Ensinamentos Budistas para Tempos Desafiadores Perspectivas de Educação, Espiritualidade e Felicidade adaptado de Lama Padma Samten
Templo de Padmasambava – Três Coroas – Rio Grande do Sul – Primeiro templo budista tibetano no Brasil – Construído por Chagdud Rinpoche
Qual o papel de um lama no tema da felicidade? Os lamas tratam dos aspectos abstratos e não das atividades práticas do mundo, no entanto, agora surge uma fresta para os temas como a preservação da vida humana preciosa, essencial para a evolução espiritual e para a felicidade. Temos o potencial potencial para usarmos usarmos a preciosidade preciosidade de nossas nossas vidas humanas humanas e é parte da ação dos líderes espirituais apoiar para que se tenha a capacidade praticar a meditação, de ter tranquilidade, ter também comida, abrigo, condições ambientais, de tal forma que a lucidez possa aflorar. Isso remete para a vida no mundo, para a vida social que também está assim conectada. Com isso, é natural que os lamas se envolvam nas questões do mundo, na gestão. Eles auxiliam promovendo circunstâncias em que as relações interpessoais, interpessoais, com a natureza, com as estruturas de poder e conosco entrem em equilíbrio. Quando olhamos em um sentido mais amplo, a melhoria dessas relações relações está ligada à criação de benefícios para nós mesmos, para as outras pessoas, as autoridades, os gestores e para a própria natureza; para a biosfera e para o mundo dos seres não humanos; incluímos também as montanhas, rios, mares, ventos e atmosfera. Esses elementos se traduzem em um veículo que conduz em direção à lucidez e à iluminação. Isso seria uma terra pura. Uma terra pura não é uma estrutura de lucidez, ou de iluminação completa, mas ela tem uma visão elevada que produzirá harmonia e bons resultados para tod@s tod@s.. Templo de Padmasambava – Três Coroas – Rio Grande do Sul – Primeiro templo budista tibetano no Brasil – Construído por Chagdud Rinpoche
O MUNDO ILUSÓRIO DO SAMSARA Os grandes mestres, como Sua Santidade o Dalai Lama, dizem: todos os seres aspiram à felicidade e aspiram se livrar do sofrimento. Num sentido profundo, a noção da felicidade e do sofrimento é o atestado de que estamos no samsara, presos ao mundo ilusório. Buda descreve esse ensinamento como “Os 12 elos da Originação Dependente” que é a estrutura que nos leva de uma dimensão livre da mente até uma sensação de identidade, de ganhar ou perder, e a fragilidade diante das circunstâncias do envelhecimento, doença, decrepitude e a morte. Os 12 Elos são a descrição do trajeto que nos leva de uma condição livre até uma condição de sofrimento. Quando entendemos a questão do sofrimento, da ilusão, entendemos que os seres presos a essa noção constituem uma visão de mundo, tudo o que eles aspiram é a felicidade e se livrar do sofrimento. Essa não é, por exemplo, a sensação dos budas ou dos bodisatvas, que não buscam a felicidade, nem mesmo interna e nem a liberação do sofrimento, porque eles estão além dessa questão, eles manifestam a mente de outro modo. Para a visão budista, os seres presos aos samsara são justamente os que mais interessam, porque temos que beneficiar os que precisam. Os lamas e mestres buscam ampliar a felicidade e reduzir o sofrimento. Na medida em que ampliamos a lucidez, a felicidade se amplia e o sofrimento se reduz. É um elemento positivo que nos conecta ao caminho espiritual e termina virando um indicador do progresso nesse âmbito. Felicidade está ligada a isso. FAIXAS MENTAIS Imagine que existem faixas de operações da mente, há seres que estão operando de modo automatizado e cármico. Eles têm uma sensação intuitiva do que eles devem fazer. Se seguirem essa intuição, eles têm uma sensação de felicidade, mas enquanto eles se movem de determinado modo, podem fazer coisas muito aflitivas que mais adiante vão se tornar elementos de infelicidade e de grande sofrimento. Portanto, a questão da felicidade logo se torna complexa. Há outras pessoas que fazem algum planejamento, são capazes de um nível de disciplina e elas entendem: o ponto é a felicidade. Elas pensam, eu deveria estudar inglês, fazer faculdade, ter uma profissão, uma casa, um carro. E percebem que, quando certas estruturas ao redor estão presentes, um nível de felicidade é produzido, assim, elas perseguem e vão atrás desse tipo de abordagem. É uma felicidade dentro de uma visão muito estreita. Se olharmos essas duas primeiras faixas de operação da mente, entendemos o fato de haver navios levando containers para todos os lados. Precisamos de um objeto na nossa frente para mover um brilho dentro de nós que corresponde a uma sensação de felicidade. Mais adiante esses objetos não terão poder nenhum: olhamos para o mesmo objeto e ele perde o poder, por isso precisamos de mais navios que tragam outros produtos para nos alegrar. Somos uma civilização que está movendo montanhas para produzir transformações ligadas à felicidade. Essas montanhas vão terminar
ampliando os lixões do mundo. Surge o esgotamento desses materiais, da energia; surgem os resíduos contaminando o ar, a água e demais ambientes naturais. Como podemos avançar com menos impacto ambiental e com mais satisfação? Existem os indicadores de tudo que conseguimos manipular em termos de materiais. Posso quantificar os valores financeiros que estão transitando e chego à conclusão que quanto maior for o valor financeiro e a quantidade de materiais gerados, mais coisas são geradas e ganham sentido e valor financeiro pela felicidade que produzem. Então, esse número “PIB” que indica a nossa capacidade de manipulação das coisas, ele é um número que se refere a essa felicidade que vem da necessidade de mudar tudo ao nosso redor. Há outros indicadores, como o indicador FIB (Felicidade Interna Bruta), utilizado pelo Butão, que utiliza outros referenciais, então percebemos que indicadores ligados à economia dizem respeito a uma felicidade que é muito passageira, demandante de energia e materiais. Mas, se percebermos esse aspecto profundo da felicidade, entendemos que em lugar de buscarmos o máximo de movimentação econômica para obter felicidade, podemos buscar um mínimo de movimentação econômica para obter a felicidade verdadeira. É nesse ponto que entram as tradições espirituais, e o budismo é uma delas, mas não a única. As diferentes tradições espirituais tratam dessa faixa 3, ou seja, de como entendemos o nosso mundo interno e, assim, a felicidade surge observada por nós mesmos. Quais são as condições que nos mantêm felizes e que podem melhorar nossa saúde e as condições nas quais nós vivemos? Essas condições internas estão associadas a experiências de um brilho da nossa mente. A noção de eudaimonia[1] <#_ftn1> , que é a noção grega que associa um certo dom que a pessoa tem, um certo magnetismo e uma energia. Esse conceito de felicidade se contrapõe e ultrapassa o simplesmente obedecer aos impulsos daquilo que achamos mais interessante, a eudaimonia corresponde à compreensão de que há um brilho interno em nós e há uma espécie de dom, um magnetismo interno. Se pudermos ampliar isso, ultrapassamos completamente toda a felicidade associada ao hedonismo. A felicidade no hedonismo tem o seguinte sentido: “o objeto que hoje nos alegra, amanhã nos entristece, ou a pessoa que hoje está ao nosso lado e nos alegra sob o ponto de vista limitado, amanhã é um problema para nós”. A impermanência se acelerou. Nesse sentido, é tempo de degenerescência. Nesse tempo de degenerescência as antigas instituições aprisionadoras estão se fragmentando pelo desgaste natural. Entretanto, podemos entender como um tempo auspicioso onde construções surgem pela lucidez semeada pelos mestres do passado. Um tempo em que a dimensão profunda e protetora, que está e sempre esteve disponível, fica mais e mais presente em nossos corações, mentes e paisagens. Acho que nós, enquanto humanidade, estamos cruzando um portal e vamos nos apropriar dessa dimensão interna e entender esses temas. Assim, eu olho como daqui a algum tempo vamos poder viver esse ideal de uma vida
mais equilibrada. Quando entendemos as dimensões internas, daremos um outro significado para a arte, para a cultura, para a educação, para a ecologia, para a agricultura, para o cuidado da saúde, para a ciência, para a filosofia. Todas essas áreas e outras vão ganhar novo significado a partir dessa visão interna, da liberação e da capacidade de gerar felicidade. Ao aprofundarmos, vão surgir também concepções de vida, de sociedade, que darão origem a terras puras, ou seja, ambientes condicionados, mas favoráveis, ambientes úteis. Acredito que os mestres do passado vão se sentir muito felizes, porque é como se seus os ensinamentos pudessem ganhar uma abrangência e uma utilidade muito grande na sociedade como um todo. Editado por Viviane Junqueira dos Santos Eudaimonismo ("felicidade") é uma doutrina segundo a qual a felicidade é o objetivo da vida humana.
Concentra-se sobre esta oportunidade única de desenvolvimento pleno que constitui a vida terrestre e é por conseguinte no sucesso desta vida, tanto a sua quanto a de outrem.
O Centro de Estudos Budistas Bodisatva – Brasília e Alto Paraíso entre os dias 17 a 21 de dezembro receberá o Lama Padma Santem para aprofundamento dos estudos do budismo no tema ensinamentos para tempos desafiadores. Lama Padma Samten é físico, é bacharel e mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alfredo Aveline foi professor de 1969 a 1994. Neste período, dedicou-se especialmente ao exame da física quântica, teoria na qual encontrou afinidade com o pensamento budista. No início dos anos 80, intensificou seu interesse pelo budismo e em 1996 foi ordenado lama pelo mestre tibetano Chagdud Tulku Rinpoche, título que significa líder, sacerdote e professor. É o primeiro brasileiro ordenado lama pela linhagem nyngma do budismo tibetano.