notoriamente problemática nas mãos sempre perigosas dos filósofos modernos. Em primeiro lugar, assim como a causação material e formal estão profundamente entrelaçadas na explicação de Aristóteles, também estão as causas eficiente e final. Simplesmente não é possível entender corretamente uma parte sem a outra; em verdade, não pode haver causas eficientes sem causas finais. E é precisamente por isso que a causação se tornou um problema tão grande para os pensadores modernos. Como se sabe, eles negam que exista qualquer espécie de causa final, apesar das aparências. (É tentador comparar esse descaramento ao de Parmênides, mas seria um insulto a Parmênides.) Isto levou a todo o tipo de paradoxos e incoerências, que se tornaram mais bizarros e intratáveis à medida que os séculos se passaram. Entretanto, com aquela espécie de autoconfiança suprema que anda de mãos dadas com a loucura, ou pelo menos com a tolice incorrigível, eles se recusam a sequer considerar a possibilidade de que Aristóteles pudesse estar certo a respeito das causas finais no fim das contas. Mas estou me precipitando; voltaremos a isso no devido tempo. Basta por ora dizer que a concepção que Aristóteles tinha da causação eficiente não é de maneira alguma facilmente identificável com nada que se encontrará nos escritos do filósofo moderno típico. Outro indicativo disto é que Aristóteles ficaria perplexo com a tendência moderna de tratar causa e efeito como uma relação, essencialmente, entre eventos ordenados temporalmente. A narrativa padrão é algo assim: Suponha que se atire um tijolo em uma anela. Isso é um evento. Agora suponha que a janela quebre. Isso é outro evento. Obviamente, o primeiro evento veio antes do segundo. Nós também desejaríamos dizer (ou tal nos garantem) que o primeiro evento causou o segundo. Mas por que dizemos isso? Muitos eventos não são causados pelos eventos a que se seguem. Assim, por que pensamos que as coisas são diferentes neste caso? Afinal de contas, mesmo neste caso, é pelo menos “concebível” que o primeiro evento possa ocorrer sem o segundo. O lançamento do tijolo poderia , em teoria, ser seguido pelo desaparecimento do tijolo no vazio ou pela sua transformação em um coelho ou em uma barra de Snickers. Logicamente falando, os eventos são “soltos e separados”, sem nenhuma “conexão necessária” entre eles. Assim, talvez seja apenas o fato de estarem “constantemente unidos” na nossa experiência que nos leva a pensar que há tal conexão. Talvez a necessidade esteja em nós e não no mundo objetivo; quer dizer, talvez não exista nenhum tipo de conexão objetiva entre tijolos serem lançados e janelas se quebrarem e é apenas o modo pelo qual as nossas mentes, por coincidência, são estruturadas que nos faz pensar que ela existe. Talvez “causa e efeito” seja apenas uma questão de haver correlações regulares ou “semelhantes a uma lei” entre esses eventos, e a ciência deve se contentar em descobrir essas correlações. Ou talvez… Provavelmente a reação de Aristóteles a tudo isto seria: ahn?! O modo de apresentar o “problema” de causa e efeito que acabou de ser descrito, assim como algumas das expressões usadas para fazê-lo, deve muito ao filósofo escocês David Hume (1711-1776) – um grande herói dos “neoateus” e secularistas em geral, desnecessário dizer – e os filósofos vêm fazendo ohhhs e ahhhs à “descoberta” deste “problema” desde então. Sem dúvida o consideraram uma melhoria em relação a qualquer coisa que Aristóteles possa ter dito. Bem, parafraseando Lloyd Bentsen: Eu li Aristóteles; Aristóteles é um dos meus