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MAQUIAVEL E O NOVO COl'v7TNENIE DA POLÍTICA Neuiton Bignotto
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Não ignoro que a natureza iurejosa dos homens, sempre prontos a criticare lentos a elogiar ti ação dos outros, torna toda descobel1a de 1l0l'aS ordens e !!!.9.dostão perigosa para seu autorquanto é para os uaregadores ã procura de mares e terras desconhecidas. No entanto, animado por esse desejo, que me lera sem cessar a fazer o qlle é I'{/nlajoso para ustos. me determinei a abrir lima rola ainda lIào trilhada, na qual, sem dúrida, ~e~ef.nl!~~/(/l!ifl.culdade de caminhar.' -
Dessa maneira ~Iaquiavel abre o que foi lima das etapas mais impor- tantes ele sua viagem pelo território. da natureza humana e das relações políticas. Vivendo numa Florença acostumada a saudar os feitos de seu filho Arnérico Vespúcio com rochas nas janelas das casas, o secretário 110rentino pouco se ocupou de navegação ou dos mistérios das novas terras. Ao longo de seus trabalhos não encontramos referências especificas aos descobrimentos e nada nos leva a crer que o atarefado secretário tenha encontrado tempo para se dedicar a estudos que não guardavam relação com a vida política de sua Itália natal e com os afazeres dos homens públicos. Seus esforços se concentraram na exploração dos recônditos da vida política e de suas múltiplas determinações. Para se lançar nesses mares revoltos, no entanto, ele se serviu de fer- ' ramentas que pareciam estar ao dispor de todos: os clássicos da Antigüi- { da de e a observação do cotidiano dos homens. Como compor nesse contexto uma nova compreensão da vida em comum que pudesse se comparar às grandes navegações' Como falar de compreensão inédita da realidade para um tempo que-se acostumara a elogiar o passado? Maquiavel herdou dos hurnanistas do século xv a confiança nos antigos, mas teve junto com seus contemporâneos a sensação de que algo de novo se forjava nas experiências variadas que iam aos poucos transformando a face?o 375
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mundo conhecido. Realiz8r, na esfera do conhecimento da polítjca, hçanhas semelhantes às dos n~l\cegador~snos oceanos parece··tes sido sua grande ambição Nossa própria época, no ent;tnto. n30 nos capacita a entender o que se passava na mente de um pensador florentino, preocu pado com a politica e com a recuperação do passado. De fato, estarnos de tal ma neira convencidos de que a história é o lugar do aparecimento do novo e de que é possível procurar formas diferentes elas que existiram no pass:l.do para nossa modo de viver qUE;,mesmo não apostando na ideologia do progresso. nào concebemos mais um mundo que nào mude suaS estruturas esseo~:!.;.lj~t}.l!111a \'eloci9~~~~~ Ora, essa Hrtigem dal~ohre a qUTil tantos historiadores j:.ífalaram. pode nos fazer esquecer. nào somente que o mundo não mudava tão rápido. mas. sobretudo, que mesmo o imenso impacto que teve sobre a mente dos homens o anúncio do descobrimento ele novas terras não alterou de írnediato a percepçJQ que ..se.rínha do tempo e de seu clesenrob~.' Além do mais, as imensas no\'idades, que punham à pro\';! certeZ;lS estabelccidas havia muito em di\'ersoS domínios da vida, não se prop~lgaratn a ponto de suplantar as preocup;lçôes graves advindas da instabilioalk política, das guerras e das ameaças da peste.' Assim, no momento em que escreve Maquiavel. o sentime.rl~o de .llllldança se acompanha do des(~jo de est:!bilidade, que faz com que muitas das formas de pensamento do passado continuem a vigorar de maneira decisiva, mesmo em círculos cultos e dispostos a explorar novas
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terras imagin:'lrias. Para tent;lrtnOS. então. compreender a alus:1o às nan:gaçôes logo no começo dos niscol'Si. \'aIL' a pena recoflbr o ambiente no qual ele foi lido pela prim<:lra ver. e para o qual se destina\'a de forma prioritári;1. I\laquÍ:lvel, depois de ter escrito O !Jríllci!}(' logo após a <.krroclda d:! Repúhlica tlon..'ntin;l. se integrou no grupo de [ovcns intelectuais que se reunia nos jardins da (as;\ dos Rucclbi. e que ficou conhl:'cido como os Orti Oricellari. :-':a verdade, a casa \..Ia família j:\ ser\'Íra de refúgio para os letrados da ger;\\)o anterior. quando () pai. Bern;\r
M:JS seria prematuro tentar entender o significado da referência com) base em aconteçimentos ligados às gr:lt1cles descobertas. De fato, talvez .,/ seja mais prudente reter do trecho, em primeirolugar, que as descobertas i-< "dos navegadores já faziam parte do universo simbólico das classes letra-] ... das a tal ponto que serviam de elemento para U11l~l apresentação que tinha! com certeza a ambição de captar, como era R~QPCiQ_cla época, a ben<;\'o-J )kI!.Sh!.ç!QS..~llfll~_s. Assim, a nosso ver, o que deve chamar nossa atenção é que Maquiavel reteve elas atividades dos navegadores. sobretudo. o perigo que corriam os aventureiros e não propriamente o caráter espetacular das terras, que aos poucos se incorporavam e alargavam os domínios conhecidos do mundo. De forma sirnplificada poderíamos dizer que i .\I:lquia\'el reconhece que o novo traz perigo e que esses riscos ele está ~( disposto a correr ao tratar ele matéria nova em política. A simplicidade \\, dessa proposição, no entanto, está longe ele permitir uma compreensão real elo problema que representava uma teorizaçào do novo. Uma coisa) era reconhecer a novidade, outra muito diferente incluí-Ia nos quadrosl mentais da época c S,Qbreela reorizar. Nossa hipótese é que essa foi ;1 apos.! ta de Maquiavel e a isso está ligada a fortuna critica ele seu trabalho. Dois aspectos podem nos ajudar a esclarecer nossa hipótese. Em pri-i rneiro lugar, vale lembrar, C0l110i:í mostrou Gilbert.' que durante o gO\'ef-) no de Soderini e mesmo antes no período de Savonarol.i, os florcntinos estavam confrontados. Com lima clara perccpcào de que o mundo llluda.' \';1 e .!lccessit:l\';\ de novas ferramentas p;lra ser compreendido. A escolh.: preferencial dos que tentavam pensar a política era .a r:\z:l.cf e. por issoj aut.ores corno 6.!:.i.~t(lt.~~.~~, que for.neCiam qlQclel()~r:l<.::i.on:l is p:\ra () e:~tl~!c (I.~I"rel:hJ~':...~2S0!~. erum citados e serviam de rl'fl'r0ncia nào apenas en ~, debates eruditos. mas em discussões de carútcr eminentemente pr:'ltico t' levadas a cabo em diversas instâncias da vida institucional da cidade." A(~ " bJw1~.s;.u:o.uiian.çLno..podl'r ela r~;i(l -,r.;lr~l~~~i~l!yct,'~~_ql..!~~~.J?:lSS~;~:) C,·~li-lJJLLnlIOc,\2:. estava a percepção ele que f~';~yxtern:l' podiam atuar l' fL.!g~~l~n ao controls dO~;igentl's, mesmo dos mais esclarecidos. l:ntre es"as for~'as eram citadas Deus. :t necessidade e a fortuna.' Ora. todas das, expunham os limites da ;~;~~l'oe- m(;~u-:~1~'OI1l clareza que núo havia cúnlõ'se ver livre das incenezas cio mundo. 1'\0tocante a Deus h;l\'i:;"2-;~d-;d~~·,i·('-()Ofianc,',~. pelo menos por parte cios florentinos. de.que Ele aiu, dava a cidade nos momentos difíceis, _como bem -mostrara Savonarola no .. -~-----._---_.._.~--~----..;.... ... ..-.~.,._. .....•... -... inicio do período.de...s.uainfll~ncia sobr~s dl'~(.~os dela.' .Mas ess:\ crença na preferência divina não era suficiente para anular a percepção de que :1 fortuna 'agia segundo 1I1W lógica que ~.2_.P...?.9..tl ..~e.r_s()f.l.t~~~I~I-º;~.~c:1~ E?~I~: Mesmo para os que tentavam contê-Ia nos quadros de um referen-
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~~"T -' ~\, cial cristão de mundo, estava claro que seu poder era imenso e escapava \ do controle dos homens, Podemos dize~:,p~!:!E-nlo.!.-quealdéia do nC?vo nào estava associada \ necessariamente a um bel}l:.Ao contrário, o novo só aparecia enquanto tal, 1---·--··-----" \ para homens como Bernardo Rucellaí, quando era fruto do acaso, obra de \~ : uma deusa caprichosa, que pouco ligava para os destinos dos homens e suas penas, De maneira geral, uma das figurações do novo era o produto 1 (~~.cg2.Hi~gênciado mundo e, p;;-rtanto, se mostrava como aquilo que escapava ao poder dos homens, O perigo era, assim, a ~_aracterística essert2ª1 -d.anQ\idade,I~m9 se_!1~~,!,?<=ll1p~e pl,!º~~se .?E!.omada como pura negatLvjd;!çk,.,p'ojs.,é_cJaro~'1fOJ1\tnaJ~lmb~n},,!jud.,!ya_.9?J}9!Il~D..sem d íversas ~[tuaS'õe~~ " O segundo aspecto diz respeito à mudança de comportamento que ocorreu em Florença com a queda da República. A velha aristocracia continuou em grande medida alijada elo poder, Os jovens, muitos dos quais participavam-das reuniões dos Orti Oricellari, mantiveram intacto o velho sonho ele renovação que acompanhava a política florentina desde o final do século xv Esse desejo de renovação, que l11Uit:ISvezes era expresso por meio de longos debates sobre questões constitucionais, tinha em Maquiavcl um guia quase natural. Corno mostra Albertlni. referindo-se aos [ovcns auditores dos IJiSC()1:çi: "lnduhitavelrucnte Maquiavel representou uma das experiências decisivas de suas juventudes.' uma personalidade fascinante, capuz de reunir a scnsilulídadc pelos problemas atuais, a expcriênci« política l' a rupucidndc de acreditar em 1I1l1:lrenovação política e espiritual ..,". Mas t:~s:l~i(~~~~.!.1~:a 11~I,tl~~~l!,!1;\( U(,)rt~,\\:~I_ !~~l'n()SperigoS! a empresa de pensar novas formas políticas, No contexto italiano, colocar o -rl:(i;reõ1;í(Glil;:;-ii]:,';'f()flll~\j:l implicava uma tomada de posição. lima vez que não se concebia a busca pela melhor constituicâo e pelos melhores exemplos C0l110um simples debate entre eruditos, Além do maix. a gl'ra(,tO dos Orti Oricellari ha\'i;t sl1hstituído,a~~ren~'a na razão pelo l'!ogio d~ , fore;a l' () gosto pcLts a~';-e't:-ei'i:~ii~e~k-;~,ifEi-:;es6'z.r:;;.1~';I de convcncê-los do acerto dv suas proposicóes Existem e\'id':rKias de que nosso autor foi plenamente convincente quanto a seus própositos iniciais. Nardi. um cios frcqücntadores do círculo de debates. dizi:l:
gostava imensamente, sendo todas suas obras objeto de grande apreço, de tal forma que dos pensamentos e ações desses jovens Maquiavol náo pode ser despido de toda responsabilidade,"__
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que eu saiba, ror ninguo.!!1l, Porque u dito :,\jcoJau er;1 muito amado por eles, tendo recebido
mesmo, como sei. :lIgllll1emolumcnto, De sua conversa se
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Que ele tenha convencido seu auditório de que estava prestes a partir para uma grande aventura, pode ser depreendiclo das palavras que acabamos de citar. Quaís eram as terras que pretendia explorar é algo que n,10 se revela de imediato, Se seguÍlTI1os,no entanto, as trilhas do texto, veremos que o primeiro tema abordado será o da criação de novas formas políticas, Ora, para l\laquiavel "não há nada m:lIsdiTIcITae empreenoér;cré"resüTtãClõ mais cluvidoso e deQ~d':!.ta mais perigosa do que a introduç,lo de novas instituiçÔes'~" Assim como JOsgr:lncles ~orii:l\'a as turas marítimas no Mecliterdnco algo ultrapassado e sem sentido, pensar as novas formas políticas no contexto da época parecia ser o exercício intelec. rual mais vigoroso e arriscado a que um pClls:lc!or podia se lançar, pois o -e obrigava Dijo sÓ ~:gar o ralor_º-e refer2_~il .s.!;U.~:lsli~oCO~~~irll1a.!2 ca p
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A primeira hipótese que dl'\'t'l11os im'l'stig:lr é a de que o estudo da figura do príncipe novo, que segundov;írios autores representa () núcleo do tratado mais conhecido ck nosso autor, fornece () lugar COrreto para se , pensar a questão que nos intercss.i.': De fato, em"sua obra, Maquiavel se . propõe a estuda r a cri;lç,10 de novos regimes em situa~'ôes extremamente complícadus O que devemos nos perguntar é se as situações an;t!isadas nos primeiros capítulos do Principc podem ser tomadas como uma tcori-
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zaçào da fundação de novos regimes ou se o objeto das análises difere do que poderíamos chamar, sem muita precisão ainda, de fundador ideal. \, [ \'osso l?0nto~artidaserá a afirmaçào de PÓCOCK de que Opriucipe " ~ lln!_.t!,~t,.~~o.~01?r~.,:.'·~()~:aç3.o.·-_c:~~,,:.9.::~~~~~~.?!~l?oI~a lima tipologia cios ~\ l.ill?:-':;1.Ç!91$~~- Como observa o intérprete, a escolha desse eixo temático I impõe a i\laquiavel o desafio de pensar a imersâo do ator político ~~ rt::i..no da fortuna, o que (: inevitável no caso dos que pretendem alterar a ordem \-igente" Ora, como sugere Pocock e de maneira ainda mais radical Lefort." ao colocar o problema da mudança dos regimes com base na lógi; ca da fortuna. :-"!aquíavel insere no texto uma outra variável essencial que é a da /';rtli do ator político. Ou seja, na verdade, a escolha feita é pela polarid.rde. já conhecida pelos humanistas.ve não simplesmente pà; c()n.~ider.içâo (LI imporrJncia da instabilidade do mundo elos homens rep~~~~..:. tud.t pela figura da deusa romana. Para chegar a urna resposta convincente p:na nossa questão, pareceno- que uma boa estratégia é a de analisar os casos mais extremos ela cria()o dos 1100'OS principados, guar~do '?.2rín_s,ipeparte para a criaç!!5.2...de gm ~ezi~~~~em I?0der cont;lf COIll a:0!.1:m~\fO\Il<::.0das ne[;uradiçÜü e I~S ~),-;t~t!}.!.~Essas sítuaçócs, descritas sobretudo a partir do sexto capítulo cio Principe. s:10 interessantes exatamente porque expõem o problema da ..t fUI1<.b(;;1o em sua situação mais difícil, ou seja, aquela na qual o confronto entre rirtú e fortuna ocorre no terreno ideal pal~l seJ:~bs(tr\,;Jd(~pelo estu-
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dioso da política." Logo no começo do capítulo, il-laquia\'d explícita :IScondições nccessári.rs para uma boa compreensão d.. situaçào dos novos regimes: "Digo, pois. que nos principados .novos, nos quais há um príncipe novo, se encontrar:'! mais ou menos dificuldade para conscrvá-lo segundo seja mais ou menos virtuoso aquele <[UL' () conquistou"," Ao enumerar, no entanto, os que passaram p:lra a história na c()ndi~';10 de príncipes que conquistaram sem a ajuda <.\;I fortuna, ele cita personagens de uma enn'rg:IdUfJ diferente dos exemplos que dominam seu tratado, Seus heróis s;10 ninguém menos que ~I()is(>s,Ciro, Tcscu e Rómulo. Estumos sem dúvida diante dos grandes fundadores e ternos todas as razões para concentrar nossa aren<;úoem suas
é, se para executar suas obras têm necessidade de rezar ou podem recorrerá força". 2' Maquiavel não hesita em dizer, numa crítica direta a seu contempo- ")' râneo Savonarola, que apenas podem sobreviver os que sabem e podem recorrer à força guanºº-necessádQ, Os profetas desarmados estão desti- I nados ao fracasso, como bem dernosrrara a história recente. O que nos intcre~sa, no entanto, é ~ue nesse momento cio texto encontramos um paradigma da boa fundação. daq=lel<~operada p.elos granel:-s homens: ela ocorre sempre quando a dependência em relação aos caprichos da fOI1U-I na é mínima e quando a iitti) é tal que ----sabe ..... migrar do---territóriº-.~o -...-. _... .._..._.__~ con- tI vencimento para o da força sem tergiversar." Esse quadro geral mostra que i podemos estabelecer lima hierarquia dos inovadores. como quer Pocock. e que essa hierarquia nos fornece uma linha de continuidade preciosa I entre os fundadores, os profetas e os príncipes inovadores." O caso exem-\ p~rtanto, e o c!él..;qllêe;-1fren~lrnaioraific~;fciade possível c sabem I vencê-Ia "permanecendo potentes, seguros, honrados e felizes". Os prin- , cípes que quiserem sobre\'Í\'er e inovar d~1, assim, escolher por mOde-1 ~ 10 os grandes fundadores, pois um dos cnsinamentos cio pensador floren..1._ tino é justa.mente qlle:les n;1o pertelKcI.11 a um mundo diferente. m~~::30 :\ IlLe,~mouniverso ele dificuldades e desafios, .. _.... ---' ~ Que conclusões podemos retirar então, desse capítulo. para nosso': .. propósito? Nossa. primeira conclusão parcial -1\ dt,;.~lll..<:_g_<:'.stu02..dafun-· ,élçl0 é o estudo :~_~i~~2~~·~)J1d~~~_~~tren)as..Q;U'j~!;Lr.Q!ític>!Aque-; Ia na qual ~~1J.!.~!:!..1 Llt(!!:.p.J2,sÜü:o.J!Xlcrn,o vem corroborar os e ..•forros dos atores em sua tarefa de criar novas formas de "id~ em COI11LIIl}. j\!as (> óbvio que n;10 podemos pretender chegar a um saber teórico sobre como pro- I~duzir tal [';/111_ n!~~_;~_<:_L(iliJt:J!.uJ(Lm~:i.'i;Js,aniliscsap<':l1as na.medida ÇlU--411<:.~ri~U1D>. f<}Er:t~,S:t:S_:\~)l1p'I.Q~.}.I~.5ua .<:xisl~n{,:M.Assim, resta ao estudioso ela política se debruçar sobre os fatos do .r;lssado, que narram os i!~~onte(iI1l~Jlllli..!ll.~·L1!<"l};'-":c..:l;i..rl<:..ai.;.Lçíl.Cllll.!.jloW,s,1:egimc,:s, para tentar construir um saber objetivo sobre C0l110 fundar ou como produzir uma } inovacáo radical no reino das cidades existentes. Tal saber, veremos adian- /, te, n;10 pode ser confundido com o saber do próprio fundador. mas ele o conhecimento racional possível sobre a questào que nos ocupa. Se nossa conclusão é correta, podemos agora nos perguntar se O principe fornece uma teoria que responda às nossas indaga)'ôe-s, De fato o livro continuaexplorando o 'par conceitual que nos pareceu essencial para uma abordagem correta do problema da criação. :'Ias os exemplos seguintes n;10 contêm outros casos que pudessem se encaixar no modelo extremo do fundador. que se ampara na própria [';11i1. é
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o sétimo ca pítulo inverte a premissa do anterior c lida com os inovadores que se amparam na boa fortu na, O exemplo escolhido é o de César Borgia," prfncipenão dcstituídode Vil/li) .!\1aSque seviu denotado. p~la própria fortuna que o coloGua num ponto elevado ela vida política)taliana, Seu caso demonstra que a inovaçâ.o pode ter um preço alto para os que se'Iançam em uma aventura na g~!1 nut).s:a é.2g§~~J cüntrola r todasas variáveis. Com ele, no enranro, não retomamos ao universo pri"ilegiaao Ziõs gl:;;;-des fundadores, Se não 11:1 como negar que existe uma continuidade entre os diversos inovadores, que são objeto de estudo do Principe, também não podemos deixar de notar que ao sair do território privilegiado de homens C0l110Rôrnulo, estamos adentra ndo uma terra que nâo possui as mesmas possibilidades daquela com a qual se depararam os gr~mdes atores políticos do passado, Talvez pudéssemos formular de outra maneira a idéia de que a obra mais conhecida de nosso autor é um tratado sobre a inovação. Podemos manter nosso acordo inicial com l'ocock, introduzindo, 1õda\'ia, uma interpretaç~lo diferente da hierarquia dos inovadores proposta por ele, A continuidade apontada existiria quando consideramos os atores que se lançam na cena pública pela conquista de novos espaços, Fia não teria, no entanto, o mesmo significado quando () objeto é o saber possível sobre a 'criaçâo de novas formas políticas, O ínovador é o ator que tenta romper \ as barreiras de um mundo p povoado pelo embate entre a fortuna c a rirtú " e dele se ;lpro\'eita para realizar SU;\S próprias obras. Os [unclndorcs, que agem seguindo apenas a própria rirtú. fazem algo mais, Eles possuem em comum com os Inovadores. e por isso pertencem a seu universo. o futo de tentar provocar mudanças no curso cio mundo segundo um plano que a elcs pertence, Eles desafiam igualmente a tendência dos velhos l'\.'gimes de conservar suas ínstituicóc» para evitar a açào do tempo, I\las ao ahrir a clix:\ de Pandora. os fundadores nâo querem sr) inovar: eles querem criar a melhor forma possível para resistir ao poder devastador da passagem elo , tempo e romper com os laços do passado, É nesse mundo inexplorado que ,~csitua, a nosso ver, o verdadeiro problema teórico da fundação. que nào se confunde int<..:irall1enk'com o da ínovaçáo, embora p.utillic o mesmo terreno e possa ser formulado com base nos termos gerais que permitiram a Maquiuvel pensar o príncipe novo. Estabelecer uma diferença entre a fundaçào das repúblicas e as conquistas que instituem novos principados implica, <.: claro, uma tornada ele posiç:lo em ft'laç,10 :1inlerprl'tal;:1o ela ohra maquiavelíana." A principal, conseqüência é a considcraçâo de que só o estudo da obra dediGlcla às repúblicas pode 110S ajudar a construir um conhecimento coerente sobre a criacào de novas formas políticas em condições extremas e ao mesmo ~'
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tempo adequadas ao aparecimento cio regime mais potente, De um outro ponto de vista, podemos dizer qlle~máticada fllnd~fàQ lidaiSlm a in!!:o~.:'5'àode novas f9E.J;nasno temp~, enquanto a inovação descreve a situação mais geral da interação das cidades existentes com o tempo j:í instituído da história, Nossas considerações nos permitem compreender por que Maquiavel nào retoma às figuras do passado depois ele tê-Ias erigido em modelo no sexto capítulo, Na verdade, nessa altura do texto, ele assinalou uma rota pela qual passaria alguns anos depois, mas que, não podia ser pesquisada sem mudar inteiramente de rumo, Trata-se, portanto, de lima continuidade e de uma ruptura, Gillltinuicbde..entre..os.at~Lq,~_çie\'ia~1]Jidar com a fQrmlliL~_Q'!pJ.ur
RETOR;\D ,405 "D1SCORSr., A /MI1i-1ÇÀ O
o lema da fundação comporta urna neccss.irí.; rcfer2"l1da à quest;1'c)"·· cio saber ou, mais especificamente, ao saber possível nos domínios d.t política. ;'\os cUssicos gregos essa rL'fen::'nda se torna mais importante do que os problemas pr.uícos próprios Ú criar;;jo de uma nova forma política. lima vez qUL'a busca do regime ideal implica uma sahedori:\ que nào pode ser pensad.i apenas do ponto de vista objetivo da cria~'jo de novax leis, mas por lima referência direta ;1 busca da verdade e da tr.msformucáo dos diversos ;I!o~es soCÍ:lÍs ~[)v()lvid(): no processo político por urna fi(lideiO, / adequada, \osso desafio agora e, portanto, () desaber de que maneira ') 'U ' I\bquia\'c1 retoma certos pontos dn tradiçâo t' os transforma, dado que \ vamos partir da ~'s~' d_L'qll\'ll;í ..n!-'I('_Vn1..:~D!.Qt.!:~I~~~l~~~tJ.~::~~,~12:\"s:ldo,.) \\ O leitor que parte em huscn de uma ..teoria da fundação" em--sríclui:lvel tem logo no prefácio do primeiro livro dos Discorsi o texto com o qual começamo nossa cxposíçáo. uma demonstração da importârxia d:1 ques", tão para o autor. Com efeito, a primeira afirrnuçáo do secretário florcntino 'é a de que prerendese aventurar por terras novas :) procura ele "novas º[de!l:i_~,JJJ.QSlos",mesmo conhecendo
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rodas as criticas, pois ele n~10nega que vai "entrar ror lIm8 \·i8 que ainda .n~~.QLc?'~Q.q~.s2!:Üda '·.:_~~le~~:?~?~~~~~:~~_~ficl~déldes que se anunciam. Ora, esse começo é essencial não só pelo tom ousado mas porque confirma. ainda que ele maneira indireta, que o objeto de seu livro é o estucio ela criação de nO\'8S formas de gm·erno. O que chama a atenção, no entanto, não é o anúncio de que a fundação está no centro de SU8Spreocupações, mas o fato de que da maneira como Maquiavel coloca as coisas nesse início o leitor é confrontado com a idéia de que pode ser ele o fundador, uma vez que nào hesita em dizer q ue vai entrar por vias desconhecidas e que seu discernimento pode não ser o mais adequado, plgunsínré"i'preres já levantaram a hipótese de que o verdadeiro ··príncipê novo era o próprio Xlaquiavel. Tal hipótese se baseia em grande medida no fato de que O principe desmantela de ponta a ponta a reputa(;:io dos homens políticos ítalíanos, que pareciam dotados de capacidade de açào aos olhos elos contemporâneos do secretário florentino, mas tam112m porque, nesse movimento crítico, apenas a detenção de um certo saber parece propiciar os mecanismos para se enfrentar as diversas forças em luta no campo da política. Não deixa de ser razoável aos olhos dos leitores a idéia de que, se essa afinnaçâo é verdadeira, ninguém melhor cio que () próprio l\bqui:l\"el p:lra ocupar o lugar do criador de novos principactos. Ora. nos [)iscursioque é apenas uma possibilidade no Principe se ~ enuncia com todas as letras logo no Prebcio},l~~l~lia\"el se coloca no lugar Q()..f~L1.Q~ldor. " A ousadia, no entanto, l: tamanha que devemos nos precaver quanto ao seu verdadeiro significado. De fato, logo depois de ter anunciado caminho d.is novas terras. nosso autor coloca em questão sua capacidade de trilh.i-lo. transformando sua habilidade _~lluk:.:;<:pbri[nm~QDlli1.ili)S"em mero e modcstojjto.da anteÓpa(::i<.l_~!~~~ _ ~e_<:~s:si~I.:!des d~:.tL'I!:E.(~prl'sentc. Esse primeiro m: ivirncnto, visando afastar a suspeita de uma pretensão desmedida, se completa quando 1\bquia\"t~l. repetindo o lugar-comum do hunumismo cívico, afirma que o verdadeiro caminho é o da imit;IS'ào dos ~íiirig()s.A crítica que parecia ser enunciada de um ponto de \·i~~t;-·~e~~bdei;;;ll~nte novo se reduz ;~:l()g~(~.~I.~.~,~~~.c de SU~lrirt o que estava longe de chocar os auditores dos Orti Oricellari. Assim, ao escolher cornentar os livros de Tiro Livio, pr.el~'J1d.l:. ..i\.~~11J~nt~;~.l!\H~ç!;l<,!~_çk'i.'i.1:~.ili.ls, embora a empresa seja difícil: "L ..] ajudado por aqueles que me encorajaram a portar esse fardo, espero levá-lo suficientemente longe para que reste pouco caminho a ser percorrido até () objetivo final"." O leitor que, surpreendido pelas declarações iniciais, se sentir apaziguado por esse apelo ã imitação, terá certamente caído na armadilha muquiaveliana que, ~I!l~!ndo um no\"o mundo,.~e.ªP9ia na força da tra-
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diç;1p.par~~J_~. Apelar para o passa cio como forma de convencimento não muda em nada a proposta inicial e nem anula o que já foi· . dito, apenas sugere que as ferramentas necessárias paralevar adíante'rào' grande tarefa se encontram disponíveis, embora, como observa Maquiavel, os homens políticos de seu tempo são pouco hábeis no manuseio desse arsenal. Criticando seus contempodneos, por não se servirem dos instrumentos necessários para a fundação de novas repúblicas, ele obser\ ;'a que osP_l}he~i~le-nto-cia~'coisãsã;-lligiSieõ1ll-i11-e-stãtL;tOsemelhant~ão ~ do.~?_nl:~.~imento das coisas naturais, pois, ao não procurar imitar as ações d9S ~ntigo.s~.,!gem "COI}lO se o céu, o sol, os elementos, os homens tivessem mudado 0'n;()~-'i~1ento, a ordem e_~J)oténcia em relaçào aos de anri..samente"," - ._. A última afirmação eleve ser nuançada. pois nada indica que Muquiavuestivesse.p.reocur..;\dQsom uma teoria e!a-s-c-OiSas naturais~Ela implica, no entanto, a confiança de que a empresa proposta não é desmesurada e que pode se ancorar numa forma específica ele conhecimento e ser o objeto cios discursos que se seguirão. ..... .,. ".' ,
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Depois cio apelo inicial, o tom do discurso maquiavcliano muda, rara se adequar ao longo fôlego das reflexões qu\.' se s\.'gtiii;'io, A mesma sinuosidade da introduçào, no entanto, será a marca da obra que continuará seu comércio com a tradição e seu movimento de dist.mciamcnto e de ruptura. Ao falar do nascimento de Roma, Maquiavcl diz que as repúblicas podem ser fundadas ou por um habitante do local ou por um estrangeiro, o que: nos permite estabelecer uma classifica(;;10 irrcfut.ivcl dos diversos fundadores de: acordo com sua origem. 1\I;\s seguiríamos um falso caminho se acreditássemos que: essa classificuçào. com sabor levemente aristotélico, tem um significado especial ou um alcance teórico importante. O que Maquiavel visa L' sobretudo mostrar a exemplaridadc romana e elescartur Florença como modelo de fundação livre. Usando o mito florcntíno da origem sem amarras da cidade, ele procura mostrar de um l.tdo a importância da fundação livre, de outro que sua cidade natal não podia aspirar a esse título. \I Mais importante é a descrição que faz da liberdade do próprio funda, 'dor: "St~O livres os edificadores de cidades quando alguns povos ou sob (J poder de um príncipe ou por si mesmos são obrigados pelas ds:enps graves ou 'pela [()_n~<:.ol1 ainda pela guerra a abandonar a pátria e-prõcurar novas terras".' Pode parecer estranhoque a liberdade cio fundador seja 385
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descrita com base rias condições objetivas de su a obra e que a necessidade seja escolhida como o parârnetro para medir a líberdade. )'las é justamen te nessa escolha que se manifesta a coerência do discurso ma quiavelia no. Se a liberdade do fundador fosse urna condição subjetiva, e se devêssemos medi-Ia a priori para determinara qualidade de seu trabalho, estaríamos diante de uma curiosa teoria, ou de uma metateoria da fundação, que nos permitiria enu ncíar u rn sabe r positivo sobre a origen~çl;l;; form:1S políticas, anterior à ação efetiva de fundação. Ou. dizendo ele outra maneira, o saber do legislador seria secundário em relação ao saber do filósofo. que sobre ele se manifestaria de forma direta e positiva. A arte da funduçáo seria uma arte derivada, dedutível de conhecimentos que escapa riam ao próprio ator que a efetua. Ora, essa hipótese implicaria oua aproximação de Maquiavel com os clássicos gregos ou a incoerência de ,S~;! obra. Como as duas possjbílídaoes nos parecem absurdas. preferirnos acreditar que Maquiavcl tem razão em afirmar que a liberdade do fundador est;Í associada à necessidade, pois só nessa condição não existe a alter-
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O fundador que age sob o império da necessida1ati\':! da conservação. ele, t:St:í confrontado com um dilema do qual mIO pode fugir: ou cria uma forma política capaz ele resistir ao tempo e às ameaças dos outros povos, ou está condenado à dependência e morte. A liberdade aqui é extrema, pois seu oposto é necessari:l!TIente a servidá () ou a morte. Por isso, não faz sent ido fa Ia r de U!l1saber anterior: d íante da alternativa proposta, a rctlex:i(;s()hr~';runclaçio é sempre posterior à
e a medida do conhecimento do fundador (, feita a partir cio resultado ele SU;1obru, ou para usar os termos (11... Maquiavel, pclu nuniksu~'~io (li.' sua rirtú. :\kís, ele mesmo resume a situnçào extrema na qual S<.: encontram os grandes fuudadorvs: "t nesse caso que se conhece a rirtú t!()S cdificadores e:\ fortuna do cdificudo: a qual (: mals ou menos maravilhosa segundo (: mais ou nll'I1OS virtuoso aquele que esteve em seu principio"." E -;S:Iúltima afirm:l(:10 lança nova luz sobre um d()s pontos csscnci:\ is \ da tcoria !llaquia\'l'lia!1a da fllmb,';io, Como vimos, a liberdade do fundador ~l' manifesta nas condições extremas da pura necessidade. Ora. se \ estaJ1lOS ccl10s em dizer que não existe em I\bquianc'llIJ11 saber abstrato \j. que presid« a :1(;~1()dc l'I-Ll,':io das formas políticas. devemos nos pergun)1 t.ir pdo cst.uu« l tLl prúpri:\ ohr.r que í.'st:1I110Sanal isando, A afirmação citada ru h permite ~'sC:lpar do dilema de lima teoria que se pronunciaria sobre .rquíl» qUl' ;\SSl'\"er;\ .n~i() ser possive! falar. i\:l verdade, para \I:lquian:l. o ohjl'tr> til' estudo n:icj- c::: um suposto saber do 'fundador, nu.; sua rirtú, e
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cio", pelo menos no Sentido que daríamos a esse gesto no interior da obra platônica. Nosso autor pode falar da fundaçãe sem necessariamente dese- ~. jar fundar, pois seu paradigma é o da ação no tempo e não o de um espaI ço vazio no qual se forja o sentido da existência de um povo, A verdadei-l L ra polaridade não é liberdade-necessidade, mas sim uiltú-necessidade, e i I nada indica que parJ falar ela oirtú seja necessário ser virtuoso. )\ 1'-:<10 estarnos com isso descartando pura c simplesmente a hipótese de que Maquiavel manifesta ambições no começo de seu livro que podem ser interpretadas como sendo as ele um fu ndador, estarnos mostrando-que. se esse é o caso, o caminho maquínveliano é tortuoso e sua descoberta depende de uma análise demorada ele seu discurso, Por enquanto, podemos afirmar que a escolha de Roma como modelo é plenamente justificada se considerarmos os parârnetros que foram propostos,_e_,9~le r~2.e,mos §~gl.ÚI.nD.ssa.ruJ.s_GLdQ.';,p':I:~~o~,q~I<;..c,~qll:'!.tllJ:.\_em ~~3ber sobre a f~~~!:,l~~~~).
FUYDAÇÀOE TEMPO No início do segundo capítulo cio primeiro o que entende por fundação ideal:
explícita
De tal forma 411~'x' pode chamar.feliz a república que foi obra de um homem tão prudente, que lhe deu leis. que lhe pcrmítvrn viver segll 1":1 mente sem qUl' as I1ll'Sl11aSSL'j:1111 corrigid.is. E Sl' \'C:' que Esp:Ir!:1 observou :IS SU:ISpor 111:1 h de oitocentos ano- sem corromper-se c scru tumultos PL'rigo,'iCls," Sobre l'S'i:l condição podemos fazer duas ohscr\'acJ)t's. A primeira. l' que faz eco :I.'i nossas conclusões anteriores. é que o ato da fundação cria sua própria cOl'r0nci:t L' ser.i tanto mais forte quanto maior for a unidade de Sl'U.~princípios, Daí () elogio feito a Espana c a seu fundador. que conseguiu impor leis que duraram longo tempo. Mais uma vez, () secretário florentino nào nos fala do ponto ele vista de l.icurgo, mas dos que apreciam sua obra c a consideram perfeita. A segunda obscrvaçáo diz respcito ~t condição que Maquiavel considera como sendo a de maior [cliridade: ter durado, sem se corromper, mais de oitocentos anos, A eficácia de urna fundacão pode assim ser medida por SU~Iresistência à passagem do tempo, abstratas que.deveriam
sçn.l 411.e.s:'jamos (.)briga(,IO~1 t'm,In~'i.;~r..cqillli~~CS ser cumpnçl:\s,PDUl!J)~.t..hQ,u:.on.s.tJ..U.UÇlo.. O·CXCIll'-.-
pio escolhido - Esperta - tem um significado especial, porque sabemos que também Platào o utilizou para descrever a Pc/idéia dos habitantes cio regimeideal, 1\0 caso ele Maquiavel, a cidade é [ulgada feliz, e seu fundador transformado em paradigma, pela duração e resistência que manifestou ;!n
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·' -.-tempo, Suas instituições não sâo citadas no capítulo em questão, mas sáo analisadas em outros trechos dos Discorsi, sendo sempre abordadas corno produto de uma vontade superior sobre a qual só podemos Falar porque conhecemos a objetividade de sua obra. Nada indica, no entanto, que possamos imitar suas formas. O que está em q uestão é o sentido dos atos de Licurgo, que parecem conter o essencial de uma boa fundação. Já para Platão, Esparta interessava na medida em que formava seus cidadelas de uma maneira que deveria ser imitada na construção do regime ideal. Embora a cidade não fosse ela meSJ11:l ideal, continha elementos do regime que merece o nome de ideal. De maneira aproximativa, podemos dizer que no C:.lSO ele Maquiavel o primado é dado à ação e o caráter exemplar é deduzido do que a ação nos mostra; no caso ele Plarão, a ação interessa somente na medida em que manifesta traços de uma composição ideal, que é acessível em primeiro lugar a um saber que merece o nome de teórico, Seja como Cor, I1,t,'SS:icomparação surge um elemento que sabemos ser fundamental em toda teoria ela criação: o tempo. Esse elemento apareceu, pela primeira vez, quando Maquiave! fez o elogio da resistência da constituição dos lacedernó" nios corrupçâo, mas é na consideração da possibilidade que certas formas políticas têm de se tomarem melhores que seu significado se manifesta por rinteiro: "As outras, que [1:10 tiveram uma fundação perfeita mas que tiveram um princípio bom e apto a tornar-se melhor, podem, pela ocorrência de acidentes, tomarem-se perfeitas"." Apossibilidade de.que um regime possa se : transformar, assumindo lima fd"':io que não lhe foi dada no momento ini"'\ : cial, acaba com a ilusão de que apenas as cidades privilegiadas por um ato ~ único e perfeito no COnK\'O s:10 o objeto de nOSS:l atenção. Ao contrário. .\laqui:lve\ parece sugerir que eSsas s:10 as menos interessantes para o estudioso, na medida t:111que não podemos clwg:lr ao mesmo saber de seu funi dador, que se encontra fora do tempo, A.~([l,l'-.;s:1o tr:in.2~!~111!i.c1.1S no ten1j?o S1SlJ1DSs.ü_\:eJelac.kiro ,prClb.l!:.Ul.;LJ1oisse mostram numa dimensão que nos \ é acessí\'e! a partir do parâmetro que vimos ser o adequado para a análise da questão que nos interessa: !I clin,1.L:D,'.i}~~(l:!_~~~~), Isso não retira a impor" I túncia de Esparta, mas, como dirti Maquiavel. faz de seu sucesso um mero I ' produto cio acaso, 01':1, para () teórico jD!~r~ss:1I11..:I.:inlUdanças d(,.'tuadas nas lQl].(..I!<;~l<::~ ..maisgjJk~i~, lá onde J1l:('~:~~isJ.;!_ç!e t;J.jr!J.' se encontram reunidas, . o que faz com que essas formas nunca se ordenem S{/IlZ(/ pericoto.
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-Diantê ela evidência de que o povo romano havia manifestado lima virtude superior na política, a tradição havia consagrado como explicaçâo duas causas: a primeira 'atribuía ü boa fortuna a origem ela grandeza romana, a segunda ;1s.ll_a~Í!..111çJ~JWl~!E=-Or,;~elil;tlllbo,~ os casos estamos diante de fatores Cju~nãCJ_podem ser explicados racionalmente. e que, portan-
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Se não podemos ter o mesmo saber elos grandes fundadores, também 11:10podemos afirmar que nosso autor se contenta com afirrnaçóes gené-
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ricas, que sugeririam um ingênuo relativismo. Ao contrário, delimitado o lugar do qüãl podemos falar sobre a fundação, ele se lança numa longa caminhada de construção de um discurso coerente sobre a criação das for: mas políticas. O primeiro passo é dado, definindo a natureza dos homens, ou melhor, o que dela se manifesta, quando está em questão o domínio da política e elas leis, As afirmações de Maquiavel, nesse terreno. são diretas e sem ambigüidades, e ele as repete em várias partes de suas obras: "Como demonstram toelos os que se ocupam ele legislação e como a história está cheia de exemplos, é necessário, para os que criam as leis ele uma república, supor os homens ruins e dispostos a praticar a maldade sempre que lhes for permitido e tenham a ocasião"." Ao contrário do legislador dos" clássicos gregos, que tinha por tarefa montar um sofisticado sistema de \., educação, capaz ele colocar o bem comum como parâmerro da ação de ~~ todos na cidade, e isso apesar das diferenças inevitáveis existentes entre os homens, () fundador de Maquíavel opera num terreno minado, no qual \ - não é a razão que preside nossas relações com a coisa pública, mas os inte- . resses egoístas de CIcia um e o medo, Essas afirmações, no entanto, não ocupam o mesmo lugar da antropologia platônica, sustentada pelas longas discussões sobre a natureza da alma, pela análise detalhada dos comportamentos associados aos divc..• rsos regimes, reta íntima conexão entre a onrología do Bem e o estudo ela n.uureza humana." O secretário tlorcnttno não coloca uma aruropologia negativa no lugar ela antropologia eli)s clássicos giêgos.'b/1ul' ele procura mostrar l' que, no tocante ;'i política, ou :b rela(ks sociais. nào podemos
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.to. nào podem servir para ancorar 1I1nanova teoria sobre a política, como era a ambição manifesta ele :-'bquiél\"el: A solução ele no?s9..f~'-:It()r,longede desprezar o ponto ele partida tradicional, procura integrar os dois fatores: "Que l:í onde existe uma boa milícia devem existir boas leis e raras vezes ocorre que não haja também boa fortuna". O que é pura abstração, se tornado isoladamente, torna-se compreensível se ligarmos os dois fatores pela idéia da cr iaç ào ela bUO!l(1 ordine. Ora, o que Maquia vel sugere, e que"! escapa ela indeterminação escondida nas soluções tradicionais, é que ;\.' melhor maneira ele se compreender os sucessos e fracassos dos homens!, \, \em suas l-idas em comum é partir da análise de suas ações concretas e ~~ \ ~ seus resuJtado,'i, e .nào de suposições \'agas que não podem ser compreen- ! l' didas ror instrumentos analíticos disponíveis para os que querem estudal) o
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mundo dos homens, O passo seguinte será o de transformar o que é pura negatividade no homemem fator positivo na viela politica. Desde () título cio capítulo, L -l\1aqui;\\-el sugere uma ruptura com a tradição ao afirmar que a desunião entre :t plebe e o Senado fez de Roma uma cidade IÍlTc e potente, Mas é ao dizer que toda cidade estJ partida ao meio em dois humores inconcikí\'eis que essa ruptura se consolida: "I..,J que se considere que em todas as repúblicas existem dois humores diferentes: o do povo e o cios grandes, Todas as leis favoráveis à liberdade nascem da desunião entre eles [.. ,r," o que era apenas recusa-de uma antropologia. se converte numa alavan_ca poderosa para () estudo-da politica. Os homens de fato não desejam .o bem dos outros, mas não querem ser prejudicados em seus interesses. o que os k\'a a transformar () terreno da política num campo de guerra, Ncs\, sa conversão. no entanto, longe ck' se transformar no lobo dos outros, •• como em Hobbcs." o homem de Maquiavcl encontra-se com os outros /1 que (;lIllh0111resistem Ú oprcssào, ou com os que eksejal11 o poder. Ess.: dissiruvtria entre os denll:ntns constttutivos das cidades faz com que ~t J.2()lític~~~~p~~i'lQi!~1itos l' n:l~ ;1hlN'a ela pat._,COl110para os ü
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Chegamos, assim, a um ponto essencial p:tra pensar a fund.içào. Se de fato núo podemos ocupar () lugar do legislador. como j:'i mostramos, a teoria dos conflitos nos as~inal:1 um ponto de partida essencial para toda a obra leghbti\-,1. Em rclarào a el:\ nâo podemos mais agir C0ll10 se bus, I cassemos um novo território em mar aberto, Na obra ele Maqui.rvcl a afir\ <' m.içáo da natureza conflituosa das sociedades é a terra firme anunciada ;\. . \ no PrdkiZ):-------' ----.-- ..--. / Para pro\'ar sua tese, :-'!aquÍa\'el recorre em primeiro lugar à história romana. erig_i~_ae!l}e~~·l1lplpsle~jrtll.<;1e e de c;lpacidade de a\:lo, mas seu discurso klgO ganha um outro tom, fortalecido pela convicção de que atinI
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gíu um novo patamar. É assim que ele retoma ao velho problema da educação e da lei para iluminá-lo com suas novas luzes sobre a natureza da política, Falando sobre as sociedades consideradas virtuosas, ele afirma: ,.[,--]porque os bons exemplos nascem da boa educação, a boa educação das boas leis e as boas leis dos tumultos ~ muitos criticam ele maneira inconsiderada"." Em Platào, a formação dos cid:ldlos pela educação cõõS,titui o núcleo da atividade criativa do legislador: em Maquiavel, ela é o produto de uma ação política que tem seus fundamentos nos conflitos que dividem o corpo social. O fundador maquiavelíano não se descuido. de uma boa educação, mas ~a-_gl!.e_caQé!l.i~e.I1.1._.a n:ttl,lra!~1.!:!l_lÚS§:Q~~~b-?íii~~ls~T.l digo que toda cidade deve ter meios que permiram ao povo desafogar sua ;!!:!lbiç;"lg"," -. ,-'-.. o, --
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O discurso maquiaveliano vai, assim, inspirado na afirmação do caráter positivo dos conflitos, se revestindo ele um tom cada vez mais afirmativo, Aos que viam em suas proposições uma aposta no caos, ele atacava dizendo: "E o desejo dos povos livres raras vezes S:IO perniciosos para a': liberdade, pois nascem ou da opressão Oll da suspeita de que pocler:l0 St:- \ 10...•: Essa afirmação, para ser inteiramente compreendida, depende de ~I!~~~_~~ do ~apel da liherdade cll1l\Ltquia\'eI. Interessa-nos, no entancJ .to. o faro de que-a impossibllid.rdc de OCUp:IITHOS o lugar cio fundador é I ~: tr.rnsforruacla JK'I:Ilkscoherta dos alicerces sobre os quais a arte da funda- I '. \ çio eleve se exercer. O problema do desejo maqui.rvcliano de ocupar a : \ posi(;:!o do criador de leis nâo dc-aparccv. 1ll:ISt.: transformado pelo Lt"ro : de que antes de dizer a quem eleve pertencer esse encargo t.: preciso demonstrar a verdade do discurso que est.i na !l:I.'il'dessa pretensão.
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Para tornar explícito () que :Inediu ~l'r os fundamentos el:l boa obra ele um fundador. ,\!;tqui:lI-d observa que sú podemos sl'guir:1 estr:n0gi:1 jj referida de !:'s}_~I_<-!:!E~~~,E!slad~'s_r~'ais e suas Ln,tituic(IL'S_Em acordo com seu apelo no 1):, capítulo do Princ i/JI.', t: () retorno a urna certa "verdade efctivu" das coisas que torna razoável o estudo que est.unox empreendendo.' Assim, o capítulo, que segue Ú revolucúo (LI afirmar.to da n.uurcza.posniva dos conflitos, começa COI11o enunciado de que, para os fundadores di? lima república, é essencial estabelecer urna guarda para a liberdade e "segundo essa gU:lrda foi rua is ou menos bem posta, du r:llj 111:1 is ou menos a liberdade","
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Ora, a escolha de um parâmetro de duração, baseado na liberdade, parece indica r que tínhamos razão em considerar a criação de- uma república :1 obra humana mais importante e a mais adeq uada para servir de exemplo para os que querem estabelecer uma teoria da fundação. No entanto. devemos estar atentos para os limites dessa escolha. De um belo ainda estarnos falando de república em termos genéricos e nada indica que essa maneira de proceder reflita corretamente a história dos povos. Ou sc'ja. nào existe apenas lima forma de regime republicano e dentre os existentes nem todos lidam com a proteção da liberdade da mesma forma. Isso nos conduz a pensar que, se as referências analisadas são boas. é preciso que elas coincidam com situações históricas reais e que não podem ser abarcadas pelo simples apelo aonome dos regimes livres. Dizendo de outra maneira, é necessário conciliar os instrumentos teóricos de que díspOJllOSaté agora com urna análise pertinente das instituições republicanas conhecidas. De outro lado. não podemos esquecer que ainda nos falta explicirar o saber possível sobre o fundador e que obviamente n,10 se confunde inteiramente com os conhecimentos sobre seu trabalho. Depois de uma referência explícita ao fundador de repúblicas, Maquiavel toma um caminho muito mais longo para tratar cio tema que parecia central em SU:lSreflexões. De fato, a continuação do capítulo se organiza novamente em torno de uma análise das instituições à luz da diviS;lO <.h)corpo-sçcial em dois humores diferentes. o dos que 'luerem domi~):lJ:e.q()dos Sue nJo ql~~er oprimidos.'< Nl;~l~ r('i;i1~i;;7,)omento, podemos tentar compreender a natureza diferente das repúblicas históriGIS segundo a escolha que fazem em relação ã guarda da liberdade ..~.~ CUJ~11.~) arist(X'r:'ltico apostam no caráter nocivo dos movimentos l' tumultos da plebe e no fato de que () contentamento dos grandes será sempre um fator de estabilidade, tanto por f~i~:~~2..nfus:l() provocado pelos ~I(;,'~ej()sda (>J.l:'he<.jl!;l!1to.pOLS:I!L .;.faz<;'r;\.vontade de poder.dO!L.q~~ l_llaisapt(!~'p!l!<.t_ eX~E.s:Q:!~2.:.'"Por isso colocam no centro ele seu corpo de leis ;t!guJ1)as que asseguram o dornínio dos nobres. 1'\0 outro extremo estão :\s que dão ao elemento popular o rrr\1i0gio de defender a liberdade, mesmo ao pn ...~·ode tumultos <: disputas contínuas com os poderosos. Longe ele simplesmente manifestar sua preferência ror um modelo ou por outro. \/aqui;l\'l'! pretende mostrar que a divisão apresentada não resume o universo elas repúblicas existentes. De fato "quem examina sutilmente tudo chegar:1 a essa conclusão. ou se considera uma república que quer construir um império. como Roma. ou uma para qual basta manterse ".·- POJ1:\J1to.para escolher entre os regimes republicanos que a história nos apresenta. é preciso definir critérios adequados ao que se quer considerar como prioruúrío. A combinação dos fatores apresentados para dife-
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renciar os regimes não conduz nosso autor, no entanto. a um ingênuo relativisrno. 'De fato. não podemos excluir nenhum dos modelos, mas nada impede que analisemos suas limiraçàes e potencialidades. Para começar. o secretário tlorentino mostra que a vontade de conservar das repúblicas consideradas estáveis, como Esperta e Veneza, pode ser perigosa na medida em que "O medo de perder gera movimentos t:10 iillilllilc\Q.~_ÇJh!il.nt~o desejo d~_~~llIstiti"'-";'AléI11cloI11~liS~·6si.lcêSsOãiCãi1çado por elas se deveu muito mais à fortuna do que a uma virtude especial Cil casopiü cbe Ia prndenzd). Assim, embora se constituam em referência obrigatória para os que querem pensar a criação de novas formas. elas não fornecem necessariamente o caminho perfeito para os fundadores. Vale lembrar, a esse respeito, que essas considerações se esclarecem diante das afirmações que havíamos feito antes de que é sob oimpério da necessidade e contando exclusivamente com sua própria l'irÚiqlle-se ri;~~liliiiosgrà-ndes- crCI(r(;~~S~~;-~ont~-;'t~~n~r~-n-iiJlo-, es~,I-;IJvei1-éncl:i servia p,~~~in;(;~t-~;~';~;sq~le erlgiam Veneza em modelo. que havia outros fatores a ser considerados além da duração de suas insrituições. ") Da mesma forma que os príncipes novos, que se apoiavam sobre a boa fOJ1uDa. naufragavam, como foi o caso de César Borgía, as repúblicas que não desejavam expandir suas fronteiras também corriam riscos semelhantes. mesmo se a história parecia dar razões a seus partidários. Aquí.ina verdade. estarnos diante de dois problemas diferentes. De um lado está o fato de que Maquíavel constrói nos Discorst um argumento para escolher, entre os possíveís. o regime que corresponda ;1sua concepção de melhor forma de governo. ~esse particular. como p mostrou Sasso," o critério ela potência se mostra decisivo e a comparação entre as repúblicas mais famosas é a ferramenta ela qual ele se serve para escolher Roma como modelo. Esse não {: nosso tema. mesmo que n:10 possamos deixar de lado suas conclusões. Do outro lado está justamente a busca. que nos interessa, de conceitos que permitam pensar a fundacâo de novos regimes, Nesse particular. não basta manifestar a preferência e apontar os critérios utilizados para chegar aos resultados propostos. f: preciso mostrar a coerência interna dos argumentos e SU:.larticulação com a história. que serve de campo ele experiência. para que possamos efetivamente falar de uma teoria da fundação e não apenas de uma análise histórica dos feitos dos grandes homens. ':,Acreditamos que a continuaçáo do texto nos fornece um conjunto ele " considerações que apontam para o que esrarnos procurando. Aos que critiGIV:.lJl1Roma por seus movimentos sociais, ~btjllia\'e1 responde: ·t..J de modo 'que querendo retirar de Roma as razões de seus tumultos destruíam também as razoes de sua potência"." Esse argumento. que contrapõe as
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ciais para nossos propósitos, mas toei os os que se dedicam a problemas semelhantes, fazem parte de maneira ampla da teoria maquiaveliana da fundação sustentada nos Discorsi. Chegando a esse ponto esrarnos como o navegador que depois de uma aventura foi capaz de desenhar os mapas que lhe permitem retomar ao mes- , 1110 ponto e continuar sua aventura, Como não podemos continuar nossa / análise do texto buscando toeios os detalhes dessa cartografia do novo, é \ )~hOra de voltarmos nossa atenção pa ra o fundador. Ou seja. definidas as cons» díçóes de possibilidade de um discurso racional sobre o novo. resta ainda ::' saber o que é possível dizer sobre o ator privilegiado da fundação.
! A SOLlDAo DO FmDADOR
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o nono capítulo aborda um tema sui generis na literarura política: a solidúo do fundador. Ele é essencial para pcns:IfI110Sa relação entre razào e fundação e para compreendermos a natureza do lugar ocupado pelos grandes criadores. Num primeiro momento podemos ser levados a acreditar que o movimento que vai do domínio da razão ao saber e deste ,\ criaçào de Um estado ideal é necessariamente o que cle\',c pu ..-sidír toda criaç,lo' l22li!is::!" Assim o pensou Piatào, assim boa parte ela crítica atual acredita poqer barrar os efeitos terríveis, das sociedades totalitáriaspelo apelo :1 dimensão racional do discurso democrático c pela confiança nus estruturas crigklus segundo suas exigências," I\Ltquia\'el sugere uma visáo bcru mais radical dos riscos qUl' comportam a,,,a~'()es politiels. sobretudo as ele criado ele nOL1Sleis, Tomando C0l110referência o compon.uncnto ele Rômulo"c seus atos extremos. nosso autor sugere uma regra gl.'ral p:lra ;1 coniprccnsào do momento da fundação:
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j r~l~si\';l_~I:l_~!!'~t;D.!.:~:JS?!S,~S all!!!l\~~~~ '-.,' Retomando Ú cornparaçào entre as diversas repúblicas, Maquíavel vai então mostrar que aquelas baseadas no modelo romano respondem melhor às exigências das "coisas humanas", pois "estando tO_(!~~,~tS ~s e~n movimento e não podendo estar paradas. conY~!l!_,qUl.'subam ou eles~a ;~~.;:' ii--Õ1'lÍ; iãS·<',()l;:íDf~le'~razJo __ 9.1J.iJ'~~~~~1 (J_ i!l~~~lL:~_~~:~~::.iZEilfL: ~, Podemos, portanto. fazer a defesa do modelo r0I11;1I10náo apenas C0!110 aquele mais capaz de criar UI11 império, mas como o que pôde fazê-lo exatamente porque ~~l:mU:nLÇ0D~~s~e_~:,~1inacJ~~~~ais da natureza 1~21-_t..r.1L. Dentre elas l'st;í a til' ter criado suas insrituiçócs soh o impacto dos constrangimentos produzidos pela rlel.:e:-.sidade,As condições descritas no começo se juntam a certeza, contra a tradiçáo, de que R0.J:\.:LJ
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:'lIas deve ser t'sUhde('Í(b C0!l10re~l'a ~er:d que nunca, ou muito f:l1':1 IlK'J]It'. se viu uma república ou um reino ser bem con-tituído dt'~k () <..'OI1lt'~'O, ou perfeitamente reformado depois, senão por um indivíduo solitário. J: Il1t'SI1l0 necessário que aquele p;lr;l SU;Iexecução. ,-
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que concebeu o plano forneça ele mesmo os meios
Essa afirmação. que tem a ambição de se constituir em regra universal, define com clareza o lugar que () ato de fundação ocupa na \'ida poli\ [tica, De fato. se considerarmos que o corpo político é o fruto da vontade , ~ humana. que dela depende inteiramente, somos conduzidos a pensar que r,9. O,:jQ,é.xi;tçmp;.u-'Lo.sJl,lt}çbdqrcs ref<;;LSrlS!'1S eXlt;ri(?T~_~_~..:.~~rr:I_~iS~I_que ! possam ser comunícadas aos que virão a constituir uma novasooedade..;
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'Ou seja, tomada em sua radicalidade, não existe um "antes" da fundação q ue possa presidir os atos do fundador. "Jão se tra ta é claro de pensar um estágio da existência humana anterior à história e nem mesmo de aproximar indevidarnente Maquiavel dos contratualístas, mas de mostrar que a criação ele uma nova forma é um ato radical para os que dela participam. O fundador opera em um momento especial da vida política e por isso age de maneira especial. Ao contrário dos príncipes, que querem reformar formas existentes, os criadores são C01110 os navegadores, que nunca sabiam exatamente aonde chegariam. OLl se iriam encontrar novas terras ou a morte. A solidão é, assim, ao mesmo tempo condição de possibilidade e fator de risco. Em primeiro lugar, para conquistá-Ia, () fundador precisa se impor por todos os meios: "Assim, um hábil ordenador de leis, que prefere sinç:er;\mente_ob\:I11hge[-\:.lllburãnàü_,LllllPQ.ctfull'ia sl~u:.eljgii!.Q,C()I11g.~ere;~~~~ Nessas condições, podemos compreender a importância do modelo romano. Se a solidão é a condição essencial, aJ:ef~Lê,n~±lj~pj)~Q1J;:ol11um e :!.Q.PriQl'Ú2iore~J~S!~:I!l~~!.~<]r.i,~~,~~lo pú hl iC(>.,e..!.llE~I!!.~~~.J?!:ivado fornece a possibilidade para o teórico se pronunciar sobre 3..qualidade da fundação. Do ponto de vista objetivo sobre a obra que se pode f:lb-;::'t "sohreoj)~)(!ut()"~l!~~lç~~>,que se calcam os julgamentos dos homens_" p-oI:T~so, (; 'rec'llrso :) violência. que pode se tornar necessário, como j{\nos tinha ensinado O príncipe, deve ser analisado com' base em parâmetros fornecidos pelo exame dos regimes existentes, pois, corno diz Maquiavel. "não é a violência que repara, mas a violência que deSJ:Ó.i que _~I~":_:~'2;:;Cki:;;C:Ei;'~;SõEreã"liitêõÇão e o saber do fu~ctador n,10
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há nada que possa ser descoberto, ou sobre o que se possa construir um ~Lteºricü" Não há comClf:~n?10~L~1fUD~JJ. POdenl()Sjlpe~as"recon:er' aoexemplo dos grandes hOJ11e.ns,Moisés, Sólon, Licurgo, que já ha~"iã·m servido para ilustrar a hierarquíados inovadores para pensar o problema. Í~em tentaLocupar_oJugarÇjl1e.JqLc.lt;ks.h1 ~nguantºa,tºJgllein~c.~"c:.!1a ! história as intenções dos atores políticos, a fundaçãose situafora dQJe!11\ po, e por isso não deveser confundida com as muitas ações de renovação e reforma próprias ao território habitado pelos príncipes do tempo ele i\Iaquiavel e que haviam sido estudadas em SUJ obra anterior. Ao mosI trar que o fundador deveestar sozinho, nosso autor retira do mundo C2~riqlleiro da política, mas não o livra dos perigos e das artimanhas da condição humana. Uma elas grandes astúcias do fundador. que pode ser conhecida pela força de sua obra, é a de compreender a excepcionalidade de sua condjçà()(?a~natureza profunda elas coisas dos homens, Se para fundar é precii" so estar só,~~ar perel1~-,~~~~_9_e.::t;,::~.~12,:~n~"()0.~r ..?r.()_c.ler.:\l1SCl- "fi ~ da origem, par,itõriíT:ro obra coletiva. Assim, diz Maquiavel: "o '1; fundador terá a s:ibedoria e a l'irtlif?ã[a n":iõdeixar como herança a autorickldJ.:....qOC-1e1:.C_Cllrre ..as.mâos. Os homens estando sempre mais prontos a seguir o mal que inclinados a imitar o bem, seu sucessor poderia usar por ambição os meios dos quais se serviu virtuosamente" ,',' As leis serão o r~çgplác.ulQ_Qbieth:'Q..i!os~<;E~t;,c!.Cl~.~ku)ril}leiro ~"l!..~o, ;,:elan::ªo n:iQ o que foi visto durante a travessia, mas a terra imagi.!1~~l;~()_s.U~!:lSi(!. das' n()ite~s.()Jit:~r~~. Compreendemos agora a importância do estudo ele aspectos legais das instituições, empreendido por Maquíavel ao longo dos Discorsi, mas muito particularmente nos primeiros capítulos, que definem a escolha maquíavcliana do modelo republicano romano como o da melhor forma política possível. O teórico nào pode ter o mesmo saber do fundador, pois esse cst::í fora do tempo e ela história e nesse sentido n,IO pode ser comunicado nem mesmo por meio de regras práticas. Mas isso não o impede de analisar a qualidade de sua obra. uma vez que ela se manifesta necessariamente na história ;1qual. ao contrário, é sempre possível se referir. Ora, a natureza da fundação está expressa em grande medida nas leis e regras que regem a relação coletiva, e é essa dimensão palpável das sociedades que dá lima das medidas de sua força. É claro que não podemos julgar uma república apenas por suas determinações lcgaís.rnas é pOt elas que podemos medir ~CJ1[l~ljdaº_~_.QSL~'an:p~ político aberto ], . '!º5_(li\:~rS_(l.s,at?J:<;s. Numa república corrompida até mesrli:õ"llfll"grande. ,,, homem teria dificuldades extremas para agir e restaurar o sentido original I das leis, enquanto em um corpo social sadio é possível esperar as ações) mais gloriosas de que somos capazes.";
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Quando se trata de pensaras fundadores, Maq uiavel propõe uma hierarquia, que muda o sentido daquela proposta por Pocock, para compreender os inovadores, Logo no começo cio décimo capítulo ele diz: ~.
Dentre todos os homens elogiados, n80 existe nenhum que seja tio célebre quanto os fundadores de lima religião, Depois deles vêm os que fundaram repúblicas ou reinos [por outro lado] s,10 destinados ao ódio e à infâmia os que destroem as religiões, que dissipam os reinos e as repüblicas,.os..ini.J.J.lio
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Poderíamos ser tentados a colocar a religiJo antes Clil...Qolíticana ordem elas coisas mais importantes, repetindo talvez o mesmo ~D:~~ ~~llia\'l~1 conclen';lI.a em Savonaroln. Mas n,10 nos parece ser esse o sentido do capítulo, porque não houve lima mudança de rumos no pensamento de nosso autor que justifique tal interpretação, É mais razoá vel continuar nossa investigação observando a singularidade do momento de fundação ele um novo regime, É dCSS~l consiclcração que podemos deduzir que um dos feitos do fundador é justamente escapar dos vícios e dcfeitos que podem ser o resultado de sua açào. Antes, portanto, de procurar entender a importância da religião para a política, elevemos nos perguntar pelo significado da hierarquia proposta, r\ primeira coisa que devemos OhS\.,T'
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pela ;eligi:1o, ~ll~ ~i!U.;~~1~~!~,:orn1a/orada h!~~~)ri~'~"'t?:'~:.~I,-_::rI.enamcnte aceitável na história. Dando conteúdo transcendente a solidão I do' fl;rici;~~o~~'~lrei'igi;i(~-[lz-de seus atos ~I,expressão ele ~1,-g()..(ilI!::liJ}i::![i;, s!sa suasimples \'on,tall~., Por isso, Numa dizia conversar com as nínfas. pois I de outra maneira não seria obedecido por homens vigorosos e habituados". \ à guerra, É nesse sentido que Maquiavel afirma: "Nâo é suficiente, para a \ felicidade de uma república ou de uma monarquia, ter um príncipe que 9o\'el~na sabiamente durante, sua vida. é necessário que ele lhe dê leis .capazes de mantê-Ia depois de sua morte"."
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Para e~~carar dos efeitos dotempo, Maquíavel recomenda então às e aospríncipes "conservar em toda pureza a religião, suas cerí: mónias e o respeito devido à sua santidade" .'" Só assim o ciclo de vida de . seus governantcs, a particularidade ela virtude de seus grandes homens, . não se confundirão com seu próprio destino, embora sejam os fios que tecem sua trama e definam sua resistência, A..v~rçiad<:irª._arte<:l~fundar é, portanto, ;Lç_Qlllbinaçàona dose _~r!a ele recurso.à fors'a e transcendê fiC"iã. : Nesse sentido, acreditamos que .estávarncs cenas ao sugerir quê o terreno , adequado para o estudo ele nosso problema é o ela criação das grandes ; repúblicas, único no qual todos os elementos componentes do momento inaugural ela vida pública podem ser devidamente explorados pelo teóri~o da política.
quando ele ainda opera fora do mundo normal dos "corpos mistos". Por mais perfeita que seja sua construção.em contato com o tempo ela se eft;s-.r., gasta e se vê condenada ao desaparecimento. Desse ponto ele vista, não há nada que possa ser feito. pois nào é J?~~J.vel~~gi~.:,cOI}!I'!::.~_~D.~!.!J.teza. ~~~a l'ir11!~~~~~njes !1.9D.10S. . Maquiavel exprime a inexorabilídade do processo de corrupçào asso- cíada ao único remédio possível. 2 r~.Lºrno às origens. "Existe uma verdade mais clara que o dia: gue esses ~~rp;s-d~~~e~1 Perecer se não se renovam e essa muç!?nça só p_Q~i~:i(-i;1i_~cl.(r~ç.:0.:~Jil.!.Q~çÚ)I[cLp.i~Ifu1"ji&:'"TÉ. possível, portanto, imaginar uma ação que evite a rápida degenerescêncía dos corpos políticos e ao mesmo tempo conhecer seu sentido: o retorno ao começo. Podemos talvez imaginar que se trata de instaurar uma espécie ele 9~c.'ubridade.artifiçial no interiordos reBi!l.les, uma vez que a circu- _ - _. Ia[idad~íl1!!Eal oscondena a..desapMe~:e·~'·n:ro lhes sendo possível refa- .-, zer o ciclo ele transformações próprio aos corpos que não se perdem com o passar elo tempo. como é o caso das estrelas. Dentre os artifícios possívets, nosso autor destaca dois: um acidente exterior ou o efeito ele uma prudência interior. Quanto ao primeiro, centrado na fortuna, como mostra o exemplo romano de renovação a partir ela invasão dos gauleses, o importante. a nosso ver, não é tanto a constaração de que a fortuna pode estar na origem do retorno ;IS origens e, portanto; ter um papeJ posít i\"O. mas o que.foí possÍvel(;w:er com as condições criadas por ela. Nesse ponto podemos voltar à nossa análise anterior"> do papel da religiáo na criação das formas políticas, para determinar a ,I direção a ser tomada pelos atores da rcnovaçào. Se o que mostra Maquiuvcl a respeito dos fundadores das rcligi()es é verdadeiro. quando o regime corre perigo é a hora para refazer SU:1 rede simbólica. que no I j momento da criação havia servido para instaurar o sentido ele unidade' ~" enquanto corpo político. Retomar a confianp na rcligUo. exigir o curn-Í c· primemo estrito elas leis. é a maneira ele trazer os homens para o terreno fértil cios primeiros momentos, quando ainda nào era possível falar de:/ .. corrupçâo. .
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Chegamos ao nosso destino. Maquiavel não podia na verdade ocupar o lugar do grande fundador, pois, como vimos, ele se revela na ação e na história. '- Nessas novas terras há lima enormidade de coisas que dc\'ciúõs aprender para erigir um saber renovado sobre a política. Num certo sentido, essa foi a grande ambição do secretário florentino: compreender .~Ic uma maneira nova a política. servindo-se do único campo de experimcntação possível para o teórico: o. 9;\ história. Mas no meio ele todas as dificuldades para conhecermos o universo das relações políticas resta uma interrogação sobre a preservação do sentido original da obra dos grandes criadores. Como não perder, no interior do campo de batalhas entre a fortuna e a rirtú que caracteriza a existência das cidades e dos reinos, o sentido da obra dos grandes fundadores? Como conservar, no tempo, o que foi gostado fora cicie segundo uma lógica que não pode ser exposta em termos inteiramente positivos? :-\0 começo do terceiro livro dos Discorsi temos a resposta par;! nossa indagação. Maquiavel sugere tratar da fundação do ponto de vista da duração. Ora. mais uma vez é a partir da regularidade das coisas naturais que podemos descobrir o caminho para u;:;,;!exixl.<;~'à()consistente sobre 'o tema. De fato, "tudo () que existe nesse mundo possui limites para sua duração". e como n;10 estamos falando de objetos naturais, mas de corpos mistos. "tais como as religiões I? as repúblicas. digo que as transformações salutares que podem sofrer :iJ.l2--ªi.9.~!.~(?~,C?!1duze~~ a ~eus princípios":' Assim. a observação da naturalidade da corrupçào, o simples passar do tempo, impõem um desgaste na obra do fundador. que não pode ser evitado por uma ação produzida pelo próprio demiurgo elas formas políticas,
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O segundo caminho para o retorno ;i fundação é o que podemos nomear como o da rirtú. Ele pode ocorrer Unto pela instituição de urna lei quanto pelos atos extraordinários de um homem. C0l110foi o caso de Brutus, Ele nasce da percepção de um ator. ou de vários. de que é precíso barrar o processo do tempo. Não se trat;! simplesmente de fazer face a .. lima situação extraordinária. mas de saber compreender a ímportãncía da ccrrupçüo para a vida política ordinária. Deixada de lado. ela n~10tarda a írrornper na cena pública de maneira devastadora. Assim. dentre os irnperatívos da ação política virtuosa se encontra a capacidade de lidar com o
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caráter inexorável do tempo e com seus efeitos, Uma grande república (se-iT:í'que-fàrc:ípaz-aerêâTiz-ar-llníã a.rtõd~l"l"lnclas:ão contírru3 como ! parte de sua estratégia de sobrevivência, Maquiave l, aliás, ao concluir sobre os dois caminhos, o ela fortuna e o da uirtú, para se operar esse ato, confirma nossa opção primeira de estudar a questão nos Discorsie nãono PrílJS.iPg pois mais uma vez eler;;Sti-aqlie'Ü,{61:;de:,est~nlosdiante3Pe. n~;~ da l'i1111 que e!1.LºD,~~~I!"'!.º,~º-S.J~I:?0-des fundadores, Tanilié;11oõ-tocan. -fé-~Üllllé.ElçIõcõ-;:;-tínu3ele nos aconseÜlããescoiEe~ ~-rnes1l1Jvia, "de sorte que esse feliz efeito seja o produto delln)~ bo~_!~.!..g_~I_.::l._~bra~<::.~!!2.~~11 c.i.çbd:lo, mais do que o fruto de uma causa externa, porque, ainda que esse rem&íiõ"poss:lser·útil;cõmo-;;;;11õs"i1õ"casõ-rôrilano_ é tão perigoso de ser empregado que não se torna desejável"." E no que consiste esse retorno? Segundo nosso autor. referindo-se à ação dos grandes romanos:
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falar do ponto ele vista dos criadores de repúblicas, somos confrontados à ele que suas obrassão tanto o pOr.HOde partida para a
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NOTAS (] l ,\IM)I'I.\HL.
Seria dt'~éi;.Í\,t'1que não se passasse mais de dez anos sem que UI11 desses grandes gestos fossem perpetrados, Esse espaço de tempo é suficiente para mudar os costumes e alterar as leis e, 'i.~11:10 ocor~~o que rcnoyt' as puniçÔes c preench:, os espíritos de um tcrrQU.;Jll.!8r, em breve se -encontram rantos culp;,dos que IÜO é mais possível puni-Ios sem perigo."
em Opere, _\fil:io,.Riccu'do
sopr.; Ia prima deca di Tiro Livio".
(2) Sohr~ a nocüo de rL'I11pOru RCI1;l'CL'n(:I ver], //1('1/10, Lixbo.r. Presença. s, d. cap, r. <.'\l Pura \1111panorama
.J. R. II.\lE, 77>" cirtlisatton
Podemos definir, portanto, não somente o prazo, mais ou menos aleatório de dez anos," para que os corpos mistos sejam conduzidos à origem, mas sobretudo o sentido do gesto: !:(;'_il]~,r.a_l.~.r:I\'_o terror inicial. Ora,,~ ~~~tX.i>K;lQ dah.!.nd~ç\o ao terror não c!e\'c nos surpreender, ~ inegável que ela acrescenta algt>:'i'1("issã-l1'iínpn:ens,16-(Já-<.juest;ioque nos interl'S~:l.C0\l10 j:t vimos, o fundador nào pode contar com aajl~d:'-.chl.~, 1..z.r~_cfl:\\.'.!O e a necessidade ele se 1 repetir o sentidá
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R, II.\I.E, _-1Europadura
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~"raf e ambicioso ti" Furop.; c dL' SUo"~rr;ll1SfOr111;lç"lL'S ver in lhe Rell(Jlss(I/(C<', J:rllldrcs, FOnIan;1 Prcsx, ] Q<);,
o/ EII rop.'
(·0 Sohre esse período do-, Orti Oriccll.tri ver F. (;JIIlFlfr, ,lftlcbi(/c~,//i e i{suo temp«; Bolonh.i 11 :\Julino, J Q--, primeiro capitulo Ir;1\;1 d" Ikrn,mfo RUCL'ILJi. l11;lS() livro lodo f: pr
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( 15) '';.11<1 lI. cit. por R .\11\1011:\1, hr<'I/::('dal/ct J,j) .\I.\QU .. \\TL Oprincipc.cvv: Oper(', cap. H
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Cal 111;1 Illl-I.CI.,-,
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Ricciardt Editore 195-1.:\. partir d.rquí \·:1Ill0S nos referir sempre si, As rradu(()L's são de nossa re'pons;lhiJi,bdL',
Einaudí.
]';-1),
p. -2, nor" 2.
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d,l (ll;r;l Il1aquia\"t~lian:l UJIl1<.l_ Pari», I',I\"IH,
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( Iô ) A leitura do Príl/âpe a partir (LI figur;l do príncipe 1101'0foi "u,I(l'rieb por r CH,IBOl1,Scrilli SII .11(/cbi(//""IIi, Turim, Einaudí. 19(,-1: nlas foi com). G, :1., I'OC()C~, Thc
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Lat~fza:, 1985, cap. I, (21) Para um balanço Jlad)i(/l'('lli's
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1973,
Rinascimel//o
italiano, Bari,
della plebe, chc
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cap.
(26lSohrea
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Bovgia. Storia di
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por 1\1. urunxc. Citzcn Macbíareíli.
Press, 1983, Sustentamos
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republicano.
'\lat]lIic/l'd
duro
Prince-
(56 l Sobre
a-esse respeito aobra
(~Ulldcm, ihitIcm, (,~ I1 Sohre () mito de Florença
de H, C, ,\I.~)Nln{),
IA.'plil/cC'_ap/,ril'uistJ,
021 \1.\(Jl'I.\ln,
ckbd.:
livre ver o cI~ssico H, 11,\~O:--',71)(' crisis
Princcton
of
rI" r,
,'~.
o lívro dc ], CII.\:--'TITR, Platon. /(, désiret
la cité,
I ~211delll, íbídcm. I-I,~) Para um estudo r"pre//l'edllpoli/iljlle, \L\Qn\\'EL,
Discorsi. liv.
e Hobbes
ver R, r.'I'O'ITO,
ardil/e
(63) ;\ào
(65)
(' couflitto.
\'3mOS
PLH.\O,
.'
Discorsi.
da idéia ele "verdade
li,', I. cap.
de
IIs
leis, \'<"1' 1'1..-\1',-11.1, 0..'/11')"""
t'
dclle cose s()pra"nille
di rcgni e di rcpublichc.
formare Icggi a proposito
infiniti cscmpli.
e quali potcrono,
come
pcr aver-
dei hcnc comune. .." Idem. ihidcm.
1992,
efetiva"
ver C. LEfOKT,
Écrire. A
':;.;~~ i,Y7'"
5,
abordar :1411io terna cl;t corrupcào, repuhltcano, cap. 1\',
Di..'cOl",i,li\'.
1.
404
~\~
{~: (!.
j;í o tratamos
cap. 10,
Discorsi,li\',
ibidcrn.
(69) ~1.\QIH\'Fl.
1.
cap, 10,
cap, I I.
le tratail de l octu're, ,lfachiai'e/, DI~'('OT>'i.11\-,I. cal', lI.
(70) Idem. ibidem.
C;IP, 12,
(71) Idem,
ihidem.
liv. 111, cap. I,
(72) Idem,
ibidern.
'/f.'{
~,
!lUS
As leis, 1\', -(I<)a-71 Ic,
(ó8) C. L[fORr,
.' ~ detalhado
1\'
,1ltl'1"i(/1'('/
(66) ,\1.~Qn,~\n, (67) Idem,
liv. 1. cap. -l.
Paris. calmann-tevv.
I.
d,lre in sostcntamcmo
un'autorit.í.
(64) ~t'QLH\'rL
liv, I. cap. 4,
(-11 I Idem. íhídern.
(-1-11
-i,
198-1, <.':11',v. Discorsi.
no livro
(ó2) Idem, ihidcm. te C111nosso livro,
~L1quia\'el
claro disso se encontra
Solone ed .rltri fondatori
1-loises, Licurgo. si attribuito
(,1(,II,km, íbidcm. cap. ,~, (~-I ~lllilO íntcressantc a esse n:spt'ÍlI)
Liguori.
de Apel e de
19;5,
(60) ~L\Ql'lA\TI,
I,~~ IIdem, ibidcm.
(-101 \l\QIH\'EL.
(;9) l'rn exemplo COII/f'h'/('s, Gallímurd.
t 'ni\'<.'rsit}' Prcss. 19(,("
cap. 2,
entre
do pensamento
aspectos
fundaçúo de Roma do ponto de \'ÍSt;1 da historiografi« contcrnporánca ver secondc uaissancede Roine. Pari~:-"I'I~n1Jl1arion, 1989: A, GIt\~IJ,\ZZI.l.t1 fondation de Rome, Paris, Lcs Belles Lertrcs, i991. (-;7) \l.\Ql'1.-\\'tL, Di"(o,,,,i,!i\', I, cal', 9,
(5,~) IOC111,ihidem,
1591 Para a rL'laç;)o
em alguns
'J
«(j I) "Potrcbbcsi
P;His, SirL'Y, 1980, (381 \t\Ql'1.\\'tI .. Dtscor«.
claro,
,I', GHl.\IAL,II,'Ui!eollla
Paris,
Dtscor«. liv. I. GI(1,1.
(511 Idem, ibidL'm,
é
(58) Idem, ibidcm. como
Ih•. ear~)' Italiau R('I/(/i,~WlIlC(" Prínccton.
,~
(1:1 fortuna,
Habcrmas,
5;\0 Paulo,
Favurd. 199~, <2<)1~1.\QI'I.-\\'fL, Dtscorsi. Prefácio.
:\:ípolcs,
(5,1) Este é o lema do primeiro capítulo do segundo livro elos Discorsi, e marca U111a clara com a tradicào romana, e depois huruanísticn. de ver na cidado eterna c pro-
(55) Estamos pensando.
do cará-
Loyob,I991.
(21)) Imeressantc
dissensioni e scandolí in una republíca. e alta :1 ridurre che col tempo fuccia cattovi cffertí. - ~I-'QLH\'EL, Discorsí,
(48) Idem, ihidem.
1966,
de acordo
C011\ 3S reses defendidas
l'ni\'cr.;it}'
S-,W),
dinfíníre
disperazione
ccesare
a nosso ver, se encontra
Le tracail de 1'cL'l/in', ,1!achial't'/, pp, 3~6-68, I,l. G, A, PO(OCK, 77.)(' .llaciJim'('l/iC/l1 momeut. p. 1'72,
LEFO~T. (1')
e cagione
fanno
(49) A esse respeito é de fundamental importância o capítulo de F. GIL1lERTdedicado à questão em Xtacbiaivlti (' il suo tempo, Bolonha, 11 Mulino, 1977, parte I, cal', ,~, (50) Ver G, ,,,';"-0, Xtccolo vtacbtarelli. Bolonha, Il Mulino, 1980, (51) ,\L\QLH \'EL, Discorsi, liv. I, cap, 6, (52) Idem, ibidern. (53) Idem, ibidem.
vi.
da força em Maquíovcl,
di porenti
(47) Idem, ihídem.
",.,
o primeiro
parte, chi difende
in mano
Ia Nobilitâ a qualche liv, I. cap, 5,
ver Harvey C. \L-\:--'SFlELD,
Press. 1996, ver sobretudo
Ia guardía
tono
.::".
(2~ I Idem, íbídern. (2.f I A melhor ;1011i5e do problema
em C.
this from ~Iachi:l\'ell
recente do tema da L'i11ú em Maquiavel
Chicago,
(45) Fssa referência aos dois humores consrinuivos da cidade é recorrente na obra de vlaquiavel, o que nos leva a considerá-Ia como um ponto fundamental para a compreensilo de sua filosofia política. Ver Discorsi, liv. r, cap. 5, '
SU:l
ar rather of that class of political ínnovators
to which he belongs". Idem, ihidem. p, 160, (19) C. LUORT, Letrarail dl?/'ol?lll're"llac!.Jicll'el, (20) Ver a esse respeito
que encontrou
p. 158,
71JeJlclcbiat'e!liclII.lfomellt,
( 18 l "11Principe is a study of the n ew pri nce
pondence
Press. ]9:5,
r aqui,
interessa
405
pp.
488-91.
mais dctídanu-n-
(-31Id<.'l11. ihídem. (7-1) Idem. ihidem.
(-,,) 1<.'0Strauss foi. entre os intérpretes contemporâneos de vl.rquiavel. um dos que maior atenção dedicou :1questão dos números empregados por ele ao longo de SU
, 4' 406