GRANDE ARCANO ou OCULTISMO DESVENDADO (14ª ed. pensamento: 2012)
O amor dá à alma a intuição do absoluto, porque é por si mesmo absoluto, ou, então, não existe. O amor que se desperta numa grande alma é a eternidade que se desperta. Duas almas não fazem mais do que completar-se por uma terceira. É o ser humano único em três amores como Deus existe em três pessoas. (pp.169-170) Nossa inteligência é feita para a verdade e nosso coração para o amor. É por isso que Santo Agostinho diz com razão, dirigindo-se a Deus: Tu nos fizeste para ti, Senhor e o nosso coração é atormentado até que tenha encontrado o seu descanso em ti . Ora, Deus que é infinito só pode ser amado pelo ser humano como intermediário. Faz-se amar pelo homem na mulher e no homem pela mulher. É por isso que a honra e a felicidade de ser amados nos impõem uma grandeza e bondade divinas. (p.170) “
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Amar é perceber o infinito no finito. É ter encontrado a Deus na criatura. Ser amado é representar a Deus, é ser seu plenipotenciário junto a uma alma para dar-lhe o paraíso na Terra. (p.170) Almas vivem de verdade e de amor; sem amor e sem verdade sofrem e perecem como corpos privados de luz e calor. [...] Que é o amor? O furor de nada compreender e de nada crer, a raiva de não poder amar, eis aí o verdadeiro inferno, e quantos homens e mulheres estão entregues desde esta vida às torturas desta espantosa danação? [...] A necessidade de saber, sempre desesperada pelo desconhecido e a necessidade de amar, sempre traída pela impotência do coração. (p.170) Don Juan vai de crime em crime à procura do amor e acaba morrendo sufocado pelos braços de um espectro de pedra. Fausto, desesperado do nada da ciência sem fé, procura distrações e só encontra remorsos após ter perdido a muito crédulo Margarida; contudo, Margarida o salvará, pois ela, a pobre criança c riança inocente, amou verdadeiramente e Deus não pode querer que ela seja separada para sempre daquele a quem adora. (p.171) Julgai também o amor conforme as suas obras, se eleva a alma, inspira devotamento e as ações heroicas, se apenas tem ciúme da perfeição e da felicidade do ser amado. Se é capaz de sacrificar-se sacrificar-se para a honra e descanso da pessoa a quem ama, é um sentimento imortal e sublime; porém, se destrói a coragem, se enerva a vontade, se abaixa as aspirações, se faz desprezar o dever, é uma paixão fatal e é preciso vencer ou morrer. (p.171) O amor, esta vitória triunfal da natureza não lhe pode ser arrebatado sem que ela se irrite. Quando julga tornar-se sobrenatural, torna-se contrário à natureza [...]. (p.104) Nada é sobrenatural, nem mesmo Deus, porque a natureza o demonstra. A natureza é sua lei, seu pensamento; a natureza é ele mesmo e, se pudesse dar desmentidos à natureza, poderia atentar contra a sua própria existência. (p.106) Necessidade e Liberdade tais são as duas grandes Leis da vida; e estas duas leis, fazem uma só, pois são indispensáveis uma à outra. A necessidade sem liberdade seria tão fatal quanto a liberdade que, privada do seu freio necessário, se tornaria insensata. O direito, direito , sem o dever, é a loucura. O dever, sem o direito é a servidão. Todo o segredo do magnetismo consiste nisto: governar a fatalidade do ob pela ob pela inteligência e o poder do od, od, a fim de criar o equilíbrio perfeito de aur. aur. [...] O amor verdadeiro, o amor natural, é o milagre do magnetismo. É o
entrelaçamento das duas serpentes do caduceu: parece produzir-se fatalmente, porém é produzido pela razão suprema que lhe faz seguir as leis da natureza. (pp.11;14) O movimento perpétuo é a Lei eterna da vida. A virtude não é somente a força, é também a razão diretora da força. É o poder equilibrante da vida. É a arte de balancear as forças para equilibrar o movimento. O equilíbrio que é preciso procurar não é o que produz a imobilidade, mas o que realiza o movimento. Pois a imobilidade é morte e o movimento é a vida. (pp.141; 39-40) Há equilíbrio e nunca deve haver antagonismo entre o homem e a mulher. A lei de união entre eles é o devotamento mútuo. Ao aniquilamento da mulher pelo homem corresponde o aviltamento do homem pela mulher. Fazeis da mulher uma coisa que se compra, ela se encarece e vos arruína. Fazeis dela uma criatura de carne e lama, corromper-se-á a si mesmo. (p.149) Quando o espírito se enfraquece, quando o coração se apaga, duvida-se da verdade e do amor. Quando os olhos ( da alma) se perturbam, julga-se que o Sol não brilha mais e chega-se a até a duvidar da vida, porque sente-se de antemão a aproximação da morte. (p.225) Vede as crianças; que irradiação nos seus olhos, crença imensa na luz, ma felicidade, na infalibilidade de sua mãe, nos dogmas de sua ama! Que mitologia nas suas invenções! Que alma atribuem aos brinquedos e bonecas! Que paraíso nos seus olhares! Ó, anjos bem amados! Os espelhos de Deus na terra são os olhos das criancinhas. O jovem crê no amor, é a idade dos cânticos; o ser humano maduro crê nas riquezas, nos triunfos e, ás vezes, até na sabedoria. Salomão chegava à idade madura quando escreveu seu livro de provérbios. (p.225) Depois, o ser humano cessa de ser amável e proclama a vaidade do amor, se extenua e não crê mais nos gozos que as riquezas dão; os erros e os abusos da glória o desgostam até dos triunfos. Seu entusiasmo se esgota, sua generosidade se gasta, torna-se egoísta e desconfiado; então duvida da ciência, da sabedoria e até do amor. Salomão escreve seu triste livro do Eclesiastes. Que resta então do belo jovem que escrevia: Minha bem amada é a única entre as belas, o amor é mais invencível que a morte e aquele que desse toda sua fortuna e toda a sua vida por um pouco de amor ainda o teria por nada ? (pp.225-226) “
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Salomão conhecia, dizem, a virtude secreta das pedras e as propriedades das plantas, porém há um segredo que ignorava, um segredo de felicidade e de vida, um segredo que repele o aborrecimento, e que eterniza a felicidade e a motivação, a esperança: O segredo de não envelhecer. [...] até o último suspiro, pode-se conservar as alegrias ingênuas da infância, os êxtases poéticos do jovem, os entusiasmos da idade madura. Pode-se até o fim, embriagarse de flores, beleza e sorrisos; pode-se recobrar incessantemente o que passou e encontrar sempre o que se perdeu. Pode-se encontrar uma eternidade real no belo sonho da vida. Que é preciso para isso? Que é preciso para fazer isso? Ides certamente perguntar-me [...]. Quando Jesus disse: Se alguém quer vir comigo que renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me, não pretendeu que seus seguidores fossem enterrar-se na solidão, ele, que sempre viveu entre os seres humanos, abraçando e abençoando as criancinhas, relevando as mulheres consideradas decaídas naquela sociedade, de quem não desprezava nem as carícias nem as lágrimas, comendo e bebendo com os párias do farisaísmo, dando até ocasião de dizerem dele: Este homem é um glutão e um bebedor de vinho ; amando ternamente São João e a família de Lázaro, suportando São Pedro, curando os doentes e alimentando as multidões, cujos recursos multiplicava pelos milagres da caridade, do amor. Em que esta vida se assemelha à de um “
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trapista ou de um estilista e como o autor de um tratado célebre que preconiza o isolamento e a concentração em si mesmo, ousou chamar um tal tratado, a imitação de Jesus Cristo? (pp.229230) Viver nos outros, com os outros e pelos outros, eis o segredo da caridade e é o da vida eterna. É também o da eterna juventude. Se não vos tornardes semelhantes às crianças, dizia o mestre, não entrareis no reino dos céus. Amar é viver naqueles que a gente ama, é pensar seus pensamentos, adivinhar seus desejos, partilhar suas afeições; quanto mais a gente ama, mais aumenta a própria vida. O ser humano que ama não está mais só e sua existência se multiplica, pelo amor que dá e por isso recebe, e que ao receber necessita-se dar ainda mais, tornando infinito o movimento do amor. (p.230) O ser humano que ama balbucia e brinca com as crianças, apaixona-se com a mocidade, raciocina com a idade madura e estende a mão à velhice. (p.230) Salomão não amava mais quando escreveu o Eclesiastes e tinha caído na cegueira de espírito pela decrepitude do coração. Este livro é a agonia de um espírito sublime que vai apagar-se por falta de ser alimentado pelo amor. É triste ver como o gênio solitário de Chateubriand, como as poesias do décimo nono século produziu Victor Hugo, que é a prova viva das coisas que acabo de afirmar. Este homem a princípio, foi velho na sua juventude; depois quando seus cabelos se encaneceram, compreendeu o amor e tornou-se jovem. Como adora as crianças! Como respira todas as seivas e todas as divinas loucuras da juventude! Que grande panteísmo de amor nas suas últimas poesias! Como compreende o riso e as lágrimas! Tem a fé universal de Goethe e a imensidade filosófica de Spinosa. É Rabelais e é Shakespeare. Victor Hugo, sois um grande mago, sem o saber, e encontrastes, melhor que o pobre Salomão, o arcano da vida eterna! (p.230)