Do Amansamento ao voo livre Jorge Sales Lisboa (Este (Este artigo é parte do livro “Introdução a Arte de Falcoaria no Brasil”, não publicado. Pode ser divulgado e republicado desde que citado o nome do autor)
INTRODUÇÃO Quando comecei na falcoaria em1979, vivi momentos frustrantes por não ter nenhuma fonte de consulta. Além de praticamente não existir ninguém no país que fosse praticante da atividade. Em 1993 filiei-me a Associação Mexicana de Cetrería, e para minha alegria, no boletim da associação mexicana, vi que existiam outros dois brasileiros, Leo Fukui e Guilherme Queiroz que praticavam falcoaria, e que eram filiados a NAFA – North American Falconers Association. E melhor ainda, morava próximos a mim e tinha os endereços deles no boletim. Logo fiz contato por carta, naquela época, não tínhamos internet, e marcamos nos encontrar. Em 1994 começamos a fazer reuniões reuniões na residência do Leo Fukui em São Gonçalo – RJ. Eram encontros maravilhosos, e era muito engraçado, às vezes íamos fazer uma visita rápida ao Leo Fukui, mas só voltávamos para casa dias depois, a falcoaria fazia com que esquecêssemos tudo, ainda mais que o Leo Fukui tinha alguns peregrinos em processo de reabilitação. Eu acredito que extraoficialmente a ABFPAR já começou a existir em 1994, e nossos encontros eu representava o Rio de Janeiro, já que morava neste estado, o Leo Fukui representava Santos-SP, e o Guilherme Queiroz representava Juiz de Fora – MG. Apesar disto ficamos estudando, debatendo e almejávamos criar uma associação com o único objetivo de que pudesse proporcionar a outros a alegria que nós sentíamos em poder participar, presenciar da vida de uma ave de rapina treinada na natureza através da falcoaria. Em 1997 este sonho tornou-se realidade, pois conseguimos fundar a ABFPAR, e embora fossemos poucos, movidos pela paixão que a falcoaria nos passava conseguimos, não só o reconhecimento do IBAMA, através de um termo de cooperação, mas a filiação da ABFPAR na IAF – International Association for Falconry and Preservation Birds of Prey, sendo a primeira associação sul-americana a filiar-se nessa instituição internacional. Hoje, muita coisa mudou, ocorreram muitas coisas. Uma das mais positivas foi a cria em cativeiro possibilitando que os falcoeiros pudessem ter suas aves, combatendo o tráfico e atos ilegais ao meio ambiente, e a participação profissional de diversos falcoeiros em trabalhos de controle de fauna, e muitos destes profissionais sendo sócios da ABFPAR . Apesar disto o “boom “ boom da internet” internet” fez com que houvesse em minha opinião, algo que considero talvez como a “banalização da falcoaria”. O falcoeiro de hoje em dia, acessa a internet e encontra vários sites
com tudo a disposição, livros, materiais, tudo. Recordo que o primeiro livro que li foi na biblioteca nacional do Rio de Janeiro, Arte da Caça de Altaneria de 1
Diogo Fernandes Ferreira, em sua versão original de 1616, o livro era tão antigo que quando virava a página, a folha quebrava, depois de ler, ou melhor, tentar ler pela terceira vez, porque o português daquela época era muito difícil de entender, as condições do livro fez com que eu ficasse impedido de continuar lendo, o livro foi para processo de microfilmagem sem previsão de retorno. Não quero com isso que pensem que desejo que continu em na “idade da pedra” na falcoaria, muito pelo contrário, mas tenho convicção de que hoje em dia diante de tantas facilidades, não há por muitas pessoas a valorização que acredito que devemos ter com a falcoaria. No decorrer dos anos muita coisa mudou. Hoje passados muitos anos e depois de muitas alegrias e decepções, vi continuamente pessoas num fórum de discussão na Net fazendo perguntas sobre como treinar, como alimentar uma ave de rapina. Isto tudo fez com que eu ficasse motivado e publicasse alguns tópicos neste fórum, que creio ter sido útil a diversas pessoas. Estas informações são de um livro que estou concluindo, espero que agora com mais tempo consiga terminá-lo até o final do ano. Há outro livro também que já estou na metade chamado Falcoaria com GaviãoBicolor. Com este artigo, corrigi alguns erros, que existia no fórum, especialmente ortográficos, afinal ficar postando mensagens altas horas da noite, depois de um dia cansativo de trabalho de controle de fauna ocasiona alguns erros. Este artigo não é absoluto, porém acredito que possa contribuir com conhecimento básico para que falcoeiros iniciantes consigam se sair bem nos treinamentos iniciais com sua primeira ave. Neste artigo tento ainda resgatar alguns termos em português. Este artigo é um processo de amansamento da ave até o momento em que voa livre sem o uso do capuz no processo de amansamento tradicional conhecido por “velada”, ou “desvele”. Seguem alguns passos que na ordem
cronológica seriam: 1) Amansamento; 2) Comer no punho; 3) Saltos ao punho; 4) Passeio com o roedero; 5) Vôos ao punho; 6) Vôos a isca; 7) Escapes para fazer com que a ave retorne; 8) Vôos livres. 1 e 2) AMANSAMENTO E COMER NO PUNHO O que é amansamento : Uma ave amansada é aquela que reconhece o falcoeiro como uma figura positiva, e reage positivamente a sua presença, e não demonstra nenhuma situação de estresse nem ao falcoeiro nem ao entorno de onde vive. Isto se consegue com o tempo de permanência que ficamos com nossa ave, mas isto não é só com a ave no punho, com a ave no punho é fácil 2
fazer com que fique tranquila, colocamos alimento, mas nesta fase inicial é tudo muito rápido, ela come rápido, e você observa que logo após comer ela fica saciada e começa a debater querer ir para outro local, e isto é negativo, ela entende que você a retém pelas correias e isto é um estímulo negativo que você deve evitar. Alguns falcoeiros não entendem o porquê da sua ave debater quando ele vai pegá-la no punho no poleiro, e isto pode ser um dos motivos, porque a ave entende que a luva, aquele objeto de couro que aproxima vai retêla de cabeça para baixo, numa situação de stress. Então sugiro que nesta fase inicial, quando ela come rápido, você consiga uma associação positiva, quando a ave estiver acabando o alimento no punho, já comece a se deslocar para um poleiro no jardim, com um "bom sol" e uma banheira dágua. E assim que acabar o alimento a coloque no poleiro. O amansamento da ave não é só permanecer com a ave no punho, nesta fase inicial que não usamos o roedero que prolonga uma aceitação da ave no punho com o falcoeiro e entorno, sugiro, que, coma no punho e a deixe num poleiro exposta a todo movimento, pessoas, crianças, etc, MAS, respeitando-se uma faixa limite, digamos tem o poleiro da ave, e tudo mais, não deixe que ninguém a não ser você se aproxime da ave menos que dois metros de distância, crie esta área de segurança imaginária isto facilita todo o amansamento. Você pode colocá-la num poleiro transversal ou num poleiro em poste, e o amansamento continua neste poleiro, pois são poleiros altos que dão mais segurança e continua o grau de tolerância a todos, sempre respeitando os limites de aproximação. Vamos responder a algumas perguntas básicas. Você vai ter que controlar o peso de sua ave, e isto você faz conseguindo com precisão. Controle de peso não é só redução, é antes de tudo precisão. A primeira pergunta é: consegue comer?
Qual o máximo de alimento que sua ave
Como você vai fazer isto? Antes de tudo pese sua ave, eu entendo por peso da ave, o peso do corpo da ave com braceletes. SOMENTE ISTO. Você pode colocar capuz, correias, destorcedor, e tudo mais sobre a balança, MAS desconte isto tudo, assim você consegue o peso quase real de sua ave. Preferencialmente pese depois que ela regurgitar, pelota (egagrópila) também pesa. Digamos que sua ave pesa 500 gramas, provavelmente o peso não será exato,"redondo" assim, 500 gramas, mas pensemos que sim. 500 gramas. Compre um pedaço grande de carne bovina (coração de boi é uma boa opção porque é fácil rasgar), uns 110 gramas, certifique-se que a carne não está congelada, faça alguns cortes suaves na carne para que facilite a ave de rapina rasgá-la, e com ela no punho ofereça este alimento entre as garras, deixe que segure e coma esta carne, digamos que ela coma 100 gramas, e não queira mais, está saciada. Quando a ave começa a comer, tudo começa rápido e acaba 3
rápido, mas seu objetivo é saber o quanto ela come. Após comer e está saciada, muito rapidamente coloque a ave no poleiro no jardim, com banheira de lado. Isto é importante, porque uma ave no início do treinamento e já saciada começa a debater no punho, e as correias a retém e isto é prejudicial porque ganha um estímulo negativo, que talvez explique o porquê de algumas aves assustarem-se com o falcoeiro quando ele vai pegar no punho. (Posteriormente isto pode ser sanado com o uso do roedero , e recompensas, quando formos pegar no poleiro). Antes de coloca-la no poleiro no jardim, o ideal é que pese de novo a ave, que deve acusar na balança 600 gramas. Então você percebeu que sua ave come no máximo 100 gramas, no dia seguinte, no mesmo horário, digamos que após metabolizar o alimento venha a pesar 550 gramas, então você sabe que o máximo que ela come é 100 gramas, e que o peso final de ontem foi 600 gramas, então para chegar neste peso de novo hoje você teria que oferecer 50 gramas, certo? SIM, MAS agora não ofereça 50 gramas, ofereça 45 gramas, você começa uma redução de peso buscando chegar ao peso preciso da ave, de aceitação e de resposta. Novamente utilizando de coração de boi, a ave come também tudo rapidamente, mas se feito tudo corretamente a ave começa a fazer uma associação contigo muito positiva. No final antes de acabar coloque a ave no poleiro que você escolheu. ATENÇÃO: Se você reside numa zona rural, ou urbana mesmo, cuidado, animais como gatos, gambás, etc, podem ser perigosos para sua ave, inclusive outras aves de rapina podem atacá-la. Se há este risco, faça um recinto telado, um viveiro e deixe sua ave dentro. Os cinco gramas que menciono são aves do tamanho de um Parabuteo uncinctus, para aves de metabolismo mais acelerado a redução é menor. Importante, quando sua ave comer no punho emita um som com a língua, como o que usamos para chamar cães, tsss, tsss, algo assim, mas pode ser um apito baixinho, um assobio, um som distinto, os japoneses, batem numa caixinha de madeira, você pode inclusive falar a palavra " come", "come". Isto toda vez que a ave baixar o bico para comer, isto faz com que você esteja condicionando sua ave, a toda vez que você produzir este som, esta palavra, ela baixar a cabeça e comer. Eu tinha várias aves em processo de reabilitação, que ficavam num poleiro transversal, e quando eu chegava e me viam, olhava para mim, eu emitia o som, e elas baixavam a cabeça procurando o alimento em suas garras, isto é antigo, não é invenção minha, é atribuído a Ivan P. Pavlov, cientista russo de grande importância à Psicologia, a partir de 1900, Pavlov inicia o estudo de fenômenos que eram determinados quimicamente, mas por alguma forma de interação psicológica. Esse tipo de fenômeno já havia sido explicitado anteriormente por Claude Bernard ao citar que cavalos só de ver pessoas que habitualmente lhe forneciam comida já começavam a salivar, mesmo na ausência de alimentos. Apesar disto, quando lemos livros antigos de falcoaria como o Art Venandi Cum Avibus, em algumas passagens é mencionado o comportamento das aves diante destes estímulos. Na verdade hoje na falcoaria não se inventa nada, ou melhor, inventa sim, equipamentos 4
eletrônicos, telemetria, etc. Recentemente num encontro de falcoaria em Uberlandia , vi um Accipiter bicolor que eu tinha voado 2 meses atrás num recinto, e quando a ave me viu, eu a 10 metros de distância resolvi fazer um teste, e fiz o som característico e mesmo com peso alto ele ficou procurando nas garras o alimento que não existia. 3) SALTOS AO PUNHO;
Nos saltos ao punho escolha um local isolado, tranquilo, para que a ave se concentre em você, se tiver um quarto fechado, sem objetos, é muito melhor, objetos como cadeira, armários, etc, são poleiros, que a ave pode condicionar ter que voar para eles antes de ir para sua mão para comer, e isto não é bom. Quando for pegá-la no local onde está, é válido colocar um pedaço pequeno de carne de coração de boi, de uma, ou duas gramas, na luva. Agache a um metro e meio ou dois metros do gavião e se aproxime no mesmo nível, na mesma altura que o gavião está no poleiro, não empurre a luva na face do gavião vá aproximando na altura das patas e garras, e pode ocorrer duas coisas, ou ele vai se assustar que pode ser por está com o peso alto, e sem fome, ou vai comer o pedaço. Mostrando interesse em comer, encoste a luva nas patas dele, faça uma leve pressão nas patas que ele vai subir para comer. Rapidamente com a mão direita segure as correias e trave as correias entre os dedos, se a ave começa a se debater levante rápido, o normal da maioria das pessoas é aproximar a mão do solo, mas não faça isto, suspenda a ave afastando do solo, nunca deixe batendo asas próximas ao chão ou poleiro, isto só quebra penas ou mesmo articulações. Ave dependurada coloque a mão direita no dorso, e com uma suave pressão ajude a subir de novo no punho, prenda com um grampo, mosquetão, ou algo assim, SÓ ENTÃO desamarre a trela do poleiro e AMARRE no punho. Pese a ave, veja quanto está. Coloque a ave num poleiro, QUE SEJA DISTINTO do poleiro onde ele fica no jardim. Neste quarto fechado, amarre a extremidade da trela na luva que deve ter uns 60 cm talvez. Mostre a luva com o pedaço de coração de boi, sempre de perfil, sempre de lateral para a ave. Muitas pessoas não dão importância a isto, porque aves adquiridas em cativeiro são mais tranquilas, mas aves selvagens, quando o falcoeiro se mostra de frente com o punho na frente dele a ave se sente ameaçada pela presença humana por trás, e recusam a vir no punho, ou tentam fugir. De perfil você caracteriza um poleiro para a ave, sem intimidar a ave. Algumas aves mais complicadas e selvagens, eu não olho diretamente para a ave, olho em sentido contrário, ou para o solo, para não intimidá-las, e talvez alguns pensem que é exagero, mas até a respiração controlo. Quando sinto que a ave veio ao punho, faço com a língua o som que mencionei anteriormente, ou outro som qualquer e ela começa a comer. Bom, mostre a ave o punho com alimento se ela mostra interesse deixe a uns 50 cm, isto para um Parabuteo é um salto, ele salta você apita, silvo curto, uma única vez, ele pula no punho, e come a ração no punho, uma única vez, não tente repetir, embora a tentação seja grande, mas por enquanto não. Quando está terminando transporte a ave até o jardim e deixe no poleiro. 5
Lembre, neste momento, você está fazendo sempre uma redução diária de cinco gramas, BUSCANDO A PRECISÃO . 4) PASSEIO COM O ROEDERO
O "roedero " é um alimento, onde a ave demora a rasgar e comer, e permite que ao prolongar esta alimentação ela se habitue cada vez mais com situações consideradas de stress. As aves ficam tão focadas neste alimento que é chamado assim porque parece que as aves roem o alimento, buscando retirar tudo o que necessitam. O roedero pode ser um pescoço de frango, peru, pato, onde você tira o máximo de carne e gordura, pode ser um rabo de boi, um pé de coelho, uma asa de pombo, frango ou pato. O tamanho e tipo do roedero vão depender da ave que você tem. Um Spizaetus ornatus pode ter como roedero uma coxa de frango sem carne, o mesmo roedero para um Parabuteo não serve, porque vai alimentálo, por mais carne que você retire. Você sabendo já o quanto come sua ave, e começando a fazer a redução, chama a ave ao punho ela salta, e começa a comer, neste momento você vai inserir o roedero junto com a codorna na luva, e substitui a codorna por este roedero , a ave vai ficar bicando, rasgando, mas vai demorar e nesta demora, você fica com ela diante de várias situações antes estressantes, vê TV, fica com uma roda de amigos, um churrasco, um bar, uma série de outras situações. Inicialmente você faz isto dentro de casa, se ave está muito tranquila, você abre a porta e deixa que ela visualize a parte exterior, posteriormente sai dá uma caminhada na parte externa de sua casa, você pode deixar sua ave no punho e ela vê pessoas diferentes, cães, ônibus, carros, etc. Cada vez que você prolongue este passeio mais mansa estará sua ave. Atente que por mais duro que seja o roedero , a ave vai consumir parte dele ou mesmo totalmente, e fique atento, para não ocorrer de você caminhar ou sair numa distância cada vez maior e voltar com sua ave saciada e debatendo-se, isto é um estímulo muito negativo. Quando quiser encerrar o processo de socialização você retorna com o alimento e deixa a ave comer seu alimento diário de codorna. Algumas aves oriundas de criadouro, provavelmente estão sendo bem alimentadas e todos os dias, sendo assim possuem reservas de gordura o que pode dificultar a ave comer no punho, mas para a ave comer não necessita ser realmente no seu punho, se a ave resiste em comer no punho, deixe sem comer por um dia. No dia seguinte deixe-a num poleiro num quarto, isolada e fechado e coloque um pedaço bom de carne sobre o poleiro, horas depois volte e verá que comeu parte do pedaço ou o pedaço todo. Desta forma e gradualmente você vai iniciando um processo de aceitação da ave para tudo que a cerca. Nos dias posteriores, abra a porta parcialmente, deixe entreaberta, e aos poucos vá oferecendo cada vez mais situações de ruído, movimento para a ave, até chegar 6
ao ponto em que a ave come na presença de todos, neste ponto você ao tentar que coma no seu punho terá maiores possibilidades de êxito. Alguns livros mencionam redução em torno de 10% do peso da ave, mas isto é extremamente vago. Por exemplo, você está fazendo um trabalho sério de redução buscando a precisão, mas existem inúmeras variáveis que podem afetar o peso da ave como atividade diária, temperatura e muito mais, por exemplo: Um gavião que fica exposto no jardim certamente não terá o mesmo peso de um que fica num quarto fechado, o que fica exposto com a queda de temperatura e poderá perder mais peso, ou presenciar outras situações que podem fazer com que perca peso como um gato que pode passear no muro, e ele se assustar continuamente e gastar muita energia, ou ficar no poleiro, ver uma pequena ave pousar no jardim, ou mesmo um filhote cair do ninho de uma árvore e querer capturá-la seguidamente gastando muita energia e quando você chegar fica louco com a variação do peso. Temperaturas baixas são uma das variáveis mais importantes a ser consideradas, principalmente para aves de metabolismo mais rápido, se você bobear perde a ave mesmo. Na dúvida alimente excessivamente sua ave. O Mestre La Fuente, já dizia "erre por excesso, mas não erre por defeito" Vocês observarão também no decorrer destes treinamentos que o peso não é único. O peso para uma ave vir ao punho, pode ser diferente do peso para vir na isca, ou para ela perseguir as presas. Inclusive o peso que estamos trabalhando é diferente se a ave é criada em cativeiro ou não, se está sendo treinada num ambiente fechado como um quarto, ou na área externa. O que objetivamos com esta redução é conseguir um peso que consideramos "ideal" com resposta ao punho, isca, etc de forma adequada. Então temos como peso inicial e base o peso máximo que a ave come, mas este não é o peso ideal, por isto nós iniciamos a redução, retirando algumas gramas diárias, mas a partir de agora vamos iniciar os vôos ao punho, à medida que diminuímos, observem os pesos, fundamental o uso diário da tabela, vocês vão observar um peso, onde a ave terá uma resposta imediata, 2, 3 segundos ao punho, imediata para a isca, para tudo, e a partir daí " GRAVEM", este peso, NA TABELA e comecem a trabalhar a quantidade de alimento para chegar neste peso, e deixem de lado o peso que tínhamos nos baseado anteriormente, ou seja, o peso total que a ave consegue ingerir. Outra opção que falcoeiros t radicionais fazem uso é a oferta da “carne lavada” visando baixar rapidamente o peso das aves de rapina. Colocamos uma
carne vermelha, bovina em molho por horas, desta forma sai todo o sangue e você tem uma carne pobre em calorias, que é usada para encher o papo das aves, mas que baixa o peso por não ter caloria, etc. É a chamada " carne lavada" nos livros medievais. Não podemos abusar deste uso, pois a própria carne vermelha já carece de uma série de nutrientes que as aves de rapina precisam.
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Menciono isto aqui com a finalidade de informar, uma vez que praticamente nunca o usei. Enquanto seu gavião come no punho, sempre toque nos dedos e garras dele com sua mão sem luva, desta forma ele aceita o toque nos dedos e garras permitindo um melhor manuseio quando estiver na isca, ou mesmo sobre uma presa. Interessante mencionar que eu retiro todas as vísceras, ainda que muitas sejam importantes para a saúde da ave, visando sempre um melhor controle de peso. Normalmente não alimento com a cabeça, uma vez que muitas aves descartam parte do crânio, bico, enquanto comem afetando também um melhor controle de peso. 5) VÔOS AO PUNHO:
Então, agora sua ave que está sendo treinada num ambiente fechado, e para vir ao seu punho ela não mais salta, tem que bater as asas e voa. Voa de tal forma que supera os limites da curta trela. Agora você irá iniciar com os vôos ao punho. Agora, você sabe, inicialmente sempre ao pegar sua ave no poleiro onde se encontra, vá com um pequeno pedaço de carne, ela come este pequeno pedaço, uns dois gramas e sobe ao punho, de acordo com um tempo mais ou menos variável, a ave vai subir no punho sem você mostrar nenhum alimento, você retém a ave no punho, colocando as correias através dos dedos, prende com um "grampo" na luva, e LEVA PARA UM LOCAL FECHADO , onde pesa a ave, desconta os acessórios, etc, amarra um "fiador" no destorcedor, ou mesmo na extremidade da trela, e vai iniciar os vôos ao punho. Agora dentro deste quarto fechado a ave num poleiro, que pode ser um poleiro transversal, estique o braço, e apite, e a ave responde rapidamente, 2,3 segundos. Se a ave não responder rapidamente, não fique insistindo apitando continuamente, pare e tente mais tarde, ou após alguns minutos. A resposta tem que ser rápida. Nesta situação você tem duas opções , ou usa o roedero , uma única chamada, um apito curto, e após a ave vir na luva e roedero , sai com ela para passear e socializar e vai aumentando as distâncias dia após dia, ou utiliza a ração (codorna) que a ave vai receber, dividida em vários pedaços. ACHO MAIS INTERESSANTE QUE FAÇA COMO NA PRIMEIRA OPÇÃO , uma única vez ao punho, com passeio posterior. ATENÇÃO, que você está aproximando de obter um peso ótimo de resposta ao punho, que pode ser aproximado do peso ideal de resposta da ave, e onde você vai trabalhar futuramente para atingir este peso e não o peso total que ela comia. Dia após dia você tem uma resposta imediata, faz o exercício uma única vez, a vontade de repetir é grande, porém não faça, o ato de ter que retirar nesta fase o roedero por baixo da luva é grande, mas tem que ser bem feito, senão gera no "entendimento" da ave que 8
você está roubando o alimento, e isto pode gerar muitos problemas futuros desde agressividade até carregar, levar uma presa embora quando capturar e fugir. Logo o quarto onde você está treinando fica pequeno, interessante não haver outros objetos entre o poleiro de onde ela voa (que tem que ser distinto do poleiro onde ela fica no jardim) até seu punho. Este ato de voar do poleiro até o punho é algo particular, a ave jogar-se no ar mesmo que curta distância para vir a seu punho é algo que denota confiança e torna extremamente forte sua relação com a ave. Bem, não havendo mais espaço no quarto o treinamento continua no jardim, ou quintal, a ave não deve estranhar este local porque nos treinos anteriores, a ave saltou ao punho, e você passeou neste local, e ela deve conhecer este local com segurança, apesar disto, as fontes de distração são maiores e muito provavelmente as respostas não vão ser as mesmas imediatas como ocorriam no quarto fechado, mas, não se preocupe, caso as respostas não sejam imediatas naquele dia, será num outro, porque continuamos com a nossa redução mencionada nos textos anteriores. No decorrer dos dias certamente ela vai responder do poleiro ao punho, nunca reduza a distância aproximando-se para que ela venha, comece de perto um metro do poleiro e vá aumentando um metro cada dia. Você aproximar do poleiro depois que a ave recusar a vir, está ensinando a ave que se ela resiste você irá aproximar. Assim que responda totalmente e prontamente, chega à fase de levarmos a ave ao campo, onde este processo de vôos ao punho será repetido, sempre com a ave presa ao fiador até que voe do poleiro que você a deixa até seu punho uns 50/60 metros. ATENÇÃO TOTAL com o material do fiador, ele não pode partir, tem que ser resistente, o local de treinamento mais adequado são campos com grama baixa, ou de areia um campo de futebol com areia plana é o melhor porque o fiador não prende em nada como pequenos galhos, e inclusive na grama seca dando um tranco na ave e isto é um ensinamento péssimo. Quando você fizer estes vôos no jardim e no campo uma forma de reforçar o treinamento evitando trancos e condicionamentos negativos é prender um longo fio entre dois postes, pode ser um fio de arame ou um cabo de aço fino , entre dois poleiros, desta forma você prende a trela da ave numa argola passando neste longo arame e a ave desliza mais facilmente de um local ao outro sem prender em nada. Alguns falcoeiros amarram também entre dois poleiros que podem ser poleiros em arco, ou em bloco, mas que sejam poleiros distintos dos que você usa normalmente no dia a dia da ave em falcoaria. Se você usa nos poleiros em que a ave fica atrelada diariamente isto pode resultar em problemas. Diariamente a ave é contida pela trela quando ela debate em seu poleiro e aprende a limitar seus movimentos mediantes aos trancos que recebe. Se você a coloca no poleiro que ela fica normalmente e a chama deste poleiro ela aprende que pode voar deste poleiro a longa distância para comer e isto cria uma “confusão” na mente da ave fazendo com que se debata muito no poleiro em que fica normalmente, o que pode ocasionar lesões nos tarsos. Terminou o treino,
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nova pesagem análise do peso final da ave, banho, e descanso no poleiro favorito. Uma tabela como esta abaixo pode ajudar a conseguir um melhor controle de peso. TABELA DE CONTROLE DE PESO DE RAPINANTES EM FALCOARIA Nome comum Gavião-bicolor Nome científico Accipiter bicolor Mês Julho Ano 2012 PAC:peso da ave antes de comer;PA:peso do alimento;TA: tipo do Legendas alimento; PDC:peso da ave depois de comer.
DIA
HORA
LOCAL
PAC
PA
TA
PDC
A postura correta é as costas da mão com a luva para a ave. O objetivo desta postura não é esconder o alimento. Esta postura é a que dá uma maior confiança para a ave vir ao seu punho. Quando você destaca desta forma a mão, seu braço proporciona um poleiro confortável para a ave longe de você e de seu corpo. Quando você coloca o braço semi flexionado a frente do seu corpo, a ave vem voando ao punho vendo você por trás e isto gera incômodo para a ave achando você como um possível competidor por alimento, ou mesmo um inimigo, e isto para uma ave que não é nascida em cativeiro, ou selvagem pode fazer com que ela fique amedrontada e tente fugir. Algumas espécies mais arredias você, nem olha, vira o rosto em sentido contrário, você só apita, e quando ela pousa você olha lentamente, fazendo o barulho com a língua que já foi mencionado anteriormente para que coma. Inclusive algumas espécies com níveis de treinamento mais fáceis como Parabuteo, quando já comeram uma parte do alimento de que necessitam , se você chama de forma incorreta, podem recusar ou assustar e não vir ao punho ou tentar fugir. CORREIAS DE TREINO E CAMPO As correias possuem vários modelos, dois dos mais conhecidos são as correias tradicionais e as correias de aylmeri. A correia tradicional é uma única peça de couro que envolve o tarso das aves de rapina, e que hoje está em franco desuso por seu perigo , quando uma ave foge, leva todo esta peça junto, que é difícil da ave tirar, porque é uma peça inteira, o furo na extremidade é um perigo enorme para a ave para a imagem da falcoaria, para tudo, quando foge, normalmente pousam em árvores, antenas, postes, etc, e nestes locais este furo e corte da extremidade prende numa antena, num poste, num galho e morrem pendurada sem forças, quando ocorrem estes casos, os falcoeiros, e as pessoas em geral chamam os bombeiros, e quando tiram o gavião que já está morto lá em cima logo identificam que é uma ave de falcoaria pelo material, e isto, é muito ruim em qualquer país, imagina no Brasil, onde estamos em processo de 10
aceitação da atividade. ATENÇÃO com isto. O outro modelo de correia é a correia de aylmeri, onde tem um ilhós e uma correia que passa pelo furo da ilhose, neste modelo você tem esta correia com um boton na extremidade e na outra o furo com corte para entrar o destorcedor, neste caso, você simplesmente retira segurando pelo boton esta correia e coloca outra correia parecida, também com boton mais longa, mas sem nenhum furo, neste caso impede que a ave fique presa em galhos, antenas ou postes. É o correto. Quando termina o voo você troca esta correia chamada de correia de campo, pela que vai prender a ave no poleiro. 6) VÔOS A ISCA; TREINAMENTO PARA A ISCA O QUE É A ISCA?
Isca é a denominação dada para um objeto de couro, pelo ou penas, onde você prende o alimento, e que tem a finalidade de atrair sua ave de rapina de volta, quando a mesma realizou uma perseguição sem sucesso a uma presa, ou se afastou demasiadamente e você a perdeu de vista. A isca é conhecida nos países de idioma inglês como lure, em países latinos como señuelo e em português de Portugal como rol. No nosso idioma visando resgatar nossa relação com o português, embora aqui no Brasil, o termo lure já seja amplamente utilizado, eu usarei como a tradução simples do lure, e chamarei de isca. Existem iscas nos formatos mais variados possíveis, algumas que parecem animais verdadeiros, mas as rapinantes fazem a nítida distinção do que é uma presa e o que é uma isca de verdade, e é o treinamento correto que vão possibilitar o retorno da rapinante, não o formato da isca. QUANDO PODEMOS COMEÇAR A FAZER O TREINAMENTO PARA ISCA
Dois fatores são fundamentais para você iniciar o treinamento para a isca, que seu pássaro esteja amansado e com o peso controlado. Vamos analisar estes dois fatores. Pássaro amansado, é aquele que tolera a presença do falcoeiro, auxiliares, e o entorno, prolongar de forma desnecessária a ave no treinamento da isca, vicia o pássaro neste objeto, e impede que evolua satisfatoriamente no momento de se realizar a captura das presas. “O amansamento tem que ser curto e
intenso, tem que se chegar até o limite da tolerância, mas não é necessário que se prolongue até que se apeguem ao falcoeiro” – Felix R. La Fuente.
Pássaro com peso controlado é aquele pássaro que está saudável, recebendo uma dieta rica em nutrientes, mantendo suas condições atléticas, e respondendo prontamente os comandos do falcoeiro. 11
COMO TREINAR
O treinamento para a isca eu faço em dias alternados e somente com uma chamada. Desta forma você fixa na mente da ave o som com a isca. Nestes dias alternados a ave vai comer muito sobre a isca, e no dia seguinte o alimento é racionado. Sendo assim, no dia em que ela não está sendo treinada para a isca, come no punho um roedero , uma asa de frango, dessas que você compra em supermercados ou açougues, após descongelar, você retira com uma tesoura de carne ou faca quase toda a carne deixando só o osso com tendões , uma asa de frango para um Parabuteo, porque para um femoralis é muito menor o roedero , uma asa de codorna. Para o Parabuteo o ideal é uma asa de pomba, em alguns estados onde a temperatura é alta, eu deixava inclusive a ave sem comer nada. Cabe cada um analisar o metabolismo de sua ave nos locais respectivos e dar uma maior ou menor quantidade de alimento. Posteriormente podemos falar sobre metabolismo e a quantidade de alimento necessária para cada ave. Treinando desta forma em 6, 7 lições sua ave voa livre com segurança. Antes de começar a fazer o treinamento para a isca consiga 20 codornas e as mantenham vivas, você irá utilizar estas codornas no treinamento da isca. O uso de codornas recentemente abatidas vincula ainda mais a rapinante na isca, devido ao sabor do alimento fresco. PRIMEIRO TREINAMENTO DA ISCA
Você fará os treinamentos como disse anteriormente em dias alternados, sendo assim, um dia você fará o treinamento da isca, no dia seguinte, não treinará a ave. Desta forma a ave de rapina fixa melhor os estímulos que receberá no treinamento. Neste primeiro treinamento, você horas antes abate duas codornas, divide estas codornas ao meio, sendo assim, você ficou com quatro partes, duas metades com asas, pescoço e peitoral e outras duas metades com duas pernas, parte do abdômen e vísceras. Retire as vísceras, como moela, intestinos, e descarte, jogue fora, outras partes como coração e fígado guarde num pequeno saco plástico. Uma das metades das codornas retire todas as vísceras e corte em pequenos pedaços juntando estes pequenos pedaços com o fígado e coração que você já separou anteriormente, isto será oferecida a ave de rapina no momento do treino. Chegando ao local de treino, analise as condições, se chove, venta, neva, muito calor, que são estímulos naturais que podem prejudicar a evolução da ave no treinamento. Observe se não há muitas pessoas, animais estranhos, ou outros que possam assustar sua ave, inicie o treinamento. Junto com uma pessoa que o auxilia, na ausência da pessoa, pode deixar a ave num poleiro existente, mas isto não é bom, porque condiciona a ave a pousar e se for um falcão (Falco), que você pretende voar por altanaria poderá ter problemas posteriormente com a ave pousando seguidamente. Observe se não há necessidade de um longo fio, com uma argola, como foi mencionado no treinamento ao punho, onde você prenderá a 12
ave evitando que voe para árvores próximas, postes, etc, sempre pense nas coisas piores, quando você acha que nunca vai acontecer é ai que acontece, sempre se previna . Você fica a três metros da ave, coloca a isca na sua mão enluvada como se fosse chamar a ave ao punho, o gavião acostumado a voar a longas distâncias para ir ao punho vendo o alimento na sua mão tão perto, não hesitará e voará os três metros para comer, você pode inclusive utilizar o silvo curto do apito como nos treinos de voo ao punho. Ao chegar ao punho deixe que comece a comer, logo ela ficará muito vinculada a este alimento, pois é um alimento fresco e saboroso, diferente do alimento que você descongela. Quando estiver comendo, você com a mão direita começa a puxar a isca por baixo lentamente, muito cuidado com isto, e escondendo o máximo sua mão direita. Algumas vezes o gavião, olha ao redor, e você puxa mais com a mão direita, enquanto que com a mão esquerda enluvada vai limitando a exposição que a ave tem para comer o alimento, até que quando olhar em volta, algum momento de distração você puxa rapidamente a isca e esconde nas suas costas. O gavião ficará excitado, olhando em volta, olhando em baixo, procurando o alimento que desapareceu você com a mão direita escondendo a isca no bolso do colete, na bolsa, ou mesmo nas costas, joga a isca ao solo a três metros a sua direita ao mesmo tempo que apita com um silvo longo, totalmente distinto do som do apito utilizado para os treinamento de vir ao punho, algumas pessoas utilizam um grito para chamar na isca, eu creio que tenhamos sempre que produzir um som distinto do som, quando nos treinamentos de vir ao punho . O normal é que o gavião vendo a isca que comia e desapareceu surgir rapidamente voe diretamente para ela, e capture. Neste momento permaneça imóvel, e espere que ela segure a isca com uma, com as duas patas, fique sobre a isca, e inicie a comer, SOMENTE neste momento, quando ela começar a fazer isto, é que você se movimenta, e começa a dar voltas ao redor da ave mantendo uma distância de um metro, uma distância de segurança, a ave vê você a sua volta, mas sente-se segura e come vez ou outra, e enquanto o gavião come você agacha, e oferece com a mão enluvada os pedaços pequenos que você separou e guardou no saco plástico, assim a ave percebe que toda vez que você baixar na direção dela, vai oferecer um petisco, faça isto duas, três vezes, só. Quando observar que a ave de rapina já comeu a metade do alimento, você pega a outra metade da codorna que tem o peitoral e asas, você coloca as asas entre o dedo médio e menor, enquanto que o peitoral da codorna fica sendo seguro entre o indicador e polegar, e o pescoço da codorna fica dentro da palma da sua mão, quando você fecha todo este conjunto, você segura de tal forma que impede que arranque a codorna de sua mão. Você irá aproximar com este alimento e mostrar para o gavião ao nível do solo, estenderá seu braço e o gavião poderá ter quatro reações:
1) Ficará interessado pelo alimento irá bicar o alimento que está na sua mão, soltará o alimento anterior que está junto com a isca, e que estava comendo, bicará o alimento colocará uma pata na luva, depois outra, e subirá na sua luva, ou; 2) Ficará interessado pelo alimento irá bicar o alimento que está na sua mão, e subirá na sua luva trazendo o alimento junto com a isca, que 13
estava comendo anteriormente. Neste caso, quando que fizer isto, assim que o gavião não olhe para o alimento que você oferece, guarde temporariamente o alimento na bolsa, ou colete de falcoaria, e deixe que coma o alimento que ele trouxe restante no seu punho, junto com a isca, mas no decorrer que estiver comendo e ficar mais tranquila traga aquele pedaço que você guardou com a mão direita e coloque entre os dedos da luva e junto com a codorna que está presa na isca, quando o gavião pegar este pedaço que você colocou na luva, ele irá puxar com o bico, e você irá relaxar a pressão dos dedos deixando que ele arranque, porque desta vez você não vai prender como foi orientado anteriormente, mas logo que ele puxar, ele irá fixar de novo sobre a luva para comer, e irá se concentrar neste pedaço, assim com a mão direita você puxa a isca por baixo da luva, cuidado, puxe aos poucos, sempre disfarçadamente, quando o gavião estiver concentrado na comida ou olhando para os lados, você puxa rapidamente a isca e esconde. Muito cuidado com este ato para o gavião não vincular este comportamento como você está roubando o alimento dele com sua mão direita. 3) O gavião olhará para o alimento na luva, mas abrirá mais ainda as asas e cauda, cobrindo a isca com alimento no solo, ou mesmo dando as costas para você. Neste momento, controle o nervosismo e afobação, isto é positivo. “A ave que cobre não é a ave que carrega” – Imprint Accipiter – Mc Dermott. Aproxime da ave com a luva observando onde está a isca e o alimento e rapidamente de forma decisiva, avance sua mão enluvada sobre a isca apertando o alimento com a isca para o solo, Aperte forte. Atenção é para colocar luva com alimento sobre a isca e alimento não é sobre os dedos do gavião que pode causar algum dano, ou a ave interpretar negativamente. A princípio o gavião poderá vocalizar irritado, ficar de lado, mas não tire a mão, se conseguiu cobrir a isca permaneça com a mão sobre fazendo pressão, que ele vai começar a procurar a isca, e não vai achar o alimento, toda vez que procurar você lentamente mostra a parte da luva que está exibindo alimento, o normal é que o gavião comece a bicar o alimento na luva tente arrancar de suas mãos, não vai conseguir porque você vai está segurando, se estiver segurando corretamente pelas articulações da codorna ele não conseguirá arrancar, ele vai bicar, colocar uma das patas, coloca a segunda pata subindo ao punho, começa a comer e só neste momento você levanta, verticalmente, nada de se afastar lateralmente , quando você faz isto, uma subida vertical, o gavião não vê a isca que ficou no solo, quando ficar de pé dê um passo a frente sobre a isca desta forma a isca fica a suas costas, um metro atrás, e com seu corpo, você cria uma barreira que impede que o gavião veja a isca. Deixe-o comer a vontade, todo o alimento, quando estiver já comendo com segurança, e enquanto come você pode agachar, e com a mão direita pega a isca no solo disfarçadamente e coloca na bolsa. Comer no punho no alto ele já faz, 14
porque você já fazia anteriormente quando ele comia no punho nos treinamentos de voo. Sendo codorna o alimento que você ofereceu ele vai comer muito rapidamente, então você pode colocar inclusive um roedero , asa de frango, e ficar mais tempo com ele no campo, no local, socializando, passeando. Ressalto que o que digo aqui pode ser um exagero para aves nascidas em cativeiro, mas no caso de uma ave selvagem faz muita diferença, e o que quero aqui é um método que valha e sirva para todos. 4) Um comportamento que algumas vezes acontece é que os gaviões, especialmente os criados imprints recusam em soltar a isca. Utilize do seguinte artifício, primeiro coloque pouca quantidade de alimento na isca. Quando a ave vier na isca, pise na corda da isca, e na frente a aproximadamente 60 centímetros jogue um pequeno pedaço de alimento que mais cedo ou mais tarde ele solta a isca. Se resistirem ofereça um pedaço de alimento amarrado, e jogue ao solo na mesma distância a frente, quando o gavião ver o pedaço puxe, mova pelo fio o pedaço de alimento que estimulará o gavião a soltar a isca e ir comer este pedaço. Neste momento cubra a isca, pode usar a bolsa de falcoeiro, ou agache em cima cobrindo, se for uma isca pequena de borracha pode até cobrir a isca com o pé pisando. Enquanto o gavião come coloque outro pedaço de alimento no punho com a luva, e quando ela acabar mostre este alimento no punho que ele virá de forma mais relaxada. Com a ave no punho disfarçadamente pegue a isca no solo e guarde. NO DIA SEGUINTE
Não faça nada, como a ave comeu tudo provavelmente estará com o peso alto, deixe que descanse, água, sombra, banho de sol, banheira, deixe que memorize e pense sobre o treinamento do dia anterior. SEGUNDO TREINAMENTO DA ISCA
Neste segundo treino, se você puder contar com a ajuda de um auxiliar é mais interessante para que ele segure o gavião no punho, isto é importante porque ensina para o gavião que ele sairá sempre do punho para atacar ou a isca ou uma presa, e isto é importante para que o gavião tenha respostas imediatas para as presas. Com o gavião preso no fiador, peça que o auxiliar fique distante uns 7/8 metros, enquanto isto retire a isca da bolsa ou colete, a isca deverá está presa a um fio ou linha de nylon ou outro material resistente, com uma madeira na extremidade que servirá de âncora. Jogue a isca ao solo a uns 3 metros e a sua esquerda , normalmente o gavião tendo comido pouco no dia anterior irá partir imediatamente para a isca capturando. Irá provavelmente "cobrir" a isca abrindo asas e cauda, interessante o uso do protetor de cauda, deixe que coma , quando estiver pela metade, agache com meia codorna e coloque na mão com a luva e ofereça entre o gavião e a isca no solo 15
PRESSIONANDO para o chão, desta forma o normal é que o gavião comece a bicar, coloque uma, duas patas e suba ao punho. Problemas podem ocorrer como o gavião afastar da isca e do punho, neste caso, fique tranquilo, continue agachado, e espere, mova lentamente a comida na mão, continuando a pressionar a isca que o gavião vendo retorna e sobe no teu punho. Quando subir na mão deixe que comece a comer e levante como foi orientado na primeira lição, levante verticalmente, um passo a frente para cobrir a isca e impedir que veja, com a mão direita esconda a isca na bolsa. Deixa o gavião comer a ração no punho, ao mesmo tempo toque nas garras, dedos dele, isto é importante para futuramente facilitar o manejo sobre a presa. NO DIA SEGUINTE
Não faça nada, como a ave comeu tudo provavelmente estará com o peso alto, deixe que descanse, água, sombra, banho de sol, banheira, deixe que memorize e pense sobre o treinamento do dia anterior. NO TERCEIRO, QUARTO, QUINTO E SEXTO TREINAMENTO PARA A ISCA.
O objetivo agora é que assim que você jogue a isca o gavião responda imediatamente. Esta resposta está condicionada a está com o peso adequado e amansada. Amansada a ave está, mas o peso poderá variar e aumentar nos dias sucessivos, uma vez que a ave está comendo muito bem nos dias de treinamento, por isto tão importante usar o mesmo tipo de alimento (codorna) e pesar o alimento, e se você relaxar nos dias alternados, e alimentar a ave demasiadamente também ela irá acumular gordura e irá ficar com o peso alto também, sendo assim, rigor com o controle de peso, e balança, mesmo que você alterne se nos dias de treinamento a ave estiver com o peso alto, não treine, alimente-a pouco e salte mais um dia e treine no dia seguinte, o fato de está com o peso ideal, e baixando, cria um grande estímulo para a isca, o que poderá ter um efeito contrário se você treinar o gavião com peso alto desgastando o estímulo (apito com a isca). Atenção. O objetivo destes treinamentos é aumentar as distâncias, até atingir uns 60 metros. Quando atingir 50/60 metros com resposta imediata, você está chegando próximo ao período de soltar a ave. 7) ESCAPES PARA FAZER COM QUE A AVE RETORNE;
No decorrer do treinamento com nossa ave conseguimos dois estímulos para conseguir que retornasse, um foi a chamada ao punho, e outra o uso da isca, que tal introduzirmos um terceiro estímulo para que tenhamos mais segurança na soltura. Este terceiro estímulo é o uso dos escapes. Escapes são presas domésticas que você oferece ao gavião com o objetivo que retorne mais facilmente para você, ou depois de uma situação de stress, onde a ave voou ou 16
fugiu para um local de difícil acesso, serão os estímulos condicionados que farão que retorne. Numa escala, com níveis de interesse os estímulos seriam: - Escapes: Estímulo mais forte; - Isca; e - Voo ao punho. Este treinamento deve ser intenso, curto e contínuo, se você estaciona em uma das fases de forma excessiva, por exemplo, só alimentando a ave no punho, quando uma presa sair a frente da ave, ela não mostrará interesse, pois já tem alimento no punho. Futuramente a ave deve entender que a luva é um local confortável, "um poleiro" de onde ela parte em condições de capturar as presas, e onde ela eventualmente pode comer alguma presa no punho. A isca é um artefato que proporciona comida saborosa, e fácil, e as presas são seu verdadeiro objetivo. Assim adquira codornas ou pombos (cuidado com eles e com a possibilidade de contágio de doenças). Novamente a ave estará com o auxiliar no punho, ou num poleiro conveniente, mesmo que ela já voe ao seu punho e para a isca 60 metros, reduza a distância para 30 metros . Amarre uma codorna, e muito bem de forma que não solte do fiador. Novamente haverá uma madeira como uma "âncora", ao você afastar a ave de rapina poderá achar que é o treinamento da isca, você irá retirar a codorna e jogará ao solo a sua esquerda e emitirá um som totalmente distinto do som usado para o punho ou para a isca, pode ser um apito com som diferente ou um grito. Talvez o gavião responda imediatamente, ou mesmo que demore um pouco, mas assim que ver a codorna seu instinto falará mais alto e atacará. Irá capturar e deixe que coma a vontade, no meio do alimento, aproxime com meia codorna no punho como fazia nos treinamentos para a isca pressione a codorna morta ao solo e faça a troca, se conseguir ótimo, se não conseguir, tente oferecer alimento a frente da ave para ver se ele troca, senão pegue a codorna morta pelas pernas, e suspenda junto com o gavião e deixe comer no punho até está saciado. Tanto no treinamento da isca como neste treinamento nunca jogue a isca, ou a codorna a sua frente sempre para os lados . Ao jogar na frente da mesma forma que acontece quando treina para a ave vir ao punho, ela pode sentir-se ameaçada e assustar-se e tentar fugir. Sendo assim sempre jogue para os lados. No dia seguinte como já dissemos para a isca, alterne, ofereça roedero, pouco alimento. Agora você já tem 3 estímulos, punho, isca e presa viva para recuperar sua ave.
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8) VÔOS LIVRES.
Finalmente chegamos ao nosso objetivo, a ave voar livre, mas antes de fazê-la voar livre, observe alguns detalhes, como:
Leve sempre em sua bolsa de falcoaria, uma ou duas codornas vivas; O peso da ave tem que está bem controlado; Construa correias de campo para substituir pelas correias com furo; e Uso dos sinos ou telemetria. Temos a ave no peso “ideal”, num dia tranquilo sem elementos que
possam estressar a ave como pessoas estranhas, cães, etc, com boa condição climática. Caso sua ave não tenha ainda usado sinos, guizos, até agora, coloque na ave, dois, três dias antes para que se acostume com o objeto, assim você evita problemas. Chegando ao local observe o entorno, por alguns minutos. Com a ave no punho, ofereça um pedaço pequeno de alimento, uma coxa de codorna, ou uma asa pequena de codorna, deixe que depene e coma esta asa de codorna vinculando este breve momento com o punho. Prenda com grampos (French Style Snap), os ilhoses, retire as correias, substituindo pelas correias de campo. Caminhe até o local onde faz normalmente os treinos, coloque a ave no poleiro de sempre ou então com a ajuda do auxiliar peça que segure a ave. Ao começar a distanciar, se a ave mostrar interesse procure se distanciar correndo, já vá retirando a isca após conseguir se distanciar, jogue a isca ao solo, a sua esquerda, o gavião parte para a isca, não percebe que voa livre para ele é mais uma lição ao fiador para isca, escape ou punho, talvez mais fácil por não ter a resistência proporcionado pelo fiador ao arrastar no solo. Assim ele vem, captura a isca, provavelmente neste momento seu nevorsismo é grande, pela primeira vez sua ave voa livre. Deixe que coma a vontade, porém antes de acabar faça a troca, suspenda a ave, trave com os grampos os ilhoses, retire as correias de campo e coloque as de treino com furo, coloque destorcedor, etc, e finalize. Continue nos dias seguinte fazendo os treinamentos sempre de forma alternada, aumentando a distância, sempre uma única vez. Depois com a ave já muito vinculada na isca, reduza a grande quantidade de alimento na isca, por pedaços pequenos de 3, 4 cm, e trabalhe número de repetições, desta forma você começará a voar a ave diariamente, aonde ela vem captura a isca, come o pedaço pequeno, procura mais, você oferece o punho, ela sobe, come outro pedaço pequeno, guarda a isca, e tudo fica muito divertido. Caso a ave comece a desvincular com a isca basta que faça uma ou duas sessões de dias alternados com grande quantidade de alimento na isca, para que tudo volte ao normal. Interessante também no decorrer destes treinamentos você arremessar a ave para umas árvores (isto é no campo, vôos assim na área urbana, o risco de eletrocussão é grande devido a grande quantidade de postes da rede elétrica), daí a importância das correias de campo, e você caminha e o Parabuteo te segue, uma, duas , três árvores, e você chama ao punho, na isca. Outro detalhe é que se você chama sua ave sempre ao punho e daí sempre do punho exibe as presas ela irá condicionar que o punho é o melhor poleiro para partir para as presas. Se 18
ela está nas árvores, e das árvores saem as presas e ela persegue e captura, irá aprender que deve sempre se posicionar nas árvores para dai ter sucesso na captura das presas, MAS ISTO É OUTRA E LONGA HISTÓRIA Isto foi um resumo e uma coletânea de métodos, para muitos o treino pode parecer exagero, e dizerem que a ave já está mansa, que já faz isto, ou aquilo, etc, mas procurei abranger os métodos que usei em aves que vão de Falco femoralis a Spizaetus ornatus , passando por Accipiter bicolor , Parabuteo unicinctus e outros. Creio que se seguirem o orientado aqui não vão ter problemas de perda da ave. Desejo de coração que tenham excelentes experiências em falcoaria com suas aves. Se tiverem estas experiências que menciono já me considero recompensado e que todo o esforço que fiz já valeu a pena, se quiserem compartilharem comigo suas experiências ficarei muito orgulhoso, pois acredito que é fazendo uma falcoaria de nível e de qualidade que seremos reconhecidos e conseguiremos nosso objetivo maior de criar uma legislação de falcoaria no Brasil. ALGUNS TERMOS; Poleiro transversal: Alcandara (espanhol), Alcandôra (português): Poleiros utilizados para as aves descansarem, dormirem em falcoaria. Correia tradicional: Jesses (inglês); Pihuelas (espanhol); pios (português): São correias que utilizamos no treinamento diário de aves de rapina. Correia de campo: Similar a correia tradicional, mas sem o furo.
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