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FILOSOFIA
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SUMÁRIO
I – INTRODUÇÃO 1.1. Qual é a “utilidade” da filosofia? filosofi a? 1.2. As origens do pensamento pensamento filosófico
PÀG. 01 01 02
1.3. A Cosmologia dos Pré-socráticos Pré-socrático s II – OS SOFISTAS 2.1. Sócrates 2.2. Platão 2.3. Aristóteles
02 04 05 05 06
III - OS FILOSÓFOS MODERNOS E A TEORIA DO CONHECIMENTO 3.1. O racionalismo racionalismo 3.2. O empirismo 3.3. O criticismo de Kant IV - PENSAMENTO E LINGUAGEM 4.1. O que e Linguagem V – A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 5.1. Século XIX 5.2. O século XX VI - AS DISCIPLINAS FILOSÓFICAS 6.1. A Metafísica 6.2. Epistemologia 6.3. Ética VII - FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA VIII - ESTÉTICA IX - DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA FILOSOFIA 9.1. Abordagem Filosófica, Metafísica e Epistemológica Epistemológic a da Formação da Pessoa X - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRÁFICA S
07 08 09 11 11 11 12 12 15 17 17 19 21 23 24 25 26 28
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UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos Parabéns! Você optou por fazer um curso
Pitágoras (séc. VI .a.C.) - também conhecido
na modalidade a distância, um processo diferente
como matemático – usou pela primeira vez a
da modalidade presencial.
philos-sophia), que significa palavra filosofia ( philos-sophia),
Se este é seu primeiro contato com a filosofia, você certamente estará se fazendo a pergunta -
O que é a filosofia? Se não é seu
primeiro contato, você provavelmente já se deu
“amor à sabedoria”. É bom observar que a própria etimologia mostra que a filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura pr ocura amorosa da verdade. A filosofia propriamente dita tem condições
conta de que esta não é uma das perguntas mais
de surgir no momento em que esse pensar é posto
fáceis de serem respondidas.
em causa, tornando-se objeto de uma reflexão. r eflexão.
No processo educativo, se pensássemos a
Examinando a palavra reflexão temos
filosofia como um instrumento de desenvolvimento
diversos significados: refletir é retomar o próprio
de
pensamento, pensar o já pensado, voltar para si
nossa
capacidade
argumentativa
isto
já
justificaria sua importância e relevância.
mesmo e colocar em questão o que já se conhece.
Se pensarmos a reflexão filosófica apenas como treinamento lógico do pensar, estaremos
1.1. Qual é a “utilidade” da filosofia?
desvirtuando a filosofia e toda sua história de interação e interesse pelo processo educacional.
Para responder a essa questão, gostaria de saber o que você entende por utilidade?
I - INTRODUÇÃO A utilidade da filosofia está no fato de que
Há uma pergunta que muitos se fazem
ela, por meio da reflexão permite que o homem
quando ouve falar de filosofia: que utilidade tem a
tenha mais que uma dimensão. A filosofia é a
filosofia?
possibilidade
de
transcendência
humana,
a
capacidade que só o homem tem de superar a sua A filosofia, por mais que ignoremos tem
imanência
(situação dada e não escolhida). Pela
exercido uma admirável influência até mesmo sobre
transcendência o homem surge como um ser de
a vida de gente que nunca ouviu falar nela.
projeto, capaz de construir o seu destino, capaz de
Indiretamente, tem sido destilada através de
liberdade.
sermões, da literatura, dos jornais e da tradição oral, afetando assim toda a perspectiva geral do mundo.
A filosofia recupera o processo perdido no imobilismo das coisas feitas (mortas porque já ultrapassadas). A filosofia impede a estagnação. Por
Você sabe qual a etimologia da filosofia?
isso o filosofar sempre se confronta com o poder,
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UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos não devendo sua investigação estar alheia à ética e à política. A filosofia é a crítica da ideologia. Atentando para a etimologia grega correspondente à verdade, observamos que a verdade é pôr a nu aquilo que estava escondido, e aí reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo convencional, pelo poder. Finalmente, a filosofia exige coragem. Filosofar não é um exercício puramente intelectual. Descobrir a verdade é ter a coragem de enfrentar as formas estagnadas do poder que tentam manter o status quo,
Mito – São explicações que se caracterizam por fazer referências a entidades sobrenaturais como sendo as responsáveis pelos fenômenos da natureza. Logos - O termo “logos”, em grego, significa razão, linguagem, ciência. Dentre os malentendidos comuns, pode-se destacar a suposição de que a passagem do “mito” ao “logos” se deu de maneira definitiva, com o abandono total de referências sobrenaturais, assim como achar que a explicação filosófica é dotada de razão, ao passo que o mito seria destituído dela (REALE e ANTISERI,1990).
é aceitar o desafio da mudança. Saber
para transformar.
A escrita, que surgiu neste período, teve um papel importante nesta passagem, pois o que antes
Em conversa com seus amigos, você disse que está estudando Filosofia. Mal acabou de falar e logo perguntaram: “O que é filosofia?”
era apenas contado pela tradição oral, passou a ser escrito. Modificando, assim, o pensamento e o homem.
E agora, o que você irá responder?
1.2. As origens do pensamento filosófico. A filosofia ocidental nasceu na Grécia, entre os séculos VII e VI a.C., com uma preocupação em responder à questão da ordem do universo (cosmos). Este momento da história do pensamento é usualmente chamado de passagem do mito ao logos. Esta expressão pode gerar alguns mal-entendidos em função de seus termos principais: mito e logos. Veja, então, o que significa cada um:
1.3. A Cosmologia dos Pré-socráticos. Os filósofos Pré-socráticos aparecem entre os séculos VII e VI a.C. em todas as colônias gregas que se espalham pela a costa do Mediterrâneo, principalmente na Ásia Menor. A preocupação destes primeiros pensadores era descobrir o princípio que explicasse sua existência e ordem. Por isso foram chamados “filósofos da natureza”. Do pouco que sobrou dos escritos do pensamento filosófico destes, nota-se que está permeado de mito (religião), pois seus argumentos são apresentados como verdade revelada pelos deuses. Suas explicações não fazem referência aos deuses como
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UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos sendo a causa única dos acontecimentos deste mundo.
como Tales concebeu. Talvez tenha querido dizer que a substância
Os filósofos Pré-socráticos começam a
que gera todas as coisas deveria ser algo diferente
indicar inúmeros princípios e causas físicas ou
das coisas criadas. Urna vez que todas as coisas
abstratas, que em alguns casos explicam não
criadas são limitadas, aquilo que vem antes ou
somente o mundo, mas também os deuses como
depois delas teria de ser ilimitado. É evidente que
parte dessa mesma estrutura.
esse elemento básico não poderia ser algo tão
É neste período que surge o interesse pelo mundo e pelo significado da própria existência, como demonstra os pensadores destacados a seguir:
Tales de Mileto (sécs. VII-VI a.C.) - Ele achava que a origem de todas as coisas seria a água. Não sabemos o que exatamente ele queria dizer com isso, mas devia estar convencido de que toda forma de vida teria se originado da água - para onde retorna quando se dissolve. Tales viajou por várias regiões, inclusive o Egito, onde, segundo consta, calculou a altura de uma pirâmide a partir da proporção entre sua própria altura e o comprimento de sua sombra: essa proporção é a mesma que existe entre a altura da pirâmide e o comprimento da sombra desta. Esse cálculo exprime o que, na geometria, até hoje se conhece como teorema de Tales. Anaximandro de Mileto (sécs. VII-VI a.C.) - Ele achava que nosso mundo seria apenas um entre uma infinidade de mundos que evoluiriam e se dissolveriam em algo que ele chamou de ilimitado ou infinito. Não é fácil explicar o que ele queria dizer com isso, mas parece claro que Anaximandro não estava pensando em uma substância conhecida, tal
comum como a água.
Anaxímenes de Mileto (séc. VI a.C.) - Ele pensava que a origem de todas as coisas teria de ser o ar ou o vapor. Anaxímenes conhecia, claro, a teoria da água de Tales. Mas de onde vem a água? Anaxímenes acreditava que a água seria ar condensado. Acreditava também que o fogo seria ar rarefeito. De acordo com Anaxímenes, o ar constituiria a origem da terra, da água e do fogo. Pitágoras de Samos (cerca de 530 a.C. até início do séc. V a.C.), grande matemático da Antigüidade, é o primeiro a usar o termo filósofo, pois, uma vez indicado como sábio ( sophos), teria respondido que apenas era um "amante da sabedoria" ( philo, "aquele que ama", sophia, "sabedoria"); desenvolveu uma teoria filosófica baseada na idéia de que tudo é composto de números – entendidos por ele como pequenas partículas materiais – e a ordem do universo é derivada de harmonias geométricas.
Xenófanes de Cólofon (c. 570 a.C.) foi grande crítico da concepção popular e tradicional dos deuses. Tinha como fonte as obras de Homero, crítica esta que reaparecerá mais tarde na República de Platão.
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Heráclito de Éfeso (sécs. VI-V a.C.) defendeu a idéia de que tudo é um fluxo contínuo gerado por uma guerra eterna entre os contrários; nada permanece o mesmo e tudo é e não é ao mesmo tempo. Parmênides de Eléia (sécs. VI-V a.C.) criticou a visão de Heráclito e seus seguidores afirmando que somente a razão poderia fornecer o conhecimento do que é a natureza; para ele, os sentidos percebem o fluxo contínuo do mundo, mas somente a razão pode mostrar que por trás de tudo que muda está o imutável, o perfeito e eterno, isto é, o ser. Zenão de Eléia (sécs. VI-V a.C.) foi discípulo de Parmênides e desenvolveu uma série de paradoxos (argumentos que levam a sua própria contradição) sobre a existência do movimento. Empédocles de Agrigento (484/481424/421 a.C.) se referiu aos quatro elementos (água, terra, fogo e ar) como os responsáveis pela composição de tudo. Anaxágoras de Clazômenas (c. 500-428 a.C.) dizia que tudo na natureza é composto de sementes que determinam sua geração e vida. Leucipo de Mileto e seu discípulo Demócrito de Abdera (séc. V a.C.) criaram a idéia de átomo; acreditavam que tudo é composto de pequenas partículas indivisíveis que se unem e se separam continuamente formando todas as coisas (KIRK e RAVEN, 1982).
A teoria atômica atual é muito semelhante a de Demócrito, a natureza é composta de diferentes átomos que se juntam para criar, se separam e voltam a se reunir para criar novas coisas. A ciência descobriu que os átomos podem ser divididos em partículas menores chamadas de
PRÓTONS,
NÊUTRONS
e
ELÉTRONS.
Demócrito não teve acesso aos aparelhos eletrônicos de nossa época. Sua única ferramenta foi a razão, esta lhe dizia que “nada surge do nada e nada desaparece, então a natureza tende ser composta por pecinhas minúsculas que se combinam e depois se separam”.
II – OS SOFISTAS A
palavra
SOFISTA,
originalmente,
significa "especialista do saber". Mas este termo adquiriu uma conotação negativa após a crítica e o ataque ferrenho que receberam de Sócrates, Platão e Aristóteles. O
século
V
a.C.,
uma
série
de
transformações sociais ocorreu no mundo grego, em especial nas grandes cidades. O poder da aristocracia diminui após uma série de reformas sociais que entregam parte considerável do poder político ao "demo", o povo. Atenas torna-se uma democracia e, como grande centro cultural da época, passa a atrair, como as demais cidades, um grande número de estrangeiros. Um grupo de pensadores e professores se torna importante nesse período, pois modificaram a perspectiva do
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UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos pensamento que até então se centrava na questão
cosmológicas. Para Sócrates, o homem se definia
sobre a natureza, a chamada questão cosmológica, e
em função de sua alma ( psyché ) e não de seu corpo.
se deslocou para a questão antropológica, a questão
No pensamento de Sócrates, as virtudes se
sobre o homem e tudo que o envolve.
designavam
na
atividade
que
propicia
o
Segundo Guthrie (1995), os sofistas além de
desenvolvimento do intelecto, da alma. Ele defendia
serem responsáveis por essa virada na percepção do
a idéia de que o mal era fruto da ignorância e que o
pensamento, foram responsáveis por:
conhecimento levava ao bem, propiciador da
difundir e desenvolver a idéia do ensino
verdade e do aprimoramento espiritual.
com todos os professores remunerados;
Ao ser condenado a morte, não se revolta.
estabelecer através do nomadismo (viajem
Acreditava na imortalidade da alma humana,
de cidade a cidade) uma perspectiva cultural ampla;
compreendia a filosofia como uma preparação para
despertar o interesse pela linguagem,
a morte, uma vez que esta propiciava o
consolidar um espírito de liberdade de pensamento e
aprimoramento do espírito, em detrimento da
revalorização da lógica.
satisfação corporal. Preparada, a alma se livra do
corpo e passa a viver em um mundo livre da matéria
2.1. Sócrates Era ateniense, filho de um escultor e uma parteira. Embora não tenha fundado escola ele ensinava em locais públicos ou em qualquer um outro lugar que pudesse empreender conversação sobre os mais diversos temas. Causou forte impressão sobre a juventude ateniense e os mais diversos tipos de pessoas, o que o levou a ter um grande número de inimizades. Sócrates nunca escreveu suas idéias, pois acreditava que a verdade devia ser atingida através
(PLATÃO, 1972). Uma importante crítica de Sócrates em relação aos sofistas, era o método de ensino remunerado.
Sócrates
acreditava
que
todos
possuíam já dentro de si a verdade eterna e única e o conhecimento não era adquirido, e sim, lembrado. Como nada escreveu, o pensamento de Sócrates pode ser percebido dentro dos escritos de seus
discípulos,
que
sobre
ele
escreveram
apresentando visões diversas e desenvolvendo escolas filosóficas de inspiração socrática.
do diálogo. Seu primeiro pensamento tinha ligações
O seu principal discípulo foi Platão, que
com a filosofia naturalista, mas após o contato com
escrevia diálogos nos quais Sócrates era sempre seu
os mestres sofistas, voltou-se para a questão do
personagem principal. Muitas vezes, residia a
homem e do conhecimento.
dificuldade de diferenciar o que era pensamento de
Sócrates investigava a natureza humana,
Sócrates e o que é era pensamento de Platão.
enquanto os Pré-socráticos investigavam questões
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2.2. Platão Platão, cujo verdadeiro nome era Aristoclés, era cidadão ateniense de família aristocrática descendente de Sólon, o legislador. Tornou-se discípulo de Sócrates por volta dos vinte anos. Essa convivência transformou sua vida e pensamento. Após a morte do mestre, empreende em viagens para Grécia, Itália e Egito. Em 387 a.C., funda sua escola em Atenas, a Academia. Sua escola se tornou uma revolução no ensino e pólo de atração de alunos e pensadores. Platão assumiu as idéias de seu mestre, Sócrates, incorporando a elas, as suas, a ponto de muitas vezes dificultar a diferenciação das idéias de um e do outro. Sua principal inovação foi a defesa da existência de um mundo das idéias/formas. Na busca do verdadeiro conhecimento, Platão distingue a episteme (conhecimento) da doxa (opinião). Na episteme se tem o conhecimento verdadeiro e confiável, em contrapartida, na doxa, o mutável e inconsistente. Como Platão assume a posição socrática de inferioridade da matéria - que é amorfa (sem forma) e só possui determinação por que é limitada pelas
contraposição às crenças contrárias e nega a ligação
formas/idéias -, a alma é o elemento eterno e
Alexandre, o Grande - na época com treze anos.
perfeito aprisionado no corpo e que teve sua origem
Após a subida ao trono de Alexandre (336 a.C.),
no mundo das idéias.
Aristóteles volta a Atenas e funda sua escola,
indissociável entre corpo e alma. Há no pensamento de Platão a identificação entre a virtude e o conhecimento; o mal é resultado da ignorância e o bem equivale ao conhecer. Em sua interpretação do mundo social, Platão via com desconfiança a democracia, uma vez que foi nesse sistema de governo que Sócrates foi condenado à morte. A sociedade ideal de Platão possuía três estratos: trabalhadores, guerreiros e magistrados, cada um deles composto por indivíduos que já nasciam com um tipo de alma com a predisposição a um dos tipos de atividade.
2.3. Aristóteles Aristóteles nasceu em Estagira, na Trácia, região da Macedônia. Seu pai foi médico da corte do rei Amintas, da Macedônia, pai de Filipe e avô de Alexandre, o Grande. Em 366 a.C., Aristóteles entra para a Academia de Platão e lá permanece por vinte anos, só se retirando após a morte do mestre. Enquanto esteve na Academia, Aristóteles conheceu uma série de sábios que ali estavam. Em 343 a.C., se torna preceptor de
A alma é imortal, mas precisa se aprimorar
próxima ao templo dedicado a Apolo Lício, daí o
por um processo contínuo de reencarnação
nome de "Liceu", pelo qual a escola era conhecida.
(metempsicose). No diálogo "Fédon", Platão
Também chamada "escola peripatética", pois suas
defende a idéia socrática da eternidade da alma em
aulas em meio aos jardins eram comuns ( perípatos, "passeio"). Até 323 a.C., ano da morte de Alexandre
8
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos e início da reação antimacedônica em Atenas, o
humano tem alma intelectiva, responsável por sua
Liceu se tornou um grande centro de produção
capacidade racional.
filosófica e científica, chegando a relegar a segundo plano a Academia.
Todos os indivíduos desejam a felicidade, compreendida das mais diversas formas, mas apenas
Curiosamente, a mesma acusação feita a
o desenvolvimento do intelecto e das virtudes
Sócrates, de impiedade, foi dirigida a Aristóteles.
propicia a máxima felicidade, o que não caracteriza
Esse vai para Cálcis e deixa Teofrasto no comando
um desprezo aos aspectos corporais, pois, para
do Liceu. Morre poucos meses depois, em 322 a.C.
Aristóteles, as necessidades materiais têm de ser
Aristóteles
foi
dotado
de
mente
satisfeitas para atingirmos a contemplação.
enciclopédica, leu e escreveu sobre os mais diversos
O ser humano é um animal racional, mas
temas, alguns hoje pertencentes às ciências naturais
também é um animal político, social; o ser humano
e humanas. Foi o primeiro sistematizador da lógica
só consegue sobreviver em grupo e é nele que
clássica e seus princípios; estudou os argumentos,
desenvolve sua potencialidade.
seus tipos, falhas, sua composição, sua relação com o raciocínio, etc.
As teorias de Platão e Aristóteles
Uma das grandes diferenças entre o
fundamentaram debates durante muitos séculos e
pensamento de Aristóteles e de seu mestre Platão,
somente a partir da filosofia moderna de Descartes
foi a crítica e recusa da existência do "mundo das
(1596-1650) que surge uma nova metodologia com
idéias". Para Aristóteles, as idéias não se encontram
o intuito de resolver os temas da metafísica antiga
em um mundo em separado; as idéias são produto
e medieval.
da abstração que a mente faz do que é percebido pelos sentidos.
A partir dos conteúdos estudados, faça um
Aristóteles desenvolve a física e a
quadro comparativo; entre as teorias de Platão e
metafísica iniciadas pelos pré-socráticos. Determina
Aristóteles, identificando pontos de convergência e
a análise do mundo pelo que ele tem de geral,
divergência.
desenvolvendo os conceitos de causa (material, formal, eficiente, final), substância, acidentes, ato, potência, etc. Dentro de sua perspectiva, o ser humano é definido como uma composição de matéria e forma, onde seu corpo é a matéria e sua alma é sua forma. A alma é princípio de vida e qualquer ser vivo possui um tipo de alma. Só o ser
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III - OS FILOSÓFOS MODERNOS E A TEORIA DO CONHECIMENTO
Essas mudanças têm agora a imprensa para ajudar a propagação. O indivíduo é agora o cerne das perspectivas econômica, científica e
O que é o conhecimento? Ele é possível?
religiosa.
Quais são os seus limites? Existem regras para a obtenção de conhecimento verdadeiro? Estas eram
Em uma situação de mudança, onde a
algumas questões que ocupavam o pensamento
posição da pessoa já não está garantida, a
filosófico na modernidade.
desconfiança para com a tradição se torna a tônica dominante. A dúvida e a posição filosófica que a
A partir do século XIV, uma mudança na civilização européia começa a se processar.
acompanha, o ceticismo, se tornam o substrato do mundo moderno.
Esse processo de mudança de visão de
As grandes linhas de pensamento que
mundo resultou no fim da Idade Média,
tentam responder a pergunta do conhecimento no
convencionalmente determinado pelos historiadores
Período Moderno são duas: o racionalismo e o
em 1453, com a queda de Constantinopla pelos
empirismo. A primeira tem como característica
turcos.
privilegiar a razão em detrimento das percepções Com a expulsão dos árabes da península
sensoriais, que são vistas como responsáveis pelo
ibérica inicia-se a constituição dos Estados
erro e pelo engano. Ao contrário, o empirismo
nacionais europeus, o que é a superação do sistema
defende a idéia de que todo conhecimento humano
feudal, com seu poder político desagregado.
tem origem na percepção sensível, não existindo
A filosofia desvincula-se da teologia e o
idéias inatas, como era crença dos racionalistas.
problema central do período medieval – Deus – é substituído por problemas do conhecimento, que se
3.1. O racionalismo
tornam as questões centrais do pensamento moderno. As descobertas de novas terras e o
Com a frase “se duvido, é porque penso, e se
penso, existo”
aparecimento dos Estados - ampliam a percepção cultural do homem moderno. As relações pessoais são relegadas a um plano secundário. As relações com Deus, intermediadas pela Igreja, passam a ser contestadas.
René Descartes, o principal pensador do racionalismo, filósofo e matemático (1596-1650). Nascido em La Haye, em uma família de posses – seu pai era magistrado da Bretanha - cedo perdeu a mãe e passou a ser criado por uma ama,
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UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos sem a presença do pai, que se mantinha ausente por
mais famosa: se duvido, é porque penso, e se penso,
muito tempo. Já maior, foi mandado para o principal
existo (cogito ergo sum).
colégio da Europa, La Fleche, dirigido por jesuítas.
Descartes, em sua filosofia, distingue duas
Lá mantinha o hábito da infância de acordar sempre
substâncias no mundo: a res cogitans , "a coisa
perto do meio-dia. Apesar do horário flexível,
pensante" (alma), e a res extensa, "a coisa extensa"
Descartes desenvolveu uma mente que seria uma
(matéria). O mundo (matéria) é regido por leis
das mais férteis da modernidade. Em 1612, cansado
mecanicistas. A alma não é regida por essas leis, as
da vida na escola e do que havia aprendido ali, parte
relações entre corpo e alma são apenas ocasionais,
para conseguir o conhecimento que pretendia, não
pois não se influenciam mutuamente.
mais nos livros, mas no mundo.
Outros
Foi acusado de ateísmo, o que negou, mas
grandes
representantes
do
racionalismo foram:
acabou sendo preso, depois de inúmeras disputas
Blaise
Pascal
(1623-1662)
-
teóricas. Manteve correspondência com diversas
filósofo, matemático e físico, que chamou a atenção
personalidades políticas e intelectuais de sua época.
para os limites da racionalidade ao admitir que "o
Essa fama levou com que a rainha Cristina, da
coração
Suécia, o convidasse para lá viver e fundar a
desconhece";
"Academia de Ciências". O clima do país não lhe
tem
razões
que
a
própria
razão
Baruch Spinoza (1632-1677) - o ser
foi favorável além de ter que dar aulas na corte, no
é uno:
início da manhã em um rigoroso inverno sueco fez
ordem geométrica necessária a tudo. Espinosa
com que ele falecesse de pneumonia em 1650.
elimina o dualismo cartesiano:a essência das coisas
Descartes, em sua procura pelo ponto de
a substância ou Natureza: Deus é a própria
é uma.
partida que garantiria o conhecimento correto,
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-
começa um processo de dúvida que tinha como
1716) - faz parte da tradição racionalista, mas
objetivo descartar qualquer coisa que pudesse ser
advoga a impossibilidade da comunicação entre as
objetável; é o que se convencionou chamar "dúvida
substâncias, defendendo o paralelismo, isto é,
metódica", pois era apenas um caminho para a
mente
certeza,
comportamentos correlatos.
não
uma
desconfiança
quanto
às
e
corpo
não
interagem,
mas
têm
possibilidades do conhecimento humano. A certeza absoluta a que Descartes chega é a constatação da própria existência como ser pensante (res cogitans), o que traduziu em sua frase
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UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos todos. Para Locke as pessoas decidem pela própria
3.2. O empirismo “A mente é uma tabula rasa”
condição racional, por estabelecer um pacto
John Locke O empirismo é característico do período moderno, onde empreende uma crítica à filosofia racionalista e às possibilidades de um conhecimento metafísico nos moldes da filosofia antiga e medieval. Dentre os principais pensadores do empirismo destacam-se: Francis Bacon (1561-1626) revaloriza a observação e o raciocínio indutivo como produtores de conhecimento científico. Thomas Hobbes (1588-1679) defende que apenas existe a substância material, ou seja, aquilo que pode ser percebido pela mente humana através dos sentidos. Esse ser material, (homem), tem como traço natural o egoísmo. Seu estado natural é o da "guerra de todos contra todos", mas sua racionalidade faz ver que a existência da sociedade lhe propiciaria uma vida mais longa e segura. Entrega, após um contrato natural tácito, seus direitos naturais nas mãos de um poder soberano, que passa a exercê-los de maneira
implícito para a constituição da sociedade, e que ao
despótica para garantir a existência da sociedade e a preservação de seus membros (HOBBES, 1979).
John Locke (1632-1704) – para ele as idéias inatas não existem; todas são derivadas da experiência sensível. Para ele “a mente é uma tabula rasa”. Da mesma maneira que Hobbes, Locke é um contratualista, mas não acredita que em estado natural a situação seja a de guerra de todos contra
ceder parte de seus direitos para o governo, essa cessão não é incondicional; se o governante não prestar contas de suas obrigações para com aqueles de onde emana seu poder, pode perder a representatividade, ser destituído e substituído. Locke é o grande teórico da democracia representativa.
George Berkeley (1685-1753) -
Para Berkeley, existir é estar na consciência; ser é ser percebido (esse est percipi). Para ele a existência da matéria e o nosso conhecimento se resumem às imagens que temos em nossas mentes (imagens produzidas por nossos sentidos), embora não havendo certeza de que correspondem ao que os objetos são realmente; em outras palavras, não
temos acesso ao que as coisas são em si mesmas. Segundo o bispo irlandês, o que garante que as coisas existem, mesmo quando não as percebemos, é o fato de tudo estar na mente de Deus, ser percebido por Deus (BERKELEY, 1980).
David Hume (1711-1776) - o maior nome do empirismo moderno. David Hume foi um dos primeiros filósofos a advogar explicitamente o ateísmo e sofreu as conseqüências de sua posição. Almejou uma cadeira de professor, o que nunca conseguiu, foi assistente de diversos personagens importantes de sua época e desejou profundamente ser reconhecido, em vida, por suas idéias como filósofo, mas isso não aconteceu.
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UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos Hume, como os demais empiristas, defendia que a única fonte de idéias em nossa mente eram os sentidos. Aquelas percepções mais próximas no tempo e no espaço formam as impressões, que
Jean-Jacques Rousseau (17121778) foi, ao mesmo tempo, iluminista e precursor do romantismo. Pregava, dentro do espírito romântico, uma volta à natureza e uma crítica ao progresso científico e técnico.
possuem mais força e vivacidade. Quando essas impressões não possuem mais as percepções para
Como você estudou, Razão e Sentidos
lhes garantir a força, se tornam idéias guardadas na
travam uma batalha no século XVII. Nesta
memória, mais fracas e tênues. Além disso, a mente
batalha não houve um vencedor, mas sim
humana liga idéias vindas da percepção e cria seres
vencedores. Muitas outras linhas de pensamento
imaginários. A alma humana é apenas o conjunto
tiveram ali, a sua origem.
dessas impressões e idéias e, uma vez que cessa a
3.3. O criticismo de Kant
atividade dos sentidos, cessa a alma. Para Hume, nossa mente estabelece uma
Criador de um dos mais importantes
relação que não está no fato em si, mas apenas na
sistemas filosóficos do século XVIII, Immanuel
nossa
Kant (1724-1804) nasceu em Königsberg, de família humilde pertencente à seita protestante pietista, de grande rigor religioso. A figura da mãe foi de enorme influência na vida do pensador; mulher de pouca cultura formal, Regina Reuter instigou o comportamento reto e a admiração ao saber que Kant levaria por toda sua vida. Estudou na universidade da cidade natal, onde se formou em 1747, ano no qual teve que interromper os estudos de titulação que lhe fariam professor universitário em razão da necessidade de sobreviver. Somente em 1755, alcança o doutorado e ser livre-docente na Universidade de Königsberg. O período na livre docência também não foi fácil. Entre 1770 e 1781, Kant preparou seu sistema filosófico, o que culminou com o aparecimento de sua grande obra, Crítica da Razão Pura (1781), a primeira das
disposição
em
vê-los
assim.
Todo
conhecimento é conjetural, uma interpretação que a mente humana realiza sobre os fenômenos individuais que observa. Alguns
iluministas
franceses
foram
influenciados pelo pensamento empírico, em especial, as idéias políticas. Os iluministas criam no poder da razão humana como solução para os problemas do homem e da sociedade; empenharamse em defender a universalização do saber - é o caso da elaboração da "enciclopédia" por D'Alembert e Diderot -; criticaram o absolutismo; veneravam a ciência como a expressão máxima da verdade; criticaram a tradição; eram otimistas utópicos que acreditavam humanidade.
no
progresso
irreversível
da
13
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos críticas a que se seguem, Crítica da Razão Prática (1788) e Crítica do Juízo (1790).
Kant, quanto ao critério de ação, elaborou
Em 1794, Kant é proibido de expressar suas
uma ética de cunho formal. A ação só deve ser
opiniões sobre a religião; não se retrata, mas não
realizada se for possível imaginá-la universal, pois
aborda mais o assunto. Morre em 1804.
isso determina o que é bom em si mesmo e não é
Segundo Kant, a intuição sensível nos
apenas agradável. "Age sempre de maneira que
fornece os fenômenos indeterminados, o que por si
fosse seu desejo que todos assim o fizessem"; essa é
mesmo não constitui conhecimento, dado serem
a máxima de Kant, o imperativo categórico (KANT,
percepções específicas sem traços de universalidade
2002).
e necessidade. O conhecimento somente se constitui pela organização dos dados da intuição sensível por
IV - PENSAMENTO E LINGUAGEM
um elemento a priori que lhes dá forma e ordem.
e o objeto conhecido. Os principais objetos de
4.1. O que é Linguagem A linguagem é um dos principais instrumentos na formação do mundo cultural, é através dela que transcendemos a nossa experiência. Quando damos nome a um objeto da natureza, nós o individualizamos, o diferenciamos do restante que o cerca; ele passa a existir para a nossa consciência. Com esse simples ato de nomear, distanciamos-nos da inteligência concreta animal e entramos no mundo do simbólico. O nome é símbolo dos objetos que existem no mundo natural e das entidades abstratas (existem
estudo da metafísica são Deus, a alma e a liberdade;
somente no nosso pensamento), por exemplo, ações,
esses objetos não podem ser conhecidos pela razão,
estados ou qualidades como tristeza, beleza,
pois estão além de seus limites (KANT, 1985).
(liberdade).
Esta estrutura racional ordenadora é uma lógica do entendimento e é vazia em si mesma, sem conteúdo. Sua função é objetivar o dado sensorial fornecendo a síntese (união) entre o particular sensorial e a universalidade da estrutura a priori que permite a própria constituição do conhecimento. Tanto espaço e tempo – formas a priori da intuição sensível que ordenam os fenômenos percebidos – quanto as categorias – conceitos puros que permitem a ligação dos fenômenos – constituem, ao mesmo tempo, o modo próprio daquele que conhece
A linguagem pode ser definida como um
A conclusão de que Deus não pode ser
sistema simbólico, sendo o homem o único animal
conhecido pela razão humana, sem nenhuma
capaz de criar símbolos, ou seja, signos arbitrários
referência ao mundo da experiência, não fez Kant,
em relação ao objeto que representam e, por isso
um crente fervoroso, renunciar suas crenças.
mesmo, convencionados, ou seja, dependentes de
14
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos aceitação social.
V – A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
o positivismo lógico (Carnap);
a filosofia analítica de linguagem
artificial (Wittgenstein, Ayer) e de linguagem ordinária (Wittgenstein, Austin);
A filosofia contemporânea corresponde ao pensamento produzido a partir do século XIX. Uma série de acontecimentos políticos
o neotomismo (Maritain, Gilson);
o neomarxismo ou Escola de
Frankfurt (Adorno, Habermas).
determinam essa época: a Revolução Francesa; a independência dos países latino-americanos no
Para que você possa melhor assimilar as grandes
século XIX e dos países africanos e asiáticos no
perspectivas filosóficas, o não-dogmatismo e a
século XX; o colonialismo tardio no séc. XIX e seu
diversidade
declínio no séc. XX; a ascensão e posterior queda
organizamos os principais pensadores por século.
do
pensamento
contemporâneo,
do poderio europeu no mundo; duas guerras mundiais; o período de bipolarização política entre Estados Unidos e União Soviética; o crescente e cada vez mais forte processo de interdependência mundial chamado por alguns de "globalização" e por outros de "mundialização"; massificação de diversos traços culturais, além de uma perspectiva, cada vez mais forte, de tendências fundamentalistas em questões religiosas. Vejamos agora, as principais escolas filosóficas contemporâneas e alguns de seus representantes:
o materialismo dialético (Marx,
Engels);
5.1. Século XIX Georg Wilhelm Friedrich Hegel (17701830) foi o principal representante do idealismo alemão. Hegel criticava a idéia de Kant segundo a qual temos acesso ao fenômeno, mas não temos acesso ao númeno, a coisa em si. Para Hegel, não podemos nem mesmo afirmar a existência da coisa em si; nosso conhecimento se resume às idéias em nossa mente, em nossa consciência. Na filosofia de Hegel tudo que é racional é real e tudo que é real é racional, isto é, não há separação, como em Kant, das esferas teórica e
o
existencialismo
(Kierkegaard,
Sartre);
prática. Há uma identidade entre o pensamento e a realidade; as regras do pensar são também as regras
o positivismo (Comte, Stuart Mill);
a
fenomenologia
(Husserl,
Heidegger);
do mundo. Essas regras são regidas pelo princípio de contradição, que afirma que nada é idêntico a si
o pragmatismo (Peirce, James);
mesmo e tudo se subordina à afirmação e à negação;
15
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos é a dialética hegeliana que se mostra como princípio
hegeliano, o filósofo percebeu o quanto a posição
de ordenação do mundo material, da história da
única da existência do indivíduo causa angústia e
humanidade e, principalmente, como processo pelo
desespero. A solução seria o salto no absurdo da fé,
qual o Espírito (Deus) se desenvolve e se mostra.
que possui princípios incompreensíveis à razão
Arthur Schopenhauer (1788-1860) afirmava a predominância da vontade sobre a realidade. Filósofo pessimista, afirmava que tudo o que é tido como bom, belo e agradável não passa de ilusão, por isso nunca atingimos a felicidade. Outro crítico da época, foi o dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855), considerado o pai
(KIERKEGAARD, 1979). Crítico tardio de Hegel e de Schopenhauer, Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um dos pensadores mais instigadores da atualidade. Apesar de alemão, Nietzsche foi crítico da cultura germânica e da religião, em especial da cristã. Seus escritos não possuem estilo sistemático argumentativo. Os homens fracos e incapazes se defendem frente àqueles que são superiores por meio de duas armas poderosas: a moral e a religião. Assim como todas as grandes religiões, o Cristianismo prega uma moral de cordeiros onde os medíocres (a maioria das pessoas) oprimem aos superiores; os pobres, fracos e humildes merecem tudo e aos fortes, orgulhosos e aristocráticos é reservada a condenação. Nietzsche prega o advento do super-homem, aquele que é senhor de sua própria vontade, criador de sua própria moral. Uma vez que "Deus está morto", somente aquele que é superior aos demais
do existencialismo. No pensamento do dinamarquês
tem a capacidade de assumir sua vontade, até então
não há essência do ser humano; ela é construção
aprisionada. Esse homem está "além do bem e do
existencial de cada indivíduo, que faz a si mesmo
mal", porque não é mais a
durante sua vida.
sociedade que lhe impõe o certo e o errado, mas é
Assim, Hegel vê sua época - em todos os seus aspectos econômicos, políticos, religiosos, artísticos, científicos e filosóficos - como o momento de culminância do processo dialético de desenvolvimento do Espírito; dessa posição, Hegel advogava o "fim da história", no sentido de que a partir de então, nada mais haveria de relevante a ser revelado. Coincidentemente ou não, sua filosofia foi o último sistema filosófico da história produzido por um único pensador (REALE e ANTISERI, 1990). Hegel teve seus críticos ferrenhos, que em especial discordaram da subordinação do indivíduo ao todo, ao universal.
Extremamente religioso e crítico da estrutura da Igreja Luterana da Dinamarca -
ele que cria as virtudes necessárias a sua vida (NIETZSCHE, 1992).
Kierkegaard a acusava de ter traído o espírito do
Uma outra vertente é o positivismo que tem
Cristianismo ao se aliar à teologia de cunho
como seu mais conhecido representante o francês
16
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos
Auguste Comte (1798-1856), cuja filosofia muito influenciou o pensamento e a história do Brasil. Para Comte e os positivistas, somente a observação é fonte de conhecimento científico e todos os demais conhecimentos não passam de ilusão. O positivismo defendia a idéia de progresso contínuo e irreversível da humanidade, cuja face mais visível era o desenvolvimento da ciência e da técnica. Para Comte, as civilizações passam por três fases de desenvolvimento: a primeira, associada a infância, é a fase mítica ou religiosa, onde as explicações ocorrem sempre com referências às divindades; a segunda, a juventude, encontra-se a fase metafísica, onde princípios abstratos e não materiais são indicados como respostas aos acontecimentos; a última é a maturidade, a fase científica, onde tudo é explicado pela observação e referência aos fenômenos. Comte foi expulso da Escola Politécnica de Paris (devido suas idéias republicanas) e começou a
permanecer
dar aulas particulares em casa; entre seus primeiros
contínua. A situação do modo de produção
alunos já havia brasileiros que estudavam na capital
capitalista produz as condições para superação desse
francesa.
mesmo sistema, pois o capitalista maximiza os
judeu,
se
"converteu"
ao
protestantismo. Marx estudou na Universidade de Berlim, e se formou em 1841. No mesmo ano começou a trabalhar como jornalista no jornal "Gazeta Renana", que foi logo fechado pelo governo. Nessa época, Marx toma contato com as idéias de Ludwig Feuerbach (1804-1872), de quem assumirá a posição de que não é Deus que cria os homens, mas os homens é que criam Deus. Em 1843 vai para Paris, onde conhece
Friedrich Engels (1820-1895), filho de industrial que havia, também após a leitura de Feuerbach, abandonado o idealismo hegeliano e abraçado o materialismo. Engels se tornaria - mesmo após a péssima impressão que deixou em Marx no primeiro encontro dos dois - o amigo e colaborador de Marx até o fim da vida desse; os dois escreveram juntos o " Manifesto Comunista ", pequena obra que sintetizava a visão de mundo dos dois. Marx, em consonância com o positivismo assume a crença no progresso inevitável da humanidade. As leis dialéticas são leis da matéria e por isso mesmo, determinantes de uma mudança
A exposição do pensamento no século XIX
lucros através da exploração do trabalho do
não estaria completa sem a apresentação do
proletariado, mas isso tem um limite na capacidade
pensamento do alemão Karl Marx (1818-1883).
física do trabalhador. O capitalismo aumenta a
Marx era filho de advogado que, obrigado a
produção e os lucros maximizando a técnica, que
escolher entre poder exercer a profissão ou
exige cada vez menos trabalho assalariado,
17
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos aumentando a produtividade. Ao mesmo tempo,
A filosofia de Heidegger é extremamente
desemprega uma massa de trabalhadores que não
influente. É considerado um dos filósofos da "morte
terá renda para consumir, o que leva a crises
da filosofia", pois dizia que a filosofia, como vinha
sucessivas de excesso de produção.
sendo produzida desde Sócrates, não propiciaria a
A influência das idéias de Marx na política
posse da verdade – Nietzsche fazia a mesma crítica
foi imensa, forjando parte da história do século XX
dizendo que a verdadeira filosofia era a dos pré-
e produzindo o ordenamento mundial atual.
socráticos – e a saída seria o retorno à linguagem poética, que seria a única a permitir a posse do ser.
5.2. O século XX No século XX temos uma pluralidade de perspectivas filosóficas. As principais são: Pragmatismo - os principais representantes são Charles Sanders Peirce (1839-1914), William James (1842-1919) e John Dewey (1859-1952). O pragmatismo é uma reação ao materialismo positivista que escolhe o caminho da prática. O pragmatismo afirma de maneira clara que o método pragmático consiste no estudo de várias doutrinas do ponto de vista de suas conseqüências práticas e seus resultados. principal Fenomenologia seu representante foi Edmund Husserl (1859-1938). Husserl argumenta que devemos compreender os fenômenos como eles nos aparecem, independentes
Sartre se tornou o mais popular filósofo do século XX.
Dentro do existencialismo e da
fenomenologia, flertou com o marxismo soviético e chinês; foi da Resistência na época da Segunda Guerra Mundial; participou ativamente da política francesa do pós-guerra apoiando sindicatos e greves; participou do movimento de estudantes de 1968; escreveu romances e peças teatrais; foi agraciado com o Nobel de literatura, mas recusou; viajou o mundo apoiando revoluções sociais. O existencialismo de Sartre era ateu e sua filosofia pregava o controle da náusea e da angústia inevitáveis ao se perceber que Deus não existe e que todos os atos são de inteira responsabilidade do indivíduo, que não se reporta a nada para decidir sua existência e determinar sua própria essência
de suas relações. A fenomenologia é o método
(REALE; ANTISERI, 1990) (SARTRE, 2004).
privilegiado do existencialismo.
Neomarxistas - os teóricos da Escola de Frankfurt recriaram em novos moldes a abordagem de Marx (teoria crítica), por isso são chamados de neomarxistas.
Os
principais
representantes
do
existencialismo no séc. XX são: Martin Heidegger (1889-1976), Karl Jaspers (1883-1969), Jean-Paul Sartre (1905-1980), Gabriel Marcel (1887-1973) e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961).
18
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos lógica
Não devemos confundir o pensamento de Frankfurt com os ditos marxistas, que eram
simbólica.
Era
essa
linguagem
que
propiciaria a unificação das ciências, um ideal dos neopositivistas. O projeto faliu; mesmo a física, modelo de
ideólogos do mundo soviético; o marxismo da Escola de Frankfurt não era aceito pela
ciência para os positivistas lógicos, possui
ortodoxia dos países comunistas.
proposições metafísicas, que não podem ser verificadas.
Usando a teoria de Marx e dela fazendo
A preocupação do positivismo com a
uma mescla com outras doutrinas – por exemplo a
questão da demarcação científica era reflexo da
psicanálise, esses teóricos desenvolveram uma
extrema importância que a ciência adquiriu dentro
crítica da sociedade de massas, da cultura, das artes,
da sociedade ocidental. Em função desse interesse
da ciência e da razão instrumental ligada à técnica.
pelo conhecimento científico, uma área específica
Neopositivismo, ou positivismo lógico responsável por uma das revoluções do pensamento filosófico no século XX. Com ele a filosofia sofre o que se convencionou chamar de "giro lingüístico", determinando que a análise da linguagem se tornasse a atividade primordial da filosofia. Segundo os positivistas lógicos, somente são consideradas ciências aquelas áreas de conhecimento, cujas sentenças são verificáveis. Além desse critério de verificação, que estabelecia uma separação entre o que é e o que não é científico, os positivistas lógicos chamavam a
da filosofia surgiu no século XX: a filosofia da
atenção para o fato de que a linguagem comum não
lógicos, Popper não dizia que teorias metafísicas
seria adequada para o conhecimento científico;
não possuíam sentido; eram plenas de sentido e
defendiam, então, que somente uma linguagem
muitas vezes fonte de teorias científicas (POPPER,
artificial lógica e simbólica poderia tratar do
1993, 1994).
ciência.
Karl Popper (1902-1994) assumiu a questão de determinar o que é ou não ciência. Crítico do positivismo lógico, Popper defendeu um novo critério de demarcação, que segundo ele, não estaria na verificação, mas no caráter falsificável de uma teoria. Somente uma teoria que se coloca à prova dizendo exatamente o que admite ou não e como isso pode ser testado - é tida como científica. Teorias que nunca podem ser falsificadas são teorias metafísicas. Mas, ao contrário dos positivistas
conhecimento. O trabalho da filosofia estaria resumido à análise da linguagem das ciências por meio da
19
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos
VI - AS DISCIPLINAS FILOSÓFICAS
ter utilizado. Andrônico de Rodes, organizador da obra completa de Aristóteles no século I a.C.,
A filosofia divide suas disciplinas em
ordenando os livros em ordem alfabética grega,
função dos problemas a que responde. São cinco as
percebeu um problema, pois o livro posterior à
grandes áreas de investigação da filosofia:
"Física" não tinha nome. Andrônico o nomeou "o
a metafísica;
livro que vem depois da Física", em grego "tà metà
a epistemologia, ou teoria do
tà fisicà";
conhecimento;
daí "metafísica". Aristóteles utilizava a
expressão "filosofia primeira" para se referir à
a ética;
a filosofia política; e
a estética;
disciplina que hoje denominamos metafísica.
O nome dado por Andrônico veio a se
Dentro destas grandes áreas, temos divisões
tornar aceito, em especial porque o termo se refere
em disciplinas mais específicas que tiveram sua
à coisas que estão além do que é físico. No caso de
delimitação estabelecida a partir do século XIX e
Aristóteles, a "filosofia primeira", ou metafísica,
durante o século XX.
seria a área da filosofia que abordaria as causas primeiras de toda a existência, o ser em si mesmo,
Veja um exemplo!
que Aristóteles identificava como Deus.
Dentro da epistemologia há a filosofia da ciência que, além da perspectiva geral que procura
De maneira introdutória pode-se dizer que a
falar de todas as ciências, pode se dividir em
metafísica trata dos problemas do ser e da
filosofia das ciências naturais, formais e sociais.
existência. O que existe? O que define a existência
Estas divisões não tornam as disciplinas
específica de algo e do todo? Que tipo de existência
filosóficas estanques, pelo contrário, os problemas
pode-se advogar da essência das coisas? Existem
filosóficos se encontram e se inter-relacionam,
causas e quais? O que é necessário e o que é
constituindo uma rede com diversos nós de ligação.
contingente? Todas estas são questões metafísicas.
As três primeiras disciplinas que você estudará são: metafísica, a epistemologia e a ética. Que tal começar?
(ARISTÓTELES, 1984). Aristóteles já igualava o estudo metafísico ao estudo de Deus e essa tem sido uma preocupação constante dentro da filosofia. Desde a Antigüidade,
6.1. A Metafísica Este termo é o título de uma das principais obras de Aristóteles, apesar do filósofo grego não o
os filósofos têm se perguntado pela possibilidade da existência ou não de uma entidade supra-natural, criadora ou co-eterna com o mundo. Muitos ao
20
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos longo do tempo desenvolveram argumentos
Pascal utiliza um teorema da probabilidade-
favoráveis à crença na existência de Deus.
estatística (teorema de Bayes) para advogar a
Os
argumentos
elaborados
utilizam
inúmeras abordagens, observe:
Platão chegou a identificar as idéias do Belo e do Bom com Deus e negou as divindades gregas como representativas da Divindade verdadeira (PLATÃO, 2001); Aristóteles falava de uma causa primeira, dentre todas as causas observadas, que ele identificou como uma divindade co-eterna ao universo (ARISTÓTELES, 1984); Santo Tomás de Aquino desenvolveu os argumentos de Aristóteles dentro de uma perspectiva cristã, o que ficou conhecido como as "cinco vias" sobre a existência de Deus (AQUINO, 2002); Santo Agostinho, santo Anselmo e Descartes desenvolveram um argumento – chamado de ontológico – que afirmava a existência de Deus a partir da própria idéia de Deus (AGOSTINHO, 1984) (ANSELMO, 1979) (DESCARTES, 1979); Pascal, à época de Descartes, desenvolveu um argumento baseado na maior probabilidade de acerto da crença na existência de Deus (PASCAL,
racionalidade da crença em um Deus pessoal, em especial o do Cristianismo (SWINBURNE, 1998); A razão da existência pessoal e da existência como um todo, também é um problema metafísico e com reflexos imediatos para o nosso viver cotidiano.
Por exemplo, os objetivos que você traça em sua vida e as ações que realiza para alcançálos. Em especial este problema se coloca quando o homem se defronta com condição mortal. A morte apressa as questões acerca do significado da vida, além da definição de que é algo bom ou ruim.
Procurar sentido no que fazemos pode estar nos desejos pessoais, nas preocupações sociais, ou em algo fora desse mundo. Alguns filósofos argumentam que não há sentido na existência pessoal, que se daria pelo acaso e demandaria a produção livre e pessoal de um significado, sob pena de se admitir até mesmo o suicídio como resposta à falta de significado da existência. Outros dirão que mesmo que se produza
1973);
significado, este é apenas subjetivo, pois o universo
Kant afirmou a necessidade moral da crença em Deus, sem a qual nenhuma vida moral poderia se constituir (KANT, 2002); Richard Swinburne - filósofo britânico da contemporaneidade - inspirado no argumento de
demonstra uma indiferença constante à existência e ao que o ser humano produz, já que tudo será consumido pelo tempo e desaparecerá para sempre, mesmo as lembranças que tenham de nós e de nossas ações. Talvez o ser humano não devesse se
21
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos preocupar tanto com sua existência como um ser único, achando que ele é especial (NAGEL, 2001, 2004).
Antes de continuar dê uma parada e leia a poesia de Fernando Pessoa, denominada O Mistério das Cousas, ela possibilitará a reflexão sobre o que você estudou.
O Mistério das Cousas Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
Há Metafísica bastante em não pensar em nada. O que penso eu do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso. Que idéia tenho eu das cousas? Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma E sobre a criação do Mundo? Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos E não pensar. É correr as cortinas Da minha janela (mas ela não tem cortinas). O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério! O único mistério é haver quem pense no mistério. Quem está ao sol e fecha os olhos, Começa a não saber o que é o sol E a pensar muitas cousas cheias de calor. Mas abre os olhos e vê o sol, E já não pode pensar em nada, Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos De todos os filósofos e de todos os poetas. A luz do sol não sabe o que faz E por isso não erra e é comum e boa. Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? A de serem verdes e copadas e de terem ramos E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, A nós, que não sabemos dar por elas. Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem Nem saber o que não sabem? "Constituição íntima das cousas"... "Sentido íntimo do Universo" ... Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. É incrível que se possa pensar em cousas dessas, É como pensar em razões e fins Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão. Pensar no sentido íntimo das cousas É acrescentado, como pensar na saúde Ou levar um copo à água das fontes. O único sentido íntimo das cousas É elas não terem sentido íntimo nenhum. Não acredito em Deus porque nunca o vi. Se ele quisesse que eu acreditasse nele, Sem dúvida que viria falar comigo E entraria pela minha porta dentro Dizendo-me, Aqui estou! (Isto é talvez ridículo aos ouvidos De que, por não saber o que é olhar para as cousas, Não compreende quem fala delas Com o modo de falar que reparar para elas ensina.) Mas se Deus é as flores e as árvores E os montes e sol e o luar, Então acredito nele, Então acredito nele a toda a hora, E a minha vida é toda uma oração e uma missa, E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos. Mas se Deus é as árvores e as flores E os montes e o luar e o sol, Para que lhe chamo eu Deus? Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; Porque, se ele se fez, para eu o ver, Sol e luar e flores e árvores e montes, Se ele me aparece como sendo árvores e montes E luar e sol e flores, É que ele quer que eu o conheça Como árvores e montes e flores e luar e sol. E por isso eu obedeço-lhe, (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?), Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, Como quem abre os olhos e vê, E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, E amo-o sem pensar nele,
22
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos E penso-o vendo e ouvindo, E ando com ele a toda a hora.
6.2. Epistemologia A epistemologia, ou teoria do conhecimento, trata de todas as questões acerca do conhecimento humano: como procede; de onde parte; seus limites; seus tipos. Ao procurar conhecimento, pretende-se encontrar crenças verdadeiras justificadas. Dentro desta definição encontram-se dois conceitos que devem ser clarificados: verdade e justificação. Existem diversas teorias que definem o que é a verdade. Dentre elas temos a mais comum, a "teoria da correspondência" ou "teoria especular". O termo "especular" se refere a espelho, pois supõe que os conhecimentos que cada pessoa possui se espelham a realidade ou correspondem ao mundo como ele é. Assim, verdadeira é a crença que reproduz a estrutura do mundo e falsa é a crença que não reflete esta estrutura. Uma outra teoria, mais nova, é a pragmatista. Segundo esta teoria, a verdade é uma
característica provisória das crenças, ou seja, enquanto estas produzem o resultado esperado em termos de finalidades práticas, elas sustentam o status de verdadeiras. Quanto à justificação, sua definição está ligada ao tipo de conhecimento que se pretende advogar, o procedimento necessário para atingi-lo e as evidências relevantes.
Veja uma explicação! Se o que pretendo provar é um teorema matemático, o procedimento de justificação se resume
ao
conjunto
de
regras
lógicas
de
demonstração e não necessito de evidência além do próprio cálculo lógico. O mesmo não acontece se a crença que pretendo justificar é a de que determinado vírus é o causador de uma doença específica;
neste
caso
preciso
de
evidência
observacional que deverá ser coletada, mensurada e relacionada com os efeitos que pretendo explicar.
Ao tentar defender a existência da mente como algo imaterial a justificativa deverá possuir não só uma argumentação logicamente correta, mas também
apresentar
fatos
plausíveis
e
não
contraditórios em defesa do que se pretende afirmar como verdade. Todas estas características dizem respeito ao conhecimento, mas há uma área específica da epistemologia que se consolidou no passar dos séculos XIX e XX: a filosofia da ciência. O conhecimento científico, em especial o das ciências naturais, se desenvolveu enormemente a partir do início da modernidade com a Revolução Científica e a Revolução Industrial. A ciência se tornou, durante o século XIX e ainda hoje para alguns, o conhecimento privilegiado. A ciência tem uma enorme importância na sociedade de hoje, o que pode ser apreciado ao notar o grande interesse e dependência que se possui das questões científicas e tecnológicas. Aos filósofos interessam indagar o que caracteriza o conhecimento científico, seu
23
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos método ou métodos, suas teorias e a realidade da qual pretende falar.
É bom lembrar que o problema da demarcação do que é ou não conhecimento científico vem desde o início dos questionamentos em filosofia da ciência e está ligado à questão do progresso da ciência. É importante ressaltar ainda, uma das posições mais radicais contra as convicções realistas do conhecimento: o ceticismo. O cético é um terrorista do conhecimento que pretende deixar em escombros o edifício do conhecimento.
A
metáfora
do
edifício
6.3. Ética Os problemas éticos, assim como os políticos, são os que mais se relacionam com o nosso dia-a-dia. As questões éticas são relativas ao agir humano. O que é certo fazer? O que não devemos fazer? Qual ou quais são as fontes da moralidade? Há alguma relação entre o certo e o útil? A felicidade pessoal é a justificativa final das ações humanas? Além das questões éticas de cunho geral referidas acima, existem as questões mais específicas, relativas à época em que se vive, em especial aquelas que dizem respeito à vida.
do
conhecimento foi utilizada por Descartes em sua
Veja estes exemplos!
obra "Discurso do Método", onde pretendia se
O
aborto
poderia
ser
eticamente
defender dos argumentos céticos. O cético chama
justificado? A eutanásia não seria apenas um
atenção para o fato de que constantemente o ser
assassinato?
humano erra: nosso raciocínio se mostra errado,
células-tronco embrionárias?
Pode-se
realizar
pesquisas
com
somos enganados pelos sentidos, confundimos sonho e realidade, e nossas teorias estão permanentemente se mostrando falhas.
Estas questões estão ligadas com a concepção de ser humano. A moral tradicional e as religiões tentam respondê-las, mas como as
Em suma, não podemos dar crédito às
concepções morais são variadas e as religiões são
nossas percepções e crenças, pois não
muitas, o papel da filosofia se mostra primordial,
possuímos garantia alguma da correção delas;
pois com o uso da nossa capacidade racional
no máximo podemos afirmar que temos
comum pode-se tentar o acordo.
opiniões
acerca
do
mundo,
conhecimento de como ele realmente é.
nunca
Se prestarmos atenção à história da humanidade, perceberemos que os diferentes povos e civilizações possuíam concepções contraditórias acerca do certo e do errado; as sociedades hoje existentes, tem percepção do bem e do mal também
24
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos variadas. A conclusão destas observações para o
racionalmente ao que usualmente chamamos de
relativista moral é a de que a norma moral depende
"regra áurea", uma norma moral universal. Nisto
da sociedade em que se vive; o que é certo é aquele
estão ao lado das maiores tradições religiosas da
tipo de ação que a sociedade procura incentivar ou
história da humanidade (SINGER, 2002).
toma como normal, e o que é errado é a ação que aquela sociedade tenta proibir.
As críticas ao relativismo e ao subjetivismo estão centradas na idéia da impossibilidade de crítica moral, de educação moral e reforma social ao
Deste modo, para o relativista moral não
admitirmos a posição relativista. Segundo os
podemos condenar moralmente as ações de
críticos do relativismo, basta que você se pergunte
determinado povo, pois este está simplesmente
quais seriam as razões para condenar um ato em um
fazendo aquilo que pensa estar certo. Qualquer
grupo social diferente do seu ou em um subgrupo
tipo de repreensão moral seria derivada de uma
social da sociedade em que se está inserido.
atitude etnocêntrica. Como, por exemplo... As posições relativistas vêm desde a
Posso condenar um ato terrorista se esta pode ser
Antigüidade. Alguns de seus mais famosos
uma ação vista como correta dentro do grupo ao
representantes foram os sofistas, na Grécia Antiga,
qual o terrorista pertence? Olhe para os inúmeros
e Montaigne , no início do Período Moderno. A
subgrupos dentro da sociedade em que você vive. Se
crítica ao relativismo também é tão antiga quanto
em um destes subgrupos a prática religiosa é
seus representantes. Sócrates
diferente da maioria da sociedade, ela teria que ser
constituiu seu
pensamento na luta contra as posições céticas e
condenada como errada?
relativistas dos sofistas, assim como Platão. Há uma coincidência nas diversas respostas
No caso do subjetivismo ético, os
dadas ao relativismo moral, mesmo quando estas
problemas se repetem. Imagine você se o certo e o
respostas não derivam teorias éticas comuns.
errado fossem os objetos do desejo dos indivíduos.
Platão, Aristóteles, os filósofos cristãos da Idade Média, os racionalistas modernos, os empiristas, os utilitaristas, Kant e diversos outros pensadores não coincidiram em suas propostas de uma teoria ética definidora do certo e do errado no agir humano, mas todos eles coincidiram em suas críticas ao relativismo e na possibilidade de chegarmos
A responsabilidade moral, assim como a imputação de culpa, não poderiam ocorrer dentro da sociedade. Novamente, como pais e educadores agem? Dizem a seus filhos e alunos "façam o que desejam"? A idéia de educação moral está justamente baseada no controle dos desejos subjetivos. Como bem disse Thomas Hobbes, se esta é a natureza
25
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos egoística do homem, o estado da natureza é a guerra de todos contra todos (HOBBES, 1979).
O determinismo defende que todas as ações no mundo estão determinadas por causas anteriores
Há uma tentativa, com base no pensamento
a elas, incluso as ações humanas.
de Kant, de controlar o subjetivismo. Esta faz
O ser humano tem que ter autonomia na
referência ao conceito de "observador ideal". O
escolha. Em algum momento nossa capacidade de
pensador que defende esta teórica foi o filósofo
decisão ou nossa vontade de poder escolher deve
americano John Rawls. Nesta teoria, ao decidir
ocorrer sem nenhum constrangimento.
sobre a ação, o indivíduo deve se colocar na posição
Isso é possível? Pense em você!
de um observador ideal que procuraria ter o máximo
Quando decidiu fazer este curso, você não
conhecimento possível sobre a ação a ser realizada –
foi influenciado por nada a tomar esta decisão?
inclusive as possíveis conseqüências – e procurar agir com total imparcialidade nas ações, isto é, levando os interesses de todas as pessoas – incluso ele próprio – igualmente em consideração (RAWLS, 2002). Uma das críticas a esta posição está ligada à exigência de total imparcialidade.
Imagine! Você levaria igualmente em consideração os interesses de seus familiares e de um desconhecido?
Kant é responsável por uma das mais influentes elaborações éticas da filosofia. Kant estabeleceu uma regra moral de aplicação universal que se configurou no chamado "imperativo categórico": age de tal maneira que seja seu desejo que todos ajam da mesma forma. A ética de Kant é extremamente rígida e vinculada à noção do "dever"; se você faz o que é certo, mas o faz almejando algo mais além de fazer o que é certo, então a ação foi viciada.
A questão mais central, diante das conseqüências para a possibilidade de uma ética é a questão do livre-arbítrio.
Agora,
você
estudará
mais
duas
disciplinas filosóficas: a filosofia política e a
Os seres humanos são efetivamente livres
estética.
ao tomarem uma decisão ou isto não passa de uma
VII - FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA
ilusão? Diversos
autores
defenderam
o
determinismo como a posição teórica mais
A estrutura política, dos sistemas de
apropriada ao nosso conhecimento sobre o mundo e
governo e da justiça já era comum no pensamento
o ser humano.
dos filósofos da Antigüidade grega.
26
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos Porém há dois tipos de contraposições
Quase dois mil anos depois de Aristóteles,
teóricas clássicas na filosofia política. A primeira
o diplomata e pensador político florentino Nicolau
diz respeito à origem da sociedade e está dividida
Maquiavel irá se contrapor à ligação entre ética e
entre naturalistas e contratualistas. A segunda trata
política. Para Maquiavel, a política possui regras
das relações entre ética e política que apresenta
próprias e o agir político deve ser definido pelos
aqueles que defendem uma regulação ética da
seus fins inerentes, que para ele são a manutenção
política e aqueles que defendem uma regulação
do poder e da ordem na sociedade.
exclusivamente política.
Maquiavel estabelece uma diferença entre o que hoje chamamos "razão de Estado" e as razões pessoais do governante.
Os pensadores naturalistas são aqueles que afirmam o aspecto natural e evolutivo do aparecimento e desenvolvimento das sociedades. Seu representante foi Aristóteles que definia o ser
Aquilo que individualmente para uma pessoa seria
humano como um animal político. Para ele, o
o correto fazer, não é necessariamente certo para
Estado é apenas o ápice do desenvolvimento social
um governante.
e gregário da natureza humana. O núcleo social básico é a família, e dela vêm as demais
Se necessário aos fins específicos do
organizações sociais. Esta progressão é natural e
Estado, o governante deve agir na sua dependência,
evolutiva, pois o homem não é uma besta que vive
mesmo que pessoalmente em sua vida particular não
solitária, nem um deus que não precisa dos outros
o fizesse. O lema "os fins justificam os meios" é a
para existir (ARISTÓTELES, 1985).
expressão da desvinculação entre os preceitos éticos
Os contratualistas afirmam que qualquer sociedade surge em função de um pacto implícito
pessoais
e
os
preceitos
políticos
públicos
(MAQUIAVEL, 1973).
entre os indivíduos que a comporão. As pessoas
Para finalizar as referências aos problemas e
possuiriam diversos direitos que são naturais e por
respostas abordados dentro da filosofia política,
meio de uma decisão racional decidem por viver em
façamos referência à questão da justiça e sua
grupo, abdicando de todos ou de alguns direitos
distribuição.
naturais.
John Rawls e Robert Nozick foram dois
Para Aristóteles, a política é a continuação
filósofos americanos atuais que representaram
da ética. Um ser humano somente se define em
idéias contrárias sobre a justiça distributiva.
sociedade, pois é nela que deve se esforçar por
Rawls defendeu a importância do Estado como o elaborador e realizador de mecanismos sociais e econômicos que produzam justiça social.
adquirir hábitos virtuosos.
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UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos Caberia ao Estado diminuir as distâncias das
estética é a da imitação. Em Platão, todo o mundo
diferenças entre as condições materiais dos
físico é imitação do mundo das idéias, o que
indivíduos que compõem uma sociedade.
percebemos através da nossa capacidade racional
Nozick, era frontalmente contra qualquer tipo de ação que interferisse nos direitos naturais de uma pessoa. A ação dos indivíduos dentro da sociedade deve ser livre de qualquer constrangimento.
que ultrapassa o sensorial e apreende a idéia imaterial e eterna do belo, a beleza em si mesma. Na perspectiva de Aristóteles a arte é por definição arte imitativa. Quanto mais perfeita a imitação realizada, mais a arte permite o aprimoramento
VIII - ESTÉTICA
humano,
pois
possibilita
a
percepção e a vivência de experiências múltiplas. Alguns outros teóricos se concentraram na
A estética é a área da filosofia que trata da
emoção, tanto a que o artista pretenderia expressar,
beleza e da arte. A apreciação estética é parte do
quanto aquela que ocorre em quem aprecia. Mas os
nosso cotidiano.
problemas logo aparecem. Como posso ter certeza da apreensão correta da emoção do artista?
Observe: Pode-se dizer que certas composições
Quanto à emoção produzida naquele que percebe a situação não é menos problemática. Se a
musicais são belas; quão bonita é uma paisagem;
emoção estética produzida por algo é diferente em
fala-se sobre a beleza de algumas pessoas;
duas pessoas é porque aquilo é falho? Não posso
encanta-se com os quadros e as esculturas como
admitir que algo seja arte sem que aquilo produza
belas.
em mim algum tipo de emoção?
Mas o que há de comum em uma
Um outro tipo de posição em estética
paisagem, uma música, uma pessoa e um quadro
advoga uma posição sociológica e histórica. Esta
quando dizem que todos são belos?
concepção afirma que a beleza e a arte são definidas em função das condições psicológicas e sociais
Você já deve ter se perguntado sobre isso e
existentes em determinados períodos e locais.
já deve ter percebido que, além de falar da beleza de
Arte é aquilo que foi estabelecido como arte
coisas diferentes, as pessoas têm opiniões diferentes
pelos manuais de história, pelos artistas, pelos
sobre o que é belo ou não. A tendência natural é
marchands e pelos críticos. O mesmo ocorreria com
chegar à conclusão de que gosto não se discute.
a concepção de beleza. Dentro desta perspectiva há
Nem todas as teorias estéticas advogam um
uma coincidência com o relativismo moral em ética
subjetivismo extremo, a mais usual perspectiva
28
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos e com o ceticismo em epistemologia (GARDNER,
pela prudência, e esta prudência se aplica à
2002).
prática.
Atualmente, o padrão de identificação do que é belo está ligado ao fato de evolutivamente as
A partir de agora vamos nos aprofundar nestes
espécies reconhecerem a relação entre saúde e
aspectos que envolvem o processo educativo.
organismos de corpos simétricos. Esta hipótese explicativa é fruto de uma aliança nem sempre
Iniciaremos revisitando Platão e Sócrates.
aceita entre estética e biologia evolucionista
A concepção de ser humano encontrada em
(WRIGHT, 1996).
Platão permite o aprimoramento pessoal, mas a prática educacional defendida por ele não permite
IX – DIMENSÃO FILOSOFIA
PEDAGÓGICA
DA
variedade. Platão estabelece estritas regulações do processo educacional em relação aos tipos psicológicos que acreditava existirem. A imagem do
A preocupação grega com a formação do
Sócrates mestre é a de um indivíduo preocupado
indivíduo se desdobrou nas inúmeras interpretações
com os caminhos que o conhecimento e o
do que é o ser humano e as condições de
aprimoramento moral do indivíduo poderiam tomar.
maleabilidade de formação a que está submetido.
Sócrates é apresentado nos diálogos de Platão como
A filosofia não pretende somente justificar a
mais preocupado com o procedimento do que com o
interpretação do que é o homem, como também
resultado final do empreendimento cognitivo. O
produz normatização acerca dos procedimentos de
processo educacional não termina, assim como a
formação.
verdade não se apreende de todo.
Uma concepção antropológica da natureza
Esta perspectiva socrática vai até o advento
humana mais comedida seria a interpretação
do Cristianismo. Após a vitória do Cristianismo
aristotélica do ser humano como um ser com
como religião dominante no mundo ocidental, a
características próprias, mas maleável em sua
missão de preparar a vida deixa de ser uma função
formação, que se dará de maneira interativa com os
da filosofia e passa a ser da religião.
outros e com as situações com que se defronta. Por exemplo: aristotelicamente, diríamos que: A
educação
envolve
aspectos
sociais,
políticos e éticos que fazem dela uma arte regida
9.1. Abordagem Filosófica, Metafísica e Epistemológica da Formação da Pessoa A filosofia possibilitará a formação do indivíduo quando retomar a noção de razão prática, entendida como orientação para a vida.
29
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos Para isto devemos levar em consideração
humano está desvinculado de seu momento
alguns fatores importantes para uma abordagem
histórico e dos valores que constituem as
filosófica, metafísica e epistemológica da formação
comunidades. Não perceber a historicidade dos
da pessoa.
procedimentos educacionais impede a compreensão da mudança e a contextualidade destes processos.
Educação: a busca de uma
constituição estável do ser humano que não muda com o tempo Ao advogarmos um modo específico de educar estamos supondo uma constituição estável do ser humano que não muda com o tempo. A indicação de propriedades definidoras não é empreendimento fácil e devemos ter o cuidado em não cristalizar interpretações e práticas, a ponto de se tornarem prejudiciais à formação da pessoa. Ausência de regularidade do processo educacional A falta de regularidade do processo educacional também deve ser levada em conta para uma perspectiva pedagógico-filosófica enriquecedora. A figura do Sócrates inquiridor é exemplar dos descaminhos do processo educacional. Podemos justificar certas práticas educacionais, mas a dificuldade de que tais práticas ocorram sempre da
A linguagem como veículo dos
processos educativos. A linguagem é o veículo privilegiado dos processos educacionais. A atenção aos significados e crenças vinculados no processo educacional nos remete à estrutura da argumentação, do diálogo, da formação pragmática do significado. A linguagem é o meio de compartilhamento de crenças. A linguagem produz significado dentro da comunidade de falantes, que determina o uso dos termos. Perceber a educação como um jogo lingüístico ajuda a tomá-la como um processo de interação segundo regras. A cultura enquanto um conjunto de valores para as comunidades A cultura apresenta um conjunto de valores que norteiam todas as atividades dentro de uma comunidade. Uma educação plena e democrática
mesma forma e resultem nos resultados pretendidos
deveria reproduzir os valores, criticá-los, repô-los,
é uma pretensão que até a ciência natural
compará-los e disseminá-los em sua pluralidade.
contemporânea problematiza pelo uso contínuo da
Aspectos econômicos que influenciam a educação Por último – mas não seriam só estes os fatores existentes – citamos os aspectos econômicos de influência na educação. As condições materiais podem ser um fator decisivo para tolher as práticas
estatística e do cálculo de probabilidades.
A educação enquanto um processo histórico A educação e seus processos obedecem a uma referência histórica. Nenhum procedimento
30
UNI – UNIÃO NACIONAL DE INSTRUÇÃO Ensino de Jovens e Adultos educacionais, ou para incrementá-las. Aristóteles já
X - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
fazia referência à necessidade de um mínimo material para a vida de contemplação e a obtenção
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de felicidade. Assim, à filosofia não basta
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reconhecer a importância dos meios materiais, mas
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é
necessário
justificar
como
eticamente
indispensável o acesso a tais condições.
ARANHA, Maria Lúcia de A.; MARTINS, Maria Helena P. Temas de Filosofia. 2ª ed. São Paulo, SP:
CONCLUINDO....
Moderna, 1992.
Foi um prazer ter concluído o estudo dessa
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unidade com você.
São Paulo, SP: Ática, 1994.
Certamente você percebeu que os aspectos focados nesta unidade nos mostra a necessidade de,
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continuar questionando e buscando sempre, novos
Filosofia? Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro, RJ: Ed. 34, 1992.
modos de pensar a realidade. Mostrando os limites da filosofia, estamos valorizando o pensamento que abre novas estradas
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nome philosophia; assim, ‘filósofo’ significa aquele
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