Neste livro vamos vivenciar a história de Camilla, uma jovem que decidiu mudar sua vida e autoestima ao perceber que não entrava em uma calça 48. Um perfeito exemplo de determinação e força de vontade, que mostra a todos que quando se deseja muito alcançar uma meta, ELA É POSSÍVEL, SIM. Como educador físico, concordo com as dicas apresentadas, pois são bem simples, de fácil compreensão e dão resultados. O livro estimula as pessoas a uma avaliação de como anda sua alimentação, relação com a atividade física e felicidade e, além disso, que avaliem e busquem o detalhe mais importante para qualquer ser humano, que é a SAÚDE. Uma leitura simples e gostosa faz deste livro uma verdadeira inspiração, não só para quem quer perder peso, mas sim para todas as pessoas que têm um objetivo, uma meta, um foco a ser alcançado e que não devem desistir nunca. Parabéns, Camys, e tenha certeza de que essas páginas irão inspirar milhares de pessoas nesse Brasil e quem sabe no mundo. Mauro Yamasaki Coordenador de Ginástica da Academia Competition
A minha mãe, meu pai, meu irmão, e a todos os amigos e familiares que me apoiam todos os dias nessa luta diária chamada VIDA.
S
ou uma garota de 20 e poucos anos, como outra qualquer, a não ser pelo fato de que passei boa parte da minha vida lutando contra a
balança. Hoje posso dizer que sou uma ex-gordinha, para não dizer exobesa. Minha adolescência inteira foi uma montanha-russa de engorda/emagrece e cercada de humilhações, derrotas, e autoestima baixa. Houve momentos em que realmente me vi no fundo do poço, mas agora finalmente aprendi que o segredo do emagrecimento não está em fórmulas mágicas, dietas malucas e greve de fome, e sim em reeducar nosso pensamento. Não estou escrevendo este livro com o intuito de ser algo didático para o emagrecimento, mesmo porque não sou uma especialista no assunto. Apenas quero contar minha história, como foi a minha briga com a balança desde pequena e de como dei a volta por cima apenas
com o pensamento focado nos meus objetivos. O tal do “segredo” para emagrecer é algo mais fácil do que pensamos: basta termos FOCO, muito foco, muita força de vontade e mudarmos nossa mente, modo de pensar e hábitos. Não precisamos de dietas restritivas, daquelas que emagrecemos muito, mas engordamos o dobro depois (sei bem como são essas, viu?), ou muito menos recorrermos a remédios. Então, porque não fazemos do jeito simples e convivemos com isso para o resto da vida, e melhor ainda, felizes? Basta nos dedicarmos. Há pouco tempo aprendi que o convívio com os alimentos é algo divertido, eles são nossos aliados e não inimigos. Comer é uma das coisas mais prazerosas que existem, e quem disse que devemos nos privar de todo esse prazer para emagrecermos? É só fazermos as escolhas certas, e dá muito bem para nos alimentarmos de coisas gostosinhas, porém, saudáveis. Neste livro, irei lhes mostrar um pouco de como foi a minha transformação, como mudei minha mente e como passei de sedentária gordinha a uma viciada em exercícios. Emagrecer não é um bicho de sete cabeças, mas para isso temos que querer MESMO e acreditar que conseguiremos. Espero que eu consiga motivar você, pelo menos um pouquinho, a vencer essa batalha, que só quem está acima do peso sabe como é difícil. Hoje em dia eu me amo como nunca me amei. Me olho no espelho e não sinto mais vontade de chorar. Saí de uma depressão e insegurança que me assombravam desde a infância, e agora não tenho traumas quando saio de casa, quando visto uma roupa ou vou a uma loja comprar
uma peça nova. Mesmo com a vida me passando a perna inúmeras vezes, aprendi que é preciso seguir em frente em todos os aspectos e colocar o emagrecimento sempre como prioridade na vida. Hoje estou mais forte do que nunca. E quero que você, assim como eu, olhe para trás um dia e diga com todo o orgulho do mundo “Eu consegui!”. Gordinha nunca mais. Prefiro ser magra, e você?
S
empre estive acima do peso e tenho muita tendência a ganhar peso de forma fácil. Simples assim. Minha família nunca se preocupou
com uma alimentação saudável e cresci em volta desse ambiente propício para eu virar uma Camys bolinha. Aos cinco anos já vivia nos fast-foods da vida, colecionando as surpresinhas dos “Lanches Felizes”. Em casa prevaleciam pratos gordurosos com frituras, hambúrgueres, macarrão, doces, tudo aquilo que fez de mim uma criança fofinha que todas as tias adoravam apertar em datas comemorativas. Vegetais e legumes? Blé! Passavam longe. Frutas? Sim, claro, adorava comer morangos, mas eles tinham que estar lotados de leite condensado ou açúcar cristal. Minha coleção de tazos era completíssima, já que só sabia comer salgadinhos, para colecionar os tais tazos. Tá bom, vai, a quem eu estou
enganando? Eu pensava mesmo era em devorar aquele saco inteiro de salgadinho. Fui uma criança fofa, literalmente, enquanto meus primos e primas sempre foram todos magros. Mas alguém tinha que ser a ovelha negra, quer dizer, gordinha da família, né? Nos jantares em casa, quando sobrava comida na panela, minha mãe sempre vinha com a ladainha de que para não desperdiçar eu podia “raspar o tacho da panela” e comer o que sobrou, então lá ia eu repetir mais de uma vez o prato da janta, mesmo estando satisfeita, só pela gula, pelo prazer de comer mais até rolar da mesa, e porque “minha mãe pediu”. Quando íamos ao mercado, eu fazia birra para levar todos os chocolates e pacotes de bolacha possíveis, e claro que eles acabavam em menos de uma semana, facilmente. Aprendi a cozinhar cedo também, olhem só: com oito anos já sabia fazer brigadeiro de panela (com supervisão, claro) e como meu irmão ainda era pequeno nessa época, quem acabava comendo aquela lata de leite condensado achocolatada derretida inteira? Mas é claro que era eu! O desespero de querer comer logo o doce era tanto, que muitas vezes eu dava várias colheradas no brigadeiro com ele ainda quente. Perdi as contas de quantas vezes queimei o céu da boca fazendo isso. É fato, meus pais eram muito liberais na questão alimentação, vejo que não tinha muita regra, e cresci achando que a gente tem que comer muito, e de tudo, para ser feliz. Tive uma infância muito gostosa, isso não posso negar, e tenho certeza de que os doces e batatas fritas contribuíram, o que fez com que eu crescesse viciada em açúcar e frituras.
Quando comecei a me tornar pré-adolescente, dei uma leve espichada na altura, o que fez com que eu deixasse de ser tão redonda e me tornasse apenas cheinha. O peso até que estava ok para uma menina de 12 anos, mas a cara de bolacha estava lá, firme, forte e redonda. Nessa época eu nem sonhava em perder peso, ou começar a comer corretamente, afinal, quem quer se preocupar com isso nessa fase da vida, né? Eu estava conformada com aquele corpo, até que a minha visão das coisas começou a mudar: Estava entrando na fase de menina se descobrindo, primeiro sutiã e breguices do tipo, e, incrivelmente, já havia começado a perceber que eu não seria a menina mais cobiçada do colégio. Aliás, estava bem longe disso. Minhas paixonites nunca davam em nada, e eu achava curioso que meninas da minha sala, com a mesma idade que eu, saíam com meninos mais velhos e eu nem tinha dado o primeiro beijo ainda. Não sei por quê, mas meninas têm dessas coisas de se “desenvolver” mais cedo, os meninos de 12 anos só pensavam em jogar vídeo game e tirar catota do nariz, mas nós meninas já estávamos começando a sentir aquela vontade de sermos notada. E, acreditem, ainda havia uma longa estrada para alguém me notar. Eis que um belo dia, numa viagem de fim de ano com a família para Ubatuba, eu com meus 12 anos e meu maiô preto escondendo a barriguinha, conheci um garoto na pousada em que estávamos hospedados, e não sei qual foi o milagre de Natal que aconteceu, mas ele veio falar comigo e ficamos os 5 dias saindo juntos, com meus pais sob vigia, claro, afinal eu era apenas uma criança. Eu estava interessada em
beijá-lo, e sabia como fazer isso. Pelo menos na teoria, já que havia lido 500 vezes o livro O meu primeiro beijo, coisa de pré-adolescente sonhadora, sabem? Foi aí que, então, no último dia de hospedagem, depois de muita enrolação, perdi meu BV com o tal do menino. Para um primeiro beijo, acho que foi até aceitável. Não soube muito bem o que fazer com as mãos, qual posição minha cabeça ficaria, e essas coisas de quem não tem experiência alguma em beijar outra pessoa de língua, mas a grande questão foi o fato de eu perceber que queria mais daquilo. Calma, não perdi minha virgindade aos 12 anos. Depois daquele dia nunca mais vi o rapaz, mas foi depois do meu primeiro beijo que comecei a notar que havia pessoas, sim, que gostariam de estar comigo, e que me achavam atraente. Pelo menos aquele menino gostava. No ano seguinte, estava com vontade de conhecer gente nova e me apaixonar por alguém, ter uma paixonite adolescente de verdade. Mas, enquanto isso, eu não dava atenção ao que comia, continuei abusando dos fast-foods e frituras, e o resultado? Com o primeiro beijo dado e alguns anos depois, fui engordando, engordando e engordando, até que cheguei aos 14 anos com 75kg (minha altura é 1,68m) ou seja: o pouquinho de atraente que eu tinha se foi pelo ralo, e passei a me sentir a menina mais feia do mundo. A chance de ser a popular entre os meninos do colegial havia acabado de vez e isso doía demais. Bem na época das descobertas femininas, e de amigas se divertindo, eu estava ficando de lado e vendo a vida passar diante de mim.
Não demorou muito para o tal do bullying na escola me atingir: Apelidos como Fofão, Balão de festa e Camilão começavam a ser muito recorrentes e eu sofria calada, fingia não me importar, mas, no fim do dia, estava chorando na cama. Minha relação com as pessoas passou a ser bem complicada, demorei para entender que se você é a garota gordinha, ninguém vai querer amizade com você, e com isso eu me fechava no meu canto, sentava na última cadeira da sala, ia bem em todas as matérias, mas no fundo estava triste comigo mesma, pensando o que poderia estar fazendo de errado. Fui iludida por muitos garotos do colegial que só caçoavam de mim e eu achava que eles estavam interessados. Doce engano, é claro que não estavam. Quebrei a cara muitas vezes, até que um belo dia resolvi desapegar de tudo e todos, estava no meu pior momento. Havia desistido de tentar agradar a todos e vi a comida como minha única e melhor amiga, e foi aí que o perigo começou. Passei a usar apenas calças largas, e moletons de banda eram quase que um uniforme para mim. Poderia estar 30ºC lá fora, mas eu não tirava o moletom por nada, só para evitar o constrangimento de mostrar meus braços gordos. Ainda com 14 anos, decidi colocar piercings, fazer alargadores, tingi o cabelo de vermelho e passei a frequentar shows e lugares onde havia pessoas parecidas comigo. Não pessoas acima do peso, mas com gostos iguais. Queria a todo custo me encontrar em algum espaço, e não sofrer pelo fato de estar gorda. A verdade é que eu era fraca para enfrentar esse problema, e sempre deixava para depois, me iludia por trás das roupas
grandes e acabava ficando por isso mesmo. No fundo não sabia o que fazer e para onde correr. Foi então em uma dessas minhas idas a shows e saídas com os amigos que descobri o álcool. Para quem não bebe, vou explicar um pouco o que o álcool faz com a gente: ele nos deixa desinibida, mais sociável e nos deixa com a sensação de que somos lindos e maravilhosos. Ou seja: me apeguei muito forte à bebida. Meu primeiro “porre” foi em frente a uma casa de shows underground de São Paulo, o famoso Hangar 110, onde batíamos carteirinha todo santo final de semana. Vi no álcool uma maneira de ser mais sociável com as pessoas, e isso me deu uma abertura para fazer amizades, sem encanar com o fato de eu estar acima do peso. E quem estava preocupada que álcool engorda? Eu não. Então passei a beber toda vez que saía de casa, para conseguir me socializar melhor. Tinha a falsa ideia de que as pessoas gostariam mais de mim se estivesse alegrinha sob o efeito da bebida. Eu guardava o dinheiro que meu pai me dava todos os dias, para usar nos finais de semana comprando bebida e comendo no McDonald’s, porque bebida dá fome e lá era o meu lugar preferido depois dos shows. Se existisse uma carteirinha para cliente do mês, tenho certeza de que seria minha. Essa vida de gordinha alcoólatra durou bastante tempo. Vi ali a válvula de escape para os problemas. Com 15 anos criei um RG falso para poder entrar nas baladas de “gente grande” e, por sorte, não acabei indo para um lado pior do que o do álcool: o das drogas. Nessas festas conheci gente de todos os tipos, falsas amizades e gente tentando me
levar para o mau caminho, mas tive consciência de que não precisava ir tão longe, eu tinha amor pela minha família e sabia que se entrasse na onda dessas “amizades” o caminho não teria volta. Nessa época, meus pais assinaram um serviço de internet, e junto com o álcool, descobri ali outra maneira de me socializar sem precisarem saber de que se tratava de uma adolescente gorda em depressão. Foi através da internet que consegui projetar uma falsa felicidade. Fiz bastantes amigos virtuais. Naquele tempo o fotolog.com, meio que um Twitter da época, era a ferramenta que estava na moda, e todas as pessoas dos lugares que eu frequentava tinham uma conta e se conheciam através dele. Era meio que uma panelinha “fotologuer”, não existia Facebook, muito menos MSN, o negócio era fotolog e ICQ. O site era uma página onde você colocava suas fotos e as pessoas comentavam, simplesmente isso. Mas ele dava uma falsa sensação de popularidade na web (a não ser para a VJ Mari Moon, que realmente era popular e o fotolog fez com que ela futuramente arranjasse um programa na MTV) e eu gostava disso. Passei a colocar minhas fotos lá e criar uma rede de amigos, alguns que converso até hoje. Foi uma boa distração para mim, mas ainda assim, no fundo, eu continuava infeliz com o meu peso, que disfarçava editando as fotos. Muitas das pessoas que conheci pessoalmente depois de trocar mensagens pela internet vinham me falar “nossa, achei que você fosse diferente!”, e, claro, eu sei que lá no fundo isso era um jeito sutil de falar “MEU DEUS, ACHEI QUE VOCÊ FOSSE MENOS GORDA”. Situações como essa fizeram com que eu
começasse a realmente querer mudar, já estava na hora de parar de me esconder atrás de roupas, fotos editadas e bebida alcoólica. E o primeiro passo para mudar é querer, né? Pois bem, decidi mudar mesmo quando as festas de 15 anos começaram a surgir e eu estava sendo convidada para ser madrinha de festa de debutante de algumas amigas. Isso significava que teria de usar aqueles vestidos bonitos e superfemininos, mas estando acima do peso eles ficavam simplesmente FEIOS DEMAIS. Foi aí que comecei a pensar que não queria mais me sentir mal com todas essas situações, havia cansado de me enganar fingindo que estava tudo bem enquanto não estava. Depois dos meus pais comentarem mais de cinco mil vezes ao dia que eu precisava emagrecer, encarei isso como mais um estímulo e fui atrás da minha mãe para pedir ajuda, chorando de desespero. Achei alguns livrinhos do Vigilantes do Peso empoeirados em uma gaveta de casa (minha mãe os usava) e resolvi pegá-los emprestado e fazer por conta própria, sem frequentar as reuniões presenciais, apenas contando os pontos dos alimentos e anotando num caderninho. Quando comecei a fazer o programa, estava com 75kg, o ano era 2006. Com esse peso, eu poderia consumir 24 pontos em um dia, e os caderninhos auxiliavam mostrando a quantidade de pontos que cada alimento tinha. Em curto prazo, acho que esse é um ótimo método, mas contar pontos aqui e ali para toda a vida não funciona comigo. Então o processo durou 6 meses, o tempo necessário para eu emagrecer os 10 quilos que tinha em mente, pois queria voltar à faixa dos 65kg e o Vigilantes me ajudou a conquistar
isso. Nesse tempo que fiz o programa não pratiquei nenhum tipo de exercícios, a não ser as aulas de educação física no colégio, que não contam muito, e também fui obrigada a suspender o álcool, pois conta muitos absurdos pontos, já que é um abuso em calorias. E foi assim, com a ajuda do Vigilantes do Peso, que perdi 10kg em pouco mais de 6 meses, abandonei os agasalhos gigantes, as calças largas, e me mantive num peso considerado como dentro dos padrões para o meu corpo. Foi só emagrecer que percebi como a sociedade começou a me aceitar melhor. Acho que só nos aceitam depois que nós mesmos nos aceitamos, e eu estava assim, 15 anos, no auge da adolescência e superfeliz comigo mesma. Não exibia uma barriguinha sarada nem nada do tipo, mas todas as roupas que eu passei a usar davam aquele ar de “falsa magra” sabem? Nenhuma calça marcando e muitas blusinhas pretas, então pensei “tá bom assim”, me contentei com aquilo. Era como passar numa matéria obtendo a nota mínima, um 7, por exemplo. Não é excelente, mas, dá para o gasto. Com essa perda de peso conheci pessoas novas, me tornei mais sociável, fiz bastantes amigos de verdade, me relacionei, arranjei o meu primeiro namorado, e toda a mágoa acumulada estava finalmente sendo trocada por sorrisos verdadeiros. Na época, meados de 2006, ainda não trabalhava, nem sonhava que viria a ser designer e trabalhar sentada o dia inteiro. Então, vivia saindo com os amigos depois da aula, andava para lá e para cá em São Paulo, comia pouco e, com isso, queimava umas calorias aqui e ali, o que fez com que eu mantivesse o peso que alcancei
com o auxilio do Vigilantes por um tempão. Outro fato que ajudou foi que eu não sentia mais uma vontade desesperada para comer muito, afinal, já estava mais magra e feliz. O exagero na comida vinha do fato de estar gorda, ou seja: como uma bola de neve, eu buscava conforto das frustrações na comida, e com isso continuava comendo e engordando. Mas isso havia passado. Bom, mas como tudo que é bom dura pouco e para se manter magra é preciso pensar como magro para sempre, a vida começou a acontecer de verdade. Logo após o termino do colégio, em 2008, ingressei na faculdade, lugar onde às 9 da manhã se comia pastel na feira e salgadinhos de lanchonete, e quando eu, sinceramente, não estava preparada para entrar em uma dieta, mas sim para a carreira acadêmica. Portanto, fui deixando a vida me levar, ou seja: repeti a velha história de quem inventa desculpas para tudo. Hoje eu sei que quem quer algo arranja um jeito para conquistar, quem não quer, inventa desculpas. E foi o que aconteceu: desculpas atrás de desculpas. Seis meses depois de entrar na faculdade arranjei meu primeiro trabalho como designer em uma agência de publicidade de São Paulo, e, sim, já havia engordado alguns quilinhos. Minha cabeça estava em todos os lugares, menos em fazer dieta e manter o peso. Comecei a não ter horário para nada e a comer totalmente errado. Definitivamente, não me planejei. Nos primeiros meses de trabalho, até que deu para segurar as pontas, me juntei aos colegas e fizemos uma espécie de dieta em grupo, o que ajudou bastante. Almoçávamos sempre uma saladinha que havia
em um restaurante próximo, eu levava chá verde para tomarmos à tarde, comprávamos frutas, e um ajudava o outro. Foi uma fase muito boa e produtiva, mas, com o passar do tempo, essas pessoas foram deixando a agência e eu me senti desmotivada a continuar aquilo sozinha e sem ajuda, portanto, voltei a comer bobagens. Vale ressaltar que nesse mundo de agência, a maioria dos funcionários na área de design são homens, pelo menos nos lugares por onde passei. E geralmente são homens que não estão nem aí se vão engordar ou não que pedem esfirra, pizza, te levam para almoçar em lugares onde se come como “pedreiro”, e coisas do tipo, e eu passei a ir no embalo, almoçando PF (prato feito) e comendo esfirras de carne no lanche da tarde. Não tinha cabeça para resistir a nada, nem queria. Depois da jornada de trabalho, ia para faculdade, comia aquele famoso hamburgão da cantina ou então milho no pratinho com muita manteiga e, quando chegava em casa morta de fome tarde da noite, tinha a cara de pau de jantar arroz, feijão e bife e ainda repetir o prato. Ufa, engordou só de ler, né? Pois é. Um ano depois, tranquei a faculdade por falta de grana mesmo e com isso ficava até mais tarde no trabalho, chegava em casa e já ia direto para o computador. Jantava tarde e amava fazer snacks de madrugada. O meu favorito era pão francês com requeijão e salame + 1 copo bem gelado de coca-cola normal, lembro bem. Depois ia deitar e dormir como um bebê, para acordar cedo e repetir tudo outra vez. Nessa farra gastronômica e sedentária de viver na frente do computador, acabei engordando nada mais nada menos que...
PREPARE-SE... ~SUSPENSE~ 20 kg em um ano! Sim, engordei vinte quilos em UM A-N-O, 12 meses, 365 dias, 1.6kg por mês, uma bala 7 Belo (5g) por dia. Botando as contas na ponta do lápis: engordei os 10kg que emagreci na adolescência com os Vigilantes do Peso e ganhei mais dez de brinde. Meu peso disparou de 64kg para 85kg em 12 meses, 12 redondos meses. Eu nem tive tempo de me sentir mal com isso tudo, pois quando me toquei já estava gorda de novo, sem parar para refletir como havia conseguido engordar tudo isso. É sempre assim, nunca queremos enxergar a verdade. Estava tão cega comigo mesma que cheguei até a pensar que poderia estar grávida, fiz exames e tudo, pois não estava entendendo como tinha chegado naquele peso. Não parei para refletir que no último ano não havia parado de comer porcarias um minuto sequer. Estava tão inchada, tão redonda, que tinha vergonha de mim como nunca tivera antes, não sabia como meu namorado (que conheci na fase magra assim que entrei no trabalho) ainda estava comigo, sinceramente não sabia. Mas, novamente, não tomei nenhuma atitude para mudar, estava completamente refém da comida de novo, só queria saber de salgadinhos, chopes, batata-frita, massas, chocolates e, claro, trabalhar que nem doida. Em vez de emagrecer para servir nas minhas calças antigas que ficaram no limbo do armário, passei a comprar roupas
cada vez maiores, e isso é a porta para o comodismo, é içar a bandeira da desistência. Vamos nos enganando até a coisa virar uma bola de neve enorme. E foi isso que aconteceu, chegou um momento em que não tinha coragem de me olhar nua no espelho, muito menos subir numa balança, ou até mesmo tirar fotos em alguma festa. Simplesmente não rolava. Pensava “Já que estou assim, vou continuar comendo o que eu quiser”. Eu tinha um prazer incrível em comer e descontava toda e qualquer frustação em comida. Eu sabia que estava engordando e me consolava COMENDO. O pior é que ninguém me alertou que estava engordando e hoje eu paro e penso: seria muito melhor se alguém chegasse e me alertasse. A verdade é que ninguém se sente confortável ao ouvir que precisa emagrecer, em especial as mulheres, que tem a autoestima mais frágil que uma porcelana quando cutucada na ferida. O fato é que a verdade às vezes dói bastante, e se tratando de peso o baque parece que é maior ainda. Eu acredito que no mundo ideal as pessoas não precisariam ouvir que precisam emagrecer, elas simplesmente precisariam se tocar, virar a chavinha do bom senso e tomar uma atitude. Mas na prática as coisas não são assim, ah, não mesmo! Eu fui engordando, engordando e engordando sem que ninguém em que confio chegasse para mim e falasse que eu estava ficando gordinha. “Peraí, tá todo mundo achando normal eu engordar 20kg em um ano?”
Ninguém me falou um A, nem mesmo o namorado. Me afundei sozinha e não tinha uma pessoa ali que tentou segurar minha mão para eu me reerguer. Tive que me virar sozinha. Hoje penso que mesmo que doesse muito saber e ser lembrada, eu iria preferir que alguém próximo de mim tivesse falado com sinceridade comigo e me dado um toque dizendo que eu estava acima do peso e seria legal se eu emagrecesse. E não esperar ouvir isso de babacas na rua, entendem o que estou falando? Hoje não tenho vergonha de chegar para alguém (amigo próximo) e dizer que essa pessoa ficaria melhor se emagrecesse, por questões de saúde antes de mais nada. Eu sou sincera e só comento sobre isso, pois é algo que eu gostaria de ter ouvido para ter pego no tranco mais rápido. Enfim, com pessoas falando ou não, lá estava eu mais gorda do que nunca. E agora?
M
e acomodei por muitos meses nos 85kg e fingia que não era comigo quando alguém gritava GORDA de dentro de algum
carro em movimento. Sofri todos os tipos de humilhação possíveis, mas não me movia para mudar. Na hora de escolher uma roupa pra sair era um drama enorme, no estilo novela mexicana mesmo, e muitas vezes optava por desistir de sair, já que nada ficava bom. Eu abria o meu armário e me sentia triste, deitava na cama e entrava em crise de choro. – Oi, Camys, tem uma balada superlegal hoje, tá a fim de ir? – Ah, até queria, mas preciso resolver umas coisas. Tudo mentira! Todas as roupas velhas já não serviam, e me escondia atrás de leggings e shorts largos. Eu que sempre fui muito de ir a festas com os amigos, era a primeira a agitar uma balada, comecei a me sentir cada vez
com menos vontade de sair de casa, de viver. A sensação de derrota era impressionante. Eu achava que não conseguiria emagrecer de novo nunca, e a depressão foi chegando devagar e tomando conta de mim, que sempre fui uma pessoa alegre e para cima. Devido ao meu histórico com a balança, a maioria das minhas amizades era com meninos. Tenho mais amigos homens do que mulheres. Mesmo depois de emagrecer virei tipo a “irmã” da turma, aquela que sempre dá os conselhos, que conversa, ouve e é ouvida. Nunca fui vista com olhares que fugisse disso, sempre fui a amiga gordinha e ponto final. Das poucas amigas que tenho, a maioria é linda, magra e esbelta. Acho que até hoje nunca tive uma amiga obesa. Eu era a única da roda, então, a autoestima, que já era bem baixa, ia ao fundo do poço quando saía com elas. Mas essa é só uma das várias situações constrangedoras que passaram a acontecer comigo. Listei as principais: Situação Constrangedora nº 1: Na festa com as amigas Estou na rodinha de amigas em uma festa, quando decido dar um pulinho no bar e pegar um drink. Enquanto faço meu pedido, surge um cara e começa a puxar conversa, sem pretensão alguma. Na minha cabeça, eu já imagino que ele pode estar a fim de me conhecer melhor, ou algo do tipo, até que na hora de voltar pra sua rodinha com o drink em mãos ele lança a frase clássica: “Viu, tem como você me agitar aquela sua amiga?”
Situação Constrangedora nº 2: O Drama das saias e vestidos Que mulher não gosta de usar vestidos e saias, né? Acontece que para a mulher gordinha, isso pode se tornar um pesadelo. Eu comecei a vivenciar esse pesadelo em uma viagem para o Nordeste, que fiz em meados de 2009, quando já estava chegando nos 85kg. Vivia de vestido e com roupas de praia lá, até que no final de um dia inteiro de parque aquático, comecei a sentir um ardor terrível no meio das pernas. Fui até o banheiro e minhas coxas estavam em carne viva, com gotinhas de sangue e tudo. Meu namorado teve de ir até uma farmácia comprar gaze e pomada para fazer parar o sangramento e podermos voltar ao hotel sem eu parecer uma idiota andando de pernas abertas. Imaginem se não chorei? De dor, de humilhação, de tudo. A pessoa acima do peso tem um sério problema quando está sem calças: as coxas se atritam uma na outra, a ponto de assar DEMAIS. Ou seja, ou a pessoa coloca shorts por baixo, o que é bem chato, ou aja pomadas, né? Que situação... Situação constrangedora nº 3: A gordinha na praia Emendando o ocorrido do Nordeste, caio em outra questão muito chata também. Hora de curtir aquela praia com os amigos ou com a família, se jogar na água, tomar banho de sol, e... OPA, PERAÍ! Acho que 90% das pessoas muito acima do peso, na maioria mulheres, têm vergonha de ficar de biquíni em público, tô errada? Então, a situação se desenrola da seguinte forma: você se senta na cadeira de praia (uma cadeira resistente, ok?), com camiseta e shorts e fica lá assando e borrifando aquela aguinha
no rosto, que, vamos combinar, não refresca nada, enquanto tá todo mundo se divertindo. A vontade de se refrescar vai aumentando, e as marcar de sol na camiseta também, então a única solução é chegar bem perto da água, tirar a roupa rápido e entrar no mar em um segundo, sem nem ter tempo de sentir aquele geladinho no umbigo. Nessa viagem, tirei 500 fotos, mas só gostei das fotos de paisagens. Por que será? Situação constrangedora nº 4: O preconceito desconfortante São Paulo, 22 horas. Depois de um dia exaustivo de afazeres e de sair tarde do trabalho, cá estou no ponto de ônibus cansada e com fome, só pensando em chegar em casa. Eis que surge o tio dos salgadinhos e snacks. “Tô morta de fome, vou pegar o pacote maior”, e então você senta no seu cantinho e começa a devorar aquilo como se não houvesse amanhã, afinal, não comeu o dia inteiro. Daí um carro passa e alguém berra lá de dentro “VAI, GORDA!', com o ponto cheio de gente mesmo. Onde enfiar a cara nessas horas? Situação constrangedora nº 5: Comprando roupas O maior drama e humilhação que pode existir quando estamos acima do peso é: comprar roupas. Afinal, não são apenas peças cobrindo nosso corpo. As roupas dizem muito sobre a nossa personalidade e, muitas vezes, não podemos expressar isso por falta de opção, porque as roupas simplesmente NÃO SERVEM. Não tem NADA PIOR do que você entrar em uma loja e a vendedora te responder friamente que não tem
nada do seu tamanho lá. Tem umas que até nos sugerem aquelas lojas de roupas pra tamanhos grandes, mas a gente não quer aceitar que lá é a única
saída,
então
a
solução acaba
sendo
virar
adepta
da
legging+blusona. Se eu quisesse enumerar todas as situações constrangedoras as quais passei com 20kg a mais, poderia lançar um livro só pra isso. O fato é que a situação constrangedora nº 6 foi o ponto final para eu decidir mudar de vez, e me livrar dos quilos adquiridos. Situação constrangedora nº 6: O jeans 48 não entrou! Julho de 2010, estava eu desiludida, passando pelas araras de uma loja de departamento qualquer, já que eu deixei de entrar em lojas com vendedoras fazia algum tempo, única e exclusivamente pelo quesito vergonha de ouvir que não haveria meu número, e então peguei uma calça jeans 48 para vestir. Fazia tempo que não usava calças jeans e queria voltar a ter essa sensação, mesmo sendo em uma calça gigantesca de numeração quase que 50. Ok, peguei umas três peças 48 e me dirigi ao provador. Estava superconfiante e me enganando de que a calça entraria sem problemas, até que comecei a vestir a primeira e, para o meu espanto, ela não passou das minhas coxas. A CALÇA 48 NÃO PASSOU DAS COXAS, COMO ASSIM? Coloquei a segunda e, com muito esforço, ela entrou, mas não fechava nem se eu encolhesse toda a barriga do mundo.
Comecei a entrar em desespero, tentei vestir o terceiro jeans, e NADA. Era oficial: Já estava usando numeração 50, sem perceber. Comecei a chorar, muito mesmo. Tirei toda a minha roupa, fiquei nua e passei a me olhar ali mesmo naquele espelho, que dava para me ver tanto de frente, quanto de costas, então nenhum detalhe passaria despercebido. Observei cada parte do meu corpo, do meu grande, redondo e inchado corpo, dos pés a cabeça. Em meio a soluços de choro, me perguntava “Como eu fui deixar isso acontecer?”. Estava acomodada em uma coisa que me puxava para baixo cada vez mais, e foi aí que a ficha caiu; quando a calça 48 não serviu. Depois de passar muito tempo dentro do provador, refletindo sobre como fui me autossabotar daquele jeito, como me deixei engordar tudo aquilo, me troquei às pressas, saí do provador secando as lágrimas e fui para casa refletir. Entrei em casa com aquela cara inchada e nariz vermelho, sem dar muitos ois, não tive fome para jantar e fui direto para o meu quarto. Apaguei as luzes, me deitei e pela primeira vez a realidade começou a surgir nos meus pensamentos. Pensei “Não posso mais viver infeliz desse jeito”, “como cheguei a esse ponto?”, “preciso mudar já”, entre milhões de outras coisas, e dessa vez estava decidida. Não sei como, mas senti que não estava blefando dessa vez. Sabia também que não iria apelar para dietas mirabolantes, nem nada do tipo. Estava cansada dessa montanha-russa do peso. Eu sabia o que tinha de fazer, mas até então não tinha forças o suficiente para colocar em prática: parar de ser
sedentária e aprender a me alimentar direito, para conviver com isso para o resto da vida.
O
fato de me aceitar e finalmente perceber que estava com um problema grave em mãos já foi um passo e tanto para a
mudança, acreditem. O “querer mudar”, mais do que qualquer coisa, tem o poder de nos levar longe. Sinceramente, sem apelar para o clichê, hoje acredito que querer é poder. Já dizia Walt Disney: “Se você pode sonhar, você pode fazer.” Então, porque não tentar? Lá estava eu, cansada das humilhações e de me sentir mal com o meu corpo. Só precisava saber por onde começar, e a verdade é que não tinha a mínima noção. Só sabia que queria me livrar dos quilos extras, sem pressa e com calma, afinal, não os adquiri do dia para a noite, então não seria da noite para o dia que eliminaria os malditos, não é mesmo? O primeiro passo foi marcar uma consulta com a endocrinologista. Eu era daquelas que odiava ir ao médico, com medo de ouvir certas verdades, e
até hoje morro de medo de exames de sangue, mas lá fui eu com a cara e a coragem rumo ao consultório da endócrino. Com poucos minutos de papo já levei um “sermão”, com ela me dizendo que eu era muito nova para ter aquele peso, e como minha família já tinha histórico de problemas cardíacos, meus cuidados tinham que ser dobrados. Subi na balança do consultório com o maior medo do que ela mostraria, e não deu outra: lá estavam os 85kg redondinhos apontando para mim. Conversa vai, conversa vem, ela me passou uma série de exames e soltou: “Você precisa se mexer, queimar essa gordura de alguma forma, não pode mais ficar parada de jeito nenhum, vai pular corda, andar no parque, qualquer coisa, mas mexa-se!” Aquilo entrou na minha mente de tal forma que até hoje não esqueço. Ela quis me receitar um remédio para “auxiliar” no emagrecimento, mas é claro que não aceitei. Sei muito bem como funciona esse lance de remédios, a pessoa usa e emagrece super-rápido, pois não sente mais fome, mas os efeitos colaterais como depressão, e dependência física e psicológica, são muito maiores, a ponto de perder toda a sua vida em decorrência dos remédios “milagrosos”. Além do fato, é claro, de engordamos tudo de novo depois. Soltei um sonoro NÃO, OBRIGADA. E prosseguimos com a consulta...
Passado o trauma de encarar a verdade, lá vou eu saber mais um pouco sobre como estavam as coisas dentro de mim. Fui para o laboratório fazer a bateria de exames de sangue, e o famoso check-up, coisa que nunca tinha feito na vida. Eu morro de medo de agulha, me dá uma aflição enorme, mas, eu não tinha como fugir. Em um dos exames eu devia ficar quatro horas com o tubo na veia, tirando sangue de meia em meia hora. Bem legal, só que não. Com os resultados dos exames na mão, voltei à endocrinologista para ela avaliar. Para minha surpresa, meu colesterol “bom” estava baixo, na zona de atenção, me alertando de que algo estava errado. Claro que eu entrei em desespero. Como eu, uma menina de 20 anos na época, consegui chegar àquele ponto? Com a gordura afetando minha saúde, minha autoestima, meu psicológico. Isso tinha que mudar. Já não estava mais pensando somente na estética, mas sim na minha qualidade de vida. E isso com certeza foi um tapa na cara para eu acordar para a vida. Naquela semana mesmo, comecei a procurar algumas academias no bairro onde moro. Mas a intenção era achar um lugar com piscina, e não muito caro. Sempre fui apaixonada por piscina, desde pequena, e achava que me sentiria melhor começando só pela natação. O fato é que eu tinha vergonha de ter que dividir o espaço com aquelas pessoas saradas na sala de musculação e aulas em geral. Pelo menos na água ninguém iria reparar no meu corpo, era só tirar a toalha e em 2 segundos eu estava dentro da água. Pensamento bobo, eu sei, já que academia é lugar de
gente que quer ficar em forma, mas isso não entrava na minha cabeça e, para mim, todos que a frequentavam já chegaram ali sarados e fortes. Achei a academia ideal e com preço bacana. Fui até o shopping tentar achar um maiô que servisse no corpitcho de baleia aqui, e o tamanho G era o maior da loja. Mas, mesmo assim, foi muito complicado fazer caber em mim. Eu me contorcia demais para conseguir colocá-lo, era uma batalha sem fim, humilhante, mas era aquilo ou nada. Preferi levá-lo assim mesmo, pois fazer o maiô caber à medida que perdia peso seria mais um incentivo. Antes de dar meus tchibuns na água e praticar exercícios aeróbicos, precisei passar por uma avaliação física, que é aquele momento no qual a verdade vem à tona, no qual nos sentimos um lixo, no qual a gente escuta em números tudo aquilo que já sabemos de cor e salteado: TÔ UMA BALEIA! Para quem nunca passou por isso na vida, já adianto como é feito o processo: Primeiramente a treinadora faz algumas perguntas do tipo: “Tem histórico de doença na família?”, “Fuma?”, “Bebe?”, “Tem dor na coluna?”. Depois ela vem com um instrumento “do mal”, similar a um grampeador, e aperta todas as suas gordurinhas para ver como está a composição corporal, ou seja, quanto você tem de massa magra (músculos) e de gordura. Daí ela faz umas contas malucas e, com base em todos os “apertões”, ela consegue tirar uma base de sua porcentagem de gordura para com a de músculos. Além disso, ela tira suas medidas de quadril, abdome, braços, pernas, tórax, e te informa se você está ou não
nos padrões. Também faz a relação cintura-quadril, que é a porcentagem que vai te dizer se você tá com mais gordura abdominal (barriguinha) do que o normal, o que pode acarretar em um ataque cardíaco com mais facilidade do que quem não tem a tal barriga. Claro, eu já podia prever mais ou menos os meus resultados: muita gordura, pouco músculo, e a relação cintura-quadril muito acima do normal, o que me deixava propensa a ter um ataque cardíaco muito mais fácil do que alguém saudável. Resumindo: meus números estavam vergonhosos, estava com 40% de gordura no corpo, e isso é muito ruim! Me senti a pior pessoa da face da Terra, literalmente um lixão de tudo quanto é comida ruim que coloquei pra dentro da boca. Isso foi só mais um tapa na cara para acordar e ver que precisava mudar essa situação! Feita a avaliação física e com a ciência do buraco onde havia me enfiado nesses anos todos, fui fazer a carteirinha da academia com aquele sentimento de “não sei se vou conseguir”. Já não gostava de tirar fotos, imagine tirar uma para a carteirinha que teria de ver todos os dias? Como não havia escolha, fui tirar a bendita foto. A moça tirou uma, duas, três fotos, e não gostei de nenhuma, obviamente, mas é lógico que a culpa era minha por ter me tornado um monstro para mim mesma. Desisti de tentar “sair bem” e me conformei com aquilo. Não mostraria a carteirinha para ninguém. A única coisa chata era que toda vez que passava na catraca da academia, minha foto aparecia grande no monitor. Quis me enfiar num poço na primeira vez que isso aconteceu. Hoje tiro
isso como uma boa experiência, pois guardo essa foto para lembrar de como eu era, e como nunca mais quero ser. Ok, material para natação: checado; avaliação física: checado; carteirinha: checado; agora só faltava seguir rumo à primeira aula na água. A sorte que tive foi que naquela academia não havia nadadores profissionais, nem nada disso. Eram pessoas “normais”, idosas, jovens, gente fora de forma. Estava me sentindo em casa e perdendo aquela sensação de “todo mundo vai comentar sobre mim”, “lá vem a baleia”. Bom, a primeira aula de natação superou minhas expectativas. O professor falou que eu nadava bem para quem só fez aula na infância, e isso me animou bastante. Eu só precisava saber os movimentos certos, treinar o desempenho, porque medo da água eu com certeza nunca tive, então a adaptação foi mais fácil. Quem acha que natação não queima calorias está muito enganado! Uma aula moderada pode mandar para o espaço até 500 calorias. Nas primeiras braçadas já senti meu fôlego indo embora, e fui obrigada a levar garrafinha de água para deixar na beira da piscina. Imaginem o mico, só dava eu com a garrafinha! rs, mas em nenhum momento pensei em desistir ou abaixar a cabeça. Finalmente estava praticando um esporte depois de 20 anos parada, ou melhor: praticamente a vida inteira parada. A primeira impressão que tive frequentando algumas aulas foi: nadar exige muito esforço, algo que eu não tinha, já que estava completamente sedentária e fora de forma. Nas primeiras aulas saía da piscina com as pernas bambas, toda mole e morta de fome. Mas logo vi que aquilo era o
impulso de que precisava para começar com o pé direito a minha saga contra o sobrepeso. Enquanto me adaptava às aulas e me esforçava para ir religiosamente a todas, sabia que teria de mudar toda a minha alimentação. Afinal, exercícios andam junto com o que a gente coloca para dentro da boca. Não adianta se matar com exercícios se o problema está no que se come. Em outras palavras: não vou suar e comer junkie food depois, né? Dessa vez, eu queria fazer do jeito certo e com calma. Já que a mudança teria que ser para sempre, estava na hora de começar a famosa reeducação alimentar que tive “medo” de enfrentar durante todos esses anos. Quando digo reeducação, é reeducação MESMO. As armas na mão eram poucas. Eu estava mais perdida que cega em tiroteio, confesso, sem saber o que fazer, em quem me espelhar, o que comer. Sentei no computador uma noite e coloquei na cabeça que iria começar a estudar esse mundo saudável, buscar referências e motivações na internet, afinal o básico eu já sabia. Aliás, todo mundo sabe o básico para começar a perder peso, apenas fingimos que não sabemos… Eliminar o refrigerante e reduzir as frituras e os doces: esta é a regra básica para quem quer começar a ver o ponteiro da balança descer, e com saúde. Comecei a ler alguns blogs de meninas que emagreceram sendo saudáveis e passei a acompanhá-los de cabo a rabo. Mas queria mais informação, estava viciada em ler e absorver tudo sobre essa nova etapa de vida em que eu estava prestes a entrar. Eu precisava saber mais sobre como manter o foco, como dar a volta por cima de verdade e me
manter saudável por toda a vida. Após passar horas na frente do computador lendo sobre emagrecimento, decidi entrar na livraria ao lado da academia na manhã seguinte. Eu estava bem despretensiosamente passeando pela gôndola de saúde, para ver se algo ali me interessava, e encontrei um livro especial que chamou a minha atenção. O nome era Pense Magro, exatamente aquilo que estava procurando: como faria para mudar meu pensamento de gorda. Não hesitei e comprei! Mal sabia que aquele livro mudaria muito a minha vida, minha forma de pensar e de agir diante dos alimentos. Cheguei em casa e comecei a ler minha nova aquisição, e botar em prática algumas tarefas que ele prescrevia. Elas me ajudaram muito a me manter focada, e a resistir às tentações conforme surgiam. Eu estava começando a treinar o pensamento para mudar os hábitos de vez, e nunca mais engordar.
E
m casa, a situação sempre foi a seguinte: minha mãe nunca cozinhou coisas saudáveis. Cresci à base de linguiças, peixe frito,
frango empanado, arroz, feijão e uma variedade pequena de saladas. Aos finais de semana, o evento da família era ir à lanchonete ou a uma pizzaria. Na dispensa, doces e mais doces, pacotes de bolacha, pão branco, latas de leite condensado e infinitas gordices. – Mãe, o que tem de janta? – Batatinha frita, que eu sei que você adora! – Oba! Por ter um irmão menor, que nessa fase da vida não está muito preocupado com o que vem a ser gordura saturada, as compras sempre foram nesse nível. Sem falar do estoque de macarrão instantâneo e
lasanha congelada para aqueles dias em que ninguém tá a fim de fazer comida, sabem? Então, me imaginem num ambiente desses, tentando começar uma rotina alimentar saudável. Desespero? Um pouco, mas precisava tirar foco do fundo do poço de qualquer maneira. Lá em casa, sempre fomos todos muito simples, estamos longe de ser uma família com dinheiro e eu, desde que comecei a trabalhar, cuido das minhas próprias despesas. Logo, não poderia simplesmente entregar uma listinha cheia de produtos light, que geralmente costumam ser o mais caros, para os meus pais fazerem as compras. Então, em agosto de 2010, sentei com minha mãe e meu pai, e contei que iria começar o processo de emagrecimento para valer. Parece bobagem, mas eu conseguia ler o pensamento deles, e era algo mais ou menos assim: “ela só está falando da boca para fora, não vai conseguir”. Eles viviam me falando coisas do tipo: “Camilla, para de comer! Você está ficando gorda!”, “Nossa, filha, quanto você tá pesando?”. Minha avó era a mais sincera. Sempre que a visitava, ela me dava um puxão de orelha enorme, dizia “meu deus, olha o tamanho do seu braço”, e coisas do tipo, e falava para eu cuidar da saúde e blá-blá-bla. Mas nunca absorvi aquilo de verdade. Então, depois de mostrar meus exames para eles, e de verem meu empenho em me matricular numa academia, à qual paguei com meu próprio dinheiro, pedi sua ajuda para ao menos tirarem do meu campo de visão tudo que fosse tentador, tudo que pudesse ser uma ameaça ao
meu emagrecimento. Pois, na hora das recaídas, se tivesse um chocolatinho sequer na minha frente, eu não hesitava em atacá-lo. Acho que isto é a prioridade na reeducação: se livrar das tentações. Separei uma área do armário da cozinha só para abrigar meus produtinhos da “dieta”. Não queria dividir meu espaço com as bolachas recheadas do meu irmão, nem queria vê-las, pois sabia que não teria autocontrole suficiente ainda para recusá-las. De início, resolvi ir trocando o pão normal, aquele que eu comia oito fatias por dia, pela versão integral. O número de porções, lógico, diminui também, duas fatias no máximo, no lanche ou café da manhã. Dei adeus para o amado salame e passei a consumir peito de peru. Minhas principais trocas, cortes e reduções de início: 1. Refrigerante (incluindo os light/diets/zero) por sucos. Isso foi fácil. A verdade é: refrigerante é uma bomba de sódio se tomado constantemente. Tem muitas calorias, gás e, claro, engorda. Nos sentimos estufados e, não sei vocês, mas quando tomava versões normais parecia que havia engolido um pote de açúcar, e as versões zero possuem adoçantes, que em grande quantidade fazem mal também. Muita gente gosta de se enganar trocando refrigerante por sucos de latinha, que às vezes podem ser até piores que o próprio refrigerante. Tem uma quantidade absurda de açúcar e calorias, e o gosto de suco mesmo é zero, né? Tem toda uma pegada artificial. O que fiz foi trocar por sucos naturais sem açúcar (nem adoçante). No começo a gente acha
amarguinho, mas como já disse, é tudo uma questão de hábito. Quando não consigo tomar sucos naturais, compro aqueles de soja, que são muito bons também. E, claro, muita, mas MUITA água durante o dia todo. Com o tempo até esqueci que refrigerante não me faz falta nenhuma. 2. Fast-food toda semana por fast-food uma vez ao mês. Não vou mentir: sempre fui muito fã de fast-food, e olha... fã mesmo! Até depois de adulta, quando trabalhava perto de um, ia toda santa noite comer nuggets lá. Também levava para comer no ônibus e, chegando em casa, ainda jantava. Coisa de gordinha compulsiva mesmo, de sentir aquele cheiro de fritura invadindo os pulmões e parecer que ligava a chavezinha da GULA, e eu tinha que entrar e comer. Nos finais de semana, comia lá de verdade. E depois não sabia o motivo de estar obesa, né? Todo mundo sabe que hambúrguer com batata frita é o combo mais gorduroso que existe. E vocês acham que a gordura da nossa barriguinha surge de onde? Dentre outras coisas, vem principalmente das idas ao fast-food, claro. Uma coisa muito típica que fazia era sair da balada de madrugada morta de fome e passar lá. Nessas ocasiões eu comia mais do que deveria, pedia combos grandes, nuggets extras e… depois ia dormir de barriga cheia. Ô passado negro! Acho que não tem problema comer em fast-foods uma vez por mês, optando por lanches menores. O lance é sempre buscar a moderação, e não virar uma neurótica do tipo “Ai, nunca mais vou comer isso”, porque quem gosta
muito, fica cinco meses sem ir e sofre por isso, quando for, pode ter um surto momentâneo e comer exageradamente. Sacaram? 3. Alimentos congelados/sopas prontas/macarrão instantâneo. Quem nunca chegou em casa sem qualquer vontade de preparar algo? Sei que muitas vezes a preguiça consome nosso corpo e só dá vontade de enfiar aquela lasanha no micro-ondas, ou aquele miojinho que fica pronto em 3 minutos. Mas, vamos combinar, tudo isso é RICO em sódio, que retém muito líquido e nos deixa inchada, acarretando também em problemas com o colesterol. Inclusive aquelas sopas de saquinho, que dá para tomarmos na caneca, têm uma quantidade absurda de sódio, além de não sustentar em nada. Cortei mesmo. Se for inevitável comer macarrão instantâneo, acho válido dispensar aquele pozinho e trocar por um molho de tomate caseiro, porque é no tempero aparentemente inofensivo que está concentrada a parte ruim da coisa. Olha, antigamente eu comia macarrão instantâneo com o pozinho e ainda misturava requeijão e queijo. Semancol mandou um alô! 4. Doces A minha sorte é que nunca fui maníaca por chocolate, mas sempre abusei muito de sorvetes, bombons, biscoitos recheados etc. Coisas que em geral são açúcar e gordura pura. Então, já viu, né: você é o que você come. E eu era um sonho bem recheado com muita calda de chocolate. Doce em excesso nunca é bom, ainda mais se você não queimar isso
depois. O açúcar do doce será instantaneamente ser armazenado como gordura. Quando bate a vontade louca, compro uma barra pequena de chocolate meio amargo, que os especialistas dizem fazer bem para o coração, e como um quadradinho por dia, saboreando muito bem até derreter completamente na boca. Passei também a comprar aqueles doces de banana sem adição de açúcar, porque quebram um bom galho e eu adoro. E daí, pronto, minha vontade de doce passa. Acho que temos que pensar o seguinte: “Prefiro esse chocolate ou prefiro ser magra?” 5. Carboidratos (farinha branca por integral) Antigamente, meu prato de comida parecia aqueles de pedreiro, acreditem. Inclusive na janta. Eram colheres e mais colheres de arroz branco. Pão francês era todo dia, no café e no lanche da noite. Sem critério algum. Sabia que isso teria de parar, então aos poucos fui reduzindo o consumo, parei de consumir pães à noite, e coloco no máximo duas colheres de arroz no prato. Passei a consumir tudo na versão integral. Arroz, pães, torradas. Além de me saciar por mais tempo, possui fibras, o que é muito bom para o funcionamento do organismo, e não causa aquele peso na consciência. Mas não é porque você vai comer alimentos integrais/light, que tem de começar a comer o dobro do que comia. Continue comendo a mesma quantidade e tá tudo bem. 6. Leites e queijos
Eu sempre fui viciada em requeijão, mas sabia que teria de substituí-lo por outra coisa se quisesse mesmo começar a desinchar. Descobri então o queijo cottage. É um tipo que nem gosto de queijo tem, é muito mais leve, tem pouca gordura e é menos calórico. Delícia! Quanto ao leite, nunca gostei muito de tomar, mas fiz questão de trocar a versão integral pelo desnatado. Além disso, comecei a incluir muito iogurte desnatado, já que é uma boa fonte de cálcio. A princípio, as principais mudanças para começar a “desintoxicar” o corpo foram essas. Muito suco, muita água, muito verde. Tive também que reduzir significantemente a quantidade de álcool que consumia, afinal, uma coisa é certa, fato, está cravada na pele como tatuagem: se eu não bebesse o tanto de álcool que bebi na adolescência inteira, facilmente não seria tão obesa como fui a vida toda. E também tenho certeza absoluta de que o fato de eu ter começado a beber muito mais aos poucos favoreceu muito a questão de eu ter engordado quilos e quilos freneticamente. A verdade é que eu não afogava minhas mágoas somente na comida, mas também na bebida! Passei anos indo a festas aqui, barzinhos ali, happy hour e baladas todo final de semana, e, para não me sentir deslocada por causa do meu peso, a solução que eu encontrava era BEBER. Foram litros de vodca, chope e energéticos que ficaram acumulados aqui no meu “pânceps”, e precisei cortar muito o consumo para ser bem-sucedida na minha reeducação.
Quando falo que bebi muito durante todos esses anos, não estou falando de beber socialmente. Quem me conhece já me viu constantemente trançando as pernas, pagando micos, falando coisas sem nexo e apagando tudo da memória por completo. Acordando na casa de alguma pessoa desconhecida completamente sem saber onde eu estava. Já perdi muitos amigos e arranjei muitas brigas pelo fato de exagerar nos drinques. Então, hoje percebo que não adianta muito se esforçar para comer certinho, mas abusar nos “bons drinques”. Depois de três doses de tequila, somadas a uns 5 drinques de vodca com energético (e não é o light não, é a versão com mais de 100 calorias mesmo!), mais cervejas, mais caipirinhas: pronto, tudo que você se esforçou pra perder na semana ganhou facilmente em uma noite. Ok, sei que quando estamos na balada ou no show, nós suamos, dançamos etc., mas, acredite, essa farra toda só irá te fazer perder uma dosezinha das mil que tomou. Daí, no dia seguinte, além da ressaca, você acordará toda inchada e com muito mais gordura acumulada do que antes. É a famosa barriga de chope. Sem contar que beber dá uma fome, né? A probabilidade de você atacar a geladeira é muito maior do que se estivesse sóbria. Difícil, amigos, muito difícil. Talvez essa tenha sido a decisão mais complicada que tomei quando decidi emagrecer de vez (meu deus, pareço uma participante dos alcoólicos anônimos falando), mas sei que os esforços valem a pena no final, sempre valem. A minha sorte é que
nunca me interessei por fumar cigarro, mesmo quando todos os meus amigos, no auge dos seus 15 anos, começaram a fumar se achando “descolados” e “adultos”. Eu experimentei, mas não gostei, achei horrível, e não insisti para não me viciar. Caso contrário, esse seria mais um problema na minha vida. Nunca vi atletas dizerem que fumam e bebem todo dia, então, estou no caminho certo. Além disso, vamos combinar né, se eu não bebesse desse jeito, já estaria rica, pelo tanto que já gastei com drinques e comandas tão caras que fui obrigada a passar o cartão de crédito. Não foi pouco não! Hoje eu ainda bebo, mas muito menos do que antes. Não dispenso um bom vinho e, às vezes, topo um bar de final de semana para umas cervejas. O lance é ter bom senso e fazer tudo com moderação. Minha relação com a bebida é muito mais difícil do que com a comida: parece que tenho um autocontrole melhor quando se trata de resistir a comidas gordas, do que quando estou num bar com várias bebidas na minha frente. Sim... sou um pouco refém do álcool, afinal, bebo desde os 13 anos sem parar, mas hoje em dia melhorei muito e pretendo continuar assim, me controlando para ser uma pessoa que só bebe “socialmente”, de verdade. Quando ia comer na rua, a situação mudava um pouco. Afinal, eu precisava escolher bem o que comer, onde comer e tomar cuidado para não escorregar nas tentações. Como já trabalhava e não conseguia levar comida de casa, os almoços acabavam sendo sempre na rua. Na época, meu emprego era ao lado de bons restaurantes por quilo, daqueles com feijoada, batata frita, polenta, e tudo que há de mais gorduroso e que a
gente ama comer. Mas nesses quilos, geralmente também tem a área de saladas e grelhados, da qual eu costumava passar bem longe. O fato é que eu era a pessoa mais acomodada do universo, e não me movia para conhecer novas opções de alimentos. Eu sempre atacava o combo carboidrato+fritura, e para não dizer que não comia verde, colocava um tomatinho e uma folha de alface ali, de enfeite. Depois que decidi mudar de vez, passei a olhar os restaurantes por quilo sob uma nova perspectiva. Comecei a colocar muita cor no meu prato, e geralmente acompanhada de carnes magras e arroz integral com feijão. Antes gastava HORRORES em restaurantes assim, mas agora meus pratos, além de começarem a ficar mais bonitos, estavam mais leves e consequentemente mais baratos. O pessoal que sempre almoçava comigo até estranhou. “O que será que ela tem para estar comendo tão pouco?” E logo veio a pergunta que ouço até hoje: “Você tá de dieta, Camys?” E eu respondia “Não, só estou tentando levar uma vida mais saudável”. Como eu tinha complexo de que todos achavam que eu não iria conseguir, logo imaginava que eles estariam pensando que aquela mudança de hábitos não duraria sequer uma semana. Mal sabiam eles. Eu tinha certeza de que dessa vez seria diferente. Algo me dizia que dessa vez teria sucesso, eu estava confiante e fazendo tudo certo. Prometi a mim mesma que dessa vez não passaria fome para perder peso, então, uma das primeiras atitudes foi comprar um caderninho e anotar tudo o que consumia, dos copos de água até aquela beliscada fora
de hora. Isso foi a chave para eu manter o controle. Às vezes eu até desistia de comer pensando que teria de registrar o abuso no papel. Além de ser um método muito interessante para observar o progresso, hoje eu pego o caderno para ler anotações de meses atrás e sempre penso “Meu deus, como eu comia tudo isso em um dia?”. Então, essa é minha principal dica para alguém que me pergunta: Por onde eu começo a emagrecer? Anote. Anote tudo que você põe para dentro da boca. Isso faz mesmo a diferença, pode parecer chato de início, mas, depois, a gente acostuma e a mudança é visível. Você passará a comer melhor a cada dia, em parte devido a essas anotações. Com o tempo, também passei a tirar fotos das refeições. As pessoas acham que sou louca quando tiro o celular para clicar o prato, mas minha cara de preocupação é nula, rs. A primeira semana da reeducação alimentar foi a mais fácil de todas. Me senti um balão murchando. Todo aquele inchaço que eu tinha foi desaparecendo aos poucos. Na sexta-feira já me sentia muito melhor do que na segunda anterior, e com menos 2 quilos na balança, o que me deixou super, ultra, megamotivada para continuar. Mas é assim mesmo, quanto mais peso temos, maior é a tendência de perdemos peso rápido, já que muito dos quilos a mais não é apenas gordura, mas sim líquido acumulado. Foi exatamente o que aconteceu comigo, foi só fazer algumas substituições na minha alimentação, diminuir as porções e me
disciplinar para não comer doces todos os dias, que o peso já começou a baixar logo na primeira semana. Estava feliz da vida e confiante.
P
assado exato um mês e meio desde que comecei a natação e a tentativa de me adaptar à reeducação alimentar, me pesei na
academia e a balança marcava MENOS 7 QUILOS. Imaginem a felicidade em que eu me encontrava? Já conseguia me sentir muito melhor, algumas calças antigas de numeração 46 já estavam começando a servir e passei a fazer alguns diários em vídeo1 contando meu progresso, para me automotivar, e é superlegal assisti-los hoje em dia, ver meu rosto afinando.
1
youtube.com/pensandomagro.
Passei a me dedicar full time a fazer isso dar certo, e considerei o emagrecimento uma prioridade máxima. Coloquei uma foto da Katy Perry, minha musa inspiradora, de wallpaper e passei a deixar recadinhos para mim mesma em post-its. Escrevia coisas do tipo “foco na meta”, “você consegue”, “prefiro ser magra”, “quem quer faz, quem não quer inventa uma desculpa”, e várias outras frases motivadoras. Eu estava totalmente envolvida em continuar o caminho rumo à magreza. Com 7 quilos a menos passei a me sentir um pouco mais confortável para fazer outras atividades, decidi dar um passo à frente e começar a frequentar a sala de musculação acompanhada de caminhadas na esteira, alternando com a natação, claro. Me apeguei demais à piscina, e não queria parar de nadar! Bom, o instrutor me passou uma série de iniciante e comecei levantando pesos de 1kg, fazendo “pouca” força, já que nunca havia “puxado ferro” antes. Porém, noo dia seguinte à primeira aula, meus músculos estavam TOTALMENTE doloridos e eu me sentia quebradérrima. De qualquer forma, eu sabia que deveria continuar frequentando os treinos para aquela dorzinha sumir e meu corpo se acostumar àquela prática de atividade. Depois dos treinos de musculação, passei a andar por meia hora na esteira todos os dias. Os primeiros passos em cima dela a gente nunca esquece. Decidi começar a frequentar a academia, mas esqueci do detalhe de comprar roupas adequadas, pois não tinha absolutamente NADA que
servisse para malhar, nem mesmo tênis! Mas lá fui eu para a esteira com os primeiros trapinhos que achei. Coloquei a dita-cuja na velocidade 5.5, considerado aquele “passo meio rápido”, olhei para o lado e vi uma mulher correndo na velocidade 9. Só me perguntava como ela conseguia essa proeza sem cair da esteira. Será que um dia conseguiria correr daquele jeito? O objetivo ainda não era aquele; se conseguisse me manter por 5 minutos andando em linha reta em cima daquilo estava bom. Parecia que eu ia morrer de tanto suor, tamanha era a gravidade do meu sedentarismo. O que bebi de água naquela meia hora não foi brincadeira, viu? Quando acabaram aqueles 30 minutos, saí da esteira com a sensação de que ainda estava andando rápido. Foi muito estranho, mas sabia que era porque nunca havia feito aquilo antes. A primeira experiência foi boa, não morri e adorei. Sabia que era tudo questão de hábito até me acostumar a caminhar cada vez mais rápido. Achei que a experiência na academia seria bem pior. Sempre fui muito tímida e no começo tinha vergonha até de perguntar o nome dos aparelhos, mas depois de duas semanas de frequência, comecei a pegar gosto pela coisa, já chamava os professores pelo nome e, quando eu deixava de aparecer por algum motivo, eles já vinham pegar no meu pé! Estava finalmente tomando o rumo certo da minha vida e deixando o sedentarismo de lado. A sensação era de que nada poderia me fazer desistir. Comecei a perceber como era ter o controle do meu próprio corpo e mente, a experimentar um bem-estar incrível. Não me sentia
feliz há muito tempo, mas toda essa felicidade foi bruscamente interrompida na manhã que recebi a ligação que mudaria para sempre o rumo da minha vida e poderia colocar todos os meus esforços por água abaixo…
C
inco de outubro de 2010, uma manhã como outra qualquer. Fui para a natação, tomei um belo banho relaxante, sequei o cabelo,
me arrumei e fui feliz e descansada trabalhar. Na época eu trabalhava em uma agência praticamente do lado de casa, então, era uma delícia ir a pé para lá, e chegar rapidinho. Me sentei, liguei o computador e comecei a ler alguns e-mails. O telefone toca, era minha mãe. Normalmente ela não me ligava assim, cedo, mas nem passou pela minha cabeça que poderia ter acontecido alguma coisa. Atendi, e uma voz chorosa do outro lado do telefone já adiantava que boa coisa não era. Perguntei: – Oi, que foi, mãe?! E ela:
– Filha… – Quê? Fala logo! – Filha… eu acho que (mais choro) o seu pai… morreu. – O quê?! Não fala isso! Como assim você acha?! – É, sua avó me ligou agora e falou que ele passou mal e… aí, filha, vem aqui pra casa que te explico tudo! Desliguei o telefone na hora e já estava em prantos, pensando em milhões de coisas. Falei para o pessoal da agência que meu pai havia passado mal e eu precisava ir embora. Desci correndo as escadas e, como minha casa era perto, corri pela rua como nunca havia corrido antes. Aliás… eu nunca havia corrido antes! Não sabia o que pensar, o que fazer, só queria chegar logo e ver minha mãe para ela falar que estava enganada, sei lá… Abri a porta, receosa com o que poderia ouvir, mas minha mãe não precisou falar nada, o abraço apertado e o choro desesperado já eram suficientes para eu entender a situação: meu pai havia falecido naquela manhã, naquela ensolarada manhã. Meu pai não estava morando com a gente, ele havia decidido “dar um tempo” da minha mãe e foi morar com meus avós, mas isso durou apenas dois meses. No domingo anterior à manhã de sua morte, ele fora em casa comer uma pizza comigo, meu irmão e minha mãe, como sempre fazíamos. Mesmo não morando mais na nossa casa, nos víamos sempre e éramos muito próximos. Para nossa surpresa, aquele domingo de pizza não era um domingo qualquer. Ele conversou conosco e disse
que havia decidido voltar para casa, e claro que minha mãe o aceitou de braços abertos, afinal, nem ela entendeu muito bem porque ele havia nos “deixado” na primeira vez. Então, depois da nossa janta, ele me deu um abraço e falou “Tchau, filha, semana que vem estou de volta!”, e disse para meu irmão menor: “Vini, sua mãe não vai poder ir à reunião da escola quinta, então, eu vou, tá? Pode deixar.” Essas foram minhas últimas palavras com meu pai, e aquela quintafeira de reunião nunca chegou. Na terça, ele estava no trabalho quando teve um ataque cardíaco fulminante e não resistiu. Assim, sem mais nem menos, ele se foi, deixando para trás toda uma vida, toda a história em branco que ele iria recomeçar com a gente. Não sou espírita nem nada do tipo, mas às vezes sinto como se ele estivesse pressentido algo, porque é muito estranho ele avisar que voltaria para casa e dois dias depois vir a falecer. Ou pode ser só besteiras da minha cabeça, mas é algo a se pensar. No dia da noticia, não queria saber de comer, ou até mesmo de viver. O sentimento era de fraqueza, de querer morrer junto com ele. Na hora só conseguia pensar em injustiça, revolta, crueldade, que a gente não merecia nada daquilo. Passei o dia muda, deitada na cama, de mãos dadas com meu namorado e próxima da família, esperando a hora do velório. Tá aí uma coisa de que nunca gostei, mas estava a caminho do primeiro velório da minha vida, e era o do meu próprio pai. Só quem perde alguém muito
próximo sabe a dor que é. Meu coração estava em pedaços, e não tem como descrever tamanha tristeza em linhas ou frases. Não desejo para nenhum ser humano ver seu próprio pai dentro de um caixão. A sensação é de que ele está dormindo, mas na verdade não está. Você torce para ele levantar dali e sair andando, mas não, isso não vai acontecer, a alma dele já está bem longe do corpo. As horas passam, ele vai ficando pálido, e nosso coração vai ficando mais apertado. A hora mais triste de todas é quando o caixão se fecha, e é isso… acabou, nunca mais você verá aquele rosto, a não ser em fotos e vídeos da família, e, claro, na sua memória. Meu pai não viveria para ver meu progresso no emagrecimento, ele nunca mais chegaria em casa falando “filha, emagreceu quantos gramas hoje?”, nunca mais me ligaria falando que estava com saudades, mesmo tendo me visto duas horas antes. Nunca mais. Voltamos do velório e fui direto para a cama, sem conseguir comer ainda. Nada descia, minha cabeça não estava raciocinando direito e só pensava em dormir para esquecer. Quando acordava, eu lembrava do que aconteceu e voltava a chorar. E isso se repetiu por longos três dias. No final do terceiro dia minha mãe e meu namorado sentaram comigo e falaram: – A vida precisa continuar, a gente não pode ficar se lamentando para todo o sempre. E eu sabia que eles estavam certos, não poderia me afundar em depressão, não era isso que meu pai gostaria que fizéssemos. Meu pai
não nos deixou nada, nem aposentadoria, dinheiro, nada. Mas deixou uma lacuna aberta, uma saudade imensa que ainda persiste. Ele se foi muito cedo, com 56 anos, mas foi, e agora nós que ficamos, teríamos que tentar ser felizes e seguir nossa vida. Eu estava decidida a fazer minha vida valer a pena em honra ao meu pai, que sempre tentou de todas as formas ser o melhor pra nós, nas dificuldades e nas alegrias. Voltei ao trabalho na semana seguinte ao ocorrido, decidida a dar um novo rumo para minha vida. Primeiro de tudo: precisava mudar de emprego para algo que me pagasse melhor, afinal, meu pai havia deixado muitas contas, inclusive o aluguel do nosso apartamento, para nós. O choque foi grande: descobrimos que havia muitos aluguéis atrasados e a conta passava de 15 mil reais. Eu me dispus a ajudar minha mãe, que na época também não ganhava muito. Meus avós por parte de pai não nos ajudaram em nada, parece até que morreram junto com ele. Até hoje não me ligam para desejar feliz natal ou feliz aniversário e, sinceramente, não sei o motivo de terem sido tão frios em um momento tão crítico como o que estávamos passando (vô: se um dia você ler este livro, te pergunto: Por quê?). A responsabilidade bateu à porta, e éramos somente eu e minha mãe prestes a trilhar um caminho desconhecido, com muitas incertezas e luta. Tivemos que nos livrar do apartamento alugado, pois não daria para pagar os atrasos mais o aluguel do mês. A sorte foi que minha avó materna, a linda Dona Eugênia, cedeu alguns quartos da casa dela para nos abrigar até a situação se resolver, pagarmos todas as contas e
tentarmos nos reerguer para recomeçar a vida. Sou extremamente agradecida pela minha vó ter “salvado” a gente, se não, não sei onde estaríamos agora. Tivemos de nos desfazer de todos nossos móveis, guardar lembranças em caixas que estão mofando na garagem, doar roupas, nos sacrificamos em vários sentidos, mas não tivemos opção, era aquilo ou nada. Com o fator “habitação” resolvido por enquanto, era hora de procurar um emprego novo. Acho que em uma semana amadureci uns dez anos. Era muita responsabilidade junta para uma menina que havia acabado de fazer 21 anos (meu pai faleceu 20 dias após meu aniversário), mas não queria abaixar a cabeça, não ia dar o braço a torcer, não importa quantas rasteiras a vida me passasse. Eis que minha melhor amiga, Alessandra Ferreira, desesperada em me ajudar de alguma maneira, me indicou para uma vaga de designer em um lugar muito melhor do que a empresa onde eu estava trabalhando, e foi a salvação para nossa família. Deu tudo certo e comecei a trabalhar lá! Com o salário que passei a ganhar, deu para dividirmos as contas deixadas pelo meu pai e ir segurando as pontas. Os dois meses após a morte dele foram realmente intensos. Pelo que vocês podem ver, minha vida se revirou de cabeça para baixo e eu tinha TUDO para me enfiar no poço, pular do precipício ou voltar a comer que nem uma louca. Enfim, descontar a tristeza em potes de leite condensado. Mas, surpreendentemente, não foi isso que fiz. Juntei forças sabe-se lá de onde e logo que voltei às atividades “normais”, uma semana
depois do ocorrido, voltei também à rotina de exercícios e continuei me alimentando como antes. Algo dentro de mim me dizia que era isso o que precisava ser feito e ponto final. A decisão era lutar com todas as forças para orgulhar meu pai de ter deixado uma filha esforçada aqui na Terra. Eu iria fazer de tudo para não decepcioná-lo e cada gota de suor, cada esforço e quilo perdido seria dedicado a ele, só a ele. Mesmo tendo se enrolado muitas vezes na vida, deixado essas contas e tudo mais, ele sempre se esforçou para dar tudo de melhor para mim e meu irmão. Pagou minha faculdade, me levava para lá e para cá na minha época de adolescente cricri, me ajudou a investir na minha carreira, me deixou prontinha para encarar o mundo, e, quando se foi, por mais difícil que tenha sido, com o passar das semanas comecei a sentir uma sensação estranha de “segurança”, de saber o que estava fazendo, de ter sido preparada para encarar tudo. E lá fomos nós entrar em 2011 com o pé nem tão direito, mas, com sentimentos de esperança…
2011, vida nova, corpo novo, mente nova
D
ois mil e dez terminou em clima de tristeza, e lá em casa ninguém estava no pique de comemorar o natal, muito menos o
ano-novo. O sentimento era de desmotivação na família, mas estávamos muito unidos e sabíamos que teríamos que ser fortes para passar pela primeira virada de ano sem o papi presente. Eu e minha mãe passamos a ficar muito mais próximas depois da morte dele, uma apoiando a outra, e decidi que passaria as datas comemorativas ao lado dela. Quanto mais o Natal se aproximava, mais depressiva eu ficava. Muitas vezes tive momentos de recaídas quando lembrava que meu pai não passaria o final do ano com a gente, por isso decidi que beberia e comeria tudo que tivesse na ceia do Réveillon… é, isso ninguém sabe, não escrevi no blog, não contei para ninguém, simplesmente não estava
me importando muito. Acabou que fiquei bêbada na frente de todos os meus familiares, fiz o maior vexame, comi mais do que devia, chateei as pessoas, passei mal, chorei e tudo isso a troco de que mesmo? Pois é… Comecei 2011 pesando 72kg, ou seja: já havia mandando pro espaço 13kg, pois comecei o projeto em agosto de 2010 pesando 85kg, mas sabia que o caminho ainda era longo. Virei a página do passado e resolvi que, daquele momento em diante, só pensaria no meu futuro e na minha felicidade. Chega de choradeira, chega de mimimi e chega de recaídas constantes. VAMOS LÁ, CAMYS! Resolvi focar em mim, e toda a dificuldade que passei no final do ano só me deixou mais forte para encarar a realidade, continuar a emagrecer e, claro, me aperfeiçoar na reeducação alimentar e me tornar cada vez mais uma amante de exercícios físicos. Com a cabeça mais calma, passada a reviravolta de emoções negativas, passei a cobrar mais de mim mesma em vários sentidos. Na academia, decidi que tentaria dar os primeiros passos rumo à corrida, e não ia desistir enquanto não passasse 30 minutos correndo sem parar. Chega uma hora que ficar andando rápido na esteira por meia hora, todos os dias, cansa. Eu queria mais, descobri que sou uma pessoa que ama desafios e estava na hora de começar a me desafiar para perder quilo por quilo em 2011. Na primeira vez que tentei passar da caminhada para corrida, consegui correr sem parar por 2 minutos na velocidade 7, e achei que meu coração fosse sair pela boca, tamanha era a falta de preparo. Mas
continuei, segui uma planilha elaborada pelo treinador, que constava basicamente em: Caminhar na velocidade 6 por três minutos e correr na 7 por dois minutos. Com muito esforço, consegui completar o primeiro treino. Claro que bebendo muita água junto e suando que nem louca. Mas, no fim, a sensação de bem-estar que sentia a cada treino compensava tudo. Cheguei em casa nesse dia e anotei o fato de ter conseguido começar a correr, como me senti, as dificuldades e tudo mais: “Hoje, pela primeira vez, saí da minha zona de conforto na academia. Intercalei os passos rápidos na esteira com uma corridinha de leve, foi difícil e cansativo, mas consegui!” Daí para a frente foi só superação de limites, mesmo. Dia após dia tentava correr um pouco melhor, nem que fosse um minuto a mais, intercalando sempre com a caminhada. A melhor coisa que fiz foi ter saído da zona de conforto. Não parece, mas nós somos muito mais fortes do que pensamos, e é uma delícia quebrar barreiras e superar nossas próprias metas. Vencer aqueles pensamentos de “eu não consigo” é a melhor coisa do mundo. A gente consegue sim, é claro que consegue. Em paralelo ao meu início na corrida, continuei frequentando as aulas que a academia oferecia. Eu gostava muito de jump, que é aquela em que fazemos coreografia pulando em cima de uma minicama elástica, step (coreografias subindo e descendo um degrau, cansa!) e abdominais. Eu
tinha o seguinte conceito sobre academia: já que estou pagando, quero ir a tudo que puder, mas, claro que o objetivo maior era mandar para bem longe toda a gordura do meu corpo!!!! O tempo passava muito rápido nessas aulas e quando percebia, já estava derretida, pingando e pedindo bis. Uma coisa que fiz desde o começo foi, além de frequentar as aulas de aeróbico, natação e me arriscar na corrida, sempre reservar um tempinho para praticar musculação. Eu estava seguindo o princípio de que queria emagrecer sem ficar flácida, então, tive que aprender a gostar de puxar ferro. Pedi para o professor me passar uma série de iniciante e fui com calma, tentando decorar o nome dos aparelhos, descobrindo o que é bíceps, tríceps e todos os “ceps” do corpo. Muita gente acha que praticar musculação causa algo como aqueles corpos de fisiculturistas megabombados. Não, gente, nada disso! Musculação é tão eficiente pra quem quer emagrecer quanto fazer aeróbicos. Antes de entrar na academia, eu tinha certo preconceito e cabeça totalmente fechada pra quem malhava, achando que ia ficar toda “rasgada”, parecendo um homem, com muques grandes etc., mas estava completamente enganada e hoje acho essencial levantar meus pesinhos. Afinal, quem gosta de ter o músculo do tchau balançando que nem geleia? Ninguém. O fato é que quando exercitamos os músculos separadamente e com intensidades e cargas diferentes, a gordura queima e sentimos isso. Mas, ao invés de só queimá-la, adquirimos massa magra. A musculação é uma
atividade anaeróbica, ou seja: uma atividade de alta intensidade e curta duração, e os objetivos de quem pratica geralmente são: ganhar massa muscular; reduzir a quantidade de gordura corporal, definir e delinear o corpo, ganhar ou perder peso. Para cada objetivo existe um tipo de treinamento específico, por isso não se preocupem que ninguém vai começar a fazer musculação e sair participando de concursos de fisiculturismo! Por isso, geralmente quem já emagreceu mas faz muita musculação tende a ganhar uns quilos. Porém, não é gordura, e sim massa magra, entendem? Porque ela pesa também, mas por fora estaremos gostosas, não gordas e flácidas. Os benefícios são inúmeros: além da queima de gordura e definição do corpo, a postura melhora demais (eu era uma corcunda), nos sentimos mais dispostos, o metabolismo acelera bastante, ficamos com mais força etc., então, logo que comecei a academia já me joguei nos pesinhos! Desde que comecei o emagrecimento, alterno o aeróbico com musculação, e vi muitos resultados. Principalmente nos braços, ombros, colo e pernas. Ainda tem muita coisa pra definir aqui, mas pelo tempo que faço musculação, já estou achando ótimo. E nada de ficar obcecada para ter o corpo de beldades da televisão. Aquilo não é SÓ musculação, podem ter certeza. Por isso, respeitem seus limites e não se sintam frustradas se não conseguirem uma perna do tamanho de uma coxa de frango gigante. Aquilo é feio e desproporcional.
Para a série de exercícios render, é bom fazer sempre uma pausa de 30 segundos entre uma e outra, assim você não força a musculatura mais do que o necessário e evita lesões. Vá sempre com muita calma. Se sentir que está pesado, diminua a carga e procure sempre orientação de algum professor da academia. Não queira começar levantando pesos de 5kg. Eu comecei com os halteres de UM QUILO e achava que estava me esforçando demais. Mas é assim mesmo, nada de começar do avesso. Corra para a academia e peça ao seu treinador que prepare um treino de acordo com suas necessidades. Proteína x músculos Pra manter os músculos em dia, é bom consumirmos proteína. Elas são os tijolos do nosso corpo. Sem elas não seríamos capazes de repor ou reparar as células do corpo, por isso, muitos dos que malham tomam aqueles suplementos proteína de soja. Por enquanto, tenho consumido ovos, carnes magras e peixes, que são ricos em proteína. Se sua dieta não fornece energia suficiente, o seu corpo irá eventualmente utilizar proteínas funcionais do corpo (proteínas que são incorporadas à estrutura essencial do seu corpo). O corpo pode se adaptar à falta de proteínas em um curto período de tempo. Contudo, condições como ferimentos, infecções, câncer, diabetes não controlada e falta de alimento podem causar perda substancial de proteínas. Nestes casos, o corpo começa a perder músculo para gerar energia suficiente. Se a situação não for controlada, pode haver risco de vida. – Fonte: Universidade Federal de Lavras
Viram? Musculação é tudo de bom e eu acho que quem está pretendendo emagrecer MUITO deve sim complementar o aeróbico com musculação, pelo menos três vezes por semana. Bom, mais difícil do que aprender a gostar de me exercitar foi encaixar os exercícios na rotina doida que 2011 trouxe para mim. Eu sabia que se quisesse emagrecer teria que me dedicar muito e tornar aquilo um compromisso comigo mesma, então, depois de alguns meses malhando somente à noite, me comprometi a acordar 5h30 da manhã todos os dias, para fazer o dia render e virar um hábito. Além disso, meus horários no trabalho haviam mudado e seria impossível continuar à noite. Foi uma guerra me disciplinar para acordar cedo, muitas manhãs mal-humoradas, e rolou até cochilo na hora de deitar no colchão da academia para fazer abdominais (SÉRIO!), mas, com muito esforço, a gente acostuma. Foi uma das melhores coisas que fiz, pois parece que a endorfina toma conta de mim o dia inteiro, e tudo fica melhor: tenho mais pique e sorrio mais. Claro que em alguns dias em que trabalho até tarde no computador, só consigo ir à noite, mas dou sempre prioridade para acordar cedo. Tenho algumas dicas que podem ajudar a tonar isso um hábito: Veja isso como uma prioridade: Provavelmente você não perderia uma consulta com seu médico, dentista ou uma ida agendada à manicure pela
manhã. Assim como esses compromissos, faça dos exercícios matinais algo que você não pode pular. Separe sua roupa na noite anterior: Para economizar tempo, principalmente quando há pouco tempo disponível para a academia de manhã, deixe sua roupa de ginástica separadinha próximo a sua cama. Assim, você não perde tempo quando acordar. Troque-se rapidamente, escove os dentes, coma uma frutinha e tchau! No meu caso, tudo isso tem que demorar no máximo 10 minutos, senão, já sei que tô atrasada. Nada de se emperiquitar, passar maquiagem ou algo do tipo. Você está indo para a academia, não para um desfile de moda. Anote qual será o treino: Natação, musculação ou jump? Anote o que você pretende fazer no dia seguinte. Isso evita de chegar na academia e começar a olhar os horários das aulas sem saber o que fazer, ou pensar em quanto tempo você ficará correndo na esteira. Considere os gastos: Pense em todo o investimento que você está tendo para entrar em forma. Você gastou tempo com consultas, paga a mensalidade da academia todo mês, ou acabou de comprar roupas novas, tênis, mp3, luvas… Quando pensar em ficar na cama dormindo, pense em todos esses gastos e lembre-se de que ninguém gosta de jogar dinheiro no lixo, né? Então, bora levantar!
Encontre um amigo: Desde o começo eu sempre fui #foreveralone na academia, nos treinos de rua etc. Amizade, mesmo, só criei com professores e alunos das aulas de jump/bike, mas sei que se tivesse alguma amiga comigo em vários momentos, a motivação seria maior. Sei disso porque sou muito observadora e nas três academias pelas quais passei notei que muitas pessoas vão malhar em duplas/grupos. Então, arraste aquele colega, namorado/a, alguém que você confie para desabafar as dificuldades de entrar em forma, e leve-o para se exercitar com você! \o/ Faça disso uma competição, com castigos e recompensas: Se você e seu colega de academia ainda estão em dúvida se vale mesmo a pena acordar cedo todos os dias, invente desafios. Que seja entre você e seu amigo, ou só para você mesmo! Por exemplo: Caso você falte um dia, terá que completar 20 flexões (coisa que ninguém gosta de fazer!), ou terá que pular corda por 3 minutos. Use a criatividade! Participe das aulas: Quando comecei a me exercitar, amava frequentar as aulas, seja as de jump, bike ou step. Para quem está começando a perder peso, elas são muito mais divertidas do que ficar meia hora andando na esteira, fora que a gente gasta bem mais calorias. Frequentar essas aulas é uma motivação e tanto, pois além de mandar calorias para o espaço, conhecemos pessoas novas, damos risada, liberamos endorfina e somos cobradas pelos professores a comparecer em todas. Quando eu faltava, já
ouvia o professor falando: “Não veio ontem por que, hein, dona Camilla?”, e isso me fazia ficar com peso na consciência e não faltar mais. Vá com calma: Segunda-feira, coloque o celular para despertar cinco minutos mais cedo, no dia seguinte, mais 5… e por aí vai! De repente, você já estará acordando uma hora mais cedo e sua manhã irá render MUITO mais. Só não vale botar no modo soneca, hein! Cultive a endorfina: Ok, talvez a melhor parte de malhar de manhã não seja o banho/café pós-treino, mas sim a ENDORFINA. Para quem não sabe do que estou falando, vamos aos termos técnicos: A endorfina é um neurotransmissor, assim como a noradrenalina, a acetilcolina e a dopamina, e é uma substância química utilizada pelos neurônios na comunicação do sistema nervoso. É um hormônio, uma substância química que, transportada pelo sangue, faz comunicação com outras células. Ela é o hormônio do prazer. Sua denominação se origina das palavras “endo” (interno) e “morfina” (analgésico). Principais efeitos das endorfinas: Melhoram a memória. Melhoram o estado de espírito (bom humor). Aumentam a resistência.
Aumentam a disposição física e mental. Melhoram o nosso sistema imunológico. Bloqueiam as lesões dos vasos sanguíneos. Têm efeito antienvelhecimento, pois removem superóxidos (radicais livres). Aliviam as dores. Melhoram a concentração. Fiquem sabendo vocês, caros leitores, que a endorfina é liberada no nosso corpo aproximadamente 30 minutos depois de começar a prática de alguma atividade aeróbica, como uma corrida leve, por exemplo. Ou seja, não tem nada mais delicioso do que começar o dia se exercitando, pois a sensação de bem-estar que temos depois é totalmente incrível! Fora que o dia rende muito mais, dou muito mais sorrisos e tenho muito mais disposição! Após voltar da academia, escreva como você se sente. Aposto que estará se sentindo muito bem, e isso se dá por causa da endorfina. Então, toda noite, antes de colocar a cabeça no travesseiro e pensar em dormir a manhã inteira, leia as coisas que escreveu ao voltar dos treinos. Lembrese de como a sensação é boa. Tenho certeza de que isso fará com que você não desista de levantar cedo. Quando finalmente criei o hábito de acordar cedo e ir para a academia, tudo ficou mais fácil e prazeroso, acreditem. O passo mais difícil para um corredor é sempre o primeiro para fora de casa, lembrem-se disso.
Passaram-se seis meses desde o começo do projeto e cá estava eu em março de 2011, com 69.5kg! Havia perdido 16kg até aquele momento com muita disciplina na alimentação e muita atividade física. Diversas pessoas já haviam percebido a mudança, e não há nada melhor do que ser elogiada e perceber que as coisas estão dando certo. O engraçado é que, como fui gordinha praticamente a vida inteira, quando comentei que iria emagrecer, NINGUÉM botou fé em mim. Todos duvidaram da minha capacidade. Agora a história é outra: as pessoas me dão apoio e não sei se acho isso bom ou ruim. A verdade é que parece que eu incomodei algumas pessoas quando viram que eu consigo, sim, emagrecer. Mas quem liga, né? Eu quero mais é ser feliz! Nessa altura do campeonato as calças antigas começaram a servir e eu fiz questão de vestir uma por uma. A menor, que estava no fundo do armário, era 42, e eu estava prestes a entrar nela! Foi uma alegria sem fim saber que todos os esforços e a luta diária contra a obesidade estavam sendo recompensados.
N
aquele mês de março de 2011, depois de já ter perdido 16kg, resolvi criar um diário virtual, como se fosse meu caderno do
emagrecimento, no qual registrava tudo o que seria publicado na internet. Eis que nasceu o Pensando Magro.net, um blog onde contaria minha experiência contra a balança, dicas, aprendizados e dificuldades do emagrecimento. O nome foi inspirado no livro da terapeuta Judith Beth chamado Pense Magro, o qual me ajudou imensamente no processo de emagrecer. Foi com ele que passei a mudar meus pensamentos diante da alimentação e pude enxergar que a chave do sucesso está no modo como pensamos e fazemos nossas escolhas. Tudo parte desse princípio, em saber fazer as escolhas certas e ter foco. No começo não me senti confortável para divulgar o blog para ninguém, era algo bem pessoal mesmo, então escrevi somente para mim
por um tempo. Passei três meses assim e aos poucos comecei a divulgar para amigos. Daí, o blog foi crescendo, crescendo e hoje se tornou uma comunidade de pessoas que estão no mesmo barco que eu, lutando para alcançar o corpo ideal de uma maneira saudável. Atualmente todos sabem que prego por uma qualidade de vida saudável e é através do blog que consigo motivar muitas pessoas a seguir esse caminho e encontrar sua felicidade, seja ela interna ou externa, e resgatar a autoestima que ficou perdida no limbo, como a minha estava. Aliás, foi por meio do blog que consegui o convite para escrever este livro. Muito legal, né? Não esperava que o blog fosse crescer tanto em pouco tempo, mas isso foi muito bom para ver que não estou sozinha. Compartilhar alegrias e tristezas com as pessoas virou uma terapia para mim e sempre agradeço muito pelo carinho dos meus leitores, amo muito mesmo, este livro é totalmente dedicado a vocês! ♥ Com o blog no ar, me vi muito mais focada. Se desse uma escorregada na reeducação alimentar, sabia que teria de contar para as pessoas, então esse hábito de querer escapar e comer compulsivamente foi ficando para trás, cada vez mais distante, e a vontade de ser magra passou a falar mais alto sempre. Além de escrever minhas dificuldades no blog, passei a focar em minimetas. Acho que isso funciona muitíssimo bem para qualquer aspecto da vida. Na verdade, desde lá atrás, quando comecei com os 85kg, pratico essa tática. Espalhava post-its com minimetas pela casa: “Até o fim do mês vou entrar naquele short jeans.”
“Preciso perder 2kg até o carnaval!” “Daqui a duas semanas tenho uma festa, e quero entrar na roupa que comprei para usar, então vou me policiar e focar nos exercícios.” Nós temos sempre que estimular nossa memória para não fugirmos do foco, e essas minimetas servem muito bem para isso. É mais um estímulo para nos manter na linha, dia após dia! Nesse momento do emagrecimento eu já estava totalmente envolvida com a rotina que levava, com os novos hábitos, com o fato de comer certo de três em três horas, e de encher a geladeira de frutas e legumes. O melhor momento do dia era o que eu passava dentro da academia. Quem diria, hein?! Eu, a pessoa mais sedentária do mundo todo, sentindo prazer em me exercitar! Foi algo surreal que, em poucos meses, minha vida tenha se transformado tanto. A Camilla que estava depressiva, querendo se matar pela morte do pai e por estar acima do peso, tinha dado lugar a uma nova pessoa, feliz, sorridente e que estava começando a aflorar sua autoestima pouco a pouco. Tudo isso graças ao esporte, à vida saudável e à vontade que eu tinha de me cuidar cada vez mais, dia após dia. Eu estava voltando a me amar, e não tem doce ou fatia de pizza nenhuma que tire isso de mim. Abril chegou e, com ele, mais quilos perdidos! Eles estavam indo embora que nem água, e me senti muito feliz de estar alcançando essa meta apenas comendo direito, sem passar fome, e me exercitando! Ô formula mágica, viu!
C
laro que, como em qualquer desafio na vida, temos vários obstáculos no caminho que vão tentar nos impedir de chegar ao
objetivo, seja ele qual for. Vocês acharam que com o emagrecimento seria diferente? Claro que não, nem tudo na vida são flores… Por isso devemos estar preparados psicologicamente para qualquer tipo de situação: seja um jantar em família, um churrasco, uma festa infantil… Qualquer situação fora de nossa zona que conforto, que possa causar certo desespero para quem está no começo do processo de emagrecer. A dica que eu dou para se manter na linha, não importa o que aconteça, é: coloque seu bem-estar em primeiro lugar e seja forte, forte como uma rocha, porque você terá mil e um momentos de tentações, mas se não souber administrar isso de forma natural, depois que perder os quilos que quer, achará normal voltar a comer como antes… É
justamente nessas situações que a gente vê quem é bem-sucedido e quem sempre fracassa quando o assunto é se manter magro. É aí que está o erro da maioria das pessoas que sofrem do efeito sanfona, como eu sofria. Geralmente, elas fazem tudo a curto prazo, deixando de comer besteiras somente por um período, mas, depois, como a mente não se reeducou, mais cedo ou mais tarde voltam aos hábitos antigos. Devemos sempre pensar muito antes de colocar um alimento para dentro da boca. Sabemos das consequências e, quando resistimos a algo tentador, a sensação é incrível, não é? Aquela paz de espírito em fazer algo direito. Portanto, toda vez que recusar uma gordice, anote a vitória, se elogie. Para cada tentação recusada, mais forte você ficará. Se caímos em tentação, o prazer de comer aquele doce dura cinco segundos, e a culpa vem logo em seguida, tô errada? Pois é, vale mais resistirmos e continuarmos na luta para emagrecer do que achar que “ah, tudo bem comer isso porque…”. Não, não tá tudo bem. Caso o diabinho da gula fale mais alto e você acabe escorregando, a lei da compensação está aí pra isso. Mas encare esse artifício como uma “pílula do dia seguinte”. Não é algo que podemos usar sempre, senão a reeducação alimentar vai para o ralo e não saímos do lugar. Após mais de um ano de reeducação, e de já amar e ter me adaptado totalmente ao meu novo estilo de vida de comer arroz integral, salada, carnes leves, queijo branco, muita água, frutas, pouco açúcar etc., etc., etc., aprendi algo: a gente pode comer o que quiser. É só não se deixar levar pelo exagero. Eu faço uma coisa super “saudável” uma vez por mês: a
refeição do “pé na jaca”, que nada mais é do que sair um pouco do foco e comer um doce bem gordinho OU jantar fritas com hambúrguer OU comer pizza ou até mesmo degustar uma bela coxinha. Funciona bem sem que eu engorde. Sabem por quê? Por causa da lei da compensação. Eu sei que muitas pessoas pensam “ah, tô indo tão bem na dieta, não tem problema comer isso…”. Essa frase tem sentido somente se você compensar o abuso depois. O erro é as pessoas pensarem isso toda hora, todo dia, toda semana. Por isso não conseguem emagrecer. Uma coisa que aprendi é que não é só porque todos a sua volta estão comendo horrores que você precisa fazer o mesmo. Nesses momentos é necessário lembrar que você quer muito emagrecer e avaliar se vale a pena mesmo jogar tudo para o alto por causa de um impulso momentâneo. Por isso a frase “Não, obrigada” é uma das mais usadas por mim, e sem medo. Hoje já é natural... É muito bom ver que com o tempo os esforços vão sendo recompensados e minha barriga vai ficando retinha, entre outras coisas… Nunca imaginei que em menos de um ano, só com minha força de vontade, conseguiria chegar tão longe. Força de vontade move montanhas, minha gente!!! Não precisamos de mais nada para fazer acontecer, apenas estas palavrinhas: FORÇA DE VONTADE. Tudo isso é emocionante, só me prova que quando queremos mesmo algo, a gente consegue! Nunca botei fé em mim, sempre me achei feia e gorda, mas estou provando para mim mesma que posso chegar lá e atingir meus objetivos. A mudança drástica de rotina me fez descobrir
que posso ser feliz mesmo com tantos problemas ao redor. O lance é nunca desistir. Tirei forças do fundo do abismo para enfrentar muitas situações, e esta é uma delas: dedicação e compromisso comigo mesma. Então, faço um pedido para quem está lendo este livro e acha que a vida não tem mais solução: olhe para mim. Até meses atrás eu era uma gorda que chorava todos os dias ao dormir, com a autoestima lá embaixo, mas um belo dia acordei, decidi e coloquei na cabeça que precisava mudar. Me agarrei em qualquer forma de motivação que encontrei pra não passar sozinha por esse caminho difícil que é emagrecer. Esse é um dos motivos de eu ter criado o meu blog. Tem dias que recebo e-mails tão bonitos, que até choro. É ótimo ver o apoio de outras pessoas, isso faz com que eu veja que estou no caminho certo, e que se eu tropeçar um degrau da escada, não vou rolar escada abaixo, vou me levantar e continuar a descê-la calmamente, degrau por degrau. Aconselho a todos o mesmo. Não vamos ter pressa para chegar logo aonde queremos. Vamos com calma, assim tudo fica mais fácil e a probabilidade de algo dar errado é muito menor. Não desistam. Nessa batalha, nosso maior aliado somos nós mesmos. Se a vontade real não surgir de dentro da gente, não é o meu blog, nem esse livro, nem ninguém que vai fazer isso surgir, portanto, VAMO QUE VAMO! Se você quer emagrecer, estabeleça prioridades e não se engane como muita gente faz. A verdade é simples e direta: não existem milagres. Infelizmente os quilos não vão embora sozinhos se você ficar sentado no sofá comendo salgadinho o dia todo.
Portanto, mexa-se. Essa foi a dica/ordem que minha endocrinologista me deu quando os exames marcaram que eu estava ficando com o colesterol alto. Com 20 anos na época, semiobesa e já tendo problemas de saúde: foi um tremendo tapa na cara para acordar. Não tem tempo? Arranje! Se você realmente quer emagrecer, vai acabar disponibilizando um tempinho. Não gosta de academia? Passe meia hora pulando corda na sala, ou vá para o trabalho a pé, suba as escadas do seu prédio, dê um jeito. Saber driblar as desculpas é um passo fundamental para o processo começar a dar certo. Plantei a sementinha do desejo de largar este livro e ir se jogar na esteira? Ótimo!
O
mês era maio de 2011, e entrei nele pesando 65kg. Sim, já havia perdido 20kg! Vinte quilossss!!! =D. Nunca achei que seria
capaz, mas lá estava eu pertíssimo dos meus objetivos e me sentindo muito, mas muito orgulhosa de mim mesma. No começo de 2011 fiz uma promessa/meta motivadora master: abrir uma poupança e depositar uma pequena quantia por mês. Se eu chegasse a emagrecer 20kg sacaria todo o dinheiro e o usaria para fazer a viagem dos meus sonhos nas férias de 2012, que era conhecer a Disney! Então, imaginem a minha alegria quando, em maio de 2011, atingi a meta de 20kg perdidos. EU IRIA PARA A DISNEY! Passei o restante de 2011 juntando meu sagrado dinheirinho e planejando a viagem, mas com foco no resto do emagrecimento, né?!
Foi nesse mês de maio que, junto com uma felicidade extrema, comecei a perceber como minha vida já havia mudado tanto desde que comecei a querer emagrecer, e como as pessoas passaram a me tratar diferente. Meu namorado sempre foi o mesmo desde que eu disparei em engordar, lá atrás, em 2009. Começamos o namoro no final de 2008 e estamos juntos até hoje. Ele me viu engordando 20kgs e no meio do nosso relacionamento, quando estava no auge da obesidade, ele me falou que queria terminar o namoro, assim, sem mais nem menos. Foi um dos dias mais tristes da minha vida, me senti um lixo, a pior pessoa do mundo. Depois que ele me disse isso, fui correndo para o McDonald’s pedir meu lanche preferido com fritas e Coca-Cola grande. Eu estava no meu pior momento, uma gorda chorando sozinha dentro de um fastfood, tem coisa pior? Uma semana depois conversamos de novo e eu o aceitei de volta. Foi a melhor decisão que tomei na vida. Depois desse baque, somado a outros tapas da sociedade na minha cara, quando contei que iria dar um rumo novo para minha vida, emagrecendo, ele me deu total apoio. Mas reparei que ele foi uma das poucas pessoas que realmente acreditaram em mim e na minha capacidade de mudança. Notei que muitas das pessoas às quais contei sobre o fato de começar uma reeducação alimentar me olhavam pensando “Aham, tá bom”. Quase ninguém me deu apoio, ninguém mesmo, parece que a sociedade “magra” tem certo medo de uma gordinha indo para o lado deles. Não sei se é coisa da
minha cabeça, mas sinto muito isso. Logo percebi que estava sozinha e me conformei com aquilo. Mas o engraçado é que, em maio, eu postei uma foto de antes-depois no Facebook – nunca havia feito nada parecido, aliás, não foi uma decisão pública o fato de começar a emagrecer – e foi a primeira demonstração para o “mundo” de que eu já tinha emagrecido muito (divulguei o blog no mês seguinte). Começaram a surgir pessoas que não falavam comigo há séculos, me elogiando, querendo reatar amizades. Ahn? Só porque emagreci? Isso me fez pensar demais sobre como pessoas acima do peso não são totalmente aceitas na sociedade. Eu sabia disso porque vivia na pele o que era ser obesa, mas depois de emagrecer e ver o “o outro lado da moeda”, notei outra situação. Claro que eu estava adorando ser elogiada e ter meus esforços sendo reconhecidos, mas eu sacava quando aquela pessoa que sempre me zoou no colegial surgia do nada para “botar o papo em dia”, por puro interesse. Em quê? No meu físico? Imagino que quem sempre foi magro tenha outra mentalidade e outro modo de encarar a vida. Eu nunca soube como é a sensação de todos serem legais com você só pela sua aparência, ou de ter autoconfiança suficiente para começar a conversar com alguém sem imaginar o que aquela pessoa acha de você. A vida inteira tentei disfarçar minha gordura de diversas formas: pintando o cabelo, deixando ele crescer, comprando roupas diferentes, salto alto, maquiagens, acessórios, moletons… mas, sinto lhes informar, isso de nada adianta se você é GORDA. Ninguém vai se interessar por você, mesmo se você tiver o cabelo mais perfeito do
mundo, a maquiagem mais benfeita de todas, a unha impecável e o vestido mais caro da loja… se você não está no peso ideal. Muito triste, mas muito verdade. Por que vocês acham que algumas pessoas magras usam jeans, regatinha branca, coque no cabelo, cara lavada e continuam lindas? Porque são magras, não precisam se emperiquitar de roupas, qualquer coisa que usarem vai ficar bem, vai caber, vai ser bonito, porque elas não têm banhas e mais banhas acumuladas por todos os cantos do corpo, como eu tive a vida inteira. Quando finalmente consegui colocar um jeans 38 e regatinha me senti a pessoa mais linda, sexy e confiante do universo. Finalmente percebi que não adianta tentar ser algo que não sou, me esconder por trás de futilidades e de roupas se o meu interior não estiver de bem com o exterior. Acho que muito ainda tem que ser feito para que todos nós sejamos aceitos e tratados como iguais, seja você obeso, negro, cadeirante, gay, não interessa. Hoje as pessoas vivem de aparência e simplesmente não te ajudam nem a carregar sacolas só porque você está acima do peso. Quando é uma magrinha/gostosinha, não precisa nem pedir, a ajuda vem de imediato. Absurdo, né? Outro problema muito comum são as rejeições na área profissional. Afirma-se que o critério do peso nada tem a ver na hora de contratar um profissional, mas é obvio que tem. A discriminação rola até na hora de chamar táxi. Você acredita que a maioria dos motoristas não para se você é obeso? Lamentável. Ainda há muito que se fazer por aqui. E que tal começarmos com menos discriminação? Pense em tudo isso, você que
um dia já foi discriminado ou discriminou alguém por causa da aparência. Diversas vezes ouvi pessoas em seus carros, enquanto eu estava no ponto de ônibus, gritarem “gorda!”, e cinco minutos depois eu já estava com os olhos cheio de lágrimas. Outras, até mesmo um “amigo do amigo” simplesmente não dava nem oi na festa. O motivo? Ser gorda. Não estou aqui me fazendo de vítima, isso é a mais pura realidade. Creio que cada um tem que se sentir bem consigo mesmo. Eu cansei de me sentir mal pelo meu peso, e minha decisão vai muito além da parte estética, tem a questão de saúde envolvida também, ser alguém saudável por todo o sempre. Mas tem gente que se sente bem estando gordinho. Só acho que não tem por que tratar pior ou melhor alguém só por causa da aparência. Sei que assim que viram que eu estava magra, o comportamento em volta de mim mudou demais. É ótimo ter a autoestima levantada, se sentir bonita e desejada, mas antes de ficar bem para qualquer pessoa, eu quero estar bem comigo mesma, e esse foi meu objetivo desde o começo, o resto foi pura consequência.
N
o processo de emagrecimento, todo e qualquer tipo de referência, motivação e dica é superválido e nos ajuda a
permanecer focadas. Além de usar o blog para espalhar meu aprendizado, sempre tive uma coleção enorme de revistas de dieta como Boa Forma, Shape, Woman’s health, e sempre SONHEI com o dia em que estamparia uma dessas revistas, seja na capa ou não. Já pensou no sonho de aparecer em uma delas? E foi aí que pensei comigo mesma: “tá aí… vou me manter focada, emagrecer mais e mandar minha história para essas revistas! Vai que me chamam, né?”. A gente só sabe se teremos sucesso tentando! O mês era junho de 2011 e eu estava pesando 63kg. Já havia eliminado, portanto, 22kg. Resolvi arriscar mandando minha história para a revista Shape. Fiz um breve resumo da minha jornada e mandei
algumas fotos por e-mail, sem qualquer pretensão. Nem estava cultivando muitas esperanças, porque creio que muitas pessoas devem fazer o mesmo que eu, e as chances de me chamarem seriam ser bem remotas. Olá pessoal da revista Shape. Em agosto do ano passado estava com 85kg, o máximo que já pesei! Atualmente estou com 63kg. Perdi 22kg desde que comecei a minha decisão de emagrecer. O método que escolhi foi a reeducação alimentar, pois já fiz diversas dietas antigamente, Vigilantes do Peso etc., mas sempre voltava a engordar, então isso é o que tá dando mais certo até agora. Cortei refri/doces/frituras e adicionei muitas verduras/legumes e frutas na alimentação, como também troquei farinha branca por integral (pães, torradas, tudo...), ou seja: não tô passando fome, só estou comendo mais saudável. E tá dando resultado como podem ver nas fotos! Comecei a fazer academia nesse mesmo mês de agosto também, e atualmente vou 5 vezes por semana, intercalando musculação com aulas de aeróbica e corridas. E também natação, que agora já virou um dos meus hobbys! Tudo começou com as aulas de natação… Minha meta é chegar nos 56 kg, faltam 7 kg pra chegar lá! Estou muito feliz com o resultado que estou tendo, e com força pra continuar. =) Criei também um blog pra me ajudar nessa jornada: http://pensandomagro.camillapires.com, deem uma olhada! Obrigada, e espero muito conseguir uma matéria na revista :) bjs!
Eis que, três semanas depois, recebo uma ligação da revista falando que havia sido selecionada para sair na sessão de histórias de sucesso!!!!! Depois de marcamos uma data para fazermos as fotos, larguei o telefone e BERREI de alegria!!!! Estava prestes a realizar um sonho: eu, Camys, contando minha história na revista! Até o dia das fotos eu não sosseguei, e malhei todo santo dia para aparecer bem na foto. Eu tenho um sério problema, que é o fato de ser um POÇO de ansiedade, e sabia que não poderia mais compensar esse sentimento na comida. Então juntei minhas forças e descontei toda e qualquer tensão na academia. Mesmo estando na época de frio, não baixei a bola e permaneci focada! Afinal, não importa se está frio, calor, chovendo, temos que ter nosso objetivo cravado na mente e ir atrás dele não importa o que aconteça. Nervosa, eu? Imagina. Chegou a data das fotos: 8 de julho de 2011. Apareci no local combinado antes que todo mundo, de tanta ansiedade. No mesmo dia, mais duas meninas seriam fotografadas. Elas haviam perdido bastante peso e estavam LINDAS, vivenciando um mundo totalmente novo, o mundo da autoestima renovada, dos elogios, do bem-estar consigo mesma. Meu namorado me levou até o estúdio combinado para fazermos maquiagem/cabelo/figurino, e ele acompanhou todo o processo ao meu lado. Tenho um sério problema, além da ansiedade: sou muito tímida e
muitas vezes insegura, então acabo sendo meio fechada com pessoas que não conheço, por incrível que pareça. Até eu me soltar demora, mas logo, logo já me senti em casa e passei a agir naturalmente com o pessoal da produção, todos muito fofos comigo. Nunca fora maquiada por um profissional, e eu, que sou a “louca das makes”, amei o resultado, claro. O pessoal foi superatencioso, tanto o maquiador quanto a produtora das fotos e figurino. Amei a roupa que escolheram pra mim: blusa BRANCA bem marcadinha e decotada, pra mostrar os resultados adquiridos, calça 40 e um blazerzinho roxo. Devidamente pronta e maquiada, fui avisada de que as fotos seriam externas. Eram 10h da manhã e estava MUITO, mas MUITO frio!!!! Aimeu-deus, que tensão! “Sair na rua com esse frio? Não vou conseguir parecer natural nas fotos, mas vamos lá…” Essa era a mente da Camys a milhão nessa altura do campeonato. Fomos em direção à Paulista, passamos perto do parque Trianon e pensei que iríamos parar ali, no meio do mato, para as fotos! Mas, felizmente, passamos reto. Já pensou fazer pose ali naquela umidade? rs As fotos foram feitas na lanchonete Desfrutty da alameda Santos, próximo à Paulista. O ambiente é bem agradável, e o melhor de tudo é que frequento o lugar, tem uns crepes naturais deliciosos, então, não tinha como ser melhor. Mas, nossa… muito frio! Fiquei meio “dura” no começo, sem saber muito bem o que fazer com as mãos, como me posicionar etc., afinal, nunca havia posado antes.
Mas o fotógrafo me deixou bem tranquila, me virei nos 30 e, com a ajuda dele, saíram umas poses bem legais. Ali na área das fotos conheci uma menina superlinda que faria as fotos também. Ela perdeu 33kg só com força de vontade! São histórias como essa que fazem a gente se manter na linha. AD-O-R-E-I a experiência, me senti muito bem sendo fotografada. E agora que emagreci, tenho mais vontade de tirar fotos, sem que apareçam dois queixos nas imagens. Nunca tinha feito nada profissional, então foi bem bacana. Me deu vontade de repetir a dose e fazer várias outras fotos. A gente acaba se sentindo bonita e dá um “up” no ego. Bom, depois da revista Shape, saí em mais três revistas durante 2011. Foram elas: Boa Forma, Sou+Eu (nessa fui capa!) e Dieta Já; nesta última fiz as fotos somente em novembro, mas estávamos negociando a data há muito tempo, lá na época em que saí na Shape. Posso falar? Amei demais. O produtor me pediu para usar um vestido tubo branco justo, em referência ao Réveillon, já que a matéria sairia na edição de janeiro de 2012, e eu logo pensei “pfffff, té parece que isso vai ficar bom em mim, mas vamos lá…”. Vesti o tal do vestido e, para a minha surpresa, entrou direitinho. Só não tinha visto no espelho como havia ficado. E não é que ficou ÓTIMO? Não acreditei quando me vi nele, nenhuma banhazinha para fora do lugar. Foi bem inacreditável mesmo. É engraçado como, por muitas vezes, eu acabo “esquecendo” das proporções atuais do meu corpo, e de que as peças pequenas realmente servem. Ainda não me acostumei com essa coisa de ser magra. rs
Claro que, na hora das fotos, dei aquela encolhida básica na barriga só para reforçar, mas mesmo assim fiquei passada. Pensei “UAU, ESSA SOU EU?!!!!” Eu sou dessas de ainda não acreditar muito em que emagreci bastante, então, quando acontecem situações desse tipo, eu penso MEU, NÃO PODE SER. É uma sensação muito boa e muito nova para mim, fortalece a minha autoestima, porque mesmo passando por toda essa jornada eu ainda sou muito insegura comigo mesma. E eu sei… preciso melhorar isso. No fim, foi bom a sessão de fotos ter demorado tudo isso para acontecer, pois sei que se fosse lá em abril, o tubete branco não ia ficar bom, não mesmo. Eu mandei minha história para todas essas revistas, com exceção da Sou+Eu. Nesse caso, um amigo que trabalhava na editora Abril me indicou para ser capa. O pessoal da redação adorou e fizemos a matéria! Foi um ensaio muito divertido, com várias trocas de roupas, vestidinhos justos e com muitas cores, do jeito que eu gosto! Todas essas fotos foram feitas entre julho e agosto, mas publicadas ao longo do segundo semestre. O melhor é que a maioria das revistas falava do meu blog, aumentando demais o número de leitores. Nem preciso dizer que me senti uma DIVA, como nunca havia me sentindo antes, em nenhum momento da minha vida. Com certeza estava no meio da realização de um sonho, um turbilhão de emoções nunca sentidas antes, vendo meus esforços sendo recompensados, e era muito bom saber que podia espalhar essa motivação por aí. Eu realmente comecei a ficar engajada em socorrer
outras pessoas, além de me ajudar a sair do buraco em que me enfiei. Felicidade define o que venho sentindo todos os dias quando levando cedinho da minha cama para começar mais um dia nessa vida. Julho de 2011 foi um mês muito importante, pois foi quando realmente passei a perceber que estava colhendo os frutos do emagrecimento. Além de ver meu corpo mudando, ficando definido, e passar a me olhar no espelho sem chorar de desgosto, percebi que o meu psicológico estava mudando também. Me sentia muito mais confiante para fazer tarefas simples do dia a dia, como conversar com alguém ou ir a uma festa sem ficar traumatizada com os comentários negativos sobre mim. Até minha postura havia mudado, os exercícios estavam me ajudando a andar mais “reta”. A vida inteira fui corcunda, sem postura alguma, e quando ficava de pé, eu empinava o corpo para trás, para esconder a barriga, sabe? (E isso fez com que eu adquirisse uma hiperlordose. Chato! Mas estou tratando isso.) É um passado infeliz, mas o importante é que eu estava mudando de dentro para fora e cada vez mais pensando adiante, com confiança em mim mesma.
A
gosto de 2011: os treinos na academia estavam indo muito bem, e consegui chegar aos 61kg! SIM, 24KG PERDIDOS, e a felicidade
não cabia em mim!!!!! Na verdade, o que não cabiam em mim eram as roupas, mas porque haviam ficado LARGAS e não mais apertadas. Perdi TODAS AS MINHAS ROUPAS, as calças 48 poderiam facilmente abrigar duas Camys, sem falar nas blusas GG que viraram blusões gigantescos. Prometi a mim que não compraria roupas novas naquele momento, pois estava juntando dinheiro para a viagem da Disney, planejada para acontecer em janeiro de 2012, e lá renovaria meu guarda roupa. Foi aí que, em um dos posts do meu blog, comentei sobre a situação da falta de roupas, e de que não poderia gastar dinheiro com aquilo naquele momento etc. Uma leitora muito querida, chamada Mariana
Buss, lá do Rio, se comoveu e resolveu me mandar uma CAIXA de roupas que ela não queria mais e que inicialmente iria vender em um bazar. Foi uma das coisas mais emocionantes que uma pessoa “desconhecida” fizera por mim. Junto com a caixa veio também uma carta enorme, muito emocionante, que fez eu cair no choro. Aqui vai um trecho: “Olá, Camys! Tudo bem? Leio seu blog quase que diariamente para me dar aquela ajuda. Suas dicas e dedicação são muito boas! Estou tentando emagrecer não vem de hoje e ainda tenho problemas no sangue, o que amplia ainda mais a situação. Tanto que estou até cogitando em redução estomacal. Sou do RJ mas uma amiga minha de SP fez e está bem feliz. Claro que hoje em dia ela também faz uma dieta no nível da sua, a qual tem muita importância nesse processo. Já fiz muitas dietas loucas de comer NADA ou só mascar chiclete ou até mesmo outras coisas que nem requer falar aqui, mas enfim… essas dietas no fim fazem a gente engordar tudo, o dobro, depois e com uma rapidez absurda. (sendo que, pra emagrecer, demorava pacas). Então, hoje em dia mais gordinha (mas não desistindo nunca), estou repleta de roupas de marcas que nunca foram usadas, novíssimas e lindas. Tinha um bazar no orkut por anos, mas estou sem saco de continuar com o bazar. E queria te dá-las… Você merece, lutou bastante atrás do seu objetivo. Qualquer coisa me envia um e-mail. (Vou deixar
aqui. Pode parecer esquisito, mas é só um presente de uma admiradora pela sua luta. além do quê, alguém tem que usufruir as roupas boas, né?) (…) Sucesso na vida, em todos os aspectos… Um beijão, Mah Fiquei muito feliz com o presente e deu uma mega ajuda no meu guardaroupa desfalcado. Enquanto isso, na academia eu já conseguia correr meia hora sem parar.
Em meados de agosto, precisei sair da academia
em que iniciei tudo, a ACM, com 61kg e feliz da vida, e me inscrevi numa academia mais barata, afinal, faltavam pouco mais de seis meses para eu tirar férias e fazer a viagem dos sonhos. Precisava economizar tudo o que podia, cortar os gastos desnecessários e focar nas roupas que iria comprar por lá! A academia que escolhi foi uma que tinha dentro do meu trabalho, na Rede Record (sim, em 2011 trabalhei na TV, mas como designer, na parte online da coisa. Eu fazia os sites das novelas etc., etc.), e foi aí que parei de perder peso e passei a emagrecer. Nossa, Camys, como assim? Recebo muitos e-mails de pessoas que ficam desesperadas quando a balança não abaixa, quando se sentem “empacadas”, mas o que vale no final do processo não são os números e sim como você se sente e está fisicamente, em relação à redução de medidas das partes do corpo. Demorei para entender isso, que massa magra, músculo, pesa.
Segue um artigo que explica muitíssimo bem o que quero dizer: Existe uma grande confusão nos conceitos perder peso e emagrecer. Eles são muito diferentes, pois perder peso implica “apenas” na perda de quilos na balança. Independentemente do que foi perdido, se foi água, massa muscular ou gordura, as pessoas estão mais preocupadas em perder peso do que em emagrecer. Vendo apenas pela balança, não sabemos a qualidade do que foi perdido. Se perdemos mais água será facilmente recuperado se houver uma boa hidratação, agora, se a perda foi mais de massa muscular será prejuízo duplo. Demora-se mais tempo para ganhá-lo novamente e o mesmo é que é o responsável pelo nosso maior ou menor gasto calórico, principalmente no repouso. Conclusão: a perda de peso baseada em perda de água e músculo é desfavorável para quem quer emagrecer; já quando perdemos gordura efetivamente, o benefício será enorme. Quando o assunto é Corpo Humano é importante entender que ele é composto por inúmeros elementos que são divididos basicamente em massa gorda (composta por gordura essencial e gordura armazenada) e massa magra (livre de gordura: músculos, ossos, órgãos, líquidos e quaisquer outros tecidos).
Quando o peso que foi diminuído for de gordura você vai sentir sensível diferença nas suas roupas e medidas e não tanto em balança. Isto porque a gordura é menos densa (mais leve) e ocupa mais espaço. Já a massa muscular é mais densa (pesa mais) e ocupa menos espaço. Quando perdemos gordura, vai embora também um pouco de líquidos, pois juntamente com a gordura
armazenamos água. Portanto, cuidado para não se iludir com balança. A perda na balança pode ser facilmente recuperada dependendo do que foi perdido. Fonte: Sentir Bem E foi isso que aconteceu comigo, fiquei meses e meses empacada nos 61kg, e até hoje meu peso oscila entre 60, 61, mas sinto que meu corpo mudou, perdi medidas e me sinto GOSTOSA. Se você está treinando direitinho, fazendo bastante musculação, mantendo os aeróbicos e com uma alimentação balanceada, se desprenda um pouco da balança, se olhe no espelho e sinta as mudanças. Vale mais a gente se medir com a fita métrica do que ficar todo santo dia se pesando, afinal… massa magra pesa, e é isso que deixa a gente gostosa no final! =P. E é bom esclarecer, pois muita gente ainda se prende nos números da balança, mas gente, são só números. Sério! Hoje não sei mais se quero chegar aos 58kg. Finalmente aprendi sobre como funciona o mundo dos treinos aeróbicos e tudo mais. Meu objetivo é ter o mínimo de gordura possível no corpo, seja com 61kg, 60kg, mas feliz e DEFINIDA! Quando comecei, lá atrás, com 85 kg, minha porcentagem de gordura beirava os 40%, e isso é muito. A minha porcentagem ideal é 15%, e é nisso que quero chegar. Atualmente me olho no espelho e me acho bonita, mas confesso que ainda não gosto por completo quando estou pelada em frente a ele. Desculpem a sinceridade, mas é isso mesmo… Só vou ficar satisfeita quando me sentir bem sem roupas, me olhando de todos os ângulos e
pensando “consegui, eu finalmente consegui” (não vou nem começar a falar dos meus seios, que despencaram e estão murchos, e de todas as estrias etc. Isso é só detalhe). Não me considerem louca, ok?, isso é um sentimento muito pessoal, mas sei que muitos compartilham do mesmo pensamento. Podem deixar que quando eu ficar 100% satisfeita com meu corpo, depois de muito trabalho duro e treino, farei um ensaio de fotos e vocês verão os resultados de toda a definição! Muita gente confunde perder medidas com efeito platô, que nada mais é que o efeito que se dá quando a gente empaca, não engorda, não emagrece e muito menos perde medidas. Acho que quando esse caso acontece, a gente deve sentar, rever tudo que estamos fazendo, o que andamos comendo, quanto de exercício praticamos. Porque o efeito platô surge quando nosso corpo se acostuma com a rotina. Por exemplo: se eu comer todo santo dia a mesma coisa no café da manhã, e fazer sempre o mesmo tipo de exercício físico na academia, meu corpo vai se adaptar àquilo e uma hora vai parar de eliminar peso, vai se acomodar e aí é que devemos agir. Qualquer mera mudança já pode fazer a diferença: Alternar os exercícios, correr mais um pouco, acelerar o metabolismo de diversas maneiras: pular corda por 5 minutos, correr super-rápido, fazer polichinelo, enfim, coisas que o corpo não está acostumado. Isso acarretará em um gasto calórico maior. Uma coisa é fato: quanto menos peso temos, mais difícil é perder o que falta. Por isso quebramos a cabeça, e muitas pessoas acabam desistindo de emagrecer. Porém, devemos ter mais força quando isso ocorre. Eu não falei que é fácil
emagrecer, falei? Então, caso você se sinta “empacada”, vale revisar todo seu processo das últimas semanas e analisar o que vale a pena mudar. Emagrecer e se manter no peso ideal é isso: adaptar os exercícios e a alimentação, até que fique tudo do jeito que queremos. A regra é sentir prazer e se divertir emagrecendo, tudo com um toque de criatividade e, claro, muita dedicação.
S
e tinha algo que eu queria fazer era participar de uma corrida de rua. Pelo blog, fui convidada pelo pessoal da Nike em julho de 2011 a
participar de um projeto chamado #coisadaboa, que incentiva jovens com menos de 25 a se viciarem nessa coisa da boa chamada corrida. Ganhei vários presentes deles, como tênis, roupas de corridas e um marcador para contar a distância que corro. Passei a frequentar os treinos que rolavam todo sábado no Parque do Ibirapuera, e alguns espalhados pelos parques da capital (os treinos acontecem até hoje, são de graça e pode ir quem quiser). Foi aí que fiquei deslumbrada com esse mundo da corrida pra valer. Pude conhecer e ver de perto pessoas que correm longas distâncias, que mudaram sua vida através da corrida, emagreceram, se tornaram atletas etc. Eu fiquei muito empolgada com tudo isso e decidi que participaria de uma corrida de rua.
Passei a treinar sério, a correr cada vez mais, porém, pela falta de tempo do meu dia a dia, só tinha 30 minutos disponíveis na esteira para me dedicar. Comecei a dar o meu melhor e superar vários limites do meu próprio corpo. Aos finais de semana, encontrava o pessoal da Nike para pôr em prática, e ao ar livre, toda a corrida da semana. Os meses foram passando e me vi totalmente envolvida no mundo da corrida. Peguei muito gosto pela coisa e finalmente percebi que corrida realmente vicia. Não tem nada melhor do que colocar o tênis e dar uma passada atrás da outra ouvindo música, pensando na vida e deixando a endorfina agir. Correr é terapêutico, gente, vai por mim. Foi aí que em novembro de 2011 participei da minha primeira corrida de rua. Geralmente as pessoas iniciantes começam correndo percursos de 5km, mas eu fui ousada e queria me jogar nos 10km. Claro que rolou muito treino e uma preparação física e psicológica. Eu estava muito segura de que queria participar de uma prova, mas daí entrou a questão financeira da coisa: Inscrições de provas geralmente são caras, e eu estava focada no meu “cofrinho da Disney”. Não poderia gastar dinheiro, mas a vontade de correr na rua era imensa. E aí, como proceder? Comentei do meu “problema” no Twitter do blog, e a assessoria da Samsung me convidou para participar da prova Samsung10k, que aconteceria em breve. Fiquei feliz com o convite e é claro que topei participar. Depois que recebi o convite, treinei todos os dias para não dar nenhuma gafe e não sair da prova lesionada.
Chegou o dia da prova: 20 de novembro de 2011. Acordei às 6h da manhã, depois de uma noite em que custei a dormir: não parava de falar sobre como seria o dia seguinte. Estava mega ansiosa. Pulei da cama, me troquei, peguei o metrô e fui devidamente preparada (ou não) ao encontro dos corredores da Samsung10k no Parque do Ibirapuera. Cheguei por volta das 7h, coloquei meu short e me dirigi à área vip. Lá encontrei amigos, conheci corredores, alguns leitores do meu blog e comi uma banana, mesmo já tendo tomado café da manhã, afinal... vai que eu sinto fome no meio da corrida? O pensamento não saía do percurso que estava prestes a percorrer. “Será que vou conseguir? Será que vai dar algo errado? Tem muita subida? Não treinei subida. Será? Será?” Já estava criando mil borboletas no estômago e com as mãos suando frio. O tempo em São Paulo estava superaberto, o sol brilhava forte às 8 da manhã e eu não sabia se isso seria bom ou ruim para o trajeto. Fomos cada um para seu setor de largada, me separei dos amigos e a partir daí era só eu comigo mesma, mesmo tendo um mundo de pessoas ao redor. Ansiedade aumentando a cada minuto. Começa a prova! O mar de corpos azuis (a camiseta era dessa cor) se espalhou e comecei tranquila, no meu ritmo, sem pressa ou afobamento. Passados os três primeiros quilômetros, a coisa começou de verdade pra mim e a ficha de que eu realmente estava ali naquele momento único, que não imaginava que estaria jamais, finalmente havia caído.
O sol no rosto era forte, mas também havia uma brisa leve e momentos de sombra. A visão do lago do Ibirapuera que tive no início do percurso vai ficar na memória para sempre. Foi muito lindo, e a sensação de liberdade que senti naquele momento foi indescritível. Quando pensava em desistir e só andar rápido, encontrava guias motivadores no meio do caminho gritando “BOM DIA, VAMO LÁ! VOCÊS CONSEGUEM, FORÇA!”, lindo demais, e pra mim foi realmente muito motivador. Cinco minutos antes da prova descobri que haveria duas subidas no percurso e, pela experiência de quem já fizera outras edições dessa prova, “subidas matadoras”. Pois bem, pouco depois dos 4km, a bendita da primeira subida apareceu. Minha visão era a de um tsunami de pessoas a minha frente, subindo uma ladeira sem fim, que, juro, eu não sabia onde ia dar. Decidi que subiria correndo, de uma vez, não importa o quanto me cansasse, afinal, tudo que sobe desce e eu estava com muita esperança de que depois da subida uma descida linda se iniciaria. Foi o que fiz. Corri sem desacelerar nada e cheguei ao topo suando demais, mas consegui. Peguei uma dos copos d’água dos pontos estratégicos e joguei no rosto todo, tomando um verdadeiro banho. O vento batendo em mim, misturado com a refrescância da água na pele e a endorfina no sangue, foi uma das sensações mais maravilhosas que já tive. Ok, subida acabada, cheguei aos 5km (metade já foi!) e estava pronta para a curva em direção ao caminho de volta. Pra descer todo santo
ajuda, né? Disparei em correr ladeira abaixo e foi muito gostoso! Me deu uma sensação de liberdade incrível. No percurso, pessoas de todos os tipos: velhos, novos, pais com carrinho de criança (coisa mais linda), cada um respeitando seus limites, e outros exagerando e tendo que abandonar a prova por passar mal. Mas eu estava ali firme e forte sem pretensão nenhuma de parar. Alcancei a outra subida, que levaria aos 8km percorridos. “Já?! Nem acredito que cheguei aqui!”. Subida muito mais cansativa do que a primeira, já estava quase sem sentir minhas pernas, mas fui forte e enfrentei a ladeira. “Vamos lá, Camys, só mais 2km. Foram os 2km mais longos e intensos da vida, não via a hora de ver a linha de chegada. A contagem regressiva para o final da prova se iniciava, placas sinalizavam 500, 400, 200 metros, e eu correndo cada vez mais rápido. “Corre Camys!” Eis que avisto a linha de chegada, e meus olhos lacrimejaram, por causa do vento, sabe? Cof, cof. Tentei avistar alguém conhecido pra me dar a mão na hora de cruzar a linha de chegada, mas não havia, era só eu. Cruzo a linha em exatos UMA HORA E QUINZE MINUTOS sofridos, com muita emoção contida dentro de mim. Não conseguia acreditar que havia terminado a prova, e corrido todo o percurso. Essa foi a minha primeira prova, 10km percorridos, muitas coisas passando pela minha cabeça enquanto eu corria: Como cheguei aqui? Por que nunca tinha feito isso antes? Por que demorei tanto pra enxergar que eu não era feliz com a minha antiga vida que levava? Cadê meu pai pra ver isso? De uma coisa
tinha certeza: foi a primeira de MUITAS corridas. E aquela Camys sedentária, que só sabia comer besteira e ficar na frente do computador, ficou lá para trás, pra sempre. Passada a linha de chegada, encontrava-se uma Camys renovada, física, psicológica e espiritualmente. Quero incentivar as pessoas a começarem a correr, pois aquela coisa mágica chamada endorfina, que nosso corpo produz quando nos exercitamos, é realmente mágica. O sol estava lindo naquele dia e mesmo assim fui trabalhar depois da prova com um sorriso de orelha a orelha, tamanha era a minha felicidade. Vou contar um segredinho. Nesse dia superei meus limites, nunca tinha corrido 10km antes, nem na esteira, meu máximo sempre foi lá pela faixa dos 8km. É incrível ver até onde nosso corpo pode chegar. Ele foi feito para ser movido, não para estocar gordura e ficar pesado. O tanto de ossos e músculos que nos foi dado não está aqui à toa só para abrigar uma alma, está aqui para ser usado! Então faça bom proveito do seu corpo e o leve para correr! Depois de tudo isso, de trocar experiências com o pessoal que correu comigo, fui para casa, tomei um merecido banho e fui almoçar com o namorado antes de encarar a jornada de trabalho. Passada essa prova linda, em dezembro de 2011 participei de mais uma de 10km, a convite da Adidas. Chamada Circuito das Estações, ela aconteceu na região do estádio do Pacaembu. Essa prova tem um conceito muito legal. São quatro etapas ao todo, para cada estação do ano, e eu participei da etapa verão, que é a última.
Quem corre todas as etapas pode formar uma megamedalha, porque a medalha de cada etapa não é aquela redonda comum, é com se fosse um pedaço de um “quebra-cabeça”, que só pode ser completado com as peças conquistadas em todo o circuito. O sol em São Paulo estava infernal no dia da prova, e às 8h da manhã já estava bombando, para o azar de todos! Considero isso um ponto negativo, porque parece que o sol se junta com o calor que vem do asfalto e, meu deus, aja disposição. Falando com sinceridade, como essa foi minha segunda corrida, não tem como não comparar com a primeira. Minhas impressões foram: A primeira ocorreu na região do Parque do Ibirapuera, com uma vista incrível, mas tinha duas subidas matadoras. O trajeto da segunda foi mais plano, mas não sei por que, achei muito sofrido em vez de emocionante, além de ter sido torturante por causa do sol. Durante o percurso existem diversos pontos de hidratação, com água para os corredores. Na ida tudo bem, mas na volta, nos últimos 4km (que é quando a gente mais está precisando se repor para a reta final), a água simplesmente HAVIA ACABADO. Como se promove uma prova de corrida em que a água acaba, num sol de rachar? A falta de água me fez quase ficar desidratada nos últimos 2km. Continuei firme e forte, só que não com o pique que eu queria. Dessa vez estava na companhia de uma amiga, e conseguimos fazer a prova toda juntas, uma ajudando a outra. Sem ela acho que tinha desistido de correr até o final, tamanho era o sofrimento.
Outra coisa que não gostei muito foi a área por onde a gente passou. Uma parte do percurso ocorre em cima do Minhocão (um grande viaduto de São Paulo, no Centro, com prédios de janela baixa em volta) e aquilo lá está muito degradado, com cheiro de centrão mesmo. Fora que tinha umas pessoas bebendo cerveja no meio do percurso e outra gritando nas janelas. Não sou fresca nem nada, mas essas coisas me deixaram um pouco incomodada. Foi difícil? Foi. Mas mesmo com esses poréns, e mesmo não tendo sido tão gostoso de correr quanto no Ibirapuera, adorei e pretendo participar das próximas. Completei a prova em 1h14, aproximadamente o tempo da prova da Samsung, mas foi por causa do cansaço no final, senão teria feito um tempo melhor. E acho que não correrei mais de short larguinho, porque dessa vez minhas coxas sofreram um atrito e ficaram meio assadinhas. Na próxima corrida, só legging ou short colado, fica a dica. Muitas pessoas me perguntam através do blog como fazer para começar a correr. Podem apostar que é mais simples do que imaginam, basta um bom tênis no pé e dedicação. Não há uma fórmula mágica, mas é sempre bom lembrarmos do básico: Tenha um bom tênis Mesmo que o começo do processo seja só uma caminhadinha, é essencial ter um bom tênis, para evitar lesões no joelho e proporcionar um amortecimento melhor, ainda mais se a opção escolhida for correr na
rua e não na esteira. Hoje, o leque de opções de tênis de corrida é imenso, a maioria tem o preço salgado, mas é um bom investimento, algo que vale muito a pena. Algumas das melhores marcas: Nike, Reebok e Asics. Vá com calma De tênis no pé, bora se mexer, mas, claro, um passo de cada vez, né minha gente. Ninguém nasce sabendo correr, muito menos com fôlego pra tal. Aprender a correr é algo que começa devagar, com uma caminhada. De início, caminhe três vezes por semana, meia hora por dia, sem compromisso, sem tentar superar limite nenhum, vá tranquilo. Se for caminhar na esteira, coloque a velocidade 5.5 (que é aquele caminhar um pouquinho rápido, pra quem não está acostumado). No meu primeiro dia caminhando na esteira, suei muito, fiquei vermelha, sem fôlego, bebendo litros de água. Provas de que eu estava mesmo fora de forma, mas nada como a prática para atingir a perfeição, né? Então bora! Apertando o passo Passado um mês depois de caminhar três vezes por semana (esse número pode aumentar dependendo da sua disposição, mas três vezes na semana é o mínimo para começar a sentir algum resultado), você já deve estar com os pés coçando de vontade de ir mais rápido. Então, agora é a hora, mas de uma maneira bem sutil, pra não acabar se machucando e fadigando os músculos da perna. A dica aqui é: Comece caminhando 3
minutos e alterne 2 minutos de trote numa velocidade maior (trote = cooper), e fique assim por duas semanas. Depois, se sentir que consegue ir mais longe, inverta. Faça 2 minutos de caminhada com 3 de trote. Isso vai fazer você se esforçar mais, acelerando o metabolismo e queimando mais calorias no corpo. XÔ GORDURA! Prontos para ir mais longe Passado esse mês de caminhada alternada com trote, comece a ir mais longe. Caminhe 5 minutos e tente correr 5. Se não conseguir tudo bem, corra em menos tempo, mas faça o teste. A essa altura o seu fôlego já deve estar muito melhor do que quando começou tudo dois meses atrás, então vá sem medo, sempre respeitando seus limites. É hora também de aumentar o tempo do exercício. Passe de meia hora para 40 minutos, três vezes por semana. A importância do pré e pós-treino. Não adianta nada querer sair correndo uma maratona sem pensar no preparo do corpo. Antes do treino é SUPERIMPORTANTE não esquecer de se alongar, e depois também. Outra coisa que muitos esquecem é ativar o sistema “cool down” da esteira depois da corrida, para ir desacelerando e colocando a respiração no seu devido lugar. Pra quem corre na rua, a mesma coisa, depois do pique intenso vá diminuindo os passos devagar, e permaneça assim por uns 3 minutos. E, ah, dica valiosa: hidrate-se durante o treino, principalmente quem não está acostumado. Mesmo sendo uma
caminhada de início, fique sempre com uma garrafinha ao seu lado. Isso faz com que você não se canse rápido e reponha os líquidos perdidos. Motivação Não tem nada mais chato que caminhar/correr sem música. SÉRIO! O nosso rendimento sobe mil vezes quando estamos acompanhados de músicas boas e animadas, aquelas que te deixam com vontade de dar a volta ao mundo. Por isso não esqueçam do MP3 para te acompanhar nessa jornada. Ele será seu melhor amigo de corridas a partir de agora. Seguindo todos os passos, podem apostar que vocês vão querer sempre ir mais longe, a coisa vicia mesmo! Não tem nada melhor do que a sensação de dever cumprido depois de uma corrida intensa, e de sentir a endorfina tomando conta de você. O dia rende, a gente sorri mais, sem falar que a corrida é praticamente um aspirador secando nossa gordura na velocidade da luz. Depois do treino, tome um belo banho e abuse dos cremes e gel. Após essa corrida, me dei conta que já estávamos em dezembro de 2011. Nossa, mas já? Sim, era hora de refletir sobre todo o ano, ver o quanto evoluí, o quanto de suor derramei e concluir em que eu poderia melhorar no próximo ano. A gente sabe que na prática muita coisa não sai como queremos e outras acabam nos surpreendendo. No final de 2010 eu só tinha uma meta na cabeça: tentar alcançar a felicidade. Consegui?
Essa era uma meta difícil devido a todos os acontecimentos de 2010, mas prometi a mim mesma que passaria 2011 inteirinho com um sorriso no rosto, não importasse o que ele estaria me reservando, e foi assim que começou. Entrei em 2011 pesando 72kg, já havia perdido 13kg e sabia que deveria continuar firme e forte. O ano começou muito bem, arranjei um emprego novo que veio para salvar minha família, já que as contas para pagar (dívidas do apartamento) eram muitas. Me dispus a ajudar minha mãe com tudo, dividimos todas as despesas deixadas pelo meu pai e fomos pagando mês por mês, coisa que não conseguiria fazer ganhando o que ganhava no emprego de 2010. A situação era tão complicada que fui obrigada a pedir empréstimos no banco, mas agora finalmente está tudo sob controle. Nesse ano amadureci muito, até demais para uma menina de 20 e poucos anos. Não sei se foi por causa de todo o problema familiar, mas tive de aprender a me virar sozinha e percebi que se a gente não for atrás do que quer, ninguém fará isso por nós. No fim somos nós e nós mesmos, ponto final. Aprendi a desapegar de pessoas que não estão na mesma sintonia que eu. Sabe aquela coisa de se preocupar demais com quem não se preocupa conosco? Isto ficou muito claro na minha cabeça depois da morte do meu pai: quem estava e quem não estava do meu lado de verdade. Descartei aqueles que eu pensava serem meus amigos.
Amigo é uma coisa que a gente perde ao longo da vida. Encontramos vários, nos apegamos a alguns e, a certa altura, somos forçados a colocar o prefixo ex antes do nome daquele que enchia nosso coração de carinho e de certeza. Perder um amigo para a vida, e não por uma fatalidade, é uma dor dilacerante. A gente pensa que amizade é pra sempre, que, quando a gente for velhinho e lembrar de tudo que aconteceu, estarão perto de nós aqueles que a gente escolheu como a família do coração, mas a vida tem dessas decepções. Uma hora é você que sai de cena. Em outra, a vontade é daquele que te dava toda certeza do mundo de que ficaria ali não importa o que aconteça. A primeira vez em que eu tive que tornar um amigo ex-amigo, senti uma dor que acabou comigo. Fiquei sem entender, chorei, chorei. Por um tempo, foi difícil acreditar de novo na beleza, na simplicidade e nas diversas nuances de uma amizade. Optei por deixar a amargura de lado e seguir em frente, ainda com esperança de que aquela dor eu não sentiria mais. Novas amizades vieram, as que importavam de verdade permaneceram. E não senti aquela dor de novo, não daquele jeito. Mas outras dores apareceram pra mostrar que a vida é assim mesmo, por mais que a gente se pergunte se já não teve a nossa cota. O bom é que dor ensina e depois que a gente sente uma que parte o coração em mil pedacinhos, aprende a relativizar as outras e, melhor ainda, renova o olhar diante dos amigos de sempre, aqueles por quem a gente sente todo o amor do mundo e em quem temos a sorte de encontrar reciprocidade. Retirei esse texto de um blog que leio sempre, o don’t touch my moleskine, e dedico a todos os meus amigos que estão do meu lado em todas as fases da minha vida.
Em 2011 foquei em mim, e somente em mim. Era hora de me cuidar, de dar a volta por cima. Passei a encarar o emagrecimento como meta do ano, e fui que fui. No começo do ano decidi também, como meta secundária, que mesmo com todas as dívidas juntaria dinheiro para realizar a viagem dos meus sonhos: Ir para a Disney em 2012. A decisão veio depois que meu pai faleceu. Passei a encarar a vida de uma maneira completamente diferente. Acredito na teoria de que a gente não pode perder tempo com nada, se quero muito fazer algo, vou lutar para isso antes que seja tarde. Ninguém sabe o dia de amanhã, né? E meu pai, pobre coitado, não aproveitou a vida como deveria. Foi-se cheio de problemas na cabeça e nunca conseguiu fazer as viagens que queria, as coisas em casa sempre foram complicadas, e eu não quero terminar minha vida assim, sem ter conhecido o mundo, compartilhado experiências, ter vivido de verdade. Então decidi: faria essa viagem, por mim e por ele. No começo achava que não conseguiria juntar a grana, mas cá estava eu, no final de 2011 com as passagens compradas: a viagem aconteceria em janeiro de 2012 e eu não podia estar mais feliz. Viagem que consegui pagar com muito trabalho, muitas noites viradas fazendo freelas, muita economia e pouca preguiça. Se tem uma coisa que não sou e nunca fui é menina mimada que viaja o mundo com a grana dos pais e ainda se diz “independente”. É… eu consegui! Mais uma meta cumprida para riscar do caderninho. Fora essas metinhas pré-planejadas, eu não estava esperando muito do
meu ano. Até que em novembro, o pessoal da Navilouca Livros conheceu minha história, leu o blog, entrou em contato e me chamou para escrever este livro. Aguenta coração! Se eu imaginava tudo isso acontecendo? Não. 2011 foi realmente um ano sensacional. Cresci, vivi e, principalmente, percebi que posso ter controle das coisas e do meu impulso com os alimentos. É só me esforçar e fazer do emagrecimento a prioridade sempre. Sabe, eu admiro quem consegue emagrecer e MANTER fazendo dietas restritivas demais, mas comigo isso não funcionou nunca, nem vai funcionar. Hoje sou mais feliz, mais leve e mantenho uma alimentação balanceada sem precisar me matar. Aprendi a me apegar às pequenas coisas e desencanar dos grandes problemas. Quando puderem ser resolvidos, serão. Na minha cabeça, 2012 não seria um ano fácil. Eu havia vencido apenas uma batalha de toda uma guerra. O emagrecimento é apenas uma pequena porcentagem dos problemas que tenho, mas sei da importância de ter paciência. As coisas demoram a acontecer, mas acontecem. O destino foi ruim comigo em muitos momentos, mas daqui para a frente só quero coisas boas, só amizades verdadeiras, sorrisos, abraços e muito amor. Não acredito em Deus (mas respeito aqueles que acreditam), então, não posso falar que só tenho a agradecer a ele por tudo isso, mas acredito numa força maior, acredito que não estamos nesse mundo de bobeira, temos um propósito na vida, cada um de nós. Não devemos
achar que somos inferiores aos outros por estarmos acima do peso, por sermos magras demais, por sermos branquelos, negros, deficientes, gays. Cada um tem o seu papel nesse universo, e nunca mais deixarei ninguém me colocar para baixo.
Ser assim, nunca mais!
D
ois mil e doze chegou e com ele muitas coisas boas! Fiz minha tão sonhada viagem para a Disney, renovei todo o meu guarda-
roupa por lá e doei as roupas usadas que estavam nas gavetas. Calças enormes e blusas GG deram espaço para o jeans 38 e blusinhas P. Me livrei do cabelo preto e dos piercings, e uma Camys loira começou a aparecer. Me renovei por completo e finalmente consegui sorrir para as fotos sem me preocupar com o que as pessoas acham. Passei a me sentir linda mesmo estando só de jeans, regata branca, cabelo preso, e zero maquiagem. Continuei participando de provas de corrida, superando limites e foquei em buscar minha felicidade e inspirar quem está no começo do processo de emagrecimento, assim como eu estava um tempo atrás. O meu cantinho virtual continua a todo vapor, e se quiser saber mais sobre
o meu processo, minhas conquistas e derrotas, dá uma passadinha lá: http://pensandomagro.net Um beijo, Camys
Camilla Pires tem 23 anos, é designer e mora em São Paulo. A vida inteira emplacou uma luta contra a balança, nunca usou uma calça 38 e sofreu muito bullying na escola. Levou uma vida cercada de alimentos gordurosos e muito sedentarismo, passou perto de ter uma depressão por conta do excesso de peso e baixa autoestima e se reconfortava sempre na comida. Mas ao ver que chegou a usar calça 50 e pesar 85kg, percebeu que era hora de mudar de vez. Descobriu que o sucesso para o emagrecimento está somente em mudarmos nosso pensamento e a relação que temos com os alimentos. Logo, passou a adquirir hábitos
saudáveis e encontrou na atividade física um vício muito melhor do que uma porção de batatas-fritas. Hoje é uma pessoa que conseguiu vencer a obesidade e tem uma vida leve e saudável. Camilla aprendeu que força de vontade é tudo, e que temos de priorizar nossos planos para darem certo. Para dividir as alegrias e dificuldades dessa luta e incentivar o combate contra a obesidade, Camilla criou um blog: pensandomagro.net.
Todos têm histórias para contar. As melhores estão aqui. A Navilouca Livros tem a missão de publicar novos e talentosos autores e valorizar a Literatura Brasileira acima de tudo! Confira os lançamentos e as promoções em nosso site e nas redes sociais: www.navilouca.com www.facebook.com/navilouca www.twitter.com/naviloucalivros @naviloucalivros Os extras desta obra estão disponíveis no site.
A Navilouca Livros agradece a Mauro Yamasaki por sua valiosa contribuição.
Pensando bem, prefiro ser magra, de Camilla Pires © Camilla Pires, 2012 Uma produção da Navilouca Livros. Todos os direitos reservados. Equipe Navilouca Livros Rodrigo Rosa, editor Luana Gomes, assistente editorial Raquel Fragoso, programadora Capa da autora. Catalogação P665p Camilla Pires Pensando bem, prefiro ser magra / Camilla Pires. – Rio de Janeiro: Navilouca Livros, 2012. Recurso eletrônico – E-book – PDF ISBN 978-85-65114-23-3 1. Literatura Brasileira – Biografia. 2. Biografia. 3. Obesidade. I. Pires, Camilla. II. Título. CDD 869.8 CDU 929.82-94(092) Navilouca Livros Rua Getúlio, 412/104 Rio de Janeiro, RJ 20775-001