INTRODUÇÃO CONCEITO DE CANONICIDADE O conceito ou teoria de canonicidade envolve a idéia fundamental de que uma deidade comunicou comunicou de alguma alguma forma uma mensagem mensagem ao homem e que este por sua vez registrou-a registrou-a acuradam acuradament ente. e. Esta Esta mensag mensagem em foi reconhe reconhecid cidaa pela pela comuni comunidad dadee como como div divina inamen mente te inspirada e recebida como uma regra de fé infalível que une prática e autoridade. Esta foi então preservada para futuras gerações porque Deus falou e o homem escreveu. Em distinção, há a compilação do Antigo Testamento. À compilação cabe a coleção, arranjo e incorporação dos antigos rolos do Antigo Testamento em um único corpo ou codex, i.e. um livro, em geral a forma em que o Antigo Testamento nos chega às mãos hoje. Compilação é um processo mecânico, resultado de um posterior avanço tecnológico que ocorreu por volta do primeiro século A.D., depois que o Antigo Testamento foi escrito, embora rolos tenham sido usados por rabis até bem mais tarde. A conveniência de se possuir estes escritos em um só volume ao invés de vários rolos é imediatemente apreciável. Mas a idéia de livros separados separados como uma unidade sagrada precedeu este processo e deve ser mantida mantida separada separada dele. Já por mais de um século, o conceito de canonicidade do Antigo Testamento tem sido quase sempre sempre relega relegado do a uma data data poster posterior ior à histór história ia bíb bíblic licaa por escri escritor tores es críti críticos cos.. Esta Esta aproxi aproxima mação ção,, inic inicia ialm lment entee li lider derad adaa por por crít crític icos os alem alemãe ães, s, é a de que o conce conceit itoo de canonicidade foi um produto dogmático dos Fariseus que cresceu na comunidade pósexílica. Escritores críticos ingleses tendiam a ver o princípio do conceito de canonicidade durante durante as reformas reformas de Josias. Josias.1 Isto levou a uma procura por algum tipo de evidência em um destes períodos que significasse que outros livros não devessem ser acrescentados ao Antigo Testamento. Quando o cânon do Antigo Testamento foi fechado a novas adições? O concenso entre os críticos era de que os limites do Antigo Testamento foram determinados pelo Concílio de Jamnia por volta do ano 90 A.D. Sid Lieman e outros, entretanto, argumentaram persuasivamente que a aceita visão de que o Concílio de Jamnia "fechou" o cânon do Antigo Testamento não pode ser sustentada por evidência. Ele apontou que o Concílio de Jamnia não foi um concílio ou sínodo mas uma academia que se manifestou sem influência obrigatória. Ainda mais, fontes judias indicam que apenas alguns livros dos Escritos, Escritos, a terceira seção da Bíblia Hebraica, foram discutidos em Jamnia e que nunca houve disputa se estes pertenciam ou não ao Antigo Testamento. Testamento.2 O fato é que a busca por qualquer tipo de evidência que indique a decisão de que o Antigo Testamento foi fechado é vã. Literatura rabínica e o historiador judeu Josefo, que viveu por 1
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Dois trabalhos representativos são de G. Holscher, Kanonisch und Apokkryph: ein Kapitel aus der Geschchte des altestamentlichen Kanons (Leipzig: A Deichertsche Verlagsbuchhandlung / George Bohme, 1905) e Herbert E. Ryle, The Canon of the Old Testament:An essay on the Gradual Growth and Formation of the Hebrew Canon of ScriptureI , 2ª ed. (Macmillan & Co., 1894). Sid Z. Leiman, The Canonization of Hebrew Scripture: The Talmudic and Midrashic Evidence (Hamden: Archon Books, 1976), pp. 120-124. Cf. também M. H. Segal, "The promulgation of the Authoritative Text of the Hebrew Bible," em The Canon and the Masorah of the Hebrew Bible , ed. Sid Leiman (Nova Yorque: KTAV KTAV Pub Publis lishin hingg House, House, Inc., 1974), 1974), p. 287. 287. "...nã "...nãoo se pode pode falar falar de fixaçã fixaçãoo ou texto texto padrão padrão em ****Jabneh como resultado de fixar ou fechar o canon." H. H. Rowley, The Growth of the Old Testament (Londres: Hutchinson University Library, 1960; reimpressão), p. 170.
volta dos tempos de Jamnia, registram a tradicionalmente aceita crença judaica de que nada foi acrescentado ao Antigo Testamento depois do quinto século a.C. As posições citadas de que o conceito de canonicidade é um desenvolvimento posterior deixam de considerar seriamente dois aspectos da canonicidade do Antigo Testamento. Primeiro, que o próprio Antigo Testamento, vigorosamente e repetidamente, afirma ser a "Palavra do Senhor". Não importa por onde alguém se aproxime do Antigo Testamento, este sempre se projeta como unitário, autoritativo e dado por Deus. Consistentemente não é nada menos do que a "Palavra do Senhor". A idéia de II Samuel 23:1-3, "O Espírito do Senhor fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua," é penetrante. O Antigo Testamento nunca muda desta posição. O conceito de autoridade divina acompanha esta fórmula. Segundo, a idéia de uma revelação divina escrita era parte do mundo do antigo Oriente Próximo onde o Antigo Testamento tem sua âncora. Existem amplas testemunhas na antiguidade para um conceito de canonicidade muito próximo do tradicional ou do conceito escriturístico de canonicidade do Antigo Testamento. Isto não significa que paralelos extra bíblicos que expressam um conceito de canonicidade similar ao do Antigo Testamento são a razão para a idéia bíblica de escritura. Porém, em vista da experiência do antigo Oriente Próximo, estes paralelos mostram que o que o Antigo Testamento projeta a respeito de seu testemunho divino não era estranho ou inesperado ao seu próprio ambiente cultural. Canonicidade não precisa estar necessariamente presa como um produto do sétimo século ou da era pós bíblica. O registro e preservação do que se cria ser revelação divina não era novidade nos tempos pré-exílicos. As seguintes citações, principalmente do Egito e também Mesopotâmia servem para ilustrar o fato. Começaremos com o poema de Erra, não porque é a mais antiga evidência que temos à mão mas porque possui testemunho textual sólido. Também representa o mais completo retrato disponível da teoria de canonicidade extraido de fontes extra bíblicas. É um poema de 750 linhas do deus Erra. Tem sido datado entre os séculos 12 e 8 a.C.3 O epílogo, adicionado ao poema, afirma que um escriba, Kabti-ilani-Marduk, recitou e copiou esta revelação divina sem falhar uma linha ou acrescentar uma linha de si mesmo. Esta revelação foi então depositada no santuário de um deus. Partes do epílogo seguem: "Kabti-ilani-Marduk o filho de Dabibi (foi) compositor destas tábuas: (A divindade) revelou isto a ele durante a noite e pela manhã, quando ele as recitou, ele não pulou uma linha sequer e nem acrescentou nenhuma linha. O escriba que compromete isto à memória, escapará do país estrangeiro e será honrado no seu próprio país. No santuário dos prudentes onde constantemente mencionam meu nome, dar-lhes-ei sabedoria. Para a casa na qual esta tábua é colocada..." O supra citado contém evidência de quase todos os componentes que sugerem uma formulação similar ao conceito de canonicidade do Antigo Testamento: (1) uma deidade fala e suas palavras são registradas, (2) as palavras da deidade são fielmente transmitidas, 3
L. Cagni, The Poem of Erra em Sources and Monographs on the Ancient Near East , Vol I (Malibu: Undena Publications, 1977), pp. 20-21 discute larga opinião quanto a data deste livro. Cf. também W. G. Lambert, "A Catalogue of Texts and Authors," Journal of Cuneiform Studies 16 (1962):76.
(3) bençãos são geralmente prometidas e maldições promulgadas para aqueles que honram ou desonram estas palavras, uma implicação de autoridade, e (4) as palavras são preservadas em lugar sagrado. Além do poema acima, estes componentes acham ampla corroboração em outras literaturas do antigo Oriente Próximo. Estes componentes serão propriamente discutidos a seguir. (1) Está além de disputa o fato de que muitos na antiguidade criam receber revelações as quais subsequentemente eram escritas e consideradas palavras de suas deidades. A prática parece ser abrangente. Numerosos textos antigos do Egito e Mesopotâmia confirmam a alegação de que são palavras da deidade. Um hino da 19ª Dinastia (1314-1194 a.C.) no Egito, Amon como Único Deus, declara que a mensagem foi mandada do céu, ouvida em Heliópolis e composta numa mensagem pela escrita (do deus) Tut.4 Em outro hino, O Rei Vitorioso, pertencente a Thutmose III (1504-1450 a.C.), o prólogo alega que estas são as palavras de Amon-Rá, Senhor dos Tronos das Duas Terras.5 Textos das Pirâmedes, inscrições gravadas nas pirâmedes, e que constituem o mais antigo corpo de literatura religiosa do Egito, contém citações diretas de deuses. Similarmente, textos funerários no antigo livro dos mortos eram acompanhados por inscrições gravadas em pedras separadas nas quais um deus atestava que ele mesmo havia escrito o texto.6 Da mesma forma, um conto egípcio de suspense revela uma dramática tentativa de Setne Khamwas, o quarto filho de Ramsés II, de manter em sua posse um livro o qual se cria ter sido escrito pelo deus Tut. Embora ele finalmente falhe em sua busca, o conto demonstra a convicção de que este livro era o livro de um deus no qual se cria estarem revelados os segredos fundamentais da vida os quais pertencem apenas ao mundo dos deuses.7 4
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ANET, pp. 368-69. Tut era o deus escriba dentre os deuses egípcios. No grande hino a Osires é declarado "Ra falou, Tut escreveu." Miriam Lichtheim, Ancient Egyptian Literature: The New Kingdom vol. 2 (Bercley: UCLA Press, 1976), p. 85. Numa oração em duas partes inscrita na base de uma estátua em Haremhab,**** Tut é descrito como o "Senhor da Escrita." M. Lichtheim, The New Kingdom, p. 101. Este deus é identificado como "o escriba que mantém o livro...cujas palavras duram para sempre". M. Lichtheim, The New Kingdom , p. 103. ANET p.373. Acrescenta-se a este, um discurso escrito como uma benção para um rei contendo palavras atribuídas a uma divindade. M. Lichtheim, The New Kingdom, p. 46. Incidente similar acontece na Divina Nomeação de um Rei Etíope, ANET, pp. 447-48. R. O. Faulkner, The Ancient Pyramid Texts , (Oxford: At the Clarendon Press, 1969) Utterance 513, p. 189 especificamente declara que um deus está sendo citado. Utterances 563, p. 218; 565, p. 220; 573, p. 228 e 587, pp. 238-41 atribuem a autoria das inscrições a deuses. Alguns deste Textos das Pirâmedes datam da 6ª Dinastia no Egito (2340 a. C.). Cf. também Utterance 250, p. 61 onde Sia, "o conceito do entendimento," leva o livro de deus e Utterance 576, pp. 231-32 que declara que o deus Ra colocará um escrito nos registros do rei. Com respeito ao Livro dos Mortos ver R. O. Faulkner, The Ancient Book of the Dead , ed. Carol Andrews (Nova Iorque: Macmillan Publishing Co., 1972). Cf. os comentários de C. Andrews, pp 1415 com respeito ao capítulo 30B. "O encanto era tido como muito antigo, tendo sido encontrado em Hermópolis, debaixo dos pés da majestade deste deus [isto é, debaixo da estátua do deus Tut]. Foi escrito em um bloco mineral do Alto Egito, composição do próprio deus..." Muitas inscrições alegam ter sido escritas pela mão de um deus. Conferir também o Encanto 30A, B, p.56; Encanto 137A, p. 129; Encanto 101, p. 100. "Foi a majestade de Tut quem fez." O mais significativo é um excerto do Book of Breathing(s), Louvre Papyrus 3284, traduzido por J. de Horrack, Hugh Bibly, The Message of Joseph Smith Papyrus: An Egyptian Endowment , (Salt Lake City: Desert Book Company, 1975), p. 60. "Tut, o Altíssimo, Senhor de Hermópolis vem a ti, tendo escrito para ti composições de alento com seu próprios dedos." Miriam Lichtheim, Ancient Egyptian Literature: The Late Period , vol. 3 (Berckley: UCLA Press, 1980), pp.127-28.
Existem muitas similaridades na Mesopotâmia. Uma carta relata que o deus Ashur revelou suas palavras em sonho ao rei Senaqueribe e o que o Oracle of Ninlil afirma ser "a palavra da (deusa) Ninlil para o rei". Ainda em outra carta um vidente declara as palavras da deusa Isthar que ele recebeu durante uma visão noturna, visão similar à de Kabti-ilani-Marduk, que teve uma visão na noite e a gravou numa tábua.8 (2) Fidelidade do escriba, outro elemento de canonicidade, é evidenciada no registro e cópia de documentos religiosos e seculares, especialmente na Mesopotâmia. No seu livro Ancient Mesopotamia, Leo A. Oppenheim declara que: "...uma parte essencial do treinamento de cada escriba era copiar fielmente os textos que faziam a corrente da tradição".9 Oppenheim chega a sustentar que a continuidade da tradição religiosa era garantida não através de pressões eclesiásticas mas puramente através do processo de escrita, i.e., exata duplicação. Este congelamento de tradição sagrada, uma prática que remonta ao terceiro quarto do segundo milênio a.C., declara Oppenheim, tinha o "propósito de prevenir um crescimento hipertrópico do corpo de escritos sob pressão interna, especialmente para restringir o teólogo de reinterpretar a estória sagrada, elaborando-a, adornando-a e destruindo-a".10 Em suma, a escrupolosa cópia de textos religiosos era a forma de preservar as tradições religiosas. Na tradição destes escribas está o compositor do Poema de Erra para que "quando ele o recitasse, não pulasse uma única linha; nem acrescentasse uma única linha de si mesmo". Rituais copiados no tardio período Seleucida, que datam do 7º século a.C., contém cólofons com a seginte inscrição, "copiado de um antigo tablete, checado e rechecado".11 Não há dúvidas de que esta tradição era de longa data. A literatura egípcia também não deixa de ter seu testemunho quanto à atenção cuidadosa dos escribas. Num popular trabalho egípcio, "O Conto de Dois Irmãos," Tut é solicitado como o guardião para assegurar que nenhuma palavra seja mudada e para contender com quem o faça. Uma cópia de um segmento do Livro dos Mortos, The Funeral Papyrus of Iouiya datada da 18ª Dinastia (1575-1308 a.C.) tem no fechamento do livro as seguintes palavras: "Este é o fim (do livro); está do começo ao fim na forma como foi encontrado escrito; foi desenhado, examinado e pesado de parte a parte". E. Naville comenta: "Evidentemente o escritor deseja mostrar que o texto é confiável".12 Uma citação desta 8
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ANET, pp. 450-51. Ver também Leo A. Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization ed. revista (Chicago e Londres: The University of Chicago Press, 1977), p. 280 onde são citadas duas outras cartas supostamente escritas por divindades assírias. Leo A. Oppenheim, Ancient Mesopotamia , p. 14. Some ainda Alan Millard, "In Praise of ancient Scribes," Biblical Archeologist 45 (1982), p. 146. "Através da história da escrita cuneiforme havia uma tradição de cuidado na cópia. Escribas babilônicos conheciam suas fraquezas e estabeleceram várias convenções para superá-las." L. Oppenheim, Ancient Mesopotamia , p.18, 232. ANET, p. 336, 338, 342. Cf. também as notas da palestra de W. J. Martin na Sixth Campbell Morgan Memorial Lecture. Nas palestras ele menciona que Assurbanipal mantinha um número de escribas que eram cuidadosamente treinados, da juventude à idade adulta, na cópia de textos. "A certeza desta conclusão é confirmada pelo alto padrão das cópias de partes do próprio Código de Hamurabi, uma cópia de 1750 a.C." W. J. Martin, The Dead Sea Scroll of Isaiah , (Londres: The Bookroom, Westminster Chapel, 1954), p. 18. Edouard Naville, The Funeral Papyrus of Iouiya , (Londres: Archibald Constable and Co. Ltd., 1908) p.19, baseado nas escavações de Theodore M. Davis. Cf. Jaroslav Cerny, Paper and Books in Ancient Egypt , (Londres: H. K. Lewis & Co. Ltd.) p.25, não pensa que todo escriba fazia este tipo de esforço. Embora este
natureza certamente faz parecer que haviam escribas que respeitavam cuidadosamente a prática de reduplicar o que copiavam. (3) Textos religiosos também continham motivações para promover a fidelidade, prometendo bençãos e promulgando maldições àqueles que mostrassem ou não reverência. No Poema de Erra referido acima "O escriba que comprometesse este (o poema) à memória era assegurado o resgate do cativeiro e honra no seu próprio país". Num salmo ao deus Shamash, deidade do sol, aquele que aceita e aprende o salmo tem promessa de grande favor juntamente com um aviso de maldição de Shamash àquele que fizer mal uso do mesmo.13 Na fábula egípcia O Conto de Dois Irmãos, uma maldição é pronunciada sobre qualquer um que "difamar este livro". Estas bençãos e maldições indicam que os materiais religiosos pretendiam ser comprometedores. Cria-se terem sido escritos debaixo da influência de um deus.14 (4) Reverência ou reconhecimento de que um escrito é sagrado também é indicado por serem colocados em um lugar especial. O número de referências a textos religiosos depositados em lugares sagrados é impressionante. O Poema de Erra deveria ser guardado em um santuário porque , como é implícito, foi dado por um deus. O Program of the Pageant of the Statue of the God Anu at Uruk declara especificamente que foi colocado no Templo de Resh, e The Victory of Thutmose, contendo um poema de dez versos pelo deus Amon-Rá foi achado no templo de Karnak.15 Referências adicionais são desnecessárias; muitos outros exemplos mostram que o costume era generalizado. Escritos eram mantidos dentro ou próximos a santuários porque eram tidos como especiais, i.e., revelações de deuses. Estes eram guardados por homens devotos tais quais sacerdotes e escribas.16 O leitor pode ainda observar que estes quatro elementos de canonicidade são paralelos com a maneira em que o Antigo Testamento demonstra a sua canonicidade. O Antigo Testamento dá testemunho interno consistente de cada um destes componentes. A extensão com relação ao tempo , geografia e gênero destes exemplos indicam que a idéia de canonicidade era uma prática largamente empregada e possui uma longa história nos tempos bíblicos e pré bíblicos. Um conceito de canonicidade não era vago ou isolado.
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possa ser o caso em nosso exemplo, entretanto demonstra que a fidelidade do escriba estava presente e era praticada. Pode até mesmo ser um erro assumir que a transmissão de textos não religiosos era um processo fortuito. Manetho, um sacerdote egípcio do terceiro século a.C. relatou alguns detalhes surpreendentemente acurados sobre a 15ª Dinastia egípcia (1670-1570 a.C.). ANET, p. 386-87. Edouard Naville, The Funeral Papyrus of Iouiya , p.10, assegura uma benção para aqueles que mostram reverência, "...todo aquele que recitar este livro todos os dias será própero sobre a terra, sairá salvo de todo fogo e nenhuma coisa má se aproximará dele regularmente, por tempos infinitos." ANET, p. 342, 373. Na literatura ***Demotic*** dá-se crédito a Tut como tendo escrito um livro de mágica com suas próprias mãos. Subseqüentemente ele o deposita em um lugar tido como sagrado, a tumba de ***Naneferkaptah***. M. Lichtheim, The Late Period , pp. 127-28. Embora seja além de nossa intenção explorar o papel do escriba como ofício sagrado no mundo antigo, pelo menos algumas escolas de escribas eram caracterizadas pelo dom de profecia. Num antigo texto egípcio exaltando o trabalho dos escribas, estes são descritos como aqueles que prevêm o futuro e o escreve em livros. M. Lichtheim, The New Kingdom , pp. 176-77. Devo a meu colega V. Philips Long que destacou o fato de que estes mesmos escribas são classificados neste texto como homens sábios, um elo aparente entre profetas e literatura de sabedoria.
Estes não são, entretanto, todos os elementos que acham correspondência com respeito à teoria de canonicidade compartilhada pelo Antigo Testamento e o mundo antigo. Por exemplo, os antigos profusamente destacavam seus deuses como aqueles cuja glória os fazia brilhar.17 O leitor recordará que a glória estava refletida na aparência de Moisés quando este saia do encontro com Deus depois de ter recebido instruções para o povo. Israel certamente entendia as implicações disto. Os modos de revelação no mundo antigo, sonhos e visões, os mediadores da revelação, profetas e sacerdotes, e as manifestações da revelação, êxtases e milagres, eram parte do mundo antigo além do Antigo Testamento. Este era o mundo em que o Antigo Testamento entrou e ministrou. É notório que o mundo do qual o Antigo Testamento é derivado, nos deixou bastante pistas para assegurar que a visão tradicional do conceito de canonicidade das escrituras não era estranho ao seu próprio ambiente e que não há razão pela qual o conceito de canonicidade, como nós comumente percebemos hoje, não teria acompanhado, e de fato acompanhou, a formação do Antigo Testamento desde o seu princípio.18
CAPÍTULO 1 AS R AZÕES DO ANTIGO TESTAMENTO PARA CANONICIDADE Na introdução propus que não é necessário assumir que a teoria de canonicidade tinha que ser estranha aos autores do Antigo Testamento. O conceito era antigo e generalizado; diferentes povos do Antigo Testamento expressaram o mesmo conceito. Entretanto, com respeito aos vários trabalhos acima que reivindicam canonicidade, o Antigo Testamento se distingue em forma muito superior a eles. Esta qualidade única é propriamente visível no Antigo Testamento quando a Lei é dada no Monte Horebe. Este é o ponto inicial. De certa maneira é surpreendente que David Meade comece seu discurso sobre cânon do Antigo Testamento pelos profetas. Ele se recusa a trabalhar com as tradições do Pentateuco como ponto inicial, afirmando que estas são "muito complexas na sua relação com a figura histórica de Moisés para prontamente estabelecer qualquer relacionamento de princípios de autoria e tradição".19 Esta aproximação, porém, negligencia um volumoso corpo de literatura que trabalha com autoridade canônica a partir de fontes literárias, as quais muitos autores afirmam predar a maioria dos profetas cujos livros trazem seus nomes e escapam dos estudiosos críticos que vêem tradições paralelas nas linhas literárias do Hexateuco , as quais podem ser percebidas, em um certo sentido, como "cânones" que se levantaram dentro de vários círculos 17
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As observações de L. Oppenheim são convincentes. Há um conceito incorporado no uso da palavra melammu que pertence a um atributo dos deuses. O termo caracteriza os deuses como sendo rodeados por uma luz ofuscante. Esta radiação é compartilhada por tudo que é santificado pela sua presença divina. Este "glamour sobrenatural" pode ser dado ou retirado pela vontade. Leo A. Oppenheim, "AKKADIAN pul(u)h(t)u AND melammu," Journal of the American Oriental Society 63 (1943), p. 31. Cf. M. Lichtheim, The New Kingdom, p.87, "ouro refinado não chega ao seu esplendor" e inúmeras referências no Textos das Pirâmides aos "que brilham." Eu não estou propondo que os autores do Antigo Testamento percebiam que forma o produto final eventualmente teria. Não há, é claro, nenhum facsímile razoável na antiguidade do canon bíblico. David G. Meade, Pseudonymity and Canon: An Investigation into the Relationship of Authorship and Authority in Jewish and Earliest Christian Tradition , (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1987), p.17.
teológicos do antigo Israel.20 O todo do Antigo Testamento sempre apresenta a visão de que sua canonicidade reside na delegação de autoridade sobre Moisés, precisamente onde podemos discernir as razões para canonicidade. O que vem a seguir nos conta a história. As primeiras leis do Antigo Testamento foram apresentadas em Horebe (Sinai) a uma comunidade composta de milhares. Estas leis foram apresentadas a uma comunidade que saiu do Egito, um número de pessoas mensurável (Números 2:32)21. A apresentação da lei não foi um assunto clandestino de menor importância. Havia uma grande multidão que serviu de testemunha. Na presença desta grande audiência, um testemunho visual e vocal foi dado. Isto é bastante explícito! Em Êxodo 19:9 o Senhor disse a Moisés, "Eis que virei a ti...para que o povo ouça quando eu falar contigo...porque no terceiro dia o Senhor à vista de todo o povo descerá" ( Êxodo 19:11 ênfase acrescida). Logo, acompanhando a vinda do Senhor para apresentar a Lei, havia a verificação de toda a comunidade, vendo e ouvindo. Nenhum outro documento religioso de influência, exceto as Escrituras, pretendendo status canônico, atesta este tipo de verificação. O senhor disse a Moisés, "virei a ti numa densa nuvem..." (Êxodo 19:9). Ao amanhecer do terceiro dia apareceram raios e uma densa nuvem, com trovão e trombeta (Êxodo 19:16). Fogo desceu no monte e fumaça subia dele como fornalha. A visão e o som eram fantásticos. O trovão e o som da trombeta ficavam cada vez mais altos (Êxodo 19:16, 19; 20:18). Temor tomou conta do povo, o tipo de experiência que dificilmente se esquece. "Todo o povo presenciou os trovões e os relâmpagos, e o clangor da trombeta, e o monte fumegante: e o povo, observando, se estremeceu e ficou de longe. Disseram a Moisés: Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não morramos". (Êxodo 20:18-19; cf. Deuteronômio 5:25). Falta qualquer garantia para se conjecturar que estes eventos foram construídos em retrospectiva; pode-se ficar perplexo com fato do porquê alguém iria perpetuar tal narrativa e porque tal narrativa seria aceitável como canônica naquela época mais do agora. Talvez este método visível e vocal de entregar a lei tivesse continuado, mas a ocasião era tão opressiva que o próprio povo pediu a Moisés para agir como intermediário, de modo que eles não tivessem que ouvir diretamente a Deus falando. Amedrontado, Israel presumiu que pereceria pelo som daquela voz subindo do que deveria parecer com a cena de um vulcão. Israel estava persuadido; o resultado foi o temor. O poder e a majestade demonstrados traziam à tona a necessidade de um mediador, um fator ausente em outros textos antigos. Subseqüentemente, quando o Senhor veio a Israel, Ele disse a Moisés, "Assim dirás aos filhos de Israel: vistes que dos céus eu vos falei" (Êxodo 20:22 ênfase acrescida). O efeito disto é que o Antigo Testamento afirma a origem destas leis com base em um testemunho em grande escala. Toda a nação de Israel ouviu e viu a manifestação da presença de Deus de maneira impressionante. O Senhor veio em público; os mandamentos 20
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Richard Leonard Campbell, The Origin of Canonicity in the Old Testament , (Ann Arbor: University Microfilms ED 72-25, 299, 1972), pp. 281-86. Para uma sugestão de como entender os grandes números nos censos militares do livro de Números, ver Vasholz, Robert I., "Military Census in Numbers, Presbyterion, Fall 1992, pp. 122-125.
não foram dados a Moisés à parte do povo, "debaixo do alqueire". O povo foi "testemunha ocular de sua majestade".22 O livro de Deuteronômio repetidamente enfatiza este princípio de revelação. Deuteronômio é dirigido à geração sucessora dos seus pais que foram libertados do Egito. Este é um ponto que não pode escapar ao leitor. Os apelos feitos em Deuteronômio presumem este relacionamento e tem pouco significado à parte dele. A audiência de Moisés foi testemunha dos eventos do Sinai. Muitos eram velhos o bastante para recordarem do acontecido em Horebe. Esta assembléia era constituída daqueles cujos pais pereceram no deserto e que temiam que seus filhos fossem feitos cativos numa tentativa fracassada de conquistar Canaã. Foram, entretanto, seus filhos (ironicamente) a audiência de Moisés em Deuteronômio, que entrou na terra ao invés deles (Números 14:31; Deuteronômio 1:39; 2:14-15). Os discursos de Moisés fazem a identidade de sua audiência bem clara. Doutra forma os apelos de Deuteronômio ficam distorcidos. Seus ouvintes testemunharam Horebe. Moisés repetidamente se refere às suas experiências no Egito e no deserto. "...lembrar-te-ás do que o Senhor teu Deus fez a Faraó e a todo Egito; das grandes provas que viram os teus olhos, e dos sinais, e maravilhas, e mão poderosa, e braço estendido, com o que o Senhor teu Deus te tirou..".23 Não é difícil perceber que isto é enfatizado. "Ou se um deus intentou ir tomar um povo do meio de outro povo com provas, com sinais, e com milagres, e com peleja, e com mão poderosa, e com braço estendido, e com grandes espantos, segundo a tudo quanto o Senhor vosso Deus vos fez no Egito aos vossos olhos?"24 Esta posição é reforçada por várias alusões feitas a eventos que somente eles teriam conhecimento sobre os quais Moisés não perde tempo em explicar. Ele os chama de volta a estes eventos. Por exemplo, ele diz "Os vossos olhos viram o que o Senhor fez por causa de Baal-Peor" (Deuteronômio 4:3). "Lembra-te do que o Senhor teu Deus fez a Miriã no caminho, quando saíste do Egito" (Deuteronômio 24:9). Observe também Deuteronômio 25:17-18 onde é feita uma referência à crueldade dos Amalequitas. Até mesmo ao final das primeiras conquistas sob Josué, Josué 24:7, um apelo é feito a eles como testemunhas oculares. Em preparação para apresentar o código da lei de Deuteronômio, Moisés pode, e repetidamente o faz, um apelo aos olhos e ouvidos de Israel a respeito da narrativa da manifestação da presença de Deus. Eles também viram o que seus pais viram e ouviram. Deuteronômio 4 e 5 persistentemente requer que eles se lembrem destes eventos. "Não te esqueças daquelas cousas que os teus olhos tem visto....Não te esqueças do dia em que estiveste perante o Senhor teu Deus em Horebe quando o Senhor me disse: Reúne este povo e eu os farei ouvir as minhas palavras....Então chegastes e vos pusestes ao pé do monte....Então o Senhor vos falou; a voz das palavras ouvistes....Algum povo ouviu falar a voz de Deus*....como tu a ouviste?....A ti te foi mostrado para que soubesses....dos céus te fez ouvir a sua voz...do fogo ouviste a sua palavra....Face a face falou o Senhor conosco....do meio do fogo....Estas palavras falou o Senhor a toda a vossa congregação....Sucedeu que ouvindo a voz....E dissestes: Eis que aqui o Senhor nosso Deus 22
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Esta expressão é tirada de II Pe 1:16. Lucas 1:2 e I João 1:1 demonstram que o estabelecimento do Novo Testamento também é enraizado em testemunhos oculares. Deuteronômio 7:18-19 (ênfase acrescida); cf. 16:12; 24:18,22. Deuteronômio 4:34 (ênfase acrescida)
nos fez ver a sua glória....e ouvimos a sua voz....Porque, quem há de toda carne, que tenha ouvido a voz do Deus vivo falar do meio do fogo, como nós ouvimos e permanecido vivo?"25 Enquanto é verdade que os filhos de Israel são algumas vezes identificados nacionalmente ou corporativamente com a comunidade do deserto, como no Salmo 95:8, a linguagem em Deuteronômio vai muito além disto. Os apelos em Deuteronômio são ao que Israel viu, ouviu e temeu quando os Dez Mandamentos foram inicialmente dados em Horebe. Consequentemente, o cerne da questão é que os escritos com a força de autoridade canônica são baseados em testemunho ocular da aprovação de Deus do escritor do texto por um número mensurável dentro da comunidade. Este tipo de testemunho é aberto e suficiente. Eles viram, eles ouviram. Uma teofania temível, uma manifestação da presença de Deus, não permite que qualquer questão seja levantada de que Deus tenha falado. Aqui é que se encontram as razões da canonicidade e estas vão mostrar que o Antigo Testamento não muda desta posição. Canonicidade é enraizada numa demonstração audio-visual mensurável da aprovação de Deus sobre um autor da escritura aos seus contemporâneos. Parece um enigma irreconciliável propor que Israel aceitasse como santa escritura qualquer coisa menos do que o único padrão de canonicidade proposto na própria literatura sagrada. Isto é diametricamente contrário à comum posição de que o Antigo Testamento foi fraudulentamente inventado, perpetuado e recebido sem consideração com sua própria regra de cânon estabelecida. Isto é único; não há um fenômeno comparável a isto em qualquer antiga legislação extra bíblica, a maneira pela qual Deus entregou Suas palavras ao Seu povo. O sinal de canonicidade é uma exposição de uma demonstração aberta ao povo de Deus. O Sinai nos mostra isto. Isto iria ocorrer repetidas vezes na vida de Moisés no meio do povo de Deus. Quando Moisés visitou a Tenda da Congregação, temos um tipo de Sinai revisado.26 Na tenda, Deus apareceu diante de todo o povo numa nuvem como fez no Sinai. Na tenda, Deus falou a Moisés boca a boca, i.e., com a boca como fez no Sinai. Na tenda, Deus deu instruções a Moisés para o povo como fez no Sinai. Na tenda, a face de Moisés irradiava o reflexo da glória de Deus como no Sinai quando Moisés desceu do monte. Logo, quando Moisés entrou na Tenda, seus contemporâneos foram lembrados da temível experiência que todos eles viram e ouviram no Sinai, tendo esta ficado visivelmente impressa a ponto de ficarem tomados temor e terror, pedindo que Moisés fosse seu intermediário. Agora estava sancionado e manifesto o método pelo qual Israel deveria receber as palavras da escritura através de Moisés. Moisés entraria numa nuvem visível a todos para encontrarse com Deus e receber instruções. Isto é destacado nas disputas que se levantaram com respeito a autoridade de Moisés. Logo, quando o assunto chave da aprovação de Moisés como intermediário de Deus emergiu na rebelião de Aarão e Miriã (Números 12), Deus mais uma vez apareceu numa nuvem diante da tenda, como fez no Sinai, e relembra o povo que Ele falou com Moisés boca a boca (Números 12:5-8). Incidente similar ocorreu mais tarde em Números 16:19. Quando Coré ajuntou seus seguidores contra Moisés na Tenda da 25
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Deuteronômio 4:9,10,11,12,33,35,36; 5:4,22,23,24,26. *N.T. A versão portuguesa em 4:33 traduz a expressão como "..a voz de algum deus do meio do fogo..." Nossa tradução acima está em acordo com a versão inglesa, que traduz corretamente o hebraico, "Algum povo já ouviu falar a voz de Deus..." Ver Victor Hamilton, Handbook of the Pentateuch , (Grand Rapids: Baker Book House, 1982), pp. 234-36.
Congregação, "então a glória do Senhor apareceu a toda a congregação," uma visível alusão ao evento do Sinai (Números 16:9; cf. Números 14:10 e 16:42). Esta aparição visível da glória de Deus foi decisiva. Isto mostrou, sem dúvida, que o Senhor selou sua sanção no Seu servo Moisés para entregar Suas palavras e instruir o Seu povo. Logo, não é nenhum quebra-cabeças porque o Pentateuco continuamente reafirma, à sua audiência, a origem mosaica, só no livro de Deuteronômio dezessete vezes! Esta delegação de autoridade a Moisés, com o propósito de continuar a revelação, é explicitamente delineada de forma oblíqua depois do tolo episódio do bezerro de ouro, no que é algumas vezes chamada de a Tenda da Congregação de Moisés. Esta Tenda tinha o propósito de servir como uma alternativa à Tenda da Congregação (Sacerdotal) completada em Êxodo 40. Desde que tinha o mesmo propósito da Tenda (Sacerdotal), tinha o mesmo nome. Moisés deveria entrar em uma nuvem visível a todo o acampamento de Israel e o Senhor deveria lhe falar com a boca, como um homem fala ao seu amigo, enquanto todo Israel assistia. Josué deveria estar bem próximo, da mesma forma como esteve no Sinai anteriormente. A Tenda da Congregação de Moisés provia um paradigma da forma aprovada pela qual a presença de Deus seria percebida aberta e decisivamente como uma garantia de que Ele estava falando. Não é fora de contexto explicar, a esta altura, que a Tenda da Congregação (Sacerdotal) foi apenas suplementada. A Tenda da Congregação de Moisés em Êxodo 33:7-11 não é uma intrusão ao texto (criticismo bíblico) nem um santuário temporário a ser completado (Rashi), mas uma ameaça (ou julgamento?) como resultado do episódio do bezerro de ouro. Por causa do incidente do bezerro de ouro, Deus decidiu tabernacular com Moisés (e Josué) à parte do pecaminoso e rebelde Israel, fora do acampamento, para que Israel, pecando novamente, não fosse destruído. Lembre-se que no capítulo anterior, Êxodo 32, O Senhor propôs destruir Israel e no lugar deste fazer de Moisés uma grande nação. A intercessão de Moisés fez com que Israel não fosse destruído (Êxodo 32:10-14). Israel não seria destruído. Mas agora em Êxodo 33, em vista destas circunstâncias, Deus revisou seus planos; Ele iria com Moisés apenas porque havia dito, "A minha presença irá contigo, e eu te darei descanço" (Êxodo 33:14 ênfase acrescida). Porque se Ele fosse com Israel o povo provavelmente seria destruído (Êxodo 33:3). Depois disto, numa breve digressão, Êxodo 33:4-6, que tende a obscurecer a continuidade das instruções de Deus a Moisés começadas em Êxodo 33:1-3, o povo se desfez de seus ornamentos. Isto mostrou a reação de Israel ao julgamento de Deus em não habitar no meio de Israel mas com Moisés apenas. Esta reação de se desfazer dos ornamentos expressou uma dedicação renovada para construir uma Tenda da Congregação (Sacerdotal) a fim de que Deus viesse morar no meio de Seu povo e não do lado de fora (cf. Êxodo 32:2-5). Êxodo 33:7 é a continuação de 33: 3 (com um imperfeito injuntivo) onde o Senhor declarou a sua intenção de não permanecer no meio de um Israel rebelde, porque se Ele fosse no meio deles (via Tenda da Congregação Sacerdotal) Ele poderia destruí-los como quase fez em Êxodo 32. Ao invés, o Senhor disse: "Moisés tomará uma tenda e a armará fora do acampamento, vá bem longe do acampamento (um imperativo!), e a chame de Tenda da Congregação, etc."27 No entanto 27
A tradução Revista e Atualizada no Brasil, (N.T.: como a NVI) "Ora, Moisés costumava tomar a tenda" dificilmente pode ser aceita. Esta tradução dá a entender que Moisés já havia estabelecido esta prática. Mas a narrativa em Êxodo 33 nos dá pouco tempo para o estabelecimento desta prática, colocando estes eventos apenas três meses após Israel ter deixado o Egito. Para um outro exemplo de um modo imperativo após um
Moisés retrocedeu; mais uma vez ele busca o favor de Deus porque rejeita ser considerado desta forma, à parte de Israel e pede que Deus volte à sua intenção original declarada em Êxodo 25:8,22, de que Deus se reuniria com ele na Tenda (Sacerdotal) entre os Querubins, no meio do povo de Deus. Logo Moisés continua tête-à-tête com Deus.28 Quando o Senhor disse "A minha presença irá contigo," Moisés respondeu: "Se a tua presença não vai comigo (Inglês: conosco), não nos faça subir deste lugar. Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? não é porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra?" (cf. Êxodo 33:13, "Considera que esta nação é o teu povo".). Moisés intercedeu e Deus disse: "Farei também isto que disseste; porque achaste graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome". Israel é restaurado através da intercessão de Moisés. A tenda da Congregação residirá no acampamento e não fora dele. Isto explica porque não há nenhuma outra referência à Tenda da Congregação de Moisés no Antigo Testamento. Concorde-se ou não que a Tenda da Congregação de Moisés tenha sido construída, esta continua servindo como explicação do que aconteceu e foi observado no Sinai e posteriormente segue-se na Tenda da Congregação (Sacerdotal) para a continuidade da Palavra de Deus. Sinai continuou a ser um lembrete da liderança de Moisés. Em Números 27:1-11, provavelmente próximo à morte de Moisés, as filhas de Zelofeade buscaram a liderança de Moisés enquanto este estava com os sacerdotes à porta da Tenda da Congregação. Quem haveria de herdar a herança de Zelofeade na ausência de filhos? Elas trouxeram seu caso "perante o Senhor" i.e., à Tenda da Congregação. A determinação de Moisés foi decisiva. A herança de Zelofeade não deveria passar a outra tribo. Isto passou a ser um requerimento legal para os israelitas, "segundo o Senhor ordenou". A Tenda da Congregação, depois do Sinai, continuou a ser o lugar em que o Senhor se encontrava para dar instruções autoritativas (canônicas) ao seu povo, um lugar de testemunho visível da presença de Deus até quase o fim da vida do profeta.29 Os eventos do Sinai tornaram possível a ratificação dos mandamentos de Deus pelas testemunhas presentes. Depois que os Dez Mandamentos foram proclamados audivelmente do monte Horebe, mandamentos que Israel ouviu, Moisés novamente subiu ao monte enquanto o povo permanecia à distância. Eles observaram Moisés se aproximar daquela densa escuridão onde Deus se encontrava. Lá Moisés recebeu um código de leis, Êxodo 20:21-23:33. Imediatamente depois destas leis terem sido proclamadas ao povo, Moisés as escreveu exatamente como na discussão acima, quando Kabti-ilani-Marduk registrou sua visão noturna na próxima manhã. É notável a ausência de qualquer noção de processo literário. Logo, uma proclamação formal e pronunciamento declararam a existência de leis divinamente autorizadas. Isto foi confirmado imediatamente pela aclamação e reconhecimento geral, uma conseqüência do que a nação havia presenciado. Que outra razão haveria para que recebessem tais leis? Depois da leitura das leis a nação respondeu
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imperfeito imperativo, ver Deuteronômio 13:16. O uso imperativo do infinitivo absoluto é bem documentado. Ver George W. Coats, "The King's Loyal Opposition: Obedience and Authority in Exodus 32-34" em Canon and Authority , ed. George W. Coats e Burke O. Long (Philadelphia: Fortress Press, 1977), pp. 100103 para uma análise da intercessão de Moisés. Cf. Êxodo 25:22; 29:42; 30:6; Números 16:16-19; 17:4 (17:19).
"tudo o que o Senhor disse faremos; nós obedeceremos". Estas palavras não apenas sugerem verificação, mas sugerem finalidade textual. D. N. Freedman afirma que um texto autoritativo é caracterizado pela sua rigidez e, embora Freedman não descarte que extensiva revisão editorial precedeu a promulgação autoritativa, ele corretamente argüi que a publicação autoritativa marca a fase onde o texto não é substancialmente alterado.30 A promulgação e aceitação pela nação assinalavam que o texto era inalterável. Estas leis de Moisés foram então ratificadas numa cerimônia de aliança com toda a nação e concluída pelos anciãos como representantes nacionais. Os anciãos viram a Deus, comeram e beberam com Ele, ratificando assim o Livro da Aliança recebido publicamente pela nação na forma como foi divinamente sancionado. Podemos somar uma notação adicional quanto à resposta da nação. O reconhecimento público de escritos divinos como regra escrita para a nação foi propriamente colocado debaixo do título 'Fact of Canon' (Fato do Cânon) por Roger Beckwith.31 Cânon inclui o reconhecimento, aprovação e recepção de uma regra de fé, assim, em adição ao Sinai, ele reconhece duas outras ocasiões onde fidelidade nacional, um 'Fato do Cânon,' é dada à legislação mosaica. Estas ocasiões representam dois diferentes contextos da história da nação de Israel, o período monárquico (II Reis 23:3; II Crônicas 34:31-33) e o período pósexílico (Neemias 8:9, 14-17). Poderia ter sido dito também que todas estas ocasiões de afirmação nacional foram mais do que apenas um momento de aclamação. As respostas foram em palavra e atos. Estas aclamações estavam ligadas às conseqüências nacionais, construção do Tabernáculo (Êxodo 25:22; 26:30; 39:32, 42), reformas de Josias (II Crônicas 34:33) e substantivas renovações da religião de Israel sob Esdras (Neemias 8:1217; 10:30-39). Todos estes eventos estão ligados à proclamação reverente da nação com respeito à Palavra de Deus. Uma outra ocasião pode ser incluída a estas que afirmam uma pública aclamação de um corpo de escritos autoritativos. Josué 8:30-35 diz respeito à cerimônia onde o escritor enfatiza o fato de que toda a Assembléia de Israel estava presente (Josué 8:33,35). É dito que as leis de Moisés foram copiadas e lidas publicamente e mesmo que nenhuma menção de aclamação pública tenha sido registrada, não é enganoso supor que isto esteja implícito no texto (cf. Deuteronômio 27:1-8). Testemunho público final é dado quando pela segunda vez Moisés desce do Monte Sinai após quarenta dias e quarenta noites. A aliança havia sido quebrada como conseqüência do episódio do bezerro de ouro. Mas como resultado da intercessão de Moisés em Êxodo 33, Israel foi restaurado. Deus habitaria no meio de Seu povo. Logo, o processo é repetido, um procedimento necessário por causa da instabilidade de Israel. Moisés novamente sobe para receber as leis e mandamentos inscritos em pedra como da primeira vez. É difícil determinar se uma teofania atemorizante acompanhou esta segunda missão porque o texto não diz. Em Êxodo 34 não há relato algum de poderosa manifestação da presença de Deus como no capítulo 19, mesmo porque é provável que não seja necessário. Desta vez, quando Moisés desceu da montanha, sua face brilhava com o resplendor de quem havia estado na presença de Deus. Isto era visível a todos porque, como antes, quando a 30
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D. N. Freedman, "The Law and the Prophets" em Supplements to Vetus Testamentum IX 1962, pp. 250-65. Cf. também G. Holscher, Kanoisch und Apokkryph , pp/ 49-50. Roger Beckwith, The Old Testament Canon of the New Testament Church and its Background in Early Judaism (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1985), p. 65.
Assembléia ficou atemorizada com a teofania, Aarão, os anciãos e todo Israel estavam com medo, a ponto de temerem se aproximar de Moisés (Êxodo 34:29-35). Moisés lhes reafirma, e o texto indica, que sempre que Moisés entrava na presença de Deus, provavelmente na Tenda da Congregação (Sacerdotal), a sua face saia radiante e todo Israel via.32 Isto novamente assegurava uma visível certeza de que a Palavra verdadeiramente vinha de Deus.33 Subseqüentemente, estas leis, chamadas de 'Testemunho', foram colocadas na Arca (Êxodo 25:16, 22; 40:20), outro 'Fato do Cânon'.34 O termo 'Testemunho' pode ser usado para lei escrita, o único significado que faz sentido nestas passagens. Em Isaías 8:16 'testemunho' (soletrado com pouca diferença) é paralelo a 'lei' para designar um documento que pode ser emprestado ou selado.35 Mais será dito a respeito deste aspecto, porém, vale ressaltar que o subsequente depósito destes escritos em um santuário nacional é equivalente e uma consequência de serem tidos como sagrados e divinos. É outro ato de confirmação de que Israel aceitou em face do que viu e ouviu.
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B. Childs, The Book of Exodus (Philadelphia: The Westminster Press, 1974), p. 617. As notas gramaticais feito por Childs são apropriadas. "...vv. 34-35 empregam um tempo frequentativo para descrever uma prática presente de Moisés no seu ofício de mediador divino." Que homens radiavam a glória refletida de deuses era uma crença antiga (ver observações acima). Com isto não quero sugerir que a referência do Antigo Testamento a este fenômeno seja acomodação à idéia. O conceito de efulgência de Deus é parte do conceito de muitos povos. A aparência radiante de Moisés seria algo que Israel, como muitos outros povos, poderia entender; Moisés havia estado com Deus. Roger Beckwith, The Old Testament Canon of the New Testament Church , p. 81. R. Campbell, The Origin of Canonicity in the Old Testament Church , p. 339. Campbell sugere que este termo pode ter até mesmo algo do significado de cânon.