A Re Revi vita tali liza zaçã ção o da Igreja ENEZIEL PEIXOTO DE ANDRADE
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“Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto.” (Jo 15.8) Nós fomos chamados e designados pelo Senhor para apresentarmos uma vida frutífera: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto.” (Jo 15.16). Porém, para produzir frutos, precisamos estar ligados a Cristo: ele é a Videira Verdadeira. Disse Jesus: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5). Estar unido a Cristo é fator vital para a frutificação; porém, a vitalidade pode diminuir; daí a necessidade da revitalização. Segundo o Dicionário Houaiss, “revitalizar” significa: “tornar a vitalizar; insuflar nova vida ou novo vigor em.” Para desenvolver um ministério frutífero, a Igreja carece de revitalização; e quem vivifica é o Espírito Santo. Há alguns sintomas na vida da igreja, que denunciam a necessidade de revitalização. Vejamos então alguns deles: • Terceirização do ministério; • Dissociação entre a dinâmica da cidade e as preocupações da igreja; • Pouco interesse demonstrado pelos moradores da cidade em relação às propostas da igreja; • Ausência de crescimento da Igreja (em alguns casos estagnação e, noutros, diminuição); • Perda do fervor missionário; • Juventude alheia ao modelo de igreja vigente; • Supervalorização de tradições, estilos e estruturas e resistência a todo tipo de inovação (medo do novo); • Tendência ao fundamentalismo religioso: expresso no estreitamento de ideias, no formalismo religioso e no isolacionismo social; • Perda da sensibilidade espiritual. Diante desses sintomas, buscaremos nas Escrituras e apresentaremos nas reflexões subsequentes, a base e as pistas para o necessário e urgente processo de revitalização da Igreja.
O termo REVITALIZAR, tão utilizado hoje pelos estudiosos da Igreja, significa: “dar nova vida a; revigorar; vitalizar”. Essa palavra é sinônima de outra palavra bem conhecida em nosso meio, e amplamente citada na Bíblia, que é “vivificar”. O significado dessa palavra é: “dar vida ou existência a; animar; reanimar, reviver; conservar a existência de; tornar vívido; animar; fecundar, fertilizar; dar movimento, atividade a; ativar” (Dicionário Houaiss). A revitalização da Igreja é, portanto, um processo que visa a injetar novo vigor, novo ânimo, promovendo-se assim a renovação da sua vida. Segundo as Escrituras, o processo de revitalização é obra o Espírito Santo e se dá mediante a palavra do Senhor. A passagem bíblica mais pertinente para comprovar isso, talvez seja a visão do profeta Ezequiel, registrada no capítulo 37 de seu livro. É importante você fazer uma pausa aqui e ler esse texto. Ezequiel teve a visão de uma vale de ossos secos. O Senhor disse a ele: “Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis. E sabereis que eu sou o Senhor.” (vv.4-6). Conforme a explicação do próprio Senhor, esses ossos eram a casa de Israel (v.11). Mas, também, eles podem ser a Igreja hoje. O tradicionalismo e vários outros fatores podem transformar a Igreja num vale de ossos secos. Essa era a triste realidade da igreja de Sardes: “Tens nome de que vives e estás morto.” (Ap 3.1). A mensagem de Ezequiel é que o Senhor deseja nos revitalizar: “Porei em vós o meu Espírito, e vivereis.” (v.14).
Em determinados aspectos, o ministério de Jesus pode ser compreendido como um projeto de revitalização sem precedentes. Jesus encontrou um mundo que jazia na obscuridade (Is 9.1,2); que agonizava sob o peso do pecado (Rm 5.12); que gemia sob a opressão patrocinada pela própria religião; enfim, um mundo que padecia sob o domínio daquele que veio para roubar, matar e destruir (Jo 10.10). E é nesse contexto que o Senhor declara: “eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente.” (Jo 10.10 b, NVI). Jesus destruiu as obras do Diabo, rompeu as amarras da lei que escravizava, desafiou as tradições dos homens, libertou de todas as formas de opressão, venceu a morte e promoveu o triunfo da vida. Segundo o apóstolo Paulo, “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados.” (Ef 2.1). O ministério de Jesus é, sem dúvida, a fonte inspiradora para a revitalização da Igreja. O compromisso da Igreja deve ser com a vida, com a libertação do homem. Devemos lutar contra todo sistema de opressão que tenta se impor e subjugar aqueles que foram libertos pelo Senhor Jesus (Gl 5.1). Podemos nos tornar vítimas de nossas tradições, estruturas e interpretações, tantas vezes travestidas de zelo, organização e teologia. Diante desse perigo, devemos olhar para Jesus, pois ele é o caminho, e a verdade, e a vida (Jo 14.6). O processo de revitalização da Igreja se inspira em Jesus e tem por base os ensinos das Escrituras. Estando bem firmados sobre essas bases, podemos, sim, sonhar com um tempo em que os sinais inequívocos da vida se tornarão abundantes e evidentes em nossa comunidade.
A vida revitalizada deve ser uma preocupação de todo cristão. Não há igreja revitalizada, se os membros não buscarem a revitalização pessoal. Segundo a Palavra de Deus, o caminho da revitalização envolve alguns cuidados básicos, conforme se pode ver no Salmo 1: • É preciso cuidar da santificação pessoal – “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” (v.1). Para haver revitalização é preciso fugir dos caminhos de morte. Em Provérbios 12.28 está escrito: “Na vereda da justiça, está a vida, e no caminho da sua carreira não há morte.” • É preciso cuidar da meditação na Palavra de Deus – “Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” (v.2). A Palavra de Deus é alimento que dá vigor. É por isso o salmista afirma: “Nunca me esquecerei dos teus preceitos, visto que por eles me tens dado vida.” (Sl 119.93); • É preciso cuidar da comunhão com Deus – “Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido.” (v.3). Aquele que está em Cristo é vivificado, pois, Jesus é a fonte da água viva. Já os que se afastam de Deus, experimentam a sequidão e caminham para a morte (Jr 17.13). Longe do Senhor é impossível revitalizar-se. É por isso que estamos conclamando todos a buscarem a revitalização operada pelo Espírito Santo. Vivemos um tempo de oportunidade, em que o Senhor promete: “Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida.” (Ap 21.6).
Em Apocalipse 3.1 a 6, está registrada a carta endereçada à Igreja de Sardes. Essa carta apresenta o preocupante diagnóstico da Igreja: estava praticamente morta – faltava apenas um resto para morrer; faltava integridade no trabalho realizado; faltava vigilância na conduta cristã; havia uma contaminação generalizada. A partir desse diagnóstico, o Senhor aponta os sinais de vitalidade que desejava ver na Igreja. Certamente, são esses sinais que Ele quer ver, também em nós, hoje: • Realidade condizente com a aparência – “Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto.” (v.1) – A Igreja aparentava estar bem, mas a realidade era outra: estava praticamente morta. A nossa condição real precisa ser condizente com o que aparentamos. • Conhecimento associado à prática – “Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás, de modo algum em que hora virei contra ti.” – A Igreja era bem instruída, mas não colocava em prática o que sabia. O conhecimento associado à prática produz resultados inevitáveis, a saber: fidelidade à palavra recebida, arrependimento das faltas cometidas, vida cristã vigilante. Jesus nos adverte sobre o risco de se ouvir e não praticar suas palavras (Mt 7.24-27). Tiago nos exorta sobre a necessidade de se ouvir e praticar a palavra de Deus (Tg 1.19-27). • Ortodoxia associada a candura – “Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas” (v.4) – Segundo o dicionário, “ortodoxia” é a “conformidade absoluta com um certo padrão, norma ou dogma.” Ser um cristão ortodoxo é crer na Trindade; é ter a Bíblia como única regra de fé e prática; é conhecer e seguir a doutrina cristã. Assim viviam “umas poucas pessoas” em Sardes. E essas pessoas demonstravam candura, isto é, alvura, pureza, simplicidade, inocência, ausência de artifício. Por isso, foram consideradas dignas de andar de branco junto com o Senhor.
Paulo afirma que devemos andar de modo digno da vocação a que fomos chamados e, conforme escreve em Efésios 4, o compromisso com a verdade (ortodoxia) não pode excluir a candura, ou seja: a humildade, a mansidão, a longanimidade, a unidade, o amor (leia Ef 4). • Audição associada a atenção – “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (v.6) – “Audição” tem a ver com a percepção dos sons pelo ouvido, a capacidade de ouvir ou escutar. Já a palavra “atenção” pode indicar a “ação de aplicar o espírito a alguma coisa; aplicação, cuidado, meditação, ponderação, vigilância; benevolência, consideração, cortesia, respeito” (Dicionário Houaiss). Temos de ouvir e atender. Esses são, portanto, sinais de vitalidade que o Senhor deseja ver em nós.
Vinho novo, odres novos! A revitalização tem a ver com o vinho novo e os odres novos mencionados por Jesus (Mt 9.17; Mc 2.22; Lc 5.37-39). Deus parece ter uma predileção pela renovação. É por isso que, através do Espírito, Ele leva a cabo o processo de revitalização da sua Igreja. Aliás, na história da Redenção, Ele sempre fez coisas novas: um mundo novo, a partir do nada; uma nova sociedade, a partir de Noé; um novo pacto na Pessoa de Cristo; novos céus e nova terra. O Antigo Testamento apresenta a Jesus como o Renovo, isto é, um ramo novo que cresce do toco de uma árvore recém-cortada e do qual se origina uma nova árvore (Is 4.2; 11.1; Jr 23.5; 33.15; Zc 3.8; 6.12). Em Cristo Jesus foi estabelecida uma Nova Aliança (Hb 9.15); e o Evangelho é apresentado como uma Boa-Nova. Para participar do reino de Deus é preciso nascer de novo e viver em novidade de vida (Jo 3.3; Rm 6.4) – “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (I Co 5.17). Como já foi dito, a consumação do reino de Deus se dará através de novos céus e nova terra – a Nova Jerusalém (Ap 21.1,2). E é o próprio Senhor quem declara: “Eis que faço novas todas as coisas.” (Ap 21.5). Fica claro, portanto, que o reino de Deus é apresentado na perspectiva do novo. O reino não é algo acabado e estático, mas uma realidade dinâmica que se renova a cada dia. Daí, a relevância do tema relacionado à revitalização. Não devemos temer o convite para receber o vinho novo. O reino de Deus impõe a abertura para o novo. Jesus adverte, porém, que a mentalidade condicionada ao vinho velho não resiste ao vinho novo do evangelho da graça: “Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho, como os odres. Mas, põe-se vinho novo em odres novos.” (Mc 2.22).
A revitalização da Igreja tem a ver com vinho novo e odres novos. Segundo o ensino de Jesus, vinho novo deve ser posto em odres novos (Lc 5.37 a 39). Ao inserir essa parábola em seu ensino, Jesus referia-se ao vinho novo da sua graça, traduzido no Evangelho que liberta, promove e dignifica o homem, em contraposição ao vinho velho do sistema religioso judaico, caracterizado pelo legalismo escravizador, que oprimia e roubava a beleza da vida. O evangelho de Cristo liberta e promove a vida. Entretanto, frequentemente, resistimos a esse vinho novo, preferindo os odres velhos dos sistemas, modelos e hábitos criados pelo próprio homem que, embora nada mais sejam do que tradições de homens, limitadas pelo tempo e pelo lugar, acabam alcançado o status de algo sagrado, que deve ser idolatrado. Em nome de tudo isso, corremos o risco de nos fecharmos à ação livre e soberana do Espírito, resistindo à Palavra de Deus, que é viva e eficaz. Isso acontece quando a Igreja se torna mais importante do que Cristo, a teologia mais importante do que a Palavra de Deus e a doutrina mais importante do que o Evangelho. A tensão resultante entre o vinho novo e os odres velhos pode por tudo a perder (Lc 5.37). Posturas reacionárias e inflexíveis, em nada contribuem nesse processo. Embora seja rejeitada por tantas pessoas, a orientação de Jesus é muito clara: “vinho novo deve ser posto em odres novos e ambos se conservam.” (Lc 5.38). O processo de revitalização, quando mal compreendido, pode se tornar uma experiência desconfortável e dolorosa, pois, conservar os odres velhos pode parecer mais prudente, seguro e confortável. Jesus termina dizendo que, diante do vinho novo que ele oferece, os escravos do vinho velho, sempre apegados aos odres velhos, continuam dizendo: “O velho é excelente.” (Lc 5.39).
“Afirmou-lhe Jesus: Quem beber dessa água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.” (Jo 4.13,14). A revitalização está na essência do evangelho de Cristo. Aquele que recebe o evangelho experimenta a vivificante água que jorra para a vida eterna. Quem bebe apenas as águas do tradicionalismo, voltará a ter sede. Em João 7.38, o Senhor Jesus declara: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.” O processo de vivificação da Igreja é esse fluir de água viva que confirma a presença orientadora do Espírito Santo. A ideia de um rio que flui caudalosamente é apropriada para expressar o dinamismo que caracteriza a igreja revitalizada. Essa ideia vai contra toda forma de estagnação que tenta conter o fluxo de vida produzido pelo Espírito Santo. Desejar a revitalização é desejar a operação plena do Espírito Santo. O Espírito vivifica ao que está espiritualmente enfermo; tira da morbidez daquele que se sente fraco e abatido; livra do marasmo aquele que está apático e indiferente; leva à frutificação aquele que havia se tornado estéril. Quando falamos de uma igreja revitalizada, estamos falando de uma igreja que, pela graça de Deus, seja capaz de se curar de todos esses males, cujos sintomas denunciam uma terrível enfermidade espiritual. A revitalização é um projeto de Deus. A sua base bíblica é facilmente confirmada. Portanto, beba dessa água! Mate a sua sede! Deixe os rios de água viva fluir.
“Uma abordagem do tema da revitalização, na perspectiva do profeta Isaías, é interessante. Podemos dizer que Isaías desenvolveu um ministério de revitalização. Já no primeiro capítulo de seu livro, ao denunciar os pecados do povo, ele convida todos a se voltarem para o Senhor, numa atitude renovada diante dele. Com sua ênfase messiânica, o profeta fala do Renovo que seria enviado pelo Senhor (4.2; 11.1; 53.2). Fala também da renovação experimentada por aqueles que esperam no Senhor (40.31). O projeto de revitalização que seria levado a cabo por Isaías, nas palavras do próprio Senhor, adotaria a estratégia de uma poda radical: “Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco.” No capítulo 11.1, essa figura de linguagem é melhor explicada: “Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo.” É uma referência à vinda do Messias prometido. No capítulo 58, podemos verificar importantes aspectos da revitalização do povo de Deus. Isaías começa falando sobre alguns empecilhos à revitalização; fala sobre os passos para a revitalização; e termina falando sobre alguns sinais inequívocos da revitalização do povo de Deus. As palavras do profeta são acentuadamente práticas e têm a ver com experiência do povo de Deus também hoje. Esse capítulo 58 merece uma leitura atenciosa e uma abordagem detalhada. E este é o nosso propósito: trazer, nas próximas reflexões, um enfoque de cada ponto levantado pelo profeta, quanto ao processo da revitalização do povo do Senhor. Por uma igreja revitalizada!
Com base no capítulo 58 de Isaías, podemos constatar algumas práticas que se constituem em empecilhos para a revitalização da igreja. São elas: • Religião voltada para a satisfação pessoal (vv.1,2) – A condição espiritual de Israel naqueles dias era deplorável. Porém, mesmo assim, eles insistiam em cultuar ao Senhor, tendo prazer nessa prática. Acontece que aquele era um culto hipócrita, que visava tão somente à satisfação pessoal. A religião centrada no interesse dos adoradores é um sério empecilho à revitalização; • Religião centrada no ritualismo (v.3) – O ritualismo era uma forte marca do culto de Israel naqueles dias. O sentido de jejum, por exemplo, foi completamente desvirtuado. Não havia correspondência entre o significado das práticas devocionais e a vida diária. É por isso que, no capítulo 29.13, o Senhor faz uma grave denúncia: “este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu.” A religião centrada em ritos, destituída de sinceridade e dissociada de atitudes coerentes é um empecilho à revitalização; • Religião conivente com a injustiça social (vv.3-5) – A incoerência era muito grande. Eles se entregavam às práticas religiosas, mas não abandonavam a exploração exercida contra o semelhante. Afligiam suas almas, e o próprio corpo, mas permaneciam atolados em iniquidades, sendo coniventes com a injustiça e a violência. Nesse contexto, todo sinal de revitalização acaba sendo sufocado. A igreja evangélica brasileira convive, hoje, com essas distorções. Elas se transformam em empecilhos à revitalização. Porém, não podemos deixar de falar, como ensina Isaías 58.1: “Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó os seus pecados.”
Continuando a abordagem baseada em Isaías 58, podemos ver alguns passos para a revitalização da obra de Deus. São eles: • Coerência entre as práticas devocionais e a conduta na sociedade (v.6) – A religião de Israel estava enferma, pois não havia coerência entre as práticas devocionais e a vida na sociedade. O jejum requerido pelo Senhor era muito mais do que simplesmente a abstenção de alimentos. O Senhor queria ver neles, atitudes compatíveis com a devoção demonstrada. A revitalização da igreja passa pela coerência entre o que se diz e o que se faz. A advertência feita à igreja de Sardes é oportuna: “Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te.” (Ap 3.1-3); • Amor a Deus evidenciado através do amor ao próximo (vv.7, 9, 10) – A religião viva e verdadeira se resume no amor: amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. A falta de amor é um fator de morte para a igreja. Por outro lado, quando há misericórdia e sensibilidade ante às aflições do outro, a vida se estabelece de forma plena. A parábola do Samaritano confirma isso (Lc 10.25-37). O amor é um ingrediente essencial no processo de revitalização da igreja (I Jo 4.20,21); • Prioridade absoluta às coisas do reino de Deus (v.13) – Segundo o profeta, a inobservância da guarda do sábado era um sinal do descaso do povo para com as coisas de Deus. Cada um se preocupava em cuidar apenas dos seus próprios interesses. Quando isso acontece, a obra de Deus fica totalmente comprometida. Jesus nos ensina a buscar em primeiro lugar as coisas concernentes ao reino de Deus (Mt 6.33). Esse é o caminho para uma vida abençoada e para a vivificação da igreja.
A revitalização da igreja tem sinais inequívocos. Conforme as promessas apresentadas em Isaías 58, esses sinais podem ser assim compreendidos: • A resposta do Senhor ao clamor do seu povo (vv.8 e 9) – “Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda; então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui.” Uma igreja revitalizada tem intimidade com o Senhor, pois fala e se faz ouvir. A vitalidade faz com que a igreja perceba nitidamente a resposta do Senhor ao seu clamor. • A manifestação da providência divina a favor do seu povo (vv.11 e 14) – Esses dois versículos apresentam, de forma alentadora, a promessa das bênçãos de Deus sobre o povo revitalizado: “O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas jamais faltam (...) então te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse.” A manifestação das bênçãos do Senhor é um sinal inconfundível da revitalização que ele opera em seu povo. • A paixão missionária demonstrada pela nova geração (v.12) – “Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável.” Essa paixão missionária demonstrada pela nova geração é um dos mais veementes sinais da revitalização da igreja. Quando apenas a velha geração se preocupa com as questões concernentes ao reino de Deus, a situação é preocupante, pois prenuncia a descontinuidade e, consequentemente, o enfraquecimento e o fim de um projeto. A revitalização anunciada pelo profeta Joel, através da promessa do derramamento do Espírito Santo, envolveria a nova geração: “vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões.” (Jl 2.28-32). Que esses sinais da revitalização sejam vistos, hoje, entre nós!
A Igreja de Éfeso, num primeiro momento de sua caminhada, apresentou as marcas de uma Igreja viva. Os primeiros capítulos da carta dirigida por Paulo à Igreja contêm palavras positivas e votos de progresso no caminho que já estava sendo trilhado. Éfeso era uma Igreja operosa, perseverante e que cultivava uma saudável ortodoxia. Mais tarde, porém, a pujante vitalidade demonstrada pela Igreja já não era mais a mesma: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras.” (Ap 2.4,5). A Igreja de Éfeso foi convidada pelo Senhor a dar inicio ao processo de revitalização. E esse convite é extensivo, hoje, às nossas comunidades também. Na abordagem feita por Paulo, nos capítulos 4, 5 e 6 da Carta aos Efésios, ele apresenta marcas que autenticam a revitalização da Igreja. São elas: • A unidade produzida pelo Espírito (Ef 4.1-6) Essa unidade é um fator que identifica a consistência da obra de revitalização. Suas evidências atestam isso, pois se manifestam através das seguintes atitudes: a) Paciência motivada pelo amor (4.2) – Na unidade produzida pelo Espírito, os crentes são habilitados a viver em paz, “suportando uns aos outros em amor”; b) Esforço em prol da unidade (4.3) – Quando a revitalização é real, os crentes não ficam à espera de um ambiente propício para poderem desfrutar a unidade. Pelo contrário, movidos pelo Espírito, eles se esforçam de maneira diligente para criar tal ambiente; c) Submissão a Deus (4.5,6) – Na comunidade revitalizada, a unidade tem este sólido fundamento: “um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.”
Além da unidade produzida pelo Espírito, observa-se que outra marca evidente da revitalização da Igreja é: • O exercício dos Dons Espirituais (Ef 4.7-16) A revitalização desperta a cada membro do Corpo para agir segundo o propósito para o qual foi estabelecido. Em igrejas revitalizadas, o exercício dos dons espirituais cria um ambiente contagiante e frutífero. Sobre os dons, é imprescindível compreender: a) São expressão da graça de Deus – Dons espirituais não se adquirem em congressos; nem em livrarias. Eles são dados pelo Senhor (4.7). E a Palavra de Deus orienta os crentes a buscar com zelo os dons espirituais (I Co 12.31); b) São variados, mas têm a mesma finalidade – Igrejas revitalizadas não são monótonas, pois a vida pulsa com intensidade, através da riqueza dos dons, sempre exercitados com um único propósito: “a edificação do corpo de Cristo” (4.12,13); c) Devem ser exercitados em amor – O crescimento verificado em comunidades revitalizadas não prescinde do amor. Não é um crescimento do tipo: custe o que custar. É por isso que Paulo orienta: “seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo...” (4.15,16). É muito importante que todos compreendam que a Igreja não é um “salão de festas”, mas uma “oficina de trabalho”. É um lugar em que todos os crentes são chamados a descobrir e exercer os seus dons espirituais. Essa é a experiência natural de uma Igreja que se abre para a revitalização operada pelo Espírito de Deus.
Como foi mostrado anteriormente, são marcas de uma igreja revitalizada: a unidade operada pelo Espírito e o exercício dos dons espirituais. Dando continuidade à abordagem de Paulo, verifica-se que há outra marca da revitalização, igualmente importante, a saber: • O compromisso com a Santidade (Ef 4.17 a 5.21) Comunidades envolvidas pelo processo de revitalização se despertam para buscar a santidade, como condição sine qua non para a vitalidade. Esse compromisso passa pelas seguintes atitudes: a) Renovação espiritual (4.22-24) – É a experiência progressiva da novidade de vida produzida pelo Espírito, mas que demanda boa vontade, esforço e disciplina por parte do homem (Rm 6.15-23); b) Vida condizente com os mandamentos do Senhor – Paulo conclama os crentes: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados.” (5.1). É essa disposição que toma conta de uma comunidade em revitalização; c) Busca pela plenitude do Espírito – Nas comunidades abertas à revitalização, a plenitude é um alvo constante: “enchei-vos do Espírito” (v.18). No entender do apóstolo, a plenitude do Espírito não se manifesta de forma extravagante como insistem alguns, mas de forma simples, como se pode ver: - Vida prudente – “Vede prudentemente como andais, não como néscios e sim como sábios...” (5.15); - Discernimento espiritual – “... não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor.” (5.17); - Adoração espontânea – “... falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo ao nosso Deus e Pai.” (5.19,20); - Humildade e boa vontade – “... sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.” (v.21).