Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho
Para compreender a política brasileira Subsídios para o curso “Política e Cultura no Brasil: História e Perspectivas”.
E-book Para circulação interna do Seminário de Filosofia
Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho
Sumário Apresentação O que estou fazendo aqui Direitista à força Militância e realidade Ciência e ideologia Ignorando o essencial Basta! Fora! A oligarquia contra o povo Por linhas tortas A mentalidade revolucionária Um cadáver no poder (I) Um cadáver no poder (II) Por trás da subversão Quem foi que inventou o Brasil? A maior trama criminosa de todos os tempos Digitais do Foro de São Paulo Os donos do mundo
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Apresentação Reuni neste pequeno livreto alguns artigos do professor Olavo de Carvalho que podem servir de subsídio para o curso “ Política e Cultura no Brasil: História e Perspectivas”. Os artigos, escritos em diferentes épocas, tratam de alguns temas que o filósofo abordará em detalhe durante as aulas. Pela limitação de espaço e pela própria natureza do trabalho jornalístico, o assunto de cada artigo é abordado com brevidade, às vezes de maneira apenas alusiva, dando ao leitor uma pequena amostra do intenso trabalho de investigação científica e filosófica que o autor vem desenvolvendo ao longo das últimas três décadas. Por essa razão, essa pequena coletânea de escritos jornalísticos não tem a pretensão de ser um guia para o curso, nem mesmo a de ser um material de apoio. Meu único objetivo foi foi o de forn fornec ecer er um meio meio com com o qual qual o alun aluno o poss possa a se fami famili liar ariz izar ar com com o tipo tipo de abordagem, conceitos e temas que encontramos na ciência política de Olavo de Carvalho. O conjunto dos textos selecionados não esgota, de maneira alguma, o conteúdo do curso, nem substituí a exposição oral, apenas antecipa um pouco aquilo podemos esperar das aulas. Esses textos foram todos publicados na imprensa brasileira, em diferentes jornais e épocas. Esta é portanto uma boa oportunidade para o leitor relê-los em conjunto, podendo perceb perceber er a unidad unidade e da anális análise e por trás trás da fragme fragmenta ntação ção aparente aparente,, caract caracterí erísti stica ca do gênero literário em que eles foram escritos. Os alunos do Curso Online de Filosofia já conh conhec ecem em em prof profun undi dida dade de muit muitos os dos dos conc concei eito tos s e fenô fenôme meno nos s trat tratad ados os aqui aqui e apreenderão com facilidade a coerência dos escritos com os elementos de ciência política que o autor desenvolve em suas aulas. Os leitores menos familiarizados com o trabalho filo filosó sófi fico co e peda pedagó gógi gico co do prof profes esso sorr Olav Olavo o pode podem m sent sentir ir-s -se e um pouc pouco o perd perdid idos os e desori desorient entado ados s com a divers diversida idade de de assunt assuntos os e perspe perspecti ctivas vas que aparec aparecem em nessa nessa cole coletâ tâne nea, a, mas mas tenh tenho o a cert certez eza a de que, que, com com o dese desenr nrol olar ar das das aula aulas, s, a conf confus usão ão desapa desaparec recerá erá e poderã poderão o finalm finalment ente e observ observar ar com clarez clareza a e confia confiança nça o calami calamitos toso o cenário político brasileiro. Espero que esse pequeno e-book seja de alguma ajuda aos alunos e leitores do professor Olavo.
Silvio Grimaldo Londrina, 20 de março de 2016
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O que estou fazendo aqui Diário do Comércio, 8 de fevereiro de 2016
A característica fundamental das ideologias é o seu caráter normativo, a ênfase no “dever ser” ser”.. Todo Todoss os dema demais is elem elemen ento toss do seu seu disc discur urso so,, por por mais mais dens densoo ou mais mais ralo ralo que que pare pareça ça o seu conteúdo descritivo, analítico ou explicativo, concorrem a esse fim e são por ele determinados, ao ponto de que as normas e valores adotados decidem retroativamente o perfil da realidade descrita, e não ao inverso. Isso não quer dizer que às ideologias falte racionalidade: ao contrário, elas são edifícios raci racion onai ais, s, às veze vezess prim primor ores es de argum argumen enta taçã çãoo lógi lógica, ca, mas mas constr construí uído doss em cima cima de premissas valorativas e opções seletivas que jamais podem ser colocadas em questão. Daí que, como diz A. James Gregor, o grande estudioso do fenômeno revolucionário moderno, o discurso ideológico seja “enganosamente descritivo”: quando parece estar falando da realidade, nada mais faz do que buscar superfícies de contraste e pontos de apoio para o “mundo melhor” cuja realização é seu objetivo e sua razão de ser. Se o cidadão optou pelo socialismo, ele descreverá o capitalismo como antecessor e adversário, adversário, suprimindo suprimindo tudo aquilo que, na sociedade sociedade capitalista, capitalista, não possa ser descrito descrito nesses termos. Se escolheu a visão iluminista da democracia como filha e culminação da razão científica, descre descreverá verá o fascis fascismo mo como truculê truculênci nciaa irracio irracional nal pura, pura, suprim suprimind indoo da Históri Históriaa as década décadass de argumentação fascista – tão racional quanto qualquer outro discurso ideológico – que prepararam o advento de Mussolini ao poder. Tendo Tendo isso isso em vista, vista, a coisa coisa mais mais óbvia óbvia do mundo mundo é que nenhum nenhum dos meus escrito escritoss e nada nada do que eu tenha ensinado em aula tem caráter ideológico, e que descrever-me como “ideó “ideólo logo go da dire direit ita” a”,, ou ideó ideólo logo go do que quer que que seja seja,, só vale vale como pejo pejora rati tivo vo difamatório, tentativa de me reduzir à estatura mental do anão que assim me rotula. Podem procurar nos meus livros, artigos e aulas. Não encontrarã encontrarãoo qualquer qualquer especulação especulação sobre a “boa sociedade”, muito menos um modelo dela. Poss Posso, o, no máxi máximo mo,, ter subsc subscri rito to aq aqui ui ou ali, ali, de pass passage agem m e sem sem lhe lhe pres presta tarr grand grandee aten atenção ção,, este ou aquele aquele preceito preceito normativo normativo menor em em economia, economia, em educação, educação, em política política eleitoral eleitoral ou em qualquer outro domínio especializado, sem nenhuma tentativa de articulá-los e muito menos de sistematizá-los numa concepção geral, numa “ideologia”. Isso deveria ser claro para qualquer pessoa que saiba ler, e de fato o seria se a fusão de analfabetis analfabetismo mo funcional, funcional, malícia e medo caipira do desconhecido desconhecido não formasse formasse aquele composto indissolúvel e inalteravelmente fedorento que constitui a forma mentis dos nossos “formadores de opinião” hoje em dia (refiro-me, é claro, aos mais populares e vistosos e à sua vasta plateia de repetidores no universo bloguístico, não às exceções tão honrosas quanto obscuras, das quais encontro alguns exemplos neste mesmo Diário do Comércio). É óbvio óbvio que essas essas pessoas pessoas são são incapazes incapazes de raciocinar raciocinar na na clave do discurso discurso descritivo. descritivo. Não dizem uma palavra que não seja para “tomar posição”, ou melhor, para ostentar uma auto-imagem lisonjeira perante os leitores, devendo, para isso, contrastá-la com algum antimodelo odioso que, se não for encontrado, tem de ser inventado com deboches, caricaturações pueris e retalhos de aparências. 4
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A coisa mais importante na vida, para essas criaturas, é personificar ante os holofotes alguns valores tidos como bons e desejáveis, como por exemplo “a democracia”, “os direitos direitos humanos”, humanos”, “a ordem constitucional” constitucional”,, “a defesa das minorias”, minorias”, etc. e tal, colocando colocando nos antípodas dessas coisas excelentíssimas qualquer palavra que lhes desagrade. Alguns desses indivíduos tiveram as suas personalidades tão completamente engolidas por esses símbolos convencionais do bem, que chegam a tomar qualquer reclamação, insulto ou crítica que se dirija às suas distintas pessoas como um atentado contra a democracia, um virtual golpe de Estado. O desejo desejo de personificar personificar coisas bonitas bonitas como como a democracia democracia e a ordem constituci constitucional onal é aí tão tão inte intens nsoo que, que, no conf confro ront ntoo entr entree esqu esquer erda da e dire direit ita, a, os dois dois lado ladoss se acus acusam am mutualmente mutualmente de “golpis “golpistas” tas” e “fascistas “fascistas”. ”. Melhor Melhor prova de que se trata de meros discursos discursos ideológicos não se poderia exigir. Da minha parte, meus escritos políticos dividem-se entre a busca de conceitos descritivos cienti cientific ficame amente nte fundad fundados os e a aplica aplicação ção desses desses concei conceitos tos ao diagnó diagnósti stico co de situaçõ situações es concretas, complementado às vezes por prognósticos que, ao longo de mais de vinte anos, jamais deixaram de se cumprir. Dess Dessas as duas duas parte partes, s, a prime primeir iraa está está docum documen enta tada da nas nas minh minhas as apost apostil ilas as de aula aulass (especialmente dos cursos que dei na PUC do Paraná), a segunda nos meus artigos de jornal. Os leitores leitores destes últimos últimos não têm acesso direto direto à fundamentação fundamentação teórica, teórica, mas encontram encontram neles indicações suficientes de que ela existe, de que não se trata de opiniões opiniões soltas no ar, mas, como observou Martin Pagnan, de ciência política no sentido estrito em que a compreendia o seu mestre e amigo, Eric Voegelin. Não há, entre os mais incensados “formadores de opinião” deste país -- jornalísticos ou universitári universitários os --, um só que tenha a capacidade capacidade requerida, requerida, já não digo para discutir discutir esse esse material, mas para apreendê-lo como conjunto. Descrevo aí as coisas como as vejo por meio de instrumentos científicos de observação, pouco me importando se vou “dar a impressão” de ser democrata ou fascista, socialista, neocon, sionista, católico tradicionalista, gnóstico ou muçulmano. Tanto que já fui chamado de todas essas coisas, o que por si já demonstra que os rotuladores rotuladores não estão interessados interessados em diagnósticos diagnósticos da realidade, realidade, mas apenas apenas em inventar, inventar, naquil naquiloo que que lêem, lêem, o perf perfil il oculto oculto do amigo amigo ou do inimig inimigo, o, para para saber saber se, na luta ideoló ideológic gica, a, devem louvá-lo ou achincalhá-lo. A variedade mesma das ideologias que me atribuem é a prova cabal c abal de que não subscrevo nenhuma delas, mas falo numa clave cuja compreensão escapa ao estreito horizonte de consciência dos ideólogos que hoje ocupam o espaço inteiro da mídia e das cátedras universitárias. Suas reações histéricas e odientas, suas poses fingidas de superioridade olímpica, sua invencioni invencionice ce entre maliciosa maliciosa e pueril, pueril, seus afagos afagos teatrais teatrais de condescendên condescendência cia paternalista paternalista entremeados de insinuações pérfidas, são os sintomas vivos de uma inépcia coletiva monstruosa, como jamais se viu antes em qualquer época ou nação. O que neste país se chama de “debate político” é de uma miséria intelectual indescritível, que por si só já fornece fornece a explicação suficient suficientee do fracasso nacional nacional em todos os domínios domínios – economia, segurança pública, justiça, educação, saúde, relações internacionais etc. etc. Digo Digo isso isso porq porque ue a intel intelec ectua tuali lida dade de fala falant ntee demar demarca ca a enve enverga rgadu dura ra e a alti altitu tude de máxi máxima mass da consciência de um povo. Sua incapacidade e sua baixeza, que venho documentando desde os tempos do Imbecil Coletivo (1996), mas que depois dessa época vieram saltando do 5
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alarmante ao calamitoso e daí ao catastrófico e ao infernal, refletem-se na degradação mental e moral da população inteira. De todos todos os bens bens humanos, humanos, a inteli inteligência gência –e inteligê inteligência ncia não quer dizer senão consciência consciência –se –se disti disting ngue ue dos dos dema demais is por por um traço traço disti distint ntiv ivoo pecu peculi liar ar:: quan quanto to mais mais a perde perdemo mos, s, meno menoss damos pela sua falta. Aí as mais óbvias conexões de causa e efeito se tornam um mistério inaces inacessív sível, el, um segredo segredo esotéri esotérico co impens impensáve ável. l. A condut condutaa desenc desencont ontrada rada e absurda absurda torna-se, então, a norma geral. Dura Durant ntee quar quaren enta ta anos anos,, os bras brasil ilei eiro ross deix deixar aram am,, sem sem recl reclam amar ar,, que que seu seu país país se transformasse no maior consumidor de drogas da América Latina; deixaram que suas escola escolass se tornas tornassem sem centra centrais is de propaga propaganda nda comuni comunista sta e bordéis bordéis para para criança crianças; s; deixar deixaram, am, sem reclam reclamar, ar, que sua cultura cultura superi superior or fosse fosse substi substituíd tuídaa pelo pelo impéri impérioo de farsante farsantess semi-analfabetos; deixaram, sem reclamar, que sua religião tradicional se prostituísse no leit leitoo do comu comuni nism smo, o, e corr correr eram am para para busc buscar ar ab abri rigo go fict fictíc ício io em pseu pseudo do-i -igr grej ejas as impr improv ovis isad adas as onde onde se vend vendia iam m fals falsos os mila milagre gress por por alto alto preço preço;; deix deixar aram am,, sem sem recla reclama mar, r, que que seus irmãos fossem assassinados em quantidades cada vez maiores, até que toda a nação tivesse medo de sair às ruas e começasse a aprisionar-se a si própria atrás de grades impotentes para protegê-la; deixaram, sem reclamar, que o governo tomasse as suas armas, e até se apressaram em entregá-las, largando suas famílias desprotegidas, para mostrar o quanto eram bonzinhos e obedientes. Depois de tudo isso, descobriram que os políti políticos cos estava estavam m desvian desviando do verbas verbas do Estado Estado,, e aí explodi explodiram ram num grito grito de revolta revolta:: "Não! "Não! No nosso rico e santo dinheirinho ninguém mexe!" A rebelião popular contra os comunolarápios não nasce de nenhuma indignação moral legítima, mas emana da mesma mentalidade dinheirista que inspira os corruptos mais cínicos. Não só o dinheiro é aí o valor mais alto, talvez o único, mas tudo parece inspirar-se na regra: “Eu também quero, senão eu conto para todo mundo.” É óbvio que, se essa mentalidade mentalidade não prevalecesse prevalecesse no nosso meio social, jamais a corrupção corrupção teria subido aos níveis estratosféricos que alcançou com o Mensalão, o Petrolão etc. O ódio ódio ao mal mal não não é sina sinall de bond bondad adee e honr honrad adez ez:: faz faz part partee da dial dialét étic icaa do mal mal odia odiarr-se se a si mesmo, mover guerra a si mesmo e proliferar por cissiparidade. O mais mais signifi significativo cativo de tudo tudo é que fenômen fenômenoo de teratologia teratologia moral tão patente, patente, tão visível visível e tão escandaloso não mereça sequer um comentariozinho num jornal, quando deveria ser matéria de mil estudos sociológicos. Querem maior prova de que os luminares da mídia e das universidades não têm o menor interesse em conhecer a realidade, mas somente em promover suas malditas agendas ideológicas? Foi Foi por isso isso que, mais mais de vint vintee anos anos atrá atrás, s, cheg chegue ueii à conc conclu lusã sãoo de que toda toda solu soluçã çãoo polí políti tica ca para os males do país estava, desde a raiz, inviabilizada pelo caráter fútil e perverso das discussões públicas. Só havi haviaa um meio meio – difíci difícill e traba trabalho lhoso, so, mas real realista ista -- de mudar mudar para para melhor melhor o curso curso das coisas neste país, e esse curso não passava pela ação político-eleitoral. Era preciso seguir, “sem parar, sem precipitar e sem retroceder”, como ensinava o Paulo Mercadante, as seguintes etapas: 1. Revigorar Revigorar a cultura superior, treinando treinando jovens jovens para que pudessem produzir produzir obras obras à altura daquilo que o Brasil tinha até os anos 50-60 do século passado. 2. Higienizar, assim, o mercado editorial e a mídia cultural, criando aos poucos um novo ambiente consumidor de alta cultura e saneando, dessa maneira, os debates públicos. 6
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3. Sanear a grande mídia, mediante pressão, boicote e ocupação de espaços. 4. Sanear o ambiente religioso -- católico e protestante. 5. Sanear, gradativamente, as instituições de ensino. 6. Por Por fim, elevar o nível nível do debate debate político, político, fazendo-o fazendo-o tocar tocar nas realidades realidades do país em vez de perder-se em chavões imateriais e tiradas de retórica vazia. Esta etapa não seria atingida em menos de vinte ou trinta anos, mas não existe “caminho das pedras”, não há solução solução política, política, não não há fórmula fórmula ideológica ideológica salvadora salvadora.. Ou se percorrem percorrem todas essas etapas, etapas, com paciência, determinação e firmeza, ou tudo não passará de uma sucessão patética de ejaculações precoces. Esse é o projeto projeto a que dediquei dediquei minha minha vida, e do qual qual os artigos artigos que publico publico na mídia não são são senã senãoo uma uma amos amostra tra parci parcial al e frag fragme ment ntár ária ia.. Imag Imagin inar ar que que fiz fiz tudo tudo o que que fiz fiz só para para cria criarr um “movimento de direita” é, na mais generosa das hipóteses, uma estupidez intolerável. Quanto ao ítem número um, não se impressionem com os apressadinhos que, tendo absorvi absorvido do superf superfici icialm alment entee alguns alguns ensina ensinamen mentos tos meus, meus, já quisera quiseram m sair sair por aí, brilha brilhando ndo e pontificando, numa ânsia frenética de aparecer como substitutos melhorados do Olavo de Carvalho. Esses são apenas a espuma, bolhas de sabão que o tempo se encarregará de desfazer. Tenho ainda uma boa quantidade de alunos sérios que continuam se preparando, em silêncio, para fazer o bom trabalho no tempo devido.
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Direitista à força Diário do Comércio, 19 de maio de 2014
Desd Desdee que que come comece ceii a ler ler livr livros os,, meu meu sonh sonhoo era era um dia dia emer emergi girr do meio meio soci social al cultura culturalme lmente nte depres depressiv sivoo e ter um círcul círculoo de amigos amigos com quem quem pudesse pudesse conversa conversarr seriam seriament entee sobre sobre arte, arte, litera literatura tura,, filoso filosofia fia,, religi religião, ão, as perple perplexid xidade adess morais morais da existên existência cia e a busca do sentido da vida – o ambiente necessário para um escritor desenvolver sua autoco autoconsc nsciên iência cia e seus seus talent talentos. os. Li centen centenas as de biograf biografias ias de escrito escritores res e todos todos eles eles tivera tiveram m isso. Nunca realizei esse sonho, nunca tive esse ambiente estimulante. estimulante. Por volta dos quarenta quarenta anos, anos, entend entendii que não o teria teria nunca, nunca, e decidi que que minha minha obriga obrigação ção era fazer fazer tudo para para que outros o tivessem. Minha atividade de ensino é voltada toda para isso. É com profundo desprezo que ouço gente dizendo que o objetivo dos meus esforços é "criar um movimento de direita". Não conheço coisa mais inútil do que tomadas de posição doutrinal em política. O sujeito adota certas regras gerais e delas deduz o que se deve fazer na prática. Por exemplo, acredita em liberdade individual e daí conclui que não se pode proibir o consumo de cocaín cocaínaa e crack. crack. Ou acredit acreditaa em justiça justiça socia sociall e por isso acha acha que o govern governoo deve deve control controlar ar todos os preços e salários. O que caracteriza caracteriza esse esse tipo de pensament pensamentoo é a arbitrariedade arbitrariedade das premissas, premissas, escolhidas escolhidas na base da pura preferência pessoal, e o automatismo mecânico do raciocínio que leva às conc conclu lusõ sões es.. No Br Bras asil il,, prat pratic icam amen ente te toda todass as dife difere renç nças as entr entree dire direit itaa e esqu esquer erda da se defi define nem m assim. A coisa torna-se ainda pior pela tendência incoercível de raciocinar a partir de figuras de de lingua linguagem gem,, chavõe chavõess e clichês, clichês, em vez de concei conceitos tos descrit descritivo ivoss critica criticamen mente te elabor elaborado ados. s. Isso Isso torna torna o "debate "debate polít político ico nacio nacional nal"" um duelo duelo entre entre fetich fetiches es verbai verbaiss imanta imantados dos de uma carga carga emocional emocional quase quase psicótica. psicótica. Os fatos fatos concretos, concretos, a complexidade complexidade das situações, situações, as diferenças diferenças entre níveis de realidade, o senso das proporções e das nuances, ficam fora da conversa. Aristóteles já ensinava que a política não é uma ciência teorético-dedutiva, na qual as conclus conclusões ões se seguiss seguissem em matema matematic ticame amente nte das premis premissas, sas, mas uma ciênci ciênciaa prátic práticaa enormemente enormemente sutil, sutil, onde onde tudo dependi dependiaa da frónesis, frónesis, o senso senso da prudência, prudência, assim como do exercício da dialética. Mas a dialética é a arte de seguir ao mesmo tempo duas ou mais linhas de raciocínio, e a impossibilidade de fazer isso é, dentre as 28 deficiências de inteligênci inteligênciaa assinaladas assinaladas pelo pedagogo pedagogo israelense israelense Reuven Feuerstein, Feuerstein, certamente a mais disseminada entre estudantes, professores, jornalistas e formadores de opinião no Brasil. Não raro essa deficiência é tão arraigada que chega a determinar, por si, toda a forma mentis de alguma personalidade falante. Naquilo que neste país se chama um "debate", o 8
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que se obse observa rva nos conten contendor dores es é a incapa incapacid cidade ade de apreen apreender der o argume argumento nto do adversár adversário, io, a ausência de uma verdadeira relação intelectual, substituída pela reiteração de opiniões prontas que o debate em nada enriquece. O que me me colocou colocou contra contra a esquerda esquerda naciona nacionall desde o início início dos anos 90 não foi nenhuma nenhuma tomada tomada de posição posição "liber "liberal" al" ou "conserv "conservado adora" ra",, mas a simple simpless constat constataçã açãoo de dois dois fatos: fatos: 1) a instr instrum umen enta tali liza zaçã çãoo polí políti tica ca das das inst instit itui uiçõ ções es de cultu cultura ra e ensi ensino no pela pela "rev "revol oluç ução ão gramsciana" gramsciana" estava acabando com a vida intelectual intelectual no Brasil e em breve iria reduzi-l reduzi-laa a zero, como de fato fato veio a acontecer; acontecer; 2) a opção preferencial preferencial dos partidos partidos de esquerda esquerda pelo lumpen lumpenprol proleta etaria riat, t, tomado tomado errone erroneame amente nte como como sinôni sinônimo mo de "povo" "povo" por influê influênci nciaa residual de Herbert Marcuse, estava destinada a transformar a existência cotidiana dos brasileiros no carnaval sangrento que hoje vemos por toda parte. Como é óbvio e patente que a solução de quaisquer problemas na sociedade depende da dose de inteligência circulante e do nível de consciência moral da população, daí decorria que, que, para para denunc denunciar iar a ativid atividade ade malign malignaa da esquer esquerda da nacion nacional, al, que estava estava destrui destruindo ndo essas essas duas coisas, não era preciso que eu me definisse quanto àqueles inumeráveis pontos específicos específicos de política política econômic econômico-soci o-social al em que tanto tanto se deliciam deliciam os doutrinários doutrinários de todos os partidos e que em muitos casos eu considerava superiores à minha capacidade de análise. Nos meus artigos, aulas e conferências, como o pode atestar qualquer observador isento, não se trata nunca de advogar determinada política em particular, mas apenas de lutar para que as condições intelectuais e morais mais genéricas e indispensáveis a qualquer deba debate te polí políti tico co saudá saudáve vell não não se perca percam m ao pont pontoo de desa desapa pare rece cerr por por compl complet etoo do hori horizo zont ntee de consciência da classe nominalmente "intelectual". Quando essas condições forem restauradas, não terei a menor dificuldade de me voltar para para assun assuntos tos da da minha minha preferê preferênci nciaa e deixar deixar que o debate debate políti político co transcor transcorra ra normal normalmen mente te sem a minha gentil intervenção. Mas Mas o fato fato é que que,, se a dete deteri riora oraçã çãoo ment mental al do Pa País ís come começo çou u já no temp tempoo dos dos mili milita tare res, s, logo logo depo depois is a esquer esquerda da triu triunf nfan ante te a agra agravo vou u ao pont pontoo da mais mais deses desespe pera rado dora ra cala calami mida dade de,, e o fez fez de propósito, planejadamente, maquiavelicamente, disposta a tudo para impor, de um lado lado,, a hege hegemo moni niaa cultur cultural al de cabo caboss elei eleito tora rais is,, agit agitad ador ores es de boteq botequi uim m e douto doutore ress salafrários com carteirinha do Partido; de outro, a beatificação beatificação do lumpenproletariado e a completa perversão da consciência moral na população brasileira. Até o momento nenhum partido de esquerda deu o menor sinal de arrependimento. Ao contrário, cada um se esmera na autoglorificação como se fosse uma plêiade de heróis e santos. Assim, não me deixam remédio senão estar na direita, no mínimo porque esta, no momento, não tem os meios de concorrer com a esquerda na prática do mal.
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Militância e realidade Zero Hora, 6 de março de 2004
Ser um militante é estar inserido numa organização política, submetido a uma linha de coma comand ndoo e envo envolv lvid idoo por por uma atmo atmosf sfer eraa de cama camara rada dage gem m e cumpl cumplic icid idad adee com com os membros da mesma organização. Ser um simpatizante ou um “companheiro “companheiro de viagem” é estar mergulhado nessa atmosfera, obedecendo à mesma linha de comando não por um comp compro rome meti time ment ntoo form formal al como como os mili milita tant ntes es mas mas por por hábi hábito to,, por por expe expecta ctati tiva va de vant vantag agen enss ou conivência emocional. Sem uma rede de militantes, simpatizantes e companheiros de viagem, não existe ação política. Com ela, a ação política, se não limitada por fatores externos consolidados historicamente – a religião e a cultura em primeiro lugar -- pode estender-se a todos os domínios domínios da vida social, mesmo os mais distantes da “política” “política” em sentido estrito, estrito, como como por exemplo exemplo a pré-escola pré-escola,, os consultórios consultórios de aconselh aconselhamento amento psicológico psicológico e sexual, as artes e espetáculos espetáculos,, os cultos cultos religioso religiosos, s, as campanh campanhas as de caridade caridade,, até a convivência convivência familiar. familiar. A diferença entre os partidos constitucionais normais e os partidos revolucionários é que aqueles limitam sua esfera de ação à área permitida pela cultura e pela religião, ao passo que os partidos partidos revoluc revolucion ionári ários os destroem destroem a cultura e a religi religião ão para para remoldá remoldá-la -lass à imagem imagem e semelhança de seus ideais políticos. Abolindo os freios tradicionais – o que é facílimo num país de cultura superficial como o Brasil Brasil --, a organiz organizaçã açãoo da militâ militânci nciaa revolu revolucio cionár nária ia transfo transforma rma todos todos os ramos da atividade social, todas as conversações, todos os contatos humanos, mesmo os mais aparentemente apolíticos e ingênuos, em instrumentos não-declarados de expansão do pode poderr do part partid ido. o. Sei Sei que que essa essa conc concep epçã çãoo é mons monstr truo uosa sa,, mas mas ela ela não não é minh minha. a. É de Anto Antoni nioo Gramsci. Uma vez que ela seja posta em execução numa dada sociedade e aí alcance razoável sucesso, toda a existência humana nessa sociedade será afetada de hipocrisia e duplic duplicida idade, de, pois pois aí pratic praticame amente nte não haverá haverá ato ou palavr palavra, a, por mais mais inocen inocente te ou espontâneo, que não sirva, consciente ou inconscientemente, a uma dupla finalidade: aquela que seu agente individual tem em vista no seu horizonte de consciência pessoal, e aquela aquela a que serve, volens nolens, nolens, no conjun conjunto to da estratégia estratégia de transformaçã transformaçãoo política política que cana canali liza za invi invisi sive velm lmen ente te os efei efeito toss de suas suas ações ações para para a confl confluê uênc ncia ia num num resu resulta ltado do gera gerall que que ele seria incapaz de calcular e até de conceber. Uma vez desencadeado esse processo, a completa degradação moral e intelectual da sociedade segue-se como um efeito inevitável, mas isso é vantajoso para o partido, pois acelera acelera o processo processo de mudança mudança revoluci revolucionári onáriaa e pode pode ser ser utilizado utilizado ainda como material material de 11
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propaganda contra a “sociedade degradada” por aqueles mesmos que a deterioraram, os quais assim obtêm de suas más ações o lucro indiscutível de ocupar sempre a tribuna dos acusadores enquanto as vítimas ficam no banco dos réus. Mas os os agentes agentes condutore condutoress não saem ilesos do processo processo que desencadeara desencadearam. m. No curso das transf transforma ormaçõe çõess revoluc revolucion ionári árias, as, terão terão de se esmera esmerarr na arte do discurs discursoo duplo, duplo, justif justifica icando ndo seus atos perante o público geral segundo os valores correntemente admitidos, e segundo as metas partidárias para o círculo dos militantes que as conhecem e as compartilham. À medida que estas metas vão sendo alcançadas, é preciso reajustar as duas faixas do discurso ao novo padrão de equilíbrio instável resultante do arranjo momentâneo entre o “ant “antig igo” o” e o “nov “novo” o”,, isto isto é, entr entree o que que o públ públic icoo em gera gerall imag imagin inaa que que está está acon aconte tece cend ndoo e o mapa de um trajeto trajeto só conhecido conhecido pela elite dirigente dirigente partidária. partidária. Esses reajustes reajustes não são só artifícios retóricos para ludibriar o povo. São revisões do caminho para reorientar os próprios dirigentes e implementar as adaptações táticas necessárias a cada momento. Quem nunca militou num partido revolucionário mal pode imaginar a freqüência e a intensidade dessas revisões, nem as prodigiosas dificuldades que elas comportam. E só quem tem alguma idéia disso pode compreender as contradições de um governo de transição revolucionária, distinguindo as aparentes das reais. Praticamente a totalidade dos coment comentári ários os polític políticos os que circula circulam m sobre sobre o governo governo Lula reflet refletem em apenas apenas a inabil inabilida idade de de fazer essa distinção.
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Ciência e ideologia O Globo, 20 set. 2003
Vinte e quatro séculos atrás, Sócrates, Platão e Aristóteles lançaram as bases do estudo cien cientí tífi fico co da soci socied edad adee e da polí políti tica ca.. Muit Muitoo se apre aprend ndeu eu depoi depoiss disso disso,, mas mas os prin princí cípi pios os que que eles eles form formul ular aram am cons conser erva vam m toda toda sua forç forçaa de exig exigên ênci cias as inco incont ntorn ornáv ávei eis. s. O mais mais importante é a distinção entre o discurso dos agentes e o discurso do cientista que o anali nalisa sa.D .Dox oxaa (opi (opin nião) ião) e epis episte temê mê (ci (ciênci ência) a) são são os term termos os que que os desi design gnaam respectivamente, mas estas palavras tanto se desgastaram pelo uso que para torná-las novamente úteis é preciso explicar seu sentido em termos atualizados. Foi o que fez Edmund Husserl com a distinção entre o discurso “pré-analítico” e o discurso tornado consciente pela análise de seus significados embutidos. “Pré-a “Pré-anal nalíti ítico” co” é o discurso discurso que tem vários vários signifi significad cados os confus confusame amente nte mesclad mesclados os e por isso não serve para descrever nenhuma realidade objetiva, apenas para expressar o estado de espírito -- ele próprio confuso -- da pessoa que fala. Mas esse estado de espírito, esse amálgama de desejos, temores, anseios e expectativas, é por sua vez um um componente da situação objetiva. Por meio da análise, o estudioso decompõe os discursos dos vários agentes em distintas camadas de intenções e redesenha a situação segundo um mapa que pode sair bem diverso daquele imaginado pelos agentes. Por exempl exemplo, o, na linguag linguagem em corrent correntee podemo podemoss opor opor o comuni comunismo smo ao antico anticomun munism ismoo como como duas “ideologias”. Objetivamente, porém, o comunismo tem uma história contínua de 150 anos anos e, malgra malgrado do todas todas as suas dissidên dissidência ciass e varian variantes, tes, é um movime movimento nto históric históricoo identi identific ficáve ável, l, uma “tradiç “tradição” ão” que se prolon prolonga ga justam justament entee por meio meio do confli conflito to intern interno. o. Já o “anticomuni “anticomunismo” smo” abrange abrange movimentos movimentos sem nenhuma conexão conexão ou parentesco entre si, que coinci coincidem dem em rejeit rejeitar ar uma mesma mesma ideolo ideologia gia por motivo motivoss heterog heterogêne êneos os e incomp incompatí atívei veis. s. Só para dar um exemplo exemplo extremo, o rabino Menachem Menachem Mendel Schneerson, Schneerson, célebre ativista anti anti-s -sov ovié iéti tico co,, era era anti antico comu muni nist staa por por ser ser jude judeu u orto ortodo doxo xo;; Jose Joseph ph Goeb Goebbe bels ls era era anticomunista por achar que o comunismo era uma conspiração judaica. Comu Comuni nism smoo e anti antico comu muni nismo smo só consti constitu tuem em espéc espécie iess do mesm mesmoo gêne gênero ro quand quandoo considerados considerados como como puras intençõe intençõess verbais desligad desligadas as de suas encarnações encarnações históricas, históricas, isto é, da única única reali realida dade de que possu possuem em.. O comun comunis ismo mo é uma “ideo “ideolo logi gia”, a”, isto isto é, um discu discurs rsoo de autojustificação de um movimento político identificável. O anticomunismo não é uma ideologia de maneira alguma, mas a simples rejeição crítica de uma ideologia ideologia por motivos que, que, em si, si, não não têm de ser ser ideo ideoló lógi gico cos, s, embo embora ra possa possam m ser ab abso sorv rvid idos os no corpo corpo de dive divers rsas as ideologias. 13
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Outro exemplo. O conceito nazista de “judeu” não correspondia a nenhuma realidade objetiva, e sim a um complexo de projeções imaginárias. Mas este complexo, por sua vez, expr express essav avaa muito muito bem bem o que que o nazi nazist staa gosta gostari riaa de faze fazerr com com as pess pessoa oass nas nas quai quaiss a imag imagem em projet projetada ada se se encaix encaixass assee de algum algum modo modo.. Esse Esse desejo desejo,, por sua vez, vez, coinci coincidia dia com os de seus seus companheiros de partido e dava ao nazista um senso de identidade como participante de um empreendimen empreendimento to coletivo, coletivo, cuja unidade unidade se reconhecia reconhecia no ódio comum ao símbolo símbolo do seu inimigo ideal. Os líderes líderes nazistas nazistas estavam estavam conscientes conscientes disso. Hitler declarou-o declarou-o expressamente expressamente nas suas confissões a Hermann Rauschning, e Goebbels, quando o cineasta Fritz Lang recusou um carg cargoo no gover governo no alega alegand ndoo ter mãe mãe judi judia, a, resp respon onde deu: u: “Q “Quem uem deci decide de quem quem é ou quem quem não não é judeu sou eu.” Mas a massa dos militantes imaginava estar despejando seu rancor sobre um inimigo preciso e bem definido. Não é preciso dizer que os conceitos comunistas do “burguês” e do “proletário” são igualmente fantasmagóricos -- se bem que envoltos numa embalagem intelectualmente mais mais eleg elegan ante te.. O próp própri rioo histo histori riad ador or marx marxis ista ta E. P. Thom Thomps pson on reco reconh nhec eceu eu que que é impo impossí ssíve vell disti disting ngui uirr um “prol “prolet etár ário io”” por por traço traçoss econ econôm ômic icos os obje objeti tivos vos:: é preci preciso so acrescentar informações culturais e até psicológicas -- entre as quais, é claro, a própria auto-i auto-imag magem em do do sujei sujeito to que que se se sente sente integr integrado ado nas “força “forçass prolet proletári árias” as” pelo pelo ódio ódio à imagem imagem do “burguês”. Os kulaks, que foram mortos aos milhões na URSS, eram nominalmente “camponeses ricos”. ricos”. Ninguém Ninguém sabia dizer se para ser catalogado catalogado como “rico” era era preciso ter ter uma vaca, duas vacas ou talvez uma dúzia de galinhas, mas isso pouco interessava: o kulak era um símbolo, e a militância comunista no campo consistia em odiá-lo. A força da identidade grupal comunista comunista,, reiterada reiterada pelos constantes constantes discursos discursos de ódio, se projetava projetava sobre o kulak e lhe conferia uma aparência de realidade social perfeitamente perfeitamente nítida. Por isso o militante não sentia ter errado de alvo quando matava um camponês que não tivesse vacas nem galinhas, mas apenas um ícone da igreja russa na parede. A crença religiosa transferia a vítima para outra classe econômica. Também é evidente que o “latifundiário”, objeto de ódio do MST, não é nenhuma classe objetivamente identificável, mas um símbolo do malvado acumulador de bens agrários socialmente estéreis, símbolo que pode se ajustar, conforme as circunstâncias, até aos empreendimentos agrícolas mais úteis e benéficos, poupando de qualquer censura mais grave a imensidão de terras improdutivas do próprio MST. É analisando e decompondo esses compactados verbais e comparando-os com os dados disponíveis que o estudioso pode chegar a compreender a situação em termos bem diferentes daqueles do agente político. Mas também é certo que os próprios conceitos cientí científic ficos os daí obtido obtidoss podem podem se incorpo incorporar rar depois depois no discurs discursoo políti político, co, tornand tornando-s o-see 14
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expressões da doxa. É isso, precisamente, o que se denomina uma ideologia: um discurso de ação política composto de conceitos conceitos científicos científicos esvaziados de seu conteúdo analítico analítico e imantados de carga simbólica. Então é preciso novas e novas análises para neutralizar a mutação da ciência em ideologia.
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Ignorando o essencial Diário do Comércio, 3 de abril de 2009
Há alguns dados históricos elementares sobre o movimento comunista, ignorados pela maioria e mal conhecidos ou bem esquecidos pelas minorias letradas e dirigentes, sem os quais é impossível, literalmente impossível entender o que quer que seja da história recente. Se você procurar se informar a respeito e começar a levar esses dados em conta, verá quanta coisa obscura se esclarece automaticamente, sem necessidade de grande esforço interpretativo. 1. O comunismo foi e é, ao longo da história humana, o único – repito: o único – movime movimento nto políti político co orga organiz nizado ado em escala escala mundia mundial, l, com ramifi ramificaç cações ões e agente agentess nos lugares lugares mais remotos do planeta, disciplinados e capacitados para entrar em ação de maneira imediata, coordenada e simultânea ao primeiro chamado de seus centros de comando. 2. Embora tendo a seu serviço uma quantidade enorme de organizações e partidos de massa, o comunismo é substancialmente um movimento clandestino, cujo comando e cujos planos de ação devem permanecer invisíveis aos profanos, mesmo nas épocas de legalidade em que várias organizações comunistas atuam publicamente sem sofrer a menor perseguiçã perseguição. o. O primado da elite elite clandestina clandestina sobre a liderança liderança visível visível é, pelo menos desde Lênin, Lênin, uma cláusula cláusula pétrea pétrea da estratégia estratégia comunista. comunista. É impossível impossível compreender compreender essa estratégia e as táticas que a implementam levando em conta somente a atuação ostensiva dos líderes comunistas mais visíveis em cada país, sem acesso às discussões internas e às conexões internacionais de cada organização. 3. O comunismo foi e é, em todo o mundo e em todas as épocas, o único movimento político que teve e tem a seu dispor recursos financeiros ilimitados, superiores às maiores fortunas conhecidas no Ocidente e aos orçamentos de muitos governos somados. Suas possibilidades de ação devem ser medidas na escala dos seus recursos. 4. Só uma parcela ínfima da atividade comunista consiste em propaganda doutrinária reconhecível direta ou indiretamente. A parte maior e mais significativa consiste em infiltrar-se e mesclar-se em toda sorte de organizações – partidos políticos (inclusive liberais e conservadores), mídia, sindicatos, empresas estatais e privadas, instituições culturais, culturais, educacionais, educacionais, religiosas e de caridade, Forças Armadas, Maçonaria, Maçonaria, a lista não tem fim – de modo a torná-las instrumentos da estratégia comunista e a controlar por meio delas toda a sociedade, fazendo do Partido “um poder onipresente e invisível” (a expressão é de Antonio Gramsci, mas a técnica existia desde muito antes dele). É pueril imagin imaginar ar que, que, uma vez inseri inseridos dos nessas entidade entidades, s, os comunis comunistas tas aí se dediqu dediquem em a 16
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dout doutri rina naçã çãoo ou pros prosel elit itis ismo mo,, como como se fosse fossem m pasto pastore ress prot protes esta tant ntes es espa espalh lhan ando do o Evangelho entre infiéis. A arregimentação de todas as forças para que sirvam à estratégia comunista é um mecanismo tremendamente sutil e complexo, que envolve doses maciças de camuflagem e despistamento, com muitos lances paradoxais pelo caminho. 5. É tolice imaginar o comunismo comunismo como uma “doutrina” “doutrina” ou “ideal”, “ideal”, sobretudo sobretudo quando se entende por isso a pregação aberta da abolição da propriedade privada. O movimento comunista nunca teve nem precisou ter qualquer unidade doutrinária, e já provou mil vezes sua capacidade de adaptar-se taticamente às fórmulas ideológicas mais díspares, de maneira maneira sucessiva ou simultânea, simultânea, desnorteando desnorteando por completo completo o observador observador leigo (incluo (incluo nisto os políticos em geral e a quase totalidade dos intelectuais liberais e conservadores). Campanhas ateísticas as mais truculentas, por exemplo, coexistem pacificamente, no seio do movimento comunista, com o aproveitamento do discurso religioso como meio de atin atingi girr o cora coraçã çãoo das das mass massas as.. Muta Mutati tiss muta mutand ndis is,, a expl explor oraç ação ão dos dos sent sentim imen ento toss nacionalistas extremados vem lado a lado com o esforço de diluir as soberanias nacionais em unidad unidades es maio maiores, res, region regionais ais ou mund mundiai iais, s, de modo que, que, por trás da cena, cena, o movimen movimento to comunista se beneficia tanto das resistências patrióticas quanto do poder global em ascensão. A unidade do movimento comunista é de tipo estratégico e organizacional, não ideológico. O comunismo não é um conjunto de teses: é um esquema de poder, o mais vasto, fexível, integrado e eficiente que já existiu. Mesmo o radicalismo islâmico, hoje em rápida expansão, nada poderia sem o apoio da rede mundial de organizações comunistas. 6. Tolice Tolice maior maior ainda ainda é imagina imaginarr que a oposição oposição lógico-forma lógico-formall entre os conceitos conceitos abstratos abstratos de capitalismo capitalismo e comunismo se traduza, na prática, em conflito mortal mortal entre capitalistas capitalistas e comunistas. À variedade de diferentes situações locais e temporais corresponde uma infinidad infinidadee de nuances nuances e transições, transições, com um vasto vasto espaço para os arranjos arranjos e cumplicidade cumplicidadess mais estranhos em aparência (só em aparência). Ninguém entenderá nada do mundo histórico histórico em que vive hoje se não tiver em conta a longa longa colaboração colaboração entre entre o movimento movimento comunista comunista e algumas algumas das maiores maiores fortunas do Ocidente, por exemplo exemplo Morgan, Morgan, Rockefeller Rockefeller e Rothschild. Os livros clássicos a respeito são os do economista inglês Anthony Sutton, mas já em 1956 o Comitê Comitê Reece da Câmara Câmara de Representantes Representantes dos EUA levantou levantou provas provas subs substa tanc ncia iais is de que que algum algumas as fund fundaç açõe õess bili bilion onár ária iass esta estava vam m usan usando do seus seus recu recurso rsoss formidáveis “para destruir ou desacreditar o sistema de livre empresa que lhes deu nascimento”. Essas fundações estão hoje entre os mais robustos pilares de suporte do governo socialista de Barack Hussein Obama. O desconhecimento ou incompreensão desses fatos entre liberais e conservadores está na raiz de sua sua incapa incapacidade cidade de opor opor uma resistência resistência séria à marcha triunfante triunfante do comunismo comunismo na América Latina. Muitos ainda acreditam, por exemplo, que será uma grande vitória da democracia obrigar as Farc a abandonar a luta armada para transformar-se em partido 17
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legal. legal. Não entend entendem em que que criar criar uma força força políti política ca reconh reconheci ecida da é, no fim das contas, contas, o único único objetivo da luta armada – na Colômbia ou em qualquer outro lugar. Guerrilhas não vencem guerras: tudo o que desejam é uma derrota politicamente vantajosa. Por isso, ao mesmo tempo tempo que trocam trocam tiros com as forças forças do governo, governo, na selva selva e nas cidades, cidades, colocam colocam seus agentes em postos-chave dos partidos esquerdistas legais, de onde clamam contra o derram derramame amento nto de sangue e apelam apelam dramat dramatica icamen mente te ao retorno retorno da legali legalidad dade. e. Fizera Fizeram m isso isso no Brasil, fazem agora na Colômbia. Enquanto os liberais e conservadores não obtiverem uma clara visão de conjunto do fenôme fenômeno no enorme enormemen mente te comple complexo xo do comuni comunismo smo,, enquan enquanto to insist insistire irem m em se opor opor somente às facetas mais imediatas e repugnantes desse movimento, se não apenas às doutrinas comunistas consideradas abstratamente, estarão condenados à derrota mesmo quando se julgam vencedores. O fato de que jamais tenha havido uma internacional anticomunista torna difícil para muitas pessoas obter essa visão de conjunto, que os próprios comunistas obtêm tão facilmente. Mas a ausência de suporte social não pode servir de desculpa para a preguiça intelectual. Há sempre algumas inteligências individuais capazes de raciocinar acima das perspe perspecti ctivas vas grupais grupais,, quando quando existe existem, m, ou sem elas, elas, quando quando não existe existem. m. Nada Nada justif justifica ica que essa essass inte inteli ligên gênci cias as perm perman aneça eçam m à marge margem m das das disc discuss ussõe õess públ públic icas as,, deix deixan ando do aos aos ignora ignorante ntess o monopó monopólio lio dos microf microfone ones. s. Neste Neste como como em todos todos os demais demais assunt assuntos os humano humanos, s, quem quem não estudou estudou nada nada está cheio cheio de certeza certezass simpló simplória riass e as procla proclama ma com um ar de treme tremend ndaa superi superior orid idad ade, e, sem sem perc perceb eber er o pape papell ridí ridícu culo lo que que faz. faz. Quem Quem estu estudou dou fica fica às vezes parecendo maluco ou excêntrico, mas, afinal, para que é que alguém estuda, se não é para ficar sabendo de algo que a maioria não sabe?
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Basta! Fora! Diário do Comércio, 11 de junho de 2015
Volto a explicar, agora ponto por ponto, a catástrofe catást rofe estratégica monstruosa com que o PT destruiu a si mesmo e à nação. 1. No incipiente incipiente capitalismo brasileiro, brasileiro, as grandes empresas são quase sempre sócias do Estado, o único cliente que pode remunerá-las à altura dos serviços que prestam. 2. Por Por isso isso elas elas acab acabam am se incor incorpo pora rand ndoo ao “esta “estame ment ntoo buro burocrá cráti tico co”” de que que fala falava va Raymundo Faoro: o círculo dos “donos do poder”, que fazem da burocracia estatal o inst instrum rumen ento to dóci dócill dos seus seus inte intere resse ssess grup grupai ais, s, em vez vez da máqu máquin inaa admi admini nistr strat ativ ivaa impessoal e científica que ela é nas democracias normais. 3. Nesse sentido, o sistema econômico brasileiro não é capitalista nem socialista, mas sim patrimonial patrimonialista, ista, como como destacaram, destacaram, além além do próprio próprio Faoro, vários estudiosos estudiosos de orientação orientação liberal, entre os quais Ricardo Velez Rodriguez, Antonio Paim e o embaixador J. O. de Meira Penna. 4. Nos Nos anos anos 70 do sécul séculoo pass passad adoo os inte intele lectu ctuai aiss de esqu esquer erda da que que sonh sonhav avam am em form formar ar um grande partido partido de massas massas tomaram tomaram conhecimen conhecimento to do livro de Raymundo Raymundo Faoro, Os Donos do Poder. Formação Formação do Patronato Patronato Político Brasileiro, Brasileiro, então lançado em aumentadíssi aumentadíssima ma segunda edição, e entenderam que o curso normal da revolução brasileira não deveria ser propriamente anticapitalista, mas antipatrimonialista: o ponto focal do combate já não seri seriaa prop propri riam amen ente te “o capi capital talis ismo mo”, ”, e sim sim – com com nome nomess vari variad ados os -- o “esta “estame ment ntoo burocrático”. 5. A defi defini niçã çãoo do alvo alvo era era corr corretí etíssi ssima ma,, mas, mas, ao mesmo mesmo temp tempo, o, o parti partido do,, como como aliá aliáss toda toda a esquer esquerda da nacio nacional nal,, estava estava into intoxic xicado ado de gram gramsci scismo smo e ansios ansiosoo por tomar tomar o poder poder por meio meio dos métodos do fundador do Partido Comunista Italiano, que preconizavam a infiltração generalizada generalizada e a “ocupação “ocupação de espaços” destinada destinadass a criar a “hegemonia”, “hegemonia”, isto é o controle controle do imaginário popular, da cultura, de modo a fazer do partido “o poder onipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino”. 6. A aplicação do esquema gramscista obteve mais sucesso no Brasil do que em qualquer outro país do mundo. Por volta dos anos 80, o modo comunopetista comunopetista de pensar pensar já havia se tornado tão habitual e quase natural entre as classes falantes no país, que os liberais e conservadores, inimigos potenciais dessa corrente, abdicaram de todo discurso próprio e, para se fazer entender, tinham de falar na linguagem do adversário, reforçando-lhe a hegemo hegemonia nia ideoló ideológic gica, a, mesmo mesmo quando quando obtinh obtinham am sobre sobre ele alguma alguma modesta modesta vitória vitória eleito eleitoral ral em troc troca. a. Entr Entree os anos anos 90 e a déca década da segu seguin inte te,, toda toda polí políti tica ca “de “de dire direit ita” a” havi haviaa desaparecido do cenário público, deixando o campo livre para a concorrência exclusiva 19
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entre entre frações frações da esquerd esquerda, a, separa separadas das pela pela disputa disputa de cargos cargos apenas, apenas, sem nenhuma nenhuma divergência séria no terreno ideológico ou mesmo estratégico. 7. O sucesso da operação produziu sem grandes dificuldades a vitória eleitoral de Lula numa numa eleiç eleição ão presi presiden dencia ciall na qual, qual, como como ele própri próprioo reconh reconhece eceu, u, todos todos os candid candidato atoss eram eram de esquerda, o que canalizava os votos quase espontaneamente na direção daquele que personificasse o esquerdismo da maneira mais consagrada e mais típica. 8. Com Lula na Presidência, intensificou-se formidavelmente a “ocupação de espaços”, fortalecendo a hegemonia ao ponto de levar ao completo aparelhamento da máquina estata estatall pelo pelo comando comando comuno comunopeti petista, sta, que ao mesmo mesmo tempo tempo precis precisava ava da ajuda ajuda das grande grandess empresas para cumprir o compromisso assumido no Foro de São Paulo, coordenação estrat estratégi égica ca da políti política ca comunis comunista ta no contin continent ente, e, no sentid sentidoo de ampara ampararr e salvar salvar do naufrágio os regimes e movimentos comunistas moribundos espalhados por toda parte. 9. Inevitavelmente, assim, o próprio partido governante se transformou no “estamento burocrático” que ele havia jurado destruir. E, imbuído da fé cega nos altos propósitos que aleg alegav ava, a, atri atribu buiu iu-s -see em nome nome dele deless o dire direit itoo de trap trapac acea earr e roub roubar ar em esca escala la incomparavelmente maior que a de todos os seus antecessores, sem admitir acima de si nenh nenhum umaa auto autori rida dade de mora morall à qual qual deve devesse sse pres presta tarr sati satisf sfaç açõe ões. s. O próp própri rioo sr. Lula Lula expr expres esso sou u esse sentimento com candura admirável, afirmando-se o mais insuperavelmente honesto dos brasileiro brasileiros, s, ao qual ninguém ninguém teria teria o direito de julgar julgar – e isso no momento momento em que seu partido, partido, abalado abalado por uma tremenda tremenda sucessão de escândalos, escândalos, já era conhecido conhecido no país todo como o partido-ladrão por excelência. 10. Assim, não apenas o PT fortaleceu o patrimonialismo, como frisou o cientista político Ricardo Velez Rodriguez, mas se transformou ele próprio na encarnação mais pura e apar aparen ente teme ment ntee mais mais inde indestr strutí utíve vell do pode poderr patri patrimo moni nial alis ista ta,, sold soldan ando do numa numa liga liga indissolúvel a ilimitada pretensão esquerdista ao monopólio da autoridade moral, os anseios do movimento comunista continental, os interesses de grandes grupos industriais e bancários bancários,, o aparato aparato cultural cultural amestra amestrado do (mídia (mídia,, show show busine business, ss, univers universida idades des)) e, last last not least, o instinto de sobrevivência da classe política praticamente inteira. 11. Tal foi o resultado da síntese macabra que denominei faoro-gramscismo -- a tentativa de realizar por meio da estratégia de Antonio Gramsci a revolução antipatrimonialista preconizada por Raymundo Faoro: na medida em que, ao mesmo tempo, instigava o ódio popula popularr ao “estame “estamento nto burocrá burocrátic tico” o” e, por meio meio da “ocupa “ocupação ção de espaço espaços”, s”, se transfi transfigur gurava ava ele própri próprioo no inimigo inimigo odiado odiado,, person personifi ifican candodo-oo com traços traços repugn repugnant antes es aument aumentado adoss até o nível do absurdo e do inimaginável, o PT acabou por atrair contra si próprio, em escala ampliada, a hostilidade justa e compreensível da população aos “donos do poder”, aos príncipes coroados do Estado cleptocrático. 12. Ao longo do processo, a “ocupação de espaços” reduziu o sistema de ensino e o conjunto das instituições de cultura a instrumentos para a formação da militância e a repres repressão são ao livre livre debate debate de ideias ideias,, destrui destruindo ndo implac implacave avelme lmente nte a alta cultura cultura no país país e, na 20
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mesma medida, medida, estupidifica estupidificando ndo a opinião opinião pública para desarmar desarmar sua capacidade crítica. Ao mesmo tempo, no desejo de agradar a vários “movimentos de minorias” enxertados no Bras Br asil il por por organ organis ismo moss inte intern rnac acio iona nais is,, o gove govern rnoo peti petista sta fez fez tudo tudo o que que podi podiaa para para desmantelar o sistema dos valores mais caros à maioria da população, contribuindo para espalhar a confusão moral, a anomia e a criminalidade, esta última particularmente favorecida por legislações que não se inspiravam propriamente em Antonio Gramsci, mas numa fonte mais remota do pensamento esquerdista, a apologia do Lumpenproletariat como classe revolucionária, muito em voga nos anos 60 do século XX. O Brasil que o PT criou é feio, miserável, repugnante, tormentoso e absolutamente insustentável. Cumprida a sua missão histórica de encarnar, personificar e amplificar o mal que denunciava, o único partido da História que fomentou uma revolução contra si mesmo tem a obrigação de ser coerente e desaparecer do cenário o mais breve possível. Por isso a mensagem que o povo lhe envia nas ruas, nos panelaços, nas vaias e nas sondagens sondagens de opinião é hoje a mesma que, em circunstâncias circunstâncias muito menos menos deprimentes deprimentes e muito menos alarmantes, surpreendeu o desastrado e atônito presidente João Goulart em 1964: - Basta! Fora!
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A oligarquia contra o povo Diário do Comércio, 27 de agosto de 2015
Interrompo temporariamente as considerações teóricas da série “Ilusões democráticas” para analisar brevemente o atual estado de coisas. A premissa básica para se chegar a compreender c ompreender a presente situação situ ação política do Brasil é a seguin seguinte: te: o PT não subiu subiu ao poder poder para para implan implantar tar o comuni comunismo smo no Brasil Brasil,, mas para para salvar salvar da extinção o movimento comunista na América Latina e preparar o terreno para uma futura tomada do continente inteiro pelo comunismo internacional. É fáci fácill compr comprova ovarr isso isso pela pelass atas atas das das assemb assemblei leias as do Foro Foro de São Paulo, Paulo, o qual qual foi fundad fundadoo justamente para a realização desse plano. Na operação, o Brasil exerceria não somente a função de centro decisório e estratégico, mas o de provedor de recursos para os governos e movimentos comunistas falidos. No décimo-quin décimo-quinto to aniversário aniversário do Foro, em 2015, o comando comando das FARC, Forças Forças Armadas Armadas Revolucionárias da Colômbia, reconheceu em documento oficial que a fundação desse orga organi nism smoo pelo pelo PT havi haviaa pura pura e simp simple lesm smen ente te salv salvad adoo da exti extinç nção ão o comun comunis ismo mo latino-americano, debilitado e minguante desde a queda do regime soviético. Para Para a consecução consecução do plano plano,, era necessár necessário io que o PT no govern governoo prosseg prosseguis uisse se na aplica aplicação ção firme e constante da estratégia gramsciana da “ocupação de espaços” e da “revolução cultural”, aliando-se, ao mesmo tempo, a grandes grupos econômicos que pudessem subs subsid idia iarr e cons consol olid idaar, pouc poucoo impor mporta tan ndo se por por meio meioss líci lícito toss ou ilíc ilíciitos, tos, a instrumental instrumentalização ização partidária partidária do Estado, o controle da classe política, política, a supressão supressão de toda oposi oposiçã çãoo ideo ideoló lógi gica ca poss possív ível el e a inje injeçã çãoo de dinh dinhei eiro ro salva salvador dor em vári vários os regi regime mess e movimentos comunistas moribundos. Basta isso para explicar por que o então presidente Lula pôde ser, numa mesma semana, homenageado no Fórum Social Mundial pela sua fidelidade ao comunismo e no Fórum Econômico de Davos pela sua adesão ao capitalismo, tornando-se assim o enigmático homem de duas cabeças que os “verdadeiros crentes” da direita acusavam de comunista e os da esquerda de vendido ao capitalismo. Mas as duas cabeças, no fundo, pensavam em harmonia: a confusão ideológica só podia favorecer favorecer aqueles aqueles que, por trás trás dos discursos discursos e slogans slogans,, tinham tinham um plano de longo prazo e a determinação de trocar de máscara quantas vezes fosse necessário para realizá-lo. O plano era bom, em teoria, mas os estrategistas iluminados do comunopetismo se esqueceram de alguns detalhes:
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1. Dominando a estrutura inteira do Estado em vez de se contentar com o Executivo, o partido partido se transformou transformou no próprio próprio “estamento “estamento burocráti burocrático” co” que antes ele jurava combater. combater. Já expliquei isso em artigo anterior (leia aqui). 2. O apoio dos grandes grupos econômicos o descaracterizava ainda mais como “partido dos pobres” e o identificava cada vez mais com a elite privilegiada que ele dizia odiar. 3. O uso uso maciç maciçoo das prop propina inass e desvio desvioss de verbas verbas como como instrum instrument entos os de control controlee da classe classe política política tornava tornava o partido partido ainda mais cínico, cínico, egoísta egoísta e desonesto desonesto do que essa elite jamais jamais tivera a ousadia de ser. O PT tornou-se a imagem por excelência da elite criminosa e exploradora. 4. O PT havia havia sido, na década década de 90, 90, a força força mais mais ativa nas campanhas campanhas que sensibilizar sensibilizaram am o povo para o fenômeno da corrupção entre os políticos. Ele criou. Assim. a atmosfera de revolta e até a linguagem do discurso de acusação que haveriam de fazer dele próprio, no devido tempo, o mais odioso dos réus. 5. A “revolução “revolução cultural”, cultural”, a “ocupação “ocupação de espaços” espaços” e a instrumentaçã instrumentaçãoo do Estado deram ao PT os meios de fazer uma “revolução por cima”, mas o deixaram desprovido de toda base popular popular autêntica. autêntica. Ao longo dos anos, pesquisas pesquisas atrás de pesquisas demonstravam demonstravam que o povo povo brasil brasileir eiroo contin continuav uavaa acentu acentuada adamen mente te conser conservado vador, r, odiand odiandoo com todas todas as suas suas forças forças as políticas abortistas e a “ideologia de gênero” que o partido comungava gostosamente com a elite financeira e com o “proletariado intelectual” das universidades e do show business. Despro Desprovid vidas as as massas massas de todo meio de expressa expressar-se r-se na mídia mídia e de canais canais partid partidári ários os para para fazer valer a sua opinião, no coração coração do povo foi crescendo uma revolta surda, surda, inaudível inaudível nas altas altas esfera esferas, s, que mais mais cedo cedo ou mais mais tarde tarde teria teria de acabar acabar eclodi eclodindo ndo à plena plena luz do dia, dia, como de fato veio a acontecer, surpreendendo e abalando a elite petista ao ponto de despertar nela as reações mais desesperadas e semiloucas, desde a afetação grotesca de tranqu tranquili ilidad dadee olímpi olímpica ca até a fanfar fanfarron ronada ada do apelo apelo às “armas” “armas” seguido seguido de trêmulas trêmulas desculpas esfarrapadas. A convergência de todos os fatores produziu um resultado que só pessoas de inteligência precária como os nossos congressistas, os nossos cientistas políticos e os nossos analistas midiát midiático icoss não consegu conseguiri iriam am preve prever: r: quando quando a mídia mídia pressi pressiona onada da pelas pelas redes redes sociais sociais e pela pela pletora pletora de denúncias judiciais judiciais desistiu desistiu de continuar acobertando acobertando os crimes crimes do PT (voltarei (voltarei a isto em artigo próximo), próximo), a revolta contra o esquema comunopet comunopetista ista tomou as ruas, nas nas maiores manifestações de protesto de toda a nossa História e, mesmo fora dos dias de passeata, continuou se expressando por toda parte sob a forma de vaias e panelaços, obrigando os falsos ídolos a esconder-se em casa, sem poder mostrar suas caras nem mesmo nos restaurantes. As pesquisas mostram que o apoio popular ao PT é hoje de somente um por cento, já que seis dos famosos sete consideram o governo apenas “regular”, isto é, tolerável. Como é possível que um partido assim desprezado, odiado e achincalhado pela maioria 23
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ostensiva ostensiva da população população continue se achando achando no direito de governar e habilitado habilitado a salvar o país mediante desculpinhas grotescas que, à acusação de crimes, respondem com uma confissão de “erros”? Em que se funda o poder que o PT, acuado e desmoralizado, continua a desfrutar? Esse poder funda-se em apenas quatro coisas: 1. O apoio da oligarquia cúmplice. 2. A militância subsidiada, cada vez mais escassa, incapaz de mobilizar-se sem o estímulo dos sanduíches de mortadela, dos cinquenta reais e do transporte em ônibus, tudo pago com dinheiro público. 3. O apoio externo, não só do governo Obama, dos organismos internacionais e de alguns velhos partidos da esquerda europeia, mas sobretudo do Foro de São Paulo, já articulado para mover guerra ao Brasil em caso de destituição do PT. 4. Uma militância estudantil, também decrescente, que tudo fará pelas grandes causas idealísticas que a animam: drogas e camisinhas para todos, operações transex pagas pelo gove govern rno, o, ba banh nhei eiro ross unis unisse sex, x, libe liberd rdaade de fazer azer sexo sexo em públ públic icoo no camp campus us,, reconhecimento do sexo grupal como “nova modalidade de família” etc. etc. A base de apoio do PT é uma casquinha da aparência na superfície de uma sociedade em vias de explodir. O único fator que realmente mantém esse partido no poder é o temor servil com que as forças forças ditas ditas “de oposiç oposição” ão” encara encaram m uma possív possível el crise crise de governa governabil bilida idade de e, sob a desculp desculpaa da “legalid “legalidade”, ade”, e da “normalidade “normalidade democrática” democrática”,, insistem insistem em dar ao comunopetism comunopetismoo uma sobrevida sobrevida artificia artificial, l, encarregand encarregandoo a classe política política de ajudá-lo ajudá-lo a respirar respirar com aparelhos aparelhos ou pelo menos a matá-lo só aos pouquinhos, de maneira discreta e indolor. Mas que legalidade é essa? Por favor, leiam: Constituiçã Constituiçãoo Federal, Federal, Título I, Art. V, parágrafo parágrafo único: único: “Todo o poder emana emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente. ” Será Será que o “diret “diretame amente nte”” não vale vale mais? mais? Foi suprim suprimido ido?? Os repres represent entant antes es eleitos eleitos adquiriram o direito de decidir tudo por si, contra a vontade expressa do povo que os elegeu? Só eles, e não o povo, representam agora a “ordem democrática”? Senhores deputados, senadores, generais e importantões em geral: Quem meteu nas suas cabeças que a ordem constitucional é personificada só pelos representantes e não, muito acim acimaa dele deles, s, por por quem quem os eleg elegeu? eu? Pa Parem rem se ser ser hipó hipócr crit itas as:: defe defend nder er “as insti institui tuiçõ ções es”” cont contra ra o povo que as constituiu é traição. A vontade popular é clara e indisfarçável: Fora Dilma, Fora PT, Fora o Foro de São Paulo! Contra a vontade popular, a presidente, seus ministros, o Congresso inteiro e o comando das Forças Armadas Armadas não têm autoridade autoridade nenhuma. Se vocês não querem fazer a vontade vontade do povo, saiam do caminho e deixem que ele a faça por si.
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Por linhas tortas
Diário do Comércio, 30 de abril de 2015
Na vasta bibliografia sobre temas nacionais, especialmente a assinada por autores de esquerda, não há tópico mais abundantemente estudado, explorado, revirado de alto a baixo, do que “a revolução brasileira”. Perdão. É com maiúsculas: maiúsc ulas: Revolução Brasileira. Livros com esse título, ou com essa expressão no título, foram produzidos por Nelson Werneck Sodré, Franklin de Oliveira, Octávio Malta, Celso Furtado, Pessoa de Moraes, Guerreiro Ramos, Azevedo do Amaral, Jamil Almansur Haddad, Florestan Fernandes, Moisés Moisés Vinhas Vinhas,, Danton Danton Jobim, Jobim, Hélio Silva, Silva, José Maria Maria Crispi Crispim, m, Celso Celso Brant Brant e uma infinidad infinidadee de outros, sem contar contar aqueles, muito muito mais numerosos, numerosos, que trataram trataram do mesmo assunto sem ostentá-lo no título. Pode parecer estranho o interesse interesse quase obsessivo obsessivo por esse fenômeno num país que não não atravessou nenhuma experiência comparável às revoluções da França, da América, da Rússia, da Espanha ou mesmo do México, limitando-se a nossa sanha revolucionária, a escaramuças locais com derramamento de sangue relativamente modesto no ranking internacional. No entanto, entanto, a referên referência cia naqueles naqueles títulos títulos não é a nenhum nenhum episódio episódio histórico histórico em particular, particular, grande ou pequeno. “Revolução brasileira”, na acepção geral que o termo assumiu numa longa tradição de “interpretações do Brasil”, designa algo como um rio que flui, uma história inteira, um processo intermitente na superfície, contínuo no fundo. Na verdade, não houve um único grande acontecimento histórico que se pudesse chamar “Rev “R evol oluç ução ão Br Bras asil ilei eira ra”. ”. É a séri sériee inte inteir iraa dos dos pequ pequen enos os que leva leva esse esse nome nome,, desi design gnan ando do uma uma intenção, uma teleologia simbólica subjacente a todos eles: o processo pelo qual o povo, inicialmente um bando de desgarrados e escravos mantidos em obediência estrita sob o peso de uma clique de altos funcionários e senhores de terras (mais tarde banqueiros e capitães de indústria), vai aos poucos emergindo de um estado de passividade abjeta para tentar se tornar o senhor e autor da sua própria História, sempre com sucesso inferior às suas suas mais mais ambici ambiciosa osass expecta expectativ tivas, as, e por isso isso mesmo mesmo fadado fadado a repeti repetirr a tentati tentativa va de novo novo e de novo, em escala um pouco maior. Contra Contra quem se volta precisamente precisamente esse esse processo? processo? Qual a “classe dominante dominante”” que se tenta remove removerr de cima cima para para dar espaço espaço à inicia iniciativ tivaa popula popular? r? As tentat tentativa ivass de defini defini-la -la em termos termos do marx marxis ismo mo ortod ortodox oxo, o, como como “burg “burgue uesi siaa capi capita tali lista sta expl explor orad ador oraa do prol proleta etari riad ado” o”,, 26
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falharam miseravelmente, tal a míngua de proletários e burgueses num país de poucas indústrias, onde a burguesia industrial só conseguiu ela própria algum espaço quando carregada no colo pela ditadura estatista, semifascista, de Getúlio Vargas. Na verdade, os autores marxistas não conseguiram sequer entrar num acordo quanto às etapas iniciais e mais remotas do processo, anteriores à Independência, uns falando de “feudalismo”, outros de “capitalismo rural”, outros, ainda, propondo a teoria de uma form formaç ação ão soci socioe oeco conô nômi mica ca sui sui gene generi ris, s, alhe alheia ia às cate catego gori rias as usuai usuaiss do marx marxis ismo mo,, o “escravismo colonial”. Quem melhor definiu definiu o vilão da história, história, a meu ver, foi Raymundo Raymundo Faoro, Faoro, no clássico clássico Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Brasileiro (Globo, 1958; ainda prefiro a primeira edição à versão reescrita de 1974, mais volumosa). Partindo de noções obtidas em Max Weber, Faoro redefinia a índole e os objetivos da Revolução Brasileira em termos mais adequados à realidade do que qualquer marxista teria podido podido fazer no lugar dele. E eu não conseguiria conseguiria resumir sua tese com mais exatidão exatidão do que o fez Fábio Konder Comparato (leia aqui): “Par “Para a Raym Raymun undo do Faor Faoro, o, a soci socied edad adee bras brasil ilei eira ra – tal tal como como a port portug ugue uesa sa,, de rest resto o– foi tradicionalmente moldada por um estamento patrimonialista, formado, primeiro, pelos altos funcionários da Coroa, e depois pelo grupo funcional que sempre cercou o Chefe de Estado, no período republicano. Ao contrário do que se disse erroneamente em crítica crítica a essa interpreta interpretação, ção, o estamento estamento funcional governante, governante, posto em evidência evidência por Faoro, nunca correspondeu àquela burocracia moderna, organizada em carreira administrat administrativa, iva, e cujos cujos integrant integrantes es agem segund segundo o padrões padrões bem assentados assentados de legalidade legalidade e raci racion onal alid idad ade. e. Não Não se trat trata, a, pois pois,, daqu daquel elee esta estame ment nto o de func funcio ioná nári rios os públ público icoss encontrável nas situações de ‘poderio legal com quadro administrativo burocrático’ da classi classific ficação ação weberi weberiana ana,, mas de um grupo grupo estame estamenta ntall corres correspon ponden dente te ao tipo tipo tradic tradicion ional al de dominação política, em que o poder não é uma função pública, mas sim objeto de apropriação privada. ”
O livro demorou para atrair a atenção pública, mas a segunda edição apareceu como uma balsa para os náufragos numa época em que, esfaceladas as guerrilhas, a esquerda brasileira buscava caminhos para a redemocratização do país e ansiava por um discurso que não soasse demasiado comunista aos ouvidos do governo militar – um esforço cujo primeiro resultado objetivo veio com a fundação do PT em 1980. Faoro tornou-se quase espontaneamente o santo padroeiro do novo partido. Sua casa era frequentada assiduamente pelo sr. Luís Inácio Lula da Silva, que em 1989 chegou a convidá-lo, em vão, para ser candidato à vice-presidência. Vestindo a camiseta faoriana de inimigo primordial da apropriação privada dos poderes 27
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públ públic icos os,, o PT fez fez um suces sucesso so treme tremend ndoo nos nos anos anos 90, 90, como como denu denunc ncia iado dorr-mo morr da corru corrupç pção ão nas altas esferas federais e promotor de uma vasta campanha pela “ética na política”, que resulto resultou u na quase beati beatific ficaçã açãoo do seu líder líder princi principal pal (quand (quandoo Lula Lula viajav viajavaa pelas pelas áreas áreas mais mais pobres do Nordeste, doentes vinham lhe pedir que os curasse por imposição de mãos, como os reis da França). Àquela altura, o partido parecia mesmo resumir e encarnar o espírito da “Revolução Brasileira”, com toda a expectativa messiânica embutida nesse símbolo. Daí a vitória espetacular de Lula na eleição de 2002. Aconteceu – sempre acontece alguma coisa – que a liderança esquerdista em geral, e a petista em especial, não lia nem seguia só Raymundo Faoro. Faoro. Desde os anos 60-70 lia com deleitação crescente os Cadernos do Cárcere e as Cartas de Antonio Gramsci, o fundador do Partid Partidoo Comuni Comunista sta Italia Italiano no e criado criadorr da estraté estratégia gia comuni comunista sta mais mais sutil sutil e mais mais calhor calhorda da de todos os tempos: tempos: a “revolução “revolução cultural” a ser implementada implementada mediante a “ocupação “ocupação de espaços” em todos os órgãos da administração pública, da mídia, do ensino etc., para culm culmin inar ar no mome moment ntoo em que que todo todo o povo povo seri seriaa soci social alis ista ta sem sem sabe saberr e o part partid idoo se torn tornar aria ia “um poder onipresente e invisível”. Se Faoro forneceu ao PT a sua identidade aparente e a base do seu discurso “ético”, foi Gram Gramsc scii quem quem deu deu à agre agremi miaç ação ão a sua sua estr estrat atég égia ia e as suas suas táti tática cass subs substa tant ntiv ivas as.. “Gramscismo sob pretextos faorianos” é uma expressão que resume perfeitamente bem a política do PT ao longo de toda a sua existência. Nunca um partido teve tão bela oportunidade de colocar em prática uma estratégia estritamente comunista sob uma camuflagem weberiana tão insuspeita. Tudo parecia perfeito. Diante de uma plateia sonsa, a quem a sugestão de que houvesse algum comunismo nisso soava como delírio de “saudosistas da Guerra Fria”, o partido foi “ocupa “ocupando ndo espaço espaços” s” e concen concentra trando ndo poder poder até fazer fazer da admini administra stração ção federa federall inteir inteiraa – sem contar o sistema de ensino e a mídia – o instrumento servil dos seus objetivos privados. Nenh Nenhum um,, nenh nenhum um dos dos seus seus guias guias ilumi ilumina nado doss noto notou u que que era era impo impossí ssíve vell faze fazerr isso isso sem sem que que o partido se transformasse, ele próprio, no odioso e odiado “estamento burocrático”, com o formid formidáve ávell agrav agravant antee de que, que, na na ânsia ânsia de concen concentra trarr todo o poder poder em suas mãos, mãos, e sempre sempre enleado na boa consciência de servir à causa da Revolução Brasileira, passou a roubar, trap trapac acea earr e expl explor orar ar o povo povo inco incomp mpar arav avel elme ment ntee mais mais do que que todos todos os esta estame ment ntos os anteriores. Faoro morreu em em maio de 2003, 2003, quatro quatro meses meses depois depois de Lula Lula tomar posse no seu prim primei eiro ro man manda dato, to, e não não teve teve temp tempoo de medi medita tar, r, nem nem muito muito meno menoss de aler alerta tarr o PT, PT, quan quanto to ao desastre que a síntese artificiosa e perversa, o “faorogramscismo”, anunciava como 28
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desenvolvimento fatal do processo. Inevit Inevitave avelme lmente nte,, os papéis papéis se invert invertera eram: m: transm transmutad utadoo por obra do gramsci gramscismo smo na encarnação máxima e mais cínica do “tipo tradicional de dominação política, em que o poder não é uma função pública, mas sim objeto de apropriação privada”, o PT, quando por fim a população em massa se voltou contra ele, revoltada ante os maiores escândalos financeiros de todos os tempos, no fundo dos quais ela enxergava ainda que vagamente a prem premed edit itaç ação ão grams gramsci cian ana, a, viu-s viu-see perd perdid ido, o, deso desori rien enta tado do,, atôn atônit ito, o, seus seus líde lídere ress ora escondendo-se no palácio como aristocratas assustados na Paris de 1789, ora tentando camuflar o medo mediante bravatas truculentas de um ridículo sem par. Sim, a Revolução Brasileira está nas ruas. É ela, e não outro personagem qualquer. E veio com mais força do que nunca, brotando da pura espontaneidade popular, quase sem líderes (ou com tantos que se diluem uns aos outros), sem dinheiro, sem respaldo em partido partidoss – o povo contra contra o “estam “estament entoo burocrá burocrátic tico”. o”. Como Como diria diria o própri próprioo alvo alvo supremo supremo da ira popular, “nunca ânftef na iftória dêfte paíf” esse povo demonstrou vontade tão firme e inabalável de ser seu próprio mentor e guia, de criar sua própria História, de mandar às favas favas todos todos os impor importan tantõe tõess e de calar calar de vez as as bocas bocas dos mentir mentirosos osos.. A começar começar pelas pelas da sra. Rousseff e do sr. Lula. Quem mandou mandou o PT confia confiarr nas falsas falsas espertezas espertezas do gramscismo? gramscismo? Deus realmente realmente escreve escreve direito por linhas tortas
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A mentalidade revolucionária Diário do Comércio, 16 de agosto de 2007
Desd Desdee que que se espa espalh lhou ou por por aí que que esto estou u escr escrev even endo do um livr livroo cham chamad adoo “A Ment Mentee Revolucionária”, tenho recebido muitos pedidos de uma explicação prévia quanto ao fenômeno designado nesse título. A mente revolucionária é um fenômeno histórico perfeitamente identificável e contínuo, cujos desenvolvimentos ao longo de cinco séculos podem ser rastreados numa infinidade de documentos. Esse é o assunto da investigação que me ocupa desde há alguns anos. “Livro” não é talvez a expressão certa, porque tenho apresentado alguns resultados desse estudo em aulas, conferências e artigos e já nem sei se algum dia terei forças para reduzir esse material enorme a um formato formato impresso impresso identificáve identificável. l. “A mente revolucionária revolucionária”” é o nome nome do assun assunto to e não nece necessa ssari riam amen ente te de um livro livro,, ou dois dois,, ou três. três. Nunc Nuncaa me preo preocu cupe peii muito com com a formatação formatação editoria editoriall daquilo daquilo que tenho tenho a dizer. dizer. Investigo Investigo os assuntos assuntos que me intere interessam ssam e, e, quando quando chego chego a algumas algumas conclu conclusões sões que me parece parecem m razoáve razoáveis, is, transm transmito ito-as -as oralmente ou por escrito conforme as oportunidades se apresentam. Transformar isso em “livros” é uma chatice que, se eu pudesse, deixaria por conta de um assistente. Como não tenho nenhum assistente, vou adiando esse trabalho enquanto posso. A mente revolucionária não é um fenômeno essencialmente político, mas espiritual e psic psicol ológ ógic ico, o, se bem bem que que seu seu camp campoo de expr expres essã sãoo mais mais visí visíve vell e seu seu instr instrume ument ntoo fundamental seja a ação política. Para faci Para facili lita tarr as cois coisas as,, uso uso as expr expres essõe sõess “men “mente te revo revolu luci cion onár ária ia”” e “menta “mentali lida dade de revolucioná revolucionária” ria” para distingui distinguirr entre o fenômeno fenômeno histórico histórico concreto concreto,, com toda a variedade variedade das suas manifesta manifestações, ções, e a característ característica ica essencial essencial e permanente permanente que permite permite apreender apreender a sua unidade ao longo do tempo. “Mentalidade revolucionária” é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao “tribunal da História”. Mas o tribunal da História é, por definição, a própria sociedade futura que esse indivíduo ou grupo diz representar no presente; e, como essa sociedade não pode testemunhar ou julgar senão atra atravé véss desse desse seu mesmo mesmo repres represen entan tante, te, é clar claroo que este este se torna torna assim assim não não apen apenas as o únic únicoo juiz soberano de seus próprios atos, mas o juiz de toda a humanidade, passada, presente ou 30
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futura futura.. Habili Habilitado tado a acusar acusar e conden condenar ar todas todas as leis, leis, instit instituiç uições, ões, crenças, crenças, valore valores, s, cost costum umes es,, açõe açõess e obra obrass de toda todass as époc épocas as sem sem pode poderr ser ser por por sua sua vez vez julg julgad adoo por por nenh nenhum umaa delas, ele está tão acima da humanidade histórica que não é inexato chamá-lo de Super-Homem. Autoglorificação do Super-Homem, a mentalidade revolucionária é totalitária e genocida em si, independentemente dos conteúdos ideológicos de que se preencha em diferentes circunstâncias e ocasiões. Recusando-se Recusando-se a prestar prestar satisfações satisfações senão a um futuro hipotético hipotético de sua própria própria invenção invenção e firmemente disposto a destruir pela astúcia ou pela força todo obstáculo que se oponha à remoldagem do mundo à sua própria imagem e semelhança, o revolucionário é o inimigo máximo da espécie humana, perto do qual os tiranos e conquistadores da antigüidade impressionam pela modéstia das suas pretensões e por uma notável circunspecção no emprego dos meios. O advento do revolucionário ao primeiro plano do cenário histórico – fenômeno que começa a perfilar-se por volta do século XV e se manifesta com toda a clareza no fim do século XVIII – inaugura a era do totalitarismo, das guerras mundiais e do genocídio perma permane nent nte. e. Ao long longoo de dois dois sécu século los, s, os movi movime ment ntos os revo revoluc lucio ioná nári rios os,, as guerr guerras as empreendida empreendidass por por eles eles e o morticín morticínio io de populaç populações ões civis necessário necessário à consolidação consolidação do seu poder mataram muito mais gente do que a totalidade dos conflitos bélicos, epidemias terremotos e catástrofes naturais de qualquer espécie desde o início da história do mundo. O movimento revolucionário é o flagelo maior que já se abateu sobre a espécie humana desde o seu advento sobre a Terra. A expansão da violência genocida e a imposição de restrições cada vez mais sufocantes à liberdade humana acompanhampari passu a disseminação da mentalidade revolucionária entre faixas cada vez mais amplas da população, pela qual massas inteiras se imbuem do papel de juízes vingadores nomeados pelo tribunal do futuro e concedem a si próprios o dire direit itoo à prát prátic icaa de crim crimes es imen imensu sura rave velm lmen ente te maio maiore ress do que que todo todoss aq aque uele less que que a promessa revolucionária alega extirpar. Mesmo se não levarmos em conta as matanças deliberadas e considerarmos apenas a perfor performan mance ce revolu revolucio cionár nária ia desde desde o ponto ponto de vista vista econômi econômico, co, nenhum nenhumaa outra outra causa causa social social ou natural criou jamais jamais tanta miséria miséria e provocou tantas mortes mortes por desnutrição quanto os regimes revolucionários da Rússia, da China e de vários países africanos. Qualquer que venha a ser o futuro da espécie humana e quaisquer que sejam as nossas concepç concepções ões pessoa pessoais is a respeit respeito, o, a mental mentalida idade de revolu revolucio cionár nária ia tem de ser extirp extirpada ada radicalmente radicalmente do repertório das possibilidades possibilidades sociais e culturais admissíveis admissíveis antes que, de tanto forçar o nascimento de um mundo supostamente melhor, ela venha a fazer dele um 31
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gigantesco aborto e do trajeto milenar da espécie humana sobre a Terra uma história sem sentido coroada por um final sangrento. Embora as distintas ideologias revolucionárias sejam todas, em maior ou menor medida, ameaçadoras ameaçadoras e daninhas, daninhas, o mal delas não reside tanto no seu conteúdo específi específico co ou nas estr estrat atég égia iass de que que se serv servem em para para real realiz izáá-lo lo,, quan quanto to no fato fato mesm mesmoo de sere serem m revolucionárias no sentido aqui definido. O socialismo e o nazismo são revolucionários não porque propõem respectivamente o predomínio de uma classe ou de uma raça, mas porque fazem dessas bandeiras os princípios de uma remodelagem radical não só da ordem política, mas de toda a vida humana. Os malefícios que prenunciam se tornam universalmente ameaçadores porque não não se apre aprese sent ntam am como como resp respos osta tass loca locais is a situ situaç açõe õess mome moment ntân ânea eas, s, mas mas como como mandamentos mandamentos univers universais ais imbuídos imbuídos da autorid autoridade ade de refazer refazer o mundo mundo segundo segundo o molde de uma uma hipo hipoté téti tica ca perfei perfeiçã çãoo futur futura. a. A Ku-Kl Ku-Klux ux-K -Kla lan n é tão raci racist staa quan quanto to o nazi nazism smo, o, mas mas não não é revolucionária porque não tem nenhum projeto de alcance mundial. Por essa razão seria ridículo ridículo compará-la, compará-la, em periculosida periculosidade, de, ao movimento movimento nazista. nazista. Ela é um problema problema policial policial puro e simples. Por isso isso mesmo é preciso preciso enfati enfatizar zar que o sentido sentido aqui aqui atribuído atribuído ao termo “revolução” “revolução” é ao mesmo mesmo temp tempoo mais mais amp amplo lo e mais mais preci preciso so do que que a pala palavra vra tem em gera gerall na histo histori riog ogra rafi fiaa e nas ciênci ciências as sociai sociaiss presen presentem tement entee existen existentes tes.. Muitos Muitos proces processos sos sóciosócio-pol políti íticos cos usualme usualmente nte denominados “revoluções” não são “revolucionários” de fato, porque não participam da mentalidade revolucionária, não visam à remodelagem integral da sociedade, da cultura e da espécie humana, mas se destinam unicamente à modificação de situações locais e moment momentâne âneas, as, idealm idealment entee para para melhor melhor.. Não é necess necessari ariame amente nte revoluc revolucion ionári ária, a, por exemplo, a rebelião política destinada apenas a romper os laços entre um país e outro. Nem Nem é revo revolu luci cion onár ária ia a simp simple less derr derruba ubada da de um regi regime me tirâ tirâni nico co com com o obje objeti tivo vo de nive nivela larr uma uma naçã naçãoo às libe liberda rdade dess já desf desfru ruta tada dass pelo peloss povo povoss em torno torno.. Mesm Mesmoo que que esse essess empreendimentos empreguem recursos bélicos de larga escala e provoquem modificações espetaculares, não são revoluções, porque nada ambicionam senão à correção de males imediatos ou mesmo o retorno a uma situação anterior perdida. O que caracteriza inconfundivelmente o movimento revolucionário é que sobrepõe a autoridade de um futuro hipotético ao julgamento de toda a espécie humana, presente ou passada. A revolução é, por sua própria natureza, totalitária e universalmente expansiva: não não há aspe aspecto cto da vida vida huma humana na que que ela ela não não prete pretend ndaa subm submet eter er ao seu pode poder, r, não não há regi região ão do globo a que ela não pretenda estender os tentáculos da sua influência. Se, nesse sentido, vários movimentos político-militares de vPor que ainda há quem siga a Teologia Teologia da Libertação? Libertação? Aparentemente Aparentemente nenhuma nenhuma pessoa razoável razoável deveria fazer isso. Do ponto ponto de vista teológ teológico ico,, a doutrin doutrinaa que o peruan peruanoo Gustavo Gustavo Gutierrez Gutierrez e o brasileir brasileiroo 32
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Leonardo Leonardo Boff espalharam espalharam pelo mundo já foi demolida demolida em 1984 pelo então cardeal cardeal Joseph Ratzinger Ratzinger (“Liberation (“Liberation Theology”, 1984), dois anos depois depois de condenada condenada pelo Papa Papa João Paulo II (v. Quentin L. Quade, ed., The Pope and Revolution: John Paul II Confronts Liberation Liberation Theology. Theology. Washin Washington, gton, D.C., D.C., Ethics Ethics and Public Public Policy Policy Center, Center, 1982). Em 1994 o teólogo Edward Lynch afirmava que ela já tinha se reduzido a uma mera curiosidade intelectual intelectual (“The retreat of Liberation Theology”, Theology”, The Homiletic Homiletic & Pastoral Pastoral Review). Em 1996 o historiador espanhol Ricardo de la Cierva, que ninguém diria mal informado, dava dava-a -a por por mort mortaa e ente enterr rrad adaa (v. (v. La Hoz Hoz y la Cruz Cruz.. Auge Auge y Caíd Caídaa del del Marx Marxis ismo mo y la Teol Teolog ogía ía de la Liberación, Toledo, Fénix, 1996.) Uma déca década da e meia meia depoi depois, s, ela ela é pratic praticame amente nte doutri doutrina na oficia oficiall em doze doze países países da Améric Américaa Latina. Que foi que aconteceu? Tal é a pergunta que me faz um grupo de eminentes católicos americanos e que, com certeza, interessa também aos leitores brasileiros. Para respondê-la é preciso analisar a questão sob três ângulos: (1) A TL é uma doutrina católica influenciada por idéias marxistas ou é apenas um ardil comunista camuflado em linguagem católica? (2) Como se articulam entre si a TL enquanto discurso teórico e a TL enquanto organização política militante? (3) (3) Resp Respon ondi dida dass essa essass duas duas pergu pergunt ntas as pode pode-s -see entã entãoo apre apreen ende derr a TL como como fenô fenôme meno no prec precis isoo e descr descrev ever er a espe especi cial al forma forma ment mentis is dos dos seus seus teór teóric icos os por por meio meio da anál anális isee esti estilí lísti stica ca dos seus escritos. À primeira pergunta tanto o prof. Lynch quanto o cardeal Ratzinger, bem como inumeráveis outros autores católicos (por exemplo, Hubert Lepargneur, A Teologia da Libert Libertaçã ação. o. Uma Avalia Avaliação ção,, São Paulo, Paulo, Convív Convívio, io, 1979, 1979, ou Sobral Sobral Pinto, Pinto, Teolog Teologia ia da Libertação. O Materialismo Marxista na Teologia Espiritualista, Rio, Lidador, 1984), dão respostas notavelmente uniformes: partindo do princípio de que a TL se apresenta como doutri doutrina na católic católica, a, passam passam a examin examiná-l á-laa sob esse esse aspecto aspecto,, louvand louvandoo suas suas possív possíveis eis intenç intenções ões justiceiras e humanitárias mas concluindo que, em essência, ela é incompatível com a doutri doutrina na tradicio tradicional nal da Igreja, Igreja, e portant portantoo herética herética em sentid sentidoo estrito estrito.. Acresce Acrescenta ntam m a isso isso a denúncia de algumas contradições internas e a crítica das suas popostas sociais fundadas numa arqui desmoralizada economia marxista. Daí partem para decretar a sua morte, assegurando, nos termos do prof. Lynch, que “Embora ainda seja atraente para muitos estudiosos americanos e europeus, ela falhou naquilo que os liberacionistas sempre disseram ser a sua missão principal, a completa renovação do catolicismo latino-americano”.
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Todo Todo discur discurso so ideológi ideológico co revolucio revolucionár nário io pode ser compree compreendi ndido do em pelo pelo menos menos três níveis níveis de sign signif ific icad ado, o, que que é prec precis isoo prim primei eiro ro disti disting ngui uirr pela pela anál anális isee e depoi depoiss rear rearti ticul cular ar hierarquicamente conforme algum desses níveis se revele o mais decisivo na situação política concreta, subordinando os demais. O primeiro é o nível descritivo, no qual ele apresenta um disgnóstico, descrição ou explicação da realidade ou uma interpretação de alguma doutrina anterior. Neste nível o discur discurso so pode ser ser julgado julgado pela sua sua veraci veracidad dade, e, adequa adequação ção ou fideli fidelidad dade, e, seja seja aos fatos, fatos, seja seja ao estado dos conhecimentos disponíveis, disponíveis, seja à doutrina considerada. Quando o discurso traz uma proposta definida de ação, pode ser julgado pela viabilidade ou conveniência dessa ação. O segundo é o da autodefinição ideológica, em que o teórico ou doutrinador expressa os símbol símbolos os nos nos quai quaiss o grup grupoo intere interessad ssadoo se reconh reconhece ece e pelo pelo qual qual ele distin distingue gue os de dentro dentro e os de fora, os amigos e os inimigos. Neste nível ele pode ser julgado pela sua eficácia psicológica ou correspondência com as expectativas e anseios da platéia. O terceiro é o da desinformação estratégica, que fornece falsas pistas para desorientar o adversário e desviar antecipadamente qualquer tentativa de bloquear a ação proposta ou de neutralizar outros efeitos visados pelo discurso. No primeiro nível, o discurso dirige-se idealmente ao observador neutro, cuja adesão pretende pretende ganhar pela persuasão. persuasão. No segundo, segundo, ao ao adepto adepto ou militante militante atual ou virtual, virtual, para reforçar sua adesão ao grupo e obter dele o máximo de colaboração possível. No terceiro, dirige-se ao adversário, ou alvo da operação. Prat Pratic icam amen ente te todas todas as críti crítica cass de inte intele lectu ctuai aiss cató católi lico coss à Teolo Teologi giaa da Libe Libert rtaç ação ão limita limitaram ram-se -se a examin examiná-l á-laa no primei primeiro ro nível. nível. Desmora Desmoraliz lizara aram-n m-naa intele intelectua ctualme lmente nte,, prov provar aram am o seu seu cará caráter ter de here heresi siaa e assi assina nala lara ram m nela nela os velh velhos os víci vícios os que que torna tornam m invi inviáv ável el e destrutiva toda proposta de remodelagem socialista da sociedade. Se os ment mentore oress da TL foss fossem em catól católic icos os sinc sincera erame ment ntee empe empenh nhad ados os em “ren “renov ovar ar o catolicismo latino-americano”, ainda que por meios contaminados de ideologia marxista, isso teria bastado para desativá-la por completo. Uma vez que esse tipo de análise crítica saiu das meras discussões intelectuais para tornar-se palavra oficial da Igreja, com o estudo do Cardeal Cardeal Ratzinge Ratzingerr em 1984, 1984, a TL podia podia considerar-s considerar-se, e, sob esse ângulo, ângulo, extinta extinta e superada. Leiam agora este depoimento do general Ion Mihai Pacepa, o oficial de mais alta patente da KGB KGB que que já dese deserto rtou u para para o Ocid Ociden ente, te, e come começa çarã rãoo a ente entend nder er por por que a desmo desmora rali lizaç zação ão intele intelectua ctuall e teológi teológica ca não foi sufici suficient entee para para dar cabo cabo da TL (“Kremli (“Kremlin’s n’s religio religious us Crus Crusad ade” e”,, em Fron Frontp tpag agee Maga Magazi zine ne,, junh junhoo de 2009 2009,L ,Lim ima: a: Cent Centro ro de Estu Estudi dios os y Publicaciones). Em 1959, como chefe da espionagem romena na Alemanha Ocidental, o 34
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gene genera rall Pa Pacep cepaa ouvi ouviu u da próp própri riaa boca boca de Niki Nikita ta Krusc Krusche hev: v: “Usa “Usare remo moss Cuba Cuba como como trampolim para lançar uma religião concebida pela KGB na América Latina.” O depoimento prossegue: “Khr “Khrush ushche chevv nome nomeou ou ‘Teo ‘Teolo logi giaa da Libe Libert rtaç ação ão’’ a nova nova relig religiã iãoo cria criada da pela pela KGB. KGB. A inclinação inclinação dela para para a ‘liberta ‘libertação’ ção’ foi foi herdada herdada da KGB, que mais tarde criou a Organização Organização para a ‘Libertação’ da Palestina (OLP), o Exército de ‘Libertação’ Nacional da Colômbia (ELN), (ELN), e o Exército Exército de ‘Libertação ‘Libertação’’ Nacional Nacional da Bolívia. Bolívia. A Romênia Romênia era um país país latino, e Khrushchev Khrushchev queria nossa “visão latina” latina” sobre sobre sua nova guerra de “libertação” “libertação” religiosa. religiosa. Ele tamb também ém nos nos quer queria ia para para envi enviar ar algun algunss padr padres es que eram eram coop coopta tador dores es ou agen agente tess disfarçados para a América Latina – queria ver como “nós” poderíamos tornar palatável para aquela parte do mundo a sua nova Teologia da Libertação. “Naq “Naque uele le mome moment ntoo a KGB KGB esta estava va cons constr trui uind ndoo uma uma nova nova orga organi niza zaçã çãoo reli religi gios osaa internacional em Praga, chamada “Christian Peace Conference” (CPC), cujo objetivo seria espalhar a Teologia da Libertação pela América Latina. “Em 1968 “Em 1968,, o CPC CPC – cria criado do pela pela KGB KGB – foi foi capa capazz de diri dirigi girr um grupo grupo de bisp bispos os esquer esquerdi dist stas as sul-am sul-ameri erican canos os na realiz realizaçã açãoo de uma Confer Conferênc ência ia de Bispos Bispos Latino Latino-am -ameri erican canos os em Medellín, na Colômbia. O propósito oficial da Conferência era superar a pobreza. O objetivo não declarado foi reconhecer um novo movimento religioso, que encorajasse o pobre a se rebelar contra a ‘violência da pobreza institucionalizada’, e recomendá-lo ao Consel Conselho ho Mundial Mundial de Igrejas Igrejas para aprovaçã aprovaçãoo oficial. oficial. A Confer Conferênc ência ia de Medell Medellín ín fez as duas coisas. Também engoliu o nome de batismo dado pela KGB: ‘Teologia da Libertação.’” Ou seja, seja, em suas linha linhass essencia essenciais, is, a idéia idéia da TL veio pront prontaa de Moscou Moscou três anos anos antes antes de que o jesuíta peruano Gustavo Gutierrez, com o livro Teología de la Liberación (Lima, Centro de Estudios y Publicaciones, 1971), se apresentasse como seu inventor original, decert decertoo com a aprovação aprovação de seus verdadei verdadeiros ros criador criadores, es, que não tinham tinham o menor menor intere interesse sse num reconhecimento público de paternidade. O tutor da criança, Leonardo Boff, entraria em cena ainda mais tarde, não antes de 1977. Até hoje as fontes populares, como por exem exempl ploo a Wiki Wikipe pedi dia, a, repete repetem m como como papa papaga gaio ioss ades adestr trad ados os que que o Pe. Pe. Guti Gutier erre rezz foi foi mesm mesmoo o gerador da coisa e o sr. Boff seu segundo pai.astas proporções devem ser excluídos do conceito conceito de “revolução”, “revolução”, devem ser incluídos incluídos nele, em contrapartid contrapartida, a, vários movimentos aparentemente pacíficos e de natureza puramente intelectual e cultural, cuja evolução no temp tempoo os leve leve a cons consti titu tuir ir-s -see em pode podere ress polí políti tico coss com com pret preten ensõ sõees de impor mpor universalmente novos padrões de pensamento pensamento e conduta por meios burocráticos, judiciais e policiais. A rebelião húngara de 1956 ou a derrubada do presidente brasileiro João Goul Goular art, t, ness nessee sent sentid ido, o, não não fora foram m revo revolu luçõ ções es de mane maneir iraa algu alguma ma.. Nem Nem o foi foi a independên independência cia americana, americana, um caso especial que terei de explicar num outro artigo. Mas sem dúvida são movimentos revolucionários o darwinismo e o conjunto de fenômenos 35
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pseudo pseudo-re -relig ligios iosos os conhec conhecido ido como Nova Nova Era. Era. Todas Todas essas essas distin distinçõe çõess terão terão de ser explic explicada adass depois em separado e estão sendo citadas aqui só a título de amostra. *** Entre outras confusões que este estudo desfaz está aquela que reina nos conceitos de “esquerda”e “esquerda”e “direita”. “direita”. Essa confusão confusão nasce nasce do fato fato de que essa essa dupla de vocábulos vocábulos é usada por sua vez para designar duas ordens de fenômenos totalmente distintos. De um lado, a esquerda é a revolução em geral, e a direita a contra-revolução. Não parecia haver dúvida quanto a isso no tempo em que os termos eram usados para designar as duas alas dos Estados Estados Gerais. Gerais. A evolução evolução dos aconteci acontecimentos, mentos, porém, fez com que o próprio próprio movimento movimento revolucionário se apropriasse dos dois termos, passando a usá-los para designar suas subdiv subdivisõ isões es intern internas. as. Os girondi girondinos nos,, que estava estavam m à esquerd esquerdaa do rei, rei, tornara tornaram-s m-see a “direita” da revolução, na mesma medida em que, decapitado o rei, os adeptos do antigo regime foram excluídos da vida pública e já não tinham direito a uma denominação política própria. Esta retração do “direitismo” admissível, mediante a atribuição do rótulo de “direi “direita” ta” a uma uma das das alas alas da própri própriaa esquer esquerda, da, tornou tornou-se -se depois depois um mecani mecanismo smo rotine rotineiro iro do processo processo revolucionár revolucionário. io. Ao mesmo tempo, remanescentes remanescentes contra-revolu contra-revolucioná cionários rios genu genuín ínos os fora foram m freq freqüen üentem temen ente te obri obriga gado doss a alia aliar-s r-see à “dir “direi eita” ta”re revo volu luci cion onár ária ia e a confundir-se com ela para poder conservar alguns meios de ação no quadro criado pela vitória da revolução. Para complicar mais as coisas, uma vez excluída a contra-revolução do repertório das idéias politicamente admissíveis, o ressentimento contra-revolucionário continuou existindo como fenômeno psico-social, e muitas vezes foi usado pela esquerda revolucioná revolucionária ria como pretexto e apelo retórico para conquistar conquistar para a sua causa faixas faixas de população arraigadamente conservadoras e tradicionalistas, revoltadas contra a “direita” revolucioná revolucionária ria imperante imperante no momento. momento. O apelo do MST à nostalgia nostalgia agrária agrária ou a retórica pseu pseudo do-t -tra radi dici cion onal alis ista ta adot adotad adaa aq aqui ui e ali ali pelo pelo fasc fascis ismo mo faze fazem m esqu esquec ecer er a índol índolee estritamente revolucionária desses movimentos. O próprio Mao Dzedong foi tomado, durant durantee algum algum tempo, tempo, como como um reform reformado adorr agrário agrário tradici tradiciona onalis lista. ta. Também Também não é precis precisoo dizer que, nas disputas internas do movimento revolucionário, as facções em luta com freqüência freqüência se acusam mutuamente mutuamente de “direitistas” “direitistas” (ou “reacionária “reacionárias”). s”). À retórica retórica nazista nazista que professava destruir ao mesmo tempo “a reação” e “o comunismo” correspondeu, no lado lado comuni comunista sta,, o duplo duplo e sucessi sucessivo vo discurs discursoo que primeiro primeiro tratou tratou os nazist nazistas as como como revolucioná revolucionários rios primitivos primitivos e anárquicos anárquicos e depois depois como adeptos da “reação” “reação” empenhados empenhados em “salvar o capitalismo” contra a revolução proletária. Os termos “esquerda” e “direita” só têm sentido objetivo quando usados na sua acepção originária de revolução e contra-revolução respectivamente. Todas as outras combinações e significados são arranjos ocasionais que não têm alcance descritivo mas apenas uma
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utilidade oportunística como símbolos da unidade de um movimento político e signos demonizadores de seus objetos de ódio. Nos EUA, o termo “direita” é usado ao mesmo tempo para designar os conservadores em sentido sentido estrit estrito, o, contra contra-re -revolu volucio cionár nários ios até à medula, medula, e os globali globalista stass republ republica icanos nos,, “direi “direita” ta” da revolução mundial. Mas a confusão existente no Brasil é muito pior, onde a direita contra-revolucionária não tem nenhuma existência política e o nome que a designa é usado, pelo partido governante, para nomear qualquer oposição que lhe venha desde dentro mesmo dos partidos de esquerda, ao passo que a oposição de esquerda o emprega para rotular o próprio partido governante. Para Para mim está claro claro que só se pode pode devolve devolverr a esses esses termos termos algum algum valor valor descrit descritivo ivo objeti objetivo vo toma tomand ndoo como como linh linhaa de dema demarca rcaçã çãoo o movi movime ment ntoo revo revoluc lucio ioná nári rioo como como um todo todo e opondo-lhe opondo-lhe a direita contra-revoluc contra-revolucionár ionária, ia, mesmo onde esta não tenha expressão expressão política política e seja apenas um fenômeno cultural. A essência da mentalidade contra-revolucionária ou conservadora é a aversão a qualquer projeto de transformação abrangente, a recusa obstinada de intervir na sociedade como um todo, o respeito quase religioso pelos processos sociais regionais, espontâneos e de longo prazo, a negação de toda autoridade aos porta-vozes do futuro hipotético. Nesse sentido, o autor destas linhas é estritamente conservador. Entre outros motivos, porque acredita que só o ponto de vista conservador conservador pode pode fornecer fornecer uma visão realista realista do processo histórico, já que se baseia na experiência do passado e não em conjeturações de futuro. Toda historiografia revolucionária é fraudulenta na base, porque interpreta e distor distorce ce o passa passado do segun segundo do o molde molde de de um futuro futuro hipoté hipotético tico e aliás aliás indefi indefinív nível. el. Não é uma coinci coincidên dência cia que os maiore maioress histori historiado adores res de todas todas as épocas épocas tenham tenham sido sido sempre sempre conservadores. Se, considerada em si mesma e nos valores que defende, a mentalidade contra-revolucionária deve ser chamada propriamente “conservadora”, é evidente que, do ponto de vista das suas relações com o inimigo, ela é estritamente “reacionária”. Ser reacionário reacionário é reagir reagir da maneir maneiraa mais mais intransigente intransigente e hostil à ambição ambição diabólica diabólica de mandar no mundo.
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Um cadáver no poder (I) Diário do Comércio, 15 de janeiro de 2015
Por que ainda há quem siga a Teologia da Libertação? Aparentemente nenhuma pessoa razoáv razoável el deveria deveria fazer fazer isso. isso. Do ponto ponto de vista teológi teológico, co, a doutrin doutrinaa que o peruan peruanoo Gustavo Gustavo Gutierrez e o brasileiro Leonardo Boff espalharam pelo mundo já foi demolida em 1984 pelo então cardeal Joseph Ratzinger (“ Liberation Theology”, 1984), dois anos depois depois de condenada pelo Papa João Paulo II (v. Quentin L. Quade, ed., The Pope and Revolution: John Paul II Confronts Liberation Theology. Washington, D.C., Ethics and Public Policy Center, Center, 1982). Em 1994 o teólogo Edward Lynch afirmava que ela já tinha se reduzido reduzido a uma mera curiosidade intelectual (“ The retreat of Liberation Theology”, The Homiletic & Pastora Pastorall Review). Review). Em 1996 o histor historiad iador or espanhol espanhol Ricard Ricardoo de la Cierva Cierva,, que ningué ninguém m diria diria mal informado, dava-a por morta e enterrada (v. La Hoz y la Cruz. Auge y Caída del Marxismo y la Teología de la Liberación, Toledo, Fénix, 1996.) Uma déca década da e meia meia depoi depois, s, ela ela é pratic praticame amente nte doutri doutrina na oficia oficiall em doze doze países países da Améric Américaa Latina. Que foi que aconteceu? Tal é a pergunta que me faz um grupo de eminentes católicos americanos e que, com certeza, interessa também aos leitores brasileiros. Para respondê-la é preciso analisar a questão sob três ângulos: (1) A TL é uma doutrina católica influenciada por idéias marxistas ou é apenas um ardil comunista camuflado em linguagem católica? (2) (2) Como Como se arti articul culam am entre entre si a TL enqu enquan anto to discu discurs rsoo teór teóric icoo e a TL enqu enquan anto to orga organi niza zaçã çãoo política militante? (3) Respondidas essas duas perguntas pode-se então apreender a TL como fenômeno prec precis isoo e descr descrev ever er a espe especi cial al forma forma ment mentis is dos dos seus seus teór teóric icos os por por meio meio da anál anális isee esti estilí lísti stica ca dos seus escritos. À primeira pergunta tanto o prof. Lynch quanto o cardeal Ratzinger, bem como inumeráveis outros autores católicos (por exemplo, Hubert Lepargneur, A Teologia da Libertação. Uma Avaliação, São Paulo, Convívio, 1979, ou Sobral Pinto, Teologia da Rio, Lida Lidado dor, r, 1984 1984), ), dão dão Libertação. O Materialismo Marxista na Teologia Espiritualista, Rio, respostas notavelmente uniformes: partindo do princípio de que a TL se apresenta como doutri doutrina na católic católica, a, passam passam a examin examiná-l á-laa sob esse esse aspecto aspecto,, louvand louvandoo suas suas possív possíveis eis intenç intenções ões justiceiras e humanitárias mas concluindo que, em essência, ela é incompatível com a doutri doutrina na tradicio tradicional nal da Igreja, Igreja, e portant portantoo herética herética em sentid sentidoo estrito estrito.. Acresce Acrescenta ntam m a isso isso a denúncia de algumas contradições internas e a crítica das suas popostas sociais fundadas numa arqui desmoralizada economia marxista. Daí partem para decretar a sua morte, assegurando, nos termos do prof. Lynch, que “Embora ainda seja atraente para muitos estudiosos americanos e europeus, ela falhou naquilo que os liberacionistas sempre disseram ser a sua missão principal, a completa renovação do catolicismo latino-americano”. Todo Todo discur discurso so ideológi ideológico co revolucio revolucionár nário io pode ser compree compreendi ndido do em pelo pelo menos menos três níveis níveis de sign signif ific icad ado, o, que que é prec precis isoo prim primei eiro ro disti disting ngui uirr pela pela anál anális isee e depoi depoiss rear rearti ticul cular ar hierarquicamente conforme algum desses níveis se revele o mais decisivo na situação política concreta, subordinando os demais. O primeiro é o nível descritivo, no qual ele apresenta um disgnóstico, descrição ou explicação da realidade ou uma interpretação de alguma doutrina anterior. Neste nível o 38
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discur discurso so pode ser ser julgado julgado pela sua sua veraci veracidad dade, e, adequa adequação ção ou fideli fidelidad dade, e, seja seja aos fatos, fatos, seja seja ao estado dos conhecimentos disponíveis, disponíveis, seja à doutrina considerada. Quando o discurso traz uma proposta definida de ação, pode ser julgado pela viabilidade ou conveniência dessa ação. O segundo é o da autodefinição ideológica, em que o teórico ou doutrinador expressa os símbol símbolos os nos nos quai quaiss o grup grupoo intere interessad ssadoo se reconh reconhece ece e pelo pelo qual qual ele distin distingue gue os de dentro dentro e os de fora, os amigos e os inimigos. Neste nível ele pode ser julgado pela sua eficácia psicológica ou correspondência com as expectativas e anseios da platéia. O terceiro é o da desinformação estratégica, que fornece falsas pistas para desorientar o adversário e desviar antecipadamente qualquer tentativa de bloquear a ação proposta ou de neutralizar outros efeitos visados pelo discurso. No primeiro nível, o discurso dirige-se idealmente ao observador neutro, cuja adesão pretende pretende ganhar pela persuasão. persuasão. No segundo, segundo, ao ao adepto adepto ou militante militante atual ou virtual, virtual, para reforçar sua adesão ao grupo e obter dele o máximo de colaboração possível. No terceiro, dirige-se ao adversário, ou alvo da operação. Prat Pratic icam amen ente te todas todas as críti crítica cass de inte intele lectu ctuai aiss cató católi lico coss à Teolo Teologi giaa da Libe Libert rtaç ação ão limita limitaram ram-se -se a examin examiná-l á-laa no primei primeiro ro nível. nível. Desmora Desmoraliz lizara aram-n m-naa intele intelectua ctualme lmente nte,, prov provar aram am o seu seu cará caráter ter de here heresi siaa e assi assina nala lara ram m nela nela os velh velhos os víci vícios os que que torna tornam m invi inviáv ável el e destrutiva toda proposta de remodelagem socialista da sociedade. Se os ment mentore oress da TL foss fossem em catól católic icos os sinc sincera erame ment ntee empe empenh nhad ados os em “ren “renov ovar ar o catolicismo latino-americano”, ainda que por meios contaminados de ideologia marxista, isso teria bastado para desativá-la por completo. Uma vez que esse tipo de análise crítica saiu das meras discussões intelectuais para tornar-se palavra oficial da Igreja, com o estudo do Cardeal Cardeal Ratzinge Ratzingerr em 1984, 1984, a TL podia podia considerar-s considerar-se, e, sob esse ângulo, ângulo, extinta extinta e superada. Leiam agora este depoimento do general Ion Mihai Pacepa, o oficial de mais alta patente da KGB KGB que que já dese deserto rtou u para para o Ocid Ociden ente, te, e come começa çarã rãoo a ente entend nder er por por que a desmo desmora rali lizaç zação ão inte intele lectu ctual al e teol teológi ógica ca não não foi foi sufic suficie ient ntee para para dar dar cabo cabo da TL (“ Kremlin’s religious Frontp tpag agee Maga Magazi zine ne,, junh junhoo de 2009 2009,L ,Lim ima: a: Cent Centro ro de Estu Estudi dios os y Crusade”, em Fron Publicaciones). Em 1959, como chefe da espionagem romena na Alemanha Ocidental, o gene genera rall Pa Pacep cepaa ouvi ouviu u da próp própri riaa boca boca de Niki Nikita ta Krusc Krusche hev: v: “Usa “Usare remo moss Cuba Cuba como como trampolim para lançar uma religião concebida pela KGB na América Latina.” O depoimento prossegue: “Khr “Khrush ushche chevv nome nomeou ou ‘Teo ‘Teolo logi giaa da Libe Libert rtaç ação ão’’ a nova nova relig religiã iãoo cria criada da pela pela KGB. KGB. A inclinação inclinação dela para para a ‘liberta ‘libertação’ ção’ foi foi herdada herdada da KGB, que mais tarde criou a Organização Organização para a ‘Libertação’ da Palestina (OLP), o Exército de ‘Libertação’ Nacional da Colômbia (ELN), (ELN), e o Exército Exército de ‘Libertação ‘Libertação’’ Nacional Nacional da Bolívia. Bolívia. A Romênia Romênia era um país país latino, e Khrushchev Khrushchev queria nossa “visão latina” latina” sobre sobre sua nova guerra de “libertação” “libertação” religiosa. religiosa. Ele tamb também ém nos nos quer queria ia para para envi enviar ar algun algunss padr padres es que eram eram coop coopta tador dores es ou agen agente tess disfarçados para a América Latina – queria ver como “nós” poderíamos tornar palatável para aquela parte do mundo a sua nova Teologia da Libertação. “Naq “Naque uele le mome moment ntoo a KGB KGB esta estava va cons constr trui uind ndoo uma uma nova nova orga organi niza zaçã çãoo reli religi gios osaa internacional em Praga, chamada “Christian Peace Conference” (CPC), cujo cujo objetivo objetivo seria espalhar a Teologia da Libertação pela América Latina. 39
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“Em 1968 “Em 1968,, o CPC CPC – cria criado do pela pela KGB KGB – foi foi capa capazz de diri dirigi girr um grupo grupo de bisp bispos os esquer esquerdi dist stas as sul-am sul-ameri erican canos os na realiz realizaçã açãoo de uma Confer Conferênc ência ia de Bispos Bispos Latino Latino-am -ameri erican canos os em Medellín, na Colômbia. O propósito oficial da Conferência era superar a pobreza. O objetivo não declarado foi reconhecer um novo movimento religioso, que encorajasse o pobre a se rebelar contra a ‘violência da pobreza institucionalizada’, e recomendá-lo ao Consel Conselho ho Mundial Mundial de Igrejas Igrejas para aprovaçã aprovaçãoo oficial. oficial. A Confer Conferênc ência ia de Medell Medellín ín fez as duas coisas. Também engoliu o nome de batismo dado pela KGB: ‘Teologia da Libertação.’” Ou seja, seja, em suas linha linhass essencia essenciais, is, a idéia idéia da TL veio pront prontaa de Moscou Moscou três anos anos antes antes de que o jesuíta peruano Gustavo Gutierrez, com o livro Teología de la Liberación (Lima, Centro de Estudios y Publicaciones, 1971), se apresentasse como seu inventor original, decert decertoo com a aprovação aprovação de seus verdadei verdadeiros ros criador criadores, es, que não tinham tinham o menor menor intere interesse sse num reconhecimento público de paternidade. O tutor da criança, Leonardo Boff, entraria em cena ainda mais tarde, não antes de 1977. Até hoje as fontes populares, como por exem exempl ploo a Wiki Wikipe pedi dia, a, repete repetem m como como papa papaga gaio ioss ades adestr trad ados os que que o Pe. Pe. Guti Gutier erre rezz foi foi mesm mesmoo o gerador da coisa e o sr. Boff seu segundo pai.
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Um cadáver no poder (II) Diário do Comércio, 29 de janeiro de 2015
Volto à análise da Teologia da Libertação. Se a coi coisa sa e até até o nom nomee que que a desi design gnaa vier vieram am pron pronto toss da KGB, KGB, isso isso não não quer quer dize dizerr que que seus seus pais adotivos, Gutierrez, Boff e Frei Betto, não tenham tido nenhum mérito na sua dissem dissemina inação ção pelo pelo mundo. mundo. Ao contrá contrário rio,, eles eles desempe desempenha nharam ram um papel papel crucial crucial nas vitórias da TL e no mistério da sua longa sobrevivência. Os três, mas principalmente os dois brasileiros, atuaram sempre e simultaneamente em dois planos. De um lado, produzindo artificiosas argumentações teológicas para uso do clero, dos intelectuais e da Cúria romana. De outro lado, espalhando sermões e discursos popula populares res e devotan devotandodo-se se intens intensame amente nte à criaçã criaçãoo da rede rede de militâ militânci nciaa que se notabi notabiliz lizari ariaa com o nome de “comunidades eclesiais de base” e viria a constituir a semente do Partido dos Trabalhadores. “Base” é aliás o termo técnico usado tradicionalmente nos partidos comunistas comunistas para para designar designar a militâ militância, ncia, distinguindo distinguindo-a -a dos líderes líderes.. Sua adoção pela TL não foi mera coincidência coincidência.. Quando os pastores pastores se transformara transformaram m em comissários comissários políticos, políticos, o rebanho tinha mesmo de tornar-se “base”. No seu livro E a Igreja se Fez Povo, de 1988, Boff confessa que foi tudo um “plano ousado”, concebido segundo as linhas da estratégia da lenta e sutil “ocupação de espaços” precon preconiza izada da pelo pelo fundad fundador or do Partid Partidoo Comuni Comunista sta Italia Italiano, no, Antoni Antonioo Gramsci Gramsci.. Tratav Tratava-s a-see de ir preenchendo preenchendo aos poucos todos os postos decisivos nos seminários seminários e nas universidades universidades leigas, nas ordens religiosas, na mídia católica e na hierarquia eclesiástica, sem muito alarde, até chegar a época em que a grande revolução pudesse exibir-se a céu aberto. Logo após o conclave que o elegeu, em 1978, o papa João Paulo I teve um encontro com vinte cardeais latino-americanos e ficou muito impressionado com o fato de que a maioria deles deles apoiav apoiavaa ostensi ostensivam vament entee a Teologi Teologiaa da Libert Libertaçã ação. o. Inform Informara aram-l m-lhe, he, na ocasiã ocasião, o, que já havia mais de cem mil “comunidades eclesiais de base” disseminando a propaganda revolucionária na América Latina. Até então, João Paulo I conhecia a TL apenas como especulação especulação teórica. Nem de longe imaginava imaginava que ela pudesse ter se transforma transformado do numa força política de tais dimensões. Em 1984, quando o cardeal Ratzinger começou a desmontar os argumentos teóricos da “Teologia da Libertação”, já fazia quatro anos que as “comunidades eclesiais de base” tinham tinham se transfi transfigura gurado do num partid partidoo de massas, massas, o Partido Partido dos Trabal Trabalhad hadore ores, s, cuja cuja militância ignora maciçamente quaisquer especulações teológicas, mas jura que Jesus Cristo era socialista porque assim dizem os líderes do partido. Dito de outro modo, a pretensa argumentação teológica já tinha cumprido o seu papel de alimentar alimentar discussões discussões e minar a autoridade autoridade da Igreja, Igreja, e fora substituída, substituída, funcionalmente, funcionalmente, pela pregação aberta do socialismo, socialismo, onde o esforço esforço aparentement aparentementee erudito de aproximar aproximar cristianismo e marxismo cedia o passo ao manejo de chavões baratos e jogos de palavras nos quais a militância não procurava nem encontrava uma argumentação racional, mas apen apenas as os símbol símbolos os que expre expressa ssava vam m e refor reforça çava vam m a sua unid unidad adee grupa grupall e o seu seu espí espíri rito to de luta. O sucesso deste segundo empreendimento empreendimento foi proporcional proporcional ao fracasso fracasso do trio na esfera propriamente teológica. É possível que na Europa ou nos EUA um formador de opinião com pretensões de liderança não sobreviva à sua desmoralização intelectual, mas na 41
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América Latina, e especialmente no Brasil, a massa militante está est á a léguas de distância de qualquer preocupação intelectual e continuará dando credibilidade ao seu líder enquanto este dispuser de um suporte político-partidário suficiente. No caso de Boff e Betto, esse suporte foi nada menos que formidável. Fracassadas as guerri guerrilha lhass espal espalhad hadas as em todo todo o contin continent entee pela pela OLAS, OLAS, Organi Organizac zación ión Latino Latino-Am -Ameri erican canaa de Solidarieda Solidariedad, d, fundada fundada por por Fidel Fidel Castro em 1966, 1966, a militância militância se refugiou refugiou maciçamente maciçamente nas organizações da esquerda não-militar, que iam colocando em prática as ideias de Antonio Gramsci Gramsci sobre a “ocupação “ocupação de espaços” espaços” e a “revolução “revolução cultural”. A estratégia estratégia de Gramsci Gramsci usava a infiltração maciça de agentes comunistas em todos os órgãos da sociedade civil, especialmente ensino e mídia, para disseminar propostas comunistas pontuais, isoladas, sem rótulo de comunismo, de modo a obter pouco a pouco um efeito de conjunto no qual ninguém visse nada de propaganda comunista, mas no qual o Partido, ou organização equivalente, acabasse controlando mentalmente a sociedade com “o poder invisível e onipresente de um mandamento divino, de um imperativo categórico” (sic). Nenhum Nenhum instrumento instrumento se prestava prestava melhor a esse fim do que as “comunidades “comunidades eclesiais eclesiais de base”, onde as propostas comunistas podiam ser vendidas com o rótulo de cristianismo. No Brasil, o crescimento avassalador dessas organizações resultou, em 1980, na fundação do Partido dos Trabalhadores, que se apresentou inicialmente como um inocente movimento sindicalista da esquerda cristã e só aos poucos foi revelando os seus vínculos profundos com o governo de Cuba e com várias organizações de guerrilheiros e narcotraficantes. O líder maior do Partido, Luís Inácio “Lula” da Silva, sempre reconheceu Boff e Betto como mentores da organização e dele próprio. Nascid Nascidoo no bojo bojo do comuni comunismo smo latinolatino-ame americ ricano ano por interm intermédi édioo das “comun “comunida idades des eclesiais de base”, o Partido não demoraria a devolver o favor recebido, fundando, em 1990, 1990, uma entida entidade de sob a denomi denominaç nação ão gramsci gramsciana anamen mente te anódin anódinaa de “Foro “Foro de São Paulo”, Paulo”, destinada a unificar as várias correntes de esquerda e a tornar-se o centro de comando estratégico do movimento comunista no continente. Segundo depoimento do próprio Frei Betto, a decisão de criar o Foro de São Paulo foi tomada tomada numa numa reuni reunião ão entre entre ele, ele, Lula Lula e Fidel Fidel Castro Castro,, em Havana Havana.. Durant Durantee dezesse dezessete te anos anos o Foro cresceu em segredo, chegando a reunir aproximadamente duzentas organizações filiadas, misturando partidos legalmente constituídos, grupos de sequestradores como o MIR chileno e quadrilhas quadrilhas de narcotrafica narcotraficantes ntes como as Farc, que juravam juravam nada ter com o tráfico de drogas mas então já costumavam trocar anualmente duzentas toneladas de cocaín cocaínaa colomb colombian ianaa por armas armas contra contraban bandea deadas das do Líbano Líbano pelo pelo trafic traficant antee brasil brasileir eiroo Fernandinho Beira-Mar. Quando Lula foi eleito presidente do Brasil, em 2002, o Foro de São Paulo já havia se torn tornad adoo a maio maiorr e mais mais pode podero rosa sa orga organ nizaç ização ão polí políti tica ca em ação ação no terr territ itór ório io latino-amer latino-americano icano em qualquer qualquer época, mas sua existência existência era totalmente totalmente desconhecida desconhecida pela população população e, quando denunciada denunciada por algum investigador, investigador, cinicamente cinicamente negada. O bloqueio bloqueio chegou ao seu ponto mais intenso quando, em 2005, o sr. Lula, já presidente do Brasil, confessou em detalhes a existência e as atividades do Foro de São Paulo. O discurso foi public publicado ado na página página oficia oficiall da Presid Presidênc ência ia da Repúbl República ica,, mas mesmo mesmo assim assim a grande grande mídia mídia em peso insistiu em fingir que não sabia de nada. Por fim, em 2007, o próprio próprio Partido dos Trabalhadore Trabalhadores, s, sentindo sentindo que o manto de segredo segredo protetivo protetivo já não era necessário, necessário, passou a alardear alardear aos quatro ventos os feitos feitos do Foro Foro de São Paulo, como se fossem coisa banal e arqui-sabida. Somente aí os jornais admitiram falar do assunto. 42
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Por que o segredo podia agora ser revelado? Porque, no Brasil, toda oposição ideológica tinha sido eliminada, restando apenas sob o nome de “política” as disputas de cargos e as acusações de corrupção vindas de dentro da própria esquerda; ao passo que, na escala continental, os partidos membros do Foro de São Paulo já dominavam doze países. As “comunidades eclesiais de base” haviam chegado ao poder. Quem, a essa altura, iria se preocupar preocupar com discussões discussões teológicas ou com objeções etéreas feitas vinte anos antes antes por um cardeal que levara a sério o sentido literal dos textos e mal chegara a arranhar a superfície política do problema? Nos doze anos em que permaneceu no poder, o PT expulsou do cenário toda oposição conservadora, partilhando o espaço político com alguns aliados mais enragés e com uma branda oposição de centro-esquerda, e governou mediante compras de consciências, assassinatos assassinatos de inconvenie inconvenientes ntes e a apropriação sistemátic sistemáticaa de verbas de empresas empresas estatais estatais para financiar o crescimento do partido. A escalada da cleptocracia culminou no episódio da Petrobrás, onde o desvio subiu à escala dos trilhões de reais, configurando, segundo a mídia internacional, o maior caso de corrupção corrupção empresarial empresarial de todos os tempos. Essa sucessão sucessão de escândalos escândalos provocou provocou algum mal-estar mal-estar na própria própria esquerda e constantes constantes reclamações reclamações na mídia, mídia, levando a intelligents intelligentsia ia petista petista a mobilizar-se mobilizar-se em massa para defender defender o partido. Há mais mais de uma década os srs. Betto e Boff estão estão ocupados ocupados com essa atividade, atividade, na qual a teologia teologia só entra como eventual eventual fornecedora de figuras de linguagem para adornar a propaganda partidária. A TL havia assumido, finalmente, sua mais profunda vocação. Quem quer que leia os escritos de Gutierrez, Boff e Betto descobre facilmente as suas múltiplas múltiplas inconsistências inconsistências e contradições. contradições. Elas revelam que esse material não resultou resultou de nenhum esforço teorizante muito sério, mas do mero intuito de manter os teólogos de Roma Roma ocup ocupad ados os em comp comple lexa xass refu refuta taçõe çõess teol teológ ógic icas as enqu enquan anto to a rede rede mili milita tante nte se espalhava por toda a América Latina, atingindo sobretudo populações pobres desprovidas de qualquer interesse ou capacidade de acompanhar essas altas discussões. Os boiadeiros chamam isso de “boi-de-piranha”: jogam um boi no rio para que os peixes carnívoros fiquem ocupados em devorá-lo, enquanto uns metros mais adiante a boiada atravessa as aguas em segurança. Intelectualm Intelectualmente ente e teologicament teologicamente, e, a TL está morta morta há três décadas. décadas. Mas ela nunca foi um movimento intelectual e teológico. Foi e é um movimento movimento político adornado por pretextos teológicos artificiosos e de uma leviandade sem par, lançados nas águas de Roma a título de “boi de piranh piranha” a”.. A boia boiada da passo passou, u, domi domino nou u o terri territó tóri rioo e não não exis existem tem pira piranh nhas as de terra terra firme que possam ameaçá-la. Sim, a TL está morta, mas o seu cadáver, elevado ao posto mais alto da hierarquia de comando, pesa sobre todo um continente, oprimindo-o, sufocando-o e travando todos os seus movimentos. A América Latina é hoje governada por um defunto.
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Por trás da subversão Diário do Comércio, 5 de junho de 2006
No começ começoo de 2001 2001,, o Coun Counci cill on Fore Foreig ign n Rela Relati tion onss (CFR (CFR), ), bili bilion onár ário io think think tank tank de onde onde já emergiram tantos presidentes e secretários de Estado que há quem o considere uma espécie de metagoverno dos EUA, criou uma “força-tarefa”, transbordante de Ph.-Ds, presidida pelo historiador Kenneth Maxwell e encarregada de sugerir modificações na política de Washington para com o Brasil. A primeira lista de sábios conselhos, publicada logo em 12 de fevereiro, enfatizava “a urgência de trabalhar com o Brasil no combate à praga das drogas e à sua influência corruptora sobre os governos”. Naqu Naquel elee mome moment nto, o, destr destruí uído doss os anti antigo goss carté cartéis is,, emer emergi giam am como como domi domina nado dora rass do mercado mercado de drogas na América Latina as Forças Armadas Armadas Revolucioná Revolucionárias rias da Colômbia, Colômbia, deliberadam deliberadamente ente poupada poupadass pelo Plano Colômbia Colômbia do do governo governo Clinton Clinton sob o pretexto pretexto de que o combate ao narcotráfico deveria ser apolítico. As Farc, uma organização comunista, haviam entrado no mercado das drogas para financiar suas operações terroristas e a tomada do poder. Desde 1990 faziam parte do Foro de São Paulo, onde articulavam suas ações ações com com a estraté estratégia gia geral geral da esquerd esquerdaa latino latino-am -ameri erican cana, a, garant garantind indoo apoios apoios políti políticos cos que a tornavam virtualmente imunes a perseguições em vários países onde operavam. No Brasil, por exemplo, a despeito das centenas de toneladas de cocaína que que por meio do seu sócio Fernandinho Fernandinho Beira-Mar Beira-Mar elas despejavam despejavam anualmente anualmente no mercado, mercado, e apesar dos tiros que de vez em quando trocavam com o Exército na floresta amazônica, as Farc eram bem tratadas: seus líderes circulavam livremente pelas ruas sob a proteção das autoridades federais e eram recebidos como hóspedes oficiais pelo governo petista do Estado do Rio Grande Grande.. Nunca, Nunca, portan portanto, to, as relações relações entre entre narcot narcotráf ráfico ico e políti política ca tinham tinham sido sido mais mais íntimas. Arriscavam tornar-se ainda mais intensas porque Luís Inácio Lula da Silva, fund fundad ador or do Foro Foro e porta portant ntoo orqu orques estra trado dorr maio maiorr da estra estraté tégi giaa comu comum m entre entre parti partidos dos lega legais is de esquerda e organizações organizações criminosas, criminosas, parecia destinado a ser o próximo próximo presidente presidente do Brasil. A integração crescente de narcotráfico e política tornava portanto urgente combater “a praga das drogas e sua influência sobre os governos”. E a única maneira de fazer isso era, evidentemen evidentemente, te, desmantelar desmantelar o Foro de São Paulo. Vista nessa perspectiva, perspectiva, a sugestão da da “força-tarefa” parecia mesmo oportuna. Mas só a interpreta assim quem não entende as sutilezas sutilezas do metagove metagoverno. rno. O sentido sentido literal literal da frase expressava, expressava, de fato, o oposto simétrico simétrico do que o CFR pretendia.
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Desde logo, o Foro de São Paulo, Paulo, para continuar se imiscuindo impuneme impunemente nte na política política interna de várias nações latino-americanas, necessitava manter sua condição de entidade discreta ou semi-secreta, e o próprio chefe da força-tarefa o ajudava nisso. Em artigo publicado na New York Review of Books – e, é claro, reproduzido na Folha --, Maxwell declarava que o Foro simplesmente não existia, porque “nem os mais bem informados especialistas com quem conversei no Brasil jamais ouviram falar dele”. Para um historiador profissional, confiar-se à opinião de terceiros em vez de averiguar as font fontes es prim primár ária ias, s, entã entãoo farta fartame ment ntee disp dispon onív ívei eiss no próp própri rioo site site do Foro Foro,, era uma uma escandalosa prova de inépcia. Na época, o sr. Maxwell pertencia (pertence ainda) ao círculo de iluminados que costumava (costuma ainda) ser ouvido com o máximo respeito pela mídia brasileira, especialmente pela Folha de S. Paulo. Isso parecia dar uma prova incontestáve incontestávell de que ele ele era de fato fato um jumento, jumento, tendo tendo agido agido de maneira maneira tão extravagante extravagante em pura obediência à sua natureza animal. Mas agora noto que isso não explicava tudo. Logo depois, outro intelectual de grande reputação nos círculos asininos, Luiz Felipe de Alencastro, professor de História Hist ória do Brasil na Sorbonne e colunista da Veja, brilhava num debate do CFR emprestando à tese da inexistência do Foro de São Paulo o aval da sua formidável formidável autoridade autoridade e ainda ainda acrescentava acrescentava ter sido eu o criador criador da lendária lendária organização. organização..... Dar sumiço sumiço na coorden coordenaçã açãoo contin continent ental al do movimen movimento to comunis comunista ta latino latino-am -ameri erican canoo parecia ter-se tornado um hábito consagrado no CFR. Isso poderia ser apenas um inocente acúmulo de erros de interpretação se a entidade não tivesse cultivado simultaneamente um outro hábito: o das boas relações com as Farc. Em 1999 1999,, o pres presid iden ente te da Bolsa Bolsa de Valo Valore ress de Nova Nova York York,, Rich Richar ard d Grasso Grasso,, memb membro ro do CFR, CFR, fez fez uma visita de cortesia ao comandante das Farc, Raul Reyes, e saiu dali festejando a comunidade de interesses entre a quadrilha colombiana e a elite financeira “progressista” dos EUA. Logo em seguida, outros dois membros do CFR, James Kimsey, presidente emérito da America Online, e Joseph Robert, chefe do conglomerado imobiliário J. E. Robert, Robert, tinham tinham um animado animado encontro encontro com o próprio próprio fundador fundador das Farc, o velho Manuel Manuel Marulanda, Marulanda, e em seguida seguida iam ao ao presidente presidente colombiano colombiano Pastrana Pastrana para tentar convencê-lo, convencê-lo, com sucesso, a ficar de bem com a narcoguerrilha. A divisão de trabalho era nítida: os potentados do CFR negociavam com a pricipal força de sustentação militar e financeira do Foro de São Paulo, enquanto seus office-boysintelectuais cuidavam de despistar a operação proclamando que o Foro nem sequer existia. O CFR alardeava a intenção de eliminar a influência do narcotráfico nos governos governos ao mesmo tempo que contribuí contribuíaa ativamente ativamente para que essa influência influência se tornasse tornasse mais vasta e fecunda do que nunca. Ao CFR pertencia também o presidente Clinton, cujo famigerado Plano Colômbia tinha tido tido por princi principal pal resulta resultado do elimin eliminar ar os concorr concorrent entes es e entrega entregarr às Farc Farc o quase quase monopó monopólio lio 45
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do mercado de drogas na América Latina. Em 2002, a política latino-americana dos grão-senhore grão-senhoress globalistas globalistas sofria sofria umupgrade: umupgrade: ao esforço esforço de embelezar as Farc somava-se agora o empenho de fazer do presidente do Foro de São Paulo o presidente do Brasil. Poucos dias antes da eleição de 2002, a embaixadora americana Donna Hrinak, que não sei se pertence pessoalmente ao CFR mas está entre os fundadores de uma entidade estreitament estreitamentee associada associada a ele, o Diálogo Diálogo Interameric Interamericano, ano, fazia propaganda descarada descarada do candidato candidato petista, petista, proclamandoproclamando-oo “uma encarnação encarnação do sonho americano”. americano”. Embora fosse uma interferênci interferênciaa ilegal e indecente de autoridade autoridade estrangeira estrangeira numa eleição eleição nacional nacional -- só não causando escândalo porque até a prepotência imperialista se torna amável quando trabalha para o lado politicamente correto --, e embora a fórmula verbal escolhida para realiz realizá-l á-laa fosse fosse uma absurdi absurdidad dadee sem par (pois (pois não consta consta que muitos america americanos nos tivessem como suprema ambição parar de trabalhar aos 24 anos para fazer carreira num partido comunista), a expressão fez tanto sucesso que, logo em seguida, foi repetida ipsis litteris, sem citação de fonte, num artigo daNew York Review of Books que celebrava entusiasticamente a vitória de Lula. Adivinhem quem assinava o artigo? O indefectível Kenneth Maxwell. Dian Diante te dess desses es fato fatos, s, algu alguém ém aind aindaa hesi hesita tará rá em perc perceb eber er que que as liga ligaçõ ções es entr entree o esquerdismo esquerdismo pó-de-ar pó-de-arroz roz do CFR CFR e o esquerdismo esquerdismo sanguesangue-e-feze e-fezess dos Marulandas Marulandas e Reyes são mais íntimas do que caberia na imagem estereotipada de uma hostilidade essencial e irredutível irredutível entre capitalistas capitalistas reacionários reacionários e comunistas comunistas revolucionários? revolucionários? O sentido dos acontecimentos é transparente demais, mas o cérebro das nossas elites ainda é capaz de projetar sobre eles a sua própria obscuridade para esquivar-se de tirar as conclusões que eles impõem. É claro que não endosso a idéia de que o CFR, como instituição, seja uma central conspi conspirató ratória ria pró-com pró-comuni unista. sta. Muitos Muitos de seus seus membro membross são patrio patriotas tas americ americano anoss que jamais endossariam conscientemente uma política prejudicial ao seu país. Mas não dá para escon sconde derr que, que, ali ali den dentro, tro, um grup grupoo de bili bilion onár ário ioss ref reforma ormado dore ress do mund mundo, o, inca incalc lcul ulav avel elme ment ntee pode podero roso sos, s, tem tem indu induzi zido do a enti entida dade de a infl influe uenc ncia iarr o gover governo no de Washington, quase sempre com sucesso, no sentido mais esquerdista e anti-americano que se pode imaginar. imaginar. Nos EUA isso é um fato de conhecime conhecimento nto geral. geral. Ninguém Ninguém o coloca em dúvida. dúvida. Só o que se discute é a “teoria da conspiraçã conspiração” o” usada para explicá-l explicá-lo. o. Essa teoria teoria tem entre seus defensores alguns intelectuais de primeira ordem como Carroll Quigley, professor de História em Harvard e mentor de Bill Clinton, ou o economista Anthony Sutton Sutton,, autor do clássi clássico co Western Western Techno Technolog logyy and Soviet Soviet Econom Economic ic Develo Developme pment nt (4 vols.) vols.).. Contribui ainda mais para a credibilidade da tese o fato de que o primeiro é um adepto entus entusia iasta sta e o segun segundo do um críti crítico co deva devast stad ador or da elit elitee glob global alis ista ta.. E o que que a torn tornaa aind aindaa mais mais atraen atraente te é o fato fato de que que o CFR, CFR, recon reconhec hecend endoo a sua existê existênci nciaa ao ponto ponto de lhe oferec oferecer er um desm desmen enti tido do expl explíc ícit itoo no seu seu site site ofic oficia ial, l, se esqu esquiv ivee de deba debate terr com com esse essess dois dois 46
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pesos-pesados e com dezenas de outros estudiosos sérios que escreveram a respeito, e prefira em vez disso ostentar uma vitória fácil e postiça num confronto com as versões popula popularesc rescas as e caricatu caricaturai raiss da tese conspi conspirat rativa iva,, invent inventada adass por tipos tipos como como Lyndon Lyndon LaRouche e o pastor Pat Robertson. Este é um bom sujeito que jamais mentiria de caso pensado, pensado, mas é um boquirroto, boquirroto, campeão continental continental de gafes eclesiásticas. eclesiásticas. Discutir com ele é a coisa mais fácil, porque ele sempre vai acabar dizendo alguma inconveniência e pondo pondo sua opin opinião ião a perde perder, r, mesmo mesmo quando quando está está com com a razão. razão. LaRouc LaRouche, he, que chegou chegou a ser pré-candidato presidencial pelo Partido Democrata, é ele próprio um conspirador que só enxerg enxergaa as conspi conspiraç rações ões dos outros outros pelo prisma prisma deforma deformante nte dos seus seus objeti objetivos vos e intere interesses sses própri próprios. os. Tomar Tomar esses esses dois dois como portaporta-voze vozess repres represent entati ativos vos das acusaç acusações ões de conspi conspiraç ração ão contra o CFR é o mesmo que derrubar derrubar o dr. Emir Sader e sair cantando cantando vitória vitória sobre Karl Marx. Que o CFR use desse expediente esquivo para se safar das denúncias é um sério indício de que elas têm pelo menos algum fundo de verdade. Para vocês avaliarem o quanto a nossa elite econômica, política e militar está alienada e por fora do mundo, basta notar que sua principal fonte de informação sobre o CFR, o Diálogo Diálogo Interamerican Interamericanoo e outros organismos globalista globalistass tem sido justamente o sr. Lyndon LaRouc LaRouche, he, cuja cuja Executi Executive ve Intell Intellige igence nce Revie Review w é lida lida pelos pelos lumina luminares res da Escola Escola Superio Superiorr de Guerra como se fosse o exemplar mais puro de inside information (ele está tão bem informado que chegou a me classificar – logo a mim, porca miséria – como apóstolo do global globalism ismo, o, pelo fato fato de eu escrever escrever então então num jornal jornal chamad chamadoo O Globo) Globo).. As outras outras fontes fontes conhecidas conhecidas no país são todas de esquerda, esquerda, e o que elas têm em comum com o boletim do sr. LaRouch LaRouchee é que distor distorcem cem monstr monstruosa uosamen mente te os fatos fatos ao aprese apresenta ntarr os círculos círculos global globalista istass como como represe representa ntante ntess do bom e velho velho “imper “imperial ialism ismoo americ americano ano”” em luta desigual desigual contra as soberanias soberanias nacionai nacionaiss dos países pobrezinho pobrezinhos. s. Não sei se rio ou se choro ao ver quantos brasileiros, que de esquerdistas não têm nada, levam essa versão a sério e baseiam nela suas análises estratégicas e propostas de governo. É ridículo e trágico ao mesmo tempo. Com tantas fontes primárias e diagnósticos de alto nível à disposição, por que come comerr lixo lixo e arrot rrotar ar o card cardáp ápio io do Tour Tour d’Ar d’Arge gent nt?? Do lama lamaça çall cult cultur uraal subdesenvolvido só brotam flores de ignorância e auto-engano. O site www.vermelho.org site www.vermelho.org,, por exemplo, apresenta o Diálogo Interamericano como repleto de “per “perso sona nali lida dade dess da dire direit itaa mais mais cons conser erva vador dora” a”,, e esta estass como como “rep “repre resen senta tante ntess doEstablishment americano”. Nos EUA, até crianças de escola sabem que Establishment quer dizer “esquerda chique”, que não há nem pode haver ali dentro “personalidades da direita mais conservadora”, e que, se alguma soberania nacional é posta em risco pelo Establishment, é a dos EUA em primeiríssimo lugar. A longa e feroz polêmica movida pelos conservadores e nacionalistas contra o CFR, o Diálogo Interamericano e os círculos globalistas em geral é completamente desconhecida pelos tagarelas da ESG e pelo “bando de generais” que acredita nas fontes esquerdistas e no sr. LaRouche. Nessa multidão de 47
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caipiras crédulos há inúmeros patriotas sinceros. Mas a destruição de um país começa quand uandoo seus seus patr patrio iota tass se idiot diotiizam, zam, deix deixan ando do aos trai traido dore res, s, cons conspi pira rado dore ress e revolucionários o monopólio da esperteza. A história da manipulação dos patriotas brasileiros por espertalhões de esquerda é em si mesma uma tragicomédia. Desde há décadas, a liderança esquerdista vem submetendo essa essa gent gentee a um trat tratam amen ento to pavl pavlov ovia iano no,, na ba base se de um-ch um-choq oque ue-um -um-q -que ueij ijo, o, que que se demo demons nstr trou ou efic eficaz az ao pont pontoo de muit muitos os ofic oficia iais is de alta alta pate patente nte,, ideo ideolo logi gica came ment ntee anticomunistas, acharem hoje que é uma lindeza sumamente honrosa transformar os nossos soldados em cavouqueiros cavouqueiros e tratoristas tratoristas a serviço do MST. Como Como é que se leva um cérebro humano a mergulhar nesse abismo de estupidez? É simples: basta criar uma equipe selecionada entre esquerdistas bem bem falantes e dividi-la em duas alas, encarregadas de tarefas opostas opostas -- uma infiltrada infiltrada na mídia, incumbida incumbida de espalhar espalhar mentiras mentiras escabrosas, escabrosas, fomentando o ódio anti-militar; outra, bem colocada nos próprios círculos militares e na ESG, encarregada de afagar o ego das Forças Armadas e induzi-las à conciliação e à colaboração com a estratégia comunista continental por força do seu próprio patriotismo, facilmente convertido em anti-americanismo por meio de um fluxo habilmente planejado de info inform rmaçõ ações es fals falsas as (ent (entre re as quai quaiss é clar claro, o, as forn fornec ecid idas as pelo pelo sr. La LaRo Rouc uche he). ). Na prim primei eira ra equipe, destacam-se Caco Barcelos, Cecília Coimbra e Luiz Eduardo Greenhalgh. Na segu segund nda, a, Márc Márcio io More Moreir iraa Alve Alves, s, Mári Márioo Augus Augusto to Jaco Jacobs bski kind nd e Cesa Cesarr Benj Benjam amin in.. A duplicidade de tratamento deixa a vítima desnorteada e acaba por subjugá-la. Entre tapas e beijos, boa parte da nossa oficialidade se deixou facilmente cair no engodo, mostrando ter mesm mesmoo QI de ratinho ratinho de de labora laboratóri tório. o. A recent recentee palestr palestraa do comand comandant antee do Exérci Exército to em Porto Porto Alegre Alegre mostra mostra até que ponto ponto uma instit instituiçã uiçãoo calunia caluniada, da, margina marginaliz lizada ada e espezi espezinha nhada da sente alívio e reconforto ante a oferta humilhante de um lugarzinho no banquete de seus tradicionais detratores. Ardis semelhantes foram aplicados entre empresários e políticos, com igual eficácia. É por por isso isso que que se torn tornou ou tão tão difí difíci cill expl explic icar ar aos aos bras brasil ilei eiro ross aq aqui uilo lo que, que, entr entree os cons conser erva vado dore ress amer americ ican anos os,, até até os mais mais lerd lerdos os de intel intelig igên ênci ciaa como como Pa Patt Robe Robert rtson son entendem perfeitamente bem: que a elite globalista é o inimigo número um da soberania nacional americana e, por tabela, mas somente por tabela, de todas as demais soberanias.
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Quem foi que inventou o Brasil? Zero Hora, 11 de junho de 2006
Se todos todos os meio meioss de prod produçã uçãoo são são estat estatiz izad ados os,, não não há merca mercado do.. Sem Sem merca mercado do,, os prod produto utoss não têm preços. Sem preços, não se pode fazer cálculo cálculo de preços. Sem Sem cálculo de preços, preços, não há planej planejame amento nto econôm econômico ico.. Sem planej planejame amento nto,, não há econom economia ia estati estatizad zada. a. “Comunismo” é apenas uma construção hipotética destituída de materialidade, um nome sem coisa nenhuma dentro, um formalismo universal abstrato que não escapa ileso à navalha navalha de Occam. Não existiu existiu nem nem existirá existirá jamais jamais uma economia economia comunista, comunista, apenas apenas uma economia economia capitalista capitalista camufla camuflada da ou pervertida, pervertida, boa boa somente para para sustentar sustentar uma gangue de sanguessugas politicamente lindinhos. Desde que Ludwig von Mises explicou explicou essas obviedades obviedades em 1922, muitas conseqüência conseqüênciass se seguiram. Os líderes comunistas, por mais burros que fossem, entenderam imediatamente que o sábio austríaco tinha razão, mas não podiam, em público, dar o braço a torcer. Tolerando doses doses cada cada vez maiore maioress de capita capitalis lismo mo legal legal ou clande clandesti stino no nos territó território rioss que domina dominavam vam,, continuaram teimando em buscar algum arranjo que maquiasse o inevitável. Eduard Kardel Kardelij, ij, minist ministro ro da Econom Economia ia da Iugosl Iugoslávi ávia, a, chegou chegou mesmo mesmo a imagin imaginar ar que seria seria possív possível el uma comissão comissão de planejadores planejadores iluminad iluminados os determinar determinar um a um, por decreto, os preços de milhões de artigos, desde aviões supersônicos até agulhas de costura. A idéia jamais foi levada levada à prática, prática, porque porque se assemel assemelhav havaa demasi demasiado ado ao método método portugu português ês de matar matar barata baratass jogando uma bolinha de naftalina em cada uma. Os soviéticos permitiram que o capitalismo oficialmente banido continuasse prosperando na sombra e respondesse por quase cinqüenta por cento da economia da URSS. Daí o enxame de milionários que emergiram da toca, da noite para o dia, quando da queda do Estado soviético: eles jamais teriam podido existir num regime de proibição efetiva da propriedade privada. Alguns grandes capitalistas ocidentais tiraram da demonstração de von Mises algumas conclusões conclusões mais agradáveis agradáveis (para eles próprios). próprios). Se a economia comunista comunista era impossível, impossível, todos os esforços destinados nominalmente a criá-la acabariam gerando alguma outra coisa. Essa outra coisa só poderia ser um capitalismo oculto, como na URSS, ou um socialismo meia-bomba, uma simbiose entre o poder do Estado e os grupos econômicos mais mais pode poderos rosos os,, um olig oligop opól ólio io,, em suma. suma. As duas duas hipó hipótes teses es prom prometi etiam am lucro lucross form formid idáv ávei eis, s, aquela pela absoluta ausência de impostos, esta pela garantia estatal oferecida aos amigos do governo governo contra contra os concorre concorrente ntess menos dotados. dotados. Se a primei primeira ra ainda ainda compor comportava tava alguns alguns riscos menores (extorsão, vinganças pessoais de funcionários públicos mal subornados), a 49
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segunda era absolutamente segura. Foi então que um grupo de bilionários criou o plano estratégico mais maquiavélico da história econômica mundial -- inventaram a fórmula assim resumida ironicamente pela colunista Edith Kermit Roosevelt (neta de Theodore Roose Roosevel velt) t):: “A melh melhor or mane maneir iraa de comb combat ater er o comun comunis ismo mo seri seriaa uma uma Nova Nova Orde Ordem m socialista governada por ‘especialistas’ como eles próprios.” Essa idéia espalhou-se como fogo fogo entr entree os memb membro ross do CFR, CFR, Coun Counci cill on Fore Foreig ign n Rela Relati tion ons, s, o pode poderos rosoo thin think k tanknovaiorquino. A política adotada desde então por todos os governos americanos (exceto (exceto Reagan) Reagan) para com o Terceiro Terceiro Mundo, na base de combater combater a “extrema esquerda” esquerda” mediante o apoio dado à “esquerda moderada”, foi criada diretamente pelo CFR. O esquem esquemaa era infalí infalível vel:: se os “modera “moderados dos”” vencess vencessem em a parada parada,, estari estariaa instau instaurad radoo o monopolismo; se os comunistas subissem ao poder, entraria automaticamente em ação o Plano B, o capitalismo clandestino. A “extrema esquerda”, apresentada como “o” inimigo, não era na verdade o alvo visado, era apenas a mão esquerda do plano. O verdadeiro alvo era o livre mercado, que deveria perecer sob o duplo ataque de seus inimigos e de seus “defensores” os quais, usando o espantalho da revolução comunista, o induziam a fazer conc conces essõ sões es cada cada vez vez maio maiore ress ao socia sociali lism smoo alega alegada dame mente nte prof profil ilát átic icoo da esque esquerd rdaa “boazinha”. Reduzir Reduzir o leque das opções políticas políticas a uma disputa entre comunistas comunistas e socialdemocrat socialdemocratas as tem sido há meio século o objetivo constante dos bilionários inventores da Nova Ordem global. O Brasil de hoje é o laboratório dos seus sonhos.
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A maior trama criminosa de todos os tempos Digesto Econômico, setembro/outubro/nov/dez de 2007
O pioneiro inconteste na investigação do fenômeno "Foro de São Paulo" foi o advogado paulista José Carlos Graça Wagner, homem de inteligência privilegiada, que muito me honrou com a sua amizade. Ele já falava do assunto, com aguda compreensão da sua importância histórica e estratégica, por volta de 1995, quando o conheci. Em 1999, a documentação que ele vinha coletando sobre a origem e as ações da entidade lotava um cômodo inteiro da sua casa, e uma prova da criteriosidad criteriosidadee intelectual intelectual do pesquisador pesquisador foi que só a partir de então ele se sentiu em condições de começar a escrever um livro a respeito. Na ocasião, ele me chamou para ajudá-lo no empreendimento, mas eu estava de partida para a Romênia e, com muita tristeza, declinei do convite. Maio Maiorr ainda ainda foi foi a trist tristez ezaa que que expe experi rime ment ntei ei anos anos depo depois is,, quan quando, do, ao retom retomar ar o cont contat atoo com com o Dr. Wagner, soube que o projeto tinha sido interrompido por uma onda súbita e irrefr irrefreáv eável el de reveze revezess financ financeir eiros os e batalha batalhass judici judiciais ais,, que termina terminaram ram por arruin arruinar ar a saúde saúde do meu meu amigo amigo e de sua sua espo esposa sa,, ambo amboss já idos idosos os.. Não Não sai sai da minh minhaa cabe cabeça ça a susp suspei eita ta de que que a perigo perigosa sa inves investiga tigação ção em em que ele ele se meter meteraa teve teve algo algo a ver com a repent repentina ina liquid liquidaçã açãoo de uma carreira profissional até então marcada pelo sucesso e pela prosperidade. Ele tinha negócios nos EUA e era também lá, nas bibliotecas e arquivos de Miami e de Washington D.C., que ele coligia a maior parte do material sobre o Foro. Nos últimos anos, a pesquisa pesquisa havia tomado um rumo peculiar. O Dr. Wagner Wagner esperava encontrar encontrar provas provas de uma ligação íntima entre o Foro de São Paulo e uma prestigiosa entidade da esquerda chique americana, o "Diálogo Interamericano". Não sei se essa prova específica existe ou não, nem se ela é realmente necessária para demonstrar algo que metade da América já conhece conhece por outros outros e abundantes abundantes sinais, sinais, isto é, que que os líderes líderes mais barulhentos barulhentos do Partido Partido Democrata são notórios protetores de movimentos revolucionários e terroristas (de modo que o Foro, se acrescentado à lista, não modificaria em grande coisa as biografias desses personagens vampirescos). O que sei é que o começo da ruína pessoal do meu amigo data aproximadamente de uma entrevista entrevista que ele deu ao Diário Las Américas, Américas, importante importante publicação publicação de língua espanhola espanhola em Miami, na qual falava do Foro de São Paulo e de suas relações perigosas com o "Diálogo". "Diálogo". Mas Mas isto já seria matéria matéria para outra investiga investigação, ção, e longe de mim a intenção intenção de explicar explicar obscurum obscurum per obscurius. obscurius. Mesmo sem poder poder prometer a solução solução para esse aspecto particularmente enigmático do problema, uma coisa posso garantir: os arquivos do Dr. Wagner, recentemente postos à disposição da equipe de pesquisadores do Mídia Sem Máscara e da Associação Comercial de São Paulo, pela generosidade de José Roberto Valente Wagner, permitem retomar a investigação com a esperança de que antes de um 51
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ano ano tere teremo moss pelo pelo meno menoss a hist histór ória ia inte intern rnaa do Foro Foro de Sã Sãoo Pa Paul uloo reco recons nsti titu tuíd ídaa praticamente mês a mês. Então será possível colocar em bases mais sólidas a questão do "Diálogo", mas antes disso será preciso resolver outro enigma, bem mais urgente e bem mais próximo de nós. Vou formular esse enigma mediante o contraste entre duas ordens de fatos: Prim Primei eira ra:: O Foro Foro de Sã Sãoo Pa Paul uloo é a mais mais vast vastaa orga organi niza zaçã çãoo polí políti tica ca que que já exis existi tiu u na Amér Améric icaa Latina e, sem dúvida, uma das maiores do mundo. Dele participam todos os governantes esquer esquerdis distas tas do contine continente nte.. Mas não é uma organiz organizaçã açãoo de esquerd esquerdaa como como outra outra qualqu qualquer. er. Ele reúne mais de uma uma centena centena de partidos partidos legais e várias organizações organizações criminosas criminosas ligadas ligadas ao narcotráfico e à indústria dos seqüestros, como as FARC e o MIR chileno, todas empenh empenhada adass numa numa articu articulaçã laçãoO oO pionei pioneiro ro incont incontest estee na investi investigaçã gaçãoo do fenôme fenômeno no "Foro "Foro de São Paulo" foi o advogado paulista José Carlos Graça Wagner, homem de inteligência priv privil ileg egia iada da,, qque ue muit muitoo me honr honrou ou com com a sua amiz amizad ade. e. Ele Ele já fala falava va do assun assunto, to, com agud agudaa compreensão da sua importância histórica e estratégica, por volta de 1995, quando o conheci. Em 1999, a documentação que ele vinha coletando sobre a origem e as ações da entidade lotava um cômodo inteiro da sua casa, e uma prova da criteriosidade intelectual do pesquisador foi que só a partir de então ele se sentiu em condições de começar a escr screver um livro vro a respeito. Na ocasião, ele me chamou para ajudá-lo no empreendime empreendimento, nto, mas eu estava de partida partida para para a Romênia Romênia e, com muita tristeza, tristeza, declinei declinei do convite. Maio Maiorr ainda ainda foi foi a trist tristez ezaa que que expe experi rime ment ntei ei anos anos depo depois is,, quan quando, do, ao retom retomar ar o cont contat atoo com com o Dr. Wagner, soube que o projeto tinha sido interrompido por uma onda súbita e irrefr irrefreáv eável el de reveze revezess financ financeir eiros os e batalha batalhass judici judiciais ais,, que termina terminaram ram por arruin arruinar ar a saúde saúde do meu meu amigo amigo e de sua sua espo esposa sa,, ambo amboss já idos idosos os.. Não Não sai sai da minh minhaa cabe cabeça ça a susp suspei eita ta de que que a perigo perigosa sa inves investiga tigação ção em em que ele ele se meter meteraa teve teve algo algo a ver com a repent repentina ina liquid liquidaçã açãoo de uma carreira profissional até então marcada pelo sucesso e pela prosperidade. Ele tinha negócios nos EUA e era também lá, nas bibliotecas e arquivos de Miami e de Washington D.C., que ele coligia a maior parte do material sobre o Foro. Nos últimos anos, a pesquisa pesquisa havia tomado um rumo peculiar. O Dr. Wagner Wagner esperava encontrar encontrar provas provas de uma ligação íntima entre o Foro de São Paulo e uma prestigiosa entidade da esquerda chique americana, o "Diálogo Interamericano". Não sei se essa prova específica existe ou não, nem se ela é realmente necessária para demonstrar algo que metade da América já conhece conhece por outros outros e abundantes abundantes sinais, sinais, isto é, que que os líderes líderes mais barulhentos barulhentos do Partido Partido Democrata são notórios protetores de movimentos revolucionários e terroristas (de modo que o Foro, se acrescentado à lista, não modificaria em grande coisa as biografias desses personagens vampirescos).
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O que sei é que o começo da ruína pessoal do meu amigo data aproximadamente de uma entrevista entrevista que ele deu ao Diário Las Américas, Américas, importante importante publicação publicação de língua espanhola espanhola em Miami, na qual falava do Foro de São Paulo e de suas relações perigosas com o "Diálogo". "Diálogo". Mas Mas isto já seria matéria matéria para outra investiga investigação, ção, e longe de mim a intenção intenção de explicar explicar obscurum obscurum per obscurius. obscurius. Mesmo sem poder poder prometer a solução solução para esse aspecto particularmente enigmático do problema, uma coisa posso garantir: os arquivos do Dr. Wagner, recentemente postos à disposição da equipe de pesquisadores do Mídia Sem Máscara e da Associação Comercial de São Paulo, pela generosidade de José Roberto Valente Wagner, permitem retomar a investigação com a esperança de que antes de um ano ano tere teremo moss pelo pelo meno menoss a hist histór ória ia inte intern rnaa do Foro Foro de Sã Sãoo Pa Paul uloo reco recons nsti titu tuíd ídaa praticamente mês a mês. Então será possível colocar em bases mais sólidas a questão do "Diálogo", mas antes disso será preciso resolver outro enigma, bem mais urgente e bem mais próximo de nós. Vou formular esse enigma mediante o contraste entre duas ordens de fatos: Prim Primei eira ra:: O Foro Foro de Sã Sãoo Pa Paul uloo é a mais mais vast vastaa orga organi niza zaçã çãoo polí políti tica ca que que já exis existi tiu u na Amér Améric icaa Latina e, sem dúvida, uma das maiores do mundo. Dele participam todos os governantes esquer esquerdis distas tas do contine continente nte.. Mas não é uma organiz organizaçã açãoo de esquerd esquerdaa como como outra outra qualqu qualquer. er. Ele reúne mais de uma uma centena centena de partidos partidos legais e várias organizações organizações criminosas criminosas ligadas ligadas ao narcotráfico e à indústria dos seqüestros, como as FARC e o MIR chileno, todas empenh empenhada adass numa articula articulação ção estrat estratégi égica ca comum e na busca busca de vantag vantagens ens mútuas. mútuas. Nunca Nunca se viu, no mundo, em escala tão gigantesca, uma convivência tão íntima, tão persistente, tão organizada e tão duradoura entre a política e o crime. Segunda: Durante dezesseis anos, todos os jornais, canais de TV e estações de rádio deste País – todos, sem exceção, inclusive aqueles que mais se gabavam de primar pelo jornalismo investigativo e pelas denúncias corajosas – se recusaram obstinadamente a notici noticiar ar a existên existência cia e as ativid atividade adess dessa dessa organi organizaç zação, ão, malgra malgrado do as sucessi sucessivas vas advertê advertênci ncias as que lhes lancei a respeito, em todos os tons possíveis e imagináveis. Do aviso solícito à provocação insultuosa, das súplicas humildes às argumentações lógicas mais persuasivas, tudo foi inútil. Quando não me respondiam com o silêncio desdenhoso, faziam-no com desconversas levianas, com objeções céticas inteiramente apriorísticas, que dispensavam qualquer qualquer exame exame do assunto, assunto, com observaçõ observações es sapientíssi sapientíssimas mas sobre o meu estado de saúde mental ou com a zombaria mais estúpida e pueril que se pode imaginar. Reagindo a essa pertinaz negação dos fatos, fiz publicar no jornal eletrônico Mídia Sem Máscara as atas quase completas das assembléias e grupos de trabalho do Foro de São Paulo. A volumosa prova prova documen documental tal mostrou mostrou-se -se incapa incapazz de demove demoverr os negaci negacioni onista stas. s. Eles Eles pareci pareciam am hipnotizado hipnotizados, s, estupidific estupidificados, ados, mentalmente mentalmente paralisados paralisados diante de uma hipótese mais temível do que seus cérebros poderiam suportar na ocasião. 53
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O Foro de São Paulo reúne mais de uma centena de partidos legais e várias organizações criminosas ligadas ao narcotráfico e à indústria dos seqüestros, como as FARC e o MIR chileno. A publicação das atas teve porém duas conseqüências importantes. De um lado, o site oficial do Foro, www.forosaopaulo.org, foi retirado do ar às pressas, para só voltar meses depois, em versão bastante expurgada. De outro lado, entre os jornalistas e analistas políticos, a afetação de desprezo pelo asunto cedeu lugar à negação ostensiva, pública, da existência existência mesma do Foro de São Paulo. Dois personagens personagens destacaram-se destacaram-se especialmente especialmente nesse servicinho sujo: o inglês Kenneth Maxwell e o brasileiro Luiz Felipe de Alencastro. Para anunciar anunciar ao mundo a completa completa inexist inexistência ência da entidade entidade que eu denunciava, denunciava, ambos – por ironia, historiadores de profissão – usaram como tribuna ou megafone o pódio do CFR, Council Council on on Foreign Foreign Relations, Relations, o mais mais poderoso think think tank americano, americano, dando assim à ignorância ignorância dolosa (ou à mentira mentira grotesca) grotesca) o aval de uma autoridade considerável. considerável. Quem Quem ainda tenha ilusões quanto à confiabilidade intelectual da profissão acadêmica, mesmo exercida nos chamados "grandes centros" (Alencastro é professor na Universidade de Paris, e Maxwell é o consultor supremo do próprio CFR em assuntos brasileiros), pode se curar dessa doença mediante a simples notificação desses fatos. Mas aí a hipótese da mera ignorância organizada começa a ceder lugar à suspeita de uma tram tramaa cons consci cien ente te bem bem maio maiorr do que que a nossa nossa para paranó nóia ia pode poderi riaa imag imagin inar ar.. Memb Membro ross impo importa rtante ntess do CFR CFR tive tivera ram m conta contatos tos próx próxim imos os com com as orga organi niza zaçõ ções es crim crimin inos osas as participantes do Foro de São Paulo, cuja existência, portanto, não poderiam ignorar (leia-se a respeito o meu artigo "Por trás da subversão", Diário do Comércio, dia 05 de junho de 2006, http://www.olavodecarvalho.org/semana/060605dc.html). Em suma, o Brasil parecia estar preso entre as malhas de uma articulação criminosa, que envolvia, ao mesmo mesmo tempo, tempo, a totali totalidad dadee dos partid partidos os de esquerd esquerdaa latino latino-am -ameri erican canos, os, o grosso grosso da classe classe jornalística nacional, as principais gangues de narcotraficantes do continente e, por fim, uma parcela nada desprezível da elite política e financeira norte americana. A gravidade desses fatos mede-se pela amplitude e persistência da sua ocultação. Cresc resceendo ndo em segr segred edo, o, o Foro Foro de Sã Sãoo Pa Paul uloo torn tornou ou-s -see o moto motorr prin princi cipa pall das das transf transforma ormaçõe çõess histór histórica icass no contin continent ente, e, ao mesmo mesmo tempo tempo que a ignorâ ignorânci nciaa geral geral a respeito fazia com que os debates públicos – e portanto a totalidade da vida cultural – se afastasse cada vez mais da realidade e se transformasse numa engenharia da alienação, favore favorecen cendo do ainda ainda mais mais o crescim cresciment entoo de um esquem esquemaa de poder poder que se alimen alimentav tavaa gostosamente gostosamente da sua própria própria invisibilidade. invisibilidade. A queda vertiginosa vertiginosa do nível de consciência pública nessas condições, era não só previsível como inevitável. As opiniões circulantes tornar tornaramam-se se uma dança dança grotesca grotesca de irrele irrelevân vância cias, s, descon desconver versas sas e erros erros maciço maciços, s, ao mesmo mesmo tempo em que a violência e a corrupção cresciam ante os olhos atônicos do público e dos 54
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formad formadore oress de opiniã opinião, o, cada um apegan apegandodo-se se às explic explicaçõe açõess mais mais desenco desencontr ntrada adas, s, extemp extemporâ orânea neass e impote impotente ntes. s. Muitas Muitas década décadass hão de passar passar antes antes que a devasta devastação ção psicoló psicológic gicaa resulta resultante nte desse desse quadro quadro possa possa ser revert revertida ida.. O fab fabulo uloso so concurs concursoo de crimes crimes que a determinou não tem paralelo na história universal. Um dos aspectos mais grotescos da situação é a facilidade com que os culpados se desv desven enci cilh lham am de qual qualqu quer er tent tentat ativ ivaa de denú denúnc ncia ia,, qual qualif ific ican ando do-a -a de "teo "teori riaa da cons conspi pira raçã ção" o".. Mas Mas quem quem falo falou u em cons conspi pira raçã ção? o? O que que vemo vemoss é uma uma giga gigant ntes esca ca movimentação de recursos, de poderes, de organizações, de correntes históricas, que para permanecer imune à curiosidade popular não precisa se esconder em porões, mas apenas apostar na incapacidade pública de apreender a sua complexidade inabarcável e de acreditar na existência de tanta malícia organizada. O Foro é uma entidade sui generis, sem correspondência em qualquer época ou país. Longo tempo depois de extinto, como espero venha a sê-lo um dia, ele ainda constituirá um enigma enigma e um desafio desafio ao tirocín tirocínio io dos histori historiado adores. res. Para Para nós, nós, ele é mais mais do que isso. isso. É o inimigo "onipresente "onipresente e invisível" invisível" sonhado por Antonio Antonio Gramsci. estratégica estratégica comum e na busca de vantagens mútuas. Nunca se viu, no mundo, em escala tão gigantesca, uma convivência convivência tão íntima, íntima, tão tão persistent persistente, e, tão organizada organizada e tão duradoura duradoura entre a política política e o crime. Segunda: Durante dezesseis anos, todos os jornais, canais de TV e estações de rádio deste País – todos, sem exceção, inclusive aqueles que mais se gabavam de primar pelo jornalismo investigativo e pelas denúncias corajosas – se recusaram obstinadamente a notici noticiar ar a existên existência cia e as ativid atividade adess dessa dessa organi organizaç zação, ão, malgra malgrado do as sucessi sucessivas vas advertê advertênci ncias as que lhes lancei a respeito, em todos os tons possíveis e imagináveis. Do aviso solícito à provocação insultuosa, das súplicas humildes às argumentações lógicas mais persuasivas, tudo foi inútil. Quando não me respondiam com o silêncio desdenhoso, faziam-no com desconversas levianas, com objeções céticas inteiramente apriorísticas, que dispensavam qualquer qualquer exame exame do assunto, assunto, com observaçõ observações es sapientíssi sapientíssimas mas sobre o meu estado de saúde mental ou com a zombaria mais estúpida e pueril que se pode imaginar. Reagindo a essa pertinaz negação dos fatos, fiz publicar no jornal eletrônico Mídia Sem Máscara as atas quase completas das assembléias e grupos de trabalho do Foro de São Paulo. A volumosa prova prova documen documental tal mostrou mostrou-se -se incapa incapazz de demove demoverr os negaci negacioni onista stas. s. Eles Eles pareci pareciam am hipnotizado hipnotizados, s, estupidific estupidificados, ados, mentalmente mentalmente paralisados paralisados diante de uma hipótese mais temível do que seus cérebros poderiam suportar na ocasião. O Foro de São Paulo reúne mais de uma centena de partidos legais e várias organizações criminosas ligadas ao narcotráfico e à indústria dos seqüestros, como as FARC e o MIR chileno.
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A publicação das atas teve porém duas conseqüências importantes. De um lado, o site oficial do Foro, www.forosaopaulo.org, foi retirado do ar às pressas, para só voltar meses depois, em versão bastante expurgada. De outro lado, entre os jornalistas e analistas políticos, a afetação de desprezo pelo asunto cedeu lugar à negação ostensiva, pública, da existência existência mesma do Foro de São Paulo. Dois personagens personagens destacaram-se destacaram-se especialmente especialmente nesse servicinho sujo: o inglês Kenneth Maxwell e o brasileiro Luiz Felipe de Alencastro. Para anunciar anunciar ao mundo a completa completa inexist inexistência ência da entidade entidade que eu denunciava, denunciava, ambos – por ironia, historiadores de profissão – usaram como tribuna ou megafone o pódio do CFR, Council Council on on Foreign Foreign Relations, Relations, o mais mais poderoso think think tank americano, americano, dando assim à ignorância ignorância dolosa (ou à mentira mentira grotesca) grotesca) o aval de uma autoridade considerável. considerável. Quem Quem ainda tenha ilusões quanto à confiabilidade intelectual da profissão acadêmica, mesmo exercida nos chamados "grandes centros" (Alencastro é professor na Universidade de Paris, e Maxwell é o consultor supremo do próprio CFR em assuntos brasileiros), pode se curar dessa doença mediante a simples notificação desses fatos. Mas aí a hipótese da mera ignorância organizada começa a ceder lugar à suspeita de uma tram tramaa cons consci cien ente te bem bem maio maiorr do que que a nossa nossa para paranó nóia ia pode poderi riaa imag imagin inar ar.. Memb Membro ross impo importa rtante ntess do CFR CFR tive tivera ram m conta contatos tos próx próxim imos os com com as orga organi niza zaçõ ções es crim crimin inos osas as participantes do Foro de São Paulo, cuja existência, portanto, não poderiam ignorar (leia-se a respeito o meu artigo "Por trás da subversão", Diário do Comércio, dia 05 de junho de 2006,http://www.olavodecarvalho.org/semana/060605dc.html 2006,http://www.olavodecarvalho.org/semana/060605dc.html). ). Em suma, o Brasil parecia estar preso entre as malhas de uma articulação criminosa, que envolvia, ao mesmo mesmo tempo, tempo, a totali totalidad dadee dos partid partidos os de esquerd esquerdaa latino latino-am -ameri erican canos, os, o grosso grosso da classe classe jornalística nacional, as principais gangues de narcotraficantes do continente e, por fim, uma parcela nada desprezível da elite política e financeira norte americana. A gravidade desses fatos mede-se pela amplitude e persistência da sua ocultação. Cresc resceendo ndo em segr segred edo, o, o Foro Foro de Sã Sãoo Pa Paul uloo torn tornou ou-s -see o moto motorr prin princi cipa pall das das transf transforma ormaçõe çõess histór histórica icass no contin continent ente, e, ao mesmo mesmo tempo tempo que a ignorâ ignorânci nciaa geral geral a respeito fazia com que os debates públicos – e portanto a totalidade da vida cultural – se afastasse cada vez mais da realidade e se transformasse numa engenharia da alienação, favore favorecen cendo do ainda ainda mais mais o crescim cresciment entoo de um esquem esquemaa de poder poder que se alimen alimentav tavaa gostosamente gostosamente da sua própria própria invisibilidade. invisibilidade. A queda vertiginosa vertiginosa do nível de consciência pública nessas condições, era não só previsível como inevitável. As opiniões circulantes tornar tornaramam-se se uma dança dança grotesca grotesca de irrele irrelevân vância cias, s, descon desconver versas sas e erros erros maciço maciços, s, ao mesmo mesmo tempo em que a violência e a corrupção cresciam ante os olhos atônicos do público e dos formad formadore oress de opiniã opinião, o, cada um apegan apegandodo-se se às explic explicaçõe açõess mais mais desenco desencontr ntrada adas, s, extemp extemporâ orânea neass e impote impotente ntes. s. Muitas Muitas década décadass hão de passar passar antes antes que a devasta devastação ção
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psicoló psicológic gicaa resulta resultante nte desse desse quadro quadro possa possa ser revert revertida ida.. O fab fabulo uloso so concurs concursoo de crimes crimes que a determinou não tem paralelo na história universal. Um dos aspectos mais grotescos da situação é a facilidade com que os culpados se desv desven enci cilh lham am de qual qualqu quer er tent tentat ativ ivaa de denú denúnc ncia ia,, qual qualif ific ican ando do-a -a de "teo "teori riaa da cons conspi pira raçã ção" o".. Mas Mas quem quem falo falou u em cons conspi pira raçã ção? o? O que que vemo vemoss é uma uma giga gigant ntes esca ca movimentação de recursos, de poderes, de organizações, de correntes históricas, que para permanecer imune à curiosidade popular não precisa se esconder em porões, mas apenas apostar na incapacidade pública de apreender a sua complexidade inabarcável e de acreditar na existência de tanta malícia organizada. O Foro é uma entidade sui generis, sem correspondência em qualquer época ou país. Longo tempo depois de extinto, como espero venha a sê-lo um dia, ele ainda constituirá um enigma enigma e um desafio desafio ao tirocín tirocínio io dos histori historiado adores. res. Para Para nós, nós, ele é mais mais do que isso. isso. É o inimigo "onipresente e invisível" sonhado por Antonio Gramsci.
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Digitais do Foro de São Paulo Diário do Comércio, 28 de janeiro de 2008
Nos documentos de fonte primária sobre o Foro de São Paulo, encontramos encontramos as seguintes seguintes informações: 1) Conforme Conforme afirme afirmeii desde o início, início, e contra todo o exércit exércitoo de achismos achismos e desconversas, desconversas, o Foro de São Paulo existe e é a coordenação estratégica do movimento comunista na América Latina (ver documento original em 3° Congresso do PT e comentário em O Manifesto Comunista do PT; PT ; outro documento original em Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no encerramento do Encontro de Governadores da Frente Norte do Mercosul e comentário em Saindo do armário). armário ). 2) Ao longo de seus dezessete anos e meio de atividade, não se observa nas atas de suas asse assemb mblé léia iass e grupo gruposs de trab trabal alho ho a meno menorr dive divergê rgênc ncia ia,, muit muitoo meno menoss conf confli lito to sério sério,, entr entree as centenas de facções de esquerda que o compõem. Todas as declarações finais foram assinadas pela unanimidade dos participantes (cf. transcrição das atas e assinaturas em "Atas do Foro de São Paulo"). Paulo" ). Nenhuma das queixas e recriminações vociferadas pelos antipetistas de esquerda na mídia que eles mesmos chamam de direitista e burguesa foi jamais levada às discussões internas do Foro, o que prova que a esquerda latino-americana perma permane nece ce unid unidaa por por ba baix ixoo de suas suas diver divergê gênc ncia iass de superf superfíc ície ie,, por por mais mais que que esta estass impressionem a platéia ingênua. 3) As ações do Foro prolongam-se muito além daquilo que consta das atas. Segundo confis confissão são explíc explícita ita do sr. presiden presidente te da Repúbl República ica,, os encont encontros ros da entida entidade de são ocasiã ocasiãoo de conversações conversações secretas secretas que que resultam resultam em decisões decisões estratégi estratégicas cas de grande alcance, alcance, como, por exempl exemplo, o, a articul articulaçã açãoo intern internaci aciona onall que consoli consolidou dou o poder poder de Hugo Chávez Chávez na Venezue Venezuela la (ver o documento oficial em"Discurso em "Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no ato político de celebração aos 15 anos do Foro de São Paulo" e comentário em Lula, Lula, réu confes confesso" so"). ). Estas decisões e sua implementação prática subentendem uma unidade estratégica e tática ainda mais efetiva do que aquela que transparece nas atas. 4) Segun Segundo do as Farc Farc,, a cria criaçã çãoo desse desse meca mecani nismo smo coor coorde dena nado dorr salv salvou ou da exti extinç nção ão o movimento comunista latino-americano e foi diretamente responsável pela ascensão dos part partid idos os de esqu esquer erda da ao pode poderr em vári várias as naçõ nações es do cont contin inen ente te.. (ver (ver Comi Comiss ssão ão Internacion Internacional al das Farc, Farc, “Saudação “Saudação à Mesa Diretora Diretora do Foro Foro de São Paulo, Paulo, 16 de janeiro janeiro de 2007”, significativamente já retirado do ar, mas recuperável em http://web.archive.org/web/20070310215800/www.farcep.org/?node>2,2513,1 http://web.archive.org/web/20070310215800/www.farcep.org/? node>2,2513,1 ).
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5) As declarações de solidariedade mútua firmadas no Foro de São Paulo entre partidos legais e organizações criminosas (ver por exemplo X Foro de São Paulo, “Resolução de Condenação ao Plano Colômbia e de Apoio ao Povo Colombiano”) não ficaram no papel, mas traduziram-se em ações políticas em que as entidades legais eram instantaneamente mobili mobilizad zadas as para protege protegerr e liberta libertarr os agente agentess das Farc Farc e do Mir presos presos pelas pelas autorid autoridade adess locais (explicarei isto melhor, com os documentos respectivos, num próximo artigo). Na pesquisa histórica, na investigação policial, nos processos judiciais, na ciência política ou em qualquer discussão discussão pública que se pretenda pretenda mais séria do que propaganda propaganda eleitoral eleitoral ou convers conversaa de botequi botequim, m, o princí princípio pio mais mais elemen elementar tar e incont incontorn ornáve ávell é que os documen documentos tos de fonte primária são a autoridade absoluta, o critério último de arbitragem entre as hipóteses e opiniões. Trinta anos de definhamen definhamento to intelectual intelectual sem precedentes precedentes no mundo civilizado civilizado tornaram tornaram esse princípio inacessível e incompreensível às mentes dos formadores de opinião neste país, principalmente aqueles que a mídia considera mais respeitáveis e dignos de ser ouvidos. A idéia mesma de “prova”, sem a qual não existe justiça, nem ciência, nem honestidade, nem muito menos a possibilidade da ação racionalmente conduzida, desapareceu do horizo horizonte nte de consci consciênc ência ia desses desses indiví indivíduos duos,, que se rebaix rebaixara aram m assim assim à condiç condição ão de criancinhas mentirosas, apegadas a sonsos jogos de palavras para fazer desaparecer por mágica os fatos que as desagradam ou que por outro motivo qualquer desejam ocultar. Não digo apenas apenas que se tornaram tornaram desonestos: desonestos: abdicaram por completo completo da capacidade capacidade de distinguir o honesto do desonesto, o certo do errado, o verdadeiro do falso. Uns fizeram isso por sacrifício voluntário no altar de suas crenças políticas, outros por presunção vaidosa, outros por comodismo, outros por mera covardia. Confiado neles, o Brasil cometeu suicídio intelectual, tornando-se um país incapaz de acompanhar acompanhar sua própria própria história história presente presente com aquele mínimo de consciência consciência alerta cuja presença distingue a vigília do sono. Jamais, na história da mídia mundial, tantos traíram ao mesmo tempo sua missão de investigar e informar.
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Os donos do mundo Diário do Comércio, 21 de fevereiro de 2011
As forças históricas que qu e hoje disputam o poder no mundo articulam-se em três projetos de dominação global: o “russo-chinês” (ou “eurasiano”), o “ocidental” (às vezes chamado erroneamente “anglo-americano”) e o “islâmico”. Cada um tem uma história bem documentada, mostrando suas origens remotas, as transformações que sofreu ao longo do tempo e o estado atual da sua implementação. Os agentes que os personificam são respectivamente: 1. A elite governante da Rússia e da China, especialmente os serviços secretos desses dois países. 2. A elite financeira ocidental, tal como representada especialmente no Clube Bilderberg, no Council of Foreign Relations e na Comissão Trilateral. 3. A Fraternidade Muçulmana, as lideranças religiosas de vários países islâmicos e alguns governos de países muçulmanos. Dess Desses es três três agen agente tes, s, só o prim primei eiro ro pode pode ser ser conc conceb ebid idoo em term termos os estr estrit itam amen ente te geopolíticos, já que seus planos e ações correspondem a interesses nacionais e regionais bem definidos. O segundo, que está mais avançado na consecução de seus planos de govern governoo mundia mundial, l, colocacoloca-se se explic explicita itamen mente te acima acima de quaisq quaisquer uer intere interesse ssess nacion nacionais ais,, inclusive os dos países onde se originou e que lhe servem de base de operações. No terc tercei eiro ro,, even eventua tuais is confl conflit itos os de inte intere resse ssess entr entree os gover governo noss naci nacion onai aiss e o obje objeti tivo vo maio maiorr do Califado Universal acabam sempre resolvidos em favor deste último, que que hoje é o grande fator de unificação ideológica do mundo islâmico. As concepções de poder global que esses ess es três agentes se esforçam para realizar são muito diferentes entre si porque brotam de inspirações heterogêneas e às vezes incompatíveis. Embora em princípio as relações entre eles sejam de competição e disputa, às vezes até militar, existem imensas zonas de fusão e colaboração, ainda que móveis e cambiantes. Este Este fenôme fenômeno no desori desorient entaa os observa observadore dores, s, produzi produzindo ndo toda sorte de interp interpreta retaçõe çõess deslocadas e fantasiosas, algumas sob a forma de “teorias da conspiração”, outras como contestações soi disant“realistas” e “científicas” dessas teorias. Boa parte da nebulosidade do quadro mundial é produzida por um fator mais ou menos cons consta tant nte: e: cada cada um dos três três agen agente tess tend tendee a inter interpr pret etar ar nos nos seus seus próp própri rios os term termos os os plan planos os
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e ações dos outros dois, em parte para fins de propaganda, em parte por genuína incompreensão. As análises estratégicas de parte a parte refletem, cada uma, o viés ideológico que lhe é própri próprio. o. Ainda Ainda que tentan tentando do levar levar em conta a totalid totalidade ade dos fatore fatoress dispon disponíve íveis, is, o esquema russo-chinês privilegia o ponto de vista geopolítico e militar, o ocidental o ponto de vista econômico, o islâmico a disputa de religiões. Essa diferença diferença reflete, reflete, por sua vez, a composição composição sociológica sociológica das classes dominantes dominantes nas áreas geográficas respectivas: 1) Oriunda da Nomenklatura comunista, a classe dominante russo-chinesa compõe-se essencialmente de burocratas, agentes dos serviços de inteligência e oficiais militares. 2) O predomínio dos financistas e banqueiros internacionais no establishment ocidental ocidental é demasiado conhecido para que seja necessário insistir sobre isso. 3) Nos Nos vári vários os país países es do comp comple lexo xo islâ islâmi mico, co, a autor autorid idad adee do gove govern rnan ante te depe depend ndee substancialmente da aprovação da umma – a comunidade multitudinária dos intérpretes categorizados da religião tradicional. Embora haja ali uma grande variedade de situações internas, não é exagerado descrever como “teocrática” a estrutura do poder dominante. Assim, pela primeira vez na história do mundo, as três modalidades essenciais do poder – polí políti tico co-m -mil ilit itar ar,, econô econômi mico co e reli religi gioso oso – encon encontra tramm-se se pers person onif ific icad adas as em bloco blocoss supranacionais distintos, cada qual com seus planos de dominação mundial e seus modos de ação peculiares. Isso não quer dizer que cada um não atue em todos os fronts, mas apenas que suas respectivas visões históricas e estratégicas são delimitadas, em última inst instân ânci cia, a, pela pela moda modali lida dade de de pode poderr que que repre represen sentam tam.. Não Não é exage exagero ro dize dizerr que que o mundo mundo de hoje é objeto de uma disputa entre militares, banqueiros e pregadores. Prat Pratic icam amen ente te toda todass as anál anális ises es de polí políti tica ca inter interna naci cion onal al hoje hoje disp dispon onív ívei eiss na mídi mídiaa do Br Bras asil il ou de qual qualque querr outro outro país país reflet refletem em a subserv subserviên iência cia dos “forma “formadore doress de opiniã opinião” o” a uma das três correntes em disputa, e portanto o desconhecimento sistemático de suas áreas de cumplicidade e ajuda mútua. Esses indivíduos julgam fatos e “tomam posições” com base nos valores abstratos que lhes são caros, sem nem mesmo perguntar se suas palavras, na somató somatória ria geral geral dos dos fatores fatores em jogo jogo no mundo, mundo, não acabar acabarão ão concor concorren rendo do para para a glória glória de tudo quanto odeiam. Os estrategistas dos três grandes projetos mundiais estão bem alertados alertados disso, e incluem incluem os comenta comentaristas ristas políticos políticos – jornalístic jornalísticos os ou acadêmicos acadêmicos – entre os mais preciosos idiotas úteis a seu serviço.
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