FUNÇÕES DA LITERATURA 1 - Função lúdica : É a mais generalizada. Surge no momento em que a literatura é vista como um microcosmo, como um valor em si, uma espécie de jogo, uma realidade específica sem qualquer finalidade prática e destinada apenas a dar prazer, despertar emoções, distrair, alegrar, comover, etc. (É o caso dos romances policiais, da ficção científica ou de qualquer outra forma literária que vise apenas entretenimento do leitor). 2 - Função pragmática (utilitária) : Em todas as sociedades tem sido uma das mais importantes. É a que atribui à literatura uma finalidade prática ou uma utilidade para além do seu valor estético. Várias podem ser as intenções pragmáticas atribuídas à literatura. Entre elas: a) Convencer o auditório de alguma coisa (= oratória sacra e profana). b) ensinar ou esclarecer um problema (= conferências, ensaios, etc.) c) atrair adeptos para uma ideologia (= literatura engajada a serviço da política ou da religião). d) difundir um elenco de valores morais e sociais, aceitos por determinada sociedade. 3 - Função sintonizadora (ou sinfrônica): Refere-se à possibilidade, inerente à literatura ou à arte em geral, de estabelecer a comunhão entre homens de diferentes épocas ou níveis de cultura, devido à presença de elementos vitais, espirituais, que por serem comuns à condição humana ultrapassam os diferentes estilos de cada época ou cada autor, e estabelecem entre a obra e o leitor uma simpatia e identidade independente do tempo e do espaço. 4 – Função cognitiva: Pelos que lhe atribuem essa função, a literatura é vista como uma forma de conhecimento: um elemento revelador da verdade psicológica dos seres ou da verdade sob a aparência das relações humanas. “Os romancistas podem ensinar-te mais sobre a natureza humana do que os psicólogos.” (Wellek & Warren. Teoria da Literatura, p. 40)
5 – Função catártica (ou purificadora): Essa função tem uma longa tradição. Na Poética, de Aristóteles (séc. IV a.C.), ela já era apontada: “a tragédia, imitação de ações de caráter elevado, completa-se em si mesma, em linguagem ornamentada [...] suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a catarse desses sentimentos.”
Através dos tempos, muitos são os teóricos que vêem a literatura como um instrumento liberador da pressão das emoções, tanto para o escritor como para o leitor. “Exprimir emoções é ficar liberto liberto delas. [...] Mas a literatura libertar -nos-á libertar -nos-á das emoções ou, ao contrário, as desperta?” (WelleK & Warren, p. 45)
6 – Função L i b e r t a d o r a d o E u : Essa é uma das mais polêmicas atribuídas à literatura, e tem atraído sobremaneira os psicanalistas. Vista por esse prisma, a literatura funcionaria como um elemento de evasão do “eu”, permitindo -lhe a fuga à realidade concreta que que o cerca. Sem ser positiva ou negativa em si, essa fuga pode, no entanto, ser construtiva ou destrutiva, dependendo do grau da fruição
emotiva alcançada. Tanto pode ser compensadora para os possíveis desajustes ou frustrações do “eu” em face do meio social, como pode ser alienadora, fechando o “eu” em s i mesmo, dentro de um mundo próprio e intransferível. Essa
função libertadora verificar-se-ia tanto no escritor como no leitor. Ambos podem encontrar no universo da ficção a compensação para os desajustes com o meio social ou para as suas frustrações. Ex. “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira. É importante notar que nenhuma dessas funções pode ser desempenhada, pela obra de maneira pura, ou ser determinada com rigidez. Há, via de regra, uma que predomina no espírito do escritor (ou leitor), mas isso não impede a presença das outras. Esquemas e regras – em se tratando de literatura – são meros recursos didáticos, embora indispensáveis a uma compreensão mais ampla do fenômeno literário. Jamais poderão ter peso de lei imutável e irredutível.