Potencie a sua mente
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Potencie a sua mente
INTRODUÇÃO É consensual que os pensamentos são gerados pelo cérebro. Mas pode não ser tão óbvio afirmar que os seus pensamentos também criam o seu cérebro. De que maneira é que esse processo acontece na realidade? A neurociência tem vindo a comprovar pelos imensos estudos na área, que o nosso cérebro é plástico. Esta neuroplasticidade refere-se à capacidade do cérebro para modificar a sua estrutura e função, em decorrência de experiências anteriores, estas experiências podem ser o processo de aprendizado. Esta nova ciência revela o nosso extraordinário potencial de transformar a nós mesmos? Isso mesmo, nós conseguimos mudar a nossa forma de pensar, de sentir e agir se aprendermos novas formas de nos relacionarmos connosco mesmo e consequentemente com os outros e com o mundo. A forma prática de realizarmos este processo é tomar consciência da forma como queremos pensar e agir e orientarmo-nos a nós mesmos, forçando-nos a desenvolver um padrão mental que suporte aquilo que queremos passar a ser.
Como é que os pensamentos mudam o cérebro? Todo o pensamento cria um conexão neuronal. Se você tem o mesmo pensamento muitas vezes, a conexão associada a esse pensamento ou tipo de pensamentos vai-se fortalecendo. Quando uma rede neuronal é criada no seu cérebro, inevitavelmente ficará ligada a um determinado tipo de comportamento, e esse comportamento irá fazer disparar um estado emocional. Por cada vez que um determinado pensamento é bem sucedido, ou seja, quando esse pensamento influencia o seu comportamento, e esse comportamento origina uma reação emocional, o seu cérebro vai criando uma estrutura neuronal específica para essa forma de agir e pensamento que a suporta. Por outro lado, se você não tem um determinado pensamento, ou raramente esse pensamento é
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seguido ou não deriva num comportamento, ou não tem apego emocional, eventualmente, essas conexões neuronais definham por falta de uso. Quando temos pensamentos que nos incomodam, que nos desanimam, que nos deprimem, que nos colocam em causa a nossa autoestima, que nos viram contra o mundo, certamente causam-nos algum tipo de problema pessoal ou problema psicológico, prejudicando-nos. Conscientemente ou inconscientemente, as nossas redes neuronais vão-se formando, para o bom ou para o mau, a nosso favor ou contra nós, o nosso padrão mental vai-se instituindo à medida que as intricadas dobras do nosso cérebro se vão especializando para um determinado tipo de processamento da informação (mais ou menos positivo).
É importante que você ganhe consciência de duas coisas: 1. É possível não seguir os pensamentos que não lhe servem; 2. É possível criar pensamentos que o beneficiem e de acordo com os seus objetivos;
Pensamentos que não lhe servem Em psicologia, alguns padrões de pensamentos negativos apelidam-se de distorções cognitivas. Em determinados momentos da nossa vida todos podemos desenvolvê-las e consequentemente orientarmos os nossos comportamentos, tendo-as por base. Estas distorções cognitivas ou distorções do pensamento são também conhecidas como mensagens enganosas do cérebro.
Verifique se algum desses padrões de pensamento lhe são familiares: !
Pensamentos obsessivos acerca de um acontecimento desagradável
!
Ver tudo a preto ou branco, sem meio termo
!
Usar palavras como “sempre” e “nunca”
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Tirar conclusões precipitadas
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Catastrofizar, vendo o pior em cada situação
!
Personalizar todas as coisas, palavras ou situações
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Culpar os outros pelos seus problemas
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Culpabilizar a si mesmo por coisas fora do seu controle
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Orientar-se por pensamentos de “deveria”, “não deveria”, e culpa
A maioria de nós pensa assim, pelo menos por algum tempo. Facilmente conseguimos perceber que este tipo de pensamentos quando prolongados no tempo e enraizando-se em padrões mentais, podem constituir-se como obstáculos ao equilíbrio emocional. Estas distorções do pensamento podem conduzir à infelicidade, e não apenas para você, mas para aqueles ao seu redor. Mudar o seu pensamento é difícil. Mas difícil não é impossível, o que nos leva ao próximo ponto.
Não acredite em tudo o que você pensa Não acredite em tudo que você pensa. Para além de poder ter necessidade de fazer terapia, há algo que você pode facilmente fazer para mudar padrões de pensamento negativo. Você pode ficar ciente, tomando por base uma frase popular que diz: “ Não acredite em tudo que você pensa “. Da próxima vez que você se pegar (ficar ciente) que
está a ter um desses padrões, lembre-se que não tem que acreditar no pensamento que está surgir na sua mente, só porque esse pensamento se está a manifestar. Reconheça alguns dos seus pensamentos negativos por aquilo que eles realmente podem ser (uma distorção do pensamento), e desafie-os, substituindo-os por outros pensamentos que estejam de acordo com os seus objetivos e valores. A próxima vez que você se encontrar pensando negativamente, lembre-se que isso é verdade. Os seus pensamentos são poderosos. Eles criam substâncias químicas no seu cérebro que promovem ou destroem a sua saúde mental, capacidade de lidar com a vida e felicidade. Dica: Você
não pode dar-se ao luxo de ter um pensamento negativo e, em
consciência, segui-lo.
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Saber acalmar a mente Quando queremos treinar-nos a regular os nossos pensamentos e estados emocionais, importa aprender a acalmar a mente. Importa criar gatilhos, ou seja, palavras imagens, pequenas frases, gestos que nos façam rapidamente aceder à nossa consciência e à ideia e conceito previamente estabelecido, de que temos o poder e a capacidade para orientar a nós mesmos e, consequentemente os nossos pensamentos. O método eficaz para conseguirmos orientar os nossos pensamentos ou voz silenciosa interior é a utilização da nossa atenção. A atenção é a capacidade de dirigir a nossa concentração para algo que escolhemos focar-nos. A forma mais simples de realizar este processo é focando a atenção na respiração.
Por exemplo: foque a sua atenção na respiração (no fluxo de inspiração e expiração). Preste atenção no ar que entra e sai do seu nariz, no movimento do abdómen quando entra o ar e quando ele sai, preste atenção apenas nesse fluxo contínuo. Não force a respiração, apenas relaxe e observe-a. Os pensamentos vão aparecer, o que você tem que fazer é voltar a atenção para a respiração. Quando perceber que está a ter um determinado pensamento negativo, não se culpe nem entre em stress, apenas relaxe, dirija a sua atenção para qualquer parte do corpo que estiver tensa e relaxe. Em seguida volte o foco para o gatilho, que é a respiração. Você terá que ser mais persistente que os pensamentos, acredite, tem um momento em que eles cessam. Quando você consegue acalmar a sua mente após o aparecimento de um pensamentos negativo ou distorção do pensamento, fica numa posição favorável para orientar deliberadamente o seu foco atencional para onde pretende. Ou seja, você fica capaz de criar novos pensamentos, verbalizações e imagens mentais que estejam alinhados com aquilo que pretende.
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Quem está no comando da sua mente? Podemos facilmente concordar que a nossa mente é o pináculo daquilo que somos. A nossa mente é o resultado do fantástico funcionamento do nosso cérebro. Tudo o que somos, está incrustado nas milhares de dobras da nossa massa cinzenta. Um emaranhado de milhões de neurónios que nos permitem expressar inteligência, que nos permite entender grande parte daquilo que somos, como nos mudarmos, como nos desenvolvermos e, acima de tudo, como gerir de forma autosuficiente as nossas próprias vidas. É, no entanto, no desenrolar das nossas vidas que por vezes perdemos o controle das mesmas e, com isso, prejudicamos a nossa qualidade de vida, objetivos e sonhos. Quando a nossa mente nos prega algumas partidas, quando a forma como pensamos e processamos a informação nos causa problemas, nos causa mal-estar, sofrimento e se apresenta como um obstáculo aos nossos objetivos, pode gerar-se a sensação que perdemos o controle. Quando a perceção de perda de controle se instala, tudo parece perder o sentido. Muitos de nós, quando sentimos que estamos a perder o controle sobre nós mesmos, ou seja, quando deixamos de estar no controle da nossa mente, tendemos a procurar formas de recuperar essa perda.
Alguns exemplos incluem: !
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Yoga Artes marciais
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Meditação
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Psicoterapia
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Religião
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Práticas sexuais antigas
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Arte
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Esportes
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Música
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Tornar-se monge, padre
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Retiros espirituais
Claramente, as coisas nesta lista não são todos iguais, e em si mesmas, muitas não foram necessariamente concebidas para ser uma prática pessoal. No entanto, todos elas têm a capacidade de conduzir as pessoas para um objetivo semelhante: a perceção de que uma pessoa não é simplesmente os seus pensamentos, na verdade, nós somos muito mais. E, é com base nesta premissa que posso afirmar que quem
está no comando da nossa mente, podemos ser nós.
Somos mais que o nosso pensamento Quando estamos acordados, quando estamos num estado em que conscientemente processamos informação vinda do exterior e igualmente vinda de nós mesmos, o cérebro faz o seu trabalho, produzindo pensamentos. Assim como um músculo se contrai para mover o sistema esquelético, o cérebro é como um computador que executa o software (pensamentos) com base no seu hardware (organismo), que é você. E, o resultado dos nossos pensamentos, do funcionamento do nosso software, nem sempre é benéfico. Ou seja, o produto dos nossos pensamentos nem sempre leva ao nosso resultado desejado. Portanto, a afirmação de que você não é apenas o seu pensamento, é como dizer que você não é simplesmente o seu software, você é, na verdade, o programador. A parte complicada desta analogia é que, em vez de você ser apenas um programador humano usando palavras, imagens e sentimentos para falar consigo mesmo (corpo /organismo), você é igualmente um componente (construtor) dos seus pensamentos, imagens e sentimentos. Um organismo construído pelo próprio organismo. Uma mente construída pela própria mente. Então, se estamos a falar de software que pode gerenciar outros softwares, estamos realmente falando sobre o próprio sistema operativo. O Sistema operativo é você mesmo. Você é aquele que está no controle da sua mente, quando tem consciência daquilo que coloca na sua mente de forma intencional e fundamentado nos seus valores nucleares.
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Porque você tem que usar os seus pensamentos para pensar acerca dos seus pensamentos, e todo esse processo parece ser você mesmo, esta linha de raciocínio pode facilmente tornar-se banal, circular, e automática. No entanto, uma outra maneira mais funcional de pensar sobre isso é a seguinte:
A reter: Assim como um computador, também nós temos “cachos” de pensamentos. Alguns são mais profundos e mais de acordo com a nossa essência e valores, e são como o sistema operativo de um computador, enquanto
outros
são
simplesmente
uma
expressão
de
resposta
a
acontecimentos de vida, como programas que vão sendo instalados e que são mais vulneráveis a vírus. Muitas vezes temos pensamentos que são reações à vida e aqueles que nos rodeiam. Isto pode ser visto como o software instalado no sistema operativo. O mais importante “a nossa forma de pensar” para a maioria de nós foi instalada durante a nossa infância, quando a nossa mente (“disco rígido”) tinha mais espaço e estávamos mais permissivos a novas aprendizagens. A maioria de nós fundimo-nos a esses pensamentos e conceitos e temo-los como verdades absolutas, ao invés de vê-los como vindos de dentro de nós e passíveis de mudança.
Temos capacidade de programarmo-nos Algumas das práticas referidas anteriormente, têm servido como uma forma das pessoas ganharem consciência que cada um de nós possuí o seu próprio sistema operativo. Ou seja, a nossa mente, quando orientada de forma consciente e intencional por nós mesmos, permite-nos instalar e desinstalar, correr ou impedir que corra um conjunto de cachos de pensamentos (padrão mental) que temos ou queremos vir a ter. Assim, grande parte da nossa experiência de vida é um resultado direto dos pensamentos que temos. Quando alguma coisa boa ou ruim acontece, temos pensamentos sobre isso, e esses pensamentos vão levar a sentimentos, bons, ruins ou indiferentes. Esses sentimentos podem fazer-nos agir, e essas ações vão ser boas,
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ruins ou indiferentes também. Uma vez que todas estas experiências de vida e ações têm origem na nossa mente, que por sua vez faz disparar determinados pensamentos, se pudessem ser alvo da nossa intervenção? Não temos que aceitar tudo o que nos aparece na mente, não temos de ser arrastados pela negatividade que por vezes os nossos pensamentos expressam? Certamente alguns padrões mentais que expressamos no nosso dia a dia prejudicam-nos, foram implementados ao longo do tempo, mas provavelmente não nos servem mais. Então o que pode ser feito, como
podemos reprogramar parte dos pensamentos prejudicais em novos padrões mentais? É aqui, que você entra em jogo através da prática pessoal de estratégias de orientação da
atenção,
autoverbalizações
e
regulação
das
emoções.
É
através
do
desenvolvimento e aprimoramento de falar para você mesmo, de aplicar uma voz de comando tendo na sua base os seus valores, os seus objetivos e a ideia de quem você quer ser, que poderá implementar novos padrões mentais. Estes padrões mentais permitirão desenvolver também a capacidade de você distinguir entre pensamentos, sentimentos e ações por reação, dos seus pensamentos, sentimentos e ações que valoriza e pretende que o guiem no seu dia a dia.
Exemplo prático das artes marciais: As artes marciais, são uma arte de movimento. Aprender os movimentos cria a oportunidade para o desenvolvimento de pensamentos acerca do processo de aprendizagem. Um exemplo simples pode ser que você pense: “Isso é difícil, eu não posso fazer isso.” Mas se for paciente e determinado e continuar praticando, então você pode descobrir que realmente é capaz. Pode então ocorrer-lhe uma pergunta do género: “Porque tenho que pensar que não sou capaz de fazer isto, quando claramente posso?” Traduzindo isto para a vida em geral, se você tiver um pensamento do género: “Eu não consigo fazer isto” Faça uma pergunta capacitadora em oposição: “Este é um
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pensamento necessário ou útil? Este tipo de procedimento acerca de analisar a validade dos seus próprios pensamentos, tendo como termo de comparação os seus valores, a forma como se vê a si mesmo e os seus objetivos de vida, é o início do processo para cultivar a capacidade de pensar acerca dos seus próprios pensamentos e, como isso, ficar mais perto de estar no comando da sua mente.
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GANHAR CONFIANÇA PARA AUTOLIDERAR-SE Quando você desenvolve a confiança através da prática de reorientar a sua atenção para os pensamentos que deseja, isso permite-lhe ganhar perícia, ficando apto a construir os pensamentos que quer e, este processo permite-lhe descartar os pensamentos que lhe chegam à mente, sempre que percebe que não lhe servem ou são prejudiciais. É uma experiência de controle sobre a capacidade de gerir os seus pensamentos e, consequentemente, ficar no comando da sua mente. Isto permite-lhe desenvolver a confiança necessária para se liderar, mesmo quando emergem pensamentos negativos.
“Que Deus me conceda serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar. Coragem para mudar as coisas que posso, e sabedoria para reconhecer a diferença.” – São Francisco de Assis
Potencie a sua mente: Opte por palavras, pensamentos e imagens positivas Se você fosse colocado num scanner de ressonância magnética, uma estrutura tubelar que permite imagens de vídeo das alterações neurais que acontecem no seu cérebro, e verbaliza-se a palavra “não” associada a imagens negativas durante alguns segundos, seria possível observar a imensidão de hormonas do stress e neurotransmissores. Estes produtos químicos interrompem imediatamente o funcionamento normal do cérebro, prejudicando o pensamento lógico, a razão, o processamento da linguagem e a comunicação. Palavras, pensamentos e imagens negativas empobrecem o ótimo funcionamento do ser humano, a felicidade, o bem-estar e a satisfação com a vida.
O poder da palavra Na verdade, apenas ler, pensar ou verbalizar uma lista de palavras negativas por alguns segundos, poderá ser o suficiente para fazer disparar numa pessoa a ansiedade
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e a diminuição do humor. Acresce o facto de que se a pessoa de forma recorrente passar a refletir sobre isso, irá sedimentar uma estrutura mental fundamentada na negatividade. Pouco a pouco, dia após dia, vamos construindo o nosso mundo interno, forma de pensar e atitudes face ao mundo e aos outros e a nós mesmos. O tipo de palavras, pensamentos e atitudes que vamos tendo, de cariz positivo, ou ao invés de cariz negativo, potencia ou incapacita a nossa mente.
A reter: Se você verbalizar a sua negatividade, ou utilizar demasiadas vezes palavras depreciativas, de incapacidade ou miserabilistas, irá existir uma reação correspondente no seu corpo, usualmente, e neste caso, serão lançados na corrente sanguínea produtos químicos de stress, não apenas no seu cérebro, mas eventualmente também no cérebro de quem possa estar a interagir consigo. Os outros ouvintes irão sentir um aumento da ansiedade e irritabilidade, comprometendo assim a cooperação e a confiança.
As palavras têm uma forte relação com os nossos pensamentos, com as nossas crenças e com a forma como nos vemos a nós mesmos. São armas poderosas ao nosso serviço. A capacidade de conseguirmos ganhar consciência do nosso diálogo interno, verbalizado ou silencioso, é extremamente importante para potenciarmos a nossa mente e consequentemente mudar a vida para melhor. Se você percebe que utiliza um discurso demasiado pessimista, negativista, derrotista e depreciativo, é hora de ponderar a possibilidade de melhorar o seu diálogo interno autocrítico. Qualquer forma de ruminação negativa e excessiva, por exemplo, preocupar-se excessivamente com o seu futuro financeiro ou com a sua saúde, vai estimular a libertação de substâncias neuroquímicas destrutivas, que causam mal-estar e incómodo. Perante tal cenário, sem sombra de dúvida que a sua sobriedade emocional ficará afetada negativamente, com todas as consequências pejorativas que isso possa ter para si e/ou para os outros.
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Ciclos negativos O pensamento negativo também é auto-perpetuador, e quanto mais você se envolver no diálogo negativo, em casa ou no trabalho, mais difícil se tornará pará-lo. Palavras negativas, ditas com raiva, fazem ainda mais danos. Elas enviam mensagens de alarme através do cérebro, interferindo com os centros de tomada de decisão do cérebro (lobo frontal), e isso aumenta a propensão para que uma pessoa aja irracionalmente. O medo excessivo é incapacitante, tolda-nos o raciocínio e inibe-nos muitos dos nossos comportamentos. Palavras como pobreza, doença, morte, crise, acidente, estimulam o cérebro de forma negativa. E mesmo que esses pensamentos de medo não sejam reais, outras partes do seu cérebro (como o tálamo e amígdala) reagem a fantasias ou imagens negativas, como se fossem ameaças reais que ocorrem no mundo exterior. Curiosamente, parece que estamos programados para nos preocuparmos. E, isso até pode ser benéfico, deixa de sê-lo no exato momento que nos prejudica a vida. Talvez esta propensão para a preocupação seja um artefato de memórias antigas, herdadas de tempos ancestrais, quando havia incontáveis ameaças à nossa sobrevivência. Para interromper esta propensão natural a preocupar-se excessivamente, ao ponto de tornar-se um incómodo, duas etapas simples podem ser efetuadas: !
Primeiro, pergunte a si mesmo: “ A situação é realmente uma ameaça para a minha sobrevivência pessoal ?” Normalmente, não é, e quanto mais rápido
você conseguir interromper a reação da amígdala (regulador emocional) de uma ameaça imaginária, mais rápido conseguirá tomar medidas para resolver o problema . !
Segundo, depois de ter identificado o seu pensamento negativo (que muitas vezes opera abaixo do nível da consciência ), pode reformulá-lo, escolhendo concentrar-se em palavras e imagens positivas. Aumenta assim a
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possibilidade de diminuir a ansiedade e a depressão, e pouco a pouco diminuir também os pensamentos negativos subconscientes.
Ciclos positivos Quando ensino aos meus clientes como mudar pensamentos negativos para pensamentos positivos, o processo de comunicação com a própria pessoa melhora, promovendo o seu auto-controle e confiança. Mas há um problema, o cérebro não responde tão prontamente aos nossos pensamentos e palavras positivas. Eles não são uma ameaça para a nossa sobrevivência, o cérebro não precisa responder tão rapidamente como faz para palavras e para pensamentos negativos. Para superar esse viés neural para a negatividade, devemos repetidamente e conscientemente gerar tantos pensamentos positivos quanto conseguirmos. De acordo com os princípios da psicologia positiva, é preciso gerar pelo menos três pensamentos e sentimentos positivos para cada expressão de negatividade. Se você expressar menos de três, torna-se extremamente difícil inverter o processo. Esta ideia é reforçada por uma pesquisa de Marcial Losada com equipes corporativas, e uma pesquisa de John Gottman com casais conjugais. Fredrickson, Losada, e Gottman perceberam que se você quiser que o seu negócio e os seus relacionamentos pessoais realmente prosperem, você precisa gerar pelo menos cinco mensagens positivas para cada diálogo ou pensamento negativo que tenha, por exemplo, “ Estou desapontado” ou “Isso não é o que eu esperava” contam como expressões de negatividade, tal como fazer
uma careta ou um aceno de cabeça. Nem sequer importa se os seus pensamentos positivos são irracionais, ainda assim melhoram o seu sentimento de bem-estar, felicidade e satisfação com a vida. Na verdade, o pensamento positivo pode ajudar-nos a construir uma atitude melhor e mais otimista em relação à vida. Pensamentos e palavras positivas impulsionam os centros motivacionais do cérebro para a ação e ajudam-nos a construir a resiliência quando nos deparamos com os problemas da vida. Segundo Sonja Lyubomirsky, uma das principais investigadoras do
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mundo sobre a felicidade, se você quiser desenvolver uma maior satisfação ao longo da sua vida, deve regularmente envolver-se em pensamentos positivos sobre si mesmo, focar-se nas suas experiências mais felizes, relacionar-se bem com os outros, e saborear cada experiência positiva na sua vida.
Dica: Escolha as suas palavras com sabedoria e aprimore-as ao longo da sua vida. Isso permitirá que você consiga interromper mais rapidamente a propensão do cérebro para focar-se no negativo. Você vai sentir-se melhor, promove o seu tempo de vida, e aumenta a possibilidade de construir relacionamentos mais profundos e mais confiante com os outros.
Tal como Fredrickson e Losada apontam, quando você gerar um mínimo de cinco pensamentos positivos para cada um negativo, você vai experimentar os elevados benefícios do ótimo funcionamento humano. Esse é o poder da positividade. Esse é o poder que o pensamento positivo tem para mudar a sua vida para melhor.
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PRATIQUE A AUTODISCIPLINA SENDO MESTRE DE VOCÊ MESMO Quando os pensamentos negativos nos invadem a mente, quando queremos fazer uma coisa e acabamos fazendo outra, ou quando queremos deixar de nos preocupar sobre determinado assunto, conseguir ter controle sobre a mente seria o melhor que nos poderia acontecer. Provavelmente é um desejo que pontualmente lhe passa pela mente. Quero dizer-lhe que até determinado ponto isso pode ser possível. Com disciplina e treino sobre a capacidade de foco, de atenção e de decisão sobre que pensamentos criar na mente é possível vir a ser mestre de você mesmo. Saber direcionar a atenção para onde ela mais importa estar, é o caminho que permite alcançar autodomínio, confiança e conhecimento sobre você mesmo. Em seguida apresento seis passos que descrevem estratégias que permitem ajudá-lo a melhorar a sua autodisciplina e controle sobre os seus próprios pensamentos:
Passo 1: Ouça e reconheça Por vezes as mensagens que a nossa mente emite para nós mesmos podem ser cortantes, desagradáveis e penosas. É no exato momento que você ganha consciência dessas mensagens que pode fazer algo de positivo, revertendo-as. Assim sendo, é importante que não as considere como uma crítica negativa ou como uma forma de mandar-se abaixo ou punir-se. Em seguida, deve aceitar essa voz silenciosa, e interpretá-la como informação, como uma chamada de atenção, que pode dizer-lhe: “ Atenção as coisas não estão a correr como pretendido.” Sinta-se grato pela sua mente estar a contribuir com informação que pode impedi-lo de fazer alguma asneira. Por exemplo, “Obrigado, ainda bem que a minha mente me deu um alerta, lembrando-me que se eu não conseguir fazer mais vendas, posso ser demitido.” Ou “Obrigado por me dizeres que se eu continuar a ter a mesma atitude posso ficar para sempre sozinho e nunca encontrar o amor e ter uma família “.
Com o tipo de mensagens que a mente envia para a nossa consciência, se percebermos que isso é informação em forma de incómodo e de alerta, podemos
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passar à ação, e fazer algo que permita aumentar a probabilidade de sermos bem sucedidos. Saber ouvir e reconhecer as preocupações momentâneas da própria mente, é um passo importante para ficar ciente acerca dos assuntos para onde deveremos dirigir a nossa atenção.
Passo 2: Faça as pazes com a sua mente Você pode não gostar de algumas mensagens que a sua mente cria ou da forma que isso influencia as suas ações. Na verdade, toda a negatividade pode ser francamente irritante, às vezes. Mas o fato é, que a sua mente faz parte de você, você está preso a ela, e não pode eliminá-la (e ainda bem). Os pensamentos negativos irão sempre aparecer na sua mente. No entanto, você pode abandonar o seu diálogo autocrítico que promove a negatividade. Ou seja, ter pensamentos negativos não tem necessariamente de conduzir-nos à negatividade. Aceitar que os pensamentos e sentimentos negativos se irão fazer notar, e que não conseguimos impedir que nos apareçam na mente e no corpo, permite-nos fazer as pazes com a nossa mente. Assimilar e levar em consideração este conceito impele-nos a focar a nossa atenção nas ações que nos permitem aproximar-nos dos objetivos pretendidos, sem que se desenvolvam conflitos internos.
A reter: Não temos necessariamente que gostar dos pensamentos negativos ou concordar com eles, apenas temos que tomar a decisão de temporariamente prestar-lhe atenção, para depois dirigirmos o foco para outros pensamentos ou ações que nos sirvam de forma construtiva.
Passo 3: Entenda que os seus pensamentos são apenas pensamentos Não conseguimos ver a nossa mente. Como tal, também não conseguimos ver a grande maioria dos nossos pensamentos. Mas, na grande maioria das vezes
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pensamos que somos os nossos pensamentos, unimo-nos e fundimo-nos a eles. Nesse exato momento, ao dar-se a fusão, caso os pensamentos sejam negativos, depreciativos e incapacitantes, podemos criar um problema a nós mesmos. Num estado de fusão com os pensamentos e sentimentos, dá-se a unificação, e passamos a aceitar esses mesmos pensamentos ou sentimentos como uma verdade absoluta, como sendo nós mesmos.
Por exemplo: “Eu estou pensando que sou um fracasso e chato, caramba, eu devo ser um fracasso e chato.”
Este tipo de lógica simplista parece prevalecer, porque não podemos ver as nossas próprias mentes, por isso temos dificuldade em desapegar-nos dos nossos pensamentos (ficar fora de nós mesmos) e obter uma perspetiva objetiva do ponto de vista do observador. Na realidade, os nossos pensamentos são eventos mentais, influenciados pelos nossos humores, sensações de fome ou de cansaço, saúde física, hormonas, o sexo, o clima, o que assistimos na TV ontem à noite, o que comemos ao jantar, o que aprendemos como crianças, e assim por diante. Eles são como hábitos mentais. E, como todos os hábitos, os nossos pensamentos podem ser saudáveis ou não, servir-nos ou não, facilitar-nos a vida ou não. Assim, como não podemos levantar-nos do sofá e, sem treino irmos de imediato correr uma maratona, também não podemos magicamente desligar os nossos padrões mentais de pensamentos negativos, sem prática repetida e esforço considerável.
Passo 4: Observe a sua própria mente O ditado “ Conhece o teu inimigo.” também é aplicável na nossa relação com a nossa própria mente. Assim como um bom líder gasta algum do seu tempo visitando os vários
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departamentos, para conhecer os funcionários, também nós temos de dedicar tempo para conhecer como a nossa mente trabalha na nossa relação com a vida. Chame isso de plena consciência, meditação, ou tempo de silêncio. O tempo gasto na observação da sua mente é tão importante quanto o tempo dedicado ao exercício físico. Por exemplo, quando você tenta focar a sua atenção no ritmo da sua respiração, ou sobre as árvores e flores quando você caminha na natureza, consegue fazê-lo sem distrações? Se sim ótimo, está no bom caminho para conseguir observar os seus próprios pensamentos e consequentemente distanciar-se deles. Ou pelo contrário, quando você tenta focar a sua atenção em algo, a sua mente vagueia por todo o lado, provavelmente trazendo preocupações antigas ou problemas não resolvidos? Neste caso, se não for controlada, pode levá-lo para fora da tranquilidade do momento presente, numa espiral de preocupação, medo e julgamento. A prática da mindfulness (atenção plena) envolve não apenas perceber para onde a sua mente vai quando divaga, mas também trazê-la suavemente de volta para o foco na respiração, no ato de comer, andar, amar, ou de trabalho. Quando você faz isso várias vezes ao longo dos dias ou meses, você começa a treinar a sua capacidade de dirigir a sua atenção de forma intencional para onde quer. Com a melhoria deste processo você começa a saber quando a sua mente está a emitir pensamentos prejudiciais, guiando-a posteriormente de acordo com a sua intenção. Quando você evolui na observação dos seus pensamentos, e consequentemente dos seus estados internos, fica preparado para regulá-los até ao ponto de equilibrio necessário para gerar outros pensamentos que melhor se adequem aos objetivos pretendidos.
Esclarecimento: Praticar a mindfulness (atenção plena) significa prestar atenção mais cuidada de uma forma particular. É a habilidade de tomarmos consciência de estarmos no momento presente. No estado de atenção plena temos a noção do que acontece exteriormente a nós, e também no nosso interior. Os estímulos chegamnos através de expectro alargado de inputs, olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, até a nossa própria mente. No estado de atenção plena, ficamos ciente daquilo que
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estamos a receber através da nossa capacidade de ver, ouvir, cheirar, provar, sentir, ou pensar, está acontecendo no presente, no momento presente.
Passo 5: Treine a sua mente para estruturar novas ligações neuronais Há um velho e sábio ditado: “ Nós somos o que fazemos repetidamente.” No seguimento deste raciocínio, eu gostaria de acrescentar “ Nós tornamo-nos naquilo que repetidamente pensamos.” Ao longo do tempo, os nossos padrões de pensamento vão
ficando gravados no nosso cérebro, mais propriamente nos bilhões de neurónios, conectando-se juntos, em padrões único que se enraízam. Quando certos caminhos cerebrais (conexões neuronais) entre diferentes componentes ou ideias, quando frequentemente repetidos, os neurónios começam a “disparar” transmitindo informações numa rápida sequência, interligando-se uns com os outros. Uma vez que um primeiro pensamento seja iniciado, toda a sequência é ativada. O piloto automático é ótimo para dirigir um carro, mas não tão bom para o ótimo funcionamento emocional. Por exemplo, você pode ter profundos medos de se aproximar de pessoas, porque poderá ter sido maltratado quando criança. Para aprender a amar, é preciso tomar consciência de toda a sequência negativa e como ela deturpou as suas percepções, rotular essas reações como pertencentes ao passado, e reorientar a sua mente na experiência do momento presente. Com o tempo, você pode começar a mudar alguns dos seus padrões mentais negativos, através de uma elevada intenção consciente, ativando o córtex pré-frontal (o centro executivo, responsável pelo estabelecimento de metas, planejamento e execução das mesmas), que é capaz de influenciar os seus comportamentos e atitudes quando orientados pelos pensamentos positivos e construtivos escolhidos por você. Desta forma, a técnica é identificar os seus pensamentos, ficar ciente deles, perceber que não é os seus pensamentos, praticando o distanciamento e desapego, para que consiga posteriormente direcionar a sua atenção para outros pensamentos, atividades ou ações com o objetivo de restabelecer o equilíbrio emocional e autodomínio.
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A saber: A capacidade de separar-se dos pensamentos negativos, perceber que pode criar outros de acordo com os seus objetivos, dirigindo a sua atenção intencionalmente de forma a promover os comportamentos e atitudes positivas e construtivas, beneficia a autodisciplina, colocando-o no caminho da mestria.
Passo 6: Pratique a autocompaixão A autocompaixão não tem propriamente a ver com ter pena de nós mesmos. O frase que melhor descreve este conceito é: “ uma maneira mais saudável de relacionar-se consigo mesmo.” E isso é exatamente o que é. Como tenho vindo a explicar, é
realmente necessário muita dedicação, esforço e treino para mudar pensamentos. E, não podemos evitar ter determinados pensamentos e sentimentos, quando estes surgem. Mas podemos mudar o modo como reagimos a esses pensamento e sentimentos. A grande maioria de nós fomos ensinados que alguns dos nossos sentimentos são sinais de fraqueza, que devem ser escondidos dos outros a qualquer custo. Esse tipo de conceito está absolutamente errado. Alguns autores, como o Dr. Brene Brown, fornecem-nos um convincente argumento baseado na investigação, que nos diz que expressar a nossa vulnerabilidade pode ser uma fonte de força e confiança, se devidamente gerida.
A vulnerabilidade soa como verdade e sente-se como coragem. Verdade e coragem não são sempre confortáveis, mas elas nunca são fraqueza. – Bréne Brown
Quando julgamos os nossos sentimentos, perdemos o contato com os benefícios desses sentimentos. Como referi anteriormente,
os pensamentos e sentimentos
negativos são valiosas fontes de informação sobre as nossas reacções aos acontecimentos nas nossas vidas, e eles podem dizer-nos o que é mais significativo e
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importante para nós. por exemplo, algumas emoções desagradáveis são sinais que nos dizem para alcançar conforto ou que devemos tirar um tempo para descansar e repor a nossa energia. Ao invés de criticar a nós mesmos, podemos aprender novas formas de apoiar-nos no nosso sofrimento. Nos momentos de aflição, angustia, desesperança, que nos fazem despoletar apreciações negativas acerca da nossa vida e provavelmente de nós mesmos, é importante relembrar-nos que nós somos seres humanos sensíveis. E, que essa sensibilidade se expressa através dos sentimentos negativos, que consequentemente, caso não consigamos fazer o exercício de desapego, conduzem-nos a pensamentos incapacitantes. Com este conhecimento em mente, importa levá-lo em consideração e relembrar a nós mesmos que somos humanos, e como tal, sentimos a vida, nos bons e nos maus momentos. Apoie-se a você mesmo. Aguente firme o seu desespero, sem autodepreciações. Invista em si mesmo, seja o seu maior aliado. Seja compassivo com a sua dor, dificuldades e angústias. Podemos deliberadamente procurar experiências internas e externas que nos trazem alegria e conforto, as memórias de momentos felizes com as pessoas que amamos, a beleza da natureza, autoexpressão criativa. Esses recursos podem ajudar-nos a navegar os sentimentos difíceis enquanto permanecemos focados no presente.
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