ZOHAR NA HISTÓRIA Visão historiografica do principal livro da cabalá
The Sefer ha-Zohar - the Book of Splendor - is without a doubt, the main work and most sacred of Kabbalah, the mystical dimension of Judaism. Inexhaustible source of wisdom and knowledge, his teachings and revelations are equivalent in importance to the Torah and the Talmud. O Sefer ha-Zohar - o Livro do Esplendor - É, sem sombra de dúvida, a obra principal e mais sagrada da Cabalá, a dimensão mística do judaísmo. Fonte inesgotável de sabedoria e conhecimento, seus ensinamentos e revelações se equiparam, em importância, aos da Torá e do Talmud. O Zohar
De autoria do grande Rabi Shimon bar Yochai, permanece inacessível até os dias de hoje para a grande maioria dos que tentam transpor o mistério que encerra. Quem sabe se por esta razão, ou apesar desta, nenhuma outra obra mística jamais despertou tanta curiosidade e exerceu tão grande influência? O Zohar é a coluna vertebral da Cabalá, também chamada de Chochmat ha-Emet - a Sabedoria da Verdade. Na língua hebraica, Cabalá significa "recebimento" ou "o que foi recebido". Por ser parte integral da Torá, tem origem e natureza Divina. Apesar de seus ensinamentos terem sido transmitidos a Adão e aos patriarcas do povo judeu, foi Moisés quem os recebeu diretamente de D'us durante a Revelação no Monte Sinai e os instituiu formalmente como parte da história do povo de Israel. Desde então, esta sabedoria mística vem sendo repassada de geração em geração para uns poucos escolhidos entre os líderes espirituais do povo judeu. Chamados de nistarim (literalmente "os ocultos"), os primeiros cabalistas preservaram zelosamente esses ensinamentos, transmitindo-os oralmente às gerações seguintes. Somente no século II da era comum, surgiria no seio de Israel um homem que possuía os dons espirituais e intelectuais que lhe permitiram dar forma a essa sabedoria milenar. Seu nome era Rabi Shimon bar Yochai, uma das personalidades mais reverenciadas na história judaica. A ele coube o zechut, o honroso mérito de revelar a Luz Divina em todo a sua majestade e esplendor. Grande líder e um dos maiores sábios talmúdicos, Rabi Shimon viveu em uma época muito conturbada. Durante sua geração, Israel penava sob o jugo romano, tendo que se sujeitar à proibição do estudo da Torá, esta apenas uma entre as inúmeras imposições de Roma. A gravidade da situação levou os mestres da Lei a adotarem medidas excepcionais. Preocupados que a perseguição e a dispersão di spersão dos judeus pudessem resultar na perda parcial dos ensinamentos da Torá Oral, os sábios deram seu consentimento para que os fundamentos de seu conteúdo fossem transcritos. Portanto, o Talmud, seus comentários, o Midrash e os ensinamentos cabalísticos começaram a ser compilados e escritos. E foi Rabi Shimon bar Yochai quem estruturou a tradição mística através do Zohar. No entanto, havia um grande problema na transcrição dos segredos da Cabalá. Os sábios temiam que pessoas sem preparo espiritual tivessem acesso aos segredos da Criação e do Universo. Para evitar que isso acontecesse, O Livro do Esplendor foi escrito de forma praticamente indecifrável para os não iniciados. E a primeira condição para se fazer parte desse grupo pequeno e seleto era possuir um vasto e profundo conhecimento sobre a Torá e sobre a tradição cabalística. Livro fechado O Sefer ha'Zohar é um livro fechado e as chaves para sua compreensão permanecem em mãos de um número reduzido de sábios. Esta obra pode ser comparada a um sistema codificado, de extrema complexidade, que esconde tesouros inestimáveis. Rabi Shimon era um daqueles seres pertencentes a um plano espiritual tão elevado que, entre os que estudam a sua obra, são poucos os que conseguem assimilar parte de seus ensinamentos. Não obstante, mesmo com apenas um pouco desse conhecimento, constroem-se montanhas de sabedoria. Como vimos, para os não iniciados, o Zohar é misterioso e praticamente impenetrável. As dificuldades de
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compreensão estão presentes em quase todos os níveis da obra. Além da insondável profundidade de seus preceitos, seu estilo literário peculiar e sua dialética dificultam a compreensão. Seus textos, escritos em hebraico ou em aramaico antigo, estão "codificados", impossibilitando, assim, que pessoas leigas entendam seu significado. Imagens simbólicas são usadas no lugar de uma terminologia racional e tópicos independentes são tratados em conjunto, colocando lado a lado assuntos aparentemente sem relação entre si. Muitas das passagens do Zohar são compostas por combinações de alusões fragmentadas, que somente podem ser conectadas por associações secretas. Mas, na realidade, as conexões existem e são bastante claras para aqueles que entendem seu simbolismo e significado. Um sábio familiarizado com os segredos místicos da Torá entende perfeitamente seu conteúdo, seu estilo e sua estrutura aparentemente ilógica. Se para os não iniciados muitos de seus ensinamentos carecem de significado, estes mesmos preceitos são, para os que podem decifrálos, a chave para desvendar os maiores e mais profundos segredos da existência e do universo. Apesar de terem sido traduzidos para o hebraico moderno e para outros idiomas, os verdadeiros ensinamentos do Sefer ha-Zohar continuam sendo praticamente incompreensíveis. Mesmo para a maioria dos eruditos na Torá, o Livro do Esplendor continua sendo um enigma. O Talmud e outras obras da lei judaica são acessíveis e compreensíveis; não apenas é permitido o seu estudo, como também é incentivado e é uma obrigação colocar-se em prática os seus ensinamentos. Já o Zohar continua além do alcance intelectual e espiritual da maioria dos judeus - pelo menos por enquanto. Grandes cabalistas sempre alertaram que o privilégio de estudar e entender esta obra era reservado para muito poucos. O cuidado e o resguardo em relação ao Zohar sempre foram impostos com o propósito de preservar não só a obra, mas também a alma daqueles que se aventurassem a estudá-la. Temia-se que seus ensinamentos e revelações pudessem ser mal interpretados ou usados de forma inadequada. Infelizmente, esses temores se confirmaram no decorrer da história. Houve vários casos de indivíduos e até mesmo de grupos que, após mergulharem nas águas do misticismo judaico sem o preparo adequado, acabaram por se perder. Ainda mais grave: seus ensinamentos místicos foram utilizados por falsos messias e distorcidos por místicos não-judeus e por adeptos da ciência do ocultismo. Os resultados foram catastróficos. Por isso, cabe alertar o leitor que o estudo do Zohar e da Cabalá somente deve ser conduzido na companhia de um professor que, além de instruído, tenha atingido um equilíbrio espiritual e mental; que entenda e siga a Lei Judaica em todos os seus minuciosos pormenores. Seu conteúdo O Zohar é fonte de inspiração e sabedoria para os iniciados que ousam adentrar seus segredos. Seus principais focos são a teosofia - a interação das sefirot e seus mistérios, a conduta humana e o destino dos judeus neste mundo bem como no mundo das almas. São raras as ocasiões em que discute de forma explícita a meditação ou a experiência mística. Ao penetrar na superfície literal da Torá, O Livro do Esplendor revela as profundezas místicas de suas histórias, leis e segredos. Transforma a narrativa bíblica em uma "biografia de D'us". Toda a Torá é lida como permutações de Nomes Divinos. Cada uma de suas palavras ou de suas mitzvot simbolizam algum aspecto das sefirot - que representam as maneiras pelas quais D'us interage com Sua Criação. O Zohar revela que o real significado da Torá reside em sua parte oculta - chamada de nistar - e em seus segredos místicos. Mas esta obra grandiosa não trata apenas de assuntos esotéricos e místicos. Não há uma única preocupação sobre a existência humana que permaneça intocada em suas páginas. Apesar da aura de mistério que a cerca, muitos de seus ensinamentos têm servido de guia para várias gerações de judeus. De um lado, o Zohar se aprofunda nos maravilhosos mistérios da alma e do Criador; do outro, aborda assuntos como o poder do mal e a necromancia, proibida pelo judaísmo. Nele encontram-se visões da Redenção Messiânica, assim como soluções para as complexas relações entre seres humanos e os problemas de seu cotidiano. Alicerçado principalmente na Torá, o Zohar é uma obra imensa, dividida em três trabalhos principais que são, por sua vez, subdivididos em outros segmentos. Trata-se principalmente de uma exegese - uma dissertação de homilias - e suas idéias emergem através de comentários e discursos. Nele estão as interpretações místicas e os comentários das sidrot - as leituras semanais da Torá. A obra não se restringe aos Cinco Livros de Moisés; também aborda outros livros da Torá, inclusive o Cântico dos Cânticos, o Livro de Ruth e as Lamentações. Não cabe enfatizar em demasia que a Cabalá é a parte secreta da Torá e, portanto, não poderia ser estudada ou seguida à parte da Torá revelada. Acreditar ou estudar a Cabalá sem o respaldo da Torá Escrita e Oral é, no mínimo, incongruente, pois não há um único trabalho cabalístico que não contenha citações dos 24 livros da
Torá Escrita, do Talmud e do Midrash. Assim como o Talmud, o Zohar cobre todas as manifestações do espírito judaico. Porém, enquanto o primeiro é essencialmente uma obra sobre a Lei Judaica, com pitadas de misticismo, o segundo é principalmente um trabalho místico que aborda e elabora sobre algumas leis do Torá. O Zohar descreve a realidade esotérica subjacente à experiência cotidiana. Nele, temas e histórias, tópicos legais e assuntos litúrgicos são vistos e expostos através de uma interpretação mística. Um breve histórico Como vimos acima, os ensinamentos da Cabalá começaram a assumir uma forma estruturada através do Livro do Esplendor, de Rabi Shimon bar Yochai. Segundo o Talmud, após ter fugido das autoridades romanas que queriam matá-lo, Rabi Shimon e seu filho, Rabi Elazar, esconderam-se em uma caverna nas montanhas da Galiléia. Pai e filho lá permaneceram durante treze anos, dedicando-se completamente ao estudo da Torá. Certamente Rabi Shimon já havia sido exposto aos ensinamentos místicos judaicos. Mas, enquanto estavam na caverna, ele e seu filho foram visitados pelas almas de Moisés e do profeta Eliahu, que lhes revelaram muitos outros preceitos cabalísticos. É possível que outros sábios, antes e depois dele, também tenham tido os dons intelectuais e espirituais para transmitir os ensinamentos da Cabalá. Mas foi Rabi Shimon, devido à sua luz, à pureza de sua alma e aos seus méritos, o escolhido por D'us para fazê-lo. Como atesta a própria obra, coube a Rabi Abba, um dos alunos de Rabi Shimon, a tarefa de registrar por escrito os ensinamentos de seu mestre. Parte do Zohar não foi transcrita na época; foi preservada e transmitida de forma oral pelos discípulos de Rabi Shimon, conhecidos como "a Chevraiá". Mas apesar de transcrito, ainda não havia chegado a hora de ser divulgado o seu conteúdo. Segundo a tradição, seus manuscritos originais ficaram escondidos durante mil anos e foram descobertos apenas no século XIII. Durante as décadas de 1270 e 1280, estes manuscritos ficaram restritos a círculos cabalistas. Finalmente, chegaram às mãos de um místico judeu espanhol, Rabi Moshe de Leon (1238-1305), que os editou e publicou na década de 1290. Por que teria essa obra magna permanecido escondida por tanto tempo? O próprio Livro do Esplendor revela a razão ao afirmar que sua sabedoria e luz seriam reveladas como preparação para a Redenção Final, que deveria ocorrer 1.200 anos após a destruição do Templo Sagrado. E é exatamente o que aconteceu ! O Grande Templo de Jerusalém foi destruído no ano 70 da e.C., o que significa que, segundo as previsões do Zohar, seu conteúdo deveria ser revelado no ano de 1270. O estudo da Cabalá floresceu na Espanha e na Provença, mas até a expulsão dos judeus da Península Ibérica, o Zohar só era conhecido no meio de restritos círculos de sábios e cabalistas. Após a expulsão, ele emerge desses círculos e passa a exercer uma grande influência sobre os judeus sefaraditas. Perseguidos e expulsos, os judeus da Espanha encontraram em seus ensinamentos sobre a Redenção Messiânica uma grande fonte de conforto e esperança e tanto a obra como seu autor passaram a ser reverenciados por eles. Até hoje, o Zohar está presente no dia-a-dia dos judeus dessa origem, pois seus ensinamentos moldaram grande parte de suas tradições e seus costumes religiosos. Muitos dos cabalistas forçados a sair da Península Ibérica se estabeleceram na cidade sagrada de Safed, em Israel, que se tornou um centro de estudos místicos. Em Safed, o Sefer ha'Zohar serviu de base para os ensinamentos de dois dos maiores cabalistas - ambos sefaraditas - da era moderna: Rabi Moshe Cordovero (falecido em 1570), conhecido como o Ramak; e o grande Rabi Yitzhak Luria (1534-1572), o Arizal. Foi em Safed que o Arizal transmitiu seus conhecimentos sobre o Livro do Esplendor e a Cabalá. Desenvolveu um novo sistema para a compreensão de seus mistérios, chamado de Método Luriânico. Seus ensinamentos são reconhecidos como a autoridade máxima da Cabalá, tendo sido estudados pelas gerações de cabalistas que o seguiram. A partir de seus ensinamentos, a Cabalá se tornou mais acessível e passou a ser disseminada por sábios e místicos judeus. O próprio Arizal afirmara que havia chegado a era na qual não só seria permitido revelar a sabedoria da Cabalá, mas tornar-se-ia uma obrigação fazê-lo. Um jornal alemão na luta contra Hitler
Pertinaz e destemido, o Münchener Post entrou para a história como o primeiro jornal a fazer campanha e oposição sistemáticas ao nazismo, com reportagens corajosas e um acompanhamento milimétrico dos passos de Adolf Hitler rumo ao poder. Revelou, em dezembro de 1931, a idéia da chamada “Solução Final” para a questão
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judaica. Os alertas daqueles jornalistas foram ignorados e seu arrojo editorial significou ataques de gangues hitleristas à redação, queima de jornais e de arquivos, destruição de móveis e janelas e agressões físicas. A cortina da barbárie lacrou a publicação em 1933 e vários de seus intrépidos profissionais enfrentaram cárcere e morte em campos de concentração. “A verdadeira personalidade de Hitler foi colocada de forma dolorosamente clara em notícias impressas periodicamente, por pelo menos 12 anos, antes de ele dirigir o país”, escreveu a pesquisadora Sara Twogood em trabalho sobre o Münchener Post para um projeto de estudos sobre o Holocausto, da Universidade da CalifórniaSanta Barbara. Prosseguiu o seu texto: “Militantes contra Hitler lutaram com seus corações e colocaram em risco sua liberdade e vida, esperando que o mundo os ouvisse. Entre esses homens, Martin Gruber, Erhard Auer, Edmund Goldschagg, Julius Zerfass e outros, repórteres e editores do Münchener Post. Eles enfrentaram o aprisionamento e a morte, tentando sem sucesso alertar o mundo sobre o homem que personificava o mal, Adolf Hitler”. O líder nazista não escondia seu profundo incômodo e irritação com as estocadas do jornal. Chamava-o de “a cozinha do veneno”. Num trocadilho, também o descrevia como “Münchener Pest”, ou a peste de Munique, segundo Paul Hoser, autor de um livro sobre a imprensa na capital da Bavária, entre 1914 e 1934. A impressionante história de militância e de coragem da redação bávara foi definida pelo escritor norteamericano Ron Rosenbaum como “um dos maiores dramas não relatados na história do jornalismo”. Também jornalista, ele se responsabilizou por jogar um pouco de luz sobre a trajetória do corajoso jornal de Munique, ao descrevê-la em um dos capítulos de sua obra “Para entender Hitler – a busca das origens do mal”, lançado nos Estados Unidos em 1998 e posteriormente publicado no Brasil pela Editora Record. Enquanto não existe um livro dedicado exclusivamente à história do principal personagem do jornalismo antinazista na Munique dos anos 1920 e 1930, a navegação insistente pela internet propicia a captura de alguns dados sobre o Münchener Post. Fundado em 1888, tornou-se porta-voz da social-democracia alemã e, em 1890, contabilizava a tiragem de 8 mil exemplares, ampliada para 30 mil em 1914 e atingindo um pico de 60 mil no início dos anos 1920. Ao ser fechado, em 1933, e já enfrentando os efeitos do nazismo na ofensiva, a circulação havia emagrecido para 15 mil cópias diárias. Foram, portanto, 12 anos de intensa batalha contra Hitler. Os articulistas se especializaram em reportar os meandros do partido nazista, suas intrigas, escândalos, lutas faccionais e estratégias. Embalados pela ligação com o SPD, o partido social-democrata alemão, travavam uma luta ideológica num terreno em que do outro lado do espectro político despontava o Volkischer Beobachter, jornal oficial do NSDAP, sigla do partido nazista. Havia também publicações conservadoras contrárias ao nazismo, como o Der Gerade Weg, dirigida pelo jornalista Fritz Gerlich em meados da década de 1920. Aquela década correspondia a um período de intenso tiroteio político. Já em 16 de outubro de 1919, num prenúncio das nuvens escuras que se avizinhavam, Adolf Hitler realizou o que é considerado seu primeiro pronunciamento num evento público. Poucas pessoas compareceram a esse encontro do NSDAP, divulgado por meio de um anúncio no Münchener Beobachter. Segundo a pesquisadora Sara Twogood, a idéia da mobilização via jornal, até então inédita no partido, é creditada a Hitler. Em 24 de fevereiro de 1920, o partido nazista mostrou suas garras em Munique ao realizar o que recebeu o rótulo de “seu primeiro ato para as multidões”. Os hitleristas ainda davam os primeiros passos para se tornar uma “organização de massa” e a prioridade de seu líder, naquele momento, visava consolidar uma posição na capital da Bavária, mergulhada em crises e instabilidade política, econômica e social. O faro político e jornalístico da equipe do Münchener Post permitiu-lhe destacar Hitler, já em agosto de 1920, como o principal agitador da cidade. Nas reportagens, o NSDAP aparecia inúmeras vezes descrito como o “partido de Hitler”, num diagnóstico para destacar o culto à personalidade inspirador das primeiras hordas nazistas. Os repórteres também se referiam a Hitler como o “líder dos fascistas alemães”. Os primórdios da era que mergulhou a Alemanha no nazismo deixaram claros os contornos da batalha entre Adolf Hitler e o vigoroso diário de Munique. Em novembro de 1921, nazistas e social-democratas se enfrentaram, aos socos e golpes de canecas de cerveja, após um discurso de Hitler numa cervejaria em Munique
e depois de uma tentativa de assassinato de Erhard Auer, articulista do Post e porta-voz do SPD. Anos depois, ao escrever o “Mein Kampf”, livro que sintetizou sua ideologia, Hitler referiu-se àquela batalha campal como “batismo de fogo” dos homens da SA, sua tropa de choque, explicitando a importância que atribuía ao antagonismo abissal com o Münchener Post. O jornal lançava inspiradas charges contra seu inimigo ideológico. Enfileirava reportagens sobre as divisões internas do nazismo, chegando a publicar, em agosto de 1921, um panfleto intitulado “Adolf Hitler, traidor”, produzido dentro do NSDAP e que trazia questionamentos sobre as finanças do líder fascista. A partir desse gancho jornalístico, o Münchener Post também indagava de onde vinham os recursos que permitiam ao recém-chegado à cena política sustentar hábitos como consumir cigarros sofisticados ou circular em carros de luxo. Hitler processou o jornal e, contando com simpatia no ambiente conservador do poder judiciário na Bavária de então, arrancou uma multa para o Münchener Post. A partir de então, as tentativas de intimidação não cessaram. Variavam entre insistentes recursos ao tribunal, com freqüentes vitórias, a telefonemas com ameaças de morte a jornalistas. Tais ligações costumavam vir na calada da noite. Uma rápida pesquisa nos arquivos do The New York Times demonstra que em 6 de outubro de 1932 o diário noticiou que os nazistas processavam o Post de Munique por conta de uma reportagem sobre pedido de proteção policial a autoridades socialistas de Ernst Roehm, chefe da SA, que temia ser assassinado por rivais no universo hitlerista. Dois anos depois, por ordem de Hitler, Roehm foi executado. Se a pressão judicial e a intimidação com ameaças não continham a obstinação do Münchener Post, Hitler resolveu recorrer à destruição da redação de seu inimigo. No dia 8 de novembro de 1923, um grupo especial da SA atacou o prédio do jornal, destruindo os vidros com coronhadas de rifles, invadindo e vandalizando os escritórios e agredindo quem estivesse à frente da sanha nazista. Na rua, foram amontoados exemplares de jornais, arquivos e material de propaganda social-democrata. Uma fogueira ardeu, seguindo o roteiro da queima de livros e de publicações condenadas pelo nazismo. O ataque compunha a fracassada tentativa de golpe protagonizada por Hitler, conhecida como o “putsch de Munique”. Inspirado na Marcha sobre Roma, capitaneada por Benito Mussolini, o líder nazista tentou capturar o poder para enterrar a república de Weimar e assumir as vestes de ditador. Em sua mobilização pelas ruas da capital da Bavária, tropas da SA já saíram com uma lista de judeus proeminentes para serem presos e tiveram um sucesso parcial nessa ofensiva. O golpe, no entanto, ruiu no dia seguinte. Hitler e alguns conspiradores foram encarcerados. Outros, como Hermann Goering e Rudolf Hess, se refugiaram na vizinha Áustria. Mas em dezembro do ano seguinte, o líder do “putsch” fracassado já estava em liberdade e com o caminho reaberto para chegar ao poder. O Münchener Post voltou então a se mobilizar. A década de 1930 começou com maus presságios. Hitler aumentava o volume de suas ameaças de “aniquilar os opositores”, entre eles o SPD, que, em sua convenção anual realizada em 1931, apontou o fantasma do nazifascismo como a principal inimigo a ser enfrentado. As páginas do Münchener Post se encheram de reportagens cada vez mais ousadas, a fim de alertar o país sobre a catástrofe que o rondava. Em 9 de dezembro de 1931, o jornal obteve um documento que explicitava planos secretos dos nazistas para a chamada “Questão judaica” e publicou uma série de medidas anti-semitas que viriam a ser contempladas mais tarde com as Leis de Nüremberg, implantadas em 1935. A reportagem do Münchener Post antecipou ainda o conceito de “Solução Final”, então apoiada na idéia de “usar os judeus na Alemanha para trabalho escravo”. Mais tarde, esse conceito seria transformado na máquina da morte responsável pelo massacre de seis milhões de judeus. A formidável pertinácia dos jornalistas do Münchener Post prosseguiu impondo recuos, ainda que de curta duração, ao ímpeto hitlerista. Em 1932, estampou a manchete “Pronto para Guerra Civil – o Plano da Marcha dos Nazistas”, sob a qual relatava uma ordem de Roehm, o chefe da SA, para a preparação de manifestações por ruas de Munique. A reportagem resultou numa proibição temporária de ações da SA e da SS na Bavária. Novo duelo em 1932, quando das reportagens sobre a morte misteriosa de Angelika “Geli” Raubal, meiasobrinha de Hitler. Os dois moravam em um apartamento em Munique, e corriam rumores sobre um relacionamento amoroso. Em 19 de setembro de 1931, ela foi encontrada morta, no apartamento, com um tiro. A versão oficial falou em suicídio. O Münchener Post trouxe uma série de reportagens sobre o caso, com questionamentos que enfureceram Hitler.
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Em janeiro de 1933, quando crescia exponencialmente o nazismo, embebido em sua tenacidade, o jornal publicou uma reportagem sobre o assassinato de Herbert Hentsch, um adolescente hitlerista assassinado por comparsas de partido. A morte teria sido uma punição “por desvios na disciplina”. Manchete do Münchener Post: “O que você fez, Hitler?”. Os assassinatos políticos se transformaram em um dos focos da cobertura, que trouxe títulos como “Mãos do Partido Nazista gotejam com sangue” e “Alemanha hoje: nenhum dia sem morte”, conforme descreveu a pesquisadora Sara Twogood. Uma série de três reportagens especiais tentou colocar holofotes sobre iniciativas hitleristas de falsificação da história. O Münchener Post combatia, há tempos, as investidas do nazismo em tentar responsabilizar os socialistas alemães pelo mergulho do país na 1ª Guerra Mundial. Em seus últimos dias, apesar da torrente nazista, o jornal não movia um milímetro de suas posições e mantinha a combatividade. No dia 9 de março de 1933, em plena marcha do nazismo para o fortalecimento do poder, foram banidos os últimos remanescentes da mídia oposicionista. Entre eles, o Münchener Post. Sua sede foi novamente invadida pelas gangues da SA. Móveis foram lançados pela janela. Uma fogueira foi acesa na rua e alimentada por exemplares do jornal. Sua luta admirável, infelizmente, havia sido em vão. O Jornalista Jaime Spitzcovsky, foi editor internacional e correspondente da Folha de S. Paulo em Moscou e em Pequim. Mas, foi na primeira metade do século XVIII, com o surgimento do chassidismo - como passou a ser chamado o movimento iniciado no leste da Europa pelo Rabi Baal Shem Tov - que a Cabalá que fora ensinada pelo Arizal passou a atingir um número ainda maior de judeus. A principal contribuição do chassidismo foi sua adaptação da doutrina da Cabalá a uma linguagem cotidiana e de fácil compreensão. Desta maneira, a profunda sabedoria de Rabi Shimon bar Yochai passou a influenciar as massas de judeus asquenazitas do leste Europeu. Com a expansão do chassidismo os ensinamentos do Zohar passaram a influenciar um número cada vez maior de judeus. A santidade da obra Chamada também de Ha'Zohar ha-Kadosh - O Sagrado Zohar - esta obra é envolta por uma aura de suprema santidade. Sua natureza misteriosa e seu conteúdo inacessível só acrescentaram reverência ao respeito que provoca entre judeus e não-judeus. Como vimos anteriormente, o Zohar é a suprema autoridade no campo do misticismo judaico, é a face mística da Revelação Divina manifestada por meio da Torá. Em termos de santidade, o Zohar foi posto em um nível ainda maior do que o Talmud, pois enquanto as leis deste último representam o corpo da Torá, os mistérios do Zohar representam sua alma. Mas, o Livro do Esplendor nunca se opõe à autoridade do Talmud nem às suas leis. Assim como alma e corpo são interdependentes; apenas quando unidos e em harmonia podem proporcionar ao homem uma vida significativa. Da mesma forma, o Zohar e o Talmud não podem cumprir sua missão, nem sobreviver de forma separada e sem uma mútua interligação. O Zohar tem sido aceito por todo o povo judeu, independentemente de seu passado e tradições. Embora apenas um número limitado de judeus o tenha estudado de fato, continua a influenciar de maneiras que sequer podem ser imaginadas. Uma história do Baal Shem Tov revela o amor dos chassidim pelo Zohar e é também um exemplo de sua santidade e poder. Sabe-se que o Baal Shem Tov sempre levava uma cópia desta obra com ele, sendo capaz de realizar milagres e prever o futuro através da força espiritual do livro. Um dia lhe perguntaram como tinha sido capaz de, simplesmente olhando para o Zohar, descrever os passos de um homem que havia desaparecido. E ele respondeu com uma citação do Talmud: "A luz que D'us fez em seis dias de Criação permitiria ao homem enxergar de um lado do mundo para o outro, mas esta luz tem sido guardada para os justos no Mundo Vindouro". E onde está esta luz guardada", perguntou o Baal Shem Tov, respondendo ele próprio: "Na Torá. Então, quando eu abro o Zohar, eu posso ver o mundo todo". Bibliografia Tishby , Isaiah " The Wisdom of the Zohar - An Anthology of Texts" The Littman Library of Jewish Civilization Kaplan ,Aryeh, " Inner Space - Introduction to Kabbalah, Meditation and Prophecy " - Moznaim Publishing Corporation Bader, Gershom "