Um pequeno resumo d’O Suicídio, de Durkheim Durkheim trata o suicídio de forma não psicológica, mas de forma social, buscando padrões empíricos em diversas sociedades e seguindo um método comparativo. É daí que Durkheim consegue definir os 4 tipos de suicídio do ponto de vista sociológico (egoísta, altruísta , anômico e fatalista - e suas combinações). O suicídio egoísta - que resulta de uma individualização excessiva e cujo grau de integração do indivíduo na sociedade não se apresenta suficientemente forte; o suicídio altruísta - que ao contrário resulta de uma individualização insuficiente e o suicídio anômico - que se relaciona com uma situação de desregramento, típica dos períodos de crise, que impede o indivíduo de encontrar uma solução bem definida para os seus problemas, situação que favorece um sucessivo acumular de fracassos e decepções propícias ao suicídio. sociedades tradicionais onde a solidariedade mecânica prevalece.O último tipo de suicídio é o suicídio fatalista. Embora Durkheim o visse como de pouca relevância contemporânea, ele acreditava que isso acontece quando um indivíduo é regulado demais pela sociedade. A opressão do indivíduo resulta em um sentimento de impotência diante do destino ou da sociedade. Pela observação de estatísticas oficiais, este autor concluiu que o suicídio era mais freqüente nas comunidades protestantes que nas comunidades católicas, fenômeno que explicou através da noção de integração religiosa. No mesmo sentido, Durkheim verificou que o suicídio ocorria ocor ria menos entre os indivíduos casados que q ue entre solteiros, situação que, segundo ele, se explicaria através da noção de integração familiar. Neste trabalho, notou ainda que a taxa de suicídios s uicídios diminuía em períodos de grandes acontecimentos políticos, em que aumentava a coesão sócia-política sócia-p olítica em torno da idéia de nacionalidade. Isso não quer dizer que o suicídio seja ontologicamente um fato social, ele o é enquanto a sociologia o encara da maneira pautada pelo exposto pelo sociólogo. Assim, o suicídio é um fato social a partir do momento em que se pode enquadrá-lo nos termos do objeto típico da sociologia na visão de Durkheim e segundo as características intrínsecas desse objeto. Segundo Durkheim ainda que os humanos vejam a si mesmos como indivíduos que têm liberdade de arbítrio e de escolha, seus comportamentos são freqüentemente padronizados e moldados socialmente. Concordo, sim, que a sociedade molda e padronizam muitos dos nossos comportamentos, mas nem todas as nossas atitudes e atos são padronizados pela sociedade como afirma o sociólogo. Certamente que há suicídios que podem ser explicados por fatores sociais, mas, outros, no entanto é sim, um ato individual cuja sociedade não tem nenhuma responsabilidade. Ele relacionou sua explicação à idéia de solidariedade social e a dois tipos de laços dentro da sociedade - a integração social e a regulação social. Entendo que o sociólogo baseou seus estudos em estatísticas, e em parte, concordo com ele e que suas explicações, fazem sentido. Entretanto, percebo certo radicalismo nas idéias do autor sobre o suicídio. Entendo que o estudo do suicídio, que é um fenômeno especificamente individual, apesar de só em aparência, permitiu a Durkheim demonstrar as fortes relações entre o indivíduo e a coletividade. A partir destas observações, o sociólogo pôde assim concluir que o suicídio variava na razão inversa do grau de integração da sociedade religiosa, familiar e política. Um aspecto deixou de ser analisado no caso do suicídio, o indivíduo deve ser considerado como a causa matéria, mas somente os fatores são causas eficientes ou as causas realmente ativas do suicídio, ou, como somente os fatores sociais podem ser usados para dar uma explicação científica do suicídio? No entanto a investigação de Durkheim leva-nos a visualizar a maneira como tal fenômeno, tão aparentemente individual, desenvolve-se a partir de todo um complexo quadro social. Algumas primeiras pistas para isso é a constatação cons tatação de que toda sociedade apresenta apresen ta uma específica taxa anual de
suicídios. Em resumo, o texto o suicídio prima pela maneira que usa observações estatísticas para buscar na realidade aspectos de toda e qualquer cogitação de seu autor e por usar estes aspectos como guia fundamental às conclusões propostas. -------------------------------------------------------------------------------------------------------Por que o suicídio (ato individual) não foi estudado por Durkheim como um fenômeno do campo da psicologia? Durkheim poderia ter conduzido seu estudo sobre o suicídio seguindo os rumos da psicologia, no entanto acabaria por se deparar com um problema. Teria que encontrar no indivíduo os fatores responsáveis pelo ato suicida e, ainda mais, estes fatores deveriam estar desligados de influências externas de forma a caracterizar o suicídio como um ato unicamente individual - cujas origens e conseqüências são totalmente interiores ao indivíduo. E aí começariam os problemas. Fosse o suicídio de natureza unicamente individual suas taxas deveriam ser consideravelmente estáveis dentre diferentes sociedades. E é isso que mesmo uma primeira e relativamente rústica análise estatística já é capaz de desmentir. Durkheim não nega a participação de fenômenos psicológicos na ocorrência do suicídio, mas destaca que as características destes são socialmente determinadas e não inatas ao indivíduo. Por esta razão é que empreendeu seu estudo sem tratar o suicídio como um fenômeno do campo da psicologia. Talvez à primeira vez que se folheie o livro O Suicídio pode-se ter a impressão de tratar-se de um grande livro de dados estatísticos com alguns comentários, tal é o número de tabelas e de citações numéricas ao longo do texto. No entanto a profundidade dos estudos desenvolvidos por Durkheim vai muito além dos registros de dados numéricos. A estatística mostra-se como uma ferramenta poderosa ao pesquisador para poder observar a sociedade em seus detalhes; ferramenta necessária uma vez que de nossos recuados pontos de vista de cidadãos não conseguimos enxergar "a olho nu" os verdadeiros aspectos de algo tão grande e complexo como a sociedade. A existência de um tema central muito bem determinado já no título - o suicídio - não significa que trata-se de um livro que esquece o macrocósmico para tratar de aspectos particulares de um dado fenômeno. Pelo contrário, a partir do suicídio parte-se para uma investigação da natureza de toda a dinâmica social em variados aspectos. A escolha do suicídio como foco central da análise justifica-se ao longo do livro; trata-se de um fenômeno cuja constatação está além das "pesquisas de opinião". Não há como negar-lhe a ocorrência e, mais ainda, já era possível na época em que o livro foi escrito colher-se uma boa quantidade/qualidade de documentação a respeito, podendo-se assim criar uma base estatística confiável sobre a qual apoiar os estudos. Desde o início do livro é claro que o suicídio é um fenômeno cuja ocorrência, per si, é individual. No entanto as investigações de Durkheim lava-nos a visualizar a maneira como tal fenômeno, tão aparentemente individual, desenvolve-se a partir de todo um complexo quadro social. Algumas primeiras pistas para isso é a constatação de que toda sociedade apresenta uma específica taxa anual de suicídios. Fosse o suicídio conseqüência de algum tipo de loucura ou de disfunção mental, pergunta-se Durkheim, então seria de se esperar taxas anuais de suicídio razoavelmente semelhantes dentre as sociedades uma vez que a ocorrência do fenômeno seria guiada por uma aleatoriedade biológica e não por fatores externos. Podemos portanto dizer que um dos pontos mais importantes do livro é a forma pela qual Durkheim fundamenta a idéia de que fenômenos individuais estão relacionados à natureza da sociedade como um todo. Há por exemplo o relato de um caso onde uma jovem de 19 anos que se convenceu de que seu destino incluiria o suicídio quanto soube que um tio paterno havia se suicidado. Certa de que tal comportamento era hereditariamente transmitido, a garota foi tomada pela apreensão de que um dia o mesmo ocorreria com ela. E, conta Durkheim, a situação da garota se agrava quando seu pai comete
suicídio. No entanto, diante da aflição em que se encontra a moça, sua mãe resolve lhe contar que aquele não era seu pai verdadeiro, e leva a garota até aquele que o é. Convencida, dada a semelhança física, de que este era seu verdadeiro pai, as idéias sobre suicídio deixam a mente da garota. Um exemplo isolado, é verdade, no entanto extremamente didático. Nele notamos como nunca houve uma verdadeira pressão de uma suposta tendência inata e hereditária ao suicídio, ainda que a idéia da existência de tal pressão tenha provocado uma perigosa situação onde a pessoa se fez uma potencial vítima desta forma de morte. É portanto a força das convicções culturais, a maneira pela qual o indivíduo interage com o mundo administrando as informações exteriores a partir de métodos também aprendidos do mundo exterior que podem levá-lo a tão destacáveis situações. Em seguida podemos dar destaque à observação feita por Durkheim com relação a taxas de suicídio e graus de instrução. Entre estas duas medidas Durkheim nota uma relação de proporção direta, o que em primeiro momento sugere ao leitor que está para ocorrer a constatação de que quanto maior a instrução de um indivíduo maior sua propensão ao suicídio. No entanto não é isso que se conclui. Atenta-se aos detalhes para se chegar a uma observação importante: os dois fatores em questão não são um causa e outro conseqüência, mas ambos conseqüência de uma mesma causa. E realmente é uma observação de peso, uma vez que nos leva à conclusão de que uma determinada característica social pode conduzir a ações notavelmente distintas dentre os indivíduos. A maneira pela qual isso ocorre fica mais clara quando Durkheim examina os tipos de suicídio. Quando Durkheim faz a distinção entre suicídio altruísta e suicídio egoísta um dado muito importante está em questão - o grau de inserção de um dado indivíduo na sociedade. Este grau de inserção pode variar e, o mais importante, isto não está em contradição com a idéia de um indivíduo que é conseqüência de influências sociais. Pois, poderiam perguntar como pode um indivíduo não se encontrar devidamente inserido em uma sociedade se seu quadro psicológico é conseqüência desta e não produto? O ponto aqui é que podemos visualizar o indivíduo e a sociedade ao seu redor como caminhando paralelamente, o que não quer dizer necessariamente que estão caminhando num mesmo ritmo. Em outras palavras, uma sociedade em constante processo de mudanças pode condicionar a formação de um determinado tipo de indivíduo que não se adequará a suas formas futuras. Esse cenário dinâmico gerará diferentes quadros que podemos caracterizar como diferentes situações de coesão social. A formação social de um indivíduo imprime nestes um quadro distinto de necessidades psicológicas, sendo que a satisfação ou não destas tem o poder de mudar drasticamente a forma de agir deste indivíduo. (seção VI, capítulo III, livro II) Em resumo, o livro O Suicídio prima pela maneira que usa observações estatísticas para buscar na realidade aspectos de toda e qualquer cogitação de seu autor e por usar estes aspectos como guia fundamental às conclusões propostas. A dinâmica social exposta no livro nos mostra como a sociedade como um todo está diretamente relacionada com fenômenos que comumente chamamos de "individuais", esclarecendo-nos assim um pouco mais sobre o problema de como se dá a relação indivíduo-sociedade e sociedade-indivíduo. ______________________________________________________________________________ De Émile Durkheim Índice
Introdução
Suicídio Fatores
interiores
e
exteriores
ao
-
individuo: Loucura
-
Grupo
social
-
Moral
-
Ordem
social
Religião Parecer
de
Condições A Os
Durkheim
Sociais família três
e como tipos
e Posição factor de
Weber Social moderador suicídio
Conclusão Bibliografia
Introdução
Este trabalho, visa explicar o suicídio enquanto fenômeno social, intemporal e universal. Para isso se demonstrará que este ato individual pode ser analisado a partir do contexto coletivo, através da análise sociológica durkhiemiana. Tentarei ainda demonstrar quais as causas de mau estar geral que se faziam sentir na época, e que revelavam assim uma ruptura clara de laços sociais, ruptura a qual Durkheim queria dar resposta para poder constatar quais eram os laços que uniam os indivíduos entre si. Assim, abordarei ainda temas influentes como a religião, a ordem social, a família e a moral, a fim de poder depreender o que leva o indivíduo a cometer tal injúria sobre si próprio. Terei também em conta os três tipos de suicídio, utilizados por Durkheim para uma melhor caracterização dos mesmos, falo assim do Suicídio Egoísta que se caracteriza por um estado de apatia e ausência de qualquer apego a vida, do Suicídio Altruísta ligado a energia e a paixão e, por fim, o Suicídio Anômico caracterizado por um estado de irritação e repulsa. Farei também, uma breve referência ao homicídio e o que leva os indivíduos a sacrificarem-se a si
próprios
ou
aos
outros.
Por fim, será ainda realizado ao longo do trabalho, um pequeno confronto com a perspectiva weberiano acerca das seitas religiosas e do protestantismo ascético.
Suicídio Para perceber o suicídio na perspectiva durkhiemiana teremos de nos abstrair de todas as idéias preconcebidas que por vezes absorvemos do senso comum. É imperativo referir que esta forma de acabar com a própria vida não é explicada apenas por fatores interiores ao indivíduo (como a loucura), mas também, e principalmente segundo Durkheim, por fatores exteriores ao indivíduo (a sociedade na qual se insere). O suicídio é, antes de mais, um indicador do estado moral da sociedade, que embora seja sublime e subjetivo, mostra-nos que forças de ação individuais e coletivas atuam em sociedade e em que grupos predominam. O meio social determina, portanto, as características, os valores e normas sociais, que embora sejam comuns numa sociedade, ganham maior ou menor adesão em cada grupo social. Só assim se explica o maior ou menor interesse do indivíduo pela vida, que numa etapa mais aguda pode ser uma das causas ocasionais do suicídio. Conquanto todos os ideais, crenças, hábitos e tendências comuns que constituem o meio social são independentes entre si, no entanto propendem para diferentes graus de coesão social e conseqüentemente para uma diferente tendência coletiva do suicídio. Segundo Durkheim, só pode haver tipos diferentes de suicídios se as causas a que estão ligadas sejam diferentes, ou seja, para que cada uma tenha uma natureza própria, é necessário que tenha também, condições de existência que lhe seja específica. “ Em resumo, a nossa classificação, em vez de morfológica, será, logo à primeira vista, etiológica. Não se trata, aliás, de uma inferioridade, pois penetra-se muito mais na natureza de um fenômeno quando se conhece a causa do que quando se conhece unicamente as características, mesmo essenciais.”(Durkheim,pag.145). No entender do autor não existe nenhuma relação constante entre a neurastenia e a taxa social dos suicídios, pois este ato que põe fim à vida apenas pode ser compreendido através de uma análise sociológica. É a partir da constituição moral própria de cada sociedade que poderemos apurar os fatos que levam os suicídios a terem taxas mais altas em diferentes épocas do ano, a variarem consoante o estado civil do indivíduo, da idade, sexo, etc. Cada grupo social é provido de diferentes energias, que se primeiramente nos parecem apenas cingidas à personalidade individual, depois de uma segunda observação deparamo-nos com um seguimento do estado social em que atuam. Vai ser, então, a constituição moral da sociedade que vai determinar o número de suicídios e qual a índole (egoísta, altruísta e anômica) que o influencia, conduzindo o individuo ou à melancolia langorosa, ou ao renunciamento ativo ou ainda à lassidão exasperada, recorrendo aos termos de Durkheim. Na sua obra, o autor contrariou ainda, as ciências clínicas ao dizer que não é a loucura, a depressão ou o desconforto econômico que levam os indivíduos a acabarem com a sua vida, estes estados apenas são o cume do mal-estar social em que vivem. Assim, enquanto a sociedade não se alterar o número de suicídios vai ser constante, isto é, a taxa de suicídios vai acompanhar a evolução da sociedade, uma vez
que comparando o suicídio com os outros tipos de mortes, este vai ser estável durante um certo período de tempo. Contudo não podemos dizer que o suicida é um “herdeiro moral” do número de suicídios precedentes, pois este não teve contacto com a mesma natureza que os seus antecessores, na medida em que as tendências coletivas possuem especificidades que lhes são próprias tanto num contexto temporal como social. Esta natureza difere porque os indivíduos enquanto forças ativas da sociedade vão progredindo enquanto seres psíquicos e sociais, descobrindo novas formas de pensar e sentir, “(…) posto de lado o individuo, o social não é nada.”, (Durkheim, pág.332).
Religião A religião desempenha um papel primordial na descodificação de símbolos para a tomada de consciência da sociedade, pois enquanto elemento agregador de todas as naturezas individuais, a sociedade produz diversos estados mentais dentro das consciências coletivas. Esta diversidade do social não é apenas única no campo da religião, onde encontramos diferentes tipos de indivíduos com vista ao mesmo fim, é também partilhada nas modas, na moral, isto é, em todas as formas de vida coletiva. Numa perspectiva weberiana no que concerne às seitas religiosas, teria de existir uma uniformidade geral de princípios para delas os indivíduos fazerem parte, teriam de responder a um certo número de exigências, principalmente no campo moral e religioso e uma garantia ética no que respeita ao ascetismo protestante. A sociedade necessita também de outros elementos para a sua subsistência, para além dos indivíduos. Entramos, portanto na materialização da sociedade, pois a vida social cristaliza-se nos em suportes materiais, e os fatos sociais começam a agir sobre nós a partir do exterior. A sociedade caminhará para a produção de uma consciência coletiva que dará precedência ao interesse comum, em detrimento do particular (os prescritores de novas tendências), “Portanto, a corrente coletiva é quase exclusivamente exterior às consciências particulares (…), (Durkheim, pág.337). Durkheim compara a consciência coletiva com Deus, dado que se o homem tenta imitar o seu criador, esta reprodução é feita de modo fraudulento e descurado, logo a consciência individual é uma imagem “pálida” da consciência coletiva. Weber refuta que no século XIX nos EUA o capital estava entregue na sua maioria aos puritanos e não era concedido crédito aqueles que não detinham os princípios morais da religião. Os capitalistas sentiam-se desfraldados de conceder uma oportunidade de vida àqueles não eram crentes, “Porque razão há-se ele pagar-me se não acredita em nada?”, (Weber, pág.197). Qualquer concepção de idéia moral terá de aliar o egoísmo, o altruísmo e a anomia, sendo que o peso de cada um destes elementos variará de sociedade para sociedade. O indivíduo terá assim de se dotar de suficiente personalidade para poder renunciar ao peso preestabelecido destes três elementos até um novo momento de harmonia, onde se pressupõe que afaste qualquer pensamento suicida. Existem, assim, três fatores que pressupõem que o indivíduo não irá sobrepor a intensidade de um destes elementos em detrimento de outro: primeiramente, a própria natureza geral dos indivíduos que compõem uma sociedade; por outro lado, a maneira como estes estão articulados, isto é, essência da organização social; e ainda os casos efêmeros que deturpam o funcionamento da vida coletiva sem mudar a sua constituição anômica. Assim, podemos afirmar que o número de suicídios só se irá alterar
se as condições sociais variarem, se estas permanecerem constantes a sociedade naturalmente também não irá mudar. .Depois disto, e apesar de todas as disparidades, cheguei a uma conclusão interessante entre os dois autores, embora sobre temas diferentes e abordados sobre uma óptica oposta. Durkheim salienta que quanto maior o grau de coesão social menor será a tendência para o indivíduo por termo à própria vida. Weber diz-nos que quanto maior era a coesão nas comunidades da Nova Inglaterra, maior era o alargamento urbano e a densidade populacional, e a ligação entre os indivíduos protestantes era fortificada pela freqüência de seitas e associações, o que leva a depreender que essa ligação reduzia o numero de suicídios. Todavia, na sociedade francesa de Durkheim, onde a maioria dos indivíduos eram católicos e em que a ida à Igreja é apenas semanal, nas zonas urbanas é mais comum o suicídio do que nas zonas rurais, uma vez que a individualidade é mais acentuada. Por fim, é também importante frisar que este pensamento que foi aqui desenvolvido, de certa forma tem vindo a destituir se pois, as religiões, começam a perder o seu poder de coação social, nas sociedades modernas,” (…) já não são no mesmo grau em que o foram no passado escolas sem disciplina.” Raymond Aron, pag.334).
Condições
sociais
e
posição
social
No IV capítulo da obra de Durkheim, O Suicídio, o autor faz referência às condições sociais de cada indivíduo, se as condições sociais puderam ou não exortarem ao suicídio. O autor justifica com vários acontecimentos ocorridos em diferentes culturas. Através destes acontecimentos o autor constatou que a posição social exerce alguma influência sobre o suicídio, pois, em sociedades menos institucionalizadas o número de suicídios é mais elevado. Para Durkheim, as instituições ou corporações de que fala nesta obra ou em outras como “A divisão do trabalho social”, são conceitos já considerados um pouco retrógradas, mas que “no fundo acabam por responder às (…) exigências da sociedade atual (…)” (Raymond Aron, pag. 334), logo, e segundo o próprio autor, é necessário que existam para que o próprio individuo através dessas mesmas instituições, por exemplo um grupo profissional, tenha uma maior proximidade com a sociedade onde esta inserido. “O único grupo social que pode favorecer a integração dos indivíduos na coletividade é pois a profissão ou (…) a corporação” (Raymond Aron, pag.334). Encontramos aqui uma semelhança entre as perspectivas do autor francês e do autor alemão, uma vez que este último chama a atenção para uma série de constrangimentos que podem surgir quando um individuo está numa determinada posição social, e não pode usufruir do poder que essa posição lhe confere, dando-nos até um exemplo prático, “Conheci casos de suicídio devido à recusa de admissão num clube”, (Weber, pág.201). Com isto o que queremos dizer é que quantas mais aptidões escolares, poder econômico e social tem o indivíduo, maior é a tendência que o mesmo tem para o suicídio. O indivíduo tem cada vez mais o carecimento de estar a altura das exigências da posição social que ocupa, o que faz com que o mesmo esteja sob grande pressão, e acabe assim de certa forma por perder o interesse pelos seus objetivos, levando-o desta forma ao suicídio.
A Os
família
como
fator
três
tipos
de
moderador suicídio
A família é também um assunto abordado por Durkheim, tendo a mesma, segundo o autor, uma função moderadora no que diz respeito ao suicídio. Para melhor compreender este ponto é necessário explicitar a questão das idades, ou seja, o maior número de suicídios ocorre entre os vinte e os trinta anos, segundo o autor, é neste período de tempo, que se possui uma menor força moral, pois esta entregue a si próprio, enquanto que no seio familiar o individuo esta sujeito a força benéfica que esta exerce sobre o mesmo. No que concerne ao homicídio, um termo que o autor usa como comparação, a família não tem um poder de persuasão tão elevado como deveria ter, o que por vezes leva a que exista um maior número de homicídios dentro da mesma. Com isto poderia dizer que, não é o fato de se estar casado mas sim de se ser mais velho, logo nestes casos de “vida doméstica” pode se suscitar um número mais elevado de homicídios, pois a força moral exercida pela família sobre os membros que a compõem é bastante elevada, esta deveria afastá-los do homicídio, mas por vezes, se não na sua maioria é a causa para que o mesmo decorra. Entre estes dois termos, suicídio e homicídio, existem segundo ao autor, alguns pontos comuns mas também contraditórios. Assim, para que exista uma melhor percepção e harmonização entre os mesmos o autor recorreu aos três tipos de suicídio.
O suicídio egoísta, é aquele que se encontra com uma maior freqüência, este tipo de suicídio é “ (…) caracterizado por um estado de depressão e de apatia, fruto de um individualismo exagerado.” (Durkheim, pág.381). Neste tipo de suicídio o indivíduo, deixa de ter uma ligação tão forte com a sociedade, pois a vida que o individuo gostaria de ter já não corresponde a realidade existente, este pensa ser superior a mesma, pois para ele o que a sociedade lhe oferece já não o satisfaz, fazendo assim com que o individuo viva “ (….) no meio do tédio e do aborrecimento (….) ” (Durkheim, pág.381). O suicídio egoísta é, o estado em que o Eu individual se afirma desmesuradamente diante do Eu social, isto sucede pois tal ato é tolerado pelo Eu social, permitindo assim que a afirmação do Eu individual prevaleça, resultando assim, numa individualização desmedida. No fundo isto acaba por ser uma contradição, pois o indivíduo deveria sentir-se realizado consigo mesmo, por se sentir superior, digamos assim, a sociedade a que pertence, mas em vez deste sentimento de auto realização acontece o oposto, ou seja,”(… )o vinculo que liga o homem à vida se distende, é porque o vínculo que o liga à sociedade também se distendeu.” , acabando assim por levar o individuo ao suicídio. A situação torna se diferente quando falamos de homicídio, este, segundo o autor é um ato violento, o
homicida não se sente a altura da sociedade onde habita tendo por isso a necessidade, de eliminar o indivíduo que este pensa estar acima dele.
No suicídio altruísta o suicídio e homicídio, como é mencionado pelo autor ” (…) podem perfeitamente caminhar lado a lado, porque dependem de condições que diferem por uma questão de grau (…) ” (Durkheim, pág.382) este tipo de suicídio é caracterizado por uma integração social desmedidamente forte, pois o individuo pode suicidar se por estar desinstitucionalizado da sociedade que o acolhe mas também pode fazê-lo caso esteja demasiado integrado nela. Este tipo de suicídio é característico, segundo o autor, das sociedades primitivas onde o individualismo é muito fraco, mas subsiste ainda nas sociedades modernas, como por exemplo na sociedade militar, onde a número de suicídios é mais elevado devido a pressão hierárquica que se impõe fortemente ao indivíduo. Por fim, mas não menos importante, o suicídio anómico, ao qual o autor concede uma maior importância, corresponde no fundo a uma falta de regulação social opondo se assim ao suicídio altruísta que se caracteriza por uma regulação social excessiva como tínhamos visto anteriormente.
No suicídio anômico também existe a possibilidade de uma ligação entre suicídio e homicídio pois como diz o autor, ” (…) a anomia provoca um estado de desespero e de cansaço exasperado que pode (…) virar-se contra o próprio individuo ou contra outrem (…)” (Durkheim, pág.383) logo pode levar tanto ao suicídio como ao homicídio, o que difere entre eles é a “ (…) constituição mora l (…)” (Durkheim, pág.383) que cada individuo possui. O suicídio anômico é o tipo de suicídio que ocorre com uma maior freqüência nas sociedades modernas. Este esta estreitamente ligado a um grande desenvolvimento, principalmente na área industrial e comercial onde este tipo de suicídio ocorrer com uma maior freqüência. Durkheim considera ainda que, este tipo de suicídio é particularmente preocupante nas sociedades modernas, visto que esta estreitamente ligado à falta de controlo que existe nas sociedades e que estas exercem sobre o individuo.”Nestas sociedades, a existência social não é regulada pelo costume; os indivíduos estão em competição permanente uns com os outros; esperam muito da existência e exigem muito dela, e encontram-se perpetuamente rondados pelo sofrimento que nasce da desproporção entre as suas aspirações e as suas satisfações.”(Raymond Aron, pag.331) Conclusão A partir da análise tentei evidenciar a influência que a sociedade exerce sobre o indivíduo, e uma vez que esta se modifica o indivíduo terá de possuir os meios necessários para a poder acompanhar, isto é, situar-se individualmente dentro do colectivo, para não se abater num estado anômico. Durkheim levou esta perspectiva ao extremo desenvolvendo um estudo sociológico com base nas estatísticas francesas do suicídio, e chegando à conclusão que as forças majoritárias que levam o indivíduo a terminar com a própria vida são exteriores, isto é, o meio social em que este se encontra é que vai determinar o
desfecho da sua vida.”As causas reais do suicídio são forças sociais que variam de sociedade para sociedade, de grupo para grupo, de religião para religião. Emanam do grupo e não dos indivíduos tomados um a um.” (Raymond Aron, pag.331). O autor caracterizou três tipos diferentes de suicídio, anômico, egoísta e altruísta, e as razões pelas quais praticam um e não outro, baseando-se em características tão dispersas como o sexo, a religião, a família, a posição social, só para citar algumas. Elaborei, ainda, uma breve critica à margem do pensamento weberiano. Podendo, portanto, afirmar que é a sociedade que faz os indivíduos, fazendo-os à sua imagem e similitude.