FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL
OSVALDO RAFAEL FRUTUOZO DA SILVA
RESENHA: As origens da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil
São Paulo Outubro de 2016
OSVALDO RAFAEL FRUTUOZO DA SILVA
RESENHA: As origens da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil
Trabalho apresentado ao Curso de Complementação Teológica da Faculdade de Teologia de São Paulo da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, como parte dos pré-requisitos para obtenção da média da disciplina História da IPIB. PROFESSOR: DR. ADILSON DE SOUZA FILHO.
São Paulo Outubro de 2016
3
RESENHA CRÍTICA PEREIRA, Eduardo Carlos. As origens da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. 3 ed. São Paulo: Pendão Real, 2011.
Eduardo Carlos Pereira de Magalhães (1855-1923) foi ministro evangélico presbiteriano, professor e escritor. Fez sua pública profissão de fé aos 19 anos, em 1875, como membro da Primeira Igreja Presbiteriana de São Paulo. Influenciado pelo Reverendo George Chamberlain, em agosto do mesmo ano iniciou os seus estudos teológicos. Em 1880 obteve a sua licenciatura para o ministério pastoral. Iniciou sua carreira ministerial na cidade de Campanha (MG). Fundou a Sociedade Brasileira de Tratados Evangélicos no ano de 1884, com o intuito de publicar recursos de evangelização focados no contexto brasileiro. Em 1888 assumiu o pastorado na Primeira Igreja Presbiteriana de São Paulo. Dentre as preocupações demonstradas pelo Reverendo Eduardo Carlos Pereira estavam as missões nacionais e uma maior autonomia da igreja presbiteriana brasileira em relação a sua igreja mãe americana, buscando a independência. Na cidade de São Paulo também colaborou com a sociedade civil exercendo a função de Diretor do Ginásio Municipal e atuou como jornalista contribuindo com diversos jornais seculares, por exemplo, "O Estado de São Paulo" e "Correio Paulistano". Era um grande defensor da abolição da escravatura, e em 1886 publicou um folheto de 46 páginas denominado “A Religião Cristã em sua Relação com a Escravidão”. Defendia a atuação evangelística nacional da Igreja
através de diversas campanhas e levantamento de ofertas, incentivando os pastores nacionais, evangelistas e professores de seminários. Foi líder do grupo de pastores e presbíteros fundadores da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil alcançando a autonomia eclesiástica. Eduardo Carlos Pereira também foi um grande gramático, lecionando língua portuguesa durante grande parte de sua vida, dele são reconhecidas obras sobre o tema: Gramática Expositiva – curso superior (1907), Gramática Expositiva – curso elementar (1908) e Gramática Histórica (1916). Dentre as suas principais obras na área da teologia e fé cristã estão: A Maçonaria e a Igreja Cristã (1901) e O Problema Religioso na América Latina (1920). O presente livreto foi escrito originalmente pelo Reverendo Eduardo Carlos Pereira com o título “As origens da independência”. Nele o fundador da IPIB relata os
4
acontecimentos que culminaram e levaram a primeira divisão no presbiterianismo brasileiro. A obra em questão chega a sua terceira edição, sendo reeditada apenas no que condiz a sua ortografia e novamente intitulada para “As origens da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil”.
O prefácio da 3ª edição é assinado por Marcelo Hungaro, presidente da Associação Evangélica e Literária Pendão Real, o qual explana acerca do objetivo de republicação desta importante obra, que é relembrar a história da denominação e o seu ímpeto missionário e evangelístico dos primeiros anos. Na introdução, o autor justifica brevemente os motivos para a escrita de um documento que apresentasse as razões para o movimento que culminou com a criação da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Ele demonstra o plano de descrever os eventos mais significantes do período de quinze anos que antecederam a separação do presbiterianismo brasileiro. No primeiro capítulo, O seminário , Pereira fala da criação do Sínodo Presbiteriano no ano de 1888, e a presença de três grupos dentro deste, sendo: os missionários americanos do Norte (Board); os missionários americanos do Sul (Committee) e os pastores e presbíteros brasileiros; os quais nem sempre concordavam entre si. O autor fala do conflito entre os grupos quanto a criação de um seminário de teologia no Brasil, sendo a sua localização e direção, os pontos de maior atrito. A pendência somente se resolveu no concílio de 1894, onde a maioria decidiu estabelecer o seminário em São Paulo, onde já funcionava um colégio da denominação, porém haviam sérias disputas quanto ao que Pereira chama de “absorção” do seminário pelo Colégio Mackenzie. De acordo com o texto, este conflito
e o fracasso em conciliar os interesses dos grupos americanos, suscitou o sentimento de que a educação teológica dos ministros brasileiros deveria ser uma preocupação em primeiro lugar do grupo brasileiro. No Capítulo II, A subscrição: ampliação e sistematização do curso anexo , Pereira descreve os eventos após a impossibilidade de receber a doação do Committee de uma propriedade com finalidade de ser utilizada pelo Sínodo estabelecer o seu Seminário (1896), culminando em um movimento dos nacionais para o levantamento de recursos próprios para este propósito, o que fora, segundo o
5
autor, mal compreendido por alguns (p.26). A construção do seminário foi iniciada em 1898, e o autor descreve como ele esteve envolvido em seu estabelecimento. No terceiro capítulo, O sinal da debandada , o fundador da IPIB relata o surgimento da questão maçônica , no ano de 1898. Esta controvérsia dividiu ainda mais os membros do Sínodo. Pereira defendia que a maçonaria era incompatível com a fé cristã. Esta divisão causou a derrota do projeto de organização do seminário na reunião sinodal de 1900, o que causou um grande desagravo para os que participaram da campanha para levantar recursos para este fim. O autor relata que na reunião de 1903 a proposta fora mais uma vez derrubada e ironizada, isto segundo Pereira, juntou-se a questão maçônica e foi o motivo do rompimento com o Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil. Prosseguindo ao quarto capítulo, A maçonaria e a absorção, o reverendo destaca os planos de absorção do Colégio Protestante (Mackenzie), que desejava incorporar o ensino teológico da denominação, e de como a disputa quanto a compatibilidade da maçonaria com a fé cristã foi utilizada para enfraquecer o grupo que era favorável a autonomia da educação teológica. O texto elenca os acontecimentos que antecederam a fatídica reunião sinodal de 31 de julho de 1903 e seu desdobramento, que culminou com a saída de um grupo de 7 pastores e 11 presbíteros, liderados pelo Rev. Eduardo Carlos Pereira, para fundar a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. No quinto capítulo, A pastoral , Pereira relata e contrapõe os elementos expostos no documento do Sínodo acerca dos motivos da separação: a oposição do grupo dissidente à maçonaria. Pereira ressalta o fato da pastoral em questão aludir à não incompatibilidade da maçonaria com a fé cristã em nove pontos. Neste capítulo, ele demonstra aquilo que considera incompatível na maçonaria com o Evangelho: a mediação de Jesus Cristo, doutrina essencial do cristianismo, que em sua visão era desrespeitada nas orações feitas nas lojas maçônicas. Aqui o reverendo se utiliza de argumentos retóricos, buscando descontruir os argumentos pró-maçonaria do Sínodo e mostrando as incoerências nas explicações daquele concílio. O sexto capítulo, A pena de ouro, relata acontecimentos posteriores à separação dos sinodais e independentes, especialmente de debates em suas publicações oficiais quanto a validade ou nulidade das orações maçônicas. O autor
6
rebate as acusações de que o motivo da separação não fora a maçonaria, mas o desejo de que os missionários americanos fossem dispensados, bem como a atitude dos presbitérios em defender esta acusação. Ao final o reverendo Eduardo Carlos Pereira chama os membros da recém-formada igreja à responsabilidade e fidelidade para com Deus. Há ainda no livreto, mais duas seções de textos anexos: a primeira é a Pastoral do Sínodo Presbiteriano no Brasil às Igrejas e Congregações Jurisdicionadas , o
documento foi exposto na íntegra, onde o Sínodo intenta esclarecer os acontecimentos da reunião que culminou com a separação dos irmãos que fundaram a IPIB. Nesta pastoral estão elencados os pontos discordantes, com ênfase na questão maçônica, a qual foi a causa maior da divisão. Ao final do documento há uma reafirmação do Sínodo quanto a doutrina da mediação de Cristo. A segunda seção, que conclui o pequeno livro, são os Excertos, onde o autor traz dois trechos de textos publicados no jornal O Estandarte em resposta as acusações do Sínodo. O livro As Origens da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil , da autoria do fundador Reverendo Eduardo Carlos Pereira, traz informações importantes acerca dos fatos que levaram a fundação da denominação. Em muitos momentos a discordância quanto a compatibilidade da maçonaria com a fé cristã é supervalorizada em nossa história, e os outros motivos são esquecidos. O livreto em questão é primordial para desfazer esta visão incompleta do conflito que resultou na separação do presbiterianismo nacional. A leitura permite sentir a paixão do autor pelas causas que defendia, percebese também o uso de bons argumentos para suas propostas frente ao Sínodo. Eduardo Carlos Pereira transparece os valores do nacionalismo; era com toda certeza um homem que amava a sua pátria, que desejava ver florescer uma igreja brasileira para os brasileiros, preocupada com a evangelização do Brasil. Outro valor, que em minha concepção transparece na atitude de Pereira e seus apoiadores, é a pureza doutrinária, principalmente no que condiz a questão maçônica, pois entendiam que esta era incompatível e prejudicial a fé cristã, portando devia ser rejeitada; neste sentido agiram como reformadores. Neste sentido, vejo dois motivos para o incentivo desta leitura e o estudo da origem da IPIB nas igrejas locais da denominação. Primeiro, demostrar o ímpeto
7
evangelístico dos primeiros anos da denominação, fruto do trabalho dos seus pioneiros, a fim de reavivar este sentimento nos seus membros. Segundo, o zelo pela doutrina dos fundadores, também é uma característica muito necessária nos nossos dias tão confusos, onde modismos e doutrinas diversas surgem e a coerência doutrinária é vista com “maus olhos”.
Em termos textuais, o livreto apresenta alguma dificuldade para compreensão do leitor, quanto ao uso de palavras que caíram em desuso na língua portuguesa utilizada em nossos dias, no entanto o uso de um bom dicionário ajuda a elucidar rapidamente o significado destas. As Origens da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil é leitura de extrema
importância e recomendada a todo presbiteriano independente ou a quem desejar entender o contexto da fundação da IPIB.