LER E COMPREENDER: OS SENTIDOS DO TEXTO Ingedore V. Koch e Vanda Maria Elias São Paulo: Contexto, 2006 ( 216 p áginas)
RESENHA Partindo da concep ção de que o texto é lugar de intera ção de sujeitos sociais que nele se constituem e s ão constituí dos dos dialogicamente, Ingedore Villa ça Koch e Vanda Maria Elias, no livro Ler e Compreender: os sentidos do texto, (Editora Contexto,216 páginas) apresentam, de uma forma objetiva e did ática, as estrat égias utilizadas pelo leitor no processo de leitura e constru ção de sentidos. A leitura do livro confirma que as autoras conseguem, com efici ência, atingir os objetivo de preencher uma lacuna no merc mercad ado o edit editori orial al,, com com uma uma obra obra que, que, além de disc discut utir ir as prin princi cipa pais is teor teoria iass da linguí stica stica textual, estabelece uma ponte destas teorias com a pr ática de ensino de leitura e que interessa aos professores da área do ensino de l í nguas nguas de todos os n í veis veis de ensino. Dividido em nove cap í tulos, tulos, o livro inicia discutindo as concep ções de sujeito, lí ngua, ngua, e texto que est ão na base das diferentes formas de se conceber a leitura.As autoras vão se situar na concep ção interacional e dial ógica da lí ngua, ngua, que compreende os sujeitos como construtores sociais que mutuamente se constroem e s ão construí dos dos através do texto, considerado o lugar por excel ência da constitui ção dos interlocutores. Nessa Nessa concep concepção a leitura é entendida como atividade interativa de constru ção de sentidos. Para isso é ressaltado o papel do leitor enquanto construtor do sentido do texto, que, no processo de leitura, lan ça mão de estrat égias como sele ção, antecipação inferência e verificação, além de ativar seu conhecimento de mundo, na constru ção de uma das leituras poss í veis,j veis,já que um mesmo texto admite uma pluralidade de leituras e sent sentid idos os.. A leit leitu ura, ra, além do conhec nhecim imeento nto ling lingu u í stic s tico o comp compar arti tilh lhad ado o pelo peloss interl interlocu ocutor tores, es, exige exige que o leitor leitor,, no ato da leitura leitura,, mobiliz mobilizee estrat estratégias de ordem linguí stica stica e de ordem cognitivo - discursivas A ativação das estrat égias de leitura implica a mobiliza ção de tr ês grandes redes de conhec conhecime imento nto:: o lingu linguí stico, stico, o encicl enciclop opédico dico e o intera interacio ciona nal. l.É essa essa rede rede de conhecimento que permitirá ao leitor interagir com textos de g êneros variados de acordo com o contexto e seus objetivos de leitura.Neste aspecto as autoras dedicam todo um capí tulo t ulo à discussão do pape papell do cont contex exto to no proc proces esso so de leit leitur uraa e prod produ u ção de sentidos.A concep ção de contexto é um dos pontos centrais da Lingu í stica stica textual. Inicialmente as pesquisas sobre o texto consideravam o contexto apenas como o entorno verbal do texto, o co-texto. Com a Teoria dos Atos de Fala e a teoria da Atividade Verbal passou-se a levar em conta o contexto s ócio cognitivo como necess ário para que se estabeleça a interlocução entre duas ou mais pessoas. Assim, o contexto englobar á não só o co-texto, como tamb ém a situação de interação imediata a situa ção mediata e o contexto cognitivo dos interlocutores. O que se infere dessa discuss ão é que uma mesma express ão linguí stica stica pode ter seu significado alterado em fun ção dos fatores contextuais. Resulta,ent ão,que falar de discurso implica considerar fatores externos à l í ngua ngua para se entender o que é dito dito.N .No o conju onjunt nto o de conhec nhecim imeento nto cons consti titu tuti tivo voss do conte ontex xto a no ção de intertextualidade é destacada pelas autoras que dedicam todo o cap í tulo tulo 4 para tratar desta quest questão, vez que este este é um dos dos gran grande dess tema temass da Ling Lingu u í stica stica Textua Textual. l. A intertextualidade é elemento constituinte e constitutivo do processo de leitura e escrita e
se refere às diversas maneiras pelas quais a produ ção recepção de um texto depende do conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores. O conhecimento intertextual é que permite ao leitor perceber como um texto est á sempre se relacionando com outros textos, numa relação que pode ser expl í cita ou impl í cita, tanto no que se refere à sua forma quanto ao conteúdo. A noção de g ênero textual é objeto de discuss ão do 5º capí tulo do livro. A partir da noção de gênero desenvolvida por Bakhtin, as autoras mostram como o processo de construção de sentidos que ocorre no ato de leitura é direcionado pelo g ênero do texto que está sendo lido. Segundo Koch, na medida que s ão expostos a um n úmero infindável de gêneros textuais os indiví d uos desenvolvem uma competência metagenérica que lhes possibilita interagir de forma adequada com os mais diversos textos que circulam nas diferentes esferas das pr áticas sociais, já que a partir da identificação do gênero o leitor saberá o que buscar no texto lido. Desta forma a compet ência metagenérica orienta a nossa compreensão sobre os g êneros textuais materializados nos diferentes suportes de texto. Para exemplificar a discuss ão teórica, o referido capí tulo é amplamente ilustrado com os mais variados g êneros textuais que se constituem numa grande contribui ção para os professores que trabalham o ensino de leitura com o objetivo de formar leitores capazes de perceber o jogo que frequentemente se faz por meio de manobras discursivas nas mais diferentes esferas da comunica ção humana. As autoras vão se ocupar ainda das atividades que permitem o processamento do texto como a referenciação e progressão referencial, as fun ções das express ões nominais referenciais e a sequencia ção textual. Neste aspecto ressaltam a forma como se d á o processamento do texto no ato de leitura, caso da referencia ção, que se d á numa oscilação entre vários movimentos: um para frente (projetivo) e outro para trás (retrospectivo)representados pela catáfora e anáfora respectivamente, além dos movimentos abruptos, fus ões, alusões, etc. Com isso percebemos como o texto é um universo de relações sequenciais que n ão ocorrem linearmente. O papel da coer ência textual para a produ ção de sentidos é destacado no último capí tulo do livro. Para discutir a quest ão as autoras procuram conceituar a coer ência textual, mostrando como as noções tanto de coer ência quanto de coes ão sofreram alterações no decorrer do tempo.Elas ressaltam que a coes ão n ão é condição necess ária nem suficiente da coerência, já que a primeira se refere ao universo interno do texto,enquanto a segunda se constr ói a partir do texto, numa dada situação comunicativa, com base em fatores de ordem sem ântica, cognitiva, pragmática e interacional. O que se conclui da í é que a coer ência é um princí pio de interpretabilidade do discurso que se constr ói em conexão com fatores de ordem cognitiva, como: ativa ção do conhecimento pr évio,conhecimento compartilhado e realização de inferências. Outra riqueza do livro é o seu projeto gr áfico, idealizado por Antonio Kehl,ele é ilustrado por uma grande variedade de g êneros textuais que exemplificam as discuss ões teóricas e mostram as in úmeras possibilidades do professor trabalhar com textos de gêneros variados. Neste aspecto,vale ressaltar o trabalho que as autoras tiveram em selecionar charges e tiras de quadrinhos de personagens conhecidos que, al ém de informar,divertem, chamando a aten ção para a ironia e o humor que caracterizam tais textos e que exigem, para ser percebidos, um leitor experiente que consegue mobilizar as várias habilidades de compreens ão descritas na obra, para construir os significados do texto. Na capa do livro est á reproduzido um óleo sobre tela de Waldomiro Sant’Anna, Menina Lendo, produzida especialmente para a obra, que, pela beleza e
colorido, chama a aten çã o para a riqueza da discuss ã o que o leitor vai encontrar na leitura e compreens ã o dos sentidos do texto propostos pelas autoras.