UNIVERSIDADE GUARULHOS CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Via metabólica predominante utilizada para suprir a demanda energética de um atleta de capoeira em uma volta na roda (um jogo) com duração de dois minutos.
JOSÉ MESSIAS RODRIGUES DA SILVA
Guarulhos
2007
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José Messias Rodrigues da Silva
Via metabólica predominante utilizada para suprir a demanda energética de um atleta de capoeira em uma volta na roda (um jogo) com duração de dois minutos.
Monografia Monografia para Trabalho de Graduação Integrado apresentado ao Curso de Educação Física, da Universidade Guarulhos, como parte dos requisitos para a obtenção do titulo de Educador Físico. Orientador do Projeto:
Prof. ( Ms.) Ronaldo M. Mello
Guarulhos 2007
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José Messias Rodrigues da Silva
Via metabólica predominante utilizada para suprir a demanda energética de um atleta de capoeira em uma volta na roda (um jogo) com duração de dois minutos.
Monografia Monografia para Trabalho de Graduação Integrado apresentado ao Curso de Educação Física, da Universidade Guarulhos, como parte dos requisitos para a obtenção do titulo de Educador Físico. Orientador do Projeto:
Prof. ( Ms.) Ronaldo M. Mello
Guarulhos 2007
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Dedico esse trabalho a pessoas maravilhosas, que sem elas não teria importância minha vida acadêmica. - Minha família pelo o apoio e compreensão durante os momentos inoportunos. - Ao meu Mestre de capoeira Curió, por ter me ensinado essa arte com toda sua paciência, com tanto amor e dedicação.
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AGRADECIMENTOS Agradeço a deus por ter me abençoado e me iluminado durante toda minha vida.
Agradeço do fundo do meu coração a minha irmã Maria Isabel, por ter me dado à oportunidade, e ajudado a realizar um sonho de ingressar e concluir um curso superior.
Agradeço a todos meus colegas de classe por terem compartilhados momentos bons e ruins durante 4 anos. Em especial aos meus amigos Alexandre Benedito, Marcelo Tomio, Marcelo Bomfim, Max Alexandre, Antonio Neves, sendo as pessoas que mais contribuíram na minha formação acadêmica.
Agradeço ao meu professor orientador: Ms. Ronaldo M. Mello pela sua paciência e contribuição em minha monografia.
Agradeço a todos os amigos capoeiristas que amam e lutam pelo desenvolvimento dessa arte maravilhosa.
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RESUMO A área da fisiologia do exercício na capoeira ainda é pouco explorada, o que é lastimável, pois a falta de estudos fisiológicos que ocorrem especificamente no jogo da capoeira, acaba dificultando no momento da prescrição de um treinamento, onde em alguns casos, treina-se erroneamente não atingindo o desenvolvimento físico necessário para o atleta competir. O que se nota nas competições é a falta de condicionamento dos atletas para suportarem o estresse fisiológico que é submetido no período de dois minutos de competição, tanto no jogo de capoeira angola como no jogo de capoeira regional, devido à alta intensidade que é gerada ao corpo durante a atividade. Contudo, através deste trabalho, procuramos estudar o caminho específico que o organismo escolhe para o fornecimento de energia, em uma competição de dois minutos, de maneira que, possa auxiliar profissionais da área de Educação Física com o embasamento da Fisiologia do Exercício no que diz respeito à montagem de um programa de treinamento, utilizando estímulos apropriados para o aumento da performance de seus atletas.Utilizamos o modelo de revisão bibliográfica, de maneira que a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi estudado, mas sim, o fornecimento de dados relevantes que propicie novo enfoque e/ou conclusões inovadoras sobre o tema ou fenômeno estudado. Com os estudos realizados nota-se que o técnico (treinador) utilizando o conhecimento da fisiologia do exercício, prescrevendo exercícios que atinja á intensidade especifica que engloba o jogo da capoeira, pode melhorar significativamente o desempenho de seu atleta, incluindo benefícios voltados à qualidade de vida, reduzindo vários riscos de lesões que o esporte pode lhe causar. Espero que com os esclarecimentos prestados por essa monografia, tenha gerado mais duvidas para quais, as respostas necessitarão de uma continuidade de estudo sobre o tema proposto, sendo que este trabalho acadêmico sirva de inspiração para que amantes da
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capoeira e da fisiologia do exercício, na tentativa de resoluções de novos problemas relacionados com os apresentados nessa monografia.
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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 9 1.2 OBJETIVOS................................................................................................................. 11 1.3 Justificativa................................................................................................................... 11 1.4 Unitermos..................................................................................................................... 12 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 A capoeira e suas Origens.......................................................................................... 13 2.2 - Mestre Bimba e a capoeira regional Baiana.......................................................... 17 2.3 - Mestre Pastinha e a Capoeira Angola.................................................................... 19 2.4 Evolução histórica e organizatória do código Desportivo da capoeira................... 20 2.5 Tipos de Fibras e Exercício......................................................................................... 22 2.6 Substratos para o Exercício........................................................................................ 25 2.7 Bioenergética................................................................................................................ 28 2.8 Fosfato de Alta Energia................................................................................................29 2.9 Produção anaeróbica de ATP..................................................................................... 29 2.10 Via Glicolitica............................................................................................................. 30 2.11 Produção aeróbica de ATP....................................................................................... 31 2.12 Interação entre a produção Aeróbica/ Anaeróbica de ATP................................... 31 2.13 Respostas Metabólicas ao Exercício: Influencia da Duração e da Intensidade... 32 2.14 Exercício Intenso de Curta Duração........................................................................ 32 2.15 Bioenergética na pratica da capoeira....................................................................... 33 2.16 Treinamentos dos Sistemas Energéticos Anaeróbicos e Aeróbicos....................... 34 2.17 Treinamento Anaeróbico sistema do ATP-PCr..................................................... 34 2.18 Sistema Glicolítico (Acido Lático)............................................................................ 36 2.19 Treinamento Aeróbico............................................................................................... 36 2.20 Demanda metabólica em exercícios intermitentes.................................................. 38
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2.21 Aptidão Muscular na Capoeira.............................................................................. 39 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 43 ANEXOS........................................................................................................................... 46
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1 - INTRODUÇÃO No Brasil, a partir da década de 1960, a capoeira vem sendo disseminada no contexto educacional, desde o ensino fundamental até as universidades (Falcão et al, 2005). Nesse complexo movimento, às vezes como disciplina curricular, às vezes como projeto de extensão, ou simplesmente como atividade extra-classe, ela vem despertando interesse jamais verificado anteriormente, por parte da comunidade educacional institucionalizada. Nos últimos anos, ela tem encontrado, nas universidades, um ambiente fértil para se disseminar e têm sido bastante utilizada como objeto de pesquisa pelas mais diversa áreas do conhecimento (Falcão et al, 2005). Segundo Vieira (2005), após três décadas de expansão no Brasil e no Exterior, a capoeira tornou-se uma das principais praticas esportivas do país, contando com um total estimado de seis milhões de praticantes em cerca de 35 mil núcleos de ensino em todas as regiões brasileiras.Há também 24 federações estaduais e 92 ligas regionais e municipais, vinculadas a Confederação Brasileira de Capoeira.Por sua vez a Federação Internacional de Capoeira já soma sete federações nacionais (Canadá, Argentina Portugal, Holanda, França, Alemanha e Austrália). Além de identificar a presença da luta em outros 156 países. Ademais, afirma Falcão et al. (2005), a capoeira já se encontra presente, na condição de componente curricular, em cerca de vinte universidades brasileiras, dentre elas, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade de São Paulo (USP), sendo que, desde a década de oitenta do século XX, vem sendo apropriada por várias áreas científicas enquanto objeto de estudo, citando, por exemplo, a História, (Salvadori, 1990; Soares, 1994 e 2001; Pires, 1996 e 2001), a Antropologia, (Rego, 1968; Reis, 1993) a Sociologia (Tavares, 1984; Vieira, 1990) e também a Educação Física, (Abib, 2004, Bruhns, 1998; Castro Junior, 2002; Falcão, 1994 e 2004; Santos, 1990, 2002; Silva, 2002).
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A área da fisiologia do exercício na capoeira ainda é pouco explorada, o que é lastimável, pois a falta de estudos fisiológicos que ocorrem especificamente no jogo da capoeira, acaba dificultando no momento da prescrição de um treinamento, onde em alguns casos, treina-se erroneamente não atingindo o desenvolvimento físico necessário para o atleta competir. O que se nota nas competições é a falta de condicionamento dos atletas para suportarem o estresse fisiológico que é submetido no período de dois minutos de competição, tanto no jogo de capoeira angola como no jogo de capoeira regional, devido à alta intensidade que é gerada ao corpo durante a atividade. Sabendo da grande contribuição que o conhecimento da fisiologia do exercício pode proporcionar aos atletas, com embasamento em estudos que abordam treinamentos de atletas fundistas, maratonistas, nadadores, judocas e da falta de pesquisas cientificas que abordam o assunto, com esse trabalho pretendo discernir a via metabólica predominante que é utilizada por um atleta de capoeira, em uma volta na roda (um jogo) com duração de dois minutos. Analisar por meio do conhecimento da fisiologia do exercício, se é possível aumentar o desempenho do atleta para competição ou para suportar o cansaço gerado no decorrer das voltas na roda (jogo), priorizando a prescrição adequada do exercício. Assim sendo, amparar profissionais da área com respaldo cientifico para que possam aperfeiçoar os treinamentos de seus atletas em busca de preparo físico adequado para suportarem o tempo das voltas (jogo) , sem desgaste que possa atrapalhar seu desempenho.
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1.2– OBJETIVOS Geral Discernir a via metabólica predominante no jogo da capoeira, auxiliando os técnicos (treinadores) com respaldo cientifico, para que possam aperfeiçoar os treinamentos de seus atletas em busca de preparo físico adequado para suportarem o tempo que dura cada volta.
Específicos Estudar a via metabólica predominante que o organismo utiliza para o fornecimento de energia, em uma competição de dois minutos, de maneira que, possa auxiliar Técnicos (Treinadores) e profissionais da área de Educação Física, com o embasamento da Fisiologia do Exercício no que diz respeito à montagem de um programa de treinamento físico, focando a intensidade o jogo para o aprimoramento da performance dos atletas para competirem.
1.3- Justificativa: Nos últimos anos a capoeira obteve um grande aumento nos números de seus praticantes (Vieira, 2005). Com uma constante divulgação por parte da mídia, sendo até mesmo utilizada nas escolas como conteúdo disciplinar, devido á autonomia proporcionada pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação – Lei n. 9.394/96, estruturando a capoeira como conteúdo da Educação Física escolar e no Ensino Médio. A capoeira vem conquistando um enorme espaço dentre as atividades mais praticadas, por isso houve a necessidade de uma melhor organização por parte dos órgãos responsáveis por sua jurisdição, aumentando assim o número de competições nacionais e internacionais, com premiações cativantes, o que e aumenta cada vez mais o número de competidores. Com tudo isso é freqüente observamos em competições, atletas que não conseguem um bom desenvolvimento, por não suportarem o estresse fisiológico, que são submetidos durante as voltas (jogo), muitas fezes por falta de uma boa orientação profissional durante a fase preparatória. Consciente desse problema, e sabendo que são poucos estudos que abordam
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esse assunto, através desse presente estudo, torna-se possível discernir á via metabólica predominante no jogo da capoeira, com o objetivo de amparar profissionais da área com respaldo cientifico para que possam aperfeiçoar os treinamentos de seus atletas em busca de preparo físico adequado para suportarem o tempo estipulado pela federação, sem desgaste que possa atrapalhar seu desempenho nas competições, pois é freqüente se deparar com atletas em competições, com o condicionamento físico inadequado para competir, seja por falta de treinamento proporcional ao nível de estresse exigido pela luta, ou por falta de embasamento teórico especifico para auxiliar o treinador (técnico) na prescrição dos exercícios preparatórios.
1.4 - Unitermos Para haver maior aprofundamento quanto à busca na literatura, inicialmente nos baseia em três palavras chaves: Capoeira – Bioenergética – Vias metabólicas.
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2 – REVISÃO DA LITERATURA 2.1 A capoeira e suas Origens Dá-se o nome de Capoeira, a um jogo de destreza que tem as suas origens "remotas" em Angola (Menezes, 1978). Era antes uma forma de luta muito valiosa na defesa da liberdade de fato ou de direito do negro liberto, mas tanto a repressão policial quanto as novas condições sociais fizeram com que, à cerca de cem anos, se tornasse finalmente um jogo, uma vadiação entre amigos. Com esse caráter inocente, a capoeira permanece em todos os estados . do Brasil. Foi durante a escravidão que o jogo de Angola começou a crescer e chegou à maioridade no Brasil (Menezes, 1978). Em termos esportivos trata-se de um jogo de expressão corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em dupla, baseando em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança, esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando de uma forma geral, como uma atividade lúdica. Segundo (Gonçalves, 1960) a capoeira é luta de dançarino. È dança de gladiadores. É duelo de camaradas. É jogo, é bailado, é disputa, simbiose perfeita de força e ritmo, poesia e agilidade. Única em que os movimentos são comandados pela música e pelo canto. A submissão de força ao ritmo, da violência à melodia, a submissão dos antagonismos. De acordo com (Vieira, 2005) a capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. A origem da capoeira se africana ou brasileira é motivo de discussão até os dias de hoje. Mesmo as figuras mais representativas como mestre Bimba (1900-1974) e mestre
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Pastinha (1889-1981) divergiam a esse respeito, “Os negros, sim eram africanos, mas a capoeira
é
de
cachoeira,
Santo
Amaro
e
ilha
africano
quem
de
Maré”
(mestre Bimba, s.d ) “(...)
capoeira
veio
da
África,
lutou
(...)”.
(mestre Pastinha, s.d.) As opiniões tendem para o lado brasileiro, e aqui vão alguns exemplos: no livro A Arte da Gramática de língua mais usada na Costa do Brasil do Padre José de Anchieta, editado em 1595, há uma citação de que os índios Tupi-Guarani divertiam-se jogando capoeira. O navegador Português Martim Afonso de Sousa, observou tribos jogando capoeira. Num trabalho que foi publicado pela XEROX do Brasil, o professor austríaco Gerhard Kubik, antropólogo e membro da associação mundial de folclore e profundo conhecedor de assuntos africanos, diz estranhar que o brasileiro chame capoeira de Angola, quando ali não existe nada semelhante. Por fim, Câmara Cascudo, afirma ter sido trazida pelos banto-congo-angoleses que praticavam danças litúrgicas ao som de instrumentos de percussão transformando-se em lutas aqui, no Brasil, devido à necessidade de defesa destes negros (Menezes, 1978). Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na pratica. Uma coisa, no entanto é certa: independente de ter nascido no Brasil ou na África, não existe dúvidas de que a capoeira é uma criação dos africanos e seus descendentes (Vieira, 2005). Se há duvidas quanto ás origens, em relação ao vocábulo “capoeira” as incertezas são maiores ainda. Waldeloir Rego no excepcional capoeira angola, nos conta que o vocábulo foi registrado pela primeira vez em 1712 (no vocabulário português e latino, de Rafael
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Bluteau) e em 1813 (dicionário da língua portuguesa), e que depois disso entrou no terreno da polêmica e da investigação etimológica, envolvendo nomes como José de Alencar, Beaurepaire Rohan e Macedo Soares. Alencar, por volta de 1880, propunha que o vocábulo vinha do tupi caa-apuam-era ilha de mato já cortado; Beaurepaire propunha o tupi co-puera, roça velha; Macedo Soares refutava ambos com violência, propondo o guarani caápuera, mato miúdo que nasceu no lugar de mato virgem que foi cortado. Quanto ao vocábulo no sentido do jogo de capoeira, as suposições são também variadas: por se dizer que o negro fujão “caiu na capoeira”, ou que o escravo fugido procurava a capoeira, mato ralo onde poderia se movimentar com facilidade para enfrentar o capitão –do - mato (negros libertos armados que recebiam um salário mensal para procurar e capturar escravos fugidos), que o exercício de dois indivíduos que se bate por mero divertimento se parece um tanto com a briga de galos (capão), ou que o macho de uma pequena perdiz, chamado capoeira era muito ciumento e travava lutas tremendas com seus rivais e os passos de destreza desta luta (...). O arquiteto argentino radicado no Brasil Adolfo Morales de Los Rios Filho publicou vários artigos no jornal Rio Esportivo e afirmando que os escravos da estiva no Rio (antes de haver um cais do porto que merecesse este nome) carregavam o cesto capoeira pelas ruas, e forjaram estranha disputa de pernas, que seria o embrião da capoeira. Ele chegava ao detalhe de apontar o lugar onde isso ocorreu: a praia de Piaxava, na antiga restinga da ponta do Calabouço, hoje próximo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro. Em 1821 uma carta reclamava dos negros capoeiras, presos pelas escolas militares, em desordens. E em 1901 era definido em gíria portuguesa, de Alberto Bessa, como jogo de mãos, pés e cabeça, praticado por vadios de baixa esfera (gatunos). Ouviu-se falar de capoeira pela primeira vez, durante as invasões holandesas de 1624, quando os escravos e índios, (as duas primeiras vítimas da colonização), aproveitando-
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se da confusão gerada, fugiram para as matas. Os negros criaram os Quilombos, entre os quais o mais famoso Palmares, cujo líder foi Zumbi, guerreiro e estrategista invencível diz a lenda, diz ter sido capoeira. Após esta época, houve um período obscuro e no renascimento do século XIX, transformou-se em um fenômeno social, que tomou conta de centros urbanos como o Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Os capoeiristas viviam em "maltas", verdadeiros bandos que recebiam apelidos como "guaiamus" ou "nagôs". As maltas de capoeiristas inquietavam os cidadãos pacatos do Rio
de
Janeiro,
e
se
tornavam
um
problema
para
os
vice-reis.
Espalhavam-se pela cidade, acabando com festas, colocando a polícia para correr, tirando a teima dos valentões. Defendiam sua precária liberdade, ora empregando apenas agilidade muscular, ora valendo-se de cacetes de facas "maltas". Consta que a guarda pessoal de José do Patrocínio e do próprio imperador de D. Pedro I, era formada por capoeiristas. Esse prestígio começou a cair com as leis abolicionistas: sem aptidão de qualquer espécie, uma massa humana disputava mercados de trabalho inexistentes. O jogo corporificou-se como instituição perniciosa e sua extinção passou a ser a palavra de ordem. Em 1888 aboliu-se a escravidão no Brasil e já em 1890, no código penal da Republica, a capoeira foi colocada fora da lei: As maltas converteram-se em grupos poderosos de proteção a negócios escusos e à audácia culminou com Decreto-lei 487, decretado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, a partir do dia 11 de outubro, todo o capoeirista pego em flagrante seria desterrado para a Ilha Fernando de Noronha por um período de seis meses. No ano de 1934 extingue o decreto-lei que proibia a capoeira e a prática de culto afro- brasileiros- isto entre perdas e ganhos como a conquista do voto feminino, do voto para o analfabeto e para o soldado etc. Mas por outro lado ele obriga que tanto os cultos quanto a
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capoeira sejam realizados fora da rua, em recinto fechado com um alvará de instalação, e assim cria também uma forma de controlar estas manifestações. A finalidade da legalização da capoeira foi a de permitir a constituição de um campo de apoio á política de uniformização social que o Estado Novo implementaria (1937-1945)” escreveu Júlio César em sua tese. Diferente da República dos coronéis, a República de Vargas foi subsidiada por uma retórica do corpo.Este discurso está marcada pela política desportiva e pela proposta de formação do professor de Educação Física. A educação Física surgia assim como discurso de corpos e espíritos disciplinados, onde o professor de Educação Física atuava como vigilante e o controlador destes corpos. Neste projeto a metodologia de ginástica francesa se fundia aos discursos nacionalistas, fundando um caminho caracteristicamente militar na Educação Física no Brasil. A sistematização que Bimba desenvolveu imprimiu tal dinâmica á capoeira que em 1953 obteve de Getulio Vargas o cumprimento pelo desenvolvimento de uma contribuição sem par para a Educação Física e que, pela sua origem, deveria ser considerada luta nacional brasileira. O assunto sobre a capoeira nas academias gira em torno das figuras da Bahia, de mestre Bimba e mestre Pastinha. Algo importante que diferencia a capoeira das outras lutas é a presença da musicalidade na roda e nos treinos que traz harmonia e ritmo durante o jogo, por meio de instrumentos musicais. A bateria da capoeira é formada por três berimbaus Gunga ou Berra boi (berimbau grave), o berimbau do centro (médio) e violinha (berimbau de som agudo), o pandeiro é essencial, o atabaque também sendo usado na maioria das rodas, um agogô e um reco-reco.
2.2 - Mestre Bimba e a capoeira regional Baiana A viagem na prática da capoeira deu-se tempos depois por volta de 1930, com o surgimento da Luta Regional Baiana, seu criador Manuel dos Reis Machado, (1900-1974)
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mais conhecido como o Mestre Bimba, figura carismática, lutador temido e jamais vencido em inúmeros combates públicos, cantor e percussionista, venerado por seus alunos e discriminado por grande parte dos artistas e intelectuais de Salvador, realizou uma verdadeira revolução ao criar a capoeira Regional criara uma nova forma de praticar a capoeira, definiu métodos de aprendizagem, postura e ética tentando desvincular a capoeira como uma arte praticada só por malandros, ele exigia de seus alunos o boletim escolar e prova de trabalho. Bimba utilizou os seus conhecimentos da Capoeira Angola e do Batuque (espécie de luta livre comum na Bahia do século XIX) para criar este novo estilo. A capoeira trocou a rua pelos recintos fechados das academias, saiu da marginalidade para a legalidade e deixou de ser um pouco, um “teatro mágico” que representava a vida, deixou de ser uma filosofia da malandragem para se tornar mais acadêmico-desportiva. Mas se por um lado perdeu, por outro ganhou: foi através das academias que se difundiu por todo o Brasil e, a partir de 1970, começou a ser ensinada na Europa e nos Estados unidos. Foi em 1930 que abriu sua academia propriamente dita que receberia o alvará em 1937, onde se propôs a ensinar a sua luta regional baiana. O maior mérito de Bimba foi transformar a capoeira, antes instrumento de ataque e defesa manejado principalmente na Bahia por desordeiros indisciplinados das camadas mais humildes da população, num esporte que granjeou muitos adeptos, mormente pelo aprimoramento técnico que ele deu á mesma, com inclusão de golpes do batuque, além da criação de uma verdadeira metodologia para o aprendizado da luta dos negros, tornando-a um verdadeiro curso de Educação Física. Foi realmente Bimba quem deu os últimos retoques á capoeira, e imprimindo-lhe uma feição especial foi o responsável pelo interesse de novas camadas sócias pela capoeira. Ele também instituiu o primeiro sistema de graduação, que era feita através de lenços de cores diferentes: azul para o aluno “formado”, vermelho para o “especializado” e branco para o
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“contramestre”. Esse lenço era uma maneira de Bimba homenagear os capoeiristas do passado, que usavam um lenço de seda no pescoço para evitar o corte da navalha do inimigo, desferido sempre na carótida. Foi numa exibição para o então Presidente da República Getúlio Vargas, que vendo na capoeira a verdadeira luta Brasileira legalizou a sua prática desde que fosse a recinto fechado e com o aval da autarquia . Hoje em dia, a capoeira é praticada nas ruas, praças, escolas, Universidades e forças militares e vem ganhando cada vez mais adeptos no exterior, sendo praticada como luta, folclore, dança e acima de tudo respeitada como o símbolo da liberdade de um povo. Bimba faleceu em 5 de fevereiro de 1974, consagrado com um inovador genial que deu inicio ao “embranquecimento” da autentica capoeira baiana onde sua figura de mestre marcou a historia da capoeira., sendo este o segundo reconhecimento oficial.
2.3 - Mestre Pastinha e a Capoeira Angola Corpo como arma, extraindo do N'golo, um rito de iniciação Banto, onde o vencedor teria o direito de escolher a sua companheira, sem dotes. O "N'GOLO", era uma dança que os negros angolanos praticavam imitando movimento dos animais que os cercavam A capoeira veio da necessidade do negro se defender dos maus tratos, usando o nas tribos, onde viviam, imitavam movimentos como os das zebras, crocodilos, avestruzes, macacos, leões, etc. Porém, a maior parte destes movimentos imitados das zebras, e, portanto, esta dança também era chamada de "Dança da Zebra" e era praticada em forma de campeonato, pois para merecer o amor e ter direito a se casar com a filha do chefe da tribo, era preciso que os rapazes fossem os melhores na disputa da dança. O vencedor era chamado de guerreiro e tinha direito a cortejar a filha do chefe da tribo como prêmio à sua vitória. No Brasil, esta dança foi à inspiração que os escravos tiveram para poder camuflar os treinos de capoeira (luta) na frente dos feitores dos engenhos, pois, vendo que eles faziam
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uma roda no terreiro da senzala, tocavam berimbau e cantavam músicas africanas que os feitores não entendiam a letra. Pensavam: - estão só se divertindo..... E assim deixavam que os escravos fizessem a "brincadeira de angola" (assim chamada por ser a maioria dos negros de origem Angolana, da tribo bantu). Resistente ao tempo e aos destruidores, a capoeira Angola encontrou na Bahia seu maior expoente humano, Vicente Joaquim Ferreira Pastinha (1889-1981) Mestre Pastinha. Mulato claro de estatura mediana, magro, de temperamento gentil e acolhedor, bem humorado, reuniu ao seu redor um grande número de excelentes capoeiristas, nem tanto por ser jogador excepcional, mas pela força de sua personalidade, seus dotes de filósofo e poeta, seu amor e conhecimento dos fundamentos da capoeira angola. “Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu principio não tem método, seu fim é inconcebível ao mais sábio dos mestres”, é sua definição do jogo da capoeira. Diz se que Pastinha foi iniciado por um negro de Angola chamado Benedito que presenciou as surras que constantemente tomava de um menino mais velho. Mestre Pastinha aprendeu, praticou, ensinou e difundiu esta arte por todo lugar quanto lhe foi possível e até hoje seus ensinamentos são seguidos á risca por todos os seguidores do jogo de Angola. Pastinha dedicou sua vida á capoeira angola, tornando-se um dos estandartes da cultura afro brasileira e um dos destaques (não remunerados) da propaganda turística de Salvador. Mas em 14 de novembro de 1981, aos 92 anos de idade, sete anos após a morte de mestre Bimba, cego havia 18, faleceu abandonado pelos órgãos públicos e pela maioria de seus antigos alunos.
2.4 - Evolução histórica e organizatória do código Desportivo da capoeira Em 1928 surge no Rio de Janeiro o primeiro Código desportivo de capoeira sobre o nome de “Gimnástica Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada”. Este trabalho de autoria de Annibal Burlamaqui (Zuma) trouxe uma nomenclatura ilustrada de golpes e
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contragolpes, área de competição, regulamento de competição, critérios de formação de árbitros, fundamentos históricos, uniformes etc. 1941 Decreto 3.199 que estabeleceu as bases da organização dos esportes no Brasil. Com o apoio neste ato foi constituída a Confederação Brasileira de Pugilismo-CBP que já na sua fundação instituía o Departamento Nacional de Luta Brasileira, que foi o embrião da Confederação Brasileira de Capoeira. Este foi o primeiro reconhecimento esportivo oficial da modalidade 1950 O Conselho Nacional de Desportos expede a Resolução 071, estabelecendo critérios para a pratica desportiva da capoeira. 1970 Iniciou-se a fundação das Federações Estaduais de Capoeira, sob a jurisdição da CBP. 1992
Fundações
da
Confederação
Brasileira
de
Capoeira
através
do
desmembramento do Departamento Nacional de Capoeira da CBP. 1993 Realização do primeiro Congresso Técnico Nacional de Capoeira, na cidade de Guarulhos-SP. Objetivo: padronização de procedimentos técnicos, culturais e esportivos. 1995 Reconhecimento da Capoeira e Vinculação da Confederação Brasileira de Capoeira ao Comitê Olímpico Brasileiro. 1997 Homologação do Superior Tribunal de Justiça Desportiva da Capoeira pela Ordem dos Advogados do Brasil. 1999 Fundação da Federação Internacional de Capoeira, em São Paulo. Fundação da Associação Brasileira de Árbitros de Capoeira, em São Paulo. 2002 Introdução da Capoeira como modalidade oficial nos Jogos Regionais e a Abertos do Interior dos Estados de São Paulo e de Goiás. Estabelecimento do Regulamento Internacional de Capoeira e dos saberes, competências e habilidades para os técnicos, treinadores e alunos.
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Percebemos no histórico da capoeira, uma progressão incrível no que diz respeito a sua prática, saindo da marginalidade e do código penal para sua pratica em ressinto fechado, com metodologia e regras para os discípulos seguirem, uma forma de disciplinar seus praticantes, e constantes foram seus estudos para entender e desvendar, a origem e o papel social que a capoeira fornece. Hoje com o amparo das ligas, federações e confederações de capoeira, que criaram normas e diretrizes para sua pratica e ensino, contribuíram muito para a capoeira ser mais do que uma forma lúdica de ser praticada, também uma forma competitiva exigindo melhor desempenho e aprimoramento técnica de seus praticantes. Porém, décadas se passaram os estudos que abordam a fisiologia do exercício envolvendo a pratica da capoeira não foram publicados, o que estigmatizou a capoeira com uma luta baseada no empirismo, sem embasamento cientifico no que diz respeito a alterações fisiológicas que a luta gera e exige do organismo. Por fim, alguns dados a seguir poderão nos ajudar a desmistificar algumas indagações que existem sobre a fisiologia do exercício e a capoeira, objetivando sanar as duvidas existente.
2.5 – Tipos de Fibras e Exercício Todas as unidades motoras dos músculos esqueléticos funcionam da mesma maneira, porém nem todas as unidades motoras contêm fibras musculares com as mesmas capacidades metabólicas ou funcionais. (Foss & Keteyian, 2000). Na literatura de pesquisa existem designações para 4 tipos de fibras, Tipo I vermelhas, tônicas de contração lenta (CL), ou oxidativas lentas (OL); as fibras tipos anaeróbicas foram denominadas Tipo II, brancas, fásicas de contração rápida (CR), ou glicolíticas rápidas (GR). Pode ser feita ainda outra subdivisão de fibras Tipo II em IIA (CRa, rápidasoxidativas-glicolíticas, RGO), IIB (CRb, rápidas- glicolíticas, RG), e IIC (CRc,
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indiferenciadas, não-classificadas, intermediarias, de conversão, Assim sendo Tipos I, IIA, IIB, e IIC (Foss & Keteyian, 2000). Como já foram citadas as fibras Tipo I possuem uma capacidade aeróbica relativamente grande e uma capacidade anaeróbica relativamente pequena em comparação com as fibras Tipo II. Isso continua sendo verdade até mesmo quando são levadas em conta as capacidades oxidativas mais altas das fibras IIA; em outras palavras, existe uma hierarquia oxidativa com Tipo I > Tipo IIA > Tipo IIB. De fato, nos seres humanos nenhum dos subgrupos Tipo II possui uma capacidade oxidativa tão alta quanto aquela das fibras Tipo I. As unidades motoras Tipo I são usadas durante exercícios de baixa intensidade e as unidades motoras Tipo IIA são recrutadas para uma intensidade mais alta ou para um exercício mais prolongado. As fibras Tipo IIB são recrutadas para a produção de força máxima ou quando outros tipos de fibras demonstram fadiga. As fibras musculares Tipo II fadigam mais facilmente que as fibras Tipo I, outra vantagem de possuir fibras Tipo I é que a ressintese do glicogênio é mais rápida durante a recuperação após um exercício extenuante. De acordo com Guyton & Hall (2002), existe uma diferença hereditária entre os atletas para fibras musculares de contração rápida versus contração lenta. Algumas pessoas têm muito mais fibras de contração rápida do que fibras de contração lenta, isso pode determinar até certo ponto as capacidades atléticas dos vários indivíduos. Não foi possível demonstrar que o treinamento atlético seja capaz de modificar as proporções de fibras de contração rápida e de contração lenta, por mais que o atleta possa desejar desenvolver um tipo de destreza atlética em detrimento, quase de outras. Ao contrário, parece que isso é determinado, quase inteiramente, pela herança genética, o que, por sua vez, ajuda a determinar que a área do atletismo seja mais apropriada para cada pessoa, algumas pessoas nasceram para serem maratonistas, outras nasceram para serem velocistas e saltadores. Em geral as fibras musculares (CL) apresentam um nível elevado de resistência aeróbia, são muito
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eficientes na produção de ATP, a partir da oxidação de carboidratos e gorduras. A capacidade de manutenção de atividade muscular durante um período prolongado é conhecida como resistência muscular e por essa razão, as fibras (CL) possui uma alta resistência aeróbia. Em razão disso, elas são recrutadas mais frequentemente durante eventos de resistência de baixa intensidade (por exemplo, Maratona) e durante a maioria das atividades diárias, quando as necessidades de força muscular são baixas (por exemplo, Marcha). As fibras musculares (CR) por outro lado apresentam resistência aeróbia relativamente ruim. Elas são mais adequadas para o desempenho anaeróbio (sem oxigênio) do que as fibras de (CL). Isso significa que na ausência de quantidade suficiente de oxigênio, o ATP é formado através de via anaeróbicas, vias não oxidativa. As unidades motoras (CRa) geram uma força consideravelmente maior do que as unidades motoras (CL), mas elas fadigam facilmente por causa de sua resistência limitada. Por isso, as fibras (Cra) parecem ser mais eficazes em exercícios mais curtos e de intensidade mais elevada como a corrida 1,6 km (1milha) ou o nado de 400m. Embora ainda não se conheça totalmente importância das fibras (CRb) aparentemente elas são facilmente ativadas pelo sistema nervoso. Por essa razão são utilizadas com pouca freqüência nas atividades normais de baixa intensidade, mas são utilizadas predominantemente nos eventos de alta explosão, como corrida de 100m, nados 50m (Wilmore & Costill, 1999). Tipo de fibras Característica
CL
CRa
CRb
Velocidade de condução Nervosa
Lenta Rápida
Rápida
Força da Unidade Motora
Baixa Alta
Alta
Capacidade aeróbia (oxidativa)
Alta
Moderada Baixa
Capacidade Anaeróbia (glicolitica) Baixa Alta
Alta
(Wilmore & Costill, 1999).
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Durante o jogo da capoeira, são executados movimentos de intensidades altas que exige grande força explosiva e rápida velocidade de condução de nervosa, como no caso de uma Meia Lua de Compasso, um Parafuso um Chapéu de Couro, onde o atleta que possuir maior número de fibras Tipo II poderá ter uma melhor velocidade ao executar dos golpes, um fator que pode ser determinante durante uma volta (jogo) como no caso se executar um contra golpe, uma esquiva e surpreender o adversário sendo que a capoeira exige muita técnica e precisão nos na realização do jogo.
2.6 - Substratos para o Exercício O organismo consome diariamente carboidratos gorduras e proteínas a fim de fornecer a energia necessária para manter as atividades celulares em repouso e durante o exercício. No exercício, os principais nutrientes utilizados para obter energia são as gorduras e os carboidratos, contribuindo as proteínas com uma pequena quantidade de energia total utilizada (Powers & Howley, 1997). Os carboidratos são compostos por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Os carboidratos armazenados provêm o corpo com uma forma de energia rapidamente disponível: um grama de carboidrato fornece cerca de 4kcal de energia. Os vegetais sintetizam os carboidratos a partir d interação de CO2, água e energia solar num processo denominado fotossíntese. Os carboidratos existem sob três formas: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos. Monossacarídeo são açúcares simples, como a glicose e a frutose. A glicose é familiar para a maioria das pessoas e, frequentemente, é referido como “açúcar do sangue”. Ela pode ser encontrada nos alimentos ou formada no trato digestório como resultado da clivagem de carboidratos mais complexos. A frutose encontra-se nas frutas e no mel e são considerados os carboidratos simples mais doce (Powers & Howley, 1997). Os dissacarídeos são formados a partir da combinação de dois monossacarídeos. Por exemplo, o açúcar de mesa é denominado sacarose e composto por glicose e frutose. A
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maltose, também um dissacarídeo, é formada por duas moléculas de glicose. A sacarose é considerada o dissacarídeo dietético mais comum nos Estados Unidos e constitui aproximadamente 25% da ingestão calórica total da maioria dos americanos. Ocorrem naturalmente em muitos carboidratos, como a cana-de-açúcar, a beterraba, o mel e o xarope de bordo. Polissacarídeos são carboidratos complexos que contêm três ou mais monossacarídeos. Podem ser moléculas bem pequenas (cerca de três monossacarídeos) ou moléculas relativamente grandes, com centenas de monossacarídeos. Em geral, são classificados em polissacarídeos vegetais são celulose e o amido. O homem não possui enzimas digestivas necessárias para digerir a celulose e, por essa razão, a celulose forma fibras e é descartada como subproduto no material fecal. Pó outro lado, o amido, encontrado no milho, nos grãos, nas batatas e ervilhas, é facilmente digerido pelos seres humanos e uma fonte de carboidratos importante na dieta dos americanos. Após a ingestão, o amido é quebrado, formando monossacarídeos que podem ser imediatamente utilizados como energia pelas células ou armazenado em outra forma, no interior das células, para as futuras demandas energéticas. Glicogênio é o termo utilizado para os polissacarídeos estocados no tecido animal. Ele é sintetizado no interior das células pela ligação das moléculas de glicose. As moléculas de glicogênio geralmente são grandes e podem consistir em centenas a milhares de moléculas de glicose (Powers & Howley, 1997). As células armazenam glicogênio para suprir carboidratos como uma fonte energética. Por exemplo, durante o exercício as células musculares transformam o glicogênio em glicose (processo denominado glicogenólise) e a utilizam como fonte de energia para contração. Por outro lado, a glicogenólise também ocorre no fígado, e a glicose livre é liberada na corrente sangüínea e transportada aos tecidos por todo o organismo. O que importa para o metabolismo do exercício é que o glicogênio é armazenado tanto nas fibras musculares quanto no fígado. No entanto, o estoque total de
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glicogênio no organismo é relativamente pequeno e pode ser depletado em poucas horas em decorrência do exercício prolongado (Powers & Howley, 1997). Consequentemente, a síntese de glicogênio é um processo continuo no interior das células. As dietas pobres em carboidratos tendem a dificultar a síntese de glicogênio, enquanto as dietas ricas em carboidrato tendem a aumentá-la. Embora as gorduras contenham os mesmos elementos químicos dos carboidratos, a relação entre o carbono e o oxigênio nas gorduras é muito maior do que a observada nos carboidratos. A gordura corporal armazenada é um combustível ideal para o exercício prolongado, pois as moléculas de gordura contêm grandes quantidades de energia por unidade de peso. Um grama de gordura tem aproximadamente 9kcal de energia, mais do que o dobro do conteúdo energético dos carboidratos ou das proteínas. Segundo Powers & Howley (1997) as gorduras não são hidrossolúveis e podem ser encontrados tanto em vegetais quanto em animais. Podem ser classificados em quatro grupos gerais (1) ácidos graxos (2) triglicérides (3) fosfolipídios (4) esteróides. Os ácidos graxos são constituídos por longas cadeias de átomos de carbonos ligadas a um grupo carboxila numa extremidade (um grupo carboxila contem um grupo com carbono, oxigênio e hidrogênio). É importante ressaltar que os ácidos graxos são os principais tipos de gordura utilizado pelas células musculares como fonte de energia. Os ácidos graxos são armazenados no corpo como triglicérideos. Estes são compostos por três moléculas de acido graxos e uma molécula glicerol (que não é uma gordura e sim um tipo de álcool). Os fosfolipídios são utilizados como fonte de energética pelos músculos esqueléticos durante o exercício. Fosfolipídios não são lipídeos combinados com o acido fosfórico e sintetizados em praticamente todas as células do corpo (Powers & Howley, 1997).
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O ultimo grupo de gorduras são os esteróides. Essas gorduras não são utilizadas como fonte energética durante o exercício (Mcardle, Katch, F. & Katch, V. 2000). O esteróide mais comum é o colesterol. Colesterol é um componente de todas as membranas celulares e pode ser sintetizado em qualquer célula do organismo. Embora ele possua muitas funções biológicas “úteis” os níveis sanguíneos elevados de colesterol têm sido implicados no desenvolvimento da coronariopatia (Powers & Howley, 1997). As proteínas são compostas por muitas subunidades pequenas denominadas aminoácidos. Pelo menos vinte tipos diferentes de aminoácidos são necessários para que o corpo forme vários tecidos, enzimas proteínas plasmáticas etc. Nove aminoácidos, denominados aminoácidos essenciais, não podem ser sintetizados pelo corpo e, por essa razão, devem ser consumidos em alimentos (Powers & Howley, 1997). As proteínas são formadas por meio da união dos aminoácidos em ligações químicas denominadas ligações peptídicas. Como fonte de combustível potencial, as proteínas contêm aproximadamente 4kcal por grama. As proteínas podem contribuir para o exercício de duas maneiras. Primeiro, o aminoácido alanina pode ser convertido em glicose no fígado, o qual pode ser utilizado para sintetizar o glicogênio. Segundo muitos aminoácidos podem ser convertidos em intermediários metabólicos (isto é compostos que podem participar diretamente na bioenergética) nas células musculares e contribuir diretamente como combustível nas vias bioenergéticas (Powers & Howley, 1997).
2.7 – Bioenergética As células musculares armazenam quantidades limitadas de ATP. Por essa razão, como o exercício muscular requer um suprimento constante de ATP para fornecer a energia necessária á contração, devem existir vias metabólicas celulares com capacidades de produção rápida de ATP. De fato, as células musculares podem produzir ATP por qualquer uma ou pela combinação das três vias metabólicas: (1) formação de ATP pela degradação de creatina
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fosfato, (2) formação de ATP por meio da degradação da glicose ou do glicogênio (denominada, glicólise) e (3) formação oxidativa da ATP. A formação da ATP pela degradação da creatina fosfato e da glicólise não envolve a utilização de O², e é denominada via anaeróbica (sem O²). A formação oxidativa da ATP com o uso de O² é denominada metabolismo aeróbico (Mcardle, Katch, F. & Katch, V. 2000).
2.8 - Fosfato de Alta Energia A fonte imediata de energia para a contração muscular é o composto de fosfato de alta energia adenosina trifosfato (ATP). Embora o ATP não seja a única molécula transportadora de energia da célula, ela é a mais importante, e sem quantidades suficientes de ATP a maioria das células morre rapidamente (Mcardle, Katch & Araújo 2000). A estrutura da ATP consiste em três partes principais: (1) uma porção adenina, (2) uma porção ribose e (3) três fosfatos ligados. A formação do ATP ocorre a partir da combinação do adenosina difosfato (ADP) e do fosfato inorgânico (Pi) e exige uma quantidade bem grande de energia. Parte dessa energia é armazenada na ligação química que une a ADP e o Pi. Por essa razão, essa união é denominada ligação de alta energia, a energia é liberada e pode ser utilizada para a realização do trabalho, por exemplo, contração muscular (Powers & Howley, 1997). A ATP é frequentemente denominado doador universal de energia e serve para copiar a energia liberada pela quebra dos nutrientes numa forma de energia utilizável necessárias a todas as células.
2.9 - Produção anaeróbica de ATP Segundo Mcardle, Katch & Araújo (1991), o método mais simples e consequentemente mais rápido de produção de ATP envolve a doação de um grupo de fosfato e de sua ligação energética da creatina fosfato para ADP formando a ATP.
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A reação é catalisada pela enzima creatina quinase. Tão rapidamente quanto é clivada em ADP + Pi no inicio do exercício, ela é ressintetizada pela reação da creatina fosfato. Contudo, as células musculares armazenam somente pequenas quantidades de creatina de ATP que pode ser formada por essa reação é limitada. A combinação da ATP e da creatina fosfato armazenadas é denominada sistema ATP-CP, ou “sistema fosfagênio”, e provê a energia para a contração muscular no inicio do exercício e em exercícios de curta duração e de alta intensidade (ou seja, durando menos de cinco segundos). A recuperação da creatina fosfato exige ATP e ocorre somente durante a recuperação do exercício (Mcardle, Katch & Araújo, 1991). A importância do sistema ATP-CP nos atletas pode ser apreciada ao se considerar o exercício intenso de curta duração, como a corrida de 50 metros, o salto em altura, o levantamento rápido de peso ou a corrida de 10 jardas de um jogador de futebol americano.
2.10 - Via Glicolitica Uma segunda via metabólica capaz de produzir ATP rapidamente sem envolvimento de O², é denominado glicólise. A glicólise envolve a degradação da glicose ou glicogênio para formar duas moléculas de acido pirúvico ou de acido lático. A glicólise ocorre no sarcoplasma da célula muscular e produz um ganho de moléculas de ATP e duas moléculas de acido pirúvico ou lático por molécula da glicose. A glicose é uma molécula com seis carbonos e os ácidos pirúvicos e lático são moléculas com três carbonos. Portanto, isso explica a produção de duas moléculas de acido pirúvico ou de acido lático a partir de uma molécula de glicose. Quando o O² não esta diretamente envolvido na glicólise, a via é considerada anaeróbica. No entanto, com a presença de O² nas mitocôndrias, o piruvato pode participar da produção aeróbica de ATP. Por isso, além de ser uma via anaeróbica capaz de produzir ATP sem O², a glicólise pode ser considerada o primeiro passo da degradação aeróbica dos carboidratos.
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2.11 - Produção aeróbica de ATP A produção aeróbica de ATP ocorre no interior das mitocôndrias e envolve a interação de duas vias metabólicas cooperativas (1) o ciclo de Krebs e (2) a cadeia de transporte de elétrons. A função primaria do ciclo de Krebs (também denominado ciclo do ácido cítrico) é o termino da oxidação (remoção de hidrogênio) dos carboidratos, das gorduras ou proteínas com a utilização de NAD ou FAD como transportadores de hidrogênio (energia). A importância da remoção é que os hidrogênios (em virtude dos elétrons que eles possuem) contêm a energia potencial das moléculas dos alimentos. Essa energia pode ser utilizada na cadeia de transportes de elétrons a fim de combinar a ADP + Pi para ressintetizar o ATP. O oxigênio não participa das reações do ciclo de krebs, mas é o aceptor final de hidrogênio no fim da cadeia de transportes de elétrons (isto é, água é formada, H² + O
→
H²O). O processo da produção aeróbica de ATP é denominado fosforilação oxidativa. É conveniente considerar a produção aeróbica de ATP como um processo de três estágios. O estagio 1 é a geração de uma molécula fundamental com dois carbonos, o acetil-coA. O estagio 2 é oxidação do acetil-coA no ciclo de Krebs. O estagio 3 é o processo de fosforilação oxidativa (ou formação de ATP) na cadeia de transportes de elétrons (cadeia respiratória).
2.12 - Interação entre a produção Aeróbica/ Anaeróbica de ATP É importante enfatizar a interação das vias metabólicas aeróbicas e anaeróbicas na produção de ATP durante o exercício. Embora seja comum ouvir alguém falar sobre exercício aeróbico versus anaeróbico, na realidade a energia para realizar a maioria dos tipos de exercício é originaria da combinação de fontes anaeróbicos/aeróbicas. A contribuição da produção de ATP é maior em atividades curtas e de alta intensidade, enquanto o metabolismo aeróbico predomina em atividades mais longas. Por exemplo, aproximadamente 90% da energia para realizar uma corrida de 100 metros devem ser originário de fontes anaeróbicas, com a maior parte vindo do sistema ATP-CP. Similarmente, a energia para correr 400 metros
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(isto é 55 segundos) é, em grande parte, anaeróbica (70-75%). No entanto, os estoques de ATP e de creatina fosfato são limitados e, por isso, a glicólise deve suprir boa parte dos ATPs nesse tipo de evento.Na outra extremidade do aspecto de energia, eventos como a maratona (corrida 42 km) depende da produção aeróbica de ATP para o volume de energia necessária. Em suma, quanto menor a duração das atividades máximas, maior a contribuição da produção anaeróbica de energia. Por outro lado, quanto maior a duração, maior a contribuição da produção aeróbica de energia.
2.13 - Respostas Metabólicas ao Exercício: Influencia da Duração e da Intensidade O exercício de curta duração e de alta intensidade com menos de dez segundos utiliza, sobretudo as vias metabólicas anaeróbicas para produzir ATP. Em contraste, em evento como a maratona utiliza principalmente a produção aeróbica de ATP para fornecer a ATP necessária ao exercício. No entanto, os eventos com mais de dez minutos produzem a ATP necessária para a contração muscular por meio de uma combinação das vias anaeróbicas e aeróbicas para a produção de ATP. As Seções seguintes apresentam considerações sobre as vias energéticas envolvidas na produção de energia em tipos de exercício específicos.
2.14 - Exercício Intenso de Curta Duração A energia para a realização do exercício de curta duração e de alta intensidade origina-se essencialmente das vias metabólicas anaeróbicas. O quanto à produção de ATP é denominada pelo sistema ATP-CP ou pela glicólise depende primariamente da duração da atividade. Por exemplo, a energia dispendida numa corrida de 50 metros ou durante uma jogada numa partida de futebol americano é oriunda do sistema ATP-CP. Em contraste, a energia para uma corrida de 400 metros (ou seja, cinqüenta e cinco segundos) provém de uma combinação do sistema ATP-CP, da glicólise e do metabolismo aeróbico, com a glicólise produzindo a maior parte dos ATP. Em geral, o sistema ATP-CP pode suprir quase toda a ATP necessária para o trabalho em eventos que duram de um a cinco segundos. O exercício
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intenso com mais de cinco ou seis segundos começa a utilizar a capacidade de produção de ATP da glicólise. A transição do sistema ATP-CP para uma maior dependência da glicólise durante o exercício não é uma alteração abrupta, mas um desvio gradual de uma via para outra. Os eventos com mais de quarenta e cinco segundos utilizam uma combinação dos três sistemas energéticos (isto é, ATP-CP, glicólise e sistemas aeróbicos). Em geral, o exercício intenso com aproximadamente sessenta segundos utiliza a produção de energia de 70%/30% (anaeróbico-aeróbica), enquanto os eventos com dois minutos utilizam as vias metabólicas anaeróbicas e aeróbicas de uma maneira quase similar para suprir a ATP que necessitar.
2.15 - Bioenergética na pratica da capoeira Os sistemas corporais de transferências de energia devem ser encarados ao longo de um continuo da fisiologia do exercício (Powers & Howley, 1997). Observamos na pratica capoeira movimentos de alta destreza corporal com curta duração e alta intensidade, com isso identifica - se no jogo da capoeira uma característica intermitente durante sua pratica, onde as fontes anaeróbicas suprem a maior parte da energia para os movimentos rápidos, ou durante uma maior resistência ao movimento para determinada velocidade. Durante o jogo da capoeira observamos movimentos explosivos de curta duração, sendo que nesse caso os fosfagênios intramusculares ATP e PCr suprem a maior parte da energia durante os movimentos, como no caso da realização de uma Armada, um Aú ou um parafuso, o exercício intenso com aproximadamente sessenta segundos utiliza a produção de energia de 70%30% (anaeróbica/aeróbica), no decorrer de dois minutos os sistemas ATP-CPr e do glicolitico proporcionam metade da energia necessária para exercício, enquanto as reações aeróbicas proporcionam de maneira quase similar para suprir o ATP restante que é necessário (Powers & Howley, 1997). Sabendo disso é importante ressaltar que, para o
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capoeirista obter um desempenho de ponta durante as voltas (jogo) durante os dois minutos que são marcados, o treinador (técnico) tem que perceber que seu atleta deverá possuir uma capacidade bem desenvolvida para o metabolismo tanto aeróbico quanto anaeróbico.
2.16 - Treinamentos dos Sistemas Energéticos Anaeróbicos e Aeróbicos Para alcançar um nível de excelência na aptidão física do atleta de capoeira o treinador (técnico) terá de enfocar as demandas energéticas utilizadas para suprir o dispêndio. A capoeira exige explosões rápidas de potência durante as quais as demandas energéticas ultrapassam muito a capacidade de fornecimento de oxigênio. De acordo com Mcardle, Katch, F. & Katch, V. (2000), o oxigênio disponível, a transferência de energia celular por parte das reações aeróbicas progride muito lentamente para poder atender as demandas energéticas. Isso significa que a capacidade de transferência rápida da energia anaeróbica (e não aeróbica) determina a rapidez com que o capoeirista move seus membros para pular, golpear ou atacar quanto para se esquivar, defender ou contra atacar. Além disso, o treinador (técnico) de capoeira deve conhecer a finalidade do treinamento, ressaltando a importância de traçar objetivos específicos para o desempenho, o que requer uma avaliação minuciosa dos componentes energéticos no decorrer do jogo, onde esse fator negligenciado com freqüência constitui a base para a divisão efetiva do tempo do individuo para um treinamento especifico dos sistemas apropriados de transferência de energia. A capoeira mesmo tendo uma predominância na sua transferência rápida de energia anaeróbica, não pode desconsiderar que o metabolismo aeróbico também desempenha um papel importante.
2.17 - Treinamento Anaeróbico sistema do ATP-PCr Como foi ressaltada a capoeira exige alguns esforços máximos em determinados golpes e movimentos acrobáticos. Segundo Mcardle, Katch, F. & Katch, V. (2000), durante os primeiros 6 segundos de um exercício explosivo, o fracionamento anaeróbico da moeda
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corrente de energia ATP e do reservatório de energia PCr proporcionam quase imediatamente a energia necessária para acionar o esforço muscular . Contudo se torna imprescindível citar esse sistema como forma de aprimoramento no desempenho do capoeirista durante o jogo. Seqüências explosivas de esforços por 5 a 10 segundos proporcionariam uma sobrecarga apropriada do sistema de energia imediata em músculos específicos, onde o capoeirista poderia dar piques curtos, porém bastante intenso, para aumentar a dificuldade, fazer com que o atleta ao correr, use um cinturão, ou poderá ser usado sua própria corda com um peso extra, nesse caso um companheiro de treino que deverá ser carregado ou um colete pesado, também de forma adaptada um companheiro de treino pode subir nas costas do amigo, como se fosse andar de cavalinho para substituir o colete, durante cinco ou seis segundos, ou até mesmo subir escadas e ladeiras. Já que os fosfatos de alta energia fornecem quase toda a energia para esse exercício de curta duração, forma-se apenas uma pequena quantidade de lactato, e a recuperação progride rapidamente (captação de oxigênio da recuperação alática). Assim sendo uma sessão subseqüente de exercício poderá começar após apenas uma recuperação de 30 a 60 segundos (Mcardle, Katch F. & Katch, V. 2000). Segundo Mcardle, Katch & Araújo (1991), o treinamento destinado a acelerar a capacidade de transferência de energia ATP-CPr intramusculares requer sessões repetidas de um exercício intenso de curta duração, onde as atividades selecionadas do treinamento deverão incluir os músculos nos padrões de movimento para os quais a pessoa deseja uma potencia anaeróbica aprimorada. No caso da capoeira, locomover-se na posição de bananeira por uma distância de 10 metros, ou em carrinho de mão, ou até mesmo realizar parada de mão em uma parede seguido de exercícios de flexão e extensão de braços, além de estarem no padrão dos movimentos que acontecem durante o jogo, estão sendo acionados grupos musculares facilitando adaptações
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neuromusculares ao ritmo que o jogo impõe,aprimorando a capacidade metabólica das fibras especificamente solicitadas.
2.18 - Sistema Glicolítico (Acido Lático) De acordo com Mcardlle, Katch, F. &. Katch, V. (2000), a maneira mais coerente e eficaz de melhorar a capacidade do sistema de energia a curto prazo do acido lático, é realizando um treinamento que terá de sobrecarregar essa forma especifica de transferência de energia. Esse tipo de treinamento proporciona um estresse fisiológico considerável e requer muita motivação. Séries de até 1 minuto de corrida intensa, natação ou ciclismo, encerradas 30 á 40 segundos antes da exaustão, ativam a via energética glicolítico, acarretando um grande acúmulo de lactato.No caso dos movimentos específicos para o atleta capoeirista, uma seqüência de golpes trabalhados bilateralmente, sem intervalo durante a execução, atingindo o tempo prescrito pelos autores também ativam a via energética glicolítico, além de aprimorar a técnica do movimento devido à repetição continua. Para garantir uma produção máxima de lactato durante cada sessão de treinamento, o que é indicativo da sobrecarga metabólica apropriada, o capoeirista deverá repetir a sessão de exercícios várias vezes, entremeada com 3 a 5 minutos de recuperação. De acordo com Mcardle, Katch, F. & Katch, V. (2000), cada intervalo sucessivo de exercício acarreta um “empilhamento (acumulo) de lactato”, o que acaba elevando os níveis sanguíneos de lactato até acima daquele de uma única sessão de esforço explosivo até a exaustão voluntária, ressaltando que o treinamento do a capoeirista deverá incluir os grupos musculares específicos que necessitam de uma maior capacidade energética anaeróbica.
2.19- Treinamento Aeróbico Segundo Mcardle, Katch & Araújo (1991), o treinamento aeróbico deve ser elaborado de forma a proporcionar uma sobrecarga cardiovascular suficiente para estimular
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aumentos no volume de ejeção e no débito cardíaco. Essa sobrecarga central deve ser realizada com os grupos musculares apropriados, de forma a aumentar simultaneamente a circulação local e o “maquinismo metabólico” dentro de músculos específicos, englobando o principio da especificidade aplicado ao treinamento aeróbico. Enunciado de maneira mais simples, os corredores devem correr, os ciclistas devem pedalar, os nadadores devem nadar e os capoeiristas devem jogar desde que o exercício seja suficientemente intenso para sobrecarregar o sistema aeróbico. Segundo Mcardlle, Katch, F. & Katch, V (2000), algumas semanas de treinamento regular aeróbico aumentam a endurance dos músculos ventilatórios, diminuindo o acumulo de lactato durante o exercício respiratório submáximo, reduzindo a sensação de falta de ar de desconforto pulmonar, de efeitos fadigantes do exercício liberando o oxigênio dos músculos respiratórios para que possa se utilizado pelos músculos ativos não respiratórios. Contudo ao realizar o treinamento a freqüência cardíaca do exercício submáximo deverá ser reduzida em aproximadamente 10 a 20 b/min durante um programa de 12 semanas, sendo que a intensidade do exercício deverá se ajustada continuamente a fim de se manter uma intensidade apropriada do treinamento que se progride. Alguns tipos de treinamento aeróbicos são classificados e definidos por Pogere (1998). Método contínuo crescente – caracteriza-se por uma aplicação contínua e crescente da carga, aumentando a intensidade a cada 10 minutos até valores próximos ao limiar aeróbico. Método contínuo decrescente – caracteriza-se por uma aplicação contínua, porém decrescente de carga. Iniciando perto do limiar anaeróbico com decréscimo gradativo a cada 10 minutos. Método contínuo crescente e decrescente – caracteriza-se por uma aplicação da carga, unindo os dois métodos anteriores; iniciando, por exemplo, com 65% da Freqüência cardíaca Máxima (Fcmáx), e aumentando até 80% da Fcmáx e a seguir, reduzir até os 65% da Fcmáx gradativamente.
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Método contínuo constante ou permanente – caracteriza-se por uma aplicação constante da carga, durante todo o treino. Treinamento Fartlek - O treinamento Fartlek, talvez tenha sido o precursor do treinamento intervalado. Concebido, inicialmente, para o treinamento de fundistas e meios fundistas, hoje pode ser aplicado no programa de todos os desportos em que a resistência aeróbica seja solicitada. O Fartlek é considerado muito bom quando realizado ao ar livre e em terreno natural, aproveitando-se os acidentes geográficos ou alterações no solo. É bastante utilizado em combinação com outros métodos, prestando-se de forma satisfatória para o condicionamento geral e proporcionando variedade nas sessões de treinamento. Treinamento intervalado Segundo Pogere (1998), o treinamento intervalado consiste na aplicação repetida de exercícios e períodos de descanso de modo alternado. Sua prescrição fundamenta-se na intensidade e tempo de duração, sendo a intensidade e a duração controladas. Esse método de treino é muito utilizado para aumentar a capacidade de captação de oxigênio pelos músculos trabalhados, isso ocorre porque a fadiga produzida pelo trabalho intermitente é convertida em intensidade de trabalho, possibilitando a melhoria da capacidade energética dos músculos ativados. O débito sistólico, ou seja, a quantidade de sangue bombeada pelo coração em cada esvaziamento do ventrículo é mais alto no período do exercício e no repouso. Como há muitos intervalos o débito sistólico alcança muitas vezes níveis altíssimos. Com essas oscilações o débito sistólico máximo aumenta, aprimorando a capacidade do sistema de oxigênio.
2.20 - Demanda metabólica em exercícios intermitentes Em atividades continuas como corrida, natação e ciclismo, a analise e duração dos esforços, tem sido largamente realizada com sucesso, gerando o conhecimento relacionado a aspectos como o perfil metabólico destas atividades e a sua aplicação no treinamento, em atividades intermitentes é difícil determinar a resposta metabólica (Drigo et al, 1996). A
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resposta metabólica durante as atividades intermitentes é influenciada diretamente pela duração dos períodos de exercício físico e de pausa. O curso das respostas metabólicas no exercício intermitente apresenta comportamento distinto na transição do repouso/ pausa para o exercício, e do exercício para o repouso/ pausa. Dentre as modalidades que possuem características intermitentes, podemos destacar o judô, onde seu treinamento prioriza a via anaeróbia lática, em detrimento da anaeróbia alática e aeróbia (Drigo et al, 1996). Segundo Amorim et al. (1994) durante um treinamento preparatório, os atletas que apresentam elevada capacidade aeróbia tendem a ter menor valor de lactato sanguíneo em qualquer tipo de atividade. O grande predomínio do metabolismo anaeróbio lático durante os treinamentos, pode provocar alterações metabólicas prejudiciais ao atleta, como: Diminuir o rendimento aeróbio e anaeróbio alático e elevar a capacidade de produção de lactato. Na capoeira, a característica aleatória que ocorrem os movimentos, dificulta a determinação da resposta metabólica, porém, de acordo com Balson Et al. (1992), teoricamente é possível pensar que um atleta com maiores reserva de ATP-CPr, ou melhor ressintese de CP, atrase a grande utilização da glicólise e fadiga relacionada à depleção de glicogênio ou ao acúmulo de lactato e íons H+. Isso nos faz entender que, o capoeirista com maiores reserva de ATP-CPr terá melhor aptidão no decorrer das voltas, onde os golpes, contragolpes e as esquivas poderiam ser executados durante o jogo com mais vigor e precisão, sem ter prejuízo significativo devido ao acumulo do acido láctico muscular.
2.21 - Aptidão Muscular na Capoeira Segundo o Colégio Americano de Medicina Desportiva (2001), a aptidão muscular é um dos componentes primários da saúde física. A força muscular é indispensável para gerar força para uma determinada rapidez (velocidade) de movimento, o que é visível nos golpes e movimentos de capoeira principalmente durante o jogo da capoeira regional, onde a melhor
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maneira dessa aptidão ser desenvolvida é aplicando-se uma sobrecarga ao músculo ou grupos musculares escolhidos. Através da adaptação os grupos musculares tornam-se mais fortes ou mais capazes de sustentar a atividade muscular. O processo de sobrecarregar o sistema muscular é denominado de treinamento de resistência, sendo que o treinamento de resistência além de desenvolver a aptidão muscular, aprimora também a capacidade de os músculos se recuperarem de uma atividade física intensa, como no caso as voltas (jogo) da capoeira que gera um estresse muscular alto nos seus praticantes. Além disso, o treinamento de resistência corretamente realizado pode induzir um aumento na massa muscular, na densidade mineral óssea, na força e na integridade do tecido conjuntivo. O ACMS (2001) afirma que: a aptidão muscular é necessária para o desempenho bem-sucedido na maioria dos desportos. Assim sendo, o treinamento de resistência é comum entre os atletas tanto amadores quanto profissionais que desejam aprimorar o desempenho atlético. Diante da presente afirmação e da necessidade da performance muscular que necessita o capoeirista não podemos negligenciar esse tipo de treinamento, de maneira que, como o treinamento aeróbico é necessário para desenvolver e manter a aptidão cardiorrespiratória do no jogo da capoeira, o treinamento de resistência é necessário para desenvolver e manter a aptidão muscular. Um beneficio importante associado ao treinamento de resistência é uma redução no risco de tensão ortopédica, onde as adaptações ao treinamento de resistência aumentam o potencial de aprimorar a qualidade de vida dos atletas reduzindo os riscos de lesões, evitando assim uma aposentadoria prematura.
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3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos estudos apresentados observamos que a via metabólica predominante parece ser a ATP-CPr sendo acionada de maneira intermitente com a via glicolítica e oxidativa durante as voltas (jogo) na capoeira,onde cada movimento realizado durante o jogo não chega a degradar todo o reservatório de ATP-CPr que segundo a literatura, dura cerca de 6 a 10 segundos no esforço máximo para chegar a exaustão,sendo assim, ocorre uma alternância de caminhos energéticos entre a via ATP-CPr , a via glicolítica e a via oxidativa, durante os dois minutos que dura cada volta (jogo) permitindo a continuidade do jogo . Contudo o técnico (treinador) não pode ser negligente desconsiderando que o metabolismo aeróbico também desempenha um papel importante para aquisição de um bom desempenho do seu atleta na fase preparatória, além de diminuir o valor do lactato sanguíneo, proporciona uma rápida recuperação pós exercícios e inúmeros benefícios cardiorrespiratórios para suportar o estresse fisiológico gerado durante as voltas na capoeira. Assim o técnico (treinador) utilizando o conhecimento da fisiologia do exercício, prescrevendo exercícios que atinja á intensidade especifica, que engloba o jogo da capoeira, com embasamento no conteúdo apresentado, pode melhorar significativamente o desempenho de seu atleta, incluindo benefícios voltados à qualidade de vida, reduzindo vários riscos de lesões que o esporte pode lhe causar. Entretanto se o técnico (treinador) não for capacitado, e optar pelo conhecimento empírico ao preparar seu atleta para competir, além expor seu atleta a lesões, por não respeitar o grau de intensidade que a capoeira exige do organismo, não fornecendo estímulos necessários para promover uma adaptação orgânica básica, estará seu atleta sujeito ao fracasso, por estar menos apto dos aqueles que tiveram um melhor acompanhamento e treinamento durante a fase preparatória.
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Devido à fisiologia do exercício, conter conteúdos limitados na literatura relacionados à capoeira, foi necessário realizar comparações com assuntos apresentados em esportes que tenha a intensidade e duração semelhante ao assunto abordado nessa monografia, mostra-se uma dificuldade em se desenvolver com precisão os esclarecimentos necessários para um bom entendimento do tema proposto, sendo um assunto relevante, não foi possível o esgotamento total das idéias apresentadas. Espero que com os esclarecimentos prestados por essa monografia, tenha gerado mais duvidas para quais, as respostas necessitarão de uma continuidade de estudo sobre o tema proposto, sendo que este trabalho acadêmico sirva de inspiração para os amantes da capoeira e da fisiologia do exercício, na tentativa de resoluções de novos problemas relacionados com os apresentados nessa monografia. Sendo assim, torna - se imprescindível o conhecimento da fisiologia do exercício para uma boa performance do capoeirista, na pratica, fica sobre responsabilidade do técnico (treinador) a alcançar um alto índice de desempenho de seu atleta, onde o mesmo deve além de ser formado em Educação Física, possuidor de conhecimentos básicos sobre anatomia, fisiologia e biomecânica, deverá estar sempre se atualizando quanto a metodologias de treinamentos que possa surgir a fim de atingir cada vez mais, a aptidão física ideal para seus atletas.
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ANEXOS FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE CAPOEIRA CÓDIGO DESPORTIVO INTERNACIONAL DE CAPOEIRA PARTE IX DAS COMPETIÇÕES DESPORTIVAS ARTIGO 44- As competições desportivas de Capoeira possuem por objetivo premiar como melhores classificados, aqueles que demonstrarem melhores performances no conjunto dos aspectos definidos neste Código, o que determinará um nível elevado de treinamento e compreensão de todos os aspectos requeridos em cada tipo de competição, os quais deverão ser transmitidos aos atletas por seus técnicos e treinadores ou durante o ensino sistematizado, o que por sua vez determinará um elevado grau de especialização de tais profissionais, conseqüentemente os resgates das tradições, rituais e fundamentos da Capoeira, os quais também implicarão em um nível elevadíssimo de formação dos árbitros que avaliarem tais eventos desportivos.
ARTIGO 45- Ficam estabelecidos os seguintes critérios para o Sistema Oficial de Competições:
A- Profissionais – Dependerão de legislações específicas conforme cada país. B- Semi-Profissionais – Aquelas nas quais o atleta receberá recursos financeiros para a competição;
C- Escolares – Serão incentivadas e consideradas de grande relevância social e educacional; D- Adaptadas – Aos portadores de necessidades especiais e incentivadas nos Comitês ParaOlímpicos;
E- Amadoras – Serão definidas a partir do Código Desportivo Internacional de Capoeira. Parágrafo 1°- Serão realizadas em todas as situações acima, competições de conjuntos, duplas e individuais, não podendo ser realizadas apresentações solo.
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Parágrafo 2°- As competições individuais serão estabelecidas em duas situações: A- Competições Individuais Tradicionais, as quais incluirão jogos em Capoeira Angola e Capoeira Regional, e que terão como finalidade o resgate dos aspectos originais da modalidade;
B- Competições Individuais Ginástico-Acobráticas Contemporâneas, em que se evidenciarão os aspectos da Capoeira em sua modernidade.
ARTIGO 46- Passa a denominar-se, como termo técnico, a expressão: “Volta do Mundo”, à entrada e o jogo entre dois capoeiristas durante um Jogo de Capoeira.
ARTIGO 47- Prevalecerá adjudicação de pontos, notas de 0 (zero) a 10 (dez) para cada volta, sendo os vencedores os que obtiverem maiores pontos na somatória geral.
Parágrafo Único – São considerados como parâmetros de avaliação às respectivas notas: A- 0- Insuficiente B- 1- Insatisfatório C- 2- Péssimo D- 3- Ruim E- 4- Razoável F- 5- Mediano G- 6- Regular H- 7- Bom I- 8- Muito Bom J- 9- Ótimo K- 10- Excelente ARTIGO 48- São considerados parâmetros de avaliações por parte dos árbitros os seguintes referenciais:
A- 0 - Capoeirista sem condições técnicas ou físicas durante a competição
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B- 1 a 2 - Quando o capoeirista não caracterizar a Capoeira Angola nem a Regional; C- 3 a 4 - Quando o capoeirista não desenvolver o jogo, atrapalhando o outro jogador, ou não estiver de acordo com o ritmo solicitado;
D- 5 a 6 - Quando capoeirista se sobressair no jogo sem manter uma boa condição técnica ou física;
E- 7 a 8 - Quando houver desenvolvimento correto do jogo com alguma situação não pertinente ao ritmo, condição técnica ou física;
F- 9 a 10 - Quando o capoeirista caracterizar a Capoeira Angola e Regional, jogando de acordo com o ritmo solicitado, mantendo um excelente condição técnica e física..
ARTIGO 50- Antes do início dos eventos desportivos, será obrigatoriamente proferido por algum atleta escolhido previamente, o Juramento do Atleta, o qual tem o seguinte text o: “Eu juro competir com lealdade, respeitar os demais jogadores e as tradições, fundamentos do jogo da Capoeira, para a salvaguarda da cultura e a glória do desporto internacional (ou variação do nome do país)”, sendo a seguir proferida a saudação da Capoeira, com a frase: “Salve a Capoeira”, trazendo a mão direita sobre o peito, cujo gesto será repetido pelos demais, com a palavra “Salve”.
ARTIGO 51- O termo Capoeira Desportiva ou Desporto da Capoeira é de uso exclusivo das entidades que integram o Sistema Desportivo da Capoeira, estabelecido pela Federação Internacional de Capoeira, pelas Federações Nacionais por ela reconhecidas, pela Confederação Brasileira de Capoeira e suas reconhecidas no Brasil, estabelecidas por suas Federações Estaduais, Ligas Regionais e Ligas Municipais..
ARTIGO 52- Haverá competições específicas para portadores de necessidades especiais e escolares, distintas das dos capoeiristas não pertencentes a este segmento, excetuando-se os casos em que próteses possam suprir tais necessidades especiais, sempre que acompanhadas de atestado médico.
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PARTE XII DAS COMPETIÇÕES INDIVIDUAIS TRADICIONAIS EM CAPOEIRA ANGOLA E CAPOEIRA REGIONAL ARTIGO 66- Será obrigatório, nas competições individuais, que os capoeiristas participem de duas situações distintas de Jogo, a saber: Capoeira Angola e Capoeira Regional (São Bento Grande).
Parágrafo 1°- Em ambas situações cada capoeirista demonstrará suas estratégias para realização dos movimentos, sua superioridade técnica, estética, ritmo, ataque, defesa, equilíbrio e penetração, evidenciando sempre os aspectos do Jogo e não da Luta.
Parágrafo 2°- Em nenhuma hipótese serão admitidos movimentos que ofendam a integridade física e moral dos oponentes de forma intencional, posto que não serão justificadas atitudes violentas, antiéticas ou antidesportivas durante os eventos competitivos, sendo os infratores, desclassificados e posteriormente encaminhados à Justiça Desportiva.
Parágrafo 3°- Não serão computados pontos específicos pela aplicação de quaisquer movimentos em particular e sim pela harmonia dos aspectos exibidos pelos capoeiristas.
Parágrafo 4°- São permitidos todos os movimentos e efeitos típicos da capoeira, criteriosamente observadas, suas condições de aplicação, intensidade e intenção, sendo proibidos movimentos traumáticos aplicados de forma a evidenciar o adversário em situação de inferioridade física e moral.
Parágrafo 5°- Neste tipo de competição todos os capoeiristas portarão crachás com números específicos, que serão fornecidos pela Diretoria de Arbitragem, os quais constarão nas súmulas dos árbitros e da mesa, juntamente com o número de inscrição da entidade a que pertencer o capoeirista.