ESTUDO SOBRE O LIVRO DE JONAS Autoria e datação
Sempre é questão complexa determinar a autoria de um livro bíblico por diversas razões e com o Livro de Jonas não é diferente. Primeiro, tenhamos em mente que ―originalmente, nenhum dos escritos trazia um título como tem hoje‖ 1, estes foram acrescentados posteriormente ao texto no intuito de facilitar a referência. r eferência. Sendo assim, o título ―Livro de Jonas‖, não é uma assinatura do autor, mas apenas uma forma de classificação. Poucos são os livros bíblicos que trazem no nome de seu autor, como por exemplo, algumas cartas de Paulo ou o Livro do Eclesiástico, assinado por Jesus Ben Sirácida. Este não é o caso do Livro que estamos analisando. Por outro lado, alguns escritos bíblicos foram intitulados com o nome do personagem principal da narrativa: Samuel, Rute, Jó; é também a situação de Jonas. Ao analisar a narrativa escriturística, tomamos conhecimento, logo no seu primeiro versículo, que que ―a Palavra de Deus foi dirigida a Jonas, Jonas, filho de Amati‖ (Jn 1,1). 1,1). Segundo o Livro dos Reis (2Rs 14,25). Existiu um profeta com esse nome no tempo do rei Jeroboão II (795-753 a.C.), natural de Gat-Ofer 2. Teria sido este o autor do Livro? Difícil saber. Os indícios não são favoráveis. O fato de um profeta homônimo ter vivido durante o domínio babilônico, não significa que o escrito seja daquela época 3. Sabemos que antes de ter sido escrita, a Bíblia foi transmitida oralmente durante muito tempo, em alguns casos, até séculos, até ser registrada em papiro ou pergaminho. O texto que temos em mão foi redigido em que época? É bastante comum datar a redação do livro de Jonas no período pós-exílico. Entretanto, alguns estudiosos a situam no século V, como reação ao nacionalismo exagerado de Esdras e Neemias, enquanto outros a situam mais tarde, alegando que elementos folclóricos nela presentes só se difundiram depois da campanha de Alexandre Magno. É certo que a redação teve termo antes do ano 200 a. C., uma vez que nessa época já integrava o conjunto dos Doze Profetas Menores 4. Há, na verdade, muitos indícios que levam alguns estudiosos a datarem o Livro de Jonas durante o período Persa. Citemos três três argumentos argumentos bastante fortes 5: A linguagem é recente, possui várias passagens de origem aramaica, língua oficial do comércio na época Persa, por exemplo, a palavra ―marinheiro‖ (Jn 1,5.10) 6 e a expressão ―Deus do céu‖ típica desse período (cf. Esd 1,2; 5,11; 7,12; Ne 1,4.5; 2,4; Dn 2,18). Erros de história e geografia indicam que o autor de Jonas não era contemporâneo de Jeroboão II, rei de Israel no período de dominação da Assíria. Pois, nessa época, a cidade de Nínive não era muito importante (o que só acontece sob Senaqueribe, séc. VIII VI II a.C.) e não se chamaria seu governante de ―rei de Nínive‖ (Jn 3,6), 3,6), mas ―rei da Assíria‖. Somado a isso, temos uma imprecisão geográfica: se o profeta Jonas é de Gat-Ofer (na Galiléia) seria mais fácil pegar um navio nos portos de Tiro ou Aco do que em Jope – isso é um indicativo de que o autor não conhecia a região. O Livro de Jonas faz alusões a passagens de Jeremias (Jr 18,7s; cf. Jn 3,9s) e Joel (Jl 2,13b-14a; cf. Jn 3,9a), escritos datados, com grande possibilidade de certeza, do séc. IV a.C. Então, se é pouco provável não ter sido o profeta Jonas da época de Jeroboão II o autor do Livro em questão, quem teria escrito o Livro de Jonas? J onas?
Sem nos alongarmos muito no assunto, pois a abordaremos em outras postagens,, façamos algumas observações postagens observações acerca da questão. Quem seria o autor de uma obra? Aquele que viveu a experiência? Aquele que primeiro a relatou oralmente? oralmente? Ou só aquele aquele que a colocou colocou por escrito? escrito? Consideremos que o ―processo de atribuição de autoria [no mundo bíblico] não segue as normas de nosso mundo moderno‖7. Era comum usar-se de um artifício chamado pseudonímia, ou seja, atribui-se determinada obra a um personagem importante do passado para lhe prestar homenagem e, ao mesmo tempo, fazer com que o escrito tenha maior aceitação. ―Usar o nome de outra pessoa como de um autor de um texto é uma maneira de dizer que o conteúdo reflete a maneira de pensar da pessoa escolhida, ou foi escrito por inspiração das lições que essa pessoa deixou‖ 8. Os leitores de Jonas conheciam as histórias do profeta do tempo de Jeroboão II através do que os antepassados contavam oralmente, assim alusão a tal personagem do passado pode servir de aproximação: as semelhanças do protagonista da obra literária com o personagem personagem histórico levam a refletir sobre as atitudes ultra-nacionalistas que se vinha tomando na época em que o texto foi redigido. Outro costume dos tempos bíblicos é que alguns escritos eram obras não de um autor específico, mas de uma ―escola literária‖, ou seja, um grupo ou correntes teológicas, formado por discípulos ao redor de um mestre, em geral, um profeta, sacerdotes ou sábios. Esse parece ter sido o caso do Livro de Jonas também. Feitas essas observações sobre a mentalidade do Povo da Bíblia, abordemos agora a questão da autoria de outra forma. As ciências literárias distinguem a existência do chamado autor intelectual e do autor literário. Ainda, no estudo bíblico, é comum referir-se ao autor real e ao autor implícito9. Autor intelectual seria aquele que produziu a obra, incluindo quem a vivenciou na origem (ou refletiu sobre o evento) e todos aqueles que intervieram em sua transmissão oral, podendo ou não ser um autor literário. Seria o ―autor real‖ do texto, que, no caso, específico do Livro de Jonas, não podemos determinar com exatidão. Já o autor literário é justamente aquele que pôs em escrito a história oral, o escritor, que, aliás, podem ter sido vários, dependendo se a obra teve mais de uma edição (seriam os editores ou redatores), como parece ser o caso do Livro de Jonas. Alguns estudiosos, mostram que em determinadas passagens passagens Deus é denominado Javé e em outras Elohim (Deus), o que pode ―remontar a dois jeitos diferentes de contar a história, que foram juntadas pelo autor [literário] [literário ] para formar a atual narrativa‖ 10. Muitos afirmam também que a oração de Jonas no interior do grande peixe (Jn 2,3-10) foi um acréscimo posterior, pois se trata de uma poema que quebra a narrativa em prosa, um salmo de agradecimento que parece um tanto deslocada de seu contexto (já que Jonas está correndo risco de morte) e o próprio personagem retratado em sua oração parece não corresponder corresponder ao comportamento que que adquire durante durante toda a narrativa 11. O autor literário pode se servir de outras fontes, documentos, tradições orais, as quais ele seleciona, ordena, adapta ao seu estilo e objetivos. A análise do Livro de Jonas nos revela o uso de um conto não-israelita, de cunho bastante difundido em sua época (a história do grande peixe ou monstro marinho) e muitas tradições bíblicas, tais como Jr 13,4.6; 18,7s; Jl 2,13b.14a.; 1Rs 17,9; 19,4; Am 3,8. A obra final, portanto, fica com a ―cara‖ do(s) redator(es), por isso, se diz que ele é o autor implícito, ou seja, mediante, uma leitura atenta e refletida sobre o texto, pode-se perceber o contexto social, cultural, político no qual ele escreve, bem como suas convicções, temperamento e tendências. Foi assim que os estudiosos chegaram a datação do Livro de Jonas como fruto do período Persa e não de outro qualquer.
O autor implícito podemos identificar um pouco melhor do que o autor real com base no que conhecemos da história na época e do que lemos no texto. Jonas não parece ter saído do ciclo dos profetas, visto que é escrito em prosa ao passo que aqueles escreviam em verso, o Livro também não apresenta oráculos e, ainda por cima, satiriza o comportamento do personagem principal. Também não observamos traços da tradição sacerdotal: preocupação com a pureza, ritos, com o Templo, genealogias, nacionalismo etc. Contudo, outro grupo também era responsável pelo ensino naquela época: os sábios (Pr 5,13; 13,14; Jó e.o.). No seio dessa ―escola‖ surgem escritos de resistência e questionamento às teologias existentes: Rute protesta contra a discriminação da mulher estrangeira; Jó contra contra a ―teologia da retribuição‖; Cântico dos Cânticos proclama a autonomia e a liberdade da mulher na escolha do amado. Assim, ―Jonas, de certa forma, é um protesto contra Esdras, que aprisiona a Palavra de Deus e quer determinar os destinatários da salvação: os puros, aos quais pertence apenas o povo eleito e escolhido por Deus‖12. Do autor literário podemos dizer que ―ele tem conhecimento de tradições não israelitas, como a que subjaz à história do grande peixe. Parece ter contato com nãoisraelitas, pois constantemente os compara com o seu protagonista. Talvez tenha de lidar li dar profissionalmente com não-israelitas ou, então, viva numa cidade onde a maioria da população não seja israelita. Poder-se-ia pensar numa cidade portuária da Palestina, onde vivia gente de diversas nacionalidades. Em todo caso, o autor parece ter tido boas experiências com estrangeiros, pois os vê com simpatia. Além de contato com pessoas de outra procedência e outra religião, o autor tem boa capacidade de observação e bom conhecimento conhecimento teológico‖13. Em outras postagens, veremos outras características do autor e sua obra.
Gênero literário do Livro de Jonas
Diz a Constituição Dogmática Dei Verbum, redigida em 1965, que ―para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem-se ter em conta, entre outras coisas, também os gêneros literários‖ (DV,12). Por ―gênero literário‖ literário‖ entende-se o modo pelo qual uma determinada mensagem é escrita. A distinção mais básica que se faz é entre prosa (texto escrito em linha reta, organizados em frases e parágrafos) e verso (em forma de poema). Um livro pode agrupar os dois tipos: em geral, fala-se fala- se de ―gênero‖ ao se referir à obra como um todo e ―forma literária‖ aos trechos dela – assim, assim, em Jonas temos a maior parte escrita em prosa, porém Jn 2,3-10 está em verso. A importância de se distinguir o gênero literário (e a forma) reside no fato de que cada tipo tem uma estrutura própria, uma linguagem específica e atende melhor a intenção para qual o texto foi criado. Assim, quando vemos um filme, por exemplo, facilmente sabemos dizer se se trata de um terror ou de uma comédia e que sua função é provocar reações específicas no público (espanto ou riso). Do mesmo modo, quando lemos um jornal, logo identificamos se aquilo é um anúncio ou uma reportagem. E por que isso é importante? Para não confundirmos a intenção do autor e compreendermos melhor sua mensagem; desse modo, não incorremos em erros de interpretação, julgando que um trecho é, por exemplo, histórico quando na verdade pode ser apenas uma metáfora, uma licença poética ou uma ficção fantástica. f antástica. Por não compreender isso, tivemos várias tendências diferentes no que se refere à história da interpretação do Livro de Jonas: alguns consideravam que tudo ali era histórico, inclusive a parte do grande peixe (Jn 2,1.11); outra corrente, bem mais antiga, vê este escrito como profético; na época cristã, Jonas era interpretado como alegoria ou como imagem cristológica; mais modernamente, há pesquisadores que o vêem como uma parábola ou fazem uma leitura l eitura psicanalística de seu enredo. *** I) O Livro de Jonas sempre foi, de alguma forma, objeto de lutas entre racionalistas e fundamentalistas, estes querem provar a todo custo que a historicidade dos eventos ali contidos, enquanto aqueles a negam a todo custo. Conta-se que certo professor de teologia, no séc. XVIII, perdeu seu direito de lecionar e fora obrigado a pagar multa por ter afirmado que a narrativa de Jonas não era um registro histórico 14 pior que ele estava estava certo! Quais são os argumentos que levaram muitos a classificarem o Livro de Jonas como histórico? a) A menção a lugares e povos conhecidos da História, como Nínive e os seus habitantes. Essa cidade foi a capital da Assíria até 612 a.C., quando fora destruída. Muitos duvidavam de sua existência até que suas ruínas foram descobertas nas escavações arqueológicas realizadas por Austen H. Layard entre 1845 e 1857 15. b) Os partidários da historicidade de Jonas apontam supostas evidências arqueológicas: um cômoro que cobre 1.618 ares, e tem 33 m de altura encontrado nas ruínas de Nínive, traz a inscrição ―Yunas‖, o que levou alguns arqueólogos a acreditarem que se tratava do local onde o profeta fora enterrado. Adicionalmente, foram desenterradas algumas moedas antigas, com a inscrição de um homem saindo da boca de um peixe 16. E, muito embora, não haja registro do arrependimento dos ninivitas nas inscrições assírias, acreditam que o fato de Israel ter recobrado território perdido (como afirma 2Rs 14:25) seria evidência que a influência de Jonas em Nínive foi profunda17. No que toca às às referências históricas históricas à figura de Jonas, aponta-se aponta-se três registros:
O primeiro é a referência à atividade profética de um certo Jonas ben Amati em um livro l ivro histórico da Bíblia Hebraica (2Rs 14,25; compare com Jn 1,1), durante o reinado de Jeroboão II (782-753 a.C.) o qual alguns supõe ter sido o mesmo personagem do Livro homônimo18. Em outra passagem das Escrituras, Jesus cita Jonas no ventre do grande peixe como “sinal” da ressurreição (Mt 12,40 s), portanto, alguns entendem que se a história da experiência de Jonas no ventre do grande peixe fosse apenas uma ficção, isso não daria respaldo profético a declaração de Jesus sobre a sua Ressurreição19. Por fim, um pouco menos usual, cita-se o historiador judeu Flávio Josefo (séc. I d.C.) que, em sua História dos Hebreus, escreveu sobre Jonas: “diz-se “diz-se que uma baleia o engoliu: e depois de ter passado três dias em seu ventre, ela o restituiu vivo e sem ferimento algum à praia do Ponto Euxino onde, depois de ter pedido perdão a Deus, ele foi a Nínive, e anunciou ao povo que ele perderia bem depressa o império da Ásia”20.
Como contra-argumento à historicidade do Livro de Jonas, os racionalistas citam: a ausência de referências extra-bíblicas sobre o profeta nos arquivos assírios 21; o fato de se falar em ―Rei de Nínive‖ e não ―rei da Assíria‖ 22; evidências lingüísticas de que, quando o texto fora escrito, Nínive já não mais existia; contradições de ordem geográficas, como o tamanho exageradamente grande dessa cidade 23; e, por fim, os elementos sobrenaturais do enredo (a baleia, a tempestade acalmada imediatamente, a mamoneira que cresce rapidamente) 24. Diante de tudo isso, percebemos que a compreensão do gênero também impacta na forma de encarar a questão da verdade (ou veracidade) da Bíblia. Identificando o gênero literário correto do texto, podemos aceitar facilmente que ―alegoria, mito, simbolismo, metáfora, parábola, poesia, não configuram linguagem mentirosa: são formas peculiares, muito eficientes, com regras internas próprias, de expressar verdades que ultrapassam a linguagem objetiva‖ (CNBB, Crescer na Leitura da Bíblia, 67). Por outro lado, dizer que o Livro de Jonas não é histórico, não implica dizer que não contenha história em sentido algum, visto que o conceito de história das épocas bíblicas era diferente do nosso. II) Outra tendência com relação ao gênero literário de Jonas é classificá-lo como profético, o que parece está apoiada, quase que exclusivamente, na citação de 2Rs 14,25, a qual coloca a atividade profética de Jonas ben Amati durante o reinado de Jeroboão (787-747 a.C.), portanto, contemporâneo de Amós (750 a.C.) e Miquéias (733712 a.C.). Não sabemos o porquê de o livro ter sido colocado, no cânon judaico-cristão, logo após Abdias – Abdias – talvez, talvez, a fim f im de reforçar a semelhança temática de ambos: o anúncio às nações pagãs (Ab 1,1). O fato é que o Livro de Jonas não se parece em nada com os outros livros proféticos: não há oráculos (exceto Jn 3,4b) e é escrito em prosa (enquanto os profetas escreviam em verso). Inclusive, o autor parece satirizar a atitude dos profetas através de um personagem que se nega a obedecer a voz de Deus. Ao longo da história de interpretação do Livro de Jonas, surgiram várias outras formas de identificar o gênero literário dessa obra:
III) Os Padres da Igreja (séc. II-V d.C), interpretavam o Livro como alegoria 25, tentando transferir todos o relato para o plano da realidade: Nínive seria o símbolo do mundo gentio; Jonas seria Israel em sua recusa para cumprir sua tarefa missionária; o grande peixe representaria o exílio; a segunda ordem de partida para Nínive seria a confirmação da mesma missão para Israel; o mal-estar de Jonas seria aquele do Povo de Deus, que não aceita o perdão dos gentios 26. IV) Ao lado dessa explicação, também percebe-se a tendência de uma explicação cristológica 27 do Livro de Jonas, sobretudo, a permanência de Jonas no ventre do peixe pode ser considerada como tipo de descida de Cristo ao seio da terra (cf. Mt 12,38-42). Com algum esforço pode-se também relacionar o enfrentamento de Jonas com os ninivitas com o enfrentamento de Jesus com seus contemporâneos 28. V) Muitos comentaristas, atualmente, consideram o livro de Jonas como parábola, renunciando a estabelecer qualquer tipo de paralelismo entre ele e a história de Israel e limitando-se a considerar o relato como uma excelente narração com fins didáticos. Ainda assim estes comentaristas também não chegam a um acordo quanto ao objetivo do livro. O que Jonas pretende ensinar? Uns afirmam que seria a relação entre eleição e universalismo. Outros, a atitude que Israel deve ter ante os povos gentios. Para outros o livro tenta justificar a Deus, que não cumpriu as antigas ameaças contra Nínive. Outros ainda vêem como chave do relato as relações entre o profeta e Deus, enquanto outros veem o chamado à conversão ou à atividade missionária 29. VI) No Judaísmo, o Livro de Jonas é lido solenemente na tarde do Yom Kippur (o dia da expiação), devido a disposição de Deus em perdoar os pecados daqueles que se arrependem 30. VII) Tornou-se comum em nossos dias uma abordagem psicológica e/ou psicanalística do Livro de Jonas. O protagonista da trama bíblica seria um arquétipo do herói (comum a várias culturas) que é engolido por um monstro e que depois ressurge mais vigoroso e amadurecido. Entretanto, devemos observar que Jonas está mais para anti-herói: seu sacrifício não redime ninguém, parece um ato de auto-exclusão, quase um suicídio. Além do mais, ao sair do ventre da ―baleia‖, não há indícios de amadurecimento em suas atitudes como pressupõe essa tendência 31. Então, qual seria o gênero literário do Livro de Jonas? O avanço dos estudos ligados à literatura bíblica e da antiguidade oriental nos mostram que existem muitos sub-gêneros literários na Sagrada Escritura, alguns bastante conhecidos por nós atualmente, outros totalmente desconhecidos de nossa cultura atual. Como bem frisou o papa Pio XII, em sua encíclica Divino Afflante Spiritu, de 1943, ―os antigos orientais, para exprimir os seus conceitos, nem sempre usaram das formas ou gêneros de dizer que nós hoje usamos; mas sim daqueles que estavam em uso entre os seus contemporâneos e conterrâneo‖ (n. 20). Assim, chegou-se a conclusão que não é possível uma definição rígida do gênero literário do Livro de Jonas, pois este é constituído por diversas formas ou sub-gêneros 32: a) Novela.
A novela ou conto popular é a narrativa, oral ou escrita, que livremente mistura a fantasia e a realidade. Este gênero tem o objetivo de divertir, instruir e formar nos leitores determinados valores. O livro de Jonas apresenta diversos
motivos populares presentes numa novela, entre os quais citamos a desobediência do profeta, a tempestade, o mar, a presença de um peixe que o engole o vomita intacto depois de três dias, o aparecimento do rei, a proclamação de um decreto, o jejum de pessoas e animais, o crescimento miraculoso de uma planta, o surgimento de um verme. Este gênero mistura ficção e realidade. Por exemplo, encontramos a referência a um profeta Jonas em 2Rs 14,25 e a cidades históricas como Jope, Társis e Nínive. b) Parábola.
É um gênero muito presente na literatura judaica e cristã. Numa parábola, a história é construída a partir da realidade com o objetivo de apresentar um ensinamento para a audiência. É uma história que aguça a curiosidade de quem ouve ou lê (Jz 9,8-15; 2Sm 12,1-14; Is 5,1-6). Em geral, a parábola traz uma explicação da comparação e isto não acontece no livro de Jonas. O que aparece desse gênero literário em Jonas é a presença dos elementos da surpresa e do exagero – a ida do profeta a uma terra estrangeira para pregar contra a nação, a violenta tempestade, o peixe miraculoso e a grande planta -, que também são características da novela ou conto popular. Comparase o Livro de Jonas com as parábolas do filho pródigo (Lc 15,32) e do jovem rico (Mt 19,16-30). c) Sátira. Trata-se de um tipo de
literatura que usa a ironia, o ridículo, o juízo e ataques para atingir um alvo específico. O próprio Jonas com o seu comportamento é o alvo de ataque. O nome Jonas, filho de Amitai, significa ―pomba, filha da verdade‖. Mas a história mostra o contrário: Jonas não voa, mas desce (1,3.5). Um profeta infiel. Toma um caminho oposto ao ordenado por Javé: embarca para Társis, no oeste, em vez de Nínive, no leste. Outra forma de ridicularizar Jonas é apresentá-lo dormindo no porão, enquanto os marinheiros trabalham para sobreviver à tempestade (1,5). d) Midraxe33.
É um tipo de literatura, oral ou escrita, que explica uma passagem bíblica. O livro de Jonas contém elementos próprios do midraxe. Logo no início, o narrador descreve a fuga de Jonas para Társis e somente em 4,2 é que Jonas apresenta o motivo de seu comportamento: ―Por isso fugi apressadamente para Társis; pois eu sabia que tu és um Deus de piedade e de ternura, lento para a ira, e rico em amor e que se arrepende do mal‖. Jonas prefere a morte, mas a graça de Deus não permite que ele pereça. A última palavra é a compaixão de Deus (4,11). A narrativa de Jonas pode ser vista como um comentário de Ex 34,6-7, que expressa a fé do povo de judeu em um Deus de misericórdia e de compaixão. e) Salmo. Jonas 2,2-10 é um salmo, um texto litúrgico, trata-se de uma ação de graças. É um salmo que se canta ou entoa em sinal de agradecimento depois de alguém ter sido salvo por Deus em uma situação aflitiva de miséria, dor, perigo, doença, perseguição. Há diversos salmos desse tipo na Bíblia (Sl 30; 32; 107; 116). Tal oração era feita na reunião da comunidade (Sl 26,12; 40,9s), geralmente em combinação com algum sacrifício de gratidão: em Jn 2,10 lembra-se o voto feito de agradecimento por meio do canto e do sacrifício; em Jn 2,3a.8a.9.10b indica a presença da comunidade 34.
Texto, contexto e pré-texto do Livro de Jonas
O ser humano não pode ser considerado como algo isolado. Ele está inserido em um ambiente maior, cuja influencia se sente em diversos graus. História, política, economia, religião, cultura etc. são fatores que nos formam como pessoas, moldam nosso comportamento, a maneira como pensamos e nos relacionarmos com os outros e com o ambiente que nos cerca. Donde se depreende que uma obra literária não pode ser encarada como desconexa do contexto que a gerou, pois o reflete de algum modo, mesmo que indiretamente. O texto funciona ―como um espelho, no sentido de que ele estabelece certa imagem do mundo – o ‗mundo do relato‘ – que exerce sua influência sobre a maneira de ver do leitor e o leva a adotar certos valores em vez de outros‖ (Interpretação da Bíblia na Igreja, B,2). Se de fato, Jonas é escrito com elementos de um conto novelesco 35, deve-se admitir que existem pontos extraídos da realidade a qual os leitores da época conheciam, ou seja, são alusões à história vivida. Para determinarmos esse contexto é necessário nos familiarizarmos com o momento histórico e cultural da época. Como descobri-lo? Os estudiosos falam da análise das evidências intrínsecas e das evidências externas do texto 36. As primeiras se baseiam no exame do conteúdo: estudo da linguagem, do estilo, dos dados históricos e geográficos apontados, da doutrina etc. A segunda classe de indícios nos remete à correspondência do que é mencionado no livro com aquilo que conhecemos sobre a época: dados históricos, documentos, monumentos, evidências arqueológicas etc. Através dos estudos lingüísticos, das expressões usadas no Livro de Jonas, chegou-se a conclusão de que tal escrito remete à época de domínio persa (538-333 a.C.)37, apesar de o texto se referir constantemente a Nínive, capital do império Assírio, responsáveis pela destruição do reino de Israel em 722 a.C. Então, uma coisa é o contexto histórico real de Jonas (época persa) e outra diferente é o contexto aludido em sua obra, o ―mundo do relato‖: usa-se Nínive porque é uma imagem que ainda está viva na lembrança dos ouvintes e, por isso, causará grande impacto; ela atende melhor a intenção do autor do que o Império Persa. Temos que frisar também que o texto de Jonas foi escrito para atender alguma necessidade imediata daqueles ouvintes, ou seja, teve um pré-texto, um motivo específico geratriz, o qual os estudiosos denominam de situação vital , ambiente vital ou, na expressão alemã, Sitz im Leben que nada mais é do que identificar ―as circunstâncias e fatores concretos que ocasionaram a reação do indivíduo, que o moveram a dizer o que disse ou a escrevê-lo. É aquela situação que, no caso em que não tivesse acontecido, não se teria falado ou escrito‖38. Sobre isso falaremos em outra postagem. O macro-contexto histórico de Jonas
Inicialmente trataremos do contexto mais amplo (hístória, política, cultura e religião) para, em seguida, abordarmos o pré-texto de Jonas. Jonas é um escrito do pós-exílio (séc. VI a.C. – IV a.C.), embora, ainda persista a dificuldade na datação exata 39. Contudo, as tensões desse período são basicamente as mesmas. O que acontecia nessa época? Tracemos um esboço das linhas gerais. Para isso, precisamos voltar um pouco no tempo. Durante o séc. VII a.C., o império babilônico dominava a região palestina. Em Judá, o rei Joaquim (600-597 a.C.) lhes pagava tributos até que ele se rebela. Em 597 a.C., o rei da Babilônia, Nabucodonosor, sitia a cidade de Jerusalém por três meses e deporta o rei e a rainha, junto com os cidadãos mais importantes para a capital do
império (cf. 2Rs 24,8-17; 2Cr 36,9s). No trono, Nabucodonosor instala, como regente, Sedecias, tio de Joaquim, entretanto, devido às pressões de grupos anti-babilônicos, o novo rei de Judá faz alianças com o Egito, Tiro e Sídon a fim de reunir aliados para combater o império opressor. Nabucodonosor, no entanto, reage imediatamente: em 588 a.C., sitia Jerusalém novamente. No ano seguinte, rompe o muro da cidade. Mas, Sedecias, com seus altos funcionários, consegue escapar à noite. O grupo fugitivo é capturado. Os filhos do rei de Judá são executados em sua presença. Depois de lhes vazarem os olhos e o levam para morrer numa prisão da Babilônia. Os muros da cidade de Jerusalém são derrubados, o Templo e as construções queimados e os vasos sagrados saqueados. Parte da população foi deportada para a Babilônia e com isso o reino de Judá chega ao fim40. Somente os grandes do país foram exilados: líderes políticos, sacerdotais e intelectuais. Viviam em colônias especiais e não tiveram vida excessivamente dura, havia, inclusive, oportunidade de melhorias econômicas 41. Situação diferente viveu quem permaneceu em Judá: milhares devem ter morrido pela espada ou de inanição e doença outros fugiram para o Egito 42. Com o tempo, porém, o império Babilônico começou a ruir: conflitos internos, disputas pelo poder, ingerência foram algumas das razões. Até que no ano de 538 a.C., o rei da Pérsia (povo situado no atual Irã), Ciro, o Grande, tomou a Babilônia e, logo no seu primeiro ano de reinado, fez publicar um decreto que autorizava a restauração da comunidade judaica, o retorno dos exilados, a devolução dos vasos sagrados que Nabucodonosor roubara e a liberação de fundos para a reconstrução do Templo em Jerusalém (Esd 1,1-4; 5,3ss), pondo fim a um período de quase sessenta anos de exílio. Houve vários planos de reconstrução: Sasabassar colocou os fundamentos do Templo (Esd 5,16), Zorobabel, Neemias, responsável pela reforma política, e Esdras, responsável pela reforma religiosa. Por sua atitude em favor dos judeus, nas Sagradas Escrituras, Ciro era louvado como ―ungido do Senhor‖ (Is 45,1) e ―enviado de Deus‖ (Esd 1,1-4). Existem diversas versões sobre a morte de Ciro, talvez, ele tenha morrido em combate. Sucedeu-lhe, seu filho, Cambises (530-522 a.C), responsável pela expansão das fronteiras do império até o Egito em 525 a.C. Porém, ele acaba se suicidando em uma de suas longas campanhas. Sua grande ausência causa grandes crises e ameaças à integridade do trono persa até que sob ao trono Dario I (521-486 a.C.) e contem as revoltas locais na Babilônia, em Elam, na Média etc. Alguns anos de lutas foram necessários para estabelecer a unidade do império. A partir daí Dario inicia a centralização do império: cria um sistema políticoadministrativo baseado em unidades autônomas (satrapias 43), uma unidade monetária (dárico44), uma eficiente rede de estradas baseado, um ágil sistema de correios 45, cria um exército organizado46, promove o comércio, desenvolve a agricultura e a construção de grandes obras e impulsiona o zoroastrismo, mas respeitando o culto dos povos subjugados. De modo geral, os persas eram mais tolerantes com as nações subordinadas que os babilônicos e assírios: ―suscitam a colaboração espontânea dos governantes locais em vez de imporem à força a soberania. Um sinal indicativo desse respeito é o uso da língua do povo dominado nas inscrições régias e na correspondência oficial. Os demais impérios impunham a própria língua. No império persa, os escritos oficiais apareciam em três línguas: presa, elamita e babilonês. Na Síria e Na Palestina, que não falavam essas línguas, os decretos e as inscrições vinham na língua aramaica, conhecida e falada na região‖47.
Durante os reinados de Dario e de seu filho, Xerxes (485-464 a.C.), ocorreram as chamadas Guerras Médicas, entre gregos e persas pela disputa das rotas do mediterrâneo e pelo domínio das colônias gregas da Ásia menor. Nessa disputa, o Império Persa foi derrotado. O fim da época persa se caracteriza pelo gradual enfraquecimento do poder central devido às longas guerras contra os gregos. Eles sofreram imensas perdas de pessoas e recursos. A saída encontrada era aumentar a carga tributária das colônias. Com o tempo, no entanto, essa situação se torna insuportável de modo a criar revolta nas províncias, sobretudo, no Egito e na Ásia Menor. A estrutura imperial começa a desmoronar. Junta-se a isso a vida cômoda e luxuriosa dos reis, isolados de seus súditos, as grandes proporções do império, as intrigas e tramas, as tragédias de sucessão e um exército decadente, grandemente dependente de mercenários. Tudo isso, criou um ambiente propício para que Alexandre, o Grande, da Macedônia conquistasse o Império Persa, em 334 a.C., após o assassinato de Dario III por um de seus sátrapas 48. *** O micro-contexto histórico de Jonas
Voltemos agora nosso olhar para como era a situação de Judá no pós-exílio. ―Diferentes grupos integravam a população de Judá no período persa: aqueles que ficaram na terra após a deportação de 587; os estrangeiros que se fixaram em Judá durante o exílio; os judeus que retornaram do exílio após o edito de Ciro; e os judeus que continuaram a morar na diáspora, mas mantinham contatos esporádicos com sua terra‖49. O grupo dos que voltaram era composto por diversas caravanas, dos quais dois nomes de lideranças se destacam: Sasabassar e Zorobabel. Os que vieram com o primeiro logo se frustraram, não conseguiram concluir as obras de reconstrução do Templo, apenas fixaram o altar (Esd 3). A segunda leva era formada por grande parte de judeus da classe sacerdotal (Esd 2; Ne 7), encontraram dificuldades para instalar-se nos territórios, em grande parte, ocupados por povos vizinhos estabelecidos em Judá 50. Iniciam-se conflitos entre judaítas e estrangeiros. Essa xenofobia dos judaítas se estendia também aos samaritanos. A história dessa rixa inicia-se com a cisão entre os Reinos de Israel (Norte) e Judá (Sul) após a morte do rei Salomão, no séc. X a.C. por razões de ordem econômica, religiosa e política (1Rs 12). Coisa nunca superada por Judá. Em 880 a.C., o rei do Norte Anri, instalou a capital do país na colina de Semer, dando-lhe o nome de Samaria, desde então, seus habitantes passaram a serem chamados de samaritanos. Com a queda de Israel pelos Assírios, em 721 a.C., o preconceito se agrava, visto que, para povoar a região, são trazidos povos de diversas províncias do império (1Rs 17,24), o que é visto pelo Sul com maus olhos: em sua perspectiva, os samaritanos miscigenaram-se a tal ponto que passaram a adorar outros deuses, não pertenciam mais a ―raça santa‖ . Entretanto, havia os que continuavam fiéis ao Senhor, mas que não eram reconhecidos como tais (2Rs 17,27-28). Tanto assim que os samaritanos quiseram ajudar na reconstrução do templo, mas não foram aceitos (Esd 4,1-5). Então, viram-se obrigados a afirmar sua autonomia religiosa, construindo um Templo no Monte Garizim, no séc. IV a.C., chegando ao rompimento total com o Sul por volta do ano 430 a.C 51. Pergunto: seriam os samaritanos os ninivitas descritos em Jonas? Se as primeiras tentativas de reconstrução não foram bem sucedidas, na segunda fase do período persa (455-333 a.C.) serão efetivadas de fato. Neemias é
enviado pelo novo rei, Artaxerxes I (465-424 a.C.), filho de Xerxes, a fim de realizar essa missão. Neemias encontrou dificuldades de ordem econômica e infidelidade às tradições religiosas. A situação de Judá era muito precária, pois estava mergulhada numa profunda crise, dividida entre ricos exploradores e pobres espoliados (Ne 1,1-5; 5,1-5.15). Havia um grande sincretismo religioso atribuído ao casamento com mulheres estrangeiras. As dificuldades externas, por sua vez, vinham, sobretudo, dos governadores dos países vizinhos que se opunham à reconstrução de Judá, como Sanabalat da Samaria (Ne 2,10.19; 3,33), Tobias de Amon (Ne 2,19; 3,35) e o árabe Gosem (Ne 2,19) 52. Tudo isso, contribuiu para aumentar o preconceito para com os estrangeiros. Apesar de tudo, protegendo militarmente a obra (Ne 4,10-17), Neemias consegue realizar sua missão de reconstruir o Templo. A Pérsia estava entrando em declínio, devido entre outros fatores, às Guerras Médicas. Precisava de recursos para administrar seu vasto império e pagar aos mercenários do exército. Uma das estratégias era o aumento da tributação, assim uma grave crise econômica assola a Judéia do séc. V, agregado a isso, tem-se a piora da qualidade da terra, a influência de fatores climáticos a prejudicarem as colheitas, crescimento demográfico, a divisão e a diminuição das terras por causa da herança 53. Lê-se em Ne 5,1-5: ―Levantou-se uma grande queixa entre os homens do povo e suas mulheres contra seus irmãos, os judeus. Uns diziam: ‗somos obrigados a penhorar nossos filhos e nossas filhas para receber trigo, para podermos comer e sobreviver‘. Outros diziam: ‗temos que empenhar nossos campos, vinhas e casas para receber trigo durante a penúria‘. Outros ainda diziam: ‗tivemos que tomar dinheiro emprestado, penhorando nossos campos e vinhas para pagar o tributo do rei; ora,
temos a mesma carne que nossos irmãos e nossos filhos são como os deles: no entanto, temos que entregar à escravidão nossos filhos e filhas; e há entre nossas filhas algumas que já são escravas! Não podemos fazer nada, porque nossos campos e nossas vinhas já pertencem a outros‘‖. Nesse trecho, observamos três grupos de queixosos: o primeiro grupo penhora seus filhos para receber alimentos (cf. Dt 15,12) – trata-se aqui da escravidão por dívidas que após ser pago o débito se adquiria a liberdade; o segundo é o daqueles que possuem campos, vinhas, casas e oliveiras e têm que empenhá-los numa situação de penúria – transfere-se ao credor o usufruto da terra que passa a ter direito aos produtos excedentes, ao dinheiro, ao trigo, ao vinho e ao óleo (Ne 5,11; Mq 2,1); e, por fim, o terceiro grupo que, por não ter pago os impostos, tem que vender seus filhos como escravos – esse endividamento tem como objetivo vender o judeu empobrecido ao estrangeiro, pois o comércio de escravos no Mediterrâneo está em pleno florescimento nessa época 54. Mais outro fator para aumentar o ódio entre judaítas e estrangeiros. O império Persa exigia pagamento em moeda. A Judéia, segundo o historiador grego, Heródoto, devia pagar a Pérsia o equivalente a 11.995 quilos de prata. Acontece que os moradores da Judéia não têm minas de prata 55. Como os camponeses pagariam os impostos sem ter moedas? ―Precisam, então, produzir um bom excedente agrícola para vendê-lo e conseguir moedas. Aqui entra o importante papel desempenhado pelo templo. Ele era o principal mediador nesse processo de remessa de dinheiro para o exterior. O campesinato pagava os impostos com produtos agropecuários que eram entregues ao templo. Os nobres tinham o controle sobre o fluxo de mercadorias e moedas. O templo passou a exercer a função de casa de câmbio, e centro comercial. Isso lhe oportunizou a acumulação de riquezas e poder‖ 56. Por isso, também o empenho dos persas na reconstrução: fazia parte da estratégia de arrecadação tributária.
O templo representava para os judeus do exílio um lugar central na tradição, era considerado o lugar da morada de Deus no meio do povo, o grande símbolo da identidade judaica. Com o tempo, porém, ele passou a ser um instrumento legitimador da exclusão, na qual o sacerdote-escriba Esdras desempenhará papel de grande relevância. A missão de Esdras era organizar a comunidade de Judá sobre a base da Lei de Deus (Esd 7,13s) e legitimar teologicamente as reformas culturais e religiosas decretadas por Neemias. A observância da Lei seria fundamental para a manutenção da identidade judaica, sem ela, talvez, os judeus não tivessem sobrevivido como povo. Contudo, sua aplicação rigorosa levou à exclusão de pessoas e grupos sociais. A teologia oficial, exercida pelo templo, enfatizava, dentre outros pontos, a teologia da retribuição, a observação dos rituais de purificação e a questão da pureza étnica. a) A teologia da retribuição. Era um dos eixos centrais da teologia oficial. Segundo essa visão, Deus retribuía a cada um conforme suas ações: aos cumpridores da Lei, o Senhor fazia justiça os abençoando através de riquezas, vida longa, saúde, descendência e honra. Para aqueles que não cumpriam a Lei, dizia-se que Deus castigava-os com pobreza, morte prematura, doença, esterilidade e desonra (cf. Dt 7,916). Essa teologia atendia aos interesses dos repatriados: a grande maioria do campesinato, que eles encontraram em Judá ao retornarem do exílio, vivia pobremente. Dentro da lógica da retribuição, eram amaldiçoados 57. b) Leis de purificação. Essa lei determinava quem estava mais próximo (puro) ou mais longe de Deus (impuro). Envolvia prescrições dietéticas, acerca das doenças, da vida sexual e do contato com os mortos. A observação minuciosa dessas prescrições legais exigia tempo e dinheiro para se purificar, garantindo a arrecadação regular do templo. Desse modo, reforçava-se também a teologia da retribuição. Os maiores prejudicados por esse legalismo rígido eram os pobres, que não tinha recursos para se purificarem, e as mulheres, que deveriam se purificar freqüentemente após o parto (Lv 12) e o período menstrual (Lv 15) 58. c) A pureza étnica 59. No intuito de preservar a identidade cultural, Esdras proíbe e ordena a dissolução dos casamentos mistos entre judeus e as mulheres estrangeiras, obrigando que as expulsassem, junto com seus filhos (Esd 9-10), alegandose que a comunidade era ―linhagem santa‖, escolhida por Deus (Esd 9,2). Sabemos que a tensão entre os judeus e os povos estrangeiros vem de longa data, estes sempre foram vistos como ameaças, principalmente, no que diz respeito à idolatria. A lei da pureza étnica levou a comunidade judaica a fechar-se cada vez mais sobre si mesma, cultivando o nacionalismo, o preconceito em relação às outras religiões e o etnocentrismo, ou seja, consideravam-se superiores às demais etnias. Por trás dessa questão étnica, havia também um interesse econômico: os judeus repatriados queriam reaver as antigas terras de seus antepassados, diziam que tinham direito a elas somente quem pudesse provar por listas genealógicas sua pertença ao povo eleito. Para isso, elaboraram longas listas genealógicas (1Cr 1-9). Como os camponeses pobres não podiam provar sua descendência pura, estando muitas vezes até casados com mulheres estrangeiras, essa lei legitimava a tomada da terra. Diante desse quadro histórico complexo, é que se insere o livro de Jonas, é o livro que critica de forma ―mais contundente à exclusão dos estrangeiros do projeto de Deus por parte dos repatriados. O livro de Jonas defende a tese de que todas as nações são povo de Deus e de que YHWH é Deus de todos os povos e não refém de nenhuma nação‖ 60.
Pré-texto do Livro de Jonas
A determinação das motivações que levaram o autor a redigir o texto é tarefa bastante difícil, entretanto, podemos fazer algumas perguntas ao Livro de Jonas que nos ajudarão a ter uma idéia de seu ―ambiente vital‖: quem toma iniciativa no enredo? Visando a quem? Em qual situação? De que modo? Quais as conseqüências? Quais as intenções do hagiógrafo? Ainda poderíamos acrescentar: a quem o texto pode servir? Em que contexto o escrito analisado pode ter sido composto e transmitido? Qual a função que ele pode ter no seio do grupo que o utiliza? 61 São perguntas que tentaremos responder aqui. No Livro de Jonas, temos quatro personagens que tomam iniciativa em ocasiões diferentes: a) Deus
Deus parece ser, de fato, personagem principal: Ele é quem chama a Jonas (Jn 1,1) porque percebeu a maldade dos ninivitas (Jn 1,2). Ele é quem manda a tempestade sobre o mar e o navio (Jn 1,4), envia o grande peixe para engolir o profeta (Jn 2,1) e, depois, ordena que vomite Jonas em terra firme (Jn 2,11). Dá nova ordem a Jonas (Jn 3,2). Responde às queixas de seu mensageiro (Jn 4,4), faz nascer a mamoneira (Jn 4,6) e a envia o verme (Jn 4,7). Por fim, dá uma lição de moral em Jonas (Jn 4,10s). Visando a quem? O objeto da ação de Deus no Livro de Jonas é o seu profeta teimoso: Ele quer chegar aos ninivitas, mas o quer fazer através da pregação de Jonas. No Livro de Jonas, Deus age porque a maldade dos ninivitas chegou até Ele (Jn 1,2), mas essa ação visa à conversão e não a condenação, como no decorrer da novela ficamos sabendo (Jn 4,10s; v.tb. 3,10;4,2s). Sua intervenção, na história, é feita através de elementos da natureza (tempestade, baleia, mamoneira, verme) e das pessoas (do imperfeito Jonas, dos marinheiros e do rei de Nínive). O agir de Deus, em Jonas, trás reações inesperadas: o profeta não lhe obedece e, quando ele decide executar sua missão, fica irritado com a conversão dos ninivitas e com o ―arrependimento‖ de Deus em destruir a cidade. Qual a intenção do autor? Talvez, mostrar que é impossível fugir de Deus: Jonas tentou ir para os confins do mundo conhecido (Társis) , desceu às ―raízes das montanhas‖ (Jn 2,7), mas Deus também ali estava (cf. Sl 139). Vem os que o Senhor chama seu profeta à ação, contudo não se trata de uma imposição: Jonas tem liberdade de fugir e se Deus aproveita disso para converter os marinheiros. A ação divina sobre a natureza (tempestade, baleia, mamoneira, verme) indica que Deus rege o universo, pois Ele é ―o Deus do céu, que fez o mar e a terra‖ (Jn 1,9) . Ao mesmo tempo, sua intervenção na vida dos outros depende da mediação do ser humano: dos marinheiros na vida de Jonas, de Jonas na vida dos ninivitas, do rei em relação aos seus súditos; pareceme um chamado à responsabilidade ao cuidado com o próximo – se este não conhece a Deus, o crente tem o dever de ensiná-lo. O autor de Jonas mostra que Deus, não está circunscrito à Judá e seu Templo: é Deus também para os pagãos; não só ―vê sua maldade‖ (Jn 1,2), mas observa sua conversão de conduta e se arrepende de sua ameaça
(Jn 3,10). Por fim, parece que se intenciona abordar o tema da misericórdia divina como sendo maior do que sua justiça: Deus não é manipulado pelo desejo de vingança dos homens! b) Os marinheiros
Outros personagens que aparecem na narrativa são os marinheiros (Jn 1,5-16). São eles que tomam a iniciativa de rezar a suas divindades a fim de acalmar a tempestade e procuram aliviar a carga da embarcação (Jn 1,5). O capitão é quem acorda a Jonas para fazer parte nos esforços coletivos (Jn 1,6). Também são eles que tiram a sorte no intuito de encontrar o culpado (Jn 1,7) e oferecem um julgamento justo a Jonas (Jn 1,8). Indagam buscando respostas (Jn 1,8-11). Por fim, ofertam sacrifícios (Jn 1,16). A pró-atividade dos marinheiros os salva da morte e cumpre, indiretamente, os planos de Deus para Jonas e para os ninivitas. Poder-se-ia argumentar que a atitude dos marinheiros tem um cunho auto preservacionista, no entanto, visa também interpelar o profeta: ―o que faz aí?‖ pergunta o capitão (Jn 1,6). O contraste entre a ação dos pagãos e a inação do servo de Deus serve para levantar uma reflexão nos leitores: o que você faz aí? Qual a sua atitude? A dos marinheiros ou a de Jonas? As perguntas dirigidas a Jonas pelos tripulantes podem simbolizar que as nações precisam do crente para chegar ao conhecimento de Deus. Ao mesmo tempo, o autor parece mostrar que independente da fé que se professa, de algum modo, nem que seja na situação de risco iminente de morte, o homem é um ser religioso e temente ao Criador: cada um rezava ao seu Deus e, por fim, ―temeram muito a Javé, oferecendo -lhe sacrifícios e fazendo votos‖ (Jn 1,16). Oferecem sacrifícios, sem serem sacerdotes, e o fazem longe do Templo: uma crítica ao ritualismo exagerado. c) O rei de Nínive
Outro personagem importante na trama é o rei de Nínive. Ao tomar conhecimento da mensagem de Jonas, mostra-se, sinceramente, arrependido e penitente (Jn3,6) e torna-se o principal ―evangelizador‖ do povo: decreta que todos devem fazer penitência, clamar a Deus e converter-se de sua má conduta (Jn 3,8). Não se trata de apenas de uma lei: o soberano não só publica, mas também anuncia aos ninivitas (Jn 3,7) – torna-se propagador. Não age apenas com palavras, mas também com gestos: ele é o primeiro a fazer penitência (Jn 3,6). Conseqüentemente, sua atitude e do povo faz com que Deus desista de levar a cabo sua tarefa (Jn 3,10). O autor parece querer contrastar a atitude do rei de Nínive com os soberanos do povo de Deus que muitas vezes exigem fardos pesados, mas não estão dispostos a cumpri-los (cf. Mt 23,4). Opõe também a atitude de Jonas, que deveria ser o grande divulgador da mensagem divina, mas não o faz. d) Jonas
O profeta parece, na verdade, como personagem secundário, passivo às ações dos outros, ou um anti-herói, antagonista a Deus, personagem principal. Sua atitude é de fuga: foge de Deus, isola-se no barco, foge de sua missão... Só toma iniciativa quando
interpelado pelos marinheiros e por Deus numa segunda ocasião. Diante do perigo iminente de naufrágio, apenas dorme (Jn 1,5). É preciso que o capitão o convide a tomar parte na situação (Jn 1,6) e é necessário ser interrogado para professar sua fé (Jn 1,9). Só dá solução quando lhe exigem solução (Jn 1,11s). Quando decide realizar a missão evangelizadora em Nínive, cidade que requer três dias de caminhada, só anda um dia, anunciando a desgraça (Jn 1,4) – não se fala em conversão, somente em ameaça! Mais uma vez o profeta se isola: retira-se da cidade e aguarda sua destruição. Por fim, fica irritado quando ela não acontece. Jonas é preguiçoso e mau-humorado, os estrangeiros proativos e religiosos. Mesmo a contra-gosto, o profeta que não queria cumprir sua missão acaba fazendo com que as pessoas se convertessem de suas atitudes, tanto os marinheiros quanto os ninivitas. Com as atitudes de Jonas, o autor parece querer satirizar o comportamento dos judeus, principalmente, da classe dos profetas e dos sacerdotes. Os primeiros pareciam inertes, acomodados como Jonas, diante da situação social de opressão que o povo vivia – a pergunta do capitão ao profeta pode ser um chamado a responsabilidade: ―o que você faz aí dormindo?‖ (Jn 1,6). Jonas representa todos que tem o dom profético, mas que se negam a exercê-lo, a correr o risco de crer em Deus. Por que Jonas se isola dos marinheiros no barco? Porque ele reflete a mentalidade judaica do puro e impuro: os pagãos, por não adorarem a Deus, são fonte de impureza. A recusa de Jonas a levar a mensagem de Deus à nação estrangeira reflete o nacionalismo extremado da classe sacerdotal e sua teologia da nação santa, do único povo escolhido. O fechamento da comunidade judaica do pós-exílio em si mesma, vê com maus olhos às práticas pagãs: Nínive é tida como nação má, entretanto, a atitude do povo diante da pregação do profeta não condiz com essa imagem. Critica-se em Jonas a teologia da retribuição, que ensinava que Deus paga o bem com prosperidade e bênção e o mal, com desgraças, maldição e vingança. Nínive representa o povo assírio que destruiu o reino do Norte em 721 a.C.: era natural, segundo essa lógica, que Deus se vingaria, faria ―justiça‖. Mas, no Livro de Jonas, Deus vê que os ninivitas se converteram de sua má conduta e desiste da destruição da cidade. Dentro da cultura do período pós-exílico, vivia-se um clima de xenofobia: temia-se que o estrangeiro, levasse o judeu à idolatria e assim a perder sua identidade. O Livro de Jonas parece propor outro caminho: por que não buscar converter os pagãos? Em que contexto o Livro de Jonas pode ter sido composto e transmitido?
Reflete, sem dúvida, o momento de tensão entre judaítas e estrangeiros no pósexílio. O sentimento de vingança para com as nações estrangeiras é histórico: Assíria (representada por Nínive) que destruiu o Reino do Norte, Babilônia que destruiu o Templo e levou a elite de Judá para o exílio; agora, os persas, começavam a oprimir Judá através de altos impostos. Temos também os samaritanos que romperam com o judaísmo oficial e construíram um templo no monte Garizim. Os estrangeiros também detêm parte das terras que antes eram ocupadas pela elite exilada. De onde os repatriados tirariam seu sustento agora? Inicia-se conflito pela
posse das propriedades. Muitos judeus eram vendidos como escravos aos estrangeiros por não terem como pagar suas dívidas. Além do mais, existia a ameaça da perda da identidade através da idolatria. Tudo isso, contribuiu para a construção do preconceito contra as nações vizinhas. Esdras e Neemias agiram de forma radical para preservar a identidade judaica: proíbem e ordenam a dissolução dos casamentos mistos entre judeus e as mulheres estrangeiras, obrigando que as expulsassem, junto com seus filhos (Esd 9-10). Mas nem todos concordavam com essa atitude. Havia um grupo de resistência popular que foi responsável pela redação de Livros como Rute, Jó e Jonas. ―Por trás de Jonas, certamente devemos situar também os grupos de resistência dos samaritanos e outros grupos étnicos que o Judaísmo pós- exílico foi discriminando cada vez mais‖ 62.
Se Jonas é um escrito pós-exílico por que se fala de Nínive?
Nínive era a capital do império Assírio, povo responsável pela queda do reino do Norte em 721 a.C. Muitos duvidavam da existência de Nínive até que ela foi descoberta nas escavações arqueológicas de Austen H. Layard realizadas entre 1845 e 1857. Seus montículos antigos estão localizados num nível da planície perto da confluência do rio Tigre e Khosr. É hoje uma imensa área de ruínas sobreposta em partes pelos novos subúrbios da cidade de Mosul, no estado de Ninawa do Iraque 63. A Nínive histórica é mencionada por volta do século 18 a. C. como um centro de adoração a Ishtar, cujo culto foi responsável pela antiga importância da cidade. Outros templos foram fundados posteriormente para Sin, Nergal, Shamash, e Nabu. Foi Senaqueribe, rei assírio, quem fez de Nínive uma verdadeira cidade magnificente (c. 700 a.C.): projetou estradas, construiu um magnífico palácio, grandes portões, muralhas, um sistema elaborado de canais e aquedutos. Entretanto, a grandeza de Nínive teve duração curta. Por volta do ano 633 a.C. o Segundo império Assírio começou a mostrar sinais de fraquezas, e Nínive foi atacada pelos medos e caiu em 612 a.C64. Por tanto, na época em que o Livro de Jonas foi escrito, não existia mais a capital assíria. Nínive é citada na Bíblia umas 38 vezes. Interessante notar que a maior parte dessas referências é em obras de cunho literário como Tobias (16 citações), Judite (3) e Jonas (8), indicando que a capital assíria havia sido incorporada ao imaginário do povo. Sua reputação na mente do povo da bíblia não era das melhores: os profetas Naum e Sofonias dirigem oráculos contra ela; Jonas fala de ―sua maldade‖ (Jn 1,2), Naum a caracteriza como ―cidade sanguinária, toda cheia de mentira, repleta de despojos, onde não cessa a rapina‖ (Na 3,1). A história confirma a ―crueldade‖ do império assírio 65: cidades eram arrasadas ou destruídas por meio do fogo e inundações, as cabeças dos cadáveres eram cortadas e amontoadas em pirâmide ou fincadas em seteiros; as vítimas eram esfoladas vivas, cegadas, empaladas ou sepultadas ainda com vida; outras eram mutiladas e deixadas ao sol para morrer lentamente; os assírios eram mestres em cortar seus inimigos em picadinhos ou passar o fio da espada na barriga dos mesmos, ―como se fossem carneiros‖, como dizia Assurbanipal (668-627 a.C.), rei assírio. O esfolamento consistia em pendurar a vítima numa espécie de cabide de madeira, pelas costas, e sua pele ir dilacerando com a ajuda da Lei da Gravidade. Além disso, havia também a introdução de estacas no ânus da vítima, quando o carrasco martelava as mesmas no local previamente lubrificado, empurrando os órgãos internos do infeliz um de encontro ao outro. A vítima agonizava durante dias. ―O próprio povo de Israel experimentou por diversas vezes a brutalidade, a violência e a opressão assírias. Os proprietários notáveis do Reino do Norte tiveram de desembolsar a quantia de mil talentos de prata aos cofres assírios como tributo, conforme 2Rs 15,19-20. Em 733 a.C., o Reino do Norte perdeu grande parte do seu território para a Assíria e em 722 foi incorporado no sistema assírio de províncias, perdendo totalmente a sua independência política. Parte da população foi deportada para longe da pátria. Uma nova elite dominante de fora foi implantada para governar os remanescentes do ex-Reino do Norte (2Rs 17). Vinte anos mais tarde, em 701, o rei assírio Senaquerib devastou também grande parte do Reino do Sul, Judá. A cidade de Jerusalém escapou, como que por milagres de ser conquistada pelo seu exército, mas provavelmente não escapou de pagar pesado tributo (2Rs 18-20)‖66.
Portanto, a Assíria era o símbolo perfeito para representar toda a ojeriza que os judeus tinham para com os estrangeiros e também para com os samaritanos. Porém, o autor de Jonas faz o contraste entre as atitudes dos pagãos piedosos e tementes a Deus e o profeta que se recusa a obedecer. Mais que isso, o Livro lança um grande desafio: se Deus perdoa os inimigos históricos do Povo, não seria um convite para que eles fizessem o mesmo? A obra é uma reflexão acerca da misericórdia de Deus, que alcança todas as nações, e uma crítica ao etnocentrismo da elite sacerdotal do período pósexílico.
O profeta relutante 1
A palavra de Javé foi dirigida a Jonas, filho de Amati, ordenando: 2 «Levante-se e vá a Nínive, a grande cidade, e anuncie aí que a maldade dela chegou até mim». 3 Jonas partiu, então, com intenção de escapar da presença de Javé, fugindo para Társis. Desceu até Jope e aí encontrou um navio de saída para Társis. Pagou a passagem e embarcou, a fim de ir com eles até Társis, para escapar assim da presença de Javé (Bíblia Edição Pastoral). Para nossa análise do Livro de Jonas, iremos trabalhar com oito traduções a a fim de compará-las. No âmbito católico, nos basearemos: na Bíblia do Perergrino (BP), de Alonso Schokel; na Bíblia Edição Pastoral (BEP), da Paulus; na Bíblia da CNBB e na Bíblia Ave-Maria (BAM). De domínio reformado: Almeida Revista e Atualizada (ARA); Almeida Revista e Corrigida (ARC); e Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Por fim, acrescentemos Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas (TNM), dos Testemunhas de Jeová. O Livro de Jonas inicia com a vocação profética. Na BP e na NTLH, o sujeito ativo da ação, aquele que toma a iniciativa é o ―Senhor‖ – seguindo o original hebraico (elohim) 67, nome que significa ―Deus‖ em termos genéricos; mas, que o grego traduz por Kírius, Senhor. Nas traduções CNBB, ARA, ARC e TNM o sujeito é a Palavra, que todos caracterizam ―do Senhor‖, a exceção da última que o denomina ―Jeová‖ 68. Por fim, a BEP e a BAM colocam a ―Palavra‖ na voz passiva: ―a palavra foi dirigida‖, que na BEP é especificada como sendo ―de Javé‖ – desse modo, enfatiza-se o Jonas que sofre a ação dessa Palavra divina que é dinâmica e tenta provocar reação. Deus é visto como alguém que se põe em diálogo com Jonas: ―dirigiu a Palavra‖ (BP) ou ―disse a Jonas‖ ( NTLH)69. Mas também se pode frisar que Ele é emissor que desce ao nível de seu interlocutor, respeitando sua limitação, um Ser que ―veio a Jonas‖ (CNBB, ARA, ARC, NTLH e TNM), um Deus que busca o encontro, que quer fazer parte da história humana... Literalmente, é uma palavra que ―acontece‖ 70: ―para o hebreu a palavra era mais que a expressão verbal do pensamento; ele considerava a palavra falada uma entidade dinâmica – ela está carregada de poder. Então, davar não significa apenas palavra, mas também coisa ou efeito; mais precisamente, o fundo de uma coisa e m que reside seu mais profundo significado‖ 71. A Palavra é compreendida através da experiência, da ação, ela é sempre relacional. A forma com que Deus se comunica com Jonas é a mesma com que faz com alguns de seus profetas: Jeremias (Jr 28,12), Oséias (Os 1,1), Joel (Jl 1,1), Miquéias (Mq 1,1), Sofonias (Sf 1,1). Que Jonas é profeta se depreende da informação a seguir: ―Jonas, filho de Amati‖ (Jn 1,1) que nos lembra do profeta natural da cidade galiléia de Gat-Ofer, que pregava durante o reinado de Jeroboão II (795-753 a.C.), segundo informações de 2Rs 14,25 72. Porém, não é certo que sejam o mesmo personagem, provavelmente o autor se refira a ele como representante do nacionalismo judeu 73. O nome Jonas significa ―pomba‖ e Amati significa ―verdade‖, ―fidelidade‖ . Jonas como ―filho da verdade‖, não condiz com seu comportamento, é antes ironia do autor 74. A pomba é símbolo de Israel (Os 7,11; 11,11; Sl 74,19), do Israel sem entendimento (Os 7,11) – que contrasta com os ninivitas (Jn 4,11). A pomba também representa a amada nos Cânticos (Ct 2,14; 4,1) e a mensageira de boas notícias durante o dilúvio (Gn 8,11). ―É possível que o autor quisesse que o personagem principal de seu
conto didático já encerrasse toda a mensagem de sua narração: Israel, povo amado, Filho do Deus Verdadeiro e Fiel, deveria ser mensageiro da boa- nova às nações‖ 75. Das traduções analisadas, apenas a Edição Pastoral afirma que essa ―Palavra de Javé‖ é uma palavra de ordem, as outras soam como convite, pois usam o verbo ―dizer‖. A BAM foca na relação contratual entre Deus e Jonas: ―a palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, filho de Amitai, nestes termos‖. A BP e a CNBB não se pronunciou no ―como‖ a palavra chegou a Jonas. Mas o que se segue é realmente uma ordem ―levanta -te e vai a Nínive, a grande 76 cidade‖ – concordam quase todas as traduções, exceto a ARA que traduz ―dispõe -te‖, e a NTLH, ―apronte-se‖ (mas o sentido é, basicamente o mesmo: deixar a situação de conforto e comodismo e partir para a ação em atenção à Palavra). O ―levanta -te e vai‖ também foi ordenado a Elias (1Rs 17,9;) e a Jeremias (Jr 13,4.9). Mas, ao contrário de outros profetas, Jonas não vai proclamar à distância, tem que se deslocar até a nação estrangeira, justamente aquela que foi responsável pelo fim do reino do Norte (reino do qual era natural o personagem Jonas descrito no Livro dos Reis!), a mesma Nínive que era capital do império mais temível da história, aquela que o profeta Naum chamou de ―sanguinária‖ (Na 3,1). Por que Deus ordena essa missão a Jonas? Três interpretações são possíveis a) Deus quer que Jonas vá até Nínive e ―proclame‖ (BP) ou ―anuncie‖ (BEP) que a maldade da cidade chegou até Ele. Ou seja, os habitantes da nação devem saber que Deus tem ciência da maldade que eles praticam: não há elemento condenatório aqui, apenas seria uma mensagem de exortação; b) Para a Bíblia da CNBB, Jonas é enviado aos ninivitas para ―denunciar suas injustiças‖: aqui o foco é a injustiça. O profeta deveria mostrar onde eles erraram. c) As demais traduções entendem que Jonas proferirá oráculos ―contra ela‖ porque a ―maldade‖ ( NTLH e TNM), a ―malícia‖ (ARA e ARC) e a ―iniqüidade‖ (BAM) chegou a Deus. Foi assim que Jonas entendeu que deveria fazer, na segunda vez: anunciava que, dentro de quarenta dias, a cidade seria destruída (Jn 3,4) porque Deus faria justiça/vingança. Perceba, porém, que em nenhum momento o Senhor faz esse vaticínio sobre Nínive! Talvez, faltasse a Jonas a compreensão da sua missão profética: ―o profeta não é variante israelita do adivinho, como de fato era amplamente considerado e como muitos falsos profetas se entenderam, mas que ele significa algo totalmente diferente: ele não está aí para comunicar acontecimentos de amanhã ou de depois de amanhã, e assim servir à curiosidade humana ou à humana necessidade de segurança. Ele nos mostra o rosto de Deus, e assim nos mostra o caminho que devemos seguir. O futuro de que se trata no seu ensinamento vai mais além do que se pergunta a um adivinho. Ele é indicação do caminho para o autêntico ‘êxodo’, o qual consiste em que, em todos os caminhos da história, deve ser procurado e encontrado o caminho para Deus como a autêntica direção. Profecia neste sentido está em estrita correspondência com a fé de Israel no Deus único , é a sua transposição para a vida
concreta de uma comunidade diante de Deus e orientada para Deus‖ 77.
Diante da ordem divina, Jonas parece que vai atender: ―se levanta‖ (BP, ARC e TNM), ―pôs-se a caminho‖ (BAM), ―se dispôs‖ (ARA), ―se aprontou‖ ( NTLH). O leitor, por um segundo, começa a admirar sua coragem: ele vai enfrentar os cruéis assírios em sua capital?!
Porém, em seguida, descobrimos que sua ação era, na verdade, de fuga: seu intuito era ―fugir do Senhor‖ (BAM e NTLH), de ―Jeová‖ (TNM), de sua ―presença‖ (BEP, CNBB e ARA), de sua ―Face‖ (ARC), ir para Társis ―para longe do Senhor‖ (BP) ―na direção contrária‖ ( NTLH). ―Társis talvez seja Tartessos, uma colônia fenícia situada na Espanha (cf. Sl 78 72,10)‖ : motivo pelo qual a NTLH substitui o termo pelo nome deste país. O nome da cidade significa ―refinaria‖ 79, possuía famosas embarcações (1Rs 10,22;22,49), fornecia metais a Tiro (Is23,1.10; Ez 27,12; 38,13). Geograficamente, Társis se situava no extremo oposto de Nínive, ―na direção contrária‖ conforme a versão da NTLH. Na mentalidade da época, poderia significar os limites do mundo conhecido, o mais longe que se podia chegar do Templo de Deus, sua Morada, em Jerusalém (cerca de 4 mil quilômetros!). Assim, quem sabe, Ele não possa alcançar o profeta, onde não é conhecido, adorado e invocado! O autor usa de ironia: ora, se Deus tomou conhecimento das ações dos ninivitas, não veria também as ações de seu profeta? Poderia se fugir do Senhor? Daquele que, o próprio Jonas professa, é ―Senhor do céu, que fez o mar e a terra firme‖ (Jn 1,9)? De fato, o Deus de Israel, não é preso a um santuário, como as outras divindades, Ele é o Deus de Abraão, Isaac e Jacó. ―Diante da tendência pagã ao numen locale, ou seja, à divindade determinada e limitada localmente, o Deus dos pais representa uma decisão completamente diferente. Ele não é o Deus de um lugar, mas o Deus de seres humanos (...) por isso mesmo não está ligado a um lugar, pois está presente e exerce seu poder em toda parte em que há seres humanos. Assim, chega-se a uma maneira totalmente diferente de pensar sobre Deus. Deus é visto no plano do eu e tu, não num plano espacial. Transportado para a transcendência do ilimitado, ele se mostra, justamente por isso em toda parte (e não só num determinado lugar) como aquele que está próximo e cujo poder não conhece limites. Ele não está em algum lugar, antes pode ser encontrado onde estiver o ser humano e onde o ser humano se deixar encontrar por Ele‖ 80. Demorará muito para que se entenda isso. Para a mentalidade da época do pós-exílio, só se poderia entrar em contato com a divindade no Templo, mas o Deus do autor de Jonas é diferente: Ele é quem toma a decisão gratuitamente de ir ao encontro do profeta; dirigi-lhe a Palavra, conversa com ele, o acompanha em águas internacionais, ou nas profundezas do oceano.
A Tempestade
3 Jonas partiu, então, com intenção de escapar da presença de Javé, fugindo para Társis. Desceu até Jope e aí encontrou um navio de saída para Társis. Pagou a passagem e embarcou, a fim de ir com eles até Társis, para escapar assim da presença de Javé. 4 Javé, porém, mandou sobre o mar um vento forte, que provocou uma grande tempestade e ondas violentas. E o navio estava a ponto de naufragar. 5 Os marinheiros começaram a ficar com medo e a rezar cada um ao seu próprio deus. Jogaram no mar a carga que estava no navio, a fim de diminuir-lhe o peso. Jonas, porém, tinha descido ao porão do navio e, deitado, dormia a sono solto. 6 O capitão, ao chegar aonde ele estava, disse-lhe: «O que você faz aí dormindo? Levante-se e invoque o seu Deus. Quem sabe ele se lembra de nós e não nos deixa morrer». (Jn 1,3-6 – Bíblia Edição Pastoral) Para nossa análise do Livro de Jonas, iremos trabalhar com oito traduções a a fim de compará-las. No âmbito católico, nos basearemos: na Bíblia do Perergrino (BP), de Alonso Schokel; na Bíblia Edição Pastoral (BEP), da Paulus; na Bíblia da CNBB e na Bíblia Ave-Maria (BAM). De domínio reformado: Almeida Revista e Atualizada (ARA); Almeida Revista e Corrigida (ARC); e Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Por fim, acrescentemos Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas (TNM), dos Testemunhas de Jeová. Aqui começa a saga de Jonas. Provavelmente, o personagem encontrava na Judéia, aos arredores de Jerusalém, pois todas as traduções que dispomos afirmam que ele ―desceu‖ ao porto de Jope (atual Jaffa), que fica ao nível do mar. ―A partir do século V a.C., o porto de Jope pertence aos fenícios. Aliás, toda a planície litorânea da Palestina havia sido dada às cidades fenícias pelo imperador persa Xerxes em troca de navios e outros préstimos que o imperador necessitara nos seus conflitos bélicos com as cidades gregas pela hegemonia no mar Mediterrâneo. A maioria da população de Jope talvez fosse não-israelita. Portos normalmente abrigam gente da mais variada proveniência. Em Jope provavelmente se podia encontrar marinheiros das mais diversas nações do mundo conhecido na época (...) O porto é o ponto de encontro de culturas e religiões‖81. Os fenícios eram conhecidos rivais dos hebreus nas Sagradas Escrituras. Lembremos que Elias enfrentou os sacerdotes de Jezebel, a princesa de Tiro (1Rs 18). Na história antiga, os fenícios eram conhecidos por oferecerem sacrifícios de crianças 82, crime que horrorizava o povo da bíblia (cf. p.ex., Lv 18,21; 20,1-5). Mas, uma ironia: Jonas foge dos ―sanguinários‖ ninivitas, mas os fenícios também são igualmente violentos. Se as razões da fuga era evitar o contato com os estrangeiros impuros, também é contraditório o fato do profeta ir para o porto: lugar de contato com culturas tão diversas. Todas as traduções concordam que Jonas ―pagou a passagem‖, a exceção de Schokel que diz ―pagou o preço‖ (BP), literalmente, significa que ele pagou o ―salário do navio‖83. ―Jonas não hesita um instante sequer em gastar uma pequena fortuna para concretizar o seu plano de fuga (...) de qualquer forma, soubemos aqui que Jonas é um homem de posses que pode dispor, de uma hora para outra, de uma quantidade de dinheiro suficiente para levá-lo a um dos lugares mais longínquos do globo, numa viagem que podia durar meio ano‖ 84. Provável que Jonas pertencesse a classe média alta de sua época, pois, ao que parece, ele paga em espécie: onde adquiriria moedas?
Representaria, pois, a classe ligada ao Templo? Ou, quem sabe, os leitores a quem o Livro foi destinado são justamente gente de posse. O autor quer enfatizar o absurdo da ação de Jonas: certamente, ele gastaria bem menos, se obedecesse aos planos de Deus! Quase todas as traduções de que nos dispomos falam que Jonas ―embarcou‖ no navio, mas a ARC escreve ―desceu para dentro dele‖, seguindo mais fielmente a mentalidade judaica, pois o autor quer destacar que a saga de Jonas não é de ascensão, mas de queda: o autor menciona, constantemente, esse movimento de ―descida‖ do profeta bíblico, simbolizando, talvez, sua decadência; assim Jonas desceu até Jope, depois, desceu ao navio, de lá desce ao barco para dormir (Jn 1,5), em seguida, ao mar (Jn 1,15), daí para o ―ventre do abismo‖ (Jn 2,3) até às ―raízes dos montes‖ (Jn 2,7). No versículo quarto é descrita a reação de Deus à ação do profeta fujão. Deus ―enviou‖ (BP), ―fez vir‖ (BAM), ―mandou‖ (BEP, CNBB, ARC e NTLH), ―lançou‖ (ARA), ―arremessou‖ (TNM), um ―vento impetuoso‖ (BP e BAM) ou ―um grande vento‖ (ARC e TNM) ou, ainda, ―um vento forte‖ (demais traduções). A imagem aqui é a de um lanceiro (1Sm 18,11) que arremessa os dardos, como o Zeus da mitologia grega. Deus é descrito como aquele que dispões de reservatórios, onde se encontram os elementos da natureza (Sl 135,7; Jó 38,22s). Os ventos, na mentalidade bíblica, são ministros de Deus (Sl 104,4), Ele é Senhor da natureza. O resultado da ação divina é uma ―furiosa‖ (BP), ―violenta‖ ( NTLH), ―grande tempestade‖ (demais traduções) ou ―borrasca‖ (TNM), a ponto de o navio estar ―prestes a naufragar‖ (TNM e BP), ―arrebentar‖ (CNBB), ―despedaçar‖ (ARA), ―espedaçar -se‖ (BAM), ―quebrar -se‖ (ARC), ―partir ao meio‖ ( NTLH): enfatiza-se, pois, a dimensão hiperbólica da intervenção divina – a tempestade é uma linguagem teológica bíblica para mostrar a manifestação de Deus (teofania). O autor de Jonas, freqüentemente, usa a palavra ―grande‖: grande é a cidade de Nínive (Jn 1,2; 3,2.3;4,11), grande é a tempestade, o vento, o peixe (2,1), o temor dos marinheiros, a alegria e o desgosto do profeta (Jn 4,1.6) – são características da literatura novelesca, a fim de causar impacto no leitor. À reação divina corresponde uma reação humana: os marinheiros (ou marujos como traduz a TNM), ―ficaram com medo‖ (BEP, CNBB, ARA e NTLH), ―começaram a temer‖ (TNM, BP e ARC) – a BAM acentua ainda mais o drama dos tripulantes da embarcação ao dizer que eles ficaram ―aterrorizados‖. Não se trata de temor religioso ainda, mas de medo humano diante do perigo da morte. Os povos do mar, em todas as civilizações, sempre tiveram medo e respeito pelo desconhecido do mar. Na antigüidade, o mar era domínio de várias divindades e povoado por seres mitológicos. A cena parece evocar essa personificação do mar prestes a devorar os marinheiros. Diante do perigo, os marujos têm duas reações que se complementam: uma racional e outra religiosa. Na primeira, cada qual ―clamava‖ (ARA, ARC, TNM) ou rezava (BEP) ou orava (CNBB) ou ainda ―puseram-se a invocar cada qual o seu deus‖ (BAM). O enfoque aqui é o ato religioso. Mas para a BP e a NTLH, os marinheiro s ―gritavam‖ a seus deuses: o ato é de desespero! Em uma população culturalmente mista como a de um navio, é perfeitamente possível diversidade de crenças. A lição aqui parece ser a seguinte: se todos não agirem como equipe, todos estarão perdidos! Que lição para o judaísmo do período persa! A segunda reação dos marinheiros é de cunho racional. Eles pretendem ―aliviar‖ o navio (concordam aqui todas as traduções). Para isso, ―jogaram a carga‖ (BEP, CNBB e NTLH): o que especificamente? O excesso de bagagem? A carga clandestina? O que não era essencial? Não sabemos. Outras traduções enfatizam a ação desesperada: os tripulantes atiram (BAM) ou arremessam (TNM) ―objetos‖ (TNM), ou
seja, qualquer coisa que tivesse no caminho, o que encontrassem à mão. Mas uma linha de tradutores segue um sentido literário mais interessante: os marujos ―lançaram‖ (BP, ARA, ARC) – ação que corresponde ao ―lançar de Deus‖ em Jn 1,4. Há, pois, um encontro do agir humano com o agir divino: talvez, aquilo que se fazia, nesse momento, fosse uma oferenda ao mar! – a ARC diz que ―lançavam no mar as fazendas que estavam no navio‖, ou seja, a carga preciosa, a de mais valor, como sacrifício às divindades do mar a fim de saciar sua voracidade. Era melhor perder os lucros que a vida: mais uma ironia contra o agir de Jonas que preferiu perder dinheiro a cumprir a missão divina! Que fazia Jonas nesse momento de perigo? ―Dormia profundamente‖, afirmam todas as traduções. Sono descrito como um forte torpor feito o de Adão (Gn 2,21) ou o de Abraão (Gn 15,12), mas aqui representa mais a indiferença ou a preguiça (Pr 19,15). Não é sono de confiança como o fez Jesus (Mc 4,35- 41). ―A terminologia usada dá a entender que o autor quer mostrar mais um aspecto da personalidade de Jonas. Jonas procura a parte mais distante, mais interna, mais aos fundos do andar inferior de um navio (...) tem por conseqüência retirar-se da convivência com as outras pessoas‖ 85, quer isolar-se dos impuros pagãos. O capitão do navio, talvez vasculhando o navio em busca de algo mais para lançar ao mar, encontra Jonas dormindo. E o interpela: ―que fazes, dorminhoco?‖ (BP, BEP e TNM). A tradução da CNBB enfatiza o descompromisso de Jonas e dos profetas da época em que o Livro fora escrito: ―como podes estar dormindo?‖ e a ARA também acentua essa crítica: ―que se passa contigo? agarrado no sono?‖. A missão do profeta é guiar o povo, mas aqui o autor do livreto mostra ironicamente que é preciso o capitão lembrar ao profeta sua missão. Percebe-se o contraste entre o comportamento religioso dos marinheiros e a indiferença de judaíta Jonas. Quantos não foram os profetas que se calaram diante da política excludente de Esdras e Neemias? Era esse o apelo do autor. O ―levanta-te‖ do capitão está em paralelo com o ―levanta -te‖ de Deus (Jn 1,2): diante do constante movimento de descida do personagem principal, Deus, as situações e as pessoas exigem que o profeta se erga, saia da zona de conforto e entre em ação. A atitude do capitão é honradamente politeísta: quer que todos invoquem sua divindade para que eles sejam salvos.
Jonas e os marinheiros
7 Depois
disseram uns aos outros: «Vamos tirar sorte para ver quem é o culpado dessa desgraça que nos está acontecendo». Tiraram a sorte, e ela caiu em Jonas. 8 Então lhe perguntaram: «Conte para nós por que é que nos está acontecendo essa desgraça. Qual é a sua profissão? De onde você vem? Qual é a sua terra? De que povo é você?» 9 Jonas respondeu: «Eu sou hebreu. Eu adoro a Javé, Deus do céu, que fez o mar e a terra». 10 Os marinheiros ficaram com medo, e lhe perguntaram: «O que foi que você fez?» Eles tinham percebido que Jonas estava fugindo da presença de Javé, pois ele próprio lhes tinha contado tudo. 11 E perguntaram: «O que é que vamos fazer com você, para que o mar se acalme?» Pois o mar estava cada vez mais bravo. 12 Jonas respondeu: «É só vocês me pegarem e me atirarem ao mar, que ele se acalmará em volta de vocês; eu sei que foi por minha causa que lhes veio essa tempestade tão violenta». 13 Os homens tentavam remar, a fim de chegar mais perto da terra firme, mas não conseguiam, pois o mar ia ficando cada vez mais agitado, ventando contra eles. 14 Então invocaram a Javé, dizendo: «Ah! Javé! Não queremos morrer por causa deste homem. Não lances contra nós a culpa de um sangue inocente. Tu és Javé e fazes tudo o que desejas». 15 Pegaram Jonas e o jogaram ao mar. Imediatamente o mar acalmou a sua fúria. 16 Daí para frente aqueles homens começaram a temer muito a Javé, oferecendolhe sacrifícios e fazendo votos. (Jn 1,7-16 – Bíblia Edição Pastoral) Para nossa análise do Livro de Jonas, iremos trabalhar com oito traduções a a fim de compará-las. No âmbito católico, nos basearemos: na Bíblia do Perergrino (BP), de Alonso Schokel; na Bíblia Edição Pastoral (BEP), da Paulus; na Bíblia da CNBB e na Bíblia Ave-Maria (BAM). De domínio reformado: Almeida Revista e Atualizada (ARA); Almeida Revista e Corrigida (ARC); e Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Por fim, acrescentemos Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas (TNM), dos Testemunhas de Jeová. A palavra marinheiro não faz parte, certamente, do repertório cultural do povo de Israel. Ocorre somente quatro vezes na Bíblia Hebraica (Jn 1,5; Ez 27,9.27.29), o termo de origem aramaica pode derivar da pala vra ―sal‖; assim, os marinheiros seriam os ―homem salgados‖, por estarem em contínuo contato com a água do mar 86. Provavelmente, eles já suspeitavam que a tempestade simbolizasse alguma forma de castigo. Ao falharem as orações, cogita-se a possibilidade de o temporal ser por causa de algum criminoso presente 87. A atitude que eles têm diante da situação de perigo é apelar para as divindades: ―vamos tirar sorte para ver quem é o culpado dessa desgraça que nos está acontecendo ‖ (BEP). A sorte é um modo lícito, n a antiguidade, para consultar a vontade divina sobre um argumento ou para resolver um problema difícil. Em Lv 16,8 é lançada para escolher o bode expiatório; em Js 18,8-11 a sorte é lançada para fazer a divisão do território; em Is 34,17, para instaurar o julgamento das nações, em 1Cr, para determinar a escolha dos turnos do serviço sacerdotal e dos cantores (cf. 1Cr 25,8) etc 88. A sorte cai sobre Jonas. Contudo, os marinheiros não agem feito loucos querendo sacrificá-lo imediatamente, não são irracionais como pintados pela teologia
vigente, nem homicidas como corria na mentalidade da época. Fazem um julgamento justo, dando a Jonas a chance de se explicar. Interrogam-no, o número de perguntas varia de acordo com a tradução: cinco (BAM, CNBB, ARA, ARC) ou seis (BP, BEP, NTLH, TMN). Inicialmente, se quer saber a razão da ―calamidade‖ (BP, BEP, CNBB, ARA, ARC)89 e, parecendo já sugerir possíveis explicações, pergunta-se pela profissão (talvez, na cabeça dos marinheiros, Jonas tivesse alguma ocupação amaldiçoada, como feiticeiro ou ladrão), pela origem geográfica (quem sabe não pertencesse a uma terra amaldiçoada, feito Sodoma e Gomorra?) e, em seguida, pela etnia (seria Jonas de uma raça condenada pelos deuses, a exemplo, dos camitas? Cf. Gn 9,25ss). Por último, depois que, Jonas se justifica, perguntam-lhe o que fez (Jn 1,10). Jonas fala pela primeira vez na obra, mas sua resposta é apenas sob pressão, mas parece uma negação: ―Eu sou hebreu. Eu adoro a Javé, Deus do céu, que fez o mar e a terra‖ (BEP). A confissão de Jonas, também lhe condena: sua atitude não condiz com sua fé. Ser hebreu remete à história de um Povo peregrino, que viveu exilado no Egito e também na Babilônia; Adorar a Javé é saber que ele é o Deus-Conosco que não faz distinção das pessoas, que não se prende a um santuário. Esse Deus que fez ―o céu, o mar e a terra‖ significa que está presente em t odos os lugares – é irracional Jonas querer fugir de sua presença. Quanta ironia: ser xenofóbico, quando também se é estrangeiro! Será que os marinheiros entenderam a declaração de Jonas? Talvez, pudéssemos pensar que o temor que os hebreus sentiam dos estrangeiros, correspondia também ao temor que os estrangeiros sentiam com relação aos hebreus, visto que esse Deus ―que fez o mar e a terra‖ era estranho a eles (suas divindades tinham domínios específicos: havia uma deidade própria para o mar, outra para o céu, para as estrelas, o sol, a lua etc.). Também, certamente, conhecia-se as histórias da crueldade dos hebreus para com os seus inimigos! Mas, não há indícios de preconceito, dos marinheiros! Ao contrário, são homens de fé e, diante da resposta de Jonas, ficam ―apavorados‖ (BP e NTLH), ―com medo‖ (BEP), ―assustados‖ (CNBB), ―sentiram grande temor‖ (ARA, ARC, TNM e BAM), quase que religioso. E perguntaram a Jonas o que deveria ser feito. Outra ironia: o profeta tem como missão indicar o caminho que leva a Deus, mas, aqui, são os marinheiros que o relembram dessa missão! A resposta de Jonas é que eles devem lançá-lo ao mar, feito oferenda votiva, como outrora fizeram com a carga (Jn 1,5). Isso mostra que os marinheiros não sabem realizar sacrifícios humanos! 90 Logo os fenícios! Aqueles que são conhecidos por matarem criancinhas em seus rituais religiosos! O autor parece querer mostrar a seus leitores que nem todos pagãos praticam más ações, eles até querem salvar a vida de Jonas (Jn 1,13) e só obedecem a sua instrução em último recurso (Jn 1,15), não antes de orarem ao Deus de Jonas pedindo que não os condene por aquele ato (Jn 1,14). Jonas assume sua responsabilidade pelo que acontece aos marinheiros. ―As leitores e os leitores israelitas sensíveis não deixarão de perceber que a história acusa o próprio Jonas, ou seja, o grupo que ele representa e, quem sabe, todo Israel. Israel é motivo de desgraça para outros povos, outras pessoas, nações estrangeiras, pagãs. Não sabemos se o autor do livro alude a eventos ou fatos específicos da sua época, por exemplo, a expulsão das mulheres estrangeiras da comunidade de Jerusalém (Esd 9-10), ou se pensa nas diversas ocasiões na história do povo de Israele em que reis israelitas exploraram, roubaram ou guerrearam com nações vizinhas. Apesar disso tudo, Jonas pensa ter direitos maiores diante de Deus do que os gentios. Mesmo assim, Israel pensa ter o direito de exigir castigo às outras nações‖ 91. Mas, ao mesmo tempo, poderíamos pensar que a atitude de Jonas, não seria um ato heróico, redentor, e sim, um suicídio, mais uma forma de isolar-se dos pagãos e
fugir de Deus. ―Morrendo, o israelita Jonas se auto -excluiria do grupo dos gentios. O isolamento das nações pagãs parece ter sido a proposta dos grupos influentes em Israel na época do surgimento do livro de Jonas. O autor do livrinho mostra, aqui, que a autoexclusão é um absurdo. Ela equivale à morte‖ 92. Mas, ironicamente, a recusa de Jonas a evangelizar os pagãos, resulta em efeito contrário: ―Daí para frente aqueles homens com eçaram a temer muito a Javé, oferecendo-lhe sacrifícios e fazendo votos ‖ (BEP). ―O interessante é que eles não são sacerdotes com credenciais para ofertar no altar. Oferecem sacrifícios longe de Jerusalém, fora do altar do Templo‖ 93. Sem dúvida, um chamado ao diálogo interreligioso, pois, às vezes, os não-crentes, tem mais fé do que os crentes. Devemos reconhecer que ―nas tradições religiosas não -cristãs existem ‗coisas boas e verdadeiras‘ ( Optatam Totius, 16 ), ‗preciosos elementos religiosos e humanos‘ (Gaudium et spes, 92), ‗germens de contemplação‘ ( Ad gentes, 18), ‗elementos de verdade e graça‘ ( Ad gente,9), ‗sementes do Verbo‘ ( Ad gente, 11,15), ‗raios da verdade que ilumina todos os homens‘ ( Nostra aetate, 2). Segundo explicitas indicações conciliares, estes valores encontram-se condensados nas grandes tradições religiosas da humanidade. Elas merecem, portanto, a atenção e a estima dos cristãos, e o seu patrimônio espiritual é um eficaz convite ao diálogo ( Nostra aetate,2; Ad gentes, 11), não só sobre os elementos convergentes, mas também sobre os divergentes‖ (Secretariado para os não-cristãos. A Igreja e as outras religiões – diálogo e missão, n.26 ). A Congregação para a Doutrina da Fé, através da Declaração Dominus Iesus, do ano de 2000, observa que ― a crença nas outras religiões é o conjunto de experiência e pensamento, que constitui os tesouros humanos de sabedoria e de religiosidade, que o homem na sua procura da verdade ideou e pôs em prática em referência ao Divino e ao Absoluto‖ (n.7). Como enriqueceríamos se soubéssemos conviver com as diferenças! Em parte, é disso que trata o Livro de Jonas.
Jonas e a Baleia?
“ Javé enviou um peixe bem grande para que engolisse Jonas. E Jonas ficou no ventre do peixe três dias e três noites (...) Então, Javé mandou que o peixe vomitasse Jonas em terra firme” (Jn 2,1.11 – Bíblia Edição Pastoral). Sem dúvida, essa é a passagem mais famosa do Livro, e talvez do Antigo Testamento, muitas foram as explicações propostas para o tema: terá sido Jonas realmente engolido por um grande peixe? Um grupo vasto de estudiosos afirmam que sim e a primeira coisa que se procura fazer é encontrar um animal suficientemente grande capaz de engolir uma pessoa inteira. Como os povos daquela época não sabiam distinguir entre peixes e baleias (que são mamíferos), acredita-se que o termo era utilizado para descrever qualquer um dos dois. Dessa forma, os candidatos ao ―grande peixe‖ da narrativa seriam: a) As baleias cachalotes. ―Os cachalotes e os esqualos capazes de engolir um homem não são desconhecidos no Mediterrâneo oriental, mas esse episódio, quer claramente ser interpretado como milagre‖94. b) O grande tubarão branco Alegou-se que, em 1939, um peixe dessa espécie foi encontrado contendo em seu estômago dois tubarões inteiros, cada qual com dois metros de comprimento – tamanho aproximado de um homem 95. c) O tubarão-frade96. O tubarão-elefante, tubarão-frade ou tubarão-peregrino (Cetorhinus maximus) é o segundo maior peixe existente no mundo, depois do tubarão baleia, atinge 10 metros de comprimento. A sua dieta é composta por plâncton, filhotes e ovos de peixes e podem armazenar comida. 97. c) O tubarão-baleia. O Rhinodon tipicus, ou ―tubarão osso‖, ―tubarão do Indo Pacífico‖ ou ―tubarão baleia‖, para alguns, seria a espécie mais adequada, visto que não tem dentes, alimenta-se como as baleias, coando a água através das ―lâminas‖ da boca98. Inclui-se também um quinto grupo, ao qual poderíamos chamar de atitude criptozoológica99, que defende três possibilidades: O grande peixe seria um animal especialmente preparado por Deus para aquela ocasião específica e que não existe mais 100. O animal descrito seria uma espécie de ―serpente marinha‖ ou mesmo animal pré-histórico, descrito em várias experiências de pescadores e marinheiros101. Ou seria um animal que ainda não foi encontrado pelos cientistas 102.
O grupo partidário da historicidade do relato como realmente acontecido, procura divulgar histórias recentes de eventos parecidos. Citemos alguns desses relatos: a) O ―Cleveland Plain Dealer‖ publicou um artigo que citava a narração do Dr. Rasone Harwey a respeito do desaparecimento do cão de uma baleeira em pleno mar. Seis dias depois, encontraram-no vivo dentro da cabeça de uma baleia, e verificaram que não apresentava qualquer consequência apreciável ocasionada pela viagem incomum. A citação do ―Cleveland Plain Dealer‖ Foi, novamente reproduzida pelo ―Sunday School Times‖, por volta dos anos 50 103. b) Existem relatos de tubarões brancos que engoliram sem dificuldades peixes bois inteiros ou cavalos de guerra, caídos ao mar 104.
c) Nas ilhas do Havaí, os pescadores encontraram um esqueleto perfeito, de seis pés. Pertenceu a um homem de seus pés de altura e foi identificado como sendo de um soldado que desaparecera trinta dias antes. Não restava do corpo senão o esqueleto, mas este se achava intacto, o que prova que o Rhinodon pode engolir um homem sem danificar sua estrutura 105. d) Um marinheiro inglês foi engolido por um Rhinodon no Canal Inglês. Procurando arpoar o tubarão, o marinheiro caiu no mar e foi engolido por ele. Os companheiros que viram o fato procuraram matar o tubarão. Uma frota de pescadores se movimentou para caçar o monstro. Quarenta e oito horas depois que o homem foi engolido conseguiram matar o tubarão. Rebocaram-no logo para a praia e o abriram para dar sepultura ao corpo do companheiro. Quando abriram, acharam o homem inconsciente, porém vivo. Levaram imediatamente para um hospital, onde poucas horas depois, passado o estado de choque, o homem se sentia bem de saúde. O homem foi exibido no Museu de Londres ao preço de um shilling a entrada, sob o anúncio de ―O Jonas do Século XX‖. O homem se sentia bem de saúde, mas tinha o corpo destituído de pêlos e havia umas manchas amarelo-castanhas sobre a pele 106. e) O caso de James Bartley, marujo que trabalhava a bordo do baleeiro Estrela do Leste, é uma resposta convincente aos que ainda duvidam do texto bíblico relativo a Jonas?! De acordo com os registros do Almirantado britânico, em fevereiro de 1891, Bartley deixou o navio, juntamente com outros membros da tripulação, e tomou a chalupa durante uma caça à baleia. O mar estava encapelado. O arpoador fez um disparo, a baleia mergulhou e, de repente, voltou à superfície sob a chalupa, despedaçando-a e espalhando os tripulantes. Todos os marujos foram resgatados, menos Bartley. A baleia morreu e seu corpo foi secionado. Ao abrir a barriga do animal, apareceram um pé e uma perna. Bartley foi retirado do estômago da baleia, vivo ainda, mas inconsciente. "De repente os marinheiros se assustaram devido aos espasmos que davam o estômago do animal. Havia algo que dava sinais de vida. No interior se encontrou inconsciente o marinheiro James Bartley. Foi colocado em uma coberta e tratado com banhos de água do mar até que despertou..." Ele recobrou a consciência, porém ficou sem poder falar por várias semanas. Lembrava-se de poucas coisas além da abertura de mandíbulas enormes e de ter escorregado para dentro de um tubo comprido em direção ao estômago da baleia, onde permaneceu por quinze horas, conforme atesta declaração assinada pelo médico de bordo e por todos os outros tripulantes. A declaração de Bartley após sua recuperação foram surpreendentes. "Me pareceu que a baleia me tragava [...] Me rodeava um muro de carne [...] Me encontrei em um saco muito maior que meu corpo,estava completamente as escuras. Apalpei em volta e toquei diversos peixes. Alguns pareciam estar vivos pois escapuliam por entre meus dedos [...] Senti uma forte dor de cabeça e minha respiração se havia tornado muito difícil. Ao mesmo tempo sentia um calor que me consumia. Um calor que ia aumentando. Em todo momento eu estive convencido que ia morrer no estômago da baleia. O tormento era irresistível e o silêncio ali era absoluto. Tentei virar-me, mover os braços, as pernas, gritar. Mas era impossível, minhas idéias estavam perfeitamente claras e a compreensão de minha situação era plena. Por fim, graças a Deus, perdi a consciência". A visão de Bartley ficou afetada por essa experiência e sua pele perdeu a cor normal. Passou o resto de seus dias em terra, e morreu com a idade de 39 anos 107. f) ― No jornal Vale dos Sinos, de 13 de maio de 1991, lê-se a seguinte manchete: ―peixe salva menino em Bangladesh‖. A notícia continua: Daca – um peixe
salvou a vida de um menino, lançado ao mar durante o ciclone que atingiu Bangladesh no dia 30 de abril, assegurou um membro do governo do país. Habitantes da aldeia de Cox‘s Bazar, no sudoeste de Bagladesh, retiraram o menino da boca de um enorme peixe, indicou o vice-ministro de Pesca e Pecuária. Abdullá AL-Noman, em coletiva à imprensa concedida em Chittagong. Noman disse que o menino foi lançado ao mar a vários quilômetros da aldeia de Chakoria, onde foi resgatado. Segundo o vice-ministro, os pés do menino estavam firmemente agarrados pela boca do peixe quando foi localizado pelos aldeões. O menino foi medicado e apresenta lesões nas pernas, certamente causadas pelo peixe. O jornal Ittefaq, desta capital, que noticiou o caso, não forneceu maiores informações sobre a criança ou sobre o peixe‖ 108. O que esses relatos provam em relação a Jonas? Talvez, no máximo, que ―na origem estivessem experiências reais de salvamento de náufragos ou de pessoas em tempestades em alto-mar. No processo de transmissão oral, estas sagas ganhavam, então, caráter cada vez mais miraculoso‖ 109. Outro argumento que pretende ser comprobatório é a alegação de que Jesus se utilizou da passagem de Jonas e do grande peixe para se referir a sua ressurreição. Sendo assim, se o profeta veterotestamentário não esteve, realmente, dentro do ventre da ―baleia‖ por três dias e depois fora regurgitado, isso invalidaria o discurso de Cristo e o evento da própria ressurreição. Entretanto, entre os biblistas, há aqueles que rebatem essa tese dizendo que ―estas refe rências visam ao livro de Jonas: os ninivitas, como aqui se descrevem, são um exemplo; e Jonas, como aí é descrito, é um tipo – não se segue que eles ou ele sejam históricos. O argumento é estritamente escriturístico; atém-se ao Jonas bíblico‖110. De modo algum a explicação fundamentalista é a única possível. Explicações de cunho mais racionalistas dizem que o episódio foi apenas um sonho de Jonas enquanto dormia na embarcação (Jn 1,5) outros sugerem que o profeta fora lançado ao mar e recolhido por uma embarcação que tinha uma cabeça de peixe ou se refugiou no corpo morto de um animal até a tempestade passar 111. De fato, os argumentos contrários ao episódio de Jonas e a baleia seguem várias linhas: no campo da zoologia, da tradução dos textos bíblicos, da antropologia e história das religiões, da psicologia e da psicanálise, e da própria teologia. 1) Argumentos com base na Zoologia
Diz-se que qualquer baleia existente ou peixe seria incapaz de repetir a façanha descrita no Livro de Jonas, quer devido ao tamanho da boca, da garganta apertada, ou porque contradiz os hábitos alimentares destes animais. Além do que, A maior espécie de baleia conhecida comem plâncton e se engasgam facilmente quando tentam engolir pequenos peixes. As cachalotes, por outro lado, tem boca pequena, por isso, seu alimento é feito em pedaços antes de serem ingeridos. Quanto ao tubarão-baleia, tem boca grande, cavernosa, mas sua garganta tem apenas quatro centímetros e largura e tem uma curva acentuada: o esôfago não permitiria a passagem do braço de um homem 112. 2) Argumentos com base na tradução do texto
O texto bíblico original, em hebraico, lê-se, em Jn 2,1: dag gadol , que literalmente, significa apenas ―peixe grande‖ (sem menção da espécie). Na Septuaginta,
traduz essa expressão para o grego: mega ketos, que, na mitologia grega, é uma expressão associada aos ―monstros marinhos‖. São Jerônimo, ao traduzir o Antigo Testamento para o latim, usou: granda piscis (―peixe grande‖), mas ao traduzir a passagem que Jesus faz referência a Jonas (Mt 12,40), usou cetus, que se refere mais estritamente à baleia. Daí para frente, a partir de um equívoco, prevaleceu a idéia de que o animal que engolira o profeta foi uma baleia 113 – das traduções que analisamos, em português apenas as Bíblias CNBB, ARC e BEP reproduziram esse erro de tradução (A Bíblia do Peregrino, traduz como ―monstro marinho‖ a passagem de Mateus) . ―Um detalhe zoológico: no versículo 1 o peixe é masculino, no final do versículo 2 trata-se de uma fêmea‖ 114, indicando tratar-se ou de uma acréscimo posterior ou quem, sabe de uma leitura mais simbólica da passagem, como veremos nos tópicos 4 e 5. 3) Argumentos baseados nas religiões comparadas
São conhecidos vários mitos da antigüidade parecidos com a história de Jonas: o herói devorado por um animal. a) O renomado mitólogo Joseph Campbell menciona as aventuras do chefe dos iroquês Hiawatha (séc. XVI): Mishe-Nahma, Rei dos Peixes,/Em sua ira emergiu,/Brilhando, saltou à luz do sol,/ Abriu a grande boca e engoliu/ a canoa e Hiawatha115. b) O herói irlandês, Finn MacCool, foi engolido por um monstro de forma indefinida, do tipo conhecido no mundo céltico por peist. A pequena garota alemã, Chapeuzinho Vermelho, foi engolida por um lobo 116... e todo o panteão grego, exceção feita a Zeus, foi engolido pelo seu pai, Crono 117. c) O herói grego Héracles, fazendo uma pausa em Tróia, no seu caminho para casa, portando o cinturão da rainha das amazonas, soube que a cidade estava sendo assolada por um monstro que fora enviado contra ela pelo deus do mar, Poisêidon. A fera vinha à tona e devorava as pessoas que passavam pela praia. A bela Hesíone, filha do rei, acabara de ser presa pelo pai às rochas marítimas, como sacrifício propiciatório e o grande herói visitante concordou em salvá-la em troca de uma recompensa. O monstro, num certo momento, apareceu, na superfície da água e abriu a bocarra. Héracles mergulhou por sua garganta, e arrebentou-lhe a barriga e o deixou morto 118. Assim como Héracles, Jonas voluntariamente se lança rumo ao perigo, porém, observemos que o herói grego ―arrebenta‖ a barriga do monstro, força, o seu renascimento, enquanto o profeta hebreu é ―vomitado‖ (Jn 2,11), expelido, forçado a sair da zona de conforto. d) Fala-se da semelhança existente entre o profeta Jonas e o herói grego Jasão: identifica-se um conjunto de temas comuns na história dos dois personagens, incluindo os nomes são bem parecidos (derivam e ―pomba‖), a idéia de "fuga", o vento, e causando uma tempestade, a atitude dos marinheiros, a presença de um monstro marinho ou dragão ameaça o herói e o engole 119. Podemos fazer aqui a mesma observação que fizemos em relação a Héracles. 4) Argumentos de ordem semiótica
Semiótica é a ciência da linguagem que estuda todos os fenômenos culturais com relação à formação dos sistemas simbólicos. Para os estudiosos da área, ―o simbolismo da baleia está ligado ao mesmo tempo ao da entrada na caverna e ao do peixe. Na Índia, o deus Vixenu metamorfoseando em peixe quem guia a arca sobre as águas do dilúvio. No mito de Jonas, a própria baleia é a arca: a entrada de Jonas dentro
da baleia é a entrada no período de obscuridade, intermediário entre dois estado ou duas modalidades de existência‖120. O estudioso dos mitos Joseph Campbel, interpreta do mesmo jeito: ―alegoricamente, a entrada num templo e o mergulho do herói pelas mandíbulas da baleia são aventuras idênticas; as duas denotam, em linguagem figurada, o ato de concentração e de renovação da vida ‖121. ―Jonas no ventre da baleia é a morte iniciática. A saída de Jonas é a ressurreição, o novo nascimento, tal como mostra de modo particularmente explicito, a tradição islâmica.‖122. De fato, é assim que Jesus interpreta a passagem de Jonas: como figura da ressurreição. Os primeiros cristãos fizeram o mesmo: na arte catacumbal, Jonas e a baleia aparecem 57 vezes – clara alusão à ressurreição 123. ―Com efeito, nun, a vigésima nona letra do alfabeto árabe, também significa peixe e, em especial, a baleia. Essa a razão pela qual o profeta Jonas, Seyidna Yunus, é chamado de Dhun-Nun. Na cabala, a idéia de novo nascimento, no sentido espiritual, está ligada a essa letra nun. O próprio formato da letra, em árabe (a saber, a parte inferior de uma circunferência, um arco, encimado por um ponto que lhe indica o centro), simboliza a arca. Essa semicircunferência representa igualmente uma taça o que pode, sob certos aspectos, significar o útero‖124. Mais uma vez Campbell: ―a idéia de que a passagem do limiar mágico é uma passagem para uma esfera de renascimento é simbolizada na imagem mundial do útero, ou ventre da baleia. O herói, em lugar de conquistar ou aplacar a força do limiar é jogado no desconhecido, dando a impressão de que morreu125. Quando considerada na ―na qualidade de elemento passivo da transmutação espiritual, a baleia representa em certo sentido cada individualidade na medida em que contém o germe da imortalidade em seu centro, representado simbolicamente junto ao coração (...) O desenvolvimento do germe espiritual implica que o ser emerja de seu estado individuado e do meio ambiente cósmico ao qual pertence, assim como o retorno de Jonas à vida coincide com sua saída do ventre da baleia‖ 126 – leia adiante sobre o complexo de Édipo (tópico 5). Na opinião de Luiz Nazário, ―A baleia que engole Jonas, Gepetto e o Barão de Münchhausen é um monstro mole por excelência: talvez pelo efeito da enormidade, aliada à contingência da longa existência aquática, toda sua maldade reside no exterior. Monstro da aparência, que impressiona pelo tamanho, ela não demonstra ferocidade nem digere o que abocanham abrigando em seu ventre seres que aí vivem durante anos, à luz de velas, esperando a redenção. Em Adventures of the Baron Munchausen, de Terry Gilliam, o ventre do monstro marinho transforma-se numa espécie de limbo, onde se depositam os restos do último naufrágio (...) a baleia enquanto monstro simbólico é quase inofensiva, reagindo apenas quando provocada, como a Moby Dick de John Huston‖127. ―A Polinésia, a África negra, a Lapônia introduzem a baleia em mitos iniciáticos análogos ao de Jonas. A passagem pelo ventre do monstro (marinho, com freqüência) é às vezes considerada expressamente como uma descida aos infernos ‖128. É exatamente assim que Jonas se expressa em sua oração: ―no perigo gritei ao Senhor e ele me atendeu, do ventre do abismo‖ (Jn, 2,3 – BP); ―desci até as raízes dos montes‖ (Jn 2,7). Na opinião de Herculano Alves: ―o mar é um autêntico ― sepulcro‖ mas o peixe faz que esse sepulcro não seja definitivo, a última morada de Jonas. Efectivamente, quando Jonas entrou no primeiro seio que o acolheu − o barco − o mar abriu a boca devoradora, ameaçando engolir todo o barco (onde Jonas se encontra refugiado), com a carga e os marinheiros. Para Jonas, o peixe-mar da morte tornou-se lugar de nova vida. Porque, na sua oração, Jonas, o herói, tornou-se um homem novo, renascido num ventre materno, ao mesmo tempo, do mar e do peixe. Aí, ele renasce e reconhece o Senhor. No ventre materno do peixe aprende a verdadeira ciência da Palavra de Deus ‖129.
―Finalmente, símbolo do continente e, conforme seu conteúdo, símbolo do tesouro escondido ou às vezes também da desgraça ameaçadora, a baleia contém sempre em si a polivalência do desconhecido e do interior invisível é o centro de todos os opostos que podem vir a existir. Por essa razão, também já se comparou sua massa ovóide à conjunção dos dois arcos de círculo que simbolizam o mundo do alto e o mundo de baixo – o céu e a terr a‖130. 5) Argumentos da psicologia e da psicanálise.
Dentro da psicologia, pensemos na questão do medo: Israel não era um povo acostumado ao mar, vivia em terra firme. Por isso, a água profunda simboliza para eles a morte e seu mistério, os peixes e as criaturas marinhas são animais misteriosos, sobretudo porque conhecem as forças obscuras que se escondem nas profundidades das águas. Por esse motivo, o peixe (a baleia e os monstros marinhos) freqüentemente são associados à morte e a todos os perigos aquáticos que ameaçam o homem. A imaginação popular, que se perpetuou em histórias e mitos antigos, foi muito fértil neste campo. Nos mitos antigos, um peixe gigante transporta a terra sobre o seu dorso; ou seja, o mar imenso é que segura a terra e como que a transporta sobre o seu dorso. Assim, as forças do Mal, simbolizadas no mar profundo, são, por sua vez, simbolizadas por um peixe gigante, um poderoso animal marinho que luta contra o deus das alturas. O peixe tornou-se, assim, freqüentemente, símbolo das forças personificadas da Morte e do Inferno. Restos deste mito aparecem na linguagem da Bíblia. Assim, Gn 1,2 diz, referindo-se a esse mito antigo: ― A terra era informe (theom) e vazia‖. ―Theom‖ é um termo ligado à mitologia dos povos da Babilónia, que significava precisamente o mar profundo. Assim, no mito de criação de Babilónia, thiamat (donde deriva, possivelmente, o termo theom), a deusa do mar, com forma de enorme peixe, lutou contra o deus do céu, Marduc (Sl 93,3-4). Segundo o mito, este terrível peixe-animal foi, no entanto, derrotado e cortado em pedaços. Outros nomes deste peixe mítico, ainda presente na Bíblia são Leviatan (Jb 3,8) e Raab (Jb 9,13; 26,12; Is 51,9-10) 131. Dessa forma, Jonas e a baleia representariam um mito arquétipo dos medos inconscientes que o povo tinha do mar. Na psicanálise, Jonas e a baleia representariam o regresso a uma forma anterior e mais primitiva de existência, exagerada de modo tal a ponto de ir até a vida pré-natal no útero, simbolizada pelo ventre da baleia. A morte do herói simboliza seu fracasso, significa a falta de maturidade, sua rebeldia em fazer o que é certo, ou executar a missão que lhe é designada. Mas sua ―morte‖ não é uma morte real, tem um propósito: a transformação – voltar a vida como um novo homem. Histórias como Chapeuzinho Vermelho (dos irmãos Grimm), Pinóquio (de Carlo Collodi) e a do profeta Jonas abordam a mesma temática: a busca de soluções para enfrentar os conflitos edipianos de nossa existência 132. Diz Luiz-Olyntho Telles da Silva: ―o que há de comum entre Jonas e Pinóquio é que ambos recebem o direito à vida pelo reconhecimento a um pai ‖133, note que é exatamente após a oração de ação de graças, que Jonas é expelido do grande peixe: renasce mais amadurecido e põe-se a evangelizar Nínive. Mas, logo regressa ao seu estado edipiano: age feito criança egoísta que quer o Pai só para si – o profeta o ama sinceramente, mas também O hostiliza (Jn 4,1-4). Mas, esse Deus que é paterno e materno ao mesmo tempo, que protegeu seu filho no ventre da Baleia, é também aquele que quer introduzi-lo a uma nova cultura. 6) Argumentos da Teologia.
O grande problema com essa enxurrada de interpretações é que não consideram a teologia bíblica do autor. A atitude fundamentalista quer a todo custo provar a exatidão de cada palavra que existe na Bíblia. A revelação divina se identifica totalmente com a palavra escrita, assim, para eles, qualquer erro ou incoerências seria o mesmo que afirmar que Deus se enganou. Mas, na sua ânsia de provar a veracidade dos fatos, acabam por ser tão racionalista quanto aqueles que eles combatem. Deus é maior que a Escritura e, ao inspirar os autores bíblicos a escrever, o faz respeitando seu nível de conhecimento e cultura. Além do mais, na Bíblia existem erros de caráter acidental, mas não erros de cunho intencional. Uma abordagem baseada na história das religiões e dos mitos de forma alguma anula a veracidade da mensagem de Jonas: mostra apenas que o autor e seus leitores conheciam tais histórias. A diferença é que, na Bíblia, elas são reinterpretadas baseando-se na fé monoteísta: a tempestade e a baleia não são divindades, nem representam a personificação das forças do mal – visto que tudo que Deus criou é bom – mostram, apenas, que o Deus de Israel tem domínio sobre a criação. Acrescentemos também que Jonas não é herói mitológico, cheio de virtudes e altruísmo, como Hércules, Jasão, Perseu e tantos outros, ele é retratado como extremamente humano: preguiçoso, rebelde a mensagem divina, preconceituoso, rabugento etc. Mas, Deus, mesmo conhecendo suas falhas, não desiste dele e o convoca a anunciar sua mensagem aos ninivitas. Não se pode também fixar-se demasiadamente nas variáveis lingüísticas, pois as diferentes traduções da Escritura, visam, sobretudo, a adaptação da mensagem ao seu público-alvo. Se foi um grande peixe, uma baleia ou um monstro marinho, não é o essencial. Uma interpretação excessivamente semiótica pode negligenciar o fato de que a Bíblia, de alguma forma, é baseada na realidade concreta, em experiências vividas, e não meramente um conjunto de símbolos escondidos que só podem ser compreendido por certos ―iniciados‖. Já as abordagens de cunho psicológico, embora sejam de grande valia para atualizar a mensagem para o homem moderno e abrir novos sentidos ao texto, muitas vezes correm o risco de fazer do autor bíblico um Freud da Antigüidade. Não nos esqueçamos que a Bíblia é fruto de seu tempo e cultura. Mais um detalhe: é difícil perceber essa evolução e maturidade entre o Jonas do capítulo primeiro e o Jonas do capítulo quarto. Impressionante como dois simples versículos despertaram tanta discussão. O fato é que eles não podem ser lidos isoladamente: fazem parte de uma obra maior e seguem a teologia do autor de Jonas. Sugiro o seguinte caminho: dentro da lógica da teologia da retribuição, vigente na época em que o Livro foi escrito, aquele que não fizesse a vontade de Deus deveria ser castigado. Jonas foi rebelde ao chamado de Deus. Os adeptos dessa concepção concordariam que ele deveria ser punido. Então o autor parece seguir inicialmente essa direção: faz com que Deus lance a tempestade contra o barco (Jn 1,4). Jonas, representante da teologia predominante, pensa que está sendo castigado, arrepende-se e acha que deve ser ―sacrificado‖ ao mar (Jn 1,11), pois está sendo amaldiçoado por Deus e está longe do Templo, onde poderia fazer sacrifício de reparação. Mas, Deus não quer sacrifícios e envia um peixe para salvar-lhe da morte e evitar que se afogue (a idéia de acrescentar o ser marinho à narrativa, provavelmente, se baseou no conhecimento do autor e de seus leitores sobre as lendas de marinheiros e na concepção de que o mar tem seus mistérios). O animal é instrumento de misericórdia que reconduz Jonas ao
caminho. Aí está o elemento crítico da narrativa: o pecador Jonas, ao invés de ser punido – como pregava a teologia da retribuição – foi convertido, redirecionado, reconduzido e, poderíamos dizer, perdoado por Deus. O episódio de Jonas e o grande peixe, nada mais é que a mensagem de Deus dizendo: não importa o que você fez, Deus ainda te quer.
A oração de Jonas 3«Na minha angústia invoquei a Javé,
e ele me atendeu. Do fundo do abismo pedi tua ajuda, e ouviste a minha voz. 4 Jogaste-me nas profundezas, no coração do mar, e a torrente me envolveu. Passaram sobre mim as tuas ondas e vagas. 5 Então pensei: „Eu fui expulso para longe dos teus olhos; nunca mais poderei admirar a beleza do teu santo Templo?‟ 6 Eu estava cercado de água até o pescoço, o abismo me rodeava, um lodo se agarrava à minha cabeça. 7 Desci até as raízes das montanhas, a terra se fechava sobre mim para sempre. Mas tu retiraste da fossa a minha vida, Javé, meu Deus! 8Quando minhas forças se acabavam, eu me lembrei de Javé. E minha oração pôde chegar a ti, no teu santo Templo. 9Quem segue os ídolos, abandona o amor de Javé. 10 Mas eu, entre cânticos de louvor, é a ti que presto o meu culto e com ação de graças cumpro os meus votos. A salvação pertence a Javé». (Jn 2,3-10 – Bíblia Edição Pastoral) O trecho que vai do versículo 3-10 nas versões BP, BEP, BAM e CNBB ou versículos 2-9 nas traduções ARA, ARC, NTLH e TNM foi escrito em verso, contrastando com a narrativa em prosa sobre o relato de como Jonas se salvou do afogamento ao ser engolido pelo grande peixe e como retornou a sua missão em Nínive (capítulo seguinte). Por essa mudança de estilo, os especialistas sugerem que essa passagem foi acrescentada posteriormente à obra 134. O trecho parece, à primeira vista, não se encaixar ao resto da obra por diversas 135 razões : Trata-se de um salmo de ação de graças (v.10), enquanto Jonas ainda se encontra no interior do grande peixe e não foi completamente salvo; O Jonas do capítulo primeiro (teimoso, preguiçoso, preconceituoso) é diferente do Jonas piedoso da oração; O salmo não faz referência aos eventos anteriores; O salmo sugere um uso litúrgico e a presença da comunidade (v.3, em terceira pessoa; v. 10)
No versículo 1 (das versões católicas), o peixe é masculino, e no final do segundo versículo trata-se de uma fêmea – indicando interpolação; Por fim, se retirarmos o salmo de Jonas, a narrativa não perde sua coerência. As razões do acréscimo desse trecho ao Livro não sabemos, apenas podemos imaginar. ―É possível que o livrinho sobre o profeta Jonas tivesse sendo ameaçado de ser destruído ou perdido ou, em época posterior, até de ser excluído do rol dos livros proféticos por causa de sua posição em favor dos não-israelitas. Grupos influentes do Israel pós-exílico poderiam sentir-se ameaçados em seus posicionamentos a favor do nacionalismo e do patriotismo exclusivista. Eles certamente estariam dispostos a fazer desaparecer uma narrativa tão incômoda como Jonas. A oração de agradecimento poderia ter amenizado o impacto negativo do livro nestas pessoas. Neste caso, o interpolador teria conseguido preservar o Livro de Jonas para a posteridade‖ 136. O salmo inicia de forma bastante semelhante a muitos outros salmos da Escritura: as versões BEP, ARA, ARC e CNBB, frisam o desespero da situação em que o profeta se encontra – ―na angústia‖ ele clama a Deus. Já as traduções TNM, NTLH e BAM diminuem um pouco o peso da experiência vivida ao traduzirem a expressão hebraica por ―aflição‖ e a BP exagera escrever que ―no perigo‖ Jonas grita ao Senhor – claramente adaptando a passagem ao risco iminente de morte pelo qual o personagem passa. A mesma análise pode ser feita com a ação que o profeta executa: ―clamar‖ (ARA, ARC, NTLH e TNM) fazem parte do repertório cultural evangélico; ―invocar‖ (BEP, BAM e CNBB) tem a conotação de querer Deus mais próximo – ambas vertentes enfocam a fé de Jonas; mas a BP torna-se coerente, quando traduz o termo para ―gritar‖, pois em uma situação de perigo extremo, o desespero é tamanho que se perde o autocontrole e realmente se grita por socorro – que se quer destacar aqui é o risco da experiência vivida. O substantivo usado para designar essa situação, no texto original, significa literalmente, ―aperto‖ 137, o que é muito coerente com o se imagina viver dentro do ventre de um peixe: escuridão, sufoco, ausência de ar para respirar e a vítima sendo contraída pelos músculos do animal cada vez mais. Interessante é que essa palavra pode ser utilizada em diversos contextos: perigos, medos, doença, problemas, aflições, especialmente nos salmos (p.ex, Sl 18,7; 22,18; 78,49; 120,1). Ao pedido do ser humano angustiado, ameaçado pela morte, há a correspondência de Deus: ―Ele me atendeu‖ (BP, BEP e CNBB) ou ―respondeu‖ (TNM, ARA, ARC, NTLH) – acentuando o aspecto da prontidão divina, tal como outrora na narrativa, ele prontamente enviou o monstro marinho para salvar seu servo. Mas, a BAM prefere destacar a atenção que o Senhor presta à súplica: ―ele me ouviu‖ – um Deus que escuta nossas orações, que presta atenção às palavras de seus filhos. Em paralelo a idéia de clamar e responder, como é costume da poesia hebraica, o próximo versículo coloca o binômio: pedir e escutar (todas as versões concordam aqui). A variação se dá na descrição do lugar de onde o profeta pede o auxílio divino. Temos sete leituras diferentes. A BP e a ARA falam no ―ventre do abismo‖ (CNBB, TNM e ARC também falam do ―ventre‖, mas o qualificam de outro modo), fazendo a referência ao ventre da baleia feminina, como se fosse o ventre materno (Is 44,24; 49,1; Sl 71,6), o que permite uma leitura psicanalística de renascimento, de gestacional, geradora. A BEP diz ―do fundo do abismo‖, talvez aludindo ao ―porão do navio‖ (Jn 1,5). Também a NTLH fala ―do fundo‖, mas diz que é do ―mundo dos mortos‖ – tradução da expressão típica da mentalidade bíblica Xeol (só a TNM usa a o termo ―ventre do Seol‖, com ―s‖). A versão da CNBB, para adaptar aos leitores modernos registra ―ventre da Morte‖ – algo bem neutro – e a BAM, ―do meio da morada dos mortos‖ (muito embora, para o leitor desavisado , possa significar um lugar físico). Erro
teológico grave comete a ARC ao traduzir Xeol como ―inferno‖, pois na concepção cristã o inferno é ―lugar‖ escatológico de auto -exclusão, de condenação eterna, já a ―Morada dos Mortos‖ de que fala a Bíblia é o dest ino de todos os mortos, sem exceção. ―O Sheol é a sepultura, à qual tem de descer toda criatura. É a região inferior, o mundo dos mortos, onde não há propriedade (Sl 48,17s), memória ou louvor a Deus (Sl 88,11-13), conhecimento (Ecl 9,10), possibilidade de retorno (Jó 7,9s; 10,22;16,22). Lá há sombras (Jó 26,5); lá não há esperança, porque se está longe de Deus (Is 38,18). Somente os mais afoitos admitem que Deus pode alcançar até o Sheol (Am 9,2; Pr 15,11; Sl 139,8)‖ 138. Deus escutar o clamor nesse canto inacessível ressalta seu poder redentor. O autor continua: ―lançaste-me‖ (BP, BAM, ARA, ARC, TNM) o que corresponde ao lançar de Deus (Jn 1,4), ao lançar a carga ao mar (Jn 1,5), ao lançar às sortes dos marinheiros (Jn 1,7) e o lançamento de Jonas ao mar (Jn 1,15). Lançaste-me ―nas profundezas‖ (BEP, ARC, BP e TNM) ou ―no abismo‖ (BAM, ARA e NTLH) é paralelo de Xeol, representado aqui como sendo o lugar das águas profundas. Todas as traduções analisadas formam um quadro coerente de alguém que está a se afogar no mar: as águas lhe cercam e as ondas lhe sobrepõe (a versão da CNBB, fala também do ―redemoinho‖), tudo muito provável de se acontecer em alto -mar. Entretanto, a TNM comete um grande erro: ―Quando me lançaste nas profundezas, no coração do alto-mar, Então me cercou um verdadeiro rio‖. Ora, primeiro se diz que o personagem foi lançado ao mar e, em seguida, foi cercado por um rio! O versículo seguinte (v.5 nas versões católicas e v.4 nas protestantes) aborda o que o ―eu poético‖ pensa a respeito de sua sit uação desesperadora. As diversas traduções analisadas variam quanto aos sentimentos: Na CNBB e na BP, residem um sentimento de esperança e confiança em Deus: ‗Fui expulso da presença do teu olhar, mas voltarei a admirar a beleza de teu santo templo‘. De algum modo, o personagem sabe que vai ser salvo . Ele Sabe que está sendo punido (de acordo com a lógica da teologia da retribuição) e tem confiança no Senhor de poder voltar ao Templo e oferecer um sacrifício reparatório por seus pecados. Na ARA (BEP), prevalece um sentimento de dúvida: ―Lançado estou de diante dos teus olhos; todavia, tornarei a ver o templo da tua santidade?‖ A pergunta aqui remete a consciência do personagem de que Deus sabe de suas faltas, mas será se Ele lhe dará mais uma chance para repará-las no Templo? Já na ARC é uma afirmativa: ―Lançado estou de diante dos teus olhos; todavia, tornarei a ver o templo da tua santidade‖. Na NTLH parece ainda mais conformista a atitude: ―Pensei que havia sido jogado fora da tua presença e que não tornaria a ver o teu santo Templo‖. Na TNM (e na BAM que fala em ―fui rejeitado‖), parece se expressar um sentimento de vergonha ou exclusão: ― Fui expulso de diante dos teus olhos! Como é que olharei novamente para o teu santo templo?
Em todas elas prevalecem o sentimento de punição: Jonas fora julgado por Deus e pelos marinheiros (Jn 1,7-11), reconhece sua culpa (Jn 1,12) e julga que tudo isso aconteceu como castigo. No próximo verso, nova repetição do tema da descrição do ambiente que o envolvia: acrescenta-se agora as algas que o envolvem. Há uma pequena variação. A BAM e a BP fala que ―As águas envolviam-me até a garganta, o abismo me cercava. As algas envolviam-me a cabeça‖, o que dá a entender que o personagem estava ainda na superfície e, estava começando a se afogar, pois estava engolindo água (em outras
versões, traduz-se nefesh por ―alma‖ como a ARA, ARC e TNM, o que se tornaria incoerente mediante o contexto de afogamento), mas para a BAM e a CNBB o personagem ainda está flutuando e as águas estão até ―o pescoço‖. Na segunda parte da BAM, ―as algas envolviam-me a cabeça‖, ou seja, o personagem afundou no mar e na BEP fala-se que ―um lodo se agarrava à minha cabeça‖, aqui o personagem já estaria tocando a areia do mar. Fica claro que o movimento aqui é de descida, completando a série de descidas que Jonas veio realizando ao longo da narrativa: desceu até Jope, depois, desceu ao navio, de lá desce ao barco para dormir (Jn 1,5), em seguida, ao mar (Jn 1,15), daí para o ventre da baleia, e depois para o ―ventre do abismo‖ (Jn 2,3) até às ―raízes dos montes‖ (Jn 2,7). Dentro da concepção geográfica do povo bíblico, o Xeol se localizava nas profundezas do mundo e era lá que os montes se alicerçavam para sustentar a abóboda celeste, quer dizer que o profeta tinha a tingido uma sem escapatória, chegara ao lugar, onde se crer que de lá não há retorno. Porém, o verso continua: ―tu retiraste da fossa a minha vida, Javé, meu Deus!‖, ou seja, apesar de se julgar indigno, Jonas tem sua vida redimida, graças ao ato gratuito de Deus – quebra-se aqui com a lógica da teologia da retribuição! ―O amor mais forte que a morte!‖, escreve o Livro dos Cânticos (8,6) da mesma época. A NTLH registra: ―quando senti que estava morrendo, eu lembrei de ti, ó SENHOR, e a minha oração chegou a ti, no teu santo Templo ‖ (nessa segunda parte todas as traduções correspondem). O desespero faz o eu poético voltar-se em oração ao único que pode salvar-lhe e, quebrando a lógica da teologia vigente, que dizia que só se podia entrar em intimidade com Deus no interior do Templo, experimenta uma situação de redenção real. O poder da oração sincera é grande o suficiente para chegar a Deus ―dentro do seu santo templo‖ (TNM), lá naquele recanto onde só o Sumo -sacerdote podia entrar, uma vez por ano. Em contra-partida, Deus é onisciente, não está preso ao santuário, Ele ao qual afirma ―tomar conhecimento da maldade dos ninivitas‖ não veria o arrependimento de Jonas? Rompe-se aqui as barreiras de relação entre puro e impuro, a relação com Deus se de forma gratuita. Ele é o Deus cuja palavra veio até Jonas (Jn 1,1), que desceu ao nível do seu interlocutor e se pôs a dialogar com ele (v. Jn 4). O versículo 9 (oito nas versões protestantes) parece romper a seqüência ao falar da idolatria: ―quem segue os ídolos, abandona o amor de Javé ‖ (BEP), ―a fonte das graças‖ (BAM), ―aquele que lhes é misericordioso‖ (ARA), ―a sua própria misericórdia‖ (ARC), ―a sua própria benevolência‖ (TNM), ―a sua lealdade‖ (BP) . O discurso universalista do autor não é ingênuo, não quer dizer que todas as práticas religiosas tenham o mesmo valor, o que ele quer dizer é que mais do que ritualismo do Templo, a religião se demonstra através da fé sincera e essa ultrapassa os limites da religião judaica, como se pode observar na conversão dos ninivitas (Jn 3). Mas, crer em Deus, significa também deixar os velhos hábitos e tudo o que eles representam. Por que se critica tanto a idolatria na Bíblia? Um primeiro ponto tem a ver com a escravidão e a liberdade. Adotar o culto de uma divindade significa adotar também um sistema político-econômico-social opressor. Por isso, Deus inicia o Decálogo recordando sua ação libertária: ―eu sou Javé seu Deus, que fez você sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não tenha outros deuses diante de mim‖ (Ex 20,1s). Se Ele libertou o Povo, não há porque retornar ao mesmo tipo de modelo exploratório. Por dentro da idolatria havia todo um jogo de interesses 139: sociedade desigual, fundada no interesse particular e organizada a partir de cima; exploração da força de trabalho, a terra pertence ao rei e o povo é obrigado a se empregar a duras penas impostas pelo rei (o qual era tido ou com o próprio Deus ou como seu representante), que se apropriava do excedente de produção dos camponeses
(Ex 5,6-18); poder centralizado no rei divino que é dono de tudo e decide sobre tudo (1Sm 8,10-17); exército permanente de mercenários utilizado para dominar e oprimir (1Sm 8,11s); as leis defendem o interesse do rei divino (Ex 1,8ss.22; 5,6-9); os deuses são criados como forma de manipular, legitimar, promover a exploração e a opressão (Js 24,14s); culto centralizado para celebrar o mito que legitima o poder do rei. (1Sm 5; 1Rs 11,1-8); os sacerdotes ricos e donos da terra são também os intermediários entre o povo e os deuses, colocando-se inteiramente a serviço do sistema (Gn47,20ss). No Livro de Daniel (Dn 14), podemos observar outra crítica: o aspecto mentiroso da idolatria, onde os sacerdotes usam de maquinações para sustentar a sua própria classe. Outro ponto que justificaria as críticas bíblicas à idolatria é o aspecto imoral desse tipo de culto: cultos da fertilidade, ―prostituição sagrada‖, sacrifícios humanos, inclusive, crianças; as críticas a esse tipo de comportamento são ferozes: a idolatria é vista como origem da prostituição (Sb 14,12), a ―prostituição sagrada‖ é encarada como adultério (Jr 3,9; Ez 23,37) e união e legítima (At 15,20), no Apocalipse a idolatria é listada ao lado do assassinato, da imoralidade, da feitiçaria e da mentira (Ap 21,8; 22,15). O Livro do Levítico critica fortemente o sacrifício de crianças ao deus da morte, Moloc (Lv 20,1-7) e a passagem do sacrifício de Isaac (Gn 22) é uma advertência a essa prática: Deus não quer esse tipo de holocausto. O grande problema na época pós-exílica, na qual o Livro de Jonas fora escrito, era justamente esse: havia muitos hebreus casados com mulheres estrangeiras e que tiveram que aderir seus cultos religiosos. A solução de Esdras e Neemias foi radicalizar: o povo devia expulsar suas esposas, com filhos e tudo! O autor de Jonas propõe o contrário: por que não tentar converter os estrangeiros? Afinal, não significaria as práticas religiosas dos outros povos, também um desejo de buscar a Deus, o único e verdadeiro Deus? Mais que o ritualismo excludente? Exatamente, por essa razão, que o eu poético termina o salmo com as seguintes palavras: ―Mas eu, entre cânticos de louvor, é a ti que presto o meu culto e com ação de graças cumpro os meus votos. A salvação pertence a Javé ‖ (BEP). O personagem está longe do Templo, mas ainda pode prestar culto a Deus, como em outro momento fizeram os marinheiro (Jn 1,16). O importante é adorar verdadeiramente.
Jonas e os ninivitas 1 A palavra de Javé foi dirigida a Jonas pela segunda vez, ordenando: 2 «Levante-se e vá a Nínive, a grande cidade, e anuncie-lhe o que vou dizer a você». 3 Jonas se levantou e foi a Nínive, conforme Javé lhe tinha ordenado. Nínive era uma cidade fabulosamente grande: tinha o comprimento de uma caminhada de três dias. 4 Jonas entrou na cidade e começou a percorrê-la, caminhando um dia inteiro. Ele dizia: «Dentro de quarenta dias, Nínive será destruída!» 5 Os moradores de Nínive começaram a acreditar em Deus, e marcaram um dia de penitência, vestindo-se todos de pano de saco, desde os maiores até os menores. 6 O fato chegou também ao conhecimento do rei de Nínive. Ele se levantou do trono, tirou o manto, vestiu um pano de saco e sentou-se em cima da cinza. 7 Mandou também publicar e anunciar aos ninivitas um decreto do rei e de seus ministros, nestes termos: «Homens, animais, gado e ovelhas não poderão comer nada, nem pastar, nem beber água. 8 Deverão vestir pano de saco, tanto homens como animais; e todos clamarão a Deus com toda a força. Cada um deverá converter-se de sua má conduta e deixar de lado toda espécie de ações violentas. 9 Quem sabe, assim, Deus volte atrás, fique com pena, apague o ardor de sua ira, e a gente consiga escapar». 10 Deus viu o que eles fizeram e como se converteram de sua má conduta; então, desistiu do mal com que os tinha ameaçado, e não o executou. (Jn 3,1-10 – Bíblia Edição Pastoral)
O terceiro capítulo se inicia como o primeiro: novamente a Palavra de Deus é dirigida a Jonas – parece uma segunda chance, um recomeço. O Jonas ―renascido‖, ―fortalecido‖ pela experiência de ―morte‖ e ―ressurreição‖ no interior do grande peixe, provara da misericórdia divina. Sua salvação indica que Deus perdoou-lhe o pecado e agora convoca novamente o profeta para levar a cabo a missão ao qual fora chamado na primeira vez. O movimento contínuo de descida ao qual Jonas se submeteu, agora segue o movimento contrário: Deus lhe fizera subir da ―fossa‖ (Jn 2,7) e agora expressa novo convite ao soerguimento – ―levanta-te‖ (Jn 3,2), tal qual fizera no primeiro capítu lo (Jn 1,2). A missão parece a mesma. Entretanto, em algumas traduções, nota-se uma pequena mudança. Se como vimos anteriormente, a mensagem podia ser contra a cidade, agora parece, não um anúncio de destruição, mas um chamado à conversão. Deus pede que seja anunciado aquilo que ele fala ao profeta. Em que sentido? Através das palavras ou da ação salvífica que Ele operou na vida de Jonas? Não sabemos. Deus ordena: ―Levanta-te e vai à grande cidade‖, dessa vez, o profeta obedece (Jn 3,3). Somente Jerusalém (cf. Jr 22,8), Gabaon (cf. Js 10,2) e Nínive são denominadas grandes cidade 140. O uso de hipérboles é característica do autor de Jonas: grande foi a tempestade, grande era a baleia... Nínive é descrita como ―uma grande cidade‖ (BAM e ARC), ―fabulosamente grande‖ (BEP e CNBB), ―uma metrópole‖ (BP), ―tão grande que uma pessoa levava três dias para atravessá -la a pé‖ (especifica a NTLH). Todavia, uma outra tradução pode ser possível: ―Nínive era cidade mui importante diante de Deus‖ (ARA e TNM) : importante não por suas dimensões, mas porque Ele tinha grandes planos para ela! As duas versões estão corretas: Já falamos que a cidade foi capital do império assírio até 612 a.C. (portanto, na época em que Jonas foi escrito, havia pelo menos uns cem anos que a cidade não mais existia!). O texto bíblico diz que era preciso três dias para percorrê-la (Jn 3,3) e que nela habitavam 120 mil pessoas. ―A cidade de Nínive tinha, aproximadamente, 4Km de diâmetro. As muralhas em torno da cidade tinham cerca de 12km de extensão. Com essas dimensões Nínive era, para a época, de fato, uma cidade ‗extraordinariamente grande‘. Seu diâmetro não chegava, no entanto, a um ‗caminho de três dias‘‖ 141. Mas, há quem diga que a grande Nínive abrangia um complexo de vilas associadas com até 48Km de extensão 142.
Por outro lado, a capital da Assíria podia ser grande aos olhos de Deus porque ele tinha grandes projetos para ela. Lá existia grandes centros de culto importantes dos deuses estrangeiros: Sin, Nergal, Shamash, Nabu e, principalmente, Ishtar. Isso mostra que o povo da cidade é religioso – o que ajudará a explicar também o rápido acolhimento à mensagem do profeta. A idéia universalista do autor transparece aqui: para o judeu nacionalista, Nínive é uma cidade que deve ser condenada por Deus à destruição, pois destruíra o reino do Norte e causara muito mal ao povo de Israel; para a mentalidade universalista, reconhece-se a fé dos ninivitas, o que lhes falta é alguém disposto a levá-los a mensagem do Deus Verdadeiro. O mesmo conflito de idéias se via no tempo do autor: os partidários do nacionalismo e da pureza étnica queriam que os judeus abandonassem suas esposas estrangeiras para não praticarem idolatria; os universalistas, ao contrário, pergunta: já que os estrangeiros são povo de fé, porque não convertê-los, ao invés de abandoná-los? O fato é que o profeta profere um oráculo de destruição: ―em quarenta dias a cidade será destruída‖ (Jn 1,4). Não se percebe Deus ordenando destruição da cidade durante a narrativa (exceto, numa interpretação meio ambígua de sua mensagem do segundo versículo no primeiro capítulo 143): seria profecia ou desejo de vingança?. Jonas não quer ser profeta, aquele que mostra o caminho de conversão ao povo, quer ser vidente, prever desgraças, converter pela força do medo. Ao mesmo tempo, executa sua missão às pressas: em uma cidade que se levava três dias de caminhada (Jn 3,3), ele a percorre em um dia (Jn 3,4). Sua rapidez não parece ser eficácia, mas negligência: não quis entrar na realidade do povo, conhecer sua história e religiosidade, talvez por medo ou preconceito, apenas passou feito cometa por eles, trazendo o mau presságio. Por outro lado, poderíamos pensar que sua pregação às carreiras, devia-se ao medo que sentia com relação ao povo estrangeiro, aqueles mesmos que a história consagrou como sendo de grande violência. Apesar de Jonas não ter empregado grandes esforços, sua pregação teve efeitos
BEP 5 Os moradores de Nínive começaram a acreditar em Deus, e marcaram um dia de penitência, vestindo-se todos de pano de saco, desde os maiores até os menores. 6 O fato chegou também ao conheciment o do rei de Nínive. Ele se levantou
BAM 5.Os ninivitas creram (nessa mensagem) de Deus, e proclamara m um jejum, vestindo-se de sacos desde o maior até o menor. 6.A notícia chegou ao conheciment o do rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou o manto, cobriu-se de
CNBB 5.Mas ninivitas passaram a crer em Deus e marcaram um dia de penitência, vestindo-se todos de saco, do maior até o menor. 6.O fato chegou até ao conheciment o do rei. Ele se levantou do trono, tirou o manto, vestiu um pano de saco e sentou na cinza.
ARA 5 Os ninivitas creram em Deus, e proclamara m um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor. 6 Chegou esta notícia ao rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou de si as vestes reais, cobriu-se de pano de
ARC 5 E os homens de Nínive creram em Deus, e proclamara m um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até ao menor. 3.6 Porque esta palavra chegou ao rei de Nínive, e levantou-se do seu trono, e tirou de si
NTLH TNM 5 Então os 5 E os moradores homens de de Nínive Nínive creram em começaram Deus e a depositar resolveram fé em Deus, que cada um e passaram devia jejuar. a proclamar E todos, um jejum e desde os a pôr mais serapilheira importantes , desde o até os mais maior deles humildes, até o menor vestiram deles. 6 roupa feita Quando a de pano palavra grosseiro a atingiu o rei fim de de Nínive, mostrar que então ele se estavam levantou do arrependidos seu trono e . despiu-se
do trono, saco e 7.Mandou tirou o sentou-se também manto, sobre a publicar e vestiu um cinza. 7.Em proclamar pano de saco seguida, foi aos ninivitas e sentou-se publicado este decreto em cima da pela cidade, do rei e seus cinza. 7 por ordem ministros: Mandou do rei e dos ―As pessoas, também príncipes, os animais, o publicar e este decreto: gado e as anunciar aos Fica ovelhas não ninivitas um proibido aos poderão decreto do homens e provar nada, rei e de seus aos animais, ficando sem ministros, tanto do pastar e sem nestes gado maior beber água. termos: como do 8.Pessoas e «Homens, menor, animais animais, comer o que deverão se gado e quer que vestir de ovelhas não seja, assim saco, poderão como pastar clamando a comer nada, ou beber. Deus com nem pastar, 8.Homens e força. Cada nem beber animais se um deverá água. 8 cobrirão de voltar atrás Deverão sacos. Todos de seus vestir pano clamem a caminhos de saco, Deus, em perversos e tanto alta voz; deixar de homens deixe cada praticar todo como um o seu tipo de animais; e mau opressão. todos caminho e 9.Quem clamarão a converta-se sabe, assim, Deus com da violência Deus volta toda a força. que há em atrás, tem Cada um suas mãos. compaixão, deverá 9.Quem revoga o converter-se sabe, Deus ardor de sua de sua má se ira e nós conduta e arrependerá, deixamos de deixar de acalmará o ser lado toda ardor de sua destruídos?‖. espécie de cólera e 10.Deus viu ações deixará de o que eles violentas. 9 nos perder! fizeram e Quem sabe, 10.Diante de como assim, Deus uma tal voltaram volte atrás, atitude, atrás de seus fique com vendo como caminhos pena, apague renunciavam perversos. o ardor de aos seus Compadecid sua ira, e a maus o, desistiu do gente caminhos, mal que tinha consiga Deus ameaçado. escapar». arrependeu Nada fez. se do mal 10 Deus viu que
saco e assentou-se sobre cinza.
as suas vestes, e 3.6 Quando cobriu-se de o rei de pano de Nínive 3.7 E fez- saco, e soube disso, se assentou-se levantou-se proclamar e sobre a do trono, divulgar em cinza. tirou o Nínive: Por manto, mandado do 3.7 E fez vestiu uma rei e seus uma roupa feita grandes, proclamaçã de pano nem o, que se grosseiro e homens, divulgou sentou-se nem em Nínive, sobre cinzas. animais, por nem bois, mandado do 3.7 nem rei e dos Mandou ovelhas seus também provem grandes, anunciar ao coisa dizendo: povo da alguma, Nem cidade o nem os homens, seguinte: levem ao nem ―Esta é uma pasto, nem animais, ordem do rei bebam nem bois, e dos seus água; nem ministros. ovelhas Ninguém 3.8 mas provem pode comer sejam coisa nada. Todas cobertos de alguma, as pessoas e pano de nem se lhes também os saco, tanto dê pasto, animais, o os homens nem bebam gado e as como os água. ovelhas animais, e estão clamarão 3.8 Mas os proibidos de fortemente homens e os comer e a Deus; e se animais beber. converterão estarão , cada um cobertos de 3.8 Que do seu mau panos de todas as caminho e saco, e pessoas e da violência clamarão animais que há nas fortemente a vistam suas mãos. Deus, e se roupas feitas converterão, de pano 3.9 Quem cada um do grosseiro! sabe se seu mau Que cada voltará caminho e pessoa ore a Deus, e se da violência Deus com arrependerá que há nas fervor e , e se suas mãos. abandone os apartará do seus maus furor da sua 3.9 Quem caminhos e ira, de sorte sabe se se as suas que não voltará maldades! pereçamos? Deus, e se arrependerá, 3.9 Talvez 3.10 Viu e se apartará assim Deus
de seu manto oficial e cobriu-se de serapilheira ,e assentou-se nas cinzas. 7 Além disso, fez proclamar e dizer em Nínive, pelo decreto do rei e dos seus grandes, dizendo: ―Nenhum homem e nenhum animal doméstico, nem manada nem rebanho, deve saborear coisa alguma. Nenhum [deles] deve tomar alimento. Nem mesmo água devem beber. 8 E cubram-se de serapilheira , homem e animal doméstico; e clamem a Deus com força e recuem, cada um do seu mau caminho e da violência que havia nas suas mãos. 9
o que eles fizeram e como se converteram de sua má conduta; então, desistiu do mal com que os tinha ameaçado, e não o executou.
resolvera fazer-lhes, e não o executou.
Deus o que do furor da fizeram, sua ira, de como se sorte que convertera não m do seu pereçamos? mau caminho; e 3.10 E Deus se Deus viu as arrependeu obras deles, do mal que como se tinha dito converteram lhes faria e do seu mau não o fez. caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez.
mude de idéia. Talvez o seu furor passe, e assim não morreremos! ‖ 3.10 Deus viu o que eles fizeram e como abandonara m os seus maus caminhos. Então mudou de idéia e não castigou a cidade como tinha dito que faria.
Quem sabe se o [verdadeiro ] Deus [não] voltará e realmente [o] deplorará, e recuará da sua ira ardente, para que não pereçamos? ‖ 10 E o [verdadeiro ] Deus chegou a ver os seus trabalhos, que tinham recuado de seu mau caminho; e por isso o [verdadeiro ] Deus deplorou a calamidade de que falara que lhes ia causar; e ele não [a] causou.
(BP) levantai-me no ar e lançai-me ao mar e o mar se acalmará ao redor de vós, pois sei que foi por minha causa que vos sobreveio esta furiosa tempestade. (BEP) É só vocês me pegarem e me atir ar em ao mar , que ele se acalmará em volta de vocês; eu sei que foi por minha causa que lhes veio essa tempestade tão violenta (BAM) Tomai-me, disse Jonas, e lançai-me às águas, e o mar se acalmará. Reconheço que sou eu a causa desta terrível tempestade que vos sobreveio (CNBB) Vamos! Atirai-me ao mar e ele ficará todo calmo ao vosso derredor, porque eu sei que foi por minha causa que vos veio tão forte temporal
(ARA) Respondeu-lhes: Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará, porque eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade.. (ARC) E ele lhes disse: Levantai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará; porque eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade (NTLH) Jonas respondeu: — Vocês me peguem e joguem no mar , que ele ficará calmo. Pois eu sei que foi por minha culpa que esta terrível tempestade caiu sobre vocês. (TNM) Levantai-me e arremessai-me no mar, e o mar se aquietará para vós; porque me apercebo de que é por minha causa que veio sobre vós esta grande borrasca BEP BAM CNBB 1 Jonas ficou .Jonas ficou 1.Jonas muito profundamente ficou, então, desgostoso e indignado com muito despeitado. 2 isso e, muito amargurado E rezou a irritado, e irritado. Javé: «Ah! dirigiu ao 2.E assim Javé! Não Senhor esta orou ao era prece: Ah, SENHOR: justamente Senhor, era ―Ah, isso que eu bem isto que SENHOR! dizia quando eu dizia Não era isso estava na quando estava mesmo o minha terra? ainda na que eu dizia Foi por isso minha terra! É quando que eu corri, por isso que eu estava na tentando tentei minha terra? fugir para esquivar-me, Foi por isso Társis, pois fugindo para que eu corri, eu sabia que Társis, tentando tu és um 2.porque sabia fugir para Deus que sois um Társis, pois compassivo Deus clemente eu sabia que e clemente, e és um Deus lento para a misericordioso bondoso ira e cheio , de coração demais, de amor, e grande, de sentimental, que voltas muita lerdo para atrás nas benignidade e ficar com ameaças compaixão raiva, de feitas. 3 Se é pelos nossos muita assim, Javé, males. misericórdia tira a minha 3.Agora, e tolerante vida, pois eu Senhor, toma a com a acho melhor minha alma, injustiça. morrer do porque me é 3.Então, que ficar melhor a SENHOR, vivo». morte que a tira a minha 4 Javé vida. 4.O vida, pois eu respondeuSenhor acho melhor lhe: «Está respondeu-lhe: morrer do certo você (Julgas que) que viver‖. ficar irritado tens razão para 4.O desse jeito?» te afligires SENHOR 5 Jonas saiu assim? 5.Então lhe da cidade e saiu Jonas da respondeu: ficou no lado cidade e fixou―Será que do nascer do se a oriente da está correto
ARA
ARC
NTLH
4.1 Com isso,
4.1 Mas
4.1 Por
desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado.
desgostou-se Jonas extremamente disso e ficou todo ressentido.
causa disso, Jonas ficou com raiva e muito aborrecido.
4.2 E orou ao
SENHOR e disse: Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso , e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal.
4.2 E orou ao
SENHOR e disse: Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus piedoso e misericordioso , longânimo e grande em benignidade e que te arrependes do mal.
4.3 Peço-te,
pois, ó SENHOR, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver. 4.4 E disse o
SENHOR: É razoável essa tua ira? 4.5 Então,
Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao
4.3 Peço-te,
pois, ó SENHOR, tira-me a minha vida, porque melhor me é morrer do que viver. 4.4 E disse o
SENHOR: É razoável esse teu ressentimento? 4.5 Então,
4.2 Então orou assim: — Ó SENHOR Deus, eu não disse, antes de deixar a minha terra, que era isso mesmo que ias fazer? Foi por isso que fiz tudo para fugir para a Espanha! Eu sabia que és Deus que tem compaixão e misericórdia . Sabia que és sempre paciente e bondoso e que estás sempre pronto a mudar de idéia e não castigar. 4.3 Agora, ó SENHOR, acaba com a minha vida porque para mim é melhor
TNM 1 Isso, porém, desagradava muito a Jonas e acendeu-se a sua ira. 2 Por isso orou a Jeová e disse: ―Ai! ó Jeová, não foi esta a minha questão quando vim a estar no meu próprio solo? Por isso é que fui e fugi para Társis; pois eu sabia que és um Deus clemente e misericordioso , vagaroso em irar-se e abundante em benevolência, e que deploras a calamidade. 3 E agora, ó Jeová, por favor, tira-me a minha alma, pois é melhor eu morrer do que ficar vivo.‖ 4 Jeová disse por sua vez: ―É de direito que se acendeu a tua ira?‖ 5 Jonas saiu então da cidade e sentou-se ao oriente da cidade; e ali
sol. Aí fez mesma cidade. ficares tão oriente da uma cabana Fez uma irritado?‖ mesma, e ali e sentou-se cabana para si 5.Jonas saiu fez uma na sombra, e lá da cidade, enramada, e esperando permaneceu, à foi para o repousou para ver o sombra, lado do debaixo dela, à que esperando para nascente, sombra, até aconteceria ver o que onde fez um ver o que com a aconteceria à abrigo onde aconteceria à cidade. 6 O cidade. 6.O se sentou à cidade. Senhor Javé Senhor Deus sombra até fez nascer fez crescer um ver o que ia 4.6 Então, fez uma pé de acontecer à o SENHOR mamoneira, mamona, que cidade. 6.O Deus nascer que cresceu se levantou SENHOR uma planta, de modo a acima de Deus que subiu por fazer sombra Jonas, para providenciou cima de Jonas, sobre a fazer sombra à uma para que cabeça de sua cabeça e mamoneira fizesse sombra Jonas e curá-lo de seu que cresceu sobre a sua livrá-lo de mau humor. sobre Jonas, cabeça, a fim uma Jonas alegroude forma a de o livrar do insolação. E se fazer sombra seu Jonas ficou grandemente na sua desconforto. muito com aquela cabeça, Jonas, pois, se contente mamoneira. refrescandoalegrou em com essa 7.Mas, no dia a da raiva extremo por mamoneira. seguinte, ao que sentia. causa da 7 Então, na romper da Jonas ficou planta. madrugada manhã, muito seguinte, mandou Deus satisfeito 4.7 Mas Deus enviou um verme que com a Deus, no dia um verme roeu a raiz da mamoneira. seguinte, ao que mamona, e 7.Deus, subir da alva, prejudicou a esta secou. porém, enviou um mamoneira, 8.Quando o providenciou verme, o qual e ela secou. sol se um verme feriu a planta, 8 Quando o levantou, Deus que na e esta se sol nasceu, fez soprar um madrugada secou. Javé mandou vento ardente seguinte um vento do oriente, e o atacou a 4.8 Em quente e sol dardejou mamoneira e nascendo o sufocante; e seus raios ela secou. sol, Deus o sol sobre a cabeça 8.Após o mandou um abrasava a de Jonas, de nascer do vento calmoso cabeça de forma que o sol, Deus oriental; o sol Jonas, a profeta, mandou um bateu na ponto de desfalecido, vento cabeça de fazê-lo desejou a oriental Jonas, de desmaiar. E morte, muito quente maneira que Jonas tornou dizendo: e o sol desfalecia, a pedir a Prefiro a morte passou a pelo que pediu morte, à vida. 9.O castigar a para si a dizendo: Senhor disse a cabeça de morte, «Prefiro Jonas: (Julgas Jonas, que se dizendo: morrer do que) fazes bem sentiu mal. Melhor me é que ficar em te irritares Tornou a morrer do que vivo!» 9 por causa de pedir a viver! Deus uma planta? morte, perguntou a Jonas dizendo: 4.9 Então, Jonas: «Está respondeu: ―Prefiro perguntou certo você Sim, tenho morrer a Deus a Jonas: ficar com razão de me ficar vivo!‖ É razoável tanta raiva irar até a 9.E Deus essa tua ira por por causa da morte. lhe disse: causa da mamoneira? 10.Tiveste ―Será que planta? Ele » Ele compaixão de está correto respondeu: É
Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da cidade, e ali fez uma cabana, e se assentou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade. 4.6 E fez o
morrer do que viver. 4.4 O SENHOR respondeu: — Jonas, você acha que tem razão para ficar com tanta raiva assim?
SENHOR Deus nascer uma aboboreira, que subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira.
4.5 Aí Jonas saiu de Nínive, foi para o lado onde o sol nasce e sentou-se. Depois, construiu um abrigo e sentou-se na sombra, esperando para ver o que ia acontecer com a cidade.
4.7 Mas Deus
4.6 Então o
enviou um bicho, no dia seguinte, ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou.
SENHOR Deus fez crescer uma planta por cima de Jonas, para lhe dar um pouco de sombra, de modo que ele se sentisse mais confortável. E Jonas ficou muito satisfeito com a planta.
4.8 E aconteceu que, aparecendo o sol, Deus mandou um vento calmoso, oriental, e o sol feriu a cabeça de Jonas e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver. 4.9 Então, disse Deus a Jonas: É acaso razoável que assim te enfades por
4.7 Mas no dia seguinte, quando o sol ia nascer, por ordem de Deus um bicho atacou a planta, e ela secou. 4.8 Depois
que o sol nasceu,
foi fazer para si uma barraca, para ficar sentado à sombra debaixo dela até que visse o que ia acontecer à cidade. 6 Por conseguinte, Jeová Deus providenciou que subisse sobre Jonas um cabaceiro para vir a ser para sombra sobre a sua cabeça, a fim de tirá-lo do seu estado calamitoso. E Jonas começou a alegrar-se muito com o cabaceiro. 7 Mas o [verdadeiro] Deus providenciou um verme ao subir da alva no dia seguinte, para que atacasse o cabaceiro; e este secou-se aos poucos. 8 E sucedeu que, assim que raiou o sol, Deus providenciou também um vento oriental abrasador e o sol se abatia sobre a cabeça de Jonas, de modo que desmaiava; e ele pedia que sua alma morresse e dizia repetidas vezes: ―É melhor eu morrer do que ficar vivo.‖ 9 E Deus passou a dizer a Jonas: ―É de
respondeu: «Sim, está certo eu ficar com raiva, a ponto de pedir a morte». 10 Javé lhe disse: «Você está com dó de uma mamoneira, que não lhe custou trabalho, que não foi você quem a fez crescer, que brotou numa noite e na outra morreu? 11 E eu, será que não vou ter pena de Nínive, esta cidade enorme, onde moram mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem distinguir a direita da esquerda, além de tantos animais?»
um arbusto, replicou-lhe o Senhor, pelo qual nada fizeste, que não fizeste crescer, que nasceu numa noite e numa noite morreu. 11.E então, não hei de ter compaixão da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil seres humanos, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e uma inumerável multidão de animais?...
tu ficares tão irritado por causa da mamoneira? ‖ Ele respondeu: ―Está certo, sim, eu ficar com raiva e até pedir a morte!‖ 10.O SENHOR lhe disse: ―Estás com pena de uma mamoneira que não te deu trabalho, que não foste tu que a fizeste crescer e que numa noite nasceu e numa noite morreu. 11.Pois eu não terei pena de Nínive, esta enorme cidade onde moram mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem distinguir entre a direita e a esquerda, além de tantos animais?‖
razoável a minha ira até à morte. 4.10 Tornou
o SENHOR: Tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que numa noite nasceu e numa noite pereceu; 4.11 e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais?
causa da aboboreira? E ele disse: É justo que me enfade a ponto de desejar a morte. 4.10 E disse
o SENHOR: Tiveste compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer; que, em uma noite, nasceu e, em uma noite, pereceu; 4.11 e não
hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?.
Deus mandou um vento quente vindo do leste. E Jonas quase desmaiou por causa do calor do sol, que queimava a sua cabeça. Então quis morrer e disse: — Para mim é melhor morrer do que viver! 4.9 Mas
Deus perguntou: — Jonas, você acha que está certo ficar com raiva por causa dessa planta? Jonas respondeu: — É claro que tenho razão para estar com raiva e, com tanta raiva, que até quero morrer! 4.10 Então
o SENHOR Deus disse: — Essa planta cresceu numa noite e na noite seguinte desapareceu. Você nada fez por ela, nem a fez crescer, mas mesmo assim tem pena dela! 4.11 Então
eu, com muito mais razão, devo ter pena da grande
direito que se acendeu a tua ira por causa do cabaceiro?‖ Então ele disse: ―É de direito que se acendeu a minha ira a ponto de [eu querer] morrer.‖ 10 Mas Jeová disse: ―Tu, da tua parte, tens pena do cabaceiro que não cultivaste nem fizeste crescer, mostrando ser apenas algo que cresceu de noite e que pereceu apenas como algo que cresceu de noite. 11 E eu, da minha parte, não devia ter pena de Nínive, a grande cidade, em que há mais de cento e vinte mil homens que absolutamente não sabem a diferença entre a sua direita e a sua esquerda, além de [haver] muitos animais domésticos?‖
cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil crianças inocentes e também muitos animais!
1
ARENS, Eduardo. A Bíblia sem mitos – uma introdução crítica. São Paulo: Paulus, 2007 p. 32. Kilpp localiza a aldeia de Gat-Ofer na Galiléia. In: KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 32. Gat-Ofer é a mesma cidade chamada Gat Hefer, Localidade situada a 5 km a noroeste de Nazaré, no território da tribo de Zabulon. Atual El-Meshed. Disponível em: http://www.atosdois.com.br/print6.php?titcod=4340 3 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 15 4 SCHÖKEL, L. A.; SICRE DIAZ, J. L. Profetas II. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2002. Resenha disponível em: http://blog.airtonjo.com/2010/09/mes-da-biblia-2010-jonas-segundo.html Para Kilpp, o Livro foi escrito entre os séc. V-IV a.C. Kilpp localiza a aldeia de Gat-Ofer na Galiléia. In: KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 15; O subsídio do Serviço de Animação Bíblica fala no séc. IV. SAB Levanta-te, vai à grande cidade (Jn 1,2): Introdução ao estudo do profeta Jonas . São Paulo: Paulinas, 2010 p. 8; Mercedes Lopes, o coloca no séc. V. LOPES, M. O livro de Jonas: Uma história de desencontro entre um profeta zangado e um Deus brincalhão . São Paulo: Paulus, 2010 . 5 Cf. KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 pp. 15-17. 6 ―Israel não é um povo que se aventura no mar, e o termo ‗marinheiro‘ ocorre somente quatro vezes na Bíblia Hebraica. Além de Jn 1,5 todas as demais vezes encontram-se em Ezequiel, que profetiza contra a cidade de Tiro (cf. Ez 27,9.27.29). o termo ‗marinheiro‘ deriva de sal. Assim, os m arinheiros sã os ‗homens salgados‘ por estarem em contínuo contato com as águas do mar‖. In:FERNANDES, Leonardo Agostini. Jonas – comentário bíblico. São Paulo: Paulinas, 2010 p.10. 7 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB). Crescer na leitura da Bíblia (n.39). 8 EQUIPE NACIONAL DA DIMENSÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA. Como nossa Igreja lê a Bíblia. São Paulo: Paulus, 1995 p. 22. 9 Baseado em ARENS, Eduardo. A Bíblia sem mitos – uma introdução crítica. São Paulo: Paulus, 2007 pp. 92-93 e PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. Interpretação da Bíblia na Igreja B,2. 10 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 22. 11 Ibidem. 12 SERVIÇO DE ANIMAÇÃO BÍBLICA (SAB). A Comunidade renasce ao redor da Palavra – período Persa (visão global – 9). São Paulo: Edições Paulinas, 2004 (3ª Ed.) p.53. 13 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 18. 14 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 11. 15 Disponínvel em: http://www.galeriabiblica.com/2009/09/ninive-babilonia-e-ebla.html Entretanto, existem boas razões para se acreditar que na época que o Livro de Jonas foi escrito Nínive não mais existia. Ver Comentário ao Livro de Jonas II. 16 É o que diz, por exemplo, o Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ―Contradições‖ da Bíblia, de GEISLER, N. e HOWE, T. (p.316). Existe também uma tradição local que sustenta o mesmo. Ver o site Wikipedia na versão em inglês: http://en.wikipedia.org/wiki/Jonah (verbete: Jonah). 17 É a opinião expressa no site: http://doutorteologia.blogspot.com/2008/11/o-profeta-jonas.html (acesso: 20/09/10) 2
18
O contra-argumento seria que o Jonas mencionado no Livro dos Reis viveu no séc. VIII a.C. e o Livro de Jonas apresenta claros indícios que foi escrito entre os séc. V e IV a.C. Ver Comentário ao Livro de Jonas II. 19 É a opinião expressa in: GEISLER, N. e HOWE, T. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ―Contradições‖ da Bíblia. São Paulo: Mundo Cristão, 1999 pp. 315-316 e que é reproduzida em vários sites na internet. Na contra-mão desse argumento, o pastor luterano Nelson Kilpp nos fornece três possíveis interpretação para o ―sinal de Jonas‖: refere -se à pregação de Jesus que leva à conversão e penitência como a pregação de Jonas levou os ninivitas ao arrependimento; pode ser também a aceitação dos gentios à mensagem de Jesus, ao passo que os judeus a rejeitam; ou, por último, a prefiguração da morte e ressurreição de Cristo. In: KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 10. Jesus fala de Jonas não como personagem histórico, mas se serve da história conhecida por seus ouvintes para ensinar grandes verdades acerca da fé e da ressurreição. 20 Para Paulo da Silva Neto Sobrinho, ―esse ―diz-se‖ de Josefo é sintomático: não queria atestar a veracidade do fato. Mas a possibilidade de uma pessoa cair no mar e, dias depois, aparecer na praia não é um fato inacreditável; o que o torna ficção é dizer que ela esteve viva durante três dias no ventre de uma baleia‖. Disponível em: http://www.paulosnetos.net/attachments/054_Jonas_e_a_baleia.pdf Observemos também que a afirmação de Josefo (morto no fim do séc. I d.C. início do II) é feita, pelo menos, quatrocentos anos após o Livro de Jonas ter sido escrito e se encontra meio deslocada: Jonas não anunciou que os ninivitas ―perderiam depressa seu império‖, mas a conversão. Ao que parece, Josefo colhe tradições em voga na sua época sobre o profeta Jonas, como, por exemplo, o fato de ele ter sido lançado pela baleia no Ponto Euxino, coisa que não aparece no relato bíblico, mas que ainda é tradição local, cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Jonah (em inglês) 21 Rebate-se esse argumento, dizendo que não se descobriu todos os documentos ou que era costume antigo registrar-se apenas os fatos favoráveis às nações e não aquilo que fosse negativo à imagem do império, é a opinião expressa no site: http://todahelohim.blogspot.com/2010/09/sobre-o-livro-de-jonasquestoes.html. 22 Ao que se treplica dizendo que era comum à mentalidade da época referir-se ao rei de uma nação como rei de sua capital. http://todahelohim.blogspot.com/2010/09/sobre-o-livro-de-jonas-questoes.html 23 Diz-se que era preciso caminhar por três dias (Jn 3,3) para percorrer Nínive e que sua população era de 120 mil pessoas (Jn 4,11). Segundo o pastor Valtencir Alves, ― o nome Nínive abrangia um complexo de vilas associadas, servidas por um único sistema de irrigação, protegidas por uma única rede de fortificações baseada nas defesas formadas pelos rios. A cidade central, que era a grande área palaciana no meio do grande sistema, também se chamava Nínive. A Nínive maior media uns 48 km de extensão e uns 16 de largura. Era protegida por 5 muralhas e 3 valas, construídas com o trabalho forçado de milhares sem conta de cativos estrangeiros. A cidade interior de Nínive, propriamente, era de uns 4.800 m. de extensão, e 2.400 de largura, construída na junção do Tigre com o Kôser e protegida por muralhas de 30 m de altura, bastante largas para sobre elas correrem 4 carros emparelhados, e de 12 km de circuito‖. In: http://doutorteologia.blogspot.com/2008/11/o-profeta-jonas.html Entretanto, para Kilpp, ―a cidade de Nínive tinha, aproximadamente, 4Km de diâmetro. As muralhas em torno da cidade tinham cerca de 12km de extensão. Com essas dimensões Nínive era, para a época, de fato, uma cidade ‗extraordinariamente grande‘. Seu diâmetro não chegava, no entanto, a um ‗caminho de três dias‘. Isso não deve incomodar os leitores, pois exageros são freqüentes nesse tipo de liter atura‖ (p.86). E, em outro trecho, o mesmo autor declara: ―o número 12 X 10.000 pode ser um número simbólico que indica totalidade e grande quantidade. Não preserva necessariamente memória da população real de Nínive em determinada época‖. In: KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 110. Acrescenta-se a isso o fato de que ―a maioria das cidades da antiguidade não possuíam mais do que dez mil habitantes, e não eram maiores do que 1 km². Porém, algumas delas eram muito maiores - em ter mos populacionais e territoriais. Atenas, no seu apogeu, tinha uma população estimada entre 150 e 300 mil habitantes, espremidos em 10 km²‖ Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_das_cidades 24 Aqui temos o conflito entre posições filosóficas a possibilidade ou não da existência de milagres. Um fato a mais deve ser considerado: existem muitas lendas e mitos que na Antiguidade que retratam episódios parecidos com o de Jonas. Veja, por exemplo, http://en.wikipedia.org/wiki/Jonah (em inglês) 25 ―A interpretação alegórica vê em cada elemento de um relato um símbolo, como representação de um sentido oculto (...) é (...) a apresentação de um conceito por meio de imagens concretas (...) não tem sentido denotativo, mas figurado, pois remete a uma verdade oculta‖. ARENS, Eduardo. A Bíblia sem mitos – uma introdução crítica. São Paulo: Paulus, 2007 p. 337. 26 SCHÖKEL, L. A.; SICRE DIAZ, J. L. Profetas II. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2002. Resenha disponível em: http://blog.airtonjo.com/2010/09/mes-da-biblia-2010-jonas-segundo.html Para esse autores, a interpretação alegórica encontra sérios obstáculos, pois alguns elementos da narrativa não admitem uma
transposição: O que significariam os marinheiros? Israel partiu voluntariamente para o exílio como Jonas pediu para ser atirado ao mar? Que significado teria a mamoneira? Estes problemas sem solução tornam esta interpretação pouco digna de crédito e são poucos os exegetas que ainda hoje a sustentam (idem). 27 ―(...) A tradição judaica, bem como a cristã, viu em certos acontecimentos , instituições e personagens do passado, prefigurações de outros posteriores. Estas prefigurações se chamam tipos‖. ARENS, Eduardo. A Bíblia sem mitos – uma introdução crítica. São Paulo: Paulus, 2007 p. 338. Daí, a interpretação cristológica chamar-se também tipológica. 28 Mas, para, SCHÖKEL & SICRE, o paralelismo não vai além disso, porque Jesus jamais fugiu de Deus ou da sua palavra, não opôs resistência ao mandato de Deus, não desceu ao ventre da terra pelos seus pecados, não se magoou com Deus. Jesus é totalmente contrário à figura de Jonas, um anti-Jonas (idem) 29 Idem. 30 Conforme: http://en.wikipedia.org/wiki/Book_of_Jonah (em inglês). 31 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 12. 32 Disponível em: http://www.cbiblicoverbo.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=87:introducao-aolivro-de-jonas-parte-i&catid=43:aprofundamento-biblico&Itemid=96 33 Midraxe (ou Midrash) designa a exegese rabínica, muito minuciosa, verso por verso e, às vezes, letra por letra, do Antigo Testamento e também pode ser encontrado no Novo. Midraxe deriva do termo hebraico ―darash―, que significa ―perscrutar‖, ―procurar‖, ―explicar‖, ―investigar‖. Na literatura rabínica, trata-se de um estudo, um comentário ou uma explicação de caráter homilético do AT. Pode-se distinguir dois tipos de midraxe: a halakhah (―caminho‖, isto é, ―conduta‖) e a haggadah (―narração‖). A halakhah é uma explicação da Lei e a haggadah é uma explicação das passagens narrativas do Pentateuco, com o objetivo de extrair delas lições edificantes (H. Schlesinger). O objetivo do midraxe é a aplicação prática do texto ao presente ; assim, um preceito deve ser reafirmado ou um episódio usado, de modo a iluminar e orientar a vida do povo. Não há paralelos do midraxe na literatura grega e latina. Citado por: LUCAS, pe. Os gêneros literários da bíblia (IV). Disponível em: http://teologiabiblica.wordpress.com/2008/04/18/osgeneros-literarios-da-biblia-iv/ 34 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 63. 35 Sobre isso ver Comentário ao Livro de Jonas – II. 36 HARRINGTON, Wilfrid. Chave para a Bíblia. São Paulo: Paulus, 1985 (4ª Ed.) p.68. 37 Veja Comentário ao Livro de Jonas – II. 38 ARENS, Eduardo. A Bíblia sem mitos – uma introdução crítica. São Paulo: Paulus, 2007 p. 113 39 Veja o que escrevemos sobre isso em Comentário ao livro de Jonas - II 40 Baseado em HARRINGTON, Wilfrid. Chave para a Bíblia. São Paulo: Paulus, 1985 (4ª Ed.) pp. 131132. O autor fala em três deportações (em 597 a.C., 587 a.C. e 582 a.C.), embora admita que é difícil precisar o número exato, estima cerca de 20 mil pessoas (Idem, p.132). 41 Idem, p. 137. 42 Idem, p. 136. 43 Os persas organizavam seu vasto império que cobria as fronteiras do Mar Cáspio, o Cáucaso, o Mar Negro, o Mediterrâneo, os desertos da África e da Arábia, o Golfo Pérsico e a Índia, dividindo-os em unidades administrativas, quase autônomas, chamadas satrapias, cujo número variava entre vinte e vinte e quatro, dependendo da época. Cada uma delas era governada por um alto dignatário, o sátrapa, escolhido dentre a alta nobreza e até mesmo dentre os membros da família real, para governar a província por um tempo indefinido enquanto aprouvesse ao soberano mantê-lo no cargo. O sátrapa era responsável somente perante o monarca, entre outras atribuições, a de receber os impostos. Ao seu lado havia mais dois dignitários com poderes independentes: o secretário (incumbido de manter relações com a corte e torná-la ciente dos acontecimentos) e o general (que contrabalanceava os poderes do sátrapa). A eles acrescentemos o conselho composto pelos persas da província e os representantes das populações indigentes. Inspetores itinerantes, tidos como ―olhos e ouvidos do rei‖ que percorriam anualmente as províncias a fim de informar ao governo central da situação reinante, um simples relato desabonador deles poderia acarretar, sem maiores formalidades, a condenação à morte dos sátrapas. In: GIORDANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. São Paulo: Vozes, 1997 (10ª Ed.) p.279. É o que parece ter ocorrido, por exemplo, com Zorobabel e o profeta Ageu, que desapareceram misteriosamente. In: SERVIÇO DE ANIMAÇÃO BÍBLICA (SAB). A Comunidade renasce ao redor da Palavra – período Persa (visão global – 9). São Paulo: Edições Paulinas, 2004 (3ª Ed.) p. 26. Note que tanto Zorobabel como Neemias foram enviados a Judá como governadores (Esd 6,7; Ag 1,1; Ne 5,14): sátrapas? 44 O dinheiro, como medida de valor na troca de produtos, já existia bem antes da moeda. No Israel antigo caracteriza-se a riqueza pela posse do gado. É usado também o ouro, na forma de peças de enfeite, pesado segundo o método sumério-babilônico, o shekel , assim como a prata. As primeiras moedas citadas no AT
são as dracmas persas de ouro, os dáricos, cunhadas por Dario I após 517 a.C. No tempo de Ciro e de Cambises não havia determinações fixas sobre o tributo devido pelas províncias do Império Persa. Dario cria um sistema que permite calcular receitas e despesas e regulariza os tributos com a criação da moeda. In: http://www.airtonjo.com/historia30.htm#_ftnref47 45 ―De Susa a Sardes uma caravan l evava noventa dias, mas os correios reais percorriam o mesmo trajeto em apenas uma semana‖. GIORDANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. São Paulo: Vozes, 1997 (10ª Ed.) p.281. 46 ―O instrumento por excelência do poderio persa era o exército. A elite das forças armadas era fornecida pelos persas e medos. A guarda real se compunha de dois mil infantes e dois mil cavaleiros, todos nobres. Seguia-se o corpo dos dez mil imortais, assim chamados porque na batalha seu número nunca diminuía, pois as baixas eram logo preenchidas com novos elementos. As satrapias forneciam o gromo do exército. Os povos cavaleiros, principalmente os habitantes das estepes, constituíam a cavalaria; os hindus utilizavam carros puxados por zebras e cavalos; os árabes compareciam com seus camelos; as populações do litoral mediterrâneo compareciam com seus camelos; as populações do litoral mediterrâneo contribuíam com os elementos de uma poderosa esquadra. Note-se que na hierarquia militar, os postos de oficiais superiores e generais eram reservados aos persas. O grande defeito do exército dos reis persas era sua heterogeneidade: quando essas massas, às vezes confusas, encontravam diante de si tropas homogêneas e bem organizadas, fracassavam. Foi o que aconteceu, por exemplo, nas guerras com os gregos e no ataque de Alexandre‖. GIORDANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. São Paulo: Vozes, 1997 (10ª Ed.) p.280. Perceba também que a manutenção de um exército de mercenários dessas proporções envolve altos custos, isso acarretará, futuramente, aumento da tributação sobre as províncias do império, o que, obviamente, trará revoltas. 47 SERVIÇO DE ANIMAÇÃO BÍBLICA (SAB). A Comunidade renasce ao redor da Palavra – período Persa (visão global – 9). São Paulo: Edições Paulinas, 2004 (3ª Ed.), p. 17. Sugere-se que o império persa tenha algo a ver com o recolhimento das tradições e leis de Israel e Judá: ―Dario I, rei da Pérsia, em 518 a.E.C., ordenou ao governador do Egito que constituísse uma comissão para recolher as leis egípcias (decretos, tradições religiosas, procedimentos de processos etc.), a fim de que elas servissem de orientação interna da satrapia. Acredita-se que essa medida tenha se estendido a todas as demais satrapias do império, como também a Judá. Isso teria servido de incentivo também aos exilados para recolher seus escritos sagrados a fim de servir de base para sua organização e definir sua identidade cultural e religiosa. Por coincidência ou não, é muito significativo que a Bíblia tenha se formado como livro nesse período. Israel conseguiu recolher e salvar o que havia de mais sagrado e consolidar assim as bases para um judaísmo que pôde manter-se firme diante das ameaças do helenismo‖. In: SERVIÇO DE ANIMAÇÃO BÍBLICA (SAB). A Comunidade renasce ao redor da Palavra – período Persa (visão global – 9). São Paulo: Edições Paulinas, 2004 (3ª Ed.) p. 29. 48 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 19; GIORDANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. São Paulo: Vozes, 1997 (10ª Ed.) p.278. 49 SERVIÇO DE ANIMAÇÃO BÍBLICA (SAB). A Comunidade renasce ao redor da Palavra – período Persa (visão global – 9). São Paulo: Edições Paulinas, 2004 (3ª Ed.) p. 26. 50 Idem, p. 27. 51 Idem, pp. 30-31. 52 Idem, p. 45. 53 Extraído do site: http://www.airtonjo.com/historia30.htm#_ftnref47 (acesso: 23/09/10) 54 Ibidem. 55 Ibidem. 56 GASS, Ildo Bohn. Uma introdução à Bíblia – 5: Exílio Babilônico e dominação persa. São Paulo: Paulus, 2007 (3ª Ed.) pp.81-82. 57 Idem, pp. 103-104. A exigência do pagamento do dízimo ao templo seguia a mesma lógica, a teologia da retribuição o legitimava e garantia os privilégios dos sacerdotes e funcionários do templo de Jerusalém. (Idem, p. 104). 58 Idem, pp. 130-131. 59 Idem, pp. 127-129. 60 Idem, p. 128. 61 MAINVILLE, Odette. A Bíblia à luz da História – guia de exegese histórico-crítica. São Paulo: Ed. Paulinas, 1999 pp. 92-93. 62 GASS, Ildo Bohn. Uma introdução à Bíblia – 5: Exílio Babilônico e dominação persa. São Paulo: Paulus, 2007 (3ª Ed.) p. 196. 63 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%ADnive 64 Idem
65
Baseado em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/civilizacao-mesopotamica/mesopotamia-eseus-povos-2.php Veja também: http://recantodaspalavras.wordpress.com/2009/05/17/a-tortura-na-histriaa-antiguidade/ 66 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 63. 67 68 69
Embora, aqui o ―disse‖ faz com que a força da palavra perca um pouco de seu impacto, ela quer salientar a questão dialógica entre Deus e seu profeta. 70 Segundo: KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 31 71 HARRINGTON, Wilfrid. Chave para a Bíblia . São Paulo: Paulus, 1985 (4ª ed.) p.32 72 Sobre isso já falamos em Comentário ao Livro de Jonas – II. 73 Segundo: KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 32. 74 FERNANDES, Leonardo Agostini. Jonas – comentário bíblico Paulinas. São Paulo: Paulinas, 2010 p. 9 (nota a). 75 Idem, p. 33. 76 Schokel é o único a usar o termo ―grande metrópole‖ (BP). 77 RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré – primeira parte: do Batismo à Transfiguração. São Paulo: Editora Planeta, 2007 (3ª reimpressão) pp. 23-24. 78 FERNANDES, Leonardo Agostini. Jonas – comentário bíblico Paulinas. São Paulo: Paulinas, 2010 p. 9 (nota c). 79 GASS, Ildo Bohn. Uma introdução à Bíblia – 5: Exílio Babilônico e dominação persa. São Paulo: Paulus, 2007 (3ª Ed.) p. 197. 80 RATZINGER, Joseph. Introdução ao Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2006 (2ª ed.) p. 92. 81 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 37. 82 GIORDANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. São Paulo: Vozes, 1997 (10ª Ed.) p.186 83 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 38. 84 Ibidem. 85 Idem, p. 47. 86 FERNANDES, Leonardo Agostini. Jonas – comentário bíblico Paulinas. São Paulo: Paulinas, 2010 p. 10 (nota h). 87 Schokel, Luis Alonso. Bíblia do Peregrigno. São Paulo: Paulus, 2006 (2ª Ed.) p. 2229 (nota 1,7) 88 FERNANDES, Leonardo Agostini. Jonas – comentário bíblico Paulinas. São Paulo: Paulinas, 2010 p. 11-12 (nota m). 89 Em algumas traduções (BAM, ARA, NTLH e TNM) se pergunta, inicialmente, pelo culpado, mas isso parece redundante, visto que foi para isso que tiraram a sorte. 90 FERNANDES, Leonardo Agostini. Jonas – comentário bíblico Paulinas. São Paulo: Paulinas, 2010 p. 13 (nota p). 91 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 54. 92 Idem, p. 55. 93 GASS, Ildo Bohn. Uma introdução à Bíblia – 5: Exílio Babilônico e dominação persa. São Paulo: Paulus, 2007 (3ª Ed.) p. 198. 94 VVAA. O mundo da Bíblia. São Paulo: Ed. Paulinas, 1985 (2ª Ed.) p. 448. Temos aqui uma concepção distorcida de milagre (leia sobre a definição de milagre): ora, se é um fenômeno que pode ser reproduzido de forma natural, não devemos recorrer a explicações sobrenaturais – como já ensinava o papa Bento XIV no séc. XVIII. 95 Citado por vários sites, p. ex., http://www.fortalezaredes.com.br/documents/biblia/Antigo/Intrjona.htm (acesso: 15/09/10) 96 Extraído do site: http://en.wikipedia.org/wiki/Jonah (em inglês) 97 Extraído do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tubar%C3%A3o-elefante 98 Dentre os sites que apóiam essa idéia está http://divulgandopalavra.blogspot.com/2009/08/o-peixe-queengoliu-jonas.html (acesso: 16/09/10). "Jacques Cousteau, o maior oceanógrafo de nossos tempos, falecido em julho de 1997, afirmou que nenhuma baleia possui a garganta tão grande, capaz de engolir um ser humano; que somente uma garoupa gigante seria capaz disso". Extraído do site: http://www.paulosnetos.net/attachments/054_Jonas_e_a_baleia.pdf "A garoupa-gigante (Epinephelus lanceolatus) é um peixe de grande porte pertencentes à família Serranidae (67 géneros e cerca de 400 espécies) e à subfamília Epinephelinae (15 géneros em 159 espécies). Neste grupo, o género Epinephelus compreende 97 espécies em que a garoupa-gigante alcança mais de 500 kg de peso e 2 metros de comprimento, havendo no entanto relatos de conceituados mergulhadores profissionais que, durante as suas incursões ao mundo subaquático australiano, admitem que esta espécie pode atingir até 800 kg e
cerca de 3 metros de comprimento nestes mares. Estes peixes habitam preferencialmente em fundos rochosos entre os 3 e os 200 metros de profundidade, embora possam, ocasionalmente, ser encontrados até 300 metros. Todavia, os adultos são mais comuns entre os 10 e os 150 metros". Extraído do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Garoupa-gigante. 99 A Criptozoologia é a (pseudo)ciência que estuda a possível existência de animais desconhecidos. 100 Defendem essa hipótese sites como: http://en.wikipedia.org/wiki/Jonah (em inglês) 101 É a opinião exposta no site: http://criacionista.sites.uol.com.br/dinossauros.htm Segundo outro site, ―Ao longo dos séculos XIX e XX, houve mais de 1.200 observações de supostas serpentes marinhas‖: http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Serpentes_marinhas 102 Cientistas estimam que, provavelmente, menos de um terço das espécies de peixe são conhecidas. Até fevereiro de 2010, o número de espécies de peixes marinhos conhecidas pela ciência era de 16.764, e está crescendo em torno de 100 um ano. Extraído do site: http://en.wikipedia.org/wiki/Jonah (em inglês) 103 Citado por http://pastorsergiocunha.blogspot.com/2008/07/jonas-foi-de-fato-engolido-por-um peixe.html (acesso: 16/09/10) 104 Extraído do site: http://www.jamesknox.com/languages/pdf/spanish_jonah.pdf (em espanhol) 105 Extraído do site: http://divulgandopalavra.blogspot.com/2009/08/o-peixe-que-engoliu-jonas.html 106 Citado por: http://divulgandopalavra.blogspot.com/2009/08/o-peixe-que-engoliu-jonas.html (acesso: 16/09/10) 107 Citado por Charles Berlitz em ―O livro dos fenômenos estranhos‖, trecho reproduzido pelo site: http://www.sobrenatural.org/materia/detalhar/8036/engolido_por_uma_baleia/ (acesso: 16/09/10) 108 Citado por: KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 69. 109 Ibidem. 110 HARRINGTON, Wilfrid. Chave para a Bíblia . São Paulo: Paulus, 1985 (4ª ed.) p.389. 111 Citado pelo site: Extraído do site: http://www.jamesknox.com/languages/pdf/spanish_jonah.pdf (em espanhol) 112 Extraído do site: http://en.wikipedia.org/wiki/Jonah (em inglês) 113 Idem. 114 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 65. 115 CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 2007 (11a Ed.) p. 91. 116 A história literária desse conto, começa com Perrault, mas, segundo Bruno Bettelheim, quando ele a colocou no papel, em 1697, ―Chapeuzinho Vermelho‖ já tinha uma longa história, cheia de elementos antigos. BETTELHEIM, Bruno. Psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2007 (21ª Ed.) p. 235 (nota ) 117 Idem, p. 92. 118 Ibidem. 119 Para mais detalhes leia o texto do site: http://www.findarticles.com/p/articles/mi_m0411/is_n3_v44/ai_17422984 (em inglês) 120 CHAVALIER, Jean &GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: Domingos Olympio Editora, 2005 (19ª Ed.) p.116 (verbete: baleia). 121 CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 2007 (11a Ed.) p. 93. 122 CHAVALIER, Jean &GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: Domingos Olympio Editora, 2005 (19ª Ed.) p.116 (verbete: baleia). 123 KILPP, Nelson. Jonas. São Paulo: Editora Vozes, 2008 p. 68. 124 CHAVALIER, Jean &GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: Domingos Olympio Editora, 2005 (19ª Ed.) p.116 (verbete: baleia). 125 CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 2007 (11a Ed.) p. 91. Há opiniões que preferem acreditar na morte de Jonas, p. ex., http://www.jamesknox.com/languages/pdf/spanish_jonah.pdf (em espanhol), a fim de adequar a morte verdadeira de Cristo e a morte verdadeira de Jonas. Mas em outras histórias com a mesma temática, p. ex., em Chapeuzinho Vermelho a morte é aparente: a menina salta da barriga do lobo, logo após o caçador abrir-lhe o ventre; também em Pinóquio, vemos Gepeto vivendo por grande período de tempo no interior da baleia; em outros mitos, o herói, literalmente, rompe a barriga do animal. Pode ter sido também essa a idéia do redator final de Jonas, ao colocar a oração logo após o devoramento. 126 CHAVALIER, Jean &GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: Domingos Olympio Editora, 2005 (19ª Ed.) p.116 (verbete: baleia). 127 NAZÁRIO, Luiz. Da natureza dos monstros. São Paulo: Arte & CIência, 1998 p.19 128 CHAVALIER, Jean &GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: Domingos Olympio Editora, 2005 (19ª Ed.) p.117 (verbete: baleia).