O trabalho em sociedades tribais As sociedades tribais distribuídas pelos mais diferentes pontos da Terra e com as mais diferentes estruturas e struturas sociais, políticas e econômicas possuíam, e algumas al gumas ainda possuem, uma organização do trabalho em geral baseada na divisão por sexo, em que homens e mulheres desempenhavam tarefas e atividades diferentes. Também os seus equipamentos e instrumentos são, aoPs olhos dos estrangeiros, muito simples e rudimentares - ainda que se mostrem eficazes efica zes para o que deles se exige. Guiados G uiados por tal concepção, muitos analistas, durante muito tempo, classificaram essas sociedades como de economia de subsistência e de técnica rudimentar, passando a idéia de que esses povos viveriam quase em estado de pobreza, com o mínimo mí nimo necessário à sobrevivência. Pode-se verificar a seguir que isso não passa de um preconceito muito difundido. Marshall Sahlins, antropólogo norte-americano, chama essas sociedades de "sociedades do lazer", ou as primeiras "sociedades de abundância" pois, ao analisá-las, percebeu não só que elas tinham todas to das as suas necessidades materiais e sociais plenamente satisfeitas como, e além disso, tinham um mínimo de horas de atividades diárias vinculadas à produção (cerca de três ou quatro horas e nem sempre todos os dias). Os yanomamis dedicavam pouco mais de três horas às atividades produtivas diárias; os guayakis, cerca de cinco horas, mas não todos os dias; e os kungs, do deserto de Kalahari, em média, quatro horas por dia. O fato de se dedicar menos tempo às tarefas vinculadas à produção não significa, por outro lado, que se tenha uma vida de privações. Ao contrário, essas sociedades viviam muito bem alimentadas e isso fica comprovado nos relatos os mais diversos, que sempre demonstram a vitalidade de todos os seus membros. É claro que tais relatos referem-se à experiência que viviam antes do contato com o chamado "mundo civilizado". A explicação para o fato de trabalharem muito menos que nós está no modo como se relacionam com a natureza muito diferente do que temos. A terra é, além do lugar onde se vive, um valor cultural, pois é ela que dá aos homens os seus frutos; a floresta presenteia os caçadores com os animais de que necessitam para a sobrevivência. Não são os homens que produzem ou caçam, pois eles simplesmente recebem o que necessitam da "mãe natureza". nat ureza". Por outro lado, há um profundo conhecimento do meio em que vivem, o que faz com que conheçam as plantas, os animais, a forma como crescem e se reproduzem, o que é bom e o que é ruim para se alimentarem e quando podem utilizar certas plantas e determinados animais para a sua alimentação, para a cura ou para os ritos. O "mundo do trabalho" entre as sociedades tribais é, pois, algo que tem relação com todos os outros elementos de suas sociedades e com todo o meio ambiente em que vivem. Desse modo, nelas não vamos encontrar a idéia de que se deve produzir mais para poupar ou acumular alguma riqueza. A sua riqueza está na vida e na forma como passam os dias. As atividades vinculadas à produção limitam-se limitam -se a conseguir os meios necessários à sobrevivência, mesmo assim são quase sempre desenvolvidas em conjunto com outras atividades, formando um todo t odo indissolúvel. O tempo é utilizado para descansar, divertir-se, dançar, caçar, pescar, plantar e colher, e para o cumprimento das obrigações rituais, que, na maioria dos casos, envolve todas as outras atividades. Enfim, há um contínuo de atividades interligadas, que dificilmente podem ser explicadas e entendidas e ntendidas separadamente. Quando os machados de pedra foram substituídos por ferramentas de ferro, entre os sianes da Nova Guiné, o que permitia diminuir o tempo de trabalho necessário para conseguir os alimentos indispensáveis à subsistência, eles não se preocuparam em produzir mais, mas simplesmente passaram a utilizar aquele tempo de que dispunham para se divertir, descansar, ou para outras atividades que lhes l hes proporcionavam mais prazer. O aspecto mais importante das comunidades tribais é o sentido de unidade existente no cotidiano dessas sociedades. Segundo o antropólogo francês Pierre Clastres, quando, nessas sociedades, aquilo que chamamos de "econômico" se torna uma área definida e autônoma, ou seja, quando a atividade produtiva se transforma em trabalho desligado das outras esferas da vida e, portanto, alienado, contabilizado e imposto por aqueles que querem aproveitar-se do fruto desse trabalho, é sinal de que essas sociedades tornaram-se divididas entre dominantes e dominados e, portanto, completamente descaracterizadas.
O Trabalho nas sociedades modernas Para entendermos as características do trabalho nas sociedades modernas, devemos primeiro observar como se constituía nas sociedades pré-modernas. Nas sociedades pré-modernas o trabalho não era o elemento central que orientava as relações sociais. Existiam outros fatores mais importantes definidos pela hereditariedade, religião, honra, lealdade ou posição social, que não eram definidas pelo cargo na produção econômica. Pelo contrário, o campo econômico e o trabalho eram desvalorizados, considerado algo penoso, torturante ou castigo. Nessas sociedades o trabalho está relacionado a obtenção apenas do necessário para manter o sistema funcionando, não existindo por isso a noção de lucro e nem preocupações em otimizar as técnicas de produção. Com a ascensão do capitalismo a importância do trabalho foi aumentando e ele foi se deslocando para a posição central da vida das pessoas. Com a necessidade dos capitalistas de recrutar pessoas para trabalhar em suas fábricas, passou-se a difundir a ideologia de que o trabalho era algo positivo, bom para todos. Juntamente passou-se a acusar pessoas que não trabalhavam com termos pejorativos a fim de constrangê-los socialmente e forçá-los a trabalhar. As pessoas não estavam acostumadas a trabalhar com uma rotina mecânica, milimetricamente calculada, pois o que determinava seu tempo de trabalho era a natureza: as estações do ano, a chuva, o sol, o dia, a noite, etc. Foram necessário séculos para disciplinar e preparar a sociedade para o trabalho industrial diário e regular. Ex: Do século XVI até início do século XX existiu a cham ada “santa segunda-feira”. Devido a exaustiva jornada de trabalho, algo que a sociedade não estava acostumada, não se trabalhava na segunda-feira e as vezes se estendia até terça-feira. Entre as mudanças que ocorreram nas formas de produção da idade média para o capitalismo podemos citar: - Casa e local de trabalho foram separados. - Separaram o trabalho e seus instrumentos (que ficaram nas mãos dos capitalistas). - Tiraram a possibilidade do trabalhador conseguir a própria matéria-prima. Tudo passou a ser dos industriais e comerciantes que haviam acumulado riquezas. Eles financiavam, organizavam e coordenavam a produção de mercadorias, definiam o que produzir e em que quantidade. A organização do trabalho passou da cooperação simples para manufatura e dessa para a maquinofatura. Cooperação simples:
assim como nas formas de organizar o trabalho da idade média (corporações de ofício), havia uma hierarquia entre o mestre e o aprendiz. Ambos eram artesãos e conheciam todo o processo produtivo, do molde ao acabamento. A diferença é que eles estavam a serviço de um financiador que lhe fornecia matéria prima e lhe dava algumas ordenanças. Manufatura (ou cooperação avançada): o trabalhador continuava a ser artesão, mas não fazia tudo do começo ao fim.
Cada pessoa faz uma parcela do produto em uma linha de montagem. O trabalhador perdeu o entendimento da totalidade do processo de trabalho e também do seu controle. Só entendia, por exemplo, da cola do sapato, pois era o que fazia o tempo todo.
Maquinofatura: o espaço de trabalho passou a ser a fábrica. Foi dispensado o conhecimento que o trabalhador possuía
sobre os produtos. A máquina passou a fazer o serviço. As habilidades profissionais perderam valor, só restou ao trabalhador vender sua mão de obra.