Escatologia – O Milênio e suas Correntes de Interpretação
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Anderson Rezende
ESCATOLOGIA O Milênio e suas Correntes de Interpretação
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Índice Índice
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Sobre o autor
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Introdução
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1 – Conceitos Escatológicos Contemporâneos
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1.1 - Escatologia Consistente
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1.2 - Escatologia Realizada
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1.3 - Escatologia Existencial
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1.4 - Teologia da Esperança
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2 – Conceitos Milenistas
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2.1 - Pós-Milenismo
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2.2 - Amilenismo
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2.3 - Pré-Milenismo
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3 – Conceitos Tribulacionistas
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3.1 - Dispensacionalismo
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3.2 - Pré-Tribulacionismo
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3.3 - Pós-Tribulacionismo
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3.4 - Mesotribulacionismo
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Conclusão:
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Sobre o autor Anderson Rezende é Teólogo, Pastor, Professor, Palestrante e Coach Profissional. Atualmente está cursando a Licenciatura em História pela Umiversidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, possui Mestrado em Teologia e Especializações nas áreas de Educação, Empreendedorismo, Desenvolvimento Humano e Profissional. É Diretor-Presidente do Synesis - Centro de Ensino e Capacitação, empresa especializada em Capacitação e Desenvolvimento Humano por meio de cursos, palestras, seminários e treinamentos nas áreas de Empreendedorismo, Liderança, Desenvolvimento Humano, Educação Financeira e Espiritualidade. É Pastor da Comunidade Evangélica de Restauração em Jacarepaguá e Vice-Reitor da Faculdade Aplicada de Teologia e Filosofia FATEF.
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Introdução Nos últimos anos temos visto um crescente interesse pela Escatologia e pelas questões relacionadas ao Fim do Mundo. Talvez esse interesse seja o fruto do que temos visto acontecer com a sociedade humana no que tange às convulsões sociais, políticas, econômicas e religiosas de nossa contemporaneidade. Muitas pessoas têm ficado apreensivas pelo modo “esquisito” em que o mundo e a sociedade estão se tornando. Medo, depressão, ansiedade, angústia, etc., são alguns dos males psicoemocionais vivenciados por muita gente nesse contexto convulso e caótico do tempo em que vivemos. Isso tudo acaba gerando muita apreensão quanto às coisas que ainda estão por vir. Não é toa que o número de filmes que nos reportam para as questões do fim do mundo tem proliferado nos estúdios de Holywood. Um sentimento de que as coisas estão ficando cada vez mais difíceis gera nas pessoas uma apreensão apocalíptica sobre o fim do mundo e uma apreensão sobre os acontecimentos que nosso planeta poderá viver nos próximos anos. Quando entramos na esfera da Fé Religiosa, o sentimento de fim da história cresce principalmente nos segmentos monoteístas que entendem haver um Ser Soberano que cumprirá seu propósito na história, levando a cabo o seu Plano. Para nós, cristãos, esse entendimento está atrelado à compreensão de que o Senhor da história, o Criador de todas as coisas, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, irá cumprir cabalmente seu Plano Redentor para com a raça humana estabelecendo Novos Céus e Nova Terra. Mas a grande dúvida que paira na mente de muitos cristãos é: como e quando essas coisas acontecerão? A base para nosso entendimento sobre as coisas concernentes ao fim está nas páginas das Sagradas Escrituras, e no legado doutrinário da Fé Cristã que trata dos assuntos de natureza escatológica. E é aí que as dúvidas e questionamentos se multiplicam tendo em vista as diferentes Perspectivas Escatológicas de se compreender a questão do fim da História.
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Pelo fato de não termos um ordenamento cronológico e sequencial que sinalize a nós o tempo da Segunda Vinda de Cristo, muito espaço se abre para o debate escatológico em torno das questões do fim. E dentre os temas de maior dúvida e polêmica está a questão do Milênio. Haverá um Reino Milenar de Cristo na terra por ocasião de sua Segunda Vinda? Como será a questão da Grande Tribulação? E o papel da Igreja nesse período? Essas e tantas outras dúvidas são fomentadas e respondidas pelas três principais correntes de pensamento escatológico a respeito do milênio: Pré-Milenismo, Pós-Milenismo e Amilenismo. Na presente obra, procurarei dar alguns esclarecimentos a respeito dessas três perspectivas visando dar um maior esclarecimento para aqueles que se interessam pelo estudo da Escatologia e que amam e desejam a volta do Senhor Jesus. Esse texto não pretende ser um tratado completo e exaustivo sobre a temática escatológica, mas apenas uma introdução panorâmica ao tema da Escatologia, tendo como abordagem principal a questão do Milênio e suas correntes de interpretação.
Anderson Rezende Janeiro de 2017
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1 – Conceitos Escatológicos Contemporâneos A Escatologia é o ramo da Teologia Cristã que trata das questões do fim ou do propósito da vida, e do alvo do plano de Deus na consumação da história. Demonstra como que esse plano se move em direção a um fim determinado. O objeto de estudo da Escatologia está diretamente relacionado ao futuro da raça humana, da criação e de cada pessoa individualmente. É a Doutrina da Consumação. Quando falamos sobre Escatologia, precisamos entender que qualquer abordagem sobre o tema sempre é feito a partir de uma respectiva conceituação. Não há como compreender a questão escatológica se primeiramente não entendermos os pressupostos presentes em cada conceituação, pois são eles que definem e delineiam nossa compreensão sobre a Escatologia. Quatro são os principais conceitos escatológicos contemporâneos, desenvolvidos pela cristandade, e que nos ajudam a entender as diversas maneiras pelas quais a Igreja compreende e compreendeu ao longo da história a questão do fim e da Segunda Vinda de Cristo.
1.1 - Escatologia Consistente Começaremos nossa análise pela corrente denominada Escatologia Consistente. Seus principais proponentes foram Johannes Weis e Albert Schweitzwer que concluíram que a visão de Jesus, durante sua vida e ministério, era completamente escatológica ou até mesmo apocalíptica e futurista. De acordo com eles, o Reino de Deus proclamado por Jesus, em vez de ser apenas um reino ético de Deus no coração do homem, se expandiria paulatinamente através do tempo até o seu estabelecimento surpreendente e sobrenatural no futuro por ocasião da Segunda Vinda. Para a Escatologia Consistente a pregação de Jesus apontava para um evento futuro e a Ética, por ele apregoada, era o meio de se preparar para a entrada nesse Reino futuro. Ou seja, era necessário ao ser humano viver à altura dos valores morais e éticos do Reino de Deus para desfrutar, no futuro, de toda a bem-aventurança do Reino. O ser humano, portanto, deve se preparar mediante o arrependimento para receber o caráter do 7
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Reino que será trazido de modo sobrenatural no fim da história por ocasião da Segunda Vinda de Cristo. Segundo Albert Schweitzwer, o Reino de Deus apregoado por Jesus era uma realidade futura a ser manifestada na história por ocasião de Sua Segunda Vinda. Portanto, durante os seus dias, Jesus apontava para algo maior que no futuro haveria de ser manifestado. O que compete aos homens na presente era é se preparar para esse futuro glorioso por vir. Não há como estabelecer o Reino de Deus na presente era, pois o mesmo será uma ação de Deus, poderosa e sobrenatural, ao fim da história. Quando esse Reino chegar por meio de uma catástrofe cósmica, todo o mal será definitivamente vencido. De acordo com a perspectiva da Escatologia Consistente, a chegada do Reino de Deus será um clímax absoluto, não uma passagem gradual, e transformará radicalmente as circunstâncias e o caráter humano. Segundo Schweitzer, Jesus acreditava nisso e era isso que ensinava. Nesse aspecto, os ensinos de Jesus baseavam-se na crença de uma descontinuidade entre as condições do presente e as do futuro. A vinda de Jesus será um acontecimento surpreendente, envolvendo distúrbios cósmicos para a chegada do Reino de Deus num clímax absoluto.
1.2 - Escatologia Realizada Outro conceito escatológico a respeito da Doutrina das Últimas Coisas é a perspectiva da Escatologia Realizada. De acordo com essa perspectiva, os acontecimentos antecipados e manifestados por Jesus eram um sinal evidente da manifestação do Reino de Deus no palco da história. Ela tem o mesmo ponto de vista da Escatologia Consistente ao considerar que o Tema Escatológico era o que permeava as Escrituras do Novo Testamento e os ensinos de Jesus. Porém, se diferencia da Escatologia Consistente no que tange ao entendimento do Reino de Deus. Para a Escatologia Consistente o Reino de Deus se manifestará no futuro, para a Escatologia Realizada o Reino de Deus já se manifestou. Seu principal expoente foi o teólogo Charles H. Dodd que defendia o conceito de que a Era do Porvir foi estabelecida por Deus na manifestação 8
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de Jesus de Nazaré, por meio de sua vida, ministério, morte e ressurreição. Para ele, Deus já estabeleceu o Seu Reino, a escatologia foi cumprida, foi “realizada”. Tudo aquilo que o Antigo Testamento apontava por meio de
suas profecias tornou-se presente e, por isso, não há como jogar para um futuro distante o Reino de Deus. É em Jesus que vemos concretizada a esperança bíblica e veterotestamentária do Dia do Senhor. Rebatendo os conceitos da Escatologia Consistente, Charles H. Dodd dizia que Jesus em sua vida e ministério não falava de como o Reino de Deus seria, mas de como ele era. Daí o porquê de sua sobrenaturalidade manifestada por meio dos milagres e sinais. Era a evidência de que o poder de Deus se manifestou definitivamente na história para derrotar os poderes do mal. De acordo com o pensamento de C.H. Dodd, a nova era do Reino de Deus já está presente entre nós. Aquilo que aparentava ser futuro no tempo das profecias do Antigo Testamento tornou-se presente, pois vimos a partir da manifestação de Jesus a sobrenaturalidade se manifestar no poder de Deus em derrotar os poderes do mal.
1.3 - Escatologia Existencial: Se para a Escatologia Consistente o Reino de Deus seria uma experiência futura apontada no presente por meio dos ensinos morais e éticos de Jesus; e se para a Escatologia Realizada o Reino de Deus encontrou sua evidência histórica na vida e ministério de Jesus, a Escatologia Existencial vê, como questão central de sua abordagem, a mensagem escatológica do Novo Testamento que pode ser experimentada na própria existência. Para a Escatologia Existencial, os ensinos escatológicos tem aplicação ao presente da existência, tendo uma pertinência imediata. Não são para pessoas que viviam no passado ou que viverão algum tempo no futuro. São para mim, que vivo agora e, como consequência, podem ser pregados. A mensagem deve, portanto, ter relação com as formas de pensamento de seus dias, expressando-se nelas; deve também utilizar conceitos e expressões da experiência sensorial.
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O principal expoente dessa perspectiva escatológica foi Rudolf Bultmann, que argumentava em sua teologia que Jesus cria num futuro Reino de Deus. Para Bultmann, Jesus entendia o Reino de Deus como futuro e esperava a sua chegada acompanhada de julgamento e consumação escatológica no tempo próximo. Na própria pessoa de Jesus o juiz escatológico futuro, o Filho do Homem, já estava presente. Jesus via um intervalo entre o presente e o futuro, relacionando-se com a expectativa de sua morte, ressurreição e parousia. Ele ensinava claramente uma escatologia mitológica.
1.4 - Teologia da Esperança Jurgen Moltmann é a grande referência daquilo que é chamado de Teologia da Esperança, que traz em seu bojo uma perspectiva escatológica de engajamento com o Reino de Deus manifestado em Jesus de Nazaré. Moltmann considerava a escatologia como um espírito, uma perspectiva, uma moldura dentro da qual toda a Teologia deve ser conduzida. Para a Teologia da Esperança a vinda de Jesus, além de inaugurar o Reino de Deus, possibilitou a luta e o engajamento pela manifestação do mesmo a fim de produzir uma transformação na presente ordem. Segundo essa perspectiva, Jesus anunciou e manifestou a chegada do futuro. A partir de agora, as boas do Reino de Deus são estabelecidas por meio de ações transformadoras que produzem a esperança pela vitória do bem sobre o mal. Cristo é, portanto, a antecipação do futuro de Deus, especialmente no símbolo da ressurreição que traz ao homem a esperança da vida sobre a morte. Isso gera uma perspectiva otimista com relação ao futuro, como também o engajamento na missão do Reino de Deus que é de transformar a realidade. A ressurreição de Cristo é o começo e também a antecipação da libertação final do mundo. O mundo será transformado. O evangelho não meramente anuncia o fato; realmente intermedia ou produz a esperança. E é por isso que a Igreja não pode se postar de modo passivo frente a essa realidade. Ela tem a incumbência de mediar a presença de Cristo anunciando e manifestando de modo engajado a esperança do Reino de Deus. “Somos obreiros de construção e não apenas intérpretes do futuro, 10
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cujo poder, tanto na esperança quanto na realização, é Deus. Isso significa que a esperança cristã é uma esperança criadora e militante na história”.
O cristão não pode ficar numa espera passiva de apenas anunciar o que há de vir. Ele deve se engajar por meio de atitudes e ações éticas que demonstrem a manifestação histórica e concreta do Reino de Deus em transformar o mundo. Por isso, ele deve buscar o Reino, se esforçar por ele no intuito de trazê-lo ao presente. E esse é o embrião para uma Teologia Política de engajamento pela transformação do mundo. Segunda essa perspectiva, a esperança cristã deve ser criadora e militante. O Reino de Deus não permanece simplesmente descansando na expectativa da passagem do tempo, enquanto esperamos por ele e deixamos o presente como está. Devemos trazer o Reino à existência. Cristo é o futuro trazido para o presente e ele está presente de forma verbal e espiritual quando a congregação está comissionada pela Palavra e quando cumpre sua missão no mundo necessitado. A Igreja é, pois, chamada para mediar a presença de Cristo, que por sua vez medeia o futuro de Deus na história. O horizonte dessa perspectiva escatológica produz um horizonte de intenções éticas que dá significado a iniciativas históricas e concretas. Nesse sentido, o cristão é alguém que espera o futuro de Deus e a libertação final do mundo. Ele não pode, porém, aguardar esse futuro de forma passiva; deve buscá-lo, esforçar-se por ele, trazê-lo ao presente.
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2 – Conceitos Milenistas A doutrina da Segunda Vinda de Cristo expõe a maneira como, ao final da história, Deus cumprirá Seu propósito. A grande esperança de todo cristão é que um dia a miséria, o sofrimento, a dor e todo o mal deste mundo termine de uma vez para sempre, e o estado de alegria e amor perfeito seja restaurado. Mas como tudo isso acontecerá? Qual será a sequência dos eventos relacionados à Segunda Vinda de Cristo? Após analisarmos os principais conceitos escatológicos que definem o modo interpretativo que correntes da Fé Cristã entendem as questões relacionadas ao fim, examinaremos agora os principais Conceitos Milenistas que são, em essência, o ponto alto deste livro. Iremos, a partir de agora, compreender como que a questão do milênio tem sido tema de diversos debates e acaloradas discussões sobre a Escatologia Bíblica.
2.1 - Pós-Milenismo O primeiro conceito milenista que examinaremos é o PósMilenismo. O próprio nome já deixa claro para nós qual o entendimento dessa corrente de pensamento sobre as questões do fim. Segundo essa perspectiva, a volta de Cristo se dará após o milênio ter acontecido neste mundo. De acordo com esse conceito, o Reino de Deus vem sendo estabelecido na história, num processo de aperfeiçoamento do mundo que culminará num tempo de paz e harmonia. A volta de Cristo será apenas o coroamento desse processo. O Pós-Milenismo nega que o reino de Cristo ocorrerá de forma literal na terra após sua vinda. Afirma que o “milênio” ocorre antes da Segunda Vinda de Cristo e, quando Ele vier, depois de ter sido estabelecido o Seu Reino neste mundo, começará o estado eterno. Já não é um esquema escatológico tão sustentado hoje em dia devido à realidade do mundo e da sociedade se mostrar totalmente contrária a essa perspectiva otimista da realidade. Porém, sua influência foi bastante significativa na História da Igreja durante longos períodos. 12
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Para os pós-milenistas, à medida que o evangelho do Reino de Deus vai sendo propagado e disseminado pelo mundo, alcançando um número cada vez maior de homens e mulheres, os impactos do governo de Deus sobre os corações e mentes das pessoas, acaba por transformar a realidade caótica e difícil do mundo a partir dos valores eternos do Reino de Deus manifestados em sua ética, e a consolidação dos princípios éticos da Escritura se tornarão a base da lei e da sociedade. O conhecimento e a tecnologia continuarão a crescer cada vez mais. A tecnologia e a base cristã da sociedade capacitarão a humanidade a resolver os problemas de pobreza, fome, crime, etc. Ou seja, é uma perspectiva bem otimista sobre a realidade do Reino de Deus na história. Alguns pós-milenistas acreditam que em função do impacto do evangelho no mundo e na história, as nações se inclinarão a obedecer ao evangelho, levando Deus a remover quase todos os efeitos da maldição do pecado após a queda. Nesse sentido, a natureza será restaurada, a poluição vencida e a capacidade produtiva da terra será plenamente alcançada. Como resultado, não haverá pessoas carecendo de abrigo, alimentação ou vestuário. Nessa perspectiva, a raça humana voltará a realizar o mandado cultural de Deus aos homens, na construção de um mundo melhor e de paz, que culminará com a volta de Jesus para encerrar a história e iniciar o Estado Eterno. No arcabouço de crenças do Pós-Milenismo estão presentes algumas idéias e crenças que norteiam sua perspectiva: 1) O Reino de Deus é uma realidade presente e está aqui de modo terreno. É o governo de Cristo no coração dos homens. O Reino está presente onde quer que os homens creiam em Jesus Cristo, dediquem-se a ele, e o obedeçam. Não é, portanto, algo a ser introduzido de modo cataclísmico em algum tempo futuro. Mas sim uma evidência clara do poder transformador do evangelho em mudar os cenários difíceis e caóticos de um mundo jogado ao caos. 2) No que tange ao aspecto da evangelização, o Pós-Milenismo acredita que haverá conversão de todas as nações antes da volta de Cristo pela obra poderosa do Espírito Santo. Todas as pessoas em todas as áreas e nações do mundo virão a crer devido a um futuro reavivamento mundial. 13
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3) Para o pós-milenista, o milênio já está em execução. Já vemos sinais de sua evidência à medida que cada vez mais pessoas se submetem ao plano do Senhor e começam a praticar os ensinos e modo de vida que Ele estabeleceu, proporcionando assim a paz como o resultado natural (Is 9:6; 11:6; Jo 14:27). Por isso, o mesmo deve ser compreendido como um longo período de tempo, não necessariamente mil anos do calendário, mas um período em que se vê manifestado o estabelecimento gradual do Reino de Deus. 4) Uma perspectiva totalmente otimista da realidade por entender que a contínua propagação do evangelho irá fazer cessar os conflitos entre as nações, como também o atrito entre as raças e as classes sociais. 5) A existência de um período de apostasia e explosão do mal acontecerá em conexão com a vinda do Anticristo no fim do Milênio. Cristo voltará corporalmente ao fim do Milênio e, em sua volta, todos irão ressuscitar, justos e injustos, para o julgamento final. Assim, fica claro para a perspectiva Pós-Milenista que o Reino de Deus é uma realidade terrena presente, e não uma realidade celestial futura. É aqui e agora, e cresce gradualmente. Não é algo que está ausente no momento e ainda será inaugurado por um único acontecimento relevante. Pelo contrário, está chegando aos poucos, quase de forma imperceptível. O Pós-Milenismo, assim como os outros conceitos milenistas que ainda examinaremos, possui aspectos positivos e aspectos negativos em sua forma de entender a questão do fim e da volta do Senhor.
Aspectos Positivos – O Pós-Milenismo dá atenção à dimensão presente do Reino de Deus. Nesse sentido, ele encoraja um ativismo da parte dos cristãos, pois também entende que o Reino de Deus tem um alcance maior do que a Igreja.
Aspectos Negativos – O otimismo exacerbado a respeito da conversão do mundo, que não parece muito realista à luz 14
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dos acontecimentos mundiais recentes. A percentagem de cristãos no mundo não está aumentando. Embora o progresso tecnológico seja inegável, não tem havido progresso ético e social comparável. Os pós-milenistas tem dificuldade de manter um sobrenaturalismo genuíno.
2.2 - Amilenismo Outro conceito milenista a respeito da perspectiva escatológica é o Amilenismo. Como o próprio nome sugere (em grego a partícula “a” significa “não”), o Amilenismo não acredita num milênio literal. Para o
Amilenismo não haverá um reino terreno de Cristo de mil anos de duração. Essa corrente de pensamento escatológico entende que a Segunda Vinda de Cristo inaugurará a era e o estado finais tanto para os salvos quanto para os não-salvos. Por ocasião da Segunda Vinda de Cristo, acontecerá a ressurreição geral, o julgamento de todos os homens e a entrega de todos ao seu estado futuro e final. O Amilenismo não entende que haverá um período de transição ou reinado terreno e pessoal de Cristo. Os amilenistas entendem o texto de Apocalipse 20 como um texto simbólico, e a menção aos mil anos ali apresentados, não podem ser entendidos de modo literal. Eles acreditam que a história da Era Presente já presencia o reinado de Cristo no coração dos homens, ou seja, um reinado espiritual. Para o amilenista as profecias do AT são menos literais do que a maioria dos pré-milenistas as considera. Essas profecias estão propensas a cumprir-se na história da igreja, não nos mil anos. Para ele, não haverá um crescimento mundial da justiça que se estenderá a todas as áreas da sociedade, como pensa o Pós-Milenista. E, nesse aspecto, há uma perspectiva pessimista da história. Além disso, o amilenista acredita na iminente Segunda Vinda de Cristo. Enquanto o pós-milenista acredita que o Senhor não voltará até que o evangelho tenha sido levado a todos os lugares da terra e o mundo tenha desfrutado de um período de paz. O amilenista e o pré-milenista, no 15
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entanto, não acreditam que esses fenômenos precederão a vinda do Senhor. Logo, sem acontecimentos de maior importância, de longa duração ainda a serem cumpridos, o Senhor poderia vir a qualquer momento. O amilenista não lastima a decadência das condições do mundo e da cultura pois não se atém tanto a esses temas. Assim, para essa corrente de pensamento escatológi co, o “milênio” conforme mencionado em Apocalipse 20 nada mais é do que o reino espiritual de Cristo no coração de homens e mulheres com Ele reconciliados. Cristo já está reinando na vida daquele que a Ele se submeteram. Quando Ele vier segunda vez, ele virá para ressuscitar os mortos, promover o Juízo Final e estabelecer o Estado Eterno. No que diz respeito à avaliação do Amilenismo, podemos destacar tantos os aspectos positivos quanto os aspectos negativos.
Aspectos Positivos – o Amilenismo reconhece que a profecia e escatologia bíblicas fazem grande uso de simbolismo e lidam com isso em concordância. O amilenista procura levar a sério a natureza da literatura bíblica perguntando o que estava sendo transmitido dentro do ambiente cultural, em que o texto bíblico foi escrito, reconhecendo que o simbolismo pode estar presente e operante, mesmo ainda quando não é óbvio. O Amilenismo, portanto, procura determinar o devido significado dos símbolos ao estudar a cultura em vez de atribuir um significado de modo arbitrário. Tem uma filosofia realista da história, tendo uma visão equilibrada daquilo que virá e de qual direção a história está tomando. Seu ponto de vista leva em conta ou uma deterioração, ou uma melhora das condições, não ensinando que o mundo inteiro será convertido antes da volta de Cristo, nem que as condições do mundo inevitavelmente piorarão.
Aspectos Negativos – Grande parte das dificuldades do Amilenismo está relacionada à exegese de Apocalipse 20. A interpretação convencional amilenista é de que há dois tipos diferentes de ressurreição, uma espiritual e uma física.
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2.3 – Pré-Milenismo O terceiro e último conceito milenista é o popularmente conhecido Pré-Milenismo. Sua popularidade é mais evidente em círculos evangélicos conservadores e não reformados. Diferentemente do Pós-Milenismo e do Amilenismo, esse conceito possui duas vertentes principais: o PréMilenismo Histórico e o Pré-Milenismo Dispensacionalista. O Pré-Milenismo Histórico é a corrente de pensamento escatológico que entende que o propósito de Deus na história se dará da seguinte forma: o mundo caminhará cada vez mais para uma degradação moral, ética e espiritual, culminando no período da Grande Tribulação e da manifestação do Anticristo. A Igreja passará por todo esse processo até que Cristo apareça em glória por ocasião de Sua Segunda Vinda, onde destruirá o poder do Anticristo e estabelecerá o Seu Reino de Mil Anos sobre a terra sinalizando aos homens como deveria ser a vida na terra se todos estivessem debaixo do governo de Deus. Após esse período de mil anos em que Satanás estará preso, o mesmo será liberto para perverter as nações novamente e é aí que o Senhor estabelecerá seu Juízo Final com a batalha do Armagedom, a ressurreição dos mortos, o julgamento de todos os homens, o Lago de Fogo e, por fim, o estabelecimento do Estado Eterno com a descida da Jerusalém Celestial. De modo sumarizado, o Pré-Milenismo Histórico apresenta a seguinte ordem de eventos: 1) época presente da Igreja, da evangelização e da apostasia do homem; 2) Grande Tribulação de sete anos, ascensão do anticristo e perseguição da igreja; 3) volta de Cristo, arrebatamento para o encontro do Senhor nos ares, primeira ressurreição e batalha do Armagedom; 4) inauguração do milênio e prisão de Satanás no abismo; 5) fim do milênio, soltura de Satanás e rebelião das nações; 6) derrota final de Satanás, ressurreição dos ímpios e julgamento final; 7) estado eterno. Essa foi a posição dominante dos pais da Igreja na Teologia entre os séculos II e IV. Durante a Reforma Protestante foi a posição defendida pelos reformadores, anabatistas e puritanos. Já no Pré-Milenismo Dispensacionalista há o entendimento de que a história humana está dividida em sete grandes dispensações. E que entre a sexta e a sétima dispensação Deus inseriu a Era da Igreja que será 17
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por Ele arrebatada na volta secreta de Cristo para livrar Sua Igreja do período da Grande Tribulação que há de vir sobre o mundo. Essa corrente de pensamento também entende que haverá um Reino Milenar de Cristo após os sete anos de tribulação que marcará o governo de Deus entre os homens. A principal característica desta posição é a maneira de dividir as Escrituras em dispensações. Ou seja, refere-se a um período de tempo durante o qual o homem é testado quanto à sua obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus. Cada uma destas dispensações termina com o fracasso humano e o inevitável juízo de Deus. E uma das doutrinas que mais se destacam no dispensacionalismo é a idéia do arrebatamento pré-tribulacional da Igreja. Faz uma distinção radical entre Israel e a Igreja. Israel rejeitou a salvação e Deus, portanto, colocou em ação outro plano, ou seja, inaugurou a dispensação da Igreja. Entretanto, essa situação é temporária, porque todas as promessas e profecias do Antigo Testamento acerca de Israel têm de ser cumpridas literalmente. Tanto o Pré-Milenismo Histórico quanto o Pré-Milenismo Dispensacionalista entendem que haverá o estabelecimento de um reino terreno de Cristo por ocasião de Sua Segunda Vinda. Em comum com o Pós-Milenismo, o Pré-Milenismo afirma que haverá um período em que a vontade de Deus será feita na terra, um período em que o Reino de Cristo será uma realidade entre os homens após a volta do Senhor. E isso implicará a existência de uma perfeita paz, retidão e justiça entre os homens. A realidade desse reino terreno não se dará por meio de um processo de crescimento ou desenvolvimento gradativo. Ao contrário, será inaugurado pela Segunda Vinda de Cristo, de modo surpreendente e cataclísmico. O milênio não será meramente uma extensão e aperfeiçoamento de tendências já presentes na terra. Ele não será levado a efeito nem pela engenhosidade humana, nem pela melhoria social, mas sim por ato de Deus na volta de Seu Filho. O mundo, portanto, estará num processo crescente de deterioração, marcado por uma piora das condições espirituais, éticas e morais da sociedade. A Segunda Vinda de Cristo aprisionará Satanás e seus ajudadores por mil anos. Sem isso, as condições previstas para o milênio seriam impossíveis. No entanto, perto do fim do milênio, Satanás será solto por 18
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um breve tempo e empreenderá uma luta final desesperada. Depois, ele e seus demônios serão completamente derrotados e lançados no Lago de Fogo preparado para eles. Alguns pré-milenistas consideram que o período é literalmente de mil anos, enquanto outros são menos literais, considerando-o apenas como um período extenso de tempo. O fator essencial, no entanto, é que esse Reino será na terra, e Jesus Cristo estará fisicamente presente. Acreditam que uma “Grande Tribulação” imediatamente precederá o
milênio. Os pré-milenistas divergem entre si se a Igreja de Jesus Cristo estará presente na terra durante a tribulação ou se Deus a removerá num arrebatamento (pré-tribulacionismo x pós-tribulacionismo). A abordagem hermenêutica do Pré-Milenismo sempre tende para o literalismo na interpretação de porções bíblicas. No que tange ao Apocalipse, os pré-milenistas tem uma forte tendência a uma interpretação futurista, ao invés de uma interpretação preterista, histórica ou idealista. É dentro dos círculos conservadores, e especialmente nos segmentos não reformados, que o Pré-Milenismo tem experimentado um grande crescimento durante aproximadamente os últimos cem anos. Assim como as outras duas perspectivas escatológicas, PósMilenismo e Amilenismo, o Pré-Milenismo também possui aspectos positivos e negativos em sua forma de interpretar as questões concernentes ao fim:
Aspectos Positivos – os pré-milenistas tem revelado mais seriedade escatológica do que muitos representantes de sistemas competitivos. Isso explica a seriedade com que fazem suas exegeses.
Aspectos Negativos – uma das objeções é a raridade de referências bíblicas ao milênio, que só é mencionado em Apocalipse 20. Jesus nunca predisse um reino terreno de mil anos, nem sequer predisse quaisquer acontecimentos que requeiram semelhante período para serem cumpridos. Além disso, há a abordagem literal dos pré-milenistas em interpretar as profecias do Antigo Testamento, o que acaba gerando dois planos de Deus: um para Israel e outro para a Igreja. Outro problema é que um milênio terreno é teologicamente supérfluo. Os pré-milenistas também 19
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cometem o erro de interpretar o Novo Testamento pelo Antigo, anulando assim a revelação progressiva.
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3 – Conceitos Tribulacionistas Após termos visto os quatro principais conceitos escatológicos que definem e delineiam toda e qualquer perspectiva interpretativa da Escatologia, e após termos visto os três principais conceitos milenistas no que diz respeito à Segunda Vinda de Cristo, iremos examinar agora os conceitos tribulacionistas que tratam a respeito do tema da Grande Tribulação, que é um período de extrema angústia e dificuldade que se abaterá sobre a terra antes da volta do Senhor. No que diz respeito ao entendimento de quando e como acontecerá a Grande Tribulação, quatro são as perspectivas a respeito deste assunto:
3.1 - Dispensacionalismo A primeira corrente interpretativa que iremos examinar a respeito da Grande Tribulação é o Dispensacionalismo. Essa corrente de pensamento, oriunda da perspectiva Pré-Milenista, possui uma hermenêutica particular, exercendo uma forte influência sobre as conclusões milenistas e tribulacionistas. O Dispensacionalismo parte do conceito de que há na história uma economia distinguível da realização do propósito de Deus. Uma mordomia da luz de Deus, um passo na revelação da verdade de Deus, dada por ciclos de tempo chamados de dispensações. Trata-se de acontecimentos que lançam nova luz ao desenvolvimento do Plano Divino, resultando numa mudança de relacionamento entre Deus e Seu povo. É um movimento de origem razoavelmente recente na história da Igreja Cristã. Nenhum sinal evidente dessa teologia se encontra na história primitiva da Igreja. O mesmo se aplica a alguns métodos de estudo e interpretação da Bíblia, feitos pelos dispensacionalistas. Foi John Nelson Darby (1800-1882) quem desenvolveu a hermenêutica e a teologia dispensacionalista. O meio usado para promover a maior popularização do Dispensacionalismo foi a Bíblia de Estudo Scofield. No que diz respeito ao arcabouço teológico do Dispensacionalismo, destacamos suas principais doutrinas: 21
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f. A Interpretação da Escritura – A Bíblia deve ser interpretada literalmente. Toda profecia será cumprida literalmente e com detalhes. Simultaneamente à interpretação literal da profecia há uma interpretação tipológica das passagens históricas ou narrativas, que se assemelha fortemente ao antigo Método Alegórico. g. Israel e a Igreja – Distinção nítida e específica entre Israel e a Igreja. E é para o Dispensacionalismo uma distinção fundamental para qualquer compreensão correta da Escritura. Há, portanto, dois planos de Deus – um para Israel e outro para a Igreja. Pelo fato de Israel ter rejeitado o Reino, Deus o ofereceu à Igreja. A Igreja é, nesse sentido, o substituto temporário de Israel, sendo por Deus enxertada nele. Para Israel, o Reino foi simplesmente adiado e será oferecido de novo ao povo de Deus, depois de ser completado o tempo dos gentios. Deus não se esqueceu do seu povo Israel e nem o substituiu pela Igreja. h. Os Dois Reinos – Distinção entre o Reino de Deus e o Reino dos Céus. Segundo Scofield, o Reino dos Céus é judaico, messiânico e dravídico. O Reino de Deus é universal, incluindo todas as inteligências morais que livremente se sujeitam à vontade de Deus. i. O Milênio – É mais do que meramente um Reino de Cristo de mil anos sobre a terra. Ocupa um lugar claro e específico no Plano de Deus: a restauração da nação de Israel ao seu lugar favorecido no programa de Deus e o cumprimento das promessas de Deus a Israel. Diferentemente do Dispensacionalismo Tradicional, o Dispensacionalismo Progressivo enfatiza a natureza unificada da atuação de Deus, tendo o Reino como fator central. Todas as dispensações estão relacionadas à Dispensação Final, e o desenvolvimento gradual em direção a esse alvo é o que dá ao Dispensacionalismo Progressivo esse nome. No que diz respeito à Igreja, os dispensacionalistas progressivos consideram a Igreja como algo que está em continuidade com a obra de
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Deus em Israel, como algo que inaugura as promessas dadas no Antigo Testamento. A Igreja é a humanidade redimida, incluindo judeus e gentios. Podemos também destacar alguns pontos positivos e alguns pontos negativos do pensamento dispensacionalista:
Aspectos Positivos – Os dispensacionalistas tem procurado sintetizar ou integrar o testemunho bíblico em um todo unificado. Procura levar a sério a ideia da Revelação Progressiva, procurando ser bíblico de forma genuína e completa em sua interpretação das Escrituras. As escolas dispensacionalistas ressaltam a importância de saber o que a Bíblia diz e onde diz.
Aspectos Negativos – Sua abordagem equivocada da Revelação Progressiva, principalmente no que diz respeito à distinção entre Israel e a Igreja. Negligencia o Pré-Milenismo Histórico.
3.2 - Pré-Tribulacionismo A questão da Tribulação e da vinda de Cristo gera muitas dúvidas e indagações nas pessoas. Cristo voltará para levar sua igreja do mundo antes da Tribulação ou a Igreja passará por todos os acontecimentos? Será que a Igreja experimentará parte da Tribulação e então será liberta do mundo antes do período principal e mais severo desse momento? No que diz respeito a essas questões, o Pré-Milenismo é o conceito milenista que mais aborda a questão das visões tribulacionistas. Três são as abordagens sobre a questão da Tribulação desenvolvidas pelo pensamento Pré-Milenista. A primeira que destacaremos é o Pré-Tribulacionismo. Essa perspectiva afirma que a Grande Tribulação será uma tribulação inigualável em toda a história e que envolverá três classes de pessoas: 1) a nação de Israel; 2) o mundo gentio pagão; 3) os santos e eleitos que viverão durante este tempo. Essa Grande Tribulação tem um propósito definido e duplo: 1) concluir “os tempos dos gentios”; 2) preparar a restauração e reunião de
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Israel no reinado milenar de Cristo após o segundo advento. A tribulação servirá como um período de transição no Plano de Deus. Jesus virá para sua Igreja antes da grande tribulação para “arrebatá-la” do mundo. Significará o arrebatamento dos crentes da terra para se encontrar com o Senhor no ar (I Ts 4:17). O efeito será retirar a Igreja da cena da história do mundo durante os sete anos de tribulação. Haverá a ressurreição dos santos que morreram e a transformação dos que estiverem vivos. Nessa ocasião, também, todos os cristãos serão julgados diante do tribunal de Cristo (II Co 5:10). No fim do período de sete anos, a igreja estará com Cristo no céu e os não cristãos estarão passando por grandes tribulações na terra, Jesus voltará com a Igreja em triunfo. A Segunda Vinda, portanto, terá duas etapas. Na primeira, Cristo vem para a Igreja, para removê-la do mundo. Na segunda fase, Ele chega com a Igreja, para estabelecer o reino terreno, estabelecer seu governo e iniciar o milênio. Doutrinas principais do Pré-Tribulacionismo: 1) A Ausência da Igreja Durante a Tribulação; 2) A Igreja é removida do Mundo; 3) A Volta Iminente de Cristo. Vale destacar os aspectos positivos e negativos dessa corrente de pensamento:
Aspectos Positivos – Em seu conceito de iminência da volta de Cristo a qualquer momento, o Pré-Tribulacionismo dá um senso de expectativa à Fé Cristã. Torna-se uma esperança purificadora. Também deu à tarefa da Igreja uma dimensão de urgência, mostrando que é imperativo fazer a obra de Cristo tão rápido quanto possível.
Aspectos Negativos – Alguns trechos bíblicos usados pelos pré-tribulacionistas não apoiam a idéia da iminência de um arrebatamento.
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3.3 - Pós-Tribulacionismo Tanto o Pós-Tribulacionismo quanto o Pré-Tribulacionismo são em princípio uma subdivisão do Pré-Milenismo. O primeiro aspecto do PósTribulacionismo está no fato de a Igreja não ser retirada do mundo antes da Tribulação, tendo de passar por ela, suportando-a pela graça e força de Deus. Somente depois desse grande e terrível período é que Cristo virá. Os pós-tribulacionistas não acreditam que o arrebatamento seguirá a tribulação, pois não empregam o termo arrebatamento em seu sistema escatológico. Insistem que a Igreja não será exposta à ira de Deus, fazendo uma distinção entre a Grande Tribulação e a Ira de Deus. No fim da tribulação Cristo virá pela segunda vez. Não haverá duas etapas ou duas fases (uma vinda para e uma vinda com a igreja). Todas as passagens bíblicas que se referem à vinda do Senhor se referem ao acontecimento único da Parousia. A Vinda do Senhor concluirá o período da Grande Tribulação, estabelecerá o Reino de Deus na terra e precederá o período do milênio. Quando Cristo vier, os santos que já morreram serão ressuscitados, junto com os santos que estiverem vivos, e serão levados a encontrar-se com o Senhor e depois voltarão à terra para reinar com Ele. Para o pós-tribulacionista, há apenas duas ressurreições: a de todos os mortos justos no começo do milênio e a de todos os restantes (ímpios) no fim do milênio. O pós-tribulacionista é geralmente menos literal na abordagem das últimas coisas do que o pré-tribulacionista. Doutrinas principais do Pós-Tribulacionismo: 1) A Presença da Igreja na Tribulação; 2) O Encontro do Senhor nos Ares (subir e descer); 3) A Remoção Daquele que Detém. No que diz respeito aos aspectos positivos e negativos do PósMilenismo destacamos os seguintes pontos:
Aspectos Positivos: Sua versatilidade em tratar com a Escritura. Oferece interpretações apropriadas e plausíveis de todos os tipos de matéria bíblica relevante (escritos apocalípticos, livros proféticos, ensinos escatológicos de Jesus, etc.). Não se baseia em alguns poucos textos-prova cuidadosamente selecionados. O Pós-Tribulacionismo lida 25
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com a Escritura de modo mais regular do que o PréTribulacionismo. Revela menos tendência de ler ideias preconcebidas num texto. Não busca calcular todos os pormenores envolvidos na escatologia bíblica, e em geral exerce real controle e cuidado em fixar datas.
Aspectos Negativos: Falta de clareza de grande parte de suas afirmações. Não tem certeza quanto à duração do milênio e da tribulação. Em alguns aspectos é praticamente impossível de se distinguir o PósTribulacionismo do Amilenismo.
3.4 - Mesotribulacionismo Este é um conceito intermediário entre o Pré-Tribulacionismo e o Pós-Tribulacionismo. Essa perspectiva sobre a Grande Tribulação ensina que a Igreja estará presente na terra durante uma parte da Grande Tribulação e que, portanto, a experimentará. Porém, no meio da Tribulação o Senhor arrebatará a sua Igreja do período mais terrível que ocorrerá durante este tempo. Assemelha-se ao pós-tribulacionismo que vê a Igreja presente durante a tribulação e a ira de Deus, mas protegida da última. A Igreja está presente durante a tribulação, mas é removida antes do derramamento da ira de Deus.
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Conclusão: Apesar das divergências entre essas correntes de pensamento escatológico, vale destacar o fato de que essas divergências não se dão em torno das questões centrais da Escatologia Bíblica. Todas essas correntes de pensamento escatológico concordam que a Segunda Vinda de Cristo será feita de modo físico e visível; que haverá sinais evidentes de sua vinda, como também uma apostasia generalizada por todo o mundo encabeçada principalmente pela figura do Anticristo. Todas elas concordam no fato de que Jesus Cristo é o Cordeiro Santo de Deus que venceu o pecado e a morte e com o seu sangue, comprou para Deus homens e mulheres de todas as tribos, línguas, povos nações e raças. E que foi a Ele que o Pai confiou o senhorio sobre todas as coisas, até que todo joelho se dobre e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai.
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