Um roteiro para ler Dostoiévski
Tive a ideia de elaborar este roteiro ao constatar o seguinte fenômeno: muitas pess pessoa oass que que se lanç lançam am na obra obra de Dost Dostoi oiév évsk skii esco escolh lhem em,, como como prim primei eira ra leitura, Crime por ser serem os livr livros os mais mais Crime e Cast Castig igo o ou Os Irmãos Irmãos Karamá Karamázov zov, por come coment ntad ados os do auto autor, r, e uma uma gran grande de part partee dest destes es leit leitor ores es,, talv talvez ez a maio maiori ria, a, abandona o livro, sobretudo os que começam por Os Irmãos Karamázov !lém disso, disso, h" o proble problema ma das traduç traduç#es #es $mb $mbora ora Dosto Dostoiév iévski ski %" tenha tenha encant encantado ado milhares de leitores brasileiros no século passado, somente de uns anos para c", com as traduç#es traduç#es feitas diretamente diretamente do russo, estamos tendo acesso acesso a te&tos mais fiéis ao verdadeiro Dostoiévski De modo geral, a linguagem de Dostoiévski n'o é dif( dif(ci cil) l) pelo pelo cont contr" r"ri rio, o, é aces acess( s(ve vell e prop propor orci cion onaa uma uma leit leitur uraa r"pi r"pida da,, mas mas h" elem elemen ento toss que que pode podem m caus causar ar uma uma fals falsaa impr impres ess' s'oo de densi densida dade de,, como como,, por por e&emplo, os nomes russos, com os seus patron(micos, as variaç#es e as numerosas cons consoa oant ntes es,, os di"l di"log ogos os quil quilom omét étri rico coss *com *com freq frequ+n u+nci ciaa os pers person onag agen enss de Dost Dostoi oiév évsk skii fala falam m com comoo se esti estive vess ssem em lend lendoo um livr livroo-., ., as digr digress ess#e #es, s, os devaneios, os circunl/quios e os e&cessos *esses e&cessos s'o importantes do ponto de vista estil(stico.
0 claro que começar pelos grandes romances n'o é nada de t'o absurdo assim $u Crime e Castig Castigo o, no inverno de 1222, mas essa primeira mesmo mesmo comece comeceii por Crime e&peri+ncia n'o foi muito boa 3or falta de orientaç'o, adquiri um e&emplar da $ditora $diouro, com traduç'o de 4arlos 5eitor 4on6 $u gosto muito do 4on6, %" li muitos de seus romances e %" assisti a uma palestra sua, que me pareceu /tima, e sempre recomendo fortemente os seus livros, mas a sua traduç'o de Crime e Castigo deve ser evitada, %" que é indireta *é uma traduç'o de uma traduç'o para o franc+s. e, o pior de tudo, o te&to n'o é integral 7eguir a ordem cronol/gica também me parece desaconselh"vel, %" que, nesse caso, começar(amos com uma série de te&tos menos e&pressivos e demorar(amos muito para chagar a Os Irmãos Karamazov UM ROTEIRO PARA LER DOSTOIÉVSKI por 3ablo 8onzalez 9 roteiro a seguir est" dirigido a pessoas que est'o iniciando a sua caminhada pela obra obra de Dostoi Dostoiévs évski, ki, mas os leitor leitores es e&peri e&perient entes es est'o est'o convid convidado adoss a analis analisar, ar, criticar, aprovar ou desaprovar, acrescentar informaç#es, comentar e dar os seus pr/prios conselhos aos principiantes (1848 $scolhi Noites Brancas como ponto de partida 1 Noites Brancas (1848 partida para o nosso roteiro por tr+s raz#es 3rimeiro: trata;se de um romance breve *muitos o classificam como novela ou conto longo., que pode ser lido facilmente em um
aramazov *Os Irmãos Karamazov ., servindo, dessa maneira, como uma pequena amostra do her/i dostoievskiano Terceiro: logo nas primeiras p"ginas do livro, enquanto faz observaç#es angustiantes sobre a sua vida, o narrador caminha sem rumo pelas ruas de 7'o 3etersburgo 3odemos ver o ?io @iev", a !venida @ievski, e n'o e&iste melhor maneira de se entrar no universo de Dostoievski do que vagando por essa cidade t'o recorrente em sua obra Noites Brancas é uma hist/ria de amor 9 enredo é simples e repleto de suspense Depois de perambular durante tr+s dias, o protagonista conhece uma %ovem e imediatamente se apai&ona $la aceita se
encontrar outras vezes com a condiç'o de que ele lhe permita contar a sua tr"gica hist/ria E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' Noites Brancas E!itora )4 tra!*"#o !e Ni+a%!o !os Santos , -. /0inas2 A U& 3oa!or (18. 4omo segundo passo, optei por este intrigante romance, que também foi traduzido como O Jogador, por proporcionar uma leitura r"pida e leve e pertencer a uma etapa importante da vida e da produç'o liter"ria do autor 9 livro é considerado altamente autobiogr"fico, %" que Dostoiévski tinha o v(cio do %ogo e perdeu muito dinheiro nos cassinos europeus !ssim como em Noites Brancas, a narrativa est" na primeira pessoa, mas desta vez o protagonista tem nome, !leksiéi BvCnovitch, e é bem mais comple&o ! hist/ria transcorre numa cidade fict(cia da !lemanha, ?oletemburgo *uma alus'o roleta dos cassinos. e os personagens t+m diversas nacionalidades *russa, inglesa, alem', francesa, polonesa. E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' U& 3oa!or E!itora )4 tra!*"#o !e Boris Sc5nai!er&an , 6)6 /0inas2 E Depois de ler Noites Brancas e Um Jogador, certamente %" estaremos prontos para embarcar em Crime e Castigo, o primeiro grande romance do nosso roteiro, mas, apenas para ir intercalando romances com novelas, sugiro a leitura de duas pequenas pérolas da .8 /0inas2
I O Eterno Mari!o (18? $mbora tenha a sua dose dram"tica, o Eterno Marido é um dos livros mais engraçados de Dostoiévski 3or essa raz'o, e também por ser curto, leve e, para alguns cr(ticos, o te&to mais bem acabado do escritor, coloquei;o depois de Crime e Castigo no nosso roteiro 9 tema central é a infidelidade, n'o a infidelidade passional, mas uma infidelidade instintiva, intr(nseca, autom"tica JienltchCninov tem a impress'o que est" sendo seguido por um homem misterioso, que parece estar por toda 7'o 3etersburgo, eles travam conhecimento, o homem se revela o marido da sua e&;amante, que acaba de falecer JienltchCninov tem um sonho premonit/rio, surgem uma menina de paternidade duvidosa, uma carta escrita h" v"rios anos pela finada e um segundo e&;amante da mesma $m determinado ponto do livro, o protagonista afirma que algumas mulheres parecem ter nascido para serem infiéis, mas que, para esse tipo de mulher, e&iste um tipo de homem correspondente: o eterno marido ! trama est" cheia de surpresas e o suspense é conduzido de modo magistral até o fim E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' O Eterno Mari!o E!itora )4 tra!*"#o !e Boris Sc5nai!er&an , 61. /0inas2 K Me&7rias !o S*$so%o (18.4 @osso roteiro continua com outro livro fundamental de Dostoiévski Trata;se de um te&to obscuro, denso e perturbador 7e ler Crime e Castigo é conhecer as furiosas ondas do mar dostoievskiano, ler Memórias do Subsoo é afogar;se, chegar s profundezas desse mar e permanecer ali por minutos que parecem atemporais, na mais completa solid'o 9 livro est" dividido em duas partes com estruturas narrativas diferentes ! primeira, que se chama 9 7ubsolo-, é um mon/logo @a segunda parte, ! prop/sito da neve molhada-, h" um pequeno enredo, o homem subterrCneo abandona a escurid'o, sai com os colegas do trabalho, pelos quais ele é desprezado, e se envolve com uma prostituta, mas o principal elemento continua sendo a voz, uma voz contundente, ressentida, parado&al e sinistra, uma voz que causaria uma alegria sem limites- a @ietzsche e revolucionaria toda a literatura, por inaugurar o uso de atmosferas aleg/ricas, na ficç'o, para tratar de temas filos/ficos e sociais E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' Me&7rias !o S*$so%o E!itora )4 tra!*"#o !e Boris Sc5nai!er&an , 148 /0inas2 L O I!iota (18.- Trinta anos antes que Greud publicasse a Inter!reta"ão dos Son#os, Dostoiévski %" demonstrava ser um profundo conhecedor da psique humana, fato que pode ser constatado em toda a sua obra e, especialmente, em O Idiota, o segundo grande romance do nosso roteiro 0 o livro ideal para escapar da solid'o e da ang
autor tinha apenas AF anos @ormalmente, os escritores s/ alcançam o reconhecimento depois de publicar v"rios livros, mas esse n'o foi o caso de Dostoiévski $ente %obre foi recebido com grande entusiasmo pela cr(tica e pelo p !ntes de mergulharmos nas mil p"ginas de Os Irmãos Karamazov, recomendo O Crocodio, uma engraçad(ssima novela de apenas KE p"ginas, que ficou inacabada @a ediç'o da $ditora EF, essa novela foi reunida com Notas !e In+erno So$re I&/resses !e Ver#o (18.6 , cu%a leitura também gostaria de inserir neste ponto do roteiro, %" que se trata de uma e&celente oportunidade de conhecermos o Dostoiévski ensa(sta E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' O aram"sov é um homem beberr'o, irrespons"vel e cruel 4om a primeira esposa, teve Dm(tri) com a segunda, Bvan e !li/cha 9 quarto irm'o é 7mierdi"kov, o bastardo ! aç'o principal se desenrola na vida adulta dos irm'os, que s'o muito diferentes entre si Dm(tri é passional, Bvan é racional, !li/cha é espiritual e 7mierdi"kov é obscuro Dm(tri disputa os amores da sedutora 8raram"sov é assassinado por um dos filhos Hual dos quatro cometeu o crimeN 4om a leitura deste livro, o
11 Recor!a"es !a aram"sov 9 livro n'o est" no cat"logo da $ditora EF, mas a $ditora @ova !le&andria lançou uma traduç'o direta do russo ! obra pode ser classificada como romance, %" que o narrador é um personagem fict(cio, mas, em atierina, uma moça que vive com um velho bru&o E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' A Sen5oria E!itora )4 tra!*"#o !e :0ti&a Bianc5i , 146 /0inas2 1E A A%!eia !e Stie/ntc5i;o+ e Se*s a$itantes (18>- $ntre os anos 1MF2 e 1MI2, Dostoiévski foi preso, condenado morte, teve a pena comutada depois de uma simulaç'o do fuzilamento *ele chegou a ser amarrado a um poste com os olhos vendados, achando que morreria., passou I anos numa pris'o na 7ibéria e mais F cumprindo serviços forçados no e&ército 1 1deia de Stie!2ntc#i/ov foi um dos primeiros livros que ele escreveu e publicou depois dessa década t'o sofrida e conturbada 9 te&to n'o tem a mesma força que os romances da maturidade, %" que Dostoiévski, a esta altura, ainda n'o tinha passado pelo subsolo que ele mesmo inventaria, alguns anos depois, mas vale pelo personagem Gom" Gomich, um dos melhores personagens de toda a obra do escritor E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' A A%!eia !e Stie/ntc5i;o+ e Se*s a$itantes E!itora No+a A%eCan!ria tra!*"#o !e Nico%a* S2 Petico+ )6? /0inas2 1F Os De&Fnios (186 !qui Dostoiévski nos surpreende utilizando a terceira pessoa, mas n'o um narrador onisciente, e sim um narrador;personagem, que conhece a todos e é conhecido por todos, sem %amais interferir no desencadeamento dos fatos Um recurso muito sofisticado que ele soube e&plorar de modo perfeito ! hist/ria trata de duas geraç#es @a primeira temos 7tiepan e Jarvara, dois vi
de Dostoiévski, que utilizou um epis/dio real, o assassinato de um estudante, como ponto de partida para o enredo $mbora as quest#es pol(ticas se%am, em certa medida, anacrônicas, este romance %amais perder" a sua relevCncia, %" que o autor, no melhor da sua forma, faz, como sempre, uma pintura das "reas mais recônditas da psique humana Dostoiévski é atemporal $le escreveu sobre todos n/s E!i"#o $rasi%eira reco&en!a!a' Os De&Fnios E!itora )4 tra!*"#o !e Pa*%o Be=erra , ?4 /0inas2 OS LIVROS GUE AINDA NHO LI TETOS SEM TRADUJHO E