AS ROUPAS NO NO CANDOMBLÉ CANDOMBLÉ
ÌYÁWÓ MOKAN: Uso indispensável IKAN: Uso Indispensável DILOGUN: Uso Indispensável: “LAÇINHO” e “GRAVATINHA” ACIMA DO PANO DE COSTAS: Uso Indispensável
ROUPA DE SIRE: Até completar um ano de iniciada, deve-se dançar Sire de branco;
ÌYÁWÓ DO SEXO MASCULINO CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.) CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, Também não se usa camiseta); ÉKÉTÉ: – NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);
OGÁ (OGAN): CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.) CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, também não se usa camiseta); ÉKÉTÉ, CHAPÉU OU BOINA (NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);
EKEJI (EKEDE): SAIA: Ekeji não usa saia com anáguas de baiana; TOALHINHA: A cada dia é mais raro vermos uma Ekeji com uma toalhinha para “enxugar” o
Òrìsà.
ADES, COROAS E PARAMENTAS DE ÒRÌSÀS:
DISCERNIMENTO E COERÊNCIA: Deve-se ter coerência ao vestir os Òrìsàs (Nossos deuses são elementos da natureza, que utilizam representações da natureza, POR ISSO NÃO DEVEM SER CARNAVALIZADOS); MÁSCARAS: É inadmissível a utilização de máscaras na confecção da Roupa dos Òrìsàs; ALTURA DOS ADES: Deve se ter discernimento, coroas são coroas e não paramentos carnavalescos gigantescos; ÒSÀLÁ: ÒSÀLÁ SÓ USA BRANCO. Esse é um Òrìsà Fúnfún, não admite pra ta ou “azul clarinho” PENAS.: Nossa religião é tribal, mas não indígena, a utilização de penas na confecção das roupas dos Òrìsàs deve ser ponderada e não excessiva; SÀNGÓ: Não tolera roupas roxa ou preta;
ÀSÈSÈ: HOMENS: Calça, Camisa de Ração (brancos) e Ékété; MULHERES: Saia de ração e camisa de crioula (brancas); PROÍBIDO: Brilho, Bordados, Vazados e Roupas Coloridas;
BATA: QUEM PODE USAR: A utilização da bata é restrita as autoridades femininas da Casa (autoridade máxima, Ìyálásè, Ìyákekère, Ìyámaye, etc. - Se todas as Ègbón usarem batas, será impossível distinguir as autoridades); CUMPRIMENTO: Bata é Bata e não vestido! Um ditado tradicional nos Candomblés da Bahia diz: Quanto Maior a Bata, Maior a Ignorância da Ègbón;
PANO DE CABEÇAS: QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Cabeça é restrita às mulheres (o Babalòrìsà “em sua casa” tem a autonomia de optar ou não pelo uso. O pano de cabeça, poderá ainda ser utilizado por homens, em obrigações internas em que o mesmo está “recebendo asè, como
por exemplo Bori”); ABAS: As abas do Pano de Cabeça, estão relacionadas ao Òrìsà da filha de Santo e a sua idade de santo (se seu Òrìsà for Oboro – masculino, você não poderá usar duas abas, sendo que essa ficou para as filhas de santo, que possuem Òrìsàs Ayabas – femininos);
ALTURA DO PANO: Deve-se ter discernimento ao usar o Pano de Cabeças. O pano de Cabeças não é turbante com diversas voltas e de altura desmedida; Seu pano de cabeça também não pode ser maior do que o da sua Ìyálòrìsà;
PANO DE COSTAS: QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Costas é restrito às mulheres. UTILIZAÇÃO: O pano da costa deve ser colocado na altura dos seios (somente as autoridades quando estão trajadas de Bata, podem usar o pano na cintura); USO TRASVERSAL DO PANO POR HOMENS: Indevido, à exceção das festividades do Pilão e durante o Pilão de Òsògíyàn;
FIOS DE CONTA.: AFRICANOS/CORAIS/PEDRAS: de uso exclusivo para autoridades do Candomblé e as pessoas com obrigação de sete anos (obrigações arriadas); BOLAS DE PLÁSTICO: Não pertencem ao Candomblé;
SAIAS: QUEM USA: Uso restrito à mulheres (homem não usa saias, mesmo se seu Òrìsà seja ayaba); CUMPRIMENTO: A saia deve ser longa, cobrindo o calçolão (o uso de saieta é cabível somente para Òrìsàs masculinos – em mulheres);
ROUPAS BRILHOSAS E BORDADOS: ROUPAS BRILHOSAS: A utilização de roupas com muito brilho está condicionada ao Òrìsà e à determinados Òrìsàs (existem roupas para dançar o Sìré e roupas para vestir os Òrìsàs, sendo que alguns também não toleram o brilho); BORDADOS: As roupas bordadas como Rechilieu, Asa de Mosca, Roda de Quiabo e panos mais elaborados, são de uso exclusivo para autoridades e pessoas com obrigação de sete anos arriada;
BRINCOS E PULSERIAS: Ìyáwò de Òrìsà Oboro (Santo Masculino), não deve usar brincos e/ou pulseiras.
O Erê é a energia criança que provem da energia de nosso orixá...confuso isso né, mas para você entender, é o espirito de uma criança que é destinada a nós por nosso orixá, e durante o transe do Erê, o omo-orixá (filho de santo), assume a identidade dessa energia. Muito confundem Ibeji com erê, contudo são forças distintas, Ibeji são os orixás gêmeos patronos da infância, e Erê é a energia infantil de nosso orixá. São os Erês importantíssimos dentro do candomblé, pois eles ajudam no aprendizado do filho. Na umbanda o erê trás seu nome, sempre no diminutivo, como por exemplo: Mariazinha, Joãozinho...e no candomblé o zelador lhe dá um “nome” que provem do orixá, como por
exemplo Erê de Ogun recebe o nome de Espadinha, Erê de Xangô é Trovãozinho e assim por diante. Meu Erê chamasse Setinha e depois de Odé ele foi o segundo a me “pegar” e eu tinha acabado
de completar 15 anos de idade, após eu mudar de axé, meu zelador deu a ele outro nome, porém ele não aceitou e continua sendo chamado pelo nome que ele trouxe. É um erro também as pessoas pensarem que o Erê só “chega”, quando se é yawo, pois se o Erê é
enviado pelo orixá para ajudar no aprendizado, ele sempre pode vim, pois somos eternos aprendizes para nosso orixá.
Todo ritual realizado dentro do candomblé tem significado e é fundamentado em uma itã. Hoje vou falar sobre Ekodidé, porque o papagaio-da-costa e sua pena vermelha são tão importantes. Origem – Oxum e Yámin
Oxum é a personalização do poder feminino, do combate a autoridade masculina, e essa história que vou narrar mostra exatamente isso, o fato de Oxum nunca se dar por vencida. Após a crianção do mundo, Obatalá e Oduduwa, decidem voltar ao Orún, para seu castelo de alabastro, contudo Olodumarê dá a eles uma nova missão que era criar o ser humano, isso levaria um tempo, então Olodumarê aconselha Obatalá a escolher entre os orixás o que melhor ficaria em seu trono, enquanto ele estivesse ocupado. Ao saber da história, Oxum fica
empolgada, pois quem mais poderia tomar tal responsabilidade? – Pensou ela. Contudo não seria fácil ser escolhida, afinal todos os orixás tinham dons. Ela então faz um pacto com Yámin, que se ela chegasse ao trono de Obatalá, Yámin sentaria ao lado de Oxum. Passou-se os dias e devido a um ebó que as feiticeiras fizeram, todos elegeram Oxum sua melhor representante. Antes de partir Obatalá e Oduduwa, decidiram dá uma festa para apresentar a nova regente, contudo Oxum não agradeceu nem fez menção alguma a Yámin, e isso deixou as com muita raiva e então Yámin fez com que o órgão sexual de Oxum, grudasse no trono, na tentativa de sair Oxum sangrou no trono de Obatalá, que tinha aversão total ao vermelho e os orixás homens que estavam todos sentindo-se humilhados por não Obatalá ter escolhido uma mulher, decidem colocar Oxum para fora. Oxum, vingativa, decide tramar um plano e do pano sujo de sangue ela faz surgi uma linda ave, que se chamaria ekodidé, e disse que daria uma festa, porém apenas aqueles que usassem um pena de ekodidé na cabeça poderia entrar, então ela chamou Exu e pediu que ele espalhasse aos quatro cantos do orún a noticia. E assim foi, todos ficaram sabendo e então usaram a pena de ekodidé na cabeça e até mesmo Obatalá usou, assim Oxum conseguiu inverter a situação. E também como sabemos Oxum criou o ritual de yaô e instituiu que todo lésse orixá (aos pés do orixá, iniciados) usaria a ekodidé para ser reconhecido pelos orixás. Assim utilizamos até hoje...
Rumbê - Direitos e Deveres Olá a todos, o post que segue é referente aos direitos e deveres dos yawos, esses pontos foram discutidos por mim e os mais velhos da minha casa de axé, porém podem ser adotados em qualquer casa de axé, espero que eles ajudem tanto os yawos quanto os zeladores. ATENÇÃO: Temos que nos organizar, para criarmos uma religião forte e bem estruturada! Direito do Iyawos
Os Iyawos são muito importantes dentro de uma casa de santo, pois eles serão os zeladores de amanhã. São seus direitos: - Sempre perguntar quando houver qualquer dúvida. - Visitar o quarto de santo (roncó), só atentar quanto ao banho de ervas (omim eró). - Arriar comida ao seu orixá (Avisando o zelador com 1 dia antes). - Participar dos oros.
- Caso se sinta mal, ou passe por algum problema de ordem espiritual é obrigação do zelador encontrar o melhor tratamento espiritual; mas, para isso, o zelador deve ser avisado do que está acontecendo. - Reuniões particulares com seu zelador, quando forem necessárias. - O zelador (a) tem o juramento e responsabilidade de manter sigilo absoluto quanto tudo que se é dito durante o jogo de búzios, bem como nas obrigações quando no quarto de santo. Deveres
Os deveres do Iyawo não são obrigações, e nem deve ser encarados dessa maneira, porém se não houver dedicação e presença desse iniciado não haverá aprendizado e, assim, ele não criará a sua identidade religiosa. Sendo assim o Iyawo deve: - Dar osé (limpar) o seu orixá no mínimo de 1 vez por mês. - Não deixar a quartinha de seu orixá sem água. - Participar de todas as obrigações e caso não possa ir, justificar a ausência. - Zelar pelo barracão conforme as orientações de um mais velho. - Levar o nome de seu axé de forma limpa e sempre exaltar o orixá e seu zelador (a). - Não falar mal de seus irmãos de santo, e quando tiver algum problema, sempre conversar, afinal somos uma família, e onde há pessoas sempre pode haverá diferenças de gênios e de opiniões. - Manter segredo sobre sua iniciação e sobre tudo que se é feito dentro da casa do orixá, principalmente quanto aos atos iniciatórios (feitura). - Jamais colocar seu orixá em prova. - Despachar tudo o que arriar de comida, ou outro tipo de oferenda a seu santo ou ao santo da casa, lembre-se, o orixá entende aquilo que está em seus pés, ou seja, é importante não deixar comida podre ou sujeira perto de seu igbá (louça do orixá). - Contribuir financeiramente, conforme sua situação, pois o barracão tem contas mensais, além da movimentação de pessoas, o mais indicado é que você estipule um valor mensal com o zelador, pois caso um dia você precise de um jogo de búzios ou ebó, não será cobrado. Exclusão do Egbé
A expulsão de um filho, ou exclusão do Egbé, é algo feito em último caso, pois todos tem direito de errar e de se reabilitar, porém seguindo alguns cuidados, como: - Não ficar mais de 3 meses sem aparecer, sem que haja um justificativa. - Seja comprovado que houve traição quanto a seu axé. - Agressão a um membro do egbé (comunidade)
- Insulto ao zelador (a) Todas as decisões tomadas quanto ao futuro de um membro da casa são tomadas através de um conselho onde o zelador (a) ouvirá um mais velho, ou os mais velhos da casa.
21 dias ou 3 meses de preceito? Bom eu vim de Egbá, e no meu antigo axé, ficavamos 3 meses de preceito, durante a iniciação e 21 dias no caso de obrigação de 1, 3 e 7 anos. Hoje estou no ketu, e na casa de meu pai ficamos 21 dias de quele e mais 7 dias para Oxalá. Quando eu questiono essa questão, meus mais velhos dizem que a muitos anos atrás o Ketu também dava o preceito de 3 meses, porém hoje sabe se que antes vivíamos em uma sociedade rural e cumprir esse resguardo não era tão difícil, mas hoje com a vida corrida que levamos, não tem como ficar três meses de quelê, sendo que com o passar dos dias, você acaba quebrando todos os preceitos. Então estipulou-se 21 dias inteiramente dedicados ao orixá, ou seja, bem cumpridos. Eu ainda hoje conheço muitas casas que ainda mantém os 3 meses de quelê, não estou aqui para criticar, só estou fazendo um comentário sobre aquilo que eu vivi. Sendo assim não existe uma regra geral para isso e sim vai da tradição de sua casa. O Quelê Ele é o símbolo de aliança com orixá. Suas contas e firmas tem todo um significado. Geralmente são 21 contas e 7 "pernas". as 21 contas são referentes aos 21 dias que o yaô carregará e 7 "pernas" ou fios, fazem simbologia aos 7 anos que o yaô estará em estado de aprendizagem. O quelê também dizia os antigos protegia e acompanhava o resguardo desse filho e caso ele quebrasse algum fio ou estourasse, poderia ser porque o filho quebrou alguma ewó (quizila) ou alguma energia muito ruim pelo qual o yaô passou e foi protegido. O Branco A cor branca no candomblé é marcante, ela representa a paz, a mudança e principalmente a transformação. Pois segundo as lendas, ser iniciado no orixá, é ganhar um novo destino. Eu já vi casos de zeladores que quebram o branco, para que o filho passa trabalhar. Não é mais mistério para ninguém, pois eu mesmo já vi na rua, yaôs de roupa colorida e de quelê, se errado? não sei. A minha opinião é que o período de yaô é pequeno, então porque não se dedicar inteiramente? Caso o yaô trabalhe em um lugar que tenha uniforme ou algo assim, acho que o zelador tem que ter o bom senso, mas saindo dali, o yaô deve colocar a sua roupa branca, cobrir sua
cabeça e colocar seus fios de conta sim. E hoje como tantas lojas de departamento, temos uma variedade enorme de roupas brancas, assim não tem como ficar mal vestido ou não encontrar roupa. Paó O paó dentro do axé que sigo, é usado apenas quando o filho de santo está de quelê, ou quando vai arriar alguma comida e etc...Paó é a repetição de palmas coordenadas de 3 para 7 palmas em 3 vezes. Eu já ouvi vários significados, porém o que acho mais prudente, é que o paó é uma reverência ao orixá, usada para não só reverenciar, mas afastar o mal e trazer uma energia positiva. É usado, antes de todas refeições, e quando vamos dar adobá para nossos mais velhos e nos axés da casa. A Alimentação Essa questão é outra importante, os condimentos como pimenta e seus derivados, alho e carne vermelha, são ewós (quizilas) do orixá. Assim como as frutas citricas. Durante o recolhimento a alimentação é bem especifica, e quando seguimos para continuar nosso preceito algumas coisas também se mantém. Por isso converse bem com seu zelador e liste aquilo que você pode ou não. Como eu digo ser do orixá é vestir a camisa. Então mesmo que algo não faça sentido para você, siga, pois temos uma cultura muito rica e com o tempo, começamos a entender. O Banho A higiene pessoal é à base de água e sabão da costa, ou em alguns casos, sabão de coco. E durante o período de yaô não tomamos banho de água corrente. É para muitos é sacrifício, para quando estamos alinhados com o orixá, entendemos que passar por isso é maravilhoso, nos damos conta que acabamos criando uma importância tão grande a coisas que conseguimos tranquilamente viver sem, é quando damos conta que o orixá quer nos ensinar exatamente isso. Que nós criamos tantas coisas que não precisamos, enquanto esquecemos das verdadeiras coisas que importam, que é o amor ao orixá e ao próximo. A Postura do Yaô Como já disse em outras postagens, o período de quelê, nos ensina muito, e humildade é a maior das lições. A postura do yaô deve ser sempre de cabeça baixa, não passar das 21h na rua, sempre calmo, sereno, falar baixo. Pois temos que entender que ele ou até mesmo nós, estamos dedicados e voltados ao orixá. Que humildade é essa se o yaô está de cabeça alta, falando besteira ou rindo alto, e o respeito pela aquela aliança que está em seu pescoço. Não é tortura nem muito menos escravidão, é DEDICAÇÃO. Tendo em vista que ninguém está ali obrigado.
Os lugares onde o yaô não deve ir Durante esse período ficam vetados: - Matadouros : Pois neles, tiram-se elementos da natureza sem que haja nenhum ritual, nenhum pedido de licença a natureza. - Hospitais : Lá existe todo tipo de pessoas, e a presença forte de Ikú (a morte), e essas energias não são apropriadas a esse período - Cemitério : a mesma coisa que a anterior. E também lugares onde haja muita movimentação de bebida, cigarro e bagunça.
Hoje vamos tratar de um assunto que sempre está em pauta nas reuniões entre os zeladores, o Ajé de Um Ano, pois muitos adeptos da religião passam por um período difícil, após iniciarse em seu Orixá, em uma dessas discussões, chegamos a senso, que vou expor a vocês, meu objetivo não é assustar ninguém, mas sim alertar e deixar consciente quem está para fazer santo. O primeiro ponto que devemos entender é que fazer santo é um casamento, por isso o nome yawò (yorubá: Noivo (a)), e vale relembrar que, como um casamento, ambas as partes devem está de comum acordo, não é? Deve-se fazer santo, tendo a certeza absoluta que irá levar a fé do Orixá para sempre na vida, você querendo ou não. Ponto seguinte, como você se sentiria se alguém casa-se com você por interesse? Como se sentiria? Pois bem, isso acontece demais com as pessoas em nossa religião, que fazem santo, para resolver um problema na vida, ao invés de buscar a fé para se fortificar, mas não só naquele momento, mas por toda sua existência. Terceiro, sua obrigação com o Orixá não acaba no dia da queda do seu quelè, assim como não vale lembrar que tem santo apenas nos ajoduns (aniversários). Além desses pontos, ainda existe um mais grave ainda, quem já ouviu falar da frase “Falar todo mundo fala, quero ver provar!”, pois é, assim é na nossa religião, dizer que ama o Orixá,
que sem ele não vive é uma coisa, agora provar é outra. Voltando no que eu disse acima, sobre casamento, será que sua relação com seu Orixá se mantém firme na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença? Por experiência própria, eu digo que o Orixá nunca quer mal a seus filhos, nunca quer prejudicá-los, contudo algumas vezes ele não agir efetivamente na vida dos iniciados, pois essa união não estar fortalecida, assistida de forma plena, de coração. Tem iniciado que só está por obrigação, sem pensar que isso enfraquece seu lado espiritual. Ser um yawò não faz com que sejamos imunes as leis que regem o universo, tal como aquelas que regem nossa sociedade. Se me perguntar, existe ajé de um ano, ou seja, o yawò tem mesmo que passar por dificuldades, eu digo não! Não é preciso, mas antes de questionar o Orixá sobre sua vida, leia com atenção os pontos que mostrei em cima, eu sei que fazer santo não é fácil, é sacrificoso, mas não adianta fazer, se não for praticar sua fé, amor se demonstra com atitudes, já cansei de ouvir: “Mas o Orixá vê meu coração”, sim, concordo, mas ele também
vê suas atitudes, e o que é pensamento sem ação? Pra mim não é muita coisa. A vida de um iniciado no candomblé é: Amor, Fé e Dedicação.
Se você se iniciou e tá passando por um momento difícil, ajoelhe, fale com seu Orixá, em seguida procure o zelador de Orixá e abra seu coração, veja o que seu santo diz e o que deve fazer para, seguir uma vida plena, que venham as dificuldades, mas que a solução seja maior.
Dentro da nação ketu, seguimos alguns preceitos, conforme nosso orixá ou família na qual ele pertence, um exemplo clássico de quizila é não comer jaca, isso devido ao fato de Yá Opaoká, uma entidade feminina, morar nas árvores que dão esse fruto, que tem forma de placenta, o que reforça o mito de que ela foi à única Yámim fértil, além disso, acreditamos que a cidade de Ketu, tenha se formado em volta de uma jaqueira. Outro preceito que ouvimos com frequência, é referente ao abacaxi, que não se come, pois é um fruto associado a Omolu, contudo o que poucos sabem é que ele pertence também à Xangô, a diferença é que quando oferecemos a ele deixamos a coroa, como símbolo de seu poder real. A proibição desse fruto não é regra, existem casas que adotam e outras não. Saindo da alimentação, seguimos para o vestuário, pessoas de Xangô não usam roxo e preto, porque são cores ligadas a morte, isso na África e no Brasil, aos filhos de Oxalá é vetado o vermelho, e assim por diante. Eu sou de Odé, e desde pequeno, sempre tive curiosidade de saber por que Odé não come mel, e ouvi uma série de explicações, para simplificar, o motivo de Odé não gostar de mel, é que as abelhas representam os eguns, os espíritos da floresta, sendo Odé a verso também a morte ele não come o que é produzido por elas, além da questão da Itã (lenda), onde Odé é enganado por Oxum e o fato de Logun ter sido atacado por abelhas. Resumindo, cada ewó é baseada em uma itã, por isso devemos entender o motivo de cada uma, e isso é feito junto a seu zelador, pois mesmo a idéia geral de quizilas sendo de senso comum, de casa para casa isso pode variar, o meu objetivo nesse post é levantar essa questão, para que ela seja discutida a fim de evitar que os mais novos quebrem preceitos por não ter conhecimento. Precisamos nos atentar ao fato de que o candomblé ketu, sofreu influência do jejê, do Ijexá, do fon, e por isso vai aparecer ewós que são fundamentadas em outras nações, o que não é errado, seguindo do ponto que cultuamos orixás de outras origens. Existe uma frase que ouvi certa vez e que uso com meus filhos: “Se depois que você fizer santo, comer algo que antes não fazia mal e agora faz e apresenta
sintomas como, dor de barriga, náuseas, reações cutâneas e não tiver causa médica, como por exemplo, comida contaminada. Não coma mais, pois é quizila do seu santo, o candomblé é como a natureza, ele muda, evolui, a cada dia aprendemos mais, não podemos também justificar tudo com a religião, pois isso é fanatismo, o discernimento precisa fazer parte da nossa vida”.
Para finalizar, já ouvi muitas pessoas falarem assim: “A quizila é do meu santo e não minha, o santo é o santo, eu sou eu!”
Para essas pessoas eu faço um adendo: Ser iniciado é carregar o orixá consigo, somos desposados por eles, mediante a sua energia, por um instante a imensidão de um elemento como a água, o fogo, a terra e o vento, tomam consciência em você e nesse momento a memória de seus ancestrais se faz viva, não apenas nas danças e nos cânticos, mas também em suas preferências, em suas ewós.