O pecado pessoal A n ov a si tu a çã o: en tr e o me d o e a i n oc ê nc i a
Hoje constata-se em alguns um profundo sentimento de alegria, porque creem que desapareceram as pressões pseudo-religiosas e os mecanismos psicológicos que mantiveram tantas pessoas afundadas debaixo do peso da culpa e com uma consciência angustiada pela tristeza e os remorsos do pecado. s pessoas j! n"o se deixam enganar com tanta facilidade com uma educa#"o rigorista e temerosa, que conduzia quase inexoravelmente a uma uma culpa culpabil bilid idad ade e em que que entr entrava avam m em jogo jogo demas demasia iado doss elem element entos os patog$nicos. supera#"o de todas estas barreiras foi uma conquista que se vai estendendo paulatinamente. H! motivos de otimismo perante o futuro, para para espe esperar rar que que um dia pró próximo ximo tais tais co comp mple lex xos e rea# rea#õe õess negat negativa ivass deixem deixem por %m de in&uir na psicologi psicologia a dos crist"os. crist"os. missa dos defuntos defuntos pelo sentido do pecado foi toni%cado com ares festivos. morte de algo absurdo, produto de uma cultura religiosa muito determinada n"o $ motivo de c'oro ou lamenta#"o. Outros, no entanto, deploram esta situa#"o como uma lament!vel perda. (reem, como lamentou )io *++ '! algum tempo, que o maior pecado do mund mundo o atua atuall $ ter ter per perdido dido es esta ta co cons nsci ciên ênci cia a de culp culpab abil ilid idad ade. e. sua sua elimina#"o elimina#"o n"o $, portanto, nen'um sinal de progresso, progresso, sen"o uma mel'or cons co nsci ciên ênci cia a do proc proces esso so desu desuma maniz nizad ador or em que que vive vive a soci socied edad ade. e. O endurecimento das pessoas $ um mecanismo de defesa para n"o se sentir compr compromet ometida ida face face a nen'um nen'uma a c'amada c'amada de obriga obriga#"o #"o.. culpab culpabilid ilidade ade irracional irracional e patológica patológica sucedeu uma inocência demasiado descarada como para n"o descobrir descobrir nela outras motiva#ões motiva#ões ocultas e interessad interessadas. as. oi uma conquista ou uma regress"o / dif0cil optar por uma destas alternativas, sobretudo quando se radicalizam e se fazem excluintes. )rovavelmente porque ambas têm uma boa parte de verdade e cada uma acentua o que a outra n"o destaca com tanta for#a. Os exageros e in&uências patológicas de uma pastoral do pecado, centrada no medo e na culpabilidade, têm sido demasiado evidentes para as negar. 1mbora 2s vezes se caricaturou em excesso para as criticar, '! uma base muit muito o rea eall que que nos nos leva leva 2 re&ex e&ex"o "o.. 3ast 3astan ante tess dos dos fenó fenóme meno noss que que acompan'am a experiência da culpa n"o têm ra0zes religiosas. / uma pena que a imagem de 4eus subjacente 2 %nitude 'umana ten'a contribu0do de
tal forma 2 ang5stia e medo de uma psicologia imatura e atormentada, relacionante muitas vezes com a patologia e outros, desde logo, com os dados da revela#"o. 6o entanto seria errado n"o admitir a decadência que acompan'a o sentimento de pecado, como se um eclipse impedisse contemplar toda a verdade. 7m desejo inconsciente de inocência impede o recon'ecimento da própria culpa. )recisamente porque $ pecador, ao 8er Humano custa-l'e admitir os seus limites e incoerências, e encontra m5ltiplas desculpas para que n"o recaia sobre si as responsabilidades. s a%rma#ões de 4eus na revela#"o sobre a existência do pecado s"o t"o s$rias que n"o $ poss0vel que n"o $ poss0vel interpret!-las como recursos oratórios ou amea#as infantis. / uma realidade que existe no cora#"o de todas as pessoas e que tem necessidade da reden#"o de (risto e a ajuda da 9ra#a para conseguir domin!-la. 9uardar o equil0brio entre um excesso de culpabilidade e uma :nsia de inocência torna-se dif0cil. )ara recuperar o verdadeiro conceito de pecado e puri%c!-lo de outros elementos esp5rios, faremos uma re&ex"o, em primeiro lugar, sobre a experiência antropológica da culpa e os sentimentos que a acompan'am, com o intento de constatar os diferentes n0veis 'umanos, $ticos e religiosos em que se vivem. Os dados desta experiência ser"o confrontados com os que se encontram na revela#"o, antes de responder, %nalmente, aos problemas e discussões atuais que o tema suscita. A expe riê nc ia ant rop ol óg ica da cu lp a
Os etnólogos constataram que a universalidade deste fenómeno que descobre a %nitude radical do 8er Humano. 8"o muitos os s0mbolos e imagens que tentam expressar o conte5do 0ntimo desta vivência; manc'a, desvio, erro, rebeldia, vazio, solid"o, injusti#a, doen#a, limita#"o, ang5stia, pena, condena#"o< como se fosse imposs0vel revelar com apenas um prazo a abund:ncia de sensa#ões e sentimentos que despertam esta realidade. presen#a e a perseveran#a de tais s0mbolos, ao longo de todas as culturas e tempos, invalidam a opini"o de alguns, de que se trata de uma experiência própria dos povos primitivos, sem um maior desenvolvimento cultural. O 8er Humano sente a amea#a constante da m! consciência, que nem sequer brota da religi"o, mas da sua estrutura antropológica. 4esde pequenos sentimos a necessidade de moderar os nossos impulsos e instintos para fazer poss0vel a convivência e respeito m5tuo. 4a0 nasce a
exigência da lei, a que todos devem submeter-se, como crit$rio prim!rio para regular as rela#ões entre os membros do grupo e outras comunidades. / lógico que a obediência provoca um sentimento ben$volo ao acatar as regras fundamentais do jogo social, do mesmo modo que a transgress"o, ainda que oculta, desperta a vergon'a por n"o ter jogado de forma limpa. armadil'a n"o constitui nen'um motivo de orgul'o. )or baixo %ca a sensa#"o de n"o ter agido com retid"o. )or isso a pessoa sempre se sentiu culpada, apesar de todas as inten#ões que a tentam convencer da sua inocência. s suas limita#ões, que experimenta de m5ltiplas formas, o fazem incapaz de o abarcar todo e recorta as suas :nsias de in%nitude. 1mbora queira e se esforce tem a sensa#"o de n"o realizar sempre o que deve, como se uma for#a superior impedisse realizar esse seu desejo. =econ'ece, no entanto, que tais limites deixam uma margem de manobra e espa#o su%ciente para fazer-se respons!vel do seu atuar. 6o meio do enigma e da contradi#"o, sabe que as fal'as n"o s"o produto exclusivo de um mau funcionamento, sem nen'uma interven#"o da sua vontade respons!vel. >ualquer indiv0duo, por muito normal e culto que seja, experimenta sentimentos deste g$nero quando toma consciência de uma a#"o com a qual feriu uma pessoa que ama. Havia que a%rmar, portanto, que o sentido da culpa n"o nasce de consciências ignorantes ou alienadas, como se fosse incompat0vel com a evolu#"o cultural e cient0%ca. o contr!rio, a sua ausência e elimina#"o faria mel'or a morte de um sentimento muito digno e que desempen'a tamb$m uma fun#"o importante na economia do psiquismo 'umano. O que se vivencie 2s vezes de forma imatura ou patológica n"o exclui os valores positivos que aporta, como um toque de aten#"o para re&ex"o sobre as falsas justi%ca#ões e cair na conta dos próprios erros. necessidade de puri%car este conceito de tantos outros elementos que n"o s"o inerentes 2 sua própria natureza n"o justi%ca nunca a inten#"o de elimin!-lo, como se o progresso e a matura#"o terminaram algum dia por de o excluir de forma de%nitiva. / mais, os mesmos etnólogos que est"o de acordo em que os diferentes sintomas ou n0veis em que se pode viver n"o respondem a uma evolu#"o que tem sido superado, desde os est!dios mais primitivos at$ outros mais desenvolvidos. 1m qualquer $poca coexistem misturas dentro da mesma civiliza#"o, como elementos que se integram sem nen'uma di%culdade.
7ma mistura e confus"o que se faz tamb$m constat!vel no interior da mesma pessoa, capaz de viver em alguns momentos experiências muito autênticas, para cair depois em outras rea#ões regressivas e imaturas O mito do paraíso perdido: a negação da moral
raiz de onde brota a experiência de culpa $ idêntica em todos os indiv0duos. 8omos seres limitados e com uma incapacidade b!sica para fazer o bem e evitar o mal, sem as for#as e recursos necess!rios para uma conduta reta. O erro e o equ0voco formam parte do nosso património como uma consequência inevit!vel da nossa própria %nitude, que nos impossibilita a coerência das decisões. falta, no entanto, n"o se deve 2 liberdade de quem assim atua, sen"o que constitui uma fal'a t$cnica da natureza de que ningu$m pode sentir-se respons!vel. O qual molesta e dói, porque afeta as %bras mais intimas da personalidade, j! que n"o responde aos próprios ideais nem 2s expectativas que outros possam ter feito acerca da nossa conduta. O que nunca devia desencadear $ um sentimento de culpa. 8obre o ser 'umano, embora cometa o mal, n"o $ poss0vel lan#ar nen'uma convic#"o condenatória. (ometer! um erro ou se enganou, mas jamais ser! culpado, pois a sua aparente mal0cia n"o $ sen"o um acidente devido ao mal funcionamento da sua natureza. )ortanto, por este facto n"o tem poder nen'um para evitar semel'ante classe de fal'as. O fracasso, em 5ltimo lugar, n"o $ imput!vel ao indiv0duo, sen"o aos defeitos de fabrico com que nasceu, sem nen'uma garantia de assegurar a perfei#"o do seu mecanismo. 1m determinados :mbitos da sociedade moderna surgiu a necessidade de manter o mito da inocência como o 5nico camin'o para se desembara#ar do pesado e opressivo fardo da culpabilidade. O 5nico pecado consiste em manter as estruturas geradoras da m! consciência. )arece um avan#o e um sinal de matura#"o o 'aver encontrado a explica#"o das fal'as $ticas em mecanismos al'eios 2 própria liberdade, olvidando que se requer uma maior matura#"o e equil0brio para recon'ecer a culpa que para desculpar-se dela. 1 $ que no fundo desta apologia talvez se dê uma busca infantil de inocência , como a crian#a que goza os outros por causa de qualquer coisa. 1 por tr!s desta ilus"o grati%cante n"o seria dif0cil detetar uma vontade de poder que nos remete de novo 2 inf:ncia. crian#a, de facto, constata desde o seu primeiro ano de vida a realidade do mundo que o rodeia, pelas repetidas experiências de frustra#"o, vazio e
solid"o< (ome#a a dar-se conta que n"o $ o centro exclusivo das aten#ões dos demais, o 5nico objeto de carin'o, apesar do afeto que o alimenta, n"o se encontra sempre acompan'ado, nem todas as suas necessidades se satisfazem de imediato. >uer dizer que descobre a sua existência como %nita, limitada, imperfeita, relacional. o n"o estar sozin'o, $ imposs0vel que todo o ten'a e satisfa#a como na $poca anterior, quando n"o 'avia sentido ainda para os dolorosos e reduzidos limites da vida. Os psicanalistas revelam que cada ser traz na profundidade da sua inconsciência una nostalgia absoluta de totalidade e omnipotência, como um desejo radical que son'a com romper as fronteiras da sua %nitude. 4esejaria transportarse a outro mundo onde n"o teve que experimentar a limita#"o que se l'e impõe, a incapacidade que sente, a insatisfa#"o constante com que trope#a, a morte que um dia terminar! vencendo e que j! l'e acerca com outros duelos pequenos. / o mito do para0so perdido, cuja nostalgia impede tantas vezes, ainda que n"o se saiba nem se explique, a reconcilia#"o amorosa com a própria verdade. (omo cada dia renasce a esperan#a inconsciente desta omnipotência, que retorna de novo a romper-se com o realismo da vida, '! que buscar desculpas e justi%ca#ões para fugir do que o atemoriza. 1sta formid!vel press"o interior leva-nos tamb$m a son'ar que o fracasso da culpa n"o $ algo que dependa de nós, como mais um sinal da nossa limita#"o, sen"o um facto formid!vel que n"o afeta nem 'umil'a a própria liberdade. 6"o signi%ca isto uma regress"o e uma falta de maturidade A tra ns gre ss ão do ta bu : uma éti ca da irra ci on alida de
fundamenta#"o m!gica da culpa baseia-se num est!dio de consciência que n"o distingue entre ordem $tica da maldade e ordem cosmobiológica da desgra#a. o n"o existir nen'uma explica#"o causal dos fenómenos f0sicos, a existência do mal atribui-se a uma falta cometida com antecipa#"o. >ualquer desgra#a se interpreta como castigo de uma facto mau que se cometeu, ainda sem o saber e sem interven#"o da vontade. culpa recai sobre o individuo como uma manc'a que encrosta, a margem por completo da sua decis"o. / poss0vel contrari!-la, incluindo de forma involunt!ria e inadvertida, por uma esp$cie de cont!gio que infeta e se apodera da pessoa. 7m trope#o que, mesmo que n"o se queira, provoca de imediato uma s$rie de consequências negativas. ?rata-se de uma san#"o autom!tica por ter transgredido um tabu; aquela realidade absolutamente inviol!vel e
plena de perigo, pela rela#"o que guarda com um poder supremo. 7m temor instintivo encontra-se ligado a esta for#a, e a menor infra#"o engendra o sentido de culpa. 6este n0vel m!gico, '! que viver em permanente estado de tens"o. obediência 2 lei e a observ:ncia de todas as prescri#ões se impõem como o 5nico rem$dio para escapar a esta amea#a. 8e, por qualquer motivo, algu$m n"o c'ega a livrar-se, ao ter fal'ado em algo sem o saber, ter! que acudir a uma s$rie de ritos puri%catórios para limpar a manc'a e evitar os castigos que poderiam recair sobre os outros membros do grupo. )or isso o mal ou a desgra#a que este padece $ devido 2 culpa de alguns dos seus componentes. Haver! que buscar o transgressor para que recon'e#a a sua falta, expie o seu delito e aplaque a vingan#a das for#as superiores. dimens"o racional est! ausente de todos estes mecanismos que surgem, se mantêm e atuam no mundo exclusivo da magia. 6"o existe nen'uma justi%ca#"o razo!vel. s proibi#ões-tabu invadem a consciência para converter o individuo num ser desgra#ado e impotente contra o destino. 8e certas manifesta#ões s"o t0picas de sociedades mais primitivas, suas ra0zes se fazem presentes em qualquer pessoa normal e sobem 2 superf0cie noutras expressões que, ainda que menos c'amativas, s"o produto da mesma mentalidade. A dim en sã o éti ca e rel igiosa: a cu lpa e o pe ca do
8upõe a supera#"o 'abitual dos est!dios anteriores e a rutura com os esquemas que os condicionam. qui a pessoa toma consciência da sua verdadeira responsabilidade quando rejeita o convite daqueles valores que o mesmo considera como 'umanizantes. 8eus atos s"o imput!veis, porque recon'ece uma op#"o por uma conduta desintegradora do 'umano. ceita as suas condi#ões, mas sabe que n"o limitam a autonomia. pesar dos diferentes determinismos de um ou outro tipo, têm o convencimento sincero de que posso atuar de forma mel'or. )oder! ignorar o grau de liberdade, mas adverte que o seu engano $ tamb$m efeito da sua culpa. @as al$m da mera transgress"o, o mal radica na intencionalidade interior, livre e volunt!ria que o provocou. )odendo e devendo ter atuado de outra forma, elegeu um camin'o que n"o conduzia 2 meta e projeto desejado. 6em os demais nem as realidades materiais causam a culpa, 2 margem da própria vontade. 8ó a rejei#"o ou a indiferen#a frente aos valores 'umanos fazem surgir a fal'a que o próprio individuo aceita e recon'ece.
>uando esta fal'a se vivencia, mais, como negativa ao querer de 4eus, o n0vel $tico adquire uma dimens"o religiosa e a culpa do 'omem torna-se em pecado do crente. desumaniza#"o que comporta a primeira experimentase, ao mesmo tempo, como uma rutura e quebra da amizade oferecida por 1le. (omo diremos em seguida, o termo b0blico Aadult$rioB expressa em linguagem 'umana o conte5do espiritual do gesto pecaminoso. / a in%delidade de um amor que se deixa seduzir agora por qualquer 0dolo. 4esde a transgress"o de uma ordem que determina com um automatismo m!gico, ou desde a resistência 2 c'amada de um valor, passa-se 2 ofensa a uma pessoa que se quer. 1m todas as $pocas c'eias de profunda religiosidade e em qualquer pessoa crente, a culpa e o pecado vivem-se comi uma mesma realidade, pelo car!ter transcendente que encerram os valores $ticos. C! vimos como o convite que estes nos fazem n"o $ sen"o o eco de outra palavra que nos c'ega desde cima, na qual 4eus nos descobre a sua vontade. 8e esta transcendência religiosa desaparece, j! n"o seria poss0vel falar de pecado, que supõe sempre uma vincula#"o direta com 4eus, pois a falta cometida permaneceria num n0vel $tico que n"o descobre o 'orizonte da $. O sentimento de culpabilidade: condicionantes psicológicas
experiência da culpa, ao provocar uma desordem, uma manc'a, uma rutura, um erro ou equivoco, uma in%delidade< desperta um mal estar interior e um desejo de repara#"o. ?rata-se, por isso, de um sentimento lógico e natural, como consequência da fal'a cometida. O estran'o seria que, depois de todo o tempo que supõe a culpa ou o pecado, o sujeito permaneceria indiferente, como se nada o afetara ou preocupara. 8emel'ante frieza só teria explica#"o pela ignor:ncia ou cinismo de quem n"o vê as consequências ou a quem l'e importa muito pouco o que aconteceu. ausência do sentimento de culpa n"o $ nen'um sinal de progresso, sen"o revelaria mel'or uma estrutura psicológica de%ciente. O fracasso de um projeto 'umano ou religioso, ainda que n"o seja absoluto ou de%nitivo, tem de produzir numa pessoa normal certas rea#ões interiores que n"o a deixam tranquila, como se nada tivesse acontecido. culpabilidade, como a dor ou a febre nos mecanismos biológicos, faz sentir o mau funcionamento da pessoa e o desejo de uma cura e%caz. Dutar contra ela $ privar a psicologia 'umana de um sinal ben$%co para a reorienta#"o interior.
8em embargo, aqui tamb$m podem intervir muitos fatores que a convertem num fenómeno anormal e patog$nico. 1 um sentimento provocado por dinamismos inconscientes, ou produto de um narcisismo ferido, tem muito pouco com o que antes diz0amos. @uitas das cr0ticas que desde a psicologia se %zeram 2 religi"o e 2 moral podem ser objetivas, mas s"o den5ncias contra as deforma#ões e patologias que se geraram por uma falsa educa#"o ou pelas condi#ões peculiares que o sujeito recebeu. )or isso $ 5til apontar as principais causas que as originam. 6o fundo de todo o sentimento de culpabilidade existe uma sensa#"o de ang5stia pelo medo a uma perda, pelo medo a um castigo. 6a rejei#"o de uma impress"o que resulta intoler!vel. 4esde as suas primeiras experiências, a crian#a precisa de fazer seus os desejos paternos, que v"o com frequência contra o que ele quer e l'e apetece, para poder amar assim os seus pais sem tensões ou con&itos. 1sta frustra#"o inconsciente e angustiosa, perante a impossibilidade de seguir os seus próprios desejos, desencadeia a esse mesmo n0vel um movimento de agressividade. O objeto de amor converte-se tamb$m em motivo de ódio que, ainda que n"o se expresse nem se manifeste, produz a ang5stia da culpabilidade. trever-se, inconscientemente, a transgredir a lei do amor merece um castigo e a possibilidade de perder o carin'o do objeto amado e odiado e vive-se como uma amea#a permanente. inda que de fora n"o se compreendam estes temores, o próprio super-eu castigar! com maior f5ria e rigor o incumprimento da lei. O sentimento de culpabilidade ser! a vingan#a cruel do próprio sujeito. / uma vivência que corresponde em grande parte ao n0vel infra-moral da culpa. reconcilia#"o tenta-se conseguir tamb$m de uma forma m!gica, com ritos e puri%ca#ões que ao menos afogam ou encobrem a m! impress"o. 4a mesma forma que a culpa $ um gesto quase mec:nico, a puri%ca#"o realiza-se mais por for#a do rito escrupulosamente cumprido que pela inten#"o da sua vontade. O importante $ cumprir com as r5bricas ordenadas, pois o perd"o consegue de forma autom!tica pelo poder m!gico que contem. O que dói n"o $ o mal feito, mas as m!s consequências que da0 adv$m. A din âm ic a do na rcis is mo: o fr ac ass o pe ran te o ide al
6outros est!dios posteriores e mais conscientes. O sentimento de culpa alimenta-se do próprio narcisismo. culpa $ um feito que destrói o eu ideal
com que o individuo se encontra identi%cado. t$ ele colocou muitos esfor#os com a ilus"o de que conseguiria um dia a sua plena realiza#"o. O desajuste entre esse ideal e a sua execu#"o pr!tica cria sentimentos de condena#"o, rejei#"o ou degrada#"o. 7ma insatisfa#"o de fundo pela incapacidade de obter a meta son'ada em que estavam depositadas tantas esperan#as pessoais e expectativas dos demais. / um inconformismo egocêntrico pela urgência da própria autossatisfa#"o. O fracasso $ doloroso, n"o porque est! em jogo o bem dos outros, mas por se romper de novo a imagem narcisista, que nos 'umil'a e destrói. 7m inconformismo est$ril e infecundo porque toda a energia se pEs ao servi#o de uma perfei#"o que, ainda na 'ipótese de que se alcance n"o teria sentido 'umano nem evang$lico, j! que n"o nasce do altru0smo e doa#"o. s pr!ticas religiosas têm como objetivo a mesma %nalidade. 4eus $ uma esp$cie de meio que utilizamos para ver se no %m, com a 8ua ajuda, alcan#amos o que n"o est! em nossas m"os. 4a0 a obsess"o por medir e contabilizar os poss0veis avan#os e retrocessos. / uma desgra#a renovar os esfor#os, depois de muitas tentativas terminaram em fracassos. (omo consequência desta atitude nasce por dentro uma impress"o subtil de amargura e tristeza ao comprovar a esterilidade de tantos alentos in5teis. Ou, o que seria ainda pior, um sentimento farisaico de autossu%ciência se o progresso fazia a suposta perfei#"o resultar constat!vel. 1m qualquer das 'ipóteses, a raz"o para o gozo e a tristeza surge de um narcisismo perfecionista. O que mais importa $ a impress"o que nos pode causar a nossa própria imagem. )or$m o castigo desta orienta#"o egocêntrica o leva o mesmo narcisista em seu complexo de culpabilidade, pois nunca poder! estar satisfeito de ter subido at$ ao alto. O remorso faz-se compan'eiro constante do camin'o. (onsiste em querer que n"o 'aja 'avido culpa, em desejar ter sido de outra maneira, em sofrer por um passado que j! n"o se pode suprimir. (omo um lamento in5til que c'ora sem consolo, porque c'oca com o irremedi!velF o envio de ajuda que cai no vazio porque n"o '! qualquer esperan#a. O futuro clausura-se no passado, como um muro inexpugn!vel que n"o oferece sa0da e que se faz j! de%nitivo e permanente. (omo um c0rculo que se fec'ou, aprisionando em seu interior o que estava preocupado só por si mesmo. O verdadeiro sentimento de culpa: a dor por uma rutura
O sentimento de culpa 'umana e religiosa supõe uma maior maturidade psicológica. )ara ser crist"o n"o $ necess!rio estar doente, como a%rmava 6ietzsc'e, nem ter ca0do em estado de decadência. 3asta experimentar a culpa como um gesto de desumaniza#"o que rompe ao mesmo tempo a comun'"o com 4eus e in&ige sempre, de uma forma ou de outra, um dano aos demais. / o recon'ecimento do mal frente ao outro, com uma serenidade objetiva que n"o requer desculpabiliza#ões nem condena#ões, embora n"o se possa medir com exatid"o a malicia. 8e aceita a culpa, mesmo sem saber com certeza o seu n0vel de gravidade. 1m qualquer caso, existiu um dano pessoal e comunit!rio em que um se sente triste e pesaroso. O arrependimento n"o busca a elimina#"o de todos os sentimentos negativos, que s"o compreens0veis que se produzam, para buscar novamente a tranquilidade da consciência. 6em sequer oferece a oportunidade de um novo intento para ver se para a frente orienta mel'or o seu comportamento. O que se pretende $ restabelecer a %delidade tra0da, renovar o compromisso rompido, reparar o dano causado. C! n"o se sofre pela própria imperfei#"o. O verdadeiramente importante $ a rutura dessa rela#"o com o transcendente e o preju0zo causado ao outro. O perd"o n"o satisfaz tanto pelo que evita G castigo, condena#"o, remorsos<. G quanto pela alegria de uma amizade restabelecida. )or isso, a verdadeira consciência do pecado n"o vê para tr!s, como o remorso angustioso, para comprovar se fez o necess!rio para obter o perd"o. 1st! convencido de o ter obtido, porque ofereceu a 4eus, 2 +greja e aos irm"os uma palavra de arrependimento sincero e agora abre-se a um futuro com esperan#a e ilus"o, mas sem renegar tampouco o seu passado nem pretender alter!-lo. O de menos $ o que foi a sua 'istória. O arrependimento contempla o futuro, e esse gesto reajusta a vida inteira, incluindo p passado miser!vel, at$ uma nova orienta#"o. As def or ma çõ es na vi da cri st ã
6"o $ estran'o que o perigo destas deforma#ões, mais ou menos acentuadas,
ameacem
a
vida
crist".
4eterminados
aspetos
da
espiritualidade, se n"o se compensam com outras verdades da revela#"o, servem para aumentar mais alguns dos mecanismos psicológicos da culpa. 1le explica a maior frequência de sentimentos anormais no :mbito da religi"o, embora n"o sejam somente património desta. )or isso vale a pena
re&etir sobre este mundo de sentimentos e rea#ões, que com tanta frequência se introduzem na conduta da pessoa normal e crente. 8em caricaturas nem exageros, entre outros motivos, porque a complexidade da psicologia 'umana faz compreens0veis estes desvios -, '! que recon'ecer os elementos negativos que andam em torno do pecado. imagem de 4eus, como juiz que a todos con'ece nos seus maiores detal'es, sem que anda escape ao seu controlo, fomentou uma obsess"o por essa vista que se faz insuport!vel e destruidora. utiliza#"o t"o frequente do medo na nossa pastoral, que fez viver muitos atemorizados, em contraposi#"o a 8. Co"o ,IJ-IK, e o castigo eterno com que se amea#a tantas vezes n"o ajudaram precisamente a um tipo de rela#"o amorosa e con%ada. O interesse centrava-se na salva#"o pessoal e todas as pr!ticas de piedade estavam ao servi#o desta ideia. mesma ora#"o, em lugar de ser um di!logo de amizade, convertia-se num gesto utilitarista para sacar proveito para as nossas iniciativas particulares. 6"o $ necess!rio ser exaustivos a este respeito para fazer ver as ang5stias de consciência que, embora v"o desaparecendo, seguem atormentando muitos crist"os. insistência minuciosa no exame para medir o progresso que autossatisfaz ou o estancamento que deprimeF uma conce#"o da cruz e da dor voluntariamente buscado como 5nico camin'o para aplacar a ira divinaF a ideia de que as desgra#as naturais s"o castigos de 4eus, como rea#ões de vingan#a aos nossos malesF o recurso 2 con%ss"o como m$todo cat!rtico para expulsar remorsos e conseguir paz interiorF as m5ltiplas pr!ticas populares que, sem negar ra0zes religiosas, manipulam de alguma forma o religioso, s"o outras tantas manifesta#ões reduzidas e simbólicas destes perigos, s"o outras tantas manifesta#ões reduzidas e simbólicas destes perigos, que a experiência e re&ex"o de cada um poderiam ampliar a muitos outros campos. 7ma atitude alerta ser! necess!ria, pois nem sequer a pessoa mais equilibrada est! isenta destes perigos. ?ais impurezas, no entanto, n"o eliminam a objetividade do pecado. O acercamento dos dados da revela#"o nos far! con'ecer, em primeiro lugar, a existência deste acontecimento negativo e uma valora#"o posterior mais profunda da sua própria natureza. Os dados fundamentais da é
8em entrar num desenvolvimento mais amplo, que compete 2 teologia dogm!tica. 3asta apontar alguns apontamentos fundamentais. ?oda a
revela#"o est! centrada no tema priorit!rio da salva#"o. / um pressuposto b!sico e irrenunci!vel que est! presente ao largo de todas as suas p!ginas. 4esde o come#o, 4eus anuncia a promessa de um @essias que acabar! redimindo o povo de todos os seus pecados. 4este modo, a 'istória de +srael converte-se num grande gesto salvador. ?odos os seus acontecimentos e vicissitudes caem misteriosamente e de forma desconcertada em Cesus (risto. condi#"o pecadora da 'umanidade incapacita esta para um encontro com 4eus que só $ poss0vel pela gratuidade do seu amor e a sua predile#"o, at$ 2 c'egada de%nitiva do 8alvador. 7ma espera grande e con%ada manteve de p$ o povo eleito, apesar das suas prevarica#ões e in%delidades, com vista quele que ser! luz das na#ões. Os feitos mostram a %delidade indestrut0vel de 4eus, que nunca volta atr!s nas suas promessas. vida, paix"o e morte de (risto aparece de forma expl0cita e repetida com este car!ter de liberta#"o. / o cumprimento de todos os an5ncios realizados anteriormente. Leio resgatar-nos da morte, do pecado e da lei. 1ntregou a sua existência para a remiss"o dos pecados do mundo e fazer poss0vel a nova e de%nitiva alian#a. amizade sobrenatural $ obra exclusiva da gra#a que 4eus ortogou abundantemente nos m$ritos de (risto. 8ua vida e doutrina $ a manifesta#"o deste esplêndido acontecimento. =evelou-nos um rosto de 4eus misericordioso e disposto a perdoar todas as vezes que seja necess!rio. @as a salva#"o de Cesus, que possibilita a realiza#"o do bem, n"o inclui a liberdade fr!gil e quebradi#a do ser 'umano. 1nquanto peregrino por este mundo, $ capaz de optar por Cesus ou por recusar a sua mensagem e pessoa. 7ma decis"o que afeta nossas rela#ões com 4eus, mas que se joga em nossas atitudes e rea#ões frente aos demais. 8e o pecado n"o existisse, cairia todo o an5ncio da revela#"o. 6egar, por isso, a condi#"o pecadora da 'umanidade e cada um dos membros que a compõem $ revelar-se contra a 3oa 6ot0cia dos 1vangel'os. )or isso, para con'ecer mais a natureza do pecado, conv$m acercar-se dos dados da revela#"o.
A ling ua ge m da reve la çã o: a ma nc !a
qui tamb$m a multiplicidade de denomina#ões $ um claro ind0cio dos numerosos aspetos que o pecado encerra. 8"o outros tantos intentos de de%nir um conte5do religioso que, devido 2 sua riqueza, n"o se pode expressar com apenas um termo. 8eus equivalentes noutras l0nguas, tanto antigas como modernas, revelam tamb$m este pluralismo de facetas e con%rmam a di%culdade de uma compreens"o simplista. 6"o se trata de recorrer a todos eles, mas assinalar alguns dos mais importantes para ir aprofundando, pouco a pouco, na realidade do que signi%cam. H! um primeiro aspeto que ajuda a introduzir-se neste mundo complexo e que pode parecer uma imagem mais externa e super%cial, mas que n"o deixa de ser realista e signi%cativa. =eferimo-nos ao conceito de manc'a que, ainda que n"o se explicite com esta designa#"o, faz-se presente com muita frequência. )rovavelmente tem um sentido mais arcaico. H! certas realidades com que n"o se pode entrar em contacto com %car afetados por esse encontro. O M!Nos grego, como oposto ao bom agazósP, est! relacionado com a linguagem infantil de excremento. @as, quando queres dissuadir uma crian#a a realizar algo que est! mal, fazemos referencia a esse conceito. ?odo o mal reveste um sentido de sociedade, pois qualquer pessoa que se aproxime e toque %ca contaminada. lgo parecido ocorre com o pecado, j! que opera uma mudan#a interior profunda e qualitativa. 7ma situa#"o que c'ega a provocar a própria repugn:ncia e o desprezo dos demais Q)e Q,QQP. 6"o $ algo que se impute desde fora, mas que afeta no mais fundo da sua personalidade. import:ncia que o Dev0tico, por exemplo, 2s pr!ticas de pureza ritual para limpar-se de toda a contamina#"o interioriza-se no cora#"o de cada crente. pureza de 4eus exige ades"o sem divis"o. >ualquer rela#"o na qual a %delidade n"o se comprometa totalmente se faz suja. 7m impureza t"o profunda Cer IR,QRP que só o 1sp0rito de 4eus poder! puri%ca-la como se de nova recria#"o se tratasse 1z RS,Q-RTP. 6"o $ estran'o que o salmista ao recon'ecer a culpa possa ser puri%cado e limpo para cair mais branco que a neve. O perigo de uma conce#"o tabu0stica e demasiado super%cial $ superado com atitudes e a%rma#ões de Cesus. 'ospitalidade que este oferece aos pecadores e o seu contacto com as pessoas de m! vida n"o o contagiam em absoluto. O fundamental $ a pureza de cora#"o, pois Un"o manc'a o 'omem o que entra pela bocaV @t IW,ITP, mas o que sai do seu interior.