Ps-Gradação em Edcação Mdlo Bsco
Teorias do Pensamento Contemporâneo Palo César Mederos
FAEL De Execuv
Marcelo Antôno Aglar
De Acadêmc
Francsco Carlos Sardo
Cdead Pedagógc
Francsco Carlos Pern Mendes
EDitorA FAEL Aua Geee Edal Pje Gáfc e Capa Pgama Vsual e Dagama
Palo César Mederos Wllam Marlos da Costa Dense Pres Pern Sandro Nemcz
AtEnção: esse texto é de responsabldade ntegral do(s) ator(es), não correspondendo, necessaramente, necessaramente, à opnão da Fael. É expressamente probda a venda, reprodção o veclação parcal o total do conteúdo desse materal, sem atorzação préva da Fael. EDitorA FAEL Av. 7 de Setembro, 6.440 (esq. com Texer Texeraa Soares) Semnro | Crtba | PR | CEP 80.240-001 FAEL Rodova Deptado Olívo Belch, Km 30 PR 427 Lapa | PR | CEP 83.750-000 Todos os dretos reservados. reserv ados. 2012
Teorias do Pensamento Contemporâneo 1. A natureza do
conhecimento humano
“O pensamento é a ação ensaando. “
Sigmund Freud ”
1.1 . Evolução e
conhecimento humano
Sabe-se qe as capacdades cogntvas dos seres hmanos segram a trlha do processo evoltvo do gênero Homo e de ses predecessores. Segndo Folador (2001), nas últmas décadas, realzaram-se avanços mportantes na paleontologa hmana e na bologa moleclar. Os dados da bologa moleclar apontam qe os prmeros homnídeos começaram a se desprender do tronco comm, qe também de orgem aos grandes símos, h 5 o 6 mlhões de anos. Poco tempo em relação aos demas seres vvos. Os sses homnídeos prmtvos mas conhecdos datam em 3,5 mlhões de anos ( Australopitecus afarensis ). Sa derença bsca em relação aos parentes símos é a posção ergda e a locomoção bípede nem tão sostcada como as do Homo erectus e Homo habilis , datados em 2,5 mlhões de anos. A mdança da postra o ndamental para a lberação das mãos, o apereçoamento cerebral e a transormação de todo o organsmo, qe oram vnclados, também, às pressões seletvas, prodto de mportantes transormações clmtcas. Por volta de 3 mlhões de anos atrs, ma nova onda de ro provoco alterações e torno o clma mas seco, acarretando na mdança de detas almentares. A escassez e o processo de seleção natral levaram nossos ancestras a se brcarem em das prtcas de sobrevvênca. O grpo de Australopitecus se especalzo em extração de raízes e sementes, e o Homo habilis , com ma deta onívora (almentação vegetarana e carnívora), alcanço o êxto evoltvo mental e ísco. A posção ergda e a locomoção bípede troxeram vantagem adaptatva, acelerando as nções de deslocamento e lberando dentvamente as mãos para a transção do símo para o homnídeo. Com a nova hab-
ldade nternalzada, as pressões sobre as artclações acas oram redzdas, dando lgar para a expansão dos rgãos da ala e do volme do cérebro. A transção do homnídeo ao homem é tema de mtos debates centícos. Os achados arqeolgcos nos permtem compreender como os homnídeos abrcavam ses nstrmentos e tensílos, como se dstrbíam espacalmente e como se adaptavam às condções ambentas em qe vvam. Esses regstros ornecem rcas normações; porém, restam lacnas sobre aqlo qe pensavam e sobre a lngagem qe tlzavam. Sabe-se qe a relação entre cérebro, mãos e meo natral represento ma aceleração na homnzação do hmano, pos mdo a hstra de sas relações socas e delas com a natreza. Assm, o pensamento hmano seg a trajetra de sa prpra hmanzação.
1.2 . O pensamento e a construção do conhecimento
O pensamento é consderado como habldade ndamental para a constrção de cênca, pos ele permte a adaptação às novas realdades, melhorando desempenho de cada ndvído e a manera como se explcam os enômenos natras e hmanos. A nvestgação centíca sobre o conhecmento hmano e a sa nteração com as dversas socedades ao longo do tempo é realzada por derentes reas especícas, como hstra, socologa, losoa da cênca e epstemologa das cêncas. Neste texto, não serão aprondadas as teoras do conhecmento, campo vasto de estdos realzados pela losoa, pela pscologa cogntva, pela ntelgênca artcal, pela antropologa, pela nerocênca e pelas demas cêncas da cognção. Este texto se propõe a ser apenas m ensao de orentação sobre as recentes abordagens relaconadas ao conhecmento hmano. Em termos geras, pode-se consderar qe “conhecer” é ma necessdade nerente aos seres hmanos e qe envolve três elementos essencas:
x O suje: aqele qe est na condção de bsca pela cognção de algo, algma cosa, o m objeto.
x O bje: aqlo qe o sjeto est objet-
memra, lngagem, racocíno e ntção ntelectal), este pode ser classcado em algns tpos, a saber:
vando conhecer, seja m ato, cosas o m enômeno. x A magem da realdade: a representação mental qe o sjeto realza sobre o objeto da cognção.
x x x x
Os vros métodos qe procram classcar o pensamento hmano destacam a capacdade de pensar a partr de anlses da capacdade mental dos sjetos em relação aos objetos qe bscam conhecer. Segndo Morn (2002), a mente hmana opera sob das grandes bases de pensar: a raconal, lgada à lgca, ao clclo e à razão; e a mítca, qe ocorre em m mbto mtolgco, do magnro, das analogas e dos símbolos. Para ele, o racocíno hmano acontece a partr da artclação desses dos tpos de pensamento, os qas não podem ser vstos separadamente, de modo qe a esera magnra – dos mtos, relgões, crenças – adqre para o ser hmano tanta mportnca qanto a esera do pensamento raconal. O conhecmento reconstrção do “real” realzado pelo ser hmano, portanto, não é completo, nem pode ser encarado como ma cpa exata do mndo objetvo, sendo sempre permeado por constantes “erros e lsões”.
conhecmento empírco; conhecmento teolgco; conhecmento losco; conhecmento centíco.
1.3.1 . Conhecimento empírico É tambem chamado de vlgar, nttvo, de senso comm o ordnro. Essa orma de conhecmento dos atos não se preocpa em lhes nqrr as casas. Esse conhecmento é spercal, acontece por normação o experênca casal. É ametdco e assstemtco, consttndo a maor parte do conhecmentos locas, pos é gerado para resolver problemas do cotdano de orma nstantnea e nstntva. Est lgado à vvênca, à ação, à percepção e sbordnado a m envolvmento aetvo dos sjetos. isso lhe conere dcldades de se sbmeter a ma crítca sstemtca e mparcal, gerando dcldades de controle e avalação expermental.
1.3.2 . Conhecimento teológico Esse conhecmento bsca sas bases em teoras craconstas, as qas explcam a orgem do mndo, das cosas e do ser hmano a partr de prncípos dvnos. O conhecmento teolgco o amplamente dnddo no período medeval, no qal a atordade dvna se torno nqestonvel. Atalmente, desenvolve-se nos meos acadêmco e relgoso. Consste em m conjnto de verdades qe ocorre, não com o axílo de sa ntelgênca, mas medante a acetação de ma revelação dvna. Tdo em ma relgão é aceto pela é, nada pode ser provado centcamente nem se admte crítca, pos o jsto vver pela é. A revelação é a únca onte de dados. Também conhecdo como conhecmento relgoso o místco, ele é baseado exclsvamente na é hmana e desprovdo de método e de racocíno crítco. Algns exemplos de conhecmento teolgco são as Escrtras Sagradas, tas como a Bíbla, o Alcorão, as Encíclcas Papas e a Sagrada Tradção, qe reúne decsões de Concílos e Sínodos, e otros. Também podem ser nclídos como conhecmento teolgco os ensnamentos de grandes telogos e mestres da igreja.
O conhecmento hmano não se encerra nos prncípos da razão e da lgca e deve ser sempre consderado dentro de ses lmtes e ncertezas. Dessa orma, tanto o pensamento qanto a constrção do conhecmento são permeados não apenas por processos relatvos à raconaldade e à lgca, mas também por atores de otra natreza. O retorno do pensamento a s mesmo para ma refexão mas pronda acontece prncpalmente na losoa clssca. Antes dsso, o pensamento era ctado como algo speror, qase como ndescrtível. O logos (razão, pensamento) era ma orça mensa, qe drga todo o nverso e apareca como nacessível aos seres hmanos.
1.3 . Estruturas e formas de conhecimento De acordo com a natreza e a orma de expressão do conhecmento (sensação, percepção, magnação,
O conhecimento humano não se encerra nos princípios da razão e da lógica e deve ser sempre considerado dentro de seus limites e incertezas. MóDuLO BáSiCO
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de hstras antstcas e ses personagens ascnantes qe nfencam o ser hmano desde a Antgdade até os das atas, desempenhado m papel mportante como onte de nspração e ponto de partda do conhecmento sobre a natreza das cosas e do mndo.
1.3.3 . Conhecimento losóco Sabe-se qe a losoa bsca conhecer o esorço da razão para qestonar os problemas hmanos e dscernr entre o certo e o errado. O conhecmento losco tem por objetos as deas, as relações concetas e as exgêncas lgcas. Para analsar esses objetos, tlza o método raconal, vsando qestonar os demas tpos de conhecmento (teolgco, centíco, empírco e otros qe se apresentem). A dea de exste a “verdade”. Esse termo pode ser aplcado qando os sjetos do pensamento percebem o qe est se desenrolando em sa volta e o consegem comncar, representar o nterpretar, segndo sa razão e ses valores. O conhecmento losco reconhece as lmtações da constrção da verdade, pos ela não é absolta. Para tal reconhecmento, tlza dos mportantes elementos para a bsca de ma dada verdade: a evdênca – o qe aparece do objeto de estdo, sem nvenções sobre o qe se desvela; e a certeza – a conança na verdade qe est ndamentada na evdênca, sem dúvda, gnornca o jízo de valor.
Os mtos são m tpo de conhecmento qe aparece, geralmente, na orma de hstras baseadas em tradções e lendas cradas para explcar o nverso, a orgem do mndo, os enômenos natras e qalqer otro ato para o qal explcações smples não sejam atrbíves. Em geral, a maora dos mtos envolve orças sobrenatras de seres dvnos. Esses seres o gras mtolgcas de socedades clsscas (romana, grega, egípca, nrdca, chnesa etc.) ormaram a base do pensamento hmano, nas derentes cvlzações. A mtologa, como orma de explcação dos enômenos natras e hmanos, gero pontos de vsta e crenças sobre cltra, polítca e relgão qe atravessaram os séclos e na ataldade anda nfencam as cvlzações. Mtos estdosos do pensamento consderam as hstras sobre a orgem e os acontecmentos dos povos como contadores de mtos, como exemplos dos textos sagrados qe bscam verdades relgosas, nspradas dvnamente e repassadas em lngagens hmanas. Otro exemplo são as crenças em hers naconas sobre os qas se ormam lendas sobre etos espetaclares e ncomns.
1.3.4 . Conhecimento cientíco Esse conhecmento procra conhecer, além do enômeno, sas casas e as les qe o regem. Bsca descobrr os prncípos explcatvos qe servem de base para a compreensão da organzação, da classcação e da ordenação da natreza. Segndo Arstteles, o conhecmento s acontece qando sabemos qal a casa e o motvo dos enômenos. Em se método, ele bscava conhecer peretamente essas casas, demonstrando ses expermentos em laboratro, aplcando nstrmentos, com trabalhos programados, metdcos e sstemtcos.
Na ataldade, os mtos são retomados pela ndústra cnematogrca, pela lteratra nanto-jvenl e pelos jogos eletrôncos. Flmes como O senhor dos anéis e os lvros Star Trek e Harry Potter trazem aspectos mtolgcos marcantes, qe algmas vezes desenvolvem-se em sstemas loscos prondos e ntrncados. A mtologa, tomada na orma de cção, recra seres antstcos qe s exstram nas lendas do passado, mas qe na socedade atal assmem orma e geram mlhões de dlares.
2. Pensamento cientíco: da era clássica à moderna
2.1 . A mitologia como
2.2 . O conhecimento
conhecimento do “mundo”
losóco clássico e medieval
O termo “mtologa” derva das palavras gregas mytos , qe pode ser tradzda como bla, lenda o a cração de algo concreto o abstrato qe nfenco os hmanos, e logos , qe sgnca m tratado o algo a ser estdado. De modo geral, compreende-se mtologa como m conjnto
O pensamento losco se desenvolve em todos os povos e contnentes. No entanto, é ndsctível a mportnca da losoa qe se pratcava na Gréca, por volta de 2,5 ml anos atrs. Os sophos (sbos, em
TEORiAS DO PENSAMENTO CONTEMPORâNEO
5.
grego), qe vveram no séclo Vi a.C., bscaram dversos temas para refexão e bscaram ormlar explcações raconas para tdo aqlo qe era explcado, até então, pela mtologa. Os pensadores desse período clssco são dvddos de acordo com sa lgação com Scrates, o prncpal dos lsoos, em: pré-socrtcos, socrtcos e ps-socrtcos.
do conhecmento ntelectal. Otro pensador de destaqe o Arstteles, qe desenvolve os estdos de Platão e de Scrates. Ele desenvolve a lgca dedtva clssca como orma de chegar ao conhecmento centíco. A sstematzação e os métodos devem ser desenvolvdos para se chegar ao conhecmento pretenddo, partndo sempre dos concetos geras para os especícos.
2.2.1. Pensadores pré‑socráticos
2.2.3. Pensadores pós‑socráticos
Foram os pensadores da Gréca Antga qe vveram antes de Scrates e tnham como prncpal preocpação o unverso e os enômenos da natreza. Em ses ensaos loscos, bscavam explcar tdo por meo da razão e do conhecmento partclar das cosas. O matemtco Ptgoras ez parte desse grpo e desenvolve se pensamento a partr da dea de em qe tdo preexste a alma, j qe esta é mortal. Otros lsoos pré-socrtcos são Demcrto e Lecpo, qe deendam a ormação de todas as cosas a partr da exstênca dos tomos.
Essa época va do m do período clssco (320 a.C.) até o m da hegemona polítca e mltar da Gréca e níco do período medeval na Eropa. Sob a nfênca do pensamento de Scrates, ormaram-se vras correntes de pensamento:
a. Cetcsmo: para os cétcos, a dúvda deve estar
sempre presente, pos o ser hmano não consege conhecer nada de modo exato e segro. b. Epcrsmo: os epcrstas, segdores do pensador Epcro, deendam qe o bem era orgnro da prtca da vrtde. O corpo e a alma não deveram sorer para, dessa orma, chegar-se ao prazer. c. Estocsmo: os sbos estocos como Marco Arélo e Sêneca, deendam a razão a qalqer preço. Para eles os enômenos exterores a vda devam ser dexados de lado, como a emoção, o prazer e o sormento.
2.2.2. Pensadores socráticos Entre os séclos, V e iV a.C. a Gréca vve m grande desenvolvmento cltral, polítco e centíco. Entre os pensadores desse momento destacaram-se os sostas, como Grgas, Leontnos e Abdera, qe deendam ma edcação cjo objetvo mxmo sera a ormação de m cdadão pleno, preparado para atar poltcamente para o crescmento da cdade. Os jovens deveram ser preparados para alar bem (retrca), pensar e manestar sas qaldades artístcas. Derente dos sostas, Scrates começa a pensar e a refetr sobre o homem, bscando entender o nconamento do unverso dentro de ma concepção centíca. Para ele, a verdade est lgada ao bem moral do ser hmano. Ele também acredtava qe os pensadores teram a nção de entender o mndo da realdade, separando-o das aparêncas. Scrates não dexo textos o otros docmentos escrtos.
2.2.4. Pensamento medieval Na idade Méda, o pensamento erope o mto nfencado pela igreja Catlca, qe assm consdervel poder, ma vez qe os res tornaram-se crstãos. O Teocentrsmo, dotrna losca da igreja, den as ormas de sentr, ver e também de pensar da poplação. Entre os lsoos dessa vertente destaca-se o telogo romano Santo Agostnho (354-430), qe acredtava qe o conhecmento e as deas eram de orgem dvna. Segndo esse pensamento, as verdades sobre o mndo e sobre todas as cosas devam ser bscadas nas palavras de Des. A partr do séclo V até o séclo Xiii, ma nova lnha de pensamento ganho mportnca na Eropa, era a escolstca, conjnto de deas qe
O pensamento de Scrates s o conhecdo por meo dos relatos dexados por Platão, se dscíplo, qe deenda qe as deas ormavam o oco
O Teocentrismo deniu as formas de sentir, ver e também de pensar da população durante a Idade Média. MóDuLO BáSiCO
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vsava nr a é com o pensamento raconal de Platão e Arstteles. O prncpal representante dessa lnha de pensamento o São Toms de Aqno (1225-1274).
3. Empirismo: a experiência
2.3 . Renascimento e
3.1 . Concepções e
e o conhecimento
métodos empíricos
conhecimento cientíco
Os emprstas procravam argmentos nas cêncas expermentas, na evolção do pensamento e do conhecmento hmanos para jstcar sas posções dante do qe bscavam conhecer. Para eles, o conhecmento resltava da observação dos atos, na qal a experênca desempenha m papel ndamental. Por sso prvlegavam a experênca em detrmento da razão hmana. Esses estdosos armavam qe o “sjeto cognoscente” é ma espéce de “tbla rasa”, na qal são gravadas as mpressões decorrentes da “experênca” com o mndo exteror.
A partr do séclo XiV m grande movmento no pensamento hmano passo a operar na Eropa, o Renascmento o Renascença. Nesse período, os mpéros eropes amplaram o comérco e a dverscação dos prodtos de consmo qe eram venddos para a ása. O amento do comérco gero acmlação de rqezas nas mãos da brgesa mercantl. isso gero condções de se nvestr na prodção artístca e ntelectal. Com a proteção e o apoo nancero dos governantes e do clero na orma de mecenato, os ntelectas, artstas e pensadores tveram condções para prodzr novos conhecmentos e por conseqênca ma grande transormação no conhecmento. Exemplos desse período são encontrados na Penínsla itlca, regão em qe o comérco mas se desenvolve nesse período e gero ma grande qantdade de locas de prodção artístca, como Veneza, Florença e Gênova.
Por sso essa corrente desconsdera o inatsmo (dotrna qe se entrelaça com o Raconalsmo), qe admte a exstênca de m sjeto cognoscente (a mente, o espírto) dotado de deas natas, sentas de qalqer dado da experênca. Anda qe o termo “emprsmo” tenha sdo atrbído a m grande número de posções loscas, a tradção preere acetar como “emprstas” aqeles pensadores qe armam ser o conhecmento dervado exclsvamente da experênca dos sentdos, da sensação o da empera.
Nesse processo de revtalzação do conhecmento, hove grande valorzação da cltra greco-romana clssca, pos acredtava-se qe esta possía ma vsão completa e hmana da natreza, ao contrro dos homens medevas; a ntelgênca, o conhecmento e o dom artístco passaram a ser as qaldades mas valorzadas no ser hmano; o homem passo a ser consderado o prncpal personagem (Antropocentrsmo), em lgar de Des (Teocentrsmo). Nesse período também a razão e a natreza passam a ser valorzadas com grande ntensdade, e os métodos expermentas e de observação da natreza e nverso ganharam destaqe.
Admtamos qe, na orgem, a alma é como qe ma tbla rasa, sem qasqer caracteres, vaza de dea algma: como adqre deas? Por qe meo recebe essa mensa qantdade qe a magnação do homem, sempre actva e lmtada, lhe apresenta com ma varedade qase nnta? Onde va ela bscar todos esses materas qe ndamentam os ses racocínos e os ses conhecmentos? Respondo com ma palavra: à experênca. É essa a base de todos os nossos conhecmentos e é nela qe assenta a sa orgem. As observações qe azemos no qe se reere a objectos exterores e sensíves o as qe dzem respeto às operações nterores da nossa alma, qe ns apercebemos e sobre as qas refectmos, dão ao espírto os materas dos ses pensamentos. São essas as das ontes em qe se baseam todas as deas qe, de m ponto de vsta natral, possímos o podemos vr a possr (LOCKE, [s.d.], p. 68).
Entre os pensadores preocpados com o desenvolvmento centíco, pode-se ctar Ncola Copérnco (1473-1543) e ses estdos astronômcos sobre o Sstema Solar e os movmentos das constelações. Foram também mportantes os estdos de Galle Galle (1564-1642), qe desenvolve nstrmentos ptcos, além de constrr telescpos para aprmorar o estdo celeste. Galle deende a dea de qe a Terra grava em torno do Sol e, por sso, teve de enrentar a inqsção da igreja Catlca.
De acordo com a teora de qe o espírto, a mente, seja ma tbla rasa, ma speríce malevel às
TEORiAS DO PENSAMENTO CONTEMPORâNEO
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mpressões da experênca externa, o emprsmo pode ser estmado sob m prsma pscolgco e sob otro gnosolgco. À medda qe a onte do conhecmento não é a razão o o pensamento, mas a experênca, a orgem temporal de conhecer é concebda como resltado da experênca externa e nterna – aspecto pscolgco –, e, por consegnte, s o conhecmento empírco é vldo – o aspecto gnosolgco.
deenda qe o conhecmento opera em das ases: sensível e ntelectal, sendo qe a segnda depende da prmera, mas ltrapassa-a: o ntelecto vê a natreza das cosas ( intus legit ) mas prondamente do qe os sentdos, sobre os qas exerce a sa atvdade. Por meo da observação, o conhecmento ntelectal abstra de cada objeto ndvdal a sa essênca, a orma nversal das cosas. Portanto, Des é cognoscível pelas experêncas sensível e raconal. Baseado nsso, Aqno propõe as chamadas “cnco provas da exstênca de Des” (quinquae viae ), das qas procedem demonstrações galmente raconas.
3.2 Bases históricas do Empirismo Entre os prmeros pensadores eropes qe deenderam a dea de qe todos os conhecmentos são provenentes de experêncas, encontra-se Arstteles, qe consderava a observação do mndo como base para a ndção o qe, a partr da obtenção de dados partclares, no caso, a observação empírca, poder-se-a trar conclsões (o conhecmentos) de verdades mas absoltas. A partr de sas consderações, os lsoos estocos, epcrstas e cetcstas ormlaram teoras emprstas mas explíctas acerca da ormação das deas e dos concetos.
Na idade Moderna eropea, o Emprsmo assm a orma de método sstemtco tal como se conhece atalmente, e se dnd como conhecmento nos meos acadêmcos emergentes. Entre ses ormladores prncpas destaca-se Francs Bacon, estdoso das cêncas do mndo ísco. Para ele, o método tlzado por emprstas anterores não era sstemtco: embora recolhessem dados da experênca, essas normações eram “captradas” ao acaso, sem o axílo de m método qe classcasse e sstematzasse as vras experêncas e as orentasse no sentdo de dar ao homem ma cênca útl, em oposção ao conhecmento prodzndo. Pelo método da ndção se relaconara o conhecmento sensível, qe ornecera materal para a ntelgênca, e a raconaldade, qe manplara e dara sentdo aos dados dos sentdos.
Os estocos acredtavam qe a mente hmana era ma tbla rasa qe sera marcada pelas deas advndas da experênca sensível. Os epcrstas tveram ma vsão emprsta mas orte, armando qe a verdade provnha apenas da sensação. Para eles, as cosas são conhecdas por meo de magens em mnatra, os chamados antasmas, qe se desprendem do ser e chegam até aos sjetos ndo dretamente à alma o, ndretamente, por meo dos sentdos. O cetcsmo teve como maor representante o lsoo Sexto, qe co conhecdo como O Empírco. Segndo ele, as verdades sobre o unverso seram nacessíves ao ser os sentdos eram a base do conhecmento, mas possíam lmtações qe dstorcam a magem do mndo real, crando as lsões.
O lsoo nglês Thomas Hobbes (1558-1603), aplco o método nos estdos da socedade e da polítca. Segndo ele, a verdade reslta de racocínos corretos, ndamentados pelas sensações. Hobbes cro m método rgoroso de controle das dedções lgcas provenentes da experênca, representada pelos acontecmentos passados na hstra e da stação polítca do momento. O método empírco de Francs Bacon e de Thomas Hobbes nfenco toda ma geração de lsoos brtncos, com destaqe para John Locke (1632-1704) qe, em se lvro Ensaio sobre o entendimento humano , descreve a mente hmana como ma tbla rasa (lteralmente, ma “ardsa em branco”), na qal, por meo da experênca, são gravadas as deas. A partr dessa
A idade Méda eropea o domnada pelo pensamento crstão qe sbordnava os demas pensamentos à relgão. Assm, a experênca sensível o as deas hmanas não poderam ser comprovadas e o retadas senão pelo nteresse de Des e sa Trndade. Toms de Aqno, célebre terco da escolstca,
Os estoicos acreditavam que a mente humana era uma tábula rasa que seria marcada pelas ideias advindas da experiência sensível. MóDuLO BáSiCO
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anlse emprsta da Epstemologa, ele derenca dos tpos de deas: as deas smples, sobre as qas não se podera estabelecer dstnções, como a de amarelo, dro etc., e as deas complexas, qe seram assocações de deas smples (por exemplo o oro – qe é ma sbstnca dra e de cor amarelada). Com sso, sera ormado m conceto abstrato da sbstnca materal.
de ser conhecdo verdaderamente pelo homem, pos esse conhecmento s é acessível a Des. Ao assmr esse Emprsmo radcal, esse pensador cro a corrente conhecda como dealsmo sbjetvo. O escocês Davd Hme (1711-1776), segndo a lnha de Berkeley, dentco dos tpos de conhecmento: maéas de a e ela de deas . O prmero est relaconado com a percepção medata e sera a únca orma verdadera de conhecmento. As relações de deas se reerem a cosas qe não podem ser percebdas, qe não têm correspondênca na realdade e seram pra magnação. Dessa orma, os prpros concetos abstratos tlzados pela cênca para analsar os dados dos sentdos não seram verdaderos.
Do ponto de vsta polítco e losco, os pensadores ngleses lançaram as raízes das deas qe, talvez, mas prondamente nfencaram a transormação da socedade eropea. O Emprsmo qe se desenvolve na inglaterra adqr característcas prpras, dos atos e enômenos do séclo XVi ao XViii. Os pensadores apresentaram ma preocpação menor pelas qestões rgorosamente metaíscas, voltando-se bem mas para os problemas do conhecmento (qe não dexam de nclr ma metaísca).
Baseado nsso, Hme reto a prpra casaldade, a noção de casa e eeto, ndamental para a cênca. Para ele, o smples ato de m enômeno ser sempre segdo de otro az com qe eles se relaconem entre s de tal orma qe m é encarado como casa do otro. Casa e eeto, como mpressões sensíves, não seram mas do qe m evento segdo de otro. A noção de casaldade sera, portanto, ma “cração” hmana, ma acmlação de hbtos desenvolvdos em resposta às sensações.
Se método a posteriori , tlzando as cêncas postvas, estabelece ma pscologa e ma gnosologa sensstas, baseadas essencalmente nos sentdos, na sensação (sensus ). Hstorcamente, o Emprsmo se opõe à escola conhecda como Raconalsmo, segndo a qal o homem nascera com certas deas natas, as qas “aforaram” à conscênca e consttram as verdades acerca do unverso. A partr dessas deas, o homem podera entender os enômenos partclares apresentados pelos sentdos. O conhecmento da verdade, portanto, ndependera dos sentdos íscos.
O pensamento de Hme e Berkeley nfenco vras escolas empírcas do séclo XiX, com destaqe para o Postvsmo e a Fenomenologa. Entre algmas correntes qe tentaram aproxmar o Emprsmo do Raconalsmo destaco-se o Emprsmo Lgco (também conhecdo como Postvsmo o Neopostvsmo Lgco, embora algns não concordem com essa snoníma), ma tentatva de sntetzar as deas essencas do Emprsmo Brtnco (por exemplo, a orte ênase na experênca sensoral como base para o conhecmento) com a lgca matemtca, a exemplo dos trabalhos de Ldwg Wttgensten, Gottlob Frege, Bertrand Rssell, George Mooro, Rdol Carnap, Jonh Astn e Karl Popper e otros qe aplcaram o Emprsmo em ses trabalhos.
3.3 . Empirismo e modernidade O Emprsmo de John Locke recebe novas nterpretações no séclo XViii nas ormlações de George Berkeley (1685-1753). Segndo ele, ma sbstnca materal não pode ser conhecda em s mesma. O qe se conhece, na verdade, resme-se às qaldades reveladas drante o processo perceptvo. Assm, o qe exste realmente não passa de m exe de sensações. Daí sa amosa rase: “ser é ser percebdo”. Berkeley postlava a exstênca de ma mente csmca, a qal sera nversal e speror à mente dos homens ndvdas. No entanto, apesar de exstr, o mndo sera mpossível
Nem o Raconalsmo nem o Emprsmo são respostas totas aos problemas qe pretendem resolver. O Raconalsmo opõe-se ao Emprsmo, e a Dotrna
A Doutrina Empírico‑Racionalista ar‑ ma que o conhecimento se deve à coparticipação da experiência e da razão. TEORiAS DO PENSAMENTO CONTEMPORâNEO
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Empírco-Raconalsta representa ma tentatva de estabelecer a medação entre essas das escolas, armando qe o conhecmento se deve à copartcpação da experênca e da razão. O maor representante dessa corrente é Emanel Kant (1724-1804), lsoo alemão do séclo XViii qe abordo a qestão da orgem do conhecmento procrando conclar as das dotrnas – de ato, para Kant, todo o conhecmento começa na e pela experênca, mas não se lmta a ela. Os elementos múltplos, dversos e contngentes ornecdos pela experênca são ntegrados em concetos qe o prpro entendmento poss a priori . Desse modo, a experênca ornece a matéra, o conteúdo do conhecmento, enqanto o entendmento lhe d certa orma; o qe sgnca qe o conhecmento é sempre o resltado da jnção de ma orma e ma matéra. Kant analsa crtcamente ambas as dotrnas – o Raconalsmo e o Emprsmo –, conclndo a nscênca de cada ma delas, se perspectvadas de m ponto de vsta dsjntvo. Entretanto, se se conclarem, talvez resolvam mas satsatoramente os problemas. Kant consdera, pos, qe o conhecmento não pode se ndamentar ncamente na razão, como pretendam os raconalstas, mas também não pode se redzr ncamente aos dados da experênca. Esta é antes onte dos dados recebdos pela nossa sensbldade, mas devdamente organzados por determnados concetos exstentes no nosso conhecmento, os qas não dervam da experênca, pos são-lhe ndependentes os anterores – são os concetos pros do entendmento a priori , daí chama Aprorsmo a dotrna desenvolvda por Kant. Então, para esse pensador, o conhecmento é como o resltado de m processo de transormação de ma matéra-prma dada pela experênca e apreendda pelo entendmento como tendo determnada sgncação.
4. Racionalismo: a
faculdade autônoma do conhecimento
4.1 . A razão como base do conhecimento
Sabe-se qe a idade Moderna eropea o nagrada com o Renascmento, o qal se estabelece
de ato nos séclos XVii e XViii. Os dos grandes movmentos loscos dos séclos XVii e XViii são o Emprsmo, tendênca postva e prtca, expresso pela cltra anglo-saxônca, conorme o vsto anterormente, e o Raconalsmo, corrente vnclada ao pensamento rancês. Anda qe a razão seja m componente bsco de todas as manestações da losoa ocdental, é no pensamento moderno qe ela adqre novas característca e mportnca. Enqanto na Antgdade era consderada propredade ntelgível da natreza e, na idade Méda, ma lz cedda por Des ao homem para qe bem a tlze, na losoa moderna a “razão” é determnada como ma acldade atônoma, qe poss naldade prpra. Em otras palavras, a razão torna-se, por excelênca, veíclo de anlse e de entendmento do real, qe caracterza, de modo especíco, o ser o a sbstnca raconal, sto é, o homem. E, se por m lado se arma veíclo cogntvo do real, por otro se estabelece como rgão expermental da mesma realdade. Qer dzer, as constrções raconas (Raconalsmo) se alam aos dados da experênca (Emprsmo). O Raconalsmo, tomado apenas etmologcamente, pode ser entenddo como ma perspectva cltral pela qal o homem chega a verdades absoltas apenas com o so da acldade da razão. Seja a partr de atos, os qas, ltrapassando a mera orça dos sentdos, permtem ao homem, com a orça da razão, abstrar e atngr condções transcendentas do mndo; seja a partr da pra ntção, qe prescnde dos atos. O Raconalsmo bscava conhecer a essênca. Por sso, não se prenda aos atos e ao mndo sensível, mas armava qe a razão hmana podera transcender e chegar ao conhecmento de realdades sprassensíves pela orça da abstração e das concatenações raconas. Ao carter natralsta qe apresentava “a razão” no Renascmento, é acrescentado, assm, m antropologsmo. Por tas motvos, é possível armar qe as losoas antga e medeval preocpam-se mas com o Ser, enqanto a losoa moderna com o conhecer. O Raconalsmo dos séclos XVii e XViii é a dotrna qe arma ser a razão o únco rgão adeqado e completo do saber, de modo qe todo conhecmento verdadero tem orgem raconal. Por tal motvo, essa corrente
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losca é conhecda como Raconalsmo Gnosolgco o Epstemolgco. A mportnca conerda à razão por Descartes e pelos cartesanos, ses segdores, é m modo de raconalzar a realdade, m lastro “metaísco” de cnho raconal.
4.2 . Pensamento e
método cartesiano
Descartes propôs m desprendmento cosmolgco da vsão do homem, o seja, dexar ma vsão de mndo centralzada na atordade e no poder da relgão e passar para a certeza do conhecmento, dando, assm, orgem ao chamado Raconalsmo. Assme, de certa orma, o espírto lmnsta de sa época, centralzando na capacdade raconal hmana da bsca do conhecmento. Descartes preocpo-se ndamentalmente em constrr m modo para qe se pdesse chegar a m conhecmento qe osse segro. “[...] cre m método qe, parece-me, proporcono-me os meos para o gradatvo amento de me conhecmento, e a lev-lo, gradalmente, ao mxmo de gra qe a medocrdade de me espírto e a breve dração de mnha vda lhe permtrem atngr.” (DESCARTES, 2000, p. 15)
Descartes va o mndo como ma mqna, como m relgo. A natreza, segndo essa vsão, é m con jnto de peças qe deve estar em pereto nconamento. Com essa obra, ele pretenda partlhar com o letor o método qe encontro para s, a m de alcançar ma cênca nversal qe pdesse elevar a nossa natreza ao se mas alto gra de pereção. Se método é o da dúvda. Para a razão adqrr se pleno nconamento, é necessro lmpar o terreno da mente de todo preconceto; é precso, em m prmero momento, dvdar de tdo, prncpalmente do qe j se tem estabelecdo como verdade absolta, como dogma. Ele resme e enmera apenas qatro regras, qatro passos a serem dados no camnho de se método:
x Jamas acolher cosa algma como verdadera qe não conheça evdentemente como tal; sto é, evtar cdadosamente a precptação e a prevenção. E de nada nclr nos jízos qe não se apresente tão clara e tão dstntamente a me espírto qe não tenha ocasão de pô-lo em dúvda. x Dvdr cada ma das dcldades para qe se examne em tantas parcelas qantas possíves orem para melhor resolvê-las. x Condzr por ordem os pensamentos, começando pelos objetos mas smples e mas ces de conhecer, para sbr, poco a poco, como por degras, até o conhecmento dos mas compostos e spondo mesmo ma ordem entre os qe não se precedem natralmente ns aos otros. x Fazer em toda parte enmerações tão completas e revsões tão geras qe se tenha a certeza de nada omtr.
Ele dstnge o nverso das deas dvdosas do nverso das deas claras e dstntas. As deas claras e dstntas são as deas aas, verdaderas, não sjetas ao erro, pos não vêm de ora, mas do prpro sjeto pensante. Em sa mas conhecda, O discurso do método , Descartes enmera qatro regras bscas capazes de condzr o espírto na bsca da verdade:
x Regras de evdênca – s acetar algo como verdadero desde qe seja evdente (deas claras e dstntas) – deas natas. x Regras de anlse – dvdr as dcldades em qantas partes orem necessras à resolção do problema. x Regras de síntese – ordenar o racocíno (problemas mas smples aos mas complexos). x Regras de enmeração – realzar vercações completas e geras para garantr qe nenhm aspecto do problema o omtdo.
O Cartesansmo também pode ser dendo em ma perspectva de senso comm como a prmera losoa moderna, tendo estabelecdo as bases da cênca moderna e contempornea. O ndamento prncpal da losoa cartesana consste na pesqsa da verdade, com relação à exstênca dos “objetos” dentro de m nverso de cosas reas.
O Cartesianismo também pode ser denido em uma perspectiva de senso comum como a primeira losoa moderna, tendo estabelecido as bases da ciência moderna e contemporânea. TEORiAS DO PENSAMENTO CONTEMPORâNEO
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O objetvo de Descartes é a pesqsa de m método adaptado para a conqsta do saber, descobre esse método qe tem como objetvo a clareza e a dstnção, o seja, com sso qer ser mas objetvo possível, mparcal, qer ndamentar o se pensamento em verdades claras e dstntas. Para sso, de acordo com o se método, devem ser elmnadas qasqer nfêncas de deas qe mtas vezes não são verdaderas, mas qe são tdas como mtolgcas, e por m reqentemente acabamos acetando tas mtos sem qe os tenhamos comprovado de ato.
4.3 . O Racionalismo
Cientíco e Aplicado
A nfênca do Raconalsmo sobre o método centíco almento a dea de mtos pensadores dos séclos XiX e XX de qe a cênca é obra da razão hmana, ma espéce de mqna gerada por ela, cjas estrtras e les nternas é precso descobrr. O prncpal expoente dessa nterpretação epstemolgca é Gaston Bachelard (1844-1962). Esse ator arma qe a losoa da cênca contempornea não pode acetar nem a solção realsta nem a dealsta. Segndo ele, deve colocar-se em m meo termo entre ambos, no qal sejam retomados e sperados. Em sa gnosologa, Bachelard põe o bnômo experênca-razão na base de todo o conhecmento hmano. Entretanto, não se trata de m condomíno de potêncas gas, pos o elemento terco é qe desempenha o papel normatvo. Bachelard (1977) ndca a manera segndo a qal o Raconalsmo, em se dlogo permanente com o emprsmo, constr a estrtra de apreensão e de cração do conhecmento centíco. O Raconalsmo Aplcado de Bachelard procra mostrar a nterdependênca desses dos modos de pensar, os qas estaram dssemnados por toda a cênca. Para ele, o conhecmento hmano poss dos polos – idealsmo e Realsmo – e nenhma atvdade se xa somente em m desses polos.
5 . Paradigmas do
pensamento cientíco do século XX
5.1 . Positivismo: pensamento e paradigma monista
O Postvsmo emerge no progresso das cêncas natras, partclarmente das bolgcas e solgcas, as qas bscavam resolver os problemas da Eropa do séclo XiX. Esse paradgma centíco se preocpo em aplcar os prncípos e os métodos das cêncas à losoa como resolvedora do problema do mndo e da vda, com resltados. Edmnd Leach descreve o Postvsmo em 1966 como “a vsão de qe o nqérto centíco séro não devera procrar casas últmas qe dervem de algma onte externa, mas sm, connar-se ao estdo de relações exstentes entre atos qe são dretamente acessíves pela observação”. Essa corrente bscava explcar atos mas prtcos e presentes na vda do homem, como no caso das les, das relações socas e da étca. Entre ses prncpas ormladores, encontramos o rancês Agste Comte (1798-1857). Em ses ensaos, atrb atores hmanos às explcações dos dversos assntos, contrarando o prmado da razão, da teologa e da metaísca. Para Comte, o método postvsta conssta na observação dos enômenos, sbordnando a magnação à observação. Ele sntetzo se deal em sete palavras: real, útl, certo, precso, relatvo, orgnco e smptco e preocpo-se com a elaboração de m sstema de valores adaptado à realdade qe o mndo vva na época da Revolção indstral. Para Comte, o espírto hmano, em se esorço para explcar o nverso, passa scessvamente por três estados:
A partr dessa premssa, esse pensador arma ser possível, então, atrbr m carter realsta ao Raconalsmo e m carter dealsta ao Emprsmo, devdo ao modo como estes se relaconam respectvamente com a nstnca empírca e com o plano das deas.
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a. Esad elógc u “fcíc” , qe
b.
explca os atos por meo de vontades anlogas à nossa (a tempestade, por exemplo, ser explcada por m caprcho do des dos ventos, Éolo). Esse estado evol do etchsmo ao polteísmo e ao monoteísmo. Esad meaísc, qe sbstt os deses por prncípos abstratos como “o horror ao vazo”, por longo tempo atrbído à natreza.
A tempestade, por exemplo, ser explcada pela “vrtde dnmca” do ar. Esse estado é no ndo tão antropomrco qanto o prmero (a natreza tem “horror” do vazo exatamente como a senhora Baronesa tem horror de ch). O homem projeta espontaneamente sa prpra pscologa sobre a natreza. A explcação dta teolgca o metaísca é ma explcação ngenamente pscolgca. Ela tem, para Comte, mportnca sobretdo hstrca como crítca e negação da explcação teolgca precedente. Desse modo, os revolconros de 1789 são “metaíscos” qando evocam os “dretos” do homem – revndcação crítca contra os deveres teolgcos anterores, mas sem conteúdo real. c. Esad psv, qe é aqele em qe o espírto rennca a procrar os ns últmos e a responder aos últmos “porqês”. A noção de casa (transposção absva de nossa experênca nteror do qerer para a natreza) é por ele sbsttída pela noção de le. Contentar-nos-emos em descrever como os atos se passam, em descobrr as les (exprmíves em lngagem matemtca) segndo as qas os enômenos se encadeam ns nos otros. Tal concepção do saber desemboca dretamente na técnca: o conhecmento das les postvas da natreza nos permte, com eeto, qando m enômeno é dado, peve o enômeno qe se segr e, eventalmente, agndo sobre o prmero, transormar o segndo (“Cênca donde prevsão, prevsão donde ação”). Gnosologcamente, o Postvsmo desenvolvdo por Comte admte, como onte únca de conhecmento e crtéro de verdade, a experênca, os atos postvos, os dados sensíves. Não aceta qalqer metaísca, portanto, como nterpretação, jstcação transcendente o manente da experênca. O Postvsmo do séclo XiX bsco bases metodolgcas no Emprsmo e no Natralsmo nglês, redzndo o conhecmento hmano ao conhecmento sensível; a metaísca, à cênca e o espírto, à natreza, com as relatvas conseqêncas prtcas. Por meo de m confto mecâc de seres e de orças, medante a lta pela exstênca, determna-se ma seleção natral, ma elmnação do organsmo mas mpereto, sobrevvendo o mas pereto.
Como teora do pensamento, o Postvsmo vncla-se ao Monsmo (do grego monis , “m”), às teoras loscas qe deendem a ndade da realdade como m todo (em metaísca) o a dentdade entre mente e corpo (em losoa da mente) por oposção ao dalsmo o ao plralsmo, à dversdade da realdade em geral. No Monsmo, m oposto se redz a otro, em detrmento de ma ndade maor e absolta. As raízes do Monsmo na losoa ocdental estão nos lsoos pré-socrtcos, como Zenão e Parmêndes de Elea. J Spnoza é o lsoo monsta por excelênca, pos deende qe se deve consderar a exstênca de ma únca cosa, a sbstnca, da qal tdo o mas são modos.
5.2 . Marxismo: materialismo e dialética
O Marxsmo é o conjnto de deas loscas, econômcas, polítcas e socas elaboradas prmaramente por Karl Marx (1818-1883) e Fredrch Engels (1820-1895). A concepção materalsta e dalétca da hstra nterpreta a vda socal conorme a dnmca da base prodtva das socedades e das ltas de classes daí conseqentes. O paradgma marxsta compreende o homem como m ser socal hstrco qe poss a capacdade de trabalhar e desenvolver a prodtvdade do trabalho, o qe o derenca dos otros anmas e possblta o progresso de sa emancpação da escassez da natreza, proporconando o desenvolvmento das potencaldades hmanas. O método dalétco nfenco os mas dversos setores da atvdade hmana ao longo do séclo XX, desde a polítca e a prtca sndcal até a anlse e a nterpretação de atos socas, moras, artístcos, hstrcos e econômcos. Marx crtco o sstema losco dealsta de Georg Wlhelm Fredrch Hegel (1770-1831), no qal a realdade se az losoa, pos para Marx esta precsa ncdr sobre aqela. Pode-se dzer qe o pensamento de Karl Marx se orgno ndamentalmente a partr de ses estdos sobre três tradções ntelectas j bem desenvolvdas na Eropa do séclo XiX: a losoa dealsta alemã de Hegel e dos neo-hegelanos, o pensamento da economa-polítca brtnca e a teora polítca socalsta tpca dos atores ranceses. O núcleo do pensamento de Marx é sa nterpretação do homem, qe começa com a necessdade de
TEORiAS DO PENSAMENTO CONTEMPORâNEO
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sobrevvênca hmana. A hstra se nca com o prpro homem qe, na bsca da satsação de necessdades, trabalha sobre a natreza. À medda qe realza esse trabalho, o homem se descobre como ser prodtvo e passa a ter conscênca de s e do mndo pelo desenvolvmento do aprmoramento da prodtvdade do trabalho, da cênca sobre a realdade. Percebe-se então qe “a hstra é o processo de cração do homem pelo trabalho hmano”. Hegel ennco as característcas ndamentas da dalétca, e Marx e Engels tomaram desse ensao apenas o núcleo raconal de sa dalétca. O lsoo alemão Ldwg Andreas Feerbach (1804-1872) rentegro o materalsmo ao se devdo lgar, e Marx e Engels, assm como no caso de Hegel, tomaram apenas o núcleo central do materalsmo de Feerbach. Dessa manera, podemos organzar o pensamento marxsta nas segntes estrtras:
5.2.2. O Materialismo Filosóco Marxista a. Marx parte do prncípo de qe o mndo, pela
sa natreza, é materal e qe os múltplos enômenos do nverso são derentes da matéra em movmento. b. O Materalsmo Flosco Marxsta parte do prncípo de qe a matéra, a natreza, o ser, são ma realdade objetva exstndo ora e ndependente da conscênca. c. Para o Materalsmo Flosco Marxsta, o mndo e as sas les são peretamente conhecíves. Não h de orma algma no mndo cosas qe não podem ser conhecdas, mas ncamente cosas desconhecdas, as qas serão descobertas e conhecdas pela cênca e pela prtca.
5.2.3 . O Materialismo Histórico a. O Materalsmo Hstrco consdera qe a orça
é o método de obtenção dos meos de exstênca necessros à vda dos homens, o modo de prodção de bens materas. b. A prmera partclardade da prodção, é a de qe nnca se mantém nm dado ponto por mto tempo;est sempre a transorma-se e desenvolver-se; além dsso, mdança do modo de prodção provoca nevtavelmente a mdança de todo o regme socal , as deas socas, as opnões e nsttções polítcas; a mdança do modo de prodção provoca a modcação de todo o sstema socal e polítco. c. A segnda partclardade da prodção é a de qe as transormações e o se desenvolvmento começam sempre pela transormação e desenvolvmento das orças prodtvas. As orças prodtvas são por conseqênca, o elemento mas mvel e mas revolconro da prodção. d. A tercera partclardade de prodção é qe as novas orças prodtvas e as relações de prodção qe lhes correspondem não aparecem ora do antgo regme, aparecem no ceo do velho regme.
5.2.1 . O Método Dialético Marxista a. Olha a natreza como m conjnto de ele-
mentos lgados qe dependem ns dos otros e são condconados recprocamente. Nada pode ser consderado o entenddo soladamente, para se entender determnado enômeno é necessro estdar o ambente como m todo. b. Olha a natreza como m estado de movmentos constante. Como dz Engels, toda a natreza das partíclas mas ínmas aos corpos maores. Est empenhada em m processo de aparecmento e desaparecmento, em m fxo ncessante, em movmento e em transormação perpétos. c. A dalétca consdera o processo de desenvolvmento como o qe passa das mdanças qanttatvas e latentes a mdanças evdentes e radcas, às mdanças qaltatvas. d. A dalétca entende qe os objetos e os enômenos da natreza encerram contradções nternas, pos têm m lado negatvo e m lado postvo, m passado e m tro, todos eles têm elementos qe desaparecem o qe se desenvolvem, a lta entre o velho e o novo. Lênn dz qe a dalétca no verdadero sentdo da palavra é o estdo das contradções na prpra essênca das cosas.
5.3 . Fenomenologia: a
intencionalidade da consciência humana
A Fenomenologa o empregada em vras acepções, por vros pensadores, ao longo da hstra da
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losoa. O termo aparece na obra de Jean Lambert, em 1734, com o sentdo de “dotrna da aparênca”. Ele denomna Fenomenologa a nvestgação qe vsa a dstnção entre verdade e aparênca, de modo a destrr as lsões qe com reqênca se apresentam ao pensamento. Essa nvestgação é armada como o ndamento de todo saber empírco. Fo, em segda, retomada por Kant e, sobretdo, por Hegel, qe pblca Fenomenologia do espírito , em 1807. O método enonenolgco qe emerg na segnda metade do séclo XiX teve entre ses ormladores Franz Clemens Brentano (1838-1917), m lsoo alemão qe, em sas anlses, bscava a ntenconaldade da conscênca hmana, em sa ntenção de descrever, compreender e nterpretar os enômenos qe se apresentam à percepção. Em oposção ao Postvsmo, a Fenomenologa bsca a vla às csas mesmas , sto é, aos enômenos, àqlo qe aparece à conscênca, qe se d como objeto ntenconal. Se objetvo é chegar à ntção das essêncas, sto é, ao conteúdo ntelgível e deal dos enômenos, captado de manera medata. No séclo XX, vros lsoos desenvolveram o método enomenolgco, entre eles: Edmnd Hsserl, Martn Hedegger, Jean-Pal Sartre e Marce Merlea-Ponty. O método enomenolgco consste em mostrar o qe é apresentado e esclarecer esse enômeno. O objeto é como o sjeto o percebe, e tdo tem de ser estdado tal como é para ele, sem ntererênca de qalqer regra de observação. um objeto, ma sensação, ma recordação, enm, tdo deve ser estdado tal como é para o espectador. Toda conscênca é conscênca de algma cosa. Assm sendo, a conscênca não é ma sbstnca, mas ma atvdade consttída por atos (percepção, magnação, especlação, volção, paxão etc.) com os qas vsa algo. Segndo Kant, o enômeno deve caracterzar-se no tempo e no espaço por meo da aplcação das categoras do entendmento a priori (ma dedção lgca da cosa) e em segda a posteriori (o qe pode ser dentcado “postvamente” qanto a esse objeto). Com a cosa nserda em m contexto temporal e espacal, est apta a receber todos os componentes da cênca
am de estd-la. E, para a aplcação dos dversos jízos da cênca (sntétco/ a priori ; analítco/ a posteriori ), deve exstr o ser qe transcenda a cênca, o objeto e a terra. Segndo ele, a enomenologa estda a matéra como objeto possível da experênca. Para Charles Sanders Perce (1839-1914), lsoo, centsta e matemtco amercano, a Fenomenologa constt parte da losoa e compreende o estdo do enômeno qe se apresenta de qalqer modo à mente, ndependentemente de qalqer correspondênca com a realdade. Essa escola de pensamento, contdo, ganho m novo e rgoroso dreconamento no pensamento de Edmnd Hsserl, de manera tal qe o sentdo atalmente vgente desse termo lga-se, por prncípo, ao sgncado qe lhe otorgo esse ator. A Fenomenologa, segndo Edmnd Hsserl (1859-1938), é m método qe vsa encontrar as les pras da conscênca ntenconal. A ntenconaldade é o modo prpro de ser da conscênca, ma vez qe não h conscênca qe não esteja em ato, drgda para m determnado objeto. Por sa vez, todo objeto somente exste enqanto aproprado por ma conscênca. Sjeto e objeto consttem, para essa concepção, dos polos de ma mesma realdade.
6. Conito de paradigmas e abordagens contemporâneas
6.1 . Cartesianismo: crise
humana e ambiental
O ísco Frtjo Capra, no se lvro O ponto de mutação , bsca dentcar os dos grandes paradgmas qe se conrontam no m do séclo XX: o mecancsta e o sstêmco. Segndo ele, o paradgma mecancsta agrpa todos os paradgmas qe acetaram a vsão de mndo de René Descartes, segndo a qal o mndo natral é ma mqna carente de esprtaldade e, portanto, deve ser domnada pela ntelgênca hmana e ser colocada a se servço. Nessa vsão, o mndo opera a partr de les matemtcas, gal a qalqer mqna, o qe
A Fenomenologia busca a volta às coisas mesmas, isto é, aos fenômenos, àquilo que aparece à consciência, que se dá como objeto intencional. TEORiAS DO PENSAMENTO CONTEMPORâNEO
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permtra qe, ao serem estabelecdas rgorosamente, o homem tera ma cpa el do mndo. Essa vsão agrpa o Postvsmo, o Neopostvsmo e a Dalétca Materalsta. Em sma, agrpam-se aq as escolas de pensamento monsta e algmas dalstas. Capra (1995) descreve como o Mecancsmo Cartesano o ncorporado por todas as cêncas tradconas, levando à crse ndvdal, socal e ambental de carter global qe se vve hoje. A vsão mecancsta adota a dea de qe o mndo natral é regdo determnstcamente por les matemtcas em contraposção ao mndo hmano, no qal h o lvre-arbítro. O paradgma mecancsta prvlega a ndvdaldade, a lta e a competção. Ele transormo o mndo medeval no mndo moderno de hoje. A tecnologa aplcada a todos os campos da vda cotdana, ndstral e centíca é ndamentada nas descobertas da cênca mecancsta, postvsta, e as socedades, nsttções, bem como a ndvdaldade e a sbjetvdade, nconam de acordo com os modelos dalétcos, materalstas. O qe sgnca qe, de ato, a crse vvda hoje em todas as reas, desde a ecolgca, passando pela socal até a ndvdal e esprtal, é responsabldade do paradgma cartesano. Max Horkhemer (1895-1973), lsoo e soclogo alemão, ez crítcas ao Raconalsmo de Descartes. Segndo ele, o pensamento nascdo com Descartes e, posterormente, transormado em m dos prncípos ndamentas da cênca moderna, prvlego sem qalqer restrção ma raconaldade abstrata e voltada para a domnação da natreza, colocando assm o pensamento e a especlação losca em ma va de crescente degradação. Com a separação do pensamento e da realdade concreta promovda pelo Cartesansmo, a razão transormo-se em m mero nstrmento de domnação, perdendo sa orça esclarecedora e o se poder lbertador. A raconaldade técnca, desprezando a objetvdade em avor de regras (método) lgcas nternalzadas, levo aos homens a possbldade de domíno eetvo sob a natreza externa. Ao lado do progresso da cênca e da ndústra, a razão lgca e abstrata mpôs ma dnmca cega e rraconal no qe dz a respeto à condção hmana. Morn (1996) lembra qe presencamos a derrbada da cênca clssca cjos expoentes, Descartes
e Newton, concebam o mndo como pereto. Para esse ator, essa pereção é nexste, o qe co provado qando percebe-se qe o mndo era consttído por tomos, em m sstema ormado de partíclas altamente complexas. Nesse aspecto, a cênca clssca é ma cênca lmtada, presa a ma realdade determnsta mecnca, qe consdera a sbjetvdade como onte de erro, ao mesmo tempo em qe excl o observador e sa observação – mndo dos objetos, mndo dos sjetos. Segndo Khn (1975), essa crse az srgr m novo paradgma, ma nova estrtra de presspostos qe vão alcerçar ma comndade centíca. um olhar em nova dreção passa a dar corpo ao paradgma emergente, enqanto ma teora capaz de abarcar a rqeza da cênca e do espírto. Para Hesenberg (1995), a realdade é ndetermnada, ma probabldade na qal tdo pode acontecer. A ncerteza passa a ser rotlada sbjetva na medda em qe se reere ao conhecmento do mndo de cada m. A únca cosa qe pode ser prevsta é a probabldade. A probabldade, portanto, assme o lgar da certeza. Segndo Bohm (1995), aqlo qe se vê de medato é na verdade spercal, e as deas devem correlaconar-se ao qe se vê de medato. Ele dene, portanto, qe o holograma é o ponto de partda para ma nova descrção da realdade: a ordem dobrada em qe a realdade é sempre ntera, total e essencalmente ndependente do tempo, em qe o todo se manesta. Desdobra smplcdade até abranger a complexdade do nverso. Bohm arma qe o manesto est dentro do não manesto, e qe este é maor e move aqele, captado pela armadlha do pensamento.
6.2 . As teorias sistêmicas A Teora Geral dos Sstemas o proposta em meados de 1950 pelo blogo Ldwg von Bertalany. Sas pesqsas oram baseadas em ma vsão derente do Redconsmo Centíco, até então aplcado pela cênca convenconal. Bertalany compreende o sstema como m conjnto de elementos nterdependentes qe nteragem com objetvos comns ormando m todo, no qal cada m dos elementos componentes comporta-se, por sa vez, como m sstema cjo resltado é maor do qe o resltado qe as ndades poderam ter se nconassem
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ndependentemente. Qalqer conjnto de partes ndas entre s pode ser consderado m sstema, desde qe as relações entre as partes e o comportamento do todo sejam o oco de atenção. Sstema é m conjnto de partes coordenadas, ormando m todo complexo o ntro.
mtco. Ele é o crador da Teora da Atopoese e da Bologa do Conhecer, e jnto de Francsco Varela, az parte dos propostores do Pensamento Sstêmco e do Constrtvsmo Radcal. Dzem qe ns, seres hmanos, somos anmas raconas. Nossa crença nessa armação nos leva a menosprezar as emoções e a enaltecer a raconaldade, a ponto de qerermos atrbr pensamento raconal a anmas não hmanos, sempre qe observamos neles comportamentos complexos. Nesse processo, zemos com qe a noção de realdade objetva, se tornasse reerênca a algo qe spomos ser nversal e ndependente do qe azemos, e qe samos como argmento vsando a convencer algém, qando não qeremos sar a orça brta (MATuRANA, 1997).
Os sstemas podem ser abertos o echados: os abertos sorem nterações com o ambente em qe estão nserdos. A nteração gera realmentações qe podem ser postvas o negatvas, crando ma atorreglação regeneratva, a qal, por sa vez, cra novas propredades qe podem ser benécas o malécas para o todo ndependentemente das partes; os sstemas echados são aqeles qe não sorem nfênca do meo ambente no qal estão nserdos, de tal orma qe ele se almenta dele mesmo. Segndo Bertalany (1975), os organsmos (o sstemas orgncos) em qe as alterações benécas são absorvdas e aprovetadas sobrevvem, e os sstemas em qe as qaldades malécas ao todo resltam em dcldade de sobrevvênca tendem a desaparecer, caso não haja otra alteração de contrabalanço qe netralze aqela prmera mtação. A evolção permanece nnterrpta enqanto os sstemas se atorreglam. um sstema realmentado se reorganza e atogerenca, sso é a atorreglação em qe o todo assme as tareas da parte qe alho. Os parmetros qe compõem qalqer sstema são:
x eada (input ), sendo os mplsos recebdos x x x x
de ora na orma de matéra e/o energa; saídas (output ), resltados o prodtos do sstema na orma de matéra e energa; pcessame, transormação o operação; ea (feedback ) em orma de retroalmentação; ambee, sendo o meo qe envolve o sstema.
Entre as vras vertentes qe deram orgem ao atal pensamento sstêmco, ncl-se a cbernétca o cênca dos sstemas de controle. A cbernétca srg nos EuA e se consoldo drante ma sére de conerêncas patrocnadas pela Fndação Josah Macy Jr. A partr de 1942, pesqsadores de vras procedêncas e derentes reas de nteresse começaram a se renr com reglardade. Entre eles, o blogo chleno Hmberto Matrana tem se apresentado como grande crítco do Realsmo Mate-
A abordagem sstêmca de Matrana derva de se conceto ndamental: a atopoese. Poiesis é m termo grego qe sgnca “prodção”. Atopoese qer dzer atoprodção. A palavra srg pela prmera vez na lteratra nternaconal em 1974, em m artgo pblcado por Varela, Matrana e urbe para denr os seres vvos como sstemas qe prodzem a s mesmos de modo ncessante. Esses são sstemas atopoétcos por denção, porqe sempre recompõem ses componentes desgastados. Assm, m sstema atopoétco é ao mesmo tempo prodtor e prodto. De m modo geral, as prncpas deas de Matrana e sa contrbção ao Pensamento Sstêmco podem ser assm resmdas:
a. enqanto não entendermos o carter sstêmco da célla não consegremos compreender os organsmos; b. a atopoese dene com clareza os enômenos bolgcos; c. os enômenos socas podem ser consderados bolgcos, porqe a socedade é ormada por seres vvos; d. a noção de qe os sstemas são determnados por sa estrtra é de ndamental mportnca para mtas reas da atvdade hmana. Para Matrana, o termo “atopoese” tradz o centro da dnmca constttva dos seres vvos. Para exercê-la, esses seres precsam de recrsos do ambente. Portanto, são sstemas ao mesmo tempo atônomos e
TEORiAS DO PENSAMENTO CONTEMPORâNEO
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dependentes. Matrana e Varela tlzaram ma metora ddtca para alar dos sstemas atopoétcos. Para eles, tas sstemas são mqnas qe prodzem a s prpras. Nenhma otra espéce de mqna é capaz de azer sso, pos todas elas prodzem sempre algo derente de s mesmas.
6.3 . A teoria da
complexidade
os processos organzaconas complexos qe transcendem as teoras clsscas sobre organzações hmanas. Os derentes pensadores da complexdade reconheceram qe ela não é como se acredtava ncalmente, ma propredade especíca dos enômenos bolgcos e socas, tornando-se, portanto, m pressposto epstemolgco transdscplnar qe srge sobre três aspectos.
Segndo ma mportante dmensão o pressposto epstemolgco emergente na cênca é o da complexidade . Esse tema não é novo, ele srge de manera mas eetva nos anos 1980. Sabe-se qe as cêncas bolgcas e socas h mto se derontam com a dcldade de adotar o paradgma tradconal de cênca, enqanto as cêncas íscas, por obterem scesso em sa orma de trabalhar com esse paradgma, eram vstas como modelo de centcdade (VASCONCELLOS, 2002). Segndo Morn (1990), a palavra “complexdade” tem orgem no latm complexus , qe sgnca o qe est tecdo em conjnto. Reere-se a m conjnto cjos consttntes heterogêneos estão nseparavelmente assocados e ntegrados, sendo ao mesmo tempo no e múltplo. Para qe se possa perceber o complexo, é precso amplar o oco, em vez de acredtar qe o objeto de estdo ser o elemento, o o ndvído, e qe ser precso delmt-lo mto bem, deve-se passar a acredtar qe o objeto ser estdado o trabalhado em se contexto. Segndo Frederc Mnné (1995), a Teora da Complexdade mostra qe a realdade é não lnear, catca, ractal, catastrca e fuzzy (dsa) e deve ser vsta de orma não somente qanttatva, mas, prncpalmente, qaltatva. A realdade é nacabada, é m eterno e catco fr. Ela engloba vras teoras recentes – Teora do Caos, dos Fractas, das Catstroes, da Lgca/Conjntos Fuzzy (dsos) e otras procedentes das cêncas exatas qe se drgem, explícta e mplctamente, para ma vsão cada vez mas aproxmada da realdade, sem smplcação, sem redconsmo. Paradoxalmente, essas teoras aproxmam-se das cêncas natras e das cêncas hmanas, sendo aplcadas para entender as estrtras e
x O “problema lgco” – no níco do séclo XX, no campo da mcroísca derontavam-se das concepções, a da partícla sbatômca concebda de m lado como onda e de otro como partícla, obrgando os pesqsadores a azer ma das opções. Até qe Nels Bohr armo qe “essas proposções contradtras eram de ato complementares [e qe] logcamente se deveram assocar os dos termos qe se exclem mtamente” (MORiN, 1991, p. 422). Esses prncípos oram também analsados por Max Plank (1990), qe percebe qe a lz pareca atocontradtra, consstndo, ao mesmo tempo, em ondas e em partíclas, ato qe elmna a daldade. Essa daldade levo ao desenvolvmento da teora qntca para a mecnca qntca, ao descobrmento do nconamento do tomo e ao reconhecmento do mndo sbatômco como espaço-tempo em qe predomna o “prncípo da ncerteza” e “prncípo da complementardade”. x O “problema da desordem” – remete-se à dmensão da nstabldade. A ísca constato também o problema da tendênca à desordem, qe veo para derrbar m dogma central da ísca, a ordem, segndo esse dogma o mndo é estvel, ncona como ma mqna mecnca absoltamente pereta, em qe a desordem não sera mas qe ma lsão o ma aparênca. um tpo de desordem veo das pesqsas da termodnmca. Segndo Prgogne (1980), a descoberta de qe o calor corresponde à agtação desordenada das moléclas por Boltzmann permt qe se notasse qe a entropa corresponde a ma medda da
Os diferentes pensadores da complexidade reconheceram que ela não é como se acreditava inicialmente, uma propriedade especíca dos fenômenos biológicos e sociais. MóDuLO BáSiCO
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desordem moleclar. O reconhecmento da desordem exg ma nova orma de pensar, qe nclísse a ndetermnação e a mprevsbldade dos enômenos. x O “problema da ncerteza” – remete-se à dmensão da ntersbjetvdade. Morn (1983) ensna a complexdade da relação de conhecmento, da relação entre sjeto qe conhece e o objeto qe é conhecdo j é tema a mto dsctdo pelos pensadores e lsoos. Entretanto, essa relação s o trazda ormalmente para o mbto da cênca pela ísca, qando Hesenberg ormlo o “prncípo da ncerteza” no qal “não se pode ter, smltaneamente, valores bem determnados para a posção e para a velocdade, em mecnca qntca”. Com sso demonstro qe nem mesmo a mensração podera prodzr certeza e qe “ao se lançar sobre m elétron, a m de poder ‘vê-lo’, sso nevtavelmente o colocava ora de crso, aetando sa velocdade o sa posção”. Essas descobertas provocaram a eclosão do pensamento complexo e, por conseqênca, o avanço de dversas cêncas. Nas cêncas hmanas de-se níco ma vsão mas ntegradora para o conhecmento do se objeto de estdo, o ser hmano, e assm a bsca de ma cênca qe pdesse atender a demanda da crse socoambental. Para se ter ma melhor percepção do qe se concebe no mbto do pensamento centíco como complexidade, é precso conhecer sas bases epstemolgcas.
mação”, “edcação do espírto”. É assocada à dea de progresso, edcação (ma pessoa “clta”). Perre Borde (1930-2002) o m soclogo rancês qe analso derenças cltras entre grpos socas e desenvolve o conceto de habitus : sstemas de dsposções dradoras e transponíves, estrtras adqrdas por meo de conhecmentos prpros de modos de vda partclares. Ele caracterza ma classe o m grpo socal por comparação com otros qe não partlham das mesmas condções socas. O habitus ncona como a materalzação o a ncorporação da memra coletva. Franz Boas (1858-1942) mostra qe a aplcação desse método recsa as determnações do meo ísco e as determnações racas como responsves pela dversdade dos modos de vda hmanos. É na cltra e no partclarsmo hstrco qe ele va bscar as ontes dessa dversdade. Boas, ao crtcar o evolconsmo, lanço as bases do Cltralsmo, cjo objeto de refexão eram as socedades dtas prmtvas, espalhadas sobre o globo terrestre, consderadas na sa especcdade, na sa orgnaldade.
6.4 . Abordagem cultural
Segndo Consorte (1997), o Cltralsmo emerge como esorço de compreensão da dversdade hmana, “constt-se no processo de crítca ao evolconsmo, caracterzando-se, ndamentalmente, por das rptras ma com o Determnsmo Geogrco e otra com o Determnsmo Bolgco”. No campo da pscologa, o Cltralsmo atrb à cltra o papel determnante no desenvolvmento do carter e da personaldade, enqanto nas cêncas socas em geral ele se tradz no destaqe do papel da cltra na organzação das condtas e dos enômenos coletvos.
O termo “cltra” em latm sgnca os cdados prestados aos campos e ao gado. No séclo XVi, essa palavra dena a ação de cltvar a terra; e no m do séclo XVii passo a ser sado no sentdo de ma acldade o o trabalho para desenvolver ma acldade. Mas o no séclo XViii qe a palavra assm se sentdo grado, como nas expressões “cltra das artes”, “cltra das letras”, “cltra das cêncas”. O termo “cltra” também se assoca às expressões “or-
Entre os concetos mas mportantes qe ganharam orça no Cltralsmo est o de dentdade, qe se remete para o sentdo de pertença, nfencando o comportamento dos ndvídos em modaldade de categorzação na dstnção e-você e ns-eles. Desse conceto derva a dentdade socal, na qal a coletvdade pode peretamente nconar admtndo no se nteror certa plraldade cltral. O qe cra a separação, a rontera, é a vontade de derencação e a tlzação de certos traços cltras como marcadores da sa dentdade especíca.
e conhecimento
No campo da psicologia, o Culturalismo atribui à cultura o papel determinante no desenvolvimento do caráter e da personalidade. TEORiAS DO PENSAMENTO CONTEMPORâNEO
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Boaventra Santos, apresentando as teses de m paradgma emergente e argmentando qe todo o conhecmento centíco vsa consttr-se em senso comm, dz:
7. A complexidade
humana: limites e desaos educacionais
[...] a cênca ps-moderna sabe qe nenhma orma de conhecmento é, em s mesma, raconal; s a congração de todas elas é raconal. Tenta, pos, dalogar com otras ormas de conhecmento dexando-se penetrar por elas. A mas mportante de todas é o conhecmento do senso comm, o conhecmento vlgar e prtco com qe no qotdano orentamos as nossas acções e damos sentdo à nossa vda. [...] É certo qe o conhecmento do senso comm tende a ser m conhecmento mstcado e mstcador mas, apesar dsso e apesar de ser conservador, tem ma dmensão tpca e lbertadora qe pode ser amplada através do dlogo com o conhecmento centíco” (2002, p. 55-56)
7.1 . Novos paradigmas e
conhecimento cientíco
Na prmera década deste séclo, as preocpações com os sstemas natras e hmanos adqrram sprema mportnca. Veo à tona com toda ma sére de problemas globas qe estão dancando a bosera e a vda hmana de ma manera alarmante, em m cenro de degradação prxmo de ser rreversível. Exste ampla docmentação centíca a respeto da extensão e da mportnca desses problemas. Qanto mas se conhece os prncpas problemas da ataldade, mas percebe-se qe eles não podem ser entenddos soladamente. São problemas sstêmcos, o qe sgnca qe estão nterlgados e são nterdependentes. Em últma anlse, esses problemas precsam ser vstos, exatamente, como derentes acetas de ma únca crse, qe é, em grande medda, ma crse de percepção. Ela derva do ato de qe a maora das pessoas, e em especal grandes nsttções socas, concordam com os concetos de ma vsão de mndo obsoleta, ma percepção da realdade nadeqada para ldar com as qestões cltras e natras deste séclo. Thomas Khn (1962) aponta qe esse movmento ocorre sob a orma de rptras descontínas e revolconras denomnadas mdanças de paradgma. Segndo ele, h m “paradgma” centíco, qe pode ser dendo como “ma constelação de realzações – concepções, valores, técncas etc. – compartlhada por ma comndade centíca e tlzada por ela para denr problemas e solções legítmos. O paradgma qe est agora retrocedendo domno a cltra por vras centenas de anos, drante as qas modelo a moderna socedade ocdental e nfenco sgncatvamente o restante do mndo.
Reconhecer a alênca das certezas é tomar conscênca da crse paradgmtca qe se vve. Os parmetros de verdade – aqeles transmtdos de geração em geração – não são os mesmos e não consegmos mas agr como nossos pas, como pensava o músco e poeta. Os novos paradgmas e modelos de saber centíco qe emergem trazem consgo ma nova vsão de mndo para a socedade. Nessa nova vsão o conhecmento qe necessta ser sstentado em prncípos, tas como:
Segndo Chzzott (2005), as concepções de mndo denomnam-se paradgmas e estes representam ma concepção terca, ma crença qe drecona a letra do mndo, o qe az qe se enxerge o mndo de m determnado modo. Por consegnte, as teoras qe orentam as nvestgações podem ser dendas também como paradgmas, modelos o postras dos nvestgadores.
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x o conhecmento centíco-natral é centíco socal sem rptra entre o ser hmano e natreza, o orgnco e o norgnco, a conscênca e a realdade ísca externa. O qe leva a m saber sem dstnção entre cêncas exatas e hmanas. O ser hmano est no centro do conhecmento, mas a natreza est no centro do ser hmano; x o conhecmento é local e total, sem ragmentação do saber. O saber se constt mltdscplnarmente por meo de ma síntese de vras ontes, métodos, vvêncas e percepções; x o conhecmento é atoconhecmento, sem dstnção entre observador e enômeno, sjeto e objeto, sbjetvo e objetvo. O pensamento centíco não descobre, cra conhecmentos, e não é a únca explcação possível;
x o conhecmento centíco dexa de ser hermé-
car em evdênca a mltdmensonaldade e a complexdade hmana, bem como ntegrar (na edcação do tro) a contrbção nestmvel das hmandades, não somente a losoa e hstra, mas também a lteratra, a poesa, as artes [...] (MORiN, 2003, p. 47-48).
tca e reservada a pocos eletos capactados, para ganhar o domíno públco e tornar-se m saber poplar.
7.2 . A formação do cidadão complexo Morn (2003), ao analsar as bases da edcação do tro, aponta qe ela dever ser o ensno prmero e nversal na condção hmana. Vve-se na era planetra; ma aventra comm condz seres hmanos, onde qer qe se encontrem. Estes devem reconhecer-se em sa hmandade comm e ao mesmo tempo reconhecer a dversdade cltral nerente a tdo qe é hmano. Conhecer o hmano é, antes de mas nada, st-lo no nverso, e não separ-lo dele. Todo o conhecmento deve contextalzar se objeto, para ser pertnente. “Qem somos?” é nseparvel de “Onde estamos?”, “De onde vemos?”, “Para onde vamos?” interrogar nossa condção hmana mplca qestonar prmero nossa posção no mndo. O fxo de conhecmentos, no nal do séclo XX, traz lz sobre a stação do ser hmano no nverso. Os progressos concomtantes da cosmologa, das cêncas da Terra, da ecologa, da bologa, da pré-hstra, nos anos 60-70, modcaram as deas sobre o unverso, a Terra, a Vda e sobre o prpro Homem. Mas estas contrbções permaneceram anda desndas. O hmano contna esqartejado, partdo como pedaços de m qebra-cabeça ao qal alta ma peça. Aq se apresenta m problema epstemolgco: é mpossível conceber a ndade complexa do ser hmano pelo pensamento dsjntvo, qe concebe nossa hmandade de manera nslar, ora do cosmos qe nos rodea, da matéra ísca e do espírto do qal somos consttídos, bem como pelo pensamento redtor, qe restrnge a ndade hmana a m sbstrato pramente boanatômco. As cêncas hmanas são elas prpras ragmentadas e compartmentadas. Assm, a complexdade hmana torna-se nvsível e o homem desvanece “como m rastro na area”. Além dsso, o novo saber, por não ter sdo relgado, não é assmlado nem ntegrado. Paradoxalmente assste-se ao agravamento da gnornca do todo, enqanto avança o conhecmento das partes. Dsso decorre qe, para a edcação do tro, é necessro promover grande remembramento dos conhecmentos orndos das cêncas natras, a m de star a condção hmana no mndo, dos conhecmentos dervados das cêncas hmanas para colo-
Morn, em se lvro Os sete saberes necessários à educação do futuro , apresenta o qe ele mesmo chama de nsprações para o edcador, reerndo-se aos saberes necessros para ma boa prtca edcaconal. São eles:
x 1º sabe: erro e lsão – não aastar o erro
x x
x
x
x
x
do processo de aprendzagem, ntegrar o erro ao processo, para qe o conhecmento avance. 2º sabe: o conhecmento pertnente – jntar as mas varadas reas de conhecmento, contra a ragmentação 3º sabe: ensnar a condção hmana – os ndvídos não são m algo s. São pessoas mas qe cltras, são psíqcas, íscas, mítcas, bolgcas etc. 4º sabe: dentdade terrena – saber qe a Terra é m peqeno planeta qe precsa ser sstentado a qalqer csto. idea da sstentabldade terra-ptra. 5º sabe: enrentar as ncertezas – prncípo da ncerteza. Ensnar qe a cênca deve trabalhar com a dea de qe exstem cosas ncertas. 6º sabe – ensnar a compreensão – a comncação hmana deve ser voltada para a compreensão. introdzr a compreensão; compreensão entre departamentos de ma escola, entre alnos e proessores etc. 7º sabe: étca do gênero hmano – é a “antropo-étca”. Não desejar para os otros, aqlo qe não qer para você. A “antropo-étca” est ancorada em três elementos: ndvído, socedade e espéce.
Morn alerta qe na prtca de aplcar esses saberes, a qestão ndamental, o objetvo não é transorm-los em dscplnas, mas sm em dretrzes para ação e para elaboração de propostas e ntervenções edcaconas. Como o vsto, a hmandade se deronta com lmtações para a satsação das necessdades bscas de exstênca, a globalzação econômca acelero a degra-
TEORiAS DO PENSAMENTO CONTEMPORâNEO
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dação e dos sstemas natras do planeta e dstanco mlhões de pessoas da possbldade concreta da emancpação hmana. Por otro lado, observa-se m amplo esorço das cêncas natras e hmanas, prncpalmente no m do séclo XX, em bscar respostas e estmlar ações concretas qe permtam aos ndvídos lbertar-se da alenação socoespacal. Segndo Palo Frere (1980), “a únca manera de ajdar o homem a realzar sa vocação ontolgca, a nserr-se na constrção da socedade e na dreção da mdança socal, é sbsttr esta captação prncpalmente mgca da realdade por ma captação mas e mas crítca”. Palo Frere sempre ensno qe o ser hmano s tem as possbldades de partcpar atvamente na hstra, na socedade e na transormação da realdade se lhe or axlado a tomar conscênca da realdade e de sa prpra capacdade para transorm-lo. Se o ndvído não pode ltar contras as orças qe não compreende, a não ser qe descbra qe é modcvel e qe ele pode azê-lo, esta conscentzação reqer o prmero objetvo da edcação, e “antes de tdo provocar ma attde crítca, de refexão, qe comprometa a ação”. Tendo a edcação ormal e a normal adqrdo as condções tercas e metodolgcas necessras para promover ma vsão mas complexa dos enômenos natras e hmanos é precso estabelecer novas premssas para dar corpo e sentdo aos novos paradgmas emergentes: Ênase em aprender a aprender. Conhecmento sjeto a mdanças. Aprendzagem como processo, como jornada. igaldade, dscordnca permtda, relação entre pessoas, e não entre papés. x Experênca nteror/pessoal para potencalzar aprendzagem.
x x x x
x Bsca do todo, raconaldade somada à ntx x x x x x
ção. Teora complementada por experêncas. Edcação como processo para vda toda. Estrtra do crríclo fexível em conteúdos e metodologa. Proessor também aprende. Camnho de das mãos. Preocpação com ambente para aprendzagem: lz, cores, conorto ísco. Preocpação com o desempenho do ndvído. integração de pessoas com dades derentes.
Os paradgmas do pensamento atal concebem o mndo como m todo ntegrado, e não como ma coleção de partes dssocadas. Essa percepção reconhece a nterdependênca ndamental de todos os enômenos, e o ato de qe, enqanto ndvídos e socedades, todos estão encaxados nos processos cíclcos da natreza e, em últma anlse, são dependentes desses processos. Neste breve ensao sobre as Teoras do Pensamento Contemporneo oram enatzadas as mdanças nas maneras de pensar qe ocorreram na moderndade e chegaram até nossa geração por meo dos sstemas de ensno. Segndo mtos pensadores das novas teoras, a socedade atal poss as condções necessras (epstemolgcas, tecnolgcas e normaconas) para transção para m novo paradgma. H o movmento de m número scente de pensadores artclados e eloqentes qe podem convencer os líderes polítcos e corporatvos sobre as ormas complexas pensamento. No entanto, a mdança de paradgmas reqer ma expansão não apenas de percepções e maneras de pensar, mas também de valores cltras e natras.
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