SEPARATA DA
Revista da Universidade de Aveiro • Letras
EM TORNO DO CONCEITO DE ESTEREOTIPO : UM UMA A DUPLA ABORDAGEM
ria a M anuel Lima M ari
UNI VERSID UNI IRO RSIDAD ADE E de AV O AVE E IR
1997-n.º 14
INDICE
MOLDURA PARA UM RETRATO DE VIEIRA Luís Machado de Abreu
,
9
PADRE ANTÓNIO VIEIRA, PRIMEIRO DE D. CATARINA DE BRAGANÇA Virginia
,21
Carvalho
"SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO (AOS COMO ENSINAR O DISCURSO ENGENHOSO Maria de Fátima
DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA: 29
M.
A PAIXÃO DE COMPREENDER de Magalhães
39
INVOLUNTÁRIO UM CONm DE BRANQUINHO ll
António
:
DA FONSECA 61
Ferreira
ESTRA1'ÉGIA E METODOLOGIA NA HISTORIOGRAFIA ARTÍSTICA PORTIJGUESA 7]
AUTOBIOGRAFIA E CULTURA Reflexões sobre R/aá Boy, de Richard Wright, Maya Angel()u Maria Saraiva de
e J
Why lhe Caged Bird
93
.,
VEJAKY SOBRE DESVIOS LINGuíSTICOS NOS NOMES DAS LOJAS Lurdes de Castro Moutinho, Rosa
Coimbra
27
CONFIGURAÇÕES METODOLÓGICAS DE NO ENSINO DA LITERATURA Laurel
RABELArS 143
.,
AMBIGUIDADES DA CANONIZAÇÃO NO ESPAÇO DAS LETRAS 161
Krieger Olinlo
CONSIDERAÇOES EM TORNO DO CONCEITO DE ESTEREOTIPO: UMA DUPLA ABORDAGEM Maria Manuel Lima
.,
169
NOTÍCIAS Vida Actividades Cullurais
LIV·ROS
,
183 ]93
199
Considerações em torno do conceito de estereótipo: uma dupla abordagem
Maria Manuel Lima Universidade de Aveiro
Se os estereótipos são, realmente, de a do pondência psicossocíal. proveniente do meio humano do sujeito cognoscente, então ele devem funcionar como de um dado estado tlteorias" quotidianas para a explicação e actual de relações entre (...) a principal deve ser preservar que os sujeitos
Marques, 1986
1. Definição de estereótipo Etimologicamente, o tenno estereótipo designa uma placa metálica de caracteres fixos, destinada à impressão em série. Trata-se de um tenno que, embora provindo do remetendo para Ituma vocabulário tipográfico, adquiriu uma conotação matriz. de opiniões, sentimentos, e dos membros de um grupo, com de rigidez e homogeneidade'll (Simões,1985:207). Para 980), um estereótipo é uma supergeneralização: não pode ser provavelmente, verdadeiro para os membros de um grupo (... ). O estereótipo de um muito inexacto como 5U jeito (... ), mas não dada qualquer outra à inferência informação, uma conjectura Um levaria de outros traços (... (p.70). tl
cognitivo, a estereotipia identifica-se com De um ponto de vista mais prototipia. tratando-se de uma "operação que consiste em atribllir a objectos de uma categoria todos os traços que se supõe caracterizar o conjunto objectos dessa categorial I (Codo1,1989:477). A introdução deste termo nas sociais fez-se por influência directa da obra Opinion (1922) do jornalista Walter Lippmann, na qual se expunham as
da
A
- Letras, 14 (1997),
169-/81.
-}69 -
I Manuel Lima
influências das durante a
nacionalístas etnocêntricas nas relações políticas Guerra Mundial Sherif, 1976)1.
A noção de estereót.ipo pode abordada a partir de perspectivas diferentes, mas em certa medida complementares: do ponto de cogn.itivo. enquanto esquema ou numa perspectiva eminentemente social, enquanto produto da interacção et I990; Ta J980). No primeiro (Atkinson et aI., cont.eúdos o processo de construção dos estereótipos; no o é categoriais (Deaux e Lewis.l984). contributos de ambas as No presente estudo tomaremos em conta perspectivas, embora procurando entender preferencialmente o estereótipo enquanto produto da ínteracção social, conferindo. relevo aos conteúdos categoriais. isso, um
2.
A abordagem
cognitiva
psicologia cognitiva, um estereótipo é social porque refere de vista caracterização de grupos e porque se trata de cognições de gupos, a respeito de indivíduos identificados sob categorias genéricas, que revelam como tendo um na memól;a constmliva (Atkinson et al.,]983). Encarado papel particulannente de modo. estereótipo é um pacote de conhecimentos acerca de personalidade ou atlibutos físicos que assumimos verdadeiros para toda uma (Atkinson el aI., 1983:247/248). de Do ponto
Investigações realizadas (Bellczza e Renn mostraram que est.ereótipos permitem não Calvert\1993; Snyder e só construir a memória acerca de um indivíduo ou situação em como também são usados na da a respeito de determinados indivíduos ou acontecimentos, frequentemente a sua realidade de modo a que estes que já se detém. encontrem de acordo com o obra Lippmann aconrccímcnlos
dados
pôr Guerra Mundial, que
das
a
uma faliam
mentais na interpretaçào de tendentes a recolher Os subsequentemente. que eles cumpríam estrurura lTlundo
tendo -se componentes de. c símplificação impondo ex lemas espécie particular de schema. A a atitude, Segundo (1983), o tal diferença forma no facto .. os em schcmata influenciam fOffi13 como e enquanto (op.cit.:249). e pois () primeiro designa Codol (1989), de de "O (.. .) aspecto eo o dadas" o o seu conteúdo geral de um cm (p.476).
-170·
-
14 (1997) .
Considerações em tomo do conccíto
estereótipo;
dupla abordagem
De acordo com Renn e Calvert (1993), natureza construtiva da memória é geralmente influenciada pela base de conhecimentos e expectativas do indivíduo, designada por esquema" (p_449).
2.1. Estereótipos e teoria do processamento da ínformação Do ponto de das teorias do processamento de infonnação, a estereotipia pode da economia cognitiva ser compreendida como uma consequências do (Rosch, 1977), () qual postula que as representações do conhecimento no sujeito forma que que uma grande quantidade de informação organizam de ser acedida com o mínimo de esforço cognitivo (Hamilton e Sherman, 1994).
que, nesta perspectiva, estereótipos não sejam no seu conteúdo (e daí que se eles são negativos ou positivos relevante (Brewer, DuU e, Six Eckes, 1991 )), sejam investigados sobretudo no seu processo de constmção e,nquanto consütuem proposicionais , ou estruturas hierarquicamente organizadas a de proposições que unidades bás.icas (Marques.1986).
Esta nova concepção aplicada ao caso dos vistos como "categorias da linguagem" desempenham um importante no processamento e memória (Reno e CalvcJ1,1993).
leva
que al.,1990:593), as quais da informação na
mais os estereótipos como algo negativo na estereotípia não mau, mas como categorias que operam da forma que outras categorias cognitivas (Six e Eckes, 991 :57/58). Dito de outro modo, estereótipos são processos dinâmicos que os percipientes como dos para organizar e interpretar toda a informação social do ambiente ( ... (England, 1992:700). Assim, Itos (...) podem conceptualizados como uma 1992:534). de processos cognitivos mais gerais!' "new
'l
Enquanto categoria ou o estereótipo porque obedece ao princípio da economia cognitlva - reduz a diversidade do real e permite inferência, categorização e juízo (Six e Eckes . 1991). Nesta óptica, não é do que uma e simplificação informação (...) a cognitivas (Lisí ct aL,199O:594). ll
) Nos central que. na actívidadc
ou teoria da
do cada nrn
hipóteses
como ideia o que ser
I Maria Manuel Lima
da noção de vaga, podendo ir da estrutura ser de reconhecimento de um padrão sensorial até ao conceito de rede associativa (Marques,1986). é possível distinguir-lhe três diferentes acepções que remetem para das facetas frequentes contam-se relevantes Entre as noções de protótipo. de guião (ou script) e de enquadramento (ou
De acordo com Rosch (1977)4, um protótipo é o conjunto de atributos de uma dada cate,goria cognitiva que mais tipicamente representa categoria. A prototipia refere-se, caractelisticas que têm grande probabilidade de ocorrer em membros de uma dada categoria e ba.ixa probabilidade de ocorrer em de outras categorias do mesm() grau de generalidade. Uma tia pertença a formado o de uma categoria realiza-se em termos de protot.ipicídade ou percebida com a instância prototípíca (... ), cuja natureza parece seguir os princípios gerais das categorias de de riqueza caracterizando-se pela imagens vi vidas e respostas motoras diferenciáveis (Brewer, Dull e Lui, 1981: 656/657). tl
analisado a estrutura dos Investigações recentes na área da estereotipia estereótipos, identificando-os com os protótipos de homem e mulher e distinguindo neles et aI., os seus elementos centrais (ou mais proeminentes) dos periféricos Six tem-se procurado igualmente subtipos de estereótipos ou e Eckes,1991). Para além experiment.ais, e. tlembora haja variações nas diferentes podem conceptualizar, e fazem-no, homens e parece bastante que as de mulheres em (...), os quais podem corresponder a papéis que homens e mulheres típicamente ocupam na sociedade" (Edwards. 1992:534). Partindo de uma melodologia de an.álise em ou agrupamentos de Edwards (1992) concluíu mais do que um atributos relativos ao género processamento de informação em termos de estereótipo masculino, os sujeitos revelaram tratar a informação cm função de quatro subtipos ou subcategrías de Homem: o atleta, o homem de negócios, o pai de família. e °homem perdedor. Sublinhe-se, no entanto , ao o qual protótipo que todos estes participam de um considerado como constituíndo o estereótipo de homem. Este incluiria pode os indivíduos do prescrições comuns a masculino, independent.emente do tipo
Segundo o de E. Ro h, infonnação é cognitivamenrc categorias superordenado para c envolvem informação mais ríca. elevado. A nível Cantor e em 1979, claros de pertença ou níveis
em 1977, objectos naturais , a segundo uma hierárquica 'tripanida que se reparte por e categorias subordcn3das, Se nos menos abstractas, para o as (,alegorias muito mais do que categorias e mas foi reali7.ada por modelo ao domínio de que formados a partir casos das categorias (Brewcr, e
da
de Aveiro-
14 (1997).
cm tomo do conceito de estereótipo : uma dupla abordagem
a que pertencessem, apontando-lhes deveres como os de levarem a sério o papel patcmal suas responsabilidades familiares e o
trabalho.
Resultados semelhantes, de constatação de que a estereotipia realiza ao nível os da prototipia, foram igualmente encontrados para as mulheres (Edwards.] 992) e idosos (Brewer, DulI e Lui,198l).
trata-se mental de uma (ou script Quanto ao objectos e às sequência de acontecimentos, incluindo referências a relações, relacionada com uma sequência coerente de acontecimentos que podem ser esperados este é uma representação (Codol,1989). O guião distingue-se do protótipo abstracta de classes de objectos (Codol, I enquanto aquele constituí uma de encenação de acontecimentos.
scripts podem ser definidos como ltesquemas (socialmente construídos) de al1ibuição de significação e de orÍentação (direcção) (Alferes, 1993: 127). um enquadramento (ou frame) refere-se a estrutura de que "pode corresponder a um guião (script) representa uma situação estereotipada categorial (Marques, 1986:21).
Por
Investigações realizadas nesta enquadramentos são constructos de relevante estereotipia socia1 5•
que protótipos, guiões e de fenómenos de na
demonstrado
2.2. Estereótipos e memória
cognitiva, e inspirando-se no modelo de Na linha da realizaram se estudos (Bellezza e Bower,1981; Brewer , Dull e Lui,1981; Hunter.l974; Martin,1987; Snyder c Uranowitz,1978) com () objectivo de mostrar que estereótipos pennitem construir a memória acerca de um indivíduo ou em particular e usados na reconstrução da memória respeitante a determinados indivíduos ou acontecimen tos.
Considerando os estereótipos como um tipo particular de esquemas, pode-se afirmar com CodoI (1989) que, uma vez activados. guiam tanto a codificação dos estímulos como a evocação da informaçãü armazenada memória. de natureza sexu,al, tendo-se Isto mesmo foi concluído no caso dos e a percepção, a codificação da infonnação na verificado que eles "guiam .a a
na
da eSlereotipia sexual,
que tem
Maria Manuel Lima
informação (... ). Em qualquer uma memória a longo termo e a eventual fases a infonnação é por vezes filtrada quando é irrelevante ou incongruente com (... )" (Reno e Calvert,1993:449-450). Genericamente são três importantes a retirar destes estudos: em primeiro lugar, que sujeitos detêm categorias superordenadas, socialmente salientes etc.). no âmbito das quais organizam o mundo idade, raça, A partir destas. um novo estímulo individual é subsequentemente categorizado a um nível mais tomando-se a estereotipia em prototipia. No entanto, 'Iquando a informação disponível acerca de uma para fazer uma categorização podem-se utilizar relativas a categorias superordenadas, que servem como va l or por omissão em decisões de categürização (Brewer, Dull e lJ
ll
11
1981 :669).
Outra refere-se quantidade de informação específica recordada acerca de um sujeito-alvo, a qual parece depender em grande parte da pertença categorial percipiente, que recorda mais informação (quer não consistente ou mista) no caso o sujeito-alvo pertencer grupo social (Brewer, DuU e
que em tarefas de recordação levadas a cabo Por hoje um dado tempo depois de realizada a codificação da informação, os sujeitos recordam melhor aquela que não consistente com o estereótipo do que aquela que é neutra ou mista7 (simultaneamente consistente e não consistente com o estereótipo), o que tcm sido de informação como resultado duma explicado no âmbito das teorias do maior atenção que os sujeitos codificação no momento (Branscombe e mesma razão, Para Sbennan e Hamilton (1994), os estereótipos podem, por uma atençâo particular a úteis, pois eles pennitem se incongruentes com o levando () sujeito a concluir que algo não está correcto na sua forma de pensar o mundo. Sherman c Hamilton sugerem quer do grupo próprio ou outro grupo, ele trazer mentais d.e membros um estereótipo é a respeito). investígações não são, porém, ainda grupo Embora Brewer, DuJJ Luí (1981) tenham encontrado para a de que a igualmente bem recordada congruente com o c Bower (1981) estereótipos do que que, numa situação não adivinhar em de um não tratando processo às de recordação, mas efeito de pelo um No
(p.857).
entanto, genericamente apresentados, que
que os que juízos produzidos tendem mais a
da
face a sujeitos-alvo os do
14 (1997).
em tomo do
estereótipo : uma dupla abordagem
No entanto, se dados a recordar não foram codificados recentemente, infonnação inconsistente com o esquema é frequentemente esquecida ou distorcida (...) lapsos de como se fossem estímulos por e () mostraram também que originais (... )". (Renn c Calvert,1993:452). enviesamentos, maiores e mais frequentes em indivíduos que apresentam alto grau de estereotipia, e que deturpam sistematicamente a realidade a maior das tenlàtivas de superação de estereótipos, porquanto que uma leva para observar situação, pode ser mais importante do que aquilo que ela realmente vê'l (Renn e Calvert, 1993:458). um efeito A este efeito quase auto-perpetuante dos estereótipos acrescenta-se quando os percipienres inibir de presença de estereotipados em termos de juízos ou comportamentos (Macrae, Bodenhausen, Milne e Shennan e Klein,1994). Descritas como tendo um efeito irónico, até sujeitos em suprimir pensamentos estereotipados uma vida curta, porque as podem tenham retornar ainda com vigor, logo que os mecanismos (Macrae et aL,1994:8(9). Utilizando o modelo teórico sinapses na construção da acessibilidade a existentes na Macrae et concluiram que fenómenos intencíonais supressão desses pensamentos indesejados mais não fazem que actívar repetidamente, e pôr em destaque, categorias que o sujeito esforçou por substituir por distractores. Porém, a médio ou longo prazo, tais distractores acabarão por servir de os pensamentos estereotipados retornem, cliticas para que, em uma vez que tomaram ainda mais acessíveis através de mecanismos de primazia: °Longe quer necessariamente longe do coração, pelo menos no vista (...) que respeita a pensamentos indesejados t1 (Macrae et 994:814).
constatações corroboram a investigação realizada nesta área, que comprovou à memôría de traços consistentes com o empiricamente que a uma maior estereótipo corTesponde uma maior ocorrência de estereotipia (Martín.1987).
2.3. Críticas à abordagem cognitiva um elevado valor heuristico, atestado Embora a noção de esquema diversidade c quantidade de investigação que tem registado nas últimas. décadas nesta área da à sociaL teoria do processamento da informação quando cogniç.ão social tem sido alvo de duas importantes (cL Marques,1986). A primeira delas refere-se à definição do que se entende pelo termo de cognição Na verdade, não claro o reconhecimento
Maria Manuel Lima
da existência de uma especificidade fenómenos sociais enquanto objecto de conhecimento. A teoria do processamento da infonnação "ignora a jogada pelos afectos ( ) c valores 986:55). na formulação de juízos"
De acordo com Marques (1986), as cogniç.ão social têm tratado os como qualquer outro tipo de juízos, não reconhecendo claramente ao teImo juízos l'social qualquer especificidade que se projecte eventualmente no conteúdo de tais asserssões. Assim, o juízo é visto sobretudo do ponto de vista lógico e como categorização do e menos como reflectindo relações sociais, onde a afectividade podem revelar, reflectindo relações entre os sujeitos. e a emoção lt
frequentemente fonnulada, respeito dificuldade em definir A rigorosa e univocamente noção de esquema, constructo central na teoria do processamento de além de demasiado vago, falta ao conceito de teórica e empírica, verificando-se que a maior parte esquema têm desenvolvido situam-se ao nível microdescritivo e e taxonomias que idiossincrático (Codol,1989; Marques,1986). é claramente insuficiente o Na verdade, no âmbito teoria da cognição grau de apuramento terminológico e rigor conceptual pois, distintos são dados sob mesma designação e a aos mesmos fenómenos. diversos fenómenos são mesma designação aplicada a diferentes fenómenos" (Marques,1986:28).
refere mais especificamente consequências No que para a que este não é um fenómeno neutro do ponto análise da estereotipia de liA esrereotipia social não uma mera forma de substituir ordem pela grande desordem ou confusão da realidade. Não é meramente uma redução. É todas é a projecção no mundo do nosso coisas e algo mais. a garantia do nosso sentido, do valor, da nossa posição, dos nossos (Sumner, ciLin Marques.] 986:57).
De qualquer forma. "embora perspectiva cognitiva vindo a ser criticada por não tomar em devida conta factores como a motivação e a intenção ( ), ela é aceite como complemento valioso orientações psicodinâmicas e socioculturais do estudo da estereotípia (... (England,l992:534).
3.
A estereotipia enquanto
fenómeno social
as estandardizações culturais Numa perspectiva sOclocuJtural entende-se que os elementos mais e as nomas sociais, absorvidas durante o processo de importantes formação e conteúdo dos estereótipos (Lisi ct al.,1990). Assim, para além da função de esquemático infonnação atribui fenómenos Lipicamente a emergência
que a teoria do processamento igualmente necessário ter em conta quando aborda a estereotipia social.
·j76 •
da
14 (1997).
tomo do conceito de
dupla abordagem
sobretudo a fenómenos de categorização social e produção de uma identidade social positiva, entre outros.
Nesta linha teórica de abordagem estereotipia (1969) que considera que lia estereotipia implica emocionais e que os factores avaliativos são basicamente o (pp.85/86). valores
trabalhos de Tajfel avaliativos e da assimilação de
Para estereótipos, embora profundamente ligados a processos cognitivos, a partir dos quais os indivíduos podem ser compreendidos como sistemas de de fonna a procurar uma imagem de se categorizam si próprios e aos como actores
A dinâmica psicosssocial da estcreotipia Neste contexto a noção de estereótipo é encarada sobretudo de um ponto de vista o elemento Itsocíal" do estereótipo como objecto procurando sobre o qual a estereotipia se realiza mas, mais do que principalmente como produto (Maisonneuve,197l). que mantêm entre de
É que os estereótipos, para além
elementos cognitivos de que encontram-se igualmente determinados sociologicamente, uma vez que são funcionamento das (Asch.l977:477).
formados, do
Assim, e do ponto de vísta psícossocial, um estereótipo é uma crença generalizada, que combina cognição com afectividade (constituindo, portanto. uma atitude) e que caracteriza de forma invariante um object.o estímulo (Lemer e 1983). De com Simões (1985:207), apresentam características importantes; a) abusivas, aplícadas de os membros de um grupo (admitindo poucas b) extremas, uniforme superlativa (... ); c) frequentemente negativas do que ou seja, atlibuídas de positiv I 1\
I.
De facto, tal como é o caso das atitudes e podem ter uma conotação estereótipos
a de uma
social se
da que, no dos quais é
compreender
antes às
preconceitos, também porque são Mas
mais. uma categoria cognitiva, nem todas Por exemplo , em cognitivas , neles . gerais da não se fenómenos mais complexos de a partir eSlereotipia e discriminação de da
Manuel Lima
frequentes e dão origem a uma menor controvérsia social,
muito menos
investigados.
A razão da
para a cstereotipia negativa poder-se-á ficar a dever em
do preconceito função social do estereótipo, tal como acontece no (Sherif,1976), lima vez que o seu papel principal é o de legitimar de dominação e poder socÍal de um grupo outro e daí o assumirem um carácter mais frequentemente depreciativo face "outros", muito diferentes de
grande parte
estereótipos são Pode afirmar-se igualmente, com Simões (1985:207), que produto de grupos de. pertinência (... )", Da mesma forma, segundo Neto (1990: 123), 1I0S de crenças que atribuem a membros de simplesmente estereótipos de pelo facto da pertença a esses grupos", Ao combínar-se esta característica com melhor do poder inflexibilidade, considerável resistência à mudança e pode compreender como o normalmente não altera com facilidade, mesmo quando em confronto com uma realidade que eventualmente contradiga et al.,1983; Gahagan,J980),
porque o estereótipo permite elaborar sentido num meio social complexo. o indivíduo portador do estereótipo a realidade contraditória à sua ver como uma excepção, ou nega mesmo a realidade que ele ou manipulada por alguém (Moscovici e Hewstone, 1984). Abandonar o estereótipo, assim perder o sentido impregnado à realidade, ameaçando a própria segurança, regras necessidade. de afiliação e conformidade Por outro lado, os estereótipos têm uma dinâmica autojustíficação e autoperpetuação que leva de indivíduos objecto da estereotipia a forma a corresponderem à imagem estereotipada que deles se (Word, Zanna e Cooper, 974)", são relação A
entre
que se autoconfinnam 11 (England,1992:71l), numa de papéis e sujeitos sociais nesses
da
de um sentido, uma ordem social perfeitamente definida, Jung na por Fordham,1972:45): "A c tem Tw() Psychology lhe um o () perfeitamente (. ..) em homem que as (., ,) o seu de segurança: por 1\0 papel de A que nínguém seja ambas as aqui um .), isso homem outros, não seria "diferente." II Numa a cabo por England analisadas as diversas face que. embora o do sexo unificado, registando-se uma assinalável encontra-se indivíduos simultaneamente, características homem sucedido financeiramente, e corajoso. que evite a feminilidade c, bom quadro, que a
14 (1997).
em tomo do conceito de estereótipo: uma dupla abordagem
os estereótipos constituem frequentemente a base dos Para além preconceitos, apresentando um forte enraizamento histórico e cultural: contêm um aspecto à forma como. cognitivo de pré-juízo e encontram-se profundamente tradicionalmente, os grupos forma essa que se relacionam entre si percepcionam-se de um modo determinado, muitas vezes se encontra legítima, consolidado historicamente.
4. Conclusão Embora o modelo de processamento de informação trazer importantes e decisivos esclarecimentos ao da estereotipia social (nomeadamente lançando luz sobre processos de aquisição, organização e recordação de informação), e se apresente como uma abordagem preferentemente analítica em relação aos mais "puramente dos estereótipos, não se pode afirmar que ele providencie um completo esclarecimento de todo o processo ligado à cstereotipia.
Porque lias raízes dos preconceitos não acabam no nosso solo nativo'l (Sherif,1976:272), é necessário encontrar as raízes mais profundas de poder, que se projectam no e que contribuem frequentemente como no conflitos e lutas entre as diferentes partes da sociedade e entre as sociedades.
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Resumo A actividade condicionam e
social, para além da lógica de encontra-se igualmente produto de todo o conjumo de
PALA VRAS·CHA
a que obedece. típica de pela lógica das relaçôes que dos
estereótipo; esquema;
categorízação;
pensamento
Summary
of
stereotypy, the logic which it is also by the logic of social relations. The whole of social represcntations of the KEY WüRDS:
da
typical of regulate and are product
scheme; data
14 (1997).
social thoughL
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