Contos de Astridy Gurgel UMA MULHER MISTERIOSA
Carmem Santiago mal conseguia esconder seu assombro enquanto seguia pelas dependências da gigantesca companhia. Ouvira falar do poder da família Alvarez, mas não supôs que fosse tanto. O prédio tinha vinte andares. Uma multidão de funcionários transitava de um Lado para o outro. Parada diante do elevador, observava tudo chocada. Sabia que o pai negociava com o velho Sr. Alvarez. Com a sua morte, todo o controle passou automaticamente para as mãos de sua filha. Ouvira falar muitas coisas sobre Marcela Alvarez. Diziam coisas assustadoras sobre ela. Diziam ser uma criatura fria, dura e implacável. Outras histórias davam conta de sua vida reclusa no casarão dos Alvarez. Contavam que nem um iceberg era tão gelado quanto ela. Sua fama de não perdoar e punir o menor erro era famosa. f amosa. Seu corpo estremeceu quando o elevador abriu a porta levando-a até o ultimo andar. Ali encontraria a criatura que poderia salvar sua vida ou destruíla. Foi recebida por uma secretária que aparentava ter uns quarenta anos. A mulher não sorriu o que a deixou mais apreensiva. Guiou-a por um Cumprido corredor até estarem diante de uma porta imensa e pesada. Deu uma leve batida abrindo-a e anunciando num tom impessoal. - A Senhorita Santiago está aqui! Os passos que deu para dentro daquela sala escura foram incertos. Olhou em volta muito assustada. Viu uma estante de livros que ocupava toda 1
Contos de Astridy Gurgel uma parede, do chão quase ao teto. Havia imensas janelas na sala Ampla. Todas com cortinas fechadas de maneira que não entrava numa luz no ambiente. Sentiu o cheiro de cigarro no ar. Estava parada sem conseguir dar um único passo. Suas pernas tremiam descontroladamente. Nunca em toda a sua vida sentiu tanto medo. Olhou para frente onde via uma mesa e por trás dela o que parecia ser o vulto de uma pessoa. Seria ela? Por que estava tudo tão escuro? Notou neste instante que havia uma luz acesa ali. Havia umas vinte cadeiras ao redor da mesa. A luz era de um abajur bem no centro, sobre a mesa. Levou a mão ao peito respirando com dificuldade. Teria alguém mais naquela sala? A pessoa sentada imóvel na cadeira seria Marcela Alvarez? Mil pensamentos a invadiam quando uma voz masculina soou chamando sua atenção. - Senhorita Santiago! Aproxime-se, por favor! Voltou-se na direção da voz, vendo um homem de terno surgindo diante dela. - Boa tarde! Pensei que iria falar com a Senhorita Alvarez. - Vai falar comigo primeiro. Explicou apontando uma cadeira onde ela sentou. - Muito bem, estou as suas ordens. Olhou em volta incerta. Viu que havia mesmo alguém sentado atrás da mesa. A brasa do cigarro brilhou no escuro desfazendo suas duvidas. Voltou os olhos para o homem. Ele, parecendo entender seu receio avisou num tom profissional. - Meu nome é Rodolfo Santos. Sou advogado da companhia. Agora queira dizer a razão de ter solicitado esta reunião. Carmem respirou profundamente fitando o homem que a encarava sem mover um único músculo do rosto. - O Senhor deve estar ciente dos negócios do meu pai com o falecido Sr. Alvarez. Também deve saber que meu pai encontra-se num hospital, pois teve um infarto muito grave. - Estou ciente de tudo isto. - Sim, é claro – Ela concordou apertando a bolsa no colo – Deve saber que assumi a empresa do meu pai. Há seis meses estou lutando para salva-la de um desastre maior. Hoje estou aqui, porque encontrei entre os papeis do meu pai anotações que provam que ele contraiu uma grande divida com o Sr. Alvarez. Vim saber o valor desta divida e discutir as melhores formas de saldála. O advogado abriu um livro anunciando o valor da divida. Assim que ouviu o Montante ela agarrou mais a bolsa junto ao corpo arregalando os olhos. - O Senhor deve estar brincando! - Infelizmente não! - Mas... - Seu pai tomou dinheiro emprestado em prestado durante dez anos. Imaginamos que por amizade estes empréstimos continuaram sendo concedidos. Seu pai obviamente nunca teve condições de saldar a divida. Sua empresa está para abrir falência. A situação é insustentável. Deve funcionários, bancos e 2
Contos de Astridy Gurgel seguradoras. As ações trabalhistas vêem se acumulando nos últimos meses. Se entregasse sua casa, a empresa e todos os seus bens, Nem assim saudaria dez por cento do valor. Devo informá-la que tenho em minhas mãos uma ação que devera ser encaminhada para a justiça. Estou apenas aguardando o parecer da Senhorita Alvarez. Ela quer solucionar essa questão o mais breve possível. - Oh... Por favor! – Interrompeu-o desesperada – Logicamente eu teria vindo antes se soube do fato. Vivia fora do país onde me formei em administração de empresas. O meu único desejo sempre foi cuidar dos negócios da minha família. Para falar a verdade nunca soubemos como a empresa chegou a está situação desastrosa. Precisa saber que desde que assumi a produção foi reaquecida e tenho conseguido manter as portas abertas. Estou fazendo uma reestruturação completa e pretendo... - Senhorita! – Ele a interrompeu erguendo a mão no ar demonstrando impaciência – Seu pai foi informado da ação judicial e não nos procurou como supúnhamos. - Não sei como explicar. Meu pai andava muito nervoso e estranho. Agora entendo a razão. Peço desculpas pela atitude dele. O Senhor há de convir que... - Não temos nada mais m ais para discutir – Falou erguendo-se neste instante. - Por favor... - Desculpas não pagam dividas, Senhorita! – Lembrou frio - Sei disto, por isto estou aqui. - Não tem como pagar a divida, portanto terá que resolver na justiça! - Mas... - Não temos mais nada para discutir! - Só lhe peço que fale com a Senhorita Alvarez de minha presteza. Eu lutei me especializando para cuidar da minha empresa. Perde-la seria certamente o fim dos meus esforços. Estou disposta a saldar até o último centavo desta divida. Porém necessito de um tempo. - Em sua situação não posso imaginar como! - O trabalho não me assusta. Se puder trabalhar sem pressões, garanto que num prazo de dois anos reconstruo a minha empresa. Fale com ela em meu nome. Por favor! O homem a observou por alguns instantes e recolheu sua pasta dizendo franco. - A Senhorita é uma sonhadora! - Não! Sou uma lutadora! Se puder provar eu provarei o meu valor! Ele a fitou parecendo surpreso. Depois lançou um olhar na direção da porta falando num tom menos duro. - Vou falar sobre o seu pedido. Darei uma resposta até amanhã. Passe bem! – Terminou estendendo a mão. m ão. - Suas palavras foram benditas! Serei eternamente grata por sua ajuda. Até logo. Assim que a porta se fechou, ele voltou-se para Marcela.
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Contos de Astridy Gurgel - O que devo fazer? Vai dar o que tempo que ela pediu? – Perguntou pegando sua pasta. O silêncio que se seguiu foi muito longo. Até que ela respondeu num tom muito tranquilo. - Vou pensar sobre o assunto. Pode se retirar agora! Marcela Alvarez girou a cadeira erguendo-se lentamente. Carmem Santiago! Um sorriso surgiu em seus lábios. Como ansiou por este momento. Exatamente quatro meses de espera. Desde a primeira vez que colocou os olhos nela que nunca mais conseguiu tira-la da cabeça. Estava jantando sozinha num restaurante naquela noite. Numa mesa a frente da sua, estavam ela, a mãe, a irmã e o irmão. Estavam comemorando o aniversário da mãe. No momento em que seus olhos cruzaram com os dela sentiu como se uma Bomba explodisse dentro do seu peito. Ela não fugiu dos seus olhares. Passou todo o tempo correspondendo ao seu olhar encantada. Tinham flertado por mais de duas horas. Quando pagou sua conta seguindo para a porta parou voltando-se na direção da mesa dela. Ela ainda a olhava fixamente. Com o mesmo olhar que a tinha devorado sem o menor pudor, enquanto esteve sentada diante dela. Era bonita! Possuía um porte impecável e uma elegância incomum. Nenhuma mulher despertou a revolução que ela desencadeou naquela noite. Quando se deitou em sua cama sentiu o corpo todo ardendo ao pensar nela. Desde então não pensava em outra coisa. Nunca ansiou tanto por uma algo como ansiou para vê-la sentada ali na sua frente. Sabia que ela viria desde o dia que leu nos jornais que ela assumira a empresa do pai. Ela perecia ser muito inteligente e esperta. Mas era inexperiente no mundo dos negócios. Que certeza poderia ter de que iria realmente reerguer a empresa falida? E se falhasse? O prejuízo seria desastroso. Soltou um suspiro lembrando-se do corpo divino dela. O desejo louco que sentia por ela renasceu dominando seu corpo. Não era seu estilo ser boazinha com as pessoas. Por que tinha que ser com ela? O que ganharia arriscando-se assim? Logicamente precisava de uma compensação. Quem poderia condená-la? Afinal na vida não se conseguia nada de graça. Nada caia do céu. Não no mundo dos negócios! Carmem viveu a pior noite da sua vida. Teve pesadelos horríveis. Quando acordou estava toda molhada de suor. Pulou da cama rapidamente. Teria por fim a resposta de Marcela Alvarez. A primeira coisa que fez foi ir ao hospital ver o pai. O quadro era o mesmo. Continuava em coma. Dali correu para a empresa. Uma tristeza imensa encheu seu coração. O pai estava quase morto no hospital. E não tinha um centavo para salvar a empresa. No entanto sabia que não podia entregar os pontos. Tomou o elevador subindo rápido para a sua sala. Ali sorriu para a secretaria que se ergueu ao vê-la. - Bom dia Solange! Alguém me ligou? - Bom dia! Ainda não. Teve notícias do seu pai? - Está na mesma – Falou dando um meio sorriso – Estou aguardando uma chamada muito importante de Rodolfo Santos. Avise-me, sim? - Não se preocupe.
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Contos de Astridy Gurgel No entanto foi um longo dia de espera. Anoitecia quando recebeu a tal chamada. Ficou surpresa ao ouvir as palavras curtas dele quando atendeu. - Conversei com Marcela como me pediu. - Sim? - Ainda não tenho uma resposta! - Como não? - Ela está pensando. Ligarei quando tiver algo de concreto. Passe bem! Colocou o fone no gancho com um suspiro de alívio. Se ela estava pensando é porque ainda restava uma esperança. Aquela agonia que passou por uma noite inteira foi em vão. Os dias passavam sem que tivesse a resposta. Desorientada viu a semana chegar ao fim. Uma vontade imensa de ligar começava a invadi-la. Entretanto sabia que não podia pressionar aquela mulher. A única coisa que podia fazer é continuar esperando. Isto não era um fato que sua família entendia. Todas as noites quando entrava em casa iam logo a enchendo de perguntas sobre aquele assunto. Por mais uma semana se viu presa naquela espera irritante. Começava a se perguntar se ela não estaria fazendo aquilo de propósito. Talvez fosse verdadeira a história de que tinha prazer em ser má. Sua cabeça era um caldeirão de perguntas e duvidas. No fim da terceira semana recebeu a ligação que tanto esperava do advogado. - Deve vir hoje às seis da tarde! - Pensei que receberia uma resposta – Comentou surpresa – Aconteceu alguma coisa para que eu tenha que ir aí? - Sua situação é bastante delicada para querer discutir imposições. Não acha? - Oh! Perdão! Irei à hora marcada. Obrigada. Às seis da tarde chegou ao ultimo andar daquele prédio. A mesma secretária seca a conduziu completamente muda. Carmem entrou vendo-a fechar a porta. A sala continuava escura. Novamente só pode ver a luz fraca sobre a mesa. Olhou em volta perguntando confusa. - Está ai Senhor Santos? Não obteve resposta. No entanto bem a sua frente à chama de um isqueiro brilhou chamando sua atenção. Tentou ver a pessoa, mas apenas ouviu a voz de mulher soando friamente. - Sente-se! - Marcela pediu tranquila. Sentou rápido na cadeira diante dela. Tentou ver seu rosto, mas foi impossível. Um silêncio insuportável invadiu a sala. Ela não disse mais nada. Esperou mais alguns minutos pacientemente. Forçou um sorriso confuso perguntando num tom suave. - Você é Marcela Alvarez? - Esperava outra pessoa? - Não. Claro que não. - Está nervosa?
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Contos de Astridy Gurgel - Um pouco. Não sabia o que esperar. Seu advogado deve ter explicado minha situação. Estou ansiosa por sua resposta. Dependo dela para tomar certas medidas na empresa. Por acaso já tem uma resposta para me dar? O que viu foi à brasa do cigarro brilhando enquanto ela fumava. Não falava nada. Não sabia se a estava olhando ou que estava fazendo naquele silêncio odioso. Naquele lugar escuro não conseguia ver nada. Aquilo era uma grande falta de educação. Imagine conversar naquela escuridão! Aquilo realmente não era normal. - Não! - O que foi que disse? – Perguntou sem acreditar. - Não tenho uma resposta para dar. - Mas se fui chamada aqui... - Deve compreende que a minha duvida é grande – Falou lentamente. - Sim! Acho que compreendo – Riu nervosa – Não me conhece. Deve estar com medo de arriscar e perder tudo. - Não! Não é quanto a sua competência que tenho dúvidas. - Não? - Não! - Então... - Não consigo compreender o que vou ganhar com isto. - Ora... Não parece óbvio? – Riu desta vez mais agitada – Vai receber todo o seu dinheiro de volta com juros. - Depois de dois anos? - Sim. - Por que devo esperar tanto? - Porque não tenho como pagar agora. Estou atolada em dividas. Estou praticamente perdendo tudo que minha família construiu. Entendeu? - Entendi! Mas não faço favores. Não é meu costume. - Por favor... - O que tem para oferecer? - Como? – Carmem perguntou confusa. - Não entende minhas palavras? O tom da voz dela era o mesmo desde o início da conversa. Parecia calma e inabalável. Carmem se perguntou se havia algo mais para entender. Do que ela estaria falando? O que poderia dar se nada tinha? - Não estou entendo. Desculpe. - Deve saber que é uma mulher bonita. - No que isto implica? - Sei que é solteira. Que é homossexual e que não tem namorada. Chocada Carmem olhou em volta. Uma vontade imensa de fumar tomou conta dela. Não sabia o que dizer. E o que pensava começava a assustá-la. - Sendo uma mulher inteligente suponho que esteja começando a me entender. - Pois seja mais clara, por favor! - Estou disposta a cobrir todas as suas dividas se aceitar ser minha amante. 6
Contos de Astridy Gurgel Carmem sentiu como se o teto tivesse desmoronado sobre sua cabeça. Ergueu-se pegando a bolsa. Afastou a cadeira tropeçando no escuro. Queria pensar com clareza, mas não conseguia. Olhou em volta sem conseguir andar. - Acho justo ser recompensada. Você terá dinheiro para reinvestir e salvar sua empresa. Nada lhe será tomado. A ação que iria para a justiça será rasgada. Não terá mais preocupações com dinheiro. E poderá pagar no final dos dois anos como propôs no início. A cabeça dela girava enquanto ouvia as explicações. Amante? O que estava pensando que ela era? - Não me importo se acha que estou sendo grosseira. Sou como sou! Sei que a sua situação é muito pior do que contou ao meu advogado. Não tem dinheiro nem para pagar o tratamento do seu pai no hospital. Mas se acha que está em posição de recusar não me importo. - Não sou uma prostituta! – Conseguiu falar profundamente ofendida. - Estou certa que não é. Nunca gostei de prostitutas. Não aprecio sexo com este tipo de mulher. Se fosse prostituta não estaria diante de mim agora. - E se eu não aceitar? - Deixarei seu caso ir parar na justiça. Simplesmente lavarei as minhas mãos. A escolha é sua! Imaginou o que faria se perdesse tudo. Seria um sacrifício muito grande ser amante dela? Claro que seria, pensou desolada. Mas se recusasse o que diria aos seus? Diria que por moral preferiu perder tudo que ainda restava? Que não era uma vadia? Que não aceitaria pagar com seu corpo a tranquilidade sua e deles? - Você tem um minuto para dizer sim ou não. Meu tempo vale ouro! – Marcela avisou tensa. Estremeceu diante daquela mulher. Não! Nunca tinha odiado ninguém em sua vida. Mas naquele momento sentiu um ódio imenso apertar seu peito. Engoliu em seco e disse decidida. - Eu aceito! - Ótimo! Meu advogado irá vê-la amanhã. Terá notícias minhas. Obrigada por ter vindo. Carmem não soube como saiu dali e muito menos como chegou a sua casa. Encontrou a mãe e os dois irmãos reunidos na sala. Ergueram-se ao mesmo tempo olhando para ela apreensivos. Foi à mãe que perguntou agitada. - Então filha? Conseguiu? Olhou para os três com um sorriso doce. - Sim. Eles explodiram numa alegria sem fim. Ricardo correu para buscar uma garrafa de champanhe. Laura pulou nos seus braços cobrindo o rosto dela de beijos. A mãe a abraçou aliviada. Comemoram e jantaram numa euforia contagiante. Depois que os irmãos subiram para os seus quartos, a mãe a encarou perguntando curiosa. - Como você conseguiu este milagre? - Ela me recebeu pessoalmente.
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Contos de Astridy Gurgel - Então ela simplesmente decidiu esperar pelos dois anos que lhe pediu de prazo? - Não. Não foi assim. Ela vai pagar todas as nossas dividas. Vai também dar dinheiro para que eu possa estruturar a empresa. - Por quê? Porque vai fazer isto por nós? Ela te disse? - Sim. - Então me diga. Sei que tudo tem um preço. O que ela exigiu em troca? - Ela quer que eu seja amante dela – Falou olhando-a nos olhos desta vez. Alice Santiago raspou a garganta sufocada. Pegou a taça de champanhe tomando um gole lentamente. Seus olhos voltaram a fitar a filha. Ela fumava com um ar distraído. - Sabe o que dizem desta mulher? - Que é fria e cruel? - Que ela é má! - Não me deixou ter duvidas quanto a isto. - Dizem que vive num casarão monstruoso. Tem cães enormes que comem as pessoas. Quem os viu afirma que são verdadeiros lobos selvagens. Quando está em casa os empregados não podem se aproximar. É uma um a criatura melancólica que mete medo em todas as pessoas. Você a viu? Viu o rosto dela? - Não. - Não viu porque é uma louca que vive nas sombras! - Sombras? - Sim! Como os vampiros! - Você está me assustando. - Não quer saber onde se meteu? - O que esperava que eu tivesse feito? Devia ter a deixado tirar o resto que ainda temos? - Carmem... - Minha vontade foi de sair correndo sem olhar para trás – Contou desolada. - Oh filha! Desculpe! – Falou puxando-a para os seus braços com tristeza – Sei que está fazendo isto por nós. Se seu pai não estivesse naquele hospital preferia perder tudo a deixá-la passar por isto. - Eu vou sobreviver – Garantiu corajosa. - Claro que vai. Será que ela percebeu que você é... - Sim, ela percebeu. Pelo jeito andou investigando minha vida. - Nossa! Que perigosa que ela é! – Falou horrorizada - Deus queira que não seja violenta! - Não deve pensar mais nisto. Fiz o que tinha que fazer e não adianta ficar lamentando. O que importa é que estamos salvos. O advogado apareceu na empresa no dia seguinte. Abriu uma mala repleta de pacotes de dinheiro diante de seus olhos. Entregou uma promissória sem fazer qualquer comentário. Depois inclinou a cabeça e saiu sem nenhuma explicação. Carmem supôs que Marcela devia ter mandado apenas que ele 8
Contos de Astridy Gurgel entregasse o dinheiro. Sabia que ela não era de perder tempo com longas explicações. Uma mulher decidida e prática! Carmem passou cinco dias colocando as dividas em dia. Recusou-se a pensar naquela mulher e nas suas razões. Obviamente ela devia ser muito feia para precisar ter uma mulher usando de chantagem. Só o que importava era que estava podendo reconstruir sua vida. Tanto a familiar Quanto a profissional. Por um longo e interminável mês não teve notícias dela. Descobriu a razão nos jornais. Esteve viajando a negócios para a Alemanha. Falavam dos contratos bem sucedidos que assinou por lá. Não tinha foto dela nas matérias. As fotos eram sempre da Companhia. Jogou o jornal para o lado pensativa. O toque do telefone assustou-a. A secretária apareceu com a correspondência avisando enquanto estendia um papel com um endereço anotado. - Tem um jantar está noite neste local. A mulher disse que você sabia do que se tratava. Pegou-o lendo ansiosa. Mordeu os lábios dobrando o papel. Sentada a sua frente, Solange comentou sorridente. - As máquinas estão funcionando a todo vapor. O que o dinheiro não faz, não é mesmo? - Tem razão. Não estava achando muita graça naquilo. Havia um preço. Teria que transar muitas vezes para pagar tudo aquilo. O fato de ela ser mulher não ajudava muito. Sempre que foi para cama tinha um envolvimento. Naquele caso era completamente diferente. Como iria se excitar? Nem conhecia aquela mulher. Nem viu seu rosto. Devia ser feia de matar. Com certeza era horrorosa para viver escondida nas sombras. Valeria aquele sacrifício todo? E se ela fosse violenta como a mãe tinha pensado? Melhor não ficar imaginando nada. Para que adivinhar o desconhecido? A noite foi em casa apenas para tomar um banho. A mãe mostrou a mesa com o jantar servido perguntando curiosa. - Não vai jantar? - Não. Estou sem fome. - Vai ver aquela pessoa? – Perguntou baixo. - Vou. Ligou hoje. Vai dar tudo certo – Riu beijando-a no rosto – Não me espere acordada. Boa noite! - Filha? Estava diante da porta quando a mãe se aproximou correndo. - Se for muito difícil desista. Não sei mais se vale a pena. - Não tem mais volta. Esqueça. Durma bem. Uma coisa que nunca mudava era a sua palavra. Dirigiu evitando pensar até deter o carro diante de um imenso portão de grade. Dois homens aproximaram-se a olhando sem a menor simpatia. Um deles meteu uma lanterna em seu rosto perguntando frio. - Qual o seu nome? - Carmem Santiago. - Pode entrar! – Falou acenando para o outro que abriu o portão na hora. 9
Contos de Astridy Gurgel A casa que avistou enquanto circulava uma espécie de lagoa, parecia assustadora. Parou o carro saltando e olhando em volta. Não havia ninguém. Estava tudo deserto. Deu alguns passos na direção da casa. Estacou quase morrendo de susto quando viu duas feras imensas vindo em sua direção. Lembrou que de cachorro não se corria. Estacou prendendo a respiração. Ouviu um apito e as duas feras simplesmente sentaram aos seus pés. Aproveitou para olhar em volta a procura de ajuda. Uma voz de homem soou de algum lugar que ela não pode distinguir. - Vá até a casa e entre! A porta está aberta! Seu coração batia descompassado no peito. Seguiu para a casa. Entrou e fechou rápida a porta. Olhou em volta suspirando. A única luz vinha do fim do corredor. Certamente devia ir por ali. Passou rápido chegando num cômodo que imaginou ser uma sala. Olhou para o chão vendo minúsculos pontos de luz nos rodapés que iluminavam o chão. Alguém de bom senso devia ter pensado naquilo. Do contrario Era provável cair e quebrar a cabeça por ali. Suspirou olhando em volta ansiosa. Onde estaria aquela louca afinal? - Estou aqui! Suba! Ergueu a cabeça vendo vários pontinhos de luz acendendo pela imensa escada. Subiu olhando em volta enquanto tentava enxergar alguma coisa. Notando que era impossível preferiu olhar para o chão temendo cair. No alto da escada, viu uma porta aberta e os pontos de luz que levavam até lá. Seguiu mais tensa do que quando chegou. Entrou olhando em volta. Breu, escuridão e silêncio. Estacou tentando ouvir alguma coisa. Engraçado aquele silêncio. Nunca pensou que existisse uma pessoa tão silenciosa. Sabia que estava ali. Podia senti-la e até isto estranhou. - O escuro te assusta? – Marcela perguntou. Percebeu que estava próxima. Fechou os olhos aspirando o ar do ambiente. Um perfume quase imperceptível pairava a sua volta. Estava mesmo próxima. Iria agarrá-la? Ou aquilo demoraria mais tempo? Então Marcela falou novamente. - Vai se acostumar. Conhece algumas técnicas para buscar equilíbrio interior? Estendeu a mão tateando o ar. Como adoraria encontrar um e acendedor de luz para iluminar tudo naquele instante. - Não conhece – Ela concluiu atravessando o cômodo com passos suaves – Venha aqui para que possamos conversar – Marcela convidou gentil. A voz soou próxima. Ficou olhando quando ela acendeu uma lanterna iluminando uma poltrona. Percebeu que era para ela e sentou ali. A lanterna apagou e ouviu o som de copos. - Aceita uma taça de vinho? - Sim. - Respire fundo. Está muito tensa – Aconselhou tranquila. Aquilo era algum jogo? Ficarem no escuro daquele jeito era demais. Olhou em volta sem conseguir ver um palmo diante de nariz. Seria cega? Seria isto? Ou talvez fosse alguma cicatriz que precisava esconder. O rosto seria 10
Contos de Astridy Gurgel deformado? Não sabia mais o que pensar. Sentiu o contato da taça quando ela a colocou em sua mão. - Como consegue me ver? - Hábito – Marcela respondeu sorrindo. Percebeu que ela sentou e que estava próxima. Pode sentir o hálito dela em seu rosto. Levou o copo a boca bebendo um gole. Gostou bebendo mais um pouco. Sentiu a mão dela tocando seus cabelos. Prendeu a respiração. Não soube como a sentiu sentando ao seu lado. - Está tremendo – Sussurrou baixinho – Nervosa demais. - Eu... - Está assustada e morrendo de medo de mim. - Não. Só não entendo porque tem que ser assim – Carmem confessou ansiosa. - Assim? Fala do escuro? - Sim. Sinto-me insegura. - Não devia – Riu inclinando o rosto até os cabelos dela. Percebeu que estava cheirando seus cabelos. Uma das mãos acariciava suavemente. Era cega! Só podia ser. Tinha os sentidos mais apurados que o normal. Tinha tentado há pouco. Bastou fechar os olhos e aspirar para sentir a presença dela. - Por que precisamos ver os olhos? Sabe me dizer? – Marcela perguntou carinhosa. - Não só os olhos. A vida nas trevas parece ser impossível. - Não sabe por isto diz isto. Sentiu a boca dela roçando seu pescoço. Fechou os olhos sem conseguir controlar a respiração. O que devia fazer? O que podia dizer? - Me conheça – Marcela pediu num tom rouco e excitado que a fez estremecer. As mãos desceram pegando as de Carmem. Colocou-as no seu rosto. Fez o que ela pedia. Percorreu a fase dela com a ponta dos dedos lentamente. Ao mesmo tempo sentia as mãos dela percorrendo seu rosto. - São muitas as formas de ver – Marcela sussurrou baixo no ouvido dela. Ainda tocou seu rosto por algum tempo. Não tinha cicatrizes. A pele era lisa e macia. A respiração dela estava mais acelerada. Sentiu as mãos descendo por seu pescoço. As caricias eram suaves, deliciosas. As mãos chegaram aos seios neste instante. Fecharam-se sobre eles. Carmem estremeceu novamente. As mãos acariciavam seus seios despertando seu desejo. Colada à poltrona sentiu quando ela começou a abrir os botões de sua blusa. Abriu um a um com certa urgência. Depois soltou o sitiem tirando-o de uma vez. Nua a disposição dela fechou os olhos tentando não sentir. Marcela escorregou para o chão enfiando-se mansamente pelo meio das pernas dela. Carmem estendeu as mãos agarrando-se aos braços da poltrona. A língua passava pelos lábios terrivelmente seca. Marcela estava sugando a cada instante um dos seios. Sua língua era a coisa mais maravilhosa do mundo. A boca era extremamente macia. Percorria os bicos dos seios quase a levando a loucura. Desceu uma das mãos afastando a calçinha com suavidade. 11
Contos de Astridy Gurgel Os dedos correram no sexo enquanto um gemido de prazer escapou de seus lábios. A mão fazia movimentos cada vez mais rápidos. A boca continuava revezando entre os seios. Neste momento Carmem não conseguiu segurar mais. Um gemido escapou de sua garganta. O corpo tombou para frente enquanto o prazer explodia em suas entranhas. A boca de Marcela deixou seus seios. Ela sentou ao seu lado acariciando seus cabelos e comentando feliz. - Que bom que não tem uma namorada para morrer de ciúmes de você. Carmem estava colocando o sitiem e fechando f echando blusa e nada disse. - Fui rápida demais? - Não – Carmem respondeu baixo. - Vai ser melhor da próxima vez – Prometeu roçando a boca na orelha dela – Acha que vai querer me tocar? - Sim. - Mentirosa – Acusou levando a mão ao meio das pernas dela. Carmem gemeu e ela riu divertida – Vou fazê-la querer me tocar. Vai ver – Marcela prometeu confiante. - É tarde... - Vou levá-la até a porta. Ergueu-se pegando sua mão. Achou incrível como andou normalmente pela casa escura até chegar à porta. Abrindo a porta Marcela gritou para os cães. - Rei? Mambo? Entrem! Carmem correu escondendo-se atrás dela. Marcela sorriu protegida da luz que vinha dá lua lá fora. Os cães passaram correndo por elas. Ela pegou a mão de Carmem dizendo baixo. - Vá. Boa noite. No dia seguinte quando entrou em sua sala chamou a secretária. Solange entrou com o bloco de anotações na mão. - Esqueça isto, quero outra coisa. - O que é? – Solange perguntou curiosa. - Consiga uma foto de Marcela Alvarez para mim. - Ouvi dizer que ninguém nunca a viu. - Como nunca a viram? Ela sai de casa todo dia para trabalhar. Algum repórter deve ter alguma foto. Se a imprensa tem foto minha, obvio que devem ter dela também. Procure que vai achar. - Vou ver o que posso conseguir. No fim da tarde, quando Solange entrou em sua sala, ficou ouvindo admirada enquanto ela explicava o que o pessoal da imprensa tinha dito. - Ninguém nunca a viu. Já cercaram a casa dela. Fizeram de tudo. Só anda em carro com vidro escuro. Quando tentam no aeroporto ela desaparece como por encanto. Tem repórter que passa os dias na caça dela. Quem conseguir a foto vai ficar famoso. - Mas... – Carmem se calou chocada. - Quer saber as coisas que ouvi sobre ela? - O que você ouviu?
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Contos de Astridy Gurgel - Dizem que ela tem o rosto todo deformado. Outros que têm uma doença terrível. Os cabelos caíram e ela tem feridas espalhadas por todo o corpo. Vive cercada de lobos assassinos no casarão onde mora. Dizem que manda cortar cabeças. Os empregados tremem de medo só de ouvir seu nome. - Mais alguma versão? – Carmem perguntou pegando um cigarro e olhando-a com deboche. - Ela vive no escuro. Afirmam que só se veste de preto. Arrasta-se pelas sombras. Tipo aqueles filmes de terror que vemos na televisão. Sabe? Já deve ter visto um filme assim. - Pelo amor de deus! Não acredito que perca tempo com tanta bobagem! - Dizem que é uma vampira e que dorme num caixão! – Solange insistiu assustada. - Que absurdo! Tem alguma informação real e plausível? - Bem, tem aquela versão de que é uma bruxa... - Para! – Pediu apontando a porta – Pode ir. Obrigada. Solange saiu e ela andou pela sala suspirando. Que loucura coletiva era aquela? Seria possível que todos acreditassem mesmo naquelas fantasias? Ela não tinha o rosto deformado e nem feridas pelo corpo. Não lhe faltava nenhum fio de cabelo na cabeça. Também não se arrastava. Andava Normalmente como qualquer ser humano. Não tinha feras e sim dois cachorros bravos. E não era uma vampira porque se fosse teria bebido boa parte do seu sangue. De onde teria vindo tanta bobagem? Suspirou passando a mão pelos cabelos. Estava com fome. Saiu de casa sem comer nada. Olhou o relógio dando-se conta que já passava das cinco. Pegou sua bolsa descendo rápido para o restaurante mais próximo. Sentou pedindo um prato suculento. Estava distraída comendo quando seus olhos caíram na mulher que vinha na direção da sua mesa. Estava toda de preto. Os olhos estavam ocultos por óculos escuros. Andava com uma sensualidade impressionante. O corpo escultural deixou Carmem de boca aberta. Passou por sua mesa seguindo para o toalete feminino. Voltou o rosto acompanhando o movimento sensual daquele corpo até desaparecer pela porta. - Nossa! – Suspirou voltando a comer com um sorriso nos lábios. Por que Marcela Alvarez não era como aquela mulher? Se fosse tudo séria mais fácil. Voltou para sua sala. Ainda tinha alguns documentos para liberar antes de ir para casa. Solange avisou que tinha uma ligação para ela. Girou a cadeira na direção da janela enquanto atendia. - Sim? - Carmem? Sentiu o sangue correr mais rápido nas veias. Que voz que ela tinha! Apertou o aparelho pegando um cigarro. - Sim. Sou eu – Carmem respondeu agitada. - Quero te ver hoje. - Hoje? 13
Contos de Astridy Gurgel - Vai começar a ficar ocupada? - Não. Claro que não. - Melhor – Marcela riu satisfeita. - Não podia ser em outro lugar? - É normal temer o desconhecido. - Não! Não é isto. Só acho a sua casa muito sinistra. - Sinistra? Vamos, não acredita nas bobagens que falam sobre mim. Achou que estava tocando num monstro ontem quando sentiu meu rosto? - Não. De forma alguma. - Devo acreditar? Parece que está morrendo de medo. - Pois não estou! – Carmem respondeu baixo. - É mesmo? Estou tentando acreditar. Espero você. À noite os cães não apareceram quando ela desceu do carro. Achou curioso como percorreu com mais segurança e rapidez o caminho que a levou até o alto da escada. Seguiu as luzinhas até entrar no quarto onde tinha estado na noite passada. Seria mesmo um quarto? Naquela escuridão enervante não sabia de nada ao certo. Aquela situação mexia com seus nervosos. Uma casa estranha e escura. Uma mulher misteriosa e obscura que não conseguia ver. Um silêncio irritante que a fazia se sentir cada vez mais impotente. Era fato que estava nas mãos dela. Justamente por isto se sujeitava as suas regras. Mas até quando teria Paciência para seguir com aquilo? Sentiu o hálito dela junto de seu rosto. A boca escorregou por sua pele, passando lentamente por seus lábios. Era isto que a sufocava. Como ela podia enxergar tão bem naquele breu, quando ela mal via uma sombra a sua frente? - Sabe onde estamos? – Marcela perguntou. - Não... - Vai saber. Pegou sua mão guiando-a pelo local escuro. Acendeu uma lanterna mostrando uma cama de casal. - Seu quarto – Carmem comentou. - Viu como é fácil? Venha. Puxou-a com suavidade para os seus braços e deitaram juntas. Ali ela se afastou começando a se despir. Carmem ficou quieta esperando. - O que faz quando leva uma mulher para a cama? – Marcela perguntou num tom meigo. - Não entendo sua pergunta. - O que faz antes de transar? - Tiro a... Roupa? – Carmem perguntou confusa. - Então tire. Por favor. Tirou a roupa tendo consciência de que ela estava ali esperando paciente. Ao menos isto, ela era calma! Aquilo há deixava um pouco mais confortável. Quando terminou, as mãos de Marcela começaram a tocar seu corpo. Pegou as mãos dela colocando sobre seus seios. - Vamos, conheça-me melhor. Saberá se sou o monstro que afirmam – Marcela pediu num tom íntimo.
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Contos de Astridy Gurgel Será que alguma pessoa conseguiria ficar fria numa situação como aquela? Carmem perguntava-se isto enquanto acariciava o corpo dela de forma mais íntima. Os gemidos loucos dela logo se misturaram aos seus. Estavam de frente uma para a outra se acariciando mutuamente. - Quando fecha os olhos e toca a pele, pode ver com as mãos. Pode sentir o cheiro. Se imaginar pode sentir tudo. Olhe para mim – Marcela pediu erguendo o rosto dela. - Estou olhando – Carmem respondeu pensando que ela era louca. Pediu para olhar para ela naquela escuridão. Estava olhando para frente porque sabia que ela estava sentada na sua frente. Como iria vê-la? Não via nem o seu próprio corpo. - Me vê? - Ah... - Mas me sente – Sussurrou agarrando mais as pernas dela e puxando-a mais para perto de seu corpo. Assim com as pernas abertas sentiu-a buscando seu sexo com extrema sensualidade. - Ah... Carmem fez o mesmo entregando-se sem reservas. Sua cabeça estava a mil por hora. Que loucura era aquela? Seu corpo se dava e a buscava sem se conter. Estremeceu quando percebeu o quanto estava excitada. Há quanto tempo não sentia uma mulher assim? Fechou os olhos deixando o corpo viajar junto dela. Ficaram assim até gozarem intensamente. Marcela tombou a cabeça sobre o ombro dela relaxando. Algum tempo depois se afastou acendendo dois cigarros. Entregou um para Carmem sorrindo meiga. - Por que fala tão pouco? Carmem tragou olhando atentamente a brasa do cigarro dela a sua frente. - Não sei. - Você me odeia? – Marcela perguntou baixo. - Não sei. - Talvez não. Acho que tentou no início, mas não conseguiu cultivar o ódio. - Não costumo odiar ninguém. - Eu sinto que não. Você é dedicada à família. - Deixe a minha família fora disto – Carmem pediu agitada. - Não é por eles que está aqui? - Não só por eles. Também por mim. Pela empresa. - Tudo bem – Riu acariciando a perna dela com suavidade – Mas você já transou por transar antes. Não é a primeira vez. Eu sei. - Não pode saber – Marcela comentou surpresa. - Mas eu sei. Eu sinto. - Bobagem! – Suspirou virando o rosto. - Fica curiosa tentando saber como eu sou? - Fico – Falou suspirando – Você é cega, não é? - Por quê? Se eu for vai perder a vontade de transar comigo? - É só uma pergunta – Carmem explicou. 15
Contos de Astridy Gurgel - Uma pergunta tola demais para ter uma resposta. - Só acho que isto parece um jogo, sabia? Um jogo muito chato se quer minha opinião. - Mas não é um jogo. Sabe o que é melhor nos seres humanos? Não conseguimos controlar nosso desejo. Você gostaria de ficar fria. Adoraria não se excitar. Seria uma forma de me castigar, não é? - Está louca... – Carmem riu sufocada. - Hum! – Marcela fez o som baixinho pegando o cigarro da mão dela – Não vamos brigar. Veja – Pegou a mão dela colocando em seu sexo novamente. Carmem gemeu involuntariamente. Seus dedos deslizaram ali sem que pudesse se controlar. Marcela empurrou-a para a cama até que ela deitasse. Desceu com a boca roçando seu corpo sensualmente. Chegou ao sexo dela abrindo suas pernas mansamente. A boca perdeu-se nele quase levando Carmem ao delírio. Rápida, deitou-se sobre ela pedindo em seu ouvido. - Me toque. Carmem tocou-a adorando fazê-lo. Quando ela gozou escorregou fugindo de seu corpo. Pegou as suas roupas vestindo no escuro sem reclamar. Quando terminou ela estava sorrindo roucamente ao seu lado. - Viu como a gente se acostuma fácil? Carmem se ergueu suspirando. - Boa noite, Carmem! – Marcela falou calma. - Não vai me levar até a porta? - Não – Falou baixo – Precisa começar a conhecer os meus caminhos. - Então... Vou indo. - Vá. Quando entrou em casa a mãe estava à espera dela. Não negava que estava evitando ter aquela conversa. Sabia que ela estava curiosa. Todos tinham curiosidade sobre Marcela. Parou fitando-a fit ando-a séria. - Mãe? Ainda acordada? - Não acha que temos que ter uma conversa? - Prefiro não ter – Falou fechando a porta – Estou morta de cansada! - Não vai me dizer como ela é? - Não é diferente. É só mais uma mulher! - Mas e as coisas que dizem dela? Tem mesmo m esmo cicatrizes? - São bobagens... – Carmem respondeu rindo. - Tem certeza? - É só uma mulher comum. Boa noite! - Mas... Fugiu porque não queria falar sobre ela. O que poderia dizer? Que não a tinha visto? Que se encontravam no escuro? Como explicar que estava participando de algo tão irreal? Sua mãe não entenderia. Ninguém entenderia. Estava vivendo uma loucura sem explicação. Jogou-se em sua cama pensando nos momentos passados ao lado dela. Não podia negar que estava sendo delicioso transar com ela. O corpo dela devia ser bonito. Não via, mas sentia. Engraçado conhecer um corpo só pelo toque. A pele dela era deliciosamente 16
Contos de Astridy Gurgel macia. Por que não a beijava? Estava sentindo falta dos beijos. Que gosto teria os lábios dela? Suspirou rolando na cama. Por que estava pensando assim nela? Não podia se envolver. Devia ser apenas sexual. Será que ela iria exigir que fosse fiel? No dia seguinte desceu mais animada para o café da manhã. Sentou percebendo a expressão estranha do irmão. Olhou para ele confusa. Ele abaixou a cabeça para a torrada que comia. - O que aconteceu? Por que está com esta cara? - Carmem perguntou desconfiada. - Eu bati o carro ontem. - Você se machucou? Como foi que aconteceu? - Estava fazendo pega. Sabe como é. Entrei mal numa curva – Contou rindo. Carmem virou mais café em sua xícara falando enquanto o olhava fixamente. - Dê graças a Deus por estar vivo! - Isto acontece a todo o momento. Todos meus amigos já capotaram. - E daí? O que você quer? - O carro acabou. Perda total. Mamãe mandou falar com você. A mãe entrou neste momento. Beijou os dois e sentou servindo uma xícara de café. - Está querendo um carro novo? – Marcela perguntou chocada. - Por que não? Carros acabam! Qual é? – O irmão perguntou num tom arrogante. - Para destruí-lo também? Qual é digo eu! – Explodiu nervosa – O que está pensando da vida? Se acha mesmo que tem idade para dirigir então devia começar a trabalhar. - Você não é meu pai! – Ele falou nervoso. - Não sou mesmo! Se eu fosse não teria te dado um carro como ele te deu. O seu pai está quase morto num hospital. As coisas mudaram muito. Nós quase perdemos tudo que tínhamos. Faz ideia de quanto devemos? – Carmem perguntou sem acreditar na reação violenta dele. - Qual é? Mãe? Vai deixá-la mandar na gente agora? A mãe olhou para ele colocando a xícara sobre o pires paciente. - Sua irmã tem razão. As coisas mudaram. Precisa entender que... - Mudaram droga nenhuma! Não vou ficar f icar andando a pé se... - Cale essa boca! – A mãe ordenou batendo na mesa com raiva – Deixe sua irmã tomar o café da manhã em paz! É a única que se mata de trabalhar nesta casa! Por que não procura ajudar para variar? - Mas... - Deixe-me com sua irmã! – Pediu olhando para Carmem preocupada. Ela estava rodando a xícara no ar com o olhar perdido. Nem viu o irmão saindo de cara fechada. Percebeu que a filha não estava bem. - Isto está tirando a sua paz, não é Carmem? O que tirava a sua paz não era a situação, era Marcela. Sorriu balançando a cabeça meigamente. 17
Contos de Astridy Gurgel - Só um pouco. Só até me acostumar. - Está sendo assim tão t ão penoso? Penoso? Estava sendo delicioso pensou suspirando. - Não. Não é isto – Carmem riu brincando com o dedo na boda da xícara. - Então o que é? Ela está te forçando? f orçando? É isto? - Claro que não. - Então você está gostando de estar com ela? - Se ela fosse um homem eu estaria odiando – Falou se erguendo. - Filha? Será possível que esteja gostando de estar com essa mulher odiosa? – Perguntou chocada. Carmem olhou em volta respirando fundo. - Tenho que ir. Vou passar no hospital. Sobre o carro não vou comprar outro! Não posso esbanjar dinheiro. Quanto mais rápido pagar essa divida, melhor! Até mais. Passou no hospital e viu o pai. O quadro era o mesmo. Conversou um longo tempo com o médico dele. Não lhe deu nenhuma esperança quanto à recuperação. Seguiu para o trabalho triste com aquela notícia. Realmente a empresa estava funcionando a todo vapor. Nesta manhã quando saiu com o encarregado geral para uma vistoria, sentiu um grande Alívio. Antes as maquinas estavam parando uma a uma. Andou com ele decidindo algumas mudanças e dando ordens a amanhã toda. Quando subiu recebeu os recados dos telefonemas que recebeu enquanto esteve fora. Retornou a maioria resolvendo tudo rapidamente. Quando conseguiu respirar começou a pensar em Marcela. Sabia que não podia ficar lembrando-se dela a toda hora. Tinha que ver outra mulher para tirá-la da cabeça. Pegou o telefone discando para Paula, um antigo flerte do passado que tinha retornado para o Brasil. - Paula? Recebi seu recado. Quando voltou? - Ontem! Como vão as coisas? Ainda está solteira? - Estou sim – Carmem respondeu confiante. - Quer jantar no meu apartamento está noite? - Mas é lógico. Apareço lá pelas nove. Beijos! Por que não transar com Paula? Ela era uma boa companhia. Trabalhava feito uma louca e podia muito bem encontrar uma velha amiga sem sentir mal estar com isto. Aquela pressão a deixava fora de si. O pai no hospital. Aquela divida imensa. As futilidades do irmão adolescente. E agora aquela mulher que nem podia ver e que não conseguia tirar da cabeça. E se saísse e cruzasse com ela sem saber quem era? Seria possível? Claro que não! Ou seria possível? Solange entrou com uma expressão séria na sala. - Está aí a empresaria que marcou uma reunião com você. Lembra? - Como é o nome dela? – Carmem perguntou distraída. - Maria Dantas! Mando-a entrar? - Claro! Ah! Mande trazer café e água. Obrigada! 18
Contos de Astridy Gurgel Solange abriu a porta convidando a mulher. Carmem se ergueu para recebê-la. Surgiu ali uma mulher charmosa. Estava toda vestida de preto. Caminhou para Carmem apertando sua mão sem sorrir. - Senhorita Santiago? É um prazer conhecê-la! - Digo o mesmo. Sente-se! – Carmem convidou apontando a cadeira e sentando também. Seus olhos percorreram o decote ousado da blusa de botões. Os dois primeiros estavam abertos deixando entrever o colo bonito. Cruzou as pernas estendo uma boca de bico fino maravilhosa a sua frente. Carmem sorriu apontando a bota. - Italiana! Imagino! - Sim – Concordou fitando as botas por um segundo – São deliciosas. - Bem, vejo que estamos na mesma área – Carmem comentou voltando ao assunto de negócios – Eletrônicos! Bom, muito bom! Maria se mantinha olhando-a atentamente. Imaginou que a estava avaliando. Os olhos dela percorriam seu rosto com muita atenção. - Computadores! – Maria falou f alou saboreando a palavra. - Computadores – Carmem repetiu rodando uma caneta entre os dedos – Entendo. - O momento é ideal para a informática! Não acha? - Claro. - Estes aparelhos eletrônicos que continua fabricando sairão do mercado em poucos anos. É preciso prever o futuro nesta área – Maria explicou animada. - Realmente tenho estudos aqui que mostram que a informática é o negócio do futuro. - Tenho aqui a proposta de um acordo que talvez possa te interessar. Carmem pegou a pasta começando a ler atenta. Quando terminou ergueu os olhos percebendo que ela a observava atenta. - É uma proposta tentadora! – Comentou tranquila. - Posso modernizar sua empresa num piscar de olhos – Maria prometeu. - Me propõe uma sociedade. - Exato! Se aceitar logo será uma mulher rica. Se é que quer ser rica. - Quem não quer? – Carmem perguntou rindo suavemente. - Então? - Terei que pensar. Vou reunir minha equipe e sondar as possibilidades. As coisas andaram mofando por aqui. Ainda estou jogando o lixo fora! Maria pegou uma cigarreira tirando um cigarro. Acendeu oferecendo a Carmem. Ela recusou sem deixar de observá-la. Maria sorriu olhando em volta. - Muito bem. Então deve mesmo pensar. Gosto de lidar com gente sensata. O que acha de um jantar essa noite? – Maria perguntou gentil. Jantar com aquela mulher bonitona? Será? Lembrou-se de Paula e riu gentil. - Adoraria, mas já tenho um compromisso. - Ah sim. Pensei que era livre.
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Contos de Astridy Gurgel - Sou sim – Riu agitada – Mas me comprometi mais cedo e não posso cancelar. - Ligo para saber sua resposta. Se aceitar só terá a ganhar. Passe bem! Assim que ela saiu Solange entrou chamando-a para almoçar. Foi com ela. Voltaram quase às duas da tarde. Foi sentando e ela avisou que tinha uma chamada. Pegou o telefone naquele instante distraída. - Alô? - Como foi o almoço com a sua encantadora secretária? – Marcela perguntou direta. - Está me seguindo? - Não – Riu sensualmente do outro lado – Apenas sei tudo que você faz. - Como? - Tenho meus métodos. - Isto é um absurdo! Não tem este direito! - Será? Temos ideias diferentes. Calou-se pegando um cigarro. Aquilo era o fim. O que podia dizer? - Venha jantar comigo esta noite - Marcela convidou meiga. - Bem... Tenho um... - Se transar com outra mulher as coisas vão se complicar – Avisou num tom afetuoso – Não costumo ser ciumenta. Mas não pretendo abrir mão de sua companhia. - Na verdade é uma amiga que chegou de Londres e quer me ver... – Marcela justificou mentindo descaradamente. - Uma ex-amante! Não contou para ela da nossa amizade? - Claro que contei – Mentiu novamente. - Perfeito! Venha as nove! Estou ansiosa – Marcela concluiu desligando. - Mas... Chegou pontualmente como sempre. Entrou estacando ao ver uma vela acesa num castiçal no centro da mesa de jantar. Viu uma mulher em pé sem poder distinguir seu rosto. - Boa noite. Sente-se! – Marcela falou de sua cadeira. Viu que Marcela estava sentada do outro lado da mesa. A mulher provavelmente era a criada. Sentou procurando-a com os olhos ansiosos. Pode vê-la, mas não o seu rosto. - Pode servir o vinho – Marcela falou para a mulher que obedeceu na hora. Quando serviu, ela agradeceu num tom baixo. Em seguida ergueu a taça t aça comentando gentil. - Estava te esperando para jantar. Importa-se? - Não – Carmem respondeu. - Desmarcou com sua ex? - Desmarquei sim. Mas não é minha ex. - Como vão os negócios na sua empresa? - Agora as mil maravilhas. - Graças a mim – Marcela comentou convencida. 20
Contos de Astridy Gurgel Engoliu em seco recostando na cadeira. Pegou a taça de vinho tomando um gole. A resposta veio com um sorriso irônico. - Estou pagando muito bem por isto. Esqueceu? – Carmem perguntou se controlando ao máximo. - Oh não! De maneira nenhuma. Quis o destino que nos cruzássemos. Você se revelou uma grata surpresa. Pensei que teria que brigar muito para levá-la para a cama. - Não seja deselegante. Sabe que não estou em condições de lutar. Você não queria uma mulher difícil, ou queria? – Carmem perguntou para provocá-la. - Acho que você desejava no fundo do seu inconsciente, viver uma fantasia assim - Marcela falou f alou convencida. - Você é louca! - Se for verdade nunca vai confessar. Talvez não acredite, mas te conheço mais do que você imagina. - Isto é impossível. - Não! Deve admitir! Vejamos! – Calou-se pensativa – Você contou para sua mãe a nossa conversa pessoal. Contou que aceitou ser minha amante. - Por que acha que contei? - Tenho certeza. - Não esteja tão certa. - Você ia jantar com sua amiga para transar com ela. Não suporta quando fica pensando em mim. Queria me esquecer nos braços dela. - Não sou assim. Esta redondamente enganada. - Carmem! – Riu ao pronunciar o nome dela – Você é completamente transparente. Está louca de curiosidade para me ver. Isto te está confundido e perturbando tanto que não está dando conta. Admirada, desviou os olhos da direção dela pegando a taça de vinho. Bebeu um bom gole deixando a taça sobre a mesa se justificando. - Queria ver se fosse você no meu lugar. - Cresci sozinha, sem ninguém! Minha mãe morreu quando tinha seis anos de idade. Meu pai me mandou viver com minha tia na Inglaterra. Eu o via um ou duas vezes por ano. Ele vivia ocupado com seus casos. Quando ele morreu voltei para assumir os negócios. A solidão ensina muitas coisas. Você cresce e aprende a se virar sozinha. Vê o deserto a minha volta? Não tem ninguém que eu deseje tão próximo. A única pessoa que decidi permitir foi você. Desde a primeira vez que te vi eu te desejei intensamente. - Estava lá quando conversei com seu advogado? - Claro que estava. Fiquei me deliciando com a sua imagem. - Sempre faz chantagem quando deseja uma mulher? m ulher? - Fiz chantagem com você? - Não fez? – Carmem perguntou agitada. - Ora, por favor! – Pediu delicadamente – Não seja dramática. O mundo é assim mesmo. Os mais ricos engolem os mais pobres. Você teria vindo para a minha cama de outra forma? - Julga-se tão sem atrativos para seduzir uma mulher? 21
Contos de Astridy Gurgel O riso dela chegou até Carmem desta vez mais íntimo. - Está noite vai dormir comigo. Terá a sua resposta com a luz do sol – Marcela avisou sem perguntar o que ela queria – Poderá me dizer se preciso destes meios para ter uma mulher como você na minha cama. - Não posso dormir... - Pode e vai! Ligue para sua mãe. Precisamos nos conhecer melhor. Não temos mais que adiar isto. - Adiar o que? - Sua mudança para está casa – Contou tranquila – Giana? - Sim? – A criada perguntou solicita. A criada apareceu na hora. Ficou surpresa ao vê-la surgindo das sombras. Aquela casa vivia nas sombras. Como iria conseguir viver ali? E dormir todas as noites nos braços dela? Não podia! Seria o fim da sua paz. Não podia gostar dela. Marcela terminou seu vinho dizendo meiga. - Sua mãe vai saber entender. Ela deve ter percebido o quanto preciso de você – Marcela comentou tranquila. - Espere – Falou sufocada – Não posso morar aqui. Tenho problemas. Meu pai no hospital. Ontem mesmo meu irmão bateu o carro. - Destruiu o carro num pega, não foi? Mas a sua irmã tem ótimas notas na faculdade. Ela pode se cuidar sozinha. - Como sabe destas coisas? - Sei tudo sobre você. Nada acontecerá com a sua família. Eu cuido de tudo para te deixar tranquila. - Quem pensa que é? Deus? Acha que vou permitir que domine a minha vida desta forma? - Penso sim. - Oh não! Não mesmo – Carmem explodiu afastando a cadeira nervosa. - Vai embora? - Você é louca! Não vou permitir que se meta com a minha família. Vou... - Pois vá. Mas não volte pedindo desculpas. Vai perder tudo assim que cruzar o portão. Todos rezam para não me conhecer. Talvez você também comece a rezar. O monstro existe sim. Você vai querer nunca ter cruzado o meu caminho. Estacou paralisada. Um sentimento estranho apertava seu peito. Não tinha como lutar contra ela. Aceitou a primeira imposição. Podia sim virar as costas e partir dali. Mas e a sua família? Suportariam perder tudo? Por mais que desejasse cuidar da empresa começava achar que aquele preço era alto demais. Voltou-se lentamente caminhando até a cadeira. Sentou-se ali emudecida. O jantar aconteceu num clima péssimo. Marcela parecia nem estar presente. Carmem mexia no prato sem conseguir engolir nada. Percebeu que ela também não estava comendo. Pensava numa maneira de se livrar dela. Como iria viver ali com ela? Se aquela primeira noite seria o reflexo das outras não queria nem pensar. Não soube como ouviu a voz dela ao seu lado. - Vamos para o quarto. Amanhã terei um dia cheio. 22
Contos de Astridy Gurgel Subiu com ela sem ouvir seus passos. Achava impressionante como ela conseguia se mover sem fazer o menor ruído. No alto da escada, ia seguir as luzinhas, mas a mão dela pegou a sua. Marcela a guiou numa outra direção. Ouviu a porta abrindo e entraram. Olhando em volta Carmem pediu sem aguentar mais. - Pelo amor de Deus! Não podia acender a luz um minuto que seja? Não ouviu nenhuma resposta. Nada! Ficou parada ali se sentindo horrível. Viu uma luz surgindo a sua frente. Viu-a parada na porta. Estava de costas. Ela entrou fechando a porta e Carmem soube que era o banheiro. Ainda estava parada ali quando ela retornou. Tentou ver seu rosto, mas Marcela passou apagando a luz. - Já sabe onde é o banheiro – Falou baixo – E a cama. Viu uma luzinha que mal iluminava no alto do teto. Viu o vulto dela parada ao lado de uma cama de casal. Estava tirando a colcha em silêncio. Ali seria o novo local da tortura? Foi para o banheiro suspirando. Fez hora de propósito. Queria irritá-la, deixa-la furiosa! Quando voltou para o quarto não ouviu nenhuma queixa. Deitou ao lado dela apenas de calçinha. Deitou vendo a luzinha se apagar no teto. Sentiu as mãos dela envolvendo sua cintura. Ficou fria. Procurou pensar em outras coisas. Pensou no pai. Depois na empresa e por fim na proposta de Maria Dantas. Talvez fosse o caminho para livra-se dela. Pagando aquela divida não teria mais que se sujeitar. Sentiu a boca dela chegando aos seus seios. Fechou os olhos ainda querendo não sentir. Mas seu corpo foi fraco e não colaborou. Quando se deu conta estava rolando na cama com ela. O sol estava claro quando abriu os olhos as sete da manha. Olhou em volta confusa. Lembrou onde estava e porque estava ali. Estava sozinha na cama. Será que tinha saído sem acordá-la? Sentou observando o quarto com atenção. Havia duas janelas grandes bem a sua frente. As cortinas eram vermelhas e vinham até o chão. Um quarto imenso e muito luxuoso. Deixou a cama pegando a calçinha entre as cobertas. Voltou com o ruído da porta do banheiro se abrindo. Seus olhos se arregalaram admirados. A aparência rude lhe chamou atenção no primeiro minuto. Os cabelos eram grandes e negros. Pode ver alguns fios brancos perdidos ali. A expressão era triste. E os olhos, pretos, profundamente melancólicos. Os lábios eram cheios e carnudos. Perfeitos! Deram-lhe água na boca na hora. Era alta e muito charmosa. O corpo maravilhoso de formas perfeitas. Ela era uma coisa de louco. Seu coração disparou tal à emoção que sentia naquele momento. Estava toda de preto. Vestia uma calça preta de couro bem justa, que marcava seu corpo deixando-a terrivelmente sex. Usava uma blusa de fecho que estava aberto até o início dos seios. Calçava uma bota magnífica, de bico fino e... Italiana. Teve vontade de rir. Uma vampira? Imagine! Ela era uma deusa, uma rainha, uma perdição na sua vida. Ergueu os olhos até encontrar os dela. Os olhos negros enfiaram dentro dos seus. Olhava-a de forma superior e com certo ar de zombaria. Um sorriso malicioso brilhou em seus lábios neste momento. Teve que admitir que os dentes dela eram lindos de morrer. - Gostou? – Marcela perguntou curiosa. 23
Contos de Astridy Gurgel Riu para disfarçar o efeito que ela tinha causado. Precisa recompor-se longe dos olhos dela. Por isto falou olhando-a com descaso. - Não seja convencida. Isto é ridículo! No banheiro mirou o espelho ainda em choque. Não era a primeira vez que a via. Não iria admitir para ela que se lembrou daquela noite. Era o jantar de aniversário da sua mãe. Ela estava sentada numa mesa bem a sua frente. O lugar estava lotado. Tinha sido numa sexta-feira. Passou a noite toda tomando champanhe e comendo-a com aqueles olhos negros. Tinha flertado descarada mente com ela a noite noit e toda. Nunca mais esqueceu Aqueles olhos. Não pensava nisto com regularidade, mas imagem dela sempre voltava a sua mente. Era ela! Então era verdade que ninguém nunca a tinha visto. Esteve naquele restaurante cheio de gente da alta sociedade e da imprensa sem que soubessem que era Marcela Alvarez. Seria por isto que se escondia? Para ter privacidade? Para poder ir e vir sem ser reconhecida ou incomodada? Seria realmente por isto? Para ter t er liberdade? Quando desceu, ela lia o jornal na mesa do café. A criada se aproximou servindo suco num copo a sua frente. - Bom dia! Obrigada! – Carmem agradeceu meiga. Marcela continuou lendo por alguns minutos. Sem tirar os olhos do jornal comentou com ela. - As ações de sua empresa continuam subindo. Parabéns! - Vejo que acompanha tudo bem de perto. - Sim. Não aprecio perder dinheiro. Tomando metade de seu suco, Carmem riu pegando um pedaço de bolo. - Quanto a isto não tenho duvidas. - Você se lembrou, não foi? – Marcela perguntou pegando-a de surpresa. Estremeceu abaixando os olhos agitada. - Era aniversário de sua mãe. Você estava linda e radiante. Sempre que percebia meu olhar ficava corada. Ficou flertando comigo o tempo todo. Estava de preto como agora. Suspirou continuando de olhos baixos. Não sabia por que se deixava afetar tanto. Não queria falar daquele assunto. Tinha olhado para ela porque a achou linda. Ficou excitada e bastante curiosa. Imaginou se seria nova na cidade. Voltar-se-iam a encontrar outras vezes. Tantas coisas passaram por sua cabeça naquela noite. Jamais supôs que voltaria a encontrar com ela na circunstância em que se reencontraram. Não pensou que seria quase sua escrava sexual. Não era assim que a tratava? Como um objeto sexual? - Imagino que esteja pensando alguns absurdos. Você não está presa aqui. Poderá vir e ir todos os dias. Apenas quero que viva aqui comigo sem queixas e mau humor! - Vai ser uma vida adorável – Comentou para provocá-la. - Vai mesmo! Desviou olhos dos dela corando.
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Contos de Astridy Gurgel - Bom! Não posso mais ficar. Não se preocupe porque os cães estão presos. Vejo-te a noite. Carmem passou pelo hospital para ver o pai. Sentia-se cada vez mais desolada vendo-o ligado a todos aqueles aparelhos. Seguiu para o trabalho pensando como a sua vida tinha mudado desde que voltou para o Brasil. A tarde convocou seu advogado para analisar a proposta de Maria Dantas. Ele a convenceu que era um excelente contrato. Ligou para ela comunicando sua decisão. Marcaram uma hora para assinar a papelada no dia seguinte. Quando deixou a empresa foi para a casa da mãe. Precisava fazer sua mala e contar que iria morar com Marcela. Alice a ouviu chocada. Não disse nada, o que deixou Carmem aliviada. Estava em seu quarto separando suas roupas quando ela entrou. Não parou. Continuou fazendo a mala silenciosa. - Vim dizer que acho isto um absurdo! Será possível que não possa lutar contra ela? - Como? Ela me tem nas mãos. Não tenho como fugir. - Pelo menos te trata bem? - Não me trate mal. - Lógico! Ela te seduz! Está te conquistando com sexo! – Lamentou amargurada. - Não sei. - Não sabe? Não sabe o que ela está fazendo? f azendo? Não enxerga? - Ora eu não sei! Estou tentando não me envolver! Tento ser fria, distante. Mas não é fácil. A senhora não sabe como é. - Ela é bonita? - Sim. - O que quer dizer com sim? - É bonita! Muito bonita. Tanto que me causa medo. Olhe, eu sou humana e tenho meus anseios. Por mais que eu não queira não estou morta. Meu corpo reage! O desejo me domina. Não consigo evitar. Ela é prepotente e arrogante. Mas estou lá e não posso evitá-la. - Isto é deprimente! Que tenha que se sujeitar assim para ela. Devia se negar! Você sabe, na cama! Não faça! Diga não! Encarou a mãe sufocada. Balançou a cabeça suspirando. - Eu digo que não sou de ferro. Que tento, mas a carne é fraca. Você não sabe como é. O que acontece nessa hora. Acha que gosto disto? De me entregar assim justamente para ela? Por favor, mãe, não me torture! Ela é ardilosa e soube me pegar numa armadilha. - Certo! – Suspirou abrindo a porta – Só não vá sumir aqui de casa. Venha nos ver sempre que puder. - Quanto a isto não se preocupe – Falou mandando um beijo para ela. Quando entrou na casa viu várias velas acesas iluminando toda a sala. Marcela estava sentada na poltrona lendo um livro. Fechou-o se erguendo com um lindo sorriso. 25
Contos de Astridy Gurgel - Boa noite querida! Posso ganhar um beijo? Foi até ela sem resistir. Assim iluminada pelo reflexo das velas estava lindíssima. Seu coração disparou enquanto beijava o rosto dela suavemente. Afastou-se sentando próxima a ela. - Você é muito doce, sabia? - Sou? - É – Riu indo até o barzinho – O que você bebe? - Uísque. Serviu vindo sentar. Cruzou as pernas olhando há por alguns instantes. - Trouxe a sua mala. Gostei. Não falou. Apenas bebeu um gole do seu drinque. - Sua mãe deve ter t er ficado decepcionada com você. - Por favor... - Perdão! - Estou cansada. - Farei uma massagem – Respondeu sentando próxima a ela. As mãos chegaram aos ombros iniciando com movimentos lentos. Aos poucos Carmem ia relaxando. Marcela não tirava os olhos da nuca dela. Sorriu comentando emocionada – Não está acostumada com a vida de casada. - Sabe o que eu acho? Qualquer dia podíamos fazer uma viagem. Deixar os negócios e os problemas para trás. O que acha? - Como é que vou fazer uma viagem? Meu pai no hospital! Quem cuidaria da empresa? Além disto, não estou casada com você. A última coisa que quero neste momento é me sentir casada! Também não quero viajar com você. - Também não queria estar aqui e está. - É diferente, você sabe. Não tive escolha! Marcela sorriu descendo as mãos pela nuca dela sensualmente. - Na cama você é diferente. - Sem essa. - É sim – Sussurrou passando a língua da nuca até a orelha dela. Carmem gemeu odiando-se por isto. Tentou se afastar, mas ela enlaçou sua cintura prendendo-a mais junto de seu corpo. Seus seios coloram nas costas de Carmem. - Por que está se contendo? Vergonha? Vamos, deixe acontecer. Você quer... - Não quero – Negou virando o rosto, tentando se mostrar indiferente. - Disse isto para sua mãe – Provocou rindo dela – Que não quer e que se odeia depois que fazemos. Mente para se eximir de culpa. Não é? - Você consegue ser odiosa quando quer. - Sei que está lutando para não ceder. Mas você gosta e quer. Seu corpo precisa. As mãos já estavam sobre os seios acariciando-os excitada. Soltou os botões abrindo a blusa. Afastou-se a livrando do sitiem rápida. Voltou a tocá-los mais a vontade. Carmem estava imóvel com os olhos fechados. - Você é macia... Suave... Quente. 26
Contos de Astridy Gurgel - Ah... - Abra sua calça para mim – Pediu rouca. Estremeceu abrindo os olhos. Apertou as mãos tensas. Não faria! Não faria mesmo. Marcela estava sorrindo. A boca chupava seu pescoço enlouquecendo Carmem. As mãos apossavam dos seios mais intimas agora. - Menina má... Desceu as mãos abrindo a calça dela de uma vez. Afundou a mão em busca dela. Passou pela calcinha até chegar ao sexo encharcado. Carmem abriu as pernas sem aguentar mais. Marcela não perdeu tempo. Levou-a ao Maximo do prazer. Quando a sentiu gozar, prendeu-a mais a si colando a boca em seu ouvido. - Foi ruim? - Pare com isto... - Não seja desagradável – Pediu acariciando os cabelos dela – Sabe que eu gosto de saber. - Você sentiu. Porque tem que ouvir? Isto é que é desagradável. Tudo tem que ser falado? Não é o bastante me ter na hora que bem quer? - Você não se nega porque não quer. Eu não te obrigo. - Sei muito bem disto. Não precisa jogar na minha cara. - Suponho que quando você se lembrou daquela noite em que nos vimos no restaurante, entendeu porque ando pelas sombras. Agora você entende? - Um pouco. - Vou a toda parte. Ouço as pessoas falando sobre mim. Meus empregados não me conhecem. Sou uma pessoa livre. Só quero ter vida, espaço e privacidade. Você me culpa? - Adiantaria culpar? – Perguntou irônica. - Naquela noite você me desejou. - Não. - Sim, desejou! Ardeu de vontade de transar comigo. - Como consegue ser tão convencida? - Vamos, conheço seus segredos... - Conhece por que transa comigo? Ora não seja tola – Riu divertida voltando-se para ela – Isto é sexo! Apenas sexo! Não vai passar disto, nunca! Pode ter meu corpo, domina-lo e usa-lo até se fartar! Será só o que terá de mim! Gozos vazios e suspiros passageiros! Só! Marcela estremeceu soltando-a na hora. Ergueu-se chamando a criada. - Giana? Sirva o jantar, por favor! Seguiu para a mesa completamente muda. Carmem fez o mesmo. Apenas os sons que Giana fazia enquanto as servia era ouvido. As duas mal tocaram seus pratos. Marcela subiu sem convidá-la. Ficou sentada pensando no quanto ela estava furiosa. Sabia que estava. Tinha dito exatamente o que ela precisava ouvir. Por que iria confessar que a desejou naquela noite? Entregar o ouro logo para ela? Não o faria nem sobre tortura. Tinha vindo morar ali com ela, mas não pretendia lhe fazer confidências. Não falaria de seus sentimentos e nem a deixaria percebe-los. Faria o possível e o
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Contos de Astridy Gurgel impossível para que fosse estritamente sexual. Se ela pensava que merecia uma compensação tendo-a como amante, também tiraria proveito da situação. A compensação seria mutua. Estava mais do que certa que não conseguiria se negar na cama. Como se negar para uma mulher gostosa como ela? Não era nem louca de fazer tal coisa. Agora que a conheceu sabia que iria aproveitar cada minuto que tivesse na cama. Pensando nisto, subiu decidida para quarto. Viu-a deitada de costas na cama. Foi para o banheiro. Voltando do banheiro, deitou nua colando seu corpo nas costas dela. Marcela não se virou nem disse nada. Mas estava nua e Carmem não se fez de rogada. Desceu a mão até o meio das pernas dela excitada. No primeiro instante pensou que ela não permitiria. Com as pernas fechadas, sua mão teve que fazer milagre até chegar ao sexo. Foi só toca-lo para que ela abrisse as pernas com um gemido. Riu sussurrando no ouvido dela. - É ruim dormir com raiva. Prefiro que durma feliz. Não precisa fazer nada. Sou eu que quero te dar. Do jeito que você gosta. Perdeu-se nela adorando cada momento. Domina-la daquele jeito, como ela costumava lhe dominar foi delicioso. Os gemidos dela perderam-se pelas paredes do quarto. Quando gozou Carmem se afastou ajeitando a cabeça no travesseiro. Dormiu em seguida com um sorriso nos lábios. Quando acordou viu Marcela escovando os cabelos diante do espelho. Estava linda novamente toda de preto. Uma vampira! O pensamento quase a fez rir. Desceu os olhos pelo corpo dela lembrando da noite passada. Uma vontade imensa de chamá-la para a cama tomou conta dela. Achava curioso como ficava terrivelmente excitada só de olhar para ela. Imaginou o que poderia dizer quando a viu voltando os olhos negros na sua direção. Apenas um olhar e ela saiu batendo a porta. Carmem caiu na cama soltando um gemido. Que mulher mais complicada! Seu corpo estava queimando de desejo. Será que ainda estaria com raiva a noite? Tomara que não. Não ia dar para aguentar aquela cara furiosa por mais uma noite. Ligaria para ela a tarde. É! Faria isto. Seria bom dar uma massageada no ego dela. Pensando assim foi tomar seu banho. Seguiu para a empresa resignada. Se aquela era uma vida de casada estava começando bem mal. Não deixaria que as coisas fossem assim entre ela e Marcela. Iriam viver juntas, mas teriam uma um a convivência bem agradável. Não sentia raiva dela por ter se aproveitado da sua situação. Não sabia por que, mas o fato simplesmente não a incomodava mais. De que adiantaria ficar remoendo aquilo ou acusando-a por isto? A vida era valiosa demais para deixar de vivê-la intensamente. Era só nisto que queria pensar. Quando chegou, Maria Dantas estava fazendo uma revolução geral com a sua equipe poderosa. Trabalhava como nunca tinha visto outro grupo trabalhar. Às duas da tarde Maria parou diante de sua mesa. Abriu um lindo sorriso perguntando. - E o nosso jantar? Que tal hoje? - Iria se pudesse. Desculpe. Não leve a mal. Não é pessoal.
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Contos de Astridy Gurgel - Hum! Não se pertence mais! Que bom que encontrou sua outra metade. Até amanhã. - Até. Pegou o telefone conferindo o número na agenda. Ligou anunciando seu nome. Enquanto esperava imaginou se ela faria a desfeita de não atender. Pensava quando ouviu sua voz. - Alô? Carmem? Algum problema? - Não. - Então? - Estava pensando se a sua raiva já teria passado – Comentou numa voz sedutora. - Por que estava pensando nisto? - Bem, ontem à noite dormimos brigadas. - Não dormimos não. Eu dormi feliz depois do que você me deu. - Mas hoje pela manhã... - Você estava me seduzindo com seus olhos e eu tinha uma reunião inadiável. Mas sei que estou em debito com você. - Ah, bom. É que hoje acordei meio fogosa – Carmem riu sentindo um grande alivio – Não leve a mal. Não costumo ser tão obvia. - Não levei a mal. Adorei vê-la daquele jeito. Eu me excedi ontem. Mereci todas as coisas que você me disse. - Que bom que não ficou com raiva. Confesso que me preocupei. - Bobagem. - Vou jantar com a minha mãe hoje. Depois irei te encontrar. - Ótimo. Estarei te esperando. Tchau! Desligou o telefone sentindo uma alegria imensa. A raiva tinha passado. Ainda bem que tinha dado prazer para ela. Por isto não dormiu com raiva. Tinha sido um golpe de mestre. Balançou a cabeça rindo feliz. Precisava parar de ficar pensando tanto nela. Tinha que trabalhar. Foi o que fez evitando voltar a pensar. Foi para casa e jantou com a mãe e a irmã. Laura comentou animada no fim do jantar. - Ricardo adorou o carro novo que você mandou para ele. Carmem soltou os talheres fitando a irmã. - Você disse que estávamos em contenção de despesas – Comento a mãe – Alguma coisa mudou? - Achei que ele merecia. Não acham também? - Mas você disse... - Esquece isto. Se ele ficou feliz, melhor para todos. Tenho que ir. Ainda vou passar no hospital. - Onde está morando? – Laura perguntou indo até a porta com ela. - Com uma amiga. - Uma amiga? – Perguntou rindo – Vocês se casaram? Tipo assim? Carmem riu beijando o rosto dela. - Acho que é por aí, mas... – Carmem riu olhando para a mãe de relance – Não comente com mamãe. Ela não gosta gosta da ideia. 29
Contos de Astridy Gurgel - Claro! Quando vai trazê-la aqui? - Talvez um dia, se o destino der uma forçinha. Tchau! Foi direto para o hospital. O pai estava pior. Ficou algum tempo com ele e depois seguiu para casa de Marcela. Quando entrou na sala sentia vontade de chorar. Marcela estava tomando um drinque. Uma música deliciosa tocava naquele instante. Música? Pensou admirada. Marcela ouvindo música? Teria cansado do silêncio? - Seu pai está pior. Eu sei – Marcela comentou indo até o bar. Preparou um uísque. Voltou entregando-o a ela – Vai se sentir melhor. Bebeu alguns goles olhando-a ansiosa. - Como é que sabe de tudo? - Só sei. - Hum! Às vezes tenho a sensação que tem alguém me seguindo. - Bonita do jeito que você é deve ter montes de olhos em cima de você – Marcela comentou divertida. - Sabe? Essa situação do meu pai me deixa arrasada. Sinto-me impotente, de mãos atadas. - Eu posso imaginar. - Você pode mesmo? – Carmem perguntou olhando-a nos olhos. - Sim. Não acredita? - Não sei. - Sobre o carro, achei que você gostaria. Carmem a fitou desolada. - Você achou? Ele quase morreu! Será que não entende? Não tem o direito de interferir tanto na minha vida. - Não pretendo me desculpar! - Nem aceito suas desculpas. - Melhor! – Marcela respondeu se erguendo – Eu já jantei. Se não se importa vou subir. Espero-te na cama. - Tá. Quando Carmem entrou no quarto viu a luz do abajur acesa ao lado da cama. Ela estava lendo uma revista. Foi tomar um banho sem falar com ela. Voltou vinte minutos depois enrolada numa toalha. Tirou-a deixando na cadeira ao lado cama. Deitou colando seu corpo ao dela. Marcela afastou a revista olhando-a com um brilho intenso nos olhos. - Hoje você está mesmo fogosa. - Estou sim. Passei o dia pensando em dar para você – Carmem confessou roçando a língua na nuca dela – Você está me deixando muito pra frente. - Adoro você assim... Marcela deitou sobre ela perdendo-se em seu corpo. Carmem gemeu entregando-se inteira. Não viram as horas passando. Tremeram de prazer uma nos braços da outra enquanto tiveram forças. Depois dormiram abraçadas.
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Contos de Astridy Gurgel Marcela já tinha saído quando ela desceu para o café da manha. Comeu rapidamente correndo em seguida para a empresa. Quando chegou, Solange entrou em sua sala com um jornal na mão. Carmem leu perguntando admirada. - Quem divulgou um absurdo destes? - Não sei Carmem. Daqui não saiu nenhum comunicado. - Não estou me associando com... - Marcela Alvarez! – Solange completou sentando diante dela – Eu sei. - Se a imprensa começar a ligar... - Já estão ligando. O telefone não para um minuto. - Tenho apenas uma divida com ela. Divida que me pai contraiu. Nossos contatos são apenas para negociar essa divida. - Devo dizer isto aos jornalistas? - Sim. Deve. Diga isto e tente t ente enterrar o assunto. Ah! Maria já chegou? - Acaba de entrar na sala dela. Carmem olhou melhor para Solange percebendo que os olhos dela estavam inchados. Deu-se conta que ela esteve chorando. Mas fingiu não ter percebido comentando preocupada. - Fique de olho nela para mim. - Algum problema? – Solange perguntou surpresa. - Nada de concreto. Só comecei a ficar desconfiada de gente que surge do nada oferecendo ajuda. É só precaução. - Tudo bem. Ficarei atenta. Marcela Alvarez e Maria Dantas! Duas mulheres bonitas, poderosas, que usavam roupas pretas e calçavam ambas as botas Italianas. Aquilo parecia coincidência demais. Marcela era forte no mercado da computação. Tinha negócios com muitos paises. Maria tinha caído do nada na sua vida. Tinha que ter alguma coisa ali. Só queria estar com os olhos bem abertos. Nada mais de surpresas inesperadas. Pensou também em sua secretária. Por que teria chorado afinal? Curioso como estava começando a se dar conta das coisas a sua volta. Estava vivendo num mundo só seu. Sempre envolvida em seus próprios problemas. Talvez Solange estivesse passando por problemas pessoais. Se fosse poderia oferecer ajuda. Faria isto se voltasse a ver os olhos dela inchados. Era uma boa pessoa. Trabalhava na empresa já há nove anos. O toque do telefone tirou-a de seus pensamentos. Era Roberto. Um rapaz que tinha estudado com ela. Conversaram por alguns instantes até ele falar direto. - Você sabe que sou jornalista, não é? - Sei! Recebi seu convite de formatura. - Para você ver que não te esqueci. Será que podia se encontrar comigo? Preciso conversar com você. - Não tenho muito tempo. Mas se for rápido. - Não vou te prender. - Onde? – Carmem perguntou anotando o nome do bar que ele mencionou.
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Contos de Astridy Gurgel Uma hora mais tarde entrava no bar. Roberto, o garoto franzino, tinha se transformado num homem bem charmoso. Cumprimentaram-se, sentando nos banquinhos em volta do balcão. - Te chamei para pedir um favor em nome da nossa amizade. - Se eu puder ajudar. - Soube da sua possível sociedade com Marcela Alvarez. - Já desmenti está história para a imprensa. Nem sei de onde isto saiu. - Você se encontrou com ela? – Perguntou ansioso. - Claro que não! - Tem certeza que não a viu mesmo? - Tenho! Está duvidando de mim? – Carmem perguntou pegando o drinque que o barman colocou a sua frente – Falo apenas com o advogado dela. Carmem ergueu os olhos levando um susto ao ver Marcela entrando ali. Passou por todas as mesas vindo até o balcão. Parou ao lado de Roberto, pedindo um drinque é lançando um olhar inquietante em sua direção. - Todo este falatório sobre ela deixa as pessoas eufóricas. - Você não acredita nisto – Carmem riu observando Marcela com o canto dos olhos. Viu-a saltando do banco e aproximando deles. - Confesso que tenho duvidas. Afinal vampiros não existem. Marcela parou diante dele pedindo educadamente. - Pode me emprestar seu isqueiro? - Perfeitamente – Roberto sorriu acendendo o cigarro dela. - Obrigada. Marcela voltou a sentar no banco próximo a ele. Roberto riu comentando baixo para Carmem. - Nossa! Que mulher maravilhosa! Gente! Tenho que sair mais nesta cidade. O comentário dele desagradou Carmem. Ela acendeu um cigarro falando seca. - Eu lamento, mas não posso te ajudar! - Você não a viu tudo bem! Mas se acontecer de se encontrarem no futuro imploro que me ligue imediatamente. Nunca divulgo minhas fontes. É só me dar um toque. O que me diz? - O que me pede é muito difícil, pois não imagino porque me encontraria com ela. Mas se encontrar vou me lembrar de você. - Eu sabia que podia contar com você – Riu feliz – Não vai beliscar nada? - Obrigada. Atrapalharia meu jantar. Ainda tenho um compromisso. Vejote qualquer dia. Saiu correndo dali. Passou na casa da mãe. Ficou conversando com ela por um bom tempo. Depois se despediu indo embora. Assim que chegou a sala Marcela se ergueu indo ao bar. Ficou observando-a enquanto ela preparava sua dose de uísque. Sentou aceitando o drinque quando ela sentou do seu lado. Inclinou o rosto roçando a boca na face de Carmem. 32
Contos de Astridy Gurgel - Por que não contou tudo a ele, Carmem? - Não é problema meu. Além do mais não sou informante de jornalistas. Tenho mais o que fazer do meu tempo. - Pensei que fosse por lealdade. Carmem enfrentou os olhos dela com um sorriso irônico. - Mas não deixa de ser. Não é mesmo? Marcela riu misteriosa levando o copo a boca. - Seu dia foi bom? - Mais ou menos. Aquela notícia absurda – Calou-se ansiosa – Você deve ter lido. Aqueles jornalistas ligando o tempo todo. Um saco! - Aquilo? Bobagem! Logo vão esquecer! – Marcela garantiu tranquila. - Sei lá. Não esquecem nada que tem haver com você. Falando nisto, o que estava fazendo naquele bar? Estava me seguindo? - Eu? Carmem, por favor! Não tenho tempo para isto. Só estava passando. - Você passando? – Ela riu incrédula – Desculpe, mas você não é mulher de passar. Deixou o rapaz com água na boca. - Está com ciúmes? – Marcela perguntou divertida. - Não tenho motivos. Você mal olhou para ele. - Realmente. Só consegui olhar para você. Vamos jantar meu bem? Encostada na janela, Carmem fumava fitando o vazio. Há seis meses vivia com Marcela Alvarez. Pensando em todos aqueles dias vividos ao lado dela mal podia acreditar. Sempre iam jantar num restaurante deferente. Marcela gostava dos restaurantes requintados. Também foram algumas vezes ao teatro. Até ao cinema costumavam ir. Um sorriso surgiu em seus lábios. Assistiam ao filme de mãos dadas feito duas namoradas. Imagine! Aquele relacionamento que começou de uma forma tão horrível. Achou que não iria suportar. No entanto viveu os melhores meses de sua vida. Marcela era profundamente envolvente. Estava sempre com um sorriso lindo quando se encontravam. Só não fizeram amor no período em que estavam naqueles dias. Tirando isto todos os dias transaram normalmente. Se existia aquilo de um casal cair na rotina, com elas nunca aconteceu. Marcela era a mulher mais excitante e sexual que conhecia. É claro que algumas vezes tentou ficar fria nos braços dela. Normalmente quando tinham uma briguinha costumava fazer isto. Fazia para castigá-la, mas nunca obteve sucesso. Quando seus corpos se uniam na cama perdia o juízo. Seu corpo pegava fogo. Não tinha noção de nada mais. Passava os dias numa ansiedade louca para voltar para os braços dela. Marcela havia entrado de uma forma em seu ser que não tinha mais como tirá-la. Alice Santiago aproximou-se de Carmem tocando seu ombro com suavidade. - Filha? O que você tem? Agora vive assim como este ar ausente. Mal me escuta enquanto falo com você. Carmem voltou-se dando um lindo sorriso para ela.
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Contos de Astridy Gurgel - Não tenho nada. Preciso ir – Falou indo até a poltrona pegar a bolsa que deixou ali – É tarde não é mesmo? Seus olhos buscaram o relógio de parede num impulso. Beijou a mãe saindo correndo para a rua. Quando entrou em casa caminhou no escuro até chegar à sala de estar. Até mesmo aquela escuridão já tinha se acostumado. O fato não a incomodava mais. Na sala iluminada pelas velas estacou vendo Marcela em pé com um copo na mão. Os olhos dela percorreram seu corpo por um segundo. Virou o restante do drinque colocando o copo de lado. Aproximou tocando a saia curta lentamente. Seus olhos encontraram-se quando ela sussurrou num tom rouco. - Não é uma roupa apropriada para uma mulher de negócios. Carmem ficou imóvel olhando-a hipnotizada. - O que me diz? – Marcela perguntou enquanto suas mãos erguiam a saia ansiosa. - Eu... – Carmem tentou falar, mas não teve voz. - Não precisa me dizer. Diante de uma Carmem muda, ela abaixou retirando a calçinha dela e afastando suas pernas. A boca chegou ao sexo dela arrancando um gemido rouco dos lábios de Carmem. Inconscientemente entreabriu mais as pernas. Marcela perdeu-se ali se deliciando sem disfarçar seu desejo. A língua vagou pelo sexo por um longo tempo, até Carmem gozar e segurar sua cabeça tremula. - Por favor – Carmem pediu baixo. Marcela se ergueu confessando emocionada. - Não posso pensar em outra coisa que não seja estar em você. Carmem suspirou indo até o bar. Serviu uma dose de uísque. Bebeu sem conseguir fita-la novamente. - Ainda tem vergonha de mim? – Marcela perguntou confusa. Carmem acendeu um cigarro tragando ansiosa. - Me diga o que quero saber! - O que quer saber? – Carmem perguntou baixo. - Se gosta quando faço como fiz agora. - Por favor, de novo? Sabe que não falo destas coisas assim. Nem estamos na cama agora. Estamos no meio da sala. - Ótimo! Estamos no meio da sala e não podemos falar das coisas que fazemos. Acha que as paredes vão contar para alguém? - Quer saber? Uma coisa para mim é quando estamos na cama. Aqui, em pé? Não pode esperar até estarmos na intimidade? Precisa me ter assim só para me mostrar o poder que tem sobre mim? – Carmem explodiu desolada. Marcela foi até ela virando-a para si. Seus olhos caíram-nos dela soltando faíscas de raiva. - O que pensa que eu sou? Acha que não tenho sentimentos? Não posso matar a minha saudade do jeito que eu gosto? - Você gosta é assim? Tem que me comer na sala para me lembrar a razão deu estar vivendo aqui? 34
Contos de Astridy Gurgel Marcela tremeu dos pés a cabeça. Empurrou Carmem para a poltrona desorientada. Numa rapidez incrível livrou-se de suas roupas puxando a cabeça de Carmem na direção do seu sexo. Não precisou de palavras nem teve que força-la. Carmem desceu desvairada com a boca seca até o sexo dela. Perdeu-se ali até Marcela gozar intensamente sob sua língua. Ela se afastou e Marcela a puxou para cima de seu corpo. Seus olhos se encontraram quando Marcela desceu a mão em busca do sexo dela. Enquanto a enlouquecia, Carmem rebolava sobre ela. Marcela observou-a até ver o orgasmo invadi-la. Carmem caiu suspirando para o lado. Marcela apoiou-se sobre os cotovelos olhando-a pensativa. - Você gosta e precisa disto. Tanto quanto eu! Carmem virou o rosto para não vê-la. - Precisa entender que estes assuntos são essenciais numa vida a dois – Marcela comentou enquanto Carmem Carmem se erguia silenciosa. Viu-a pegando um cigarro. Carmem tragou longamente falando com um suspiro. - Se existe algo que não temos é uma vida a dois! - Pois acho que temos uma deliciosa vida a dois. Você não está acorrentada aqui. Ao menos não vejo corrente a sua volta. - Existem correntes sim! Você sabe bem quais são. Um dia pagarei tudo que te devo e nunca mais terei que fazer nada disto. - Será? – Marcela riu sem acreditar nela. - Você duvida? Acha que quando te pagar vou voltar nesta casa? - Não posso afirmar nada sobre o futuro. Não faço ideia do que irá acontecer. - No dia que eu te pagar não me verá mais! - Se for assim terei muito para lamentar – Confessou emocionada. Carmem pensou no pai que continuava no hospital. E na mãe que a rondava sempre curiosa sobre sua vida intima com Marcela. A mãe achava que Marcela batia nela. Imagine! As mãos de Marcela só tocavam seu corpo para fazê-la arder de prazer. Não era uma mulher violenta. Era uma mulher desconcertante que a fazia perder o controle com um único toque. Tragou novamente pensando na situação de sua empresa. Tinha sido um sucesso as alterações na área de produção. Nunca pensou que ganharia tanto dinheiro em sua vida. Seus olhos brilharam ao pensar em Maria Dantas. Se não fosse por ela ainda estaria lutando para reerguer os negócios. Seus olhos caíram em Marcela e falou para irritá-la. - Mais um ano e saldo minha divida com você! Marcela cruzou as pernas olhando-a sem sorrir. - Você realmente me surpreendeu! - É só o que tem a dizer? Seus espiões esqueceram de contar do meu sucesso como empresaria? – Carmem perguntou orgulhosa. - Eu me perguntei se você seria capaz de salvar sua empresa do desastre total. Decidi pagar para ver quando te dei o dinheiro que abriu todas as portas. Não fui tão insensível assim! - Acontece que o preço da sua ajuda é muito alto para o meu gosto! Eu provei a você que sou capaz. Provei com o meu trabalho! 35
Contos de Astridy Gurgel - Não seja tola Carmem! Pensa que o trabalho dá tanto prazer assim? O tempo que perdemos atrás de uma mesa cavando riquezas são minutos preciosos em que deixamos de viver. - Para você que só pensa em sexo este pensamento é bem peculiar! - O prazer é só o que importa nesta vida! - Não penso assim – Carmem rebateu seca. - Pois te digo uma coisa. Nem se eu vivesse até os duzentos anos conseguiria gastar metade do dinheiro que eu tenho. A vida não é uma ironia? - Está tentando me dizer algo? - Estou! Acabei de dizer – Marcela riu surpresa – O prazer é tudo! Carmem pensou que se ela tivesse dito que o amor era tudo, acharia lindo. Mas para ela prazer era a única coisa que contava. Tanto que estava vivendo ali exclusivamente para dar prazer a ela. Suspirou olhando em volta. - Acho melhor jantarmos agora. Estou cansada, louca para dormir. - Como quiser – Marcela concordou chamando a criada. O fato de ter dito que estava cansada não evitou que Marcela a procurasse na cama quando se deitaram. Carmem viu-se entregando os pontos como aconteciam todas as noites. Mergulhou no sexo de Marcela só conseguindo pensar no quando adorava fazer aquilo. A verdade é que não se entendiam quase nunca, mas quando se tocavam nada mais importava. Daria tudo para não ter se envolvido daquele jeito com ela. Carmem ficou surpresa quando a mãe apareceu na sua sala, na empresa, na manha seguinte. Não eram nem nove horas da manhã. Ergueu-se a beijando preocupada. - Mamãe? Aconteceu alguma coisa? Papai ou... - Não aconteceu nada – Falou sentando diante dela. - Então? O que faz aqui? - Faz seis meses que está vivendo com aquela mulher – Começou retirando a cigarreira da bolsa lentamente – Já faz muito tempo. Você mudou muito desde então! - Está enganada. Eu... - Você vive calada pelos cantos ou em outro mundo. Nunca mais consegui ter uma conversa como tínhamos antes. Continua indo lá em casa, mas quando está lá, não está de corpo e alma. - Que ideia! Está vendo coisas mãe. Eu ainda sou a mesma. - Não é não! Sinto muito que não veja o que está mulher está te fazendo! - Não tive escolha. A senhora sabe bem. - Não estou falando disto! – Cortou acendendo o cigarro – Você foge de mim. - Mãe... - Se envolveu demais com ela e não quer admitir! - Não é verdade... - É verdade sim! - Quando tudo isto começou eu tentei te explicar, não lembra?
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Contos de Astridy Gurgel - Sobre suas necessidades e anseios de mulher? Lembro sim! Naquela época deve ter sido isto mesmo. Agora tudo mudou. Você se apaixonou. Carmem afastou a cadeira se erguendo. Foi até sua bolsa e pegou um cigarro. - Por quê? Por que deixou isto acontecer? – Alice perguntou desesperada. - Não acredito que esteja apaixonada – Carmem comentou sem olhar para ela. - Sei. - Sinto coisas que não entendo, mas não acho que seja paixão. - Talvez seja pior – Riu amarga – Talvez seja amor. Se for vai ficar para sempre se deixando usar por aquela louca. Voltou a sentar abrindo sua agenda. Não conseguia olhar para a mãe. Um turbilhão de emoções lutava em seu intimo. - Olhe para mim – Alice exigiu enérgica. Carmem ergueu os olhos fitando-a sem poder fugir. - Sei que teve casos passageiros no passado. Deve ter pensado que seria a mesma coisa. Teria só que transar e nada mais. Mas perdeu o controle das suas emoções. Caiu de amores por ela e se perdeu! - Veio aqui jogar isto na minha cara? Acha que tenho culpa do que estou sentindo? - Só não quero que tenha sentimentos nobres por ela! Não vê que só está te usando para obter prazeres sexuais de graça? - De graça? Ora... - Por acaso ela te paga? – Alice perguntou ansiosa. - Não é isto mãe – Riu agitada – Ela nos emprestou o dinheiro. Vou pagar qualquer dia. Ou já se esqueceu disto? - É claro que não esqueci! Você deve dinheiro e vai pagar com juros. Portanto ela está te usando como se fosse uma prostituta! - Mãe! - Ser homossexual é uma coisa! Prostituta é outra bem diferente! - Mas por que... - Esqueceu como foi parar na cama dela? Não escolheu nem desejou isto. Ela te obrigou, lembra? - Mas é claro que lembro! Mas que droga mãe! Por que está me crucificando assim? Não percebe o quanto é difícil para mim? - Tão difícil quanto da primeira vez? Os olhos de Carmem cintilaram antes de fugir dos da mãe. Abriu uma gaveta procurando pelo isqueiro que não encontrou na bolsa. Achou acendendo o cigarro. Ao acendê-lo percebeu como suas mãos tremiam sem controle. Abaixou-as rápido para que a mãe não visse. Percebeu que não podia enganá-la quando a ouviu dizer com ironia. - Só de falamos sobre ela já se descontrolou toda. É assim que fica quando estão juntas? - Meu Deus...
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Contos de Astridy Gurgel - Precisa se mostrar tão vulnerável? Não é de estranhar que tenha deixado você completamente louca de amor! - Não estou louca de amor. Também não quero mais falar sobre este assunto. Não quero brigar com a senhora. Tenho milhões de coisas para fazer. Passarei em casa mais tarde. Por favor! – Pediu indo até a porta. Alice caminhou de cabeça erguida até a porta. Ali parou fitando-a profundamente. - Antes de ficar triste comigo, pense que só desejo o seu bem. Até a noite! Carmem fechou a porta voltando para sua cadeira. Não tinha como negar que sentia coisas estranhas por Marcela. O desejo que sentia agora era intenso demais. Nem sabia mais se conseguiria pagar aquela divida e sumir da vida dela. Talvez pudesse sumir da casa dela, mas da cama, achava impossível! Pensava nela o tempo todo. Isto a irritava profundamente. Ansiava por voltar no fim de cada dia. Sabia que ela a esperava. Bastava olhar para ela para sentir as coxas úmidas. Nenhuma outra mulher causava aquele efeito devastador sobre ela. Passou a mão na testa de onde começava a brotar gotas de suor. Aquilo não era amor! Ou seria? Ouviu uma batida leve na porta. Girou a cadeira voltando-se e deu com Maria entrando com sua costumeira expressão séria. - Bom dia – Maria falou sentando diante dela. - Bom dia. - Vim saber se leu o relatório e o que achou do crescimento das vendas? - Eu li sim Maria – Abriu a gaveta pegando a pasta com um sorriso – Estou muito satisfeita com os índices. Ia mandar chama-la. Acabei de expedir uma ordem para reativar o galpão nove que está fechado. Quero que mande sua equipe agir imediatamente. Preciso que esteja pronto dentro de um mês. Tem carta branca para contratar quantos funcionários forem necessários. - Será feito! – Maria sorriu pegando o maço de cigarros e acendendo um. - Também quero te dar os parabéns pelo excelente trabalho que tem feito aqui. - Obrigada! Quem sabe possamos jantar hoje para comemorar tanto sucesso. - Oh não! - Não? – Maria perguntou estranhando o tom dela. Carmem observou que Maria estava de preto. Sempre estava de preto. Usava uma bota italiana diferente a cada vez que a via. Era uma mulher bonita. Era alta e elegante. Os cabelos eram muito pretos e sedosos. O rosto delicado ficava encantador quando ela sorria. A marca de cigarros que ela fumava era a mesma que Marcela fumava. Achava aquilo cada vez mais estranho. Será que ela era a espiã de Marcela ali na sua empresa? - Eu vivo com uma mulher – Carmem explicou olhando-a nos olhos – Não sabia? - Imaginava. Não tinha certeza. 38
Contos de Astridy Gurgel - Pois vivo – Afirmou tranquila. - Isto explica tudo – Maria sorriu cruzando as pernas charmosamente – Mas não deve pensar que a convido para jantar com segundas intenções. - Não penso. Eu... - Também tenho uma mulher – Ela voltou a falar sem permitir que Carmem continuasse – Costumo me sentir só porque ela não vive aqui no Brasil. Na verdade estávamos em negociação para ver quem iria ceder. Para o meu alivio ela aceitou vir viver aqui comigo. Estamos juntas há dez anos. A gente começa um relacionamento encantada com o sexo e a excitação do início. Mas só o tempo trás a maturidade de um amor verdadeiro. Qualquer dia você vai conhecer a minha mulher. Ela é muito apegada à casa que tem lá. Faz muito tempo que vive com está mulher? - Seis meses – Carmem deu a resposta e se calou. - Não que falar. Eu entendo. - Não é isto. Fico realmente feliz por saber que você é casada com uma mulher. Às vezes sinto vontade de conversar com alguém em que possa confiar. Só que no momento não estou segura dos meus sentimentos. É só isto. - Tudo bem. Foi bom falar com você. - Também gostei – Carmem sorriu mais relaxada. - Bom! Vou colocar a mão na massa. Com licença! Sua cabeça fervilhou de ideias o resto do dia. À noite quando entrou na casa da mãe mal conseguiu olhar para ela. Sabia que estava com a consciência pesada por não ter falado com ela dos seus sentimentos. Quando entrou na casa de Marcela levou um susto ao entrar na sala. Viu uma mulher toda de preto servindo um drinque no barzinho. Olhou envolta a procura de Marcela, mas não a viu. Deu um passo olhando a mulher ainda admirada. Ela se voltou com o copo na mão. Quem seria? Por que Marcela não falou que teria uma convidada para jantar? Enquanto a olhava muda, viu-a colocar o copo sobre a mesa e caminhar na sua direção. Pode ver seu rosto e ficou imóvel até que ela parou a sua frente. Ela não era exatamente bonita. Era diferente. Não pode ver seus olhos porque usava um óculo escuro. Os cabelos eram curtos, batendo nos ombros. Era alta. Da sua altura. O andar lembrou o de Marcela. Andou sem fazer nem um ruído. Observou que os traços do rosto eram delicados. Os lábios dela eram finos. Mas tinha uma boca marcante. Parecia ter personalidade. Provavelmente ela devia ter uns quarenta e poucos anos. Sentiu o perfume dela quando ela aspirou profundamente dizendo num tom suave. - Suponho que seja Carmem. - Sim. Sou. - Deve estar se perguntando quem eu sou – Comentou divertida. - Na verdade estou mesmo. - Eu devia ter imaginado que ela não diria a você da minha chegada. - Marcela?
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Contos de Astridy Gurgel - Sim! Marcela – Respondeu estendo a mão e começando a tocar o rosto de Carmem suavemente. Tocou a pele, o nariz, a boca, as sobrancelhas e os olhos. Então retirou a mão dando um sorriso – Você é bonita. Virou-se voltando tranquilamente até a mesa, onde tinha deixado seu drinque. Pegou indo sentar na poltrona confortável. - Fique a vontade. Deve estar louca por um banho. Carmem de boca aberta se perguntava quem seria ela. Teria que dormir com ela também? O que estaria acontecendo ali? - Não fique tão assustada – Ela voltou a falar – Sou Telma Alvarez, a tia de Marcela. Cheguei agora do aeroporto e não encontrei ninguém em casa. Pensei que Marcela estaria me esperando. Giana acabou de me dizer que ela se atrasou, mas já esta chegando. - Você é a tia? – Perguntou se aproximando dela sem graça – Desculpe. Agi feito uma tola. - Querida – Ela sorriu suave – Está tudo bem. Suba para se refrescar e venha tomar um drinque comigo. - Eu já volto. Com licença. Subiu rápido indo direto tomar o banho. Escolheu um vestido branco muito sex. Olhou-se no espelho sorrindo satisfeita. Quando chegou a sala Marcela se ergueu comentando. - Soube que já se conheceram. Esqueci de contar sobre a chegada de minha tia. Espero que me perdoe. - Não tem problema – Carmem estacou vendo-a vir em sua direção. Marcela se aproximou dela erguendo a mão até o seu rosto. Acariciou sua face levemente. - Tem certeza querida? - Sim – Carmem respondeu baixo. Olhou na direção da tia dela falando baixo em se ouvido – Não me toque assim. Olhe a sua tia. Eu tenho vergonha. Marcela apenas sorriu estendo o rosto. Carmem beijou a face dela afastando-se em seguida. Foi até o bar seca por um drinque. - Posso servir uma dose para vocês? – Perguntou gentil. - Eu aceito – Telma respondeu. - Eu aceito também Carmem! Carmem serviu os drinques vindo sentar com elas. Marcela a olhou profundamente quando recebeu o drinque das mãos dela. Pegou o drinque da tia colocando-o na mão dela. Carmem observou Telma sorrir olhando em volta. Marcela cruzou as pernas graciosamente enquanto tomava um gole do seu drinque. Carmem acompanhou o movimento sentindo o corpo todo reagir à visão das pernas dela. Marcela usava uma saia de couro incrível. Imaginou onde ela comprava roupas tão lindas. Era extremamente feminina. Ninguém que cruzasse com ela imaginaria que era uma lésbica. Olhou para a tia dela notando que também era muito feminina. Sorriu perguntando para quebrar o silêncio. - Faz muito tempo que a senhora não vem ao Brasil? - Por favor! Não me chame de senhora. Graças a Deus nunca me casei. - Desculpe. 40
Contos de Astridy Gurgel - Não tem importância. Faz cinco meses que estive aqui. Depois que Marcela assumiu a companhia tenho vindo sempre para cá. Desta vez vim de vez. - Ah sim! - Tudo é como tem que ser – Comentou tomando um gole de seu drinque. Telma simplesmente se calou. Marcela também era assim. Costumavam ficar longos momentos em silêncio. Era desconcertante! Talvez por ter crescido numa casa barulhenta com um irmão e uma irmã que estavam sempre discutindo, estranhava tanto aquela paz. Marcela devia ter aprendido aquilo com a tia. Notou que ela a observava atentamente neste momento. Voltou-se perguntando delicadamente para Marcela. - Teve um bom dia? - Não. Infelizmente as horas se arrastaram – Respondeu percorrendo o corpo dela com os olhos carregados de desejo – Fico melhor quando volto para você. Carmem arregalou os olhos, olhando sem jeito para a tia dela. Telma sorriu levando o copo aos lábios. Sem jeito Carmem tentou consertar a coisa. - Logicamente é melhor quando podemos voltar para casa. - É verdade! Mas realmente anseio voltar para você – Marcela falou olhando-a profundamente. - Marcela! - Não se preocupe Carmem, Marcela sempre foi assim. É sincera demais. Estou feliz por estarem juntas. Preocupava-me pensando nela sozinha neste casarão. Ainda falam coisas absurdas sobre ela? - Sim. Cada vez mais. - As pessoas são estranhas – Riu balançando a cabeça – A luz sempre incomodou meus olhos. Não nasci cega. Fui perdendo a visão com o passar dos anos. Antes podia ver algumas sombras. Hoje não vejo mais nada. - Eu não sabia – Carmem lamentou surpresa. - Imaginei que não soubesse. Então era a tia que era cega, pensou rápido. Por isto Marcela se acostumou a viver no escuro. Não tinha nada de errado com ela. Soltou um suspiro ouvindo novamente a voz da tia dela. - Marcela cresceu numa casa escura. Logicamente culpa minha! Em minha casa só usava velas para não ferir meus olhos. Também estas luzinhas que ainda devem estar por aí nos rodapés das paredes. Resolvia quando podia ver sombras. Agora de nada servem. Você deve ter estranhado muito no início. - Sim. Custei a me acostumar. - Mas se acostumou. Justamente por isto vou morar aqui. Conheço a casa e não tenho dificuldade para andar. Deus, no entanto me deu uma compensação. Encontrei alguém que me ama como sou. - Não diga isto – Carmem comentou confusa. - Mas é verdade! Quem em seu juízo perfeito se apaixonaria por uma pessoa cega?
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Contos de Astridy Gurgel - O amor é um mistério. Não se explica – Carmem retrucou sorrindo. Certamente era o seu caso. Do contrario não sentiria as coisas que sentia por Marcela. - Exatamente – Telma sorriu cheia de vida – Nós logicamente não somos vampiras de espécie nenhuma. Ninguém é um vampiro porque gosta de vestir exclusivamente preto. - Isto nunca me passou pela cabeça. - Da sua certamente não Carmem! Mas passa pela cabeça das outras pessoas. Conheço a curiosidade doentia em torno da imagem dela. Não desaprovo seu comportamento. Vivemos num mundo muito perigoso. Não será vitima de nenhum sequestro ou coisa pior. Agora deixarei vocês. Tenho um encontro que não posso faltar. Pode me acompanhar até o carro, Marcela? - Claro que sim. Ficou olhando Telma caminhar sem precisar ser guiada. Foi até a janela vendo o motorista particular abrindo a porta do carro. Elas se abraçaram por alguns segundos. Depois Telma entrou no carro indo embora. Marcela entrou na sala vendo-a ainda na janela. Dirigiu-se a ela perguntando carinhosa. - Devo mandar servir o jantar agora? - Sim. Por favor. - Giana! – Chamou e a criada surgiu na hora – Pode servir o jantar agora. Carmem comentou enquanto caminhava para a mesa com Marcela. - Ela parece um fantasma surgindo assim do nada. - É impressão sua – Comentou aproximando-se de Carmem – Sentiu saudades? - Imagine – Riu surpresa. - O que é que te perturba tanto? - Nada me perturba – Respondeu enfrentando os olhos dela desta vez – Me incomoda o fato de minha mãe julgar que estou agindo feito uma prostituta. Afinal ela não está muito errada. - Se ela me conhecesse saberia que isto não é verdade. Nunca te tratei desta forma. Ou será que tratei? - Isto não importa – Riu puxando a cadeira e sentando. Sentadas, ficaram observando Giana servir a mesa. Quando ela saiu, Carmem provou um suculento camarão que lhe deu água na boca. - Está do seu gosto? Carmem ergueu os olhos brilhantes encarando-a com um sorriso. - Certamente! Adoro camarão. - Eu também. Voltou a comer tentando ignora-la. Estava sempre tentando ignora-la. Fazia isto porque sofria o dia todo sonhando voltar para os braços dela. Temia parecer óbvia demais. Não queria que Marcela soubesse da intensidade do seu desejo. - Tia Telma tem mesmo um grande amor. Foi se encontrar com ela agora. 42
Contos de Astridy Gurgel - Ela? - Sim. Ela também é lésbica. Não fazia ideia? - Não. Sou lésbica desde que me entendo por gente, mas não sou especialista em perceber quem é lésbica e quem não é. Até que se prove o contrário, todo mundo para mim é a primeira vista heterossexual. Tirando aqueles rapazes muito animados e os travestis. Porque estes são óbvios demais. - É um raciocínio seguro – Marcela admitiu pegando um camarão sem deixar de fita-la. - Não é de minha natureza julgar as pessoas tão rapidamente. Segurando o camarão pela cauda, Marcela o mergulhou no molho de curry a sua frente. Levou-o a boca num movimento tão sensual que Carmem desviou os olhos soltando um suspiro. - Algum problema? – Marcela perguntou voltando os olhos para ela curiosos. - Oh! Nada – Respondeu sem conseguir fita-la. - Eu adoro está nossa intimidade. Estamos aqui jantando e mal posso esperar a hora em que estarei entre suas pernas, fazendo-a gozar intensamente. Desta vez Carmem ergueu os olhos paralisados. Sentiu as coxas sendo inundadas. Engoliu em seco depositando o garfo sobre a mesa. Pegou o guardanapo sobre as pernas comentando aparentemente controlada. - Sei que diz certas coisas para me chocar. - Não exatamente. - Podíamos jantar simplesmente. O que acha? - Você é muito contida – Marcela falou pegando outro camarão e mergulhando no molho. Levou-o a boca chupando com os olhos fixos nela. Carmem gemeu sem se conter – Não imagina o que estou pensando? - Lógico que não. - Pois eu te digo – Sorriu descendo os olhos pelo colo dela lentamente – Imagino minha língua descendo pelo seu corpo até chegar ao seu sexo. Primeiro percorro suavemente sua carne macia. Depois bebo cada gotinha preciosa como se estivesse num deserto. Então começo a brincar onde você mais gosta até senti-la explodindo enlouquecida. - Eu... Não conseguiu terminar de falar. Marcela afastou a cadeira se aproximando rapidamente. Virou-a na cadeira, erguendo o vestido e afastando suas pernas. Carmem desceu as mãos segurando o rosto dela assustada. - Não, por favor... Giana pode aparecer e... - Ela só vai aparecer se eu chamar. Ela estava com os olhos brilhantes tamanho o desejo que sentia. Suas mãos começaram a acariciar as coxas firmes de Carmem. Com delicadeza tirou a tanga escorregando-a lentamente pelas pernas. Puxou o corpo de Carmem mais para a beirada da cadeira e mergulhou a boca no sexo encharcado. Passou a língua ao longo do sexo por alguns instantes. Então afastou o rosto buscando os olhos de Carmem sem esconder seu prazer. 43
Contos de Astridy Gurgel - Sabia que estava assim, chamando por mim. Temos que começar a vencer estes tabus. Vamos fazer tudo t udo que desejamos sem medos ou vergonha. Ajudarei você a se soltar mais. Voltou a percorrer a língua lentamente no sexo dela. Deixava a língua ir e vir varias vezes. Parou começando a chupá-la enlouquecida. Carmem estava com o corpo jogado para trás. As pernas completamente abertas quando a língua passou a brincar no seu clitóris cada vez mais rápido. Soube quando o orgasmo chegou que nunca tinha gozado tão intensamente como naquele momento. Viu Marcela ajoelhando-se a sua frente com um sorriso triunfante. Segurou o rosto de Carmem perguntando com a voz arrastada. - Agora diga o que quer fazer comigo. Carmem achou que nunca conseguiria pronunciar aquelas palavras. Mas abriu a boca falando com toda a vontade do seu ser. - Eu quero te comer e você sabe muito bem disto. Marcela riu soltando o rosto dela enquanto se erguia. - Uma coisa é certa Carmem! Se não me comer eu como você. Vamos para a cama. O jantar... – Riu olhando a mesa cheia – Fica para mais tarde. Venha! No quarto Carmem arrancou o vestido enquanto Marcela se livrava de suas roupas. Caíram juntas na cama. Carmem cobriu-a com seu corpo enquanto a mão desceu em busca dela. Tentou beija-la na boca, mas Marcela evitou virando o rosto e mergulhando a boca no pescoço dela. Começou a chupar o pescoço completamente fora de si. Carmem entrava e saia de seu sexo tão louca quanto ela. Suas pernas já tentavam se encaixar entre a coxa de Marcela quando ela subiu a mão tocando-a ansiosa. Carmem gemeu acelerando os movimentos da mão até explodirem juntas. Após gozarem não saiu de cima de Marcela. Ficou ali recobrando a respiração. Seu corpo ainda estava ardendo. O sexo voltou a abrir e fechar pedido mais. Suavemente encaixou o sexo contra a coxa de Marcela, mas esta se afastou avisando. - Assim não. - Mas... - Me chupa. Vou te dar também – Pediu trêmula. Carmem virou o corpo para cima levando o sexo na direção do rosto dela. Então afundou a boca nela. Marcela estava enlouquecida quando começou a chupá-la. Devorava-a com a língua, ouvindo os gemidos dela. Carmem fez o mesmo. Chupava perdida no sexo delicioso. Metia a língua ali se excitando cada vez mais. Ficou assim, cada uma enlouquecendo mais a outra. O gozo veio intenso atingindo-as ao mesmo tempo. Carmem caiu para o lado dando um suspiro aliviado. - Carmem? - Sim Marcela – Respondeu toda mole ao lado dela. - Foi bom para você? - Sim. - Poucas palavras como sempre.
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Contos de Astridy Gurgel Carmem começou a pensar em todas as vezes que tinham transado. Era sempre muito bom. Mas nunca tinha sido intenso como daquela vez. Nunca tinha sentindo tanta falta dos beijos na boca como sentiu desta vez. Por que Marcela não a beijava e nem permitia que a beijasse? Estava sempre evitando sua boca. Qual seria o problema com beijos? Precisava saber a razão. No entanto não queria que ela percebesse o quanto necessitava dos beijos dela. A boca dela era bonita demais. Cheia, carnuda, tentadora! Sempre que tinha oportunidade viajava naquela boca. Infelizmente apenas com os olhos. Seu sonho era chupar aqueles lábios até não aguentar mais. Queria se acabar naquela língua. Nossa! Como adorava beijo de língua. Não estava suportando mais ficar sem beijos. Beijo longo, profundo! Daqueles que dava para sentir até a alma da pessoa. Virou de lado falando baixo. - Não é que eu fale pouco. Quando o assunto é tão intimo fico tímida. Isto te incomoda muito? - Incomoda sim. Preciso saber se foi bom de verdade. Porque se não foi faço de novo até você ficar satisfeita. - Mas estou satisfeita. Foi perfeito – Confessou emocionada. - Você gosta de me comer? - Sabe que gosto. - Preciso que me diga. Preciso ouvir mais sobre isto Carmem. - Vou tentar. - Não quero que tente. Quero que me diga agora! – Falou alterando o tom de voz. Carmem riu ali no escuro. Estendeu a mão tocando os cabelos dela com suavidade. - Você é bem mandona, sabia? - Desculpe. É o meu jeito – Marcela respondeu baixo desta vez. vez. - Parece tensa – Carmem comentou atenta. - Se não percebe isto está me matando! - Isto o quê? - Este desejo! Não tem um minuto que eu não pense em transar com você. Fico louca de vontade o dia todo. Tenho ímpetos de te ligar e pedir que venha para casa. Para que possamos fazer varias vezes. - Por que não me liga então? - Você viria se eu ligasse? - Não sei, quem sabe! Por que não tenta amanhã e a gente vê? - Carmem? - Sim. - Você pensa em outras mulheres? - Na verdade... - Não! – Cortou sentando na cama agitada – Se vai falar de outra mulher não quero ouvir! Não se atreva! - Que ideia! – Carmem riu divertida. - Você ia falar de outra. Ouvi muito muit o bem.
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Contos de Astridy Gurgel - Não. Não ia falar de outra. Só ia dizer que penso que não faria mal nenhum se der uns beijos em alguma mulher. Não tiraria nenhum pedaço. Não é? - Pensa em beijar alguma mulher? Que mulher? Quem é ela? - Ninguém em especial – Riu virando na cama – Você não gosta de beijar e eu sinto falta de beijos. - Acho que não devemos nos beijar – Marcela falou deitando ao lado dela. - Por que não? - Você vive dizendo que quando me pagar nunca mais vai voltar aqui. Esqueceu? - E o que isto tem haver com beijos? - Se te beijar não vou ter mais paz. Viverei sonhando com seus beijos para sempre. Se te beijar não consigo deixar você ir embora da minha vida. - Isto é a coisa mais ridícula que já ouvi - Carmem falou surpresa – Não sou sua prisioneira. Se pensar isto fique certa que irei embora sim. Nada me fará ficar presa a você. - Não percebe o quanto eu me controlo? Acha que não vivo louca para te beijar? Acha que não perco o juízo evitando sua boca quando você a oferece quando estamos nos amando? - Não nos amamos! Nós apenas temos relações sexuais! Não venha querer me dizer que tem sentimentos por mim. Eu jamais acreditaria! - Mas que droga de coisa está dizendo agora? - Fique sabendo Marcela, que odeio este jogo estúpido que faz na cama comigo. Deixa-me tarada por beijos que sabe que não vai me dar! Odeio transar com você por causa disto. Odeio que me negue o que eu mais quero! - Isto não é nenhum jogo! Já disse as minhas razões! – Explodiu furiosa. - Pois para mim é uma grande sacanagem! - Ora... Marcela não terminou a fala. Louca da vida deitou furiosa sobre Carmem. A boca caiu num dos seios dela. Carmem tentou afasta-la dizendo furiosa. - Não quero! Deixe-me em paz! - Ah não! Não deixo não! Sua boca voltou a sugar o seio, mas desta vez o toque foi mais suave. Desceu a mão tocando o sexo dela. Carmem fechou os olhos sufocada. Tentou ficar fria sem sentir nada. Mas seu corpo já estava reagindo. O seu sexo já se movia em busca do prazer que aquela mão maravilhosa sabia dar. Marcela afastou-se descendo rápido mergulhando a língua em seu sexo. Carmem arqueou o corpo passando a seguir os movimentos da língua deliciosa. Não tinha como parar. Entregou-se até gozar abundantemente. Quando aconteceu já estava cega demais pelo desejo para voltar à razão. Girou o corpo deitando sobre Marcela. Desceu a boca pelo corpo dela desvairada. Sua boca tremia de tanta vontade quando caiu no sexo dela. Marcela ergueu o corpo, abrindo mais as pernas. Suas mãos acariciavam os cabelos dela. Carmem não tinha 46
Contos de Astridy Gurgel consciência de mais nada. Ficou ali até farta-la de tanto prazer. Quando se afastou Marcela puxou-a de frente para o seu corpo. Com um movimento rápido buscou o sexo dela. Carmem gemeu tombando a cabeça no ombro dela. Ficou assim enquanto Marcela entrava e saia dominando-a completamente. Carmem teve a certeza que ficaria a noite toda transando com ela sem se queixar. No instante em que começou a gozar, Marcela pegou sua mão fazendo com que ela também a tocasse da mesma forma. Explodiram juntas assim. O fogo de Carmem mal se apagou voltando a acender. Desta vez nem parou para se refazer. Forçou Marcela para a cama caindo louca de desejo sobre ela. Não soube que horas eram quando virou de costas para ela desmaiando de cansaço. Marcela e Telma entraram juntas no hospital na manha seguinte. Marcela seguia silenciosa de braço dado com a tia. Sentaram na sala de espera do oftalmologista com o qual Telma tinha uma consulta marcada. Ela suspirou comentando. - Odeio hospitais! - Eu sei – Marcela sorriu meiga. - Você não me parece bem. O que aconteceu? - Nada. - Brigou com Carmem? - Não é nada – Suspirou cruzando as pernas – Você sabe como sou difícil. - Sei sim. Mas está amando. Tudo deveria ser diferente. - Sou louca por ela. Quando isto começou achei que poderia me divertir um pouco. Aconteceu tudo diferente! Não tenho mais controle dos meus sentimentos. - Diga para ela e pare de sofrer. - Dizer? Está louca? Não dá. - Não complique a sua vida. - Ela nunca vai acreditar que gosto dela, tia! - Talvez tenha razão. Você foi suja demais. Obriga-la a ser sua amante! Que vergonha! - Eu sei que errei! Não precisa me dizer. Já basta minha consciência me torturando. - Só espero que não tenha sido a força – Telma comentou mais baixo. - Claro que não foi à força! Quem pensa que sou? Eu a amo demais! - Ama tanto que já não pensa com clareza. Não se deve humilhar uma mulher! Você nunca entendeu nada de mulheres. Uma mulher precisa ser conquistada lentamente. Dia após dia! Flores, perfumes e jóias. Falei tantas vezes. Parece que não aprendeu nada do que ensinei. - Estava louca por ela. Desde a primeira vez que a vi que não pensava em outra coisa. Precisava dela! Quando a vi diante de mim implorando não me contive. - Deu o bote! – Riu com desanimo – Tem que começar a ser mais humilde com ela. Precisa ir acertando as coisas para não destruir o que ainda resta. 47
Contos de Astridy Gurgel - Ela gosta de transar comigo. Eu sei... - Marcela! Pelo amor de deus! Todo mundo gosta de transar! Ela é jovem e saudável. É normal que aprecie o sexo. Não se sinta tão gostosona! Uma mulher precisa ser amada e não usada! Acorde! Seja digna dos seus sentimentos. Pare de esconder o seu amor! Deixe que ela conheça a verdadeira Marcela. Faça isto rápido antes que ela vá embora. Faça com que ela goste de fazer amor com você! Seja integra! - Você está certa. Eu sei que tenho que agir diferente com ela. - Exato! Pare de tratá-la como sua amante. Trate-a como o seu amor. Tem que desvenda-la! Faça com que ela queria voltar caso parta algum dia. A porta abriu naquele instante. O médico apareceu abrindo um largo sorriso. - Ora vejam! Telma! Que prazer revê-la! Por favor, vamos entrar. - Vai entrar comigo Marcela? - Não. Vou fumar te esperando lá no pátio. - Está bem! A tia foi ao encontrou do médico. Marcela suspirou sentindo-se horrível. Pegou o elevador descendo até o pátio do hospital. Saiu ali respirando o ar puro. Deu alguns passos parando ao ouvir os soluços de uma mulher. Voltou olhando para o banco mais a sua frente. Ela mexia na bolsa procurando alguma coisa. Estava muito nervosa. Sentiu pena dela se aproximando. Ela ergueu a cabeça batendo os olhos em Marcela. Reconheceu-a na hora. Devia ter imaginado, afinal, era o hospital onde o pai de Carmem estava internado. Alice Santiago agora a fitava f itava angustiada. - Precisa de ajuda? Posso fazer f azer alguma pela senhora? - Você tem um cigarro para me dar? – Alice perguntou sufocada no seu choro. - Mas é claro – Sorriu pegando o cigarro passando para ela. Pegou o isqueiro acendendo-o. Notou como as mãos dela tremiam – Quer um pouco de água? Talvez ajude a se acalmar. A senhora não parece bem. - Não estou mesmo – Alice falou tragando profundamente – Você certamente não tem um marido em coma! Nem uma filha nas mãos de uma louca que a obriga a ser sua amante! Após o desabafo ela pareceu se arrepender. Abaixou os olhos fugindo dos de Marcela. - Eu não devia ter dito nada disto! – Falou com tristeza. Marcela sentou ao lado dela no banco comentando tranquila. - Não tem problema. Parece que às vezes é mais fácil desabafar com um estranho. De ser a única forma de guardar um segredo. Alice ergueu a cabeça fumando silenciosamente por alguns instantes. Então voltou a falar com amargura. - Eu tenho algumas amigas. Penso em desabafar com uma delas. É uma ideia absurda! Como poderia explicar que aceito a homossexualidade da minha filha? - Acho que não seria fácil explicar isto – Comentou amigável.
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- Pois é! Pior seria explicar que não aceito-a com a mulher que está
- Pareceria estranho de fato. - Falam coisas horríveis desta mulher. Minha filha nem consegue mais me olhar nos olhos. Ela não se queixa, sabe? Parece que a mulher a pegou pelo sexo. - Será? - Somos mulheres. O sexo tem mesmo uma importância vital. Não entendo como é isto entre duas mulheres. As mulheres se conhecem – Riu sem jeito – Digo, devem se completar na cama. Penso que seja assim. O que você acha? - Acho que tem razão – Marcela falou erguendo os ombros. - O mundo mudou muito. Muitos pais não aceitam seus filhos homossexuais. A gente cria os filhos e quando crescem nada é como a gente sonhou. O filho parte para a droga. A filha vira lésbica. E a outra bem, talvez esta seja uma surpresa. Só o tempo dirá. - A droga é muito triste – Marcela falou baixo. - Não tive coragem de contar para minha filha. Quando ele bateu o carro ela ficou muito assustada. Só estou tentando polpa-la. Disse que não daria outro para ele e simplesmente mandou entregar um carro lá em casa. Não consigo entendê-la mais. - Posso imaginar a situação. - Preciso afastar minha filha desta mulher. Sinto que é perigosa. Uma depravada! Deve ser um monstro! Lógico que ela não me conta. Esconde tudo de mim para que eu não sofra. Mas sofro muito mais assim. - Deve ser difícil o que está passando. - Você não faz ideia – Telma comentou olhando-a neste momento. Achou-a lindíssima. Por que Carmem não conhecia uma mulher assim? Parecia ser uma boa moça. Sorriu perguntando curiosa para ela – Tem alguém seu internado aqui neste hospital? - Só vim trazer minha tia para uma consulta. - Ela está doente? - Ela é cega. É só mais uma exame de rotina. - Oh! Sinto muito! Até me esqueci que todos têm problemas. - O seu marido foi desenganado? - Sabe Deus se o que estes médicos falam é real. Já não sei o que pensar. Mas e você? Mora aqui na cidade? Você é casada? - Moro sim. E não casada. - Talvez pudéssemos tomar um chá ou um drinque qualquer dia. Às vezes me sinto sufocada. Você me ajudou ouvindo-me com tanta paciência. Pode me dar o número do seu celular? Se não for abuso, é claro! - Perfeitamente – Marcela sorriu abrindo a bolsa. Pegou uma caneta anotando o número para ela - Aqui está! Ligue-me quando precisar. Agora preciso ir. Gostei da nossa conversa. - Eu também. Obrigada por me ouvir. - Disponha – Sorriu seguindo para o hospital com o seu andar elegante. 49
Contos de Astridy Gurgel Alice ficou olhando-a entrar no hospital. Uma mulher gentil, meiga e compreensiva. E bonita! Não viu um único defeito nela. Que porte, que elegância! Certamente Carmem ficaria impressionada se a conhecesse. Falaria dela para a filha naquela noite. Daria um jeito de apresentá-las o quanto antes. À noite quando Carmem apareceu na hora do jantar, contou da visita que fez ao marido no hospital. Enquanto Carmem preparava dois drinques ela a cercou comentando animada. - Conheci uma moça maravilhosa hoje. Sabia? - É mesmo? – Carmem perguntou passando o drinque para ela, sentando no sofá – Fico feliz que esteja fazendo novas amizades. - É a mulher mais bonita que já vi na minha vida! Juro! - Nossa! Deve ser mesmo. Para te impressionar tanto assim – Riu admirada. - Não! Você não faz ideia! Conversamos muito. Ela não é como estes jovens desmiolados que andam por aí. É madura, atenciosa, paciente, gentil, meiga e prestativa. Tem uns olhos, uns dentes, um rosto lindo e um corpo que não dá para te explicar. Carmem sorriu pegando um cigarro. Mulher nenhuma era mais bonita que Marcela. Nenhuma tinha dentes e corpo mais lindos que o dela. Nenhuma tinha aquele olhar delicioso dela. Lembrou da noite deliciosamente quente que passou nos braços dela. Pena que não teve beijos. - Talvez vocês possam ser amigas algum dia. Você vai adorá-la. Você está precisando fazer boas amizades. Carmem fitou a mãe admirada. O que ela estava dizendo? Estava querendo jogar a mulher que conheceu nos seus braços? Sua mãe estaria ficando louca? - Está querendo arrumar uma mulher para mim? - Não seja vulgar porque não é nada disto! - Pois é o que está parecendo – Riu admirada. - Isto seria impossível, não acha? Você continua nas mãos daquela aproveitadora! - Não estaria nesta situação se papai não tivesse feito o que fez. Concorda? Alice tomou um gole de seu drinque suspirando. - Infelizmente é a pura verdade! - Que ótimo que reconhece. - Isto é fato e não pode ser mudado! O importante é que não se envolva emocionalmente. Entende? - Não começa de novo – Carmem pediu cansada. Aquele assunto a desgastava. - Conheço a vida. Sei o que estou dizendo. Ela pode ser boa de cama, mas sexo não é tudo. Um dia isto esfria e vira rotina. Acredite! - Mãe! Para! - Ora! Vamos Carmem! Certamente ela é o tipo que quando acaba a transa pergunta enfadonhamente: “Então, você gozou?” Confesse Carmem! 50
Contos de Astridy Gurgel - Era só o que faltava – Riu sem acreditar naquilo. - Há? Diga! - Mãe! Para com isto – Pediu terminando seu drinque. Ergueu-se pegando a bolsa – Viu papai? Como ele está hoje? - Vegetando como sempre! - Darei uma passada no hospital amanhã. Agora vou indo. - A perversa te chama! Por acaso ela te bate? - Mas... - Pelas chupadas no seu pescoço deve estar próxima disto – Comentou maldosa – Devia amarrar um lenço ai no seu pescoço. Carmem tocou o pescoço agitada. Inclinou beijando a mãe rapidamente. - Tenho que ir. Boa noite. - Vá – Falou meiga – Mas não se deixe marcar assim. É coisa de mulher vulgar. Tem que se dar ao respeito. Olha... Quando chegou à casa de Marcela ela estava na sala com a tia. Ofereceram um drinque para ela. - Sim. Aceito. Mas deixe que eu mesma... - Não. É um prazer para mim – Telma sorriu se erguendo e indo até o bar. Carmem deixou a bolsa sobre a cadeira aproximando-se de Marcela. Ela sorriu olhando-a intensamente. Estendeu a mão até a nuca de Carmem puxando-a contra seu corpo. Sua boca roçou a dela com extrema suavidade. Levou a boca ao ouvido dela prometendo num tom sensual. - Não serei mais pedante. A partir de hoje terá todos os meus beijos. Carmem afastou-se dela sentindo as pernas bambas. Telma se aproximou entregando o drinque. Carmem o pegou perguntando curiosa. - Como consegue saber onde estou? - O seu perfume. Está no ar e é delicioso. - Obrigada Telma. Telma sentou comentando tranquilamente. - Soube que assumiu a empresa de seu pai e que está se saindo muito bem. Deve ser uma responsabilidade muito grande. - Sim. É verdade – Respondeu correndo os olhos em Marcela – Superei as dificuldades provando para os que não confiaram em mim, que sou capaz! - Não ligue para as pessoas. Este mundo está cheio de hipócritas! Viver entre eles é difícil. Temos que estar sempre sorrindo quando gostaríamos de mandar todos para o inferno! Carmem deu uma gostosa gargalhada ao ouvir aquilo. - Tem toda razão! Muitas vezes é só o que tenho vontade de fazer. Marcela ficou quieta ouvindo a conversa entre as duas. Depois passaram para a sala de jantar. Lá, Telma comentou com as duas. - Hoje vou me recolher mais cedo. Já não tenho vinte anos para passar duas noites entregue aos prazeres do amor. - Dizem que depois dos quarenta a mulher renasce – Carmem comentou levando a taça de vinho aos lábios. Seus olhos estavam brilhantes. Ela se deu conta que se sentia renascendo. Teria os beijos que tanto ansiava. Mal podia
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Contos de Astridy Gurgel esperar para ficar a sós com Marcela. Lançou um olhar carregado de desejo na direção dela. Telma a fez desviar os olhos quando comentou mansamente. - É verdade, pois me sinto assim. Abri mão de uma vida, de um país que adoro, para vir viver com o meu amor. Tivemos uma noite linda. No entanto ela trabalha demais. Não poderia desgastá-la novamente esta noite. Tomarei o café da manha com ela. Adoro fazer amor pela manha. É quando estamos mais predispostas para o sexo. Certamente vocês sabem disto! - Tem toda razão. Marcela permanecia muda. O fato não mereceu comentário algum de Telma. Após o jantar ela deu boa noite as duas subindo em seguida sozinha. Marcela ergueu sua taça perguntando carinhosa. - Teve um dia muito difícil? - Como todos os meus dias são – Carmem respondeu tranquila. - E como eles são? - Trabalho, trabalho e trabalho! - Entendo. Carmem rodou a taça de vinho entre os dedos comentando intimamente. - Você não me ligou. Estranhei. - Você estava em reunião. - Não! – Suspirou soltando a taça – Se tivesse deixado um recado teria vindo correndo. - Foi só um desencontro. - Ficou decepcionada? - Só ansiosa. - Desculpe. - Sei como é. Não tem problema. Como está o seu pai? - Na mesma. - E sua mãe? Está mais calma? - É. Hoje estava mais calma sim – Comentou pensativa – Viu meu pescoço e me criticou. Fico tão sem graça quando ela toca t oca nestes assuntos. - Por quê? É sua mãe. É natural que se preocupe com você. - Isto é natural sim. Mas querer saber de minhas m inhas intimidades é demais. - Você devia dar mais atenção a ela. Poderia jantar algumas noites lá. Talvez quisesse dormir lá. Se quiser não vou me importar. - Não mesmo? Ora! – Riu feliz – Que bom que disse isto. Ela vai adorar ter mais tempo para conversar comigo. Obrigada por compreender. Agora você me surpreendeu. - Admito que tenha sido muito egoísta querendo você só para mim. - Você teve muitas amantes? - Eu? – Marcela riu pensando sobre isto – Só tive uma mulher. Tinha dezessete anos quando a conheci. Tinha uma mulher que ia muito à casa da minha tinha. Ela tinha uns peitos grandes, tipo aqueles que as Americanas têm. Ficava jogando o maior charme para mim. Comentei com minha tia e ela me disse assim: “Você deveria comê-la de uma vez. Assim vai te deixar em paz”. Foi o que eu fiz. Só que não fiquei f iquei livre dela. Deve ter durado uns dois meses. - Mais nenhuma depois dela? 52
Contos de Astridy Gurgel - Não. Ela me assustou mais do que você pode imaginar. - Por quê? - Era muito doida. Vivia se drogando e quando transava parecia querer consumir meu corpo. Gostava muito destes objetos que as pessoas usam. Aparecia sempre com um pênis de borracha. Um dia apareceu com duas louras amigas dela que queriam me comer de todo jeito. A coisa era toda muito doida. Comecei a fugir dela. Acho que minha tia percebeu e a colocou para correr. Ela sumiu de lá e minha tia nunca mais tocou no seu nome. Dei graças a deus! E você? Teve muitas mulheres? - Com certeza mais que você. Uns sete ou oito. Nada que tenha me marcado. Rolava um envolvimento, mas nunca morei com ninguém. - Entendo. - E quanto a sua tia? Por que a mulher dela não vem aqui? - Virá qualquer dia. Isto é coisa delas. Não pergunto. - Ela realmente não se importa por sua tia ser cega? - Suponho que não. Nem sei se ela pensa sobre isto. Ficaram se olhando em silêncio. Carmem estava pensando nos beijos que ela prometeu quando entrou em casa. - Por que mudou de ideia sobre os beijos? - Por que também os quero. Nunca deixei de querer. - Então, por quê? – Carmem insistiu ansiosa. - Usei isto para te deixar fissura da em mim. m im. Percebia como ficava louca querendo minha boca. Fiz isto para te manter, você sabe – Sorriu erguendo os ombros num sinal de desculpas. - Ta. Eu sei. Você sabe que foi um golpe muito baixo, não é? - Sei sim. Desculpe-me. - Hoje você está parecendo uma santa - Riu admirada – O que te deu? Por que está assim tão boazinha? - Estou desarmada Carmem! Agora nos conhecemos um pouco melhor. Não tenho mais que usar uma mascara para esconder meus sentimentos. Acredito que você não acha mais todas as coisas ruins que achava de mim no início. Carmem ficou em silêncio olhando-a pensativa. Ela estava muito diferente. O som do telefone tocando cortou o clima entre elas. Marcela se ergueu. Carmem fez o mesmo avisando baixinho. - Se não se importa, vou subindo na frente. - Não vou demorar – Prometeu voltando-se para Giana que entrou naquele momento. - O senhor Santos está no telefone. Disse que é urgente. Carmem entrou no quarto estranhando aquele telefonema. O telefone praticamente não tocava ali. Era o lugar mais silencioso do mundo. Nem os empregados faziam barulho. Eles realmente temiam Marcela. Carmem agora sabia que era por causa dos boatos absurdos que estavam sempre inventando sobre ela. Mara, a arrumadeira sempre arregalava os olhos quando ouvia o nome dela. Naquela casa apenas Giana a conhecia. Ficou sabendo que Giana era a empregada mais antiga da casa. Giana tinha sido contratada quando 53
Contos de Astridy Gurgel Marcela tinha seis anos de idade. Tinha ido com ela morar na casa de Telma na Inglaterra. Estava trabalhando com Marcela há vinte e dois anos, já que Marcela estava com vinte e oito anos de idade agora. Nas outras vezes que ouviu o telefone ali, Giana nunca tinha vindo chamar Marcela. Mesmo estranhando demais o fato foi tomar um banho. Quando voltou ao quarto, Marcela estava entrando. Veio rapidamente ao seu encontro. Sentou na cama puxando Carmem para o seu lado. - Estava começando a pensar que tinha esquecido de mim – Carmem falou enlaçando o pescoço dela. - Carmem... - Não – Pediu encantada com os olhos fixos na boca dela. Seus olhos cintilavam quando inclinou a cabeça roçando suavemente os lábios nos dela. Puxou o corpo de Marcela mais para junto do seu. Suas bocas começaram a se tocar com ansiedade. Carmem soltou um gemido de prazer. Sentiu o corpo reagindo na hora. Os bicos dos seios de Marcela já eriçavam espetando a blusa de seda que ela usava. Enfeitiçada Carmem entreabriu a boca junto à dela. O beijo que ambas tanto queriam aconteceu mansamente. Suas bocas perderam-se sem reservas. Carmem sentia a língua morna quando passou a sugá-la fora de si. Suas mãos desceram em busca dos seios de Marcela afoitas. Os dedos trêmulos começavam a soltar os botões quando Marcela se afastou arfando pesadamente. - Espere... Precisamos conversar sobre... - Agora não – Carmem gemeu empurrando-a para a cama e deitando rápido sobre ela. Marcela agarrou suas mãos falando logo. - Aconteceu uma coisa grave que você tem que saber. - Meu deus... Agora? – Gemeu balançando a cabeça enquanto tentava pensar com clareza. Seu corpo todo queimava e tremia dominado pelo desejo. Marcela afastou-se acendendo o abajur ao lado da cama. - Está tudo bem. Mas você precisa saber. - Meu... Pai? – Perguntou tocando o peito sufocado. - Seu irmão foi preso agora há pouco. Meu advogado acabou de ligar. Sua mãe já deve ter sido avisada e deve estar desesperada precisando da sua ajuda. - O que foi que ele... O telefone voltou a tocar. Marcela comentou passando-o para ela. - Deve ser sua mãe. Carmem saltou por cima da cama pegando o telefone. - Alô? - Filha? Ah que bom. Eu... - Acabei de saber – Contou sentando na cama – Fique calma porque estou indo buscá-la agora. - O que faremos? Não quero meu filho preso – Lamentou desabando a chorar do outro lado da linha. - Vamos dar um jeito. Já estou indo. Desligou voltando os olhos assustados para Marcela. 54
Contos de Astridy Gurgel - O que foi que ele fez? - Quebrou um bar inteiro com uma turma. Estavam todos bêbados e drogados. - Oh não! Droga não – Gemeu se erguendo e olhando em volta perdida – Você sabia sobre ele estar usando usando drogas Marcela? - Desconfiava. Sabia que estava andando com péssimas companhias. Ia falar com você sobre isto. Estava escolhendo um momento melhor. Fica sempre furiosa quando comento algo sobre sua mãe e seus irmãos. Meu advogado está lá na delegacia cuidando de tudo. O motorista vai te levar. Não está em condições de dirigir agora. Carmem fitou a boca dela ansiosa. Passou a mão nos cabelos comentando triste. - Logo agora. Preciso me acalmar. Queria tanto... – Calou-se olhando a cama – Você sabe! Oh! Minha bolsa, eu... Sabe onde a deixei? – perguntou perdida. - Você a deixou lá em baixo na sala, querida! - Bem, eu... - Me ligue se precisar de alguma coisa. Marcela abraçou-a com força junto de si. Carmem correspondeu mergulhando a boca na dela. Beijaram-se longamente. Afastaram-se com dificuldade. Carmem acariciou o rosto dela pedindo baixo. - Me espere, espere por que preciso demais de você. Não sabe o quanto preciso. - Claro que espero. Desceram juntas até na sala. Marcela entregou a ela a bolsa. Carmem saiu correndo sem olhar para trás. Estavam na delegacia uma hora mais tarde. Foram levadas para uma sala reservada. Esperaram mais meia hora até que dois guardas vieram com Ricardo. Envergonhado sentou numa cadeira sem conseguir encarar as duas. Os policiais saíram e Alice se aproximou dele começando a dar tapinhas nos braços e no rosto dele. - O que pensa que está fazendo? Não tem dó de nós? As mãos dela não paravam. Por um momento Carmem ficou olhando para ela e teve vontade de rir. A forma como ela batia, e as coisas que falava para ele eram muito divertidas. A mãe tinha aquela veia dramática da qual Carmem supunha que ela nem tinha conhecimento. - Isto é coisa de moleque! Você é moleque? Desde quando? Vai, me diz desde quando é um mulecote? - Ta pensando que vai ser moleza? Que vou te deixar nesta corda bamba? Acabou! Nem mais um minuto! E não fala nada! Não vou escutar nada! Se falar apanha! E olha que não quero te bater! Porque se bater você vai ver só uma coisa! As mãos dela acertavam agora as costas e novamente nos braços. - Que vergonha! Eu numa cadeia! Que humilhação! Você me paga Ricardo! O carro acabou! Não tem mais carro! Não tem mais rua! Não tem mais 55
Contos de Astridy Gurgel turminha! Não tem mais bebida e nem essa coisa... Essa coisa nojenta viu? Acabou tudo! - Mãe... – Ele tentou falar tomando mais um tapa na cabeça. - Cala a boca! Não abre! Nem tenta! Quebrou um bar inteiro? Você ficou louco? Quer que eu te interne num hospício? Olha que eu interno! Não me conhece seu... Comodista! Safado! Irresponsável! Saltimbanco! Sanguessuga! Volúvel! Ah gente! Que absurdo! Ser pego num flagrante! Vai arrastar nosso nome para a lama! Ignaro! Oh! – Parou voltando-se para Carmem desorientada – Ele não sai mais de casa! Vou trancar a matricula na escola! Não vai ter nem um tostão mais! Chega de dinheiro... Enquanto a mãe ia falando sobre todos os problemas que ele vinha causando nos últimos meses, Carmem ouvia silenciosa e assustada. Descobriu a que mãe vinha poupando-a com os problemas que vinha tendo com o irmão. Até num pequeno furto ele tinha se metido com a turma que estava andando. Muito tempo depois à mãe se calou afastando-se dele. Acendeu um cigarro aproximando de Carmem. Tocou seu braço explicando baixo. - Eu te poupei o Maximo que pude. - Não devia ter passado por tudo sozinha. - Você já tem coisas demais com o que se preocupar. - Mesmo assim – Carmem falou olhando para o irmão com um suspiro. - Será que o advogado vai conseguir tira-lo daqui? É o advogado de Marcela Alvarez, não é? - É mãe! É sim – Sorriu segurando o braço dela com carinho – Eu não pedi este favor! Ela o mandou porque quis. - Menos mal! Carmem encostou a cabeça na parede fechando os olhos angustiados. Sua mãe precisava dela. Tinha que voltar para sua casa. Falaria com Marcela. Certamente ela entenderia suas razões para voltar para casa. No momento era o melhor que podia fazer. - Estou aliviado por Marcela nos ajudar neste momento – Alice falou tirando Carmem de seus pensamentos – O que me preocupa é o preço que isto pode te custar. - Uma ajuda assim não tem preço. A senhora devia saber disto. - Hum! Poder ser – Alice murmurou desconfiada – Está mulher te transformou numa sirigaita! Não confio em nada que ela faça! Carmem olhou para ela chocada. - Sirigaita? Eu? Imagine! - Se não for pior – Lamentou sofredora. Para alivio de Carmem, trinta minutos depois o advogado conseguiu a liberação de Ricardo. Quando entrou em casa o irmão foi direto para o quarto de castigo. Carmem sentou na sala com a mãe ouvindo suas queixas. Neste momento, Laura entrou com os cabelos molhados. Olhou para o rosto da mãe e perguntou admirada. - O que aconteceu? Papai... - Seu irmão foi preso! Mas graças a deus já está lá em cima de castigo. 56
Contos de Astridy Gurgel - Ah mãe! – Lamentou indo abraçá-la carinhosa. Depois de ouvir toda a história da mãe, Laura a levou para se deitar. Quando ela voltou à sala, Carmem estava servindo um drinque. - Não sei o que vamos fazer com Ricardo – Laura comentou se aproximando e pegando a garrafa. - Daremos um jeito. Vou voltar para casa. - Mesmo? Mas e sua amiga? Estão terminando? - Não. No momento mamãe precisa muito do meu apoio. Carmem acendeu um cigarro observando a irmã com atenção. Olhou os cabelos molhados atenta. Será que Laura também tinha se transformado numa sirigaita? Teve vontade de rir com o pensamento. Sua mãe tinha cada ideia. - Você está muito bonita. Sabia Laura? - Não tanto quanto você – Sorriu tocando a mão dela. - Estava com alguém? - É. Estava. - Não quer me contar? - Não tenho nada para contar. - Você é lésbica, não é? Laura desviou os olhos de Carmem fitando seu drinque. Ela riu virando o resto de uma vez. Ergueu-se beijando o rosto de Carmem. - Que bom que vai voltar para nós. Seja bem vinda. Boa noite. Ficou olhando-a subir pensativa. Por que não respondeu a sua pergunta. Um minuto depois pegou o telefone discando para Marcela. Seu coração disparou quando ouviu a voz dela. - Carmem? Que bom que ligou. Já estão em casa? - Estamos sim. Vou dormir aqui. Temos que conversar seriamente. - Sobre o que? - Amanhã irei vê-la na companhia. - Se quer assim. Carmem? - Sim? - Sinto sua falta. - Que bom! – Riu baixinho – Boa noite. - Boa noite. Na manhã seguinte foi primeiro ao hospital. Depois foi ao encontro de Marcela. Estava distraída mal prestando atenção enquanto atravessava o saguão luxuoso. Deu de cara com Roberto na porta do elevador. - Carmem? Meu deus! – Suspirou aliviado – Não recebeu meus recados? Liguei inúmeras vezes para sua secretária. Tinha mesmo recebido os recados. Preferiu ignorar porque não tinha nada para contar de Marcela para ninguém. Muito menos para ele. - Recebi sim. Infelizmente não tenho nada para te ajudar. - Será possível que não possa me dar uma mãozinha? - Tenho problemas demais na minha vida. Por que não esquece isto? - Esquecer? – Ele perguntou horrorizado – Acaso ficou louca? Essa mulher é o passaporte para a fama. É impossível esquece-la. Por que não me ajuda? 57
Contos de Astridy Gurgel Carmem suspirou vendo as portas dos cinco elevadores fecharem pela segunda vez consecutiva. Olhou para o relógio ansioso. - Desculpe! Tenho uma reunião agora. - Com ela? Estacou olhando-o com um novo suspiro. - E for com ela? Por que acha que te diria alguma coisa? Podemos ter estudado juntos e até ter sido amigos, mas acredite o que vocês jornalistas fazem com a vida de uma pessoa me dá nojo! - Mas... Foi levada até a imensa porta pela mesma secretária. Ela abriu a porta anunciando. - A senhorita Santiago está aqui! Carmem entrou na sala completamente escura. Foi direto até uma das janelas abrindo a cortina. Depois arreganhou a janela voltando-se para ela. Marcela estava olhando-a de trás da mesa com um sorriso divertido. - Deve ser muito sério para que precise de tanta luz. - Que bom que percebeu – Riu abrindo a bolsa e tirando um cheque que trouxe pronto. Colocou-o na mesa diante dela – Tem ai cinquenta por cento da divida que tenho com você. - Vai sair da minha casa? – Perguntou olhando o cheque sem tocar nele. - Preciso voltar para casa. Eles estão cheios de problemas. Não me perdoarei se algo pior acontecer. - Isto quer dizer que não vou mais te ver? – Marcela perguntou agitada. - Continuarei indo te ver. Só preciso deixar as coisas se acalmarem lá em casa. Minha mãe já está até me chamando de sirigaita - Marcela não disse nada. Ficou olhando-a sem esboçar nenhuma reação. Carmem sorriu colocando as mãos sobre a mesa fragilizada. f ragilizada. - Não me olhe assim. Por favor! - Não te quero nas horas vagas. Quero o tempo todo. Não sei se vou suportar este sacrifício. - Estou vivendo um momento critico. Preciso ajudá-los. Parece que até minha irmã tem problemas. Infelizmente ela não se abre comigo. Marcela cruzou os braços olhando-a pensativa. - Você por acaso... - O que acha que é Carmem? - Não sei. O que é? - Dois amores! - Dois? Dois homens? - Não. Um homem e uma mulher. No momento sua irmã é bi-sexual. - Por que não me contou? - Eu disse que estava cuidando deles. Não lembra? - Mas... Isto vai deixar minha mãe pior do que já está. - Duvido que ela fique sabendo agora. Talvez sua irmã possa vir a fazer uma escolha. Tudo é possível. - Meu deus! – Suspirou chocada. - Por que está tão surpresa? 58
Contos de Astridy Gurgel - Porque ela é tão certinha. Tão comportada e ajuizada. Nunca me passou pela cabeça. - Bem, qualquer um que ela escolha sua mãe vai aceitar. Quanto a mim será muito difícil. Sua mãe me odeia. - Vou voltar para casa e falarei com jeito sobre você. - Vai contar de nossa intimidade? - Não. Imagine! Outras coisas que sei que ela preza. - Entendo. Carmem estendeu a mão tocando o rosto dela. Seus olhos caíram na boca dela enquanto confessava enfeitiçada. - Não faz ideia como foi difícil voltar à realidade ontem depois que começamos a nos beijar. - Faço sim – Marcela gemeu colando o corpo ao dela – Passei a noite toda pensando em você. - Teremos que nos controlar – Sussurrou com a boca entre os cabelos dela. - Por quê? - Você sabe – Riu descendo as mãos pelas costas dela – Não posso enlouquecer ardendo de desejo sem poder te ver. - Eu irei até você – Contou agarrando a cintura dela com força. Sua boca Encontrou a de Carmem numa fome incontrolável. Aquela loucura que as consumia voltou com toda intensidade. As mãos começaram a busca pela carne. Carmem permitiu que Marcela arrancasse suas roupas, fazendo o mesmo com ela. Abriu as pernas sem o menor pudor. Chegou o corpo para a beirada da cadeira ansiosa. Soltou um gemido alto quando Marcela aninhou a língua no seu sexo quente. Nua e entregue ela gemeu sem controle até o orgasmo maravilhoso invadir seu corpo. Então foi para o chão com a língua tremula em busca dela. Amaram-se ali esquecidas do mundo por mais de uma hora. Quando o momento de loucura passou, Carmem recolheu suas roupas assustada. Mal se reconhecia! Estava agindo feito uma louca. Há poucos dias só pensava em pagar aquela divida e não vê-la nunca mais. No entanto estava ali transando e fazendo promessas. Vestiu-se rapidamente. Pegou a bolsa falando séria. - Preciso ir trabalhar! É tarde. Tenho uma reunião agora. Eu irei a sua casa quando... Puder. Tá bom? Marcela acercou-se dela mergulhando a boca na dela. Beijou-a longamente. Buscou os olhos de Carmem falando misteriosa. m isteriosa. - Vamos nos ver antes disto. - Não sei. - Obrigada por ter vindo. - Até... Logo. Saiu da sala de pernas bambas. Sua vontade era voltar e começar tudo de novo. Não conseguia parar de pensar nos beijos maravilhosos e na língua tremendo em seu sexo. Soltou um suspiro sem se dar conta que estava no elevador. As pessoas em volta a fitavam surpresas neste momento. Tocou a parede do elevador como se estivesse acariciando o corpo de Marcela. Suas 59
Contos de Astridy Gurgel coxas voltam a se inundar. Trançou uma perna na outra em outro mundo. Seus lábios se abriram deixando escapar um gemido rouco de prazer. - Ah... O silêncio imediato que se fez a sua volta chamou sua atenção. Fitou todas aquelas pessoas que a olhavam horrorizadas. A porta do elevador abriu neste momento. Carmem praticamente voou para fora. Sumiu dali sem olhar para trás. Chegou à empresa e correu para a reunião. Quando está acabou saiu para almoçar com sua secretária. Carmem observou Solange sentada ao seu lado no carro. Lembrou dos dias em que os olhos dela viviam constantemente inchados de chorar. Numa conversa que tiveram, ficou sabendo que ela e o marido tinham se separado. Com o tempo ela não chorou mais e agora parecia completamente refeita daquela crise. - O seu divorcio já saiu? – Carmem perguntou amigável. - Sim. Graças a deus! Sou uma mulher livre agora. Nunca mais cometo essa loucura de me casar. Casamento uma é droga! - É mesmo? - No início tudo são flores. Mas quando começa aquele papai com mamãe é o fim. - Para que a vida sexual não caia na rotina é preciso ter certa criatividade. - Homem não da conta de criar não! Só consegue montar! – Falou com descaso. - De homem eu não entendo nada – Carmem riu divertida. - Felizmente eu entendo. Por um lado o casamento me ensinou isto. Este lado insuportável da rotina sexual. Agora, se o relacionamento que estou tendo começa a ficar assim, termino e parto para outro. Tem muito homem dando sopa. Não me prendo mais! - Mesmo se você estiver apaixonada? - Não me apaixono mais. A paixão é a pior coisa que pode acontecer num relacionamento. A gente perde a razão. Deixamos de ser donos de nós mesmos. Carmem suspirou desolada. Tinha se apaixonado. Por isto estava assim. Aquela inquietação, aquela necessidade simplesmente não passava. Chegaram ao restaurante neste momento. Maria Dantas estava almoçando sozinha numa mesa. Carmem achou que seria deselegante sentar em outra mesa. Por isto foi direta para a mesa dela. Perguntou se poderiam almoçar com ela. Maria deu um largo sorriso apontando a cadeira. - Sinto pelo meu atraso na reunião desta manha. Não vai mais acontecer. Carmem a fitou notando o brilho intenso nos olhos dela. Não disse nada. Entendia estes atrasos. Ela mesma quase tinha se atrasado naquela manhã. Foi um sacrifício sair dos braços de Marcela para ir trabalhar. Seus olhos percorreram o restaurante sem fixar nada nem ninguém. Continuou olhando distraída. Seus olhos caíram numa mulher de preto, sentada numa mesa próxima à porta. Aquela mulher era a mesma que estava sempre vendo 60
Contos de Astridy Gurgel em todo lugar. Estava lendo um jornal com um ar distante. Voltou os olhos para Maria Dantas. Ela também estava novamente de preto. Marcela, Maria, Telma e aquela mulher. Mas que diabo era aquilo. Será que... - Algum problema? – Maria perguntou percorrendo as mesas com o olhar curioso. - Hum! O que foi? - Você está estranha. Algum problema? - Não! Nenhum! – Falou voltando a fitar a mulher. m ulher. Marcela sabia tudo sobre ela e sua família. Então aquela mulher era a espiã dela. Claro! Onde andava com a cabeça que não percebeu aquilo antes? Andava tão envolvida por ela que nem percebia as coisas a sua volta. Imagine! Não sentiu raiva por comprovar que era mantida sob vigilância. Por que Marcela fazia aquilo? Seria só para controlar sua vida? Para saber se a traia? O que desejava de fato com aquilo? - Sua comida está esfriando – Solange avisou tocando o braço dela. - Há? Voltou a fitar a mulher. Ela pediu a conta deixando o restaurante. Carmem riu pensando desconfiada: “Isto aqui não é Hollywood moçinha e você não me engana mais”. - Carmem? - Desculpe – Sorriu fitando as duas. Voltou à atenção para o prato começando a comer. Seus olhos caíram em Maria. Viu a marca de uma chupada no pescoço dela. Sorriu comentando maldosa – Teve um bom motivo para o seu atraso de hoje. Maria sorriu e o brilho nos olhos dela ficou mais evidente. - Me sinto a mulher mais feliz deste mundo. - O amor é lindo! – Carmem comentou com a voz emocionada. - O amor é tudo! – Maria murmurou descendo os olhos para a mão delicada. Passou o dedo sobre um anel de ouro com um brilhante pequeno no centro. Ergueu os olhos encarando Carmem novamente – Este anel representa a minha vida. - É muito bonito – Elogiou olhando o anel com atenção – Parece ser para a vida toda! - Forever! Carmem ficou olhando aquele anel por mais algum tempo. Só então voltou a comer pensativa. Onde tinha visto um anel como aquele? Ou teria visto exatamente o de Maria e estaria fazendo confusão? Aquela sensação estranha continuou martelando sua cabeça o resto do almoço. Quando deixaram o restaurante Carmem parou na calçada olhando para todos os lados. Avistou a mulher encostada numa banca de revistas. O jornal cobria seu rosto inteiramente. As botas pretas e a calça preta não deixaram duvida de que era ela. Atravessou a rua aproximando-se da banca para ter certeza que era ela. Ela estava mesmo ali enfiada atrás do jornal. Carmem riu seguindo para sua empresa lentamente. 61
Contos de Astridy Gurgel Na sua sala, envolveu-se nos assuntos do trabalho sem perceber a tarde passar. Eram quase cinco horas quando Solange apareceu avisando-a. - Tem uma mulher ai dizendo que você precisa muito vê-la. - Quem é? - Não sei Carmem. Nunca a vi. Carmem ergueu as sobrancelhas pensando em Marcela. Seria possível? - Está vestida de preto? - Sim – Riu confusa – Como é que você sabe? - Foi só um palpite. Mande-a entrar e não nos interrompa por nada. Um segundo depois Marcela surgiu diante dela. Fechou a porta indo em seguida até a janela atrás de Carmem. Abaixou a persiana voltando-se para Carmem decidida. - Desculpe-me se não sei esperar. Paciência não é meu forte. Carmem olhou para a persiana perguntando curiosa. - Qual o seu problema com janelas? - Você quer dar um escândalo diante de todas essas janelas? - Escândalo? Marcela puxou-a para si mergulhando a boca na dela. As mãos entraram por baixo da blusa chegando até os seios. A boca deixou a de Carmem para sussurrar em seu ouvido sedutoramente. - Tenho um problema que só você pode resolver. Carmem sorriu enquanto abria a blusa dela. A boca caiu num dos seios faminta. Marcela abriu rápida sua calça e em seguida a dela. Livrou-se das roupas sentando diante de Carmem. Esfregou os seios contra a boca dela. Carmem sugou um a um arrancando gemidos roucos dos lábios dela. Marcela tinha as mãos presas no encosto da cadeira dela e o corpo jogado para trás. As pernas estavam arreganhadas. Carmem empurrou-a sobre a mesa sem se conter. Puxou a calçinha e mergulhando no sexo delicioso. Os gemidos de Marcela se pediam além da sala. Carmem não se fartava. Ficou nela até sentila gozando intensamente. Numa rapidez inexplicável Marcela trocou de lugar com ela e foi sua vez de percorrer o sexo delicioso. Carmem perdeu a consciência entregando-se perdida nos gemidos de prazer. Ficaram assim até que o orgasmo a invadiu. Ela sorriu escorregando para o colo de Marcela em sua cadeira. Abraçou-a perguntando encantada. - Está querendo me matar deste jeito? - Acha que é demais para você? – Riu roçando sua boca e voltando a beijá-la profundamente. Suas línguas se tornaram uma só por um longo tempo. Já estavam ardendo novamente. Juntas desceram as mãos tocando-se ao mesmo tempo. O beijo continuou intenso e profundo até o prazer atingi-las pela segunda vez. Carmem recuperou o controle saindo de cima do colo dela. Recolheu suas roupas vestindo-se em silencio. Marcela fez o mesmo. Vestida completamente Carmem encostou na mesa perguntando num tom suave. - Você acha que estou querendo fugir de você? - Não. Por quê? Você está?
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Contos de Astridy Gurgel - Não. Eu te disse o que é. Você nunca veio aqui. Não gostaria de pensar que está tentando me manter mais dependente de você do que já estou. - Dependente? É assim que se sente em relação a mim? - Não me encha de perguntas por que não estou preparada para respondê-las – Pediu dando as costas e acendendo um cigarro. - Algum dia terá que falar do que sente. - Sim. Algum dia – Respondeu voltando-se para ela – Espero que seja muito sincera se este dia chegar. - Engraçado! – Marcela comentou olhando-a admirada – Não acredita que podemos ficar juntas? - Devo te lembrar como isto começou? – Perguntou perturbada. - Não nos conhecíamos – Falou rindo confusa – Tudo mudou desde então. Não acha? - Não sei. Não quero pensar nisto. O que temos é bom e me basta. Não faça-me cobranças. - Mas Carmem... - É melhor você ir agora. Tenho que voltar para casa. - Ta bom! – Falou fitando-a longamente e deixando a sala em seguida. Carmem ficou olhando a persiana abaixada com o pensamento longe. Ouviu uma batida na porta e Solange apareceu olhando-a admirada. Carmem voltou-se suspirando. - O que foi? Solange estava em pé olhando a bagunça na mesa de trabalho dela. Vários objetos estavam caídos no chão. Solange ergueu os olhos enquanto se baixava começando a recolher os objetos. - São seis horas. Vim apenas ver se ainda precisa de mim. Vou recolher essas coisas antes de sair. Carmem não disse nada. Arrumou sua bolsa e passou por ela dizendo num tom gentil. - Não preciso de mais nada. Tenha um bom fim de semana. Sinto pela bagunça – Parou olhando em volta sem acreditar que tinha feito aquilo enquanto fazia amor – Até segunda-feira! - Até segunda. Não viu Marcela nem teve notícias dela durante uma semana. Seguravase para não ligar para ela. As lembranças do último encontro com ela em sua sala fazia seu rosto corar. Certamente Marcela devia pensar que ela era muito fácil. Podia possuí-la em qualquer lugar. Não tinha vergonha nem pudores quando estava nos braços dela. Na verdade não tinha nada mais. Nem seu coração era mais seu. Tinha dado tudo a ela. Precisava conservar ao menos o resto de dignidade que ainda restava. Uma saudade insuportável a consumia dia e noite. A noite rolava na cama com os olhos fixos no telefone. Ela tinha enviado a sua mala. Isto bastou para deixar sua mãe muito feliz. Carmem estava em pé na cozinha. Comia um cacho de uva observando a mãe colocar uma carne no forno. Deu um suspiro falando baixo. 63
Contos de Astridy Gurgel - Mãe? Queria te falar uma coisa. Podemos conversar? Alice se voltou dando um largo sorriso. - Mas é claro filha. O que foi? - Eu queria que a senhora soubesse que Marcela não é uma pessoa má. - Carmem! Por favor! Claro que ela é uma péssima pessoa! - Não, não é não. A senhora não entende. Fui muito feliz enquanto morei com ela. Ela é gentil, é doce, é... - Está dizendo isto porque transava todo dia. É natural que julgue que aquilo foi felicidade. - Não foi só sexo. Eu... - Carmem! Não quero ouvir nada sobre essa mulher! Chega! - Mãe... - Vou subir para tomar um banho. Já desço para jantarmos. Ficou muda olhando a porta bater. Sentou numa cadeira sentindo-se horrível por dentro. Uma tristeza que nunca tinha sentido não saia mais do seu peito. A mãe desceu uma hora mais tarde. Estavam jantando em silêncio quando ela comentou fitando os três filhos com pesar. - O natal está chegando! Vai completar nove meses que o pai de vocês está naquele hospital. - Mãe? - Eu sei Laura – Suspirou voltando a comer. Carmem afastou o prato praticamente cheio fitando a mãe com carinho. - Se a senhora não quiser não faremos nenhuma comemoração neste fim de ano. - Eu ainda não sei. Não sei mesmo. - Pense e me diga o que decidir. - Será que temos algo para comemorar? – Perguntou fitando os três. Um suspiro geral encheu a sala e ninguém falou mais nada. Carmem acendeu um cigarro correndo os olhos no telefone disfarçadamente. Alice afastou a cadeira comentando baixo. - Vocês vão me dar licença, mas vou dar uma saída. Preciso arejar minha cabeça. Eu não demoro. Marcela entrou no restaurante trinta minutos depois olhando para todas as mesas. Viu Alice seguindo para a mesa dela com um largo sorriso. - Olá! – Cumprimentou beijando-a no rosto. - Desculpe ter ligado tão tarde Marcela. Estou me sentindo péssima. Preciso desabafar ou fico louca. - Eu entendo – Falou estendendo as mãos e apertando as dela afetuosamente - O que aconteceu? - Tudo e nada! Meu marido ainda está lá sem esperanças de melhora. - Sei o quanto é difícil para você. - Eu me sinto como se fosse ao velório dele todos os dias. Marcela a deixou desabafar e chorar sem interrompê-la. Quando Alice acalmou-se, voltou a falar envergonhada. 64
Contos de Astridy Gurgel - Sinto muito pela cena. Desculpe. - Não se preocupe com isto. - Lembra do meu filho? - Sim. - Foi preso. Uma coisa horrível. - Sinto muito. - Por causa disto minha filha voltou para casa. Está esquecendo aquela mulher que fez tanto mal para ela. - Acredito que tudo vai passar. Virá um tempo mais feliz para a senhora. - Você nem sabe meu nome – Riu sem jeito – Me chamo Alice. E você? Marcela pensou se devia inventar, mas respondeu sincera. - Marcela. - Marcela? Que coincidência absurda! Aquela mulher também se chama Marcela. - É muita coincidência mesmo – Marcela riu contida. - Você me disse que é solteira. Continua solteira? - Continuo. - Não aprecia o casamento? - Apenas fiz uma escolha diferente para minha vida. - Ah sim! – Riu satisfeita – Você é o que estou pensando? - Sou lésbica – Contou com orgulho – Espero que isto não assuste. - Oh querida! Imagine! Não te falei de minha m inha filha? - Falou sim. - Você não faz ideia como gostaria de ver Carmem feliz com uma mulher que ela ame de verdade. - Acha que ela não ama a outra Marcela? - Oh por deus! Jamais houve sentimentos entre elas. Desde que voltou para casa nunca mais tocou no nome dela. Não ligou para ela e nem foi vê-la. Isto só prova que já esqueceu. Eu acho que Carmem precisa conhecer uma mulher diferente. Bem diferente daquela mulher misteriosa. Alguém que saiba ser amiga. O que você acha de ir jantar lá em casa amanhã? Se não tiver nenhum compromisso vou adorar recebe-la. Quero muito que conheça meus filhos. - Será um prazer ir jantar na sua casa. - Você não sente falta de uma namorada? - Sinto, mas hoje em dia é difícil encontrar uma pessoa queira ter um relacionamento sério. - Oh, mas é tudo que Carmem sonha – Alice contou explodindo de alegria – Na verdade Marcela, ela é uma mulher muito romântica. Ela... Marcela ficou quieta ouvindo-a fazer mil elogios a Carmem. Estava sentindo um alivio imenso por saber que iria vê-la no dia seguinte. Tudo o que mais queria era ser aceita pela mãe dela. Meio caminho já estava resolvido. Depois, quando Alice descobrisse que ela era a Marcela que ela detestava, iria deixar por conta do destino. Na noite seguinte Alice estava eufórica. Serviu uma rodada de drinques para as filhas falando sem parar da amiga maravilhosa que elas iriam 65
Contos de Astridy Gurgel conhecer. Carmem estava muito calada num canto do sofá. Perguntava-se porque Marcela não a procurava. Tinha ido a sua procura na empresa. Mas tinha sido há uma semana. Uma semana sem falar com ela estava sendo a maior tortura de sua vida. Queria que ela ligasse; Mas já que não ligou ligaria para ela mais tarde. Aquela saudade estava destroçando seu peito. Ouviu o som da campainha voltando à realidade. Viu sua mãe dando um salto da poltrona sorridente. - Por favor, não se assustem com a beleza dela! – Pediu dramática – A coitada pode se sentir deslocada! Finjam que não perceberam. A criada entrou acompanhada de Marcela. Alice correu para abraçá-la. Laura ergueu-se a olhando com um sorriso de admiração. Carmem também ergueu-se sem acreditar em seus olhos. Ela estava toda de preto como sempre. Alice puxou-a pela mão apresentando primeiro para Laura. Só então aproximou de Carmem dizendo cheia de orgulho. - Está é Carmem! Ela não é linda Marcela? Carmem olhou da mãe para Marcela estendendo a mão totalmente embasbacada. - É um prazer conhece-la Carmem. É tão bonita quanto sua mãe falou. - Obrigada. Alice arrastou Marcela para a poltrona. Laura foi preparar os drinques no barzinho. De lá bateu os olhos nas pernas maravilhosas de Marcela. Ela usava uma saia com um racho do lado. Laura segurava a garrafa completamente imobilizada com aquela visão. Carmem aproximou-se dela neste momento. Parou na frente dela tampando sua visão. Laura a olhou confusa sem entender sua intenção. - Se não se importa eu a vi primeiro! Cuidado que mamãe vai perceber que você gosta destas coisas. - Carmem! Até uma semana atrás você estava casada. - Isto é apenas um detalhe – Riu indo juntar-se a Marcela e sua mãe no sofá. Alice voltou-se para Carmem contando eufórica. - Eu te contei que nós nos conhecemos no hospital? Carmem abriu a boca sem emitir nenhum som. Alice continuou falando e monopolizando a conversa. As três bebiam seus drinques sem ter a chance para falar. Novamente Alice voltou-se encarando Carmem sugestiva. - Dá para acreditar que Marcela é solteira? Pode imaginar uma mulher bonita como ela passando as noites de sábado sozinha em casa? Os olhos de Carmem cruzaram com os de Marcela. Ela estava magoada. Nem precisava dizer para que soubesse. Havia muita tristeza naqueles olhos, os olhos que sempre achou triste e melancólicos enfiaram-se dentro dos seus deixando que visse toda a sua dor. Os cabelos grandes e negros estavam soltos. Ela estava mais bonita que da última vez. Seu coração acelerou no peito. Sua vontade era de agarrar a mão dela e correr para o seu quarto. Alheia aos seus pensamentos, Alice comentou surpresa com ela. - Carmem! Estou falando com você.
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Contos de Astridy Gurgel - Eu ouvi mamãe – Respondeu olhando-a com carinho – Deve ser terrível mesmo passar as noites de sábado sozinha em casa. Lembrou das tantas noites de sábado em que ambas se amaram loucamente, esquecida do mundo. Alice sorriu pegando a mão de Carmem dizendo sofredoramente. - Você não faz ideia o quanto Carmem sofreu, Marcela! Ainda está se recuperando com a nossa ajuda. Não desejo a ninguém tudo que ela teve que suportar naquela situação. Carmem olhava chocada para a mãe. Do que ela estava falando? Aquilo era uma fantasia da cabeça dela. Não teve que suportar nada, nem houve sofrimento algum. Desde o primeiro encontro ficou profundamente excitada e envolvida por ela. Voltou e quis voltar cada um daqueles dias. Assustou-se quando se deu conta que estava sentindo coisas mais profundas. Tinha ficado paralisada quando a mãe tinha dito que estava amando Marcela Alvarez. Morria de medo de gostar dela porque temia que ela só desejasse o seu corpo. Neste momento tinha certeza dos seus sentimentos. Amava Marcela! Amava e não iria viver sem ela. Por isto estava chocada com as palavras de sua mãe. Ela não tinha o direito de inventar aquelas inverdades. Marcela estava sentada ali ouvindo os absurdos que Alice dizia. Seus olhos estavam fixos em Carmem. Ela simplesmente não dizia nada. - Sempre cuidei dos meus filhos da melhor forma. Carmem fez o que tinha que fazer para nos salvar. Não contamos a Ricardo e Laura toda a verdade. - Mãe? O que aconteceu com Carmem realmente? – Laura a questionou boquiaberta. Alice a fitou contando de uma vez. - Marcela Alvarez obrigou Carmem a se tornar sua amante para nos ajudar. - Oh! - Mas isto agora acabou! – Alice falou aliviada. Laura encarou Carmem perguntando chocada. - Ela é mesmo uma criatura deformada e cheia de feridas? É uma vampira como dizem? Carmem encarou a irmã com um ar divertido. - Ora vamos Laura; pareço ter me transformado numa vampira? - Mas e quanto a todas as coisas que dizem dela? - São absurdos infundados. Marcela sorriu neste momento fitando Laura curiosa. - Acredita mesmo nestas histórias que as pessoas contam? - Se ela não é como falam porque ela nunca mostrou o rosto? - O que você acha Alice? – Marcela perguntou olhando-a divertida. - Não sei. A verdade sobre ela somente Carmem sabe. Conte filha, conte para nós. Como ela é na verdade? - Ela é só uma mulher diferente – Comentou sorrindo. Seus olhos caíram em Marcela – Não acham de devíamos jantar agora? Estou ficando morta de fome! 67
Contos de Astridy Gurgel Alice se ergueu dizendo que ia providenciar para que o jantar fosse servido. Chamou Laura levando-a com ela. Carmem olhou envolta perguntando baixo para ela. - Desde quando conhece minha mãe? - Desde que tia Telma chegou. - Por que não me contou? - Ia contar. Mas não temos tido tempo. Você sumiu. - Não sumi não. Apenas esperei que me ligasse. - Fiquei imaginando se iria gostar de me ver. Também fiquei esperando que me ligasse. Fui eu que te procurei na sua sala. Nem soube se gostou de me ver naquele dia. - Deixei claro que gosto do que temos. Esqueceu? - Estou enlouquecendo de saudades de você. Preciso te tocar. Sentir seu corpo, seus beijos. Se não for me ver não sei o que farei. - Agora você tem a aprovação da minha mãe – Comentou estendendo a mão e apertando a dela – Também estou morrendo de saudades. Não vejo a hora de te beijar. Não penso em outra coisa. - Vamos namorar com a aprovação da sua mãe. Ela saberá a verdade qualquer dia. Mas estou preparada para tudo que vier. Por você enfrento qualquer coisa. - Fico feliz por ouvir isto. Agora vamos jantar. Estão nos esperando. Durante o jantar Alice deixou mesmo claro que fazia gosto que elas tivessem um romance. Carmem deu graças a deus pelas duas terem se conhecido e a mãe ter gostado de Marcela. Após o jantar, tomaram um licor na sala de estar. Marcela então se despediu sendo acompanhada por Alice até o carro. Assim que a porta se fechou, Laura voltou-se para Carmem comentando surpresa. - Nossa! Viu que mulher mais gostosa? Meu deus! - Então você aprecia mesmo essas coisas? - Quem não aprecia a beleza? Gostaria de fazer uma pintura dela. - Não creio que seja uma boa ideia. Por acaso você é lésbica? - Por que tenho que me definir como sendo alguma coisa? - Questão de maturidade! – Sorriu pegando um cigarro. - Já entendi. Você gostou dela e quer que eu fique longe. Pode ficar tranquila que não me ocorreu dar uma cantada nela. - Que bom que não! Boa noite! Passou o domingo na piscina com a mãe. Ela estava radiante de felicidade. Só falava em Marcela. À noite quando estavam jantando perguntou inquieta para Carmem. - Por que não liga para Marcela e a convida para ir ao cinema? - O que? - Isto mesmo que você ouviu! Se não demonstrar nenhum interesse como ela vai saber que você quer? Carmem viu Laura abaixando a cabeça disfarçadamente para rir da mãe. - Pois vou te dizer uma coisa. Se essa mulher me quer vai ter que dar o primeiro passo. Desta vez as coisas vão ser do meu jeito! Certo? 68
Contos de Astridy Gurgel - Sim. Alice ficou olhando-a sem entender o que ela quis dizer. Carmem voltou a jantar deixando o assunto de lado. Foi no fim do jantar que o telefone tocou. Alice quase pulou de alegria quando Marcela pediu para falar com Carmem. Ela atendeu ali na sala mesmo. - Alô? - Precisava ouvir sua voz querida. - Sei. Eu também. - Não está com saudades? - Estou sim. - Vamos tomar um drinque? Acha que sua mãe vai pensar que estou indo depressa demais? - Tenho certeza que não. - Posso passar para te pegar agora? - Pode. Estarei te esperando. Desligou voltando-se para a mãe contando tranquila. - Ela me convidou para dar uma volta. - Uma volta? – Alice se ergueu confusa – Volta onde? - Uma volta num motel mamãe! – Laura comentou maldosa para provocá-la. - Nem pense em ir para um motel se ela te convidar! Duvido que ela seja deste tipo. Você é uma moça de família. Não se esqueça disto. - Tem razão. Vou me trocar. - Carmem? - Sim mãe – parou se voltando para ela. - Não faça aquelas coisas no carro. Se precisar de privacidade pode usar o seu quarto. Carmem sorriu percebendo o olhar admirado de Laura. Olhou para ela comentando carinhosa. - Viu Laura? Hoje em dia as mães são mais maleáveis. Talvez tenha alguém para apresentar para nós. O que acha disto? Laura ficou muda olhando-a sem saber o que responder. Carmem subiu sem esperar pela resposta. Do alto ouviu a voz da mãe quando se voltou para a irmã. - O que ela quis dizer com aquilo? Por acaso está namorando com alguém? Desde quando você está namorando este rapaz que... Quando o carro parou entrou lançando um olhar intenso sobre Marcela. Assim que deixaram sua casa para trás, ela perguntou ansiosa. - Podemos ir para minha casa? - Você só me quer para isto? - Não – Riu confusa – Pensei que queria fazer amor comigo. Fazer amor! Adorou ouvi-la falando daquele jeito. Riu se inclinando e roçando a boca na orelha dela. - Tem duvidas do quanto quero fazer amor com você? - Carmem... 69
Contos de Astridy Gurgel - Pensou muito em mim? - Cada minuto. Meu corpo vive ardendo. Não sente o mesmo? - Por que será que vive assim? - Podemos falar sobre sentimentos agora? – Marcela perguntou emocionada. - Acho que é o melhor momento para falarmos. - Fiquei alucinada por você desde a primeira vez que te vi. - No aniversário da minha mãe – Comentou atenta. - É – Respondeu parando o carro diante de um restaurante. Havia algumas mesas na calçada onde às pessoas bebiam descontraídas. - E depois? - Voltei a ver sua foto nos jornais. Não conseguia parar de pensar em você. Até que você marcou aquela entrevista e foi à companhia. - E você resolveu se aproveitar e me levar para sua cama! - É verdade! Desejava você demais. Pensei que poderia me divertir um pouco. Achei que se transasse com você aquele desejo acabaria. Mas fui uma tola. No dia que regressei daquela viagem te liguei logo. Depois que ficamos juntas me dei conta que o desejo não se acalmou e nem passou. Descobri que precisava de mais tempo com você. Fui dando-me conta que estava apaixonada. Por isto disse que teria que morar comigo. Não tive coragem de te contar. Ficava pensando que você iria rir de mim. Você chegou a me dizer que não acreditava que eu tinha sentimentos por você. Por isto não contei o quanto eu te amo. - Não sabe o quanto sonhei em ouvir isto. - Eu não quero que me pague divida alguma. O cheque que me deu está guardo no cofre e vou devolvê-lo para você. - Não sei se quero isto. - Fale com sua mãe e deixe que ela decida. A dívida era do seu pai e talvez ela pense que isto é um compromisso de honra. - Farei isto. - Quer falar dos seus sentimentos agora? - Não quis falar antes porque estava avaliando os meus sentimentos. Até a minha mãe percebeu primeiro que eu. Sou completamente louca por você. Não sei quando comecei a te amar. Só sei que eu te amo muito. Não quero mais ficar afastada. Preciso te ver todos os dias. - Carmem – Riu feliz apertando a mão dela – O que vamos fazer? - Temos que ficar juntas. Não estou aguentando mais isto. - Também não estou mais aguentando meu amor. - Apresente sua tia para minha mãe. Essa coisa de família é muito importante para ela. - Farei isto amanhã mesmo. - Agora me leve para um motel porque não aguento mais. Tenho que te amar. - É um alivio ouvir isto – Riu ligando o carro rapidamente. No dia seguinte a mãe ligou na empresa avisando que Marcela levaria a tia na casa delas a noite. Depois que contou, riu comentando maldosa. 70
Contos de Astridy Gurgel - Parece que tem pressa! Coitada, está muito tempo sozinho! Correu tudo bem no passeio de vocês ontem não é? - Sim. Fui uma moça muito respeitável como à senhora sugeriu. - É por isto que ela vai trazer a tia. Olha Carmem, você tem que ser muito boa para essa moça, viu? - Está bem mãe. Vemos-nos a noite. A noite tomou um banho aprontando-se com mais esmero para agradar Marcela. Quando desceu a mãe estava revolvendo os últimos detalhes para o jantar. Carmem serviu um drinque sentando na sala. Alice apareceu olhando-a preocupada. - Você está bem Carmem? - Estou sim. Temos que resolver um assunto. - O que é? - Marcela me ligou hoje. Disse que estamos livres da divida que temos com ela. Quer devolver o cheque e não receber nenhum tostão da dívida que temos com ela. - Não? - Não! Ela disse que era para falar com a senhora. - O que isto quer dizer? Ela quer que você fique presa a ela para sempre? - Não. As coisas mudaram. Ela apenas não quer receber. Acho que se arrepende do que fez. - Vou pensar sobre isto. Talvez seja o momento de ir até lá e enfrentar essa mulher de uma vez. Vou resolver logo isto. Agora preciso correr na cozinha. - Vai. Quando a campainha tocou Laura estava descendo. Alice apareceu apavorada na sala. - Será que está tudo bem? Oh eu... - Mãe! Está tudo bem – Carmem riu junto com Laura – Vai correr tudo bem. A criada apareceu neste momento com Marcela e Telma. Alice abriu os braços indo cumprimentá-las. Carmem agiu com Telma como se não se conhecessem. Quando tocou a mão delicada dela, seus olhos caíram imediatamente no anel que ela usava. Era a cópia exata do anel de Maria Dantas. Lembrou das palavras exatas dela. “Também tenho uma mulher, mas ela não vive no Brasil”. Soltou a mão dela, observando-a enquanto ela sentava no sofá ao lado de Marcela. Seus olhos se encontraram. Alice sugeriu querendo aproximá-las mais. - Marcela? Por que não ajuda Carmem com os drinques? Foram juntas para o bar. Carmem ficou de costas. Uma música suave tocava naquele momento. Marcela sorriu comentando ao lado dela. - Você está linda de morrer hoje. - Obrigada. Tudo para você. - Nossa! Que bom saber.
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Contos de Astridy Gurgel - Esqueceu de me falar sobre Maria Dantas – Comentou olhando-a desta vez. Marcela arregalou os olhos surpresa. - O que tem ela? - É a mulher da sua tia não é? - Sim, mas... - Também trabalha para você. Colocou-a na minha empresa para me vigiar. Achou que eu não seria capaz sozinha! - Maria me contou logo que você era brilhante. Que mesmo se não tivesse modernizado tudo por lá você chegaria ao sucesso. - Eu sempre achei que havia alguma coisa errada com ela. - Não existe nada errado com ela. Ela é a supervisora de toda a linha de produção da minha companhia. Eu a mandei para lá porque queria que ela ajudasse-te. Não culpe a ela, culpe a mim. Se o meu amor for pouco e não bastar pode dizer. Estou feliz que tudo esteja claro e resolvido. - Não está tudo resolvido ainda. Tire aquela mulher de preto do meu pé. Se não tirar, vou dar uma boa cantada nela! - Carmem... - Não estou brincando. Se não tirar do meu caminho eu a traço! Agora Vamos levar os drinques? A noite foi perfeita. Jantaram, conversam e riram muito num clima feliz. Quando foram Embora, Alice foi levá-las ate o carro. Laura Encarou Carmem perguntando surpresa. - Estão se entendendo bem? - Sim. Muito bem. - Não sei como deixou mamãe arrumar uma namorada para você. Eu jamais aceitaria isto. Não estou te reconhecendo. - Não deixei mamãe escolher namorada nenhuma para mim. Essa mulher que acabou de sair é a vampira deformada! Mamãe ainda não sabe, mas acabara sabendo. Sou completamente louca por ela. Eu escolho minha mulher! Entendeu? - Está dizendo que... - Estou dizendo que essa Marcela é Marcela Alvarez! Minha vampira se preferir assim! Dito isto girou subindo para o seu quarto com um suspiro. Na noite seguinte Marcela veio jantar novamente. Desta vez Carmem a convidou para conhecer seu quarto. Confusa Marcela fitou Alice sem saber o que fazer. - Vá minha querida! – Alice falou sorridente – Vocês são jovens e devem aproveitar a vida. Subiram juntas na mesma hora. Quando chegaram ao quarto Marcela perguntou preocupada. - Já conseguiu me perdoar?
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Contos de Astridy Gurgel - Perdoei tantas coisas que nada mais me importa – Falou abraçando-a com força – Não consigo ficar com raiva de você. Eu te amo Marcela! - Eu também te amo Carmem – Riu caindo com ela na cama. No dia seguinte Alice Santiago seguiu o mesmo corredor até a sala de Marcela. A secretária abriu a porta anunciando como sempre. - A Senhora Santiago está aqui! Marcela abriu as cortinas até a sala ficar completamente iluminada. Voltou-se vendo Alice completamente boquiaberta a sua frente. - Meu deus do céu! Então você é... - Sim. Sou Marcela Alvarez! – Confirmou apontando a cadeira e sentando diante dela – Entendo a razão que a fez me temer tanto. Todas as coisas absurdas que dizem por ai e a situação difícil entre Carmem e eu. Não pudemos prever o que ira acontecer. Nós nos apaixonamos perdidamente. Eu amo a sua filha e vou tentar faze-la a mulher m ulher mais feliz deste mundo. - Oh... - Carmem também levou um choque quando fui jantar na sua casa. Não contei nada a ela Sobre os seus desabafos comigo. Nunca contarei sobre as coisas que a senhora me disse em particular. Alice sorriu começando a relaxar. - Obrigada. - Veio resolver a questão do dinheiro? - Sim! Ia também dizer para ficar longe da minha filha. Que coisa! Não quero mais que fique longe dela. A vida é muito estranha. - O dinheiro não me interessa. Só quero viver em paz com Carmem. - Entendo. - Quero continuar sendo a sua confidente se ainda confiar em mim. Espero que entenda que não soube o que fazer quando percebi quem era. Eu vivia pensando numa forma de convencê-la que eu não era a mulher horrível que pintavam por ai. Sabia que não gostava de mim. Quando nos tornamos amigas, acreditei que a faria me ver com outros olhos. Nunca tratei Carmem como uma prostituta. Eu a amei dia após dia. Quero agradecer por ter me aceitado em sua casa. Alice sorriu comentando animada. - Pois muito bem, então vamos esquecer o dinheiro. Temos que decidir onde vocês duas Vão viver. Queria muito que fosse à minha casa. Carmem me da muita força e necessito dela. O que você acha? - Não pretendo afastar Carmem de sua vida. Quero que entenda que preciso de privacidade. Carmem e eu vamos conversar com calma sobre essa questão. Vamos definir se vamos morar juntas ou se vamos ficar como estamos. estamos. Cada uma em sua casa. - Claro! Só achei que estando tão apaixonadas... - Sim. Entendi o seu ponto de vista. Viverei de uma forma que o meu relacionamento com Carmem não caia numa rotina. Será melhor para nós. 73
Contos de Astridy Gurgel - Tudo bem Marcela. Só resta me desculpar pelas coisas terríveis que andei falando sobre você. Eu sinto muito. - Não se preocupe. Não levei nada daquilo em consideração. Na verdade... Carmem ouvia Marcela contando do encontro com sua mãe atenta. Estava deitada na cama dela completamente relaxada. - Foi assim. Ela ficou muito tranquila no fim. f im. - Você foi muito esperta. Meus parabéns! O que importa é que ela ficou feliz. - Não podemos esquecer que a filha dela conquistou uma milionária. - Ela sabe que só preciso de você e do seu Amor. - Eu também Carmem. - Agora você faz parte da família – Riu já nos lábios dela – Que delicia te beijar. Adoro meu Amor. - Eu também... - Não me importo se não vamos morar juntas. Mas quero dormir todas as noites nos seus Braços. - Nunca abriria mão disto. - Então me faça feliz – Carmem pediu baixo – Eu te amo demais... - Carmem... Fim
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