Outras Expressões – Português – 10.º ano
Grupo I Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada. A Lê a cantiga. 1 Fui eu, fremosa, fazer oraçon, non por mia alma, mais1 que viss’ eu i2 o meu amigo, e, poi-lo non vi, vedes, amigas, se Deus mi perdon, 5 gran dereit’ é de lazerar 3 por en4, pois el non vẽo, nen aver 5 meu ben. Ca6 fui eu chorar (destes) olhos meus, mias amigas, e candeas7 queimar, non por mia alma, mais polo achar, 10 e, pois non vẽo, nen o dusse8 Deus, gran dereit’ é de lazerar por en, pois el non vẽo, nen aver meu ben.
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Fui eu rogar muit’ a Nostro Senhor, non por mia alma candeas queimar, mais por veer o que eu muit’ amei sempr’, e non vẽo, o meu traedor; gran dereit’ é de lazerar por en, pois el non vẽo, nen aver meu ben. Afonso Lopes de Baião (CBN 738, CV 339), in TORRES, Alexandre Pinheiro, 1987. Antologia da Poesia Trovadoresca. Porto: Lello & Irmãos (p. 64)
1. mas; 2. aí; 3. lamentar, chorar; 4. gran dereit’ é de lazerar por en: é muito justo que sofra por isso; 5. haver; 6. Porque; 7. velas; 8. trouxe.
1. Resume a situação que motivou o estado emocional da donzela, fundamentando a tua resposta com citações do texto. 2. Transcreve os elementos linguísticos que identificam o destinatário das palavras do “eu” e analisa o papel desempenhado por essa entidade. 3. Identifica os traços caracterizadores do “amigo” (v. 3) e relaciona-os com os sentimentos expressos no refrão.
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B Lê a cantiga. 1 Um tal home sei eu, ai bem talhada1, que por vós ten’a sa morte chegada2; veedes quem é, seed’en nembrada3: eu, mia dona. 5 Um tal home sei [eu] que preto4 sente de si [a] morte [chegada] certamente; veedes quem é, venha-vos em mente: eu, mia dona. Um tal home sei [eu], aquest’ oíde5, 10 que por vós morre, vó’lo [en] partide6; veedes quem é, nom xe 7 vos obride7: eu, mia dona. LOPES, Graça Videira; FERREIRA, Manuel Pedro et al., 2011-2017. Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online] . Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consult. 2017-01-04] Disponível em: http://www.cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp 1. bem talhada: bonita, elegante; 2. Tem’ a sa morte chegada : tem a morte próxima; 3. Seed’ en nembrada: lembrai-vos disso; 4. perto; 5. aquest' oíde: isto ouvi; 6. vó'lo [en] partide: evitai-lhe isso; 7. se; 8. esqueça.
4. Explicita as súplicas do “eu”, apontando a razão que as motiva. 5. Identifica o género da poesia trovadoresca a que pertence a cantiga, fundamentando a tua resposta com a indicação de três características temáticas que contribuem para a sua inserção nesse género.
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Grupo II Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta. Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
Lê atentamente o texto. 1
5
10
15
20
25
30
35
As cantigas trovadorescas galego-portuguesas são um dos patrimónios mais ricos da Idade Média peninsular. Produzidas durante o período, de cerca de 150 anos, que vai, genericamente, de finais do século XII a meados do século XIV, as cantigas medievais situam-se, historicamente, nos alvores das nacionalidades ibéricas, sendo, em grande parte, contemporâneas da chamada Reconquista cristã, que nelas deixa, aliás, numerosas marcas. Tendo em conta a geografia política peninsular da época, que se caracterizava pela existência de entidades políticas diversas, muitas vezes com fronteiras voláteis e frequentemente em luta entre si, a área geográfica e cultural onde se desenvolve a arte trovadoresca galego-portuguesa (ou seja, em língua galego-portuguesa) corresponde, latamente, aos reinos de Leão e Galiza, ao reino de Portugal, e ao reino de Castela (a partir de 1230 unificado com Leão). Nas origens da arte trovadoresca galego-portuguesa está, indiscutivelmente, a arte dos trovadores provençais, movimento artístico nascido no sul de França em inícios do século XII, e que rapidamente se estende pela Europa cristã. [...] A arte trovadoresca galego-portuguesa assume, no entanto, características muito próprias [...] e que a distinguem de forma assinalável da sua congénere provençal, desde logo pela criação de um género próprio, a cantiga de amigo. No total, e recolhidas em três grandes cancioneiros (o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Biblioteca Vaticana), chegaram até nós cerca de 1680 cantigas profanas ou de corte, pertencentes a três géneros maiores (cantiga de amor, cantiga de amigo e cantiga de escárnio e maldizer), e da autoria de cerca de 187 trovadores e jograis. [...] As cantigas galego-portuguesas são obra de um conjunto relativamente vasto e diversificado de autores, que encontram nas cortes régias de Leão, de Castela (ou de Castela-Leão) e de Portugal, mas também eventualmente nas cortes de alguns grandes senhores, o interesse e o apoio que possibilita a sua arte. Não se trata, no entanto, de um mero patrocínio externo: na verdade, e de uma forma que não mais terá paralelo nos séculos posteriores, os grandes senhores medievais ibéricos não se limitam ao mero papel de protegerem e incentivarem a arte trovadoresca, mas são eles próprios, por vezes, os seus maiores, ou mesmo mais brilhantes, produtores. Como é sabido, dois reis, Afonso X e o seu neto D. Dinis, contam-se entre os maiores poetas peninsulares em língua galego-portuguesa, num notável conjunto de autores que inclui uma parte significativa da nobreza da época, de simples cavaleiros a figuras principais. Ao lado deste conjunto de senhores, designados especificamente trovadores, e para quem a arte de trovar era entendida, pelo menos ao nível dos grandes princípios, como uma atividade desinteressada, encontramos um não menos notável conjunto de jograis, autores oriundos das classes populares, que não se limitam ao papel de músicos e instrumentistas que seria socialmente o seu, mas que compõem igualmente cantigas, e para quem a arte de trovar constituía uma atividade da qual esperavam retirar não apenas o reconhecimento do seu talento mas igualmente o respetivo proveito. LOPES, Graça Videira; FERREIRA, Manuel Pedro et al., 2011-2017. Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online] . Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consult. 2017-01-04] Disponível em: http://www.cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp
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1. Nos dois primeiros parágrafos do texto, destaca-se (A) a inspiração das cantigas trovadorescas galego-portuguesas na “arte dos trovadores provençais” (ll. 11-12), sobretudo ao nível das cantigas de amigo. (B) a coesão geográfica e linguística da Península Ibérica na época medieval e a sua ligação cultural ao sul de França. (C) a relação da poesia trovadoresca com a poesia provençal e com o contexto histórico peninsular na Idade Média. (D) o reflexo da “Reconquista cristã” (l. 5) e dos traços distintivos do “reino de Portugal” (l. 10) na poesia trovadoresca portuguesa. 2. As expressões “um dos patrimónios mais ricos da Idade Média peninsular” (l. 1-2) e “numerosas marcas” (l. 5) desempenham as funções sintáticas de (A) predicativo do sujeito, em ambos os casos. (B) complemento direto e modificador do nome apositivo, respetivamente. (C) predicativo do sujeito e complemento direto, respetivamente. (D) complemento direto e complemento oblíquo, respetivamente. 3. O uso de parênteses nas linhas 9 e 10 justifica-se pela introdução de (A) conclusões. (B) enumerações. (C) exemplos. (D) explicações. 4. Na frase “ A arte trovadoresca galego-portuguesa assume, no entanto, características muito próprias [...] e que a distinguem de forma assinalável da sua congénere provençal [...]” (ll. 13-15), o pronome pessoal “a” encontra-se antes do verbo (A) por ocorrer numa oração subordinada. (B) devido à presença de um advérbio. (C) devido ao tempo verbal usado. (D) por se iniciar a frase com um pronome. 5. Nas linhas 5 e 24, a palavra “que” é (A) uma conjunção em ambos os casos. (B) um pronome em ambos os casos. (C) um pronome e uma conjunção, respetivamente. (D) uma conjunção e um pronome, respetivamente. 6. Os processos de formação das palavras “ geografia” (l. 6) e “apoio” (l. 24) são, respetivamente, (A) derivação e amálgama. (B) composição e derivação. (C) amálgama e composição. (D) composição e truncação.
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7. O conector “na verdade” (l. 25) introduz uma ideia de (A) confirmação. (B) condição. (C) contraste. (D) concessão. 8. Identifica os processos fonológicos que intervieram na evolução das palavras: a. REGNUM > “reino” (l. 10). b. CANTĬCA > “cantiga” (l. 15). 9. Classifica a oração introduzida por “ onde” , na linha 8. 10. Indica a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente na linha 30.
Grupo III Redige a síntese do texto apresentado no Grupo II, num texto de cento e trinta a cento e sessenta palavras.
Observações: 1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2017/). 2. Desvios dos limites de extensão indicados implicam uma desvalorização.
Cotações Grupo
I II III TOTAL
Item Cotação (em pontos) 1. a 5. 5 x 20 pontos 1. a 10. 10 x 5 pontos Item único
100 50 50 200
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