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téchne 133 abril 2008
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a revista do engenheiro civil www.revistatechne.com.br
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IPT
techne
Edição 133 ano 16 abril de 2008 R$ 23,00
9 770104 105000
■ Como aproveitar água de chuva ■ Fachada cortina com paredes duplas ■ Sistema de reúso de águas cinzas e negras ■ Luminotecnia e uso de luz solar
00133
O que torna um projeto sustentável? Confira as soluções que estão mudando a construção civil
ISSN 0104-1053
Especial Sustentabilidade ■ Projetos sustentáveis ■ Reúso de águas ■ Luminotecnia ■ Fachadas ■ Instalações elétricas ■ Conexpo 2008
Sustentabilidade
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SUMÁRIO 44
CAPA Projeto sustentável Veja algumas das obras mais emblemáticas em soluções de sustentabilidade
66 CONEXPO 2008
Naldo Mundim/Realmix Concreto
Máquinas a caminho Confira os destaques da indústria mundial de máquinas que podem desembarcar no País
72 ARTIGO Avaliação ambiental de edifícios Veja as diferenças entre as principais metodologias de avaliação de sustentabilidade
99 COMO CONSTRUIR 38 FACHADAS
Marcelo Scandaroli
Alto desempenho, baixo impacto Especialistas avaliam desempenho de fachadas cortina, ventiladas e outros sistemas
SEÇÕES
22
54 REÚSO DE ÁGUA
ENTREVISTA
Soluções não potáveis Quais os requisitos para reaproveitamento de águas cinzas e negras nas edificações
Cultura sustentável Arquiteto critica processos da construção e exageros do marketing sustentável
60 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS – ESPECIAL 60 ANOS
32 LUMINOTECNIA Menos luz, mais eficiência Lâmpadas mais eficientes e uso da luz natural iluminam sem tirar o conforto
2
Sistema de aproveitamento de águas pluviais para usos não potáveis Pesquisadores do IPT propõem instalação simples de captação e uso de água de chuva
Segurança em evolução Na linha do tempo, materiais elétricos ganham em economia e segurança
Editorial Web Área Construída Índices IPT Responde Carreira Melhores Práticas Técnica e Ambiente P&T Obra Aberta Agenda
4 8 10 14 16 18 20 30 78 94 96
Capa Ilustração e layout: Sergio Colotto
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É parte integrante desta revista uma amostra da manta tipo III da Denver
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EDITORIAL A insustentabilidade humana sustentabilidade ganha posição de destaque em um raro momento de prosperidade do setor. A coincidência histórica é interessante, pois a discussão a ser travada pela sociedade é exatamente essa: como aliar crescimento econômico e avanços tecnológicos com responsabilidade ambiental. O arquiteto e professor Geraldo Gomes Serra, pesquisador do Nutau (Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), possui uma bela definição de sustentabilidade. Para ele, processos relacionados à construção só podem ser sustentáveis "quando podem ser mantidos indefinidamente, quando nada determine o seu fim". A ilustração de capa desta edição, que traz o símbolo internacional associado à reciclagem, segue tal linha. Trata-se, no entanto, de um assunto com muitos aspectos. Um material cujo processo de fabricação gera baixa emissão de gases causadores do efeito estufa é necessariamente sustentável? E se a vida útil dele for curta? Todo cuidado é pouco, ainda mais em uma seara que tem sido alvo constante de ações irresponsáveis de marketing. Ualfrido del Carlo, entrevistado desta edição, teve passagem pelo instituto de pesquisas francês CSTB (Centre Scientifique et Technique du Bâtiment) em 1961 e, desde então, pesquisa o assunto. Para ele, a sustentabilidade deve ser vista também a partir de aspectos sociais e não apenas tecnológicos. Critica a construção baseada em baixos salários, a chamada "insustentabilidade humana" e o pouco ou quase nenhum esforço em prol da industrialização das obras. Nesta edição você poderá conferir alguns projetos premiados, principalmente internacionais, compreender as dificuldades que envolvem o projeto de fachadas, e conhecer o funcionamento de sistemas de reúso de águas cinzas e negras. Vale a pena também conferir o artigo dos pesquisadores do IPT para desatar a miríade de certificações ambientais para edificações. No próximo dia 19 de agosto, levaremos a discussão das páginas da revista para um evento em São Paulo intitulado "Empreendimentos Imobiliários Sustentáveis – Viabilidade, Projeto e Execução".
A
Paulo Kiss 4
VEJA EM AU
Entrevista: Sergio Tepperman Cobertura da Revestir Pini 60 anos: revestimentos cerâmicos
VEJA EM CONSTRUÇÃO MERCADO
Retrofit para moradia Incorporadoras de capital aberto Entrevista com o presidente do PDG Realty
VEJA EM EQUIPE DE OBRA
Laje nervurada Escoramento metálico Tipos de cimento Como calcular tinta TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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´ techne Vendas de assinaturas, manuais técnicos, TCPO e atendimento ao assinante Segunda a sexta das 9h às 18h
Fundadores: Roberto L. Pini (1927-1966), Fausto Pini (1894-1967) e Sérgio Pini (1928-2003) Diretor Geral
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Ademir Pautasso Nunes
principais cidades*
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www.revistatechne.com.br Confira no site da Téchne fotos extras das obras, plantas e informações que complementam conteúdos publicados nesta edição ou estão relacionados aos temas acompanhados mensalmente pela revista
Arquitetura verde
Fórum Téchne
Veja mais imagens de obras que se destacaram por seus diferenciais de sustentabilidade. Tais edificações empregaram todas as tecnologias disponíveis para diminuir os impactos ao meio ambiente e à saúde humana.
O site da revista Téchne tem um espaço dedicado ao debate técnico e qualificado dos principais temas da engenharia. Confira os temas em andamento.
Divulgação BC ZEDFACTORY
O desabamento do metrô foi uma fatalidade? Uma pedra desse tamanho dificilmente não seria detectada, mesmo que os furos de sondagem estivessem bem espaçados. O que realmente houve foi um apressamento das escavações. O motivo principal, a meu ver, foi um erro crasso de execução, faltou "bate-choco". A má execução, ou não-execução dessa atividade, pode ocasionar o que é chamado de "chaminé". Vai se criando um vazio por sobre a falha, até que ocorre o rompimento.
Máquinas a caminho
Paulo Adriano Niel Freire [29/03/2008]
Essa enquete em nada contribui com a Engenharia Nacional. O assunto está sendo estudado por institutos e profissionais competentes, não cabem opiniões que não estejam fundamentadas em dados técnicos.
Divulgação Conexpo CON/AGG
Confira mais fotos dos equipamentos apresentados na Conexpo-CON/AGG 2008, realizada em Las Vegas. Visitantes se surpreenderam com as soluções multifuncionais das máquinas, sobretudo as americanas que se adequariam mais à construção civil brasileira.
Milton Gattaz [29/03/2008]
Conheça os 14 requisitos para a certificação do novo selo de sustentabilidade Aqua (Alta Qualidade Ambiental), desenvolvido pela Fundação Vanzolini, Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e CSTB (Centre Scientifique et Technique du Bâtiment).
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Marcos Lima
Selo brasileiro
Você acha correto assediar profissionais empregados em outras empresas? Toda empresa tem o direito de buscar melhores profissionais para seus quadros. Cabe a cada empresa a valorização dos seus empregados, por meio de salário adequado, benefícios, reconhecimento, autonomia, boas condições de trabalho, desafios profissionais e possibilidade de crescimento. Fábio Santos e Silva [21/03/2008]
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ÁREA CONSTRUÍDA
Fernando Conti-Secom
Viaduto será iluminado com LEDs em São Paulo
O viaduto Santa Ifigênia, inaugurado há quase um século no Centro de São Paulo, vai receber um novo sistema de iluminação com tecnologia LED (em português, luz de emissão de diodo). Serão iluminados, em estilo Art Nouveau, o entorno dos arcos e a borda inferior do gradil. O processo de compra de material e contratação de mão-de-obra já foi iniciado, a obra tem previsão de entrega para o fim de junho. O investimento será de R$ 400
mil. Além do viaduto Santa Ifigênia, o Ilume (Departamento de Iluminação Pública) pretende iluminar com LEDs outros monumentos e edifícios na região central da Cidade. A intenção é dar destaque aos prédios históricos. O consumo de energia é 85% menor em relação a projetores convencionais e o sistema tem duração de 15 anos. A expectativa do Ilume é que o retorno do investimento ocorra em um ano e meio.
Ensaio alternativo de solo reduz custo de casas populares Para baixar o custo das sondagens geotécnicas e orientar a escolha da fundação de casas populares, pesquisadores desenvolveram ensaios alternativos de avaliação do solo. Foram desenvolvidos no Projeto Moradia, financiado pelo Programa Habitare, três métodos de ensaio: o trado, que permite identificar de forma tátil-visual a amostra de solo coletada; o cone dinâmico leve (DPL), que pesa pouco e pode ser executado por apenas dois operários; e o teste expedito de expansão e de colapso, uma versão simplificada dos testes convencionais. Mais baratos que os ensaios convencionais, os novos métodos prometem reduzir ainda mais os custos de produção das casas populares. Estimando uma moradia de interesse social entre R$ 10 e R$ 24 mil, por exemplo, o emprego da técnica SPT (Standard Penetration Test) pode alcançar até 20% do custo da obra.
Abece lança serviço de verificação de projetos A entidade, que congrega escritórios de engenharia estrutural, lançou o serviço chamado PVA (Projeto Verificado Abece) no início deste ano em caráter experimental. A associação objetiva ser solicitada a emitir os certificados única e exclu-
sivamente por seus membros. A entidade também poderá funcionar como mediadora de conflitos em casos polêmicos nos quais os projetos já tenham sido desenvolvidos. A primeira fase será limitada para que os primeiros trabalhos possam ser-
vir de base para o aperfeiçoamento do processo. A Abece justifica a prudência afirmando que, apesar de o produto ser uma fonte de recursos para a entidade, pode também lhe gerar passivos, caso não seja bem desenvolvido.
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Sustentabilidade, por Geraldo Gomes Serra Arquiteto formado pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), desde 1961 é professor titular da Universidade e pesquisador do Nutau (Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo). Seu foco é a tecnologia da arquitetura e urbanismo, principalmente a partir do desenvolvimento urbano, urbanização, cidade, habitação e metodologia de pesquisa. Para o meio da construção civil, o tema sustentabilidade ainda é permeado por conceitos pouco nítidos. Não são claras as responsabilidades dos construtores e dos profissionais de projeto, pois os impactos de uma obra sobre o meio ambiente envolvem desde a forma de produção dos insumos até a eficiência energética do edifício. Para esclarecer alguns dos conceitos mais básicos da sustentabilidade aplicada à construção, o pesquisador do Nutau, professor Geraldo Gomes Serra, foi entrevistado pela Téchne. Confira o que pensa o arquiteto e quais os principais dilemas do mercado sobre o tema. O mercado sabe o que é sustentabilidade em edificações?
A julgar por reações que tenho visto em reuniões que o Nutau promove, existe bastante confusão. Com freqüência aparece alguém dizendo que não se sabe o que é sustentabilidade, que há definições diferentes. Trata-se de um ambiente acadêmico, e quem faz essas colocações não é do mercado, mas acadêmicos que deveriam estar bem informados. Por isso, acredito que o conceito é um pouco difuso.
Marcelo Scandaroli
Segundo o arquiteto, mercado não tem a percepção correta desse conceito Quais as definições correntes?
A primeira, presente na maior parte dos manuais, afirma que um processo é sustentável quando emprega apenas recursos renováveis. Ou, ao empregar recursos não-renováveis, o faz em ritmo tal que permite o desenvolvimento de sucedâneos.A segunda definição, da comissão Brundtland, diz que processos são sustentáveis quando as futuras gerações podem continuar a desfrutar deles da mesma maneira como desfrutamos hoje. As duas dizem que um processo é sustentável quando pode ser mantido indefinidamente, quando não há nada que determine o seu fim. A sustentabilidade está ligada à industrialização?
A construção com métodos sustentáveis é uma questão de racionalidade. Mais eficiência, menor custo, racionalidade no uso de recursos e bom desempenho do ponto de vista térmico e acústico, por exemplo, contribui para a sustentabilidade. Quanto mais sofisticada for a construção do ponto de vista tecnológico, será mais sustentável por levar em consideração esses aspectos. É necessário desenvolver novos materiais?
A pesquisa nessa área é prioritária. Há um componente que é a nossa eventual contribuição para as mudanças climáticas. Sabemos que a quantidade de gases de efeito estufa está aumentando e que nossa contribuição é muito grande.A construção civil gera muitos gases, pois é uma grande consumidora de petróleo.
Sempre em busca de materiais plenamente renováveis?
Enfatizo outro aspecto da questão, que envolve a durabilidade e a reciclagem. O edifício que pode ser reciclado é feito para durar séculos, incluindo a organização do espaço pelo arquiteto.Quanto mais flexível,mais contribui para a reciclagem. Aí aparece a tríade: reciclagem, durabilidade e flexibilidade. Ao olharmos para a construção civil, cujo produto é supostamente durável, consideramos a questão da durabilidade para não ficarmos fanaticamente presos à definição original da sustentabilidade. Por ser a maior geradora de resíduos, qual o papel da construção?
Temos alguns caminhos a escolher. Um é reciclar. No entanto, quase todas as pesquisas que tentaram transformar entulho em material de construção de novo concluíram que o processo é muito caro. E, se é caro, não é sustentável. Ainda assim, é possível usar blocos, do concreto de demolição para base de vias públicas, principalmente urbanas, com resultados muito bons. Mas, ao analisar os entulhos atuais, verificamos uma grande quantidade de embalagens, materiais que não posso utilizar na base da rua. Então há o problema da separação. E se lixo é confusão, desordem, a coleta seletiva propõe parar de produzir lixo.A sustentabilidade considera cada um desses aspectos da aglomeração, da construção, do edifício, da operação, da produção de materiais.
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ÁREA
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CONSTRUÍDA
Grêmio apresenta projeto de seu novo estádio Com intervenções, UnB economiza 30% em conta de água
O Grêmio de Porto Alegre escolheu no final de março o projeto de construção de seu novo estádio. O consórcio TBZOAS, que venceu a concorrência contra a proposta da Construtora Norberto Odebrecht,terá até junho para apresentar o contrato de construção do novo estádio ao Conselho Deliberativo do clube.A arena será construída no bairro de Humaitá, na zona Norte da capital gaúcha, e terá 50 mil lugares, distribuídos em três anéis. O custo de construção estimado é de R$ 270 milhões, a
serem bancados pelo próprio consórcio, sem a participação do Grêmio. O prazo de construção será de dois anos no regime turn key. O complexo contará ainda com um shopping center com 295 mil m²,uma área de escritórios com 214 mil m², um hotel, um centro de convenções, alojamento e um estacionamento com 66 mil m². O consórcio terá direito a 35% do lucro gerado pelo empreendimento por um prazo de 20 anos.A receita anual estimada da Arena é de R$ 56 milhões anuais.
Brasil adapta selo francês para edifícios sustentáveis O Brasil tem um novo selo para a certificação de edifícios "verdes". Desenvolvido pela Fundação Vanzolini, pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e pelo CSTB (Centre Scientifique et Technique du Bâtiment),o Aqua – sigla de Alta Qualidade Ambiental – baseou-se no selo francês HQE (Haute Qualité Environnementale). Em sua primeira fase, será aplicado a edifícios comerciais e escolares. Estão sendo elaboradas, entretanto, novas certificações Aqua para construções hoteleiras e residenciais. O empreendimento será certificado em três
fases: programação dos empreendimentos, elaboração dos projetos e execução da obra. Com a experiência, o Brasil integrará um grupo de trabalho internacional que busca desenvolver um sistema comum de certificação para construções sustentáveis. O acordo que cria a GEA (Global Environmental Alliance for Construction) deve ser assinado dia 28 de abril, em Paris, e reunirá também França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Holanda, Líbano, Argentina e Chile. A idéia é que cada país parta dessa base de conhecimentos e adapte os selos às realidades locais.
A UnB (Universidade de Brasília) economizou mais de R$ 4 milhões em sua conta de água nos últimos dois anos. O valor médio das faturas mensais caiu de R$ 345,6 mil, em 2005, para cerca de R$ 242 mil em 2007. O investimento da UnB no período foi de pouco menos de R$ 100 mil. Desse total, R$ 27,2 mil foram usados na instalação de hidrômetros individualizados; R$ 21,3 mil em bolsas para alunos de graduação que participaram de pesquisas; e R$ 50 mil em materiais para reparos e construção de novos ramais de abastecimento. Antes da intervenção, apenas hidrômetros mediam o consumo de água no campus. Com a hidrometração individualizada, foi possível verificar que o consumo principal é feito pelos prédios acadêmicos, seguidos pelos administrativos. A descentralização e o aumento do número de ramais de água que abastecem o campus resolveram o problema de pressão do sistema: a variação nos níveis era muito grande e isso ocasionava problemas como desperdício de água em alguns pontos e falta de água em outros. A construção dos novos ramais foi realizada com o uso de furadores subterrâneos, dispensando a interrupção do fluxo de carros nas vias dentro da universidade. Depois da realização do trabalho, a rede foi devolvida à Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal), que agora é a responsável por sua manutenção.
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Escritório de arquitetura tem certificador Leed
Numa linguagem simples e objetiva, o que significa ter, em um escritório de projetos de arquitetura, um Profissional Acreditado Leed (Leed AP)?
Significa que o escritório tem em sua equipe alguém que sabe elaborar um projeto sustentável, conhece o roteiro de desenvolvimento com base nas exigências do Leed. Atualmente, existem cerca de 20 Leed-APs no Brasil,
distribuídos entre empresas de certificação e algumas construtoras. Mas em um escritório de arquitetura, nós somos pioneiros. O que mudará nos serviços prestados?
Mesmo que o cliente não exija, todos os projetos sairão com conceitos de sustentabilidade incorporados, e sem a necessidade de acompanhamento de um terceiro profissional, consultor. Dessa forma, a certificação Leed poderá ser aplicada não apenas em grandes empreendimentos, mas também em pequenas obras, de 400 m², por exemplo. Nós sempre procuraremos especificar carpetes, mobiliário, materiais que atendam às exigências do Leed. Isso passará a ser uma característica inata do projeto. Além disso, estou apto a certificar empreendimentos externos ao escritório com o selo Leed.
Acervo Pessoal
O escritório de arquitetura Dante Della Manna passa a contar com um profissional acreditado pelo Green Building Council dos Estados unidos para elaborar e certificar empreendimentos sustentáveis com o selo Leed (Leadership in Energy and Environmental Design). O novo Leed-AP (Accredited Professional) é o arquiteto Antonio Mantovani Neto, que falou à Téchne sobre sua certificação.
Antonio Mantovani Neto, arquiteto Como é o processo? Que competências são avaliadas?
Estudei durante três meses para realizar a prova elaborada pelo Green Building Council norte-americano. Além dos detalhes dos requisitos do Leed, a prova exige, também, conhecimento de conceitos básicos de sustentabilidade, construído ao longo dos anos na carreira.
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ÍNDICES CPII se mantém estável Mas barra de aço CA-50 puxa índice pelo segundo mês consecutivo
índice global do IPCE (Índice PINI de Custos de Edificações) registrou alta de 0,07% em março, percentual inferior à inflação de 0,74% apresentada pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) da Fundação Getúlio Vargas. Pelo segundo mês consecutivo o aço influencia o valor do índice. A barra de aço CA-50, que em fevereiro já apresentava alta de 1,74%, apresentou inflação de 2,09% em março. O produto, que custava R$ 3,11/kg em fevereiro, subiu para R$ 3,17/kg no mês passado. Insumos como tubo soldável de cobre classe E (Ø = 22 mm) e lavatório de louça de embutir inflacionaram o índice cerca de 1,63% e 1,82% respectivamente. O preço do Cimento Portland CPII saco 50 kg se manteve estável em março, não influenciando no valor do bloco de concreto de vedação. A chapa compensada resinada (largura 1,10/comprimento 2,20/espessura = 12 mm) e a manta butílica (espessura = 0,80 mm) mantiveram seus preços estáveis. Segundo o índice global, construir em São Paulo está em média 5,29% mais caro nos últimos 12 meses. No entanto, o valor é inferior ao índice de 9,10% do IGP-M sobre o mesmo período.
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Data-base: mar/86 dez/92 = 100 IPCE – São Paulo global materiais mão-de-obra Mar/07 110.289,87 53.099,11 57.190,76 abr 110.315,81 53.125,06 57.190,76 mai 113.722,37 53.493,24 60.229,13 jun 113.900,14 53.671,02 60.229,13 jul 114.065,53 53.547,83 60.517,71 ago 114.197,13 53.679,42 60.517,71 set 114.636,80 54.119,10 60.517,71 out 114.860,42 54.342,72 60.517,71 nov 115.225,62 54.707,92 60.517,71 dez 115.335,12 54.817,42 60.517,71 jan 115.733,11 55.215,41 60.517,71 fev 116.040,01 55.522,30 60.517,71 Mar/08 116.121,80 55.604,09 60.517,71 Variações % referente ao último mês mês 0,07 0,15 0,00 acumulado no ano 0,34 0,70 0,00 acumulado em 12 meses 5,29 4,72 5,82 Metodologia: o Índice PINI de Custos de Edificações é composto a partir das variações dos preços de um lote básico de insumos. O índice é atualizado por pesquisa realizada em São Paulo (SP). Período de coleta: a cada 30 dias com pesquisa na última semana do mês de referência. Fonte: PINI Mês e Ano
Suporte Técnico: para tirar dúvidas ou solicitar nossos Serviços de Engenharia ligue para (11) 2173-2373 ou escreva para Editora PINI, rua Anhaia, 964, 01130-900, São Paulo (SP). Se preferir, envie e-mail:
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IPT RESPONDE
Envie sua pergunta para o email
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recursos são corriqueiramente adotadas em sociedades mais evoluídas, como a norte-americana,japonesa,nórdica e outras. A madeira poderá ainda ser utilizada como estrutura interna de paredes ou tetos (wood frame), sendo protegida no caso por materiais com maior resistência ao fogo (placas cimentícias, painéis de gesso etc.). Não se pode afirmar que existam lobbies, mas é flagrante em nosso meio a disputa e contrapropaganda entre os materiais sucedâneos como o cimento, o gesso, a cerâmica e outros.
Por que a legislação de São Paulo, por exemplo, não permite a construção de casas pré-moldadas de madeira em áreas urbanas? Essa lei poderá ser revista? Existiria um lobby contra a aprovação desse tipo de construção? João Liure Naves São Paulo
A restrição deve-se ao risco de incêndio e foi introduzida na lei há mais de meio século, numa época em que não havia recursos como aditivos antichama,materiais retardantes de incêndio, pinturas intumescentes e outros. Construções em madeira utilizando-se desses
Ercio Thomaz
Malibu Books
Casa de madeira
Cetac/IPT (Centro Tecnológico do Ambiente Construído)
Comparando-se uma mesma área útil, construções metálicas residenciais seriam muito mais caras do que construções de concreto e alvenaria? Estruturas reticuladas simples, metálicas, e divisórias com painéis cimentícios e lajes steel deck não compensariam, em tempo, o custo proporcional maior com trabalhadores, materiais que precisam ser preparados etc.? Uma casa metálica pode ser competitiva? Paulo Kerr Porto Alegre
Quando se fala em custo de construção, há que se diferenciar, em princípio, investimentos iniciais, custos de operação e de manutenção. Há que se considerar também as diferentes tipologias
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Fran Parente
Construção metálica
de projeto, compreendendo casas térreas e sobrados, edifícios de médio porte e edificações altas (acima de 20 pavimentos, por exemplo). Há necessidade de se considerar, ainda, os custos diferenciados dos materiais, de mãode-obra, dos tributos, do "custo Brasil" e outros. Há, ainda, fatores culturais que influem decisivamente na escolha
pelo melhor material da construção.Os preços dos materiais, como de resto, são ainda muito influenciados pela demanda. O preço do aço, por exemplo, depende muito da demanda chinesa. O do cimento pode variar de R$ 12/saco antes do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para R$ 20/saco depois do PAC. Em geral, costumo dizer que "se o construtor está utilizando, é porque o sistema é economicamente viável". A velocidade de construção pode,sem dúvida,antecipar a operação do edifício e as receitas dela resultantes, justificando a escolha por um sistema com investimento/preço de construção melhor que outros. Ercio Thomaz Cetac/IPT (Centro Tecnológico do Ambiente Construído)
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CARREIRA
Kokei Uehara Símbolo do centenário da imigração japonesa, o engenheiro participou das obras das principais barragens brasileiras Marcelo Scandaroli
PERFIL Nome: Kokei Uehara Idade: 80 anos Graduação: Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP, em 1953 Especialização: Doutorado em Hidrologia pela USP, em 1964 Onde trabalhou: professor da Escola Politécnica da USP, engenheiro na Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai, representante brasileiro na Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), engenheiro e conselheiro no DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), fundador da Fatec (Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo), entre outros.
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rabalho é o que não tem faltado para o engenheiro hidráulico Kokei Uehara nos últimos meses.Além das entrevistas de seleção de alunos intercambistas da USP (Universidade de São Paulo), Uehara precisa reservar espaço na agenda para suas funções de presidente da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e da Associação dos 100 Anos da Imigração Japonesa. Sem contar as diversas homenagens que vem recebendo por sua contribuição à Engenharia brasileira. O engenheiro nasceu no Japão em 1927, mas partiu para o Brasil aos oito anos de idade.Apesar de não ter chegado em 1908 no Kasato-Maru, primeiro navio de imigrantes japoneses a aportar no País, ele é hoje um dos símbolos do Centenário da Imigração. Ainda jovem Uehara teve de rever os planos que fazia para o futuro quando expôs a seu irmão, Kozo, seu desejo de ir à capital para estudar Medicina. Ele tinha acabado de completar o colegial em Olímpia,interior de São Paulo,e ainda trabalhava com a família na lavoura. Kozo, que se opunha à idéia do irmão,justificou sua posição afirmando que o Brasil já havia passado por uma primeira etapa de desenvolvimento, em que precisava de advogados para construir seu alicerce jurídico, e por uma segunda, em que necessitava de médicos para cuidar da saúde da população. Na época, o País entrava em uma terceira fase, de desenvolvimento de sua indústria e de sua infra-estrutura, e precisava de engenheiros para realizá-la. Kokei mantinha-se irredutível, queria ser mé-
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dico. Só foi demovido de suas intenções com um vigoroso ultimato do irmão: "ou faz engenharia, ou continua na lavoura". Em 1949 ele começou o curso de Engenharia na Escola Politécnica. Apenas anos mais tarde descobriu a verdadeira preocupação do irmão, que temia pelo futuro profissional de Kokei. "Eles acreditavam que, na Engenharia, seria mais fácil ganhar a vida", explica. No terceiro ano do curso, surgiram diversas oportunidades de estágio, nas quais o engenheiro vislumbrava oportunidades de conseguir uma remuneração que aliviasse as remessas mensais de dinheiro enviadas pela família. Escreveu aos irmãos para contar a novidade. Até hoje se lembra da primeira linha da carta enviada por Kozo.Dizia algo como "se sua faculdade permite que você faça estágio, ela não presta. Se for fazer estágio, é melhor voltar para Olímpia". Kokei obedeceu. No ano seguinte, foi um dos dois escolhidos, dentre 40 candidatos, para se tornar aluno-assistente do laboratório de hidráulica recémcriado na Escola Politécnica. Apesar do interesse em se especializar em mecânica dos solos, aproveitou a oportunidade e deu ali os primeiros passos na carreira de sucesso que construiria na área de hidráulica. Foi um dos pioneiros a trabalhar com modelos reduzidos para estudos de barragem. Depois que se graduou, continuou trabalhando no laboratório e, um ano e meio mais, ganhou uma bolsa de estudos para complementar sua formação em Paris. "Foi o primeiro 'paraTÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Dez questões para Kokei Uehara 1 Obras marcantes das quais participou: Usina Hidrelétrica de Itaipu, Viaduto sobre rio em Puerto Pailas, na Bolívia e barragem em Olímpia (SP), que foi batizada com seu nome 41 anos depois de construída
2 Obra significativa da engenharia brasileira: Usina Hidrelétrica de Itaipu
3 Realização profissional: como professor, formar discípulos que se destacaram na política, na engenharia e nas artes; como engenheiro, participar de obras marcantes e desafiadoras, como Itaipu
4 Mestres: Ciro Alves, Paulo de Menezes Mendes da Rocha, Lucas Nogueira Garcez
maior de escassez de água no futuro, o papel da engenharia hidráulica será muito importante
7 Conselho ao jovem profissional: não ser apenas engenheiro, mas adquirir cultura geral, interessar-se por Filosofia, Artes, História e ser um cidadão do mundo, dotado de valores éticos e morais corretos
8 Principal avanço tecnológico recente: o desenvolvimento dos meios de comunicação que, além de permitir conhecer melhor as demandas de pessoas de regiões cada vez mais distantes, possibilita também a divulgação das conseqüências – boas ou ruins – de uma obra
9 Indicação de livro: são muitos, 5 Por que escolheu ser engenheiro: por conselho de meu irmão, Kozo, que me convenceu a desistir da Medicina
6 Perspectivas para seu campo de atuação: com a perspectiva cada vez
béns' que recebi de minha família. Meu irmão admirava a capital francesa", revela. Fez um curso de Mecânica dos Fluidos na Sorbonne e de Hidráulica Geral na École Nationale de Ponts et Chaussées, além de estagiar em um laboratório de Hidráulica. As experiências culturais, que o engenheiro valorizava desde a adolescência, foram vividas com mais intensidade em Paris. Voltou depois de um ano e meio para continuar trabalhando no laboratório. Para complementar o salário,
não consigo eleger apenas um
10 Um mal da engenharia: uso da técnica apenas para fins materiais, acúmulo de capital, e valorizar pouco sua função ética e moral
trabalhava à tarde na Comissão Interestadual da Bacia do ParanáUruguai. Sob orientação de Paulo de Menezes Mendes da Rocha, fez os primeiros cálculos do estudo preliminar da barragem de Itaipu. Seu orgulho de ter participado do projeto é tanto que o engenheiro guarda, até hoje, a régua de cálculo usada em seu trabalho. Ao longo da carreira, participou ainda da construção de outras grandes barragens, como as de Barra Bonita, Ilha Solteira e Três Irmãos.
A partir de 1965, até o final da década de 1970, representou o Brasil no Decênio Hidrológico Internacional, programa da Unesco que procurava fazer um levantamento detalhado da quantidade de água disponível do planeta. "Em rios, lagos, oceanos, lençóis freáticos e em forma de vapor", assinala. Sua experiência lhe confere legitimidade para opinar, por exemplo, sobre a relação entre barragens e meio ambiente. Ele sabe que será criticado, mas defende a construção de barragens, sobretudo próximas a regiões secas e densamente povoadas. "É uma forma de acumular água para abastecer grandes áreas", justifica. Para ele, o custo–benefício de se alagar uma grande área em benefício da população do entorno é inquestionável. "Os críticos se baseiam muito no achismo", afirma. Da mesma forma, defende o atual projeto de transposição do rio São Francisco que, segundo ele, alcança as pequenas propriedades no interior dos Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Apesar de ser professor da Escola Politécnica da USP oficialmente desde 1958, Kokei mostra-se feliz em ser reconhecido como funcionário pela universidade desde 1954, quando ainda trabalhava no laboratório sem ser remunerado. Aposentado há dez anos, Kokei continua dando aulas gratuitamente na pós-graduação da Poli e colabora com a Comissão de Cooperação Internacional da USP. Em sua carreira acadêmica, também ajudou a fundar a Fatec. Sobre a biografia do engenheiro, estão disponíveis dois livros: “Domador de Rios”, de Aldo Pereira, e “Kokei Uehara: Reflexões sobre a Engenharia e a Educação”, organizado pelo historiador Shozo Motoyama. Renato Faria
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MELHORES PRÁTICAS Terraplenagem Com muitas etapas de laboratório, serviços de terraplenagem demandam atenção ao solo. Ensaios durante o processo evitam distorções com o projeto
Equipamentos
O material local deve ser analisado para a definição de suas propriedades físicas e geológicas, tais como dureza, granulometria, umidade, plasticidade, além de classificação quanto ao tipo: argilas, siltes, areias ou combinações. Para tanto, deve ser adotada a classificação MCT* que foi desenvolvida no Brasil e considera as características dos solos tropicais.
São escolhidos em função do serviço a executar e do solo selecionado. O tamanho da área também é fundamental para definir se o equipamento será manual ou de grande porte. O tipo de compactação depende do tipo de solo. Em geral, para solos arenosos utiliza-se vibração e, para solos argilosos, o sistema de amassamento por peso do rolo compressor é o mais indicado. É importante atentar para as faixas granulométricas e as porcentagens de areia, silte e argila.
Foots: Marcelo Scandaroli
Seleção do solo
Preparação do solo Cada tipo de solo e de equipamento conta com uma faixa de umidade apropriada. Se estiver seco demais, deve ser umedecido. Caso contrário, exposto ao sol para secagem.
Após esse processo, é importante homogeneizar o material a ser aplicado para terraplenagem. Em locais com variações climáticas acentuadas, essa etapa pode apresentar complicações.
* A classificação MCT (Mini-Compacto-Tropical) determina as características do solo a partir de ensaios com corpos-de-prova compactadores e com dimensões reduzidas
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Compactação Ao atingir a chamada umidade ótima, inicia-se a compactação da camada espalhada. A energia a ser aplicada é definida pelo peso do compressor, quantidade de passadas, velocidade de operação, espessura da camada de solo solta, se vibratória ou estática e pela superfície do equipamento. Deve-se respeitar o grau de compactação
especificado em projeto e a inclinação dos taludes deve ser definida conforme as características do material. Quando não há informações suficientes sobre o solo, geralmente adota-se o convencional 1:1 em corte e 1:1,5 em aterro, sendo, respectivamente, referentes aos eixos vertical e horizontal.
Memória técnica Para seguir o exemplo europeu, em que a compactação de determinados tipos de solo baseia-se em tabelas de referência, é importante criar registros do processo de compactação. Deve-se atentar para o registro da classificação do solo, seleção,
coleta, transporte, lançamento, homogeneização e tipo de compactação. Os resultados obtidos podem ser aplicados em obras futuras, contribuindo para um permanente aperfeiçoamento tecnológico.
Controle tecnológico Uma equipe de controle tecnológico deve coletar amostras para garantir que o solo apresente as características mínimas de suporte exigidas pelo projetista. O controle deve ser de caráter preventivo, buscando calibrar em laboratório os parâmetros de compactação. Essas diretrizes definem o desvio de umidade e o grau de compactação. É importante observar que os serviços devem ser controlados numa mesma jornada de trabalho, pois o ensaio de um dia não vale para o outro.
Colaboração: engenheiros Leônidas Alvarez Neto, diretor presidente da JBA Engenharia e Consultoria, e Jesus Abad Tolosana, da Terram Engenharia de Infra-estrutura
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ENTREVISTA
Cultura sustentável Marcelo Scandaroli
Evolução da engenharia construtiva e dos projetos demanda questionamento de processos e padrões estabelecidos
UALFRIDO DEL CARLO Graduado em 1963 pela Universidade de São Paulo, passou dois anos no CSTB (Centre Scientifique et Technique du Bâtiment), na França, como técnico de nível superior. Atuou na implantação de laboratórios de análise de conforto ambiental no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), onde foi Chefe de Agrupamento. Desde 1994 pesquisa e atua na área de sustentabilidade das edificações e sustentabilidade na arquitetura e urbanismo, sob enfoque do desempenho. Hoje, testa em sua própria casa algumas das soluções que defende.
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A
o receber a reportagem de Téchne em sua casa, um laboratório prático de soluções sustentáveis, o engenheiro Ualfrido Del Carlo iniciou a conversa pontuando que a engenharia moderna é obrigada a trabalhar com três variáveis que foram historicamente ignoradas: responsabilidade ambiental, responsabilidade social e sustentabilidade. Conseqüentemente, a evolução do raciocínio leva a extrapolar o tripé, formado por matéria, processo e forma, que sustenta a atividade da Engenharia. É fundamental à nova engenharia, segundo explica, considerar a quarta variável, o significado. Para tanto, deve questionar processos, padrões e imposições culturais em busca da função e da simplificação das soluções. Trata-se, afinal, de aproximar a engenharia das reais necessidades humanas, principalmente por-
que a construção civil é protagonista no cenário de poluição ambiental. "As organizações humanas precisam passar por uma mudança fundamental para se adaptarem ao novo ambiente empresarial e tornarem-se sustentáveis", resume. Logo, a noção de sustentabilidade envolve conceitos mais amplos, que integram homem, meio ambiente e edificações. Assim, além de contar com projetos concebidos a partir de novos conceitos, a engenharia sustentável tem alternativas aos processos convencionais também para preservar o homem, mecanizando processos. Apesar de haver um panorama mundial favorável, Ualfrido acredita que a construção civil será o último setor a adotar uma nova postura, pois nem mesmo o meio acadêmico compreende alguns dos conceitos fundamentais à engenharia. TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Quais questões devem ser respondidas para que um produto ou processo possa ser classificado como sustentável?
A engenharia sustentável procura responder se as matérias-primas vêm de mineração e processos que respeitam o meio ambiente e as relações sociais; se os processos industriais são de baixo impacto ambiental e social; se os produtos garantirão ao usuário facilidade de uso com baixo impacto ambiental e social durante toda a vida útil; e se, ao fim da vida útil, será possível reciclar com lixo zero. Com base nisso, a engenharia tem que se recriar?
Com o preço de energia e água aumentando, tem que pensar em economizar. Por exemplo, a cada 5 kg de cobre são gerados, na mina, 955 kg de sucata contaminada com metal pesado,que afeta o lençol freático. É preciso também atentar para lesões nos operários e populações vizinhas à mina. Para ser sustentável,tem que saber se não há crianças tra-
“O salário de quem trabalhou para construir o edifício não condiz com a mãode-obra e há esforços inúteis decorrentes da não-mecanização do sistema. Não atendem ao primeiro ponto, que é a sustentabilidade humana” balhando na mina de onde vem o carvão para sua churrasqueira. Há projetos de arquitetura que têm conceitos de sustentabilidade muito interessantes, mas que não respondem a tudo isso. É responsabilidade da empresa construtora responder a essas perguntas?
Deveria ser, mas a própria sociedade, por desconhecimento, se sujeita a comprar coisas totalmente fora das regras de produção. O consumidor pode ser alertado para mudar de postura ao sentir a necessidade da sobrevivência. Sustentabilidade e custo de manutenção e operação se relacionam de alguma forma?
Tem uma palavra antes, que é durabilidade. Depois, a qualidade tem que ser alta e a manutenção barata e fácil de fazer, com linguagem universal para adaptar novos produtos. Tem que considerar durabilidade, operação e manutenção. É possível avaliar a sustentabilidade de um edifício a partir dos custos de operação e manutenção?
Nenhum edifício atingiu ainda a sustentabilidade, mas podem ser avaliados pela economia de água, uso de água de chuva, uso de materiais de menor impacto, facilidade de recicla-
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ENTREVISTA gem, em como ajuda o usuário a fazer reciclagem e manutenção. Então a sustentabilidade também depende da capacidade de se adaptar?
De ser flexível, de usar materiais fáceis de reciclar e reutilizar, de fácil manutenção e que utilizam todas as fontes disponíveis e renováveis. Ainda é tênue, mas é o caminho. Podemos dizer que a flexibilidade de ambientes aumenta a vida útil dos edifícios?
A flexibilidade de ambientes é um mito. O Centro Pompidou, na França, todo desmontável, é modificado raramente porque dá um trabalho danado mexer nas paredes. É difícil alguém mudar pra valer, e fazer tudo móvel para um dia colocar uma porta é antieconômico. Flexibilidade é importante para edifícios de laboratório, hospitais, indústrias, onde as técnicas mudam muito. Em apartamento ninguém mexe depois que está pronto. Não vale a pena ser flexível,pois é mais barato o homem mudar do que mudar a parede. É uma necessidade criada pelas construtoras?
É mais barato e fácil fazer coisas que parecem flexíveis. Mas essa flexibilidade toda não vai ser usada. O homem é tradicional e não quer mudar muito. A engenharia sabe o que é sustentabilidade?
Tem projetos um pouco melhores,buscando certificação Leed [Leadership in Energy Environmental Design], mas a engenharia brasileira não consegue entender alguns conceitos. Em uma conferência sobre a construção de piscinões em São Paulo eu disse que não precisavam ser construídos desde que algumas ruas fossem despavimentadas. Como assim?
Ao despavimentar as ruas de um bairro residencial,colocando manta drenante, cascalho e areia, tudo passa a drenar e não precisa construir piscinão nenhum.Claro que isso não pode ser feito em grandes avenidas, mas poderia se tirar o pavimento de toda ilha de con24
“Não existe edifício sustentável porque tem exploração humana no sistema, que é baseado num custo baixo de construção” creto ou rotatória e plantar grama para ajudar a segurar água. É mais barato do que asfalto e resolve o problema, pois é necessário diminuir em apenas 10% a carga sobre o sistema de drenagem. Se não há compreensão sobre os conceitos de sustentabilidade, então os edifícios intitulados sustentáveis não seriam aprovados numa avaliação rígida?
Nenhum passa nem pelo primeiro crivo. Primeiro porque não temos tecnologia. Depois porque, apesar de algumas restrições, esquece-se de outras. Por exemplo, o salário de quem trabalhou para construir o edifício é aviltante e escravatício, não condiz com a mãode-obra e há esforços inúteis decorrentes da não-mecanização do processo. Mesmo com bombas de concreto e outros equipamentos, ainda vemos muito operário carregando fôrma de um andar para o outro pela fachada. Não atendem ao primeiro ponto,que é a sustentabilidade humana. A noção de sustentabilidade tem que ser ampliada.
Um edifício tem sistema para coleta de água de chuva, mas não trata. O outro trata, mas não se preocupa com energia. A segurança contra incêndio é um desastre no Brasil. Os prédios são mais modernos, mais econômicos, têm elevadores inteligentes e tudo, mas falta uma porção de coisas. E começa na mina. Se algum trabalhador foi explorado em algum lugar, já não funciona. Uma coisa depende da outra. Mesmo que se preocupe com água, pagou um salário ridículo. Isso quando registrou.
É preciso cuidado, porque a sustentabilidade passa por variáveis das quais os engenheiros não gostam. Como, por exemplo, desenvolvimento humano.
A reciclagem de 90% das latinhas de alumínio é anti-sustentável porque conta com uma mão-de-obra que se contenta em ganhar R$ 100 por mês garimpando latinha. Temos de questionar à custa de quê avançamos em certos aspectos de sustentabilidade. Isso é engenharia humana. Se o salário mínimo fosse de R$ 25 por meio-dia de trabalho, queria ver se os construtores usariam mão-de-obra pra carregar saco de cimento. Seria imperativo sistematizar processos?
Teriam de usar equipamentos para produzir em dois dias o que se produz em cinco. Atualmente as instalações são feitas quebrando parede para passar cano, depois o fio e os componentes para, ainda, errar os fios na caixa. Alguém prova para mim que não é assim? Tem que ser com chicote para instalar rápido e pagar R$ 4 mil por mês ao operário, que vai fazer 20 apartamentos por dia. Não existe edifício sustentável porque tem exploração humana no sistema, que é baseado num custo baixo de construção. Para pagar mais ao operário é necessário aumentar a produtividade?
Se o operário ganhar bem, tem que sistematizar ou não dá para pagar. É injusto pagar R$ 500 por mês para um operário empilhar tijolinho o dia inteiro. É porque tem escravo, ou então só milionário poderia fazer casa assim. Europa e Japão, que estão em outra fase de industrialização, trabalham com painéis parafusados. Então a construção industrializada é mais sustentável?
Não necessariamente, mas tende a ser por restringir os problemas à indústria, onde são minimizadas perdas de materiais.No entanto,se o processo for o mesmo, com fôrmas mal-feitas e operários malpagos, dá na mesma. TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Como não é o normal, a industrialização leva à sustentabilidade e à diminuição do esforço humano. Pensar no processo produtivo dos materiais é parte do projeto?
Tem que criar um repertório dos materiais e seus impactos, além de considerar o tipo de usuário e suas necessidades. Os melhores materiais, que devem ser preferidos do ponto de vista ambiental, são aqueles vivos, como é o caso da madeira, e os à base de óleos naturais ou água.A madeira é um grande material, mas só usamos para telhado, com dimensões exageradas. Pisos de linóleo, que vêm da linhaça, são espetaculares, duram muito e são totalmente recicláveis. E com relação a materiais que não são naturais?
Há os que exigem muita energia, mas que são fáceis de reciclar, como alumínio, aço e vidro. Também há materiais que, embora fáceis de reciclar, têm problemas ambientais, como o plásti-
Tem que voltar a ser o que era antes?
“Não é sustentável, embora diminua o impacto ambiental, usar o entulho de concreto para fazer piso de estrada” co. Os complexos, como o concreto, são complicados de se reutilizar. Qual o problema com o concreto?
É espetacular, mas é um problema. Em uma caixa de madeira ou aço coloca-se areia, retirada de um rio, pedras, que acabaram com uma montanha, além de uma estrutura de aço e água. Isso tudo nunca vai voltar a ser o que era. É importante entender que não é sustentável, embora diminua o impacto ambiental, usar o entulho de concreto para fazer piso de estrada ou qualquer coisa.
Como o caos é mais barato que a organização, é seis vezes mais caro reciclar do que jogar no lixo comum. A engenharia do futuro tem que se propor a crescer sem aumentar o consumo de material nem jogar nada fora. Não adianta picar pneu para usar em concreto. Tem que picar para fazer pneu. Senão não é sustentável, embora ambientalmente mais correto. E é possível minimizar os efeitos desse ciclo?
Claro, usando materiais naturais em vez de sintéticos, materiais inorgânicos e de fácil reciclagem, como vidro, que dura muito, alumínio, ferro. Mas tem que tratar direito, proteger. E, ao reciclar, tomar cuidado pra aproveitar completamente. Sustentabilidade é um processo contínuo de aprendizado das novas tecnologias, sempre com a quarta variável, o significado. Qual a importância do significado?
Não se pode impor uma norma porque
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ENTREVISTA não será obedecida. É como usar EPI [equipamento de proteção individual]. É questão de ensino, de significado, simbologia e cultura. Que materiais a construção deveria condenar?
Não condenar, mas usar de forma diferente, na quantidade certa para obter a inércia necessária.Tem alguns materiais, como o PVC, que liberam fosgênio durante a queima.É o gás usado na primeira guerra para matar pessoas. Produtos químicos voláteis e alguns preservantes também devem ser evitados, como os à base de arsênico. Tintas à base de chumbo podem estar causando morte lá na origem. Têm cimenteiras sem os filtros necessários matando operários e a população do entorno com silicose.Alguns amiantos exigem mais cuidados. Nesse contexto, qual a importância dos selos de certificação ambiental para produtos?
Selos são importantes, mas tem que se tomar cuidado e ter controle da qualidade. Não pode ser um certificado que vale para a amostra, mas sim para o sistema de produção. No entanto, o baixo volume de produção no Brasil não justifica fazer ensaio toda hora, o que dificulta a manutenção do controle da qualidade. De que maneira um selo pode auxiliar na manutenção do controle da qualidade?
No Brasil, um selo de 1970 vale até hoje. A França introduziu um selo que avalia o edifício a partir do processo evolutivo, em que as exigências aumentam com o passar dos anos. Então, não é garantido que vai manter a certificação daqui cinco anos. Impõe a necessidade da inovação e do aprendizado no tempo, preparando para a geração futura de edifícios, que eu não sei se nossas construtoras vão fazer. O selo tem que evoluir com a tecnologia ou o fabricante não quer que as normas mudem para não perder o selo. E qual a importância do volume de produção?
Para manter fiscais que entendem do 26
“A construção é o mais retrógrado dos setores. Existe tanta simbologia embutida, que será o último setor a padronizar as operações” processo e ganham bem. Não estamos preparados e não temos cursos dessas coisas. Não existe esse profissional, assim como não há engenheiro ambiental. Tem cursos de pós-graduação, mas muito rudimentares. Sem escala, não há cursos para formar engenheiros que avaliem projetos, alguém que sabe analisar,a partir da norma,do certificado e que seja aberto a inovações. Um engenheiro da prefeitura aprende lá dentro a avaliar, o que é um desastre do ponto de vista da sustentabilidade.
Estamos mais atrasados que os outros, mas acho que ninguém no Mundo tem. Há escritórios fazendo esforços para se atualizar, mas as escolas não ensinam. Na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo há uma disciplina optativa de sustentabilidade, por onde passam 30 alunos de 600. E todas as engenharias têm problemas de sustentabilidade. O senhor afirmou, anteriormente em entrevista à Téchne, que os profissionais fogem de análises de variáveis conflitantes. De quê decorre essa fuga?
Primeiro porque vêm de uma sociedade perdulária. Ao entrar na faculdade o aluno ganhou um carro sem nunca ter discutido a necessidade do carro. Na faculdade, ninguém ensina pra ele que um sistema sustentável faz em meia-hora o que os outros fazem em cinco. Tem aula de desenho, matemática, física, conforto, mas jamais sustentabilidade. Essa palavra não existe.
Os fabricantes têm materiais eficientes?
E quanto às imposições de mercado baseadas em padrões culturais?
Alguns produzem até sem saber que são eficientes. Não há engenheiro de madeira no Brasil, alguém capaz de dizer como uma tora deve ser desdobrada para obter o máximo de rendimento. O produto é nobre, de baixo impacto ambiental, mas foi tirado da floresta sem muito critério. Aqui, talvez porque o mercado seja pequeno, ainda falta algo.
O primeiro grande problema é fazer com que as pessoas pensem em viver mais simples, destruindo menos o meio ambiente. É difícil porque é uma sociedade de consumo exigindo mudanças violentas de comportamento.
Os fabricantes deveriam ter um sistema de coleta dos sacos de cimento entregues à obra, por exemplo?
Deveriam cobrar uma taxa por saco não devolvido. Com pilha é igual. Ao devolver, recebe de volta. Se não devolver, arca com o prejuízo. O sistema tem que ser mais agressivo. E jogar a responsabilidade para o consumidor?
Não, no bolso dele. Os projetistas brasileiros têm capacidade de desenvolver projetos sustentáveis?
Quando essa consciência chegará à construção civil?
A construção é o mais retrógrado dos setores e foi o último a buscar o Total Quality Control, a ISO 9000. Existe tanta simbologia embutida na casa, no lugar de trabalho, na altura do prédio, que será o último a padronizar as operações, seja no Brasil ou no Japão. É muito mais fácil criar um sistema de reciclagem de automóveis, como fez a Mercedes, que recicla 90% do carro, do que de edifícios. Isso devido à cultura?
É uma mistura de cultura com padrões muito estabelecidos. O Japão precisou de uma grande crise, também imobiliária,para mudar.A nossa crise vai chegar, resta saber quando, pois estamos venTÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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dendo apartamento a torto e direito sem escolher muito bem os credores. E economia é o próprio sistema insustentável. As coberturas das nossas construções ainda são um desastre?
Existe tecnologia, mas os telhados vazam no Brasil. Um dos grandes problemas é a falta de manutenção. O futuro está nas coberturas verdes, com jardins, menos agressivas ao ambiente por aumentar a inércia e melhorar a isolação térmica. Com menos sol, os materiais duram mais. Mesmo assim, tem que ser fácil de renovar a impermeabilização a cada dez anos. Nossos projetos de cobertura são malconcebidos?
As vigas geralmente têm um tamanho absurdo, com duas vezes mais madeira do que o necessário. E as tesouras no Brasil têm caibro no meio, o que não se faz. Tem que ser um "W" para descarregar fora do meio e dar menor momento, diminuindo o vão e exigindo menos madeira.
Quais os principais problemas das nossas fachadas?
Não existe face ruim, existe projeto ruim. Temos que usá-las ativamente, para aproveitamento de energia, e não apenas como proteção passiva. Podemos colocar painéis solares na face oeste, que tem muita radiação e sofre com problemas de aquecimento. Deveríamos explorar melhor a incidência do sol?
Sem dúvida. Meu filho está reformando seu apartamento e o projeto, de 20 anos, diz que a laje do terraço tem que ter cor de cimento. Ele pintou de branco para diminuir a quantidade de lâmpadas e tomou uma bronca do condomínio. No entanto, se fechar com vidro pode pintar, o que só pode ser brincadeira, já que é face oeste e, ao fechar, vai criar um efeito estufa. Não há modernização da mentalidade coletiva. Existem regras sociais que fazem todos andarem juntos, como gado, e serem incapazes de pensar.
Qual deve ser a relação da cobertura e da fachada com o meio? Aumentar a inércia térmica, com paredes verdes, por exemplo, é o mais adequado?
Certamente, mas que seja efetivamente verde, plantada, para sombrear o prédio. Há dois mil anos os árabes fazem paredes externas espessas para, com o frio da noite, a parede esfriar e não dar tempo de o calor do dia passar. E no meio havia um chafariz pra aumentar a umidade interna. O homem já fez todas as experiências, é só copiar e aplicar a tecnologia que temos hoje. Podemos usar inércia do solo. Algum projeto atual adota solução semelhante?
A sede da prefeitura de Fukuoka, no Japão, projetada pelo arquiteto Emilio Ambasz, é um exemplo que ganhou um concurso internacional. Uma das fachadas é uma praça, verde, com vários patamares, janelas e queda d'água. Do outro, é um prédio semelhante aos demais. Outra coisa, adotada em países muito secos e que seria interessante
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ENTREVISTA para o Nordeste, por exemplo, são evaporadores para refrigerar casas. É possível equacionar incidência solar sem gerar calor no ambiente?
mais acontece em edificações, principalmente nesses prédios com fachadas de vidro, o famoso pano de vidro. É um negócio perigoso.
Ao fechar um ambiente, a tendência é aumentar a temperatura. Com ventilação e evitando a entrada de muito calor e aglomerações, pode deixar a temperatura muito próxima à externa. É possível administrar, por exemplo, fazendo com que o prédio tenha massas significativas e necessárias à inércia. Ao usar divisórias leves, a tendência é que a temperatura oscile de acordo com a externa.
Essa alternativa deveria ser banida?
O conforto ambiental pode ser alcançado em qualquer projeto ou é exclusividade de obra cara e complexa?
No meio acadêmico é mais fácil difundir soluções alternativas em favor da sustentabilidade?
Pode ser alcançado sempre. É possível fazer paredes de terra socada com 40 cm de espessura, garantida por 500 anos desde que protegida da água. Depende 90% de projeto, 10% de equipamento. Efeito estufa é o que
Pode ser melhorada, porque ou me defendo ou aproveito a energia do sol. Percebe a diferença? No exterior, painéis solares nas fachadas geram energia ou aquecem água ao mesmo tempo em que são janelas. Existem vidros modernos, que mudam de cor ou são espelhados para diminuir o consumo de energia, embora exista o problema do reflexo.
Já mandei projetos para a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que foram rejeitados por não terem utilidade. Quis fazer avaliação ambiental de toda a USP (Universidade de São Paulo) e propus fazer coberturas verdes em
todos os prédios. Com um milhão de metros quadrados, iria gerar 70% da energia e 100% da água que a Universidade precisa. Alegaram que a pesquisa é prematura. Mas se a idéia não for prematura, não é pesquisa. Aproveitamento é outro departamento, outra fase. Por ter trabalhado no CSTB francês, diria que no exterior é diferente?
Morei dois anos na Europa e todas as idéias de pesquisa que tive viraram realidade. Aqui, nem o laboratório de desempenho que quis montar no IPT chegou ao fim. No mundo desenvolvido, manter as coisas iguais é a morte. No Brasil, mexer é perigoso. Então falta muito investimento em pesquisa?
Vêem as propostas como estranhas porque não têm gente para avaliar. Quem avalia não sabe da quarta variável,o significado.Ser sustentável é questionar o significado em todas as ações. Bruno Loturco
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TÉCNICA E AMBIENTE Frio solar Edifício construído em região quase desértica conta com ar refrigerado produzido a partir de radiação solar. Protótipo pretende oferecer conforto térmico com pouca energia elétrica segundo edifício bioclimático da Plataforma Solar de Almería, inaugurado na Espanha, deve economizar até 90% da energia necessária para o funcionamento de um edifício convencional de mesmo porte. A construção, de cerca de 1.000 m² úteis, abriga escritórios e laboratórios e é um dos nove protótipos a serem produzidos em um projeto de desenvolvimento de arquitetura bioclimática liderado pelo Ciemat (Centro de Pesquisas Energéticas, Ambientais e Tecnológicas), órgão ligado à Universidade de Almería, e pelo Ministério da Educação espanhol. A estrutura foi erguida em uma região de clima mediterrâneo seco, quase desértico, com o desafio de prover aos ocupantes o máximo conforto térmico utilizando o mínimo de energia elétrica convencional – não mais do que 20% do total consumido pela edificação. Para atingir seus objetivos, a equipe multidisciplinar de pesquisadores – composta por arquitetos, engenheiros e físicos – lançou mão de estratégias técnicas passivas e ativas no desenvolvimento do projeto do edifício. Esteticamente, a construção não apresenta ousadias: seu desenho é composto basicamente por linhas retas, horizontais e verticais, e todos os ambientes que a compõem são contíguos, ao nível do solo. Pilares, vigas e lajes foram confeccionados em concreto armado simples, moldado “in loco”, e o fechamento, em alvenaria de tijolos. Externamente, foram 30
Fotos: divulgação Ciemat
O
Repleto de painéis fotovoltaicos e coletores de água, edifício deve produzir quase toda a energia necessária para seu pleno funcionamento
aplicados revestimento monocapa branco e mármore de Macael. De acordo com os pesquisadores do Ciemat, esses sistemas atribuem grande inércia térmica ao edifício, proporcionando maior isolamento aos ambientes internos. As soluções arquitetônicas visaram à eficiência energética da construção. O edifício tem sua maior extensão na direção leste-oeste para aproveitar melhor a iluminação natural. Na fachada sul, uma marquise garante o sombreamento (e resfriamento) nos meses de verão; no inverno, permite a incidência direta dos raios solares através das janelas para aquecer o interior das salas. Placas fotovol-
taicas instaladas na marquise garantem a geração de parte da energia que será consumida pelo edifício. Na cobertura, uma estrutura de duplo pergolado sustenta os painéis de captação solar. As sombras projetadas pelas placas na laje contribuem para a redução da temperatura superficial e, conseqüentemente, nos ambientes. Caixilhos na cobertura tornam possível a iluminação zenital do corredor central do edifício. Nas temporadas de calor, podem ser abertos para promover a ventilação interna; no frio, permanecem fechados para evitar a dissipação do calor. Além das placas fotovoltaicas, a construção também possui painéis soTÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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lares para aquecimento de água. Ao sair dos coletores, a água quente tem dupla função. Na mais "convencional", abastece as instalações sanitárias e de calefação por pisos radiantes. Sua outra função, por mais improvável
que pareça, é manter em funcionamento os equipamentos de ar-condicionado. Conhecida como refrigeração solar, a tecnologia consiste no uso da energia térmica da água quente para a ativação da bomba de absor-
ção que irá refrigerar o ar do sistema. Com esse tipo de refrigeração, há a coincidência dos picos de demanda e produção de ar frio no ambiente.As tubulações que conduzem o ar até as unidades de tratamento são enterradas e isoladas, dificultando trocas de calor com o ambiente. Assim, o ar chega mais frio aos equipamentos, possibilitando maior economia de energia. Todos os sistemas estão conectados a uma central de automação. Até 2010, ano previsto para a conclusão do projeto, serão feitas as medições de consumo energético e de índices de conforto ambiental em condições reais de uso do edifício. Somente após a obtenção desses dados a hipótese inicial de sensível economia de energia por meio da arquitetura bioclimática poderá ser confirmada. Renato Faria
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LUMINOTECNIA
Menos luz, mais eficiência Maior aproveitamento de luz natural reduz consumo energético e aumenta o conforto ambiental entre os quesitos básicos de certificação em sustentabilidade de edificações,a luminotecnia é fator relevante ao prever economia de eletricidade, seja por uso consciente do menor número de pontos de iluminação artificial, ou mesmo pela redução da potência nos sistemas de ar-condicionado. O conceito de conservação de energia deve ser compreendido antes da concepção de um projeto luminotécnico. "Conservar energia significa melhorar a maneira de utilizá-la sem abrir mão do conforto; é diminuir consumo,reduzindo custos e impactos ambientais, sem perder eficiência e qualidade dos produtos," define o projetista luminotécnico Davis Paro, da Scene Iluminação. Segundo arquitetos, a viabilização do projeto sustentável em luminotecnia pode reduzir os custos de operação e manutenção de edifícios em até 60%. Se a sustentabilidade fizer parte do negócio desde sua idealização, os custos totais da obra terão um acréscimo médio de 10%. No caso de adaptações aos projetos em obras que já estão em andamento, os custos podem chegar a 20% do orçamento inicial para o empreendimento. A eficiência da luminotecnia também está relacionada à melhor viabilidade técnica de operação e manutenção. "Sistemas eficientes geram menor carga térmica com número menor de pontos de luz instalados, o que resulta em conta energética mais barata; por outro lado, podem-se adiar os custos de manutenção e troca de equipamentos com o aumento do seu ciclo de vida 32
Fernando Blay
D
No escritório da Citroën do Brasil, projetado pela Hochheimer Imperatori Arquitetura, aberturas na cobertura somam-se à reformulação dos "sheeds" e possibilitam, além da utilização de luz natural, a criação de uma paisagem interna
útil, pelo uso controlado," afirma a consultora luminotécnica Neide Senzi. Para que tudo isso seja possível é preciso, contudo, que o projetista de iluminação acompanhe o projeto desde o início. "Ele deve estar presente já no ato da aprovação dos projetos executivos, e não só participar da inserção de luz artificial, como geralmente ocorre", defende Davis Paro. "Instalações elétricas, infra-automação para iluminação, ar-condicionado, forros; são diversas as etapas a serem pensadas em conjunto com a
luminotecnia e que vão limitar ou possibilitar uma maior eficiência sustentável do edifício," completa. Luz do sol
Guinter Parschalk, do Grupo de Trabalho "Sustentabilidade", da AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), relembra que a arquitetura tem que ser concebida para aproveitar a luz natural levando também em consideração seus malefícios, como os raios infravermelhos, que geram calor dentro do ambiente. A idéia é, assim, TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Iluminação natural
aproveitar o máximo possível de luz natural, dentro da função que o espaço vai assumir, para que se possa, em segundo plano,equacioná-la ao uso do ar-condicionado e da iluminação artificial. "Tudo depende do clima da região e da própria implantação do edifício; se vai ser possível abrir janelas e deixar que a ventilação cumpra, pelos menos parcialmente, a função do ar-condicionado", afirma Parschalk. O arquiteto George Frug Hochheimer concorda com o fato de que a luz natural deve ser a primeira a entrar nos espaços: "Criamos um conjunto de ações que visam reter raios solares ou direcioná-los da forma mais interessante, para que somente a luz entre, e não o calor, com o uso de brises, tipos especiais de caixilhos e vidros com persianas externas brancas, refletivas". A opinião do arquiteto Roberto Aflalo é de que o tratamento das fachadas deve acontecer antes do projeto luminotécnico. "Para aproveitamento máximo da luz natural, a fachada pode ser até dinâmica, adaptando-se aos diferentes horários do dia, em cada situação", diz. Resolvida a questão de como o sol vai bater na janela, é preciso medir a quantidade de luz necessária nos ambientes, de acordo com suas respectivas funções, para a aplicação da luz artificial. Na ponta do lápis
O projeto luminotécnico leva em consideração fatores que realizam equilíbrio entre luz e consumo de
Fernando Blay
Quinhentos lux é a iluminância para planos de trabalho sugerida pela norma NBR 5413 (iluminância de interiores), necessária a tarefas de média precisão. Neide oferece ainda alguns exemplos: "Para oficinas de montagem, 300 lux/m², enquanto na montagem de instrumentos são necessários 500 lux/m²; em montagens precisas chegam a ser exigidos 1.500 lux/m², e nos escritórios o necessário é 500 lux/m²".
Rogério Lorenzoni
Existem regiões em que a luz natural chega a níveis de 150.000 lux. Já em ambientes internos, para que não seja desconfortável, a iluminância nunca deve ser superior a 1.000 lux. "Percebemos, por esses números, que necessitamos de uma pequena fração da luz natural em ambientes internos para nossa percepção visual na realização de tarefas, que exige, em média, 500 lux", explica a consultora luminotécnica Neide Senzi.
O projeto dessa residência mescla iluminação natural com vários circuitos elétricos que permitem a criação de usos diversos e consumo de eletricidade em cada situação. Alternando-se a utilização das fontes de luz, formam-se também novos cenários
energia. E nesse quesito, a climatização do ambiente tem tanta importância quanto a luminotecnia. "A cada 3,5 W de luz reduzidos no consumo elétrico, fica economizado 1 W no uso do ar-condicionado, o que totaliza uma economia operacional de 4,5 W," calcula Yoon Kim, vice-presidente de iluminação da Phillips/Brasil. Para isso, podem ser adaptadas diferentes lâmpadas de acordo com o lugar, com a função específica do ambiente e com a hora de uso certa do dia. A eficiência "se atinge com o uso de lâmpadas de menor wattagem e maior fluxo luminoso, ou seja, maior luminosidade, com menor emissão de calor", afirma a consultora Neide
Senzi. Assim, uma lâmpada com eficiência de 15 lúmen/W é de baixa eficiência e gera mais calor do que outra, de eficiência de 85 lúmen/W. Uma série de fontes de luz, hoje, é mais vantajosa que as tradicionais incandescentes e halógenas: pode-se usar as fluorescentes, de vapores metálicos e os LEDs (diodos emissores de luz). Para Davis Paro, os LEDs são os primeiros parceiros na implantação de um projeto luminotécnico sustentável. As microlâmpadas de altíssima eficiência energética são capazes de gerar luz com pouquíssima dissipação de calor e podem ser facilmente dimerizadas. "O aumento da potência dos LEDs e a melhoria 33
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LUMINOTECNIA
Normas
No mercado existem divergências quanto à normalização. A opinião de alguns especialistas é de que a norma impede a liberdade de criação ao estabelecer parâmetros fixos. Para Guinter Parschalk, "o ato de 'ver' depende muito mais da qualidade do que da quantidade da luz", opina. O pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) Fulvio Vittorino, contudo, relembra que a NBR 5413 (ilumi-
LÂMPADAS E VIDA ÚTIL Tipos Durabilidade Incandescentes 10 mil horas Fluorescentes
7,5 mil horas
Halógenas
2 mil horas
Dicróicas Vapor de mercúrio De sódio, baixa pressão Mista Fluorescentes compactas
3 mil horas 24 mil horas
Multivapores metálicos LED (Light Emitting Diode)
24 mil horas 6 mil horas 10 mil horas
Entre 8,5 e 15 mil horas 100 mil horas
Fernando Blay
da sua qualidade de emissão luminosa os coloca como substitutos das lâmpadas fluorescentes compactas, que já aposentaram as incandescentes," afirma. Davis Paro ressalta o desenvolvimento do LED com luz polarizada nos Estados Unidos. "Há ainda gente que acha que LED não ilumina; o polarizado, em vez de espalhar luz em todas as direções, é altamente focalizado, abrindo caminho para sua utilização inclusive em telas LCD para TVs de alta definição, monitores, câmeras digitais e telefones celulares," exemplifica. Projeto prioriza o aproveitamento máximo da iluminação natural
nância de interiores) não impede que o projeto seja mais ou menos sustentável. "A norma permite que se faça uma escolha coerente", diz. "Você pode combinar iluminação geral mais baixa, para que se circule com conforto e segurança, somada a uma luz pontual, complementar, para a execução de dada tarefa. A norma técnica não exclui idéias inteligentes", completa.
Fulvio explica que o conceito da norma, trazida do exterior para a ABNT, é o de nível de iluminação para cada atividade: "Num corredor, por exemplo, pode ser bem baixa, o que gera economia; mesas de reunião de 10 m de comprimento necessitam de uma boa iluminação; em uma sala onde trabalham projetistas, um ponto adicional pode ser ligado e des-
Características Luz a partir de um filamento incandescente de tungstênio; baixo custo, baixa eficiência (12 lúmen/W) e alto consumo. Gás ionizado emite radiação ultravioleta que incide sobre a camada fluorescente da superfície interna dos tubos de vidro; luz fria, porém mais eficiente (70 lúmen/W). Mais caras. Ótima reprodução de cores. Consomem até 40% menos que as incandescentes e são compactas, muito usadas em decoração e vitrines. Funcionam em tensão de rede ou baixa tensão, em processo similar às incandescentes, com adição de gás halógeno. Evolução das halógenas, têm um refletor que concentra o facho luminoso. Como as fluorescentes, é uma lâmpada de reação (luz branca, fria). Emite cerca de 55 lúmen/W e é utilizada tradicionalmente na iluminação pública. É de reação e atinge cerca de 130 lúmen/W. É a mais econômica. Por ser robusta e barata, vem sendo muito empregada na iluminação pública. Combina incandescente com um tubo de descarga de alta pressão. Emite 25 lúmen/W. Fluorescentes com tubo em "U", simples, duplo ou triplo, ou ainda na forma circular; têm reator incorporado à rosca. Mais caras, consomem cinco vezes menos que as incandescentes. Têm grande fluxo luminoso e alta eficiência – muita luz (cores relativamente frias) e pouco calor (90 lúmen/W). Diodo semicondutor que, energizado (eletroluminescência), emite luz monocromática, dependendo do material do componente – vermelho, amarelo, verde, outros. Alto rendimento, durabilidade e potência de 10 MW a 150 MW; podem substituir lâmpadas, se o custo compensar.
Fontes: Copel e Osram
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André Otero
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Projeto do Banco Pactual, em São Paulo, de Neide Sanzi. Integração de luz natural e artificial, com sensores de luminosidade ligados às luminárias que medem a incidência de luz natural no ambiente e regulam a iluminância, mantida sempre em 500 lux
ligado quando necessário, sendo a luz ambiente, mais baixa, suficiente para uso comum". Guinter prefere levar em consideração não só o tipo de atividade a ser executada: "Tudo influencia, até a cor das paredes: se forem pretas, em um ambiente de escritório, a luz será de uma intensidade; se forem brancas, refletivas, a luz artificial deverá ser outra, menos intensa; até o branco da folha de papel, em um ambiente escuro, aumenta o contraste entre o ambiente e o foco do olho, o que pode gerar desconforto", pondera. O designer aponta, assim, um estudo minucioso do uso da luz, sua composição com o ambiente decorado e as especificações da norma técnica. "Por sistema de somatória de pontos, a norma dá uma faixa entre um valor mínimo e outro máximo, em função da precisão com que se há de executar a tarefa", interpreta Fulvio. Mesmo a norma norte-americana de eficiência energética, que até há
pouco mais de dez anos impunha que se instalassem sistemas de controle automatizado para iluminação artificial, precisou ser alterada, porque se percebeu que ainda era inviável, devido aos altos custos; hoje, seu uso é só uma sugestão. "Não tem por que modificarmos a norma brasileira agora", avalia o pesquisador. "Não há atualmente uma pesquisa que oriente essas mudanças." Comportamento
Segundo Guinter, vários países estão pleiteando a proibição de lâmpadas incandescentes e halógenas, pelo uso das fluorescentes compactas. "A luz amarela, entretanto, é a considerada mais aconchegante, historicamente, pois está relacionada à luz da manhã, ou do pôr-do-sol, períodos do dia de menor produtividade", destaca. Por outro lado, a luz branca é menos confortável, principalmente se for alta sua parcela de cor azul. "Remete às horas de alta produção, grande incidência de luz, e por isso não
Itens de avaliação do projeto luminotécnico Distribuição e quantidade de luz em determinado ambiente, por cálculo luminotécnico segundo níveis recomendados pela NBR 5413 (iluminância de interiores)
Especificação de sistemas luminosos adequados às atividades humanas
desenvolvidas em dada situação e seu controle de ofuscamentos
Preocupação com a qualidade de vida útil dos produtos especificados, além de automação, feita com controladores de luz, dimmers e sensores
LEDs são fortes candidatos a substitutos das lâmpadas fluorescentes compactas devido à sua qualidade de emissão luminosa e alta potência
combina muito com ambientes de descanso, como o residencial." A luz branca de baixa intensidade produz efeitos duvidosos, pois "sua baixa luminosidade cria climas cavernosos, de dias nublados, cinzas e deprimentes, o que afeta o bem-estar físico e psíquico", diz Guinter. Para ele, não basta proibir o uso de determinados tipos de lâmpada, mas sim saber utilizá-las da forma mais econômica e sustentável, em combinação com outros tipos, como as fluorescentes. "Além disso, lâmpadas fluorescentes têm o problema do impacto ambiental, já que não podem ser descartadas em qualquer lugar – elas contêm, em seu interior, pó à base de mercúrio e fósforo, que podem contaminar o solo." A questão da sustentabilidade e economia de energia elétrica também está muito relacionada ao comportamento humano. Assim, apagar as luzes na hora certa vai fazer muita diferença. "A iluminação de exteriores costuma ser um ponto crítico", relembra Fulvio Vittorino. "Vale gastar o mínimo de energia,iluminando caminhos [do carro à porta de entrada], a segurança, placas indicativas, hidrantes; um imenso holofote para destacar a fachada,à noite,é um gasto desnecessário, sob o ponto de vista da sustentabilidade. É sempre bom discutir quanto de luz será empregado entre quais horários do dia e onde, para que o desperdício não pese, em última instância, no bolso do condômino." Giovanny Gerolla
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Michel Denancé
FACHADAS
Alto desempenho, baixo impacto A correta escolha da fachada garante maiores conforto e eficiência energética nas edificações. A polêmica que não cala é: fachadas cortina podem gerar pequeno impacto ambiental? eficiência de uma fachada está atrelada à sua capacidade de reduzir impactos ambientais no funcionamento do edifício como um todo, e em sua própria construção. Para serem consideradas de baixo impacto ambiental as fachadas desse tipo devem fazer parte de um macrossistema edificado de alta eficiência energética. A aferição dos níveis de eficiência de uma envoltória só pode ser feita em
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conjunto com o nível do desempenho ambiental de todos os subsistemas que compõem o edifício. De acordo com a especialista em fachadas de baixo impacto, a pesquisadora Mônica Marcondes, do Labaut (Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – Universidade de São Paulo) não existe padronização nem solução ideal para
uma fachada ser considerada de alta eficiência energética. "O primeiro passo é saber que tipo de respostas se espera de uma fachada", explica. Em primeiro lugar, a envoltória deve ter a função básica de proteger o interior do edifício. Para tanto deve apresentar alta estanqueidade à água, poeira e ruídos, aliada à rigidez, durabilidade e baixo custo de manutenção. Em um segundo momento pode ser exigido TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Fotos: Marcelo Scandaroli
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O Centro Empresarial Nações Unidas tem índice WWR (que mede a relação entre a área opaca e a transparente das fachadas) de 50%, considerado satisfatório para a capital paulista
da envoltória o fornecimento de luz, calor ou ventilação. Todos esses aspectos devem ser levados em conta quando o projetista desenvolve o edifício. Se à função da fachada forem adicionados conceitos de baixo impacto ambiental, o universo ampliase e o objetivo da envoltória passa também a abranger a busca pelos confortos térmico, acústico, luminoso e pela eficiência energética. Para Mônica Marcondes, o projeto de fachadas de baixo impacto deve levar em conta cinco pontos básicos, que partem de um projeto integrado no qual se relacionam variáveis climáticas, o entorno, o usuário e o edifício. As características físicas da construção, como tipo de estrutura, forma, tipologia, orientação, pé-direito, mobiliário, revestimentos etc., devem se alinhar com o uso do espaço, medido pelo período de ocupação ao longo do dia, tempo de permanência, atividade
Esquema de fachada dupla de vidro
desenvolvida, tipo e idade dos usuários e demanda de equipamentos (veja tabela 1).A aferição desses pontos permite dimensionar a carga térmica do ambiente em questão e leva diretamente ao uso de dispositivos de conforto ambiental. Nesse campo, devem ser avaliadas as diferentes percepções do usuário, os aspectos fisiológicos
aliados aos psicológicos, as exigências ambientais humanas mínimas e as normas brasileiras e internacionais. "Todas essas premissas levam a uma mudança de paradigmas que ainda esbarra em muitas barreiras culturais no Brasil", explica. Os set points dos equipamentos de ar-condicionado estão sempre regulados para manter os ambientes em uma temperatura de aproximadamente 21oC, muito frio para os padrões brasileiros. "As mulheres são as que mais sofrem", explica. Além dos aspectos de conforto ambiental, para garantir maior sustentabilidade na própria execução das fachadas devem ser empregados materiais que não resultem em resíduos excessivos e entulhos não-recicláveis, que não liberem no ar produtos considerados danosos à natureza, como compostos de cloro e carbono, e que não exijam para sua produção consumo excessivo de energia. 39
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FACHADAS
O arquiteto Paulo Duarte, consultor de fachadas da PCD Consultores, acredita que, nos trópicos, existem duas funções críticas e comuns à grande parte das fachadas: uma é permitir a passagem de luz suficiente para garantir conforto visual, de maneira a otimizar o consumo de energia para a iluminação artificial; outra é diminuir a quantidade de calor que passa de fora para dentro e reduzir o consumo de energia para a climatização. Podem também ser adotadas soluções passivas de ventilação, que diminuem o uso do ar-condicionado. "A ventilação natural deve ser apoiada em condições favoráveis de sombreamento", explica. Soluções baseadas nesse conceito podem ser largamente utilizadas para edifícios de poucos pavimentos como hospitais, laboratórios ou escritórios. No entanto, o arquiteto alerta que a abertura de vãos nas fachadas de edifícios comerciais altos, em cidades como São Paulo, é limitada pelo ruído excessivo e a má qualidade do ar. "Existem soluções sustentáveis mais adequadas para essas fachadas, mas elas estão atreladas ao grande cuidado no projeto e na execução", explica. Para o arquiteto, obras de uso "coletivo", como edifícios de apartamentos ou de escritórios, dificilmente conseguem vender a idéia de sustentabilidade devido ao quase total desconhecimento e desinteresse do mercado consumidor a esse respeito. "Junte-se a 40
Nigel Young
Tabela 1 – REQUISITOS AMBIENTAIS E DE PROJETO PARA SÃO PAULO X EDIFÍCIOS ALTOS DE ESCRITÓRIOS Requisitos ambientais Recomendações para edifícios genéricos Implicações para edifícios altos de escritórios Resfriamento Controle solar (controle de ganhos de calor Ocupantes: geralmente ganhos internos elevados em todas as orientações o ano todo) Promover o movimento do ar (dissipar o Andares elevados: alta velocidade e excesso de umidade e cargas internas) pressão do vento Inércia térmica + ventilação noturna Depende do layout interno (reduzir flutuações durante ocupação, dissipar cargas internas, absorver calor) Iluminação natural Distribuição homogênea e uniformidade Plantas estreitas x profundas mínima para promover níveis aceitáveis Normas: níveis mínimos de iluminância de conforto visual Controle de ofuscamento e contrastes Controle do ruído e Reduz com altura da qualidade do ar Fonte: Mônica Marcondes
O projeto de Norman Foster é um dos primeiros modelos de edifícios ecológicos de Londres. As fachadas são formadas de vidro duplo com metalização e cavidade de 15 cm ventilada
isso o interesse relativo dos investidores, visando apenas ofertar algo diferente, que está em moda", critica. Soluções adequadas
No Brasil, a partir da década de 80 começaram a ser projetados prédios com fachadas inteiramente transparentes, as chamadas cortinas de vidro seladas, importadas de modelos norteamericanos. Essa solução já foi exaustivamente discutida por especialistas que a consideram de pouca eficiência energética para o clima brasileiro, mesmo incluindo-se os avanços de al-
guns tipos de vidro frente às solicitações térmicas. De acordo com Mônica Marcondes, alguns produtos oferecidos no mercado são balizados por normas estrangeiras de países de clima temperado a frio, portanto, ao contrário do que se propõem, permitem a passagem de luz e calor."Mesmo a condição de reflexão proposta por alguns tipos de vidro só aumenta o problema do vizinho", acredita. Já o consultor Paulo Duarte acredita ser possível montar uma envoltória satisfatória com o uso de esquadrias bem apropriadas e a correta escolha de vidros. "Hoje os vidros disponíveis apresentam desempenho excepcional, ajudando muito, mesmo num país tropical", acredita. "O primeiro critério é haver preocupação real e verdadeira com a questão da sustentabilidade", conclui. Toda essa discussão, no entanto, não pode deixar de lado índices bem aceitos no mundo todo, inclusive no Brasil, como o WWR (Window to Wall Ratio), que mede a relação entre a transparência e a opacidade da envoltória. Idealmente para São Paulo, um índice de 50% seria satisfatório, em oposição à grande massa de edifícios altos de escritórios em que essa relação sobe para quase 100%. A Torre Norte do Cenu (Centro Nações Unidas), projeto do escritório de arquitetura Botti Rubin, tem um índice de 50% e portanto é considerado um dos edifícios de TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Com quase 50 anos, o prédio do arquiteto Rino Levi, hoje do Banco Itaú, na avenida Paulista, em São Paulo, é um dos mais eficientes em conforto ambiental e consumo de energia (acima). Sistemas de proteção solar passivos como os brises (detalhe), aliados às fachadas cegas, com massa exposta e alta inércia térmica, garantem controle da incidência de carga térmica e sombreamento estratégico
melhor eficiência energética em São Paulo. Mas a solução mais adequada veio de um projeto de 1960 do arquiteto Rino Levi, hoje o edifício do Banco Itaú, na avenida Paulista, zona Sul da capital. Todas as fachadas foram tratadas de maneira diferenciada com cálculos e estudos de insolação. O resultado é típico da arquitetura moderna: a incorporação de sistemas de proteção solar passivos, como os brises, e fachadas cegas, com massa exposta, com alta inércia térmica e sombreamento garantido. "Um prédio de quase 50 anos ainda é o melhor de São Paulo em termos de conforto térmico e eficiência energética", explica Mônica. Ou seja, os brises tão difundidos na arquitetura moderna, se empregados nas fachadas certas e exteriormente à envoltória, suplantam a eficiência de torres totalmente de vidro, sem nenhuma proteção solar passiva, e suas altas demandas energéticas.
Esquema de fachada ventilada com revestimento pétreo ou cerâmico Fachadas ventiladas
Além da tradicional solução de proteção solar passiva, tem-se discutido no Brasil o projeto de edifícios com fachadas duplas ventiladas. Primeiramente, o termo foi conferido às soluções com painéis opacos fixados afastados do paramento. A função da segunda pele nas fachadas ventiladas opacas é de promover um sombreamento na fachada, além da ventilação retirar carga térmica. Nesse tipo, já utilizada no Brasil há mais de 13 anos,
são usados como revestimentos da segunda camada produtos panelizados, como pedras, cerâmica e alumínio compósito, na maioria das vezes com juntas seladas, com distância entre camadas de no mínimo 10 cm. O uso desse tipo de fachadas deve obedecer aos requisitos técnicos de estanqueidade (veja tabela 2). Deve-se impermeabilizar muito bem o paramento por trás dos elementos da segunda camada, independentemente do envelope externo. "Não há o conhecimento pelo usuário final, e muitas vezes nem pela construtora, da necessidade de se tornar estanque esse paramento", explica Duarte. "A falta da impermeabilização é tratada apenas como uma simples redução de custos", conclui. Já o uso de duas peles de vidro com uma cavidade entre elas, ventilada ou não, são largamente empregadas fora do Brasil e estão associadas a edifícios altos. "Por sua nature41
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Mônica Marcondes
FACHADAS
O edifício Debis, em Berlim, Alemanha, apresenta fachada dupla ventilada com camada exterior com aletas de vidro passíveis de abertura automatizada. É a última geração em fachadas duplas ventiladas. O projeto é de Renzo Piano Tabela 2 – DESEMPENHO DE UMA FACHADA DUPLA VENTILADA EM RELAÇÃO A DIFERENTES CRITÉRIOS AMBIENTAIS EM SÃO PAULO E EM CIDADES EUROPÉIAS Requisitos ambientais Cidades Européias São Paulo Aquecimento ++ + Resfriamento + ++ ////// Controle solar + + Iluminação natural + + Controle de ruído + + Controle da qualidade do ar + + Ventilação natural ++ Não averiguado + Bom ++ Muito bom ///// Requer investigação complementar Fonte: Mônica Marcondes
za intrínseca, as fachadas duplas transparentes ventiladas resultam em sistemas tecnologicamente complexos, com custos iniciais elevados", explica Mônica. Dentre os argumentos mais defendidos pelos projetistas para o emprego desse tipo de fachada está o aumento na eficiência energé42
tica e no conforto dos usuários, a diminuição da transmissão sonora, pois barra ruídos externos, e a redução dos ganhos solares, aliada a uma maximização da transparência. Além dessas características, esse sistema permite a ventilação natural em andares mais altos.
Em climas mais frios a grande preocupação é manter o calor no edifício, necessidade exatamente oposta à brasileira. As fachadas duplas garantem que a luz incidente sobre a primeira camada gere um calor que fica estocado na cavidade. Nas primeiras tipologias, em dias mais amenos esse calor podia ser retirado por meio da convecção do ar provocada por vãos existentes nos limites superior e inferior da cavidade. Esse modelo foi abandonado devido à ventilação que percorria toda a extensão vertical da fachada não ser suficiente para retirar toda a carga térmica dos andares mais elevados, onde o acúmulo é maior. Hoje, a tipologia básica conta com aberturas de vãos superiores e inferiores em cada pavimento, separados por chapas opacas ou grelhas.Além da separação entre andares o sistema conta com proteção solar interna à cavidade, que auxilia na reflexão da luz e calor. Esse tipo de solução pode ser visto no novo edifício do New York Times, na cidade de Nova Iorque e no edifício de escritórios Aurora Place, em Sidney, Austrália, ambos os projetos do arquiteto Renzo Piano. Os avanços tecnológicos nessa área não param, e já existem projetos em que a segunda camada conta com uma sucessão de aletas em toda a sua extensão, com abertura automatizada, mesmo em situações de altas velocidades de vento, de maneira a prolongar o período no qual o edifício pode ser naturalmente ventilado. É o caso do Debis Building, outro projeto de Piano, em Berlim, com solução de fachadas totalmente automatizada, mas a um custo altíssimo mesmo para os padrões internacionais. Em dias quentes com baixas velocidades de vento, e em dias de chuva as aletas se fecham e o arcondicionado é automaticamente ligado. Quando se abrem todas as aletas, o sistema funciona como uma pele de vidro simples. O sistema alia a ventilação natural e a artificial, que deve ser corretamente dimensionada para esse fim, sem excessos de carga instalada. "Projetos onde trabalhem juntos todos os projetistas envolvidos,inclusive o do ar-condicionado, garantem os melhores resultados de eficiência energética TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Ian Lambot
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O edifício do Commerzbank, projetado por Norman Foster, é um ícone de conforto ambiental e eficiência energética na Europa. Possui modo misto de condicionamento de ar, que alia a ventilação natural de estratégicas aberturas e a ventilação mecânica do sistema radiante de forros gelados
no futuro", recomenda. Em São Paulo, onde o aquecimento é uma das maiores preocupações em edifícios de escritórios altos, as fachadas duplas ventiladas (tipologia básica) podem ser empregadas para expandir o período em que o edifício pode ser naturalmente ventilado, em épocas de mais frio. Quando há muito calor e pressão de vento insuficiente aciona-se o condicionamento artificial. "O modo misto de condicionamento de ar é ideal para o clima brasileiro", acredita Mônica. Normatização a caminho
No Brasil ainda não existem normas que regulem o conforto ambiental nos edifícios de escritórios. No máximo, existem requisitos mínimos de desempenho para fachadas de habitações em um projeto de norma da
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que deve ser publicado ainda neste ano. As normatizações principais são relativas ao funcionamento do ar-condicionado e à fabricação de vidros e esquadrias. No entanto, o Laboratório de Eficiência Energética em Edificações do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina, por meio de um convênio firmado com a Eletrobrás no âmbito do programa Procel Edifica (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica para Edificações), desenvolveu um documento em que apresenta os requisitos técnicos necessários para a classificação do nível de eficiência energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos, com o objetivo de promover a eti-
quetagem voluntária. A regulamentação trata da eficiência e potência instalada do sistema de iluminação, da eficiência do sistema de condicionamento do ar e do desempenho térmico da envoltória do edifício. Ela permite uma classificação do nível de eficiência A (mais eficiente) a E (menos eficiente), e inclui incentivos adicionais para aumento da eficiência ao implementar sistemas como energia fotovoltaica ou co-geração. O professor Roberto Lamberts, pesquisador do laboratório e membro do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável) explica que a etiquetagem já está em implementação junto ao Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Os cálculos e simulações recomendados podem ser efetuados com softwares especiais voltados à simulação de consumo de energia de edificações, que estudam o impacto de alternativas de fachada. "Esses programas simulam o consumo de energia hora a hora durante um ano inteiro e permitem análises detalhadas", explica Lamberts. Nesse meio tempo, arquitetos e projetistas que já desenvolvem projetos mais sustentáveis buscam se adequar a certificações internacionais como o Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), que faz parte do USGBC (US Green Building Council), conselho norteamericano de construção sustentável. Para receber esse selo, o empreendimento deve se enquadrar em critérios que envolvem tipo de terreno, economia de água, eficiência energética, qualidade do ar interno, reciclagem e inovação do projeto. Simone Sayegh Colaboraram Mônica Marcondes, Paulo Celso Duarte e Roberto Lamberts
SERVIÇO www.cobracon.org.br www.labeee.ufsc.br/eletrobras/reg. etiquetagem.voluntaria.html www.usgbc.org www.cbcs.org.br
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Projeto sustentável
Divulgação Zed Factory
Arquitetura com foco na sustentabilidade requer integração de equipes e coordenação de um profissional especializado
“O
desenvolvimento sustentável deve atender às necessidades do presente, sem comprometer o atendimento das necessidades de gerações futuras." A definição de um conceito tão debatido atualmente foi publicada, em 1987, no Brundtland Report, relatório emitido pela Comissão Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (World Commission on Environment and Development) ou Brund-
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tland Commission, criada em 1983, pelas Nações Unidas. O objetivo era definir políticas e estratégias de desenvolvimento sustentável nos âmbitos social, econômico e, sobretudo, ambiental. E no que concerne à arquitetura? Existe algum consenso sobre o que é um projeto de arquitetura sustentável e quais diretrizes deve seguir? Segundo Valério Gomes Neto,conselheiro do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), uma edi-
ficação sustentável é aquela que quantifica os impactos que causa ao meio ambiente e à saúde humana, empregando todas as tecnologias disponíveis para mitigá-los. "É um edifício que consome menos energia, água e outros recursos naturais, considera o ciclo de vida dos materiais utilizados e o da edificação desde o seu projeto, passando pela construção, operação e manutenção, até o esgotamento da sua destinação original", afirma o conselheiro. TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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O que caracteriza um projeto sustentável? A principal característica de um projeto sustentável é a eficiência no uso de energia, água e recursos ao mesmo tempo em que propicia um excelente nível de conforto (higrotérmico, lumínico, acústico, visual e de mobilidade) ao usuário. Como conseqüência, redução na emissão de carbono. A edificação deve ser monitorada em sua fase de uso e manutenção para verificação de consumos (benchmarking) e possíveis correções a serem feitas. Que critérios balizam a elaboração de um projeto que visa ser sustentável? Defende a idéia de que, no futuro, esses critérios sejam requisitos obrigatórios para os projetos de arquitetura? Acredito que não seja possível tornar obrigatório um processo de produção. Porém, o próprio mercado vai induzir a isso, porque atualmente os melhores resultados foram atingidos com o uso desse modelo. Como se dividem e como devem trabalhar as equipes nesse contexto? Deve sempre existir um gerenciador ou coordenador do projeto, que vai convocar a presença dos diversos profissionais envolvidos. Mas a maioria deles vai estar presente desde a fase inicial. As fases de planejamento e projeto nesse modelo demoram e custam mais, mas vão trazer economias de recursos, tempo e dinheiro nas fases de construção, uso e manutenção da edificação. A flexibilidade de uso caracteriza a construção sustentável? Que aspectos um edifício deve reunir para atender, de forma eficiente, as necessidades de proprietários distintos? Sem dúvida. Uma edificação deve durar no mínimo 50 anos, e durante esse período é muito provável que as necessidades de seus usuários sejam variáveis, mesmo que dentro do mesmo tipo de uso. E atualmente vemos várias edificações mudando de uso, por
exemplo, de edifício de escritórios para edifício residencial, de armazém para edifício de escritórios ou residencial etc. Os aspectos principais são: a estrutura da edificação deve ser bem detalhada e flexível. A alvenaria estrutural, por exemplo, apesar de ser mais barata para a construção, não permite essa flexibilidade. As instalações elétricas e hidrossanitárias devem ser bem detalhadas e instaladas em shafts com boa acessibilidade, para permitir modificações futuras de projeto. Quais novos conhecimentos devem possuir arquitetos, projetistas, empreiteiros e incorporadores diante desse novo quadro mundial? Como deve ser a formação desses profissionais? Os profissionais devem sempre se manter atualizados a respeito de novas tecnologias, principalmente sobre energias renováveis e novos materiais. Precisam entender os benefícios e saber como projetar de acordo com o clima e a topografia local, e saber especificar os melhores materiais para cada situação. As escolas de engenharia, arquitetura e negócios devem incluir o tema sustentabilidade integrada em seus currículos. No Brasil, quais as reais implicações da adoção das estratégias da arquitetura ecológica para a indústria da construção civil e para o mercado imobiliário? Veja, a fachada ventilada, recurso bastante usado lá fora, ainda não é difundida no Brasil, por onerar o custo dos imóveis, sobretudo os residenciais. Isso é mito. Alguns relatórios oficiais já foram produzidos nos Estados Unidos para provar isso. Estratégias de arquitetura de acordo com o clima do local não são utilizadas por falta de conhecimento dos profissionais envolvidos. O que as incorporadoras exigem hoje nos projetos? O que o edifício deve ter de sustentabilidade mínima para atrair locadores e compradores?
Acervo pessoal
O que é sustentabilidade
Alexandra Lichtenberg arquiteta da Ecohouse e mestre em conforto ambiental e eficiência energética pela FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Os incorporadores e investidores no Brasil atualmente exigem lucro máximo em detrimento do conforto do usuário e da sustentabilidade da edificação – e levam os legisladores a reboque nesse esforço. A grande maioria dos edifícios residenciais está sendo construída com pé-direito útil entre 2,40 m e 2,55 m. No clima tropical úmido é impossível conseguir conforto higrotérmico com essa altura de pé-direito sem uso de ar-condicionado (equipamento intensivo em uso de energia). Não há preocupação com a proteção das fachadas e aberturas contra insolação direta – mais uso de ar-condicionado. As construções de antes do advento do ar-condicionado tinham um pé-direito alto (mínimo 3 m) para que o ar quente que se acumulasse no teto e não interferisse no conforto do usuário, e ventilação cruzada, para que esse ar quente pudesse ser levado para fora. O que ainda se vê muito no nosso mercado é o "green washing", expressão utilizada para indicar apenas o uso cosmético da sustentabilidade. Com as recentes publicações do IPCC (em português, Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), a sustentabilidade mínima de edificação passou a ser mais abrangente – os quesitos de eficiência energética, uso da água e tratamento de esgotos, uso de recursos naturais e mobilidade precisam todos ser considerados no projeto.
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CAPA O projeto sustentável deve ser desenvolvido por uma equipe multidisciplinar integrada que trabalhe em conjunto desde a concepção – sob a figura de gerenciador ou coordenador, especialista em sustentabilidade (veja organograma do ciclo de produção do projeto sustentável). O arquiteto Célio Diniz, um dos sócios do escritório DDG Arquitetura, rejeita o modelo linear de trabalho em que o projeto arquitetônico é entregue aos projetistas complementares que, a partir daí, desenvolvem trabalhos para compatibilização. "Hoje, o processo projetual passou a ser circular e todos contribuem desde o início", afirma Diniz. O projeto sustentável, assim como qualquer projeto de arquitetura, deve ter início após a identificação das características dos usuários do edifício, do entorno e, sobretudo, do clima. Neste sentido, as simulações computacionais poderão ser úteis para definir materiais e critérios de desenho que aproveitem melhor as condições climáticas do local onde o edifício será implantado. Um dos elementos fundamentais no desempenho térmico das construções é a fachada. "Quando bem projetada, a fachada ventilada é eficiente na diminuição da transmissão do calor, reduz o consumo de energia com arcondicionado, diminui a pressão do vento na vedação interna e, além disso, controla melhor a infiltração de água, reduzindo os custos com manutenção", diz o engenheiro Jonas Silvestre Medeiros, da Inovatech. Apesar dos benefícios que trazem, recursos como a fachada ventilada deixam de ser adotados no Brasil por onerarem demasiadamente os custos de um empreendimento. O mesmo acontece com o processo de projetos. "As fases de planejamento e projeto no modelo sustentável são mais demoradas e custosas, mas vão trazer economias de recursos, tempo e dinheiro nas fases de construção, uso e manutenção da edificação (ciclo de vida da edificação)", explica Alexandra Lichtenberg, arquiteta da Ecohouse e mestre em conforto ambiental e eficiência energética pela FAU (Faculdade de Ar46
Fonte: Alexandra Lichtenberg, Ecohouse Urca, 2006
Fonte: The Collaborative for High Performance School Buildings
quitetura e Urbanismo) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Segundo Gomes Neto, o Brasil carece de critérios mensuráveis para projetar e medir a eficiência dos prédios no que se refere à sustentabilidade. "Suprimos essa lacuna aplicando as normas norte-americanas do sistema LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), que é o mais difundido no mundo", diz o conselheiro. Desenvolvido pela organização USGBC (United States Green Building Council), o LEED é um sistema de classificação de edificações a partir de critérios de sustentabilidade ambiental em diferentes categorias. A agência do Banco Real, em Cotia, na Grande São Paulo, foi o primeiro edifício da América Latina a ser certificado pelo LEED. Ao desenvolver programas como o "Real Obra Sustentável", o banco cria parâmetros para projeto e construção sustentável, além
de promover a responsabilidade nas questões social e ambiental nos empreendimentos imobiliários que financia. "Avaliamos o projeto arquitetônico, a política interna da construtora e os cuidados no canteiro de obras", explica Carolina Piccin Silberberg, sócia da Sistema Ambiental, empresa criadora do programa e que tem avaliado o grau de sustentabilidade dos empreendimentos financiados pelo banco desde 2007. "Criamos uma ferramenta de avaliação de sustentabilidade e desenvolvemos índices de desempenho para cada requisito", acrescenta Carolina. A flexibilidade é outro item importante num projeto de arquitetura sustentável. "Deve-se evitar a excessiva customização da edificação, pois isso gera, em caso de um novo uso, uma grande quantidade de entulhos de demolição com altos custos financeiros e ambientais", afirma Gomes Neto. Ele explica que, para ser flexível, o projeto deve contemplar itens como grandes vãos, lajes amplas com poucos apoios, pé-direito pouco maior que os tradicionais e divisórias internas leves, como as de gesso acartonado. Veja a seguir sete obras escolhidas pela Téchne pelos seus diferenciais de projeto sustentável. Valentina Figuerola
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Imagens Red Shift Photography 2006
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Assembléia Nacional do País de Gales, em Cardiff, no Reino Unido Selecionado por meio de uma licitação internacional, o projeto do arquiteto ítalo-britânico Richard Rogers para a nova sede do parlamento de Gales, inaugurada em 2006, tem como destaque uma imensa cobertura de chapas metálicas e forro de madeira certificada pelo FSC (Forest Stewardship Council).
Sua extensa superfície propicia a coleta de água de chuva que é armazenada num tanque subterrâneo de 100 m³. A água é destinada para os lavatórios, bacias e jardinagem. O edifício conta ainda com estratégias passivas de climatização, como o sistema de esfriamento que extrai água a 100 m debaixo da terra, a
uma temperatura de 16ºC. A cobertura dispõe de um cone envidraçado com um jogo de espelhos que promove a entrada de luz natural até a câmara dos deputados, localizada no centro da edificação. Cerca de 36% do valor da construção foi investido em materiais e mão-de-obra locais.
Rogers Stirk Harbour + Partners
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The Beddington Zero Energy Development (BedZED), Reino Unido O projeto de Bill Dunster e Jimena Ugarte implanta-se num terreno de 1,4 ha, no bairro de Sutton, sul de Londres. Essa ecovila, inaugurada em 2002, reúne 82 unidades habitacionais, escritórios, clube desportivo, campo de futebol e centro de saúde e de alimentação. As construções de três pavimentos, erguidas com materiais e mão-de-obra locais, madeira certificada pelo FSC e aço reciclado, foram
desenhadas para não emitir qualquer percentual de dióxido de carbono. Os sistemas elétrico e de calefação das residências exploram fontes renováveis de energia. Todas as unidades têm o terraço voltado para o Sul, otimizando o aproveitamento da luz do sol. As coberturas verdes dos edifícios estão associadas a extensas superfícies de painéis fotovoltaicos que, além de
sombrear as construções, geram energia capaz de abastecer 40 automóveis elétricos, reduzindo mais ainda o uso de combustíveis fósseis. Além de armazenar e utilizar água de chuva para a descarga de vasos sanitários, a vila possui uma estação de tratamento de esgoto negro. BedZED foi desenvolvida pela Peabody Trust, em parceria com a Arup, Ellis and Moore, e Gardiner and Theobald.
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Cobertura verde
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Terraço-jardim do flat do 1o pavimento
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Terraço-jardim do escritório
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Terraço-jardim da maisonette
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Flat
Passarela que conduz ao terraço-jardim
Escritório Chaminé para ventilação Luz natural
10 Área de trabalho sombreada 11 Cisterna (água de chuva) 12 Maisonettes 13 Rua Mews 14 Unidade mista (trabalho e habitação) 15 Jardim
Imagens: divulgação Zed Factory
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Chuck Choi
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Torre Hearst disso, permitiu a economia de cerca de 2 mil t de aço estrutural. Aliás, cerca de 85% do material utilizado na estrutura é reciclado. A torre foi erguida sobre um antigo edifício de seis andares (construído em 1928) que, após a reforma, foi convertido num imenso átrio, uma zona de uso comum conhecida como "Praça Urbana". A água da chuva, coletada na cobertura do prédio, é usada para irrigar
jardins, abastecer fontes e o sistema de refrigeração. A refrigeração e calefação dos espaços são feitas através de um sistema de circulação de água localizado nos pisos. O arranha-céu consome cerca de 25% a menos de energia se comparado aos similares. Além de sensores de presença, os escritórios dispõem de recursos que controlam a quantidade de luz artificial em função da natural.
Foster & Partners & Gensler
Do escritório Foster & Partners e Gensler, inaugurada em 2006, depois de três anos de obras, a Torre Hearst, de 182 m de altura, é o primeiro arranha-céu novaiorquino a obter o Gold LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). A estrutura em aço inoxidável – formada por diagonais que configuram volumes triangulares nas fachadas – maximizou a entrada de luz nos escritórios e, além
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The Solaire
Jeff Goldberg/Esto
Edifício residencial ecológico projetado por Pelli Clarke Pelli Architects, localizado na zona de Battery Park, em Nova York, o "The Solaire" consome 35% a menos de energia e 50% a menos de água potável, se comparado a outros de mesma tipologia. Inaugurada em 2003, a construção, de 27 pavimentos, reúne sistemas de controle inteligentes e painéis fotovoltaicos que geram 5% de toda a energia gasta nos apartamentos nos horários de pico. Sensores de presença e de luz natural reduzem o consumo de energia e o projeto de arquitetura privilegia o aproveitamento da luz natural ao máximo nas unidades habitacionais. O edifício possui um sistema de captação de água de chuva, utilizada na irrigação do jardim da cobertura, e uma estação de tratamento do esgoto negro, cuja água é aproveitada na descarga das bacias sanitárias e na torre de resfriamento.
Parede padrão
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por vidros laminados refletivos especiais, de 10 mm, com alta transmitância luminosa e baixa transmissão térmica. Além de servir como isolamento térmico, a cobertura verde evita a impermeabilização de uma superfície grande. A distribuição de ar será feita com sistema de volume de ar variável (VAV) automatizado, que garante máxima eficiência e menor consumo de energia elétrica.
Divulgação Aflalo & Gaperini
O complexo de escritório de alto padrão projetado por Aflalo & Gaperini, formado por quatro torres de escritório, ainda está em processo de obtenção do certificado LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), emitido pela ONG norte-americana USGBC (United States Green Building Council) somente para empreendimentos já concluídos. Além de prever áreas verdes e praças para convívio e bem-estar dos usuários e transeuntes, o projeto de arquitetura privilegia a flexibilidade dos escritórios, que dispõe de área livre (vão variável de 11, 5 m a 20 m nas torres A e B, onde a fachada é inclinada) entre as janelas e o núcleo da construção, sem colunas. Dispositivos economizadores como válvulas de descarga com acionamentos independentes para líquidos e sólidos, torneiras temporizadas e sensor de presença nos mictórios permitirão uma redução de 30% no consumo de água. A fachada é composta
Divulgação Aflalo & Gaperini
Rochaverá Corporate Towers, São Paulo
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Ao privilegiar o conforto ambiental e incorporar conceitos da arquitetura bioclimática – como iluminação e ventilação naturais – o projeto de ampliação do Campus do Colégio Cruzeiro, de Michael Laar e DDG Arquitetura, conseguiu reduzir de forma extrema o consumo de energia da edificação. A idéia é que, no futuro, os telhados verdes do conjunto abriguem coletores solares e outras tecnologias que tornem a escola auto-suficiente energeticamente. O grande jardim central, situado entre os dois blocos de salas de aula, exerce um papel relevante na composição do conjunto, reunindo os alunos nas horas livres e atuando como um regulador térmico do clima local. Além desses conceitos, o projeto adota outros, como iluminação artificial eficiente, automação predial, materiais de baixa condutibilidade e capacidade térmica, brises, pilotis e terraços-jardins. O projeto rendeu aos seus autores o prêmio Destaque na Bienal de Arquitetura de São Paulo, a segunda colocação no prêmio Holcim para Arquitetura Sustentável 2005, na categoria "América Latina", o Prêmio IAB/RJ e Prêmio de Eficiência Energética do Procel/Eletrobrás 2004.
Imagens: divulgação DDG Arquitetura
Colégio Cruzeiro, Rio de Janeiro
Simulações computacionais feitas por programas como o Energy Plus (distribuído gratuitamente pelo departamento de energia dos Estados Unidos) ajudam a avaliar como o projeto de arquitetura interfere no consumo energético de uma construção
No Colégio Cruzeiro, a implantação, a vedação e a presença do jardim entre os blocos de salas de aula favorecem a ventilação cruzada
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Imagens: Bob Gysin + Partner BGP Architekten ETH SIA BSA, Zurich
Roger Frei, Zürich
Fórum Chriesbach Eawag–Empa, em Dübendorf, Suíça
O ar externo é sugado por ondulação e percorre três estações: registro térmico, sala do servidor e monobloco
Localizado no Eawag (Instituto Federal de Ciências Aquáticas e Technologia), o Fórum Chriesbach, de Bob Gysin + Partner, BGP, foi inaugurado em junho de 2006. Possui seis pavimentos que funcionam sem calefação ou arcondicionado e consome quatro vezes menos energia do que um prédio convencional. As fachadas são cobertas por brises de vidro azul de posição ajustável, de acordo com a estação do ano. No inverno, o ar frio é pré-aquecido em canalizações subterrâneas (80 tubos com 20 m) para, posteriormente, ter sua temperatura elevada por meio de trocadores de calor que é aquecido com o ar proveniente da sala do servidor. A água é aquecida pelos coletores solares da cobertura e pelo calor proveniente das unidades de refrigeração da cozinha. Uma superfície de 460 m² de painéis fotovoltaicos fornece 1/3 da eletricidade utilizada no edifício. A água da chuva, coletada na cobertura, é utilizada para a descarga dos vasos sanitários. O edifício dispõe ainda de um sistema que coleta e armazena a urina para a realização de pesquisas. A idéia é utilizar o líquido excrementício para o preparo de fertilizantes.
A altura do átrio permite a saída de ar quente por efeito chaminé e as janelas superiores que, por sua vez, favorecem a ventilação cruzada
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REÚSO DE ÁGUA
Soluções não potáveis
Comumente difundida em indústrias, a adoção de sistemas para aproveitamento de águas pluviais e de reúso de águas cinzas e negras vem se disseminando em empreendimentos residenciais e comerciais que enfatizam, sobretudo, o caráter sustentável de seus projetos. Graças às tecnologias disponíveis para atender a esse mercado, tais águas, quando adequadamente tratadas, podem ser totalmente reaproveitadas de modo nãopotável ou até mesmo potável para os mais diversos usos. A implantação desses sistemas, no entanto, não é simples e implica acréscimos de custo significativos à obra. A especificação de componentes como reservatórios, sistemas de tratamento e redes de distribuição exclusivas exige projetos criteriosos que devem ser acompanhados por engenheiros especializados, além de mão-de-obra capacitada para fazer a correta manutenção dos equipamentos. Ainda que as perspectivas de retorno do investimento sejam animadoras – em processos industriais, por exemplo, tais sistemas reduzem em até 80% o consumo de água – esses fatores associados têm contribuído para limitar seu uso. "O potencial é enorme, mas é preciso ter uma visão macro, vontade política e investimento 54
Marcelo Scandarolli
Eficiência dos sistemas de reaproveitamento de águas cinzas e pluviais depende de projeto detalhado na etapa de estudo preliminar da obra e de engenheiros especializados
Principal fator complicador dos projetos de reúso de água, tanto pluviais como de águas cinzas e negras, a separação dos ramais e cisternas obedece a critérios rigorosos, a fim de se reduzir riscos de contaminação. Os custos operacionais também pesam bastante
em tecnologias para que os sistemas se desenvolvam e se tornem acessíveis", acredita o professor titular da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo),Ivanildo Hespanhol,fundador e diretor do Cirra (Centro Internacional de Referência em Reúso de Água). Vale lembrar que os custos dos sistemas variarão de acordo com a finalidade e, conseqüentemente, com o grau de potabilidade da água a ser usada. A relação é direta: quanto maior a quali-
dade exigida, maior o investimento. Se viabilizado técnica e economicamente, o uso de fontes alternativas de água – sejam pluviais, de drenagem, cinzas ou negras – deverá ser detalhado ainda na etapa de estudo preliminar já que um dos pontos principais para o sucesso da execução é a instalação de sistemas de reserva e distribuição independentes da rede de água potável. Entre as variáveis a serem analisadas em projeto estão o uso da água, TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Laboratório de pesquisa Atualmente em curso no Laboratório de Instalações Prediais e Saneamento do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), a pesquisa sobre aproveitamento de água de chuva para fins não potáveis em área urbana tem avaliado os componentes utilizados em sistemas de aproveitamento e os impactos da utilização da água de chuva em instalações reais de aproveitamento, tais como consumo de água x consumo de energia; variabilidade da qualidade da água segundo o uso; adaptabilidade às tipologias arquitetônicas e construtivas; aceitação do usuário, entre outros quesitos (veja o artigo da seção Como Construir). O sistema – que conta com equipamentos
para descarte de água de primeira chuva, remoção de material grosseiro, remoção de material particulado fino e desinfecção – vem sendo usado para captar água para uso em um dos prédios de maior circulação diária de pessoas do instituto, o refeitório, com finalidade de utilização para a limpeza do piso. De acordo com o pesquisador Wolney Castilho Alves, o sistema de aproveitamento instalado no campus servirá ainda como laboratório para auxiliar no desenvolvimento de equipamentos. Para o equipamento de remoção de material particulado fino, por exemplo, já está em testes um filtro de areia baseado nos filtros simplificados usados para o tratamento de águas para abastecimento.
Desempenho
tecnologia envolvida, parâmetros de custos operacionais atrelados à energia consumida e aos produtos aplicados no tratamento da água, entre outros quesitos. "O ideal é contar com projetos sob medida já que cada obra possui suas particularidades", observa André Negrão de Moura, gerente técnico da Haztec/Geoplan. Parâmetros de projeto
Outro ponto que requer cuidado especial é a qualidade necessária ao consumo destinado. "Fazer tratamento para aproveitamento ou reúso de água implica assumir a responsabilidade pela sua qualidade, fator de saúde e que envolve enormes riscos", afirma o engenheiro Luiz Olimpio
Com o objetivo de avaliar tecnicamente as inovações tecnológicas disponíveis nesse mercado, o ProAcqua, programa desenvolvido pelo Cediplac (Centro de Desenvolvimento e Documentação da Habitação e Infra-estrutura Urbana) em parceria com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), criou o ProAcqua Inovações Tecnológicas. Os laudos técnicos emitidos pelo programa permitirão identificar quais
as aplicações apropriadas para essas tecnologias que devem ser avaliadas e submetidas a testes de laboratório e de campo. Ao final do processo, serão aprovadas ou passarão por adaptações necessárias para melhorar o desempenho. "Esta é uma maneira de resguardar o usuário final contra o mau desempenho dos produtos ofertados", lembra Carla Araujo Sautchuk, gerente da Tesis Tecnologia de Sistemas em Engenharia.
Costi, presidente da Abrasip (Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais) e sócio-diretor da Procion Engenharia. De acordo com o engenheiro, a falta de projetos que considerem a instalação do sistema desde a concepção arquitetônica da edificação, de projetistas hidráulicos habilitados e número limitado de produtos oferecidos são fatores que dificultam a boa execução dos sistemas. Outro agravante é a falta de normalização. Com exceção da NBR 15527 (Água de Chuva – Aproveitamento de Coberturas em Áreas Urbanas para Fins Não-Potáveis), válida desde outubro de 2007, ainda não existem normas brasileiras que atendam aos sistemas de coleta e reúso de águas cinzas e negras.
Por enquanto, além do Manual de Conservação e Reúso de Águas em Edificações do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), uma das principais referências adotadas nesse setor é o Guidelines For Water Reuse da EPA (Environmental Protection Ageny) De acordo com Carla Araujo Sautchuk, gerente da Tesis e mestre em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP no tema Implantação de Programas de Conservação de Água, esse documento preconiza que as tubulações destinadas para esse fim possuam cor diferenciada das que transportam água potável. A água de reúso também deve ser pigmentada na cor roxa e os pontos de consumo e ambientes abas55
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CLASSIFICAÇÃO E DESTINAÇÃO DAS ÁGUAS Tipo de água Aplicação Exigências mínimas da água não potável de reúso Classe 1 Descarga de bacias Não deve deteriorar Não deve ser os metais sanitários abrasiva, Lavagem de veículos Não deve conter sais Não deve ou substâncias manchar superfícies remanescentes após secagem Lavagem de pisos
Não deve apresentar
mau cheiro Não deve propiciar
infecções ou contaminações por vírus ou bactérias prejudiciais à saúde humana
Deve ser incolor Não deve ser turva nem
Fins ornamentais
deteriorar os metais sanitários e equipamentos Lavagem de roupas
Classe 2
Deve ser livre de algas, de partículas sólidas e de metais Não deve alterar as características de resistência dos materiais nem favorecer o aparecimento de eflorescências de sais
Lavagem de agregados, preparação de concreto, compactação de solo, controle de poeira Classe 3 Irrigação de áreas Não deve conter componentes agressores às plantas verdes e rega de jardins ou que estimulem o crescimento de pragas Classe 4 Resfriamento de Não deve: apresentar mau cheiro, ser abrasiva, manchar superfícies, deteriorar equipamentos de máquinas, formar incrustrações ar-condicionado Fonte: Manual de Conservação de Água do SindusCon-SP
tecidos por tal fonte devem ser corretamente sinalizados. Outro ponto importante a ser previsto em projeto é evitar conexões cruzadas, eliminando qualquer contato entre tubulações de água potável e de efluentes tratados. "Os sistemas de reservas têm de ser to-
talmente independentes, minimizando as possibilidades de contaminação dos líquidos", observa a gerente. As tecnologias para tratamento variam bastante, mas os processos mais comuns são de sedimentação (tratamento primário) e filtração visando a
Glossário Água cinza: efluente que não possui contribuição da bacia sanitária, ou seja, o esgoto gerado pelo uso de banheiras, chuveiros, lavatórios, máquinas de lavar roupas e pias de cozinha em residências, escritórios comerciais, escolas etc. Água de reúso: água residuária que se encontra dentro dos padrões exigidos para sua utilização. Água pluvial na edificação: água que provém diretamente da chuva, captada após o escoamento por áreas de cobertura, telhados ou grandes superfícies impermeáveis.
Água potável: água que atende ao padrão de potabilidade determinado pela Portaria do Ministério da Saúde MS 518/04. Água recuperada: esgoto ou água de qualidade inferior que após tratamento é adequada para certos usos. Aproveitamento de água pluvial: uso da água de chuva para finalidades específicas, como lavagem de áreas externas, alimentação de bacias sanitárias, lavagem de veículos, entre outros.
Fonte: Conservação e Reúso da Água em Edificações – SindusCon-SP
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separação dos sólidos seguidos por tratamentos aeróbio-biológicos para a remoção de matéria orgânica, desinfecção e controle e eliminação de agentes patogênicos. "A desinfecção pode ser feita com uso de cloro, aplicação de raios ultravioleta e ozônio,entre outras possibilidades", explica Costi. O mercado ainda oferece outros tratamentos mais avançados tais como coagulação, floculação química, filtração de membrana e até osmose reversa, que se destinam a controlar o pH e remover microrganismos, sais, minerais e outras partículas da água. Captação e usos
De acordo com o projetista Fábio Pimenta, diretor da Projetar Engenharia de Projetos, o maior desafio para o reaproveitamento de águas pluviais é projetar sistemas que sejam econômicos e seguros em qualquer época do ano. "Dificilmente é viável construir reservatórios com capacidade suficiente para que o sistema
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A configuração básica de um projeto para a utilização de água cinza prevê um sistema de coleta de água servida, subsistema de condução da água (ramais, tubos de queda e condutores), unidade de tratamento da água (gradeamento, decantação, filtro e desinfecção), reservatório de acumulação, sistema de recalque, reservatório superior e rede de distribuição.
continue operacional na época da seca e essa descontinuidade propicie manutenção inadequada", observa. Segundo a norma, a água de chuva deve ser captada apenas de coberturas ou de áreas sem circulação de veículos, pessoas ou animais e nunca de pavimentos térreos ou piso de estacionamentos, devido aos agentes contaminantes presentes nesses locais. O processo de armazenagem requer cuidados especiais como a presença de luz solar e o descarte da água de escoamento inicial. Entre outros parâmetros adotados na execução dos reservatórios, é necessário minimizar o turbilhonamento a fim de dificultar a ressuspensão dos sólidos e o arraste de materiais flutuantes. Depois de receberem tratamento, as águas pluviais poderão ser aproveitadas para irrigação de solos, lavagem de veículos, fontes de água, reabastecimento de bacias sanitárias e para limpeza de pisos. Provenientes dos efluentes gerados pelos lavatórios, chuveiros, tanques, máquinas de lavar roupa e louça e banheiras, as águas cinzas podem ser reusadas para os mesmos fins que as águas de chuva. Entretanto, vale ressaltar que podem apresentar alta carga de material orgânico. Segundo especialistas, as águas derivadas das pias de cozinha, por exemplo, não devem ser destinadas às estações de tratamento. Em função da possibilidade da presença de componentes biológicos – como sangue e urina presentes na captação de chuveiros e banheiras –, é fundamental que o reúso desse tipo de água seja muito criterioso, levando em conta, entre outros fatores, a saúde dos usuários. "Seja qual for o destino das águas negras de bacias sanitárias ou cinzas reaproveitadas, é indispensável um controle contínuo e permanente da qualidade desses efluentes", ressalta Pimenta. Gisele Cichinelli
Os sistemas de reaproveitamento de água da chuva devem contar com a área de captação (telhado, laje ou piso), condução de água (calhas, condutores verticais e horizontais), a unidade de tratamento e o reservatório de acumulação e reservatório de descarte.
SAIBA MAIS www.fiesp.com.br/publicacoes/pdf/ ambiente/conservacao_reuso_ edificacoes.pdf
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Projetos
Divulgação Curitiba Office Park
CURITIBA OFFICE PARK O projeto do parque coorporativo localizado na capital paranaense contará com sistemas para reúso das águas
provenientes dos chuveiros e lavatórios que serão coletadas e tratadas a partir de uma rede instalada no subsolo da edificação. Já as águas de chuva serão coletadas da cobertura, também tratadas no subsolo e armazenadas em uma cisterna e em uma caixa d'água superior para posterior uso nas bacias sanitárias dos escritórios. Tais soluções adotadas em conjunto com uma série de equipamentos economizadores permitirão no mínimo 20% de economia no consumo de água da edificação.
VILA NAIÁ Projetado para atender a todos os critérios de sustentabilidade, o complexo turístico Vila Naiá, localizado na praia de Corumbá, no litoral sul da Bahia, conta com sistemas individualizados de fossafiltro para o tratamento dos esgotos provenientes dos quartos, bangalôs, cozinha e demais instalações. Os detritos passam por um sistema de filtragem composto por britas, areia grossa, carvão vegetal, lã de vidro e outra camada de areia fina. Tal solução permite que 70% da água aproveitada para irrigar o solo seja purificada.
Fotos: divulgação Ecolife
MUNDO APTO No residencial Mundo Apto, da Setin, o sistema de reúso coleta águas cinzas que, depois de tratadas pelo processo físico-químico, voltam às descargas das bacias sanitárias. A solução, juntamente com os dispositivos economizadores especificados para as torneiras e chuveiros, foi implantada a partir do projeto e prevê uma economia de R$ 12 mil por mês considerando 30 l/ habitante.
ECOLIFE Os empreendimentos da Ecoesfera prevêem o reúso das águas cinzas provenientes dos lavatórios e dos chuveiros para uso exclusivo nos vasos sanitários. Já a captação de águas de chuva é feita por caixas de coleta, a água captada passa por um sistema de filtragem antes de ser novamente armazenada e depois é usada para irrigação de áreas verdes. Os prédios verdes da incorporadora ainda possuem torneiras temporizadas, vaso sanitário equipado com dois acionadores na descarga (2 l e 6 l) e medidores individuais de água permitindo que cada morador arque com seu consumo.
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INSTALAÇÕES ELÉTRICAS – ESPECIAL 60 ANOS
Segurança em evolução Demandas por instalações seguras e capazes de suportar cargas maiores forçaram o desenvolvimento de projetos e equipamentos mais eficientes m 1996, apenas 9% dos edifícios novos contavam com fio terra. Hoje, esse recurso está presente em 98% dos prédios entregues pelas construtoras. Os dados são do Procobre (Instituto Brasileiro do Cobre), que verifica a aplicação da NBR 5410 – Instalações Elétricas de Baixa Tensão em 30% dos edifícios lançados em São Paulo, e refletem uma crescente preocupação do setor da construção civil no que se refere à qualidade das instalações elétricas. No mesmo período, todos os novos prédios passaram a ter o DR (dispositivo residual). Em 1996, nenhum edifício contava com esse equipamento. Não se trata apenas do surgimento de novas tecnologias, mas de uma nova forma de entender e encarar as instalações elétricas. "As mudanças na concepção dos projetos foram enormes, principalmente quanto à segurança, proteção do patrimônio e capacidade de atender à demanda", ressalta o engenheiro eletricista Hilton Moreno, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Elétricos Nema Brasil. Como exemplo dessas significativas mudanças, ele cita, além do uso de sistemas de aterramento e de DRs, tomadas com contato de aterramento, DPSs (Dispositivos Protetores de Surtos), cabos elétricos retardantes de chama e baixa emissão de fumaça, gases tóxicos e corrosivos, além de eletrodutos normalizados. "A grande vantagem desses recursos é a proteção tanto do circuito quanto das pessoas", 60
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A evolução das instalações elétricas foi impulsionada pelo crescimento da demanda por energia e pela necessidade de proteger pessoas e patrimônio. Grandes incêndios em edifícios motivaram busca por projetos mais seguros
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salienta Hélio Eiji Sueta, diretor da divisão de potência do IEE (Instituto de Eletrotécnica e Energia). Outro motivo para a modernização na forma de conceber projetos e realizar instalações elétricas é o contínuo crescimento da demanda pelo uso de energia elétrica. "As instalações eram projetadas para cargas limitadas e ficavam sujeitas a sobrecargas sempre que o usuário comprasse novos equipamentos", conta Moreno. O risco vem sendo minimizado por meio da adequação do projeto às necessidades do usuário, visando obter uma capacidade de carga pertinente e proporcionando conforto e flexibilidade aos consumidores.
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Estudos setoriais indicam que quase a totalidade dos novos edifícios conta com aterramento para as instalações. Situação é bastante diferente para casas
De acordo com o Procobre, esses resultados decorrem do amadurecimento do setor. "As construtoras têm se conscientizado, mas ainda há grande discrepância entre edifícios e casas", alerta Milena Guirão, coordenadora de marketing do Instituto. Ela conta que no ano passado o Programa Casa Segura passou a pesquisar, além de apartamentos, casas. Enquanto quase todos os apartamentos contavam com aterramento, apenas 22% das casas – de um total de 180 – tinham fio terra. "Percebemos que era o momento de reforçar o Programa para modernizar as antigas instalações e adequar novos projetos à lei", conta. Ela se refere à Lei 11.337, de 26/07/2006, que determina a obrigatoriedade do uso do fio terra em todas as instalações. Dessa lei também decorre a adoção da nova tomada com três pinos redondos. "Vai gerar um mercado paralelo de adaptadores, o que não dá para evitar", pondera José Aquiles Baesso Grimoni, diretor do IEE. Segundo Moreno há, de fato, uma maior obediência aos requisitos de
normas técnicas e ao crescimento do grau de automação das instalações. Também há polêmica em torno dos debates para adoção de padrões de disjuntores. De acordo com Sueta, os prazos estão vencendo e os fabricantes não conseguem informar precisamente quais as curvas de potência de seus equipamentos. Dessa maneira, explica, "é necessário que o projetista considere alguns parâmetros a mais". O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) exige que tanto disjuntores do padrão americano quanto do europeu obedeçam às mesmas curvas. A questão da segurança foi abordada na Téchne 92, publicada em novembro de 2004. Naquela ocasião, a reportagem alertava para a intenção de se aplicar a certificação compulsória das instalações como forma de avaliação da conformidade. O tema é debatido há bastante tempo, conforme conta Grimoni, mas existe muita dificuldade para sua implantação. Dentre os principais entraves estão os custos e a burocratização decorrentes. "A
Divulgação Abinee
Busca por padronização
Com três pinos de seção redonda, adoção de padrão brasileiro está vinculada à obrigatoriedade do aterramento de instalações residenciais. Medida busca aumentar a segurança
França prevê a revisão das instalações de tempos em tempos", compara. "Provamos que um projeto atualizado de acordo com as normas tem menos perdas", complementa. Em escala, isso poderia diminuir a pressão sobre o sistema e, conseqüentemente, a necessidade de construir mais usinas. Novas exigências
A evolução das normas e regulamentos técnicos, além dos avanços 61
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Divulgação Siemens
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Depois do fio terra, o dispositivo residual (DR) vem sendo adotado nas instalações. Sua função é prevenir choques elétricos ao perceber fuga de corrente no circuito
tecnológicos em materiais e processos, as descobertas nas áreas de fisiologia – choques elétricos – e o conhecimento do fogo e suas propriedades, levaram à adoção de medidas de proteção em instalações elétricas. Programas federais de certificação compulsória de produtos elétricos também contribuíram significativamente para o avanço da qualidade dos produtos. "Os grandes incêndios [em edifícios] também trouxeram conhecimentos sobre causas de acidentes", conta Moreno. As responsabilidades das concessionárias fornecedoras também aumentaram. Agora, são
Por que se pensa mais em segurança do que em economia na concepção dos projetos? Os grandes incêndios ocorridos no Brasil (Edifícios Andraus, Joelma, Grande Avenida), todos de origem elétrica e com muitas vítimas fatais, lamentavelmente serviram de alerta para que aspectos de segurança fossem levados a sério. Campanhas educativas também contribuíram. No caso da economia, exceto pela crise do apagão energético de 2001, o tema ainda é pouco conhecido e exigido pelos usuários. Não é fácil convencer empreendedores a gastar mais inicialmente e recuperar o investimento mais tarde. Além disso, ainda não há nada que obrigue a execução de um projeto com base em conceitos de eficiência energética. O que se tornou indispensável às instalações modernas? Produtos para proteção contra choques, como fios terra, tomadas com aterramento, dispositivos DR e eletrodos de aterramento; produtos para proteção contra incêndio, como cabos elétricos retardantes de chama e com baixa emissão de fumaça, gases tóxicos e corrosivos, eletrodutos e canaletas não propagantes de chama e materiais para obturação de paredes e pisos; produtos para proteção contra sobrecorrentes, que
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Acervo pessoal
Instalações eficientes
Hilton Moreno presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Elétricos Nema Brasil
são os disjuntores e fusíveis; além de produtos utilizados na proteção contra os efeitos das sobretensões, como dispositivos DPS e sistemas de proteção contra descargas atmosféricas.
obrigadas a relatar a qualidade da energia entregue. Atualmente, os disjuntores e interruptores diferenciais começam a ser adotados para aumentar a segurança de instalações e usuários. Também estão se desenvolvendo os DPSs, que visam sanar aquele que está dentre os maiores problemas de instalações: as descargas elétricas. Estas geram campos eletromagnéticos que induzem a surtos na rede e podem levar à queima de equipamentos. "Estão evoluindo na forma como desviam o surto para o terra", comenta Sueta. No que tange à economia, as mudanças ainda são incipientes. As instalações começam a sofrer mudanças na distribuição da energia dentro dos prédios, o que pode proporcionar ganhos de área e na quantidade de cabos. Com a possibilidade da medição remota, faz-se desnecessária a sala para concentrar os medidores. Por não ser mais imperativo realizar a medição no térreo, é possível alterar as prumadas e distribuir a energia diretamente no andar. No consumo, a economia está no desenvolvimento de novos produtos para iluminação, como as lâmpadas fluorescentes. "Ainda há problemas com o descarte e com a geração de harmônicos na linha, mas as incandescentes estão com os dias contados", comenta Sueta. Outras possibilidades no campo da economia são os painéis fotovoltaicos e os LEDs (diodos emissores de luz) para iluminação. Bruno Loturco
LEIA MAIS A que se deve a popularização desses dispositivos? Às campanhas de educação de profissionais e usuários, maior observância de normas técnicas, redução dos preços dos produtos, maior respeito aos direitos do consumidor, maior comprometimento dos fabricantes, construtores, instaladores, projetistas e lojistas com suas responsabilidades sociais.
Instalações elétricas residenciais. Téchne 124. Cabines primárias. Téchne 108. Padrão internacional. Téchne 92. Projetista de instalações. Téchne 71. Linha de força. Téchne 65. Instalações elétricas prediais com barramento blindado. Téchne 47.
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um bom momento para os brasileiros comprarem equipamentos americanos.A afirmação é do vice-presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos de Manutenção), Jonny Altstadt, que comparou a moeda nacional em relação ao euro e ao dólar para concluir que "está barato comprar equipamento nos Estados Unidos".Ele visitou a ConexpoCON/AGG (Concrete and Aggregates Show) 2008 acompanhado de um grupo de quase 200 membros da Associação e conta que as soluções americanas são criativas e práticas, menos sofisticadas que as tecnologias européias e mais adequadas à realidade brasileira de construção civil. Os construtores brasileiros estão animados com o aquecimento do setor e com as promessas de investimento em infra-estrutura. "Existe uma demanda para geração de energia e construção de indústrias",observou o diretor de suprimentos e equipamentos da Construtora Andrade Gutierrez, Mário Humberto Marques. A própria Sobratema apresentou dados durante a feira que indicam um crescimento anual de 7,5% até 2012 no setor brasileiro de equipamentos, chegando a US$ 14,84 bilhões. Para Marques, foi surpreendente a quantidade de equipamentos multi-
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funcionais apresentados durante o evento. São máquinas capazes de realizar trabalhos de escavação e perfuração,aumentando a versatilidade da ferramenta. "É interessante porque o empresário reduz o investimento mobilizado", explica. Também chamaram a atenção de Marques e de outros construtores consultados nos pavilhões as máquinas recicladoras de asfalto, concreto e outros materiais. O diretor da Andrade Gutierrez, inclusive, conta que tem informações de que algumas máquinas desse tipo foram negociadas com empresas brasileiras. O objetivo é a reciclagem de pavimentos antigos. Questionado sobre a possibilidade de uma ampla utilização dos equipamentos apresentados no Brasil, Altstadt afirmou que são produtos mundiais, feitos por empresas globalizadas, e que a adaptação à realidade brasileira depende da filosofia de cada empresa. As demandas estão sujeitas, ainda, à sazonalidade dos investimentos. "A Conexpo permite conhecer o estado-da-arte em novos equipamentos", comenta. Essa atualização se mostra importante devido à falta de continuidade nos investimentos em infra-estrutura, que dificulta a renovação do maquinário, especialmente para construção pesada.
Divulgação Conexpo CON/AGG
Dólar barato e mercado dando sinais de aquecimento fizeram da Conexpo 2008 uma verdadeira vitrine de produtos adaptáveis à construção brasileira
FICHAS TÉCNICAS Feira: Conexpo-Con/Agg Local: Las Vegas, Estados Unidos Período: de 11 a 15 de março de 2008 Expositores: 2.182 Visitantes: 144.600, sendo cerca de 28 mil estrangeiros Área de exposição: 211.966 m Feira: IFPE (International Power Transmission Exposition) Expositores: 469 Área de exposição: 11.994 m2
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Crescimento em números
Tal qual a edição anterior, um dos destaques da Conexpo ficou por conta da forte presença asiática,com pavilhões dedicados apenas aos produtos chineses e coreanos. Os construtores, embora interessados na capacidade de barateamento de produtos dos chineses, ainda duvidam da confiabilidade dos produtos. "Acredito que os coreanos têm uma qualidade boa e estão preparados para um embate comercial",aposta Marques, da Andrade Gutierrez. Além de preço e qualidade, faz diferença para os fornecedores contar com rede de atendimento
instalada no Brasil."Vi muitas empresas fechando acordos de representação",revela Altstadt, da Sobratema. Não apenas de asiáticos fez-se a participação internacional na feira. Foram 14 pavilhões dedicados a outros países, sendo dez no âmbito da Conexpo e outros quatro pertencentes à IFPE 2008 (International Exposition for Power Transmission). Esse evento acontece sempre junto à Conexpo e se dedica à transmissão de energia e controle de movimento por meio de tecnologias hidráulicas, pneumáticas, mecânicas e elétricas.
Em comparação à edição anterior, 61% mais pessoas visitaram a IFPE, resultando na presença de mais de 29.400 profissionais. Abrigou a apresentação de 111 trabalhos de especialistas da indústria mundial, além de simpósios sobre controle eletrônico. Contou com o inédito Centro para Inovações e Soluções, com sessões de palestras e conferências para mais de 1.700 pessoas. Pelos corredores do Centro de Convenções de Las Vegas, que abrigou a Conexpo CON/AGG 2008, circularam 144.600 pessoas.Em 2005,124 mil profissionais estiveram presentes. O número de visitantes internacionais também aumentou significativamente, saltando de aproximadamente 15 mil para 28 mil em 2008. "A participação internacional superou em muito a nossa expectativa", revelou Arnold Huerta, diretor de desenvolvimento de negócios globais da AEM (Association of Equipment Manufacturers), uma das associações envolvidas com a organização do evento. Entre 750 e 800 brasileiros compareceram a Las Vegas. Os mexicanos eram 1.500. Alguns dados, como o volume de negócios, ainda não estão disponíveis, mas a expectativa é por resultados muito positivos para os cerca de 2.500 expositores, visitados por 60 delegações mundiais. "É uma boa oportunidade para os fabricantes apresentarem suas novidades", atesta Huerta. Aproximadamente oito milhões de toneladas em equipamentos foram dispostos ao público. Para o vice-presidente da Sobratema, os objetivos da visita por parte dos brasileiros foram plenamente alcançados. "Queríamos ampliar a gama de fabricantes de equipamentos presentes no Brasil, cada um oferecendo vantagens competitivas", resume. Bruno Loturco
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Painel de produtos Carregadeira 877lll LiuGong
Dotada de cesto multiuso com capacidade para 4 m3, essa carregadeira chinesa é operada por joystick. O peso de operação é de 23.500 kg, com tolerância de 500 kg para mais ou para menos. Tem 9.113 mm de comprimento e o cesto atinge 5.905 mm de altura. http://en.liugong.com
A McCloskey 621 é adequada para aplicações de muita solicitação, tais como processamento de material de demolição e reciclagem de resíduos. Também pode ser utilizada para processamento de camadas de solo. Conta com ventilador reversível para remoção do material triturado do interior do equipamento. www.mccloskey.com Recicladora de solo McCloskey
Escavadeira
A velocidade de viagem varia entre 2,8 km/h e 4,5 km/h e a carregadeira conta com lâmina acoplada ao chassi. O cesto tem capacidade para 0,35 m3 e o equipamento pesa 8 t. Tem 6.215 mm de comprimento, considerando o braço flexionado, atingindo 1.780 mm de altura. www.jonyang.com Tudo reciclado Recicladora McCloskey
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Indicada para composição de camadas de solo, limpeza de terrenos, manutenção de rodovias e fabricação de agregados, a McCloskey Kompaq & Minisizer pesa apenas 5.000 kg e tem 4 m de comprimento. Devido ao tamanho compacto, é ideal para realizar os primeiros trabalhos em terrenos acidentados. www.mccloskey.com Estabilizadora Wirtgen
Mais compacto dos modelos dessa fabricante, o WR 2000 realiza reciclagem e estabilização de solo. Suas dimensões lhe garantem flexibilidade de uso e agilidade de movimentação pelo terreno. A boa visibilidade da cabine proporciona segurança e conforto ao operador. www.wirtgen.com
Fora-de-estrada Volvo E-Series Volvo
A nova linha da Volvo conta com sete caminhões articulados. Uma das novidades é o sistema de suspensão total, que propicia nivelamento automático e controle de estabilidade em todas as rodas. O modelo A40E alcança 57 km/h e é capaz de carregar até 39 t. A caixa de câmbio tem nove marchas para proporcionar suavidade e potência em todas as situações. www.volvo.com Compactos e portáteis Nível a laser Wacker
Com operação simplificada, visa proporcionar eficiência e produtividade com precisão. Os modelos VAL 300 e HAL 300 abrangem diâmetros de 300 m e o PAL 450 atinge 450 m. Funcionam com baterias recarregáveis e são indicados para incrementar a precisão na montagem de fôrmas, revestimentos em argamassa e nivelamento de pisos. www.wackergroup.com Vibrador de concreto Wacker
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Portátil, é movido a gasolina e ideal para concretos com densidade média ou baixa. Tem formato anatômico e alcança mais de 10 mil vibrações por minuto. O modelo PV 35A pesa 7,7 kg. O motor Honda é garantido contra problemas operacionais. www.wackergroup.com Acabadora de concreto Wacker
Elimina o trabalho braçal de acabamento em piso nas regiões próximas a paredes e a obstáculos. Foi desenvolvida para proporcionar facilidade e conforto de operação. Tem quatro lâminas e pesa 72,6 kg. O motor é refrigerado a ar e atinge 3.800 rpm. O tanque tem capacidade para 2,5 l e o consumo é de 1,3 l/hora. www.wackergroup.com Cortadora de barras Wacker
O modelo BW65S-2 de rolo vibratório com duas rodas pesa 626 kg, tem 650 mm de largura, vibra a uma freqüência de 58 Hz e tem força centrífuga de 24 kN por roda. Adequado para pavimentação e disponível em duas outras versões, com maior e menor capacidade. www.bomag-americas.com Acabamento mecânico Multiquip
Rolo vibratório Bomag
Esse sistema de controle para escavadoras baseado em tecnologia GPS 3D permite ao operador saber a posição exata da máquina em relação ao terreno, incluindo o braço e o cesto. Com um corte mais preciso, evita-se a escavação além do definido em projeto. www.topconpositioning.com Centro de controle RC3 RexCon
A tradução literal de "trowel", nome dado a esse equipamento, é "colher de pedreiro". Isso porque conta com lâminas automatizadas que realizam o acabamento de superfícies de concreto. Com o operador a bordo, aumenta a produtividade desse tipo de serviço sem desgaste humano. www.multiquip.com Carregadeira compacta Gehl
Equipamento elétrico-hidráulico, desenhado para cargas elevadas, proporciona cortes rápidos em barras de aço. Compacta, é indicada para casos em que são necessárias a portabilidade e a flexibilidade. É adaptável a barras com diâmetros diversos. A válvula de alívio de pressão é liberada sem o auxílio de ferramentas. www.wackergroup.com
Eletrônica construtiva X63 Topcon
Um centro de controle e comunicação para centrais de concreto baseado num sistema amigável para Windows. Permite controlar desde o traço dos concretos processados até o tempo de uso dos equipamentos. Controla até cinco baias de agregados e automatiza o carregamento dos caminhões na usina. www.rexcon.com Gerenciador de trabalho The Paradyme Group
O modelo RS8-42 de carregadeira com braço telescópico da Gehl pode esterçar duas ou quatro rodas ou andar de lado, a depender da necessidade. É capaz de elevar até 3.600 kg a 12 m de altura. Tem teto de vidro na cabine para melhorar a visibilidade do operador. Conta com três opções de velocidade à frente. www.gehl.com
O DigiSuite é um gerenciador de fluxo de trabalho que auxilia na redução de custos e no aumento da eficiência dos processos. O sistema aposta na flexibilidade de uso para possibilitar comunicação por voz, rastreamento de equipamentos e etiquetamento eletrônico de elementos em concreto. www.paradymegroup.com
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ARTIGO
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[email protected]. O texto não deve ultrapassar o limite de 15 mil caracteres (com espaço). Fotos devem ser encaminhadas separadamente em JPG.
Avaliação ambiental de edifícios tualmente, os conceitos relativos à sustentabilidade, decorrentes do aumento da conscientização global sobre o assunto, estão influenciando cada vez mais as sociedades do planeta. Questões como os impactos negativos gerados ao meio ambiente e as crescentes desigualdades socioeconômicas passaram a ser abordadas em todas as escalas governamentais e privadas. No setor da construção civil, especificamente, destacam-se as preocupações voltadas aos impactos ambientais gerados pelas edificações, principalmente durante as fases de construção e uso. Resultados de pesquisas mostram que, em algumas cidades do Estado de São Paulo, mais da metade do volume diário de resíduos coletados são oriundos da construção civil. Nos países do hemisfério Norte, a maior parte do consumo de energia é decorrente da climatização das edificações. Nesse contexto, a partir da década de 1990, muitos países desenvolveram mecanismos para a avaliação do desempenho ambiental de edifícios por meio de processos de certificação voluntária, com grande abrangência temática, enfatizando, porém, os aspectos que representam os maiores desafios ambientais locais. Um edifício com alto desempenho ambiental deve impactar pouco o meio ambiente, propiciando boas condições de conforto e salubridade para os usuários. Dessa forma, deve-se considerar, entre outros: baixo consumo de energia para ar-condicionado e iluminação; racionalização do consumo
A
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Adriana Camargo de Brito, arquiteta Centro Tecnológico do Ambiente Construído, IPT e-mail:
[email protected] Fulvio Vittorino, engenheiro mecânico Centro Tecnológico do Ambiente Construído, IPT e-mail:
[email protected] Maria Akutsu, física Centro Tecnológico do Ambiente Construído, IPT e-mail:
[email protected]
Fotos: Adriana Brito
de água potável (foto 1); uso de sistemas construtivos e execução da obra de modo a minorar a geração de resíduos; localização do empreendimento de forma a facilitar o seu acesso pelos usuários; não-perturbação da vizinhança, principalmente durante a obra, como cuidados no espalhamento de poeira e outros (foto 2) .
Foto 1 – Torneira eficiente – economia de água
Sistemas de avaliação ambiental de edifícios
A maioria dos sistemas de avaliação ambiental de edifícios baseia-se em indicadores de desempenho que atribuem uma pontuação técnica em função do grau de atendimento a requisitos relativos aos aspectos construtivos, climáticos e ambientais, enfocando o interior da edificação, o seu entorno próximo e a sua relação com a cidade e o meio ambiente global. Esses indicadores possuem ponderações, explícitas ou não, que retratam os principais problemas ambientais locais. Por exemplo, se em determinada região há altas taxas de geração de resíduos na execução de edifícios, os critérios adotados em um mecanismo dessa natureza incentivam a diminuição dessa geração, cabendo ao construtor escolher a melhor forma de atender a essa exigência, seja pela melhor gestão do empreendimento ou pelo emprego de sistema construtivo mais racionalizado. Os métodos de avaliação possuem aspectos conceituais em comum na busca pela melhoria do desempenho ambiental dos edifícios, que podem ser refletidos, de maneira simplificada, pelos seguintes aspectos principais: Impactos do Empreendimento no Meio Urbano, onde há itens sobre os incômodos gerados pela execução, acessibilidade, inserção urbana; erosão do solo, espalhamento de poeira, entre outros (foto 5); Materiais e Resíduos, compreenTÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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dendo gestão de resíduos no canteiro e uso do edifício, emprego de madeira e agregados com origem legalizada, geração e correta destinação de resíduos, emprego de materiais de baixo impacto ambiental, reúso de materiais (fotos 3 e 4); Uso Racional da Água, visando à economia de água potável, como uso de equipamentos economizadores, acessibilidade do sistema hidráulico, captação de água de chuva, tratamento de esgoto etc.; Energia e Emissões Atmosféricas, que analisam a eficiência da envoltória, do sistema de ar-condicionado e iluminação artificial, entre outros assuntos e; Conforto e Salubridade do Ambiente Interno, considerando a qualidade do ar e o conforto ambiental. No gráfico 1 são apresentadas as importâncias relativas dos diversos aspectos avaliados em processos de diferentes instituições, onde se evidencia a diferença entre as ponderações estabelecidas em cada mecanismo de avaliação. Destacam-se: BREEAM, do Reino Unido, LEED, dos Estados Unidos, HQE, da França, CASBEE do Japão, GBTOOL (veja siglas no final) desenvolvido por pesquisadores de vários países, além de um método proposto pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Os dois primeiros (BREEAM e LEED) são muito semelhantes entre si com relação à estrutura de avaliação, pelo atendimento a pré-requisitos e pela concessão de pontuação técnica acerca de itens de avaliação independentes e classificação do desempenho do edifício em vários níveis. Já o HQE dá ênfase em questões de desempenho global do edifício e de gestão do processo de projeto e de construção dos edifícios, além de correlacionar muitos dos itens avaliados. A avaliação se dá por um perfil ambiental previamente estabelecido, que se atendido resulta na certificação do edifício. O CASBEE possui estrutura de pontuação técnica baseada na relação benefício para o usuário/custo ambiental para obter esse benefício que resulta em um índice de desempenho
Foto 2 – Lava-rodas durante a obra para evitar espalhamento de particulas nas ruas da cidade
Foto 3 – Separação de resíduos para reciclagem
do edifício, enquanto o GBTOOL, por seu caráter internacional, necessita que cada aplicador utilize fatores de ponderação definidos de acordo com as suas características locais. A metodologia do IPT tem estrutura similar à do LEED e do BREEAM, porém com aspectos específicos adequados para a realidade urbana das grandes cidades brasileiras. Conteúdo das sistematizações BREEAM
O BREEAM é o primeiro método de avaliação de desempenho ambiental de edifícios, desenvolvido pelo Building Research Establishment (BRE), no Reino Unido, já no início
da década de 1990, contendo eminentemente exigências de caráter prescritivo. Tais exigências enfocavam o interior da edificação, o seu entorno próximo e o meio ambiente. Já nesse momento ficava claro o conceito de se buscar boas condições de conforto e salubridade para o ser humano com o menor impacto ambiental tanto em termos de consumo de recursos como de emissões. A avaliação contém itens com caráter de atendimento obrigatório e outros classificatórios, abordando questões sobre os impactos do edifício no meio ambiente, saúde e conforto do usuário e gestão de recursos. O atendimento dos itens obrigatórios e 73
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Fotos: Adriana Brito
ARTIGO um número mínimo de itens classificatórios irá corresponder à classificação do edifício em um dos níveis de desempenho possíveis. Destaca-se que a pontuação mínima exigida varia de acordo com a versão do método, bem como os níveis de classificação. Atualmente, dispõem-se de critérios para vários tipos de edifícios, como de escritórios, shopping centers, habitações térreas e edifícios multipavimentos, fábricas, e até para prisões. LEED Foto 4 – Baias para separação de resíduos
Foto 5 – Cobertura de solo exposto para evitar espalhamento de partículas e erosão 3,0% 18,8%
4,0% 6,0% 10,0%
1,7% 12,4% 14,1%
10,1%
10,0% 33,6%
20,0%
23,0% 24,5%
18,8%
22,4% 10,0%
20,0% 21,7% 20,0% 7,3%
9,8%
1,2%
8,3% 4,5%
21,1%
20,3%
20,0%
24,7%
LEED
IPT
BREEAM
Qualidade dos serviços (ao usuário) Gestão de energia Prevenção da poluição (qualidade do ar/ruídos) Qualidade do ambiente interno (controlabilidade) Desempenho econômico
Fonte: adaptado de Silva, 2003 Gráfico 1 – Comparação de sistemáticas
74
12,0%
9,6% 9,1% 3,0% CASBEE
16,2% 12,0% 4,0% 4,0% 8,8% GBTOOL
Gestão de água Gestão de materiais e resíduos Gestão ambiental (do processo) Sustentabilidade do sítio (qualidade da implantação)
O LEED é um sistema de certificação aplicado pelo USGBC (United States Green Building Council) que foi visivelmente influenciado pelo BREEAM, tendo estrutura e conceitos muito semelhantes, mesclando aspectos prescritivos e de desempenho, onde também há versões para usos específicos de edifícios. Os aspectos avaliados pelo LEED referem-se ao impacto gerado ao meio ambiente em conseqüência dos processos relacionados ao edifício (projeto, construção e operação); contemplando aspectos relativos ao local do empreendimento, o consumo de água e de energia, o aproveitamento de materiais locais, a gestão de resíduos e o conforto e qualidade do ambiente interno da edificação. O método de avaliação consiste na análise da eficiência ambiental potencial do edifício, por meio de documentos que indiquem sua adequação aos itens obrigatórios e classificatórios (como o BREEAM) presentes na certificação. Há possibilidade de se atingir os níveis de certificado prata, ouro ou platina, sendo este último o nível máximo a ser alcançado.As faixas de pontuação e os intervalos considerados para a classificação dos edifícios variam de acordo com o uso e fase do ciclo de vida do edifício. HQE
O HQE é uma base de avaliação francesa que consiste em dois sistemas relacionados entre si, que aferem o desempenho ambiental de edifícios. Sua estrutura subdivide-se em gestão do empreendimento – SMO (Système de Management de l'Opération) – e quaTÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Tabela 1 – COMPARATIVO DAS SISTEMÁTICAS Aspectos Escopo da Método de aplicação avaliação BREEAM Ambiental Atendimento de itens obrigatórios e classificatórios. Classificação do edifício LEED Ambiental Atendimento de itens obrigatórios e classificatórios. Classificação do edifício HQE
Ambiental
Atendimento de perfil ambiental. Certificação ou não do edifício
GBTOOL
Ambiental e econômica
Verificação do atendimento dos itens
CASBE
Ambiental
Verificação do atendimento dos itens. Classificação do edifício
IPT
Ambiental e desempenho técnico
Atendimento de itens obrigatórios e classificatórios. Classificação do edifício
lidade ambiental – QEB (Qualité Environnementale du Bâtiment) –, que avaliam as fases de projeto, execução e uso, cada qual com uma certificação em separado. O método Francês é diferenciado do BREEAM e LEED, apresentados anteriormente. A avaliação não possui escala de pontuação mas sim uma estrutura baseada em um perfil ambiental determinado pelo empreendedor, dentre os quatro blocos de avaliação, que possuem juntos 14 itens. Os blocos são: impactos do empreendimento no meio ambiente, gestão de recursos, conforto ambiental e saúde do usuário. Na composição do perfil ambiental são escolhidos itens que deverão atender aos níveis de desempenho definidos. Há três níveis de desempenho, o máximo (Très Performant), que representa os melhores níveis de desempenho que podem ser obtidos, o médio (Performant) e o mínimo
Categorias avaliadas
Resultados
Saúde, poluição, conforto, uso de energia, uso de água, uso de materiais, uso do solo, ecologia local, transporte Sítios sustentáveis, energia e atmosfera, uso eficiente da água, materiais e recursos, qualidade do ambiente interno, inovação e processo de projeto Impactos no meio ambiente, gestão de recursos, conforto e saúde do usuário
Classificação em vários níveis, pontuação total obtida Quatro níveis, pontuação total obtida
Uso de recursos, cargas ambientais, qualidade do ambiente interno e dos serviços, aspectos econômicos, gestão de transporte Ambiente interno, qualidade dos serviços, ambiente externo (dentro do terreno), energia, recursos e materiais, ambiente externo (fora do terreno) Impactos no meio ambiente, materiais e resíduos, energia e atmosfera, uso racional de água, conforto e salubridade
(Base), que já corresponde às boas práticas correntes. Para se obter a certificação, dos 14 itens quatro devem atender pelo menos ao nível médio, e pelo menos três, ao nível máximo. As outras categorias devem se enquadrar no nível base. Não há classificação do desempenho do edifício em níveis, obtendo-se ou não a certificação. O sistema está todo baseado em exigências normativas e legais de cada localidade. CASBEE
O CASBEE possui quatro instrumentos de avaliação: voltados ao projeto (em desenvolvimento), construções novas, edifícios existentes e reformas. Os critérios de avaliação abordam a qualidade ambiental e desempenho do edifício (Q – Building environmental quality and performance) e diminuição de cargas ambientais (LR – Reduction of building environmental loadings).
Não há classificação. A certificação é obtida a partir do atendimento ao perfil de desempenho ambiental escolhido Pontuação global do desempenho por categoria Cinco níveis de classificação, indicador global de eficiência Cinco níveis de classificação, pontuação total obtida
O "Q" considera questões relativas à qualidade do ambiente interno (conforto e saúde do usuário), qualidade do serviço (funcionalidade, durabilidade) e meio ambiente local (preservação vegetal e animal, e características paisagísticas, culturais locais, etc.). Já o "LR" aborda eficiência energética (desempenho da envoltória, uso de energia renovável, eficiência dos sistemas e sua operação), gestão de recursos (economia e reúso de água, reúso e reciclagem de materiais etc.) e impactos na vizinhança (poluição do ar, sonora, vibrações etc.) A pontuação dos dois sistemas é ponderada e resulta em uma nota final (BEE – Building Environmental Efficency) que corresponde à classificação do edifício em um dos cinco níveis possíveis. GBTOOL
O GBTOOL é uma ferramenta internacional de avaliação ambiental 75
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ARTIGO de edifícios, resultante de um consórcio que envolve vários países da Europa, Ásia e América (Green Building Challenge) na busca do desenvolvimento de incentivos à execução de edifícios mais adequados do ponto de vista ambiental. Desse modo, não possui um órgão certificador específico, sendo uma ferramenta de discussão e aprimoramento de projetos podendo ser adotada por qualquer entidade de avaliação que defina fatores de ponderação para os elementos considerados. Os assuntos abordados referem-se ao consumo de recursos, cargas ambientais, qualidade do ambiente interno, qualidade do serviço, aspectos econômicos e gestão antes da ocupação do edifício. Método IPT
O método desenvolvido pelo IPT visa oferecer uma avaliação ambiental de edifícios adequada às condições brasileiras e, caso o resultado seja satisfatório, conceder uma Referencia Ambiental-IPT, nos mesmos moldes da Referência TécnicaRT/IPT que vigora para produtos. Sua estrutura é semelhante à do LEED e BREEAM, com itens com caráter de atendimento obrigatório e outros classificatórios. A sistemática do IPT enfatiza os aspectos ambientais tradicionais como características do terreno, de água, energia, materiais, resíduos e conforto ambiental. Considera também aspectos mais abrangentes como de acessibilidade e relação do edifício com o meio urbano. Sua grande diferença está na importância dada a cada aspecto e na inserção de preocupações relativas à realidade brasileira. Para uma rápida comparação das estruturas de avaliação citadas, apresentamos um breve resumo na tabela 1. Tendências nacionais
Dentro dos grandes blocos temáticos apresentados, cada sistemática de avaliação possui suas peculiaridades e exigências específicas. Quando se aplica uma delas em um empreendimento, que já foi cons76
truído incorporando aspectos ambientais desde seu projeto, espera-se que seu desempenho seja superior aos edifícios tradicionais. Porém, isso depende do foco da metodologia aplicada e da base de comparação do desempenho obtido. Para que os resultados ambientais sejam representativos, é de suma importância que a sistemática possua critérios adequados ao contexto onde se encontra o edifício. No contexto brasileiro, ainda há uma grande carência em normas e legislações sobre o assunto. Embora existam várias iniciativas, estamos praticamente no início de busca por um melhor desempenho ambiental de nossos edifícios. Nesse sentido, temos muito trabalho a fazer, ainda mais se considerarmos nossos problemas quanto à qualidade de nossas edificações, fator que interfere decisivamente no desempenho ambiental. No entanto, a busca por edifícios mais eficientes do ponto de vista ambiental é crescente no Brasil. Atualmente há grande heterogeneidade no foco das empresas da construção civil. Algumas estão se limitando à incorporação de conceitos por meio de soluções de projeto que possuem grande visibilidade, porém sem representar grandes melhorias ambientais, enquanto outras estão buscando certificação de acordo com critérios do exterior, que nem sempre são adequados às condições nacionais. Diante desse cenário, o IPT propôs uma metodologia de avaliação nacional voltada a grandes cidades. O método visa à valorização da adoção de soluções de projeto, gestão ou execução que possam resultar em um ganho ambiental real. No entanto, os conceitos de desempenho ambiental de edifícios ainda estão longe de estarem disseminados por toda a sociedade brasileira, embora alguns setores específicos estejam mobilizados nesse sentido. A procura por imóveis com certificação ambiental, neste momento, relaciona-se a perfis específicos de consu-
midores, com destaque aos imóveis de alto padrão. Contudo, mesmo na habitação de interesse social, as preocupações ambientais começam a se fazer presentes. A própria Secretaria de Estado da Habitação/CDHU já tem assinado protocolo com a Secretaria do Meio Ambiente para melhorar o desempenho ambiental de seus conjuntos habitacionais.
REFERÊNCIAS Avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros: diretrizes e base metodológica. V. G. Silva. 2003. 210f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo. Green Building Challenge'98 http://greenbuilding.ca/gbc98cnf/ CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency) www.ibec.or.jp/CASBEE/english/over viewE.htm Institute for Building Enviroment Energy Conservation www.ibec.or.jp LEED (Leadership in Energy and Environmental Design Green Building Rating System) – U.S. Green Building Council www.usgbc.org HQE (Association por la Haute Qualité Environnementale) www.assohqe.org/ BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Metthod) www.breeam.org IISBE (International Initiative for a Sustainable Built Environment) GBATool (Green Building Assessment Tool) http://greenbuilding.ca
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ACABAMENTOS
PAINEL PARA FACHADA
PASTILHAS
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PRODUTOS & TÉCNICAS CANTEIRO DE OBRA
COBERTURA, IMPERMEABILIZAÇÃO E ISOLAMENTO
ANDAIME ELÉTRICO
MANTA TÉRMICA
O andaime motorizado é montado com plataformas em aço compostas por módulos de 2 m ou 3 m, que podem ser interligadas formando áreas de 2 m até 8 m de comprimento. A movimentação do andaime é feita por dois guinchos motorizados Baram modelo 700. A plataforma pode subir até 9 m/min, agilizando os serviços de fachada. (51) 3033-3133 www.baram.com.br
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TELHA CERÂMICA O Sistema Taguá de Cobertura reúne telhas cerâmicas e calhas metálicas, possibilitando executar telhados com apenas 3% de inclinação. A inclinação miníma garante bom isolamento térmico e acústico, além de total impermeabilização, assegura a empresa. O produto já está no mercado há 40 anos. www.ceramicatagua.com.br
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PRODUTOS & TÉCNICAS COBERTURA, IMPERMEABILIZAÇÃO E ISOLAMENTO
MASSA ACRÍLICA TELHA DE CONCRETO
EMULSÃO ASFÁLTICA
As telhas de concreto Pirineos, da Eurotop, destacam-se pelo design, aspecto rústico e, ao mesmo tempo, sofisticado, trabalhando com cores que dão movimento ao telhado, lembrando os tons da região montanhosa dos Pireneus. Disponível em várias tonalidades. 0800-7070075 www.eurotop.com.br
A Denver Impermeabilizantes lança a emulsão asfáltica impermeabilizante Denverlaje Preto. Totalmente pronta para uso, é aplicada a frio e atende às necessidades de proteção em lajes de pequenas proporções, como terraços, sacadas, marquises, coberturas e áreas frias. (11) 4741-6000 www.denverimper.com.br
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A Vedacit/Otto Baumgart lança o novo impermeabilizante Vedapren, disponível em três versões: terracota, concreto e verde. O produto protege contra os raios de sol, o que reduz parte do calor absorvido pela estrutura. Disponível em galões de 4,5 kg, balde de 18 l e ainda em tambor de 200 kg. (11) 2902-5555 www.vedacit.com.br
MEMBRANA FLEXÍVEL O MSET é o lançamento da Bautech na Feicon. É uma manta líquida impermeabilizante que forma uma membrana elástica monocomponente e contínua, substituindo a manta asfáltica. As vantagens do produto, segundo o fabricante, são a alta resistência a fungos e bactérias, maior rapidez na aplicação e possibilidade de ser aplicado por mão-de-obra não especializada. (11) 5572-1155 www.bautechbrasil.com.br
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COBERTURA, IMPERMEABILIZAÇÃO E ISOLAMENTO
CONCRETO E COMPONENTES PARA A ESTRUTURA
PROTETOR TÉRMICO
ADESIVOS E SELANTES
O Termosplit é um protetor térmico tubular desenvolvido principalmente para isolamento em sistemas de refrigeração e climatização. Fabricado pela WdB, o produto é fornecido em rolos de 8 m e está disponível nos diâmetros 17,5 mm, 22 mm e 29,5 mm. (11) 3026-9200
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ESTRUTURA DE AÇO A Jorsil lança na Feicon a estrutura pronta de aço galvanizado para telhados, para substituir a madeira. Formada por perfis estruturais leves parafusados entre si, a estrutura apresenta ao mesmo tempo rigidez e leveza. (11) 2179-5100 www.jorsil.com.br
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ADITIVOS ENDURECEDOR A Viapol criou dois novos aditivos para estruturas de concreto: o Viamiz Rápido CL e o Viamix Expansivo. O primeiro é ideal para acelerar o endurecimento de cimento, possibilitando altas resistências mecânicas. Já o segundo é utilizado em argamassas destinadas ao preenchimento de espaços entre batente, parede e teto. (11) 2107-3400 www.viapol.com.br
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PRODUTOS & TÉCNICAS CONCRETO E COMPONENTES PARA A ESTRUTURA
CP II O cimento Cimpor CP II E 32 é indicado para estruturas que estejam expostas a ataques químicos provenientes do meio ambiente e para aplicações que necessitem de moderadas resistências à compressão nas primeiras idades, como: artefatos de cimento, blocos de concreto, concreto protendido, estruturas de concreto em geral, argamassas de assentamento e revestimento. 0800-7033010
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FIBRA O FiberLock, da Etruria, é um produto usado em concretos e argamassas para inibir o aparecimento e a propagação de fissuras causadas por retrações plásticas ou hidráulicas. Adicionado ao concreto ou argamassa, incorpora-se à pasta de forma homogênea e fácil. (11) 4718-8700 www.etruria.com.br
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PRODUTOS & TÉCNICAS CONCRETO E COMPONENTES PARA A ESTRUTURA
INSTALAÇÕES COMPLEMENTARES E EXTERIORES
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INSTALAÇÕES COMPLEMENTARES E EXTERIORES
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INSTALAÇÕES COMPLEMENTARES E EXTERIORES
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS E TELECOMUNICAÇÕES
TRILHO ELÉTRICO PISCINA
EXAUSTORES A Sictell lança o Arkit, conjunto exaustor com tubo flexível e uma grade externa, para a renovação de ar. O produto é indicado para ambientes de até 6 m2. (11) 2274-2003
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INSTALAÇÕES ELÉTRICAS E TELECOMUNICAÇÕES
TOMADAS E INTERRUPTORES A Linha Simon19 é o novo lançamento da Simon Brasil e reúne 29 itens, comercializados juntos ou individualmente. São interruptores, pulsadores, tomadas e etc., que buscam, de acordo com a marca, qualidade, segurança, economia e bom gosto. (11) 3437-8100 www.simonbrasil.com.br
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS
RESERVATÓRIO SOLAR
MINIDISJUNTOR O minidisjuntor termomagnético da Steck foi criado principalmente para sistemas comuns de distribuição de energia como tomadas e iluminação. Mesmo travado, em caso de sobrecarga o produto desarma automaticamente. (11) 6245-7000
[email protected] www.steck.com.br
O trilho VR 8003 com transformador eletrônico embutido, da Adimar Iluminação, é um modelo arrojado e moderno com spots, canopla e trilhos em latão cromado e cristais no formato de pirâmide. Adequado para três lâmpadas bipino com máximo de 50 W. (11) 6673-3757 www.adimariluminacao.com.br
TUBOS LUSTRE DE CRISTAIS O lustre pendente Bola da Looz, com diâmetro de 82 cm, possui aproximadamente sete mil cristais sustentados por uma corrente de aço inox. A estrutura é de alumínio pintado. Está disponível também com diâmetro de 52 cm. (16) 3976-7131 www.looziluminacao.com.br looziluminacao@looziluminacao. com.br
O Acqua System é o sistema para condução de água quente e fria com união por termofusão do Grupo Dema. A tecnologia por termofusão permite que tubos e conexões sejam aquecidos a 260ºC, fundindo-se molecularmente em uma peça única e contínua, sem roscas, colas e soldas. Elimina, segundo o fabricante, todo o risco de vazamentos. (11) 3619-8883 www.grupodema.com.br
A Cumulus lança os reservatórios solares em aço carbono vitrificado. Os modelos, além de contar com a mesma durabilidade e garantia do modelo em aço inox 304L (superior ao inox 304 e 444), possui um custo até 50% menor se comparado com os modelos inox. (11) 3156-8500 www.cumulus.com.br
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PRODUTOS & TÉCNICAS INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS
AR-CONDICIONADO
AQUECEDORES SOLARES AQUECEDOR A GÁS O destaque da Bosch na Feicon é o lançamento da Linha Eletrônica Digital, composta por três modelos de aquecedores de água a gás: GWH 500 CTDE, GWH 650 CTDE e GWH 800 CTDE, que possuem como características principais a regulagem eletrônica da temperatura, exaustão forçada dos gases da combustão, modulação eletrônica da chama, além de diversos sistemas de segurança. (11) 2126-1950 / 0800-7045446 www.bosch.com.br
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A Unasol disponibiliza uma grande variedade de aquecedores solares, para diversos usos e demandas. Os representantes em todo Brasil ajudam o cliente na escolha dos produtos em projetos de edificações especiais e com preocupações de sustentabilidade. (48) 3346-1275
[email protected] www.unasol.com.br
O condicionador de ar Vertu é o lançamento da Midea do Brasil para 2007/2008. É um produto que leva em conta a preocupação ambiental, pois possui selo "A" do Procel. O Vertu possui funções de autolimpeza para eliminação de bactérias e filtros que melhoram a qualidade do ar no ambiente. Possui tons preto-espelhado e cinza-prateado. 0800-6481005 www.mideadobrasil.com.br
[email protected]
FOSSA SÉPTICA O Sumidouro da Bakof possui um design cônico com nervuras, aumentando assim sua resistência à pressão externa. Foi projetado para que a pressão interna seja distribuída uniformemente, sem causar deformações nas paredes. A abertura é feita na parte superior, guiada por dois parafusos plásticos. (11) 3744-3232 www.bakof.com.br
[email protected]
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JANELAS, PORTAS E VIDROS
BATENTE DE POLIURETANO Por uma nova tecnologia patenteada de fusão de um bloco de poliuretano na base de batentes e guarnições, a Pormade soluciona o problema da umidade em ambientes com pisos frios, como banheiros e áreas de serviço. A base de poliuretano, segundo o fabricante, evita a infiltração da umidade e diminui o risco de apodrecimento de portas e janelas. (42) 3521-2121 www.pormade.com.br
[email protected]
FECHADURAS DOBRADIÇA REFORÇADA A União Mundial lança a dobradiça 4 x 3 para portas pesadas. As peças podem ser encontradas em aço ou latão, todas reforçadas para suportarem grandes cargas. (22) 2533-9350 www.uniaomundial.com.br
A nova linha 1.600 da Stam permite que o consumidor troque de fechadura sem deixar nenhum vestígio. O sistema é composto por espelhos finos ou largos. 0800-241020
[email protected] www.stam.com.br
PORTAS PIVOTANTES As novas portas pivotantes da Zeloart são, segundo a empresa, ideais para a fachada de residências e áreas comerciais. A estrutura das peças é de alumínio, e os clientes podem escolher o tipo de vidro da peça, tipo de revestimento, cor e modelo, entre outras características. (11) 5562-8666 www.zeloart.com.br
JANELAS, PORTAS E VIDROS
FECHADURA ESQUADRIA ACÚSTICA O último lançamento da Atenua Som é a linha de esquadrias Futura. Com dois modelos, um de abrir e outro de correr, são janelas acústicas que promovem o conforto térmico gerado pelos vidros duplos. É feita sob medida e pode ter vidros duplos, triplos, quádruplos ou até cinco camadas com diferentes espessuras. (11) 3382-3060 www.atenuasom.com.br
[email protected]
A nova Linha Alumínio de fechaduras da Aliança Metalúrgica possui três modelos visando atender aos mais variados gostos. São opções em rosetas sem parafusos e um novo par de espelhos. As opções de acabamento são o alumínio natural, cromado, fosco, bronze e latonado fosco. Todos os modelos são equipados com mecanismos de 40 mm. (11) 6951-1500 www.aliancametalurgica.com.br
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PRODUTOS & TÉCNICAS
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JANELAS, PORTAS E VIDROS
MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS
VIDROS
CORTE
A Vetro System trouxe direto da Europa uma nova tecnologia de envidraçamento de ambientes. Os novos painéis se adaptam em vários formatos geométricos, sem o uso de esquadrias, e são instalados em trilhos horizontais que giram em um ângulo de 90º. (11) 4063-2130 www.vetrosystem.com.br
Os discos diamantados Irwin de 180 mm são os mais resistentes ao desgaste, sendo indicados principalmente para materiais abrasivos e para cortes mais profundos. Os discos podem ser utilizados a seco ou com a adição de água. 0800-9709044 www.irwin.com.br
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MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS
FIXAÇÃO ESTILETE SERRA DE PISO A Clipper C13E da Norton é compacta e se caracteriza pelo seu alto desempenho no corte de pisos de concreto e asfálticos. O posicionamento do tanque de água removível, que é de 20 l, adiciona peso ao disco e garante ao operador uma boa visão do corte. 0800-7273322 www.norton-abrasivos.com.br
Com o intuito de facilitar o trabalho de profissionais da construção civil, a Starret lança uma linha de ferramentas manuais composta de estiletes, lâminas de serra tico-tico, novas trenas e um dos principais produtos da empresa, o microóleo anticorrosivo M1. www.starrett.com.br
A pistola DX 36M, da Hilti, é um sistema de fixação à pólvora para concreto e aço. A ferramenta semi-automática possui pente de dez cartuchos e regulagem de potências. A pistola tem silenciador integrado. 0800-144448 www.hilti.com.br
VIBRADOR DE CONCRETO A Bosch apresenta ao setor da construção seu novo vibrador de concreto, com motor de 1.400 W de potência e alta capacidade de adensamento do concreto. Com tamanhos diferenciados de mangotes (1,5 m e 3,5 m de comprimento) e um sistema de troca rápida desses componentes, é possível adequar o produto a diversas utilizações. 0800-7045446 www.bosch.com.br
MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS
FERRAMENTA MISTURADOR O misturador Horizontal Vibron possui moto-redutor de engrenagens paralelas que, além de prolongar a vida útil do equipamento, proporciona um funcionamento com menos ruídos. Sua cuba de mistura tem capacidade de 100 l e sua produção média é de 2 m3/h. (11) 6703-3111
A Máquina Serra de Fita 1101, da Starrett, é uma máquina horizontal, de operação manual, para corte de diversos tipos de materiais. O produto possui três regulagens de pressão de corte, arco de alumínio injetado e base projetada para permitir maior precisão. 0800-7021411 www.starrett.com.br
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PRODUTOS & TÉCNICAS MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS
PROJETOS E SERVIÇOS TÉCNICOS
VEDAÇÕES, PAREDES E DIVISÓRIAS
SOFTWARE CAD
NIVELAMENTO O nível a laser L3 Millenium, da Laser Center do Brasil, possui nivelamento completamente automático na horizontal e na vertical, possível por meio de motores niveladores. O produto ainda pode ser manuseado a distância, por meio de controle remoto. (11) 3284-4260 www.anvi.com.br
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O programa QiCAD foi desenvolvido com o objetivo de suprir a etapa de complementação das pranchas finais dos projetos, eliminando a necessidade de adotar outro programa CAD para finalizar o projeto. Inclui comandos e ferramentas de CAD 2-D não disponíveis nos demais programas da linha. (48) 3027-9010 www.altoqi.com.br
[email protected]
O Cypecad, da Multiplus, é um software para elaboração de projetos de estruturas em concreto. O produto abrange, segundo o fabricante, todas as etapas do projeto: modelo 3D da estrutura, carregamentos e combinações, análise estrutural, dimensionamento do concreto e das armaduras, pranchas completas, quantitativos e memorial de cálculo. (11) 3222-1755 www.multiplus.com
PLACA CIMENTÍCIA O Superboard é uma placa autoclavada produzida com cimento Portland, quartzo e fibras de celulose. Disponível nas espessuras de 6 mm, 8 mm, 10 mm e 15 mm, o produto tem 1,2 m de largura e 2,4 m de comprimento. Segundo o fabricante, possui resistência à flexão de 16 MPa. (11) 5662-2142 www.superboard.com.br
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VEDAÇÕES, PAREDES E DIVISÓRIAS
DRYWALL ACÚSTICO O Gypsom, chapa para drywall de alta performance acústica da Lafarge Gypsum, ganhou uma nova versão: o GypSOM Q10, com perfurações quadradas de 10 mm x 10 mm. Segundo a fabricante, o produto é ideal para execução de forros em locais projetados para oferecer boa performance e conforto acústico como auditórios, restaurantes e bibliotecas. 0800-2829255 www.gypsum.com.br
DRYWALL A Placo fabrica sistemas de drywall para paredes internas retas ou curvas, não estruturais e não expostas a intempéries. São constituídas por placas de gesso, pré-fabricadas a partir da gipsita natural, parafusadas em uma estrutura metálica leve. 0800-0192540
[email protected] www.placo.com.br
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OBRA ABERTA Livros
Falhas, Responsabilidades e Garantias na Construção Civil * Carlos Pinto Del Mar 368 páginas PINI e Editora Método Vendas pelo portal www.piniweb.com.br Aborda as responsabilidades dos construtores, dos projetistas e de todos os demais profissionais envolvidos na concepção e execução de uma obra. Associa as demandas técnicas da engenharia aos conceitos e exigências do Direito para esclarecer os conceitos, dispositivos e prazos referentes às falhas e garantias construtivas. O autor, bacharel em Direito pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e mestre em finanças pela Escola de Engenharia Mauá, apresenta um capítulo inteiro dedicado à prevenção e solução amigável de conflitos. Por se tratar de uma obra destinada tanto a engenheiros quanto a profissionais do Direito, buscou-se uma linguagem didática e acessível.
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Fundações – Guia Prático de Projeto, Execução e Dimensionamento Yopanan C. Rebello 240 páginas Zigurate Editora Vendas pelo portal www.piniweb.com.br Escrito por um engenheiro de estruturas com interesse pela mecânica dos solos e das fundações, o livro tem o objetivo de transmitir as experiências vivenciadas pelo autor durante a interação, ao longo dos últimos 36 anos, com especialistas em fundações. Pretende ser um canal de informações úteis aos que se iniciam na engenharia e, principalmente, na arquitetura. Procura, portanto, introduzir o assunto a partir da óptica do engenheiro não-especialista. Dessa maneira, levanta questões gerais, mas de importância para compreensão global do tema. Após apresentar um breve histórico e especular sobre a interação da disciplina com a arquitetura, ganha teor técnico e traz noções de mecânica dos solos e critérios para escolha de fundação profunda.
Dimensionamento Simplificado de Fôrmas de Madeira para Concreto Armado Zacarias Martin Chamberlain Pravia 72 páginas UPF Editora Fone: (54) 3316-8373 www.upf.br/editora Nesse livro o professor da Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, propõe um método simplificado para calcular pontaletes, fôrmas para lajes, vigas e pilares com base na NBR 7190/1997 e no método dos Estados Limites últimos e de utilização. Os dados apresentados são oriundos das pesquisas realizadas no Laboratório de Ensaios em Sistemas Estruturais. Dessa forma procura minimizar a importância da experiência do construtor no dimensionamento dos escoramentos e desenvolvimento dos projetos de fôrmas. Rico em ilustrações pretende ser de utilização prática e de aplicação por técnicos e engenheiros.
Espaço e Cidade – Conceitos e Leituras Organizadores: Evelyn Furquim Werneck Lima e Miria Roseira Maleque 184 páginas 7 letras Fone: (21) 2540-0076 www.7letras.com.br A coletânea de ensaios e artigos, voltada a acadêmicos e estudiosos, procura incentivar discussões sobre qualidade da vida urbana no século XXI. Focado na cidade do Rio de Janeiro, analisa, em seis artigos, a evolução histórica de bairros e regiões da metrópole carioca, que tiveram suas funções sociais modificadas ao longo do tempo. A primeira parte do livro concentra textos que debatem acerca do patrimônio, preservação e espaço público. Há ensaios sobre planos de preservação de áreas com valor patrimonial, sobre a necessidade de novas soluções na área de transportes, mesmo que a longo prazo, considerando a integração de diferentes modais.
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Manual Prático de Direito das Construções José Fiker 136 páginas Livraria e Editora Universitária de Direito Fone: (11) 3105-6374 www.editoraleud.com.br Advogado formado pela USP (Universidade de São Paulo) e engenheiro civil pela Escola de Engenharia do Mackenzie, o autor é associado colaborador da Empresa Brasileira de Avaliações e trabalhou no Departamento de Patrimônio Imobiliário da Companhia do Metrô. Trabalhou, dentre outros locais, na Emurb (Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo) e no Ibape (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia). Concebeu o livro de forma a ser compreensível mesmo aos leigos em Direito. Para tanto, lançou mão de inúmeras ilustrações para tratar de questões jurídicas essenciais à construção, envolvendo perícias, direito de vizinhança, desapropriação, mediação e arbitragem.
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Manual de Escopo de Projetos e Serviços de Automação e Segurança Abrasip (Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais) 58 páginas Manuais de Escopo de Projetos e Serviços www.manuaisdeescopo.com.br Integrante dos Manuais de Escopo, a publicação segue as diretrizes básicas. Ou seja, divide a atuação da coordenação de projetos em seis fases, subdivididas entre serviços essenciais e opcionais. Dentre os opcionais, aborda até mesmo a preparação de manual de operação e manutenção de automação e segurança. Esse inclui o projeto executivo do sistema, documentação técnica, relação de fornecedores e garantias. Dentre os serviços essenciais do detalhamento de projetos consta a lista de pontos de supervisão e controle, considerando sistemas de elétrica, hidráulica e ar condicionado. Disponível em www.manuaisdeescopo.com.br.
Software
Sites
Orbis 1.1 Uqbar Fone: (21) 2529-2925
[email protected] www.uqbar.com.br Trata-se de um sistema de informações com dados consolidados e específicos do mercado de securitização, com acesso exclusivo ao banco de dados da empresa. A concepção da plataforma almejou a integração entre a carteira de créditos, a engenharia de estruturação financeira e o gerenciamento das operações. Essa nova versão permite ao usuário criar consultas próprias a partir do estabelecimento de um conjunto de critérios, tais como classificação de riscos e rentabilidade estimada. As informações são apresentadas a partir de três perspectivas: dados de operações, dados agregados e atividades recentes.
Nambei Fios e Cabos Fone: (11) 5056-8900 www.nambei.com.br Desde 1971 fabricando fios e cabos elétricos, a Nambei acaba de reformular sua página na internet. De acordo com a empresa, de capital nacional, o objetivo das alterações é facilitar a navegação dos consumidores, clientes e profissionais do setor que busquem informações sobre os produtos Nambei. O desenvolvimento do novo visual do site buscou atender às tendências atuais por um layout limpo e moderno. Na página inicial há um link direto para os produtos, incluindo toda a especificação técnica dos mesmos, e um espaço para download de catálogos, folhetos e tabelas. Também é possível consultar cópias dos certificados obtidos.
* Vendas PINI Fone: 4001-6400 (nas principais cidades) ou 0800-5966400 (nas demais cidades) www.LojaPINI.com.br
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AGENDA Seminários e conferências Legislação na Construção – Como Vencer Entraves Contratuais, Fiscais,Trabalhistas, Previdenciários e Ambientais 13/5/2008 O seminário pretende oferecer ferramentas no tratamento das questões legais relativas à atividade produtiva na construção civil. A PINI organizará o evento e reunirá advogados e profissionais especializados para discutir soluções relacionadas a pontos como tributos, contratos, normas técnicas, código de defesa do consumidor, legislação trabalhista, previdenciária e ambiental. (11) 2173-2340
[email protected] www.piniweb.com/legislacao Sinco 2008 – IV Simpósio Internacional sobre Concretos Especiais 22 a 24/5/2008 Sobral (CE) O evento discutirá os componentes dos concretos especiais, características, propriedades e possibilidades de aplicações. O Sinco é realizado pelo Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto), Iemac (Instituto de Estudo dos Materiais de Construção) e a UVA (Universidade Estadual Vale do Acaraú). Fone: (88) 3611-6796 www.sobral.org/sinco2008/ Eco Building – Fórum Internacional de Arquitetura e Tecnologias para a Construção Sustentável 23 a 25/5/2008 São Paulo O fórum fomentará a discussão sobre a construção sustentável por meio de conceitos de arquitetura fundamentais e complexos, a aplicação de materiais, tecnologias e soluções construtivas. Haverá análises de casos,
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regulamentações e tendências de mercado nacionais e internacionais para a sustentabilidade na construção. E-mail: ecobuilding2008@anabbrasil www.anabbrasil.org/ecobuilding2008 Desafios e Oportunidades no Mercado de Baixa Renda – 2a edição 29/5/2008 O Seminário "Desafios e Oportunidades do Mercado de Baixa Renda" promoverá intercâmbio de experiências e informações entre os profissionais da indústria da construção civil. O evento abordará desde as fases de concepção, viabilização, projeto, planejamento e execução de empreendimentos para o segmento econômico. (11) 2173-2395
[email protected] www.piniweb.com/DesafiosBaixaRenda 2o Congresso e Feira de Infraestrutura de Transportes 25 a 28/6/2008 São Paulo Realizada pela Andit (Associação Nacional de Infra-estrutura de Transportes), o congresso traz o tema Infra-estrutura de Transportes – Integração e Desenvolvimento. Serão discutidos assuntos relacionados a rodovias, vias urbanas, ciclovias, aeroportos e tráfego aéreo, metrô e ferrovias, portos e hidrovias, dutovias e ITS, logística e intermodalidade. Fone: (11) 5087-3465 E-mail:
[email protected] www.andit.org.br/coninfra2008/index.html XIV Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica 23 a 27/8/08 Armação dos Búzios (RJ) O evento de caráter técnico-científico, que engloba o XIV Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, além de simpósios e workshop, tem a finalidade de promover o intercâmbio de conhecimentos e experiências entre profissionais de engenharia, pesquisadores e estudantes. A dinâmica do Congresso envolverá palestras proferidas por convidados de renome nacional e internacional, a apresentação de trabalhos técnicocientíficos mediante submissão ao Comitê Técnico do evento e a realização de uma exposição de serviços e produtos. Fones: (21) 2524-2455/5254 E-mail:
[email protected]
Feiras e exposições Coverings 29/4 a 2/5/2008 Orlando (EUA) A Coverings reúne os setores de revestimentos cerâmicos, rochas ornamentais, utensílios e acessórios para cozinhas e banheiros, vidros, madeira, artesanato para revestimento, equipamentos, produtos da cadeia de revestimentos (argamassa, rejunte, películas anti-ruptura, produtos antiderrapantes, de limpeza e seladores). A feira é a maior do setor em terras americanas e uma das principais do calendário internacional da área. E-mail:
[email protected] www.coverings.com 8a Glass South América 8 a 10/5/2008 A feira reúne fabricantes do setor vidreiro englobando construção civil, arquitetura, móveis e automóveis. Haverá dois pavilhões: o Glass South America Design e Glass South America Tecnologia. (11) 4613-2003 www.glassexpo.com.br Fenarc 2008 – Feira da Engenharia, Arquitetura e Construção
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13 a 18/5/2008 Cascavel (PR) A feira bienal, que está em sua quinta edição, mobiliza a cadeia da construção civil da região Sul. A Fenarc proporciona espaço para empresas apresentarem seus produtos e serviços ao público e extensa programação técnica. Fone: (45) 3326-4073 E-mail:
[email protected] www.fenarc.com.br Nordeste Invest 28 a 30/5/2008 A ADIT Nordeste (Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Nordeste Brasileiro) promove a terceira edição do Nordeste Invest. São esperados cerca de 900 empresários, sendo 200 internacionais, que discutirão sobre investimentos na região nordestina. A expectativa é que a feira gere uma movimentação financeira aproximada de mais de R$ 2 bilhões. (82) 3327-3465 www.aditnordeste.org.br
Cursos e treinamentos MBA em Crédito Imobiliário abril/2008 São Paulo A Abecip (Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança) abre inscrições para o MBA Economia da Construção e Financiamento Imobiliário. O curso destina-se aos profissionais da área financeira e do setor imobiliário interessados em obter uma visão detalhada das alternativas de financiamento e da construção para aplicação do conhecimento diretamente em seus negócios. Fone: (11) 3286-4859 E-mail:
[email protected] Lajes Treliçadas São Paulo A marcar O curso oferecido pela Sistrel tem como objetivo atualizar e capacitar profissionais da construção civil, dandolhes uma visão integrada do processo de imensionamento, fabricação e uso de
laje. Entre os temas abordados: Introdução à laje treliçada; introdução à ferramenta de cálculo de lajes treliçadas; patologias; e roteiro de como comprar a sua laje treliçada corretamente. Execução de Alvenaria Estrutural de Blocos Cerâmicos Selecta 26/6, 28/8, 30/10 e 4/12/2008 Itu (SP) Focado em investidores e profissionais que executam obras de alvenaria estrutural, o treinamento pretende expor os produtos para alvenaria estrutural Selecta, com visita à fábrica, noções gerais de projetos, detalhes construtivos, execução de alvenaria e ferramental adequado.Confirmar presença com Márcia Melo. Fone: (11) 2118-2001 E-mail:
[email protected] Auto-implementação para IS0 9000/2000, atendendo aos Requisitos do PBQP-H 14/5/2008 Porto Alegre O curso tratará da sistemática de normalização dos processos, os requisitos da Norma ISO 9001 versão 2000, e o SIQ-Construtoras. Outro ponto é a capacitação para atuar como auditores internos do sistema da qualidade da empresa. Fone: (51) 3021-3440 www.sinduscon-rs.com.br Projeto Estrutural de Edifícios de Alvenaria 16 e 17/5/2008 Rio de Janeiro O objetivo do curso é transmitir informações e técnicas que permitam analisar a estrutura de um edifício de alvenaria, considerando as ações verticais e horizontais, além de apresentar as bases do dimensionamento de elementos estruturais de alvenaria, com a ilustração de um exemplo de aplicação em edifício. Fones: (11) 2626-0101/3739-0901 E-mail:
[email protected]
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Wolney Castilho Alves e-mail:
[email protected] Luciano Zanella e-mail:
[email protected]
COMO CONSTRUIR
Maria Fernanda Lopes dos Santos e-mail:
[email protected]
Sistema de aproveitamento de águas pluviais para usos não potáveis m crescente número de grandes cidades e regiões metropolitanas brasileiras vive situação de escassez e degradação dos recursos hídricos impondo a adoção de programas de conservação de água. Entre os componentes de programas de conservação de água, figura o de substituição de fontes. Consiste basicamente em utilizar novas fontes de recursos hídricos em substituição às existentes, especialmente sob condições em que a nova fonte sirva a usos menos exigentes (menos "nobres"). O aproveitamento de água da chuva precipitada nas edificações do meio urbano se enquadra nessa categoria. Três grandes virtudes são freqüentemente associadas ao aproveitamento da água de chuva em edifícios: a) diminui a demanda de água potável; b) diminui o pico de inundações quando aplicada em larga escala, de forma planejada, em uma bacia hidrográfica; c) pode reduzir as despesas com água potável. Embora a prática do aproveitamento de água de chuva no Brasil remonte aos primeiros assentamentos na época do Descobrimento, a atual conjuntura renova a oportunidade dessa medida sob a égide da sustentabilidade. Usos domésticos não potáveis
Usos domésticos são aqueles próprios ao ambiente da habitação ou
Acervo do autor
U
Figura 1 – Calha coletora situada em posição intermediária permitindo alimentação do reservatório superior de água pluvial por gravidade
moradia, embora possam estar presentes também em edifícios industriais, comerciais, públicos e de serviços. Entre eles citam-se o uso da água para simples ingestão, a lavagem e preparo de alimentos crus e cozidos, a lavagem de utensílios de cozinha, o banho pessoal, a higiene corporal, a lavagem de roupas, a descarga de bacias sanitárias, a limpeza de pisos, paredes, veículos, a rega de jardins, a higiene de animais domésticos. Podem ser incluídos usos como a descarga
em mictórios, a água de reserva para combate a incêndio e a água para aquecimento e acumulação destinada ao banho e outros usos. Entre os usos domésticos mencionados alguns exigem água cuja qualidade atenda aos padrões de potabilidade, ou seja, à Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. Entretanto outros usos domésticos não requerem características de qualidade tão exigentes quanto a potabilidade. Esses usos, para os quais não é exigida a po99
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CONSTRUIR
Ilustração: Sergio Colotto
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tabilidade da água, são definidos como não potáveis. Entre os usos domésticos citados pode-se dizer que a descarga de bacias sanitárias e mictórios, a limpeza de pisos e paredes, a lavagem de veículos, a rega de jardins e a água de reserva para combate a incêndio, enquadramse como não potáveis. Campo de aplicação
O presente artigo aplica-se ao aproveitamento de águas pluviais em usos domésticos não potáveis em edifícios diversos onde tais usos sejam praticados. Considera-se neste artigo somente a precipitação pluvial sobre coberturas de edifícios, ou seja, lajes e telhados. Os pátios, garagens, jardins e outras áreas similares não são objetos de captação visando ao aproveitamento. Componentes do sistema predial de aproveitamento de água pluvial
Starkenvironmental
Figura 2 – Esquema de soluções de captação e alimentação do reservatório de água pluvial por gravidade
Figura 3 – Aproveitamento simplificado de água pluvial
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O sistema predial de aproveitamento de água pluvial para usos domésticos não potáveis é formado pelos seguintes subsistemas ou componentes: a) captação; b) condução; c) tratamento; d) armazenamento; e) tubulações sob pressão; f) sistema automático ou manual de comando; g) utilização. Concepções básicas
O fundamento básico do projeto de aproveitamento de águas pluviais assenta-se sobre o grau de atendimento das demandas de água não potável frente à oferta de precipitação pluvial no local. A quantidade de água pluvial a ser aproveitada é diretamente proporcional à área de captação. Exemplos de cálculos sobre demanda e oferta de águas pluviais são encontrados na publicação "Uso Racional da Água em Edificações" do Prosab (Programa de Pesquisa em Saneamento Básico), da Finep (Gonçalves, 2006). A aplicação de sistemas de aproveitamento de água pluvial deve passar por avaliação econômico-finan-
ceira. Não raramente sistemas de aproveitamento levam a longos períodos de retorno financeiro, pois têm grande peso as despesas com energia. Soluções de captação e condução de águas pluviais
A condução das águas precipitadas sobre as coberturas usualmente é feita por meio de calhas, condutores, grelhas, caixas de amortecimento e outros componentes, projetadas da mesma forma que nas instalações prediais de águas pluviais, segundo a norma brasileira NBR 10844/1989. Três situações básicas podem ser consideradas quanto à relação entre a área de captação e o reservatório: a) reservação somente com reservatório elevado; b) reservação somente com reservatório inferior; c) reservação dotada de reservatório inferior e superior. No primeiro caso a cobertura, ou a parcela de cobertura destinada à captação deverá levar em conta a possibilidade do escoamento da precipitação, por gravidade, para o reservatório superior. A figura 1 ilustra essa solução. Variantes dessa solução são apresentadas na figura 2. No segundo e terceiro caso a captação corresponderá à área integral da cobertura, dotada de calhas ou canaletas e condutores verticais. Uma configuração de simples implantação no caso de casas térreas existentes é ilustrada na figura 3. Trata-se de solução promissora para implantação massiva visando à atenuação do pico de cheias. Soluções alternativas de calhas e condutores verticais incluem filtros de materiais grosseiros, conforme ilustram as figuras 4 e 5. Soluções de tratamento de águas pluviais
Estudos mostram que o tratamento da água pluvial captada é obrigatório devido aos riscos associados ao material carreado pela água de chuva quando do escoamento sobre a cobertura. Observa-se a TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Figura 4 – Calha dotada de filtro de retenção de materiais grosseiros
Figura 5 – Filtro vertical de material grosseiro instalado em coletor
presença de material grosseiro, como folhas, gravetos, sementes e sólidos suspensos e dissolvidos originados de fezes de pássaros, gatos e roedores, além de material particulado fino sedimentado sobre as coberturas a partir de suspensão aérea, além de microrganismos patogênicos presentes em águas de coberturas, conforme mostram pesquisas em cursos no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) realizadas também em outras instituições (May, 2004; Rebello, 2004; Gonçalves, 2006). O tratamento para usos domésticos não potáveis é realizado visando alcançar características de qualidade compatíveis com os usos desejados. A norma brasileira relativa ao aproveitamento de águas pluviais, NBR 15527/2007, estabelece que os padrões de qualidade "devem ser fixados pelo projetista de acordo com a utilização prevista". No caso dos usos não potáveis previstos neste artigo é possível estabelecer características de qualidade comuns a todos eles. No que se refere à qualidade microbiológica da água, uma referência razoavelmente adequada é a Resolução Conama 274/2000 que estabelece a qualidade da água para contato de toda superfície do corpo humano com a água por tempo prolongado. Essa Resolução estabelece que são consideradas satisfatórias as águas nas quais "em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores,
colhidas no mesmo local, houver, no máximo mil coliformes fecais (termotolerantes)... por 100 ml". Dessa forma, pode-se adotar como referência inicial de qualidade microbiológica o máximo de mil coliformes termotolerantes por cada 100 ml de água pluvial. Amostras para verificação desse indicador devem ser colhidas nos pontos de uso. Com respeito aos parâmetros físico-químicos, podem ser adotados como referência inicial os valores apresentados na norma brasileira (NBR 15527/2007, item 4.5) para o caso de usos mais restritivos. De maneira genérica o tratamento de águas pluviais escoada de telhados é composto pelas seguintes partes: filtração de materiais grosseiros; descarte das águas de escoamento inicial; filtração de materiais particulados finos; desinfecção. Filtração de materiais grosseiros
É obtida por meio de grades de barras ou telas metálicas com aberturas da ordem de 2 mm a 6 mm que são interpostas no fluxo das águas pluviais captadas na cobertura e conduzidas pelos coletores. Encontram-se no mercado diversas soluções desse tipo de filtração, usualmente importadas. A escolha dos modelos existentes é função da área de cobertura a que vão servir. A figura 6 mostra um filtro de material grosseiro importado instalado em trecho horizontal de tubulação.
Figura 6 – Filtro horizontal de material grosseiro com grade de barras horizontais
A função de tais filtros é reter o material grosseiro (folhas,gravetos e particulados de maior dimensão) deixando passar a água e sólidos grosseiros mais finos. Ensaios realizados no IPT mostram que, em geral, os sólidos grosseiros são retidos na sua totalidade na maioria dos filtros,e que a eficiência no aproveitamento de água tende a cair com o aumento da vazão. Os filtros de material grosseiro podem funcionar de forma a lançar o material grosseiro para fora da tubulação ou podem requerer limpeza manual periódica. Descarte
Estudos do IPT mostram que o descarte das primeiras águas escoadas de coberturas é altamente recomendado, particularmente após vários dias sem chuva como ocorre na estiagem de inverno, dada à concentração de poluentes e microrganismos. Segundo pesquisas realizadas no âmbito do Prosab, o volume de descarte corresponde ao escoamento do primeiro milímetro de precipitação, ou seja, 100 l para cada 100 m2 de cobertura. Um dispositivo de descarte bastante prático é ilustrado na figura 7. Os dispositivos de descarte podem contar com esvaziamento automático ou manual. Filtro de finos
A operação de sistemas de aproveitamento de águas pluviais tem mostrado que mesmo as instalações dotadas de filtro de grosseiros e aparelho de descarte podem requerer a filtração de material particulado mais fino. 101
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Figura 7 – Esquema básico de dispositivo automático de descarte das primeiras águas escoadas da cobertura
Existem diversos fabricantes de filtros de areia ou de resina no mercado. Grande parte dos filtros de areia opera com a água sob pressão e permite retrolavagem para remoção do material retido. Deve ser previsto reservatório de água para retrolavagem, segundo a freqüência estabelecida pelo fabricante, ou ditada pela prática operacional. Em pesquisa em curso no IPT foi desenvolvido um filtro de fabricação simples e que não requer pressurização da água para filtração. O filtro foi construído de modo a incorporar a filtração de material grosseiro na parte superior e de material particulado fino na parte inferior utilizando areia como meio filtrante. A figura 8 ilustra o esquema básico do filtro. O meio filtrante é de areia média lavada com 10 cm de espessura e taxa de aplicação de 336 m3/m2/dia. Desinfecção
Tela metálica perfurada (filtro de grosseiros)
Areia (filtro de finos)
Tela contra mosquito sobre tela metálica Suportes para a tela
Figura 8 – Esquema básico de filtro de material grosseiro e de finos desenvolvido no IPT
Figura 9 – Esquema básico de desinfecção por ozônio com recirculação da água contida em reservatório
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A ocorrência de microrganismos em águas de chuva escoadas de coberturas recomenda fortemente a desinfecção. Os sistemas de desinfecção mais utilizados são os baseados na aplicação de cloro, ozônio ou raios ultravioleta. A desinfecção com cloro permite manter ação mais prolongada por meio de concentração residual de cloro livre que permanece efetiva por algum tempo. Em instalações prediais prevê-se a aplicação de cloro através de dosadores de cloro líquido injetados na tubulação que conduz a água pluvial ao reservatório, através de pastilhas ou de uma solução simplificada desenvolvida no âmbito do Prosab, em que a desinfecção é obtida por difusão do cloro contido em uma garrafa plástica perfurada colocada no fundo do reservatório (Daniel, 2001). O ozônio é um agente desinfetante bastante eficiente, mas sua aplicação deve ser cuidadosamente projetada para que ocorra a mistura completa da quantidade correta de gás no fluxo de água escoando. O emprego do ozônio permite realizar a desinfecção na tubulação que con-
duz a água ao ponto de uso, ou por meio de sistema cíclico conforme ilustra a figura 9. Armazenamento de águas pluviais
O armazenamento de águas pluviais tem destacada importância dados os impactos arquitetônicos, estruturais, financeiros e operacionais que envolve. As soluções de armazenamento podem ser agrupadas nas três formas básicas já citadas anteriormente (somente reservatório elevado, somente reservatório inferior e reservatórios inferior e superior). O primeiro caso supõe que a alimentação do reservatório será feita a partir de cobertura, calhas e condutores, situados em nível superior ao do reservatório. A figura 10 ilustra duas possibilidades de assentamento do sistema de tratamento no caso de reservatório de águas pluviais elevado. Experimentos realizados pela Universidade Federal da Bahia, em conjunto habitacional de baixa renda, levaram à solução ilustrada na figura 11. Observa-se que o reservatório é alimentado diretamente a partir da cobertura e situado em cota tal que permite o uso de água de chuva no tanque e em torneira de jardim. O segundo caso corresponde à situação na qual os usos previstos possam ser atendidos com o posicionamento do reservatório em cota relativamente baixa, como no atendimento de pontos situados em garagens. O terceiro caso é, de certa forma, análogo ao sistema de água potável de um edifício de diversos andares. O reservatório inferior de água pluvial conta com bomba de recalque que alimenta o reservatório superior. Deste último deriva-se o barrilete para distribuição de água pluvial por meio de colunas de alimentação servindo aos diversos pontos de uso (descarga de bacias sanitárias, lavagem de pisos e rega, por exemplo). Em todos os casos de reservação de águas pluviais deve ser levado em conta que em períodos de estiagem pode não haver água de chuva sufiTÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008
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Figura 10 – Esquema com o posicionamento relativo da cobertura, sistema de tratamento e reservatório superior de água pluvial
ciente para a demanda. Nesse caso os reservatórios de água pluvial deverão receber complementação do sistema de água potável, evitando-se o fenômeno da conexão cruzada. Para tanto deve ser observada a norma brasileira de água fria NBR 5626 que exige uma separação atmosférica (gap) de no mínimo 5 cm entre o tubo de alimentação de água potável e o reservatório de águas pluviais. Inversamente, no período de cheias, o sistema deverá contar com extravasão compatível. A complementação da alimentação por água potável pode ser feita no reservatório superior de água pluvial. Nesse caso a água potável pode ser conduzida por gravidade do reservatório superior de água potável para o reservatório superior de água pluvial ou, ainda, através de pequena bomba de recalque, conforme ilustra a figura 12. O projeto dos reservatórios de águas pluviais deve ser elaborado tomando como diretrizes as normas brasileiras: NBR 12217/1994 relativa aos reservatórios de distribuição de água para abastecimento público, NBR 5626/1998 aplicável à instalação predial de água fria e NBR 15527/2007.
Os reservatórios devem ser dotados de extravasor, dispositivo de esgotamento total, cobertura para evitar entrada de pó, insetos e minimizar a radiação luminosa, dispositivos ou configurações que permitam inspeção, manutenção e ventilação. No caso dos reservatórios serem alimentados com água pluvial contendo sólidos em suspensão sedimentáveis ou que flutuam, há necessidade de dispositivos e configurações específicas para minimizar o acesso de sólidos às tubulações que servem os pontos de uso. Para atenuar o risco de extração da mistura de água com esses sólidos finos presentes no reservatório no momento do uso ou sucção, recomenda-se situar a extremidade da tubulação de tomada d'água a meia-altura entre o fundo e a lâmina livre no reservatório. A alimentação deverá ser projetada para evitar turbulência no interior do reservatório para que não ocorra ressuspensão de sólidos. O dimensionamento do volume de reservação de água pluvial deve ser elaborado por método que leve em conta a oferta e a demanda de água pluvial. A oferta é descrita pelas séries históricas de precipitação pluvial da localidade ao longo do tempo. A demanda deve ser calculada a partir dos volumes aplicáveis aos usos não potáveis previstos. A norma brasileira NBR 15527/ 2007 e Gonçalves (2006) apresentam uma série de métodos de dimensionamento do volume de reservação necessário. Alguns métodos levam a volumes excessivos e onerosos. Recomenda-se o dimensionamento pela fórmula que utiliza o maior número de dias consecutivos sem chuva e o volume diário demandado, apresentado por Gonçalves (2006), o método da simulação de reservatórios ou o método prático australiano, sugeridos na norma brasileira. O método de simulação de reservatórios e o método prático australiano são particularmente interessantes porque permitem aquilatar em que grau será atendida a demanda de água
Acervo do autor
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Figura 11 – Solução de reservação elevada desenvolvida em conjunto habitacional de baixa renda por equipe da Universidade Federal da Bahia
Figura 12 – Esquema do posicionamento dos reservatórios elevados de água potável e de água pluvial prevendo complementação por água potável na falta de chuvas
pluvial, considerada a série histórica de precipitações. A expressão para o cálculo do volume de reservação baseado no número máximo de dias consecutivos sem chuva para um dado período de retorno é dada por: VRES = QNP x DS
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Figura 13 – Esquema básico dos sistemas de distribuição de água potável e pluvial, segundo diversas posições do reservatório de água pluvial
rios, considerando as três situações já mencionadas. Para um edifício de diversos pavimentos, são ilustradas na figura 13 configurações das tubulações sob pressão resultante do posicionamento de reservatórios de água pluvial e de água potável nas três posições consideradas. O dimensionamento das tubulações de água pluvial sob pressão é feito de maneira análoga ao das tubulações de água potável, com base na norma brasileira NBR 5626/1998. Prevê-se a utilização de sistemas de comando automatizados razoavelmente complexos no caso ilustrado. Soluções relativas à utilização
Onde: VRES é o volume do reservatório (l); QNP é a somatória das demandas de usos não potáveis (l/dias); DS é o maior número consecutivo de dias sem chuva na localidade para um dado período de retorno (dias). Para uma residência térrea de classe média com cinco habitantes situada em Florianópolis, cuja soma das demandas de água para uso não potável totalizou 178,33 l/dia, a aplicação da última fórmula levou a um volume de reservação de água pluvial de 1.783,3 l que foi arredondado para 2 mil l. O serviço de metrologia informou que o valor de DS para a cidade, em série histórica de dez anos, é de dez dias. Considerando edifício de quatro pavimentos com quatro apartamentos por andar na mesma cidade,a demanda de usos não potáveis foi calculada em 2.218,676 l/dia. Resultou um volume de reservação de 22.186,7 l arredondado para 22 mil l (Gonçalves, 2006). Observe-se que a eficiência de atendimento global de usos não potáveis da reservação calculada por esse método requer verificação do índice de atendimento da demanda considerado o potencial de oferta, ou seja, alturas precipitadas segundo série histórica. Condução de águas pluviais em tubulações sob pressão
A condução de águas pluviais sob pressão em tubulações depende do posicionamento dos reservató104
A utilização da água pluvial tratada em usos domésticos não potáveis deve levar em conta as possibilidades de uso indevido, como ingestão ou banho, e de acidentes que comprometam a segurança sanitária e operacional dos sistemas prediais de água, especialmente tendo em conta a potencialidade de ocorrência da conexão cruzada com o sistema de água potável. No que tange ao uso indevido é necessário prever barreiras físicas e conscientização e treinamento do usuário. Barreiras físicas incluem torneiras de engate rápido,torneiras sem volante ou com volante lacrado. A pintura das tubulações e demais partes da instalação em cor convencionada serve de alerta para uma população usuária previamente conscientizada e treinada. Wolney Castilho Alves Engenheiro civil e sanitarista Dr. pesquisador e professor do IPT e do Centro Universitário Senac e-mail:
[email protected] Luciano Zanella Engenheiro civil Dr. pesquisador e professor do IPT e-mail:
[email protected] Maria Fernanda Lopes dos Santos Bióloga Dra. pesquisadora do IPT e professora do Centro Universitário Senac e-mail:
[email protected]
LEIA MAIS Uso Racional da Água em Edificações. R. F. Gonçalves (coord.). Prosab (Programa de Pesquisa em Saneamento Básico). Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), Rio de Janeiro, 2006. Processos de Desinfecção e Desinfetantes Alternativos na Produção de Água Potável. L. A. Daniel (coord.). Prosab (Programa de Pesquisa em Saneamento Básico). Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), Rio de Janeiro, 2001. Conservação de Água em Edificações: Estudo das Características de Qualidade da Água Pluvial Aproveitada em Instalações Prediais Residenciais. Rebello, G. A. O. Dissertação de Mestrado apresentada ao Mestrado em Tecnologias Ambientais do IPT, 2004. Estudo da Viabilidade do Aproveitamento de Água de Chuva para Consumo Não Potável em Edificações. May, S. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Politécnica da USP, 2004. NBR 15527 – Água de Chuva – Aproveitamento de Coberturas em Áreas Urbanas para Fins Não Potáveis – Requisitos. ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), 2007. NBR 10844 – Instalações Prediais de Águas Pluviais.ABNT, 1989. NBR 5626 – Instalação Predial de Água Fria. ABNT, 1998. NBR 12217 – Projeto de Reservatório de Distribuição de Água para Abastecimento Público. ABNT.
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