ENSINO DE GRAMÁTICA: DESCRIÇÃO E USO Silvia Rodrigues Vieira Silvia Figueiredo Brandão (orgs.) CLASSES DE PALAVRAS Maria da Aparecida de Pinilla Com base na pesquisa de Neves (1990), a autora afirma que o estudo das classes gramaticais ainda é um dos mais importantes nas aulas de português. Pesquisa de Neves (1990) Investigação 1) Para que ensinar gramática? 2) O que e como ensinar? (*pergunta norteadora para a formação da proposta) 3) que é difícil nesse ensino? 4) Qual é o papel dos manuais de gramática e dos livros didáticos?
Amostragem
170 professores do EF e EM de quatro cidades de SP.
Resultado
Todos os professores priorizam o ensino da gramática.
Quadro 1 (p. 170) Mostra a preferência preferência dos professores: professores: 1º) 1º) clas classe sess gram gramat atic icai aiss 39,7 39,71% 1% 2º) sintaxe 35,85% 3º) morfologia 10,93% (...) →
Os exercícios de reconhecimento de classes gramaticais e funções sintáticas predominam. Perguntas Perg untas:: 1) Essa distri distribuiçã buição o acima é adequa adequada da e/ou suficie suficiente nte para para o ensino ensino do português português? ? 2) Quais critérios devem ser adotados para tal estudo?
PERINI, PERINI, Mário (1985: 314) “classificar as palavras implica elaborar uma classificação sobre critérios formais (sem excluir da descrição a classificação semântica, mas separando-se nitidamente dela)” É necessário considerar os comportamentos sintático e morfológico + os traços de significado. → O QUE PROPÕE A TRADIÇÃO (p. 171) Aristóteles: dividiu em 3 categorias: nome, verbo e partícula. Dionísio de Trácia: dividiu em 8 categorias, servindo de base para Varrão dividir a língua latina: nome, nome, verbo, conjunção, conjunção, artigo, artigo, advérbio, preposição, preposição, pronome e particípio. NGB (1958): reconhece 10 classes de palavras: substantivo, substantivo, artigo, artigo, adjetivo adjetivo,, numeral, numeral, pronome pronome, verbo, advérbio, preposição, preposição, conjunção, interjeição. O problema: Os autores de gramáticas e de livros didáticos concordam que é importante considerar as palavras em seus diferentes aspectos (morfológico, funcional e semântico), mas o problema é que a definição de cada classe não leva em conta o mesmo critério, o que gera as definições confusas. Ora, privilegia um critério, ora o outro.
Quadro 2 (p. 172) Mostra a variação dos critérios que podem gerar “definições confusas”: Substantivo é o nome de todos os seres (critério semântico) que existem ou que imaginamos existir. Adjetivo é toda e qualquer palavra que, junto de um substantivo (critério funcional), indica uma qualidade, estado, defeito ou condição (critério semântico). (...) O QUE PROPÕEM AS PESQUISAS (p. 173) Câmara Jr. Jr. (1970) considera 3 critérios para classificar os vocábulos formais de uma língua: → o semântico (o que significa no universo bissocial que se incorpora na língua); → o formal ou mórfico (que se baseia nas propriedades da forma gramatical); → o funcional (o papel do vocábulo na oração)
Critério Compósito → critério morfossemântico= forma + semântica Quadro 3 (p. 174) Proposta de classificação de Câmara Jr. → Critério Compósito Critério Morfossemântico NOMES
Critério Funcional substantivo adjetivo advérbio
VERBOS PRONOMES
nome adjetivo advérbio
representam “coisas” ou seres (critério semântico) e apresentam gênero e número (critério mórfico) representam processos (critério semântico) e se flexionam em modo, tempo, pessoa e número (critério mórfico) mostram o ser no espaço (critério semântico) e apresentam as categorias de pessoa gramatical, de casos e a existência do gênero neutro (critério mórfico)
*Classe dos conectivos: formas constituídas apenas por morfemas gramaticais, que têm por função estabelecer conexões entre dois ou mais termos. Outros estudiosos e suas propostas: (p. 174) Barrenechea (1963) toma como unidade a palavra que considera como signo linguístico. A autora propõe a divisão em oito classes divididas em dois grupos: 1º grupo: palavras que desempenham uma função: verbos, substantivos, adjetivos, advérbios, coordenantes e subordinantes. 2º grupo: palavras que desempenham duas funções simultâneas: relacionantes e verboides Scheneider (1974) estabelece um crtério, o mórfico para definir as classes são definidas. A autora considera os paradigmas, caracterizados por sufixos flexionais e derivacionais, ou seja, agrupamento de vocábulos com características estruturais comuns. 1º grupo: vocábulos com derivação (substantivo, adjetivo, numeral, verbo e advérbio); 2º grupo: vocábulos sem derivação (preposição, conjunção e pronome) Enfim, utilizando o critério mórfico considera a existência de 5 classes: nomes, verbos, pronomes, advérbios e conectivos. Basílio (1987) considera complexa a definição porque cada gramática privilegia um ou dois critérios: a gramática tradicional privilegia o critério semântico; o estruturalismo, os critérios mórfico e funcional; e, a gramática gerativa, as propriedades sintáticas. Em 2004, a autora focaliza o dinamismo do léxico (da palavra) e estuda a mudança de classe e suas funções e chega a indagar no seu último capítulo “Adjetivo ou Substantivo?” (que tem sido objeto de estudo de Câmara Jr., Perini e Azeredo. Azeredo (2000) resume palavra como “um termo geral que usamos para dar nome à unidade mínima autônoma dotada de significado e que vem registrada em ordem alfabética nos dicionários”. Para ele há dois grupos de palavras: 1º) lexicais ou nocionais que são portadoras de significado (substantivos, adjetivos e os verbos); e 2º) gramaticais que são instrumentos gramaticais (artigos e preposições). Considerando as semelhanças morfológicas e sintáticas, chamadas por ele de função comunicativa, o autor divide as classes de palavras em seis: designação, modificação, predicação, indicação, quantificação e condensação. Segundo o paradigma morfológico, Azeredo divide aponta 4 grupos: a) verbo b) substantivo, adjetivo, artigo, numeral e pronome indefinido e relativo; c) pronomes pessoais, demonstrativos e possessivos d) preposição, conjunção, advérbio e interjeição Ele considera 5 posições que as palavras podem ocupar na estrutura da oração ou do sintagma: núcleo, adjacente, coordenante, subordinante e demarcador. Fernandes (1998) propõe uma divisão morfofuncional em nucleares (núcleo de uma função sintática); periféricas (determinantes do núcleo) e conectivas (os elementos que estabelecem conexão entre dois termos). Para a autora, uma mesma palavra pode pertencer a qualquer uma dessas divisões, pois o contexto determina o seu funcionamento. Dias (2002) percebe dois problemas decorrentes de duas tendências: 1º) “efeito de evidência do conceito” associado à primeira tendência (“a diferença entre o estudo de uma classe de palavra numa gramática e o tópico referente a essa mesma classe num livro didático. 2º) “o apagamento do conceito” ligado à segunda tendência: “tendência da minimização do papel da gramática no estudo da língua na escola” Uma alternativa: estabelecer relação entre os estudos publicados sobre classes de palavras e o trabalho sobre o assunto desenvolvido na sala de aula.
Travaglia (2003) se preocupa com o fato dos professores privilegiarem o estudo das classes gramaticais e não o uso delas. O autor mostra que Perini (1995) propôs uma “divisão” provisória considerando alguns princípios: “qualquer classificação deve atender a objetivos específicos”; − − “há classes abertas e fechadas”; − “princípio da economia”; − “o agrupamento por comportamento gramatical semelhante”; − “separação da classificação sintática e semântica. ALGUMAS PROPOSTAS (p. 177) Quadro 4 (p. 178) Proposta de classificação com base nos três critérios O quadro não apresenta definição para interjeição. Cunha e Cintra (1985) também excluem a interjeição por considerarem-na “vocábulo-frase” D’Ávila, Suzana (1997) em Gramática da língua portuguesa: uso e abuso considera a relação entre forma e sentido, acrescenta a função da palavra na frase, define a linguagem simples e clara uma das classes e apresenta um quadro-resumo com os três critérios: forma, sentido e função. Quadro 5 (p. 179) Quadro-resumo da proposta de Suzana d’Ávila (1997) Embora haja distinção entre os conceitos de classe e função, fica evidente que para definir uma classe de palavras, é preciso usar critérios funcionais, ou seja, definir qual é o papel do vocábulo na unidade sintagmática em que ele ocorre. Do ponto de vista FUNCIONAL, as classes podem ser diferenciadas de acordo com características sintáticas. O nome substantivo funciona como núcleo do sintagma nominal (SN), e pode ser acompanhado por determinantes e modificadores. O verbo funciona como núcleo do sintagma verbal (SV), admitindo complementos e modificadores. O cientista SN
examinou todos os documentos SV
O cientista SN
examinou verbo
O
det.
cientista
núcleo nominal
todos os documentos SN
examinou
núcleo verbal
todos det.
+
os
documentos
det. + núcleo nominal
A QUESTÃO DO ENSINO DAS CLASSES DE PALAVRAS (p. 180) O problema é a mistura dos critérios, o que prejudica a tarefa de estabelecer diferenças entre as classes gramaticais. O critério funcional é eficaz, mas deve-se utilizar os três critérios (semântico, formal e funcional) para a classificação das palavras. Repensar o assunto e organizar o material didático para um melhor ensino das classes gramaticais em sala de aula. Proposta: Deve-se considerar a Reorientação Curricular para a disciplina de Língua Portuguesa publicado em 2005 pela UFRJ que considera o texto como foco do processo ensino-aprendizagem do idioma. Objetivo do professor de L.P. deve ser o maior domínio das inúmeras possibilidades de expressão que a língua oferece. O estudo das classes deveria contribuir para ampliar a expressão oral e escrita do aluno.