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Confssões de um cético rancóflo
Roger S CRUTON
$oi #uando desco"ri a leitura de livros, os #uais me ensinaram #ue h% mist&rios escondidos na sociedade humana, na consci'ncia e no pr(prio ser, #ue pela primeira ve), no começo dos anos sessenta, me interessei por *loso*a Atrav&s da leitura de +a-a, Ril-e, e TS TS .liot cheguei / conclusão, ainda adolescente, de #ue a literatura não tinha outra tarea senão a de explorar e decirar esses mist&rios e de #ue a "ele)a liter%ria era apenas um outro nome #ue se dava para o tipo de revelação #ue a#ueles autores prometiam 0e certa maneira procurava na literatura a resposta re sposta para uma necessidade religiosa e não era surpresa #ue a maioria dos autores #ue me impressionavam ossem de origem continental, escrevendo em alemão ou ranc's O ato de #ue o meu autor avorito de lngua inglesa, TS TS .liot, dedicasse tantos dos seus ensaios / literatura rancesea e italiana e tantos dos seus versos a cit%2las endossava a minha atitude avor%vel a tudo #ue vinha sendo escrito do outro lado do Canal da 3ancha Al&m disso, o entusiasmo pelo existencialismo, o #ual, graças / colet4nea de 5alter 5alter +aumann, inclua 0ostoi&vs-i e +ier-egaard entre os eleitos, apenas veio a con*rmar2me na visão de #ue a *loso*a e a literatura são dois componentes complementares de uma empreitada 6nica cu7o prop(sito & entender o mundo O tipo de *loso*a acad'mica #ue mais tarde viriam a ensinar2me em Cam"ridge era c&tica em relação a essas tentativas de entender as coisas e de condu)ir o pensamento a"strato na direção delineada pela arte e pela poesia A *loso*a analtica, na medida em #ue tem uma imagem de si mesma, v'2se como um prel6dio / ci'ncia 0%, assim, continuidade / grande tradição dos empiristas dos s&culos de)essete e de)oito e adota como seu o programa #ue 8ohn Stuart 3ill nos apresentou no s&culo de)enove no seu Sistema de Lógica e Lógica e #ue seria mais tarde retomado por Russell, 3oore e
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5ittgestein no s&culo vinte1 Talve) Talve) eu devesse ter aceitado h% muito tempo #ue todas as tentativas de colocar em palavras as :verdades; pelas #uais ansiava são destitudas de sentido e #ue no *nal das contas & at& mesmo errado cham%2las de verdades No entanto, *co chocado com a *sionomia ran)ina e sem vida #ue a *loso*a *los o*a rapidamente assume #uando vagueia para longe da arte e da literatura e não consigo a"rir uma revista como Mind como Mind ou ou The Philosophical Review sem Review sem experimentar um des4nimo imediato, como se entrasse pela porta de um necrot&rio Assim, não & nenhuma surpresa #ue no incio de minha carreira *los(*ca osse atrado mais por Sartre do #ue por #ual#uer outro *l(soo .sse era um autor #ue representava o ideal liter%rio Na sua o"ra estão, lado a lado, tra"alhos de argumentação a"strata, romances, contos, peças de teatro e a#ueles "elos ragmentos de auto"iogra*a tais como Les como Les Mots #ue Mots #ue descrevem não apenas o #ue & escrever como Sartre mas tam"&m o #ue & ser Sartre .sse era um intelectual #ue não estava simplesmente consciente da vida moderna e dos seus mist&rios, mas #ue tinha conseguido transcrev'2 la com sucesso .ncontrara palavras, re#
as #uais não eram de maneira alguma necess%rias 7% #ue ele as legara em n6mero su*ciente? = captar e compreender a extraordin%ria solidão metasica #ue nos assom"ra neste mundo em #ue vivemos Não perdi a rever'ncia por Sartre durante meus anos na universidade Ad#uiri, no entanto, um treinamento em *loso*a analtica #ue tornou dicil com"inar os lados *los(*cos e artsticos dos meus pr(prios interesses liter%rios Considero os aspectos *los(*cos e liter%rios da minha escrita como aspectos de uma tentativa 6nica de di)er as coisas como elas são desde o meu ponto de vista vis ta 3as uma educação *los(*ca #ue colocava o argumento v%lido acima da verdade da vida na lista das virtudes intelectuais tanto serviu de apoio como de o"st%culo o "st%culo a essa minha tentativa Sartre pertencia a uma outra tradição, #ue s( conhecemos ho7e por meio de suas ormas degeneradas Neste artigo, #uero di)er algumas coisas so"re essa tradição e, em especial, #uero explicar por #ue & #ue sua in@u'ncia se a) sentir ho7e mais pela sua degeneração do #ue pelo seu @orescimento saud%vel Nem essa tradição est% morta !ara uma particularmente l6cida adaptação dela para pro"lemas modernos, ve7a Timoth 5illiamson, The Philosophy o Philosophy, Philosophy, !ord, "lac#well, $%%&' 1
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Assim #ue terminei a graduação em 1DE ui direto para a $rança, pas #ue era para mim a eptome do esorço de uni*cação das vidas intelectual e artstica 0ois anos depois, voltei a Cam"ridge, mas mantive a minha conexão com !aris, #ue visitaria constantemente durante a#ueles anos tur"ulentos e, ao testemunhar os (v(nements de mai, dos #uais nunca me recuperei de verdade, passei por uma extraordin%ria experi'ncia de conversão 0e repente me vi *car nas "arricadas do lado oposto da#uele dos meus conhecidos Não entendia direito o sentido de tudo a#uilo, mas #uando vi adolescentes mimados de classe2m&dia "otar ogo nos carros comprados a duras penas pelos seus ineriores na escala social, meu instinto era *car do lado dos donos dos carros !erguntava aos meus colegas estudantes #ual era o o"7etivo #ue pretendiam alcançar e em reposta todos me asseguravam #ue a $rança havia entrado numa situação revolucion%ria e #ue a hora de derru"ar a "urguesia e colocar o proletariado em seu lugar havia chegado Fsso não se encaixava "em com a minha an%lise a respeito das classes sociais a #ue eles ou suas vtimas pertenciam, no entanto, reconheci a linguagem e pus2me a ler, com toda a dilig'ncia, todos os textos #ue me deram como explicaçGes da agitação revolucion%ria Os textos eram de tr's tipos !rimeiro, havia os ensaios #ue Sartre escrevera no p(s2guerra, notavelmente a )riti*+e de la raison dialecti*+e e Sit+ations 7unto com o amoso Le de+!ime se!e, de Simone de Heauvoir, sua eterna alma g'mea >ou melhor, talve), soi-camarade? A )riti*+e me deu a impressão de ser intelectualmente mori"unda .ra uma tentativa triste #ue um homem #ue havia desistido de pensar *)era para retraçar a senda longamente a"andonada dos argumentos es#uecidos Sua deesa da#uilo #ue chamava de :totalisation; era apresentada numa prosa totalit%ria de rigide) cadav&rica, não muito dierente dos slogans do !artido Comunista, e assom"rava2me o ato de #ue um grande escritor se re"aixasse a ponto de usar palavras desse modo, como se ossem contas num %"aco e não "olas em um campo O Seg+ndo Se!o & um livro engenhoso, mas a visão das mulheres #ue nele se apresentava era tão radicalmente enganosa #ue ouscava todos os pan@etos eministas #ue 7% havia lido e, pensando "em, todos os #ue viriam a ser escritos, pelo menos at& Le rire de la m(d+se de I&lJne Cixous Contudo, assim como os ensaios de Sartre, o livro de Simone de Heauvoir não passava de uma tentativa de argumentação, #ue se esorçava para delinear os contornos de uma lastim%vel condição poltica, apresentar ra)Ges para mud%2la e sugerir o #ue poderia vir em seu lugar
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O segundo tipo de texto era tipi*cado por $oucault, notavelmente por Les Mots et les )hoses e pelos ensaios espirituosos so"re a origem das prisGes e dos hospcios .sses textos eram exu"erantes exerccios de ret(rica, com toda a "ravata de um 7ovem Sartre e repletos de paradoxos e alsi*caçGes hist(ricas ultra7antes, mas arre"atavam o leitor atrav&s de uma esp&cie de indierença irreverente em relação /s exig'ncias da argumentação racional ou aos direitos da verdade .m ve) de argumentação, $oucault enxergava :discurso;, e no lugar da verdade como guia do pensamento humano, $oucault enxergava :poder; Na visão oulcaultiana das coisas, todo discurso ganha aceitação atrav&s da expressão, reorço e ocultação do poder da#ueles #ue o deendemL e a#ueles #ue, de tempos em tempos, perce"em esse ato são invariavelmente >na sociedade "urguesa? encarcerados como criminosos ou tranca*ados como loucos = um destino #ue $oucault evitou, inexplicavelmente O terceiro tipo de texto consistia de teorias emprestadas dos grandes su"versivos = em especial, 3arx e $reud = dissolvidas numa prosa tão o"scura e auto2reerente #ue se tornava mais ou menos incompreensvel .xemplos impressionantes desse estilo são Mouis Althusser, illes 0eleu)e, $&lix uattari e 8ac#ues Macan, #ue pairava no segundo plano, uma presença maca"ra #ue se a)ia conhecer so"retudo pelos relat(rios so"re seus semin%rios e pelos rumores acerca dos eeitos de suas seduçGes terap'uticas O livro de Althusser Po+r Mar! pretendia ser uma deesa do :materialismo hist(rico; de 3arx na sua versão pura e original e oi rece"ido como prova de #ue o marxismo era o verdadeiro guia pra os acontecimentos de 1D No entanto, não consegui desco"rir um s( argumento, no livro inteiro, #ue osse convincente Po+r Mar! consistia de sentenças >como as #ue virão a seguir? #ue se repetiam sem variação at& o momento em #ue a colisão entre o livro e a parede >ou, em 1D, entre o livro e o estudante revolucion%rio? não pudesse mais ser proteladoP :.sta não & apenas sua situação em princpio >a#uela #ue ela ocupa na hierar#uia das inst4ncias em relação / inst4ncia determinanteP na sociedade, a inst4ncia econQmica? nem apenas sua situação de ato >se, na ase em consideração, ela & dominante ou su"ordinada?, mas a relação dessa situação de ato com essa situação em princpio, isto &, a relação mesma #ue a) dessa situação de ato uma variante da estrutura invariante, em dominação, da totalidade; .ssa era a vo) do marxismo de rua de 1DP cada sentença curvava2se so"re si como a unha de um dedo do p&, dura e eia, #ue crescesse para
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dentro apontando sempre para si mesma9 illes 0eleu)e e $&lix uattari, *l(soo e psicanalista respectivamente, eram mais competentes do ponto de vista ret(rico, e o livro mais in@uente da dupla, L.anti edipe, #ue consistia de extravagantes vQos da imaginação, oi mais in@uenciado por 3archel 0uchamp e Andr& Hreton do #ue por $reud 0eleu)e e uattari decrevem o ser humano como uma :m%#uina dese7ante;, um corpo esva)iado dos seus orgãos, e convocam 3arx e $reud como testemunhas da conclusão de #ue essa & a verdadeira explicação da es#ui)orenia e de #ue as coisas não poderiam ser dierentes, 7% #ue o :corpo sem (rgãos; & apenas uma outra maneira de chamar o capitalismoP isso & o #ue acontece aos seres humanos #uando a :edipani)ação; imposta pelo regime consumista esva)ia o recept%culo "iol(gico no #ual o ser humano est% contidoB uanto a Macan, permitam2me apenas di)er #ue Ramond Tallis, ao cham%2lo de :psi#uiatra do inerno;, orneceu2nos uma descrição "astante apropriada para retratar a presença sinistra e ameaçadora de Macan na prosa de 1D K Os 7ovens intelectuais com #uem conversei entendiam a revolução como uma esp&cie de psican%lise violenta imposta / sociedade rancesa, um processo no #ual o povo ranc's era orçado a passar pela :ase2espelho; da consci'ncia, tal como Macan a descreveu, e a conrontar a verdade da sua condição, o #ue inclua revelaçGes tão pertur"adoras com a de #ue, so" a condição "urguesa, o p'nis ereto era o aparecimento, na hierar#uia dos signi*cantes, da#uilo #ue, no mundo dos signi*cados, ocorre como a rai) #uadrada de menos 1E Mia os livros #ue eram colocados diante de mim com um sentimento de intensa gratidão pelo meu treinamento em *loso*a analtica, #ue me ensinou a reconhecer "esteira e a sa"er #uando ela estava sendo usada para propor como conclusGes o #ue na realidade eram premissas ocultas Nem por um segundo pensei #ue esse tipo de literatura osse durar, e #uando ela claro, seria um insulto grosseiro ao marxismo em geral e a 3arx em particular supor #ue essa a 6nica orma disponvel #ue o marxismo do nosso tempo pode assumir Ve7a a re7eição impec%vel de Althusser por 8err Cohen >A Cohen, /arl Mar!0s Theory o 1istory , !rinceton, !rinceton Universit !ress, 1W, !reace? e tam"&m a de . ! Thompson em The Poverty o Theory , Mondon, Verso, 1W illes 0eleu)e X $&lix uattari, L02nti-edipe3 )apitalisme et Schi4ophr(nie, !aris, ditions de 3inuit, 1WE, ch 9 :The Shrin- rom Iell,;em 3ichael rant ed, The Raymond Tallis Reader , Mondon, !algrave, 9YYY A prova ocorre em 5critsL ver minha an%lise em The Politics o )+lt+re, 3anchester, Carcanet !ress, 11, p1Y1 2
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começou a pu"licar2se em revistas = das #uais Tel 6+el & o exemplo mais proeminente = e a recrutar uma nova geração de produtores de "esteira, incluindo rec&m2chegados como 8ac#ues 0errida, I&lJne Cixous e 8ac#ues Attali, da Arg&lia, como 8ulia +risteva, da Hulg%ria, e, como Muce Fragara, da H&lgica, encarei tudo isso como uma moda passageira #ue em seu devido tempo morreria a morte / #ual toda escrita ruim est% condenada !arecia2 me, então, #ue era apenas uma #uestão de tempo para o #ue o alto padrão #ue Sartre *xara nos seus anos de 7uventude = o #ual tinha sido mantido por Al"ert Camus, Vladimir 8an-&l&vitch e 3ichel Meiris e #ue a"riu espaço, na perieria, at& mesmo para conservadores como Alain Hesançon e Ren& irard=retornasse logo e "anisse todos os charlatães dos seus castelos em !aris Fsso, no entanto, não aconteceuL não na#uela &poca, pelo menos Ao re@etir so"re essa ato, notei certas caractersticas recorrentes e distintivas de toda a literatura #ue mencionei .m primeiro lugar, & literatura direcionada contra um inimigo Toda ela & dedicada a descrever os ardis e ma#uinaçGes #ue mant'm a ordem existente de p& e a retrat%2la como opressiva, ma#uinal e, num sentido proundo, estranha Segundo, o a"surdo, em"ora não possa ser intelectualmente decirado em termos de verdade ou alsidade ou de validade ou invalidade, pode ser decirado do ponto de vista poltico uer di)er, não & simplesmente a"surdo, & a"surdo direcionado contra um inimigo, e não & simplesmente a exist'ncia do inimigo #ue est% sendo atacada A investida visa a atingir primeiramente a linguagem atrav&s da #ual o inimigo reivindica o mundo, a linguagem #ue conhecemos como argumentação racional e "usca da verdade :O amor / verdade;, declara 8ac#ues Macan, :& o amor por essa ra#ue)a cu7o v&u aca"amos de levantarL & o amor pelo #ue a verdade esconde, #ue & chamado de castração; D O amor / verdade, portanto, não tem validade independente, não sendo nada mais do #ue um disarce usado pela parte mais raca Não h% outra mercadoria em disputa a não ser o poderP o inimigo dispara palavras e n(s revidamos A vit(ria & con#uistada pela varinha m%gica, a rai) #uadrada de menos um #ue, "randida na cara do inimigo, revela #ue ele não tem "olas 0uas outras caractersticas da literatura de D são dignas de nota !rimeiro, havia uma extraordin%ria concord4ncia entre todos os escritores #uanto / nature)a do inimigo O inimigo era a "urguesia, a classe #ue tinha >de acordo com a caricatura marxista da hist(ria? monopoli)ado as instituiçGes da sociedade rancesa desde a Revolução de 1W e cu7a 8ac#ues Macan, The Seminar o 7ac*+es Lacan, ed 8ac#ues2Alain 3iller, Hoo- ZVFF, Ne[ \or-, Norton, 9YYW, p E9 6
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:ideologia; havia se espalhado por todos os canais de comunicação desde a#uela &poca !or tr%s da amlia patriarcal excoriada por Heauvoir, das instituiçGes da prisão e do hospcio desacreditadas por $oucault, da :m%#uina dese7ante; de 0eleu)e e uattari e das normas de respeita"ilidade heterosexual ridiculari)das por Sartre in Saint 8enet estava a mesma orça = de nature)a tanto espiritual #uanto econQmica e demasiado pervasiva e vasta para ser identi*cada com um mero grupo humano =, a orça da "urguesia Os revolucion%rios amadores com #uem eu alava não eram, em geral, muito claros #uanto ao #ue esperavam pQr no lugar do :sistema; e das :estruturas; #ue estavam determinados a destruir 3as estavam unidos na concepção #ue tinham do inimigo e na determinação #ue nutriam de destru2lo A "urguesia era uma a"stração onipresente cu7a exist'ncia era provada 7ustamente pela repentina erupção, na consci'ncia, do dese7o implac%vel de atac%2la Se surgisse o impulso de virar um carro e atear ogo nele & por#ue o carro era um sm"olo e uma possessão da "urguesia Se voc' *casse com raiva de um casal vestido respeitavelmente andando de mãos dadas na rua, então isso era prova de #ue eram mem"ros da "urguesia Se ao avistar um policial voc' osse levado a pegar uma pedra para atirar nele, então era por#ue policiais, em geral, e a#uele em particular, eram agentes da "urguesia Se um livro, uma imagem ou uma m6sica o oendia, então era prova su*ciente de suas origens "urguesas, e se voc' não pudesse passar por um padre sem ridiculari)%2lo e insult%2lo, isso era um sinal claro de #ue a religião era uma instituição "urguesa Na &poca da Rainha Ana, 0eoe escreveu #ue as ruas de Mondres :estavam repletas de camaradas corpulentos preparados para lutar at& a morte contra o !apado, sem sa"er se ele era um homem ou um cavalo; . isso era igualmente verdade a respeito da !aris da minha 7uventudeP suas ruas estavam repletas de 7ovens preparados para lutar at& a morte contra a "urguesia, sem sa"er se ela era uma id&ia ou um uniorme, e certamente sem sa"er #ue, segundo #ual#uer entendimento ra)o%vel do termo, eles pr(prios eram ela I% uma outra caracterstica da literatura de D #ue merece ser mencionada por#ue est% relacionada com a in@u'ncia duradoura #ue essa literatura exerceu, especialmente nas disciplinas acad'micas nos .stados Unidos !or tr%s de todo o @oreio e a"surdidade era possvel discernir vestgios de id&ias de um perodo anterior = id&ias #ue estiveram vivas no *m da guerra, #uando !aris era um centro de de"ate intelectual s&rio e #uando a geração p(s2guerra tentava livrar2se da mem(ria da ocupação e traição e esconder o mal #ue ela tinha eito e sorido As discussGes da escola de ling<stica de !raga, cu7os mem"ros haviam "uscado re6gio em !aris na d&cada de BY e sido inspirados pelo tra"alho de Saussure, oram
a"sorvidas pelo marxismo acad'mico e reudismo liter%rio, produ)indo a sntese caracterstica #ue encontramos na o"ra de Roland Harthes As distinçGes entre :signi*cado e signi*cante;, entre lang+e e parole, entre onema e morema, penetraram na nova linguagem 7unto com as teorias so"re a inra2estrutura e a super2estrutura, valor de uso e valor de troca, produção e exploração, tomadas de 3arx, e as teorias so"re repressão e li"ido emprestadas de $reud As distinçGes e teorias eram misturadas 7untas no caldeirão #ue co)inhava no ogo revolucion%rio e produ)iam, com re#<'ncia, resultados empolgantes e extraordin%rios, tais como a prova de Macan de #ue a :es#ui)orenia; 22estou citando de um dos seguidores da#uele grande homem 22 :designa uma orma de dese7o puramente metonmica #ue & li"erado por associaçGes meta(ricas de e#uival'ncia e signi*cado impostas so"re o dese7o por c(digos lingusticos e]ou sociais #ue operam em nome do pai;W Ou a prova de uattari de #ue, atrav&s da superação das semiologias signi*cativas #ue at& agora nos destinaram a tornarmo2nos :m%#uinas semi(ticas não2signi*cativas;, iremos :li"erar a produção do dese7o, as singularidades do dese7o, das amarras dos signi*cantes dos valores nacionais, amiliares, pessoais, raciais, humanistas e transcendentes >incluindo o mito de um retorno / nature)a? e entrar no mundo pr&2signi*cativo de codi*caçGes a2semi(ticas; Os monstros de inintelig'ncia #ue assomam nessa prosa atraem nossa atenção por#ue estão vestidos com pedaços de teorias coletados entre os resultados de "atalhas 7% es#uecidas = a teoria marxista da produção, a teoria saussureana do signi*cado, a teoria reudiana do complexo de dipo Todas elas, devo di)er, oram completamente reutadas pela ci'ncia posterior, mas recuperadas, de um 7eito ou de outro, pelos carniceiros parisienses #ue lhes deram uma vida antasmal no vapor #ue su"ia do caldeirão revolucion%rio I% ainda uma outra id&ia ad#uirida durante o perdo de auto2exame do p(s2guerra #ue não perdeu credi"ilidade, uma id&ia #ue resiste ao tempo por#ue não & uma hip(tese cient*ca #ue, mais dia menos dia, ser% reutada, mas & uma re@exão *los(*ca so"re a nature)a da consci'ncia Trata2se da id&ia do Outro A dial&tica do .u e do Outro & o grande presente da *loso*a idealista alemã para a cultura europ&ia moderna 0e $ichte at& Ieidegger, essa mesma tese oi explicada de centenas de maneiras dierentes e nunca sem um #u' de o"scuridade digni*cadaP & pelo caminho da alienação #ue .ugene 5 Iolland, :$rom Schi)ophrenia to Social Control,; in .leanor +auman and +evin 8on Ieller, eds, 9ele+4e and 8+attari3 :ew Mappings in Politics, Philosophy and )+lt+re, 3inneapolis and Mondon, U 3inn !ress, 1 ar enos-o, :uattaris Schi)oanaltic semiotics; in i;id 7
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chegamos / nossa li"erdade e auto2consci'ncia, & na conrontação com o outro #ue nasce o eu, e & na nossa recusa de sucum"ir ao outro e de sermos a"sorvidos por ele #ue reconhecemos a verdade da nossa condição = a verdade de #ue tam"&m somos o outro e #ue tam"&m somos limitados por outros #ue são como n(s Agora, essa hist(ria, contada muitas ve)es, entrou na cultura rancesa por uma estrada muito dierente, nomeadamente, atrav&s das palestras p6"licas so"re a Fenomenologia de Iegel #ue Alexandre +o7Jve, um imigrante russo #ue ocupava um alto cargo no serviço p6"lico ranc's, proeriu na 5cole Prati*+e des 1a+tes 5t+des entre os anos de 1BB e 1B Io7e, essas palestras são amplamente distri"udas graças / edição #ue delas e) Ramond uenau, #ue as presenciou . se voc' se surpreende com o ato de #ue o autor de
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conceito não uncionasse no campo perceptivo, transiçGes e inversGes se tornariam incompreensveis e n(s sempre estaramos indo de encontro /s coisas, 7% #ue o possvel desaparecera >No? conceito da outra pessoa, o mundo possvel não existe ora da ace #ue o expressa, em"ora ele se7a dierente dela como o expressado e a expressão são dierentesL e a ace, por sua ve), & a vi)inhança das palavras para as #uais ela 7% & o megaone; O tratamento #ue +o7Jve deu ao Outro in@uenciou o programa de recrutamento do !artido Comunista na medida em #ue deu / elite liter%ria rancesa uma linguagem e um h%"ito de pensamento #ue poderiam acilmente ser adaptados / guerra contra a sociedade "urguesa >Não nos es#ueçamos de #ue oi a versão hegeliana dessa id&ia #ue serviu de inspiração para o 7ovem 3arx desenvolver suas teorias so"re a alienação e propriedade privada? Se +o7Jve tinha isso em mente ou não nunca sa"eremosL1Y mas uma coisa & certa, #ue & o ato de #ue a id&ia do Outro se tornou parte de um recrutamento em massa da intelligentsia rancesa para as causas da es#uerda e de #ue, #uando essa id&ia oi ervida com lng<stica saussureana, an%lise reudiana e economia marxista para ormar a poção m%gica do Tel 6+el e do descontrucionismo, ela deu origem a uma literatura #ue não deixou espaço para nenhuma outra visão poltica #ue não osse o socialismo revolucion%rio 8% era ("vio na geração do p(s2guerra #ue a literatura rancesa estava se alinhando politicamente e #ue isso era uma esp&cie de su"stituto para o enga7amento #ue Sartre recomendou do alto de seu trono em Les 9e+! Magots' A#ueles #ue não se adaptaram /s ortodoxias de es#uerda não oram simplesmente relegados ao ostracismo, mas oram ameaçados e perseguidos pelas patotas es#uerdistas, e nas p%ginas de La no+velle rev+e ran=aise, esse tratamento levou / illes 0eleu)e e $&lix uattari, >hat is Philosophy ^, tr Iugh Tomlinson and raham Hurchell, Ne[ \or-, Colum"ia Universit !ress, pp 121 +o7Jve oi postumamente identi*cado pela Fntelig'ncia $rancesa como um agente sovi&tico No entanto, oi amigo pr(ximo de Meo Strauss, in@uente te(rico poltico conservador >#uer di)er, in@uente nos .stados Unidos? $oi tam"&m o propagador, atrav&s de suas palestras so"re Iegel, da id&ia do :*m da hist(ria; #ue $rancis $u-uama depois comunicou numa orma #ue pudesse ser mais acilmente engolida pelos conservadores li"erais americanos !arece #ue +o7Jve usava uma m%scara me*sto&lica #ue ningu&m 7amais decirou e o ato de #ue ele oi um dos ar#uitetos da União .urop&ia e parte integrante das mendacidades pelas #uais ela oi inventada e imposta so"re o continente est% pereitamente de acordo com seu car%ter inescrut%vel 9
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marginali)ação de Camus e Aron, / dispensa de 3aritain e 3arcel e / demoni)ação de $rançois 3auriac !or volta de 1D, um tipo de metaliteratura impenetr%vel >literatura so"re literatura so"re literatura? tinha sido desenvolvida, incorporando as caractersticas #ue mencionei e a respeito da #ual s( uma coisa era claraP a #ue lado do 7ogo poltico ela pertencia Se a posição poltica osse ("via, então a o"scuridade de linguagem não era deeito Ao contr%rio, em circunst4ncias como essas, a o"scuridade poderia ser lida como prova de uma proundidade e originalidade grandes demais para serem a"arcadas por palavras comuns 0essa maneira, a o"scuridade servia para validar a posição poltica, para mostrar #ue atirar pedras em policiais era a conclusão de um silogismo pr%tico #ue go)ava da mais alta autoridade intelectual em cada um dos seus passos l(gicos Não preciso demorar2me no aspecto raudulento dessa literatura Ningu&m #ue tenha algum respeito por honestidade intelectual pode duvidar do veredito #ue Alan So-al e 8ean Hricmont proeriram em ?mpost+ras ?ntelect+ais, o livro deles #ue agora & amoso e #ue demole a alsa percia de 0eleu)e, uattari, Haudrillard, Macan e muitos outros11 Se voc' não oi convencido por So-al e Hricmont ou por Mensonge,@$ a "rilhante s%tira de 3alcom Hrad"ur, então não h% nada #ue eu possa di)er #ue v% convenc'2lo 3ais ainda, se voc' ainda sente #ue a #uestão não oi encerrada, ainda não visitou a p%gina do erador !(s23oderno de Andre[ Hulha- e não teve a alegria de gerar sua pr(pria contri"uição para esse monte de "esteira, então, eis a uma coisa #ue voc' precisa a)er O #ue So-al e Hricmont negligenciaram, entretanto, & o signi*cado poltico da metaliteratura p(s2moderna Fdenti*cam2se como homens da es#uerda, o #ue & o"viamente necess%rio se eles #uiserem ter a mais remota chance de in@uenciar a#ueles #ue são tentados a 7untar2se / de"andada em direção / alta de sentido p(s2moderna !or&m, alham em apontar, e talve) em notar, #ue ser de es#uerda, no *m das contas, & tudo o #ue importa para esse movimento A violenta corrente)a do a"surdo @ui entre muradas seguras nas #uais oram esculpidas mensagens indel&veis 3ensagens #ue nos di)em #ue o mundo est% nas mãos do OutroL #ue esse outro & o capitalismo, a sociedade "urguesa, o patriarcado, a amlia, em outras palavras, todo o Alan So-al e 8ean Hricmont, ?mpost+res intellect+elles, !aris, Odile 8aco", 1W, pu"licado nos .stados Unidos como Fashiona;le :onsense3 Postmodern ?ntellect+als. 2;+se o Science, Mondon, !ro*le Hoo-s, 1 Mensonge3 My Strange 6+est or 1enri Mensonge, Structuralisms Iidden Iero, Mondon, +ing !enguin, 1E 11
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"atalhão de estruturas tradicionais de poder das #uais devemos ser li"ertdosL #ue podemos entender e decirar os segredos pelos #uais essas estruturas são mantidas de p&L e #ue ao entender o Outro, ortalecemos o eu .m suma, a metaliteratura #ue surgiu como conse#<'ncia de D consiste de eitiços com os #uais um mundo alienado & su"7ugado e se a"re o caminho para a li"ertação . & por isso #ue essa literatura conseguiu assegurar um suito extraordin%rio !ara mim, o ato cultural de maior import4ncia & esse, e não #ue o a"surdo so"revivesse e se propagasse, algo #ue não & novidade nenhuma, conorme nos ensina a hist(ria da al#uimia e da :doutrina esot&rica; = a hist(ria da o"tusidade, como !ope a chamou numa s%tira #ue & tão pertinente ho7e como o oi h% mais de du)entos anos 3esmo se nos alta uma epidemiologia plausvel do a"surdo1B, não h% mist&rio no ato de #ue o a"surdo, uma ve) introdu)ido, tenha uma capacidade natural de reprodu)ir2 se !ois, nas circunst4ncias certas, o a"surdo & poder Nas d&cadas #ue se seguiram ao seu nascimento, a metaliteratura de 1D oi aceita em todo o mundo acad'mico de ala inglesa não como uma onte de conhecimento, mas como uma arma poltica O"ras como l.2nti-edipe e 9issemination de 0errida tomaram o lugar #ue na tradição al#umica era ocupado pelos livros de encantamentos Nas mãos de uma nova casta acad'mica dominante sem nenhuma con*ança na possi"ilidade de #ue pudesse haver outro undamento para estudos acad'micos nas humanidades #ue não osse um programa poltico, essas o"ras oram instrumentos de um pacto %ustico !or meio dos livros sagrados o proessor de humanidades poderia ad#uirir poder so"re o Outro e tomar posse da cidadela acad'mica de onde o Outro estava sendo orçado a ugir1K Na criação e imposição de ortodoxias o a"surdo & preervel / argumentação racional 7% #ue ele não d% a"ertura para a oposição, não deixa nenhum lugar por onde o Outro possa voltar raste7ando e semear disc(rdia Talve) essa se7a a ra)ão da gratidão enorme com #ue a geração de D oi rece"ida nos departamentos de humanidades na rã2 Hretanha e nos .UA 0errida, Cixous, +risteva e outros acumularam graus acad'micos honor%rios por todo o mundo angl(ono, e aparentemente A teoria do meme de Richard 0a[-ins >The Selfsh 8ene? & inade#uada por muitas ra)Ges, não menos por#ue não distingue sentido e a"surdoL o mesmo se aplica a 0an Sper"er, A!plaining )+lt+re, a :at+ralistic 2pproach, Oxord, Hlac-[ell, 1D Ver Ro"ert rant, :Fdoelog and 0econstruction;, em Anthon OIear, ed, Berstehen and 1+man Cnderstanding, Mondon, Roal Fnstitute o !hilosoph, 1 13
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0eleu)e oi mais citado do #ue +ant em o"ras acad'micas de lngua inglesa no ano de 9YYW Ca"e, no entanto, perguntar por #ue o senso comum angl(ono provou ser uma "arreira tão insu"stancial / torrente de m(tamerde' Crticos respeit%veis como Stanle $ish, eo_re Iartman e 8 Iillis 3iller oram arre"atados pela inundação, e os *l(soos analticos ou se recusaram a not%2 la, ou, como no caso de Richard Rort, a*rmaram #ue nadavam na mesma corrente dos expoentes da enxurrada ual oi o pro"lema^ $altou2nos uma disciplina verdadeira #ue nos pudesse guiar em solo *rme e em uma direção clara^ Ou simplesmente o charme do a"surdo, #uando ligado a uma postura de es#uerda, mostrou2se irresistvel^ !arece2me #ue essa #uestão di) respeito a dierenças proundas entre nossas duas culturas = a do senso comum de lngua inglesa e a da 7act4ncia liter%ria rancesa A cultura rancesa de ho7e não &, e raramente oi, apenas uma m%#uina para a produção de mensagens su"versivas Não o"stante, o marxismo oi dominante entre as guerras e serviu como um oco para o tipo de anti2 patriotismo #ue @oresceu entre a elite intelecual e #ue oi assim expresso por Andr& Hreton no seu segundo 3aniesto Surrealista em 1BYP :Tudo est% para ser eito, vale a pena tentar todos os meios para destruir as id&ias de amlia, pas, religião`Os surrealistas pretendem sa"orear por completo a prounda triste)a, tão "em encenada, com #ue o p6"lico "urgu's acolhe a necessidade *rme e inexor%vel #ue eles demonstram de rir como selvagens na presença da "andeira rancesa, de vomitar o seu desgosto na cara de cada padre, de apontar contra a classe dos deveres "%sicos a arma de longo alcance do cinismo sexual; Outros expressaram rep6dio / $rança e / cultura cat(lica rancesa de uma maneira menos inantil 3as não resta d6vida de #ue as palestras de +o7Jve serviram para ornecer os undamentos intelectuais e psicol(gicos ao movimento geral de rep6dio As traiçGes e capitulaçGes da Segunda uera 3undial e a experi'ncia da ocupação na)ista aumentaram o desgosto com a herança cultural rancesa A geração de Sartre emegiu da guerra com uma prounda necessidade de encontrar um "ode expiat(rio #ue carregasse o ardo de sua culpa O "ode escolhido oi a "urguesia rancesa e a teoria marxista deu a descrição pereita dos seus pecados, os #uais deixaram de ser nossos #uando oram atri"udos ao Outro 3uitos, como o poeta e romancista Mouis Aragon, *liaram2se ao !artido Comunista, convenientemente se es#uecendo do !acto Na)ista2Sovi&tico, #uando o
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!artido Comunista sa"otou o esorço de guerra ranc's organi)ando greves nas %"ricas de munição e exigindo uma pa) negociada com Iitler !or&m, en#uanto o marxismo ornecia a espinha dorsal para a @%cida cultura do anti2patriotismo #ue se espalhou entre os pupilos de +o7Jve, a $rança cat(lica so"revivia uando ValJr, o maior dos poetas modernos da $rança, morreu durante a li"eração de !aris, o eneral de aulle organi)ou um uneral o*cial e liderou o corte7o, apesar da presença dos rancoatiradores alemães Tanto Hernanos #uanto 3auriac so"reviveram / guerra, e 3auriac ganhou um pr'mio No"el de literatura em 1E9 uatro grandes compositores = !oulenc, 3essiaen, 0uru@& e 0utilleux = mantiveram vivo o esprito da $rança cat(lica em uma m6sica #ue desa*a as ortodoxias modernistas A geração de Sarte oi tam"&m a geração de Camus e Aron e de )ommentaire = a revista #ue cora7osamente se colocou contra o terrorismo intelectual do !artido Comunista A $rança de Claudel e !&gu continuou viva no pensamento de 3aritain e 3arcel, nos *lmes de Tru_aut, no humor sardQnico de 8ac#ues !r&vert e Horis Vian e nas pinturas a"stratas de 3anessier e 8ean le 3oal . no exato momento em #ue a m(tamerde estava começando a 7orrar das revistas da margem es#uerda e em #ue $oucault declarava #ue o s&culo vinte seria o s&culo de 0eleu)e, Alain Hesançon estava escrevendo Les origines intellect+elles d+ L(ninisme, 3essiaen palestrando so"re o cantochão e o canto dos p%ssaros e Ren& irard em"arcando numa s&rie extraordin%ria de livros >começando com La violence e le sacr(? #ue tiveram um impacto enorme na nossa concepção do #ue o legado cristão signi*ca ou deveria signi*car para n(s ho7e Trinta anos depois dos (v(nements de mai, St&phane Courtois pu"licou Le livre noir d+ comm+nisme, #ue convidava os intelectuais ranceses a repudiar o movimento comunista de uma ve) por todas, ao mesmo tempo #ue Mouis !au[els pu"licava seu romance Les orphelins, no #ual o v%cuo espiritual de 1D & apresentado em toda a sua negatividade assustadora Io7e, muitos intelectuais ranceses importantes = Andr& luc-sman, Alain $in-iel-raut, Muc $err, $rançoise Thom, Chantal 0elsol = estão satiseitos com ser contados ente os inimigos do marxismo, ainda #ue não se7am inimigos da es#uerda intelectual 0entre les intellect+elles m(diati*+es talve) apenas Alain Hadiou ale na velha metalinguagem, mas ragmentos de sentido assom"ram as p%ginas de seus escritos, tra)idos pelo vento atrav&s uma 7anela a"erta tardiamente para o pensamento de 5ittgenstein Os dias da m(tamerde são, do ponto de vista ranc's, um momento dicil no declnio de uma visão de mundo #ue não & mais capa) de ocupar senão um canto da cultura nacional
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0evemos tam"&m notar #ue, na $rança, intelectuais re#
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acad'mico, não & geralmente arte, ou literatura ou nada #ue possa elevar os estudantes para ora das suas experi'ncias anteriores e dar2lhes uma visão de mundo redentora, mas, com re#<'ncia, algo #ue & um pouco mais do #ue simples senso comum Fsso não & toda a verdade, & claro Miteratura genuna 7% surgiu da comunidade acad'mica angl(onaP ve7am, por exemplo, Fris 3urdoch, Fsaiah Herlin e os :romancistas do campus; 0avid Modge e 3alcolm Hrad"ur . Hertrand Russell, o principal undador da *loso*a analtica, com toda a certe)a, mereceu ganhar o pr'mio No"el de literatura No entanto, ao tentar transormar o senso comum em um ramo separado de estudos, Russell engendrou a#ueles resultados tediosos dos #uais eu reclamava no começo deste artigo Os departamentos de literatura, at& a desco"erta dos soi!anteh+itards, assentavam2se na :crtica pr%tica; tal como a conce"iam Richards e Meavis, na #ual os estudantes são convidados a testar a#uilo #ue l'em de acordo com os decretos da consci'ncia do senso comum Ou então eles enterravam o assunto de #ue tratavam em"aixo de estudos acad'micos de tipo "iogr%*co e historiogr%*co, de modo #ue o seu signi*cado, a#ui, agora, s( pode ser recuperado com di*culdade Não duvido #ue esse tipo de estudo tenha produ)ido muitas contri"uiçGes "oas A*nal de contas, a crtica acad'mica do perodo pr&2 "esteira exi"e uma so"revida pelo menos tão grande como as das produçGes liter%rias da $rança do p(s2guerra Tenho em mente, por exemplo, os crticos da escola de Chicago, $R Meavis na Fnglaterra e R! Hlac-mur e Mionel Trilling nos .stados Unidos e o criticismo sha-esperiano de 8 0over 5ilson e MC +nights I% uma prousão de estudos acad'micos angl(onos nas humanidades #ue podem ser lidos com pra)er e proveito e o ato de #ue o #uociente de "esteira & de "aixo a #uase inexistente assegura #ue eles serão lidos com pra)er e proveito por pessoas #ua ainda não nasceram 3as h% algo #ue eles não nos deram e #ue a m(tamerde nos deu em seu lugarL ademais, a disciplina intelectual #ue produ)iram não oi orte o su*ciente para resistir aos charlatães #ue nos prometem a#uele algo ue &, portanto, esse algo #ue os estudiosos angl(onos não oram capa)es de nos dar^ A resposta, acredito, & #ue eles não nos deram um grupo de reer'ncia $alando em termos gerais, h% dois motivos para a"raçar um movimento intelectualP um deles & o amor / verdade, o outro & a necessidade de pertencer a um grupo de reer'ncia As religiGes *ngem dirigir2se ao primeiro desses motivos, mas na verdade recrutam pessoas por causa do segundo A ci'ncia ignora o segundo e promove o primeiro As humanidades, por&m, sempre *caram presas numa posição estranha entre a ci'ncia e a religião O currculo "aseado no senso comum molda o estudo da arte e da literatura na linguagem da verdadeP pede #ue voc' colete dados, os avalie,
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extraia conclusGes deles #uanto ao seu valor 6ltimo e ao seu lugar no es#uema geral das coisas Não promete compreender o mundo, produ)ir ami)ade ou amor e muito menos tra) uma oerta de redenção 8ovens são atrados para as humanidades, por&m, por#ue sentiram em si mesmos a necessidade de algo mais do #ue a verdade nua e crua e a argumentação racional São atrados por uma necessidade humana primordial, #ue & a necessidade de um rito de passagem, de uma transição para a comunidade A exist'ncia dessa necessidade primordial oi uma das maiores desco"ertas da antropologia rancesa da virada do s&culo ZZ . o #ue rapidamente se tornou claro graças a pensadores como Arnold Van ennep e Claude M&vi2 Strauss & #ue as sociedades modernas não o ornecem Os ritos de passagem, na sociedade p(s2industrial, são incompletos ou inexistentes, e essa & uma das ra)Ges pelas #uais tantas pessoas acham tão dicil escapar da adolesc'ncia A nature)a pueril da arte moderna tal como a praticada por 0amien Iirst e os irmãos Chapman, a sua alienação narcisstica e negação da vida, &, no meu entender, um resultado disso !or&m, um outro resultado, central para a compreensão da vida acad'mica atual, & o triuno da "esteira nas humanidades Ningu&m, no entanto, aprende "esteiraL somos iniciados nela Não & preciso nenhum conhecimento, nenhum dado, nenhuma investigação racional Tudo o #ue se re#uer & a repetição de (rmulas m4ntricas :Tudo o #ue h% & o dese7o e o social e nada mais; >0eleu)e e uattari?L :Não h% hors-te!te; >0errida?L :.b3C ao #uadrado & uma e#uação sexuada; >Fragara?L e assim por dianteP declaraçGes crpticas como essas são invocaçGes com as #uais o estudante & introdu)ido no templo do a"surdo O #ue se lhe est% oerecendo & 7ustamente a#uilo #ue a sociedade circundante sonega, nomeadamente, um rito de passagem Ve7a2se uma sentença como esta >de um ensaio acerca de 0eleu)e?P :A produção social não & uma contração num contnuo hist(rico progressista ou numa linearidade orientada para o su7eito, mas & uma resson4ncia do virtual como uma orça de atração ractal; 1D Tirada do seu contexto essa sentença & um contrasensoL mas o seu contexto, voc' ver%, tam"&m & a"surdo !or outro lado, & 6til reclamar di)endo #ue a sentença não signi*ca nada ou #ue não h% maneira de reutar ou con*rmar o #ue ela a*rma !ois esse & precisamente o o"7etivo dela Ao escrever dessa maneira a autora est% exi"indo suas credenciais de mem"ro do clu"eP ela est% mostrando #ue passou pelo ord%lio de iniciação no #ual a sua mente oi limpada dos 8ud !urdom, :!ostmodernit as a Spectre o the $uture;, em Meith Ansell !earson, ed, 9ele+4e and Philosophy3 The 9iDerence Angineer , Mondon, The !scholog !ress, 1W, p 11E 16
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signi*cados antigos e opressivos e rece"eu a oerta de um modo de pensar novo e mais puro no #ual a verdade não tem vo), assim como o pecado não tem vo) na mente do cristão renascido Se virmos a m(tamerde dessa maneira, duas caractersticas tornam2se imediatamente explic%veisP o ata#ue / verdade e o"7etividade e a constante repetição, como se osse um rerão, de um comprometimento poltico Haudrillard >#ue tem a seu avor o ato de #ue escreve de maneira muito mais clara do #ue seus companheiros de sacerd(cio? enuncia a doutrina undamental do templo explicitamenteP :A ci'ncia explica coisas #ue oram recortadas e omali)adas de antemão de modo a assugurar #ue elas irão o"edec'2la A o"7etividade nada mais & do #ue isso e a &tica #ue vem a sancionar esse conhecimento o"7etivo não & nada mais do #ue um sistema de deesa e ignor4ncia imposta cu7o o"7etivo & manter esse cculo vicioso intacto;1W Ao ler essa a*rmação o estudante ansioso por tornar2se mem"ro do grupo sente um enorme ardo cair dos seus om"ros, como o ardo #ue cai das costas do !eregrino na#uela grande alegoria da vida religiosa escrita por 8ogn Hunan O estudante desco"re #ue não h% o"7etividade, não h% verdade, não h% realidade contra a #ual as suas palavras possam ser medidas e 7ulgadas insu*cientes Agora ele est% livre e desimpedidoP pode adentrar a comunidade do a"surdo 3as #ual & a salvação #ue essa comunidade oerece^ A li"erdade de :alar em lnguas; tem, seguramente, um certo valorL mas em si mesma não & uma consolação duradoura A alma renascida exige solidariedade, imersão em uma causa, o sentido de caminhar lado2a2lado com os companheiros iniciados na indestrutvel alange dos salvos A poltica entra na liturgia como a promessa uni*cadora de redenção, a#uilo #ue mant&m a comunidade unida em desa*o ao mundo Se voc' perguntar por #ue a orientação poltica sempre tem de ser de es#uerda e su"versiva das :estruturas de poder; da ordem "urguesa, da certamente a pergunta, assim conce"ida, responder% a si pr(pria A condição de mem"ro do grupo #ue se oerece ao postulante implica rep6dio = um desa*o da ordem social #ue nunca oereceu nenhum caminho claro de inclusão e #ue não a"ra nenhum espaço ("vio para uma classe acad'mica ociosa Iaver%, & claro, cismas e heresias, exatamente como houve no marxismo, reudismo e em outros movimentos su"versivos dos 6ltimos tempos 3as haver% tam"&m uma postura comum de negação O neg(cio das academias & de*nir2se a si mesmas como um espaço dierente da ordem :"urguesa;, um espaço onde :Simulations;, em Richard +earne e 0avid Rasmussen, eds, )ontinental 2esthetics3 Romanticism to Postmodernism, Oxord, OU!,9YY1, pK1 17
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as velhas hierar#uias, costumes e ritos de passagem não t'm autoridade e para dentro do #ual os 7ovens podem ser recrutados no exato perodo das suas vidas em #ue o recrutamento se torna uma necessidade urgente = uma necessidade #ue vem do sangue .ssa & s( a primeira tentativa de explicação e h%, o"viamente, outros atores #ue in@uenciaram a politi)ação dos departamentos de humanidades no mundo angl(ono1 3as #uero concluir num tom otimista !ois #uando considero a hist(ria da vida intelectual na $rança e me esorço para enxergar a degeneração dos anos sessenta dentro do seu contexto hist(rico integral, não tardo a desco"rir uma mensagem dierente desta so"re a #ual vim escrevendo = uma mensagem de esperança A m(tamerde triunou na academia angl(ona, mas não na $rança, pela ra)ão mesma de #ue a vida intelectual real rancesa & condu)ida, na sua maior parte, ora da academia O veneno oi rapidamente expelido do sistema e seus eeitos morreram com as pessoas #ue o produ)iram .xiste uma maneira de n(s, escritores ingleses, lutarmos contra a "esteira #ue vem destruindo a vida intelectual e trata2se de a)ermos tudo o #ue estiver ao nosso alcance para garantir #ue a vida intelectual aconteça ora da academia e #ue os 7ovens aprendam na universidade #ue não & l% #ue vão encontrar a possi"ilidade de ser participantes de um grupo, mas em lugares onde a cultura, e não a metacultura, prevalece Visto numa perspectiva real, Sartre não era de modo algum anormal Nos grandes dias #ue precederam e se seguiram / Revolução de 1W, a $rança continha muitas *guras compar%veis a eleP escritores para #uem o argumento *los(*co a"strato e a apresentação artstica da heceidade do mundo andavam de mãos dadas !enso em Rousseau, agora conhecido por seus ensaios polticos controversos e pelo livro not%vel das Con*ssGes, mas #ue & muito mais importante por ser o autor po&tico de La :o+velle 1(loise e #ue merece mesmo uma nota de rodap& na hist(ria da m6sica como o compositor de Le 9evin d+ village' !enso em 0iderot, o *l(soo cu7os 7ac*+es le ataliste e La religie+se são dois dos romances mais originais e poderosos do s&culo 1 !enso em 3ontes#uieu, autor *los(*co das "elas Lettres persanes e em Voltaire, o *l(soo #ue desa"aou sua distinta visão de mundo em tanto em peças, poemas, romances e hist(rias como em argumentação racional 3ais tarde, no perodo da reação, a hist(ria se repeteP escritores como Chateau"riand e 3aistre escreveram *loso*a #ue tam"&m era literatura e mostraram #ue se podia compreender a presença do mundo social sem Ver, novamente, Ro"ert rant, op' cit'
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sentir a velha necessidade de destrui2lo Nenhum desses grandes escritores tinha muito #ue ver com a vida acad'micaL todos eles tiveram plena participação na corrente dos eventos contempor4neos e esta"eleceram, entre eles, o padrão para uma literatura independente #ue seria tam"&m um espelho para o mundo Não conseguimos reali)ar nenhum e#uivalente dessa cultura liter%ria no mundo de ala inglesa Na Fnglaterra, o mais pr(ximo #ue chegamos a um genuno *l(soo liter%rio & Coleridge, cu7as o"ras de argumentação são, no entanto, claudicantes e incertas #uando comparadas com a#uelas de seus contempor4neos ranceses tais como Toc#ueville, Chateau"riand e 3aistre 0a mesma maneira TS .liot, #ue, não o"stante ser um poeta re#uintado, nunca teve 'xito em usar sua percepção concreta para desenvolver suas tentativas ocasionais de argumentação *los(*ca, #ue permanecem impereitas e cheias de incerte)a, como em :otes Towards the 9efnition o )+lt+re !or&m, a tentativa oi eitaP na Fnglaterra, por Carlle, 5illiam 3orris, Rus-in e uns poucos outros e por .merson e Thoreau nos .stados Unidos .sses escritores dão testemunho do ato de #ue verdadeiros intelectuais literatos poderiam existir no mundo angl(ono e de #ue não precisariam estar presos numa instituição acad'mica, mas poderiam peram"ular pelas ruas, de "raços dados com suas "elssimas parceiras, como Hernard2Ienri M&v, ou a)er uma pregação desde um trono em um clube da moda ou restaurante como Sartre sem nunca botar os pés em uma
universidade durante toda a vida
Tradução de Alessandro Cota
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