ANGELI PIETRO
GaY
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ANGELI PIETRO
1ª Edição 2015
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ANGELI PIETRO
1ª Edição 2015
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ...................................... .......................................................... ................................... .............. 5 CAPÍTULO 2 ............................................. .................................................................... ...........................13 ....13 CAPÍTULO 3 ............................................. .................................................................... ...........................22 ....22 CAPÍTULO 4 ............................................. .................................................................... ...........................33 ....33 CAPÍTULO 5 ............................................. .................................................................... ...........................55 ....55 CAPÍTULO 6 ............................................. .................................................................... ...........................65 ....65 CAPÍTULO 7 ............................................. .................................................................... ...........................82 ....82 CAPÍTULO 8 ............................................. .................................................................... ...........................95 ....95 CAPÍTULO 9 ............................................. .................................................................... .........................107 ..107 CAPÍTULO 10 ........................................... .................................................................. .........................119 ..119 CAPÍTULO 11 ........................................... .................................................................. .........................133 ..133 CAPÍTULO 12 ........................................... .................................................................. .........................142 ..142 CAPÍTULO 13 ........................................... .................................................................. .........................153 ..153 EPÍLOGO ............................................. ..................................................................... .............................160 .....160 SOBRE A AUTORA .......................................... ...........................................................1 .................162 62
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"Você é livre para fazer suas escolhas, mas torna-se prisioneiro das conseqüências." Pablo Neruda - Pensador
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CAPÍTULO 1 Noite de luar Lua Cheia. Tão grande, tão luminosa, tão, Misteriosa. Seria apenas um astro criado para alumiar o negrume do céu noturno? Teria apenas a função de sinalizar dias, meses e anos e influenciar as ondas do mar? Sua luz penetra em cantos isolados e de difícil acesso, penetra espaços reservados, locais cuidadosamente escolhidos por quem busca ocultar-se para realizar feitos que achem vergonhosos. Ela está lá, quieta, calada como um gato a espreitar. Move-se imperceptivelmente e sua claridade atenua a escuridão como uma fraca lâmpada acesa a quilômetros dali. Seria a lua um tipo de binóculo por onde deus observa o que acontece na noite? Poderia ser tal como um espelho refletindo determinado acontecimento para outros em algum ponto distante a observá-la? Seria a lua uma amiga velando pelos dois enamorados no escuro ou uma inimiga preparando-se para contar a todos o que não deveria ter visto? Seu brilho refletia-se nos olhos azulados do garoto que a observava através da janela do imóvel vazio. Lá fora o vento balançava suavemente uma árvore e entrava pelos vãos onde outrora ficavam os vidros, soprando as teias de aranha envelhecidas e levantado a poeira seca espalhada por dentro daquele ambiente escuro. A pouca claridade revelava vultos do que possivelmente seriam taboas, pequenas pilhas de tijolos, algo como um reservatório de água, objetos e materiais utilizados para reforma e construção. Sobre os tijolos, vez em quando uma lona preta balançava-se em resposta ao dançar do vento. – Será que alguém fica aqui de vigia? – O garoto afasta-se da janela, vira-se e passa um olhar por dentro do imóvel em reforma 5
abandonado à escuridão. Não – O O rapaz alto, com rosto quadricular e cabelo em corte – Não social escora-se na parede em uma parte afastada da janela e observa o adolescente mirando o chão a sua frente. Nele percebem-se as sombras das silhuetas projetadas pelo que está contra a claridade: a silhueta do garoto agora de costas para a lua, o traçinho das vigas da janela e parte da folhagem da árvore lá fora. O local era coberto por telhas coloniais e se olhassem para cima, talvez percebessem pequenas frestas por onde a lua se infiltrava. Ziiiiiiiiiiiiiiip... O adolescente identifica o barulho de zíper sendo aberto e observa no chão a nova e longa silhueta ereta projetando-se junto às outras sombras. – Vamos lá. Fica entre nós – O rapaz alto desencosta-se da parede e dá um passo. O adolescente ainda olhando para o chão observa a nova sombra revelar-se fixa á silhueta maior, isto é, à cintura do rapaz que entrara no brilho da lua. O vento sopra levemente balançando a lona sobre os tijolos encostados na lateral do cômodo. O coração do adolescente começa a palpitar mais rápido e o tremelique inicial toma conta de todo o corpo. Precisa se segurar para não ranger os dentes. Sua barriga dá um nó e ele respira fundo tentando se acalmar. A escuridão ocultava o nervosismo. plec... plec... plec... plec... plec... plec... Um novo barulho soma-se ao tímido zumbido do vento. Os olhos do adolescente fixam-se na silhueta do rapaz reparando o movimento que fazia com a mão. Também ouve-se o barulho da corrente do relógio mover-se pelo pulso acompanhando o sentido de vai e vem. Ele masturbava-se. Pietro – A A voz saia trêmula pela excitação – Vem Vem cá, me dá sua – Pietro mão. Pietro, o adolescente, aproximasse e sente a mão ser tomada e levada de encontro àquele membro viril. Percebe então a espessura e também as ondulações das veias daquele pênis que pulsa ereto e macio. Toca uma pra mim – O O rapaz sussurra enquanto a mão fria de – Toca 6
Pietro aquecesse ante o calor emitido pelo órgão sexual. O adolescente obedece abaixando-se tentando controlar a tremedeira. Seu rosto arde como se estivesse queimando queimando pela sensação perigosa. Ele faz uma leve pressão ao fechar a mão sobre o pênis do companheiro e então segue com a primeira fricção sentindo a camada de pele grossa do pau do rapaz deslizar junto à sua mão para cima, em seguida lentamente fricciona toda a pele para baixo deixando exalar um perfume salgado da grande cabeça rosada que brilha sob a lua. O emaranhado de pentelhos quentes roça-lhe a costa das mãos subindo-lhe um arrepio pela espinha. Pietro respira fundo, seu pênis pulsa dentro da calça jeans. Ele torna a friccionar o membro do companheiro para cima e sente um líquido viscoso molhar-lhe o envolvo das mãos, entre os dedos indicador e polegar. Semelhante líquido quente começa a umedecer sua sunga, jorrando lenta e involuntariamente. O adolescente torna a puxar a pele peniana do companheiro para baixo e mais uma vez para cima, para baixo, para cima, e vai aumentando o ritmo ouvindo-o arfar. De supetão sente a cabeça ser forçada em direção àquele àqu ele membro avermelhado. Chupa – o o companheiro resumisse a pedir e antes que possa – Chupa repetir sente os lábios macios do garoto envolvendo-lhe toda a glande, descendo lentamente pela base do pau e então sente uma leve “picadinha”– Cuidado com os dentes – expressa ao senti-lo banhar-lhe com a língua em meio à grande porção de saliva quente. A respiração de ambos está ofegante, ambos tremem. Excitação E xcitação e medo de serem pegos ali, naquela construção nas proximidades do colégio. Ouve-se ao longe o som da quadrilha junina realizada pelas turmas de ensino médio, evento no qual os dois estavam a pouco, até que Roberto (o rapaz alto) propôs de irem dar uma “olhada” na
casa em construção. – Tá gostoso? – Roberto pergunta dando leves estocadas na boca do garoto. Passam-se alguns minutos e Pietro levanta-se leva nta-se limpando os lábios. Tava, mas agora é melhor voltarmos – Diz Diz nervoso. – Tava, Ainda não – O O rapaz aproximasse de seu ouvido a sussurrar – – Ainda Eu quero foder teu cu. Pietro acha perigoso continuarem, já saíram da festa há muito 7
tempo e mais, foi a primeira vez que fez aquilo. Até então, nunca tinha tido experiências sexuais além da própria masturbação. Por favor, deixa vai. Por favor. – Por Roberto continua a insistir sussurrando ao seu ouvido. Pietro não resiste àquela voz e cede ao desejo. Aos seus olhos, o companheiro era como o príncipe de um filme de Hollywood ; Diferente dos outros garotos da sala, nunca fizera chacota com seu jeitinho “diferente”. Certa vez até o defendeu de brincadeiras grosseiras que um grupo de amigos começou a fazer, e daquela atitude nunca se esquecera. Lembrava-se da primeira semana de aulas na escola nova, cursava o ensino médio à noite e praticamente toda a “ralé” das redondezas ficara na mesma sala. Vivia longas horas de tortura psicológica naquele lugar. Em um destes dias, deixou a caneta cair da mesa e rolar para próximo da porta. Preparava-se para levantar quando o rapaz se abaixou, pegou o objeto e devolveu-lhe retirandose em seguida. A primeira vista não rolara nada, porém, deste momento em diante o colega tornou-se o principal arquétipo para suas masturbações ao chuveiro e na cama antes de dormir. Roberto tirou a lona que cobria os tijolos, virou-a do avesso e forrou em um canto na lateral do cômodo. A parte que ficou para cima não estava empoeirada, apenas com algumas marcas de tijolos. Foi deste lado que Pietro ajoelhou-se, puxou as calças até os joelhos e estirou-se com a barriga para baixo. Sentiu o pênis lambuzado tocar o plástico, deslizou e ficou mais excitado. Mas e se alguém aparecer? – Mesmo Mesmo em meio àquele calor de – Mas desejo sentia-se temeroso, todavia o leve formigamento no bumbum falava mais alto. Era como se aquele canal de apelido monossilábico solicitasse algo que nunca sentira dentro de si. – Fica tranqüilo. Ninguém vem aqui – Roberto foi falando e abaixando a calça jeans. Deitou-se por cima do garoto que sentiu o peso e resfolegou. Roberto puxou a camiseta até a altura do peito e fez o mesmo com a de Pietro. Seu pau rígido roçou o bumbum macio do amante lambuzando-o com o lubrificante natural que saia em volumes por aquela cabeça rosada mediana. Friccionou-se deslizando o membro entre as bundas do garoto enquanto ouvia-o arfar timidamente. 8
– Você tá gostando disso? – Perguntou. – Sim, estou – Pietro limitava-se a pequenas respostas. Ele estava
nervoso, temia ser pego, mas ao mesmo tempo queria se entregar totalmente ao seu amante. Começou a sentir Roberto aumentar a velocidade e em segundos o líquido viscoso molhou-lhe as bundas, jatos quentes banhava-o e escorria por entre as montanhas, tocando-lhe o buraquinho que piscava e escorria pela estradinha lisa lambuzando a lateral de suas coxas. Não demorou muito para que ele próprio sentisse o mesmo líquido jorrar de seu membro e lambuzar-lhe do outro lado, ensopando os pêlos pubianos e a lona negra onde deitaram-se. Após alguns minutos levantaram e arrumaram as roupas. Roberto pareceu estranho depois da foda e Pietro preferiu não tocar no assunto. Eles se dirigiram para os fundos da construção para dar a volta e sair pela frente, no caminho o adolescente tropeçava nas pedras soltas no chão, talvez pelo nervosismo. Roberto ia à frente guindo-o em silêncio. – Ei viadinho! – A voz zombeteira veio da outra extremidade da construção e junto a ela risadinhas – Quer chupar a minha também? O garoto gelou e seu estômago deu outro nó. A claridade do poste revelou quem saia do sentindo oposto ao local. – E ai Roberto, o cuzinho dele é gostoso? Pietro não sabia como reagir, o desespero sufocou-lhe e tentou correr, mas Roberto o impediu. – É tão apertadinho que eu não consegui enfiar, só esfregar mesmo – falou enquanto abraçava o garoto com força pelas costas, fazendo-o sentir a pressão de seu peitoral. – Olha aqui viadinho, temos mais cinco paus pra você chupar com essa boquinha de boqueteiro – dois rapazes aproximaram-se e a luz da lua fez com que Pietro visse no escuro que alguns estavam com os membros para fora. – Vem beber meu leitinho, vem putinha – Outro garoto virou-se e a lua refletiu-se na cabeça escura de seu pênis mediano. – Eu, eu... eu preciso ir embora – Pietro começou a debater contra Roberto procurando se desvencilhar e fugir, mas, o rapaz era forte e com a ajuda dos amigos o arrastaram novamente para dentro do casarão. Pensou em gritar, mas, se alguém visse ficaria mal falado 9
em todo o bairro. Seria o fim. *** Plec... Plec... Plec... Ajoelhado no reflexo da lua, as lágrimas queimavam-lhe o rosto. Ouvia o barulho do roçar veloz dos corpos e resfolegar preenchendo o cômodo escuro e perturbando seu coração. Três dos garotos masturbavam-se lentamente deixando exalar o odor salgado de seus membros enquanto outro obrigava-o a chupá-lo. O quinto garoto forçara a entrada de seu ânus e já sem forças Pietro cedeu e aquele membro achocolatado invadiu-o em um misto de tesão, dor e desespero. – Chega Renan. É nossa vez – Renan, o garoto negro aproveitou de Pietro por vários minutos, parecia satisfeito ao retirar o membro e ceder lugar ao próximo na “fila”, um garot o de músculos definidos e poucas espinhas no rosto. Seu nome, Henrique. – Quer foder franguinho? Quer? – Henrique puxou Pietro e o obrigou a deitar-se de barriga para cima, dobrando as pernas e ficando em posição semelhante a um frango assado. Seu ânus estava dilatado pelo pau negro que acabara de invadi-lo e com facilidade foi preenchido desta vez pelo branquelo que tinha a rola meio curva. Plec... Plec... Plec... Um a um aliviaram o tesão dentro do garoto retraído. Um a um usou-o como um objeto sexual, sem levar em consideração seus sentimentos. Não pensaram em nada a não ser no próprio prazer do jorro. Plec... Plec... Plec... Os olhos de Pietro continuavam a fitar a lua cheia e as nuvens negras que começavam a desfilar frente a ela. Seus pensamentos estavam distantes lembrando-se da caneta rolando pelo chão, do rapaz educado devolvendo o objeto, da paixão que a pouco queimava-o quando se entregou a ele, mas agora, sentia-se um lixo, um ser desprezível, algo descartável. O ventou tornou-se mais intenso e as sombras da árvore dançaram refletidas no chão. Uma coruja piou e pousou num galho a observar. 10
Pietro deu um último suspiro ao sentir o jato de porra quente molhar seus olhos agora imóveis e escorrer pela trilha onde a pouco desceram as lágrimas. Os garotos haviam terminado sua diversão. Passaram-se alguns minutos até se ouvir um trovão ribombar no céu. A claridade da lua começava a desaparecer enquanto os garotos fumavam cigarros de maconha e bebiam em meio a gargalhadas, esquecidos de Pietro largado ali no chão. Então um deles se aproximou e empurrou-o com o tênis, assustou-se ao ver que o garoto não esboçara reação. Outros dois se aproximaram e também o chacoalharam. – Porra velho... – Roberto xingou – ele não está respirando. Um novo trovão ribombou e o vento invadiu a construção com violência, levantando poeira e causando uma crise de tosse em todos os seis. – Vamos sair daqui – Renan chamou os companheiros e se retiraram às pressas ouvindo os céus anunciar que uma tempestade se aproximava. Em questão de segundos a cidade balançou sob raios e mais ventos velozes. A coruja que estava no galho da árvore voou pelo vão da janela e pousou sobre o peito do garoto desfalecido. Cruuuuu.... Cruuuuu... Ela crocitou observando os olhos azulados e imóveis, marcados pela dor. Cruuuuu.... Cruuuuu... Permaneceu a observá-lo e então levemente levantou a patinha, apoiou-a no lábio inferior do garoto e forçou sua boca arroxeada a abrir-se. Lá dentro escorria restos de goza e saliva. Cruuuuu.... Cruuuuu... Os olhos da ave brilharam terrivelmente e um novo trovão ribombou. Forte rajada de vento entrou no cômodo e mais poeira subiu na escuridão. As nuvens afastaram-se permitindo o brilho do luar tornar a entrar naquele local e então os olhos azulados de Pietro brilharam com um aspecto terrível. Ele tocou a língua no lábio superior e a desceu fazendo uma curva envolta da boca agora em vermelho sangue. Levantou-se nu e sujo. Puxou a lona e envolveu-se a ela deixando as roupas para trás, caminhou lentamente para fora da construção. Quando pisou na calçada um novo trovão estremeceu e 11
a energia acabou. A ave voou e pousou em seu ombro percebendo que a lona de uma forma maligna amoldara-se ao corpo transformando-se em uma roupa negra. Cruuuuu.... Cruuuuu... – O animalzinho acinzentado tornou a crocitar. – Sim amiguinha – Pietro afagou-lhe a penugem e deu o primeiro passo pela avenida – Esta noite a morte veio para brincar. E a tempestade caiu violentamente.
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CAPÍTULO 2 Pressões religiosas O vilarejo amanheceu de cabeça para baixo. Por todas as ruas viam-se árvores caídas, jardins destruídos e sinais de trânsito piscando com defeito. Funcionários de lojas puxavam a água da chuva que invadira os comércios, garis tentavam desentupir os bueiros para escoar as lagoas represadas nas ruas e alguns moradores consertavam as telhas quebradas de suas residências. As aulas foram suspensas. O volume da chuva inundara o pátio do colégio e as águas entraram salas adentro formando um límpido espelho com poucos centímetros de altura. Era possível ver bolinhas de papel boiando pelos corredores. Seria uma longa manhã de faxina para impedir que os móveis estragassem. Enquanto uns trabalhavam duro para pôr a cidade em ordem, outros aproveitavam o aconchego de seus quartos quentinhos para dormir até mais tarde. Dois cobertores foram necessários para aquecer a manhã gelada. Certamente quem colocou o segundo foi a mãe durante a noite e ele nem percebera em seu sono pesado. Ela levantou-se na madrugada para se certificar de que tudo estava em ordem dentro da residência. A energia havia acabado, os trovões já não estremeciam e apenas uma fina garoa fazia barulho sobre o telhado. A senhora dirigiu-se ao quarto do filho e abriu a porta lentamente com a vela para iluminar. Seu garotão dormia como um anjo, provavelmente estava bastante cansado devido ao evento no colégio. A senhora seguiu até o guarda-roupa, apanhou outro cobertor e jogou sobre ele, aconchegando-o bem. Era o orgulho dos pais. – Rick, acorda dorminhoco. Já é meio dia – ela ligou a lâmpada e a claridade incomodou os olhos esverdeados do garoto – Seu pai esta ajudando a resolver os problemas que a chuva causou e pediu para você desentupir as calhas no telhado da igreja. A chuva 13
transbordou e está tudo molhado. Rick, ou melhor, Henrique, era filho do reverendo Peter. O garoto era um participante ativo na igreja do bairro. Tocava bateria junto ao coral, era querido pelos fiéis e tido como um garoto exemplar. Cursava o ensino médio à noite e não se tinha notícias de seu envolvimento em confusões. Henrique fez corpo mole para não levantar, queria dormir, sentia a cabeça latejando depois da noitada passada. Não se lembrava muito bem do que acontecera, mas sabia que precisava disfarçar ou a mãe perceberia que tinha tomado seu primeiro porre. – Só mais dez minutos mãe – resmungou por debaixo das cobertas. – Ok. Mas não enrola e aproveita para banhar enquanto a energia retornou, avisaram que vão desligar a força para fazer manutenção. Quando a mãe retirou-se do quarto escorando a porta, Henrique pegou o celular abaixo do travesseiro, conferiu as horas e leu a mensagem que a namorada havia deixado no início da manhã. Ela era uma garota linda, também integrante do coral. Tinha uma voz angelical e era muito simpática. Os dois tinham o que os cristãos chamavam de “namoro santo”, só transariam após o casamento. Isto
explicava o porquê do rapaz se masturbar tanto. Ele coçou o cabelo alourado, espreguiçou-se e por fim sentou na cama tentando recordar a noite anterior. Não conseguia lembrar como chegou em casa, mas, estava ali e pelo que parecia, ninguém percebeu que chegara tarde e de pileque. Após alguns instantes, seguiu para o banheiro sentindo como se uma vespa tivesse feito ninho em seu cérebro. Tirou a camiseta e deixou o calção do pijama listrado escorregar pelas pernas. Ele não usava cueca. Ligou o chuveiro e se enfiou abaixo da água quente que caia. Enxaguou o rosto para espantar a preguiça e curvou a cabeça fitando o pênis meio bomba coberto pelos pentelhos encaracolados. Por uma fração de segundos percebeu o pequeno fiozinho de sangue seco que amolecia com a água e escorria de sua glande descendo ralo abaixo. Um lampejo de cenas eróticas voltou-lhe a mente relembrando a 14
sensação do pênis ao penetrar o buraquinho dilatado do garoto na construção, se apalpou e sentiu o membro erguer-se de excitação. O que fizera não foi correto, sabia disto, mas, lembrar-se daqueles gemidinhos era demais para se segurar. Iniciou um vai e vem sentindo a água morna batendo na cabeça do pau rosado e em pouco tempo jorrou uma goza branca e grossa que grudou em sua mão ao contado com a temperatura da água. – Será que o garoto está bem? – Um arrependimento pesou-lhe a consciência. Não conhecia Pietro. Envolvera-se há pouco tempo com aqueles carinhas da outra sala, os quais, ofereceram-lhe o primeiro baseado. Tempos depois experimentou um gole de vodka e na noite passada exagerou nas doses, resultando em sua primeira foda. – Rick – A mãe bateu na porta e o garoto assustou-se. Ele respirou e tentou parecer normal ao respondê-la – Vou me encontrar com seu pai e voltaremos ao anoitecer. Não se esquece de limpar a calha. *** Lá fora o rápido sol que surgira por duas horas começava a ser encoberto por nuvens negras. Ele deu a volta ao redor do prédio observando a calha em contraste com o céu escurecido. “ Preciso resolver isto antes que caia esse pé d água ”. Henrique havia vestido uma camiseta cinza com mangas curtas que se ajustava ao seu corpo evidenciando os braços e o peitoral malhado. Notavam-se ainda, poucos pontinhos vermelhos de espinhas naquela pele bronzeada. Ele pegou uma escada e sem muita dificuldade a posicionou na lateral da igreja frente a uma grande janela. A calha estava realmente imunda. O garoto apanhava as porções úmidas de folhagem e jogava para baixo. Repetiu esse processo por várias vezes até sentir o vento trazendo a chuva. O trabalho estava quase no fim, faltavam apenas alguns centímetros, então ouviu alguém chamando nos portões a frente do terreno. A silhueta vestida de negro estava parada. Não conseguia identificar quem era já que estava com a cabeça baixa – Oi – gritou lá 15
de cima. Quando não houve respostas desceu a escada limpando as mãos na camiseta. – Oi – Tornou a repetir aproximando-se dos portões. Agora reparava melhor nas roupas do jovem, mas, não conseguia visualizar seu rosto. O rapaz era magro e tinham aproximadamente a mesma idade, entre 17 e 18 anos. Os cabelos repicados tinham as pontas tingidas de vermelho e seu semblante era entristecido. Vestia calça skinny e camiseta de manga longa ambas de cor escura, por cima trazia um sobretudo de couro preto que contrastava com o sapato também em couro. – Gostaria de falar com o reverendo – A voz saiu trêmula e tristonha. Por um momento Henrique desejou saber por que queria falar com o pai. – Ele não está em casa – Respondeu passando as mãos sobre os braços para afugentar o vento frio. – Eu espero – O garoto levantou a cabeça e seus olhos azuis encontraram-se com os de Henrique que sentira um arrepio subir-lhe a espinha. Ele começou a gaguejar e procurou uma rápida desculpa para dispensá-lo. – Mas, ele viajou e não sei quando volta - Será que Pietro viera contar sobre o que fizeram? Não, ele não podia fazer isso. O vento tornou a soprar espalhando folhas pela avenida e deixando a tarde mais escura. Henrique deu de ombros para o garoto despedindo-o enquanto voltava a seus afazeres. O coração tamborilava fortemente e o estômago amargava-lhe a boca. Ele subiu a escada já sentindo os primeiros pingos da chuva. Quando chegou ao topo uma coruja cinzenta com um olhar traiçoeiro espreitava na outra ponta da calha. Espantou a ave com um pedacinho de madeira que usava para desentupir os locais de difícil acesso e ela saiu gruindo como uma velha bruxa a praguejar. Henrique pegou a última poção de folhas e jogou para baixo olhando em direção ao portão para ver se Pietro tinha ido embora. Sentiu-se aliviado ao perceber que a desculpa dera certo. Desceu, pegou a escada e em meio a rajadas de vento e chuviscos voltou para a residência nos fundos da igreja. Ele precisou subir uma escadaria, pois moravam na parte superior de um sobrado no mesmo terreno. Tentou acender a luz da cozinha, mas como a 16
mãe o avisara, a força havia sido desligada para manutenção. Ele atravessou o recinto quase em breu e passou pela sala, contornando um sofá. Estava descalço e sentia muito frio. Entrou no quarto e retirou a camiseta suja, o vento zumbia lá fora e a água varria a janela de aço. Tudo estava no completo escuro. Vestiu um suéter azul quadriculado e retirou o short preto sentindo o vento gélido tocar-lhe o bumbum e o saco cheio de pentelhos. Jogou-o em um canto e vestiu uma calça moletom. Enquanto voltava para a sala ouviu um estrondo vindo da cozinha. “A porta” – pensou. Ele havia esquecido aberta. Atravessou o corredor passando frente ao quarto dos pais, seguiu pela sala e trancou-a, em seguida aninhou-se no sofá com um cobertor e almofadas, a chuva engrossava lá fora e ele acabou adormecendo. Por volta das oito horas o celular tocou. Acordou e atendeu reparando que a energia ainda não havia voltado. – Oi. – Rick? – a voz feminina questionou do outro lado – É a mãe. – Oi mãe – abriu uma bocarra de sono. – Rick, a chuva está muito forte e houve um acidente na avenida principal. Está muito engarrafado. Seu pai decidiu que vamos dormir na casa do tio. Tranca tudo e não sai de casa. Cuidado com os relâmpagos – ela advertiu. – Ok mãe. Vocês voltam cedo? – Perguntou. – Sim. Ah, e tem comida na geladeira. É só esquentar. E cuidado para não deixar vazar gás – tornou a adverti-lo preocupada – Agora vou desligar, beijo e durma com deus. – Tá bem mãe. Beijo. Henrique desligou e tentou acessar o facebook para saber o que os amigos faziam na noite chuvosa, mas, por algum motivo não conseguia conexão. – Ficaremos sozinhos esta noite? Uma voz sussurrou aos seus pés e ele se arrepiou por completo. O coração quase saiu pela boca quando jogou a luz do celular sobre a figura encolhida próxima a ele. Ela estava aconchegada ao cobertor e tinha apenas a cabeça para fora. Henrique tentou controlar-se e conversar com o garoto. – O que você está fazendo aqui? Como entrou? – O vulto 17
permanecia a fitá-lo com os profundos olhos azuis. – Estou esperando. Entrei pela porta – Pietro respondeu ambas as perguntas. – Você não deveria ter subido. Eu te falei que o pai não viria hoje – Henrique levantou fazendo-se de machão, mas por dentro, o coração tamborilava mais forte que a chuva no telhado – precisa ir embora, AGORA – caminhou até o acesso a cozinha esperando que o garoto o seguisse. – Ir embora? Nessa chuva? – estava caindo uma tempestade lá fora. – Você não pode dormir aqui e já está tarde! – Observou o garoto levantar-se e a coberta cair no chão. Pietro estava sem o sobretudo e descalço. Vestia apenas a calça skinny e a blusa preta de mangas longas. – Posso dormir no quarto dos seus pais, se você preferir – Pietro foi falando e dando a volta para o acesso ao corredor, acabou por sumir na escuridão. – Ei cara. O que você está fazendo? – Henrique o seguiu, mas não havia ninguém no escuro. Ele dirigiu-se até a porta do quarto e iluminou o ambiente com o celular, nada encontrou. “N o quarto do pai” , pensou e voltou encontrando a porta aberta. Quando a luz do celular rompeu parte do breu pôde ver o garoto sentado no meio da cama. – Vem aqui... – Pietro fez um gesto com a mão – Vamos nos aquecer – estirou-se sugestivamente, dobrou as pernas e puxou a calça revelando o bumbum embranquecido. – Cara. Você precisa ir embora, AGORA – Henrique se aproximou tremendo e segurou o garoto pelo braço, foi quando Pietro prendeu-lhe entre as pernas e puxou para si. – Hummm você não usa cueca – Falou ao enfiar a mão dentro de seu calção moletom. Imediatamente o pênis de Henrique enrijeceu avolumando-se sobre a roupa. Ele tentou se desvencilhar, mas as pernas de Pietro o prendiam. Henrique era muito mais forte que ele, mas diante daquela situação permanecia anestesiado. – Cara. Por favor, você precisa sair – tremia e ofegava, não sabia se por frio, medo ou excitação. Pietro o puxou pela gola e tocou-lhe a orelha com os lábios 18
quentes, – Eu sei de algo que vai precisar sair – sussurrou abaixando o moletom do garoto. Uma vez mais víamos o bumbum, os pentelhos dourados e o pau rígido expostos. Uma tímida baba escorria na extremidade da cabeça rosada. – O que está fazendo? – Henrique perguntou perdendo o fôlego quando a boca de Pietro começou a sugar-lhe. Sem palavras resfolegou, então sentiu os lábios dele afastando-se. – Brincando – Pietro respondeu com os lábios melados – Você não quer brincar? – Houve silêncio. Pietro inclinou-se e voltou a suas mamadas. – Por favor... – Henrique respirava fundo, tremia e não conseguia completar a frase. Sentiu Pietro puxá-lo para cima de si, apoiando-o entre as pernas abertas. As bocas se encontraram e Henrique posicionou o pau entre as bundas do parceiro. Sem êxito na primeira tentativa afastou-se trêmulo e apressadamente lubrificou o membro com saliva, outra vez tentou e para seu deleite, deslizou para dentro do garoto. Pietro sentiu cada ondulações de veias pulsantes invadindo-o e quando as bolas do parceiro o tocou, exibiu um sorriso satisfeito. Gemendo de prazer arrancou a camiseta de Henrique, e este, apressadamente procurava despi-lo sem interromper o coito. Ambos ficaram nus e cheirando a luxúria. Deslizavam como barras de sabonete até que Pietro enlaçou o rapaz jogando-o sobre o colchão. Ficou por cima, ainda encaixado em seu membro. Com as mãos apoiadas nos ombros largos do parceiro, sentiu sua respiração arfante tocar-lhe o rosto e começou a rebolar. – deus me perdoa – Os olhos de Henrique lacrimejavam timidamente – deus me perdoa – a expressão em seu rosto era de prazer e arrependimento, mas, não podia parar, ele precisava daquilo, estava quase lá. Agarrou com força a cintura de Pietro e o jogou de lado, – Fica de quatro, pelo amor de deus, fica de quatro – Henrique implorou e o garoto obedeceu sentindo as frenéticas estocadas como se estivesse sendo espancado pela virilha do outro. Pietro gemia e gargalhava amassando os lençóis. A cama gemia, A chuva gemia, O vento gemia. Pietro tornou a 19
jogá-lo por baixo, lambeu seu pescoço e tornou a se encaixar. Um trovão ribombou lá fora e clareou rapidamente o quarto exibindo as silhuetas de ambos na parede. Henrique pôde vislumbrar o dia anterior, naquela exata hora, na construção próxima ao colégio. As lágrimas rolaram fixando a sombra do pau entrando e saindo do garoto e ele tornou à sua oração: – deus me ajude... A gargalhada de Pietro estremeceu pelo quarto escuro e um volumoso jato de porra preenche seu cu amaciado. A goza grossa escorreu pelas coxas, guinchou também de seu pênis, e inclinado sobre o parceiro ele sussurrou: – Poupe suas preces, deus não está aqui esta noite. Henrique estava em uma crise de choro e não conseguia se mexer. A coruja piou na noite chuvosa e o garoto soltou um grito ao sentir o pescoço ser estraçalhando pela boca de Pietro, um demônio na escuridão. O sangue jorrava com a mesma intensidade da goza. Quente e vermelho como a morte. Ele se engasga na tentativa de respirar, estava ficando cada vez mais fraco, e mais fraco. Perdido no escuro, Revendo tudo o que aconteceu na construção, ouve um último sussurro: – Voltaremos a brincar, no inferno. *** O sol aquecia a cidade e já não havia nuvens de chuva no céu. O reverendo e sua esposa chegaram a casa já reparando no ótimo serviço feito na calha. Subiram a escadaria, abriram a porta da cozinha que estava apenas escorada e a mãe recolheu o cobertor jogado sobre o sofá. Ela dirigiu-se até o quarto do filho, abriu a janela e jogou o cobertor sobre a cama, reparou que o garoto não dormira ali. “Provavelmente Rick passara a noite na sala”, pensou. Seguiu para seu quarto e sentiu um odor azedo, instantaneamente abriu a janela a fim de que o ar circula-se no ambiente. Quando os raios de luz penetraram a escuridão, a mulher não conteve o grito de horror, o marido logo chegou para ampará-la. Na cama, o filho pelado sobre o colchão embebido em sangue. 20
Seu pescoço possuía um grande ferimento coagulado e sobre o peitoral, agora branco pela falta de vida, uma enorme meia lua entalhada por aquilo que o sangrou até a morte.
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CAPÍTULO 3 Desejos tenebrosos “Sírius.
Três Reis. Rubídea. Magalhães ”. As estrelas brilhavam como na noite em que participara da exposição de astronomia com a turma do ensino fundamental. Devia ter por volta de doze e treze anos, e mesmo hoje, lembrava-se perfeitamente das orientações do supervisor: – Aquela ali, no meio – mirou o telescópio – Está vendo? A mais brilhosa? – Diogo sentia dificuldade para distinguir a qual dos pontos o senhor se referia. Ficou em silêncio, concentrou-se e lá estava. O pontinho sobressaia-se aos outros – Aquela é a estrela Rubídea – prosseguiu o instrutor – Agora abaixe a visão, ali, no extremo sul. A esta chamamos Estrela de Magalhães . Era emocionante visualizar a linha vertical imaginária ligando os dois pontos celestes. – Agora trace outra, desta vez horizontal cruzando a vertical. Consegue ver? A estrela miúda no leste é a mimosa e a outra a pálida . Os quatro pontos em cruz formam o “cruzeiro do sul ”. A brisa entrava pela janela e assanhava-lhe os cabelos. Permanecia a observar o céu em busca da lua, mas, a única coisa que conseguia identificar era a constelação. O sinal da primeira aula soou e os colegas começaram a entrar, balburdiando sobre o acontecimento assombroso com o filho do reverendo. – Foi um ritual satânico – Alguém disse. – Que bobagem, ele apenas foi assassinado – retrucou outro que não concordava com a suposição. – Mas cara, o moleque estava com o pescoço rasgado e tinha uma lua desenhada no peito. Diogo não era próximo do garoto morto. Na realidade, a 22
primeira vez que se encontraram foi na noite anterior ao assassinato. Um grupo de estudantes dançava a quadrilha junina sob o esvoaçar das bandeirolas coloridas enquanto ele estava no escuro aos beijos com uma garota vestida de caipira. Ela beijava bem. Quando sugava-lhe os lábios e procurava caminho para a língua, sentia o formigamento dentro da cueca. Excitação. Estava a ponto de bala e se a garota topasse, sairiam dali para um lugar reservado. Seus planos foram frustrados pela recusa dela. Infelizmente. Diogo deu-lhe um último beijo e separam-se. Saiu do escuro e visualizou o primo na outra lateral do colégio. Jonathan estava na companhia de quatro carinhas, todos companheiros de classe, exceto Henrique. Quando se aproximou percebeu que riam de algo ou alguém, Roberto era o centro daquela história. “Ele fica zicando” – O primo falou – “Disfarça e observa” – sugeriu. Dois garotos e o Jonathan estavam sentados em mesas escoradas na parede do bloco. No centro do colégio a quadrilha prosseguia e Pietro assistia, sozinho. Vez por outra o garoto tímido virava-se para observar Roberto, de costas, fazendo palhaçadas. Roberto imitava um cantor sertanejo encenando uma desenvoltura com o violão fantasma. Por causa desta inquietação, somente os amigos percebiam Pietro e seus olhares. “Aquele viadinho tá doido pra dar Robertão”, ouviu o primo dizer. “Deixa o cara” retrucou Roberto entornando a latinha com bebida alcoólica. A noite passava e a brisa balançava as bandeirolas pelo arraiá . Peito, bunda e buceta era o assunto do grupinho. A bebida subialhes a cabeça e ficavam de pau duro. Vez por outra Jonathan se apalpava e insistia na história de Pietro estar dando mole. As memórias de Diogo são interrompidas por alguém batendo a porta. A classe permanece em silêncio observando o professor abandonar a lousa para atender o atrasado da vez. Ele o encarou por alguns minutos, afastou-se e amarrou a cara observando o garoto entrar com os sapatos tilintando no granito encerado. Trajava calças jeans Skinny preta combinando com sapatos em couro e a camiseta manga longa de mesma cor. Pietro ainda perecia 23
o nerd tímido que se sentava próximo ao quadro. Apesar do estilo dark, permaneceu cabisbaixo e silencioso. Sentou-se na carteira da frente, fileira do meio. Cruzou as pernas e apoiou as mãos sobre elas. O cabelo era de um corte desfiado com as pontas tingidas de vermelho. O estilo gótico causou desconforto em Diogo. “Será que ele curtiu a brincadeira?” – Interrogou-se mais uma vez. Já tinha feito a auto-análise durante o fim de semana procurando aliviar a mente da culpa – “O Jonathan tinha certeza que ele estava a fim ” – afirmava para si. “Não façam barulho” – Foi o que o primo dissera quando se aproximavam da casa em construção. Os cinco traziam sorrisinhos safados esperando ver Roberto foder o moleque. Aquela não seria a primeira vez que Diogo presenciaria um “troca -troca”. Há alguns anos, os colegas de quarteirão (na época ainda crianças), brincavam de esconde-esconde na escuridão da rua. Ele tinha oito ou nove anos quando se escondera com o primo e um vizinho de cabelos lisos na altura dos olhos. O esconderijo ficava atrás do muro de um supermercado, no canto escuro entre os contêineres de lixo. O odor não era agradável, mas não importava, ali teriam dificuldade para encontrá-los. “Diogo” – O primo falou – “Fica lá na ponta do muro vigiando e avisa quando o caminho estiver limpo” – O garoto fez como pedido. Ficou lá por alguns minutos. Quando viu a oportunidade de se “salvarem” acenou. Não obteve respostas. Tornou a acenar.
Nada. Resolveu abandonar o posto de vigia e ir ver porque os garotos estavam tão quietos. Quando se aproximou, viu o vizinho deitado de barriga para baixo com o short puxado até os pés e o primo deitado sobre ele, forçando o pau em sua bunda branca. Jonathan se assuntou ao vê-lo. Levantou e guardou o membro ainda sem pelos. Estudou o primo e então se virou para o garoto sentado no chão. “Ele pode fazer também?”
O vizinho pensou e então se decidiu. “Tá, mas você fica de vigia” – Tornou a se estirar no chão abrindo as bundas com as mãos. 24
“Vai lá Diogo” – O primo fez um sinal
com a cabeça, apontando
o caminho até o garoto que os observava. “Não, você tá louco” – Ele hesitou. Tinha medo de serem pegos ou de os pais ficarem sabendo. “Qual é? Você é broxa?” – O primo provocou. “Não” – Respondeu sem ao menos saber o que aquilo significava. “Então vai lá” – Jonathan observou Diogo abaixar o short e deitar com o pau duro sobre o vizinho. ***
Na sala, os colegas envolvidos no episódio com Pietro pareciam evitar conversas. Ninguém esboçava reações e todos focavam seus trabalhos agindo naturalmente, como se o garoto não estivesse bem ali, sentado logo à frente. Antes de verem Roberto levá-lo para a construção, beberam e fumaram atrás do colégio. Estavam com o desejo aguçado pelos entorpecentes e não pensaram nas conseqüências do que pretendiam fazer. Ao ouvirem os sussurros, procuraram um local para visualizar com segurança. O primo e um colega observavam tudo por fendas altas entre os tijolos da parede não rebocada. Diogo e os outros também encontraram espaçinhos, mas, precisaram ficar agachados para visualizar. Um odor salgado passou por seu nariz, levantou os olhos e deparou-se com a rola do primo suspensa próximo a cabeça, pensou em falar algo, mas temeu chamar a atenção dos garotos lá dentro. O sino no pátio tocou, era o fim do horário. Diogo guardou seus materiais na mochila e ao se levantar percebeu o vulto preto de Pietro retirando-se da sala. Não sabia por que, mas, sentia-se impelido a segui-lo. Atravessou o corredor e desceu as escadas rapidamente. Lá fora a lua aparecera e iluminava o garoto vestido de negro a sair pelo portão da instituição. Apressou os passos e caminhou à distância, seguindo-o pela avenida sem movimento. Enquanto observava a silhueta passando pelo clarão dos postes, 25
recordou-se dos momentos finais sobre aquela noite. Pietro tentara escapar quando os garotos saíram por detrás da casa. Jonathan estava com o pau na mão, assim como Renan. E Diogo, idiota, deixou se levar mais uma vez pelas conversas do primo. Desde pequeno imitava Jonathan. O primo curtia Rap por isso começou curtir Rap, o primo colocou um piercing e para não ficar para trás colocou um alargador . O primo tatuou as costas, ele tatuou a panturrilha. Enfim. Roupas, locais, acessórios, em tudo tentava se igualar a Jonathan. Quando deu por si, entravam em um beco longo sem acesso a residências. Não havia construções nas laterais. Altas cercas de folhas verdes cercavam as extremidades da rua. Vez por outra passavam por algum ponto escuro formado pela sombra das árvores contra a luz dos postes. – Por que me segue? – Diogo deu um pulo e seu coração quase saiu pela boca. Pietro surgira pelas costas. Mas, como? Um arrepio subiu-lhe pela espinha. – Eu não estava seguindo – retrucou instintivamente percebendo como a negação soara ridícula ao garoto cabisbaixo – Na verdade – tentou encontrar novas palavras – queria saber se você tá legal – hesitou – e me desculpar por aquela noite – completou. Pietro permaneceu quieto, sentindo a leve brisa esvoaçar seus cabelos caídos sobre os olhos. Nada respondeu. Deu passos ultrapassando Diogo e adentrou pelos portões enferrujados do cemitério municipal. – Ei, você me ouviu? – Diogo adiantou-se atrás dele e ambos pararam no limite da primeira quadra de sepulturas distantes um metro dos portões. A partir daquele ponto, a iluminação da rua não penetrava o local. Ficou imóvel com seus pensamentos sobre o garoto ser perturbado e arrepiou-se ao observá-lo retomar a caminhada mergulhando na escuridão. Lá de dentro ouviu a voz indicar: – Neste sepulcro fora enterrado um tenente. Diogo conseguia ver apenas a silhueta de Pietro. “Esse ga roto precisa de um psicólogo” , pensou quando o seguiu até o túmulo. Pietro estava parado diante de uma sepultura simples. A luz do luar 26
mostrava um retrato antigo fixo ao tampo de mármore e algumas letras, números e símbolos grafados logo abaixo. – Ali foram enterrados bebês – Afastou-se rapidamente adentrando mais a fundo. Lá estavam sepulturas menores com estatuazinhas de anjos a olhar para o céu. A lua refletia-se nos rostinhos inocentes das imagens. – Porra, isso é muito sinistro. Você virou gótico? – Diogo perguntou parando ao lado do garoto de preto. Não obteve resposta. Limitou-se a segui-lo mais adentro. Questionava-se do por que estar fazendo aquilo, o porquê de acompanhar esse garoto maluco, mas, as pernas pareciam movimentar-se involuntariamente. Eles caminharam por entre lápides e estátuas. Contornaram mausoléus e pedras negras, só então Diogo percebeu que haviam se desencontrado. O coração quis sair pela boca ao sentir-se sozinho. Olhou ao redor e viu lá no centro, a lua iluminando o garoto sentado sobre uma sepultura recém pintada. Pietro estava abraçado às pernas ouvindo o vento balançar as folhas da árvore logo atrás. Para lá da árvore de galhos retorcidos havia as covas cristãs, covas que não tem construção em volta e sim um campo de grama por cobertura e crucifixos de madeira demarcando o limite de cada uma. – Acho que está na minha hora – Diogo aproximou-se tremendo e tentando disfarçar o nervosismo – Você vem? – Chamou o garoto que observava os pontos no céu. Houve silêncio. – Aquele lá, é o “cruzeiro do sul” – Diogo indicou a constelação após seguir a direção do olhar de Pietro – e então, você vem? Sentiu as mãos do garoto tocarem seu zíper e afastou-se. – Ei, o que está fazendo? – O coração disparou. – Pensei que queria brincar – Pietro disse com voz ingênua – Estamos sozinhos – Sussurrou com um sorrisinho sugestivo. – Eu... eu.... acho melhor não cara – gaguejou – Tipo... tipo... eu até curto – pensou melhor lembrando-se do tesão que fora aquela noite na construção, certamente o garoto estava indicando que também havia gostado – mas... mas só se for em outro lugar – concluiu olhando ao redor. – Você tem medo do escuro? – Pietro levantou e o segurou pela cintura. Um arrepio desceu pelo tórax do parceiro acordando o 27
membro viril. – Porra cara – Diogo ficou sem jeito e hesitou por uns instantes, depois completou – Então vamos para outro lugar – Sentiu um calafrio. – Outro lugar? – Pietro aproximou-se – Qual lugar? – sussurrou em sua orelha. Um novo arrepio subiu-lhe pela espinha. – Tem... tem um supermercado, ou melhor, a parede de um supermercado na... na... na minha rua... – Pietro segurou sua mão e começou a puxá-lo lentamente enquanto o garoto ainda tentava explicar como chegar ao lugar – lá é escuro e tem uns... uns... contêineres, e ninguém... ninguém – Pietro deitou sobre o sepulcro puxando o garoto para cima de si. Com a outra mão forçou as cabeças a se aproximarem e as bocas se encontraram. Diogo ofegou tentando afastar o rosto, mas acabou por render os lábios. As línguas se enlaçaram e os lábios deslizaram. Diogo colocou as mãos na cintura de Pietro e apertou com força sentindo a pele esticar entre os dedos. Quando o garoto mordiscou seus lábios ele se levantou. – E então cara? – passou as mãos pelos braços, afugentando o calafrio de desejo – Vamos pra lá? – achou que convencera o rapaz e observou-o se levantar. Estavam de pé e tinham a mesma estatura. Pietro não prestou atenção, enfiou as mãos delicadamente no espaço entre as alças da mochila e a camiseta do garoto, forçou e o acessório deslizou, caindo sobre a grama num baque surdo. Pietro olhou em seus olhos e abriu um sorriso peralta, aproximou-se e outra vez forçou-o a um beijo. Desta vez Diogo puxou sua cintura e retribuiu com mais vontade. As cabeças dançavam no compasso das línguas, os rostos se esfregavam e Pietro sentia a força dos dedos do companheiro apertar-lhe a cintura. Diogo vestia uma camiseta em duas cores. As mangas eram vermelhas e o centro azul marinho, no qual estava estampado o número 23 em letras brancas. Era feita de algodão. A calça jeans possuía detalhes desbotados na região das coxas e usava tênis all star . Continuaram a se beijar na lateral do sepulcro. Aos poucos o próprio Diogo fora perdendo o pavor de estar num cemitério e forçando Pietro a se sentar. Arrancou os tênis com destreza e permaneceu de pé com as meias brancas sobre a grama. Pietro 28
colocou as mãos na cintura da calça do companheiro, enfiou os dedos pelas bordas e após romper o botão a fez deslizar junto com a cueca até os joelhos. Diogo terminou de retirá-las e jogou em um canto. O membro exposto era impressionante. Mediano e grosso. Ninguém diria que aquele garoto magrelo era bem dotado. A surpresa deixou Pietro com um sorriso malvado. – Tira a sua também – Diogo pediu observando o sorriso safadinho no rosto do parceiro. – Vem tirar você – Guiou as mãos do garoto até a cintura. Diogo desatou o botão e abriu o zíper tremendo de tesão. Segurou o jeans pelas laterais e o puxou com força expondo as coxas brancas de Pietro. Os sapatos em couro impediam a saída da calça, por isso, não demorou a livrar-se deles. – Posso... posso te chupar? – Diogo perguntou tímido. Sempre tivera vontade de experimentar o sabor de pau maduro e aquela era a oportunidade. Arrancou a sunga preta de Pietro e colocou o membro rígido na boca. Não era grosso como o dele, mas o cheiro lembrava-o das brincadeiras que fez com o vizinho na infância. Enquanto sentia Diogo sugando-lhe, Pietro retirou a camiseta de mangas longas e descartou em um canto. Em seguida auxiliou o parceiro que não queria afastar a boca da chupeta que fazia. Arrancou-lhe a camiseta e jogou junto às outras roupas. – Fica de quatro – Diogo pediu ao levantar-se limpando a boca. Pietro ajoelhou sobre a sepultura com um sorrisinho vadio. Sentiu quando Diogo abriu-lhe as bundas deixando o orifício esticado. Preparava-se para sentir aquela rola grossa procurando passagem, mas revirou os olhos quando a língua úmida e gelatinosa de Diogo começou a lamber-lhe as pregas sensíveis. Não resistiu. Arfou. Após alguns segundos desfrutando a sensação indescritível ouviu a voz do parceiro ao pé da orelha: – Eu não trouxe camisinha. Pietro virou-se a responder: – Prometo não engravidar. Os dois soltaram sorrisinhos zombeteiros e então sentiu o pau arrombar lentamente seu buraco lubrificado pela saliva. O caralho de 29
Diogo era realmente grosso, o que causou um desconforto inicial. Suas bolas eram quentes e possuía o saco rígido com pelos aparados. Um garoto dotado. Um garoto de pau grosso. Ele socava lentamente e ouvia Pietro gemer enquanto gabava-se do membro que possuía. O pau afundava até a base e o par de bolas encaixava-se entre as bundas do garoto. Entrou e saiu, entrou e tornou a sair então Diogo parou por um instante. – O que aconteceu? – Pietro virou-se abrindo os olhos. – Você... – Diogo hesitou. – Fala – O garoto transmitiu-lhe confiança. – Você... – procurou melhores palavras – Eu queria sentir como é, como é ser fodido – Diogo queria experimentar, a curiosidade aflorara. Trocaram de posição. O garoto procurava abafar os gemidos imersos na escuridão. O pênis de Pietro entrava e saia com mais facilidade, não era grosso e tinha uma cabeça pontuda. – Nossa cara – Diogo apertou os lábios num misto de dor e prazer – É diferente – Perdia a voz toda ver que o membro de Pietro deslizava para dentro de si. Pietro aumentou a velocidade e delirava por sentir os pelos das pernas de Diogo arrepiar no contato com suas mãos. Sentia um formigamento entre o ânus e a base do pau, sabia que ali era produzido o líquido quente que passaria pelo canal dentro de seu pinto até explodir para fora. Enfiou com força em Diogo sentindo a pele peniana tão esticada que formigou, Enfio novamente e sentiu a mesma sensação. Na terceira vez explodiu. Jorrou quente naquele cu virgem e arfou. Aliviado, sentou-se na sepultura e observou Diogo pôr se de pé a sua frente, punhetando com a mão já sem força. – Abre a boca – O parceiro se aproximou com o cacete latejando. Friccionou sentido a gala chegar. Arfou e enfiou o caralho na boca de Pietro que teve a garganta invadida pelo caldo grosso esporrado em jatos contínuos. Seus lábios estavam esticados devido à circunferência do membro de Diogo e no interior deles movimentava a língua espalhando a substância babosa com sabor salgado e enjoativo. Quando Diogo retirou o pênis, sua goza escapou pelas laterais da 30
boca de Pietro melando-lhe o queixo e respingando na barriga lisa. Os dois caíram sobre o sepulcro, desfalecidos de prazer, observando ao longe as estrelas do cruzeiro do sul e a lua no centro do céu. O vento soprava pelo cemitério e uma coruja gruía ao longe. *** – Cara – Diogo
sussurrou com um sorriso largo – Precisamos
repetir isso. Pietro estava de pé, pelado e silencioso. Fixando o distante. – “Repetir isso” – Sussurrou imóvel. – É. Repetir. Pode ser outro dia – Calou-se a observar que Pietro voltara a ficar estranho – Mas diz ai – Tentou quebrar o silêncio – gostou do meu pau? – Sorriu enaltecendo a virilidade. Não era sempre que encontrava alguém para conversar sobre seu membro dotado. Houve um instante de silêncio e então Pietro respondeu. – Excitante – Os lábios esticaram-se num sorriso maligno e sugestivo. – Legal – Diogo sentou-se colocando os pés no chão – Eu também gostei do seu pau – pegou a cueca azul na lateral do sepulcro, a fim de secar os restos de goza que ensopara os pelos pubianos. – Gostou? – Pietro estava estranho – Mas, de qual? Diogo foi empurrado e tornou a deitar-se. Não entendeu o que Pietro quis dizer. O observou se aproximar, passar a perna por sobre as suas e sentar-se em seu membro. Parecia querer começar tudo de novo. – Ei, você é um puto – Exclamou sorridente sentindo o membro tornar a enrijecer ao contato com Pietro. Um barulho soou vindo da lateral do túmulo. Virou-se e levou um choque. Seus olhos encontraram-se com os de um ser cadavérico de cabelos grandes e roupas envelhecidas. Tentou levantar, mas Pietro o empurrou de volta ao lugar. Outros três defuntos erguiamse das demais extremidades e Diogo não conteve o grito ao ser imobilizado pelos seres. Agora tinha braços e pernas esticadas por aqueles que a pouco, dormiam o sono da morte. 31
Havia uma sinfonia tenebrosa. O vento, as corujas e o lamentar dos mortos deixando a sepultura faziam o garoto arregalar os olhos em assombro. Cada defunto arrancava a cruz de madeira que marcava sua cova e trazia-a junto a si, caminhando cambaleante em meio à agourenta neblina que brotava do solo. – Me desculpa cara. Não queria ter feito aquilo... Não queria... Ele sabia muito bem o que estava acontecendo. Ficara dominado pelo medo e não pelo arrependimento. Como poderia se arrepender se sentiu prazer no que fez? Sempre que se lembrava das estocadas na construção ficava excitado. Foi dele a frase: “Olha aqui viadinho, temos 5 paus pra você chupar com essa boquinha de boqueteiro” . “Olho por olho, dente por dente”. Diogo tinha aproveitado sua parcela de prazer e agora era à hora de acertar as contas. “5 paus pra você chupar” – Pietro esticou a mão e recebeu de uma jovem morta a cruz de madeira que trazia. Ela trajava um longo vestido branco, tinha olhos fundos e as carnes envelhecidas. “5 paus” – Ele ergueu o crucifixo contra a lua. “5 paus” – Rosnou para a escuridão e desceu o braço sem hesitar. A ponta inferior do crucifixo quebrou os dentes de Diogo e encaixou-se dentro de sua garganta. Ele não conseguiu gritar. Outro defunto entregou seu crucifixo... “5 paus” – Repetiu e desceu a madeira com velocidade quebrando-lhe mais dentes e encaixando-a junto a outra. Viu o garoto perder as forças. “5 paus” – Esta fez espirrar sangue por todos os lados e cada detalhe daquela noite passou diante deste que estava sendo castigado. “5 paus” – Num creck a mandíbula deslocou para acolher a quarta cruz de madeira. “5 paus” – A quinta e última rasgou-lhe as peles laterais da boca, transpassou a carne e fendeu o crânio. O garoto ficou imóvel, morto, com os olhos fixos no cruzeiro do sul e as lágrimas cintilando o luar.
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CAPÍTULO 4 O último trago Tic, Tac... Tic, Tac... Tic, Tac... Era madrugada e o ambiente permanecia numa completa desordem. Fichários escuros e pilhas de documentos se espalhavam por cima da mesa. Ali próximo, no mural, uma infinidade de anotações sobre assassinatos misteriosos e Serial Killers . A lixeira estava cheia e bolinhas de papel espalhavam-se pelo chão. Tic, Tac... Tic, Tac... Tic, Tac... Por debaixo da porta e através das frestas da persiana, vez em quando, penetravam filetes da luz emitida pelas lâmpadas defeituosas no fim do corredor. Na mesinha da máquina de café vários copinhos descartáveis se amontoavam ao lado de uma garrafinha de água vazia. Havia ainda, um armário mediano com duas portas escancaradas revelando as várias caixas de arquivos antigos. Sobre ele, descansava o paletó azul escuro e o cinturão para revolver. Tic, Tac... Tic, Tac... Tic, Tac... “Bruxaria e Paganismo. O universo místico” As letras destacavam-se na tela do computador e ao lado delas um mediano pentagrama dourado rodopiava lentamente. A página da web exibia longos textos detalhando o significado de vários símbolos antigos. Viam-se desenhos de rituais, símbolos célticos, wiccanos, sumérios, uma verdadeira coletânea sobre misticismo. Ao que parece, aquele que pesquisava, acabara adormecendo sobre o teclado. O militar estava com os braços cruzados sobre a mesa e tinha a cabeça apoiada sobre eles. O maxilar quadrado exibia as pequenas pontilhações negras da barba por fazer. Usava o corte de cabelo padrão da polícia e tinha braços fortes com pelugem lisa castanha. “Sgt. Williamar”, “O+”. Entre as várias pilhas de papel estava o distintivo com a insígnia da PM e o nome do portador. Ao lado dela 33
o revolver calibre 38 e mais alguns copinhos sujos de café. Trimmmmm .... Trimmmmm .... O homem despertou com o telefone a tocar. Estava visivelmente cansado e no susto derrubou folhas pelo chão. Trimmmmm .... Trimmmmm .... Ouviu o ranger da cadeira giratória quando esticou os braços se espreguiçando, as juntas estalaram. Podíamos perceber que por baixo da farda azul claro, ocultava-se um tórax devidamente malhado e um peitoral parrudo sobre o qual estavam afixados os broxes da patente. Esfregou os olhos verdes cansados, limpou a lateral da boca e imediatamente atendeu a ligação. – Alô. – Sargento Williamar? – A voz feminina questionou do outro lado. – Ele mesmo – respondeu enquanto apertava os olhos voltando a analisar as simbologias no computador. – Sargento, aqui é a oficial Débora do 38º BPM, desculpe incomodá-lo, mas, meu superior solicita sua presença na praça da fonte. Williamar olhou o relógio no cantinho da tela do computador conferindo as horas. 01:15. Novamente pernoitara na delegacia de investigações criminais. – Sargento? – a oficial chamou quando não obteve resposta. – Oi. Perdão. Você disse praça da fonte? – Ele buscou confirmação. – Isso. Meu superior ressaltar que é de seu interesse. Williamar continuava a observar as gravuras, rolou a página e encontrou o que buscava. Lá estava, a meia lua. Apertou o botão imprimir e enquanto ouvia a impressora acordar para o serviço, respondeu à oficial. – Obrigado senhora. Avise que estou a caminho. Uma a uma a impressora foi cuspindo as folhas impressas. Ele dirigiu-se ao armário dos arquivos e vestiu o paletó, afivelou o cinto e apanhou sobre a mesa o distintivo e a arma. A impressora terminara o serviço. Williamar pegou o bloco de folhas impressas, grampeou, e saiu passando pelo corredor mal iluminado, observando a maior parte das mesas vazias. 34
Do lado de fora, dois policiais conversavam enquanto guardava a entrada, ele os cumprimentou seguindo para a viatura do outro lado da rua. Em poucos minutos chegaria ao local da ocorrência. A madrugada estava fria e a lua alta. Ouvia-se o zumbir do vento chocalhando as árvores e o piar distante das corujas. Quando chegou a praça, o militar estacionou junto a outras duas viaturas no acostamento da avenida. O vento levantava poeira e fazia as folhas secas dançarem pela sarjeta. – Sargento Williamar – o oficial responsável pelo patrulhamento daquela área o cumprimentou – Assim que identificamos o caráter do homicídio solicitei que entrassem em contato. As duas autoridades seguiram para uma área arborizada próximo à praça. As imediações estavam isoladas pela fita de proteção que parecia bater boca com as rajadas de vento. O odor era nauseante, os militares precisaram cobrir as vias respiratórias com lenços de bolso. – Ali. Por debaixo das árvores senhor – Um jovem oficial indicou o local escuro com a luz incandescente da lanterna. Williamar pegou o objeto e adentrou o local. Perto dos arbustos estava uma mochila e pouco mais a frente o corpo em estado crítico. Parecia ter saído do inferno. Focou a lanterna no ponto que lhe interessava, o tórax do morto. Lá estava, aquele era mais um caso para sua investigação. Ela brilhava talhada com sangue, gravada como uma marca de vingança ou ritual de magia negra. A meia lua de sangue era sinal de mau agouro. O jovem sargento cuspiu e inclinou-se iluminando a mochila. Objetos escolares, uma revista, algo que após cheirar identificou como maconha, alguns envelopes de cocaína e a identidade estudantil. – Fizeram bem em me chamar – agradeceu ao oficial enquanto se afastavam – Encaminhem todos estes materiais e o laudo do IML para meu escritório. O assassino da Lua de sangue atacou novamente. HORAS ANTES
Tensão. Assim definia-se aquele dia. Mais um corpo fora 35
encontrado nu e com o estranho símbolo talhado sobre o tórax: a meia lua. O adolescente foi assassinado cruelmente e seu cadáver encontrado pelo jardineiro nas primeiras horas da manhã. Estava irreconhecível, o rosto desfigurado com as cinco cruzes cravadas dentro da boca e a sepultura agora tingida pelo vermelho sangue. Daquela hora até o meio dia a notícia se espalhara pelos quarteirões. O assunto era o motivo de conversas nas filas dos comércios, corredores de instituições e aglomerações de vizinhos. Pela primeira vez o cemitério estava cheio, não para um enterro, mas pela curiosidade sobre o assunto. O corpo jazia sob o sol, diante dos vários olhos curiosos. – É ele mesmo velho – o garoto falava ao celular – Teu primo. Jonathan recebeu a ligação por volta de nove horas. Foi acordado pelo celular a tocar. Ainda não acreditava no que Renan estava contando. – Ele tá pelado e com uma lua desenhada na barriga. Igual o Henrique – continuou a relatar o que via. – Porra cara, Tem certeza que é o Diogo? – Jonathan relutava. Aquilo devia ser apenas um pesadelo. – É ele sim mané. Tem um duende tatuado na panturrilha e a mochila é igualzinha. – Porra cara. Tipo, Porra. Não acredito que mataram meu primo – Jonathan começou a sentir o coração apertado. – O moleque era gente boa. Puts , se eu pegasse quem fez isso, ia virar peneira – Renan tentou dar apoio ao colega. – É foda cara. Que foda. Esbarrei com ele ontem no colégio. Foda bicho. Que porra – Jonathan estava sem palavras. – Aí maluco, os policiais estão isolando aqui, vou desligar. Faz o seguinte, aparece lá na escola que eu arranjo uns baseados para aliviar. Valeu? – Valeu cara. Porra, ainda não to acreditando. Até a noite. Naquela tarde o reverendo fez um culto lotado, alguns estavam presentes em solidariedade aos parentes dos jovens assassinados, outros por puro medo das fofocas de que o diabo estava passeando pelas avenidas. Havia quem insistisse na teoria de que uma seita satânica instalara-se na cidade, outros falavam sobre rituais de magia negra, 36
tinha até aqueles que citavam necromancia, mas os principais comentários giravam entorno das investigações sobre Serial Killer , ou melhor, sobre o investigador responsável pelo caso. – Mas aquele rapaz? – um aglomerado de senhores conversava ao fim do encontro religioso – Ele é muito novo para assumir caso tão complexo. – O sargento Williamar é novo mais tem uma longa experiência na polícia. Foi ele quem descobriu o maníaco do parque, lembram-se das histórias que passava na TV? Naquela época era apenas um aspirante a sargento. Apenas um auxiliar do verdadeiro sargento envolvido no caso. – Não sei. Ainda acho que é muita responsabilidade para um rapaz de 27, 28 anos. Podiam transferir para o sargento do outro distrito, ele tem mais experiência e idade. Enfim, tomara que saiba o que está fazendo e mostre resultados. Noutra localidade, eram as senhoras a fofocar. – Eu alertei o Thiago: casa-escola e escola-casa – dizia uma mãe preocupada com o filho. – O diretor reduziu o horário do noturno. Eles vão sair duas horas mais cedo pelo menos por enquanto – disse outra que trabalhava na secretaria do colégio. – Cedo ou não, vamos buscar o nosso filho na porta. Buscar e levar – disse outra senhora. O pânico se espalhava, notícia ruim corre longe. Logo os jornais de cidades grandes estariam por ali a interrogar a vizinhança em busca de informações. Naquele fim de tarde, três telejornais já falavam sobre o acontecido e os editores preparavam a redação que publicariam na manhã seguinte: OS CRIMES DA LUA DE SANGUE. O sol começava a se pôr pintando o horizonte de vermelho para combinar com o clima fúnebre. Os estudantes que enfrentaram ir às aulas saiam ou na companhia de adultos ou em grupos de amigos. As ruas estavam sem movimento. Antes, naquele horário, haveria crianças brincando de pega-pega, futebol, esconde-esconde, entretanto, os pais temeram deixá-los a solta. Apenas cachorros viralata fuçavam o lixo em busca de restos de alimentos. No pátio do colégio grupinhos tentavam afugentar o clima 37
sombrio conversando sobre assuntos diversos. Não havia o porquê de se importar, nem conheciam os garotos assassinados. No entanto, para outros, aquele tipo de conversa sinistra era prato cheio. Um grupo de góticos reunia-se na parte escura ao lado de um dos blocos. Vestidos de negro, com acessórios pontudos de prata e cordões com crucifixo, fofocavam ao som de Marylin Manson. – Postaram na comunidade do face, que noite passada o DarkRevenger666 estava no cemitério e viu uns mortos cambaleando com a cruz nas mãos – contava um garota com metade do cabelo preto e a outra branco – tipo, eu até acreditaria se ele não tivesse se encontrado com o Renan antes – Os amigos caíram na gargalhadas, não era novidade que o garoto chamado Renan era traficante. Ele vendia entorpecente dentro e fora da escola. Foi preso algumas vezes por porte de maconha, mas, por ser menor saiu e voltou a suas atividades comerciais. – Eu fui lá e não vi nenhuma cova aberta – Disse um garoto que usava batom preto enquanto abraçava a namorada. – Mas é claro. Depois eles voltaram a se cobrir porque estava muito frio – falou outro e todos voltaram a gargalhar. – Não porra. Falando sério agora. Sinistra essa paradinha da meia lua né? Enquanto estes alunos resolveram fofocar dentro dos limites da instituição, outros decidiram esperar pelo sinal do lado de fora. Estavam reunidos nos fundos do colégio, sentados abaixo de algumas árvores, fumando maconha. – Primeiro o Rick depois o Diogo, parece coincidência? – Roberto levantou a questão enquanto permitia a fumaça sair pelos lábios. – Tipo, eu nem sei o que pensar. No momento só estou revoltado com o desgraçado que fez isso com meu primo – Retrucou Jonathan com os olhos vermelhos, em parte pela dor da perda, em parte pelo efeito da maconha – Se eu pegar esse cara, porra – não conseguiu completar a frase. – Cara, e essa meia lua? – Jardel entregou o baseado para Renan enquanto soltava a fumaça pelo nariz. – Porra, eu to mais preocupado é com essa história da polícia investigando. Tipo, e se eles acabarem chegando à gente? Minha 38
ficha e suja igual gaiola de galinha – Disse Renan soltando uma baforada de fumaça. Os quatro carinhas estavam sentados no chão, escorados no muro da escola. Levantaram-se quando o sinal tocou. Renan jogou o toco do cigarro por ali e voltaram para dentro, “relaxados”.
*** A turma não estava completa, nem todos os estudantes encararam aparecer diante dos acontecimentos. Contávamos nos dedos os presentes. Renan, Jonathan, Roberto e Jardel seguiram juntos para o fundão, como de costume. Eles eram os maloqueirinhos do segundo ano. Apenas Roberto não se assemelhava tanto aos outros três, se não estivessem juntos podíamos até confundi-lo com um “bom garoto”. Sentaram estirando-se nas cadeiras, conversando idiotices e fuçando os celulares. Somente quando a professora estava escrevendo na segunda faixa divisória do quadro, que um deles, Jardel, resolveu abrir o caderno. Na capa da banda Metálica , havia uma caveira branca em fundo azul e letras vermelhas brilhantes. Ele passou pela cartela de adesivos e procurou a página destinada à matéria de português. – Ca-ra-lho. Que brincadeirinha estúpida seu viado – Disse empurrando Renan com o ombro. – Oxe mano. Tá doidão? – Renan retrucou virando-se e encarando a página riscada com caneta vermelha – Puts , olha isso cara – começou a sorrir com zombaria, pegou o caderno e mostrou para Roberto. – Puta Merda Renan. Você riscou o trabalho do cara – Roberto começou a rir observando a meia lua desenhada sobre o texto a caneta. Renan era um garoto negro e alto, de ombros largos e tórax definido. Seu rosto magro tinha sobrancelhas grossas sobre os olhos de tonalidade escura brilhante que seduzia as garotas. Abaixo do nariz, o traço de um ralo bigodinho liso combinava com o cavanhaque. Tinha o cabelo crespo em corte social e usava um pequeno brinco prateado que reluzia na orelha direita. 39
– Vocês
fazem é rir seu viadinhos? Essa porra valia ponto – Jardel ficou indignado. Arrancou uma folha em branco e começou a transcrever o texto às pressas, deveriam entregar o trabalho ao fim daquela aula. Enquanto um estava indignado e dois sorrindo, outra voz revoltada soou ao lado. – Ah não Renan. Seu filho da puta – Jonathan xingou. Seu trabalho sobre Romantismo no século XX também havia sido “trolado” com a mesma meia lua em caneta vermelha – Tanta folha para tu fazer suas gracinhas e veio foder logo a droga do trabalho? – Jonathan fechou o caderno bufando. Renan não conseguia parar de rir. Saiam lágrimas de seus olhos e então resolveu se defender. – Ei porra. Fui eu não. Mas quem acreditaria? Afinal, aquela não seria a primeira vez que Renan fizera brincadeirinhas do tipo. Geralmente seus alvos eram os nerds da sala. Costumeiramente o garoto tímido que chamavam de Pietro. Renan tinha a mania de esconder seus materiais e deixar o garoto louco a procura, mas, naquela noite foi diferente. Pietro voltou do intervalo e tudo parecia estar no lugar. Seu alivio tornou-se um nó no estômago quando abriu o caderno e viu a gravura no pacotinho interno. Renan havia colocado uma página de foto completa da Carla Perez na playboy , para completar, chamou amigos e zuaram: “Quem diria em? Pietro com a Carla Peres peladinha e não divide com ninguém”. Sempre Renan, o autor das brincadeirinhas idiotas. Roberto estava rindo, mas logo a ficha caiu. Se trolou os companheiros por que o dele teria escapado? – Vai tomar no meio do seu cu, Porra – O garoto observava o trabalho com vontade de esmurrar o amigo – Paguei uma grana pra minha irmã fazer a merda deste resumo e tu fodeu tudo, seu pau no cu – A mesma meia lua vermelha ocupava todo o trabalho do garoto. – Ei rapazes – A professora virou-se após a chuva de palavrões de Roberto – Vamos devagar ai né? – e tornou a virar-se para o quadro. – Porra velho. Eu to dizendo que não fui eu – Renan sussurrava tentando se defender. 40
– Não
foi eu, não foi eu – Jardel começou a imitá-lo – Então porque só o seu não foi pichado, seu viado? Ele abriu um sorrisinho sarcástico e pegou o caderno dentro da mochila, – Não foi simplesmente por que... – abriu na matéria de português e completou – ... por que eu não fiz essa porra – E gargalhou. A desculpa não convenceu os garotos e eles o ignoraram enquanto passavam o trabalho a limpo. Já não tiraram boas notas no trimestre anterior e agora Renan veio com essa sacanagem. – Quer saber, seu viadinhos – ele esticou-se até a mochila que estava no chão e pegou uma revista Playboy – Aqui – abriu-a escondendo atrás de Roberto que sentava-se na carteira da frente – porque vocês não relaxam. Os garotos observaram o ensaio pornográfico da Bruna Surfistinha . Na foto, estava de costas mostrando o corpo bronzeado e a marca de fio dental no bumbum liso. Mesmo irritados os companheiros sentiram o princípio de uma ereção. Renan passou mais uma fotografia. Agora a garota estava de lado segurando uma prancha de surfe num estúdio de fundo esverdeado. Jardel olhou para frente e para os lados certificando-se de que ninguém estava vendo. Feito isso enfiou a mão dentro da calça e ajeitou o membro que endurecera mal posicionado. – E agora... tanananann – Renan fez suspense balançando a folha – a parte que todos estão esperando – com um sorrisinho safado virou-a lentamente. Bruna Surfistinha estava de frente, era possível ver seus seios medianos com a marca do biquíni e entre as pernas o tracinho de pelos devidamente aparados fazendo uma trilha até sua vagina rosada. Entretanto havia algo a mais, no tórax da gravura, a mesma meia lua estava pintada a caneta vermelha. – Agora é sério, Quem foi o fodido? – Renan olhou para os companheiros mais ninguém quis assumir a culpa, afinal, quem seria o gênio de estragar o próprio trabalho avaliativo? – Renan – A professora tornou a chamar a atenção, mas antes que continuasse alguém pediu permissão para entrar. O sobretudo permanecia imóvel a cada passo que tilintava no 41
piso. Camiseta e calça skinny pretas, sapato em couro e um crucifixo com pedrinhas vermelhas que pendia em seu pescoço. O garoto estava cabisbaixo como sempre, mas, desta vez levantou os olhos que cintilaram de um azul ameaçador quando os quatro carinhas o observaram do fundão. Roberto sentiu vergonha pela forma como o garoto o olhou, Renan nem se importou e Jonathan muito menos, mas Jardel, este sentiu um arrepio subir-lhe pela espinha e desviou o olhar, voltando a transcrever o trabalho. Algum tempo depois virou para Renan que mexia no celular, – Aquela noite – sussurrou – Aquela noite eu estava tão doidão que pensei que ele tinha morrido. – Se morreu, morreu de prazer – Renan zombou sem tirar os olhos do aparelho. – Será que ele contou pra alguém? – Perguntou observando o garoto pelas costas. – Relaxa. Esses viadinhos não têm coragem de assumir que gostam dessas putarias. Seja como for Jardel sentiu uma sensação estranha que não soube explicar. *** Foi como anunciado pela coordenação. Durante alguns dias os horários seriam reduzidos e o intervalo cancelado, tudo para tentar acalmar a preocupação dos pais. O sino tocou anunciando o fim do horário e os poucos alunos retiram-se da sala. Por um momento Jardel olhou para a carteira onde Pietro sentara-se, mas, já estava vazia. O garoto como sempre, tivera a habilidade de deixar o colégio antes que alguém pudesse querer pirraçá-lo na saída. Os amigos seguiram juntos até o portão, lá, o pai de Jardel o esperava dentro do carro. Roberto morava próximo e seguiu a pé, Jonathan e Renan o acompanharam até o cruzamento de avenidas e então se separaram. Jonathan seguiu com duas amigas para a rua de sua casa e Renan subiu alguns quarteirões em direção a praça da fonte. “ A praça da fonte”. Quem ouve esse nome imagina de cara um 42
grande chafariz, e de fato, há alguns anos aquele chafariz fora esplendoroso, mas agora, estava depredado e pichado. Ele localizava-se na borda da praça, era feito de concreto branco com formato circular. No centro ficava a estátua de uma mulher que trazia um pote na mão, deste pote jorrava a água que enchia a fonte. Mas a praça começou a ser freqüentada por vândalos, logo o rosto da mulher foi quebrado e o pote já não existia. As bordas altas agora serviam de assento e a água que a enchia, devia-se às últimas chuvas que caíra. Suja e com várias folhas apodrecendo no fundo. A lua refletia-se sobre a água parada, vermelha como sangue numa noite fria como inverno. Quando Renan chegou à praça havia apenas um casal de namorados emos sentados no balanço de um parquinho infantil que ficava pra lá da fonte. Era um parquinho de areia e também estava mal conservado. Aquela praça tornou-se o ponto de encontro de diversas tribos. Roqueiros se reuniam para cantar, beber e fumar, namorados se amassavam nas extremidades do chafariz, outros grupos conversavam sentados no parquinho e havia ainda uma região escura, formada pela extensa área de árvores altas. As pessoas de “boa” evitavam aquela região durante a noite, dificilmente alguém entrava lá sozinho. Entre as árvores e arbustos, ocultos pela escuridão, jovens consumiam drogas, bebidas e gemidos eram constantemente ouvidos nas noites movimentadas. Durante o dia os garis encontravam camisinhas, garrafas, bitucas de cigarro, envelopinhos de onde usuários retiram a droga que acabara de consumir. Renan contribuía com esta última parte. Por volta das 22:00, já não havia ninguém nas redondezas. O casalzinho subira a avenida abraçados deixando apenas Renan sentado na fonte ouvindo MC Catra no viva-voz. O funk rompia o som ambiente de corujas distantes e mariposas voando ao redor da lâmpada nos postes da avenida. Ele já estava esperando há aproximadamente meia hora, marcara ali a entrega de um pacote com entorpecentes que seriam vendidos em uma festa no bairro, mas seu contato parece ter desistido de aparecer. Era até de se esperar. A praça deveria estar movimentada, porém os acontecimentos recentes deixaram a população precavida, até aqueles que não se importavam encontrava a dureza dos pais para 43
serem liberados durante a noite. A determinada hora sentiu a bunda doendo de ficar tanto tempo sentado sobre o concreto. Levantou-se e deu uma volta em torno da fonte com a mochila nas costas. A lua subia a circunferência do céu, calada como um gato e branca como um refletor. O vento já estava zumbindo forte e as folhas rolavam pela avenida como se fugindo de algo na escuridão. Ele voltou a sentar-se e passou as mãos pelos braços negros e malhados tentando afugentar o frio. Olhou as horas no celular, colocou a aba do boné branco para frente, depois para trás, algum tempo depois tornou a virá-la para frente e impaciente começou a balançar a perna apoiada sobre um dos joelhos. Um inseto picou seu antebraço e ele coçou o local observando o desenho do cogumelo tatuado em tinta azul. Havia outras tatuagens nas costas, mas naquela noite a camiseta do Corinthians cobria. Esperou mais um tempo, tentou ligar para seu contato mais o telefone não dava sinal; “maldita TIM”, pensou. Entediado e quase desistindo de esperar, sentou-se na lateral escura da fonte e pegou a revista Playboy na mochila. Passou pela página onde riscaram o símbolo e chegou a uma das fotos onde a garota exibia a vagina entre as pernas abertas. A folha estava manchada no local onde o garoto esfregara o pau duro e babado imaginando como seria penetrar aquela gostosa. 23:15. Já estava esperando há pelo menos uma hora, e nada. O vento estava mais forte e as folhas da revista queriam voar. Ele guardou o objeto na mochila e prometeu a si mesmo que daria a última volta ao redor da fonte, se o contato não chegasse iria embora e marcariam outro dia. Para não ser rápido resolveu contar os passos e assim seguiu olhando para o chão, até que ao chegar em meia volta da fonte seus olhos encontraram-se com os sapatos em couro negro e assustou-se com a silhueta sentada de frente para a avenida. Trajava as mesmas roupas escuras e estava com as mãos escondidas entre as pernas para aquecer o frio. Cabisbaixo como sempre, o cabelo ocultava seus olhos conferindo-lhe um ar de mistério. – Caralho. Que susto Pietro – Falou com um sorriso embranquecido. Havia um espaçinho entre os dentes da frente. O pequeno defeito combinados com o brilho dos olhos e o brinquinho 44
na orelha, deixavam o garoto com ar de “pagodeiro”. – Não queria assustar – Pietro respondeu timidamente
sentindo
o vento esvoaçar os cabelos. – Relaxa. Mas, porra, precisava andar todo demoníaco? – Renan sentou-se ao lado. Não estava nem ai para o que tinha acontecido há algumas noites, para ele, foi como qualquer outra foda. – Você não gostou? – Pietro perguntou timidamente. – E eu lá reparo em macho – Renan agiu na defensiva dando uma gargalhada, depois completou – Mas tipo, se você curte. Gosto é gosto. Houve um instante de silêncio. – Eu gosto do seu jeito – Pietro falou observando a lua acima de suas cabeças. “Gosta do meu jeito?” pensou, “Esse viadinho quer alguma coisa” . Resolveu ver aonde aquilo chegaria. – Como assim? Que jeito? – Fingiu-se desentendido. – Seu jeito. Assim, Badboy . Renan deu outra gargalhada olhando ao redor. Continuavam sozinhos e isso podia render-lhe algo. – Quer dizer então que agora sou Badboy ? – virou-se para Pietro e recolheu o sorriso. Observou que o garoto não tirava os olhos de seus lábios fartos e molhados e resolveu provocar. – Mas como é isso? Badboy ? – Fingiu-se de desentendido e olhou para o sentindo contrário enquanto apertava o pau por cima da calça. “Ele tá olhando hihihhi”. Disfarçou. – Tipo,... – Pietro caçou a melhor forma de explicar – Badboy e ser tipo, Machão. Renan não agüentou, teve que dar outra gargalhada. “vou fazer de novo”, pensou e tornou a virar-se para o sentido contrário e apertar o pau por cima do jeans. “Agora é certeza. Ele tá zicando” , pensou ao reparar que Pietro mais uma vez ficara observando seu gesto. “ Tá achando que eu não reparei né viadinho? hihihih”. Houve um momento de silêncio e então ele encontrou uma desculpa apropriada, – Porra velho, eu tava esperando uma guria, mas, acho que ela não vem mais – Renan sentia o vento tocar-lhe os braços e esvoaçar a camisa do Corinthians. 45
– Sua namorada? – Pietro perguntou. – Namorada não – ele abriu um completou – Peguete – Mordeu os lábios
sorrisinho safado, depois e tornou a apertar o pau,
desta vez sem se virar. – Como assim, peguete? – Pietro se fez de desentendido. – Porra cara, peguete é peguete – Renan deu uma gargalhada e tornou a apertar o pau. Estava duro e começando a latejar – Tipo – Renan resolveu entrar em assuntos mais sensíveis – Igual, eu e você naquele dia da festa junina. Houve um momento de silêncio enquanto observavam uma coruja cruzar o céu. – E ai, Tendeu? – Renan fez voz de malícia e apalpou o joelho de Pietro. – Mais ou menos – Tornou a se fazer de desentendido e aquilo deixava Renan doidinho. “Vou apelar”, ele pensou sentindo o pau latejar. – Porra cara – exibiu um sorriso – Você é muito inocente – “lá vai” – Já beijou de língua? Pietro ficou nervoso. Sentia-se envergonhado por ser BV (boca virgem). – Eu, tipo.. Eu... – gaguejou e por fim foi “sincero” – Não. Ainda não. “Eita porra”, Renan sentiu o pau pulsando. “ É hoje que fodo esse cuzinho”. De repente a conversa com Roberto veio a sua mente. Lembrouse claramente do diálogo daquela noite: “E ai Roberto, o cuzinho dele é gostoso?”, Renan havia perguntado com o pau pulsando na mão, “É tão apertadinho que não consegui enfiar, só esfregar mesmo”, Roberto respondera. – E porque nunca beijou? Acha que não vai dar conta? – “estamos chegando onde quero”, pensou. O vento soprava fazendo a folhagem na avenida correr para lá e para cá. Pietro nada respondeu então Renan resolveu apelar. – Se te contar uma coisa, promete não falar para ninguém? – Apertou a coxa de Pietro e observou o garoto virar-se para ele. Sob a luz da lua seus olhos azuis cintilaram. “Porra velho, que olhinhos. Delícia” , Renan pensou e então 46
prosseguiu: – Você tem uma boca bonitinha – deu um sorrisinho e mordeu os lábios, depois se aproximou e sussurrou-lhe ao ouvido: – Quer que eu tire? A sua BV? – e afastou-se esperando a resposta. O pau latejava dentro da calça jeans. Antes de chegar àquele ponto, havia estudado as imediações procurando o melhor lugar para realizar o “ato de caridade”. Ali na fonte não ia rolar, era iluminado e
alguém podia aparecer. O parquinho também não era uma boa opção, agora, entre as árvores, haha , só de lembrar-se das garotas que levou para lá ficava cheio de ideias malignas. – E ai? O que diz? – Renan esfregou as mãos para se aquecer, colocou-as sobre as bochechas e olhou ao redor certificando-se de que não havia ninguém por perto. – Vai ficar entre nós? – Pietro continuava tímido. – Com certeza. – Renan virou a aba do boné para trás e levantou-se da fonte – “Vem comigo” – Sussurrou. Seguiu na frente ajeitando a mochila. Passaram por bancos de concreto e lixeiras comunitárias. Saíram da região iluminada entrando nos arbustos e finalmente tomaram a estradinha entre as árvores. A certo ponto virou-se para confirmar se o garoto ainda o seguia. – Aqui – Renan sussurrou – Vem cá – Colocou a mochila no chão e encostou-se em uma árvore de caule grosso e inclinado. Pietro se aproximou tímido, não sabia o que fazer. – Chega mais perto. Isso. Agora você coloca a mão na minha cintura – quando as mãos do garoto tocaram-lhe pela blusa, um arrepio de desejo seguiu até a base do pau – Agora eu coloco as mãos no seu pescoço – ele tocou a pele de Pietro e sentiu o tanto que era lisa – Assim . Agora vou colocar minha boca sobre a sua e chupar seus lábios – Renan aproximou-se vagarosamente e encostou a boca carnuda sobre os pequenos lábios vermelhos do garoto. Pietro fechou os olhos, não sabia como reagir. Renan inicialmente roçou os lábios aos dele e em seguida começou a chupar levemente. Pietro permanecia com a boca fechada sem fazer nenhum movimento, apenas Renan se deliciava com o gosto exterior daquela boquinha cerrada. – Gostou? Agora abre a boca um pouquinho. Isso – Renan 47
tornou a colocar a boca sobre a dele dando leves chupadinhas. – Isso ai . Agora eu vou colocar minha língua dentro da sua boca e você chupa ela – Pietro sentiu a língua grossa do garoto entrar pelo pequeno buraco entre seus lábios. A língua de Renan era quente e deslizava como gelatina. – Gostou? Agora você faz o mesmo – E assim Pietro o fez. Aproximaram as bocas e ele forçou a mediana língua rosada a entrar naquela caverna negra. Renan deu o primeiro passo na dança das línguas e Pietro foi perdendo a timidez. Chupadinhas, mordidinhas, língua roçando a língua, lábios carnudos e lábios fininhos. Pietro sentia o cavanhaque de Renan espetar-lhe o queixo. Sentia o calor que saia de seu nariz tocando-lhe a face. As bocas aguavam e seu pau começara a enrijecer. Então Renan se afastou. – Aprendeu? – Perguntou. – Sim – Pietro falou limpando os lábios. – Então é isso. Não conta pra ninguém valeu? – Renan fingiu abrir a boca de sono e se espreguiçar, depois coçou o pau – Porra, estou com vontade de mijar, espera ai – Ele ligou a claridade do celular e iluminou um arbusto ali próximo. Lançou a luz sobre o pau negro e deixou sair o jato quente de urina. Não havia necessidade de iluminar o local, mas seu intuito era que Pietro visse seu órgão ereto. – Pietro – Sussurrou enquanto balançava o pau livrando-se das gotículas de urina que sobrara. – Oi – Ele se aproximou. – Me dá sua mão – Renan pediu e Pietro a estendeu. – O que acha? – Levou a mão do garoto até a base de seu pau e fez com que ela deslizasse por toda a extremidade. Era quente e cheio de voltinhas por causa das veias. – É quente – foi a única palavra que Pietro encontrou. – Faz um boquete em mim? – Renan sussurrou em seu ouvido e afastou-se, depois retornou e explicou – É igual chupar língua, mas tem um gosto diferente – mordeu os lábios. Pietro abaixou-se e fechou as mãos envoltas àquela rola. Havia um contraste excitante entre a pele branca e a pele negra. Ele balançou o mastro do companheiro que sentiu-se mais excitado, vagarosamente aproximou a boca. A cabeça do pau de Renan era mediana e pontuda, cor de vinho. Inicialmente, Pietro esfregou-a nos 48
lábios, como se passando batom, depois aproximou e deslizou o nariz sobre ela sentindo o cheiro salgado e o calor que emitia, e então introduziu na boca. Renan tinha poucos pentelhos encaracolados, seu pau era reto e longo com a cabeça um pouquinho empinada para cima. Notava-se o traço verde claro da veia principal pulsando por debaixo da pele negra. Tinha o saco grande e flácido com as duas bolas uma mais alta que a outra, diferença mínima que dava água na boca. No início sentiu um leve gosto salgado de urina. Cuspiu e voltou a chupar, ai o gosto já melhorara; Renan dava leves estocadas aproveitando o momento. Sua calça jeans azul tinha muitos bolsos e estava abaixada de forma a só o pau ficar para fora e o resto coberto. Usava uma cueca samba canção quadriculada e tinha um ralo caminho de pelos que descia do umbigo até virar a mata negra ao redor de seu caralho. Ele continuou estocando levemente e sentiu quando o garoto afastou a boca para lamber seu umbigo. Pietro ergueu a camiseta corintiana lentamente a procura do mamilo chocolate, quando o encontrou começou a sugá-lo como fizera no caralho e no umbigo. Renan segurou-lhe a cabeça forçando a prosseguir com a boca naquele local, estava adorando a sensação diferente, e então Pietro afastou-se deixando a camiseta deslizar até recair sobre a base do pau. – Me beija de novo? – pediu sussurrando em sua orelha com o brinquinho prata. – Só se você deixar eu te foder gostoso?! – Renan murmurou sorridente. – Promete que não vai doer? – A vozinha de Pietro fazia o caralho de Renan latejar. “Que viadinho”, ele pensava. – Você agüenta uma rola de 18 centímetros? Pietro arrepiava quando o bafo quente do garoto tocava-lhe o pescoço na região próxima a orelha. – Você já me fodeu antes, esqueceu? – sorriu maliciosamente. – É verdade – Renan sorriu comprimindo-lhe a boca entre os dedos; Formara-se um biquinho que brilhava molhadinho – Foi o melhor cuzinho que já comi – e aproximou a boca sugando-lhe novamente os lábios. 49
A boca de Renan era quente, roçar a língua a dele era excitante, ele sabia o que estava fazendo e onde queria chegar. – Gostou? Agora me deixa sentir seu cuzinho – Sussurrou e o garoto virou-se. Renan abraçou-lhe por detrás arriando a calça preta. Abaixou-a junto com a cueca até o meio das coxas e pediu para que ele se inclinasse sobre o caule torto da árvore. Pietro sentiu o próprio pau tocando a superfície sólida melecando-a com a baba que também umedecera sua cueca. Enquanto isso, Renan abaixava a calça e em seguida a sunga, deixando-as na altura dos joelhos. O vento frio tocava-lhe a bunda e sentia a camiseta dando leves batidinhas. Ajeitou o boné que estava folgado e levou dois dedos a boca que salivava de desejo. Renan começou a molhá-los com a saliva grossa e em seguida levava até o rego do garoto. Tornava a molhá-los e levar até o cuzinho de Pietro. Em seguida chegou bem pertinho e começou a massagear dando leves apertadinhas, forçando o dedo do meio a penetrar por aquela portinha tímida. Pietro sentia o garoto curvado sobre si, o cavanhaque roçava-lhe o pescoço e ouvia imoralidades bastante excitantes. – Você quer experimentar o cacete do negão é? Vou deixar você molhadinho aqui atrás, você quer? Vou te comer devagar e depois vou ir aumentando a velocidade até colocar minha gala lá no meio do seu reguinho... vou pincelar minha Jeba nessa bundinha branquinha e você vai ficar todo grudentinho...você quer? E Pietro sussurrava que sim e novamente que sim, então Renan levantou sua camiseta, com a mão direta posicionou o caralho no cu do garoto e com a esquerda esticou o buraquinho. Forçou um pouquinho mais não entrou, tentou novamente, mais parecia não querer render-se ao seu pau. Foi então que aquela frase de Roberto latejou novamente em sua mente: “É tão apertadinho que não consegui enfiar...” Nossa, aquilo era muito, muito excitante. Precisava sentir aquele cuzinho apertando seu pau novamente, como na construção. – Relaxa e abre a portinha vai... relaxa que não vai doer – Sussurrava para Pietro. “É tão apertadinho que não consegui enfiar...” “Aiii meu deus... vamos lá, vamos lá...” Renan arfava e massageava 50
tentando introduzir-se nele até que sentiu as preguinhas se desabrochando sobre a cabeça do seu pau, elas foram abrindo e ele empurrando, elas abriram mais um pouquinho e ele empurrou mais um pouquinho, e então penetrou Pietro que gemeu com o ardor. – Preparado? – Renan arfou. – Sim – Pietro também desejava experimentar aquela sensação. A camiseta suspensa deslizou por seu peitoral, roçando sobre o tórax e por fim ocultando o coito. Ela escondeu a bundinha de Pietro e o caralho enfiado até a metade. Renan o pegou pela cintura e foi enfiando o restante devagarzinho. Pietro sentia o mastro entrando, as veias de Renan pulsavam e ele sentia cada ondulação passando pela bordinha de seu cu, até que a penca de bolas quentes e peludas o tocou. – Vou deixar descansar um pouquinho tá? – Renan sussurrou – Vira a boquinha pra cá – pediu e Pietro virou a cabeça alcançando sua boca. Renan era alguns centímetros mais alto e isso ajudou. Limitaram-se a roçar as línguas por fora da boca então Renan começou a chupar seu pescoço e a fazer o movimento de vai e vem. – Arrff... Arrrfff.. AAAAAArrrrf... Pietro gemia toda vez que o pau negro entrava forçando-o a se esticar sobre o caule da árvore. A camiseta de Renan roçava-lhe o bumbum e aquilo era excitante. – Porra branquinho, você tem um cuzinho apertadinho mesmo em... que delícia – Renan bombava e sentia a pressão sobre o pau toda vez que estava dentro. – Arrff... Arrrfff.. AAAAAArrrrf... – Era a única coisa que Pietro fazia e então Renan aumentou a velocidade. – AAAAAArrrrf... AAAAAArrrrf... AAAAAArrrrf – Tá gostando? – Perguntou – Estou – ele respondeu sem voz – Tá gostando muito? – Bastante... – Quem mais forte? – Pode ser... E Renan foi à loucura. Se não fosse o vento, o barulho das peles se batendo iria chamar atenção. – Vou gozar no seu cuzinho, você quer o leitinho do negão? 51
– Vai... Vai... – Pietro gemia.
Renan sentia a gala quente chegando. Ele estava com a testa suada e não queria desencaixar por nenhum minuto, “É tão apertadinho que não consegui enfiar...” – Delicia... AAAAAArrrrf... AAAAAArrrrf... AAAAAArrrrf “Só consegui esfregar, o cuzinho dele é muito apertado” – Vai, Vai... AAAAAArrrrf... AAAAAArrrrf... AAAAAArrrrf Renan ficava louco ouvindo a frase ressoar em sua mente. “Só consegui esfregar, o cuzinho dele é muito apertado... muito apertado... muito apertado” Ele deu a última estocada com força sentindo a pele do pau esticada. Então o líquido fez seu caminho e esporrou dentro de Pietro. Ainda com o pau atolado, Renan se encurvou sobre o garoto e chupou-lhe o pescoço, depois sussurrou em seu ouvido: – Tá sentindo ele amoler? – Estou – Pietro tremulou a voz. – Me beijar de novo, Vem – Renan aproximou a cabeça e as bocas se encontraram. Conforme o pau ia murchando o próprio cuzinho de Pietro ia empurrando o membro para fora com toda a goza que tinha cuspido lá dentro. Ao fim Pietro ficou inclinado sobre o caule da árvore com os olhos fixos a outros olhos cintilantes logo a cima, o da coruja. Do outro lado, Renan se limpava e subia as calças, inclinou-se até a mochila e de lá retirou uma garrafa de vodka e um cigarro. Pietro permanecia imóvel, sentindo o vento beijando-lhe o bumbum ardido. – Você bebe? – Renan perguntou – Fuma? Ele colocou o cigarro na boca e usou um isqueiro para acendêlo, deu um trago e liberou a fumaça que se espalhou pelo vento. – E então? Quer beber? Pietro virou-se com algo diferente no olhar. – Beber? – fez uma pausa – Seu leitinho? – Completou Renan deu uma gargalhada cretina. – Não. Esse não. Esse já acabou, mas talvez depois eu te dê mais. Estou falando de vodka. Você quer? – levou a garrafa à boca e deu um gole. 52
– Só se você der na minha boca – Pietro provocou. – Puts . Eu fui o primeiro a te beijar de língua,
a comer teu cuzinho e ainda quer que seja o primeiro a te dar de beber? – Renan deu outra gargalhada e um novo trago no cigarro – Ok, vem aqui – Soltou a fumaça e escorou o garoto na árvore – abre a boca vai – colocou o gargalo da garrafa nos lábios de Pietro – agora fecha igual você fez no meu pau – A garrafa realmente lembrada o pau de Renan, era marrom e só faltava a cabeçona cor de vinho. Quando Pietro fechou os lábios envoltos ao gargalo, Renan levantou a garrafa e o líquido desceu lentamente enchendo a boca do garoto. – Tem que engolir. Vai engole. Pietro engoliu e sentiu o líquido arder em sua garganta. – E ai? É bom né? – Renan deu outro trago e soltou à fumaça – Melhor que isso só a minha rola, não é? – Tomou outro gole e sorriu. “Melhor que isso só a minha rola, não é?” – Aquela frase latejou na mente de Pietro. Ela e outra que Renan falara-lhe na noite em que o forçou: “Vem beber meu leitinho, vem putinha”, foi o que disse antes de o obrigarem a retornar a escuridão da construção. “Vem beber meu leitinho, vem putinha” – A frase continuava a latejar enquanto observava o garoto dar outro trago e soltar a fumaça. A coruja piou na copa da árvore e o vento zumbiu. – Agora é sua vez – Pietro falou enquanto tirava a garrafa das mãos de Renan. – Como assim? – O garoto ficou parado esperando a resposta. – É sua vez de beber do meu leitinho – Pietro falou com voz safada. – Mas você que é o boqueteiro – Renan deu uma gargalhada e apertou o pau. – Mas eu não disse aquele leitinho e sim este – Balançou a garrafa de Vodka. – A tá. Então você quer dar na minha boquinha é? Mas , e depois? – Renan sussurrou sugestivamente. – Depois você pode dar outro trago – Pietro sorriu. – Hum, e depois de dar outro trago? – Mordeu os lábios e esfregou o pau. 53
– Ai você geme longamente.
Essa frase fez o caralho de Renan latejar. – Então vamos lá – abriu a boca, mas Pietro colocou o dedo indicador sobre ela em sinal de negativa. – O que foi? – Eu seguro este cigarro – tirou-o da mão do garoto – e você outra coisinha. – Hummm , você é um putinho – Renan entendeu o recado. Puxou a rola negra para fora e ficou a masturbá-la levemente para que enrijecesse. O vento soprava e a ponta do cigarro faiscava. Pietro apoiou o gargalo em sua boca e foi levantando devagarzinho. A vodka inicialmente caiu diretamente dentro da garganta de Renan, mas logo o vento atrapalhou e a bebida alcoólica derramou pelo queixo, escorrendo pelo pescoço, ensopando a camiseta. Pietro abaixou e sussurrou: “bebe meu leitinho” – e jogou o cigarro com a ponta faiscante em sua garganta – “putinha” – completou observando o fogo se alastrar rapidamente em contato com o álcool. Azul e destruidor, desceu pela garganta, queixo, pescoço e incendiou Renan que caiu rolando pelo chão. Ao virar-se para sair, a última coisa que Pietro ouviu foi o garoto “ gemendo longamente ”, com o inferno brotando de garganta.
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CAPÍTULO 5 Ossos do ofício “Uma série de crimes vem aterrorizando o vilarejo de Santa Úrsula. Os corpos de três adolescentes foram encontrados nus, em locais distintos, com assombrosas marcas de tortura e mutilação. Algo em comum chama atenção, o sinal deixado pelo assassino sobre o tórax das vítimas: uma meia lua talhada em sangue. No momento as investigações correm sob segredo policial e são lideradas pelo 1º sa rgento da PM, Williamar Borges” – Jornal de grande circulação.
“Um dos adolescentes estava com o p escoço destroçado, outro possuía cinco cruzes de madeira fincadas pela boca, já o terceiro, fora terrivelmente incendiado. As investigações revelaram que todos mantiveram relações sexuais antes da morte. A polícia trabalha com a hipótese de um serial killer ” – Jornal de média circulação.
“Qu al o motivo dos assassinatos? Qual o padrão utilizado pelo assassino ao escolher suas vítimas? Porque o símbolo de meia lua talhado no peito? Estas perguntas persistem depois de uma semana de investigação. Tentamos falar com o responsável pelo caso, mas o sargento Williamar Borges prefere evitar a imprensa” – Reportagem de telejornal. “Seria o sargento competente para solucionar o crime? A população começa a duvidar. Uma semana após o primeiro homicídio, a identidade do serial killer permanece oculta. Enquanto isso, a sociedade evita sair durante a noite, temendo novos assassinatos ” – Web Site de investigações criminais .
Ele estava sentado na cadeira giratória junto à mesa cheia de papéis. Desde o aparecimento do último corpo a imprensa não 55
parava de telefonar em busca de novas informações. Os olhos fundos revelavam à insônia que dominara o policial. Só nos últimos dois dias, o jovem sargento já havia interrogado trinta pessoas, entre elas, adolescentes, pais e funcionários da escola. Descobriu que os três mortos participaram de uma festa junina na semana anterior. Ambos eram amigos e naquela noite deixaram o colégio juntos, deste ponto em diante, ninguém sabia informar o que aconteceu. Esbarrando neste “buraco negro”, o sargento intimou os outros três nomes exaustivamente mencionados a prestarem depoimento. Acompanhado dos pais, Jardel explicou que após deixarem a escola foram para a praça e lá permaneceram até o início da chuva forte. Jonathan estava com a mãe, não confirmou e nem negou a versão do colega, apenas incluiu que após a festa seguiu para a casa. Roberto também foi interrogado, mas, sua versão era a mais distorcida. Disse inicialmente que passaram em uma lanchonete, depois mudou a versão afirmando que tinham ido para a praça e só quando a mãe o deixou sozinho com o sargento confessou terem usado maconha e por isso não se lembrava bem. Visivelmente os três escondiam algo, e talvez a chave para o mistério. Ao fim daquele dia Will sentia a cabeça latejar. As têmporas estavam altas e pulsavam forte. Mesmo muito cansado, o jovem sargento persistia em trabalhar. Seus olhos verdes claro trilhavam as várias linhas textuais dos depoimentos. Analisava ainda recortes de jornais, impressos da internet, laudos e mais laudos do instituto médico legal. Fazia diversas anotações, mas tudo parecia levar a lugar nenhum. Estava com o estômago embrulhado de observar as fotos dos cadáveres e ler os minuciosos detalhes técnicos. Ao levantar a cabeça para descansar a visão, sentiu a sala rodopiar e respirou fundo. Toc... Toc... Toc... Alguém bateu à porta. – Pode entrar – disse levantando-se para pegar um novo copinho de café. O rosto e pescoço estavam vermelhos, a farda amarrotada e retorcida. O cheiro de suor era disfarçado pelo forte desodorante e a barba ainda estava por fazer. – Sargento Williamar? – Perguntou o senhor de terno preto e 56
gravata vermelha. Ele era um representante da vara de família. Will confirmou com um aceno de cabeça enquanto bebia o café e o conduziu a cadeira. Observou o senhor abrir uma pasta e retirar o envelope pastel que logo o entregou. Após assinar o termo de recibo o sargento acompanhou o homem até a porta e voltou à mesa para ver do que se tratava. “PROCESSO JURÍDICO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO”
O título estava em negrito e o texto intimava-o a audiência marcada para os próximos dias. “ Divórcio”, ele sentiu a tristeza aperta-lhe o coração. Talvez a culpa devia-se a jornada de trabalho desgastante ao qual foi obrigado a se submeter depois da elevação de cargo. Vivera com a esposa por seis anos e agora, passava pela pressão psicológica da separação. Eles casaram-se muito novos, aos 21 anos. Amava a loira carioca desde o primeiro dia que se esbarraram nos corredores da faculdade. O romance durou um ano e então se casaram. Naquela época ele era apenas um oficial de patente inferior. Com esforço e apoio da mulher logo cresceu, aos 26 anos tornara-se sargento da polícia militar. No início foram tudo as mil maravilhas, chegava cedo, sobrava dinheiro, eram felizes. Mas então o trabalho o consumiu. Chegava em casa tarde e suado, queria tomar um banho, comer uma comida quentinha e depois abraçar a mulher que tanto fizera falta durante o dia, mas não foi assim que aconteceu. Ela dedicava-se a brigar e reclamar dos horários do marido, não queria compreender quando chegava de madrugada ou se precisava virar a noite em um local do crime. Ela passou a se tornar um peso psicológico e com o tempo o militar sentia-se o mais velho de todos os veteranos. No trabalho as pressões e cenas dos crimes detonavam seu cérebro. As imagens da crueldade de cada homicídio, as palavras dos bandidos, os gritos das mães de menores presos, tudo voltava durante seus sonhos fazendo-o acordar assustado durante a noite e acabar despertando a mulher. Will só precisava de um beijo e um abraço, de uma palavra amiga de que tudo ficaria bem, mas a esposa mandava-o calar a boca e voltar a dormir. E assim a insônia foi chegando aos poucos. 57
Mesmo diante de tudo, continuava a amá-la. Fazia o possível para evitar tocar no assunto sobre o trabalho, fingia-se de forte, fazia-se de apoio e fingia não precisar de apoio. Com o tempo viu os reflexos de reprimir a dor, perdera o vigor sexual. Certa noite, após tratar de um assunto muito chocante, chegou em casa e encontrou a aliança descansando sobre o bilhete na cama: “Você não é o mesmo, acabou”. A partir deste dia passou a pernoitar na delegacia. Não tinha motivos para voltar a casa, doía saber que apesar dos esforços ela o abandonara, doía saber que chegaria cansado e tudo estaria escuro, que tudo estaria solitário, que não haveria ninguém para abraçá-lo e dizer que estava tudo bem. Ocultou a dor, sufocou a tristeza e afogou-se ainda mais no trabalho. Trimmmm... Trimmmm... O telefone tocou. Do outro lado da linha era seu superior. O homem cobrava agilidade e mais esforço nas investigações (como se o sargento não estivesse dando o máximo de si). Não queria desculpas e sim o caso resolvido. A imprensa estava o pressionando e o chefe geral da polícia militar também. Will sentia que a cabeça explodiria a qualquer momento, o coração descompassava e estava à beira de um colapso, percebia. Os olhos esverdeados possuíam traços avermelhados das veias dilatadas e as do pescoço pulsavam freneticamente fazendo-lhe suar. A vida pessoal e profissional parecia duas paredes fechando envolta de si. Vinham se aproximando, se aproximando até que em algum momento o esmagaria tamanha a pressão. Ele respirou fundo observando o luar subindo pelo horizonte. A noite caíra e nem percebeu. “Vamos lá. Preciso continuar”. Tornou a respirar fundo. Afrouxou o cinto, a gravata e abriu o primeiro botão da camisa social, então, voltou a remexer as pilhas e pilhas de papel fazendo suas anotações. Era tarde, finalmente o deixariam sozinho. O relógio marcava nove horas. “Simbologia – Analise da l ua nas civilizações” . Era o título do artigo que imprimira da internet na noite que o corpo do garoto carbonizado fora encontrado. “A lua foi cultuada por muitos povos das antigas civiliza ções. Os egípcios acreditavam que ela era a esposa do sol. Responsável pela fertilidade e deusa das 58
colheitas. Os persas acreditavam que era a senhora dos sonhos, regia a travessia entre o físico e espiritual, já os astecas a veneram com sacrifícios de sangue feito sobre as pirâmides. Nesse ritual era arrancado o coração da vítima ainda viva e jogado escadaria abaixo em meio ao gemido de prazer das prostitutas culturais. A lua era vista como deusa regente da morte e senhora da atravessia entre os mundos ”. Com um marca texto amarelo o militar destacou parte da pesquisa. Feito isso colocou as impressões de lado e pegou um grosso fichário preto que continha texto e mais textos dos últimos depoimentos sobre o caso da lua de sangue. Will levantou-se e seguiu até a máquina de café, levou consigo um encadernado. Decepcionou-se ao ver que o café havia acabado e pensou solicitar que a copeira trouxesse mais, entretanto, era 21:30 e a senhora certamente já havia ido embora. Cansado e com os olhos ardendo ouviu a porta ser aberta e um amigo oficial entrar. – Will? – O oficial o tratou informalmente sabendo que a delegacia estava vazia – Não acredito que ainda está aqui cara – ele disse sentando-se de frente a mesa do sargento e observando a papelada. – Preciso solucionar esse caso. A supervisão está pressionando e não consegui resultados concretos – Williamar jogou o encadernado sobre a mesa e afagou as laterais da cabeça com as mãos. Ele tinha um cabelo acastanhado em corte social, seu rosto másculo e jovem começava a evidenciar pequenas rugas. – Amigo, ouça – disse o oficial – Você precisa descansar. Vai para casa, toma um banho, faz a barba e deite-se. Sua esposa deve estar esperando com a janta quente e carinhos que vão te ajudar a relaxar – O oficial tentou ser amigo, mas, não sabia que o sargento estava em um desgastante processo de divórcio que já duravam dois meses. – Não. Não. Eu preciso, preciso terminar isso – disfarçou o abatimento no olhar. Will sentia um nó na garganta e mesmo assim segurou a vontade de chorar. Voltou a sentar-se e tentar analisar algumas folhas, mas, as letras rodopiavam diante de si. O oficial não agüentava ver aquela tortura. Levantou e tomou os papéis de suas mãos. – Chega cara. Isso é para seu próprio bem. Vá para casa e 59
descanse. Amanhã, revigorado, garanto que conseguirá resolver esse quebra-cabeça. *** O ambiente estava escuro quando entrou pela porta da sala. Escuro, triste e solitário. Na cozinha bagunçada já não havia o bom cheiro da comida quente, na sala, os vários pacotes de salgadinho e latinhas de cerveja espalhavam-se no canto do sofá, e no quarto a cama permanecia com o mesmo lençol de dois meses antes. Desde que ela foi embora passara a dormir no sofá. A cama ainda tinha o perfume da amada, no travesseiro seus fios de seu cabelo loiro. Na mesinha de cabeceira as fotos do tempo de faculdade e em um canto o último roupão que usou. Tudo permanecia da mesma forma lembrando o dia em que foi abandonado. Ele pegou uma toalha e entrou no banheiro. Tirou a farda suada e amassada descartando num canto junto à porta. Entrou no box de vidro, torceu a válvula e sentiu o jato de água quente tocar sua cabeça, escorrer pelo rosto, pescoço e descer contornado os músculos de seu tórax com poucos pelos. Tinha a pele branquinha com coxas e panturrilhas malhadas. Um belo homem abatido. Não sabia se a água do chuveiro invadira seus olhos ou se as lágrimas reprimidas resolveram escapar. Olhou-se no espelho, e os olhos que antes eram esverdeados ficaram vermelhos pela dor. Após o banho vestiu uma samba canção com estampas do exército e calçou as havaianas brancas. Dirigiu-se para a cozinha onde pilhas de louças sujas ocupavam a pia. Sobre o balcão, pegou a copo de macarrão instantâneo, abriu o lacre e colocou a água que havia aquecido no microondas. Aquela seria a refeição da noite. Seguiu para o sofá, empurrou as cobertas jogadas abrindo espaço para deitar e no escuro comeu o insípido alimento. Colocou o copinho ao lado, junto às latinhas de cerveja vazias, ajeitou a cabeça na almofada, colocou o braço sobre os olhos e respirou fundo. O relógio na parede rompia o silêncio. As horas corriam, mas o sono não chegava. Afastou o braço de sobre os olhos e ficou a observar a luz do 60
poste refletida no chão através da porta de vidro. Ficou caladinho com seus pensamentos, não conseguia adormecer. Resolveu levantar e se vestir. Procurou uma roupa esporte limpa, mas não encontrou nenhuma, a pilha de roupas sujas já havia transbordado no cesto. O jeito era vestir a farda que trouxera hoje da lavanderia. Sua roupa de trabalho era a única coisa que tinha necessidade de manter impecável. Calçou os sapatos, pegou a arma e as chaves do Siena preto. Em alguns minutos estaria saindo da garagem para rodar pela cidade. Will seguia pela avenida principal, tudo estava pacato, tudo estava em breu. Os moradores temiam ficar nas ruas depois das dez da noite. Passou por algumas vias, virou em outras, fez curvas, observou os comércios fechados. O vento entrava pela janela lateral e soprava-lhe os cabelos, ajudando a esfriar a cabeça. Quando cruzava as proximidades da praça das fontes observou a lua. Diminuiu a velocidade e com a cabeça virada para a janela lateral a admirou. Brilhava perfeitamente, mas já não estava redonda, começava a minguar. O vento beijava-lhe a face avermelhada e trazia lembranças. Antes era tudo tão mais fácil, tão divertido e real. Tornou a olhar para frente a fim de fazer a curva em torno da praça. Assustou-se com o baque e a silhueta negra caindo frente ao carro. Will atropelara alguém. *** As luzes do Siena ficaram a piscar e o carro travou no momento do baque. O sargento ficou tonto sem saber o que tinha acontecido. Abriu a porta e deu a volta em passos apressados. No chão, a silhueta estava de bruços, encolhido e imóvel sob o luar. O sargento mais que depressa se aproximou, abaixou e o estirou no asfalto. Os olhos de Pietro brilhavam de um azul vivido e cruzou-se com o olhar do sargento Will. A pele estava branca e os cabelos com pontas avermelhadas balançavam ao vento. – Não se mexa, fique quietinho – Will falou ofegante – Puts , de onde você surgiu companheiro? – O sargento preocupara-se com o garoto. Era só o que faltava, agora seria pressionado também por imprudência no trânsito. Prato cheio para a imprensa – Você está 61
machucado? – falou enquanto levava as mãos para apalpar os braços e o pescoço do garoto. – Tudo bem. Estou bem senhor – Pietro falou observando aquele homem preocupado com o que fizera. O corpo do sargento estava contra a luz da lua e Pietro não conseguia ver seu rosto com perfeição. – Tem certeza? Fica parado – ele pediu – Sente alguma coisa? – nervoso o militar apalpava as pernas do garoto certificando-se de que não quebrara nenhum osso. – Estou bem, senhor – Pietro falava com voz retraída, como se não entendesse que acabara de ser atropelado – Não se preocupe – completou. – Como não me preocupar amigo? Atropelei você – e então Pietro sentiu a estranha sensação percorrer-lhe o corpo – Fica quietinho – O militar o envolveu nos braços, ergueu com cuidado contra o peito e deu a volta no carro. Pietro não sabia como reagir, estava atônito. O sargento Williamar o colocou no banco traseiro. Usou um cobertor para cobri-lo e uma almofada para a cabeça, só então o carro arrancou em direção ao hospital. O local não estava muito movimentado, alguns pacientes circulavam em cadeira de rodas tomando soro e as recepcionistas conversavam aproveitando a noite tranqüila. Will esperou que os médicos fizessem todos os exames, aguardou na recepção até ver o garoto vestido de negro aproximar-se acompanhado de uma enfermeira. – E então senhora? – O sargento perguntou. – Não se preocupe, o rapazinho teve apenas leves arranhões. Will olhou para seu rosto e percebeu os traçinhos avermelhados próximos a boca e sobre a bochecha. Outra vez os olhos esverdeados tornaram a se encontrar com os de Pietro e abriu um sorriso afagando-lhe os cabelos. – Amigo, você me deu um susto. Pensei que tinha se machucado – Esboçou outro sorriso de alívio e acompanhado do garoto voltou ao siena . O carro seguia pela avenida iluminada por postes de luz fluorescente. O militar revezava o olhar para a rua e para o garoto 62
sentado no banco ao lado. Em completo silêncio. – Vou deixá-lo em casa, pode ser? – Perguntou. – Prefiro que me deixe na praça, senhor – Pietro pediu com a voz retraída e olhos fixos nas mãos. – Mas você passou por um trauma e já está tarde. Tem certeza que quer ficar perambulando por ai? – hesitou em tocar no assunto, mas precisava alertar o garoto – O assassino pode estar em qualquer lugar. Will voltou a sentir-se triste ao lembrar-se de trabalho. – Eu prefiro, senhor – Pietro confirmou levantando os olhos. O carro fez uma curva, depois outra, passou frente ao colégio, seguiu por uma longa avenida e então o sargento estacionou frente à fonte vandalizada. – Chegamos – Destravou as portas e observou o garoto descer. Pietro não se virou, não agradeceu, não se despediu. Apenas seguiu em frente rumo à fonte. – Ei Amigo – Will gritou – Espere um pouco – Saiu do carro, colocou o paletó azul e aproximou-se do garoto – Posso te fazer companhia – abriu um sorrisinho como se implorando por alguém para conversar naquela noite fria. Eles sentaram-se na fonte sentindo o vento soprar o cabelo. Observavam as folhas secas correrem pela rua, um gato fugir para a escuridão, uma coruja cruzar a lua, e o silêncio. Ambos ficaram em silêncio ouvindo o zumbir do vento nas árvores. – Você estuda? – O militar tentou puxar assunto. – Sim – Pietro respondeu sem fazer movimentos. – Legal. E qual série? – O militar prosseguiu. – Segundo ano do ensino médio, senhor – respondeu. – Eu gostava dos meus tempos de ensino médio. Era um dos melhores alunos, campeão de natação – O militar abriu um sorrisinho tristonho lembrando-se das competições que ganhara. Enquanto contava as recordações girava nas mãos uma boina azul da polícia. – Faz tempo que saiu da escola? – Pietro virou-se e perguntou. Will abriu um sorriso e respondeu. – Sim, sim – apoiou a boina da PM ao lado – Terminei há nove anos. Tornou a sorrir e ouviu a nova pergunta do garoto. 63
– O que é isso? – Pietro observou o objeto ao lado. – Isso? – Will ergueu o acessório – Isso é uma boina – observou os olhos azulados do garoto – Aqui... – Will se aproximou e Pietro afastou-se alguns centímetros – Calma – ele deu um lindo sorrisinho e colocou a boina sobre o cabelo do garoto – combinou com seus
olhinhos de céu. “olhinhos de céu? Como assim?” , O sargento estranhou a si mesmo. – Ela é leve – Pietro exibiu um pequeno sorrisinho e o vento tornou a soprar o cabelo para sobre os olhos. O militar retribuiu o sorriso e virou-se a olhar para a avenida, depois prosseguiu a conversa, – Cada patente tem uma diferente. Alguns usam vermelhas, outros pretas, eu por ser sargento uso essa. Legal né? – sorriu novamente. – Aqui – Pietro levantou-se e devolveu a boina para o policial – Preciso ir – Deu alguns passos em direção a uma região mal iluminada sentindo os olhos do militar seguirem-no pelas costas. Antes de adentrar a escuridão, virou-se, – Obrigado – abaixou a cabeça e completou – por se importar. – Por me importar? – o militar levantou sem compreender – Como assim? – colocou a boina sobre a cabeça. – Em saber se eu estava bem – Pietro respondeu e mergulhou no escuro, lá de dentro Will ouviu suas últimas palavras ressoarem ao vento. – Por não me deixar jogado como um bicho qualquer. Will permaneceu observando o caminho que o garoto misterioso tomou e então se lembrou que não havia perguntado seu nome. Levantou para tentar alcançá-lo, mas o telefone tocou. Um oficial informava que acabaram de encontrar um novo corpo, a maldita lua estava talhada sobre o tórax.
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CAPÍTULO 6 Fatality Um conto de Joãozinho
Era noite e o quarto estava em breu. Lá fora, um gato miava e o vento zumbia nas árvores da avenida enquanto uma serena chuva tamborilava no telhado. A luz tinha faltado e o grupo de crianças reunira-se para ouvir o conto de terror. Então a velha começou: Essa história é verdadeira. Aconteceu há muitos anos com o irmão da vó da avó da minha vovozinha. Conta-se que Joãozinho era um menino travesso que gostava de mentir para a mãe e sair escondido para jogar futebol com os moleques perto da cerca do cemitério. Certa tarde a mãe o chamou: “ Joãozinho. Joãozinho”. Quando o moleque peralta chegou, o sol já descia a montanha e os passarinhos estavam indo dormir. Joãozinho era branquinho, cheio de sardas nas bochechas e no nariz. Sua mãe ergueu as mãos e tirou de cima da estante antiga um vasinho de porcelana no formato de um pato, de dentro, recolheu várias moedinhas enferrujadas e colocou nas mãos sujinhas do garoto e disse-lhe: “Joãozinho. Seu pai está quase chegando e preciso que vá até o açougueiro e me traga este dinheiro em carne pra cozinhar”. Quando o moleque ia saindo nas carreiras, sua mãe gritou de longe “ Joãozinho, não demore a voltar”. O moleque subiu a avenida saltitando feito um cabrito, encontrou uns amiguinhos que vinham do campinho de futebol, todos sujos e suados. Envolveu-se conversando sentados na calçada e não viu que a tarde estava indo embora. Foi então que passou um velho vendendo várias guloseimas coloridas: tinha balinha, tinha pirulito que colore a língua, bananadinhas, pé-de-moleque, suspiro, chocolate no palito, uma infinidade a perder de vista. – Joãozinho – disse um dos moleques – Porque você não usa este dinheiro para comprar uns doces pra gente? 65
Joãozinho pensou, sentia a boca aguando com vontade de mascar os chicletes e queria saber quais as figurinhas que vinham nos pacotinhos de pirulito, então lembrou-se, o dinheiro era para comprar carne. – Não posso. É para comprar carne pra mãe – Respondeu aos amigos. – Ahh, Joãozinho – um deles insistiu – não faz diferença. Olha. Você pega essas moedinhas aqui e compra os doces, com as outras vai ao açougueiro e compra a carne. Sua mãe nem vai perceber a diferença. Joãozinho, moleque esperto, pensou e pensou. “O açougueiro não sentirá falta de algumas moedinhas enferrujadas”, deduziu. Chamou o velho, deu-lhe parte das moedas e encheram os bolsos de guloseimas. Após se deliciarem, viu que os postes estavam acendendo e os últimos raios de sol em pouco tempo sumiria do céu. Correu até o açougueiro e pediu-lhe as outras moedas em carne. – Oh Joãozinho menino sapeca – disse-lhe o velho açougueiro de bigode longo – Volte e avise à senhora sua mãe que estas moedinhas não dão para comprar nem o rabinho do porquinho – O açougueiro fez-lhe um cafuné e despediu o menino que saiu com os olhos tristonhos por ter gasto o dinheiro de sua mãe. Ele seguiu vendo a noite chegar e passou perto do campinho de futebol onde jogava bola com a turminha ao lado do cemitério. Foi então que viu lá dentro, uma cova ainda aberta e o caixão recém colocado. Joãozinho pensou um instante, depois decidiu. Foi até o cemitério, aproximou-se do caixão e “vup”, arrancou o braço direito do defunto, colocou na sacola e correu para casa. Naquela noite, na mesa, todos estavam comendo do cozido que a mãe fizera. A irmãzinha repetiu duas vezes e o pai elogiava a maciez da carne no molho. A mãe estava toda orgulhosa porque conseguira agradar o marido com o porco cozido, só não ficara mais feliz, porque ao que parece, Joãozinho estava sem fome e não tocou em um pedacinho de carne. Mais tarde, depois que todos deitaram e as corujas já piavam sob a luz do luar, Joãozinho ouviu um barulho que vinha lá de fora, da rua. Ele ficou quietinho, assuntando o que aquilo seria. Gato não era, 66
cachorro também não, O que será que estava andando na escuridão? Então ouviu a voz fantasmagórica de um velhote a reclamar: – Joãozinho, Joãozinho, onde está o braço que tu me roubaste? Joãozinho ficou pálido e escondeu-se caladinho debaixo das cobertas. Só que a voz tornou a reclamar: – Joãozinho, Joãozinho, onde está o braço que tu me roubaste? Joãozinho tremia e pensou, vou ficar quietinho fingindo que estou dormindo, assim o finado vai embora. Porém, o lamentar tornou-se ameaçador: – Joãozinho, Joãozinho, estou entrando por teu portão. “E agora o que farei?” Pensou o menino e então voltou a ouvir: – Joãozinho, Joãozinho, estou na porta de tua casa. Ele começou a querer fazer xixi na roupa, mas continuou a fingir que estava dormindo; – Joãozinho, Joãozinho, estou passando por tua sala. “E agora, e agora?” Joãozinho sentia o coração palpitar forte e mais forte, a voz continuava a se aproximar: – Joãozinho, Joãozinho, atravesso por tua cozinha. Cozinha? Nossa! A porta do quarto era a seguinte o que faria? – Joãozinho, Joãozinho, estou à porta do teu quarto – disse o finado com a voz lamentosa. Então Joãozinho ficou imóvel, ouvindo-o se aproximar, enquanto rezava ao padrinho padre Cícero. – Joãozinho, Joãozinho – a voz voltou a amedrontar – estou do lado de tua cama. Joãozinho ficou quieto e silencioso. Depois de um tempo nada ouviu. Será que o falecido voltara para cova? Pensou ainda temeroso, precisava descobrir. Então, resolveu abaixar a coberta bem devagarzinho para ter certeza de que estava sozinho na escuridão do quarto. Ele abaixou a coberta um pouquinho, depois abaixou até as sobrancelhas, mais um pouquinho e chegou ao nariz permanecendo com os olhos fechados. Quando viu que nada aconteceu, abriu-os e se deparou com a cabeçona bem próxima ao seu rosto a sussurrar: – Joãozinho, Joãozinho, eu te peguei – E a velha que contava a história deu um grito assustando as criancinhas que ouviam o conto naquela noite de frio. 67
Não sei se a história é verdadeira, só sei que aconteceu com o irmão da vó, da avó, da vovozinha de quem a contava. Moral da História: Nunca se deixe levar pelas amizades.
*** A tarde chegara bem depressa. O sol alaranjado entrava pela porta da sala e resplandecia sobre o tapete amarelo com o desenho de folhas alaranjadas. O garoto estava sentado no sofá com as pernas abertas. Não usava camiseta, exibindo o tórax magro com pequenas voltas de músculos. Em seu pescoço pendia uma corrente grossa de prata e usava short de pano cor creme que descia até o joelho deixando exposto na cintura com cinto, o elástico branco da cueca box vermelha. Jardel tinha a testa banhada de suor, era um domingo muito quente. O cabelo cortado baixo tinha uma pequena franja que ficara toda grudenta. Os fios eram alourados e pretos, a tia fizera recentemente luzes no cabelo do garoto vaidoso. Pela sala, víamos quadros nas paredes. Um deles era de tecelagem feita com barbante branco, preto e vermelho formando o escudo do flamengo, o outro, pintado a óleo, mostrava uma casinha a beira do rio e os demais, antigas fotos de familiares. Na estante estavam uma pequena imagem de nossa senhora com um rosário azul pendurado ao pescoço, alguns livros, fitas cassetes antigas que pertenciam ao pai e a TV grande, na qual o garoto jogava uma partida de futebol do playstation2 . Jardel não estava sozinho, ouvia a mãe cantarolando enquanto lavava as louças na cozinha. Ele tinha os braços apoiados sobre os joelhos, controle joystick nas mãos e atenção total voltada aos gráficos do jogo de futebol. Podia aproveitar o fim de tarde para praticar o esporte com os amigos da rua, mas desta vez, ninguém estava a fim de subir para a quadra. Jardel tinha motivos para temer. No início achara apenas coincidências os assassinatos dos colegas Henrique e Diogo, mas depois que o corpo de Renan fora encontrado não era possível continuar a ignorar. 68
A lembrança da meia lua riscada em seu trabalho escolar fazia subir-lhe um arrepio pela espinha. E se o assassino tivesse feito como nos filmes e realmente o símbolo fosse um aviso? Seja como for, era melhor prevenir. Por este motivo faltou na sexta-feira. Outro assunto também fazia o garoto tremer. Chamava-se, sargento Will. Naqueles dias recebeu uma intimação para que na companhia dos pais comparecesse a um interrogatório. No início temeu tratar-se de algo relacionado às drogas, ele era usuário de maconha e com a morte de Renan temeu ser acusado de participação no tráfico, só então se lembrou do estupro. Será que Pietro os havia denunciado? Relutou em comparecer, mas o pai trancou o comércio mais cedo e juntamente com a mãe o acompanhou a delegacia. Sentiu o coração querer sair pela boca quando os olhos verdes do sargento o encararam e perguntou o que tinham feito após deixarem a festa junina. Obviamente precisou mentir. Como diria na frente dos pais: “fumei maconha, bebi vodka e depois fiquei vendo o Roberto foder o Pietro. Ai o Renan e o Jonathan deram a idéia de entrarmos na brincadeira. A princípio não quis participar, fomos lá apenas para assistir a putaria, mas, acabei sendo convencido pelos outros garotos. Porra, sou homem, meu pau tava duro e o Pietro a fim ”. Ao invés de relatar os fatos, pulou direto para a parte final: “fomos para a praça da fonte e ficamos conversando até que começou a chuviscar”.
Conforme o sol se punha, a sala tornava-se escura. Além da claridade da televisão, a única luz que rompia o breu era a claridade que vinha da lâmpada da cozinha. Gooooooooolllllll.... – Gritou o narrador no playstation2 . Jardel apoiou o controle preto sobre o colo, escorou-se e esticou os braços sentindo o corpo estalar. Cruzou-os atrás da cabeça e permaneceu escorado ouvindo as ordens da mãe. – Jardel, estou indo para a missa e seu pai não vem hoje, ele tá na chácara – Disse a senhora beijando a santinha e pegando o rosário. – O que ele foi fazer lá? – Perguntou enquanto abria a boca de sono e coçava os olhos. O som do playstation2 tocava ao fundo. – Parece que foi buscar a peça de uma vaca pra vender. Falando nisso, depois dá uma ida no açougue e confere se as janelas estão fechadas. 69
A senhora saiu para a garagem e em alguns segundos Jardel a ouvir trancar o portão. O garoto levantou-se, colocou o controle do play sobre o tapete e dirigiu-se a cozinha para pegar uma fatia de bolo. Voltou e sentou novamente com as pernas abertas preparandose para começar uma nova partida. O portão tornou a fazer barulho, era a mãe voltando. – Esqueci o dinheiro para a paróquia – Ela disse seguindo para o quarto e Jardel ouviu o som da senhora abrindo o guarda-roupa e logo em seguida fechando – Estou indo Jardel, até mais tarde. A senhora tornou a sair e ele ouviu o portão sendo fechado. Na televisão o jogo continuava e o garoto era bom no que fazia. O narrador gritava gol e outras palavras que ele imitava por não compreender. Coçou a cabeça e iniciou o novo round , foi então que ouviu a mãe gritar lá da rua: – Jardel. Seu amigo tá chamando – em seguida ouviu-a falar – vai lá filho, ele deve tá na sala. “ Jonathan ”. Pensou de cara. Tinham marcado de jogar naquela tarde, mas devido o acontecimento com Renan não aparecera, era até de se esperar. Virou o rosto tentando enxergar quem se aproximava na escuridão da garagem e então levou um choque. Não era Jonathan. Pelo menos não o Jonathan com o qual conversou há três dias. O garoto usava negro. Literalmente. Dos pés a cabeça, exceto que na cabeça as pontas dos fios eram tingidas de vermelho. – Pietro – falou surpreso. Não acreditava que o garoto fosse o assassino, aquele merdinha era muito fraco para fazer tais coisas. Lembrava-se de certa vez que o garoto “ afeminado” resolveu jogar uma pelada de rua com os vizinhos. Eles eram mais novos, tinham por volta de nove ou dez anos. Além de chutar torto o garoto toda hora reclamava: “ai, machuquei minha unha”, “ai, olha meu pé, tá ficando roxo”. Frescuras de florzinha. Os garotos gostavam de implicar com Pietro só para ver a reação. Achavam muito engraçado. Em uma destas vezes o garoto estava tão irritado que resolveu partir para cima de um dos meninos, conclusão, levou uma surra e voltou chorando para casa. O pai não esta va nem ai, apenas dizia rudemente: “da próxima vê se vira homem”.
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– O
que foi? – Jardel perguntou ainda surpreso. As únicas vezes que Pietro viera a sua casa estava em companhia da mãe, mas ela havia falecido há alguns anos. Suas mães eram amigas. – Vim “jogar” um jogo – Falou misterioso e entrou parando ao lado do braço do sofá. – Jogar? – Jardel ficou confuso. Pietro era a última pessoa que esperaria aparecer para “jogar”. Embora vizinhos e colegas de classe,
dificilmente se falavam, e agora o garoto simplesmente aparece como se tivessem uma longa amizade. Ainda assim resolveu ser cortês – Sabe jogar Soccer FIFA? (era o game de futebol). – Posso aprender – Pietro respondeu timidamente. Por mais que Jardel achasse o garoto super estranho, principalmente agora vestido de “mulher gato” (todo de preto), levantou cedendo espaço para ele
e foi plugar o outro controle no aparelho. Resetou e voltou. As pernas de ambos ficaram próximas, aquele era o sofá de dois lugares. – Eu vou jogar com os Estados Unidos – Jardel apertou o botão, selecionou o time e arrumou um monte de outras configurações em inglês – Agora é sua vez, escolhe o seu time e os jogadores. Observou o garoto manejar com dificuldade, até que resolveu pegar o controle e selecionar para ele, – Qual time você quer? – Brasil – Pietro foi direto. “Tava na cara que era Brasil. Gay não entende nada de futebol” – Jardel pensou, mas não falou nada, apenas limitou-se a configurar o jogo e deixar na tela de partida; – Você é o de blusa amarela e eu o de blusa branca – “vou explicar logo antes que comece a perguntar” – Pensou e iniciaram o jogo. 1, 2, 3... 13 gols contra zero, e olha que o jogo estava apenas nos primeiros minutos. Tentaram novamente, mas Pietro não conseguia acertar uma bola dentro. Jardel até foi legal e fez corpo mole quando viu que o jogador do garoto estava próximo da rede, mas, ainda assim Pietro não acertou. – Quer saber – disse – Enjoei desse jogo. “ Prefiro jogar contra a máquina que jogar com um lesado” – Jardel limitou-se a pensar. Ele levantou e pegou a bolsinha cheia de CDs piratas. – Vamos ver outra coisa – Foi passando, passando, até que Pietro o interrompeu. 71
– Esse é o Mortal Kombat ? – É. Você gosta de jogo de luta? – Jardel ficou surpreso. – Não muitos. Mas Mortal Kombat é legal – Pietro retrucou. – Ok – Jardel jogou a bolsa de CDs no outro sofá, foi
até a estante e substituiu a mídia do Soccer FIFA pela do Mortal Kombat . Na tela apareceram os personagens para escolha, Jardel selecionou o Sub-Zero e Pietro, adivinha? A feiticeira Sindel . O jogo começou. Pietro era bom com aquela personagem. Embora apanhasse muito, sabia fazer os poderes. Jogou com a Sindel , Shiva , Sônia . Já o Jardel preferia o Scorpion , Jax , Smoke . Jogaram por um tempinho e o game permaneceu até equilibrado, então Jardel cansou. Passara o domingo na frente do vídeo-game e seus olhos ardiam. – Pietro eu vou tomar um banho – disse levantando-se e pegando a toalha que a mãe deixara sobre o sofá. Ele a pendurou no pescoço e Pietro observou o contraste entre o pano branco, a corrente de prata e o peitoral nu do garoto. Havia também a cueca box com o elástico para fora. Jardel estava “interessante” – Se você quiser ficar jogando – Disse enquanto desatava o cinto – fica a vontade – completou entrando no banheiro que ficava em um trevo entre a porta de dois quartos e a sala. Pietro permaneceu sentado. Pela claridade que saia por debaixo da porta do banheiro conseguiu reparar na sombra do garoto abaixando o short de tecido. Sentiu-se atraído. Vagarosamente andou até ela e abaixou-se para observar o reflexo na cerâmica. Não conseguiu ver muita coisa e logo o chuveiro foi aberto. Voltou para o meio da sala, escorou a porta e sentou no sofá. Pensou alguns instantes e tornou a dar passos leves de volta a porta do banheiro. Colocou o olho no buraco da fechadura e para sua surpresa, a porta de madeira não tinha chave. Conseguiu ver através do box, o corpo nu do colega. Jardel estava ensaboando a cabeça de olhos fechados, o sabão escorria pelo rosto, fazia espuma na corrente e descia pelo peitoral magrelo em direção ao vulto negro entre as pernas. Não conseguia visualizar com perfeição porque a porta do box estava embaçada pelo vapor. A certo momento, Jardel olhou disfarçadamente para a porta e pressentiu que o garoto estava o espionando. Sentiu o pau eriçar e 72
resolveu provocar. Fingiu pegar alguma coisa do lado de fora só para esquecer a porta do box aberta. Agora sim, Pietro conseguia ver o pau meio bomba sobre a água quente. Jardel começou a ensaboá-lo lentamente, da base a cabeça rosada. Seu pinto era longo, estava eriçando e tinha vários pelos negros no saco grosso, por onde escorria a água do chuveiro. Em seu tórax havia um caminho de pelos lisos que envolvia o umbigo e continuava o percurso até o membro viril. Idéias malvadas começaram a passar-lhe em mente. Ele saiu do box, enrolou-se na toalha e preparou para provocar. Saiu do banheiro e puxou um assunto parando no acesso a sala. Seu intuito era que o garoto observa-se o relevo sob o tecido felpudo. – E ai? Tá conseguindo? – Perguntou sentindo a água escorrer pelo pescoço. – Estou – Pietro fingia jogar, mas estava visivelmente nervoso. – Deixa eu ver – Atravessou para o meio da sala e ficou de costas em pé sobre o tapete. A toalha marcava as laterais de sua bunda magra e Pietro começou a tremer – Nossa você é bom mesmo – Jardel elogiou sentando-se ao lado do garoto – Vamos jogar outra partida depois troco de roupa – Pegou o controle e voltou para a tela inicial. Pietro tornou a escolher a feiticeira Sindel , com ela deu uma surra no Kung Lao de Jardel e venceu. Jogaram novamente, desta vez com outros personagens e adivinha? Pietro tornou a vencer. Estava na cara que o companheiro fazia corpo mole. – Porra bicho. Você é bom – Exclamava em meio às rajadas de golpes e poderes vindos do jogador de Pietro. Após perder três vezes, Jardel resolveu “ propor ” algo – O que acha de apostarmos alguma coisa? – Apostar? – Pietro falou timidamente. – É, apostar. Tipo, se você ganhar eu te dou minha corrente de prata e se eu ganhar você me dá esse crucifixo. Jardel referia-se ao crucifixo prata com pedrinhas vermelhas que Pietro trazia no pescoço. – Ok – Concordou e começaram a disputa. Adivinha? Pietro ganhou. Jardel retirou a corrente ainda molhada pelo banho e entregou ao garoto. 73
– Dessa vez eu aposto a minha corrente de volta, o que você vai querer? – perguntou. – Sei lá – Não tinha nada que Pietro pudesse querer. – Já sei, se você ganhar eu te dou uma blusa do Linkin Park que
tenho ali. Vai ficar legal com esse seu novo estilo trevoso. – Mas será que vai servir? – Pietro perguntou. – Claro que serve. Quer ver? fica de pé – Pietro ficou de pé e Jardel também se levantou – Vira, vamos medir nossas costas – E assim fizeram. Jardel aproveitou a desculpa para prender o pau duro entre as coxas e sentar antes que Pietro percebe-se a excitação – Então vamos lá – Colocou uma almofada no colo para disfarçar. E o jogo recomeçou e mais uma vez Pietro “ganhou”. Ele
esboçava um sorriso confiante no rosto. Sairia dali com uma corrente de prata e uma camiseta preta do Linkin Park, ou será que apenas fingia acreditar que realmente estava ganhando por mérito próprio? – Porra velho. Você ganha direto, assim vou ficar pobre – Jardel sorriu. – E agora? O que vamos apostar? – Pietro perguntou. – Ah, sei lá. Se eu ganhar vou querer minhas coisas de volta e você? – Não sei. Pode ser um CD. – Ok – Jardel concordou e o jogo recomeçou. Desta vez Jardel ganhou. Pietro devolveu somente a corrente já que não tinha pego a blusa. – E agora? – Perguntou Jardel sentindo o pau latejar sob a almofada. – Não sei. As correntes novamente? – Pietro sugeriu. – Ah não. Podíamos aumentar a dificuldade – disse olhando para a tela da TV. – Como assim? – Pietro quis saber. – Tipo – Jardel fingiu pensar por alguns segundo e depois propôs – Se você ganhar eu... eu... chupo a cabeça do seu pau, mas se eu ganhar você chupa a do meu. O que diz? – Eu... eu – Pietro hesitou; – Não precisa se preocupar. Tipo, vai ficar entre a gente – Jardel 74
explicou. Pietro pensou enquanto Jardel continuava a tentar convencê-lo. Por fim topou. Apostas feitas o jogo recomeçou. Jardel esperou Pietro escolher o personagem: Shiva e só então escolheu o Sub-Zero. “tá no papo”, pensou sorridente. Porrada vai, porrada vem. Fim do primeiro round , início do segundo. Fight . E adivinha quem ganhou? Sim. Como era de se esperar Jardel conseguiu vencer Pietro. – Iiiii cara. Agora você vai ter que pagar – Jardel abriu um sorrisinho safado. Pietro hesitou por alguns instantes, mas não podia fugir. Aposta é aposta. – Ok. Cadê? – disse timidamente. Jardel sentia o sangue pulsar quente e o calafrio de desejo subirlhe a espinha. – Vamos ali pro meu quarto – o conduziu ao local privado. *** O quarto de Jardel só estava organizado porque a mãe arrumara a casa naquela tarde. Havia uma cama de solteiro com o lençol elástico cor verde, um guarda roupas de casal com espelhos na porta, escrivaninha com um computador e dois quadros na parede. Em um estava o time do flamengo de 1990 com aquela típica pose: alguns em pé e outros de cócoras, todos com braços cruzados. O outro também era de futebol, mas era o escudo do flamengo, podíamos ver também a mascote urubu em pelúcia sobre a cama. Na janela estava uma cortina verde. Jardel esperou o garoto entrar e fechou a porta. Tirou a toalha e jogou sobre a escrivaninha. Seu pau estava duro e víamos a veia principal pulsando. Pietro sentou na cama sentindo o cheiro de sabonete que vinha dos pelos pubianos recém lavados do companheiro, aproximou a boca e envolveu a glande de Jardel que levantou a cabeça ofegante observando a lâmpada fluorescente no forro de PVC. Pietro sugou com delicadeza. Deslizava a língua contornando toda a cabeça do pau e sempre que se aproximava do filzinho na 75
extremidade dela Jardel esticava os pés de tesão. O garoto pensou em dizer que já podia parar, o acordo estava cumprido, mas, a língua de Pietro era tão gostosa, que preferiu deixar que continuasse a pagar o boquete. Depois de uns dois minutos, Pietro afastou-se limpando a boca. Jardel pensou em voltar para sala e apostar novamente, mas, os hormônios estavam agitados. Quando um homem está de pau duro a última coisa que lhe sobra é paciência. – Pietro – sussurrou ofegante – Você gostou da corrente e da camisa do Linkin Park? – Perguntou. – Gostei. Por quê? – O garoto permanecia sentado na cama observando o companheiro dando leves apertadinhas no pau. – E você, quer elas? – tremia enquanto falava. – Pode ser – Pietro não usou muitas palavras. – Olha – Jardel tirou a corrente – Eu te dou as duas e também o cd se você... – hesitou, mas estava muito longe para interromper – Se você deixar eu colocar o pau na sua bunda. Pietro levantou-se e Jardel achou que ele iria embora, mas não, o garoto simplesmente abaixou a calça jeans, puxou a camiseta e se estirou na cama de solteiro. Jardel não acreditou no que viu, mas não queria perder tempo pensando. Trancou a porta do quarto e apagou a luz. No escuro bateu uma punheta e subiu na cama. A luz da cozinha entrava por debaixo da porta deixando o quarto um pouco claro. Jardel apoiouse por cima dele abrindo-lhe as bundas, abaixou-se levemente e ajeitou a rola no meio do rego branco de Pietro. Em seguida começou leves movimentos de vai e vem sentindo a pele do pau deslizando enquanto ouvia o estalar da cama. Pietro permanecia parado com os braços cruzados e a cabeça apoiada sobre eles. – Nossa, você tem uma bundinha gostosa – Jardel falava. Continuou a se esfregar por algum tempo deixando Pietro com a bunda lambuzada pela baba do pau, então pediu – Me chupa de novo? – Esperou a confirmação do garoto e levantou-se. Pietro sentou na cama e recebeu a rola na boca. Passava a língua pela cabeça rosada e já conseguia sentir as veias que faziam relevos na base daquele pau delicioso. Chupou, chupou, sentindo o sabor de pau lavado. Afastou a boca e falou no ouvido do 76
companheiro: Jardel – fez fez uma pausa ouvindo a respiração ofegante – Quer Quer – Jardel enfiar no meu cu? O pau de Jardel latejava com a ideia safada, mas, – Eu não consigo. Aquele dia só enfiei porque você já tava arrombado. Mas porque não tenta? – Pietro Pietro sussurrava ofegante enquanto – Mas o punhetava. – Por que... Por que... – Jardel gaguejou – Não sei. Continua chupando. Jardel gostava de ser chupado, mas Pietro ficou intrigado. Porque ele não queria enfiar o caralho dentro de seu cu? Então entendeu. Jardel tinha nojo de o pau sair sujo. Jardel – sussurrou sussurrou e foi discreto ao falar – É É só arrumar uma – Jardel camisinha. Falar aquilo deixou o garoto mais excitado. Pietro voltou a chupar para que não amolecesse. – Espere ai – Jardel sussurrou – Acho que sei onde meu pai guarda. Com o pau duro correu no quarto em frente. Dentro do guarda roupas dos pais, na parte alta, havia uma caixinha encapada, subiu na cama e a pegou. Remexeu alguns papéis, fotos, peças para alguma coisa e enfim encontrou o envelope que o pai pegara no posto de saúde. Havia cinco tiras de camisinha com cinco unidades em cada. Os pacotes eram amarelos com o rostinho sorridente do smille . Ele pegou uma cartela e guardou as outras cuidadosamente onde a mãe colocara. Antes de voltar para o quarto, q uarto, conferiu as horas em um u m pequeno relógio sobre a estante. A mãe demoraria chegar, o padre era muito enrolado e foi por isso que o garoto parou de freqüentar as missas de domingo. Aqui. Achei – Quando Quando fechou a porta do quarto, reparou que – Aqui. Pietro estava pelado e se masturbando. Não disse nada, apenas abriu o saquinho de camisinhas e sentiu o cheiro do plástico lubrificado. Começou a colocar, mas estava tremendo, se enrolou todo. Espera, deixa eu fazer isso – Pietro Pietro falou reparando que aquela – Espera, 77
era a primeira vez que Jardel tivera contato com uma camisinha. Abriu outro envelope, segurou na pontinha pontinha do objeto circular, chupou o pau de Jardel novamente, posicionou, puxou e pronto, aquele pau melado estava protegido. Vira – Jardel Jardel pediu e Pietro sorriu pela pressa. Estava na cara – Vira que a primeira relação sexual de Jardel foi aquele dia na construção. Quem diria, o cu de Pietro tirou tirou a virgindade v irgindade do vizinho vizinho machão. Calma. Tem creme? – Pietro Pietro perguntou. – Calma. Ouviu Jardel abrir a porta do guarda-roupa e trazer – Tenho – Ouviu um pote. Ele mesmo se lubrificou, porque, se Jardel tinha nojo de enfiar o pau no cu de alguém, imagina o dedo. – Pronto. Pietro ficou de frango assado esticando o cu para facilitar. Vem – E sentiu Jardel ir com sede ao pote. Seu pau foi deslizando, deslizando e penetrou. Deste ponto em diante Jardel não precisaria de ajuda e Pietro pôs-se a sorrir s orrir de prazer. Arf... Arf... Arf... Pietro aproveitou a “sede” do garoto e o abraçou pelo pescoço.
Aquela noite não perderia. Na infância, Jardel foi o primeiro carinha por quem se apaixonou. Enquanto era fodido, lembrava-se das vezes que passou frente a sua casa devagarzinho tentando ver o garoto na garagem ou no comércio do pai. Sempre quis beijá-lo, mas nunca teve coragem de chegar, principalmente porque o garoto era um dos que zombavam dele. Pietro puxou a cabeça do companheiro até a sua e começou a roçar seus lábios. No princípio Jardel desviou, não queria beijar, apenas foder, mas depois de tanta insistência resolveu ceder. Deitou sobre Pietro e enquanto o pau latejava o beijou imaginando as namoradas de escola. Pietro sentiu um prazer imenso, seu coração palpitava forte e por um segundo voltou a ser a criança apaixonada pelo vizinho. Até que Jardel afastou a boca e começou a socar com mais força e mais força e então sentiu a porra quente encher a camisinha. Ambos arfaram e Jardel caiu de lado satisfeito e molhado de suor. A cama ficou toda mole. Depois de alguns minutos, recuperaram o fôlego. Ele se levantou, tirou a camisinha, limpou o pau mole na toalha e se vestiu. – Rápido Pietro, se veste, minha mãe esta chegando – Jardel 78
mudou completamente após gozar. Voltou a ser o ignorante de sempre. Pietro levantou-se e vestiu a roupa, indo esperar na sala. Observou Jardel entrar no banheiro e trancar a porta. Lá dentro, Jardel pegou os dois envelopes de camisinha usados e os outros três vazios, rasgou, jogou na privada e deu descarga, torcendo para que não prendessem no cano e para que o pai não desse falta. Pietro, você precisa ir – Saiu Saiu do banheiro, entrou no quarto e – Pietro, trouxe a corrente, a camiseta do Linkin Park e Tá aqui, como Park e o CD – Tá combinado. Agora vamos, preciso ver o açougue pra minha mãe. Ia falando e saindo de dentro de casa, com o intuito de o garoto o seguir para fora. *** Jardel saiu de casa e trancou o portão. Seus cabelos ainda estavam úmidos e a pequena franja descolorida caia sobre a testa. Dirigiu-se duas casas depois da sua e abriu um pequeno portãozinho localizado ao lado da porta grande de aço. Entrou pelos fundos do estabelecimento, destrancou a porta e seguiu pela sala onde ficavam as máquinas de moer, desossar e encher lingüiça. Seguiu por uma portinha até dentro do estabelecimento onde havia os freezers e o balcão de atendimento. Lá dentro era frio graças ao ar condicionado e havia várias peças de carne penduradas em ganchos nas paredes de cerâmica e dentro das geladeiras. Como pedido pela mãe, ele conferiu se as janelas j anelas laterais estavam fechadas, se os equipamentos estavam funcionando corretamente, se a porta principal havia sido devidamente trancada e enfim, desligou a luz e voltou para a área das máquinas. Deu de cara com a porta fechada. Estranhou mas preferiu manter a calma, tentou abri-la, mas estava emperrada, começou a sentir-se nervoso. Ele virou-se procurando a chave e tomou um susto com Pietro parado atrás de si, si , apoiado à máquina de desossar. – Porra cara. Quase tive um enfarto – Começou a sorrir. Pelo menos não ficara trancado sozinho. Sabe Jardel – Pietro Pietro estava com a cabeça baixa e seus cabelos – Sabe ocultavam-lhe os olhos, a voz ficara dura e não pareceu em nada 79
com o menino tímido que era seu vizinho há anos – Quando crianças eu me apaixonei por você – ele continuou a falar sombriamente. Jardel não agüentou. Precisou dar uma gargalhada. – Porra Pietro. Para de viadagem e me ajude a desemperrar a porta. Pietro não lhe deu ouvidos, prosseguiu a desabafar. – O observava jogando bola e me divertia ao ver seu sorriso quando fazia um gol, radiava quando se irritava com os outros garotos. – Eu já sabia que você era gay cara, mas tipo, eu não curto. Agora me ajuda a abrir a porra da porta – Jardel tornou a ser grosso e observou Pietro pegar uma grande faca de cabo branco que estava sobre a máquina às suas costas. O garoto continuava a falar enquanto limpava as unhas com o instrumento. – Lembra-se de quando tirou a BV da Camila atrás do colégio? Os garotos cercaram vocês para que ninguém visse – Pietro abriu um sorrisinho lembrando-se daquela época – Foi a primeira vez que desejei ser beijado. Todas as noites eu deitava imaginando como seria o gosto da sua boca, como seria seu abraço. – Porra Pietro. Para com isso. A gente já cresceu cara – Jardel começava a ficar nervoso, mas Pietro continuou. – GAROTO – Levantou a cabeça bruscamente e seus olhos brilharam com o azul do ódio, então gritou – Eu não quero essa droga de corrente – Pegou a corrente no bolso da calça e jogou contra a porta de aço, o barulho retumbou dentro do açougue e Jardel começou a sentir medo, lembrou-se que ele fora um dos que recebera o aviso da lua de sangue. Pietro prosseguiu observando sua imagem refletida no aço da faca contra a luz – Também não quero essa porra de camiseta – Com a faca rasgou o tecido ao meio – E para onde vamos, a única música que se toca, são os gritos de dor – Jogou o CD contra a parede e ele se espatifou – Tudo o que eu queria – sua voz ficou melancólica – Tudo o que sempre quis – e então completou erguendo os olhos cheios de ira – era um beijo sincero – Apontou a faca para o garoto. Neste instante a coruja entrou por uma janelinha acima da porta, gritando diabolicamente. Assustado, Jardel pulou rumo a Pietro e 80
sentiu a dor brotar do tórax. No assombro, enfiara-se na faca afiada que o garoto erguia na mão. Agora a vida se derramava pelo chão como uma cachoeira vermelha. Pietro aproximou-se e sussurrou impiedosamente: Fatality . Girou a faca fazendo-lhe sentir os órgãos sendo estraçalhados. Jardel tentou gritar, mas o lamento não durou muito tempo. O último som naquela sala foi o da coruja a espraguejar enquanto a máquina de desossar fazia seu trabalho. HORAS DEPOIS
– O
que houve? – Perguntou o sargento Will quando estacionou no local. Havia carros de polícia e vários vizinhos com roupas de dormir aglomerados pela rua. Os perímetros foram isolados pela fita preta/amarela a qual precisou ser erguida para dar passagem ao Siena preto do militar. O oficial que o telefonou se aproximou para relatar o que havia apurado: Quando a mãe chegou da missa, preocupou-se pelo filho não estar em casa. O padre durante o sermão tocara no assunto referente aos assassinatos e aconselhara aos pais, a observar mais a rotina de seus filhos. Ela olhou em um ganchinho na cozinha, onde colocavam as chaves do açougue e não estavam lá. Fechou o portão de casa e seguiu para o comércio. O portãozinho da frente estava aberto e a porta dos fundos também, na sala das máquinas tudo permanecia organizado. Chamou pelo filho, mas não obteve resposta, chegou a pensar que estava escondido para pregar-lhe uma peça. Acendeu a luz e entrou na parte da frente do açougue, tudo estava normal. Então virou-se para voltar à sala de máquinas, ficou tonta com o que viu, perdeu a voz e caiu desmaiada. Quem a encontrou horas mais tarde foi a filha que havia chegado da faculdade. A garota deu de cara com o portão trancado. Seguiu para o açougue e ali estava a mãe estirada ao chão e fria por causa do ar condicionado. Nos ganchos da parede, atrás do balcão, estavam pendurados os braços, as pernas, a cabeça e o tórax do irmão esquartejado. A maldita lua brilhava talhada a sangue.
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CAPÍTULO 7 Vestígios O dia amanheceu radiante. Pela primeira vez em muito tempo ele conseguira dormir profundamente sem auxílio de remédios. As cenas terríveis da noite anterior não incomodaram seu repouso, tinha uma leve impressão de que sonhara por toda a madrugada com um par de cintilantes olhos azuis em meio à escuridão, não conseguia recordar-se do que se tratava. Deitado no sofá, Will virou-se e conferiu as horas no relógio que trabalhava pendurado na parede. 10:00 da manhã. Hoje chegaria mais tarde ao serviço, para que pressa? Se espreguiçou sentindo a sensação gostosa correr-lhe pelo sangue e pulmões. O coração parecia mais leve e as cores ao redor mais vívidas. Puxou o cobertor e deixou o sofá. A casa estava um chiqueiro , ele finalmente percebeu. Pegou o celular e ligou para uma diarista conhecida, combinou de deixar as chaves com a vizinha. Will dirigiu-se até a cozinha, havia pão dormido no armário e restos de biscoito murcho em um pote. Mas, aquela manhã estava diferente, tão, gostosa. Precisava sair e fazer um lanche reforçado. Sentia vontade de estar bem, de viver, de sorrir. Tomou um banho, passou creme na pele, desodorante, perfume. Vestiu a farda e o sapato. Frente ao espelho o sargento ajeitou a boina na cabeça, encarou seus olhos esverdeados e recordou-se do garoto na praça. Abriu um sorriso que não compreendera . “Por que se sentia assim ?” . As cenas do corpo esquartejado no açougue deveriam estar causando-lhe náuseas e não fome. Deduziu que conversar com aquele garoto o fizera bem. Será que voltariam a se encontrar? “Onde morava? O que fazia nos momentos livres? Será que um dia iria querer ser policial?” – Will caminhou pela casa recolhendo seus materiais de trabalho – “Será que mora com os pais , ou com outros familiares? Gosta de ler? Fazer cálculos? Praticar esportes ?” – 82
Tudo levava a crer que se apegara a? “Qual será o nome dele?” . Ligou o carro, deixou a garagem e após um lanche reforçado na padaria seguiu para a delegacia. Ele entrou no ambiente de trabalho sentindo-se otimista. Os colegas perceberam sua pele jovial. Os olhos cintilavam com o verde claro vívido que atraia à distância. Disposto, inteligente, preparado. Cumprimentou os amigos da recepção, brincou com a garota da faxina, deu um forte abraço no colega que o aconselhara ir para casa repousar. – O que houve meu amigo? Parece ter visto o passarinho verde – Brincou o oficial fechando a porta do escritório. “Verde não, azul. Era um passarinho de olhos azuis” pensou, mas não quis entrar no assunto. Jogou o paletó e o cinto da arma sobre o armário dos arquivos, afrouxou a gravata e lançou-se sobre a cadeira giratória de couro. Tudo permanecia tumultuado, mas os papéis sobre a mesa brilhavam com um ar de solução a caminho. – Vigor – disse o sargento – Isso se chama vigor, meu bom oficial – abriu aquele belo sorriso brilhante enquanto ligava o computador e afastava as pilhas de papel abrindo espaço sobre a mesa. – Vigor? Hum – o oficial sorriu, mas preferiu não comentar. Vai que sem querer disse-se algo que não deveria e acabasse com o bom ânimo do homem – Tem algo que possa fazer para ajudá-lo? – Perguntou. – Sim. Sim – O sargento abriu a gaveta e retirou sua agenda de anotações – Você vai levar uma nova solicitação de comparecimento aos estudantes Jonathan e Roberto – Will ia falando e anotando os endereços em um bloquinho a parte – Ressalte que é urgente. – Ok. Considere feito senhor – O oficial retirou-se da sala e seguiu para o departamento que digitaria a solicitação. Will ficou sozinho, por um momento olhou pela janela admirando o sol a aquecer a grama lá fora. “Não se preocupe, estou bem senhor”, voltou a lembrar da noite passada observando a sombra de uma árvore movendo-se vagarosamente conforme o sol se aproximava do horário de meio dia. Esboçou um sorriso bobo e virou-se de volta à mesa. As anotações estavam abertas. Primeiro caso fora Henrique, teve 83
o pescoço estraçalhado. Segundo caso Diogo, cinco estacas enfiadas pela garganta, terceiro Renan, queimado vivo e agora o quarto, Jardel, esquartejado. Incluiu a informação sobre o último e seguiu analisando os pontos que definira: 1. Todos são adolescentes, 2. Todos estudam na mesma escola, 3. São amigos e estavam juntos na festa junina, 4. (???) aqui está o X da questão, 5. Todos estavam na praça após saírem da escola, e por fim, 6. Todos possuem a mesma meia lua no tórax. A questão chave para o caso era o ponto 4. O que fizeram no espaço entre a festa e a praça? Pra onde foram? Com quem falaram? Porque se contradizem sobre o que realmente aconteceu? Will precisaria ser mais duro com os garotos, se possível até ameaçar prendê-los por algo qualquer. Resolveu pegar o paletó, o distintivo e visitar o colégio. Quem sabe percorrendo o local não descobriria algo e com sorte se esbarraria com “alguém”.
Dirigiu-se ao local em uma viatura. Era onze e meia e estava quase no horário das turmas da manhã serem liberadas. Will caminhou pelo térreo, subiu ao primeiro andar e observou de longe a sala onde três dos garotos estudavam. Após um tempo analisando pelo corredor, desceu e escorou-se na parede do bloco onde alguns depoimentos atestavam que o grupo ficara antes de sair e imaginouse na festa junina. “Se eu fosse um adolescente com os hormônios a flor da pele, a cara cheia de espinhas e usuário de drogas e bebidas, para onde iria com amigos iguais a mim?”, ficou calado a pensar, imaginando as bandeirolas balançando ao vento. Elas já não estavam lá, as chuvas as destruíram. Afastou-se do bloco, agradeceu ao porteiro, saiu e resolveu dar uma volta pelo perímetro. Aos fundos da instituição havia um local oculto por arbustos e árvores próximas ao muro, estava cheio de bitucas de cigarro. Ele desfez os materiais e cheirou: “ maconha ”. Ali era um ponto de fumo. Anotou na agenda: “ poderiam ter vindo pra cá, a fim de beber e fumar – fez uma pausa analisando o que escrevera e então completou – mas, essa hipótese é falha já que não se intimidam em fazê-lo sob a vista de todos , na praça” . Will riscou o que escrevera, aquela dedução estava descartada, mas será que haveria outros locais reservados nas proximidades? Levantou-se e voltou para frente do colégio, observando cuidadosamente a vizinhança. 84
Não havia bares, lanchonetes ou praças próximas. As ruas eram residenciais e todas as casas estavam ocupadas, mas... – Seus olhos identificaram a construção um pouco afastada – Will caminhou até o local, estava cercada por tapumes, ainda assim forçou a taboa e conseguiu entrar. Contornou a residência em obras seguindo para os fundos, entrou pelo vão que seria a porta da cozinha observando tijolos, madeira e uma caixa d água que enchera com as chuvas. Deu mais alguns passos e adentrou no cômodo coberto. Ali provavelmente seria um quarto quando a casa estivesse pronta. A janela ainda estava sem vidros, havia tijolos em um canto, areia no outro. Muita lama devido à chuva e... – o policial abaixou-se junto à poça de lama, puxou os tecidos embolados e enlameados – Roupas. Roupas enlameadas. Havia uma calça jeans, uma camiseta e uma cueca. Aos olhos de outras pessoas aqueles objetos seriam apenas pertences que algum morador de rua deixara para trás, mas, estamos falando do sargento Will. O sargento que ainda oficial descobriu a identidade do maníaco do parque. Williamar estava acostumado a lidar com casos de estupro seguido de morte e viu de cara que aquela ali poderia ser a cena de um crime. Foi até o carro, pegou um pacote plástico com lacre, voltou e depositou os objetos dentro. As roupas eram masculinas, pela numeração o garoto deveria ter estatura mediana. Havia também duas bitucas de cigarro boiando na água. Tal como fez às roupas, recolheu o material e lacrou noutro pacote. Will voltou para o carro observando os estudantes saírem da instituição. Escorou-se no banco do motorista, fechou a porta e ficou quieto buscando com os olhos por “ele”. Muitos garotos passaram
próximos à viatura, os adolescentes sorriam, brincavam, flertavam, mas nenhum possuía cabelo com pontas avermelhadas. “O que estou fazendo?”, Will achou sua atitude absurda, “ele deve ser pelo menos nove anos mais novo”, sentiu-se ridículo. Colocou os óculos escuros, ligou o veículo e retornou a delegacia. Precisava que os materiais recolhidos fossem periciados o mais rápido possível. *** O relógio marcava cinco horas quando recebeu em sua sala o 85
envelope com a análise. Segundo o laboratório, haviam resíduos de esperma grudados nos tecidos. Materiais genéticos que não pertenciam ao dono das roupas. Mais abaixo falava sobre as bitucas de cigarro, havia o DNA de pelo menos três pessoas diferentes nos restos do entorpecente de maconha. O sargento estava otimista. Pegou o telefone e ligou para o laboratório, solicitou que todas as amostras fossem comparadas com o DNA das vítimas. Em seguida saiu à procura do amigo oficial que ficara responsável por intimar os dois adolescentes, confirmou a entrega dos documentos e então retornou a sala. Abriu a agenda e fez suas novas anotações: “Os adolescentes citados nos depoimentos sobre a festa junina, podem ter mantido relações sexuais com um 7º garoto em uma construção nas proximidades do colégio, só então seguiram para a praça. Estavam drogados e consumiram bebida alcoólica. As perguntas: Quem era o 7º garoto? Foi abuso ou orgia consensual? Se abuso, a vítima ou parentes estariam ligados com a “vingança”? Porque marcar os corpos com a meia lua?” Will fechou a agenda e estirou-se na cadeira olhando para o teto. Finalmente pôde respirar certo de que estava no caminho. Virou-se para a janela e observou a noite chegando. O horizonte estava avermelhado e o sol já se escondia por detrás das casas. Tornou a encarar o teto acompanhando a escuridão invadir sua sala. Fechou os olhos e sem perceber cochilou. “Estava chegado em casa, destrancou o portão, estacionou o
Siena e abriu a porta da sala. Tudo estava escuro. Tentou ligar a luz, mas a força parecia cortada, nenhum dos interruptores ao lado funcionava. Ele seguiu até a cozinha. O barulho do sapato tilintando ao chão ecoava dentro da residência vazia. A única iluminação que rompia o breu era a claridade da lua entrando pelas janelas de vidro. Will procurou uma lanterna nas gavetas, mas não encontrou nada, voltou à sala, fechou a porta e seguiu para o quarto afrouxando a gravata e desabotoando a camisa social. Do vão da porta observou a silhueta no escuro, sentada ao meio da cama. A claridade da lua penetrava a janela, iluminando os lençóis e o garoto que usava a boina do militar. Ele estava cabisbaixo e com as pernas cruzadas em posição de lótus (posição de Yoga). Will sentiu o coração acelerar e então a silhueta levantou o rosto e seus olhos cintilaram frágeis e 86
convidativos. Ao fundo, pela janela, a meia lua fazia um convite à luxúria”. Toc, Toc, Toc... Toc, Toc, Toc... Alguém batera à porta e o militar despertou. Sentia a boca úmida e um calor que subia por seu tórax envolvendo o pescoço. A sala mergulhara no escuro e somente o computador emitia claridade. Lá fora já estava breu e viam-se ao longe as várias luzinhas da cidade; – Will – o amigo oficial entrou e acendeu a luz – Pretende virar a noite trabalhando? – perguntou com olhar desaprovador. Will sentiu os olhos arderem com a claridade, seu coração ainda pulsava como se o sonho tivesse sido real. Ficou calado observando o oficial, seus pensamentos estavam distantes imaginando qual teria sido o desfecho se não tivesse sido acordado. – Sargento? – o oficial tornou a chamar – Sargento o senhor está bem? – perguntou. – Como? – Will voltou à realidade – Ah, sim, sim – gaguejou – estou bem. Também estou de saída. Desligou o computador, pegou o paletó, as chaves e acompanhou o colega. *** O carro seguia lentamente pela avenida clareada pela luz dos postes. A noite emitia aquele clima fúnebre e cheiro adocicado de morte. No céu, da alta lua restava apenas metade da esfera clara de alguns dias, estava minguando. Não ventava, mas sentia o frio arrepiar os pelos do braço apoiado a janela. Will fez a curva entrando na rua de sua casa. Observou que nas residências vizinhas, as famílias estavam reunidas frente à televisão assistindo a novela, o clarão nas janelas denunciava. Passou por sobre um quebra-molas, observou um gato preto fugir para a escuridão. Manobrou e reparou as lanternas do carro clarear a garagem. Desceu, abriu o portão e retornou ao veículo, estacionando-o. A residência estava silenciosa e escura, Will aproximou-se pensativo, girou a chave e pressionou a maçaneta. A porta ecoou um rangido ao ser aberta, lá dentro, o único som era o da geladeira na cozinha. O sargento relembrava o sonho que tivera, tudo estava 87
semelhante. Cuidadosamente levou a mão ao interruptor e click a sala foi iluminada. Entrou e fechou a porta atrás de si, caminhou até o quarto e sentiu aquela sensação de solidão, sensação de chegar e não ter ninguém com quem compartilhar sobre o dia. Andou pela casa reparando que tudo estava limpo e organizado. O lençol da cama fora trocado, nas gavetas e cabides havia roupas limpas e passadas, a sala já não tinha cara de quarto e deixara de ser depósito de lixo. A diarista fizera um ótimo trabalho. Mas, sem sua bagunça “companheira”, tudo parecia ter ficado mais es paçoso, mais vazio. Will seguiu até a cozinha, abriu a geladeira, pegou uma lata de cerveja e no armário um pacote de salgadinho. Voltou para sala, ligou a televisão e jogou-se no sofá. Não havia nenhum programa interessante, não havia nada que queria assistir. Sentiu-se chateado, irritado, deu vontade de esmurrar algo. Levantou e desligou a TV, apagou a luz, arrancou a gravata, desabotoou a camiseta e se jogou no sofá colocando um dos braços sobre os olhos. O tic, tac do relógio incomodava, não conseguia cochilar. Virou-se para o lado e ficou observando a claridade entrar pelos vidros da porta, outra vez a lembrança do sonho voltou a sua mente, “garoto”. Será que ele estaria lá? Será que estaria sozinho? Will levantou e tirou o cinto e os sapatos. Seguiu para o banheiro, arrancou a roupa amassada e entrou debaixo do chuveiro quente. Permitiu que a água lavasse o dia de trabalho enquanto deslizava as mãos por sobre o corpo, sentindo o sabonete espumar em contato com os pelos do peitoral. “Olhinhos como o céu” . A lembrança fez-lhe estremecer. Levantou a cabeça e sentiu a água molhar seu rosto e escorrer pelo corpo. “Estou bem, senhor”, a voz do garoto ecoava em sua mente. Tão doce, tão carente, tão... inocente. “Sofreu apenas pequenos arranhões”, com os olhos ainda fechados Will viu as escoriações na bochecha clara e as próximas à boca. “Pequena boca... vermelha”. O sargento escorregou a mão lentamente por sobre o peitoral, alisando o tórax e fazendo o percurso da água quente sobre o corpo. “Pequena boca...” Sentiu o sangue circular mais rápido e com a mão esquerda começou a ensaboar o saco espesso e a virilha. “Olhos azuis... tão azuis”, com a mão direita envolveu o pênis e esticou a pele 88
permitindo que a água quente aquecesse a glande rosada. “Estou bem... senhor” Respirou fundo e começou a friccionar o pau ainda mole, lentamente, sentindo-o endurecer em sua mão grande e macia. “Estou bem...” a vozinha tímida despertara seu desejo... “Estou... senhor...”, como ele estava frágil em seus braços “... senhor...” , tornou a ver a boca machucada de Pietro, começou a chupar os lábios imaginando-a, “senhor...” sentiu o garoto sentando em seu colo, permitiu-se acariciá-lo no pescoço, nos braços magros, apertar sua cintura curva. Imaginou abaixando-lhe a calça, lentamente, e sentindo o bumbum gelado cobrindo seu membro quente... “Beije -me, senhor... beije- me”... e então começou a arfar acelerando a masturbação. A água quente lambia-lhe a cabeça do pau, aquela devia ser a sensação da boquinha do garoto. Arfou outra vez, apoiou as costas largas na parede de cerâmicas brancas e colocou mais força na mão, “plec... plec... plec...” . Sentia uma sensação gostosa nos nervos da coxa, na virilha. Precisava acelerar, precisava esticar a pele ao máximo “plec... plec... plec”... Ohhhh respirou fundo Ohhh ... o orgasmo estava chegando “plec... plec... plec” ... PORRAAAA... Ohhhh gritou sentindo o jorro sair quente e abundante, esporrando sobre o vidro do box, manchando-o de um branco caudaloso. Respirou fundo tentando se recuperar, forçando o restante do líquido a sair em jatos mais curtos. Abriu o chuveiro ao máximo, lavou o membro que começara a amolecer. Com a mão direita apertou a extremidade inferior e veio puxando até que as últimas gotas de goza correram levadas pela água. Seu membro amolecia dando leves espasmos, os nervos voltavam ao normal. O sargento secou-se, vestiu uma box branca com detalhes nas laterais e saiu do banheiro. Seu coração batia veloz e um pouco de água escorria pelo pescoço. Sentou no braço do sofá, inclinou-se e colocou o rosto entre as mãos, pensativo. “O que estou fazendo? Não está certo.” Respirou fundo observando os pés rosados calçados nas havaianas brancas. “Ele deve ter a idade do meu sobrinho, do meu afilhado...”. Levantou, seguiu ao interruptor, desligou a luz e estirou-se sobre o sofá. Ficou ali com seus pensamentos perturbados e confusos. Sentindo o coração lutar contra a mente. Imaginando a conversa que teve com o garoto misterioso. Ficou ali relutando até decidir que precisava saber quem ele era. 89
*** O relógio pisca-pisca marcava onze horas quando o Siena de Will aproximou-se da praça da fonte. Sua mente estava em guerra contra o coração. Como reagiria se encontrasse o garoto? Como o garoto reagiria ao ver? Será que é como outros adolescentes que tem o pé atrás com a polícia? Será que vai estanhar por voltar a procurá-lo? Will estava indeciso, diminuiu a velocidade e virou a esquina. Deu uma volta pelas vias laterais, voltou para a avenida principal. Passou frente à fonte observando se o via por ali, sentiu-se aliviado por visualizar apenas uma coruja espreitando sob a amurada de concreto. Resolveu que iria embora, mas a emoção não obedeceu à razão e acabou estacionando num local escuro abaixo de algumas árvores. “Seja forte Will, não se deixe levar pela carência” Abriu a porta e desceu. “Volte já Williamar, você é um sargento da polícia e não um adolescente sonhador” Travou o alarme e seguiu atravessando a rua. “Ele é uma... criança e você um adulto, não seja ridículo... Não seja Ridículo”. Will andou vagarosamente observando o chão de paralelepípedos. Várias folhas envelhecidas estavam acumuladas abaixo das árvores escuras e no canto dos banquinhos de concreto. Os postes brilhavam alaranjados e a noite estava agradável. O sargento não usava o uniforme de trabalho, preferiu vestir uma roupa esportiva da PM: camiseta branca, coberta por uma jaqueta de malha azul com o brasão estampado no peito e calça moletom. Sentou-se na amurada da fonte, no mesmo lugar da noite passada. Ficou a admirar o céu e alerta a qualquer ruído anormal vindo das extremidades escuras do lugar. Diferente das outras avenidas, a praça estava com um cheiro de flores. As árvores exibiam alegremente seus cachos de ipês amarelo e cor de rosa. Não havia sinal de ninguém, sinal de nada. Will cruzou os braços para afastar a friagem e ficou a observar o reflexo da meia lua sob a água parada na fonte. Em menos de alguns dias o astro desapareceria na escuridão e algumas semanas depois retornaria grande e imponente com seu clarão de lua cheia. “Ela vai desaparecendo aos pouquinhos, morrendo a cada fase, minguando a cada noite” . Continuava a observá-la e então uma súbita dedução lhe ocorreu: as meias luas 90
talhadas nos corpos não seguiam o mesmo padrão, os desenhos foram feitos com curvas cada vez menores, igual à lua cheia que começa redonda e termina em um pequeno arco até desaparecer. Teria isso algum significado ou o assassino era apenas um péssimo desenhista? Enquanto pensava ouviu um barulho e levantou a cabeça observando o parquinho de areia. A silhueta emergia da escuridão como aquele gato preto que vira antes de entrar em casa. O garoto andava vagarosamente e despreocupado, sem notar que alguém o observava de longe. Pietro parou uns instantes perto do escorregador e passou a mão por sobre o corrimão de ferro, caminhou mais alguns passos e girou lentamente o roda-roda enferrujado. Olhou para o céu e rodopiou observando o luar. Ele parecia uma criança brincando em seu mundo imaginário. Inclinou-se ao chão e apanhou um punhado de folhas secas que estavam acumuladas num canto da caixa de areia. Levantou-as, esperou a súbita rajada de vento que começou a soprar e então largou. As folhas rodopiaram pelo céu como se imitassem a brincadeira do garoto e então sumiram na escuridão. – Oi – O sargento levantou-se e acenou sem conseguir segurar o sorrisinho. O garoto brincando foi a coisa mais engraçada que já vira em uma noite de luar. Pietro congelou observando-o de longe, sentia o vento esvoaçar-lhe os cabelos e parecia surpreso – Tudo bem? – Will tornou a acenar se aproximando. Pietro se inclinou ao chão, pegou novas folhas e lançou ao vento. Observava o trajeto que faziam pelo céu, sem se preocupar com quem estava ali. – O que você está fazendo? – Will parou na borda da caixa de areia limitando-se a observar com um sorrisinho no rosto – Não tem medo de ser preso por sujar local público? – Embora brincando, sentiu-se ridículo com o que falara. Será que não conseguia agir como se fosse uma pessoa normal? Teria sua personalidade se misturado tanto à de policial que agora não sabia começar uma conversa informal. Pietro abaixou a cabeça, afastou o cabelo de sobre os olhos e sorriu para ele. Aproximou-se em silêncio e o puxou para dentro da caixa de areia. Em seguida se inclinou, pegou mais um punhado de folhas secas e colocou nas mãos macias do policial. Will não usava a 91
aliança. – Pra que isso? – O militar observou as folhas. Pietro aproximou-se e Will sentiu um arrepio gostoso correr-lhe o pescoço quando o garoto sussurrou: “joga, pro alto”. Aquilo era estranho mais ao mesmo tempo, diferente. Nunca tinha brincado de jogar folhas ao vento. Ele observou o céu cheio de estrelas e a lua brilhando superior, levantou as mãos e jogou as folhas secas. O vento soprou e as recolheu, por um instante Will teve a impressão de vê-las transformando-se em mariposas negras com bolinhas vermelhas nas asas voando para a escuridão. Abriu um sorriso impressionado e olhou para onde Pietro estava, mas, o garoto havia desaparecido. Seu coração começou a palpitar forte, deu um giro olhando ao redor, procurou no rumo das árvores, dos brinquedos enferrujados, da escuridão e então o encontrou. Estava a alguns metros, dando lentos passinhos sobre a lateral da fonte. Will já havia se rendido ao jeito estranho e encantador do garoto, aproximou-se com as mãos no bolso da jaqueta; com os olhos cintilando de verde e um sorrisinho esbranquiçado que não conseguia reprimir. – Agora resolveu vandalizar a ponte? – brincou novamente. Pietro parou frente a frente com ele, olhou de cima para seus olhos e esticou as mãos. Will sentiu as bochechas corando e não sabia o porquê, segurou suas mãos e subiu para junto, ficando suspenso sob o concreto da fonte de laterais circulares. Por um instante sentiu-se desequilibrado, até um tanto ridículo, mas então ouviu o sussurro: “Tente me pegar senhor”.
Pietro deu passinhos para a outra borda e virou-se observando se Will o seguiria. O sargento tentou alcançá-lo, mas não tinha tanto equilíbrio. Observou quando Pietro pulou, olhou para trás e correu em direção ao carro estacionado. Will sorriu, pulou e correu atrás dele. Já não se importava se aquela cena estava sendo ridícula. Ao entrar na escuridão, percebeu Pietro encostado na porta do passageiro, quieto e com os cabelos balançando ao vento. – Peguei você – Will disse sorridente quando envolveu os braços magros do garoto com as mãos fortes. Recolheu o sorriso e os dois ficaram olhando-se por alguns instantes. Will não resistiu àquele azul olhar inocente, aproximou a boca lentamente, fechou os olhos e 92
sentiu seus lábios encostarem-se à superfície não esperada. Pietro virara o rosto e o beijo tocara-lhe a bochecha. “Por deus, o que estou fazendo?”, Will afastou-se bruscamente, confuso e envergonhado. Como estava deixando se levar por um adolescente? – Me desculpe, eu... eu... Me desculpe – Tentou remediar a situação e observou Pietro olhar em seus olhos aflitos e confusos. Ele aproximou-se do sargento que permaneceu imóvel e sussurrou ao seu ouvido: “eu estou bem, senhor ”, em seguida apoiou as mãos magras em seus braços fortes, retribuiu o beijo na bochecha e correu de volta para o lugar de onde surgira, perto do parquinho. Will passou a mão acariciando a bochecha, virou-se bruscamente e pôs-se a correr atrás dele. – Ei, espere – Gritou – Deixe-me esclarecer o que aconteceu – e observou Pietro parando próximo à escuridão. Agora que o garoto dera-lhe ouvidos, simplesmente perdera as palavras. Não sabia o que falar, não sabia como se explicar. – Preciso ir senhor – Pietro disse abaixando a cabeça. – Mas, para onde? Você mora por aqui? Deixe-me levá-lo até em casa – Apontou para o carro. – É melhor não, senhor – Disse-lhe Pietro ouvindo o piar da coruja. – Mas, voltaremos a nos ver? Aqui? – O sargento sentiu-se estranho por perguntar aquilo. – Se o senhor desejar, senhor – Respondeu Pietro timidamente. – Eu, eu... Pode ser amanhã? – Will sugeriu e o garoto permaneceu em silêncio por alguns segundos ouvindo novamente o piar da coruja. Levantou os olhos e sorriu timidamente, – Quando a lua estiver sobre a fonte e as folhas voltarem a dançar – Pietro abaixou-se rapidamente, apanhou outra mão de folhas e soltou ao céu, o ventou soprou-as até o local onde o sargento estava, permitindo que tocassem seu rosto. O militar protegeu os olhos e quando abriu novamente Pietro havia sumido na escuridão. – Espere... – achou que ele poderia ouvir – Meu nome é Will – gritou na expectativa de saber o nome do garoto, mas ouviu apenas o silêncio da noite e o vento a varrer as folhas. Então retornou para 93
casa com um sorriso bobo e o coração acelerado.
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