Warcraft Warcr aft - O ltimo Guardião Jeff Grubb Grubb Tradução para par a Portugu Português – BR 1.1 (06/12/2011) (06/12 /2011) Prólogo
Warcraft Warcr aft - O ltimo Guardião Jeff Grubb Grubb Tradução para par a Portugu Português – BR 1.1 (06/12/2011) (06/12 /2011) Prólogo
A Torre Solitária A maior maior das duas lu l uas havia nascido prim pri meiro naqu naquela ela noite noite e agora aparecia aparec ia com c ompleta, pleta, de um branco prateado contra contra o céu limpo limpo e pontilhado pontilhado de estrelas. estrelas . Abaixo Abaixo do suave luar, luar, os picos pic os das Montan Montanhhas Crustarrubra se erguiam aos céus. Sob a luz do dia, o Sol fazia irradiar tons de magenta e ferrugem dos grandes picos de granito, mas sob o luar eles eram reduzidos a altos e orgulhosos fantasmas. Para o oeste encontra-se a Floresta de Évora, com as pesadas copas dos carvalhos e aroeiras cobrindo a área desde a base da cordilheira até o mar. Para o leste se espalha o pântano desolado do Lamaçal amaçal Negro, Negro, uma uma terra encharcada, encharcada, de colinas col inas baixas, com povoados falidos fali dos e perigos a espreita. esprei ta. Uma sombra atravessou brevemente a lua, uma sombra do porte de um corvo, indo em direção a um buraco no no coração da montan montanhha. Aqui, Aqui, um naco havia sido retirado re tirado do comprimen comprimento to de Crustarrubra Crustarrubra formando formando um uma clareir cl areiraa circular. cir cular. Pode ter sido s ido o cenário de um impacto impacto celestial primordial ou a memória de uma explosão de tremer a terra, mas as eras desgastaram a cratera hemisférica em uma série de morros íngremes que agora eram coroados pelas altas montanhas ao redor. Nenhuma das árvores anciãs de Elwynn conseguia alcançar tal altitude e o interior do anel de colinas era desolado, salvo por algumas ervas e por emaranhados de vinhas. No centro do anel de colinas fica um rochedo nu,, tão careca nu care ca quanto quanto a cabeça de lorde l orde mercador de Ku Kull Tiras. Ti ras. De fato, fato, a própria própri a forma forma íngreme íngreme como o rochedo se ergue, para então se aplainar no topo, é similar a de um crânio humano. Muitos haviam percebido percebi do isso i sso ao a o longo longo dos anos, apesar de poucos terem sido suficientem suficientement entee corajosos, cor ajosos, poderosos ou tolos tolos para par a mencion mencionar ar o fato ao dono dono da propriedade. propri edade. No topo achatado achatado do rochedo se ergue uma torre anciã, uma protrusão grossa e massiva de rochas brancas e cavidades negras, uma erupção feita pelo homem que se atirava sem esforço para o céu, subindo mais alto do que as colinas vizinhas, acesa pelo luar como um farol. Havia uma muralha baixa na base da torre cercando o pátio e, dentro dessa muralha, os restos decadentes de um estábulo e de uma ferraria. Mas a torre por si s i só s ó dominava dominava tudo tudo dentro do anel de colinas. Um dia essa torre fora chamada chamada de Karazhan. Karazhan. Um Um dia ela fora o lar l ar do último último dos misteriosos isterios os e secretos Gu Guardiõe ardiõess de Tirisfal. Tiris fal. Um Um dia ela fora um lugar lugar vivo. v ivo. Hoje ela estava sim si mplesmente plesmente abandonada abandonada e perdida no tem tempo. po. Havia silêncio sil êncio sobre a torre, mas não calm cal maria. No abraço da noite, formas formas quietas esvoaçavam es voaçavam de janela em janela e fantasmas dançavam ao longo dos balcões e parapeitos. Menos do que fantasmas, mais do que memórias, eles eram nada mais do que pedaços do passado que foram deslocados do fluxo do tempo. Essas sombras do passado foram desprendidas pela loucura do proprietário da torre, e estavam agora condenadas a encenar suas histórias incessantemente no silêncio da torre abandonada. Condenados Con denados a encenar, mas mas negados de qualquer audiência audiência para lhes apreciar. aprec iar. Então Então no silêncio, ouviu-se o leve som de um pisar de bota sobre a pedra, e então mais um. Um relâmpago de movimento sob o pálido luar, uma sombra contra a rocha branca, o esvoaçar de um capuz vermelho, esfarrapado, no ar frio da d a noite. Um Uma figura figura an a ndava sobre s obre o mais mais alto parapeito, parap eito, na torre mais mais alta, que anos antes servira como observatório. A porta do parapeito para o observatório se abriu rangendo suas dobradiças anciãs e então parou, congelada pela ferrugem e pela passagem do tempo. A figura encapuzada parou um momento, então pôs um dedo na dobradiça e murmurou um pequeno conjunt conjuntoo de palavras. palavra s. A porta por ta abriu silenciosam sil enciosament ente, e, as dobradiças dobradiç as com co mo novas. O invasor se deixou dei xou sorrir. sorri r. O observatório obser vatório estava es tava vazio agora, as ferramentas ferramentas restantes restantes destru des truídas ídas e abandonadas. abandonadas. O invasor quase tão silencioso como se fosse um fantasma pegou um astrolábio despedaçado, sua
fantasmagórica estava parada nas proximidades, ao lado de uma das muitas janelas. O fantasma/não fantasma era um homem de ombros largos, cabelo e barba antes negros, mas agora tornando-se prematu prematuram rament entee cinza cinza nas bordas. A figu figura ra era um dos pedaços do passado, pa ssado, descolado desc olado e agora repetindo sua tarefa, independente de ter plateia ou não. Por um momento, o homem de cabelos escuros segurou o astrolábio, o gêmeo intacto do que estava nas mãos do invasor, munido de um pequeno pequeno botão em um dos lados. lados . Um Um moment omento, o, um uma leitu lei tura, ra, e uma uma virada no botão. Suas sobrancelhas negras se contraíram sobre olhos verdes fantasmagóricos. Mais um momento, outra leitura, outra virada. Finalmente, a figura alta e imponente suspirou profundamente e colocou o astrolábio astrolábi o em um uma mesa mesa que já não estava mais lá e desapareceu. des apareceu. O invasor acenou com a cabeça. Tais assombrações eram comuns mesmo nos dias em que Karazhan era habitada, mas agora, despida do controle (e da loucu l oucura) ra) de seu se u mestre, mestre, elas el as se s e tornaram mais constant constantes. es. Mas esses e sses pedaços do passado perten pe rtenciam ciam a este este lugar, lugar, enquant enquantoo ele não. Ele era o deslocado, desl ocado, não eles. O invasor invasor atravessou o quarto para as escadarias que levavam aos andares inferiores, enquanto atrás dele o homem velho reapareceu e repetiu suas ações, olhando com seu astrolábio para um planeta que a muito se movera para outras outras partes do céu. O invasor seguiu seguiu para baixo, pela torre, atravessando atraves sando andares para alcançar outras escadarias escadar ias e outros outros corredor c orredores. es. Nenhum Nenhumaa porta estava fechada para ele, mesmo as trancadas e pregadas, ou seladas pela ferrugem e idade. Algumas palavras, um toque, um gesto e os trincos corriam livres, a ferrugem se dissolvia em pilhas de pó, as dobradiças se restauravam. restauravam. Em um um ou dois lugares, lugares, proteções anciãs ainda ai nda brilhavam, brilhavam, potentes potentes apesar a pesar da idade. i dade. Ele El e parou em frente frente a elas por um moment omento, o, pensando, pensando, refletindo, refletindo, buscando buscando em sua mem memória ória a senh s enha. a. Ele falou a palavra correta, fez os movimentos corretos com as mãos, destruiu a magia fraca que restava e seguiu em frente. Enquanto movia-se pela torre, os fantasmas do passado se tornavam mais agitados e ativos. Agora com um uma audiência em potencial, potencial, parecia pare cia que esses ess es pedaços pedaç os do passado pa ssado queriam desempenhar, tentando se tornar livres deste lugar. Qualquer som que possuíssem fora a muito tempo erodido, erodid o, deixando deixando apenas imagens imagens se movendo movendo através dos corredores cor redores.. O invasor passou pass ou por um mordomo ancião, com uniforme negro, o velho atravessando lentamente o corredor vazio, carregando uma uma bandeja de prata e usando um um par de antolhos antolhos para cavalos. ca valos. O invasor passou pela biblioteca, bibli oteca, onde um uma jovem jove m de pele esverdeada esverdea da estava parada, par ada, de costas para ele, debruçada de bruçada sobre um antigo antigo pergaminh pergaminho. o. Ele passou pela sala sal a de banquetes, banquetes, de um um lado um grupo grupo de músicos músicos tocando tocando silenciosamente, dançarinos girando sobre si mesmos. Do outro, uma grande cidade queimava, suas chamas colidindo sem efeito contra as paredes de pedra e a tapeçaria apodrecida. O invasor passou pelas ch c hamas amas silenciosas, sil enciosas, mas mas seu semblant semblantee se fechou, fechou, tenso, tenso, enquant enquantoo ele via mais uma uma vez a poderosa cidade c idade de Ventobravo Ventobravo queim queimando ando ao seu redor. Em um quarto, três moças estavam sentadas ao redor de uma mesa, contando mentiras agora desconhecidas desconhecidas.. Canecas de metal estavam es tavam espalhadas pela superfície da mesa e também também abaixo dela. O invasor parou, observando essa imagem por um longo tempo, até que uma garçonete fantasma trouxe mais uma rodada. Então ele chacoalhou sua cabeça e seguiu em frente. Ele estava próximo do nível térreo, e saiu para um balcão baixo que estava preso precariamente à parede, como um ninho de vespas sobre a porta prin pri ncipal. cipal . Lá, na na vasta área ár ea em frent frentee a torre, torre , entre entre a entrada entrada principal pr incipal e o agora destruído estábulo no pátio, estava uma única figura fantasma, só e separada. Ela não se movia como as outras, outras, apenas ficava lá, esperando, em expectativa. expectativa. Uma Uma parte par te do passado pa ssado não libertada, liber tada, uma uma
nascida. Uma mochila batida ao lado de seus pés, segurando com uma força mortal uma carta com um selo vermelho. Esse certamente não era um fantasma, o invasor sabia, apesar de o dono desta imagem estar possivelmente morto, caído em combate sob o Sol de uma terra estrangeira. Ele era uma memória, um pedaço do passado, preso como um inseto no âmbar, esperando sua libertação. Esperando sua chegada. chegada. O invasor sent s entou ou nnoo beiral beir al de pedra da sacada e olhou, olhou, além do pátio, além do rochedo, roc hedo, além do anel anel de colinas. col inas. Havia silencio s ilencio sobre s obre o luar, como se as montanh ontanhas as elas el as mesmas mesmas estivessem segurando a respiração, esperando por ele. O invasor levantou uma mão e entoou uma série séri e de palavras. palavr as. Prim Pri meiro vieram viera m suaves as rimas e os ritmos, ritmos, então mais mais altos, finalment finalmentee mais mais alto ainda, terminando a calmaria. Distantes, lobos retornaram o canto, num uivo em contraponto. Então a figura fantasmagórica do jovem, seus pés aparentemente presos na lama, respirou fundo, levou sua mochila de segredos para sobre o ombro, e arrastou-se para a entrada principal da torre de Medivh.
1. Karazhan Hadggar agarrou a carta de introdução com selo rubro e tentou desesperadamente lembrar seu próprio nome. Ele cavalgara por dias, seguindo diversas caravanas, e finalmente terminara a viagem para Karazhan sozinho através da vasta e super crescida floresta de Elwynn. Então a longa escalada até as alturas da montanha, para este local isolado, sereno. Até o ar parecia frio e defasado. Agora, amargo e cansado, o jovem de barba rala esperava à frente do pátio, petrificado por o que tinha que fazer. Se apresentar para o mais poderoso mago de Azeroth. Uma honra, os escolares do Kirin Tor disseram. Uma oportunidade, eles insistiram, que não era para ser desperdiçada. Os sábios mentores de Hadggar, um conclave de escolares e feiticeiros influentes, disseram a ele que eles estavam tentando infiltrar uma cabeça amiga na torre de Karazhan a anos. O Kirin Tor queria aprender que conhecimentos o mago mais poderoso das terras escondera em sua biblioteca. Eles queriam saber que pesquisas ele fazia. E mais do que tudo, eles queriam que esse mago dissidente começasse a planejar o seu legado, queriam saber quando o grande e poderoso Medivh planejava treinar um herdeiro. O Grande Medivh e o Kirin Tor aparentemente estavam a tempos se desentendendo em um assunto ou outro, e só agora ele pedira por um dos seus membros. Só agora ele teria um aprendiz. Seja por um amolecimento da conhecida cabeça dura do feiticeiro, ou por meras concessões diplomáticas, ou por um sentimento rastejante da própria mortalidade do mago, não importava para os mestres de Hadggar. A simples verdade era que esse poderoso, independente (e para Hadggar, misterioso) feiticeiro pedira por um assistente, e o Kirin Tor, que governava o reinado mágico de Dalaran, estava mais do que feliz de conceder. Então o jovem Hadggar foi escolhido e despachado com uma lista de instruções, ordens, contraordens, requisições, sugestões, conselhos e outros pedidos de seus mestres feiticeiros. Pergunte a Medivh sobre as batalhas de sua mãe contra os demônios, pediu Guzbah, seu primeiro instrutor. Descubra tudo o que conseguir sobre história élfica em sua biblioteca, pediu a senhora Delth. Pesquise seus volumes por quaisquer bestiários, ordenou Alonda, que estava convencida de que havia uma quinta espécie de troll ainda não registrada em seus próprios volumes. Seja direto, bola pra frente, honesto, recomendou Norlan, o Artesão Chefe – o grande Medivh parecia valorizar esses traços. Seja responsável e faça o que lhe for pedido. Mantenha a postura. Sempre pareça interessado. Fique sempre ereto. E acima de tudo, mantenha seus ouvidos e olhos abertos. As ambições do Kirin Tor não incomodavam Hadggar terrivelmente – sua ascensão em Dalaran e sua posição prematura de aprendiz no conclave tornaram claro a ele que seus mentores eram insaciavelmente curiosos a respeito de mágica em todas as suas formas. Suas continuas acumulações, catalogações e definições de magia eram impressas nos novos estudantes já enquanto jovens, e Hadggar não era diferente da maioria. Aliás, ele reconhecia que a sua própria curiosidade pode ter favorecido a sua recente situação. Suas próprias perambulações noturnas pelos corredores da Cidadela Violeta em Dalaran haviam levado-o a descobrir mais do que alguns segredos que o conclave preferiria que não fossem chafurdados. O gosto do Artesão Chefe por vinho de chamas, por exemplo, ou a preferência da senhora Delth por cavalheiros jovens, com uma pequena fração de sua idade, ou a coleção secreta do bibliotecário Korrigan de panfletos descrevendo (de forma sombria) as práticas de adoradores de demônios históricos. E havia algo a respeito de um dos grandes sábios de Dalaran, o venerável Arrexis, um dos grandes conselheiros que até os outros respeitavam. Ele
respeito novamente. Mas Hadggar descobrira, mesmo assim. Hadggar tinha um jeito para descobrir a referencia correta, fazer a conexão necessária, ou conversar com a pessoa certa na hora certa. Era um dom, e poderia vir a se provar uma maldição. Qualquer uma dessas descobertas poderia ter resultado na obtenção dessa prestigiada (e considerando todos os treinamentos e avisos, potencialmente fatal) atribuição. Talvez eles pensassem que o jovem Hadggar era muito bom em desencavar segredos – mais fácil para o conclave mandá-lo para algum lugar onde sua curiosidade faria algum bem para o Kirin Tor. Ou pelo menos colocá-lo longe o suficiente para que não ficasse descobrindo coisas sobre os nativos da Cidadela Violeta. E Hadggar, através de sua bisbilhotice implacável, ouvira essa teoria também. Então Hadggar partiu com sua mochila cheia de anotações, o coração cheio de segredos, e a cabeça cheia de grandes pedidos e conselhos inúteis. Na última semana antes de partir de Dalaran, ele conversara com quase todos os membros do conclave, estando cada um deles interessado em algo a respeito de Medivh. Para um feiticeiro morando no fim do mundo, cercado de árvores e picos agourentos, os membros do Kirin Tor estavam extremamente curiosos a respeito dele. De forma urgente, parecia. Respirando fundo (e dessa forma sendo lembrado de que ainda estava muito perto do estábulo), Hadggar avançou a passos largos em direção à torre propriamente dita, seus pés sentindo como se estivesse puxando seu pônei de carga pelos tornozelos. A entrada principal era ampla como a entrada de uma caverna, sem portão ou grades. Fazia sentido, pois que exército iria cruzar a floresta de Elwynn, para vencer as paredes arredondadas da cratera, tudo para lutar com o mago Medivh em pessoa? Não havia registro de qualquer um ou qualquer coisa jamais ao menos tentar confrontar Karazhan. A entrada sombria era alta o suficiente para deixar um elefante completamente armado passar. Pouco acima havia uma sacada larga com proteções de pedras brancas. De lá alguém estaria no nível das colinas ao redor e veria as montanhas além. Houve um estalo de movimento no balcão, algo que Hadggar mais sentiu do que testemunhou. Talvez uma figura encapuzada andando pelo balcão, entrando na torre. Estava ele sendo observado? Haveria alguém para recebê-lo, ou era esperado que ele desbravasse a torre por conta própria? “Você é o novo jovem?” Perguntou uma voz suave, quase sepulcral, e Hadggar, ainda com a cabeça empinada, quase pulou para fora de si. Ao girar, ele viu uma figura magra, encurvada, emergir das sombras da entrada. A coisa encurvada se parecia marginalmente humana, e por um momento Hadggar pensou se Medivh estaria mutando animais silvestres para trabalharem como seus serventes. Este parecia uma fuinha sem pelos, sua longa face era enquadrada por o que parecia um par de retângulos negros. Hadggar não se lembrava de ter dado qualquer resposta, mas o homem fuinha deu um passo à frente e repetiu a pergunta. “Você é o novo jovem?” disse. Cada palavra era enunciada com seu próprio fôlego, encapsulada em sua própria caixinha, capitalizada e separada das outras. Ele saiu completamente para fora das sombras e se mostrou nada mais ou menos ameaçador do que um homem velho magricela em uniforme de lã negra. Um servente – humano, mas um servente. Ele ainda estava usando retângulos negros nas laterais de sua cabeça, como um par de protetores auriculares que se estendiam para frente até a ponta de seu nariz proeminente. O jovem percebeu que ele estava encarando o velho, “Hadggar,” ele disse, então depois de um momento apresentou a carta de introdução que apertava em suas mãos. “De Dalaran. Hadggar de Dalaran, no reino de Lordaeron. Eu fui enviado pelo Kirin Tor. Da Cidadela Violeta. Eu sou Hadggar do Kirin Tor. Da Cidadela Violeta. De Dalaran. Em Lordaeron.” Ele se sentia como se
Cidadela Violeta. De Dalaran. De Lordaeron.” O servente tomou a carta proferida como se o documento fosse um lagarto vivo e, após alisar as bordas amassadas, enfiou-a na jaqueta de seu uniforme sem abri-la. Após carregá-la e protegê-la por tantos quilômetros, Hadggar sentiu a dor da perda. A carta de introdução representava seu futuro, e ele estava relutante em vê-la desaparecer, nem que por um momento. “O Kirin Tor me mandou para auxiliar Medivh. Lorde Medivh. O feiticeiro Medivh. Medivh de Karazhan.” Hadggar percebeu que ele estava a meio passo de colapsar em pleno balbuciar e com um esforço definitivo, fechou sua boca completamente. “Tenho certeza de que o fizeram,” disse o servente, “lhe mandar, quero dizer”. Ele avaliou o selo na carta, e uma mão magra mergulhou em seu casaco, puxando um conjunto de retângulos negros presos por um fino fio metálico. “Antolhos?” Hadggar piscou. “Não. Quer dizer, não obrigado.” “Moroes,” disse o servente. Hadggar balançou a cabeça. “Eu sou Moroes,” disse o servente. “Administrador da torre. Castelão de Medivh. Antolhos?” Novamente ele ergueu os retângulos negros, semelhante aos que enquadravam seu rosto. “Não, obrigado... Moroes,” disse Hadggar, sua face se contorcendo de curiosidade. O servente se virou e gesticulou com um fraco aceno de mão para que o seguisse. Hadggar pegou sua mochila e teve que dar uma corrida para alcançar o servente. Com toda sua suposta fragilidade, o administrador se movia num bom ritmo. “Você está sozinho na torre?” Hadggar arriscou, enquanto começavam a subir um conjunto de escadas largas e curvadas. As pedras eram afundadas no centro, desgastadas pela miríade de pés de serventes e visitantes. “Eh?” respondeu o servente. “Você está sozinho?” repetiu Hadggar, pensando se ele teria que se reduzir a falar como Moroes para ser entendido. “Você vive aqui sozinho?” “O Magus está aqui,” respondeu Moroes numa voz assobiada que parecia tão pálida e tão mórbida como a poeira em uma tumba. “Sim, é claro,” disse Hadggar. “Não faria muito sentido você estar aqui se ele não,” continuou o administrador. “Não estivesse aqui, quero dizer.” Hadggar pensou se a voz do velho soava assim por não ser usada frequentemente. “É claro,” concordou Hadggar. “Alguém mais?” “Você, agora,” continuou Moroes. “Mais trabalho cuidar de dois do que de um. Não que eu tenha sido consultado.” “Então, só você e o feiticeiro, normalmente?” disse Hadggar, pensando se o administrador teria sido contratado (ou criado) por sua natureza taciturna. “E Cook,” disse Moroes. “Mas Cook não fala muito. Obrigado por perguntar mesmo assim.” Hadggar tentou se controlar para não rolar os olhos, mas falhou. Ele torceu para que os antolhos em ambos os lados do rosto do administrador tenham impedido-o de ver sua resposta. Eles chegaram em um ponto plano, um cruzamento de corredores iluminado por tochas. Moroes cruzou imediatamente para outro conjunto de escadas curvas desgastadas opostas a eles. Hadggar parou por um momento para examinar as tochas. Ele levantou uma mão a meros centímetros das chamas, mas não sentiu calor. Hadggar ponderou se o fogo frio era comum na torre. Em Dalaran eles usavam cristais fosforescentes que emitiam um brilho constante, apesar de suas pesquisas falarem de espelhos refletivos, espíritos elementais presos em lanternas e, em um caso, gigantescos vaga-lumes aprisionados. Entretanto, essas chamas pareciam congeladas no local. Moroes, já na metade do próximo conjunto de escadas, virou devagar e deu uma tossida. Hadggar se apressou para alcançá-lo. Aparentemente os antolhos não limitavam tanto o velho administrador. “Por que os antolhos?” perguntou Hadggar. “Eh?” Respondeu Moroes. Hadggar tocou o lado de sua cabeça. “Os antolhos. Por que?” Moroes retorceu sua cara no que Hadggar só podia assumir ser um sorriso.
cuidadosos. Eles se foram agora.” Hadggar pensou no fantasma que ele pode ou não ter visto no balcão superior, e concordou. “Cook tem um par de lentes de quartzo rosa,” acrescentou Moroes. “Jura por eles.” Ele parou por um momento e então acrescentou “Ela é meio que uma tola.” Hadggar esperava que ele fosse ser mais conversador quando estivesse mais aquecido. “Então, você está cuidando da casa do Magus faz tempo?” “Eh?” disse Moroes de novo. “Você está com Medivh faz tempo?” Hadggar disse, torcendo para manter o tom impaciente ausente em sua voz. “Ayep,” disse o administrador. “Tempo suficiente. Muito tempo. Parecem anos. O tempo é desse jeito por aqui.” O administrador experiente deixou sua voz diminuir e os dois subiram em silencio. “O que você sabe sobre ele?” arriscou Hadggar, finalmente. “O Magus, quero dizer.” “A pergunta é,” disse Moroes, abrindo ainda mais uma porta para revelar ainda mais um conjunto de escadas. “O que você sabe?” A pesquisa de Hadggar sobre o assunto foi surpreendentemente improdutiva e seus resultados foram frustrantemente esparsos. Apesar do acesso à grande biblioteca de Cidadela Violeta (e acesso ilícito a algumas bibliotecas privadas e coleções secretas), havia muito pouco a respeito deste grande e poderoso Medivh. Isso era duplamente estranho, já que todo mago ancião parecia ter grande admiração por Medivh, e queria uma coisa ou outra dele. Um favor, um benefício, um pouco de informação. Medivh era aparentemente um jovem, comparado com outros feiticeiros. Ele estava apenas nos seus quarenta anos e por uma grande parte deste tempo parece não ter causado qualquer impacto nos seus arredores. Isso era uma surpresa para Hadggar. A maioria dos contos que ele ouvira ou lera descrevia feiticeiros independentes como sendo extremamente exibidos, destemidos para se meterem com segredos que os homens não foram feitos para saberem, e normalmente mortos, aleijados ou amaldiçoados por mexerem com energias e poderes além de seus conhecimentos. A maioria das lições que ele aprendera quando criança a respeito de magos que não eram de Dalaran terminavam da mesma forma – sem restrições, controle ou pensar, o feiticeiro selvagem, destreinado ou autodidata sempre terminava com um fim ruim (algumas vezes, apesar de pouco frequente, destruindo também uma grande porção dos campos ao seu redor). O fato de Medivh ter falhado em trazer um castelo para cima de si mesmo, ou dispersar seus átomos pela Espiral Etérea, ou invocar um dragão sem saber como controlar esse dragão, indicava ou grandes restrições ou grandes poderes. Pela bagunça que os escolares fizeram a respeito de sua escolha, e pela lista de instruções que recebera, Hadggar decidiu pela segunda opção. Ainda assim, com toda sua pesquisa, ele não conseguiu descobrir o porquê. Nada indicava alguma grande pesquisa desse Medivh, alguma grande descoberta, nem algum feito de tremer o solo que seria responsável pela grande admiração que o Kirin Tor tinha por esse mago independente. Nenhuma grande guerra, nenhuma grande conquista ou batalhas épicas conhecidas. Os bardos eram notavelmente falhos nos assuntos que diziam respeito a Medivh, e os mais zelosos arautos acenavam com a cabeça na hora de discutir seus feitos. Ainda assim, percebia Hadggar, havia algo importante aqui, algo que criava nos escolares uma mistura de medo, respeito, inveja. O Kirin Tor não considerava qualquer outro conjurador de magias como semelhante em conhecimento mágico. Aliás, normalmente tentavam retardar os feiticeiros que não se aliavam com a Cidadela Violeta. Ainda assim, eles bajulavam Medivh. Por que? Hadggar tinha apenas as peças menores – um pouco de seus pais (Guzbah estava particularmente interessado na mãe de Medivh), algumas notas de rodapé em um grimório evocando seu nome, e a menção de ocasionais visitas a Dalaran. Todas essas visitas ocorreram nos últimos cinco anos, e aparentemente Medivh se encontrou apenas com magos anciãos, como o agora desaparecido Arrexis. Somando tudo, Hadggar
calamitosamente despreparado para o encontro por vir. Em voz alta ele disse, “Não muito.” “Eh?” respondeu Moroes, meio que se virando nas escadarias. “Eu disse, eu não sei muito,” disse Hadggar, mais alto do que ele gostaria. Sua voz ecoou pelas paredes nuas da escadaria. Elas estavam curvadas agora, e Hadggar pensou se a torre era mesmo tão alta quanto parecia. Suas coxas já estavam doendo por conta da escalada. “Claro que não,” disse Moroes. “Não sabe, quero dizer. Homens jovens nunca sabem de muita coisa. É isso que os faz ovens, eu suponho.” “Eu quero dizer,” disse Hadggar, irritado. Ele pausou e tomou fôlego. “Eu quero dizer, eu não sei muito sobre Medivh. Você perguntou.” Moroes esperou por um momento, seu pé parado no próximo degrau, “Eu suponho que eu o tenha perguntado,” ele disse finalmente. “Como ele é?” perguntou Hadggar, sua voz quase suplicando. “Como todo mundo, eu suponho,” disse Moroes. “Tem suas manias, seus gênios, bons dias e maus dias. Como todo mundo.” “Veste suas calças uma perna de cada vez,” disse Hadggar, suspirando. “Não, ele levita para dentro delas,” disse Moroes. O velho servente olhou para Hadggar, e o jovem percebeu o menor esboço de um sorriso na face do velho. “Mais um conjunto de escadas.” O conjunto final de escadas fazia uma curva apertada, e Hadggar supôs que eles deviam estar próximo ao anel mais alto da torre. O velho servente mostrou o caminho. A escadaria se abriu em um pequeno quarto circular, cercado por um largo parapeito. Como Hadggar supusera, eles estavam na ponta mais alta da torre, com um grande observatório. As paredes e o teto eram perfurados por janelas cristalinas, claras e desembaçadas. Durante o tempo da escalada, a noite caíra completamente e o céu estava negro e polvilhado de estrelas. O observatório propriamente dito era escuro, iluminado por algumas poucas das mesmas tochas de chamas congeladas, como nos outros locais. Entretanto estas estavam encapuzadas, os lampiões cobertos para a observação do céu noturno. Um braseiro apagado no centro do quarto estava preparado para mais tarde, pois a temperatura cairia pela manhã. Várias mesas grandes e curvas estavam dispostas em volta da parede externa do observatório, cobertas com toda sorte de aparatos. Alavancas de prata e astrolábios de ouro serviam de peso de papel ou como marca páginas, mantendo textos anciãos abertos nas páginas certas. Um modelo metade desmontado estava em uma mesa, mostrando movimentos planetários através do vazio celestial, fios finos e miçangas adicionais estavam espalhados juntos com ferramentas delicadas. Blocos de notas estavam amontoados contra uma parede e outros estavam em caixotes entulhados embaixo das mesas. Um mapa do continente estava esticado em uma moldura, mostrando as terras do sul de Azeroth e a própria Lordaeron de Hadggar, assim como os reinos dos reclusos anões e elfos de Khaz Modan e Quel’Thalas. Numerosos alfinetes espetavam o mapa, formando uma constelação que só o próprio Medivh poderia decifrar. E Medivh estava lá, pois para Hadggar não podia ser qualquer outro. Ele era um homem de meia idade, seu cabelo longo e preso em formando um rabo de cavalo. Em sua juventude, seu cabelo devia ter sido preto ébano, mas agora já estava se tornando cinza nas têmporas e na barba. Hadggar sabia que isso acontecia com muitos magos, por causa do desgaste das energias mágicas que eles manejavam. Medivh trajava um roupão simples para um mago – bem cortado, caindo bem e apropriado para seu alto semblante. Um tabardo curto, sem adornos, pendurado na cintura, sobrecalças enfiadas nas botas superdimensionadas. Uma capa castanha pesada pendurada em seus ombros largos, o capuz caído para trás. Quando os olhos de Hadggar se ajustaram à escuridão, ele percebeu que estava errado quando aos trajes do feiticeiro não serem adornados. Pelo contrário,
um algum demônio legendário ancião. Ele piscou e, nesse tempo, os traços se tornaram um dragão, e então o céu noturno. Medivh estava de costas para seu servente e o jovem, ignorando-os completamente. Ele estava de pé de frente a uma das mesas, um astrolábio dourado em uma mão, um livro de notas na outra. Ele parecia perdido em seus pensamentos, e Hadggar imaginou se essa seria uma das “coisas” que Moroes tinha lhe avisado sobre. Hadggar limpou sua garganta e deu um passo a frente, mas Moroes levantou uma mão. Hadggar travou no lugar, tão certeiro como se estivesse afetado por uma magia. Por sua vez, o velho servente andou silenciosamente para um dos lados do mestre mago, esperando que Medivh reconhecesse sua presença. Um minuto se passou. Um segundo minuto. Então um período que Hadggar jurava ter sido uma eternidade. Finalmente a figura de roupão largou o astrolábio e fez três rápidas anotações no livro. Ele fechou o livro com um movimento rápido e olhou para Moroes. Vendo seu rosto pela primeira vez, Hadggar pensou que Medivh era muito mais velho do que seus supostos quarenta e poucos anos. A face estava profundamente delineada e desgastada. Hadggar pensou em que magias Medivh possuiria que escrevessem uma historia tão funda em seu rosto. Moroes mergulhou a mão em sua vestimenta e pescou a carta de apresentação, o selo rubro agora vermelho sangue na constante e imutável luz das tochas. Medivh se virou e olhou para o jovem. Os olhos do mago eram profundos sob suas grandes e pesadas sobrancelhas, mas Hadggar percebeu na hora o poder contido. Algo dançava e tremulava naqueles olhos verdes profundos, algo poderoso e talvez descontrolado. Algo perigoso. O mestre mago olhou rapidamente para ele e em um momento Hadggar sentiu que o feiticeiro havia tomado a somatória de toda sua existência e não a achou mais intrigante do que a de um besouro ou uma pulga. Medivh desviou seu olhar de Hadggar para a carta de apresentação selada. Hadggar se sentiu relaxar quase que imediatamente, como se um grande e faminto predador tivesse passado por ele sem olhar pela segunda vez. Seu alivio durou pouco. Medivh não abriu a carta. Ao invés disso suas sobrancelhas se enviesaram apenas levemente, e o documento se incendiou com um explosivo jato de ar. As chamas se amontoavam na extremidade oposta à que Medivh segurava, e tremulavam na forma de uma chama intensa, azul. Quando Medivh falou, sua voz era profunda e entretida. “Então,” disse Medivh, absorto do fato de estar segurando o futuro de Hadggar queimando em suas mãos. “Parece que o nosso jovem espião chegou, finalmente.”
2. Entrevista com o Magus -Tem alguma coisa errada? - perguntou Medivh, e Hadggar subitamente se sentiu sob o olhar do mago novamente. Ele se sentiu como um besouro de novo, mas dessa vez um que havia desadvertidamente rastejado para a escrivaninha de um colecionador de insetos. As chamas já haviam consumido metade da carta de apresentação, e o selo de cera já estava derretendo, pingando no pavimento de pedra do observatório. Hadggar estava ciente de que seus olhos estavam arregalados, sua cara sem sangue e pálida, seu queixo caído. Ele tentou forçar o ar para fora de seu corpo, mas tudo o que ele conseguiu foi um som estrangulado, assoviado. As sobrancelhas negras e pesadas franziram em um olhar preocupado. -Você está doente? Moroes, esse rapaz está doente? -Ofegante, talvez. - disse Moroes em um tom baixo. -Foi uma subida longa. Finalmente Hadggar conseguiu voltar a seus sentidos o suficiente para dizer: -A carta! -Ah! -disse Medivh. -Sim. Obrigado, eu quase havia me esquecido. Ele se dirigiu ao braseiro e jogou o pergaminho flamejante sobre o carvão. A bola azul de chamas cresceu espetacularmente para quase a altura dos ombros e então regrediu para o tamanho de uma chama normal, preenchendo o quarto com uma luz quente, avermelhada. Da carta de apresentação, com seu pergaminho e o selo rubro inscrito com o símbolo do Kirin Tor, não havia sinal. -Mas você não a leu! - disse Hadggar, então se controlou, -Quero dizer, senhor, com todo o respeito... O mestre mago riu e se ajeitou em uma grande cadeira feita de lona e madeira negra entalhada. O braseiro iluminava seu rosto, exibindo em suas linhas profundas a forma de um sorriso. Apesar disso, Hadggar não conseguia relaxar. Medivh se inclinou para frente em sua cadeira e disse, -'Ó grande e respeitado mago Medivh, mestre mago de Karazhan, eu lhe trago os cumprimentos do Kirin Tor, a mais estudada e poderosa das academias mágicas, guildas, e sociedades, conselheiros de reis, professores dos conhecedores, reveladora de segredos.' - Eles continuam dessa forma por um tempo, inflando-se mais a cada frase.
-Eu não saberia dizer. -disse Hadggar. -Eu fui instruído a Não abrir a carta. -completou Medivh. -Mas você o fez, mesmo assim. - O mestre mago levantou seus olhos para ver o jovem, e a respiração de Hadggar travou em sua garganta. Algo tremulou nos olhos de Medivh, e Hadggar imaginou se o mestre mago tinha o poder de invocar magias sem que percebessem. Hadggar concordou com um lento aceno com a cabeça, sedendo a resposta. Medivh gargalhou alto, “Quando?” “Na... na viagem de Lordaeron para Kul Tiras,” disse Hadggar, incerto de se o que disse iria divertir ou irritar seu mentor em potencial. “Nós estávamos em calmaria por dois dias e...” “A curiosidade levou a melhor,” terminou Medivh novamente. Ele sorriu, e era um sorriso limpo e branco por baixo da barba grisalha. “Eu provavelmente teria aberto na hora em que eu estivesse fora da vista da Cidadela Violeta de Dalaran.” Hadggar respirou fundo e disso, “Eu considerei essa hipótese, mas eu achei que eles teriam magias de adivinhação em operação, pelo menos àquela distância.” “E você queria estar longe de qualquer magia ou mensagem de retorno por abrir a carta. E você a arrumou de volta bem o suficiente para enganar um observador de relance, certo de que eu quebraria o selo logo de cara e não perceberia sua malandragem.” Medivh se deixou rir, mas fechou sua expressão, agora focado. “Como eu fiz aquilo?” ele perguntou. Hadggar piscou. “Fez o que, senhor?” “Soube o que estava na carta?” disse Medivh, os lados de sua boca se curvando para baixo. “A carta que eu acabei de queimar dizia que eu me impressionaria com a inteligência e o poder dedutivo do jovem Hadggar. Me impressione.” Hadggar olhou para Medivh, e o sorriso jovial de alguns segundos atrás evaporou. A cara risonha era agora a de um deus de pedra primitivo, julgando sem perdão. Os olhos que tiniam com alegria mais cedo agora pareciam quase expressar uma fúria escondida. As sobrancelhas se uniram como nuvens tempestuosas. Hadggar exitou por um momento, então disse, “Você lê minha mente.” “Possível,” disse Medivh. “Mas incorreto. Você está uma pilha de nervos agora, e isso atrapalha a leitura da mente. Uma errada.” “Você recebeu esse tipo de carta outras vezes,” disse Hadggar. “Do Kirin Tor. Você sabe que tipos de carta são escritos.” “Também possível,” disse o mago mestre. “Como eu já recebi tais cartas e elas realmente tendem a ser exageradas no tom autocongratulatório. Mas você sabe as palavras exatas tão bem quanto eu. Uma boa tentativa, e a mais óbvia, mas ainda incorreta. Duas erradas.” A boca de Hadggar formou uma linha apertada. Sua mente fervilhava e seu coração trovejava em seu peito. “Empatia,” ele disse enfim. Os olhos de Medivh se mantiveram ilegíveis, sua voz em um tom constante. “Explique.” Hadggar respirou fundo. “Uma das leis da magia. Quando alguém manuseia um objeto, ele deixa parte de sua própria aura mágica ou vibração entranhada no item. Como auras variam com cada indivíduo, é possível se conectar com um para afetar o outro. Dessa forma, uma mecha de cabelo pode ser usada em uma poção do amor, ou uma moeda pode ser usada para encontrar seu dono original.” Os olhos de Medivh se apertaram levemente, e ele arrastou um dedo pela barba em seu queixo. “Continue.” Hadggar parou por um momento, sentindo o peso dos olhos de Medivh fazendo pressão sobre ele. Isso era o que ele sabia de suas leituras. Ele estava na metade do caminho. Mas como Medivh fizera uso disso para descobrir... “Quanto mais alguém usa um item, mais forte é a ressonância,” disse Hadggar rapidamente. “Portanto um objeto que recebe muito manuseio ou atenção
documento que alguém escreveu tem mais aura nele do que um pergaminho em branco, e a pessoa está se concentrando no que ela está escrevendo, então...” Hadggar deixou seus pensamentos alcançálo por um momento. “Você estava lendo mentes, mas não a minha mente – a mente do escrivão que escreveu a carta na hora em que ele a estava escrevendo – você captou seus pensamentos reforçando as palavras.” “Sem ter que abrir o documento fisicamente,” disse Medivh, e a luz dançou em seus olhos novamente. “Então como esse truque seria útil para um escolar?” Hadggar piscou por um momento e olhou para longe do mestre mago, buscando evitar seu olhar perfurante. “Você poderia ler livros sem ter que ler livros.” “Muito útil para um pesquisador,” disse Medivh. “Você pertence a uma comunidade de escolares. Por que vocês não fazem isso?” “Porque... porque...” Hadggar pensou no velho Korrigan, que conseguia encontrar qualquer coisa na biblioteca, mesmo a menor nota de rodapé. “Eu acho que nós fazemos, mas só os membros mais velhos do conclave.” Medivh concordou com um aceno de cabeça. “E isso acontece porque...” Hadggar pensou por um momento, então chacoalhou sua cabeça. “Quem escreveria se todo o conhecimento pudesse ser extirpado com uma torcida da mente e um punhado de magia?” Sugeriu Medivh. Ele sorriu, e Hadggar percebeu que ele estivera segurando a respiração. “Você não é mau. Nem um pouco. Você conhece suas contra magias?” “Até o quinto conjunto,” disse Hadggar. “Você consegue energizar um raio místico?” perguntou Medivh rapidamente. “Um ou dois, mas é exaustivo,” respondeu o jovem, percebendo de repente que a conversa guinara para o sério novamente. “E os seus elementais primários?” “O mais forte é a chama, mas eu conheço todos eles.” “Magia da natureza?” perguntou Medivh. “Maturar, abater, cultivar? Você consegue pegar uma semente e extrair a juventude dela até que ela vire uma flor?” “Não senhor. Eu fui treinado em uma cidade.” “Você consegue fazer um homúnculo?” “A doutrina reprova isso, mas eu entendo os princípios envolvidos,” disse Hadggar, “Se você estiver curioso...” Os olhos de Medivh se acenderam por um momento e ele disse “Você navegou para cá de Lordaeron? Que tipo de barco?” Hadggar se sentiu acossado por um momento pela súbita mudança de assunto. “Sim. Um... Um Corredor dos Ventos Tirassiano, o Briza Graciosa,” ele respondeu. “Saindo de Kul Tiras,” concluiu Medivh. “Tripulação humana?” “Sim.” “Você falou com a tripulação?” Novamente Hadggar se sentiu saindo de uma conversa para um interrogatório. “Um pouco,” disse Hadggar. “Eu acho que eu os entretive com meu sotaque.” “Os tripulantes das embarcações de Kul Tiras são fáceis de entreter,” disse Medivh. “Algum não-humano na tripulação?” “Não, senhor,” disse Hadggar. “Os Tirassianos contaram histórias de homens peixes. Eles os chamaram de Murlocs. Eles são reais?” “São,” disse o mago. “Que outras raças você já encontrou? Além de variações de humanos.” “Alguns gnomos estiveram em Dalaran uma vez,” disse Hadggar. “E eu conheci artesãos anões na Cidadela Violeta. Eu conheço dragões de lendas; Eu vi uma caveira de dragão em uma das academias uma vez.” “E que tal trolls ou goblins?” disse Medivh. “Trolls,” disse Hadggar. “Quatro variedades conhecidas de trolls. Pode haver uma quinta.” “Isso é a baboseira que a Alonda ensina,” resmungou Medivh, mas acenou para que Hadggar continuasse. “Trolls são selvagens, maiores que humanos. Muito altos e magricelos, com traços alongados. Um...” Ele pensou por um momento. “Organização tribal. Quase completamente removidos de terras civilizadas, quase extintos de Lordaeron.” “Goblins?” “Muio menores, mais do porte de anões, tão inventivos quanto, mas de forma destrutiva. Destemidos. Eu li que, como uma raça, eles são loucos.” “Somente os ônios?” “É cl
apropriadas. Todos os magos de Dalaran recebem ensinamentos sobre isso desde o primeiro dia de treinamento.” “Mas você nunca invocou um,” disse Medivh. “Ou esteve presente quando outra pessoa o fez.” Hadggar piscou, pensando se não seria uma pegadinha. “Não senhor. Eu jamais ao menos pensaria nisso.” “Eu não duvido que você não o faria,” disse o mago, e havia a mais sutil aspereza em voz. “Pensar em fazê-lo, quero dizer. Você sabe o que é um Guardião?” “Um Guardião?” Hadggar subitamente sentiu a conversa fazer mais uma guinada. “Um protetor? Um guarda? Talvez uma outra raça? É um tipo de monstro? Talvez um protetor contra monstros?” Medivh sorriu e então chacoalhou a cabeça. “Não se preocupe. Não é esperado que você saiba. É parte do truque.” Então ele olhou para cima e disse, “Então, o que você sabe sobre mim?” Hadggar lançou um olhar para Moroes, o castelão, e subitamente percebeu que o servente havia desaparecido, retornando para as sombras. O jovem balbuciou por um momento. “Os magos do Kirin Tor o tem em alta estima,” ele conseguiu dizer em fim, diplomaticamente. “Obviamente,” disse Medivh bruscamente. “Você é um mago independente poderoso, supostamente um conselheiro do Rei Llane de Azeroth.” “Voltaremos a isso mais tarde,” disse Medivh, acenando para o jovem. “Além disso...” Hadggar exitou, pensando se o mago podia realmente ler sua mente. “Sim?” “Nada específico que justifique a alta estima...” disse Hadggar. “E o medo,” acrescentou Medivh. “E a inveja,” Hadggar finalizou, se sentindo subitamente pressionado pelas perguntas, incerto de como responder. Ele adicionou rapidamente, “Nada específico que explique diretamente todo o respeito que o Kirin Tor tem por você.” “Assim que é para ser,” completou Medivh rabugento, esfregando suas mãos sobre o braseiro. “Assim que é para ser.” Hadggar não conseguia acreditar como o mestre mago poderia estar com frio. Ele mesmo suava nas costas de nervoso. Finalmente, Medivh olhou para o alto, e a tempestade nascia em seus olhos novamente. “Mas o que você sabe sobre mim?” “Nada, senhor,” disse Hadggar. “Nada?” A voz de Medivh se elevou e parecia reverberar pelo observatório. “Nada? Você veio até aqui para nada? Você nem se deu ao trabalho de checar? Talvez eu fosse só uma desculpa para seus mestres tirarem você de perto deles, torcendo para que você morresse no caminho. Não seria a primeira vez que alguém tentaria isso.” “Não havia tanto para checar. Você não fez muita coisa,” respondeu Hadggar inflamado. Então respirou fundo, percebendo com quem ele estava falando, e o que ele estava falando. “Quero dizer, não muita coisa que eu tenha descoberto. Quer dizer...” Ele esperava uma explosão do mago mais velho, mas Medivh só riu. “E o que você descobriu?” ele perguntou. Hadggar suspirou e disse, “Você vem de uma linhagem de conjuradores de magias. Seu pai foi um mago de Azeroth, um tal de Nielas Aran. Sua mãe era Aegwynn, o que pode ser um título ao invés de um nome, um que tem ao menos oitocentos anos. Você cresceu em Azeroth e conhece o Rei Llane e Lorde Lothar da sua infância. Além disso...” Hadggar deixou sua voz diminuir. “Nada.” Medivh olhava para o braseiro e acenou, “Bem, isso é alguma coisa. Mais do que a maioria consegue descobrir.” “E seu nome significa 'Protetor de Segredos',” Hadggar acrescentou. “Em Alto Élfico. Eu descobri isto também.” “Tudo verdade,” disse Medivh, olhando subitamente cansado. Ele olhou para o braseiro por um tempo. “Aegwynn não é um título,” ele disse em seguida. “É simplesmente o nome da minha mãe.” “Então houveram várias Aegwynns, provavelmente um nome de família,” sugeriu Hadggar. “Somente uma,” disse Medivh, de forma sombria. Hadggar riu nervosamente. “Mas isso faria com que ela tivesse...” “Mais de setecentos e cinquenta anos de idade quando eu nasci,” disse Medivh, dando uma bufada. “Ela é
terem mandado você para descobrir.” “Senhor,” disse Hadggar, tão austero quanto conseguiu. “Para ser honesto, cada mago exceto os mais altos no Kirin Tor querem que eu descubra alguma coisa a seu respeito. Eu vou suprir a eles o melhor que eu conseguir, mas se houver material que você quiser manter restrito ou escondido, eu entendo completamente...” “Se eu pensasse nisso, você não teria atravessado a floresta para chegar aqui,” disse Medivh, subitamente sério. “Eu preciso de alguém que separe e organize a biblioteca para começar, daí a gente trabalha nos laboratórios de alquimia. Sim, você servirá bem. Veja bem, eu sei o significado do seu nome tanto quanto você sabe o do meu. Moroes!” “Aqui, senhor,” disse o servente, subitamente se manifestando vindo das sombras. Sem conseguir se controlar, Hadggar pulou. “Leve o rapaz para baixo para seus aposentos e faça com que coma alguma coisa. Foi um longo dia para ele.” “É claro, senhor,” disse Moroes. “Uma pergunta, mestre,” disse Hadggar, se adiantando. “Quero dizer, Lorde Magus, senhor.” “Me chame Medivh por hora. Eu também respondo por Protetor de Segredos e alguns outros nomes, nem todos conhecidos.” “O que você quis dizer quando disse que sabe o que significa meu nome?” perguntou Hadggar. Medivh sorriu, e o quarto subitamente pareceu estar quente e confortável novamente. “Você não fala anão,” ele observou. Hadggar chacoalhou a cabeça. “Meu nome significa 'Protetor de Segredos' em Alto Élfico. Seu nome significa 'Confiança' na velha língua anã. Então vou acreditar no seu nome, ovem Hadggar. Jovem Confiança.” Moroes levou o jovem para seus aposentos na metade inferior da torre, dando explicações naquela voz fantasmagórica, bem definida, enquanto descia as escadarias. Refeições na torre de Medivh eram coisa simples – mingau e salsichas para o café da manhã, um almoço frio, e um grande e vigoroso jantar, normalmente um cozido ou assado servido com legumes. Cook se retiraria após as refeições da noite, mas sempre haviam sobras na câmara fria. Medivh mantinha horários que podiam ser simpaticamente chamados de 'erráticos' e Moroes e Cook haviam há muito aprendido como acomodá-lo com uma quantidade mínima de privação por parte deles. Moroes informou ao jovem Hadggar que, como um assistente ao invés de um servente, ele não teria tal luxo. Seria esperado que ele estivesse disponível para ajudar o mestre sempre que fosse julgado necessário. “Eu já o esperava, sendo um aprendiz,” disse Hadggar. Moroes virou em meio a um passo (eles estavam andando através de uma galeria contemplando o que parecia ser uma sala de recepção ou uma sala de baile). “Ainda não um aprendiz, rapaz,” disse Moroes numa voz assoviada, “Nem metade disso.” “Mas Medivh disse...” “Que você poderia organizar a biblioteca,” disse Moroes. “Trabalho de assistente, não aprendiz. Outros já foram assistentes. Nenhum virou aprendiz.” Hadggar enrugou a testa, e ele sentiu o calor do corar em seu rosto. Ele não esperava que houvesse um nível abaixo de aprendiz na hierarquia do Magus. “Quanto tempo antes de...” “Eu não saberia dizer, mesmo,” suspirou o servente. “Nenhum jamais chegou longe o suficiente.” Hadggar pensou em duas perguntas ao mesmo tempo, hesitou, então perguntou, “Quantos outros 'assistentes' já houveram?” Moroes olhou por sobre os parapeitos da galeria, e seus olhos perderam o foco. Hadggar imaginou se o servente estaria pensando ou se havia se descarrilhado pela pergunta. A galeria abaixo era mobilhada de forma esparsa, com uma mesa central pesada e cadeiras. Era surpreendentemente arrumada, e Hadggar deduziu que Medivh não oferecia muitos banquetes. “Dezenas,” disse Moroes enfim. “Pelo menos. A maioria deles de Azeroth. Um elfo. Não, dois elfos. Você é o primeiro do Kirin Tor.” “Dezenas,” repetiu Hadggar, seu coração afundava enquanto ele imaginava quantas vezes
conseguiu subir as escadarias.” Ele deu uma batida nos antolhos nos lados de sua cabeça esguia. “Eles veem coisas, sabe?” Hadggar pensou na figura do portão principal e simplesmente acenou. Enfim eles chegaram aos aposentos de Hadggar, numa passagem secundária não muito longe da sala de banquetes. “Se arrume,” disse Moroes, entregando a lanterna para Hadggar. “O lavabo é no fim do corredor. Tem uma bacia em baixo da cama. Desça até a cozinha. Cook vai esquentar algo para você.” O quarto de Hadggar era uma cunha estreita da torre, mais apropriado para as contemplações de um monge recluso do que para um mago. Uma cama estreita ao longo de uma parede e uma escrivaninha tão estreita quanto ao longo da outra, com uma estante vazia acima. Um armário para as roupas. Hadggar jogou sua mochila no armário sem abri-la e se debruçou na estreita janela. A janela era uma fatia fina de vidro chumbado, montada verticalmente em um pivô no centro. Hadggar empurrou uma metade e ela se abriu lentamente, o óleo solidificado na base amolecendo enquanto a anela girava. A vista ainda era do lado alto da torre, e as colinas arredondadas que cercavam a torre eram cinzas e pobres sob a luz das luas gêmeas. Dessa altura, era obvio para Hadggar que as colinas haviam sido uma cratera, desgastada e erodida pela passagem do tempo. Teria uma montanha sido arrancada deste ponto, como um dente podre? Ou talvez o anel de colinas não havia crescido, mas sim as montanhas ao redor cresceram mais rápido, deixando só este local poderoso no lugar. Hadggar imaginou se a mãe de Medivh estivera aqui quando a terra subiu, ou afundou, ou foi atingida por um objeto do céu. Oitocentos anos era muito, mesmo para os padrões de um feiticeiro. Depois de duzentos anos, com a maioria das velhas lições ensinadas, os magos humanos estavam na maioria mortalmente magros e frágeis. Ter setecentos e cinquenta anos de idade e ter um filho! Hadggar chacoalhou a cabeça, e imaginou se Medivh estava caçoando dele. Hadggar soltou sua capa de viagem e foi conhecer as instalações no fim do corredor. Elas eram espartanas, mas incluíam uma arra de água fria, um lavatório e um bom e límpido espelho. Hadggar pensou em usar uma magia menor para aquecer a água, então decidiu simplesmente enfrentá-la. A água era estimulante e Hadggar se sentiu melhor ao vestir roupas menos empoeiradas – uma camiseta confortável que chegava quase nos joelhos e um par de calças robustas. Sua roupa de trabalho. Ele puxou uma estreita faca para comida da sua sacola e, depois de pensar por um momento, a enfiou dentro do cano da bota. Ele voltou para o corredor e percebeu que não tinha uma ideia clara de onde a cozinha ficava. Não havia um barraco de cozinha perto dos estábulos, então todos os preparos eram provavelmente feitos na torre. Provavelmente no térreo ou num andar próximo, com uma bomba do poço. Com uma rota desobstruída para a sala de banquete, quer ela fosse usada com frequência ou não. Hadggar encontrou a galeria acima da sala de banquete facilmente, mas teve que procurar bastante para encontrar a escadaria, estreita e torcida sobre ela mesma, levando para lá. Da sala de banquetes, ele tinha toda uma seleção de saídas. Hadggar escolheu a mais provável e foi parar em um corredor sem saída com quartos vazios em todos os lados, similares aos seus aposentos. Uma segunda escolha teve resultados similares. A terceira levou o jovem para o coração de uma batalha. Ele não esperava por isso. Em um momento ele estava andando por sobre um conjunto de degraus de pedra, imaginando se ele precisaria de um mapa ou um sino ou uma corneta de caça para navegar pela torre. No momento seguinte, o teto acima dele se abriu em um céu brilhante da cor de sangue puro, e ele estava cercado de homens em armadura, armados para batalha. Hadggar deu um passo para trás, mas o corredor havia desaparecido, deixando apenas uma terra desnivelada e estéril, diferente de qualquer uma com a qual ele tivesse familiaridade.
Hadggar, eram indistinguíveis e confusas, como se estivessem falando com ele dentro d'água. Um sonho? Pensou Hadggar. Talvez ele tivesse deitado por um momento e caído no sono, e tudo isso fosse um terror noturno trazido por suas próprias preocupações. Mas não, ele quase conseguia sentir o calor na sua pele do Sol corpulento, morrendo, e a brisa e os homens gritando se moviam ao seu redor. Era como se ele estivesse solto do resto do mundo, ocupando sua própria ilhota, com apenas as mais tênues conexões com a realidade ao seu redor. Como se ele tivesse se tornado um fantasma. De fato os soldados o ignoravam como se ele fosse um espírito. Hadggar se esticou para agarrar um deles pelo ombro, e para seu alívio a sua mão não passou pela placa degastada da ombreira. Havia resistência, mas somente do tipo mais amorfo – ele conseguia sentir a solidez da armadura, e se ele se concentrasse, sentir as protuberâncias do metal amassado. Esses homens haviam lutado recentemente e duramente, percebeu Hadggar. Somente um a cada três homens não tinha algum tipo de bandagem rude, medalhas sangrentas da guerra saindo por debaixo da armadura suja e dos capacetes danificados. Suas armas estavam talhadas também, e manchadas em rubro seco. Ele havia caído em um campo de batalha. Hadggar examinou a posição deles. Eles estavam no topo de uma pequena colina, uma mera dobra nas planícies onduladas que pareciam cercar-lhes. Qualquer vegetação que existisse havia sido derrubada e transformada em muralhas cruas, agora guardadas por homens de expressão mórbida. Isso não era um reduto seguro, ou castelo, ou forte. Eles haviam escolhido esse local para lutar só porque não havia qualquer outro disponível. Os soldados se separaram quando seu aparente líder, um grande homem de barba branca com ombros largos, forçou sua passagem. Sua armadura estava surrada como qualquer outra, mas consistia de um peitoral aparafusado sobre um robe rubro de escolares, do tipo que não estaria deslocado nos corredores do Kirin Tor. A bainha, as mangas e o manto do robe estavam inscritas com runas de poder - algumas das quais Hadggar reconheceu, mas outras pareciam alienígenas para ele. A barba branca como a neve do líder alcançava quase até a cintura, escondendo a armadura por baixo, e ele usava um capacete vermelho com uma única gema dourada na testa. Ele carregava um bastão com uma gema na ponta em uma mão, e uma espada vermelha escura na outra. O líder estava berrando para os soldados, em uma voz que soava para Hadggar como um mar revolto. Os soldados pareciam entender o que ele dizia, pois eles se posicionaram de forma arrumada ao longo das barricadas, com outros preenchendo as frestas ao longo da linha. O comandante de barba branca passou raspando por Hadggar, e sem conseguir evitar, o jovem tombou para trás, para fora do caminho. O comandante não deveria tê-lo notado, não mais do que os soldados manchados de sangue. Mas o comandante o notou. Sua voz se reduziu por um momento, ele gaguejou, seu pé aterrissou mal no solo desigual do topo rochoso da colina e ele quase caiu. Entretanto ele se virou e olhou para Hadggar. Sim, ele olhou para Hadggar, e estava claro para o aspirante a aprendiz que o mago guerreiro ancião o viu, e o viu claramente. Os olhos do comandante olharam profundamente os de Hadggar, e por um momento Hadggar se sentiu como mais cedo, sob o olhar de Medivh. Porém isso era mais intenso. Hadggar olhou nos olhos do comandante. E o que ele viu o fez ofegar. Sem conseguir evitar, ele se virou, quebrando o olhar fixo do mago guerreiro. Quando ele olhou para cima novamente, o comandante estava acenando para ele. Foi um aceno breve, quase de rejeição, e a boca do velho estava fechada, franzida. Então o líder de barba branca partiu novamente, urrando para os guerreiros, motivando-os a se defenderem. Hadggar queria ir atrás dele, segui-lo e descobrir como ele conseguia vê-lo e os outros não, e o que ele podia lhe contar, mas
cordilheiras próximas, de onde rios fluindo haviam arrancado partes roxas do solo cor de ferrugem. Hadggar olhou para onde os homens estavam apontando e uma onda de verde e preto cobriu a cordilheira mais próxima. Hadggar achou que fosse algum rio, ou uma avalanche de lama arcana colorida, mas ele percebeu que a onda era um exército avançando. Preto era a cor de suas armaduras e verde era a cor de suas peles. Eles eram criaturas de pesadelos, um esboço da forma humana. Suas faces cor de jade eram dominadas por mandíbulas pesadas com dentes afiados, seus narizes achatados e farejantes como os de cães, e seus olhos eram pequenos, sanguinolentos, cheios de ódio. Suas armas negras e armaduras ornadas brilhavam sob o sol eternamente morrendo deste mundo e enquanto eles subiam a colina eles soltaram um urro que partiu o chão sob seus pés. Os soldados ao seu redor também soltaram um grito, e enquanto as criaturas verdes diminuíam a distância até a colina, eles soltaram saraivada atrás de saraivada de flechas de ponta vermelha. A linha de frente das criaturas monstruosas tropeçou e caiu, e foi imediatamente atropelada pelos que vinham por trás. Mais uma saraivada e mais um batalhão dos monstros inumanos tombou, mas as suas perdas eram compensadas pela massa da maré que avançava. À direita de Hadggar haviam clarões, como raios dançando ao longo da superfície da terra, e as monstruosidades gritavam enquanto a carne fervia por sobre os ossos. Hadggar pensou no comandante guerreiro mago, mas também percebeu que esses raios somente afinavam em uma mera fração as hordas em carga. E então as monstruosidades de pele verde estavam em cima deles, a onda de ébano e jade se esmagando contra a paliçada tosca. As vigas caíam como se não fossem mais do que gravetos no caminho dessa tempestade, e Hadggar sentia a fina linha se curvar. Um dos soldados mais perto dele caiu, empalado por uma grande lança escura. No lugar do guerreiro, havia um pesadelo de pele verde e armadura negra, uivando enquanto caia por cima dele. Sem conseguir se controlar, Hadggar recuou dois passos e então virou para correr. E quase atropelou Moroes, parado na passagem. “Você,” sussurrou Moroes calmamente, “estava atrasado. Talvez perdido.” Hadggar girou no lugar novamente e viu que atras dele não havia um mundo de céu rubro e monstruosidades verdes, mas um quarto de reuniões abandonado, sua lareira vazia e as cadeiras cobertas com panos. O ar cheirava a poeira recentemente perturbada. “Eu estava...” balbuciou Hadggar. “Eu vi... eu estava...” “Em outro lugar?” sugeriu Moroes. Hadggar engoliu seco, olhou ao redor, então acenou mudo. “A ceia está pronta,” resmungou Moroes. “Não vá para outro lugar de novo, agora.” E o servente de roupas escuras virou e planou silenciosamente para fora do quarto. Hadggar olhou uma última vez para a passagem sem saída na qual ele havia parado. Não haviam arcos místicos ou portas mágicas. A visão (se foi uma visão) terminara tão de repente quanto começara. Não haviam soldados. Nem criaturas de pele verde. Nenhum exército a ponto de colapsar. Havia só uma memória que assustava Hadggar até a alma. Era real. Ele havia sentido como se fosse real. Havia sentido como se fosse verdadeiro. Não foram os monstros ou o derramamento de sangue que o haviam assustado. Era o mago guerreiro, o comandante de cabelos brancos como a neve que parecia poder vê-lo. Que parecia ter olhado para seu coração e o encontrado. E o pior de tudo, a figura de barba branca com armadura e robes tinha os olhos de Hadggar. A face estava envelhecida, o cabelo branco como neve, o feitio poderoso, mas ainda assim o comandante tinha os mesmos olhos que Hadggar havia visto no espelho límpido alguns momentos (gerações?) atrás. Hadggar saiu do quarto de reuniões, e imaginou se seria muito tarde para arranjar
3. Se Acomodando “Vamos começar com você devagar,” disse o mestre feiticeiro do outro lado da mesa. “Faça um inventário da biblioteca. Descubra como é que você irá organizá-la.” Hadggar acenou afirmativamente por sobre o mingau e salsichas. O centro da conversa do café da manhã foi sobre Dalaran de forma geral. O que era popular em Dalaran e quais eram as modas de Lordaeron. O que eles estavam discutindo nas corredores do Kirin Tor. Hadggar mencionou que a atual pergunta filosofal de quando ele partiu era se, quando se criava chama com magia, você a criava ou se a invocava de alguma existência paralela. Medivh se zangou. “Tolos. Eles não reconheceriam uma dimensão alternativa mesmo se ela aparecesse e os mordesse no... Então, qual a sua opinião?” “Eu acho que...” E Hadggar subitamente percebeu que ele era novamente o centro das atenções. “Eu acho que pode ser algo completamente diferente.” “Excelente,” disse Medivh, sorrindo. “Quando são dadas duas alternativas, escolha a terceira. É claro que o que você queria dizer é que, quando você cria fogo, tudo o que você está fazendo é concentrar a natureza inerente do fogo contida na área ao redor para um único ponto, o invocando?” “Ah, sim,” disse Hadggar, adicionando, “se eu pensasse sobre o assunto. Por uns tempos. Talvez alguns anos.” “Bom,” disse Medivh, tocando suavemente sua barba com um guardanapo. “Você tem uma mente rápida e uma opinião honesta sobre si mesmo. Vamos ver como você se sairá com a biblioteca. Moroes lhe mostrará o caminho.” A biblioteca ocupava dois andares e estava situada a um terço da altura da torre. As escadarias nesta parte da torre abraçavam a borda da citadela, formando uma grande câmara de dois andares de altura. Uma plataforma de ferro manufaturada criava uma galeria superior no segundo nível. As janelas estreitas estavam cobertas com bastões de ferro entrelaçados, reduzindo a pouca luz natural para pouco mais do que a de uma tocha coberta. Nas grandes mesas de carvalho do primeiro nível, globos cristalinos cobertos por uma fina camada de poeira brilhavam azul acinzentados. O quarto por si só era uma área de desastre. Livros estavam espalhados abertos em páginas aleatórias, pergaminhos estavam desenrolados sobre as cadeiras, e uma camada fina de folhas de papel almaço empoeiradas cobria tudo, como folhas no chão de uma floresta. Os tomos mais antigos, ainda acorrentados nas prateleiras, haviam sido tirados de suas embalagens, e se dependuravam como prisioneiros em uma cela de masmorra. Hadggar fez um levantamento do estrago e soltou um suspiro profundo. “Vamos começar devagar com você,” ele disse. “Eu poderia embrulhar seus equipamentos em uma hora,” disse Moroes do corredor. O servente não entrou na biblioteca. Hadggar pegou um pedaço de pergaminho a seus pés. Um dos lados era um pedido do Kirin Tor para o mestre mago para que respondesse à missiva mais recente deles. O outro lado estava marcado com uma mancha vermelha escura que Hadggar primeiro assumiu ser sangue, mas então percebeu ser nada mais do que cera de selo derretida. “Não,” disse Hadggar, batendo em sua pequena bolsa de ferramentas de escrivão. “É só um desafio maior do que eu havia imaginado.” “Já ouvi isso antes,” disse Moroes. Hadggar se virou para perguntar sobre o comentário, mas o servente á havia partido. Com o cuidado de um assaltante, Hadggar foi atravessando os escombros. Era como se uma verdadeira batalha houvesse estourado na biblioteca. Lombadas de livros estavam quebradas, capas semidestruídas, papéis dobrados sobre si mesmos, marcações haviam sido arrancadas dos cadernos completamente. E isso para os livros que ainda estavam quase inteiros. A maioria dos portfólios havia sido arrancada de suas capas, e a poeira por cima das mesas cobria uma camada de
resmungou Hadggar, limpando uma área em uma extremidade de uma mesa e puxando uma cadeira. “Ele precisa de uma faxineira.” Ele deu uma olhada para a porta para garantir que o castelão havia realmente ido embora. Hadggar se sentou e a cadeira se inclinou significativamente. Ele se levantou novamente e viu que as pernas desiguais estavam sobre um tomo grosso, com capa metálica. A capa da frente era ornada e as bordas das páginas cobertas de prata. Hadggar abriu o texto, e ao fazê-lo ele sentiu algo se movendo dentro do livro, como uma peça escorregando por um eixo metálico, ou uma gota de mercúrio se movendo através de um tubo de vidro. Algo metálico se desenrolou pela lombada do tomo. O livro começou a tiquetaquear. Hadggar fechou a capa rapidamente, e o livro se silenciou com um estalo e um movimento rápido, o mecanismo se reiniciando. O jovem colocou o volume de volta sobre a mesa delicadamente. Foi então que ele percebeu as marcas de queimado na cadeira que ele estava usando e no chão ao seu redor. “Eu entendo porque você teve tantos assistentes,” disse Hadggar, andando devagar pelo quarto. A situação não melhorou. Livros estavam pendurados abertos sobre braços de cadeiras e sobre corrimões. A pilha de correspondência ficava mais alta a medida que caminhava para o fundo do quarto. Algo havia feito um ninho em um dos cantos da estante, e assim que ele o retirou da prateleira, uma caveira de musaranho caiu e se despedaçou no chão. O nível superior era praticamente um depósito, os livros nem estavam nas prateleiras, apenas uns em cima dos outros, formando pilhas cada vez maiores, de colinas para montanhas, para picos inalcançáveis. E havia um ponto vazio, mas parecia que alguém havia feito uma fogueira nele, numa tentativa desesperada de reduzir a quantidade de papel presente. Hadggar examinou a área e chacoalhou a cabeça – algo mais queimara aqui também, porque haviam pedaços de tecido, provavelmente um robe de um escolar. Hadggar chacoalhou a cabeça e voltou para onde ele havia deixado suas ferramentas de escrivão. Ele tirou uma caneta fina de madeira com um punhado de pontas de metal, uma pedra para afiar e moldar as pontas, uma faca com lâmina flexível para raspar pergaminhos, um bloco de tinta de polvo, um pires para derreter a tinta, uma coleção de chaves finas e achatadas, lentes de aumento, e o que parecia ser um grilo metálico. Ele pegou o grilo, girou-o de costas, e usando uma ponta de caneta especialmente projetada, o espetou. Um presente de Guzbah para Hadggar ao completar seu primeiro treinamento como escrivão, ele havia provado ser inestimável nas perambulações do jovem pelos corredores do Kirin Tor. Dentro dele estava contida uma simples, mas eficaz magia que avisava quando havia uma armadilha nas redondezas. Tão logo ele havia espetado e dado uma volta com a caneta, o grilo metálico soltou um gemido agudo. Hadggar, surpreso, quase deixou cair o inseto detetor. Então ele percebeu que o aparelho estava só avisando sobre a intensidade do perigo em potencial. Hadggar olhou para os volumes empilhados ao seu redor, e resmungou um impropério. Ele voltou para as portas e terminou de dar corda no grilo. Então ele trouxe o primeiro livro que ele havia pegado, o que tiquetaqueava, para as portas. O grilo gorjeou de leve. Hadggar deixou o livro com a armadilha em um dos lados das portas. Ele pegou outro volume e o trouxe. O grilo ficou silencioso. Hadggar segurou a respiração, esperando que o grilo estivesse encantado para manusear todo tipo de armadilhas, mágicas e de outros tipos, e abriu o livro. Era um tratado escrito em uma letra feminina macia sobre política dos elfos de trezentos anos atrás. Hadggar deixou o volume manuscrito no outro lado das portas, e foi atrás de mais um livro. “Eu conheço você,” disse Medivh, na manhã seguinte,
acontecendo.” “Alguma coisa com o que você precisa de ajuda, senhor?” perguntou Hadggar. O homem mais velho pareceu pensar sobre isso por um momento, então disse, “A biblioteca, Jovem Confiança. Como estão as coisas na biblioteca?” “Bem,” disse Hadggar. “Muito bem. Estou ocupado dividindo livros e papéis.” “Ah, por assunto? Autor?” perguntou o mestre mago. Fatais e não fatais, pensou Hadggar. “Estou pensando em por assunto. Muitos são anônimos.” “Hmmmmfph,” disse Medivh. “Nunca confie em algo para o que um homem não dá seu nome e sua reputação. Continue, então. Diga-me, qual é a opinião dos magos do Kirin Tor a respeito do Rei Llane? Eles o mencionam?” O trabalho continuava com uma lerdeza glacial, mas Medivh não parecia estar ciente do tempo envolvido. De fato, ele parecia começar cada manhã agradavelmente surpreso por Hadggar ainda estar com eles e, após um curto resumo do progresso, a conversa mudava para uma nova direção. “Falando em bibliotecas,” ele dizia. “O que está aprontando o bibliotecário do Kirin Tor, Korrigan?” “Como as pessoas de Lordaeron se sentem a respeito dos elfos? Algum deles já foi visto lá, fresco na memória?” “Existem lendas sobre homens com cabeça de touro nos corredores da Cidadela Violeta?” E em uma manhã, uma semana após a chegada de Hadggar, Medivh não estava presente. “Partiu,” disse Moroes de forma simples, quando indagado. “Partiu para onde?” perguntou Hadggar. O velho castelão deu de ombros, e Hadggar quase conseguiu ouvir os ossos rangendo dentro daquela forma. “Ele não é de dizer.” “O que ele está fazendo?” insistiu Hadggar. “Ele não é de dizer.” “Quando ele estará de volta?” “Ele não é de dizer.” “Ele me deixaria sozinho em sua torre?” perguntou Hadggar. “Sem supervisão, com todos os seus textos místicos?” “Eu poderia ficar de guarda sobre você,” se voluntariou Moroes. “Se é isso que você quer.” Hadggar chacoalhou a cabeça, mas disse, “Moroes?” “Sim, jovem senhor?” “Essas visões...” começou o jovem. “Antolhos?” sugeriu o servente. Hadggar chacoalhou a cabeça novamente. “Elas mostram o futuro ou o passado?” “Ambos, das vezes em que prestei atenção, mas normalmente eu não o faço,” disse Moroes. “Prestar atenção, quero dizer.” “E as do futuro, elas se tornam realidade?” disse o jovem. Moroes soltou algo que Hadggar só podia assumir ter sido um longo suspiro, uma exalação de tremer os ossos. “Na minha experiência, sim, ovem senhor. Em uma visão Cook viu eu quebrar um pedaço de cristal, então ela o escondeu. Meses se passaram, e finalmente o mestre perguntou pelo pedaço de cristal. Ela o removeu do esconderijo e em dois minutos eu o quebrei. Completamente sem intenção.” Ele suspirou de novo. “Ela ganhou suas lentes de quartzo rosa no dia seguinte. Mais alguma coisa?” Hadggar disse que não, mas estava perturbado enquanto escalava as escadarias para o nível da biblioteca. Ele havia ido tão longe quanto ele se atrevera na sua organização, e o desaparecimento súbito de Medivh o deixou na seca, sem uma nova direção. O jovem aspirante de aprendiz entrou na biblioteca. Em um lado do quarto estavam os volumes (e restos de volumes) que o grilo havia considerado 'seguros', enquanto a outra metade do quarto estava repleto dos (normalmente mais completos) volumes que teriam armadilhas. As grandes mesas estavam cobertas com folhas soltas e correspondência fechada, postos em dois montes semirregulares. As prateleiras estavam completamente vazias, as correntes penduradas livres de seus prisioneiros. Hadggar podia separar os papéis, mas melhor reabastecer as prateleiras com os livros. Mas a maioria dos volumes estava sem título, ou se com título, as capas estavam tão desgastadas e estragadas que estavam ilegíveis. A única forma de determinar os conteúdos seria abrir os livros. O que dispararia os com armadilhas. Hadggar olhou para a marca chamuscada no
trancado, uma faixa espessa de metal mantendo-o fechado, seguro por uma fechadura. Em nenhum momento nas suas buscas Hadggar encontrara uma chave de verdade, apesar de isso não o surpreender, dada a organização do quarto. A amarração era forte, e a capa ela mesma era uma placa de metal coberta de couro vermelho. Hadggar pegou as partes achatadas de chaves de sua bolsa, mas elas eram todas insuficientes para a grande fechadura. Finalmente, usando a ponta da faca de raspar, Hadggar conseguiu empurrar a lingueta de metal através da fechadura, e ela fez um agradável 'clique' quando ele a reposicionou. Hadggar olhou para o grilo que ele mantinha na mesa, e ele estava silencioso. Segurando sua respiração, o jovem mago abriu o pesado volume. O cheiro azedo de papel apodrecido subiu por suas narinas. “De Armadilhas e Fechaduras,” ele leu em voz alta, amarrando a boca por causa da escritura arcaica e das pretensiosas palavras. “Um Tratado sobre a Natureza dos Dispositivos de Segurança.” Hadggar puxou a cadeira (levemente mais baixa, já que ele havia serrado as três pernas mais longas para balanceá-la) e começou a ler. Medivh estava fora haviam duas semanas e, nesse ponto, Hadggar havia proclamado a biblioteca como sua. Em cada manhã ele se levantava para o café da manhã, dava a Moroes uma atualização superficial do seu progresso (sobre a qual o castelão, assim como Cook, nunca deram qualquer indicação de curiosidade), então se enterrava dentro do compartimento. Almoço e janta eram levados até ele, e ele frequentemente avançava a noite trabalhando sob a luz azulada das esferas brilhantes. Ele também se adaptou à natureza da torre. Haviam imagens que apareciam nos cantos de seus olhos frequentemente, só o tremular de uma figura em uma capa batida que evaporava quando ele se virava para olhá-la. Uma semi acabada palavra que flutuava no ar. Um frio súbito como se uma porta ou janela tivesse sido deixada aberta, ou uma súbita mudança de pressão, como se uma entrada escondida tivesse aparecido de repente. Algumas vezes a torre emitia ruídos ao vento, as pedras anciãs se movendo umas sobre as outras após séculos de construídas. Lentamente, ele aprendeu a natureza, se não os conteúdos exatos, dos livros que estavam na biblioteca, contornando as armadilhas postas nos tomos mais valiosos. Suas pesquisas lhe serviram bem no último caso. Ele logo se tornou tão bom especialista em contornar mecanismos mágicos e armadilhas com pesos como ele fora com portas trancadas e segredos escondidos em Dalaran. O truque para a maioria delas era convencer o mecanismo de trava (seja de natureza mágica ou mecânica) de que a fechadura não havia sido contornada quando na verdade havia sido. Determinar o que dispara cada armadilha em particular, quer fosse um peso, ou um pedaço de metal móvel, ou mesmo a exposição ao Sol ou ao ar fresco, era metade da batalha para vencê-la. Haviam livros que estavam além do seu alcance, cujas fechaduras venceram mesmo seus pinos modificados e sua ágil faca. Esse iam para o nível superior, lá no fundo, e Hadggar se comprometeu a descobrir o que havia dentro deles, seja por conta própria ou extraindo o conhecimento de Medivh. Ele duvidava da segunda alternativa, e imaginava se o mago mestre havia usado a biblioteca como qualquer coisa que não um depósito para textos herdados e velhas cartas. Os arquivos da maioria dos magos do Kirin Tor tinha ao menos algo parecido com alguma organização, com seus tomos mais valiosos escondidos. Mas Medivh mantinha tudo uma baderna, como se ele não precisasse deles. Exceto como um teste, pensou Hadggar. Um teste para manter aspirantes a aprendizes longe. Agora os livros estavam nas prateleiras, os mais valiosos (e ilegíveis) presos com correntes no nível superior, enquanto os mais comuns, de histórias militares, almanaques e diários, estavam no piso
interessantes já que alguns deles eram sobre Aegwynn, a dita mãe de Medivh. Se ela vivera mais de oitocentos anos, ela deve ter mesmo sido uma maga poderosa, pensou Hadggar. Mais informações sobre ela estariam provavelmente nos livros protegidos nos fundos. Até agora, esses tomos haviam resistido qualquer abordagem comum e tentativa física de deixar de lado suas fechaduras e armadilhas, e o grilo detector praticamente miava de horror quando ele tentava destrancá-los. Ainda assim, havia mais do que o suficiente para se fazer, categorizando as partes soltas, remontando os volumes quase destruídos pela idade, e dividindo (ou pelo menos lendo) a maioria da correspondência. Algumas dessas últimas estavam em caligrafia élfica, e a maioria delas, de uma variedade de origens, estava de alguma forma cifrada. Esse último tipo vinha com uma variedade de selos sobre elas, de Azeroth, Khaz Modan e Lordaeron, assim como lugares que Hadggar não conseguia encontrar no atlas. Um grande grupo se comunicava com palavras cifradas uns com os outros, e com o próprio Medivh. Haviam vários grimórios antigos com códigos, a maioria deles do tipo com letras substituídas e jargões. Nada comparado com o código usado nessas palavras cifradas. Talvez eles usassem uma combinação de métodos para criar seu próprio método. Como resultado, Hadggar mantinha os grimórios com códigos junto com cartilhas em línguas élficas e anãs abertos sobre a mesa na manhã em que Medivh subitamente retornou à torre. Hadggar não o ouviu tanto quanto sentiu sua presença súbita, da forma como o ar muda quando o fronte de uma tempestade atravessa terras e fazendas. O jovem mago se virou em sua cadeira e lá estava Medivh, seus ombros largos preenchendo o vão das portas, seu robe tremulando atrás dele por conta própria. “Senhor, eu...” começou Hadggar, sorrindo e quase se levantando da cadeira. Então ele viu que os cabelos do mestre estavam bagunçados, e seus olhos verdes tremulantes estavam arregalados e bravos. “Ladrão!” gritou Medivh, apontando para Hadggar. “Intruso!” O mago mais velho apontou para o mais novo e começou a entonar uma sequência de sílabas alienígenas, palavras não feitas para a garganta humana. Instintivamente, Hadggar levantou uma mão e acenou um símbolo de proteção no ar à sua frente, mas podia ter sido apenas um gesto de mão rude, dado o efeito que teve sobre a magia de Medivh. Uma parede de ar solidificado trombou no jovem, derrubando-o e a cadeira em que estava sentado. Os grimórios e cartilhas escorregaram na superfície da mesa como barcos pegos em uma rajada de vento, e as anotações saíram girando, dançando. Surpreso, Hadggar foi jogado para trás, trombando em uma das prateleiras atrás dele. A prateleira tremeu com a força do choque, e o ovem temeu que ela fosse tombar, estragando todo o seu trabalho duro. A estante se manteve em posição, mas a pressão no peito de Hadggar causada pela força do ataque se intensificava. “Quem é você?” trovejou Medivh. “O que você está fazendo aqui?” O jovem lutava contra o peso em seu peito, e conseguiu falar, “Hadggar,” ele ofegava. “Assistente. Limpando a biblioteca. Ordens suas.” Parte de sua mente pensou se isso era a razão pela qual Moroes falava de forma tão breve. Medivh piscou após as palavras de Hadggar e se ergueu como um homem que acabara de acordar de um longo sono. Ele torceu sua mão levemente, e a muralha de ar solidificado se evaporou de uma vez. Hadggar caiu de joelhos, ofegando. Medivh andou até ele e o ajudou a se levantar. “Sinto muito, rapaz,” ele começou. “Eu me esqueci de que você ainda estava aqui. Assumi que você era um ladrão.” “Um ladrão que insiste em largar o quarto mais arrumado do que ele o encontrara,” disse Hadggar. Doía um pouco quando ele respirava. “Sim,” disse Medivh, olhando para o quarto ao redor e acenando com a cabeça, apesar da desorganização causada pelo seu próprio ataque. “Sim. Eu acredito que ninguém foi tão longe antes.” “Eu os dividi por tipo,” disse Hadggar, ainda retorcido
poderosos – notas de alquimia, descrições de magias e teoria vão para o balcão, junto com alguns livros que eu não consegui identificar e que parecem ser bastante poderosos. Você terá que dar uma olhada nesses você mesmo.” “Bom,” disse Medivh, ignorando o jovem e escaneando o quarto. “Excelente. Um trabalho excelente. Muito bom.” Ele olhou em volta, parecendo um homem que acabara de recuperar o prumo. “Muito bom mesmo. Você foi bem. Agora venha comigo.” O mestre mago correu para a porta, parou de súbito e então virou. “Você vem?” Hadggar se sentiu como se tivesse sido atingido por outro raio místico. “Ir? Para onde nós vamos?” “Para o topo,” disse Medivh, bruscamente. “Venha agora ou chegaremos atrasados. Tempo é essencial.” Para um homem mais velho, Medivh se movia rapidamente pelas escadas, subindo dois degraus por vez em passo rápido. “O que há no topo?” falou Hadggar ofegante, finalmente alcançando-o em um platô próximo ao topo. “Transporte,” soltou Medivh, então exitou por um momento. Ele virou sobre si mesmo e então seus ombros caíram. Por um momento pareceu que o fogo havia se extinguido de seus olhos. “Eu preciso me desculpar. Pelo que aconteceu lá embaixo.” “Senhor?” disse Hadggar, sua mente girando com essa nova transformação. “Minha memória não é mais a mesma, Jovem Confiança,” disse o mago. “Eu deveria ter lembrado que você estava na torre. Contudo, eu assumi que você deveria ser um...” “Senhor?” interrompeu Hadggar. “Tempo é essencial.” “Tempo,” disse Medivh, então deu um aceno com a cabeça e a intensidade voltou ao seu rosto. “Sim, é mesmo. Venha, não fique de bobeira!” E então o homem mais velho estava de pé e pulando dois degraus por vez. Hadggar percebeu que a torre amaldiçoada e a biblioteca desorganizada não eram a única razão pela qual as pessoas largavam o trabalho com Medivh, então se apressou atrás dele. O castelão idoso estava esperando por eles na torre do observatório. “Moroes,” gritou Medivh quando chegou no topo da torre. “O apito dourado, por favor.” “Sim,” disse o servente, apresentando um cilindro fino. Runas anãs estavam esculpidas nas laterais, refletindo sob as luzes das lâmpadas do quarto. “Já tomei a liberdade, senhor. Eles estão aqui.” “Eles?” começou Hadggar. Ele podia ouvir o farfalhar de grandes asas acima deles. Medivh partiu para a plataforma, e Hadggar olhou para cima. Pássaros enormes desceram do céu, suas asas luminescentes sob o luar. Não, não eram pássaros, Hadggar percebeu – grifos. Eles tinham o corpo de grandes felinos, mas a cabeça e as patas da frente de águias do mar, e suas asas eram douradas. Medivh pegou um freio e uma cela. “Amarre o seu, e partiremos.” Hadggar olhou a grande besta. O grifo mais próximo soltou um guincho e arranhou o pavimento com suas patas frontais. “Eu nunca...” começou o jovem. “Eu não sei...” Medivh lançou um olhar de censura. “Eles não ensinam nada no Kirin Tor? Eu não tenho tempo para isso.” Ele levantou um dedo e murmurou algumas palavras, tocando a testa de Hadggar. Hadggar deu um passo em falso para trás, gritando surpreso. O toque do velho mago o fez se sentir como se houvessem enfiado um ferro quente no seu cérebro. Medivh disse, “Agora você sabe. Ajuste o freio e a cela, agora.” Hadggar tocou sua testa e soltou um suspiro surpreso. Ele sabia como arrumar um grifo propriamente, e a montar um também, tanto com cela, ou ao estilo anão, sem. Ele sabia como fazer uma curva, uma subida, e mais importante, como se preparar para uma aterrissagem súbita. Hadggar preparou seu grifo, ciente de que sua cabeça estava pulsando levemente, como se o conhecimento estivesse lutado com o já presente por um lugar em seu crânio. “Pronto? Siga-me!” disse Medivh, sem esperar por uma resposta. O par se lançou ao ar, as bestas grandiosas fazendo força e batendo no ar para permitir que subissem. As grandes criaturas podiam carregar anões em
cabeça se espalhou do ponto em que Medivh o havia tocado, e agora sua testa estava pesada e seus pensamentos embaralhados. Ainda assim ele se concentrava e seguiu os movimentos do seu mestre exatamente, como se tivesse cavalgado grifos toda sua vida. O mago mais jovem tentou se aproximar de Medivh para perguntar aonde eles estavam indo e qual o objetivo, mas ele não conseguia alcançálo. Mesmo se conseguisse, Hadggar percebeu, o vento forte abafaria qualquer som mais baixo do que um grito dos mais fortes. Então ele o seguiu para o leste, enquanto as montanhas se formavam na distância. Hadggar não sabia dizer quanto tempo eles voaram. Ele podia ter cochilado confortavelmente nas costas do grifo, mas manteve suas mãos nas rédeas firmemente, e o grifo manteve o passo com sua criatura irmã. Só quando Medivh guinou seu grifo para a direita que Hadggar acordou de seu estado de dormência (se isso) e seguiu o mestre mago em seu novo rumo para o sul. A dor de cabeça de Hadggar, provável resultado da magia, havia se dissipado quase completamente, restando apenas um incômodo como lembrança. Eles haviam passado pelas montanhas e Hadggar percebeu que eles estavam voando sobre campos abertos. Abaixo deles, o luar se partia e se refletia em uma miríade de possas d'água. Um grande charco, ou um pântano, Hadggar pensou. Devia ser de manhã cedo, e o horizonte a direita deles começava a se iluminar com a eventual promessa de um dia. Medivh mergulhou fundo e levantou ambas as mãos sobre a cabeça. Estava conjurando das costas do grifo, Hadggar percebeu, e apesar de sua mente lhe garantir que ele conseguia fazer isso, guiando a grandiosa besta com os joelhos, ele sentiu em seu coração que nunca se sentiria confortável fazendo esta manobra. As criaturas desceram ainda mais, e Medivh subitamente tornou-se imerso em uma bola de luz que o delineava claramente e englobava o grifo de Hadggar como uma sombra seguindo-o. Abaixo deles, o jovem viu um acampamento armado em um platô baixo que se projetava no meio do pântano. Eles voaram baixo por cima do acampamento e Hadggar ouviu abaixo dele gritos e o clangor de armaduras e armas sendo empunhadas rapidamente. O que Medivh estava fazendo? Eles passaram por cima do acampamento e Medivh fez uma curva fechada para o alto, Hadggar seguindo-o a cada movimento. Eles retornaram para cima do acampamento e ele estava mais claro agora – as fogueiras que antes estavam apagadas, agora estavam acesas, recém alimentadas, iluminando a noite. Hadggar viu que era uma patrulha grande, talvez até mesmo uma companhia. A tenda do comandante era grande e ornada e Hadggar reconheceu a bandeira de Azeroth abanando sobre ela. Aliados, então, já que Medivh era próximo do Rei Llane de Azeroth e de Lothar, o Cavaleiro Campeão do reino. Hadggar achou que Medivh iria aterrissar, mas ao invés disso, o mago chutou os lados de sua montaria, puxando a cabeça do grifo para o alto. As grandiosas asas da besta empurraram o ar escuro e eles subiram novamente, desta vez rumando para o norte. Hadggar não tinha opção além de seguilo, enquanto a luz de Medivh se apagava e o mestre mago tomava as rédeas novamente. Voando novamente por sobre o pântano Hadggar viu um filete estreito abaixo deles, muito fino para ser um rio, muito largo para ser uma calha de irrigação. Uma rua, então, atravessando o pântano, conectando pedaços de terra seca que emergiam do charco. Então a terra subiu para outra cordilheira, outro ponto seco e outro acampamento. Também haviam chamas nesse acampamento, mas não as claras e contidas das forças do exército. Essas estavam espalhadas pela clareira e quando eles se aproximaram, Hadggar percebeu que eram vagões incendiados, suas cargas espalhadas junto com as
fazer uma segunda passagem. Hadggar o seguiu, o jovem mago ele mesmo se inclinando para o lado da montaria para ter uma vista melhor. Parecia ser uma caravana que fora pilhada e incendiada, mas os bens estavam espalhados pelo chão. Os bandidos não levariam a pilhagem e os vagões? Haveriam sobreviventes? A resposta para a segunda pergunta viera com um grito e uma saraivada de flechas que arqueavam para o alto, vinda dos arbustos cercando o local. O grifo líder soltou um grito agudo enquanto Medivh puxou as rédeas para trás sem esforço, manobrando a criatura para longe das flechas. Hadggar tentou a mesma manobra, a memória quente, falsa, reconfortante na sua cabeça dizendo a ele que essa era a maneira correta de virar. Mas diferente de Medivh, Hadggar estava dirigindo muito a frente na sua montaria e ele não puxou a rédea o suficiente. O grifo virou, mas não o suficiente para evitar todas as flechas. Uma flecha barbada atravessou as penas da asa direita e a besta grandiosa soltou um berro, dando solavancos no ar e tentando desesperadamente bater as asas para voar acima das flechas. Hadggar estava desequilibrado e não pôde compensar. Em um piscar de olhos, as rédeas escorregaram de suas mãos, e seus joelhos escorregaram dos lados do grifo. Não mais sob controle firme, o grifo arremeteu, jogando Hadggar para fora de suas costas. Hadggar se esticou para pegar as rédeas. As fitas de couro chicotearam por seus dedos e então sumiram na noite, unto com sua montaria. Hadggar mergulhou em direção à escuridão armada abaixo.
4. Batalha e Consequências O ar se esvaiu dos pulmões de Hadggar quando ele atingiu o solo. A terra era granulada sob seus dedos, e ele percebeu que caíra em uma pequena duna de cascalho arenoso amontoado de um lado da cordilheira. Com dificuldade, o jovem mago se levantou e ficou de pé. Do ar, a cordilheira parecia uma floresta de fogo. Do solo ela parecia uma abertura para o inferno. Os vagões já estavam quase completamente consumidos pelo fogo, seus conteúdos espalhados e incendiados ao longo da montanha. Bobinas de tecido haviam sido desenroladas na lama, barris furados e vazando, a comida roubada e espalhada pela terra. Ao seu redor também haviam corpos, formas humanas vestidas com armadura leve. Havia o brilho ocasional de um capacete ou espada. Esses seriam os guardas da caravana, que falharam em sua tarefa. Hadggar moveu um ombro dolorido, mas sentiu ser só a pancada, não estava quebrado. Mesmo com a areia, ele deveria ter aterrissado de forma mais forte. Ele chacoalhou a cabeça com força. Qualquer dor que tivesse sobrado da magia de Medivh era desmedida em comparação com as dores no resto do corpo. Havia movimento pelos destroços e Hadggar se agachou. Vozes latiam de cá para lá em uma língua não familiar, uma língua gutural e blasfema para os ouvidos de Hadggar. Eles estavam procurando por ele. Eles o haviam visto cair de sua montaria e agora procuravam por ele. Enquanto ele observava, criaturas encurvadas zanzavam pelos destroços, formando silhuetas corcundas ao passarem em frente às chamas. Algo cutucou o fundo do cérebro de Hadggar, mas ele não conseguia localizar o que era. Ao invés disso, ele começou a recuar para fora da clareira, esperando que a escuridão o mantivesse escondido das criaturas. O que não aconteceu. Atrás dele, um galho se partiu ou um pé calçado encontrou um buraco coberto de folhas, ou uma armadura de couro raspou levemente em algo. De qualquer forma, ele sabia que não estava sozinho, e ele se virou de uma vez para ver... Uma monstruosidade de sua visão. Um piada da forma humana em verde e preto. Não era tão grande quanto as criaturas de sua visão, nem tão largo, mas ainda assim era uma criatura de pesadelo. Seu maxilar pesado, dominado por presas que miravam para o alto, seus outros traços pequenos e sinistros. Pela primeira vez, Hadggar percebera que a coisa tinha orelhas grandes e pontudas. Provavelmente o ouvira antes de vê-lo. Sua armadura era escura, mas era de couro, não de metal como no seu sonho. A criatura portava em uma mão uma tocha que apanhava os traços profundos de sua face, tornando-o ainda mais monstruoso. Na outra mão, a criatura carregava uma lança decorada por um cordão de pequenos objetos brancos. Hadggar percebeu serem orelhas humanas, troféus do massacre ao redor. Tudo isso ocorreu a Hadggar em um instante, no momento do encontro entre homem e monstro. A besta apontou sua lança terrivelmente decorada para o jovem e soltou um urro desafiador. O desafio durou pouco, já que o jovem mago murmurou algumas palavras, levantou a mão e soltou um pequeno raio de poder através da região central da criatura. A besta colapsou sobre si mesma, sua barriga arrancada fora. Uma parte de sua mente estava atordoada pelo que ele acabara de fazer, a outra dizia que ele sabia o que essas criaturas eram capazes de fazer, da sua visão de Karazhan. A criatura avisara os outros membros de sua unidade e agora haviam uivos de guerra ao redor do acampamento. Dois, quatro, uma dúzia das caricaturas, todas convergindo para sua posição. Ainda pior, haviam outros uivos vindos do pântano. Hadggar sabia que não tinha o poder de repelir todos eles. Invocar o raio místico fora suficiente para enfraquecê-lo. Um segundo o poria em grande perigo de desmaiar. Talvez ele devesse tentar fugir? Mas os monstros provavelmente conheciam o brejo escuro que os
havia qualquer sinal do mago ou dos grifos. Haveria Medivh aterrissado em algum lugar, e estaria ele se esgueirando para cima dos monstros? Ou teria ele voltado para as forças humanas do sul, para trazê-los para cá? Ou, pensou Hadggar austero, teria o humor imprevisível de Medivh mudado novamente e ele esquecera que ele tinha mais alguém com ele neste voo? Hadggar olhou rapidamente para a escuridão, então de novo para o local da emboscada. Haviam mais sombras se movendo ao redor do fogo, e mais uivos. Hadggar pegou a horrível lança troféu e correu de propósito em direção ao fogo. Ele poderia não conseguir disparar mais do que um ou dois raios místicos, mas os monstros não sabiam disso. Talvez eles fossem tão burros quanto eles pareciam ser. E tão inexperientes com feiticeiros quanto ele era com eles. Ele conseguiu surpreendê-los, pelo menos. A última coisa que eles esperavam era que sua presa, a vítima que eles desmontaram de sua montaria voadora, subitamente se manifestasse à borda da fogueira, carregando a lança troféu de um de seus guardas. Hadggar jogou a lança de lado no fogo, e ela formou um chuveiro de faíscas ao aterrissar. O jovem mago invocou um pouco de chama, uma pequena bola, e a segurou em sua mão. Ele esperava que ela iluminasse seus traços de forma tão séria quanto a tocha iluminara os do guarda. Ela tinha que fazê-lo. “Saiam deste lugar,” gritou Hadggar, torcendo para sua voz forçada não falhar. “Saiam deste lugar ou morram.” Um dos brutos maiores deu dois passos para frente e Hadggar murmurou palavras de poder. As energias místicas se solidificaram ao redor de sua mão flamejante e estouraram no inumano verde em cheio na cara. O bruto tivera tempo de levar uma mão cheia de garras para seu rosto arruinado antes de cair. “Fujam,” gritou Hadggar, tentando modular sua voz tão grave quanto conseguia, “Fujam ou enfrentem o mesmo destino.” Seu estômago se sentia como gelo, e ele tentava não encarar a criatura queimando. Uma lança fora lançada da escuridão, e com a última de suas energias, Hadggar invocou um pouco de ar, só o suficiente para empurrá-la para o lado. Ao fazê-lo, ele se sentiu fraco. Aquilo fora a última coisa que ele conseguiria fazer. Ele estava completamente acabado. Era uma boa hora para seu blefe funcionar. As criaturas que o cercavam, uma dúzia visível, deram um passo para trás, então mais um. Mais um grito, Hadggar pensou, e eles fugiriam de volta para o pântano, dando tempo suficiente para ele escapar. Ele já havia decidido que ele correria para o sul, em direção ao acampamento do exército. Mas então ele ouviu uma risada alta, aguda, que congelou o sangue de Hadggar. As forças dos guerreiros verdes se dividiram e uma outra figura se aproximou. Era mais magra e encurvada que os outros, e usava um robe da cor de sangue coagulado. Da cor do céu da visão de Hadggar. Seus traços eram tão verdes e desfigurados quanto os dos outros, mas esse tinha um lampejo de inteligência feral em seus olhos. Ele mantinha sua mão com a palma para o alto, pegou uma adaga e espetou sua palma com a ponta. Sangue avermelhado formou uma poça na mão animalesca. A figura de robe falou uma palavra que Hadggar nunca havia escutado, uma palavra que lhe doía os ouvidos, e o sangue se incendiou. “Humano quer brincar?” disse o monstro de robe, imitando toscamente a língua humana. “Quer brincar de magias? Nothgrin sabe brincar!” “Fuja agora,” tentou Hadggar. “Fuja agora ou morra!” Mas a voz do jovem mago oscilava agora, e a coisa de robe simplesmente riu. Hadggar escaneou a área ao seu redor, procurando a melhor rota para correr, imaginando se ele conseguiria pegar uma das espadas dos guardas jogadas no chão. Ele pensou se esse Nothgrin não estava blefando tanto quanto ele estava. Nothgrin deu um passo na direção de Hadggar e dois dos brutos a direita dele gritaram de súbito e se incendiaram. Acontecera numa velocidade que chocou a
dobravam e eles caíam sobre o chão. No lugar onde as criaturas estiveram, agora estava Medivh. Ele parecia brilhar por conta própria, diminuindo o fogo principal, os vagões em chamas e os corpos incendiados no chão, sugando a luz deles para si mesmo. Ele parecia radiante e relaxado. Ele sorriu para a coleção de criaturas, e era um sorriso selvagem, brutal. “Meu aprendiz disse para vocês partirem,” disse Medivh. “Vocês deveriam ter obedecido.” Uma das bestas soltou um berro, e o mago emboscador o silenciou com um balanço de mão. Algo duro e invisível acertou a besta direto na cara, e houve um estalo quando a cabeça se separou do corpo e rolou para trás, atingindo o solo momentos antes de o corpo cair na areia. O resto das criaturas deu um passo para trás e então eles fugiram para a noite. Somente o líder Nothgrin, em seu robe, ficou parado, e sua mandíbula superdimensionada se abriu de surpresa. “Nothgrin conhece você, humano,” ele sussurrou. “Você é o que...” Qualquer outra coisa que a criatura disse desapareceu em um grito, quando Medivh balançou a mão e a criatura fora jogada para o alto por uma rajada de vento e fogo. Ele foi levado para o alto, gritando, até que seus pulmões colapsaram pelo estresse e os restos queimados de seu corpo caíram suavemente como flocos de neve negra. Hadggar olhou para Medivh, e o feiticeiro exibiu um sorriso satisfeito. O sorriso se dissipou quando ele olhou para a cara chamuscada de Hadggar. “Você está bem, rapaz?” ele perguntou. “Bem, disse Hadggar, sentindo o peso de sua exaustão cair sobre ele. Ele tentou se sentar, mas acabou caindo de joelhos, sua mente esgotada e vazia. Medivh estava a seu lado em um instante, passando uma palma por sobre a testa do rapaz. Hadggar tentou tirar a mão, mas descobriu que lhe faltava energia. “Descanse,” disse Medivh. “Recupere suas forças. O pior terminou.” Hadggar acenou, piscando. Ele olhou para os corpos ao redor do fogo. Medivh poderia ter destruído-o tão facilmente na biblioteca. O que o segurou, então? Alguma lembrança de Hadggar? Um pedaço de memória ou de humanidade? O jovem mago conseguiu dizer, “Essas coisas.” Sua voz parecia arrastada, “O que eram... “Orcs,” disse o mago. “Eles eram orcs. Agora sem mais perguntas por um tempo.” No leste, o céu estava clareando. Do sul, o som de cornetas e cascos poderosos. “A cavalaria, finalmente,” disse Medivh com um suspiro. “Muito barulhenta e muito atrasada, mas não diga isso a eles. Eles podem pegar os fugitivos. Agora descanse.” A patrulha se espalhou pelo acampamento, metade deles desmontando, o resto se apressando pela estrada. Os cavaleiros começaram a checar os corpos. Um destaque foi designado para enterrar os corpos dos membros da caravana. Os poucos orcs mortos que Medivh não incendiara foram juntados e jogados na fogueira principal, seus corpos torrando enquanto a carne se reduzia a cinzas. Hadggar não se lembrava de Medivh tê-lo deixado, mas ele retornara com o comandante da patrulha. O comandante era um homem forte, mais velho, seu rosto gasto em combate e campanha. Sua barba já era mais sal do que pimenta, e o fronte de seu cabelo havia regredido para o meio da cabeça. Ele era um homem enorme, ainda mais imponente por sua armadura de placas e sua grande capa. Por sobre o ombro, Hadggar viu o cabo de uma espada enorme, o cabo enorme e cheio de joias. “Hadggar, este é Lorde Anduin Lothar,” disse Medivh, “Lothar, este é meu aprendiz, Hadggar do Kirin Tor.” A mente de Hadggar girava e primeiro pegou o nome. Lorde Lothar. O Campeão do Rei, companheiro de infância de Medivh e do Rei Llane. A lâmina em suas costas deveria ser a Grande Espada Real, comprometida a defender Azeroth, e... Medivh disse que Hadggar era seu aprendiz? Lothar caiu em um joelho para ficar a altura do jovem, e olhou para ele sorrindo, “Então você finalmente arranjou
locais torna isso ainda melhor, eh? Ah, não olhe para mim desse jeito, Medivh. O que esse aqui fez para impressioná-lo?” “Ah, o de sempre,” disse Medivh, mostrando seus dentes em um sorriso feral como resposta. “Arrumou a biblioteca. Domou um grifo na primeira tentativa. Venceu esses orcs sozinho, incluindo um bruxo.” Lothar soltou um assobio baixo, “Ele organizou a sua biblioteca? Estou impressionado.” Um sorriso brilhou por baixo de seu bigode grisalho. “Lorde Lothar,” conseguiu Hadggar finalmente. “Suas habilidades são conhecidas mesmo em Dalaran.” “Descanse, rapaz,” disse Lothar, pondo uma manopla pesada por cima do ombro do jovem mago. “Nós vamos pegar o resto dessas criaturas.” Hadggar chacoalhou a cabeça. “Você não vai. Não se você continuar pela estrada.” O Campeão do rei piscou surpreso, e Hadggar não sabia se era por sua presunção ou suas palavras. “O rapaz está certo, eu temo,” disse Medivh. “Os orcs fugiram para o pântano. Eles parecem conhecer o Lamaçal Negro melhor do que nós mesmos, e é isso que os faz tão efetivos por aqui. Nós ficamos nas estradas e eles podem fazer círculos ao nosso redor.” Lothar coçou a nuca com sua manopla. “Talvez nós pudéssemos emprestar alguns desses seus grifos para as buscas.” “Os anões que os treinaram podem ter suas opiniões a respeito de sobrecarregar os grifos deles,” disse Medivh. “Mas talvez você devesse falar com eles, e com os gnomos também. Eles tem umas bugigangas e motores aéreos que podem ser mais adequados para as buscas.” Lothar acenou, e coçou seu queixo. “Como você sabia que eles estavam aqui?” “Eu encontrei uma de suas patrulhas avançadas perto dos meus domínios,” disse Medivh, tão calmo quanto se estivesse discutindo o clima. “Eu consegui espremer dele que havia um grande grupo buscando atacar a Estrada do Lamaçal. Eu esperava chegar a tempo de avisá-los”. Ele olhou para a devastação ao redor deles. A luz do sol pouco ajudava a aparência da área. As fogueiras menores haviam se extinguido e o ar cheirava a carne de orc queimada. Uma nuvem pálida plainava sobre o local da emboscada. Um ovem soldado, pouco mais velho do que Hadggar, correu até eles. Eles encontraram um sobrevivente, um que estava bem moído, mas ainda vivo. Poderia o mago vê-lo imediatamente? “Fique com o rapaz,” disse Medivh, “Ele ainda está meio zonzo por conta de tudo isso.” E assim o mestre mago correu pelo solo queimado e ensanguentado, seu longo robe o seguindo como uma bandeira. Hadggar tentou se levantar e segui-lo, mas o Campeão do Rei pôs sua pesada manopla sobre seu ombro e o segurou. Hadggar insistiu por um momento, então voltou a se sentar. Lothar olhou para Hadggar com um sorriso. “Então o velho tolo finalmente arranjou um assistente.” “Aprendiz,” disse Hadggar fraco, apesar de sentir o orgulho inflando em seu peito. O sentimento trouxe forças renovadas para sua mente e membros. “Ele teve muitos assistentes. Eles não duraram. Foi o que eu ouvi.” “An-ham,” disse Lothar. “Eu recomendei alguns desses assistentes, e eles voltaram com contos de uma torre assombrada e um mago louco, exigente. O que você acha dele?” Hadggar piscou por um momento. Nas últimas doze horas Medivh havia atacado-o, empurrado conhecimento na sua cabeça, arrastado-o pelo campo nas costas de um grifo, e deixado-o enfrentar um punhado de orcs antes do resgate rasante. Por outro lado, ele havia feito Hadggar seu aprendiz. Seu estudante. Hadggar tossiu e disse, “Ele é mais do que eu esperava.” Lothar sorriu novamente e havia calor genuíno em seu sorriso. “Ele é mais do que qualquer um esperava. Isso é um de seus pontos positivos.” Lothar pensou por um momento e disse, “Essa é uma resposta muito política e educada.” Hadggar conseguiu formar um sorriso fraco. “Lordaeron é uma terra muito política e educada.” “É o que eu percebo no Conselho Real. 'Embaixadores de Dalaran
rapaz?” Hadggar olhou para o homem mais velho. “Dezessete. Por que?” Lothar chacoalhou sua cabeça e grunhiu. “Isso talvez faça sentido.” “Fazer sentido como?” “Med, quero dizer, Lorde Magus Medivh, era um homem jovem, vários anos mais novo do que você, quando ele adoeceu. Como resultado, ele nunca interagiu muito com alguém de sua idade.” “Doente?” disse Hadggar. “O Magus adoeceu?” “Seriamente,” disse Lothar. “Ele caiu em sono profundo, um coma eles o chamaram. Llane e eu o mantivemos no Mosteiro do Condado do Norte, e os irmãos divinos de lá o alimentaram com caldos para que ele não se esvaísse. Ele ficou assim por anos, então, bum, ele acordou perfeito. Ou quase.” “Quase?” perguntou Hadggar. “Bem, ele perdeu um bocado de seus anos de adolescente, e mais algumas décadas também. Ele dormiu um garoto e acordou um homem crescido. Eu sempre me preocupo pensando se isso o afetou.” Hadggar pensou sobre o temperamento mercurial do mestre mago, suas mudanças de humor, e o prazer infantil com que ele entrou em combate com os orcs. Se Medivh fosse um homem mais jovem, suas ações fariam mais sentido? “Seu coma,” disse Lothar, e chacoalhou sua cabeça com a lembrança. “Foi sobrenatural. Med o chama de um 'cochilo', como se fosse perfeitamente razoável. Mas nós nunca descobrimos porque isso aconteceu. O Magus talvez o tenha desvendado, mas ele não demonstrou interesse pelo assunto, mesmo quando eu perguntei a ele.” “Eu sou o aprendiz de Medivh,” Hadggar disse apenas, “Por que você está me contando isso?” Lothar suspirou profundamente e olhou para a montanha marcada pela batalha. Hadggar percebeu que o Campeão do Rei era basicamente um indivíduo honesto, que não duraria um dia e meio em Dalaran. Suas emoções eram plenas em sua face aberta, marcada. Lothar suspirou e disse, “Para ser honesto eu me preocupo com ele. Ele está sozinho na sua torre...” “Ele tem o castelão. E tem a Cook,” acrescentou Hadggar. “... com toda sua magia,” continuou Lothar. “Ele parece solitário. Enfiado lá nas montanhas. Eu me preocupo com ele.” Hadggar acenou, e adicionou para si próprio, e é por isso quevocê tentou colocar aprendizes de Azeroth lá. Para espionar seu amigo. Você se preocupa com ele, mas também com seu poder. Em voz alta, Hadggar disse, “Você se preocupa se ele está bem.” Lothar deu de ombros, mostrando tanto o quanto ele estava preocupado e o quanto ele estava disposto a fingir o contrário. “O que eu posso fazer para ajudar?” perguntou Hadggar. “Ajudar ele. Ajudar você.” “Fique de olho nele,” disse Lothar. “se você é um aprendiz, ele deve passar mais tempo com você. Eu não quero que ele...” “Caia em um outro coma?” sugeriu Hadggar. Num momento como este em que esses orcs estão em todo lugar, de repente. De sua parte, Lothar o recompensou dando de ombros novamente. Hadggar deu o melhor sorriso que ele conseguiu. “Seria uma honra ajudar vocês dois, Lorde Lothar. Saiba que minha lealdade é para com o mestre mago primeiro, mas se houver algo que um amigo queira saber, eu passo a informação.” Mais um tapinha nas costas da pesada manopla. Hadggar se admirava com quão mal Lothar escondia suas preocupações. Todos os nativos de Azeroth eram assim tão abertos e sinceros? Agora mesmo, Hadggar conseguia ver que havia algo mais que Lothar queria dizer. “Tem algo mais,” disse Lothar. Hadggar apenas acenou educadamente. “O Lorde Magus falou algo sobre o Guardião para você?” ele perguntou. Hadggar pensou em fingir que sabia mais do que ele sabia para arrancar mais desse honesto homem mais velho. Mas assim que a ideia cruzou sua cabeça, ele a descartou. Melhor se ater a verdade. “Eu ouvi o nome dos lábios de Medivh,” disse Hadggar. “Mas eu não sei de detalhe algum.” “Ah,” disse Lothar. “Então vamos fazer como se eu não houvesse dito coisa alguma para você.” “Eu estou certo de nós iremos conversar sobre isso na hora devida,” acrescentou Hadggar. “Indubitavelmente,”
quantos dias você é aprendiz de Medivh?” “Contando até a madrugada de amanhã?” disse Hadggar, se deixando sorrir. “Então será um.” Medivh escolheu esse momento para retornar, com aparência mais selvagem do que antes. Lothar ergueu suas sobrancelhas em uma esperançosa pergunta, mas o Magus simplesmente chacoalhou a cabeça. Lothar se franziu profundamente, e depois de trocar alguns gracejos, partiu para supervisionar o resto da selvageria e se limpar. A metade da patrulha que havia se movido adiante pela estrada havia voltado, sem encontrar coisa alguma. “Você está bem para uma viagem?” perguntou Medivh. Hadggar se levantou, e a colina arenosa no meio do Lamaçal Negro parecia ser um navio lançado ao mar violento. “Bem o suficiente,” ele disse. “Mas eu não sei se consigo manobrar um grifo, mesmo com...” ele deixou sua voz diminuir, mas tocou sua testa. “Está tudo bem,” disse Medivh. “Sua montaria se assustou com as flechas e partiu para as terras altas. Vamos ter que ir em dupla.” Ele levou o apito encravado de runas para os lábios e soltou uma série de sopros curtos, afiados. Do alto, ouviu-se o grito de um grifo em voo, circulando sobre eles. Hadggar olhou para o alto e disse, “Então, eu sou seu aprendiz.” “Sim,” disse Medivh, sua voz uma máscara calma. “Eu passei nos seus testes,” disse o jovem. “Sim,” disse Medivh. “Estou honrado, senhor,” disse Hadggar. “Que bom que você está,” disse Medivh, e o fantasma de um sorriso cruzou seu rosto. “Porque agora começa a parte difícil.”
5. Areia em uma Ampulheta “Eu já os vi antes,” disse Hadggar. Passaram-se sete dias da batalha no pântano. Com o retorno à torre (e um dia de descanso por parte de Hadggar), o jovem aprendiz de mago começara com determinação. À primeira hora do dia, antes do café da manhã, Hadggar praticava suas magias sob a tutelagem de Medivh. Do café até o almoço, e do almoço até o antar, Hadggar ajudava o mestre mago em tarefas variadas. Elas consistiam em fazer anotações enquanto Medivh lia números, descer correndo até a biblioteca para pegar este ou aquele livro, ou simplesmente segurar uma coleção de ferramentas enquanto o Magus trabalhava. Que era o que ele estava fazendo nesse momento em particular, quando ele finalmente se sentiu confortável o suficiente com o mago mais velho para dizer a ele o que ele sabia sobre a emboscada. “Viu quem antes?” respondeu seu mentor, olhando para seu experimento atual através de uma grande lente. Nos seus dedos, o mestre mago usava pequenos dedais pontudos terminando em agulhas infinitamente finas. Ele estava virando algo parecido com um abelhão mecânico, que flexionava suas pesadas asas quando as agulhas o tocavam. “Os orcs,” disse Hadggar. “Eu já vi os orcs com quem lutamos
“Você não os mencionou quando você tinha acabado de chegar,” disse Medivh com a mente ausente, seus dedos dançando com uma estranha precisão, lançando as agulhas para dentro e para fora do equipamento. “Eu me lembro de perguntar a você sobre outras raças. Não houve menção. Quando você os viu?” “Em uma visão. Logo depois que eu cheguei aqui,” disse Hadggar. “Ah. Você teve uma visão. Bem, muitos as tem aqui, você sabe. Moroes provavelmente o informou. Ele é meio tagarela, você sabe.” “Eu tive uma ou duas. A que eu tenho certeza foi em um campo de batalha, e essas criaturas, esses orcs, estavam lá. Nos atacando. Quer dizer, atacando os humanos com quem eu estava.” “Hmmmm,” disse Medivh, a ponta de sua língua aparecendo sob o bigode enquanto ele movia as agulhas delicadamente pelo tórax de cobre do abelhão. “E eu não estava aqui,” continuou Hadggar. “Não em Azeroth, ou Lordaeron. Onde quer que seja que eu estava, o céu era vermelho como sangue.” Medivh se arrepiou como se tivesse sido atingido por um choque elétrico. O dispositivo intrincado sob suas ferramentas brilhou formando um clarão enquanto as partes erradas eram tocadas, então gritou, então morreu.
olhando rispidamente para Hadggar. Energia, intensa e impiedosa, parecia dançar ao longo das sobrancelhas escuras do homem mais velho, e os olhos do Magus eram do verde de um mar tempestuoso. “Vermelho. Como sangue,” disse Hadggar. O jovem pensara que ele estava se acostumando com os humores súbitos e mercuriais de Medivh, mas esse o acertou com a força de uma paulada. O homem mais velho soltou um chiado. “Me conte sobre isso. O mundo, os orcs, os céus,” ordenou Medivh, sua voz como rocha. “Conte-me tudo.” Hadggar narrou a visão de sua primeira noite na torre, mencionando tudo que conseguira se lembrar. Medivh interrompera constantemente – o que os orcs estavam vestindo, como era o mundo. O que havia no céu, no horizonte. Se haviam bandeiras entre os orcs. Hadggar sentia como se seus pensamentos estivessem sendo dissecados e examinados. Medivh puxava a informação de Hadggar sem esforço. Hadggar contou tudo a ele. Tudo exceto os olhos estranhos e familiares do comandante guerreiro mago. Ele sentiu não ser apropriado contar isso, e as perguntas de Medivh pareciam se concentrar mais no mundo de céu vermelho e nos orcs do que nos defensores humanos. Enquanto ele descrevia a visão, o homem mais velho parecia se acalmar, mas o mar revolto continuava sob suas sobrancelhas grossas. Hadggar
“Curioso,” disse Medivh, devagar e pensativo, depois que Hadggar terminou. O mestre mago se encostou em sua cadeira e deu batidinhas de seus dedos de pontas de agulhas em seus lábios. Houve um silêncio que se pôs por sobre o quarto como uma coberta. Por fim ele disse, “Essa é nova. Muito nova mesmo.” “Senhor,” começou Hadggar. “Medivh,” lembrou o mestre mago. “Medivh, senhor,” começou Hadggar novamente. “De onde vem essas visões? Elas são assombrações do passado ou presságios do futuro?” “Ambos,” disse Medivh, se inclinando para trás em sua cadeira. “E nenhum deles. Vá pegar um jarro de vinho na cozinha. Sinto que meu trabalho esteja terminado por hoje, já é quase hora da janta e isso pode precisar de alguma explicação.” Quando Hadggar retornou, Medivh havia acendido o fogo na lareira e já estava se sentando em um dos cadeirões. Ele segurava um par de canecas. Hadggar entornou, o doce cheiro do vinho tinto se misturando com a fumaça de cedro. “Você bebe?” perguntou Medivh tardiamente. “Um pouco,” disse Hadggar. “É costume servir vinho com o antar na Cidadela Violeta.” “Sim,” disse Medivh. “Vocês não precisariam se vocês simplesmente se livrassem do revestimento de chumbo do
“Sim, eu vi o que eu descrevi para você, e Moroes...” Hadggar hesitou por um momento, esperando não piorar a reputação de fofoqueiro do castelão, então continuou. “Moroes disse que eu não estava só, que as pessoas viam coisas como essa o tempo todo.” “Moroes está certo,” disse Medivh, tomando um longo gole do vinho e fazendo um estalo com os lábios. “Uma safra de colheita tardia, não é má. Que essa torre é um lugar de poder não deveria surpreendê-lo. Magos gravitam em torno de tais lugares. Esses lugares ficam em geral onde o universo fica mais fino, deixando-o se sobrepor por cima de si mesmo, ou até permitindo entrar na Espiral Etérea e em outros mundos completamente.” “Foi isso que eu vi, então,” interrompeu Hadggar, “Outro mundo?” Medivh levantou uma mão para interromper o jovem. “Eu estou apenas dizendo que existem lugares de poder, que por uma ou outra razão, se tornam berços de grandes poderes. Um destes locais é aqui, nas Montanhas de Crustarrubra. Um dia, a muito tempo, algo poderoso explodiu aqui, escavando o vale e enfraquecendo a realidade ao seu redor.” “E é por isso que você o procurou,” sugeriu Hadggar. Medivh chacoalhou a cabeça e então disse, “Essa é uma teoria.” “Você disse que houve uma explosão a muito tempo que criou
veio...” “Sim,” disse Medivh. “Isso é tudo verdade, se você olhar de uma forma linear. Mas e se a explosão aconteceu porque eu iria eventualmente vir para cá e o lugar precisava estar pronto para me receber?” A cara de Hadggar se franziu. “Mas as coisas não acontecem dessa forma.” “No mundo normal não, elas não acontecem,” disse Medivh. “Mas a mágica é a arte de enganar a normalidade. É por isso que os debates filosofais nos corredores do Kirin Tor são uma bobagem tão grande. Eles buscam racionalizar o mundo e regular seus movimentos. As estrelas avançam em ordem através do céu, as estações caem uma após a outra com a regularidade de uma marcha, e homens e mulheres vivem e morrem. Se isso não acontece é mágica, o primeiro empenamento do universo, algumas poucas tábuas no chão que estão empenadas e fora de forma, esperando por mãos industriais para alavancá-las para fora.” “Mas para isso acontecer, para a área estar preparada para você...” começou Hadggar. “O mundo teria que ser muito diferente do que parece ser,” respondeu Medivh, “O que de verdade ocorre, no fim das contas. Como funciona o tempo?” Hadggar não foi pego tão de surpresa pela aparente mudança
“Nós o usamos, nós o medimos, mas o que ele é?” Medivh estava sorrindo por cima de seu copo. “Tempo é a progressão regular de instantes. Como areia em uma ampulheta,” disse Hadggar. “Excelente analogia,” disse Medivh. “Uma que eu iria usar eu mesmo, para então comparar a ampulheta com o relógio mecânico. Você vê a diferença entre os dois?” Hadggar balançou sua cabeça devagar enquanto Medivh bebericava seu vinho. Eventualmente o mago falou, “Não, você não é estúpido, garoto. É um conceito difícil, para embrulhar seu cérebro. O relógio é uma simulação mecânica do tempo, cada batida controlada pela rotação das engrenagens. Você pode olhar para um relógio e ver que tudo avança em um tique da roda, uma girada das engrenagens. Você sabe o que virá em seguida, porque o relojoeiro original o construiu dessa forma. “Tudo bem,” disse Hadggar. “Tempo é um relógio.” “Ah, mas o tempo também é uma ampulheta,” disse o mago mais velho, alcançando uma que estava sobre a lareira e a virando. Hadggar olhou para a peça de tempo e tentou lembrar se ela estivera ali antes de ele trazer o vinho, ou mesmo antes de Medivh pegá-la. “A ampulheta também mede o tempo, certo?” Disse Medivh.
deslocar da metade de cima para a metade de baixo em qualquer instante. Se você numerasse as areias, a ordem seria um pouco diferente cada vez. Mas o resultado final é sempre o mesmo - toda a areia se moveu do topo para a base. Em que ordem isso ocorre não importa.” Os olhos do homem velho brilharam por um momento. “Então?” ele perguntou. “Então,” disse Hadggar. “Você está dizendo que pode não importar se você fez sua torre aqui porque uma explosão criou o vale e distorceu a natureza da realidade ao seu redor, ou se a explosão ocorreu porque você iria eventualmente vir aqui, e a natureza do universo precisava lhe dar as ferramentas que você precisava para ficar.” “Perto o suficiente,” disse Medivh. “Então o que as visões são, afinal, grãos de areia?” disse Hadggar. Medivh se franziu um pouco, mas o jovem continuou. “Se a torre é uma ampulheta, e não um relógio, então existem grãos de areia, de tempo, que estão se movendo por ela a qualquer momento. Eles estão soltos, ou se sobrepondo, de forma que podemos vê-los, mas não claramente. Uma porção é de partes do passado. Uma porção é de partes do futuro. Poderiam haver algumas de outros mundos também?” Medivh agora pensava ele mesmo profundamente. “É possível. Marcas cheias. Bem pensado. O que é importante lembrar é que
fosse um relógio, elas se moveriam de forma regular e seriam fáceis de explicar. Mas já que a torre é uma ampulheta, então não. Elas se movem com velocidade própria, e nos desafiam a explicar sua natureza caótica.” Medivh se inclinou para trás em sua cadeira. “Com o que eu, pelo menos, estou bastante confortável. Eu nunca poderia apreciar um universo ordenado, bem planejado.” Hadggar adicionou, “Mas você já procurou por uma visão em particular? Não haveria uma forma de descobrir um certo futuro, e então se assegurar de que ele aconteceria?” O humor de Medivh se enegreceu. “Ou se assegurar de que ele nunca acontecesse,” ele disse. “Não, tem algumas coisas que mesmo um mestre mago respeita e se mantém afastado. Essa é uma delas.” “Mas...” “Sem mas,” disse Medivh, se levantando e pondo sua caneca vazia sobre a lareira. “Agora que você teve um pouco de vinho – vamos ver como isso afeta seu controle mágico. Levite minha caneca.” Hadggar franziu suas sobrancelhas e percebeu que sua voz estava levemente arrastada. “Mas nós estávamos bebendo.” “Exatamente,” disse o mestre mago. “Você nunca sabe que areias o universo jogará na sua cara. Você pode ou planejar estar eternamente pronto e vigilante, abstendo-se da vida como a
Agora tente levitar a caneca.” Hadggar não percebera até o momento o quanto ele bebera, e tentou limpar a bagunça de sua mente e levantar a pesada caneca de cerâmica de cima da lareira. Alguns momentos depois, ele estava indo em direção a cozinha, procurando por um esfregão e uma bacia. Durante as tardes, o tempo de Hadggar era dele mesmo, para praticar e pesquisar, enquanto Medivh cuidava de outros assuntos. Hadggar se perguntava quais eram os outros assuntos, mas assumia que eles incluíam correspondência, já que duas vezes por semana um anão cavalgando um grifo chegava na torre mais alta com um pacote, e partia com um pacote ainda maior. Medivh deu ao jovem passe livre na biblioteca para pesquisar como ele achasse melhor, incluindo a miríade de perguntas que seus antigos mestres na Cidadela Violeta haviam feito. “Minha única exigência,” disse Medivh com um sorriso, “é que você me mostre o que você escreveu antes de mandar a eles.” Hadggar deve ter mostrado seu desconforto, porque Medivh acrescentou, “Não porque eu temo que você esconda algo de mim, Jovem Confiança, mas porque eu odiaria que eles soubessem de algo sobre o qual eu me esqueci.” Então Hadggar mergulhava nos livros. Para Guzbah ele encontrou um pergaminho gasto, ancião, com um poema épico,
a mãe de Medivh, Aegwynn, e um demônio anônimo. Para a senhora Delth ele fez uma listagem de tomos élficos que estavam se desintegrando na biblioteca. E para Alonda ele mergulhou nos bestiários que ele conseguiu ler, mas não conseguiu forçar o número de raças de trolls para além de quatro. Hadggar também passou seu tempo livre com fechaduras e suas magias pessoais de abertura. Ele ainda buscava aprender daqueles livros que frustraram suas tentativas anteriores de abrilos. Esses tomos tinham magias fortes neles, e ele podia passar toda uma tarde com suas magias de adivinhação antes de conseguir mesmo a menor pista de que estilo de magia protegia seus conteúdos. Por fim, havia o assunto do Guardião. Medivh o havia mencionado, e Lorde Lothar havia assumido que o Magus havia confiado o assunto a ele, mas voltara atrás rapidamente quando o Campeão do Rei descobriu não ser o caso. O Guardião parecia ser um fantasma, não mais nem menos real que as visões de tempos distorcidos que pareciam se mover pela torre. Havia uma menção de passagem sobre um Guardião (sempre em maiúscula) em um tomo élfico, uma referência nas histórias da realeza de Azeroth de um Guardião participando deste casamento ou daquele funeral, ou estando a frente de algum ataque. Sempre presente, mas nunca identificado. Seria esse
Medivh, um ser único? Haviam outros fantasmas que orbitavam este Guardião. Uma ordem de algum tipo, uma organização – seria o Guardião um cavaleiro divino? E a palavra “Tirisfal” estava escrita nas margens de um grimório, e então fora apagada, de forma que só as habilidades de Hadggar de examinação descobriram pelo sulco que a caneta fizera no pergaminho o que estivera escrito. O nome de um Guardião em particular, ou da organização, ou outra coisa completamente diferente? Foi na tarde que Hadggar descobriu essa palavra, quatro dias depois do incidente da caneca, que o jovem caiu em uma nova visão. Ou melhor, uma visão chegou sorrateira e o cercou, engolindo-o todo. Foi o cheiro que veio a ele primeiro, um leve calor vegetal sobre os textos apodrecidos, uma fragrância que se elevou lentamente no quarto. O calor subiu pelo quarto, não de forma desconfortável, mas como um cobertor quentinho. As paredes escureceram e ficaram verdes e vinhas se entrelaçaram nas prateleiras, passando através e substituindo os volumes que estavam lá, espalhando folhas largas e planas. Grandes lírios pálidos e orquídeas estreladas rubras brotaram por entre os montes de pergaminhos. Hadggar respirou fundo, mas mais por antecipação do que por
ele vira antes. Isso era algo diferente. Isso era uma selva, mas era uma selva neste mundo. O pensamento o reconfortou. E a mesa desapareceu, e o livro também, e Hadggar estava sentado ao lado de uma fogueira com três outros homens jovens. Eles pareciam ter mais ou menos a sua idade e estavam em algum tipo de expedição. Colchonetes foram espalhados e o caldeirão, vazio e limpo, estava secando próximo do fogo. Todos os três estavam vestidos para cavalgar, mas suas roupas eram bem feitas e de boa qualidade. Os três homens estavam rindo e contando piadas, apesar de, como antes, Hadggar não conseguir entender as palavras exatamente. O loiro no centro estava no meio de uma história e, pelos seus gestos, uma envolvendo uma bela jovem. O que estava a sua direita ria e espalmava o joelho enquanto o loiro continuava seu conto. Este correu seus dedos pelos cabelos e Hadggar percebeu que seus cabelos escuros já estavam se retraindo. Foi então que ele percebeu que estava olhando para Lorde Lothar. Os olhos e nariz eram os seus e o sorriso exatamente o mesmo, mas a carne ainda não tinha sentido o passar dos anos e sua barba não estava ficando grisalha. Mas era ele. Hadggar olhou para o terceiro homem e viu de cara que devia ser Medivh. Esse estava vestido com vestimentas de caçador verde escuras, seu capuz puxado para trás revelando um rosto jovem,