Eudóxia Eudóxia de Barros fala sobre o Concurso Osvaldo Lacerda S N I F A & Ano 2 - Número 12 - Abril 2015 www.teclaseafins.com.br
Eloy Fritsch Sintetista une progressivo e new age em novo disco
Distorção Como as lendas do rock usaram esse efeito no Hammond
E mais: mais : Ivan Teixeira: o tecladista de Luiza Possi Possi Variações melódicas na música pop Clichês harmônicos para a bossa nova A importância do estudo das escalas
KORG KROSS A workstation de entrada que enfrenta a estrada
S N I F A &
Ano 2 - N° 12 - Abril 2015 Publisher
Nilton Corazza publisher@teclaseafins.com.br Gerente Financeiro
Regina Sobral financeiro@teclaseafins.com.br Editor e jornalista responsável
Nilton Corazza (MTb 43.958) Colaboraram nesta edição:
Alexandre Porto, Alex Saba, Cristiano Ribeiro, Eloy Fritsch, Jackson Jofre, José Osório de Souza, Rosana Giosa, Turi Collura Diagramação
Sergio Coletti arte@teclaseafins.com.br Foto da capa
Divulgação Publicidade/anúncios comercial@teclaseafins.com.br Contato contato@teclaseafins.com.br Sugestões de pauta redacao@teclaseafins.com.br Desenvolvido por
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EDITORIAL Foi com muita alegria e muito orgulho que fechamos esta 12a edição da revista digital Teclas & Afins. Há um ano, quando apresentamos a proposta ao público leitor e aos anunciantes, tínhamos certeza de que a receptividade seria ótima, pois havia carência no mercado por uma publicação séria voltada exclusivamente para os instrumentos de teclas e tudo que os rodeia. Nos esforçamos durante este ano que se passou para levar conhecimento, técnicas, informação, atualidades e, principalmente, referências a tecladistas, pianistas, organistas, acordeonistas e todos aqueles que amam as teclas como nós. Batalhamos por entrevistas interessantes de grandes nomes da música e por equipamentos para análise. Nos dedicamos a esta publicação com afinco e, acima de tudo, respeito a você que lê a revista. Acreditamos que nossos esforços não tenham sido em vão, haja vista a resposta de nossos leitores e o bom exemplo que demos a outras iniciativas. Agradecemos, em primeiro lugar, ao nosso público. Com esta edição, Teclas & Afins fecha um ciclo. A partir da edição de número 13, comemorativa de aniversário, muito mais informação e muitas novidades estarão à disposição, neste e em outros canais. Esperamos sempre atender as espectativas de nossos leitores e estamos abertos a críticas, sugestões e ideias que façam crescer a comunidade de tecladistas no País. Mas nada disso seria possível sem a colaboração preciosa e enriquecedora de nosso time de colunistas - cada vez mais empenhado em buscar e transmitir informações relevantes - e nossos anunciantes - que dão o suporte necessário à manutenção desta plataforma ao mesmo tempo em que divulgam seus produtos, ferramentas indispensáveis ao nosso ofício. A todos, nossos mais sinceros agradecimentos.
Nilton Corazza Rua Nossa Senhora da Saúde, 287/34 Jardim Previdência - São Paulo - SP CEP ideias04159-000 Telefone: +55 (11) 3807-0626 4 / DEZembro 2014
Publisher
teclas & afins
NESTA EDIÇÃO VOCE EM TECLAS E AFINS 6
O espaço exclusivo dos leitores
32 materia de capa
Eloy Fritsch Sonoridades conceituais em novo álbum
INTERFACE 8
44 livre pensar
As notícias mais quentes do universo das teclas
A dança da princesa
ESPECIAL 14
por Alex Saba 48 como estudar
Concurso Osvaldo Lacerda
Esacalas - parte 2
Eudóxia de Barros fala sobre o evento
Por Nilton Corazza
retrato 18
52 cultura hammond
Ivan Teixeira
O rock e a distorção
O longo caminho entre as primeiras lições na igreja e os palcos Vitrine 24
Novidades do mercado review 28
KORG KROSS 61 Lobo em pele de cordeiro
teclas & afins
Por José Osório de Souza 56 harmonia e improvisacao
A harmonia da bossa nova - parte 3 por Turi Collura 62 arranjo comentado
Variação melódica na música pop por Rosana Giosa
DEZembro 2014 / 5
vOCE em teclas & afins
Vamos nos conectar? Parabéns por realizar essa excelente entrevista! Schiavon é fantástico! (CBJUNIOR04, pelo nosso canal do Youtube) Entrevista muito boa! Lembro, nos meus 15 anos, quando usava um duplo tape da CCE, gravava os instrumentos pela entrada do microfone e depois ia trocando as fitas entre os tapes até a música ficar pronta. Tenho o K7 original até hoje e, como o Luiz falou, é chiado que não acaba mais (Weder Clay Oliveira Ferreira, pelo nosso canal do Youtube)
Demais. Schiavon é rei! (Zicoskywalker Music & Synthesizers, pelo nosso canal do Youtube)
O grande mestre sabe muito. Lembro-me da boa época com o RPM, 1986... (José Luís da Silveira, pelo nosso canal do Youtube) O RPM foi a banda mais séria do Rock Brasil. Hoje em dia tudo mudou, as pessoas não conseguem sentir mais emoção nas músicas, porque praticamente a música está morrendo para gêneros atuais, a pirataria e o nascimento do vilão CD foi quem matou não só a música, mas toda a indústria fonográfica está morrendo, e o rock desaparecerá no futuro (Tecladista Mascarado (!?),pelo nosso canal do Youtube) É por entrevistas assim que eu fico cada vez mais fã desse NAJA...!!! (Anderson Videomaker,pelo nosso canal do Youtube) R.: Agradecemos a todas as mensagens mas, principalmente, a Luiz Schiavon, que nos deu a honra de entrevistá-lo e nos brindou com um papo superagradável.
Quero agradecer ao Sr. Nilton Corazza e a toda a equipe da revista Teclas e Afins, que publicaram um release sobre mim. Ficou muito bom! A revista é sensacional, vem recheada com assuntos interessantes e atuais e ótima qualidade visual. Obrigado. (Lincoln Soares, por e-mail) R.: Caro Lincoln, nós que agradecemos por ter participado de nossa seção Você na TA, aproveitando o espaço disponibilizado.
Olá pessoal! É com grande satisfação que venho por meio deste e-mail agradecer o acesso a este material! Tudo que sei de teclado foi treinando muito no instrumento e, claro, lendo materiais maravilhosos como este! Lembro-me de Nilton Corazza na Cover Teclado. Minha adolescência foi marcada pela revista. Colecionei por muito tempo e me dá nostalgia ver este material! Sinceros agradecimentos. .Abraços e continuem na luta! (Fabio Evaristo, por e-mail) R.: Nosso intuito sempre foi o de disseminar informações importantes, corretas, coerentes e inspiradoras a todos aqueles que se dedicam ou são amantes dos instrumentos de teclas. E fazemos isso desde sempre! Forte abraço! 6 / ABRIL 2015
teclas & afins
vOCE em teclas & afins
Este espaço é seu! Teclas & Afins quer divulgar
trabalhos, iniciativas, músicos e bandas que apresentem qualidade e sejam diferenciados. Não importa o instrumento: piano, órgão, teclado, sintetizadores, acordeon, cravo e todos os outros têm espaço garantido em nossa revista. Mas tem que ser de teclas! Veja abaixo como participar:
1. Grave um vídeo de sua performance. A qualidade não importa. Pode ser até mesmo de celular, mas o som precisa estar audível. 2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt. 3. Envie o link, acompanhado de um release e uma foto para o endereço contato@teclaseafins.com.br 4. A cada edição, escolheremos um ou dois artistas para figurarem nas páginas de Teclas & Afins, com direito a entrevista e publicação de release e contato.
Não fique fora dessa! Mostre todo seu talento!
Teclas & Afins quer conhecer melhor você, saber sua opinião e manter comunicação constante, trocando experiências e informações. E suas mensagens podem ser publicadas aqui! Para isso, acesse, curta, compartilhe e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se preferir, envie críticas, comentários e sugestões para o e-mail contato@teclaseafins.com.br
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ABRIL 2015 / 7
INTERFACE
Trafegando com naturalidade em diversos estilos musicais - que vão de Ernesto Nazareth ao jazz contemporâneo – e reconhecido como um dos mais conceituados e requisitados compositores do Brasil, o pianista, multi-instrumentista e arranjador André Mehmari segue em vertiginosa atividade, seja em concertos pelo mundo, compondo para os mais importantes conjuntos orquestrais do País ou gravando. Prova disso é o lançamento do álbum As Estações na Cantareira - com o trio formado por ele, o contrabaixista Neymar Dias e o baterista Sérgio Reze – durante as apresentações no Brasil Jazz Fest, realizado no fim de março em São Paulo e no Rio de Janeiro. O novo álbum chega às lojas ainda em abril e está recheado de música instrumental brasileira de qualidade com pitadas de erudito. Para ouvir trechos do CD, visite a página do artista no SoundCloud.
As Estações na Cantareira 8 / abril 2015
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INTERFACE
No estúdio Sem lançar um trabalho inédito desde 2007, Jean Michel Jarre utilizou sua página no Facebook para anunciar que está gravando um novo disco. Depois da mensagem “Em estúdio”, a reveladora “um novo álbum desponta no horizonte” encheu de alegria fãs por todo o mundo. Para quem quer ter uma ideia do que vem por aí, o músico francês divulgou que a faixa “Glory”, gravada em parceria com seu conterrâneo Anthony Gonzalez para o documentário EMIC – A Time Capsule From The Prople of Hear t , estará no novo CD.
PARCERIA
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A turnê que Chick Corea e Herbie Hancock vêm realizando juntos pelos Estados Unidos é sinônimo de sucesso. “A camaradagem, o respeito mútuo e a pura alegria da expressão artística são manifestamente evidentes em todos os shows”, assegura a assessoria dos músicos. E, além de pianos de concerto, Corea e Hancock utilizam alguns sintetizadores durante os espetáculos. A turnê continua em maio pela Ásia e desembarca na Europa em Julho. Sem notícias ainda para o Brasil...
abril 2015 / 9
Conheça as publicações da
INTERFACE
SOM & ARTE E D I T O R A
INICIAÇÃO AO PIANO POPULAR Volumes 1 e 2 L A NÇ Inéditos na A ME NT O área do piano popular, são livros dirigidos a adultos ou crianças que queiram iniciar seus estudos de piano de forma agradável e consistente.
MÉTODO DE ARRANJO PARA PIANO POPULAR Volumes 1, 2 e 3 Ensinam o aluno a criar seus próprios arranjos.
REPERTÓRIO PARA PIANO POPULAR Volumes 1, 2 e 3
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Trazem 14 arranjos prontos em cada volume para desenvolvimento da leitura das duas claves (Sol e Fá) e análise dos arranjos.
Visite nosso site para conhecer melhor os 3 Métodos e os 3 Repertórios
www.editorasomearte.com.br Contato:
[email protected] 10 / abril 2015
ADEUS Jimmy Greenspoon , mais conhecido como
tecladista da banda de rock Three Dog Night, morreu em 11 de março, aos 67 anos, em sua casa em North Potomac, Maryland, Estados Unidos, vítima de melanoma metastático. Greenspoon se juntou ao Three Dog Night em 1968 e continuou a tocar com a banda até recentemente. O grupo é conhecido pelo hit “Joy to the World (Jeremias era um Bullfrog)”, de 1970, e teve 21 Top 40 hits entre 1969 e 1975. Além da banda, Greenspoon também tocou com Jimi Hendrix, Eric Clapton, Stephen Stills, Jeff Beck e Linda Ronstadt. teclas & afins
interface
CROSSOVER O virtuose pianista Rogério Tutti retorna ao Brasil durante a turnê latino-americ ana a ser realizada em maio. Em São Paulo, o também compositor e maestro gravará o DVD “Crossover Performance”. Transitando entre o clássico e o pop-rock, o músico intercala clássicos de Beethoven e Tchaikovsky com sucessos de AC/DC e Queen, além de composições próprias. O espetáculo conta com participações especiais, intervenções de dançarinos e cenário com projeção de vídeo. Tutti, reconhecido por sua personalidade comunicativa e por suas interpretações diferenciadas, é considerado um fenômeno da música clássica e um dos ma is brilhantes pianistas brasileiros da nova geração.
24 horas no ar Uma das mais ouvidas no Mundo!
Várias vertentes com qualidade!
Programas ao vivo - Humor - Esportes - Entrevistas - Entretenimento - Participação do ouvinte
teclas & afins
abril 2015 / 11
INTERFACE
Rock na veia O tecladista, vocalista, compositor e produtor Maurício Pedrosa anuncia novos projetos para 2015. Depois de integrar lendárias bandas de rock na década de 1970, como Ursa Maior, Made in Brazil, Walter Franco, e Rita Lee & Tutti-Frutti, emplacou nos anos 80 o sucesso nacional “Só Delírio”, com a banda de pop rock Telex. Em 2014, Pedrosa gravou o que considera um dos melhores discos de sua carreira, On The Road Again, que mistura blues e rock-and-roll. Para o segundo semestre deste ano, o músico, ao lado de seu quarteto, prepara um novo álbum “inteiramente de rock-and-roll ao estilo de Jerry Lee Lewis”, segundo ele. O trabalho de Pedrosa está no site do artista, recém-inaugurado.
12 / abril 2015
teclas & afins
INTERFACE
NOVA DIRETORIA A Associação Brasileira de Organistas iniciou o ano de 2015 com nova diretoria, que tem como principais objetivos promover ações proativas de curto, médio e longo prazos com a finalidade de preservar o patrimônio artístico-cultural, tanto material como imaterial, e cursos de órgão voltados ao público infantil, a fim de assegurar a continuidade dessa tradição multissecular nas diversas regiões do país. Entre os eleitos, foram nomeados vários luminares da arte organística no País. A nova diretoria empossada foi: Presidente - Dorotéa Machado Kerr; Vice-Presidente - Any Raquel Souza de Carvalho; 1º Tesoureiro - Leandro Har Cardoso; 2º Tesoureiro - Allan Edward Arajs Francisco; 1º Secretário - José Jorge de Morais Zacharias; 2º Secretário - Miriam Emerick de Souza Carpinetti. Conselho Fiscal - Titulares - Wagner Carneiro, Kenny Alberto Simões Pereira, Antonio Henrique de Souza; Suplentes - Nelson Rodrigues da Silva Filho, Jeanine Franke Mundstock, Marcos Roberto de Santana. Para acompanhar as atividades da ABO, basta curtir a página da associação no Facebook. teclas & afins
abril 2015 / 13
especial
Nilton Corazza
Osvaldo Lacerda revisitado Com a realização do Concurso Osvaldo Lacerda , a pianista Eudóxia de Barros segue sua trajetória de divulgação da música erudita brasileira Dona de um extenso e premiado c urrículo e agraciada com quase uma centena de dedicatórias dos mais destacados compositores eruditos, a pianista Eudóxia de Barros destaca-se no cenário cultural do País sobretudo por dedicar-se a divulgar a música brasileira p or onde quer que vá. Presidente do Centro de Música Brasileira, que fundou em 1984 com vários
compositores e músicos com o mesmo ideal, encarrega-se agora de realizar o Concurso Internacional de Interpretação Pianística da Obra do Compositor Osvaldo Lacerda, cujo objetivo é o de divulgar as composições para piano de um dos mais importantes autores brasileiros, falecido em 2011. Impulsionada pela compra do acervo do compositor pela Secretaria
Eudóxia de Barros: patriotismo musical 14 / abril 2015
teclas & afins
especial
de Cultura do Estado de São Paulo, a iniciativa não é isolada. Convidada a gravar a integral das obras do compositor para seu instrumento, Eudóxia organiza as mais de 200 peças a fim de partilhar a empreitada entre pianistas escolhidos por ela: Paulo Gori, Maria José Carrasqueira, Valdilice de Carvalho, Sylvia Maltese e Renato Fugueiredo. “São cinco pianistas que sempre tocaram as peç as do Osvaldo, tinham amizade, estudaram e tinham um elo afetivo com ele” diz Eudóxia. “Não haveria sentido convidar alguém que nunca tocou as músicas dele.” Em entrevista a Teclas & Afins, a pianista fala sobre o concurso e o compositor. Como surgiu a ideia do concurso?
Há muitos anos, o Osvaldo estava querendo fazer um concurso de suas obras para piano, porque achava que os professores não indicavam as músicas dele a seus alunos por causa da dificuldade. Posso dizer que algumas obras para piano são geniais, mas mesmo assim ele achava que eram deixadas de lado e se magoava muito com isso. Ele pretendia fazer esse concurso, mas o fim da vida dele foi uma avalanche de doenças e muito dinheiro foi gasto com médicos, cuidadores e tratamentos. E não havia verba sobrando. Após a morte do Osvaldo, certa ocasião, um aluno dele, o Dr. Fernando Cupertino, esteve aqui em casa procurando uma música para tocar e teve acesso a todo o acervo. Ficou encantado e até mesmo comovido de ver a maravilha de acervo de tudo que o Osvaldo havia acumulado em sua vida. Ele achou que aquilo deveria ser exposto ao público. Por ideia e encaminhamento dele, que havia sido Secretário da Saúde do Estado de Goiás há alguns anos e tinha vários contatos teclas & afins
Osvaldo Lacerda: acervo preservado
políticos, trabalhamos junto à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo para que comprasse esse acervo. O Secretário Marcelo Mattos Araújo foi extremamente acessível e gostou muito da ideia. Até pretendíamos que o imóvel também fosse comprado, com todo o acervo dentro, para que se tornasse uma casa de cultura. Minha ideia era a seguinte: na rua paralela à que moro, existe a casa de Gu ilherme de Almeida, então a região poderia se tornar, em longo prazo, um point cultural, com duas casas de cultura vizinhas. Mas essa parte não foi aceita, apenas o acervo. Foi um processo de quase dois anos, até que finalmente, em outubro do ano passado, a importância estipulada foi liberada e, então, imediatamente, pus mãos à obra para dar início à divulgação do concurso. abril 2015 / 15
especial
Esse acervo ficou sendo propriedade do Governo do Estado de São Paulo?
comunicação do Conservatório de Tatuí que me poupou muito serviço e fez um trabalho brilhante. Todo o material está pronto, cartazes e regulamentos, de muito bom gosto. Então agora, estamos no processo de divulgação. Todas as informações estão no site. Vai haver também um prêmio da Academia Brasileira de Música: um concerto no Rio de Janeiro, somente de música brasileira, obviamente, na Sala Cecília Meireles, se o vencedor for brasileiro. Essa cláusula foi ideia da Academia.
Sim. E foi para a OSESP. Foram os técnicos da OSESP que fizeram a seleção e levaram tudo o que fosse referente ao Osvaldo em relação a livros, CDs, DVDs, partituras etc. A condição primordial é que cedêssemos integralmente a obra manuscrita dele. Então não tenho mais nada comigo, apenas algumas poucas peças que toco. O acervo todo está digitalizado pela Academia Brasileira de Música. Então, qualquer músico que queira uma par titura de Osvaldo Lacerda pode acessar o site da instituição e solicitá-la . Qual a importância da obra de Osvaldo Lacerda? Qual o principal objetivo do concurso?
Divulgar a obra de Osvaldo Lacerda. Que os músicos conheçam a obra pianística dele, que é de muito boa qualidade, com algumas peças verdadeiramente geniais. Como está sendo a organização?
Em primeiro lugar tivemos que fazer uma cotação de preços de impressos e demais materiais. Tive muita sorte porque fui encaminhada ao departamento de a m r a P ô s s o S ©
Osvaldo era muito didático. As“Brasilianas”, por exemplo, tem uma finalidade didática. Cada uma delas apresenta quatro ou cinco peças com um tipo de dança ou estilo brasileiro, como valsa, baião, dobrado, choro, para que o aluno vá pouco a pouco adentrando a música brasileira e conhecendo vários gêneros. Mesmo em obras mais sofisticadas - como os est udos, que ele compôs 12 –, por trás de toda a dificuldade técnica se pode perceber, como fundamento, uma modinha ou o utro gênero brasileiro, obviamente trabalhado de forma a apresentar o desafio técnico. É notável isso. Ele sempre pensou em música brasileira. Como é a aceitação da música de Osvaldo Lacerda fora do Brasil?
Recitais: ênfase para a música brasileira 16 / abril 2015
Muito boa. Já tive oportunidade de interpretá-las fora do País em várias ocasiões e, inclusive, chegam a me pedir partituras de obras dele. Antes da digitalização, era muito complicado enviar. Atualmente, estando tudo no site da Academia Brasileira de Música, todos têm acesso. teclas & afins
especial
Falando de sua carreira, porque a decisão de se dedicar à música brasileira?
Desde pequena, toda a família era muito patriota. Então, cresci nesse ambiente, na defesa daquilo que é nosso. Não que abomine o que é estrangeiro, de jeito algum. Reconhecemos o valor, e que o Brasil está muito atrás em vários aspectos. Mas é a nossa pátria. É um sentido que nasceu em mim, estimulado pela família. Então, isso foi espontâneo. Eu ouvia muito rádio e, antigamente, as estações tinham programas maravilhosos de música popular brasileira. E o popular, naquela época, era muito bom. Fui impregnada com aquela música. Quando comecei a estudar piano e os professores me deram Villa-Lobos e Camargo Guarnieri para estudar, fiquei fascinada por esse tipo de música. Foi tudo espontâneo. Ninguém mandou ou sugeriu. Apenas fui gostando. Mas nunca abandonei os outros compositores, porque nenhum pianista se forma tocando apenas música brasileira.
Concurso Osvaldo Lacerda: clique no banner acima e acesse o site
Nos meus programas, a primeira parte consiste de compositores internacionais. Por exemplo, este ano apresento Lecuona, Kabalevski, Rachmaninoff e outros. Na segunda parte, sempre música brasileira. Procuro defender também os compositores que estão sendo reconhecidos agora, como o próprio Fernando Cupertino, Eduardo Escalante, Ernst Mahle, Souza Lima. Enfim, temos excelentes compositores brasileiros que merecem ser divulgados. Obviamente sempre coloco Ernesto Nazareth, Camargo Guarnieri e Osvaldo Lacerda. São os três que não deixo de tocar.
Brasiliana N° 5: exemplo da escrita de Osvaldo Lacerda teclas & afins
abril 2015 / 17
RETRATO
Nilton Corazza
Ivan Teixeira: do gospel à variedade de estilos
18 / abril 2015
teclas & afins
RETRATO
Longa trajetória Sideman de Luiza Possi e Bruna Caram, o músico Ivan Teixeira percorreu um longo caminho entre as primeiras lições na igreja e os palcos
Em entrevista exclusiva a Teclas & Afins, o tecladista Ivan Teixeira conta como foi o processo de formação de sua bagagem musical e quais são os desafios de acompanhar artistas com diferentes propostas musicais. Como foi seu contato com a música?
Minha família é de músicos. Primos, avó, tias, são todos pianistas. Minha trisavó foi pianista do Theatro Musical do Rio de Janeiro, na época do Brasil Império. Minhas irmãs tocam instrumento, por conta da igreja. Meu avô foi um dos primeiros pastores batistas do Brasil, no interior do Rio de Janeiro. Comecei tocando em minha casa. Minha primeira professora foi minha irmã, que também é cantora lírica e toca violino. O primeiro instrumento que toquei foi violão. Um dia me dei conta de que os acordes que eu fazia no violão poderiam ser feitos no piano. Então, fui tirando o som de cada nota e, quando escutei no piano o som do acorde que eu fazia no violão, me encontrei. A partir desse momento, com 9 ou 10 anos, descobri o instrumento, que até então era um brinquedo. Tirávamos as músicas da televisão nele. Eu sabia todas as assinaturas sonoras das empresas, VARIG, VASP, Groselha vitaminada Milani etc. E teclas & afins
também tocava as músicas que minhas irmãs estudavam, mas de ouvido. Com 12 anos, comecei a estudar piano clássico. Meu desenvolvimento musical foi todo na Igreja Batista. Eu tocava nos grupos de crianças, adolescentes e jovens, mesmo com a minha idade. E tive muitos amigos mais velhos do que eu, com 25, 30 anos que, graças a Deus, gostavam de jazz, música erudita e MPB. Sempre gostei de jazz. A primeira vez que vi Chick Corea foi com 14 ou 15 anos, em uma fita VHS com a gravação do Free Jazz Festival. Vi aqueles teclados e sons eletrônicos aos quais a gente tinha pouquíssimo acesso e falei: é isso que quero tocar. Depois, ganhei uma fita do disco Collaboration, de George Benson com Earl Klugh, que é maravilhoso. Guardo uma memória afetiva disso, porque quando ouvi Greg Phillinganes fazendo acordes e introduções com aquela harmonia complexa, fiquei apaixonado. Decidi que era isso que queria estudar. E como foi seu desenvolvimento a partir daí?
Tive uma experiência muito bacana com dinâmica de banda. Eu tocava com os mais velhos e fazia aulas com uma professora particular de piano clássico. Tinha toda a técnica do erudito e, em contrapartida, a vivência da turma com que eu tocava na abril 2015 / 19
RETRATO
igreja, me ensinando os atalhos de como fazer uma condução com banda, trabalhar junto com o baixo e a guitarra... Tive todo esse approach de prática de conjunto como pré-adolescente. Gravei pela primeira vez com 15 anos, com o pessoal da Igreja Batista de Nilópolis. Nessa época, já dava aulas e tocava com várias pessoas. Mas foi apenas quando entrei na faculdade que conheci mais a fundo o rock-and-roll e a música pop americana. Fui conhecer Beatles aos 17 anos. Até então, estava imerso nos discos de jazz. Me lembro de que, quando estava na oitava série, fui ao shopping com a turma do colégio. Os caras foram comprar um disco do Iron Maiden e eu comprei um do Cama de Gato. Ninguém entendeu nada. Foi o Guerra Fria, um disco muito legal que ouvi pra caramba porque juntava toda essa coisa do jazz, da música instrumental com
linguagem brasileira. Admiro demais o Rique Pantoja desde essa época. Quais as diferenças entre as técnicas que você utilizava na Igreja, na música erudita e no jazz?
Meu estudo de música erudita foi com uma professora fantástica chamada Luciana Manhães. Ela também era de igreja e sabia o que eu gostava de fazer. Então, no meu estudo de música erudita, tive pouco repertório e muita técnica. Tanto que não toco muitas peças, mas estudei todos os livros e métodos. Minha preparação para o erudito era meu condicionamento físico para tocar música popular, porque ela sabia que eu gostava de re-harmonizar. Eu tocava os hinos com a partitura tradicional, mas decorava e aquilo rapidamente me entediava. Então fazia várias re-harmonizações. E lembro até de
Luiza Possi: parceria de 10 anos 20 / abril 2015
teclas & afins
RETRATO
um regente de coro, mais velho, que brigava comigo. Acabei sendo “revolucionário’ nesse aspecto (risos). O livro do Almir Chediak foi meu guia e minha referência para tocar música americana e bossa nova. Com 24 anos, entrei para a ULM e aí, com a Célia Carmona, tive uma preparação acadêmica de distribuição de acordes, do jeito de fazer as aberturas favorecendo a melodia, licks, riffs, enfim, da inserção do piano na música brasileira e no jazz. Antes disso, era algo intuitivo. A re-harmonização e as aberturas de jazz são muito usadas na música gospel atualmente. Mas, naquela época, na Igreja Batista, já eram utilizadas?
Tínhamos um grupo musicalmente muito rico. Acabávamos tocando e desenvolvendo um jeito de tocar que, apesar de estarmos em uma igreja ortodoxa, fugia do tradicionalismo. Nas década de 1980 e 1990, existiram alguns movimentos de músicos e de bandas evangélicas que copiavam muito as harmonias de Toninho Horta e o jeito de tocar do João Bosco. Era quase uma “MPB gospel”. Por coincidência, essas pessoas com as quais eu tocava tinham contato muito grande com esses artistas mais modernos e sofisticados. O repertório, apesar de ser de hinos, era com essa releitura. Quando decidiu se dedicar inteiramente à música?
Meu primeiro curso superior foi de Marketing e, até os 24 anos, fui gerente de produto na indústria farmacêutica. Mas a música me chamou. Não tinha condições de trabalhar em outra coisa, apesar da carreira promissora que se afigurava. Tinha ideias de composições e arranjos no meio do expediente. Ia ao banheiro e ligava teclas & afins
Setup enxuto: dois teclados
para meu telefone para deixar um recado na secretaria eletrônica com a melodia ou uma ideia, para, quando chegasse em casa, escutar. Foi um momento de luta interna. Saí de lá e fui trabalhar em boteco, para ganhar 50 reais, tocando de tudo que se possa imaginar, de bolero a rock, até baile da terceira idade, para ter repertório e para poder viver da música. Como foi o início da carreira?
Quando decidi viver exclusivamente de música, queria fazer coisas que seriam muito difíceis de realizar dentro da igreja, como tocar jazz, música brasileira e rock, trabalhar com programação e todas as possibilidades que o teclado oferece. Seria difícil fazer um solo de synth ou colocar um pad mais complexo. Fui tocar fora da igreja, como opção, justamente para poder tirar os solos e tocar as coisas de que eu gostava. Essa transição foi difícil. Morava em um apartamento com um piano, um colchão, uma geladeira e uma máquina de lavar. Fui abril 2015 / 21
RETRATO
vivendo nesse contexto e tocando todo tipo de música. Não conhecia muitas pessoas, nem os músicos fora da igreja. Tive uma ajuda muito grande do guitarrista Maurício Caruso e do baterista Douglas Las Casas, que me chamavam para tocar. E aí foi... Uma banda, uma gig, um boteco, um barzinho, fui conhecendo outras pessoas e, a partir dessa network, que foi crescendo, acabei em um musical infantil no Teatro Procópio Ferreira. A Luiza Possi era atriz principal e a gente se conheceu ali. O diretor musical do espetáculo me disse que a Luiza tinha curtido meu som e perguntou se eu queria tocar com ela. Ela ainda não tinha uma agenda muito grande, nem tanta projeção. Então, mesmo tocando com ela, continuei fazendo baile, tocando bolero, fox, axé, sertanejo... Não tenho nenhuma recriminação em relação a isso. Tudo é válido. É preciso ter foco, percepção e clareza de que tudo contribui: a harmonia, os voicings de cordas, os arranjos, os solos com
outros timbres, a mão esquerda... Tudo isso agrega ao músico para desenvolver técnicas de acompanhamento. Toquei em banda de rock e fui tocar Beatles para aprender a simplicidade do acompanhamento. Fui tocar funk e R&B para saber como tocar os synth leads, os moogs, e desenvolver meu próprio som. Meu maior desafio, hoje, é me organizar para conseguir colocar todas essas ideias dentro das minhas composições, porque a gente acaba trabalhando com vários artistas e se esquece dos ideais musicais e artísticos. Como passou do piano para os teclados?
O primeiro teclado que ganhei foi com 15 anos. Era época da primeira onda de teclados controladores com módulo. Ganhei um A-30 e um Sound Canvas SC-55. Logo depois , comprei um sequencer da Alesis, o MMT-8. Em seguida tive um T3 da Korg, o primeiro equipamento meu em que era possível mexer na síntese, nos efeitos, na arquitetura dos sons. Depois comprei um computador e comecei a produzir coisas, até mesmo para a Igreja. Com quais artistas você trabalha hoje?
Trabalhei com Wanessa Camargo, de 2008 até 2014, mas optei por ter uma agenda mais arejada agora, pois preciso me dedicar aos meus projetos. Desde 2009 tenho uma produtora de áudio de trilhas para publicidade e cinema. Hoje trabalho com a Luiza Possi e a Bruna Caram. E esporadicamente com outros artistas. Quais as diferenças para o tecladista ao trabalhar com estilos tão diferentes?
Alegria: viver de música 22 / abril 2015
Entre a Wanessa e a Luiza, tudo muda completamente. Isso, inclusive, foi uma das coisas que mais me encantava nessa fase em que trabalhava com as duas. Entrei para tocar com a Wanessa na época da transição que ela estava fazendo da música romântica para teclas & afins
RETRATO
a eletrônica. A Luiza tem esse jeito mais MPB. A partir de 2011, quando comecei a tocar com a Bruna Caram, eu tinha três frentes bem diferentes. Isso era muito legal, porque eu acabava usando aquela escola que tive de tocar de tudo. A vivência de baile acabou me ajudando nessas três frentes. Música eletrônica, com a Wanessa, exigia uma técnica específica e outro setup, porque eu trabalhava basicamente com synths e timbres de pads, com modulação em tempo real, alterando filtro... era outro tipo de música. Com a Luiza, toco basicamente alguns synths, mas com approach de órgão e de piano, Rhodes etc. Com a Bruna Caram, que é uma MPB mais clássica, o trabalho é bem mais pianístico. E também, por ser um quarteto, tenho que amarrar toda a condução do arranjo no piano. Há também os trabalhos de piano e voz, tanto com a Luiza quanto com a Bruna, em que é necessário fazer solo durante o show inteiro. E aí as conduções rítmica e dinâmica são minhas. Todas essas diferenças exigem muitas referências. E isso é encantador. É complexo, porque o músico tem que ter um setup maior. Para piano e voz, ele precisa de um teclado com teclas pesadas e um timbre de piano mais verossímil. Com a Wanessa, o teclado deve ter teclas leves, recursos de ajuste de filtros em tempo real e tap tempo, que geralmente não existem nos pianos digitais. Trabalho bastante com o s synths virtuais , porque o ajuste fino, por vezes, é mais interessante nos softwares. Não costumo usar mais que dois teclados. Uso um terceiro somente quando há algum timbre muito específico o u quando quero deixar um só com os órgãos, por exemplo, para mexer com os drawbars à vontade. Geralmente trabalho com um stage piano de 88 teclas pesadas e, em cima, ou uso um synth ou um controlador espetado no computador. teclas & afins
a l a t a C t n e c n i V ©
Piano: base para os trabalhos
Como é a questão de trabalhar com um conceito musical que não necessariamente é o seu?
O diretor musical da Luiza Possi é o Bruno Coppini, um grande amigo, muito participativo, que trabalha muito bem em equipe. Então, as decisões musicais são quase sempre um consenso. Como tocamos há muito tempo junto com a Luiza, desde 2005, acabamos tendo uma característica de banda. A Luiza é muito generosa nesse aspecto e uma pessoa de fácil convivência. Temos uma dinâmica que nos permite dar ideias. Ela consegue perceber que todo mundo está colaborando para chegar a um resultado melhor e aceita as sugestões. A Luiza é muito ligada aos timbres de teclado e adora. Cresceu ouvindo a mãe e os tecladistas que a acompanharam, principalmente o Jether Garotti Jr, que tem muito bom gosto. abril 2015 / 23
VITRINE
Toque nos produtos para acessar vídeos, informações e muito mais!
KORG LP-380-73 Pride Music - www.korg.com.br
O novo modelo de piano digital da Korg, o LP-380-73, traz teclado de 73 teclas (E1 a E7) com mecanismo RH3 (Real Weighted Hammer Action 3) – que apresenta resposta mais pesada nos registros graves e mais leve em direção aos registros mais agudos - e três níveis de sensibilidade de toque (Light, Normal, Heavy). Com polifonia máxima de 120 notas e tecnologia de geração sonora Stereo Piano System, o instrumento oferece 30 sons, incluindo pianos acústicos e elétricos, Harpsichord, Clavi, Vibraphone , Marimba, Violão, Organ, Cordas e Vozes. A Korg se debruçou particularmente sobre os so ns de piano elétrico, que reproduzem não somente a maneira com a qual o timbre responde ao toqu e, mas também os sutis ru ídos que ocorrem quando as teclas são liberadas. Seis variações estão presentes, cobrindo os sons amplamente utilizados na música pop dos anos 60 e 70, assim como alguns dos timbres da música soul. A possib ilidade de ajuste para nove tipos diferentes de temperamento, aliada a transpose e fine tuning, permite configurar a afinaç ão de acordo com o gosto do usuário, o período histórico a qual a peça a ser executada pertence ou a necessidade de acompanham ento de outros instrumentos ou vocais. O modelo traz três pedais (Damper, Soft e So stenuto, com suporte a meio pedal) e metrônomo com controles de temp o, fórmula de compasso, acento, som e volume, que auxiliam no estudo, além dos e feitos Brilliance, Reverb e Chorus. Line Out, MIDI (In, Out), Headphones (2) e Speakers formam o conjunto de conexões, e a amplificação é de 2 x 22 Watts. O design elegante e o tamanho diferenciado, com 73 teclas e apenas 26 cm de profundidade, em conjunto ao gabinete de tampo reto e três opções de acabamento, fazem deste o instrumento ideal p ara residências.
24 / abril 2015
teclas & afins
VITRINE
KAWAI K-200
Pianofatura Paulista – www.piano.com.br Com apenas 114 cm de altura, 149 cm de largura e 57 de profundidade, o piano vertical Kawai K-200 é um dos mais compactos do mercado. Com a qualidade sonora característica da tradicional marca, o instrumento traz o mecanismo Millennium III Advanced Piano Action, que apresenta componentes fabricados em ABSCarbon, um novo material incrivelmente robusto e rígido, que propicia peças mais leves sem sacrificar a resistência. O desenho do Millennium III resulta em um mecanismo tremendamente rápido e mais leve, necessitando de menor esforço do pianista no controle do piano. Além disso, o novo material promete repetições 16% mais rápidas do que em um mecanismo convencional de peças de madeira.
WALDMAN UltimateKeys 600 Waldman Music – www.waldman-music.com.br
O teclado arranjador UK600, da Waldman, traz 61 teclas com funções inteligentes para estudo, amplo display em LED, 100 timbres, 100 ritmos de acompanhamento automático com controle de viradas de bateria (Single/Fingered Chord) e seis sons de percussões independentes, de acesso direto no painel, além de controle de Pitch Bend e 10 músicas de demonstração. A entrada para microfone permite cantar enquanto se toca, e o equipamento possui funções de gravação e playback de performances. Conexão MIDI e saída para headphones fazem companhia aos alto-falantes integrados.
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VITRINE
KORG ARP Odyssey Pride Music – www.korg.com.br
Reconstruído com assistência de David Friend, co-fundador da ARP Instruments, a KORG traz de volta ao mercado o ARP Odyssey, lendário sintetizador da década de 1970. Reproduzindo a arquitetura do original, o novo equipamento promete o mesmo som penetrante e a mesma rica extensão de variações de timbre. O modelo traz os circuitos de filtros das três versões principais do ARP Odyssey original e permite a seleção deles por uma simples chave no painel. O mesmo ocorre em relação ao comportamento do Portamento. O novo ARP Odyssey teve seu tamanho reduzido para 80% do instrumento original. O teclado oferece 37 teclas que apresentam peso leve e função de transposição. Conectores MIDI IN, USB-MIDI e saídas para fones de ouvido foram adicionados. Um case para transporte e armazenamento está incluído, e edições limitadas do design das versões Rev1 e Rev2 também estão disponíveis.
M-AUDIO M50
InMusic Brands – www.maudiodobrasil.com.br O fone de ouvido M50, da M-Audio, tem como característica o driver de 50 mm que oferece resposta de frequência de 28 Hz a 20 kHz. O headband de couro acolchoado e flexível cobre as orelhas perfeitamente e evita a fadiga de uso, mesmo em sessões mais exigentes e longas. O cabo, de 1,8 metros, pode ser destacado do fone de ouvido, e o adaptador de ¼” o torna compatível com todos os equipamentos de áudio.
26 / abril 2015
teclas & afins
Há 50 anos investindo em educação musical, nossa rede de escolas está presente em mais de 40 países e, ao longo desse tempo, mais de 5 milhões de alunos já passaram por nós.
Cursos de teclado, piano, violão, guitarra, contrabaixo, canto, flauta, saxofone e bateria
O PRAZER DA MÚSICA EM SUAS MÃOS Aulas individuais e em grupo. Marque sua aula experimental! Rua Santa Justina, 434 - Itaim Bibi - São Paulo Tel.: (11) 3078-1605 www.musicschool.yamaha.com.br
o ã ç a c i n u m o C e t o N e u l B ©
REVIEW
Por cristiano ribeiro
KORG KROSS O KROSS segue o mesmo padrão do tradicional “lobo em pele de cordeiro” da Korg. Pelo aspecto, engana. Compacto, leve, pequeno, todo em plástico. Obviamente o intuito é baratear a linha. Mas quando se toca nele, a surpresa é boa. Não decepciona. O músico encontra todos os timbres necessários, com qualidade e bom “punch” no P.A.
Lembro-me da época em que tinha um Korg X5D. Algumas vezes, levava apenas ele para algumas gigs, e tinha a maior confiança no tecladinho. A reação das pessoas era: “Mas esse teclado dá conta?”. Sempre a mesma pergunta. Me divertia muito. E mais ainda no final do trabalho quando vinham me cumprimentar e soltar o elogio de sempre: “Esse tecladinho é massa! Não esperava tanto desse aí não!”. 28 / ABRIL 2015
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REVIEW
A Korg tem uma tradição de lançar linhas entry level com poder de fogo! Assim foi com os modelos X5, N5, X5D, 05R/W (módulo de meio rack) e agora, na geração Kronos, faz o mesmo com o KROSS. Aliás, a marca inova e lança o que se pode chamar de uma workstation completa. E le tem recursos de combinação de sons (até 16 em layers ou splits pra você montar e combinar como quiser, com cinco inserts FX mais dois master Effects), sequenciador de 16 tracks com mesmo número de inserts efx do modo multi, arpegiador, modo pattern Drum, funções de controlador MIDI, entradas P2 estéreo e P10 mono para processar efeitos e gravador/reprodutor de áudio. Duas versões O KROSS vem em du as versões: de 61 teclas semipesadas e de 88 teclas NH (Natural Weighted Hammer Action) que, segundo o fabricante, reproduz o toque de um piano acústico, com teclas mais pesadas na região grave e mais leves nos agudos. Chama a atenção, também, o peso de apenas 12 quilos da versão 88 , muito bom para quem quer ter um Hammer Action na estrada. As duas versões também funcionam a pilhas. Prático para quem não quer depender de fontes de energia externa ou p recisa estudar e gravar dentro de um ônibus ou van na estrada. Imagine aquele momento que você vai estrear com um artista, não teve tempo de estudar as músicas e já está na estrada... Pois é! A versão que testamos foi a de 61 teclas. Sistema O sistema gerador de som é o EDS-i (Enhanced Definition Synthesis-integrated), desenvolvido exclusivamente para ele e derivado dos EDS/EDS-X dos irmãos teclas & afins
Conjunto de conexões: entradas de áudio são diferencial
maiores. Esse sistema permite até sete efeitos simultâneos, sendo cinco inser ts e dois master. Há um total de 134 efeitos, desde básicos, como reverb, delay, chorus, flanger e rotary speaker, até modelagens de amplificadores p ela tecnologia “REMS” Korg. Também há um vocoder. Entradas para áudio externo No painel traseiro há duas entradas para fontes externas de áudio. Uma é P2 (Line In) estéreo, a qual se pode conectar um aparelho MP3, saídas P2 de notebooks etc. A outra é P10 mono (Mic) para conectar um microfone ou um instrumento musical e endereçar aos efeitos internos do KROSS. Se você é um tecladista que canta ou toca outro instrumento como uma guitarra, isso é uma mão na roda, pois te livra de usar um mixer, por exemplo, e ainda te deixa uma boa gama de efeitos para processar seu outro instrumento ou voz. Gravador de áudio O gravador de áudio per mite gravar todas as performances no KROSS e, também, áudio de fontes externas pe las entradas P2 e P10. Você pode criar e reproduzir trilhas para acompanhamento ou sobrepor gravações e criar músicas completas. O ABRIL 2015 / 29
REVIEW
áudio pode ser importado ou exportado por meio de um cartão SD, processo muito prático para trocas de arquivos com computador.
Conectando ao computador
O KROSS se comunica pela porta USB com Windows e Mac. A Korg disponibiliza os programas KROSS Editor e KROSS PlugIn Editor que permitem editar todos os parâmetros do teclado pelo computador. Sequencer, step sequencer e arpejador O step sequencer dele lembra as antigas Também servem para fazer backups e Drum Machines e permite criar p aterns de carregar novas configurações de presets. até 64 compassos. Dezesseis botões dão O KROSS interage dentro de uma DAW acesso às notas individuais, permitindo pelo Plug-In Editor como se fosse um ligar ou desligar cada uma. É um recurso sintetizador em software. muito prático e divertido para criar ritmos e fazer loops. O sequencer MIDI Execução segue padrão SMF de 16 canais e oferece O painel muito fácil e intuitivo. Para facilitar todas as ferramentas necessárias, como a seleção de timbres, há um grande knob quantização, copy/paste etc. Também há chamado “Category” no painel que, como um arpejador para todos modos. diz o nome, separa os timbres por categorias.
KORG KROSS 61 Informações técnicas Peso: 4.3 kg Dimensões (L x P x A): 942 × 281 × 91 mm
Preço sugerido: R$ 3.590,00* Importador: Pride Music (www.korg.com.br )
PRÓS •
•
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Bons timbres Muitas ferramentas Instrumento leve e versátil
CONTRAS •
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Falta de botões específicos para ajustes de oitavas Teclas um pouco “duras” na versão 61 teclas * Preço sujeito a alteração sem aviso prévio
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teclas & afins
REVIEW
Painel traseiro: conexões e alça para transporte
A experiência de tocar o KROSS é gratificante. De cara o músico se depara com um piano muito bom. Nesse aspec to, a Korg se superou. Nos teclados de boa relação custo-benefício da marca, esse quesito, até há poucos anos, era sofrível. Muitos consideravam os pianos acústicos o calcanhar de Aquiles da Korg, principalmente nos teclados entry level. Isso sempre foi motivo de muita discussão. Mas, desta vez, o piano é bem amostrado e vem com várias versões de equalização e efeitos, todas boas e muito utilizáveis. Os pianos elétricos também são muito bons. Abusando de efeitos de flanger, chorus, wah wah ou quase sem efeitos, são todos bacanas. Sou da teoria de que, para saber se um timbre é bom, é preciso “secar” os efeitos. Aí sim se vê a amostra sem “maquiagens”. E o que eu vi foram boas amostras. Os órgãos com efeito rotary são muito bons. Há varias opções de combinações de drawbars e até mesmo algumas simulações de registros - de forma resumida, mas eficiente - usando a roda de modulação e os botões SW1 e SW2. Também há órgãos estilo Farfisa e Vox, além dos litú rgicos. De início, senti um pouco de falta de “peso” nos órgãos, mas uma pequena edição nos equalizadores e em alguns outros parâmetros já me trouxe satisfação. Os Bells me agradaram. Todos cristalinos, bem definidos e encorpados, sem distorções nos agudos. Muito agradável. Strings bons teclas & afins
no geral, tanto os orquestrais como os solo. Em particular, um violino solo Erhu, estilo chinês, me agradou bastante. Os naipes são muito bem construídos. Em relação aos Brasses, encontrei bons instrumentos solo. Trompetes, trombones e saxes são todos bem amostrados. Creio que, bem combinados, seja possível construir naipes de metais muito bons. Obviamente estão disponíveis os tradicionais sforzando, muted e outras variações. Os tradicionais Leads da Korg também estão no KROSS. A marca sempre caprichou nesses timbres. Aliás, leads, p ads e timbres eletrônicos sempre foram o forte da Korg. E, nesse teclado, isso continua. E segue toda uma lista de timbres como g uitarras, violões, contrabaixos de todos os tipos, percussões e baterias. O “tecladinho” não deixa nada a desejar. Apenas senti falta de botões para mudanças de oitava no painel. Tal função pode ser endereçada aos botões SW1 e SW2, mas considero esse um item básico, principalmente em um instrumento de 61 teclas. Conclusão
Se você é iniciante e procura um bom instrumento para começar, recomendo o KROSS. Se você é um profissional que procura um teclado para complementar seu set e que seja leve para levar aos ensaios e gigs menores, o KROSS vai te surpreender. ABRIL 2015 / 31
materia de capa
Sonoridades
Com o lançamento do álbum Spiritual Energy, o músico gaúcho Eloy Fritsch reafirma sua estética artística e a vocação para a composição 32 / abril 2015
teclas & afins
NILTON CORAZZA
conceituais
teclas & afins
abril 2015 / 33
materia de capa
Eloy Fritsch nasceu em 1968 e iniciou sua carreira musical em 1983 quando criou, com seus amigos de escola, o grupo de rock progressivo Apocalypse. Desde então vem atuando como tecladista e compositor, participando das gravações e apresentações no Brasil e no exterior. Em paralelo, desenvolve um projeto de composição em estúdio focado em sintetizadores, samplers, computadores e teclados eletrônicos, tendo lançado onze álbuns instrumentais. Compositor de trilhas para televisão, rádio, teatro, cinema, videoinstalações e documentários, teve suas obras selecionadas para várias coletâneas realizadas em CD e lançadas em diferentes países, como Le Melleur du Progressif Instrumental (França), Margen (Espanha), E-dition (Holanda), O Melhor da
Música Instrumental Brasileira 2006 (Brasil) e Coletânea de Música Eletroacústica Brasileira 2009 (Brasil), entre outras. Autor do livro Música Eletrônica – Uma Introdução Ilustrada , Fritsch é, desde 1999,
professor do Departamento de Música da UFRGS em Porto Alegre, lecionando Trilha Sonora, Música Eletrônica e Computação Musical na graduação e no Programa de Pós-graduação em Música e foi o idealizador do Centro de Música Eletrônica do Instituto de Artes da UFRGS - complexo de laboratórios dedicado à composição musical auxiliada por computador. Por ocasião do lançamento de seu décimo-primeiro álbum instrumental, Teclas & Afins conversou com o músico sobre a obra e o processo de composição, além de su a carreira.
Eloy Fritsch: herança progressiva 34 / abril 2015
teclas & afins
materia de capa
Qual foi o conceito que norteou a produção do CD Spiritual Energy e a composição das músicas?
A maior parte das minhas composições possui características descritivas. Por evocar o conteúdo dos títulos das composições ou das paisagens e artes contidas nas capas e encartes dos álbuns, poderíamos chamar de música programática. Os títulos das minhas músicas procuram dar pistas ao ouvinte sobre os temas extramusicais que me inspiram e me impulsionam durante o processo criativo. Alguns álbuns, como Atmosphere e Mythology , são também conceituais. Em Atmosphere – Electronic Suite, criei uma composição para cada camada da atmosfera terrestre como uma mensagem em defesa e preservação da natureza. Em Mythology , compus um tema para cada elemento mitológico. Em Spiritual Energy, o conceito é a energia vital que está em todo o Cosmos. Essa energia, também conhecida como Prãna, é a força cósmica que sustenta a vida, está em cada ser vivo e mantém todos os seres em harmonia proporcionando equilíbrio e paz interior. Como é seu processo de composição?
Difere muito para cada composição. Trabalhei as músicas provenientes de trilhas sonoras com referências musicais determinadas pelos diretores. Nas demais composições que completam o álbum, me senti mais livre para experimentar alternativas. Algumas músicas compus na ilha de Florianópol is, durante as férias, local onde me sinto bem com a família, em sintonia com a energia daquele lugar lindo e da natureza exuberante. Outras, concebi diretamente em meu estúdio de composição em Porto Alegre, utilizando uma quantidade mais ampla de recursos teclas & afins
Spiritual Energy: programático
para instrumentação. Uso muito o sequenciador para o registro original da música. Quando a mú sica é concebida, ela vem com espontaneidade e energia que precisam ser mantidas. A opção por sentar ao teclado e compor espontaneamente é algo que tento preservar. Procuro manter um equilíbrio entre o aspecto intelectual e o sensorial. Após o registro original, trabalho no desenvolvimento do discurso musical, instrumentação e arranjo. Quando os timbres e as sonoridades passam a fazer parte do processo composicional?
Minha música é fortemente baseada em sons eletrônicos e utiliza a variedade de possibilidades oferecidas pela tec nologia. Componho no sintetizador e, em várias ocasiões, o timbre usado acaba dando origem à sonoridade final da música. O próprio recurso tecnológico auxilia na ampliação das alternativas usadas no desenvolvimento da composição musical. Uma das tendências da música moderna abril 2015 / 35
materia de capa
está na variedade e na importância dada à instrumentação, incluindo a incorporação da percussão como elemento do conjunto musical. Por meio do computador e de estações musicais, podemos usar vários sons e orquestrar as músicas misturando timbres acústicos e eletrônicos, sons de percussão orquestral com bateria, vozes corais com sons sintetizados etc. Acredito que esse é um dos caminhos para a produção de trilha sonora moderna. Algumas músicas vieram de trilhas para teatro e cinema. Quais são e para quais produções foram compostas?
Pouco mais da metade do CD é proveniente de composições de trilha sonora. Em 2013, estava com vários trabalhos, entre eles t rilhas para teatro, cinema, documentário e vídeo. Fui convidado para fazer a trilha para um vídeo que seria apresentado em um grande evento no Palácio Piratini. Daí surgiu a segunda faixa do CD, “Sunlight Dance”. Depois, trabalhei com a Cia de Teatro em Porto Alegre, compondo a trilha para o espetáculo Das Flor. Acompanhei os ensaios e, à medida que o projeto tomava forma, as músicas eram encomendadas e compostas p ara acompanhar as cenas. Parte da músic a “Wizard of Winds” é proveniente da música incidental que fiz para uma das cenas do espetáculo. Compus muita música para esse projeto, entretanto nem todas foram aproveitadas. O projeto necessitava também de música eletroacústica e paisagem sonora, por isso foram usadas composições do meu DVD de 2008 - Música Computacional e Eletrônica . As composições que fiz em 2013 para a Cia de Teatro foram revisadas e preparadas para o CD Spiritual Energy . Dessa época são a s músicas “Love and Light” e “Vita Brevis”. Meu irmão, Rui Fritsch, é diretor de uma produtora de vídeo e estava produzindo o curta metragem Crianças , uma ficção sob re o rapto e o cativeiro de crianças . Então, fui convidado para com por a trilha sonora. O roteiro do fil me previa passagens de tensão e suspense e as referências escolhidas eram bem hollywoodianas. O tema principa l deu origem à músic a “The Prophecy”. Provavelmente essa música tenha sido a mais trabalhosa, pela orquestração massiva e as mudanças realizadas em relação à trilha original. 36 / abril 2015
teclas & afins
materia de capa
Normalmente, para as produções cinematográficas costuma-se compo r muito e, às vezes, menos da metade das trilhas são aproveitadas pelo diretor. A música “The Battle of Giant D ragonflies” é uma das que com pus mas que não foi usada no filme. Por soar exótica, a escolhi para complementar a diversidade musical do CD. Esse filme rendeu várias premiações regionais no festival Cineserra, incluindo a de melhor trilha sonora. Por fim, trabalhei na trilha para documentários e vídeos institucionais. Esses projetos originaram as músicas “The G ates o f Hea ven” e “Evoc ation”. Como elas se adaptaram ao conceito do dis co? Boa parte do CD Spiritual Energy é uma compilação
musical inédita que registra a produção de 2013 e 2014, durante minha passagem por diversos projetos. Fico feliz por ter participado e contribuído com todos os meus parceiros e aproveitado as composições para meu CD. Agradeço ao meu irmão pela confiança e oportunidade em trabalhar em suas produções audiovisuais. Quem conhece minha obra sabe bem da diversidade que é reunida em cada novo álbum. Cada música tem suas particularidades musicais que a tornam única dentro da macroestrutura de um CD. Mesmo os meus álbuns conceituais são muito diversificados musicalmente. Em CDs anteriores, já estava trabalhando com orquestrações virtuais e sintetizadores. Acredito que nesse álbum o aspecto cinemático ficou mais evidente em função de alguns temas épicos e das referências que foram usadas nas trilhas sonoras. Vários temas como “Garden of Angels”, “Angelic Touch”, “Love and Light ”, “Flying on the Wing s of Eternity” e “The Gates of Heaven” são alinhados ao estilo New Age, em que procurei enfatizar o aspecto sensorial buscando desper tar no ouvinte sensações de harmonia, paz, espiritualidade, misticismo e elevação. É um estilo com o qual me identifico e que preciso manter pela minha sintonia com o cosmos e pelos momentos de felicidade, realização e e levação durante o caminho da criação musical. Entretanto, procurei inserir também faixas que p udessem descontinuar essa linha para criar contraste e variedade, momentos que pudessem surpreender o ouvinte. Nessa abordagem, teclas & afins
abril 2015 / 37
materia de capa
temos as composições mais épicas, tensas e de andamento mais acelerado como “The Prophecy”, “The Battle of Giant Drago nflie s”, “Duet ” e “Warp Drive”. Como você relaciona esse novo CD com os demais de sua discografia? Vejo o Spiritual Energy mais parecido com Behind the Walls of Imagination que
lancei em 1997. Desde a arte da capa, até a concepção das músicas. Behind the Walls of Imagination marcou uma época em minha trajetória porque assinei com uma gravadora e consegui expressar por meio da música muito do que eu sentia e pensava nos anos 1990. Foi meu segundo trabalho com sintetizadores e computadores lançado comercialmente em CD. Levando-se em conta todas as limitações e problemas que ocorreram naquele tempo, ainda gosto de muita coisa que fiz para aquele disco e que depois serviu de embrião para os posteriores. Gosto de pensar que, a cada CD, subo um degrau no infinito universo da composição. Estamos sempre aprendendo com as experiências musicais, parcerias e novidades do meio musical e tecnológico.
setup em meu estúdio de composição. Adquiri um MacBookAir e um Macmini. O primeiro, usei de estúdio portátil, para levar nas viagens e registrar as composições, e o segundo para o estúdio fixo em Porto Alegre. Com uma licença do Cubase Artist com iLok, posso usar o programa tanto no MacBookAir quanto no Macmini. O Korg Kronos foi empregado em várias músicas, e utilizei bastante o Minimoog para solos. O Alesis Fusion entrou principalmente nas músicas “The Journey to the Mystical Island” Part I e II. Nessas, não usei o Minimoog, mas o Korg MS-20 para o riff. O Roland JP-8000 e o Korg Triton Extreme estão presentes principalmente em “Vita Brevis”. Como interface, utilizo a placa M-Audio Fast Track Ultra. Também lancei mão de meu antigo Sampler AKAI, o Sampler Kontakt e bibliotecas sonoras, com controladores MIDI da Novation. Com a disseminação da música digital, do compartilhamento de arquivos e da volatilidade da música em si, porque lançar um CD “físico” e não apenas na rede?
Ainda trabalho com o conceito de álbum, principalmente pelas influências de rock Qual foi o setup utilizado na gravação? progressivo que tenho. Sou do tempo do Gravei o Spiritual Energy usando um novo Vinil. Os primeiros discos que gravei foram lançados apenas nesse formato. Dentro da minha concepção de álbum, um CD, com todos os itens que oferece, ainda é muito atrativo. Parece papo de colecionador, mas muita gente ainda valoriza o trabalho extramusical dos encartes, o design e demais informações. No CD Spiritual Energy, outros profissionais trabalharam para que o resultado fosse o melhor possível. Sempre digo que um álbum, mesmo que seja solo, é feito a muitas mãos, ainda que indiretamente. Queria salientar aqui as magníficas ilustrações Sonoridades: vari edade de equ ipamentos garante riqu eza 38 / abril 2015
teclas & afins
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Orquestra e Coral: referência progressiva e reconhecimento
do artista polonês Maciej Rebisz que foram escolhidas a dedo e, que valorizaram muito a proposta de fazer música programática. É o mesmo artista que já havia assinado a capa de Exogenesis. O fotógrafo Daniel Motta, que também é o atual baixista do Apocalypse, registrou o momento de criação em imagens e o novo setup do estúdio. O engenheiro Marcos Abreu masterizou o trabalho e a minha amiga Mana Sadebra criou um design gráfico muito atrativo e organizado. Acredito que um álbum não precisa ser físico. Inclusive, como produtor, tenho muito mais trabalho fazendo um álbum físico do que somente digital. Mas, como minha música tem tudo a ver com encartes, ilustrações, e ainda vende CDs físicos, resolvi manter esse formato. Se fizesse apenas virtual, pela influência de estilo, provavelmente iria sentir falta de alguma coisa. teclas & afins
O que você destacaria na história mais recente da banda de rock progressivo Apocalypse ?
Destacaria quatro momentos impor tantes. O show com o Yes, o Box Set do Apocalypse, o Concerto com a Orquestra e o prêmio Açorianos que recebemos pelo conjunto da obra. O Yes sempre foi uma das nossas bandas preferidas desde o início do Apocalypse. As músicas do grupo servem de inspiração e modelo para a maioria dos músicos que tocam rock progressivo. Tocar com essa banda sempre foi um sonho de criança. Por isso, abrir o show deles em Porto Alegre, e conhecer os músicos, foi algo muito marcante para todos nós. Além disso, tocar para a plateia do Yes e receber o reconhecimento foi algo muito gratificante. Em 2010, conseguimos levantar fundos para produzir o Box Set abril 2015 / 39
materia de capa
Yes e Apocalypse: Chris Squire, Ruy Fritsch, Chico Casara, Gustavo Demarchi, Jon Davison, Eloy Fritsch, Alan White, Geoff Downes e Steve Howe.
de 25 anos do Apocalypse que foi lançado em 2011. Ali, incluímos um livro escrito pelo produtor e jornalista Eliton Tomasi contando a história da banda, um CD ao vivo chamado Magic Spells , nosso último CD de estúdio chamado 2012 Light Years from Home , um DVD com apresentações ao vivo e um pôster com nossa discografia. O Box Set foi premiado e agradou muito aos fãs. Em 2011, as composições de rock progressivo do Apocalypse foram orquestradas para uma apresentação em nossa cidade natal, Caxias do S ul, realizada com orquestra e coral para grande plateia. E, em 2012, recebemos o Prêmio Açorianos de Música , menção especial pelo conjunto da obra. Foi um momento muito feliz e significa o reconhecimento da comunidade artística de Porto Alegre valorizando nossa caminhada de 30 anos fazendo rock progressivo. 40 / abril 2015
Toda a produção do disco Spiritual Energy é sua. Esse trabalho solitário é libertador ou limitador?
A proposta desse trabalho de estúdio é justamente um trabalho-solo em que são utilizadas todas as possibilidades da tecnologia: usar sintetizadores, arpejadores, softwares musicais, mesa de som, sampler para fazer música instrumental e eletrônica. As máquinas me auxiliam em todo o processo, desde a concepção até o registro final. Assim foi desde meu primeiro CD, Dreams, de1996. Realizo todas as etapas da produção. Comecei a trabalhar dessa forma com muita motivação e paixão pela criação musical. É um projeto de composição musical a luz das inovações da música eletrônica que possibilita que o próprio compositor realizasse todos os passos do processo de produção. Nesse percurso, preciso de concentração, isolamento e foco para que teclas & afins
materia de capa
a música flua e tome forma. Somente assim posso imprimir minhas ideias e percorrer todas as etapas da produção musical em estúdio sem interferência externa. A questão toda é estar em sintonia com a composição em desenvolvimento e com a performance em estúdio para que o ciclo possa ser completo: composição – performance – registro. Meu processo de criação é espontâneo e intuitivo e precisa de muito espaço para acontecer, em todos os sentidos. Em comparação ao trabalho com banda, quais as vantagens e as desvantagens?
Com o Apocalypse, existe sempre a troca entre os integrantes, com ideias de arranjo e cada músico buscando, dentro de sua especialidade, aperfeiçoar sua parte levando em consideração o idioma e a possibilidade expressiva de cada instrumento. Normalmente, a composição é apresentada por um músico ao grupo. Após conhecer a música o grupo irá contribuir para o desenvolvimento e o aprimoramento da performance.
Atualmente, o Apocalypse, ao contrário de outras fases, tem se preocupado mais em realizar apresentações. Gravamos um DVD e um CD ao vivo, chamado The Bridge of Light , somente com composições inéditas. Gosto de trabalhar em grupo quando existe sintonia em termos de proposta artística e repertório. Atualmente, tenho trabalhado repertório de rock progressivo com alunos da disciplina de Prática Musical em Conjunto do Curso de Música Popular da UFRGS e o resultado tem sido positivo. Então, vejo muitas vantagens em se trabalhar com a banda, desde a troca contínua entre os integrantes até o êxito das apresentações e produções musicais. Já o projeto de estúdio que originou o CD Spiritual Energy entra na categoria da música instrumental, e isso requer uma abordagem diferente daquela do trabalho atual que desenvolvo com o Apocalypse. Em estúdio, você pode extrapolar a barreira do intérprete e contar com as possibilidades infinitas dos vários recursos que estão à disposição para compor e registrar sem a preocupação imediata da interpretação ao vivo.
Past and Future Sounds , d e 2006, e Exogenesis , d e 2012. teclas & afins
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materia de capa
Os teclados atuais, notadamente as workstations, carecem de personalidade?
Acredito que as music workstations perderam muito espaço para o computador e o software musical. Tenho usado ambos, até porque gosto de manter à minha disposição um conjunto de timbres vintage que tenho programado nos teclados. Parte desse som também vem do Minimoog, do órgão e dos Korgs analógicos. Mantenho esses sons porque os venho utilizando em discos anteriores e me ajudam a construir minha assinatura musical. Gostei muito do Korg Kronos e do sistema Karma que vem com ele. Usei nos meus dois últimos CDs e nas várias apresentações ao vivo que fiz no Planetário em Porto Alegre. Acredito que as possibilidades de acompanhamento contribuem para a interpretação de minhas músicas ao vivo. Em contrapartida, hoje em dia, as bibliotecas sonoras e os programas simuladores são quase imbatíveis e disponibilizam o que existe de melhor em termos de simulação de instrumentos, samples e bibliotecas sonoras. Como vê o retorno dos sintetizadores analógicos e modulares?
Com muita felicidade. O relançamento do sintetizador modular de Keith Emerson pela Moog foi uma surpresa. Pena que é tão caro (risos). Há uns 15 anos, comecei a usar um
sintetizador modular em meus álbuns e em apresentações ao vivo com o Apocalypse. Realizei gravações com ele nos álbuns Cyberspace, Atmosphere e Mythology . Foi uma fase muito feliz de exploração e busca de novas sonoridades analógicas. Muito já se falou sobre o imediatismo das novas gerações. Você percebe isso na produção musical atual?
Sim, é um modelo que se formou a partir de necessidades da indústria fonográfica com prazos curtos e canções urbanas de 3 minutos que acabaram resultando em padrões musicais aceitos pela população em geral e que são aceitos para veiculação nas rádios FM. É algo que vem acontecendo a um bom tempo e que é corriqueiro na música com ênfase no apelo comercial. Normalmente, a música feita para atender os padrões da indústria fonográfica comercial carece de profundidade e desenvolvimento. Não só o imediatismo, mas a questão do audiovisual está muito intensa neste século. Percebo que muitas pessoas não tem tempo para ouvir música erudita, instrumental, trilha sonora, jazz e outros estilos que precisam de mais atenção. Cada vez mais, o tempo das pessoas é dividido em um número cada vez maior de possibilidades de entretenimento. Ainda bem que as produções audiovisuais e os videogames precisam de música (risos).
NA REDE
42 / abril 2015
teclas & afins
A AUTÊNTICA EXPERIÊNCIA DE TOCAR EM UM PIANO DE CONCERTO COM DESIGN ELEGANTE E QUE ADICIONA ESTILO AO SEU LAR.
LP-380 RW
O LP-380 possui um som de piano brilhante em um design refinado. Seu gabinete abriga um amplificador de alto ganho e falantes que reproduzem precisamente o som de um piano acústico, enquanto o teclado RH3 permite performances expressivas.
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Para informações técnicas e revendas autorizadas acesse:
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livre pensar
POR ALEX SABA
Aziza Mustafa Zadeh: a princesa oriental do jazz
44 / abril junho2015 2014
teclas & afins
livre pensar
A dança da princesa Nascida no Azerbaijão e radicada na Alemanha, a pianista Aziza Mustafa Zadeh tem em Dance of Fire um dos mais emblemáticos álbuns de sua consistente carreira
Confesso que encontrei o CD Dance of Fire por um acaso mais do que absoluto. Nunca tinha ouvido falar em Aziza Mustafa Zadeh. E me arrependo profundamente por isso. Aziza é uma pianista fabulosa. Chamada de “Princesa do Jazz” ou “Jazziza”, nasceu em Baku, capital do Azerbaijão e, sinceramente, temos poucas notícias daquelas terras. Entretanto, este álbum é de 1995 e o time de músicos que toca com ela é formado simplesmente por Al Di Meola (violões), Stanley Clarke (baixos), Bill Evans (sax) e Omar Hakim (bateria). Quando me dei conta, perguntava: “como eles a conhecem e eu não?”. Dance Of Fire tem 11 músicas de autoria da pianista e os músicos estão completamente à vontade. Bem, eles sempre estão, mas se pode notar que a “conversa” é de igual para igual. Ela não está com esse time de primeira por acaso: ela é tão boa quanto eles. E a interação entre todos é fantástica. O pai de Aziza, Vagif Mustafa Zadeh, era pianista e compositor, famoso por misturar “mugan”, a música tradicional do Azerbaijão, com o jazz. A mãe, cantora lírica, abandonou os palcos para se dedicar à carreira da filha, que ganhou o primeiro prêmio do prestigioso concurso de piano Thelonius Mo nk, nos Estados Unidos, com seu estilo próprio, herdado das influências diretas do pai. Pianista clássica, entusiasta teclas & afins
de Chopin, ela admite que não pratica o suficiente, apenas deixa a m úsica fluir. Sua capacidade de improvisação fica evidente na audição de qualqu er um de seus discos. O álbum A primeira faixa, “Boomerang”, tem uma divisão que a aproxima de um tango. O baixista Stanley Clarke faz uníssonos lindos na segunda faixa, “Dance Of Fire”, sucedido pelo violão de Di Meola. O tema é dividido harmoniosam ente entre os três. “Sheherezadeh” começa misteriosamente como um tema árabe para, em seguir, revelar-se uma linda balada romântica, junho abril 2015 2014 / 45
livre pensar
praticamente uma valsa, ao passo que “Aspiration” tem inúmeras semelhanças com o novo-tango do argentino Astor Piazzola. A longa “Bana Bana Gel (Bad Girl)” traz a bela voz de Aziza em dueto com a improvisação do sax de Evans sobre divisões não muito habituais. Seus vocais lembram os da cantora e também tecladista Gayle Moran, esposa de Chick Corea e tecladista da Mahavishnu Orchestra e de uma das formações do Retu rn To Foreve r. “Shadow” abre melancolicamente com o sax de Evans e permite a Aziz a mostrar seu talento na improvisação. “Carnival” traz a voz de Aziza em dobras, formando um coro, e levanta o astral quase derrubado pela melancolia da anterior. A faixa seguinte, “Passion”, retorna às divisões arrebatadoras das primeiras faixas. Já “Spanish Picture” permite que Al Di Meola
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mostre seu talento, apesar de ter pouco do que chamaríamos de espanhol, é indiscutível o tom “mouro” do tema. “To Be Continued” é um excelente veículo para o trio mais tradicional do jazz. Um disco tão incrível fecha com uma merecida homenagem em “Father”, em que a mistura de mugan e jazz passariam despercebidos, não fosse esse um disco de uma pianista do Azerbaijão radicada na Alemanha. Excelente álbum, capaz de pegar de surpresa qualquer um, como foi meu caso. Alex Saba Tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com quatro discos instrumentais solo e um disco ao vivo com sua banda Hora do Rush, lançados no exterior pelo selo Brancaleone Records. Produziu e dirigiu programas para o canal T VU no Rio de Janeiro e compôs trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista Teclado e Áudio. www.alexsaba.com.br
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CLASSIFICADOS
ALEXANDRE PORTO
• InIcIação musIcal • PIano PoPular • • Jazz e ImProvIsação • • PercePção musIcal e harmonIa • Para todos os Instrumentos e voz
Cel: (11) 94181-2780 Professor com mais de 20 anos de experiência e diversos cursos no exterior Insegurança? Ansiedade? Estresse? Medo? LIBERTE-SE! E deixe sua criatividade e sua emoção aforarem. • Terapeuta holístico • Reiki - Deeksha • Termoterapia • Aromaterapia • Essências vibracionais
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COMO ESTUDAR
por NILTON CORAZZA
Escalas Parte 2 A importância da compreensão e do domínio das escalas vai muito além da execução correta e precisa
Na opinião de grande parte dos alunos, o estudo de escalas é um dos exercícios mais maçantes da técnica pianística. A repetição dos desenhos, aliada à aparente ausência de musicalidade e a impressão errada de “perda de tempo”, faz que a maioria deles prefira debruçar-se sobre outras práticas mais prazerosas, como peças de repertório, por exemplo. Mas se esquecem de que por trás dessas sucessões de notas escondem-se elementos fundamentais para o desenvolvimento de sonoridade, agilidade e, não menos importante que elas, compreensão das estruturas de composição e improviso.
Origens
Desde a teorização da música pelos gregos, por volta de 6 mil a.C., e em culturas mais antigas como a chinesa, a egípcia e a judaica, a criação e a utilização de uma seqüência de notas como base para a formação de melodias é prática comum. Até mesmo na arte hindu, que utiliza um sistema baseado em partes ínfimas de tom, as ragas – espécie de escala com personalidade particular – são usadas. No sistema tonal tradicional do ocidente, descendente direto das culturas grega e judaica, as escalas ganharam contornos mais definidos por volta do século IV,
J. S. Bach – Invenção a Duas Vozes nº 4, em Ré menor - excerto
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W. A .Mozart – Primeiro Movimento da Sonata em Do Maior, K 545 - excerto
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Do Maior
teclas & afins
COMO ESTUDAR
quando o Papa São Gregório Magno fez uma coletânea de peças dos hoje chamados cantos gregorianos, publicando-as em dois livros: o Antifonário, conjunto de melodias referentes às Horas Canônicas, e o Gradual Romano, contendo os cantos da Santa Missa. De pentatônicas e hexafônicas (cinco e seis sons respectivamente), as escalas passaram a heptatônicas (sete). As diatônicas, estabelecidas atualmente como os modos maior e menor, são base de praticamente toda música ocidental composta nos últimos 400 anos. Para a execução desse repertório, portanto, o domínio desse elemento é fundamental. Alguns estilos, em função de sua composição estética, necessitam mais delas, como no improviso do bebop ou nos adornos do barroco. Mas não só essas devem ser objetos de atenção. Para quem se dedica, por exemplo, ao estudo do flamenco, que tem sua origem nas escalas árabes, a perfeita e rápida execução delas é incondicional. Cada estilo e época demanda uma especialização em diferentes formações intervalares. Desde o pré-barroco, passando por movimentos como o classicismo e o romantismo, as escalas tiveram papel preponderante tanto na composição quanto na improvisação ou na busca pela técnica perfeita. A base da boa interpretação de obras desses períodos é o domínio da estrutura e o desempenho irretocável. Mas elas têm aplicação não apenas na música erudita. Para o blues, as escalas mais utilizadas são as blues - maior, menor e full - e a pentatônica. O estudo delas é fundamental, principalmente por conta dos improvisos, em que são muito utilizadas. Para quem não pretende trafegar por diversos estilos, conhecer todas as maiores e menores é o mínimo, já que a música radiofônica não vai muito além disso. Daí teclas & afins
BIBLIOGRAFIA
Em algumas obras, é possível encontrar ensinamentos importantes sobre o estudo das escalas e exercícios para a automatização das mesmas: OSCAR BERINGER Exercícios Técnicos Diários para Piano. Irmãos Vitale, 1996. CHARLES-LOUIS HANON O pianista virtuoso. Irmãos Vitale, 3ª edição, 1997. GUILHERME HALFELD FONTAINHA O ensino do piano, seus problemas técnicos e estéticos. Carlos Wehrs & Cia Ltda, 1956. LEIMER – GIESEKING Como devemos estudar piano. Mangione, São Paulo, 1949. ANTONIO SÁ PEREIRA Ensino moderno do piano. Record, São Paulo, 1935. para frente, quanto maior o vocabulário de escalas, maior a facilidade do músico ao se deparar com novos desafios musicais. Em muitos casos, a variedade de repertório estrutural pode valer a pena. Com a globalização da informação e a miscigenação artística, ademais, não basta conhecer apenas o básico. Cada tradição oferece um novo mundo, uma forma diferente de construir escalas e sons. As orientais (indianas, árabes, balinesas) não se baseiam no sistema temperado ocidental. Nessas culturas, são encontrados universos sonoros riquíssimos e uma abordagem totalmente diferente. abril 2015 / 49
COMO ESTUDAR
Técnica
Em um universo em que o posicionamento de mãos e a movimentação de dedos podem definir a capacidade de um músico, a agilidade é, muitas vezes, priorizada. De nada adianta, porém, ser ultrarrápido se as notas não soarem com clareza. Ao contrário do que a maioria pensa, não é apenas para adquirir rapidez que a dedicação a esse fundamento é prioritário. “É inevitável, até certo ponto, o estudo de exercícios de escalas”, escreveu Walter Gieseking, pianista alemão nascido em 1895 e morto em 1956, em seu livro Como Devemos Estudar Piano. “Ele tem por fim igualar os dedos. Cada nota deve ser tocada com a força determinada e o sentido certo para essa energia exige um forte treino do ouvido”, aconselha. E não apenas da audição depende o músico para assimilar e aprender a utilizar as escalas, sejam quais forem: o cérebro deve trabalhar tanto quanto os dedos. Para cada tonalidade existe um dedilhado diferente e, por conseqüência, uma técnica diversa. A repetição desmedida, portanto, sem o entendimento dos movimentos necessários para a boa execução, assim como da estrutura de cada uma e a utilização que podem ter, não é prática das mais produtivas. Muitos professores, apoiados em modismos, ensinam as escalas de maneira mecânica, em que só importam a velocidade e o exibicionismo. O correto é uma abordagem mais completa, com o estudo das características tonais, por exemplo. E esses elementos muitas vezes desprezados, podem ser um auxiliar precioso. Com esse conhecimento, se adquire uma visão mais abrangente do que está sendo tocado, o que facilita a assimilação da técnica. Muitos alunos abandonam a tarefa de assimilar a execução das escalas por 50 / abril 2015
entendê-la extremamente cansativa e entediante, comprometendo tanto seu desenvolvimento técnico quanto o teóricointerpretativo. E motivos não faltam para que se arrependam posteriormente. As maiores dificuldades encontradas para a boa execução das escalas são a falta de dedicação, o posicionamento incorreto das mãos e dedos e a falta de incentivo por parte do professor. É consenso, porém, que não há nada melhor, para um aluno que apresenta certa aversão a determinado exercício que despertar o senso prático dele. É preciso encontrar um contexto de aproveitamento, em que o aluno possa, musicalmente, visualizar a escala sendo aplicada e o resultado dela. O estudo das escalas
“Qualquer escala pode ser considerada, dentro da extensão de uma oitava, como sendo composta de dois fragmentos típicos que depois, na continuação, vão se repetindo sem variar”. Quem faz tal afirmação é Antonio Sá Pereira no livro Ensino Moderno de Piano, em que direciona alunos e jovens professores no domínio das dificuldades técnicas inerentes ao estudo do instrumento. Segundo ele, o dedilhado típico de qualquer escala, mesmo aquelas que não são iniciadas com o polegar, é 1-2-3, 1-2-3-4. Por conta disso, a melhor maneira de estudá-las é preparar a ligação desses dois grupos e a passagem do polegar por baixo da mão e desta por cima dele. Na edição de número 7 de Teclas & Afins, abordamos a passagem do polegar e a execução das escalas maiores de Do, Sol, Ré, Lá e Mi, em que, no movimento contrário, as passagens de polegar são feitas simultaneamente nas duas mãos. A seguir, tratraremos das escalas maiores de Si, Fá# e Dó#. teclas & afins
COMO ESTUDAR
Si Maior
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Na escala maior de Si, na mão direita, é fácil verificar o dedilhado típico 1-2-3, 1-2-3-4.
Na mão esquerda, o dedilhado fica claro no sentido descendente.
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Fá# Maior
Na escala maior de Fá#, o dedilhado da mão direita se inicia com o dedo 2 (por se tratar de uma tecla preta), mas a progressão 1-2-3, 1-2-3-4 continua existindo.
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O mesmo ocorre na mão esquerda:
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Do# Maior
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A escala maior de Do# segue praticamente o mesmo dedilhado:
O mesmo ocorre na mão esquerda:
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Tratamos as escalas de Fá# Maior e Do# Maior de forma diferente da de Si Maior porque é mais fácil estudá-las com as mãos juntas em movimento paralelo. Lembre-se: estude as mãos separadamente até absorver o dedilhado típico 1-2-3, 1-2-3-4 antes de tentar juntá-las. Bom estudo! Nilton Corazza Pianista, organista e tecladista, graduado em música pela Faculdade São Judas Tadeu e pós-graduado em Marketing e Comunicação Integrada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi aluno de Lina Pires de Campos, Maria José Carrasqueira, Terão Chebl e Wilson Curia e concluiu cursos com Homero Magalhães, George Hadjkinos (Inglaterra) e Martine Barret (França). Durante muitos anos dedicou-se ao ensino e ao aperfeiçoamento de professores de música. teclas & afins
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cultura hammond
por Jose Osorio de Souza
O rock e a distorção A atitude do rock-and-roll solicitou do órgão Hammond mais do que a rotação rápida da caixa Leslie podia oferecer. Se na sofisticação harmônica do jazz e do blues isso bastava, tecladistas como Jon Lord e Keith Emerson queriam mais...
Nos anos 80, comprávamos um álbum e, enquanto desfrutávamos o som da bolacha girando, apreciávamos, com cuidado, a capa do disco. Figuras e textos eram devorados e mensagens subliminares eram procuradas com dotes de Sherlock Homes. No entanto, os músicos - não os simples apreciadores - e principalmente os tecladistas, queriam saber detalhes do setup que o artista ou a banda tinha utilizado na gravação. Ali eram listados todos os equipamentos. E até mesmo as conexões MIDI, depois que esse protocolo surgiu, eram explicadas minuciosamente. Lembro-me de estar com a capa do álbum “Elektric Band” de Chick Corea nas mãos, assustado com o número de TX816, módulos
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do célebre Yamaha DX-7, que ele acionava por meio dos controladores MIDI KX-88 e KX-5. Eram tempos de muita criatividade e inúmeras novidades e, para músicos de verdade, a tecnologia da época não oferecia limites, mesmo que fosse tecnicamente limitada. Instrumentos de alto custo, como o Fairlight e o Synclavier, eram levados ao palco com o objetivo de expandir os horizontes musicais. Isso foi nos anos 80, mas quem começou essa história foram os tecladistas de bandas únicas e eternas dos anos 60 e 70, como Deep Purple e Emerson, Lake & Palmer, em um tempo em que o piano acústico e o órgão Hammond formavam a base dos arranjos.
teclas & afins
cultura hammond
Atitude rock- and- roll: performances inflamadas e sonoridades agressivas
Keith Emerson e ELP
As décadas de 1960 e 1970 foram produtivas e criativas não somente para a música e os músicos. Equipamentos e instrumentos também estavam sendo desenvolvidos e tecladistas opinavam diretamente ao fabricante sobre esses projetos. As sugestões e opiniões de Keith Emerson, por exemplo, direcionaram Robert Moog no desenvolvimento de seus sintetizadores. Foi na primeira metade dos anos 60, quando Emerson entrou para o s T-Bones, que ele começou a usar um órgão Hammond, intrigado que ficou com o instrumento depois de ouvir o organista de jazz Jack McDuff interpretar “Rock teclas & afins
Candy”. De início, adquiriu um Hammo nd L100, mas, logo depois comprou um modelo C3, que preferia ao B3 por ter as teclas mais duras. Nos anos 70, já na banda Emerson, Lake & Palmer, usou vários tipos de amplificadores valvulados e modelos de Leslie diferentes, assim como várias caixas Leslie simultaneamente. Ajustes diferentes de velocidade, soando ao mesmo tempo, davam um efeito potente e de uma abrangência ambiental sem igual, sonoridade essa que muitos, até hoje, tentam imitar. Emerson também utilizou alto-falantes rotatórios com três velocidades, slow, mid e fast, no lugar dos dois convencionais da Leslie. abril 2015 / 53
cultura hammond
Jon Lord e Deep Purple
Enquanto Keith Emerson foi o pioneiro no uso do sintetizador Moog no rock progressivo, Jon Lord aplicou o estilo hard rock ao Hammond, pois precisava de sonoridade e performance à altura da guitarra de Ritchie Blackmore, no Deep Purple. Para tal, geralmente usava distorção de válvulas (o volume dos amplificadores era elevado ao máximo provocando uma saturação no som que soava como distorção), com alto-falantes normais no lugar dos rotatórios da Leslie. Além disso, utilizou o ring modulator Maestro RM-1, considerado por muitos, o melhor e mais importante ring modulator já feito, cujo projeto contou com a colaboração de Tom Tom Oberheim e Bob Moog em parceria com a Maestro e a ARP. Esse recurso aparece no solo da música “Fireball”. Lord foi o primeiro a amplificar um Hammond por um cabeçote ca beçote de guitarra. A princípio utilizou um modelo da Marshall, M arshall,
mas também usou amplificadores Hiwatt. Essa timbragem pesada e industrial que imprimia ao órgão Hammond foi sua marca registrada. Tanto Keith Emerson quanto Rick Wakeman expressaram publicamente admiração pelo trabalho inovador de Lord no uso do órgão. No início de sua carreira, Lord usava um Hammond L100. Em 1968, comprou seu primeiro Hammond C3 e, cinco anos mais tarde, o trocou por outro C3, incumbindo seu técnico de fazer algumas mudanças. Uma delas foi embutir um piano RMI no Hammond, de forma que ele podia misturar os timbres. Lord também fez interações físicas do órgão com o sintetizador Moog. Esse instrumento permaneceu com ele até o ano de 2002, quando o passou para seu sucessor no Deep Purple, Don Airey. Mas em pouco tempo o instrumento não foi mais usado no palco, pois Airey alegou que estava velho.
Jon Lord: timbrage tim brage m pesa p esada da e indu i ndustr strial ial 54 / abril 2015
teclas & afins
cultura hammond
Mike Mik e Manga M angann e Barbara Bar bara Dennerl Den nerl ein: ein : tradi t radição ção e inova i novação ção
Herança
Organistas mais recentes, como a virtuosíssima Barbara Dennerlein, instalam o recurso MIDI em seus tonewheels para ter acesso, por meio dos teclados e da pedaleira do Hammond, a outros timbres, como vibrafone nos manuais e contrabaixo acústico nos pés. Outros, como Mike Mangan, contudo, respeitando a tradição de organista de hard rock, distorcem o som original do Hammond ao máximo. Mangan, da banda Big Organ Trio, segue o estilo teatral dos músicos dos anos 60 e 70, tocando o Hammond ao contrário ou colocando fogo no instrumento, além de
usar pedais de guitarra gu itarra como distorção, drive e wah-wah. Os puristas de estilo mais jazzístico podem torcer o nariz com esse Hammond distorcido, pois preferem a sonoridade mais acústica e amadeirada do velho tonewheel. Mas uma nova geração de organistas tem descoberto as infinitas possibilidades timbrísticas do órgão Hammond conectado a toda espécie de equipamentos, se mantendo vivo e ativo na música universal.
Jose Osorio Osori o de Souza Souz a Pianista de formação erudita, analista de sistemas de formação acadêmica, foi proprietário de estúdio e escola de música e Suporte Técnico da Roland Brasil. É tecladista da noite, compositor e escritor. Ama história e tecnologia dos sintetizadores e samplers, mas é apaixonado por teclados vintages, blues, rock progressi progr essivo vo e música mús ica de d e cinema. ci nema. Atualment Atua lmentee toca piano no Grande Gra nde Hotel Hot el Senac Se nac em e m Águas Água s de São S ão Pedro Ped ro (SP) (SP ) e atua como músico gospel na cidade de Itu (SP). teclas & afins
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HARMONIA E IMPROVISACAO
por turi collura
A harmonia da bossa nova Parte 3 Nas edições anteriores de Teclas & Afins , Afins , iniciamos o estudo estudo das características harmônicas da bossa nova. Temos observado que sua harmonia é obtida por meio do emprego de notas que enriquecem os acordes, como nonas, sextas, décimasterceiras etc. Nesta edição, iremos explorar outras características características interessantes desse gênero musical Clichês rítmico-harmônicos recorrent recorrentes: es:
Os clichês apresentados a seguir são caracterizados por encadeamentos de acordes por quintas descendentes: Exemplo 1
Observe o desenho realizado pela nota mais aguda de cada acorde. Note que se estabelece uma descida cromática, compost a pelas notas 13 e b 13 de G7, e, sucessivamente, pelas notas 9 e b9 de C 7. O exemplo seguinte mostra uma pequena variação, que introduz um acorde de dominante sus4,9: Exemplo 2
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teclas & afins
HARMONIA E IMPROVISACAO
Encontramos esse clichê, por exemplo, na música “Wave” (Tom Jobim):
Esse tipo de clichê rítmico -harmônico pode se repetir, envolvendo uma sequência mais extensa de acordes. Veja os próximos dois exemplos: Exemplo 3
O Exemplo 4 introduz os acordes de dominante sus4 ,9: Exemplo 4
O uso do acorde diminuto
Prosseguindo com o estudo das características harmônicas da bossa nova, podemos destacar o uso frequente de acordes diminutos. Vejamos os exemplos a seguir:
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abril 2015 / 57
HARMONIA E IMPROVISACAO
“Eu sei que vou te amar ” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes):
“Wave” (Tom Jobim):
Há mais um acorde que veremos aqui, o diminuto b13, bem característico da bossa nova. Vejamos os próximos exemplos: “Corcovado” (Tom Jobim):
“Minha namorada” (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes):
58 / abril 2015
teclas & afins
HARMONIA E IMPROVISACAO
Música para estudo:
Vamos colocar em prática as características que apresentei aqui em uma música. Observem na “Casa 1” o clichê rítmico -harmônico que estudamos antes:
“Copacabana 62”
A análise da transcrição do aco mpanhamento revela posições de acordes interessantes. Observem nela a busca pela manutenção das notas com uns, entre um acorde e outro. Espero que gostem bastante de tocar essa música, junto ao vídeo e à base de áudio disponibilizados com exclusividade para a revista Teclas & Afins .
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abril 2015 / 59
HARMONIA E IMPROVISACAO
“Copacabana 62” - Harmonização
60 / abril 2015
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HARMONIA E IMPROVISACAO
Até a próxima! Turi Collura Pianista, compositor, atua como educador musical e palestrante em instituições e festivais de música pelo Brasil. Autor dos métodos “Rítmica e Levadas Brasileiras Para o Piano” e “Piano Bossa Nova”, tem se dedicado ao estudo do piano brasileiro. É autor, também, do método “Improvisação: práticas criativas para a composição melódica”, publicado pela Irmãos Vitale. Em 2012, seu CD autoral “Interferências” foi publicado no Japão. Seu segundo CD faz uma releitura moderna de algumas composições do sambista Noel Rosa. Entre outras atividades, em 2014 Turi está ministrando cursos online em grupo, entre os quais os de “Piano Blues & Boogie”, o de “Improvisação e Composição Melódica” e o de “Bossa Nova”.
[email protected] - www.turicollura.com - www.pianobossanova.com
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abril 2015 / 61
arranjo comentado
por rosana giosa
Variação melódica na música pop O gênero pop, por sua simplicidade harmônica, convida a uma variação melódica - que alguns chamam de “fake” - ou mesmo a um improviso
O tema escolhido para este arranjo é um pop brasileiro de Ed M ota e Rita Lee: “Fora da Lei”. Assim como “Black and White”, publicado na edição de número 5 de Teclas & Afins, este tema tem como características a harmonia e a melodia relativamente simples e um balanço bem gostoso. Não é muito fácil transmitir todo o balanço de uma música pop, executada por uma banda, em um único instrumento como o piano. A mão esquerda trabalha dentro do possível, mas, se ela se movimentar ou variar demais, pode soar “pesada”. Por esse motivo, foi criado um padrão de acompanhamento que se repete por todo o arranjo, com exceção de algumas passagens e da parte B, em que a melodia é acompanhada por arpejos. Esse gênero de música, por sua simplicidade harmônica, convida a uma variação melódica - que alguns chamam de “fake” (imitação ou falsa melodia) - ou mesmo a um improviso (melodia mais trabalhada, mais livre e desapegada do tema). Neste arranjo, optei pela variação melódica ou fake. Trata-se de uma nova melodia que carrega motivos rítmicos do tema e, em alguns m omentos, até mesmo se mistura a ele. Dessa forma, o ouvinte pode sentir a melodia permeando essa variação e assimilá-la mais facilmente. Fora da lei
Há duas exposições do tema. 1ª. Exposição
Introdução: oito compassos sug erem o padrão rítmico que será usado, com os aco rdes do início do tema e com um motivo rítmico da melodia. A1: a esquerda faz o padrão rítmico que acompanha a melodia na maior parte do
tempo. A2: a melodia é executada 8ª a cima e, às vezes, em oitavas. B1: arpejos imprimem leveza a essa parte. A3: igual ao A1 com finalização na melodia. 62 / abril 2015
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2ª. Exposição A1 e A2 : variação melódica com motivos rítmicos na melodia iguais aos do tema e
algumas variações. B e A : repetir Coda: a direita faz acordes em tempos parecidos com os do tema. A esquerda desenha
arpejos com acordes de G7sus4 e GMaj7 na região médio/grave nos primeiros quatro compassos e os repete em mais quatro compassos na região grave para dar um peso ao final.
“Fora da Lei”
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Rosana Giosa Pianista de formação popular e erudita, vive uma intensa relação com a música dividindo seu trabalho entre apresentações, composições, aulas e publicações para piano popular. Pela sua Editora Som&Arte lançou três segmentos de livros:Iniciação para piano 1, 2 e 3 ;Método de Arranjo para Piano Popular 1, 2 e3 ; eRepertório para Piano Popular 1, 2 e 3. Com seu TriOficial e outros músicos convidados lançou o CD Casa Amarela, com composições autorais. É professora de piano há vários anos e desse trabalho resultou a gravação de nove CDs com seus alunos: três CDs coletivos com a participação de músicos profissionais e seis CDs-solo. Contato:
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