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Psicologia nas Organizações
ANTÓNIO JOSÉ PALMA ESTEVES ROSINHA PAOLO ROSI D’ÁVILA RODOLFO DE CASTRO RIBAS JR. MARCOS AGUIAR DE SOUZA VALERIA MARQUES DE OLIVEIRA LUÍS ANTÔNIO MONTEIRO CAMPOS ORGANIZAÇÃO
CLÁUDIA BRANDÃO BEHAR LUÍS ANTÔNIO MONTEIRO CAMPOS 1ª edição SESES rio de janeiro 2014
Edited by Foxit Reader Copyright(C) by Foxit Software Company,2005-2008 For Evaluation Only. Comitê editorial externo rodolfo de castro ribas junior, marcos aguiar de souza e paolo rosi d avila Comitê editorial interno claudia brandão behar, patrícia maria de azevedo pacheco e luis antônio monteiro campos Organizadores do livro luís antônio monteiro campos e cláudia brandão behar Autores dos originais antónio josé palma esteves rosinha (capítulo 1), paolo rosi d’ávila (capítulo (capítul o 2), 2) , rodolfo de castro ribas jr (capítulo (capítulo 3 e 6), marcos aguiar de souza (capítulo (capítulo 4 e 6), valeria marques de oliveira (capítulo 5), luís antônio monteiro campos (capítulo 6) Projeto editorial roberto paes Coordenação de produção rodrigo azevedo de oliveira Projeto gráfico paulo vitor fernandes bastos Diagramação victor maia Supervisão de revisão aderbal torres bezerra Redação final e desenho didático roberto paes, rodrigo azevedo de oliveira e jarcélen ribeiro Revisão linguística aderbal torres bezerra, cláudia lins e daniela reis Capa thiago lopes amaral
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2014.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( cip)
P974 Psicologia nas Organizações cláudia brandão behar e luís antônio monteiro campos [organizador].
— Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2014. 144 p isbn: 978-85-60923 978-85-60923-18-2 -18-2 1. Psicologia. 2. Organização. I. Título. cdd 158
Diretoria de Ensino – Fábrica de Conhecimento Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus Campus João Uchôa Rio Comprido – Rio de Janeiro – rj – cep 20261-063
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Sumário 1. Apresentação
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2. Visão histórica e conceitual da Psicologia
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Introdução Conceito e visão histórica da Psicologia Mas o que justifica condutas tão diferenciadas nas pessoas? Momento I – A Influência Filosófica Filosófica Momento II – A Psicologia Científica Momento III – A Psicanálise Momento IV – O Behaviorismo e a Psicologia da Forma (Gestalt) Momento V – A Psicologia Cognitivista Desenvolvimento histórico sobre a interpretação do comportamento humano O estudo da inteligência Abordagem psicométrica Abordagem cognitiva Abordagens contextuais e Sistêmicas O estudo da personalida personalidade de A natureza da personalidad personalidadee Uma visão integradora de personalidade A Psicologia na visão contemporânea Origem da Psicologia Social Mudança Metodológica
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3. Psicologia Aplicada ao Espaço Organizacional
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Introdução A Psicologia no Contexto Organizacional A influência do processo de intrustrialização no surgimento da Psicologia Organizacional Teoria da Administração Áreas de atuação do psicólogo na organização Psicopatologia do Trabalho O diálogo entre o indivíduo e a organização Características Culturais Características Sociais
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4. Diferenças Individuais e Processo Decisório Introdução Diferenças Individuais e Tomada de Decisão Diferenças individuais, Personalidade e tomada de decisões O que é personalidade? Cinco perspectivas psicológicas acerca da personalidade Perspectiva Biológica ou Genética Perspectiva Psicanalítica ou Psicodinâmica Estrutura da personalidade na perspectiva psicanalítica Perspectiva Behaviorista ou Comportamentalista Ivan Petrovich Pavlov e o condicionamento respondente B. F. Skinner e o condicionamento operante Perspectivas dos traços de personalidade Extroversão e Introversão em Carl Jung Raymond Cattell, Personalidade e a Estatística Moderna O Modelo dos Cinco Grandes Fatores (Big Five Model) O Modelo dos Cinco Grandes Fatores no Mundo do Trabalho Perspectiva Humanista da Personalidade Abraham Maslow e a busca da autorrealização A hierarquia de necessidades de Abraham Maslow Carl Rogers e a perspectiva centrada na pessoa Personalidade e Cultura Pensamento Intuitivo e Pensamento Analítico Personalidade e estilos de pensamento Processo de Decisão Individual e em Grupo
5. Seleção nas Organizações Introdução Processo seletivo nas organizações Análise do cargo, análise do trabalho e perfil profissiográfico Recrutamento de pessoal Conceituação, objetivos e avaliação da seleção de pessoal A entrevista Testes psicométricos Simulações de desempenho Dinâmicas de grupo Distorções no processo avaliativo | Vieses A seleção de pessoal sob o ponto de vista do candidato
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6. Treinamento e gestão de pessoas Introdução Treinamento Aprendizagem nas corporações Condições facilitadoras de aprendizagem no meio organizacional Treinamento | Conceituação, objetivo e avaliação Métodos e programas de treinamento 1) Avaliação de necessidades de treinamento 2) Definição de objetivos 3) Planejamento do projeto ou programa de treinamento 4) Aplicação do treinamento 5) Avaliação do treinamento Gestão de pessoas Conceituação e objetivos Gestão de conflitos, relações interpessoais e relações de poder Avaliação de desempenho
7. Comportamento Organizacional Introdução Ética e comportamento organizacional O processo de pesquisa no comportamento organizacional Que ideia básica poder estar por trás dessas investigações?
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Apresentação Este livro de Psicologia nas Organizações é destinado não apenas a psicólogos, mas a todos os profissionais que atuam em organizações. Além de desenvolver brilhantemente aspectos relacionados ao comportamento organizacional, consegue de forma resumida promo ver um panorama geral da história da psicologia e ainda desenvolve o tema personalidade através das mais diversas abordagens da psicologia, dando ao profissional que trabalha na área a possibilidade de interpretar o comportamento humano sob diferentes perspectivas. O livro Psicologia nas Organizações apresenta as principais ferramentas para capacitar o profissional no desenvolvimento das atividades necessárias para a sua atuação nos diferentes níveis organizacionais, tais como: recrutamento e seleção, treinamento e gestão de pessoas, processo decisório e gestão de pessoas. O presente livro consegue reunir doutores renomados da área organizacional de instituições de referência, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade de Lisboa e Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro (ECEME). Outro diferencial do livro refere-se à forma didática com que ele é desenvolvido, iniciando cada capítulo com os objetivos de aprendizado e finalizando com um estudo de caso, além de um resumo e indicação de sites, vídeos e filmes referentes ao assunto abordado, o que enriquece a aprendizagem e facilita a consolidação da informação de forma diversificada e prática. A psicologia nas organizações tem crescido muito em função da necessidade de integrar os interesses dos empresários com as necessidades dos trabalhadores. A psicologia se propõe então a desenvolver um diálogo entre as partes com o objetivo de criar um equilíbrio dinâmico, ampliando os ganhos e reduzindo as perdas para ambos. Trabalho árduo que os autores conseguem desenvolver de forma fascinante. Estava faltando nessa área um livro que unisse a teoria proveniente do espaço acadêmico com a prática de profissionais que atuam no mercado de trabalho. Por esse motivo, esse livro que você tem em mãos tem todos os requisitos necessários para tornar-se um livro de referência no assunto. claudia brandão behar e luís antônio monteiro campos
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Visão histórica e conceitual da Psicologia
antónio jose palma esteves rosinha
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Visão histórica e conceitual da Psicologia Introdução OBJETIVOS
1. Identificar o objeto de estudo da Psicologia; 2. Apresentar uma visão crítica sobre a evolução histórica da Psicologia; 3. Descriminar os principais momentos e marcos históricos da Psicologia; 4. Posicionar a inteligência e a personalidade como disciplinas distintas, mas essenciais e complementares na interpretação do comportamento; 5. Classificar e explicar as diferentes abordagens ao estudo da inteligência; 6. Diferenciar a abordagem nomotética da ideográfica no estudo da inteligência; 7. Clarificar o conceito de inteligência personalidade; 8. Avaliar e posicionar os conceitos de estabilidade e mudança da personalidade; 9. Posicionar a Psicologia Social como base para a análise do comportamento social e das relações interpessoais.
Abordar o tema do comportamento humano e os processos que lhe estão associados, passa numa primeira fase por compreender a evolução das concepções sobre o homem e por posicionar aspectos centrais do seu funcionamento, o domínio cognitivo — inteligência — e o domínio conativo – personalidade. A discussão sobre o trabalho é evidentemente ampla demais para um só capítulo, não admira que cada corrente da Psicologia lhe tenha procurado dar resposta, mas é preciso clarificar que o comportamento do homem só pode ser entendido nas suas idiossincrasias e pluralidade com uma visão integrada e em contexto. Para isso, começa-se pelas concepções filosóficas do Homem, com repercussão na Psicologia. Posteriormente reflete-se sobre os dois grandes pilares estruturantes do indivíduo, inteligência e personalidade, abordando diferentes perspectivas que traduzem uma visão mais nomotética e idiossincrática do homem. Olhamos por fim, para a disciplina que na atualidade mais se interliga à temática da Psicologia das Organizações e das relações interpessoais: a Psicologia Social.
ATENÇÃO Em particular destacam-se temáticas como o conformismo, obediência, as atitudes, a dissonância cognitiva. Por fim contrapõem-se a abordagem construcionista à cognitivista, enquanto visão contemporânea do homem social, que aponta não para uma Psicologia cognitiva individual, mas para uma Psicologia Social psicológica.
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Conceito e visão histórica da Psicologia A interrogação que prevalece e que sempre apaixonou todos aqueles que estudam Psicologia – quem sou eu? – mantem-se bastante atual. Temas como o comportamento e a conduta humana, que sempre cativaram os investigadores, assumiram diversos contornos ao longo dos anos.
CONCEITO Mas o que é a Psicologia? Qual o seu objeto de estudo? A Psicologia é uma disciplina, um campo de pesquisa que se interessa pelo que o ser humano sente, pensa, quer, gosta, faz, como faz e porque faz. É por inerência a ciência do homem.
Diversos autores como Davidoff (2006), Vergara (2007) e Bergamini (2010), entre outros, são consensuais em apontá-la como a ciência do comportamento. Porém é importante considerar que a Psicologia se dedica ao estudo de diversos fenômenos que não estão diretamente relacionados com o comportamento. Estuda os mundos internos e externos, a consciência e os comportamentos do indivíduo, independentemente do que possam pensar e sentir. A Psicologia estuda ainda os processos mentais, ainda que tenha de usar o comportamento como referência a esses processos. Enquanto ciência tem como objetivo encontrar princípios gerais e não acontecimentos específicos referentes a uma pessoa. Parte assim de leis gerais para compreender o comportamento individual. Entretanto, procurar a unidade da Psicologia é uma utopia, porque embora tenha o seu próprio objeto de estudo — a mente humana — confina com outras ciências, as biológicas, as sociais, a Antropologia, a Linguística, e mais recentemente as neurociências e a cibernética, o que lhe confere plasticidade e vitalidade.
Mas o que justifica condutas tão diferenciadas nas pessoas? A Psicologia ajuda-nos a esclarecer as questões das diferenças — campo central na Psicologia Diferencial, que atende às diferenças intra e inter individuais no indivíduo e nos grupos — e as questões das relações interpessoais, tão importantes na gestão contemporânea. Estudar o comportamento significa observá-lo no seu curso, o que envolve inúmeras variáveis. Isto proporciona aos próprios estudantes uma série de aprendizagens em vários temas. A Psicologia viabiliza assim um conjunto amplo de aprendizagens acerca do autoconhecimento, do ajustamento social, da identificação das diferenças individuais, da aquisição de habilidades sociais, da administração de conflitos e da gestão de pessoas, entre outras. É fato que o crescente interesse pela compreensão da conduta faz gerar um conhecimento, muitas vezes compartilhado, que não se associa ao escopo da ciência psicológica, o que chamamos de senso comum. O senso comum discute fenômenos observados, tomando como foco explicações populares e, portanto, não produzidas por pesquisas científicas.
REFLEXÃO Refletir sobre o passado da Psicologia é refletir sobre o próprio conceito de ciência psicológica e fazer uma viagem para compreender as ideias defendidas pelos seus interlocutores. A viagem que nos propomos
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Edited by Foxit Reader Copyright(C) by Foxit Software Company,2005-2008 For Evaluation Only. fazer tem como fio condutor os quatro momentos propostos por André Amar (In: Gauquelin e Gauquelin et al., 1987): a influência filosófica, a Psicologia Científica, a Psicanálise, a Psicologia Fenomelógica e a Psicologia cognitiva.
Momento I – A Influência Filosófica Embora a Psicologia enquanto ciência seja jovem, o estudo do comportamento humano, ainda que de forma não sistemática, é tão antigo quanto a existência da humanidade. A maioria dos estudiosos que descrevem a história da Psicologia identifica as suas origens mais remotas nas reflexões dos antigos filósofos gregos, nos seus questionamentos sobre a natureza, o caráter e o comportamento do ser humano. A mitologia grega, enquanto narrativa sagrada sobre a origem do desconhecido alimentou muitas das explicações sobre os fenômenos, mas tornou-se insuficiente. No início do século VI a.C., nasce a Filosofia, como forma característica de pensar e que tornou possível estabelecer as bases e os princípios fundamentais de conceitos como razão, racionalidade, ética, política, arte, física, pedagogia e ciência, entre outros. Na Antiguidade, filósofos como Sócrates (469/ 399 a.C.), Platão (387 a.C.) e Aristóteles (335 a.C) foram os pioneiros na investigação da alma humana, instigados pela razão, atitudes, crenças, diferenças de comportamento, capacidade criativa e a loucura.
Para Sócrates a característica principal do ser humano era a razão – aspecto que permitiria ao homem sobrepor-se aos instintos e deixar de ser um animal irracional. A verdade encontra-se no devir e não no ser. Usando um método próprio, chamado de maiêutica (trazer à Luz - fazer nascer), partia de perguntas feitas às pessoas, fazendo com que "fizessem surgir as suas próprias ideias" sobre as coisas. Para Platão, discípulo de Sócrates, falar da Psicologia [ psuchêlogos] é falar da concepção da alma [ psyché ]. O cerne do pensamento de Platão sintetiza-se no Mito da Caverna, que trata da ascensão do filósofo, que sai do mundo sensível em direção ao mundo inteligível. Platão deu um grande passo ao definir um lugar para a razão no corpo humano - a cabeça. Precursor do Inatismo , defende que as pessoas nascem com saberes adormecidos que precisam ser organizados para se tornarem conhecimentos verdadeiros. As primeiras referências às diferenças individuais datam deste período. Platão fala dos dotes naturais para uma profissão. Os indivíduos devem dedicar-se para o que são dotados. Aristóteles, discípulo de Platão entendia corpo e mente de form a integrada, a psiquê era o princípio ativo da vida, sendo-lhe creditada a paternidade da Psicologia pré-científica. Postulava que tudo aquilo que cresce, se reproduz e se alimenta, possui a sua psyché ou alma . Estudou as diferenças entre razão, percepção e sensação. Da anima pode ser considerado o 1º tratado em Psicologia. A função do homem é a atividade da sua alma, que segue ou implica um princípio racional.
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Momento II – A Psicologia Científica As diversas influências fisolóficas trouxeram um rápido desenvolvimento à ciência moderna e à psicologia e, em meados do século XIX, o pensamento europeu é mesclado por um novo espírito – o Positivismo – oriundo de Auguste Comte (1798-1857). O conhecimento da realidade apenas é possível através de fatos que podiam ser comprovados cientificamente, observáveis e indiscutíveis. Foram vários os cientistas que recorreram ao método experimental para o estudo da Psicologia. Mas o mérito principal recai sobre Wundt, que é considerado o fundador da Psicologia Científica. Tanto para Wundt como para os seguidores do estruturalismo, as operações mentais resultam da organização de sensações elementares que se relacionam com a estrutura do sistema nervoso. Titchener (18671927) e os estruturalistas deram contribuições assinaláveis à Psicologia, ao definirem claramente o seu objeto de estudo — a experiência consciente. Embora o objeto de estudo dos estruturalistas esteja hoje ultrapassado, a introspeção é ainda usada em muitas áreas da Psicologia. As críticas mais fortes ao estruturalismo foram dirigidas ao seu método e à tentativa de analisar processos conscientes através da sua decomposição em partes, dado que a totalidade de uma experiência não pode ser recuperada pela associação das suas partes. A experiência ocorre apenas em totalidades unificadas. Após a contribuição de Wundt como fundador da Psicologia Científica, surgiram opositores, como o influente psicólogo norte-americano William James (1842-1910), que não se identificou com nenhum mo vimento. O autor via o estruturalismo como sendo limitado, artificial e extremamente inexato, terminando por encabeçar um novo movimento — o funcionalismo — cujo objetivo era o estudo do funcionamento dos processos mentais. Para James, a consciência é subjetiva, está em constante evolução, e tem como principal função a adaptação dos indivíduos aos seus ambientes.
CURIOSIDADE Positivismo O ideal do Positivismo era a concepção de que um único método seria adequado para explicar qualquer tipo de fenômeno, não importando se era do campo da Física, da Química, ou mesmo da Psicologia.
AUTOR Wundt Wundt funda seu laboratório em Leipzing, na Alemanha. O objeto da Psicologia para Wundt é o conteúdo da consciência: sensações, imagens e afetos. Defendia que a Psicologia era uma ciência empírica, cujo objeto de estudo é a experiência interna ou imediata. O termo experiência representaria um todo unitário e coerente, considerado a partir de dois pontos de vista distintos, porém complementares: experiência analisada pelo seu conteúdo puramente objetivo - experiência mediata (que remete para o mundo externo, para os seus objetos) - ou pelo seu conteúdo subjetivo - ex- periência imediata (que remete para o mundo interno, para os seus conteúdos) (Araujo, 2009).
Momento III – A Psicanálise No final do século XVIII Freud dá início a seus estudos que mais tarde dariam forma à Psicanálise. Nesse contexto, os doentes mentais eram tratados por magnetizadores, que aplicavam os princípios da Física ao corpo, explicando as perturbações psicológicas com base em distúrbios na circulação dos fluidos corporais. Surgiu depois o hipnotismo, baseado na relação entre causas físicas e psicológicas. Como nem todos conseguiam ser hipnotizados, Freud desenvolveu o método da coerção associativa, le vando os pacientes a recordar situações traumáticas passadas.
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CONCEITO Mas o que é a Psicanálise? É a disciplina fundada por Freud, onde se podem distinguir 3 níveis (Laplan-
che e Pontalis, 1998, p.384): “1) Um método de investigação que consiste em evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações e das produções imaginárias do indivíduo; 2) Um método psicoterapêutico baseado nesta investigação e especificado pela interpretação controlada da resistência, da transferência e do desejo; 3) Um conjunto de teorias psicológicas e psicopatológicas em que são sistematizados os dados introduzidos pelo método psicanalítico de investigação e de tratamento”.
Freud contraria a forma de pensar da época, desenvolvendo o conceito de inconsciente e a ideia de que o ser humano é por ele governado. Na atualidade a Psicanálise adquiriu um espaço próprio, de interpretação dos fatos psíquicos, mas não se pode dizer que influenciou toda a Psicologia. Teve o mérito de ultrapassar o campo da Patologia e de centrar o homem na sua totalidade, na relação com as suas manifestações biológicas e expressões culturais.
Momento IV – O Behaviorismo e a Psicologia da Forma (Gestalt) O ponto de partida do Behaviorismo consiste na necessidade de eliminar da investigação científica a noção subjetiva da consciência, para explicar o comportamento a partir da relação entre estímulo e resposta. O objetivo era chegar a uma Psicologia tão objetiva como a Física ou a Biologia (Gauquelin e Gauquelin, et al., 1987, p. 294). Os behavioristas rejeitaram os métodos introspectivos, restringindo a Psicologia apenas aos m étodos experimentais. As ideias do psicólogo norte-americano John B. Watson, em 1912 sobre o estudo do comportamento através da observação e de métodos objetivos leva ao nascimento do Beha viorismo. Em 1913, Watson publica o manifesto Psychology as the Behaviorist views it , como contraposição à tendência até então mentalista, isto é, internalista, focada nos processos psicológicos internos, como memória ou emoção. Com uma visão positivista de que a ciência apenas é capaz de estudar os fenômenos visíveis e observáveis, o Behaviorismo rapidamente incorporou uma linguagem técnica própria, compreendendo termos como estímulo, resposta, reforço (positivo e negativo) e condicionamento (clássico e operante). O afastamento prematuro de Watson da vida acadêmica abriu as portas a diversos tipos de behaviorismo. Walter Thompson teve sucesso ao aplicar os princípios do behaviorismo à publicidade. Mead, em 1934, introduz o behaviorismo social orientado para a construção social do self . Em campos opostos, relativamente à complexidade teórica, surgem Skinner e Hull (Richards, 2010). A abordagem de Skinner (1938) é puramente teórica, centrada no estudo empírico da formação do comportamento através do reforço contingente, negligenciando por completo os eventos internos do indivíduo. Já Hull (1943) introduz uma teoria ambiciosa, com postulados, teoremas e quantificação. Apesar disso, Skinner através do método do condicionamento operante deixou um legado para a aplicação das suas técnicas na predição e controle do comportamento. Surgem críticas ao behaviorismo colocadas pela nova investigação etológica do com-
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portamento animal, em particular por Konrad Lorenz (1935) e Niko Tinbergen (1951). Antes de Lorenz, o comportamento era considerado fluido e indescritível, a partir daqui há uma teoria que permite considerar a organização comportamental de uma espécie e a função dos vários elementos do comportamento na interação com o meio.
ATENÇÃO Enquanto o Behaviorismo crescia na América outro movimento dava os seus primeiros passos na Alemanha: a Gestalt . A Gestalt , conhecida como "Psicologia da forma", surge em Berlim com o fundamento de que a realidade é percebida como um todo e procura compreender a percepção, o pensamento e a resolução de problemas. Este movimento também foi opositor ao Estruturalismo e ao Behaviorismo. Kohler, chama de conservadores aqueles que não têm em consideração senão o que é mensurável. Fala numa ordem espacial que será sempre estruturalmente idêntica “a uma ordem funcional na repartição dos processos de base no interior do cérebro” (Guaquelin e Guaquelin, 1987, p.294). O que leva a dizer que existe analogia, ou isomorfismo entre a forma que percebemos no espaço e aquela que o funcionamento dos nossos órgãos perceptivos adota. Os comportamentos complexos, de ordem superior, tais como tocar um piano ou a aprendizagem da linguagem, entre outros, começaram a levantar problemas, assistindo-se ao declínio do behaviorismo e ao emergir do cognitivismo.
Momento V – A Psicologia Cognitivista Spearman (1923) publicou The Nature of Intellingence and the Principles of Cognition. Na Suíça, Jean Piaget começou a estudar o desenvolvimento cognitivo da criança. Os psicólogos cognitivistas começaram apenas a equacionar o pensamento de uma nova forma.
Os avanços tecnológicos, motivados pela Segunda Guerra Mundial, como a invenção do radar e a interação homem-máquina, foram alguns dos impulsionadores da Psicologia Cognitiva. Mas a invenção que mais contribuiu para a conceitualização da cognição foi o computador eletrônico através de três ideias chave: informação, feedback e programação.
Apesar do cognitivismo ter se desenvolvido ao longo de uma década, o trabalho de Miller, Galanter e Pribram (1970) é o primeiro passo de sistematização e de compreensão do fenômeno, assumindo-se como um manifesto para o cognitivismo na Psicologia Americana. O argumento central reside na convicção de que o comportamento humano pode ser melhor compreendido através do agrupamento de planos – programas para a ação, sob o qual o organismo executa de modo a atingir os seus objetivos. Enquanto que para o Behaviorismo a unidade central era o S-R, estes autores propuseram a unidade TOTE ( Test-Operate-Test-Exit ). Trata-se de um loop de feedback capaz de explicar os comportamentos mais complexos. O cognitivismo estendeu-se a diversos campos de estudo, como a linguagem (Noam Chomsky), a memória (Baddeley), o raciocínio silogístico (Watson e Johson-Laird), a criatividade (Boden), o modelo da modularidade da mente (Fodor), a perceção (David Marr), a dis-
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sonância cognitiva (Festinger) e as bases para a inteligência artificial (Smith e Miller). Bruner (1965) redescobriu e incorporou a Psicologia Piagetiana no cognitivismo americano. Apesar de poder ser questionada a hegemonia da Psicologia cognitivista relativamente às abordagens computacional , conexionista e sobre o processamento paralelo distribuído (Boden, 2006), a mesma continua na ordem do dia. A Psicologia Cognitiva está de tal modo entrelaçada com a Inteligência artificial, que os outros ramos da Psicologia, especialmente nos Estados Unidos, têm menor impacto, colocando-a sob olhar da Psicologia Humanista e do construcionismo social (movimento de crítica à Psicologia Social “modernista” e que tem em Kenneth Gerson (1985) a sua principal referência teórica.
Desenvolvimento histórico sobre a interpretação do comportamento humano A interpretação do comportamento humano só é possível atendendo às duas grandes dimensões do sujeito, a sua inteligência e personalidade. Aborda-se o tema da inteligência seguindo em particular duas abordagens, a psicométrica e a cognitivista. A personalidade é abordada analisando-se fatores determinantes do par estabilidade-mudança.
O estudo da inteligência Abordagem psicométrica Segundo Wechsler (1958), inteligência é o agregado ou capacidade global do indivíduo para atuar de modo finalizado, pensar racionalmente e proceder com eficiência em relação ao ambiente. Essa capacidade global não é a mera soma dos seus elementos ou aptidões, qualitati vamente diferenciáveis, mas parcialmente independentes. O pensamento inteligente tem um fim, permite adaptar-se ao meio. Outra inovação notável é o fato de caracterizar o desenvolvimento intelectual não só até à adolescência, mas também nos adultos ao longo de toda a vida. Na perspectiva psicométrica a inteligência é compreendida principalmente a partir de sua mensuração. A visão da inteligência é sempre uma concepção globalista, independentemente de se tratar de inteligência geral ou de inteligência mais específica, manifestada através das aptidões (DUARTE In: GLEITMAN et al., 1998, p. 786). Na realidade, quer num, quer noutro caso — inteligência vista como unidade ou inteligência vista como múltiplas manifestações do funcionamento intelectual — traduz o funcionamento global do individuo perante os problemas com que se depara. Quando se fala da inteligência, concebida por Binet ou Weschler, apesar de substancialmente distintas, está-se numa perspectiva como conceito global, no qual cabe uma grande diversidade de operações, atividades e formas de funcionamento.
AUTOR Spearman (1904) desenvolveu a primeira versão da análise fatorial, técnica estatística a partir da qual se
pode extrair o fator comum partilhado por todos os testes, a inteligência geral ou g.
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