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A ESCOLA CONSERVADORA: AS DESIGUALDADES FRENTE À ESCOLA E Á CULTURA, POR PIERRE BOURDIEU. Leandro de Araújo Crestani1 No texto analisado Pierre Bourdieu diz que muitos entendem o sistema escolar como um fator de mobilidade social, porém há um mecanismo de eliminação que age durante todo o “cursus”. Trabalhando a perspectiva que “um jovem da camada superior tem oitenta vezes mais chances de entrar na Universidade que o filho de um assalariado agrícola e quarenta vezes mais que um filho de operário, e suas chances são, ainda, duas vezes superiores àquelas de um jovem de classe média”. (BOURBIEU, 1998, p.41). Nota-se que a família transmite aos seus filhos, certo “capital cultural” ou “ethos”. Segundo Bourdieu a herança cultural difere sob dois aspectos: a classe social que “é a responsável pela diferença inicial das crianças diante da experiência escolar e, consequentemente, pelas toscas de êxito”(BOURDIEU, 1998, p.42). Bourdieu utiliza a terminologia “capital cultural” para explicar a relação, muitas vezes constatada, entre o nível cultural global da família e o êxito escolar da criança. Desse modo, os ‘bons alunos’ cresce de acordo da renda de suas famílias. Outro fator “a proporção de bons alunos varia de maneiras significativa segundo o pai não seja diplomado, ou seja, bachelier”(BOURDIEU, 1998, p.42). Podemos entender que o êxito escolar do meio familiar, influência no êxito do educando, assim como a questão dos conhecimentos culturais da família (teatro, música, jazz, cinema, livros e outros). Assim o nível cultural permite explicar as variações mais importantes do êxito escolar, mesmo em um nível elevado do cursus.
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Acadêmico do Curso de História (UNIMEO/CTESOP), e Normal Superior (UEM) e Pós-graduando em História Regional (UNIMEO/CTESOP).
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A “transmissão do capital cultural”, está relacionado a classe social que a família pertence. Entende-se como processo de aculturação que ocorre desde a antiguidade e contínua a separar os indivíduos aparentemente iguais tantos no êxito social quanto no escolar. Crianças oriundas de meios mais favorecidos herdam hábitos e treinamentos usados nas atividades escolares. Outro fator questionado por Bourdieu é a “escolha do destino”, pois,“as atitudes dos membros das diferentes classes sociais, pais ou crianças e, muito, particularmente, as atitudes a respeito da escola, da cultura escolar e do futuro oferecido pelos estudos são, em grande parte, a expressão do sistema de valores implícitos ou explícitos que eles devem à sua posição social”. (BOURDIEU, 1998, p. 46). De fato, podem dizer que a escolha de um curso, ou local onde se deseja estudar, na maioria dos casos exprime concordância plena entre a vontade da família e as orientações por ela. Para Bourdieu as condições objetivas que definem as atitudes dos pais e que dominam as escolhas da carreira escolar. Se o “capital cultural” influência na ascensão escolar, o filho de um operário tem duas chances em cem de chegar ao ensino superior. “Regulam seu comportamento objetivamente pela estimativa empírica dessas esperanças objetivas, comuns a todos os indivíduos de sua categoria”. (BOURDIEU, 1998, p. 48). Entretanto, as crianças e sua família, como aponta Bourdieu, se orientam sempre em referência às forças que as determinam.
Chegando a escolher e a
obedecer a inspiração irredutível do gosto ou da vocação. A influência do meio familiar e do contexto social, segundo Bourdieu, tendem a desencorajar ambições percebidas como desmedidas e sempre mais ou menos suspeitas de renegar as origens. Isto é, “o capital cultural e o ethos, ao se combinarem, para definir as
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condutas escolares e as atitudes diante da escola, que constituem o princípio de eliminação diferencial das crianças das diferentes classes sociais”. (BOURDIEU, 1998, p. 50). Ainda sobre a escolha do destino o “capital cultural” legado pelo meio familiar, desempenha papel fundamental na escolha da orientação, principalmente do prosseguimento dos estudos. Todavia, por falta do “capital cultural”, grupo menos favorecido têm menos oportunidades, funcionando como superseleção. Mostrando que, “as vantagens ou desvantagens
sociais
são
convertidos
progressivamente
em
vantagens
e
desvantagens escolares pelo jogo das orientações precoces, que, diretamente ligados à origem social, substituem e redobram a influência desta última”. (BOURDIEU, 1998, p. 52). “A escolha do destino”, as atitudes dos membros das diferentes classes sociais são em grande parte expressão dos valores implícitos ou explícitos que eles devem à sua classe social. Prevalece à vontade dos pais, há uma concordância entre a vontade dos pais e as decisões tomadas. As escolhas precoces para Bourdieu, comprometem as oportunidades de atingir este ou aquele ramo do ensino superior e de nele triunfar. Bourdieu ao apontar o funcionamento da escola e sua função de conservação social, diz que
“é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Em outras palavras, tratando todos os educandos, por mais desiguais que sejam eles de fato, como iguais em direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura”.(BOURDIEU, 1998, p. 53).
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Sobre a “escola e prática cultural”, Bourdieu mostra que o acesso à pesquisa científica, obra culturais, permanece como privilégio das classes cultivadas. Os mesmos indivíduos têm oportunidades mais numerosas, mais duradouras, mais extensas de freqüentar museus, viagens turísticas, enriquecem a prática cultural. O mecanismo de eliminação que age durante toda a carreira escolar do estudante (cursus), mostra o “capital social”, como único meio
de designar o
fundamento de efeito social, as relações são visíveis em todos os casos em que diferentes individuo, obtêm um rendimento muito desigual de um capital econômico ou cultural. Assim, o “capital social” é o conjunto de recursos culturais ou potenciais de uma rede durável de relações vinculadas a um grupo. Bourdieu procura identificar e detalhar a ação dos mecanismos objetivos de seleção cultural e social utilizados pela escola, instituição vista como uma instância cuja finalidade implícita seria a de manter o “status quorum” e legitimar as desigualdades sociais e culturais existentes fora dela. Tal legitimação se daria mediante um processo no qual as desigualdades sociais e culturais entre as classes viriam a ser convertidas na escola em desigualdades de desempenho escolar. O autor indica que a escola, ao contrário do que é afirmado pelas ideologias defensoras da igualdade de oportunidades medida pela escola é uma instituição que teria na realidade um papel de suma importância na manutenção das desigualdades sociais e culturais, na medida em que, mesmo ampliando o acesso das classes nãodominantes à escola, devido aos mecanismos de seleção social e cultural contidos em seu interior, esta continuaria a frustrar o êxito desses alunos, enquanto consagraria os esforços daqueles pertencentes às classes dominantes.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educação. Organizadores: NOGUEIRA, Maria Alice.; CATANI, Afrânio. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
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