Daniel Rodrigues Ely Satie Ito Miyazaki Izabel Penteado Dias da Silva
Mandalas
Campinas 2010 5
Daniel Rodrigues Ely Satie Ito Miyazaki Izabel Penteado Dias da Silva
Mandalas
Trabalho apresentado para o Curso de Formação em Psicologia Transpessoal Aplicada, como parte dos requisitos para a conclusão do curso, sob a orientação de Leyde Christina Righetti Rino Resende.
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Figura 1 - Roda do Tempo (interpretação da mandala ao final do trabalho)
“…uma mandala pode alterar as vibrações daquilo que suas emanações atingem. E isso é uma realidade. Quando fazemos contato visual com uma mandala nossa energia se altera…” (Fioravante,C) 7
Resumo Este estudo teve como objetivo verificar a literatura a respeito de Mandalas e fazer associações ao uso com fins transpessoais. O tema foi selecionado pelo fato de observarmos a utilização de mandalas em diferentes culturas e em diferentes períodos históricos, e por percebermos que estes desenhos sagrados podem ser utilizados como instrumento de auxílio na expansão da consciência, sendo mais uma ferramenta útil em nossa jornada espiritual. Neste trabalho iremos apresentar uma breve abordagem histórica da sua utilização, o significado das formas , cores, suas diversas aplicações e uso (meditação, cura, etc) e também o seu uso em diferentes religiões. A pesquisa tem um caráter de pesquisa bibliográfica, e também com conteúdo de imagens. A partir da leitura de livros e artigos de diferentes fontes, esta pesquisa visou estabelecer relações entre as mandalas e a transpessoalidade, salientando a importância do ser humano em buscar cada vez mais conhecimentos que o ajudem a transcender o ego e viver a plenitude do Ser. Palavras-chave: Mandalas, desenhos sagrados, transpessoal, meditação, cura, espiritualidade.
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Sumário 1 – Introdução...................................................................................................... página 05 1.1 – O poder das imagens 1.2 – Mandala: significado
2 – Conceitos através do tempo ......................................................................... página 07
3 – Estruturas das mandalas ............................................................................. página 09 3.1 – Geometria e formas 3.2 – Cores
4 – O simbolismo ligando tempos e culturas ................................................... página 13 4.1 – Budismo e Hinduísmo 4.2 – As Mandalas e a arte Shingon 4.3 – A Mandala no mundo indígena
5 – Aplicações práticas das mandalas ............................................................. página 17 5.1 – Cura 5.2 – Meditação
6 – Atividade proposta: vivência com mandalas ............................................. página 21
7 – Considerações finais ..................................................................................... página 23
8 – Bibliografia .................................................................................................... página 24
9 – Anexos ............................................................................................................ página 26
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1 – Introdução
Para a realização deste TCC do Curso de Formação em Psicologia Transpessoal Aplicada, foi escolhido um tema presente em diversas regiões do mundo e utilizado em diferentes períodos históricos. As mandalas são formas utilizadas há muito tempo, principalmente no oriente, e agora estão mais populares no ocidente. Hoje em dia existe uma popularização destes desenhos sagrados, tornando-se desde elementos decorativos atraentes, com propriedades relaxantes, até curativas. Entretanto, o uso de mandalas - desde seu princípio - vem sempre acompanhado da noção do sagrado, e tem em todas as culturas uma mística forte associada a eventos positivos e nobres, de elevação espiritual, sendo assim muito utilizadas nos meios religiosos. Este projeto procura fazer uma abordagem geral sobre as mandalas, assim como procura identificar o seu uso como ferramenta transpessoal na busca da própria transcendência.
1.1 – O poder das imagens Podemos perceber que todos os seres, formas e objetos contêm e emanam energias, pois somos sistemas abertos em constante movimento, troca com o ambiente e com as pessoas. E se percebemos que um ou outro está desenergizado é porque alguma coisa emana dele que nos forneceu esta informação. A emanação parece ser um campo de informação que estaria em torno do objeto observado, que estimula nossa consciência, nos informa e provoca alguma reação. Existe, tanto naquilo que observamos, como em nós mesmos, um tom vibratório. A imagem tem o poder de cativar e reanimar. Os psicólogos, artistas, arquitetos, fotógrafos, cineastas e publicitários sabem que as imagens dizem. Eles entendem a linguagem das formas, das cores e da iluminação, pois possuem uma inteligência sensitiva apurada. Às vezes, por exemplo, um quadro na parede pode dar vida a uma sala e outro pode emanar uma energia pesada, tanto que, se retirado, alivia o ambiente. As imagens contam e provocam reações. Lembranças que temos de bons e maus momentos nos vêm à memória sob a forma de imagens e provocam reações físicas e psíquicas. Essas imagens estão além da linguagem e da mente racional, elas trazem sabedoria do conhecimento universal e um maior entendimento da consciência humana.
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1.2 – Mandala: significado A palavra mandala vem do Sânscrito - língua cultural clássica indiana - e significa “círculo”. Mesmo que uma mandala esteja determinada exteriormente por quadrados ou triângulos, ela sempre tem uma estrutura concêntrica. Analisando uma mandala podemos dizer que o centro do círculo é equivalente à Deus, à origem, ao metafísico, ao mistério, o centro que está por trás de toda natureza visível. Nosso mundo está em um círculo. A representação de um círculo marca o início da cultura humana, estruturas circulares aparecem nas construções mais antigas já encontradas. Uma das mandalas mais antigas é o disco do sol, o círculo do sol – símbolo de força e movimento. O círculo é o símbolo da perfeição, da eternidade, da unidade, da completude; logo, as mandalas simbolizam o centro, o equilíbrio, a harmonia, a inteireza. A mandala é o símbolo que representa a individualidade, o centro simboliza o útero da criação, que é a quietude, a calmaria. A mandala cresce para fora, a partir da calmaria, tornando-se um símbolo da harmonia inata, da perfeição do Ser, e um diagrama dos estados místicos internos. Carl Gustav Jung considerou a mandala um arquétipo, um padrão associado à representação mitológica do eu e afirmava que “as mandadas simbolizam um refúgio seguro da reconciliação interior e da totalidade”. (Jung, 1973; p.100). Elas são figuras místicas utilizadas, entre outras coisas, como ferramenta meditativa para o caminho da iluminação. As imagens visuais têm um forte impacto para o ser humano, podendo “criar uma ambiência interna, na psique, e externa, no ambiente, sendo parte integrante no nosso estilo de vida material, emocional e espiritual” (LAZZAROTTO, p.70), e influem diretamente na nossa escala de valores e na nossa visão do mundo. As mandalas podem, então, auxiliar no equilíbrio energético, tanto pessoal quanto de ambientes.
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2 – Conceitos através dos tempos
Ao longo da pesquisa notamos que os autores não sabem dizer ao certo a origem das mandalas, qual foi a primeira mandala feita, visto que desde cedo a humanidade se expressa em formas circulares. Para comprovar essa afirmação, encontram-se vários vestígios em antigos detalhes rupestres na África, Europa e América do Norte. Em razão do volume dessa manifestação, somos capazes de deduzir a sua importância, porém não conseguimos definir ao certo qual foi a primeira mandala criada. De acordo com Dahlke (1991, p. 36) É difícil dizer algo sobre a história da mandala, porque história pressupõe tempo; a mandala, porém, existe em essência – como a sua configuração ainda nos ensinará – além do tempo e do espaço. (...) A mandala não se deixa ordenar no tempo; aliás, nem sequer é possível observá-la, pois sempre tende a nos atrair para o seu centro, e neste ponto central, o tempo e o espaço cessam de existir
A vida dos antigos seres humanos também explica a importância do uso dessa forma, já que o contato do ser humano com a natureza era maior e, por isso, a influência do Sol (forma circular por excelência) era reverenciada em diversos rituais. O astro era considerado fundamental para as atividades de sobrevivência da raça humana, entre elas destacam-se as principais: a caça e a colheita. Da mesma forma, a Lua também era reverenciada pelos homens como sendo o símbolo natural do poder de influenciar a vida humana. Antigas mandalas lavradas em vários lugares do mundo revelam a importância que esses dois corpos celestes exerciam na vida dos terrestres. O círculo tem influenciado também os rituais humanos tentando por meio deles canalizar a experiência do sagrado. Algumas tribos indígenas iniciam seus rituais religiosos estabelecendo um círculo divino. Danças e cânticos feitos em círculos são realizados utilizando formas circulares. Para os povos que percebem no círculo o reflexo da essência divina, criá-lo significa um ato sagrado por meio do qual eles tentam se harmonizar com as forças divinas do universo, imaginando que o resultado dessa ação seja a virtude. Como vimos em Losacco, o Homem estudado em muitos momentos da história da humanidade, faz uso de mandalas, como forma de expressar-se, além da oportunidade de reencontro com sua natureza essencial, com o sagrado, com o divino, com a numerosidade, pois além da necessidade de viver, sente a importância do uso do simbólico em suas manifestações para consigo mesmo, com os outros e com o universo onde está inserido. 12
A lei do mundo é o movimento, a lei do centro é a quietude. Viver no mundo é movimento, atividade, dança. Nossa vida é um dançar constante ao redor do centro, um incessante circundar o Uno invisível ao qual nós – tal como o círculo – devemos nossa existência. Viemos do ponto central – ainda que não o possamos perceber – e temos saudades dele. O círculo não pode esquecer sua origem – também sentimos saudades do paraíso. Fazemos tudo o que fazemos porque estamos à procura do centro, do nosso centro, do centro. (DETHLEFSEN, 1984 apud LOSACCO)
Com a necessidade que o Homem tem de religar-se, de voltar ao centro, de estar em contato com o núcleo, com o divino, faz uso do círculo, pois este, em sua cosmobiologia representa a expansão do centro – para a periferia e da periferia – superfície – para o centro, em movimentos contínuos e ininterruptos, favorecendo os ciclos de evolução do ser; lembrando o movimento de oscilação espiralar. Mandala é a representação icônica dos princípios base da geometria sagrada, tese segundo a qual a geometria é a forma ordenada da criação. Todas as grandes civilizações antigas utilizavam a geometria na edificação de templos e manifestações de crenças. A título de exemplo, a estrutura das cidades incas foi concebida a partir do quadrado e circulo como elementos de disposição. Para o famoso psicanalista Jung, as mandalas simbolizam um refúgio seguro de reconciliação com a unidade, um encontro indispensável no processo de evolução pessoal e de experiência espiritual. Essa visão junguiana é a que nos interessa como prática a fim de experimentar o equilíbrio da unidade, uma vez que nossa sociedade tem manifestado comportamentos desequilibrados, fruto das atitudes extremas, da polarização em que vivemos. Nos rituais mágicos não pode faltar o círculo protetor. Nos rituais de cura e iniciações os participantes arranjam-se em círculos ou são colocados dentro deles. As crianças aprendem a brincar de roda e seus primeiros desenhos são tentativas de imitar um círculo. Essa é a disposição do universo e da natureza, que não criam linhas retas; estas, são um produto puramente humano. Usando um pouco de sensibilidade percebermos que temos no círculo algo de sagrado, de místico e de essência incognoscível. A mandala é passado, presente e futuro. Dos povos primitivos ao homem contemporâneo, a disposição circular sempre foi largamente utilizada em suas construções e agrupamentos. A modernidade trouxe linhas retas e duras em seus edifícios, no design de automóveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e outros objetos. Mas, ao modo do fluxo e refluxo do mar, está retornando às suaves e harmoniosas formas curvas
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3 – Estruturas das mandalas
O poder de uma mandala está relacionado ao seu padrão de formas, cores e estrutura numérica. Estes elementos têm uma simbologia que se baseia na numerologia, na cromoterapia, assim como no conhecimento que o ser humano já tem em relação à visão e como as formas são percebidas por nossa mente e retina. Cada elemento é responsável por parte das vibrações que uma mandala é capaz de emanar na sua totalidade. Assim como nas artes visuais, o poder das mandalas está exatamente naquilo que não podemos alcançar com palavras. Quando fazemos uma mandala pode-se dizer que ela é a expressão de nosso subconsciente, que por sua vez também não tem uma explicação definitiva, ou seja, ainda tem muito a ser explorado. A composição das formas e das cores em uma mandala é muito importante, assim como sua forma circular e organizada em torno de um centro. Elas fascinam pela magia de seus movimentos. São símbolos que exprimem as riquezas incontáveis do subconsciente humano. Nosso cérebro responde de maneira muito particular às imagens, que têm um poder intenso, real e indiscutível. Quem já não se sentiu calmo após ver um quadro azul e com formas organizadas e quase regulares? Pode parecer estranho, mas o poder de cura da mandala, suas características terapêuticas, sua capacidade de auxiliar na concentração e na meditação e, até, alterar estados de consciência, entre outras, deve-se à sua composição, a estes elementos acima citados e ao efeito que causam em nossa mente. Pode ser constituída de múltiplas formas geométricas, com simbolismos gráficos e cores. A palavra, em si, significa “ter atingido a iluminação perfeita e insuperável”.
3.1 – Geometria e formas No interior da mandala há um ponto central, que representa a essência da mandala. Os outros elementos em geral parecem estar em ligação com este elemento e de certa forma dependem dele, pois se desenvolvem a partir de sua existência. Este ponto representa uma existência superior, a fonte de toda criação. A simbologia das bases numéricas das mandalas baseia-se na numerologia. A divisão do espaço interior da mandala determina os números atuantes no desenho. Uma mandala que tem divisões cuja base numérica é o três, por 14
exemplo, está ligada ao resultado de uma ação. Segundo Fioravanti (2007), esta mandala representa realizações no plano da matéria a partir de motivações espirituais; ela simboliza o filho e o ar. O três é um número de comunicação, original e criativo. São as formas geométricas da mandala que, na maior parte das vezes, criam as vibrações numéricas. As formas geométricas estão diretamente ligadas à diferentes simbologias e números, muito interessantes de se interpretar: O Círculo: Está sempre presente nas mandalas, pois é ele que cria o campo de vibração existente em todas elas. Indo mais além, dá para se dizer que ele é responsável por criar uma camada de proteção que separa o sagrado do profano, transmitindo a energia hipnotizante para nossos olhos. Além disso, uma mandala pode ser formada por inúmeros círculos. Ele é o símbolo do céu. O Triângulo: Também bastante comum nas mandalas, está relacionado ao número três e seus derivados. É um símbolo sagrado, pois representa o homem e sua busca espiritual, a concretização com Deus. É interessante que o triângulo esteja sempre com um de seus vértices para cima, apontando para o alto, mostrando a aspiração de busca espiritual. O Quadrado: Indica a vibração do número quatro, que simboliza a matéria, o mundo das ações e realizações físicas, em um plano puramente terrestre. Não há muita espiritualidade no quadrado, mas seu poder está na realização no plano material, pois tem uma boa estrutura alicerçada no O Pentágono e o Pentagrama. São vibrações do número cinco, sempre leves e renovadoras. O pentágono lembra o quinto elemento, o éter. Já o pentagrama ou estrela de cinco pontas tem uma forte ligação simbólica com a magia e alquimia, emanando vibrações de liberdade de ação e pensamento. O Hexágono e Estrela de Seis Pontas: São formas da dupla aspiração espiritual humana, pois o seis é o dobro do três, que simboliza a busca espiritual. O hexágono simboliza a busca, principalmente no ambiente familiar, com seus apegos e desapegos. A estrela de seis pontas ou Estrela de Davi representa a fé aplicada à vida material e a fé transformada numa ligação real com o divino, chamada religação.
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3.2 – Cores As cores são grandes responsáveis pelas emanações da mandala, pois a vibração de cada cor modifica a atuação da mandala no plano físico e também no plano mais sutil de suas emanações. De acordo com Fioravanti (2007, p. 13), Aliada às vibrações numéricas e geométricas, uma mandala tem as emanações das cores que estão em seu espaço. As cores nas mandalas têm uma função altamente estimulante e terapêutica. É essencial conhecer as energias emanadas pelas cores para saber como elas irão atuar numa mandala.
O estudo das cores é muito vasto, existem muitas teorias que as classificam e definem suas particularidades. Uma delas é a cromoterapia, mais usada em processos de cura, por exemplo. O mais importante é que todas as cores podem trazer benefícios e podem ser usadas em todos os ambientes havendo reserva apenas para os lugares de descanso e a predominância das cores fortes de muita energia ativa. Veremos a seguir a influência de algumas cores, os benefícios que trazem consigo e o efeito que causam quando utilizada em uma mandala: Vermelho: A cor do amor, da atração, força e vitalidade. Pode ser usada para dar energia a alguém que está diante de situações difíceis e sente-se acuado. Para aumentar a paixão entre casais e o empenho em tudo que se faz. Bom para negócios novos que precisam de agilidade e constância de criatividade (novas idéias e rápida aplicabilidade). Azul: A cor da paz, relaxamento, suavidade e paciência. Pode ser usada para pessoas que estão passando por momentos de stress, com características de inquietação, tensão ou simplesmente para acalmar o ambiente e os que estiverem ali. Bom para consultórios, clinicas de psicologia e outros negócios onde as pessoas externem problemas , pois ajuda a colocá-los de maneira mais clara e calma proporcionando uma auto-avaliação, respostas assertivas e racionais sobre as possíveis resoluções. Amarelo: A cor do pensamento, ativadora da mente e energizante. Pode ser usada para estimular o aprendizado, revigorar as energias e para nos manter alertas. Ideal para estimular os estudos e para pessoas com algum problema de memória ou falta de concentração. Bom para negócios educacionais e todo estabelecimento que lide com 16
pensamento e concentração. Estimula a conquista e por isso é usada em negócios de vendas (conquista como aquisição de algo). Verde: A cor da cura e saúde. Pode ser usada para diminuir problemas de saúde, não esquecendo que o verde tem um pouco do azul e do amarelo e trás consigo as características destas duas cores. Bom para negócios como lugares de descanso, clínicas, hospitais e consultórios. Lilás: A cor da elevação espiritual, bondade e harmonia. Pode ser usada por alguém que se sente injustiçado sem motivo real, alguém em busca de explicações sobre a existência e a religiosidade, não esquecendo que o lilás tem um pouco do azul e trás consigo as características desta cor. Bom para templos, lugares de retiro espiritual, consultórios de medicina alternativa, lugares de descanso e tratamentos de desequilíbrio mental. Laranja: A cor da energia. É a mistura do vermelho e amarelo trazendo em si as qualidades de ambas de maneira equilibrada. Boa para todos os ambientes se aplicando a todos os tipos de negócio. Branco: A cor que é a junção de todas as cores existentes na natureza. Representa a explosão de energia equilibrada funcionando como transformadora de qualquer desequilíbrio energético, muito usada para energização de pessoas com depressão e falta de coragem para começar algo. Purifica e equilibra o indivíduo e o ambiente.
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4 – O simbolismo ligando tempos e culturas
Se nos lembrarmos da universalidade do símbolo da mandala e tivermos presente que só existe uma única verdade e uma única fonte onde todas as religiões beberam, causará espanto a delimitação, exclusão e a depreciação recíproca entre as religiões, hoje tão comuns. Embora a nossa Igreja Cristã se volte com veemência contra a alquimia, chama a atenção o fato de as igrejas antigas estarem repletas de símbolos alquímicos. Se a astrologia é uma superstição diabólica, porque então há tantos símbolos astrológicos nas catedrais? Na verdade, cada segunda rosácea gótica é construída com base na “chave dos doze”, e contém a representação dos doze signos zodiacais. Será que é realmente “por acaso” que os símbolos dos quatro evangelistas – representados por toda a parte – correspondem exatamente a cruz fixa do zodíaco: leão, águia (enquanto escorpião redimido), anjo (aquário) e touro e que estes, também por acaso, simbolizam justamente os quatro elementos da antiguidade (fogo, água, ar e terra)? Suspeita-se de que os construtores e planejadores das primeiras igrejas, sobretudo as catedrais, conheciam mais que os seus atuais administradores. Estamos tentando estabelecer contato com esse antigo conhecimento e seguir a pista da unidade dentro da multiplicidade. Esse significado da palavra “universo” e a uni–versidade era originariamente o lugar onde essas leis deveriam ser reproduzidas. Lao-tsé disse: a capacidade de reconhecer a fonte do antigo conhecimento é chamada o ‘fio-vermelho” que nos conduz ao longo caminho. A união do retângulo (finito) com o círculo (infinito) corresponde a estrutura do iantras orientais (mandalas usadas na India, no Tibete e no Nepal usadas em rituais religiosos). Essa mesma união pode ser encontrada no Islã e também nos portais das catedrais. Observando a rosácea meridional de Clermont-Ferrand, vemos que ela expressa o infinito (círculo) na moldura do finito (quadrado). Na rosácea ocidental da Notre Dame de Paris, a Virgem Maria com o Menino Jesus é cercada por vinte e quatro espaços que contém em harmonia, os doze signos do zodíaco, as virtudes, os vícios e os profetas. E ainda na NotreDame de Paris, há a rosácea chamada ainda hoje de rosa dos alquimistas. Alguns dos santos cristãos carregam instrumentos que reconhecemos como alambiques alquímicos, como, por exemplo, os anciãos do Apocalipse na Catedral de Santiago de Compostela. Na igreja espanhola de San Juan de La Pena, um convento e lugar de peregrinação há um alto relevo no qual reconhecemos um atanor, o forno usado na alquimia. 18
Na catedral de Lyon, o símbolo do Taichi encontra-se no centro da rosácea, portanto, exatamente onde deveria estar segundo a filosofia taoísta. Ele está cercado pelos vinte e quatro anciãos do Apocalipse. Também na catedral de Toulouse, há uma rosácea que mostra um símbolo muito parecido com o do Taichi. Esta rosácea tem no centro duas representações da cruz dos templários. Os templários possivelmente, detinham a chave oculta para a compreensão do segmento o qual hoje ainda é enigmático, das catedrais e do seu secreto simbolismo. Até os nossos dias não se sabe como o estilo gótico pôde realizar em tão curto espaço de tempo (cerca de cem anos), tal abundância de construções. Além disso, a maioria delas se encontra em lugares que ainda hoje são pequenos e que naquela época não tinham de modo algum condições para dispor do dinheiro e dos conhecimentos necessários para a execução de tais obras. Os templários, ao contrário, possuíam naquela época, ao lado do papado, a mais poderosa organização do Ocidente. Nessa ordem o Ocidente e o Oriente inicialmente se defrontaram como inimigos, porém, mais tarde, tornaram-se dois pólos que se fecundaram mutuamente. Os templos cristãos surgiram nos antigos lugares de culto dos druidas e as antigas estradas de peregrinação, como a que leva a Santiago de Compostela ,ligaram-se aos novos conteúdos cristãos. A roda do destino, na fachada de Beauvais, representa o simbolismo típico da décima carta do tarô, onde as antigas figuras egípcias aparecem simplesmente vestidas com trajes ocidentais.
4.1 – Budismo e Hinduísmo As mandalas são utilizadas no Hinduísmo e no Budismo como um instrumento para facilitar a meditação e representam a ordem espiritual, cósmica e psíquica. O desenho da mandala, o complexo uso de padrões geométricos, de cores e a inclusão de deidades em algumas mandalas, direcionam o devoto ao espaço sagrado no centro de representação da presença divina. Na tradição hindu, isso se chama SHUNYA, vazio absoluto, e BINHU, semente cósmica. Isso simboliza a crença em que desse vazio tudo se ergue e esse é o lugar para o qual tudo vai retornar. Meditando sobre isso, o devoto pode adquirir tranqüilidade e aprender a separar as ilusões de permanência no mundo material. A mandala simboliza harmonia, equilíbrio e a jornada para a iluminação. 19
Fora do gótico encontramos também nas nossas igrejas o simbolismo que une as culturas. Pensemos na simbólica das rosáceas românicas, de estrutura simples, e na roda do renascimento do Budismo. No centro desta última, a redenção é muitas vezes representada pelo loto de mil pétalas que cresce da cabeça de Buda.
4.2 – As mandalas e a arte Shingon Os ensinamentos esotéricos (mikkyo) introduzidos no Japão no início do século IX por Kukai, não demoraram a lançar raízes, dando origem a uma série de poderosas correntes dentro do budismo Heian. Uma destas seria a escola Shingon (Palavra Verdadeira) do próprio Kukai, com base em kongobuji (Koyasan) e Kyoogokokuji (Toji), Quioto; outra das correntes esotéricas foi a que circulou dentro do budismo Tendai japonês. A doutrina esotérica garantia a possibilidade de alcançar a iluminação nesta vida sem ter que esperar o renascimento durante anos num paraíso remoto. O caminho não consistia no estudo das sutras, mas sim a compreensão dos ensinamentos secretamente transmitidos por Buda, que guardavam os segredos profundos da iluminação. Através de uma iniciação nos diagramas cósmicos (mandalas), gestos secretos (mudras) e símbolos místicos (mantras), o adepto podia alcançar o conhecimento oculto. Os dois grandes mandalas esotéricos são o do Mundo Ventre (Taizokai) e o do Mundo Diamante (Kongokai), ambos ilustrativos dos aspectos da Sabedoria e da Compaixão de Mahavairocana, o Buda primeiro, fonte dos restantes Budas e seres.
4.3 – A mandala no mundo indígena No círculo cultural dos índios, não encontraremos nem de longe, mandalas tão magníficas quanto às rosáceas. Os índios não deram as suas mandalas, nem mesmo formas permanentes, com exceção das suas moradas (as tendas típicas e os pueblos). Em compensação, conservaram vivas de maneira consciente, as mandalas, que deram origem a sua cultura ou desapareceram junto com elas. Até hoje não foi possível atrair os índios para o nosso progresso, e onde eles tentaram dar esse passo perderam o contato com suas raízes. Para podermos vivenciar as suas mandalas de areia, precisamos nos ocupar um pouco com as bases da vida indígena, o que muito nos auxiliará no caminho das mandalas. 20
Para o índio, a criação é a manifestação da harmonia, e nela ele reconhece a lei da polaridade e também a lei do quaternário: ele reconhece, exatamente como os nossos antepassados, a dependência, combinação dos quatro elementos e das quatro estações do ano, dos quatro pontos cardeais, das quatro fases da vida e das quatro raças humanas. Para o índio quando um dos quatro pólos abandona a ordem, todo o equilíbrio é perturbado. O índio trata de se manter, conscientemente, em harmonia com a natureza e de aprender com ela. Ele compreende as pequenas e grandes ocorrências do seu ambiente natural, tirando delas conclusões sobre o mundo. Ele aplica também essa concepção a si mesmo. Assim um índio conhece toda a história da vida do outro pela sua aparência exterior e pelos seus sinais. O interior é conscientemente projetado para fora. E porque deveria manter segredo se o Grande Espírito já sabe de antemão, o que se passa no coração dele? O índio vive conscientemente com os ritmos da natureza fazendo analogia com sua vida. O dia e a noite são para ele, as imagens da vida e da morte. Na alvorada, ele vivencia o nascimento e no crepúsculo, a morte. Alvorada e crepúsculo são para ele igualmente belos e queridos. O índio testemunha e venera tanto o primeiro raio de luz como a sua despedida, nascimento e morte são igualmente bem vindos. Assim, como a noite proporciona acesso a outras experiências, depois da morte ocorre algo semelhante. Cada dia dessa forma, reflete a sua vida, e cada ano, com o ritmo das suas estações é uma imagem da vida para o índio. A energia do sol, durante as quatro estações, reflete para ele exatamente a energia nas suas quatro fases da vida. Assim, ele se encontra no centro de uma mandala constituída de muitos círculos concêntricos menores e maiores, mas todos análogos e expressão de um único centro.
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5 – Aplicações práticas das Mandalas
5.1 – Cura É do pleno conhecimento de todos que a arte de um modo geral, coloca o ser humano em contato com o seu potencial criativo, desenvolvendo habilidades e levando-o a descobertas expressivas na vida. Inclusive é um dos meios terapêuticos reconhecidos pelos profissionais da área da Saúde – médicos, psicólogos e terapeutas de maneira geral, que têm compreendido, de maneira crescente, como a Arte Terapia pode acelerar e potencializar o crescimento do indivíduo e os seus processos de recuperação, sejam eles físicos, mentais ou emocionais. Através de linguagens como o desenho de formas e a pintura, a Arte Terapia possibilita estimular e fortalecer as forças criativas, melhorar a auto-estima, enfrentar bloqueios emocionais, favorecendo o auto-conhecimento e cultivando a expressão da individualidade. São estes aspectos que permitem à Arte Terapia, ser um elemento valioso quando realizado em cooperação com outros processos terapêuticos, medicamentosos ou não. A prática de desenhar e pintar mandalas, como a atividade artística em geral, é por si mesma uma prática sadia que expressa e combina percepção, sentimento e vontade, por isso leva o homem a uma expressão integral. Por esse motivo desperta poderes curativos (o curador interno), o que em outras ocupações muitas vezes não há chance para que as pessoas expressem totalmente seus potenciais. Através das cores, formas ritmos e movimentos, a pessoa reaprende a expressar seus sentimentos de maneira estruturada, possibilitando a ação direta do EU no mundo possibilitando resgatar todo potencial criativo e curativo que a arte pode oferecer. A capacidade de criar é uma virtude da alma que palpita em cada coração e que aguarda nossa permissão para despertar deste ímpeto e desabrochar desta chama, que fará de nós criadores e condutores da nossa própria vida. Qualquer pessoa pode se trabalhar com mandalas, tanto com a ajuda de um terapeuta, quanto sozinho mesmo. Se optar por trabalhar-se sozinho, a pessoa pode colorir mandalas ou desenhar mandalas pessoais, geométricas ou mistas. Também, pode meditar com uma mandala que lhe seja atraente ou que o instigue alguma coisa. É um trabalho simples, mas ao mesmo tempo profundo, pois as mandalas vão colocando, de forma sutil, no lugar certo aquilo que se encontrava fora de lugar.
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Quanto a isso Jung diz que “a mandala possui uma eficácia dupla: conservar a ordem psíquica se ela já existe; restabelecê-la, se desapareceu. Nesse último caso, exerce uma função estimulante e criadora”. Ele percebeu que seus clientes experenciavam estas imagens circulares como "movimentos em direção a um crescimento psicológico, expressando a idéia de um refúgio seguro, de reconciliação interna e inteireza". Para Jung as mandalas são vasos ou embarcações na qual nós projetamos nossa psique que retorna a nós como um caminho de restauração. Ele reconheceu que figuras arquetípicas (símbolos universais) de várias culturas podiam ser identificadas nesta expressão espontânea do inconsciente. Na área terapêutica Jung trouxe as mandalas para os consultórios. Ele pintou sua primeira mandala em 1916. Desde então costumava desenhar mandalas todas as manhãs. Seus primeiros desenhos eram somente desenhos circulares e ele não compreendia seus significados. Porém, dois anos depois observou que havia um padrão em suas mandalas e caso estivesse em conflito desenhava uma mandala alterada. Hoje em dia a mandala é usada na psicologia junguiana e transpessoal por vários terapeutas que trabalham com desenvolvimento pessoal. O poder da contemplação de imagens terapêuticas reside na hipótese de que se estabeleça uma conexão quântica, em que o contemplador e a imagem formam um só campo de energia. O contemplador olha para a imagem terapêutica estabelecendo uma troca energética. A imagem, por seu próprio conteúdo, desprende para o contemplador a luz com sua informação terapêutica. Basta deixar os olhos escolherem onde se fixar, dando margem a um contato de dimensões conscientes e inconscientes, formando, assim, uma ponte. Assim, a contemplação de imagens terapêuticas se dá com silêncio interno em a pessoa se oferece um tempo para cuidar de si própria. (LAZZAROTTO p. 65)
Acredita-se que a ordem sagrada da mandala é capaz de restaurar a harmonia provocando o restabelecimento da saúde. A mandala trabalha a pessoa nos aspectos: físico, emocional e energético. No aspecto físico promove bem-estar, relaxamento e previne o estresse. Emocionalmente, as mandalas pessoais podem trabalhar conteúdos oriundos de emoções antigas, atuais ou futuras, pois o trabalho com mandalas sinaliza eventos que aconteceram, os que estão ocorrendo e os quer estão para acontecer. Quando se desenha mandalas pessoais terapeuticamente é comum acontecer de surgirem memórias passadas que são colocadas no desenho sob forma de impressões sutis, que só será percebida por quem souber fazer a leitura do que está sendo sinalizado pelo inconsciente de quem está desenhando. A leitura dessas impressões se faz por meio do traço, da forma, das cores, dos
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símbolos, das marcas e vários outros aspectos que possam surgir quando se faz uma mandala pessoal. Desta forma, podemos perceber que as imagens podem ser fortes aliadas em processos de cura, e como uma ferramenta complementar no processo terapêutico. Sendo assim, a visualização e construção de mandalas podem auxiliar no restabelecimento da saúde, e também em um bom auxílio para a cura emocional, que refletirá positivamente no estado físico, proporcionando assim mais saúde e vigor. Os círculos são universalmente associados com meditação, cura e o sagrado que podem funcionar como chaves para os mistérios de nosso reino interior, que se usados para esta finalidade nos levam ao encontro com os mistérios de nossa alma. Trabalhar com mandalas promove relaxamento psicofísico pela postura ao desenhar, pela contemplação, e pela meditação que o próprio fazer proporciona. Ainda desenvolve centramento, atenção, concentração, percepção e a intuição. Também, é um ótimo instrumento para ativar sonhos especiais ou fazer quem não se lembra deles começar a lembrá-los. O campo de força de uma mandala modifica a energia em vários níveis. Ele estimula a mente a equilibrar as emoções e ativa os processos físicos ajudando a restabelecer sua função plena. A mandala é uma fonte de cura. (FIORAVANTE, 2007, p. 8).
5.2 – Meditação A mandala, também conhecida por círculo mágico, é um elemento muito utilizado para meditação, em rituais e em vivências para o auto- conhecimento. Toda mandala tem uma harmonia de formas que circundam um ponto central, sendo este ponto representativo da divindade, segundo a ótica oriental. Repleta de simbolismos, em praticas meditativas e de auto-conhecimento, trazem à tona aspectos do nosso Ser enquanto seres divinos. São numerosos os conceitos, formas, interpretações e toda a simbologia que envolve as mandalas. Para os orientais, como os Budistas e Hindus, o caminho a ser alcançado é sempre o da iluminação e da divindade. Desta forma, a mandala é utilizada pelos orientais como um meio para favorecer a meditação profunda, a fim de alcançar a paz interior. No Budismo (mandala) e Hinduísmo (yantra) são usadas como auxiliares na meditação, como objetos de suporte, e suas imagens são representações simbólicas de divindades e forças atuantes do Universo; o microcosmo no macrocosmo. O objetivo da 24
meditação é a unificação, sendo que o retorno ao centro representa essa unificação, o encontro com o divino. Meditar é unificar-se, é encontrar-se com a divindade interior e as mandalas são portas de acesso a esse fim. No aspecto energético a mandala ativa, energiza e irradia, aquilo a que se propõe, podendo harmonizar ambientes físicos ou pessoas que estejam carregados negativamente ou com uma aura de sofrimento e tristeza. Ainda energeticamente a mandala pode levar a pessoa a contatos com dimensões superiores e ao encontro de um caminho espiritual. Por isso a mandala foi e ainda é muito utilizada, na meditação, para o desenvolvimento e ampliação da consciência. A meditação com mandalas permite que você consiga desacelerar a mente; a visualização tem a propriedade de sintonizar você com a sua essência, fazendo um convite a introspecção, propiciando um distanciamento dos problemas imediatos induzindo ao exercício da contemplação, o que leva a uma inegável e considerável limpeza da tensão acumulada. Ainda permite, com a prática, que você pare o fluxo contínuo de pensamentos permitindo que sua mente descanse, se recupere e se organize. Meditar olhando para uma mandala pode reprogramar processos mentais, trazendo equilíbrio e solução para os problemas sobre os quais nem conseguimos ter consciência. A contemplação ajuda a canalizar determinadas energias a fim de harmonizar nosso estado físico, emocional e vibracional. A compreensão e os insights que ocorrem durante a visualização, poderão se manifestar em algum momento oportuno de sua vida. Para algumas pessoas o processo de sentar quieto por um certo período contemplando uma mandala pode ser difícil, uma briga grande com a mente racional, e para essas pessoas a meditação com mandalas também é possível, só que de uma outra maneira. A meditação ativa, na qual a pessoa está no processo de desenhar imagens em uma folha ou colorir um desenho já feito, também propicia os efeitos de calma e tranqüilidade da meditação tradicional. Ao meditar com uma mandala, a pessoa pode ser levada a encontrar o seu equilíbrio e, mais importante, manter o foco no centro sempre, manter-se centrada. A construção de mandalas propicia um melhor autoconhecimento, visto que “quando criamos uma mandala, geramos um símbolo pessoal que revela quem somos num dado momento” (J.Kellog). Colorir mandalas é também uma prática com efeitos tranqüilizadores e com alto poder meditativo, utilizada por uma variedade de povos e instituições para curar a mente e o corpo, uma forma de meditação hoje encontrada em escolas, enfermarias de hospitais e em serviços de saúde mental.
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6 – Atividade proposta: Vivência com Mandalas
Como vivência para o grupo, buscamos duas atividades que os colocassem diretamente com o impacto positivo que as mandalas causam, iniciando a prática com uma meditação ativa observando uma mandala em movimento. Após esta prática inicial, propomos a criação individual de sua própria mandala e utilize as formas, cores e símbolos de acordo com sua intuição. Através desta prática, é desperto o potencial criativo interno, sua possibilidade de manifestação, além de usufruir dos seus benefícios de relaxamento, alívio de tensões, harmonização e auto-conhecimento. Para a vivência de criação de mandalas, seguiremos as orientações de Kellog (apud LOSACCO), mas utilizaremos o material já disponível no grupo (giz de cera, ao invés de giz pastel óleo), visto que esta prática tem o propósito de mostrar que o uso destes desenhos sagrados também é uma forma de transmutação do ego. Assim, aqueles que gostarem, podem repetir o processo com outros materiais e continuarem a estimular a criatividade, vivenciando momentos de transpessoalidade.
Construindo Mandalas: O material para construir mandalas pode ser o mais variado possível, quanto mais espontânea a escolha do mesmo, melhor. O ideal é que você escolha o material que provoque uma inspiração e motivação positivas para a realização de mandalas. Se você preferir seguir as orientações de J. Kellog, o material necessário é: folhas de papel sem margem e sem pauta de tamanho A3; giz pastel óleo, com no mínimo 25 cores; 1 prato; lápis tipo grafite.
Como fazer a mandala? Escolha um lugar calmo, tranqüilo, com luminosidade adequada, onde você se sinta confortável para a construção de mandadas; e garanta que você não seja interrompido durante a construção das mesmas. Numa folha de papel (A3) você deve fazer um círculo com o prato, no centro do papel, usando o lápis tipo grafite, de modo que o círculo seja sutil, (não deve acalcar muito o lápis para o desenho do círculo).
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Escolha uma cor de giz pastel óleo, que você mais goste agora, e inicie um desenho (que pode ser abstrato ou concreto) do centro deste círculo para a periferia. Você pode ultrapassar os limites do círculo, invadindo o restante do papel. Não faz diferença alguma desenhar somente dentro do círculo ou sair do mesmo, ou só fora do mesmo. Guarde o giz na caixa, olhe para o desenho que está se formando, investigue com você qual é a sensação que esse desenho te transmite nesse momento escolha uma cor de giz pastel óleo em sua caixa que represente essa sensação que você está sentindo e dê continuidade ao desenho que está se formando. Guarde o giz na caixa, olhe para desenho e investigue qual a sensação que o mesmo está transmitindo para você; escolha uma cor que represente essa sensação, pode ser uma cor que você já usou ou outra cor qualquer e dê continuidade ao seu desenho. Quando terminar olhe para o seu desenho, e virando a folha em todas as posições, fazendo com que a parte do desenho que fez para cima, fique para baixo, para o lado, etc. e escolha qual a posição do desenho que mais chama a sua atenção no momento. Ao se decidir pela posição do desenho, no outro verso da folha, faça uma flecha com a cabeça da mesma para cima, indicando a posição que o desenho (mandala) deve ser lido, indicando a posição que tem significado para você. Coloque também neste verso, junto com a flecha, seu nome ou iniciais do mesmo, data e hora do término da construção de sua mandala, além de escolher um tema para sua mandala. Ao terminar, verifique se esta mandala que você produziu transmite uma sensação de estar completa ou incompleta. Se a sensação for de estar completa, pode guardar seu material e viver a vida. Se a sensação for de estar incompleta, pegue outra folha de mandala (A3) e inicie uma nova mandala, repetindo todo o procedimento para construir mandala (J. Kellog) até terminar a mandala, e a sensação transmitida pela mesma, for de estar completa. Lembre-se, você pode seguir essas orientações para construir mandalas, ou usar de outras técnicas. O importante é que você desfrute do ato de construir mandalas.
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Considerações finais:
A mandala pode ser utilizada de várias maneiras: para o desenvolvimento pessoal, espiritual, promover cura, harmonização de pessoas e ambientes, rituais, magia, dança, decoração, arte, arquitetura. Então, podemos dizer que a mandala serve para ativar, energizar, irradiar, concentrar, absorver, transformar, transmutar, curar e espiritualizar as pessoas que trabalham com elas, um ambiente que se quer fazer especial ou até mesmo para algo que se quer alcançar. Os junguianos, assim como os Budistas e os alquimistas, afirmam que através de inúmeras experiências de contemplação de imagens de mandadas sagradas e outras imagens simbólicas, obtêm efeitos positivos na alma e no espírito. Jung (1986) afirmava que podemos lidar com as imagens do inconsciente que vemos através dos sonhos, através da meditação sobre elas e da interpretação delas, pois isso nos auxilia a contatar o centro do ser – que ele chama de Self – onde está a fonte da saúde psíquica, que é fundamental ao processo de individuação. Ao mesmo tempo, sempre que nos aproximamos de uma mandala (micro) podemos nos perder, pois toda mandala atrai a atenção da periferia para o centro, pois sua construção favorece esse nível de observação. Por esse motivo, é importante trabalharmos primeiramente o estado de consciência que nos encontramos para podermos entrar em contato com a mandala. Um dos pressupostos da Física Quântica é que na relação “eu – objeto observado”, a forma como percebemos o “objeto observado” depende do nível de consciência do observador. Há técnicas específicas para alteração do estado de consciência, tais como meditação, respiração, hiperventilação, alguns exercícios de yoga, danças, que permitem a possibilidade de expansão da consciência, o que também interfere na forma como percebemos o objeto, pois interfere na forma como nos relacionamos com o mesmo. Desta forma, o uso das mandalas como ferramenta transpessoal é interessante em dois aspectos: o primeiro por propiciar este autoconhecimento, oferecendo a oportunidade da pessoa se perceber e se analisar; e o segundo por ser um meio de alcançar outros níveis de consciência, de transmutar o que não é mais necessário e do crescimento da alma.
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Bibliografia
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COLLCUTT, Martin, JANSEN, Marius, KUMAKURA, Isao. Grandes impérios e civilizações – Japão: o império do sol nascente. - Lisboa : Círculo de Leitores, 1992.
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FIORAVANTI, Celina. Mandalas: como usar a energia dos desenhos sagrados. São Paulo: Pensamento, 2007.
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MANDALAS. Disponível em:
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SILVEIRA, Nise da. O mundo das imagens. Disponível em:
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Anexos
Figura 1 - Roda do Tempo (Kalachakra) Kalachakra (ou Roda do Tempo em sânscrito), é o nome de uma das principais divindades do budismo Vajrayana tibetano. De acordo a tradição, os ensinamentos de Kalachakra foram transmitidos pelo Buddha Shakyamuni no século VI a.C., a pedido de Suchandra, o rei da terra pura de Shambhala. Esses ensinamentos, compilados em um texto chamado Kalachakra Tantra, teriam sido transmitidos de geração a geração, de mestre a discípulo. Os ensinamentos foram levados ao Tibet no século XI, em duas linhagens separadas (Dro e Rva), unidas posteriormente pelo monge Butön Rinchen Drup. Um de seus discípulos, Chökyi Pel, transmitiu os ensinamentos de Kalachakra ao lama Je Tsong Khapa e, eventualmente, a linhagem chegou ao sétimo Dalai Lama. Ele introduziu os ensinamentos em seu monastério pessoal, o Namgyel, e essa transmissão continua até hoje, com o Dalai Lama atual. Os ensinamentos registrados no Kalachakra Tantra são interpretados em três níveis — externo, interno e alternativo. O Kalachakra externo se refere ao mundo físico, aos elementos do universo e às leis do tempo e do espaço, lidando com a astronomia, astrologia e matemática. O Kalachakra interno corresponde aos elementos do corpo, aos agregados psicofísicos, às capacidades físicas e psíquicas, lidando com a fisiologia tântrica e com o sistema de energia do corpo humano. O Kalachakra alternativo lida com a base, o caminho e o resultado das yogas, ou meditações, que conduzem ao estado iluminado da divindade Kalachakra e de sua mandala. Deste modo, a prática do Kalachakra alternativo purifica os Kalachakras externo e interno. Todos elementos dessa mandala — o diagrama simbólico de um palácio divino, a própria roda do tempo — representam algum aspecto da divindade Kalachakra e de sua terra pura. Há 722 divindades na mandala, simbolizando os várias aspectos da consciência e da realidade que constituem a sabedoria de Kalachakra. Interpretar e entender todos estes símbolos equivale a ler e compreender toda a vasta gama de ensinamentos do Kalachakra Tantra.
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A divindade Kalachakra reside no centro da mandala. Seu palácio divino é constituído pelas nossas próprias mandalas pessoais: corpo, fala, mente, sabedoria e grande êxtase. O palácio é dividido em quatro quadrantes, cada um deles com muros, portões e centros. As cores são representações específicas dos elementos: preto ou azul, no oeste (abaixo), representa o ar; vermelho, no sul (esquerda), representa o fogo; amarelo ou laranja, no oeste (acima), representa a terra; e branco, no norte (direita), representa a água. O palácio quadrado das 722 divindades fica sobre o círculo da terra; os outros círculos, representando a água, o fogo, o ar, o espaço e a consciência, se estendem para fora dos muros do palácio. Os círculos externos representam o cosmos, e dez divindades iradas residem em um desses círculos, servindo como protetores. A mandala de Kalachakra é dedicada à paz e ao equilíbrio interior e exterior. Ao observá-la, pode-se sentir a paz em muitos níveis. Segundo o Dalai Lama, as divindades da mandala criam uma atmosfera favorável, reduzindo a tensão e a violência. "É um modo de plantar um semente, e esta semente terá seu efeito kármico. Não é necessário estar presente à cerimônia de Kalachakra para receber seus benefícios." O interessante é que após construírem a mandala de areia, os monges a destróem, para simbolizar a impermanencia...
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