PAULA RUEDA TATUADORA ILUSTRADORA (11) 9 9588 4448
[email protected] pueda_ink pueda_ink
PAULA RUEDA TATUADORA ILUSTRADORA (11) 9 9588 4448
[email protected] pueda_ink pueda_ink
AGRADECIMENTOS Instituto IMagick Irmandade Hermética da Sagrada Arte Sociedade Novo Aeon Círculo Tifoniano A.R.L.S. Templo de Osíris Sociedade Internacional de Bhakti Yoga Yoga Pura A.R.B.L.S. Scripta et Veritas Veritas Grande Loge égyptienne de France Daniel Baltar
Editora Darash III Travessa da Colméia Fazenda Ibiúna - 622 Pindamonhagaba - SP (12) 991409194
Arte: Editora Darash Impressão: Gráfica 57
Março/Abril 2017 © 2017 Editora Darash
Editor Rafael Resende Daher
SUMÁRIO MARÇO/ABRIL - 2017 - N ª I - ANO I 07 O Mago da Renascença 07 O Humberto Maggi
30 Gurdjieff e Sua Escola Daniel F. do Nascimento
10 A Religião Antiga Varg Vikernes
36 A Morte Segundo os Abraâmicos e 36 A os Pagãos Álvaro Hauschild
15 Bruxas e Plantas Evgeny Golovin 21 Antropologia da Múmia Alexander Dugin 25 Como Assim, Zeus Nunca Traiu Hera? Marcelo Del Debbio 28 Confucionismo e a China Moderna Diego Vinícius Martins
39 Ayahuasca e Alquimia 39 Ayahuasca Alessandro jucá 42 Por que a Cabala? Avigdor Eskin 47 Fundamentos da Cabala Rafael Resende Daher 53 R.O.T.A - A Roda do Tarot Fernando Liguori
Sociedade Internacional de Bhakti Yoga Pura Uma escola iniciática tradicional de ensinamentos esotéricos de Bhakti-yoga
Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Gosvami Maharaja
ipbysbrasil ipbysbrasil
http://www.ipbysbrasil.com
O MAGO DA RENASCENÇA Por Humberto Maggi O mago da Renascença Giordano Bruno viajou pela Europa para divulgar as bases de um novo movimento religioso, baseado em ideias “egípcias”, derivadas do Hermetismo. Este movimento dependia do acesso que só um Mago poderia alcançar à esfera intermediária entre o mundo natural-humano e o divino, no qual a natureza alegóricasimbólica exige uma exegese disponível somente para poucos. O Profeta, de acordo com Bruno, atinge a esfera intermediária através de um uso transcendente da Arte da Memória, da qual Bruno se considerava um mestre. O resultado deveria ser a recepção de uma revelação que permitiria reverter a crise e a decadência da Europa, que Bruno acreditava como surgida na degeneração da religião Hermética original, causada dentro do Cristianismo: “A crise política e religiosa que perturbava a Europa não era, portanto, nenhum evento casual, de acordo com Bruno, mas de raízes profundamente teológicas e nascida tão somente na inversão de valores produzida pelo Cristianismo, que colocou as virtudes civis em segundo lugar e exaltou como valores supremos a humildade, a ignorância e a obediência passiva à lei divina. De acordo com a interpretação de Bruno, as sementes da decadência introduzidas pela pregação cristã
culminaram na reforma de Lutero, que representava o ‘anjo mal’, previsto no antiga profecia hermética.”[1] O resultado do contato profético alcançado pelo mago seria a determinação de uma lei que, ao invés de visar a maior glória divina, tem seu objetivo no aumento do bem-estar e do esplendor cívico do homem[2]. Nos escritos de Bruno, Hermes Trismegisto reaparece como representante de uma revelação mágica com objetivos claramente reformistas: “E o diálogo no De Umbris Idearum torna evidente que o instrutor de Philothimus — e, portanto, de Filoteo ou Teófilo, de Nolan, de Giordano Bruno - foi Hermes Trismegisto. É Hermes quem entrega o livro com a nova filosofia e da nova arte para Philothimus; e este livro é o “Nas Sombras das Ideias”, de Giordano Bruno que foi, na verdade, escrito por Hermes – isso quer dizer que é um livro sobre magia, sobre uma magia solar muito forte. A alusão ao Lamento no Asclépio, descrevendo como a religião mágica dos egípcios surgida tardiamente, em tempos difíceis, para ser proibida pela lei, refere-se a esta nova revelação hermética dada a Giordano
Bruno para a religião egípcia, a religião do intelecto, ou da mente, alcançada além da adoração do sol visível. Aqueles que proibiram a religião, pela lei, foram, na interpretação agostiniana do Lamento, os cristãos, cuja religião substituiu a dos egípcios. Mas, de acordo com Bruno, os falsos ‘mercúrios’ cristãos suprimiram a religião egípcia superior - uma interpretação anti-cristã do Hermetismo da qual muito mais provas serão adicionadas às obras de Bruno apenas mais tarde.”[3] É importante observar as fortes semelhanças entre o programa de Aleister Crowley, desenvolvido trezentos anos mais tarde, e o de Bruno. Ambos eram magos portadores de uma revelação, obtidas através de práticas mágicas, de carácter herméticosolar e destinada à reforma e regeneração da sociedade dos homens. O grande problema: a visão da profecia como resultado da mais elevada forma de magia apresentava aos representantes oficiais da religião Europeia, tanto católica como protestante, a iniciativa de se obter uma revelação nas mãos dos magos.. Isso carregava três grandes 07
O Mago da Renascença
ameaças: a) Atacava as premissas teológicas oficiais, segundo as quais a profecia e a revelação dependem exclusivamente da iniciativa divina. b) Tornava impossível para a autoridade eclesiástica censurar uma mensagem de origem supostamente divina. c) As mensagens proféticas de alguns dos grandes magos da Renascença, como Paracelso, Bruno, Campanella e Dee tinham um caráter claramente heterodoxo e reformista. Pretendo citar grandes excertos do excelente trabalho de Robin Bruce Barnes[4] sobre as influências apocalípticas da reforma, pois estão diretamente relacionadas com os esforços dos magos que estamos analisando aqui; então começo com um trecho que vai direto ao cerne da questão: “Nem toda magia repousava sobre fundamentos explicitamente neoplatônicos, mas praticamente tudo foi associado com alguma forma de misticismo. Em outras palavras, a magia assumia que o conhecimento poderia ser adquirido pela visão direta da realidade divina. Portanto, o foco de liberdade e o poder transformador tendia a afastar Deus da mente humana. Esta mudança de foco foi feita acima de tudo por praticantes de magia como Paracelso, bem como por contemplativos como Valentin Weigel e Jacob Boehme, hereges aos olhos da ortodoxia. Mas não devemos superestimar o quanto a magia do século XVI rejeitou as doutrinas cristãs, nem subestimar o quão longe a genuína devoção luterana poderia se dobrar em 08
Humberto Maggi
direção à especulação mística.”[5] universal. Em certo sentido, a noção de renascimento de uma A inclinação protestante em sabedoria antiga estava em direção à especulação mística desacordo com o entendimento e à profecia, de acordo com a confessional da verdade, realizada suposição de Barnes, pode explicar por luteranos devotos. A sabedoria parcialmente a permanência feliz antiga foi altamente valorizada que Giordano Bruno apreciou pelos buscadores da Renascença, nas cidades de Wittenberg e em parte porque era obscura e, Helmstedt, entre 1588 e 1590. por ser obscura, parecia que um Antes de mais nada, os anseios de núcleo de conhecimento divino Bruno por uma reforma hermética estava por trás, unindo todas as da religião certamente estavam, doutrinas religiosas e filosóficas. em algum grau, de acordo A implicação subjacente de com os anseios de reformista que todos os credos devem ser manifestados inicialmente por tolerados não poderia ter sido mais Lutero. A busca por mudanças estrangeira ao confessionalismo foi uma das locomotivas do luterano. Ainda que a noção de período e reapareceu novamente sabedoria antiga também pudesse no século XX, na reforma radical ser interpretada num sentido proposta por Aleister Crowley, adequadamente luterano. Tudo que não só reiterou os ideais da que era necessário era insistir magia renascentista, mas também que uma certa visão doutrinária deve muito às ideias luteranas, não era algo meramente exterior ideias como a universalidade ao envolvimento da verdade do sacerdócio entre todos os mais profunda, mas em um cristãos e a necessidade de alguma essência, ou mesmo um contato direto tanto com a essencialmente, como parte Bíblia como com Deus. Vemos dessa verdade. Precisamente, esta a repetição destas ideias, por visão permitiu que partidários exemplo, quando Crowley insiste da reforma luterana fossem, em que “todas as questões da lei ao mesmo tempo, ávidos são serão apenas pelo apelo aos perseguidores dos conhecimentos meus escritos, em todos os casos antigos ou ocultos.”[7] particulares”[6]. Entre a grande disputa de ideias e princípios “Na busca pela aprendizagem que reinavam na Europa entre futura na fonte da sabedoria os teólogos, uma disputa que antiga, o mago renascentista, foi levada para as ruas e moveu que alegava estar revivendo e exércitos: o apelo a uma sabedoria portando esta tradição, poderia validada pelo tempo, além de um tornar-se uma figura altamente acesso direto à fonte divina da admirada. Entre os luteranos, sabedoria figurada como uma para quem a busca de uma visão solução transcendente, mas como profética era central, um mago o mago poderia reivindicar o como Bruno poderia representar acesso a ambos? a esperança da clareza profética, apesar da profunda heterodoxia “Como a maioria das de seu pensamento.”[8] universidades alemãs da época, Wittenberg partilhava totalmente Podemos ver esses excertos da do renascimento da antiguidade. luta subterrânea da sabedoria A crença na superioridade da hermética e mágica em sua sabedoria antiga foi quase que tentativa de criar um ambiente
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
de tolerância e respeito, de manifestação pessoal plenamente livre. Foi, e ainda é, um conflito que acontece principalmente no interior da mente humana, um confronto entre a criatividade mágica inerente a cada ser humano e as imposições supersticiosas, forçadas pela tirania através da opressão ideológica. Os magos são essencialmente adeptos de uma sociedade livre onde a individualidade é respeitada, pois é só neste tipo de sociedade que eles podem prosperar em seus desejos, pois eles sentem o pior da opressão. O apelo à figura de Hermes Trismegisto e sua defesa tornaram-se parte de uma estratégia intelectual que visava fazer a magia socialmente aceitável e, por causa disso, os magos da Renascença elaboraram apologias baseadas em uma divisão de seu campo teórico: definições de uma magia natural e uma outra magia espiritual foram defendidas em oposição às formas consideradas mais perigosas ou religiosamente inaceitáveis. “A transição do período medieval à Renascença na Europa cristã foi acompanhada por uma reavaliação da situação da magia em alguns círculos intelectuais. O aparecimento de organismos antigos da literatura neoplatônica e hermética em traduções para o latim e o italiano, juntamente com o processamento de um corpus significativo da literatura cabalística para o latim e italiano, precipitou o surgimento de uma nova atitude em relação à magia, primeiro nos círculos de literatos florentinos e depois, sob sua influência, em uma longa série de renascimento europeu e em figuras pós-Renascença em toda a Europa. Essa reavaliação positiva da magia não era uma simples mudança da época
medieval. Figuras renascentistas mantiveram-se reticentes, se não manifestamente negativas, quanto aos tipos populares da magia medieval. Para eles, a magia era a sabedoria ensinada por antigos mestres como Hermes Trismegisto ou Jâmblico, que não previa uma maneira
pragmática de resolver problemas materiais por meio dos poderes sobrenaturais ou infernais. Pelo contrário, era uma sabedoria com base em um vasto conhecimento de ordem universal, um conhecimento que culminou na atuação da potencialidade inerente na natureza humana. Em vez de ser a prática de pessoas obscuras e periféricas, o mago da Renascença passou a designar o ápice da realização humana, para ser cultivado pela elite para exercitar as qualidades humanas que testemunhavam a plenitude da perfeição humana. Não era o domínio do mundo material o
objetivo dos magos eruditos da Renascença, mas a totalidade do espírito.”[9] Notas de Rodapé [1] Dictionary of Gnosis &Western Esotericism, editado por Wouter J. Hanegraaff.. Brill (2006) [2] The Cambridge History of Renaissance Philosophy, editado por Charles B. Smith e Quentin Skinner. Cambridge University Press (1992). [3] Giordano Bruno and the Hermetic Tradition, Frances A. Yates. Routledge e Kegan Paul (1964) [4] Prophecy and Gnosis, Apocalypticism in the Wake of the Lutheran Reformation, Robin Bruce Barnes. Stanford University Press (1988). [5] Ibid. [6] The Book of the Law, Aleister Crowley. Red Wheel (2011). [7] 7Prophecy and Gnosis, Apocalypticism in the Wake of the Lutheran Reformation, Robin Bruce Barnes. Stanford University Press (1988). [8] Ibid. [9] Jewish Magic from the Renaissance Period to the Early Hasidism, Moshe Idel. In Religion, Science, and Magic, em Concert and in Conflict, editado por Jacob Neusner. Oxford University Press (1989). Humberto Maggi é escritor, tradutor, pesquisador e mago. Publicou a coleção Thesarus Magicus, uma valiosa coleção de textos fundamentais para a Magia. Para comprar : https:// www.clubedeautore s.com.br/ authors/132650
09
PAGANISMO - A ANTIGA RELIGIÃO Por Varg Vikernes
Muitos europeus étnicos estão relutantes na hora de se autodeclararem pagãos, conquanto muito queiram assim se chamar. A razão para isto, entre outras coisas, é que: “Há tantos hippies sujos, maconheiros, obscenos e adeptos do amor livre tirando proveito do termo” (Para citar um amigo meu), e pessoas sensíveis realmente não desejam ser associadas a esse tipo de gente.
der vontade e nunca tomar banho. Eu não uso o termo para trocar o “Deus” cristão por uma “Deusa” e odiar homens ao invés de mulheres, como as wiccanas parecem fazê-lo. O problema é que e o termo “pagão” é muito amplo. Na verdade, pode ser comparado à ideia de “cristão”. O que é um cristão? Nós temos todos os tipos de interpretações da Bíblia e dezenas de diferentes versões de cristianismo. Até a Ku Klux Klan é cristã! Os amish, as testemunhas de Jeová, os jesuítas, os maçons, os gnósticos e por aí vai. Todos são “cristãos” e todos reclamam sua própria versão como o “verdadeiro” cristianismo. A única coisa que possuem em comum é a adoração de Cristo, embora eles não concordem sobre quem ou mesmo o que Jesus foi.
Na Noruega, eu tenho sido visto como outra razão para que as pessoas não se autodenominem pagãs, e muitos dos supostos pagãos da Noruega fizeram campanha contra mim, para me ostracizar e me alienar de todo o movimento pagão; mas, ironicamente, as pessoas que não querem ser associadas a mim são os mesmos hippies sujos, maconheiros, obscenos e adeptos do amor livre que, por sua vez, Assim como os cristãos baseiam impedem que outros se declarem sua fé na mitologia hebraica (O pagãos. Velho e o Novo Testamento), os pagãos todos baseiam sua fé Alguma alma ingênua argumenta na mitologia europeia. Algumas que, ao invés de lutarmos, nós nos dessas interpretações podem ser deveríamos unir e trabalhar para boas e outras podem ser bem o nosso objetivo em comum. O ignorantes, mas quem poderá problema, é claro, é que nós não dizer o que é o quê? Eu estarei temos um objetivo em comum. Eu certo se disser que são tolos os não uso o termo “pagão” porque pagãos que verdadeiramente necessite de uma desculpa para acreditem em Þórr atravessando fumar maconha e usar joias e e iluminando o céu com sua trajes exóticos, ou porque deseje carruagem e seu martelo? Eu dormir por quanto tempo me estarei certo se disser que 10
esses hippies maconheiros são ignorantes que não conhecem quase nada sobre paganismo, apesar de se autodenominarem pagãos? Eles estão certos quando afirmam que sou cego e apenas uso o paganismo indevidamente para “esquemas racistas e vis”? Quem poderá dizer se estão certas as pessoas como eles ou as pessoas como eu? Eu acredito que ninguém tem o direito exclusivo ao termo, mas nós podemos fazer alguma pesquisa para desvendar o que o paganismo é e sobre o que realmente era. A palavra “pagão” provém, de acordo com alguns, do latim “paganus”, o que significa simplesmente “camponês”. A palavra inglesa “villain” é originalmente o mesmo termo: uma pessoa que mora em uma aldeia ou no campo. Acredita-se que esta palavra foi usada para descrever pagãos pois o cristianismo fora primeiramente às cidades, indicando que as populações do campo continuavam praticando a velha religião por um certo tempo, antes de serem igualmente convertidos ao cristianismo — e neste entretempo, eram visto como vilões. A outra teoria é de que “pagão” a
Paganismo - A Antiga Religião
deriva do grego “pagos”, o que significa “monumento de pedra” ou “menhir”, um termo usado porque os pagãos praticavam seus ritos ao redor de monumentos de pedra, como Stonehenge, Externsteine, os templos de pedra da Grécia Antiga, os menhirs da Europa Setentrional e assim por diante. Porém, nós não sabemos de onde a palavra “pagão” deriva e nem o que significa. Outra palavra usada em geral é a inglesa “heathen”. Este é o nome dado pelos cristãos aos pagãos que viviam na Europa Setentrional — nas regiões de urze [Heathery] do Oceano Atlântico. Ela significa então e simplesmente “uma pessoa que vive nas regiões de urze”. Isto nos diz ainda menos da religião pagã do que o próprio termo “pagão”. “Odinista” é um termo moderno, então não me incomoda em escrever sobre ele, mas Ásatru (“Crença nos Æsir” ou “Crente os Æsir”) também é um termo inventado por cristão e na era cristã. Ao invés de acreditar no “Deus” hebreu, eles acreditavam nos Æsir, a família nórdica de deuses, de forma que eles eram simplesmente “crentes” nos Æsir (Isto é o plural do nórdico áss, que se traduz como “uma fonte de enunciação divina”). Então, que nome eles davam para a sua religião? Bem, por que eles dariam um nome para ela, quando ela era a única religião que eles tinham e conheciam? No Japão, eles não chamam a sua religião Xinto por um nome, também, pelo menos não até terem de separar sua religião nativa do budismo e do confucionismo estrangeiros. Por que os nossos antepassados, então, deveriam dar qualquer nome para a sua religião? O que
Varg Vikernes
chamamos de paganismo era, para eles, simplesmente suas velhas tradições, costumes e mistérios (Ritos religiosos secretos). Na Escandinávia, nós temos um nome para as antigas práticas mágicas que sustentam esta afirmação. Você pode ter ouvido falar de seið, mais conhecido como a tradição de magia ritual das mulheres escandinavas. O nórdico seið, enquanto mera palavra, tem um significado e este é o mesmo do norueguês sed, que significa simplesmente “costume”. Isto é dizer que eles chamavam seus costumes mágicos de nada mais, nada menos do que “o costume”. O ato de enfeitiçar na Antiga Escandinávia era conhecido como galdr. Este era um tipo mais masculino de mágica, envolvendo runas e invocações; então não deveriam surpreender ninguém quando eu digo que galdr se traduz como “exultar” ou “gritar”, e que isto seja entendido como “encantamento” ou “canção mágica”. Quando eles chamavam seus costumes religiosos de “os costumes” e suas canções mágicas de “as canções mágicas”, por que teriam de possuir algum nome extravagante para o resto de suas tradições religiosas? Simplesmente não há um nome para a antiga crença. Por esta razão, eu escolhi chamá-la na maior parte do tempo apenas de “a antiga crença”, em razão de esta ser a descrição mais correta e precisa que eu possa imaginar. Há outro significado para o termo “pagão”, embora eu não o tenha mencionado. É igualmente entendido como um nome para aqueles que não são judeus ou não possuem uma fé judaica (Isto é, qualquer forma
de cristianismo, islamismo ou judaísmo). Por causa disto eu me sinto confortável em empregar o termo “pagão” para me descrever (Mesmo que embora isto revele muito pouco sobre as minhas verdadeiras crenças), porque eu não sou judeu e nem tenho uma fé judaica. Contudo, muitos desses “pagãos”, que afirmam possuir uma fé pagã, construíram sua fé sobre interpretações cristãs da antiga crença; e, em razão disto, acreditam em verdade não nos deuses europeus, mas, sim, nos deuses europeus como os cristãos os veem. É por isto que eu ridicularizo tantos desses assim denominados pagãos e sinto que não temos um objetivo em comum; porque a sua prática religiosa não é mais do que um escárnio à antiga crença e, de fato, mais se parece com algum tipo de perversão da fé cristã, quando a filosofia e toda a visão de mundo são absolutamente cristãs. A razão pela qual esses pagãos tanto odeiam a mim e a minha classe, a ponto de promoverem campanhas para nos ostracizar e alienar do movimento, se dá pelo o fato de serem basicamente um bando de cristãos, incapazes de compreender o que nós — os verdadeiros pagãos — estamos fazendo, dizendo ou mesmo pensando nesta Terra. Eles apenas renomearam seu sistema de crenças cristão; porém, eles permanecem cristãos. Agora, eu tenho que admitir que mulheres vestidas em trajes medievais ou pré-históricos fiquem ótimas, não menos do que quando em roupas modernas, e eu iria adorar se mais mulheres usassem tais roupas frequentemente; mas 11
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
paganismo não é sobre se vestir como os nossos antepassados pagãos faziam. Pessoas são bem vindas a fazê-lo, é claro, mas isto não diz nenhum respeito ao paganismo. Os “pagãos” acreditam que os praticantes da antiga religião devem ser tão reacionários a ponto de nem mesmo poder vestir roupas modernas, ou que vestir a mesma roupa de nossos antepassados os fará pagãos? A única coisa que verdadeiramente importa, em se tratando dos mistérios pagãos, é a parte de vestirem roupas brancas (Como a roupa original do Papai Noel e os robes druídicos), pois eles não deveriam trazer nem uma impureza para os lugares sagrados (E branco é a cor da pureza). No entanto, e com certa frequência, os cultos femininos eram praticados sob nudez, então elas não usavam necessariamente alguma roupa (Apenas a própria pele branca). Outra coisa que provavelmente é um problema para esses hippies sujos, maconheiros, obscenos e adeptos do amor livre que se autodenominam “pagãos” e dizem praticar ritos do tipo, é que “branco” também significa inocente. Os antigos pagãos acreditam que não deveríamos trazer nada de impuro para o wyrd (“estima”, um nome para “o outro lado”), então, apenas mulheres virgens ou casadas, que nunca tiveram relações com nenhum outro homem além do marido, eram permitidas a praticar “os costumes” (Estar com outras mulheres não parecia ser um problema, neste contexto, desde que as outras mulheres fossem igualmente sacerdotisa de Freyja do mesmo círculo). Além disto, apenas mulheres (E homens) com olhos claros (Isto é, olhos cinzas, verdes ou azuis) são bem vindos 12
ao salão de Óðinn. Isto não é algo que inventei por ser um “racista do mal”; está claramente exposto na mitologia nórdica que apenas aqueles com parentesco de Jarl (Os filhos e filhas brancos e de olhos claros de Heimdallr [Rígr]) são admitidos em Valhalla, o salão de Óðinn. Ninguém mais é bem vindo, porque eles não são brancos (Ou seja: puros) de alma e de sangue. Agora, digame quantas dessas “wiccanas” ou “pagãos” vivem desta forma? Quantas dessas mulheres são virgens (Ou estiveram apenas com seus maridos) e quantas delas também possuem olhos azuis? (“Os olhos são o espelho da alma.”).
independentemente de quantos homens houvesse; mas, se apenas um homem sobrevivesse junto a várias mulheres, ele ainda poderia engravidar a maioria delas (E provavelmente não seria difícil de convencê-lo a fazê-lo, afinal, já que todos os homens são cachorros) e garantir que muitas crianças nascessem. Filhos são o fundamento em que todas as sociedades que desejam prevalecer devem se erigir. Isto nos leva ao meu próximo ponto. As “wiccanas” e os “pagãos” não parecem entender que a adoração à Mãe Terra, a deusa, era primeiramente e acima de tudo um culto à fertilidade, onde fazer e criar (Qualitativo) filhos era visto como a tarefa mais importante. Em razão disto, as sacerdotisas do círculo de Freya pegavam o melhor homem da tribo para ser o sacerdote de Freyr delas; porque qualidade era o mais importante, e, naturalmente, o melhor homem poder-lhesia oferecer os melhores filhos. Por isto os escolhidos como sacerdotes de Freyr possuíam várias esposas. As crianças fracas, doentes, sem saúde ou não ideais eram largadas na floresta para serem comidas por lobos. Eles não faziam isto porque eram pobres, mas porque sua religião era dedicada a isto.
Os homens não tinham nem sequer permissão de observar as mulheres durante a prática dos “costumes”, a menos que eles mesmos estivessem praticando os mistérios (Como os solitários sacerdotes de Freyr às vezes faziam). Esses mistérios eram apenas para os iniciados. “Os costumes” eram vistos como uma atividade bastante feminina, e homens e mulheres tinham papéis diferentes na sociedade; então, os homens possuíam seu próprio culto guerreiro, onde praticavam outros rituais (Como o ritual de iniciação [Sagrado] do culto guerreiro) e o mais masculino galdr; porém, as mesmas restrições se aplicavam a E é aqui onde os “pagãos” esse culto também. modernos descobrem que talvez não sejam “pagãos”, na verdade, Mulheres eram vistas como porque acham esse costume praticantes mais poderosas de demasiadamente cruel. Contudo, magia, apesar de que os homens esta é a filosofia pagã de vida: não eram vistos como criaturas deixe apenas os saudáveis, os mágicas da mesma forma que fortes e até mesmo os morais, as mulheres eram. As mulheres os bons e os belos sobreviverem. eram vistas como mais preciosas, Somente cristãos apreciam geralmente falando. Se apenas crianças degeneradas, criaturas uma mulher sobrevivesse em geneticamente defeituosas que uma tribo, a tribo estaria perdida, nem deveriam, em primeiro lugar,
Paganismo - A Antiga Religião
viver, crescer e reproduzir; e por se proceder desta forma, destroemse as nossas propriedades genéticas em longo prazo. Apenas cristãos pensam em quantidade ao invés de qualidade. Apenas cristãos acreditam ser pior matar um indivíduo a deixá-lo infestar sozinho toda uma comunidade com o veneno genético dele ou dela. Isto, é claro, é onde as “wiccanas” e outros “pagãos” anti-Varg enlouquecem, porque se lhes começa a esclarecer que o racismo talvez não esteja assim tão distante da filosofia pagã, na verdade. Talvez a eugenia seja o paganismo em prática! Talvez não seja tanta coincidência que os mesmos “racistas radicais” como eu prezem pelo paganismo, no fim das contas? “Ai meu Deus!”. Óðinn, na verdade, enviou Heimdallr à Terra para criar uma raça humana superior. Sua primeira tentativa é chamada de Trell (Escravo [Thrall]), mas ele é negro, feio e estúpido; então Heimdallr não lhe dá mais atenção e continua tentando. O próximo resultado é Karl (Homem livre), que tem cabelos ruivos-castanhos, é alto e forte. Ele ainda não está suficientemente satisfeito, contudo; então ele continua tentando. Logo, finalmente ele obtém um filho chamado Jarl (Em proto-nórdico: *EirilaR; em inglês: earl [Conde, nobre]), inteligente, belo, de olhos claros e brancos (Europeu). Heimdallr tinha em fim criando um homem Valhalla, e assim ele o ensina — e somente a ele — as runas (Segredos) dos deuses e Valhalla está aberta para a gente dele. A espécie dele é a única que pode caminhar sobre a ponte que leva a Ásgarðr (“A corte dos Æsir” ou “o jardim dos Æsir”). Os outros queimarão e
Varg Vikernes
cairão como rochas caso toquem tolerante à homossexualidade. seus pés sobre a ponte, vigiada Você não pode ser pagão e não por Heimdallr. querer ter, o quanto for possível, apenas filhos racialmente De qualquer modo, para entrar, saudáveis. Você não pode ser é necessário ser da espécie dos pagão e acreditar em “amor Jarl, ser inocente e não trazer livre”. Você não pode ser pagão nem uma impureza; já para sair e ao mesmo tempo aquilo que os novamente, após visitá-lo, é cristãos chamam de “humanista”. também necessário estar vivo. Naturalmente, não interessa o Quando o assunto é que você dirá, já que o guardião da homossexualidade, há outras ponte já sabe todas as respostas regras dentro da filosofia pagã (Ele é, afinal, Heimdallr, o deus para as mulheres, no entanto. branco, ou “Papai Noel” se você Mulheres são livres para escolher preferir, que sabe de tudo o que como elas desejam viver. As deve ser sabido sobre os filhos mulheres pagãs geralmente dele); porém, se você tentar mentir tomavam os sacerdotes de para ele, você será certamente Freyr somente para relações surpreendido pelo que irá sexuais “desconfortáveis”, mas, acontecer (Apenas pergunte ao quando não para fazer filhos, Rei Artur e seus cavaleiros...). elas preferiam a companhia de Como todos sabemos, apenas os outras mulheres, e isto era visto bons filhos recebem presentes do como perfeitamente aceitável. “Papai Noel” em Yule, enquanto A diferença entre homens e os outros ganham apenas suas mulheres na sociedade pagã meias cheias de cinzas (E cinzas não era, em outras palavras, são tudo o que sobra daquelas “supressiva” para as mulheres. As crianças “más” que tentam mulheres tinham regras especiais atravessar a ponte de arco-íris) da para seguir, porém possuíam chaminé. igualmente direitos especiais — porquanto homens e mulheres Esta é a mitologia, uma declaração são diferentes. inequivocamente racista deixada por nossos antepassados. Assim Ainda lhe é facilmente possível ser sendo, são as pessoas como um pagão e ter olhos castanhos eu “cegas”, e fazemos nós “uso ou não ser inocente; apenas indevido” dos símbolos e da não lhe será permitido praticar religião de nossos antepassados, “os costumes” ou “as canções quando espalhamos racismo? mágicas” nesta vida (E isto só diz Eu deveria ser ostracizado do respeito a uma pequena parte do movimento “pagão” quando paganismo, para falar a verdade). advogo por uma visão obviamente Então, basicamente, você apenas em concordância com a de nossos tem de esperar até a próxima antepassados e a religião deles? vida para estar nos conformes Eu acredito que esses “pagãos” em relação aos padrões morais deveriam compreender de uma e genéticos necessários. Talvez, vez que não são pagãos de forma você só venha a alcançar estes alguma, mas — como eu havia padrões senão na vida após a dito — apenas um bando de próxima; isto não é um problema cristãos. Você não pode ser pagão se você for pagão, contudo, em e antirracista. Você não pode ser razão de acreditarmos na vida pagão e homossexual ou mesmo eterna do indivíduo entre os 13
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
consanguíneos. Quando morremos, apenas tiramos uma pausa da vida para nos purificarmos antes de retornarmos a ela, quando uma nova criança nascer entre nós. Mesmo que alguns europeus sejam um pouco “geneticamente poluídos”, por assim dizer, tendo olhos castanhos por isto, trata-se de algo que pode ser resolvido através de algumas gerações sob higiene racial. Aqueles que por enquanto não são bem vindos a Valhalla, sê-lo-ão em Þrúðheimr, Sessrýmnir ou outra morada divina, e, é claro, sê-lo-ão em Hel (Todos visitam Hel na morte). Isto é paganismo. suficientemente bom para Óðinn e novamente devo salientar que mesmo estando eu usando os nomes e a mitologia escandinava como referência, eu não estou falando exclusivamente da Escandinávia, dos povos escandinavos ou apenas sobre a versão escandinava da antiga
crença. Falando-se dos bálticos, dos romanos, dos gregos, dos gaélicos (Ou “celtas” se você preferir), dos germânicos, dos eslavos, dos finlandeses (Úgricos) ou dos escandinavos, somos todos europeus aborígenes da espécie de Jarl e todos nós praticávamos a antiga crença. Se chamamos o deus da luz (Verão) de Baldr (“Fim do dia”) ou Bjelobog (“Deus branco”) e o deus da escuridão (Outono) de Hoðr (“Capuz”) ou Czernebog (“Deus negro”), isto não importa. Se chamamos a deusa da fertilidade humana de Freyja (“Amor”) ou Afrodite (“Espuma”), isto não importa. Se chamamos o deus do céu de Týr (“Honra”), Uranos (“Paraíso”, “céu”, “firmamento”) ou Svarog (“Paraíso”, “céu”, “firmamento”), isto não importa.
isto exemplifica perfeitamente o caráter ignorante e absurdo da interpretação cristã. Não há “mal” no paganismo, apenas partes naturais e necessárias da vida e da natureza. Após ler este artigo, você deveria saber se você é ou não um pagão e se você deveria ou não usar este termo para se descrever. Eu sei que eu sou um pagão. Talvez um corrupto, fraudulento, inconstante e cínico “Loki”, mas ainda um pagão. Varg Vikernes é músico, escritor e ativista. Fundador da banda Burzum, publica vídeos sobre a Europa e a defesa dos verdadeiros valores Europeus em seu canal no youtube: https://www.youtube. com/user/ThuleanPerspective . Site oficial: http://burzum.org/
Quando os cristãos afirmam que Bjelobog e Czernebog são Traduzido do inglês por Clécio respectivamente o “bem” e o “mal”, Pereira
Astrodiagnose - Astrologia Egípcia - Destilação de Óleos Essenciais - Espagiria Tabuletas de Argila - Canto Harmônico - Tarot Egípcio São Gonçalo do Rio das Pedras - MG https://www.escoladeespagiria.com
14
BRUXAS E PLANTAS Por Yevgeny Golovin
Ela espreita com uma planta e alguns objetos, percorre o pântano com os pés descalços, confiantes em um chão familiar. No vermelho do pôr do sol avista uma cauda prata na água, não é um peixe, mas não é a cauda o principal objeto de sua busca. O pintarroxo começa seu canto, orientando sua procura, até que ela se curva e puxa para fora da lama o rabo de uma cobra bizarra. Agita sua saia suja e úmida e esconde o cabelo sob o xale: a senhora, agora imunda, caminha pela estrada rural, evitando os raros transeuntes. Seria ela uma bruxa? Não sei, mas é muito suspeita. Ela ajuda a parteira e depois tira o mauolhado pelo umbigo, cura bebedeiras com o levantar da mão, cura mormo das éguas, sopro nas narinas, cuidou do pastor Marcos depois de sua queda nas pedras... Essas estranhas mulheres são conhecidas em vários países e com nomes diferentes: witch (aquela que conhece a deusa Ma); bruch (serpente de fogo), damona (escuridão lunar), felona (dormindo nas raízes de um carvalho); meluzina (tempestades nos rios); melanoda (pesadelo negro). Seus inimigos buscam matá-las, preferindo mergulhar seus corpos em pântanos ou areia movediça. Pensam que mesmo quando fazem uma boa ação,
ainda estão vivendo no vazio, no mal da perdição. Elas sabem demais e qualquer excesso de conhecimento é inspirado pelo Príncipe das Trevas. E qual é a influência das bruxas nos ambientes normais? Há, de certo modo, embora ultimamente seja maior a influência da tv e das máquinas. Mas as bruxas, a essência feminina, ainda são interessantes. É aquele lado que gosta de ouvir fofocas incessantes, apreciar o canto dos pássaros, reclamar da cebola e do repolho, participar de brigas familiares e deduzir conclusões bem originais. É o lado que recebe a tradição oral, os livros de magia e feitiços – nas leituras mais leves. Por exemplo, no IV Ato de Macbeth, as bruxas reúnem no caldeirão: o duro nariz de turco, o dedinho de uma criança sem linho que matado a mãe houvesse sem dizer nenhuma prece. Deixai bem forte a mistura; juntai do tigre a fressura, porque nosso caldeirão tenha caldo em profusão. Mais dores para a barrela, mais fogo para a panela.
Apesar do profundo exagero, o pathos negativo colocado por Shakespare é evidente. Bruxas certamente são mulheres más e possuem como padroeiras Ma, Cibele, Hécate e outras piores.
Mas uma coisa nem seus inimigos negam: conhecem e sentem a natureza profundamente. Surge
algo
para
reflexão.
Os homens monoteístas acreditam no “criado à imagem e semelhança de Deus”. Separado, mas eleito e protegido pela divindade. Independente da fé ou descrença em Deus, a ideia da superioridade da mente humana sobre tudo estabeleceu a mudança do teocentrismo para o antropocentrismo. O homem organiza seu próprio habitat, ou seja, a civilização, de forma agressiva e pragmática, usando a natureza como fonte de materiais. Depois de Descartes, este problema foi resolvido definitivamente. Deus, o Espírito Universal, a Inteligência, é o único explorador da mente humana; a natureza é a essência do aglomerado de substâncias úteis e prejudiciais; o processo natural é imprevisível. O resultado é o existencialismo, o centro do mundo movido para o espaço, especialmente o interhumano e a vida na natureza, até a natureza da vida cessar. Armado com instrumentos e conhecimento, zoólogos, 15
Bruxas e Plantas
ornitólogos, entomólogos e botânicos dissecaram, dividiram e classificaram dados originais em milhares de fragmentos sintetizando tudo em um quadro geral do universo, uma unidade que é uma reminiscência do princípio. Além disso, as pessoas projetam na natureza suas próprias éticas e estéticas, bem como seus modelos familiares, sociais e, com eles, tentam explicar os fabulosos gafanhotos e as leis da selva. No entanto, não existe lei alguma, pois o processo da vida é desprovido de generalizações abstratas. Símbolo periodicidade e uniformidade são inerentes à razão humana, mas não à natureza. Por conseguinte, a humanidade é dividida em grupos: razoáveis e menos razoáveis. Este último, é claro, inclui os povos primitivos, magos, feiticeiros, bruxas, todos os que ainda habitam em uma só cadeia do ser. Eles argumentam: a vida constante na floresta e a vida do campo tornam o sujeito estranho às formas civilizadas de existência. Sim? Quem não está conosco, está contra nós. É perigoso, excêntrico e estranho alguém orando para uma pedra branca, com sua longa e velha barba, no meio do mato, ouvindo os gritos amargos da natureza e o ranger dos ramos de carvalho. A religião monoteísta é autoritária, mas não conseguiu destruir o culto da natureza e os rituais pagãos, pois também possui o hábito da divisão entre magia branca e negra, bem e mal. Este trecho é particularmente interessante: “Demonólogos listam mais de trezentos tipos de 16
Yevgeny Golovin
feitiçaria e trabalhos relacionados à funcionalidade das constelações negras, monólitos e os quatro elementos cósmicos. A retribuição não foi dada apenas no fabrico de pomadas e poções, mas também em coisas suspeitas. É incrível como os vizinhos e parentes ofereciam facilmente ao Tribunal evidências orais e escritas”.[1] Durante os três séculos de atividade vigorosa da ordem dominicana (1487 - Bula do Papa Inocêncio VIII contra a bruxaria, até 1787 - a última sentença de morte da Inquisição Espanhola), a Inquisição queimou ou torturou cerca de duzentas mil bruxas. Não mais do que milhares, curiosamente.
seguinte: no final da Idade Média e mesmo durante o barroco, as mulheres ainda não tinham perdido sua magia natural, que era a autoridade feminina sobre o masculino. Não é possível separar o fascínio feminino natural e a bruxaria. Ele encanta o homem naturalmente, sem qualquer outro conhecimento especial. Coisas necessárias às bruxas: algum algodão embebido em sangue menstrual, um vestido com algum cordão trançado, cabelos longos, um pedaço de pano para molhar com saliva... São os meios mais simples de atração, os catalisadores da antiga magnésia preta.
Mas se você quer ser tornar uma A validade da justiça da bruxa, saiba que a Grande Mãe é Inquisição é duvidosa, pois muito complexa. havia uma clara e dramática manifestação de misoginia. Com *** muito zelo, investigadores e demonólogos alertavam sobre Há uma erva (um arbusto incrível) os perigos e prazeres oferecidos chamada Hypericum perforatum. pelas mulheres. Livros de Jean Porque perforatum e quem é Bodin, Richard Baxter, Ludovico perfurado não está claro. A Sinistrari e François Krespe nomenclatura botânica nem comparam as mulheres com sempre é sofisticada: é o famoso aranhas, sapos, cobras, etc. “A hipérico! “Balde furado”, “sapatos mulher é impura não só durante perfurados” - tudo bem, mas seu período, mas também em como utilizar um epíteto pouco todos os outros momentos,” honroso para uma inflorescência escreveu Jean Bodin em “A dourada de cinco pétalas? Suas Demonomania dos Feiticeiros”. folhas são verdes translúcidas “Os pensamentos das mulheres, essencialmente femininas. Esta quando surgem, são destinadas planta mágica, útil e agradável, à luxúria, libertinagem e míseros possui diferentes nomes em benefícios deste mundo”. diferentes nações: na Rússia, há mais de uma dúzia de títulos e O encanto de uma moça bonita “caçadora” é, sem dúvida, o mais seria o caminho oposto ao infeliz. Vacas e ovelhas adoecem Reino dos Céus, por afastar quando comem hipérico e, por os pensamentos piedosos. serem animais de servidão, Obviamente, a mulher é mais acabaram associando à planta a próxima à natureza do que o capacidade de busca. homem, e assim a demonologia fazia seus ataques de ideias O tratamento que recebe por abstratas. É impossível esquecer o bruxas, feiticeiros, xamãs e
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
adicalmente diferente de seu “uso prático”. De modo geral, significa a destruição de qualquer vida — dos mares, solo, coelhos, ratos, furões e, claro, de outras plantas. Como tudo no mundo moderno, o hipérico é separado em diversos componentes: é útil, mas também é nocivo, sua raiz é fundida, cerveja é feita de sua haste, suas folhas fazem óleo, também é utilizado no fabrico de corantes para vinhos e licores etc.
costumes e tradições locais, mas a divisão ternária permanece. Devo esclarecer: isso não se refere ao corpo físico, mas também ao ambiente (o todo físico, o coração e a circulação sanguínea) ou aos “sonhos do corpo lunar” (Paracelso). Sob a influência de efeitos mágicos, quando é considerado “absorto”, o homem age inconsciente em situações inesperadas, sem esperança. Dependendo da orientação direta ou indireta, o feitiço é dividido entre “pequeno” ou “grande”. O dono da casa, por exemplo, não desejava a visita de Ivan Ivanovich - ele escondeu uma raiz da Ervade-são-joão em uma roupa com o nome da visita indesejada e
o mato, uma ajuda necessária. Se o solo está “insatisfeito”, seu sinal é bem reconhecido pelas bruxas e agricultores - que pedem desculpas pela ansiedade e partem. Tais “boas maneiras” estão detalhadas nos livros de l. Rusalova[3] e A.F. Kibitin[4]. F. Kibitin conta algumas histórias interessantes sobre a Erva-desão-joão — chamada de “lilita”. Se é uma referência à deusa bíblica Lilit ou ao paleoeslavo Lilita (lua), é difícil dizer. Então: o pai força a filha a se casar com um comerciante muito rico, sua mãe chora desolada:
Simples e propenso para a contemplação da natureza, sua vegetação é agradável ao olhar, vemos sua luxuosa flor em seu ambiente e então formamos diferentes e confusas conclusões. Fervam, ó pústulas Por que o hipérico (ErvaCom uma pitada de barba, de-São-João) é evitado pelas Pois os ricos formigas, mas visitado pelos só desejam muito dinheiro. besouros? Por que espanta as vespas em seu florescimento, A menina decide buscar mas é visitada pelas libélulas, ajuda. Deve ser em uma que balançam tranquilamente determinada data e hora, em seu centro? Por que em um local específico, para as flores do hipérico não pedir para a terra ceder lilita gostam da lua cheia, mas (Erva-de-são-joão) e suplica: se regozijam com Marte e Vênus? É muito difícil descobrir tantas perguntas: o hipérico é plantado em De forma sutil, mas clara, a torno dos galinheiros, para terra entende a súplica da afastar raposas e doninhas garota — a raiz surge devagar, o cheiro da erva é repelente enquanto a moça canta: a escondeu sob o portão. Este aos predadores. é um “feitiço pequeno”, pois o Lilita, destinatário não sofre muitos A magia não é feita de causas e danos. Mas há outra coisa - a levedo do orvalho, efeitos, perguntas e respostas, vingança dirigida, associada ao Habitas comigo. mas em apenas observar e ódio, que causa lesão violenta ou Será que tu, Lilita, verificar os conhecimentos já doença, através da raiz da Erva-deEnrolada em fitas obtidos. Mas de quem? Das avós são-joão. Basicamente, a operação Apagarás os dias negros? ou de seres de outros elementos é dividida em magia “inbibo” e Lilita, cósmicos, os chamados “luscar”, isto é, mole e dura, Salva-te elementais: salamandras, elfos, das más notícias sílfides, sereias, Senhora da Meia- A Erva-de -são-joão, magicamente, Para que tuas folhas não queimem, noite, água, etc. De acordo com ressoa com Vênus e Marte, bem para que as fitas desapareçam, tradições mágicas, a raiz da planta como sua colheita na terça e e o inimigo pereça. é como se fosse as suas pernas (ou sexta-feira. É preciso de algo cabelo) e o tronco a sua cabeça. para fornecer chão e preparar F. Kibitin adiciona: “Conversei A divisão varia de acordo com os muitas vezes com garotas dos 17
Bruxas e Plantas
campos e fiquei surpreso com as suas indiferenças para com suas vítimas. Eles diziam: é a vontade da Senhora, a Lilita”. Então: as meninas, acima de tudo, obedecem à Grande Mãe, não importa como. A ressonância da Erva-de-são joão com Marte e Vênus é muito eficaz em casos de amor e guerra e, dependendo do desejo do operador, intensifica ou enfraquece a capacidade de seu efeito. O mosto da Erva-desão-joão também possui seus gostos e desgostos: odeia toda a família dos cogumelos, mas ama as samambaias. A decocção do hipérico com alguns cogumelos causa um efeito alucinógeno perde-se o controle do medos e dos nervos por um longo tempo, causando uma agressividade enérgica. Tal “cocktail” (hipérico e cogumelo azul) era ingerido por vikings e berserkers e, recentemente, pelos guerreiros dos índios iroqueses e onondagas. Retornando à triste realidade em que vivemos, recomendo um pouco de hipérico em caso de envenenamento por cogumelos. Mas também há outras histórias, nem tão interessantes. Uma curiosa passagem de um poema de Jean Cocteau, sobre uma mulher dormindo: “Tua múmia e teu sonho - o Egito.” Sonhos e realidade, claramente separados. Os minerais são pouco envolvidos em nossa percepção, mas através de suas gemas, em nosso espaço sonâmbulo, somos ligados às estrelas. As plantas são outra questão, sonhos com plantas carnívoras e raivosas muitas vezes definem nossa realidade sensorial. A posição limítrofe dá às plantas um 18
Yevgeny Golovin
papel principal. Elas são guardiãs do nosso limiar, defensoras da nossa frágil estrutura humana da agressão crescente do espaço negro, contra o qual não nos protegemos sozinhos: o universo infinito, inferno, o outro mundo, corrosão ambiental etc. Entre elas, temos o “alho comum” (Allium satium) e a família do lírio (Liliceae) no posto de comando. São divindades vegetativas dos povos do norte - nivkh, yukagir, ainu, que ainda possuem o costume do caçador retirar um dente de alho e, se o que sobrar for ímpar, haverá boa sorte. Não nos esqueçamos da magia do alho, junto da laranja e da noz, considerados como fetos. Uma lenda sobre isso é relatada por Campanella em sua obra “Da Magia Natural” (1620): “O rei das laranjas, furioso com seu filho obstinado, obrigou seu casamento com uma lima. O noivo olhou para a noiva e rosnou: melhor ser um homem solitário pelo resto da vida a aturar teu azedume. Ao ouvir suas palavras, a padroeira das limas, Hécate, jogou o rebelde em um lago de sal e a laranja foi transformada em alho.”. Campanella enfatiza a natureza masculina do alho e sua correspondência com o sol, diamante, galo e carvalho. A relação da laranja com o alho é mencionada no antigo e famoso livro de magia “A Galinha do Galo Hermógenes” (século XV): “Em um campo infestado de tarântulas furiosas, há uma laranja inquieta. Ela Implora ajuda ao sábio alho, seu parente mais próximo.”. O alho é realmente um inimigo implacável das aranhas e cobras. A picada de serpentes, víboras e cobras venenosas são muitas vezes curadas com alho.
Quando falamos da magia da planta medicinal, é preciso lembrar: estamos falando principalmente de grãos selvagens. As chamadas “plantas de cultivo” estão prevalecendo devido aos fertilizantes químicos e outras inovações assustadoras. Este poder, da mesma forma, continua a agir na epiderme humana e nas membranas mucosas, mas entra constantemente em contato com os vapores do asfalto e do dióxido de carbono etc[6]. Um exemplo simples: o alho, como sabemos, possui a ação de um ímã. No entanto, o “alho cultivado” é dez vezes menos eficaz. Voltemos ao alho e à laranja, para que os naturalistas se assustem. No século XVIII, Carl von Linné classificou a vegetação em famílias, espécies e subespécies, mas estava mais preocupado com conveniências aos estudiosos do que com as plantas. Mas as famílias das plantas também são como as famílias humanas. Conforme diz a Bíblia “o tolo é inimigo de sua própria casa” - o que é ainda mais adequado para as plantas. Alho, cebola e lírio do campo são inimigos. O alho se dá bem com cenouras e morangos; morangos são afinados com sapos e rãs. A magia nunca explica, só demonstra. Palavras como “planeta” e “planetário”, poucos relevantes para o estudo dos corpos celestes, são relevantes para o caso das plantas, organizadas como solares e lunares, de acordo com seus níveis de existência. O falocentrismo do alho é solar, se um alho é colocado em um diamante, em duas semanas surge uma coloração rosada, de acordo com Plínio o Velho e Abramelin[7].
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
eroticamente, o alho é muito bom para os homens e desnecessário para as mulheres. Sobre isso, há várias anedotas, histórias e gozações. O folclorista I.L. Boldyrev cita dúzias delas.
os reagentes com o alho. Ter um dente de alho no bolso pode dar mais tranquilidade para caminhar nas ruas à noite ou enfrentar um dia difícil, especialmente se a fatia for cortada em símbolos apropriados, como a letra grega Y. Da mesma forma, o alho é Alho, filhos e sentimentos, desejável durante encontros Até o mais velho e empedernido... rende-se diante de suas qualidades com mulheres atraentes ou com pessoas suspeitas. Precisamos Sobre a pouca paciência feminina: entender corretamente: ele não salva, mas ajuda a manter a Meninas rosadas, não comam alho, compostura. Ele causa irritação estomacal e mãos O alho, muitas vezes não sem quentes Seu princípio ativo é para os homens, razão, aparece na literatura ou Escondidos nos beirais dos áticos. [8] filmes sobre vampiros. O tema é muito amplo, falarei um pouco Antigamente, as mulheres sobre ele. Vampiros não são insaciáveis, querendo provocar apenas “amantes do sangue’ ereções constantes, preparavam — magricelos apreciadores de alimentos imergidos numa sangue humano. Vampiros - algo solução de sangue bovino e muito sério. Para se tornar um alho. Nem preciso dizer que o vampiro é preciso passar por alho provoca turbulência na área uma iniciação brutal, é necessário erógena, nos homens e nos deuses. aprender a se mover no limiar Elas precisam de defensores e da morte e voltar, pois o sangue guerreiros valentes. Até mesmo fornece imortalidade. O alho é o alho cultivado, espalhado no impotente contra mestres como chão atrás das hortas, assusta os Vlad ou Moritz von Stauffenberg, hobgoblins persistentes. O alho mas protege completamente selvagem é capaz de grandes contra vampiros inexperientes ou coisas. A essência de suas ações ainda dormentes. “neutraliza a atração do sangue inquieto”(Eliphas Levi). Nota: Procissões fúnebres nos tempos sangue — não apenas aquele pagãos: os participantes, dos nossos vasos, o sangue inteiramente nus, jogavam “alma do mundo”, a “vitalidade” no defunto muitos ramos de do universo. Todos os medos, viburnum. Nus? O funeral lembra desejos e feitiços são baseados essencialmente: nasceu nu, nu na atração do sangue. Nossos irá para o seio da Mãe Terra. E sonhos, fantasias e e imagens o viburnum? Nas vilas do norte, são suposições obsessivas é chamado de “cor dos vivos e da essência da emanação da dos mortos”, tido como a planta circulação sanguínea. E aqui está da fronteira do outro mundo. o problema: enquanto em nosso Em “Lendas e Contos de Fadas coração emerge o sol interior, Lituanos”, coletados pelo poeta somos condenados ao esmorecer francês de origem lituana Oskar das ondas, cansados pelas Milos, encontramos este texto: incessantes seduções e desgostos. “Minha filha tinha sessenta, sua É, portanto, importante neutralizar mãe, oitenta. A avó disse: cansada
estou de alimentá-los, filha e netos, comam o que coloquei, para quem não gostar, a tampa do caixão está aberta. Tudo bem, disse a filha; em seguida foi pedir conselhos ao viburnum. Na escuridão da neve, lamentando muito, sussurrava com os ramos. O viburnumm disse para que ela partisse, levando suas filhas, ‘nos veremos, sem dúvida’. Ela partiu alegremente. E assim partiu, escorregando pelo lodaçal. Muito bem, muito bem, murmurava a mãe, aqui vou de vestido branco, com a proteção de Santo Ignácio. O pano balançava, exibindo sua pele enrugada e cinzenta. Ela colocou um vestido novo, olhou para a água e viu no reflexo uma garota ruiva, de lábios brilhantes como o viburnum. ‘Espere, minha mãe. Teremos outras conversas no futuro’, ela disse.”. Em um livro alemão de autor anônimo (século XVI) sobre a vida das plantas, algumas páginas contam sobre uma batalha sangrenta entre plantas masculinas e femininas. A batalha é chamada de “guerra do cardo contra o viburnum”. Quando os espinhos do cardo feriram o viburnum, o sulco das hastes do viburnum fizeram com que o cardo caísse. E é preciso lembrar que o cardo é um guerreiro muito forte. O viburnum[9] não é querido apenas pelas bruxas, mas também por todos os indianos. É um mistério estritamente feminino. Quando preparado devidamente, pode gerar uma combinação forte no cozimento com urtigas e com a solanaceae: a farmacopeia diz que é útil para dores severas no estômago, gravidez indesejada, insônia ou combate à letargia. Entretanto, sua maior eficácia é contra os homens. Igualmente 19
Bruxas e Plantas
Yevgeny Golovin
poderosa é sua mistura com sua volta à Universidade. jujuba, choupo-tremedor e raiz de samambaia. Seu caldo age como O homem que sabe seduzir as um poderoso sedativo, tanto para garotas, utilizando a ajuda de algo os nervos como para o priapismo. feminino, é digno de lecionar na Universidade - é a moral do texto. O folclore reflete perfeitamente sua ação. Na coleção “Canções Notas de Rodapé folclóricas, Ditados e Provérbios” (Moscou, 1955) há a seguinte história: Jeremias em sua cabana pensava e observava Sua alma estava triste, infeliz com sua medalha. A garota de olhos negros surgiu e acenou, com um ramo de viburnum ela parecia muito mal. Jeremias cortou o ramo da planta de viburnum e deu uma mensagem à garota, na forma de um gato preto. Deitou em sua cama, no calor do verão, E então o viburnum surgiu cortado... eis-me aqui, E a garota surgiu novamente: - Você queria me amar. - Sim, menina Ivanova. Bebamos vodca. Dancemos na vila, com os ramos da flor, E assim Jeremias preparou
20
des sorcieres. 1590, 1955. P 86. [3] Русалов Л. Волхвования и околдования на Руси. 1888. [4] Кибитин А. Ф. Магические обряды и поверья . 1893. [5] А. Ф. Кибитин. “Магические обряды и поверья ”. P. 62-64. [6] Sobre a questão, veja o que diz K. Hutchison em seu artigo “Что произошло с тайными качествами после технической революции”.
Isis 73. 1982. [7] “The Book of the Sacred Magic of Abramelin”, edição inglesa de 1966. [8] “Орловские присказки
и прибаутки. Ученые записки Московского университета”. 1951. T. IV.
[9] Da 00:00 às 4:00 ocorre sua floração mais intensa, por volta do final de junho. Evgeny Vsevolodovich Galavin (26 de agosto de 1938 - 29 de outubro de 2010) foi um alquimista, esoterista, compositor, poeta, tradutor e ocultista russo. Muito influente na nova geração de ocultistas e pensadores e russos, possui vasta obra sobre Hermetismo, Mitologia, Alquimia e análise literária. Era amigo pessoal de Alexander Dugin e uma de suas maiores influências. Site oficial: http://golovinfond.ru/ [1] Marray M. A. The witch cult in Western Europe. 1962. P. 220. Artigo traduzido do russo por [2] Bodin J . De la demonomanie Rafael R. Daher. Título original: «Ведьмы и растения».
ANTROPOLOGIA DA MÚMIA Por Yevgeny Golovin
A tradição egípcia opera com uma antropologia particular, uma entidade que, como todos os principais pontos da civilização egípcia, continua no mundo póstumo. A natureza humana torna-se plena na morte e, portanto, praticamente todas as informações sobre isso na cultura egípcia são retiradas das descrições da andança dos mortos em Duat. Antes de considerar o quadro antropológico da cultura egípcia em alguma particularidade, é necessário fazer a seguinte observação: o Egito, aparentemente, não conhecia claramente o homem como tal. O centro de sua atenção estava na figura do faraó que era deus e homem ao mesmo tempo. O faraó é Deus e homem em uma pessoa, a divindade do horizonte superior e do horizonte inferior, a humanidade - mas ambos não formam duas naturezas distintas, não se hipostasiam em algo radicalmente diferente e oposto no campo ontológico. De forma gradual e numerosa, vemos diversas divindades egípcias com seus nomes, funções, símbolos, imagens, combinações e variações, moldando o pleroma divino que permite um movimento em direções diferentes, por diversas redes e diferenciais. Esta rede divina revela sua estrutura no contexto da terra dos mortos, a retenção da matriz ontológica e
do polo, que é o faraó. O faraó é concebido como uma figura que inclui a estrutura divina (O faraó é deus no sentido mais amplo da palavra), mas também se incluiu nela. Enquanto é importante, mais uma vez, chamar a atenção para o mundo da morte, do Duat, quando é revelada a principal função do faraó como múmia. A múmia do faraó ou o faraó morto tornam-se uma figura mais importante do que o faraó vivo. Portanto, isto explica os esforços gigantescos dos egípcios em erigir monumentos ciclópicos: estátuas e pirâmides, relevantes na organização de certos aspectos da vida após a morte. O faraó morto, a sua múmia, atua como uma figura antropológica subjacente de modelo e padrão. Há o faraó morto (Múmia) e, ao mesmo tempo, um deus morto (Osíris, Rá em sua viagem noturna subterrânea, além de muitos outros deuses, abundantemente representados no “Livro dos Mortos”), então os próprios deuses são retratados como uma múmia ou sarcófago. Os deuses vivem em sarcófagos ou mortalhas. Mais eternamente vivo e morto do que vivo, morto no sentido egípcio da palavra. No entanto, a múmia do faraó na terra dos mortos ainda está presente entre a política dos egípcios — no sacerdócio, cerimônias, iniciação nos
mistérios, no acolhimento das principais batalhas contra os “inimigos de Osíris” e “inimigos do Egito”; nas ofertas e doações dos camponeses de alimentos e cerveja. Além disso, o “Am-Duat” e outros textos semelhantes muitas vezes exibem como símbolos do Alto e Baixo Egito a coroa vermelha e branca, atributos do poder político, sinais e emblemas de diferentes polinômios e santuários centrais. A estrutura subterrânea do Nilo e de suas áreas circundantes forma o paradigma da cheia do Nilo, organizando o sistema político e social egípcio. Portanto, juntamente com o reino egípcio e a terra sob o céu e o sol, há um reino egípcio subterrâneo, iluminado por um sol inferior, o Sol da Meia-noite. Junto do sistema político do poder supremo, da hierarquia social de classes e castas, dos sacerdotes, camponeses e trabalhadores do Egito, há um sistema político póstumo, liderado pela múmia do faraó morto, com sacerdotes mortos, soldados mortos, camponeses mortos, todos pertencentes à esfera de Duat. Assim, a antropologia do Egito está intimamente associada com o corpo e a alma do Faraó que, por sua vez, é justamente corpo e alma dos deuses. E toda a questão antro-teológica da estrutura faraônica é totalmente implantada 21
Antropologia da Múmia
no mundo subterrâneo e em seus mistérios. Todas as outras pessoas, além do Faraó, são as suas manifestações particulares, através da participação antropológica do faraó na estrutura dos deuses. Indivíduos que não são estrita e rigidamente ligados ao faraó e à ontologia do Egito, Ta-Kemet, a Terra Preta, simplesmente não existem ou, pelo menos, não sabem nada sobre ela. Isto causa uma confusão em muitos acadêmicos modernos, quando buscam reconstruir as visões antropológicas dos antigos egípcios. Eles encontram várias informações sobre a estrutura do faraó, seu corpo, sua alma, sua fortuna, seus níveis, suas relações com os deuses e elementos, mas quase nada sobre o restante. Na verdade, isto não é surpreendente: todos os outros são apenas sombras do faraó, possuindo seu próprio ser e particularidades no horizonte ultraperiférico. A existência póstuma do homem, de acordo com a tradição egípcia, revela a plenitude de suas estruturas antropológicas, mas há um detalhe (Significativo ou não, muitas vezes insignificante) da existência póstuma do faraó que, por sua vez, é um partícipe pleno dos mistérios da terra dos mortos, juntamente com outros deuses, dispostos aproximadamente assim como o faraó. Os deuses possuem todos os mesmos níveis, pois o faraó e a teologia egípcia não diferem da antropologia, fornecendo dois pontos: apenas ao faraó, enquanto homem e ainda imperfeito, um tanto humano; o outro só é revelado no contexto da morte, em tudo relacionado à vida após a morte e suas reduções e, assim, o homem só é divinizado quando parte para o deus solar Rá, em Duat, em seu centro — a caverna secreta do buscador, Amenti. 22
Alexander Dugin
A estrutura do Faraó (E, portanto, no caminho — pois saber o como deus e homem em seus nome dá plena autoridade sobre dois horizontes) é a seguinte: aqueles que têm esse nome (A apresentação egípcia), sobre o · Corpo (Jb) e múmia (Sakh) que é o nome ou quem o nome · Sombras (Sheut, shu ou shout); é. O mesmo ocorre na estrutura · Nome (Ren), uma palavra que das divindades: elas possuem pode modificar a essência; corpo, sombra e Nome (Ren); Ba, · Alma (Ka), simbolizada pelas Ka e Akh. E elas são totalmente mãos elevadas aos céus; representadas em Duat. Assim, · Força vital (Ba), representada o egípcio, como um componente muitas vezes por um falcão com da antropologia faraônica em uma cabeça de homem, como variados graus, é isomorfo a essa outros deuses sob a forma de estrutura, embora represente um animais sagrados ou aves; horizonte inferior da existência do · Princípio iluminador (Akh), faraó, seu corpo, sombra e Nome; sob a forma de um pássaro íbis, Ba e Ka (Bem como toda a vida associado com a capacidade de póstuma) são partes integrantes visualizar e contatar outras almas de instâncias mais importantes após a morte, como resultado e polares. A múmia pessoal era do rito especial de “abertura da apenas para os governantes mais boca”. altos, sacerdotes e aristocratas, o corpo das outras pessoas não era Todos estes elementos estão tão significativo na vida e nem presentes na terra dos mortos mesmo após a morte. e desempenham um papel importante dependendo de certa Como na tradição egípcia situação. Em comparação com a ontologia do Duat está a morte do faraó em vida, ele primeiramente relacionada à vida nada perde do que anteriormente no mundo do dia, podemos dizer possuía, além disso, só adquire que a múmia é mais importante algo especial, o “Akh”, que faltava do que o corpo vivo; uma múmia em vida. O corpo do faraó é não é um corpo vivo, mas um transformado em múmia, bem corpo vivo é certamente uma como na escultura do sarcófago, múmia em potencial. O único que é simultaneamente o barco- homem vivo de verdade é o serpente, no qual o faraó viaja após homem em Duat. Portanto, a a morte (A serpente é o protótipo posse do verdadeiro corpo (Sakh) de Mehen Osíris). Toda a “alma” de múmia é uma prerrogativa do do faraó após a morte, de alguma faraó e das pessoas próximas das forma, gira em torno de sua entidades divinas e dos deuses, múmia, mas também possui um além dos animais sagrados, certo grau de liberdade: Ka, Ba e sacerdotes e aristocratas. Pode Akh podem desaparecer do corpo se comparar, de alguma forma, a e voltar a ele novamente. A viagem ontologia da múmia com conceito até os deuses é a viagem através do Xintoísmo japonês de “Sintai”, da Duat, para ser um partícipe do “corpo divino/kami”. divino. Ao fazê-la, pode divergir e convergir novamente. O nome Da mesma forma é a questão (Ren) é de suma importância para da sombra com o Ka, Ba e o reunir e fazer um faraó verdadeiro nome (Ren). Pronunciar o em toda parte do percurso, para nome depois de sua morte e têsubjugar as criaturas encontradas lo na memória é a chave para
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
passar os testes mais difíceis e, além disso, é a capacidade de sobreviver na terra dos mortos. Portanto, o nome terreno e as palavras terrenas servem como um exercício preliminar para aprender a linguagem da morte, aprender a linguagem da morte é necessário na ordenação sacerdotal e na participação dos mistérios. Nos mistérios são relatados os nomes das coisas, deuses e fenômenos, incluindo o do fiel, que quase sempre recebe um nome novo, agora relacionado à língua dos mortos. A língua da terra, os nomes dos dias e da vida funcionam apenas como linguagem propedêutica, o evento da morte é a linguagem dos mistérios e iniciações. Ka — contraparte do homem livre, também é claramente visualizado após a morte, quando o homem descobre a capacidade de reconhecer a si mesmo e a se mover a uma certa distância do corpo. As mãos erguidas do hieróglifo Ka indicam a qualidade e a liberdade hierática na saudação do sol nascente do submundo. Ka — o “eu” que reza do homem, quando na terra é compreendido vaga e esporadicamente, após a morte começa a agir como entidade permanente e claramente visível. Os deuses e as pessoas são como vários barcos, os 14 do deus Rá. Em alguns casos, as pessoas se transformam em barcos, com suas próprias orações. Isso era possível por conta da diferenciação sutil entre os egípcios quanto às diferentes camadas de personalidade: no tanto que o Ka pertencia a eles, eles pertenciam ao Ka. Na morte, Ba deixa o corpo através da boca do faraó e a ele retorna quando o processo da mumificação ritual é concluído. Ba
é pensado como devolver a força e a compreensão de qual papel ele desempenha na vida, por isso após estar dissolvido no fluxo das sensações, é necessário morrer e passar pela mumificação. É óbvio que, para corrigir o Ba após a morte, há técnicas iniciáticas e sagradas especiais. Eram operações teúrgicas com estátuas dos deuses que morreram como a múmia do faraó, considerando o ponto de apoio para condensar o poder de um deus. Ba está presente nas cidades, templos e
em alguns fenômenos naturais. As constelações são consideradas vários deuses Ba. Acreditava-se que após a pesagem do coração humano (Do faraó) no submundo, Ba adormecerá um tempo. O Deus Rá era Quatro Bas.
europeia se entende por “corpo” é bem diferente da múmia egípcia e, por outro lado, está muito mais próximo de sua compreensão das sombras. O corpo (Sakh), para os egípcios, é o último derivado do processo cosmogônico, elevado das águas primordiais (Nun), através dequadros do mundo dos mortos, até a luz do sol. Então, o corpo (Sakh) é algo sagrado e imperecível, feito para ser associado à cadeia completa da cosmogênese. A sombra (Sheut) é uma marca do corpo, seu simulacro, dinamizado para seu envelope material, com suas mais elevadas estruturas. Portanto, a sombra é a mais passível de destruição. O que realmente é na vida desse corpo — a múmia, como as camadas superiores da morte para a ordem polar. Neste sentido, o corpo do mundo é válido na medida em que há a morte. O corpo tem a sua própria morte, ou seja, como um corpo santo. O que a percepção moderna ou materialista atomista-epicurista na Grécia Antiga (Ou Charvaka da Índia) entende por “corpo”, para o egípcio, é a sombra destacada temporariamente pelo brilho da morte, é seu simulacro, seu reflexo, o que em si (Em oposição ao corpo — Sakh, a múmia) é um composto imortal. O Lugar da Sombra — O Mundo da Vida e do Dia, na noite da véspera da morte, quando as sombras são ameaçadas de extinção, mas são protegidas quando firmemente ligadas à múmia, que é fiel ao cadáver nela colocada. Portanto, no Am-Duat e em outras versões do “Livro dos Mortos”, fala-se muito sobre a destruição das sombras dos mortos, como um dos tipos de pena e punição para a injustiça.
A Sombra (Sheut) foi pensada pelos egípcios como uma projeção física, ou seja, aproximadamente como aquilo que os materialistas entendem como corpo. Esta é uma diferença importante: o que Finalmente, Akh é exclusivamente no paradigma da modernidade associado ao processo de 23
Antropologia da Múmia
Alexander Dugin
Finalmente, Akh é exclusivamente associado ao processo de renascimento póstumo dos mortos no mundo da morte. Akh aparece como o pássaro íbis, que desce sobre o falecido mais de uma vez, no ritual da “abertura da boca”. Isto significa a capacidade de ver o Sol da Meia-Noite e perceber os fenômenos, eventos e criaturas que pertencem ao mundo da morte, do Duat. No mito de Osíris, ele é representado através da transferência de seus
olhos para Osíris, quando então é ressuscitado. Akh — é a questão da ressurreição, que surge quando os mortos revivem por completo no sarcófago. Quando a múmia (Sakh) combina Ka, Ba e Ren em uma única estrutura, capaz de participar plena e ativamente nos ritos e ações militares do deus Rá.
Sociais, Doutor em Ciência Política e Ph.D. em Ciência Política. «Antropologia da Múmia» ( Антропология мумии) é um trecho de sua obra Горизонты Африки
Фигуры
и
маски
(«Horizontes Africanos - Formas e Máscaras»).
Alexander Dugin é cientista político, professor, pensador e formulador da Quarta Teoria Traduzido do russo por Rafael R. Política. Doutor em Ciências Daher
Somos a primeira e mais completa loja brasileira especializada em enteógenos, etnobotânicos e ervas medicinais. Trabalhamos somente com produtos de alta qualidade!
http://www.naturezadivina.com.br
24
COMO ASSIM, ZEUS NUNCA TRAIU HERA? Por Marcelo Del Debbio
Zeus: o homem; a lenda. O Deus mais poderoso de todos os deuses, senhor do Olimpo e chefe do Panteão grego, capaz de fulminar qualquer mortal que desejasse com um raio. Filho do Titã Crono e da deusa Réia, Irmão de Poseidon, Rei dos Mares e de Hades, Rei do Subterrâneo. Assim como Cronos era o deus mais novo dos Titãs, assim Zeus também era o mais novo de todos os deuses olímpicos. Hoje veremos porque, apesar de inúmeras alegações de adultério, o Zeus original nunca traiu Hera e, mais importante… Como isso explica muita coisa a respeito da história de Jesus Cristo. Zeus Como todos vocês sabem (ou deveriam saber), Zeus foi o filho mais novo de Saturno (também chamado Cronos, filho de Urano e Gaia). Quando destronou seu pai e chegou ao poder, um oráculo o havia instruído que, assim como ele havia destronado seu pai, seu filho o destronaria também. Para impedir que isto acontecesse, ele decidiu devorar todos os seus filhos. Assim, conforme eles iam nascendo, ele ia devorando-os: Hestia, Demeter, Hera, Hades, Poseidon e Zeus. Mas quando chegou a vez de Zeus, Réia entregou a Cronos uma pedra embrulhada em trapos, que ele engoliu.
Enquanto isso, Zeus estava a salvo, sendo cuidado pelos dáctilos e alimentando-se do leite da cabra Amaltéia e de mel de abelhas até atingir a idade adulta. Antes de enfrentar seu pai, Zeus pediu a Metis (a prudência) que lhe desenvolvesse um remédio que passaram secretamente para Cronos, fazendo com que ele vomitasse os outros 5 irmãos de Zeus. Com o auxílio de seus irmãos, Zeus ataca Cronos e os titãs em uma luta que demora dez anos. Ao final da batalha, vencedor, Zeus divide com seus irmãos o Reino das Águas, dos Céus e do Subterrâneo, tornandose assim o Senhor do Olimpo. Zeus casou-se sete vezes: A primeira com a Oceanida Metis, que ele acabou engolindo para evitar ter um filho com ela (pelo mesmo motivo que não queria ser destronado por um filho homem, como foram seus pai e avô). Mas ele ficou com uma tremenda dor de cabeça quando fez isso e teve de pedir a Prometeus que abrisse um talho em sua cabeça para que a dor passasse. Quando ele fez isso, Atenas nasceu do rasgo que foi feito (em versões posteriores, Hefesto é quem abre um talho em sua cabeça).
com a qual teve as três Horas (Eunomia, Dike e Eirene) e as três Moiras (Kloto, Lachesis e Atropos). A terceira esposa foi Eurynome, com a qual teve as três graças, A quarta esposa foi Demeter, com a qual teve Perséfone, A quinta esposa foi Mnemosine, com a qual teve as nove Musas (Kleio, Euterpe, Thaleia, Melpomene, Terpsikhore, Erato, Polymnia, Urânia e Calíope). Sua sexta esposa foi Leto, com a qual teve Apolo e Ártemis, E finalmente, sua sétima e última esposa foi Hera, com a qual teve Hebe, Ares, Enyo, Hephastios (Hefesto) e Eileithya.
E a história termina aqui. Sem amantes. Como vocês já devem ter percebido, este é um texto iniciático. Os deuses remetem aos planetas (que remetem às virtudes da Alquimia), as sucessões remetem às Eras da humanidade e os casamentos de Zeus são um texto preparatório para o Hieros Gamos. Cada uma de suas esposas remete a um dos sete Chakras que devem ser abertos, bem como cada uma das histórias de suas filhas reflete uma das características que ocorrem com o aflorar destas energias. Por A segunda esposa foi Themis, isso são apenas e tão somente 25
Como Assim, Zeus Nunca Traiu Hera?
SETE esposas e por isso que até a sexta esposa Zeus não possui nenhum filho homem. Apenas Apolo (o Deus-Sol) é o filho que vai destrona-lo (que representa a dualidade atingida pela abertura do sexto chakra na magia sexual). Com Hera estão abertos todos os sete chakras e montados os seis casais olimpianos do culto Dionísico, para a celebração do Hieros Gamos. Com os outros seis deuses que vão sendo introduzidos ao longo da narrativa, formam-se os 6 casais necessários para a cerimônia. Independente de se “acreditar” ou não em chakras e Hieros Gamos, creio que todos concordam que estamos falando de uma religião e, portanto, de algo que possui uma liturgia e ritualística própria e, como tais, precisam ser ensinadas para os próximos iniciados. Mas tio Marcelo, e o Hércules? E as amantes? Devagar, crianças… Para entender como tudo isso aconteceu, é muito importante levarmos em conta o TEMPO e o LOCAL em que as coisas acontecem. As lendas de Hércules não começam com ele se chamando Hércules. Em sua origem, elas narram as histórias de Alcides (sim… não riam… o nome verdadeiro do Hércules é Alcides!) e um ciclo de histórias narrando a passagem do sol através dos doze signos (calma de novo… esses textos NÂO se chamavam “os doze trabalhos de Hércules” ainda!). Com o tempo, Alcides (cujo nome significa “aquele que possui grande força”) tornou-se tão popular que alguns escritores 26
Marcelo Del Debbio
(profanos) decidiram que um herói deste calibre não poderia ser filho de um mortal, e compilaram estas aventuras colocando que Alcides deveria ser filho de Zeus. Alcides era filho originalmente de Anfitrião e Alcmena. Para burlar a história original, fizeram com que Zeus se disfarçasse de Anfitrião enquanto seu marido estava fora em uma guerra. Deste modo, não iriam irritar os fãs de Alcides maculando sua pobre mãezinha. Note que estas histórias foram escritas cerca de DUZENTOS anos depois do texto sobre o casamento de Zeus e Hera ter sido escrito. Para justificar o novo nome e a nova ascendência divina, Eurípides escreveu “Herakles Furioso” em 460 AC (ou seja, DUZENTOS E QUARENTA anos depois do texto original) onde Alcides se casava com Megara, filha da rainha de Tebas, e tinham filhos, mas que quando Hera descobria da “infidelidade” de Zeus, lançava uma maldição sobre Alcides e fazia com que ele enlouquecesse e matasse sua esposa e filhos. O oráculo de Pítia diz a Alcides que a única maneira de voltar à sanidade seria pedir desculpas a Hera e dedicar-se a ela como servo. Daí o nome: HERAKLES (ou “Glória de Hera”) e somente então ele realizava os doze trabalhos (astrológicos), conforme conhecemos hoje.
javalis, participou de todas as batalhas no lado vencedor, comeu todas as menininhas e foi pai de todos os Imperadores e Príncipes. Até duas histórias onde ele tem colegas gays existem… A morte de Herakles é contada por Ovídio em “Metamorfoses”, em 30 AC, ou seja, SEISCENTOS anos depois do texto original sobre o casamento de Zeus e Hera e QUATROCENTOS anos depois da própria história do Alcides!. MAS… lembremos que estamos na Grécia Antiga… não existe internet, jornais ou televisão. O que REALMENTE acontecia era que cada escritor ou filósofo de cada vilazinha onde Judas perdeu as botas (ops, Judas não tinha nascido ainda… sorry) achava a história do Herakles o máximo e decidia inventar uma lenda local que envolvesse o herói. O ponto é que para todos os efeitos, para aquela Cidade, existia UMA aventura do Herakles, talvez uma segunda aventura narrada por algum comerciante vindo de outro local. Para se ter uma idéia, até em Barcelona existem narrativas de aventuras do herói. Mas estas narrativas NÃO circulavam… Quando os historiadores europeus passaram a estudar a literatura grega, no século XVIII, eles fizeram o que chamamos de “Empilhamento”, que foi compactar todas as histórias de diferentes tempos e locais como se fossem uma coisa só, procurando uma cronologia coerente… MAS NÃO ERA PARA SER COERENTE !!! NUNCA FOI !!! Por isso este bando de amantes e filhos e aventuras ao redor do mundo.
Aescius escreveu “Prometeus” no qual Herakles liberta Prometeus de suas correntes, entre outras aventuras, em cerca de 450 AC (dez anos depois) e vários e vários e vários escritores começaram a contar aventuras de Herakles. Ele se tornou mais famoso que os Beatles e todas as Cidades Estados inventavam histórias sobre ele. Herakles esteve por O mesmo aconteceu com Zeus. todas as cidades, derrotou todos Herakles se tornou famoso e, a os monstros, caçou todos os partir dele, todo mundo queria
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
profetas) e as Escrituras (Salmos, provérbios, o livro de Jó até Crônicas). O Livro dos Salmos é praticamente um Livro de Magias… cada Salmo é parte de um ritual diferente de Magia Teúrgica, com um poder mântrico ENORME, além de invocações de anjos, proteções, ataques e defesas astrais e afins. Por isso, antes de se achar o revoltadinho e xingar a bíblia, pense duas vezes… TODO ocultista sério que se preze precisa obrigatoriamente conhecer muito bem a bíblia, porque ela traz um monte de coisas legais escondidas. Ela ensina até mesmo a montar o seu próprio deck de tarot ! Já o Novo Testamento é uma salada de frutas criada ao longo de 500 anos de “ajustes” da Igreja. Ele inclui trechos sérios, trechos inventados, trechos truncados, trechos apagados, trechos mexidos… existem até referências a capítulos de livros que NÃO EXISTEM. Graças a isso, existem mais de DOIS MIL… isso mesmo crianças… DOIS MIL erros históricos, contradições, erros científicos, profecias que não se
realizaram, absurdos e injustiças duas mulhereque lavam os pés de na Bíblia. Jesus com óleo não fazem sentido algum… dá pra ver nitidamente Tudo isso porque a Igreja Católica que estão truncadas ou jogadas dos séculos III até VIII tentou ali no meio sem nexo. “consertar” e “encaixar” textos que foram feitos por pessoas As razões pelas quais a Igreja diferentes em tempos diferentes precisou fazer estas adaptações falando sobre coisas diferentes serão explicadas tim tim por tim para formar uma única história tim em colunas futuras. Semana que parecesse coerente. que vem voltamos à nossa programação normal. Só achei necessário fazer esta coluna intermediária para explicar Além da Bíblia, as Histórias do REI o porquê eu cito as falhas da Bíblia ARTHUR sofreram o chamado usando a PRÓPRIA bíblia sem que “empilhamento”, mas não vou isso seja uma contradição. Porque, falar sobre ele agora… quero por exemplo, os Salmos explicam dedicar umas 2 ou 3 matérias como é o Casamento Dinástico e só para Camelot e Avalon, onde mais tarde, quando Constantino explicaremos o por quê da maçã e seus bispos pegaram os trechos só ter se tornado o fruto proibido que explicavam o casamento de a partir do século XVII, porque Yeshua e Maria Madalena nas Guinevere também não traiu Bodas de Caná e nos episódios Arthur e qual a ligação disto tudo do óleo e foram apagá-los, com o Graal… provavelmente não sabiam o que fazer com eles, porque Marcelo Del Debbio é hoje Constantino era um SACERDOTE considerado um dos maiores PAGÂO e não tinha a menor idéia pesquisadores sobre Ordens das tradições hebraicas ou do que Iniciáticas, Oráculos e Ocultismo significava aquilo. Tanto que basta no Brasil. Possui mais de 60 títulos olhar o Novo Testamento com publicados, também é professor calma para ver como os textos e palestrante. Mais informações: das mulheres (oficialmente são http://www.deldebbio.com.br
ORÁCULO - HERMEISMO - ESPIRIUALIDADE - ESOERISMO - RELIGIÃO CURSOS CERIFICADOS, EBOOKS E PODCASS https://eadeptus.com.br/
27
CONFUCIONISMO EA CHINA MODERNA Por Diego Vinícius Martins
Aprender a língua chinesa quando já se é adulto é uma tarefa em si desafiadora, frustante e ao mesmo tempo encantadora, mesmo que desenhar cada carácter exija exercício de memorização os carácteres chineses, ou hanzi, carregam consigo parte da cultura milenar chinesa; envolta em cada trasso e em cada curva dos carácteres, existe uma parte viva da história e da filosofia chinesa que pode ser compreendido parcialmente quando se aprende sobre seus componentes.
de cima para baixo, e essa é a idéia de que o Céu governa os demais mundos, e o monarca é o seu representante legítimo. Essa é uma dos principais pilares do Confucionismo, ideologia que é parte política e código de conduta, que em si prega a submissão dos menores (e mais jovens) aos maires (e mais velhos e mais poderoros). Confúcio entendia que o rei era o filho dos Céus, e por isso os súditos deveriam respeito a ele, assim como os filhos devem respeito aos Apesar de sua dificuldade, pais, e os servos ao seu senhor. alguns carácteres são mais simples e exigem pouco esforço O respeito à autoridade também e em particular, um carácter está presente no Taoismo, outra que as crianças chinesas, e os filosofia chinesa que grande estrangeiros adultos, aprendem importância na construção da com relativa facilidade é o da sociedade chinesa. Em última carácter wáng (), que é um instância, para os confucionistas dos sobrenomes mais comuns e taoistas, o país era a família do país, além de siginificar nuclear elevada à sua máxima rei ou monarca nos tempos potência, sendo sempre anteriores ao estabelicemento liderada pelo rei ou imperador. do Império chinês. Essa autoridade do Filho do Esse carácter é composto de três Céus era devido ao que o filósofo linhas horizontais, cortadas por confucionista, Mencius, chamou uma única linha vertical; segundo de Mandato do Céu, que seria a a tradição chinesa, as três autorização tácita que os Céus linhas horizontais significam o outorgavam ao monarca de submundo, o mundo dos homens representa-lo na terra. O monarca e os céus, e quem conecta essas três seria o guardião e ao mesmo tempo esferas é rei, a linha vertical, que e usufruidor dessa prerrogativa tem livre acesso aos três mundos. que os Céus lhe davam. A linha vertical deve ser desenha O Mandato do Ceu é diferente 28
do direito divino que houve no Ocidente em um aspecto importante, ele era outorgado àqueles que fossem capazes de mantê-lo, um rei ou imperador era seu possuidor légitmo até o momento que fosse capaz de mantê-lo, os Céus poderiam desaprovar as ações do monarca, fazendo com que ele perdesse o mandato a qualquer momento e as rebeliões contra o monarca eram légitimas se lider não fosse hábil tantao para reprimí-las quanto para prover ao seu povo o que ele necessitava para viver em paz. Esse conceito ainda está tacitamente em voga nos dias de hoje; desde que o Partido Comunista da China deturpou o governo nacionalista do Guomindang da China continental, os comunistas são encarados pela população chinesa como os legítimos líderes do país, possuidores de todas as perrogativas que este posto pode lhes oferecer. A crítica à autoridade é repremida, mas seria bem menor do que no Ocidente, mesmo porque eles são os legítimos líderes do país, até que outro grupo seja totalmete capaz de derrubálos, o que aos olhos do povo chinês parace quase impossível. Dessa forma, o PCC preencheu o
Confucionismo e a China Moderna
o vazio deixado pelos governantes imperiais, e o seu líder do país ainda é visto com ares semidivinos, mesmo após grandes esforços de Deng Xiao Ping nos anos 80 e 90 para diminuir tamanha devoção, o atual líder do país, Xin Jinping é por vezes vereciado pelo povo com grande frevor de forma natural.
Se esse aspecto tornava a sociedade mais estável, o respeito a tudo que ja estava estabelecido, também tornava a criação e a invenção mais difícil. O que explica em parte a alguns aspectos da sociedade chinesa, que prefere copiar e memorizar do que criar e inovar. Existe até mesmo um provérbio chinês que diz que a ave que levanta a cabeça abaca Dessa forma, o respeito à sendo abatida. autoridade tornou-se parte integral do pensamento da Essa frase é repetida pelos pais, sociedade chinesa, e por professores e chefes na China consequência de todos os países sempre que alguém surge com que seguem alguma matiz da alguma idéia muito inovadora filosofia confucionista, como que suja da normalidade. É Japão e Coréia. sempre mais seguro buscar algo que já foi feito antes e copia-
Diego Vinícius Martins
lo, é mais seguro memorizar um livro ou uma passagem do que tentar entendê-lo de forma crítica, mesmo porque o pássaro que move suas penas coloridas e cria seu próprio canto é um alvo muito mais fácil do que aqueles que se mantém quietos dentro do grupo com penas mais sóbrias. Diego Vinícius Martins é formado em Relações Exteriores e mestre em Desenvolvimento Chinês Contemporâneo pela Universidade de Pequim. Trabalha com desenvolvimento de aplicativos chineses com negócios no Brasil e mora em Pequi há dois anos e meio.
http://polareditorial.com.br/
29
GURDJIEFF E SUA ESCOLA Por Daniel F. do Nascimento
Na mesma época de Crowley, viveu e autou um outro mago, cuja vida é totalmente diferente, embora possam ser traçados alguns paralelos entre os dois. Gurdjieff nasceu por volta de 1877 (as informações sobre o fato divergem) no Transcáucaso. Grego de origem, obteve a cidadania russa. O próprio ambiente em que o jovem Gurdjieff cresceu era totalmente diferente do ambiente burguês de classe média da Inglaterra vitoriana, pelo qual Crowley foi tão decisivamente influenciado. O pai de Gurdjieff era um Ashokh, um cantor itinerante que entretinha as pessoas com seus cânticos muito antigos e com a representação dos épicos.
épica fora encontrada em escavações feitas na Babilônia, cunhada numas lousas de argila de 2000 a.C, isso o fascinou de modo extraordinário. Será que não haveria a possibilidade de existir outros conhecimentos primordiais escondidos ou enterrados em algum lugar, talvez à espera de serem descobertos?
Apesar de seu satanismo e do seu paganismo – ou talvez exatamente por causa deles -, Crowley era um homem profundamente religioso e espiritualista. Não se pode dizer o mesmo de Gurdjieff. Para este, o homem não valia muito mais do que uma máquina, que funcionava através de impulsos, de estímulos nervosos e emoções. Para ele, o homem é mais ou menos desamparado, entregue a essas influências, e isso faz com que passe toda a sua vida de certa forma num estado de sonambulismo, ou como se estivesse hipnotizado. Apenas de vez em quando, ele consegue elevar-se acima desse estado, momentaneamente, despertando, por exemplo, através da sexualidade, através da qual ele consegue captar um pequeno vislumbre do que de fato poderia sentir se fosse capaz de lidar de forma consciente com essas energias. Mas, esses momentos não só são raros, como também sempre muito breves; logo em seguida, o homem torna a recair em sua letargia, que está impregnada pela banalidade do dia-a-dia sob a regência dos costumes.
Gurdjieff dedicou-se com todo o fervor a descobrir rastros desse conhecimento secreto. Ele viajou por toda parte, visitou velhos mosteiros e suas bibliotecas, conversou com pessoas simples e percorreu uma grande parte do interior da Eurásia, em busca de uma cidade subterrânea, O jovem Gurdjieff sentiu, na possivelmente Agarta. própria pele, como em sua pátria e em seu povo se entrelaçavam Embora Gurdjieff tenha descrito os seres mágicos, a superstição, a muitas das coisas que descobriu magia e o genuíno conhecimento nessa época em seu livro Encontro esotérico, formando um com homens notáveis, sabemos conglomerado estranho. Foi então essencialmente pouco sobre essa que Gurdjieff deve ter adquirido a época. Diz-se que ele passou convicção de que no mundo e nas grande parte de sua vida no Tibete pessoas existem energias ainda e que nesse país recebeu instrução não descobertas que, se usadas dos mestres. Ele viajou para o conscientemente, ampliariam o Oriente Próximo e, ao que tudo horizonte da consciência humana indica, travou conhecimento com de uma forma inimaginável. a tradição dos sufis, os esoteristas Uma das canções, sempre do Islã, tendo sido fortemente repetida por seu pai, narrava a influenciado por essa tradição. historia do príncipe da Babilônia, Foi assim que Gurdjieff passou Gilgamesch. Quando Gurdjieff os primeiros quarenta anos de descobriu que essa mesma história sua vida viajando e aprendendo. Segundo Gurdjieff, o esoterista 30
Gurdjieff e Sua Escola
pode ser comparado a um engenheiro que compreendeu a planta da construção da máquina humana e a conhece e que, portanto, está em condições de dominá-la e usá-la, de forma consciente. Segundo esse conceito, o objetivo de cada pessoa é conhecer melhor o próprio esquema de construção e utilizar as aptidões que existem em estado latente, além de usar conscientemente as energias inativas.
Daniel F. do Nascimento
de o homem usar mais e melhor seu potencial energético, mas também, ao mesmo tempo, instalase um estado de consciência com uma capacidade mais elevada de percepção. Esse estado, quando bem-sucedido, provoca uma atividade – e mesmo que seja muito banal e exteriormente pouco notada – realizada com a mais elevada conscientização. Além desse método, Gurdjieff também usou uma determinada técnica de dança, que muito provavelmente herdou do sufismo. O objetivo dessa técnica era obter o maior controle corporal possível. Como Crowley, Gurdjieff também tinha uma vitalidade quase inesgotável e, de forma nenhuma, ascética; ao contrário, ele se entregava aos prazeres, sobretudo aos da carne, no duplo sentido da palavra. Também nisso se assemelhava a Crowley, visto que sua escolha dos meios muitas vezes era melindrosa, quando não isenta de escrúpulos. Gurdjieff morreu em 1949 e ainda hoje conta com muitos adeptos que trabalham em diferentes centros. A maior influência que exerce atualmente é sobre Bhagwan Shree Rajneesh e seu movimento.
Junto com seu colaborador Ourpensky, que também era o seu “ponta-de-lança”, Gurdjieff fundou em Fontainebleau, em Paris, o “Instituto para o Desenvolvimento Harmônico dos Homens” (outro paralelo com Crowley). O método pedagógico básico de Gurdjieff consistia, antes de tudo, no trabalho. Todo discípulo tinha de estar participando num grupo de trabalho, e quanto mais desacostumado estivesse àquele tipo de trabalho ou quanto mais repulsivo o considerasse, tanto melhor. O principal intuito de Gurdjieff era libertar os discípulos do peso e da rotina de seus hábitos e além disso, paulatinamente, fazê-los usar suas energias de modo mais consciente e eficaz. Segundo Gurdjeff, cada Com seu ponto de vista homem é um aparelho destinado materialista, como um esoterista à transformação da energia. não espiritual, Gurdjeff ocupa um lugar especial. Ele construiu, de Ainda de acordo com ele, o homem certa forma, uma ponte para um dispõe de três centros energéticos: desenvolvimento, que começou um intelectual, um emocional e em fins do século passado com um instintivo, trabalhando todos a psicanálise de Sigmund Freud com energias próprias, a maior e atingiu o auge com a atual parte das vezes isolada, ou até terapia da Gestalt e suas diversas contraditoriamente. Quando, ramificações. A psicologia através do treinamento constante, humanística moderna se tornou, se consegue que os três centros em vários aspectos, um objetivo trabalhem harmoniosamente fiel transmissor do conhecimento em conjunto, o resultado não esotérico, e a abertura foi exotérica, consiste apenas na possibilidade embora muitas vezes não se desse
conta disso. Entre outras coisas, a psicologia até mesmo se volta contra o esoterismo. Seguem daqui em diante algumas indicações literárias que mostram a possibilidade de o leitor aprofundar-se na observação histórica do que acabei de expor e, se houvesse necessidade, também observá-la de uma outra perspectiva. Um livro que adota um ponto de vista diferente do meu, no que se refere ao desenvolvimento histórico do esoterismo, é o de Colin Wilson, Das Okkulte [o ocultismo]. Sua leitura é fluente e oferece uma complementação e um contraste ao que expus, além de uma riqueza de detalhes sobre os mais diversos temas relacionados com o esoterismo. Também como complemento e alternativa para este livro, recomendo o de Bernard Vaillant, Westliche Einweihnungflehren [Ensinamentos ocidentais sobre iniciação], Druiden [Os druidas], Gral [O Graal], Templer [ Os templários], Katharer [Os cátaros], Rosenkreutzer [Os Rosa-Cruzes], Alchemisten [Os alquimistas], Freimaurer [Os franco-maçons], todos das editora Hugendubel. A obra padrão em língua alemã sobre a história do esoterismo foi escrita sem dúvidas por Karl R.H. Frick, Die Erleuchteten – Gnostisch-theosophische und alchemistisch-rosenkreuzerische Geheimgesellschaften bis zum Esndedes 18. Jahrhunderts [Os iluminados – Sociedades secretas gnósticas, teosófica, alquimistas e rosa-crucianas até os fins do século XVIII], e Licht und Finsternis – Gnostisch-Theosophische und freimaurerisch-okkulte Geheimgesellschaften bis na die 31
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
Wende zum 20. Jahrhundert [Luz e Trevas – Sociedades secretas gnósticas, teosóficas e francomaçônicas até a transição para o século XX]; e o lado um tanto mais sombrio do esoterismo é esclarecido em Das Reich Satans. Luzifer (satan) Teufel und die Mondund Liebesgötinnen in ihren lichten um dunklen Aspekten-eine Darstellung ihrer ursprünglichen Wesenheit in Mythos und Religion [O reino de satã. Lucifer (satã) Diabo e a Deusa da lua e do amore m seus aspectos luminosos e sombrios – Uma apresentação de sua essência original nos mitos e na religião]. Esses livros são menos indicados para uma leitura contínua, mas oferecem um conteúdo informativo inesgotável sobre determinados temas e pessoas. Também se deve levar em conta que Frick, ao escrever a história do esoterismo, estava mais do que tudo interessado no ponto de vista da franco-maçonaria.
Com as mais recentes especulações e conhecimentos sobre o enigmático continente submerso da Atlântida, Otto Muck escreveu Alles über Atlantis [Tudo sobre a Atlantida], da Editora DroemerKnaur. Helmut Tributsch trouxe a baila um novo tema na discussão sobre este misterioso continente em seu livro Die Gläserne Türme von Atlantis [As torres vitrificadas da Atlântida] (Livros técnicos Ullstein nº 34334). Para ele, a Atlântida não é o continente submerso, mas sim a cultura megalística da Europa Arcaica, ainda pouco pesquisada. O livro também pode transmitir um segmento de cultura bastante importante para o esoterismo ocidental, exatamente em relação com o tema, embora não esteja de acordo com a hipótese deste autor sobre a origem da Atlântida. O encontro com o Egito do ponto de vista esotérico é manifestado por Paul Brunton em O Egito Secreto que apareceu na edição de Livros de Bolso da Editora Hayne nº3048. O livro é muito recomendável, embora se possa notar que foi escrito em outra época, onde as circunstâncias políticas eram diferentes.
Sobre as diversas épocas do tempo, Alfons Rosenberg escreveu observações detalhadas em Durchbruch zur Zukunft [Passagem para o futuro], da editora Turm. Para a leitura desta obra, conhecimentos prévios de Astrologia, são uteis. O livro egípcio dos mortos está na lista de livros de “Die Bibliothek Sobre o tema “Pã – filho de der Alten Welt” (“A Biblioteca Hermes” há bastante material em do Mundo Antigo”) sob o título Pan und die natürliche Angst. Ägyptiche Unterwelts-Bücher Über die Notwendigkeit der [Livros egípcios do submundo], Alpträume für die Seele [Pã e o da Editora Ártemis. Além disso, medo natural. Sobre a necessidade há à disposição o livro de Walter dos pesadelos para a alma], de Beltz, Die Mythen der Ägypter James Hilton. E de Rafael Lopez- [Os mitos dos egípcios], da Pedraza, Hermes oder Dia Schule Editora Urachhaus. dês Schwundelns. Ein neuer Weg in der Psychotherapie [Hermes Uma possibilidade de travar ou A Escola do Embuste. Um novo conhecimento mais íntimo com Caminho para a Psicoterapia]. o mundo das ideias de Hermes Ambos os livros foram publicados Trismegisto é oferecido por pela Editora Raben. Die XVII Bücher dês Hermes 32
Trimegistos. Neuausgabe nach der ersten deutschen Fassung von 1706 [Os 17 livros de Hermes Trimegisto. Nova edição segundo a primeira publicação alemã de 1706], da editora Akasha. Um guia que nos leva através do mundo grego dos deuses é Robert von Ranke-Graves com Die Götter Griescherlands [Os Deuses da Grécia], da editora Rororo, nº 2480. Esta obra assemelha-se à de Gustav Schwabs, Die Sagen dês Klassischen Altertums [As lendas do mundo clássico antigo], embora esta disponha de comentários informativos e de uma referência às fontes. O mesmo vale para o clássico da literatura esotérica deste mesmo autor, Die weisse Göttin [A deusa branca] da Editora Rororo, nº 404, um livro que faz uma revisão do mundo dos deuses, abrangendo muito mais do que o círculo cultural Greco-romano, incluindo também o mundo dos deuses celtas. Quanto ao esoterismo grego, ao orfismo, a Platão e o Pitágoras, o leitos encontra capítulos bem esclarecedores em Die grossen Eingweihten [Os grandes iniciados] de Eduard Schuré, da Editora O. W. Barth, coligada à Editora Scherz. Este livro também tornou-se um clássico da literatura esotérica e transmite, do ponto de vista teosófico, além dos temas mencionados, algo sobre Rama – o círcyki ariano; Krishna – a Índia e a iniciação brâmane; Hermes – Os mistérios egípcios; Moisés – a missão israelense; Jesus – a missão cristã. O livro é fácil de ler e sua leitura prende o interesse, além de apresentar muitos detalhes; no entanto, devido a sua linguagem poética, nem sempre é fácil distinguir o que é poesia do que é fato real.
Gurdjieff e Sua Escola
Uma apresentação cientificamente fundamentada sobre Pitágoras, sua vida e ensinamentos, juntamente com as fontes onde foram obtidos, encontramos em Die Pythagorer, Religiöse Brüderschaft und Schule der Wissenschaft [Os pitagóricos; irmanadade e escola de sabedoria], de B.L. van der Waerden (Editora Ártemis). Ainda sobre Pitágoras foi publicado o livro de Franz Carl Endres e Annemarie Schimmel, Das Mysterium der Zahlen [O mistério dos números]. Wasson/Ruck/Hoffmann tentaram decifrar os Mistérios de Elêusis em Der Weg nach Eleusis. Das Geheimnis der Mysterien [O caminho para Elêusis. O segredo dos mistérios]. Os autores tentam responder à questão de saber se a ampliação de consciência obtida nesses Mistérios de Elêusis acontecia com a ajuda de drogas semelhantes a LSD. Sobre o orfismo temos: Orpheus. Altgriechische Mysterien [Orfeu. Mistérios da Grécia Antiga], publicado e interpretado por J. O. Plassmann (série Amarela da Editora Diederich). Escrevendo de uma forma muito pessoal, objetivando agradar as pessoas da nossa época, Elisabeth Hämmerling apresenta Orpheus’ Wiederkehr. Der Weg dês heilenden Klanges. Alte Mysterien als lebendige Erfahrung [O retorno de Orfeu. O caminho do som curativo. Antigos mistérios como uma experiência vival], onde faz uma análise do orfismo. Este livro foi publicado pela Editora Ansata.
Daniel F. do Nascimento
que se seguem, também compreensíveis para os nãoteólogos e, portanto, dignos de ser recomendados: Esoterisches Christentum. Aspekte – Impulse – Konsequezen [O cristianismo esotérico: aspectos, impulsos e consequências], de Gerhard Wehr, publicado pela Editora Klett; Die Gnosis [A Gnose] de Leisegang, da Editora Kröner, que há muito tempo é considerada uma obra padrão. Quem desejar aprofundar-se no pensamento e na visão do mundo dos gnósticos, encontrará uma coleção de fontes, enriquecida com ensaios sobre determinados temas da Gnose, em Dokumente der Gnosis [Documentos sobre a Gnose] de Wolfgang Schultz (Editora Matthes & Seitz). Para compreensão do lado esotérico do cristianismo de 1945 é importante o texto, sempre reimpresso, do Thomas-Evangeliums [Evangelho de Tomás] da editora Brill. Outros evangelhos gnósticos podem ser encontrados em Versuchung durch Erkenntnis [Tentativa através do conhecimento] de Elaine Pagels, pela Editora Insel. Quem quiser ocupar-se com a questão das eventuais influências exercidas pelo Oriente sobre Jesus, encontra oportunidade para fazêlo em Jesus lebte in Indien [Jesus viveu na India] de Holger Kersten, publicado na coleção de livros de bolso da Editora Knaur, nº 3712. Para aqueles particularmente interessados, é indicado Das Leben dês Appolonius von Tyanna [A vida de Apolônio de Tiana], traduzido e interpretado nas duas línguas, a grega e a alemã, por Vroni Mumprecht (Editora Artemis).
Sobre o círculo de temas que Os celtas não deixaram envolvem o cristianismo e o testemunhos escritos. Mas esoterismo temos os livros um estudo muito bom sobre
a arte espiritual celta foi feito por Lancelot Lengyel com base numas moedas encontradas, e apresentado em Das geheime Wissen der Kelten [A sabedoria secreta dos celtas], da Editora Bauer. No estilo de Castañeda, o autor de Wyrd. Der Weg eines angelsächsischen Zauberers [Wyrd. O caminho de um mago anglo-saxão], de Brian Bates, (Livro de bolso da Editora Goldmann, nº 1280) aproxima os leitores do mundo dos celtas Bastante recomendável também é o rico material ilustrativo apresentado em Die Keltische Welt [O mundo celta] de John Sharkey, pela Editora Insel. A história da ascensão e da queda da Ordem dos Templários é descrita por John Charpentier em Die Templer [Os templários], Livros de bolso da Editora Ullstein, nº 39027. Louis Charpentier trata do tema visto de um lado mais fantasioso da vida dos templários, mais a gosto dos leitores, em Macht um Geheimnis der Templer. Bundeslade, Abendländische Zivilisation, Kathedralen [Poder e segredos dos templários. Lojas, civilização ocidental e catedrais], editado pela Companhia Editorial Pawlak. Sobre o tema dos cátaros expressou-se Eugen Roll em Die Katharer [Os cátaros]. Como uma espécie de clássico sobre a temática da história dos cátaros em ligação com o mito do Graal, recomendo Kreuzzug gegen den Gral [Cruzada pela Graal] de Otto Rahn (Editora para Pesquisa e Cultura da Totalidade). No que se refere aos ensinamentos esotpericos dos templários, hoje dificilmente conhecemos algo com exatidão. No entanto, Arthur Schult apresenta em seu livro, Dantes Divina Commedia als Zeugnis der Tempelritter-Esoterik 33
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
[A Divina Comédia de Dante como testemunho do esoterismo dos templários], da Editora Turm, a tese de que os ensinamentos dos templários estariam contidos na obra de Dante. A obra de Dante nunca foi posta em dúvida pela Inquisição. Se isto é verdade, fica em aberto. No entanto, o livro é especialmente indicado para se conhecer certos aspectos esotéricos do Cristianimo. No âmbito da cultura em língua alemã, a literatura sobre o Mito do Graal tornou-se uma especialidade de autores cuja orientação estava voltada para a Antroposofia. Isso não é nenhum demérito, mas é bom que se saiba disso, ao ler os seguintes livros: Zum Raum Ward hier die Zeit. Die Gralsgeschichte [Esta foi a época em que o tempo virou espaço. A história do Graal] de Rudolf Meyer, pela Editora Urachhaus; Der Gral in Europa. Wurzeln und Wirkungen [O Graal na Europa. Raízes e efeitos], do mesmo autor, pela mesma editora. A Editora Freies Geistesleben já divulgou, em vários volumes, belas edições de textos sobre as fontes do Graal de Chrestien de Troyes e de Robert de Boron. Die Geschichte von König Artus und den Rittern seiner Tafelrunde [A história do Rei Arthur e os
Cavaleiros da Távola Redonda], de Sir Thomas Malory também é um texto-fonte para o Rei Artur (Editora Insel), mas também a pessoa adulta prefira ler primeiro a maravilhosa poesia feita sobre o tema para os jovens, por Rosemary Sutcliff, Merlin und Artus [Merlin e Artur] e Galahad [Galahad], pela Editora OGHAM. Também o épico de Wolfram von Eschenbach, Parzival (Persivafal) pode ser lido melhor numa edição traduzida em prosa, talvez a edição mais detalhada de Wilhelm Stapel (Editora Langen Müller), ou a mais concentrada de August Lechner, Parzival. Auf der suche nach der Gralsburg [Parsifal. Em busca do castelo do Graal]. Uma tentativa digna de ser mencionada para decifrar os secretos segredos do Mito do Graal é oferecido por Trevor Ravenscroft em Der Kelch dês Schicksals. Die Suche nach dem Gral [A taça do destino. A busca do Graal], da Editora Sphinx. Um riquíssimo acervo de imagens e documentos para a busca dos Graal é oferecido por John Matthew em seu livro Der Gral (O Graal), editado pela Editora Insel. Sobre Paracelso, remendo em primeiro lugar uma monografia de Ernst Kaiser, Paracelsus [Paracelso], em seguida,
Paracelsus – richtig gesehen [Paracelso à luz da verdade] de G.W. Surya, pela Editora Rohm, e ainda, Paracelsus im Märchenland. Wanderer zwischen den Welten [Paracelso no reino das fadas. Um viajante entre mundos], de Sergius Golowin, publicado pela Editora Sphinx. Da Perspectiva teosófica existe o livro Paracelsus [Paracelso] de Franz Hartmann, da Editora Schatzkammer. Sobre o tema dos Rosa-Cruzes: Die Bruderschaft der Rosenkreuzer, Esoterische Texte [A irmandade rosa-cruciana, textos esotéricos], de Gerhard Wehr (série Amarela da Editora Dierich), contém os três textos básicos dos rosacruzes; recomendo também o livro de Frances A. Yates, Aufklärung im Zeichen dês Rosen-Kreuzes [Explicação sobre os sinais dos rosa-cruzes], Editora Klett-Cotta. Do ponto de vista de um teosofista, Im Vorhof dês Tempels der weisheit, enthaltend die Geschichte der wahren und falschen Rosenkreuzer [Acontecimentos no Templo da sabedoria, contendo a história dos verdadeiros e dos falsos rosacruzes], de Franz Hartmann. Pessoalmente, gostei muito do livro que decifra caminhos laterais da história ocidental do esoterismo, atraentes e desconhecidos, Hexen, Hippies, Rosenkreuzer, 500 jahre magische Morgenlandfahrt [Bruxas, hippies e rosa-cruzes. 500 anos de viagens mágicas ao oriente], de Sergius Golowin. Sobre o século XVIII e suas personalidades esotéricas, Stefan Zweig escreveu um ensaio sobre Mesmer contido em Die Heilung durch den Geist
34
Gurdjieff e Sua Escola
[A cura através do espírito] da Editora Fischer. Sobre Cagliostro, de Raymond Silva, há o livro Die Geheimnisse dês Cagliostro [Os segredos de Cagliostro] publicado pela Editora Ariston, e quem desejar algo mais colorido, pode optar pelo romance biográfico de Alexandre Dumas, Joseph Balsamo, gennant Graf Cagliostro. Aus en Memoiren eines Arztes [José Bálsamo, chamado conde de Cagliostro. Das memórias de um médico], publicado pela Editora Keiser. A vida misteriosa do conde de SaintGermain foi registrada da melhor maneira possível, em forma de um romance biográfico, por Irene Tetzlaff: Der Graf von SaintGermain. Licht in der Finsternis [O Conde de Saint-Germain. Luz nas Trevas]. A publicação é da Editora Mellinger. Sobre a Ordem da “Aurora Dourada” quase não há literatura em língua alemã. Como a “Aurora Dourada” representou um papel significativo na história do esoterismo e como ainda exerce sua influência, vou abandonar e minha rotina e mencionar alguns livros escritos em línguas inglesa sobre o tema. Em primeiro lugar, sem sombra de dúvida, está a publicação do material geral, organizado pela ordem, no livro de Israel Regardie, The Golden Dawn. Na Account of the Teachings, Rites and Ceremonies of the Order of the Golden Dawn [A Aurora Dourada. Um relatório sobre os ensinamentos, ritos e cerimônias da Ordem
Daniel F. do Nascimento
da Aurora Dourada], publicado por Llewellyn Publications. Está sendo preparada uma tradução em línguas alemã pela Editora Hermann Bauer. Sobre a história da Ordem existe uma pesquisa bastante famosa, muito criteriosa, mas primorosamente apresentada, de Ellic Howe, The magicians for the Golden Dawn. A documental History of a Magical Order 1887-1923 [Os magos da Aurora Dourada. Um documento histórico sobre uma ordem mágica, 1887-1923] pela Editora Routledge & Kegan Paul, Londres. Como a ênfase deste livro recai sobre os acontecimentos exteriores da Ordem, aconselho também, como complemento, a leitura de What You should Know about the Golden Dawn [O que você deveria saber sobre a Aurora Dourada] de Israel Regardie (Falcon-Press, Fênix, Arizona). Um prazer muito especial nos dá a leitura de Sword of Wisdom. MacGregor Mathers and “The Golden Drawn” [ A espada da sabedoria. MacGregor Mathers e a “Aurora Dourada”] de Ithell Colqnuhoun, pela Editora Neville Spearman, Londres. Este livro é uma amostra interessantíssima de “quem é quem” no cenário esotérico da Inglaterra na primeira metade deste século. Para quem quiser estudar melhor a vida de Crowley é imprescindível ler a biografia padrão de John Symonds, Aleister Crowley. Das Tier 666. Leben und Magick
[Aleister Crowley. A besta 666. Vida e Magia], da Editora Sphinx. Quem desejar conhecer os ensinamentos de Gurdjieff, deve dar preferência a Auf der Suche nach den Wunderbaren. Perspektiven der Welterfahrung und der Selbsterkenntnis [Em busca do maravilhoso. Perspectivas da experiência mundana e do auto-conhecimento], de P.D. Ouspensky (Editora O.W. Barth, coligada à Editora Scherz). Trata-se de uma narrativa do trabalho de Ouspensky durante os oito anos em que foi aluno de Gurdjieff. Quem quiser ler o próprio Gurdjieff, encontrará em Encontros com homens notáveis, de G.I. Gurdjieff um bom início. Uma pequena sugestão: este livro foi transformado em filme pelo diretor inglês Brooks e vale a pena assisti-lo. Daniel Fidélis do Nascimento é Fundador da Irmandade Hermética da Sagrada Arte - IHSA, e criador do Blog Alquimia Operativa. Trabalhou com fundiçâo de ouro, prata e bronze; Coordenou uma estaçâo de tratamento fisico-quimico de efluentes industriais; É Estudante rosa-cruz (AMORC); Martinista (TOM); Maçom (Rito Adonhiramita e Rito Brasileiro); Iniciou o estudo na Alquimia em 1993. Desenvolve estudos sobre Numerologia Cabalistica, Radiestesia, Reiki e demais areas do conhecimento Holistico e Esotérico. Contato: http:// alquimiaoperativa.com
35
A MORTE PARA OS ABRAÂMICOS E OS PAGÃOS Por Álvaro Hauschild
Notemos que as religiões abraâmicas experimentam a morte de um modo particular. Seus adeptos oscilam entre uma adoração excessiva à morte e à mortificação e, no outro extremo, um medo e um pesar profundo. Em nenhum momento a morte é, para eles, parte de um processo contínuo em que participa a vida e a existência como um todo. Pelo contrário, aí a alma sofre uma ruptura radical e dissolve todas as suas relações com um reino para adentrar outro, desconhecido e, por isso mesmo, terrível. Por este motivo, os rituais de morte judaicos, cristãos e islâmicos representam uma crise na vida do defunto e, também, dos familiares. Os corpos não são apenas enterrados, mas chorados ou festejados; é um grande evento, trágico ou libertador. De qualquer forma, baseado em uma doutrina crítica e, por isso, trágica para aquele que a experimenta. Para aquele que vê na morte uma tragédia, a vida se torna por isso trágica, pois frágil, incerta, contingente e, acima de tudo, sem um fundamento existencial preciso; para aquele que considera a morte uma festa, é porque a vida lhe é uma futilidade dolorosa e inessencial. Nos dois casos, a morte é desejada no desespero, seja por amar demais a vida (ao idealizar nosso mundo como se suas leis fossem 36
outras e obedecessem à “eternidade” do sujeito vivente), seja por odiá-la (ao idealizar um reino fora deste mundo contingente, que também deve obedecer à “eternidade” do sujeito idealizador). O fato de amá-la induz, por sua vez, a odiá-la, uma vez que faz parte dela um dia terminar.
não passa de um horror, do mal, não correspondendo, assim, ao modo de vida da divindade. Para estes, o mundo é um erro, um tropeço; para os outros, a melhor e única forma do bem supremo se expressar. Há, apenas para os abraâmicos, uma descontinuidade Seja a morte uma libertação entre o divino e o mundo. ou uma tragédia, é porque, nos dois casos, a vida é imperfeita, Muitas questões e estudos dolorosa, fatigante e, sobretudo, podem ser feitos para esmiuçar contém em si o princípio e as esta diferença. Aqui apenas influências diretas do mal e do esboçaremos algumas vias. É maligno. Em outras palavras, importante notar, contudo, que ela não corresponde ao ideal de uma religião não se restringe ao incorruptibilidade do sujeito. seu sistema metafísico; muita Enquanto o sumo bem se coisa depende da interpretação recolhe na transcendência, daqueles que a praticam e do inalcançável, o mal reina na nossa modo como encaram a existência experiência cotidiana, no corpo, através de sua doutrina. Por isso no mundo, através dos sentidos, tivemos que chamar atenção para que são pura ilusão. Alguém a diferença dos abraâmicos em poderia desejar comparar aqui a relação ao resto das religiões, concepção abraâmica do mundo uma vez que existem maneiras, com a Maya hindu, que também pragmáticas, superficiais e concebe as formas do mundo e a errôneas, de equiparar os diversos experiência sensível como ilusão. sistemas como se fossem pontos de vista distintos de uma mesma Mas esta comparação é indevida: e universal religião; não é isto o enquanto, para os hindus como que ocorre aqui, pois os sistemas para as demais tradições em volta são apenas um pano de fundo de do planeta, o mundo (a ilusão) uma concepção muito particular é a manifestação sagrada de um da existência (e de vivê-la, “existiprincípio universal, portanto la”), e por mais que alguns trata-se de um holismo com valor conceitos aparentem semelhança, positivo, para os abraâmicos é tão são contudo muito diferentes. somente fruto de um pecado e
A Morte Para os Abraâmicos e os Pagãos
Algo que acompanha e ajuda a sustentar esta concepção abraâmica da morte é o dualismo entre corpo e alma, ou entre corpo e razão. A frase “meu reino não é deste mundo”, do Cristo, ilustra bem este ponto. Fundamentado na consciência do sujeito fechado em si mesmo (simples e indissolúvel, portanto distinto do corpo divisível e corruptível), o abraamanismo concebe um mundo ideal em que o sujeito vive eternamente e reina na [sua] paz; ora, este mundo terreno (este “reino”) não traz a paz do sujeito, mas a dor, a influência de forças externas, e, por fim, a morte, a dissolução do sujeito. Não conseguindo aceitar este fato, Abraão postula, em um arrebatamento emocional, um outro reino, o “reino do Senhor” em que há paz aos sujeitos individuais. Não vamos entrar aqui a discutir as contradições internas desta doutrina, que o ávido leitor já deve perceber; queremos salientar, todavia, o dualismo e, com ele, a expulsão da divindade executada por ela. Postulado um mundo ideal para o sujeito pensante e consciente, tem-se o seguinte quadro: Deus, naturalmente o “centro do mundo”, está fora do mundo, distante de toda maldade; as almas, por sua vez, estão abandonadas à contingência, ao acaso, ao horror, à morte (à lama), e salve-se quem puder. Em vida, o sujeito está condenado a vagar no vazio da noite suprema, a não ser que ele trabalhe para criar para si uma distração, enquanto espera o Juízo Final. Surgem aqui a penitência para expiar o pecado, a autoflagelação dos primeiros cristãos e judeus, o sofrimento da solidão e, por fim, a busca desesperada pela felicidade mundana (não
Álvaro Hauschild
surpreendentemente, uma vez que, se não houvesse um erro, que da vida foi tirada sua essência nada disso teria acontecido. e seu gozo natural, e de Deus sua presença), a modernidade. Mas estaria o erro, portanto, na postulação do sujeito como A busca abstrata por se defender fundamento existencial? Se o das coisas naturais (os animais da mundo é fluido e um movimento floresta, a “sujeira” que a terra faz eterno, não poderia ser isto, o nos templos, a morte) através da continuum fluídico, o bem? Mais tecnologia é mero reflexo destes radical do que isto: se o mundo princípios abraâmicos. Trata-se é um continuum, é possível haver da ânsia do sujeito de manter-se sujeitos, isto é, átomos isolados inteiro e completo em um mundo em si mesmos, sem nenhuma em que as formas se alteram relação necessária (e essencial) essencialmente. O individualismo, com o mundo como um todo? a psicologia e as demais ciências Aqui, todas as tradições do modernas e, por fim, o liberalismo mundo parecem concordar em político (e econômico, social etc.) assumir o absurdo de se conceber são as demais consequências. um sujeito, exceto a abraâmica. A contemplação, a união com O homem, para elas, não é o a natureza, típica de pagãos, é homem sem o mundo, ele não se violentada e denunciada como realiza sozinho e, portanto, não a rendição aos demônios; só a existe ontologicamente de outro abstração, o mundo da razão, modo que não em participação é puro (podemos sentir aqui o em um todo junto com o mundo. prelúdio da filosofia de Calvino, O homem é um “nada”, mas não Descartes, Kant, Locke e, por fim, em sentido depreciativo, ele é de Karl Popper). um “nada” porque seu ser está em não se fechar em si mesmo, E. R. Dodds, em seu Pagan and mas em ser com o mundo o que o Christian in Age of Anxiety todo (o holon) demanda. A beleza (1965), se questiona: quando, onde e o bem estão por todos os lados, e como exatamente surgiu esta como teria dito Heráclito sobre loucura que leva à autoflagelação, os deuses; muito diferente do ao isolamento e a profundos abraamanismo, que se vê rodeado distúrbios emocionais? Ele de demônios e abandonado por mesmo afirma que não sabe Deus. A morte, para os pagãos, responder, mas acredita que, é um elemento do ser como em algum momento, lugar e de qualquer outro, não há crises algum modo, houve uma má nem dramas com ela; se a vida e interpretação de textos antigos a morte participam igualmente que se disseminou. E como do todo, nada se perde jamais, nós constatamos que o estado portanto não há uma mudança, político, econômico, social do um desvio, ao passar da vida para nosso mundo contemporâneo se a morte. fundamenta em constantes erros, progredindo em cima de erros Assim, não se choram os mortos e abstrações sem sentido, como nem se os festejam nem se criam se pode interpretar também a palácios para lembrá-los, mas Torre de Babel, podemos muito para louvá-los e agradecê-los por bem imaginar que tal erro seu caráter e seus feitos, quando primordial possa ter acontecido muito impactantes. Seja para na antiguidade. Aliás, sabemos onde “forem” os mortos, eles 37
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
estarão sempre aí, no mesmo “reino” dos vivos, e continuarão fazendo parte do todo orgânico, pois nada se cria nem se perde, nem se transforma, mas apenas se manifesta dinamicamente em um eterno vitalismo no todo, e nunca enquanto átomo. Ao invés de sujeitos que compõem o universo através de uma coleção de sujeitos (como postulou Aristóteles, ao conceber o ser como complexo), o que há são vínculos que compõem um todo, e este todo é indivisível, tal como pensava Bruno. Deste modo, não há coisa alguma
para morrer ou se transformar, e a tese de Parmênides de que tudo permanece o mesmo pode, aqui, fazer todo o sentido, e até mesmo concordar com a de Heráclito, que diz que ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. Simplesmente não há o “rio”; nós construímos o rio com nossa linguagem, uma invenção nossa, artificial. E através da filosofia passamos a acreditar (a tomar como pressuposto) nos sujeitos criados por substantivos; para usar a filosofia, pressupõem-se substantivos e suas referências; e, em seguida, ao nos distanciarmos das referências, ficamos
LIVROS - BRINDES - PRESENTES PARAMENTOS JÓIAS DE GRAU - ADESIVOS http://www.trolha.com.br 38
submetidos aos substantivos. E aqui, então, poderemos vislumbrar o provável erro dos abraâmicos, que é o mesmo de Aristóteles e dos peripatéticos: crer que os substantivos assinalam sujeitos, átomos no mundo. Álvaro Hauschild é mestrando em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tradutor e blogueiro; Blog pessoal: Forças da Angústia http://alvarohauschild.blogspot. com.br/
AYAHUASCA E ALQUIMIA Por Alessandro Jucá
A história do uso de psicoativos acompanha a história do desenvolvimento da humanidade desde as eras mais remotas. Há indícios arqueológicos e históricos do uso dessas substâncias em processos de cura e mais evidente ainda em rituais que visavam estabelecer uma ligação mais intensa do homem com o sagrado, em diversas civilizações e tribos distribuídas pelo planeta. Isso nos leva a crer em uma metafísica direcionando o ser humano à busca de sobrepor unicamente os seus sentidos básicos e elevar sua capacidade de percepção através do uso de elementos da natureza, especialmente aqueles contidos em plantas, hoje em dia denominadas de enteógenos (Manifestação interior do divino) ou mais popularmente, plantas de poder.
atingem todos os estados, incluindo também alguns outros países, inicialmente através de três grandes linhas “ayahuasqueiras” (nome popular dado às religiões que utilizam ayahuasca em seus rituais): Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal. Religiões criadas por Mestre Irineu, Mestre Daniel e Mestre Gabriel, respectivamente. São três religiões genuinamente brasileiras, nascidas no berço da floresta amazônica e hoje, distribuídas pelo mundo, através de suas sedes e inúmeras ramificações dissidentes destas, que possibilitam o homem urbano, do campo ou das florestas, o contato com o universo em outras dimensões da realidade e um contato mais profundo com sua própria natureza humana. Não me compete, através deste artigo, explicar cientificamente o que faz com que a bebida tenha seu efeito no organismo. Nosso intuito é discorrer sobre a essência alquímica que está presente desde o plantio, colheita, preparação aos efeitos do uso da substância no ser humano. Porém, antes de iniciar mais profundamente o tema, é válido um parêntese com algumas recomendações essenciais, no aspecto da saúde física e mental, como de segurança espiritual.
O uso da Ayahuasca, uma das substâncias mais poderosas quanto ao seu efeito no ser humano, faz parte desse processo de busca, tendo suas origens atribuída a tribos indígenas da floresta amazônica, por ocasião das plantas utilizadas para a preparação da beberagem serem nativas desta floresta, que se estende desde o Peru até o norte, nordeste e centro-oeste do Brasil. No Brasil, através do contato com os Índios e seringueiros, os rituais com o uso de ayahuasca (Utilizo ayahuasca a aproximados chegaram a civilização e já 30 anos e jamais indico seu uso de
forma recreativa, tendo em vista alguns fatores. Sobre o aspecto físico, há uma administração quanto a quantidade certa que cada pessoa deve consumir, avaliada de acordo com o tempo que alguém tem de uso. Sobre o aspecto mental, não é indicada, sob a ótica médica nem de algumas linhas religiosas, o uso da substância por pessoas com problemas mentais, histórico de surtos ou predisposição a estes, e pessoas que estejam utilizando drogas controladas para tratamento de doenças dessa natureza. Quanto ao aspecto espiritual, seu uso ritualístico, proporciona elementos de defesa contra ataques astrais de entidades nocivas ao ser humano, bem como denota um respeito à força das entidades trabalhadas nas ritualísticas de quaisquer das linhas religiosas mencionadas. O efeito da ayahuasca pode causar um abalo espiritual em quem usa, se não for administrado com o conhecimento de suas leis correspondentes, podendo tornar um vislumbre do paraíso em uma desagradável experiência. Quando temos uma busca sincera, autêntica, com respeito ao sagrado, dentro de um ritual religioso adequado, de preferência dentro de uma das três linhas originais ayahuasqueiras no meu 39
Ayahuasca e Alquimia
entendimento, podemos então adentrar às maravilhas da natureza divina e do autoconhecimento com segurança e equilíbrio). Recomendações feitas, daremos então sequência aos nossos estudos relacionados à condição alquímica da ayahuasca e seus efeitos benéficos ao ser humano.
Alessandro Jucá
Durante a preparação percebemos semelhanças com algumas fases de alquimia operativa, tendo em vista que as plantas são levadas ao fogo, com água, acontecendo de forma material algo similar aos processos de calcinação, eliminando o que há de escória, tendo em vista que o objetivo é extrair apenas o princípio ativo a ser unificado à água; A dissolução, pela purificação mais profunda para a realização da obra; A separação do espesso e sutil quando da extração do líquido ainda não pronto; A conjunção, pois o sentido primeiro de se preparar a bebida é a união dos princípios ativos das duas plantas, no sentido espiritual, união dos mistérios específicos de cada uma delas em uma única substância.
O processo alquímico do uso da ayahuasca, em algumas linhas religiosas, inicia-se no plantio das respectivas plantas. O cipó (Caapi/Mariri/Jagube, etc;) e a folha (Chacrona/Rainha, etc;), em período de plantio, observase a fase da lua correspondente, a energia ou vibração mental de quem planta, o trabalho disciplinar de dedicação e e contato com a terra, um dos quatro elementos, o acompanhamento e cuidado Podemos assim confirmar a durante todo o desenvolvimento existência de um processo do cipó e do arbusto plantados. alquímico espagírico durante toda a fase inicial dos trabalhos Quando da colheita, há também realizados no manuseio das uma observação à fase respectiva plantas consideradas sagradas lunar, que propicia um melhor pelos “ayahuasqueiros” (pessoas aproveitamento da seiva dos que usam ayahuasca). vegetais, consequentemente do princípio ativo da substância, Tratamos até aqui apenas os motivo pelo qual as colheitas e processos de plantio e preparação as preparações devem obedecer de ayahuasca, relacionados a o período lunar ideal de forma a prática da alquimia operativa ter-se um melhor aproveitamento e espagiria. Consideraremos dos resultados e fortalecimento a partir de então, os efeitos do efeito. Há também uma forma espirituais no ser humano e sua correta de colher determinada correlação direta com Alquimia planta, quanto ao sentido de contemplativa e meditação direção e a observação do ciclo alquímica ocorridos durante feminino quando no trabalho o processo na mente humana de mulheres na colheita. tornando-se assim um potente Posteriormente, recomendações instrumento de autorrealização. sobre a importância de limpeza prévia das emoções negativas, Em algumas linhas religiosas, bem como foco mental no especialmente às que utilizam positivo quanto aos pensamentos ayahuasca com práticas e atitudes durante todo o período meditativas, com efeitos de de preparação da beberagem, concentração mental, podemos assim como a realização de rituais vivenciar em cada experiência específicos para este momento. potencializações desses efeitos, 40
pela agução dos sentidos naturais do ser humano e consequente melhoria na condição de capacidade de concentração. De maneira a não nos estender demasiadamente nas correlações e consequentemente no artigo propriamente dito, destacaremos apenas duas das principais fases alquímicas relacionadas à alquimia essencial do ser e os efeitos no espírito: A Calcinação (O Nigredo) e a Coagulação (Autorrealização). Ao iniciarmos o caminho da ayahuasca, começamos a nos perceber mais intensamente e somos praticamente conduzidos a um estado meditativo, tendo em vista que o efeito é similar ao que se conhece como sonho lúcido, porém com um fator importante, o de que o adepto não está dormindo, apenas o seu cérebro funciona como se assim estivesse, em estado perfeitamente consciente e acordado. O próprio corpo altera seu funcionamento e há um relaxamento natural da musculatura, uma espécie de dormência corporal, mais sentida como tal quando se é iniciante, porém com a evolução no uso, percebe-se que se trata da ação da bebida no corpo e no cérebro, induzindo a um estado de meditação profunda. A experiência nos ensina a receber todo esse processo dentro de uma tranquilidade, de forma a facilitar e não atrapalhar a ação do efeito com ansiedade, medo ou intranquilidade, embora em alguns momentos isso ocorra, até que se estabilize, tal qual uma decolagem de um avião que após ultrapassar as nuvens, deixa para trás toda e qualquer turbulência, tranquilizando posteriormente o voo e possibilitando uma boa viagem.
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
Naturalmente, os efeitos em cada pessoa são específicos, de acordo com a natureza de cada um, mas há fatores comuns. Temos a impressão, que quando sentimentos, desejos e pensamentos obscurecidos ou negativos, que tendem a absorver nossas energias, e por essa razão, haverá momentos espontâneos de encontro com cada um desses aspectos “sujos” em nós, e tal qual um “espiral ascendente”, em níveis cada vez mais profundos, a depender da nossa vontade de aprofundamento. Aprendemos nesse processo a eliminar nossas escórias e a dominar aquilo que ainda não temos como expurgar de nós. Como correspondência a tudo isso, é comum haver processos de incômodos, vômitos (metaforicamente chamados de limpeza por muitos ayahuasqueiros) e que, mentalmente, nos dá uma sensação de leveza espiritual, após a respectiva “limpeza” realizada. Iniciamos eliminamos o que há de mais grosseiro e a medida que subimos o espiral,
eliminamos o sutil e/ou oculto. A parte grosseira, no geral é mais simples de ser eliminada, as demais, é um longo caminho na senda, com fortalecimento do querer e da vontade para que isso ocorra, sob pena de, em não buscarmos sinceramente
em fases mais altas do “espiral” e têm um desenvolvimento individual mais simples, porém com o mesmo valor. Eis aqui, um relato, sob a ótica espiritual, da fase da calcinação ou nigredo, relacionando de forma mais profunda ao uso da ayahuasca. Após essa etapa, até que se autorrealize de forma plena, o adepto, em cada subida do “espiral”, mantém o nigredo, eliminando escórias mais sutis, ao tempo que ocorre a autorrealização ou a libertação de forma gradativa, vislumbrando em cada fase uma elevação maior da sua condição de ”iluminação” e desprendimento de tudo aquilo que atrapalha a realização da grande obra interna pessoal, até que enfim, em algum momento, possa ocorrer a libertação plena, a autorrealização e a compreensão ampla de “Quem eu sou”, dentro da consciência da própria existência, impulsionado pelos efeitos da ayahuasca, quando enfim, pode-se chegar a grande realização alquímica relacionada a fase da Coagulação, A Grande Obra.
isso, passarmos longos períodos “estacionados”, sem quaisquer evolução no processo e ocorrer assim uma acomodação. Porém, quando há essa vontade, a limpeza e a leveza se transformam em hábito e a consequência disso é a diminuição dos incômodos e sofrimentos quando usamos. Obviamente, esse relato é uma forma de observar o todo, mas cada indivíduo tem sua experiência própria, considerando a condição espiritual de cada um, pois há também aqueles que chegam Alessandro Jucá é Hermetista, e pouco sofrem, que já estão Alquimista e Superior de uma Ordem Hermética. Com o know-how de 30 anos no mercado, a Prolab alia compromisso, ética e competência na distribuição de materiais para laboratório. São produtos ideais para laboratórios em geral, universidades, indústrias, escolas, centros de pesquisas, etc. Confra todas as soluções! Rua Viaza, 999, Jardim Aeroporto, São Paulo - SP - Brasil CEP: 04633-051 Televendas (11) 5671 9100
[email protected] http://www.prolab.com.br
41
POR QUE A CABALA? Por Avigdor Eskin As penas dos jornalistas não param de denunciar todos os tipos de pessoas sem alma, más e cruéis que dominam o nosso mundo. Todo jornalismo honesto é transformado em uma enorme avalanche de dor nos papéis dos jornais. O leitor já está acostumado a julgar os escritos como um grito sincero das almas dos dias de hoje e, num julgamento mais rigoroso, está indiferente. A dor da vida gera apenas sofrimento e compaixão. Fé e esperança passam longe das respostas. Os autores, fiéis ao princípio “a sinfonia deve acabar de forma grandiosa”, referemse aos diversos oportunistas, glorificadores de qualquer poder: soviético, americano ou pan-islâmico. A semeadura da felicidade genuína foi esquecida. Vemos o brilho de D’us apenas nas lágrimas da compaixão. Aquela aceitação da Luz do Alto sem qualquer pensamento. Vivemos assim desde a nossa infância, na era do progresso até então desconhecido. Com condescendência arrogante, não pensamos naqueles que viveram antigamente, sem qualquer noção sobre a TV ou computador. Mas recebemos alguma alegria e felicidade na agitação das mudanças e inovações? Temos realmente capacidade de autoconhecimento e conhecimento do mundo? 42
Todas as insatisfações do homem moderno são diferentes daquelas das gerações passadas. Pregadores religiosos de direita puxam-nos para a nostalgia do passado, algo muitas vezes irremediável. Afinal, no século passado as pessoas não provavam essa abundância de doenças mentais e perversões, as famílias não estavam caindo aos pedaços, o ar estava limpo e fresco. Entretanto, nem o clero é capaz de atrair o povo para o mínimo de moralidade. Infelizmente, poucas pessoas conseguem seguir preceitos religiosos baseados em: “Temos fé, temos a Igreja, seguimos nossos pais.” Alguns encontram na religião tradicional um caminho alternativo ao materialismo secular. Muitos outros buscam na Índia ou no Extremo Oriente, encontrando uma paz temporária, mas que não é o fim do caminho. Resta sempre a volta do rebanho ao materialismo inanimado ordinário.
Chora de tristeza, lágrimas de arrependimento Busca em vão alguma alegria na tristeza; Em vão busca o esplendor da alegria, A natureza ali, exibindo sua beleza; Cercada por olhos tristes: A mente busca o Supremo, encontrável apenas pelo coração
Aqui a tragédia nos atinge de qualquer jeito! Primeiro, o racionalismo cruel do Iluminismo arruinou as ideias simples e ingênuas sobre o universo. Deixando para trás um fluxo secular mundial na mente das pessoas simples e de espírito humilde. O coração ainda busca a fé, mas a mente está obsidiada pelo racionalismo, arrastada pela ciência e pelo progresso. O cenário atual é diferente, a mente do homem moderno entende o absurdo do ateísmo e a necessidade da capacidade de interpretar o mundo metafisicamente. Mas seu coração ainda está nas garras de incredulidade. Parece que a nossa geração pode compreender a profundidade do drama interior relatado por Pushkin:
Como já ouvi muitas vezes: as pessoas querem ter fé, mas não conseguem. Algo as afasta das formas tradicionais de religião. Algo inexplicável e invisível. Este estado de inquietude contemporânea é melhor descrito A multidão adentra silenciosamente no poema de A.S. Pushkin o templo de Deus, “Descrença”: O anseio da alma cresce, Com uma exuberante celebração nos Veja - lá vai ele com a alma vazia, antigos altares Terrivelmente atormentado pelo vazio
Por que a Cabala?
A doce voz do rebanho em coro, A preocupação da incredulidade é atormentada. Em tudo há o segredo de Deus, nunca amadurecido, A alma desbotada no santuário, Tudo é fresco e renovador. Com pesar, ela ouve as súplicas
O que você sentiu quando visitou a sinagoga pela primeira vez? Penso que o homem russo experimenta algo similar, mas não posso dizer o mesmo quanto aos sintomas da descrença. Creio que é melhor falar em algo baseado em pesquisas e testes, não desejo impor minha própria cosmovisão. O fato é que ressoa nos corações a procura de um caminho ao Criador, não só através da sinagoga esejamos um tempo, com esperança, em que as pessoas unam seus esforços para algo que cure os corações ateístas e descrentes.
Avigdor Eskin
como na sinagoga. Fiéis frequentam templos apenas como visitantes casuais, criando um ambiente semelhante ao ateísta. Não entendem a tangibilidade do espiritual que guia as pessoas atualmente. O sistema de adoração parece um fim em si mesmo. A comunhão com D’us é encerrada na execução de sua vontade, sob a forma do cumprimento das leis e da moralidade. Um moscovita idoso ou de meiaidade é capaz de ver e avaliar os méritos do local visitado. A mente já está preparada para receber os benefícios de um estilo de vida piedoso, de sinagoga. E quando vários obstáculos aparecerem? Mudança no estilo de vida, aprender um novo idioma... Quando é preciso sacrifício, o egoísmo clama seus direitos. Para derrubar as barreiras, nossos visitantes oram e encontram nas paredes da construção a espiritualidade genuínaComo isso funciona? Como encontrar a espiritualidade em uma casa de oração? Pois ele deixa o local com uma sensação estranha. Alguns brigam com os pais, por não terem aprendido a fé desde a infância. Uma vez por ano, buscam ouvir os cânticos festivos.
A descrição de Pushkin é diferente da experiência que tive há mais de vinte e cinco anos, quando visitei uma sinagoga de Moscou. Foi a observação um ato de confronto entre o mundo atual e a vida sacra existente em um shtetl[1] judaico. Passei pela profunda experiência de adentrar o seio dos ritos de uma sinagoga ligada à Israel, que celebrava um rito por alguns falecidos durante um desastre. Parece que tudo ao redor aponta para uma vida unida à exploração Atualmente, o homem não direta do Criador. Ídolos e ideais busca um templo procurando do passado foram rejeitados nos sua origem, mas sim algo para últimos cem anos. Até mesmo a aliviar sua dor. Em nossos dias, tentação do autoengano da antiga as palavras de Alexander Galich e poderosa forma de secularismo parecem estranhas: “Saí em busca messiânico. de Deus.” Entretanto, o mundo moderno O homem deve entrar em educou as pessoas de forma um templo na busca por uma irreligiosa. Mas desculpas experiência espiritual real. Mas racionais para a falta de fé não falta-lhe o toque do Criador, são encontradas. Isso só mostra
que, mesmo longe da fé, as pessoas buscam uma moralidade para permear os rituais da vida ordinária. O coração clama por uma espiritualidade convexa e tangível, mas não a encontra no campo do estudo dos textos sagrados e nas orações conjuntas. Buscadores da verdade dos dias de hoje buscam ver a existência de uma fé, uma indispensável manifestação de séculos de tradição, uma realização das leis do sagrado. É possível admirar o fim das vicissitudes do século XX: elas lembram a presença de uma leia suprema de existência. Ainda acrescento: tais leis são eternas e imutáveis. Mas ainda não há o suficiente para a pessoa que busca um sentido na vida, para quem busca um alimento espiritual que possa superar toda sua existência. Adquirida ao longo dos anos, a acumulação de bens materiais e o egoísmo impedem que a luz para o verdadeiro caminho se revele. Podemos fazer uma comparação com a escada de Jacó ou a influência da “luz ambiente” do Criador, Or Makif - a luz circundante. Reações infernais buscam seduzir a pessoa, impedindo seus esforços em busca do sentido da vida. O que começa como caminho espiritual leva para a experiência do entendimento da verdade, através dos antigos métodos de ligação ao Criador. O primeiro homem na terra recebeu as chaves dos mistérios do universo. O conhecimento esotérico dos antigos é encontrado no estudo de suas civilizações. Em todas as gerações vemos pessoas que alcançaram revelações espirituais tangíveis, nunca satisfeitas com as leis da existência compreendidas 43
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
pelas massas. Sabemos da existência destes buscadores da Luz e ouvimos sobre seus resultados. Até pouco tempo, a espiritualidade era fornecida a poucos, além das ordens alternativas implementadas na consciência dos praticantes de magia negra, em suas várias seitas. A necessidade do avanço espiritual desprovido de motivação puramente egoísta, existia apenas em poucos círculos. A massa fica contente com as formas de adoração das religiões tradicionais, mas não hesita, quando precisa, de prestar culto à serpente. Com a busca pela verdade estancada, o homem moderno busca na explicação esotérica aquilo que é sobrenatural, sem contar as formas primitivas de adivinhação e feitiçaria. Ele tenta obter uma resposta à pergunta tentadora: qual o sentido da vida? Sem as intenções purificadas, todas as tentativas para encontrar uma resposta acabarão despedaçando a alma. Então, é hora de dizer uma palavra: “Cabala”. A Cabala (“o Segredo”) surge atualmente quando a pessoa reconhece a futilidade de sua busca. Isso inclui uma vida até então sem qualquer sentido. Conforme o mistério vai se aprofundando, mais a vida recebe o seu verdadeiro sentido. Detectar a luz na opaca e impenetrável realidade atual parece uma tarefa utópica. Pois tudo parece inundado pelo caos e mentiras da modernidade. Então, como Solzhenitsyn, o buscador da verdade deve pegar sua caneta e denunciar os abusos do mal. 44
Ao entrar no mundo da Sabedoria Sagrada, os estágios de realização superam o mal e ensinam a como lidar com ele. Surge então um ambiente para implementar a ideia comum aos fiéis de todos os povos: “Não pragueje a escuridão, acenda uma vela. ” Envolvidos nos mistérios do universo, os profetas contemporâneos enfrentam acusadores furiosos, mas para eles somos apenas velas no vento. Eles não nos dão a luz de D’us para que não tropecemos na escuridão. A Cabala sempre foi designada como “Ciência Secreta”. Mas tudo que é escondido desperta uma curiosidade absurda. Em nossos dias, quando a revelação de qualquer segredo causa a eliminação da vergonha, muitos salafrários exploram as massas utilizando conceitos teológicos deturpados.
da doutrina. Vista de fora, a Ciência Sagrada parece apenas uma forma de física. Vladimir Dalh tentou interpretar a palavra Kabbalah em seu “Grande Dicionário Explicativo do Idioma Russo”, há mais de cem anos. Eis o que ele disse: “Cabala ou kabbalah - a interpretação mística do Velho Testamento segundo os judeus, também está ligada à magia; algumas vezes pode ser definida como feitiçaria ou magia negra.”
Não importa o que você diga, a primeira impressão da palavra “Cabala” sempre será como algum elixir para prosperar neste mundo. Alguns enxergam a Cabala como uma magia para o enriquecimento, outros esperam usar a antiga ciência para desenvolvimento pessoal, mas há também os que se agarram aos termos esotéricos para a Abra o jornal de hoje e você deificação humana através de verá, junto do anúncio de bens objetos ou inovações ideológicas. e serviços da carne, “cabalistas” oferecendo ajuda por um certo Os guardiões da virtude religiosa preço. Coisas do tipo remover tradicional buscam proteger seu uma obra de feitiçaria ou olho rebanho de tal “Cabala”. Em alguns gordo, conquistar uma garota ou casos, emitem pronunciamento trazer um marido de volta. Outros para afastar a massa de fiéis de prometem dinheiro ou previsão tais charlatões. Líderes espirituais do futuro. acreditam que é melhor esconder das pessoas o significado interno Ainda insatisfeitos com tudo isso, da religião, diante do risco dos alguns tentam angariar pessoas prestidigitadores inescrupulosos, prometendo um conhecimento que seduzem o rebanho com “cabalístico”. Sempre aparece um magia pagã, escondendo seus “soberano iluminado” anunciando erros em termos da Sabedoria alguma doutrina secreta, sem Sagrada como “sephirot” ou conhecer nem mesmo uma outras palavras. abordagem primária dos textos esotéricos. Atualmente, não é fácil convencer o homem da necessidade de reter Os profanos e ignorantes sempre informações ou negá-lo coisas tentam espionar e tentam levar que satisfazem sua curiosidade. suas percepções imperfeitas até as Você pode dizer que há algum categorias da Sabedoria Sagrada, conhecimento estritamente que acaba vulgarizada e distorcida proibido, mas isto é o que sem dó até nos pontos principais desperta seu apetite. Todos os
Por que a Cabala?
avisos e advertências deste tipo são rejeitados com força em nosso tempo. O orgulho moderno é tão grande que não permite nem mesmo cogitar a razão dos professores da religião, que buscam evitar a tentativa vulgar do fetiche espiritual, através de uma completa proteção ao acesso da informação. A intenção de proteger a Tradição certamente é boa, mas a tarefa tem falhado. Ainda discutiremos o problema crescente da divulgação da Sabedoria Sagrada em nossos dias. É difícil encontrar um tema que fascine tanto fiéis e líderes. A atmosfera aquece com a mera menção da palavra Cabala. Quando você fala sobre a possibilidade de um estudo real da estrutura do universo, alcançado pelas técnicas mais antigas e esotéricas, os nervos colapsam e surgem um temor que resulta em pirraça. A tradução literal da palavra hebraica “Cabala” é “receber”, ou seja, receber a doutrina da percepção espiritual que é equivalente à luz (Or -em hebraico). Desde o surgimento do primeiro homem, ele é assombrado pela questão: “qual o sentido da vida?”. Normalmente, a resposta moderna é obter riquezas, deixando de lado as aspirações superiores. O ponto de partida da resposta moderna é: comer bem, dormir com conforto, ser saudável, conversar com uma mulher bonita, ver um interessante filme americano sobre policiais... Nosso mundo “científico” é escravo da sociedade de consumo. As leis da natureza são estudadas apenas para a criação de novos brinquedos, algo essencialmente prático. Especialistas em física e matemática estão todos envolvidos
Avigdor Eskin
pelo interesse dos agentes do capital. A satisfação da carne por todos os meios disponíveis - é o credo da sociedade de consumo. É deixado de lado o reconhecimento do interesse da comunidade ditado por certos princípios morais, ajustáveis ao desejo do grupo em particular, para que exista satisfação mútua, sem o prejuízo do próximo. Em outras palavras, a filosofia moral moderna só lida com a sociedade de consumo. As leis morais estão sujeitas aos desejos mutáveis da sociedade humana, variam de acordo com as flutuações dos caprichos e paixões humanas.
respeito pelo mundo das leis divinas já torna a pessoa um pouco mais pura e elevada. Mas assim é o caminho da ascensão espiritual? Sim, pode ser o caminho da Sabedoria Sagrada. No entanto, muitas vezes a fé é transformada na esperança de uma recompensa neste mundo, através da observação dos rituais e do cumprimento das leis morais. A mesma ganância e paixão por liberdade. Fale a verdade, você não vê muitos fiéis seguindo as regras da religião em busca de benefícios e prazeres? Seguir a fé num mundo moderno é muito difícil. Há uma visão turva sobre a vida e a morte. Imaginase que a justiça está em ganhar as coisas do mundo, na forma de bens materiais. É difícil retirar a noção de prazer das pessoas. Não são intenções confessionais, mas puramente egoístas. Há um provérbio russo para que lembremos da verdadeira pureza: “Não levante a vela diante de D’us e a alma ascenderá.”
Em círculos acadêmicos conservadores, este fenômeno é chamado de “crítica à epidemia do humanismo secular”. O desejo dominante do mais forte em subjugar o mais fraco sufocou as vozes intelectuais. Acadêmicos da esquerda liberal tentam impor uma visão de mundo pervertida e invertida, sob teorias pluralistas e de funcionalismo psicológico. Na verdade, os materialistas tentam, de forma inconsciente, estabelecer a primazia da natureza animal do O segredo começa quando o homem sobre sua alma. homem desiste de suas tentativas inúteis de colocar o mundo A complexidade das coisas nublou espiritual sob o jugo de seus a luz da questão intrareligiosa. prazeres mundanos e carnais. Podemos dizer com confiança A ciência oculta constrói uma que todos os religiosos estão hierarquia apropriada quando ocupados à procura da ascensão a carne é transformada em um espiritual da Escada de Jacó? A vetor para o intelecto, assim vivência do mundo religioso leva o intelecto atinge a elevação muitos à “descrença” citada por espiritual. Nenhum deus pagão Pushkin, pois os vícios humanos criado pelo homem eliminou o que descrevemos sobre o medo da natureza, a subordinação humanismo secular também estão aos desejos, muito menos os presentes entre os religiosos. pensamentos e o desejo em busca A crença tradicional implica o da compreensão sobre o Criador reconhecimento do Criador, invisível e sua manifestação real fornecedor de uma lei suprema e tangível através dos mundos que elabora ritos e fundamentos espirituais. Não é o espírito pela da moralidade. A consciência de carne, mas a carne pelo espírito. uma substância espiritual e um 45
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
Assim o homem se enfeia: trocando o bem pelo mal, o espiritual pelo temporal. Inicialmente, ele está sob algum poder do estado carnal, mas há a possibilidade de ascender a um estágio superior. Para isso, é necessário que o homem opere uma verdadeira reconstrução, abandonando o egoísmo e
buscando ficar semelhante às coisas espirituais. Como diz Soloviev, de forma concisa e clara: “Salva o que está salvo. Eis o segredo do progresso – o único.” Este método de cognição do Criador foi dado a Adão e parte dele chegou até os dias de hoje através do livro “Raziel o Anjo’. O ensinamento de Abraão está preservado no “Livro da Criação” Sepher Yetzirá). Há também o Zohar, descoberto através do lendário Rabino Shimon bar Yochai, no século II. Outro papel essencial na revelação dos mistérios do universo coube 46
ao Rabino Isaac Luria (o Ari), que viveu no século XVI. A compreensão de toda a Sabedoria, de acordo com a mente humana e sua capacidade de compreensão da Cabala, foi feita por Gaon de Vilna (assim chamado por ser de Vilna, no século XVIII, conhecido como Rabi Eliyahu Kramer). Seu livro “Kol Khator” é uma quintessência da nossa era e dos tempos messiânicos.
nossas transgressões - o raio de luz. No futuro, trataremos sobre o ritmo que nos permite a atração inicial ao espiritual, à obtenção tangível do que precisamos. Notas de Rodapé: [1] Nota do tradutor: Palavra ídiche para designar pequenos bairros judaicos.
[2] NT: Conjunto formado Talvez a maneira correta de pela Torá, Neviim e Ketuvim. entender os livros citados Conhecida pelos cristãos como acima esteja perdida em ‘Bíblia” ou “Velho Testamento”. nossos tempos, mas fomos iluminados pelo surgimento Avigdor Eskin é jornalista e da luz do Rabi Yehuda ativista político. Nascido na Ashlag, de uma missão antiga União Soviética, também espiritual enorme que só é cidadão israelense e importante começamos a perceber agora, voz da comunidade judaica. quase cinquenta anos após Também é um importante sua morte. conferencista na Rússia, com palestras e conferências sobre Temos um profundo Ciência Política e Teologia. Site interesse neste problema, oficial: http://avigdor-eskin.com/ mas temos também grandes condições para a descoberta Traduzido do russo por Rafael R. do espiritual, para as Daher, do artigo Почему каббала ? respostas que iluminam nossas perguntas depois da penetração no profundo mistério. Por isso recebemos esses livros. No processo da iluminação, descobrimos que a Tanach[2] não é um conjunto de leis e histórias altamente doutrinárias. Pelo contrário, todos esses elementos estão presentes no Livro dos livros, mas como subir a Escada não está claro. O segredo está em entender a verdadeira profundidade das Escrituras. Somente assim nossas vidas ganharão um novo quadro. Contra o sentimento frequente de frustração e fadiga da busca constante, há o desejo para que rompamos com o amargo das
FUNDAMENTOS DA CABALA Por Rafael Resende Daher Fundamento Histórico Metafísica Judaica
da que a religião dos hebreus, pelo menos até Moisés, era mais próxima das tradições Cabala, Zohar, guilgoul, Sephirot, primitivas do que daquilo que se Sepher Yetzirah, Derech Hashem: tornou o judaísmo mosaico. Isso palavras, conceitos e livros que pode ser verificado, por exemplo, despertam debates, disputas e na religião praticada por Abraão curiosidade entre judeus e não- e Jacó, ao longo do Gênesis. No judeus. Para alguns, a Cabala entanto, é certo que os hebreus seria apenas uma versão judaica sempre atribuíram a sabedoria do Hermetismo – tardia no esotérica a um só D’us – YHVH. judaísmo e surgida do contato Outros deuses, quando cultuados, dos judeus com esoteristas estavam mais ligados às forças da cristãos. Para outros, a Cabala natureza, mas a sabedoria sempre é o grande segredo entregue foi atribuída ao D’us Criador. por D’us ao primeiro homem. Então, traçar uma origem divina Há ainda os que consideram a e mitológica para a Cabala é algo Cabala uma perigosa inovação. ainda mais complexo, pois não Temos diversas opiniões, todas basta apenas dizer “foi ensinada partindo de suas conclusões, sem por esta ou aquela divindade ou qualquer investigação detalhada homem divinizado”. Quando se dos princípios. diz: “nossa ciência oculta veio de uma divindade”, o homem Entretanto, nossa preocupação moderno compreende como é diferente: em primeiro lugar, “homem divino” uma coletividade sabemos que a Cabala, como de sábios que passaram aquele qualquer ciência esotérica ou ensinamento por gerações e, tradição religiosa, possui uma assim, olham admirados para origem mitológica. Os babilônicos aquela sabedoria, nem que seja atribuíam seus conhecimentos com uma admiração histórica. aos misterioso Oannes, o homem- Não julgam como “tolos” aqueles peixe que surgiu do oceano e povos do passado que atribuíam retirou a humanidade do caos; seus conhecimentos a Toth Toth teria ensinado aos egípcios a ou Hermes – com razão, pois magia, escrita, medicina e música. aqueles povos também não eram A origem da Cabala também tolos. Mas eis o problema com a não é simples: para começar, os Cabala: para qualquer origem que judeus não eram monoteístas de se coloque, as vozes se levantam fato, o monoteísmo tornou-se um contra toda teoria. Se for atribuída componente judaico apenas mais a Abraão, alguns acusarão de tarde. Com razão, Hegel afirmava imprecisão histórica, dirão
que seria impossível tamanha erudição para uma época de homens tão rudes (o que é uma bobagem); o mesmo ocorrerá se for atribuída a Moisés ou, pior ainda, a Adão. O fato é: por não atribuir a transmissão a ser um divino ou por não polir sua transmissão com um ser divino na terra, a origem da Cabala entra para um campo imenso de debates. Gershom Scholem dedicou um livro extenso sobre o assunto, o “Ursprung und Anfänge der Kabbala”. Entretanto, nosso ponto aqui não é uma análise meramente histórica. A questão é: a Tanach era tida pelos hebreus como o livro de sua doutrina, o único livro? Obviamente, a resposta é não. O corpo religioso judaico nunca foi unicamente as Escrituras. Abraão não escreveu livros públicos[1] e não se guiou por qualquer livro. Não havia Torá, não havia qualquer livro para guiar sua adoração e sua vida. A Torá surgiu mais tarde e a adoração passou a ser estabelecida pela lei recebida por Moisés, bem como a moral e as normas da vida diária. Entretanto, a vida do hebreu era guiada unicamente pela Escritura? “Escreveu, pois, Moisés, esta lei, e a entregou aos sacerdotes filhos de Levi, que levavam a arca da 47
Fundamentos da Cabala
Aliança do Senhor, e a todos os anciãos de Israel. E ordenou-lhes, dizendo: “todos os sete anos, no ano da remissão, na solenidade dos tabernáculos, quando todos os filhos de Israel se juntarem para aparecer diante do Senhor, teu D’us, no lugar que o Senhor tiver escolhido, lerás as palavras desta lei diante de todo o povo, o qual ouvirá, estando congregado todo o povo num mesmo lugar, tanto homens como mulheres, meninos e estrangeiros, que estão dentro de tuas portas, para que, ouvindo, aprendam e temam o Senhor vosso D’us, e guardem e cumpram todas as palavras desta lei; e para que também seus filhos, que agora ignoram, as possam ouvir, e temam o Senhor seu D’us durante todos os dias que viverem na terra, da qual, passado o Jordão, ides tomar posse” (Deut. 31,9-13)] No culto do templo, o contato dos hebreus com a Escritura era através do ouvir – alguém, mais preparado, ensinava oralmente. Princípios da Reforma Protestante e delírios do evangelismo geraram a crença de que os hebreus possuíam uma religião centrada na Escritura. A religião dos hebreus era centrada no templo e nos ensinamentos dentro do templo – como todas as religiões e tradições do local e da época. Assim, as tradições dos assírios, caldeus, egípcios e outros povos da época simplesmente desapareceram com o fim de seus templos, na queda diante de outras civilizações e impérios. Para quem estuda história e religião comparada, a resposta é clara: não caíram porque 48
Rafael Resende Daher
“cultuavam deuses falsos”, como dizem alguns fundamentalistas religiosos. Caíram pois a cosmovisão de suas civilizações estava diretamente ligada ao templo, situado em um centro sagrado (a terra local) e, com o fim do templo e com aquela civilização sob novo jugo, a tradição local desaparecia por conta própria. Não faria sentido continuar um culto sem seu centro sagrado, sem seu templo. Os hebreus partilhavam da mesma visão: o templo com seus sacrifícios e festivais, a presença dos conahim e tudo que era ordenado pela lei formavam o centro e a vida da religião. A tendência, para a religião dos hebreus era o desaparecimento com a queda do templo. Mas algo ocorreu e mudou um fato quase consumado: os chamados “soferim”, estudiosos da lei que passaram a ensinar e preservar a lei escrita – e também a oral. O judaísmo sobreviveu sem templo até a reconstrução e a volta do povo à Jerusalém. A preservação da orá Oral permitiu ao judaísmo sobreviver duas destruições de seu templo, a um exílio e a outra grande diáspora e, até hoje, sobrevive mesmo sem a presença de seu templo central. Recentes descobertas arqueológicas, como em Massada, demonstram que a existência de uma orá Oral possui base histórica: exigências da orá Oral foram encontradas em sítios arqueológicos antigos,
provando que os textos não são adições tardias, mas algo que fazia parte da vida dos hebreus durante a época do II emplo. Até aqui, podemos clarificar os seguintes pontos: 1º A religião dos hebreus, como a de todos os povos da época, era uma religião de mistérios (culto fechado no templo, nome verdadeiro de D’us velado ao Cohen Gadol). 2º A vida religiosa era centrada no templo e na terra sagrada (ou centro da terra). 3º A religião só sobreviveu pela capacidade da orá Oral sobreviver fora do templo, através do exercício escrupuloso da lei (algo chamado por alguns de cinturão da orá). Portanto, não dá para discutir que a Cabala, ainda que sua origem histórica em Adão ou Abraão receba alguma contestação, não faz parte da tradição judaica presente pelo menos desde a época do templo. Além do mais, voltando ao que foi abordado logo no começo deste artigo, não dá para negar que a religião dos hebreus, até a formação da lei mosaica, era muito mistérica, um culto de contato direto entre homem e D’us. O almud Um livro essencial para a tradição oral judaica – uma comprovação clara da existência de ensinamentos orais na religião
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
judaica, o Talmud é composto pela Mishná, composta pelas primeiras discussões sobre a lei; e o Guemará, que possui discussões sobre a Mishná. Sua importância é inestimável: ele não só é um esclarecimento das leis e das discussões rabínicas sobre as leis, mas também uma clara evidência histórica de que a sobrevivência dos hebreus como um povo só ocorreu graças à formação da Torá Oral. Os opositores da Torá Oral, como essênios, saduceus e caraítas foram varridos do mapa, pois era impossível sobreviver sem templo e a própria prática da lei não é dada na Tanach: a vida prática, em qualquer era, exige a discussão e esclarecimento sobre a sua explicação. A lei de D’us não foi entregue a cada pessoa, descendo dos céus já pronta, mas foi transmitida a um Profeta, que transmitiu para seus sucessores e assim por diante, até hoje. Portanto, a revelação não é pessoal. É neste ponto que podemos lembrar do Rabino Abulafia e a questão do “estado profético”: o estado profético, de compreensão total da lei, dos seus quatro significados (falaremos sobre eles adiante), é atingida pelo “estado profético”, através da Cabala. Abulafia, (1240 – por volta de 1291), nascido em Zaragoza e morto durante seu exílio na ilha de Comino, possuía uma Guemátria particular e visões bem excêntricas, mas é uma demonstração clara de que a interpretação cabalística é muito anterior à Renascença, pois em sua obra “Nar Elohim” (A Luz Divina) já vemos máximas esotéricas e uma interpretação superior da Tanach – o que contesta a visão de que a Cabala seria algo formado na Renascença.
é o corolário de toda tradição judaica que possa ser chamada de oral: é a prova de que, para os hebreus, havia uma tradição oral e, embora o Talmud não seja uma interpretação esotérica, ele nos introduz ao pensamento rabínico, como um apontamento para a interpretação mística. No Talmud Chagigah, cap. 13, por exemplo, os rabinos discutem a questão da carruagem de Ezequiel, uma questão central na Cabala. Além disso, outros aspectos da religião não mencionados na Tanach surgem no Talmud: Lilith, por exemplo, é citada no Baba Batra como uma figura semelhante à succubus medieval. Não é de espantar, portanto, o fato do Talmud ser tão atacado por antissemitas: ele é o sustentáculo legal, oral e esotérico do judaísmo. Caluniadores e vigaristas, como o Pe. Justinas Bonaventure Pranaitis, financiaram verdadeiras campanhas contra o Talmud e os judeus, seguindo a já conhecida sanha assassina dos antissemitas. Mas o Talmud continua como um livro muito estudado e como referência do verdadeiro Judaísmo – sustentou e continua sustentando o aspecto externo e o aspecto esotérico da tradição judaica. O Zohar
De autoria controversa, é um dos fundamentos da Cabala. Significa “esplendor” e, diferente do Talmud, possui comentários místicos e significados esotéricos da Torá. É impossível imaginar um Judaísmo sem mística. Na verdade, qualquer religião de fato possui seu lado místico, as interpretações esotéricas e superiores dos mitos, ritos e leis. Nenhuma religião consegue se sustentar Portanto, não é exagero de fato sem uma explicação nenhum afirmar que o Talmud simbólica para seus ritos e seus
ensinamentos – ou melhor, manifestações exclusivamente morais e triunfalistas, como o evangelismo cristão, se sustentam mesmo sem um lado esotérico, mas através de um forte apelo sentimental e de uma moral aterrorizante. Tudo no Judaísmo possui mais de um significado. Isso quer dizer que toda lei, todo rito e toda passagem da Tanach possui um sentido espiritual – ou cumpre uma missão do guilgoul, a reencarnação. Por exemplo: Haram reencarnou como Arão, que reencarnou em Urias e assim por diante, para cumprir a missão de realizar todos os níveis da alma (algo muito extenso para analisarmos aqui). Voltando ao Zohar, uma das teorias sobre sua autoria diz que seu autor foi o Rabino Shimon Bar Yochai. Discípulo do Rabino Akiva, homem de história inspiradora e fantástica, Shimon recebeu o Zohar do próprio profeta Elias, durante seu exílio em uma caverna, junto de seu filho Elazar. É importante mencionar um aspecto importante: Elias e Enoque, reencarnações da nefesh de Adão, pois como a missão de Adão era morar no Paraíso, sua nefesh voltou para a terra em Enoque e Elias, dois homens que entraram no Paraíso com o corpo. Então, o fato da tradição mencionar Elias na entrega do Zohar é significativo, até mesmo para os mais céticos, que acreditam no sentido simbólico (como no meu caso): o Zohar já existia e era transmitido na tradição oral, mas escrevê-lo na época era imperativo. O Imperador Adriano atacava o Judaísmo de todas as formas, inclusive punindo com a morte todos os estudiosos da Torá e da Tradição Oral. Temendo o fim da Tradição Oral, o Rabino Akiva iniciou um trabalho de 49
Fundamentos da Cabala
compilação e registro daquilo que era transmitido apenas oralmente e seu trabalho foi continuado por seus discípulos e principalmente pelo Rabino Shimon. Creio que ficou claro o papel de Elias: entregar a forma física (escrita) de um pedaço da revelação celestial, como o nefesh de Adão reencarnou em Elias, o Zohar também era como a continuação de parte da Torá Oral, agora em forma escrita. A linguagem do Zohar é essencialmente mística - faz uso de parábolas, metáforas e figuras de linguagem, de forma semelhante aos tratados alquímicos. Aqui, podemos destacar um motivo comum e outro diferente: como a doutrina cabalista também compartilha da lei da correspondência (“O que está em cima é como o que está embaixo.” – Nar Elohim, Rabino Avraham Abulafia), a analogia não serve apenas como facilitadora na explicação, mas como parte da essência do próprio ensinamento. Peguemos um exemplo do próprio Zohar, em um comentário sobre o Gênesis: “Quem deseja compreender o mistério da união com D’us deve refletir e meditar na chama de uma vela ou de uma lamparina, na qual deverá reconhecer dois tipos de luz: uma branca e outra de cor escura ou mais azulada. A chama branca ascende em uma linha fina, a parte escura ou azulada é inferior e sai da base. Juntas, a chama branca é vista sempre clara e diferenciada. Das duas, é a mais valiosa e querida. Com a observação, percebemos o significado oculto dos thekheloth (franjas azuis) mencionadas na Tanach. A chama escura ou azul está conectada com a superior, isto é, a branca, que possui em seu inferior uma matéria em combustão. Algumas vezes ela fica 50
Rafael Resende Daher
vermelha, enquanto é iluminada pela branca, que nunca muda de cor. Além disso, notamos que a preta ou azulada consome a substância da lamparina e da vela, enquanto a branca nada consume e nunca varia. Assim, quando Moisés proclamou o Senhor como um fogo consumador, ele aludiu ao fluído astral ou chama que a tudo consome, semelhante à chama negra que consome e destrói.” É possível perceber várias coisas: a ação do mundo refletindo uma ação divina – a vela que queima, a chama e o fogo que consome; a explicação para o significado oculto dos thekheloth. Assim é a natureza do escrito do Zohar, o significado místico de cada ato, pois a vida religiosa é justamente uma emulação da natureza superior e divina. Desta forma, imaginar qualquer Escritura como um mero código moral ou, como dizem com absurdo e falta de razão os protestantes, um “manual do fabricante”. Não, o sentido da Escritura não é o de ser um manual. Seu verdadeiro sentido só se completa na realização plena do homem, que não é atingida através da Escritura – é atingida apenas pela realização da essência divina que habita no homem. Essencialmente, é inútil discutir se o Zohar foi escrito por Shimon Bar Yochai ou Moisés de León. O fato é que, mesmo caso a possibilidade de sua autoria tardia seja confirmada (Moisés de León faleceu em 1305), ele reflete de forma mística e precisa todo o restante da tradição oral anterior. Então, jamais deixará de ser uma fonte e um testemunho sagrado da Cabala. Seus ensinamentos, quando em prática, dão prova de sua veracidade – e sabemos que, quando tratamos de questões esotéricas, a veracidade histórica
é de pouquíssima relevância. É como diz o ditado: a Torá é o corpo, a Cabala é alma e o Zohar é o esplendor desta alma. O Guilgoul – A Reencarnação Embora seja um tema que precise de um artigo inteiro e, indo ainda mais longe, de um livro, creio ser necessário fazer um adendo básico: o Guilgoul HaNeshamot ou “roda das almas” – reencarnação. Quando falamos em reencarnação, é normal que as pessoas no Ocidente já pensem no conceito de reencarnação mais familiar: a reencarnação kardecista. Entretanto, o guilgoul não possui qualquer semelhança com a doutrina kardecista e está mais próximo do entendimento budista, que também é bem diferente do kardecista. Em primeiro lugar, o guilgoul é muito claro na Tanach. Podemos afirmar que o Judaísmo é reencarnacionista e a doutrina triunfalista dos cristãos, de uma só vida, que parte para o céu ou inferno, é uma invenção totalmente estranha à Tanach. Alguém pode perguntar: mas quais as evidências do guilgoul na Tanach? Em primeiro lugar, conforme já mencionado aqui, o Judaísmo nunca adotou uma Sola Scriptura, desde seus primórdios até seu esplendo. E conforme prometi acima, entro agora em uma explicação que está diretamente ligada ao guilgoul: o acrônimo PARDES. PARDES carrega os quatro significados das Escrituras: a) Pshat: o significado simples ou exotérico b) Remez: alusão ao significado mais profundo c)Drash: o significado comparativo d) Sod: o sentido místico, recebido
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
através da revelação
na Tanach, de Adão até outras uma “via de salvação”, mas uma figuras eminentes ou até mesmo doutrina que lida com todas as Desta forma, uma doutrina de outras catástrofes coletivas. possibilidades de realização do plenamente judaica pode estar homem. Então, a reencarnação escondida nos vários sentidos Agora, é necessário um adendo faz parte deste processo e surge das Escrituras, guardada por que faz toda diferença: ficou da seguinte forma: ao morrer, a seus verdadeiros intérpretes. claro que a reencarnação é um alma é analisada em seus cinco Além disso, o além-túmulo não ensinamento judaico – e aqui aspectos – de forma gradual. é e nunca foi uma obsessão alguém pode apontar: “é igual ao Se apenas nefesh alcançou judaica. Pouca atenção é dada às espiritismo”. Em primeiro lugar, é sua realização, ocorrerá a perguntas sobre o destino da alma preciso esclarecer que o Judaísmo reencarnação de ruach aos níveis após a morte. Tal preocupação é não entende a alma humana como superiores. Cada pessoa vem para essencialmente cristã, justamente o kardecista. Para o Judaísmo, a este mundo com uma missão por sua noção triunfalista de céu alma possui cinco níveis: diferente, mas há elementos e inferno, ambos eternos para básicos no desenvolvimento de os cristãos. O Judaísmo possui a) O aspecto inferior, nefesh, a cada uma. Por exemplo: certa seu foco na realização humana, consciência do mundo físico, do pessoa pode possuir uma missão o importante é buscar o esforço mundo da asiya, “mundo da ação”. diferente, mas a realização de seu pleno na realização nesta vida. Portanto, possui a característica nefesh segue praticamente os A realização não é um “prêmio”, de ação. mesmos princípios. A pessoa que como o céu cristão, nem há um b) O segundo aspecto inferior, não domina seus atributos vitais, “inferno” criado por um deus ruach, corresponde ao mundo como seus apetites animais, terá julgador e castigador. A doutrina da yetzirah, é porção mais seu nefesh reencarnado. Esta do guilgoul é encontrada na obra relacionada às emoções, mas reencarnação pode ocorrer em Shaar Ha-Guilgoulim (Portões das emoções mais inferiores, mais de uma pessoa e inclusive da Reencarnação), compilada sentimentais. ao mesmo tempo – o que é por Chaim Vital, com base nos c) O terceiro aspecto e superior, semelhante ao conceito Budista, ensinamentos do Rabino Isaac neshamá, pertence ao mundo de que chama este processo de Louria. Entretanto, o livro não Beriya, o mundo da criação, é a “renascimento dos resquícios apresenta conceitos inovadores, faculdade da compreensão. psico-físicos”. O fato é: no mas sim uma interpretação do d) Chaya, quarto aspecto e da Judaísmo, a reencarnação não que é indicado no Zohar, sobre a comunhão com o aspecto Divino faz parte de um processo sob Porção Mishpatim: que transcende o mundo. Pertence um deus moralista e controlador ao mundo de Atzilut, o Mundo de uma lei de “evolução”, mas “Se comprares um servo hebreu, das Emanações e, portanto, faz sim da possibilidade das porções seis anos servirá; mas ao sétimo parte do conhecimento das coisas ou níveis de cada alma em seu sairá forro, de graça.” – Êxodo 21,2 divinas. caminho de retorno ao Princípio, e) Yechida, quinto e mais elevado, já que de fato apenas o Princípio O Rabi Shimon interpreta essa como o próprio nome diz, é é real – tudo pertence ao Eterno, passagem como a revelação do ligado à unicidade (echad – um); tudo voltará a Ele. segredo da reencarnação: seis anos pertence ao a) mundo de Adam pelas sephirot de Zeir Anpin para Qadmon, o Homem Primordial. Neste ponto, a Cabala está enfim chegar até Shechinah. Zeir É a verdadeira essência, ligada ainda mais próxima de todas as Anpin, que compreende todos os ao Princípio, a Luz Infinita (Ain ciências de autorrealização e das atributos emocionais das sephirot, Soph). outras tradições do mundo, pois um aspecto divino. Portanto, seis a reencarnação como entendida anos para atingir a plenitude A missão da vida humana é pela Cabala é uma doutrina quase e finalmente interromper o realizar todas as porções da que universal – o entendimento ciclo de renascimentos. Então, alma, de forma gradual. É muito kardecista, por exemplo, é uma partindo desta indicação do difícil alcançar este estado de inovação, influenciado por ideias Zohar, o Shaar Há-Guilgoulim realização plena e o Judaísmo filosóficas da França de seu faz diversos apontamentos não é um sistema moral (como tempo. sobre reencarnações ocorridas o cristianismo evangélico), não é 51
Fundamentos da Cabala
Apresentamos o demonstrar que é uma “ciência alguns ocultistas
suficiente para a Cabala não oculta” como entendem. Ela
Rafael Resende Daher
é ocultada por seus verdadeiros portadore s para evitar que seu poder caia nas mãos de salafrários e oportunistas. Mas seu objetivo é o da iluminação, de fazer com que o homem utilize todos os meios necessários para a sua plena rea lização. Além disso, é composta por mais elementos, livros e doutrinas, nem mesmo mencionadas en passant neste artigo. Aqui, mencionamos o que tem levantado mais polêmicas e distorções, pois servem como pontos de ataque ao Judaísmo, como o Talmud, ou
como discurso para deturpações de falsos esoteristas, como o Zohar e o guilgoul. Cabala, Zohar, Talmud: um mundo riquíssimo, repleto de elementos culturais, históricos, religiosos, dramas e alegrias, sábios e inimigos, fascinante e misterioso. Uma Ciência Sagrada que carrega boa parte dos principais eventos da história do mundo – e que funciona de forma plena naquilo do homem que está além disso tudo. Notas de Rodapé: [1] O Sepher Yetzirá, atribuído a Abraão, nunca foi um livro para o povo. Rafael Resende Daher é tradutor, com obras publicadas sobre Alquimia, professor e palestrante. Mais informações: http://www. rafaeldaher.com.br
Amuletos Mágicos Aromaterapia e Velas Artigos Religiosos Bijuteria e Acessórios Pedras Semi-Preciosas, Conchas e Cristais Feng Shui e Decoração Oráculos, Baralhos, Tarôs e Acessórios Serviços Esotéricos 52
R.O.T.A. - A RODA DO TAROT Por Fernando Liguori Nota: Este texto foi publicado no JORNAL CORRENTE 93 Vol. I, No. 9. Trata-se de uma epístola sobre o trabalho mágico do Adepto Maior na Santa Ordem Astrum Argentum. Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Esta corrente vai de Eternidade a Eternidade, sempre em triângulos – o meu símbolo não é um triângulo? – sempre em círculos – o símbolo do Amado não é um círculo? Nisso está toda a base de progresso da ilusão, pois cada círculo é parecido e cada triângulo é parecido! [1] A preparação desse trabalho mágicoritualístico com o Tarot de Thoth para os Probacionistas da Sociedade de Estudos Thelêmicos nasceu de minhas experiências e iniciação no Grau de Adeptus Major 6°=5 A.’.A.’.. A tarefa principal deste Grau na Santa Ordem é fazer com que os Espíritos do Firmamento se sujeitem a Vontade do thelemita. Crowley ensina que a maneira correta de se fazer isso é descobrir e compreender a natureza das mais distintas criaturas espirituais e então estabelecer uma correta relação com o universo. Os métodos para empreender este trabalho espiritual estão cifrados em O Livro da Lei que contém as fórmulas mágicas e o modus operandi, bem como Os Livros Sagrados de Thelema.
entanto, Thelema trata-se de uma doutrina monista (não-dualista). Isso significa que nós rejeitamos a atitude fatalista que despreza o intelecto e as paixões como vícios degradantes e degenerados. Se o intelecto não for harmonizado com as outras funções da mente, desordens mentais rapidamente podem se desenvolver. Dessa maneira, trabalhamos refinando sua expressão, alinhada a LVX (lucidez) do Sagrado Anjo Guardião. Por outro lado, nossas paixões não são meros reflexos da alma animal (nephesh) e tentar vêlas desse modo estamos negando a experiência do prazer enquanto na matéria. Contudo, não nos rendemos a devassidão animalesca, mas ao contrário, refinamos o arrebatamento dessas experiências, pois exceder em amor com delicadeza e conhecer o regozijo de todos os sentidos com sutizeza ao invés de ignorância e grosseria, leva ao entendimento em como se viver pelas oito e noventa regras da arte:
Sabedoria diz: seja forte! Desta forma tu podes suportar mais prazer. Não seja animal; refine teu arrebatamento! Se tu bebes, beba pelos oito e noventa domínios da arte: se tu amas, exceda pela delicadeza; e se tu fizeres algo prazeroso, deixe haver sutileza A tarefa em estabelecer uma correta nisto![2] relação com o universo demanda entendimento e compreensão Nesse caminho, é possível descobrir das Forças da Vida ou Leis que as limitações da mente e do corpo estruturam este universo. Todos nós, para então equilibrá-los de maneira thelemitas, compreendemos que adequada. Em Uma Estrela à Vista, estamos temporariamente atados a falando acerca do trabalho do Adeptus Roda da Necessidade ou samsara, no Major, Crowley diz: compreensão
e uso da Roda de Força sob suas três formas sucessivas de Radiação, Condução e Convecção (Mercúrio, Enxofre e Sal ou Sattva, Rajas, Tamas) com suas correspondentes naturezas em outros planos. Na tradição hindu de iniciação, esse sistema trino de classificação da natureza da mente é chamado de guna, termo que pode ser traduzido por tendência ou qualidade. Essa classificação trina dos gunas sattva, rajas e tamas possui equivalência no sistema qabalístico ocidental, representado pelas três letras mães do alfabeto hebraico: Aleph ) (sattva), Maim m (tamas) e Shin # (rajas). Seus equivalentes alquímicos são Mercúrio (sattva), Sal (tamas) e Enxofre (rajas). Em O Livro da Lei, os gunas se associam aos três Graus de Thelema: Eremita (sattva), Amante (rajas) e Homem da Terra (tamas). A palavra sânscrita guna literalmente significa fio, mas como parte de uma corda de três fios entrelaçados.[3] O entendimento tradicional acerca dos gunas é que eles representam tipos distintos de comportamento da mente, tendências ou qualidades do construto mental. A Filosofia Samkhya que primeiro formulou o conceito dos gunas, ensina que sattva, rajas e tamas são os componentes que constituem a prakiti (Natureza), que compreende toda manifestação fenomênica. Sattva significa lucidez e representa
53
R.O.T.A. - A Roda do Tarot
Fernando Liguori
e representa as qualidades da e sabedoria. Rajas restringe a clareza, fluidez e equilíbrio. Rajas consciência no corpo através do significa atividade e representa apego a ação e os resultados dela. as qualidades da força, excitação e energia. Tamas significa obscuridade e representa as qualidades da preguiça, embotamento e ignorância. Crowley descreve os gunas como aparatos de comunicação entre os planos da existência, portanto, trata-se de convenções apenas, ou seja, não têm substância. Eles são o meio pelo qual conseguimos perceber a inclinação ou estrutura inata das coisas. Uma vez que representam uma espécie de trindade, os gunas são associados ao arquético de Reino Divino. O número três está relacionado a divindade não por associação, mas como uma expressão inconsciente da realidade espiritual. Isso pode ser observado nas inúmeras trindades de deuses nas mitologias ao redor do globo. Pai, Filho e Espírito Santo no Cristianismo, Brahma, Vishnu e Shiva no Hinduísmo, Kether Chokmah e Binah na Qabalah, Júpiter, Juno e Minerva na tradição pagã romana, Osíris, Ísis e Hórus no Egito e os três reinos alquímicos: animal, vegetal e mineral. O número três está associado a divindade através do simbolismo espontâneo do inconsciente, da mesma maneira que o número quatro se associa ao escopo total da consciência, o símbolo da totalidade do homem. Os pitagóricos associavam a alma humana ao número quatro. A Bhagavadgita descreve os gunas como tendências que aprisionam ou confinam o espírito na matéria. O apego as distintas expressões dos gunas impede a consciência de experimentar a dissolução no infinito. Sattva restringe a consciência no corpo através do apego a bem-aventurança 54
discutir veementemente com o assaltante, você decide agredilo (tamas). Nesse momento sua família fica desprotegida e você com discernimento (sattva) coloca a cabeça no lugar, percebendo que tal atitude pode piorar muita as coisas. Liber LXV expressa esse aspecto dos gunas poeticamente: Exaustão, exaustão! Disse o escriba, quem me conduzirá até a visão do Êxtase do meu mestre?
O corpo está exausto e a alma está dolorosamente exausta e o sono pesa nas suas pálpebras; ainda assim sempre permanece a indubitável consciência do êxtase, desconhecido, ainda assim Exaltação – A Besta 666 & os Três Princípios conhecido naquilo em que seu da Obra. Michelspacher, 1616. ser é infalível. Ó Senhor, sede meu auxílio, e traz-me ao êxtase Tamas restringe a consciência do Bem Amado![4] no corpo através do apego a Os gunas estão em contante ignorância e a negligência. interação, intercalando sua na consciência. É possível verificar a ação dos intensidade se trata de um processo de gunnas em todas as circunstâncias Não sua interação, mas da vida, seja nos pensamentos, equilíbrio disso, um processo de palavras ou atitudes, bem como antes pela supremacia de sattva, nas estações do ano, nas direções batalha ou tamas, constituindo dessa do espaço e no clima. Por rajas um grande redemoinho exemplo, a ação de acordar pela forma de influência no manha é rajas, levando o corpo interminável da mente. É essa a vencer o torpor e a preguiça comportamento dos gunas que coloca em de tamas que quer nos arrastar ação a Roda do samsara a cama novamente. No entanto, movimento roda do movimento contínuo. o bom senso e a lucidez (sattva) ou é a Roda que promove o ciclo prevalecem na consciência e Essa de nascimento, morte e decidimos nos levantar mesmos eterno Em outras palavras, a contra-gosto para realizar as renascimento. os gunas responsáveis pelo tarefas do dia. E na medida em são ou confinamento que o dia passa, sattva, rajas e aprisionamento indivíduo na matéria. A tamas se alternam continuamente do na consciência. Por exemplo, Bhagavadgita (XIV:19) diz: você sai para passear na rua com Quando aquele que vê percebe sua família e um assaltante lhe o agente da ação como não surpreende com a frase: passa diferente dos gunas e conhece [o todo o dinheiro. Para defender Ser] como além dos gunas, ele sua família nasce um ímpeto alcança minha natureza. (rajas) de seu interior e após
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
O que esse verso diz é que o Sagrado Anjo Guardião é livre da ação dos gunas. É o corpo e o construto da mente que produzem todo tipo de ação, sempre influenciada pelo guna dominante no momento do ato. Dessa forma, quando os thelemitas identificam sua Verdadeira Natureza além da ação dos gunas, descobrem ser iguais ao Espírito Imortal (neshamah).
no sofrimento: é o mesmo frente a um pedaço de barro, uma pedra [e] ouro; é o mesmo frente ao desejo e ao não desejado, na censura e no elogio.
No Tarot, o simbolismo da Roda do samsara e os três gunas está encerrado no Atu X, Fortuna. Temporariamente exaltada no topo da Roda está a Esfinge, segurando a espada (Enxofre, rajas). Do lado direito da Roda está Hermanubis, na direção ascendente (Mercúrio, sattva). Do lado esquerdo da Roda está Tifon, na direção descendente (Sal, tamas).
E aquele que me busca através da devoção sem diferenciação, tendo atravessado esses gunas, está preparado para o estado de ser Brahman.
Muito além do hieróglifo da fortuna, essa carta demonstra o universo em constante mudança. Em O Livro de Thoth Crowley diz: Um dos mais importantes aforismos da filosofia hindu é: «os Gunas giram». Essa declaração Crowley inferiu a partir do 14° Canto da Bhagavadgita que provê instruções precisas para a liberação do julgo da Roda da Necessidade: Ó Pandava [Arjuna], ele não odeia a clareza, [nem] a atividade [nem] a ilusão quando [essas] aparecem, [e] não [as] deseja, quando desaparecem. Ele permanece como indiferente, não se perturba com os gunas [e] não oscila. Permanece firme [na compreensão de que] «somente os gunas agem». O sábio estabelecido em si mesmo, é o mesmo no prazer e
Ele é o mesmo na reverência e no desprezo; é o mesmo frente a um amigo e um inimigo; [e] renunciou a todas as ações. Ele é chamado de «aquele que foi além dos gunas».
firme e imóvel em sua própria órbita, seguindo o curso natural da Verdadeira Vontade. Como mencionado acima, para que o Adeptus Major 6°=5 A.’.A.’. possa conquistar a iniciação de Adeptus Exemptus 7°=4, ele deve executar três tarefas. A segunda, de acordo com Uma Estrela à Vista, é a compreensão e uso da Roda de Força. O método para se livrar do cárcere da mortalidade e do karma é descrito na Bhagavadgitacomo desapego do resultado da ação. O desapego aos enlances do desejo por qualquer coisa que não seja a Vontade Pura é a chave para liberação do cativeiro da Roda, tornando-se o Adepto o Eixo dela, mantendo-se livre da constrição de sua circunferência.
Pois eu sou a base de Brahman, que é imortal, imutável, o eterno dharma [o conhecimento que sustenta o universo] e a felicidade absoluta.[5] Uma das mais importantes operações alquímicas é o circulatio, A Roda da Necessidade também um processo longo e demorado é representada no Três de Discos. de destilação e condensação que Crowley descreve essa carta deve ser repetido inúmeras vezes demonstrando a influência de no qual a prima materia se refina Binah em Malkuth, determinando e se sutiliza em alto grau. A cada sua forma mais básica. Essa divina ciclo de destilação, as impurezas estruturação da forma é ilustrada são removidas da prima matéria pelas três rodas dos gunas que ao ponto de sua exaltação ser formam a base da pirâmide. O alcançada. Esse processo tem uma título desta carta é Trabalhos. O conexão direta com as práticas título vem no plural, denotando espirituais executadas por aqueles os três gunas em todos os que desejam realizar a Grande aspectos da vida. É uma tarefa Obra. Através de purificações, do Adeptus Major, portanto, banimentos e consagrações reconhecer apropriadamente e repetidos exaustivamente, o compreender a ação dessas três Adepto limpa e clareia sua psique, tendências no comportamento da adequando-se apropriadamente mente, adquirindo maestria na para a realização da Obra. aplicação da Verdadeira Vontade Isso deve ser empreendido que por natureza, não é afetada sistematicamente com disciplina por qualquer ação dos gunas. diária. Após o banimento, inicia-se Eventualmente, com treino as purificações através do Flagelo, demasiado, ele se manterá a parte, a arma mágica do Enxofre que imóvel, seguindo a Fortuna,[6] deve ser aplicada sobre o nephesh tornando-se o eixo da roda na intenção de nos despertar do da revolução.[7] É quando ele torpor da inércia e da preguiça. entende o verdadeiro significado Nós colocamos a Corrente do da palavra asana, mantendo-se Sal ao redor de nosso pescoço na 55
R.O.T.A. - A Roda do Tarot
região de Daath na intenção de constringir os devaneios da mente para o unidirecionamento de suas forças. A Adaga de Mercúrio simbolicamente destrói tudo o que deve ser destruído diante do Altar do Espírito Supremo. [8] A Consagração é feita ao ungirmos nós mesmos com o Óleo Sagrado de Abramelin, dedicando nossa vida a Grande Obra. A circulação alquímica da destilação fixa o volátil em um estado mais rarefeito, produzindo um estado de consciência mais claro, nítido e estável. Através da inflamação devotada ao Amado em orações e invocações ocorre a sublimação deste estado prístino de consciência e as impurezas que opacam a Vontade Pura gradativamente vão se dissolvendo.
Fernando Liguori
Dias (Kether). No entanto, o nome é uma atribuição geral as Supernas: h para a Mãe Binah, w para o Pai Chokmah e ) para a Coroa ou Kether.
O Flagelo, a Adaga, a Corrente e o Óleo Sagrado.
e o microcosmo. 671 também é o número de Adonai (considerando as letras cheias). Mas o grande significado do número 671 é que Adonai, O Sagrado Anjo Guardião, é idêntico ao Caminho e a Oração que leva ao Portal da Iniciação. O arot é a O fraco, o tímido, o imperfeito, Chave desse Portal e a própria o covarde, o pobre, o lamurioso Lei em si mesma. Crowley disse – estes são meus inimigos, e eu que essa é a razão pela qual o vim para destruí-los. Colégio Externo da A.’.A.’. é coroado com o Conhecimento Isto também é compaixão: um e a Conversação com o Sagrado fim para a doença da terra. A Anjo Guardião. Dessa maneira, extirpação das ervas daninhas: a o Ritual de Iniciação ao Grau de irrigação das flores.[9] Neófito 1°=10.’. A.’.A.’. recebe o título de Troa, cujo número é O simbolismo da Roda pode 671. ser muito bem compreendido através da análise da palavra Considerando a Roda do R.O..A. em latim, que significa arot como a Grande Chave roda. Qabalisticamente, R.O..A. da Iniciação, leva-se em conta é a Roda do .A.R.O. (arot), o número total de cartas, que que implica .O.R.A. (a Lei), somam 78 ao todo. Esse é o valor .R.O.A. (o Portal), A..O.R. da palavra mezla, a influência (Hathor), a Donzela do Caminho que vem de Kether, a Coroa ou de Daleth e O.R.A.. (oração). Espírito Imortal. Essa observação Cada uma dessas palavras soma é reforçada pelo fato de que 78 671 (61x11), o número Zero ou = (1-12), sendo 12 o valor de ) Nada que soma 61 multiplicado wh, He [Ele], um epíteto do pelo número 11 que une o macro Espírito Imortal ou Ancião dos 56
A Roda do Céu ou a Roda do Zodíaco é dividida e 12 signos e este número é considerado pelos ancestrais da arte o aro da Grande Roda. A divisão do cinturão zodiacal em 12 casas não é aleatória ou se baseia somente na posição das constelações. Antes disso, 12 é a extenção do 4 e portanto, também do 3. Dessa maneira, essa atribuição está antes de mais nada arquetipicamente contida na psique. Assim, nós vemos o zodíaco como manifestação da influência provinda de Kether. Nesse caminho é possível ver a revolução do número 78 como a revelação do Mais Elevado ao Mais Inferior, a influência do macro no microcosmo e o impulso do micro em se tornar o macrocosmo. Na sua sutileza Ele expandiu tudo nos doze raios da Coroa. E estes doze raios são Um.[10] Uma das funções mais importantes do arot é, portanto, nos prover de meios práticos e funcionais para compreensão de todos os aspectos da iniciação. Não me refiro ao trabalho de adivinhação com as cartas, mas ao processo meditativo nelas que Crowley ensinava a seus
Revista Antestéria - Março/Abril MMXVII - N º I - Ano I
seus alunos. Essa prática A Roda da Lei (Dhamma). meditativa, se executada com cuidado de maneira sistemática, A Roda do Tarot. lava a uma iniciação no sistema da Árvore da Vida. Ele chegou a A Roda dos Céus. dizer em O Livro das Mentiras que o sucesso nesse exercício leva a iniciação do Grau de Mestre do Templo.
E eis! tu passaste pelo Abismo.[11] Amor é a lei, amor sob vontade.
Notas de Rodapé [1] Liber A’ash: 36. [2] Liber AL, II:70. [3] Crowley em O Livro de Thoth diz que a palavra guna é intraduzível. Com isso ele quis dizer que apenas uma definição falha em capturar todo o significado que o termo comporta. Para um estudo completo sobre os gunas, veja Os Cakras & a Mente: A Biopsicologia do Tantra (em breve). [4] Liber LXV, IV:28-29. [5] Bhagavadgita, XIV:22-27.
Três de Discos – Trabalhos – no Tarot de Thoth. Concepção de Aleister Crowley, pintura de Frieda Harris. Atu X – Fortuna – no Tarot de Thoth. Concepção de Aleister Crowley, pintura de Frieda Harris.
A prática consiste em utilizar todas as 78 cartas do Tarot na sua sequência, do Atu 0, O Louco ao Dez de Discos. O Candidato deve meditar sobre cada uma das cartas como uma expressão sequencial da Lei de Causa e Efeito. O propósito desse exercício meditativo é descobrir a prima materia, a causa última por trás de todas as causas. No curso de sua prática, o Candidato observa que o universo não deve ser contemplado com um fenômeno dentro da linha do tempo. Liber Trigrammaton diz: E a Cruz foi formulada no Universo que ainda não existia. A Grande Roda de Samsara.
[6] Aleister Crowley, The Heart of the Master. [7] Liber AL, II:7.
A Roda da Vida.
[8] O que ele faz ao executar diariamente A Missa da Fênix.
Todas estas Rodas são uma; porém, de todas elas, apenas a [9] Liber Tzaddi, 25-26. Roda do TARO é de teu proveito consciente. [10] Liber ARARITA, VI:12-13. Medita longa e larga e [11] Aleister Crowley, O Livro das profundamente, Oh homem, Mentiras, Cap. 78. sobre esta Roda, revolvendo-a em tua mente! Fernando Liguori é hermetista, Seja esta tua tarefa: ver como cada iluminista científico, enfermeiro, carta brota necessariamente de terapeuta ayurvédico, professor outra carta, na devida ordem, do de Yoga e Tantra (especializado Louco ao Dez de Discos. em tantra-shastra e yoga-shastra). Escritor e estudioso das ciências Então, quando tu conheceres a herméticas há vinte anos. Roda do Destino por completo, tu talvez percebas AQUELA Vontade que a moveu primeiramente. [Não há primeiro ou último.] 57