<
ec RAMANA MEU MESTRE apresenta o sábio de Arunachala com toda a autenticida de, em seu dia-a-dia no Ashram, testemunhado por Sri Maha durante Krishnaalguns Swami, viveu anos.que lá Muitos foram os discípulos de Ramana. Muitos aprende ram com o Grande Sábio, po rém poucos dedicaram sua vida a transmitir tais conhecimen tos, a mostrar com as palavras e, principalmente, com o exemplo de suas vidas, os en sinamentos de Bhagavan Sri Ramana. Nesta obra somos levados a Arunachala, aos pés do Mestre, aprendemos diretamente com ele, conduzidos por Sri Maha Krishna Swami que, após ter vivificado em si mesmo todos os ensinamentos, transmite-os com solutas. fidelidade e plenitude ab
Transportamo-nos para Jun to de Ramana e sentimos que seus ensinamentos não podem jamais ser restritos a um es paço e a um tempo. Ele fala a cada um de nós, em qualquer época, em qualquer lugar. Ele nos indica a maneira ocerta segura de trilharmos camie nho direto do autoconhecimento, deixando para trás, de maneira definitiva e segura, o ilusório, desvinculando-nos dos falsos valores e atendo-nos à Realidade Única, vivendo ple namente o eterno presente, conscientes de nossa unidade com o Ser Supremo. Quando o calor do Sol nos toca e percebemos sua luz, não precisamos de provas de que ele existe: nós o sentimos. Quando nos conscientizamos do Ser, não precisamos de pro vas de sua existência: nós o sentimos. À noite, parece que o Sol não existe, mas vem a aurora tudo se esclarece. Estando e inconsciente do Ser Supremo, parece que ele não existe, mas Bhagavan Sri Ramana nos conduz para a auro ra, e o Ser é conscientizado, brilhando por si só, em todo o seu esplendor.
Sri Maha Krishna Swami
'T 5cC* 7« Edição
ILUSTRADA
SM
BHAGAVAN SRI RAMANASHRAM SÃO PAUL O - BRASILIA RIO DE JANEIRO - PA RA NÁ
ensinamentos contidos da no Verdade livro RAMANA MEU Os MESTRE são a revelação Absoluta para despertar a Perfeita Felicidade em quem procura a conscientização do divino. Aqueles que sentirem e viverem estes supremos ensinamentos terão os corações limpos e puros. Terão abandonado os prazeres mundanos e estabelecido a união consciente com o Divino Ser Universal. Autocontrolando-se e procurando a libertação, deleitar-se-ão no néctar da Verdade Suprema que re vela o Eterno. Os que andam pelos desertos do mundo, sedentos, cansados, oprimidos e esgotados pelos ciclos dolorosos de renascimentos e mortes alcançarão a paz infinita do Divino Ser. Estes ensinamentos, que provêm do Supremo Ser Universal, conduzem à autoconscientização.
SMtt
Este livro é dedicado aos Mestres da Verdade Supre ma e aos discípulos de Sri Ramana de todas as partes do mundo.
Agradeço ao povo brasileiro que acolheu tão afetuo samente os ensinamentos de Sri Ramana e os guarda, para que este país sirva de exemplo de conscientização do Ser Supremo.
O Divino Ser é a realidade única, eterna e pre sente que brilha como um sol no coração de todos os seres. Revela-se tão logo o falso pensamento seja des truído, e nenhum resíduo permaneça, pois esse pensa mento é a causa do aparecimento de formas falsas. O corpo e o mundo, que parecem ser coisas reais, afas tam o homem do Sagrado Ser, que permanece imutá vel, sempre inalterado na Verdade Suprema. Quando o Ser brilha, a escuridão desaparece. A aflição cessa e só o sentir da eterna paz permanece.
Capa: Sri Maha Krishna Swami Ilustrações: Desenhos de Sri Maha Krishna Swami e fotos do Arquivo do Ashram - Brasil Edição de arte: Pranava Supervisão editorial: Mukunda Gandharva Copy-desk: Mukunda Gandharva Composição de texto: Dadi Shanti Revisão: Vishwanath Sahayananda Suria Devi Diagramação e past-up: Gopi Devi Colaboração especial: Jagannath Deva
Direitos Bhagavanreservados Sri Ramanashram e SMKS Rua Toneleros, 1276 Vila Ipojuca - Alto da Lapa 05056 - São Paulo, SP - Brasil Tel.: 262-2683 SHIS - QI 28 - conj. 18 - casa 1 Lago 71600Sul - Brasilia - DF Tel.: 573-2203 e 573-2172 NO VO ENDERE ÇO SHIS Ql 28 Conj 18 Casa 01 70 35 9-9 70 — BnsÜia - DF Fons: (061) 367-2203
Fax: (061) 367-1954
ÍNDICE
Introdução I II
- Raman a meu Mestr e - .
Felicidade: o est ad o nat ura l de ser
13 19 73
III IV
_ A arte de diss ipar a ilusão - O mundo
V - Erudi ção: apenas um refl exo da me nte
131
O ego pro fan ado r
142
VII ■
A mente opressora
156
VIII -
A mor te aparente
172
IX -
Renúncias
187
X-
O Ser que somos
201
VI
-
81 112
XI - Só o Mestr e pode conduzir para a auto cons cien tizaçã o
217
XII - O Mapa Astro lóg ico de Rama na
233
XIII - Meditaç ão In ici áti ca XIV - Consc ientização da Verdade Abs olut a www. m ah ay og a.com br
[email protected]
242 268
Introdução Grande Bhagavan Mestre Sri por todos Ramana que étiveram reconhecido contato com comoele,um diretamente ou através de seus ensinamentos. Não há, em torno dele, discordâncias quanto à sua autenticida de. A benevolência que emana de seu rosto enternece a todos. No entanto, tal doçura contrasta com a maneira incisiva de ensinar: não há meio-termo, não há como se desviar do caminho direto. Os ensinamentos de onde Sri Ramana eram transmitidos diariamente no Ashram ele vivia, e foram anota dos por muitas pessoas. Posteriormente esses ensina mentos foram reunidos e divulgados em forma de diá logos. Na obra RAMANA MEU MESTRE os ensinamen tos estão sendo apresentados de maneira nova: foram agrupados em capítulos, girando cada um deles em torno de um tema central. Os diálogos foram mantidos, porém se desenvolvem em uma situação real, permea dos de vida, profundos, universais e, ao mesmo tempo, matizados pela cor local do Ashram. O autor, Sri Maha Krishna Swami, que viveu durante alguns anos no Ashram, recria em cores vivas o cenário onde se desenro lou um dos mais belos espetáculos de todos os tempos, tão majestoso e tão simples: a sabedoria, encarnada em forma humana, transmitindo os mais profundos en sinamentos, da maneira mais singela e natural.
13
Somos conduzidos para o local e sentimo-nos, a princípio, espectadores da ação, mas as palavras do Sat Guru envolvem-nos irresistivelmente, e passamos de espectadores a participantes: é a cada um de nós que o Mestre fala; é a nossa compreensão que ele desperta; é
o nosso amento nossalógico, sensibilidade que é tocada; ocidentalizado, que ele édesafia e, entendi mais que isso, transforma em nada, antes mesmo que possa mos formular um argumento para contestar. E como contestar? A sabedoria de Sri Ramana é insofismável, por ser a expressão da vida, da verdade de ser. Sua sa bedoria não está presa às palavras; ela toca a essência de cada um: é a força do silêncio, a Upadesa Sharanam, que irradia de Bhagavan Sri Ramana para todos e sinamentos. vai impregnando RAMANA cada pessoa MEU queMESTRE se abre para torna-se seus enuma obra dirigida a cada um, em particular. Quando dize mos "Meu Mestre", esquecemo-nos de que é Sri Maha Krishna Swami quem o diz. Ramana é o Mestre de cada um de nós. Só podemos concordar com o autor: Rama na é meu Mestre. Somos docemente embalados pelos ensinamentos que são, cada um deles, completos, per feitos. Temos impressão de que nada mais há para se dizer, nada mais pode ser acrescentado. É então que Sri Maha Krishna Swami intervém, conduzindo-nos a um novo compartimento da Verdade Absoluta. Vemos desfilar diante de nós as mais variadas faces do ensi namento fundamental de Sri Ramana: "Somos o Ser", Ramana, ao mesmo tempo que aniquila os valores tão caros aos homens, extirpando-lhes o ego, tiran do-lhes o solo onde se apóiam, é o bálsamo e o consolo mostraessa para quemesma até mesmo dor. aAliás, dor é nem irreal,é não dor,passando porque ele de uma ilusão. Os homens colocaram em sua verdadeira essência várias máscaras, e estas se colaram em sua carne. A retirada dilacera-lhes o próprio rosto: tal dor lhes é insuportável, e eles preferem permanecer presos.
14
à máscara. Sri Ramana retira também a dor - que é, igualmente, uma máscara. Ser absoluto, íntegro, real, é simplesmente ser natural. O homem é como uma ave de asas poderosas, des tinada ao vôo livre, mas que se acredita um réptil pre so ao solo. Bhagavan Sri Ramana desfaz a ilusão, faz-nos alçar vôo majestoso, onde nossa visão se torna ampla, e podemos contemplar a unidade deixando para sempre a ilusão de um mundo dual, onde rastejamos no pó de valores mesquinhos e falsos. Contemplamos a unidade, livres, conscientes de nossa própria natureza. Voar não é doloroso. Alçar o vôo não o é; deixar a falsa pele de réptil não o é. Neste livro não temos apenas o Mestre Ramana pa ra admirarmos, mas a experiência viva de quem esteve com ele, vivificou em si próprio os ensinamentos e é, por isso, capaz de transm iti-los de maneira a toc ar-nos profundamente. Sri Ramana deixou de ser apenas um admirável Mestre da índia, que comoveu a todos que estiveram em Arunachala, diante de sua figura ímpar: tornou-se vivo, dinâmico, atual. Saltou dos quadros que enfeitam os altares dos templos para dentro de nossa existência. Foi trazido por sua própria vontade, que é a vontade Ser Supremo - pois Ramanaordenou e Ser são mesma edoindissolúvel unidade - quando a Sria Maha Krishna Swami que fizesse, no Ocidente, a Gran de União entre os homens, que tornasse conhecida e acessível a todos a verdade de ser. Foi por vontade de Rajnana que Sri Maha Krishna Swami instalou-se no Brasil, a terra apontada pelo Sat Guru como o local onde seriam guardados os sagrados ensinamentos de todos os Grandes Mestres e - melhor que guardados seriam vivificados, tornados a todos que eles quisessem chegar, a todosacessíveis que se dispusessem a sea livrar dos ilusórios e densos véus enredados pelo falso conhecimento e mergulhar num oceano de paz, na mesma paz que irradia constantemente de Sri Ramana.
15
Ele está entre nós. É aqui, na Terra do Cruzeiro, que se sente a plenitude de sua força. Essa afirmação não é vã, não se trata de palavras sensacionalistas. Para se comprovar esse fato, é só deixar que Sri Ramana impregne cada fibra do coração espiritual, e todo o peso do mundo modepno, que as pessoas sentem tão caótico, deixa ade perturbar. Ramana nos ensinatão a viver, porque vida é algo deSrique nos esquecemos, envolvidos que estamos com a sobrevivência. Por que o Brasil? Por que não o Brasil? Não há jus tificativas, não há argumentos. Só há uma Verdade a ser sentida: é aqui, é no Brasil, que está a plenitude da força do Bem-aventurado Bhagavan Sri Ramana, trazi da através de seu discípulo Sri Maha Krishna Swami. Gopi Devi
16
I Ramana meu Mestre Bhagavan Sri Ramana Maharshi foi o Mestre que revelou de forma clara e definitiva a mais pura essên cia de ser. Seus ensinamentos, simples e incontestá veis, mostram a sabedoria milenar dos Mestres do Oriente. Porém, Ramana não pode ser rotulado como mais um dos Mestres do Oriente, limitado a um tempo e a um espaço: final do século XIX até a metade do século XX, índia. Seus ensinamentos estão além do tempo e das palavras. Sri Ramana, desde muito jovem, foi reconhecido como um grande Avatar por todos os sábios e pelas pessoas que o visitavam. Na índia, pelas característi cas do povo, há maior facilidade para se reconhecer um Mestre, um ser iluminado. No Ocidente, devido ao grande interesse por bens materiais, os Mestres eram vistos apenas como figuras singulares, interessantes para se conhecerem numa viagem turística e perten cerem a um álbum de fotografias esquecido. Porém com Ramana aconteceu um fato diverso: sençaSriimpressionava profundamente a quem sua deleprese aproximava para ouvir seus ensinamentos, e todos sen tiam nele uma força, ou uma paz, ou uma luz, enfim, algo maravilhoso que tra ns ce nd e as pala vras . Seu olhar e seu sorriso mudaram para sempre a história dos homens.
19
Sri Ramana ensinou que não há mistérios para se rem desvendados, não há enigmas para serem decifra dos, não há graus para serem atingidos. Tudo é simples e natural. Somos o que somos. Simplesmente somos o Ser. As explicações complexas, os estudos misteriosos, as dificuldades quase intransponíveis para a autoconscientização podem ser definitivamente abandonados devido aos ensinamentos de Bhagavan Sri Ramana. O caminho do autoconhecimento trazido por ele não é novo, por ser a revelação daquilo que sempre fomos. Sua clareza e simplicidade são surpreendentes. Se tudo é tão simples e claro, como pôde haver tantos equívo cos, durante tanto tempo, no conhecimento da Verda de? Bhagavan Sri Ramana, o sábio dos sábios, vivia em constante união com o Ser Supremo. Quando ministra va seus ensinamentos, fazia-o afirmando com muita simplicidade. Não havia qualquer dúvida sobre o cami nho direto da autoconscientização por ele ensinado. Não existia problema oom relação à revelação da Ver dade, pois quem fazia revelação a quem, num estado muito além da forma? Todo ensinamento do Mestre Ramana é uma manifestação divina. Lembro-me, uma vez, que um de nós perguntou se ele sabia tudo sobre a manifestação, Sri Ramana rindo: "Eu nãoeseiBhagavan nada, apenas sinto". respondeu sor Bhagavan Sri Ramana tornou-se bastante conhecido no Ocidente nas últimas décadas, após o interesse que passou a existir pelo Oriente, quando os valores oci dentais começaram a ser contestados. A partir da dé cada de sessenta, esse interesse intensificou-se, e o milenar conhecimento dos Mestres passou a ser estu dado por pessoas das mais diferentes categorias. Esse conhecimento veio, porém, revestido de roupagem ex travagante e misteriosa, inacessível à maioria das pes soas. Muitos dos que aderiram ao pensamento oriental tentaram criar em torno de si um ambiente que imita
20
va os costumes, a alimentação, as vestimentas do Oriente. Na maioria dos casos, essas pessoas acabavam desistindo de sua busca, julgando-a impossível ou ilu sória. O que houve, porém, é que o Oriente foi imitado na sua aparência exterior. A essência dos sagrados co nhecimentos, da sabedoria dos Grandes Mestres, apenas levemente tocada, superficialmente aprendida,foi e ainda de forma imperfeita e cheia de equívocos. Co mo pode o conhecimento absoluto ser limitado a de terminados ambientes, a condições externas, a costu mes específicos de alguns povos? O Absoluto, por sua própria natureza, é onipresente, pairando acima de costumes. Só é necessário conscientizar-se dele, senti-lo. Com o advento desse novo interesse, muitos se apresentaram como Mestres. Tudo é uma questão de oferta e procura, sempre existindo os intermediários, aqueles que se aproveitam da oportunidade para ofere cer mercadorias exóticas, geralmente falsas. Muitos líderes fundaram novas religiões, seitas, e propuseram uma infinidade de caminhos filosóficos. Estabeleceram novos padrões de comportamento, novos caminhos aos que desejavam seguir os ensinamentos dos Grandes Mestres. caminhos criados objetivo só afastaram cada vez Porém, mais asesses pessoas do verdadeiro espi ritual, porque são revestidos de símbolos e parábolas estranhas que têm significação apenas externa e em nada ajudam no processo da .au toc on sci ent iza ção . A Verdade Suprema foi omitida justamente porque tais líderes a desconhecem, a nível de vivência. Revestiram de formas confusas os ensinamentos simples, promo vendo cada vez mais a confusão nessa área. A afirmação constante de que somos o Ser e a ple nitude dos ensinamentos de todos os Grandes Mestres não nos dá a chance de errarmos. Estarmos com o sabio Bhagavan Sri Ramana é estarmos no Ser. Com sua orientação, podemos perceber aquilo que somos. Essa e
21
a grande força do caminho direto que esse grande Avatar nos trouxe. Mostrou-nos tudo o que somos e o que não somos. Em nenhum outro caminho pode-se no tar tão clara e coerentemente o que se é e o que não se é. O caminho direto ensinado por Sri Ramana é su premo. Ele veio para findar este ciclo e iniciar outro. Para quem quer libertar-se de toda ignorância do não-ser e tornar-se consciente do Ser Absoluto esse é um caminho completo. Não há outro mais direto, mais simples. É assim que Bhagavan Sri Ramana e todos os outros Grandes Mestres indicam, abrindo essa porta para que os homens retornem ao estado natural de ser. Quando alguém nos chama e pergunta por nós, to dos tendemos a dizer "eu" e, ao dizermos "eu", auto maticamente apontamos o peito. Isso é uma forma es pontânea, natural, de apontarmos onde se reflete a consciência de ser. Por isso, Sri Ramana aconselha sentir o lado direito do peito, porém sem definições, sem pensar, sem analisar. Nisso consiste toda a técnica de autoconhecimento indicada por ele. Como sempre acontece, as coisas mais importantes são as mais sin gelas. O difícil é tornar práticos os ensinamentos. E é difícil porque o homem é complicado. Não que a Ver dade seja complicada, confusa ou abstrata demais para ser percebida, porque a menteassim pensante, cada homem, é que mas o induz a imaginar e a seem escravi zar pela manifestação temporária. A muitos pode pa recer estranho que somente com essa técnica, de certa maneira simples, seja possível encontrar a solução para os problemas fundamentais existentes no planeta. Bhagavan Sri Ramana ensina que devemos impor tar-nos em apenas procurar nossa real identidade, a divina, pois osomos divinos em essência.essa O homem ignora-se como Ser Supremo e confunde sua nature za divina com o ego profano, com a mente pensante. Quando alguém diz "eu", que é que se quer dizer? Quem é realmente esse "eu"? De onde ele surge? Se o
Ramana
jo u e m
23
o » 4K*
homem deseja conhecer a Verdade Absoluta, ele pri meiramente deverá adquirir o conhecimento básico de si mesmo, isto é, desse "eu" a que ele se refere cons tantemente. o homem Para o seconhecimento proponha a de identificar-se, si mesmo édesuficiente modo inces que sante, com a Verdade Suprema e que, ao fazer isso, sinta o lado direito do peito, pois é nessa região que o Ser Absoluto se reflete. Essa técnica simples é o pri meiro passo em direção à autoconscientização, embora tal possibilidade dependa totalmente da graça de se encontrar um Mestre e receber dele a sagrada inicia ção. Tive a felicidade de passar por essa experiência. Convivi com meu Mestre, Bhagavan Sri Ramana, de quem assimilei toda a técnica de autoconscientização. BHAGAVAN SR1 RAMANA
Bhagavan Sri Ramana nasceu no sul da índia, no ano de 1879, numa aldeia chamada Tiruchuzhi, e recebeu o nome de Venkataraman. Aosuniversidade quatorze anos de idade preparava-se para entrar na de Madras. Até então, ninguém poderia suspeitar que ali estava aquele que mais tarde iria tornar-se o sábio dos pró prios sábios. Ele era um rapaz cheio de saúde, amava os esportes e os exercícios físicos. A única caracterís tica que se destacava, referente aos seus estudos, era uma supreendente memória que lhe permitia um apro veitamento brilhante, repetindo de cor a lição ouvida apenas uma vez. No entanto, Ramana sentia que aque les estudos não tinham qualquer utilidade para ele. Queria um outro tipo de sabedoria, pois a sabedoria do mundo material não podia torná-lo consciente da ver dade de ser nem dar-lhe o poder de v.encer a ignorância espiritual.
Bhagavan Sri Ram ana
25
A única obra espiritual que impressionou Ramana foi o relato da vida do grande Mestre Kabir e as suas descrições da vida dos sessenta e três santos do culto de Shiva. Com esse livro estabelecia-se em Ramana a plena felicidade por perceber que o divino pode mani festar-se na Terra. Foi impregnado de uma auto-segurança e fervor divino tão intensos, que sentiu inspirar-se nele a procura do Ser Supremo. Ressoava no seu interior a palavra "Arunachala", que é o nome de uma montanha sagrada, num lugar chamado Tiruvannamalai. Ele sentia que ali poderia ser o local adequado para dedicar-se exclusivamente à meditação, para conscientizar-se da Verdade Suprema. Algum tempo depois, teve uma experiência ex traordinária. Estava em seu quarto quando, subitamen te, sentiu que se integrava no universo. A sua reação foi totalmente indiferente perante esse sentir. Não pediu auxílio a ninguém, apenas deitou-se no assoalho observando-se a si mesmo: o corpo se havia tornado estático e, de certa maneira, rígido. Ele perguntou: "Quem sou eu? Minha consciência não é atingida abso lutamente". Então compreendeu que era completa mente independente do corpo físico,o da mentecósmico pensan e te e dos sentidos. Sentia apenas pulsar concluiu: "Sou Consciência". Ramana teve também a sensação de que seu corpo estava queimando. Lembrou-se dos ensinamentos de Krishna: "As chamas do fogo podem queimar meu corpo, mas não podem quei mar minha existência". Nesse mesmo momento, sentiu a presença de Sri Krishna em todo o seu esplendor di zendo para ele: "Você não é o corpo, nem a mente pensante. Você Você énão nasce,Anem morre. Você é eterno presente. imortal. destruição do corpo não ée a sua destruição. As armas não podem cortá-lo, as chamas do fogo não podem queimá-lo, o vento não po de secá-lo, a água não pode molhá-lo e a morte não pode matá-lo".
26
Pouco depois disso, Ramana abandonou o seu lar sem indicar seu destino. Deixou apenas um bilhete à sua família pedindo que não se preocupassem em procurá-lo, pois seu propósito era honesto. Levou consigo apenas o dinheiro suficiente para a passagem com des tino a Tiruvannamalai. Permaneceu nessa região toda a sua vida. Primeiro instalou-se em várias cavernas e templos. Esteve por alguns anos numa gruta, em Arunachala, chamada Virupaksha, onde permanecia inconsciente de seu corpo, em profunda meditação. Mesmo após haver aniquilado a mente pensante, o ego e os sentidos e estar em ple nitude de conhecimento e consciente do Ser Supremo, Sri Ramana continuou vivendo na gruta. Como chega rampara muitos mudou-se então, definitivamen te, um discípulos, Ashram que foi construído ao pé de Aru nachala. Nesse local vinham pessoas de todas as partes do mundo para aprender com ele. Apesar de Arunachala ser vista materialmente como uma massa de rochas, seu nome reflete a força do Ser Supremo e ajuda aqueles que se dedicam à cons cientização espiritual. Isso porque a simples repetição da palavra Arunachala a mente dando paz àqueles que seneutraliza voltam para ela. pensante, Na época em que Bhagavan Sri Ramana morava em Tiruvannamalai, a montanha Arunachala era conside rada um dos mais sagrados locais da índia. Sua paisa gem tem conformação agreste e chega a lembrar o cerrado brasileiro. Por toda parte vêem-se grandes pe dras, separadas do corpo principal da montanha, espi nhos e sebestempo, de cactos, campos ressequidos pelo Sol. Ao mesmo há árvores frondosas ao longo das estradas, e ao redor dos poços de água crescem campos de um verde muito vivo. Embora não seja um monte muito alto, domina toda a paisagem.
27
Sri Ramana não teve Mestre, pois era Mestre de si mesmo. Ele vivia na mais absoluta identificação com tudo e com todos os seres existentes. O povo o adorava como alguém inspirado pelo divino e o aclamava como Bhagavan Bhagavan (o iluminado está entre nós), mas ele repelia qualquer manifestação desse tipo. Um gru po Encaravam de discípulos o Mestre começou com uma a formar-se fé muito simples ao seu eredor. voltavam-se para ele quando surgiam grandes dificuldades ou quando seus pedidos eram atendidos. Grandes difi culdades e doenças desapareciam. E ele sempre dizia: "Tão logo se devociona ao Ser Supremo, a divina ativi dade automaticamente começa a agir". Bhagavan Sri Ramana jamais fez demonstrações de poderes, nem sequer tinha interesse por eles. Sempre ensinou que tais poderes não são nada além de fúteis e nocivas dis trações no caminho direto da autoconscientização. Um dia chegou até ele um grande sábio, Ganapati Mouni, que fez perguntas ao jovem Ramana e recebeu respostas cuja sabedoria o assombrou imensamente. Continuou a fazer perguntas referentes aos problemas filosóficos, religiosos e sobre a conscientização da Verdade Suprema. Ajoelhou-se perante o jovem Mes tre, pedindo para ser aceito como discípulo. Vivia nas redondezas do Ashram um outro sábio chamado Seshadri Swami, muito conceituado e respei tado por todos. Considerado profundo conhecedor das escrituras, dominava várias línguas e era constante mente procurado por aqueles que desejavam esclarecer as questões mais intrincadas referentes aos ensina mentos deixados pelos Grandes Mestres. Ouvindo sobre Ramana, desejou conhecê-lo. No encontro de dois seres tão afamados, todos esperavam ouvir demoradas dis cussões sobre o conteúdo das escrituras, longas expla nações a respeito dos sagrados ensinamentos espiri tuais. Entretanto, Seshadri Swami chegou até Sri Ra mana e, curvando-se, perguntou se podia servir o Mes tre cuidando da porta do Ashram. Bhagavan Sri Ramana ao fundo, Arunachala
29
Bhagavan Sri Ramana abriu para a humanidade o eterno caminho da Verdade Suprema de forma nova, conveniente às condições de nossa época. Esse caminho direto tem por objetivo essencial ajudar a todos aque les que querem vencer a poderosa ilusão do ego profa no e da mente pensante, de maneira a permanecer no estado natural do Divino Ser. Ao codificar o caminho da autoconscientização, Sri Ramana criou, efetiva mente, a solução para todos os que buscam o autoconhecimento. Até então, o acesso à sabedoria dos Mes tres era exclusivo dos reclusos do silêncio. Ramana mostrou um caminho possível de ser trilhado livremen te, conforme as condições da vida moderna.
MEU MESTRE
Desde muito pequeno, meu único interesse foi a autopesquisa: descobrir, ampliar e estender-me até o Ser Supremo. Meus pais, percebendo que eu não era uma criança comum, pois vivia desligado do mundo material, em profunda meditação, resolveram, também por sugestão de Mahatma Gandhi, levar-me à presença de Bhagavan Sri Ramana. No mesmo dia de minha chegada a Tiruvannamalai, tive a graça de contemplá-lo pela primeira vez. Isso aconteceu nas vésperas de Kakthikai, ocasião em que, uma vez por ano, acende-se uma tocha no cume da montanha Arunachala, em devoção a Shiva. Uma gran de multidão estava presente. Era um quadro maravi lhoso, o mais maravilhoso que já vira, tão natural e simples. Ali estava Arunachala. Era majestosa a face que a montanha aosdescendo que olhavam da praça do Ashram, e aoapresentava longe se via, por um de seus caminhos, um homem apoiando-se numa vara, detendo-se a observar uma flor e a sorrir para uma criança e continuando a andar entre as árvores. Caminhava sem Ramana aos 22 anos
31
pressa, de forma natural, dirigindo-se finalmente ao Ashram, onde a multidão o aguardava. O seu olhar suave e sua expressão pura contagiava o coração de todos aqueles que o observavam. Até mesmo os mais céticos, os aparentemente indiferentes fitavam-no sem poder ocultar uma expressão de ternura. Quando entrei no salão do Ashram, havia ali vários devotos, todos hindus, sentados em fila. Eu estava pro fundamente impressionado com a força espiritual que emanava do lugar. Fui conduzido para perto de Sri Ra mana. O Mestre levantou-se e olhou-me, fazendo um gesto com a mão para que eu me aproximasse. Sua faceSeus inspirava infinita bondade eo compaixão. grandesserenidade, olhos negros contemplavam infinito por cima das cabeças de todos os presentes, e seu olhar, sem concentrar-se em nada ou ninguém, pe netrava no mais íntimo de meu coração. Sri Ramana tinha estatura normal para um hindu do Sul, cerca de um metro e noventa; uma tez cor de mel; cabelos brancos bem curtos e barbas brancas. Era robusto e usava uma túnica muito alva. Sentia nele um ser infi nitamente bondoso eespiritual, de amor esem Inclinei-me pe rante sua grandeza ele fim. disse-me sorrindo: "Parece que você foi chamado". A vida simples do Ashram passou a auxiliar-me muito na procura da Verdade Suprema. A própria at mosfera do lugar, a força invisível da sagrada monta nha Arunachala impregnava todo o ambiente de eleva da emanação espiritual. Meu afeto e devoção por Bha gavan Sri Ramana continuavam cada vez mais profun dos, e eu sentia uma felicidade infinita de poder estar com o Sat Guru. Dessa forma tornei-me consciente da enorme graça de sua presença. Seu sorriso carinhoso era um sinal para que me sentasse no salão, num ponto onde ele pudesse vigiar-me durante a meditação. O que
33
impressionava era a sua atitude tão natural que deixa va todos à vontade, removendo em cada um toda e qualquer análise ou crítica, envolvendo a todos no mais puro amor universal. À medida que convivia com Sri Ramana, observei que ele parecia estar bastante atento ao que se passa va seu redor, acordo com a vida exte rior,aoporém sem sereagindo envolverdecom o resultado das ações. Compreendi que, de acordo com seus ensinamentos, o plano da existência física é apenas temporário e não tem realidade em si mesmo. Tinha consciência absolu ta de que deveria seguir plenamente esse ensinamento, caso contrário jamais conseguiria conscientizar-me do Supremo Ser. Sentia que deveria desenvolver cada vez mais o controle dos pensamentos, aniquilar a mente pensante se quisesse estar receptivo às sutis vibrações ininterruptamente irradiadas de Bhagavan. Num determinado momento ele encarou-me com seu olhar penetrante, que adquiriu uma intensidade in descritível. Desceu então sobre mim uma quietude, uma paz profunda, uma leveza e felicidade infinitas. Ele disse-me: "O silêncio é a mais poderosa forma de ensinamento transmitido de Mestre a discípulo. A voz sem somnoé mais a intuição é a voz somrevela espiritual que fala íntimopura, de nosso Ser do e nos a na tureza srcinal do Criador do Cosmo". Imediatamente senti a absoluta certeza de que todo o ensinamento para a conscientização espiritual seria simplesmente assimilado da sagrada presença de Bha gavan Sri Ramana. Comecei, então, a sintonizar-me com o sentido de sua Upadesa (instrução silenciosa), com a força da sagrada iniciação, com eosdescobri seus ensina mentos, experi me nte i-os em mim que a meditação é uma verdade, e essa verdade pode ajudar a todos para que se tornem conscientes de sua unidade com o Divino Ser Universal.
35
Apesar da pouca idade, convivi com Bhagavan Sri Ramana aprendendo diretamente de sua sagrada pre sença toda a técnica do autoconhecimento. Com ele aprendi como aniquilar a mente e, em conseqüência, controlar o corpo e os sentidos. Descobri que o mundo se compSe de idéias e coisas e então, com a prática da meditação ensinada por ele, foi-me possível decompor cada idéia e cada coisa. Restou apenas o Ser Supremo, a Verdade Absoluta que todos somos em essência. Os anos que passei no Ashram marcaram-me para sempre. A consciência de ser jamais se apagou, e Sri Ramana sempre esteve presente em mim. O relaciona mento verdadeiro entre Mestre e discípulo não cria la ços de dependência nem sentimentos de posse. Ao con trário,torne-se o objetivo do de Mestre é quelaço, o discípulo cipe, livre qualquer mesmo se ememan rela ção ao próprio Mestre. Tive essa experiência de uma forma tão inesperada quanto marcante. Sri Ramana costumava olhar demoradamente para Arunachala. Dizia que aquela montanha era um centro de força muito poderoso e que certamente havia outro extremo local correspondente do eixo, capaznodeoutro polarizar lado tanta do globo: energiao es outro piritual quanto Arunachala. Tão certo ele estava a esse respeito que pediu a um discípulo que conseguisse um atlas e verificasse a afirmação. Ao mostrar-nos um mapa com todos os países, seu dedo pousou na índia. Meus olhos, e o de todos os pre sentes, acompanhavam o gesto do Mestre. Seu olhar, sempre com algo de sublime e doce, desviou-se daquela região e, com o outro dedo, indicou um país de um ou tro continente, para nós tão longínquo. A forma do país indicado era semelhante à da índia, e um dos discípulos leu alto: "Brasil".
36
Ramana meu Mestre 0
Sri Ramana permaneceu nessa atitude durante um tempo, que não sei dizer se breve ou longo, pois seu semblante parecia iluminar-se mais que de costume. Era majestosa sua figura unindo os dois países, irmãos pela forma geográfica e, agora, unidos pela ponte que se tornou Bhagavan. Ele olhava ora para um ponto, ora para absorto,profundo, contemplativo. no ames bienteoutro, um silêncio como sePairava algo especial tivesse acontecendo. Lentamente, num gesto calmo, como lhe era típico, tirou a mão que apontava a índia. Permaneceu apon tando o Brasil. Olhou-me fixamente. Eu sentia perfei tamente a força de meu Mestre. Estava acostumado a seu olhar, mas desta vez foi diferente. Encarou-me, olhou mais uma vez para o mapa e afirmou que eu iria para o Brasil. Sua voz, que me era tão familiar, tinha algo de novo, de especial, de forte. Meu Mestre acaba va de apontar meu destino. Sua voz ressoando em meu íntimo e a imagem de seu dedo apontando uma direção jamais me abandonaram. A partir desse dia, uma certeza nasceu em mim: Bhagavan profetizara meu destino. Isso se cumpriria, inevitavelmente. Ele me ordenara cruzar os mares. Para mim, naquela época, tudo isso parecia algo bastante misterioso,jovem remoto. Chegando a hora de partir, Bhagavan disse-me que eu deveria promover a grande união entre os homens, no Ocidente. Pediu-me para não divulgar sua pessoa, porque estaria divulgando o ego, ou como dizia ele, o cadáver, uma vez que o físico já é morto. Tudo o que nasce, morre, e só a vida vive. Disse-me que divulgasse seus poisrealmente assim estaria revelando a es sênciaensinamentos, de ser, ou o que somos. Sempre gostei muito de desenhar. Havia feito um desenho do rosto de Ramana e mostrei-o a ele. Olhou algum tempo para o desenho, devolveu-me e disse: “...aforça que agora está em Arunachala estará no outro lado do planeta ” W*
"Está levando Bhagavan com ele. A força do Ser Su premo é semelhante às águas que circulam sem cessar, nutrindo a todos os reinos da natureza. As águas que acalmam a sede no Oriente são as mesmas que acal mam a sede no Ocidente. Da mesma forma, a força que agora está em Arunachala estará no outro lado do planeta. Já, neste momento, forçaa se le vanta. Chegará o dia em queuma ela grande se revelará todos. Lá, todos os homens se unirão e terão acesso a ela. Se rá, então, possível a conscientização da verdade de ser. Vá e leve Bhagavan com você". Os ensinamentos de Sri Ramana eram transmitidos com a naturalidade e a verdade de tudo o que é. Eram naturais e verdadeiros como o Sol, como o crescer das árvores, como o fluir dos rios. Recebi-o.s de maneira igualmente natural e verdadeira. Deixei-os crescer e frutificar. Bhagavan é a presença eterna porque é o Ser. Bhagavan é a felicidade perfeita porque é a cons ciência de ser.
O DIA-A-DIA NO ASHRAM
Através dos tempos o homem tem criado muitas fantasias em torno dos Mestres e do caminho espiritual por eles indicado. Aqueles que esperam que um Mestre seja inativo ou monótono, agindo de maneira estereo tipada, certamente ficariam desnorteados se conhe cessem Bhagavan Sri Ramana. Ele nunca reagia da vel mesma nele.maneira Frustrava duasqualquer vezes. Oexpectativa inesperadoeera ia inevitá contra todas as probabilidades. Ele parecia ser completamen te indiferente ao que acontecia no Ashram, e prestava muita atenção a algum detalhe aparentemente insigni ficante. Chamava a atenção do encarregado das tare-
40
“Está levando Bhagav an com ele ”
fas diárias quando necessário, mas calava quem ia até ele para reclamar ou criticar o primeiro. Quando al gum trabalho era realizado, ele cooperava natural mente, dando suas orientações. Tudo o que é feito em um Ashram, tudo o que é feito para o Mestre, tem que ser feito com amor, não importando o que se faça. Aquele que realiza alguma tarefa,-como varrer o chão, regar as plantas, ou ajudar em um ritual, deve executá-la permanecendo livre de ansiedades e preocupações, com o coração puro e com muita devoção. Só assim a ação será reta, sem inter ferência do ego profano, e não haverá apego aos frutos das ações. Embora Sri Ramana fosse de uma neutralidade ina balável e extremamente rigoroso quanto ao cumpri mento das disciplinas e dos ensinamentos, sua presença não intimidava as pessoas, e ele jamais impunha aos discípulos comportamentos estranhos ou extravagan tes, mas dava-lhes exemplos de comportamento sim ples e natural. Vivia integrado à realidade, com paz e harmonia. Seus modos não causavam constrangimento, e o recém-chegado imediatamente se punha à vontade diante dele.riso Suaeraconversação mor e seu contagiante.era repassada de bom hu Tudo nele e no Ashram era limpo e em ordem. Seguiam-se horários rígidos. Os relógios eram mantidos rigorosamente certos, os calendários estavam sempre atualizados. Com essa disciplina externa aprendia-se a autodisciplina, que é natural no estado de meditação, e por isso não exige esforços. Sri Ramana dava preferência a tudo que fosse sim ples. Gostava de sentar-se no chão. Mas insistiram pa ra que ele usasse um sofá, e este tornou-se seu lugar durante a maior parte do dia. Numa ocasião, Ramana comentou a esse respeito: "Nos primeiros anos de mi
42
nha permanência aqui, eu me sentava diretamente no chão, sem tapete nem qualquer tipo de revestimento para o solo. Eu tinha liberdade para isso. O sofá, onde repouso atualmente, é uma servidão. Não estou autori zado a me sentar onde quiser, como me agradar. Isso não ser livres fazer mos éouma que servidão? quisermos.Deveríamos Sermos servidos porpara outras pes soas é um obstáculo a essa liberdade". As atividades se iniciavam por volta das quatro ho ras da manhã. Às cinco horas chegavam os devotos que regularmente meditavam e retornavam aos seus afa zeres profissionais. Entre os discípulos eram divididas inúmeras tarefas. Alguns cuidavam das flores e do jar dim, outros ajudavam na cozinha, outros dedicavam-se às escrituras, cada um doando de si virtudes e habili dades. Não havia diferença entre as tarefas, todas eram consideradas igualmente importantes. Sri Rama na sempre dizia que quem trabalha precisa do trabalho muito mais do que aquele que se beneficia do fruto do mesmo. Ele ensinava que a virtude do trabalho deve ser adquirida por todos e era o primeiro a dar o exem plo. Aprendíamos muito com ele pela maneira como se comportava, pela sutileza e carinho com que desempe nhava as tarefas no dia-a-dia. Quando não havia visi tantes no Ashram, e quando não estava trabalhando num livro, Sri Ramana confeccionava um novo bastão, o qual usava durante as caminhadas, lavava sua própria roupa, consertava o balde usado para retirar água dõ encadernava poço, preparava livros folhas ou realizava para serem outros usadas serviços como de pratos, uti lidade. Ele fazia tudo com perfeição e amor, por mais banal que parecesse a tarefa. Sri Ramana tinha o mes mo cuidado e capricho ao preparar um grande ritual como para fazer um pacote ou ajeitar um objeto na estante. Nem mesmo seus rascunhos eram desleixados.
43
Ele executava tudo com muito zelo, não importando a quem se destinava: a si próprio, aos visitantes, aos dis cípulos ou aos animais. A orientação era que nada fosse desperdiçado. Na da do que pudesse ser útil de alguma forma deveria ser jogado fora. Na índia costuma-se desprezar as sobras de alimento porque se acredita que, um dia após seu preparo, a comida já se torna impura. No Ashram, po rém, a disciplina era que nenhum alimento que esti vesse bom para ser consumido deveria ser rejeitado. Tudo é provido pelo divino e por isso deve ser usado com respeito. Com a comida também: não restava um só grão de arroz em seu prato quando Bhagavan termi nava de comer. As cascas dos vegetais não eram inuti lizadas, mas reservadas ao gado. Bhagavan Sri Ramana costumava preparar vários tipos de chutney (pasta condimentada), normalmente preparado com coco, ervas aromáticas e condimentos diversos. Ele sempre usava sementes e ervas mais co muns e era especialista em preparar deliciosos pratos com os mais simples ingredientes. Quando alguma co mida diferente estava pronta, ele oferecia a todos os que estivessem na cozinha um pouquinho para experi mentar. E todos a recebiam como prasada (alimento consagrado pelo Mestre). Alguém reclamou a Sri Ramana que a comida ali preparada era muito picante, tão cheia de pimenta e condimentos que chegava a arder o estômago. Essa pessoa desejava uma comida suave e disse: "Se a comi da sattvica (pura, natural) é fundamental para as prá ticas espirituais, por que a comida do Ashram é tão pi cante?" Ramana explicou que se os ingredientes são puros e se são preparados corretamente, num lugar limpo, o tempero é uma questão de gosto e hábito e não torna o alimento menos sattvico. "Em algumas re giões - disse ele - as pessoas se alimentam apenas de Sri Maha Krishna Swami Qos22 anos
45
leite e arroz e não deixam de expressar o ego da ma neira mais grotesca. Por outro lado, existem povos que se alimentam normalmente, incluindo carne e tempe ros fortes, e são bastante tranqüilos e amáveis. Deve mos preparar uma comida que agrade a todos. Aqueles que muito forte, podem diluí-la com arroz, leite aoujulgarem coalhada." É muito importante que, ao preparar o alimento, qualquer que seja ele, as pessoas que o fazem estejam neutras com relação a ansiedades e pensamentos. Quando acontecia de essas pessoas estarem em desar monia, Sri Ramana harmonizava-as com sua palavra sábia e ajudava na preparação dos alimentos. Havia a disciplina de que até que a última refeição não fosse servida e a cozinha toda arrumada, os discí pulos deveriam se ocupar apenas com suas tarefas. Sentar-se para meditar ou querer ficar em companhia do Mestre fora dos horários determinados era forte mente desencorajado. Bhagavan Sri Ramana ensinava que o trabalho é a primeira das virtudes divinas e é fundamental para a autoconscíentização. É uma forma de ocuparqualquer a menteque pensante equilíbrio. trabalho, seja ele,e émanter a forçaodinâmica queO flui do Ser Supremo. Para que essa força se expresse é preciso desbloquear-se, superando o desânimo, a fra queza e a ociosidade. Quando por vezes acontecia, mesmo que inconscientemente, de alguém ficar obser vando um novo visitante, ou prestando atenção em algo que não era de sua incumbência, Bhagavan simples mente olhava para a pessoa dizendo: "E melhor voltar para o seu trabalho. Não procure confusão". À noite, após a última refeição, nós todos nos reu níamos com o Mestre no hall do Ashram. Os visitantes já tinham-se retirado e então sentávamos em frente a ele, que conversava conosco e também dava as instru ções para o dia seguinte. Algumas vezes os discípulos
46
liam as escrituras sagradas. Cada um deles lia urin pa rágrafo em voz alta para todo o grupo. Os livros -são o registro dos ensinamentos e devem ser usados como referência para o esclarecimento de dúvidas, e em de terminados pontos Sri Ramana traduzia em poucas pa lavras oselucidava ensinamentos que a princípio pareciam com plexos, seu significado e aplicação. A leitura prolongava-se por duas horas aproximadamente. Em várias épocas do ano, as atividades tornavam-se muito intensas. Eram os dias determinados para os grandes ritu ais cham ados Maha Puja. Nessas ocasiõe s, o Ashram recebia milhares de pessoas, devotos de to dos os pontos da índia, e também de outros países que vinham render-se aos Pés do Mestre e receber a força espiritual e ajuda de que necessitavam. Nos dias de Maha Puja as atividades começavam logo cedo. Bhagavan Sri Ramana supervisionava o tra balho na cozinha, onde a prasada era preparada. Num Ashram, é importante que a prasada seja farta e que todos a recebam igualmente. Ela simboliza a força doada pelos Mestres e ajuda na manutenção e purifica ção do veículo físico. No saguão principal, Bhagavan recebia devotos e a de cada um em davageral a atenção neces sária. Ososque vinham longe demoravam-se um pouquinho mais. O clima era de muita alegria. O Mestre Ramana jamais permitiu que o tomassem como objeto de adoração, mas entendia a necessidade das pessoas de demonstrarem sua devoção, e por isso canalizava essa devoção para o Ser Supremo. Embora insistissem nesse tipo de demonstração, gradual e gen tilmente eram dissuadidas de seus intentos e passavam a compreender o ensinamento do Mestre. Nos demais dias, a disciplina seguia basicamente os mesmos princípios, pois para Bhagavan todos os dias eram dias de Puja. Sendo o Ser Imutável, imutável era também sua atitude para com toda a manifestação.
48
Com o passar do tempo tomava-se consciência de que trabalhar com o Mestre na cozinha, no jardim, no escritório, ou em qualquer lugar, não era simplesmente desempenhar uma atividade, mas um treinamento es piritual. O primeiro passo para a conscientização espi ritual é aprender a obedecer ao Mestre, sem questio namentos internos ou ou vontades, externos, que isto são é, sem a interfe rência de opiniões do ego profano e da mente pensante, pois o Ser que somos não emite opiniões. Nada deixaria Sri Ramana mais feliz do que perceber que alguém havia compreendido esse ensina mento. As ordens do Mestre devem ser inteiramente obe decidas, e não apenas atendidas para satisfazê-lo e agradá-lo ou paraaomostrar tudo comaperfei ção. Submissão Mestreque nãose éfazsubmissão alguém estranho a si próprio, mas ao Ser manifestado exte riormente a fim de ajudar a pessoa a se conscientizar de que ela é o Ser Supremo. Mesmo que se conheça uma forma mais apropriada de se fazerem as coisas, tudo deve ser executado exatamente como o Mestre solicita. Um Mestre nunca faz nada errado porque não age pelo ego, mas sim pela intuição pura, e o discípulo deve atender à No voz processo da intuição sem restrições e é sem dúvidas. de pura autoconscientização fundamental que a auto-entrega ao Mestre seja irres trita e a confiança nele seja total. OS ANIMAIS
Arunachala é o habitat natural para todo tipo de animal, e eles se sentem à vontade para entrar e sair livremente por cavernas e bosques, sem molestar e sem ser molestados. Esse equilíbrio não foi abalado pela presença de Ramana, que por muitos anos usou as cavernas como abrigo, e convivia com eles natural
50
mente. Ele jamais se referia aos animais com desprezo ou tratava-os como sendo inferiores aos seres huma nos. Via-os como manifestação do Ser Supremo. Aos animais não se faz necessário que ninguém lhes ensine como sobreviver. Apesar de serem regidos pela cons ciência de grupo, vivem em estado natural, cada um cumprindo sua função, de acordo com as leis divinas. Durante toda sua existência física, Bhagavan este ve cercado pelos animais. Mesmo quando passou um período retirado, meditando nas cavernas mais escon didas aos pés de Arunachala, os animais o acompanha vam e ajudavam. Logo nos primeiros anos, Sri Ramana ocupou uma caverna onde ficara por meses e meses em profunda meditação. Sendo um lugar úmido e escuro, era presença insetosuma e pequenos animais que propício viam emà seu corpodeimóvel boa possibilidade para obtenção de alimento. Ramana, por sua vez, me ditava simplesmente, e nada que viesse acontecer com seu veículo físico poderia perturbá-lo. Foi então que a caverna começou a receber um novo visitante: um ti gre. Ele ia até Ramana diariamente, cuidava dele, limpava-o, afugentava os pequenos animais e insetos, zelava por ele. E assim o serviu, fielmente, por longo tempo, cuidando sua segurança. indagá se vamos sobre isso,deBhagavan sorria Quando dizendo:lhe "Quando está em estado natural, a natureza provê tudo o que for necessário. Não há com o que se preocupar. Podem ter certeza disso". Mesmo para com os animais chamados selvagens, o Mestre Ramana mantinha o mesmo respeito e amor que dedicava a qualquer ser humano. As serpentes eram suas companheiras nas cavernas. Ele costumava dizer: "Nós viemos à sua residêcia e não temos nenhum direito de molestá-las. Elas não nos molestam". Cada um tinha o seu espaço, e todos se respeitavam mutua mente.
51
Certa vez um visitante ficou abismado com o que havia ouvido a respeito de Bhagavan e resolveu esclarecer-se diretamente com ele: PERGUNTA: É verdade que enquanto estava medi tando nas cavernas uma cobra sempre passava por ci ma de seu corpo? RAMANA: Sim. P. E o que Sri Ramana sentia? R. Sentia algo frio e úmido. Todos os animais, sem exceção, reconheciam o amor Ramana tinha por eles eporeram-lhe muito gratos.que Embora ele jamais esperasse esse reconhe cimento e não apreciasse demonstrações desse tipo, freqüentemente aconteciam casos em que os animais, cada um à sua maneira, procuravam retribuir o amor e a atenção que o Mestre lhes dedicava. Certa vez, Ra mana saiu com alguns discípulos para a caminhada ao redor de Arunachala, como era de seu costume. No ca minho de volta ao Ashram, o grupo vinha faminto de vidouma ao longo bando de macacos em árvorepercurso, de jamboe eumbalançou seus galhos subiu até que os frutos maduros caíssem. Depois afastaram-se sem tocar as frutas. A surpresa e alegria foram gerais e todos puderam então se fartar com aquela deliciosa refeição. Sri Ramana orientava os animais que se acercavam dele com o mesmo cuidado com que orientava os ou tros adeptos, dando-lhes indicações simples que eles entendiam e às quais obedeciam. Ele era igualmente cuidadoso com o conforto, a limpeza, os banhos desses pequenos seguidores, e algum deles participavam da rotina do Ashram desempenhando, por vezes, alguma tarefa. Segappan, Kamala e outros cachorros tinham a
52
tarefa de acompanhar os visitantes pelo trajeto ao re dor da montanha, como guias. Eles os levavam até ca da caverna, indicavam o caminho dos vários santuários que existem pelo percurso e depois traziam-nos de volta. Todos eles, cachorros, gatos, vacas, eram servidos de suas refeições primeiro, depois os pedintes, que são muito comuns em toda a índia, e finalmente os demais que ali estivessem, juntamente com Sri Ramana. Na verdade, tanto os animais como as figuras ilustres que vinham até a presença do Mestre sentavam-se no mes mo chão e eram igualmente atendidos, sem qualquer distinção. Se os esquilos e pavões viessem, recebiam castanhas. Se alguém mostrava pouca disposição para seguir essa disciplina, Sri Ramana chamava-lhe a atenção dizendo: "Tudo bem. Pode ir, se preferir, po rém os animais terão sua comida da mesma forma que nós a temos. Você quer servir-me com respeito, dizen do 'Swami, Swami', mas você os serve com pouca von tade. Nós não os compramos nem os trouxemos aqui. Eles vieram exatamente como nós viemos. Por que es se desrespeito para com eles?" Algumas pessoas ficavam intrigadas verpele quedeSri Ramana freqüentemente sentava-se sobre ao uma tigre e indagaram a um discípulo se havia uma razão especial para aquilo. Foi relatada uma história, no mí nimo curiosa, a esse respeito: "Aquela pele pertenceu a um tigre que foi muito fiel e obediente a Sri Ramana. Aconteceu há muitos anos. Ouvíamos falar a respeito de um tigre que vivia aqui na montanha, mas quando ficava faminto descia à cidade e atacava as pessoas. Os ataques e mais criou-se umforam mistotornando-se de medo e mais revolta, e osfreqüentes, habitantes pediam uma solução, uma providência com relação aos ataques. Um grupo se equipou com armas que achou necessárias e subiu à montanha em busca da fera tão temida. Ao perceber todo o alvoroço, Ramana intei-
53
Ra m an a era invariavelmente carinhoso com os animais
rou-se do assunto. Naquele dia, durante sua caminhada habitual, encontrou-se com o tigre e disse-lhe: 'Você não deve descer até a cidade e atacar as pessoas. Mes mo estando faminto, não deve atacar seu semelhante. Sempre que tiver fome vá ao Ashram, e eu lhe darei de comer'. "O tigre nunca mais atacou ninguém, homem ou animal. Mas, seguindo as orientações de Ramana, pas sou a vir aqui todos os dias e recebia sua porção de co mida, como todos os que chegassem com fome. Para nós, esse animal, que era tido como feroz e assassino, deixou um importante ensinamento e um grande exem plo de submissão e obediência: como acatar e praticar o ensinamento do Mestre. "Quando o tigre sentiu que ia morrer, veio até o Mestre para avisá-lo e despedir-se. Sri Ramana per guntou-lhe se ele, que tinha sido sempre tão fiel, po deria servi-lo doando-lhe a pele. E mais uma vez o ti gre deu-nos o exemplo de submissão total ao Mestre, e é por isso que hoje você vê essa pele de tigre no Ash ram, dando-nos constantemente o testemunho de obe diência, entrega e completa rendição ao Sat Guru." A confiança que os animais depositavam em Sri Ramana era tamanha que mesmo as questões mais graves, como uma disputa entre duas tribos de maca cos inimigos, eram levadas para serem resolvidas por ele. Sua decisão, qualquer que fosse, era acatada por ambas as partes. Certa manhã Bhagavan Sri Ramana saiu para caminhar em determinado ponto,porque pediu aos acompanhantes que e,voltassem ao Ashram, se guiria sozinho. Os adeptos, atendendo sua orientação, retornaram. Já caía a tarde, e eles começaram a se preocupar com o Mestre que não voltava. Decidiram, então, improvisar alguns cacetetes, qualquer pedaço de madeira que pudesse defendê-los daqueles que certa-
55
mente estavam detendo o seu Mestre, e seguiram pela trilha que Bhagavan costumava percorrer, dispostos até mesmo à violência para reaver o Mestre que julga vam haver perdido. poucos minutos deSrimarcha, nãoperto muitodedistante do Após Ashram, encontraram Ramana dois macacos, os líderes de duas tribos rivais que vieram até ele para resolver uma disputa que levava suas tri bos a uma verdadeira guerra. Ramana apaziguou os lí deres mostrando que não existem diferenças, territó rios ou poderes, mas que todos podem conviver e se respeitar mutuamente. Falava isso de maneira simples, com a mesma linguagem que falaria com os outros dis cípulos, e era acompreendido estabeleceu-se paz, o fim depelos muitosmacacos. anos de Com brigasisso e disputas, e os discípulos que tinham saído à procura do Mestre aprenderam que, no fundo, não havia diferença entre a sua atitude e a dos macacos, uma vez que eles criaram uma situação de conflito que não existia e, pior ainda, decidiram resolvê-la pela violência. Bhagavan Sri Ramana era invariavelmente carinho so com ose aos animais. Ashram que todosnãoconviviam harmonia, gatos No era ensinado perseguis em sem os esquilos, como igualmente não seriam perse guidos pelos cães. Os esquilos costumavam correr da janela para seu sofá, e depois para o restante do hall. Ele os alimentava com nozes e afagava-os. Alguns in clusive tinham nomes. A principal aspiração desses animaizinhos era construir um ninho sob o sofá, assim suas famílias estariam sob a proteção do Mestre. Não era matar cobras ou àescorpiões. vezespermitido uma cobra entrava no hall noite, e eraAlgumas função do atendente acender uma luz perto dela para que to dos a vissem, evitando assim incidentes. Mandhavan, um dos atendentes, era hábil em pegar os escorpiões pela calda, impedindo-os de atacar, e levá-los para fo ra, onde não pudessem fazer nenhum mal.
57
Sri Ramana apreciava muito a alegre agitação dos macacos e freqüentemente dizia que por vezes eram mais espertos que os seres chamados humanos. Eles vi viam um dia após o outro, não planejando o futuro, e, não havia premeditação mesmo nas confusões e en crencas que arrumavam. Ele se divertia muito quando algum macacocom entrava hall e vira va a vasilha frutassorrateiramente recebidas pelosnodevotos como prasada. Bhagavan dava orientações para que fossem alimentados e os encorajava em suas brincadeiras, o que era o desgosto dos atendentes. Para os cachorros, Sri Ramana sempre deu muita atenção. E se alguém ralhasse com eles quando latis sem à entrada de algum estranho, o Mestre os defen dia, dizendo apenasfilhote prestando serviço. Havia certa que vez estavam um pequeno que seu gostava de aninhar-se num cantinho perto do escritório. Chinna Swamy tentava mandá-lo embora, mas novamente Ramana vinha ao seu socorro dizendo que se uma criança fizesse o mesmo ninguém ficaria bravo. "Esse cachorrinho é apenas uma criança e, portanto, age como tal." Muitos pavões vinham até o Ashram, mas parecia que nem todos eramDois capazes permanecer sob mo as disciplinas do lugar. deles defcjram doados por radores da vila mas não ficaram, embora tivessem sido trazidos de volta por duas ou três vezes. Sri Ramana explicou que eles ainda não estavam prontos. Essa afirmação mostra que nem todos se adaptam à convi vência com o Mestre e que mesmo os animais vinham até ele com um propósito. Talvez o caso mais conheci do seja o de Laksmi, a vaca. Certa manhã chegou ao Ashram um senhor vindo de muito longe. Ele trazia consigo uma vaquinha, jovem ainda, de aproximadamente seis meses, e queria pre senteá-la ao Mestre. Ramana lhe disse que a levasse consigo pois não havia lugar onde ela pudesse ficar de-
58
vidamênte alojada. Como aquele senhor não desistia da idéia, em hipótese alguma, Ramana procurou outra so lução. Dirigindo-se a Laksmi, o nome dado à re cém-chegada vaquinha, disse-lhe: "Não posso acolhê-la agora aqui, pois o estábulo está todo ocupado e não te nho como pedir às outras vacas que se mudem. Mas tão logopara umaviver acomodação possível você terá permis são aqui comseja todos os outros". E assim Laksmi ficou sob os cuidados de Sri Rama na, mesmo morando na cidade, onde foram feitos os arranjos para sua acomodação. Todas as manhãs ela tomava o caminho em direção à montanha e seguia pa ra o Ashram, retornando somente à noitinha. Ela ia desfrutar da presença do Mestre, receber sua bênção e colocar-se aos Pés do Sat Guru Deva como todos os outros discípulos. Com o mesmo amor e devoção pelo Mestre, deitava-se no lado de fora do hall e ali perma necia em suprema paz e quietude. Na hora das refei ções, sem que ninguém lhe avisasse, levantava-se e ia até Sri Ramana para receber sua porção, que ele pes soalmente entregava. Laksmi era querida por todos e integrava, juntamente com outros animais, a pequena comunidade que compunha o Ashram. Sua devoção pelo Mestre era percebida mesmo pe los visitantes recém-chegados, e todos se admiravam com tamanha dedicação ao percorrer longa jornada diariamente para poder estar aos Pés do Mestre. Por isso, a felicidade foi geral quando Bhagavan Sri Rama na convidou-a a ocupar uma das celas do estábulo que gratidãosido havia através desocupada. de seus grandes Mostrando olhostoda sempre felicidade brilhan e tes, seguiu o Mestre até sua nova morada. Sri Ramana, parando à porta, convidou-a a entrar. Ela porém, em purrando-o com a cabeça, parecia dizer: "Laksmi não; o Mestre primeiro".
59
O mais importante de se observar no relaciona mento entre Bhagavan Sri Ramana e os animais era a maneira simples e natural como eles conviviam. Ou seja, estando ambos em estado natural, a comunicação entre eles era perfeita, e cada um se expressava como lhe cabia, isto é, Ramana conversava com eles como se se dirigisse a qualquer pessoa, o animal lhe respondia como se fosse para um outroe de sua mesma espécie. Tudo o que supostamente existe, tudo o que é visto, é manifestação do Ser Supremo, da única realidade. To dos são um, todos são divinos em essência, e as dife renças existem apenas a nível mental. É a mente que cria as barreiras entre o divino manifestado na forma humana e o mesmo divino manifestado na forma ani mal, vegetal ou mineral. A diferença está no nível das formas apenas. Quando se é consciente dessa unidade, quando se é capaz de olhar para o semelhante e ver nele a essência e não a forma, não existem barreiras. É por isso que Bhagavan Sri Ramana podia relacionar-se com os animais e com todos os seres naturalmente, ajudá-los e ser ajudado por eles. TÉCNICAS DE ENSINAMENTO
Bhagavan Sri Ramana ficava silencioso a maior parte do tempo. Ele falava muito pouco e somente a respeito do que lhe era perguntado. Todos se identifi cavam com ele, independente de seus credos ou raças, pois Ramana ensinava a respeito do Ser Supremo. Não existiam restrições, e tanto cristãos, como yogues, muçulmanos ou judeus, todos reconheciam nele o Divi no Ser e a ele se entregavam. Ouvíamos os discípulos mais antigos relatarem co mo o Mestre orientava as pessoas, desde os primeiros anos, em Virupaksha. Ele não era um reformador. Não desencorajava as pessoas a seguirem suas religiões e
61
costumes em suas vidas particulares. Nenhum Mestre interfere no caminho que as pessoas trilham, por mais estranho que esse caminho pareça ser. No Ashram não se seguiam religiões, costumes ou tradições. O Ashram não é um reflexo do mundo. Nele busca-se a consciên cia do Ser Absoluto, busca-se algo que não é encontra do no mundo profano. No mundo as pessoas envolvem-se com valores que não são naturais e tornam-se escravas desses valores, embora julguem dominá-los. No Ashram seguem-se as regras de conduta moral e espiritual ditadas pela intuição pura. Aquele que se es quecia disso era firmemente repreendido por Sri Ra mana. Por volta de 1916, Alagammal, mãe de Sri Ramana, juntou-se aos outros devotos e passou a morar no Ashram. mesmo tratamento que os outros discí pulos,Recebia emborao esperasse de Bhagavan o retorno de seu apego por ele. Percebendo a total neutralidade do Mestre, ela queixava-se, exigindo dele um tratamento especial. Ramana então reuniu todos os discípulos e ensinou: "Se Ramana dedica atenção especial a Alagammal, tem que dedicar a mesma atenção aos de mais. Todos são iguais, todos são o Ser Supremo, e o Ser não precisa de atenção especial. Tenho certeza de que Seré que Alagammal compreenderá ram onão um élugar de relações familiares, isso. mas O umAsh lu gar de conscientização do divino". Se alguma pergunta, mesmo capciosa, servisse co mo meio para um ensinamento, Bhagavan era compas sivo o bastante para respondê-la. Utilizava o método de responder a uma pergunta fazendo outra ao seu in quiridor. Esses diálogos eram por vezes extensos, até que o o interlocutor à conclusão de que só existe Ser, e que o chegasse corpo e todo o mundo manifestado são ilusórios. Os problemas propostos no início do diá logo acabavam por se diluir, invariavelmente, na ver dade de ser, tornando-se fúteis ante a Verdade Supre
62
ma. Era espantoso ver a precisão e a objetividade com que Ramana propunha suas questões e esmagava a ló gica aparentemente irrefutável com que as pessoas se dirigiam a ele. Um olhar, ou apenas a presença de Sri Ramana, era poderosa de ensinamento. Muitas pessoas iamnem até ele e suasfonte dúvidas eram esclarecidas sem que elas ao menos tivessem feito perguntas. O conhecimento transmitido por esse método jamais abandona a pessoa que o adquiriu, pois impregnou-a em sua essência e não simplesmente em seu intelecto. A atitude silenciosa, que é, na verdade, o mais eloqüente dos ensinamentos, tornou-se a característica marcante de Bhagavan Sri Ramana. Não era raro algumas pessoas quererem testar o Mestre fazendo-lhe perguntas descabidas. Como os Mestres não se preocupam em resolver controvérsias, Sri Ramana mantinha-se silencioso, mostrando com is so como são inoportunas as perguntas que não têm re lação com o processo de conscientização espiritual de quem pergunta. Um Mestre se faz presente para ajudar as pessoas a se conscientizarem do divino e não para alimentar a mente com novos dados que gerarão novas perguntas, numa cadeia interminável. Mas Sri Ramana não demonstrava discordância ou impaciência, apenas usava a suprema virtude da neutralidade. Um dos visitantes estava deixando o Ashram. Diri gindo-se a Bhagavan pediu: "Estou partindo. Não sei quando voltarei ou mesmo se tornarei a vê-lo. Não te nho a mesma sorte daqueles que se podem beneficiar de sua constante presença. Como o Mestre pode aju dar-me? Ao menos pense em mim. Eu lhe imploro, dê-me um lugar em sua mente". Sri Ramana respondeu: "Aquele que é consciente do divino não tem mente. Como pode aquele que não tem mente lembrar-se de alguém ou pensar em alguma pessoa? Muitos imaginam
63
que os devotos que vivem mais próximos do Mestre re cebem favore’s especiais dele. Se um Mestre age com parcialidade, ele não é consciente da unidade. Ele não pode deixar-se afetar pelas pessoas que o servem ou pelo trabalho que fazem. Ao Mestre são gratos aqueles que se entregam inteiramente à verdade de ser, que abandonam seu ego para sempre. Estes são protegidos, onde quer que estejam, e não precisam sequer pedir por essa ajuda. O Ser Supremo cuida dos que a ele se entregam". O Mestre Ramana tinha a habilidade de transfor mar todas as situações em fontes de ensinamento, mesmo as que a princípio pareciam corriqueiras ou de sagradáveis. Numa de nossas costumeiras reuniões após o jantar, ele nos esclareceu: "Antes de chegarem aqui, algumas pessoas têm os mais sinceros propósitos de se auto-elaborarem, mas após algum tempo elas se aco modam, a mente toma conta delas e acabam esquecendo-se por que vieram ao Ashram. Imaginam estar fazendo um grande favor por ajudar nas tarefas, servir o Mestre, mas pensam muito em si próprias. O fato de sentirem-se importantes por estarem servindo o Mes tre bloqueia qualquer possibilidade de autoconscientização. O desapego das ações destrói o ego. O caminho para a conscientização está aberto, mas para trilhá-lo é preciso entregar-se sinceramente, despojar-se dos apegos, aniquilar o ego profano. Vou-lhes ilustrar isso com um episódio ocorrido aqui. Um homem seguiu-me durante anos, como se fosse minha sombra. Porém ne nhum proveito ele tirou disso. Esse mesmo homem foi aos tribunais contra mim. Se apenas uma faceta do ego permanecer, ela crescerá e destruirá espiritualmente a pessoa". Sri Ramana jamais estimulou qualquer manifesta ção especial para ele próprio. Por ocasião de seu ani versário, o Mestre ensinou: "Evitem toda celebração pomposa em relação a mim. Vocês, que desejam cele-
65
brar aniversários, procurem saber se realmente nasce ram. O verdadeiro festejo deve ser feito quando se transcende o nascimento e a morte aparente. Por que vocês não escolhem uma data para lamentar a sua en trada no mundo denso? Glorificar e celebrar é apego ao prazer. Esse prazer não é diferente do prazer que as pessoas sentem quando ornamentam um cadáver". Bhagavan Sri Ramana não aprovava distinções. Du rante o trabalho, durante as refeições ou em qualquer outra atividade, jamais fazia separação entre ele pró prio e os demais. Entretanto, o povo hindu é bastante conservador em seus hábitos e insistiam em levan tar-se quando Sri Ramana entrava no hall ou saía dele. Algumas pessoas se impunham como dever oferecer-lhe iguarias ou frutas raras. Como não percebes sem estavam "Por agindo os ensinamentos, manaque advertiu-as: quecontra toda essa demonstraçãoRa de respeito e devoção? Quem aqui lhes ensinou tamanha hipocrisia? O que vocês ganham com isso? Não podem ser apenas naturais? O importante é ter o coração puro e sincero. Como vocês podem conscientizar-se da es sência divina com uma demonstração externa?" A homenagem exterior poderia ser aceita, na me lhor Sri Ramana das hipóteses, era delicado de umapara forma com gentil, todos.pois Mas Bhagavan ele nun ca deixou que esses gestos externos se tornassem mais importantes que a recepção dos ensinamentos que ele transmitia. Ele sempre foi muito claro e categórico a esse respeito: "Existem aqueles que levam seus falsos mestres em procissão e os ostentam perante a multi dão. Quando se cansam deles, cavam um poço e per guntam: 'Você entrará no poço por si mesmo ou nós devemos empurrá-lo?' Não são raras as pessoas que chegam aqui e se mostram bastante sinceras, mas as sim que elas se acomodam acham-se donas do lugar. Agem como posseiros e querem adaptar tudo ao seu gosto pessoal. Pensam q ue o Mestre deve sa tis fa ze r
66
suas vontades e não percebem sua inconsciência espi ritual. Em troca de suas demonstrações de devoção, o Mestre tem que neutralizar toda a desarmonia que causam. Essas pessoas imaginam que é dever do Mestre fazer o trabalho de elaboração por elas. Pela prática constante da meditação é possível purificar-se, reco nhecerqueimam o ego, desmascará-lo e aniquilá-lo. Mas as isso. pes soas cânfora e esperam purificar-se com Será que elas realmente acreditam que podem conse guir algo sem um trabalho de auto-elaboração? Elas não querem submeter-se à vontade divina, mas querem que a vontade divina se curve diante delas. Algumas ostentam suas oferendas aos Mestres. O que elas têm para oferecer? A única oferenda real é aniquilar a mente pensante e permanecer natural, de acordo com a essência divina". Lembrando um período de sua vida durante o qual se diz que ele havia feito voto de silêncio, eu lhe per guntei a esse respeito. Ele me disse que nunca havia feito voto de silêncio, mas quando vivia nas cavernas meditando não havia necessidade de palavras. Era também uma forma de manter as pessoas tranqüilas com relação a ele. "Não havia nenhum voto, eu ficava quieto e falava apenas o necessário". Perguntei a ele quanto tempo foi assim. "Por dois anos", ele respondeu. As pessoas falavam da intensa disciplina que ele cumpria, mas essa idéia é tão fantasiosa quanto a do voto de silêncio. Ele nunca se esforçou para conscientizar-se da Verdade, não havia necessidade. Desde a experiência que tivera quando garoto, em seu quarto de dormir, era consciente de ser a Verdade Absoluta e não o corpo físico, a mente, os sentidos. Vivia natural mente deestar acordo com essatranqüilos consciência. Então eleme dei xava-se em lugares e permanecia ditando e devocionando. Ele era um com o Ser, e nada podia perturbá-lo. Crianças jogavam-lhe pedras e fa ziam piadas sobre ele, mas Sri Ramana permanecia in-
67
diferente. Ele não era, entretanto, inconsciente do que se passava, pois a conscientização do divino não é um tipo de alienação. A manifestação continuava perante seus olhos, mas ele sabia que tudo era ilusão e vivia na total segurança de que apenas o Ser é real. E nessa certeza residia sua completa neutralidade em relação ao mundo. O com mundo apenas umviver sonho,naentão pordeque preocupar-se ele?é É melhor certeza que somos o Ser Supremo. Entretanto, uma vez que ele estava encarnado, teria que viver neste mundo, e a melhor forma seria comportar-se naturalmente inte grado a ele, sem atitudes estranhas, procurando ser útil de alguma forma. Quando Sri Ramana começou a orientar quem o procurava, algumas pessoas tra ziam-lhe livros e pediam que os explicasse. Nos livros ele encontrou trajeto que percorrido naturalque mente. Foi umao surpresa parahavia ele próprio descobrir o que acontecera com ele havia acontecido com outros seres também. Essas experiências haviam sido regis tradas e posteriormente serviam como exemplo. Era costume dos adeptos, quando tencionavam ir a algum lugar, primeiro obter a permissão de Bhagavan, mas da forma como alguns faziam era uma farsa. En travam no hall, cumprimentavam-no e diziam: "Estou indo a Madras", ou aonde quisessem ir. O Mestre dizia apenas: "Sim", ou então permanecia silencioso. Então eles se retiravam dizendo que tinham permissão para ir. Se se fizesse uma colocação definitiva ao Mestre, ele a aceitava como tal. Se alguém dissesse: "Vou to mar determinada atitude", Ramana acenava a cabeça acusando recebimento de mensagem. Ouvira as pala nificava vras e entendera que houvesse a decisão aprovado. da pessoa. Mas Mas se, ao issocontrário, não sig alguém lhe pedisse realmente permissão, era diferente. Ele poderia consentir ou continuar quieto. Se ficasse quieto, certamente não podia ser interpretado como tendo permitido. Os primeiros não sabiam perguntar, ou mais provavelmente, nunca tiveram intenção de pe-
69
dir consentimento. Eles se auto-enganavam dizendo que haviam tido permissão do Mestre e, dessa forma, faziam o que eles próprios haviam decidido fazer. Bhagavan Sri Ramana nunca encorajou as pessoas a lhe contarem suas faltas. Ele delicadamente as orien tava para não reviverem o passado, mas investigarem o que são agòra, no presente. Passado e futuro são cria ções mentais. Só existe o eterno presente. O problema não são as ações, mas o apego a elas. Sri Ramana era muito rigoroso quanto ao cumpri mento dos ensinamentos e ele próprio cuidava para que as disciplinas do Ashram fossem seguidas por todos, sem exceção. Ele dava o exemplo de como nos devía mos comportar em cada detalhe ou em qualquer situa ção. Entretanto, mesmo que desaprovasse determinada atitude, raramente proibia alguma coisa. A compreen são e discernimento daquilo que era apropriado e da quilo que não o era tinha que vir de cada um. Entre tanto, o ensinamento era claro: "Aceite tudo o que o Mestre aceita e recuse tudo o que o Mestre recusa". À primeira vista podia-se acreditar que Ramana era apenas pessoa bondosa, um Outros sábio que reunia algunsuma devotos e recebia os gentil, visitantes. já o julgavam uma pessoa fechada em si mesma, de semblante sério, introvertido, alguém inacessível. Ele era uma pessoa simplesmente natural. No dia-a-dia do Ashram tínhamos a oportunidade de observá-lo nas mais variadas situações. A sutileza era constante em todas as suas ações. Ele se tornava sério quando preci so fosse e também ria muito, descontraído, e fazia-nos rir constantemente. No entanto, apesar de nos deixar sempre muito à vontade junto dele, não podíamos dei xar de sentir, em todos os momentos, que estávamos na presença do próprio Ser. Essa sensação era idêntica nas pessoas que vinham ao Ashram. Sentiam a presença do Mestre como algo muito especial, não por suas ati
70
tudes ou pela sua aparência, mas devido a algo que consideravam indefinível, profundo, que lhes tocava na essência, e não em suas emoções. Esse sentir espiritual era a força da Upadesa Sharanam, a instrução silencio sa. Bhagavan Sri'Ramana não usava textos complicados para orientar as pessoas no caminho da conscientiza ção espiritual. Seus ensinamentos eram eminentemente práticos. Ele só expunha uma teoria quando respondia às necessidades específicas e perguntas dos devotos e como base necessária da prática. Era através da ins trução silenciosa e de seu comportamento que trans mitia os ensinamentos, e nas pequenas tarefas diárias vivenciavam-se esses ensinamentos, os quais não são filosofia no sentido da palavra, uma vez que Sri Rama na não orientava as pessoas a pensarem na solução dos problemas, mas a eliminarem o pensamento. Nós o chamávamos Bhagavan, e alguns associavam aquele corpo ao Mestre; mas o divino não pode ser res trito a um simples corpo físico. Por compaixão, ele se manifestou para o mundo numa forma mais tangível, e bem-aventurado é aquele que o reconhece como Mes tre e se abre para receber sua Sagrada Upadesa. Bhagavan Sri Ramana estava com setenta anos e seu corpo começou a ficar muito doente. Embora fos sem ministrados todos os tratamentos necessários, a doença não cedia. Entretanto, sua disciplina de atender a todos os que dele precisassem não foi quebrada e, quando não lhe era mais possível ir até o hall para re ceber as pessoas, elas iam até o quarto em que ele es tava e eram ajudadas, como sempre. Os cuidados dos discípulos eram intensos, e os médicos assistiam o Mestre ininterruptamente. Em abril de 1950, a respi ração cessou por completo, o corpo foi considerado morto e prepararam-se os rituais conforme os costu mes da índia.
71
Bhagavan Sri Ramana deixou marcada para sempre sua presença na Terra como um dos Grandes Mestres que abriram as portas do conhecimento supremo para a humanidade. Suas palavras e suas ações eram simples, diretas, naturais. Ele desmistificou a complexidade dos ensinamentos, apagou os mistérios que os homens sem pre acreditaram mas que que foram realmente nuncana existiram, tirou osexistir, densos véus colocados Verdade Absoluta, mostrando-a simples, acessível, eternamente presente em cada um de nós. A compaixão e o amor de Sri Ramana pelos seres da Terra são infinitos. Por isso ele doou a todos con forme esse amor e essa compaixão: doou o conheci mento da Verdade Absoluta.
72
II Felicidade: o estado natural de ser Na presença de Bhagavan Sri Ramana todas as pes soas sentiam-se felizes, em paz e, invariavelmente, desejavam que esse estado permanecesse indefinida mente. A presença do Mestre, seu olhar, seu sorriso, sua palavra, seu silêncio, irradiavam algo desconhecido pelas pessoas, a Upadesa Sharanam, a força do Ser Su premo. O contato com Sri Ramana, por mais rápido que fosse, deixava sua marca, incentivando na pessoa a busca da felicidade perfeita. A felicidade foi sempre tema constante nos diálo gos que Bhagavan Sri Ramana mantinha com os visi tantes. Todas as variantes do que se chama felicidade foram comentadas por ele, esclarecidas, chegando-se à conclusão de que a verdadeira felicidade é a nossa própria essência, o nosso estado natural de ser. PERGUNTA: O que é a felicidade? Não a encon tramos na vida quotidiana. Então, quando a sentimos verdadeiramente? RAMANA: Quando se realiza algo agradável ou quando há ausência de fatos desagradáveis dizemos que existe a felicidade. Tal felicidade é relativa, e é me lhor chamá-la de prazer. Mas os homens querem uma felicidade permanente. Esta não está nos objetos, mas no Absoluto. É um estado natural, onde o homeYn esta livre da dor, do prazer e em paz.
73
P. Em que sent ido a felic ida de é nosso estado n a tural? R. A felicidade perfeita é o Ser. A paz perfeita é a do Ser. Somente esse estado existe, e devemos nos tornar conscientes dele. Quando o homem entender que a felicidade repousa no Ser, todos os desejos serão desfeitos. É o estado sem ego, é a libertação. O sofri mento e o prazer são o resultado do apego àquilo que é transitório. A dor e a alegria se alternam. É preciso aprender a permanecer imperturbável e aceitar o so frimento e a dor com paciência, sem ser subjugado por nenhum dos dois. Aquele que se dedica a uma atividade deve fazê-lo sem se preocupar com os resultados e não se deixar dominar pela dor ou pelo prazer que surgem de tempos em tempos. Somente quem permanece indi ferente à dor e ao prazer é verdadeiramente feliz. P. Como obter a felicidade? R. A felic ida de não é um esta do a se ati ng ir. O desejo de felicidade vem do sentimento de insatisfa ção. E isso pertence ao ego. Para se obter a felicidade, não é preciso conquistar algo novo, mas apenas li vrar-se da ignorância, que faz crer na infelicidade. A vítima dessa ignorância é o ego. Ao destruir-se o ente ego é que a felicidade perfeita aparece naturalmente. Muitas pessoas procuram a felicidade em novas aventuras, descobrindo novas regiões, encontrando ob jetos raros e curiosos. Tudo isso lhes desperta grande paixão. Mas onde elas podem encontrar a felicidade? Nelas mesmas e em nenhum outro lugar. Não é preciso procurar a felicidade fora do Ser. Todos têm o desejo de ser felizes, protegidos de todo sofrimento. Procuram também se livrar de todas as doenças do corpo e, a seu próprio modo, conservar um grande amor, sem o qual crêem não ser possível a Sri Maha Krishna Swami
74
quando chegou ao Brasil 1 9 5 9 & Í
felicidade. No sono profundo, ainda que tudo tenha de saparecido, cada um tem a experiência da felicidade. Entretanto, devido à ignorância de sua verdadeira na tureza, os homens preferem agir de acordo com a crença errônea de que o caminho da felicidade consiste em obterem prazeres terrestres e celestes. eO oprazer quesá termina dor é ainda a infelicidade, homem bio prefere evitá-lo. As modalidades do prazer são a busca do objeto do desejo ainda não satisfeito e a ale gria de possuir o que se deseja. P. A felicidade é passageira? R. O estado natural de ser é a natureza essencial de todas as pessoas. Como você quer que ele venha e desapareça? Se você não percebe sua própria essência é porque sua visão é impura. O que obscurece sua vi são? Cabe a você encontrar o obstáculo e removê-lo. A prática da meditação tem como objetivo eliminar as impurezas que obstruem sua visão e escondem a Ver dade, que é o Ser. A realidade permanece sempre a mesma. Uma vez conscientizada, ela se torna perma nente. P. Porfeliz queemme infeliz em minha casa, mas sinto-me suasinto presença, aqui? R. Quem afirma não ser feliz é o ego profano, do qual todos devem livrar-se para se conscientizarem da felicidade perfeita. O desejo de se obter a felicidade é a melhor prova de que esta é uma virtude inerente áo Ser. Se a dor de cabeça dela. fosse Énatural no homem, ele nãoporque tentaria vrar-se o contrário que acontece, o holi mem conheceu momentos onde não havia dor de cabe ça e ele sabe que tais momentos existem. Não há como se adquirir ou conquistar o que é natural, porque ele já é presente. Quando você se conscientizar de sua real
76
natureza, sem esforços, de maneira permanente e fe liz, constatará que isso não se contradiz com as ativi dades normais da vida quotidiana. Uma pessoa, tendo atingido o estado natural de meditação, tem a possibi lidade seja de viver completamente isolada do mundo, seja de viver livremente entre os homens, sem que se jam natureza alteradas sua paz e sua felicidade, porque essa é sua verdadeira. P. Se já somos a felicidade, por que a procuramos? R. A causa de o homem procurar a felicidade é porque ela é um estado natural nele. Como está in consciente do Ser, ele não a percebe. P. As pessoas vivem constantemente envoltas em todo tipo de sofrimento. Ele é de alguma utilidade para que sintam a felicidade perfeita? R. O que é a felicidade para o homem? É uma bela aparência, um corpo sadio, o alimento assegurado e outr as coisas na mesma proporção. Todo sofrim ento é devido à ignorância espiritual e ele aparece porque o homem confunde o Ser Supremo com o ego profano. sempre Verdade-Consciência-Felicidade, por P. queSendo Deus nos coloca em dificuldades? Por que ele nos criou? R. Esse Deus a que você se refere vem a você e lhe diz que ele o colocou em dificuldades? É você quem o diz. E novamente o falso "eu" que se expressa. Se esse "eu" desaparecer não haverá ninguém que diga que al guém criou isso ou aquilo. A consciência-corpo é o "eu" falso.Isso Abandone o corpo que está ligado à inconsciên-^ cia. se faz procurando a essência divina. P. Há alguma relação entre a felicidade e o acú mulo de bens materiais?
77
R. Se uma pessoa achar que a felicidade se prende a causas exteriores, a seus pertences, é razoável con cluir que ela aumentará com o acúmulo de bens mate riais e diminuirá em proporção à sua redução. Portan to, se essa pessoa não tiver nenhum pertence, sua feli cidade será nula. Qual é a real experiência do homem? Está acordo comnãoesse de ver? No sono fundo,deuma pessoa temmodo pertences, inclusive o própro prio corpo. Em vez de ser infeliz, ela é bastante feliz. Cada um deseja dormir profundamente. A conclusão é que a felicidade é inerente ao homem e não se prende a causas exteriores. A experiência do sono profundo ensina claramente que a felicidade consiste em existir sem o corpo. Os sábios confirmam isso. É assim como um trabalhador levando uma carga pesada sobre a ca beça ganhar o seu salário;e suporta o peso sem prazerpara nenhum, leva-a ao destino finalmente se livra dela com alívio e alegria. P. O que é a neutralidade em relação ao mundo? R. Cada um de nós busca a felicidade mas confunde-a com o prazer, o qual é inseparável da dor. Esses dois fatores se alternam. Saber distinguir o que pro porciona prazer e dor e limitar-se à busca da felicida de constitui a neutralidade em relação ao mundo. Se não, o homem estará entre a busca de prazeres mun danos e a procura de algum caminho espiritual, sem prog redir nem em um, nem em outro . P. A paz é recomendada antes de tudo. Para obtê-la é necessário afastar-se das pessoas? R. A paz não está nos lugares de retiro. Podemos senti-la muito bem no meio da multidão ou em lugares barulhentos. A perfeita paz não deve ser buscada nem na solidão nem na multidão. Ela está no Ser, no estado natural de meditação. A paz é seu estado natural. O esquecimento disso não altera em nada o Ser. É por Sri Maha Krishna Swami
78
no rio sagrado
.'
: .::.f'S í?
V■ ;; - ;
confundir-se com o não-ser que você fala do esqueci mento do Ser, da paz. Se essa confusão for dissipada, o esquecimento de sua paz essencial não acontecerá ja mais. P. Mas as predisposições são inúmeras e eternas, e isso desde tempos imemoriais. R. Esse pensamento é, ele próprio, uma predisposi ção. Livre-se dele e suas predisposições desaparecerão de um só golpe. Assim obterá a calma, a paz. A paz está sempre presente, mas você a repudia e depois a busca. É essa agitação que o impede de sentir a paz suprema. trar Os queargumentos a felicidadede Bhagavan é a natureza SrideR.amana todos são para irrefu mos táveis, não apenas devido às palavras exatas que ele empregava, ou às comparações simples e claras que fazia, mas sobretudo porque ele foi o exemplo vivo de seus ensinamentos. No entanto, sua ausência física não provocou a perda desse estado de paz ou a impossibili dade de senti-la. Todo Mestre, por ter vivificado em si próprio os sagrados ensinamentos, torna-os eternos, acessíveis a quem se dispuser a recebê-los, em qual quer tempo ou em qualquer lugar. Sri Ramana deixou para todos a possibilidade do encontro consigo mesmo, os meios para se ati ng ir o objetivo mais j>ersegu ido pe los homens, em todos os tempos: sentir a plenitude da felicidade perfeita.
(Ã 80
III A arte de dissipar a ilusão As pessoas que vinham conhecer Bhagavan Sri Ra mana eram trazidas pelos mais variados motivos: co nhecer o Sat Guru, receber sua bênção, esclarecer dú vidas e, mais freqüentemente, adquirir o conhecimento supremo, que só um Mestre como Ramana podia trans mitir. Eram procedentes não só da índia, mas de mui tos outros países, e suas perguntas versavam sobre os mais variados temas, tendo enfoques específicos, de acordo com a sua cultura srcinal. Orientais citavam os "Vedas", os "Upanishads", oci dentais colocavam questões pertinentes à Bíblia, inte lectuais discutiam questões científicas, pessoas inculex tas falavam de suas superstições, homens simples punham seus temores quotidianos. A todos Ramana atendia com igual atenção, respondendo em linguagem acessível a cada um. Os ensinamentos não eram trans mitidos particularmente, e todos os presentes podiam beneficiar-se deles. Acompanhávamos diariamente essa atividade no Ashram e ficávamos sempreque fascinados com as respos tas de Sri Ramana, ainda já a tivéssemos ouvido antes, devido a perguntas semelhantes. Ao lado do Mestre não existia o sentimento de rotina, por mais repetitivas que fossem as ações ou as palavras. Junto
81
de Bhagavan Sri Ramana conscientizei-me de que cada segundo é uma nova pulsação do Ser, é um novo movi mento do seu eterno fluir. Quando só o Ser é percebi do, as aparências não têm mais valor algum. Sri Ra mana transmitia esses ensinamentos insistentemente. Era subjacente a todas as respostas, viável em todos os comportamentos propostos. Permanecíamos sentados no hall, junto de todos os visitantes, atentos ao Mestre, absorvendo cada uma de suas palavras e sentindo a eloqüência de seus momentos de silêncio. PERGUNTA: Por que o homem é inconsciente da Verdade Suprema? RAMANA: Porque ele não a procura em si mesmo e espera que outros a consigam para ele. Dá muito valor ao corpo físico porque só tem consciência da existên cia do corpo. Este é apenas um instrumento de cons cientização espiritual, mas o homem o tem como um fim. Ele usa a mente para pensar e o corpo para agir. Não percebe que a mente pensante é uma grande blas fêmia que o engana constantemente, pois o obriga a viver inconsciente da Verdade Suprema. P. Por que o homem se sente separado da Verdade Suprema? R. É pela exclusiva importância que ele dá ao corpo físico, à mente pensante, aos sentidos e a toda mani festação ilusória. P. Então, quem somos? Por que sofremos? R. Medite e devocione sinceramente e você se li bertará de todas essas dúvidas. P. Um caminho espiritual me fará bem? R. O objetivo supremo é a conscientização da Ver dade Absoluta.
82
P. Qual é o método* para atingi-lo? R. Siga o caminho de volta, até a srcem. P. Você quer dizer voltar à minha srcem divina? R. Exatamente. É dela que você precisa conscientizar-se. P. Por que as filosofias dualistas e as não-dualistas passam o tempo todo questionando uma à outra? R. Se cada um se ocupasse com seus próprios as suntos, não haveria disputas. P. O que são o céu e o inferno? R. Você leva o céu e o inferno em você. São suas paixões, a sensualidade, a cólera, que criam essas re giões. São apenas uma espécie de sonho. P. É nosso dever nos preservarmos da infelicidade, ou devemos levar uma existência precária? R. Lembre-se de que você deve procurar em pri meiro lugar a autoconscientização e todas as outras coisas lhe serão dadas por acréscimo. P. Freqüentemente estamos em grandes sofrimen tos e não sabemos como eliminá-los. Rogamos a Deus, mas isso não resolve. Que fazer? R. Tenha confiança na força divina. P. nenhuma Nós nos assistência submetemosnosà évontade tanto, dada. divina e, no en R. Sendo realmente submisso, você se conformará com a vontade divina e não mais se lamentará.
83
P. Mas nós estamos mergulhados no mundo. Temos uma família, mulher, filhos, amigos. Não podemos ig norar sua existência e nos resignar à vontade divina sem reter alguma parte de nossa personalidade. R. Isso prova que você não está tão completamente submetido à vontade suprema como diz. P. Perdoe os meus pecados. R. Cuide para não mais ser perturbado pela mente pensante. P. Existe o pecado? R. A rigor não há pecado, mas se há algo que se possa chamar de pecado é alguém acreditar-se a men te, o corpo, os sentidos, o intelecto. Essa é a grande blasfêmia. Os homens têm a tendência de ir para o la do errado, e as religiões aproveitam-se dessa situação e os conduzem para algo mais errado ainda. P. Bhagavan recomenda a prática de posturas físi cas? Elas podem que ser arecomendadas. vémR.compreender meditação nãoEntretanto, é proibidacon se não houver posturas determinadas, horários convenien tes ou outras condições acessórias. P. Você recomenda algum método especial de pos turas físicas? R. Na verdade, não pode haver, para isso, regra ab soluta e rigorosa. P. É indispensável seguir uma disciplina alimentar? R. Coma alimentos de paladar agradável, mas em quantidade moderada.
85
P. Não seria nosso dever conservar o corpo no me lhor estado de saúde para que a mente seja também sadia e possa prosperar? R. Se você der atenção à mente, nunca acabará de cuidar de todos fará outra coisa. os detalhes da saúde de seu corpo. Não P. Os ocidentais têm o hábito de um regime ali mentar determinado. Uma mudança de regime afetaria a saúde. Porém, é necessário conservar a boa saúde, não é? R. Sim. Quanto mais o corpo enfraquece, mais a mente se fortalece. P. O jejum facilita a conscientização espiritual? R. O jejum mental é que importa realmente. O je jum físico não é um fim em si mesmo. Além disso, ele torna o homem fraco. Você poderá, então, não ter energia suficiente para prosseguir em sua busca espiri tual. Portanto, alimente-se em quantidade moderada e continue a meditar e a devocionar sinceramente. P. Não conseguirei jamais progredir no caminho es piritual porque meu corpo é frágil, produz muitos mo vimentos involuntários e não consi go me dit ar. A men te pensante fica vagando. R. Se você conseguir manter a mente submissa à vontade suprema, não importa que seu corpo se movi mente, P. Isso não é um inconveniente para os iniciantes? R. É preciso superar todos os obstáculos. Como es ses não são mais que pensamentos, podem todos ser
86
transpostos. Você acredita que seu estado de saúde não lhe permite meditar. É preciso destruir esse sentimen to negativo. A srcem dele é a confusão que você faz entre o Ser Supremo e o corpo físico. A doença não provém do Ser, e sim de fatores corporais. Mas o corpo não lhe vem dizer que ele está doente. É você que acha isso. Por quê? Porque você cometeu o erro de se iden tificar com o corpo. O corpo em si não é outra coisa senão um pensamento. Seja, então, como você é real mente e não terá nenhuma razão para ficar deprimido. P. Como podemos permanecer absolutamente tran qüilos? R, Só quem sossega os veículos de conscientização espiritual sentir-se empara paz.sentirmos A auto-entrega é um ingredientepode indispensável essa virtude divina. Entrega lembra submissão, e realmente é. A submissão é uma dádiva. A mente, o ego e o intelecto são nossos inimigos. É por isso que a mente deve des pertar a qualidade da entrega. É a melhor das qualida des que ela deve apresentar. Pela meditação, a mente é obrigada a entregar-se. Dessa forma ela é aniquilada e a paz pode ser vivida. P. Posso adorar uma imagem? Há algum mal nisso? R. Enquanto você se identificar com seu corpo, não poderá libertar-se do sentido de dualidade. P. É certo adorar imagens? R. Quem é o adorador? A resposta é: o Ser. A difi culdade é que o homem se imagina o autor de seus atos. é um erro. Tome como exemplosustentar uma dessas figurasIsso esculpidas em colunas que parecem o peso da construção em suas costas. Mas a construção está apoiada na terra e repousa sobre suas próprias fundações. A personagem esculpida faz parte da cons-
87
trução mas parece que a sustenta. Isso não é cômico? Acontece o mesmo com o homem que se sente como autor de seus atos. P. Que fazer para livrar-me do medo? R. O outra que écoisa o medo? um pensamento. houvesse além É do apenas Ser, teríamos motivo pa Se ra ter medo. O medo acontece devido ao hábito da pessoa se identificar com o corpo, a mente e os senti dos. À medida que ela se desapega dessa idéia, o medo vai automaticamente desaparecendo. Pergunte quem sente o medo, persista nas práticas da meditação e da devoção. Desenvolva a auto-segurança e tenha con fiança total nos sagrados ensinamentos. Qualquer sen sação estranha de insegurança ou medo desaparecerá. P. Como vencer as preocupações da vida? Sofro de intermináveis preocupações. Para mim não há nenhuma paz, apesar de não me faltar nada para ser feliz. O que fazer? R. Essas preocupações o afetam durante o sono profundo? Não! É o mesmo Ser agora, ou diferente da quele que dorme sem preocupações? P. Sou o mesmo Ser. R. Certamente as preocupações não lhe pertencem. A culpa é sua em pensar que elas são suas. As preocu pações são da mente pensante. Afaste-se dela. P. Se precisarmos fazer alguma coisa que sabemos ser errada, mas que fará bem a outra pessoa, devemos fazê-la ou não? R. O que é bom, o que é mau? Não há nenhuma re gra absoluta que permita determinar se uma coisa é boa ou ruim. As opiniões variam conforme o tempera-
88
Sri Maha Krishna Swami
mento da pessoa e o lugar onde vive. Bem e mal são idéias, nada mais. Não se preocupe com isso. Elimine todos os pensamentos. Se você permanecer no bem, o bem reinará no mundo. O mal que as pessoas vêem nos outros é aquele que levam nelas próprias. A distinção entre o bem e o mal é a srcem daquilo que as religiões chamam de pecado. O melhor caminho a seguir e en tregar-se plenamente às prátiças da meditação e da devoção iniciáticas. Só assim a sensação de dualidade desaparece. Deve-se permanecer no estado natural de meditação, sem se deixar afetar por aquilo que se pas sa ao redor. P. O mundo é cheio de sofrimento. Para que conti nuar com a idéia "mundo"? ciente R. do O sofrimento Ser Supremo. não As existe pessoas para vêm aqueleatéque o sábio é conspa ra que ele alivie tal sofrimento. Então o sábio ensina que para eliminá-lo é preciso praticar as técnicas de autoconscientização. P. Como saber qual é a ação correta? R. A percepção da ação correta vem automatica mente, pela intuição pura. P. Um homem consciente do Divino Ser é de algu ma utilidade para quem busca a autoconscientização? R. Sim. Ele ajuda a dissipar a ilusão de que você não é a própria Verdade. P. Como isso é possível? R. Meditando e devocionando sob a orientação do Mestre. P. O Ser está sujeito a transformações, por exem plo, após a morte?
90
R. Quem é testemunha dessas transformações? P. Você se expressa como um não-dualista? R. É exato. P. Mas Bhakti Yoga.a submissão de que você fala faz parte da R. Jnana Yoga, Bhakti Yoga, é a mesma coisa. P. Então devo concluir que eu sou a consciência e que nada acontece se não for devido a minha presença? R. Chegar a uma conclusão pelo raciocínio lógico é uma coisa, mas senti-la é outra bem diferente. Você deve conscientizar-se da essência divina. P. Vou esperar três meses e verei se a ajuda vem em meu auxílio. Posso ter sua palavra de que você me ajudará? R. É essa a linguagem de alguém que deixou sua vontade individual entre as mãos do Sat Guru? P. Mas não pode sua procuro promessa? Tenho muitos bensvocê materiais, vivocumprir feliz. Mas também a paz de espírito. Por isso vim até aqui fazer-lhe esse pedido. Quer, por favor, colocar a mão em minha ca beça e me dar a segurança de sua ajuda? Eu teria ao menos o consolo de pensar que sua promessa será cum prida. R. Apenas medite e devocione. Só assim você eli minará a mente pensante que causa tanta insegurança. P. Posso me aproximar para receber sua bênção? R. Você não deveria ter tais dúvidas. Elas contra dizem completamente suas alegações de que você esta
91
totalmente submisso ao Mestre. A mão do Sat Guru está sempre sobre sua cabeça. P. Por que o homem deve sofrer por seus atos? A atividade do homem não é comandada pelo Ser? R. Aquele que acredita ser o autor de seus atos é igualmente o que sofre. P. Mas os atos são comandados pelo Sèr. O homem é somente seu instrumento. R. Esse tipo de raciocínio é feito quando se sofre e não quando se está feliz. Mas se conseguirmos perce ber que tudo ocorre graças ao Ser, em todas as cir cunstâncias, a dor também desaparecerá. P. Quando o sofrimíento desaparecerá? R. Ele durará até que o sentimento de ego seja eli minado pela força da meditação. Se as boas e as más ações dos homens são realmente pela vontade do Ser, por que você deveria pensar que o prazer e a dor só pertencem a você? É aquele que age bem ou mal que recolhe a alegria ou a dor. Deixe a dor no lugar que lhe pertence. Não se preocupe com isso. P. Os "Puranas" e os "Upanishads" ensinam diferen tes sistemas no que se refere à criação cósmica. Qual é o verdadeiro? R. A esse respeito existe um grande número de teorias. Elas indicam que a criação tem uma causa primeira denominada criador e que convém procurar a sua srcem. O ponto principal é sempre colocado sobre a srcem e não no processo da criação. Descubra, en tão, quem você é, e compreenderá o que é o universo. P. Uma pessoa parece um grão de areia, e o uni verso, tão vasto. Como poderrios pretender compreendê-lo?
92
R. Você já ouviu algum grão de areia se queixar da imensidão da criação cósmica? Há tantas e diferentes teorias a esse respeito. Chegaram elas a alguma con clusão definitiva? É impossível. Todas as teorias refe rentes ao cosmo são criações mentais e, portanto, fa lhas em sua srcem. Toda especulação a esse respeito não contribui eliminar a ignorância espiritual. Por em que nada insistirpara em se procurar explicações de fenômenos que nunca terão respostas? P. Dê-me um caminho a ser seguido, algo pessoal, que o Mestre me diga oralmente. R. Se existisse algo que fosse verdadeiramente no vo e desconhecido até o presente, esse ensinamento particular seria útil. Porém, todo ensinamento dado até agora consiste em eliminar a mente pensante e conscientizar-se do Ser Supremo através da constante meditação. P. Isso parece impossível. R, Mas é precisamente o estado natural de ser de todas as pessoas. P. Porém, não nos apercebemos dele na vida diária. R. A vida diária não é separada da vida eterna. En quanto você pensar que a vida quotidiana é diferente da vida espiritual, você terá esse tipo de dificuldade. P. Qual é o objetivo da criação? R. É de provocar essa pergunta. Procure a resposta as coisas, dessa pergunta isto é,eno permaneça Ser. Sua investigação na fonte eterna o conduzirá de todas à procura do Ser. Essa busca só cessará quando a mente pensante e o ego profano forem completamente elimi nados. E a única maneira de consegui-lo é através da
93
prática da meditação iniciática e da devoção param bhakti. P. Dizem que o homem é divino. Por que, então, ele sente tristeza, ele sofre? R. Os O sofrimentos termo "divino" refere-se àà mente, essência ho mem. se relacionam ao do corpo e aos sentidos. P. Como superar as dores? R. Conscientizando-£e de que você não é o corpo que sofre, nem a mente que se conturba, nem os senti dos que se entorpecem. No final, todos morrem. P. Como conscientizar-me dessa verdade? R. Através da prática de uma disciplina espiritual. P. Qual? ti.
R. A meditação iniciática e a devoção param bhak P. O que pensar do homem que não sofre mais?
R. Ele se tornou consciente do divino. O estado na tural de ser lhe permite viver sem os problemas que a mente e o ego sempre impõem ao homem. P. Algumas pessoas, para negar a existência de Deus, enumeram as catástrofes naturais, tais como a fome algunsfenômenos povos, os terremotos, os maremotos muitosdeoutros similares. Como posso cone testar essas afirmações? R. Qual é a srcem desses fenômenos, segundo os que pensam como você disse? Sutra Maha Devi - £ a Mãe Espiritual no Bhagavan Sri Ramanashram. Recebeu a Upadesa (iniciação silenciosa) de Bhagavan $ri Ramana e tomou-se consciente de sua missão espiritual.
SUTRA MAHA DEVI
P. Dizem que é a natureza. R. Alguns dão a essa srcem o nome de Deus, ou tros o de natureza. P. A natureza não estabelece nenhuma diferença entre um verme e um homem? R. O que é a natureza? P. O que existe. R. E o verme não faz parte da natureza? KARMA
O dia-a-dia do Ashram, a convivência com Bhaga van Sri Ramana, seu modo natural de agir, não me fa ziam pensar em nada, nem questionar coisa alguma. Não me ocorriam indagações como: "Por que estaria eu aqui? Por quais méritos?" ou questões similares. Sim plesmente vivia cada minuto, aprendia em todas as si tuações. Porém, os visitantes que ali chegavam inda gavam freqüentemente a respeito de destino, de livre-arbítrio, ou das seja,pessoas, karma. eAsquase indagações vam na mente todos osfervilha dias Sri Ramana esclarecia essa questão. P. A teoria do karma diz que todos os aconteci mentos são o resultado da ação e da reação. Se assim for, ação e reação de quê? R. Enquanto não ocorrer a autoconscientização, o karma isto é, a lei reação. Após aprevalecerá, autoconscientização, nãodaháação maise da karma, não há mais mundo. A ação é inerente a todas as coisas, a todo o universo. No entanto, o Ser não é afetado por ela.
96
P. Estamos errados ao nos propormos um objetivo? R. Se há um objetivo a atingir, ele não pode ser permanente. O que está no objetivo procurado é ante rior ao nascimento do eço. É porque existimos que o ego parece existir também. Se confundirmos o Ser que somos com o ego, agiremos de acordo com o ego; se crermos que ele seja a mente, agiremos de acordo com a mente. É o pensamento que constrói envoltórios de tantas maneiras diferentes, mas o Ser que somos per manece inalterado. P. Nossas experiências atuais são o resultado de nosso karma acumulado no passado. Se nós pudéssemos saber qual foi o erro que cometemos antes, poderíamos então corrigir nossa atitude? R. Se você corrigir um só erro, restar-lhe-á ainda a totalidade do karma, que deve conduzi-lo a inumerá veis renascimentos. Assim sendo, esse não é um bom método. Quanto mais você podar uma árvore, mais forte ela crescerá. Quanto mais você se esforçar1para eliminar o karma, mais ele aumentará. O verdadeiro método consiste em encontrar a raiz do seu karma, que é o ego profano, e arrancá-la. Enquanto o homem per manece identificado com o ego, ele se considera o au tor de seus atos e, conseqüentemente, recolhe seus frutos. Se estes são os desejados, o homem se sente feliz; caso contrário, sente-se infeliz. Se os atos forem realizados sem apego, não haverá esperança de se ob terem bons ou maus resultados. P. Como se livrar do karma? R. Deixe que o karma desfrute do próprio fruto. quemestará é o karma e descobrirá que você não éVerifique o agente.deEntão livre dele. P. O karma terá fim um dia?
97
R. Os karmas levam neles mesmos as sementes de sua própria destruição. P. Nossas ações presentes exercem influência sobre nossas vidas futuras? R. Você nasceu, realmente? Por que pensar em nascimentos? O fato é que não há nem nascimento nem morte. Deixe, então, aquele que acredita ter nascido pensar na morte e em seus paliativos. P. Se permanecemos tranqüilos, como a atividade pode acontecer? Como fica nosso karma? R. Primeiro, entenda o que é o karma e quem é o autor das ações. Quando analisamos esses aspectos e procuramos a verdade que aí está, somos forçados a permanecer em paz. E isso não impede que as ativida des se desenvolvam normalmente. O caminho da ação e o da sabedoria não são separados. O caminho da ação recomenda a ação desapegada dos resultados, e o ca minho da sabedoria indica a renúncia. O controle das paixões, como a Juxúria, a inveja, a gula, é recomen dado em todos os caminhos espirituais. Libertar-se das paixões é a condição essencial e indispensável no ca minho da autoconscientização. P. Sou livre para buscar a autoconscientização, ou fatalmente serei levado a ela? Até onde vai, exata mente, a liberdade? R. A liberdade de quem? "A minha", você dirá. Na verdade, você está além da liberdade e da fatalidade. Se permanecer no estado natural de ser, você trans cenderá os expressão dois. É assim que deve ser compreendido sentido da "dominar o destino pela vontade".o O destino pode ser dominado. Ele é o resultado do pas sado. É na companhia dos sábios que as más tendências são eliminadas, pois com eles se aprendem as técnicas
98
da meditação e da devoção iniciáticas, as quais possi bilitam a autoconscientização. "Eu existo" neste mo mento. "Eu era" no passado. "Eu serei" no futuro. Quem é esse "eu"? Ele é o Ser Supremo, e quando se toma consciência dele pela técnica da meditação, obtém-se a liberdade e a felicidade. Enquanto for manti do o sentido de ego, haverá que usufruirá o resultado da ação. Mas se o um ego autor for aniquilado, a von tade divina dirigirá o curso dos acontecimentos. Não se iluda, imaginando que o divino seja algo exterior a vo cê. Conscientize-se dele através da meditação ensina da pelo Mestre. P. Temos que cumprir o nosso destino? O chamado destino resultado de ações passa das R. e diz respeito ao corpo.é Por que você se preocupa com ele? Por que dá atenção a ele? O destino dura en quanto dura o corpo. P. Existe o livre-arbítrio e a predestinação? R. Descubra quem é predestinado e quem tem li vre-arbítrio. Quando se desempenha um papel numa peça teatral, seja ele de um personagem bom ou mau, o ator não é afetado por ele, pois sabe não ser tal per sonagem. Da mesma forma, aquele que se conscientiza de sua identidade divina desempenha seu papel na vida sem medo nem ansiedade, sem esperança nem arre pendimento, não se deixando afetar pelo papel desem penhado. P. Qual será o meu futuro? R. Se você se conscientizar do Ser Supremo seu fu turo será bom. Do contrário será igual ao presente. P. Se tudo está predestinado, não deverei fazer es forço algum.
99
R. Não é bem assim. Você pode estar predestinado a esforçar-se para atingir seu objetivo. Tudo o que es tiver destinado a acontecer, acontecerá, faça-se o que for para impedi-lo. Isto é certo. O melhor caminho, portanto, é deixar-se guiar pela força divina, natural mente. Desde aqueles anos que estive com Bhagavan Sri Ramana até os dias de hoje, esses ensinamentos jamais deixaram de estar presentes em mim. Grandes mudan ças ocorreram em minha vida, porém as palavras de meu Mestre sem pre me indicaram o rumo ce rto : "Dei xe-se guiar pela força divina, naturalmente". OS PODERES MENTAIS
Viver naturalmente, em harmonia com toda a ma nifestação, era o ensinamento que emanava de todas as atitudes de Sri Ramana. Porém, como os ensinamentos sagrados foram revestidos de mistérios, muitas pessoas vinham até o Ashram para se esclarecer a esse respei to. Víamos desfilar pelo hall, diante de Sri Ramana, ti pos exóticos que buscavam poderes ocultos, ou pessoas simples que acreditavam ser o domínio do mundo invi sível aquilo que poderiam conquistar de mais elevado. Bhagavan Sri Ramana jamais fez demonstrações de poderes. Ao contrário, longe de confessar-se capaz de fazer qualquer coisa sobre-humana, ele costumava re jeitar toda responsabilidade referente a experiências por que seus devotos tivessem passado e que honesta mente atribuíam a ele. Sempre nos ensinava que a consciência suprema é o real poder e que todos os ou tros só são éimaginários. Além do disso, a aquisição de pode res possível através exercício da atividade mental, mas a autoconscientização, que deve ser o ob jetivo máximo do ser humano, implica o aniquilamento completo da mente pensante.
101
P. Interessei-me pelos estudos metafísicos por mais de vinte anos. Mas nunca tive experiências novas, ao contrário de muitos outros, que dizem tê-las conheci do. Não desenvolvi nenhuma faculdade de clarividên cia, de clariaudiência ou outra similar. R. EstáTudo muito bem não assim. A única realidade é o Ser Supremo. o mais passa de simples fenômenos. Para que serve ver e ouvir as coisas a distâncias enor mes? Veja o que está a seu lado, é a mesma coisa. Para ver o que está longe ou perto há sempre a dependência dos órgãos sensoriais. Por que as pessoas dão tanto va lor à clarividência, à clariaudiência, enfim, aos pode res mentais? A aquisição de poderes psíquicos é tem porária, porque o que é adquirido deve desaparecer. Esses poderes também não permanecem. P. O que querem dizer as diferentes expressões "supramental", "mental psíquico", "mental divino"? R. Conscientize-se do Ser Supremo, e todas as di ferenças deixarão de existir. P. A conscientização do Ser provoca automatica mente o surgimento de poderes ocultos? R. O Ser Supremo é a sua verdadeira identidade. Os poderes ocultos são estranhos a você mesmo. Eles nada têm a ver com o Ser. A aquisição de poderes exige sempre grandes esforços para serem mantidos. O Ser, por outro lado, não exige nenhum esforço para que se viva em perfeita paz e harmonia. Os poderes dependem da presença ativa da mente pensante. Eles só podem manifestar-se através do ego denso. Onde estaria a utilidade de poderes ocultos para alguém consciente do Ser Supremo? Essa conscientização pode, às vezes, ser acompanhada de poderes ocultos. Se as pessoas se es forçaram por conseguir poderes antes de se tornarem conscientes, estes podem manifestar-se após a cons
102
cientização. Outros não desejam poderes ocultos e se contentam em buscar simplesmente a conscientização. Não manifestam nenhum poder. Os poderes podem até mesmo ser buscados e obtidos após a autoconscienti zação. Mas serão usados com o fim específico de aju dar o progresso espiritual das pessoas ainda incons cientes. P. Há yogues que possuem poderes ocultos. O que Sri Ramana diz a esse respeito? R. Os poderes desses yogues são conhecidos seja por se ouvir falar, seja por demonstrações. Essa é a prova de que eles existem apenas nos limites da mente pensante. P. Há um yogue capaz de se comunicar à distância com seu Mestre, que permanece no Himalaia. R. Isso não é diferente da telepatia, que todo mun do conhece. A telepatia não pode existir sem aquele que ouve, nem a televisão sem espectador. Que dife rença há entre o longe e o perto? Somente quem ouve tem importância. Sem aquele que ouve não pode haver audição, e sem espectador não pode haver visão. Para que servem os poderes ocultos? Quem se diz ocultista deseja surpreender os outros com suas façanhas para obter o reconhecimento das multidões. Ele necessita de espectadores para mostrar seus poderes e procura aplausos mas, se não os recebe, torna-se infeliz. É ab solutamente necessário que os demais o apreciem. Ele poderá encontrar alguém cujos poderes sejam maiores que os seus. Sentira, então, ciúme e se tornará mais infeliz. Os poderes ocultos estão apenas nas limitações da mente pensante. Não são inerentes ao Ser. Aquilo que não é natural, que é adquirido, não pode ser permanen te e não é digno de ser procurado. As experiências dos
103
que buscam os poderes ocultos são complexas e miste riosas. É por isso que podem exercer um fascínio irre sistível sobre aqueles que vivem ainda na mente pen sante. Mas a verdade é que essas pessoas que esperam adquirir poderes, através de inúmeras técnicas propos tas, não est ão ci en tes de como a ignorância espiritua l ainda Seu objetivo, como podemos ver, não é as pôrcomanda. fim à ignorância, mas alcançar um glorioso estado mental que acham digno de se atingir. Estão fortemente atraídas pela mente usurpadora. Acreditam numa existência beatífica, em que a mente sobreviverá infinitamente, dotada de maravilhosos poderes. Consi deram isso o mais alto de todos os ideais. Alguns são ainda mais ambiciosos. Depois de obterem esses pode res, a que chamam de emancipação espiritual, preten deres controlar dem para alterar o mundo o karmavibrando coletivo.e Mas, emanando na realidade, seus po não são capazes nem de controlar as suas próprias am bições pessoais. A evolução que conseguem não passa de um corpo denso. Confundem a aquisição de poderes com a própria conscientização espiritual. Porém, com esse modo de pensar, são conduzidos para um distan ciamento cada vez maior da verdade de ser. Aquele que não se dedica a nenhum tipo de prática espiritual está em melhores condições do que os que buscam os poderes mentais. Manter-se na consciência suprema é o verdadeiro poder. Outros conhecimentos não passam de sonhos. Aqueles que estão estabelecidos na realidade divina e, portanto, isentos de ilusões, darão importância a coisas desse tipo? Os poderes são semelhantes aos ganhos num sonho. O que se ganha num sonho continua ao des pertarmos? Aquele que já se livrou da falsidade, fir mando-se VerdadequeSuprema, ser poderes iludido por eles. Ona homem se ocupanãoempode ganhar aprofunda-se na ignorância. O Ser Supremo é único. Os poderes são muitos. Multiplicidade é característica de irrealidade.
Sri Maha Krishna Swami
105
P. O sábio deve utilizar poderes ocultos para ajudar as pessoas, ou sua conscientização já é suficiente? R. O poder da conscientização ultrapassa infinita mente o emprego de todos os poderes ocultos. Como no sábio o ego desapareceu, ele não vê a dualidade entre as pessoas. Qual é a maior riqueza que se pode dar a outra pessoa além da felicidade de se viver em paz? Porém ela só acontece quando não houver mais agita ção ou perturbações provocadas pelos pensamentos. Enquanto o homem não tiver aniquilado a mente pen sante, ele não poderá jamais conhecer a paz e a felici dade perfeita.' P. Existem pessoas que se acham capacitadas a dar conselhos sobre a disciplina espiritual. Isso é válido? R. Se alguém quiser aconselhar o outro, raramente será ouyido, e as pessoas não melhorarão sua atitude graças a conselhos. Então, o melhor é permanecer no silêncio supremo. Ele terá mais efeito que as palavras e as ações. P. Mas o silêncio não é compreendido. R. Não importa. O silêncio é a voz sem som. É a voz da intuição pura que se expressa no mais íntimo daquele que medita e devociona sinceramente. SILÊNCIO
Todos os Mestres têm seu método próprio de ensi nar, que geralmente se torna uma característica indis sociável da imagem que permanece de cada um deles. Assim, Budha ensinava indicando o dourado caminho do meio. Jesus, o Cristo, transmitiu seus ensinamentos através de parábolas, repletas de simbologia a respeito
106
do amor divino. Mahatma Gandhi deixou sua presença marcada pela ação decidida com que empreendeu sua luta pela não-violência. Bhagavan Sri Ramana utilizou a instrução silenciosa como método para transmitir seus ensinamentos. O silêncio do Mestre não era apenas ausência de ruídos ou de palavras, mas o completo cessar da mente pensante. Quando se faz a mente calar, pode-se ouvir a voz do Ser Supremo, que é precisamente a linguagem do silêncio. Palavras, sons articulados, imagens e con ceitos pertencem ao domínio mental. A linguagem inarticulada, que traz em si o sentir da divina essência, é a expressão do Ser Supremo. Essa linguagem não ca be em palavras, por melhor elaboradas ou sutis que se jam. Entre as palavras a respeito do silêncio e o pró prio silêncio existe a diferença de queuma há entre falar a respeito do Sol nas profundezas caverna e sen tir seu calor a aquecer-nos, a doar a vida a todos os seres. Na presença de Bhagavan Sri Ramana éramos en volvidos pela presença silenciosa do Ser Supremo, que nos conduzia a imergirmos em nossa própria essência, a entendermos a linguagem universal do silêncio. ça, jamais Quando nos somos deixamos abandonados impregnar por por essa ela. poderosa Mesmo for num ambiente barulhento, o silêncio supremo continua a ser sentido. Muitas pessoas identificavam Bhagavan Sri Ramana com Dakshinamurti, o Mestre do silêncio. Embora não fosse tão introvertido como as pessoas acreditavam, Ramana mantinha-se, sempre que possível, em silêncio e instruía seus discípulos também silenciosamente. Ele próprio dizia: "O silêncio é a melhor forma de instru ção, é a Upadesa e depende apenas do discípulo neu tralizar-se da mente pensante para recebê-la. Quando não é possível instruir uma pessoa através da Upadesa,
107
usam-se palavras para exprimir a Verdade. Mas a Ver dade está além das palavras, e melhor que compreen dê-la é senti-la, e melhor que senti-la é vivê-la. Pales tras e discussões podem entreter as pessoas por horas sem causar efeito duradouro sobre elas. Entretanto o resultado do silêncio é permanente e beneficia a todos, mesmo que não se entenda como ele acontece". Um devoto de Sri Ramakrishna procurava intensa mente um Mestre encarnado que pudesse orientá-lo e pedia constantemente a Ramakrishna que lhe indicasse um verdadeiro Mestre. Em pouco tempo ouviu falar a respeito de Sri Ramana e partiu para Tiruvannamalai. Chegando ao Ashram, viu o Mestre sentado no hall, tendo atrás de si um retrato de Ramakrishna. Bhagavan Sri Ramana recebeu as flores que ele trouxera e ofereceu-as a Ramakrishna. O discípulo imediatamente compreendeu que seu pedido havia sido atendido. Ramana perguntou-lhe se sabia algo a res peito de Dakshinamurti. "Sei que ele dava a instrução silenciosa" respondeu-lhe. E Bhagavan Sri Ramana dis se: "Esse é o tipo de instrução que receberá aqui". Uma pessoa pode falar muito e, na verdade, não transmitir nada; e outras podem falar pouco e trans mitir a mensagem da divinafraqueza conscientização. Somente as pessoaseterna que possuem espiritual usam muitas palavras na tentativa de convencer seus seguidores. Na índia, dizem que quando um sábio co meça a falar muito converte-se num tolo; e que quando um tolo faz silêncio converte-se num sábio. O silêncio é o idioma da espiritualidade universal, mas é preciso compreender que esse silêncio não é simplesmente um silêncio exterior. Não é apenas através das palavras que fala. cada Os olhos falam, os ouvidos o tato fala, seenfim, um de nossos sentidos falam, tem sua lin guagem. Quando não podemos mantê-los em silêncio, tornamo-nos presas de grandes agitações. O verdadeiro silêncio manifesta-se, portanto, interiormente.
108
A simples presença de Sri Ramana exercia um efeito poderoso, inegável. Ele preferia não falar, mas as pessoas, com muitas dúvidas e perturbações de to das as espécies, procuravam chegar até o Mestre e permaneciam sentadas, por algum tempo, à sua frente. Ao se retirarem, mesmo sem terem feito nenhuma pergunta, suas dúvidas tinham sido esclarecidas e seus corações aliviados. Um discípulo de Bhagavan Sri Ramana, que não conseguia compreender corretamente a definição do silêncio, perguntou-lhe se depois da autoconscientiza ção os sábios também agiam. Ramana lhe respondeu que se eles não agissem, como poderiam revelar a Ver dade Suprema? Qualquer providência exagerada, como o voto de silêncio, era desaconselhada. Numadizer ocasião, na deixou-o bem claro. Ouvindo que Sri um Rama devoto tencionava fazer voto de silêncio, salientou que a fala é uma válvula de segurança e que é melhor controlá-la que reprimi-la. Há pessoas que caem no ridículo de de sistirem de falar com a língua e fazem-no por meio de um lápis. O verdadeiro silêncio está no coração, e é possível permanecer calado em meio a uma conversa ção da mesma forma pela qual é possível estar solitá rio em meio à multidão. Os que dizem fazer silêncio propondo-se apenas fe char a boca mas, ao mesmo tempo, escrevem uma coi sa ou outra em pedaços de papel, apenas estão usando um outro meio de expressar a atividade da mente pen sante. É possível abster-se de falar para evitar envol vimentos com questões mundanas, entretanto não se deve tomar essa atitude como um objetivo, mas antes como um meio, O verdadeiro silêncio é o estado sem ego, o estado natural de ser. A linguagem é apenas um meio para comunicar os pensamentos aos outros. Ela só intervém quando sur-
109
gern os pensamentos, e estes surgem após o pensamen to "eu". Esta é a raiz de toda conversação. Quando permanecemos sem pensamento compreendemos muito bem nosso próximo, graças à linguagem universal do silêncio. O silêncio não cessa de falar. Ele é o fluxo eterno da fluxo profana. é interrompido palavras quelinguagem. têm srcem Esse na mente A trocapelas de palavras obstrui essa linguagem sem som. Bhagavan Sri Ramana exemplificava esse ensinamento com o que ocorre com a eletricidade num fio. Graças a uma resistência colo cada na corrente, a eletricidade ilumina uma lâmpada ou faz girar um ventilador. Mas no fio, a eletricidade permanece sob a forma de energia. Acontece o mesmo com o silêncio, que é a corrente eterna da linguagem, mas que é obstruído pelas palavras da mente pensante. Indagaram a Sri Ramana como as relações sociais poderiam continuar, se todos observassem o silêncio. A resposta veio através de uma comparação singela: "Quando as mulheres voltam da fonte, levando um grande jarro na cabeça, vêm conversando entre si, mas tomam muito cuidado para não derrubar seu jarro, po rém não pensam em sua carga. Assim também, um sá bio diversas não é identificado afetado em nadaque porexecuta elas, porque estáatividades continuamente com o Ser Supremo". O silêncio é a forma mais poderosa no processo de autoconscientização. O Mestre sempre permanece tranqüilo e a paz prevalece nele e em todos que dele se acercam. O silêncio do Mestre é mais poderoso e mais vasto que todas as escrituras sagradas, uma vez que permite discípulo encontrar seu próprio silêncio viver emaopaz. Bhagavan Sri Ramana ensinava que eos apegos são barulhentos, que o sentimento de individua lidade se faz anunciar ruidosamente, que os pensamen tos se agitam como os macacos pelos galhos das árvo
110
re, chamando a atenção com seus grunhidos. Ensinava sobretudo a ouvirmos a nós mesmos, aquilo que somos realmente, e que só é percebido quando cessam os ruí dos do ego e da mente, permanecendo a calma, a paz, a doce canção silenciosa do Ser.
IV O mundo Em certa ocasião, chegou ao Ashram a notícia de que Gandhio estava a caminho TiruvannamalaiMahatma para receber darsham, isto é, adebênção, de Bhagavan Sri Ramana. Todos se alegraram e aguardavam-no com curiosidade, pois Gandhi já era bastante conhecido, e seu trabalho de não-violência ecoava pelo mundo todo. Criou-se então a expectativa sobre a con versa entre os dois Grandes Mestres, e esperava-se que abordassem temas referentes às causas sociais, aos entraves políticos pelos quais o país passava, enfim, assuntos complexos e polêmicos. Quando Mahatma Gandhi chegou ao Ashram, cercado pela multidão que o havia reconhecido e acompanhado rumo à montanha, adentrou o hall e aproximou-se do Mestre, curvou-se diante dele e aguardou silenciosamente. Após algum tempo, Bhagavan Sri Ramana disse: "Sim", e Gandhi levantou-se, agradeceu e, colocando-se aos Pés do Sat Guru Deva, retirou-se. sábioem muitas não as se pessoas mede emespe ter mosAdeação açãodofísica, níveisvezes em que ram, mas sim em planos nos quais a ação é verdadeira mente prod utiva. Falar pou co é a car ac te rís tic a dos que obedecem à espontaneidade de sua natureza.
112
Gandhi havia atravessado toda a índia, viajando milhares de quilômetros, de Delhi a Tiruvannamalai, para estar com Ramana, ainda que por apenas alguns instantes, para receber dele a orientação para seu tra balho. Uma vez ouvida a resposta positiva do Mestre ao trabalho que Gandhi vinha desenvolvendo, à maneira como realizava seu dharma, não havia mais o que di zer, mas sim voltar ao trabalho e continuar a missão. Por isso retirou-se. Nesse episódio constatamos a maneira diametral mente oposta de agir entre os grandes sábios e os diri gentes dos povos, os líderes que comandam grandes multidões. O encontro de personalidades reconhecidas pelo público normalmente provoca grandes discursos, muita pompa e protocolo. Faz-se muita publicidade, discute-se cada palavra dita, aprova-se, desaprova-se, emenda-se, enfim, cada pessoa envolvida no processo dá sua opinião, que deseja ver aprovada. Usam muitas palavras, mas desconhecem a maior das linguagens: o silêncio do Ser. Entre Ramana e Mahatma Gandhi não houve nada que tornasse o encontronenhum especialalarde. ou solene. Nãoencontro houve nenhuma propaganda, Foi um singelo, natural e verdadeiro. E assim o Grande Mestre de pequena estatura e do ces olhos castanhos retirou-se levando consigo a Sa grada Upadesa, toda a força espiritual emanada de Bhagavan Sri Ramana, que sempre o acompanhou e ajudou em sua tarefa de trazer à humanidade a opção da paz, a alternativa prática da pessoa, não-violência, importante não é vencer a outra mas os pois falsoso personagens que estão em nosso próprio psiquismo. Os princípios de Mahatma Gandhi estão revelados nesses ensinamentos:
113
"Verifiquei que a vida persiste em meio à destrui ção. Unicamente sob essa lei se poderá conceber a so ciedade organizada e a vida digna de ser vivida. Se es sa é a lei da existência, devemos praticá-la na rotina diária. Sempre que houver guerras, sempre que nos de frontarmos com um oponente, devemos mostrar-lhe a virtude do amor supremo. Descobri que a lei do amor tem correspondido com amor, em minha própria vida, enquanto a lei da destruição me deixaria só. Na índia, tivemos a prova ocular da operação desta lei, na mais ampla escala possível. Não proclamo que a não-violência tenha penetrado nos corações dos trezentos e ses senta milhões de habitantes da Índia, mas proclamo, sim, que em tempo incrivelmente curto penetrou mais fundo que qualquer outra doutrina. Para atingir o esta do natural de não-violência, exige-se um treinamento rigoroso. É uma vida de disciplina como a vida de um soldado. Alcança-se o estado perfeito quando a mente, o corpo e a palavra consumam sua coordenação. Todo problema evoluirá para uma solução se decidirmos fa zer da lei da Verdade e da não-violência a lei da vida." A luta pacífica de não-resistência empreendida por Mahatma Gandhi foi-se expandindo mais e mais, fa zendo adeptos em todas as partes do mundo. Mesmo entre os discípulos de Sri Ramana havia quem simpati zasse muito com a causa da não-violência. Dois deles vieram até o Mestre Ramana falar a respeito do tra balho de Mahatma Gandhi: PERGUNTA: Ele está começando um jejum de vin te e um dias. Pedimos a Sri Ramana autorização para irmos até sua prisão para participar de seu sacrifício e poder jejuar tanto tempo quanto ele. RAMANA: Essa atitude é motivada por bons senti mentos. É um bom sinal. Mas o que vocês podem fazer, realmente? Tratem antes de aumentar em vocês a for ça e a energia das quais Gandhi dá prova e que ele
115
soube acumular graças a sua disciplina e consciência do Ser. Somente assim vocês terão sucesso no que se propõem. P. Ahimsa, a não-violência, pode acabar com as guerras no mundo? R. A pergunta traz a resposta nela mesma. É evi dente que, se o estado perfeito de ahimsa prevalecer, não poderá haver mais nenhuma guerra. Se um homem insulta seu próximo ou o injuria, o remédio não consis te em revidar ou resistir-lhe, mas em permanecer tranqüilo, simplesmente. Essa tranqüilidade provocará a paz nele próprio e deixará quem o ofendeu pouco à vontade, até o momento em que este admita seu erro. Mahatma Gandhi entregou-se completamente ao Ser Supremo e cumpre sua missão nenhum interesse pessoal. Ele não se preocupa comsem os resultados de suas atividades e aceita-os como eles se apresentam. Sua atitude deveria servir de exemplo a todos os que tra balham pela nação. P. Sua missão será coroada de sucesso? R. Essa pergunta surge porque quem a faz não se submeteu, ele próprio, à vontade divina. P. Isso quer dizer que nós não devemos pensar no bem-estar de nosso país nem nos esforçarmos para promovê-lo? R. Cuide primeiro de si mesmo e tudo o mais se se guirá naturalmente. P. Não falo por mim, pessoalmente; penso em mi nha pátria. R. Suas dúvidas provêm de sua falta de submissão. Submeta-se primeiramente à vontade divina e espere.
116
Você perceberá que o ambiente que o cerca melhorará à medida que você se fortificar espiritualmente. P. Não deveríamos saber antes se nossos atos têm alguma utilidade? R. Siga o exemplo de Mahatma Gandhi em sua obra para a causa nacional. Submeta-se à vontade divina. Essa é a palavra de ordem. P. A distinção entre as castas é tolerável? R. Quem vê essa distinção? Encontre-o. P. As distinções sociais foram inventadas pelos ho mens. R. Você não tem necessidade de se deter em todas as diferenças. A diversidade é a lei do mundo. Mas uma corrente única une todas elas. O Ser é o mesmo em to dos os homens. Ele não conhece nenhuma diferença. As diferenças são superficiais, exteriores e provêm da mente pensante. Você deve apenas descobrir a unidade suprema através da meditação. P. Eu não tenho objeções a encontrar diferenças. Apenas afirmo que as reivindicações de superioridade são errôneas. R. Existem diferenças entre os diversos membros de seu corpo. Cada um deles cumpre sua função. Por que você quer suprimir as diferenças? P. As pessoas sofrem devido à injustiça da divisão em castas. É preciso libertá-las. R. Você pode perfeitamente acabar com a distinção entre as castas chegando você mesmo ao estado onde não há mais nenhuma diferença, inclusive de castas, e
117
onde sua visão será a mesma para todas as coisas. Co mo você pode esperar reformar o mundo? Mesmo que se esforce intensamente para isso, não conseguirá. Já houve tentativas anteriores de se eliminar a distinção entre as castas, mas os que se encontram em posição inferior recusaram-se a ser tratados como iguais aos considerados possuídos por superiores. um complexo Isso de inferioridade. mostra que eles Seriaestão pre ciso, primeiro, que você fizesse desaparecer esse com plexo para depois proceder às reformas. Mahatma Gandhi tenta instaurar a igualdade. Ele também deve enfrentar o obstáculo do complexo de inferioridade que paralisa as castas mais baixas, porém não impõe seu ponto de vista aos outros, apenas observa a não-violência. P. Precisamos trabalhar para destruir toda distin ção entre as castas. R. Pois bem, faça-o. Se você conseguir realizar es se seu objetivo, avise-me. P. É aqui, na índia, o primeiro lugar onde desejo estabelecer a reforma. que você se preocupa em automatica fazer refor mas?R. APorconscientização do Ser tanto provoca mente a reforma social. Contente-se com sua própria reforma, e a reforma social cuidará dela mesma. P. Nós pertencemos a um movimento pacifista. Queremos fazer reinar a paz entre os homens. R. A paz está sempre presente. Você deve apenas eliminar Ser Eterno. os obstáculos que a perturbam. Esta paz é o P. Mas qual é a melhor maneira de se trabalhar pa ra a paz do mundo?
118
R. O que é o mundo? O que é a paz? Quem é aquele que trabalha para a paz? O mundo não aparece quando você dorme. Ele não é mais que uma projeção mental produzida no estado de vigília. Ele é apenas uma idéia. Nada mais. Quanto à paz, é a ausência de perturbação. A perturbação é provocada pelo surgimento.dos mentos no homem. Conseqüentemente, assegurar pensa a paz significa estar livre de todo pensamento e permanecer em estado de pura consciência. Se um homem obtiver a paz suprema do Ser, esta se espalhará ao seu redor, sem nenhum esforço da parte dele. Quando o homem não encontra a paz nele mesmo, como pode sonhar em espalhá-la fora dele? P. Qual é a melhor maneira de se viver em paz? R. Eliminar a mente pensante e o ego profano através da constante meditação é uma boa prática pa ra se viver a suprema paz. As pessoas têm a tendência de não compreenderem a verdade simples, a verdade de sua experiência de cada dia, sempre atual e eterna. Essa ver dad e é o Ser. Mas as pessoas não quere m ouvir falar disso. Preferem saber o que se passa no além, no paraíso imaginário, no inferno, querem saber sobre a reencarnação. Preferem o mistério à verdade simples, mistério que as religiões utilizam para atrair os ho mens por vias tortuosas. Mas é inútil ir por tais cami nhos. É necessário conscientizar-se do Ser. Por que, então, não se estabelecer imediatamente nele? P. O que acontece com o corpo após a conscienti zação do divino? Vemos seres conscientizados da Ver dade Suprema agindo como os outros. R. Essa pergunta não precisa surgir agora. Deixe que ela seja feita depois que você se conscientizar do divino. Quanto às pessoas que já são conscientes da verdade de ser, permita que elas cuidem de si mesmas.
119
. f
P. A conscientização espiritual permite acabar com o tormento dos homens? Estou no mundo e vejo nele guerras cruéis. A conscientização do Ser pode pará-las? R. Você fala do mundo e do que acontece nele. To das essas considerações são idéias que você faz. Elas estão na mente. E o mundo é apenas uma projeção mental. P. A felicidade da autoconscientização pode ser completa se não colaborarmos para que os outros tam bém sejam felizes? Como podemos ficar felizes se sa bemos que guerras assolam o mundo? Não é uma prova de egoísmo permanecer passivo no estado consciente sem sair em socorro dos que sofrem no mundo? R. Asque pessoas conscientes ignoram as guerras assolamdaoVerdade mundo, Suprema mas não não são afetadas por elas, assim como a tela do cinema não é perturbada por cenas de incêndio ou inundação. Cuide de você e deixe o mundo cuidar de si mesmo. Se a au toconscientização é taxada de egoísmo, esse egoísmo deve, então, englobar o mundo inteiro. Não há nisso nada de desprezível. O mundo é bom assim como está. Se aparentemente existem problemas, é em virtude do deve modo fazer erradoé como aniquilar as pessoas o erro se inicial, posicionam. que é aOmente que se pensante. Então tudo estará bem. P. O mundo foi criado pela operação da inteligência cósmica sobre o éter e o átomo? R. Conscientize-se do Ser Supremo primeiro e de pois verifique por si mesmo. Então você poderá fazer essa pergunta, se necessário. Além disso, o mundo lhe diz: "Eu sou o mundo"? O corpo lhe diz: "Eu sou o cor po"? Você diz: "Isso é o mundo, isso é o corpo", e assim por diante. Então, essas são apenas suas concepções. Descubra quem você é em essência, e chegarão ao fim todas as suas dúvidas. Sutra Maha Devi - Ao lado de Sri Maha Krishna Swami vem realizando Io dever espiritual indicado, junto aos Mestres da Verdade Suprema.
P. Se Deus é perfeito, por que ele criou o mundo imperfeito? A obra compartilha da natureza do autor. Mas com o mundo não é assim. R. Quem é que levanta essa questão? P. Eu, o indivíduo. R. Isso é sinal de ignorância. O mesmo poder que criou o mundo pode cuidar dele. Você faz essa pergun ta porque se sente separado do divino. Enquanto considerar-se como o corpo, você verá o mundo como exte rior, e a imperfeição aparecerá em você. O divino é a perfeição. Mas você vê o mundo como imperfeito por causa de sua identificação incorreta. P. Está o mundo progredindo, atualmente? R. Se nós progredirmos, o mundo também progredi rá. Ninguém lhe pediu para fechar os olhos ao mundo. Se você achar que é o corpo, o mundo lhe aparecerá como exterior. Mas quando você se identifica com o Ser, o mundo lhe aparece como Brahman. É errado imaginar que há o mundo, que nele há um corpo e que você é esse corpo. Se a Verdade for conscientizada, o universo somente e o que no ficaSer. além descoberto como estando O dele modoserá de ver varia segundo o olho da pessoa. A visão vem do olho. Se você vir com os olhos densos, você encontrará outros seres densos. Se vir com olhçs sutis, os outros parecerão sutis. Nada mais há para se ver diferente do Ser. Sem conscientizar-se do Ser Supremo, não há razão para compreender o mundo. Sem a autocompreensão, a compreensão do mundo torna-se sem significado. Mergulhe profunda ematravés você mesmo, no do ladoSerdireito do peito, e veja omente mundo dos olhos Supremo. P. Se o mundo é um vale de lágrimas, como suportá-lo?
122
R. As pessoas conscientes do Ser lhe disseram que o mundo é insuportável? É você que sente a dor e que procura a ajuda dos sábios afirmando que o mundo é um inferno. O sábio lhe explica, então, que se você dedicar-se sinceramente à prática da meditação e da de voção seus sofrimentos acabarão. P. Por que o Ser se manifestou então sob a forma deste mundo de misérias? R. O Ser é o manifestador imanifestado. Quem lhe disse que ele está manifestado? Seus olhos não podem ver-se. Mas coloque-se diante de um espelho e eles po derão enxergar-se. Acontece o mesmo com a criação. Veja a si mesmo primeiramente e em seguida você ve rá que não existe nada além do Ser Supremo. P. Na não-dualidade, a criação ou a manifestação têm ainda sentido? O que pensar da teoria, segundo a qual Brahman aparece como o mundo sem renunciar à sua natureza essencial? R. Há muitos métodos para demonstrar a irrealida de do sagradas universo.comentam Um dentremuito eles éoso estados do sonho. escri turas de As vigília, de sonho e de sono profundo, com a finalidade de cha mar a atenção para a realidade que lhes é subjacente. As escrituras dizem que o mundo é irreal. De que grau de irrealidade se trata? É comparável a uma flor nas cida no céu, isto é, a simples jogos de palavras sem nenhuma correspondência com fatos concretos? Mas o mundo não é uma palavra, ele é um fato. Em conse qüência disso, somos forçados a concluir que o mundo e uma superposição colocada sobre a ünica realidade. O mundo, porém, não desaparece de nossa vista, mesmo quando sabemos que ele é irreal. O que isso implica? Tome o exemplo de uma miragem. A aparência de água não se desfaz, mesmo que você receba todas as provas
123
de que ela não existe na realidade. Tal é o caso da aparência do mundo. Ainda que saibamos que ele é ir real, ele continua a se manifestar. É inútil desejar medir o universo e estudar os di versos fenômenos, pois os objetos são apenas criações mentais.que Querer medi-los é comparável à tentativa de alguém coloca o pé sobre sua própria sombra para bloqueá-la. Quanto mais ele avança, mais a sombra re cua diante dele; jamais será detida. Acontece o mesmo com aquele que procura estudar o universo, que é uni camente um objeto criado pela mente e que tem sua existência na própria mente. Ele não é uma entidade exterior a ela e não pode, portanto, ser medido. Para compreender o universo, é preciso primeiramente conscientizar-se do estado natural de ser. P. Ainda que saibamos que o mundo é irreal, não podemos nos impedir de sentir por ele um grande fas cínio. Como explicar isso? R. Aquele que deseja os bens deste mundo é seme lhante ao sonhador que procura satisfazer em sonho seus desejos oníricos. No mundo do sonho, você encon tra igualmente desejos, objetos desejados e a satisfa ção. A criação onírica preenche função tão para im portante para o sonhador quanto ouma mundo objetivo o homem em estado de vigília. E, no entanto, o sonho não é considerado real. Esses exemplos servem para demonstrar os diversos graus da irrealidade. O Sábio consciente 'da Verdade constata que o mundo, no estado de vigília, aparece como sendo tão irreal quanto o mundo onírico aos olhos do homem acordado. Mas cada um desses exemplos não deve ser isolado de seu contexto geral. Eles constituem elos de uma corrente. Seu objetivo comum é de dirigir a atenção de quem busca a Verdade para a única reali dade que lhes serve de fundamento. Chega-se à VerdaSri Satya Sai Baba (Bangalore - índia) “A paz é a mais valiosa virtude Ique o homem pode alcançar.”
de conscientizando-se do fato fundamental de que to dos somos eternos, e não simplesmente acreditando que o mundo é efêmero. P. É recomendável que se pratique a neutralidade em relação ao mundo? R. Sim. Mas o que é neutralidade? É simplesmente a ausência de atração ou repulsão, de amor ou de ódio. Quando você se conscientizar do Ser, como poderá ainda amar ou detestar as manifestações da vida feno menal? É esse o verdadeiro sentido da neutralidade. P. Mas isso leva a uma falta de interesse por nosso trabalho. E não temos que cumprir nosso dever? R. escapar Sim, tem quevocê cumprir seu dever. Mesmo que queira dele, será obrigado a cumpri-lo. Deixe, então, seu corpo cumprir a tarefa para a qual foi criado. No "Bhagavad Gita" Krishna diz a Arjuna que este seria obrigado a combater, quer ele quisesse ou não. Se seu destino for de cumprir determinada ta refa, você não poderá se abster de fazê-lo. E, por ou tro lado, você não poderá realizar uma atividade a que você não esteja destinado. O trabalho deve ser reali zado, que e você deve participar. Seu dever é executar a parte lhe cabe. P. Por que os homens se absorvem nos negócios do mundo e obtêm como resultado de seus esforços apenas dificuldades? Eles não deveriam, ao contrário, ser li vres? Se eles vivessem no mundo espiritual apenas, não se beneficiariam de uma liberdade maior? R. É porque o homem se identifica com o corpo fí sico queé ele considera que este mundo é material e que o outro espiritual. P. Mas os homens são muito materialistas. Como remediar isso?
126
R. Materialista? Espiritualista? Tudo depende do ângulo pelo qual os fatos são observados. Tenha uma perspectiva correta das coisas da manifestação e todas as suas dúvidas se dissiparão. P. O mundo é constantemente abalado por grandes catástrofes que espalham a morte, a desolação, a fo me, as epidemias. Qual é a causa dessas calamidades? R. Quem é consciente de todos esses flagelos? P. Eu não aceito essa resposta. Constato ao meu redor a existência do sofrimento. R. Permaneça no estado no qual você não é afligido pela miséria do mundo. Em outras palavras, quando você não tem consciência mundo, não é afetado seu sofrimento. Quando do você permanece no Ser,poro mundo e seus sofrimentos não o afetam mais. Assim sendo, conscientize-se do Ser e terá então colocado um fim na existência do mundo e suas misérias. O mundo não é exterior a você. É por identificar-se erronea mente com seu corpo que você considera o mundo ex te rio r a você e ca pa z de des envolver por si mesmo suas . misérias. Isso não corresponde à realidade. Procure a verdade de ser e liberte-se dessa falsa impressão. P. Entretanto, grandes homens se mostraram inca pazes de resolver o problema da miséria no mundo. R. É porque eles eram egocêntricos, daí seu insu cesso. Se eles permanecessem no Ser, o resultado seria outro. P. Por que os Avatares não ajudam? R. Como você sabe se eles não ajudam? Discursos públicos, atividades físicas e ajuda material são todos de menor valor do que o silêncio dos Avatares.
127
P. As palestras ajudam o homem a tornar-se cons ciente do divino? R. As palestras não conduzem ninguém à autoconscientização. O importante é receber silenciosamente a Sagrada Upadesa. Só assim é possível ao homem tor nar-se ele as realmente o divias no. As consciente palestras sódaquilo atrasamque quem profere é: e quem escuta. Não confunda a transmissão de ensinamentos pelo Mestre com as palavras proferidas pelos eruditos. P. O que deve ser feito por nós para melhorar a condição do mundo? dor.
R. Se você permanecer livre da dor, não haverá P. O que o Mestre vê como o futuro da Terra?
R. Para essa pergunta, há uma atitude a ser toma da: fique em silêncio e saiba que somos o Ser. Silêncio significa ser livre de pensamentos. P. Isso não responde à pergunta. O planeta tem um futuro. Como será ele? R. O tempo e o espaço são funções de pensamentos. Se os pensamentos não surgissem, não haveria o futuro ou a Terra. Você sabe o que existe no presente? O mundo, como todas as coisas da manifestação, é sem pre o mesmo, seja hoje ou amanhã. P. Mas o tempo e o espaço subsistem, quer eu pense neles ou não. Os dois vieram-lhe que existem? Quando vocêR.dorme, sente a presençadizer deles? P. Mas no meu sono sou completamente incons ciente.
129
R. E, no entanto, você não existe menos por isso. P. Eu não habitava mais meu corpo. Eu o havia dei xado e retomei-o ao acordar. R. A saída de seu corpo e o retorno a ele são ape nas vocêvocê estava realmente sono?idéias. Você Onde era o que é agora, com a durante diferençaseu de estar livre de todos os pensamentos. P. E as guerras que assolam o mundo? Elas existem! É suficiente que não pensemos mais nelas para que elas terminem? R. Você pode parar as guerras? Aquele que criou o mundo sabe muito bem como cuidar dele. P. E as guerras são puramente imaginárias? Sri Ra mana não poderia, nesse caso, utilizar sua imaginação para pensar o contrário e acabar com as guerras? R. O Sri Ramana ao qual você fala é também sua imaginação, tanto quanto as guerras às quais você se refere. Enquanto houver a mais leve percepção de in dividualidade veis e jamais haverá surgirãouma dúvidas, respostaindagações plenamenteinterminá satisfa tória. Quando desaparecer o conceito de dualidade en tre si próprio e o Ser, não haverá mais confusões nem sofrimentos.
0& 130
V Erudição: apenas um reflexo da mente Durante minha permanência em Arunachala, pre senciei os mais diversos tipos de pessoas que procura vam o Mestre: Algumas simplesmente deixavam-se es tar aos Pés de Bhagavan Sri Ramana e absorviam os ensinamentos silenciosamente. Outras, porém, neces sitavam expor seus pontos de vista, argumentavam, tentando rechaçar os sagrados ensinamentos, ou fa ziam imensas citações das sagradas escrituras. Eram intelectuais, pessoas intoxicadas de informações, po rém que careciam completamente da vivência daquilo que conheciam tão bem na teoria. Bhagavan Sri Ramana esclarecia a importância exata dos conhecimentos contidos em livros, especial mente nos considerados sagrados: eles indicam o com portamento que se deve ter em todas as situações de vida e contêm as regras de conduta moral e espiritual para aqueles que buscam conscientizar-se da Verdade. Orientam as pessoas e ajudam-nas a discernir correta mente, esclarecem as dúvidas que possam eventual mente cuidadosamente, surgir. Por isso ase escrituras sagradas devem ser lidas os ensinamentos ser sentidos em sua essência e vividos plenamente. Não basta apenas ler, mas aplicá-los em todas as situações do dia-a-dia. Os que seguem os ensinamentos contidos nas sagradas escrituras libertam-se de todos os apegos,
131
renunciam aos prazeres, são perfeitamente controla dos, são pacíficos. Da firme convicção de se ter como verdadeira identidade o Ser Supremo e conscientizar-se dela através do caminho direto ensinado por Bhagavan Sri Ramana, nasce o conhecimento supremo. Somente assim a ignorância espiritual é destruída. Havia um devoto que todos os dias declamava ver sos e cantava para mostrar a sua devoção, compondo os cento e oito versos ao Mestre Ramana. Todos os que presenciavam tais demonstrações tinham-no como um grande sábio. Quando morreu, perguntaram a Sri Ra mana se esse devoto havia-se conscientizado do divino. Ramana respondeu: "Não. Quem faz tanto barulho, mesmo que sejam louvores, mas que são provenientes da agitação da mente pensante, não consegue a autoconscientização". Bhagavan Sri Ramana rechaçava qualquer ensina mento que não tivesse provindo da única fonte verda deira: o Ser Supremo. PERGUNTA: Você leu o "Ramayana"? Não li nada. saber disso, se limita que RAMANA: aprendi atéNão. os quatorze anos.Meu Depois nãoao senti vontade nem de ler nem de aprender. As pessoas perguntam como posso falar do "Bhagavad Gita" e de outras obras espirituais. Não li o "Bhagavad Gita" nem estudei os numerosos comentários feitos a seu respei to. Quando ouço um verso do "Gita", seu significado é muito claro para mim e eu falo a respeito dele. Acon tece o mesmo quando cito outras obras. Sou consciente de Verdadea mente está além do intelecto palavra. Porque queareforçar tentando entendere edaabsorver versos e outras coisas? Já que o objetivo final foi atin gido, não há nenhuma razão para se distrair com estu dos inúteis. As diversas escolas de filosofia pretendem esclarecer as coisas e revelar a Verdade, mas produ-
132
Sri Maha Krishna SwamiPfr
zem uma confusão total. É o Ser que permite com preender todas as coisas. O Ser é evidente. Por que não permanecer nele? Tome como exemplo a escola "Vedanta". Ela ensina que há quinze variedades de prana. Pede-se aos estu dantes memorizem todos ossutil nomes função que de cada um. A energia sobee econheçam é chamadaa de prana; ela desce e é chamada de aprana; ela faz funcionar qualquer coisa, que também tem um nome, e ela recebe um outro nome. Para que serve tudo isso? Para que serve nomear, classificar, enumerar essas funções? Não é suficiente saber que um só poder, o Ser Supremo, faz todo o trabalho? O antahkarana pensa, deseja, quer, raciocina, e a cada uma dessas funções se dá nome, jácomo mente, ouintelecto, ou outro quer.umAlguém viu pranas antahkaranas? Têmqual eles uma existência real? São apenas conceitos, nada mais. Quando essas falsas concepções terão fim? Considere o seguinte caso: se uma pessoa estiver com a cabeça sob a água, não poderá falar. Somente quando sair da água é que se expressará. O que quer dizer esse tipo de explicação? Que a pessoa assim imersa não pode falar senão sua boca se enche de água. Não é simples? Mas muitas pessoas não se contentam com um raciocínio tão simples. Explicam que o fogo é a divindade que preside a fala e que ela tem horror de água. Esse tipo de raciocínio é bastante cultivado, e as pessoas desejosas de se instruir se apressam em apren der tais coisas. Que perda de tempo! Explicam ainda que os deuses presidem o destino de todos os membros e órgãos sensoriais do homem e muitos outros absur dos. Por dissipá-las? que criar confusão nas pessoas e procurar, em seguida, Bem-aventurado aquele que esca pa de tal situação. Eu tive a sorte de não me deixar envolver por essas coisas, senão seria, também, um homem perdido na maior confusão.
134
A felicidade perfeita não é sentida enquanto o ho mem permanece na inconsciência espiritual. Foi preci samente para mostrar aos homens o caminho direto para a felicidade que Sri Shankaraya escreveu alguns comentários a respeito de uma parte das "Vedantas" e, depois, demonstrou-o com seu exemplo pessoal. Esses comentários foram feitos para todas as pessoas que buscam a conscientização do Ser Supremo. Sri Shanka raya revelou a essência dos ensinamentos numa peque na obra intitulada "Vivekachudamani", ou seja, a jóia da sabedoria suprema. Nela são explicados, em deta lhes, os pontos essenciais que asseguram aos que bus cam o Absoluto um caminho direto para a Verdade. Sri Shankaraya observa que é difícil ter a oportuni dade um nascimento humano eda queessência se devedivina aprovei tá-la, de procurando conscientizar-se e libertar-se da ignorância espiritual. A felicidade per feita é o estado natural de ser. É graças ao conheci mento de si mesmo que essa felicidade é vivida, e ele só pode ser adquirido pela meditação, pela busca in cessante do Divino Ser. Ele indicou os diversos meios que ajudam na conscientização da Verdade Suprema. conhecerrecomenda esse método Sri Para Shankaraya quedeseautoconscientização, procure um Mestre. Ele descreve os traços característicos que devem apresentar o Mestre e o discípulo e a maneira como este deve submeter-se às sublimes orientações espiri tuais. Ele observa que essa virtude divina é uma condi ção indispensável para a autoconscientização. O saber livresco não proporciona jamais a sabedoria suprema, a qual só pode advir através do autoconhecimento. Este consiste em discernimento três estágios: segurança nose ensinamentos do Mestre, entre o real o irreal e a meditação constante. A atenção deve ser firmemente mantida no lado direito do peito até que a mente pen sante seja destruída. Essa atitude, chamada meditação, permite o despertar espiritual, o estado natural de ser,
135
o qual é a tomada de consciência da vida eterna e incondicionada que provoca a percepção direta, imedia ta, do Ser Supremo. O estado natural de ser é, ao mes mo tempo, existência, consciência e felicidade perfei ta. Com a conscientização do Ser, as falsas idéias, de vidas e às más tendências do ego e edaa mente àseignorância, dissipam. Todas as dúvidas desaparecem servidão imposta pelo ego profano termina. É assim que Sri Shankaraya descreveu em sua obra "Vivekachudamani" o estado de conscientização do Ser Supremo. P. Como contemplar a glória do Ser? Dizem que se parece com o brilho de milhões de sóis. R. Você quer contemplar a glória brilhante de mi lhões de sóis? P. Não podemos contemplar o esplendor divino na forma de um raio brilhante, que até nos cega, como milhões de sóis? R. Você suporta o brilho de um sol apenas? Por que você quer contemplar-milhões de sóis? Fixe sua visão em um único sol e ficará cego. P. Deve ser possível fazê-lo. No "Bhagavad Gita" isso é sugerido. R. Bem, então descubra primeiramente Krishna, e seu problema será resolvido. P. Krishna não está vivo. R. Realmente! É isso tudo o que você aprendeu do "Bhagavad Gita"? Lá não está escrito que Krishna é eterno? Você pensa que ele era um corpo físico? Shankaracharya - “Aquele que está firme na sabedoria suprema uive Iem ininterrupta bem-aventurança."
137
P. Quando ele estava vivo, ensinou seus discípulos a se autoconscientizarem. Eu procuro um Mestre vivo que possa me ajudar na autoconscientização. R. O "Bhagavad Gita" tornou-se inútil desde o ins tante em que Krishna deixou seu corpo? Ele nunca fa lou de seu corpo físico como sendo Krishna. No "Bha gavad Gita" Krishna afirma: "Não há um só instante em que eu não exista". P. Prefiro ter um Mestre vivo, que me possa dizer a Verdade de primeira mão. R. O destino de seu Mestre será o mesmo de Krish Quem na... Apode visãodardivina uma visão significa divina? a luminosidade E quem vê? do As Ser. pes soas, quando lêem as sagradas escrituras, dizem que vários estágios de entendimento são absolutamente necessários. Imaginam que passam por níveis diferen tes da espiritualidade antes de se conscientizarem ple namente da Verdade. Por que as pessoas gostam de se perder em labirintos tão complicados? O que ganham, no final? Nada além de se envolverem ainda mais com anão-dualidade ignorância espiritual. segue o caminho da aprende Aquele que oque importante é praticar com sinceridade a meditação e a devoção. Os proble mas começam quando se trata de ratos de biblioteca, que se intoxicam de conceitos errados sobre a verdade de ser e nem percebem que somente colocando em prática as leis divinas é que se vive a plena conscienti zação. P. Compreendo os ensinamentos espirituais apenas intelectualmente. O intelecto pode ajudar no processo de autoconscien tização? R. Sim, até certo ponto. Mas é preciso compreen der que a Verdade transcende o intelecto, o qual deve desaparecer para que se processe a plena conscientiSadhu T. L. Vaswani (Poona - índia)
“Ajacompaixão de modo apor nãotodos odiarosaseres/’ nada; pelo contrário, tenha
zação do Ser Supremo. O intelecto do homem não se gue facilmente por esse caminho, mas deleita-se em mergulhar no passado e especular a respeito do futuro. Raramente ele se dedica a considerar o eterno presen te. Isso ocorre porque o intelecto sente que se perderá se for direcionado a procurar o Ser. Por outro lado, a especulação em relação aoe passado ou futuro oferece-lhe um revigoramento lhe permite crescer, desenvolver-se. Mas ele está condenado a desaparecer. Se o intelecto existe, é porque ele tem uma função pa ra cumprir, que é a de mostrar o caminho para a cons cientização do Ser. O intelecto é apenas um instru mento prático, que não pode conhecer o que está além dele. O intelecto permite ao homem conhecer apenas as coisas externas, mas de forma nenhuma o ajudará a conscientizar-se do Ser Supremo. O intelecto é útil na medida em que ele ajuda a pessoa a autopesquisar-se, porém ele deverá ser aniquilado juntamente com o ego profano. P. As leituras das obras de Sri Ramana dão a im pressão de que a meditação e a devoção são o único método que conduz à autoconscientização. R. É exato. Porém apenas o estudo dessas obras não énecessário suficienteque para se adquirir a sabedoria É a pessoa seja iniciada pelo suprema. Mestre nas técnicas de meditação e devoção. P. Até que ponto o conhecimento livresco é favo rável à autoconscientização? R. Serve somente para orientar o homem em dire ção aos valores espirituais. As escrituras são úteis para indicar a existência umdisso. caminho aobra Sermos Supremo e não vão de além Nósque nãoconduz nos lem de tudo que lemos. Somente permanece o essencial. Cada um pode ver isso por si mesmo. Jamais se realiza o supremo objetivo apenas lendo as escrituras sagra-
140
das. Sem a graça do Mestre torna-se impossível cami nhar em direção à autoconscientização. A mera inves tigação das escrituras não traz a plenitude do conheci mento. Não pode haver conscientização do divino sem a atitude silenciosa da meditação iniciática. Se o Ser Supremo fosse encontrado em livros, já teria sido conscientizado por milhões de pessoas. O que pode ser mais estranho do que procurar conscientizar-se através de leituras? É claro que os livros dão aosdele lei tores a oportunidade de fazer perguntas, mas não pro porcionam a experiência direta com o Divino Ser. P. O estudo das ciências, como a psicologia, a fisiologia, o conhecimento de filosofias, são úteis para a autoconscientização? R. A autoconscientização só é possível pela prática da meditação iniciática da devoção param bhakti. Os conhecimentos livrescose são de importância insignifi cante. Após a conscientização do Ser Supremo, as ri quezas intelectuais são apenas fardos inúteis, que são atirados fora. O conhecimento relativo surge da men te, e não do Ser. Esse conhecimento é, portanto, mu tável e ilusório. Tomemos como exemplo um homem que estuda as ciências. Ele formula a teoria de que a Terra é redonda; esforça-se por demonstrar suas idéias apresentando Quando dorme, sua bela teoriaargumentos desaparece.irrefutáveis. Sua mente permanece neu tralizada. O que lhe interessa que a Terra seja achata da, redonda ou quadrada enquanto ele dorme? Com provamos, então, a futilidade de todo conhecimento relativo. Após essas explanações de Bhagavan Sri Ramana, permanecíamos por longo tempo em profunda medita ção, mergulhados em nossa essência divina. Os ensina mentos do Mestre, que haviam chegado, a princípio, através de suas palavras, transcendiam-nas e transfor mavam-se na linguagem do Ser Absoluto. O que havia gerado as dúvidas dissolvia-se no sagrado silêncio, na Upadesa de Sri Ramana.
141
VI O ego profanador Com o desenvolvimento dos estudos psicológicos, buscou-se conhecer o que é a mente, o que é o ego. Teses e mais teses foram defendidas, buscando escla recer algo da personalidade humana. Grossos compên dios foram escritos e digeridos por muitos intelectuais. O estudo do ego e da mente, através da ciência, pode ter acrescentado ao vocabulário uma série de novos termos, porém nada acrescentou de sabedoria, nem di minuiu a confusão em que os homens se encontram a respeito de si mesmos. Alguém grita daqui: "Tenho a solução de tais problemas, tenho a explicação de mui tos fatos", outro retruca dali: "Não, não é assim. Eu é que sei como isso se processa". Ante o pasmo dos leigos e o orgulho intelectual dos doutores estão os sábios, conhecedores da verdade de ser, tranqüilos, sem querer provar nada a ninguém. Sua simples presença é mais eloqüente que os tratados científicos. Aos Pés de Sri Ramana, sentíamos a Verdade. Suas palavras possuíamantes o argumento irrefutável da sabedo ria, que emanava da presença do Mestre que da lógica da argumentação. Suas palavras eram formadas a partir da experiência de ser, da consciência da Ver dade Suprema. O caminho direto ensinado por ele còn-
142
siste em submergirmos em nossa própria essência, através das práticas da meditação ë da devoção. Dessa forma, o ego será aniquilado, e logo a realidade abso luta se manifestará espontaneamente. Bhagavan Sri Ramana explicava como o ego se manifesta, o que é ele. A conclusão a que se chega, através de seus ensi namentos, é simples: o ego não existe. PERGUNTA: O que é o ego? RAMANA: O ego não existe. P. Se ele não existe, por que nos causa tantas difi culdades? R. Para quem existem as dificuldades? Elas tam bém são Dificuldade e prazer existem apenas em imaginárias. relação ao ego. P. Por que o mundo inteiro está, então, mergulhado no erro? R. Cuide primeiramente de você. Deixe o mundo aos cuidados dele mesmo. Contemple sobretudo a você próprio. Se você se identificar com o corpo, verá o mundo ao seu redor. Mas se você se identificar com a essência divina, tudo também será divino. P. Essa atitude pode ser boa para o indivíduo, mas como será do ponto de vista social? R. Antes de julgar, pratique o ensinamento que acabo de lhe indicar. P. E a ignorância? Como eliminar o ego, se ela me impede? R. Para quem ela existe? P. Para o ego.
143
R. É exato, para o ego. Então retire o ego e a igno rância desaparecerá junto com ele. Se você praticar sinceramente a meditação perceberá que o ego é a fonte da ignorância. P. Como surgiu o ego? R. O fato de confundir a mente com o Ser provoca o nascimento do ego. Se a falsa identificação for des truída, a existência permanente do Ser Supremo se tornará evidente. Isso não quer dizer que o Ser Supre mo já não esteja aqui. Ele está sempre presente e é eternamente o mesmo. O ego se associa a objetos. Não se confunda, portanto, com o objeto, isto é, com o corpo. Esse equívoco faz nascer primeiro o ego, depois oseumundo e os movimentos nesse com cortejoexterior de sofrimentos. Não pense quemundo, você seja isso ou aquilo, ou outra coisa, nem que você seja assim ou daquele outro jeito. Desembarace-se do erro, ape nas. A realidade se mostrará por si mesma. P. Mas como é que o ego se manifesta? R. Não há ego. Senão, você seria obrigado a admitir anorância existência de sozinha, dois "Seres". você a ig exista sem oComo suporte do quer ego? que Se você se dedicar à pesquisa espiritual em você mesmo, cons tatará que a ignorância terá desaparecido completa mente, uma vez que ela nunca existiu. A ignorância é coexistente ao ego. Por que você pensa no ego e sofre? O que é a ignorância, na verdade? Ela não existe por si mesma. A vida quotidiana supõe, entretanto, a presen ça da ignorância, que não é outra coisa senão o esque cimento do Ser. A escuridão não existe dianteexistir do Sol. Da mesma forma, a ignorância não pode na presença do Ser, evidente por si mesmo, luminoso por si mesmo. Se você se conscientizar do Ser, desapare cerá a escuridão, a ignorância e a miséria. É a mente que percebe a escuridão, a ignorância e a miséria.
145
P. O que somos nós? R. Onde o ego não surge, ali está a consciência su prema que realmente somos. P. Como póde essa perfeita ausência do ego ser al cançada? R. Pela extinção do ego profano e da mente pen sante, através das práticas da meditação e devoção iniciáticas. P. O sábio tem consciência de sua libertação? R. Se o pensamento "estou subjugado" surgir, tam bém surgirá a idéia de libertação. Quando, pela prática da meditação e da devoção restar apenas o Ser Supre mo, como poderá então a idéia de libertação ocorrer? Nada aconteceu comigo, sou o que sempre fui. P. Quando seguimos o caminho da autoconscienti zação, podemos pedir ajuda espiritual externa? R. Seu erro consiste em confundir o Ser com um corpo. Se Bhagavan fosse um corpo físico, você teria razão em interrogar corpo. Masvocê compreenda aquele a quem você seestedirige e que chama de Bhagavan. Ele não é o corpo, ele é o Ser. P. Se eu cortar a mão, não deveria, em princípio, sentir nada, pois o "Bhagavad Gita" afirma que o Ser é distinto do corpo. R. Ser um sábio não-dualista consiste em não sentir dor em caso de ferimento? P. Eu não deveria permanecer insensível? R. A maior parte das operações se faz sob o efeito da anestesia, e o doente não sente nenhuma dor. O
146
doente obtém, por isso, a consciência suprema? A in sensibilidade à dor não é critério de sabedoria. P. Mas um sábio consciente não deve permanecer insensível a toda dor? R. A dor física é uma conseqüência corporal. Ela não existirá mais quando essa consciência desaparecer. Quando se ignora o corpo e a mente, não se pode mais sentir suas dores nem suas alegrias. As dores dependem da existência do ego. P. De onde vem o sentimento da individualidade, do "eu"? R. Cabe a você encontrar. P. Não posso. Esclareça-me. R. O sentimento do "eu" não vem do exterior, mas do interior. Se ele viesse do exterior, você poderia ser levado até ele. Como a fonte desse sentimento é inte rior, somente você poderá descobri-la. P. Não compreendo. Qual é essa fonte? R. O "eu" vem do interior de você mesmo. Quando você dorme ele desaparece. Quando você acorda ele reaparece. P. Alguns dizem que a fonte de tudo está entre as sobrancelhas. R. Uns dizem que está entre as sobrancelhas, ou tros no cóccix e em muitos outros lugares. Todas essas localizações são parte conceitos elaborados numadoperspecti va que sempre do ponto de vista corpo. O corpo só aparece depois que o ego denso desperta. P. Não posso me desfazer de meu corpo.
147
R. Você admite, então, implicitamente, que não é seu corpo. P. Se sinto uma dor no meu próprio corpo, percebo-a. Não a percebo se um outro corpo a sente. Não posso livrar-me de meu corpo. R. Essa identificação é a causa de seu sentimento de limitação. O Ser é ilimitado e não está confinado aos limites do corpo. Como você quer livrar-se do cor po? Onde você o deixará? Onde ele estiver, ele conti nuará sendo seu. A Verdade Suprema é tão simples. Consiste apenas em permanecer em estado natural. Não há outra coisa a fazer. É espantoso como a maio ria pessoasgeralmente recorre a tantas religiões, tas, das métodos, em conflito unscrenças, com osseiou tros, na esperança de que a Verdade lhes seja revelada. Porém essas pessoas não gostam da simplicidade. Elas buscam a complexidade, gostam de idéias mentirosas, bem elaboradas, atraentes e difíceis de compreender. É por isso que surgiram tantas religiões, e elas são tão complicadas. É por isso ainda que cada seita, cada re ligião, tem seus adeptos e seus adversários. P. Como desatar o nó mental provocado por tantas teorias a respeito da espiritualidade? R. Por que você quer desfazê-lo? É ele que pede para ser desfeito, ou é você que quer desfazê-lo? P. O nó não pode pedir nada. Sou eu que coloco a questão. R. Quem é esse "eu"? Se você encontrá-lo, o nó de saparecerá. P. O nó acompanha automaticamente a vinda do corpo físico ao mundo. Como evitá-lo?
149
R. Quem nasceu? O Ser nunca nasceu. O corpo é que nasceu. Deixe, então, ao corpo o cuidado com tais problemas. P. Como impedir o surgimento do sentimento "eu"? R. Pela conscientização do Ser. P. Como destruir o ego? R. O método para se eliminar o ego é ensinado por aqueles que já passaram pela experiência. É essa a ra zão de se procurar um Mestre. Apreenda primeiro o ego. Agarre-o. Você poderá, depois disso, preocupar-se em destruí-lo. Quem coloca essa questão? É o ego. Vo cê acha que o ego concorda em destruir a si mesmo? A questão que você colocou é seguramente o melhor meio de reforçar o ego, e não de destruí-lo. Se você procurar o ego, constatará que nada será encontrado, pois ele não existe. P. Não se diz que precisamos ser como uma criança para podermos progredir espiritualmente? R. Sim, no sentido de que o ego não é desenvolvido na criança. Não é a criança em si que deve ser imita da, mas seu estado de pureza. Ninguém pode receber de uma criança um ensinamento válido que possibilite a conscientização do Ser. O estado de consciência de um Mestre é análogo ao de uma criança. No entanto, ele não é infantil. Há uma diferença essencial entre o Mestre e uma criança. Na criança o ego existe em es tado potencial, enquanto que no Mestre o ego foi com pletamente destruído. P. Como as sensações podem desaparecer? R. Elas são o ego. Se o ego desaparecer, elas desa parecem com ele. Tome o exemplo de um homem que
150
imagina perceber alguma coisa na penumbra. Pode ser qualquer objeto, de cor escura. Se ele observar com atenção, ele não verá nada de estranho, mas reconhe cerá um objeto banal, como uma árvore ou um pilar. Se ele não observar com muito cuidado, acreditará que se trata de um fantasma e será tomado pelo pânico. É necessário, então, olhar com a maior Na atenção. O fan tasma desaparecerá imediatamente. verdade, o fantasma nunca existiu realmente. A mesma coisa ocorre com o ego. Ele é um traço sutil entre o corpo e a pura consciência. Ele é irreal. Se você observá-lo com muito cuidado, ele deixará de causar aborreci mentos, mas desde que você queira prendê-lo, a ilusão de sua existência estará sendo fortalecida. O egoreal. não pode ser a subjugado por sombra. alguém Imagi que o considera nossa própria É como nemos um homem que desconhece a verdade sobre sua sombra. Ele a vê, seguindo-o persistentemente, e de seja livrar-se dela. Tenta fugir, correndo dela, mas ela continua a segui-lo. Cava um poço profundo e tenta enterrá-la, soterrando o poço; mas a sombra vem à su perfície e continua a segui-lo. Só consegue livrar-se desviando dela o olhar e passando a contemplar a si mesmo, o criador da dos sombra. Então, sombra ao nãohoo perturbará. A maioria homens são aidênticos mem dessa parábola. Não consegue ver que o ego não passa de uma sombra, de uma ilusão. O que tem que se fazer é desprezar o ego e sentir-se o Ser. P. Não seria necessário, ou ao menos vantajoso, tornar o corpo invisível para progredir espiritualmen te? R. Por que pensar nisso? Você é o corpo? P. Não. Mas o acesso a um nível elevado de espiri tualidade deve provocar mudanças no corpo, não é?
151
R. Que mudanças você desejaria no corpo, e por quê? P. A invisibilidade não é a prova de um grau eleva do de sabedoria? R. Nesse caso, os que passaram o tempo todo fa lando, escrevendo e vivendo visivelmente devem ser considerados ignorantes. Por que procurar o que não é essencial e que pode tornar-se um obstáculo à sabedo ria? Os sábios se incomodam pelo fato de seus corpos serem visíveis? P. Não. Um hipnotizador invisível. não R. se torna, por isso, umpode sábio.tornar-se A visibilidade ou aEle in visibilidade só existem para aquele que vê. Quem é que vê? Responda primeiro a essa pergunta. As outras per guntas são sem importância. P. Podemos, de repente, tornar-nos invisíveis? R. Esses fenômenos são de ordem psíquica. É esse o objetivo final de nossa busca? Você nãoFique é o apenas Ser? Por que, então, preocupar-se com o restante? com o essencial e rejeite todas as outras teorias, pois são inúteis. Aqueles que acham que se tornar invisível seja importante, estão enganados. Não somos o corpo. Então, não interessa que ele desapareça de uma ma neira ou de outra. Não há mérito nenhum em tais ex periências. Em que consiste a superioridade ou a infe rioridade? Conta somente a conscientização do Ser. O fator a perda da sensação do ego oeSer nãoSua perda essencial do corpo éfísico. O fato de se confundir premo com o corpo é que constitui a verdadeira escra vidão. P. Mas qual é a definição de ego?
153
R. A definição é também uma produção do ego. Cabe, portanto, a ele dar sua própria definição. A conscientização é simplesmente a perda do ego. Des trua o ego procurando sua verdadeira identidade. Como o ego não é uma entidade, ele desaparece automatica mente, e a realidade resplandece de maneira espontâ nea. É o método Em todosgrande os outros métodosdeo ego subsiste, poisdireto. eles levantam quantidade dúvidas, e o verdadeiro problema não é abordado. No método direto, somente o problema final é levado em consideração, e ele é colocado desde o início. Nenhum caminho especial é necessário para seguir este método. Não há maior mistério que o fato de procurarmos a realidade quando somos a própria realidade. Nós pen samos que alguma coisa a esconde e que é necessário destruir essa coisa realidade. Isso é ridículo. Virápara um obter dia emessa quemesma você rirá de todos os esforços que dispendeu. Não era raro as pessoas que iam até Bhagavan Sri Ramana esconderem-se atrás de problemas físicos, emocionais, familiares, financeiros. Usavam o que chamavam de suas limitações como desculpa para se dizerem impossibilitadas de seguir o caminho indicado pelo nos limitesheroísmos que se ha viam Mestre. imposto. Acomodavam-se Porém, limites, problemas, ou fracassos não eram considerados por Sri Ramana, por serem apenas idéias criadas pela mente e pelo ego. Numa certa ocasião, tivemos a oportunidade de pre senciar esse fato. Chegou ao Ashram um senhor, com problemas de audição. P. Não ouço bem. Então aprendi a contar apenas comigo mesmo. R. Você contava, até aqui, com seu ego e não com você mesmo, com o que você realmente é. Não contar com o ego e contar somente com o Ser Supremo é ex celente. Você não deve inquietar-se devido a sua defi
154
ciência. O controle dos sentidos deve sempre preceder a conscientização. A própria força divina dominou um de seus sentidos. Tanto melhor para você. P. Aprecio seu senso de humor, mas continuo sentindo-me responsável por mim. R. O Ser é um, não há dois. Você se sente ferido quando você se censura ou se despreza por seus erros? Se você se atém ao Ser apenas, não há uma segunda pessoa para censurar. Quando você vê o mundo, você não se atém ao Ser, Ao contrário, se você se atém fir memente ao Ser, o mundo não aparece. Minha convivência no Ashram deu-me a oportuni das pessoas dade de presenciar que ali as vinham, mais variadas desde a expressões mais singeladoaté egoa mais arrogante. Bhagavan Sri Ramana desmascarava a todaß elas, mostrando a inconsistência que há em todas essas criações ilusórias. Mas em Sri Ramana, e em to dos os que assimilaram seus ensinamentos e os coloca ram em prática, observei a plenitude de ser, O exemplo de meu Mestre ensinou-me que, quando discernimos entre o real e o irreal, libertamo-nos de todos os impedimentos e sentimos a paz suprema. Rompem-se as cadeias da ignorância espiritual e é anulado o sentimento de separação entre nós próprios e o Ser Supremo. Os sentidos não mais dominam, nem o ego ou a mente. Não nos tornamos mais presas das ar madilhas do mundo. Estaremos então vivendo aquilo a que Bhagavan Sri Ramana chamou de estado natural, que era exatamente como ele vivia.
155
VII A mente opressora Os valores dos homens são justos e dignos em sua formulação. Existe até uma bela declaração universal dos direitos humanos. No entanto, não é preciso ser um apenas bom observador teóricos. Sua paraaplicação se notarprática que esses tem-sevalores mostrasão do desastrosa. A injustiça social sempre esteve pre sente, pessoas menosprezam seus semelhantes e, mo dernamente, a natureza foi abalada em seu equilíbrio pela interferência desregrada da tecnologia. As ações humanas são dirigidas pela mente pensante, daí os ho mens se dizerem "racionais", guiados pelo raciocínio. A mente tem sido objeto de culto pelos homens, que não perceberam ainda ser ela a causa de todos os seus ma les. Ao se falar em mente, como a raiz de todos os ma les, está-se fazendo referência à mente chamada pen sante, que é um aglomerado de pensamentos e gera a idéia de ego, que é tão prejudicial quanto a própria mente. No entanto, existe a mente que pode ser cha mada de positiva, que produz bons frutos. Nesse caso, nem podemos chamá-la de mente, pois é, antes, um reflexo da intuição pura, que age nos seres humanos, inspirando-os a agir de forma harmoniosa. Essa intui ção é uma lembrança do Ser Divino que todos são, e ela se manifesta com maior ou menor intensidade nas pessoas.
156
De acordo com a manifestação da mente pensante, as pessoas são chamadas de boas ou más. Quando exis te o domínio maior, ou total, da mente e do ego sobre a pessoa, suas ações são voltadas para a destruição, para o mau uso dos conhecimentos, visando principal mente ao benefício próprio. Porém, se predominar a intuição pura, se a pessoa naturalmente sua verdadeira essência, ela se expressar voltará para a construção de obras positivas, harmoniosas, visando ao bem co mum, à manutenção da paz. Em todas as áreas do conhecimento humano verifica-se essa mistura de bem e mal. Observando-se a hu manidade como um todo, podemos facilmente consta tar que os frutos ruins, apodrecidos, predominam. En quanto alguns se dedicam a promoverque a paz, a pesqui sar a descoberta de medicamentos auxiliem no tratamento das inúmeras doenças, à criação de obras de arte para sensibilizar os homens, à promoção do bem-estar e justiça social, muitos utilizam a tecnolo gia para criar armas que matam, para desenvolver técnicas medicinais sofisticadas acessíveis a pouquís simas pessoas, promovem a destruição do próprio meio em que vivem em nome do poder e do dinheiro. Qual quer ato humano pode ser dirigido pela mente ou pela intuição pura. O fruto desse ato revelará claramente sua fonte. Ninguém pode alegar ignorância quando age de for ma condenável. A essência divina que somos sempre nos alerta a respeito da legitimidade ou não de nossos atos. Todos os Grandes Mestres que passaram pela Terra alertaram incessantemente para equívocos em que os homens geralmente incorrem. Nesse ponto, Bhagavan Sri Ramana foi de uma clareza e coerência incontestáveis. Junto dele, essa força destrutiva cha mada mente pensante não tinha como se manifestar. Ele próprio esclareceu-nos, certa ocasião, por que isso ocorria.
157
Em uma manhã, Sri Ramana observava o nascer do Sol. A Lua ainda estava no céu. Comentou com alguns discípulos que o rodeavam: "Vejam a Lua. A mente é comparável ao brilho dessa Lua iluminada pelo Sol. Ela pode estar presente, mas sua luminosidade se deve à luz refletida do Sol. Quando o Sol se põe, a Lua é útil precisa para revelar dela, mesmo objetos.queQuando seu pálido o Sol disconasce, esteja ninguém visível no céu. Assim ocorre com a mente. Quando o Ser Su premo é conscientizado, a mente permanece pálida e inútil, como a Lua durante o dia". Quando o ego surge ocorre um processo que causa grande confusão de valores. O homem identifica-se com o corpo, equivoca-se a respeito da realidade do mundo, estabelece diferenças entrè os objetos, e como está dominado pela mente usurpadora, age de forma desorientada. Não compreende que o ego e a mente são os causadores de toda essa agitação. Se lhe perguntar mos o que pensa a esse respeito, ele filosofará sobre os mais variados assuntos, desde a qualidade dos sapatos, o magnetismo terrestre, e até o peso dos objetos e ou tras coisas mais. O homem é obcecado pelos efeitos visíveis e imagina que os objetos detêm neles poderes secretos e misteriosos. Se lhe perguntarmos qual é o poder misterioso que faz com que uma pedra atirada para cima caia em seu nariz, ele responderá que é por causa da lei da gravidade. O que é a lei da gravidade? A pedra, a gravidade e a Terra são apenas frutos de sua imaginação, elas estão na sua mente. O Divino Ser é a realidade única, eterna e presente que brilha como um sol no coração de todos os seres. Revela-se quando cessam os pensamentos, pois eles são ao causa do que aparecimento de todas as formas» corpo mundo, parecem ser tão reais, afastamO as pes e soas da sua verdadeira essência. O Ser permanece imutável, sempre inalterado. Quando seu brilho é per cebido, cessa toda a aflição e só permanece o sentir da eterna paz.
158
É a mente que provoca no homem toda espécie de desarmonias. Ela é a causa de toda escravidão à vida manifestada, a srcem de toda ilusão. A mente desper ta os desejos, o interesse pelos objetos, fazendo com que os homens vivam num mundo que não tem mais consistência que o mundo dos sonhos. Ela molda todas as percepções dos esentidos, gerando as diferenças inditu viduais, os gostos desgostos, o começo e o fim de do, o crescimento e o declínio. PERGUNTA: Nós nos esforçamos para fazer os pensamentos pararem. Entendemos que não pensar é nosso estado natural. Embora seja natural, é difícil de ser praticado. Dizem que é necessário recorrer a cer tas disciplinas espirituais e que há muitos obstáculos. Tudo isso de ser natural, ser difícil, haver obstáculos, parece confuso. RAMANA: As pessoas têm a percepção de seu cor po através dos sentidos e confundem esse fato com a consciência de ser. É a turbulência, a agitação cons tante da mente que provoca tal confusão. A mente, por sua própria natureza, procura sempre algo em que se apoiar, sejam objetos ou pensamentos. É necessário o auxílio de um Mestre que oriente no caminho da auto conscientização, pois ele indicará técnicas de aniquilar a mente pensante. É ela quem impõe idéias de dificul dades, de obstáculo, de confusão. P. Que fazer para acalmar a mente? R. Apanhe sua mente e traga-a aqui. Se você con seguir isso, veremos como tranqüilizá-la. A mente não pode prender a si própria, como se fosse um objeto. P. Eu quis dizer que a mente é instável, mesmo quando repito mantras. R. No entanto, o objetivo da repetição de mantras é eliminar a mente pensante.
160
P. Por quanto tempo devo repetir o mantra? Meia hora por dia é suficiente? R. A repetição de mantras deve ser feita incessan temente, tanto tempo quanto seja possível, a cada res piração. P. Que devo fazer para me libertar de todos os pensamentos? R. Simplesmente permaneça tranqüilo. Tente e vo cê verá. P. Mas é impossível. R. É por isso que se faz necessário ser orientado pelo Mestre. Ele lhe ensinará as técnicas próprias do autoconhecimento. P. A mente se distrai constantemente. Não consigo controlá-la. R. A mente é, por natureza, inquieta, impermanente, transitória, enquanto que você é eterno. Torne-a submissa à vontade suprema. Isso é feito neutralizando-se em relação ao mundo externo e removendo os obstáculos mental. agitação da mente enfraquece àa serenidade pessoa porque é umAgasto de energia sob a forma de pensamentos. É preciso eliminá-los através da procura do Ser Supremo. Com a prática da medita ção constante isso se torna possível. P. Se entendi bem, não há necessidade de procurar controlar a mente. R. Conscientizando-se do Ser, não haverá mais mente para se controlar. Se a prática da meditação for mantida firmemente, a mente acabará sendo neutrali zada e destruída. Quando ela desaparece somente o Ser é percebido. É suficiente que você se conscientize do Ser.
161
P. A dificuldade está em permanecer sem pensa mento. R. Deixe então o estado sem pensamento à sua própria sorte. Não pense que ele lhe pertence. Quando você anda, você movimenta as pernas involuntaria mente, e o mesmo acontece em suas atividades. Assim também, o estado sem pensamento não é afetado por suas atividades diárias. Se investigarmos se a mente existe ou não, descobriremos que ela não existe. Esse é o verdadeiro controle mental. Entretanto, se admitir mos sua existência e procurarmos controlá-la, isso eqüivale a obrigar a mente a controlar a si mesma, co mo se fosse um ladrão que quiséssemos transformar em policial para prender a si próprio. A mente age dessa maneira, mas escapa a si mesma. P. A mente escapa de meu controle. R. Deixe-a fazê-lo. Não pense nisso. Através da meditação a mente se desvanece e perde sua força ca da vez mais. Muitas pessoas me perguntam como con trolar a mente. Eu lhes respondo que me mostrèm pri meiro a mente; depois saberão o que fazer. O fato é que a mente é apenas um aglomerado de pensamentos. Como suprimi-la pelo simples pensamento ou o desejo de querer fazê-lo, já que esse pensamento ou esse de sejo fazem parte dela? A mente se fortalece ainda mais com esses novos pensamentos. É, portanto, estú pido querer matar a mente através da mente. A única maneira de consegui-lo é através da prática constante da meditação e devoção iniciáticas. A mente não pode ser presa. É ela que, ao contrá rio, prende os seres humanos arrastando-os para os ca minhos opostos ao Ser a conhecemos seus efeitos, depois que Supremo. ela cria osSóobjetos. Mas ignopor ramos sua natureza verdadeira, que é maquiavélica. Se observarmos bem, a mente não possui qualidades boas.
162
Ela é uma força usurpadora, qualidade má; é agitada, qualidade má; conduz os seres por caminhos misterio sos, outra qualidade má. A mente conduz os seres à lu xuria e ao esquecimento total do Ser Supremo e toma como única verdade o ego profano, defendendo suas causas através dele. E assim, esses dois personagens nefastos conseguem encobrir, nos mais desprevenidos, a Verdade Suprema. Então, por que agir através da mente pensante, se ela é nefasta, se ela só tem más qualidades? A prática constante da meditação e da devoção inibe as expressões da mente e, automaticamente, o seu poder. Essas práticas são um excelente antídoto para a mente pensante e o ego profano. A ignorância que os éseres possuemvida de àsuamente verdadeira iden tidade que humanos dá a aparente pensante. Quando meditamos, logo percebemos que a mente, os sentidos e o ego nunca existiram, porque eles realmen te não existem. Eles se acreditam reais, mas não são, porque podemos aniquilá-los através da entrega e da submissão ao Ser Supremo. Se eles fossem reais, não seria possível eliminá-los. O que é eterno não se ani quila. P. O que é a vontade? Quero dizer, em qual corpo sutil ela pode ser localizada? R. Em nenhum. Há um envoltório que é o corpo grosseiro. Os sentidos formam o envoltório sensorial. Os sentidos unidos à mente formam o envoltório men tal. A mente é formada apenas por pensamentos, os quais são a causa da escravidão do homem, pois ofus cam a sua real natureza. P. Qual o pensamento mais importante? R. Nada que provém da mente pensante é impor tante. O pensamento "eu" é a raiz de todos os outros •
163
pois cada idéia ou pensamento surge so mente como sendo de alguém e não é conhecido como existindo independentemente do ego. A segunda e a terceira pessoas surgem somente depois que aparece a primeira, embora todas as três pareçam surgir e desa parecer juntas. A idéia "eu" surge em um ego encarna pensamentos,
do relacionada no com um ou corpo ou organismo. Ela nãoe está tem localização corpo relação especial com qualquer lugar determinado. P. O homem pensa que a mente fica no cérebro. R. Onde fica o cérebro? No corpo. Este não é uma projeção mental? Você fala do cérebro em função da concepção que você faz do corpo. De fato, é a mente que o corpo, estabelece que o acérebro se Tudo localiza nessecria corpo e afirma ser o cérebro sua sede. is so é totalmente falso. Numa palavra, pensar não é a nossa verdadeira natureza. O homem perdeu a sua ver dadeira identidade com o Ser Supremo e enredou-se na armadilha da escravidão dos sentidos. A procura pelo Ser, que é sua natureza srcinal, assemelha-se à ima gem de um pastor procurando uma ovelha que durante todo o tempo carrega nos próprios ombros. Todavia, o homem, ignorante do Ser, mesmo depois de percebê-lo, não consegue, imediatamente a autoconscientização, devido às obstruções de tendências mentais acumula das. Ele ainda confunde o corpo com o Ser Supremo, esquecendo-se de sua natureza real. Essas tendências só serão erradicadas pela contínua e prolongada medi tação. P. Bons pensamentos são favoráveis à autocons cientização? R. Tanto os bons quanto os maus pensamentos de vem desaparecer para que possa haver a conscientiza ção do Ser.
Sri Maha Krishna Swami
165
P. Mas os pensamentos criativos não são um aspec to da realidade e, por conseqüência, úteis? R. Os pensamentos distraem a pessoa e agem como obstáculos no caminho da autoconscientização. Por is so devem desaparecer para que a Verdade Suprema se ja vivida em toda sua plenitude. P. A mente é instável. Que devo fazer? R. Procure sintonizar-se com a essência divina que você é, sentindo o lado direito do peito, e evite afas tar-se desse ponto. P. Eu acho difícil a prática da meditação. R. Continue a praticar. A meditação se tornará fá cil como a respiração. P. Qual é a inter-relação entre o controle da respi ração e o controle dos pensamentos? R. As atividades vegetativas, intelectuais e o alen to são ambos diferentes aspectos da mesma vida indi vidual. A personalidade e outras idéias nascem dela como atividade vital. será Se acontrolado. respiração for o pensamento também Se ocontrolada, pensamento for forçado a seguir um ritmo mais lento, a atividade vital da respiração também ficará mais lenta, regular e confinada no mais baixo nível compatível com a vida, e assim a distrativa variedade de pensamentos estará temporariamente controlada. P. Como tornar esse efeito eterno? R. Pela constante prática da meditação e da devo ção o homem permanece no estado natural de ser. P. Como os objetos deixarão de existir?
166
R. A mente é a causa da dualidade e de todo o so frimento que decorre disso. Os objetos são apenas criações mentais. Não possuem nenhuma existência substantiva. Investigue a questão e verifique a verdade dessa afirmação. O Ser Supremo é a única realidade que permeia e envolve o mundo. Estando consciente do Ser, você não perceberá não há nenhuma para dualidade portanto, surgirá que nenhum pensamento perture, bar a sua paz. P. Quais são os obstáculos que impedem a cons cientização do Ser? R. São os hábitos vulgares da mente. P. Como vencer esses hábitos mentais? R. Pela constante prática da meditação. P. Como obter o desapego para agir sem esperar pelos resultados das ações? R. Você não precisa preocupar-se em obter um no vo estado de consciência. Basta que você se liberte de todos os pensamentos através do constante refúgio na meditação. P. O Ser nos deveria ajudar a nos livrarmos de to dos os pensamentos que não fossem de libertação. R. Essa preocupação é ainda um pensamento. P. Tenho a impressão de vagar numa floresta sem conseguir encontrar a saída. R. Essa idéia de estar perdido numa floresta deve ser apagada de sua mente. Idéias desse tipo são a fonte de seus aborrecimentos. P. Mas não encontro saída.
167
R. Onde estão a floresta e a saída, senão na mente pensante? P. Sou obrigado a me mover no meio da sociedade. ria, R. como Essaa da sociedade floresta.é igualmente uma idéia imaginá P. Todos os dias deixo minha casa e me misturo aos outros homens. R. Quem se mistura a quem? Seu corpo, a socieda de, a floresta, a saída, são apenas idéias. Mas você não é afetado por elas. Se permanecer recolhido na pureza do será mais Operturbado por naseuvigília, corpo énem por Ser, seusnão movimentos. seu mundo, uma criação da mente pensante, tanto quanto o seu mundo de sonhos. Deve haver alguém que veja o mundo, tanto quando estamos despertos como quando sonhamos. Quem é esse alguém? É o corpo? P. Não. R. É a mente? P. Deve ser assim. R. Mas você não pode ser a mente, uma vez que você existe durante o sono, quando não há mente. P. Talvez eu deixe de existir nessa ocasião. R. Se assim for, então como você se lembra do que experimentou ontem? Você contesta seriamente se houve uma solução de continuidade do seu Ser? P. É possível. R. Se assim fosse, uma pessoa iria dormir e acor daria como outra. Mas tal não acontece. Como você
168
Sri Maha Krishna Swart e Sutra Maha Dei
explica o senso de persistência de sua identidade? Você diz "eu dormi" e "eu acordei", dando a entender que você é a mesma pessoa que se deitou para dormir. Quando acorda do sono, você diz "dormi tranqüilamen te e me sinto recuperado". Dessa forma, não pode ser outra pessoa senão a mesma. P. O Ser Supremo pode ser compreendido pela mente pensante? R. Não. Se a mente compreendesse o Ser, ela não teria razão de existir nem estaria falando sobre tais assuntos. P. Qual é o verdadeiro caminho que conduz ao Ser Supremo? R. Para se conhecer um objeto é necessário ter-se uma luz comum que expulse a escuridão. Para se co nhecer o Ser é necessário ter-se uma Luz que ilumine a ambos: a luz e a escuridão. Essa Luz não é nem a luz nem a escuridão. Ela se chama meditação e conduz à conscientização da Verdade Suprema, da qual ninguém deve permanecer ignorante. Os ensinamentos de Bhagavan Sri Ramana a respei to da inexistência do ego e da mente, a afirmação de serem eles ilusórios e constituírem obstáculos à cons cientização da Verdade que somos, têm causado incre dulidade entre os ocidentais, pois estes se orgulham justamente de se dirigirem pela mente e cultuarem o ego. Quanto mais desenvolvida for a mente e quanto maior destaque tiver o ego, ou a personalidade, como chamam normalmente, mais se acreditam sábios e po derosos. A mente, unida ao ego, provocou profundas trans formações no planeta todo. O que foi motivo de orgu lho, como o "poder" de manipular as forças da nature
170
za, tornou-se desespero, ante os amargos frutos que se disseminam por toda parte, ameaçando a nossa própria sobrevivência. Diante de constatações tão evidentes de que o ego e a mente têm falhado na busca de soluções para os problemas que se agravam cada vez mais, resta a solu ção indicada incessantemente por Sri Ramana: sermos naturais, sermos o que realmente somos. Para isso, é preciso tomar o caminho de volta, isto é, deixarmos a mente e o ego e partirmos em direção à fonte de tudo: o Ser Supremo.
171
VIII A morte aparente Tudo o que nasce, morre. Essa constatação é um lugar-comum, incessantemente demonstrada em todos os aspectos da manifestação. Embora isso seja tão evi dente, quando se trata do corpo físico dos seres huma nos não há, por parte da grande maioria das pessoas, naturalidade emmorte. aceitarNo o fato havemos de passar pela hall, de ao que ladotodos do Mestre, ob servávamos que esse era um dos temas que mais an gustiava as pessoas. Umas vinham chorosas, devido à morte de pessoas da família, outras buscavam esclare cimentos para suas próprias inquietações a esse res peito. Era recebida com a mesma benevolência e aten ção a mãe que lamentava a morte de sua criança ou aqueles que expunham suas conjeturas a respeito de nascimento, morte, reencarnação, evolução das espé cies, mundo dos espíritos. Sri Ramana tinha-se igualmente neutro Bhagavan ante o pranto de uns eman a atitude desafiadora de outros, dando a todos o consolo e o esclarecimento. Num dia em que estávamos já no hall do Ashram, aguardando a entrada de Sri Ramana, chegou uma se nhora, com a aparência cansada e triste. Havia chora do muito, sem dúvida. Alguém comentou que o filho dela havia morrido recentemente. Muitos dos presentes olharam-na pena, do outros certa indiferença,na mas o tema com da morte corpocom físico instaurou-se cabeça de muitos.
172
O Mestre Ramana entrou no hall, dirigiu-se até o lugar onde costumeiramente sentava-se. Após um tempo de silêncio, no qual a presença do Mestre era fortemente sentida por todos, começou o diálogo com os visitantes. Um se aproximava, dirigia-se ao Mestre. Depois outro, e outro, até que todas as dúvidas fossem esclarecidas. PERGUNTA: Sou perseguido pelo constante pensa mento da morte. O que fazer? RAMANA: Se uma pessoa se acha nascida, ela não pode escapar do pensamento de sua morte. Que ela in dague, portanto, se nasceu ou não. Então descobrirá que ela é eterna, sempre existente, e que o corpo é uma ilusão. P. Como superar o medo da morte? R. Antes de pensar em morrer, procure saber se você realmente nasceu. Porque somente quem nasceu está destinado ao desaparecimento. Se não quiser mor rer, não nasça, pois tudo o que nasce, morre. Se você pensa que nasceu, fatalmente irá morrer, e igualmente aquele que pensa que irá morrer, nascerá. Tudo é questão de pensamento. Renuncie ao pensamento "nas cer" e "morrer" e você se libertará desse medo. Viva simplesmente. Medite e devocione e assim ficará livre de todos esses problemas. Nascer ou morrer não será mais um problema, pois só haverá o viver, eternamente viver. P. Como conseguir isso? R. Os pensamentos se acumularam no curso de inú meras vidas anteriores. O objetivo é aniquilá-los. O estado livre de todo pensamento é o estado natural de ser. P. Ainda não está claro.
173
R. A Verdade, involuntariamente, afirma a si pró pria, porque ela é natural. A visão do homem está ofuscada pela mistura confusa do Ser Divino com o corpo denso. Quando morre uma pessoa com a qual se mantêm fortes laços emocionais, surge a dor. Porém, a dor só existe enquanto houver a identificação com uma forma definida. Ao se transcender essa forma, sente-se que o Ser é eterno. Na verdade, não há morte nem nascimento. O que nasce é apenas o corpo. O corpo é uma criação do ego. Mas a existência do ego raramen te é percebida na ausência do corpo. Sempre se identi fica o ego ao corpo. O homem deve-se perguntar se ele estava consciente de seu corpo durante o sono profun do. Por que ele sente o corpo somente no estado de vi gília? O fato de não sentir seu corpo durante o sono profundo quer dizer que o Ser também não existia? O que era esse homem no sono profundo? E o que é ele no estad o de vigíli a? Qual é a di ferença? Assim que o homem desperta do sono, surgem os pensamentos. É preciso saber a quem pertencem esses pensamentos, de onde eles provêm e aniquilá-los por meio da medita ção. O fato de se tomar consciência disso, mesmo que vagamente, ajuda a provocar a extinção do ego. So se mente torna assim possível. é que Não a conscientização haverá, então,da mais verdade lugar de para ser pensamentos de morte ou sofrimento. A idéia "eu sou o corpo, a mente, os sentidos" está tão fixa em cada um que se torna difícil desfazer-se dela, mesmo quando se é convencido do contrário. O nascimento, o crescimento e a morte são apenas fenô menos transitórios. São apenas idéias que surgem do mundo físicodoounascimento mental. O Ser ele era, bem antes do existe corpo,sempre; e permanecerá eternamente após sua morte. O Ser é imortal. Somente os fenômenos se transformam e passam. O medo da morte é de srcem física. Ele se deve ao desconheci men to de que se é o Ser Ete rno . A mo rta lid ade é ap e nas uma idéia. Ela é a causa da infelicidade. É possível
174
livrar-se dela conscientizando-se da natureza imortal do Ser. Quando a pessoa desencarna, ela apenas se desem baraça de sua carapaça incômoda: o corpo. O homem tem medo de dormir? Bem ao contrário, o sono é pro curado, pois ele prepara cuidadosamente a cama para dormir bem. Ora, o sono é uma morte temporária; a morte é um sono prolongado. Nossa existência é evi dente, com ou sem corpo físico, no estado de vigília, de sonho ou de sono profundo. to?
P. É verdade que o homem pode perder seu espíri
Considere o que há para ser éperdido. alguma coisaR.para se perder? O que importa somenteHáo que é natural. O que nasce tem que morrer; o que é adquirido tem que ser perdido. Você nasceu? Você é sempre existente. O Ser jamais pode ser perdido. A presença do espírito é ainda um corpo; é preciso transcendê-lo também. Quem manifestou o espírito é a única Verda de. Os envoltórios têm que ser desfeitos, um a um. P. A reencarnação existe? R. A reencarnação só existe se você estiver agora encarnado. Mas de fato você nem mesmo nasceu. An tes de falar de reencarnação, é preciso observar se há uma encarnação. P, O que isso quer dizer? de sua R. reencarnação? Você se sente atualmente encarnado para falar P. Sim. A vida é parte de uma ameba que evoluiu e criou organismos cada vez mais complexos até atingir a forma humana. Esta é a forma perfeita. Por que obrigá-la, então, a se reencarnar?
176
R. O homem associa sempre um efeito a uma cau sa. Mas a causa, ela mesma, deve ter uma causa. Esse tipo de raciocínio é interminável. Associando um efei to a uma causa, o homem é obrigado a pensar. Final mente, ele deve levar em consideração quem é ele mesmo. Quando souber que ele é o Ser, viverá a verda deira paz. A teoria daquilo que você chama de evolu ção poderia ser explicada com o seguinte exemplo: al guém vê, em sonho, um edifício que se ergue, no cam po mental, de uma só vez. Em seguida, ele pensa que esse edifício deve ter sido construído pedra por pedra, pelos operários, durante um certo tempo. No entanto, ele não vê nenhum operário trabalhando. Acontece o mesmo co m essa sua teo ria . É porque o homem pensa etapao corpo ser por etapa, físico partindo que ele acredita da ameba ter até sidoseu construído estado atual. P. No plano físico, essa história é correta. Mas, no plano da essência, é possível que a evolução do homem ainda não tenha terminado e que ela se efetue após a morte do corpo físico. R. O que é o homem? O corpo ou a essência? P. Os dois juntos. R. Qual era seu estado enquanto você dormia pro fundamente? P. Eu estava inconsciente e, portanto, não posso descrever tal estado. R. Mas você existia mesmo durante o sono, não é? P. Durante o sono a alma deixa o corpo e se vai pa ra algum lugar. Ela retorna ao corpo antes do desper tar. E por isso que o sono é uma morte temporária.
177
R. Um homem que morre não volta para contar que ele morreu, enquanto que aquele que dormiu diz que dormiu. P. É porque o sono é uma morte passageira. Se então, a morte temporária, assim como a vida, o que R. resta, de éreal? P. O que você quer dizer, exatamente? R. Se a morte e a vida são ambas passageiras, deve haver alguma coisa que não o seja. O que não é tempo rário é a realidade. Euum queria dizer Você isso. me Você um homem e euP.sou pecador. dizé que, pelo fatoperfeito, de ser eu um pecador, devo renascer até que tenha atingido a perfeição? R. Não, eu não disse nada disso. Ao contrário, eu disse que você nunca nasceu e, por isso, nunca vai morrer. P. Você quer dizer que eu nunca nasci? R. Exatamente. Você acredita ser seu corpo e se confunde com o nascimento e a morte dele. Mas como você não é o corpo, não está sujeito ao nascimento e à morte. O nascer e o renascer são mencionados somente para fazer você investigar a questão e descobrir que não há nem nascimento nem renascimento. Eles se re lacionam com o corpo. Conscientize-se do Ser Supremo e não fique perturbado por dúvidas. O esquecimento de sua verdadeira natureza é a morte presente; a lem brança dela é o renascimento. Ponha fim à sucessão de nascimentos. A sua natureza é a vida eterna. P. Como pudemos nos tornar vítimas dessa ilusão?
179
R. Quem é a vítima da ilusão? Encontre-a, e a ilu são se desvanecerá. A maior parte das pessoas deseja saber o que é a ilusão, mas não se dá ao trabalho de procurar quem é vítima da ilusão. Isso é estúpido. A ilusão é exterior ao Ser e desconhecida, enquanto que aquele que procura é o próprio Ser e é conhecido. Pro cure sobretudo o que o que lhe é íntimo, em vez de partirestá emperto buscadedovocê, que está distante e é desconhecido. P. Por que a reencarnação deveria existir? R. Para quem? P. Para o ser humano perfeito. R. Se você já é perfeito, por que tem medo de re nascer? Esse medo é uma prova de imperfeição. P. Não tenho medo. Mas você me disse que devo renascer. R. Quem disse isso? Originalmente, foi você quem fez a pergunta. A causa de todo o seu mal tem raiz na inconsciência espiritual que provém da mente pensan te. P. Quanto tempo leva um homem para renascer de pois da morte? É imediatamente depois ou leva algum tempo? R. O tempo é apenas uma idéia. Não existe nada além da realidade absoluta. O que você pensa dela, aparece como tal. Se você a chamar de tempo, ela será o tempo. Se você a chamar de existência, será exis tência, àe assim por você diante.o 'Após ter em dadodias, o nome tempo realidade, dividirá noites,de anos, meses, horas, minutos, segundos. O tempo não tem nenhuma importância quando se adota a via do conhecimento supremo.
180
P. O que acontece conosco depois da morte física? R. Você não sabe o que foi antes de nascer, mas quer saber o que será depois de morrer. Você sabe o que você é agora? P. Você não defende a teoria da reencarnação? R. Não. Quero dissipar seu erro em crer que você vai renascer. É você quem acha que deve renascer. Procure saber quem formula essa questão de renasci mento. Enquanto você não encontrar quem a formula, as questões não cessarão jamais. P. Isso não é uma resposta às minhas perguntas. R. É uma resposta destinada a esclarecer o ponto que está sendo debatido e todas as outras dúvidas que possam surgir. P. Essa resposta não satisfaz todo mundo. R. Deixe o mundo de lado. Se você cuidar de si próprio, os outros saberão igualmente cuidar deles. P. Como posso saber de meus nascimentos anterio res? R. Por que se preocupar com nascimentos anterio res? Descubra primeiro se agora você já nasceu. Assim como alguém mergulha num lago, procurando algo que tenha nele caído, assim deve o homem mergulhar no coração espiritual, no lado direito do peito, para conscientizar-se de sua essência divina. Há pessoas que de sejam saber tudo sobre seu futuro e suas vidas passa das. Não se ocupam, entretanto, com seu presente. Ora, o peso de suas vidas passadas provoca sua miséria atual. Tentar lembrar-se do passado é pura perda de tempo. Você já conhece o presente a ponto de querer
181
conhecer também o passado? Nós já estamos sobrecar regados pelos nossos conhecimentos atuais limitados. Por que desejar carregar-se com conhecimentos suple mentares e sofrer mais? P. Como posso escapar da sucessão de nascimentos e mortes? R. Encontre o significado disso. O renascimento significa o descontentamento com o estado atual e o desejo de renascer em uma nova existência onde não haverá mais sofrimento. Os nascimentos, sendo físicos, não podem afetar o Ser. O Ser permanece mesmo quando o corpo desaparece. Seu descontentamento acontece porque você confunde o Ser Eterno com o corpo perecível. O corpo é o auxiliar do ego. Se você aniquilar o ego, o Ser se revelará em todo seu esplen dor. Jesus, o Cristo, nos dá esse ensinamento: o corpo físico é a cruz. Jesus, o filho do homem, é o ego ou a idéia "eu sou o corpo". Com a crucificação do ego, re velou-se o Cristo em sua essência. P. As almas desencarnadas, os espíritos, têm uma grande penetração interior e se beneficiam de uma maior liberdade? R. A identificação com o corpo físico leva as pes soas a conceberem as almas desencarnadas como sendo espíritos. Seu ponto de vista limitado as faz crerem que sua perspectiva é igualmente limitada e procuram conhecer suas capacidades. As almas desencarnadas têm igualmente um corpo sutil. É isso que implica a expressão "desencarnada", que quer dizer: sem o corpo físico. E como acréscimo é atribuída uma individuali dade a essa alma. Ela é concebida como tendo um cor po sutil e o sente como um fardo. Quando falo do espí rito e do mundo espiritual, refiro-me ao espírito como o Ser, o espírito absoluto, e não o relativo. Aquele que se conscientizar do Ser Absoluto perceberá que estara
183
liberto tanto do mundo material quanto do mundo es piritual. P. O corpo sutil das almas desencarnadas é tempo rário como o nosso? Ele se reencarna? R. Você fazmaterial essa pergunta porque pensa corpo físico. O corpo está submetido à lei ser do onasci mento e da morte. Quando ele desaparece um outro o substitui, e você chama a isso reencarnação. Mas você é verd adeira men te seu corpo físico? S e você tom ar consciência de que não é um corpo material, mas divi no em essência, livrar-se-á imediatamente de suas concepções acerca de corpos físicos e sutis, e não sen tirá mais limitações. Na ausência de limites, onde está o mundo, seja ele físico ou espiritual? Consciente do Ser Supremo, como pode surgir o problema da reencar nação? Tomemos o mesmo problema por um outro ângulo. Quando você está sonhando, acredita ser um corpo onírico com o qual você age. Quando acorda, aquele corpo lhe parece falso, porque você crê ser agora o corpo físico. No seu sonho era seu corpo físico que lhe parecia falso e seu corpo onírico, o real. Nenhuma dessas concepções de momento corpo é real, poisem cada umaAdelas •é verdadeira em um e falsa outro. rea lidade é eternamente real. Você diz "eu". Essa cons ciência de seu "eu" nunca está ausente. Portanto, so mente essa consciência é real. Tudo o mais é ilusão que impede a percepção da verdadeira natureza, que é o Ser Supremo. P. Em meu nível de compreensão, considero meu filho e eu mesma como reais e sofro muito com a mor te dele. R. É o surgimento do ego que constitui o nascimen to, assim como o desaparecimento dele constitui a
184
morte. Desde que o ego apareceu, você se identifica com seu corpo. Acreditando ser o corpo, você dá aos outros falsos valores e identifica-os igualmente aos seus corpos. Como seu corpo nasce, cresce e perece, você crê também que os outros nascem, crescem e morrem. Você havia pensado em seu filho antes que ele tivesse surgiu quando que ele nasceu enascido? persistiráEsse apóspensamento a morte dele. À medida você pensa nele, ele é seu filho. Onde, então, ele desa pareceu? Ele retornou.à fonte de onde veio. Ele é um com você. Ambos são divinos em essência. Se você deixar de se identificar com seu corpo e conscientizar-se do Ser Absoluto, sua confusão se dissipará, você descobrirá que é eterna e que os outros são igualmente eternos. Enquanto você não se conscientizar dessa verdade, sentirá dor. Ela provém de sua perspectiva errônea, que se deve a um conhecimento também er rôneo. P. Por que há o desejo de renascer? R. O despertar espiritual é o verdadeiro renasci mento. Esse despertar, uma vez ocorrido, porá fim a todas as reencarnáções futuras. P. Mas vida é corporal e um renascimento implica ter um novoa corpo. R. Uma simples troca de corpo não produz nenhum efeito. O ego associado a esse corpo é transferido para um outro corpo. Como podemos ficar satisfeitos com isso? Além do mais, o que é a vida? A vida é a exis tência eterna. Você pode imaginar um só instante em que você não exista? Essa vida eterna está atualmente condicionada a seu corpo físico, e você identifica a si mesmo sendo esse corpo denso, é um gran 9 que de erro.como As formas corporais são apenas projeções mentais. Essas projeções o prendem a o con ceito ce n tral "eu sou este corpo". Mas se eliminar essa idéia
185
através da meditação, você se conscientizará do Ser e todo sofrimento terá fim. Observe o que acontece quando você atira uma pedrinha para cima. Ela deixa seu ponto de srcem, sobe, cai e rola pelo chão, até, enfim, reencontrar seu ponto de srcinal, O mesmo ocorre comrepouso, as águasseudolugar oceano. Elas osesolo. evaporam, formam as nuvens, que são levadas pelo vento, depois se conden sam em chuva, que cai sobre as montanhas, deslizam pelas encostas, formam riachos, rios e, enfim, desem bocam no oceano, seu lugar de repouso. Veja, então, que desde que haja um sentimento de separação de sua própria fonte, produz-se a agitação e o movimento, até que o sentimento de separação desapareça. Acontece o mesmo com as pessoas. Elas se identificam com o corpo e pensam que são separadas do Ser. É preciso elimi nar essa impressão. Só então as pessoas serão verda deiramente felizes. O ouro não é um enfeite, mas um enfeite, uma jóia, não é outra coisa senão o ouro. Qualquer que seja a forma da jóia, só há uma realidade: o ouro. Acontece a mesma coisa em relação ao corpo físico e ao Ser. A única realidade é o Ser. Identificar-se com o corpo e procurar aum felicidade é a mesma coisa quepensando desejar atravessar rio nas costas de um crocodilo que ele seja um tronco. A identificação com o corpo ocorre devido à extroversão e ao fato de a mente ficar vagando. Continuar nesse estado é afundar-se cada vez mais na ignorância espiritual, onde jamais se encon trará a paz. É preciso, portanto, imergir completa mente no Ser Supremo.
186
IX Renuncias Na índia é comum a imagem do sábio que se reco lhe em cavernas, isola-se do mundo, despoja-se de to das as posses,osaté mesmo de suas Bhagavan vestimentas. os renunciados, chamados sadhus. SriSão Rama na tinha essa aparência, porém não se pode dizer que ele fosse mais um dentre os tantos "renunciados" que povoam as cavernas indianas. Seu despojamento trans cendia as formas exteriores, pois eram um simples re flexo da sua verdadeira renúncia: havia abandonado o ego profano, a mente pensante. A aparência muito simples de Sri Ramana, cami nhando com seu bastão rústico, exercia uma atração irresistível em todos que o viam, tanto em suas cami nhadas por Arunachala, como no Ashram, nas ativida des diárias, ou sentado sobre uma pele de tigre. A li bertação total de todos os laços materiais e emocio nais era percebida imediatamente por todos que dele se aproximavam, assim como era impossível deixar de sentir a presença do Ser Supremo. Vinham até ele dosasmais diversos níveis cio-econômicos, quepessoas exerciam mais variadas ativisódades na vida quotidiana. Diante de Ramana, era fatal que surgissem perguntas a respeito de renúncia, de isolamento, de despojamento de posses materiais.
187
PERGUNTA: É ruim desejar coisas? RAMANA: Não devemos regozijar-nos quando um desejo é plenamente satisfeito nem nos lamentar quando ele é frustrado. Ficar muito contente porque um desejo foi realizado é um engano. Todo ganho será perdido, cedo ou tarde. Assim sendo, a alegria da sa tisfação do desejo deve forçosamente ceder seu lugar à dor, no futuro. E por isso que ninguém se deve deixar emocionar por sentimentos de prazer ou de dor, a des peito de tudo o que possa ocorrer. Não permita que os acontecimentos o afetem. O homem não se torna maior adquirindo riquezas nem se torna menor perden do-as. Ganhando ou perdendo bens materiais, o homem permanece o que ele sempre é: o Ser Supremo. P. Sim, mas os homens dificilmente conseguem re sistir aos desejos. R. Ninguém está proibido de sentir desejos, porém é melhor nunca se apegar ao resultado das ações. É preciso aceitar de bom grado, com igual ânimo, tudo o que acontecer. O prazer ou a dor são simples modifi cações da mente pensante. Eles não têm nenhuma re lação com a realidade absoluta. P. Como a busca espiritual pode conciliar-se com a necessidade de ganhar a vida? R. Nas ações não há nenhuma escravidão. A escra vidão resulta apenas do falso conceito: "eu sou aquele que age". Repudie es'se tipo de idéia e deixe simples mente o corpo e os sentidos desempenharem seu papel, evitando envolver-se com eles. P. A solidão ajuda nas práticas espirituais? R. O que quer dizer solidão? P. Ficar distante das outras pessoas.
188
R. Por que fazê-lo? É o medo que faz você agir as sim. Mesmo só, você teme que os outros venham per turbá-lo. Como suprimir os pensamentos, estando só? É melhor fazê-lo no seu ambiente habitual. P. A mente se distrai. R. Por que você deixa a mente vagar? Solidão tornar a mente submissa à vontade suprema. Você pode fazer isso no meio de uma multidão. O fato de man ter-se isolado de outras pessoas não implica eliminar a mente. Para isso é preciso dedicar-se à prática da me ditação e da devoção. P. A vida quotidiana distrai o homem que se dispõe às práticas espirituais? R. Você não se deve deixar distrair. Procure pri meiro quem se distrai. Com um pouco de prática, não se perturbará mais. P. Eu trabalho, tenho minhas ocupações profissio nais. Mas preferiria permanecer em estado de medita ção constante. Isso é contraditório? R. Essas atividades não se contradizem. Quanto mais você desenvolver suas capacidades, mais se tor nará capaz de exercê-las corretamente. Chegará a um estado em que suas ocupações profissionais lhe pare cerão desenvolver-se em um sonho, P, Mas sinto constantemente vontade de viver em solidão, onde pudesse encontrar tudo aquilo de que te nho facilmente, de modo a dedicar meu necessidade, tempo à meditação. Tal desejo é bom ou mau?todo' R. Tais pensamentos o conduzirão facilmente a um novo nascimento, para tentar satisfazer-se. O ponto essencial não é o ambiente em que você se encontra,
189
é
mas sim que você se conscientize do Ser Supremo. Se a mente permanecer ativa, mesmo um lugar solitário se tornará barulhento, pois a mente o acompanhará onde você estiver. Aniquile a mente pensante e tudo irá bem. Lembre-se de que o mundo não é exterior a você. As pessoas conscientes da Verdade não se preocupam em programar antecipadamente suas atividades porque elas sabem que o Ser, que nos colocou no mundo, já concebeu seu próprio plano, e que este se realizará, sem dúvida nenhuma, e será melhor que aqueles que poderíamos fazer. P. Devo afastar-me de minha esposa e de minha família? queé.a família o incomoda? Descubra primei ro oR.queEmvocê P. Mas não devemos renunciar a tudo, à mulher, à fortuna, ao lar? R. Aprenda primeiro o que é o samsara, isto é, a roda de nascimentos e mortes. Não existem homens que, mesmo vivendo no samsara, obtiveram a auto conscientização? P. Um homem tem o direito moral de renunciar a seus deveres de chefe de família quando ele percebe que seu maior dever é a autoconscientização? R. O desejo de renunciar a não importa o que seja é um obstáculo à autoconscientização. P. Isso é verdadeiro do ponto de vista de Sri Rama na. quanto a nós... Meu trabalho profissional ab sorveMas a maior parte de meu tempo e de minha energia. Fico muito cansado para praticar a meditação. R. A expressão "eu trabalho" é um obstáculo. Pro-
190
cure saber quem trabalha. Dessa forma, o trabalho não lhe será um fardo; ele se desenvolverá automatica mente. Não faça nenhum esforço, seja para trabalhar, seja para renunciar ao seu trabalho. É esse esforço que o aprisiona. O que deve ocorrer, ocorrerá. Se seu des tino for de não trabalhar mais, você nunca mais en contrará trabalho. Se seu destino for de trabalhar, vo cê será forçado a fazê-lo. Assim sendo, deixe tudo por conta da Força que Age em todo o universo. Você não pode renunciar a alguma coisa nem retê-la por sua própria vontade. P. Meu trabalho pode ser prejudicado se eu não o fizer com muito cuidado. R. É por se identificar com o corpo e com a mente que você acha que seu trabalho é feito por você. O que pode acontecer se você prestar ou não atenção em seu trabalho? Quando alguém anda de um lugar para outro, não presta atenção em cada um de seus passos. E no entanto, chega ao seu destino, após um certo tempo. Observe como a caminhada, no exemplo dado, desen volveu-se automaticamente sem que a pessoa prestasse atenção nela. Acontece o mesmo aos outros tipos de atividades. Quando uma criança está profundamente adormecida, sua mãe a alimenta durante o sono. Ela come bem como quando acordada. tanto, tão ao acordar afirma à mãeestava que não comeu. Entre Mas a mãe, e os que estão ao redor, sabem que a criança foi alimentada sem o saber. Ela afirma o contrário porque não está consciente do que se passou. Um outro exem plo: as imagens de um filme são projetadas sobre a te la. As imagens móveis não afetam em nada a tela. O espectador presta muita atenção nelas e ignora com pletamente a existência da tela. No entanto, essas imagens nãoisto podem sem desfilam ela. O mesmo ocorre com o Ser, é, a existir tela onde as atividades comparáveis às imagens. Os homens só prestam aten ção no filme (as atividades) e não na tela (o Ser), ainda que eles não sejam separados do Ser.
191
P. Sim, mas há sempre um operador no cinema! R. A projeção de um filme é feita a partir de um conjunto de elementos insensíveis. A tela, as imagens, a lâmpada, são inertes em si mesmas, e necessitam da intervenção de um agente consciente, quer dizer, do operador. No está casocontida do Ser,noo Ser. operador é a própria cons ciência, e ela P. O trabalho não constitui um obstáculo à cons cientização do Ser? R. Não. Para uma pessoa autoconscientizada, so mente o Ser constitui a realidade. As ações são apenas fenômenos sem influência sobre o Ser. Mesmo quando exerce atividade, pessoa autoconscientizada não temqualquer o sentimento de aser o autor de seus atos, os quais acontecem naturalmente, e a pessoa observa tranqüilamente seu desenvolvimento sem ter por eles nenhum apego. P. Não sinto nenhuma vontade de ficar em minha casa. Nada tenho para fazer lá. Cumpri meus deveres de chefe de família. Tenho filhos. Devo ficar com eles ou partir? R. Você deve permanecer onde se encontra neste instante. Onde você está verdadeiramente? Está na casa de sua família, ou é ela que está em você? Se conseguisse permanecer em sua própria residência, ve ria que todas as coisas estão fundidas em você e que não há nenhuma razão de levantar esse gênero de problema. As pessoas deixam o que lhes é mais íntimo, mais imediato, depois se esforçam para encontrar a paz e a tranqüilidade. O homem que pensa que renun ciou a tudo engana-se com essa afirmação. P. Que pode fazer um chefe de família para obter a conscientização do Ser Supremo? Sri Maha Krishna Swami
193
R. Por que você pensa que é um chefe de família? Se pensar que é adepto de um Mestre, essa idéia tam bém o seguirá. Se você cumprir seus deveres como chefe de família ou se refugiar numa floresta, a mente continuará a importuná-lo. O ego é a fonte dos pensa mentos. É ele quem cria seu corpo e o mundo e o faz acreditar ser um chefe de família. Se você renuncia ao mundo, apenas substitui o pen samento "sou um chefe de família" pelo pensamento "sou um adepto do Mestre" e troca seu quadro familiar por um ainda desconhecido, mas os obstáculos mentais estão sempre presentes e podem aumentar ainda mais sua influência quando Você muda de ambiente. Tal tro ca não serve para nada. O obstáculo é a mente. Ela deve serpossível eliminada, seja no na lar,floresta, seja na por floresta. Se vo cê acha eliminá-la que não em sua casa? Então, por que mudar de ambiente? Obser ve-se. Você deixou sua família para vir aqui. O que en contra aqui é diferente do que deixou para trás? Mes mo aquele que imergiu em profunda meditação durante anos, quando ele emerge desse estado reencontra ao seu redor o meio que lhe é imposto. Por isso, é prefe rível que todos estejam espontaneamente em estado natural, ou seja, no estado de consciência suprema, não importando em que ambiente se encontrem. Para isso se faz necessário ser iniciado por um Mestre que lhe indicará o caminho direto do autoconhecimento. Só as sim poderá eliminar todos os rebentos que surgem na mente. P. Então não é necessário que se abandone a vida normal para se seguir o caminho da espiritualidade? R. É nec.essário que se renuncie à falsa idéia que se tem da Verdade. Se você meditar sinceramente, com c passar do tempo constatará que suas atitudes referen tes às pessoas, fatos e objetos irão gradualmente se modificando. Suas ações tenderão naturalmente a
194
acompanhar suas meditações. É preciso abandonar o egoísmo, as expressões grotescas da mente pensante. Quando se sentir realmente o amor universal, com certeza não haverá desejo algum de abandonar seja o que for. Conscientizar-se do Ser Absoluto consiste em renunciar à individualidade. Um homem pode ser pai de família semque renunciar do Ser. Se ele não pensa é pai deà conscientização família, está então no caminho que o conduzirá ao autoconhecimento. Ao contrário, um homem pode usar vestimentas sacerdotais sem es tar, no entanto, no caminho correto da autoconscienti zação. Porque, se ele pensa ser um renunciado, não o é. Pensar ser um renunciado destrói o próprio objetivo desse caminho. Aquele que não se identifica com sua atividade, que não diz ser o autor de seus atos, é um verdadeiro renunciado. Um chefe família que não pensa ser um chefe de família é umdesábio, ao passo que um sábio que pensa ser um sábio não o é. O Ser não é nem um sábio nem um chefe de família. P. Para renunciar completamente aos desejos é preciso, antes, satisfazê-los plenamente? R. Agir assim é querer apagar um incêndio usando gasolina! Quanto mais os desejos são satisfeitos, mais eles se enraízam. É, portanto, o inverso que deve ser feito. Os desejos devem ser enfraquecidos antes que se possam afirmar. Para se amenizarem os desejos deve haver autocontrole, e não um abandono às paixões. P. Como enfraquecê-los? R. Pela meditação e pelo discernimento que dela provém.- Você deve conscientizar-se de que não é a mente. Os desejos nascem da mente. Tal discernimento permite controlá-los. P. Na vida quotidiana, eles são quase veis.
195
incontrolá-
R. Cada vez que você se esforçar para satisfazer um desejo, lembre-se de que é preferível não ceder a ele. Freqüentes atitudes como essa enfraquecerão, com o tempo, os desejos.
po.
P. Como posso desarraigar meus impulsos sexuais? R. Desarraigando a falsa idéia de que você é o cor P. Como conseguir isso?
R. Você acredita ser o corpo e imagina então que uma outra pessoa é também um corpo físico. Daí vem a diferença de sexos. Mas você não é o corpo, e sim o Ser Supremo. O impulso sexual cessará quando desapa recer o sentido de dualidade. A diferença sexual é apenas um conceito. Os "Upanishads" ensinam que o verdadeiro amor só existe no Ser, e não no exterior. O sentido de outro sexo desaparecerá automaticamente quando isso se tornar consciente na pessoa. Esses pen samentos sensuais dos quais você me fala perturbam-no, você pode combatê-los muito Entregue-se bem. Mas por que você econtinua a pensar nisso agora? à profunda meditação, e esses pensamentos serão elimi nados um a um. P. A castidade (Brahmacharya) é uma condição in dispensável à conscientização do Ser? R. Brahmacharya quertem dizer "estar conotação na unidadecom ab soluta". Esse estado não nenhuma a castidade tal como é compreendida normalmente. Na realidade, o fato de tentar afastar-se do Ser Divino é a causa de todas as infelicidades. P. O celibato não é, então, indispensável? O homem casado pode conscientizar-se do Ser Supremo?
196
SRfMAHA KRISHNASWAMI
R. Sem nenhuma dúvida. Casado ou celibatário, um homem pode conscientizar-se do Ser. Se fosse de outra forma, e se só fosse possível a conscientização do Ser em determinado momento, ao preço de certos esfor ços, se esse fosse um estado novo, alguma coisa que fosse necessário adquirir, não valeria a pena tal procu ra. Isso porque o que não é natural não pode ser per manente. P. Por que o homem é dominado pelas paixões? R. Porque ele perdeu a sua identificação com o Ser Supremo e enredou-se na armadilha da escravidão dos sentidos. Quando o homem procura encontrar sua es sência divina, assemelha-se à imagem de um pastor à procura nos de uma ovelhaombros. que, durante o tempo,igno ele carrega próprios Todaviatodo o homem, rante do próprio Ser, mesmo depois de percebê-lo, não consegue, imediatamente, a autoconscientização, de vido às obstruções de tendências mentais acumuladas, as quais só serão erradicadas pela contínua e prolonga da meditação. A mente, portanto, deve ser subjugada e finalmente destruída, do mesmo modo como uma vara usada para atiçar o fogo queima-se também, no final. Isso é autolibertação. P. É necessário renunciar às coisas do mundo? R. O termo "renúncia" é geralmente mal interpre tado. Por exemplo, um homem diz: "Hoje resolvi não ir ao cinema". Ele designa essa sua atitude como se fosse renúncia. As más interpretações dessa espécie são, in felizmente, freqüentes. Você renuncia às coisas que fazem parteaode pensamento suas posses, "eu" mas se, vez disso, renunciar e em "meu", tudo você será abandonado, de uma só vez. Dessa forma o mal será arrancado pela raiz, antes mesmo de se manifestar. Para se chegar a esse resultado, a neutralidade em re lação às coisas do mundo deve ser intensa. E a vontade
198
de se manter nesse estado deve ser tão forte como a de um homem que é mantido submerso na água e que se esforça para voltar à superfície para sobreviver. P. A ajuda de um Mestre pode tornar-nos conscien tes do Ser Supremo? R. O Mestre é uma ajuda poderosa nesse sentido. Mas para que a ajuda seja eficaz, é necessário que o adepto se empenhe em consegui-la. P. O que é a renúncia? R. É o abandono do ego profano. P. Não é o abandono de bens materiais? R. É principalmente o abandono de quem os possui. Renúncia significa desapego do irreal. Ela é necessária para que o homem alcance o maior de todos os ganhos: viver no estado sem ego, no estado natural de medita ção. Porém, renúncia é uma purificação da mente e não simplesmente a observância de formas exteriores de abnegação. Renunciar não significa simplesmente despojar-se É preciso desejos, das paixões.das Se coisas. o homem tentar livrar-se renunciardos a algo sem estar preparado para isso, apenas criará novos víncu los. P. O mundo se transformaria se as pessoas abando nassem seus bens em proveito dos outros? R. Abandone primeiro a si mesmo, depois você po derá pensar nos outros. P. Se todo mundo renunciar ao ego, não haverá mais nenhum mundo. Quem arará a terra, fará a co lheita?
199
R. Se você ganhar a Terra, o que fará com ela? Conscientize-se primeiro, depois poderá decidir o que fazer. A autoconscientização é superior a todas as ajudas dadas pelos pensamentos, palavras, atos. Se vo cê coTiseguir compreender sua própria realidade, isto é, a unidade com a Verdade Absoluta, não mais será per turbado por atingir essas dúvidas. Quando o ego, soa procura alguma coisa. Se nasce atingi-la, seráanepes cessário buscar outra. É preciso romper esse círculo vicioso. Devemos ser o que somos, isto é, conscientizarmo-nos do Ser Supremo. P. Isso é certo, no entanto o sentido desses ensina mentos nos escapa e acabamos por esquecê-los. tantemente R. É pornaisso Verdade que éAbsoluta. necessárioSóprocurar os tolosviver se esque cons cem dos verdadeiros ensinamentos.
200
X O Ser que somos A busca da espiritualidade tem sido constante no homem desde o início da civilização. No entanto, os caminhos mento verdadeiro, que utilizaram pois asnão pessoas conduziram geralmente ao conheci se pro põem alcançar apenas soluções paliativas para seus problemas quotidianos. Rogam a um ser que chamam de superior, colocado num outro plano, que resolva questões materiais. Poucas são as pessoas que têm suficiente discerni mento para desejar chegar à perfeição. E, dessas pou cas, raras são aquelas que chegam à perfeita conscien tização do Ser Supremo, que é o princípio que vivifica e sustenta o universo, a fonte da qual provém toda criação e à qual tudo volta. Para atingir tal objetivo, é indispensável a orienta ção de alguém que já se tenha conscientizado da es sência divina. Na presença de Bhagavan Sri Ramana, todos tinham a certeza de estarem diante de um Mes tre capaz de orientar de forma segura a conscientiza ção da Verdade Absoluta. Bhagavan Sri Ramana era a certeza incontestável de que somente o Ser Supremo existe. Na presença do Ser não há palavras. Só há sen tir. Porém, como os homens estão inconscientes dessa essência, eles têm necessidade de falar a esse respeito.
201
PERGUNTA: O que é o Ser? RAMANA: O Ser Supremo não é o corpo, nem a mente, nem os sentidos, nem o prana. Após o homem analisar cada um desses itens e dizer: "Isto eu não sou", aquilo que restar é o Ser, é a consciência cósmi ca. Nessa consciência não existe o mais leve indício do pensam ento "eu". P. Como podemos conhecer o Ser? R. Você pode afirmar que não conhece o Ser? Ainda que não possa ver seus próprios olhos, você nega, por isso, sua existência? Da mesma forma, você é cons ciente da existência do Ser sem ter necessidade de re correr objetiva.Quando Prefere você negar diz: o Ser que elea uma não éprova objetivado? "Eupornão posso conhecer o Ser", isso significa, em termos de co nhecimento relativo, a ausência de si mesmo. Você foi tão habituado ao conhecimento relativo que acabou por se identificar com ele. Essa falsa identificação o im pede de conhecer o Ser, que não pode ser objetivado. É por isso que você pergunta: "Como podemos conhecer o Ser?" Sua dificuldade está centralizada no "como". Mas
é "quem"Mas oSeque importante conhece Ser.então É o corpo? for éele, deixe-o responder. quemo diz que é ele que responde? P. O pensamento "eu sou Deus" ou "eu sou o Ser Supremo" é útil do ponto de vista espiritual? R. "Eu sou aquilo que sou". "Eu sou" é Deus, e não o fato de pensar "eu sou Deus". Você deve conscientizar-se de que "é" e não apenas pensar "eu sou". "Saiba que sou Deus" não quer dizer "pense que sou Deus". Está escrito: "Eu sou aquilo que sou". Isso quer dizer que uma pessoa deve permanecer no Ser; ela é sempre o Ser, e nada de diferente dele. No entanto, vítima de suas ilusões, ela continua a se interrogar: "Quem sou
202
eu?". Um homem plenamente consciente não faria tal pergunta. É a falsa- identificação do Ser com o nâo-ser que incita a perguntar: "Quem sou eu?". Há muitos caminhos para se chegar a Tiruvannamalai. Mas Tiruvannamalai permanece igual, não im porta o caminho que se tome para aí chegar. Se, uma vez em Tiruvannamalai, alguémindagar qual o caminho para chegar, sua atitude será ridícula. Do mesmo mo do, sendo já o Ser, parece absurdo perguntar-se como chegar ao Ser. Medite e devocione e se conscientize daquilo que você é em essência. As perguntas são fei tas devido à falsa identificação do Ser com o corpo. Isso é ignorância e ela deve ser dissipada. Quando ela desaparecer, só restará o estado natural de ser. P. Concordo, mas não tenho essa experiência. R. A experiência é vivida neste momento presente e onde você estiver. É através da constante meditação que você comprovará essa verdade. P. Isso implica a existência, mas não a felicidade. R. Existência é igual a felicidade e igual a Ser. É porque o homem crê na existência da escravidão que ele procura libertar-se dela. Mas o fato é que a escra vidão não existe. Por que lhe dar um nome e acreditar nela? P. É exato. Mas somos ignorantes. R. Então contente-se em se livrar da ignorância. Isso é suficiente. Todas perguntas que são feitas a respeito de escravidão sãoasinadmissíveis. P. Onde está o Ser? R. O Ser Supremo está no coração de todos os ho-
203
mens e em todas as coisas; ele é o sustentâculo de toda criação, a fonte de tudo, o sustentador de tudo e o de saparecimento de tudo. P. Isso não diz o que é o Ser, R. Nem isso, nem aquilo. P. É esse um conceito puramente negativo. O Ser não está sendo indicado de uma maneira positiva. R. Você não é nem o corpo físico, nem a mente, nem o intelecto, nem o ego, nem outra coisa qualquer que você possa pensar. Descubra, então, o que você é realmente. O silêncio indica que o indagador é, ele próprio, o Ser que ele procura. O Ser Supremo é a existência sem começo nem fim, sem limites, eterna. É a existência na qual repousam todas as formas e to das as mudanças, todas as forças e toda a matéria. A variedade de fenômenos muda e desaparece, enquanto que o Único dura eternamente. O Ser substitui as tría des, quer dizer, o conhecedor, o conhecimento e o co nhecido. As tríades são apenas aparências que se de senvolvem no espaço e no tempo, enquanto que o Ser se estende para além delas. Durante a projeção de um filme, você assiste a um incêndio. A tela se queima? Imensos tonéis de água são derramados. A tela se molha? Casas desabam. A tela é danificada? Eis por que as escrituras dizem que o fogo, a água, as açôes, são fenômenos passageiros que apa recem na tela imóvel do Ser sem afetar sua paz infini ta. P. Se o Ser está em tudo, como não o percebemos? R. O açúcar é visível, porém se torna invisível quando se dissolve na água. Mesmo assim, reconhece mos sua existência pelo sabor. O mesmo ocorre com o
204
Ser. Ainda que não seja reconhecido pelo intelecto, pode ser conscientizado pela prática da meditação iniciática, onde há ausência da mente pensante e do inte lecto. P. Como ocorre isso? R. Um homem, que teve os olhos vendados por la drões, e que foi abandonado na floresta, indaga sobre o caminho de volta e consegue reencontrar sua casa. Igualmente o homem, cego pela ignorância espiritual, pode retornar ao estado natural de ser quando elimina essa ignorância, através da orientação do Mestre. P. Há apenas um Ser? R. A pergunta pode surgir somente se houver dois. Procure não confundir o Ser com o não-ser. cia.
P. Quis dizer o estágio mais elevado da consciên R. Não há estágios.
P. Por que o homem não obtém a iluminação ins tantaneamente? R. O homem é a própria iluminação. É só romper os véus da ignorância que o envolvem. P. Como é a Verdade? cê?
R. Não se preocupe com ela. Diga-me, quem é vo P. Eu não sei.
R. Você existe, não é? Você precisa conhecer a si mesmo e, automaticamente, conhecerá a Verdade. A
206
essência do homem é a própria Verdade. Ela não se fraciona nem sofre limitações. A mente é a causa do aparecimento de partes e diferenças. Isso ocorre por que ela identifica a Verdade com corpos ou envoltó rios. A mente imagina a Verdade como finita por ser ela mesma finita. P. Por que a maioria dos homens afirma que a Ver dade é difícil de ser alcançada? R. A Verdade Suprema é tão simples! Mas as pes soas não se contentam com a simplicidade. Preferem a complexidade porque querem algo elaborado em deta lhes, atraente e difícil de se compreender. Existem muitasreligião religiões, todas adeptos são complexas. Cada credo, cada teme seus e antagonistas. Por exemplo: um cristão não ficará satisfeito a não ser que lhe digam que Deus está em algum lugar do distante céu e que não será alcançado por nós sem ajuda. So mente Cristo o conheceu e somente Cristo pode guiar-nos. Aceitar a Cristo é ser salvo. Se lhe falarem a simples verdade: "O Reino dos Céus está em vós", ele não estará satisfeito e dará interpretações complexas enoimprováveis estado de pureza a tal podem afirmação. compreender Somente aosVerdade que estão em sua plenitude. P. Os homens são totalmente inconscientes de que são o Ser Supremo? R. Os homens não gostam de falar do Ser. Preferem ouvir coisas como o céu, o inferno, a reencarnação. Amam o mistério ao invés da verdade simples. P. Algumas religiões ensinam que nós temos uma alma; outras ensinam que temos um espírito; e outras, ainda, ensinam que temos um Ser, O que o Mestre nos diz a esse respeito?
207
R. Somos essa alma. Somos esse espírito. Somos esse Ser eterno e presente. Nós não temos, nós somos. Somos consciência e habitamos o corpo assim como se habita uma casa. O homem deve conscientizar-se disso enquanto ele viver. O caminho da sabedoria é o do co nhecimento eterno. É preciso captar seu sentido exato e usar a determinação para andar na Verdade, para aprofundar-se cada vez mais nela. A Verdade não está no cimo do céu, nem nas profundezas ou na superfície da terra. Ela é apenas a extinção da mente, com todos seus desejos. P. Devemos acreditar que Deus e a alma são uma coisa só? R. Dedique-se às práticas da meditação e devoção para aniquilar o ego profano e a mente pensante. Aquilo que fazemos para viver no estado natural do Ser Supremo é muito mais importante do que as crenças. P. Deus é pessoal? R. Ele é sempre a primeira pessoa "eu sou". P. Sri Ramana indica o lado direito do peito como a região onde se reflete a consciência suprema? R. Sim, esse é o testemunho de todos os sábios. P. Para aquele que não tem experiência direta do "coração espiritual" no lado direito do peito, como fa zer para descobri-lo? R. Pela intuição pura. P. Quem tem tal intuição? R. Todos têm um conhecimento intuitivo sobre isso. Quando a pessoa refere-se a si mesma, ela intuitivaGuru Nanak (Mestre hindu, sé ‘Quem conhece o Ser jamais é i
208
pelo mundo pn
mente aponta para o lado direito do peito. Ali é exata mente o lugar do centro do coração espiritual. P. Terá Deus uma forma? R. Quem disse que Deus tem uma forma? Deixe Deus de lado e verifique se você tem uma forma. Você acredita ser esse corpo feito de carne e osso, mas será que você o é realmente? Enquanto persistir a falsa identificação com o corpo físico, será pedantismo dis cutir sobre o divino. A forma concreta e a aparência da manifestação do divino são determinadas pela men te do adorador. Mas esse não é o objetivo final, porque existe ainda um sentimento de dualidade. P. Como podemos absorver a força divina? R. Ela já está em você. Por isso não há necessidade de absorvê-la. Só seria necessário fazê-lo se ela fosse exterior a você. Mas ela não é outra coisa senão sua própria essência. Não há, portanto, absorver ou expul sar. P. Os homens dão ao Ser Divino um grande número de nomes sagrados e acham que sua repetição traz méritos. É verdade? R. Por que não? Você leva um nome pelo qual você responde. Seu corpo não nasceu com um nome, escrito na sua pele. Ele nunca disse ser detentor de tal ou qual nome. No entanto, qualificaram você com um nome e você se identifica còm ele, O nome significa, então, alguma coisa e não é uma simples ficção. Acontece o mesmo o nome do do Ser;que eleele nãosignifica. é ficção. Eis A sua petição com é a lembrança aí are vantagem. P. Há conhecimento do Ser no estado sem ego?
210
R. No estado sem ego não pode haver conhecimento nem ignorância, pois o que é comumente considerado como tal não é o verdadeiro conhecimento. Uma pes soa pode ter a experiência da conscientização do Ser e não se tornar, devido simplesmente a essa experiência, liberta ma dosdefinitivamente pensamentos do queego. vagueiam Ela continua sem cessar. a ser vítiEssa experiência de conscientização é semelhante à do sá bio liberto. Na verdade, todas as pessoas têm a expe riência do Ser, seja consciente seja inconscientemente. A experiência por que o ignorante passa é obscurecida pelo véu de seus impulsos egoístas, enquanto que a do sábio consciente não o é. A experiência do sábio é, portanto, diferente, porque ela é permanente. Um homem tem,deàsobter vezes, após umapercepção longa prática espiritual, a ocasião uma rápida da Verdade. Sua experiência pode ser muito intensa na quele momento. Apesar disso, esse homem será reto mado e distraído por suas tendências anteriores, por seus pensamentos que voltam a vagar, de tal forma que sua experiência de conscientização parece não lhe ter servido para nada. Nesse caso, ele deverá continuar com as práticas da meditação até que todos os obstá culos, ou seja,destruídos. as tendências ego eentão, da mente, sejam inteiramente Ele do poderá, permane cer no estado natural de ser. P. Que diferença existe entre um homem que não faz nenhum esforço espiritual e permanece o tempo todo mergulhado no erro e um outro que percebe, num relance, por alguns momentos, a realidade do Ser, e volta em seguida a viver na ignorância? R. No último caso, o homem será sempre incenti vado a dedicar-se cada vez mais às práticas espirituais para que sua conscientização seja perfeita. P. Se o eu pessoal se dissolve no Ser Supremo, como
211
podemos rogar ao divino para assegurar o progresso espiritual da humanidade? R. As pessoas fazem preces ao divino e terminam sua oração dizendo: "Que tua vontade seja feita". Se é a vontade divina que deve ser executada, para que pe dir isso a ele? Não se deve esquecer que ela prevalece o tempo todo e em todas as circunstâncias. A pessoa não pode agir por sua própria vontade. Só é preciso, portanto, reconhecer a onipotência do Ser Supremo e permanecer tranqüilo. Cada um de nós está sob seus cuidados. É ele quem cria tudo. Você não é mais que uma unidade entre milhões de outras unidades. Se o Ser Supremo tem o poder de dirigir esses milhões de seres, por que você acha que ele o esqueceria? Mesmo o sim ples deveria levar as pessoas a compreende rem bom que senso devemos submeter-nos à vontade suprema. Não há, por conseqüência, nenhuma necessidade de lhe falar sobre nossas necessidades. Ele as conhece melhor que nós mesmos, e ele poderá resolvê-las melhor que ninguém. P. O fato é que o Ser Supremo nos guia. Então para que servem as instruções espirituais? R. As instruções são dadas aos que as procuram. Se você sente segurança no Ser Supremo, contente-se em ater-se a ele firmemente e não se preocupe com o que acontece ao seu redor. Se você for tocado pela felici dade ou pela infelicidade, mantenha a neutralid ade e conserve sua segurança no Ser Supremo. P. Como fazer para obter essa segurança? Existem pessoas de instru ções.R.Elas procuram sairque de têm seu necessidade mundo repleto de so frimentos. Ensinamos a essas pessoas que o Ser as diri ge em todos os atos e que elas não têm nada com que se preocupar. Se tiverem o coração puro, adquirirão
212
imediatamente essa segurança e permanecerão identi ficadas com o Ser Supremo. Mas muitos dos que buscam a instrução espiritual não se convencem tão facilmente, com uma simples afirmação a respeito da Verdade. Fazem muitas per guntas. Querem saber o que é o Ser, qual sua natureza, onde ele fica, como se conscientizar dele. É para ten tar satisfazê-los que acontecem as discussões intelec tuais. São proferidos julgamentos, argumentos favorá veis e contrários são colocados com precisão, e a Ver dade se torna conhecida apenas no plano intelectual. Quando o Ser é compreendido intelectualmente, a pes soa se pergunta a cada momento: "Quem tem tais pen samentos? Quem pensa? Quem sou eu?" até o momento em que ela sedireto decida procurar um Mestre que manei a inicie no caminho do aautoconhecimento. Dessa ra sua segurança no Ser torna-se sólida e firme. Todas as suas dúvidas se dissipam e ela não tem mais neces sidade de outras instruções. P. O divino ajuda aqueles que ajudam a si mesmos? R. Certamente. Ajude a si mesmo. Assim fazendo, você obedece à lei ação determinada somente por essa lei.divina. QuantoCada a pedir ao édivino por ou tra pessoa, essa atitude parece despojada de egoísmo. Mas se você analisar bem, descobrirá o egoísmo aí também. Na verdade, você deseja a felicidade do outro para que você próprio seja feliz. Ou então quer beneficiar-se pelo mérito de ter sido o intercessor para a fe licidade alheia. O Ser Supremo não necessita de ne nhum intermediário. Ocupe-se com seus próprios afa zeresa esi tudo irá bem. Seu dever é primeiramente aju dar próprio conscientizando-se da Verdade Supre ma. Conseguirá isso submetendo-se totalmente à von tade divina. Dessa forma não poderá mais reter seu sentido de ego, do eu individual, e não poderá fazer nada além de obedecer à vontade suprema. Percebera
213
então que o silêncio é o que se pode fazer de mais ele vado. P. O divino escolhe certas pessoas para realizar sua obra? R. O Ser Supremo está em todos e realiza suas obras através denaqueles todos. Sua reconhecidae mais facilmente que presença praticam aé meditação a devoção. Esse é o motivo pelo qual as pessoas acre ditam que os homens cujas mentes estão purificadas são os eleitos de Deus. Mas o verdadeiro adepto da Verdade não sabe nada disso, ele próprio, e nem fala a esse respeito. Se ele acreditar-se um intermediário entre o Ser Supremo e os homens, essa é a melhor pro va de que seu ego profano está sempre presente e que ele retém umainteiramente parte de sua individualidade. não estaria, assim, submisso à vontade Ele divina. P. A experiência do estado de conscientização é a mesma para todos? Ou varia de pessoa para pessoa? R. O estado supremo é o mesmo, e a experiência que se tem dele também. P. No entanto, há muitas interpretações diferentes desse estado. R. As interpretações são produto da mente. A mente exerce influência diferente em cada pessoa. As interpretações são, por isso, variáveis. P. Um sábio consciente exprime-se em uma termi nologia cristã, outro em termos islâmicos, outro con forme o budismo e assim por diante. Isso deve-se à educação que esse sábio teve? R. Qualquer que seja a educação, a experiência é a mesma, desde que o caminho seja de autoconscientizaçãO.
Sri Maha Krishna Swami em comunhão com a natureza
215
Muitos daqueles que conheceram Bhagavan Sri Ra mana deixaram-se guiar por ele e se conscientizaram do Ser Supremo. Outros, porém não tiveram suficiente persistência no caminho do autoconhecimento e envolveram-se novamente com o ego e a mente, perdendo assim a oportunidade de conhecer a verdadeira essên cia que somos. Quem segue com determinação o caminho da auto conscientização acaba por sentir a unidade. Não pro cura investigar o passado ou desvendar o futuro, pois age como espectador do drama do mundo. Considera iguais todas as coisas, quer lhe advenha a boa ou a má sorte. Não se deixa afetar pela honraria dos santos nem pela ofensa dos maus. Ele, que se tornou cons ciente da Verdade tranqüilopelo o cons tante fluir de todasSuprema, as coisasobserva manifestadas Ser Supremo, como um rio que deságua no oceano, perma necendo, contudo, imutável.
(Ä 216
XI S ó o Mestre pod e conduzir para a autoconscientização O Mestre é absolutamente necessário para que seja possível a autoconscientização. Ele é capaz de orientar com segurança o discípulo porque passou opela expe riência de libertar-se dos laços que jáprendem homem ao ciclo interminável de nascimentos e mortes. O Mestre demonstra, com seu exemplo, que a mente pensante, embora seja o que cada ser humano mais preza e procura preservar e desenvolver, é, na verda de, uma prisão que fecha cada um em si mesmo, limitando-o e impedindo-o de sentir o Absoluto. Somente evadindo-se dessa prisão é possível conhecer a verda deira liberdade. O que se busca junto de um Mestre não tem nenhu ma relação com a aquisição de conhecimentos, uma vez que a Verdade não pode ser transmitida, em sua essência, através de palavras, pois ela não cabe em conceitos mentais. O mundo particular de cada um é a opinião que se faz a respeito daquilo que os sentidos percebem do mundo. A manifestação e as circunstâncias não são, em si mesmas, nem boas nem más: são neutras. O Mestre, por ser consciente do Ser, possui essa mesma neutralidade, e é dessa maneira que ele orienta aqueles que o seguem.
217
O discípulo que se deixar envolver por seus próprios julgamentos, emoções ou preferências verá o Mestre de maneira errônea, deformada, criando uma imagem a partir de suas convicções pessoais. Seguindo os ensina mentos do Mestre, o discípulo deverá, então, evitar essas imagens mentais e perceber tudo como realmen te é: simples e sem mistérios. O Mestre orienta cada um de seus discípulos de maneira particular, que pode ser até mesmo oposta à orientação dada a outro em circunstâncias semelhan tes. O objetivo do Mestre é fazer com que o discípulo liberte-se da mente pensante e do ego profano. Sua metodologia varia conforme as predisposições que cada um apresenta. Bhagavan Sri Ramana não fazia diferença entre Mestre e discípulo. Ele via apenas o Ser Absoluto em todos os seres do universo. Como poderia haver distin ção entre as pessoas? Entretanto, quando não se é consciente da unidade, a diferença entre os seres pa rece bastante real. Por isso é necessário um Mestre que oriente diretamente. Por isso vieram Jesus, Budha, Krishna, Rama e tantos outros Mestres. Vieram por compaixão aos seresque da têm Terrao emesmo de todos os outrosdeluin gares do universo problema consciência e ignorância espiritual. Muitos sacerdotes diziam a Bhagavan Sri Ramana que ele não deveria contar aos homens o segredo do caminho direto, e Ramana lhes respondia: "Como isso pode ser segredo se foi contado para mim?" Chegaram até a censurar Sri Ramana por ele revelar os sagrados ensinamentos. afirmavaaos quelíderes isso era o que ele realmente fazia,Ramana e perguntava espirituais: "O que é que vocês fazem, de fato?" O método que Ramana utilizava para que seus adeptos se conscientizassem era exposto sempre de Sri Maha Krishna Swami -Shanti Prem mudra de paz do Mestre, em um dos Ashrams no Brasi/P^
forma clara e categórica: "Submeta-se a mim e eu eli minarei a mente pensante". Ou então: "A você cabe apenas ficar quietp, tranqüilo, render-se e deixar o resto por minha conta". Todavia, render-se ao Mestre e estar plenamente receptivo à Sagrada Upadesa requeraomuita disciplina nas práticas espirituais. Submissão Mestre não é submissão a alguém estranho à própria pessoa, mas ao Ser manifestado exteriormente a fim de ajudá-la a conscientizar-se do Ser Supremo que ela é em essên cia. A submissão ao Ser Supremo é tudo. Somente quan do a mente é aniquilada pela meditação e devoção é que universo, o Ser pode Supremo, ser sentido. que se Todas refleteasemtécnicas todos os ensinadas seres do por Sri Ramana exigem constante dedicação e sinceri dade. Após algum tempo de prática podem-se notar os frutos, mas isso não significa que a pessoa já se tornou consciente da Verdade Absoluta. O Mestre Ramana sempre me advertiu: "As pessoas, devido às tendências acumuladas pela mente pensante, freqüentemente confundem o corpo, a mente, com o Ser Absoluto que, na verdade, elas são". Mediante contínuas e prolongadas práticas da de voção param bhakti e da atitude silenciosa, que é a meditação iniciática, aplicadas de acordo com a orien tação do Mestre, as tendências mentais há muito tem po cultivadas serão automaticamente removidas e apagadas para sempre. Quando o Mestre orienta, o adepto deve ter total submissão aos ensinamentos. A esse respeito, Sri Ramana esclarece que a verdadeira submissão em extirpar as tendências mentais, ouconsiste predisposições, que todas permitem ao ego se manifestar. O ego só se submete quando percebe um poder superior. O verdadeiro significado da submissão é a completa extinção da sensação do ego profano. Es
220
sa é a condição necessária para que se receba o ensi namento, porque se não houver auto-entrega o ensina
mento será interpretado ao gosto desse ego profanador.
PERGUNTA: É correta a atitude de veneração ao Mestre? RAMANA: O cumprimento de veneração, a home nagem respeitosa ao Ser e, também, ao Mestre encar nado, foram concebidos srcinalmente por sábios, há tempos, como prova de submissão total ao Ser. A for ma prevalece até os dias de hoje, mas a essência se perdeu. Em algumas religiões, a saudação ao Ser é uma atitude lamentável porque não é sincera e é um equí voco. Ela tem por finalidade camuflar inúmeros erros. Porém, pode o divino ser enganado? O adorador acre dita que o Ser aceita suas homenagens, que, de fato, livra-o de seus chamados pecados e que ele pode reco meçar livremente o mesmo tipo de vida. Muitas pes soas inclinam-se em minha frente. Porém prefiro que elas tenham o coração puro e honesto, que pratiquem os sagrados ensinamentos de autoconscientização ao invés de se prostrarem diante de mim. P. Por que as pessoas lhe dão presentes? R. Mesmo que eu os recuse, forçam-me a aceitá-los. Se aceito um presente, o doador, muitas vezes, imagina ter o direito de fazer exigências.. Um presente pode ser semelhante a uma isca para pescar um peixe. O pescador se preocupa realmente em dar alimento ao peixe com sua isca? Não. Ele se preocupa, antes, em alimentar a si próprio com o peixe. P. Faz-se necessária a austeridade para se cons cientizar da Verdade Suprema? R. Não.
221
P. Mas dizem que o Mestre fez muito jejum e fez voto de silêncio. R. Não comia, por isso diziam que estava jejuando; não falava, por isso diziam que eu havia feito voto de silêncio. O que realmente sucedia era uma não-identificação corpo.serA uma austeridade não é adessa procura da Verdade.com Elao pode conseqüência busca. Não tendo necessidades mundanas, simplesmente não tinha necessidade de falar. P. Gostaria de perguntar a Sri Ramana se fui cha mado para vir aqui. Vim hoje devido a várias circuns tâncias inesperadas. por R. ela.A força suprema dirige tudo. Deixe-se conduzir P. Mas não tenho consciência dela. Sri Ramana po deria fazer-me perceber tal força? R. Ela sabe o que é preciso fazer e como fazer. Deposite sua confiança nela. P. Mas se o Mestre se mostrar incompetente, qual será o destino do discípulo que colocou toda sua con fiança nele? R. Cada um recolhe o que merece. P. A orientação de um Mestre é necessária? R. Sim. Sem suas orientações torna-se impossível a autoconscientização. P. Como saber se uma pessoa em particular tem competência para ser um Mestre? R. Pela paz que é encontrada em sua presença e Maharaj Charan Singh Ji (Punjab • índia) “Só o Mestre tem a chave. Ninguém mais pode abrir o caminho que condu z à conscientização do Se r"W&
pelo respeito que todos sentem por ele. O Mestre é o Ser, e ele se manifesta externamente. Um aspirante à autoconscientização, no início, pensa que o divino é um personagem separado dele e o tem por seu Mestre. De pois esse divino o põe em contato com um Mestre en carnado. O aspirante vem a sentir, pela força de seu Mestre, o Ser é a realidade eterna e que ele é um com essaque força. P. Ficar um dia junto de Sri Ramana é uma boa coisa; ficar dois dias é melhor; três dias, ainda melhor. Se ficarmos o tempo todo aqui, como poderemos cum prir nossos deveres com o mundo? R. As disciplinas espirituais jamais interferem nas tarefas quotidianas. Além do mais, o trabalho é o pri meiro princípio para aquele que segue o caminho direto da autoconscientização. P. Você tem a intenção de viajar pelo mundo? R. Qualquer parte do mundo, no plano mental, está no mesmo lugar. Sri Ramana explicava que o sábio se caracteriza por uma atividade e eterna.Na Seuaparência, equilíbrioele é comparável ao de intensa um giroscópio. permanece imóvel, mas, na realidade, é dotado de um dinamismo extremamente rápido. Sua velocidade é tão grande que o olho não a percebe e crê que ele perma nece imóvel. No entanto, ele gira. Essa situação é comparável à inatividade aparente do sábio. Esse ponto deve ser explicado às pessoas porque elas crêem geral mente que a tranqüilidade do sábio é sinônimo de inér cia. Ainda da a esse respeito, temos o exemplo conhecido pessoa que está viajando de trembastante e acre dita que se desloca de um lugar para outro. Na verda de, ela está sentada e repousa em seu banco sem se movimentar. É o trem que se desloca. O viajante so
224
brepõe o movimento do trem ao seu, pois ele se identi fica erroneamente com seu corpo. Ele pensa: "Acabo de passar por uma estação, depois por outra e outra". Se ele refletisse, perceberia que permanece imóvel e que são as estações que desfilam perante seus olhos. Isso não o impede de afirmar que fez uma longa via gem como se tivesse tido um grande trabalho para isso. Bhagavan Sri Ramana nunca saiu de Arunachala e, no entanto, seus ensinamentos são conhecidos no mun do todo. O Ser é onipresente, e Ramana é onipresente. Todos aqueles que lhe abrirem o coração receberão a força da Sagrada Upadesa, a instrução silenciosa. O sábio perm anec e plena ment e con scie nte de que o estado verdadeiro de ser consiste em permanecer fixo e imóvel no centro de todas as atividades que se de senrolam ao seu redor. A natureza do sábio não se transforma e seu estado de meditação nunca é altera do. Ele olha todas as coisas como se elas não se refe rissem a ele e permanece em constante felicidade. Inconformados com a aparente passividade de Sri Ramana, perguntaram-lhe por que não percorria o mundo para ajudar as pessoas de todos os países, mas, ao só que em eu Arunachala. Ele respondeu: "E contrário, quem disseficava a você não faço isso há milhares de anos?" Outros perguntavam-lhe por que não reunia pessoas em diversos lugares e fazia palestras sobre os ensina mentos. Sri Ramana disse que não tinha o direito de molestar os outros; bastava que a pessoa absorvesse a força da Upadesa e tudo daria certo. Mesmo com essa Sri Ramana resposta claranãoa dá pessoa palestras?", tornou ae ele perguntar: respondeu: "Por"Eque por que você não se cala?" Sri Ramana se referia a calar-se internamente. Não se pergunta a um Mestre o que ele faz ou por que o faz.
225
Algumas pessoas chegavam até Bhagavan Sri Ra mana tentando colocá-lo à prova, para verificar se ele era autêntico ou se preenchia os requisitos de acordo com a imagem que faziam de um Mestre. Ele não rea gia, não discutia, permanec endo nat ural , como sem pre. P. As pessoas dizem que você é um Avatar. O que você diz sobre isso? Bhagavan Sri Ramana não disse nada. P. Se isto é verdade, por que você se mantém em silêncio? Por que você não se manifesta e nos diz a verdade? Ele continuou em silêncio. P. Diga-nos, queremos saber. Ser.
R. Um Avatar é a consciência suprema, é o próprio
P. Dizem que há muitos Mestres que permanecem em reclusão e ainda ajudam o mundo. Como pode ser? R. A conscientização do Ser Supremo é a maior ajuda que pode ser prestada à humanidade. É preciso saber, porém, que a reclusão não existe somente nas florestas, nas montanhas, nas grutas. Pode-se estar em reclusão mesmo nas cidades, no meio das ocupações do mundo atual. P. Por que o Mestre não anda pelo mundo a apre goar a Verdade às pessoas em geral? R. Como você sabe que não o estou fazendo? Apre goar consiste em subir numa plataforma e reunir as pessoas ao seu redor? Apregoar é simples comunicação
226
de conhecimento. Pode ser feito em silêncio também. O que você pensa sobre um homem que ouve uma pa lestra por uma ou duas horas e vai embora, sem ser por ela impressionado, de modo a modificar sua vida? Compare-o a um outro que se dedica à prática da me ditação silenciosa orientado por um Mestre e que ob tém, por isso, a plenitude do conhecimento supremo. P. Dizem que o olhar de um Mestre é suficiente para beneficiar as pessoas, muito mais que as imagens ou peregrinações. É certo? R. Assim como o carvão fóssil demora muito tempo para se inflamar, o carvão vegetal se queima rápido e a pólvora instantaneamente, há diferentes processos de as pessoas sentirem-se purificadas pela presença do Mestre na Terra. P, Peço que Sri Ramana, por sua graça, permita que eu tenha o verdadeiro conhecimento. R. A plenitude do conhecimento supremo só é pos sível através da prática contínua da meditação e da devoção. P. O mundo encontra-se em estado de degeneração. Está-se tornando cada vez pior, espiritual, moral, in telectualmente. Virá um Mestre salvá-lo do caos? R. Inevitavelmente. Quando desaparece a bondade, e o erro parece prevalecer, o Mestre aparece para reestabelecer as virtudes divinas entre os homens. O mundo não é nem muito bom, nem muito mau. É uma mistura dos dois. Somente felicidade e somente triste za não são encontradas no mundo. O mundo sempre precisa da força divina, e ela sempre aparece. P. Esse Mestre nascerá no Oriente ou no Ocidente?
227
O Mestre riu da pergunta, não respondendo a ela. P. Mestre, atualmente existe algum Avatar encar nado? R. Pode ser. P. Muitos insistem em afirmar que nenhum Mestre é necessário. R. Como eles sabem? Se conhecessem o Ser não afirmariam isso. Não se deixe influenciar por opiniões que tentam afastar você do caminho direto da autoconscientização. P. Por que muitos não reconhecem o Mestre? R. Para reconhecer o Mestre é preciso ser um dis cípulo verdadeiro. Muitos desprezam os ensinamentos do Mestre porque se preocupam em prosperar nas coi sas do mundo e se julgam felizes; e talvez tenham me do de que, se ouvirem o Mestre, ele possa efetuar uma transformação em seus pontos de vista, e temem as conseqüências que possam advir disso. P. As dúvidas sempre surgem. R. Uma dúvida surge em você. Você a dissipa. Uma outra toma o lugar vago e você a dissipa igualmente, e assim por diante. Você não conseguirá jamais dissipar todas as dúvidas enquanto não eliminar de maneira de finitiva a mente pensante. P. Somente a graça do Mestre pode ajudar-me a aniquilar a mente pensante? R. De fato. O Mestre lhe indicará técnicas de como conduzir-se no estado natural de meditação.
228
P. Como posso obter a graça do Mestre? R. A graça está eternamente presente. P. Mas eu não a sinto. R. A autoconfiança e o abandono total do ego pro fano farão você compreender o que é realmente a for ça divina. P. Mas eu já me submeti completamente, de corpo e alma. Não sou eu o melhor juiz de meu coração? E, no entanto, não sinto a presença da graça. R. Se você de pergunta não estivesse surgiria. realmente submisso, esse tipo P. Eu me entreguei completamente à graça. Sinto, entretanto, necessidade de fazer esse tipo de pergunta. R. A força divina é constante. O seu julgamento é que varia. Senão, onde estaria o erro? A força do Mes tre é comparável à mão estendida para ajudar alguém que se está afogando a sairfacilmente da água. Édaela que permite ao discípulo livrar-se mais inconsciência espiritual. Aquele que merecer a força de Bhagavan jamais será abandonado, mas o discípulo, por sua vez, deverá seguir, sem o menor desvio, as orientações da das pelo Mestre. P. Não seria a graça uma espécie de terapia para ajudar o doente a se curar? R. Para que servem os medicamentos senão para restaurar a saúde srcinal? A que correspondem todas essas dissertações sobre o Mestre, a graça, o Ser? Você imagina que o Mestre seja igual a você. Como você conserva sua consciência corporal, imagina que ele
230
também seja um envoltório corporal a fim de que possa realizar alguma coisa palpável. Porém o Mestre, que é o Ser, manifesta-se para o discípulo sob uma forma que corresponde ao seu nível de compreensão. O discípulo pensa que o Mestre é um homem e espera ligar-se a ele em um relacionamento pessoal. Mas o Mestre ajuda o discípulo a ver seus erros de julgamento e de compor tamento, colocando-o no caminho certo, até o momen to em que haja a conscientização do Ser. Após a cons cientização, o discípulo sente: "Antes de tudo, eu sou o Ser. Eu sou o mesmo que antes, mas não sou mais per turbado por nada. Onde está aquele que se sentia tão infeliz? Não o vejo mais em parte alguma". Convém, então, que o discípulo se submeta aos ensinamentos do Mestre, pois ele cria condições favoráveisA para que senos en ja dissipada a ignorância espiritual. firmeza sinamentos dados é fundamental para se seguir o ca minho da perfeição. Assim como os rios que fluem para o oceano tornam-se únos com ele, o mesmo acontece com o discípulo que, eliminando a ignorância espiri tual, conscientiza-se do Ser Supremo. Junto de Bhagavan Sri Ramana, aprendi a deixar de lado toda opinião pessoal a respeito dos sagrados ensi namentos. Deixava-me guiar como uma folha se deixa levar pelo vento: naturalmente. Esse é o único com portamento possível que o discípulo pode ter em rela ção ao Mestre. Um Mestre não é um simples instrutor; ele aponta o caminho certo para a autoconscientiza ção, e nós andamos por ele com nossos próprios passos. Esse caminhar é feito por cada um porque a prisão on de o homem se colocou também é particular: é a pre sença do ego e da mente que o enclausura em um mun do de percepções ilusórias, onde a emoção e a opinião própria ditam as regras. O Mestre indica o método correto para se eliminarem os equívocos que prendem o discípulo a este mundo limitado, possibilitando-o se guir rumo à Luz.
231
Quando a Luz está entre os homens, eles devem se gui-la, aprender com ela. Dificilmente pode-se encon trar um Mestre que inicie as pessoas no caminho da meditação, da devoção. Raramente os Mestres vêm à Terra, e nos dias atuais são poucos os que estão encar nados. erro que, encontrado Mestre, Não perderhá a maior oportunidade de tendo estar com ele parao aprender a técnica de conscientização do divino.
G&
232
XII O Mapa Astrológico de Ramana A Astrologia Iniciática é ensinada aos homens para que, desses ensinamentos, possam dirigir suas vidasdedoposse melhor modo possível. Ela mostra a srcem comum dos doze signos do zodíaco representados pelas doze constelações, pelas quais passa o Sol, num movi mento aparente em relação à Terra. Existem leis cós micas que regem o processo da manifestação, e tudo o que acontece no microcosmo ou no macrocosmo está sujeito a essas leis, e essas leis estão sujeitas à lei su prema de que tudo é um. A unidade é o fundamento essencial no processo da conscientização espiritual. Bhagavan Sri Ramana nasceu em Tiruchuzhi, índia, no dia 30 de dezembro de 1879, à uma hora, portanto sob o signo de Capricórnio. Apesar de haver nascido sob determinadas influências consideradas negativas, ele venceu a roda das transmutações. Através de seu comportamento representou muito bem as caracterís ticas de seu signo, as quais se traduzem por introspecção, método, neutralidade, serenidade, responsabilida de, abstenção do supérfluo, controle emocional, silên cio. Ao analisarmos esta síntese do mapa astrológico de Bhagavan Sri Ramana, conforme a Astrologia Iniciática, observamos que a Lua está no meio do céu. Isso in-
233
1 ____S E X T I L
___ TRI60N0 ___ OPOSIÇÃO ___ QUADRATURA
4
dica uma pessoa popular, que cativa o público, princi palmente pelos aspectos do trígono, vindo de Vênus e Júpiter. O primeiro indica simpatia, e o segundo bene volência e conhecimento. A posição do Sol no mapa astrológico mostra a ex pressão mais forte, mais profunda. O Sol significa cla reza, autoconhecimento. A vida de Bhagavan Sri Ra mana foi puro ensinamento e exemplo de autoconheci mento. Ensinando através da qualidade de seu signo natal, Capricórnio, ele revelou um método muito sim ples de autoconscientização: "Eu nada sei, apenas sin to". Nessa frase está contida toda transcendência e aproveitamento da posição da Lua Câncer, sem emoções e sem apegos, com total uso em da sensibilidade. Saturno, planeta regente de Capricórnio, favorece o cumprimento das obrigações, desenvolve a capacida de de aproveitamento dos trânsitos e das quadraturas da melhor maneira possível, no cumprimento do dharma. Na época em que o Mestre Ramana saiu em busca de Arunachala, ocorriam alguns trânsitos em seu mapa que são ruins pela ortodoxa. casa dozeconsiderados recebia os trânsitos do astrologia Sol e Saturno, fazenA do quadratura com a posição natal da Lua e do Sol. Sa turno bloqueia a auto-imagem. A quadratura do Sol com a Lua normalmente provoca um confronto do que a pessoa é intimamente com a imagem que ela faz de si mesma. Isto ocorria no momento em que Ramana conjeturava sobre a morte e tinha a percepção de que não era o corpo, experimentando fisicamente, por for ça de Saturno, todas essas sensações. Transitava ainda pela casa oito (casa das transmutações, da morte do ego), Netuno e Plutão, em conjunção, em Gêmeos. Plutão indica as transformações, e Netuno indica a in tuição pura, a entrega de si mesmo ao dever espiritual. Plutão colaborava para que aquilo que estava oculto viesse à tona. Ramana penetrou, assim, no âmago, na raiz do ego e removeu qualquer obstáculo que pudesse
235
tolher o pleno desabrochar da intuição pura. Através da intuição (Netuno) fluía a pureza do discernimento de Sri Ramana, mostrando que não há desculpas que possam justificar as mentiras do ego. Mesmo com o trânsito dos planetas considerados maléficos pela as trologia o Mestre reais Ramana um exemplo que não ortodoxa, existem obstáculos que épossam impedirdea entrega ao dever supremo. Casa Um - Cúspide em Libra (ascendente), revela uma personalidade moldada por senso de justiça, pon deração, equilíbrio. Escorpião e Vênus completam essa casa. Escorpião, como complemento da personalidade, modela-a dando um sentido de mistério e profundidade. Vênus com queaos a virtude da amabilidade e da har monia faz se reflitam olhos dos outros. O aspecto de trígono que Vênus recebe da Lua denota que o mundo segue seus ensina mento s com afe ição . Casa Sete - É a casa das associações. Cúspide em Áries, Marte em Touro. O corpo dos desejos está loca lizado na casa da sociedade, significando que a vontade é dirigida para outras pessoas e não para si próprio. A proximidade de eNetuno (em recebido conjunção) espiritualidade, o trígono do traz Sol,intuição por essae conjunção, expressa a vontade pura do íntimo. O trígono com Urano favorece o aparecimento da virtude da neutralidade. Casa Dois - Casa da relação com o mundo. Vênus próxima à cúspide da casa dois possibilita expressar-se de forma sutil (trígono da Lua) no trabalho relacionado com o público.eMercúrio na casa dois possibilita escri tos, impressos comunicação. O trígono com Saturno facilita a comunicação com tudo o que é regido por Saturno: organização, método, estruturas, silêncio. Oposições recebidas por Vênus ativam a vontade de se libertar e o desapego total, mas sem aversão às coisas da manifestação.
236
Casa Oito - Transmutação, morte do ego. Qualquer planeta nesta casa vai indicar a maneira pela qual a pessoa transmuta as suas deficiências. Plutão localiza do na casa oito, casa que tem os mesmos princípios que ele, indica enorme força de vontade. A oposição de Vênuscusto. motiva a pessoaSri a resolver assuntos a em quales quer Bhagavan Ramanaseus emp'enhou-se magar o ego profano. Casa Três - Casa da comunicação. Sol na casa três, em quadratura com Saturno, demonstra o fato de não gostar de falar de si próprio. Ess$ quadratura normal mente traz algum bloqueio na área da comunicação, do relacionamento e, no entanto, Sri Ramana aproveitou esse considerado conflitante, e trouxe a Upa-de desa,aspecto, o ensinamento espiritual silencioso. Trígono Urano indica impessoalidade no falar. O trígono com Marte favorece a energia e as ações direcionadas para cumprir os propósitos espirituais. O grande trígono formado pelo Sol, Marte e Urano indica muita energia e facilidade para lidar com problemas relativos ao ele mento terra, elemento de sustentação» O grande trígo no da terra representa persistência e eficiência na re solução dos problemas geral,com maiso particularmente nos assuntos práticos. Aempessoa elemento terra sobressaindo em seu mapa é harmonizada com as for mas que os sentidos e a mente prática consideram co mo reais. Nunca precisará que alguém lhe diga como prover suas necessidades básicas e como persistir até alcançar suas metas. A força desse grande trígono, in dependente do elemento de localização, demonstra força de propósito, determinação, energia de ação e maleabilidade para atingir seuspelo objetivos. Existee ainda outro grande trígono formado Sol, Urano Netuno. As crenças, a religiosidade, estão ligadas em torno do próprio íntimo (Sol). Urano favorece o ensinamento "Eu não sou isto". Esse planeta combina com a própria expressão e a centralização em si mesmo harmoniosa mente com a expressão alheia, lnduz a rènovar a au-
237
to-expressão e tr az inve ntividade de forma harmôni ca. O trígono de Netuno favorece as crenças, a devo ção, a intuição, que estão combinadas com a auto-expressão. Os trígonos recebidos pelo Sol e por Marte in dicam a ação harmoniosa consigo mesmo, sem atrito. Casa Nove - Filosofia de vida, autolibertação, ob jetivos. A possibilidade de uma pessoa com a cúspide da casa nove em Gêmeos buscar um caminho espiritual que utiliza o discernimento é muito forte. O comple mento dessa casa é Câncer e, no mapa astral do Mes tre Ramana, a Lua está em Câncer. O sentir, ou o de sapego das emoções, é muito importante e faz parte da filosofia de vida da pessoa com essas características na casa nove. Casa Quatro - Cúspide em Capricórnio. O mundo íntimo de Bhagavan Sri Ramana era o silêncio, mas para uma pessoa comum, seria um mundo íntimo analí tico, estruturado de forma rígida. Cada Dez - É a casa da concretização dos objeti vos, da realização dos dharmas. O regente da casa dez está situado bem junto à cúspide, embora ao lado da casa nove. Ainda assim favorece a concretização dos objetivos, dando muita sensibilidade para executá-los. No caso, o regente é a Lua, que facilita a compreensão e a transformação da própria mente e a dos outros, desvendando facilmente o aparato psíquico. Os aspec tos de trígono vindos de Vênus e Júpiter dão harmonia e compreensão. Casa Cinco - Casa da expressão de amor, da grati ficação pessoal.daNessa casa está em Júpiter, o planeta conhecimento, benevolência, trígono com a do auto-imagem (Lua). A oposição de Urano, que rege a cúspide da casa cinco, mostra que a universalidade, representada por Aquário é a expressão de amor su premo.
239
Casa Onze - Fraternidade, ligação com a humani dade, conceito de espaço, capacidade de autodomínio ö adaptação compreensiva a um ambiente. A cúspide err» Leão significa na área do pleno discernimento, brilho como o Sol. É a força divina passando para a sociedade escolhida (no caso de Sri Ramana, a humanidade) a es sência do signo de Leão (autoconscientização). Urano é sempre instabilidade, renovação, revelação, e, na casa onze, traz um sentido de libertação da mente opresso ra, pois a idéia "eu sou a mente" é neutralizada. O trígono do Sol revela que o centro da manifestação espi ritual representado no mapa (Sol), traz a harmonização com a natureza universal. A oposição de Júpiter indi ca, nas pessoas comuns, a incapacidade de julgamentos neutros, devido à localização de Urano na casa onze. Para um Mestre, isso determina experiência para jul gar, sem deixar que os conhecimentos prévios de expe riência com outras pessoas interferiram no julgamento. A quadratura de Mercúrio indica que o discernimento é feito com neutralidade, vendo cada caso como uma si tuação particular. Casa Seis - Trabalho, relação com o quotidiano. Peixes nessa casa dá estabilidade no dia-a-dia, no re lacionamento com todos os seres manifestados. Indica também sensibilidade e espiritualidade em todos os as pectos. Saturno nessa casa torna a pessoa exigente consigo mesma no que se refere à autoconscientização. Casa Doze - No signo de Virgem mostra que as provas da vida são aceitas de maneira prática, como se fossem inevitáveis. Vive a sabedoria espiritual, possui muita pureza de sentimentos e compaixão pela huma nidade. O trabalho e a espiritualidade são desenvolvi dos paralelamente. Cada pessoa, no momento em que se manifesta pa ra o mundo físico, simbolicamente recebe o registro do caminho que poderá seguir na vida. Esse caminho é re-
\
240
presentado pelas estrelas e planetas, que exercem maior ou menor influência de cada uma das virtudes divinas que devem ser desenvolvidas, e permitem à pessoa viver de acordo com o conhecimento supremo, se sua vontade de se desapegar for maior que a de de sejar, se a vontade de ser for maior que a de não ser.
241
XIII Meditação Iniciática O Ashram recebia diariamente um grande número de visitantes, todos interessados em conhecer o Sat Guru Bhagavan Sri Ramana. Porém, apenas conhecer o Mestre, ou ler seus ensinamentos, não traz a autocons cientização. É preciso vivenciar em si próprio os ensi namentos, e isso depende da dedicação de cada um. O método indicado por Sri Ramana é a prática da meditação. Ela se constitui num treinamento para que sintamos profundamente e cada vez mais nossa verda deira essência. Bhagavan Sri Ramana recomendava que meditássemos direito do peito, ao qual diariamente, ele chamou sentindo o centro odalado caverna-coração, onde se reflete a eterna consciência do cosmo. O centro da caverna-coração é o lugar de onde surge to da a procura da Luz. A Luz da consciência flui dele para o cérebro e depois para o corpo inteiro. PERGUNTA: Como você pode dizer que o coração fica à direita, quando os biólogos o localizam à es querda? RAMANA: Eles têm razão. O coração físico é à es querda. Mas o coração do qual falo não é o físico, e ele se localiza no lado direito do peito. Aqueles que são conscientes da verdade de ser têm experiência direta
242
desse fato e não precisam que ninguém lhes confirme. N3 parei de repetir que o centro do coração é no lado direito, apesar das afirmações contrárias de pessoas eruditas que baseiam seus conceitos na fisiologia do ego denso. A estável e firme permanência na essência o
divina chama estado natural de meditação, no qual a mente, secorpo e sentidos estão completamente absorvi dos. O universo inteiro está resumido no corpo, e o corpo todo, no centro da caverna-coração. Logo, o centro do coração é a súmula de todo o universo. O centro da caverna-coração, no microcosmo, é a esfera do Sol no macrocosmo, e a mente no cérebro é como o orbe da Lua. Inconsciente do centro da caverna-coração, o homem percebe apenas a mente, assim como ele se apercebendo vê luz na Lua, àdonoite, próprio quando centroo da Solcaverna-coração, está ausente. Não como a verdadeira fonte de luz, a pessoa ignorante das leis divinas vê os objetos com a mente, como sendo se paradas entre si, e é enganada. Quem permanece sem pre identificado com o centro da caverna-coração vê a luz da mente submergida na luz desse centro justa mente como a luz do Sol durante o dia. Os sábios ex plicam que a mente é o indicador do conhecimento e que o centro da caverna-coração é o próprio conheci mento indicado. O Supremo não é senão o centro da caverna-coração. O sentido de diferença entre o sujei to e o objeto está apenas na mente. P. O que é melhor: a concentração ou a meditação? R. A meditação. A concentração não é má, porém é perigosa. É uma faca de dois gumes. Ela pode trazer poderes mentais. A pessoa envolve-se com o caminho psíquico e poderá perder-se, embora estivesse com boas intenções a respeito da espiritualidade. Ela pode rá experimentar algum poder psíquico através da con centração e achar que isso é muito bom. Tentará ex perimentar outro e achará ótimo. Assim ela se afasta rá do caminho direto da autoconscientização. Quando
243
se medita não há esse problema, porque não há con centração. Pelo contrário, é possível eliminar tudo o que está errado e intensificar as virtudes divinas. A meditação dá o poder de concentração, mas não con centração de poderes. Dá o poder de conhecermos a nos mesmos e, conhecendo a nós mesmos, conhecere mos o efeitos divino.colaterais A práticamuito da concentração pode causar-nos negativos, perigosos. P. O que é a meditação? R. A meditação é o estado natural do Ser Supremo. P. Por que é difícil deter o pensamento durante a meditação? R. Parece difícil eliminar os pensamentos, mas no estado de plena consciência espiritual torna-se mais difícil permitir o surgimento de qualquer pensamento. A força do hábito leva a crer que é difícil parar de pensar. Quando esse erro for percebido, ninguém será tão tolo para continuar fazendo esforços inúteis para pensar. P. Como se deve meditar? R. Afaste todos os pensamentos. A verdadeira me ditação é estar no Ser. Chamamos igualmente medita ção ao ato de eliminar os pensamentos cada vez que eles se apresentam. Meditação é o nosso estado natu ral. Permaneça, então, como você é. Esse é o objetivo supremo. P. Mas pensamentos surgem. Devemos eliminá-los? R. Sim. Com a prática da meditação constante, os pensamentos são eliminados automaticamente. P. Compreendo isso intelectualmente apenas. O in telecto é um auxílio à autoconscientização?
244
Sri Maha Krishna Swant
R. Sim, até certo ponto. Mesmo assim deve-se per ceber que o Ser transcende o intelecto. O Ser Supremo existe sempre. Ele não é um novo conhecimento a ser adquirido. O que é novo, o que não é eterno, é apenas evanescente, como um vapor. Na verdade, a meditação é estar no estado natural de ser. Quando os pensamen tos invadem a mente, devem ser eliminados. Ao medi tar, a inconsciência desaparece e surge a consciência suprema. P. Quem se pode considerar capacitado para a prá tica da m editaçã o iniciática? R. Aquele que percebe os males causados pelo ego denso, pela mente pensante e pelos sentidos, que sente aversão pelos objetos externos, que compreende que a natureza do corpo é perecível, está em condições de praticar a meditação iniciática e conscientizar-se da Verdade Absoluta. P. Muitas pessoas meditam, mas não mostram si nais de progresso. O que o Mestre diz a esse respeito? R. Como você sabe que elas não progridem? O pro gresso espiritual não é discernido com facilidade. P. O controle da respiração é recomendável para auxiliar as práticas espirituais? R. O prana e a mente provêm da mesma fonte. Vo cê pode chegar a essa fonte seja controlando a respi ração, seja descobrindo o que é a mente. Se você não puder seguir o segundo método, não há dúvida de que o primeiro lhe será em útil.observar O controle respiração consis te simplesmente seusdamovimentos. Se vo cê observar as idas e vindas de seus pensamentos, eles se dissiparão e você descobrirá a paz, que é sua verda deira natureza. Os pensamentos causam perturbações naquele que se deixa dominar por eles. Quando essas
246
perturbações cessam, a mente desaparece, e o Ser Su premo continua como ele eternamente é. O controle da respiração é útil para quem não con segue chegar diretamente ao controle mental. Ele é uma espécie de freio, como num veículo. Mas não se deve irficar apenas com o controle pre ciso além e desenvolver todasda asrespiração. virtudes Édivinas necessárias à autoconscientização. Quando a medita ção estiver plenamente estabelecida, a mente pensante será eliminada com facilidade, mesmo sem o auxílio do controle da respiração. P. Quando estou preocupado, ou sofrendo por algo, não consigo continuar com a meditação. R. Busque a companhia dos sábios, a devoção e o controle da respiração. P. O que acontecerá então? R. Suas preocupações desaparecerão. Sua natureza fundamental já é a felicidade. Ela não é uma nova aquisição. Tudo o que é preciso fazer é livrar-se do so frimento desapegando-se das perturbações provocadas pelo turbilhão de pensamentos. P. A companhia dos sábios contribui para a firmeza no caminho. Mas é preciso recorrer a um método espi ritual. Qual método adotar? R. É preciso dedicar-se com firmeza à prática da meditação e da devoção iniciáticas. força deespiritual? vontade éEla indispensável se tri lharP.o Acaminho deveria, empara princípio, assegurar o sucesso e eliminar todo o fracasso. Eu me esforço para reafirmar minha vontade. E, no entanto, após muitos anos de esforços, encontro-me no ponto de
247
partida. Não fiz nenhum progresso. Que meios devo usar para progredir nesse caminho? R. A idéia que você faz de força de vontade é, no fundo, sinônimo de sucesso assegurado. A força de vontade deveria ser compreendida como algo que per mite enfrentar tão bem o sucesso como o fracasso, com a mais perfeita serenidade. Ela não é sinônimo de sabedoria. Por que você quer que todos os esforços se jam coroados de êxito? A idéia de sucesso desenvolve a arrogância, e o progresso espiritual do homem é ime diatamente bloqueado. Com o fracasso a pessoa pode descobrir seus limites e preparar-se, assim, para en tregar-se à vontade divina. P. Quando me esforço para dirigir minha vida em direção à Verdade, acontecem freqüentemente quedas e insucessos. Que devo fazer? R. No final tudo ficará bem. O impulso constante de sua vontade o recolocará em pé após aquilo que vo cê considera queda ou insucesso. Os obstáculos serão todos superados, um a um, O progresso aparecerá e cada coisa será colocada no devido lugar. O que é ne cessário fazer é persistir nas práticas espirituais indi cadas. P. Não constato nenhum progresso espiritual, ape sar de meus esforços. R. Pode-se falar de progresso quando se trata de obter novas. espiritual, Mas, nessee não caso,detrata-se se li vrar dacoisas ignorância adquirirdeconhe cimentos. P. Quando meditamos, como sabemos se a medita ção está sendo boa ou má? R. Não há meditação má. Todas são boas desde que
248
a prática seja feita com firmeza e determinação. É muito difícil discernir se estamos progredindo ou não. Se a meditação for feita com sinceridade, o seu fruto será bom. P. Qual é a natureza da realidade? R. Existência sem começo nem fim, existência em todos os lugares e existência subjacente a todas as formas. O múltiplo se modifica e se desintegra, en quanto que o uno perdura sempre. As percepções sensoriais são como uma miragem sobre a realidade. São o resultado da ilusão. A realidade é simplesmente a per da do ego. A idéia de que "eu sou o corpo" é o fio no qual estãoaoenfiados os pensamentos, comodocontas. Portanto, mergulhar fundo no ladotaldireito peito, o homem entra em atitude silenciosa, os pensamentos desaparecem e a consciência absoluta surge. É a voz do silêncio, a voz da intuição pura, que fala em nós mesmos. O que existe mais para conhecer, quando o próprio Ser é sentido? Este é o verdadeiro sentir da eterna consciência do cosmo. E este sentir esmagará o ego profano, a fim de que os longos ciclos de sofri mentose terminem, e o de homem possa sere liberto apa rente terrível ciclo nascimentos mortes.doEsta senda é muito fácil, não há outra mais direta, mais se gura. Portanto, fique tranqüilo e conserve silenciosa atitude com a língua, mente e corpo. E o Ser, que é auto-refulgente, surgirá. Esta é a experiência suprema. O medo cessará e você permanecerá no oceano sem li mite da perfeita e eterna felicidade. Aquele que está decidido eliminar completamente o sofrimento provocado pelo acorpo, mente e sentidos e viver a plenitude divina dedica-se firmemente à tarefa da meditação e devoção iniciáticas, sem perder um momento em divagações, em esquecimentos e em opi niões mundanas. Une-se conscientemente ao Ser Su premo, que é sua verdadeira identidade, e procura en
250
trar para sempre no silêncio que traz a sabedoria uni versal. Unindo-se ao Ser Ilimitado, supera as limita ções das formas e torna-se eternamente consciente da Verdade Absoluta. P. oAssentido várias deimpurezas obscureceme oa desejo mente, como limitação,que a ignorância constituem grande obstáculo à meditação. Como dominá-las? R. Não se deixe influenciar por elas. P. Os obstáculos à meditação são poderosos e per sistentes. R. Se você reconhecer a existência do Ser Supremo e se entregar a ele, como esses obstáculos poderão incomodá-lo? Se você insistir em afirmar que os obstá culos existem e são poderosos, será preciso procurar qual é a fonte de seu poder a fim de que eles não exer çam mais nenhuma influência sobre você. P. A interiorização deveria dar-me o poder de livrar-me da ignorância espiritual. R. Toda prática espiritual é, em si, um poder. Quando todos os pensamentos forem eliminados, o es tado natural de meditação terá sido conscientizado, e a ignorância espiritual terá desaparecido. P. Qual é a melhor prática espiritual? é tudo. R. ADirija conscientização firmemente sua do estado atençãonatural para ele. de ser. Isso P. Apesar de ter tentado a prática da meditação, parece que se intensificou meu sentido do eu indivi dual, o que torna minha meditação mais difícil, lsso e uma fase passageira, sem importância, ou, pelo con
251
trário, um sinal de que devo, no futuro, buscar locais especiais? R. Tudo isso é completamente imaginário. É preci so acabar com esses fantasmas e deixar de considerar que determinados locais facilitam ou prejudicam seu desenvolvimento espiritual. O ambiente em que você se encontra não provém de sua escolha. Ele lhe é im posto por circunstâncias. Eleve-se acima dele. Não se deixe influenciar por nada. Você conseguirá praticar a meditação através do desapego dos pensamentos. P. Sou incapaz de prosseguir sozinho nesse cami nho. Preciso de algo que me ajude. R. Sim, é o que se chama a força do Mestre. Ele deixa para o discípulo o cuidado de empreender os es forços necessários para, por si só, descobrir que não há ignorância. Algumas pessoas obtêm a conscientização ouvindo apenas uma vez a respeito da Verdade Supre ma. Outras, porém, demoram mais tempo para obter esse conhecimento. Há quem pergunte como a igno rância pôde surgir. Mas ela nunca nasceu, não tem existência real. Só os principiantes se preocupam com isso. P. Então por que não me conscientizo da Verdade? R. Procure saber quem não se conscientiza e do que não se conscientiza. Você perceberá que a ignorância não existe. P. Como devemos meditar, se as condições são desconfortáveis, como a postura sentada de pernas cruzadas, as picadas de insetos? R. Esses desconfortos não o incomodarão mais se sua meditação se tornar efetiva. Esqueça o desconfor to. Mantenha-se com firmeza em estado de meditação.
252
A conscientização do Ser deve existir no meio das vicissitudes da vida. Enfrente o que lhe aborrece e man tenha firmemente o curso de sua meditação. P. Como me portar para meditar corretamente? Não consigo acalmar-me. R. A paz é nossa real natureza. Você não precisa atingi-la, porque ela está sempre presente em você. É necessário apenas eliminar os pensamentos através das técnicas da meditação e devoção iniciáticas. Esse é o único método que lhe permitirá viver em paz. P. O voto de silêncio é de alguma ajuda para se meditar? R. Um voto não é mais que um pensamento. De que adianta ficar de boca fechada se a mente continua a falar? Por outro lado, para que falar, quando se está absorto em profunda meditação? P. Qual é a diferença entre a meditação e a distra ção? R. Quando os pensamentos prevalecem, é o estado de distração; quando eles desaparecem, é o estado de meditação. Entretanto, a meditação é apenas um mé todo de autoconhecimento. P. Como conciliar trabalho e meditação? R. Somos o Ser. Não somos a mente nem os pensa mentos. É a mente que levanta todas essas questões. Trabalhe sempre na presença do Ser. O trabalho não é um obstáculo à autoconscientização. É a identificação com o autor do trabalho que o perturba. Desfaça-se dessa falsa identificação. P. Quando saímos do estado de meditação e retor namos à consciência corporal...
253
R. Consciência corporal? Antes de ir adiante, diga primeiro o que é ela. O que é você fora da consciência suprema? A consciência suprema existe sempre, e não há nada além dela. P. Suponhamos que num dia eu medite duas horas; se no dia seguinte tento aumentar o tempo de minha meditação, durmo, devido ao tédio e ao cansaço. R. Entretanto, quando você dorme não se cansa. É a mesma pessoa aqui presente. Por que você estaria cansado agora? Não é você, é a mente que se cansa, porque ela é invadida por uma multidão de pensamen tos, de emoções, e fica vagando em todas as direções. P. Quando medito, acabo por adormecer. Como posso resolver isso? R. Você deve cantar o nome do Ser Supremo. P. Mas não posso, enquanto durmo. R. A busca de si mesmo só pode ser feita quando você não estiver dormindo. Se dormir, deve retomá-la ao acordar. Quem está adormecido não se preocupa com a autoconscientização. É o "eu" no estado de vigí lia que deseja conscientizar-se e é por isso que deve fazê-lo nesse estado. P. Durante a meditação, a manifestação desapare ce e a felicidade perfeita se faz sentir. Mas ela não dura muito tempo. Como tornar essa felicidade per manente? R. A meditação constante, que é nosso estado na tural, é favorecida quando permanecemos tranqüilos, livres de tensões físicas, mentais ou emocionais. P. A bem-aventurança é o resultado da prática de
Srt Maha Krishna Swamino Brasil
255
uma disciplina espiritual. Em que consiste essa disci plina? R. Ela consiste em procurar "quem" tem essas dú vidas. P. É meu ego. R. De onde ele vem? P. Eu não sei. Tenho necessidade de um guia para mostrar-me o caminho. R. Medite sentindo profundamente o lado direito do peito. Essa é sua tarefa suprema. Siga as instruções que recebeu em sua Upadesa. P. Sou incapaz de encontrar a fonte de meu ego agindo dessa maneira. Não consigo avançar. R. Por que você quer encontrar a fonte do seu ego? Você nada tem a ver com ele. Deixe de lado seu senti mento de incapacidade, e o ego profano desaparecerá juntamente com sua fonte. P. A conscientização do Ser Supremo depende da idade da pessoa? R. Você já ouviu alguém dizer: "Devo ser, antes de tal idade"? Todos nós somos o Ser. Declarações de que existam limites para a conscientização espiritual, como a idade, dispersam as pessoas, porque as leva a crer que não podem conscientizar-se do Ser Supremo agora e devem esperar uma outra encarnação. Tudo isso é absurdo. P. Quando medito, sinto uma paz que me leva ao estado contemplativo. Qual deve ser a etapa seguinte? R. Não existem etapas na divina conscientização.
256
P. Qual é a natureza do estado de meditação? Co mo podemos chegar a ele? R. Quando aquele que faz essas perguntas desapa recer, o estado natural de meditação se produzirá imediatamente. P. Minha conscientização do Ser será útil aos ou tros? R. Certamente. É a melhor maneira de ajudar o próximo. P. É possível seguir o caminho da autoconscienti zação enquanto estamos numa vida de trabalho? R. Não existe conflito entre trabalho e sabedoria. Pelo contrário, o trabalho que nos absorve prepara o caminho para o autoconhecimento. P. Há um momento do dia especialmente favorável para a prática da meditação? R. A meditação implica transcender as tendências mentais.seEssa disciplina qualquer deve ser tarefa incessante, quando está realizando diária. mesmo P. Se a pessoa está absorvida no trabalho, resta-lhe pouco tempo para as práticas da meditação. R. Somente os que estão iniciando sua jornada es piritual necessitam de uma hora especial para a medi tação. Porém, depois a meditação se tornará um esta do natural e sempre se encontrará tempo para essa prática. rio?
P. Como conciliar a meditação com o trabalho diá
257
R. Descubra quem é o trabalhador. Lembre-se de que você é o Ser Supremo, e não a mente pensante. Ela é que faz essas perguntas. O trabalho não impede a conscientização do divino. É possível estar ocupado no trabalho, permanecer livre do desejo e manter a reclu são. O trabalho praticado com apego é uma algema; tação. Ele porém, se praticado não é umacom obstrução desapegoà conscientização auxilia a autoliberes piritual. Para um homem que seja consciente da Verdade Suprema, o Ser é a realidade. As ações são apenas fe nômenos. Elas não afetam o Ser. Mesmo quando o ho mem age, ele não tem nenhuma sensação de ser o agente. Suas ações são totalmente involuntárias, e ele permanece como delas,o sem nenhum obje tivo. Alguém quetestemunha está trilhando caminho espiritual pode encontrar dificuldades nos primeiros momentos, mas após algum tempo surgirão os efeitos, e se verifi cará que o trabalho é um dos estados de meditação. P. A dificuldade é permanecer no estado livre de pensamentos. R. Deixe o estado livre de pensamentos de lado. Não o conceba como pertencente a você. Assim como quando você anda os seus passos são involuntários, também o estado livre de pensamentos não é afetado por suas açôes. P. Não posso imaginar que alguém possa existir sem pensamentos. R. Muitos, quando ouvem falar da necessidade de transcender a mente, ou mesmo aniquilá-la, imaginam que isso os transformará em pessoas obtusas, incapazes de resolver os problemas quotidianos. Porém, volto a afirmar que a mente é boa serva, porém péssima se nhora.
258
SRI MAHA KRISHNA SWAMI
P. A reclusão facilita a prática da meditação? R. O que você entende por reclusão? P. Manter-se afastado das outras pessoas. R. É possível que alguém se encontre no meio mun dano e ainda mantenhaOutra a serenidade da mente; talnuma pes soa está em reclusão. poderá permanecer floresta e ainda ser incapaz de eliminar a mente pen sante. Não se pode dizer que esteja em reclusão. Uma pessoa apegada a desejos, onde quer que ela se encon tre, eles sempre a acompanharão. Não aconselho ninguém a isolar-se numa floresta, montanha, caverna ou coisa parecida com a idéia de que isso facilitará o para processo de aniquilar a mente pensante. Quando fui Arunachala, permaneci vá rios anos em profunda meditação numa de suas caver nas, mas quero deixar claro que essa minha atitude não foi intencional. P. Durante a meditação tive uma visão da sagrada Trimurti (Brahman, Víshnu e Shiva). Visões só duram momentaneamente. Quero saber como elas poderão tornar-se permanentes e contínuas. R. Uma visão nunca pode ser eterna, mas a sagrada Trimurti é eterna. A visão pelo olho significa a exis tência dos olhos que vêem; do intelecto, por trás da visão; do vidente, por trás do intelecto; e finalmente da consciência subjacente ao vidente. A visão implica o vidente. O vidente não pode negar a existência do Ser. Não há nenhum instante em que o Ser, como cons ciência, deixa de existir; nem pode o vidente existir separado da consciência. A consciência é o eterno e único Ser. Portanto, mergulhe profundamente no lado direito do peito e não espere ter visões, seja de que espécie for, pois qual a diferença entre os objetos que você vê e a visão que você teve da sagrada Trimurti?
260
P. Como efetivarei isso o mais rápido possível? R. Esse é o obstáculo à autoc ons cie ntiz açã o. Inda gue a quem surgem as perguntas, mergulhe profunda mente no lado direito do peito e permaneça consciente do Ser Supremo. No estado de ignorância a pessoa vê o universo em formas diversas. Mas se ela sentir o Ser, estará consciente da unidade entre todos os seres do universo. De fato, sua individualidade e os outros seres desaparecem, embora persistam em todas suas formas. A maioria das pessoas vê somente os objetos manifes tados, e não a força que os manifesta. Considere o ho mem que só vê o pano, e não o algodão de que este é feito; ou o homem que vê as imagens em movimento sobre a tela do cinema, e não a própria tela como fun do; ou ainda o homem que vê as letras que lê, mas não o papel sobre o qual estão impressas. P. Se não sou uma visão para mim mesmo, então como posso dizer que a sagrada Trimurti não é vista? R. Essas perguntas vêm porque você limitou o Ser ao corpo, e assim surgiram idéias de interior e exte rior, de sujeito e objeto. Visões não têm nenhum valor. Mesmo que fossem eternas, não poderiam satisfazer a pessoa. Não se pode ver o divino e ainda reter a indivi dualidade. O visto e o vidente se unem no Ser. Não há nenhum conhecedor, nem conhecimento, nem o conhe cido. Se você diz que vê objetos, ou se você diz que não conhece o Ser Supremo, então há dois "Seres": um, o conhecedor, e o outro, o objeto a ser conhecido. Nin guém admite que há em si próprio dois "Seres". As trin dad es surgem quand o se é incons cien te, da unidade, assim também surgem as dualidades. Para aquele que se conscientiza da Verdade, a dualidade^ e a trindade desaparecem totalmente. Esse é um sábio. Trindades e dualidades não o iludem.
261
P. Se o Ser é a plenitude da consciência suprema, como posso, neste momento, senti-lo? R. A meditação constante lhe dará testemunho dessa verdade. P. Mas eu gostaria de receber instruções práticas, e não teóricas, e que sejam adaptadas ao meu modo de ver. R. A verdadeira disciplina não é externa, e por isso não deve ser procurada fora. Ela está em você e é eterna. A única exigência é que se tenha a atenção constantemente voltada para sua real natureza. Ne nhum esforço para a conscientização é necessário. A atitude de se se distraia manter atento por finalidade impedir que você com otem emaranhado de pensamen tos. P. A doutrina Advaita (não-dualidade) tem por ob jetivo nos tornar idênticos ao Ser Supremo? R. O que significa tornar-se? Somos o Ser Supremo. P. Como viver no estado natural de meditação? R. Concebendo a idéia de meditação em todas as ocasiões do dia, ela continua se processando de manei ra constante. Esse é o verdadeiro treino que levará au tomaticamente à conscientização do Divino Ser. A meditação não é apenas um exercício a ser praticado. Na meditação recebe-se uma carga de nova luz e bên ção. Quando se sente o sabor dos frutos dessa prática espiritual, todas deficiências viven do-se, assim, no asestado natural desaparecem, de ser. A meditação tem como objetivo eliminar a ignorância espiritual. E como a meditação é nosso estado natural de ser, todos nós temos a tendência de repudiar a ignorância. No entanto, por que o homem sofre? Porque ele confunde
262
o Ser Supremo com o ego profano e com a mente pen sante. O fato de você fazer perguntas sobre o Ser Su premo, sem perceber que você é o próprio Ser, prova que sua meditação ainda não está estabelecida e que suas faculdades sensoriais ainda predominam. Com a insistência nas práticas espirituais permanecerá apenas o fluir natural da eterna paz. Bhagavan Sri Ramana sempre insistiu na disciplina e na persistência que se deve ter nas práticas da medi tação e da devoção. Embora nosso estado natural seja essa mesma meditação, a grande maioria das pessoas está inconsciente dele, devido às muitas obstruções que surgem no decorrer de sua existência. A remoção de tudo aquilo que encobre nossa verdadeira natureza exige de equem se propõeAtalmeditação empreendimento paciência determinação. iniciática muita não é algo novo. Ela tem como base os ensinamentos de Budha, Shankaraya, Krishna, Rama, Jesus, Bhagavan Sri Ramana e muitos outros Mestres. Aquele que se sentir atraído pelo caminho direto da autoconscientização deverá ir até o Mestre para aprender a meditar corretamente. Se tentar sozinho traçar sua ou consciente se for instruído por alguém quejornada não sejaespiritual, totalmente do divino, jamais conseguirá conscientizar-se da Verdade Supre ma. Estar em companhia de um Mestre que inicia no caminho do autoconhecimento é a única forma de se vencer a ilusão do ego profano e da mente pensante e viver consciente da essência divina. Somente o Mestre pode ensinar o caminho de acor do com a condição de aprendizagem espiritual de cada um. Porém, aqueles que estiverem incapacitados de chegar até o Mestre poderão praticar a meditação em suas próprias casas, seguindo algumas instruções bási cas.
263
Primeiramente deve-se ter um pedaço de pano re tangular, o qual deve ser dobrado e guardado após a prática da meditação. Senta-se nele com as pernas cruzadas, a espinha ereta, a cabeça erguida, os ombros relaxados, os olhos fechados suave e completamente. Acalma-se a mente, aíastando-a do mundo exterior e tornando-a suprema. preciso eque se acalme submissa também oà vontade corpo físico, os Ésentidos as emoções. A partir desse momento, deve-se procurar sentir, sem esforço, mas de maneira profunda e natu ral, o lado direito do peito, porque é nessa região que a essência divina se reflete. Pode-se repetir silenciosa mente o mantra SHIVA SHIVO HAM, ou qualquer outro nome sagrado como, por exemplo, o de um Mestre com quem mais a pessoa se identifica. Sentindo o lado direito do peito e repetindo silen ciosamente o sagrado som, a mente deixa de vagar. Essa prática neutraliza toda a desarmonia que provém da mente pensante. Quando em meditação, não se de vem tomar atitudes vagas, indefinidas, deixando que a mente se descontrole ou se torne negativa. É impor tante que sejam evitados todos os pensamentos, sejam eles bons ou maus. Quaisquer imagens mentais, pensa mentos ou respostas verbais não são importantes du rante a prática da meditação, pois o Ser Supremo transcende não apenas a mente, mas também as pala vras. Essa prática não provocará ainda a autoconscientização, mas tornará a mente calma, pura e submissa, até que chegue a hora de a pessoa receber diretamente do Mestre a sagrada iniciação, a qual levará à plena conscientização da Verdade Suprema. Bhagavan Sri Ramana ensinava a técnica da devo ção param bhakti que, juntamente com a meditação iniciática, conduz à con scien tizaçã o espiritual. Quan do se pratica a devoção e a meditação, orientadas pelo Mestre, consegue-se a harmonia, o amor universal, a sabedoria suprema, a sintonização com todas as forças
264
Sri Maha Krishna Swami
do universo. Dessa forma nunca se esquece da identifi cação com a verdade de ser, livrando-se, assim, dos laços que prendem aos valores terrestres. Para se devocionar corretamente é necessário que se aprenda a sentir os mantras, os quaisa são sonspensa grados que têm a finalidade de eliminar mente sante e desenvolver no homem o amor universal. O mantra deve sair do mais íntimo do coração espiritual. É preciso viver o mantra, repeti-lo a cada respiração. Essa prática é necessária para que todos os pensamen tos sejam eliminados. Com a dedicação persistente às práticas devocionais, o som sagrado torna-se intenor, ou seja, ele acontece automaticamente, sem exigir o menor esforço. Cada mantra está ligado a uma força, e só é possí vel recebê-la quando se for iniciado nessa prática es piritual por um Mestre. O mantra abre o coração à consciência suprema e possibilita o pleno discernimen to entre o que é falso e o que é verdadeiro. *Sua eficá cia, porém, só pode ser sentida através da experiência pessoal. O mantra transforma completamente a exis tência cada um e preenche-a de amorpaciência, eterno, feli cidade de perfeita, harmonia, simplicidade, se renidade. Através da devoção pode-se viver todo o bem e permanecer no estado natural de ser. Bhagavan Sri Ramana exemplificou, em toda a sua existência, como é possível viver consciente do Ser Supremo, e como esse estado é tão simples, justamente por ser natural. Seu método de ensinamento era igual mente simples e natural, do artificialismo daqueles que fazem uso dedespojado muitas palavras, de racio cínios tortuosos, que só servem para confundir cada vez mais aquele que procura a Verdade. A plena sabe doria que estava presente em todos os atos e palavras de Sri Ramana envolvia a todos numa atmosfera de profundo bem-estar, de paz, de certeza de ser possível
266
viver na felicidade perfeita. No entanto, a naturalida de com que Sri Ramana ensinava, deixava bem claro que só seria possível viver constantemente no estado natural de ser se fosse empreendida, com muita deter minação e disciplina, a prática da meditação iniciática e da devoção param bhakti.
GÔ 267
XIV Conscientização da Verdade Absoluta A expectativa dos que vinham até o Ashram em busca revelado. de conhecimentos era deé que novo lhes seria O que ocorria que algo eles de se surpreen diam muito quando Sri Ramana afirmava não haver nada para ser aprendido porque já somos o próprio co nhecimento. Como poderia, então, haver um Mestre, se não havia o que ensinar? Essa colocação, entretanto, só podia ser feita a nível das palavras, em comentários que precediam a chegada de Bhagavan Sri Ramana ao hall. Diante do Mestre, todos sentiam o quanto havia para se aprender com o ele, sentiam por que era chamado de Sat Guru, Sábio dos Sábios. Essaele percep ção não ocorria a nível mental, mas penetrava na es sência das pessoas, devido à força do Ser Supremo que irradiava constantemente de Sri Ramana. Os ensinamentos do Mestre Ramana não podem ser rotulados de filosofia, pois não configuram especula ções sobre a natureza do Ser Absoluto. As técnicas por ele reveladas levam à conscientização da Verdade Su prema. Isso só é possível pela poderosa graça de Bha gavan Sri Ramana. "A submissão é tudo", dizia ele. "Aniquile o ego profano e a mente pensante através da prática da meditação e da devoção."
268
Bhagavan Sri Ramana era a própria sabedoria, o conhecimento supremo manifestado em forma humana. As reuniões de que participávamos, após o jantar, com Sri Ramana, eram sempre voltadas para o esclareci mento da Verdade de Ser, de que não há nada para ser alcançado. Porém, no hall, quando as pessoas eram atendidas, pude observar que aquela certeza não exis tia nelas. eram Buscavam conhecer alguma coisa, pudesse e suas perguntas no sentido de que o Mestre acrescentar-lhes o conhecimento supremo. Ramana dissipava essa falsa idéia e esclarecia que tudo o que se tem a fazer é eliminar a ignorância espiritual. Era freqüente os visitantes fazerem relatos de histórias que simbolizavam uma "queda" do homem, relatos de como ele havia perdido o conhecimento supremo. Essas histórias, esses simbolismos todos, Ramana atribuía ao domínio da da ignorância. Nãoserháa como acrescentar o co nhecimento verdade de alguém. PERGUNTA: Como surgiu a ignorância? RAMANA: A ignorância nunca surgiu. Ela não pos sui nenhuma existência real. P. Qual é a causa da ilusão? R. Para quem há a ilusão? Tem de existir alguém para ser iludido. A ilusão é ignorância. O ignorante vê de acordo com a sua ignorância, a qual consiste em se confundir o Ser Supremo com o ego profano. P. Se o ego é uma ilusão, então quem se liberta dessa ilusão? R. Quando o homem libertar-se da ignorância espi ritual, permanecerá apenas o Ser Supremo, que é sua real essência. P. Como eliminar a sensação de ignorância?
269
R. A ignorância tem que ser de alguém que não está consciente da Verdade Suprema. A consciência é ple nitude de conhecimento. Ela é eterna e presente. A ig norância não é natural nem real. Somente o que é eterno deve ser buscado. Tudo o que é preciso fazer é remover a ignorância. Livre-se dela e tudo estará bem. Conscientize-se Supremo e a ignorância desa parecerá. Quem do se Ser entregar à prática da meditação constante obterá o conhecimento supremo no momento adequado. P. Como alcançarei o Ser? R. Não há nenhum "alcançar o Ser". Se o Ser Abso luto pudesse ser alcançado, isso significaria que ele não existe, mas que deve ser obtido em uma forma no va. O que é obtido em nova forma também será perdi do. O objetivo de minha presença na Terra é ajudar os homens a removerem a ignorância espiritual. Essa ig norância deve ser eliminada através da prática da me ditação e da devoção. É à mente que afirma ser igno rante. O despertar do ego e da mente é a única causa de todosde os problemas. Se o homem de viver estado natural meditação, conscientizar-se-á sua em essên cia divina. Nada mais há para se procurar. Como as tendências mentais são um empecilho à autoconscientização, torna-se necessário transcendê-las. Isso lem bra a história de dez pessoas que, após uma viagem, contaram para conferir se todas estavam lá e so en contravam nove. Desesperaram-se e choravam a perda de um companheiro. Alguém, vendo o que ocorria, apontou a falha: cada um não contava a si próprio. A moral dessa história é que o décimo elemento sempre esteve lá. É a ignorância espiritual que não permite ao homem perceber que ele próprio é o Ser Supremo e, portanto, eternamente presente. P. Tudo consiste em conscientizar-se do Ser?
270
R. A conscientização do Ser Supremo parece ser adquirida, porém ele é natural e sempre presente, pois jamais deixou de existir. Por exemplo: uma mulher co locou um colar no pescoço, esqueceu-se disso e se pôs a procurar a jóia. Ficou triste por havê-la perdido. Po rém ela não recuperou seu colar, pelo fato de jamais havê-lo perdido. O objetivo da prática espiritual é a supressão da ignorância e a conscientização da verdade de ser. P. A graça do Mestre é indispensável para eliminar a ignorância? R. Certamente. Mas ela já está presente, pois ela é o Ser. Essa graça não é algo a ser adquirido. O que é necessário, é perceber sua existência. Por exemplo, o Sol é todo luz. Nele não há escuridão. No entanto, as pessoas falam da escuridão que desaparece ao nascer do Sol. Assim também, a ignorância é um fantasma sem realidade. Quando sua irrealidade é descoberta, ela desaparece. O Sol está cercado por sua luz. Entre tanto, se você deseja conhecer o Sol, deve voltar-se para ele e olhá-lo. Da mesma forma, percebemos a força do Mestre através da prática de uma disciplina espiritual, embora ela esteja sempre ao nosso alcance. P. Por que o homem vive na ignorância espiritual? R. Os homens acham que são o corpo, a mente pen sante, os sentidos. Deviam compreender que isso é o erro inicial, a partir do qual surge toda a ignorância que os escraviza. Ela é um hábito arraigado, nutrindo a mente por uma longa série de atos e pensamentos er rados, e por isso surgem numerosos apegos às coisas. A ignorância provoca o sofrimento e cessará somente quando o Ser Supremo for conscientizado. Isso é cha mado pelos Mestres de experiência direta. A ignorân cia tem que ser removida para que se possa viver a sa
272
bedoria suprema, a felicidade perfeita. Qualquer outro caminho não passa de tratamento paliativo que, a longo prazo, pode até fazer mal, porque traz consigo o risco de intensificar ainda mais a ignorância espiritual em quem o segue. P. Se sou eterno e perfeito, por que sou ignorante? R. Para quem há essa ignorância? O Ser lhe conta que ele está encoberto por um véu? É o homem que diz que há algo como um véu cobrindo o Ser Supremo. Descubra para quem há essa ignorância. O Ser não se queixa disso. Ele não faz perguntas. Você é o Ser eter no e presente. Pela meditação e devoção se destrói a sensação de ignorância e se vive na perfeição espiri tual. P. Por que há imperfeição na perfeição? Isto é, como o Absoluto se tornou relativo? R. A mente pensante é quem levanta essas questões e sente essa dúvida. Ela é criadora das idéias dualistas, das imperfeições que os homens imaginam existir. Eles não percebem a verdade de ser porque acreditam na ilusão da mente e do ego, que são como nuvens que aparentemente encobrem o Sol. Essas nuvens devem ser dissipadas pelo discernimento entre o real e o ir real. Assim, a perfeição espiritual será percebida, já que ela está além do corpo físico, da mente e dos sen tidos. P. Existem tantas teorias a respeito da espirituali dade e isso, no meu modo de ver, traz conflitos. O que o Mestre diz a esse respeito? R. Esqueça o seu modo de ver. O conflito entre os ensinamentos é apenas aparente, podendo ser solucio nado pela auto-entrega. O desacordo entre credos nun ca pôde ser eliminado por discussões de seus méritos,
273
porque a discussão é um processo mental. Os credos são mentais. Eles existem apenas nas limitações da mente pensante, mas a Verdade está além da mente. A Verdade não está nos credos. Qual é a utilidade de se afirmar ou negar que existe o Ser Supremo, se ele tem no forma da ignorância. ou não? Todos esses conflitos pertencem ao rei P. Há uma orientação espiritual mais eficaz que a outra? R. Todas as orientações são igualmente eficazes. Cada um segue com mais facilidade tal ou qual gênero de disciplina espiritual, aquele que mais lhe convém, de acordo com suas tendências pessoais. P. Que caminho devo seguir para a autoconscientização? R. Escolha um e siga as instruções sinceramente. As diferenças entre os diversos caminhos são percebi das somente nos objetos exteriores. Se você seguir as instruções corretamente, as diferenças desaparecerão juntamente com o ego. P. O seu ensinamento é diferente do de outros Mestres? R. O caminho é um, e a conscientização somente uma. P. Mas as pessoas falam de tantos métodos. R. Segundo o próprio estado de mentalidade de ca da uma delas. P. O ensinamento de Sri Ramana é o mesmo que o de Shankaraya?
274
R. O ensinamento de Sri Ramana é a expressão de sua própria experiência e de sua autoconscientização. São as pessoas que acham que ele corresponde ao de Shankaraya. P. De que natureza é a conscientização daqueles que dizem ter tido relampejos de consciência cósmica? R. Você fala de uma consciência que apareceu e desapareceu igualmente num instante. O que tem um começo deve ter um fim. Somente quando o Ser Supre mo, que está sempre presente, for conscientizado, será sentido permanentemente. P. Você poderia aconselhar-me sobre a melhor ma neira de medoexercitar para permanecer continuamente consciente Ser Supremo? R. A consciência permanece em sua natureza es sencial. Como você quer tornar-se alguma coisa que você já é? P. Entendo toda sua explicação a respeito do Ser Supremo, mas não a pratico em mim. Não tenho o sen timento de unidade na diversidade. R. É por estar na diversidade que você diz que compreende a unidade, que tem relampejos de cons ciência, que se recorda de uma coisa ou outra. Como você acredita que essa diversidade seja real, deve ob servar pela perspectiva inversa. A unidade é a única realidade, e a diversidade é falsa. Para que a unidade possa revelar sua realidade, é preciso que a diversidade seja destruída. unidade é sua sempre real. Ela relampejos paraAmanifestar existência no não meioenvia da diversidade ilusória. Ao contrário, é a diversidade que tenta interceptar a luz da Verdade. P. Como a conscientização espiritual é possível?
275
R. A associação do Ser com o corpo é uma idéia que deve ser destruída se se quiser obter a autoconscientização. O ego se assemelha à lagarta que não dei xa um galho antes de ter apanhado um outro. Sua ver dadeira natureza só poderá ser descoberta quando ele for privado de contato com um objeto ou um pensa mento. Aprenda a discernir corretamente através dos sagrados ensinamentos e da orientação dada pelos Grandes Mestres. P. Qual é o método para a conscientização do Ser Supremo? R. A meditação iniciática e a devoção param bhakti orientadas pelo Mestre. Os sentidos ajudam no caminho da conscientiza ção P. espiritual? R. Não. Eles preferem exteriorizar-se e analisar espetáculos da manifestação. Quanto mais vazão se der aos sentido s mais difícil s e tor na co ns cie ntiz ar-s e do Ser. P. O caminho da autoconscientização parece difí cil. Porém as coisas do mundo são fáceis de ser com preendidas. R. O Ser Supremo está mais próximo de você do que todas as outras coisas. Se você não consegue conscientizar-se da presença daquilo que é você mesmo, como pretende conscientizar-se facilmente daquilo que está longe? A mente procura sempre o saber exterior e imediato. É natural que seja assim, caso contrário ela deixaria de ser profana. P. É fácil para você falar assim. Como a Verdade nunca lhe escapa, você considera que a conscientiza ção é fácil para todos, mas as pessoas comuns sentem grandes dificuldades.
^BShiva - a força da transformação
R. Há alguém, então, que acha que não é o Ser? P. Quero dizer que não há outra pessoa, senão você, que tenha coragem de explicar as coisas tão franca mente. são?R. Que coragem há em dizer as coisas como elas P. No estado de conscientização há conhecimento? R. Sim. Porém esse conhecimento não é algo ad quirido pela mente pensante, mas o fluir constante da intuição pura. P. O que a sabedoria? Ela é o pensamento "eu sou Brahman" ou é"tudo isso é Brahman"? Ou a sabedoria é diferente de todos esses pensamentos? R. Todos esses pensamentos são, sem dúvida, meros conceitos mentais. São totalmente desprovidos da Ver dade. Os sábios afirmam1que permanecer no Ser Su premo é viver com sabedoria. Se ficocorreto? pensando: "Eu sou a realidade", estarei numP.caminho R. Todo pensamento é incompatível com a cons cientização. A atitude correta consiste em aniquilar todo pensamento a respeito do que somos. O pensa mento é uma coisa e a conscientização é outra bem diferente. A conscientização do Ser está seguramente ao alcance da experiência direta de cada um, mas não çomo se imagina. é simplesmente como é. Essa ex periência é o estadoElenatural de meditação. P. Podemos obter a conscientização instantanea mente?
278
R. A conscientização não é nada de novo. Ela é eternamente presente. Cada um de nós deve conscientizar-se do estado natural que nos é próprio. A igno rância consiste em se viver desatento do estado natu ral de ser. E essa desatenção é a própria morte. P. O que pode auxiliar na conscientização espiri tual? Banhos de ervas ou em lugares sagrados, orações, oferendas ritualísticas, cantos dos "Vedas", adoração a Deus, canto de louvores, peregrinações, sacrifícios, esmolas, cumprimento de promessas e jejuns são de al guma validade no caminho do autoconhecimento ou são essas práticas apenas perda de tempo? R. Todas essas atividades podem ajudar, mas não provocam a autoconscientização. possibilidade de o homem tornar-se consciente Adoúnica Ser Supremo é ele praticar com sinceridade a meditação e a devoção iniciáticas, orientado pelo Mestre. P. Qual a prova da existência do Ser Absoluto? R. Os ensinamentos das escrituras sagradas e o exemplo daqueles que já se conscientizaram da Verda de Suprema. P. A autoconscientização ajuda os outros? R. Sim, certamente. A melhor maneira de ajudar mos o semelhante é nos tornarmos conscientes da Ver dade Absoluta. P. Como fazer para a consciência divina descer; do alto? piz: R. Você age como sendo separado dela. Krishna "Eu sou, na expansão do Ser"; nos "Upanishads" existe a afirmação de que o Sol também está no homem; Jé^us Cristo diz: "O Reino dos Céus está em vós". Assim, ^o-
279
dos os Grandes Mestres concordam que somos a cons ciência suprema. O que há então para fazer descer? De onde? P. Quando estou aqui, a mente se acalma, aquie ta-se. Mas quando estou longe, ela volta a transmi tir-me insegurança. R. Na presença de um sábio, os pensamentos ces sam, a mente se acalma e o estado natural de ser é sentido. Porém, para permanecer consciente da essên cia divina é preciso praticar constantemente a medi tação e a devoção. O medo de perder o estado natural de ser enquanto executamos nossa tarefa diária é um sinal de ignorância. Todas as pessoas deveriam viver de acordo com esse estado em todas as suas atividades. P. De um ponto de vista puramente relativo, o sono não está mais próximo da consciência pura que o esta do de vigília? R. Sim, mas no sentido de que, quando passamos do sono para a vigília, os pensamentos surgem, e as fun ções corporais retomam suas atividades. É a presença desses fatores reunidos que nos faz dizer que acorda mos. E é sua ausência que caracteriza o sono. Por esse ângulo podemos seguramente afirmar que o sono está mais próximo da consciência pura que a vigília. Mas isso não é uma razão para desejar permanecer sempre adormecido. Primeiramente porque é impossível, pois o sono deve alternar-se com a vigília. Em segundo lugar, porque o sono não é o estado de felicidade no qual vive o sábio. P. Quanto tempo é necessário para a autoconscientização? R. Por que você quer saber isso?
281
äaSefc
P. Para me dar esperança. R. Mesmo esse desejo é um obstáculo. O Ser está sempre presente. Não existe nada além dele. Conscientize-se do Ser e os desejos e as dúvidas desapare cerão. P. Você é Bhagavan. Então, você sabe quando eu obterei a conscientização. Diga-me quando isso acon tecerá. R. Se eu sou Bhagavan, não há para mim ninguém que não seja o Ser e, por conseqüência, ninguém que esteja inconsciente, à procura do Ser. Se eu não sou Bhagavan, comoemvocê e não mais que você. Tanto num estou caso como outro, não sei posso responder. P. Se entendi bem, o Ser está além do ego. Mas mi nha compreensão é apenas teórica e não o resultado de minha experiência. Que devo fazer para obter a expe riência prática da conscientização do Ser? R. A conscientização não é um estado a se adquirir. Ela já existe. Tudo c que é necessário fazer, é livrar-se do pensamento "não sou consciente" através da medi tação profunda. P. Um homem consciente do Ser é ainda capaz, ou susceptível, de cometer erros? R. Um homem ignorante considera que um outro seja sábio, iluminado, e o identifica a um corpo físico. Essa falsa identificação é devida ao fato de que o ig norante desconhece o Ser e o confunde com seu próprio corpo. Ele comete o mesmo erro em relação ao sábio e confunde a sabedoria deste com a aparência física. Como o ignorante se imagina o autor de seus atos e considera suas atividades físicas como sendo realmente suas, ele crê igualmente que o sábio age quando o cor-
283
po dele age. Mas o sábio conhece a Verdade e não é ví tima dessa confusão. Antes de conscientizar-se do di vino, as ações de um homem refletem as expressões do ego profano, da mente pensante. Consciente do divino, suas ações são uma manifestação da Luz Eterna. A ex pressãoage da para ignorância não apode tornar-seespiritual sabedoria.dasO sábio eliminar ignorância pessoas, enquanto que o ignorante trabalha para multi plicar a ignorância delas. O trabalho de conscientiza ção espiritual deve ser feito por cada um, levando em consideração apenas os sagrados ensinamentos, não se preocupando com a opinião das outras pessoas e man tendo o equilíbrio total diante de todas as circunstân cias da vida. Quem mantém o equilíbrio é dono de si mesmo. "Aquele que no nãomomento se alegra de no momentoSrideKrishna alegria,disse: não se preocupa miséria e não tem cólera, nem medo, nem apegos, é um sábio".
Shanti Prem Hare Om
LEIA DO MESMO AUTOR Verdade Suprema - Maha Yoga
Os ensinamentos contidos nesse livro são a reve lação da Verdade Absoluta. são Mestres encontrados os ensinamentos iniciáticos dos Nele Grandes como Bhagavan Sri Ramana, Krishna, Jesus Cristo, Budha, para que o homem possa libertar-se da escravidão do ego profano e conscientizar-se do Supremo Ser Uni versal. Se r
Esse livro revela a unidade dos ensinamentos de todos caminho: os Grandes Mestres, que sempre um único a conscientização do Ser.indicaram Estão sendo revelados também os ensinamentos iniciáticos do Sublime Mestre Jesus. Tudo aquilo que foi omitido pe los líderes religiosos poderá agora ser conhecido por todos. Os Ensinamentos de Sutra Maha Devi (Emancipação)
Nessapré-concebidas obra são desmistificados os falsos valores, as idéias sobre espiritualidade, e é apontado o caminho que conduz à verdadeira emanci pação, que provém do perfeito conhecimento de si mesmo. O Consolador
"O Consolador" traz uma proposta de conquista da felicidade perfeita, através da desomissão da Ver dade, dissoluçãoforam dos mistérios comNos que momentos os ensina mentosdaespirituais encobertos. apocalípticos por que passamos, o Consolador tem a palavra certa. Ele ensina que não há fim de tempos que possa desesperar quem está consciente de sua própria essência, pois tem a real dimensão dos valores, discer nindo o que é eterno do que é ilusório.
Maha Yoga - A Verdade Universal
Nessa edição especial, o Mestre codifica os sa grados ensinamentos da Maha Yoga para que o homem moderno possa conhecê-la facilmente, de acordo com sua preparação psicológica, intelectual, moral e espi ritual. A Maha Yoga não é mostrada como um paliativo para os problemas da vida, mas como algo que vai à raiz do mal e remove suas causas. A Mensagem do Bem-aventurado (Maha Gita Purusham)
Nessa obra estão os abençoados ensinamentos de autoconscientização que são dirigidos a cada signo em particular, apontando aquilo que se faz necessário exaltar logia, simplesmente, ou corrigir. Nãomas se trata sim de dauma sublime obra de mensagem astro que cada Constelação dirige à essência daqueles que estão sob sua influência. O Homem de Aquário
O Homem de Aquário já está presente e traz a mensagem para a Era da Justiça, que agora se inicia. Seus ensinamentos são apresentados de maneira ao mesmo tempo incisiva e doce, com auniversal. firmeza inabalá vel da Verdade e a sutileza do amor Sua voz se faz ouvir, inquestionável, anunciando um novo tem po, onde a verdade de ser é o maior valor. Está deli neado o perfil do Homem de Aquário, o Consolador Prometido, que estava sendo aguardado há muito tem po, pois sua missão está marcada nas estrelas desde os primórdi os da civilização . pelo 60233 reembolso I0V I £ 1 1 X4 PO SII L Adquira Caixa Postal 05096 - São Paulo - SP C. P. 4 5 4 tel.: (011) 262-2683 70359-970 B asHia-DF em Brasília Fone: (061) <67 2203 Caixa Postal 07454 F a x :(061)3
6
7
J73-2.72
EFXRMK
Impresso nas oficinas d a EDITORA PARMA LTDA. Telefone: (011)912-7822 Av. Antonio Bardella, 280 Guarulhos - São Paulo - Brasil Com fi lmes fornecidos p elo ed itor
Bhagavan Sri Ramana foi o Mestre que revelou de forma clara e definitiva a mais pura essência de ser. Seus ensinamentos, simples e incontestáveis, mostram a sabe doria milenar dos Mestres do Oriente. Estarmos com o sábio Bhagavan Sri Ramana é estar mos no Ser. Com sua orientação, podemos perceber aquilo que somos. Essa é a grande força do caminho direto que esse grande Avatar trouxe. Mostrou tudo o que somos e o que não somos. Em nenhum outro caminho pode-se notar tão clara e coer en tem ent e o que se é e o que não se é. Seus ensinamentos estão sendo apresentados, de ma neira inédita, por Sri Maha Krishna Swami, que viveu em Arunachala, ao lado do Mestre, e aprendeu dele todas as técnicas do autocon hecimento. O dia-a-dia do Ashram é mostrado com toda a força que emanava do Mestre, a mesma força que, por sua or dem, está agora no Brasil. Por que no Brasil? Bhagavan Sri Ramana assim indi cou, e assim está sendo cumprido.