Universidade São Marcos
GILBERTO BAPTISTA CASTILHO
A SEICHO-NO-IE DO BRASIL NO CONTEXTO RELIGIOSO DAS NOVAS RELIGIÕES JAPONESAS: CULTIVO E DIVULGAÇÃO DA PALAVRA
São Paulo 2006
Universidade São Marcos
GILBERTO BAPTISTA CASTILHO
A SEICHO-NO-IE DO BRASIL NO CONTEXTO RELIGIOSO DAS NOVAS RELIGIÕES JAPONESAS: CULTIVO E DIVULGAÇÃO DA PALAVRA
Dissertação
apresentada
ao
Programa
Interdisciplinar em Educação, Comunicação e Administração da Universidade São Marcos, sob a orientação da Prof.ª Dra. Marília G. Ghizzi Godoy com vistas à obtenção do título de Mestre.
São Paulo 2006
i
Dedicatória
Ao meu pai, Darcy Gilberto Castilho ( in memoriam), que foi mestre da vida e legou-me o
amor aos livros.
ii
Agradecimentos
No primeiro contato com a Seicho-No-Ie muitos se admiram pelo valor dado ao agradecimento. A frase “Muito o brigado” toma to ma um sentido profundo pro fundo de reverência a todas to das as coisas e pessoas. Dentro desse sentimento, desejo agradecer a todos que direta e indiretamente colaboraram para a execução deste trabalho. Em primeiro lugar, agradeço a meu pai Darcy (in memoriam) e à minha mãe, Alzira, os quais me proporcionaram a oportunidade de conhecer a Seicho-No-Ie, dando-me suporte emocional, e estendo à família e, em especial, aos amigos que a vida me deu, meus filhos, Gabriel, Daniel e Eduardo pela compreensão da ausência neste período de trabalho. Agradeço ao apoio e incentivo nesta empreitada ao amigo Marsil R. R. Marcondes. Na Seicho-No-Ie sou imensamente grato ao professor Junji Miyaura, que juntamente com Cíntia Alencar foram pessoas primordiais no levantamento de informações. Agradeço a Eduardo Nunes, João Vieira, Fábio Dummer e aos funcionários da livraria da sede central da Seicho-No-Ie pela disponibilidade em fornecer dados para a pesquisa. Sou grato aos professores da Seicho-No-Ie,Osvaldo Murahara pelo incentivo inicial e Heitor Miyazaki pelas informações sobre a história deste movimento religioso no Brasil. Em relação às informações sobre a pedagogia Seicho-No-Ie, devo agradecimento à professora Belisa Ribeiro, da sede central, e à professora Josefa Aparecida Néri Guido, a seu esposo e aos funcionários da Escola Infantil Branca de Neve, de Indaiatuba. Agradeço à atenção e colaboração dos adeptos, preletores e funcionários da Regional Rio Bonito, onde foi nosso local de estudo. Ao final desejo expressar o meu profundo agradecimento à minha orientadora, professora Marília G.G. Godoy. Agradeço-lhe pela confiança, incentivo e exigência para a superação de meus limites. Minha admiração e amizade ficam registradas registradas no meu “Muito obrigado.” obrigado.”
iii
RESUMO A partir do final do século 19 na abertura do Japão ao mundo e sua conseqüente modernização, e imediatamente após a Segunda Guerra Mundial surgiram movimentos religiosos que os estudiosos denominaram de Novas Religiões Japonesas. Esses movimentos religiosos, que resgatam antigas crenças e costumes japoneses dentro de seu cenário religioso com manifestação de traços ocidentais e com caráter universal, expandiram-se e chegaram ao Brasil onde se desenvolveram não somente na colônia japonesa, mas alguns, destacadamente, entre os não-descendentes japoneses. Esses movimentos trazem não só seus conceitos religiosos, como também a cultura e o modo de ser japonês. Entre as Novas Religiões Japonesas este trabalho faz uma reflexão mais aprofundada na Seicho-No-Ie (Lar do Progredir Infinito ou Casa da Plenitude). O poder da palavra torna-se para par a o fiel o meio de expressão de sua religiosidade re ligiosidade e fonte de obtenção o btenção de sua realização. Leituras, práticas recitativas, meditação e discurso otimista formam o cenário onde racionalidade e intuição convivem formando um panorama religioso no qual o adepto se insere e se realiza como ser consciente de sua perfeição divina ( Jisso Jisso). A Seicho No-Ie marca suas particularidades por enfatizar a palavra que se expressa em suas práticas
religiosas, num contexto pedagógico e na sua dinâmica de difusão. Tornou-se única entre as Novas Religiões Japonesas em relação à sua inserção na mídia virtual, além de a representação brasileira ter liderança destacada no movimento mundial desta religião. O estudo aqui apresentado reflete a produção da palavra, sua originalidade, e contextualizações moderna e pós-moderna expressivas do movimento religioso.
Palavras-chave: Novas Religiões Japonesas; Seicho-No-Ie; palavra; orientalização; religião.
iv
ABSTRACT Since the end of the 19 century, in the opening of Japan to the world and its consequent modernization, and immediately after World War II, appeared religious movements that the scholars had called of New Japanese Religions. These religious movements, that rescue old beliefs and Japanese practoces inside their religious scenery with manifestation of occidental traces and universal character, had expanded and arrived in Brazil where they had not only developed in Japanese colony, but some, standing out, among the no descending Japanese. These movements bring not only their religious concepts, as well as the Japanese culture and the way of being. Among the New Japanese Religions this work makes a more deep reflection about Seicho-No-Ie (Home of the Infinite Progress or House of the Fullness). The power of the word becomes for the faithful the way of expression of his religiosity and source of attainment of his realization.. Readings, recitation practices, meditation and optimistical speech form the scenery where rationality and intuition coexist forming a religious handscape where the follower inserts himself and is realized as a conscientious being of his divine perfection (Jisso). The Seicho-No-Ie marks its particularities by emphasizing the word that is expressed in its religious practices, under a pedagogical context and in its dynamics of diffusion. In relation to its insertion in the virtual media it became unique among the New Japanese Religions, besides the Brazilian representation to have detached leadership in the world-wide movement of this religion. The study here presented reflects the word production, its originality and modern and postmoderns expressive contextualizations of the religious movement.
Keywords: Japanese New Religions; Seicho-No-Ie; word; orientalization; religion.
v
LISTA DE TABELAS, QUADROS E FIGURAS Tabela 1: Número de adeptos das NRJ no Censo 2000 ---------------------------------Tabela 2: Registros e participantes das Festividades do Santuário Hoozo ------------Tabela 3: Santuário Hoozo – Registros obtidos e metas da Regional Rio Bonito ---Tabela 4: Média mensal de revistas adquiridas para doação na Regional Rio Bonito Tabela 5: Visitas ao site oficial da Seicho-No-Ie do Brasil -----------------------------Tabela 6: Preletores da Regional Rio Bonito ----------------------------------------------
37 97 97 117 143 161
Quadro 1: Movimentos transplantados do Japão e formação antes da 2ª Guerra Mundial ----------------------------------------------------------------------------------------- 37 Quadro 2: Movimentos transplantados do Japão e formação depois da 2ª Guerra Mundial ----------------------------------------------------------------------------------------- 38 Quadro 3: Movimentos que se formam no Brasil, não seguem uma filiação direta com o Japão e têm formação com raízes japonesas---------------------------------------- 38 Quadro 4: Associações em português (divulgação) externas à Regional Rio Bonito - 151 Quadro 5: Associações em japonês (divulgação) externas à Regional Rio Bonito --- 151 Figura 1: Emblema da Seicho-No-Ie ------------------------------------------------------Figura 2: Site oficial da Seicho-No-Ie do Brasil -----------------------------------------Figura 3: Visão Administrativa da Sede Central -----------------------------------------Figura 4: Visão Administrativa e Doutrinária na Sede Central ------------------------Figura 5: Visão Administrativa e Doutrinária da Regional -----------------------------Figura 6: Estrutura e Divulgação pela Sede Central --------------------------------------
128 141 153 153 154 155
vi
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------- ---- 02 CAPÍTULO I – AS NOVAS RELIGIÕES JAPONESAS---------------------------- 11 1. – Influências religiosas na cultura japonesa: panorama histórico ------------- 15 1.1 – Xintoísmo (Shintô): a mais antiga religião ------------------------------ 15 1.2 – Budismo ( Bukkyô) --------------------------------------------------------- 19 1.3 – Confucionismo ( Jukyô) e Taoísmo ( Dôkyô) ---------------------------- 20 1.4 – Crenças Populares ( Minkan-Shinkô) ------------------------------------- 23 1.5 – Cristianismo ( Kirisutokyô) ------------------------------------------------ 24 2. – Novas Religiões Japonesas (Shin-Shûkyô) ------------------------------------ 25 2.1 – Origem das NRJ no Japão e suas propostas de transformação do mundo ----------------------------------------------------------------------------------------- 26 2.2 – Expansão e caracterização do contexto religioso das NRJ ------------ 29 2.3 – Desenvolvimento das religiões japonesas no Brasil-------------------- 33 2.4 – As NRJ e o contexto religioso brasileiro -------------------------------- 41 3. – Nova Era: a porta de entrada das religiões orientais ------------------------- 44 3.1 – Origens e influências ------------------------------------------------------ 45 3.2 – Visões da Nova Era -------------------------------------------------------- 48 3.3 – Marcos da Nova Era no mundo------------------------------------------- 53 3.4 – Nova Era no Brasil --------------------------------------------------------- 53 3.5 – Nova Era e as Novas Religiões Japonesas ------------------------------ 55 CAPÍTULO II – ORIGENS, FUNDAMENTOS E EXPANSÃO DA SEICHO-NO-IE ---------------------------------------------------------------------------------------- 57 1. – A vida de Masaharu Taniguchi: a revelação da palavra e a formação das bases religiosas ---------------------------------------------------------------------------- ---- 58 2. – Fundamentos da religiosidade -------------------------------------------------- 63 2.1 – Bases hegelianas da doutrina --------------------------------------------- 64 2.2 – O caráter de unicidade e diversidade no pensamento religioso ------- 66 2.3 – Erro e moralidade: a inexistência do pecado ---------------------------- 68 2.4 – Cosmovisão espiritualista ------------------------------------------------- 70 2.4.1 – A estrutura do homem --------------------------------------------- 71 2.4.2 – Entendendo o fenomêno ------------------------------------------ 72 3. – Subjetividade e valores religiosos ---------------------------------------------- 75 3.1 – O sentido da gratidão ------------------------------------------------------ 75 3.2 – Meditação Shinsokan: o caminho para o despertar--------------------- 77 3.3 – Culto aos antepassados: o elo eterno------------------------------------- 81 4 – Tendências universalistas da Seicho-No-Ie ------------------------------------ 82 5. – Desenvolvimento da Seicho-No-Ie no Brasil --------------------------------- 85 CAPÍTULO III – A PALAVRA E SUA DIREÇÃO ESPIRITUAL --------------1. – A palavra e o sagrado-----------------------------------------------------------1.1 – A natureza sagrada do poder divino da palavra------------------------1.2 – A palavra e as cerimônias -------------------------------------------------
88 90 92 95
vii 2. – Leituras do caminho sagrado --------------------------------------------------3. – A palavra e a educação ---------------------------------------------------------3.1 – A palavra na educação infantil ------------------------------------------3.2 – Aprimoramento espiritual num processo educacional -----------------
100 101 102 103
CAPÍTULO IV – O PATRIMÔNIO ESCRITO--------------------------------------1. – Obras de Masaharu Taniguchi -------------------------------------------------1.1 – Revista Seicho-No-Ie: o início-------------------------------------------1.2 – A Verdade da Vida: a obra fundamental -------------------------------2. – Representações e ordenações das obras --------------------------------------2.1 – No universo das revistas--------------------------------------------------2.1.1 – Revista Fonte de Luz --------------------------------------------2.1.2 – Revista Pomba Branca -------------------------------------------2.1.3 – Revista Mundo Ideal ---------------------------------------------2.2 – Imprensa -------------------------------------------------------------------2.3 – Literatura segmentada ----------------------------------------------------2.1.1 – Literatura infantil -------------------------------------------------2.1.2 – Literatura jovem --------------------------------------------------2.1.3 – Literatura feminina -----------------------------------------------2.1.4 – Literatura sagrada ------------------------------------------------2.4 – Temas doutrinários --------------------------------------------------------2.5 – Outros meios de divulgação ---------------------------------------------3. – Expansão da palavra: A imagem pública -------------------------------------3.1 – O Emblema da Seicho-No-Ie --------------------------------------------3.2 – Projeção pública da marca religiosa -------------------------------------
106 107 107 112 115 116 117 120 121 121 122 122 123 124 124 126 126 127 128 129
CAPÍTULO V – A PALAVRA E O SEU PODER NA ATUALIDADE: NOVOS HORIZONTES ---------------------------------------------------------------- ------1. – Espaço da mídia oral------------------------------------------------------------2. – A palavra e a televisão ---------------------------------------------------------3. – A religião e a rede virtual ------------------------------------------------------4. – Poder, organização e difusão --------------------------------------------------4.1 – Estrutura para divulgação ------------------------------------------------4.2 – O humano na palavra: a preparação do recurso ------------------------4.3 – Preletor: a presença da pedagogia e do professor ----------------------
134 135 136 139 143 144 157 158
CONCLUSÃO --------------------------------------------------------------------------- ---- 165 BIBLIOGRAFIA --------------------------------------------------------------------- ------- 169 ANEXOS------------------------------------------------------------------------------- ------- 176 I. – Glossário ------------------------------------------------------------------- ------- 176 II. – Depoimentos --------------------------------------------------------------------- 188 III. – Normas Fundamentais dos Praticantes da Seicho-No-Ie ------------------- 191 IV. – Palavras de Sabedoria para a Educação das Crianças ---------------------- 192 V. – Canções da Seicho-No-Ie------------------------------------------------------- 193 VI. – Emissoras de TV que transmitem o programa da Seicho-No-Ie ---------- 210
viii VII. – Locais de Reuniões da Seicho-No-Ie---------------------------------------VIII. – Coleção A Verdade da Vida (Seimei no Jisso) ---------------------------IX. – Livros Infantis -----------------------------------------------------------------X. – Sutra Sagrada “Chuva Néctar da Verdade” ---------------------------------XI. – Fotos ------------------------------------------------------------------------- ----
212 221 223 224 240
Academia Espriritual de Ibiúna
A SEICHO-NO-IE DO BRASIL NO CONTEXTO RELIGIOSO DAS NOVAS RELIGIÕES JAPONESAS: CULTIVO E DIVULGAÇÃO DA PALAVRA
Quadro do Jisso (Imagem Verdadeira)
Emblema da Seicho-No-Ie
Não é possível conhecer a Verdade através da inteligência cerebral. Não é algo que possamos obter buscando intelectualmente, pesquisando, discutindo, debatendo sobre isso. A Verdade não se encontra numa violenta tempestade nem numa chama que arde com furor. Ela se manifesta do fundo da alma, como um som sublime e suave, quase inaudível, que sentimos na quietude, no leve sussurro da alma. Masaharu Taniguchi
2
INTRODUÇÃO Este trabalho visa a refletir sobre um fenômeno que vem sendo evidenciado nos censos demográficos. Integrando-se à diversidade religiosa no Brasil, aparece um grupo de religiões de origem japonesa que se expande cada vez mais. Este crescimento destaca-se a partir da década de 1970, e de forma marcante retrata a presença de adeptos nãodescendentes de japoneses. Este grupo de religiões japonesas foi denominado por estudiosos como Novas Religiões Japonesas - NRJ. Esta dissertação está voltada a entender como as NRJ constroem um espaço de aceitabilidade para pessoas não descendentes de japoneses na criação de um universo expressivo de comunicação. Este universo tem-se ampliado e atraído um público simpatizante cada vez maior em razão dos temas tratados. Deve-se considerar que neste cenário encontram-se culturas contrastantes: religiões de procedência oriental japonesas e seu público que, via de regra, é de egressos do catolicismo brasileiro. Em relação ao sincretismo, este trabalho baseia-se nas idéias deste conceito conforme Ferretti. Para esse autor a noção de sincretismo apóia-se num universo de significação e compreensão simbólico com que o grupo social incorpora valores. Esta idéia recusa as antigas visões de ver o sincretismo cultural um universo de natureza essencialista da cultura dando prioridade ao universo relacional em que os enfrentamentos sociais ocorrem. Este estudo não está voltado somente ao registro dos aspectos de religiosidade e das crenças que fazem sentido no contexto de valores religiosos de origem japonesa. Pretendese, igualmente, verificar como tais valores, oriundos do mundo cultural oriental, tornam-se um atrativo para apoiar uma adesão de religiosidade e permitem compreender a dinâmica do sincretismo. As NRJ surgiram no Japão nos meados do século XIX, abrangendo a era Meiji (1868-1912) e, acentuando-se imediatamente após a 2ª Guerra Mundial. As NRJ, também denominadas Shin-Shûkyô, expressam um movimento de renovação de valores de espiritualidade tradicional no momento de modernização da nação japonesa.
3 O caráter de modernização que caracterizou a época do surgimento destas novas religiões indica uma tendência para aspectos da vida material, das influências técnicas e do estilo de vida marcado pelo consumo e pelo individualismo, características de um processo de ocidentalização peloqual o Japão passou ao abrir-se, em sua modernização, à cultura de outros países do Ocidente. Nesta dinâmica, a valorização das crenças tradicionais e a edificação das NRJ ganharam um sentido étnico no Japão moderno. Neste trabalho, esse sentido étnico está voltado aos valores tradicionais, mas adaptados e não conflitantes com os modernos, e deste modo o sincretismo - que permeia suas doutrinas e uma posição conciliatória com as demais religiões - permite a assimilação dos novos valores e a universalização de seus ensinamentos. Assim, as NRJ expandem fronteiras para locais onde as raízes culturais possam estimular novas adesões num processo de transnacionalização da religião. Foi esta a demanda que ocorreu no Brasil. Para realizar este estudo escolheu-se, dentro desse grupo, uma das religiões que têm grande aceitação entre os brasileiros: a Seicho-No-Ie. A Seicho-No-Ie foi fundada no Japão por Masaharu Taniguchi em 1929, tendo projeção social no lançamento, com recursos próprios, da revista “Seicho-No-Ie”, em 1º de março de 1930, que começou a ser redigida em 1929. Tornou-se marcante, na força desse movimento religioso, o fato de seu fundador ter tido influências religiosas e culturais tanto de seu país como do Ocidente. A dinâmica do movimento ficou seriamente comprometida, dando-lhe características filosóficas e científicas. O perfil do fundador ao permear seu movimento religioso, imprimiu-lhe uma postura religiosa educativa em que práticas espirituais convivem numa atmosfera de estudo através de uma gnose que procura conciliar razão e religião. As influências sobre Masaharu Taniguchi, aliadas ao sincretismo próprio das NRJ, fizeram com que a Seicho-No-Ie abrangesse vários assuntos dentro de uma linha doutrinária, sobretudo em seu expansionismo, mobilizado para esclarecer a essência de todas as religiões. Trata-se de uma visão universalista que acompanha as NRJ, em contraposição às religiões tradicionais do Japão. Os estudiosos da Seicho-No-Ie também registram o caráter fundamental desta religião, ao criar a visão do homem, filho de Deus. Nesta perspectiva há uma ênfase na natureza divina do homem, visto como aquele que possui o poder de criar no mundo as
4 melhores condições de expressão do modelo divino, chamado de Jisso, no qual o homem também se insere. O significado do termo Jisso constitui na doutrina de Masaharu Taniguchi a sua premissa básica. Ele consiste no aspecto real ou na imagem verdadeira, como hoje o termo é conhecido, e expressa a verdadeira essência do homem e de todos os seres. No Brasil o processo de expansão religiosa ocorreu inicialmente no interior da colônia japonesa, mas após a década de 1950 difundiu-se entre os brasileiros. Teve sua maior divulgação a partir da década de 1970, quando aumentou a afluência de descendentes não-japoneses. A origem universalista da Seicho-No-Ie e seu caráter de essencialismo unindo as religiões impõem-se como o tema de ser essa religião “uma filosofia”, algo como seu fundador sempre a definiu. Os estudiosos consideram valiosa esta representação para elucida as questões a ser discutidas. Ao lado dessas tendências é notável uma aproximação da Seicho-No-Ie com seus adeptos, como prática e estudo. Tem-se mesmo a impressão de uma dimensão pedagógica que se insere na demanda religiosa. Há uma programação intensa de seminários, encontros, cursos e reuniões de estudos. Estas formas de concentração engendram muita atenção e exercício intelectual dos membros que se vêem irmanados no ambiente das leituras e de exercícios espirituais. O pólo representado por uma forma específica de educação complementa o caráter pedagógico expresso. Destaca-se como representação da compreensão religiosa o uso da palavra. A principal obra literária de Masaharu Taniguchi, a coleção “A Verdade da Vida” (Seimei no Jisso), é um caminho de transmutação e de veneração de idéias para aqueles que se vêem na prática da palavra. Derivando do tema palavra-educação, revela-se a questão conhecida como orientalização da cultura. O novo adepto, ao entrar em contato com uma NRJ, encontra mais que um universo religioso - toda uma cultura japonesa. Sua busca religiosa volta-se para o entendimento dos símbolos, valores e costumes de uma realidade diferente da sua. Assim se processa a orientalização que perspassa costumes e valores e tem na palavra, através de discurso, participação e leitura, o seu grande foco de identificação e inserção neste novo mundo cultural-religioso.
5 Nesta perspectiva de acolhimento do adepto, valores da cultura japonesa são cultivados nas NRJ, onde a Seicho-No-Ie se inclui. Sabe-se através de estudos realizados por Ruth Benedict e Leila Marrach Bastos de Albuquerque, que a cultura japonesa tem como centro: hierarquia, obediência, valores morais, reverência à natureza, supremacia da mente sobre o corpo, apreço à educação, capacidade de ação comunitária, de paciência, constância e dedicação ao trabalho. Diante desses valores, ao estudar essa religião é pertinente abordar como esse universo envolve e se impõe aos brasileiros, adeptos da cultura japonesa pela via religiosa descrita. A obra, elaborada durante a Segunda Guerra Mundial, segundo a visão culturalista de antropologia indica caminhos para esclarecimento do modo japonês que é absorvido e aceito por adeptos não-japoneses, os quais formam a maioria dos crentes. Ruth Benedict é um importante referencial para situar o caráter e o pensamento que são visíveis no uso da palavra, como serão analisados. As Novas Religiões Japonesas, ao fazerem parte do cenário religioso e cultural do Brasil, trazem suas características que, ao se adaptarem ao novo meio, tornam-se atrativas aos brasileiros. A questão central deste trabalho é entender como a Seicho-No-Ie e as NRJ criam um espaço onde os não-descendentes de japoneses assimilam novos valores através do uso da palavra. Acredita-se que um processo educacional focado nas possibilidades e aplicabilidades do uso da palavra possa situar os adeptos num universo religioso pretensamente oriental, conseguindo ser efetivo numa proposta de transformação da pessoa , preparando-a para uma cultura em que se insira mediante uma convicção de verdade. A Seicho-No-Ie apesar do seu forte sincretismo, próprio das NRJ, e suas iniciativas de aproximação da cultura e religiosidade brasileiras, mantém intacta a base que sustenta sua identidade e doutrina, que é o legado de Masaharu Taniguchi - seu patrimônio escrito no qual estão valores de sua origem japonesa. O sincretismo poderia, numa primeira análise, ser um elemento que “ameaçasse” as bases dessa doutrina, mas, ao contrário, contribui adicionando elementos num “corpo” que se mantém íntegro. A obra literária de Masaharu Taniguchi, sacralizada junto aos fiéis pela atribuição de seu caráter revelador e divino, mantém a doutrina da Seicho-No-Ie permeada pela cultura e religiosidade do Japão, quando exprime elementos como a crença na perfeição divina
6 ( Jisso), a purificação, a supremacia da mente sobre o corpo e o ambiente, o valor do sentimento de gratidão, e principalmente, a atribuição de poder no uso da palavra. Neste contexto, o modelo de perfeição, em que a palavra se torna meio e fim a serem preservados, trata-se de um núcleo gerador da própria autenticidade religiosa. As explicações sobre a forma como as NRJ e a Seicho-No-Ie criam um espaço cultural de religiosidade e envolvimento dos adeptos, poderão ser mais bem compreendidas a partir de um local de referência para estudo deste movimento religioso. Escolheu-se a Regional Rio Bonito, um dos lugares de reuniões e eventos da Seicho-No-Ie situado na região sul da cidade de São Paulo. O histórico deste local remonta a 22 de maio de 1981, quando os responsáveis pelas reuniões para descendentes de japoneses e no idioma japonês da Regional Santo Amaro compraram o terreno onde hoje é a sede. A comissão para a construção foi instalada em 9 de junho de 1984 e a inauguração da regional aconteceu em janeiro de 1986. Desde essa época esse local serviu de meio de congregação de fiéis e simpatizantes da Seicho-No-Ie, entre descendentes e não-descendentes de japoneses. As dinâmicas próprias e conjuntas destes dois grupos - com reuniões, seminários, cursos, campanhas de divulgação na região, festividades e atendimento individual aos que procuravam ajuda para solução de seus problemas - permitiu a conquista de adeptos e o fortalecimento desse centro para a difusão desse movimento religioso. Durante dois anos o autor desta pesquisa observou sistematicamente as práticas religiosas empregadas nesse local. Sabedor de que os eventos desenvolvidos valorizam o idioma e representações próprias do meio originário japonês e que foi preciso criar adequações para o novo público, ele reconheceu que o trabalho ficou mais comprometido com a freqüência às reuniões voltadas à divulgação em português. Este estudo levou em conta, em primeiro lugar, uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, que contemplou trabalhos acadêmicos e a literatura confessional. Quanto às religiões japonesas, é importante e esclarecedora a obra de Ronan Alves Pereira, que possui uma grande e conceituada produção sobre o assunto. Hiranclair Rosa Gonçalves, em suas duas teses de mestrado defendidas na PUC, retrata dados fundamentais e esclarecedores sobre outras NRJ, a Messiânica e a Perfect Liberty (PL). No tocante à transmissão da cultura japonesa pelas religiões e ao estudo do perfil do adepto, será
7 utilizada a produção de Andréa G. S. Tomita e Geraldo José de Paiva. O professor Koichi Mori e seus estudos também são fontes importantes para o estudo proposto. Em relação à cultura japonesa, para entendimento da visão nipônica do mundo destacam-se: Hitoshi Oshima, que abordou o pensamento japonês; Edmond Rochedieu, com sua obra sobre o xintoísmo, e Ruth Benedict, com seu estudo sobre os padrões da cultura japonesa. No estudo acadêmico sobre a Seicho-No-Ie existem poucos trabalhos desenvolvidos. No Brasil só foram encontradas três dissertações de mestrado, sendo que a pioneira foi a de Takashi Mayeama, em 1967, abordando o imigrante japonês com suas dificuldades de adaptação e a religião dentro da colônia. Através da sociologia da religião o autor classificou a Seicho-No-Ie e mostrou-a como um movimento religioso que preserva o patrimônio étnico-cultural, além de abordar a tensão entre “derrotistas” e “vitoristas” sobr e a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial. A segunda dissertação foi a da profª Leila Marrach Basto de Albuquerque que, ao dar continuidade ao trabalho de Mayeama, abordou a visão dessa religião na sociedade brasileira em “Seicho-No-Ie: um estudo da sua penetração entre os brasileiros”. Até o momento desta pesquisa, é dela o único livro acadêmico sobre esse movimento religioso: “Seicho-No-Ie do Brasil: agradecimento, obediência e salvação.” A terceira dissertação é de Ediléia Mota Diniz, que trata da relação de poder existente na Seicho-No-Ie do Brasil em “Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil”, onde analisa o modelo de poder familiar, patriarcal, carismático e burocrático que tem, fundamentalmente, no discurso e na retórica, os meios de reprodução e perpetuação do legado do fundador desse movimento religioso. Em temas relativos à religiosidade ressaltou-se um autor destacado e que constará deste estudo: Mircea Eliade e, em especial ao sincretismo religioso, baseou-se nas obras de Sérgio F. Ferretti e Roberto Da Matta. Em seguida foram coletadas informações estatísticas e de produção variada concernentes ao tema em diversas fontes, tais como: periódicos, coleções, publicação de censos e sites na Internet. Teve-se que recorrer à Superintendência de Comunicação da sede central da Seicho-No-Ie para a obtenção dos dados relativos à inserção religiosa na mídia.
8 Esta pesquisa conseguiu informações sobre a atuação desse movimento religioso no rádio, televisão e Internet. Como resultado elaborou-se um capítulo relativo à mídia. A terceira abordagem adotada foi o estudo dos livros da Seicho-No-Ie. Atualmente a produção em língua portuguesa está em torno de 200 itens, que em sua maioria são do fundador Masaharu Taniguchi. Existe uma diversificação tanto na segmentação de público quanto de temas abordados. A importância dada a essa obra literária, dentro do contexto da doutrina e na dinâmica da inserção do adepto a esse meio religioso, constitui por si motivo de análise. A quarta iniciativa indica uma observação participante. Trata-se do estudo das atividades e dinâmicas no local citado como referência, a Regional Rio Bonito, na periferia, da zona sul de São Paulo, com uma população, em sua maioria, proveniente da classe média. É chamada de Regional na ordenação por responder diretamente à organização central, a matriz; e tem como objetivo, além da difusão da doutrina, incentivar a criação e manutenção de locais de divulgação denominados associações, dando-lhes todo o apoio organizacional e doutrinário. Tal estrutura está implícita numa hierarquia complexa que completa a estrutura organizacional deste movimento. Esse local se destaca pela intensa rotina de trabalhos religiosos compreendida por pautas de reuniões, cursos e discussões de obras. Realizaram-se entrevistas com membros e seguidores desta religião no lugar de pesquisa acima citado, com o objetivo de entender como os adeptos constroem os significados da religiosidade. Nesta abordagem metodológica devem-se mencionar as experiências da vida pessoal do pesquisador. Desde a adolescência na década de 1970, na zona leste, periferia de São Paulo, ele via seus pais com os demais vizinhos se dirigirem às reuniões da Seicho-No Ie, que começava a ter uma expansão significativa na sociedade brasileira. As experiências
e os novos valores difundidos nesses encontros reverberavam em suas mentes, e assim eles compartilhavam e aprendiam sobre a palavra tendo presente um universo de valores que se configuravam em suas experiências. A participação do pesquisador nos cursos, seminários, cerimônias e festividades constituiu experiências significativas que serviram de referencial para este trabalho. A aprendizagem e convívio disciplinado nos encontros tornaram rumos de uma reflexão contínua que agora pode ser traduzida em termos desta pesquisa.
9 Diante destas questões, deu-se um rumo ao conteúdo dos capítulos a seguir. No capítulo I – As Novas Religiões Japonesas, o objeto de estudo constituiu nessas religiões em que se insere a Seicho-No-Ie. Procurou-se abordar, dentro do histórico e características que lhe são inerentes, os elementos facilitadores da inserção das religiões deste grupo que tiveram sucesso na sua expansão em países ocidentais. Simultaneamente à abordagem sobre as Novas Religiões Japonesas procurou-se mostrar a cultura e o pensamento japoneses que permeiam toda a manifestação religiosa deste povo, e assim fornecer subsídios necessários à compreensão da Seicho-No-Ie e sua atuação. Fixou-se a atenção no panorama brasileiro e em suas particularidades, que foram e ainda são facilitadoras deste fenômeno religioso. Destaca-se também a compreensão da Nova Era, um movimento que começou na década de 1960 e facilitou o movimento de orientalização. No capítulo II – Origens, expansão e fundamentos da Seicho-No-Ie, teve-se como finalidade caracterizar o objeto deste estudo, a Seicho-No-Ie: um movimento religioso japonês derivado da religião Oomoto. Neste sentido, pretendeu-se ordenar o histórico, o desenvolvimento, e posteriormente a difusão de ensinamentos no Brasil, em particular aos não-descendentes de japoneses. Foram vistos os pontos principais de sua doutrina, e dentro deles, aqueles que facilitam seu entendimento e aceitação pelos brasileiros, assim como mostrar os pontos relativos à religiosidade e à cultura japonesas. No capítulo III – A palavra e a sua direção espiritual, examinou-se a importância da palavra na doutrina da Seicho-No-Ie, e o uso da palavra como objeto de poder transcendental e doutrinário. Abordaram-se as suas práticas espirituais e a importância que dá à educação, evidenciada na pedagogia de Masaharu Taniguchi. A partir do uso da palavra pretendeu-se exibir a ordenação de um universo de valores que se tornou central diante de uma projeção desta religião. No capítulo IV – O Patrimônio Escrito, enfatizou-se a produção escrita da Seicho No-Ie e a imagem pública por ela produzida. Mostrou-se como as obras literárias tornam-
se o foco principal de difusão e práticas espirituais, com destaque para as de Masaharu Taniguchi que, com sua formação e influências recebidas, imprimiu como uma característica principal a sua posição pedagógica ao movimento. Destacou-se a segmentação de público existente nas NRJ, presente nas publicações da Seicho-No-Ie. O
10 caráter sagrado atribuído à obra de Masaharu Taniguchi dentro desse movimento religioso tornou-se um marco certo de reflexões. No capítulo V – A Palavra e o Poder na Atualidade: Novos Horizontes - o último, a atenção se voltou aos novos meios de comunicação que a Seicho-No-Ie passou a utilizar e que a deixaram mais visível e difusa no cenário religioso brasileiro, lembrando ser ela a única em seu grupo, o das NRJ, a ter tal visibilidade. Nessa nova dinâmica foram abordados os efeitos das novas mídias em sua estratégia de divulgação e aspectos doutrinários, já que uma religião e sociedade estão sempre num processo dinâmico de mútua influência. Diante dessas considerações, esta dissertação pôde-se refletir sobre o espaço de valores culturais orientais introduzidos na cultura brasileira. Eles definem um público moldado por uma das NRJ que conseguiram mobilizar um espaço de reflexão da palavra, que ficou expresso para os adeptos como uma filosofia. A projeção da palavra como marca da identidade coletiva e expressão da religiosidade foi um meio de esse movimento inserir-se na atualidade. Seguindo sua própria gênese, a Seicho-No-Ie foi recriada para compreender a essência humana inserindo-a como reflexão para seus adeptos. Esta reflexão tomou o rumo de uma consideração filosófica, pois os fiéis constantemente retratam-se como filiados a uma “filosofia de vida”.
11
CAPÍTULO I - AS NOVAS RELIGIÕES JAPONESAS Neste capítulo o intuito é entender as Novas Religiões Japonesas, e para tanto há a necessidade de conhecer as principais tradições religiosas do Japão1, onde esse grupo se insere. Ao analisar as NRJ vê-se que elas dentro das características da religiosidade nipônica, não foram contra nenhuma das religiões tradicionais, estabelecendo um sincretismo próprio do caráter religioso japonês. Em relação ao sincretismo que existe de forma marcante neste grupo religioso, o entendimento deste fenômeno faz-se necessário para uma análise desses movimentos. O termo sincretismo surge para afirmar significados religiosos que são interpretados nos meios onde eles se manifestam. Ferretti faz um balanço dos principais usos e sentidos desse termo. 2 Junção
= União
Confluência Associação
Aglutinação Simbiose, Mescla
Fusão
= Ligação
Fusão social
(Mistura) (Junção)
Mistura
= Amálgama
Caldeamento Cruzamento
Hibridação (Junção)
Paralelismo
= Semelhança
Equivalência Lado a lado
Correspondência
Justaposição
= Sobreposição
Aproximação
Convergência
= Reunião
Concentração
Contigüidade (Junção) Confluência
Adaptação
= Acordo
Acomodação
Concordância harmoniosa
Entende-se, como Ferretti, que nem todos os significados acima estão sempre presentes, mas é necessário identificá-los em cada circunstância que se expressa e, para
1 2
PEREIRA, Ronan Alves Possessão por Espírito e Inovação Cultural , pp. 23-28. FERRETTI, Sérgio F. Repensando o Sincretismo: Estudo sobre a Casa das Minas, p. 90.
12 uma melhor análise, o autor estabelece três variantes3 a partir de um caso hipotético de nãosincretismo: 0 – separação, não-sincretismo (hipotético); 1 – mistura, junção, ou fusão; 2 – paralelismo ou justaposição; 3 – convergência ou adaptação. Antes de mostrar as características principais das religiões estabelecidas no Japão, é importante iniciar este estudo sabendo, de acordo com Rochedieu, quais os fatores que exerceram papel preponderante no desenvolvimento das religiões japonesas: a) a antiga cultura indígena do povo japonês; b) o budismo, que, vindo da China, penetrou n o Japão através da Coréia, a partir do século VI d.C., e que era um budismo fortemente impregnado pela cultura chinesa; c) a cultura chinesa, em particular o confucionismo e o taoísmo, que não só trouxeram ao Japão valores espirituais e artísticos incomparáveis, como ainda modelaram sob muitos aspectos a alma japonesa. 4
Para contextualizar as NRJ no panorama religioso japonês, dentro de um período que possa dar o entendimento necessário, faz-se, com base em Rochedieu, um breve resumo sobre a história do Japão desde a sua origem até imediatamente após a 2ª Guerra Mundial. Do Japão pouco se sabe antes dos séculos IV e V d.C. Nesta época surgiu a escrita japonesa com os caracteres ideográficos chineses. O documento escrito mais antigo da história japonesa é o Kojiki (Anais das Coisas Antigas), datado de 712 d.C., ainda na língua turaniana, pertencente à família lingüística japonesa. Na tradição oficial, o primeiro imperador foi Jimmu Tennô, no século VII a.C. Teria ele partido da ilha de Quixu e conseguido conquistar a planície de Yamato e a zona central do Japão, realizando a unidade política e fundando o império japonês em 660 a.C. Esta data é comemorada como festa oficial, apesar de alguns historiadores discordarem desse fato, situando a fundação do Japão no século II a.C. ou no início da Era Cristã.
3 4
FERRETTI, S. F. Repensando o Sincretismo: Estudo sobre a Casa das Minas, p. 91. ROCHEDIEU, Edmond Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, pp. 45-46.
13 Dados arqueológicos comprovam achados que permitem remontar ao ano de 500 a.C., quando o país estava ocupado pelos ainus, no norte da ilha de Hocaido, considerados um ramo da raça branca ou, mais provavelmente, que descendam do povo autóctone do Japão. Os ainus atualmente encontram-se dispersos na ilha de Hocaido (Japão) e ilhas Curilhas e Sacalina (Rússia). Em documentos escritos existe a distinção entre várias épocas na história do Japão. A primeira foi lendária e mítica e se encerrou com o aparecimento do primeiro imperador, Jimmu Tennô.Em seguida houve a instauração do poder imperial, quando se fundou o antigo Japão tendo Nara como capital, em 710 a.C., com seu centro difusor, a província de Yamato. Neste período o regime social era patriarcal, existindo clãs e possuindo cada um, o seu chefe e o seu antepassado comum, e estava incorporado a essa estrutura o kami (deus) do grupo. O clã correspondia à forma da estrutura social que também ordenava seus próprios artífices e escravos. A importância do clã era tão relevante que, como exemplo, o primeiro imperador foi chefe de um desses grupos. A hereditariedade não era só reservada à dinastia imperial, como também a esses clãs. Desse modo, essas famílias têm importância fundamental na compreensão da história do Japão. Em relação ao período do antigo Japão é interessante saber que os soberanos que sucederam a Jimmu Tennô, durante mil e duzentos anos se esforçaram para consolidar sua obra de unificação do Japão. Existe um fato importantíssimo ocorrido nesse período e marcante na história do Japão: nos meados do século V, como resultado da disseminação da cultura chinesa no Japão foi adotada a escrita chinesa e deste modo, somente a partir dessa época é que o japonês pôde registrar em documentos a sua história e o seu pensamento. É válido ressaltar que enquanto os ideogramas chineses por si expressam as idéias, objetos e relações, na adaptação à língua fonética japonesa a pronúncia teve uma grande importância. A partir da necessidade de se ter menos caracteres, mas indicando a pronúncia que faz distinguir a idéia ou objeto em questão, surgiram dois sistemas de escritas para o idioma japonês. No período compreendido entre o século VI da Era Cristã e o fim da 2ª Guerra Mundial, têm-se de acordo com vasta documentação, seis períodos distintos na história japonesa:
14 De 552 a 794 denominou-se período budista. O budismo entrou no Japão em 552, vindo da China pela Coréia. O príncipe que favoreceu sua expansão, bem como a própria cultura chinesa, foi Shotoku Taichu (595-621). Essa atitude refletiu na reforma de administração e de instituições com base no modelo chinês. Este período terminou no final do século VIII e no florescimento da primeira capital do país, Nara. De 794 a 1615 houve o estabelecimento do xogunado . Aconteceu neste período a transferência da capital para Quioto, e no decorrer do século IX e princípio do X houve um enfraquecimento da autoridade imperial em proveito das grandes famílias, sendo a Minamoto a que viria tomar o poder em 1815, inaugurando o regime dos xóguns. De 1615 a 1868 estabeleceu-se a era Iedo . O xogunado, que se tornou hereditário com a família Tokugawa, transformou Iedo, atual Tóquio, em capital do país. O país enfrentava um regime feudal e adotou uma posição isolacionista cultural e comercial. Neste período, em 1853, o comodoro americano Perry foi autorizado a desembarcar e em 1859 foi assinado um tratado com os Estados Unidos. Em 1868 ocorreu a restauração do poder imperial. Este período caracterizou-se pela recuperação do poder pelo imperador Mutsuhito, que adotou o nome de Meiji (governo iluminado). Aconteceu a transferência da capital de Quioto para Tóquio. Iniciou-se a modernização do Japão e, conseqüentemente, a sua abertura para as influências externas. As eras Taixô e Xôwa . Com a morte do imperador Meiji em 1912, assumiu o poder o imperador Taixô que faleceu em 1926, sendo seu sucessor o imperador Hiroito. Nesse período o Japão assumiu grande importância no cenário mundial, que se encerrou quando de seu envolvimento na 2ª Guerra Mundial, após sofrer com duas bombas atômicas a sua rendição. Em 3 de novembro de 1946 foi promulgada uma nova Constituição. O fato mais relevante nesta Carta Magna japonesa foi a instauração do regime democrático e a perda das prerrogativas imperiais pelo imperador, na época, Hiroito. É dentro deste contexto histórico que se pode situar os principais movimentos religiosos no Japão, os quais estão presentes nas raízes das novas religiões.
15
1. Influências religiosas na cultura japonesa: panorama histórico A religiosidade no Japão está presente em seus mitos de criação, na identidade de seu povo e na vida social desse povo. O cenário religioso japonês é composto de diversas tradições religiosas, nativas e estrangeiras. Esses componentes formam um universo diversificado, ativo e contraditório, que se recria e enriquece numa dinâmica própria.
1.1. Xintoísmo (Shintô ): a mais antiga religião O xintoísmo, conforme Ronan Alves Pereira,5 é a mais antiga tradição religiosa do Japão e considerada uma religião autóctone e de origens obscuras. Na sua constituição pode-se dizer que possui elementos nativos (cultos de elementos da natureza, animismo) e de estrangeiros (budistas, taoístas, confucionistas). Como religião tem suas cerimônias e seus cultos, mas diferentemente de outras não possui data de fundação, fundador, e nem um livro sagrado próprio. O termo Shintô começou a ser utilizado no Japão para distinguir crenças autóctones perante o budismo e o confucionismo. Rochedieu elucida: “O termo xintô, a „via dos deuses‟, adaptado do chinês xin-tao, só tardiamente foi criado, no século XI, para distinguir, do budismo importado da
China e da Coréia, o conjunto dos cultos e crenças indígenas. Os próprios japoneses não deram grande uso ao termo e preferiram a expressão kami-no-michi, cujo significado é idêntico.” 6 A criação do termo Shintô, acima citado, é um exemplo que mostra, como disse Hitoshi Oshima7, que o xintoísmo como religião apareceu depois da introdução do budismo no Japão. O xintoísmo pode-se apresentar sob vários aspectos8:
5
PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , pp. 23-24. ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, p. 55. 7 OSHIMA, H. O pensamento japonês. 8 ROCHEDIEU, E. Op.cit., p. 55 . 6
16 a)
O xintô do Estado ou oficial, Jinja-Xintô, que compreende que os deuses, o
Japão, o povo e o imperador são parentes por terem antepassados comuns; b)
O xintô da Casa Imperial ( Kôxitsu-Xintô), que tem nos cultos e cerimônias
celebradas pelo imperador o objetivo de este manter a harmonia com os deuses. c)
O xintô acadêmico ( Fukko-Xintô) é aquele pelo qual estudiosos procuram, por
pesquisas literárias ou filológicas, o xintoísmo puro livre de influências externas. d)
O xintô das seitas ( Kyôha-Xintô), que foi absorvido pelas novas religiões em
1945, quando contava com 160 seitas. e)
O xintô popular ( Minkan-Xintô), que é o mais espontâneo e puro, com suas
crenças e práticas ligadas às divindades tutelares e domésticas. Em termos históricos, as NRJ tiveram origem em meados do século XIX na era Meiji. Nesta era o governo adotou o xintoísmo como religião oficial com o intuito de
unificar Estado e Religião. Deste modo, o governo tentou reviver o culto do imperador, e ao mesmo tempo desenvolver um xintoísmo nacionalista ( Kokka Shintô). O governo da era Meiji desejou separar o xintoísmo do budismo, que foi a religião da era anterior, Tokugawa,
mas esta separação não aconteceu de fato no meio do povo.9 As narrativas míticas da tradição xintoísta foram registradas por escrito nos livros Kojiki ( Anais das coisas antigas) em 712, e no Nihongi (Crônicas do Japão) em 720, as
mais antigas fontes literárias. Na mitologia de Kojiki existem oitenta mil deuses num mundo complexo politeísta, que ao mesmo tempo exibe um caráter monoteísta quando mostra que uma única divindade pode se manifestar de várias formas10. A presença das entidades designadas kami, que alguns traduzem equivocadamente como deus, os japoneses entendem como espíritos invisíveis e poderosos de seres da natureza ou de pessoas falecidas para as quais se prestam reverências, mas o sentido mais profundo é o de expressar algo supremo, elevado11.
9
PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , pp. 45-46. OSHIMA, H. Op.cit., pp. 30-31. 11 ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, p. 63. 10
17 O xintoísmo expressa uma relação harmoniosa, de comunhão com a natureza. Nessa visão, “a natureza é bela e contemplá-la eleva a alma” .12 Uma característica considerada essencial no xintoísmo é a purificação. A purificação do corpo e da alma é condição essencial para se entrar em contato com os kami, sendo o mais reverenciado, sem dúvida alguma, Amaterasu, a deusa do Sol, antepassada da dinastia dos imperadores e fundadora mítica do Japão13. A purificação no xintoísmo está totalmente vinculada à sua mitologia, sendo associada à própria natureza de determinados deuses, como a lenda de Izanami e Izanagi, demiurgos femininos e masculinos, respectivamente. Através da mitologia da criação do mundo, segundo Kojiki, é visto, no drama de Izanami e Izanagi, o destaque dado à purificação. 14 De acordo com o Kojiki, o mundo em seus primórdios era semelhante ao mar e chamado de jindaishi (idade dos deuses). Pairavam sobre este mar três divindades que nasceram sós e depois se ocultaram. Eram Takamimusubi, Kamimusubi e o iniciador da epopéia da criação: Ame-no-minakunushi, também chamado de Kunitokotachi-no-mikoto ou Ushitora no Konjin. Naquele momento o mundo era um grande caos primordial sendo terra e céu unos. A terra, por sua vez, era fluida e os deuses (kami) brotavam como plantas de seu solo, e após vários deles terem surgido, passando seis gerações, apareceu o casal Izanagi e Izanami. Izanagi representando o princípio masculino e Izanami, o feminino,
sendo ambos, ao mesmo tempo, irmão e irmã, marido e mulher. Estes deuses, após terem consultado os demais receberam desses uma lança celeste, e então a mergulharam no caos de mar que se agitava por baixo deles, e deste modo criaram o mundo representado pelas ilhas que constituem o arquipélago (referência óbvia ao Japão). Após criar esse arquipélago, Izanami e Izanagi foram nele morar, e o casal lá teve dez filhos - que são as divindades que regem a natureza. Entretanto, aconteceu uma tragédia quando Izanami deu à luz o deus do Fogo: ela morreu queimada e foi para o mundo subterrâneo dos mortos. 15 Izanagi, furioso, cortou a cabeça do deus do Fogo, de onde
12
Idem, p. 62.
13
ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, p. 65. GONÇALVES, Hiranclair R. O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica no Brasil, pp. 39-40. 15 ROCHEDIEU, E. Op.cit., p.85. 14
18 nasceram dezesseis divindades, e foi atrás de sua esposa para trazê-la de volta, mas lá chegando, chocado, viu Izanami com o corpo podre e totalmente infestado de vermes. Apesar disso ele a quis levar de volta, mas teve de fugir perseguido por ela e pelos espíritos infernais. Izanagi, ao chegar à terra, teve de se lavar para se purificar das impurezas relativas à morte, e desse ritual de purificação nasceram outros deuses, novos kamis. Do seu olho esquerdo nasceu Amaterasu-o-Mikami (deusa do Sol); do seu olho direito, Tsukiyomino-Mikoto ( deusa da Lua); do seu nariz, Susano-o-Mikoto (a tempestade), que recebeu o
império do oceano. Além disso, das manchas existentes em várias partes do seu corpo nasceram muitos outros kamis (deuses). A prática fundamental do xintoísmo, a purificação, retrata-se na sua designação “r eligião de purificação.”16 A relação desta purificação com a conduta humana expressa-se no esforço do homem em manter um comportamento próximo ao dos deuses, e deste modo, obter ajuda e influência destes e alcançar a felicidade. Permanecer no estado normal – e normal significa neste caso o comportamento que deveríamos ter, a norma que se impõe a cada um – representa o bem, enquanto afastar-se do estado normal significa fazer o mal. O profundo sentido da purificação xintoísta é, por conseguinte, o de reencontrar esse estado normal, indispensável a quem quer prestar aos deuses um culto que eles aceitem. A purificação, desembaraçando os fiéis da influência perniciosa dos espíritos malignos que sem cessar labutam em volta do homem, torna-se a n ecessária preparação para todo o ato de adoração. 17
O xintoísmo - com sua mitologia e seus inúmeros deuses em manifestações múltiplas de um único deus, sua reverência aos kamis, o culto à natureza e a importância dada à purificação - traduz mais do que a religião para mostrar o fundamento do pensamento mítico japonês. Trata-se de um pensamento em que a negação e a contradição não existem. Neste contexto ele está fundamentado em bases diferentes do pensamento dito ocidental. O tema foi objeto de estudo de Hitoshi Oshima em seu livro O Pensamento Japonês:
16 17
ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, p. 93.
Idem, p. 94.
19
Sabemos que a mentalidade mítica em geral não conhece a contradição nem a negação. É uma mentalidade comparável ao mundo inconsciente, no qual não há noção de tempo e no qual não existe o princípio da realidade. De modo que, se o pensamento japonês em sua forma tradicional é essencialmente mítico, não encontraremos nele um desenvolvimento dialético, como ocorre no Ocidente.18
1.2. Budismo ( Bukkyô) Aprender o caminho de Buda é conhecer-se a si mesmo; conhecer-se a si mesmo é esquecer-se de si mesmo; esquecer-se de si mesmo é experimentar as leis; experimentar as leis é deixar cair o corpo e a alma do eu e do outro. DOGUEN19
O budismo teve sua origem na Índia no século V a.C., nos ensinamentos de Sidarta Gautama. O budismo foi praticamente erradicado após a invasão islâmica na Índia, e a
partir daí se difundiu em outros países através de duas correntes principais: a Mahâyâna (“O Grande Veículo”) e a Hinayâna (“O Pequeno Veículo”), sendo a primeira majoritária no Japão. O budismo no Japão inicialmente esteve restrito à elite e foi um elemento de transmissão da cultura chinesa desde a sua entrada no século VI (538 ou 552) e em todo o período medieval. Ele foi gradualmente se disseminando entre as camadas populares. Na era Tokugawa (1600-1868) o budismo tornou-se religião oficial, tendo como objetivo do governo a sua utilização como meio de unificação do país, como também de controle social20. De acordo com Hiranclair Rosa Gonçalves, o budismo é definido como: [...] uma religião que propõe a salvação do ser humano de uma vida de sofrimentos, através da busca da sabedoria (dharma), cumprimento de preceitos éticos, recitação de sutras, mantras e meditação. Visa-se a atingir um estado de iluminação espiritual
18
OSHIMA, H. O pensamento japonês, p. 18. Idem, p. 44. 20 PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , p. 26. 19
20 no qual cessa todo o sofrimento, o nirvana. Um ensinamento importante também é que se deve buscar o chamado “caminho do meio”, ou seja, procurar sempre o equilíbrio e fugir dos extremos. 21
Para conseguirem manter-se no Japão, o budismo, o confucionismo e o taoísmo tiveram de se misturar com o xintoísmo e as crenças populares. Este processo de adaptação ao modo de ser japonês é sintetizado, como distingue Pereira22, nos movimentos sincréticos medievais, como o Ryôby Shintô (“Xintoísmo Dual”), o Ichi-jitsu Shintô (“Xintoísmo de Uma Realidade”) e outros. Nesse processo ocorreu uma divisão quanto à atuação no que se referia aos ritos de passagem. Ficaram geralmente, a cargo do xintoísmo os nascimentos e casamentos, enquanto o budismo passou a atuar no culto aos antepassados e aos ritos fúnebres, tanto que há um dito popular que diz: “Todos os japoneses morrem como adeptos do budismo” ou outro que mostra esta “divisão de trabalho”: “o japonês nasce xintoísta e morre budista”. 23 A mentalidade mítica japonesa de não-contradição faz com que o sincretismo em relação ao budismo e ao xintoísmo tenha uma particularidade. Para Oshima24, sincretismo geralmente é entendido como a fusão de elementos heterogêneos de culturas, mas em relação ao budismo e ao xintoísmo isso não aconteceu. Em vez disso houve uma justaposição ( shugo) que se exemplifica na religiosidade do japonês, o qual possui em seu lar dois oratórios – um budista ( Butsudan) e outro xintoísta ( Kamidana). Esta justaposição apóia-se na teoria chamada Jonchi-suiyaku, que combina Buda com os deuses japoneses.
1.3. Confucionismo ( Jukyô) e Taoísmo ( Dôkyô) O Tao não age, E por esse não-agir tudo é feito. Se reis e príncipes assim fizessem, Todas as coisas do mundo prosperariam por si mesmas
21
GONÇALVES, H.R ., O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica no Br asil , p. 45. PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , p. 25. 23 MAEYAMA, Takashi. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo, p. 15. 24 OSHIMA, H. O pensamento japonês, pp. 50-51. 22
21 E se, mesmo assim, os homens tivessem desejos, Tao os satisfaria pela simplicidade Do seu íntimo ser. O nosso Eu não tem desejos. Onde não há desejos reina a paz, E onde há a paz, o Universo se regula por si mesmo. 25
O confucionismo e o taoísmo são ensinamentos de origem chinesa que enfatizam a ordenação na sociedade e no Universo. Estes ensinamentos provavelmente tenham entrado no Japão na mesma época do budismo. Ambos os ensinamentos não se estabeleceram com a posição de uma religião organizada como o budismo, mas tiveram um papel importante na formação dos valores morais e nas práticas religiosas. A vinda da cultura chinesa obrigou a um posicionamento das idéias existentes no xintoísmo, tendo o seu próprio termo, Shintô, como exemplo, originado a partir deste confronto cultural. O xintoísmo, por ser um movimento religioso autóctone, teve, através do choque com outras religiões e culturas, algumas influências, e destas a que mais contribui para a sua formação teórica foi o taoísmo26. Em três pontos vêem-se paralelos entre essas manifestações religiosas. No taoísmo existe o conceito do nada (mu), de onde tudo se originou. Esta idéia sobre a gênese do mundo associa-se no xintoísmo àquilo que se expressa, em sua mitologia, da inexistência de um criador do mundo. Em segundo lugar vêse neste pensamento chinês a importância da atitude naturista, o aceite da natureza, atitude compartilhada pelo xintoísmo. Por último, tem-se uma semelhança formal entre a teoria do Ying-yang sobre os termos opostos que complementam a unidade, idéia existente no
pensamento japonês e traduzido em sua mitologia, como assinala Rochedieu: No início era o caos; depois deu-se a separação do céu. Então apareceram cinco grandes deuses, seguindo-se o desenvolvimento de duas forças antagônicas, uma ativa e outra passiva. Depois sucedem-se as sete gerações divinas, compreendendo duas divindades isoladas e cinco casal divinos. Izanagui e Izanami, que constituem o último desses 25 26
LAO-TSE, Tao Te King , p. 106. OSHIMA, H. O pensamento japonês, p. 48.
22 casais, serão os demiurgos do mundo terrestre, os seus criadores. Este casal representa certamente os dois princípios complementares, macho e fêmea, que fundam a filosofia chinesa e explicam todas as transformações subseqüentes e o dinamismo do nosso mundo. 27
O confucionismo é uma ideologia desenvolvida pelo filósofo Kúng-Fu-Tzu (na forma latina, Confucius) (551-479 a.C.), que acreditava ter sido escolhido pelo Céu para revitalizar a moral e a cultura existentes. O confucionismo abrange uma série de idéias sobre filosofia e política, esta numa visão pragmática, que influenciaram muito a China imperial. O interesse por Confúcio e por questões religiosas e metafísicas era menor do que nos dois assuntos citados. O confucionismo adota alguns conceitos chineses, acrescentando os de Confúcio. Dos conceitos chineses tem-se o tao, que se traduz pela harmonia que predomina no Universo e com a qual o homem deve tentar viver sintonizado já que dela faz parte. Neste contexto, Confúcio via o homem como um ser bom intrinsecamente, tendo na ignorância e na falta de
conhecimento a raiz dos males. O confucionismo estrutura a sociedade através de cinco relações: entre senhor e servo, entre pai e filho, entre mais velho e mais jovem, entre homem e mulher, e entre amigo e amigo. Os conceitos mais importantes e ideais para todos os homens, segundo Confúcio, são: piedade filial, respeito e reverência. 28
O confucionismo difundiu-se no Japão como uma filosofia de ética através da qual são enfatizadas as relações humanas hierárquicas e a harmonia social. O confucionismo formou, juntamente com o zen-budismo, o Bushidô, o código de honra do guerreiro ( samurai ou bushi). O taoísmo baseia-se no livro Tao Te Ching que, dizem as lendas, foi escrito pelo filósofo Lao-Tse. Confúcio utilizou este livro dando-lhe suas próprias interpretações, como a via (tao), que ele via como a suprema ordem do Universo a ser seguida pelo homem. A diferença entre Confúcio e Lao-Tse é que este achava impossível o entendimento direto e racional sobre o tao. As diferenças continuaram com Lao-Tse, voltado à passividade, preferindo a ingenuidade e a simplicidade para o ser humano, e Confúcio, que via na 27 28
ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, pp. 84-85. GAARDER, Joasten O Livro das Religiões , pp. 77-79.
23 educação do homem, obtendo conhecimentos, o meio para seu aprimoramento. Confúcio acreditava que, com regras fixas na política, existiria o meio de se conseguir formar uma sociedade justa, o que discordava da posição de Lao-Tse, que acreditava que toda e qualquer administração é má29.. Em termos de ênfase, o confucionismo tem sua atenção voltada às vias (Tao) da ação social e da ordem política. O taoísmo, por sua vez, enfatiza as vias da prática mística e ordem natural.
1.4. Crenças Populares ( Minkan-Shinkô) Crenças populares, de acordo com Pereira30, sempre foram caracterizadas por um conjunto complexo, diversificado e sincrético de rituais e crenças. A princípio essas crenças por não terem uma estrutura organizada, ficaram à mercê das influências das religiões estabelecidas, mas muitas vezes tal relação se dava ao contrário, isto é, as religiões tradicionais para se difundir nas camadas populares se serviam das crenças populares. Além disso, é idéia aceita que as crenças populares tenham sido a fonte comum da maioria das Novas Religiões Japonesas. Na lição de Rochedieu31, as crenças populares, na sua formação, tiveram suas raízes na vida entre os camponeses do Japão. Na vida desses habitantes os objetos que tinham suas relações com a aldeia, eram santificados e deificados. Um exemplo disso é um edifício chamado tesouro da aldeia que tem seu objetivo em seu nome. Este lugar, para os aldeões, tornou-se o invólucro de uma divindade e, por sua vez, são sagrados os sabres e espelhos lá existentes. Deste modo, a relação de uma casa com a vida da aldeia poderia santificá-la e deificá-la. O processo de santificação e depois de deificação se dava em muitas aldeias tanto para os objetos de uso pessoal como para aqueles coletivos, como anais locais, registros e livros de contas. Para esses objetos eram feitas oferendas em altares, venerando-os como a um kami. Nesse processo de adoração dos objetos de geração em geração, chegou-se até a
29
GAARDER, J. O Livro das Religiões , pp. 80-81. PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , p. 25. 31 ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, pp. 65-67. 30
24 perder o nome do deus ou deuses e o kami tornou-se o nome da aldeia. Alguns destes kami foram personalizados e outros objetos ficaram no nível de adoração, e dentre estes podemse incluir elementos da natureza como montanhas, rios, fontes e cascatas, de grande importância na vida dos aldeões. Desde a era Meiji (1868-1912) as crenças populares não foram apoiadas, sendo por isto classificadas como “supersticiosas”, mormente nessa época por não estarem sintonizadas com o xintoísmo do Estado, que era o suporte ideológico do governo e vigorou do final do século XIX até o fim da Segunda Guerra Mundial. Apesar do progresso tecnológico, em vários níveis da sociedade japonesa persistem essas crenças populares com práticas como adivinhação, astrologia e crenças como possessão por divindade ou animal, e outras mais. Dentre tais crenças aparece nas NRJ, como pano de fundo, o xamanismo – a possessão de espíritos e o controle da comunicação destes com este mundo.
1.5. Cristianismo ( Kirisutokyô) As religiões cristãs foram introduzidas no Japão em dois momentos. O primeiro foi o catolicismo no século XVI, com os missionários jesuítas, e posteriormente o protestantismo, na segunda metade do século XIX com os missionários anglo-saxões.32 A introdução oficial do cristianismo no Japão aconteceu em 1549 através do missionário espanhol (São) Francisco Xavier, que servia na época a Portugal. No primeiro século o proselitismo foi grande e, de acordo com Oshima, o motivo deveu-se à crise que o país estava passando, com inúmeras guerras civis. Ao terminar as guerras civis e conseguir, em 1587, a unificação do país, o general Toyotomi Jideyoshi proibiu as missões católicas. Esta política de proibição foi seguida pelo seu sucessor, Tokugawa Ieyasu, acabando na batalha de Shimabara, com os últimos católicos japoneses. 33 O cristianismo foi proibido no período compreendido entre 1639 e final do século XIX pelas autoridades japonesas, porque o viam como um agente do imperialismo, além de ser associado à bruxaria pelo povo comum. Pelas vicissitudes históricas encontradas, o cristianismo no início da década de 1990 restringia-se a 0,5 % da população japonesa, o que 32 33
OSHIMA, H. O pensamento japonês, p. 56. Idem, p. 55.
25 numa primeira análise mostra a pouca presença desta religião no panorama religioso japonês, mas, por outro lado, vê-se em algumas das NRJ a abordagem da doutrina cristã em seus ensinamentos como, por exemplo, a Seicho-No-Ie, indicando, deste modo, que existe uma influência ou utilização por algumas dessas religiões que não pode ser desprezada no seu estudo, pois como se expressou Rochedieu em relação às novas religiões japonesas: “( ... ) a Bíblia cristã torna-se com freqüência uma fonte de inspiração”.34
2. Novas Religiões Japonesas (Shin-Shûkyô) Pode-se classificar o xintoísmo e o budismo como as religiões tradicionais do Japão, enquanto as novas são as “religiões modernas”. As primeiras mantêm-se pela veneração do japonês a tudo que é antigo, são transmitidas quase somente de pais para filhos, perpetuando-se entre as mesmas famílias por séculos e séculos, em contraste com as novas religiões que praticam intenso proselitismo e muitas vezes apresentam caráter de religião universal. 35
Ao discorrer sobre as Novas Religiões Japonesas, usa-se o conceito adotado por Ronan Alves Pereira36, de que o termo “Novas Religiões”, shin-shûkyô, refere-se aos movimentos religiosos surgidos a partir do início do século XIX no Japão. Destacam-se cinco movimentos religiosos das NRJ, surgidos no século XX: a Seicho-No-Ie, a Perfect Liberty (PL), a Igreja Messiânica Mundial , a Soka Gakai e a Arte Mahikari, presentes no Brasil e em outros países, e que não ficaram restritas aos
descendentes de japoneses37. Criadas em plena modernização do Japão, elas se caracterizam por terem sabido incorporar elementos estrangeiros em suas doutrinas, o que não as restringiu à herança cultural do Japão. O sincretismo religioso criado nas NRJ deriva do pensamento conjuntivo e nãocontraditório mencionado (xintoísmo). Este modo de pensar caracteriza-se por uma postura relativista que aceita várias concepções diferentes sem ter uma relação de negação ou
34
ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, p. 200. GONÇALVES, H. R. O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica no Brasil, p. 48. 36 PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , p. 35. 37 GONÇALVES, H. R. Op. cit , p. 49 35
26 confronto. Completa esse pensamento o seu caráter aditivo, o que permite a combinação de diferentes manifestações religiosas, caracterizando assim o seu sincretismo singular.
2.1
Origem das NRJ no Japão e suas propostas de transformação do
mundo Na concepção de Rochedieu38, podem-se estabelecer três períodos em relação ao surgimento e expansão das Novas Religiões Japonesas. O primeiro vai de meados do século XIX, final da era Tokugawa ou Edo (16001868), 39 período feudal, anos dos xóguns (líderes militares do Japão feudal), além de toda a era Meiji (1868-1912), chegando a 1920, quando o Japão já era uma nação industrial e moderna: “A era Meiji marca a recuperação do poder pelo imperador Mutsuhito, que, tomando o nome de Meiji (governo iluminado), transfere a capital (então Quioto) para Tóquio. É o princípio da era moderna e o Japão abre-se às influências exteriores.” 40 Na era Meiji as novas religiões japonesas foram reconhecidas oficialmente como Xintô das Seitas, deixando uma época, a Tokugawa, onde se proibia as novas seitas. Deste
período é importante destacar o surgimento de duas religiões: a mais antiga, a Tenrikyo, e a Oomoto.
O segundo período abrangeu o fim da 1ª Guerra Mundial, 1918, e o final da 2ª Guerra Mundial em 1945. Este período foi caracterizado como de opressão às novas seitas, tendo um cenário caracterizado por uma grande depressão econômica e com movimentos militares totalitários no Japão. Neste período havia várias seitas com enorme aceitação popular, tendo algumas delas uma aproximação com camponeses e outras com a população mais humilde das cidades, como a Oomoto que foi violentamente reprimida pelo governo. A Oomoto (A Grande Origem ou A Grande Fonte) foi fundada em 1892 por Nao Deguchi (1936-1918), sendo uma religião sincrética com predominância de elementos xintoístas e com traços milenaristas, 41 e sofreu influência, na sua formação, da Tenrikyo. Neste ponto é interessante informar que da Oomoto surgiram outras seitas, e dentre elas 38
ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, pp. 191-192. PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , p. 35. 40 ROCHEDIEU, Op. cit., p. 51. 41 PEREIRA, R. A. Op. cit. , p. 155. 39
27 destaca-se a Mahikari, a Seicho-No-Ie e a Sekay Kyusei Kyo (Igreja Messiânica Mundial)42. Esta última foi fundada por Mokiti Okada em 4 de fevereiro de 1950. O terceiro período iniciou-se imediatamente após a 2ª Guerra Mundial, em 1945, quando havia um novo alento às novas religiões, e uma expansão solidificada pela liberdade religiosa, estabelecida pela Constituição de 1946. Antes de 1946 a liberdade religiosa apesar de reconhecida desde 1889, era habilmente controlada pelo governo. Com direitos efetivamente garantidos na Constituição pós-guerra, as NRJ irromperam num processo de solidificação e expansão de suas influências. Em relação aos períodos citados, pode-se dizer que as religiões oficiais, o budismo na era Tokugawa e o xintoísmo na era Meiji, foram perdendo sua capacidade vitalizadora, e deste modo deixaram de dar resposta às necessidades dos adeptos. Um exemplo desta perda foi o xintô do Estado, que se tornou na era Meiji uma escola de patriotismo e um meio de venerar o imperador e heróis nacionais; assim os fiéis afastaram-se procurando uma religião que os atendesse em seus problemas e lhes desse esperança. Após a Segunda Guerra Mundial, o xintoísmo “debilitado” e o budismo com sua postura de encarar todo desejo como fonte de sofrimento não traziam conforto ao povo nipônico, derrotado e sofrido. Nesse cenário, as novas religiões com sua ênfase em responder às necessidades do homem neste mundo e de valorizá-lo como criatura divina, tornaram-se, por si sós, um atrativo que as fortalecesse em sua expansão pós-guerra. As NRJ, com sua ascensão no cenário religioso do Japão após a 2ª Guerra Mundial, e posteriormente com seu sucesso em outros países, não invalidam nem mostram que as antigas crenças se extinguiram, pelo contrário, como cita Anthony C. Wallace, as antigas religiões mantêm suas influências através destes novos movimentos religiosos: “As velhas religiões não morrem; elas sobrevivem nas novas religiões que as sucedem.”43. Colaborando com a posição expressa por Wallace, entende-se interessante inserir neste estudo o conceito de renovação do mundo de Reader 44, desenvolvido no trabalho de Ronan Alves Pereira Neste conceito os novos movimentos religiosos são entendidos como
42
GONÇALVES, H. R., O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica no Brasil, p. 77. Apud , PEREIRA, R. A. O Budismo Leigo da Sôka Gakkai no Brasil: da Revolução Humana à Utopia Mundial, p. 14. 44 Apud , PEREIRA, R. A. O Budismo Leigo da Sôka Gakkai no Brasil: da Revolução Humana à Utopia Mundial, p. 18. 43
28 recriadores de temas, crenças e mitologias existentes nas antigas crenças, inserindo-os numa nova dinâmica que atrai e responde às expectativas e às necessidades do homem moderno, em particular o urbano. A idéia de renovação de Wallace e a inspiração na religiosidade popular japonesa fez Pereira propor uma classificação importante como forma de entender as novas religiões japonesas: a de perceber, como ele mesmo diz, movimentos messiânicos, milenaristas e utópicos como movimentos de renovação do mundo ou complexo da renovação do mundo. Antes de expor o complexo da renovação do mundo e contextualizar a Seicho-No-Ie dentro desta classificação, faz-se necessário expor os conceitos de messianismo, milenarismo e utopia que integram a classificação citada existente no referido trabalho. Messianismo, para Hans Kohn, é definido como “a crença religiosa na vinda de um redentor que acabará com a ordem presente das coisas tanto universalmente quanto para um único grupo, e instituirá uma nova ordem de justiça e felicidade”. 45 Milenarismo, de acordo com Yonina Talmon, é usado para “caracterizar movimentos religiosos que esperam uma salvação iminente, total, final e coletiva neste mundo.” 46 Utopia, no dizer de Rosabeth M. Kanter, “representa um ideal do bem, em contraste com os males e imperfeições das sociedades existentes”. 47 A partir dos conceitos apresentados, segue-se a idéia de Pereira: complexo de renovação do mundo: Concebo este complexo como sendo composto por movimentos que partem de uma avaliação negativa da ordem social vigente – tida como caótica, injusta, imperfeita e/ou impura – para vislumbrar, tentar criar ou esperar a implantação (por agentes humanos ou sobrenaturais) de um ideal de perfeição neste ou em outro mundo imaginado, universalmente ou para um grupo restrito. Portanto, os movimentos de renovação do mundo podem ou não depender da figura de um messias ou de um profeta; podem conceber uma salvação neste ou em outro mundo, centrada nas necessidades básicas
45
Apud PEREIRA, R. A. O Budismo Leigo da Sôka Gakkai no Brasil: da Revolução Humana à Utopia Mundial, p. 23. 46 Idem, p.24. 47 Idem, p. 27.
29 do homem (alimentação, saúde, moradia, etc.) ou em valores tidos como superiores e espirituais (liberdade, justiça, felicidade, pureza, etc.); podem pregar uma salvação universal ou restrita a um grupo de leitos; podem depender de agentes externos (seres divinos, um salvador, um herói, os antepassados, um exército, um rei, etc.) ou contar com os militantes do próprio movimento (que assumem coletivamente o papel de revolucionários e vanguarda da sociedade perfeita)48
2.2
Expansão e caracterização do contexto religioso das NRJ
A caracterização das NRJ se evidencia pelo fato de marcarem uma nova era: a de inclusão na modernidade e a resposta a novas exigências. Deste modo, elas rompem o quadro antigo das religiões mais arcaicas que estavam submersas no tradicionalismo religioso. Há um acordo entre estudiosos, como Ronan A. Pereira, Rochedieu, Oshima, Gonçalves e Mayeama em compreender as NRJ seguindo tanto suas características como os seus contextos sociológicos. Dentre as características fundamentais das NRJ, primeiro aborda-se o sincretismo. Esta questão está presente de forma muito antiga no budismo e no xintoísmo, o que exemplifica este caráter religioso japonês. Nas novas religiões elas trazem para si elementos de crenças populares, do cristianismo, e inclusive de ciências, a exemplo de conceitos de psicologia e psicanálise. Este sincretismo traduz um pensamento definido como Bankyô-Kiitsu (todas as religiões são unas). Os japoneses, vistos através de sua história, têm um gosto por aquilo que não tenha um caráter dogmático e possuem uma grande capacidade de adaptação; portanto, não é de estranhar que eles façam suas devoções em templos budistas, xintoístas ou cristãos ou, como já abordado que possuam em seus lares dois oratórios, xintoísta e budista, exemplo da justaposição. Este proceder é também encontrado nas NRJ onde se poderá ouvir em uma reunião ou cerimônia os nomes de Buda, Cristo e do fundador da seita.
48
PEREIRA, R. A. O Budismo Leigo da Sôka Gakkai no Brasil : da Revolução Humana à Utopia Mundial, p. 31.
30 O processo de sincretismo ao ordenar-se nas raízes culturais do Japão indica tendências opostas e assinala três direções, conforme o autor citado: “1) o enfrentamento: o budismo ante a mentalidade mítica; 2) o conflito ou a contradição: o budismo contra o xintoísmo; 3) a incorporação: fazer do budismo e do xintoísmo dois termos de oposição dentro do mesmo sistema.” 49 O pensamento mítico permite, como disse Gonçalves50, compatibilizar conceitos metafísicos que outros sistemas de pensamento considerariam irreconciliáveis. Desta forma o sincretismo japonês ganha originalidade para criar um espaço de coexistência de diferentes religiões. Nesta perspectiva do sincretismo, chama atenção o fato de as novas religiões mais recentes, como a Seicho-No-Ie e a Igreja Messiânica Mundial, terem surgido no século XX, época em que a influência ocidental já era grande no Japão. Este fato marcou estas religiões no sentido de incorporarem elementos estrangeiros em suas doutrinas e ao se modelarem permitirem que uma influência cultural japonesa pudesse ser entendida pelos ocidentais. Após o sincretismo tem-se uma segunda característica, a do xamanismo, que é uma tradição ligada às primitivas religiões japonesas. Os fundadores das novas religiões são entendidos como salvadores da humanidade, representantes vivos de Deus e de suas mensagens divinas. Eles colocam-se como recebedores de revelações das entidades divinas,e deste modo são providos de uma dimensão própria do xamanismo: “ Na visão de Kokan Sasaki, o xamã é um especialista mágico-religioso que, por vontade, consegue comunicar-se com seres superiores num estado psicológico anormal do tipo extático para ajudar outras pessoas.” 51 O xamanismo distingue-se da possessão por espírito. Dentro da crença religiosa japonesa, o homem tem uma ligação grande com o sobrenatural podendo se ligar a um kami (divindade, espírito ou ser extraordinário), e no decorrer de sua vida chegar a se tornar um deles. A pessoa viva – que possui um corpo, pode se “relacionar” com as entidades espirituais sendo possível ser “possuída” de modo a ter ou não controle sobre tal influência. Por esse assunto estar intimamente relacionado ao espiritismo , doutrina religiosa professada
49
OSHIMA, H. O pensamento japonês, p. 52. GONÇALVES, H. R. O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica no Brasil, p. 53. 51 PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , p. 11. 50
31 também no Brasil e que influenciou Masaharu Taniguchi. É conveniente esclarecer que se entende possessão como o poder dos espíritos sobre as pessoas; em relação à mediunidade, o foco concentra-se na comunicação que se processa com o meio, e por fim, no xamanismo existe a comunicação controlada com essas entidades. Possessão por espírito, diz Firth, envolve “fenômenos de comportamento anormal que são interpretados por outros membros da sociedade como evidência de que um espírito está controlando as ações de uma pessoa e provavelmente habitando seu corpo”. Na “mediunidade espiritual” a ênfase está na comunicação. Finalmente, „xamanismo‟ se aplica àqueles fenômenos em que a pessoa, sendo médium espiritual ou não, é vista como tendo domínio sobre os espíritos, exercendo comando sobre eles por meios socialmente reconhecidos. 52
Relacionado a esta questão e como tema comum às novas religiões, o valor transcendental que elas destacam é o culto aos antepassados. Conforme a crença Tama (alma) existente nas religiões primitivas japonesas, as pessoas falecidas possuem o poder de influenciar positiva ou negativamente aqueles que aqui vivem. Doenças e problemas diversos, segundo essa crença, podem ocorrer devido à influência maligna dos antepassados falecidos, que estando em locais, ou camadas mais baixas espirituais e necessitando de um aprendizado para uma elevação e compreensão espirituais, enviam vibrações negativas aos seus descendentes provocando fatos infelizes. Através do culto aos antepassados, estes teriam melhor possibilidade de ascensão a mundos espirituais mais elevados, transformando as antes influências perniciosas em benéficas aos seus descendentes. Existe uma característica sobre as NRJ que Rochedieu destaca em seu estudo53. Ele se refere à ênfase dada na cura pela fé ao ressaltar o pensamento positivo que transcende a matéria. Nesta característica pode-se destacar duas abordagens relevantes. A primeira é a visão de o homem possuir, em si, uma natureza boa, e o mal ser uma impureza, conceito proveniente do xintoísmo. Com a orientação para a pessoa colaborar e esforçar-se para mudar suas atitudes e, por sua vez, a religião dispor de cerimônias de purificação, o adepto pode chegar à solução de seus problemas de qualquer ordem. Sobre este caráter de
52 53
Apud , PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , p. 8. ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, pp. 209-223.
32 purificação, a presença de cerimônias xintoístas dá uma marca especial às novas religiões. Como exemplo, cita-se a cerimônia Ooharai (Grande Purificação)54. Ela visa a limpar as manchas provenientes de males cometidos pela pessoa. O conceito de purificação insere-se para o adepto numa conduta humana correta de proceder para alcançar a felicidade através dos deuses (kamis). Os kamis aos quais o homem procura ajuda na resolução de seus problemas, não se predispõem a compartilhar a companhia daqueles que possuem máculas – impurezas, em seu espírito. As máculas geradas pelo homem podem até atrair a ira dos deuses, como a presença de espíritos malignos, ocasionando, através do seu mau procedimento, a sua própria infelicidade. Dentro da concepção de Deus, Rochedieu55 lembra, a maioria dessas NRJ não se preocupa em definir claramente seu objeto de adoração, convivendo simultaneamente com concepções politeístas e monoteístas. O objeto ou deus de adoração não é colocado como único e, por vezes, representa através deles outras divindades, o que é possível constatar no livro Kojiki. Na prática, os adeptos adoram esse deus apresentado como o Deus único. Este entendimento do divino através da unicidade e, ao mesmo tempo da multiplicidade, está inserido no já comentado pensamento mítico abordado na obra de Oshima56, que acentua uma ordenação da contradição e da negação de forma coesa. Nas NRJ pode-se constatar que na atuação dos adeptos não existem nítidas divisões entre sacerdotes e leigos, sendo incentivada a participação destes últimos. Há também o encorajamento da participação de mulheres. Entre muitas líderes, a bibliografia retrata Nao Deguchi e Miki Nakayama, fundadoras, respectivamente, da Oomoto e da Tenrikyo.
Ao surgirem no período de modernização do Japão, as NRJ incorporaram uma dimensão de organização e racionalidade assumindo um caráter empresarial. A organização adota um processo administrativo moderno: a comunidade religiosa é dirigida como uma empresa. Além disso, a utilização da mídia para divulgar sua doutrina tornouse um dado cada vez mais abrangente. 57
54 55
ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, pp. 209-223. Idem, p. 94.
56 57
OSHIMA, H. O pensamento japonês. MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo , p. 40.
33 Um meio de crescimento e propagação da religião se faz através de atividades em
pequenos grupos as quais contribuem para a formação de um vínculo entre os seguidores. Essas características são destacadas em consideração às propostas do catolicismo. As NRJ põem seu foco na felicidade neste mundo, esforçando-se para dar uma solução imediata aos problemas daqueles que as procuram no presente. As NRJ tomam um rumo de serem “religiões deste mundo e para este mundo”.·58 a fim de dar atendimento às necessidades daqueles que estão nestas religiões há sempre um dirigente disponível para orientação, numa abordagem individual, sendo um elemento atrativo para aqueles que se aproximam dessas religiões. As NRJ destacam o esforço do adepto na mudança de comportamento com base em valores por elas difundidos. É desejável uma dedicação e mudança que se integram à visão religiosa e se tornam meio e objetivo para a criação de solução dos problemas apresentados pelos fiéis. Enfocando-se não mais como vítima de uma circunstância, o fiel encontra na doutrina exposta meios de sobrepujar suas dificuldades. É dada ao adepto uma gnose a ser seguida, enfatizando sua força de vontade e fé, e um suporte do grupo religioso para que atinja seus objetivos.
2.3
Desenvolvimento das religiões japonesas no Brasil
Em relação ao desenvolvimento das religiões japonesas no Brasil, têm-se, de acordo com Koichi Mori59, quatro períodos. O primeiro abrangeu o início da imigração em 1908 e a década de 1920, e era denominado ausência de religião. Nesta fase os japoneses eram colonos e a religião não foi ativa, o que se deveu a vários fatores. Este período compreendeu um estado de crise na adaptação e integração dos japoneses, adicionando a isto a dificuldade de se sustentarem. O Japão, por sua vez, tinha uma situação econômica precária, e assim não havia a possibilidade de serem enviados e sediados os religiosos. A vida religiosa tradicional dos japoneses compreendia o culto aos antepassados e às deidades da comunidade. Como o culto aos antepassados era de responsabilidade do primogênito, e
58
ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, p. 200. MORI, Koichi “Vida religiosa dos japoneses e seus descendentes residentes no Brasil e religiões de origem japonesa", pp. 559-601. 59
34 em sua maioria tinha ficado no Japão, isto aliado ao fato de que os imigrantes sonhavam em voltar ao país de origem, esses cultos não aconteciam, e quando havia a sua necessidade devido a algum falecimento, a cerimônia se dava num processo de improvisação dos que ousavam fazer os rituais. O segundo período incorporou as décadas de 1920 e 1930 e foi classificado como
atividades religiosas na colônia. Nesta época os japoneses passavam de colonos para arrendatários, e seus planos incluíam uma permanência mais longa no país. Os colonos que antes tinham a estratégia de um período de curta duração no trabalho temporário mudavam para a de longa duração. A organização em colônias aumentou, e a de Hirano, na região noroeste de São Paulo, em 1930, começou a ter ”reunião de palestra budista”. Começaram a pregação e a instalação de seitas japonesas como a Butsuryushu, a Tenrikyo (Tenri-kyô), a Oomoto (Omoto-kyô), a Seicho-No-Ie (Seichô-no-Ie).
A Butsuryushu iniciou-se pela pregação de Tomojiro Ibaragi, imigrante que veio na primeira leva de imigrantes em 1908. Desconhecendo a existência de Ibaragi, Yoneji Matsubara iniciou a divulgação em 1932 na Colônia União, em Lins. Em 1936, sabendo de Ibaragi, Matsubara construiu um templo em sua propriedade e solicitou a sua vinda. Esta seita possui templos nos Estados de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. Em 1988 contava com 32 templos no Brasil. A Tenrikyo teve sua divulgação iniciada quando da chegada em 1929 de quatro famílias de crentes que se estabeleceram na Colônia Tietê, situada na região oeste do Estado de São Paulo. Posteriormente a sede foi transferida para Bauru. A organização que controlava os seguidores e os templos foi implantada em 1941. Em 1955 foi instalado em Bauru o Centro Brasileiro da Tenrykyo. Em 1983 a seita contava com 56 templos e 243 locais de divulgação no Brasil. A Oomoto iniciou sua pregação em 1925 através de Tsuguo Ishido e seu cunhado Teiji Kondo em Araguari, no Triângulo Mineiro. Em 1931 Ishido mudou-se e iniciou a divulgação perto de Uberlândia, e com adeptos tanto brasileiros como japoneses, construiu o Templo do Amor a Deus. Por volta de 1930, Kondo começou o trabalho de divulgação em São Paulo60.
60
MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo , p. 110.
35 A Seicho-No-Ie nos idos de 1930 tinha publicações vindas do Japão para japoneses residentes nas colônias do Estado de São Paulo. A divulgação iniciou-se em 1934 com os irmãos Daijiro e Miyoshi Matsuda na região de Gália e Duartina, no Estado de São Paulo. Em 1953 foi autorizado seu funcionamento como entidade religiosa. É uma das NRJ que mais se expandiram entre os não-descendentes de japoneses. Data desse período um primeiro convívio com o catolicismo: os japoneses o adotavam como forma de se integrarem ao meio brasileiro. Ainda nesse período houve intensificação da imigração com subsídio do governo japonês para os gastos com passagem. Apesar desta intensificação da fixação dos japoneses em colônias agrícolas, foi nessa época que começou a migração para a cidade de São Paulo com o aparecimento de uma colônia na área urbana. Aí aconteceram os primeiros trabalhos de missionários de igrejas cristãs como também das religiões de origem japonesa, como a Seicho-No-Ie e a Tenrykyo.
O terceiro período abrangeu a metade da década de 1930 e o início da década de 1950 e se tornou mais conhecido como hibernação das religiões pelo fato de as religiões japonesas, quando de suas manifestações, terem sofrido restrições e ameaças do governo brasileiro. A política nacionalista de Getúlio Vargas, na metade da década de 1930, não via com bons olhos as colônias de estrangeiros, e depois com eclosão da 2ª Guerra Mundial, toda manifestação da colônia nipônica foi muito cerceada. Após a guerra, com a derrota do Japão, os imigrantes japoneses viram que definitivamente deveriam fazer sua vida no Brasil. O terceiro período também foi denominado êxodo rural e migração urbana, pois nele se processou a migração urbana quando, por conta da boa conjuntura econômica da agricultura, muitos japoneses passaram de arrendatários a agricultores independentes, e alguns se mudaram para as cidades, de preferência capitais, como São Paulo, sendo a principal razão desse êxodo a educação dos filhos. Tais situações foram inserindo os japoneses nas cidades em uma nova estrutura que se formava na composição social brasileira: a classe média. A cidade de São Paulo é a que teve um maior foco de migração em virtude de as colônias japonesas se concentrarem no interior do Estado, graças sobretudo, à lavoura do café, onde a maioria desses imigrantes trabalhava, e que teve um alto desenvolvimento econômico naquela época. Além disso, esses japoneses
36 independentes enviavam os filhos para estudar nas cidades, onde havia bastante emprego, integrando-os a uma classe média urbana. Este período retratou uma ruptura com a pátria e uma expressão de novas dinâmicas nele se inseriu. O quarto período iniciou-se a partir da década de 1950 e é conhecido como
ressurreição das religiões japonesas e seu desenvolvimento posterior. Este é o momento em que ocorreu a difusão das religiões japonesas e a sua expansão nos centros urbanos. Esta expansão teve seu favorecimento pelas mudanças da sociedade brasileira, que se iniciaram na década de 1930 e se acentuaram no pós-guerra, havendo em seguida o próprio posicionamento das organizações dessas religiões em seu trabalho de difusão. A princípio esse processo de disseminação aconteceu dentro da colônia, e se expandiu principalmente nas décadas de 1960-70 entre os não-descendentes, para os quais a difusão das religiões japonesas tornou-se meta, o que se evidenciava na procura de meios de construir um espaço de aceitação para esse grupo de novos adeptos. Muitos desses movimentos religiosos japoneses, como a Seicho-No-Ie, deixaram de ser étnicas para se tornarem universais. A industrialização e a urbanização nas zonas urbanas trouxeram também um outro indivíduo que necessitava de respostas aos novos dilemas que se apresentavam, e por outro lado, apesar da hegemonia do catolicismo, começam a aparecer e a serem aceitas novas expressões de religiosidade, que traziam no bojo de seus ensinamentos valores de que esse homem carecia como sua própria valorização, a da estrutura familiar e uma relação ética com o trabalho. Tomita interpreta: “A partir da realidade de que, com a entrada das Novas Religiões Japonesas (NRJ) em nosso país, o povo brasileiro ganhou uma nova opção de conhecer um mundo diferenciado – não só no campo da fé, mas também no campo da cultura, acreditamos que o contato entre as culturas brasileira e japonesa corresponde a um dos grandes desafios do processo de transplantação das NRJ no Brasil. 61“ Nesse momento é necessário abordar as novas características desse grupo religioso, que de acordo com dados dos censos de 1991 e 2000, obteve maior transparência na sociedade brasileira. 62 Ademais, algumas dessas religiões expandiram significativamente o
61
TOMITA, Andréa G. S., As Novas Religiões Japonesas como instrumento de transmissão de cultura japonesa no Brasil , p. 88. 62 De acordo com dados dos censos de 1991 e 2000.
37 seu número de adeptos utilizando intensivamente os recursos da mídia, e também adaptando seu discurso para atrair novos adeptos, tendo nessas características a Seicho-No Ie – um exemplo a ser estudado.
Tabela 1: Número de adeptos das NRJ no Censo 2000 Religião Adeptos Igreja Messiânica Mundial 109.310 Seicho-no-Ie 27.784 Perfect Liberty 5.465 Tenrikyo 3.786 Mahicari 3.054 149.399 TOTAL Fonte: IBGE / Censo 2000 Podem-se aventar algumas razões para as novas religiões japonesas terem sua expansão e inserção no panorama religioso brasileiro. Os dados desta expansão fazem-se notar desde as décadas de 1970 e 1980, de modo que mais de 2% da população brasileira tenha já adotado a visão religiosa que tal grupo preconiza. 63 Vê-se que entre os grupos da tabela acima ocorre uma concentração maior de adeptos entre a Seicho-No-Ie, a Instituição Religiosa Perfect Liberty (PL) e a Igreja Messiânica Mundial do Brasil.
As novas seitas japonesas no País seguem denominações que são derivadas dos termos designados na nação de origem64:
Quadro 1: Movimentos transplantados do Japão e formação antes da 2ª Guerra Mundial Denominação no Japão
Denominação no Brasil
Tenri-Kyô
Tenrikyo do Brasil
Oomoto-Kyô
Oomoto ou Associação Universal, Amor e
Fraternidade no Brasil. Seicho-No-Ie
Sociedade Religiosa Seicho-No-Ie do Brasil
Fonte: Trabalho do autor, 2006. 63
MATSUE, Regina Y. A Expansão Internacional das Novas Religiões Japonesas: Um Estudo sobre a Igreja Messiânica Mundial no Brasil e na Austrália , p. 3. 64 MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo, p.105.
38
Quadro 2: Movimentos transplantados do Japão e formação depois da 2ª Guerra Mundial Denominação no Japão
Denominação no Brasil
Sekai Kyuseu Kyô
Igreja Messiânica Mundial do Brasil
P.L. Kyodan
Comunidade Religiosa P.L. do Brasil
Nichiren Shôshu
Sociedade Religiosa Nichiren Shôshû do Brasil
Fonte: Trabalho do autor, 2006
Quadro 3: Movimentos que se formam no Brasil, não seguem uma filiação direta com o Japão e têm formação com raízes japonesas
Denominação no Japão
Denominação no Brasil
Kaminoya Yaoyorozu-
Associação Religiosa Kaminoya-Yaoyorozu-
Kyô
Kyô do Brasil
Seikannon – Shu
Templo Budista de Kannon
Hakkoku Kannondo Fudô Myo
Comunidade Budista Fudômyo
Inari Daimyôjin
Associação Religiosa e de Assistência Social
Shinreikyô
Clube Kotobuki
Fonte: Trabalho do autor, 2006. Complementando os quadros acima tem-se a “Tenda Lua e Caridade”, movimento surgido no Brasil com formação de raízes brasileiras e que segue a linha do Espiritismo e da Umbanda, com mais ênfase nesta última. Esta religião constitui exceção neste universo em que as demais adotam posturas de maior ou menor aproximação de suas fontes japonesas, apesar de que, indepedentemente desta característica, existe claramente a tendência de aproximação à cultura brasileira. Como foi mencionado, há uma intenção clara de terem as NRJ criado um espaço de compreensão e cultivo de valores que supõe uma troca simbólica e de interesse em relacionamentos próprios.
39 O sucesso das NRJ no Brasil foi abordado por Ronan Alves Pereira65 mediante seis razões. A primeira é a dos processos variados que ocorrem em nível global; isto remete à transnacionalização de comunidades religiosas com revolução nos meios de transporte e de comunicação. No início da chegada das NRJ ao Brasil, os meios citados eram precários, mas atualmente as NRJ se beneficiam com o seu avanço para difundir seus ensinamentos. A segunda razão é de nível nacional e compreende um caráter de modernização. Existe um ambiente no Brasil que favorece a expansão destas religiões, com modernização, urbanização, industrialização, nucleação da família, democratização, formação de pluralismo religioso, etc. Deve-se apontar que a boa organização da colônia japonesa no Brasil formou uma base para difusão. Quanto ao clima religioso, houve a contribuição do espiritismo e de outras religiões orientais.
A terceira razão é referente às características e orientações das religiões
japonesas. É indispensável admitir que as novas religiões nasceram dentro do processo de modernização do Japão, o que as fez ter características e modos que se adaptam às sociedades modernas ou em processo. Dentro desse modelo, elas possuem práticas e rituais simples, orientação ética personalizada, auto-ajuda, busca de benefícios neste mundo, e algo característico da religiosidade japonesa bankyôdôkon (reconhecimento de que todas as religiões têm uma origem comum). A quarta razão remete-se aos pontos de conexão entre a realidade religiosa no Japão e no Brasil. Elementos religiosos em comum entre os dois países constituem facilitadores de um diálogo religioso. Dentre estes elementos alguns podem ser destacados: práticas sincréticas, multifiliação e a grande religiosidade popular. A quinta razão trata do reconhecimento do papel dos indivíduos. É válido enfatizar o papel de líderes que foram elementos vitais e cruciais na expansão de um movimento religioso. Como exemplo, na expansão no Brasil, vale citar os irmãos Miyoshi e Daijiro Matsuda na Seicho-No-Ie, e Chûjirô Ôtake para a Tenrikyo. A última razão refere-se ao papel dos acontecimentos “aleatórios”. Às vezes fatos que passam despercebidos para algumas pessoas constituem elementos que fazem uma
65
PEREIRA, R. A. Religiosidades Japonesa e Brasileira: Aproximações, pp. 209-221.
40 outra adotar aquela religião. Pode ser a arquitetura do templo, as cerimônias, o site, o “acaso” atribuído a fatos que a proximaram o indivíduo dessa religião, etc. Deve-se acrescentar que o processo de adaptação de uma religião ao meio onde ela pretende se difundir é um fator fundamental de sucesso, principalmente se esta flexibilização acontece diante de um público não-descendente, como no caso dessas Novas Religiões Japonesas no Brasil. Vale compreender esse contato entre culturas e verificar como tais movimentos traduzem os interesses e estratégias dos públicos envolvidos. Nesta situação de culturas em contato, observa-se um universo simbólico que reflete um meio relacional da sociedade, 66. Trata-se de uma situação em que valores adquirem unidade expressiva desta capacidade brasileira de relacionar coisas que parecem opostas. Diante dos meios religiosos estranhos por serem de origem oriental ocorrem projeções e vivências dos devotos. Ficam estes inseridos em ambientes que permitem desenvolvimentos diante de um meio complexo de valores e relacionamentos67. Na verdade as razões enunciadas por Pereira não puderam contar com a crescente utilização e domínio de conhecimento da mídia. Algumas das NRJ desde seu nascedouro souberam muito bem utilizar a mídia na divulgação de sua doutrina. Desse modo, os jornais, revistas, gravações e outros meios midiáticos são expedientes que esses movimentos religosos utilizam para promover suas idéias, além de esses recursos se tornarem uma forma de identificação para o grupo ao qual se destina. Importante instrumento para atingir diferentes públicos é a utilização da internet, do rádio e da televisão, sendo estes meios dignos de um estudo mais apurado, uma vez que constituem um campo de complexidades abrangentes em que ficam inseridos.
66
DA MATTA, Roberto. A Casa & a Rua, Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil . A explicação desse fenômeno, mediante o princípio de cisão (corte ou ruptura), compreende as idéias e valores em compartimentos estanques que não se comunicam e, nesta perspectiva, uma pessoa pode considerar-se participante em cada um desses compartimentos. Este princípio aplicado à religião faz com que, no exemplo do candomblé estudado por Roger Bastide, um negro se considerasse desta religião de origem afro e, ao mesmo tempo, católico. Esta definição de Bastide, citada por Cuche (1999, p. 133-134), foi usada por Tomita (2004) para caracterizar adeptos brasileiros nas NRJ. No presente trabalho entendemos uma coexistência complexa de valores, cuja compreensão reflete o caráter ambíguo e de natureza relacional da nossa cultura, como indica Da Matta (1987) e foi também admitido por Ferretti (1995) com relação aos estudos do sincretismo religioso afro-brasileiro. 67
41 O Brasil ainda hoje tem no catolicismo a religião predominante. Qualquer análise sobre o desenvolvimento de um movimento religioso no País deve estar relacionada com as fases da representatividade e atuação da religião católica no território nacional. Entende-se que os eventos a seguir, com base em Gonçalves68 e no artigo de Pierucci69, devem ser esclarecedores no sentido de traçar um paralelo da crise da cristandade e do desenvolvimento de outras formas de expressão religiosa em nossa sociedade.
2.4
As NRJ e o contexto de religiosidade brasileiro
Desde seu descobrimento, o Brasil foi oficialmente considerado um país católico, tendo a Igreja unida ao Estado. Inicialmente a ação da Igreja aconteceu com os missionários jesuítas e seu objetivo de catequização, mas numa análise mais apurada vê-se que décadas antes do descobrimento o papado junto à Coroa portuguesa fazia das conquistas lusas “cruzadas” para a conversão compulsória dos novos povos. A dependência da Igreja ao Estado se mostrou primordialmente no período colonial, quando as instruções do Vaticano chegavam ao Brasil pela administração portuguesa, que se incumbiam, em última análise, da regulamentação dessas resoluções. Em 1827, no Império, o padroado70 que antes era da Coroa portuguesa, passou a ser do imperador dom Pedro I. Em meados do século XIX o catolicismo ainda exercia hegemonia quase absoluta no Brasil, exceção para às religiões africanas e indígenas. Nessa época, mesmo com a vinda de imigrantes protestantes não houve alteração no quadro religioso. No final desse século, com o regime republicano, o catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado brasileiro, que então se tornou laico, isto é, religiosamente neutro, fato evidenciado pela Constituição de 1891. Somente a partir desse período e início do século XX, é que começou a aparecer uma classe média protestante.
68
GONÇALVES, H.R. O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica no Brasil, p. 54-55. GAARDER, J., O Livro das Religiões , pp. 281-302. 70 O padroado consistia em um tratado entre a Igreja Católica e os reinos, sobretudo Portugal e a Espanha. A Igreja delegava aos reis a administração da Igreja em seus domínios. O rei mandava construir igrejas, nomeava os padres e os bispos. Assim, a estrutura do Reino de Portugal tinha dimensão religiosa e políticoadministrativa (extraído do site http://pt.wikipedia.org) 69
42 Em fins do século XIX chegou ao Brasil, proveniente da França, o espiritismo kardecista tendo já naquela época uma grande aceitação na classe média brasileira e com
uma marca que o distinguia de outras manifestações religiosas: a terapia mediúnica através de “passes”, uma espécie leve de exorcismo, feita indivualmente por um dirigente ou médium. Além disso, diferentemente da França onde a visão científica dos fenômenos do
espiritismo foi destacada, no Brasil a atenção voltou-se para o lado religioso e de conduta moral. No século seguinte pôde-se constatar um expressivo crescimento do kardecismo71 no País. Vê-se em Gaarder que: O espiritismo kardecista consiste num sistema filosófico-religioso cujo eixo principal é a crença na reencarnação. Essa crença, baseada na milenar doutrina hinduísta da transmigração das almas, se apóia em dois pilares básicos: a concepção hinduísta do carma e a possibilidade concreta de comunicação com os mortos. A comunicação entre o mundo dos mortais e o mundo dos mortos – usualmente chamados de “espíritos desencarnados” – é feita por meio de pessoas especialmente dotadas para o transe mediúnico, os médiuns, durante uma sessão espírita (ou sessão de “mesa branca”). O kardecismo também é conhecido como “espiritismo de mesa branca”, ou mesmo “alto espiritismo” (por oposição à umbanda, discriminada como “baixo espiritismo”). 72
Ao Brasil, nas décadas iniciais do século XX, chegaram as primeiras igrejas pentecostais. Em 1910, no Paraná e em São Paulo, surgiu a primeira igreja pentecostal: a Congregação Cristã do Brasil. Em 1911, em Belém do Pará foi fundada a Assembléia de Deus. As igrejas pentecostais classificam-se em clássicas e neopentecostais, sendo estas últimas as que mais crescem no País. As neopentecostais, como as clássicas, possuem cultos de grande envolvimento emocional com objetivos de êxtase. Elas focam o dom sobrenatural de falar línguas desconhecidas (glossolalia), o exorcismo e o milagre, de modo a terem resultados imediatos para a solução dos problemas. Surgiu no início do século XX, na década de 1920 no Rio de Janeiro, um dos grandes eventos no campo religioso brasileiro: a umbanda. A umbanda seguiu um meio de
71
A designação kardecismo deriva do pseudônimo Allan Kardec, adotado pelo prolífico teórico da doutrina espírita francesa, Leon Hippolyte Denizard Rivail (1804-69). Sua obra essencial, O livro dos espíritos , desenvolve a teoria do espiritismo como uma filosofia científico-religiosa. O espiritismo de Allan Kardec se revela um sistema complexo de pensamento: filosofia, ciência e religião ao mesmo tempo (GAARDER, J. O Livro das Religiões, p. 309). 72 GAARDER, J. O Livro das Religiões , p. 309.
43 sincretismo religioso brasileiro que combinou o catolicismo, o e spiritismo e crenças indígenas e africanas. Gaarder assevera: Nascida no Brasil, a umbanda pode ser chamada de religião brasileira primeiro por esse fato. Mas a umbanda também pode ser dita “religião brasileira” porque é a resultante de um encontro histórico único, que só se deu no Brasil: o encontro cultural de diversas crenças e tradições religiosas africanas com as formas populares de catolicismo, mais o sincretismo hindu-cristão trazido pelo espiritismo kardecista de origem européia. Eis aí a umbanda, um sincretismo religioso originalmente brasileiro. 73
A partir da década de 1930, alterou-se significativamente a hegemonia do catolicismo. Este fato foi resultante das transformações sociais daquela época, tais como o início da industrialização, a intensificação do processo migratório, o delineamento de uma sociedade competitiva, o aumento da classe média, a ampliação da educação. Nessa época a Igreja Católica manteve a estratégia conservadora e antimodernista própria de seu posicionamento conservador no século XIX. Este proceder suscitou a procura pela classe média de alternativas religiosas tendo encontrado eco em ações modernizantes expressadas no protestantismo. O que se pode constatar atualmente é que o Brasil continua com um número expressivo de católicos, mas a cada ano o catolicismo perde adeptos para outro ramo do cristianismo, como o dos pentecostais. Assim pode-se dizer que o País é majoritariamente uma nação cristã. Na concepção de Gonçalves e Pierrucci, a crise do catolicismo abriu a oportunidade de manifestações de outras religiosidades, apesar de o quadro religioso brasileiro apresentar uma tendência à homogeneização através de recursos do cristianismo. Este fato é constatado através da análise dos censos de 1940 a 2000, que comprovam o decréscimo de adeptos do catolicismo e um crescente número de seguidores de outras religiões, inclusive as de origem oriental que na crise do catolicismo aliada ao fenômeno da Nova Era, puderam se exprimir e estabelecer seu lugar no panorama religioso brasileiro.
73
GAARDER, J. O Livro das Religiões , p. 319.
44
3
Nova Era: a porta de entrada das religiões orientais
A introdução das religiões japonesas no Brasil explica-se também pela criação de um contexto de valores em que se destaca a importância da formação de uma nova visão de mundo. Na década de 60, quando os estudiosos de religião e do fenômeno de secularização74 apostavam na diminuição da influência da religião num sentido geral, surgiram manifestações religiosas marcadamente orientais apresentando uma nova forma de religiosidade denominada Nova Era. O fenômeno Nova Era pode ser caracterizado como um movimento cultural contemporâneo,75 ou de orientações religiosas ou quase religiosas,76 que apareceu na metade do século XX. Esse movimento implantou uma nova forma de religiosidade com manifestação marcadamente oriental que propiciou a aceitação de religiões dessa mesma origem. Ao termo Nova Era atribuem-se vários significados, mas o que predomina é o de renovação espiritual, como França exemplifica ao citar o jornal semanal New Age, cuja circulação iniciou-se em 1907, dirigido por um nietzchiano ocultista, Alfred Orange (18731934). A Nova Era, com o sentido de espiritualidade, apareceu antes dessa época citada. Foi usada por românticos ingleses, como Samson Mackay (1765-1843), e bem mais remotamente por Swendenborg (1688-1772), que utilizou um termo equivalente: “Nova Jerusalém”. 77 Ao procurar o sentido original do termo “Nova Era” vê-se que ele tem origem na cosmologia astrológica, a Era de Aquário, tendo nesta expressão um duplo significado. De um lado há a mudança cosmológica relacionada à precessão dos equinócios no trajeto do sistema solar em relação ao zodíaco. Este fato consiste em conceber a abóbada celeste com 74
Secularização é um processo de MUDANÇA SOCIAL através do qual a influência da religião e do pensamento religioso sobre as pessoas declina, à medida que é substituído por outras maneiras de explicar a realidade e regular a vida social. Nas sociedades industriais, onde a secularização progrediu mais, a ciência subsitituiu a religião como método principal para compreender o mundo natural, ao mesmo tempo em que o direito civil e as instituições estatais a substituíram como origem de CONTROLE SOCIAL(JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: Guia Prático da Linguagem Sociológica, p. 202). 75 GONÇALVES, H.R. O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica no Brasil, p. 45. 76 YORK, Michael, New Age Traditions in New Religions, A Guide: New Religions Movements, Sects and Alternative Spiritualities, pp. 308-312. 77 FRANÇA, Mônica G. F. O Feng Shui e a Nova Era: um exemplo de destradicionalização e de invenção de tradições, p. 50.
45 12 subdivisões, significando os 12 signos. Cada um dos esquemas do ano zodíaco corresponde a um ciclo, e este, por sua vez, estaria influenciando a vida do Universo e dos acontecimentos humanos78. Nesta concepção, Aquário é ligado ao elemento Ar, e deste modo influencia as comunicações e ligações. Além disso, têm-se os planetas regentes Saturno e Urano, estando o primeiro relacionado à permanência, longa duração e instituições consagradas, e o segundo voltado à mudança, transformação e progresso. Sob estas influências a Era de Aquário se caracteriza por trazer o novo sem esquecer as tradições: “[...] um movimento que olha para o futuro sem deixar de olhar para o passado”. 79
Neste item pretende-se ordenar a origem de um espaço de cultura através do movimento Nova Era, que vem sendo reconhecido pela bibliografia estudada como fundamental para a criação de valores e significados.
3.1
Origens e influências
Quando se fala de Nova Era muitos têm como um antecessor mais imediato a contracultura – movimento de contestação dos padrões então vigentes nos Estados Unidos que se iniciou nos anos 50. Antes dele citam-se origens mais remotas sobre a emergência de uma nova realidade. Na dissertação de mestrado de Mônica G. F. França80 e na contribuição de Magnani81 é traçado um histórico daqueles que prepararam um ambiente para a emergência de um movimento que vai atrair tendências originariamente estranhas. Seguindo as referências citadas, destacam-se personagens e fatos mais significativos para este trabalho. Ao retroceder na história à procura de um conjunto de idéias elaboradas e próximas às da Nova Era, depara-se com o hermetismo, que se baseia no conjunto de ensinamentos de Hermes Trismegisto, originário do Egito helenístico, alguns séculos antes do cristianismo. Este estudioso elaborou uma série de textos denominados Corpus
78
MAGNANI, J.G.C. O Brasil da Nova Era , p. 10. FRANÇA, M. G. F. O Feng Shui e a Nova Era: um exemplo de destradicionalização e de invenção de tradições , p. 50. 80 Idem, 38-46. 81 MAGNANI, J.G.C. Op. cit., pp. 9-25. 79
46 Hermeticum. Nestes escritos Hermes apresentou idéias como possibilidades de relações do
visível com o invisível, presença do Espírito Vital no mundo, métodos para o ser humano despertar um Eu Superior através de níveis de realidade, podendo estabelecer contato com o espírito universal e mudar a natureza. Com a tradução do Corpus Hermeticum pelo filósofo neoplatônico florentino Marsílio Ficino em 1463, e impressão em 1471, houve a inauguração do Renascimento Hermético, fundamental para o desenvolvimento de um ocultismo ocidental. Em Corpus Hermeticum, não obstante conter poucas referências a conhecimentos naturais e mágicos, foi atribuída a Trimegisto a criação de todas as ciências, inclusive a alquimia e a astrologia, e deste modo surgiu sua associação com as chamadas “ciências ocultas”. Em relação à origem do Corpus Hermeticum, o erudito suíço Isaac Casaubon provou que foi nos primeiros séculos do cristianismo. Apesar de este fato abalar o mito renascentista de Trimegisto, a obra já havia incorporado bem detalhadamente a alquimia, tornando-se um referencial para este assunto. No início início do século XVII apareceram na Alemanha os manifestos atribuídos à Fraternidade Rosa Branca, que falava sobre a vinda de uma “Nova Era”. Ainda no século XVII o grande místico Jacob Boeheme (1575-1624) fundou a corrente esotérica da Teosofia Cristã.
No período do iluminismo existiu no esoterismo ocidental a figura do visionário sueco Emanuel Swendenborg (1688-1772), que criou uma cosmologia baseada na correspondência, e o médico alemão Franz Anton Mesmer (1734-1815), baseando-se em uma energia vital, criou o “modelo harmonial do Universo” e foi conhecido como o inventor da hipnose. Estes personagens do esoterismo com suas cosmologias contemplam na Nova Era as idéias de “leis cósmicas”, “harmonia”, “natural” e “equilíbrio”. No século sécu lo XIX, o ocultismo afirmou-se como sendo uma das raízes da Nova Era. O ocultismo é um movimento que objetiva desvendar leis ocultas do cosmo com métodos não aceitos pela ciência oficial e também rejeitados pelos dogmas da Igreja, características marcantes da Nova Era. Ainda no século XIX surgiu na França o espiritismo, influenciado diretamente por Swendenborg, tendo como figura central o médium, ser humano que intermedeia a comunicação com os mortos. Este século produziu outro fenômeno: o romantismo , em que as características principais são a de uma espiritualidade ”orientada para a vida”, reconhecimento da
47 “divindade humana” e concepção da totalidade do Universo. Deste modo, a visão holística e do “Eu Superior” da Nova Era encontra aí as suas raízes. Nesse período surgiu nos Estados Unidos o transcendentalismo, que deixou sua marca na Nova Era. Este pensamento teve no filósofo Ralph Waldo Emerson (1803-1882) e no poeta Henry Thoreau (1817-1862) os seus expoentes. Emerson acreditava que “fatos da natureza são reflexos de estados do espírito e eventos naturais conduzem a realidades transcendentes” transcendentes”. Thoreau desenvolveu o conceito de desobediência civil, base da resistência passiva que influenciou movimentos pacifistas e líderes como Mahatama Ghandi. O século XIX também confirmou o aparecimento das correntes européias de orientalismo, tendo como grande evento o Congresso Mundial de Religiões de Chicago em 1893, com a presença de Swami Vivekananda (1863-1902), escritor indiano que se tornou um dos divulgadores da cultura espiritual da Índia no mundo ocidental. Ainda sobre o orientalismo, aconteceu no século XIX a fundação da Teosofia (Sociedade Teosófica) pela médium Madame Blavastsky (1831-1891), movimento ocultista britânico com base em doutrinas orientais, especialmente as indianas. É interessante ver que a partir de dissidências existentes na teosofia originaram-se outras outras organizações “esotéricas”, tais como: Sociedade Antroposófica (1913), Arcane School (1930) e Krishamurti Foundation. No século XX surgiu a corrente esotérica criada por George Gurdjieff (1866?1949), que ao adotar as práticas sufis incorporou as suas técnicas visando a conhecer e despertar o imutável EU, enfocando o “Eu Superior”, Superior”, crença tão propalada pela Nova Era. Ainda no século XX, Carl Gustav Jung (1885-1961), fundador da psicologia analítica, criou uma ligação entre espiritualidade e ciência. Com seus estudos difundiu conceitos como arquétipos, inconsciente coletivo e mandalas. A doutrina de Jung tornou-se um meio de caracterizar a ciência voltada para o lado espiritual, na descoberta de uma unidade transcendental entre homens e o estudo com a utilização de temas e princípios abordados nas religiões orientais. Na literatura deste século destacam-se três escritores que sistematizaram a idéia “ Nova Era” Era ”. Foram eles Herman Hesse, Aldous Huxley e Carlos Castañeda. Herman Hesse (1877-1962), autor de Sidharta e Viagem ao Oriente, tinha em sua obra a procura individual da espiritualidade, além de desejar mostrar a unidade Oriente-Ocidente. Aldous Huxley (1894-1963), autor de Admirável Mundo Novo e Portas da Percepção, estava
48 voltado à expansão da consciência e à noção do Potencial Humano, conjunto de capacidades latentes existentes no ser humano, mas adormecidas, que através de determinadas práticas podem ser despertas. Por fim, há Carlos Castañeda, que em seus escritos enfatizava seu aprendizado e experiências aliadas ao uso de plantas psicoativas, aprendido com um xamã de yaqui de Sonora, Juan Matus. Neste sentido, ele contribuiu para a aproximação da cultura cu ltura indígena. No século XX, no campo da ciência têm-se os estudos de Fritjof Capra, cientista que procurou traçar um paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental, como no livro O Tao da Física, de 1974, e sugerir uma visão holística da natureza, como no livro Teia da Vida, onde explica a idéia de “ecologia “ecologia profunda” profunda” em contrapartida à “ecologia “ecologia
comum”. Esse século, para finalizar, produziu dois marcos importantes na consolidação da Nova Era, que são as duas d uas famosas instituições fundadas no início início dos anos 70 – 70 – Instituto Instituto Esalen e Comunidade Findhorn. O Instituto Esalen está na Califórnia, sendo o centro do Movimento do Potencial Humano que se dedica a desenvolver e aplicar técnicas para
despertar as potências adormecidas do Eu Superior. A Comunidade Findhorn situa-se na Escócia, tendo se tornado um modelo de educação para as comunidades alternativas em todo o mundo.
3.2
Visões da Nova Era
As novas religiões japonesas têm práticas e idéias que estão dentro de um fato presenciado há algumas décadas: (1) de tendências culturais não só restritas ao Brasil; (2) ( 2) de reforço em conceitos esotéricos, xamanismos, poderes mágicos num processo de reencantamento do mundo, (3) sendo que tal visão chega a ter a colaboração de um número significativo de cientistas, os quais, com princípios não mecanicistas e de física quântica, justificam essas idéias. Este fato desperta discussões entre os estudiosos sobre as expectativas decorrentes do processo de secularização. [...] vem desenvolvendo o argumento de que o fenômeno religioso na sociedade contemporânea, pós-industrial e hipertecnológica, é a suprema realização da secularização e não uma adaptação a ela. Ao invés de crise da secularização, é o sucesso dessa secularização que vem tornando visível a consciência do “sagrado” na
49 sociedade contemporânea como a própria perplexidade humana frente à constatação de que a transformação do mundo não corresponde à transformação da vida humana.82
O encantamento do mundo está ligado diretamente a um fenômeno religioso, e Nova Era merece destaque, pois atuou e atua como facilitador da introdução e desenvolvimento das religiões orientais, e aí se inserem as Novas Religiões Japonesas, no Brasil como em outros países. O primeiro problema ao se falar em Nova Era é parecer que nele cabe todo e qualquer assunto relativo a crenças, comunidades alternativas, crendices em duendes e bruxas, música New Age, novas terapias, técnicas de meditação, medicina tradicional chinesa, sacralização da natureza e reinterpretação da espiritualidade centrada na perfeição interior. Outro desafio a ser enfrentado para os que estudam a Nova Era é vê-la de uma perspectiva religi re ligiosa, osa, pois não se possuem referências, referê ncias, como co mo o fundador ou o u um líder, livro doutrinário, rituais ou locais de reuniões de adeptos, mesmo porque se verá que tal movimento preza por não aceitar os modelos tradicionais de estruturas estrut uras de Igrejas. I grejas. Existem muitas abordagens para a Nova Era, variando desde uma nova modalidade de sincretismo, “sincretismo em movimento”, passando por práticas mágico-religiosas, mágico-religiosas, crenças específicas e, por fim, propostas de auto-aperfeiçoamento partindo do pressuposto de um “Eu Superior” existente em cada ser humano. humano. Estas considerações foram sistematizadas na definição proposta por Gonçalves: [...] um movimento que congrega congr ega crenças esotéricas de inspiração teosófica, gn óstica, rosacruciana, além de concepções próprias de religiões orientais como o Budismo, Taoísmo e Hinduísmo e que se apresenta como um movimento difuso, não centralizado, tendo como pontos principais a busca de uma nova espiritualidade, através de experiências subjetivas, freqüentemente de natureza mística; a valorização do conhecimento baseado na intuição; uma visão de mundo espiritualista e holística; a crença na evolução do espírito; a concepção de Deus na forma panteísta (Deus é
82
Na entrevista da edição 8 da revista eletrônica da Comunidade Virtual de Antropologia, extraída em 28/5/2005 do site: http://www.antropologia.com.br, http://www.antropologia.com.br,aa antropóloga e professora Leila Amaral, autora do livro "Carnaval da Alma: comunidade, essência e sincretismo na Nova Era", afirma que uma das respostas a esta indagação foi elaborada por Carlos Alberto Afonso, antropólogo da Universidade de Coimbra.
50 tudo) ou panenteísta (Deus está em tudo). Também é um movimento que estimula o uso de artes art es divinatórias, práticas terapêuticas alternativas alternativas e defende a ecologia.83
A “orientalização” que se expressa por esse movimento é um fato que mostra um processo de substituição de uma teodicéia teo dicéia – – caminho caminho do homem para chegar a Deus. Max Weber 84 classificou a teodicéia ocidental como transcendente – o divino é superior e separado do mundo, enquanto na oriental esse mesmo divino é visto como imanente e, deste modo, interpenetra no mundo cotidiano, inclusive está com o homem. A adoção de um novo modo de ver o divino e a relação com o homem se reflete numa nova visão do mundo e do ser humano. Nesta perspectiva, Campbell define a “orientalização”: “[...] “[...] é referir-se ao processo pelo qual a concepção de divino tradicionalmente ocidental e suas relações com a humanidade e o mundo é substituída por aquela que tem predominado por longo tempo no Oriente”. Oriente”. 85 Com certeza, ao analisarmos detalhadamente a realidade, não haverá uma substituição total de um novo modo de encarar o divino e de um novo modo de pensar ocidental, mas ao se atentar às diferenças existentes e às suas nuances poder-se-á compreender melhor esse processo e seus desdobramentos quanto à nova visão que se descortina ao homem ocidental. Dentro dessa perspectiva de onde emergem fragmentações e complexidades, ordena-se a nova realidade que mostra na distinção entre Oriente e Ocidente os respectivos contrastes: síntese e análise, totalidade e generalização, integração e diferenciação, dedução e indução, subjetivo e objetivo, dogmático e intelectual. Trata-se da ordenação de categorias expressas dos movimentos e elas indicam predominâncias em duas direções simbólicas. Na Nova No va Era distinguem-se fatos fato s e posturas de seus simpatizantes e seguidores segu idores que a fazem ter características que lhe são próprias. Recuperando o que foi apontado em suas origens e desenvolvimento, complementa-se com algumas características deste movimento,
83
GONÇALVES, H.R. O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica Messiânica no Brasil, p. 13. Apud , CAMPBELL, Colin. A orientalização do Ocidente: reflexões sobre uma nova teodicéia para um novo milênio, pp. 6-7. 85 CAMPBELL, Colin. A orientalização do Ocidente: reflexões sobre uma nova teodicéia para um novo milênio, p. 6-7. 84
51 de acordo com artigo86 de Erinida Gema Gheller, acrescidas daquelas abordadas pelos estudiosos anteriormente citados:
Ampliação da consciência: existe a vontade de ultrapassar os limites das fronteiras do mundo daqui e atingir estados maiores de percepção para chegar a um mundo além.
Contato e desenvolvimento do Eu Superior: ao se propor a expansão da consciência parte-se da primícia de potencialidades afins de um eu pessoal que através de técnicas, principalmente de meditação oriental, permite seu desenvolvimento num contato com o ser universal. Os indicadores para a experiência espiritual e os caminhos para deles se servir encontram-se nas religiões orientais e em seus ensinamentos com o uso de suas técnicas, como a yoga e a meditação transcendental, que atuam como facilitadores e meios para experiências pessoais e contatos além deste mundo.
Pretensão científica: a visão holística ligada à física moderna serve no sentido de dar a idéia do TODO, permitindo relacionar e integrar os mundos físico e espiritual. Channeling (canal): este procedimento psicológico, muito próximo ao da
mediunidade do espiritismo, possui uma proposta de alcance ilimitado, em todas as esferas, chegando ao contato com seres extraterrestres e de outros mundos paralelos.
A idéia de lugar sagrado: o local sagrado fica subordinado ao ritual, sendo o espaço de realização do culto a concretização da realidade, dos valores e das propostas espirituais do grupo.
Idéia da imanência: existe aí a visão de um princípio divino não separado do homem e do mundo, visão compartilhada entre as religiões orientais, como a do xintoísmo, inicialmente abordada neste capítulo.
Sabedoria universal fora dos grupos dominantes: consideram-se sociedades iniciáticas ou esotéricas e grupos mágico-ocultistas como os detentores dos ensinamentos de uma filosofia única, que está à margem dos grupos e sistemas filosóficos dominantes.
Reencantamento do mundo pregando uma “Ecologia Profunda": a terra é vista como um ser vivente e também divino como todos os demais seres. O mundo é revalorizado e também a natureza, e entende-se aí o homem como parte dela, que se torna sagrada. 86
Artigo Nova Era: Realidade e Desafios, extraído em 28/05/2005 do site da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul: http://www.pucrs.br/uni/poa/teo/erinid3.htm.
52 Para encerrar, é necessário registrar a posição de contraste com as religiões tradicionais, que faz com que a Nova Era se proponha a ter uma visão mais otimista da
procura do espiritual que se exemplifica nas dicotomias existentes: pecado versus busca pelo auto-aprimoramento, culpa versus conhecimento interior. Dentro dessas características, aqueles que se acham integrados na Nova Era podem manifestar sua religiosidade numa expressão coletiva, a despeito de tal movimento não se inserir como uma religião no formato canônico87, o qual possui as seguintes peculiaridades: hierarquia; dogmas; culto organizado e doutrina revelada. Tal procura de integração podese expressar no modelo de triângulo apresentado por Magnani: Numa ponta está o Indivíduo, em suas diversas denominações e graus de profundidade (“eu inferior/superior”), lenda pessoal, guia interior, self, inner spirituality, self-spirituality, (inner voice); em outra, o pólo de onde emanou, do qual faz parte e para onde tende esse indivíduo – ou seja, a Totalidade (o Absoluto, o Cosmos, o Princípio Divino, a Natureza, conforme cada versão). Tendo em vista, porém, o caráter societário do modo de vida do ser humano, entre Indivíduo e Totalidade situa-se um terceiro termo, a Comunidade, depositária e guardiã de cada tradição particular e dos meios que possibilitam a seus membros, em cada contexto histórico, alcançar sua verdadeira natureza. 88:
O público voltado às religiões orientais está identificado, ou aceita facilmente os princípios da Nova Era. A postura como a da Seicho-No-Ie de não excluir e até incentivar aquele que dela se aproxima, a manter um vínculo com a religião “original”, abre a possibilidade de ter adeptos que transitam entre seu espaço e outros de modo a contribuir para a “formação” de sua religiosidade multifacetada, característica da Nova Era. Neste panorama apresentado, vê-se que as NRJ, e em particular, a Seicho-No-Ie, apresentam um discurso que caminha entre esse dois pensamentos para justificar sua doutrina, que combina suas origens orientais e abordagens próprias com o pensamento ocidental.
87
FRANÇA, M. G. F. O Feng Shui e a Nova Era : um exemplo de destradicionalização e de invenção de tradições, p. 58. 88 MAGNANI, J. G. C. O Brasil da Nova Era , p. 43.
53
3.3
Marcos da Nova Era no mundo
Movimento predecessor da Nova Era, a contracultura surgiu no começo da década de 1950 nos Estados Unidos, onde teve a sua maior evidência, e posteioromente espalhouse pelo mundo. Começou pelo movimento beatnik , com seus poetas e mochileiros que se posicionaram contra as convenções e o autoritarismo estabelecidos. Seu aspecto político manifestou-se em 1963 contra a Guerra do Vietnã. Sua expressão teatral mais famosa foi a do musical Hair (1967), com a música-tema Age of Aquarius (Era de Aquário). Movimentos pacifistas e revolucionários acontecem em muitos países, sendo o mais importante o “Movimento 68” contra o governo e a estrutura universitária na França. No mesmo ano surgiu na Tchecoslováquia um movimento de autonomia da Rússia, a “Primavera de Praga”, esmagado pelos russos. Na área musical, a maior expressão foi a dos Beatles, numa a atmosfera New Age (Nova Era) em músicas e com a adoção de um guru espiritual indiano, Maharish Yogi. Nos costumes esse movimento atingiu o comportamento sexual, a estrutura familiar, o modo de morar, de se vestir. Por fim, nas artes plásticas houve nos anos 70 um movimento que valorizou a pintura prezando a manifestação da alma, com o uso de manchas monocromáticas e ênfase na expressão emocional. E nas gravuras de Andy Wahrol, na Pop Art, têm-se as críticas aos signos do cotidiano (as sopas “Campbell”) sobre a banalização do ser humano.
3.4
Nova Era no Brasil
O Brasil dos anos 60 era uma época de grande atuação política exercida pela juventude universitária, pelos sindicalistas, e por aqueles pertencentes às organizações de esquerda que se insurgiam contra as desigualdades sociais. A partir dos anos 70 houve a repressão da ditadura militar, que impediu qualquer participação pela sociedade, e neste panorama social criaram-se condições de surgimento dos aspectos mais individualizados e místicos da Nova Era. Este paralelo das situações vividas nas décadas de 1960 e 1970 no Brasil e no mundo e a Nova Era são expressas por Marilyn Ferguson, estudiosa da Nova Era: “O ativismo social dos anos 60 e a „revolução da consciência‟ do início dos 70
54 pareciam mover-se na direção de uma síntese histórica: a transformação social como resultante da transformação pessoal – a mudança de dentro para fora.” 89 Em toda essa mudança que se processou, cabe informar que já existiam há muito tempo grupos e sociedades iniciáticas no Brasil que partilhavam idéias, que depois se tornaram mais presentes quando do advento da Nova Era. Como exemplo, citam-se as criações de entidades ainda atuantes no Brasil: primeira agrupação de maçons (1797); primeira loja teosófica (1902); livraria Pensamento (1907); Circulo Esotérico da Comunhão do Pensamento (1909); Sociedade Teosófica Brasileira (1916). Além disso, não devem ser esquecidas as religiões orientais, como o budismo e as Novas Religiões Japonesas, que estavam no Brasil desde as primeiras décadas, por exemplo a Seicho-No-Ie, oficializada em 1952, mas existente desde a década de 1930. Na manifestação cultural dessa época, tem-se o Tropicalismo, representado principalmente por Caetano Veloso e Gilberto Gil, como aquele movimento que “abriu espaço para uma postura identificada com a estética libertária e dionisíaca da contracultura”90. O artista que mais expressou o lado místico em suas músicas foi Raul Seixas, que tinha como parceiro Paulo Coelho, pertencente às sociedades iniciáticas. Músicas como Aeon, Gita e Sociedade Alternativa traduzem esta postura. Hoje Paulo Coelho vive esse
movimento no campo da literatura. Um dos acontecimentos mais importantes para a Nova Era no Brasil foi a criação de comunidades alternativas. Duas experiências destacam-se neste fenômeno, ambas criadas por José Trigueirinho Neto. Uma comunidade, criada em 1981, é o Centro de Vivências Nazaré, situado em Nazaré Paulista (SP), e a outra é Figueira, funcionando desde 1988 em Carmo da Cachoeira (MG). Na imprensa também a Nova Era fez-se representar. A revista Planeta, inspirada no modelo francês da revista Planéte, foi criada em 1972 por Ignácio de Loyola Brandão, e é considerada, ainda hoje, um dos principais veículos de propostas alternativas. No final dos anos 80 e decorrer dos anos 90 a Nova Era tornou-se cosmopolita e ganhou proporções de mercado, havendo uma crescente procura pelos serviços associados a 89 90
FERGUSON, Marilyn, A Conspiração Aquariana: Transformações Pessoais e Sociais nos Anos 80; p. 99. MAGNANI, J.G.C. O Brasil da Nova Era, p. 19.
55 este movimento. Em um levantamento feito em 1992, somente na cidade de São Paulo, constataram-se quase mil espaços dedicados a esses serviços e atividades apresentados no livro Mystica Urbe, de José Guilherme Magnani (1999).
3.5
Nova Era e as Novas Religiões Japonesas
O movimento Nova Era propicia no Ocidente a difusão de idéias concernentes às religiões orientais, e aí incluem-se também as NRJ. A partir desse processo de divulgação, a Nova Era marcou seu espaço cultural, e ao mesmo tempo propiciou o despertar do interesse por esses movimentos religiosos do Oriente. As influências destacadas neste trabalho assumem um caráter de identidade comum entre os movimentos discutidos, a partir do qual os autores avaliam as dinâmicas seguintes. Em primeiro lugar é sinalizado o caráter sagrado da natureza, integrado às forças cósmicas. Tal posição encontra eco no xintoísmo, que reverencia a natureza, tendo os kamis (deuses) ligados às suas manifestações, sendo esta religião uma das que mais influenciaram as NRJ. Em segundo lugar é registrada a ênfase na idéia de um Eu Superior. Em todas as NRJ encontra-se a visão da perfeição inata no ser humano e a ênfase para que este desperte todas as suas potencialidades. Esta visão se concretiza através dos ritos de purificação e pela força de vontade e disciplina dos adeptos. Atingir os objetivos dentro dos princípios expostos pelas suas doutrinas está sinalizado por um compromisso e especialização do próprio indivíduo. Em terceiro lugar destaca-se a nova visão de ciência, que percorre os meios descritos. Não é raro ver abordagens de conceitos e experimentos científicos para justificar e corroborar princípios doutrinários das NRJ. Há também uma idéia de ciência, de Taniguchi, com origem na intuição. É realmente estranha a atitude da ciência quando finge ignorar o valor da religião. Esta detém uma importante chave capaz de tornar positivos ou negativos os valores descobertos pela ciência. Além disso, a inspiração que dá origem às descobertas científicas nasce das profundezas da alma, que é o domínio da religião. Podemos
56 afirmar que toda descoberta nascida de uma inspiração instintiva tem a contribuição religiosa. 91
Finalmente, as NRJ criaram um espaço de compreensão do homem, por intermédio de uma visão otimista da busca espiritual, que transcende os seus limites de compreensão. Trata-se de entender as dinâmicas entre o bem e o mal mediante uma concepão de bondade e de perfeição inata no ser humano, e a presença de um princípio divino que emana da própria intimidade do ser. O adepto é compreendido como um indivíduo de valor e cujo dom divino emana da sua própria situação religiosa. As NRJ, ao expressarem idéias existentes no movimento Nova Era – seu facilitador quanto à sua apresentação ao mundo ocidental – trazem uma nova religiosidade permeada de valores orientais e japoneses que se tornam elementos atrativos em sua apresentação ao novo público ocidental e não descendente de suas terras de origem. Neste contexto a Seicho-No-Ie, uma das mais representativas deste grupo, surge no cenário religioso
brasileiro e nele se instala.
91
TANIGUCHI, Masaharu A Verdade, volume 10, p. 229.
57
CAPÍTULO II – ORIGENS, FUNDAMENTOS E EXPANSÃO DA SEICHONO-IE Para situar o momento do surgimento da Seicho-No-Ie é necessário lembrar que foi no segundo período do desenvolvimento e surgimento das Novas Religiões Japonesas – um tempo marcado pela opressão às novas seitas, grande depressão econômica e movimentos militares totalitários. Por outro lado, as transformações resultantes do processo de modernização da era Meiji, iniciado em 1868, traziam uma rápida industrialização e urbanização, e o Japão, ao entrar no capitalismo abria-se, além da tecnologia e negócios, aos costumes e cultura ocidentais. Apesar dessa abertura de valores, a era Meiji foi caracterizada por uma obediência total e reverência à figura do imperador. Dentro desse cenário, as novas religiões surgiram e uniram elementos religiosos japoneses à cultura ocidental, num processo, a partir da década de 1930, denominado de “ocidentalização do Oriente”. Diante deste cenário, a formação da Seicho-No-Ie tomou pulso e seguiu com as outras NRJ na utilização da mídia, tendo a presença de um líder carismático e uma doutrina pautada num grande sincretismo. A Seicho-No-Ie ordenou nesse contexto sociocultural um espaço próprio de distinção que fundamenta a espiritualidade projetada pelo uso da palavra. Segue por um atalho diferenciado dando ênfase ao poder da palavra, o que lhe dá um sentido específico para essa distinção inicial. A religião da palavra torna-se um referencial sendo construído como definição e convicção, como afirma o seu líder espiritual Masaharu Taniguchi: Podemos dizer que o “Movimento de Iluminação da Humanidade”, desencadeado pela Seicho-No-Ie, é um movimento para abençoar a humanidade com o poder da palavra.
92
A palavra possui uma força criadora que modifica a nossa mente.
Mentalizando ou pronunciando constantemente as palavras da Verdade, conseguiremos disciplinar a nossa mente, aprofundar a fé em Deus e sintonizar-nos com a Verdade da perfeição do Jisso (aspecto verdadeiro). 93 A criação da Grande Natureza é um autodesdobramento da Palavra de Deus. O homem também se inclui
92 93
TANIGUCHI, M. Revista Fonte de Luz , nº 253, pp. 12-13. Idem, Revista Acendedor, nº. 68.
58 nesse autodesdobramento. Sendo a Essência primária do Universo, Deus não é possuidor de um corpo, e Sua Palavra é a vibração do Seu pensamento espiritual. Quando se diz que “Deus pensa”, isso quer dizer que Deus emite a Palavra, que Deus cria. Para Deus, o pensamento é simultaneamente criação e ação. Isso é válido também para o homem, que aloja o Espírito de Deus em seu interior. 94
1
A vida de Masaharu Taniguchi: a revelação da palavra e a formação
das bases religosas Masaharu Taniguchi nasceu em 22 de novembro de 1893 na aldeia de Karasuhara, em Kobe, cidade portuária da província de Hyôgo, na região central do Japão. Era o segundo filho de uma família de cinco meninos e duas meninas, de um pequeno lavrador. Aos quatro anos, quando sua mãe visitou a tia deste, ela desejou ficar com ele, o que foi apoiado pela avó paterna de Masaharu Taniguchi. 95 Naquela época, uma esposa japonesa devia obedecer totalmente à vontade da sogra, e conseqüentemente ele foi adotado pela tia. Essa tia era proprietária de uma pequena fábrica, e deste modo proporcionou condições para ele fazer um curso superior em Literatura Inglesa na universidade de Waseda, em Tóquio, que, apesar de não ter concluído, distinguiu-o dos fundadores de outras seitas novas.
96
Masaharu Taniguchi chegou a ter seus estudos interrompidos na Universidade
quando, por um caso amoroso, a família cortou sua ajuda financeira, obrigando-o a trabalhar como operário e conhecer a miséria. Em sua busca espiritual foi adepto da seita Oomoto (Oomoto-kyô) por volta da Primeira Guerra Mundial, a qual foi uma de suas influências. Na Oomoto ele atuou aproximadamente por cinco anos na redação dos periódicos, tendo estudado tanto a sua doutrina como a do budismo97. Foi também nessa religião que ele conheceu sua esposa, Teruko Taniguchi. Além da Oomoto, ele teve contato com a seita Ittoen, sem a ela se filiar. Nesta seita teve a oportunidade de estudar o budismo, o cristianismo e a Ciência Cristã (Christian Science).
94
TANIGUCHI, M. A Verdade, volume 10, p. 256. DAVIS, R. E. O Homem-Milagre do Japão, p. 59. 96 TANIGUCHI, M. Revista Fonte de Luz , nº 297. 97 MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo, p. 44. 95
59 Numa fase de sua vida, ele ficou sem recursos e doente, mas também adquiriu várias experiências religiosas que culminaram, em fins de 1929, no recebimento de uma revelação divina que se resumia em dizer que a “matéria não existe”, “o corpo não existe”, “só existe a essência divina” ( Jisso). Takashi Mayeama elucida:.“ Jisso é o principio fundamental dos ensinamentos de Taniguchi que significa: „Aspecto real da existência, ou Entidade Oculta sob vários aspectos externos‟; é originariamente um termo budista.98” Masaharu Taniguchi recebeu outras revelações, e então planejou fundar uma revista economizando dinheiro, mas foi assaltado duas vezes. Após esses fatos ele recebeu a revelação que o incitava a levantar-se e começar imediatamente a concretização de seu plano. Desse modo, utilizando seus próprios recursos, ele iniciou este movimento religioso em 1º de março de 1930 com a publicação da revista Seicho-No-Ie. Sua idéia primordial era publicar uma revista particular como um movimento filosófico. Esta publicação teve grande repercussão no Japão. Formou-se um público confiante que se predispôs a seguir a fé em função de vantagens pessoais que pudesse receber através da leitura e da fé na palavra expressa da revista Seicho-No-Ie. A partir de então, nos seus primeiros números, a revista passou a chamar-se Shinshi (Revista de Deus) 99. Masaharu Taniguchi esclarece: No início, lancei a filosofia “Seimei no Jisso” na forma de minha revista particular “Seicho-No-Ie”, e publiquei como movimento de pensamento filosófico e não como movimento religioso. Porém, a certas pessoas que leram as publicações começaram a se manifestar inúmeros acontecimentos milagrosos, ao mesmo tempo que as outras apareceram visões estranhas em que viram i magens misteriosas como a citada no Cap. I do Apocalipse, transcrito na abertura deste livro, enquanto que a outras se revelaram maravilhosas inspirações. Por isso, essas pessoas começaram a reconhecer como movimento religioso. Não obstante se diga movimento religioso, não é um movimento ligado a esta ou aquela religião, ou seita. A essência de todas as religiões – em outras palavras, o princípio básico da salvação que é comum a todas as religiões – se identifica com a Verdade pregada na filosofia do “Jisso”. Por isso, pessoas criadas dentro das tradições religiosas as mais diversas mostram-se muito contentes, sem mudarem de religião, continuando a reverenciar o Padroeiro da
98 99
MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo, p.45.
Idem, 46.
60 religião tradicional da família, por terem apreendido o princípio da salvação que constitui a essência e poderem aplicá-lo na vida prática. 100
Masaharu Taniguchi começou a organizar suas atividades com um dom próprio no trabalho religioso. Em 1932, a fama da revista no Japão havia tomado âmbito nacional, sendo nela incluídos vários relatos de cura de seus leitores. Em 1934 formou-se a filial do movimento religioso em Tóquio, para onde ele se transferiu, e no ano seguinte a Seicho-No Ie obteve no Japão o registro oficial e o reconhecimento pelo governo japonês como
entidade religiosa. Foi nesse centro que se ordenou o foco central que será discutido. Tratase da sua maior obra, Seimei no Jisso (A Verdade da Vida), que inicialmente foi composta pelos principais artigos da revista “Seicho-No-Ie”. Esta obra tornou-se uma coleção que contém toda a doutrina da Seicho-No-Ie, sendo nela abordados os mais variados campos do conhecimento e de atuação humana. A definição religiosa fundamentada nesta obra tomou o rumo de uma revelação, como se mencionou a respeito das NRJ. Seguiu também diante do sentido de possessão que foi caracterizado por Ronan Alves Pereira, como marca religiosa de caráter divino (kamigakari) por Ookami (Grande Deus), da Seicho-No-Ie
101
. Em outras publicações
doutrinárias destacou-se esse processo de envolvimento de Masaharu Taniguchi por esse kami da Seicho-No-Ie, Ookami, que seria o responsável por sua produção literária. Esta
dinâmica acompanhou a produção literária que, de acordo com Masaharu Taniguchi, só após a sua ocorrência ele tomava conhecimento do produto escrito, que passava a ler efetivamente. Masaharu, em sua formação sofreu influências da cultura e religiosidade tanto de seu país como do Ocidente. Destacaram-se as influências que conheceu ainda na universidade de Waseda, como as de Oscar Wilde (1854-1900), Arthur Schopenhauer (1788-1860), William James (1842-1910), psicanálise, hipnotismo, espiritismo, e o “New Thought Movement” americano. Posteriormente estudou o budismo, o xintoísmo, a Oomoto (Oomoto-kyô), o cristianismo e a Christian Science, e destes movimentos recebeu
grande influência que inseriu em sua doutrina. Esta dinâmica da experiência religiosa de
100 101
TANIGUCHI, M., Seimei no Jisso (A Verdade da Vida), volume 1, p. 11-12. MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo, p. 59.
61 Masaharu Taniguchi foi assinalada em um recente estudo feito por Ediléia Mota Diniz. Afirma a autora: “Ora, a compreensão da trajetória do fundador da Seicho-No-Ie está muito atrelada ao conhecimento adquirido na universidade e, posteriormente, na busca espiritual que culminou na revelação que Taniguchi afirmava ter recebido diretamente da divindade.” 102
E prossegue: O fundador TANIGUCHI aprendeu do budismo a sua filosofia panteísta e o idealismo monístico; do cristianismo o evangelismo; da Christian Science, iniciada nos Estados Unidos por Mary Baker EDDY em fins do século XIX, a cura psicológica das doenças; da psicanálise freudiana então em voga no Japão, a sua psicologia e a técnica de educação infantil, das obras de Fenwicke L. HOLMES, a ideologia de que as causas da infelicidade deste mundo residem não em Deus, mas na forma individual de pensamento... 103
A abordagem do cristianismo na obra de Masaharu Taniguchi surgiu numa visão que se identificava com movimentos como o da Christian Science fundada nos Estados Unidos por Mary Baker Eddy (1821-1910) em julho de 1876, e que basicamente vê Deus como Princípio de tudo e, conseqüentemente, o mal não ter em si nenhuma base para existir. As pessoas são vistas como sendo essencialmente perfeitas – imagem e semelhança de Deus. Ela tem na prece ou trabalho metafísico a chave para o tratamento dos males. 104 Ao encetar um movimento no sentido de “curar” as pessoas, de doenças, misérias e outros males, ou, na palavra de TANIGUCHI, realizar o que ele chama de Metaphysical healing (cura metafísica ou divina), serviu-se ele do exemplo da Christian Science que com este mesmo tipo de movimento alcançou sucesso nos Estados Unidos, conquistando um grande número de adeptos entre as pessoas pertencentes à classe média urbana. 105
102
DINIZ, Ediléia Mota, Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil , p. 56. 103 Idem, p. 50. 104 SCOTLAND, Nigel, Christian Science in New Religions, A Guide: New Religions Movements, Sects and Alternative Spiritualities, p. 39-40. 105 MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo , p. 61.
62 O conhecimento pelo Novo Pensamento americano aconteceu para Masaharu Taniguchi através da obra de Fenwicke Holmes (1883-1973), em particular do livro A Lei da Mente em Ação 106, onde o autor explica, de acordo com suas convicções, que a
pessoa
atrai aquilo em que acredita. O Novo Pensamento, ao qual Holmes pertence, apregoa ainda que o meio para manifestar a perfeição divina do homem é através do pensamento positivo. O entusiasmo de Masaharu Taniguchi pela obra de Holmes traduziu-se na sua participação como co-autor do livro A Ciência da Fé. Esta visão, “ação-reação” ao pensamento, está ligada à lei do carma apregoada principalmente pelo espiritismo, uma das religiões estudadas por Masaharu Taniguchi. Xintoísmo, budismo, xamanismo e filosofia idealista alemã estão inseridas nesta dinâmica. As crenças populares japonesas surgem através do culto aos antepassados e a interpretação das almas dos mortos. Em relação às outras doutrinas orientais o próprio Masaharu Taniguchi situa a Seicho-No-Ie: No tocante às doutrinas orientais, a nossa filosofia reúne os ensinamentos fundamentais do xintoísmo, do budismo e do confucionismo em torno da Verdade essencial; nesse sentido, podemos dizer que ela tem como fonte as citadas doutrinas. Em relação ao Ocidente, a nossa doutrina pertence a corrente New Tought quanto ao modo como reúne em torno da Verdade essencial os ensinamentos do cristianimo.107
Masaharu Taniguchi caracteriza a Seicho-No-Ie como uma expressão budista. Sua busca pelo sagrado acontece numa perspectiva racional, inserindo sua doutrina numa abordagem própria do budismo Mahayana, ou Grande Veículo, que predomina no Japão. A postura educacional adotada faz com que a salvação do adepto aconteça num processo de procura de conhecimento característica do budismo citado. Entre a época que o budismo nasceu e a época em que chegou até o arquipélago japonês, transcorreram cerca de mil anos. É verdade que em tão longo período o budismo mudou consideravelmente e desenvolveu várias teorias novas, mas seu
106
DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil, p. 33. 107 TANIGUCHI, M. Coleção Masaharu Taniguchi, volume 10 – Comande sua Vida com o Poder da Mente, p. 18.
63 caráter super-racionalista, sua natureza filosófica, nunca desapareceram. O tipo de budismo que entrou no Japão, chamado “Budismo Mahayana ou Grande Veículo”, cujas teorias foram elaboradas por Nagardyuna e Vaspandu, por volta dos séculos II e III, busca também a liberação por meio da teoria do conhecimento.108
Como se comentou, para alguns autores a doutrina da Seicho-No-Ie está próxima daquela abordada na filosofia idealista de Hegel. Trata-se de uma posição idealista panteísta.109 Quando do falecimento de Masaharu Taniguchi em 17 de junho de 1985, na cidade de Nagazaki, no Japão, suas publicações já tinham atingido um grau de maturidade de 400 livros, sendo traduzidos em torno de 70 para o português110. Nesta vasta e diversificada obra ele estruturou e apresentou as bases e fundamentos de sua doutrina religiosa.
2
Fundamentos da religiosidade A religiosidade Seicho-No-Ie tem seus princípios em áreas diversas que
influenciaram ou foram estudadas por Masaharu Taniguchi, visando a mostrá-la como a essência das religiões com uma abordagem filosófica de raízes japonesas: “[...] criei um sistema filosófico de características nipônicas. A Seicho-No-Ie não repudia nada. Sendo Verdade, adota-a, não importa a procedência, a incorpora a seu sistema filosófico. São bem-vindos a ciência, todas as religiões existentes, a medicina, a psicologia, o espiritualismo, a psicanálise, a New Tought. 111“ Em suas obras, Taniguchi diz que a existência verdadeira é Deus, ou quem quiser pode chamá-la de Vida. Esta “Grande Vida do Universo”, Deus, tem os atributos de ser eterno, absoluto, universal, perfeição, harmonia e bem; mas em outras ocasiões é dado um tratamento pessoal à divindade. Essa posição não muito clara do divino é uma característica encontrada nas NRJ, como foi abordado por Rochedieu: 108
OSHIMA, H. O pensamento japonês, p. 35. MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo, p. 51. 110 ANONYMUS Superintendência de Administração de Produtos e Distribuição da Seicho-No-Ie do Brasil. Relação de publicações comercializadas pela Seicho-No-Ie, abril de 2006. 111 TANIGUCHI, M. Seimei no Jisso (A Verdade da Vida), volume 35, pp. 14-15. 109
64
[...] a maior parte das novas religiões não sente necessidade alguma de clareza quando se trata de definir ou descrever o objeto da sua adoração. Algumas delas – a Tenrikyo, a Oomoto e a Soka-Gakkai – englobam nas suas Escrituras concepções de Deus simultaneamente politeístas e monoteístas. Outras – a PL Kyodan e a Seichono-Ie – parecem ensinar por um lado um panteísmo teórico e, por outro, no plano da piedade prática um deus pessoal. 112
2.1
.
Bases hegelianas da doutrina
Masaharu Taniguchi ao situar a Seicho-No-Ie como uma expressão budista, o faz mostrando que esse budismo chegou ao Japão através da Christian Science, que sofreu influência de Hegel que, como outros filósofos alemães, de acordo com sua interpretação, sofreu influência do budismo: [...] a minha filosofia da Verdade da Vida, além de também introduzir as características hegelianas, nos ensinamentos do budismo, do xintoísmo e outras religiões, ressuscitou na época atual o antigo espírito nipônico registrado no Kojiki (N. da R.: Livro de Mitologia Japonesa), e sistematizou “niponicamente” os ensinamentos de todas as religiões. 113 A Seicho-No-Ie não é, de modo algum, mera religião recém surgida, mas sim uma nova expressão literária que transmite os ensinamentos de Buda. Ela abrange todas as religiões antigas, as ciências e as filosofias, e faz uso de uma forma de expressão que atinge a alma do homem moderno.114
Entende-se ser importante destacar, em relação ao trecho citado, o valor dado ao uso da palavra escrita na difusão de suas idéias, e em sua preocupação de expressão adequada ao momento da sociedade e, conseqüentemente, do homem ao qual se deseja atingir com esta doutrina. A dinâmica em se adaptar usando a palavra é uma preocupação constante na atuação desta religião, dinâmica esta que se pode traduzir por “mudar constantemente, mantendo-se a mesma”.
112
ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, p. 204. TANIGUCHI, M. Seimei no Jisso (A Verdade da Vida), volume 35, p. 30. 114 Idem, p. 26. 113
65 Pela posição de Masaharu Taniguchi compreende-se a importância da influência hegeliana em sua obra, mas não faz parte deste trabalho aprofundar a análise desta relação, entretanto de expressam-se certas idéias abordadas por Raymond Plant no estudo da filosofia de Hegel.115 Destacam-se dois itens que têm um paralelo entre as idéias hegelianas e taniguchianas. O primeiro refere-se à relação entre filosofia e religião. Lembre-se que, por vezes, a Seicho-No-Ie se posiciona como filosofia. Hegel apregoa que o objeto da filosofia e da religião é o mesmo: a verdade, Deus: “O objeto da religião, como aquele da filosofia é a verdade eterna, Deus e nada senão Deus e a explicação de Deus.” 116 Esta idéia de Hegel, como entende Plant, traduz-se em procurar uma estrutura conceitual e acessível a todos para conhecerem o Absoluto, uma característica presente nas obras de Masaharu Taniguchi. O segundo item que chama a atenção é a posição de Hegel em relação ao
cristianismo. Esta religião, como se estruturou, de acordo com Hegel, separou o homem de seu Criador e da natureza, e deste modo esse ser sente-se fragmentado, não incluído na obra divina,e portanto, carente dessa unidade. Dentro deste contexto, Plant refere-se aos escritos do filósofo alemão em Berna e Frankfurt sobre a necessidade de uma nova visão do cristianismo. “O cristianismo é o que temos, e se a religião pode tornar-se novamente o foco de uma vida em comum e da unidade do si-mesmo [ self ], então a religião cristã tem de ser transformada[...].” 117 A concepção divina do homem se insere no modelo de perfeição, núcleo fundador da Seicho-No-Ie, que por sua vez apresenta o ser humano não mais como intrinsecamente um pecador, visão constrastante com a visão defendida pelo cristianismo. A figura de Jesus Cristo, nesta perspectiva, vai de encontro à visão cristã que o vê como um ente especial apartado dos demais homens e o único Filho de Deus. Entende-se que todos os seres possuam a mesma origem divina e perfeita. A proposta que surge na base hegeliana apontada por Plant é de que a divindade de todo ser e da humanidade se reconheça e se reconcilie com Deus, na figura de Jesus Cristo, um exemplo da perfeição divina. Esta visão
115
PLANT, Raymond Hegel : sobre Religião e Filosofia. Idem, p. 51. 117 Idem, p. 23. 116
66 de Jesus existe na Seicho-No-Ie e é sempre destacada quando se refere que todos os homens são Filhos de Deus, como Jesus.
2.2
O caráter de unicidade e diversidade no pensamento religioso
A Seicho-No-Ie tem uma visão monista de Deus: “Deus verdadeiro é um só” 118 e, ao mesmo tempo, apresenta a imanência tão característica das religiões orientais119 e a exemplifica na sutra Kanro no Hoou (Chuva de Néctar da Verdade), no início do capítulo Deus: Um dia, o Anjo, vindo à Seicho-No-Ie, recita: O Deus da Criação transcende os cinco sentidos e também o sexto sentido; Sagrado, Supremo, Infinito, Espírito que permeia o Universo, Vida que permeia o Universo, Lei que permeia o Universo; Verdade, Luz, Sabedoria, Amor Absoluto
– isto é a Grande Vida. 120 Esta religião, como as demais do grupo ao qual pertence, tem influências xintoístas; logo, essa visão monista de Deus deve ser vista dentro do pensamento mítico japonês, nesta perspectiva de não – contradição deste pensamento: “o uno se torna múltiplo e o múltiplo representa o uno”. Deste modo, o conceito xintoísta de kami (deus) está presente na doutrina Seicho-No-Ie: 118
TANIGUCHI, M. Seimei no Jisso (A Verdade da Vida), volume 3, p. 77. MAGNANI, J.G.C. O Brasil da Nova Era , p. 37. 120 . TANIGUCHI, M. Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade, p. 16. 119
67
O que é Deus? A palavra “Kami” (Deus em japonês) originou-se da abreviação da palavra “Kakurimi” (corpo invisível). Os japoneses denominaram de “Kami” a tudo que sendo invisível fazia obras misteriosas. Há três classes em “Kami”: a primeira, é o Espírito Absoluto do Universo; a segunda, é o Espírito Absoluto do Universo que aparece provisoriamente em certos aspectos como um recurso para nos salvar. É o caso de Kanzeon-on-bosatsu ou Shiotschi-no-kami. A terceira se refere às almas humanas e de outros seres. Todos são corpos invisíveis e possuem determinados poderes. 121
Esta unicidade e a multiplicidade de deuses, próprias do pensamento mítico nipônico, refletem-se na explicação de Masaharu Taniguchi ao demonstrar, em seu entender, que o deus da Seicho-No-Ie (Seicho-No-Ie no Okami) é a divindade xintoísta Suminoe ou Sumiyoshi, a qual constitui-se a expressão da divindade budista Kanzeon Bosatsu, e esta, por sua vez, representa o arcanjo Miguel. O pensamento mítico torna-se o
núcleo estabelecido como ponte de identificação entre as três religiões básicas na formação da Seicho-No-Ie, ou seja, o xintoísmo, o budismo e o cristianismo. Isto demonstra, como abordado no capítulo I, a característica das NRJ de conviver simultaneamente com características monoteístas e politeístas. O sincretismo na visão do paralelismo surge na procura de semelhanças ao tentar estabelecer correspondências. Esse arcanjo Miguel citado no cristianismo se refere a Deus que se manifestou através da Seicho-No-Ie, ou seja, Kanzeon Bosatsu do budismo. É a divindade que realiza a salvação através da força sobrenatural que lhe permite tomar 33 formas diferentes. O arcanjo Miguel equivale ao deus Suminoe (ou Sumiyoshi) citado na escritura xintoísta Kojiki. 122
Na perspectiva de estabelecer pontes entre religiões, a obra de Masaharu Taniguchi pauta-se em trazer uma doutrina sincrética, mas permeada de valores da cultura e
121
TANIGUCHI, M. Revista Acendedor nº. 12, p. 6. Idem, Preleções sobre a Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade, p. 26.
122
68 religiosidade japonesas. Estes sentidos ordenam uma base intrínseca que permite sustentabilidade aos outros, onde se estabelecem seus ensinamentos. Na visão do divino pela Seicho-No-Ie surge o ser humano como produto desta Vida, Deus. A essência, Imagem Verdadeira ( Jisso) em que se concebe a divindade é herdada pelo homem. Retomar a consciência desta perfeição, e a conseqüente filiação divina tornase objetivo, meio e fonte da felicidade do ser humano ao se conceber como Filho de Deus e tendo em si um Eu Perfeito. A ilusão torna-se produto de todo e qualquer ato ou pensamento que aparte o ser humano desta concepção divina e de perfeição e, desta maneira do esquecimento de sua filiação divina. A visão xintoísta surge ao apregoar a necessidade de purificação e uso correto da mente para identificar-se com o Princípio Sagrado, Deus. As leis e princípios propalados pela Seicho-No-Ie mostrariam o caminho para a concretização deste anseio do homem, ressaltando, através da palavra, o modelo de perfeição, núcleo intrínseco da doutrina.
2.3
Erro e moralidade: a inexistência do pecado
Na lição de Taniguchi “A palavra „tsumi‟ significa „pecado‟ em japonês, originou-se da palavra „tsutsumi‟, que indica „encobrir‟. Através desses significados, o „pecado‟ é compreendido como a não conscientização, o encobrimento da sua própria Natureza Divina.”123 Esta perspectiva do ser humano faz com que a Seicho-No-Ie estabeleça como sua principal missão a de mostrar , “descobrir” que o homem é, antes de tudo, filho de Deus Perfeito, e sua salvação está em reconhecer este fato: [...] o pecado original cometido por Adão é o primeiro encobrimento da natureza divina do homem, que consiste em considerar o homem um mero corpo carnal, em vez de conscientizar sua natureza espiritual de filho de Deus. Lamentavelmente, nos
dias atuais, muitas pessoas que se dizem cristãs estão cometendo o mesmo pecado cometido por Adão.
123
TANIGUCHI, M. A Verdade, volume 2, p. 319.
69 Alcançamos a salvação somente quando a buscamos através da “natureza divina eterna”, à qual o próprio Jesus Cristo se referiu dizendo “Antes que Abraão existisse, eu sou”. 124
Objetiva-se o ser humano por este manifestar toda a perfeição e potenciais inerentes à sua origem divina, sendo que o maior destaque deste ensinamento religioso é o de considerar o homem filho de Deus e perfeito em sua essência ( Jisso). A idéia de perfeição inata do homem, aliada à dedicação da pessoa em dissipar a ilusão que seria o mal, vem ao encontro da visão xintoísta de que o homem é essencialmente bom, e o esforço em recuperar o estado original é de pureza125. O trecho abaixo da “Revelação Divina da Confissão” demonstra que a Seicho-No Ie, apesar de apregoar a inexistência do pecado, não exclui, como se poderia supor, a
confissão, pois parte do mesmo pressuposto cristão sobre a necessidade desse expediente e do arrependimento. A diferença entre as duas doutrinas está na concepção do homem, o qual é visto pelo cristianismo como intrinsecamente pecador, o que difere da Seicho-No-Ie, que entende que após o ato confessional e o sincero arrependimento, a perfeição inata e divina ( Jisso) do homem que estava “encoberta”, resplandece. A visão cristã “estática”, “condenatória” e “ïmperfeita” da natureza humana, é substituída por uma “dinâmica”, “libertária” e “perfeita” da Seicho-No-Ie. Em depoimentos de fiéis, esta visão, com seu modelo de perfeição, tornou-se atraente para sua adesão a essa religião. [...] Meu ensinamento prega a inexistência do pecado, mas é um erro pensar que é “desnecessária a confissão porque o pecado é originariamente inexistente”. O pecado é originariamente treva e se extingue quando exposto à Luz; porém quando é mantido oculto, ele continua como treva e não se extingue. [...] [...] Porém, uma vez confessado o pecado, não deveis torturar vossa mente, que é a extensão da mente de Deus, voltando a vos prender àquele pecado. O pecado desaparece simultaneamente à confissão. A treva não se extingue quando exposta à luz? Não desaparece o pecado daquele que não se confessa arrependido, assim como não desaparece a treva que não é exposta à luz. A confissão pode ser feita discretamente a um orientador religioso, pessoalmente ou por meio de carta.
124 125
TANIGUCHI, M. A Verdade da Vida, volume 13, p. 94. ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, p. 102.
70 Entretanto, nenhuma eficácia há em expor o pecado diante do publico que irrefletidamente faz comentários maldosos. Que eficácia há em projetar a escuridão sobre a escuridão? O homem, no momento em que confessa sinceramente, purifica todo o seu ser e manifesta a perfeição própria do filho de Deus que é. Após confessar com toda a sinceridade, permanecei tranqüilos. Sois verdadeiramente Meus filhos. Eu sou um convosco. O Espírito Santo comunica-se convosco, vossa alma é abençoada e obtendes a vida eterna.126
Entende-se que a linguagem do cristianismo apoiada no erro tornou-se uma área de contágio cultural. Nota-se a combinação de crenças, e através do conceito de sincretismo relativo ao paralelismo cria-se um ambiente de convívio ao possibilitar a situação do fiel ao arrependimento. Conclui-se que a presença do cristianismo marca uma tendência que se impõe pela origem como objetivo de ordenar uma moralidade fundamentada no erro.
2.4
Cosmovisão espiritualista127
A idéia de que em tudo existe a vida de Deus e dela tudo se origina, nos remete à “Concepção Vitalista da Salvação”. Explica-se a idéia da perfeição e a interligação dos seres através de sua “fonte” comum. Esta concepção existente nas Novas Religiões Japonesas foi abordada por Tsushima128 e é esclarecedora para o entendimento da cosmovisão espiritualista da Seicho-No-Ie. Ela consta em artigo de Masanobu Yamada129: De acordo com essa idéia, "O cosmos é encarado como um corpo vivo ou uma força vital com fertilidade eterna", o qual, às vezes, é "compreendido como uma divindade". É considerado ser, a um só tempo, "a fonte de onde toda a vida emana e a fonte que nutre toda a vida". A idéia que resulta disso é que "todas as coisas são harmoniosas, interdependentes, mutuamente solidárias, e em constante crescimento" [Tsushima et al. 1979: 142-143]. Uma vez que cada ser humano é "uma parte do universo, ele naturalmente julga ter uma existência originada e nutrida pela Vida Original". A natureza humana é interpretada como sendo "divina, despoluída, pura e 126
TANIGUCHI, M. Sutras Sagradas, pp. 107-109. Idem, Mistérios da Vida, pp. 15-65. 128 TSUSHIMA, Michihito The Vitalistic Conception of Salvation in Japanese New Religions:An Aspect of Modern Religious Consciousness In: Japanese Journal of Religious Studies, 6/1-2 March-June 1979. 129 "The Vitalistic Conception of Salvation" in Brazil: Japanese New Religions and Pentecostalism, in: Religion and Society (Special Issue – Records of the 2002 Workshops – The 10th Annual Conference, 30 June 2002, Kwansei Gakuin University), 2004. 127
71 perfeita", tornando possível, dessa forma, "retornar ou unir-se à Vida Original" [Tsushima et al. 1979: 144-145]. 130
Esta fonte da qual todos se originam e se nutrem transforma-se no meio pelo qual todos se integram através de elos espirituais. Estes elos espirituais, como abordados por Gonçalves131, são algo que existe de modo concreto, sendo mais fortes com aqueles com os quais se mantenham estreitas ligações nesta ou em outras vidas aqui vividas, já que ela considera a teoria reencarcionista do budismo, num expediente sincrético de convergências de idéias budistas e espíritas. Essas ligações permitem a mútua influência entre pessoas vivas ou falecidas, geralmente mais “fortes” com aquelas relacionadas ao nosso meio familiar, tais como pais, cônjuges, filhos e antepassados. Esta fonte única, ao expressar-se através de suas potencialidades, estabelece o mundo espiritual provido de vários espaços denominados níveis, onde pessoas e seres que com eles se identificam são “atraídos” a tais lugares, convivendo com situações similares aos seus tipos de pensamentos ou modos de agir, que se constituem em si mesmas essas “forças de atração”.
2.4.1 A estrutura do homem A presença da espiritualidade torna-se marcada também ao estruturar planos do eu com uma dimensão do enfoque no indivíduo. Na literatura132 estão registrados três corpos: carnal, etérico e astral, que marcam esta definição. O carnal é aquele que se conhece. O etérico é o que serve de meio de enviar sensações através da energia vital existente em todo o Universo, o prana. Por fim, tem-se o astral, onde se registram as emoções, sendo algo maleável e brilhante de acordo com os sentimentos que mais normalmente se nutriem. Além desses corpos efêmeros, existe o Corpo Real central, o Eu Verdadeiro, que unifica esses corpos e os controla. Para complementar a idéia da estrutura do homem, Masaharu Taniguchi, a partir da concepção budista da inexistência do eu, estabeleceu três proposições: 130
YAMADA, Masanobu “A Concepção Vitalista da Salvação” no Brasil: As Novas Religiões Japonesas e o Pentecostalismo, Revista de Estudos da Religião, pp. 30-31. 131 GONÇALVES, H. R. O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica no Brasil, p. 121. 132 TANIGUCHI, M. Mistérios da Vida, pp. 159-160.
72
Ainda do Budismo uma outra concepção foi adotada, que é a da inexistência do eu. Por essa outra afirmação de Sakyamuni, Taniguchi propõe três diferentes idéias: a primeira explica que o eu carnal deste mundo é conseqüência de uma ação química da matéria; a segunda consiste em aceitar o eu que engloba uma vida alternada entre este mundo e o mundo espiritual; a última concepção do eu está diretamente ligada com o caráter imortal do “eu fenomênico”, que mesmo estando encarnado possui uma vida no plano espiritual. 133
2.4.2 Entendendo o fenomêno Antes de abordar o entendimento que a Seicho-No-Ie tem dos fatos que acontecem no mundo em que se vive, o mundo fenomênico, é importante iniciar pela visão desta doutrina em relação à matéria. De acordo com esta religião, a “matéria não existe”, incluise aí também o corpo, sendo ambos produtos da mente. Em relação ao corpo, Masaharu Taniguchi expressa-se da seguinte maneira: [...] se considerarmos o corpo carnal não como matéria, mas como Imagem Verdadeira que se reflete e se manifesta em forma perceptível aos cinco sentidos, nosso conceito em relação ao corpo carnal será uma “visão espiritualista”, e justamente essa visão nos trará saúde, perfeição, força e Vida. Quando nos conscientizamos de que todos os estados materiais são o reflexo dos estados mentais, podemos ver corretamente a Imagem Verdadeira de nossa própria existência, sem distorção, na sua perfeição, e por fim elevar o nosso espírito e ter domínio absoluto sobre o corpo carnal. 134
Ao explicar a origem das infelicidades, Taniguchi diz que elas são projeções da mente devido a pensamentos ilusórios ou distorcidos. Esta idéia defendida por ele é abordada em outras correntes de pensamento, como o Novo Pensamento ( New Tough) americano e religiões como o budismo. Em todas elas é dito que a mente do ser humano tem o poder de atrair pessoas, coisas e fatos concernentes ao seu tipo de pensamento, palavra ou ato. Deste modo, quando existem condições propícias, tais ocorrências se 133
DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil , p. 51. 134 TANIGUCHI, M. A Verdade da Vida, volume 8 , p. 103.
73 concretizam na vida da pessoa. Portanto, pensamentos tristes concretizariam, “atrairiam” para essa pessoa situações que a fariam cada vez mais infeliz. O oposto também é verdadeiro. O mundo fenomênico é uma derivação de poderes mentais desta formação. Esta visão reforça aquela anteriormente citada de que o ambiente e até o corpo da pessoa são reflexos de pensamentos, e estes, com sua força transcendental, atraem elementos que lhes são semelhantes. Para explicar melhor a relação mente e fenômeno observou-se com freqüência, como participante de rituais e reuniões, o uso da metáfora sobre a lente. Admitindo-se a existência do Mundo de Deus da Imagem Verdadeira ( Jisso), incluindo aí a Perfeição do próprio ser humano, haveria na mente a figura de uma lente que dependendo de seu grau de pureza – deixará manifestar os atributos da Perfeição no mundo em que se vive, o fenomênico. Deste modo, a Seicho-No-Ie apresenta o mundo material como símbolo daquilo que está na mente dos homens: [...] toda experiência humana é explicada como manifestação da mente. Através da mente, o homem delinearia sua vida. Em casos de doença, miséria, morte e infelicidades, tratar-se-iam de mentes obscurecidas pela ilusão que não permitiriam a manifestação da verdadeira realidade do homem, do seu Jisso. Para que esses problemas ou “ilusões” desapareçam, o homem deveria conscientizar -se de que é filho de Deus, perfeito, permitindo então que seu Jisso se manifeste. 135
Neste universo de compreensão simbólica, o corpo expressa uma linguagem que passa a ser o meio de entendimento e de reflexão dos atos e pensamentos criados pelo ser humano. O homem tem a identidade de seu corpo como símbolo de reflexão para aprimoramento de sua postura mental e, conseqüentemente espiritual. Na obra de Masaharu Taniguchi existem publicações136 onde se trata de fornecer ao fiel um quadro de símbolos com o objetivo de que o adepto, ao refletir sobre eles, mude seu comportamento, facilitando a expressão do modelo de perfeição, parte integrante do seu
135 136
ALBUQUERQUE, Leila M. B. Seicho-No-Ie do Brasil: agradecimento, obediência e salvação, p. 36. TANIGUCHI, M. A Chave da Beleza e da Saúde, pp. 107-158.
74 núcleo fundador. A escrita, a palavra e a mente constituem meios para manifestar a perfeição. Neste universo simbólico, casos como o do reumatismo expressam atrito nas relações afetivas. Tumores cancerígenos na mama e no útero são resultados de carência afetiva. Doença e fraqueza da esposa refletem o seu receio de perder o marido. Doença no aparelho digestivo relaciona-se com a mente que não aceita as coisas com gratidão. A ligação forte entre familiares, como já citado neste capítulo, estabelece influências mútuas, e as doenças servem para refletir estas relações. Desta maneira, fatos como doenças no ouvido da criança são reflexos do pensamento da mãe em não querer ouvir o marido. Problemas respiratórios do filho são expressões da desarmonia conjugal. Poliomielite denota a influência de espírito da família ou amizade antiga, indicando que o espírito ao despertar no mundo espiritual não “vê” as pernas, os braços e as extremidades (mãos) resultando em uma visão “raquítica” desses membros. A doença como um mal da mente, do espírito da pessoa, é visão também de outras NRJ. A Seicho-No-Ie estendeu no seu modelo de perfeição, dentro do seu núcleo fundador, a cura através da purificação do corpo e do espírito, expedientes de fundo xintoísta. Ela integrou à doutrina conceitos de psicologia e psicanálise abordados em várias obras citando, por vezes, estudiosos do assunto para reforçar essa visão. Esta abordagem fez com que a Seicho-No-Ie se destacasse das demais religiões deste grupo, como foi abordado por Rochedieu: Em japonês, a palavra doença é constituída por dois elementos: um significa “doente” e o outro “espírito” ou “atitude”, de tal maneira que, diz um provérbio japonês, “a doença vem do espírito”. As novas religiões, quase sem exceção, aceitam esta explicação filológica da palavra “doença” e tomam a sério o adágio popular. Uma delas, no entanto, a Seicho-No-Ie, que dá especial relevo aos problemas psicológicos, explicitou melhor do que outras a sua doutrina. Para esta seita, é evidente que a doença, produto direto de um espírito perturbado, não existe em si mesma. O corpo torna-se o que o espírito pensa, o que inventa a sua imaginação desordenada. 137
137
ROCHEDIEU, E. Xintoísmo e Novas Religiões do Japão, pp. 211-212.
75 Diante disto a questão da subjetividade torna-se central no sentido de permitir uma linguagem de empenho pessoal, do universo de especialização a partir do divino e do eu. Surge o reforço da matriz espiritual, fonte divina da origem dos seres, através da qual se concebe o modelo de perfeição a ser expresso pelo homem.
3
Subjetividade e valores religiosos
As práticas voltadas ao adepto no sentido do seu “religare” acontecem num contexto religioso japonês onde valores como a gratidão, a meditação e o reverenciamento aos antepassados constituem as bases, junto com a leitura que forma o caminho a ser trilhado pelos adeptos. Essas atividades marcaram com nitidez a cultura originária no presente de modificação, visando a uma acomodação à cultura brasileira, a começar pela tradução de termos e mudanças nos cerimoniais que não prescidem dos valores orientais, intrínsecos na concepção.
3.1
H ôtoku : o desejo da gratidão É essencial criarmos o hábito de manter constantemente o espírito de gratidão. Ver as bênçãos de Deus em todas as coisas e dirigir nossos pensamentos e nossos sentimentos no sentido de gratidão a Ele – isso significa “transcender as formas superficiais das coisas e fatos e captar a sua essência espiritual”. 138
Em qualquer evento da Seicho-No-Ie as pessoas que recepcionam assumem uma posição de reverência com as mãos justapostas, dizendo várias vezes “Muito obrigado”. Esta postura japonesa de cumprimentar com esta frase expressa uma característica marcante dessa religião: a prática do agradecimento. Este proceder remete a uma das principais contribuições do confucionismo à religiosidade japonesa: a noção de hôtoku, ou seja, a necessidade de sentir gratidão139. Em muitas publicações, palestras e nas orientações aos adeptos a gratidão é tema constante. O falar “Muito Obrigado” é um expediente para
138 139
TANIGUCHI, M. O Livro dos Jovens, p. 83. PEREIRA, R. A. Possessão por Espírito e Inovação Cultural , p. 41.
76 despertar este sentimento, que permite reconhecer as bênçãos divinas e sentir-se integrado a Deus. Esta atitude é entendida como inerente e ligada ao Eu Superior da pessoa. O desejo de manifestar o sentimento de gratidão a tudo na vida pelo adepto é algo presente e que norteia as atividades da Seicho-No-Ie. Em suas publicações, eventos e no atendimento pessoal é enfatizada a necessidade de expressar o agradecimento de várias maneiras, como participação em cerimônias, cultos aos antepassados, trabalhos voluntários, doações de revistas do movimento, contribuição financeira e outras práticas que visam a um estado de reconhecimento do modelo divino de perfeição. Em relação à contribuição financeira vale a pena citar a Missão Sagrada – ressaltado pela organização que tal ato deve se revestir de gratidão aos ensinamentos da Seicho-No-Ie. O contribuinte torna-se participante e colaborador deste movimento, e na doutrina é indicado que tal proceder propicia a outras pessoas alcançarem a salvação. A Missão Sagrada, instituída em 21 de novembro de 1954, constitui-se na administração das contribuições monetárias, mensais e voluntárias, dadas pelos adeptos que escolhem as quantias mais convenientes às suas possibilidades financeiras, variando atualmente (junho de 2006) de R$ 3,50 até o dízimo140. Em janeiro de 2006, de acordo com a Seicho-No-Ie do Brasil, existiam em torno de 600.000 pessoas que contribuíam para a Missão Sagrada. Na Regional Rio Bonito, as médias de colaboradores para a Missão Sagrada são 200 e 300 respectivamente, para a divulgação em português e japonês. 141 A gratidão fundamenta-se na crença de que um estado mental livre de confrontos se identifica com a qualidade inerente do divino, que é a de não estabelecer ou reconhecer antagonismos, numa expressão da harmonia, essência da unidade perfeita do todo criado por Deus. Desse modo, religando-se a este todo, qualquer situação ou ser existente expressa a sua essência perfeita ( Jisso), e o fiel consegue intuir a orientação divina adequada. Esta importância do agradecimento fica explícita no trecho da Revelação Divina (da Grande Harmonia), a primeira das revelações existentes na Sutra Sagrada Kanro-No-Hoou
(ver anexo X). Esta revelação é aceita pelos adeptos como uma das principais orações da Seicho-No-Ie: “ [...] Agradece a todas as pessoas. Agradece a todas as coisas do céu e da
140
Informações obtidas no Departamento de Missão Sagrada da sede Central da Seicho-No-Ie em julho de 2006. 141 Informações obtidas na representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006.
77 terra. Somente dentro desse sentimento de gratidão é que poderás ver-Me e receber a Minha salvação. Como sou o Todo de tudo, estarei somente dentro daquele que estiver reconciliado com todas as coisas do céu e da terra.” 142
3.2
Meditação Shinsokan : o caminho para o despertar O SHINSOKAN é uma oração meditativa através da qual o homem transcende o mundo do fenômeno, isto é, transcende a matéria, a carne, a mente, e entra para um mundo de dimensão superior, o mundo do Jisso, o mundo perfeito criado por Deus, onde o Eu verdadeiro (o filho de Deus) funde-se com Deus e onde se fita com os olhos espirituais a perfeição do EU verdadeiro, que é a Vida de Deus, Vida eterna, perfeita, indestrutível, imortal, infinita, pura, imaculada e isenta do pecado; que jamais pecou, jamais errou, jamais sofreu, jamais adoeceu e que jamais odiou alguém, pois é a Vida perfeita e invulnerável de Deus; que jamais se queima no fogo, que jamais se afoga na água e que jamais será atingido por micróbios; que é a Vida infinita que cobre todo o globo terrestre e todo o Universo, pois ele é UNO com o Deus infinito. 143
Diante da necessidade de purificação da mente, a Seicho-No-Ie traz em sua doutrina uma técnica meditativa: o Shinsokan (Ver e pensar em Deus) - que para ela é de suma importância. A prática meditativa é apresentada como algo que proporciona benefícios tanto nos processos mentais, com o aumento de concentração, como na saúde física, mas sobretudo – e este é o objetivo principal – proporcionar efetiva e rapidamente a sintonia com o potencial interno da pessoa, além da própria comunicação com Deus. A meditação, como ponto de destaque e também de distinção entre adepto e nãoadepto, tem um propósito certo: criar um direcionamento subjetivo no meio das convicções. Nas palavras de Taniguchi: Ler os livros da Seicho-No-Ie corresponde a verificar o guia turístico que mostra o Caminho e os meios pelos quais se chega aonde existe um “tesouro infinito”. Praticar o Shinsokan corresponde a chegar diretamente a esse “tesouro infinito” que se
142
. TANIGUCHI, M. Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade, p. 13. Idem, M. Shinsokan e outras Orações, p.1.
143
78 conheceu pela leitura do guia. Aquele que não pratica o Shinsokan não pode ainda se considerar um verdadeiro seguidor da Seicho-No-Ie . 144
A meditação, com sua importância na visão da Seicho-No-Ie, reside no fato de ela entender que o conhecimento das coisas espirituais, da natureza divina e do próprio Deus está além da compreensão do intelecto. Está mais no contato com uma realidade transcendente que se torna envolvente pelo desenvolvimento espiritual e intuitivo. As formas religiosas de criação de espiritualidade apontam para o sentido de salvação do homem. Entende-se que o caminho de salvação propalado pela religião de Masaharu Taniguchi se fundamenta em dois pilares: a leitura de obras da doutrina e a meditação Shinsokan. Destas bases provêm os produtos de compreensão da essência divina dos seres e do uso da mente. Por outro lado, desperta-se o sentimento de gratidão, o aumento da fé e o desenvolvimento da intuição. Permeando esse contexto, existe o uso do poder da palavra, constituindo com esses elementos o núcleo fundador da doutrina que expressa um modelo divino de perfeição através da cultura e valores japoneses: A única forma de se conseguir apreender integralmente a Imagem Verdadeira é: de um lado, ler revistas e livros sagrados como a Seicho-No-Ie e A Verdade da Vida para adquirir o correto conhecimento da Verdade e se precaver contra pensamentos iníquos; e, de outro lado, praticar assiduamente a Meditação Shinsokan para elevar o conhecimento da Verdade até transformá-lo em fé e, desse modo, manifestá-lo sob a forma de prática de caridade e amor. 145
O adepto é orientado para, no mínimo, meditar duas vezes ao dia: ao acordar e antes de dormir. A meditação se apresenta completa quando praticada individualmente ou em grupos com duração média de 30 minutos. Para entendimento do Shinsokan pode-se explicá-lo dividindo-o em 4 partes. Inicialmente tem-se a postura (ver anexo XI).Parte-se do pressuposto de que o corpo, ao identificar-se com o modelo de perfeição divino, influencia a mente com esta realidade, e desse modo entende-se que existem princípios universais para manifestar a
144 145
TANIGUCHI, M. A Ciência do Bem-Viver , volume II , p. 103. Idem, Explicações detalhadas sobre a meditação Shinsokan, pp.
216-217.
79 ordem cósmica no corpo através de uma postura pertinente. Há duas posturas para se sentar que podem ser adotadas para a prática meditativa. A primeira é a sentada sobre os pés, definida como “estilo correto”, e consiste em ajoelhar-se sobre as plantas dos pés, estando o direito embaixo e o esquerdo em cima. Para os homens, a abertura entre os joelhos e maior que a da mulher e as plantas dos pés ficam totalmente sobrepostas, enquanto nas mulheres elas se cruzam. O taoísmo surge ao indicar que o lado esquero (hidari) representa o céu, e o direito (migui) a terra. A segunda postura, “estilo simplificado”, é sentado na cadeira, apoiando-se em sua ponta, recolhendo os pés para baixo, com as pontas dos pés no chão e os calcanhares encostados na mesma linha da coluna. Em quaisquer das posições a coluna deve estar em posição ereta, as palmas das mãos justapostas em frente ao rosto próximas ao rosto, formando os antebraços um ângulo de 60 graus. Esta posição justifica-se pela visão do corpo entendido como um dínamo de força bio-magnética, onde o lado esquerdo é o pólo positivo e o direito o negativo. Com a união das mãos a energia gerada permite receber a força infinita existente no Universo. A postura se completa ao fechar os olhos levemente voltados para o centro entre as sobrancelhas e assumindo um semblante tranqüilo. Estando na postura correta, a segunda parte é o agradecimento inicial. O sentimento de gratidão, comentado anteriormente, torna-se aqui condição básica para realizar a prática e sintonizar-se com o divino, razão pela qual inicia-se pelo agradecimento inicial. Este agradecer abrange familiares, pátria, antepassados, como também o fundador, Masaharu Taniguchi, podendo se estender livrementes para outras pessoas e coisas. Imbuído do sentimento de gratidão, o praticante deve entoar o canto evocativo de Deus (Shoshinka). O Shinsokan inicia-se efetivamente, a partir deste canto em japonês, que indica o chamado concentrado de Deus buscando uma total sensação de união (ver tradução no anexo X). Ao encerrar o canto é emitido o grito (kiai) com som de “IYÚ”, com o objetivo de manifestar a vida divina. “I” significa Vida e “YÚ”, manifestar-se. Após o kiai recitam-se palavras indicando que o fiel está no Mundo Verdadeiro (Jisso) e identificado com os atributos da divindade existentes nesta realidade: Neste momento eu deixo o mundo dos cinco sentidos e entro no mundo do Jisso Aqui, onde estou, é o mundo do Jisso: É o oceano da infinita sabedoria de Deus (repetir 4 ou 5 vezes)
80 É o oceano do infinito amor de Deus (repetir 4 ou 5 vezes) É o oceano da infinita vida de Deus (repetir 4 ou 5 vezes) É o oceano da infinita dádiva de Deus (repetir 4 ou 5 vezes) É o oceano da infinita alegria de Deus (repetir 4 ou 5 vezes) É o oceano da infinita harmonia de Deus (repetir 4 ou 5 vezes) É o mundo da harmonia absoluta. Neste mundo do Jisso, da grande harmonia, eu, como Filho de Deus, estou recebendo de Deus a sua infinita força vivificante (que engloba todos os atributos de Deus acima referidos). 146
Em seguida é feita uma respiração lenta e profunda, visualizando uma luz incidindo atravmés das mãos justapostas e, após, comprime-se o ar para o baixo ventre, fornecendo ao fiel uma sensação de plenitude. Durante esse processo mentaliza-se palavras que indiquem que a força de Deus flui e vivifica o praticante. Ao final pode-se visualizar a coisa desejada e proferir palavras que reafirmem a condição de concretização do objetivo, agradecendo ao final a graça recebida no Mundo Verdadeiro (Jisso) e na crença de sua concretização objetivamente. O final da prática meditativa constitui-se de duas orações. A primeira é a Oração da Paz Mundial e o Canto da Grande Harmonia ( Misumaru no Uta), em japonês. Encerrando, batem-se duas palmas e abrem-se os olhos. As cerimônias ou eventos abertos ao público restringem-se ao agradecimento inicial, Canto Evocativo de Deus, solicitação de orientação ao evento, Oração pela Paz Mundial e Canto da Grande Harmonia. A partir da década de 1990 iniciou-se um abrasileiramento da doutrina em suas práticas, e a meditação Shinsokan foi uma das que sofreram alterações. Antigamente os cantos eram no idioma japonês, sendo que atualmente orienta-se que sejam feitos em português. Não obstante oo grande valor dado a esta prática meditativa, não se encontrou na Regional Rio Bonito um trabalho sistematizado para o ensino desta técnica. Em conversas com lideranças soube-se que também não existe tal iniciativa nas demais regionais. Para o
146
TANIGUCHI, M. Shinsokan e outras Orações, p. 7.
81 aprendizado, o adepto utiliza publicações específicas e gravações, além de orientações obtidas nos locais de reuniões e em alguns eventos específicos que abordem este assunto. Esta meditação também tem sua versão coletiva voltada à cura e à felicidade de outra pessoa ou grupo, e se denomina “Meditação Shinsokan de Oração Mútua”. Esta prática acontece em reuniões e seminários com a orientação das lideranças. Os adeptos dividem-se em dois grupos, um defronte ao outro com funções específicas, isto é, os que farão e os que receberão a oração: Consiste em uma prática em que os participantes oram uns pelos outros. Quando se ora para a felicidade do outro, esquecendo-se de si mesmo, ocorre o ajuste da vibração mental individual através das ondas de Deus. Pelo fato de não orar em benefício próprio, mas numa ação solidária para a felicidade e manifestação da Imagem Verdadeira do próximo, surgem melhorias espirituais profundas, tanto à pessoa que ora, como às que recebem oração.147
3.3
Culto aos antepassados: o elo eterno
Cultuar os antepassados é uma característica inerente que está em todas as Novas Religiões Japonesas. Encontra-se a justificativa na crença dos elos espirituais e na mútua influência que daí decorre. Este conceito se espande quando deseja demonstrar que aqueles que antecederam o descendente constituem base para a integração com a origem primeira, Deus. Desenvolve-se um meio de expansão da espiritualidade através das gerações passadas, cria-se uma dimensão que ordena a substância de origem psicológica para o universo dos antepassados, e justifica-se o culto a essas personalidades. Estabelece-se, através deste movimento religioso, uma área de poder no que concerne à realização de cerimônias para a purificação destes elos, facilitando a “religação” do adepto à sua origem divina. A mútua influência e a ligação afetiva existente pelas relações familiares estabelece um vínculo que a Seicho-No-Ie entende como um duplo compromisso do adepto. O primeiro é o agradecimento – o fiel é orientado a exprimir o agradecimento aos familiares
147
ANONYMUS, Seicho-No-Ie do Brasil , p. 34.
82 falecidos, tanto por serem o vínculo com Deus e de proteção aos membros da família, como de reconhecimento às felicidades usufruídas, conseqüência dos bons atos que eles praticaram, numa alusão à lei do carma que estabelece o recebimento de ações equivalentes aos próprios atos ou dos familiares. O segundo compromisso, decorrente da gratidão reconhecida, é o da ajuda em procurar esclarecer aos familiares falecidos sobre a sua real natureza espiritual, perfeita e dotada de qualidades divinas. O esclarecimento pretendido visa, nesta perspectiva, a que o antepassado, ao conscientizar-se de sua perfeição divina e das demais pessoas, possa, cônscio do poder concretizador de sua mente, ser feliz e estar predisposto a auxiliar seus descendentes dentro do contexto do mundo espiritual onde ele se insere. A relação entre adepto e antepassados estabelece-se através de participação em cerimônias coletivas, como o culto em locais de reuniões, festividades como a do Santuário Hoozo em Ibiúna, leituras de sutra perante o altar existente na residência, limpeza de
túmulo e inscrição da pessoa falecida como membro da Missão Sagrada, contribuindo financeiramente em seu nome com o movimento religioso para que essa receba orações através dessa iniciativa.
4.
Tendências universalistas da Seicho-No-Ie Os novos movimentos religiosos afirmam que são universais e aplicáveis a todos, e vêem a si mesmos como “a religião das religiões”. Costumam alegar que se trata de uma síntese de todas as grandes religiões do mundo – e transformam Moisés, Jesus, Maomé, Krishina e Buda em seus precursores. Com freqüência, a idéia é que as velhas religiões já esgotaram seus papéis, pois cada uma, por si só, contém apenas uma fração da verdade. A nova religião é a revelação final, a resposta última, a verdade plena e completa. Em geral, as religiões anteriores não são de todo repudiadas, mas vistas como uma tradição antiga e vital que tem sua resolução ou consumação na nova religião. 148
O sentido de expansão percorre as Novas Religiões Japonesas. Nesta perspectiva, a Seicho-No-Ie se posiciona com a missão de ser um elemento de reintegração das demais
148
GAARDER, J. O Livro das Religiões , p. 275.
83 religiões através de seus ensinamentos: “Um movimento religioso sem sectarismo e partidarismo, fundindo todas as fés do mundo. Esse é o Movimento de Iluminação da Humanidade da Seicho-No-Ie.”149 A posição messiânica e não-sectária assumida pela Seicho-No-Ie transparece numa atitude de integrar fés religiosas através de sua doutrina, entendida como a única que possa explicar a “essência” de todas as religiões, tornando-se assim uma “super -religião”. Essas características são elementos que atraem muitos adeptos. O não-sectarianismo já era utilizado pela antiga seita Oomoto que foi, juntamente com a Tenrikyo, a base para o surgimento das NRJ. Masaharu Taniguchi deu início à sua doutrinação pela qual é criada uma política para expressar estratégias de envolvimento e domínio como: publicações sobre os mais variados assuntos e tendo algumas voltadas a público específico como mulheres e jovens; reinterpretações de outras religiões na ótica da Seicho-No-Ie; na ausência de um núcleo ou associação, o adepto poderá freqüentar a igreja que desejar, mas faz a reinterpretação através dos livros da doutrina e, por fim, a utilização da lógica cristã para reforçar os próprios conceitos. Temas controversos como religião, ciência, psicologia, economia e outros são abordados na retórica de Masaharu Taniguchi para legitimar sua doutrina e torná-la atraente no sentido de mostrar uma unicidade, além de fornecer credibilidade aos seus argumentos. A legitimização através desse expediente foi abordada por Diniz ao citar Michel Foucault, baseando-se em sua obra A ordem do discurso 150 Com fundamento no conceito desenvolvido por Ronan Alves Pereira, abordado no capítulo I desta dissertação, o complexo de renovação do mundo, entende-se que a legitimização possa ser nele inserida com as seguintes ponderações: ela avalia que o mundo no qual se vive, entendido como fenomênico, não espelha a perfeição inata do mundo verdadeiro (Mundo do Jisso) e, conseqüentemente, também tudo que o compõe, inclusive o homem, este designado na forma idealizada de Filho de Deus. Espera-se uma aproximação deste ideal de perfeição neste mundo numa abordagem universal, e para isto propõe-se como meio a sua doutrina e as práticas definidas por seu fundador Masaharu Taniguchi,
149
TANIGUCHI, M., A Verdade, vol. 8, p. 76. Apud , DINIZ, Ediléia Mota, Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil , p. 64. 150
84 alçado como mediador de Deus através do recebimento de revelações provindas da divindade Ookami, o deus da Seicho-No-Ie. O adepto, ao aceitar os ensinamentos e dispor esforços no aprimoramento de suas ações e modo de pensar, tem nessas iniciativas a sua salvação. A salvação, entendida de acordo com o movimento religioso, deve ser universal, estando nas mãos de seus militantes a grande missão de concretizar tal intento. Neste contexto, diz o item 7 das “Sete Declarações Iluminadoras da Seicho-No-Ie”: “Baseados na correta filosofia de vida, no correto modus vivendi e no correto modo de educar organizamos movimentos concretos que dominam doenças e todas as formas de sofrimentos humanos, para fundar sobre a face da terra o Reino dos Céus de amor mútuo e cooperação.” 151 O dinamismo da Seicho-No-Ie e de seus militantes, imbuídos de uma missão redentora, se expressa principalmente nos seminários promovidos no decorrer do ano. Estes eventos acontecem nas quatro academias de treinamento espiritual, como são chamados os locais de estadias que indicam centros de fé. A duração varia aproximadamente de dois a dez dias, onde os adeptos participam de várias atividades voltadas ao conhecimento e práticas dos princípios doutrinários. Diante dessas estratégias, todas as iniciativas observadas nas várias campanhas educativas e eventos se inserem no universo globalizador de base religiosa. Os Seminários da Luz, sob a responsabilidade de cada regional, acontecem a cada dois anos com duração de um dia e em locais próximos à sede, exceção para a divulgação em japonês realizada em conjunto com outras regionais na subsede central, com um total aproximado de 600 pessoas. No caso da Regional Rio Bonito, a média de participantes nos dois últimos eventos, 2003 e 2005, foi 250 e 130 respectivamente, para a divulgação em português e em japonês. 152 Com vistas a criar viabilidade para esses eventos existe uma organização que tem base estruturada e articulada com planos de divulgação e administração.
151 152
TANIGUCHI, M. Shinsokan e outras Orações, p. 37. Informações obtidas na representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006.
85
5
Desenvolvimento da Seicho-No-Ie no Brasil
O primeiro contato com a Seicho-No-Ie em terras brasileiras foi proporcionado por um exemplar da revista Seicho-No-Ie que chegou ao Brasil em 1932, por intermédio de um imigrante japonês residente em Taipas (município de São Paulo). Em 1933, um lavrador japonês, Daijiro Matsuda, residente em Ribeirão Claro, perto de Duartina, Alta Paulista, após ler o volume 1 da coleção Seimei no Jisso (A Verdade da Vida) de autoria de Masaharu Taniguchi, foi curado de disenteria amebiana. Após esta cura, Daijiro e seu irmão Miyoshi passaram a ler assiduamente esse , e além disso entraram em contato com a sede do Japão obtendo uma assinatura da revista Seicho-No-Ie. Baseando-se nos ensinamentos de Masaharu Taniguchi, os dois irmãos, pensando em salvar de sofrimentos os seus vizinhos brasileiros, começaram a divulgar o ensinamento e a curar doenças, como aconteceu com Daijiro. Muitos os procuravam pedindo reza, que se resumia na meditação Shinsokan (Contemplação do Supremo Divino), o ritual mais fundamental da Seicho-No-Ie, além da leitura dos livros e da Sutra Sagrada Kanro no Hoou. As atividades
dos irmãos atraíram os japoneses residentes nas regiões de Duartina e Gália. Desse modo, em 1934 o movimento disseminou-se na região noroeste e na Alta Paulista, tendo como público principal os japoneses, com núcleo em Duartina, Gália e Guararapes, e como líderes os irmãos Matsuda, Shigekazu Saitô e Masaru Ômae. Em todo esse período não houve nenhuma supervisão por parte da sede da Seicho-No-Ie do Japão. As atividades da Seicho-No-Ie se retraíram no período da guerra, sendo reabertas em 1946. Em 1950 iniciou-se a primeira etapa de avanço na disseminação da doutrina com a revista Mutsumi (Harmonia). Em 30/5/1951 a Seicho-No-Ie brasileira foi reconhecida pela sede do Japão, e no ano seguinte foi enviado ao Brasil um representante e um dos principais líderes do movimento, o médico Katsumi Tokuhisa (1910-2001), com o objetivo de unificação dos grupos existentes em São Paulo e Paraná. Ainda em 1952 estabeleceu-se oficialmente a Sociedade Religiosa Seicho-No-Ie do Brasil, na cidade de São Paulo. Em 2/3/1955 inaugurou-se a Academia de Treinamento Espiritual em Ibiúna. Em 1956 realizou-se o Primeiro Congresso Nacional das Shirohato-Kai (Associação de Senhoras), e veio ao Brasil o genro, sucessor do fundador da Seicho-No-Ie, Seicho Taniguchi, seu atual presidente (julho de 2006).
86 A partir de 1960 a Seicho-No-Ie voltou-se ao proselitismo e aumentou consideravelmente o número de adeptos, iniciando os trabalhos de doutrinação de brasileiros e nisseis. Em 1963 aconteceu a vinda de Masaharu Taniguchi ao Brasil. Em julho de 1965 foi lançada a revista Acendedor , e em 1966 instituiu-se o Departamento de Divulgação em Português. A Seicho-No-Ie na década de 1960 no intuito de divulgação de sua doutrina para setores específicos da sociedade, estabeleceu associações e promoveu encontros como, por exemplo, a criação da Liga dos Novos Educadores e a organização de Seminários da Prosperidade para empresários. De acordo com Maeyama, houve quatro etapas no processo de desenvolvimento da Seicho-No-Ie no Brasil. A primeira abrangeu o período de 1933 a 1941, época de difusão de
iniciativa individual, etapa denominada “germinação”. A segunda compreendeu o intervalo de 1942 a 1949, e devido o após-guerra, foi de divisão e lutas internas, e essa etapa foi denominada “colapso”. A terceira, de 1950 a 1960, época de organização e união, foi a etapa denominada “fase de avanço”. A quarta etapa iniciou-se a em 1960 e se caracteriza pela diversificação das atividades; denomina-se “segunda fase de avanço”. 153 Na continuação da análise do processo de desenvolvimento da Seicho-No-Ie, tem-se outro estudo154 em que os fatos, mencionados a seguir, indicam a dinâmica na qual a organização se inseriu. Em primeiro lugar, a partir de metas estabelecidas em 1960, em 1968 promoveram-se dez dendoins (uma categoria de pregador) brasileiros. Numa segunda etapa, na década de 1970, a Seicho-No-Ie estava bem estabelecida na sociedade brasileira, tendo até, por isso, recebido em 1973 a visita do fundador, Masaharu Taniguchi. Num terceiro momento, entre 1976 e 1992, houve um aumento considerável no número de adeptos e de suas atividades. As associações locais aumentaram de 155 para 2003. Este progresso se manteve, e em 1999 os preletores, antiga denominação de dendoins, já eram em torno de 70 % brasileiros. Nessas fases de desenvolvimento destacou-se a criação de novas academias de treinamento espiritual: Santa Tecla (Rio Grande do Sul), em 2/7/1982; Santa Fé (Bahia), em 16/9/1987, e Curitiba (Paraná), em 21/2/2004. Além disso, a partir do
153
MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo, pp. 131-132. 154 ALBUQUERQUE, L. M. B. Seicho-No-Ie do Brasil: agradecimento, obediência e salvação, pp. 25-26.
87 trabalho de divulgação no Brasil, a Seicho-No-Ie está representada na maioria dos países sul-americanos. Atualmente (julho de 2006) a Seicho-No-Ie no Brasil está presente em 23 Estados, entre associações locais e regionais, sendo estas últimas aquelas que respondem organizacionalmente pelas associações ou grupos que estão se iniciando em uma região. Além da sede central, é expressivo o número de locais de divulgação na Grande São Paulo e interior do Estado (ver anexo VII). O processo de expansão na atualidade se processa especialmente através da mídia, como se verás no capítulo V. Além de publicações e locais de divulgação, acrescentam-se os programas de rádio e de televisão. Entre as Novas Religiões Japonesas, o caráter expansionista a mídia é um traço que se tornou evidente na Seicho-No-Ie do Brasil. A Seicho-No-Ie cresce e se difunde numa época de modernização e procura de assimilação de uma cultura ocidental, e neste panorama, Masaharu Taniguchi cataliza os elementos que se expressam numa religiosidade em que a palavra se torna importante para divulgação e expressão de uma nova religiosidade que as NRJ acenam ao Japão e ao mundo. A palavra torna-se nessa religião o elemento principal de ligação com o adepto ao sagrado para expressar o modelo divino ( Jisso), e é este processo que será estudado no capítulo III.
88
CAPÍTULO III – A PALAVRA E A SUA DIREÇÃO ESPIRITUAL Neste capítulo deseja-se mostrar a visão e o uso da palavra pela Seicho-No-Ie, como um elemento mágico e transformador da realidade daqueles que dela se aproximam, e também pelo modo como seus adeptos, pela palavra, se inserem num processo de práticas educativas no anseio de compreensão da realidade que ela apregoa, tornando-se um elemento identificador do grupo ao qual eles se associam, através de um discurso onde religiosidade multifacetada e cultura japonesa se mesclam nesta doutrina. Serão discutidas duas direções já inseridas no capítulo anterior: uma é sobre a palavra fundadora e a representação do núcleo de poder; a outra relaciona-se à palavra na educação. Ao adentrar num local de reunião da Seicho-No-Ie, o que se vê num altar simples e que se destaca como elemento central desse cenário é um quadro com a palavra Jisso (Imagem Verdadeira) representada em caracteres japoneses. No início de qualquer atividade nesse recinto é reverenciada, através desse quadro, “A Grande Vida Imanente no Universo”. Desse modo, tendo como recurso um escrito emoldurado, acontece a iniciação para quem deseja conhecer a “religião da palavra”: Seicho-No-Ie. É expresso claramente nas publicações e atividades o valor que se dá ao uso da palavra, seja teoricamente dentro de seu corpo doutrinário, seja quanto ao proselitismo. Este posicionamento em relação à palavra se traduz nos próprios objetivos desta religião, expostos, quando de sua fundação, nas “Sete Declarações Iluminadoras da Seicho-No-Ie” de autoria de Masaharu Taniguchi. Dentre essas declarações, abaixo transcritas, destacamse as de número 4, 5 e 7, que mostram a valorização, em toda a sua doutrina, desse poder da palavra tanto no que se refere ao seu corpo doutrinário quanto de elemento inserido em sua estratégia proselitista: 1. Declaramos transcender todo sectarismo religioso e, glorificando a Vida, viver em fiel obediência à Lei da Vida. 2. Acreditamos ser o princípio da manifestação da vida o Caminho do Evolver Infinito e acreditamos também ser imortal a vida que se aloja em cada indivíduo. 3. Pesquisamos e publicamos a Lei da Criação da Vida para que a humanidade possa seguir o Caminho Verdadeiro do Evolver Infinito.
89 4. Acreditamos que o Amor é o esteio da vida e que a oração, as palavras de amor e os elogios constituem o poder criador da palavra que torna concreto o amor. 5. Filhos de Deus que somos, acreditamos possuir em nosso interior a Possibilidade Infinita e poder atingir o estado de absoluta liberdade pelo uso controlado do Poder Criador da palavra. 6. Nós, para melhorarmos o destino da humanidade por meio do Poder Criador das boas palavras divulgamos a doutrina mediante a divulgação de boas palavras através de publicações, seminários, conferências, transmissões radiofônicas, da televisão e de quaisquer outros meios culturais. 7. Baseados na correta filosofia de vida, no correto modus vivendi e no correto modo de educar organizamos movimentos concretos que dominam doenças e todas as formas de sofrimentos humanos, para fundar sobre a face da terra o Reino dos Céus de amor mútuo e cooperação. 155
A Seicho-No-Ie, em sua visão sagrada da palavra, posiciona-se como uma entidade que possui sua transcendência através do livro, constituindo suas escrituras o seu templo verdadeiro e a leitura um ato de veneração a Deus. A Seicho-No-Ie é a religião verdadeira que surgiu com uma peculiaridade sem precedentes em parte alguma do mundo. Em que consiste essa peculiaridade? Consiste na afirmação de que não são necessários majestosos templos materiais para venerar Deus, pois Deus é o Verbo que fala a Verdade, e constituem Seus templos os livros que contêm palavras da Verdade. Venerar Deus é ler Suas palavras contidas nos templos chamados Livros Sagrados. A Seicho-No-Ie é um movimento religioso e educacional que surgiu para mostrar sob uma forma nova a Verdade de que o “Verbo é Deus”. 156
Há dois pontos a comentar sobre o texto acima. O primeiro, já abordado no capitulo I relativo à Nova Era, refere-se à sacralidade do espaço religioso que se destaca pelo ritual e sua santificação. Dentro desta perspectiva, o espaço do templo perde sua forma e se mostra como algo que está interiorizado através da palavra, e por meio desta pode ser partilhado com outras pessoas independentemente do local físico, o qual se dilui nesta perspectiva. A forma esperada do templo é substituída pela palavra-templo. O local sagrado que renova o mundo e o santifica transfere-se para a obra escrita, que agora traz em si a função de comunicação com o divino. A palavra-templo cumpre o seu papel de se tornar o “lugar” 155 156
TANIGUCHI, M. Shinsokan e outras Orações, p. 37. Idem. A Humanidade é Isenta de Pecado , pp. 317-318.
90 onde o religioso procura a comunicação com o divino. O espaço material que antes cumpria essa função deixa de o ser – a necessidade de sacralização está “feita” e disponível ao fiel. A palavra-templo sacraliza a existência de quem a receba e a siga tornando-se um novo ser. Nesta nova “realidade” é possível manifestar no mundo terreno a realidade do mundo divino, o Jisso. Mircea Eliade sustenta: [...] a exper iência do sagrado torna possível a “fundação do Mundo”: lá onde o sagrado se manifesta no espaço, o real se revela, o Mundo vem à existência. Mas a irrupção do sagrado não somente projeta um ponto fixo no meio da fluidez amorfa do espaço profano, um “Centro”, no “Caos”; produz também uma rotura de nível, quer dizer, abre a comunicação entre os níveis cósmicos (entre Terra e o Céu) e possibilita a passagem, de ordem ontológica, de um modo de ser a outro. 157
A atuação educadional, segundo item a ser analisado, diz respeito ao fato de esse movimento ser visto além de seu caráter religioso inerente. Esta posição se evidencia nas explanações sobre a doutrina, em seus escritos e cursos, os quais se revestem de um caráter de estudo e cujo melhor exemplo é a existência de livros que abordam a pedagogia de seu fundador. A aura educacional que permeia a relação da religião com os fiéis produz uma representação prática de ser um estudo, o que se evidencia nas entrevistas com adeptos quando estes utilizam termos como “estudar os livros”, “grupos de estudos”, “cursos” e “seminários”, dinâmicas que, desse modo, os inserem nesta religiosidade.
1
A palavra e o sagrado Diz a Bíblia que a “Palavra é Deus“ e ”Todas as coisas foram feitas pela palavra”. O Budismo esotérico também tem o que chama “método misterioso de cantar Mantra” e “usar o poder da palavra para fazer chover e curar doenças.” A seita Shinshu do Budismo diz que pronunciar “Namu-Amidabutsu” fará com que se atinja o estado de Buda, o que significa que o poder da palavra desenvolverá a natureza divina do homem e unificará o homem e o salvador Amita Buda em único ser. Tudo isso pelo poder da PALAVRA. A doença é curada pela mudança espiritual motivada pela leitura do mensário “Seicho-No-Ie” ou “A Verdade da Vida”. É também o poder da
157
ELIADE, Mircea O sagrado e o profano, p. 59.
91 PALAVRA. A purificação no xintoísmo consiste em aplicar o poder da PALAVRA para purificar o homem de seus pecados e impurezas. A PALAVRA é Deus. “Todos os seres são vivificados pela palavra”. 158
De acordo com o que se discutiu e seguindo o paradigma básico da religião – a visão do homem como um ser de origem divina – então teoricamente, em sua essência, ele possui as mesmas qualidades e poderes de Deus. Desse modo, a palavra por ele usada pode transformar as condições em que ele se encontre. A pessoa ao proferir palavras ou ter pensamentos de harmonia, progresso e felicidade estará trazendo para esta realidade um mundo já existente criado por Deus tanto mais perfeito quanto pura for sua mente. Caso se expresse de modo negativo, também estará criando um ambiente semelhante. Esta tônica do encaminhamento do poder divino para o interior é um rumo que tomou vulto e teve uma dimensão de expansão para o Ocidente através da Nova Era. O dom da palavra no homem, herdado de Deus, constitui-se a base do processo criador que se aloja nele, e ao mesmo tempo, o meio que o liga ao divino. Reconhece-se que este é o centro principal desta doutrina. Esta mística da palavra é o que norteia os adeptos da Seicho-No-Ie, onde ela assume o papel de purificar a mente e de ser o elo com o Criador. A palavra, sendo a expressão da própria mística espiritual, torna-se ainda instrumento para atuação social no sentido de, ao se expressar, manifestar a vontade divina, o mundo de Deus. Esta abordagem aparece também claramente em outras culturas não orientais, como a dos índios guaranis Mbya. Marília Godoy elucida: A análise mística da origem da palavra na alma do homem e em Deus e em deuses, forma a chave do segredo da filosofia nativa. O triunfo da palavra na sua via mística tende para a vida social no seu exercício espiritual. Verifica-se que a mística introduz meios de realização espiritual em vários campos; praticamente reduz-se a vida cultural ao empenho religioso. A fama tão divulgada de serem os guaranis “discípulos da palavra”, e que “a liberdade da palavra exprime a liberdade da vida”, difunde-se pelo meio místico no
158
TANIGUCHI, M. Educação da Vida, p. 13.
92 qual a palavra inspira poderes intuitivos de revelação divina comanda a existência humana na realidade. 159
Diferentemente dos guaranis, a palavra nesta religião estudada expressa e se ordena como compreensão, letramento e reflexão própria, embora entre ambas haja a sede espiritual do conhecimento na alma do homem.
1.1
A natureza sagrada do poder divino da palavra
A sacralidade da palavra surgiu na Seicho-No-Ie como algo concebido por um ser divino e recebido pelo fundador. Dentro deste entendimento, as escrituras tornam-se sagradas por sua origem e detentoras de poderes atribuídos por essa possessão divina. “Foi este „Deus da Seicho-No-Ie‟ quem iniciou o Movimento de Salvação da Humanidade, e passou a publicar através de mim a revista divina Seicho-No-Ie, a fim de propagar esse pensamento para iluminar a vida da humanidade.” 160 O uso da palavra expressa, em várias conotações, a vida do homem, mas o que existe em comum é o valor dado a toda e qualquer forma de sua manifestação que possui, em si o poder de transformação do nível de consciência de percepção da realidade da pessoa que a profere ou a recebe. Este poder transformador da palavra vai além de uma abordagem de retórica ou persuasão. Entre os fiéis é abordada a crença no poder da palavra, isto é, que a palavra pensada, proferida ou simbolizada por uma pessoa tem o
poder de concretizar aquilo que se propõe representar. Esta idéia, da palavra ter em si, um poder concretizador, remete ao conceito do kotodama, abordado em livros de Masaharu Taniguchi e utilizado em algumas cerimônias. Kotodama refere-se à crença existente na cultura japonesa de que as sílabas que compõem o alfabeto japonês possuem um poder intrínseco de mudar ambiente e pessoas, além de estabelecer contato com os deuses. O efeito desejado ao usar essas sílabas irá depender da forma de expressá-las, tais como no norito (preces de rituais de purificação xintoístas).
159 160
GODOY, Marília G. G. O Misticismo Guarani Mbya, pp. 58-59. TANIGUCHI, M. A Verdade da Vida, volume 3, p. 62.
93 Dentro deste contexto de crença no poder da escritura concedida por um deus e práticas xintoístas, são inseridos conceitos como psicanálise e psicologia, compondo deste modo o ambiente no qual são efetivadas as cerimônias e reuniões e onde o adepto aprende como utilizar o poder da palavra para a resolução de seus problemas. Ao lado das escrituras existe um dos pontos principais dentro desta doutrina que é a meditação Shinsokan, uma prática contemplativa desenvolvida por Masaharu Taniguchi. Numa explicação mais detalhada de Taniguchi, o princípio do kotodama aparece nesta meditação como fator principal na concretização do que se almeja, e também como o meio de ligação com o divino: A Meditação Shinsokan é uma prática espiritual tariki , ou seja, de entrega total à força de Deus. Praticamo-la com espírito de humildade, de entrega total, acreditando com absoluta fé na força das palavras mentalizadas, e, assim, concretiza-se aquilo que mentalizamos. Se repetirmos determinadas palavras com total desprendimento e as gravarmos no subconsciente, suas vibrações chegarão até a Mente do Universo. Então a força criadora do Universo entrará em ação para concretizar neste mundo fenomênico exatamente aquilo que mentalizamos. 161
Este princípio do uso da palavra aplica-se tanto a mente de um indivíduo como de um grupo, e para exemplificar, Masaharu Taniguchi utiliza-se do conceito de inconsciente coletivo: No Universo existe uma consciência comum a todos os homens – o chamado inconsciente coletivo. Essa mentalidade, que seria a soma total dos pensamentos de todos os homens, é o inconsciente coletivo, que, expandindo-se em forma de ondas mentais da humanidade, preenche o Universo. 162
A palavra, neste cenário, mostra-se como o meio principal de transformação da realidade e consciência daquele que a utiliza. A mente assume algo que possui uma extensão maior do que seu caráter individual presumido, integrando-se a uma mentalidade
161
. TANIGUCHI, M. Explicações detalhadas sobre a meditação Shinsokan, p. 53. . Idem, Preleções sobre a interpretação do Evangelho segundo João à luz do ensinamento da Seicho-No-Ie, p. 147. 162
94 que abarca os pensamentos de outros seres participantes de um processo de influências mútuas. Apesar da valorização da meditação Shinsokan, no contato com os adeptos constatase que poucos fiéis a praticam. Por outro lado, percebeu-se o empenho em realizar as leituras de sutra e livros, como também a preocupação em sua rotina diária, com o uso de palavras que enfatizaem a crença na concretização de seus planos e que sempre expressem fatores positivos em relação a qualquer situação ou pessoa. É desse modo que o uso da palavra e seu uso torna-se o elemento principal de identificação dentro do grupo, como de sua própria identidade, quando seus componentes se autodenominam praticantes desta filosofia. Além do uso da palavra falada, existe uma prática a palavra escrita serve de meio para o adepto receber orações e que se denomina “Forma Humana”. Este expediente, cujo uso está muito difundido entre os adeptos, tem sua base na crença de que todos estão envoltos em ondas mentais que podem ser captadas pelas pessoas e, por sua vez, atrair elementos e situações similares. Neste universo a oração tem como objetivo transmitir vibrações positivas que se traduzirão em situações benfazejas a quem as “receber”. Esta dinâmica cria expedientes para os fiéis no sentido de direcionar para um determinado adepto as vibrações de orações, e ainda por cima, especificamente ao desejo de quem as pede, é solicitado o preenchimento de uma folha (ver anexo XI) contendo o nome, idade, cidade, além do número do desejo de acordo com tabela fornecida. Os desejos, num total de 15, variam desde específicos como saúde ou prosperidade, até genéricos como solução de problemas. Existe ainda o período de validade para receber as orações, que pode ser de 1, 3 ou 6 meses e 1 ano, com os respectivos valores de R$ 2,50; R$7,00; R$ 12,00 e R$ 20,00. O princípio da eficácia desta prática baseia-se na premissa de que, ao escrever de próprio punho o seu nome nos dois formulários, a pessoa registra a sua vibração “biopsicoenergética”. Deste modo, mantendo-se um formulário com a pessoa e outro no local de orações, estará formada a base para a captação das vibrações pelo adepto. No caso de crianças o formulário ficará com o responsável. Este expediente para recebimento de orações estende-se para automóveis e residências, temas que envolvem as necessidades dos adeptos e indicam as concepções de um homem moderno. Na Regional Rio Bonito têm-se atualmente (julho de 2006) a média mensal de 120 solicitações de “Forma Humana”. Este
95 número expressa a soma de pedidos efetuados nas reuniões nos idiomas português e japonês.163 Esta prática tem similar na religião Oomoto, na qual o formulário (ver anexo XI) denominado Hitogata (Forma de Homem) possui figura e formato semelhantes aos da “Forma Humana”, sendo utilizado em cerimônias de purificação. 164
1.2
A palavra e as cerimônias
As cerimônias estão marcadas por uma ênfase xintoísta165 e por algumas práticas budistas. Uma delas remete à repetição de um conjunto específico de palavras no intuito de, com o poder da recitação, transformar as condições e a própria pessoa em algo que se traduz, em suma, como harmonia de ambiente, prosperidade, saúde, e um estado de beatitude da própria pessoa. A prática Imagem Verdadeira, Harmonia e Perfeição compara-se ao recitar “Namu-Amidabutsu” como citado no início deste capítulo, o que seria um meio de despertar a natureza divina ( Jisso). Para toda e qualquer manifestação do aspecto divino se concretizar, faz-se necessária, dentro de conceitos xintoístas ou budistas, uma purificação dos carmas, que no conceito da Seicho-No-Ie se traduz na lei de causa-efeito. A prática acontece em reuniões abertas ao público e consiste, após orações e explicações sobre o ato, em todos os participantes, com olhos cerrados, de mãos justapostas em frente ao rosto e sentados, recitarem juntos, por cerca de 30 minutos as palavras, “Imagem Verdadeira, Harmonia e Perfeição”. Esta prática sofreu um processo particular de influências. No início da década de 1990 as palavras, antes usadas em japonês, foram traduzidas. Nessa época o termo Jisso foi traduzido pelos dirigentes, para a língua portuguesa como “Imagem Verdadeira”. Antes da tradução a frase recitada era “Jisso Enman Kanzen”, e a prática denominava-se “Jisso Enman Shôgyô”. 166
163
Informações obtidas na representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006. Oomoto: Doutrina e Literatura, p. 33. 165 Ao serem criadas as cerimônias da Seicho-No-Ie, adotou-se o estilo xintoísta pelo fato de que no Japão, independentemente de serem cristão ou budistas, os adeptos, de forma geral, freqüentam santuários xintoístas, considerando o xintoísmo uma religião(informação com base na publicação institucional Modelo de 164
procedimentos nos rituais da Seicho-No-Ie). 166
. ANONYMUS, Departamento de Ofícios Religiosos da Seicho-No-Ie do Brasil. Práticas para o executar, pp. 28-31.
Aprimoramento Espiritual: Que são – Como
96 A ocidentalização presente e seus efeitos constituem um assunto que deve ser aprofundado. Um dos estudos poderá ser o de constatar se a diminuição de características orientais atrairia um determinado tipo de público em detrimento de outro. Uma segunda cerimônia – voltada à recitação e executada coletivamente com o objetivo específico de manifestar a prosperidade na vida do adepto – é aquela denominada
Reino de Deus de Infinita Provisão: “Voltada para manifestação da prosperidade, esta prática recitativa consiste na afirmação contínua e conscientização da infinita provisão, permitindo, dessa forma, que a prosperidade flua livremente em sua vida.” 167 Existe outra prática que se destina a usar a palavra escrita e falada no processo de purificação da pessoa168. O participante desta atividade designada Purificação da Alma ( Jyôshingyo) deve manifestar, através da escrita, os sentimentos agressivos e negativos que estão na sua mente ou que se lembre de ter vivenciado. Neste processo de catarse, ao se exteriorizar sentimentos negativos que afligem a pessoa, pretende-se a partir da leitura da sutra, durante a queima dos papéis, a purificação do participante e das pessoas falecidas da família, os antepassados. Esta prática geralmente é feita coletivamente, sobretudo em reuniões e seminários. Uma cerimônia e prática de grande aceitação pelos brasileiros é o Culto aos
Antepassados, haja vista o número expressivo de pessoas que comparecem a essa cerimônia nos locais de reuniões. Na Seicho-No-Ie, a cerimônia do Santuário Hoozo, no mês de abril, voltada aos antepassados, e inclusive às crianças abortadas, “Cerimônia em memória dos „anjinhos anônimos‟” tem um público que aumenta a cada ano. De acordo com informações da Seicho-No-Ie,169 este aumento traduz-se nos números de público e de registros: nome de famílias e de pessoas falecidas para quem o culto é oferecido. Durante a cerimônia os registros espirituais preenchidos são lidos pelos oficiantes, sacerdotes xintoístas, e queimados. Para as almas constantes dos registros se presta o culto, com cinco orações diárias pelo período de um ano, a começar da realização da festividade.
167
ANONYMUS, Seicho-No-Ie do Brasil , p. 34. Idem, pp. 16-20. 169 Informações obtidas na Superintendência de Comunicação da Seicho-No-Ie do Brasil em julho de 2006. 168
97
Tabela 2: Registros e participantes das Festividades do Santuário Hoozo Ano
Registros
Participantes
2001
198.594
8.500
2002
230.000
8.200
2003
661.575
13.000
2004
1.023.431
15.000
2005
1.548.193
18.000
2006
2.061.494
20.000
Fonte: Superintendência de Comunicação da Seicho-No-Ie do Brasil Além, da sede central, cada regional dedica-se a obter e enviar os registros para culto nessa festividade. Na Regional Rio Bonito, em relação às metas estabelecidas pela sede central, seguem-se os registros obtidos.170
Tabela 3: Santuários Hoozo - Registros obtidos e metas na Regional Rio Bonito Divulgação 2006 Meta 2005 Meta 2004 Meta Português 8.000 12.000 6.000 8.000 3.000 3.000 Japonês 7.200 8.000 7.200 7.000 3.000 3.000 Fonte: Administração da Regional Rio Bonito Antes de iniciar o culto aos antepassados, o responsável por conduzir a cerimônia faz uma explanação sobre a importância e significado da prática. Após a explicação o oficiante invoca, pelo nome, os antepassados da família ou pessoa falecida. Em seguida é lida a sutra Chuva de Néctar da Verdade ( Kanro-No-Hoou) (ver anexo X). Durante a leitura são acesos incensos com o intuito de purificação do ambiente e preparação para a participação de seres espirituais elevados. Os adeptos são orientados no sentido de lerem diariamente a sutra Chuva de Néctar da Verdade para os entes falecidos como forma de agradecimento e oração, e de transmitir conhecimentos que os libertem de quaisquer limitações.
170
Informações obtidas na representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006.
98 O culto aos antepassados existe tanto no xintoísmo como no budismo, com algumas abordagens diferentes. Uma diferença é a referente ao primeiro dia de culto, após o falecimento: “[...] no ritual budista procede-se à „cerimônia de 49 dias‟, cultuando a memória do morto. No ritual xintoísta é realizada a „cerimônia do 50º dia‟” 171 sendo este o procedimento adotado. Atualmente (julho de 2006) o culto aos antepassados quando realizado por sacerdotes denomina-se “Cerimônia em Memória (Agradecimento ou Gratidão) aos Antepassados”, e quando feito somente pelo adepto chama-se “Oração em Gratidão aos Antepassados”. O motivo de deixar de utilizar a palavra culto, de acordo com o setor doutrinário da Seicho-No-Ie do Brasil, deveu-se ao fato de entenderem que esta palavra traz em si a idéia de idolatria, o que não é en ao ensinamento de Masaharu Taniguchi. Esta mudança evidencia o valor da palavra relativamente à procura de pontes de identificação com a cultura onde o movimento religioso deseja se instalar. Esse mecanismo de aproximação é parte de um processo sempre presente, em especial em religiões importadas como a Seicho-No-Ie: Esse mecanismo de manipulação, em primeiro lugar e de assimilação, posteriormente aparece bem no caso da Seicho-No-Ie em que o seu itinerário é o mesmo dos imigrantes japoneses de primeira, segunda, terceira ou mais gerações. Isso se faz presente nos nomes das associações, revistas e outras publicações da instituição, cujos nomes e conteúdos foram traduzidos paulatinamente para o português. 172
A partir da década de 1990 iniciou-se um processo mais intensivo de aproximação dos brasileiros não-descendentes de japoneses inseridos no panorama cultural brasileiro num proselitismo marcado de mudanças em práticas e traduções de termos em japonês. Essa nova estratégia teve reflexos na dinâmica das reuniões abertas ao público que, apesar de continuarem a ter uma duração de duas horas, tiveram incluído um intervalo para não cansar a maioria do público não acostumado com a antiga disciplina existente. As mudanças também resultaram na abolição, em japonês, do Canto Evocativo de Deus
171
TANIGUCHI, M. Melhore seu destino cultuando os antepassados, p. 20. DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil, p. 136. 172
99 (Shoshinka) e do Canto da Grande Harmonia ( Misumaru no Uta) constantes do Shinsokan, quando de cerimônias abertas ao público. O processo de aproximação abordado estendeu-se às cerimônias. Consoante o preletor Eduardo Nunes, desde 2004 não são mais usadas orações em japonês nas cerimônias coletivas para antepassados. As orações em japonês eram três: Canto Numeral ( Kazu Uta), único de origem budista, Canto da Vida Eterna e Canto de Iluminação. Além disso, após interpelação de Masanobu Taniguchi sobre a razão de estarem sendo utilizadas cerimônias xintoístas no Brasil, o Conselho Doutrinário da Seicho-No-Ie do Brasil estabeleceu a extinção deste estilo cerimonial a partir de 2006, tendo solicitado a devolução por parte das regionais de todos os trajes xintoístas para os oficiantes dos cultos. Essas cerimônias com raízes xintoístas despertavam muita atenção no universo brasileiro do pluralismo religioso pelo seu caráter de distinção e mistério. As cerimônias individuais da Seicho-No-Ie são: individual de antepassados, anjinhos (aborto), veiculação de espíritos de antepassados à tabuleta memorial do altar da família e fúnebres em geral. As cerimônias coletivas existentes são: Ooharai, antepassados, casamento e batismo. A cerimônia Ooharai é realizada nas regionais e na sede central da Seicho-No-Ie nos finais de junho e de dezembro. Ela visa a limpar as manchas provenientes de males cometidos pela pessoa. Esta cerimônia tornou-se central no Brasil e revestiu-se de grande misticismo. Nas cerimônias coletivas havia o Rito de Purificação (Oshubatsu) de origem xintoísta, que foi abolido. O Oshubatsu consistia em efetuar a oração Amatsunorito e, com o Bastão da Purificação (Oonusa) constituído de várias tiras de papel simbolizando quatro deuses que estão nelas, agitá-lo na direção do local, objeto ou pessoa a serem purificados. Este rito era utilizado também para purificação de moradia, veículo e de estabelecimento comercial. A cerimônia (não-xintoísta) de batismo só existe no Brasil e surgiu a pedidos de adeptos que, sendo pais solteiros, a Igreja Católica não aceitava batizar seus filhos. Ela foi elaborada através da idéia “Batismo através da Força da Palavra”173. Inicialmente é executado o Canto Evocativo de Deus (ver anexo X), em seguida é feita a leitura da
173
TANIGUCHI, M. Imagem Verdadeira e Fenômeno, p. 100.
100 Revelação Divina (ver anexo X), e após o oficiante coloca a mão esquerda sobre qualquer conjunto de 5 volumes da coleção “A Verdade da Vida”, e com a mão direita sobre a cabeça da criança declara: “ A criança está purificada do pecado original. Que o Espírito Santo se aloje nela e a oriente.” Obedecento ao conceito de convergência do sincretismo, surgiu a cerimônia do batismo com elementos cristãos e da própria doutrina da Seicho-No Ie, caminho provável a ser seguido para as demais cerimônias no Brasil.
Os estilos ”provisórios” nas cerimônias que deixaram de ter seus rituais xintoístas estarão vigentes até o final de 2006, quando então estarão definidas as novas práticas. Em relação ao casamento existe a proposta de adoção de uma cerimônia em estilo “cristão”.
2
Leituras do caminho sagrado
Os livros e sua leitura vão além do modo de obter conhecimento e proporcionar o despertar espiritual e a cura dos que os lêem: eles são um meio de transmitir o poder de cura. As pessoas criam através da leitura não só a sua própria salvação, mas também a possibilidade de obterem sabedoria e poder, ou ainda de serem um meio de manifestação de algo divino: “Se os senhores transmitirem fielmente aos outros os ensinamentos transmitidos em minhas palestras e contidos em meus livros, certamente se tornarão capazes de curar doentes [...].” 174 Nesse contexto da sacralidade da produção literária, há de se destacar que em praticamente todas as práticas da Seicho-No-Ie existe a leitura de sutras, sendo a mais utilizada a Kanro-no-Hoou (A Chuva de Néctar da Verdade) (ver anexo X). Ela é elemento essencial no culto aos antepassados, sendo os adeptos orientados a lê-la todos os dias para as pessoas falecidas da família. A leitura da sutra também é indicada para solucionar vários problemas, como relacionamentos e cura de doenças. Como foi dito, o poder propalado da palavra pela Seicho-No-Ie vai além de leitura, fala ou pensamento. No caso da sutra, ela funciona como talismã ou amuleto (omamori). Acredita-se que pelo poder de suas palavras torne-se um elo com Deus, e conseqüentemente, de proteção. Para facilitar o transporte pelas pessoas existem vários
174
TANIGUCHI, M. A Verdade da Vida, volume 25, p. 242.
101 tamanhos, inclusive no formato de pingente, constituindo, pelas informações da entidade, no menor livro do mundo.
3
A palavra e a educação
Neste trabalho pôde-se refletir sobre a existência de um movimento filosófico e sobre a eminência de seu fundador, que se impôs por uma área pedagógica própria. A educação com ênfase na palavra tornou-se o pilar da pedagogia de Masaharu Taniguchi:“A Seicho-No-Ie afirma que a verdadeira educação é trazer de dentro para fora as coisas boas por meio do poder da palavra.”175 A espiritualidade a ser apreendida reveste-se de um processo de aprendizado dentro de princípios. Estão eles citados nos objetivos desta religião, externados nas “Declarações Iluminadoras” abordadas no início deste capítulo, dentre as quais destaca-se a oitava: “Filhos de Deus que somos, acreditamos possuir em nosso interior a Possibilidade Infinita e poder atingir o estado de absoluta liberdade pelo uso controlado do Poder Criador da palavra.” A crença na palavra, as cerimônias e os livros doutrinários estabelecem a Seicho No-Ie como um movimento religioso, mas seu processo de disseminar suas idéias acontece
principalmente dentro de uma perspectiva educacional permeada d e cultura japonesa, com cerimônias, costumes e palavras no idioma japonês. Este processo de apresentar-se com traços marcadamente nipônicos arrefeceu um pouco nos últimos anos, na medida em que o público não-descendente de japoneses aumentou consideravelmente. Um sincretismo acentua-se cada vez mais no sentido de adaptar o movimento religioso à cultura brasileira visando a manter-se atuante em seu proselitismo. A despeito de todas essas ações engendradas, o seu núcleo fundador é preservado ao se distinguir como religião de origem japonesa, como Ferretti esclarece: “[...] a presença do sincretismo não descaracteriza a tradicionalidade da religião, pois além de a tradição ser dinâmica, os „sincretismos‟ se fazem com base em elementos constitutivos preexistentes, de acordo com o contexto histórico”.176 175. 176
TANIGUCHI, M. Educação da Vida, p. 13. FERRETTI, Sérgio F. Repensando o Sincretismo: Estudo sobre a Casa das Minas, p. 22.
102
3.1
A palavra na educação infantil
A educação taniguchiana apregoa que todos os recursos relativos ao uso da palavra devam ser utilizados para facilitar a expressão das potencialidades inerentes às crianças. No caso da palavra falada, é muito enfatizada a necessidade de reconhecer as partes positivas do educando, e para tanto o educador ou os pais devem sempre procurar elogiar algum fato ou algo relacionado ao educando. A ênfase no uso de palavras reconhecendo as qualidades da criança fez com que esta educação seja conhecida como Pedagogia do Elogio. Expressar em palavras as qualidades do educando está de acordo com o princípio propalado por Masaharu Taniguchi: “só aparece o que é reconhecido”. Deste modo, com o foco nas qualidades e utilizando palavras elogiosas, a criança passa por um processo psicológico, mas também, de acordo com a filosofia, pela influência de ondas mentais, ou “elos espirituais”, há a extinção dos defeitos, por sintonizar-se e conscientizar-se a sua perfeição inerente e divina. Além disso, a pedagogia de Taniguchi tem sua preocupação no desenvolvimento da intuição, não compactuando com as iniciativas de ensino que visem, como ele mesmo diz, ao entulhamento de conhecimentos; emvez disso, o educador deve focalizar aquilo que a criança tem maior propensão e prazer em desenvolver, procurando externar esse talento sem se limitar à idade e sim ao ritmo individual do aprendiz. A pedagogia não se restringe à criança para que ela tenha seu talento e perfeição reconhecidos, mas é preciso também, uma atenção aos pais, responsáveis e professores no que concerne à sua própria educação, que refletirá tanto pela sua postura, como pelos seus pensamentos na mente da criança. Esta é a razão por que as gestantes, nos cursos da Seicho-No-Ie, são orientadas para enviar pensamentos de harmonia e de elogio à criança que está para nascer. A Seicho-No-Ie tendo em sua doutrina claramente uma proposta educacional e pretendendo divulgá-la possui o Departamento de Educadores que existe desde 1968, sendo responsável por atividades como concursos literários, visitas às escolas, cursos sobre a pedagogia taniguchiana presencial e por correspondência, seminários específicos e outos cursos.
103
3.2
Aprimoramento espiritual num processo educacional
Aqueles que procuram conhecer esta religião japonesa encontram uma ênfase no estudo, e uma estrutura que procura transparecer um modelo educacional organizado. Em suas reuniões o palestrante expõe o tema tendo em mãos livros, e não raro, recursos de lousa, projetor, e outros, tudo se passando como uma aula, chegando às vezes acontecerem dinâmicas de grupo. Os palestrantes possuem o título de líder de iluminação ou preletor, este com subdivisões que o capacitam a ser expositor em eventos e lugares determinados. Em sua maioria, são pessoas voluntárias e provindas da classe média urbana. Estes graus são obtidos através de cumprimento de metas como tempo de trabalho em um dos locais de reunião, contribuição, participação comprovada de cursos e aprovação em exame. Interessante atentar ao fato de a Seicho-No-Ie não se apresentar marcadamente como religião e, sim como uma filosofia. Nesta perspectiva, o caráter educacional se destaca: “Em primeiro lugar, todos os adeptos fizeram distinção entre religião que professam e a Seicho-No-Ie, definindo esta como “filosofia que ensina a gente a viver”. Em outras palavras, muito embora se declarem católicos ou espíritas, tomam como fonte de orientação de vida o método eminentemente sincrético de salvação de Taniguchi. “177 Ao apresentar este universo educacional e religioso, entende-se que esta religião possui identificação nas classificações manipulacionista e taumatúrgica de Wilson Bryan apresentadas em Sociologia de las sectas religiosas relativas às seitas e ao seu caminho de salvação. Este trabalho foi abordado por Albuquerque178. Uma seita manipulacionista possui um grande grau de sincretismo, enfocando a resolução de problemas deste mundo através de meios religiosos. Ela oferece uma técnica para, manipulando o mundo, atingir seus objetivos. Grupos atraídos por essa abordagem só se sentem unidos pela utilização de um método em comum de salvação. As idéias são difundidas basicamente por textos que exprimem um caráter educacional, como em cursos e seminários.
177 178
ALBUQUERQUE, L. M. B. Seicho-No-Ie do Brasil: agradecimento, obediência e salvação, p. 103. Idem.
104 Este tipo de comportamento de encarar a religião meramente como um meio de obter coisas profanas tem um lado que pode conduzir ao desencantamento do adepto quando a técnica apresentada não produza os resultados esperados. De conformidade com a doutrina da Seicho-No-Ie tal atitude estaria fora do propósito religioso no qual se espera uma identificação com o divino em todas as atitudes e ações do fiel. Devemos orar primeiramente para sermos uma pessoa de virtude digna de um
Filho de Deus. Devemos orar pelo aprimoramento espiritual , pela compreensão mais profunda da Verdade , pela paz espiritual , pelo amor semelhante ao de Deus e também pela coragem e força necessárias para colocar essas virtudes em prática. E então virão, na medida do necessário, tanto a saúde como a prosperidade nos negócios. É ridículo orar pedindo apenas vantagens próprias: “quero saúde” ou “quero prosperidade nos negócios”. De nada adianta apegarmos-nos às sombras porque a sombra não tem substância. Enquanto não realizarmos as virtudes do Jisso, que dão origem à sombra, as graças (sombras) obtidas desaparecerão em pouco tempo. São poucas as pessoas que recebem graças porque são muitas as que perseguem apenas a sombra. 179
Nas técnicas apresentadas é possível classificar a Seicho-No-Ie também como taumatúrgica no sentido de ensinar a lidar com poderes espirituais, aproximando-se do mágico e, utilizando-os, solucionar os problemas imediatos. Ao contrário de algumas seitas que possuem fortemente estas características, não é necessário demonstrar tais poderes para ascender a graus mais elevados dentro da organização. Dentro das classificações citadas nossa atenção volta-se à estrutura “educacional” própria da classificação manipulacionista, pois é nela que acontece a absorção dos conhecimentos doutrinários. Para seus adeptos existem encontros como seminários e cursos com temas e públicos específicos. A leitura e os grupos de estudo são outro recurso utilizado e, inclusive, com a colaboração de adeptos professores, na orientação e elaboração de material específico. O processo educacional dos que ingressam na Seicho-No-Ie a aproxima mais de uma racionalização do sagrado, mas ela procura manter suas práticas espirituais na busca de um
179
TANIGUCHI, M. A Verdade, volume 9, p.117.
105 equilíbrio nesses campos. Tal posição remete ao nível de racionalização de uma religião, abordado por Max Weber em seu ensaio “Religião e racionalidade econômica”, onde ele trata das religiões orientais: Para apreciar o nível de racionalização que uma religião representa podemos usar dois critérios básicos, que se inter-relacionam de várias maneiras. O primeiro é o grau em que uma religião despojou-se da magia; o outro é o grau de coerência sistemática que imprime à relação entre Deus e o mundo e em consonância com isso à sua própria relação ética com o mundo. 180
A doutrina da Seicho-No-Ie expressa seu caminho ao sagrado através da palavra e o faz num contexto educacional. Dentro de sua formação com elementos japoneses e ocidentais engendra uma dinâmica de combinação e recriação, numa busca de facilitadores de expressão religiosa que surgem junto ao adepto. Na expressão da palavra inicia-se a inserção da Seicho-No-Ie no cenário religioso e social tendo como base fundamental a obra literária de seu fundador, Masaharu Taniguchi, que será estudada a seguir.
180
WEBER, Max Religião e racionalidade econômica, p. 151.
106
CAPÍTULO IV - O PATRIMÔNIO ESCRITO Neste capítulo serão registradas as principais obras escritas sobre a Seicho-No-Ie classificando-as numa perspectiva de entendimento quanto ao que se destinam, público e temas abordados. Ao final a palavra é analisada na sua concepção da imagem e, neste sentido, serão considerados o seu símbolo e a sua projeção pública. Um espaço particular de identidade religiosa origina-se pela representação da palavra através do número expressivo de obras editadas e do uso dos meios de comunicação. Deste modo é registrada a sua singular expressão no cenário religioso e no espaço histórico no contexto das NRJ no Brasil. É de destacar-se a produção escrita, por onde se iniciou o processo de divulgação desse movimento religioso de origem japonesa que procura manter suas características originais nipônicas ao expressar uma religiosidade oriental através de uma cultura, a princípio, distante da brasileira, e com sucesso junto aos não-descendentes de japoneses. Observando a obra escrita constata-se que nas décadas de 1960 e 1970 havia poucos livros traduzidos e raras publicações de autoria de pessoas ligadas ao movimento. A maioria das obras, como não poderia deixar de ser, era de autoria de Masaharu Taniguchi, e, em menor número, de seu genro Seicho Taniguchi, atual presidente, e de um dos principais líderes do movimento, o médico Katsumi Tokuhisa. Nas décadas que se seguiram, o grande desenvolvimento dessa religião junto ao público brasileiro refletiu-se no aumento de traduções, tendo atualmente (abril de 2006), de acordo com dados da Seicho No-Ie do Brasil, 191 títulos, sendo 171 traduções do idioma japonês, e os demais, criações de líderes do movimento no Brasil. Além disso, são editados e vendidos no País em torno de 300.000 livros ao ano. 181 Existem livros de lideranças japonesas e brasileiras, mas apesar de um número expressivo de palestrantes de ascendência não-japonesa, não existem obras por eles publicadas, restringindo suas participações a poucas gravações de palestras em mídia e alguns artigos em revistas da Seicho-No-Ie. Nos últimos anos Masanobu Taniguchi – neto mais velho de Masaharu Taniguchi e o próximo presidente na sucessão – tem manifestado sua participação em livros, palestras, e
181
Informações obtidas na Superintendência de Comunicação em janeiro de 2006.
107 destacadamente em encontros com lideranças brasileiras, mostrando os novos rumos do movimento. Em sua produção literária são tratados temas como clonagem, meio ambiente, nanotecnologia, para, a partir de seus estudos e interpretações, reforçar os pontos básicos da doutrina da Seicho-No-Ie nos novos tempos, mantendo-a atualizada em sua forma, mas tradicional em seus conceitos.
1
Obras de Masaharu Taniguchi
A produção em torno de 400 títulos escrita por Masaharu Taniguchi tem em duas obras, a revista Seicho-No-Ie e a coleção A Verdade da Vida, os marcos importantes nesta religião e que expressam, respectivamente, o lançamento do movimento e a sua base doutrinária. O entendimento dessas produções literárias permite conhecer a gênese e os princípios que norteiam o movimento religioso Seicho-No-Ie.
1.1
Revista Seicho-No-Ie: o início
Para melhor contextualizar o surgimento da revista Seicho-No-Ie, é importante lembrar que o Japão na época estava em plena era Meiji e totalmente aberto às influências ocidentais, tanto comercial quanto culturalmente. Um fato interessante que se pode citar é que Masaharu Taniguchi, na época doe lançamento da revista, estava empregado como tradutor numa empresa americana do ramo petrolífero, com filial no Japão, a Vacuum Oil , onde trabalhou por oito8 anos. Essa época permitiu-lhe um aprofundamento no estudo do budismo, cristianismo e da Ciência Cristã(Christian Science), a partir da qual estabeleceu a visão cristã do movimento. O primeiro número da revista Seicho-No-Ie182 apresentou idéias que nortearam não só as publicações posteriores como a estrutura deste movimento religioso. Nos tópicos existentes é importante verificar a abordagem de ciências e idéias ocidentais, a pedagogia de Masaharu Taniguchi, além do objetivo e da estrutura para a disseminação da doutrina da Seicho-No-Ie através de grupos de estudo, tendências próprias das NRJ. Os itens do
182
TANIGUCHI, M., Seicho-No-Ie – edição especial, 1993.
108 primeiro número foram: significado espiritual do surgimento da Seicho-No-Ie e sua obra; objetivo da revista Seicho-No-Ie e como deve ser lida; o modo de viver da Seicho-No-Ie; método positivo para a manutenção da saúde, do dr. Marden e, por fim, fenômenos espirituais do dramaturgo dinamarquês. Nessa edição o líder do movimento estabeleceu que seu movimento não era religioso, sendo basicamente uma proposta de estudo da lei mental, e nesta perspectiva ele entendia que ao buscar conhecimento e aplicação consciente dessa lei, o homem poderia transpor dificuldades e alcançar a verdadeira liberdade. Em sua justificativa, ele reforçou seu discurso através de referências a outras religiões: Os senhores poderão duvidar quanto a ser possível realmente uma obra tão grandiosa como a de consumar a felicidade da humanidade apenas estudando a lei
mental e praticando-a na vida cotidiana. Mas Sakyamuni proclamou “Banpou yuishin”, e Cristo respondeu à indagação de Nicodemos. “A verdade vos libertará”. Banpou Yuishin quer dizer que “tudo é manifestação da mente”. A “verdade” referida
por Cristo é, na realidade, a lei mental que existe dentro de nós. Aquele que conhece o princípio do fogo utiliza-se livremente do fogo; aquele que conhece o princípio da água utiliza-se livremente da água; e aquele que conhece a lei mental consegue a liberdade do seu destino. A Seicho-No-Ie se propõe a salvar a humanidade das mãos tiranas do destino, transmitindo a lei da mente. 183
Masaharu Taniguchi apresenta o seu movimento religioso como uma expressão budista e também o identifica com aqueles existentes nos Estados Unidos, New Tough e Christian Science, aos quais ele classificou como “embasados no princípio do progredir
infinito” e voltados ao estudo da lei mental. A força da mente é reiteradamente utilizada nessa publicação a começar pelo artigo “O Modo de Viver da Seicho-No-Ie”. Por sua vez, a força da palavra surge com destaque no tópico referente ao objetivo da revista, onde o seu poder concretizador e purificador e se uso são destacados e apresentados utilizando trechos de livros sagrados, principalmente da Bíblia cristã. Este fato é algo que permeia as NRJ, como já visto, e se repete na Seicho-No Ie, que é o de utilizar como ponto de conexão com outras culturas não-nipônicas, o
183
TANIGUCHI, M. Seicho-No-Ie – edição especial , pp.7-8.
109 cristianismo e seu livro: a Bíblia. Após citar passagens desta escritura e de livros de outras religiões, Taniguchi expressa a sua interpretação, dentro de uma posição conciliatória na procura da confirmação da validade dos ensinamentos da Seicho-No-Ie: Como se vê, as escrituras do Oriente e do Ocidente são unânimes em pregar que na palavra há vida, que a palavra (Verbo) se corporifica (se torna carne) e habita entre nós. É por isso que, no passado remoto, os japoneses chamavam uns aos outros de mikoto (mi=belo; koto=palavra)
e se respeitavam reciprocamente, considerando-se
divindades. Através da palavra nos tornamos puros ou maculados, felizes ou infelizes. 184
A abordagem de textos cristãos intensificou-se após a Segunda Guerra Mundial quando, para demonstrar às forças de ocupação americanas no Japão que a Seicho-No-Ie não era uma organização secreta, Masaharu Taniguchi resolveu traduzir e publicar a Coleção de Pensamentos Iluminadores do Mundo, do professor Hardman e outros
professores da corrente da filosofia Ciência Mental. 185 Deste modo, para sair de uma situação difícil, Masaharu Taniguchi valeu-se de sua máxima, citada por Mayeana186 – “o homem virtuoso adapta-se às circunstâncias”. O cristianismo, com base na Ciência Cristã, foi enfatizado na Seicho-No-Ie tendo um papel destacado dentro do seu sincretismo doutrinário. Neste panorama cristão na sua doutrina, Masaharu Taniguchi usou a Bíblia em suas obras como elemento de reforço e confirmação de seus argumentos.187 A influência ocidental transparece nessa primeira obra de expressão de Masaharu Taniguchi. Tópicos relativos à psicanálise onde cita estudos de Freud e Jung, entre os mais conhecidos, bem como Stekel e Breuer, são destaques. Desta maneira ele justifica suas idéias em relação à influência da mente sobre o corpo e traça um paralelo sobre a necessidade de o homem voltar ao seu estado de pureza, através do conhecimento das leis mentais para libertar-se de seus sofrimentos causados ou atraídos por ele mesmo. Essa postura de utilizar princípios científicos ligados à mente para justificar idéias é reiteradamente utilizada pela Seicho-No-Ie, numa procura de conciliação entre ciência e 184
TANIGUCHI, M., Seicho-No-Ie – edição especial , nº 1, p. 12. TANIGUCHI, Teruko. Reverenciando-o como mestre, respeitando-o como marido, p. 142. 186 MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo, 47. 187 WIMBERLEY, Hickman Howard. Seicho-No-Ie: a study of a japanese religio-political association, p. 15. 185
110 religião para, deste modo, tornar esta última um conhecimento, além da pura crença justificada numa postura racional dentro de sua perspectiva doutrinária. Essa atitude conciliatória existe também em relação à ciência no sentido de mostrá-la numa posição idealizada com o propósito de, em si, revelar uma sabedoria imanente que transcende o materialismo: “Percebe-se, na ênfase conferida pela Seicho-No-Ie à autoridade da argumentação científica, uma versão idealizada da ciência como prática voltada para o Bem e da Verdade.”188 O expediente de utilizar conceitos científicos como reforço e justificativa dos ensinamentos estende-se ao uso de uma linguagem de recriação simbólica, algo constante no discurso de Masaharu Taniguchi. Este recurso encontra-se em publicações como a sutra Kanro-No-Hoou, ao traçar um paralelo entre a evolução do bicho da seda e sua relação com
o seu casulo, e o homem com seu corpo. Outro exemplo encontrado na mesma obra é sobre a comparação da mente com o projetor de um filme. Tais recursos de linguagem vão ao encontro do agrado das massas populares, como observou Mayeana: TANIGUCHI expõe os princípios fundamentais acima utilizando-se abundantemente de analogias literárias que lhe são características, convencendo por este meio os leitores. A relação entre a alma e o fenômeno é explicada pela analogia da relação entre os negativos do filme e as imagens; a relação entre os fatos históricos e a mitologia é ligada à relação entre uma berinjela real e a berinjela pintada por um grande artista; o princípio de Chûshin Kiitsu (todos os seres convergem para o centro) ligado ao átomo e à composição molecular, e “as ondas da alma”, às ondas luminosas. Estes fatos são utilizados livremente como justificativa dos princípios de sua doutrina. Em outros termos, as representações ilógicas e místicas baseadas em analogia satisfazem às aspirações populares da necessidade de representação do tipo “Lei da participação”, de Lucien LÉVI-BRUHL. 189
Esse recurso utilizado está dentro do pensamento de seu fundador de que, em qualquer circunstância ou fato, deve-se levar em consideração a influência da mente. De acordo com Masaharu Taniguchi faz-se necessário que a ciência entenda que o fenômeno é produto da mente e por ela é moldado, e a partir desta afirmação ele justifica a inexistência 188 189
ALBUQUERQUE, L. M. B.& SOUZA, B. M. A Religião tem Razões que a Razão Desconhece, p. 7. MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo, p. 60.
111 da matéria. “ Na verdade vemos a imagem construída na mente, tendo por base a energia que nela vibra. A rigor a matéria não existe, ela é fruto do nosso estado mental.” 190 Para explicar a mente e sua influência sobre a matéria e, em particular, o corpo, Masaharu Taniguchi utilizou o recurso simbólico apontado por Maeyama, que se encontra no trecho abaixo da sutra Chuva de Néctar da Verdade ( Kanro-No-Hoou): [...] Pensando-se em saúde na mente, aparece a saúde, pensando em doença na mente, aparece a doença. Esta circunstância se assemelha à tela cinematográfica, em que aparece um lutador se nela for projetado um lutador, ou um doente, se nela for projetado um doente; porém o filme cinematográfico em si é incolor e transparente, e nele não existe lutador nem doente; [...]191
Entender que tudo que existe é produto da mente justifica que o conhecimento das leis que a regem torna-se um dos principais objetivos da Seicho-No-Ie, juntamente com o do despertar da essência divina, o Jisso. Um outro tópico que se deve analisar é aquele referente à abordagem de assuntos espirituais num contexto ocidental. Neste sentido, pode-se entender a inclusão do artigo referente ao dramaturgo dinamarquês Julius Magnussen: “Fenômenos Espirituais do Dramaturgo Dinamarquês”, cujo conteúdo refere-se a fenômenos ligados a experiências do espiritismo. Ao abordar idéias e doutrinas difundidas no Ocidente, a Seicho-No-Ie assume
190 191
TANIGUCHI, M. A Verdade, vol. 8, p. 120. Idem, Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade, p. 26.
112 no seu corpo doutrinário idéias que serviram como facilitadoras de sua aceitação em países ocidentais onde estes movimentos tenham se estabelecido, como no Brasil. É destacável o artigo sobre as idéias pedagógicas de Taniguchi: “ Novo método educacional para formar gênios baseado na lei da vida (1).” Este tópico, junto com o da psicanálise, é um dos mais extensos demonstrando a importância que Taniguchi dedicava à educação, em particular a infantil. Esta valorização da educação justificou o desenvolvimento de uma pedagogia própria. Para finalizar, dentro da estrutura da revista é dado destaque às notas de rodapé onde aparecem frases para reflexão, pequenos textos e poesias, em sua quase totalidade de autoria do próprio Masaharu Taniguchi. Além disso, existem correspondências que relatam experiências na aplicação das idéias pregadas por Masaharu, recurso freqüentemente utilizado e valorizado. Essa página preenche expectativas dos adeptos ao caracterizar caminhos de eficácia das idéias apregoadas.
1.2
A Verdade da Vi da : a obra fundamental
A coleção composta de 40 volumes denominada A Verdade da Vida (Seimei no Jisso) constitui, pelo seu fundador, a obra fundamental da Seicho-No-Ie, tendo um valor
sagrado juntamente com as sutras. Esta obra teve sua primeira edição no Japão em janeiro de 1932, e de acordo com essa instituição religiosa, data desse mesmo ano a chegada ao Brasil da 1ª edição do livro A Verdade da Vida (Seimei No Jisso), trazida pelo Sr. Hisae Sakiyama que, no interior da Amazônia, formou um grupo de estudo desse livro. No Brasil o volume 1 da coleção A Verdade da Vida foi lançado em 1962. Atualmente (abril de 2006), dos 40 volumes, 36 foram traduzidos para o português (ver anexo VIII), restando os de número 19, 20, 31 e 39. Interessante informar que em japonês não há o desmembramento em 40 volumes, tendo a coleção toda chegado a ser editada em um único exemplar. A tradução para os demais idiomas foi feita a partir da edição brasileira em português. 192
192
Informações obtidas em 11/10/2006 na Superintendência de Comunicação da Seicho-No-Ie do Brasil.
113 Esta obra aborda vários temas, tais como filosofia, religião, medicina psicossomática, parapsicologia, ética, psicologia aplicada, sociologia, política, educação e peças teatrais sacras. Em todos os seus escritos, Masaharu Taniguchi faz deles pontos que reforçam as posições e idéias da Seicho-No-Ie, mostrando, a aplicabilidade de seus ensinamentos em todos os aspectos da vida, tornando-se assim, um compêndio em que conhecimento e prática se combinam, no sentido de dar uma gnose que o leitor possa utilizar para a solução de seus problemas, e mais profundamente, um entendimento da realidade. Ao analisar a produção literária de Masaharu Taniguchi, verifica-se que alguns livros são compostos de excertos desta coleção, e do mesmo modo, eles constam em periódicos desse movimento. Essa obra, de acordo com seu autor, assume um caráter sagrado pela sua origem, uma “revelação divina” do deus da Seicho-No-Ie. Essa sacralização da obra faz com que reiteradamente seja divulgado que sua leitura assídua permite a “iluminação” do adepto. Como um objeto que se consagra sagrado, o livro sacralizado torna-se um meio de revelação e de obtenção de poder de algo mais além desta realidade: o divino imanente: “A pedra sagrada, a árvore sagrada não são adoradas como pedra ou como árvore, mas justamente porque são hierofanias, porque „revelam‟ algo que já não é nem pedra, nem árvore, mas o sagrado [...]”.193 Desse modo, o adepto que deseja uma gnose para obter o poder de transcender as limitações mundanas, o consegue pelo livro sacralizado por sua origem e conteúdo. “[...] o sagrado equivale ao poder e, em última análise, à realidade por excelência. É, portanto, fácil de compreender que o homem religioso deseje profundamente ser, participar da realidade, saturar-se de poder ”.194 A leitura assídua também é vista como um meio de o adepto não absorver em seu subconsciente idéias contrárias às existentes nos livros, tais como a perfeição divina e o poder inerente ao homem de criar sua própria realidade. A explicação para isto vai além da fixação em uma linha de pensamento, baseia-se no fato de que a leitura propicia a “captação” de ondas mentais similares às idéias que reverberam na mente do leitor, 193 194
ELIADE, M. O sagrado e o profano, p. 18. Idem, pp. 18-19.
114 reforçando os conceitos existentes na obra. Ademais, ao assumir a atitude da leitura, o fiel deixa de ser passivo às sugestões, em geral negativas, que fervilham na mente da humanidade: A leitura repetida das palavras da Verdade pinta diversas vezes na tela do subconsciente o pensamento “o homem é Filho de Deus e é perfeito”, do mesmo modo que se passa várias pinceladas de tinta numa pintura. Se não se fizer assim, o subconsciente será completamente pintado pelas sugestões vindas incessantemente de fora, insistindo: “O homem é corpo material; é algo que envelhece, adoece e morre.” E então envelhecerá, adoecerá e morrerá, exatamente como foi sugestionado.195
Essa postura suscita “fidelização” às obras da Seicho-No-Ie pelo adepto, o que se reforça pelos expedientes de estudos e cursos baseados na produção literária desse movimento. Apesar das publicações abordarem vários assuntos e temas, não foram achadas evidências nos encontros promovidos na Regional Rio Bonito, de iniciativas de estudo de obras não pertencentes ao movimento, o que reforça a “fidelização” citada e o papel de consumidor do adepto. Outro item a destacar é que em conversas com lideranças não se encontrou nenhuma iniciativa conjunta de criação de bibliotecas nas regionais visando ao atendimento prioritariamente de um público de baixo poder aquisitivo. Além da revista e da coleção abordadas, e da criação de uma vasta produção literária, Masaharu Taniguchi efetuou traduções de obras de líderes religiosos de movimentos que tinham identificação com os da Seicho-No-Ie, na visão de seu fundador. Desses líderes ocidentais, citam-se Roy Eugenes Davis, ligado ao New Tough e ao líder religioso hindu Paramahansa Yogananda, da Self-Realization Ship; Roy Eugenes Davis, designado preletor honorário da Seicho-No-Ie, tendo realizado palestras no Brasil em eventos organizados por este movimento religioso. Artigos comentando as idéias desses líderes constam também em publicações da Seicho-No-Ie, como do citado líder religioso hindu em “Teoria de Yogananda sobre Terapia Espiritual”.196 Através destes contatos, entende-se, afora o processo de
195
TANIGUCHI, M., A Verdade, volume 9, p. 39. Idem, A Verdade e a Saúde: Aplicação prática na vida cotidiana , pp. 99-132.
196
115 identificação citado, um conseqüente expansionimo das propostas teóricas dos ensinamentos envolvidos. Nesta diversidade de produção existem itens que podem ter seu estudo aprofundado, como a abordagem dada por Masaharu Taniguchi a temas como economia e política.
2
Representações e ordenações das obras
As publicações, seus objetivos e utilização traduzem-se em meios que atraem um público a ser inserido em um processo educativo nos locais de reuniões (ver anexo VII), onde os ideais propagados indicam presença e participação. Neste objetivo entende-se como pertinente apresentar, na perspectiva da Seicho-No-Ie, em relação à divulgação, a
classificação de suas publicações. 197 : obras que trazem de modo simples os conceitos Introdução à Seicho-No-Ie prioritários e básicos desta doutrina; : literatura com uma linguagem e aprofundamento A Essência da Seicho-No-Ie maior dos ensinamentos;
Segredo da Mente: sendo uma religião que surgiu como estudo das leis mentais, essas páginas ressaltam o poder da mente em criar e modificar a realidade do homem;
A Verdade da Vida: apesar de esta coleção estar inclusa também na classificação acima, “A Essência da Seicho-No-Ie” tem seu destaque por ser considerada obra sagrada e principal deste movimento;
Prosperidade: livros que abordam a prosperidade numa perspectiva de um produto da mente do homem em consonância com princípios éticos e sagrados;
Meditação: trata das publicações que explicam um dos pilares da Seicho-No-Ie: a técnica meditativa Shinsokan;
Mulher: como segmento expressivo de público, as publicações voltadas à mulher, a começar pela revista Pomba Branca, aborda temas pertinentes a este universo como lar, casamento, família e outros;
197
ANONYMUS, Livros da Seicho-No-Ie.
116
Vida Cotidiana: obras de caráter geral, isto é, sem um público ou assunto específico, embora existam publicações nesta classificação que são temas de uma das características básicas da NRJ: o culto aos antepassados;
Orações e Sutras: livros de caráter sacro utilizados também, no caso das sutras, em cerimônias públicas;
Educação dos Filhos: obras voltadas aos pais e educadores, tendo como uma das principais obras a Pedagogia da Seicho-No-Ie de autoria de Masaharu Taniguchi;
Jovens: publicações voltadas a este público, ressaltando a necessidade de realizações dentro de uma perspectiva religiosa e ética baseada nos princípios da doutrina;
Infanto-Juvenil: constitui-se em publicações para este público com livros de orações, e principalmente de histórias infantis abordados na visão da Seicho-No-Ie; Assinaturas: aqui constam as revistas Fonte de Luz , Pomba Branca e Mundo Ideal , além do jornal infantil Querubim, publicações em que é possível fazer assinatura anual;
Outras Publicações: nesta última classificação têm-se, sobretudo, as canções (ver anexo V) utilizadas nas reuniões, amuletos de proteção (miniatura da sutra Kanro-No Hoou) e “cadernos” para “concretização de orações”. Estes “cadernos” são controle de
leitura da sutra, pois se apregoa que ao ler mil sutras ininterruptamente, concretiza-se o bem almejado, algo relacionado com o poder da palavra. Ainda sobre este poder, existe uma caderneta com a finalidade de registrar um desejo, data de formulação e de concretização para que, quando realmente manifestado, a fé do adepto se fortaleça na crença dos princípios da Seicho-No-Ie. Neste número diversificado de publicações p ublicações destacam-se algumas obras ou o u grupos que caracterizam esse movimento religioso quanto à sua expressão e estratégia de atender diferentes públicos, mas mantendo em sua base o seu núcleo fundador, modelo de perfeição que se manifesta pela palavra em bases culturais originais japonesas.
2.1
No universo das revistas
As revistas da Seicho-No-Ie, desde sua fundação, constituem o elemento mais importante na divulgação deste movimento religioso, e hoje (abril de 2006), juntamente com os programas de televisão, tornam-se o eixo propagador mais forte desta religião no Brasil.
117 No mesmo ano a no de lançamento da revista Seicho-No-Ie, 1930, de acordo com dados da sede central do Brasil, em outubro do mesmo ano chegou às mãos do senhor Katsuzo Tanigaki, residente em Lins, o número 4 deste mensário e, desde então, ele passou a importar todas as publicações da Seicho-No-Ie. Segundo a Seicho-No-Ie, em janeiro de 2006 a soma da tiragem mensal das três revistas editadas, Fonte de Luz , Pomba Branca B ranca e Mundo Ideal estava em torno de 500.000 exemplares. Obedecendo à estrutura japonesa, a segmentação destas publicações seguiu um processo natural. Não obstante a crescente penetração da Seicho-No-Ie através de outras mídias, como o rádio e especialmente a televisão, as revistas continuam sendo um elemento muito importante na captação de novos adeptos. Sua importância é tão grande que estratégias como doações são incentivadas pela organização, e para exemplificar, vê-se na Regional Rio Bonito a seguinte segu inte tabela: 198
Tabela 4: Média mensal de revistas adquiridas para doação na Regional Rio Bonito Divulgação Cotista Exemplares (*) Português
150
1.750
Japonês
200
2.600
(*) os valores referem-se à soma total das três revistas editadas: Fonte de Luz , Pomba Branca e Mundo Ideal .
Segue-se a apresentação das revistas editadas:
2.1.1
Revista Fonte de Luz
Esta publicação é a mais importante graças a seu histórico e ao sucesso junto aos não-descendentes de japoneses. A primeira revista em português, Seicho-No-Ie, foi lançada em julho de 1954, mas aquela que teve um grande sucesso de vendagem foi a revista Acendedor , atual Fonte de Luz .
198
Informações obtidas na representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006.
118 O primeiro número da revista Acendedor foi lançado em 18 de julho de 1965, sendo responsável por sua edição o departamento voltado à divulgação desse movimento entre os jovens brasileiros, a Associação dos Moços da Seicho-No-Ie do Brasil. Os colaboradores da primeira edição da revista Acendedor foram: Hakuiti Higashiyama, Osvaldo Murahara, Wilma Nishi, Tomico Sassaki, Takeshi Katsumata (desenhista e idealizador da capa) e o empresário da Gráfica e Editora Daido Ltda., Yoshiichi Miyamoto. O lançamento foi por ocasião da 10ª Convenção Nacional da Associação dos Jovens. Nas décadas de 1960 e 1970, através sobre consulta de publicações da época, a
estrutura básica desta revista mensal, constituía-se de quatro partes. Em primeiro lugar, a partir de um artigo ou trechos de um livro referentes a um tema específico, eram agrupados parágrafos identificados pelo dia do mês, com um título. Esta estrutura de “calendário” já existia no volume 40 da coleção A Verdade da Vida. PALAVRAS DO DIA 27 MANTENHA SEMPRE UM ESPÍRITO ALEGRE E POSITIVO Você nunca deverá ser presa de pensamentos e sentimentos negativos tais como inquietações, preocupações, suspeitas, ciúmes, etc. Deve sempre procurar manter pensamentos positivos como confiança, felicidade, alegria e despreocupação. Quanto mais forem iluminados o seu pensamento e emoções, ouvirá mais claramente a voz da orientação de Deus. A voz de Deus é ouvida muitas vezes como uma voz silenciosa que vem à mente ou alguém nos visita trazendo alguma coisa opotuna que sirva de orientação. 199
Em seguida, havia temas específicos para mulheres, jovens e educadores, tendo para estes últimos últimos a abordagem abordage m da pedagogia pedagog ia taniguchiana. Exemplos: O Caminho para a Felicidade do Lar, Trechos Escolhidos para Jovens e Assim se Educam Crianças Talentosas. A terceira parte constituíam de artigos de lideranças do movimento, em sua maioria, provinham de livros ou palestras de Masaharu Taniguchi. Em menor escala existiam artigos da esposa do fundador, Teruko Taniguchi, de seu genro, Seicho Taniguchi,
199
TANIGUCHI, M. Revista Acendedor, nº 12, p. 18.
119 e de seu principal assessor, o médico Katsumi Tokuhisa, além de poucos e pequenos artigos de lideranças brasileiras. Por fim, existiam os relatos de experiências, quando adeptos, geralmente exibindo sua foto, falavam sobre como superaram algum problema através dos princípios religiosos aprendidos, num discurso enfático sobre a fé adquirida. Desde o primeiro número, além de artigos relacionados aos princípios básicos da filosofia apregoada, existiam matérias relativas aos textos cristãos. Exemplo disto é que no primeiro número iniciou-se iniciou-se uma série de transcrições e interpretações, com base nos ensinamentos da Seicho-No-Ie, do Evangelho segundo São João. Em relação a esta abordagem cristã, vale lembrar que os primeiros livros traduzidos da coleção A Verdade da Vida seguiram esta mesma linha, começando pela interpretação do Gênesis e do Sermão da
Montanha, o que evidencia a já citada procura de pontos de conexão com a cultura brasileira e sua religiosidade predominantemente predo minantemente cristã. Apesar de Masaharu Taniguchi caracterizar a Seicho-No-Ie como a religião que possibilita extrair a essência das demais, ao interpretar seus ensinamentos à luz de seus princípios doutrinários encontra-se encontra- se na sua produção literária, literária, predominantemente, uma análise de textos pertencentes ao cristianismo e ao budismo. A estrutura citada de “calendário” calendário” vigorou até a década de 1980, quando foi abolido mas se mantiveram os artigos e relatos, e incluídas as orações do mês para cada dia da semana. Ainda nesse período iniciou-se a troca do nome da revista numa tentativa de uma maior aproximação com o público brasileiro. Numa estratégia de mudança gradativa, a revista conviveu com dois títulos: Acendedor e Fonte de Luz , da edição 173 até a 265, respectivamente, de maio de 1984 a janeiro de 1992. Neste período o nome atual Fonte de de Luz foi se destacando e, em contrapartida, diminuindo o de Acendedor , quando em janeiro
de 1992 passou-se a se designar unicamente como Fonte de Luz, titulo que vigora até hoje. Em julho de 1995200, 30 anos após o lançamento da revista Acendedor , houve uma mudança significativa: o tamanho, antes de bolso (12,5 cm x 17,5 cm), passou a ser igual ao de uma revista comercial (18,0 cm x 25,5 cm). Além disso, no novo conteúdo vale ressaltar a inclusão da coluna “Mistério da Natureza” Natureza”, um modo de relacionar natureza, ciência e
200
Revista Fonte de Luz , p. 4.
120 religiosidade. Nesta seção encontravam-se temas como a água, sua composição e sua relação com a vida no planeta e a do homem, e neste contexto inserem-se conceitos da doutrina como a origem divina da natureza e do homem, e a necessidade do agradecimento. Esta revista, lançada pela Associação de Jovens, é atualmente, de responsabilidade de outra associação da Seicho-No-Ie, a Fraternidade. Conforme informações institucionais201, esta publicação é voltada a assuntos como prosperidade, harmonia familiar e saúde, e direcionada ao público masculino com mais de 35 anos.
2.1.2
Revista Pomba Br anca
Esta publicação foi a segunda a ser lançada no Brasil em português, e seguindo a segmentação de público, destina-se às mulheres, contendo matérias relacionadas ao lar, educação dos filhos, receitas e outros assuntos pertinentes ao universo entendido como feminino. A responsável por sua edição é a Associação Pomba Branca, que de acordo com as informações institucionais anteriormente citadas, é voltada às mulheres com mais de 35 anos. Apesar de ter sido lançada no Japão em 1936, e a Associação Pomba Branca no Brasil manter atividades e divulgação junto ao público feminino desde 1954, somente em julho de 1985, por ocasião dos 90 anos da esposa do fundador da Seicho-No-Ie, Teruko Taniguchi, é que foi lançada no Brasil a revista Pomba Branca. Do mesmo modo que a revista Acendedor , a Pomba Branca, na mesma data, alterou seu formato de bolso para o novo padrão de apresentação similar ao da Fonte de Luz . Em seus primeiros números, os assuntos eram restritos à mulher em relação à sua atuação no lar como esposa e mãe. Atualmente ganham destaque temas atuais, como a atuação profissional.
201
ANONYMUS, Seicho-No-Ie do Brasil .
121
2.1.3
Revista M undo Ideal
Seguindo a ordem cronológica, tem-se uma terceira revista: Mundo Ideal . Ainda de acordo com a Seicho-No-Ie, esta publicação é voltada ao público jovem, identificado no intervalo de idade dos 13 aos 35 anos. A edição desta revista está sob a responsabilidade da Associação de Jovens da Seicho-No-Ie, cuja antiga denominação era Associação de Moços. Como nas revistas anteriores, ela também passou por transformação em seu formato na mesma data, julho de 1995. Como em outras publicações, existem artigos originais de Masaharu Taniguchi e de seu genro e atual (abril de 2006) presidente, Seicho Taniguchi. Além disso, possui uma abordagem mais leve e uma linguagem e seções mais próximas do público jovem. Como ilustração, segue a estrutura de um de seus números202: a) Seicho Taniguchi: artigo sobre a relação do homem e a natureza; b) Masaharu Taniguchi: artigo sobre a relação mente, destino e fisionomia; c) Qual é o Grilo?: seção de esclarecimentos ou orientações solicitadas por leitores e respondidas por liderança do movimento; d) Entrevista: geralmente com pessoas, simpatizantes ou adeptos da Seicho-No-Ie, com destaque na mídia; e) Quem Ama Faz: reportagem sobre eventos relativos à Seicho-No-Ie; f) Confesso que Vivi: testemunhos de jovens que, ao aplicar os princípios da doutrina, superaram os obstáculos em suas vidas; g) Artigo de liderança jovem do movimento h) Câmera um: fotos e comentários de eventos da Seicho-No-Ie
2.2
Imprensa
O mais antigo informativo da Seicho-No-Ie no Brasil constitui-se do seu jornal Círculo de Harmonia ( Enkwan), lançado em 4 de julho de 1952 com seu nome em japonês,
com distribuição gratuita que ainda vigora. A mudança do nome do jornal está inclusa num movimento de maior aproximação da sociedade brasileira iniciado na década de 1990, onde
202
Revista Mundo Ideal , nº 139.
122 outros termos em japonês que foram traduzidos. Esta publicação, diferentemente das revistas, geralmente não traz artigos do seu fundador ou presidente atual, mas sim dos líderes brasileiros e reportagens sobre os eventos do movimento no Brasil, além de relatos de experiências. A tiragem mensal em janeiro de 2006 foi de 50.000 exemplares, distribuídos gratuitamente em todos os locais de reunião no Brasil (ver anexo VII).
2.3
Literatura Segmentada
A divisão em associações para atender a públicos específicos, uma característica das NRJ, se traduz na Seicho-No-Ie em uma produção segmentada que vem reforçar pela palavra os valores traduzidos nas reuniões dos grupos para os quais se dirige. Esta estratégia que se iniciou e se solidificou nas revistas, um dos grandes meios de difusão do movimento, extendeu-se aos livros, refletindo no movimento brasileiro a iniciativa da matriz japonesa.
2.3.1 Literatura Infantil Conquanto houvesse da preocupação com a educação das crianças, que se traduziu em uma pedagogia de orientação para as mães em livros e revistas não havia uma literatura de referência para este segmento. Na década de 1970, lançou-se no Brasil o livro Contos da Verdade, não editado atualmente, contendo algumas histórias escritas por Masaharu
Taniguchi e adaptações por ele feitas de outros autores. Ainda na década de 1970 um livro para o público infantil foi lançado, A Cartilha da Vida, volume 1. Em 1992 lançou-se mais um livro de contos, Contos de Sakyamuni, também não editado atualmente. Além dessas publicações existem os livros de orações para crianças de autoria de Masaharu Taniguchi. Na década de 1990, a Seicho-No-Ie passou por uma fase de reformulação quanto à sua atuação na mídia e, conseqüentemente, com um maior proselitismo. Este fato se refletiu nos produtos literários voltados às crianças. Em fevereiro de 1997 editou-se o jornal infantil Querubim alusão ao termo utilizado na sutra Chuva de Néctar da Verdade ( Kanro-No-Hoou), sobre um ente angelical que procura entendimento num diálogo com a divindade da Seicho-No-Ie. Esse jornal tem distribuição gratuita nas reuniões de crianças, mas é vendido nos locais de divulgação da
123 Seicho-No-Ie (ver anexo VII). Seu conteúdo é específico para a infância, com jogos,
brincadeiras e desenhos, e além disto existem artigos voltados às comemorações cívicas e a o meio ambiente, e outros comuns às atividades escolares. A referência à Seicho-No-Ie fica por conta de orações na contracapa e fotos de eventos próprios do público infantil em seus locais de reuniões. A apresentação discreta da doutrina, nesse jornal, pode ser entendida como uma estratégia para que tal publicação possa ser utilizada em outros locais, como escolas, com o objetivo de divulgação desse movimento religioso entre educadores, sem transparecer ostensivamente o nome da religião. Após o lançamento desse jornal seguiu-se uma série de livros infantis (ver anexo IX) de autoria de Junji Miyaura, preletor e liderança do movimento, abordando temas e idéias da doutrina em histórias com personagens variados, exceção feita a um garoto de nome Joãozinho. Ele normalmente se questiona sobre assuntos que o levam a descobrir respostas onde são apontados princípios apregoados por Masaharu Taniguchi. Ao final das eistórias são feitos comentários citando trechos de livros da Seicho-No-Ie. Os temas abordados remetem, por exemplo, ao amor filial, ao agradecimento, à conscientização de sua essência divina, ao princíipio da prosperidade, ao valor do riso e das palavras positivas, à dedicação, ao não-desperdício do tempo, ao poder mental. A abordagem é feita dentro de uma estrutura pedagógica tradicional, numa procura de perpetuação da vida social, mas numa validação através de uma nova perspectiva ética e de visão do homem como um agente transformador da realidade a partir de sua nova visão de si mesmo e da realidade, de acordo com os ditames propalados pela doutrina.
2.3.2 Literatura jovem Uma expressão da segmentação de público existe também em publicações voltadas aos jovens, como a já citada revista Mundo Ideal . A atenção a este segmento é evidente desde o início do movimento, haja vista que a revista Acendedor foi lançada pelo departamento de jovens denominado, na época, Associação de Moços da Seicho-No-Ie. Os temas nessas publicações ressaltam, dentro da perspectiva da doutrina, o dinamismo, a realização de sonhos, a formação de um lar, entre outros.
124
2.3.3 Literatura feminina Como visto na classificação da Seicho-No-Ie, a literatura para a mulher volta-se especificamente a assuntos do lar, educação de filhos, casamento e vida profissional. A visão da mulher na Seicho-No-Ie é de igualdade por ser um ente espiritual criado por Deus, e de tanta importância quanto o homem, mas com características próprias de sua condição feminina e, portanto, com um modo de atuação particular. O talento da mulher completa-se em comunhão com o talento do homem. Deus não os teria criado homem e mulher, se fosse para dar-lhes dons iguais. Não quer dizer que um seja superior ao outro; a diferença está na função, assim como não podemos definir qual a mais bela, se a cor vermelha ou a azul. São iguais no ponto de serem elas uma
cor, mas são diferentes na tonalidade. As cores se auxiliam e formam a beleza do todo. 203
Nessa perspectiva, é abordada nos livros a grande influência mental da mãe sobre os filhos e o cônjuge, daí a necessidade de aprimoramento de suas atitudes e modo de pensar, pois deste modo poderá tornar o lar harmonioso. Além disso, é destacado que na sua atuação em quaisquer aspectos da vida faz-se sempre necessário não esquecer de manifestar a feminilidade, que lhe é própria por natureza. Deve-se considerar que ganhou vulto na fase inicial, no espaço de discussão das publicações, a visão da mulher sustentada nos valores tradicionais japoneses.
2.3.4 Literatura sagrada As sutras são consideradas livros sagrados e são utilizadas em cerimônias públicas e pelos adeptos em suas práticas individuais. Existem editadas quatro sutras: Chuva de Néctar da Verdade, Louvor aos Apóstolos da Missão Sagrada, Palavras do Anjo e Sutra para Cura Espiritual (Sutra Sagrada Contínua Chuva de Néctar da Verdade).
203
TANIGUCHI, M. A Felicidade da Mulher, vol. 1, p. 19.
125 As sutras são obras de formato budista e constituem-se principalmente de poemas. Elas emitem princípios da doutrina utilizando por vezes metáforas e analogias a fatos de conhecimento geral, tais como cinema, natureza e ciência. A utilização desses livros geralmente acontece nas orientações dadas aos adeptos pelos líderes nas reuniões. A sutra mais utilizada é a Chuva de Néctar da Verdade ( Kanro no Hoou), e é indicada a sua leitura para culto aos antepassados, para a própria pessoa no intuito de atingir um objetivo, para a cura do adepto ou de uma pessoa que este pretenda que se restabeleça, e até para exorcismos. Essa sutra foi a primeira obra traduzida e teve sua publicação em português, em 28 de fevereiro de 1953. Esta obra, de acordo com o grande valor que lhe foi atribuído pelos adeptos, teve em 1997 um lançamento em braile. Pelo seu caráter tido como sagrado, a sutra Chuva de Néctar da Verdade ( Kanro no Hoou) aparece em versões menores, inclusive em pingente, como amuleto (omamori). A sutra Louvor aos Apóstolos da Missão Sagrada é utilizada em cerimônias voltadas a líderes falecidos da Seicho-No-Ie e aos que contribuem financeiramente com o movimento religioso através da entidade definidade como Missão Sagrada, abordada no capítulo II: O “LOUVOR AOS APÓSTOLOS DA MISSÃO SAGRADA” é lido diante da urna dos registros espirituais da Missão Sagrada instalado no Templo Matriz, em Nagasaki. Os apóstolos da Missão Sagrada (os adeptos) o lêem durante seus cultos diários a fim de enviar, uns aos outros, as benéficas vibrações da Verdade e assim contribuir mutuamente para o despertar espiritual. 204
A sutra As Palavras do Anjo é utilizada em cerimônias fúnebres, notadamente pelo fato de suas palavras iniciais, Revelações Divinas da “Vida Eterna”, explicarem a passagem da alma para o mundo espiritual quando do falecimento. A Sutra para Cura Espiritual é indicada em eventos relativos à purificação mental do participante. Destaca-se nas palavras de abertura a Revelação Divina da Confissão que aborda a necessidade da confissão e a inexistência do pecado.
204
TANIGUCHI, M. Sutras Sagradas, p. 15.
126
2.4
Temas doutrinários
Dentre os temas recorrentes enfatizados nas publicações da Seicho-No-Ie, como o poder da mente e da palavra, outros dois merecem atenção e têm seu destaque e literatura específica: culto aos antepassados e meditação Shinsokan . Livros como Melhore seu Destino Cultuando os Antepassados, de Masaharu Taniguchi, explicando como realizar o culto e se referindo às influências dos antepassados na vida dos familiares, e Pela Paz dos Anjinhos, de Kamino Kusumoto, que descreve fatos sobre o reflexo de abortos em problemas vividos pelas pessoas envolvidas neste fato, tornam-se matérias de esclarecimento e inserção dos adeptos em uma das principais características desta religião, como de outras NRJ. A meditação Shinsokan, pela sua importância, é antes de tudo uma técnica meditativa e, portanto, existem publicações fornecendo detalhes sobre sua prática, com destaque para o folheto Shinsokan e outras Orações e o livro Explicações detalhadas sobre a meditação Shinsokan, ambos de autoria de Masaharu Taniguchi.
2.5
Outros meios de divulgação
A mídia tem em si uma dinâmica própria que os movimentos religiosos utilizam e ao qual se adaptam, criando nesse processo novas formas de difusão e de expressão da religiosidade. A atuação destacada da Seicho-No-Ie na mídia e a sua ênfase na leitura dentro de seu corpo doutrinário fazem da instituição um exemplo único nas NRJ, com participação, desde 1994, na Bienal do Livro. Além deste fato, ela também é a única deste grupo no Brasil a ter programas radiofônicos e de televisão. Estes fatos reforçam sua adaptação e dinamismo no uso dos meios de comunicação. No setor de publicações ela possui outros meios de divulgação: VHS e VCD com palestras e programa de televisão; CD contendo palestras de lideranças do movimento brasileiro, músicas confessionais utilizadas em reuniões e eventos, e sutras adotadas em suas práticas; fitas cassete com trechos de livros, músicas, palestras e orientação sobre a prática da meditação Shinsokan.
127 Além dos meios de divulgação citados, merece destaque o Calendário Palavras de Luz. Após a revista, este foi um dos objetos de comunicação que tornaram famosa esta religião. Constitui-se de frases extraídas dos livros da Seicho-No-Ie para cada dia do mês, com belas ilustrações ou fotos. Até a década de 1980 apareciam as palavras em japonês e português, mas hoje somente neste último idioma.
3
Expansão da palavra: a imagem pública
A Seicho-No-Ie, dentro de seu objetivo de divulgação expresso nas “Sete Declarações Iluminadoras da Seicho-No-Ie” citadas no capítulo III, está sempre atenta a novas mídias a serem utilizadas para atingir e captar um número sempre maior de adeptos. Cada vez mais há uma expansão setor de das publicações. Inicialmente ordena-se o rádio e a televisão. Na utilização de tais meios o movimento teve de se expor mais, e conseqüentemente, precisou intensificar o tratamento de sua imagem junto ao público com iniciativas como eventos ecumênicos e ações sociais. Ademais, é interessante atentar ao fato, como Diniz205 abordou, de que a Seicho-No-Ie do Brasil é registrada no Cartório de Títulos e Documentos de Pessoas Jurídicas como uma entidade sem fins lucrativos, título este que deve ser renovado anualmente, e que a faz ter uma ação próxima à de organizações do terceiro setor, intensificando e justificando suas iniciativas sociais. Nas ações apresentadas, a imagem da Seicho-No-Ie se faz presente e, por sua vez, ela sente a necessidade de adaptação a um público cada vez mais numeroso. Como em toda religião acontece uma influência sobre o meio onde se insira e, por sua vez, ele atua sobre ela. Na preocupação de expandir suas fronteiras, a Seicho-No-Ie adapta-se aos novos tempos visando à sua sobrevivência e à difusão de suas idéias. Neste processo de adaptação, a influência da cultura japonesa já não é tão grande entre o público como nas décadas de 1960 a 1980, quando havia um uso maior de termos japoneses em publicações, reuniões, e pelos adeptos, além de cerimônias tipicamente xintoístas, e em seminários, o uso do tatami, espécie de colchão de palha, e do banho quente japonês (ofurô). Neste novo cenário
205
DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil, pp. 117-118.
128 apresentam-se os maiores meios de comunicação, o rádio e a televisão, e como a imagem da Seicho-No-Ie é trabalhada junto ao grande público.
3.1
O Emblema da Seicho-No-Ie Figura 1: Emblema da Seicho-No-Ie
O símbolo atua como identificador daquilo que se deseja expressar, ou a partir dele representar a síntese da realidade da qual se pretende que seja o interprete. Deste modo, o emblema da Seicho-No-Ie traz em si a missão, no entender de seu fundador, de unificação das religiões e também de expressão do próprio Universo, traduzindo o fato de esta religião desejar ser um elemento de integração das demais sob a égide de suas idéias, abrangendo diferentes posições religiosas. “A Seicho-No-Ie ilumina e vivifica todas as religiões e completa os ensinamentos de Cristo e Buda que não haviam sido ainda suficientemente esclarecidos. Encerrando estes significados foi criado o emblema da Seicho-No-Ie.” 206 O símbolo da Seicho-No-Ie traduz a intenção de unificar e ser o centro de valorização das demais religiões. Na explicação de Masaharu Taniguchi, existem três elementos que compõem o emblema da Seicho-No-Ie e que são relacionados a elementos do universo e, por sua vez, às três grandes religiões: xintoísmo, budismo e cristianismo, as quais são as que mais influenciaram na formação da maioria das NRJ. De acordo com o fundador da Seicho-No-Ie, os três elementos citados se dispõem numa determinada ordem. Na parte mais externa existe o Sol que representa o xintoísmo. O sol é elemento fundamental no xintoísmo, lembrando que a sua principal divindade (kami) é Amaterasu, a deusa deste astro.
No nível intermediário vem a Lua que representa o budismo. A lua remete a duas simbologias: a da cidade chinesa de mesmo nome (Guéshikoku) onde o budismo prosperou
206
TANIGUCHI, M. Revista Acendedor, nº 37 , pp. 52-54.
129 e se difundiu, e a da analogia Lua com a essência perfeita do homem, que apesar do seu aspecto mutável, mantém-se na forma original, intacta. É interessante notar que a Lua é representada por uma suástica, que segundo Taniguchi, no símbolo da Seicho-No-Ie expressa um movimento com suas setas para a direita, identificando as leis universais onde o esquerdo (positivo, masculino) avança, enquanto o direito (negativo, feminino) recua. No último nível, o mais interno, existe uma estrela que representa o cristianismo. A estrela está ligada à simbologia do nascimento de Jesus, além de remeter à idéia da cruz, que na visão de Taniguchi, num formato de “X” indica a intenção de Cristo de anular o corpo, mostrando a sua inexistência e a verdadeira realidade que é a Vida de Deus. Este símbolo, com a sua formação apresentada expressa possivelmente um dos conceitos do sincretismo que é o da mistura, e pela junção de elementos consegue um resultado híbrido em que representações distintas se combinam e expressam uma nova idéia através da interpretação própria da doutrina.
3.2
Projeção pública da marca religiosa
Desde 1º de agosto de 1952, quando a Seicho-No-Ie foi reconhecida pelo governo brasileiro como sociedade religiosa, iniciou-se um processo para obter sua maior transparência na sociedade brasileira. Esta dinâmica intensificou-se junto aos nãodescendentes de japoneses levando-se em conta o processo de difusão do final da década de 1960, expandindo-se significativamente nos anos seguintes. Seguindo os dados pesquisados207, destacam-se três períodos quanto ao processo de aproximação e divulgação do movimento religioso. Os períodos retratam um domínio crescente que indica a ordenação de um espaço de poder e ordenação de identidade. Um primeiro período compreende as décadas de 1950 e 1960: a procura da integração.Foi quando a cultura japonesa era marcante e tomaram-se algumas iniciativas
voltadas à afirmação de uma imagem de integração dos japoneses na sociedade brasileira, com ênfase no quesito patriotismo. Houve dois fatos marcantes na história brasileira que 207
Os fatos constantes nos períodos abordados foram obtidos da série de reportagens relativas à comemoração dos 50 anos da Associação de Jovens da Seicho-No-Ie publicada na Revista Mundo Ideal no período de janeiro de 2005 a janeiro de 2006, com o título 50 anos de uma história de sucesso , de autoria de Ariovaldo Adriano Ribeiro, e também através de documento cedido por liderança deste movimento religioso.
130 explicam essa posição. O primeiro foi a Segunda Guerra Mundial. Durante este conflito, devido à posição do Japão, a colônia nipônica esteve com sua liberdade de expressão cultural e religiosa segregada, e carente de uma participação mais efetiva na sociedade brasileira. O segundo evento foi o golpe militar de 31 de março de 1964, quando o governo apregoava, naquele momento delicado para a nação, a necessidade de uma ordem no País, apelando para sentimentos patrióticos como colaboração em seus objetivos. O governo brasileiro, após a revolução de 31 de março de 1964, passou a dar ênfase na educação, principalmente na exaltação do patriotismo e formação humana. E, nesta oportunidade, a Associação dos Jovens demonstrou o amor à pátria reunindo seus membros diante do Monumento da Independência do Ipiranga e orando pelo pr ogresso do Brasil e pela paz do mundo. 208
Nesse contexto, as iniciativas na formação da imagem da Seicho-No-Ie evidenciaram-se. Em 1958 surgiram os primeiros esforços no sentido de traduzir revistas e sutras sagradas. Criação em 17/11/1961 do Departamento de Assistencial Social e Filantrópica. Em 28/7/1968 realiza-se a 1ª Oração pelo Progresso do Brasil e pela Paz Mundial; Após o lançamento da revista Acendedor em 1965, criou-se a Campanha de Gratidão ( Arigatô Undô), através da qual os departamentos femininos, em todas as regionais do Brasil, fizeram visitas às delegacias agradecendo pelos trabalhos dos policiais voltados à população: Um fato que mostra que a Seicho-No-Ie ainda se preocupa muito com a preservação dos valores nipônicos na colônia japonesa é o concurso de oratória em japonês. Em 1955 foi realizado, juntamente com a 1 ª Convenção Nacional, o 1º Concurso de Oratória em Japonês, quando textos foram expostos pelos seus autores jovens. Este evento que incentivou a preservação do idioma, e conseqüentemente a cultura japonesa, existe ainda hoje. Seguindo esta dinâmica de difusão da cultura e do idioma japonês, o Concurso Infanto-Juvenil de Oratória em japonês está na sua 42ª edição, tendo nos últimos eventos um público médio de 500 pessoas e 60 participantes. 209
208 209
Revista Mundo Ideal , São Paulo, Seicho-No-Ie do Brasil, nº 131, p.18. Informações obtidas em 11/10/2006 na Superintendência de Comunicação da Seicho-No-Ie do Brasil.
131 Um segundo período abrange as décadas de 1970 e 1980, estabelecendo pontes entre culturas. Neste momento iniciou-se uma aproximação mais objetiva com o público
brasileiro: aliada à imagem de integração iniciada no período anterior, houve esforços maiores para a tradução de livros e realização de seminários em língua portuguesa. As visitas das principais lideranças do movimento no Japão, incluindo o fundador e seu genro, foram marcos para desenvolver o movimento junto aos não-descendentes de japoneses, e na ocasião, um meio de a Seicho-No-Ie aparecer ao grande público através de homenagens, títulos agraciados por órgãos oficiais, exposição na mídia e encontros com autoridades. Fatos relevantes nesse período comprometido com o ideário histórico: Década de 1970: coluna no jornal Folha da Tarde, geralmente com trechos de livros e artigos de Masaharu Taniguchi, ou sobre eventos importantes da organização. Este fato expandiu-se para outros jornais; 210 14-15 de fevereiro de 1970: 1º seminário em português; 21/6 a 20/7 de 1973: visita de Masaharu Taniguchi e esposa; 1977: visita do genro do fundador, Seicho Taniguchi; 1978: surgiram os primeiros preletores brasileiros; 02/7/1982: inauguração da Academia de Treinamento Espiritual de Santa Tecla – RS; 1985: lançamento da revista Pomba Branca; 16/9/1989: inauguração da Academia de Treinamento Espiritual de Santa Fé – BA; 1989: 1ª Convenção Nacional de Educadores. O terceiro período iniciou-se na década de 1990: intensificação na cultura brasileira. Caracterizou-se por iniciativas que resultaram na diminuição do destaque da
cultura japonesa. A tradução de termos como Jisso (Imagem Verdadeira), a nãoobrigatoriedade no início das reuniões de entoar canto em japonês constante do Shinsokan, e intervalos em palestras foram algumas das ações voltadas a uma maior aproximação e identificação com os brasileiros e não-descendentes de japoneses, ou a quem a cultura nipônica não fosse familiar. Nessa época surgiram as primeiras composições de músicas de autores brasileiros em reuniões de jovens, como Michel Sideratos. (ver anexo V).
210
ALBUQUERQUE, L. M. B. Seicho-No-Ie do Brasil: agradecimento, obediência e salvação, p. 58.
132 Em 21 de fevereiro de 2004, nova academia de treinamento espiritual foi inaugurada, agora em Curitiba, Estado do Paraná. Atualmente, com muito maior transparência, a Seicho-No-Ie organiza-se quanto à sua imagem pública. Em suas revistas aparecem entrevistas com pessoas famosas na mídia, e ao mesmo tempo, simpatizantes do movimento. Seus eventos, além das palestras, principalmente aqueles voltados aos jovens, constam de shows de artistas conhecidos e não japoneses. Iniciativas sociais e voltadas ao meio ambiente tomam vulto, com participação assídua em eventos ecumênicos. Alguns fatos que evidenciam as características apresentadas: Desde 2003: através da ONG – Zeladoria do Planeta Terra, executa-se a limpeza de locais públicos juntamente com outras organizações religiosas ou não, em consonância com a programação da Semana da Paz, liderada pela Seicho-No-Ie; Programa de rádio transmitido por 115 emissoras de rádio e uma na Internet; Programa de televisão transmitido por 18 emissoras (ver anexo VI); Ações sociais: voluntariado em campanhas do Estado; participação em campanhas da prefeitura como, por exemplo, para flagelados; programas de ajuda às mães carentes desenvolvidos nos locais de reuniões. Em 2005, de acordo com informações do movimento, foram entregues 5.000 kits de enxoval para gestantes carentes; em construção uma casa de repouso para idosos; em planejamento o lançamento de uma creche. É interessante notar que iniciativas mais efetivas de participação social e filantrópica são recentes na Seicho-No-Ie, levando-se em conta a obra de Albuquerque de 1999: “Observamos a ausência de movimentos filantrópicos não só nos núcleos, mas também nos vários níveis da organização Seicho-No-Ie.” 211 A Seicho-No-Ie entra, desse modo, numa fase de aproximação e identificação maior com o público brasileiro, sendo exigida cada vez mais a sua participação social. Nessa busca, a entidade torna-se menos caracterizada pela cultura original japonesa, mas ao mesmo tempo pretende manter os seus princípios de modelo divino e idealizado de perfeição (Jisso), processos de purificação, poder da mente sobre o corpo e o meio, valorização do sentimento
211
ALBUQUERQUE, L. M. B. Seicho-No-Ie do Brasil : agradecimento, obediência e salvação, p.84.
133 de gratidão e, por fim, mas de valor destacado, o uso e a crença no poder da palavra. Nesse panorama o desafio surge na procura de manter a religiosidade e os valores japoneses numa apresentação que tende a se aproximar da cultura brasileira. A produção literária de Masaharu Taniguchi torna-se o esteio onde se apoia a doutrina da Seicho-No-Ie para a sua divulgação, e também de estudo para os adeptos. Importante ressaltar a diversidade de assuntos analisados sob o prisma dos fundamentos doutrinários como o meio principal de contato e inserção dos fiéis. A produção escrita transforma-se em meio de divulgação, mas pelos objetivos e processos de difusão da religião não se restringe a esse meio, pelo contrário, expande-se e adapta como nenhuma outra NRJ na mídia, o que é abordado no quinto capítulo. Nesta parte do trabalho procurou-se abranger a formação de um campo de identidade que se representa pela palavra escrita. No capítulo seguinte essa dinâmica transcende o seu próprio propósito.
134
CAPÍTULO V - A PALAVRA E O SEU PODER NA ATUALIDADE: NOVOS HORIZONTES As mudanças nas formas institucionais de religião levam à necessidade de uso da mídia como estratégia de garantia de existência, ao mesmo tempo que a mídia gera novas demandas de trabalho simbólico das instituições religiosas. Assim, as novas dinâmicas do campo religioso criam as condições de existência de um canal de circulação dos bens simbólicos religiosos. 212
O compromisso estabelecido entre a fundação e a formação foi o da estreita dependência entre o sagrado e o poder da palavra, através da difusão de suas idéias numa estratégia em que os recursos midiáticos têm um papel importante nesse objetivo. Diz o item 6 das “Sete Declarações Iluminadoras da Seicho-No-Ie”: “ Nós, para melhorarmos o destino da humanidade por meio do Poder Criador das boas palavras divulgamos a doutrina mediante a divulgação de boas palavras através de publicações, seminários, conferências, transmissões radiofônicas, da televisão e de quaisquer outros meios culturais.” 213 Conforme Mayeama, o fato de esse movimento religioso ter-se originado por uma maciça distribuição de seus periódicos, panfletos e livros doutrinários através de anúncios em jornais, deu-lhe uma dimensão designada “religião de comunicação em massa”. 214 Apesar deste destaque na utilização de recursos de comunicação em seu processo proselitista, é possível que a Seicho-No-Ie não se torne uma “religião de massa”, pelo mesmo motivo que a Igreja Mundial Messiância no Brasil também não é, como atestou Regina Yoshie Matsue em seu estudo onde concluiu que esta religião atinge um público restrito e bem definido: A Igreja Messiânica não é uma religião de massa e nem possui um caráter proselitista forte, conseqüentemente não atrai milhares de pessoas para seus templos como fazem os Pentecostais. A Igreja Messiânica é uma religião que atrai as pessoas com um certo nível de escolaridade, sensíveis aos problemas modernos tais como: meio ambiente,
212
MARTINO, Luís Mauro Sá, Mídia e poder simbólico, p. 14. TANIGUCHI, M. Shinsokan e outras Orações, p.37. 214 MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo , p. 61. 213
135 desunião familiar, pobreza, violência, materialismo, e que buscam na doutrina messiânica uma forma de atuação na sociedade. 215
O público que se identifica com estes movimentos tem um perfil comum caracterizado como daquele pertencente à classe média urbana, que na procura de realizações no meio em que se insere vêm nas religiões, como a Seicho-No-Ie, um discurso que responde aos seus anseios, conforme entende a professora Leila M. B. Albuquerque: Um dos tópicos dos atributos de Sociologia da Religião trata das regularidades sociológicas das opções religiosas, isto é, os adeptos de determinadas religiões tendem a apresentar enraizamento comum na estrutura social. Nesse sentido, e com base nos dados coletados, verificamos que os adeptos da Seicho No-Ie são recrutados, predominantemente, nas camadas urbanas.216
Com base nessas características, a Seicho-No-Ie se apresenta como uma religião universal que tem seus esforços concentrados num proselitismo dinâmico, moderno e voltado a um público específico ao responder, num discurso próprio, às expectativas de soluções de problemas que lhe são pertinentes. Para atingir seu objetivo proselitista, ela determinou a seus integrantes o uso intensivo da mídia e, deste modo, destacou-se entre as NRJ. Dentro deste contexto será analisada a sua atuação nos mais variados meios de comunicação.
1
Espaço da mídia oral217,
O programa inicial de rádio foi lançado em princípios da década de 1980 na Rádio Gazeta através da iniciativa do preletor Osvaldo Murahara, e por ele mesmo realizado ao vivo. Este programa foi levado ao ar por cinco anos, sempre no horário das 4 às 5 horas da
215
MATSUE, R. Y. A Expansão Internacional das Novas Religiões Japonesas: Um Estudo sobre a Igreja Messiânica Mundial no Brasil e na Austrália , p. 7. 216 ALBUQUERQUE, L. M. B. Seicho-No-Ie do Brasil : agradecimento, obediência e salvação, p.93. 217 Informações obtidas em 3/5/2006 com João Vieira da Superintendência de Comunicação da Seicho-No-Ie do Brasil.
136 manhã. O formato do programa consistia na exposição e comentários sobre temas e assuntos relativos à doutrina da Seicho-No-Ie e constantes nas publicações do movimento. Na época, por não existir um controle ou orientação por parte da Seicho-No-Ie do Brasil , surgiram muitos programas de rádio por iniciativas de adeptos e de regionais que,
por sua vez, tenderam a uma desvirtualização dos princípios religiosos fundamentais, o que motivou, a partir de 1991, uma atuação efetiva da sede central brasileira. Esta medida resultou na ação de padronizar o formato e gravar os programa de rádio em suas dependências. A sede central atualmente repassa os programas formatados para a Regional ou pessoa que os deseje veicular em uma estação de rádio, além de orientar este processo. O formato do programa hoje disponibilizado é em duas versões: de 25 e de 50 minutos, constituindo-se de: perguntas (gravadas) e respostas, exposição de um tema com base na doutrina; entrevistas e divulgação de eventos. Para cada programa é designado um preletor da Seicho-No-Ie que fica responsável pelas respostas e a exposição do tema definido. O programa “Seicho-No-Ie no Ar ” é transmitido por 115 estações de rádio no Brasil e uma na Internet, além de ser disponibilizado no site oficial da Seicho-No-Ie.
2
A palavra e a televisão
Os programas de televisão abrem um espaço de grande transparência deste movimento religioso para o grande público. Existem 18 emissoras que transmitem o “Programa Seicho-No-Ie na TV”, 218 e é necessário destacar que ele é também veiculado como programa diário (segunda a sábado) em âmbito nacional. A primeira transmissão televisiva foi em 1990, como resultado da iniciativa do presidente da Associação Fraternidade de Goiânia, por intermédio de um adepto que tinha bom relacionamento no meio televisivo. 219 Este programa, de acordo com liderança do movimento, não teve longa duração. O atual “Programa Seicho-No-Ie na TV” surgiu em 2003 por iniciativa de um adepto bem relacionado na mídia televisiva, que ao apresentar o projeto de lançar um
218 219
Revista Mundo Ideal , São Paulo, nº 131. Revista Pomba Branca, nº 80.
137 programa de televisão a uma liderança do movimento, Enio Maçaki Hara, este aceitou a idéia e encabeçou o projeto. Este fato evidencia que a Seicho-No-Ie não tinha preestabelecido nenhum projeto ou estratégia visando ao uso da televisão em seus planos de divulgação. Assim, tal oportunidade originou a sua inserção nessa mídia. Em 20/5/2003 foi exibido o primeiro programa – semanal – foi na Rede 21. No mês seguinte, em 1/6/2003 é lançado o segundo programa, 3 vezes por semana, foi na Rede TV. Finalmente em 8/2003 o programa na Rede TV tornou-se diário. O programa era exibido em ambas as emissoras, mas a partir de janeiro de 2006 deixou de sê-lo pela Rede TV. 220 O programa “Seicho-No-Ie na TV” tem sua parte principal gravada em eventos como seminários e reuniões do movimento. Destacam-se os relatos e as palestras, sendo estas o foco primordial do programa, que inclui ainda as seguintes seções, gravadas em estúdio: perguntas e respostas, momento de reflexão, oração, relatos, palestra e reportagens especiais, como eventos da organização. Há um ano a edição deste programa é efetivada na sede central pela própria Seicho-No-Ie, o que antes era feito por empresa contratada. O programa, que inicialmente se resumia na transmissão de eventos, reuniões e seminários do movimento religioso, há dois meses já possui também o formato de auditório (perguntas / respostas e palestras). 221 Atualmente o programa de televisão é transmitido por 18 emissoras (ver anexo VI) com uma audiência de 5 milhões de pessoas. O número de telespectadores é medido através do IBOPE onde um a três pontos de audiência equivalem a 200 ou 300 mil pessoas. Um outro meio de verificar a audiência é o contato com os telespectadores através da ligação telefônica 0800, com um plantão de 18 horas, onde as pessoas procuram maiores informações sobre a Seicho-No-Ie. No 0800 existe uma média de 5.500 ligações por mês, sendo que para cada uma atendida estimam-se três perdidas. No contato através dessa ligação, a pessoa fornece informações para seu cadastramento na Seicho-No-Ie, e posteriormente recebe gratuitamente uma das três revistas editadas pelo movimento. Através deste expediente do 0800 são entregues mensalmente, em média, 4.000 revistas. 222
220
Levantamento feito com liderança da Sede Central, Fábio Dummer, em 3/5/2006. Levantamento feito com liderança da Sede Central, Mário Gabriel França Silva em 4/8/2006. 222 Informações obtidas em 11/10/2006 com a Superintendência de Comunicação da Seicho-No-Ie do Brasil. 221
138 O que caracteriza o programa como de religião nipônica é especificamente o fato de a maioria de seus palestrantes ser de origem japonesa, apesar de existir, como já citado, um número expressivo de preletores não-descendentes de japoneses. Diniz observa em seu estudo que tal fato retrata um reforço étnico de sua origem. O teste entre ser oriental atendendo a um conjunto de adeptos ocidentais torna-se efervescente com relação à formação de uma mentalidade ligada à origem no universo mediático: “[...] a presença freqüente de preletores japoneses nos programas de televisão poderia ser interpretada como uma maneira de não perder a identidade de religião japonesa, ou uma maneira de legitimar a origem dos ensinamentos, já tão mesclados à cultura ocidental.” 223 Não há um trabalho da sede central da Seicho-No-Ie do Brasil para avaliar o impacto dos programas de TV em relação ao movimento religioso, mas em todos os eventos houve um aumento de público. Pesquisas informais da entidade religiosa indicam que muitas pessoas estão entrando em contato com esta religião através deste instrumento de difusão. Um fato no qual a televisão foi decisiva na revitalização do movimento foi o impacto nas reuniões dominicais. De acordo com lideranças, de modo geral, mesmo com os programas de televisão, havia um número reduzido de público na maioria das reuniões. Em conversas com líderes do movimento, foi cogitado que o motivo relacionava-se à própria estrutura dos grupos de adeptos e sua atuação nos locais de difusão, onde cada associação: Fraternidade, Pomba Branca, Jovens e Prosperidade possuíam sua própria reunião, geralmente num dia fixo da semana e em um domingo do mês. Esta estrutura segmentada, herdada do Japão, não estava surtindo o efeito desejado em relação ao público, e assim enfraquecia o movimento com a baixa freqüência nas reuniões. As reuniões atuais de domingo, denominadas “Domingo da Seicho-No-Ie”, cujo público-alvo principal é a pessoa que deseja conhecer pela primeira vez esta religião, sempre esteve na idéia da entidade, mas a TV foi o estímulo para que esse projeto se concretizasse, o que se deu em 5/12/2004. Utilizando principalmente a televisão como divulgação, surgiu a idéia de lideranças do movimento de se ter uma reunião conduzida por todos os participantes das associações, com um único tema a ser trabalhado em todo o 223
DINIZ, E. M.. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil , p. 160.
139 Brasil no mesmo dia e horário, e, além disso, divulgado antecipadamente pelos meios de omunicação da Seicho-No-Ie. O reflexo positivo desta iniciativa pode-se constatar, como exemplo, no público da reunião dominical da Regional Rio Bonito, onde a média de freqüência era de 7 pessoas, e hoje após essa estratégia, está em torno de 60 participantes. Atualmente (janeiro de 2006), uma liderança do movimento informa que há a média de seis pessoas novas por reunião, as quais souberam da existência da Seicho-No-Ie e suas idéias através desse meio de divulgação.224 A conjunção desses fatores com a mídia fortaleceu o movimento, iniciando-se uma nova fase para comunicar e divulgar esta religião. Os programas de televisão da Seicho-No-Ie, além de se estabelecerem como fato único entre as NRJ no Brasil, são também perante as demais associações desse movimento religioso espalhadas pelo mundo, inclusive a matriz japonesa, fortalecendo a posição de liderança da sede brasileira.
3.
A religião e a rede virtual
Coerente em sua proposta de divulgação expressa nas “Sete Declarações Iluminadoras da Seicho-No- Ie” abordadas no capítulo anterior, a instituição está atenta para utilizar qualquer mídia que assim o permita. Ela possui o seu site na internet, incluindo-se a outras religiões neste meio de comunicação. Segundo o caráter improvisado das projeções discutidas, o site foi implantado no ano de 1998 por iniciativa particular de uma adepta do Rio de Janeiro, que o montou para divulgar a Seicho-No-Ie. Este produto foi posteriormente incorporado pela organização, tornando-se o site oficial. Desde a sua implantação, o site teve até o momento cinco versões significativas: 1998, 1999, 2003, 2004 e 2005, decorrencia normal de implementações e da própria dinâmica dos sites na internet. 225 Do mesmo modo que não houve um projeto dentro de um plano estratégico de divulgação para a criação do site, não existia, de acordo com informação em agosto de 2006, nenhum programa de incentivo relativo à elaboração de sites pelas Regionais.
224 225
Informações obtidas na representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006. Informações obtidas do preletor Junji Miyaura, da Superintendência de Comunicação, em 23/9/2005.
140 Para uma melhor análise do site oficial apresentado a seguir, ele foi dividido em seis partes com suas respectivas seções. Inicialmente denominou-se Primeiro Contato a parte voltada àqueles que procuram conhecer melhor o movimento religioso da Seicho-No-Ie. Compõe-se de: “Explicações sobre a Seicho-No-Ie”, “Endereços” e “Fale Conosco”. Em segundo lugar tem-se a parte da Reflexão, com textos para meditação e relatos – testemunhos de fé. É composta de “Presidentes” (com artigos do pPresidente doutrinário da América Latina e do diretor-presidente da Seicho-No-Ie do Brasil), “Artigos do mês” (extraídos de várias publicações), “Mensagens de Luz”, “Oração do Dia”, “Preceito Diário” e “Relatos” (testemunhos de fé dos adeptos). A seguir está a parte de Atividades, onde constam eventos desenvolvidos no movimento, sobretudo os realizados na sede central e nas academias de treinamento espiritual. Interessante destacar a existência de atividades em língua espanhola. Esta parte contém a divulgação dos eventos na sede central, nas academias, nas associações, com fotos e notícias sobre atividades desenvolvidas. Em quarto lugar existe a Comunicação, que diz respeito aos meios de comunicação exceto as publicações, inclusive para contato com o adepto. Possui em sua composição: “Novidades por e-mail ”, “SNI na TV”, “SNI na Rádio”, “Círculo de Harmonia” e “Links”. A quinta parte denomina-se Comércio e é composta das seções: “Livraria” onde o usuário pode adquirir livros, e outras contendo material da Seicho-No-Ie através do site comercial Submarino: A última parte foi definida como Japonês, na qual acontece a relação com a colônia japonesa, estando reservada a eventos daos descendentes de nipônicos. É composta de “Eventos externos” (exemplo: O dia da imigração japonesa), “Eventos internos” (exemplo: Concurso Nacional de Narração Juvenil), e “Enkaw” (jornal).
141
Figura 2: Site ofcial da Seicho-No-Ie do Brasil
Página Principal |Conheça a Seicho-No-Ie | Endereços | Fale Conosco
Menu Presidentes Artigos do mês Livraria Virtual Notícias Círculo de Harmonia Galeria de Fotos Enkan Eventos Relatos Preceito Diário Oração do dia Lista de Orações Mensagem de Luz SNI na TV SNI na Rádio Em Espanhol Em outros Países Indique este Site
"Para você renascer espiritualmente, precisa abandonar todos os erros do passado. Isso exige coragem. E dentro de você já existe coragem para tanto. Acreditando em Deus, entregue-se a Ele e se atire decididamente no oceano de Deus. E não tenha medo de se afunda r, pois flutuará mil agrosamente e t erá grande tranq üilidade."
Artigos Conhecer os Desígnios de Deus
Mesmo antes de conhecer a Seicho-No-Ie... Sobre o verdadeiro relacionamento amoroso
De modo geral, a igualdade de direitos do homem e da mulher ... A Origem da Idéia de Pecado
Desde que Adão cometeu o pecado original... Educação na Escola
Os pontos principais que todo educador deve ter bem claro ... Notícias
Relatos
142
Relato - José Carlos Nardy Quando jovem sempre fui estudante muito dedicado...
Festividade do Santuário Hoozo Veja a cobertura completa.
Relato - Hosana Santini Leandro Vieira
A semente Seicho-No-Ie foi plantada em minha vida há muito tempo.
Festividade do Santuário Hoozo O professor Yoshio Mukai conta um pouco da história do surgimento do Santuário Hoozo do Brasil e alguns acontecimentos até a última Festividade, que comemorou seu jubileu neste ano.
Galeria de Fotos
Metade da Alma Fotos do Seminário da Metade da Alma que foi realizado no dia 03 e 04/06/2006 .
O dia da imigração japonesa O professor Yoshishico Iuassaca explana sobre o Dia da Imigração Japonesa e sobre a importância dos fatos decorrentes dessa data marcante.
Convenção de Juvenis 15º Convenção Nacional para Juvenis Realizado no dia 22 de Abril 2006
Narração Juvenil
Veja as fotos do Concurso Nacional de Narração Juvenil
Seminário nas academias -Junho Data
Seminário
Seminário de Treinamento Espiritual para Preletores e Lideres da Iluminação de Oferenda de 15 18 Trabalho 15 18
Curitiba - PR Ibiúna - S P
15 18 Seminário Geral de Treinamento Espiritual de Oferenda de Trabalho (Seminário do Perdão)
Ibiúna - S P
Seminário de Treinamento Espiritual para Preletores e Lideres da Iluminação de Oferenda de 15 18 Trabalho
Santa Tecla RS
24 25
Seicho-No-Ie do Brasil
Seminário de Treinamento Espiritual para Preletores e Lideres da Iluminação de Oferenda de Trabalho
Academia
Curso para Presidentes de Associações Locais (Assoc.Fraternidade e Pomba Branca) (em Japonês)
Ibiúna - S P
143
Tabela 5: Visitas ao site oficial da Seicho-No-Ie do Brasil Visitas Período Média Diária Total Mensal julho/2006 3.572 110.752 junho/2006 3.534 106.034 maio/2006 3.575 110.849 abril/2006 3.302 99.087 março/2006 3.129 97.001 fevereiro/2006 2.996 83.905 janeiro/2006 2.824 87.554 dezembro/2005 2.500 77.518 novembro/2005 2.757 82.723 outubro/2005 2.442 75.731 setembro/2005 2.672 80.184 Fonte: Departamento de Marketing da Seicho-No-Ie do Brasil. A tabela acima indica que o número de visitantes do site está em crescimento. Apesar disso, em relação à venda das obras e publicações religiosas através do site, a resposta é praticamente nula, o que retrata que os locais de reuniões são mais eficientes na produção do conhecimento pela leitura. A venda acontece na internet através do site comercial Submarino. 226 Deste modo, o site oficial da Seicho-No-Ie parece preencher um aspecto mais de informação que de formação do adepto e de divulgação para o público em geral.
4
Poder, organização e difusão
De acordo com Diniz227, um movimento religioso, para sua sobrevivência e expansão, há de manter sua organização e seu capital simbólico. A Seicho-No-Ie apresenta-se numa estrutura que lhe é particular pela ênfase no discurso e na retórica, própria de uma religião 226
Informações obtidas do preletor Junji Miyaura, da Superintendência de Comunicação, em 26/8/2006. DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil, p. 17. 227
144 que se calca na palavra, na versatilidade quanto à sua utilização na mídia e no seu sincretismo dinâmico. Por outro lado, reflete a cultura e valores japoneses, como o patriarcalismo, exibindo deste modo o seu lado tradicional e conservador, e é neste cenário que ela constrói as bases que a mantêm: “O processo de institucionalização tomou a família Taniguchi como o modelo ideal, articulando-se a partir dela um sistema de dominação misto de patriarcal, carismático e burocrático. Assim se formou um legado, inicialmente inspirado na tradição imperial japonesa, em que o papel feminino está subordinado à ordem androcêntrica. 228“ Diniz esclarece nessa tradição patriarcal a figura de Masaharu Taniguchi surge como central, tendo sua autoridade recebida da divindade que através dele iniciou a Seicho-No-Ie. Deste modo, ao se situar como intermediário do divino e tradutor da mensagem dele por palavras, ritos e escritos, torna-se aquele que produz e representa um capital simbólico, a ser tratado e conservado pela estrutura familiar Taniguchi e pela organização que em torno dela se situa. A palavra nesse contexto tem um papel vital na manutenção, estrutura, poder e difusão desse movimento religioso, a começar pelo fato que deu origem a essa religião: nas palavras do deus Sumiyoshi reveladas a Masaharu Taniguchi, e as inúmeras obras que este escreveh e que se revestem de uma aura de sacralidade, mantida pela dinâmica existente na difusão dos ensinamentos.
4.1
Estrutura para divulgação
Em trabalhos sobre outras NRJ, como a PL229 e a Sôka Gakkai230, o modelo em sua organização geralmente segue o padrão de origem japonesa: centralizador, rigoroso e hierárquico, que também se encontra na Seicho-No-Ie. Será apresentado o modelo atual (agosto de 2006) da organização, e com base nele serão abordadas a comunicação e a difusão de sua doutrina a partir de levantamento efetuado na Superintendência de
228
DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil , p. 6. 229 GONÇALVES, H. R., Perfect Liberty: O Fascínio de uma religião japonesa no Brasil, pp. 135-138. 230 PEREIRA, R. A. O Budismo Leigo da Sôka Gakkai no Brasil: da Revolução Humana à Utopia Mundial, pp. 267-278.
145 Comunicação da Seicho-No-Ie do Brasil. A estrutura organizacional reflete a matriz japonesa com as suas sedes regionais, associações locais e academias de treinamento, e além disso reflete uma estrutura familiar onde as três principais associações – Fraternidade, Pomba Branca e Jovens – representam respectivamente a figura do pai, da mãe e dos filhos, na lição de Maeyama, deste modo expressando as relações do lar (ie) japonês. 231 A estrutura familiar e a ênfase na hierarquia são características encontradas nas religiões japonesas como reflexos de sua cultura de origem. Benedict identifica: “Todo japonês primeiro adquire o hábito da hierarquia no seio da família e posteriormente o aplica nos campos mais vastos da vida econômica e do governo.” 232 Para a sua administração e organização na difusão, a Seicho-No-Ie do Brasil possui sua sede central e subsede localizadas no bairro do Jabaquara, na Avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 348 e 1.266, respectivamente. Na sede central é onde acontecem vários eventos e cerimônias, além de abrigar a diretoria e os principais departamentos, ficando na subsede os escritórios das revistas e jornais, estúdios de gravação de rádio e televisão, além de depósito de livros, alojamentos para visitantes e adeptos de outros Estados, e um auditório para reuniões. Antes da abordagem organizacional e da difusão, cabe fazer a seguinte consideração quanto aos recursos humanos atuantes neste movimento religioso. Atualmente (agosto de 2006) a Seicho-No-Ie possui em torno de 180 funcionários no Brasil, tendo quase sua totalidade situada em São Paulo, na sede e subsede. Nas regionais e locais de divulgação praticamente todas as pessoas são voluntárias, como também são os diretores na sede central. No intuito de melhor esclarecimento das pessoas relacionadas ao movimento, e a sua identificação com ele, seguem abaixo os conceitos da Seicho-No-Ie no que concerne a associado, adepto e simpatizante, para deste modo dirimir quaisquer dúvidas desses termos quando citados: É tido pela Seicho-No-Ie como “associado” o adepto que contribui com a Missão Sagrada, é assinante de uma de suas revistas, participa ativamente das atividades nas Associações Locais e faz parte de uma das organizações doutrinárias. Cabe ao associado obedecer aos regulamentos e normas internas e tem direito a voto ou mesmo 231 232
MAEYAMA, T. O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo , p. 63. BENEDICT, Ruth. O crisântemo e a Espada , p. 53.
146 concorrer ao cargo de presidente da associação local. A Seicho-No-Ie reconhece como “adepto” a pessoa que professa seus ensinamentos, faz algum tipo de contribuição, podendo ser à Missão Sagrada, mas que não necessariamente possui um vínculo com a Associação Local. Existem ainda os “simpatizantes” que par a a instituição são os leitores de livros e revistas editados pela Seicho-No-Ie. Importante destacar que não cabe ao associado, adepto ou simpatizante realizar algum tipo de pr egação doutrinária, pois não está devidamente credenciado ao cargo de preletor ou líder de iluminação.233
A partir dessas considerações, apresentam-se as estruturas administrativa e doutrinária da Seicho-No-Ie do Brasil. a) Supremo presidente (Japão) A matriz no Japão, na figura do supremo presidente, cargo atualmente ocupado por Seicho Taniguchi, zela pelos conceitos doutrinários divulgados nos demais países. Nesse sentido, subordinam-se a ele os presidentes doutrinários da América Latina: presidida pelo Brasil, e o que responde pelos Estados Unidos, Canadá e Oceania. Os países que não se inserem nesses grupos, em virtude dos poucos núcleos de divulgação existentes, respondem diretamente à matriz japonesa. b) Vice-presidente (Japão) Este cargo atualmente é de Masanobu Taniguchi, primogênito de Seicho Taniguchi, atual presidente. Visando a evitar algum transtorno por impossibilidade de o vice-presidente não assumir por qualquer empecilho, a Seicho-No-Ie do Japão, em 2004, no âmbito daquele país definiu pelo novo estatuto que um conselho irá escolher, para os próximos mandatos, o vice-presidente. Em relação à produção da matriz japonesa é necessário atentar para o processo sucessório hereditário que nela vigora. Após o falecimento de Masaharu Taniguchi, assumiu a presidência do movimento o seu genro, Seicho Taniguchi, que atualmente (abril de 2006), devido à idade avançada, 86 anos, tem sua atuação reduzida, e deste modo o seu filho, Masanobu Taniguchi, prepara-se para assumir a liderança do movimento quando de sua morte. Diniz revela que essa transmissão hereditária sofreu alteração, como é citado no
233
DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil, p. 118.
147 trecho abaixo, estabelecendo uma nova relação de poder por conta de mudanças no Código Civil japonês de 1996: No que concerne aos privilégios do direito sucessório estão contidos no Artigo 900 do Código Civil japonês, sendo que o parágrafo 4º regulamenta especificamente que a sucessão passa a ser igualitária e não mais de privilégio masculino. [...] antecipando a regulamentação do novo Código Civil japonês, o Supremo Presidente e o Vice-Supremo Presidente definem que o processo de sucessão não mais será por transmissão sanguínea. O presente estatuto, que passou a vigorar a partir de 1996, instaurou que a escolha do sucessor de Masanobu Taniguchi ao cargo de Supremo Presidente, será escolhido por votação entre líderes da Seicho-No-Ie, não sendo obrigatoriamente membros da família Taniguchi.234
c) Presidente doutrinário da América Latina A partir deste grau hierárquico as funções administrativas e doutrinárias se confundem. A função principal deste cargo é zelar pela orientação e atividades relativas à doutrina junto aos que nela trabalham na divulgação e em relação aos principais eventos do movimento. É somente através dele que a Seicho-No-Ie do Brasil se reporta ao supremo presidente ou ao vice-presidente no Japão. d) Diretor-presidente do Brasil O diretor-presidente do Brasil tem a responsabilidade administrativa do movimento e de fornecer o suporte necessário às atividades doutrinárias designadas pelo presidente doutrinário da América Latina. Subordinados ao diretor-presidente estão: dois diretores vice presidentes; uma diretoria formada por 14 membros e 5 gabinetes: Seminário da Luz (em português), Seminário da Luz (em japonês), Marketing , GSM (Informática) e Planejamento. Em relação à difusão, estão sob sua responsabilidade: o jornal, em japonês Enkaw e a área de tradução. Quanto aos gabinetes, têm-se as seguintes responsabilidades sobre a divulgação:
234
DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil , p. 87.
148 1) Seminário da Luz (em português) – responsável pelo apoio às Regionais para a realização de seminários, os quais são grandes eventos de divulgação em lingua portuguesa que acontecem a cada dois anos. 2) Seminário da Luz (em japonês) – Mesmas atribuições acima, voltadas ao público em língua japonesa. 3) Marketing : programa Seicho-No-Ie na TV ; site oficial; e Domingo da Seicho-No Ie – reunião de divulgação que acontece nos locais de divulgação num mesmo
horário, das 9 às 11 horas, aos domingos, e com um mesmo tema a ser abordado. 4) GSM (Informática) – apoio nos serviços de tecnologia da informação. Destacase, em relação à divulgação, o suporte ao site oficial. 5) Planejamento: Semana da Paz e festividade do Santuário Hoozo e) Superintendências – Subordinadas
à
Diretoria
Central
existem
10
superintendências: Associação Fraternidade, Associação Pomba Branca, Associação de Jovens, Associação de Preletores, Associação da Prosperidade, Coordenação das Regionais Doutrinárias (SCRD), Comunicação, Administração, Recursos Humanos e Distribuição. Os superintendentes responsáveis são exercidos por diretores, exceto na Superintendência de Distribuição. Seguem-se
as
atribuições
específicas
na
difusão
desta
doutrina
pelas
superintendências atuantes neste sentido, atentando ao fato de que a visão administrativa e doutrinária aparecem por vezes juntas em relação às associações. 1)
Associação Fraternidade – esta associação conglomera, em sua maioria,
homens casados, e atua em conjunto com as demais associações na divulgação dos ensinamentos da Seicho-No-Ie. Ela tem uma ação destacada na divulgação externa do movimento religioso. Atribuições: elaboração da revista Fonte de Luz ; organização de seminários e convenções relativos a essa associação; cursos e preparação de lideranças. 2)
Associação Pomba Branca – esta associação está voltada ao público feminino
com o objetivo de despertar, de acordo com suas publicações e pelo site oficial, as características femininas de amor, pureza e meiguice que fortalecem um lar, e não sendo consideradas, por isso, do “sexo frágil”.
149 Atribuições: elaboração da revista Pomba Branca; elaboração do jornal Querubim (infantil, em português); elaboração do jornal Minatomodaki (infantil, em japonês); ações sociais e cursos e preparação de lideranças. Subordinados a esta superintendência, com a responsabilidade de organizar encontros e seminários específicos à sua atuação, existem os seguintes setores: Nova Mulher; Criança e Melhor Idade. 3)
Associação de Jovens – esta associação é voltada para adeptos até 35 anos e
dedica-se intensamente à divulgação dos ensinamentos de Masaharu Taniguchi. A Associação de Jovens foi fundada em 3 de setembro de 1955. Atribuições: elaboração da revista Mundo Ideal ; seminários e convenções específicas para este público; cursos e preparação de lideranças. Subordinada a esta superintendência existem os seguintes setores responsáveis por eventos específicos, como seminários e convenções: Juvenis, Feminino, Jovens Empreendedores, Jovens Casados, Seinenkai (Jovens em japonês) 4)
Associação de preletores
Atribuições: elaboração do material relativo aos módulos de estudos para a formação de líderes e preletores que acontecem nas regionais. Subordinados a esta superintendência existem os seguintes departamentos: Seminários, Ofícios Religiosos, Sala de Cultos e Educadores. Cabe ao Departamento de Educadores as seguintes atribuições: elaboração do material do Curso por Correspondência sobre os principios da Seicho-No-Ie, realização de seminários e convenções específicos para este público e divulgação da pedagogia de Masaharu Taniguchi em escolas públicas e particulares. 5)
Associação Prosperidade – associação formada principalmente por empresários,
profissionais liberais e autônomos, e que visa à divulgação da doutrina junto a esse público em atividade, com temas específicos. Esta associação surgiu em 22 de novembro de 1970 e é um órgão de apoio para as demais associações; por esta razão, os seus associados são necessariamente vinculados a uma dessas entidades que recebem esse suporte. Atribuições: organização de seminários e convenções dessa associação e cursos e preparação de lideranças 6)
Comunicação
150 Atribuições: elaboração do programa de rádio e elaboração do jornal Círculo de Harmonia (em português)
Em relação ao modelo acima apresentado, a Regional tem autonomia administrativa e doutrinária, possuindo a seguinte estrutura: a)
Supervisor administrativo doutrinário regional
O responsável por este cargo responde administrativamente à Superintendência da Coordenação das Regionais Doutrinárias (SCRD), e doutrinariamente ao Conselho Doutrinário Central (CDOC). O Conselho Doutrinário Central (CDOC) – é composto de: presidente doutrinário da América Latina, diretor-presidente, dois diretores vice-presidentes e o presidente nacional de cada associação: Prosperidade, Fraternidade, Pomba Branca, Jovens e Preletores. Conselho Doutrinário Regional (CDOR) – composto de: supervisor e o presidente de cada associação: Prosperidade, Fraternidade, Pomba Branca, Jovens e Preletores. Em relação à visão doutrinária, tem-se uma correspondente estrutura particular para cada associação – Fraternidade, Pomba Branca, Jovens e Prosperidade – que perspassa a regional até a central, na seqüência ascendente: presidente doutrinário da América Latina, presidente nacional da Associação, presidente regional, pPresidente da Associação da Regional e Diretoria da Associação Local da Regional. A Diretoria da Associação Local da Regional não tem nenhum limite sobre o número de integrantes e sua representatividade, mas a sede determina, no mínimo, a existência dos seguintes cargos: vice-presidente, tesoureiro, secretário, responsável de revistas e o promotor de Missão Sagrada e Forma Humana (PAMS). A Diretoria da Associação Local dos Preletores não possui o PAMS e o responsável por revistas, havendo uma diretoria social e o limite máximo de três vice-presidentes. Seus associados, como na Prosperidade, devem pertencer a uma das demais associações, e em sua composição ela difere em não possuir o responsável por revistas. As Associações Fraternidade, Pomba Branca, Jovens e Prosperidade existem dentro de uma Regional ou fora dela como uma associação local. Associação local consiste em um local de divulgação que responde administrativa e doutrinariamente à Regional. A Regional Rio Bonito em sua sede possui na sua estrutura reuniões voltadas ao idioma japonês, as
151 Associações Pomba Branca e Fraternidade. Em relação às reuniões voltadas ao idioma português, a regional possui, em sua sede, todas as associações existentes. Nos quadros abaixo estão as associações externas e vinculadas a esta regional em português:235
Quadro 4: Associações para divulgação em português, externas à Regional Rio Bonito Associação Local Associação Elo Prosperidade Prosperidade Embu-Guaçu Geral (única) Pedreira Pomba Branca Fonte: Administração da Regional Rio Bonito Quadro 5: Associações para divulgação em japonês, externas à Regional Rio Bonito Associação Local Associação Brooklin Pomba Branca e Fraternidade Casa Grande Pomba Branca e Fraternidade Chácara Santo Antônio Pomba Branca Cipó Pomba Branca Cupecê Pomba Branca Itapecerica Pomba Branca Joaniza Pomba Branca e Fraternidade Morumbi Pomba Branca Palmares Pomba Branca Pedreira Pomba Branca Represa Pomba Branca Santo Amaro Pomba Branca Fonte: Administração da Regional Rio Bonito O Brasil possui um papel de destaque na organização mundial da Seicho-No-Ie. Enquanto no Japão, de acordo com lideranças, o número de adeptos permanece estável, no Brasil está em processo de crescimento e, devido a este fato, torna-se ponto de referência para as demais organizações deste movimento em outros países. Por conseguinte, cabe ao Brasil a responsabilidade doutrinária e organizacional do movimento nos seguintes países: México; Panamá; Portugal; Espanha; Gana e todos da América Latina, com exceção do Peru, onde não existe implantado este movimento religioso. Este destaque do Brasil dentro do movimento religioso da Seicho-No-Ie segue a tendência assumida pelos demais grupos religiosos de origem japonesa, que encontram aqui
235
Informações obtidas na representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006.
152 o local de maior números desses movimentos fora de seu país de origem. O Brasil assume como principal centro divulgador desses movimentos, tornando-se exemplo do processo de “multinacionalização” dessas entidades religiosas, como foi acentuado por Ronan Alves Pereira: O Brasil, sendo uma das nações com o maior número de grupos religiosos de origem japonesa, tem sido apontado como país-chave na estratégia de divulgação ultramarina desses grupos. É, ao mesmo tempo, um símbolo desse processo de “multinacionalização”, parte dessa rede multinacional e importante base de controle das “filiais” religiosas no exterior. Isto fica claro por meio de dois fatos: a divulgação no exterior com a participação de membros brasileiros e as construções de significantes centros espirituais no Brasil. 236
Dentro do exposto, está situado na sede central no Brasil o departamento da América Latina, onde além das atribuições doutrinárias e organizacionais, tem a função de difusão, sendo responsável pelo material editado em língua espanhola. Ainda em relação aos adeptos voltados à língua espanhola, suas reuniões acontecem na sede central, em São Paulo, e seus seminários na Academia de Treinamento Espiritual de Santa Tecla – RS. Fato a ser estudado e aprofundado é o estudo da difusão do ensinamento e, conseqüentemente, do público com seus valores envolvidos, nas reuniões em língua espanhola e japonesa realizadas no Brasil. Essa estrutura se apresenta em forma sintética na figura a seguir:
236
PEREIRA, R. A. O Budismo Leigo da Sôka Gakkai no Brasil: da Revolução Humana à Utopia Mundial, p.109.
153
Figura 3: Visão Administrativa da Sede Central
Supremo presidente Japão Vice-presidente Japão
Presidente doutrinário América Latina
Presidente doutrinário EUA / Canadá / Oceania
Presidentes dos demais países
Diretor-presidente Brasil
Gabinetes Seminário da Luz (Português)
Seminário da Luz (Japonês)
Marketing
GSM (Informática)
Diretoria Central (14)
Diretor Vice-presidente (2)
Planejamento
Superintendências Associação Fraternidade
Associação Pomba Branca
Associação Jovens
Associação Preletores
Associação Prosperidade
Coordenação das Regionais Doutrinárias (SCRD)
Comunicação
Administraçã o
Recursos Humanos
Distribuiçã o
Figura 4: Visão Administrativa e Doutrinária na Sede Central Superintendência Associação
Superintendência Associação
Pomba Branca
Preletores
Departamentos
Departamentos Crian a Nova Mulher
Melhor Idade
Seminários
Educadores
Sala de Cultos
Ofícios Reli iosos
Superintendência Associação Jovens
Departamentos Feminino
Juvenis Jovens Em reendedores Seinenkai (Jovens japoneses)
Jovens Casados
154
Figura 5: Visão Administrativa e Doutrinária da Regional VIS O D OUT RIN R IA
Presidente doutrinário América Latina
Presidente Nacional Associação Fraternidade
Conselho Doutrinário Central (CDOC)
Superintendência
Diretor Diretor-presidente vice-presidente (2)
Coordenação das Regionais Doutrinárias (SCRD)
Presidente Nacional Associação Pomba Branca
Presidente Nacional Associação Jovens
Presidente nacional Associação Prosperidade
Presidente doutrinário América Latina
Presidente nacional Associação
*
Presidente Nacional Associação Preletores
Presidente regional
*
Supervisor Administrativo Doutrinário Regional
DOUTRINARIAMENTE
Presidente Associação
*
ADMINISTRATIVATIVAMENTE
Diretoria da Associação Local
Conselho Doutrinário Regional
Supervisor
Presidente Fraternidade
Presidente Jovens
Presidente Preletores
da Regional
Presidente Pomba Branca
Presidente Prosperidade
Vice-presidente
Tesoureiro
Promotor de Missão Sagrada e Forma Humana (PAMS)
* da Regional Secretário
Responsável por Revistas
* Fraternidade, Pomba Branca, Jovens e Prosperidade
155
Figura 6: Estrutura e Divulgação pela Sede Central
Diretor presidente Brasil Jornal Enkaw (em japonês)
Gabinete Seminário da Luz (em japonês) Seminários da Luz (em japonês) nas Regionais
Gabinete Seminário da Luz (em português) Seminários da Luz (em português) nas Regionais
rea de Tradução Gabinete Marketing
Gabinete Planejamento
Reunião Domingo da Seicho-No-Ie
Semana da Paz
Programa Seicho-No-Ie na TV
Festividade do Santuário Hoozo
Site Oficial
Superintendência de Comunicação
Curso por correspondência sobre a Seicho-No--Ie Divulgar a Pedagogia da SeichoNo-Ie nas escolas Seminários e convenções
Superintendência Associação Prosperidade
Programa de Rádio
Seminários e convenções
Jornal Círculo de Harmonia (em português)
Cursos e preparação de lideranças
Superintendência Associação Fraternidade
Departamento Educadores
Superintendência Associação Jovens
Superintendência Associação Preletores Material para formação de líderes e preletores
Superintendência Pomba Branca
Revista Fonte de Luz
Revista Mundo Ideal
Revista Pomba Branca
Seminários e convenções
Seminários e convenções
Ações sociais
Cursos e preparação de lideranças
Cursos e preparação de lider anças
Jornal Querubim (infantil em português) Jornal Minatomodaki (infantil em japonês) Seminários e convenções Cursos e preparação de lider anças
156
Na organização da Seicho-No-Ie define-se uma direção entre os cargos e suas alternâncias com os seguintes critérios: Presidente doutrinário: nomeado pela Sede do Japão através do supremo presidente Diretoria Regional: escolhida pelo presidente regional Presidente da Associação local: eleito pelos associados a cada 3 anos. Na Regional Rio Bonito existem, nas partes em português e em japonês, aproximadamente, 150 e 200 associados, respectivamente. 237 Presidente regional: eleito, a cada 3 anos, pelos membros da Diretoria Regional e, após, validado pelo Conselho Doutrinário da Regional. Diretor Regional: eleito a cada 3 anos pelos membros da Diretoria Regional Conselho Doutrinal Regional: possuíndo, no mínimo, 5 elementos, escolhidos pelos presidentes de cada associação a cada 3 anos. O Conselho Doutrinal irá compor a Assembléia-Geral que delibera todas as ações na regional. A alternância de poder acima descrita reflete aquela adotada pela sede central brasileira que, por sua vez, segue a mesma alternância do Japão.
4.2
O humano na palavra: a preparação do recurso
A Seicho-No-Ie que, em seus primórdios, como as demais NRJ, tinha uma função de preservação do patrimônio étnico-cultural, tornou-se uma religião universal.
238.
Neste
processo de mudança pode-se constatar uma crescente tradução e adaptação de termos japoneses e conseqüentemente, a diminuição de seu uso, diferenciando-a de outras NRJ: Perfect Liberty (PL) e Igreja Messiânica Mundial (IMM), onde a língua japonesa serve de introdução à religião e ao universo de valores culturais do Japão como explicitado por Tomita em sua dissertação239. O idioma além, de servir de transmissão de valores, tem em si,
237
Informações obtidas na representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006. GONÇALVES, H. R. Perfect Liberty: O Fascínio de uma religião japonesa no Brasil, p. 51. 239 TOMITA, A. G. S. Um outro lado da moeda: Novas Religiões Japonesas como transmissoras de noções culturais japonesas no Brasil. 238
157 no entender de Diniz, um fator de dominação étnica através da produção intelectual de Masaharu Taniguchi: No entanto, é no campo da produção simbólica e cultural que a dominação se estrutura, reforçando o processo de dominação étnica baseada no conhecimento intelectual. Ou seja, se considerarmos que Masaharu Taniguchi escreveu mais de 400 livros e de que nem a metade deles estão traduzidos para o português, esse poderia ser considerado um fator limitador do crescimento intelectual e doutrinário de preletores que não possuem o conhecimento do idioma japonês.240
Diniz acrescenta que esta dominação étnico-intelectual justificava-se quando ela foi abordada por Albuquerque,241 o que não acontece atualmente ao se constatar a formação dos membros que é feita por livros traduzidos, estes em maior número que na época da pesquisa citada. Diante destas considerações justifica-se que a maioria do Conselho Doutrinário Central (CDOC) se componha de descendentes de nipônicos, por terem tido contato desde a juventude com a Seicho-No-Ie, quando a produção literária em português era escassa: [...] os ensinamentos passados a esses Supervisores são provenientes dos líderes de Associações da Seicho-No-Ie, que por sua vez usam livros traduzidos para o português em suas preleções. Todavia, pudemos apurar, em nossas pesquisas, que a maioria dos membros de origem nipônica que compõem a Diretoria do CDOC e alguns desses supervisores têm contato com a Seicho-No-Ie desde a juventude, como é o caso de Marie Murakami, Yoshihico Iuassaca e Osvaldo Murahara. 242
Corroborando a observação de Diniz, vê-se nesta citação de Yoshio Mukai, presidente doutrinário da América Latina, a importância do conhecimento do idioma japonês no processo de ocupar postos de relevância dentro do movimento religiososo: “Se hoje posso estar à frente deste Movimento, ministrando estudos a preletores, líderes de iluminação,
240
DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil, p. 122. 241 ALBUQUERQUE, L. M. B. Seicho-No-Ie do Brasil: agradecimento, obediência e salvação, p. 98. 242 DINIZ, E. M. Op. cit ., p. 122.
158 divulgadores e dirigentes, atribuo isso ao meu conhecimento da língua japonesa, que foi fruto de muita persistência da parte do meu pai.” 243 Para ilustrar o que foi abordado acima, segue a composição da Diretoria Central da Seicho-No-Ie do Brasil (de maio de 2005 até 28 de fevereiro de 2008): 244 Yoshio Mukai, presidente doutrinário para a América Latina; Yoshihico Iuassaca, diretor presidente da Seicho-No-Ie do Brasil; Iasusuke Murakami, diretor vice-presidente da Seicho-No-Ie do Brasil; Marie Murakami, diretora vice-presidente da Seicho-No-Ie do Brasil; diretores: Heitor Miyazaki, Noriyo Enomura, Junji Miyaura, Manoel Angelo Malvezzi, Seichisti Saita, Ênio Maçaki Hara, Antonio Shotaro Ishida Oshima, Sinji Takahashi, Felisbela M. Gurjão Boavista da Cunha, Edison Schwarz de Melo, Olímpio Kitahara, Osvaldo Shiniti Murahara, Leonor Ichikawa e Ademir Camillo Teixeira. De um adepto que pretenda ser um membro voluntário e atuante na organização é necessária a disposição para inserir-se num processo intensivo de leitura e estudo dos livros da doutrina, que se evidencia na sua participação em cursos, seminários e grupos de estudo. Adicione-se ao seu perfil a postura em proferir palavras otimistas diante de qualquer situação, e a prática diária de culto aos seus antepassados e da meditação Shinsokan. Sua participação e disponibilidade em auxiliar nas cerimônias, eventos e reuniões fazem-se necessárias na sua avaliação pela organização. Estas expectativas e demais exigências feitas ao fiel que procura uma pertença a este grupo religioso é o que será abordardo no próximo item.
4.3
Preletor: a presença da pedagogia e do professor A palavra, seja de forma escrita ou falada, é um instrumento poderoso dentro da Seicho-No-Ie. Pois, além de rígido controle do conteúdo das palestras de Preletores e/ou Líderes da Iluminação, as publicações da Seicho-No-Ie são o grande veículo de divulgação da doutrina e a mola propulsora do Movimento de Iluminação da Humanidade. 245
243
MUKAI, Yoshio. Amor e dedicação a um ideal , p. 8. Informações obtidas na Superintendência de Comunicação da Seicho-No-Ie do Brasil em agosto de 2006. 245 MUKAI, Y. Op. cit. p. 19. 244
159 O valor da palavra na Seicho-No-Ie se evidencia tanto internamente, na organização, como externamente, em sua difusão. Seu valor inicia-se pelo caráter de revelação para a obra de Masaharu Taniguchi, em seguida ao seu discurso e retórica utilizados, pela valorização da sua obra e de sua leitura e, por fim, no controle da exposição de seus principais divulgadores, preletores e líderes de iluminação. Esses adeptos para fazer a transmissão de forma correta, são orientados desde o seu ingresso na Seicho-No-Ie em ler e estudar as publicações desta religião, principalmente as de autoria de Masaharu Taniguchi. A valorização da produção literária é algo muito forte na Seicho-No-Ie, sendo sempre lembrado que o movimento começou por esse tipo de divulgação, e foi através da escrita que Masaharu Taniguchi teve a revelação da doutrina. Os preletores recebem a orientação para quando proferirem palestras com temas previamente definidos, portarem, na ocasião, os livros da Seicho-No-Ie que serviram de base para a atividade, citando trechos relacionados ao assunto. O expediente de utilizar as publicações da religião reforça o discurso, sobretudo pela razão de a obra de Masaharu Taniguchi ser reconhecida pelos adeptos como sagrada. Este afirmação do discurso por uma simbologia sagrada foi apontada por Ediléia Mota Diniz, com base em Bordieu: “[...] para que o ritual seja percebido como legítimo, é necessário que use de simbolismos estereotipados, ou seja, reconhecidos pelos seguidores como de origem sagrada”. 246 Dentro dessas orientações aos preletores e/ou líderes de Iluminação, eles são motivados para aprimorar seu discurso e sua retórica, lembrando que estão de posse de uma “missão divina”. Um preletor antes o termo usado na colônia japonesa era koshi (professor) – constitui-se de adepto quase sempre voluntário, que passa por etapas para galgar estágios que lhe permitem uma atuação em especial na realização de palestras e práticas em locais estabelecidos pela organização. As exigências que se seguem iniciaram-se na década de 1990; antes disso eram bem menores para um adepto estar autorizado a ser um preletor. Na época o dendoin (divulgador), pelo número reduzido de palestrantes existentes, atuava como preletor nas reuniões. Antigamente era suficiente que um adepto e divulgador fosse indicado pela associação para que fizesse um exame e se tornasse preletor.
246
DINIZ, E. M. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil, p. 70.
160 Como já abordado por Albuquerque247, os líderes, por terem participado de vários cursos e seminários especializados, possuem grande domínio dos princípios doutrinários, e seguindo as idéias de seu fundador constantes nas publicações, interessam-se às vezes em fazer estudos comparativos com outras fontes de conhecimento, por exemplo, ciências, psicologia, história, para justificação dos princípios doutrinários. Os adeptos atuantes e os preletores possuem outras características comuns que os identificam: “Os adeptos dessa categoria apresentam estereótipos característicos da Seicho-No-Ie: gestos corporais de origem japonesa (cumprimentar com as mãos justapostas) e vocabulário que expressa atitude otimista frente à vida. Dão testemunho de suas convicções referindo-se ao sucesso que afirmam ter diante de qualquer problema cotidiano.” 248 De acordo com levantamento na Superintendência de Comunicação da Seicho-No-Ie do Brasil, seguem abaixo os pré-requisitos para tornar-se divulgador e, em seguida, preletor. Em ambas as categorias existem exigências em comum, quais sejam: contribuir com a Missão Sagrada; contribuir com cota de revistas; participar das atividades da Associação à qual está vinculado; ser aprovado no curso feito na Regional – Módulo de Estudos da Seicho-No-Ie. Este curso é de responsabilidade do Departamento de Preletores da Regional e possui três módulos com previsão, cada um, de cinco aulas a serem ministradas num período de seis meses. Cumprindo as exigências acima, o adepto torna-se divulgador ao ser indicado pelo presidente da Associação Local de que ele faz parte, e após, pelo Conselho Doutrinário da Regional. Em relação ao preletor, é necessário ser aprovado em exame, o qual só poderá ser feito através de indicação do Conselho Doutrinário da Regional. O pré-requisito ao iniciar-se como preletor é que o fiel seja divulgador. Deste modo existem os níveis de preletores e sua respectiva área de atuação: 1º) Aspirante ou líder de Iluminação, este último é voltado somente a jovens e, por solicitação ou aos 40 anos, deixa de ter tal denominação. Para ambos a atuação restringe-se à Regional; 2º) Júnior: com atuação só na Regional; 247 248
ALBUQUERQUE, L. M. B. Seicho-No-Ie do Brasil: agradecimento, obediência e salvação, p. 97.
Idem, p. 98.
161 3º) Sênior: intercâmbio com outras Regionais no Brasil; 4º) Máster: América Latina; 5º) Sede Internacional: outros países. Para os níveis Júnior, Sênior e Máster, o tempo no cargo é de três anos; após este período deve ser realizada prova pra mudança de nível. A atuação é acumulativa; assim, a um preletor Máster é permitido, por exemplo, ministrar uma palestra ou dirigir estudos em uma Regional. Além disso, como as demais categorias, os preletores devem contribuir com cotas de revistas, Missão Sagrada, participar de atividades na academia e nos Seminários da Luz, lembrando que são aqueles sobre a responsabilidade das Regionais. Na Regional Rio Bonito existem dois líderes para as reuniões de idioma português e nenhum nas de idoma japonês. As informações abaixo mostram a quantidade e classificação de preletores e líderes: 249
Tabela 6: Preletores e Classificação na Regional Rio Bonito Divulgação Aspirante Junior Total Português Japonês
17
15
5
6
32 (*) 11
(*): Ativos: 28 Um fato digno de estudo é o hábito de leitura desenvolvido quando da inserção do adepto nesta dinâmica educacional. Pessoas de grau de instrução não elevado, ou aquelas que não possuíam o hábito de leitura passam, por conta da procura de pertencer ao grupo, de entendimento para a solução de seus problemas e intensificação de sua religiosidade, a ler e estudar os livros definidos pelo movimento religioso. Lembra-se que a maioria dos adeptos, como Albuquerque já assinalou, é de origem das classes médias urbanas250. Durante conversas com adeptos, estes mostraram que a religião desenvolveu ou intensificou o hábito da leitura, porquanto os depoimentos (ver anexo II) evidenciam que na leitura de sutra e de livros se encontra a principal prática do adepto, o qual é incentivado pelos cursos existentes
249 250
Informações obtidas na representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006. ALBUQUERQUE, L. M. B. Seicho-No-Ie do Brasil: agradecimento, obediência e salvação, p. 93.
162 nos locais de reunião. Toda inserção pedagógica traz em si uma valorização do indivíduo que, acompanhada do componente religioso e de aceitação pelo grupo, compõe o cenário que motiva o adepto a sobrepor barreiras que possam acontecer no seu processo de absorção de conhecimento através da leitura. Taniguchi aconselha: “Deixe de pensar que você não tem estudo suficiente para ler e entender livros tão difíceis como A Verdade da Vida. Quando você os lê, o anjo protetor da Seicho-no-Ie que orienta esse Movimento de Iluminação da Humanidade acompanha-o na leitura e faz com que a difícil Verdade penetre na sua alma.” 251
Os cursos ministrados nas Regionais da Seicho-No-Ie para formação de divulgadores e preletores são compostos de sete módulos sendo ministrados, cada um, uma vez ao mês, geralmente aos domingos, num período de cinco horas com turmas em torno de 20 participantes, havendo tarefas teóricas e práticas, como divulgação de revistas, a serem cumpridas antes do exame final, que é escrito. Os cursos são apostilados e seus temas abordam, geralmente, os seguintes assuntos252: cerimonial da Seicho-No-Ie; como proferir palestras; tratamento dado ao público, em especial àquelas pessoas que procuram orientação na solução de problemas; relação dos ensinamentos da Seicho-No-Ie com outras áreas, como ciência, psicologia e medicina; e interpretação de textos de outras religiões com base nosus fundamentos. doutrinários da Seicho-No-Ie. A expressiva maioria é de trechos da Bíblia, constantes de livros de Masaharu Taniguchi. Em segundo lugar, textos budistas. Os participantes desses cursos são estimulados a ver em seus futuros trabalhos na organização religiosa, uma missão divina que a eles foi confiada e o esforço no aprimoramento das práticas preconizadas e metas a serem alcançadas. A Seicho-No-Ie, como em seus primórdios, incentiva a formação de grupos de estudo, uma das características das NRJ, com atividades voltadas ao entendimento e discussão sobre o conteúdo existente nos livros da doutrina, geralmente do fundador, Masaharu Taniguchi. Tais reuniões, coordenadas por preletores, são realizadas nos locais de reuniões e, além do estudo em si, proporcionam a aproximação entre seus membros, tornando-se um elemento de fortalecimento do movimento. As pessoas se sentem inseridas num campo de conhecimento e partilhamento de experiências, decorrendo daí um 251 252
TANIGUCHI, M. Revista Acendedor , São Paulo, Seicho-No-Ie do Brasil nº 78, novembro de 1973, p. 21. Informações obtidas junto à representação administrativa da Regional Rio Bonito em julho de 2006.
163 sentimento de pertença ao grupo, num ambiente onde as palavras adquirem um poder mágico e, ao mesmo tempo, racional na transformação de suas realidades. Entre elas, um ambiente de compartilhamento intelectual favorece a auto-estima. O público que trabalha a devoção da palavra fica comprometido de forma a valorizar-se internamente pelas qualidades da alma e se projeta como estudioso, com o domínio da palavra escrita que se revela no conhecimento, na instrução, e sobretudo ordenam-se condições de uma humanidade intelectualizada. Um novo modo de integrar as pessoas dentro dessa perspectiva de estudo e de práticas é o “Curso da Seicho-No-Ie do Brasil por Correspondência”. Ele constitui-se de seis módulos enviados uma vez ao mês ao aluno contendo textos a serem estudados e com questões em forma de testes a serem respondidas e devolvidas. Além disso, de acordo com o que se apregoa em livros e reuniões, a Seicho-No-Ie constitui-se de práticas; assim, pede-se ao aluno que faça, num determinado período, geralmente de 15 dias, uma oração de manhã e à noite e para seu controle e incentivo é disponibilizada uma tabela para marcação dos dias em que a realizou. O curso de correspondência serve também de integração entre os participantes, pois existe a possibilidade de participar uma vez ao mês de reunião na regional para discutir sobre os temas abordados. O material desse curso por correspondência é feito pelo Departamento de Educadores da Seicho-No-Ie, onde seus responsáveis são pessoas ligadas ao ensino e que tratam, como uma de suas atividades, da divulgação nas escolas e com professores através de cursos, seminários e palestras. A visão do homem de ser divino e passível de redimir suas faltas graças a essa essência perene e perfeita, juntamente com uma escala de valores que aparece em seus estudos, práticas e participações na organização, faz com que este adepto insira-se num ambiente de reconhecimento onde seus anseios de realização neste mundo se concretizem numa perspectiva ética e divina. O modo de ser japonês transparece em todas as atividades acima citadas, ao esperar dedicação e disciplina do participante, características sempre destacadas na religião, onde o esforço e força de vontade demonstram a seriedade do propósito empenhado. Contam-se também o respeito à hierarquia e ao cumprimento entre os participantes, reverenciando o outro com as mãos justapostas.
164 Ao intensificar a sua utilização da mídia, e uma conseqüente maior exposição ao público, o adepto adquire uma nova visão dos valores de d e origem oriental e japonesa, e por sua vez, sofre a influência do meio onde se insere e deste mesmo público. Neste processo ele se adapta e recria tanto na apresentação quanto na adequação de sua mensagem para se manter dentro de uma dinâmica que caracterize sua inserção no cenário religioso brasileiro. O adepto, ao se inserir como membro atuante, absorve os valores existentes na doutrina dentro de seu processo educacional. Com base no que foi abordado no trabalho, apresenta-se a conclusão.
165
CONCLUSÃO A diversidade religiosa no Brasil abrange vários grupos religiosos desde o catolicismo, grupos evangélicos, cultos de origem africana e religiões de origem oriental. A crescente urbanização a começar na década de 1950 e se estender nas de 1960 e 1970 propiciou o deslocamento dos descendentes de imigrantes japoneses para as cidades, trazendo consigo sua cultura e religião e esta, antes étnica, começou a se expandir entre os brasileiros. Neste universo as Novas Religiões Japonesas Jap onesas chegaram e se alojaram. O movimento Nova Era surgido nos Estados Unidos nos anos 60, como herdeiro da contracultura da década de 1950, teve em sua maioria simpatizantes provenientes de uma classe média com certo nível educacional e instrução escolar, que estavam à procura de elementos que oferecessem respostas que não eram conseguidas pela ciência, pelo modo individualista, pelo racionalismo e, enfim, pela vida urbana onde se inseriam. Embora não haja uma declaração explícita de sintonia entre as NRJ e os preceitos propalados pela Nova Era, a grande relação das idéias existentes na Nova Era com o movimento religioso oriental está acentuada na convicção de uma orientação e recriação de um eu. Trata-se de um eu que se projeta como superior e com transcendência, na visão otimista da procura espiritual, de uma pretensão científica e a idéia de imanência do divino. Diante dessas tendências, este estudo retratou a religião Seicho-No-Ie que, além de suas características próprias de uma NRJ, possui sua particularidade na ênfase da crença e no uso do poder da palavra, tanto doutrinariamente quanto na sua difusão. A presença de Masaharu Taniguchi se evidencia nesse movimento religioso, através da estrutura que lhe deu e das influências recebidas por ele durante sua formação, que transparecem em sua obra literária, permeada de um caráter científico e pedagógico ao lado de práticas espirituais, e que se tornaram características da dinâmica da religião. A Seicho-No-Ie, que inicialmente, como as demais NRJ, tinha uma abrangência étnica, mostrou-se eficaz posteriormente, na sua expansão entre os não-descendentes de japoneses, tendo t endo em suas publicações, seguidas da dinâmica de suas reuniões e atendimento aos seus seguidores o seu principal fator de aproximação. O caráter sagrado e de estudo da
166 produção literária de Masaharu Taniguchi torna-se o elemento que permite, no uso da palavra com compromisso religioso, o pertencimento pert encimento do adepto a esta religião. Perante os fatores intrínsecos da doutrina, o sincretismo peculiar da Seicho-No-Ie tornou-se viável na aproximação com brasileiros, os quais, em si, já estão inseridos em uma tendência sincrética no plano religioso. Alia-se a tal sincretismo a posição conciliatória de não confronto com as demais religiões, adotando um discurso religioso que acontece num sentido filosófico, tornando o ambiente peculiar e sedutor para a sua expansão e adesão, unindo subjetividades e formando coletividades. O meio de absorção – marcado por uma linguagem de letramento de formação de consciência e de uma ordenação intelectual – intelectual – ao tornar absorvente o cenário dos adeptos permite que os eventos e encontros e ncontros possam po ssam preencher pree ncher um u m universo u niverso de expectativas. e xpectativas. O meio cultural, com sua dimensão educativa, ao aproximar-se de uma racionalização do sagrado, não abandona as práticas espirituais. Analisada de um ponto de vista weberiano, a racionalização de uma religião pode ser avaliada com base em dois critérios: o primeiro relaciona-se ao grau em que essa religião se despojou do sagrado; o segundo é relativo à coerência sistemática com que ela aborda a relação de Deus e o mundo, baseando-se na sua própria relação ética com este último. O cultivo da palavra expandiu-se pela criação dos espaços religiosos, fato compreensível aos novos adeptos. Vários termos japoneses foram traduzidos, e padrões de liderança, hierárquicos, e disciplinamento da religiosidade tomaram um certo grau de liberalidade nas reuniões e práticas rituais. Diante desse processo, a estrutura e fidelidade aos padrões tradicionais japoneses na doutrina e administração compreendem um espaço de resistência e de auto-afirmação das origens étnicas japonesas. Neste sentido, são valorizados como características próprias das NRJ: divulgação por sexo, idade e interesses particularizados. Com toda a modernização mencionada é marcante o objetivo da Seicho-No-Ie de manifestar a essência divina do adepto e do mundo: a Imagem Verdadeira ( Jisso Jisso). O discurso utópico e nem sempre de caráter milenarista introduz o “mundo verdadeiro”, verdadeiro”, sempre num processo de construção co nstrução enunca viabilizando totalmente essa es sa realidade. rea lidade. O valor e o poder de concretizar a utopia estão com o próprio adepto, tendo este a responsabilidade, e sobretudo o
167 valor e o potencial de tornar exequível em sua vida, na sua consciência pessoal, e em conjunto no seu meio, o modelo de perfeição. Na construção co nstrução do arcabouço ar cabouço teórico t eórico e nas suas práticas, compreende-ses a ênfase ê nfase no pensamento mítico mítico japonês. Ele ressalta o princípio da não-contradição. A visão de Deus como único também se manifesta em várias divindades. O caráter imanente do divino com sua interpenetração é intrínseco a todos os seres, inclusive o homem. O modo de pensar, presente nos escritos e estudos estu dos abordados abordado s aproximam apro ximam as pessoas pe ssoas do d o pensamento conjuntivo, cuja postura relativista explica o sincretismo existente nas Novas Religiões Japonesas. Diante desta eficiente ordenação de valores é que a religião estudada permite sincretismos que se inserem na atualidade e possibilitam compreensões próprias da fragmentação pósmoderna. O processo pedagógico que deriva das obras de Masaharu Taniguchi dirige-se ao reconhecimento da palavra. Ele tem na formação de seus adeptos uma valorização do estudo e da leitura, o que situa a Seicho-No-Ie como uma religião que propicia a busca do conhecimento. Nesta pedagogia cumpre lembrar dois itens que a compõem e que fazem parte das características da Nova Era: Era : a crença na perfeição divina d ivina e inerente ao ser humano e a valorização da intuição. A Seicho-No-Ie tem em seus livros doutrinários a principal ênfase onde as propostas se expandem para meios mais modernos de comunicação. No momento atual mostra-se uma intensa exposição na mídia, o que faz da Seicho No-Ie um caso único das NRJ no cenário religioso brasileiro. Esta fase confirma sua
característica relativa à difusão quando é denominada como uma “religião de comunicação em massa”, massa”, conforme Maeyama, a qual se reforça pelo marketing e na utilização bemsucedida dos instrumentos da mídia, com destaque atual na sua presença na televisão e no rádio. Esse caráter arrojado do movimento no Brasil em relação às demais NRJ justifica o fato de ser líder e ponto de referência perante as outras associações da Seicho-No-Ie, existentes nos demais países da América Latina e nos países de línguas portuguesa e espanhola. Sua caracaterística fortemente sincrética, e ao mesmo tempo flexível e pragmática, a torna atrativa para os adeptos que se identificam com a sua doutrina através de sua postura relacional, que é marca da religiosidade brasileira, como foi acentuado por Da Matta. A
168 aceitação e incentivo ao fiel em professar outra fé torna-se, paradoxalmente, um meio que o insere mais nesta religião, quando esta fornece um conhecimento que lhe permite relacionase diante de símbolos e crença existentes em outro movimento religioso. Deste modo é reforçado o discurso da Seicho-No-Ie e a pertença do fiel a este grupo. Surgem neste cenário usos pertinentes aos sentidos de sincretismos apontados por Ferretti, compondo assim o panorama religioso onde o adepto se insere: o paralelismo, quando da crença num Deus Universal que se manifesta de várias maneiras, e a procura de adaptação do culto aos antepassados, com uma abordagem próxima à cultura cristã brasileira. Nesta postura maleável, ela mantém-se tradicional ao reforçar seus traços étnicos e seu núcleo fundador, traduzidos por um modelo de perfeição mantido e difundido através da palavra. Religião e sociedade engendram influências mútuas que modificam seus valores e formas de expressão. A visibilidade conseguida pela Seicho-No-Ie atrai um público diverso e nem sempre tão fiel, que faz com que aumente o desafio para suas lideranças, que é o de manter-se atualizada e em sintonia com sua época respondendo aos anseios de quem a procura, e ao mesmo tempo mantendo-se sintonizada com a base da doutrina de seu fundador, Masaharu Taniguchi: o despertar do divino, através da palavra, para concretizar o modelo perfeito de vida, a imagem verdadeira, o Jisso.
169
BIBLIOGRAFIA BENEDICT, Ruth. O crisântemo e a Espada. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002 (Col. Debates, 61). DA MATTA, Roberto. A Casa & a Rua, Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil . Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. ELIADE, Mircea, O sagrado e o profano, São Paulo: Martins Fontes, 1992. FERGUSON, Marilyn. ( A Conspiração Aquariana: Transformações Pessoais e Sociais nos Anos 80; Rio de Janeiro: Record; 2003.
FERRETTI, Sérgio F. Repensando o Sincretismo: Estudo sobre a Casa das Minas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1995. FRANÇA, Mônica G. F. O Feng Shui e a Nova Era: um exemplo de destradicionalização e de invenção de tradições. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2004. GAARDER, J. O Livro das Religiões. Tradução de Isa Mara Lando. 9. ed. São Paulo: Schwarcz, 2001. GODOY, Marília G. G. O Misticismo Guarani Mbya na era do sofrimento . São Paulo: Terceira Margem, 2003. GONÇALVES, Hiranclair R. Perfect Liberty: o fascínio de uma religião japonesa no Brasil. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1998. ______. O Fascínio do Johrei: um Estudo sobre a Religião Messiânica no Brasil. Tese de Doutorado – Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2003. JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: Guia Prático da Linguagem Sociológica. Tradução de Ruy Jungmann; consultoria de Renato Lessa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. MAGNANI, José G. C. O Brasil da nova era. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. MARTINO, Luís Mauro Sá. Mídia e poder simbólico. São Paulo: Paulus, 2003.
170 MATSUE, Regina Yoshie A Expansão Internacional das Novas Religiões Japonesas: Um Estudo sobre a Igreja Messiânica Mundial no Brasil e na Austrália. Revistas de Estu dos da Religião , PUC-SP, nº 4, 2002, pp.1-19.
MORI, Koichi “Vida religiosa dos japoneses e seus descendentes residentes no Brasil e religiões de origem japonesa." In: Uma epopéia Moderna – 80 anos da Imigração Japonesa no Brasil. São Paulo: Hucitec / Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, 1988. OSHIMA, Hitoshi O pensamento japonês. Tradução de Leins, G. de. São Paulo: Escuta, 1992. PARTRIDGE, Christopher. Nigel. New Religions, a Guide: New Religions Movements, Sects and Alternative Spiritualities, United States of America: OXFORD University, 2004. PEREIRA, Ronan Alves. O Budismo Leigo da Sôka Gakkai no Brasil: da revolução humana à utopia mundial, Tese de Doutorado – Universidade Estadual de Campinas, 2001. ______. Possessão por Espírito e Inovação Cultural: a experiência religiosa das japonesas Miki Nakayama e Nao Deguchi. São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão / Massao Ohno, 1992. ______. Religiosidades Japonesa e Brasileira: Aproximações possíveis. XI Encontro Nacional de Professores Universitários de Língua, Literatura e Cultura Japonesa e I Encontro de Estudos Japoneses. Brasília: Anais, 2000. PLANT, Raymond Hegel: sobre Religião e Filosofia. Tradução de Oswaldo Giacóial. São Paulo: UNESP, 2000. ROCHEDIEU, Edmond Xintoísmo e Novas Religiões do Japão. Tradução de José Pinto. Lisboa/São Paulo: Verbo, 1982. TOMITA, Andréa G. S. As Novas Religiões Japonesas como instrumento de transmissão de cultura japonesa no Brasil, Revistas de Estudos da Religião, PUC-SP, nº 3, 2004, pp.88-102. ______. Conversão e Consumo Religioso nas Novas Religiões Japonesas: a Igreja Messiânica e a Perfect Liberty, Estudos Japoneses, n. 22, pp. 7-18, 2002.
171 ______. Um outro lado da moeda: Novas Religiões Japonesas como transmissoras de noções culturais japonesas no Brasil , Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo, 2004. WEBER, Max. Religião e racionalidade econômica. In: Max Weber: Sociologia, (org. Gabriel Cohn), São Paulo: Ática, 2005. WIMBERLEY, Hickman Howard. Seicho-No-Ie: a study of a japanese religious-political association. USA: Cornell University, 1967. YAMADA, Masanobu “A Concepção Vitalista da Salvação” no Brasil: As Novas Religiões Japonesas e o Pentecostalismo, Revista de Estudos da Religião, PUC-SP, nº. 3, 2004.
FONTES CONSULTADAS NA INTERNET http://www.antropologia.com.br – Comunidade Virtual de Antropologia http://www.pucrs.br – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul http://pt.wikipedia.org – Wikipédia, a enciclopédia livre http://www.noolhar.com/opovo/ – Jornal O Povo
172
FONTES DE INFORMAÇÃO SOBRE A SEICHO-NO-IE Bibliografia, periódicos e páginas na Internet 1.
Bibliografia primária
ANONYMUS. Modelo de procedimentos nos rituais da Seicho-No-Ie. São Paulo: Seicho No-Ie do Brasil, 2000. ______. Práticas para o Aprimoramento Espiritual: Que são – Como executar, Departamento de Ofícios Religiosos da Seicho-No-Ie do Brasil. São Paulo, Seicho No-Ie do Brasil, 1978. ______. Relação de publicações comercializadas pela Seicho-No-Ie. Superintendência de Administração de Produtos e Distribuição da Seicho-No-Ie do Brasil, abril de 2006. ______. Seicho-No-Ie do Brasil . São Paulo: Departamento de Marketing da Seicho-No-Ie do Brasil. Seicho-No-Ie do Brasil, 2006. DAVIS, Roy E. O Homem-Milagre do Japão. Tradução de William Graham Clark/São Paulo, Esplendor, 1970. MUKAI, Yoshio. Amor e dedicação a um ideal . 2. ed. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2005. TANIGUCHI, Masaharu Educação da Vida. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1971. ______. A Educação no Lar . Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo, Seicho-No-Ie do Brasil, 2ª edição, 1977. ______. A Felicidade da Mulher, vol. 1. 4. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1975. ______. A Humanidade é Isenta de Pecado. 4. ed. Compilação de excertos de A Verdade da Vida, compilado por Kamino Kusumoto. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São
Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2001. ______. Seimei no Jisso (A Verdade da Vida), volume 1. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1978. ______. A Verdade da Vida, volume 3. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1983.
173 ______. A Verdade da Vida, volume 8, 7. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1997. ______. A Verdade da Vida, volume 25, 3. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2004. ______. A Verdade, volume 2 , 5. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2001. ______. A Verdade, volume 3, 4. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1995. ______. A Verdade, volume 10. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-NoIe do Brasil1990. ______. A Verdade da Vida, volume 13, 4. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2000. ______. A Verdade, volume 2, 5. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2001. ______. A Verdade, volume 8, 2. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1999. ______. A Verdade, volume 9, 2. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1983. ______. A Verdade e a Saúde: Aplicação na vida prática. 3. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1999. ______. Coleção Masaharu Taniguchi, volume 10: Comande sua Vida com o Poder da Mente. 12. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2005. ______. Chave da Beleza e da Saúde. 8. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1999. ______. A Ciência do Bem-Viver, volume II, Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1979. ______. O Livro dos Jovens. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1979. ______. Shinsokan e outras Orações. 32. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2003.
174 ______. Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade. 35. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1999. ______. Sutras Sagradas. 34. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho No-Ie do Brasil, 2003. ______. Explicações detalhadas sobre a meditação Shinsokan. 5. ed. Tradução da Seicho No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1995. ______. Melhore seu destino cultuando os antepassados. 2. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1974. ______. Preleções sobre a interpretação do Evangelho Segundo João à luz do ensinamento da Seicho-No-Ie. 3. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-
Ie do Brasil, 1996. ______. Preleções sobre a Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade, Seicho-No-Ie do Brasil, 2000. ______. Imagem Verdadeira e Fenômeno. 2. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1999. ______. Mistérios da Vida. 3. ed. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho No-Ie do Brasil, 2000. TANIGUCHI, Teruko. Reverenciando-o como mestre respeitando-o como marido. Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1996.
2.
Periódicos
Revista Acendedor , nº 12, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, maio de 1968. ______. ,nº 37, novembro de 1971. ______, nº 68, janeiro de 1973. Revista Fonte de Luz , nº 253, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, janeiro de 1991. ______, nº 297, setembro de 1994. ______, nº 307, julho de 1995. ______, nº 435, março de 2006. Revista Mundo Ideal , nº 131, São Paulo: Seicho-No-Ie, junho de 2005. ______. nº 139, fevereiro de 2006. Revista Pomba Branca, nº 80, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, fevereiro de 1992.
175 ______. nº 249, abril de 2006. Revista Seicho-No-Ie, Tradução da Seicho-No-Ie do Brasil. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, edição especial, 1993. Livros da Seicho-No-Ie, nº 5, São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, abril de 2004.
3.
Fontes consultadas na internet
http://www.sni.org.br: site oficial da Seicho-No-Ie do Brasil.
4.
Bibliografia secundária
ALBUQUERQUE, Leila M. B. Seicho-No-Ie do Brasil: agradecimento, obediência e salvação. São Paulo: Annablune, 1999. ______. Seicho-No-Ie do Brasil: Cruzando Fronteiras Culturais. XI Encontro Nacional de Professores Universitários de Língua, Literatura e Cultura Japonesa e I Encontro de Estudos Japoneses. Brasília: Anais, 2000. ALBUQUERQUE, Leila M. B & SOUZA, Beatriz M. A Religião tem Razões que a Razão Desconhece, Extraído do site: www.antropologia.com.br – Comunidade Virtual de
Antropologia. DINIZ, Ediléia Mota. Carisma e poder no discurso religioso: um estudo do legado de Masaharu Taniguchi – A Seicho-No-Ie no Brasil, Dissertação de Mestrado, Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, SBC, 2005. MAEYAMA, Takashi O Imigrante e a Religião: Estudo de uma Seita Religiosa Japonesa em São Paulo. São Paulo, 1967. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
176
ANEXOS Anexo I GLOSSÁRIO Amaterasu Deusa do sol. É também conhecida como Amaterasu Oomikami ou Oo-hirume-no-kami. Essa divindade é considerada ancestral e tutelar da família imperial.
Amatsunorito Oração xintoísta utilizado no Rito de Purificação (Oshubatsu*).
Ame-no-minakunushi De acordo com o Kojiki*, era uma das três divindades que nasceram sós e pairavam sobre o mundo em seu primórdio era semelhante ao mar e, depois como as demais, se ocultou. É também conhecida como Kunitokotachi-no-mikoto
Arigatô Undô Campanha da Gratidão. Iniciativa na década de 1960, do Departamento Feminino da Seicho-No-Ie* em agradecer profissionais que zelam pela população. O evento na ocasião
voltou-se aos profissionais de delegacias de polícia.
Bankyô-Kiitsu Pensamento japonês que indica que todas as religiões são unas.
Bodhisattva Futuro Buda. Termo budista que designa ser de sabedoria elevada que segue uma prática espiritual que com o objetivo de remover obstáculos e beneficiar todos os demais seres. A partir do sânscrito, significa “ser ( sattva) de sabedoria (bodhi)”.
Bukkyô Budismo. Usa-se também o termo Butsudô.
177
Bushi Guerreiro.
Bushidô Código ou via do samurai* (bushi*).
Butsudan Oratório budista
Dendoin Antiga denominação de divulgador da doutrina Seicho-No-Ie*.
Dôkyô Taoísmo.
Engishiki Coleção de regulamentações para cerimônias xintoístas compilada no ano de 927 d.c.
Enkwan Círculo de Harmonia. Nome do jornal em língua portuguesa da Seicho-No-Ie do Brasil.
Fudô Myo Comunidade Budista Fudômyo.
Fukko-Xintô Xintó* acadêmico.
Hidari Esquerdo (lado)
Hînayâna
178 “Escola budista dos Anciãos ou Monges”, conhecida como Pequeno Veículo ( Hînayâna), Theravada ou “Escola Pali”. Difundiu-se principalmente no Sri-Lanka, Myanmar,
Tailândia, Laos e Cambodja, razão que ficou conhecida como Escola do Sul.
Hitogata Forma de Homem. Formulário utilizado na Oomoto* através do qual, após preenchimento, em cerimônia de purificação no Japão, possa “limpar” os pecados do adepto. Formulário aproxima-se na forma daquele usado na Seicho-No-Ie denominado “Forma Humana”.
Honmon-Butsuryushu Conhecida também como Butsuryushu. Religião japonesa de origem budista. Foi fundada pelo mestre Nissen em 1857, como uma dissidência do grupo budista Honmon Hokke, do ramo de Nichiren.
Hôtoku Necessidade de sentir gratidão. Uma das principais contribuições do confucionismo à religiosidade japonesa.
Ichi-jitsu Shintô Xintoísmo de Uma Realidade. Um dos movimentos sincréticos medievais surgidos no Japão.
Inari Daimyôjin Associação Religiosa e de Assistência Social. Religião de origem japonesa que se formou no Brasil.
Ittoen Religião japonesa de origem budista fundada por Tenko Nishida em 1905. Ela tem como base a vida sem nenhuma possessão e serviço ao próximo.
Izanagi
179 Na mitologia japonesa corresponde ao deus que participa na criação do mundo como demiurgo masculino.
Izanami Na mitologia japonesa corresponde ao deus que participa na criação do mundo como demiurgo feminino.
Iyú Grito (kiaí *) feito ao final do canto Shoshinka* existente na prática do Shinsokan*.
Jindaishi Idade dos deuses. Período que, de acordo com o Kojiki*, o mundo em seu primórdio era semelhante ao mar.
Jinja-Xintô Xintô* do Estado
Jisso Imagem Verdadeira. Crença da Seicho-No-Ie* que indica a perfeição, a essência divina de todos os seres.
Jisso Enman Kanzen Imagem Verdadeira, Harmonia e Perfeição. Prática recitativa feita em reuniões da Seicho No-Ie* no sentido de manifestar a perfeição divina ( Jisso*)
Jonchi-suiyaku Teoria que combina o Buda com os deuses japoneses.
Jukyô Confucionismo
180
Jyôshingyô Purificação da alma. Prática de purificação da Seicho-No-Ie*.
Kakurimi Designa “Corpo Invisível” e, a partir dela, originou a palavra kami*.
Kami Indica qualquer ser com poderes excepcionais que mereçam devoção. Nesta categoria incluem-se uma grande diversidade de entidades como personagens da mitologia japonesa, personificações de força da natureza, ancestrais divinizados de ilustres famílias, etc.
Kamidana Oratório xintoísta.
Kamimusubi De acordo com o Kojiki*, era uma das três divindades que nasceram sós e pairavam sobre o mundo em seu primórdio era semelhante a o mar e, depois como as demais, se ocultou.
Kaminoya yaoyirizu-kyo Associação Religiosa Kaminoya-Yaoyorozu-Kyô do Brasil. Uma das religiões que se formaram no Brasil, mas sem seguir uma filiação direta com o Japão.
Kanro no Hoou Chuva de Néctar da Verdade. Principal sutra da Seicho-No-Ie*.
Kanzeon Bosatsu ou Kannon ou Kannon Bobatsu ou Avalokiteshvara Divindade budista, o Bodhisattva* da Compaixão ou Deusa da Misericórdia. Existe a crença que Kannon aparece neste mundo sob várias formas para salvar aos que a chamam. De acordo com Masaharu Taniguchi, esta divindade budista é a fundadora dos ensinamentos da Seicho-No-Ie*, além de manifestação de outros seres elevados como Suminoe* e o arcanjo Miguel.
181
Kazu Uta Canto Numeral. Canto de origem budista antigamente utilizado em cerimônias coletivas para antepassados na Seicho-No-Ie*.
Kiaí Grito através do qual se concentra a força mental.
Kirisutokyô Cristianismo.
Kojiki “Crônica das Coisas Antigas” ou “Registro das Coisas Antigas”; livro clássico compilado no ano 712 contendo mitos, lendas e histórias centradas na família imperial.
Koshi Professor. Termo usado para o atual preletor da Seicho-No-Ie* quando esta se restringia a sua atuação na colônia japonesa.
Kotodama Crença xintoísta que atribui poder transformador sobre seres e ambiente ao modo de pronunciar as sílabas que compõem o alfabeto japonês.
Kôxitsu-Xintô O xintô* da Casa Imperial.
Kyôha-Xintô Xintô* das seitas.
Mahâyâna
182 Escola budista do Grande Veículo (de salvação). Difundiu-se da Índia para o Tibet, Mongólia, China, Coréia e Japão, razão que ficou conhecida como Escola do Norte.
Meiji O Período Meiji (Meiji-jidai) consiste dos 45 anos de regime do imperador Meiji, de 8 de setembro de 1868 até 30 de julho de 1912. Durante essa época, o Japão começou sua modernização.
Migui Direito (lado)
Minkan- Shinkô Crenças populares.
Minkan-Xintô Xintô* popular
Mutsumi Harmonia. Nome da revista lançada em 1950 pela Seicho-No-Ie*
Namu-Amidabutsu ou Namu-Amida-Butsu Significa “Glória ao Buda Amida”. A recitação ( Nembutsu) dessa frase é indicada como um louvor de agradecimento que leva à iluminação. O Nembutsu é a prática principal da Escola Budista Jodo Shinshu*.
Nichiren Shôshu Sociedade Religiosa Nichiren Shôshû do Brasil.
Nichiren-Shû Seita budista conhecida também por Hokke-shû, baseada na Sutra Lótus (Sad-Dharma pundarîka) e fundada por Nichiren (1222-1282).
183
Nihongi Este clássico japonês, 720 Crônicas do Japão, juntamente com o Kojiki* constituem os livros que retratam a mitologia japonesa.
Norito Orações dirigidas às divindades nas cerimônias xintoístas; essas palavras estão nos rituais descritos no livro Engishiki*.
Ooharai Grande Purificação. Prática espiritual xintoísta.
Omamori Amuleto.
Oomoto-kyô Oomoto ou Associação Universal, Amor e Fraternidade no Brasil.
Oonusa Bastão da Purificação. É utilizado no Oshubatsu *, Rito de Purificação xintoísta. Ele é constituído de várias tiras de papel simbolizando quatro deuses que estão nelas alojados sendo agitado na direção do local, objeto ou pessoa a serem purificados.
Oshubatsu Rito de Purificação. Prática xintoísta utilizada em cerimônias coletivas. Foi abolida da Seicho-No-Ie*.
Perfect Liberty (PL) “Perfeita Liberdade” ou “Verdadeira Liberdade”. Religião iniciada por Tokuchika Miki em 29 de setrembro de 1946, na cidade de Tossu, Japão, resultante da reorganização da seita
184 Hito-no-miti (Caminho do Homem), criada por Tokuharu Miki em 1925. Está presente no Brasil desde 26 de fevereiro de 1957 com a chegada do missionário da PL, Ryozo Azuma.
Reiyukai Amigos do Espírito. Religião fundada em 1920 por Kakutaro Kubo no Japão.
Ryôby Shintô Termo que expressa o sincretismo entre xintoísmo e budismo. Designa também ShingonShintô, corrente que interpreta o xintoísmo através das doutrinas da seita budista Shingon*.
Samurai Guerreiro
Seicho-No-Ie Lar do Progredir Infinito ou Casa da Plenitude. Religião fundada no Japão em 1930 por Masaharu Taniguchi.
Seikannon-Shu Hakkoku Kannondo Templo Budista de Kannon.
Sekai Kyuseu Kyô Igreja Messiânica Mundial do Brasil
Shimabara Batalha que acabou com os últimos católicos japoneses em 1637-1638, na região de mesmo nome onde concentrava a maioria dos cristãos no Japão.
Shingon Seita budista esotérica fundada em 806 por Kûkai ou Kôbo Daishi (774-935).
Shinreikyô
185 Clube Kotobuki. Um dos movimentos religiosos que se formam no Brasil com raízes japonesas e não seguem uma filiação direta com o Japão.
Shinshi Revista de Deus. Este foi o segundo nome dado à revista feita por Masaharu Taniguchi e que lançou movimento religioso Seicho-No-Ie*, do qual ele é o fundador.
Shinshu ou Jodo Shinshu Escola Budista Jodo Shinshu., a Verdade Escola da Terra Pura ou Jodo Shinshu fundada por Shiran (1173-1262) no Japão que apregoa a recitação de Namu-Amidabutsu* para atingir a iluminação.
Shin-Shûkyô Novas religiões japonesas. Movimentos religiosos que surgiram no Japão a partir do século 19.
Shinsokan Ver e contemplar Deus. Prática de meditação da Seicho-No-Ie*
Shintô ou Xintô Xintoísmo. Existem os termos alternativos: Kami-no-michi ou Kannagara-no-michi. Significa “Caminho dos Deuses”.
Shoshinka Canto Evocativo de Deus. Canto entoado na prática do Shinsokan*.
Shugo ou Shûgô-Shûkyô Cultos ou religiões sincréticas.
Shûkyô Religião.
186
Soka Gakai Movimento budista leigo fundado no Japão na década de 1930 por Tsunesaburô Makiguchi (1871-1944).
Seicho-No-Ie no Okami Deus da Seicho-No-Ie* que é a representação do deus xintoísta Suminoe.*
Suminoe ou Suminoe-no-Okami ou Sumioshi Divindade xintoísta que a reconhece como sua divindade protetora, sendo manifestação da divindade budista Kanzeon-Bosatsu* do arcanjo Miguel.
Susano-o-Mikoto ou Susanô no mikoto Na mitologia japonesa, o irmão mais moço de Amaterasu*. Divindade descrita nos livros míticos, como o Kojiki*, como desordeira, que foi banida da Planície das Altinas Celestiasi (Takama no Hara) e, após ter vencido um dragão com oito cabeças (Yamata no Orochi), transformou-se em divindade benevolente.
Takamimusubi De acordo com o Kojiki*, era uma das três divindades que nasceram sós e pairavam sobre o mundo em seu primórdio era semelhante ao mar e, depois como as demais, se ocultou.
Tama Alma.
Tariki Tariki é um conceito do budismo japonês, é o "outro poder". É a percepção de que existe
algo acima de nossa vontade, que não possuímos controle e devemos aceitar por faz parte da vida. Shinsokan* é considerada, por Masaharu Taniguchi, uma prática meditativa tariki, ou seja, de entrega total a Deus.
187
Tenri-kyô Ensinamento da Razão Divina. Fundada no Japão em 26 de outubro de 1838 por Miki Nakayama (1798-1887). É a mais antiga das Novas Religiões Japonesas.
Tokugawa Ditadura militar feudal estabelecida no Japão em 1603 por Tokugawa Ieyasu. e governada pelos xoguns* da família Tokugawa até 1868. Esse período também é conhecido como Período Edo, nome da capital do xogunato* Tokugawa. Edo é a atual Tóquio.
Tsukiyomi-no-Mikoto Deusa da Lua. De acordo com o clássico Kojiki*, ela nasceu do olho esquerdo de Izanagi*, após ele passar por um por um processo de purificação das impurezas relativas à morte.
Tsumi Pecado.
Tsutsumi Encobrir.
Ushitora no Konjin Divindade possessora de Nao Deguchi, fundadora da Oomoto-kyô*.
Xogunado, Xogunato ou Shogunato Denominação da administração do xógun*. É conhecida também como bakufu.
Xógun ou Shôgun General. Líder militar do Japão feudal, era Tokugawa*.
188
- Anexo II – DEPOIMENTOS
Os relatos abaixo foram feitos com adeptos que freqüentam a Regional do Rio Bonito, local desta nossa pesquisa, em junho de 2005:
1.
L. M. S. – 49 anos – casada – 3 filhos – vendedora
Freqüentou a Regional há 8 anos por mais de 3 anos e voltou há 1 ano. Na primeira vez que freqüentou disse que “... gravou na minha mente a filosofia”. No tempo que não freqüentou achava, em suas próprias palavras, não ter tempo, mas nesse período de ausência lia as publicações e cantava os hinos em sua casa. Ela nasceu católica, sua mãe é da igreja Batista e seu marido é adepto do kardecismo, do qual ela disse não gostar. Ela ia à igreja católica e à batista com a mãe aos
domingos, mas em ambas não se sentia bem. Em relação ao catolicismo, ela sempre leu muito sobre a vida de Jesus e também a Bíblia. L.M.S. lembra que o primeiro contato com a Seicho-No-Ie foi aos 17 ou 18 anos, quando encontrou em casa uma revista da religião, o Acendedor (atual Fonte de Luz). Sua reação foi muito positiva: “Nossa, isso é uma felicidade!”, algo que ela disse não sentir na religião católica. Assim, desejando conhecer melhor essa filosofia, começou a freqüentar a Regional Santo Amaro, lugar de que gostou muito e foi bem muito bem recebida. “Fiquei maravilhada!” Ela sempre achou um ambiente triste nas citadas igrejas cristãs. “Sempre achei que na igreja católica e evangélica é uma tristeza. O pecado é ruim. Você nasceu pecador. Um sentimento de coisa errada. Parece de não ter direito à felicidade, a ser feliz. Quando parei de freqüentar (as igrejas católica e evangélica) fiquei com sentimento de fazer algo errado.” Quanto às práticas da Seicho-No-Ie, L.M.S. faz a leitura da Sutra Sagrada, mas não consegue fazer o Shinsokan, pois não consegue concentração necessária. “Pensei até fazer ioga. Não consigo me desligar para entrar no alfa.”
189 Em relação aos costumes japoneses, teve época que sua confiança em pessoas de origem nipônica era total, mas após um acidente de trânsito e a conduta do descendente japonês, viu que eram “...iguais a qualquer outra pessoa”. Em relação aos cerimoniais japoneses, sua resposta foi de aceite. “Esse ritual todo vai marcando na sua mente. Batendo sempre na mesma tecla você grava mais.” Por fim, ela contou que há poucos meses teve um problema com o filho mais velho de 24 anos e universitário, que começou ter comportamentos estranhos, chegando a quebrar coisas em casa e dizendo que pararia com os estudos. Foi pedir orientação na Seicho-No-Ie e foi-lhe dito que havia a influência espiritual. “...seria um encosto” – nas suas palavras. Foi orientada a ler, no período de 28 dias, a sutra, e depois o filho não mais teve esse comportamento, estando hoje (junho de 2005) para concluir o curso de administração.
2.
N.R.S. - 49 anos – casada – monitora escolar
Freqüenta a Regional há 1,5 ano, mas a conhece desde 1980, “...quando morava perto da sede e admirava, mas não freqüentava”. O motivo foi por uma identificação com a postura otimista da religião: “...sempre procurei agir de modo positivo e lia sempre a folhinha e „ batia‟ com a maneira de pensar e fazia relação com a Bíblia”. Ela disse ser católica, mas depois de começar a freqüentar a Seicho-No-Ie deixou de ir à igreja católica, só se restringindo a cerimônias. O motivo que a levou à Seicho-No-Ie foi a procura de felicidade. “Escutava a Rádio Mundial. Queria encontrar Deus onde estivesse, e junto com o marido” “Freqüentando o aprendizado da Seicho-No-Ie tudo foi melhorando e em casa também.” Ela esteve apreensiva com o comportamento do enteado que viria a morar com eles, mas foi o encontro foi bom e se dirigiram junto com o marido à sede (matriz) da Seicho No-Ie para que ele a conhecesse. De acordo com ela, o enteado gostou, mas não freqüenta
as reuniões. Quanto às práticas preconizadas pela Seicho-No-Ie, ela diz que se restringe a ler a sutra quase todos os dias e diariamente faz na perua escolar, junto com as crianças, a oração pela Paz Mundial.
190 No catolicismo sua compreensão mudou. Em seu entender, na igreja católica não falam sobre o uso da palavra. “Falam da palavra de Deus, mas não sobre a concretização. Para ver a palavra e, mentalizando, e ver a Verdade. Eles falam para preencher o horário.” Em relação aos problemas e ao uso dos ensinamentos aprendidos, ela conta uma experiência. Teve uma doença chamada síndrome do torno de carpo, que ocasiona fortes dores na mão. “Em 28/12/2003 fui participar na sede central do Ooharai, purificação dos alimentos, e foi a primeira vez que ouvi a sutra sagrada. A palavra penetrou e não mais tive dor. Estou praticamente melhor.” Ela disse que ficou toda a palavra em sua mente. Com o que aprende na Seicho-No-Ie ela seconscientiza em manter uma mente tranqüila e o corpo também. N.R.S. relatou também que em 1/2/2005 fez uma cirurgia no dedo devido a um corte com vidro, mas está otimista. “Eu sei que a recuperação será lenta, mas chegará.” Essa senhora falou também sobre a importância dos símbolos para ela. “Na Seicho-No-Ie, gostaria que falassem mais sobre o símbolo (da Seicho-No-Ie), pois acho importante. Sol representa o xintoísmo, Lua, o budismo, e a estrela, o catolicismo. No catolicismo sou contra a imagem da cruz, do Cristo crucificado. Na minha casa não tem (crucifixo). Nossa mente deve focalizar a parte positiva.” Para finalizar falou sobre a sua relação com a Bíblia e a Seicho-No-Ie. “Lia sempre a Bíblia, agora leio mais os livros da Seicho-No-Ie. Como foi dito na palestra (tinha saído de uma naquele instante), ela sabe que tudo que está ali (nos livros da Seicho-No-Ie); está fundamentado na Bíblia e está mais explicado.”
191
- Anexo III – NORMAS FUNDAMENTAIS DOS PRATICANTES DA SEICHO-NO-IE253 1ª- Agradecer a todas as coisas do Universo. 2ª- Conservar sempre o sentimento natural. 3ª- Manifestar o amor em todos os atos. 4ª- Ser atencioso para com todas as pessoas, coisas e fatos. 5ª- Ver sempre as partes positivas das pessoas coisas e fatos e nunca suas partes negativas. 6ª- Anular totalmente o "ego". 7ª- Fazer da vida humana uma vida divina e avançar crendo sempre na vitória infalível. 8ª- Iluminar a mente, praticando a Meditação Shinsokan todos os dias sem falta.
253 TANIGUCHI, M. Shinsokan e outras Orações. Tradução Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo, Seicho-NoIe do Brasil, 29ª edição, 2000. p.39
192
- Anexo IV – PALAVRAS DE SABEDORIA PARA A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS254 *
Elogiar e confiar, para despertar a potencialidade infinita que se aloja na criança.
*
Filho revoltado ama os pais; ele quer o amor dos pais.
*
A mãe sábia educa o filho com sorrisos, e a tola implanta a revolta com reclamações.
*
O filho muda quando mudam os pais.
*
Os pais educam pelo exemplo, antes que pelo falar.
*
O sorriso, as palavras de amor e o elogio melhoram a criança.
*
A criança cresce na direção em que for elogiada.
*
Bons filhos formam-se num lar alegre.
*
Criança feliz estuda voluntariamente.
*
O seu filho não é seu; ele é filho de Deus.
*
Amar, louvar e, confiante, libertar.
254 TANIGUCHI, M. Shinsokan e outras Orações. Tradução Seicho-No-Ie do Brasil, São Paulo, Seicho-NoIe do Brasil, 29ª edição, 2000. p.42-43
193
- Anexo V – CANÇÕES DA SEICHO-NO-IE A paz invadiu o meu coração Por Edu Casanova/ Benny Manfredini / Fábio Dummer Camargo. Quero paz, quero paz Quero paz, quero paz Para que tanta arma e tanto escudo Nosso tempo aqui já é tão curto Só o que vale a pena é o amor, De que adianta ser mais forte Conhecer a glória e a morte Trocando a vida pela dor Mas a esperança não está perdida Mas a esperança não está perdida Deus ensina a paz e o perdão Basta perdoar, todos verão Um novo horizonte irá se abrir Tudo ao redor se acalmará Aberta nova porta para brilhar O nosso sonho um dia vai surgir Esse mundo tem uma saída Esse mundo tem uma saída Tenho a paz em minhas mãos A paz invadiu o meu coração Sou todo perdão, amor e fé
194
Aqui descobri que todos podem Na associação dos jovens Aprendi que o meu destino é... Viver a paz em minha vida Viver a paz em minha vida Farei da minha vida a própria paz Descobrindo Deus eu sou capaz De despertar a paz em cada ser Basta você abrir o coração A paz está agora em suas mãos Ela está em mim, está em você, Canta a paz, Seicho no Iê Viver a paz em minha vida Viver a paz em minha vida Viver a paz está em você Sou a paz, eu sou a Seicho no Iê Viver a paz é estar aqui Sou a paz, eu sou AJSI Viver a paz está em você Sou a paz, eu sou a Seicho no Iê Viver a paz é estar aqui Sou a paz, eu sou AJSI Viver a paz está em você Sou a paz, eu sou a Seicho no Iê
195
Mundo Ideal é você quem faz Por Michel Sideratos. O mundo que se mostra Vem de tantas formas Perguntas sem respostas A vida se transforma Cada vez mais O belo e o feio O fraco e o forte Coragem ou receio Destino ou mera sorte A dúvida nos traz A fome e a fartura Espírito e matéria É prazer ou é tortura Buscar riqueza e ver miséria A esperança se desfaz O sonho que me leva Na pressa da cidade Busca a luz ou cedo à Treva O que é a tal verdade Já não sei o que é demais Mas levanto meu olhar Olho a minha volta Alguém vem me falar De um mundo sem revolta
196 Com mãos especiais E sinto nos meus passos Que tenho as respostas Associação dos jovens Que vem e abre as portas E já me sinto em paz Agora sou feliz Além do bem e o mau Porque Deus é Quem me diz Que o mundo ideal É você quem faz (4x)
Oh! Mocidade Pela Associação de Jovens do Japão I Mocidade do Brasil, cante o hino de louvor Desta terra colossal, desta pátria amada. Oh! Mocidade, mocidade! Eia, avante, mocidade brasileira! Unidos, levantemo-nos, levantemo-nos! II Enalteça, mocidade, a nobreza d´alma Deste povo generoso e a sua glória. Oh! Mocidade, mocidade! Eia, avante, mocidade brasileira! Unidos, levantemo-nos, levantemo-nos! III
197 Buscam todos paz no mundo ansiosamente Para tanto despertemos mais amor no Coração. Oh! Mocidade, mocidade! Eia, avante, mocidade brasileira! Unidos, levantemo-nos, levantemo-nos!
Hino dos Jovens da Seicho-No-Ie Por Masaharu Taniguchi. Os filhos de Deus de alma juvenil Abençoados por Deus onipotente, À terra desceram a fim de cumprir Sublime missão de Deus recebida; A fim de trazer ao mundo presente A imagem fiel do belo mundo dos sonhos, Do reino de Deus de suma perfeição, Levantam-se já, decididamente. Nas grandes mãos de Deus protegidos E seu coração vibrando de alegria, Os jovens encontram somente viva a luz Em todo lugar por onde eles avançam Com resolução; a treva desaparece Em todo lugar por onde eles avançam Os filhos de Deus encontram só a luz Os filhos de Deus encontram somente luz. Tal qual luz do sol que surge radiante, Tal qual o verdor que cresce vigoroso, Os filhos de Deus de alma juvenil
198 Da Seicho-No-Ie, agora recebendo De nosso Senhor a sua sabedoria, A força de Deus agora recebendo, Qual vela no mar recebe vento forte Levantam-se já, sustentando a pátria
Marcha da Missão Por Masaharu Taniguchi. Esta vida que objetivo terá Esta humanidade que significa Sem conhecermos a finalidade Que valor tem a nossa vida Que valor tem a nossa vida De Deus nosso senhor esta vida recebemos Para a mais alta realização Nós nascemos com uma finalidade Que valor teremos se não a cumprirmos Que valor teremos se não a cumprirmos A caridade é o ato de nosso dever Deus é Amor que somente dá Seu ensinamento nós seguiremos Dedicando-nos à caridade Dedicando-nos à caridade Somente os que vivem para esta missão Conhecem o prazer que nós recebemos A fé fortificando levantemos Purificando a alma avante Purificando a alma avante
199
Viver junto com Deus Por Masaharu Taniguchi. I Oh! Pai eterno, meu Pai eterno, Sois minha mãe também, oh! meu Deus, Em voz alta, muito alta, quero louvar-Vos. Oh! Senhor eterno, oh! meu Senhor, Estais Vós comigo, oh! meu Deus, Com bastante devoção quero contemplar-Vos. II Sozinho eu vim e eu sozinho Parece que eu vivo, porém somos dois; É a outra pessoa constituída por Deus. Tendo Deus o poder do verbo criador, Um templo de carne Ele originou E em seu interior fez minha alma morar. III A grande Vida de Deus é minha vidam É a vontade de Deus, vontade minha. Sempre protegido estou, a alma abençoada, De corpo e alma filho de Deus sou. Imensa pureza é minha vida. Quanta harmonia no meu pensamento! IV Deus e filho de Deus juntos vivem, Amam-se uns aos outros os filhos de Deus.
200 Agora aqui é céu, aqui é paraíso. Os moradores sempre saudáveis, Com mente alegre, felizes dançam. Agora aqui é céu, aqui é paraíso.
Canção à Primavera Por Masaharu Taniguchi. I Chegou a primavera em toda a parte, Chegou a primavera dentro de mim. A primavera chegou aqui, dentro e fora. Despertando, canta Deus no meu coração, Canta Deus a primavera radiosa. Chegou a primavera jubilosa. Chegou a primavera cheia de amor. II Alegre primavera luminosa, A todas as pessoas alegre sorrir. Amor de Deus no meu olhar, puro e imenso amor. Nas palavras carinhosas o saber de Deus. Vivo agora a eterna Vida de Deus. Com mente luminosa vamos sorrir, Com mente radiosa vamos sorrir. III O Deus da minha alma despertando Eu vejo em todos homens o filho de Deus. Já despertei da ilusão do passado triste, Renascendo glorioso para nova Vida.
201 É aqui o paraíso, reino de Deus. No mundo iluminado vamos cantar, Alegre primavera vamos cantar.
Universo Magnificiente Por Masaharu Taniguchi. I Solene Natureza majestosa, Universo eternamente grandioso, Contemplando o firmamento infinito Mil estrelas na Galáxia vejo cintilar. II Imensa, imensa sabedoria de Deus! Infinita, infinita força de Deus! Misterioso o poder que controla As distâncias que separam as estrelas mil. III Nem cientistas conseguem esclarecer O que rege a gravitação Universal. Apesar de parecer misterioso É a concretização do amor de Deus. IV Oh! Amor divino, oh! Amor de Deus! Preenche o Universo magnífico, Realiza este mundo grandioso O que une os seres todos é o amor de Deus.
202 V Este Universo magnífico Não existiria sem o imenso amor de Deus. Nem este belo mundo de harmonia Onde vivem como irmãos os filhos de Deus. VI Oh! Deus, fonte da minha vida! Sua força vivifica todo filho de Deus. Eu vivo agora, aqui, o amor de Deus. Eu vivo agora, aqui, a vida de Deus.
Canto da Vida Imortal Por Masaharu Taniguchi. I Nasci recebendo a Vida grandiosa, A Vida de Deus indestrutível, Que é universal – é assim que eu nasci. II No meu interior trazendo a Vida Que jamais morrerá, eu vim a este mundo E venero o meu ser como santo filho de Deus. III Do onisciente e onipotente Deus-Pai recebi Sua sabedoria, Sua força e amor, e aqui estou vivendo. IV
203 Quem ousa chamar de ser destrutível O filho de Deus, o filho que nasceu Com Vida imortal emanada do Supremo? V Eterno eu sou, eu sou Vida Imortal Provinda de Deus, jamais perecerei. Quanto é sublime o amado filho de Deus! (bis) VI A Vida de Deus em ti eu venerarei. A Vida de Deus em mim eu adorarei. Quanto é sublime o amado filho de Deus! (bis)
Canto para Consolidar a Fé Por Masaharu Taniguchi. I Eu ouço a voz que soa no meu interior, “Busca sempre a luz! Sossega-te e segura firma a minha mão, Pois tudo aqui é Bem. E tudo sendo Bem, o agora eterno vives, Sempre protegido. Aqui no paraíso meu amparo terás, Na luz sempre viverás. Ninguém nem nada vai poder te arrebatar, Porque Eu, o ser grandioso, te envolvo em Meus braços”. II
204 Eu ouço a voz que soa no meu interior: “Onde quer que vás Eu sempre te protejo, sempre te oriento, Em todos os momentos. Portanto a qualquer hora e em todos os lugares, Tu sempre serás completamente puro. Nada te faltarás – o rumo não perderás Eu sou o Deus que habita dentro de ti; Minha proteção terás, nunca hei de faltar.”
Canto para Contemplar a Imagem Verdadeira (Jisso ) Por Masaharu Taniguchi. I O Senhor é tudo em tudo Deus é perfeita Vida, Deus é perfeita sabedoria, Deus é o perfeito e puro amor. Dentro de todos os seres Vive a Vida do Criador Vive o Saber do Criados Vive o Amor de Deus, Criador. Porque Deus é tudo em tudo E porque todos são um só ser, A única força universal Vivifica todos os seres. Porque Deus é o Único Criador De tudo no céu e na terra,
205 O universo é preenchido De harmonia suprema. Aqui é sublime mundo de Deus. O meu ser é todo Jissô, filho de Deus, Tudo é bela harmonia O mundo do Jissô é só luz. II Porque Deus é a Vida universal E porque Deus é o amor imparcial E porque eu sou filho de Deus, A todos os seres vivifico E todos vivificam o meu ser. Porque Deus é o amor imparcial E porque eu sou filho de Deus, A todos os seres eu amo E todos os seres me amam. Porque Deus é sabedoria E porque eu sou filho de Deus, A todos os seres eu conheço E todos eles me conhecem. Porque Deus é tudo em tudo E porque eu sou filho de Deus, Se oro, o mundo me responde E se move quando eu me movo. Aqui é sublime mundo de Deus,
206 O meu ser é todo Jissô, filho de Deus, Tudo é bela harmonia. O mundo do Jissô é só luz.
Canção da Provisão Infinita Por Masaharu Taniguchi. I Outrora eu só via a pobreza em minha Vida e sofria na ilusão. Mas agora despertei e a Verdade descobri (bis) As riquezas do Universo pertencem a Deus (bis) II Outrora eu estava em ilusão e não sabia que Era filho de Deus. Mas agora despertei e junto a ele retornei (bis) E agora compreendi que sou filho de Deus (bis) III Riquezas no céu e riquezas na Terra, Tudo isso Deus criou. E todos os recursos que Ele criou (bis) Foram dádivas legadas ao filho de Deus. (bis) IV Deus Pai concedeu como herança ao seu filho Tudo o que ele tem. E o reverenciou dizendo: “Tu és meu herdeiro”. (bis) Eu já sou um rico e próspero filho de Deus. (bis)
207 V Eu já sou muito rico. Deus é fonte de Riqueza e de infinita provisão E toda essa riqueza já pertence a mim. (bis) Eu já sou um rico e próspero filho de Deus. (bis)
Hino da Associação Pomba Branca Por Masaharu Taniguchi. A pomba branca é divina mensageira, É anjo de paz descendo agora lá do céu. A pomba branca, no céu e na terra, Espalha alegria por onde quer que vá. (bis) Voando com as asas qual neve, tão alvas, A pomba branca vai e semeia neste mundo A ordem real do mundo celeste, A bela harmonia do reino de Deus. (bis) A filha de Deus, eterna mulher, E o filho de Deus, eterno homem, São os pombos brancos que juntos, com Amor, O ninho constroem e criam seus filhos. (bis) A pomba branca é o símbolo nosso. Avante! Vamos nós mulheres, vamos juntas, Voando com as asas refletindo luz, Construamos nós a base para a paz. (bis)
Canção em Louvor às Pombas Brancas Por Masaharu Taniguchi.
208
I As pombas brancas são Deusas do Amor Unidas voam cândidas Deusas do Amor Percorrendo todos os países do mundo Propagam amplamente pensamentos de Amor II As pombas brancas sublimes anjos da paz Em bandos voam sublimes anjos da paz Voando alto pelo céu imenso e azul Enviam fortes pensamentos de paz III As pombas brancas pelo céu seguem voando Por onde passam felizes pombas brancas O sentimento de amor propagará E o caminho se abrirá para a paz IV Oh! Pombas brancas como são meigas e dóceis Alvura sua exprime sua beleza Abrindo suas asas imaculadas Conduzem ao amor toda a humanidade V As pombas brancas são mensageiras do céu Só alegria trazendo para a terra Transportam a verdade a cada lar E abrem caminho para a felicidade
209
Canção da Mãe que Educa o Filho com Amor Por Masaharu Taniguchi. Guiado pelas mãos de Deus Hoje e também amanhã Caminha dentro da luz, O meu querido filho
Hino Sagrado “Louvor a Mulher” Por Masaharu Taniguchi. Mulher Oh! Mulher! Sublime é ser mulher, Com seu puro amor! No céu e na terra, ela é mãe, Mãe de todos nós, Mãe da Humanidade.
210
- Anexo VI – EMISSORAS DE TV QUE TRANSMITEM O PROGRAMA DA SEICHO-NO-IE255 Rede TV De 2ª a 6ª feira das 1h30 às 2h
TV Bandeirantes / RS Porto Alegre Todos os domingos às 9h
TV Araucária / PR Guarapuava Toda 2ª e 6ª feira das 20h às 20h30
TV União / SP São João da Boa Vista Todas as terças-feiras das 20h às 20h30
Santa Cecília TV / SP Santos De 2ª, 4ª e 6ª feira à 1h15 da madrugada
TV Japi – Mais TV Toda 3ª feira às 14 h com reprise na 4ª feira às 22 h
TV Rede TV Sul / SC Todos os sábados das 08h30 às 09h e toda 2ª, 4ª e 6ª a partir das 2h da madrugada.
TV Vitoriosa / SBT – MG Uberlância Todos os sábados das 13h às 13h30
SBT (parabólica) De 2ª, 4ª e 6ª feira às 7h
255 Revista Pomba Branca, São Paulo, Seicho-No-Ie do Brasil, nº 249, ano 22, abril de 2006, p.22.
211
Canal 10 – PR Maringá De 2ª a 6ª feira das 15h30 às 16h
Rede 21 Aos sábados das 8h às 9h da manhã
TV Bandeirantes / GO Goiânia De 2ª a 6ª feira das 6h30 às 7h
TV Tropical / PR Londrina Todos os sábados às 8h30
TV Comunitária / PR Curitiba Todas as quartas-feiras às 23h
TV RBI Todo domingo das 8h às 9h
TV Rauland / PA Todos os sábados das 8h às 9h
Rede TV – Ronndônia Todo sábado das 8h às 9h
TV Aratu – SBT / BA Salvador Todos os sábados das 8h às 8h30
TV Comunitária – SP Bauru Toda 2ª feira das 21h30 às 22h Toda 3ª feira às 9h.
212 - Anexo VII -
LOCAIS DE REUNIÕES DA SEICHO-NO-IE256 Sede Central: Av. Engº Armando de Arruda Pereira, 1266 – CEP 04308-900 – Fone: (0xx11) 5014-2222
P: Divulgação em Português
J: Divulgação em Japonês SÃO PAULO
CAPITAL / GRANDE SÃO PAULO P/J: Aricanduva / São Paulo 6: R. Engº Guilherme Cristiano Feldner, 880 – CEP 03477000 – Fone/fax: (11) 6727-4896 – Fone: (11) 6724-6361 P: Guarulhos: R. Barão de Mauá, 501 – Centro – CEP 07012-040 – Fone/fax: (11) 64613894 P: Jabaquara: R. Cipriano Barata, 2669 – Ipiranga – Fone: (11) 6161-3940 – Fax: (11) 6161-6179 P: Lapa: R. Domingos Rodrigues, 257 – CEP 05075-000 – Fone/ Fax (11) 3641-5076 P/J: Mogi das Cruzes/ Central 2: R. Engº Eugênio Motta, 69 – CEP 08730 – Fone: (11) 4727-6499 – Fone/fax: 4724-8735 P: Osasco: R. Avelino Lopes, 359 – Bairro Centro – CEP 06090-035 – Fone/fax (11) 36821822 P: Penha: R.DR. Almeida Abade, 2B – Jardim Jaú – CEP 03730-050 – Fone/fax (11) 66413236 P/J: Pinheiros/São Paulo2: R. Amaro Cavalheiro, P:73/J:205 – CEP 05425-010- Fone/fax: P:(11) 3815-2891- J: (11) 3812-6186 – Fone/fax (11) 3815-2218 P/J: Rio Bonito/ São Paulo 3: Av. Senador Teotônio Vilela, 3065 – CEP 04801-010 Fone/fax (11) 5661 -3675
256 Revista Fonte de Luz , São Paulo, Seicho-No-Ie do Brasil nº 435, ano 61, p. 17-18.
213 P: Santana: R. Alfredo Pujol, 196 – Santana – CEP 02017-000 – Fone/fax: (11) 69774725/ 6959-2929 P: Santo Amaro: Av. Adolfo Pinheiro, 1136 – CEP 04734-002 – Fone/ fax (11) 5521-7621 P/J: Santo André/ABC: R. Siqueira Alves, 88 – Casa Branca – CEP 09015-400 – Fone/ Fax (11) 4972-2513 P: São Bernardo do Campo: R. Aguapés, 160 – Vila Vivaldi – CEP 09741-140 – Fone (11) 4367-2518 P: São Miguel Paulista: R. Tem. Miguel Delia, 24 A – S. 4 – CEP 0821-090 – Fone (11) 6137-1892 – Fax (11) 6297-2751 J: São Paulo 1 : R. Ibituruna, 595 – Parque Imperial – CEP 04302-052 – F: (11) 5584-8434 – Fone/fax (11) 275-1469 J: São Paulo 4 : R. Tem. Miguel Delia, 24 A – São Miguel Paulista – CEP 08021-090 – Fone: (11) 6297-2751 J: São Paulo 5 : Av. Imirim, 2084 – Imirim – CEP 022464-300 – Fone: (11) 6236-6249 P: Vila Prudente: R. DR. Sanarelli, 178 – CEP 03137-000 – Fone/fax (11) 273-0153 INTERIOR P/J: Araçatuba/Noroeste 1: R. Dr. Luiz Nogueira Martins, 470 – CEP 16025-025 – Fone/fax P: (18) 3623-1088 - J: (18) 3623-8172 P: Araquara: Av. Jorge Haddad, 1150 – jd das Estações – CEP 14810-244 – Fone/Fax (16) 3339-4424 P: Araraquara 2 : R. Cel. Pires Penteado, 29 – Monte Alto – CEP 15910-000 – F: (16) 342-3379 P/J : Atibaia/ SP- Norte 2: R. João Pires, 848 – CEP 12940-500 – Fone: (11) 4412-0823 P/J : Barretos/Araraquara 3: Av. Nove, 14444-CEP 14783-072 – Fone/fax: (17) 33228494 Fone: (17)3322-9865 P/J: Bauru/Noroeste 2 : R. Monsenhor Claro,5-35 – CEP 17015-130 – Fone: (14) 2342233-Fax (14) 226-2799 P/J: Campinas/SP-Norte 1: R. Nazaré Paulista, 750 – Cep 13094-610 – Jardim Paineiras – Fone: (19) 3251-7234 – Fax: (19) 32512-6629
214 P/J: Dracena/Paulista 2: R. Tomé de Souza, 324 – Cep 17900-000 – P: (18) 5822-4224-J: (19)252-6629 – Fax: (18) 252-6629 P: Guaratinguetá: R. Alberto Torres, 121 – V. Paraíba – CEP 12500-000 – F: (12) 31253034 P: Marilia : Av. Nelson Spielman, 1336 – CEP17509-002 – Fone: (14) 43308930 – Fax: (14)424-4066 P/J: Ourinhos/ Sorocabana 2 : R. Maranhão,424 – CEP 19900-000 – Fone/fax: (14) 3322-1328 P: Paulista 1 : R. Cainganga, 34 – Tupã – CEP 17600-080 – Fone: (14) 442-4333 P/J: Presidente Prudente/ Sorocabana 1: R. Araquara, 41 – CEP 19014-020 – Fone: (18) 222-05931 – Fax: (18) 222-5933 – J: Fone: (18) 223-1235 P: São Paulo Sul: R. Euforbiáceas, 98 – Registro – CEP 11900-000 – Fone: (13) 38211783 J: (13) 3822-0328 P: Ribeirão Preto: R. Mariana Junqueira, 587 – s. 1 – Centro – CEP 14015-010 Fone/fax: (16) 636-8704 P/J: Santos/Santos: R. Leonardo Roitman, 17 – CEP 11075-251 – Fone (13) 3232-6687 Fax: (13) 3238-2488 P: São João da Boa Vista: R. Benjamim Constant, 150 – Centro – CEP 13870-000 – Fone/fax: (19) 3633-1507 P/J: São José do Rio Preto/ Araraquara 1: Av. da Constituição, 1287 – CEP 15025-120 – Fone/fax: (17) 233-8877 P/J: São José dos Campos/ Central 1: Engº Prudente Meirelles de Moraes, 501 – S.A- L – V. Andy‟Ana – CEP 12243-750 – Fone/fax: (12) 3923-3933 P/J: Sorocabana/ SP.- Sudoeste : Av. Comendador Pereira Inácio, 700 – Jd Emilia – CEP 18031-000 – Fone: (15) 232-6895 – Fax: (15) 232-3318
ALAGOAS P: Maceió: R. Dom Santino Coutinho, 77 – B. Farol – CEP 57050-070 – Fone: (82) 2217873 – Fax: (82) 336-7553
AMAZONAS
215 P: Manaus: Av. Ayrão, 1020 – CEP 69025-050- Fone: (92) 232-6379/233-9403
BAHIA P: Feira de Santana: R. Barão de Cotegipe,1827 – CEP 44026-420 – Fone/ fax: (75) 2230828 P: Ilhéus: R. da Linha, 156 – Barra de Itaipe – CEP 45650-000 – Fone/ fax: (73) 231-7989 P: Salvador – Barris: R. General Labatut,48 – CEP 40070-100 – Fone: (71) 3283744/328-7229 – Fax: (71) 328-7420 P: Itamaraju: Pça. Das Nações Unidas, 284 – CEP 45836-000 – Fone/fax: (73) 294-3280 P: Salvador-Pituba: Av. Prof. Magalhães Neto, 22 – CEP 41820-020 – Fone/fax (71)2407607
BRASÍLIA P: Distrito Federal: EQS 403/404 – Área Especial para Templo Brasília – CEP 702370400 – Fone: (61) 325-2680 – Fax: (61) 325-2681 P: Brasília: EQS 403/404- Área Especial para Templos Brasília - CEP 70237-400 – Fone (61) 224-6678/323-6435
CEARÁ P: Fortaleza: R. Waldery Uchôa, 72 – Bairro Benfica – CEP 60020-110 – Fone/Fax: (85) 226-9080
ESPÍRITO SANTO P: Vitória: R. Bertino Borges, 144 – Bairro Antônio Honório - CEP 29070-815 – Fone: (27) 3327-6837 – Fax: (27) 3327-0992
GOIÁS P: Goiânia: R. 281, 34 – Setor Coimbra – CEP 74535-520 – Fone: (62) 293-1145 – Fax: (62) 293-9296 J: Goiás: R. Número 1, 10 – Vila Bandeirante – CEP 74615-050 – Fone: (62) 202-4965
216
MARANHÃO P: Imperatriz: R Tupinambá, 2616 – CEP 65901-370 – Fone/Fax: (99) 524-7762 P: São Luís: Av. A, 12 – Qd. 7 – Maranhão Novo - CEP 65061-070 – Fone/fax: (98) 2367661
MATO GROSSO P: Alta Floresta: R. D-1,107 – C.P. 380 – CEP 78580-000 – Fone: (65) 521-3657 P: Cuiabá: Trav. Joaquim da Costa Siqueira, 71 – CEP 78005-740 – Fone (65) 3216872/321-6875 – Fax: (65) 321-6587
MATO GROSSO DO SUL P/J: Campo Grande/ Mato Grosso do Sul 1:Ant. Mª Coelho, 1119 - CEP 79002-221 – Fone: (67) 382-6743 – Fax: (67) 382-1341 P/J: Dourados/ Mato Grosso do Sul 2 : R. Monte Alegre, 2270 – CEP 79825-040 – Fone (67) 421-8083 – Fax: (67) 421-9216
MINAS GERAIS P: Belo Horizonte/ Caiçara: R. Cel. Antonio Junqueira, 130 – CEP 31230-300 – Fone: (31)3411-6959/3411-7411- Fax: (31) 3411-6376 P: Belo Horizonte/ Paraíso: R. José Lavarine, 391 – Paraíso – CEP 30270-220 – F. (31) 3461-1501/3461-5147 – Fax: (31) 3482-7400 P: Governador Valadares: R. Benjamin Constant, 456 – 1º and.- Centro – CEP: 35010060 – Fone: (33) 3221-2635 P: Juiz de Fora: R. Nair de Castro Cunha, 155 – B. Cascatinha – CEP 36033-260 – Fone: (32) 3236-2320 P: Montes Claros: R. José Rodrigues de Carvalho, 265 – B. São José – CEP 39400-376 – Fone: (38) 3221-4464/3221-4562 P: Uberlândia: R. Olegário Maciel, 2500 – CEP 38408-384 – Fone: (34) 3210-9153 – Fone /fax :(34) 3214-3893
PARÁ
217 P: Belém: Av. Generalíssimo Deodoro, 675- CEP 66055-240 – Fone/fax: (91) 224-5579 P: Pará: Av. Conselheiro Furtado, 1574 , apto.1201 – Belém – CEP: 66040-100 – Fone: (91) 222-7653 (res.) (91) 235-1886(com)
PARAÍBA P: João Pessoa: Av. Dom Pedro II, 702 – Centro – CEP 58013-420 – Fone (83) 222-4835 – Fax: (83) 222-6803
PARANÁ P/J: Curitiba/ Paraná 5 : Av. Prof. Erasto Gaertner, 1833 – C.P. 4334 – CEP 82515-000 – Fone (41) 356-1414 – Fax: (41) 356-1460 P: Francisco Beltrão: R. Tenente Camargo, 910 – C.P. 76 – Pres. Kennedy – CEP 85605090 – Fone/fax: (46) 524-1825 P: Foz do Iguaçu: R. Castelo Branco, 1015 – CEP 85851-020 – Fone/fax: (45) 3025-2012 P/J: Londrina/ Paraná 1: R. Paranaguá, 2018 – Vila Higienópolis – CEP 86015-30 – Fone: (43) 3322-3479 – Fax: ( 43) 3321-4971 P/J: Maringá/ Paraná 2: R. Mal. Deodoro. 611 – Zona 7 – CEP 87030-020 – Fone/Fax:(44) 227-3977 P/J: Paranavaí/Paraná 3: R. Rio Grande do Norte, 1600 – CEP 87701-020 – Fone: (44) 423-5531 P/J: Umuarama/Paraná 6: Av. Flórida, 3889 – C.P. 198 – CEP 87501-220 – Fone/fax: (44) 624-0709 P/J: Wenceslau Braz / Paraná 4: R. 19 de Dezembro,70 – CEP 86500-000 – Fone: (43) 528-1253
PERNAMBUCO P: Recife: R. Riachuelo, 419 – CEP 50050-400 – Fone/fax: (81) 3222-1402
PIAUÍ P: Teresina: R. Clodoaldo Freitas, 1690 – Centro/ Norte – CEP 64000-360 – Teresina – Fone/fax: (86) 221-2267
218
RIO DE JANEIRO P: Niterói: Al. São Boaventura, 193 – 193 – Bairro Bairro Fonseca – Fonseca – CEP CEP 24130-000 – 24130-000 – Fone: Fone: (21) 26270089 – 0089 – Fone/fax: Fone/fax: (21) 2625-4442 P/J: Rio de Janeiro – 89 – CEP CEP 22211-200 – 22211-200 – Janeiro – Catete/ Catete/ Rio de Janeiro 1: R. Pedro Américo, 89 – Fone: (21) 2205-9697 / 2556-1046 – 2556-1046 – fax fax : (21) 2285-4315 P: Rio de Janeiro – Copacabana – S. 507 – 507 – CEP CEP 22080-010 – 22080-010 – – Copacabana: R. Francisco de Sá, 23 – S. Fone: (21) 2287-4299 – 2287-4299 – Fone/Fax: Fone/Fax: (21) 2287-0447
RIO GRANDE DO NORTE P: Natal: R. Monsenhor João da Mata, 29 – 29 – Lagoa Lagoa Nova – Nova – CEP CEP 59075-020 – 59075-020 – Fone/ Fone/ fax: (84) 231-1213
RIO GRANDE DO SUL P: Caxias do Sul: R. Pedro Reimondi, 76 – Bairro São Leopoldo – CEP 95097-570 – Fone/fax: (54) 213-3955 P: Ijuí : R. Sete de Setembro, 987 – 987 – CEP CEP 98700-000 – 98700-000 – Fone/fax: Fone/fax: (55) 3332-5688 P: Novo Hamburgo: Rua Tupi, 1285 – 1285 – Bairro Bairro Centro – Centro – CEP CEP 93320-050 – 93320-050 – Fone/fax: Fone/fax: (51) 593-7599 P: Passo Fundo: Rua Capitão Eleutério, 179 – 179 – Ed. Ed. Res. Topázio - CEP 99010-062 – 99010-062 – Fone: Fone: (54) 311-3750 – 311-3750 – Fone/fax: Fone/fax: (54) 311-4560 P: Porto Alegre – 129 – CEP CEP 91350 – 91350 – 130 130 – – Fone: Fone: Alegre – Passo Passo D’areia: R. Bezerra de Menezes, 129 – (51) 3341-3989 – 3341-3989 – Fax: Fax: (51) 3362-7039 P: Porto Alegre – Rio – Rio Branco: Av. Mariante, 1005 – 1005 – CEP CEP 90430-181 – 90430-181 – Fone: Fone: (51) 33318112 – 8112 – Fax: Fax: (51) 3332-4487
RONDÔNIA P: Cacoal: Rua Duarte de Caxias, 1862 – 1862 – CEP CEP 7875-000 – 7875-000 – Fone/ Fone/ fax: (69) 441-4948 P: Porto Velho: R. Herbert de Azevedo, 1846 – CEP 78902-210 – Fone: (069) 2233919/229-1728
219 P: Rondônia: Cx. Postal, 153 – 153 – Colônia Colônia 13 de Setembro – Setembro – CEP CEP 78900-970 – 78900-970 – Fone: Fone: (069) 221-3837
SANTA CATARINA P: Criciúma: Av. Presidente Prudente, s/nº - São Luiz – CEP 88803-210 – Fone/fax: (48)433-7905 P: Florianópolis: R. Profª Rosinha Campos,349 – Campos,349 – CEP CEP 88085-160 – 88085-160 – Fone: Fone: (48) 348-7656 – 348-7656 – Fone/fax: (48) 248-5977 P: Joinvile: Av. José Vieira, 1228 - CEP 89204-110 – 89204-110 – Fone/fax Fone/fax (47) 472-0855 – 472-0855 – Fone: Fone: (47) 472-1389 P: Xanxerê: R.Cel. Passos Maia, 497 – 497 – C.P. C.P. 132 – 132 – CEP CEP 89820-000 – 89820-000 – Fone/Fax: Fone/Fax: (49) 4331444
SERGIPE P: Aracaju: Rua Siri, 1005 – 1005 – CEP CEP 49010-040 – 49010-040 – Fone/fax: Fone/fax: (79) 214-3011
EXTERIOR P: Argentina: Darragueyra, 2240, Capital Federal – (1425) Buenos Aires – Tel/fax: (00541) 14782-4741 – 14782-4741 – Fone/Sede: Fone/Sede: (14) 773-7931 P: Bolívia: Urbanizacion El Castilho Núcleo – F. 91 – Cochabamba – Bolívia – Fone: (005914) 427-1072 P: Canadá: 662 Victória Park Ave Toronto- On M4C5H4 – M4C5H4 – Canadá – Fone: (416) 6908686- Fax: (416) 690-3917/ 305 East 16th Ave Vancover, B.C. V5T2T7 Canadá – Canadá – Fone: Fone: (604) 876-8116 P: Chile:Diagonal Paraguay, 360, Block 25, Local 3 – Santiago – Chile – Fone/fax: (00562) 6345-5392 P: Colômbia: Calle 30, Nº 15-21 – Palmira Palmira (Valle) – Colombia – Colombia – Fone/fax: (05722) 728121 P: Estados Unidos: 14527 South Vermont Ave-Gardena, CA, 90247 – 90247 – USA USA – – Fone: Fone: (310) 323-8486, (323) 321-4833 – 321-4833 – Fax: Fax: (310) 323-2404- P/ 247 EAST 53 rd Street-New York – – NY 10022, U.S.A – U.S.A – Fone: Fone: (212) 371-5533
220 P: Havaí : 1333 Matlock Avenue – Avenue – Honolulu Honolulu – – Havaí Havaí - 96814 – Fone: – Fone: (808) 537-6965 P: Japão: 1-23-30- Jingumae – Jingumae – Shibuya-ku-Tokyo 150-8672 – 150-8672 – Japan – Japan – fone: (03) 34010131 P: México: Manuel J. Othon, 94 A – A – Col Col Obrera – Obrera – 06800 06800 – – México México – – D.F. D.F. – – Fone: Fone: (00525) 740-3748 – 740-3748 – Fax: Fax: 761-9608 P:Panamá: Apartado 55-0725 – 55-0725 – Paitilla Paitilla – – Panamá Panamá – – Fone/fax: Fone/fax: (00507) 261-5991 P:Paraguai: Av. Colón, 852 – 852 – Asunción – Asunción – Paraguay Paraguay – – Fone: (0059521) 44-72-79 – 44-72-79 – Fax: (0059521) 49-82-14 P:Peru: Av. Arenales, 1198 – 1198 – Lima Lima 11 – 11 – Lima Lima – – Peru Peru – – Fone: Fone: (00511) 4722-846 - Fax: (00511) 4716-836 P: Portugal: Edifício Copombal – Viaduto Engº Guilherme Gomes Santos, 2º andar – andar – 3100-427 – 3100-427 – Pombal Pombal – – Portugal Portugal – – Fone: Fone: (003561236) 211-629 P: Uruguai: Mercedes, 968 – 968 – apto. apto. 202-C.C. 11.200 – 11.200 – Montevidéu Montevidéu – – Fone: Fone: (005982) 9081301 – 1301 – Fax: Fax: (005982) 522-6420 P: Venezuela: Residências Jardin Tiuna – Calle La Guairita, Bl.27 – URB, Chuao – Caracas- Venezuela – Venezuela – Fone/Fax: Fone/Fax: (002158) 212-991/7594
221 - Anexo VIII -
COLEÇÃO A VERDADE DA VIDA (SEIMEI NO JISSO) 257 Volume 1 – 1 – Introdução / Imagem Verdadeira (I) Volume 2 – 2 – Imagem Verdadeira (II) Volume 3 – 3 – Luz / Vida (I) Volume 4 – 4 – Vida (II) Volume 5 – 5 – Sagrado espírito (I) Volume 6 – 6 – Sagrado espírito (II) / Testemunhos Volume 7 – 7 – Vida cotidiana Volume 8 – 8 – Prática contemplativa Volume 9 – 9 – Mundo espiritual (I) Volume 10 – 10 – Mundo espiritual (II) Volume 11 – 11 – Identidade de todas as religiões (I) Volume 12 – 12 – Identidade de todas as religiões (II) Volume 13 – 13 – Ética (I) Volume 14 – 14 – Ética (II) / Educação Volume 15 – 15 – Diálogos sobre a vida (I) Volume 16 – 16 – Diálogos sobre a vida (II) Volume 17 – 17 – Vida e religião Volume 18 – 18 – Debate sobre assuntos religiosos Volume 21 – 21 – Interpretação da Sutra Sagrada (I) Volume 22 – 22 – Palavras de Sabedoria / Psicanálise Volume 23 – A eterna felicidade / Interpretação da Sutra Sagrada (II) / Debate sobre assuntos religiosos (II)
Volume 24 – 24 – Referências / Perguntas e respostas Volume 25 – 25 – Educação na prática (I) Volume 26 – 26 – Educação na prática (II) búd ica Volume 27 – 27 – A eterna natureza búdica
Seicho-No-Ie, São Paulo, Seicho-No-Ie 257 Livros da Seicho-No-Ie, Seicho-No-Ie do Brasil, nº 5, abril de 2004, p. 6-8.
222
Volume 28 – 28 – A eterna natureza búdica (II) / Testemunhos da Verdade Volume 29 – 29 – Educação da mulher Volume 30 – 30 – Educação de crianças / Preleção sobre escrituras sagradas Volume 32 – 32 – Peças teatrais sacras Volume 33 – 33 – Divina alegria Volume 34 – 34 – Academia Volume 35 – 35 – Iluminação do povo / Recebimento de graças Volume 36 – 36 – Vida Feliz / Recebimento de Graças Volume 37 – 37 – Felicidade (I) Volume 38 – 38 – Felicidade (II) Volume 40 – 40 – Educação no lar
223 - Anexo IX -
LIVROS INFANTIS Os livros voltados ao publico infantil, todos de autoria de Junji Miyaura. 258
1. A Faxineira 2. A Gotinha de Orvalho 3. A Princesinha e o Espelho Mágico 4. A Sementinha de Caju 5. Joãozinho e o Pé de Milho 6. Nem tudo é Lixo 7. O Relógio do Vovô 8. O Velho Poço de Água 9. Pontinhos Luminosos 10. Pozinho Mágico 11. Riqueza não tem fim 12. Tempo é Vida
258 Livros da Seicho-No-Ie, São Paulo, Seicho-No-Ie do Brasil, nº 5, abril de 2004, p. 6-8. .
224 - Anexo X -
SUTRA SAGRADA “CHUVA DE NÉCTAR DA VERDADE”
Masaharu Taniguchi, Ph. D.
CANTO EVOCATIVO DE DEUS Ó Deus-Pai, que dais vida a todos os seres viventes, abençoai-me com Vosso Espírito. Eu vivo, não pela minha própria força, mas pela Vida de Deus-Pai que permeia os céus e a terra. As minhas obras, não sou eu quem as realiza, mas a força de Deus-Pai, que permeia os céus e a terra. Ó Deus, que Vos manifestastes através da Seicho-no-Ie para indicar o Caminho dos céus e da terra, protegei-me.
Chuva de néctar da verdade que a tudo conforta:
REVELAÇÕES DIVINAS DO "ACENDEDOR DOS SETE CANDEEIROS" Reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra. Quando se efetivar a reconciliação com todas as coisas do céu e da terra, tudo será teu amigo. Quando todo o Universo se tomar teu amigo, coisa alguma do Universo poderá causar-te dano. Se és ferido por algo ou se és atingido por micróbios ou por espíritos baixos, é prova de que não estás reconciliado com todas as coisas do céu e da terra. Reflexiona e reconcilia-te. Esta é a razão por que te ensinei, outrora, que era necessário te reconciliares com teus irmãos antes de trazeres oferenda ao altar. Dentre os teus irmãos, os mais importantes são teus pais. Mesmo que agradeças a Deus, se não consegues, porém, agradecer a teus pais, não estás em
225 conformidade com a vontade de Deus. Reconciliar-se com todas as coisas do Universo significa agradecer a todas as coisas do Universo. A reconciliação verdadeira não é obtida nem pela tolerância nem pela condescendência mútua. Ser tolerante ou ser condescendente não significa estar em harmonia do fundo do coração. A reconciliação verdadeira será consolidada quando houver recíproco agradecer. Mesmo que agradeça a Deus, aquele que não agradece a todas as coisas do céu e da terra não consolida a reconciliação com todas as coisas do céu e da terra. Não havendo a reconciliação com todas as coisas do Universo, mesmo que Deus queira te auxiliar, as vibrações mentais de discórdia não te permitem captar as ondas da salvação de Deus. Agradece à Pátria. Agradece a teu pai e a tua mãe. Agradece a teu marido ou a tua mulher. Agradece a teus filhos. Agradece a teus criados. Agradece a todas as pessoas. Agradece a todas as coisas do céu e da terra. Somente dentro desse sentimento de gratidão é que poderás ver-Me e receber a Minha salvação. Como sou o Todo de tudo, estarei somente dentro daquele que estiver reconciliado com todas as coisas do céu e da terra. Não sou presença que possa ser vista aqui ou acolá. Por isso não sou captado pelos médiuns. Não penses que chamando por Deus através de um médium, Deus possa Se revelar. Se queres chamar-Me, reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra e chama por Mim. Porque sou Amor, ao te reconciliares com todas as coisas do céu e da terra, aí, então, Me revelarei. (Revelação Divina da noite de 27 de setembro de 1931.) É chegada a hora. Agora todos os doentes podem se levantar. E chegada a hora em que a doença já não existe para ti. Há dois mil anos, Cristo curou doentes que se achavam á distância com apenas estas palavras: "Seja-te feito conforme tua fé"; e é chegada a hora de esta Verdade ser revelada à humanidade toda. Volve os olhos para os fatos nos quais doentes, mesmo à distância, se curam com a simples leitura das Escrituras Seicho-no-Ie e conhecimento da Verdade. Surge, agora, 'a Seicho-no-Ie perante a humanidade como Sete Candeeiros que profetiza o Apocalipse. Aquele que recebe a Luz da Verdade através destes Candeeiros aniquila os três males - pecado, doença e morte - que têm torturado a humanidade desde a sua expulsão do jardim do Éden citada no Gênesis. Quando se aproxima a Luz, desaparecem as trevas. Quando se aproxima a Verdade, extinguem-se as
226 ilusões. Extintas as ilusões, desaparecem seus frutos: pecado, doença e morte. Recebe Minha Luz sem duvidar. Sou Aquele que acende a luz nos Sete Candeeiros. (Revelação Divina de 15 de janeiro de 1931.)
Sutra Sagrada CHUVA DE NÉCTAR DA VERDADE
DEUS Um dia, o Anjo, vindo à Seicho-no-Ie, recita: O Deus da Criação transcende os cinco sentidos e também o sexto sentido; Sagrado, Supremo, Infinito, Espírito que permeia o Universo, Vida que permeia o Universo, Lei que permeia o Universo; Verdade, Luz, Sabedoria, Amor Absoluto - isto é a Grande Vida. Sendo esta a natureza verdadeira de Deus Absoluto, quando Deus Se revela, realizam-se o bem, a justiça, a misericórdia; por si se instala a harmonia, ajusta-se cada um em seu respectivo lugar
227 e não há dissensões, não há quem lese o próximo, não há quem adoeça, não há quem sofra, não há quem seja miserável. Deus é o Todo de tudo. Sendo Deus o Todo e o Absoluto, nada há além de Deus. Deus cobre toda a Realidade. De tudo aquilo que há, nada há que não tenha sido criado por Deus. Deus, ao criar todas as coisas, não usa barro, não usa madeira, não usa martelo, não usa cinzel, não usa ferramenta nem matéria-prima de espécie alguma; cria unicamente com a Mente. A Mente é o Criador de tudo, a Mente é a Substância que preenche o Universo, a Mente é Deus onipotente e onipresente. Quando a Mente deste Deus onipotente, deste Deus perfeito, entra em vibração e se torna Palavra, desenvolve-se todo Fenômeno e todas as coisas passam a ser. Todas as coisas são Mente de Deus, tudo é Palavra de Deus; tudo é Espírito, tudo é Mente; nada há que seja feito de matéria. A matéria é apenas sombra da mente; ver a sombra e considerá-la Realidade é ilusão. Cuidai para que não vos apegueis à ilusão. A Realidade é Eterna, por isso não perece. A ilusão é efêmera e em breve se desfaz. A Realidade, porque é livre, não conhece sofrimentos; a ilusão, porque é uma forma de apego, é farta de dores. A Realidade é Verdade, a ilusão é falsidade. A Realidade transcende os cinco sentidos, transcende inclusive o sexto sentido e não se projeta à percepção do homem.
ESPIRITO Os sentidos não captam senão projeções da mente. Mesmo que vejais a imagem de um espírito pela vidência,
228 não estareis vendo a Realidade; tudo que podeis perceber através dos sentidos são projeções da mente, e não a Realidade Prima. Existem várias imagens espirituais: existem espíritos doentes, existem espíritos sofredores, espíritos que não têm estômago e sofrem de doença gástrica, espíritos que não têm coração e sofrem de doença cardíaca; tudo isso é ilusão. Se um desses espíritos influenciar alguém, a pessoa influenciada apresentará ou uma doença gástrica, ou uma doença cardíaca. Mas os vários espíritos sofredores que aparecem na vidência não são a Realidade Prima; são sombras de ilusões motivadas por crenças errôneas. A mente que está em ilusão profunda dá forma à sua crença e manifesta uma imagem falsa. Porém, seja qual for o aspecto manifestado, a falsidade é eternamente falsa e jamais será Realidade. Não temais o que não é Realidade. Não considereis Real o que é irreal. Enfrentai o irreal com o Real. Enfrentai a mentira com a Verdade. Enfrentai a aparência com a Essência. Enfrentai a treva com a Luz. Nada existe além do Real que destrua o irreal. Nada existe além da Essência que destrua a aparência. Nada existe além da Verdade que destrua a mentira. Nada existe além da Luz que prove a inexistência da treva. Ensinai a eles a Essência da Vida. Ensinai que a Essência da Vida é o próprio Deus e é Perfeição. Ensinai que neste mundo não há pecado que tenha sido cometido, nem há pecado a ser resgatado porque Deus é o Todo, porque Deus não cria o pecado, porque não há outro Criador senão Deus. Quando todas as vidas do Universo e todos os espíritos do Universo virem esta Verdade, despertarem para esta Verdade e destruírem todas as ilusões mentais, as quais constituem a causa de todos os sofrimentos, os deuses todos derramarão coros de Verdades, os seres vivos todos deste mundo verão a Luz, desaparecerão todos os embaraços e este mundo, assim mesmo como e, será o Reino da Luz.
229 MATÉRIA Não tomeis por Realidade a matéria que percebeis através dos sentidos. A matéria não é a Substância da coisa, não é Vida, não é Verdade; na matéria em si não existe inteligência, nem existe sensibilidade. A matéria é afinal o "nada" e nela não existe qualidade inerente. O que atribui qualidade à matéria é a mente, e somente ela. Pensando-se em saúde na mente, aparece a saúde, pensando-se em doença na mente, aparece a doença. Esta circunstância se assemelha à tela cinematográfica, em que aparece um lutador se nela for projetado um lutador, ou um doente, se nela for projetado um doente; porém o filme cinematográfico em si é incolor e transparente, e nele não existe lutador nem doente; as diversas imagens resultantes da reação do sensibilizador que cobre o filme incolor e transparente é que fazem aparecer ou a do lutador, ou a figura do doente. Porém, tanto o saudável lutador como o débil doente são sombras que aparecem pela reação do sensibilizador, e não são a Realidade. Se colocardes no projetor um filme incolor e transparente que não tenha imagens resultantes da reação do sensibilizador e na tela projetardes esse filme, não aparecerá o lutador saudável que em breve envelhece e morre, nem aparecerá, é evidente, doente debilitado algum. O que existirá na tela será unicamente a própria Luz, a própria Vida, que brilhará resplandecentemente. Compreendei vós, agora mesmo, que vossa Vida é coisa superior à do saudável lutador. Por mais saudável que esteja um lutador, desde que ele veja o corpo como Realidade, desde que ele veja o corpo como seu Eu, ele é um elemento perecível e não é verdadeiramente saudável. A saúde verdadeira não está na matéria, não está no corpo; a Vida verdadeira não está na matéria, não está no corpo; vosso Eu verdadeiro não está na matéria, não está no corpo. No âmago da matéria,no âmago do corpo, existe um ser sumamente perfeito e maravilhoso.
230 Este, sim, é o vosso Eu perfeito, exatamente como Deus o criou, e é Vida eternamente saudável e imperecível. Transcendei vós, agora mesmo, a matéria e despertai para a Essência de vossa própria Vida.
REALIDADE Prossegue anunciando o Anjo: A Realidade é eterna, a Realidade não adoece, a Realidade não envelhece, a Realidade não morre; ao fato de conhecer esta Verdade se diz conhecer o Caminho. A Realidade, porque é universal, é chamada Caminho. O Caminho está com Deus;. Deus é o Caminho, é a Realidade. Aquele que conhece a Realidade, aquele que vive na Realidade, transcende a desintegração e será eternamente perfeição. A Vida conhece a vida e não conhece a morte. Vida é sinônimo de Realidade. A Realidade não tem princípio nem fim, não se extingue nem morre; por isso, a Vida também não tem princípio nem fim, não morre nem desaparece. A Vida não está contida na escala do tempo, não está contida na escala da caducidade; o tempo, pelo contrário, está na palma das mãos da Vida, a qual, cerrada, se torna um ponto e, aberta, se torna infinita. Aquele que acredita ser jovem logo rejuvenescerá, e aquele que se crê senil logo envelhecerá. Também o espaço não é coisa que limite a Vida. Pelo contrário, o espaço nada mais é que uma "forma de reconhecer" criada pela própria
231 Vida. A Vida é senhor, o espaço é súdito. As corporificações das idéias emitidas pela Vida e projetadas no espaço dá-se o nome de matéria. A matéria é originariamente nada e não possui autonomia nem força. O que faz parecer que a matéria possua autonomia e também força para dominar a Vida é a "distorção" ocorrida na ocasião da passagem da Vida por aquela "forma de reconhecer". Vede corretamente a Essência da Vida, sem vos apegar a essa "distorção". Aquele que conhece a Essência da Vida transcende a causalidade e alcança a liberdade harmoniosa da Vida, que é originariamente sem distorções.
SABEDORIA A Sabedoria é Luz de Deus, é Luz perfeita que acompanha Realidade, é Luz infinita e onipresente que desconhece restrições; porque não conhece restrições, está presente em todas as coisas e ilumina todas as coisas. O homem, sendo filho da Luz, e porque está sempre na Luz, desconhece a escuridão, desconhece tropeços, desconhece embaraços; como anjos que passeiam no céu, como peixes que nadam no oceano, passeia no Mundo da Luz, pleno de Luz e cheio de Alegria. Sendo a Sabedoria Luz da Iluminação espiritual, é Verdade que ilumina e extingue as trevas da ilusão. Somente a Verdade é Realidade. A ilusão,sendo apenas falta de conhecimento da Verdade, é tal qual um pesadelo. Despertai do pesadelo. Ocorrendo a iluminação espiritual, imediatamente este mundo se torna o Paraíso pleno de Luz, e o homem revela a sua Essência, que é Vida plena de Luz. Deus, Luz de infinita e universal Sabedoria, Bem sem limitação, Vida sem limitação, Substância de todas as coisas, é também Criador de todas as coisas; por isso, Deus está presente em todos os lugares. Deus é a onipresente Substância e também o Criador; por isso
232 unicamente o Bem é Força, unicamente o Bem é Vida, unicamente o Bem é Realidade; logo, não existe Força que não seja Bem, não existe Vida que não seja Bem, e também não existe Realidade que não seja Bem. Força que não seja Bem, isto é, força que traz infelicidade, não passa de pesadelo. Vida que não seja Bem, isto é, a doença, não passa de pesadelo. Todas as desarmonias e imperfeições nada mais são que pesadelos. Sendo o pesadelo aquilo que dá força ativa à infelicidade, à doença, à desarmonia, a imperfeição, estas se assemelham às diabólicas opressões que, em sonho, podem nos fazer sofrer; mas, ao despertarmos, percebemos que não existe força alguma para nos oprimir; nós é que nos oprimimos com a nossa própria mente. Em verdade, as forças maléficas, a força que oprime a nossa vida, a força que nos faz sofrer, não são forças que realmente existem de modo objetivo: nada mais são que dores criadas em nossa própria mente e sofridas pela nossa própria mente. Nas doutrinas que admitem Buda, chama-se a isto ilusão; nas doutrinas que admitem Deus, chamam-no pecado. Diz-se ilusão por não se conhecer verdadeiramente a perfeita e harmoniosa Essência da Vida. Diz-se pecado por se encobrir e não revelar a perfeita e harmoniosa Essência da Vida.
ILUSÃO Enquanto assim recita o Anjo na Seicho-no-Ie, aparece um Querubim que roga: "Para o bem-estar da humanidade, para o despertar espiritual dos homens, esclarecei a natureza da ilusão. Responde o Anjo, dizendo": Supor existente o que é inexistente, nisto consiste a ilusão. Diz-se ilusão o desconhecimento da Verdade. Embora o prazer e a dor não estejam na matéria,
233 julgam que eles são pertinentes à matéria, ora perseguindo o prazer, ora fugindo da dor - a tal pensamento invertido se dá o nome de ilusão. Embora a Vida não esteja na matéria, imaginam que ela está na matéria - a esse equívoco se diz ilusão. Na verdade, a matéria está na mente. Embora a mente seja o senhor da matéria e todas as formas e naturezas da matéria sejam criações da mente, acreditam que a mente é dominada pela matéria, sofrem ou se angustiam segundo as mudanças materiais e não compreendem que a Essência de si próprio e de sua Vida é Perfeição e Harmonia - a isso se diz ilusão. A ilusão é ausência de Luz porque é o oposto da Verdade. A ilusão é irreal porque se opõe à Realidade. Tivesse a ilusão existência real, a dor e a angústia que nascem da ilusão teriam também existência real. Porém, porque a ilusão é ausência da Realidade, dor e angústia são apenas pesadelos que certamente se desfarão e não são a Realidade.
PECADO "Tem o pecado existência real?" - volta a indagar o Querubim. Ouve-se a voz do Anjo que assim responde: Tudo que verdadeiramente existe são somente Deus e o que vem de Deus. Sendo Deus a Perfeição, tudo que foi criado por Deus é Perfeição também. Então pergunto: Considerais perfeição o pecado? Responde o Querubim: "Mestre, o pecado não é perfeição". Prossegue o Anjo: O pecado não é Realidade porque é imperfeição, a doença não é Realidade porque é imperfeição, a morte não é Realidade porque é imperfeição; não considereis Realidade o que não foi criado por Deus. Não vos atemorizeis imaginando
234 aquilo que é inexistente, como num pesadelo. Pecado, doença e morte, porque não são criações de Deus, são irrealidades, são falsidades, embora usem a máscara da Realidade. Vim para arrancar essa mascara e mostrar a irrealidade do pecado, da doença e da morte. No passado, veio Sakyamuni com essa mesma finalidade; Jesus Cristo também veio com essa finalidade. Se o pecado existisse realmente, nem os budas todos do Universo conseguiriam extingui-lo; nem mesmo a Cruz de Jesus Cristo conseguiria extingui-lo. Porém sois felizes, pois que o pecado é irrealidade, sombra da ilusão, os budas todos do Universo remiram os homens e bem extinguiram seus pecados. Também Jesus Cristo, usando apenas de palavras, disse "São-te perdoados os teus pecados" e bem extinguiu os pecados. Eu também, através da Palavra, faço escrever Poemas da Seicho-no-Ie e pelo Poder da Palavra revelo a natureza do pecado e faço com que o pecado volte ao seu nada original. Aquele que lê as minhas Palavras extingue todos os pecados, pois conhece o Aspecto Verdadeiro da Realidade. Aquele que lê as minhas Palavras extingue todas as doenças, pois conhece o Aspecto Verdadeiro da Vida, supera a morte e vive eternamente.
HOMEM Eu sou a Verdade, sou o Anjo enviado pela Verdade. Sou a Luz que emana da Verdade, sou a Luz que extingue a ilusão. Sou o Caminho; aquele que cumpre a Minha Palavra não se afasta do Caminho. Sou a Vida; aquele que bebe em Mim não adoece, não morre. Sou a Redenção; aquele que chama por Mim será remido e viverá no Reino de Deus. Tendo assim pregado o Anjo, torna o Querubim a indagar: "Mestre, esclarecei a natureza real do homem". Responde o Anjo: O homem não é matéria, não é corpo carnal, não é cérebro, não é célula nervosa, não é
235 glóbulo sanguíneo, não é soro sanguíneo, não é célula muscular. Nem é o conjunto de tudo isso. Conhecei bem a essência do homem: o homem é Espírito, é Vida, é Imortalidade. Deus é a Fonte Luminosa do homem e o homem é Luz emanada de Deus. Não existe fonte luminosa sem luz, nem existe luz sem fonte luminosa. Assim como luz e fonte luminosa são um só corpo, Deus e homem são um só corpo. Porque Deus é Espírito, o homem também é Espírito. Porque Deus é Amor, o homem também é Amor. Porque Deus é Sabedoria, o homem também é Sabedoria. O Espírito não é peculiar à matéria, o Amor não é peculiar à matéria, a Sabedoria não é peculiar à matéria. Portanto, o homem, que é Espírito, que é Amor, que é Sabedoria, nada tem a ver com a matéria. O homem verdadeiro, porque é Espírito, porque é Amor, porque é Sabedoria, porque é Vida, é incapaz de pecar, é incapaz de adoecer, é incapaz de morrer. Tanto o pecado, como a doença, como a morte, nada mais são que pesadelos vossos. Conscientizai a Essência da Vida. Conscientizai o Homem Real que é vossa Essência. O Homem Real é Homem-Deus, é a própria imagem de Deus. O que morre não é Homem Real. O que peca não é Homem Real. O que adoece não é Homem Real. Homens da face da Terra, eu vos digo: conhecei a natureza verdadeira de vós próprios.
236 Vós próprios sois o Homem Real e nenhuma outra coisa. Portanto, o homem, quando visto pelos olhos da Verdade, é aquele incapaz de pecar, é aquele incapaz de adoecer, é aquele incapaz de morrer. Há quem diga: "Pecador! Pecador!". Deus não criou pecador algum; por isso, neste mundo não existe um pecador sequer. O pecado é contrário à natureza verdadeira de filho de Deus, a doença é contrária à natureza verdadeira da Vida, a morte é contrária à natureza verdadeira da Vida; pecado, doença e morte não passam de sombras das ilusões da mente que, em sonho, imagina coisas inexistentes. No mundo absoluto de Deus, Deus e Homem são um só corpo. Deus é a Fonte da Luz e o Homem é a Luz emanada de Deus. A ilusão fundamental que faz o homem ter o pesadelo de que o pecado, a doença e a morte são existências verdadeiras surgiu, em tempos remotos, da teologia segundo a qual o homem é feito do pó da terra; e, nos dias atuais, da ciência moderna segundo a qual o homem é feito de matéria. Isso constitui a ilusão inicial que leva o homem a imaginar o pecado, a doença e a morte. Quando se destrói essa ilusão inicial, é destruída a causa fundamental do pecado, da doença e da morte e estes voltam ao nada original. Ao lerdes a Seicho-no-Ie e conhecerdes a Verdade, se sois curados de doenças, é porque se destrói a ilusão inicial. Não existindo a ilusão inicial, não existirá a ilusão seguinte. Não existindo ilusão alguma, porque o homem é originariamente puro, mesmo que deseje pecar, e incapaz de pecar; não existindo ilusão alguma, porque o homem é livre de doença, mesmo que deseje adoecer, é incapaz de adoecer. Não existindo ilusão alguma, porque é originariamente Vida eterna, é incapaz de morrer. Portanto, homens da face da Terra, procurai com fervor o vosso corpo verdadeiro, que é Espírito; não o procureis na matéria nem na carne, que são produtos de ilusões.
237 Cristo disse: "O Reino de Deus está dentro de vós". Em verdade, em verdade, vos digo: "Dentro de vós" é a "natureza verdadeira do homem", é o Homem Real. "Dentro de vós", isto é, a "natureza verdadeira", é Homem-Deus; por isso, somente "dentro de vós existe o Reino de Deus. Aquele que o procura no exterior é um perseguidor de ilusões e não consegue alcançar eternamente o Reino de Deus. Aquele que procura alcançar o Reino de Deus na matéria é um perseguidor de ilusões e não consegue edificar eternamente o Reino de Deus. Cristo disse também: "O meu reino não é deste mundo". O reino deste mundo não passa de simples sombra. O reino paradisíaco existe somente no interior. Somente reconhecendo no interior o reino paradisíaco aparecerá no exterior o reino paradisíaco como projeção desse reconhecimento. Somente reconhecendo no interior a Vida de Saúde infinita, aparecera externamente, no corpo, a saúde perfeita como projeção desse reconhecimento. Os cinco sentidos do homem não vêem senão o "mundo da projeção". Desejando purificar o "mundo da projeção", deveis purificar a matriz da mente e eliminar as nódoas da ilusão. Eu vi que o mundo da matéria é realmente efêmero; vi que o mundo da matéria nada mais é que sombra. Vi também que o homem é Luz emanada de Deus. Vi também que o corpo é apenas sombra da mente. A matéria nada mais é que sombra em mutação, semelhante à sombra correntia do calidoscópio. Portanto, vendo a sombra, não a considereis Realidade. O homem, na sua essência, é Homem-Deus, é Espírito, eterno, indestrutível e imortal, e não é máquina feita de matéria, nem é a matéria preexistente em que se alojou o espírito; tal dualismo é totalmente errôneo. A matéria é, antes, sombra do espírito, produto da mente, assim como o casulo é produto do bicho-da-seda. Não é no casulo preexistente que se aloja o bicho-da-seda; o bicho-da-seda é que, expelindo o fio, constrói o casulo e nele se aloja.
238 Também o homem, cuja natureza real é Vida-Espírito, forma o casulo de carne tecendo os fios da mente e nele instala a si próprio e seu espírito; somente então o Verbo se faz carne. Sabei claramente que o casulo não é o bicho-da-seda, portanto, que a carne não é o homem e não passa de casulo do homem. Em chegando a hora, assim como o bicho-da-seda rompe o casulo e alça vôo como inseto adulto o homem também rompe o casulo de carne e ascende ao mundo espiritual. Não façais, em absoluto, da morte do corpo a morte do homem. Porque o homem é Vida, jamais conhece a morte. Segundo a mente, segundo a oportunidade, segundo a necessidade, manifesta no corpo e no ambiente variadas situações, porém a Vida em si não adoece, a Vida em si não morre; segundo a mudança da mente, livremente podeis modificar vossa saúde e vosso ambiente. Porém, chegará por fim a hora em que a Vida não mais necessitará do casulo de carne.Nesse momento, a Vida romperá o casulo de carne e ascenderá a um mundo de muito maior liberdade. Não façais disso a morte do homem. Porque a essência do homem é Vida, jamais lhe ocorre a morte. Enquanto assim fala o Anjo, ouve-se ecoar no céu uma sublime música angelical, caem pétalas, não se sabe de onde, como que glorificando as Verdades pregadas pelo Anjo. (Fim da Sutra Sagrada.)
Rogo que as santas bênçãos desta se estendam a todos os seres vivos, e que eu, juntamente com todos, consigamos manifestar a Perfeição Interior
CANTO EVOCATIVO DE DEUS Ó Deus-Pai, que dais vida a todos os seres viventes, abençoai-me com Vosso Espírito.
239 Eu vivo, não pela minha própria força, mas pela Vida de Deus-Pai que permeia os céus e a terra. As minhas obras, não sou eu quem as realiza, mas a força de Deus-Pai, que permeia os céus e a terra. Ó Deus, que Vos manifestastes através da Seicho-no-Ie para indicar o Caminho dos céus e da terra, protegei-me
240 - Anexo XI -
FOTOS
Divindade da Seicho-No-Ie
Masaharu Taniguchi
Coleção “A Verdade da Vida”
Sutra Sagrada Kanro-No-Hoou
241
Registro para o Santuário Hoozo (frente)
Registro para o Santuário Hoozo (verso)
Programa de TV em DVD
Shinsokan (posição)
242
Forma Humana (6 meses)
Hitogata
Sede Central (São Paulo-SP)
Salão de Culto aos Antepassados (Sede Central)
243
Academia Ibiúna (SP)
Santuário Hoozo (em Ibiúna)
Festividade do Santuário Hoozo (Ibiúna)
Academia Santa Fé (BA)