EDIÇÃO DE IPA IPAD
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NOVIDADE NOVID ADES S SOBR SOBRE E CIÊN CIÊNCIA, CIA, TECNOL TEC NOLOGIA OGIA E COMP COMPORT ORTAMEN AMENTO TO ESTÃO NA GA GALI LILE LEU U E NO GL GLOB OBO O MAI MAIS S. O APP QUE REÚNE TUDO O QUE É RELE RE LEV VAN ANTE TE PAR ARA A VO VOCÊ CÊ EM UM SÓ LU LUGA GAR. R.
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APRESENTADO APRESENTADO POR
PRIMEIRAMENTE POR GIULIANADE GIULIANADE
TOLEDO TOLEDO
WWW.GALILEU.GLOBO.COM
QUEMFEZACAPA
#317
FOTO Dulla ASSIS TÊNCI A Tiago Matos ILUSTRAÇÃO Guilherme Aranega (Guira) PRODUÇÃO Carol Malavolta
1 2 . 2 0 17
COLABORADO COLAB ORADORES RES DO MÊS
Dulla
FOTÓGRAFO
antigos — alguns até milenares. Há dois anos, se não menos, daría-
ONDE NASCEU E ONDE MORA São Paulo (SP)
mos risada ao pensar em uma repor-
HISTÓRICO
tagem que explicasse que a Terra não é plana, tamanho o absurdo desse questionamento. Hoje temos certeza da necessidade dessa matéria — não só para falarmos de Terra redonda mas também da importância das vaci-
Começou a carreira como assistente de fotógrafos de moda, o que o levou à fotograa still life , em que se especializou. Já colaborou com revistas como Casa e Jardim , Época e VIP.
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO A foto foto do cartaz cartaz da noss nossaa capa
nas, da ameaça real do aquecimento
global global e do risco de desmanche da nossa produção cientíca diante de
A CAPA QUE NÃO GOSTARÍAMOS DE TER FEITO
cortes tão severos no orçamento. Mais: percebemos percebemos a urgência urgência de criar uma campanha em defesa da
Marta Malaspina
ciência. Por isso, nos próximos tem-
FOTÓGRAFA
pos, vamos usar frequentemente
ONDE NASCEU E ONDE MORA
#lutepelaciência nos nossos conteú-
Roma (Itália) e Amã (Jordânia)
dos. Vocês também estão convida-
HISTÓRICO
dos, claro, a nos ajudar na tarefa de espalhar essa hashtag .
Além de ser fotógrafa, já coordenou um projeto para mulheres refugiadas no Iraque. Suas imagens já foram publicadas no Al Jazeera English e La Repubblica , entre outros veículos.
Os fatos cientícos não mudaram — e quem os questiona não tem argumentos sólidos para dizer
Q
Que a GALILEU luta pela ciência não é novidade.
Desde que a revista nasceu, há 26 anos, à época com o nome de Globo Ciência,
essa preocupação é constante. Todo dia contamos e analisamos o que de mais relevante relevante é descoberto. descoberto.
É justamente por isso, por termos nos acostumado a olhar cheios
de expectativas para as novidades, novidades, que digo que esta é uma capa que
o contrário, como mostramos na reportagem da p. 36 —, mas a conjun-
tura social e política mudou muito nos últimos tempos. A pós-verdade pós-verdade
atingiu em cheio diversas esferas. O conhecimento cientíco e a sua credibilidade não foram poupados. Estranhamente, passou-se a entender a ciência como algo moldável por ideologias, mais um campo de “nós contra eles”, eles”, de “é isso que eles
querem que você pense”. Um discurso deliberadamente paranoico — ele, sim, a serviço de ideias que se podem ler nas entrelinhas.
não gostaríamos de ter feito. Agora
tivemos de dar uma pausa no que há de novo na ciência para reforçar conhecimentos muito, muito
Giulianade Toledo — Editora-chefe Editora-chefe
gtoledo@e gtol edo@e dglobo. dglob o.com com .br
!
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO Hora da revanche (p. 46)
DOSESDUPLAS
Além de duas Gius (eu e a Viggiano, Viggiano, repórter estagiária), agora temos na redação uma dupla de Mays (May Tanferri Tanferri e Mayra Martins, designers) e uma de Felipes (o mais conhecido como Feu, editor editor de arte, e o Floresti, repórter). Bem-vindos, -vindos, xarás! xarás!
Priscila Bellini
JORNALISTA ONDE NASCEU E ONDE MORA São Paulo (SP)
HISTÓRICO Estudante de árabe desde a adolescência, já trabalhou em uma ONG na Palestina e em campos de refu giados na Jordânia. Atualmente é jornalista na Fundação Fundação Estudar.
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO Hora da revanche (p. 46)
uma série para você
encarar de frente! Chegou a série AFRONTA! Grandes nomes contemporâneos da juventude negra brasileira vão falar sobre suas trajetórias, seus trabalhos e suas opiniões. Assista, reflita, afronte.
Segundas, às 21h45
SKY HD
NET HD
CLARO TV HD
OI TV
434
587
587
35
VIVO
68
Assistaao programatambémem
futuraplay.org.br
COMPOSIÇAO DEZ EMBRO DE 2017
ANTIMATÉRIA
MATÉRIAS P.16 LUNETA
GOOGLERUMOÀLUA
P.36 MANUAL PARA LUTAR
PELA CIÊNCIA
P.18 P.07
PELE DE TILÁPIA AJUDA A CURAR QUEIMADURAS
COMOOSNOTEBOOKS SÃO TESTADOS NO JAPÃO
P.46 MULHERESÁRABES
APRENDEM AUTODEFESA
P.21
ENTREVISTACOMODIRETOR DE OSÚLTIMOSJEDI
P.54 ENTREVISTA
GABRIELVICTORA
P.22 MAPA MENTAL
UNIVERSO STARWARS
P.23 COLUNA
CONEXÕES CÓSMICAS
P.10 CRUZEIRO UNE FAMÍLIAS
DEJOVENSGAYSNACHINA P.60 ENSAIO
MUNDOS INVISÍVEIS
P.66 2017 �ATÉQUE� FOI
UMANOBOM
P.71 P.11
RECOMPENSA
NÃO,OFOGONÃOÉOGRANDE INIMIGODACHAPADA
P.12 CARTOGRÁFICO
RECUODOESTADOISLÂMICO
P.25 DOSSIÊ
IDIOMAS
Google dará prêmio de US$ 20 milhões a empresa que chegar à Lua em 1º lugar
COLUNA TUBODEENSAIOS
P.72 PANORÂMICA P.74 ULTIMATO
DIRETORGERAL: FredericZoghaib Kachar DIRETOREDITORIAL: FernandoLuna DIRETORDEAUDIÊNCIA: LucianoTouguinhade Castro DIRETORADEMERCADOANUNCIANTE: VirginiaAny
Edição 316
CONSELHO
Novembro de 2017
POR GIULIANADE TOLEDO
DIRETORADOGRUPOCASAE JARDIM,CRESCER,GALILEU,MONET ETECHTUDO: DanielaTófoli REDAÇÃO DIRETORDEREDAÇÃO: LuísAlbertoNogueira EDITORA-CHEFE:Giulianade Toledo EDITORDEARTE:Felipe Eugênio(Feu) EDITORES: NathanFernandese Thiago Tanji REPÓRTERES: AndréJorgede Oliveira,FelipeFlorestie IsabelaMoreira DESIGNERS: MayTanferrie MayraMartins ESTAGIÁRIAS: GiulianaViggiano e NathaliaFabroMendes(texto); CarolMalavolta(arte) COLABORADORESDESTAEDIÇÃO: CarolCastro, MarianeMorisawa,PriscilaBellini (texto); Dulla,GiovaniFlores, GuilhermeAranega (Guira), GuilhermeHenrique,Marta Malaspina,Pedro Piccinini,Tiago Matos(arte);MoniqueMurad Velloso (revisão) E-MAILDAREDAÇÃO:
[email protected]
A PRIMEIRA AVALIAÇÃO A GENTE NÃO ESQUECE Com uma nova turma de conselheiros formada, chegou a vez de saber o que eles pensam da GALILEU. Confira o que agradou ou não na nossa edição de novembro HORA DA VERDADE
VEJAASNOTAS,DE0A10,QUEOSCONTEÚDOSRECEBERAM
ESTRATÉGIADIGITAL COORDENADOR:SantiagoCarrilho DESENVOLVEDORES: AlexsandroMacedo,Fabio Marciano,FernandoRaatz, FredCampos, LeandroPaixão,MardenPasinato,MarvinMedeiros,Murilo Amendolae WilliamAntunes ESTRATÉGIADECONTEÚDODIGITAL GERENTE: Silvia Balieiro MERCADOANUNCIANTE TECNOLOGIA,TI, TELECOM,ELETROELETRÔNICOS,COMÉRCIOEVAREJO— Gerentede Negócios Multiplataforma: CiroHorta Hashimoto;Executivos Multiplataforma: Christian LopesHamburg, CristianedeBarrosPaggiSucci,JessicadeCarvalhoDiase RobertoLozJunior.BENSDECONSUMO, ALIMENTOSEBEBIDAS,MODAEBELEZA,ARQUITETURAEDECORAÇÃO—DiretoradeNegócios Multiplataforma: SelmaSouto; ExecutivosMultiplataforma: ElianaLimaFagundes,FátimaRegina Ottaviani, Giovanna Sellan Perez,Paula SantosSilva, SelmaTeixeira da Costae SorayaMazerino Sobral. MOBILIDADE,SERVIÇOS PÚBLICOSE SOCIAIS,AGRONEGÓCIOS,INDÚSTRIA,SAÚDE,
EDUCAÇÃO,TURISMO, CULTURA,LAZER,ESPORTE— Diretorde NegóciosMultiplataforma: Renato AugustoCassis Siniscalco; Executivos Multiplataforma: Cristiane Soares Nogueira, Diego Fabiano, João Carlos Meyere Priscila Ferreira da Silva; Diretorade NegóciosMultiplataforma: SandraRegina deMeloPepe; Executivos Multiplataforma: Dominique Pietroni de Freitas e Lilian de Marche Noffs. FINANCEIRO,LEGAL, IMOBILIÁRIO — Diretorde NegóciosMultiplataforma: Emiliano MoradHansenn;Executivos Multiplataforma: AnaSilvia Costae MiltonLuizAbrantes. ESCRITÓRIOSREGIONAIS — Diretorade NegóciosMultiplataforma: Luciana Menezes Pereira; GerenteMultiplataforma: LarissaOrtiz.RIODEJANEIRO—GerentedeNegóciosMultiplataforma: RogerioPereiraPoncede Leon;ExecutivosMultiplataforma: DanielaNunes LopesChahim,Juliane RibeiroSilva,Maria CristinaMachadoe PedroPaulo RiosVieira dos Santos. BRASÍLIA— Gerente Multiplataforma: BarbaraCosta Freitas Silva; Executivo Multiplataforma: JorgeBicalho FelixJunior. OPECOFFLINE: CarlosRoberto deSá, Douglas Costa e BrunoGranja. OPECONLINE: Danilo Panzarini, HigorDanielChabes e Rodrigo Pecoschi. EGCN— Consultorade Marcas: OliviaCipolla Bolonha. DESENVOLVIMENTOCOMERCIALE DIGITAL— Diretorde DesenvolvimentoComerciale Digital: TiagoJoaquim Afonso.G.LAB: CaioHenriqueCapriolie LucasFernandes.EVENTOS: Daniela Valente. PORTFÓLIOE MERCADO:RodrigoGirodoAndrade. PROJETOS ESPECIAIS: LuizClaudio dosSantos Fariae GuilhermeIegawa.
AUDIÊNCIA DiretordeMarketingConsumidor: CristianoAugustoSoaresSantos DiretordePlanejamentoeDesenvolvimentoComercial:EdneiZampese CoordenadoresdeMarketing:EduardoRoccatoAlmeidae PatriciaAparecidaFachetti
Galileuéuma publicaçãodaEDITORAGLOBO S.A.— Av.Novede Julho,5.229,8º andar, CEP01407-907,SãoPaulo/SP.Tel.(11)3767-7000.Distribuidorexclusivopara todoo Brasil: Dinap— DistribuidoraNacionaldePublicações.Impressão:PluralIndústriaGráficaLtda. —Av.Marcos PenteadodeUlhoaRodrigues,700, Tamboré,Santanade Parnaíba/SP,CEP 06543-001
Nota 10
Nota 9
Nota 8
PARAANUNCIARLIGUE:SP:(11) 3767-7700/3767-7500 RJ: (21)3380-5924 E-MAIL:
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ATENDIMENTO 4003-9393 www.sacglobo.com.br
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NAINTERNET
Não sei opinar
“Senti falta do outro lado. Dos professores que ainda são resistentes à tecnologia. Podia ter rolado o convite pra um professor mais analógico assistir ao conteúdo de um edutuber.”
7,1% 7,1% 7,1%
50% 28,7%
LUCASRICCI
RAFAELMUNDURUCA
SãoJoãodaBoaVista,SP
SãoPaulo,SP DOSSIÊENEM
“As dicas foram estratégicas e, com certeza, contribuíram muito não só para aqueles que fazem o Enem, mas para todos os leitores — anal, conhecimento nunca é demais.”
7,1%
LUANABONFIM
21,4%
“Considero que as matérias de Física e Química não foram bem contempladas comparadas a outras disciplinas. Apresentar a resolução de uma questão não agrega ao estudante.
14,3%
57,2%
CÍNTHIA FERREIRA
Cícero Dantas,BA
VilaVelha,ES NEYMARSDAMEDICINA
“É uma reportagem importante para ser lida, trata de uma das mais belas prossões existentes, e a forma como é comparada com o mercado do futebol é incrível.” MARIANABORGES
DESEJA FALAR COMA EDITORAGLOBO?
Nota 5
REPORTAGEMDECAPA
“Toda a matéria foi bem construtiva e abordou muitos aspectos realmente interessantíssimos! O Teteus, por exemplo, com 11 anos, ensinando o que ele ensina... que menino show!”
ATENDIMENTOAO ASSINANTE
Disponíveldesegundaasexta-feira,das8às21horas;sábados,das8às15horas. INTERNET: www.sacglobo.com.br— SÃOPAULO: (11)3362-2000 DEMAISLOCALIDADES: 4003-9393— FAX: (11)3766-3755 *Custodeligaçãolocal.ServiçonãodisponívelemtodooBrasil. Parasaberdadisponibilidadedoserviçoemsuacidade,consultesuaoperadoralocal.
Nota 7
“A apresentação, que cou em faixa vertical, deu certa diculdade para ler.”
21,4%
7,1%
21,4%
DÉBORAH QUEIROZ 35,8%
14,3%
Goiânia,GO
SãoPaulo,SP
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OBureauVeritas Certification,combasenos processoseprocedimentosdescritosnoseu Relatóriode Verificação,adotandoumnívelde confiançarazoável,declaraque oInventário deGasesdeEfeit oEstufa—Ano2012daEditoraGloboS.A.éprecis o,confiávele livrede errooudistorçãoe éuma representaçãoequitativados dadose informaçõesde GEEsobre operíodode referênciaparaoescopo definido;foielaboradoem conformidadecom a NBRISO 14064-1:2007e asEspecificaçõesdo ProgramaBrasileiroGHGProtocol.
FREUDÉPOP?
“Essa foi de longe a minha matéria favorita. Está bem escrita, bem ilustrada, e o tema é maravilhoso.” LEONARDORODRIGUES
SãoPaulo,SP
21,4%
14,3%
42,9%
“Freud não é pop e não vai se tornar. Não acrescentou novas informações sobre o tema.” CASSIANO CORDEIRO
21,4%
Oriente, SP
07
ANTI� MAT� RIA
FATOS • FEITOS • NÚMEROS • NOTAS • NOTÁVEIS
Fig. PP
EDIÇÃO
12.2017
CAROL CASTRO E THIAGO TANJI
DESIGN MAYRA MARTINS
ILUSTRADORES CONVIDADOS 1
PEDRO PICCININI �PP�
2 GIOVANI
FLORES �GF�
08
MUITOALÉMDO FILEDEPEIXE TRATAMENTO CRIADO NOCEARÁUSACOURO DE TILÁPIA PARA CURAR QUEIMADURAS � EÉ57%MAISBARATO QUE OS MÉTODOS CONVENCIONAIS POR GIULIANA VIGGIANO* *Com supervisão de Carol Castro
Ana Karol ina Brasil Santos preparava uma porção de cuscuz no fogão a lenha de casa... quando o fogo apagou. Ela decidiu, então, jogar um pouco mais de álcool. Mas não percebeu uma fagulha acesa que, rapidamente, virou uma labareda. No susto, Santos jogou a garrafa no chão. Foi quando seu short pegou fogo, o que obrigou a cearense de 17 anos a correr para o pronto-socorro. Ela teve 10% do corpo queimado. No hospital, os médicos poderiam fazer o tratamento convencional, com pomadas e curativos com gazes. Mas eles recomendaram outra opção, um pouco mais inusitada: cobrir os ferimentos com couro de tilápia. “Me disseram que o método con-
MENOS DOR, POR FAVOR Tratamento com couro de tilápia exige menostrocas de curativo e é mais rápido
13
A MULHER MAIS LIVRE DAS ARÁBIAS Robô Sophia ganhou título de cidadã da Arábia Saudita
Fig. GF
QUEM É ELA?
Fig. PP
Criada por David Hanson, da Hanson Robotics, Sophia é um robô comandado por inteligência
RECURSOS INUMANOS Programa de inteligência artificial encontra os melhores candidatos para cada vaga POR NATHALIA FABRO
Desde pequena, Marcela Ponzini, estudante de Economia e Administração, nunca parou quieta. Gostava de aprender e descobrir coisas novas — duas características marcantes da personalidade dela. Hoje, passa o tempo livre lendo os livros de SriPremBaba, um brasileiro popstar do hinduísmo. Em uma disputa de emprego tradicional, essas curiosidades poderiam passar em branco. Afinal, o que mais conta, nas primeiras etapas, são histórico escolar e experiências anteriores. Não dá para chamar a atenção
dos recrutadores de outra forma que não apenascom o currículo — exceto em processos que envolvem a Kenoby, uma startup que calcula o retorno de investimento (ROI), custos e tempo gasto nos processos seletivos com auxílio do Watson, plataforma de inteligência artificial da IBM. E Ponzini encarouuma dessas seleções. Ela participou de quatro provas online: inglês, conhecimentos gerais, conhecimento cultural e motivacional. Mas o programa de inteligência artificial da Kenoby não avalia apenas os resultados: analisa as respostas com cuidado e revela alguns detalhesda personalidade. Nessa busca, indica aos recrutadores — em um tempo bem mais ágil — quais são os melhores candidatos para a vaga. “Dá mais segurança e não sofre influência de preconceitos”, diz Marcelo Lotufo, CEO e sócio-fundador do empreendimento. Ponzini não passou no teste final, mas superou quase mil candidatos. E pôde, pelo menos, mostrarmais que o currículo.
artificial. Sua aparência foi inspirada no rosto da esposa de Hanson e da atriz Audrey Hepburn. Em outubro, recebeu a condecoração de cidadã da Arábia Saudita durante o fórum Future Investment Initiative.
COMOSPARÇAS Logo de cara, ganhou mais liberdade do que todas as outras cidadãs sauditas. Nenhuma delas pode sair de casa sem um guardião do sexo masculino (geralmente o marido). Mas Sophia pode. Participou do fórum, cheio de homens, e agradeceu a todos eles.
ROUPAS Também não precisou usar abaya (vestido longo que cobre todo o corpo das mulheres, de uso obrigatório fora de casa). E ainda pôde “passar” batom, blush, rímel, sombra e lápis de olho esfumaçado.
O QUE VOCÊ TEM DE SABER É QUE A MINHA VIDA É DIVIDIDA EM DUAS.
HÁ O ANTES E O DEPOIS. ANTES DE SER ESTUPRADA.
DEPOIS DE SER ESTUPRADA. ANTES DE ENGORDAR.
DEPOIS DE ENGORDAR. Com sinceridade impressionante, Roxane Gay, autora feminista best-seller do New York Times , fala sobre como, após sofrer um abuso sexual aos doze anos, passou a utilizar seu próprio corpo como um esconderijo contra os seus piores medos. Ao comer compulsivamente para afastar os olhares alheios, por anos Roxane guardou sua história apenas para si. Até conceber este livro.
NAS LIVRARIAS E EM E-BOOK
www.globolivros.com.br
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AO VENCEDOR, OS DÓLARES
LU NE TA
� �
O ESPAÇOÉ LOGOALI POR ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA
ROLÊNALUA ÉBOMNEGÓCIO
US$ 20 milhões
US$ 5
US$ 3 milhões
para quem
milhões
para a equipe
cumprir todos
para o segundo
que fizer um
os requisitos
colocado
pouso suave
ceu.) Tudo isso gastando muito, muito pouco, uma vez que o prêmio não chega nem perto dos US$ 2,5 bilhões que a Nasa desembolsou para colocar a Curiosity em Marte, por exem-
plo. É, missões espaciais costumam ser bem caras! Por isso, é preciso criatividade para não aumentar os custos de produção. Atual-
Competição do Google que planeja levar primeira espaçonave privada ao satélite entra em sua reta final
mente, cinco empresas despontam na corrida. A norte-americana Moon Express, que já recebeu prêmios e conseguiu fazer um teste bem-
-sucedido de seu módulo de pouso na Terra, aparece como favorita, na frente de times da Alemanha, de Israel, da Índia e do Japão. Ametaéambiciosae,apesardejátersido
O autotune era tendência na música pop e a humanidade ainda estava chocada com as funcionalidades do iPhonequando a competiçãoGoogle LunarXPrize foilançada,em 2007. Só agora, no entanto, é queas empresas que pretendem pousara primeira espaçonave privada na Lua finalmente estão se preparando
estendido diversas vezes, o prazo nãoé amigo das empresas. Mas, na verdade, para a ciência, o que conta nem é pousarna Lua.Issoporque
minava em 2012, depois foi transferido para
as companhias já estão desenvolvendo um legadovalioso de tecnologias de baixo custo.
2014 e recentemente foi estendido do final deste mês para março de 2018. Para ganharo prêmio principal, de US$ 20
Como afirmou Robert D. Richards, presidente da Moon Express,ao NewYorkTimes, empresas como a deleestão “redefinindoo possível”.
milhões, bancados pela empresa de tecnologia,
“Queremos colapsar os custos para chegar à Lua e, ao fazer isso, veremos um novo mer-
para o fim do desafio — o prazo original ter-
os competidores precisam fazer com que o veículo se desloque por 500 metros no solo lunar e envie fotos e vídeos para a Terra. (Afinal, se não tem selfie é porque não aconte-
MIRA O XIXI NAQUELA ESTRELA ALI Estudar como a urina se propaga pelo espaçopode ajudara entender lua ocêanicade Saturno
O cientista planetário Stephen Lorenz, da Universidade Johns Hopkins, apresentou resultados de uma pesquisa inusitada: ejetar urina de astronautas no espaço deve contribuir para a compreensão dos gêiseres que emanam do polo sulde Encélado,lua de Saturno. “Pode dar mais confiança aos modelos que simulamas plumas”,
cado emergir”, acredita. Ou seja, cumprindo a meta ou não, essa já é umaimportante contri Fig. PP
buição para o futuro da exploração espacial.
Fig. GF
NÚMERO1ESPACIAL Urina no vácuo seriaprocesso análogoàs plumas de Encélado
elediz. Descobertas em 2005 pela sonda Cassini,elas liberammaterial dooceanoabaixo dacrosta.Cassini fezmedições importantes, masfalta saberse aquelas águas contêm os químicos davida — será preciso uma sonda maisavançada. Lorenz nãodescartaachancedequeosETs estejam lá,pertinho de nós. “Não é provável, mas devemos procurar.”
17
AGENDA
Uma lição de casa espacial
Dezembro de 2017 d
s
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Alunos de São Paulo contam como é participar da Garatéa-ISS, missão que levará experimento educacional à Estação Espacial Internacional
24 25 26 27 28 29 30 31
Fig. PP
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Fig. GF
AÍVEMELA:COMVOCÊS,A 3
“Na minha época, plantávamos feijão em um copo com algodão”, comentou o leitorJonas Brasilno episódio62do Luneta Live.Elese dirigiaaos convidadosque tive a honradereceber no estúdio: Mariana Martins (12), Natan Cardoso (14) e Amanda Fonseca (12). Antes mesmo do Ensino Médio, os alunos de São Paulo bolaram
N
EUA. O pesquisador participa da Garatéa, união
de instituições científicas nacionais que anunciou a primeira missãolunarbrasileirae deuaos alunospaulistanosa chance de estar no SSEP.
“É uma luta para incluir a ciência no dia a dia das pessoas”, disse, do estúdio, o engenheiro espacial Lucas Fonseca, diretor do consórcio. As ideias da moçada da Garatéa-ISS podem reprojetosbem mais complexos que o brotinho. sultar em pesquisas importantes para o futuro Mariana, do colégioDanteAlighieri, quercom- dos humanos noespaço.“Achamos que, namicropreender a evolução do câncer; Natan, da Emef gravidade, o câncer se desenvolvemais devagar, Perimetral, busca analisaras propriedadesdo ci- e talvez a quimioterapia tenha efeito diferente”, mento;Amanda,do ProjetoÂncora, queranalisar diz Mariana Martins. Já Natan Cardoso gosta de antibióticosecáries.Ostrêsfazempartedosdez construção civil espacial. “Sem gravidade, o cigrupos semifinalistasda Garatéa-ISS,missão em mento deve endurecer de forma mais lenta.” que mais de 300 alunos desenvolveram 72 exParaAmanda Fonseca, seu experimento terá perimentos — só um será executado na Estação ampla aplicação. “Serve tanto para colonizadores da Lua quanto de Marte.” Dos dez projetos Espacial Internacional, em junho de 2018. É a primeira vez que estudantes de fora selecionados, já conhecemos os três finalistas — da América do Norte puderam participar do o de Natan é um deles. Os outros investigam os Programa de Experimentos Espaciais para efeitosda microgravidadeem transfusãosanguíEstudantes (SSEP). “Bem que eu queria tertido nea e como a substância tungstato interfere no essaoportunidade,seidovalor queissotem”, dis- desenvolvimento da bactéria do tétano. O vense Ivan Paulino Lima, astrobiólogo na Nasa, que cedorserá anunciado pelo SSEP nosEUA dia14: participoupor Skypeda transmissão, direto dos quer presente de Natal melhor do queesse?
SEM DÚVIDA
R:
Não háo que temer:a
clima? “As consequências de um
Terratem maisde 12,7
impactoseriamtão enormes
milquilômetros de diâmetro.
quenão fazsentidose preocu-
Seria precisoa gravidadede um
parcom o clima”, alerta Rosaly
O que aconteceria se a Terra passasse a girar de forma desordenada?
corpogigantescose aproximan-
Lopes, cientista planetária da
do(Nibirunão existe, ok?) oua
Nasa. Lopes ressaltaque o der-
energiade um impactocolossal
retimento de calotaspolares
paracausaralterações signifi-
provoca oscilações noeixo —
Daniel Pinho, via Facebook
cativasno eixo oumovimento
pequenas, massuficientes para
derotação. E comoficariao
interferirem satélitese GPS.
ÚNICASUPERLUADE2017
Acharam queo anopassaria batido de superluas? Nananinanão: a 357,9 milkm daTerra, essa LuaCheiaserá super.E janeiro teráoutras duas!
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PICO DE UMACHUVA DEMETEOROSTOPZERA
Detritos de asteroide formam as Geminídeas, mais bem vistas no Hemisfério Sul. A partirde 22h, até 120meteorossurgem porhoraem Gêmeos, na direção nortee nordeste.
21
VEMCOM TUDO, VERÃO! ÉCHEGADOOSOLSTÍCIO
Começa oficialmentea estação mais quentedo ano,no momentoem que nosso hemisfério atingemáximainclinação em direção ao Sol e quando chegamos ao dia mais longo de 2017.
LUNETA LIVE
SEXTAS,ÀS 17H, NAFANPAGE DAGALILEU
As melhores revelações cósmicas de todos ostemposda últimasemana sãodebatidas aovivo no programa de Facebookmais bacana da galáxia. Venha trocar uma ideiacomigo, com especialistas e outrosentusiastas da astronomiae da exploração espacial.
18
EMPRESA CHINESA, TECNOLOGIA JAPONESA Visitamos o laboratório de testes do ThinkPad, notebook desenvolvido por mãos (e mentes) de diferentes países
TEMPERATURA
DURABILIDADE
POEIRA
Uma das salas do
Há máquinas res-
Areia e diferentestipos
laboratório da Lenovo
ponsáveispor fazer o
de partículas sãodespe-
conta comuma câmara
movimento de abrir
jadossobre o notebook
capaz de submeter o
e fecharo ThinkPad
em um compartimento
notebook a extremos de
milhares de vezes. Além
vedado. Os analistas,
temperaturas, que vão
disso,elas testamo
então,examinama per-
de0°C a quase 90°C.
desgaste do teclado.
formance do aparelho.
WI FI
PRESSÃO
QUEDALIVRE
A antena responsá-
Uma máquina veri-
A prova final: o notebook
vel pela conexão à
fica a resistência do
é arremessado em dife-
internet é exposta em
ThinkPad simulando
rentes condições, como
diferentes ângulos
seu desempenho
a famigerada queda de
dentro do laborató-
como se ele estivesse
quina.Após o teste,o
rio para garantir a
dentro de uma mochila
aparelho é analisadopor
qualidade do sinal.
cheia de livros.
umamáquina de raios X.
POR THIAGO TANJI,
DE YOKOHAMA*
�
Para além da cordialidade do povo japonês e da organização do planejamento urbano, capaz de propagar harmonia nas ruas por
realizadas). Lançado em 1992 e considerado
onde passam mais de 3,7 milhões de pessoas,
mercadosno século 21: idealizado pelaempre-
outra particularidade chama a atenção em Yokohama: alguns prédios comerciais localizados no centro financeiro da cidade dis-
sa norte-americana IBM, o ThinkPad foi desenvolvido no Japão e desde 2005 passou ao controle da empresa chinesa Lenovo. O intercâmbio entre culturas e ideias deu
pensam o serviço de seguranças e recepcionistas nas portarias. Saídas das estações de metrô dão acesso direto aos edifícios, onde os visitantes utilizam as escadas rolantes e os elevadores livremente — em cada andar, as portas de entrada de cada empresa são controladas por um cartão magnético.
É em meio a esse choque cultural e civilizatório queestá localizado o laboratório de testes paradesenvolvimentodo ThinkPad ( confi FIG. - PP
ra no quadro acima as diferentes avaliações
um dos notebooks mais icônicos da história, o equipamento é um símbolo da integração de
certoe, desde seulançamento, mais de 130milhões de unidades já foram vendidas em todo o planeta. “Essa cooperação entre diferentes pessoas é responsável pelo desenvolvimento de novas tecnologias e projetos”, afirmou à GALILEU Arimasa Naitoh, vice-presidente da divisãode PCs daLenovoe líder da equipe que criou o ThinkPad há 25 anos. *O jornalista viajou a convite da Lenovo.
http:
www.marcelomonte.com.br/ Arquiteto DJ Gastronomia Fotografa Yoga Games
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Paixão por desenvolver
20
GÊNIO INDOMÁVEL
“Leonardo daVinciera umgênio, mas
Nova biografia apresenta revelações sobre a vida e a obra de Leonardo da Vinci. Conheça algumas curiosidades de um dos maiores artistas da Renascença
devemos ter cuidado com essa pala-
Albert Einstein,o escritorviajou pelo mundo para ver as obras originais do
vra.Ӄcomessealertaqueojornalis-
artista, entrevistar especialistas no
ta norte-americano Walter Isaacson abre o seu novo livro, Leonardo da Vinci (Editora Intrínseca, 640 páginas, R$ 69,90), que acaba de chegar às livrarias brasileiras. Isaacson ressalta que a genialidade do autor de A Última Ceia e Mona Lisa é puramente humana. Respon-
trabalho delee estudar maisde 7 mil
sável pelas biografias de outras grandesfiguras, como Benjamin Frankline
POR ISABELA MOREIRA
NA CONTRAMÃO O artista era gay, vegetariano, canhoto e bastante disperso.
páginas de anotações de Da Vinci. A investigação revelou que o fato
de quase nãoter frequentado a escola e a dificuldade que tinha com a leitura em latim não foram maiores que a curiosidade e a ambição de Da Vinci. “Leonardo sabia como unir observação e imaginação, o que fez deleo inventor mais completo da história.”
HOMÃO DA PO**A Talentoso, inteligente e bonitão: há vários relatos da boa aparência e do corpo musculoso do artista.
DESTINO
IMERSÃO
Por poucoele não foium tabelião: a família do pai seguia a profissão, no entanto, Leonardo não foi reconhecido como filholegítimo.
DaVinci passou os últimos14 anos desua vida trabalhando em Mona Lisa — que,segundo Isaacson, é um retrato perfeito da complexidade da natureza humana.
O LOUCO DAS LISTAS
BUSQUE CONHECIMENTO
Nos cadernos de Da Vinci é possível encontrar desdetarefas a serem feitas até assuntos sobre os quais queria aprender.
O gênio tinha curiosidade sobre temas diversos, como hidráulica, arquitetura, matemática e até o funcionamento das patas dos gansos.
SEMPRE O MELHOR Outros artistas já tinham desenhado o “homem vitruviano”. O de Da Vinci se diferencia por ter sido planejado e detalhado à perfeição.
Fig. PP
CONEXÕES CÓSMICAS
23
POR ADILSONDE OLIVEIRA*
OLADO CIENTÍFICO DAFORÇA
2
A saga Star Wars mostra uma diversidade de espécies alienígenas e de tecnologias para viajar (e lutar) no espaço. Mas, fora da tela, quanto disso poderia existir?
Mais uma vez, um filme de Star Wars M estreia nos cinemas. A saga criada por Georges Lucas apresentou ao mundo batalhas espaciais nunca antes vistas, mostrando tecnologias incríveis para viajar (e guerrear) entre as estrelas. Nos filmes, uma força presente em todo o universo pode ser controlada por algumas pessoas especiais, os cavaleiros Jedi e os Siths.Mas será mesmo possível que existam, em uma galáxia muito distante, seres fantásticos como os retratados na ficção? Em Star Wars há uma diversidade de espécies alienígenas. São retratados wookiees como Chewbacca (companheirode Han Solo), formas bizarras como lesmas gigantes (Jabba), espécies com três olhos e vários braços, entre outras. Seria isso possível? Todas as formasde vida queconhecemossão baseadasem um únicotipo de biologia, que combina moléculas de carbono, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio. Todas as espécies em nosso planeta têm grande semelhança genética, pois a vida evoluiu ao longo de bilhões de anos e, pormeio da seleção natural, as espécies se adaptaram às condições do ambiente. Nesse processo, as que melhor se adaptaram
As viagens através da galáxia também necessitariam de uma tecnologia sofisticada, pois as naves de Star Wars se deslocam muito mais rápido do quea luz. Como Albert Einstein nos mostrou com sua Teoria da Relatividade, nada no universo pode viajar mais rápido que a luz. Isso acontece porque a parte da energia necessária para mover uma espaçonave nessa velocidade aumentaria a massa, de acordo com a equação E=mc . Quanto mais próxima a espaçonave estiverda velocidade da luz, maior serásua massa— e ela necessitaráde uma energia infinita para superar essa velocidade. No caso de Star Wars , as espaçonaves viajam pelo hiperespaço criando atalhos similares a “buracos de minhoca”, que são regiões do espaço conectadas por singularidades como buracos negros, ligando dois pontos distintos. Embora fisicamente plausível, isso é algo para o qual nem sequer imaginamos a tecnologia necessária. E, falando ainda em tecnologias fascinantes,não podemos nos esquecer de que os robôs da saga são personagens muito interessantes. Com os avanços da inteligência artificial, talvez algum dia tenhamos o C3-PO, o R2-D2 ou o BB-8. A ficção não precisa ter compromisso com a realidade, mas ela nos serve para aguçar a imaginação. Sem dúvida, muitos cientistas, e eu me incluo entre eles, se inspiraram em filmes como Star Wars para seguiressa carreira. O importanteé perceberque a realidade e a ficção podem ajudar uma à outra. Talvez essa seja de fato a “força” que precisamos encontrar.
conseguiram passar para seus descendentes as características que lhes deram vantagens sobre as outras, o que permitiu que elas não fossem extintas. Formas de vida tão bizarras como as que aparecem em Star Wars necessitariam de condições muito especiais para poderem surgir. Quando encontrarmosuma formade vidafora da Terra, mesmo sendo apenas uma bactéria ou coisa parecida, teremos a chance de verificar se o mecanismo da evolução é universalou foi apenas algo que aconteceu em nosso planeta. Outra coisa fascinante em Star Wars são os aparatos tecnológicos. Contudo, muitos deles não seriam possíveis de acordo com as leis da Física que conhecemos. Por exemplo, os sabres deluz usados pelosJedi, que lembram muito as espadas dos cavaleiros medievais, não poderiam ser construídos. Seria muito difícil aprisionar a luz como sugerem os filmes. A aparência “sólida” que eles têm, o que permite usá-los como armas, seria ainda mais complicadade reproduzir. Raios de luz emitidos por fontes distintas atravessam um ao outro, sem que ocorra uma interferência entre si. Isso é fácil de testar com um laser comum, desses usados em apresentações. Os raios se atravessam sem que nada ocorra com eles.
Diversos aparatos dos filmes não seriam possíveis deacordo comasleis daFísica,a começar pelos sabres deluz
* ADILSON DE OLIVEIRA é
professorde Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e fundadordo Laboratório Aberto de Interatividade (LAbI), voltado para o desenvolvimento de metodologias para divulgação científica.
DOSSIÊ IDIOMAS REPORTAGEM CAROL CASTRO DESIGN MAYRA MARTINS ILUSTRAÇÕES GIOVANI FLORES
BLÁ BLÁ BLÁ SEM FIM �
�
Não há consenso sobre as origens da linguagem entre nós, mas não faltam teorias criativas. Conheça todas elas, e também a história da criação dos idiomas — os reais e os da ficção ha-
cifrar a história de um povo in-
bitou entre nós, cheio de graça e
teiro só pelo idioma. “Cada palavra funciona como uma seta, que aponta para algo além da lingua-
durante muito tempo. As línguas são vivas e passam por constantes mutações. Desde aqueles primeiros diá-
gem”, explica Bruno L’Astorina,
logos, há milhares de anos, algu-
membro do júri da Olimpíada In-
mas centenas de línguas morreram. Outras centenas surgiram — para também se extinguirem no decorrer da história. No m
e o verbo se fez carne e
de verdade, há uns 10 mil anos
— bem antes de existir qualquer cristão ou Bíblia no mundo. Foi mais ou menos nessa época que nossos ancestrais viram como a vida cava mais fácil (e divertida) com um bom papo. Cada
povo criou seu vocabulário e batizou suas festas e religião com as próprias palavras. E assim,
em torno delas, formaram sua identidade e consolidaram seus
hábitos. É tanta mistura e identicação entre língua e cultura que os pesquisadores conseguem de-
ternacional de Linguística. “Po-
vos nômades eram centrados em cavalos, e, por isso, tinham muitos termos para isso”, conclui. Entretanto, ao longo da história, essas culturas e idiomas se perderam — ou se mistura-
ram tanto a ponto de se desligarem quase por completo de suas raízes — por diferentes razões.
É que língua nenhuma ca igual
25
das contas, sobraram 7.099 idiomas até os dias de hoje, segundo o Ethnologue, uma biblioteca online de línguas. E esse número só cai: em média, seis deles morrem a cada ano. E deixam para trás
as marcas, a história e o jeito de pensar de seus povos.
A IMENSIDÃO DO M Cada país tem seu idioma oficial, mas isso não quer dizer que todos caído no esquecimento. Alguns ainda sobrevivem. Descubra onde se ONDE ESTÃO TODAS ESSAS LÍNGUAS?
COMO NASCEM...
Dois terços dos idiomas do mundo se concentram na África e Ásia
Idiomassãocoisasvivas, quemudamotempotodo
7.099LÍNGUASNOTOTAL
Quando esses grupostomaram cami-
nhos diferentes e deixaram de conviver, o jeito de falar deles também mudou. É que as línguas vivem em movimento. “Por que se separaram ninguém sabe, maseles começarama
desenvolver características próprias de linguagem, mudar a fonética”, explica Thomas Finbow, professor de linguística da Universidade de São Paulo. E, sem contato nenhum, ao longo do tempo, o jeito de falar mu-
30%
Ásia
doutanto queeles já nãoconseguiam
4%
mais se entender. Passaram a falar idiomas completamente diferentes. Essa mudança acontece quase sem querer — cada povo cria novos vocabulários e altera a pronúncia das
Europa
15%
palavrasnaturalmente, com o passar
Américas
32%
África
19%
Oceania
dos anos. “Isso pode ocorrer até por uma questãode eficiência articulató-
OS MAIS POPULARES
ria — por exemplo, por ter um gasto energético menor ao colocar a língua
de tal jeito na boca”, afirma Finbow. Ou seja: as línguas se tornamcadavez mais fáceis. “E é natural.Você nãofala comoseu avô”, conclui o linguista. Mas
Número de países usuários
não é só o isolamento que divide os povos e altera os idiomas. Questões políticas, guerras e religião também criaram intrigas e afastaram grupos ao longo da história. Povos domina-
37 países
dos ou minoritários perderam espaço
1,284 bilhão
CHINÊS
e só viram uma saída: adotar as línguas dominantes. Só que, como nada é exatono mundoda linguagem, essa
mistura toda mudou ainda mais os idiomas, que se fundiram e geraram outros completamente diferentes.
Quantidade de pessoas falantes
31 países
30
hola ESPANHOL
437 milhões
NDO DAS LÍNGUAS os outros dialetos e línguas menos faladas tenham escondem e quais são as mais populares PAÍSESPOLIGLOTAS
... E COMO MORREM
Veja os países com maior pluralidade de línguas Papua-Nova Guiné
Umalínguasósobrevivese seupovotiverpoderpolítico
840
Indonésia
709
Nigéria
527
Índia EUA
347
China
“Tem uma frase boa que diz: uma lín-
Número de línguas
454
gua é um dialeto com exércitos. Um idioma só morre se não tiver poder
301
México
político”, explica Bruno L’Astorina, da
290
Camarões Austrália Brasil
Olimpíada Internacional de Linguística. E não dá para discordar. Basta pensar na infinidade de idiomas que existiam no Brasil (ou em toda a América Latina) antes da chegada
280 259 227
dos europeus — hoje são apenas 227 línguas vivas no país. Dominados, os
OUTROSBERÇOS Nem todos os idiomas partiram do indo-europeu. Conheça outras línguas-mães
índios perderam sua língua e cultura. O latimpredominava na Europa atéa
7.665.003.140FALANTES
queda do Império Romano. Sem poder, as fronteiras perderam força, os
germânicos dividiram as cidades e, do latim, surgiram novos idiomas ( veja nas págs.26 e 27 ). Por outro lado, na 40,1%
26,1%
Indo-europeia
Outras
17,7%
6%
5,8%
Espanha, a poderosa região da Catalunhaaindamantémseu idioma vivo e luta contra o domínio do espanhol. Não é à toa que esses povos insistem em cuidarde seus idiomas. Cada línguaguardaossegredoseojeitode pensar de seusfalantes. “Quando um idiomamorre, morretambém a história.Omelhorjeitodeentenderosentimentodeumescravoépelasmúsicas deles”, diz Luana Vieira, da Olimpíada de Linguística.Veja pelo aimará, uma línguafaladapormaisde2milhõesde pessoas da CordilheiradosAndes.Nós gesticulamosparatrásao falardo passado. Esses povos fazem o contrário. “Elesacreditam queo passado precisa
4,2%
Sino-tibetana Nígero-congolesa Afro-asiática
Austronésia
Sino-tibetanas: chinês, tibetano e outras; Nígero-congolesas e Afro-asiáticas: origem da maioria dos idiomas africanos; Austronésias: berço das línguas faladas nas ilhas do sudeste asiático e do Pacífico.
106 países
57 países
5 países
INGLÊS
ÁRABE
HÍNDI
372 milhões
295 milhões
260 milhões
hello
4 países
13 países
BENGALI
olá PORTUGUÊS
242 milhões
19 países
154 milhões
JAPONÊS 128 milhões
RUSSO 219 milhões
2 países
6 países
PANJABI
119 milhões
e u g o l o n h t E : e t n o F
estar à frente, pois é algo que já não
visualizamos. E o futuro, desconhecido, fica atrás, como se estivéssemos
de costas para ele”, explica.
LÍNGUA DOS TRONOS DOTHRAKI Em GameofThrones , alínguaéde mentira—masnão deixadeserreal O jeito rude e violento dos dothraki levou o linguista David Peterson, autor do livro The Art of Language Invention ( A Arte da Invenção de Línguas, ainda sem edição no Brasil), a associá-los aos mongóis da era do imperador Ghengis Khan, queviveramno século 13. Eram tantas as semelhanças no estilo de vida e nas experiências desses dois povos — o da ficção, criado pelo escritor George R. R. Martin em Game of Thrones,eodavidareal — que Peterson se inspirou na língua dos mongóis para criar um vocabulário de verdade para os guerreiros de Khal Drogo. Só adicionou um pouco de sotaque russo.E criou ainda regras e uma estrutura gramatical (sem fugir muito do idioma já desenvolvidoem As Crônicas de Gelo e Fogo): sujeito + verbo + objeto(do mesmo jeito que funcionao português),sem o uso de artigos. Peterson criou um verdadeiro idioma dothraki, com mais de 3 mil palavras. Na série, inventou ainda outra língua, o alto valiriano.
Conheçaalgumasdasexpressões noidiomadothraki
zoqwa: [zoqwa] – BEIJO Para completar a lição de romance: Anha zhilak yera ma san
(Eu te amo muito)
aheshke: [aheSke] – INVERNO A expressão mais famosa da série: Aheshke jada
(O inverno está chegando)
arak: [arax] – ESPADA E um jeito bem GoT de usar espadas: Hash shafka zali addrivat mae?
(Você quer que eu o mate?)
34
PAPO DE ET ComoLouise,protagonistado filme AChegada,decifrou alínguaalienígena Louise Banks tem uma missão nada fácil: decifrar a linguagem dos heptatoides que ameaçam a vida na Terra e tentar salvar o mundo. Interpretada pela atriz Amy Adams, a professora de linguística compreende, aos poucos, a lógica dos logogramas dos visitantes alienígenas — quais símbolos usam para ações, verbos, nomes.E ela passa a entender tão bem o mundo deles quecomeça a pensar de um jeito diferente, como se a própria cognição fosse alterada. A ideia tem embasamento científico — e teve até a consultoria de linguistas da Universidade McGill, no Canadá. Edward Sapir, antropólogo especializado nas associações entre língua e cultura, acreditava que a estrutura linguística e o vocabulário moldam nossos pensamentos e percepções. Há várias interpretações da teoria. E Louise Banks usa aquela que já caiu: a linguagem não altera o nosso modo de ver a vida — como se o tempo passasse diferente. Mas na ficção vale tudo.
ARRANJO FELIPE FLORESTI
SUMÁRIO DE MATÉRIAS
VERÁS QUE UM NERD TEU NÃO FOGE À LUTA P.36 HORA DA REVANCHE P.46 ENSAIO: MUNDOS INVISÍVEIS P.60
ENTREVISTA: GABRIEL VICTORA P.54 2017 � ATÉ QUE� FOI UM ANO BOM P.66
46
REPORTAGEM PRISCILA BELLINI FOTOS MARTA MALASPINA
HORA DA
REVANCHE Só mulherespodem trabalhar e treinar na SheFighter, a primeiraacademia de defesa pessoal para elas no Oriente Médio.As alunas buscamno clube umaforma de se defender do assédio frequente nas ruas
EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO DESIGN FEU E CAROL MALAVOLTA
Yara Al Zabi, 15, aprende luta há três anos. O hijab, véu que cobre todo o cabelo, a acompanha durante as aulas na SheFighter
“Seráquenós podemos parar depensar noshomenspor ummomento ecolocaras meninasem primeirolugar?” ESSA FOI A PERGUNTA de
Lina Khalifeh à plateia de uma palestra em Amã, na Jordânia. Ela havia aca bado de explicar como funciona a academia que fundou, a SheFighter, a primeira do Oriente Médio dedicada a ensinar autodefesa para mulheres. Só mulheres ensinam, só há clientes mulheres, só mulheres administram o negócio. “Sempre tem alguém que pergunta por que eu não tenho um espaço para homens”, conta Lina em seu escritório dentro do clube, na capital jordaniana. Nas salas de treinamento ao lado, dezenas de meninas revezam socos e chutes. Mais mulheres tocam a campainha, vão para os vestiários, penduram em um canto hijabs (véus) e abayas (túnicas), enfaixam as mãos e põem as luvas. Nenhum homem entra na SheFighter. 48
Diante da plateia lotada de homens e mulheres do mundo dos negócios, as perguntas seguiam na mesma linha. Por que não dar aulas para que meninos aprendam a se defender? Por que não há um espaço, ainda que separado, para homens interessados em artes marciais? “É só olhar o nú mero de centros de taekwondo, caratê, jiu-jítsu e boxe para garotos. Esse é o porquê. Os meninos contam com toda a estrutura, podem treinar em qualquer lugar em Amã.” Lina ouve os mesmos comentários desde que cogitou ensinar artes marciais a mulheres, em 2010. Na época, já percebia a frequência com que mu lheres eram violentadas sicamente e o nível de assédio verbal nas ruas de Amã. “Infelizmente, o assédio é um problema na Jordânia, nas ruas e até mesmo em espaços que deveriam ser
seguros, como as universidades”, explica. No espaço privado, o cenário é parecido. Segundo o Departamento de Estatísticas do país, com base em dados de 2013, um terço das mulheres jordanianas é vítima de violência física ou sexual ao longo da vida. Uma comparação com os países vizinhos foi traçada pela Thomson Reuters Foundation, também em 2013, indicando que a Jordânia é o quarto país mais seguro para mulheres no Oriente Médio. Os tatames e as academias de artes marciais, ambientes aos quais Lina se acostumou desde cedo, também não garantiam segurança. Treinando taekwondo desde os cinco anos, a lutadora jordaniana trocou seis vezes de clube para evitar o assédio de colegas e treinadores. “As mulheres são sobreviventes porque enfrentam essas situações de opressão desde a infância”.
Lina Khalifeh, terceira da esq. para a dir. na fileira
de trás, posa com uma das turmas da SheFighter, academia fundada por ela em 2012
O TAMANHO DO PROBLEMA
Quando cogitou ensinar técnicas de luta a mulheres, imaginou um espaço seguro e exclusivo. De início, reuniu os equipamentos básicos, como sacos de pancada e aparadores de chute, e se instalou no sótão da casa dos pais. Divulgou os serviços a pessoas próximas e logo contava com dez alunas. Lina, faixa preta em taekwondo, já havia competido internacionalmente, mas mesmo assim havia quem desconasse de sua capacidade de ser professora. “Na cabeça das pessoas, por eu ser uma mulher, não saberia ensinar artes marciais.” Apesar das críticas, a procura pelas aulas cresceu e Lina alugou um estúdio pequeno para dar conta de turmas maiores. Mas não faltaram, claro, recomendações para contratar homens em sua equipe “para que o empreendimento desse certo”.
O maior levantamento feito sobre gênero e trabalho na região, o International Men and Gender Equality Study in the Middle East and North Africa, mostra que a maioria dos homens ainda associa o papel das mulheres à execução dos afazeres domésticos. O estudo deste ano, conduzido pela organização Promundo em parceria com a ONU Mulheres, reuniu dados de quatro países — Egito, Líbano, Palestina e Marrocos — e constatou que, mesmo aceitando ambientes mistos de trabalho, os homens ainda presumem que o espaço privado, a casa, é que é o reservado às mulheres. Uma das conclusões foi que, em média, 68% dos homens atribuíram o papel principal da mulher a “cuidar da casa e cozinhar para a família”. Ao contrário do que se esperava, porém, na maioria das questões, os homens mais velhos e os mais jovens têm opiniões parecidas. Para o estu do, foram entrevistadas 10 mil pessoas com idades entre 18 e 59 anos. A maior parte delas concordou com a ideia de que os homens são responsáveis pelas ações das mulheres da família — mesmo as mais velhas. Para uma média de 62% dos homens, uma jovem solteira não deve ter a mesma liberdade ao morar sozinha do que teria um rapaz na mesma situação. Ainda não há um levantamento especíco sobre os papéis de gênero na Jordânia, mas alguns dados dão uma luz a mais sobre o problema. Um relatório de 2016 do Banco Mundial mostrou que as mulheres constituem apenas 22% da força de trabalho no país. E não é por falta de qualicação, já que 70% das mulheres desempregadas têm ao menos um diploma
universitário. Persiste a ideia de que é melhor para elas carem em casa. “A sociedade ainda encara as mulheres como cidadãos de segunda classe”, aponta Suad Abu Dayyeh, consultora da ONG Equality Now nos países árabes. Para ela, essa percepção a respeito das mulheres persistiu por muito tempo nos textos legais, perpetuando leis discriminatórias. Em casos de violência física e verbal, as leis esbarram em conceitos como “honra”. Se alguém grita xingamentos de cunho sexual a uma mulher, em uma rua movimentada, pode ser enquadrado na lei que pune atos indecentes. Um sujeito que agarra uma desconhecida também. E o vocabulário importa: ainda que exista uma expressão em árabe para “assédio sexual”, ela não é usada na lei. Em vez disso, uma categoria ampla de crimes contra a moralidade e a decência coloca todos esses atos no mesmo barco, com penas mais brandas. O Código Penal em países como a Jordânia é criticado há anos pelos movimentos por direitos das mulheres. As baixas penas para os chamados “crimes de honra”, assim como a falta de estrutura para atender vítimas de violência doméstica, são pontos ainda condenados por ONGs locais e entidades internacionais. De acordo com o relatório anual da Human Rights Watch, o direito de família jordaniano “permanece discriminatório”. As mulheres nascidas na Jordânia e que se casam com estrangeiros, por exemplo, não podem transmitir a cidadania jordaniana aos lhos — um dispositivo restrito aos homens. Em agosto deste ano, o Parlamento jordaniano aprovou mudanças em um artigo polêmico do Código Penal, o 308. O dispositivo tratava da 49
punição em casos de estupro em que a vítima tivesse de 15 a 18 anos de idade. Nesses casos, uma das penas possíveis era forçar o agressor a casar-se com a vítima — e garantir que a união durasse, no mínimo, três anos. Suad Abu Dayyeh explica que, mesmo que casamentos do tipo ainda ocorram, mudar a lei foi um passo fundamental. “É importante que a lei não encoraje essa prática, que o juiz não possa dizer isso em um tribunal”, ressalta. Porém, ainda há artigos semelhantes em países como Bahrein, Kuwait, Líbia e Argélia. Como explica Dayyeh, a mudança na lei deve ser acompanhada de uma discussão sobre os papéis de gênero na região a m de que as mulheres saibam identicar quando sofrem violência. “Nós ainda precisamos garantir que haja uma denição do que é assédio em lei, de quais comportamentos estamos falando.”
A escola agora prepara um sistema de franquias e já abriu uma segunda unidade na cidade de Ramallah, na Palestina. Fechando parcerias com o governo jordaniano e com entidades como a Oxford Committee for Famine Relief (Oxfam), Lina levou as sessões de treinamento a mais de 12 mil mulheres. Por trás desse númeroestãonãosó asaulasda unidade em Amã mas também workshops em campos de refugiados, técnicas ensinadas a professores de escolas públicas e intensivos ministrados em países como China e Itália. É a aposta de Lina con tra a violência, escrita na parede de uma das salas de treinamento: “Sabe do que os haters mais têm medo? De uma mulher com um par de luvas”. A frase resume bem o método desenvolvido na SheFighter, que, além de trabalhar as técnicas de luta, ajuda na autoestima das alunas. “Algumas meninas precisavam de mais
MÉTODO SOB MEDIDA
Mesmo na contramão do que ainda pensa a sociedade na região, a SheFighter acumula sucessos desde que abriu as portas, em 2012. Hoje, para dar conta das turmas lotadas no período da manhã e da noite, a academia ocupa o andar inteiro de um prédio. Nas paredes, pintadas de rosa, dezenas de fotos mostram Lina e as instrutoras em premiações e eventos de empreendedorismo social. A iniciativa foi reconhecida por Barack Obama na conferência Emerging Global Entrepreneurship, em 2015, e a atriz britânica Emma Watson, embaixadora da ONU Mulheres, também recomendou os cursos “a homens e mulheres” em uma das palestras do One Young World Summit de 2016, depois de treinar com Lina. 50
tempo e apoio para se sentirem conantes o suciente — tanto para falar como para interagir melhor ou para se defender”, explica a diretora. A palestina Sarah Al Habash, de 23 anos, admite que era esse o seu caso quando se matriculou, dois anos atrás. “Quando eu me vi fazendo os golpes de kickboxing, nem acreditei que tinha tanta força”, conta ela, que diz ter mudado “até o jeito de falar”. O treinamento parte do nível rosa, introdutório, e segue até o gold, para prossionais que já dominam lutas como taekwondo e boxe. Cada um dos níveis dura de três a cinco meses; ao terminar, as estudantes recebem um certicado. A matéria ensinada nas aulas mistura boxe, taekwondo e técnicas de defesa pessoal, mas as professoras passam por um treinamento para além das lutas, com o ob jetivo de alinhar também sua didática. As instrutoras não podem, por exemplo, usar termos como girl push-up s (“exões de garota”, em tradução livre) — que se refere a uma versão facilitada do exercício, com os joelhos apoiados no chão. Lina também desencoraja as conversas sobre dieta. “As meninas precisam aprender a se amar, a conar em si mesmas e a ter metas, mas não de perda de peso.” Ao término de cada sessão, as alunas repetem o “SheShout”, grito de guerra que ajuda a memorizar os golpes básicos. DIAS DE LUTA
Elogiada por personalidades como Barack Obama e Emma Watson, Lina Khalifeh planeja agora criar franquias da academia SheFighter
Quando uma lutadora entra no ringue, no tatame ou no octógono, seu objetivo é ganhar. É somar pontos desferindo bons golpes e acertar o adversário ao máximo. Na vida real, a premissa muda. A preocupação passa a ser exe-
Sarah Al Habash, de 23 anos, começou a lutarhá
dois anos na SheFighter. Ela diz se sentir muito mais confiante desde então, até mesmo para falar
cutar um golpe fácil mas que ajude a vítima a fugir das situações de risco. Por isso, os golpes do nível introdutório da SheFighter são adaptações. Em poucos meses, a garota precisa saber o básico para se defender, ainda que não consiga dar chutes muito altos nem tenha tanta força. “Se a aluna não domina a técnica de um chute, não vai conseguir usá-lo nas ruas”, explica Lina. Entre os golpes adaptados está o chute frontal do taekwondo, que originalmente pode mirar partes mais altas do corpo do oponente, como a cabeça. Na versão da SheFighter, o golpe virou “SheKick”: além de não exigir tanta exibilidade, atinge um dos pontos fracos do agressor — entre as pernas. No primeiro mês, é obrigatório frequentar ao menos quatro aulas de técnica com os princípios mais básicos: poses de luta, o jeito certo de acertar um soco, as zonas críticas em que se pode mirar para um chute. Nas aulas seguintes, mais técnica. São lutas de chão, treinos de força para os braços e pernas. Em um canto da sala cam à disposição armas e facas de brinquedo para simulação de situações em que o agressor chega armado. “O treinamento não ensina só os golpes, e sim também a rapidez com que uma mulher precisa lidar com aquela situação de perigo”, pontua Enas Khalifeh, uma das instrutoras. “Eu gosto de ser um modelo para que outras mulheres saibam que também conseguem.” Ela se formou em Educação Física pela Universidade da Jordânia e dá aulas há três anos na academia. Enas conta que começou a treinar com Lina, sua prima, pensando em fortalecer outras mulheres e também a si mesma. “Eu costumava ser assediada na universidade, no
caminho para o trabalho, em todos os lugares. Cheguei a evitar sair de casa porque me sentia mal com isso”, relata a professora de 23 anos. Batoul Muhannad, estudante de Li teratura Inglesa que hoje também dá aulas na academia, já foi, do mesmo modo, vítima de assédio. Ela chegou à SheFighter por causa de um anúncio no Facebook, querendo trabalhar como recepcionista. Acabou se interessando pelas aulas e, em 2015, decidiu participar dos treinamentos para se tornar instrutora. “Naquela época, um rapaz começou a me seguir. Ele sabia onde eu morava e ia atrás de mim logo que eu saía, pela manhã”, conta a jordaniana. Batoul permanecia em silêncio. Depois de uma semana, o sujeito apareceu acompanhado de um amigo e tentou empurrá-lo para cima dela. “Eu desviei na hora e dei um soco nas costas dele para afastá-lo”, lembra. “Só depois percebi que essa era a minha reação automática.” O medo de situações como essas e o assédio constante nas ruas são os principais motivos que atraem alunas à academia. “A maioria dos assédios que acontecem com as meninas
jordanianas, como no meu caso, não envolve contato direto”, explica a estudante Yara Al Zabi, de 15 anos, que chegou ao clube há três. Assim como a maior parte das mulheres que frequentam a academia, Yara usa sempre roupas largas e não tira o hijab, tipo de véu islâmico que cobre todo o cabelo. Andando por Amã, nada disso impede que ouça cantadas diariamente. “Mas eu me sinto mais segura porque, se a situação piorar, se um dos agressores se aproximar de mim, sei como atacar”, garante. Para Batoul, nem sempre ignorar os comentários e permanecer quieta faz efeito. “Se o agressor estiver sozinho, é mais fácil reagir, ainda mais se for em um lugar público, com muita gente por perto.” No caso de homens que andam em grupo — algo comum nas ruas de Amã —, a situa ção ca mais delicada e exige cautela. Manter a calma e procurar ajuda ou saber qual golpe aplicar para manter os agressores longe é uma decisão importante. “Em um mundo como o nosso, nós precisamos que as garotas saibam se defender sozinhas”, conclui a treinadora. 51
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PAPO CABEÇA COM GABRIEL VICTORA
“Aqui ninguém quer saber de onde você veio, o que fez antes. Querem saber de agora”
Os EUA querem (muito) saber de Gabriel Victora, brasileiro que deixou a carreira de músico para ser imunologista e acaba de ganhar bolsa de R$ 2 milhões que o epidemiolo-
foi com surpresa
gista gaúcho Cesar Victora recebeu a no-
tícia de que seu lho queria ser músico. “Desde pequeno ele tem um pensamento cientíco — era daquelas crianças que
vivem fazendo perguntas. É muito bom em matemática, além de ter uma memó-
ria fantástica”, conta um dos mais renomados cientistas brasileiros. Mas essa não foi a única vez que Gabriel Victora surpreendeu o pai. Depois de
dez anos se dedicando à música, com direito a graduação e mestrado na Mannes School of Music, em Nova York, Gabriel resolveu deixar a carreira de professor e concertista para recomeçar do zero. Seguindo os passos do pai, trocou 54 o piano pelo laboratório, e hoje, sem
REPORTAGEM
FELIPE FLORESTI
DESIGN
MAY TANFERRI
nunca ter feito graduação em Biologia ou Medicina, tornou-se um dos mais impor-
tantes imunologistas do mundo. “O que chama a atenção é a rapidez com que ele se adaptou. Sem formação em qualquer tipo de ciência, conseguiu entender a complexidade da análise cientíca”, conta o pai orgulhoso, que recebeu no início deste ano o prêmio Gairdner,
um dos mais importantes do mundo na área de medicina. Um dos destaques de sua carreira foi ter feito o primeiro estudo que mostrou que a alimentação exclusiva com leite materno até os seis me-
ses de idade é importante para prevenir a mortalidade infantil. A recomendação foi adotada pela Organização Mundial da
Saúde e pelo Unicef.
MAS FOI NOS ESTADOS UNIDOS QUE VOCÊ FEZ CARREIRA. COMO ACONTECEU ESSA
GUARDIÕESDO CORPO O trabalhode Victoracontribuiu
MUDANÇA DE PAÍS?
instituições aqui, como o Whitehead do MIT [instituto de pesquisa biomédica do Massachusetts Institute of Technology ], que dão a condição rara de ser chefe de
paradescreverpela primeira
Eu queria seguir para um doutorado, mas não sabia onde. Foi quando descobri que os cursos de doutorado nos Estados Unidos dão bolsa integral. Qualquer pessoa de qualquer país pode se inscrever e, se for aceita, tem todo o curso pago pela instituição. Acabei entrando na Universidade de Nova York. Eu já conhecia a cidade, achei ótimo. Tive um ano para escolher um laboratório para trabalhar. Fiquei três meses em cada, até que escolhi um que trabalhava com imagem intravital em conjunto com o laboratório da [ Universidade] Rockefeller, que trabalha com linfócito B.
vezo processo pelo qual o sistemaimunológicodescobre como fabricaro anticorpo ideal paracada doença linfócito antígeno proliferação
plasmócito CENTRO GERMINATIVO
anticorpo
A PARTIR DAÍSUA ASCENSÃO FOIBASTANTE
CHEGADADO INVASOR
RÁPIDA, PRINCIPALMENTE TRATANDO SE DE UM MÚSICO BRASILEIRO.
Emcontato comuma substância estranha (antígeno), a célula (linfócito) B prolifera. A maior parte delassegueparao centro germinativo, onde continuamse multiplicando. A outra viraplasmócitos, que secretamos anticorpos— mas esses ainda têm pouca eficiência.
�
Aqui ninguém quer saber de onde você veio, o que fez antes. Querem saber de agora. Eu terminei meu doutorado em 2011 e foi muito produtivo. Fiz algumas descobertas, publiquei coisas importantes [em algumas das mais prestigia-
das revistas cientícas do mundo, como Nature e Cell Journal]. Existem algumas
laboratório logo depois do doutorado. O normal é fazer pós-doc por cinco anos e, depois, procurar um emprego de chefe de laboratório. O Whitehead acelera o processo. Foi bom porque eu tinha gastado cinco anos como músico e pude recuperar pulando o pós-doc. Fiquei cinco anos e, quando acabou, voltei para Nova York como professor.
VOCÊACHAQUETERESTUDADO MÚSICA AJUDA DE ALGUMA FORMA NO TRABALHO COMO CIENTISTA? A música me fez apreciar mais o lado técnico da ciência experimental, a ideia de que aprimorando a técnica é possível fazer experimentos mais difíceis, conseguindo resultados que não podem
ser obtidos de outra maneira. Um pouco do que caracteriza o meu trabalho é o uso de métodos pouco convencionais e que requerem muito trabalho pesado para que possam ser desenvolvidos.
CONTEMAIS,PORFAVOR,SOBREASUA PESQUISA.OQUESEUESTUDOTEMDE MAIS ORIGINAL?
CENTRO GERMINATIVO pedaço do antígeno célula ruim
antígeno processado
célula boa
célula B A R A L C A N O Z
antígeno
célula T mutações aleatórias
apresentação A R U C S E A N O Z
56
SELEÇÃONATURAL No centro germinativo, a célula Bcomeça a sofrer mutações aleatórias na zona escura. Depois, células boas e ruins seguem para a zona clara. Cada uma pega um pedaço do antígeno, processa-o e o apresenta para uma ajudante, a célula T.
Nós estamos tentando entender como o sistema imune molda a resposta dos anticorpos. Sempre que entra em contato com alguma substância de fora do organismo, produz anticorpos que se ligam ao invasor, e nos ajudam a eliminá-lo. Mas os primeiros anticorpos produzidos não se ligam muito bem a essas
substâncias invasoras, tendo pouca potência para neutralizar a ameaça [ veja os infográcos ao lado ]. Com o passar do tempo, os anticorpos vão melhorando. Um produzido dois meses depois da imunização pode ser até 10 mil vezes superior a um que foi formado depois de duas semanas. Nós queremos entender como se dá essa melhora.
EVOCÊSJÁTÊMUMAIDEIA? A célula B [ ou linfócito B] é quem produz o anticorpo. Quando é ativada por uma substância estranha, ela prolifera.
Algumas se transformam em plasmócitos, que secretam anticorpos. O restante
vai para os centros germinativos — es-
truturas que se formam em resposta à infecção —, onde continuam proliferan-
do. No processo, que dura um ou dois meses, a célula B introduz mutações no
célula B
próprio genoma, especicamente no gene que codica a parte da proteína do anticorpo que se liga ao antígeno.
É uma evolução darwiniana em miniatura. As mutações são aleatórias, e a maioria delas até pioram essa ligação. Mas algumas raras mutações melhoram. O centro germinativo seleciona as células que zeram as melhores mu-
tações e essas células voltam a proliferar e a mutar de novo. Um ciclo que se repete várias vezes. Esse processo termina com uma população de células B com potência muito maior do que a inicial. Meu trabalho no doutorado foi descobrir o mecanismo celular que rege a seleção das melhores células.
MAS COMO SE FAZ PARA DESCOBRIR UMA COISA DESSAS? Parte do que nós zemos de novo foi usar a microscopia intravital. Nós pegamos um camundongo vivo, o anestesiamos, zemos uma cirurgia para expor o linfonodo e colocamos no microscópio
análise da proteína célula T
sinal
proteína nova proliferação
antígeno
A JUÍZA
única célula B ultracompetitiva que eli-
mina todas as outras ou são várias linhagens que coexistem? Para isso utilizamos um camundongo arco-íris, em que cada célula é de uma cor diferente. Pela primeira vez, conseguimos observar o processo de seleção no germinativo acontecendo. Vimos que, enquanto
CENTRO GERMINATIVO
A célula B encontra o antígeno e testa seu anticorpo para ver se ele melhorou ou não. Ela extrai um pouco desse
melhor célula B
A célula T vai analisarquem fabrica as proteínas que interagem melhor com o antígeno. A melhor célula B recebe um sinal paravoltar a se multiplicar. Com anticorpos um pouco melhores, algumas partem em nossa defesa. Outras recomeçam o ciclo, em busca de anticorpos ainda melhores.
para, literalmente, assistir a essas coisas em tempo real. Nós sabemos que é em uma região do centro germinativo chamada de zona escura que as células B proliferam e sofrem mutações. Depois, essas células migram para outra zona, a clara, para serem selecionadas.
células rumo à defesa
melhor célula
antígeno e o processa para apresentar célula ruim
para células T [elas funcionam como ajudantes do sistema imunológico ]. Só as
em alguns uma célula só toma conta, em outros evoluem de forma muito mais lenta, com várias linhagens ao mesmo tempo. Manter células não tão ecientes por mais tempo permite que
o sistema preserve a diversidade dos
células B com os melhores anticorpos conseguem interagir o suciente com as células T. Essa interação dá um si-
anticorpos. Foram esses trabalhos que geraram esse prêmio.
nal para o ciclo começar de novo. Como existem muito menos células T do que B, nossa contribuição foi mostrar que o número de células T é o fator limitante.
COMO VOCÊ FICOU SABENDO DO PRÊMIO?
Foi a primeira descrição mecânica de como essa seleção ocorre.
QUAL É O PRÓXIMO PASSO? Ultimamente temos feito perguntas mais amplas. Por exemplo, no nal desse processo de seleção, é a prole de uma
JÁ ESPERAVA? RATINHO ARCO ÍRIS �
Em camundongos em quecadacélulaé de umacor observou-se que,mesmo quando acha a célula como anticorpo perfeito,o centro germinativo conserva algumas ruins; para preservar a diversidade genética, elasse proliferam lentamente.
Eu estava em uma palestra e meu telefone começou a tocar. Eu não podia atender, tocava e eu desligava. Foram umas oito vezes. Depois que acabou a palestra, eu fui ver o que queriam. Primeiro me pediram para ir até um lu-
gar onde ninguém pudesse me ouvir. Fui para um canto, debaixo de chuva, para saber que ganhei. Não é um prê-
o mundo têm um componente aleatório muito grande. O maior cientista do mundo pode estar trabalhando em uma área em que não haja muito para ser descoberto, e um não tão bom pode achar alguma coisa por acaso.
VOLTANDO UM POUCO PARA O BRASIL, COMO FOIFAZER CIÊNCIA POR AQUI? Eu tive experiências muito boas no Brasil e continuo tendo toda vez que volto. O pessoal é muito bom. Mas é preciso lutar um pouco contra as diculdades. Um problema que eu encarava era conseguir os reagentes necessários. Levava de seis a nove meses. Aqui a gente pede e dois dias depois eles chegam. Agora ainda há a incerteza quanto ao nanciamento. A gente teve um problema aqui com o orçamento do NIH [ National Institutes of Health], que não sobe há dez anos e o Trump ameaçou cortar 20%. O Congresso se revoltou e barrou o corte. Chegou até a aumentar um pouco [ 3,2%, um aumento de US$ 1,1 bilhão]. O pessoal aqui entende o valor desse tipo de pesquisa. A chance de acontecer um corte como no Brasil é praticamente zero. O que vejo aí é essa incerteza em relação ao futuro — talvez pela falta de entendimento do governo acerca da importância da ciência. A minha experiência é boa, sempre fazendo coisas interessantes, mas sempre com essa nuvenzinha preta no horizonte. Não sabemos como vai ser o amanhã.
Um problema que eu encarava no Brasil era conseguir os reagentes necessários. Levava de seis “ a nove meses. Aqui nos EUA a gente pede e dois dias depois eles chegam”
VOCÊ SONHA EM UM DIA VOLTAR A FAZER CIÊNCIA POR AQUI? Eu gosto muito do Brasil. Se pudesse voltar um dia, seria bom. Por enquanto, meu problema não é nanceiro. São algumas
técnicas que a gente utiliza aqui que não estão disponíveis aí. Usamos muito camundongo geneticamente modicado, e o Brasil ainda está começando com isso. Não é possível desenvolver meu trabalho. Eu teria que mudar o que estou fazendo. Se algum dia o foco da pesquisa mudar, vai ser mais fácil. Eu não acho uma má ideia. Quem sabe daqui a 20 anos.
FALANDOSOBREOUTROSPRÊMIOSQUEJÁ VENCEU, VOCÊ FOI CONSIDERADO O 25º CIENTISTA MAIS SEXY DO MUNDO �EM LIS TADO SITE BUSINESS INSIDER �...
�
( Risos) Eu não sei se considero um prêmio. Foi mais chacota do que qualquer
outra coisa, não tenho nada a ver com isso. Foi um site que escolheu as fotos na internet, colocou lá e até agora eu não consegui escapar disso. O povo que escolheu não estava pensando direito — ou não enxergava bem.
GABRIEL, MUITO OBRIGADO PELA ENTREVISTA. Antes de terminar, tem uma coisa que eu acho importante falar e não tive oportunidade. Todo esse trabalho que mencionei foi feito por muita gente, não só por mim. Ciência não se faz sozinho. Diferentemente da música, esse é um lado bom da ciência. Qualquer prêmio é dado em função da colaboração de várias pessoas. Eu sou só o recipiente do trabalho de muita gente.
M
U
N
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S
FOTOS ARTBIO
EDIÇÃO
GIULIANA DE TOLEDO
DESIGN
I
CAROL MALAVOLTA
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D
O
S
Cientistas brasileiros expõem no Museu do Amanhã, no Rio
01.
de Janeiro, fotografias que unem arte e técnicas de laboratório
I
V
E
I
S
02 .
D
Doença de Chagas, esquistos-
“São imagens muito interessantes do
somose, criptococose. Quem
ponto de vista estético e que mostram que
pensaria que enfermidades como essas
a ciência não é algo distante da realidade
um dia inspirariam fotograas artísticas e
das pessoas nem algo restrito aos jalecos
iriam parar em um museu? Mas aconteceu.
e aos laboratórios”, diz Emanuel Alencar,
A exposição Mundos Invisíveis , em cartaz
editor de conteúdo do Museu do Amanhã.
até 7 de janeiro no Museu do Amanhã, no
Além disso, como conta Alencar, a
Rio de Janeiro, reúne 24 imagens feitas em
exposição tem a função de homenagear o
laboratório por cientistas brasileiros que
trabalho cientíco realizado por diversas
integram o coletivo ArtBio. O grupo une
instituições brasileiras que enfrentam
arte e ciência como forma de divulgar ao
problemas de escassez de recursos.
público o conhecimento que é produzido em universidades e centros de pesquisa.
62
“Ainda mais neste momento pelo qual estamos passando, em que investimentos
03.
em tecnologia e ciência são considerados gastos, e não investimentos.”
Para produzir essas fotograas, os cientistas precisam de uma boa dose de criatividade, é claro, mas também necessitam dominar diversas técnicas. Para algumas obras são feitas ampliações de até 300 mil vezes em microscópio eletrônico de varredura — que produz imagens em alta resolução. O melhor clique, no entanto, não está garantido só com a ampliação. Para obter os efeitos desejados, diversos procedimentos são empregados.
01.
As larvas de Schistosoma mansoni, da primeira foto deste ensaio, por exemplo, foram coloridas com hematoxilina-eosina, Larvas de Schis-
A L tosoma mansoni , A causadoras da D esquistossomose, N A viraram mandala Mem montagem O de Maria Inês I B Machado, da Uni-
mistura de corantes naturais e sintéticos. Acertada a cor, foi feita a foto com a ajuda de um microscópio. O desenho da mandala foi conseguido com tratamento digital da imagem. Já os cristais de colesterol, que aparecem na segunda foto, caram parecendo espelhos depois de terem sido colocados debaixo de luz polarizada.
versidade Federal
A interferência dos cristais com as o ndas
de Uberlândia
de luz é que gerou esse efeito inusitado.
04.
02.
Cristais de coles-
S terol extraídos de O cistos ganharam H esse efeito sob luz L E polarizada na foto P de Adilson Abílio S E Piaza e Luciano de Souza Queiroz, da Unicamp
03.
Na imagem de Anissa Daliry e Maria de Nazaré Correia Soeiro,
E da Fiocruz, dois C A protozoários L Trypanossoma N E cruzi , que causam
64
a Doença de Chagas, se “abraçam”
05.
04.
Francisco Rangel, do Instituto Nacio-
óxido de zinco
05.
coccus gattii , que
S provoca cripto O cocose ( infecção J N nos pulmões), foi A clicado por R Marilene Henning R A Vainstein e
R nal de Tecnologia, O e Lucianna Gama, L F da Universida O de Federal de N Campina Grande, A N capturaram nanopartículas de
O fungo Crypto-
65
William Lopes, da UFRGS
71
TUBO DE ENSAIOS POR DR. DANIELBARROS*
SÓCIÊNCIANÃO BASTA PARA VENCER DEBATE Claro que não se pode vencer uma disputa científica sem ciência, mas compreensão, validação, aceitação, empatia são fundamentais se quisermos chegar a algum lugar
“Eu sei que você está do meu lado”, E disse um médico à escritora Eula Biss, que trabalhava em um livro sobre a polêmica antivacinas. A bem daverdade, ela não queria apenascontaressa história; queriatambém sabero quefazerem relação ao próprio filho.Vacinarou não? Biss conta nãoter concordado como médico, masnão por ideologia, e simporque essa postura de lados — nóscontra eles, eles contranós — é grande parte do problema. Quando se adere a essa metáfora bélica, os lados passam a ser caracterizados de formas hostis como “mães ignorantes e médicos educados, mães intuitivas e médicos intelectuais, mães atenciosas e médicos sem coração”, escreve ela em seu recém-lançado livro, Imunidade: Germes, Vacinas e Outros Medos (editora Todavia, 208 páginas, R$ 50). Impossível dialogar dessa maneira. Se quisermos realmente estabelecer algum tipo de comunicação útil entre pessoas com opiniões divergentes, seja sobre a necessidade de vacinação, o formato do planeta Terra, o aquecimento global, seja lá o que for, o primeiro passo é deixar de tratar o interlocutor como um ignorante. As pessoas em lados diferentes das po-
lêmicas normalmente são racionais e esclarecidas, mas mesmo assim elas acreditamque têmque fornecer as informações para o oponente.Achamos que setirarmos o sujeitoda ignorância ele será iluminado e, vindo para a luz, enxergará as coisas da maneira correta, ou seja, como nós. Pena que não funciona assim. Como somos todos seres racionais, há sempre uma razão embasando as opiniões, pormais esdrúxulas que pareçam. Ninguém pensa “Eu acredito nisso porque sou um idiota”. As pessoas escolhem as evidências, o peso dado a cada fator, construindo uma racionalidade. O segundo passo, portanto, é compreender que não basta apresentar fatos para convencer as pessoas. Elas já têm fatos suficientes. No século passado, o político e sociólogo Daniel Patrick Moynihan disse que todo mundo tinhadireitoàs próprias opiniões, mas não aos próprios fatos. Talvez fosse assim no século 20, mas hoje em dia até os fatos são selecionadosde acordo coma agenda. Aliás, apresentar evidências contra a teoria de alguém pode inclusive ter o efeito contrário. Pessoas expostas a informações que contradizem suas crenças tornam-se mais aferradas a elas, numa postura defensiva. E de novo: não se trata de ignorância.
Quando alguém estruturousua carreira ousua vidaem tornode umaideia, vê-lasob ataqueé verseu mundo ruir
Quando alguém estruturou sua cosmovisão, sua carreira ou sua vida em torno de uma ideia, vê-la sob ataque é ver seu mundo ruir. Até cientistas agem assim, ao defender teorias por meio das quais construíram sua fama quando as evidências contra elas começam a se acumular. “O queimporta talveznão seja se as pessoas estão certas em relação aos fatos, masse estão assustadas”— Biss citano livro o professor Cass Sunstein. Mas o medo não age só no caso das vacinas: ele atua em todas as polêmicas — o medo de que minha visão de mundo esteja errada, de admitir que fui enganado, de ter sido ignorante. Claro que não se pode vencer um debate científico sem ciência.Mas, por setratar de um debateentre seres humanos, concomitantemente racionais e emocionais, só ciência não basta. Compreensão, validação, aceitação, empatia são fundamentais se quisermos chegar a algumlugar. Não sei qual o impacto do livro de Eula Biss em mães e pais antivacina. Mas não tenho dúvida de que ele tem muito mais potencial do que qualquer artigo científico ou discurso médico, pois sua postura a favor da vacinação é muito sutilmente apresentada. Ela contaque vacinouo filho, mas não esconde o próprio medo. Desmonta argumentosde ativistas contra a vacinação, mas reconhece que eles têmseus pontos. E assim,transitando de maneira fluida entre os dois lados, mostra que é possível construir pontes para alémde uma dualidade incomunicável. Pode não ser fácil. Mas até hoje é a única alternativa que conheço.
* DANIEL BARROS é psiquiatra do Instituto de
Psiquiatria do HC–FMUSP, doutor em Ciências e bacharel em Filosofia.Atua com divulgação científica em vários meios, inclusive como consultor do programa Bem Estar (TV Globo).
PANORÂMICA FOTO MARIO TAMA
Do tamanho do Distrito Federal, o iceberg A-68, que em julho se desprendeu da plataforma Larsen C, na Antártida, foi fotografado pela Operação IceBridge da
72
Nasa no mês passado. A missão estuda a evolução do gelo polar. Cientistas temem pelo colapso da Larsen C, o que poderia elevar o nível do mar em até 10 cm.
Imagem: Mario Tama/Getty Images Pesquisa: Franklin Barcelos
73
ULTI� MATO
PARA FAZER A DIFERENÇA AGORAQUE VOCÊ LEUA REVISTA, DESCUBRA ALGO MAIS
QUERENTENDERCOMOO TERRITÓRIOBRASILEIRO SERÁIMPACTADOPELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS?
GOSTARIADESABERCOMO AAUTODEFESAPARA MULHERESPODESERUSADA COMOPOLÍTICAPÚBLICA?
Aumento dos oceanos causado pelo aquecimento global afetará o futuro de áreas litorâneas do Brasil
TEMINTERESSEEMAPRECIAR MAIS FOTOGRAFIAS FEITAS PORCIENTISTAS BRASILEIROS?
Para algumas fotos, são feitas ampliações de até 300 mil vezes em microscópio eletrônico de varredura
Mais de 500 mulheres são vítimas de agressão f ísica a cada hora no Brasil, de acordo com o Datafolha
PBMC
EU SEI ME DEFENDER
A atletaparaense de MMAÉrica Paes, faixapreta em jiu-jítsu, criou o projeto EuSeime Defenderpara ensinartécnicas de luta a mulheres. A iniciativa foiadotadapelogovernodo estado do Pará.
O coletivoArtBio, que reúne pesquisadores e artistas, disponibiliza parte de seu acervo em uma galeria virtual criadacom a plataforma de cultura do Google.
pbmc.coppe.ufrj.br
facebook.com/ericapaesmma
artbio.culturalspot.org
INFORMAÇÕESDEÚLTIMAHORA
DEPOISDELERODOSSIÊ, FICOUCOMVONTADE DECONHECERMAIS LÍNGUAS DO MUNDO?
Línguas de povos tradicionais brasileiros, como a dos Crenaques, correm risco de extinção
O Brasil é o país com maior igualdade de gênero em relação à proporção de artigos cientícos publicados
Responsável por coletare divulgarinformações científicas sobreas alterações no meio ambiente, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) disponibiliza relatórios com os últimos estudos do tema.
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APÓSCONFERIRASBOAS NOTÍCIASDE2017,QUETAL CONHECERMAISHISTÓRIAS DE MULHERES CIENTISTAS?
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A escritora Barbara Goldsmith é autorade biografia de MarieCurie,responsável pela descobertade elementos químicos radioativos e a primeira mulhera vencero Nobel.
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Pioneiros
E morreu...
Dilema sueco
Vem, 2018!
Os seresvivosmais antigos do mundo foram achados na região da Tasmânia, na Austrália. Alguns fósseis desses estromatólitos datam de 3,7bilhõesde anos e serão fundamentais para o estudo da origem davida no planeta.
Um vídeo publicado no YouTube fez uma estimativa do número de mortes nassete temporadas de Game of Thrones. Os pacientes donosdo projeto analisaram todas as cenas e constataram que exatas 174.373 pessoas morreramna série.
Os problemas nacionais em países escandinavos: a polícia da Suéciaficou em dúvida se abateria um alce brancoque assustavamoradores de uma cidadezinha. Como esse tipo de alce é extremamenteraro, a polícia poupoua vida do pobreanimal.
O quefalar desseano queainda nãochegou e já consideramos pacas? Dos 13 feriados nacionaisde 2018, dez poderão ser prolongados. Quem mora na cidade de São Pauloainda ganhará dois feriados municipais prolongados. Uhuuul!