FICHAMENTO O texto Razão da Nova Arquitetura foi escrito no ano de 1934 pelo arquiteto Lucio Costa. Nesse período, o arquiteto acreditava que a sociedade estava passando por um período de transição, e embora a maioria das construções refletisse uma falta de rumo, já existia na época uma nova técnica construtiva constituída a espera de uma sociedade que a compreendesse . Essa nova técnica não se trata de nenhuma antecipação miraculosa, mas é fruto das experiências e conquistas do fim do século XVIII. .
"Desde os tempos primitivos vem a sociedade sofrendo modificações sucessivas e periódicas, numa permanente adaptação das regras do seu jogo às novas circunstâncias e condições de vida. Essa série de reajust reajustamen amentos, tos, todas todas essas essas arrumaç arrumações ões sociais sociais mais mais ou menos menos visto vistosas sas tivera tiveram, m, porém porém,, a marcá marcá-la -lass um traço traço comum comum:: esfor esforço ço muscular e trabalho manual. Esta constante em que se baseou toda a economia até o século passado também limitou as possibilidades da arquitetura, atribuindo-se, por força do hábito, aos processos de cons constru trução ção até então então neces necessar sariam iament ente e empre emprega gados dos qualid qualidade adess perm perman anent entes es e todo todo um formu formulár lárioio-ve verda rdadei deiro ro dogmadogma- a que que a tradição outorgou foros de eternidade." eternidade." (COSTA,1934, p.42)
A arte de construir, desde antigamente até o século XIX , repetiu os mesmos gestos, na qual, os segredos e minúcias da técnica eram transmitidos de pai para filho, e estavam relacionados às características do material e à habilidade manual do artífice. A máquina, junto com a indústria, veio tornar possível o alargamento desse círculo.
"Ass "Assim im,a ,a cris crise e da arqu arquititet etur ura a cont contem empo porâ râne nea, a, como como a que que se observa em outros terrenos, é o efeito de uma causa comum: o advento da máquina."(COSTA,1934, p.43)
A arquitetura, assim como ocorreu com os meios de transporte, tem a necessidade de passar pela prova prova da nova nova técnica, técnica, onde onde o ponto ponto de partida é a simples simples beleza beleza que resulta resulta de um problema problema tecnicamente tecnicamente resolvid resolvido. o.
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"A nova técnica reclama a revisão dos valores plásticos tradicionais. O que a caracteriza e, de certo modo, comanda a transformação radical de todos os antigos processos de construção,é a ossatura independente ."(COSTA,1934, p.46)
Tradicionalmente, as paredes formavam a própria estrutura, mas a nova tecnologia, constituiu nova hierarquia aos elementos de construção; retirando das paredes essa carga pesada, transferindo para uma ossatura independente (podendo ser de concreto armado ou metálica ) e dando a parede a nova função apenas de vedação (podendo ser até um pano de vidro). Dessa forma, as paredes e o suporte representam coisas diversas, duas funções inconfundíveis.
"É este o segredo de toda nova arquitetura. Bem compreendido o que significa essa independência, temos a chave que permite alcançar, em todas as suas particularidades, as intenções do arquiteto moderno; porquanto foi ela o trampolim que, de raciocínio em raciocínio, o trouxe às soluções atuais.- e não apenas no que se relaciona à liberdade de planta, mas, ainda, no que respeita à fachada, já agora denominada “ livre”, pretendendo-se significar com essa expressão a nenhuma dependência ou relação dela com a estrutura."(COSTA,1934, p. 46)
Alguns exemplos da modificação dessa nova técnica são: as mudanças dos pilares estruturais para dentro do edifício, possibilitando que a vedação ocorra como grandes panos de vidro, e uma vez que, não há mais a necessidade da amarração dos cantos do edifício, os vãos livres podem morrer de encontro ao topo dessas paredes protetoras. Essas mudanças trazem uma nova abertura de composição, com cheios e vazios, que antes não seria possível pelo condicionamento do sistema construtivo operante.
“ A nova técnica, no entanto, conferiu a esse jogo imprevista liberdade, permitindo à arquitetura uma intensidade de expressão até então ignorada: a linha melódica das janelas corridas, a cadência uniforme dos pequenos vãos isolados, a densidade dos espaços fechados, a leveza dos panos de vidro, tudo voluntariamente excluindo qualquer idéia de esforço, que todo se concentra, em intervalos iguais, nos pontos de apoio; solto no espaço, o edifício
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readquiriu, graças a nitidez das suas linhas e à limpidez dos seus volumes de pura geometria, aquela disciplina e retune própria da grande arquitetura, conseguindo mesmo um valor plástico nunca antes alcançado e que o aproxima- apesar do seu ponto de partida rigorosamente utilitário- da arte pura.” ( COSTA, 1934, p. 47)
Uma vez que a estrutura é independente, o material empregado nas paredes externas e divisórias, não necessitam ser de grande dimensionamento, pois isso só acarretaria um reforço antieconômico das vigas e lajes. Dessa forma, há a necessidade de compreender os aspectos dessa verdadeira técnica e assim reivindicar a indústria que fabrique os materiais necessários. Essa nova arquitetura não vem contra a “simetria”, mas pretende encará-la no sentido de que os antigos a atribuíram, como medida, metro, no rebatimento primário em torno de um eixo, sempre controlado pelos traçados reguladores, que são do agrado dos velhos mestres e muitas vezes esquecidos pelos acadêmicos. Aos olhos do leigo, a nova arquitetura caracteriza-se pelo aspecto industrial e ausência de ornamentação, demonstrando, que independente da função do edifício existe certa sintonia, de um todo orgânico, de um verdadeiro estilo, e não de experiências caprichosas e inconsistentes como, na opinião do autor, se encontrava no ecletismo do século anterior.
“ Quanto à ausência de ornamentação, não é uma titude, mera afetação como muitos ainda hoje supõem – parece mentira- , mas a consequência lógica da evolução da técnica construtiva, à sombra da evolução social, ambas ( não será demais insistir) condicionadas à máquina. O ornato no sentido artístico e humano que sempre presidiu à sua confecção é, necessariamente, um produto manual. O s´culo XIX, vulgarizando os moldes e fôrmas, industrializou o ornato, transformando-o em artigo de série, comercial, tirando-lhe assim a principal razão de ser- intenção artística- , e despindo-o de qualquer interesse como documento humano.”( COSTA, 1934, p. 49)
As novas formas, fruto da produção industrial, possuem suas próprias qualidades estéticas como a pureza da forma, perfeição dos acabamentos e nitidez dos contornos, além de possibilitar em suas grandes paredes cegas representações pictóricas e nos baixos-relevos, a estatuária .
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Outra crítica feita à nova arquitetura é a de internacionalismo. No entanto, o internacionalismo nada tem de excepcional, pois em todo o histórico do Brasil, sua arquitetura sempre teve influências de outros países. A nova arquitetura está relacionada às mais puras tradições mediterrâneas, que procurou renascer no Quatrocentos, para depois afundar sob os artífices da maquiagem acadêmica, ressurgindo agora novamente.
“E aqueles que, num futuro talvez não tão remoto como o nosso comodismo de privilegiados deseja, tiverem a ventura – ou tédio- de viver dentro da nova ordem conquistada, estranharão, por certo, que se tenha pretendido opor criações de origem idêntica e negar valor plástico e tão clara afirmações de uma verdade comum. “ ( COSTA, 1934, p.52)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA,
Lucio. Razões da Nova Arquitetura. In: XAVIER , Alberto (ORG). Depoimento
de uma geração: arquitetura moderna brasileira.. São Paulo: Cosac & Naify,2003. 408p