MARINHERO
o
MARINHEIRO
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EX
© 199 Herdeiros de Fernado Pessoa e Parque EXPO 9 . A. A pbação de de O Marihero ol genmetc aorzada peos erdeios de eado essoa
J saão e eslg Ls pe Cnha Tragem
5 xempares omposião ooompogáfa Seeão de Cor Grasses Iesso e Aaameo rler orgesa Depóso ega
6 6/9 BN 9- so A de 99
A Carlo6 Fanco
Um quarto que 6em dúvida num ca6telo antigo. Do quarto vê -6e que é circular Ao ceo ergue6e, 60bre uma eMa um caixão com uma dozela de braco Quatro toc/a6 a06 cato6 À direita qua6e em �rente a quem magina o quarto á uma única janela alta e e6treita dado para ode 6Ó 6e vê etre doi6 monte6 longín quo6 um pequeo e6paço de mar Do lado da janela velam trê6 doela6 A primeira eá 6entada em �rete à jaela, de coHa6 contra a tocha de cima da direita A6 oua6 dua6 e6tão 6etada6 uma de cada lado da jaela
t noite e há como que um reo vago de luar
PRIMERA VELADORA SEGUNDA
Aind não du hor nnhum.
Não s podi ouir Não h rló
gio qui prto. Dntro m pouco d sr di. TERCERA PRMERA
Não: o horiont ngro
Não dsis minh irmã, qu
nos ntrtnhmos contndo o qu fomos? É blo smpr flso .. SEGUDA
Não, não flmos disso D rsto
fomos nós lgum cois? PRMERA
Tl Eu não si Ms, ind s
FE O
PE SSO
10
sim sempre bel falar d passad. As h ras têm caíd e nós tems guardad siênci. r mim, tenh estad a lhar para a chama daquela ela Às ezes treme, utras trnase mais amarela, utras ezes empaidece. Eu nã sei pr que que iss se dá. Mas sabems nós, minhas irmãs, pr que se dá qualquer cisa? ..
(uma pausa) A MESMA
Falar d passad.. iss dee ser
bel, prque intil e faz tanta pena.. SEGUNDA
Faems se quiserdes de um pas
sad que nã tissems tid. TERERA
Nã alez tissems tid.
PRMERA
Nã dizeis senã palaras. É tã
triste falar! É um md tã fals de ns esque cerms.. Se passeássems? . TERERA
PRMERA
Onde? Aqui de um lad para utr.
Às ezes iss ai buscar snhs.
M R
TRR PRR
De quê? Nã se r que haia eu de
saber?
uma pausa) ND
d este país muit triste.
Aquele nde eu ii utrra era mens triste. A entardecer eu fiava sentada minha jane la A janela daa para mar e s ezes haia uma ilha a lnge Muitas ezes eu nã fiaa lhaa para mar e esqueciame de ier Nã sei se era feliz Já nã trnarei a ser aquil que talez eu nunca fsse... PRR
Fra de aqui, nunca i mar.
Ali daquela janela, que a nica de nde mar se ê êse tã puc .. O mar de utras terras bel? ND
Só mar das utras terras que
bel Aquele que nós ems dáns sempre saudades daquele que nã erems nunca..
RtD
PE SS
(uma pausa)
PRMERA
Nã dizíams nós que íams cn
tar nss passad? Nã nã dizíams.
SUNA
ERCERA
r que nã haerá relógi neste
Nã sei... Mas assim, sem reló
quart? SUNA
gi tud mais afastad e misteris. A nite pertence mais a si própria.. Quem sabe se nós pderíams falar assim se subssems a hra que ? PRMERA
Minha irmã em mim tud tris
te. ass Dezembrs na alma... Estu prcu rand nã lhar para a janela... Sei que de lá se êem, a lnge mntes .. Eu fui feliz para alm de mntes utrra... Eu era pequenina. Clhia flres td dia e antes de adrmecer pedia que nã mas tirassem.. Nã sei que ist tem de irreparáel que me dá ntade de ch
Mt
3
rar Fi lnge daqui que ist pôde ser Quan d irá dia? TERCERA
Que imprta? Ele em sempre da
mesma maneira sempre sempre sempre
(uma paua)
EGNA
Cntems cnts umas às u
tras Eu nã sei cnts nenhuns mas iss nã faz mal Só ier que faz mal Nã r cems pela ida nem a rla das nssas es tes Nã nã s leanteis ss seria um gest e cada gest interrmpe um snh Neste mment eu nã tinha snh nenhum mas -me suae pensar que pdia estar ten d Mas passad pr que nã falams nós dele? PRMERA
Decidims nã fazer Bree
raiará dia e arrependerns-ems Cm a luz s snhs adrmecem O passad nã
FE Rt
PE SS
4
senã um snh .. De est, nem sei que nã snh.. Se lh paa pesente cm muita atençã paece-me que ee já passu O que qualque cis? Cm que ea passa? Cm p dent md cm ela passa? . Ah, fa lems minhas imãs faems alt, falems t das juntas O siênci cmeça a tma cp,
cmeça a se cisa Sint enleme cm uma na. Ah falai, falai! SEGUN
aa quê? .. its a ambas e
nã s ej lg... aeceme que ente nós se aumentaam abisms enh que cansa a ideia de que s pss e paa pde chega a es... Este a quente fi p dent naquela pate ue tca na alma Eu deia aga senti mãs impssíeis passaemme pels cabels.. As mãs pels cabels... gest cm que falam das seeias... Cruz s
mãos sobre os joelhos. Pus Ainda há pu c, quand eu nã pensaa em nada, estaa pensand n meu passad.
R lJ R
MEA
Eu tambm deia ter estad a
pensar n meu EEA
Eu já nã sabia em que pensaa ..
N passad ds utrs talez, n passad de gente marailhsa que nunca existiu.. A p da casa de minha mãe crria um riach.. r que que crreria e pr que que nã crre ria mais lnge, u mais pert? . Há aguma razã para qualquer cisa ser que ? Há para iss qualquer razã verdadeira e rea cm as minhas mãs? SEGUNA
As mãs nã sã erdadeiras nem
reais... Sã mistris que habitam na nssa i da.. Às ezes, quand fit as minhas mãs, te nh med de Deus Nã há ent que ma as chamas das elas, e lhai, eas mem-se ara nde se inclinam elas? ue pena se a gum pudesse respnder! Sintme desejsa de uir msicas bárbaras que deem agra estar tcand em paácis de utrs cntinen-
FR
S
tes... sempre longe da minha alma. Talez porque quando riança corri atrás das ondas beiramar. eei a ida pela mão entre ro chedos, mar baxa quando o mar parece ter cruzado as mãos sobre o peito e ter adormeci do como uma esátua de anjo para que nunca mais ningum olhasse.. ERERA
As ossas frases lembramme a
minha alma... SEGUDA
talez por não serem erdadei
ras.. Mal sei que as digo.. Repito-as seguindo uma oz que não ouço mas que está segredan do.. Mas eu deo ter iido realmente bei ra-mar.. Sempre que uma coisa ondeia eu amo-a... Há ondas na minha alma... uando ando embalo-me... Agora eu gostaria de an dar ... Não o faço porque não ale nunca a pena fazer nada sobretudo o que se quer fazer ... Dos montes que eu tenho medo... impossíel que eles sejam tão parados e
o
R R
grandes . Deem ter um segred de pedra que se recusam a saber que têm Se desta janea debruçand-me eu pudesse deixar de er mntes debruçarseia um mment da minha ama agum em quem eu me sentisse feiz. PRER
r mim am s mntes D a
d de cá de tds s mntes que a ida sempre feia D ad de á nde mra minha mãe cstumáams sentarm-ns smbra ds tamarinds e faar de ir er utras ter ras. ud ai era ng e feiz cm cant de duas aes uma de cada ad d caminh. A fresta nã tinha utras careiras senã s nsss
pensaments.
E s
nsss
snhs
eram de que as árres prjectassem n chã utra cama que nã as suas smbras Fi de cert assim que ai iems eu e nã sei se mais agum.. Dizei-me que ist fi erdade para que eu nã tenha de chrar SEGUA
Eu ii entre rcheds e esprei-
R O .
taa
�
mar.. A ra da minha saia era fresca e
sagada batend nas minhas pernas nuas.. Eu era pequena e brbara . He tenh med de ter sid... O presente parece-me que durm... Falaime das fadas Nunca ui faar deas a ningum.. O mar era grande demais para fazer pensar neas.. Na ida aquece ser pequen... É reis feiz minha irm? PRMEIRA
Cmeç neste mment a têl
sid utrra.. e rest tud aqui se passu na smbra... As rres ieramn mais d que eu.. Nunca chegu quem eu mal espera a.. E ós irm pr que n falais? TERCERA
Tenh hrrr a de aqui a puc
s ter j dit que s u dizer. As minhas paaras presentes mal eu as diga pertence r g a passad ficar fra de mim n sei nde rgidas e fatais.. Fal e pens nist na minha garganta e as minhas palaras pare cemme gente... Tenh um med mair d que
'
M
eu. Sinto na minha mão não sei como a chae de uma porta desconhecida E toda eu sou um amueto ou um sacrrio que estiesse com consciência de si próprio É por isto que me apaora ir como por uma floresta escura atraés do mistério de faar... E afinal quem sabe se eu sou assim e se é isto sem dúida que sinto? .. PMEA
Custa tanto saber o que se sente
quando reparamos e nós! .. Mesmo ier sa be a custar tanto quando se d por isso... Fa lai portanto sem reparardes que existis.. Não nos eis dizer quem éreis? TECEA
O que eu era outrora j não se
lembra de quem sou.. obre da feiz que eu fui ... Eu ii entre as sombras dos ramos e tudo na minha alma é folhas que estremecem Quando ando ao sol a minha sombra é fresca. assei a fuga dos meus dias ao lado de fontes onde eu mohaa quando sonhaa de ier as
RtltD
20
pntas tranqas ds mes deds. Às ezes bera ds ags debrçaame e ftaame... and e srra s mes dentes eram ms terss na ga .. Tnham m srrs só de es ndependente d me. Era sempre sem raz qe e srra.. Faa-me da mrte d fm de td paa qe e snta ma raz para recrdar MEA
N faems de nada de nada ..
Est mas fr mas pr qe qe est mas fr? N h ra para estar mas fr N bem mas fr qe est... ara qe qe hae ms de faar? É mehr cantar n se pr
qê . O cant qand a gente canta de nte
ma pessa aegre e sem med qe entra de repente n qart e aqece a cnsarns . E pda cantar-s ma canç qe canta ms em casa de me passad r qe qe n qeres qe -a cante? ECEA
N ae a pena mnha rm
21
R R
Quand agum canta eu n pss estar c mig enh que n pder recrdar-me E de pis td meu passad trna-se utr e eu chr uma ida mrta que trag cmig e que n ii nunca É sempre tarde demais para cantar assim cm sempre tarde demais para n cantar.
(uma pausa)
MA
Bree ser dia.. Guardems si
ênci . A ida assim quer. A p da minha casa nata haia um ag Eu ia e assentaa -me beira dee sbre um trnc de rre que caíra quase dentr da gua Sentaa-me na pnta e mhaa na gua s ps esticand para baix s deds. epis haa excessia mente para as pntas ds ps mas n era pa ra as er N sei prquê mas parece-me des te ag que ee nunca existiu Lembrar-me
ttO
PSS
dee como no me poder embrar de nada... Quem sabe por que que digo isto e se fui eu que ii o que recordo? .. SEGUND
À beira-mar somos tristes quando
sonhamos. No podemos ser o que queremos ser porque o que queremos ser queremo-o sempre ter sido no passado . Quando a onda se espaha e a espuma chia parece que h mi ozes mnimas a faar. A espuma só parece ser fresca a quem a uga uma.. Tudo muito e nós no sabemos nada.. Quereis que os con te o que eu sonhaa beiramar? PME
odeis cnt-o minha irm; mas
nada em nós tem necessidade de que no-o conteis.. Se beo tenho pena de ir a t -o ouido E se no beo esperai... contai-o só depois de o aterardes.. SEUND
Vou dizer-oIo No inteira
mente faso porque sem dúida nada intei ramente faso. Dee ter sido assim... m dia
MR
que eu dei por mim recostada no cimo frio de um rochedo e que eu tinha esquecido que ti nha pai e me e que houera em mim infância e outros dias... nesse dia i ao onge como uma coisa que eu só pensasse em er a passa gem aga de uma ela... Depois ela cessou.. Quando reparei para mim i que tinha esse meu sonho... No sei onde ele tee princí pio... E nunca tornei a er outra ela... Ne nhuma das eas dos naios que saem aqui de um porto se parece com aquea mesmo quan do ua e os naios passam onge deagar... Veo pela anela um naio ao
PRMRA
longe. É taez aquee que istes.. SGUNDA
No minha irm; esse que edes
busca sem dúida um porto quaquer... No podia ser que aquele que eu i buscasse qual quer porto.. PRMRA
or que que me respondes
tes? . ode ser... Eu no i naio nenhum pe
FRtltlO
PSS
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a janela... esejaa er um e faeis dele para n ter pena .. Cntai-ns agra que fi que snhastes beiramar .. SEDA
Snaa de um marinheir que se
huesse perdid numa ilha lngínqua Nessa ilha haia palmeras hirtas pucas e aes a gas passaam pr eas... N i se alguma ez pusaam.. esde que naufragad se sala ra marinheir iia ai Cm ele n ti nha mei de ltar ptria e cada ez que se lembraa dela sfria pôsse a snhar uma p tria que nunca tesse tid pôsse a fazer ter sid sua uma utra ptria uma utra espécie de país cm utras espécies de paisagem e u tra gente e ur feiti de passarem pelas ruas e de se debruçarem das janeas Cada hra ele cnstruía em snh esta falsa ptria e ele nunca deixaa de snhar de dia sm bra curta das grandes palmeiras que se recr taa rlada de bics n ch areent e quen-
M
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te de nite estendid na praia de cstas e n reparand nas estrelas. PRMERA
N ter haid uma rre que
msqueasse sbre as minhas ms estendidas a smbra de um snh cm esse! . TERCERA
Deixaia falar .. N a interrm
pais. Ela cnhece paaras que as sereias lhe ensinaram... Adrmeç para a pder escutar Dizei minha irm dizei Meu craç dói me de n ter sid ós quand snheis beiramar SEGDA
Durante ans e ans dia a dia
marinheir erguia num snh cntnu a sua na terra nata. ds s dias punha uma pedra de snh nesse edifci impssel.. Bree ele ia tend um pas que j tantas ezes haia percrrid. Mihares de hras lembraa se j de ter passad a lng de suas cstas. Sabia de que cr sam ser s crepúsculs nu ma baa d Nrte e cm era suae entrar
I
nite alta e cm a ama recstada n murmú ri da gua que nai abria num grande prt d Sul nde ee passara utrra feliz taez das suas mcidades a supsta ..
(uma pausa) Minha irm pr que é que s
PRIMRA
calais? GUNA
N se dee falar demasiad
A ida espreitans sempre da a hra é materna para s snhs mas precis n saber. Quand fal demais cmeç a separar me de mim e a uirme falar Iss faz cm que me cmpadeça de mim própria e sinta de masiadamente craç enh ent uma ntade lacrimsa de ter ns braçs para pder embalar cm a um fih Vede: h riznte empalideceu . O dia n pde tar .
dar Ser precis que eu s fale ainda mais d meu snh?
M R
27
PRMERA
Cntai sempre minha irm cn
tai sempre... N pareis de cntar nem repa reis em dias que raiam... O dia nunca raia para quem encsta a cabeça n sei das hras s nhadas... N trçais as ms. ss faz um ruí d cm de uma serpente furtia... Faai-ns muit mais d ss snh Ele t erda deir que n tem sentid nenhum. Só pensar em uir-ns me ta música na ama... SEUA
Sim faar-sei mais dee. Mes
m eu precis de -l cntar. À medida que u cntand a mim tambm que cnt.. S três a escutar.. (De repente, olhando pa
ra o caixão, e etreecendo) rês n... N sei... N sei quantas... TERCERA
N faleis assim... Cntai depres
sa cntai utra ez... N faleis em quants pdem uir... Nós nunca sabems quantas cisas reamente iem e êem e escutam... Vltai a ss snh. . O marinheir. O que snhaa marinheir? ..
RtltD
EGUA
PSS
28
mais baixo numa voz muito lenta)
A princpi ele criu as paisagens depis criu as cidades criu depis as ruas e as tra essas uma a uma cineand-as na matéria da sua alma uma a uma as ruas bairr a bairr até às murahas d cais de nde ele criu depis s prts ma a uma as ruas e a gente que as percrria e que lhaa sbre elas das janelas assu a cnhecer certa gente cm quem a recnhece apenas... a lhes cnhecend as idas passadas e as cn ersas e tud ist era cm quem snha ape nas paisagens e as ai end Depis iaaa recrdad atraés d pas que criara .. as sim fi cnstruind seu passad . Bree ti nha uma utra ida anterir inha nessa na ptria um lugar nde nascera s lugares nde passara a juentude s prts nde em barcara.. a tend tid s cmpanheirs da infância e depis s amigs e inimigs da sua
MARI EI O
21
idade viri... Tdo era diferente de como ele o tivera... nem o país, nem a gente, nem o se passado próprio se pareciam com o qe ha viam sido Exigis que e contine? .. Casa me tanta pena falar disto!. Agora porqe vos falo disto apraziame mais estar-vos fa ando de otros sonhos. TERCEIRA
-
Continai ainda que não saibais
porquê. Qanto mais vos oço, mais me não pertenço.. PRIMEIRA
Será bom realmente qe conti
neis? Deve qalqer história ter fim? Em to do o caso faaL . Importa tão poco o qe di zemos ou não dizemos... Veamos as horas que passam ... O nosso mister é inútil como a Vida... SEGUNDA
Um dia qe chovera mito, e
o horizonte estava mais incerto o marinheiro cansose de sonhar... Qis então recordar a sa pátria verdadeira.. mas viu qe não se
FERtAlDO
PESSO
30
lembrava de nada, que ela não existia para ele Meninice de que se lembrasse era a na sua pátria de sonho; adolescência que recor dasse, era aquela que se criara.. Toda a sua vida tinha sido a sua vida que sonhara E ele viu que não podia ser que outra vida tivesse existido Se ele nem de uma rua, nem de uma figura nem de um gesto materno se lembra va. E da vida que lhe parecia ter sonhado tudo era real e tinha sido Nem sequer podia sonhar outro passado, conceber que tivesse ti do outro, como todos, um momento podem crer Ó minhas irmãs, minhas irmãs Há qualquer coisa, que não sei o que é que vos não disse qualquer coisa que explicaria isto tudo A minha alma esf ria-me Mal sei se te nho estado a falar. Falai-me, gritai-me para que eu acorde, para que eu saiba que estou aqui ante vós e que há coisas que são apenas sonhos
MARI I EI O
31
PRIMEIRA
(numa voz muito baixa)
-
Não sei
que vos diga. Não ouso olhar para as coisas Esse sonho como continua? . SEGUNDA
-
Não sei como era o resto. Ma
sei como era o resto Por que é que haverá mais? PRMERA SEGUNDA
-
-
E o que aconteceu depois? Depois? Depois de quê? Depois
é aguma coisa? Veio um dia um barco . Veio um dia um barco Sim sim só podia ter sido assim.. Veio um dia um barco e passou por essa ilha, e não estava á o mari nheiro TERCEIRA
-
Tavez tivesse regressado à pá
tria. Mas a qua? PRIMEIRA
-
Sim a qua? E o que teriam feito
ao marinheiro? Sabê-oia aguém? SEGUNDA
-
Porque é que mo perguntais? Há
resposta para aguma coisa?
fRD
PSS
2
(uma pausa) TERCERA
Ser abslutamente necessri,
mesm dentr d ss snh, que tenha ha id esse marinheir e essa ilha? SEGUNDA
N, minha irm; nada abslu
tamente necessri PRMERA
A mens cm acabu snh?
SEGUNDA
N acabu N sei Nenhum
snh acaba Sei eu a cert se n cnti nu snhand, se n snh sem saber se snhl n esta cisa aga a que eu cha m a minha ida? . N me faleis mais rin cipi a estar certa de qualquer cisa, que n sei que é Aançam para mim pr uma ni te que n esta, s passs de um hrrr que descnheç Quem teria eu id despertar cm snh meu que s cntei? Tenh um med disfrme de que Deus tiesse pribid meu snh Ele é sem dúida mais real d que Deus permite N esteais silencisas
R R
Dizeie ao eno ue a noie ai paando ebora eu o aiba Vede coeça a ir er dia... Vede: ai haer o dia real. Pareo.. Não peneo ai Não eneo eguir nea aenura inerior Que abe o ue e no fi dela? . udo io inha irã paou-e na noie... Não faleo ai dio ne a nó própria... É huano e coneniene ue oeo cada ual a ua aiude de ri eza TERCERA
Foi-e ão belo ecuar-o...
Não digai ue não Be ei ue não aleu a pena... É por io ue o achei belo Não foi por io a deiai ue eu o diga... De reo a úica da oa oz ue ecuei ainda ai ue a oa palaa deiae alez ó por er úica deconene. EGUNDA
udo deia deconene inha
irã . O hoen ue pena canae de udo porue udo uda O hoen ue pa a proano porue uda co udo. De
FERtlAtD
PESO A
34
eterno e belo há apenas o sonho .. Por que es tamos nós falando ainda? . PRIMEIRA
-
Não sei. (olhando para o cai-
xão, em voz mais baixa).. Por que é que se morre? SEGUNDA
-
PRIMEIRA
Talvez por não se sonhar bastante.
É possíel... Não valeria então a
pena fecharmo-nos no sonho e esquecer a i da, para que a morte nos esquecesse? . Não, minha irmã, nada ale a
SEGUDA
pena . TERCEIRA
-
Minhas irmãs, é já dia... Vede, a
linha dos montes maravilhase .. Por que não choramos nós? . Aquela que finge estar ali era bela, e noa como nós, e sonhaa tam bém.. Estou certa que o sonho dela era o mais belo de todos .. Ela de que sonharia? .. PRIMERA
Falai mais baixo Ela escutanos
talvez, e já sabe para que serem os so nhos .
3S
M
(um pus SEGDA
Talz nada disto sa dad
Todo st silêncio sta mota st dia u comça no so talz sno um sonho.. Olhai bm paa tudo isto Pacos u ptnc à ida PEA
No si No si como s é da i
da... Ah como ós stais paada! E os ossos olhos so tists pac u o sto inutil mnt SEGUDA
No al a pna sta tist d
outa mania No dsais u nos cal mos É to stanho sta a i Tudo o u acontc é inacditl tanto na ilha do mainhio como nst mundo Vd o céu é d. O hoizont soi ouo.. Sinto u m adm os olhos d u t pnsado m choa PEA
im.
Choasts com fito minha
FERAIO O
PSSO A
SEGUNDA
-
Talvez Não importa Que frio
é este? O que é isto? . Ah é agora é ago ra! Dizei-me isto Dizei-me uma coisa ain da Por que não será a única coisa real nisto tudo o marinheiro, e nós e tudo isto aqui ape nas um sonho dele? PRIMEIRA
Não
faleis
mais
não
faleis
mais Isso é tão estranho que deve ser verda de Não continueis O que íeis dizer não sei o que é mas deve ser demais para a alma o poder ouvir Tenho medo do que não chegastes a dizer Vede vede é dia já Vede o dia Fazei tudo por reparardes só no dia, no dia real ali fora Vedeo vede-o Ele con sola Não penseis não olheis para o que pensais Vede-o a vir o dia Ele brilha como ouro numa terra de prata As leves nuvens ar redondam-se à medda que se coloram Se nada existisse minhas irmãs? Se tudo fosse de qualquer modo absolutamente coisa ne nhuma? Por que olhastes assim?
M R
37
(Não lhe respondem.
E
nnguém olhara de
nenhuma maneira)
A MESMA
Que f iss que disseses e que
me pu? ei que ml i que e. Dizei-me que fi p que eu u id segud ez á eh med cm des .. .. digis d... s pegu is p que me espdis ms p fl pes p me deix pes... eh med de me pde lemb d que fi.. Ms fi qulque cis de gde e ps cm he Deus. Deíms á e cbd de fl Há emp á que s s ces pedeu seid O que é ee ós que s fz fl plgse demsid mee Há mis peseçs qui d que s s ss lms. O di dei e á id... Deim á e cdd.. d qulque cis... d
FRO
SS
38
udo qu é qu s s ddo s coiss d codo com o osso hoo? Ah o m b dois i comigo fi comigo. i o msmo mpo do qu u p o dixds sozih mih oz.. Tho mos mdo mih oz do qu idi d mih oz do d mim s fo p qu sou fdo TERCERA
Qu oz é ss com qu f
is? É d ou Vm d um spéci d og. PRMERA
No si No m mbis isso
Eu di s fdo com oz gud mid do mdo. Ms o si como é qu s f.. E mim mih oz bius um bismo Tudo iso od s cos s oi s mdo udo iso di cb do di cbdo d p dpois do hoo qu os dissss. Comço si qu o squço isso qu dissss qu m fz ps qu u di gi d um mi o p xpimi um hoo d qus.
3'
R I
TECEA
para a
SUNDA)
Minha irm no
nos devíeis ter contado esta história Agora estranho-me viva com mais horror Contáveis e eu tanto me distraa que ouvia o sentido das vossas palavras e o seu som separadamente E parecia-me que vós, e a vossa vo, e o senti do do que diíeis eram três entes diferentes, como três criaturas que falam e andam SEUNDA
So realmente três entes diferen
tes, com vida própria e real Deus talve saiba porquê.. Ah, mas por que é que falamos? Quem é que nos fa continuar falando? Por que falo eu sem querer falar? Por que é que á no reparamos que é dia?. PRMEA
Quem pudesse gritar para des
pertarmos! Estou a ouvirme a gritar dentro de mim, mas á no sei o caminho da minha vontade para a minha garganta Sinto uma ne cessidade fero de ter medo de que alguém possa agora bater àuela porta Por que no
RO
40
bate alguém à pota Seia impossíel e eu te nho necessidade de te medo disso, de sabe de ue é ue tenho medo. Que estanha ue me sinto!.. Paece-me á no te a minha oz Pate de mim adomeceu e ficou a e... O meu pao cesceu, mas eu á no sei senti -lo. Já no sei em ue pate da alma é ue se sente .. Puseam ao meu sentimento do copo uma motalha de chumbo. Paa ue foi ue nos contastes a ossa históia SEGUNDA
Já no me lembo.. Já mal me
lembo ue a contei.. Paece te sido á há tanto tempo!. Que sono ue sono absoe o meu modo de olha paa as coisas!... O ue é ue nós ueemos faze O ue é ue nós te mos ideia de faze á no sei se é fala ou no fala . PRMRA
No falemos mais Po mim can
sa-me o esfoço ue fazeis paa fala. Dóime o intealo ue há ente o ue pensais e o ue
A R
41
I E R
dieis... A minha onsiênia bóia à ona da sonolênia apaoada dos meus sentidos pela minha pele.. No sei o que é iso, mas é o que sino... Peiso die fases onfusas um pouo ongas, que usem a die.. No senis udo is to omo uma aanha enome que nos ee de alma a ama uma eia nega que nos pende? SEGDA
-
No sino nada... Sino as minhas
sensações omo uma oisa que se sene... Quem é que eu esou sendo? ... Quem é que está aando om a minha o? ... Ah esutai... PRMERA e TERCERA SEGDA
-
-
Quem foi?
Nada. o oui nada... Quis fin
gi que ouia paa que ós supusésseis que ou íeis e eu pudesse e que haia aguma oisa a oui... Oh, que hoo, que hoo ínimo nos desaa a o da alma, e as sensações dos pensamenos, e nos a ala e senti e pensa quando tudo em nós pede o silênio e o dia e a inonsiênia da ida... Quem é a quinta
fRtlADO
POA
42
pessoa neste quarto que estende o braço e nos interrompe sempre que amos a sentir? MA
- Para que tentar apaorar-me?
Não cabe mais error dentro de mim... Peso excessiamente ao colo de me sentir Afundei -me toda no lodo morno do que suponho que sinto. Entra-me por todos os sentidos qual quer coisa que mos pega e mos ela. Pesam-me as pálpebras a todas as minhas sensações. Prende-se a língua a todos os meus sentimen tos Um sono fundo cola umas às outras as ideias de todos os meus gestos. Por que foi que olhastes assim? .. TCA
(uma voz muio lea e apagada) -
Ah é agora, é agora .. Sim, acordou alguém.. Há gente que acorda.. Quando entra� alguém tudo isto acabará.. Até lá façamos por crer que todo este horror foi um longo sono que fomos dormindo... É dia já. Vai acabar tu do... E de tudo isto fica, minha irmã que só ós sois feliz, porque acreditais no sonho.
MAR I E O
43
SEGUNDA
-
Por que é que mo perguntais?
Por que eu o disse? Não, não acredito .
Um galo
canta. A l co que ubitamente, aumenta A !ê
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ladora quedam-e 6lencoa e aem oharem uma para a ouT Não muto longe por uma e!Tada
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vago cao geme e cha