohns ohn s on, on , Human Sexual Response (Boston: Little, Brown, 1966); Anne Koedt, “The Myth of the Vaginal Orgasm”, Notes from the Second Year: Women’s Liberation (1970), ps. 37-41; Mary Jane Sherfey, “The Evolution and Nature of Fe male Sexuality in Relation to Psychoanalytic Theory”, Journal of the American Psychoanalytic Association 14 (1966): 117; Kate Millett, Sexual Politics (Nova lorque: Doubleday, 1970), ps. 117-18. 236-37 236-37 “ as mulheres mulheres com pers onalidades onalidades narcisistas . . . mais calorosa e emocionalmente envolvida.” Kernberg, Borderline Conditions and Pathological Narcissism, p. 238. 238 238 “ Estas Estas mulheres mulheres ficam menos menos iradas . . . tinham de ser ser seu seus companheiros.” citado em Veronica Geng, “Requiem for the Women’s Move ment”, Harper’s, novembro de 1976. p. 68. 238 238 (Nota) John P. Spiegel, “ T he Res olution of Role Conflict w ithin the Family”, Psychiatry 20 (1957): 1-16; Lee Rainwater, Richard P. Coleman, and Gerald Handel, W o r k in g m a n’s W if e (Nova lorque: MacFadden, 1962 [1959]), p. 89. 303
239 239 240 240 240 240 242 242
243 243 243 244 245 245 247 247 248 249
249 249
“ V ocê quer quer muita muita coisa . . . as coisa coisass que que quiser.” quiser.” Bengis, Combat in the Erogenous Zone, ps. 210-11. “ Não há um dia . . . pensando em mim ” Sylvia Plath, “The Rival”, em A r ie l (Nova Iorque: Harper and Row, 1966), p. 48. Sy lvia Plath, The Bell far (Nova Iorque: Harper and Row, 1971 [1963]), p. 93. “ o aparen aparente te vigor . . . ilusória ilusória utopia utopia matriarcal.” Geng, “Requiem for the Women’s Movement”, p. 53. Para o recuo das feministas do século dezenove, ver Aileen S. Kraditor, The Ideas of the Woman Suffrage Movement (Nova Iorque: Co lumbia Univers ity Press, 1965 1965)) e A nn Douglas , The Femini zation of American Culture (Nova Iorque: Knopf, 1977). “ apreciar o sexo . . . limita r a intensidade intensidade do relac ionamento.” Hendin, A g e of S ens en s atio at ion, n, p. 49. “ Os únicos homen homenss . . . não me sentia sentia v ulneráv el.” Bengis, Combat in the Erogenous Zone, p. 185. “ resolver sobre sobre a liberdade . . . o âmago da intimidade .” ibid., p. 199. "muito s de nós nós tive mos de anestesiar anestesiar [nossa [nossas] s] necessidades.” necessidades.” ibid., p. 219. “ lascív ia, mais dos dos nerv os do que que da carne.” car ne.” Leslie A . Fiedler, Fiedler, Love and Death in the American Novel (Nova Iorque: Criterion Books, I960), p. 313. Fr eud sobre a “ impotê ncia psíquica.” Sigmund Freud, “The Most Prevalent Form of Degradation in Erotic Life”, (1912), Standard Edition, 12: 203203- 16. J uliet Mitchell , Psychoanalysis and Feminism (Nova Iorque: Pantheon, 1974); Eli Zaretsky, Capitalism, the Family, and Personal Life (Nova Iorque: Harper and Row, 1976); Bruce Dan eis, “Socialism and Women in the United States, 1900-1917”, Socialist Revolution, n.° n.° 27 (janeiro- março março de de 1976), ps. ps. 81- 144. 144. “ não significa somente somente um estômago estômago cheio cheio . . . mas mas uma vida plena.” citado em ibid., p. 132.
IX . A Fé A balada balada na na Regeneraç Regeneraçãão da V ida ida Página 251 O título deste este capítulo capítulo foi tirado de Mar k Ge rz on, A C hild hi ldho ho o d for Every Child: The Politics of Parenthood (Nova Iorque: Outerbridge and Lazard, 1973), p. 221. 251 A lber t Rosenfeld, Prolongevity (Nova Iorque: Knopf, 1976), ps. 8, 166. Para um ex emplo ainda mais mais evidente da abordage m médica ao envelhecimento, ver Joel Kurtzman e Phillip Gor don, No More Dying: The Conquest of Aging and the Extension of Human Life (Los Angeles: D. P. Tarcher, 1976). 252 V er T homas omas McK eow n e R. G . Brow n, “ Medical Medical Eviden Evidence ce related to English Population Changes in the Eighteenth Cen tury”, Population Studies (1955); Thomas McKeown, The Mo
304
252 253
255255- 56 256 257-58 257-58 258-59 258-59 261
dern Rise of Population (Nova Iorque: Academic Press, 1976), cap. 5; William L. Langer, “What Caused the Explosion?” New York Review, 28 de abril de 1977, ps. 3-4. A lan Harrington, The Immortalist, citado em Rosenfeld, Pro longevity, p. 184. “ nossas nossas atitudes em relação ao env elhecime nto não são aciden tais.” H. Jack Geiger, revisão de Rosenfeld e Comfort a respeito do envelhecimento, New York Times Book Review, 28 dç novem bro de 1976, p. 5. “ Sempre vi o mundo . . . assumir o centro do palco.” Lisa Alther, Kinflicks (Nova Iorque: Knopf, 1976), p. 424. Sobre Sobre Comfor t, Masters Masters e Johnson, ver Be njamin njamin DeMo tt, “ Sex in the Seventies:: Notes on Two Cultures”, A tl a ntic nt ic , abril de 1975, 1975, ps. 88- 91. G ail Sheehy, Sheehy, Passages: Passages: Pr edictable edictable Crises Crises of A dult L ife (Nova Iorque: Dutton, 1976). Para as as declarações declarações de Comfo rt, K inze l e Sinsheimer, ver KurtzKurtzman e Gordon, No More Dying, ps. 3, 36, 153; Geiger, revisão de Rosenfeld e Comfort, p. 5. Dav id Hackett Fischer, Fischer, Grow inging- Old in in America America (Nova Iorque: Oxford University Press, 1977), ps. 132-34.
X . P ate at e r nalis na lismo mo sem P a i Página 264 Sobre estilos de soc ialização entre os ricos, ver Robe rt Coles, Privileged Ones: Ones: T he Well- Off and the the Rich in A merica (Bos ton: Little, Brown, 1978). 269 269 E. L . G odk in, sobre “ as class classes es mais abastadas abastadas e observ a doras.” citado em David Montgomery, Beyond Equality: Labor and the Radical Republicans, 1862-1872 (Nov a Iorque: K nopf , 1.96 1.967) 7),, p. 371. 270 Dav id Hackett Fischer, Fischer, Growing Old in America (Nova Iorque: Ox for d University Press, Press, 1977), 1977), p. 206. 272 272 K enneth K eniston et a l., A l l our ou r C hild hi ldrr e n: T he A me r ic a n F a mily under Pressure (Nova Iorque: Harcourt Brace Jovanovich, 1977). 27474- 75 T homas homas L . Hask ell, “ Power to the the Ex perts”, New York Review, R eview, 13 de outubro de de 1977, 1977, p. 33; T homas L . Has kell, The Emer gence of Professional Social Science (Urbana, 111.: University of Illinois Press, 1977), p. 236; Paul Goodman, “The New Re formation” (1969), reimpresso em Irving Howe, ed., Beyond the N e w - L e f t (Nova Iorque: McCall, 1970), p. 86. 275 crítica psiquiátric a à lei V il he lm A ube r t, “ L eg al J ustice ust ice and an d Me nta nt a l H e a lt h” , Psychiatry 21 (1958): 111-12. 276 Seeley, A me r ic a niz ni z a tio ti o n of the Unco Un cons nsci cious ous , p. 90.
305
279 279
280-81 80-81
280280- 82
306
L udwig von Mises, Mises, Bureaucracy (New Haven: Yale University Press, 1962 [1944]), ps. vi (“dois campos hostis”); 4 (“controle governamental da livre empresa”); 9 (“ódio implacável”), 10 (“ não há acordo possível” ), 11-12 11-12 (“ tendência à rig idez bur o crática”), 38 (“libera o assalariado”), 39 (“fria racionalidade”), 48 (“não pode ser verificada por cálculos econômicos”), 100 (“arquiteto de sua própria fortuna”; “não as realizações, mas o favor dos superiores”); 125 (“slogans vazios”). Para uma crítica semelhante à burocracia, ver Frederick Hayek, The Road to Serfdom (Chicago: University of Chicago Press, 1944). Daniel Patrick Moy nihan, “ Social Policy: Fr om the the Utilita ria n Ethic to the Therapeutic Ethic”, em Commission on Critical Choices, Qualities of Life (Lexington, Mass.: D. C. Heath, 1976), 7:44, p. 44. Mises sobre o senso comum co mum Bureaucracy, p. 125.
Índice Remissivo
A bbo bb o tt , E dith di th:: s obre obr e a inter int er v enção en ção do estado na família, 194 A ber be r to dos E . U . A . , T or neio ne io (Fo(Forest Hills), 144 acompanhamento (em educação), 164 A dão ame r ican ic ano, o, 29, 29 , 32, 263 adaptação à vida: na educação, 174 A dda ms , J ane: s obre obr e o tr ibuna ib una l de menores, 196 administração, 234; expropriação do conhecimento profissional, 208, 210, 268-69, 272, 280; rela ções humanas na, 223-28 administração científica, 225, 269; e esportes, 155 administração de impressões, 68-69, 109, 122-26; ver também, repre sentações do eu, eu atuante A dor do r no, no , T heo dor do r W . : sobre so bre psi cologia e sociologia, 59 A dv er tis ti s ement eme ntss f o r Mys My s e lf (Mailer), 39 A lbee, lbe e, E dw a r d, 121, 247 alegre prostituta, 80; como protó tipo do sucesso, 93-94 Alg A lg er , Ho r a ti o, 80 alienação: como mercadoria, 103 A lle ll e n, Geor Ge or g e, 136; s obre a v itór it ória ia,, 151-52 A lle ll e n, W o o dy : cita ci tações ções,, 23, 40, 42-43 A lt a mo nt (fes (f es tiv ti v al de “ r ock oc k ” ), 96 n A lthe lt herr , L ise: is e: cita ci tações ções,, 202n, 20 2n, 255 amadorismo, culto do, 141-42 A mer me r ica ic a n Dr s am, am , T he (Albee), 247 americanização, 171, 172, 198; e educação, 169 anabatistas, 24 A nde r s on, on , Q ue nt in , 29
animosidade universal: v er guerra de tudo contra tudo Á nt in . Mar y : s obre a ame am e r ica ic a niz a ção, 172-73 A r istóte is tótele less , 123n. A r mie s of the Ni g ht (Mailer), 37 "A r t of MoneyMoney- Getting, Getting, T he” (B (Barnum), 83 arte: e ilusão, 119-121 assistência (aos esportes, torcida): crítica à, 138-39, 141 A s s ocia oc iação ção Na c io nal na l de E duca ção (NEA), 171 A to E duca duc a cion ci onaa l da Def es a Naci Na cio o nal (1958), 177 A t o do S er v iço S elet el etiv iv o (19 (1 9 5 1), 1) , 177 A udiê ncia nc iass Ex ércit ér cit o- McCar McC arthy thy . 110 autenticidade: culto da, 205-07 A uto bio g r a phy (Franklin), 82 autoconfiança, 169, 171 autocultura, 83-85 autodesenvolvimento, 82-85 auto- escr es crutín utínio, io, 74, 122 122-- 30, 30, 135 135 autoparódia, 129-30 autoridade: abdicação da, 218, 220, 226n.; declínio da, 245, 253, 278; modelo terapêutico da, 22324; nos negócios, 225 autoritarismo, 149; crítica ao, 22527 Bach, Sheldon: sobre padrões va riáveis das desordens psíquicas, 68
Bad Seed, The (March), 247 Baía dos Porcos, 109 Balzac, de, Honoré, 125 Bara, Theda, 247 Barnard, Henry, 169
307
Barnum, Phineas Taylor: sobre o sucesso, 83-84 Barth, John: citação, 129 Barthelme, Donald, 40-42; citações, 40, 129, 190-91, 190- 91, 229 batedor designado: regra do, 140 Beauvoir, de, Simone: citação, 241 Beckett, Samuel, 121 Beecher, Henry Ward: sobre a in dústria compulsiva, 84 behaviorismo: na criação de filhos, 200, 208 Beldoch, Michael: sobre padrões variáveis das desordens psíqui cas, 67 Bell Jar, The (Plath), 240 bembem- estar estatal es tatal,, 268268- 69, 272, 276 Bengis, Ingrid: sobre caronas, 233; sobre a fuga ao sentimento, 245; sobre homens e mulheres, 239; sobre a intimidade, 245 Benson, Lee: sobre os democratas do século dezenove, 145 Bentley, Eric, 121 Bestor, Arthur, 176 Bettelheim, Bruno, 189-90n Biderman, Albert: sobre os sím bolos, 108 Blackmur, R . P .: sob sobre o novo analfabetismo, 163 Book of a Hundred Chapters, 26 Boorstin, Daniel: sobre imagens, 89; sobre propaganda, 105 Bourne, Randolph, 172; sobre a educação superior, 185n. Bovary, Emma, 128, 191 Branca de Neve (Barthelme), 41 Brand, Stewart: sobre a sobrevi vência, 24 Brecht, Bertoldt, 118 Breckinridge, Sophonisba P.: so bre a intervenção do Estado na família, 194; sobre o tribunal de menores, 194 Bremer, Arthur Herman, 116 Brooks, Brooks, V an Wy ck: sob sobre a tra dição, 29 Brown, Brown, R. G ., 252n 252n.. Brownson, Orestes: sobre o indi vidualismo, 30 Bruch, Hilde, 207n., 226; sobre a autoridade parental, 205n.; cri-
308
tica à psiquiatria, 202-06; sobre a intervenção profissional na fa mília, 201-02 burocracia, 13, 34, 57, 97, 134-35, 227227-28; 28; e agr ess ão, 220; e com co m petição, 84-87; e cooperação an tagônica, 153-54; crítica conser vadora da, 278-82; e dependên cia, 274-82; na educação, 180, 182, 184-85; 184-85; e narcis nar cis is mo, 6868- 73, 73, 89n.; nos negócios, 154; e pro paganda, 106-108; e sobrevivên cia, 89-91 Bush, Vannevar, 176 Butt, Dorcas Susan, 137; sobre a competição, 152 Caillois, Roger: sobre os jogos, 133 Califórnia, Instituto de Tecnologia da, 260 Califórnia, Universidade da (Berkeley), 165, 187 Califórnia, Universidade da (Los A ngel ng eles es ), 165 Calvinismo: v er Puritanismo Camp, Walter, 155, 156; sobre es portes, 147-48 campeonato mundial, 140, 156 carga do homem branco, 150 Carnegie, Corporação, 188, 272 Carnegie, Dale, 86 casamento, 229-31; psicodinâmica do, 230-31 casamenot aberto, 49, 230 castração, medo da, 246-49 Caís Cradle (Vonnegut), 42 Cawelti, John: sobre o mito do su cesso, 86 celebridade, 87-89, 153-54; culto da, 43-44, 57, 115, 222, 277-78; e fama, 115-17 Centro de Pesquisas Políticas, 209n. chamamento [vocação], doutrina puritana do[a], 81-84 Chambers, Whittaker, 111 Chataway, Christopher, 147n. Chevalier, Michael. 171; sobre a “iniciação”, 168-69 ciclo vital, 74-75, 257-58 cidadania: e educação, 167-68, 17273
ciência doméstica, 199 ciúme, declínio do, 234-35 Clark , Kenneth B .: sobre sobre o orgu lho racial, 179; sobre a “priva ção cultural”, 182 classes produtoras, 268 Coleman, James S.: sobre a pro ximidade, 238n. Coles, Robert: sobre crianças pri vilegiadas, 265 Columbia, Universidade de, 162, 172, 185 Comfort, Alex, 243, 256n.; sobre o envelhecimento, 256; sobre a extensão da vida, 257 comunidade, controle (educação), 273 competição, 136, 137, 140-41, 14647, 267; crítica à, 148-53; e ideal de sucesso, 84-87; medo da, 56, 181 comunismo, 37 Conant , James James B ., 176 176-77 confissionais, escritos, 38-48 conflito de classes: medo do, 19495 Connors, Jimmy, 144 conscientização, movimento pela, 28 , 36, 53, 132, - 281-82; 81-82; crítica cr ítica progressista ao, 47-50 Conselho dç Educação Básica, 176 Conselho Nacional de Mão-deObra, 175 Conselho Presidencial Presidencial para para a A p tidão Física, 134 Conselho Regional Sulista, 89 conservadorismo: crítica à buro cracia, 278-82 consumismo, 192 consumo, 98-99, 101-104, 150, 154, 219. 222 continuidade histórica: senso de, 24-25. 26. 28-29, 76, 97-98, 123n., 255, 257-58, 265 contos de fadas, 189n. contracultura, 96, 142; ver também revolução cultural controle da natalidade e filhos “de sejados”, 202 controle social, 209n., 263; formas terapêuticas de, 225-28; e progressismo, 269-71; e saúde pú blica, 196
Convenção Democrática Nacional (1968), 27, 114 Coolidge, Calvin: sobre a publici dade, 102 Coolidge, Mary Roberts: sobre ma ternidade voluntária, 202n. cooperação antagônica, 153 Coréia, Guerra da, 151, 177 Corpo de Treinamento dos Oficiais da Reserva Reserva (RO T C), 187 Cosell, Howard, 157; sobre o en tretenimento, 154, 159 Cosmopolitan, 236 Cotton, John: sobre o chamamento [vocação], 81 Coubertin, de, Pierre: sobre espor tes, 147n. credibilidade, 104-105, 109-110 credibilidade, brecha da, 89 crescimento (psicológico): culto do, 75-76, 77, 257-59,, 281-82 criônica, 251 crise da meia- idade, idade, 71 71 “Critique de la Vie Quotidienne” {Barthelme), 39 Croce, Benedetto, 123n. Crusoe, Robinson, 80 cultura de massa, 222-23 cultura: e personalidade, 57-61, 9192 Daneis, Bruce, 249 Davis, Rennie, 35 Debord, Guy: sobre o consumo, 102
delinqüência juvenil, 194 Democrata, Partido, 140 DeMott, Benjamin: sobre Masters e Johnson, 256n. Departamento de Sociologia (Fá brica de Motores Ford), 101 desenvolvimento psicossocial: es quema normativo do, 74-75, 257; ver também ciclo vital desordens do caráter, 57, 62, 6769; 69 ; ver também personalidade fronteiriça, narcisismo “Development of the Family in the Technical Age, The” (Meerloo), 205 “ Devilevil- Take- T he- Hin Hindmost Mile” , 140 309
Dewey, John, 199 Dice Man. The (Rhinehart), 132 Dickstein, Morris: sobre o recuo emocional na literatura recente, 97; sobre a regressão narcisista, 33 Dietrich, Marlene, 247 Dionysus', 69, 121 direitos civis, movimento pelos. 114, 180, 181, 186 direitos constitucionais, compreen são popular dos. 166-67 diversões populares: repressão das, 144 144 divórcio, 230-31 Dodson, Fitzhugh, 207n. doente, papel de, 197, 276 Dohm, Bernadine, 45 Donald, David: sobre a irrelevân cia da história, 12, 16 Don’t Be Afraid of Your Child (Bruch), 203 Douglas, Douglas, W illiam O .: dissenç dissençãão em Y ode r , 271 droit de seigneur, 231 231 Durkheim, Emile, 58; sobre a so ciedade como mãe, 275 Earp, Edw in L .: sobre sobre conflito conflito de de classe, 195 Eastman, George: sobre a educa ção vocacional. 171 Êdipo, complexo de, 248 educação básica, 176, 180-81. 182. 190 educação geral, 183. 190 e ducação duca ção de pais,- 198-200, 198-200, 206. 207n. educação sexual, 207n. educação superior, 183-84 e segs. educação e trabalho pela criança, 194; e cidadania republicana, 167; credencialismo na, 154; crí tica conservadora à, 161-62; crí tica da, nos anos 50, 175-76; críticatic a- radical ra dical à, à, 161-62 161- 62,, 172, 18 18283, 188; como controle social, 169; democratização da. 167-68; “elitismo-’ na, 181, 183, 188; do menor, 227; e nacionalismo, 170; permissividade na, 178-79; refor
310
mas progressistas na. 172-73, 199; segregação na, 179-81; como so cialização, 173-74, 193; como substituto para a experiência, 191-92; como treinamento indus trial. 170 Edwards, Harry, 137 eficiência, culto da, 171-72 Ego and the Id, The (Freud), 56 ego, psicologia do, 61 Eisenhower, Dwight D., 111 Eliot, T, S., 41 elite adn- mistr aliva . 13, 263, 279 elitismo: crítica radical ao, 142. 161-62, 181. 183, 188 Ellsberg, Daniel, 111 Ellul, Jacques: sobre a propaganda, 107 107 Elmtowris Youth (Hollingshead), 235 Emerson. Ralph Waldo, 29 Emotional Forc Forces es in ll v Family Family (Liebman), 205n. emulação: e idealização narcisista, 115-18 entretenimento: industrialização do, 143, 154-60 envelhecimento: medo do, 70n., 75, 252n., 253253- 56; teor ia médica do, 251-52, 256-62;- teoria social do, 255-58; ver também velhice Epstein, Joseph: sobre esportes, 135 Era de Ouro, 84 escalada: teoria e tática da, 113 espetáculo. 101 e s-.'gs., 139, 154, 158, 159; e assassínio, 115-16, nos esportes, 142-43; e política, 88-89, 108-12, 112-14; e publici dade, 102-108; e o teatro do ab surdo, 118-22 espetáculos, mundo dos: ver ve r entre tenimento esporte, 133 e segs.; crítica radical ao, 137-42; e ensino superior, 154-55; como entretenimento, 154-60; erosão de padrões no, 40-41; glorificação reacionária do, 147-48; e imperialismo, 146-47; e música, 142n.; passividade dos espectadores, espectadores, 138; 138; vir tuosismo no, 138r
esquizofrenia, 46, 67, 218; ambien te familiar, 231-32; e narcisismo, 211-13; e pseudomutualidade, 213 estado terapêutico, 195-96 Estudantes para uma Sociedade De mocrática (SDS), 45, 113 estudos sobre as mulheres, 184 estudos sobre os negros, 182 ética protestante, 101; ver também ética do trabalho ética terapêutica, 53, 280 ética do trabalho, 15, 79-80, 93, 98, 101, 103, 146, 149, 266-67, 282; significado variável da, 79 e segs. eu atuante, 127; ver também admi nistração de impressões eu imperial: ver Adão americano evangelho social, 194-96, 198 Evergreen State College, 178n. Exame de Formandos, 166 Exército Simbionês para a Liberta ção (SLA), 115 Exley, Frederick, 39, 41; citações, 43, 44-45, 178 Ewen, Stuart: sobre a publicidade, 124 fabril, sistema, 193 família, 104, 175, 193 e segs., 25354; agressão na, 220-21; crítica da, 15; crítica progressista da, 194-95, crítica psiquátrica da, 226n.; e cultura, 218-20; e educa ção de pais, 198-201; na elite ad ministrativa, 266-67; intervenção do Estado na, 230; intervenção profissional na, 196-99, 207, 217, 175; invasão da, 205n., 210, 281; e moda, 104n.; e narcisismo, 21317; como pequeno grupo, 225; psicodinâmica da, 220-21; como refúgio, 213-14. 217; substituída pela escola, 194; “transferência de funções funções ” , 209209- 210 família nuclear: crítica à, 149, 218n. Fan’s Notes, A (Exley), 39 fantasia: ataque à, 189n.; medo da, 142, 145, 243- 45, 277; ver tam bém processo secundário Faulkner, William, 247 feminismo, 239, 241-42; ataque a estereótipos sexuais, 238; crítica
ao socialismo, 249-50; e galanteria, 232-33 Fernwood (comédia de de T V ), 128 128 feudalismo, 232, 263 Fiedler, Leslie, 25; citação, 247 Filene, Edward A: sobre o consu mo, 101-102 filhos, criação de: conselhos pro fissionais para a, 200-09, nas eli tes, 264-66; permissividade na, 276; ver também socialização filmes: declínio do ciúme nos, 234; mulheres nos, 232 Fischer, David Hackett: sobre o culto da juventude, 261-62; sobre a herança nacional, 270 Fitzgerald, F. Scott, 247 Flanders, Moll, 80 Ford, Henry, 101 Fox, Richard: sobre controle so cial, 209n. Francoeur, Anna, 243 Francoeur, Robert, 243 Franklin, Benjamin, 84, 86; sobre o autodesenvolvimento, 82 Frederick II (Imperador), 26 Freidson, Eliot, 209n. Freud, Sigmund, 12, 59, 60n., 60, 61, (64). 66, 67, 201, 220, 236; sobre a impotência psíquica, 248; teoria estrutural da mente, 56 Friedenberg, Edgar Z.: sobre esco las de nível médio, 224 Fromm, Erich: sobre o indivi dualismo, 55-57; sobre persona lidade orientada para o mercado, 91 futurologia, 260 galanteria: declínio da, 231-32 Generation of Vipers (Wylie), 247 Genet, Jean, 121 gerações: ver ve r continuidade geriatria, 251 gerontologia, 251, 260 Gerzon, Mark: sobre a intervenção profissional na família, 208 Gesell, Arnold, 200 Ghosts (Ibsen), 120 Gifford, Frank, 43
311
Gigantes de Nova Iorque (NFL), 43 Giovacchini, Peter L.: sobre o no vo tipo de pensamento psiquiá trico, 67 Gladden, Washington: sobre imi grantes, 199; sobre reforma da prisão, 198-99 Godkin, E. L.: citação, 268 Goffman, Erving, 209n.; sobre a representação do eu, 122 Goldman, Emma, 233 Goodhart, Philip, 147n. Good. Housekeeping, 20In. Goodman, Paul: sobre o profissio nalismo, 274n. Gorer, Geoffrey, 92 Greenberg, Dan: citação, 41 Group Psychology and the Analysis of the Ego (Freud), 56 Groves, Ernest: sobre a maternida de, 200 Groves, Gladys, sobre a maternida de, 200 grupo de pares (iguais), 218, 234-35 Guerra da Argélia, 46 Guerra Civil, 268 Guerra Mundial, Primeira, 172, 184 Guerra Mundial, Segunda, 157 guerra de tudo contra tudo, 48, 77, 80, 93, 97, 98, 99, 152 Guer ra do V ietn am, 11, 11, 15, 15, 57, 109, 111, 113 guerrilha, teatro, 112-114 Haldeman, H. R., 112 Hamilton, Alexander, 83n. Handel, Gerald: sobre a proximi dade, 238n. Harrington, Alan: sobre o envelhe cimento, 252 Harvard, Universidade de, 155, 162 Haskell, Thomas L.: sobre o pro fissionalismo, 274 Henry, Jules: sobre abdicação da autoridade, 223; sobre autorida de parental, 222n.; sobre cultura e família, 218-19; sobre cultura e personalidade, 58-59; sobre emulação, 117 Hearst, Parida, 115
312
Hearst, William Randolph, 156 Heart of Man, The (Fromm), 55 hedonismo: v er moralidade do pra zer, revolução cultural Hegel, G. W. F., 123n. Heller, Joseph: citações, 90, 117, 130, 221, 236 Hemingway, Ernest, 247 Hendin, Herbert, 216-17; sobre o medo da competição; sobre o prazer sexual, 243; sobre preo cupações da psicanálise em mu tação, 67; sobre o suicídio, 243 herói, adoração: e idealização nar cisista, 113-16 higiene pública, movimento pela, 194 Hill, Christopher, 16 Hill, Napoleon: sobre o amor ao dinheiro, 86 hipocondria: e racismo, 63-64 Hiss, Alger, 110 histeria, 66, 67; e narcisismo, 23536 Hobbes, Thomas, 75, 98 Hoch, Paul, 137, 149; sobre a com petição, 152; sobre o machismo, 151 Hoffman, Abbie, 35, 114 Hollingshead, August: sobre o de clínio dos vínculos exclusivos, 235 homem econômico, 14 homem (que se fez por si mesmo), 79-80 Homo Ludens (Huizinga), 135 Homey, Karen, 92 Hougan, Jim, 48; sobre o novo milenarianismo, 26 How to Parent (Dodson), 207n. How to Raise a Human Being (Salk), 207n. Huizinga, Jan, 159; sobre o homo ludens, 135-35; sobre o jogo, 142-43 Human Side of Enterprise, The (McGregor), 225 humanas, relações: crítica da, 205n. na industria, 223-28, 269 humanista, psicologia, 259; crítica da despersonalização sexual, 256-. 57; e envelhecimento, 244
Ianque: e Puritano, 81-82 Ibsen, Henrik, 121; sobre as ilu sões, 119-120 ideal do ego, 245-46; e superego, 215 ideologia: fim da, 111 Illich, Ivan: sobre as necessidades, 17 ilusão: ataque à, 143; e realidade, 42, 88-89, 109, 117-22, 131; ver ve r também fantasia imagens, 88, 105, 108, 135; prolife ração de, 56, 73-74; ver também ilusão, “média” (meios de comu nicação de massa) Imlay, Gilbert, 233 imortalismo, 251 imperialismo: liberalização do, 14950, 187; e esportes, 146, 147-48 impotência: caráter variável da, 208-09 individualismo, 14, 27, 29, 33, 9499, 181, 263, 268, 278; critica do, 55-57, 195, 218n. industrial, recrutamento, 180; e educação, 175-76 inflação dos graus, 183 instinto artesanal, 170-71 instituições totais, 209n. interdependência, 218n.. 225. 275 intimidade, culto da, 230, 238 Ionesco, Eugene, 121 James, Henry, 29 ja níz a r os , 8 9 n. Jefferson, Thomas, 29, 83n. Jennings, Eugene Emerson: sobre a mobilidade empresarial, 71-73, 75, 89 jog jo g ador ad or , 89- 90, 227- 28; co mo nar na r cisista, 70-73 jog jo g o, 133 e segs.; seg s.; co mer me r cial ci al izac iz ac ão do, 135-36; e desempenho, 35-36, 143; inutilidade do, 133; e tra balho, 136, 157 jog os, os , 133 e segs. seg s. jog os olímp ol ímpic ic os , 147n. 14 7n. Johnson, Lyndon B., 89 Johnson, Virginia, 236, 256n. Jong, Erica, 39 JudaicoJudaico- cristã, cristã, tr adição, 189 189
jude jud e us; us ; e educa ed uca ção, ção , 172-73, 172- 73, 181; extermínio dos, 107 jur is pr udê nc ia s ociol oc iol ógic óg ica, a, 196-99; 196- 99; ver também modelo terapêutico de autoridade jus tiça ti ça ps iquiát iq uiát r ic a , 275- 76; ver também modelo terapêutico de autoridade juv e nt ude : culto cul to da, da , 253; 25 3; e manc ma nci i pação da, 104 Juventude Internacional, partido (Yippies), 35, 114 Kahn, Herman, 260 Kelley, Florence: sobre a ignorân cia dos imigrantes, 200 Keniston, Kenneth, 216, 218n.; so bre a intervenção profissional na família, 272 Kennedy, John F., 109, 111; sobre a aptidão física, 108; e fim da ideologia, 134 Keppel, Frederick P.: sobre a edu cação superior, 185n. Kermode, Frank: sobre o sentido de fim, 24n. Kernberg, Otto: sobre a corrupção de valores no narcisismo, 77; so bre cultura e personalidade, 5960; sobre o culto narcisista da celebridade, 115-16; sobre a etio logia do narcisismo, 64-66; sobre narcisismo e histeria, 236 Khruschchev, Nikita S., 109-110, 111 111
Kinflicks (Alther), 202n., 255 Kinzel, August: sobre a extensão da vida, 259 Klein, Melanie: sobre a etiologia do narcisismo, 63-64 Kohl, Herbert, 183 Kohut, Heinz: sobre antídotos con tra o narcisismo, 38n. sobre fa mílias narcisistas, 212; sobre fan tasias de onipotência narcisista, 262; sobre mães narcisistas 21112, 213; sobre o medo da com petição, 152; sobre a suspensão do processo secundário, 130 Kovel, Joel: sobre padrões de de sordens psíquicas variáveis, 68
313 31 3
Kozol, Jonathan, 182-83 Kubie, Lawrence S.: sobre o ins tinto parental, 205n. Laing, R. D., 218n. Landers, Ann, 223n. Landis, Kenesaw Mountain, 156 Langer, William L.: sobre expecta tiva de vida, 252n. Lawrence, D. H., 83n. lazer, 101-02; industrialização do, 157-60 lealdade à corporação: erosão da, 148-53; ver também homem da organização Leites, Nathan: sobre o declínio do ciúme, 234; sobre a moça boamá, 234 lesbianismo: e feminismo, 242-43 Letters Letters f rom a SelfSelf- Made ade Mer chant chant to His Son (Lorimer), 85 Lewis, Hylan: sobre a cultura ne gra, 183 Lewis, R. W. B., 29 liberação das mulheres; v er femi nismo liberalismo, 52, 148, 161, 263, 26869, 278; crítica do neopaternalismo, 270-74; exaustão do, 11-12 Lichtenstein, Heinz: sobre padrões variáveis das desordens psíquicas, 67 Liebman, Samuel, 205n. Liga Americana (beisebol), 140 Liga Ivy, 154; declínio dos padrões acadêmicos na, 162 Living Theater, 121 Lolita (Nabokov), 247 Loman, Willy, 93 Lombardi, Vince, 136 Lonely Crowd, The (Riesman), 153, 256n. longevidade, 253; 259-262 Lorimer, George, 85-86 Lowenfeld, Henry: sobre o supe rego, 220 Lowenfeld, Yela: sobre o superego, 220 Luce, Henry, 11 Lynd, Albert, 176
314 31 4
Lynd, Helen M., 174 Lynd, Robert S., 174 MacArthur, Douglas: sobre espor tes, 148 McCarthy, Joseph, 116 Maccoby, Michael: sobre o “joga dor”, 69-73, 227-28 McCosh, James: sobre esportes uni versitários, 155 McGrath, Nancy: sobre criação de filhos, 207n. McGregor, Douglas: sobre relações humanas na indústria, 225-26 McGuffey, leitores de, 84 McKeown, Thomas, 252n. McLuhan, Marshall: sobre o senti do do tempo, 123n. mãe: ausência da, 216-17 Maharaj Ji, 35 Mailer , Norman: 37, 39; sobre sobre a vida como arte, 123 Making It (Podhoreíz), 39 Malina, Judith: sobre o Living Theater, 121 Man and Boy (Morris), 247 Mann, Horace, 169 Mansfield, Jayne, 247 Manson, Charles, 115 March, William, 247 Marden, Orison Swett, -85-86 Marglin, Stephen, sobre a origem do sistema fabril, 91 Marin, Peter, 53; sobre “conscien tização” como anódino, 48; sobre o novo narcisismo, 25, 27 Marx, Karl, 24n. marxismo, 14 Mary Hartman, Mary Hartman (co média de de T V ), 128 Maslow, Abraham, 225 Masters, William H., 236, 256n. maternidade voluntária, 2üln. materno, instinto, 202; crítica ao, 202 Mather, Cotton, 86; sobre o cha mamento [vocação], 81 Matthews, Brander: sobre Colum bia, 185 Maynard, Joyce: sobre educação, 178; sobre ilusão, 117-118
Mead, Margaret, 92 Meerloo, Meerloo, Joost Joost A . M .: .obre .obre “ilu são de explicação’, 205 Maggyesy, Dave, 137, 138n., 149 menores, tribunal de, 194, 196-97 Merriwell, Frank, 147 Meyer, Donald: sobre esportes uni versitários, 155 Middletown (Lynds), 174 Meyer, Donald: sobre esportes uni“média” (meios de comunicação de massa), 43, 45, 105, 113, 115, 140-41, 154, 156-157, 194 Miller, Arthur, 93 Millett, Kate: sobre o orgasmo fe minino, 236 Mises, Ludwig von: sobre a buro cracia, 278-82 míssil cubano, crise do, 110 Mitchell, Juliet, 249 moç a boa- má, má, 234n. moda, 103 modelo terapêutico de autoridade, 196-97, 196- 97, 202202-03, 03, 223223- 28, 275275-76 76 modernização, 275 “Momismo”, 216, 247, 249 Monroe, Marilyn, 247 Montgomery, Bernard Law (Marechalchal- de- campo), campo), 107 107 Moore , Burness Burness E .: sobre sobre padrõ padrões es variáveis de desordens psíquicas, 68 moralidade do prazer, 93 Morelli, Giovanni: sobre a falsifi cação ca ção (de (de obras- de- arte), arte), 125 125 Morris, Wright, 247 morte, instinto de, 220 “Mourning and Melancholia” (Freud), 64 movimento pelos direitos das mu lheres; ver ve r feminismo Moy nihan, Daniel Daniel P .: sobre sobre ideo ideo logia terapêutica, 280-82 Muktananda, Swami, 47 mulheres: emancipação das, 104, 231; fantasias masculinas sobre as, 247; nos filmes, 232 multiversidade, 183-88 música: e esportes, 142n. Muskie, Edmund G ., 111 Nabokov, Vladimir, 247
narcisismo, 263; e “adamismo”, 28-31; ambiente familiar do, 7677, 211211- 13; e amor- próprio, próprio, 50, 55; antídotos contra o, 38; e autoauto- interesse, interesse, 51-52; e burocr buro cr a cia, 30, 45, 69-73, 274-79; carac terísticas secundárias do, 56 (63), 76, 217; crescente preocupação psiquiátrica com o, 67-68; crítica humanista do, 55-57; e culto da celebridade, 43-44, 4445, 115-17; e envelhecimento, 66, 71-72, 25456, 262; e esquizofrenia, 211-12; etiologia do, 63-66, 211-14; fan tasias pré- edipianas edipianas no, 246; Freud sobre o, 56; e histeria, 236; e imagens fotográficas, 7375; impotência no, 248; incapa cidade de suspender o processo secundário, 129-30; nas mães, 211-17; medo dos desejos instintuais, 245-46; como metáfora da condição humana, 55-57; “novo”, 48, 281-82; primário vs. secun dário, 59-61; promiscuidade no, 65; pseudo- autoconscientização autoconscientização,, 41, 65-66; senso de v azio az io inte rior no, 45-46, 125-26; superego no, 218-21; traços de caráter as sociados ao, 14-15, 57. nazismo, 23 neopaternalismo, 250, 263 e segs., 269; crítica liberal ao, 270-74; e narcisismo, 277-78 neuroses obsessivas, 66 New Deal, 226n., 268, 269, 280 “New Reformation, The” (Good man), 274n. New York Yankees, 156 Nixon, RichardM., 25,105, 109-10; conceito teatral da política, 10912
No g (Wurlitzer), 33 nostalgia, crítica à, 15 Notre Dame, Universidade de, 155 nova esquerda, 35, 37, 45, 52, 96n., 112-14, 187 Nova Fronteira, 186 Novak. Michael: sobre esportes, 156-60
315 31 5
Nystrom, Paul: sobre moda, 103, 104 OceanOcean- HillHill- Brownsville, controvér controvér sia, 273 Office Politics (Sheed), 71 Ohio, Universidade do Estado de, 165 Oliver, Chip, 137, 138n. One Life to Live (novela de TV), 27n. O ’Neill, G eorg e, 49, 243 243 O ’Neill, N ena , 49, 243 Oregon, Universidade de, 165 organização, homem da: declínio do, 69-71, 89, 151 Organização Nacional de Mulhe res (NOW), 241 orgasmo vaginal: mito do, 236 Oswald, Lee Harvey, 116 Oswald, Marina, 116 Ovington, Mary White: sobre o socialismo, 249 Pages from a Cold Island (Exley), 44 pai, ausência do, 214-16, 230-31 Parents on Probation (van Waters), 198 Paris, comuna de, 269 paródia, 127 Parr, Albert: sobre a nostalgia, 15-16 Parsons, T alcott , 197, 218n., 226n. 226n. participação: culto da, 142 Partido Whig, 145 passado: atitudes voltadas para o; v er continuidade paternalismo: e galanteria, 231-32; ver também neopaternalismo paternidade: desvalorização da, 38-39, 207; proletarização da, 207 patriarcado, declínio do, 32 Peale, Norman Vincent, 86 pensamento positivo, 86 Pentágono, Documentos do, 88 permissividade: e agressão, 219-20; na criação de filhos, 207n.; crí tica conservadora à, 278; critica psiquiátrica à, 201-05, 206; na
316
educação, 27; e modelo terapêu tico da autoridade, 222-26; nas relações humanas, 226 "Perpetua” (Barthelme), 39-40 personalidade, 250; conceito variá vel da, 124-25; e cultura, 58-61, 76-77, 91-92; dirigida para o in terior; Durkheim sobre a, 58; mudança histórica na estrutura da, 57, 66-67, 67-70, 91-92, 91 personalidade autoritária, 14 personalidade fronteiriça, 66-67, ‘ 123n 123n., 21111- 12; 12; caracterí característica sticass da, 62; e o teatro do absurdo, 12122; ver também desordens do caráter, narcisismo papel, administração; ver também relações humanas, 223-26 Peter Parley, livros, 84 Phillips , W illi am :, sobre sobre o sen senso de continuidade histórica, 123n. Pirandello, Luigi, 119 Plath, Sylvia: citação, 240 pluralismo, 52 poder negro, 114, 179; na educa ção, 182 Podhoretz, Norman, 39, 173; sobre esportes, 139 politesse: declínio da, 231-32 política: como confrontação, 12-14; como espetáculo, 88-89, 102-12; recuo da, 5, 6 Poor Richard, 82 popularidade, complexo da, pornografia, 244, 246 Portnoy’s Complaint (Roth), 39 potencial humano, movimento pelo, 28; 28 ; ver também movimento pela conscientização Princeton, Universidade de, 154, 162 "privação cultural”, 179 priva tismo, 57; crítica ao, 47-53, 7-53, 218n. processo secundário: suspensão do, 277 profissionalismo, 274-75, 276-77, 281-82; crítica ao, 209n. profissões auxiliares, 193, 194, 20203, 270 progressismo, 269; ataque à fanta sia, 189n.; na criação de filhos,
208; na educação, 181, 202, 22223; origens no século dezenove, 268-70 propaganda, 109; e publicidade, 105-108 propaganda de mercadorias, 44, 103, 221-24; ver também publi cidade Protestant Ethic and the Spirit of Capiíalism, The (Weber), 83n. Pruette, Lorine: sobre o instinto materno, 201n. pseudomutualidade, 213, 217 psicanálise, 201-02, 212-13; preo cupação crescente com o narci sismo, 67-68; e sociologia, 126; suspensão do processo secundá rio na terapia, 130; teoria do narcisismo, 59-61; e teoria so cial, 58-61 psicológico, homem, 14, 33, 245-46 psiquiatria: autocrítica da, 202-05; ver também profissões auxilia res psiquiatria radical, 218n. publicidade, 44, 101-105, 123, 193, 204, 281; e autodúvida, 222; e propaganda, 105-108; ver tam bém bé m propaganda de mercadorias Pulitzer, Joseph, 156 Puritanismo: e chamamento [voca ção], 81-84 qualificação, 266 Quinta Emenda, 166 racismo, 188; e imperialismo, 15051 Rafferty, Max: sobre esportes, 148 Ra hv , Phi lip, sobresobre- o se ntido ntido de continuidade histórica, 123n. Rainwater, Lee: sobre a dependên cia. 95; sobre a proximidade, 238n. realismo, 79-80; no teatro, 119-121; ver também ilusão realização, 151, 162; e celebridade, 87-88
Reforma (Protestante), 168 Reich, Annie: sobre a etiologia do nascisismo, 214-16 Reich, Wilhelm, 218n. relacionamentos sem vínculos, 243 representação do eu, 126-27 reprodução: socialização da, 193, 194-95, 210, 211, 219, 229 revolução nos costumes e na moral, 103; ver também revolução cul tural revolução cultural, 14, 25, 149, 162, 190, 218n.; ver também, contra cultura, nova esquerda Revolução Gloriosa, 170 revolução sexual, 103-104, 233-37; ver também revolução cultural Revolucionário do Alto Reno, 26 Richards, Ellen: sobre o individua lismo egoísta, 195; sobre a in tervenção do Estado na família, 194 Rickover, Rickover, Hyman G ., 176 Rie sm an, Da v id, 153, 226n.{ 226n.{ so bre a direção para os outros, 9195; sobre o hedonismo, 95 rivalidade fraterna: e competição burocrática, 85 Rogin, Michael, 29 Rogow, Arnold: sobre o declínio do superego, 219 Rolling Stones, 96n. Rommel, Erwin (Marechal), 107 Roosevelt, Theodore, 150; sobre os esportes, 147 Rose, Gilbe rt J .: sobre sobre a permisermissividade, 206n.; sobre a proli feração de desordens narcisistas, 67-68 Rosenfeld, Albert: sobre o enve lhecimento, 251-52, 260-61 Roth, Philip, 39 Rothman, David, 209n. Rubin, Jerry, 47, 114; sobre o autodescobrimento, 35-38 Rudd, Mark, 45 Rudolph, Frederick: sobre espor tes universitários, 155 Russell, Bertrand: sobre a trivialização das relações pessoais, 229
317 31 7
Ruth, George Herman ("Babe”), 156 Sade, Sade, Donatien A . F ., Marquês Marquês de: sobre a guerra de tudo conr tra tudo, 97-99 Sage, Russell: sobre a indústria compulsiva, 84 Salk, Instituto, 259 ■ Salk, Lee, 207n. Santayana, George, 39 Sarason, Seymour B.: sobre o medo do aprisionamento, 70n. Saturday Evening Post, 75 saúde mental, movimento pela, 194 saúde pública: como modelo para intervenção terapêutica, 196 Schaffner, Bertram: sobre relações humanas, 205n. Schur. Edwin, 53; sobre o movi mento pela conscientização, 4750 Scoring (Greenberg), 41 Scott, Jack, 137, 149; sobre a com petição, 152-53 Seattle, 29, 45 “Século Americano, The” (Luce), 11
Seeley, Seeley, J ohn R .: sob sobre a atrofia da competência, 276-77; sobre a proletarização da paternidade, 207 segregação: ataque à, 151, 178-81; na educação, 182; ver também direitos civis, movimento segurança, terapia, 93-95 seleçã sele çãoo de de mãomão- de- obra; obra; v er recru tamento industrial Sennett, Richard, 48, 55; crítica ao privatismo, 49-53; sobre Balzac, 125; sobre o conceito va riável de personalidade, 124 sensibilidade terapêutica, 27, 34, 48, 56, 75, 126, 256, 263, 269, 276 sensibilidade, treinamento da, 259 sexo: “dessublimação” do, 233-37 sexo tranqüilo, 243 Shakespeare, William, 121 Sheed, Wilfrid: citação, 71
318
Sheehy, Gail: sobre o ciclo vital, 75; sobre o envelhecimento, 25658 Sherfey, Mary Jane: sobre o orgas mo feminino, 236 Sin and Madness (Sugerman), 57 Sinsheimer, Robert: sobre a mar gem de duração da vida, 260-61 sistema de matérias eletivas opcio nais (educação superior), 184 sistema de sursis, 197 Slater, Philip, 218n. •Slaughterho Slaughterhouseuse- Five (Vonnegut), 123n. Sleeper (Allen), 25 Smith, Mortimer: sobre o acompa nhamento educacional: 176 Soap (comédia (comédia de T V ), 191-92 “sobreviventismo”, 14, 24-25, 26, 50, 75, 77, 80-81, 91-92, 94-97, 97-99, 153; ver também burocra cia, continuidade, guerra de tudo contra tudo social, assistência, 193, 198; v er também profissões auxiliares socialismo, 55; Mises sobre o. 27879; e relações relações homenshomens- mulh mulheres eres , 248-50 socialização, 53, 56, 91-93, 149, 193 e segs., 221-22, 231; na escola, 199 Sófocles, 121 Something Happened (Heller), 90, 116-17, 130, 221 Sontag, Susan: sobre fotografia, 26n.; sobre a imaginação do de sastre, 24n. Spock, Benjamin, 204-05, 207n., 225-26. 256; como crítico da permissibilidade, 202 sputnik, 176 Stanford, Universidade de, 165 Star Wars (Lucas), 119 Stern, Susan: sobre os “Weather men”, 27-29, 45 Studies in Classic American Litera ture (Lawrence), 83n. Success (revista), 85-86 sucesso, 278; ideal variável do, 73n. Sugerman, Shirley, 57
superego, 222-23; conteúdos variá veis do, 32, 116, 219-32, 245; de clínio do, 219-20, Freud sobre o, 56; no narcisismo, 63-64, 213-15; origem do, 33n. Szasz, Thomas, 209n; sobre a adu lação da mentira, 88-90 tanatologia, 251 Tate, Sharon, 115 Taylor, Frederick Winslow, 101 Teachers College (Columbia), 173 teatro do absurdo, 117-22, 127; e as condições fronteiriças, 121-22 teatro de rua, 112-14 teatro da vida cotidiana, 122-27; ver também representação do eu televisão, 164; impacto sobre os esportes, 140-41, 153-54, 157; ver também “mídia” tempo histórico: “irrelevância” do, 12; ver também continuidade, história tempo: sentido de, 80, 97, 123n., 230, 262; ver também continui dade T estes de de A ptidão Escolástica, 164 164 Think and Grow Rich (Hill), 86 T hompson, hompson, E. P ., 16 Three Journeys (Zweig), 39 T hurber hurber , J ames, ames, 247 247 Tocqueville, Alexis de, 52; sobre o A dão americano, 29 29 trabalho: degradação do, 134, 159, 162, 209n. trabalho do menor, 194 transcendentalismo, 29 treinamento militar para todos, 177 universidade, 191; como reflexo da sociedade, 183-92; origens da, 183-84; ver também multiversidade Ure, Andrew: sobre o sistema fa bril, 90-91 V an Wate Wa terr s , M ir ia m : sobre sobr e a in tervenção estatal na família, 198;
sobre a intervenção profissional na família, 201n., 224; sobre o tribunal de menores, 197-98 V e ble n, T hor s tein, te in, 133, 264; 264 ; so bre a disciplina industrial, 17071; sobre esportes, 145-46 V e ith, it h, ll z a : sobre sobr e padr ões v a r iá veis das desordens psíquicas, 68 velhice: medo da, 251 e segs.; ver também envelhecimento vida enérgica, culto da, 144-49 vida, expectativa de, 252 V ila s , G uill ui ll e r mo , 144 virtuosismo: no esporte e na mú sica, 138n. V onne on ne g ut, ut , K ur t: cita ci tação, ção, 42, 123n., 123 n., 246 Wag W ag ne r , Ric Ri c har ha r d, 123 123 W al le r , W il la r d, 175; sobre sobr e o he donismo, 234 W a ls h, Chr is ty , 157 W a r ho l, A ndy : sobre sobr e o autoauto- esrcutínio, 125-26, 131 W as hing hi ng to n, Geor Ge orgg e, 173 Wa W a s hing hi ng to n, Univ Uni v er s ida de do Es tado de, 148 Was W as te land, la nd, T he (Eliot), 42 Wate Wa te r g ate at e , 25, 105, 111-12 Wat W at s on, Fr ank Dekk De kk er : sobr e a f a mília, 199 Wat W atss on, on , J ohn oh n B ., 200 Wea W ea the r men, me n, 27, 28, 114 We W e ber be r , Ma x , 275; sobr e F r ank an k lin, li n, 83n. Wes W es t, Na tha nae na e l, 247 Whee W hee lis li s , A lle ll e n: sobre sobr e padr ões v a riáveis das desordens psíquicas, 67 W ho le Ee ar th Cata Ca talog log ue, 24 Why W hy te , W il l ia m H . , J r . , 92 W il k ins in s o n, B ud, 134 W il li a m s , T ennessee, enness ee, 247 W il s on , E dm und, un d, 44 W ils il s on, on , W oo dr ow , 150 W in d , E dg ar d, 125, 159 Win W inss cons co ns in v . Y oder ode r , 271 271 W itho it ho ut Feather Fe ather s (Allen), 40
319
W o l f e , T o m , 48; s obre obr e o nov no v o n a r cisismo, 25-27 W o l f e n s t e in, in , Mar Ma r t ha: ha : s obre obr e o de clínio do ciúme, 234; sobre a moça boaboa- má, 234n.; sobr sobr e a m o ralidade do prazer, 93 Wol W olll s t o ne necc r a f t , Mar Ma r y , 233 W o o ds t o c k (fe (f e s t ival iv al de "ro "r o c k ” ), 96n. W ur lit li t z e r , R u d o l p h : c ita it a ç ão, 33 W y l ie , P h i l i p , 247
Y al e, Univ Uni v er si dade dad e de, 144, 155, 162 Zaretsky, Eli, 249 Zhukov, Georgi (Marechal), 111 Ziegler, Ron: sobre declarações “inoperantes”, 105 Zweig, Paul, 41; citação, 43: sobre a descoberta de si mesmo, 37, 39; sobre o vazio interior, 46-47
CIP- Br asil. Catalo Catalogaçã gaçãoo- nana- fonte fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. 1.354c
83-0055
Lasch, Christopher. A C ult ul t ura ur a do nar na r cis ci s ismo is mo : a v ida id a amer am er ican ic anaa numa num a era dc esperanças em declínio / Christopher Lasch ; tradução fde] Ernani Pavaneli. — Rio de Janeiro : Imago, 1983. (Série Logoteca) 1. Tradução de: The Culture of narcisism. Bibliografia. 1. Estados Estados Unidos — Condiçõ Condições sociais I. T ítulo ítulo I I. T ítulo : A V ida americana numa numa era de de espe esperan rança çass em de clínio III. Série CDD — 309.173 CDU — 308(73)