Otelo
Cena I
Diante do castelo. Entram Desdêmona, Cássio e Emília.
DESDÊMONA DESDÊMONA ± Pode ficar tranqüilo, Cássio; que farei o possível. EMÍLIA - Sim, minha senhora; Iago, meu marido, se aborreceu tanto com isso, como se fosse problema dele. DESDÊMONA DESDÊMONA ± Nossa, ele realmente é um homem de valor! Olha, Cássio, não tenha dúvida de que vou fazer com que você e Otelo se tornem amigos como antes. CÁSSIO - Senhora, não importa o que me aconteça, serei sempre o seu leal servidor. DESDÊMONA DESDÊMONA - Tenho certeza disso e vos agradeço. Você e Otelo se conhecem há muito tempo. Fique certo de que a frieza dele d ele só durará enquanto as conveniências pedirem que seja assim. CÁSSIO - Pois não, senhora; mas pode ser que as conveniências demorem demorem e que, quando passem, meu general já tenho posto outro em meu lugar. DESDÊMONA ± Deixe de ser frouxo, homem!! Aqui, em frente de Emília, te asseguro o antigo lugar. Pode ficar tranqüilo; quando eu faço um voto de amizade, eu e u cumpro à risca. Meu marido não mais terá sossego. Em tudo quanto quiser fazer, misturarei a sua súplica. s úplica. Por tudo isso, Cássio, se alegre; porque vou fazer tudo o que puder. ( Entram Iago e Otelo e se conservam a distância.)
EMÍLIA - Senhora, aí vem meu amo. CÁSSIO ± Tô indo nessa. DESDÊMONA - Espera para me ouvir te defender. CÁSSIO ± Não, não. DESDÊMONA - Como quiser. (S ai ai Cássio.)
IAGO ± Não tô gostando disso! OTELO ± O que disse? IAGO - Nada, meu senhor; ou, talvez... Sei lá. OTELO - Não era Cássio que estava conversando com minha esposa? IAGO - Cássio, senhor? Não posso acreditar que ele, como culpado, se retirasse de mansinho quando te viu chegar. OTELO - Acho que era ele. DESDÊMONA - Oh! meu marido! Eu estava conversando com Cássio; ele tava muito triste e eu te peço que devolva o cargo dele. OTELO ± Ah, é? DESDÊMONA - Oh! O tenente Cássio. Caro marido, se eu possuo graça ou força pra te comover, se reconcilie com ele agora. Peço-te que o reintegres no seu posto. OTELO ± Ele não saiu daqui agora mesmo? DESDÊMONA ± Chama ele agora! OTELO - Mais tarde, agora a gora não. DESDÊMONA - Mas será logo? OTELO - Logo que possível, minha querida, já que você quer assim.
DESDÊMONA - Hoje de noite, no jantar? OTELO - À noite, não. DESDÊMONA - Então amanhã, na hora do almoço? OTELO - Não estarei em casa; almoçarei com os capitães no forte. DESDÊMONA - Quando poderá vir? Dizei-me, Otelo. Fico me perguntando o que é que você me pediria chorando que eu não fizesse sorrindo. Não dá pra entender! É o mesmo Miguel Cássio que estava com você quando ainda estava me fazendo a corte, que te defendia quando brigávamos... Terei tanto trabalho para que você devolva o cargo dele agora? Acredite: eu poderia muito... OTELO - Por favor, não prossiga. Pois que venha, quando bem entender; não te recuso coisa nenhuma. DESDÊMONA - Ora, isso não é graça; é como se eu estivesse insistindo muito pra que você fizesse alguma coisa que fosse boa pra você mesmo. Não; se eu te faço algum pedido, para pôr o seu amor à prova, será sempre algo de muito peso, de grave concessão. OTELO - Não te recuso coisa nenhuma. Mas, por isso mesmo te suplico um favor; que me deixe um pouquinho a sós comigo. DESDÊMONA ± Claro! Faço o que você quiser. Adeus, senhor. OTELO - Adeus, querida; é só por uns momentos. DESDÊMONA - Emília, vamos logo. ( A Otelo) Seja tudo como você quiser. Vou te obedecer. (S ai com Emília.)
OTELO - Adorável criatura! Que minha alma se perca se eu não te amar; e se não te amo, que este mundo volte de novo para o caos. IAGO - Nobre senhor... OTELO ± O que você quer, Iago? IAGO - Acaso Miguel Cássio sabia dos seus sentimentos quando fazia a corte à senhora? OTELO - Desde o início até o fim. Por que pergunta? IAGO ± Foi só um pensamento; não há malícia alguma. OTELO - Como, Iago! Que pensamento? IAGO - É que eu pensava que ele não a conhecesse nessa época. OTELO - Oh! Conhecia! Muitas vezes serviu de intermediário entre nós dois. IAGO - Realmente? OTELO - Sim, realmente. Tem algum problema nisso? Ele não é honesto? IAGO - Honesto, meu senhor? OTELO - Honesto, sim; honesto. IAGO - Por tudo o que sei dele... OTELO - E que é que pensas? IAGO - Que penso, meu senhor? OTELO - "Que penso, meu senhor?" Oh! Pelo amor de Deus! Vamos logo! Desembucha! IAGO ± O senhor sabe o quanto eu te respeito. OTELO - Sei disso; e por saber quanto você é honesto, me deixa mais preocupado ainda quando começa a falar e não termina. IAGO - Quanto a Cássio, atrevo-me a jurar que ele é honesto. OTELO - É também o que eu penso. IAGO ± As pessoas deveriam ser somente o que parecem... OTELO - Sim, deveriam ser o que parecem. IAGO - Sendo assim, considero Cássio honesto.
OTELO - Não, não; você está escondendo alguma coisa. Peço você que me diga o que está pensando, e as idéias mais terríveis diga com palavras mais terríveis também. IAGO ± Senhor, me perdoa, mas não posso fazer o que nem mesmo a um escravo exigido. Em todo palácio há coisas sujas, não? E não há um coração tão puro que não tenha lá suas faltas, seus pecados. OTELO ± Você tá julgando seu amigo, Iago? E os ouvidos de Cássio não sabem disso. IAGO ± Olha bem: meu ciúme às vezes inventa coisas que não existem. Te peço que não se deixe levar por quem pense assim. Não muda nada o senhor saber o que estou pensando. OTELO ± O que você quer dizer? IAGO ± Cuidado com o ciúme, que ele é um ostro que zomba da gente. É melhor sabe e ignorar a pessoa que traiu do que só ficar suspeitando... (MÚSICA ± Ciúme) OTELO ± Ah! Miséria! IAGO ± Deus me livre de sentir ciúmes! OTELO ± Por quê? Por que tudo isso? Acha que eu passaria a vida tendo ciúmes? Não tenho ciúmes em ouvir dizer que minha mulher é linda, que dança e canta muito bem. (MÚSICA ± Complicada e perfeitinha) Ela tinha olhas e me escolheu. Não, Iago, primeiro tenho que ver para duvidar, depois da dúvida, provas. Depois disso, só uma coisa: acabar com o amor e o ciúme. IAGO ± Já que o senhor pensa assim, vou ser bem sincero. Vigia tua mulher. Observa como ela e Cássio se falam. Conheço bem mulheres em Veneza. Para elas, pode se fazer tudo, desde que seja em segredo. OTELO ± Você acha que é assim mesmo? IAGO ± Se ela enganou o pai para casar contigo... OTELO ± É verdade! ( MÚSICA ± Fugidinha) IAGO ± Mas, olha, me perdoe tanta amizade. Vi que o senhor ficou abalado. OTELO ± Nada! Nem um pouco! IAGO ± Então não tire conclusões precipitadas sobre o que te falei, pelo menos até a suspeita... OTELO ± Sim, claro... IAGO ± Considero Cássio meu amigo, mas vejo que o senhor está abalado... OTELO ± Nada disso! Desdêmona é toda virtuosa! Mas a natureza pode mudar, não é? IAGO ± Sim, esse é o ponto! OTELO ± Tá bom! Tchau! Se souber de mais alguma coisa me avise! Manda a tua esposa, Emília, ficar vigiando. Deixe-me, Iago! IAGO ± Até logo, senhor. (retirando-se) OTELO ± Meu Deus! Por que me casei?! O Iago, tão honesto que é, sabe muito mais do que me disse! IAGO ± (retornando) Senhor, não pense mais sobre isso. Dá tempo ao tempo, demore mais um pouco para reintegrar Cássio ao seu posto e veja se a sua esposa pede com muita insistência para que ele volte. Isso já é muita coisa. Nesse entremeio, deixe-a livre... OTELO ± Serei discreto em tudo! IAGO ± Mas uma vez me despeço ( sai). OTELO ± Esse rapaz é a própria honestidade! Vou dar corda pra ela. Porque sou negro, não falo muito bem, to ficando velho, ela me enganou! Maldição de casamento! Mas ela vem aí. DESDÊMONA ± Então, querido? A ceia e os seus convidados estão te esperando. OTELO ± É, me esqueci... DESDÊMONA ± Por que está falando tão fraco? Está sentindo algo? (mão na cabeça)
OTELO ± Estou com uma dor de cabeça... DESDÊMONA ± É porque você tem vigiado muito tempo. Mas vai passar. Deixa que eu aperte bem a cabeça e vai sarar em uma hora. OTELO ± Seu lenço é muito pequeno... IAGO ± Devem ser os galhos... (Desdêmona deixa cair o lenço) OTELO ± Deixa! Deixa! Vamos, eu vou contigo. EMÍLIA ± Este lenço foi o primeiro presente que o Mouro deu para minha senhora. O doido do meu marido me pediu várias vezes que eu o roubasse. Mas ela gosta tanto dele, e beija, Iago). abraça e conversa com o lenço... Vou tirar uma cópia dele e darei este a Iago. Entra ( IAGO ± O que você tá fazendo aqui sozinha? EMÍLIA ± Adivinha o que tenho aqui?! IAGO ± Oh, mulher louca! EMÍLIA ± Então quer dizer que você não daria nada por este lenço? IAGO ± Como? Que lenço? EMÍLIA ± Que lenço? Ora, o que o Mouro deu como primeiro mimo do seu amor, e que você me mandou roubar tantas vezes. Ela deixou cair e eu o peguei. IAGO ± Oh, me dá ele aqui! EMÍLIA ± O que vai fazer com ele? IAGO ± Não é da sua conta (toma-lhe o lenço)! E finja que não sabe de nada. Tenho um emprego para ele. Agora sai. (sai Emilia) Vou jogar o lenço dentro do quarto de Cassio para que ele o encontre. (risada do mal) Para o ciumento, até o enfeite é chifre. Não me engano. Mas aí vem o corno, oh, o Mouro. OTELO ± Ah, ah! Será que ela me engana? ( MÚSICA ± Ser corno ou não ser ) IAGO ± Para com isso, general! OTELO ± Pelo céu! É melhor ser enganado muito do que saber pouco do que acontece. IAGO ± Como, meu senhor? OTELO ± Idiota, escuta o que eu tô falando: Quando eu não sabia de nada, dormia bem, a noite toda... Me sentia livre e alegre. Não via na boca dela os beijos de Cássio! Acabou meu sossego! Tudo o que construí perdeu o sentido! IAGO ± Senhor, hoje a pessoa que não tem chifre é igual a um jardim sem flor ± não tem graça nenhuma... OTELO ± Seu (Piiiiiii...)! Me dê uma prova evidente que minha mulher é prostituta, caso contrário, você vai se ver comigo! IAGO ± Chegamos a esse ponto? OTELO ± Quero uma prova visível, se não, ai de tua vida! IAGO ± Sendo assim, renuncio à amizade! OTELO ± Não... Fica! Você deve ser honesto. IAGO ± Não! A honestidade é como um bobo, só dá prejuízo ao patrão! OTELO ± Diabo!! Ora penso que é virtuosa, ora penso que é infiel. Te acho sincero e ao mesmo tempo falso. Quero provas! IAGO ± Quer uma prova? Vai ter. Como? Não é possível ver os dois juntos, por mais ardentes que sejam. Mas te avisarei se algum fato de peso ocorrer, que te leve à verdade. OTELO ± Me dê uma prova real de que ela é falsa! IAGO ± Fique calmo, não vimos nada ainda. É bem possível que seja honesta. Agora me diga uma coisa: por acaso o senhor não viu na mão de tua esposa, algumas vezes, um lenço com bordados de morangos? OTELO ± Sim. Foi o primeiro presente que eu dei pra ela.
IAGO ± Sério? Não* sabia. Mas tenho certeza que vi Cássio passar na barba um lenço desses, que foi da tua esposa. OTELO ± Se era o mesmo... IAGO ± É prova muito forte ao lado de outras. OTELO ± Ah!! Se ela tivesse mil vidas! Uma só é pouco para a minha vingança! Agora vejo que era tudo verdade! Meu amor acabou! Só me resta a negra vingança! IAGO ± Fique calmo! OTELO ± Oh! Sangue! Sangue! Sangue!! IAGO ± Já disse, fique calmo. O senhor pode mudar de ideia. OTELO ± Jamais, Iago! Meus pensamentos sanguinários avançam sempre, sem jamais olharem pra trás, até que a vingança os absorva. ( Ajoelha-se) Juro por este céu!! IAGO ± Não se levante ainda ( Ajoelha-se). Que as luzes do céu sejam minhas testemunhas. Eu dedico minhas mãos, coração e espírito ao ultrajado Otelo. O senhor dando ordens, por mais cruéis que sejam, obedecerei. OTELO ± Então já uso seus serviços: nesses três dias quero que me digam que Cássio já morreu. IAGO ± Farei a sua vontade, mas poupe Desdêmona. OTELO ± (levanta-se) Que essa prostituta vá pro inferno! Vou pensar em algo pra esse belo diabo... Agora você é meu tenente! IAGO ± E eu me declaro vosso por toda a vida... (S aem). ( MÚSICA ± Decida - inteira) Cena II
NARRADOR: Desde esse momento, Otelo, cegado pelo ciúme, via Cássio e Desdêmona se encontrando cada vez mais, e ela sempre a interceder por ele, a fim de que seu marido lhe restituísse o cargo de tenente. Desdêmona havia percebido que Otelo estava diferente, contudo, numa bela noite, havia se preparado para receber ser marido, como se nada tivesse acontecido. Porém, mesmo com a esperança de que Otelo tivesse voltado ao seu estado normal, ela mantinha um pressentimento aguçado de que a noite não seria de felicidade e amor. Já estava dormindo quando Otelo aproximou-se de sua cama. Ele pensava em matá-la e queria estar certo de que sua beleza não o impediria de sufocá-la. (Otelo apaga as velas próximas ao leito, senta-se na cama, bei ja Desdêmona. Su spira. Bei ja-a novamente). OTELO ± Não quero que sua beleza me impeça de fazer o que preciso... (MÚSICA ± Você não vale nada, mas eu gosto de você) DESDÊMONA ± Quem está aí? Otelo? OTELO ± Sim, Desdêmona. DESDÊMONA ± Você não vem dormir? OTELO ± Você já rezou hoje? DESDÊMONA ± Lógico. OTELO ± Já pediu perdão pelos seus pecados?
DESDÊMONA ± Oh, meu senhor... O que você quer dizer com isso? OTELO ± Pensa nos seus pecados! DESDÊMONA ± Me único pecado é o amor que tenho por você... OTELO ± E por ele agora você vai morrer. DESDÊMONA ± É contra a natureza matar alguém por ter amor.O que é que há? OTELO ± Você deu o lenço que eu te dei pro Cássio? DESDÊMONA ± Não! Juro que não! OTELO ± Não jure em falso, pois está no seu leito de morte! DESDÊMONA ± Que Deus tenha piedade de mim! OTELO ± Digo amém! DESDÊMONA ± Então tenha piedade de mim também! Nunca te traí com Cássio! Somos apenas amigos. OTELO ± Pelo amor de Deus! Vi o meu lenço na mão dele! Sua mentirosa! DESDÊMONA ± Então ele o achou! Nunca dei nada pra ele! OTELO ± Sua vagabunda! Toma o que você merece (asfixia-a). EMÍLIA ± Meu senhor! Olá! OTELO ± Quem será? Emília? EMÍLIA ± Por favor, senhor, uma palavra! OTELO ± Oh, entra Emília! O que você quer? EMÍLIA ± Um crime horrível aconteceu! Cássio matou Rodrigo! OTELO ± O quê! Rodrigo foi morto?! E Cássio, também? EMÍLIA ± Não, Cássio não. OTELO ± Como não?! DESDÊMONA ± Ah! Assassinada injustamente! EMÍLIA ± Que grito é esse? Minha senhora? OTELO ± Não ouço nada (dissimulado) DESDÊMONA ± Morro e morro inocente! EMÍLIA ± Quem fez isso? DESDÊMONA ± Ninguém, eu mesma. Adeus! Faze que sempre meu querido esposo se lembre de mim. ( Morre) ( MÚSICA ± É fato) EMÍLIA ± Quem fez isso? OTELO ± Quem a matou fui eu. EMÍLIA ± Demônio negro! OTELO ± Ela enfeitou a minha cabeça, rapaz! Chifre! EMÍLIA ± Não! Ela era fiel! OTELO ± Ela me traiu com Cássio! Seu marido sabe da história toda! EMÍLIA ± Meu marido? Iago fez isso?? OTELO ± Sim, mulher, ele mesmo, seu marido, meu amigo, o honesto Iago. EMÍLIA ± Ele mentiu! Ela estava apaixonada por você! OTELO ± Ah! Cale a boca! EMÍLIA ± Não calo! Seu estúpido! Assassino! Socorro! Assassino! ( Entram Montano, Graciano e Iago)
MONTANO ± O que houve? O que aconteceu, general? EMÍLIA ± Ah, Iago, você veio também? Olha só o que você fez! GRACIANO ± O que foi? EMÍLIA ± O Mouro disse que soube por você que a esposa o traiu com Cássio! Você disse isso?
IAGO ± Disse o que pensava. Agora cale a sua boca e saia! EMÍLIA ± Não calo! Desdêmona está ali, assassinada! TODOS ± Não permita o céu! OTELO ± É a pura verdade. GRACIANO ± Muito estranha verdade! MONTANO ± Ato monstruoso! IAGO ± Saia, Emília, agora! EMÍLIA ± Senhores, eu preciso falar... OTELO ± Meu Deus! É muita pressão! Eu não agüento! (Atira-se sobre o leito) EMÍLIA ± Isso! Chora! Você matou a mulher mais inocente do mundo! OTELO ± Iago sabe que ela me traiu com Cássio! E ela ainda deu pra ele um lenço, que foi meu primeiro presente. Era culpada! (a Graciano) Tá vendo, sua sobrinha, eu mesmo me vinguei dela. GRACIANO ± Pobre Desdêmona! Ainda bem que o pai dela já morreu. Este casamento pra ele foi fatal... EMÍLIA ± Pelo amor de Deus! IAGO ± Silêncio! Fica quieta! EMÍLIA ± Ficar quieta, eu? De jeito nenhum! IAGO ± Volta pra casa! EMÍLIA ± Não vou! ( Iago ameaça ferir Emília ) GRACIANO ± Vai bater na tua mulher? Olha a Maria da Penha! ( MÚSICA ± Um tapinha não dói ) EMÍLIA ± Oh, Mouro bruto! O lenço de que você fala, fui eu que achei e dei ao meu marido. IAGO ± É mentira! Sua imunda! OTELO ± Você me paga! (Corre para Iago; Iago apunhala Emília e sai) GRACIANO ± Ele matou a própria esposa. MONTANO ± Mas é um diabo mesmo! Guarda essa arma que eu tirei do mouro. Vigia a porta e não deixe que ele saia. Vou procurar aquele miserável! (S aem Montano e Graciano)
OTELO ± Tem outra arma no quarto. Graciano! Abra, que eu quero sair! (volta Graciano) GRACIANO ± O que aconteceu? OTELO ± Vê, tenho outra espada. Cheguei ao fim da viagem, essa é a meta, a baliza da minha ultima vela. Oh Desdemôna ! Morta! Tão pura! ( Entram Ludovico, Montano, Cássio carregado em uma cadeira e oficiais com Iago, prisioneiro)
LUDOVICO ± Cadê o infeliz do Otelo? OTELO ± estou aqui. LUDOVICO ± E onde está Iago? OTELO ± Esse diabo! ( fere Iago ) LUDOVICO ± Tomem a espada dele! IAGO ± Estou ferido mas não morri. OTELO ± Melhor assim! A morte seria bom de mais para você. LUDOVICO ± E você, Otelo, bom, forte... O que é que vão falar de você? OTELO ± O que quiserem. Fiz tudo pela honra e não por ódio. LUDOVICO ± Este safado já confessou o que fez. Mas é verdade mesmo que vocês iam matar Cássio? OTELO ± Sim.
CASSIO - Meu general, eu nunca te fiz nada... OTELO ± Por isso te peço perdão. Pergunta para esse demônio por que ele chegou esse ponto! IAGO ± Não me pergunte nada! Não direi mais nenhuma palavra! LUDOVICO ± Quê? Nem mesmo para rezar? GRACIANO ± Vai abrir a boca no inferno! LUDOVICO - Agora o senhor vai saber o que houve. Esta carta estava em um dos bolsos de RODRIGO. Nela está escrito que ele tinha que matar Cássio. OTELO ± Oh, miserável! CÁSSIO ± Bárbaro e repulsivo! OTELO ± Mas como o lenço da minha mulher foi parar nas suas mãos? CÁSSIO ± Achei no meu quarto. Iago confessou que o jogou lá para realizar o seu plano diabólico. OTELO ± Como sou idiota! LUDOVICO ± Otelo, você vem conosco. Agora Cássio está no comando. E vejam um castigo para o Iago. Vamos! Levai-o logo! OTELO ± Só uma palavra antes de ir. Peço que quando falarem de mim nas tuas cartas, retratando o que aconteceu, contem como sou realmente, sem exageros. Alguém que amou bastante, mas cometeu erros. Contem também que, um dia, um turco falou mal da República Veneziana e que eu o peguei pela garganta e o matei assim.(apunhala-se) LUDOVICO ± Que merda! GRACIANO ± Para que gastamos tanto tempo falando? OTELO ± Te dei um beijo antes de te matar. Só me resta... (caindo sobre o corpo de Desdêmona) morrer beijando a quem eu tanto amo. (morre). (MÚSICAS ± Tentativas em vão, ______________________________, _______________________________ )