O PASSADO CRIADO: A INVENÇÃO DA TRADIÇÃO Leandro Santos de Lima Luiz Carlos Borges Miriam Della Posta de Azevedo Raquel Lisboa Renata Ferreira Costa Vanuza Luiz
1. Introdução
Discutir a temática da invenção da tradição sobre a história de São Paulo, significa antes de qualquer coisa, refletirmos sobre duas questões: a primeira diz respeito, como nos lembra Raquel Glezer 1, à importância de conhecermos como se constituiu em nossa historiografia a produção do conhecimento histórico, a segunda, refere-se sem dúvida nenhuma em recuperar o que se constituiu ideologicamente como tradição, engendrando-se práticas sociais que vincularam comportamentos e a edificação de personagens situados no âmbito das representações do passado paulista, sendo assim, apresentamos apresentamos a seguir os critérios em que nosso trabalho foi concebido. Num primeiro momento, para tratar dessa imagem histórica construída de São Paulo, apresentaremos apresentaremos como itinerário procedimental/ teórico-metodológico teórico-metodológico escolhido para a fundamentação deste trabalho, as contribuições de Eric Hobsbawm e de Roger Chartier 2, o primeiro por problematizar a questão da tradição inventada no conjunto de suas práticas, que desenham e dão forma ao passado histórico. O segundo, por tratar da representação, como “noção” edificada no estudo da historiografia contemporânea, situada no campo da História da Cultura, o que nos permite um referencial analítico significativo para a análise crítica dos modos de pensar, de sentir e de se produzir às tradições inventadas. Nesta perspectiva, a partir dessas possibilidades teóricas articuladoras, pode-se pensar a questão da invenção da tradição, como significativo eixo temático de análise, o que nos permite retomar a dicotomia discutida introdutoriamente pela Profª Raquel Glezer, quão seja, “o que todo mundo sabe” e “o que ninguém conhece” sobre São Paulo. Certamente, os muitos hiatos sobre sua
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Veja Historiografia Brasileira em Debate: Olhares, Recortes e Tendências. Organizado por Eni de Mesquita Sâmara, CEDHAL/ FFLCH/ USP, p. 26. 2 Veja referências ao final do trabalho.
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história, nos fazem questionar os sensos comuns, ampliando nossa perspectiva analítica sobre este eixo analítico. Como campo de discussão para este trabalho, trataremos da história tradicional de São Paulo, analisando iconografias em que a figura do Bandeirante se apresenta solidificada, concretizada, como canal representativo dessa tradição inventada, tanto pelo horizonte arquitetônico através de monumentos, quanto pelas artes plásticas, edificada através de quadros, repetidamente encontradas em diferentes territórios por todo Estado de São Paulo, bem como nos livros didáticos de história do Brasil, lembrando-se que sua relevância, também é pertinente ao momento de sua produção, concebendo-se concebendo-se uma narrativa condicionada. condicionada. Focalizando analiticamente, a História como processo de compreensão do presente, vale lembrar que dessa história tradicional é relevante destacar que a “grandeza do território foi um feito da bravura heróica do Bandeirante, forjado para o engrandecimento da pátria” e de São Paulo (CHAUI, 2001, pp 5 - 6), assim sendo, não pode escapar aos olhos o que é ou não significativo para um tempo, uma sociedade. Entretanto, ao falarmos de uma tradição inventada, precisamos levar em consideração que na linearidade construída de muitos relatos e nas variadas tentativas de explicação de dados e fatos ocorridos, a produção de obras, correspondem ao momento em que foram produzidas, sendo relevante que situemos a partir desta problemática, o relativismo destas produções. Logo, torna-se fundamental que olhemos as fontes como possibilidades permanentes de análise crítica, pensando-se na perspectiva de quem as produziu e de onde as produziu. Nesse sentido, partimos num segundo momento para uma definição de modelos explicativos como sustentação e subsídios instrumentais para a posterior análise da tradicional imagem de São Paulo e de suas personagens, tendo-se como referencial, o Bandeirante, no sentido de se compreender a dinâmica da representação que produziu diferentes imagens sobre estes e que se cristalizaram no âmbito das tradições. Assim, numa tentativa do grupo de aproximar a produção historiográfica paulista paulista e brasileira às tendências político-econômicas de seus respectivos contextos históricos, discutimos uma periodização, que percorre os séculos XVIII, XIX e XX (até 1970), em que apresentamos
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autores que se
destacaram na construção, ou no questionamento e superação, da imagem histórica de São Paulo, sendo a síntese de suas produções, fontes históricas importantes como produto cultural de dado
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Extraídos de BLAJ, Ilana. “A Construção das Imagens”. A Trama das Tensões – O processo de mercantilização de São Paulo colonial (1681-1721). São Paulo: Humanitas, FAPESP, FFLCH/USP, 2002, pp. 40 – 85.
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história, nos fazem questionar os sensos comuns, ampliando nossa perspectiva analítica sobre este eixo analítico. Como campo de discussão para este trabalho, trataremos da história tradicional de São Paulo, analisando iconografias em que a figura do Bandeirante se apresenta solidificada, concretizada, como canal representativo dessa tradição inventada, tanto pelo horizonte arquitetônico através de monumentos, quanto pelas artes plásticas, edificada através de quadros, repetidamente encontradas em diferentes territórios por todo Estado de São Paulo, bem como nos livros didáticos de história do Brasil, lembrando-se que sua relevância, também é pertinente ao momento de sua produção, concebendo-se concebendo-se uma narrativa condicionada. condicionada. Focalizando analiticamente, a História como processo de compreensão do presente, vale lembrar que dessa história tradicional é relevante destacar que a “grandeza do território foi um feito da bravura heróica do Bandeirante, forjado para o engrandecimento da pátria” e de São Paulo (CHAUI, 2001, pp 5 - 6), assim sendo, não pode escapar aos olhos o que é ou não significativo para um tempo, uma sociedade. Entretanto, ao falarmos de uma tradição inventada, precisamos levar em consideração que na linearidade construída de muitos relatos e nas variadas tentativas de explicação de dados e fatos ocorridos, a produção de obras, correspondem ao momento em que foram produzidas, sendo relevante que situemos a partir desta problemática, o relativismo destas produções. Logo, torna-se fundamental que olhemos as fontes como possibilidades permanentes de análise crítica, pensando-se na perspectiva de quem as produziu e de onde as produziu. Nesse sentido, partimos num segundo momento para uma definição de modelos explicativos como sustentação e subsídios instrumentais para a posterior análise da tradicional imagem de São Paulo e de suas personagens, tendo-se como referencial, o Bandeirante, no sentido de se compreender a dinâmica da representação que produziu diferentes imagens sobre estes e que se cristalizaram no âmbito das tradições. Assim, numa tentativa do grupo de aproximar a produção historiográfica paulista paulista e brasileira às tendências político-econômicas de seus respectivos contextos históricos, discutimos uma periodização, que percorre os séculos XVIII, XIX e XX (até 1970), em que apresentamos
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autores que se
destacaram na construção, ou no questionamento e superação, da imagem histórica de São Paulo, sendo a síntese de suas produções, fontes históricas importantes como produto cultural de dado
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Extraídos de BLAJ, Ilana. “A Construção das Imagens”. A Trama das Tensões – O processo de mercantilização de São Paulo colonial (1681-1721). São Paulo: Humanitas, FAPESP, FFLCH/USP, 2002, pp. 40 – 85.
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momento, uma vez que abarcam, conceitos, problemas, fontes e diferentes narrativas, fundamental para que evitemos anacronismos na análise histórica. A caminho de uma conclusão, em se tratando de termos de nosso objeto de análise situado no âmbito do estudo da figura do Bandeirante, trazemos como fonte para análise/interpretação e debate, a produção sobre o IV Centenário da Cidade de São Paulo, de Silvio Luiz Lofego, em que a invenção da tradição é retomada pelo “movimento pendular entre Memória e História”, apoiada no mito do Bandeirante, Bandeirante, utilizado, segundo ele, para “justificar o progresso material e o espírito empreendedor empreendedor de seus filhos e o lugar de predestinado progresso, por ser berço dos bravos sertanistas” (LOFEGO, (LOFEGO, 2004, pp.11-12). Eis aí mais uma vez concretizada a invenção da tradição.
2. A invenção da tradição segundo Eric Hobsbawm
A respeito do autor: Nascido em 9 de junho de 1917, em Alexandria, no Egito, enquanto ainda se encontrava sob domínio britânico, Eric Hobsbawm é um historiador marxista dedicado à história contemporânea que tem como um de seus interesses o desenvolvimento das tradições. É membro da Academia Britânica e da Academia Americana de Artes e Ciências. Foi professor de História no Birkbeck College e ainda é professor da New School for Social Research de Nova Iorque 4. Discussão: O periódico Past & Present, do qual Eric Hobsbawm faz parte do corpo de editores organizou uma conferência que partiu do seguinte pressuposto “muitas vezes, tradições que parecem ou são consideradas antigas são bastante recentes, quando não são inventadas”. 5 A obra denominada A invenção das tradições , organizada por Hobsbawm e Ranger, é proveniente desta conferência.
No livro, Hobsbawm faz uma breve discussão conceitual a respeito do termo “tradição inventada” a fim de observá-lo como um fenômeno comum nas relações sociais. Seu estudo parte desta contextualização para entender, de maneira mais específica, a construção de tradições políticas para o estabelecimento da legitimidade dos novos estados, como instrumentos de coesão social. As idéias de Hobsbwm a respeito do assunto são, portanto, relativas ao estudo do modo com que surgem e se estabelecem a tradição. 4
Referencias biográficas provenientes da wikpedia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Eric_Hobsbawm, acesso em 12.04.2009. HOBSBAWM, Eric. "Introdução: A Invenção das Tradições". In: HOBSBAWM, Eric & RANGER, Terence (orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p.9.
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O termo “tradição inventada” tem um sentido amplo: pode ser realmente inventada ou construída e formalmente institucionalizada. Conceitua-se como “conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado” 6. A reflexão a respeito da invenção da tradição é considerada tão interessante pelo autor por fazer parte de um mundo de constantes mudanças que buscam reestruturar alguns aspectos da vida social de maneira imutável. O estudo ressalva a necessidade de diferenciarmos a “tradição”, caracterizada pela invariabilidade, do “costume” que se transforma segundo necessidades sociais. O costume confirma o precedente, “atribuindo continuidade histórica e direitos naturais conforme o expresso na história”. 7 Os dois conceitos estão associados, de maneira que, a queda de um determinado costume deve também modificar a tradição. A rotina, por sua vez, deve ser entendida como o conjunto de operações práticas de justificativa técnica e não ideológicas que ocupam um lugar oposto ao da tradição. Apenas após a liberação do uso prático, objetos podem ser plenamente usados de maneira simbólica. “A invenção da tradição é essencialmente um processo de formalização e ritualização, caracterizado por referir-se ao passado, mesmo que apenas pela imposição da repetição” 8. O processo exato de formação dos complexos simbólicos e rituais ainda aparece, frequentemente, como um estudo pouco adequado, segundo Hobsbawm. O autor acredita na existência de uma escassez de fontes que indiquem a elucidação dos processos, uma vez que, em muitos casos, as tradições são deliberadamente inventadas e não necessariamente documentadas. Além disso, técnicas relativas a este tipo de investigação não são “comumente conhecidas por historiadores da era industrial” 9, ainda que considere improvável a existência de lugares e tempos investigados nos quais as tradições não tenham sido inventadas. Ocorre, contudo, que as freqüentes mudanças do mundo moderno provocam a necessidade de invenção de novas tradições. A transformação dos padrões sociais estabelecidos torna-os incompatíveis à manutenção de tradições sem capacidade de adaptação ou flexibilidade relativa às novas exigências do comportamento humano. Há que se perceber, entretanto, que as novas tradições são, comumente, inventadas a partir de antigos elementos para novas finalidades. A apropriação de práticas existentes é institucionalizada, a partir de uma composição de símbolos que possam fornecer uma conexão com o passado para os propósitos atuais. Da mesma maneira que símbolos novos são
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Ibidem, idem, p. 9. Idem, p. 9. 8 Idem, p. 12. 9 Idem, p. 12. 7
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inseridos na tentativa de concretizar novas tradições. O uso de hinos e bandeiras para a personificação dos Estados-Nação é usado, a título de exemplo, pelo autor na discussão. Para finalizar esta breve discussão teórica, Hobsbawm aponta três possibilidades de tradição inventada. A primeira se refere ao estabelecimento da coesão social, a segunda à legitimação de instituições e a terceira à imposição de valores, idéias e padrões de comportamento social. Sendo que, a primeira, segundo o autor, é que aparece com preponderância. Mesmo percebendo que as tradições inventadas possuem cada vez menos a força coercitiva que as tradições antigas e que ocupam cada vez menos espaço na vida particular das pessoas, seu estudo constitui parte fundamental do ofício do historiador. Estes fenômenos constituem indícios, sintomas que não devem ser desvinculados de uma ampla contextualização da história das sociedades. Hobsbawm se apropria do estudo das tradições em busca de um possível esclarecimento do desenvolvimento “das relações humanas com o passado e, consequentemente, a história da história e do ofício de historiador. Isso porque toda tradição inventada, na medida do possível, utiliza a história como legitimadora das ações e como cimento da coesão grupal” 10. A discussão exposta nos fornece subsídios para um exercício de articulação a respeito da construção histórica e historiográfica de São Paulo. A compreensão das representações simbólicas deve ser analisada como forma de coesão social e estruturação do estado. O estudo das tradições e da tentativa de entender a origem de sua invenção, localizando suas causas e desenvolvimento, fornece uma nova abordagem contextual da história na medida em que nos permite identificar o que foi deliberadamente selecionado e institucionalizado na tradição popular, a partir de interesses específicos. De acordo com Santos, “Hobsbawm considerava neste livro que os historiadores deveriam estar atentos a esta dimensão de suas atividades. O que tem nos levado a defender a Historiografia como um campo específico da pesquisa histórica, sob a exigência da necessária construção de uma epistemologia crítica da história - algo que ainda encontra muitas resistências em ambientes acadêmicos aprisionados num empirismo rudimentar e em velhas superstições positivistas.” 11. A discussão da construção historiográfica de São Paulo que se realizará em seguida se apresenta, portanto, como importante ferramenta na interpretação destes fenômenos sociais.
10 11
Idem, p. 21.
SANTOS, Afonso Carlos Marques dos. Eric Hobsbawm: http://www.ifcs.ufrj.br/humanas/0017.htm. Acesso em 11.04.2009.
a
História
como
síntese
. interpretativa
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3. A historiografia sobre o Bandeirante no século XVIII e início do século XIX 3.1. Frei Gaspar da Madre de Deus e Pedro Taques de Almeida Paes Leme
Em Memórias para a História da Capitania de São Vicente (1797), Frei Gaspar da Madre de Deus escreve que “as fábulas respectivas à Capitania de S. Vicente, publicadas pelos estrangeiros nas suas histórias, todas, ou a maior parte delas, se originaram de algum fato verdadeiro, viciado pelos escritores”12. Nessa obra, o beneditino objetiva desconstruir as ditas “fábulas” difundidas especialmente por Pierre Charlevoix e por José Vaissette, cujas obras, fundamentadas nos escritos dos padres Antonio Ruiz de Montoya, Nicolau del Techo e do dr. Francisco Xarque de Andela, procuravam denegrir o valor dos primeiros paulistas, para construir a “verdadeira” história da Capitania de São Paulo e de seus naturais. Antonio Ruiz de Montoya e Nicolau del Techo, padres jesuítas que viveram no Paraguai no século XVII, retrataram em suas obras, Conquista Espiritual hecha por los religiosos de la Compañia de Jesus, en las provincias del Paraguay, Paraná, Uruguay y Tape Paraguariae Societatis Jesu
(1639) e Historia e Provincia e
(1673), respectivamente, a ação dos paulistas em suas expedições de
apresamento do gentio, com certo desprezo e aversão. Segundo Abud 13, a penetração dos paulistas em regiões pertencentes à Espanha, como o Guairá, o Paraguai e o Uruguai, invadindo as missões jesuíticas em busca de índios para escravizar, suscitou a ira dos padres, porque ia contra os seus interesses, o que deu origem a “uma lenda de ferocidade e selvageria, que foi particularmente alimentada pelos padres, que como vítimas desses ataques, deixaram uma bibliografia farta, (...) com a intenção de convencer as autoridades espanholas de defender as missões contra aqueles ataques”. Francisco Xarque de Andela, que mantinha estreitas ligações com a Companhia de Jesus, escreveu Insignes Misioneros de la Compañia de Jesus en la provincia del Paraguay (1687), obra inspirada na Conquista Espiritual , de Montoya, e que, por isso, também traz uma imagem negativa dos paulistas e do seu modo de vida. Sobre Francisco Xarque, Pedro Taques, que, assim como Frei Gaspar, refuta a opinião dos escritores estrangeiros a respeito dos paulistas, escreve que é “arredado da verdade e odioso aos paulistas, aos quais trata com o caráter de mamelucos e lobos carneiros contra os
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MADRE DE DEUS, Frei Gaspar da. Memórias para a História da Capitania de São Vicente; prefácio de Mário Guimarães Ferri, Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1975, p. 137. 13 ABUD, Kátia Maria. O Sangue Itimorato e as Nobilíssimas Tradições (A Construção de um Símbolo Paulista: o Bandeirante). Tese de Doutorado. São Paulo: FFLCH-USP, 1985, pp. 90-91.
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índios cristãos da redução dos padres da companhia de Jesus. Por isso não merece muito crédito no sucesso que relata” 14. Pierre François Xavier de Charlevoix, padre jesuíta autor de História do Paraguai, e José Vaissette, monge beneditino que escreveu a História Geográfica, Eclesiástica e Civil , nunca estiveram no Paraguai, mas escreveram suas obras inspirados em Montoya e del Techo, como afirma Frei Gaspar: “O Jesuíta Charlevoix caminha por estrada escorregadiça como a de Vaissette; e bem se percebe que ambos beberam no mesmo charco”15, ajudando, assim, a disseminar a imagem dos paulistas como um povo rebelde, violento e voluntarioso, o que se convencionou chamar, mais tarde, de “legenda negra”. Criticando e rebatendo os eruditos franceses pelo uso de notícias falsas e difusão de fábulas, Frei Gaspar escreve: As paixões cegam os homens e ofuscam os entendimentos. Charlevoix era Jesuíta; tinha lido nos escritos de seus sócios as conquistas dos paulistas nas Aldeias sujeitas à extinta Companhia de Jesus, quando principalmente estávamos em guerra com a Espanha: sabia que os paulistas expulsaram da sua Capitania os mesmo Jesuítas: esta injúria era muito sensível a toda a Sociedade: os seus indivíduos não se descuidaram de encobrir as verdadeiras causas do seu extermínio e de representarem nos seus escritos os paulistas como iníquos e depravados, para que somente sobre eles recaísse todo o opróbrio. Todas estas razões de tal sorte enfureceram a Charlevoix contra os moradores da Capitania de São Vicente, que lhe faltaram as luzes intelectuais necessárias para discernir o verdadeiro do falso. 16 Eu tenho por certo (...) que este meu irmão [José Vaissette] se envergonharia de ter iludido o público com o que escreveu a respeito de São Paulo e dos paulistas, se viera a esta Capitania e pelos cartórios dela chegasse a conseguir uma leve instrução verdadeira dos fatos antigos, que publicou mal informado. 17 Assim, na segunda metade do século XVIII surgem as obras de Frei Gaspar da Madre de Deus e Pedro Taques de Almeida Paes Leme, que se destacam pela glorificação do antigo paulista e pela reconstrução quase heróica do passado da Capitania de São Vicente, como reação à campanha difamatória dos cronistas jesuítas empreendida desde o século anterior. Na obra de Pedro Taques destaca-se todo um universo de honra, de prestígio e de nobilitação a que estavam ligados os primeiros povoadores de São Paulo, o próprio título de sua obra principal traz essa idéia: Nobiliarquia Paulistana, o que, conforme Abud 18, “está presente no próprio conceito que se 14
LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Notícia Histórica da Expulsão dos Jesuítas do Colégio de São Paulo. São Paulo: Melhoramentos, s/d, pp. 178-179. 15 MADRE DE DEUS, Frei Gaspar da, op. cit., p. 130. 16 Idem, p. 105. 17 Idem, p. 119. 18 ABUD, Kátia Maria, op. cit, p. 76.
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pode formar, pela sua leitura, do bandeirante”.19 A nobreza dos paulistas, para Pedro Taques, justificada pelos cargos que ocuparam na República e pela quantidade de terras que possuíam, encontra suas origens em uma raça pura, proveniente do sangue português nobre, livre de qualquer mácula, o que revela seu preconceito contra toda e qualquer mistura de sangue. Atitude diferente tinha seu primo Frei Gaspar da Madre de Deus, para quem a miscigenação do português com o indígena havia criado uma nova raça, “cujas raízes se encontram em João Ramalho e Tibiriçá, em Antonio Rodrigues e Piquerobi” 20 e cujas características a enobreciam, visto que: Eram os mamelucos os melhores soldados dos exércitos assoladores das Missões: eles muitas vezes foram os Chefes das Tropas conquistadoras, e por eles mandavam seus pais atacar os índios bravos, por conhecerem a suficiência destes filhos bastardos, criados na guerra, e acostumados ao trabalho, e por isso mais robustos e mais aptos do que os brancos para suportarem os incômodos dos Sertões. 21 O trecho citado acima é uma resposta à afirmação de Charlevoix de que da mestiçagem com o indígena, traço marcante da sociedade paulista, havia surgido uma “geração perversa”, o que se configurava em uma grande ofensa para o beneditino, que identifica no índio sua ancestralidade: Afirmar o Autor que da mistura do sangue saiu uma geração perversa, é supor que o sangue dos índios influiu para a maldade, suposição que muito desonra, senão a crença, ao menos o juízo de um sábio Católico; (...) a experiência sempre mostrou que os indivíduos nascidos desta união reluzem aquelas qualidades, que caracterizam em geral os indígenas do Brasil, tais como uma alma sensível, benéfica e desinteressada. 22 Essa “aparente ‘liberalidade’ do pensamento de Frei Gaspar”, conforme Abud 23, não alcançou, no entanto, os mulatos e os negros africanos, que foram ocultados da fundação de São Paulo não só por ele, mas também por Pedro Taques, Charlevoix, Vaissette e todos os cronistas anteriores. A construção de uma imagem nobre e heróica para o paulista é uma forma de refutar o que diziam os cronistas estrangeiros sobre serem os primeiros habitantes do planalto degredados e foragidos da justiça:
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É importante ressaltar aqui que as palavras “bandeirante” e “bandeira” não foram, em momento algum, enunciadas nas obras de Pedro Taques e de Frei Gaspar. Como sinônimos de “bandeirante” aparecem: paulista, conquistador, descobridor, chefe de tropas ou sertanista; como sinônimos de “bandeira”, temos: expedição, entrada, tropa; referindo-se às “bandeiras”, encontrarmos o verbo “penetrar” e a expressão “buscar remédio”. 20 ABUD, Kátia Maria, op. cit., p. 95. 21 MADRE DE DEUS, Frei Gaspar, op. cit., p. 131, nota 163. 22 MADRE DE DEUS, Frei Gaspar, op. cit., p. 131, nota 162. 23 ABUD, Kátia Maria, op. cit., p. 94.
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Como há de provar Vaissette que mulatos foragidos concorreram para a fundação de São Paulo, se na era em que ela teve princípio havia poucos pretos da África no Brasil (...)? 24 Um outro assunto tratado por Frei Gaspar, e omisso a Pedro Taques, foi a ocupação das terras pertencentes à Castela pelos “bandeirantes”, que fundamenta a expansão do território da Capitania de São Vicente, valorizando ainda mais a figura dos paulistas como grandes conquistadores, dignos de todas as glórias e de todas as honras pelos serviços prestados à Coroa: (...) porque os intrépidos moradores da Capitania de São Vicente, nos quais, ou por força de fado ou por desgraça da sua Capitania e ventura das outras, sempre foi predominante a paixão de conquistar, não satisfeitos com povoarem, ainda que mal, toda a costa do seu Donatário e a do outro de Santo Amaro, seu vizinho, passaram adiante da Ilha de Santa Catarina, onde Domingos Brito Peixoto, natural de São Vicente, fundou a Vila da Alaguna, estendendo o terreno dela até Maldonado, pois até lá chegaram vários atos que fez de posse, em benefício da coroa portuguesa. Pelo sertão, atravessou a animosidade dos Paulistas, com indizíveis trabalhos, os fundamentos de todas as Capitanias Brasílicas, em cujos domínios, depois de afugentarem inumeráveis gentios, descobriram as Minas Gerais, as de Goiás, as de Cuiabá, e as de Mato Grosso; e como tudo quanto descobriram os valorosos naturais das Vilas sujeitas à de São Vicente, se reputava parte desta Capitania, chegou ela a apossar-se de quase todos os fundos dos outros Donatários. 25 A escravização indígena, motivo de tanta discórdia com os jesuítas e da fama de belicosos, violentos e rebeldes, atribuída aos paulistas, é justificada pelos dois autores como imprescindível como mão-deobra para o cultivo da terra e para a descoberta das minas, servindo, assim, aos interesses da Coroa: Também é certo que os moradores da Capitania de São Vicente, principalmente os de Serra acima, se esqueceram algumas vezes das Leis Divinas e humanas, respectivas à inteira liberdade dos índios: mas é necessário confessar que a esperança moralmente certa do perdão, e a experiência das condescendências com eles tantas vezes praticadas nesta matéria, por interesse do Estado, principalmente de Descobrimentos de ouro, sumariamente recomendados pela Corte aos paulistas, foi a causa principal de transgredirem as leis, abusando daqueles únicos casos em que as mesmas permitiam o cativeiro ou a Administração dos Índios. 26 Alguns anos sofreram os paulistas os danos que recebiam da falta dos serviços dos índios, que já não gozavam para benefício da cultura das terras que lavravam (...) e querendo os paulistas trabalhar nestas minas, alugando índios para o labor, como faziam até o ano de 1602, (...) foram experimentando e recebendo ofensas dos jesuítas, que tinham arrogado a si o governo temporal de todo o gentio. 27
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MADRE DE DEUS, Frei Gaspar, idem, p. 134. Idem, pp. 30-31. 26 MADRE DE DEUS, Frei Gaspar, op. cit., p. 135. 27 LEME, Pedro Taques de Almeida Paes, op. cit., p. 172. 25
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No caso específico da expulsão dos jesuítas de São Paulo, Pedro Taques justifica a expulsão e coloca os paulistas como vítimas dos padres, porque escravizavam os índios, não por crueldade, mas para o bem dos interesses da Metrópole: Depois disto parece que por falta de providências foram os moradores da vila de São Paulo recebendo dos padres jesuítas maiores danos, que os obrigou a uma nova alteração e desafogo (...) 28 Com estes fomentos se foi gerando nos paulistas uma desafeição aos jesuítas, que em todo o tempo, só cuidavam em ter o governo espiritual e temporal dos índios do Estado do Brasil. Por esta causa foram expulsos de São Paulo e vila e Santos. 29 As relações dos paulistas com as autoridades reais, assim como com os jesuítas, muitas vezes eram tensas, mas, segundo Pedro Taques e Frei Gaspar revelam em suas obras, os conflitos só aconteciam quando algo poderia pôr em risco seus interesses relacionados à propriedade e à mercantilização, como assevera Blaj30, porque viviam justamente em um universo estamental-escravista, “daí também a fama de serem os paulistas insubmissos, desobedientes e rebeldes”. Fora isso, os paulistas eram fiéis vassalos da Coroa, destemidos, valorosos, “desinteressados e generosos, porém altivos com demasia” 31, o que se confirma no episódio da aclamação de Amador Bueno da Ribeira, caso exemplar da conduta dos primeiros paulistas: (...) intentando vencer com este bárbaro e sacrílego atentado a constância do honrado vassalo Amador Bueno, para deste modo evitarem a obediência e o reconhecimento de que se devia dar ao legítimo rei e natural Senhor (...) Porém Amador Bueno, sem temer o perigo nem deixar prender-se de indiscreta lisonja, com que lhe ofereciam o título de rei para o governo dos povos da Capitania de São Paulo, sua pátria, soube desprezar, e ao mesmo tempo repreender a insolente aclamação, desembaiando a espada e gritando a vozes (...)[contra] os castelhanos que tinham fomentado o tumulto. Nesta ação deu inteiramente créditos de si a incontrastável lealdade deste vassalo paulista. 32 (...) um meio que lhes pareceu o mais seguro, para conseguirem os seus intentos: tal era o de elegerem um rei paulista; e ao mesmo tempo apontaram como o mais digno da Coroa a Amador Bueno de Ribeira (...) Valeram-se os espanhóis de todos os argumentos possíveis para persuadirem aos paulistas e europeus pouco instruídos (...) 28
Idem, p. 174. Idem, p. 177. 30 BLAJ, Ilana. A Trama das Tensões. O Processo de Mercantilização de São Paulo Colonial (1681-1721). São Paulo:Humanistas/ Fapesp, 2002, p. 342. 31 MADRE DE DEUS, Frei Gaspar, op. cit., p. 84. 32 LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica. Tomo I. São Paulo: Martins, 1954, p. 77. 29
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Eram sinceros os moradores de São Paulo, e, ainda fiéis, bem poucos entre eles teriam a instrução necessária para conhecerem o Direito incontestável da Sereníssima Casa de Bragança ao cetro, e para perceberem os laços e as funestas desgraças em que aquelas maquinações os iam precipitar. 33 A sociedade não é caracterizada economicamente por uma extrema pobreza na obra de Frei Gaspar, mas como detentora de paulistas muito opulentos, a quem: não faltavam serventes pela razão que, permitindo-lhes as nossas leis, e as de Espanha, em quanto a ela estivermos sujeitos, o cativeiro dos índios aprisionados em justa guerra e a administração dos mesmos, conforme as circunstâncias prescritas nas mesmas leis, tinham grande número de índios, além de escravos pretos da costa da África, com os quais todos faziam lavrar muitas terras e viviam na opulência. Eles podiam dar em dote às suas filhas muitas terras, índios e pretos, com que vivessem abastadas; por isso, na escolha de maridos para elas, mais atendiam ao nascimento, do que ao cabedal daqueles que haviam de ser seus genros. 34 Como porta-vozes de uma sociedade estamental, descendente das mais nobres e antigas famílias da terra, as obras de Pedro Taques de Almeida Paes Leme e Frei Gaspar da Madre de Deus, deixam transparecer, segundo Abud 35, “o orgulho de casta, a afirmação da tradição, a procura das provas de ascendência ilustre para a classe dominante, ameaçada pelo grupo de recém-chegados”, comerciantes e tropeiros portugueses, provenientes de Minas Gerais, que já começavam a ocupar cargos na vereação, a exercer postos militares e a arrematar a cobrança de tributos, pondo em risco o prestígio das antigas elites. Assim, entre os séculos XVII e XVIII, distinguimos duas imagens antagônicas do bandeirante: uma imagem construída e difundida principalmente pelos padres jesuítas, tendo o bandeirante como o vilão da história: miserável, rebelde, autônomo, desobediente às ordens superiores, insolente e violento; e a imagem heroicizada, retratando o bandeirante como audacioso, aventureiro, independente, altivo, nobre, cuja linhagem remete ao homem branco e ao índio, leal vassalo da Coroa Portuguesa e promotor da expansão territorial, construída por Pedro Taques e Frei Gaspar, num “modelo épico de representação”, conforme Lofego 36. É esta última imagem que vai consolidar, em última instância, a imagem do movimento bandeirista e da própria identidade paulista, de que vai se valer a maioria dos historiadores e cronistas que a eles se seguiram.
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MADRE DE DEUS, Frei Gaspar, op. cit., pp. 138-140. MADRE DE DEUS, Frei Gaspar, op. cit., p. 83. 35 ABUD, Kátia Maria, op. cit., p. 86. 36 LOFEGO, Sílvio Luiz. IV Centenário da Cidade de são Paulo: uma cidade entre o passado e o futuro . São Paulo: Annablume, 2004, p. 154. 34
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3.2. Auguste de Saint-Hilaire e a Fundação do Instituto Histórico e Geográfico de SP
Com o passar do tempo, essas imagens acerca do passado histórico de São Paulo e do paulista foram cristalizadas e difundidas, e novas imagens se juntaram às anteriores. Na primeira metade do século XIX, o viajante e naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, em sua obra Viagem à Província de São Paulo , dá grande destaque às expedições paulistas, expondo as duas imagens dos bandeirantes construídas nos séculos XVII e XVIII. No entanto, segundo Abud 37, “prevalece o orgulho dos escritos de Pedro Taques e Frei Gaspar”: Orgulhosos por força da nobreza de seus ascendentes, animados pelo espírito de liberdade selvagem que caracteriza a raça americana, espírito herdado do sangue materno, acostumados a ser obedecidos por numerosos escravos, passando grande parte de sua vida nos desertos, longe de toda a vigilância, os paulistas nunca foram um povo submisso.38 Ao descrever as dificuldades enfrentadas em suas entradas ao sertão, Saint-Hilaire constrói uma nova imagem-símbolo para o paulista: a de uma “raça de gigantes”, que nunca é subjugada, que se destaca pela sua superioridade física e moral, vencendo as maiores adversidades, transformando o isolamento em auto-suficiência: Quando se sabe, por experiência própria quantas fadigas, privações, perigos, ainda hoje aguardam o viajante que se aventura nessas longínquas regiões e se toma conhecimento do itinerário das intermináveis incursões dos antigos paulistas, sente-se uma espécie de assombro, tem-se a impressão de que esses homens pertenciam a uma raça de gigantes.39 É no século XIX, época em que se difundem a imagem heróica do bandeirante, construída pelos historiadores Pedro Taques e Frei Gaspar e a expressão “raça de gigantes”, cunhada por SaintHilaire, que é fundado o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (1894), vinculado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, cuja finalidade era buscar “no passado fatos e vultos da história do estado que fossem representativos para constituir uma historiografia marcadamente paulista, mas que desse conta do país como um todo”, como salienta Schwacz 40. Os historiadores vinculados ao Instituto serão os responsáveis pela glorificação do paulista e da história de São Paulo e afirmação do 37
ABUD, Kátia Maria, op. cit., p. 103. SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem à Província de São Paulo. São Paulo: Martins, EDUSP, 1972, p. 14, apud ABUD, Kátia Maria, op. cit., p. 103. 39 Idem, p. 15, apud ABUD, Kátia Maria, op. cit., p. 104. 40 SCHWACZ, Lilia Motriz. O Espetáculo das Raças: Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993, pp. 126-127. 38
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imaginário paulista através da recuperação de sua memória. A partir de então, o bandeirante será visto como sinônimo de paulista. 4. A historiografia sobre o Bandeirante nos séculos XIX e XX
A terceira década do século XX assistiu a uma mudança no panorama político do Brasil, mudança esta que atingiu em cheio as ambições da classe dominante paulista. O poder hegemônico exercido pelo Estado de São Paulo passou a ser fortemente questionado, até ser, por sua vez, deslocado à segundo plano após o golpe militar orquestrado por Getúlio Vargas, em 1930. Definitivamente, a realidade já não era mais a mesma do que das décadas precedentes. Como não podia deixar de ser, a onda de estudos efetuados por grupo de letrados da população paulista mobilizou-se em torno de argumentos de “auto-defesa” apoiados em dois pontos especiais: a denúncia da realidade e o resgate de um passado glorioso. Dessa forma, passado e presente se entrecruzavam num jogo de afinidades e semelhanças que, explícita ou implicitamente, eram manipulados por uma rede seleta de autores. Era então o restabelecimento de uma memória de tinturas coloniais moldada sob a ótica paulista da História, é claro. A luta contra o poder central, isto é, contra a ditadura de Vargas, foi tomada como uma questão de honra pela classe burguesa paulista que havia sido espoliada da sua posição de mando. Os conflitos ocorreram não só no plano das idéias, mas também na sua forma mais dramática que é a luta armada, evento conhecido como a Revolução Constitucionalista de 1932. Para se chegar a tal ponto, foi preciso criar um sentimento de unidade entre toda a sociedade de São Paulo. Confundir os interesses de uma dada classe aos da população em geral, era o tema das discussões. Identificar e caracterizar São Paulo e o paulista dentro da história do Brasil era, de fato, um pressuposto essencial para disseminação de um sentimento unitário e, se possível, solidário. Como indicado anteriormente, a construção das bases dessa imagem já haviam sido iniciadas pelos membros do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo desde 1894, data da sua fundação. Cabia, nesse instante, a reafirmação das antigas imagens juntamente com a elaboração de novas que vinham para suprir as necessidades ideológicas do momento. Em resumo, as expectativas estavam em torno de um único objetivo: ressaltar a “raça de gigantes” que, em nenhum momento da história, se curvou a qualquer tipo de poder vindo de fora, pois ela é única e singular. Passa-se a indicar então os principais estudiosos e suas idéias, tão importantes para a compreensão da construção de uma tradição paulista que teve na figura do bandeirante seu principal representante.
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De maneira geral, a ótica paulista pode ser analisada por um viés bastante evidente entre os autores como, por exemplo, em Sérgio Milliet: queriam provar que o Governo Federal era injusto e vingativo para com São Paulo, relação igualmente ocorrida entre a metrópole portuguesa e os paulistas durante o período colonial. 41 Além da conotação regional, vai-se mais longe, denuncia-se a ameaça contra a unidade nacional, não se esquecendo de mencionar que, obviamente, foi graças ao árduo trabalho dos paulistas que se conquistou tal unidade. 42 A princípio, o destaque foi dado ao regime de isolamento a que São Paulo foi relegado. Percebe-se que autores como Otoniel Mota, ao denunciar esse regime que naturalmente denotaria um aspecto negativo a qualquer região, buscam defender exatamente o contrário, que tinha sido positivo, pois foi graças a vida isolada que houve a possibilidade do condicionamento físico e moral do paulista. 43 A condição de pobreza a que estava fadada a região planaltina, evidentemente, era resultado de tal isolamento, realidade diferenciada das outras regiões do Brasil. Este quadro de desigualdade existente no período colonial serviu também de argumentação para condenar a situação em que São Paulo se localizava diante dos Estados aliados a Vargas que, na visão paulista, estavam sendo privilegiados. Demonstrava-se, assim, uma continuidade histórica. Se por um lado esta continuidade podia ser prejudicial, por que não utilizar-se dela para se beneficiar em prol da defesa de certos interesses regionais? O contato entre o passado e o presente se tornou a prática comum entre os “advogados de defesa” da causa paulista. A História mais uma vez era utilizada como arma na luta das argumentações. Sensibilização popular e homogeneização dos interesses passam a ser a “bola da vez”. Isolamento e pobreza – palavras que se tornam obrigatórias no vocabulário dos estudiosos. Mais uma vez, toda uma realidade colonial configurada por tais problemas fornecia motivos para a criação de um espírito de superação. Na verdade, tudo que poderia se tornar negativo para uma sociedade no planalto piratiningano teve efeito inverso. O abandono e a inevitável pobreza do paulista serviram de base para a formação de uma certa índole, própria da “raça de gigantes” que soube adaptar-se as circunstâncias sem que elas minimizassem a sua grandeza. Enfim, para Roberto Simonsen 44, Rubens Borba de Morais 45, Alcântara Machado 46, Alfredo Ellis Jr. 47 e Otoniel Mota48, 41
MILLIET, Sérgio. “Recenseamentos antigos”, em Roteiro do café e outros ensaios. São Paulo: BIPA-EDITORES, 1946. PEIXOTO, Afrânio. Prefácio à História econômica do Brasil (1500/1820) de Roberto C. Simonsen. São Paulo: Nacional, 1937. 43 MOTA, Otoniel. Do rancho ao palácio (evolução da civilização paulista). São Paulo: Nacional, 1941. 44 SIMONSEN, Roberto. História econômica do Brasil (1500/1820). São Paulo: Nacional, 1937. 45 MORAIS, Rubens Borba de. Introdução a Saint-Hilaire, Viagem à província de São Paulo. Sao Paulo: Martins, 1945. 46 MACHADO, Alcântara. Vida e Morte do Bandeirante. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1929. 47 ELLIS JR., Alfredo. Resumo da história de São Paulo (quinhentismo e seiscentismo). Sao Paulo : Tip Brasil Rothschild Loureiro, 1942. Para John M. Monteiro, este autor ainda foi pouco estudado apesar de seu um dos mais notáveis escritores 42
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isolamento e pobreza condicionaram a formação de uma autarquia econômica e de uma quase autosuficiência. É preciso lembrar que se essa era a regra, logo, existiram as exceções. Caio Prado Júnior pensava a realidade paulista colonial de outra forma, diferente das que vigoravam entre os especialistas. Para ele, São Paulo tinha um centro geográfico e econômico privilegiado, demonstrando a importância das suas redes de transporte, tanto terrestres como hidrográficas, que favoreciam a existência de um comércio dinâmico e variado. Além disso, não se esqueceu de mencionar o porto de Santos, principal porta de entrada e saída de produtos que, aliás, incentivavam o abastecimento de um comércio interno. 49 Mas essas idéias alternativas não recebiam a atenção merecida, pois não iam ao encontro dos objetivos pré-definidos pela classe dominante paulista. Enfim, “o que predomina e permanece nos escritos entre 1930 e 1945 é a imagem do isolamento mas da auto-suficiência. Verdadeira autarquia, que não necessitava da metrópole, portanto do poder central, nem das outras regiões, logo dos outros estados, São Paulo teria sobrevivido galhardamente no período colonial, como sobreviveu heroicamente durante o Estado Novo.” 50
Local único com uma população única, São Paulo se destaca como uma região onde a liberdade e a independência são características naturais. Não faria diferença se fosse o rei de Portugal ou governo getulista, qualquer um que questionasse a sua condição quase que providencial, provaria da rebeldia de seus habitantes em defesa de um poder autônomo e democrático.
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Além do caráter
autônomo que faz de São Paulo um self-government , há também a demonstração da força política dos paulistas, quer em nível local e regional, quer em nível colonial, ou seja, o poder de intervenção no curso da história do Brasil. Para isso diz Ellis Júnior: “(...) o planalto sempre se fez evidente em todos os movimentos de independência da América portuguesa”.
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paulistas da primeira metade do século XX. Diz Monteiro: “Elaboradas num período de aguçada tensão entre as forças políticas e econômicas regionais e o estado nacional, as primeiras obras de Ellis Jr. destacavam-se pelo seu tom polêmico e pela audácia das teses avançadas, na tremenda enxurrada de novos estudos exaltando os antigos paulistas, agora chamados de bandeirantes. Ao contrário de seu mestre Afonso de Escragnolle Taunay, cuja vastíssima obra constitui uma desordenada crônica de fatos, eventos e personagens pitorescos, Ellis Jr. ambientou o bandeirante e, sobretudo, a mestiçagem num contexto cientificista tão emaranhado quanto a densa mata penetrada pelos mesmos sertanistas. Lançando mão de uma verdadeira floresta de pressupostos evolucionistas, em que pesavam as teorias abraçando o papel determinista da raça e do meio físico, Ellis Jr. esforçou-se para mostrar as bases científicas e históricas da especificidade do caráter paulista, que justificavam seus anseios autonomistas.” MONTEIRO, John M. Tupis, Tapuias e Historiadores: estudos de História indígena e do indigenismo. Tese de Livre Docência. Campinas, 2001. p. 196-197. 48 MOTA, Otoniel. Op. Cit. 49 PRADO JR., Caio. “Contribuição para a geografia da cidade de São Paulo”, em Evolução política do Brasil e outros estudos. São Paulo: Brasiliense, 1947. 50 BLAJ, Ilana. A Trama das Tensões: o processo de mercantilização de São Paulo colonial (1681-1721). São Paulo: Humanitas; Fapesp, 2002. p.59. 51 JARDIM, Caio. “São Paulo no século XVIII”. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo. v.41. novembro, 1937. 52 ELLIS JÚNIOR, Alfredo. Op. Cit. p.60. Belmonte também compartilha da idéia em No tempo dos bandeirantes. Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo, São Paulo, 1939.
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Em síntese, o que os autores acima citados querem enfatizar é o aspecto singular de São Paulo. “Superior física e moralmente, singular e proeminente, independente, rebelde mas igualmente democrático, vencendo adversidades, transformando o isolamento em auto-suficiência, o paulista realmente constitui uma ‘raça de gigantes’.”
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Basicamente, a “Historiografia Paulística”, assim denominada por Ilana Blaj, assentava-se, entre os anos de 1930 e 1945, no discurso que utilizava a região nordeste do Brasil como ponto referencial de comparação com a realidade de São Paulo. Mostrar a pobreza piratiningana frente à opulência pernambucana, por exemplo, servia de pressuposto para salientar a superação daqueles que tinham como destino certo o esquecimento. A partir da década de 1950, e até por volta de 1970, a preocupação dos estudiosos tomaram outro caminho que ia a procura por uma explicação para a condição de subdesenvolvido a que ocupava o Brasil e sua dependência aos países mais ricos. Nesse instante, a historiografia brasileira embrenhava-se nas raízes coloniais, tendo como foco norteador os núcleos exportadores, com especial destaque para o nordeste. “Dessa forma, quase tão-somente os pólos exportadores seriam enfatizados e as demais regiões, mais voltadas ao abastecimento interno, como São Paulo colonial, seriam relegadas a um segundo plano.”
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Como resultado desta nova forma
de se analisar a história, São Paulo passou a ser vista apenas em função das demais regiões, ora fornecendo índios como mão-de-obra escrava, ora desbravando territórios e, por fim, achando metais preciosos. Apesar do redirecionamento nos estudos brasileiros, a década de 1950 presenciou um fato muito importante: o IV centenário da cidade de São Paulo. Pode-se dizer que os eventos culturais, as comemorações e as publicações materializaram o auge representativo da tradição paulista. A figura do bandeirante, definitivamente, é levada ao ápice e, o mais importante, a tradição paulista construída ao longo de décadas por estudiosos a serviço, ou não, do poder oficial é difundida na massa da população, fincando raízes no conhecimento popular. Porém, no plano mais geral dos estudos históricos, o curso das investigações seguia outro rumo. Quando parte da historiografia brasileira abandonou os estudos sobre a dinâmica interna paulista, favoreceu, como havia de ser, a perpetuação daquelas visões tradicionais de São Paulo. Itens como o isolamento, a economia de subsistência, a altivez, a independência e a democracia foram fundamentais para a cristalização de tais imagens, tomando como principal representante o “intocável” bandeirante.
53 54
BLAJ, Ilana. Op.cit. p.64. Idem, Ibdem. p.66.
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Uma gama de historiadores deu substancial reforço as velhas idéias. Raul de A. e Silva ainda defendia a condição de isolamento e autonomia. 55 Alfredo Ellis Júnior e sua filha Myriam Ellis, além de citarem tópicos como o isolamento, a auto-suficiência e a democracia, retomavam a idéia de uma “raça de gigantes”. 56 Entretanto, esse período também ficou caracterizado pelo surgimento de novos caminhos interpretativos que, em pontos específicos, contrapunham as idéias até então vigentes no cenário intelectual brasileiro, máxime o paulista. Charles R. Boxer em sua obra questionava a tese de autosuficiência e de isolamento a que hipoteticamente vivia São Paulo colonial. 57 Há também a não aceitação por parte de Raymundo Faoro de que os paulistas viviam em plena liberdade e autonomia, além daquela típica rebeldia, é claro. 58 Já Richard M. Morse buscou desbancar a tese da democracia paulista ao trazer à tona os complexos mecanismos hierárquicos comuns das sociedades coloniais. 59 Mas foi Sérgio Buarque de Holanda o principal inovador das reflexões em torno da história de São Paulo. Para ele cada época e cada formação social tinham seu próprio centro de gravidade, sua unidade de sentido. É a interação entre meio, cultura e sociedade. Assim, Buarque de Holanda buscava por em xeque a corrente analítica que enxergava São Paulo como uma região atípica dentro da colônia. O quadro apresentado por uma determinada localidade, cuja dinâmica seja única, não quer dizer que ela represente uma cristalização definitiva, mas sim uma sedimentação provisória. É a idéia do movimento, do “vir a ser” defendida pelo historiador. Outro ponto bastante discutido é a relação cultural entre o índio e o europeu. A relação entre vida material e sobrevivência, expansão territorial e equilíbrio vital também fazem parte das preocupações do autor. 60 “No entanto, devido às discussões candentes acerca do subdesenvolvimento brasileiro, às práticas sociopolíticas encetadas pelo nacional-desenvolvimentismo e ao primado da sociologia e da história econômica, poucos autores, nesse período, trilharam os caminhos abertos pela obra de Sérgio Buarque de Holanda.” 61
55
SILVA, Raul de A. “São Paulo nos tempos coloniais”. In: AZEVEDO, Aroldo de (org.). A cidade de São Paulo. Estudos de geografia urbana. Vol. II. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958. 56 ELLIS JÚNIOR, Alfredo. “A economia paulista no século XVIII. O ciclo do muar; o ciclo do açúcar”. In: A economia paulista no século XVIII. São Paulo: Biblioteca da Academia Paulista de Letras, 1979, vol. 11(a primeira edição é de 1950); ELLIS, Myriam. “As bandeiras na expansão geográfica do Brasil”. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (dir.). História geral da civilização brasileira. Tomo I – A época colonial, vol.1. São Paulo : Difusão Européia do Livro, 1960. 57 BOXER, Charles R. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola (1602-86). São Paulo: Editora Nacional; Editora da USP, 1973. 58 FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro. Vol. 1. Rio de Janeiro: Globo, 1957. 59 MORSE, Richard M. Formação histórica de São Paulo (de comunidade à metrópole). São Paulo: Difel, 1970 (a primeira edição é de 1954). 60 HOLANDA, Sérgio Buarque. Caminhos e fronteiras. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1957. 61 BLAJ, Ilana. Op. Cit., p.72.
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Como conseqüência das atenções dadas somente aos centros exportadores coloniais, novas imagens de São Paulo foram incorporadas às antigas. Vista agora fora do eixo econômico da exploração colonial, a região de Piratininga encontrava-se extremamente pobre, sem dinamismo de qualquer natureza produtiva e voltada apenas à sua subsistência. Afonso de E. Taunay, Richard Morse, Myriam Ellis e Alice C. Canabrava são alguns dos autores que contribuíram para a construção desse pensamento. 62 Aliás, o único elemento capaz de inserir os paulistas nas relações comerciais do Brasil é o índio, que, caçado e escravizado, eram vendidos as outras regiões produtoras que eventualmente careciam de mão-de-obra. 63 “Assim, devido à predominância das discussões acerca do subdesenvolvimento, de o Nordeste ser visto como ponto de estrangulamento ao desenvolvimento brasileiro no século XX, a maioria dos estudos a partir da década de 1950 passa a privilegiar as áreas exportadoras do período colonial, buscando nelas a origem de tal configuração. A riqueza e o dinamismo coloniais são identificados com as regiões que mais se articularam ao mercado europeu e metropolitano no período, e, dessa forma, cristaliza-se a imagem de uma São Paulo pobre, voltada apenas à subsistência, articulada aos demais centros tão-somente pela venda do indígena, movimento externo e não interno à vila.”
64
Essa rápida exposição de obras e autores permitiu a melhor compreensão de como se deu o processo de construção de uma tradição paulista que escolheu como seu principal representante a figura heróica do bandeirante. Se a onda de estudos tinha como objetivo a constituição deliberada dessa tradição paulista, pode-se dizer que tal objetivo foi atingido pois, ainda hoje, o conhecimento popular e oficial da história de São Paulo está bastante permeada pelas características que ao longo destas páginas foram salientadas.
62
TAUNAY, Afonso de E. História da cidade de São Paulo. Foi publicado em 1954 em virtude das comemorações do IV centenário da cidade de São Paulo; MORSE, Richard. Op. Cit.; ELLIS, Myriam. “Pesquisas sobre a existência do ouro e da prata no planalto paulista nos séculos XVI e XVII”. In: A economia paulista no século XVIII.; CANABRAVA, Alice P. “Esboço da história econômica de São Paulo”. In: BRUNO, Ernani Silva (org.). São Paulo: terra e povo. Porto Alegre : Globo, 1967. 63 FAORO, Raymundo. Op. Cit.; ZEMELLA, Mafalda P. O Abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII. São Paulo: 1951. 64 BLAJ, Ilana. Op. Cit., p. 74.
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5. Bibliografia Bandeirante : 1880-1930
O instituto histórico geográfico de São Paulo foi fundado no inicio do mês de novembro em 1884. Participaram da cerimônia importantes políticos da época e a elite do comércio e do café, tais figuras reuniram-se no salão nobre da faculdade de direito do largo São Francisco. Neste período a republica já se encontrava instalada, o panorama da província e da nação já era outro. Com novas possibilidades de empreendimentos. A inauguração e os trabalhos do IHGSP ocorreram as vésperas da posse do primeiro presidente civil da republica, o paulista Prudente de Morais. Uma das personalidades que integrava o rol dos fundadores do instituto. Durante toda primeira república o IHGSP gozaria de grande prestigio, pois a elite cafeeira e comercial,alem dos políticos e cientistas ilustres da época estavam entre os membros. Neste período a economia de são Paulo manterá em constante crescimento. O sistema de transporte ferroviário a imigração estrangeira, dava-se com grande intensidade, a imigração estrangeira estava sedo subsidiada pelo governo provincial, para substituir à mão-de-obra a escrava, a cafeicultura. Crescia e se expandia pelos campos do interior da província e volta e meia os preços do café oscilava mercado externo, o governo província intervinha na economia socorrendo a elite do café. A cidade de são Paulo passava por grandes transformações como canalização de córregos e rios, serviços elétricos, fornecimento de água, telefonia e transporte, saneamento básico, abertura de novos bairros e avenidas, tais empreendimentos atraíram os grandes fazendeiros ricos a capital, onde erguiam seus palacetes. Era a belle époque um novo estilo de vida, tido como moderno e cosmopolita. Corriam na época as idéias filosóficas do liberalismo, darwinismo social e positivismo, tais idéias inspiravam os grupos de letrados da época que acreditavam que só tingiram o progresso por meio da educação, que seria a solução para todos os males. Nesta época foi criada a educação compulsória para meninos e meninas entre sete e onze anos (com exceção dos escravos). As escolas medias e superiores recebiam uma maior atenção do governo, como podemos constatar a criação de vários organizações na época. Outro espaço a contribuir para a cultura letrada foi a MuseuPaulista inaugurado em 1890. O museu seria mais uma das contribuições para elevar a historia paulista. As realizações das primeiras reuniões ordinárias do Instituto realizaram-se em vários lugares do centro de São Paulo, principalmente em sobrados alugados ‘as ruas 15 de novembro, marechal Teodoro e General Carneiro. Já que o mesmo ainda não possuía uma sede própria. A construção da sede própria demoraria alguns anos. Em 1909 fiou ponta a construção do prédio, a Rua Benjamim Constant construído com donativos
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de particulares e subsídios do governo público. O prédio foi inaugurado com toda a pompa que a ocasião ensejava. “Analisando o quadro de presidentes, e sócios fundadores no período que se estende até 1940 podemos verificar que estavam ligados ao Instituto a elite de São Paulo. Nomes como Prudente de Morais (1908) e Afonso de E. Taunay (1939); e presidentes efetivos como Cesário Mota Jr. (1894) Duarte de Azevedo (1897), Luis Piza (1912), Altino Arantes (1916), Afonso Antonio de Freitas (1922) e Jose Torres de Oliveira (1930). Dos 139 fundadores, uma grande parte deles ocupava os mais atos cargos políticos federais e estaduais” 65. Também incluía indivíduos beneficiários das fortunas consolidadas da expansão capitalista de são Paulo, ricos, quase todos eram diplomados em cursos superiores, o que lhes dava garantia de participarem de uma elite de cultura letrada. Neste rol quase todos se consideravam historiadores, mas foi um núcleo bem pequeno que se dedicou ao estudo e a pesquisa mais abrangente sobre o período colonial de são Paulo, destes historiadores os que se debruçaram ao estudo com certa solides temos: Eduardo prado, Aureliano Leite, Afonso de E. Taunay, Alcântara Machado, Paulo Prado, Afonso Antonio de Freitas, entre outros que ingressaram um pouco mais tarde na década de 20 como Alfredo Elis Junior, Aroldo de Azevedo, Plínio Ayrosa, Roberto Simonse , desses historiadores chamados de pré-científicos vários ocuparam cadeiras no curso de historia, sociologia, antropologia e filosofia na escola de sociologia e política e na Faculdade de Filosofia e Letras da USP. Outros também figuram como sócios renomados do Instituto que irão abrir a década de 30 ambos pertencentes de outras regiões do estado, iram criar vínculos são eles Capistrano de Abreu, João Pandia.
6. Calogeras, Rocha Pompo e Basílio de Guimarães
Nas obras dos escritores vinculados ao Instituto Histórico Geográfico de São Paulo percebemos, mais claramente, a glorificação do paulista e da historia de São Paulo. Segundo Lilia schwacz os paulistas “buscavam no passado fatos e vultos da história do estado que fossem representativos para constituir uma historiografia marcadamente paulista, mas que desse conta do pais como um todo”. 66 Valorizando o paulista ancestral e sua linhagem, sua Independência perante a coroa portuguesa etc. encarregaram da construção de uma imagem ideológica cheia de mitos sobre a economia paulista, e os homens que viveram naquela época. Tais historiadores estavam engajados comprometidos com interesses políticos de seu tempo. 65
FERREIRA. Antonio Celso. A epopéia bandeirante: Letrados, Instituições, invenção histórica (1870-1940). São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 99. 66 SCHWARCZ, Lilia Motriz. O Espetáculo das Raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Cia das Letras, 1993, pp.126-127.
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Theodoro Sampaio, em fins do século XIX retomava a fala do viajante Frances Saint-Hilair que em sua obra Viagem a província de são Paulo no inicio do século XIX deixou sua admiração pela coragem que e façanhas dos homens da vila de Piratininga. “Quanto se sabe, por experiência própria, quantas fadigas, perigos ainda hoje aguardam o viajante que se aventura nessas longuigas regiões e se toma conhecimento do etinerario das intermináveis incursões dos antigos paulistas, sente-se uma espécie de assombro, tem-se a impressão de que esses homens pertenciam a uma raça de gigantes. 67 Theodoro Sampaio partindo da mesma idéia de Saint-Hiraire em sua obra o gosto pela ação a coragem e retomou a ideologia de uma raça de gigantes. Já Capistrano de Abreu produziu seus trabalhos voltados para explicar isolamento, a auto-suficiência da vila, liberdade e independência. “... acrescente-se que os habitantes do tempo cegavam as vezes os caminhos, para tolher as acçoes das autoridades de serra abaixo, representantes do poder real ou senhorial. De tudo ressalta a necessidade de considerar o povoado serrano independente de Santos, de São Vicente e da marinha em geral”.68 Paulo Prado enfatiza em seus estudos a vila de São Paulo e o paulista. Assinala a origem do paulista: o surgimento de uma nova raça, que se deu a partir do cruzamento entre Portugueses e os indígenas; salienta também o isolamento da vila provocado pela serra do mar, tal distância em relação as outras capitanias impulsionava os bandeirantes a saírem para os sertões gerando desta forma a expansão territorial e a descoberta de metais preciosos. Em linhas gerais Paulo enfatiza essa raça de paulista como uma nova raça, e que possui muitas características e ótimas qualidades.
Esta
valorização do paulista e vários outros feitos, serão enfatizados não só por Paulo Prado, mas também por outros historiadores do Instituto até a década de 1930. Washington Luis e Oliveira Viana destacam a expansão territorial feita pelo bandeirante expandindo o Brasil para a coroa Portuguesa e o achamento de metais preciosos, além também de se destacar a riqueza e o estilo de vida nobre, a educação dos bandeirantes que reservavam aos melhores costumes e tradições, Viana estava preocupado em identificar a elite paulista da primeira república com seus ilustres ancestrais. Analisava a nobreza de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo , enfatizando a cultura e as tradições desses povos, enfatizava também que ambos foram os responsáveis pela boa condução do império do Brasil. Mas oliveira Viana não deixa de exaltar o paulista como uma 67
SAINT-HILAIRE, Augusto de. Viagem à província de São Paulo. In: BLAJ, Ilana. O Processo de Mercantilização de São Paulo Colonial (1681-1721). São Paulo: Humanitas-Fapesp, 2002, p. 47. 68 ABREU, João Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento do Brasil . 2. Ed. Rio de Janeiro: Briguiet, 1960, pp. 74.75.
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raça superior as outras raças do pais, deixando claro que os paulistas seriam os melhores e mais indicados para dirigir a nação que estava crescendo a todo o vapor. Segundo Ilana,Oliveira Vianna é o responsável pela nova teoria que viria a surgir e que outros autores destacariam como Alfredo Ellis Junior “Vianna inaugurou a teria da “raça própria”...assim, durante a primeira republica, pelo enaltecimento do bandeirante e da ênfase nos traços...a elite paulista,, por meio de vários estudiosos, chamou a atenção para o papel de são Paulo e seus lideres que, à maneira dos antigos sertanistas, poderiam promover a riqueza, o consenso, enfim, a verdadeira nação”. 69 Elis Junior em seus trabalhos deu importância a economia do Piratininga e a considerou como uma economia praticamente auto-suficiente, considerou a mestiçagem e enfatizou também que o paulista em vários momentos ousou desafiar a metrópole e ao El rei; alem de defender a diferenciação e a superioridade da raça paulista com já foi dito, também chama a atenção para a questão do “clima que foi essencial na feitura de uma raça superior, fisicamente, moralmente e independente 70. Como já foi dito anteriormente outra instituição que veio a auxiliar a historiografia formada pelo mito do bandeirante foi o museu Paulista que ora era monumento, mas no âmbito das concepções Republicanas adquiriu novos contornos especialmente a partir da década de 1920. Foi nesta ocasião que o Museu Paulista começou a se transformar propriamente de história. Graças as intervenções estéticas e historiográficas projetadas e consumadas por Afonso d`Escragnolle Taunay, membro do IHGSP e diretor do Museu de 1917 a 1945. Durante sua gestão, Taunay com o apoio de políticos e empresários, reorganizou as áreas expositivas, substituindo as coleções zoológicas e botânicas por acervos destinados à remorização de fatos históricos e tradicionais brasileiras e principalmente paulistas. “A
relevância que assume o estado de São Paulo, com o bandeirismo, dentro da historia da
independência contada por Taunay, é uma das características centrais desse conjunto decorativo. O autor do projeto pretendeu atribuir a São Paulo, através do movimento bandeirante o papel de conquistador e unificador e do território da nação brasileira. Tal mensagem é transmitida através da orquestração de elementos distintos da decoração”. 71 “O conjunto figurativo, ocupa o saguão de entrada, a escadaria de mármore, os espaços que cercam e o salão nobre, fazendo do eixo central do edifício um caminho demarcado por episódios e
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BLAJ, Ilana. O Processo de Mercantilização de São Paulo Colonial (1681-1721). São Paulo: Humanitas-Fapesp, 2002, pp. 52-53. 70
Idem, pp.63-64. OLIVEIRA, Cecília Helena de Sales. “O Museu Paulista e o Imaginário da independência”. In: Museu Paulista: Novas Leituras. São Paulo: Museu Paulista /USP, 1995, pp. 5-9. 71
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personagens que representam o percurso da historia de são Paulo e do Brasil. Com inicio na colonização e o desfecho na independência. Sob feições teatralizadas e formais, pinturas, retratos, esculturas de mármore e bronze, bem como ânforas de cristal contendo águas dos principais rios brasileiros, compõem o cenário de um espetáculo visual,esteticamente impressionante...da decoração faze parte as figuras dos primeiros colonizadores das terras paulistas, os bandeirantes estão dispostos na condição de personagens decisivas na definição do território e das fronteiras...” 72. Outra forma de chamar a atenção do visitante do museu alem das escadarias bem decoradas, estão duas estatuas em mármores dos bandeirantes Antonio Raposo Tavares e Fernão Dias Paes, feitas pelo escultor Luigi Brizzola ambas estão expostas no saguão do museu, na entrada principal, são apresentados com toda a pompa homens robustos com barba, chapelão de abas largas, altas botas de montaria, portam armas de fogo, bem vestidos e vigorosos. Fica claro que a intenção de Taunay era transformar a narrativa histórica em linguagem visual, para que o visitante do museu, seja da elite ou das classes populares, convencessem-se a existência real das pessoas e eventos; ali representados e da a importância dos bandeirantes no contexto histórico do Brasil. Foram usadas também para adornar o museu muitas das iconografias produzidas em fins do século XIX; naquele momento procurou demonstrar uma serie de registros visuais que contava a historia para leigos, e ao mesmo tempo iria satisfazer a visão da elite. A pintura, como sistema político que se transformou de um império altamente centralizador para uma republica fortemente federalista. Os pintores que destacaram o tema do bandeirante foram Teodoro Braga, Manuel Victor, Rafael Falco e Benedito Calixto entre outros. Ambos retrataram o bandeirante com uma virilidade heróica, aventureiro, desbravador, bem vestidos e portando armas. Sempre retratados a frente ou acima da figura do índio. Cada época tem suas imagens e as produz conforme sua visão de historia; no caso paulista, uma historia a partir do ponto de vista das elites dirigentes . A terceira década do século XX assistiu a uma mudança no panorama político do Brasil, mudança esta que atingiu em cheio as ambições da classe dominante paulista. O poder hegemônico exercido pelo Estado de São Paulo passou a ser fortemente questionado, até ser, por sua vez, deslocado à segundo plano após o golpe militar orquestrado por Getúlio Vargas, em 1930. Definitivamente, a realidade já não era mais a mesma do que das décadas precedentes. 72
OLIVEIRA. Cecília Helena de Salles. “Liames entre História e Memória”. In: São Paulo: Uma Longa História. Série Nossa História. São Paulo: CIEE, 2004. pp. 13-14.
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Como não podia deixar de ser, a onda de estudos efetuados por grupo de letrados da população paulista mobilizou-se em torno de argumentos de “auto-defesa” apoiados em dois pontos especiais: a denúncia da realidade e o resgate de um passado glorioso. Dessa forma, passado e presente se entrecruzavam num jogo de afinidades e semelhanças que, explícita ou implicitamente, eram manipulados por uma rede seleta de autores. Era então o restabelecimento de uma memória de tinturas coloniais moldada sob a ótica paulista da História, é claro. A luta contra o poder central, isto é, contra a ditadura de Vargas, foi tomada como uma questão de honra pela classe burguesa paulista que havia sido espoliada da sua posição de mando. Os conflitos ocorreram não só no plano das idéias, mas também na sua forma mais dramática que é a luta armada, evento conhecido como a Revolução Constitucionalista de 1932. Para se chegar a tal ponto, foi preciso criar um sentimento de unidade entre toda a sociedade de São Paulo. Confundir os interesses de uma dada classe aos da população em geral, era o tema das discussões. Identificar e caracterizar São Paulo e o paulista dentro da história do Brasil era, de fato, um pressuposto essencial para disseminação de um sentimento unitário e, se possível, solidário. Como indicado anteriormente, a construção das bases dessa imagem já haviam sido iniciadas pelos membros do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo desde 1894, data da sua fundação. Cabia, nesse instante, a reafirmação das antigas imagens juntamente com a elaboração de novas que vinham para suprir as necessidades ideológicas do momento. Em resumo, as expectativas estavam em torno de um único objetivo: ressaltar a “raça de gigantes” que, em nenhum momento da história, se curvou a qualquer tipo de poder vindo de fora, pois ela é única e singular. Passa-se a indicar então os principais estudiosos e suas idéias, tão importantes para a compreensão da construção de uma tradição paulista que teve na figura do bandeirante seu principal representante. De maneira geral, a ótica paulista pode ser analisada por um viés bastante evidente entre os autores como, por exemplo, em Sérgio Milliet: queriam provar que o Governo Federal era injusto e vingativo para com São Paulo, relação igualmente ocorrida entre a metrópole portuguesa e os paulistas durante o período colonial. Além da conotação regional, vai-se mais longe, denuncia-se a ameaça contra a unidade nacional, não se esquecendo de mencionar que, obviamente, foi graças ao árduo trabalho dos paulistas que se conquistou tal unidade. A princípio, o destaque foi dado ao regime de isolamento a que São Paulo foi relegado. Percebe-se que autores como Otoniel Mota, ao denunciar esse regime que naturalmente denotaria um aspecto negativo a qualquer região, buscam defender exatamente o contrário, que tinha sido positivo, pois foi graças a vida isolada que houve a possibilidade do condicionamento físico e moral do paulista.
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A condição de pobreza a que estava fadada a região planaltina, evidentemente, era resultado de tal isolamento, realidade diferenciada das outras regiões do Brasil. Este quadro de desigualdade existente no período colonial serviu também de argumentação para condenar a situação em que São Paulo se localizava diante dos Estados aliados a Vargas que, na visão paulista, estavam sendo privilegiados. Demonstrava-se, assim, uma continuidade histórica. Se por um lado esta continuidade podia ser prejudicial, por que não utilizar-se dela para se beneficiar em prol da defesa de certos interesses regionais? O contato entre o passado e o presente se tornou a prática comum entre os “advogados de defesa” da causa paulista. A História mais uma vez era utilizada como arma na luta das argumentações. Sensibilização popular e homogeneização dos interesses passam a ser a “bola da vez”. Isolamento e pobreza – palavras que se tornam obrigatórias no vocabulário dos estudiosos. Mais uma vez, toda uma realidade colonial configurada por tais problemas fornecia motivos para a criação de um espírito de superação. Na verdade, tudo que poderia se tornar negativo para uma sociedade no planalto piratiningano teve efeito inverso. O abandono e a inevitável pobreza do paulista serviram de base para a formação de uma certa índole, própria da “raça de gigantes” que soube adaptar-se as circunstâncias sem que elas minimizassem a sua grandeza. Enfim, para Roberto Simonsen , Rubens Borba de Morais , Alcântara Machado , Alfredo Ellis Jr. e Otoniel Mota , isolamento e pobreza condicionaram a formação de uma autarquia econômica e de uma quase auto-suficiência. É preciso lembrar que se essa era a regra, logo, existiram as exceções. Caio Prado Júnior pensava a realidade paulista colonial de outra forma, diferente das que vigoravam entre os especialistas. Para ele, São Paulo tinha um centro geográfico e econômico privilegiado, demonstrando a importância das suas redes de transporte, tanto terrestres como hidrográficas, que favoreciam a existência de um comércio dinâmico e variado. Além disso, não se esqueceu de mencionar o porto de Santos, principal porta de entrada e saída de produtos que, aliás, incentivavam o abastecimento de um comércio interno. Mas essas idéias alternativas não recebiam a atenção merecida, pois não iam ao encontro dos objetivos pré-definidos pela classe dominante paulista. Enfim, “o que predomina e permanece nos escritos entre 1930 e 1945 é a imagem do isolamento mas da auto-suficiência. Verdadeira autarquia, que não necessitava da metrópole, portanto do poder central, nem das outras regiões, logo dos outros estados, São Paulo teria sobrevivido galhardamente no período colonial, como sobreviveu heroicamente durante o Estado Novo.” Local único com uma população única, São Paulo se destaca como uma região onde a liberdade e a independência são características naturais. Não faria diferença se fosse o rei de Portugal 25
ou governo getulista, qualquer um que questionasse a sua condição quase que providencial, provaria da rebeldia de seus habitantes em defesa de um poder autônomo e democrático. Além do caráter autônomo que faz de São Paulo um self-government, há também a demonstração da força política dos paulistas, quer em nível local e regional, quer em nível colonial, ou seja, o poder de intervenção no curso da história do Brasil. Para isso diz Ellis Júnior: “(...) o planalto sempre se fez evidente em todos os movimentos de independência da América portuguesa”. Em síntese, o que os autores acima citados querem enfatizar é o aspecto singular de São Paulo. “Superior física e moralmente, singular e proeminente, independente, rebelde mas igualmente democrático, vencendo adversidades, transformando o isolamento em auto-suficiência, o paulista realmente constitui uma ‘raça de gigantes’.” Basicamente, a “Historiografia Paulística”, assim denominada por Ilana Blaj, assentava-se, entre os anos de 1930 e 1945, no discurso que utilizava a região nordeste do Brasil como ponto referencial de comparação com a realidade de São Paulo. Mostrar a pobreza piratiningana frente à opulência pernambucana, por exemplo, servia de pressuposto para salientar a superação daqueles que tinham como destino certo o esquecimento. A partir da década de 1950, e até por volta de 1970, a preocupação dos estudiosos tomaram outro caminho que ia a procura por uma explicação para a condição de subdesenvolvido a que ocupava o Brasil e sua dependência aos países mais ricos. Nesse instante, a historiografia brasileira embrenhava-se nas raízes coloniais, tendo como foco norteador os núcleos exportadores, com especial destaque para o nordeste. “Dessa forma, quase tão-somente os pólos exportadores seriam enfatizados e as demais regiões, mais voltadas ao abastecimento interno, como São Paulo colonial, seriam relegadas a um segundo plano.” Como resultado desta nova forma de se analisar a história, São Paulo passou a ser vista apenas em função das demais regiões, ora fornecendo índios como mão-de-obra escrava, ora desbravando territórios e, por fim, achando metais preciosos. Apesar do redirecionamento nos estudos brasileiros, a década de 1950 presenciou um fato muito importante: o IV centenário da cidade de São Paulo. Pode-se dizer que os eventos culturais, as comemorações e as publicações materializaram o auge representativo da tradição paulista. A figura do bandeirante, definitivamente, é levada ao ápice e, o mais importante, a tradição paulista construída ao longo de décadas por estudiosos a serviço, ou não, do poder oficial é difundida na massa da população, fincando raízes no conhecimento popular. Porém, no plano mais geral dos estudos históricos, o curso das investigações seguia outro rumo. Quando parte da historiografia brasileira abandonou os estudos sobre a dinâmica interna paulista, favoreceu, como havia de ser, a perpetuação daquelas visões tradicionais de São Paulo. Itens como o isolamento, a economia de subsistência, a altivez, a independência e a democracia foram 26
fundamentais para a cristalização de tais imagens, tomando como principal representante o “intocável” bandeirante. Uma gama de historiadores deu substancial reforço as velhas idéias. Raul de A. e Silva ainda defendia a condição de isolamento e autonomia. Alfredo Ellis Júnior e sua filha Myriam Ellis, além de citarem tópicos como o isolamento, a auto-suficiência e a democracia, retomavam a idéia de uma “raça de gigantes”. Entretanto, esse período também ficou caracterizado pelo surgimento de novos caminhos interpretativos que, em pontos específicos, contrapunham as idéias até então vigentes no cenário intelectual brasileiro, máxime o paulista. Charles R. Boxer em sua obra questionava a tese de autosuficiência e de isolamento a que hipoteticamente vivia São Paulo colonial. Há também a não aceitação por parte de Raymundo Faoro de que os paulistas viviam em plena liberdade e autonomia, além daquela típica rebeldia, é claro. Já Richard M. Morse buscou desbancar a tese da democracia paulista ao trazer à tona os complexos mecanismos hierárquicos comuns das sociedades coloniais. Mas foi Sérgio Buarque de Holanda o principal inovador das reflexões em torno da história de São Paulo. Para ele cada época e cada formação social tinham seu próprio centro de gravidade, sua unidade de sentido. É a interação entre meio, cultura e sociedade. Assim, Buarque de Holanda buscava por em xeque a corrente analítica que enxergava São Paulo como uma região atípica dentro da colônia. O quadro apresentado por uma determinada localidade, cuja dinâmica seja única, não quer dizer que ela represente uma cristalização definitiva, mas sim uma sedimentação provisória. É a idéia do movimento, do “vir a ser” defendida pelo historiador. Outro ponto bastante discutido é a relação cultural entre o índio e o europeu. A relação entre vida material e sobrevivência, expansão territorial e equilíbrio vital também fazem parte das preocupações do autor. “No entanto, devido às discussões candentes acerca do subdesenvolvimento brasileiro, às práticas sociopolíticas encetadas pelo nacional-desenvolvimentismo e ao primado da sociologia e da história econômica, poucos autores, nesse período, trilharam os caminhos abertos pela obra de Sérgio Buarque de Holanda.” Como conseqüência das atenções dadas somente aos centros exportadores coloniais, novas imagens de São Paulo foram incorporadas às antigas. Vista agora fora do eixo econômico da exploração colonial, a região de Piratininga encontrava-se extremamente pobre, sem dinamismo de qualquer natureza produtiva e voltada apenas à sua subsistência. Afonso de E. Taunay, Richard Morse, Myriam Ellis e Alice C. Canabrava são alguns dos autores que contribuíram para a construção desse pensamento. Aliás, o único elemento capaz de inserir os paulistas nas relações comerciais do Brasil é o índio, que, caçado e escravizado, eram vendidos as outras regiões produtoras que eventualmente careciam de mãode-obra. 27
“Assim, devido à predominância das discussões acerca do subdesenvolvimento, de o Nordeste ser visto como ponto de estrangulamento ao desenvolvimento brasileiro no século XX, a maioria dos estudos a partir da década de 1950 passa a privilegiar as áreas exportadoras do período colonial, buscando nelas a origem de tal configuração. A riqueza e o dinamismo coloniais são identificados com as regiões que mais se articularam ao mercado europeu e metropolitano no período, e, dessa forma, cristaliza-se a imagem de uma São Paulo pobre, voltada apenas à subsistência, articulada aos demais centros tão-somente pela venda do indígena, movimento externo e não interno à vila.” Essa rápida exposição de obras e autores permitiu a melhor compreensão de como se deu o processo de construção de uma tradição paulista que escolheu como seu principal representante a figura heróica do bandeirante. Se a onda de estudos tinha como objetivo a constituição deliberada dessa tradição paulista, pode-se dizer que tal objetivo foi atingido pois, ainda hoje, o conhecimento popular e oficial da história de São Paulo está bastante permeada pelas características que ao longo destas páginas foram salientadas.
7. A Invenção das Tradições: O caso do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo
Ao exemplificarmos o processo de invenção de tradições é necessário estabelecer as diferenças entre História e Memória. A tradição inventada está ligada mais à memória do que à história. A História existiu realmente e está registrada em documentos, em vestígios de cultura material, em relatos orais, na literatura, entre outros. Já a memória só existe em função da primeira. A memória existe em algum momento escolhido da história. A memória é um recorte subjetivo e pessoal da história existente. Partindo desse pressuposto, a invenção de uma tradição remete a uma determinada memória que seja importante para legitimar e manter certo grupo dominante no poder . Segundo Jacques Le Goff, o controle da memória é uma estratégia política vital das classes dominantes (no caso do IV Centenário, as elites industrial e comercial paulistanas). Para exemplificar a invenção de uma tradição, escolheu-se a comemoração do IV Centenário da Cidade de São Paulo. A delimitação do tema deve-se ao fato de que a construção do imaginário bandeirante, tal como se conhece hoje, foi consolidada nesse período definido da história da cidade de São Paulo. O principal motivo pelo qual se percebe que tal comemoração foi uma tradição inventada é o fato do poder público municipal ter criado uma comissão especial para o IV Centenário. Tal fato deixa clara a relevância desta data para os interesses da elite local. As comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo tiveram início muito antes de 25 de janeiro de 1954. Foi criada, por lei, uma comissão responsável pelos festejos. Para se ter uma ideia 28
da seriedade da comemoração, a primeira portaria relativa à comissão do quarto centenário data de 1948. As discussões foram sendo amadurecidas até que em 29 de Dezembro de 1951 foi promulgada a Lei Municipal n°4.166 que criava a “Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo” 73. A importância do festejo era tamanha que a referida lei foi resultado de parceria entre Prefeitura e Governo do Estado de São Paulo. A comissão era composta por membros da elite econômica paulista e intelectuais (jornalistas, professores universitários e escritores). Tinha por função “coletar o passado que deverá habitar os lugares da memória paulistana” 74. Utilizando para isso uma produção história direcionada por roteiros definidos e grande mobilização popular. A antecedência dos trabalhos da Comissão deveu-se ao desejo de construção de uma “autoimagem” paulistana antes da construção de uma imagem externa. Primeiro houve um “trabalho de convencimento” dos próprios paulistas para depois ampliarem a imagem construída para outros estados, uma vez que “ só comemora quem se sente parte do que é comemorado” 75. Percebe-se que há a idéia de inventar-se uma tradição quando, segundo Lofego, as orientações da Comissão criam dois pilares para alicerçar as comemorações: “O primeiro seria a construção da história de São Paulo, tanto nas reedições quanto em novas produções que atendessem às expectativas da Comissão. O segundo seria a propaganda ancorada nessa produção histórica, que por sua vez legitimaria todo o empenho dispensado para a realização dos festejos”
76
.
Não foi por acaso que o primeiro presidente nomeado para a Comissão foi Francisco Matarazzo Sobrinho, dirigente das Indústrias Reunidas Matarazzo, maior parque industrial da América Latina na época. O fato de o presidente da comissão ser o maior industrial da América Latina mostra bem a quais interesses as comemorações serviam. A Comissão representava uma elite abastada, porém sem tradição cultural. No caso do quarto centenário da cidade de São Paulo (bem como na maioria dos casos em que há invenção de tradição) o passado foi utilizado como monumento para referenciar um presente imponente. A Comissão do IV Centenário só foi extinta em dezembro de 1956, portanto dois anos depois da data oficial dos quatrocentos anos da cidade. Isso mostra que tão importante quanto a invenção de uma tradição é o seu processo de consolidação . 73
“Artigo 1º, Fica criada, com sede e foro na capital do Estado de São Paulo, personalidade jurídica e patrimônio próprio uma entidade autárquica denominada Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo”. Apud LOFEGO, Sílvio Luiz. IV Centenário da cidade de São Paulo: uma cidade entre passado e futuro. São Paulo: Annablume, 2004, p.
37. 74 Idem, p. 26. 75 Idem, p. 20. 76 Idem, pp. 44-45.
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7.1. Uma cidade sem identidade
Até meados do século XIX, São Paulo era uma província pobre, (isso é fato e não construção), historicamente sem projeção nacional. Com a instauração da República do Café com Leite, por conta da renda gerada pelo café, o Estado passou a ter projeção no cenário nacional. O contexto era inteiramente novo: São Paulo gerava renda, tinha dinheiro, mas nenhuma tradição. Com a crescente industrialização nas primeiras décadas do século XX, a cidade passou a abrigar uma incipiente elite industrial, com hábitos e aspirações opostas à elite cafeeira da segunda metade do século XIX. Essa elite foi a responsável por recuperar a economia paulista e, em certa forma, a brasileira, quando se deu a crise de 1929. Com a economia baseada na substituição de importações, a elite industrial paulistana cresceu e ganhou força política. A política de imigração iniciada no final do século XIX, com o objetivo de levar estrangeiros para trabalhar nas lavouras de café paulistas, foi responsável pela liberação de mão de obra barata após a crise de 29. A cidade de São Paulo e suas indústrias absorveram grande parte dessa mão de obra. Tal fato gerou uma cidade repleta de pessoas de várias nacionalidades. Seria impossível haver identidade de um povo num lugar onde há varias culturas. Nenhuma se sobressai espontaneamente. No início dos anos 50 houve um fluxo migratório grande dos estados do nordeste para os estados do sudeste, sobretudo para a cidade de São Paulo. A crescente atividade industrial e conseqüente desenvolvimento do comércio tinham carência de trabalhadores. Novamente, o cruzamento de culturas não permitia a constituição de uma identidade cultural paulistana. 7.2. A Escolha do Mito Bandeirante
Nesse cenário, São Paulo era uma cidade com economia forte, porém sem identidade. A proximidade de uma data comemorativa importante como o quarto centenário veio ao encontro da necessidade de criar uma identidade para o presente: o simbolismo do passado representado pelo bandeirismo. A elite que começou a fazer de São Paulo (estado) a “locomotiva do Brasil” foi a cafeeira: uma aristocracia com costumes voltados para a Europa, e não para a terra natal. Seus hábitos adaptados da França (moda, etiqueta, arquitetura, etc) mostravam uma tradição copiada do estrangeiro e totalmente avessa aos elementos nativos. Essa elite quis apagar os resquícios coloniais ainda presentes na cidade de São Paulo, pois estes remetiam a uma situação de dependência, pobreza e submissão.
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Exatamente a fim de contrastar com a “elite velha”
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, a nova elite industrial, ávida por uma
identidade, encontrou no mito do bandeirante uma sintonia perfeita entre um passado de miséria, um presente de trabalho e prosperidade para a construção de um futuro de glória. O passado de privações dos tempos coloniais deixou de ser visto como vergonhoso e passou a indispensável para a formação de um “caráter paulistano”: por ser pobre, o paulista(no) teve que deixar sua terra e se aventurar em regiões inóspitas e desconhecidas para alimentar suas mulheres e crianças. Assim se formou uma raça de desbravadores e empreendedores. O mito do bandeirante colocou o paulistano (uma vez que os homens saiam do povoado planaltino) como responsável por todas as conquistas de terras e riquezas feitas no século XVII pela capitania. Eis porque é comum notar a confusão entre paulistanos e paulistas em certos tipos de literatura. As comemorações do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo foram responsáveis por criar um imaginário de cidade sem fronteiras, uma cidade que está um pouco em cada parte do Brasil. O cosmopolitismo do século XX é comparado à expansão das fronteiras pelos bandeirantes. Há um paralelo entre a população paulistana do século XVII – que partiu de São Paulo para conquistar o Brasil - e a população da mesma cidade no século XX – que veio do Brasil e do mundo para construir em São Paulo o progresso nacional. Os mitos de origem serviam para mostrar que São Paulo era uma cidade predestinada ao sucesso. O crescimento econômico que a sociedade do IV Centenário estava experimentando nada mais era que o resultado do trabalho e esforço de um povo predestinado à glória (povo personificado pelos tropeiros e bandeirantes). O progresso experimentado pelo século XX é resultado do merecimento dos bandeirantes. 7.3. A imposição da memória: As comemorações do IV Centenário
A data foi comemorada em todos os setores da cultura paulista. Houve inaugurações, monumentos, música, dança, teatro e manifestações folclóricas. Isso garantia que todos os segmentos sociais se sentissem abraçados pelos quatrocentos anos. Ninguém era exceção à “raça de gigantes”. Alguns dos eventos marcantes: ESPORTES: - Inauguração do Pavilhão dos Atletas no Parque da Água Branca. EDUCAÇÃO: 77
Para Hobsbawm a tradição inventada é sempre uma reação a uma situação nova.
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- Lançamento da pedra fundamental da nova sede da USP e do laboratório de Física. - Congresso Brasileiro de Arquitetos CULTURA: - Concurso de Bandas no Ginásio do Pacaembu. - Concurso de fanfarras escolares no estádio do Pacaembu. ARQUITETURA: - Inauguração da Catedral da Sé (ainda sem as duas torres). EVENTOS COMEMORATIVOS: - Flores no Monumento da Fundação da Cidade, com a presença do presidente da República. - Missa Campal no Pátio do Colégio - Desfile cívico-popular no Vale do Anhangabaú e Avenida Nove de Julho. - Queima de fogos e chuva de prata no Vale do Anhangabaú.. Estes eventos marcaram o aniversário da cidade e serviram de abertura para uma comemoração que se estendeu por todo o ano de 1954 78. 7.4. Como as Comemorações do IV Centenário reconstruíram fisicamente a cidade
A oligarquia cafeeira instalada na cidade no final do século XIX fez questão de romper com o passado colonial para instaurar uma atmosfera de luxo (em oposição à pobreza de outrora) e de modernização (em oposição ao atraso colonial). Havia a necessidade de se seguir costumes europeus, sobretudo franceses, e na arquitetura não foi diferente. A preferência pelo estilo neoclássico, que teve como ícone Ramos de Azevedo, dominou as edificações do período. Um ótimo exemplo de como se construir, desconstruir e reconstruir uma identidade, de acordo com novas ideologias vigentes, deu-se no Pátio do Colégio. As ruínas do colégio dos jesuítas, com a Igreja e o Seminário em estilo colonial foram demolidas na segunda metade do século XIX e tiveram a fachada reconstruída em estilo neoclássico. O edifício passou então a abrigar a sede da presidência da Província. Com as comemorações do IV Centenário, a fachada neoclássica foi destruída e em seu lugar foi erguida uma reconstituição do modelo colonial original. A suntuosidade do período cafeeiro deu lugar à valorização do passado colonial, construindo nos paulistanos daquela época um orgulho pelas suas raízes.
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Segundo Hobsbawm, a invenção de tradições consiste num conjunto de práticas tácita ou abertamente aceitas. Estas práticas, de natureza ritual ou simbólica visam inculcar certos valores e normas por meio da repetição. Nesse sentido é que as comemorações do IV Centenário foram realizadas durante todo o ano. É a utilização da repetição visando implantar uma nova tradição.
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