SEMINÁRIO DE TEOLOGIA DE VILHENA
A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO Dombri Nogueira da Rocha
Trabalho apresentado à disciplina de Cristologia do Seminário Teológico da Igreja de Deus de Vilhena. Prof. Pr. João Ribeiro Alves
Vilhena 2011
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A Última Tentação de Cristo
A Última Tentação de Cristo, filme do diretor Martin Scorcese, estrelado por Willem Defoe, baseado no livro de Nikos Kazantzakis, narra uma estória de Cristo – de sua juventude até o martírio – sob um ponto de vista humanista. Nele o jovem de Nazaré está sob imensa tensão perante o conflito entre ser homem e ser o Messias esperado por Israel. Sob uma ótica um tanto heterodoxa, Scorcese demonstra um Jesus humano ao extremo, cheio de defeitos e conflitos existenciais. Ademais, a extravagância em mostrar um Jesus pecador fez com que o filme sofresse censura da Igreja e até mesmo proibições em diversos países. O filme retrata que Jesus não queria ser o Messias, não aceitava a sua condição de escolhido e lutava contra Deus. Admitia sofrer tentações, mas acima de tudo alegou categoricamente que era pecador, chegou até mesmo a ter uma amante. Mostra um Jesus inseguro, preso à dualidade entre o bem e o mal do ser humano e inconsciente de sua natureza divina. É evidente na obra a apologia a um Nazareno humano, com pouca ou nenhuma evidência de caráter divino. Além de mostrar um Jesus pecador, não trata da ressurreição e O expõe com um ar desinteressado - até mesmo desajeitado - na realização dos prodígios que revelam sua condição divinal. A humanidade de Jesus é doutrina pacífica na Cristologia e corroborada pelas Escrituras (Jo 8:40; Atos 2:22) que confirmam que Jesus tinha sentimentos (Mt 26:38; Jo 11:33), tinha necessidades humanas como fome (Mt 4:2), cansaço (Mt 8:24); Atendia às leis do desenvolvimento humano (Lc 2:40; Hb 2:18) , sofreu tentações (Mt 4:1-10); Ele nasceu (Lc 1:34,35) e morreu (Lc 22:44; Jo 19:30,33) . De outro lado, a divindade de Cristo é plenamente aceita, nos dias de hoje, à luz da hermenêutica bíblica, pois Ele foi chamado de Deus (Jo 20:28; Rm 9:5) , já existia na forma de Deus e era o grande Deus (Fp 2:6; Tt 2:13) ; Recebeu o nome de Emanuel – Deus conosco – (Mt 1:23) e Senhor Justiça nossa – Yhwh Tsidkenu – (Jr 23:5,6). A Bíblia nos ensina que Jesus é igual ao Pai e reside na Trindade com a mesma força e poder. Devido ao caráter redentor da obra de Jesus se fez necessário que Ele entendesse completamente a natureza humana e se fizesse carne (Jo 1:14), contudo seu temperamento humano cresceu junto com o caráter divino, Cristo é uma só personalidade com duas naturezas. A teoria apresentada pelo longa-metragem em comento se reporta fortemente aos Ebionitas, que difundiram seu ensinamento próximo do ano 107 d.C. e diziam que Jesus era apenas homem, um grande profeta, mas não Deus.
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Ao mostrar o desconhecimento de Jesus acerca de sua natureza divina e de sua santa missão, o longa vai de encontro a um dos atributos inegáveis de Cristo Deus – a Onisciência – a qual Ele revelou durante o seu ministério. (Mt 17:27; Jo 2:24,25; Jo 4:17,18; Jo 16:30; 1Rs 8:39) . Ademais, Ele não tentou fugir de sua Obra senão a completou com autoridade, competência e desde menino demonstrou sabedoria e ciência da sua nobreza (Lc 2:46-49). No anseio de demonstrar que Jesus era humano, o filme deixa “escapar” um
Jesus pecador, confuso, tentado pela concupiscência da carne; pelo desejo por Maria Madalena, ele deixa sua missão – auxiliado por um anjo - e casa-se com a prostituta. Somado à miríade de pecados está o adultério. O roteiro descreve que Deus mata Madalena e então Jesus fica livre para se juntar à amante – Maria irmã de Lázaro – com a qual já tinha um filho, então com esta constitui uma “família feliz”. Somente no final, os apóstolos aparecem e revelam ao Cristo, já velho e moribundo, que o anjo que o ajudou é na verdade Satanás e que a fuga foi um erro, então Cristo arrependido, volta atrás, pede perdão a Deus e cumpre a sua missão. Contrária a essa visão humanística exacerbada, a vida de Jesus, toda ela, é uma obra de arte, única e perfeita em todos os seus aspectos. Ele aparece sempre, todo revestido dessa transparência que só aqueles que têm a certeza de sua missão podem revelar. As Escrituras demonstram um homem, mas evidenciam um varão decidido, consciente e digno de seu status de Filho Unigênito do Pai (Jo 10:29). Jesus como homem, sentia todas as necessidades da espécie e, como Deus, temperava essas indigências humanas. Sua vida foi um exemplo de consolação sobre as criaturas sofredoras. Por toda parte onde passava, derramava as bem-aventuranças de seu ministério celeste: Consolava os aflitos, confortava os abatidos, alimentava os famintos, curava os enfermos, expelia demônios, ressuscitava mortos, nutria as almas com o pão da vida eterna, alimentava a fé, demonstrava imensa compaixão para com os pobres, pois sabia o que era viver num lar humilde. Sabia o que era ser rejeitado, excluído da sociedade. Jesus Cristo foi humano, mas não um humano comum, pois Ele também é Deus. Servir era o seu ideal. Ele mesmo disse: “Eu não vim para ser servido” (Mc 10:45). Ele é único nesse mundo, é o Filho Unigênito do Pai (Jo 3:16), concebido sobrenaturalmente (Lc 1:34,35), foi e sempre será livre de pecado e depravação (Jo 8:46; Hb 7:26; 2Co 5:21) . Com relação à última tentação de sua carreira humana, a maioria concorda que aconteceu no Jardim do Getsêmani e é particular por ser uma tentação que não proveio de fora, mas das entranhas da carne. Era noite, estava sozinho, cansado e um futuro sombrio se aproximava. E Ele sabia de tudo, a corrupção de Judas, o julgamento mentiroso, a fuga dos discípulos, a dor, a humilhação, então Ele disse: “ Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26:39).
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Esse episódio não revelou que Jesus queria fugir dos desígnios do Pai, tampouco revelou uma personalidade vacilante e egoística, tão somente desvendou o quanto Ele se sentiu humilhado, o quanto Ele também era carne e sentia medo. Por outro lado mostra uma profunda resignação em relação à sua missão e um profundo respeito pela vontade do Pai. Interpretar essa passagem como sendo vontade de desistir e se entregar a uma mulher é extrapolar os limites do bom senso. A última tentação de Cristo foi o desejo, vindo da profundeza de sua índole carnal, de ser poupado da humilhação e do sofrimento, e não o desejo luxuriante de ter uma mulher e, por mais sublime que seja constituir uma família. O Senhor Jesus Cristo se despiu de sua Glória e veio em carne para se fazer maldito e nos resgatar da morte, essa era a Sua missão. Ele se fez criatura para salvar a criação. Sua dupla natureza não deve ser confundida com fraqueza, torpeza ou qualquer outro adjetivo que expresse pecado. Ele se fez homem, mas homem perfeito, sublime, imaculado, por isso é chamado o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
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BIBLIOGRAFIA
1 – A última tentação de Cristo, filme de Martin Scorcese, Willem Defoe, 1988; 2 – Bíblia de estudo de Genebra, Sociedade Bíblica do Brasil, João Ferreira de Almeida, 2º Edição, Revista e Atualizada na Brasil, 1999; 3 - diretoresdecinema.blogspot.com/.../ultima-tentacao-de-cristo.html, acessado em 13 de junho de 2011; 4 - prcardson.blogspot.com/.../ultima-tentacao-de-cristo.html, acessado em 13 de junho de 2011; 5 - sermoesonline.pibja.org/2011/01/.../a-beleza-moral-de-jesus, acessado em 13 de junho de 2011; 6 - www.amigosgospel.com/.../232-jesus-cristo-de-hollywood, acessado em 13 de junho de 2011; 7 - http://www.bibliaonline.com.br, acessado em 22 de junho de 2011; 8 - www.graodetrigo.com/portuguesebooks/Anticristo.doc, acessado em 13 de junho de 2011.