lmut Sick
. 'í~Sick. Hehnut t~
Ornitologia brasileira.
: ~ Illllllllljmllll!I!1I11111111l11~1I111~1I ."'
I
KU
46406
AC.445lJ
N" Pat:046406
ORNITOLOGIA BRASILEIRA HELMUT 5ICK
EDIÇÃO
REVISTA E AMPLIADA
CAPÍTULOS
POR
ESPECIAIS ESCRITOS POR
JÜRGEN HAFFER E HERCULANO
F.
ALVARENGA
ILUSTRAÇÕES
PAUL BARRUEL
PRANCHAS
COLORIDAS-
PAUL BARRUEL E JOHN
P.
O'NEILL
3' impressão Rio
DE JANEIRO
2001
EDITORA
-
NOVA
FRONTEIRA
© 1997 by Ingeburg Kindel
Direitos desta edição em língua portuguesa adquiridos pela EDITORA NOVAFRONTEIRA S. A. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão da Editora. EDITORA NOVAFRONTEIRA S.A. Rua Bambina, 25 - Botafogo - 22251-050 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Tel: (21) 5378770 - Fax: (21) 537 2659 - http::j jwww.novafronteira.com.br e-mail:
[email protected]
Coordenação da obra osé ndo checo \O
o -.:t
Projeto Gráfico e Editoração o Elet ni
\O
-.:t
o
.... ~
A..
01
Ilustrações el,
~ ~
e<:i\O
P
.!:: o
B.
e
~ . ... ~ . I:: 0 .É~ o ~ -M ~ o 01)_ U o ~ \O~ .0... .211"\ o-.:t 1-0
,
0-.:t :;:=\0 VJ-.:t
e
l, He de
c, o
I
Capa Aquarela O,80xO,60m e ight en
I
.Q
1-0
;~~
o..
;§ E õ oE a:l
M
&<7
0< o ~
CIP - Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. S5680
Sick, Helrnut, 1910-1991 Ornitologia Brasileira I Helmut Sick; ilustrações Paul Bai:ruel; pranchas coloridas Paul Barruel e [ohn P. O'Neill ; coordenação e atualização José Fernando Pacheco. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 912p. : il. ISBN 85-209-0816-0 1. Ornitologia - Brasil. 2. Aves - Brasil. I. Pacheco, José Fernando. II. Título.
97-0001 CDD 598.2981 CDU 598.2 (81) 020197
030197
002429
Dedicado à
pioneira na pesquisa de campo de aves no Brasil.
Sumário PARTE 1
21
o País e suas Aves 7 1 1.1 Domínios Morfoclimáticos 1.2 As Paisagens e sua Avifauna 1.3 Os principais hábitats das aves do Brasil
23 23 23 25
'2
2.1 2.2 2.3 2.4 2.5
Breve.história da ornitologia brasileira do século XVI ao início do século XX Século XVI Século XVII Século XVIII Século XIX Século XX
Conservação 3.1 História da Conservação no Brasil , 3.2 Unidades de Conservação 3.3 O problema da fragmentação dos hábitats naturais 3.4 Problemas de conservação, especialmente na Amazônia 3.5 Mata Atlântica e florestas de calcário 3.6 Reflorestamento e dependência da fauna. Preservação Ambiental 3.7 Poluição, aves como bioindicadores 3.8 O comércio ilegal de aves: novas perspectivas 3.9 Nova orientação 3
'\
45 45 47 49 49 56 59 59 60 63 65 69 71 71 73 75
Biogeografia e Especiação (Jürgen Haffer, com comentários de Helmut Sick) 4.1 Aves da região neotrópica
78 78
5 Morfologia 5.1 Morfologia, adaptações especiais
84 84
4
6 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7
Classificação e Nomenclatura Classe Ordem Família Gênero Espécie Subespécíe Tipos
7 7.1 7.2 7.3 7.4
Biologia 98 Manifestações sonoras 98 Alimentação, modo de caçar e pescar, resíduos 111 Hábitos, etologia, sentidos 112 Reprodução : 113
:
93 94 95 95 95 , .. 95 96 97
7.5 Relações interespecíficas 7.6 Parasitos de aves, fauna nidícola, problemas sanitários, doenças 7.7 Predação, acidentes, impactos atmosféricos
116 117 118
8
Aves Fósseis: História da Origem e Evolução (Herculano E Alvarenga) 120 8.1 A Evolução das Aves 120 8.2 Aves Fósseis da América do Sul 122 8.3 Aves Fósseis do Brasil 123 9 9.1 9.2 9.3
Composição da Avifauna Brasileira Categorias de aves brasileiras Análises populacíonaís, biodiversidade . Fontes
124 124 136 137
PARTE 2
141
Sinopse Ilustrada das Ordens e Famílias das Aves Brasileiras
143
10 Famílias e Espécies Ordem Tinarniformes Ordem Rheiformes Ordem Podicipediformes Ordem Procellariiformes Ordem Sphenisciformes Ordem Pelecaniformes Ordem Coconiiformes Ordem Phoenicopteriformes Ordem Anseriformes Ordem Falconiformes Ordem Galliformes Ordem Opisthocorniformes Ordem Gruiformes Ordem Charadriiformes Ordem Columbiformes Ordem Psittaciformes Ordem Cuculiformes Ordem Strigiforrnes Ordem Caprimulgiformes Ordem Apodiformes , Ordem Trogoniformes Ordem Coraciiformes Ordem Piciformes Ordem Passeriformes Bibliografia Geral Índice .de Espécies Pranchas
:
:
153 153 168 172 175 186 189 201 226 229 243 270 287 290 307 341 351 383 393 ,' 406 422 467 472 479 519 817 837 863
_ Apresentação
.-.
Passados mais de dez anos desde a primeira edição de e mais de cinco desde a morte de Helmut Sick, essa continua sendo uma obra de valor inestimável, que não pode faltar na estante dos amantes da natureza brasileira, do estudante ou profissional de ornitologia, ou mesmo do biólogo atuante em outras áreas do conhecimento. Permanece válida minha afirmativa, em resenha escrita à época do lançamento daquela edição, de que muitas décadas deveriam se passar antes que trabalho de semelhante envergadura encontrasse sucedâneo. Aproxima-se o final do século e com ele o fim de um milênio. Um século que testemunhou um crescente afastamento entre o homem e a natureza, o surgimento do transistor, do "chip" de computador e de uma impressionante capacidade de armazenamento e velocidade de transmissão de informações. Outros livros sobre as aves brasileiras certamente serão escritos e serão bem-vindos, cada vez mais completos, cada vez mais atualizados, cada vez mais modernos (em CD-ROM ou talvez "on line"?) . Em todos, porém, estará a marca indelével deste que, ainda no século XX, pela primeira vez reuniu tanta informação sobre essas criaturas emplumadas que foram a essência e a razão de ser dos 81 anos de vida do seu autor. Na verdade, penso hoje, nenhuma outra obra sobre as aves brasileiras jamais poderá substituir a de' Helmut Sick, pelo que ela representa, em seu conjunto, de originalidade, romantismo, dedicação e amor à natureza. O estudo de nossas aves progride de forma acelera-
da, e é da natureza dos livros, em contraste com a das revistas e dos jornais, que não possam acompanhar o ritmo das mudanças e dos acréscimos que periodicamente se fazem ao conhecimento. Apesar disso, e Helmut Sick foram, e continuam sendo, não apenas o principal marco dessa ciência no Brasil no século XX, mas de fato a principal mola propulsora de seu desenvolvimento, com o incentivo que deram para a consolidação de inúmeras vocações e O surgimento e aperfeiçoamento de muitos jovens ornitólogos no país, Para que se concretizasse esta segunda (e definitiva) na qual edição em português de O Helmut Sick trabalhou até os últimos dias de sua vida, empenharam-se a sua maior amiga, Sra. Ingeburg Kindel, e um de seus discípulos mais aplicados ao estudo das aves brasileiras, José Fernando Pacheco, que . meticulosamente reviu, atualizou e ampliou o manuscrito deixado inacabado pelo mestre. O resultado, que não poderia ter sido melhor, é a materialização do seu último sonho. Ornitologia Brasileira aqui está, mais uma vez, soberana, para deleite de todos os que ainda encontram na beleza das aves, na sua riqueza de comportamentos e formas de expressão, inspiração para enfrentar os sobressaltos deste fim de século. Particularmente, vejo este livro como uma janela entre dois milênios, e espero que o que ele retrata não seja apenas o que se poderá ver ao olhar para trás, mas também uma projeção para o futuro. Helmut Sick fez a sua parte. O resto agora depende de nós.
Luiz b
Gon de
o de
Apresentação à primeira edição
Otnitólogo realizado, com farta produção científica de primeira qualidade, que o tornou conhecido no mundo inteiro, Helmut Sick dispensa qualquer abono no átrio deste seu novo livro. O livro, é óbvio, custou-lhe muitos e muitos dias de atu~ado trabalho, dias que ele certamente gostaria de empregar em novas aquisições científicas, mormente se nalgum longínquo rincão, no convívio da Natureza. Se optou por escrevê-lo, foi por se ter persuadido de que era serviço da maior relevância e premência para o desenvolvimento da ornitologia no Brasil, para a promoção da pesquisa ornitológica entre nós. . O livro não visa somente à formação de ornitólogos, sendo acessível a todos aqueles que, sem serem estudantes de ornitologia, querem estender o seu conhecimento das aves do Brasil, em geral, ou porventura apenas informar-se sobre um ponto ou outro. Deve, porém, ser assinalada uma peculiaridade, que interessa aos ornítólogos profissionais. É que em virtude da vasta experiência de Helmut Sick (que não deixa passar nada sem registro em seus cadernos de notas), o livro está re-
pleto de observações originais, que nele pela primeira vez são dadas à estampa. Para uma "Introdução", a visão de conjunto que o livro proporciona não poderia ser mais minuciosa e completa, e tem o mérito, consoante ao intento de promoção da pesquisa, de deixar bem claro quão deficientes são ainda, em muitos pontos, os nossos conhecimentos. Cumpre acrescentar que o livro, muito acertadamente, se ocupa também com o problema da conservação das aves. Problema angustiante, pois o impacto da civilização vem tendo um efeito literalmente devastador sobre a nossa avifauna, sendo já elevado o número de espécies ameaça das de extinção. Em razão de sua excelente qualidade, não hesito em predizer que o livro atingirá em cheio o seu objetivo, e que a sua contribuição para o desenvolvimento da ornitologia será de um vigor sem paralelo na história dessa disciplina em nosso país. Ficamos devendo a Helmut Sick nosso caloroso reconhecimento por haver se dedicado, com inexcedível seriedade, à sua elaboração.
do de
d
de d tudes
e ,
-
Notas à edição revista e ampliada
Helmut Sick faleceu no Rio de Janeiro na manhã do dia 5 de março de 1991, aos 81 anos e em completa lucidez, após curta enfermidade. Viúvo e sem filhos, Sick estava trabalhando intensamente nos originais da nova edição de que pretendia publicar simultaneamente em português e inglês. foi publicada em 1985 pela Editora da Universidade de Brasília e teve três reimpressões, a última datada de 1988. Esta primeira versão da obra, concebida quase integralmente em alemão e traduzida para o português por Guttorm Hanssen, foi fruto de 25 anos de trabalho do autor. Ciente do largo emprego de seu livro entre nós, Sick desde o lançamento da edição original, empenhou-se imediatamente em seu projeto pessoal que visava publicar em poucos anos uma nova versão revisada e atualizada. Paralelamente, William Belton, nos Estados Unidos, seu antigo colaborador iniciou a tradução dos originais para preparar uma versão da obra destinada ao público de língua inglesa. Quatro anos depois, ao reconhecer o seu trabalho adiantado, Belton sugeriu a Sick que não mais enviasse acréscimos para serem incorporados. Nesse momento, Sick passou a trabalhar exclusivamente na revisão e atualização da almejada nova edição brasileira. Contudo, a morte de Sick deixou esse trabalho inacabado.
o O conjunto de originais deixados por Sick e utilizados no preparo dessa nova edição brasileira foi resultado de sua intensa atividade de revisão e a~~~lização da versão original de sua obra nos últimos seis anos de sua vida. Sem se utilizar dos recursos dos modernos editores de textos informatizados, Sick preparava sua nova edição' manualmente. De uma maneira que hoje classificaríamos de artesanal, os muitos textos novos ou de atualização que elaborou foram datilografa dos à parte e, em seguida, recortados e colados em seu devido lugar no manuscrito principal. Esses originais.da 'nova edição eram, na prática, uma cópia da edição de 1985 com muitas adendas. Essa edição 'original, que servia de matriz para as pretendidas alterações de conteúdo e forma, continha ainda várias anotações manuscritas feitas à margem. Diferentemente da edição original, Sick preparou os textos novos diretamente em
português. Não sendo nativo da língua portuguesa e reconhecendo suas dificuldades, era sua idéia que todos esses textos de inserção passassem por uma meticulosa revisão gramatical. William Belton, tradutor da versão americana dessa obra se utilizou desses textos em Português não revisados para conceber os textos em Inglês. Verificamos que alguns pequenos equívocos cometidos na edição americana tinham por origem a falta . de clareza existente nos originais em Português. O próprio Belton em uma de suas correspondências afirmou que "em muitos lugares [do texto] faltou a precisão necessária para permitir a tradução exata". Esta foi uma das principais razões para que fosse definitivamente abandonada a idéia de se preparar esta nova edição em Português através da tradução direta da edição americana do livro. Esta opção, caso viesse a ser implementada, seria ainda responsável pela perda do estilo personalizado dos textos remanescentes da edição original que não sofreram alteração. '. Da edição americana reproduzimos em parte o seu padrão de distribuição dos capítulos e diagramação. Foram reintegrados à esta nova edição os capítulos introdutórios que Sick decidiu retirar da edição americana - Morfologia, Biologia e Vocalizações - por considerar "que os leitores em inglês não precisariam dos detalhes elementares sobre as aves" porque tinham acesso a muitos livros textos que tratavam dessas matérias. O capítulo sobre aves fósseis foi reescrito durante a preparação dos originais dessa nova edição por seu autor, Herculano F. Alvarenga, que incorporou substanciais alterações em relação ao texto da versão americana. O capítulo sobre Biogeografia e Especiação, preparado em colaboração com Jürgen Haffer especialmente para a edição americana, foi traduzido diretamente do inglês por P" S. M.-da Fonseca. ..' O preparo dos originais de forma a viabilizar a publicação da nova edição de exigiu o estabelecimento prévio de critérios práticos de decisão editorial. A atualização de todos os múltiplos temas tratados à luz das mais recentes contribuições exigiria tarefa diversa da que foi executada e envolveria idealmente a participação de um conjunto de profissionais das mais diferentes áreas do conhecimento ornitológico. O trabalho de revisão e preparação dos originais desta nova edição foi realizado em duas etapas. A primeira etapa consistia na avaliação que visava estabelecer se o texto de inserção preparado por Sick estava finalizado,
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
A atualização sob forma de reformulação do conteúesboçado ou indicado. Nesta etapa foi decidido se o ,. do foi necessária também na confecção das tabelas exisacréscimo seria ou não integrado aos originais, levando tentes nos capítulos introdutórios, sobre espécies de aves em consideração, primeiro, a relevância do tema da inendêmicas, visitantes e ameaçadas. serção e segundo se a elaboração do texto em Português Foram criados nomes vernáculos artificiais (v. Introestava concluída. Este critério viabilizou a revisão dos dução) ou, segundo o caso, foram aproveitados nomes originais em tempo hábil, tendo em vista que Sick usangerais sugeridos por Willis e Oniki (1991). Todos os do três línguas anotou na margem das páginas inúmenomes presentes nesta última publicação foram, quanras vezes frases. curtas onde indicava que pretendia trodo necessário, incluídos como sinônimos para figurar car algum termo, "desenvolver texto maior" ou explicomo opção adicional de nomenclatura vernacular. Tocar melhor uma situação. Estas múltiplas indicações esdos os nomes incluídos desta forma pelo coordenador tavam à lápis nos próprios originais ou permaneciam estão acompanhados de asterisco à direita do nome. esboçadas em papéis de recado fixados por clips. É de Vários novos dados sobre peso médio das espécies se acreditar que muitos desses avisos seriam elaboraforam adicionados para complementar a idéia original dos posteriormente pelo próprio Sick, caso a morte não tivesse impedido essa intenção. Porém, em muitos cado autor. Esses dados foram consultados, em sua maior sos, essas anotações eram meros sinais para uma evenparte, de fontes monográficas tradicionais, como P: ex: tual revisão que poderia ou não resultar em alteração 8lake (1977), Dunning (1987) e Ridgely e Tudor (1989, 1994). do texto original. A segunda etapa consistiu no trabalho Sick deu especial atenção na distribuição das espéde aperfeiçoamento dos textos em português ainda não cies, a presença na Guanabara, entidade política hoje revisados. Muitas vezes optou-se por reconstruir inteabolida, que corresponde a área do atual município do gralmente as frases para que as idéias originais de Sick, considerando as fontes mencionadas, fossem tornadas Rio de Janeiro, capital do estado do mesmo nome. Foi convencionado que essas menções permaneceriam claras e precisas. Os textos originais foram mantidos em indica das como ex-Guanabara, conforme utilizado nas sua essência e na forma como foram elaborados por seu edições anteriores. Mais trabalho será necessário para autor e apenas alguns dados equivocados, desatualirevisar e redistribuir os registros específicos estaduais zados ou incompletos foram substituídos, eliminados existentes para Mato Grosso e Goiás, depois da subdiou aditados. Em geral, e considerando que muito trabalho na revisão dos textos em português foi dispendido, visão a nível estadual que envolveu essas duas unidaapenas os textos definitivamente elaborados pelo pródes da federação, com a criação dos novos estados de prio Sick foram incorporados à nova edição. Mato Grosso do Sul e Tocantins, respectivamente. A tarefa de incorporação de novos dados, como forA ordem sistemática utilizada no livro foi aquela . ma de contribuição do coordenador, foi limitada a quaestabelecida por Sick para a versão americana e tem tro aspectos. (1) Sabendo do interesse de Sick em mancunho próprio. Algumas alterações de seqüência, na maiter a lista de espécies brasileiras atualizada foi decidioria dos casos, foram realizadas apenas no sentido de do dar especial atenção a esse aspecto. Todas as 57 esadequar o posicionamento de novas espécies recentepécies recentemente descritas ou, de alguma maneira, mente descritas ou assinaladas para o Brasil. incorporadas ao Brasil nos últimos quatro anos foram As opiniões taxonômicas de Sick foram acatadas. Pasincluídas. (2) Foram preparados textos curtos para tosados cinco anos de sua morte e mais de dez anos da das as espécies constantes do livro, em especial para publicação da edição original as suas opiniões podem vir a ser consideradas excessivamente conservadoras. aquelas que apareceram nas edições anteriores apenas mencionadas como espécies ocorrentes adicionais. (3) Mesmo nos casos onde a sua posição sobre questões Foram incorporados na bibliografia geral e das famítaxonômicas diverge da maioria dos autores recentes lias um conjunto inédito de títulos, sendo vários puesse critério foi adotado para manter a identidade do blicados após a sua morte, além de ter sido autor sobre a obra, sem excluir nestes casos a própria reconstituída a bibliografia integral mencionada nos opinião do coordenador. Na maioria dos casos onde originais, que teve itens seletivamente eliminados, existe divergência quanto ao tratamento taxonômico o por questão de economia de espaço, da versão amecoordenador chamou atenção para o problema através ricana. (4) Foi incluído para todas as espécies tratade uma nota elucidativa. Os c.asos que melhor exemplidas no livro um nome vernáculo, de conformidade pipile, , ficam essa situação são: com a intenção do autor. eurfgnaiha, , eci Toda a contribuição do coordenador em forma de , pe / ec texto está identificada através do uso de colchetes. Este Considerando a questão da sinonímia nornenprocedimento foi utilizado em comentários gerais, texclatural como matéria complexa e de uso restrito foi tos curtos de espécies e notas explicativas. Asteriscos decidido desincorporar informações específicas que foram utilizados pelo coordenador para designar itens tratavam deste aspecto nos textos individualizados inéditos da bibliografia, incluídos durante o processo de espéci.es para evitar eventuais falhas de interprede elaboração desta nova edição. tação.
-
NOTAS
As espécies descritas, validadas taxonomicamente ou assinaladas recentemente para o Brasil, depois do fechamento da edição americana de 1993 e que passam a constar no corpo do livro com texto próprio são:
eIlus
llus
Hl
i
oe lli
tes iceps
t Hl Hl
C
t tes
t El e
........,
i li t ll h ipectus
COCC
Eubucco oglossus c c Ce c e cnosiol l o C
l e i
tes c tes us
h t l H uuicot
s
l
t
e
(3)
fuscicauda
tes i litt
) (1) (E. crestaius) (2) g (G. g lli go) (3) ( . (3) . ) (4) eule (C. julieni) (2) lossus (P ost ) (2) onnellii ( . oest ) (3) i (H. ig (2) (P t icolo (1) egus franciscanus ( . aierrimus) (3) c ( . b unniceps) (E. (3) e i (T. icierus) (3) el is de (2) (P
l is
e
E AMPLIADA
es o
Puffinus
ol
REVISTA
As alterações de nomes específicos em relação à edição americana, conforme as seguintes razões, foram: (1) forma encontrada no Brasil incorporada a outra espécie mais antiga; (2) nome com precedência ou validado pela Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica; (3) forma encontrada no Brasil elevada ao nível de espécie; (4) nome emendado.
n
onectes
À EDIÇÃO
lis
lophotes t e es ons eludens
Abaixo estão relacionadas as espécies que nessa edição figuram em gêneros diferentes da edição americana de 1993 (em parênteses) segundo propostas taxonômicas acatadas:
l e
l Conioptilon i i l
l cil
us) s)
diomedea
speculig bouu es l
ius
le
s
nitida (Buieo)
e nostol e os e s
collis schist ce leucostig
(
eopholus) stoc ) ocic )
g
) l
As espécies suprimidas do cômputo geral na presente edição e constantes da edição americana são aqui listadas de modo a facilitar a consulta: (1) registro existente não confirmado; (2) forma incorporada como subespécie; (3) _ registro existente descartado por nova identificação do material; (4) procedência duvidosa do material, forma estranha ao Brasil; (5) espécie sinonimizada. .
c e (1) elec nus e os (1) Otus gu te e (2) enetes nige (1) gusti (1) (1) ~ s g (4) - ol t il/e (1) (
(3)
l c
n
ii (4) nig s (3) (5) (4) (3) chus toni (2) obsoletus (3)
o he Cl
iÚ ides l ( uto olus) estes) dol nius)
o e o Cichlopsis leucoge ol nius Ieucotis . eistes s (Siurnella)
As siglas básicas presentes nessa nova edição utilizadas primordialmente nos textos individualizados das espécies foram: En Espécie endêmica do Brasil (v. Tabela 9. 1) Am Espécie considerada ameaçada de extinção (v. Tabela 3. 1) VN Visitantes setentrionais, provenientes do hemisfério norte (v. Tabela 9.2)
-",., ORNITOLOGIA
VS Pr Fig.
BRASILEIRA
Visitantes meridionais, proveninetes do cone sul do continente (v. Tabela 9. 3) Informa o número da prancha e posição onde está ilustrada a espécie. Informa a figura no corpo do livro onde a espécie está ilustrada a bico de pena.
Diferentemente do trabalho de tradução de William Belton para a versão americana da obra, não foi possível submeter as alterações realizadas pelo coordenador ao autor. Muitas dessas sugestões ou acréscimos ao livro são declaradamente decisões unilaterais. Em alguns casos foram encontradas antigas sugestões do coordenador - apenas anotadas ou já elaboradas - derivadas de conversas do mesmo com o Prof. .Sick, quando ele solicitava para que chamasse a' sua atenção para possíveis equívocos ou omissões. Muitos de seus alunos e colaboradores agiram de modo semelhante e assim foi possível verificar o papel significativo dessas contribuições de terceiros ao trabalho de aprimoramento da edição original. . O trabalho principal de revisão e ampliação em tempo integral foi realizado entre dezembro de 1994 e agosto de 1995. A revisão mais fina das provas aconteceu entre setembro de 1995 e abril de 1996. A confecção de textos novos para as espécies não tratadas nas edições anteriores e a inclusão de bibliografia recente teve como data limite 3 de maio de 1996. O trabalho de diagramação final foi executado entre meados de maio e 15 de dezembro de 1996.
A tarefa de coordenar o preparo dos originais e edi. tar a nova edição brasileira de me foi confiada pela Sra. Ingeburg Kindel, amiga e herdeira legal de nosso mestre, a quem agradeço primordialmente pela honrosa e irrefutável oportunidade. Participaram da indicação de meu nome, como conselheiros de ocasião, os colegas Luiz Pedreira Gonzaga e Vânia Soares Alves da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Johann Becker, do Museu Nacional e William Searight, da Fundação Margaret Mee. Foram efetivamente atuantes no processo de correção das provas Claúdia Bauer e Paulo Sergió Moreira da Fonseca, a ambos agradeço o apoio inestimável. Reconhecimento especial se faz também ao apoio importante prestado na discussão de partes do livro aos cole-
gas: Tadeu Artur de Melo Iúnior e Luiz Fábio Silveira de Belo Horizonte; Maria Martha Argel de Oliveira, de São Paulo; Giovanni N. Maurício e Rafael A. Dias de Pelotas; o casal de professores Edwin e Yoshika Oniki Willis de Rio Claro e, é claro, Luiz P Gonzaga e Bret M. Whitney do Rio de Janeiro. Está também nesse caso, Herculano F.Alvarenga de Taubaté que atendeu prontamente o nosso pedido para revisar o capítulo de sua autoria. Especial agradecimento a William Belton, tradutor da edição americana da obra e antigo amigo de Sick, pela remessa de material e informações importantes para o bom andamento dos trabalhos. Um grande grupo de pessoas acompanhou e colaborou com grande interesse nos trabalhos desenvolvidos desde dezembro de 1994, quando do início da revisão dos originais. Mandando sugestões, enviando artigos e colaborando de maneira diversa nas várias fases do trabalho, destaco: J. Becker, A. F. Coimbra-Filho, M. Werneck de Castro e A. Whittaker. Agradeço ainda a : J. L. Albuquerque, A. L. P Aleixo, M. A. Andrade, L. dos Anjos, I. N. C. Astor, P Auricchio, T. R. Azevedo, R. O. Bierregaard, R. Bóçon, S. H. Borges, M. R. Bornschein, P. F. S. Bustamante, D. R. C. Buzzetti, H.F. A. Camargo, A. M. P Carvalhães, C. E. S. Carvalho, G. D. A. Castiglioni, R. B. Cavalcanti, M. Cohn-Haft, P H. C. Cordeiro, P F. Develey, M. A. Efe, I. Ferreira, L. F. Figueiredo, A. C. Piuza, P. S. M. Fonseca, R. L. Gagliardi, L. P Gonzaga, J. Hidasi, R. Krul, E. M. C. Leme, V K. Lo, P Lonergan, N. C. Maciel, F. Mallet-Rodrigues, L. C. Marigo, M. Â. Marini, P Martuscelli, G. T. de Mattos, T. A. MeIo [unior, V S. Moraes, J. L. X. Nascimento, M. L. M. Noronha, H. Nomura, F. C. Novaes, F. Olmos, D. C. Oren, M. P Paiva, T. A. Parker, R. Parrini, J. Pearson, C. R. G. M. Penna, R. M. Pinto, H. B. Rajão, B. L. Reinert, R. Ribon, L. A. Rosário, P Roth, P Salviano Filho,.M. Sander, P M. R. S. Santos, P Scherer Neto, r. M. Schloernp, J. Searight, J. M. C. da Silva, R. Silva e Silva, J. E. Simon, A. B. A. Soares, L. L. Short, D. Souza, M. C. Souza, D. F. Stotz, F. C. Straube, L. Trindade, P E. C. Ventura, W. A. Voss, B. M. Whitney, C. Yamashita, C. E. Zimmermann. Sick não chegou a elaborar um novo "agradecimentos" relativo ao período 1985-1991, com uma nova relação de colaboradores, nem mesmo pilra a edição americana. O leitor encontrará ao final dos agradecimentos originais de H. Sick uma lista inédita preparada pelo coordenador. Foram utilizadas as suas muitas anotações dispersas nos originais para compor a lista de colaboradores diretos do autor que precederam ao presente trabalho. sé
eco,
31 de
de 1996
ó De
de to
de
olog ogi
1 I
Agradecimentos Antes de tudo, devemos salientar a intuição com que se houve Paul Barruel, St. [ean d'Arvey, Savoie, França, na execução das ilustrações. A remessa à residência do artista, dos espécimens a serem pintados ou desenhados, foi possibilitada pela colaboração dos Museus de l d Hi elle, Prof. Dr. Jean Paris Dorst), München g, Dr. G. e Dr. Diesselhorst), Frankfurt Joachim Steinbacher), Bonn e e enig, Prof. Dr. Günther Niethammer +), London Dr. [ames D. MacDonald) l Histo AMNH, e New York Dr. Dean Amadon). Valemo-nos também da coleção do Príncipe Maximiliano, do século passado, depositada no AMNH (v. História). Para facilitar o trabalho do artista, .ou seja, para dar as posições características das aves vivas, m:andamos ao senhor Barruel desenhos das aves feitos por nós no campo, no Brasil. A confecção dos fotolitos das pranchas (feitos em 197;\) coube à Quimigráfica Mayer Ltda., São Cristóvão, Rio de Janeiro, cujo pessoal se dedicou a essa tarefa com o conhecido esmero. A revisão final do texto da 1a edição foi realizada por Luiz Osório Machado de Oliveira. Entre os colegas e amigos mais interessados na obra destacaram-se: Dr. Eugêne Eisenmann (AMNH, New York), Dr. Philip S. Humphrey e Kansas), Rodolphe Meyer de Schauensee l iences, Philadelphia), Dr. Alexander Wetrnore Institution, Washington), Prof. Dr. Ernst Mayr e ti , Harvard University, Cambridge), Dr. T. E. Lovejoy e Washington), Prof. Dr. Ernst Schüz Stuttgart), Paul Schwartz (Rancho Grande, Venezuela), Dra. Maria Koepcke (Lima, Peru), Dr. Luc Hoffmann (Tour du Valat, França), Dr. Fritz Neubaur (Wiesbaden, RFA), Frei Tomas Borgmeier O. F. M. (Rio de janeiro), Dr. Étienne Béraut (Rio de Janeiro), Walter Klemm (Embaixada da RFA, Rio de Janeiro) e William i Council on Belton (ICBP - Inte Seção Pan-Americana) . . O Dr. P. L Ames, Chicago, fez os três desenhos de siringes de Passeriformes, o Dr. Pierce Brodkorb , Gainsville) forneceu a maioria dos dados paleontológicos. O Dr. Jürgen Haffer, Essen, RFA, permitiu a reprodução de vários dos seus mapas. Na parte de biologia tivemos todo o apoio do Dr. Alexander F. Skutch, Costa Rica.
No Brasil, citamos a valiosa cooperação dos colegas e amigos Dr. Olivério M. de O. Pinto e seu sucessor Hélio F. A. Camargo (Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo), Dr. Fernando C. Novaes (Museu Paraense Emílio Goeldi, Belérn, Pará), Augusto Ruschi (Museu de Biologia Prof. Melo Leitão, Santa T-eresa, Espírito Santo), H. F. Berla (Museu Nacional, Rio de Janeiro), Álvaro Aguirre (antiga Divisão de Caça e Pesca, Museu da Fauna, Rio de Janeiro) e Dr. Humberto T. Ferreira, Rio de Janeiro. No corpo do livro fazemos menção a outras pessoas. O Dr. Otto Schubart (pirassununga, São Paulo) dedicou-se à identificação dos animais invertebrados extraídos de estômagos de aves, e a Dra. Graziela Maciel Barroso (jardim Botânico, Rio de Janeiro), identificou sementes encontradas em papos e estômagos de aves coletadas . O Senhor Rogério Marinho, Diretor de O Globo, Rio de Janeiro, não cansou de estimular-nos durante a elaboração do livro. Tivemos sempre o apoio integral do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sobretudo na pessoa do Dr. Manoel da Frota Moreira, que acompanhou nosso trabalho com o maior interesse. Não podemos deixar de mencionar o nosso velho orientador, Prof. Dr. Erwin Stresernann, Museu de Zoologia da Universidade de Berlim (v. História, sob E. Snethlage). Adolf Schneider, diretor de uma escola em Berlim Oranienburg, veio ao Brasil com o autor em 1939; tornou-se conhecido pelo estudo da iconografia de Georg Marcgrave (v. sob História). Excursionamos juntos no Espírito Santo até o fim de 1939 (havia começado a guerra na Europa); depois, Schneider trabalhou no Museu Nacional, Rio de Janeiro, identificando material rias coleções ornitológicas (v. Schneider & Sick 1962), e fez duas viagens para coletar aves: uma ao Sertão das Cobras, Rio de Janeiro, e outra a Porto Quebracho, Mato Grosso. Regressou à Alemanha em 1942, onde faleceu no fim da guerra, em Berlim. Memória toda especial devo à minha esposa, Marga Sick, já falecida, pela datilografia dos manuscritos, e o desprendimento com que cuidou de tantos serviços mais, ligados a nosso trabalho. Com profunda gratidão referimo-nos ao Dr. Aristides Pacheco Leão, ex-Presidente da Academia Brasileira de Ciências, que tomou a si acompanhar de perto o andamento do trabalho, dando estímulo e o prazer intelec-
",
:
,.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
tual da colaboração. [Colaboraram durante o processo de produção das novas edições, incluindo informações repassadas anos atrás, as seguintes pessoas: A. Abendroth, C. Abreu Filho, G. M. Achenbach, F. Allmenroeder, H. M. F. Alvarenga, V. S. Alves, D. Amadon, W. Andersen, M. A. Andrade. P. T. Z. Antas, A. Assumpção, R. M. A. Azeredo, M. Berger, R. Best, L. G. M. Bezerra, R. O. Bierregaard, W. C. A. Bokermann, M. L. de Brooke, B. Caetano, I. G. Câmara, I. L. Campos, A. R. Carvalhães, C. E. S. Carvalho, J. c. M. Carvalho, R. B. Cavalcanti, A. Closs, V. Coaracy, A. G. M. Coelho, E. P. Coelho, M. Cohn-Haft, N. J. Collar, A. T. Costa, J. Davidson, J. Delacour, J. M. Dietz, W. Engels, M. I. Ferolla, P. S. M. Fonseca, B. C. Forrester, J. Forshaw, D. Fortaleza, M. S. Foster, J. L. Freire, R. Garcia, E. Garlipp, J. Goerck, E. Gouvêa, D. Greenberg, J. M. Grugan, N. Guidon, L. R. Guimarães, J. C. Guix, J. K. Hahn, J. K. Hart, R. F. Hensel, J. Hidasi, J. R. Hill, G. Hoffmann, G. Hoy, W. E. Kerr, A. Kindel, E. V. Kozlova, J. Lanna, W. E.
Lanyon, S. M. Lara-Resende, F. S. Lobo, H. S. Lopes, N. C. Maciel, J. C. R. Magalhães, C. C. Maia, M. Maier, L. C. Marigo, J. T. Marshall, N. P. Martins, P. Martuscelli, G. T. . Mattos, E. S. Morton, J. Moojen, P. Nardelli, A. Negret, C. Neideck, A. Neunteufel, J. T. Nichols, J. Nicolai, J. P. O'Neill, Y. Oniki, D. C. Oren, R. Otoch, J. F. Pacheco, C. V. Pádua, M. T. J. Pádua, T. A. Parker, B. S. Pascoli, B. T. Paulí. H. F. Paulini Filho, N. A. Pérez, A. R. Phíllíps, R. B. Pineschi, F. B. Pontual, R. Reitz, B. Ribeiro, R. WE. Risebrough, L. A. Rosário, P. Roth, M. Sander, I. Sazima, U. Schadrack, P. Scherer Neto, W. Scheithauer, A. Schneider, D. A. Scott, F. Silva, J. M. C. da Silva, E. K. P. Silveira, H. Sioli, R. Siqueira, A. L. Spanns, A. M. Springer, D. F. Stotz, R. Straneck, A. Studer, A. Sucksdorff, C. Taffarel, H. Tessmer, B. T. Thomas, J. M. E. Vielliard, R. Vieira, L. D. Vizotto, I. Vogelsang, K. H. Voous, W. Voss, V. Wellisch, H. E. F. Werneck, M. Werneck de Castro, J. S. Weske, A. Wetmore, A. J. Whiteck, A. Whittaker, F. Wildholzer, E. O. Willis, C. Yamashita.] Hel
31 de
t
ic
o de 1982
Introdução. A América do Sul é o continente das aves, sendo o número de espécies residentes aproximadamente da ordem de 2.645. Se considerarmos igualmente as visitantes, este total ultrapassará as 2.920 (Meyer de Schauensee 1970), o que não é igualado por qualquer outra região do planeta, correspondendo a pouco menos de uma terça parte das aves vivas de todo o globo. O total das aves do mundo é calculado em 9.021 espécies (Bock et . , 1980). [O total aproximado de espécies para todo o mundo e América do Sul atinge hoje as marcas de 9.700 e 3.200 espécies, respectivamente (Sibley & Monroe 1990).] O Brasil possui 1.590 espécies, conforme o nosso último recenseamento, em 1981, abarcando 86 famílias e 23 ordens. [Nesta nova edição um total de 1.677 espécies são apresentadas como pertencentes a avifauna brasileira.] Isto significa 55,3% das aves residentes da América do Sul, e 54,1 % do total das aves deste continente. A superfície do Brasil representa 47,8% da superfície da América do Sul. Referimo-nos a todas as espécies localizadas em território sob a jurisdição brasileira, por conseguinte também nas águas terri toriais e nas ilhas atlânticas sobre cuja ocorrência recebemos informações seguras. Se considerarmos também as raças geográficas, o total ultrapassa 2.500. As raças ou subespécies são tratadas, neste livro, apenas quando são significativamente diferentes. Em matéria de aves, o Peru e a Colômbia, países relativamente pequenos, rivalizam 'com o Brasil, não só por participarem em larga escala da riqueza da fauna amazônica, como ainda por abrangerem a fauna andina, tão extraordinariamente variada, que falta inteiramente ao Brasil, exceto por alguns poucos reli tos de uma colonização pleistocênica. Por outro lado, o Brasil possui elementos da grande fauna patagônica (relacionada à fauna dos Andes), que penetraram no sul. Riquíssimos em aves (mais de 1.000 espécies) são também a Bolívia, Venezuela e a América Central. A abundância de aves do Brasil torna-se também impressionante se comparada com os mamíferos. Calculada, .na base das coleções de J. Natterer (v. História), a relação das espécies de mamíferos para as de aves seria aproximadamente 1:6; ou seja, em média poder-se-ia juntar 6 espécies de aves antes de encontrar-se uma espécie de mamífero. Na África dominam os mamíferos, mas a região do Congo é também muito rica em aves, abarcando mais de 1.000 espécies. Além da quantidade, a avifauna do Brasil reúne inúmeros superlativos qu.anto à qualidade. Vive aqui, p. ex.
uma das maiores aves do mundo, a ema, ao lado das aves de menor porte, os beija-flores. Os últimos são os maiores bailarinos aéreos e as aves deste hemisfério que mais desafiam o naturalista que procura compreender o seu organismo e suas funções. Entre as aves do Brasil encontram-se os voadores de maior porte da Terra: o albatroz e o condor, ambos de ocorrência apenas ocasional. O gavião-real, residente no Brasil, é a ave-derapina mais possante do mundo. Ocorrem aqui as aves de vôo mais veloz: falcões e andorinhões. A ema é uma das poucas aves do mundo que renunciaram completamente à faculdade de vôo, a favor de um deslocamento no solo. Isto é também particularidade dos pingüins, visitantes regulares das nossas costas meridionais, e que se tornaram campeões de natação submarina, usando as asas como remos. Entre os representantes mais estranhos de aves do mundo estão os nossos urutaus ou mãe-da-Iua,Nyctibius, que para não prejudicar sua camuflagem, indispensável à segurança dessas aves noturnas durante o pouso diurno, desenvolveram um sistema de ver sem abrir os olhos ("olho mágico"). Embora não seja sábio discutir sobre a beleza, podese afirmar que o Brasil fornece várias aves da mais alta cotação internacional em valor decorativo, como as araras, o galo-da-serra upic e beija-flores como o e . Falta ainda escolher com prudência a AVE NACIONAL do Brasil, assunto tratado até agora sem os necessários critérios. Uma boa opção seria a Guaruba, Gu g , endemismo brasileiro de rara beleza, com as cores da bandeira brasileira, amarelo ~ verde (v. Psittacidae). O Brasil está muito bem provido de catálogos da avifauna, além de trabalhos sistemáticos, sobretudo de autoria de Olivério M. de Oliveira Pinto ( 1938, 1944, 1964, 1978, etc.), veterano mestre da ornitologia nacional. São, porém, escassas as informações sobre a ave viva e suas múltiplas relações com o ambiente. Justamente essa parte constitui nosso interesse principal. Partimos, sempre que possível, da observação da ave viva e só depois passamos para o estudo de livros ou material mortcconservado em Museus, Escrevem Mayr, Linsley & Usinger
(1953) to ch less less
is
isi
e
e e
c t logue
end
ng on ists biologists
. Em outras palavras,
passaram-se os tempos de um estudo puramente estático de gabinete. Visamos uma sistemática dinâmica, fazendo uso quanto possível do conceito de espécie geo-
~ I
,
~ r I
,I.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
gráfica ou superespécie (Mayr 1942),que leva à real compreensão da fauna. Temos em mira a análise bionômica e biogeográfica da avifauna brasileira, colocada em âmbito histórico e mundial. Reunimos elementos sobre a sua origem, sua evolução e seu parentesco filogenético, tirando perspectivas sobre o resto do mundo. Correspondendo ao quadro da nossa "Introdução a Ornitologia", não podemos entrar em muitos pormenores. Chamamos a atenção aos fenômenos que julgamos importantes, sem termos a menor pretensão de sermos completos. Baseamo-nos, geralmente, em observações próprias. No lapso de quarenta anos de experiências de ornitólogo profissional no neotrópico, incluindo dez anos (1946 a 1957) como naturalista da Fundação Brasil Central, acompanhando a Expedição Roncador- XinguTapajós dos irmãos Vilas Boas, em Mato Grosso e Pará (viajando a lombo de burro, de canoa, de teco-teco e avião da Força Aérea Brasileira, FAB) e visitas a outros países deste continente, registramos muita coisa, acumulando mais de 8.500páginas de diário científico. Quando consta "encontramos", etc., estamos dando ênfase de que se trata de uma verificação feita pelo autor. Muitos registros nossos ficaram sem aproveitamento por falta de incentivo, escassez de bibliografia e de material. Muita gente se aproveitou dos nossos conhecimentos, sem citar meu nome. Autores de língua inglesa não consideraram as nossas publicações em português e alemão. Perdemos em muitos casos a prioridade. Trabalhamos durante mais de vinte anos na redação es do . Iniciamos em 1960 um guia de um livro de campo, tendo escolhido como ilustrador da obra Paul Barruel, artista dos mais famosos no setor, que acabara de ilustrar o livro de F. Haverschmidt (1968) sobre as aves do Suriname. No decorrer dos preparativos, o dito guia de campo, que compreendia apenas uma seleção de aves brasileiras, acabou tomando a feição de tratado, ao modo da "sopa de pedras", da mitologia, que seria publicado no início da década de 70 pela Academia Brasileira de Ciências, cujo então presidente, Dr. Aristides Pacheco Leão, demonstrou particular interesse pela matéria. O considerável lapso de tempo decorrido desde a época da primeira apresentação do manuscrito à Academia Brasileira de Ciências até a entrega definitiva em janeiro de 1982, exigiu do autor uma revisão quase completa para a atualização. Surgiu, entre outros, o problema de ponderar novos resultados, como pesquisas sobre o st ius de parentesco de certas unidades; lembramos a recente eliminação da família de Coerebidae e a nova organização dos Tyrannidae - publicações que saíram quando o nosso manuscrito estava praticamente concluído. Durante os últimos vinte anos o interesse pela . ornitologia, a qual, na América Latina, era uma disciplina reservada a poucos especialistas, cresceu muito, provocando atividades múltiplas nesse campo e uma bibliografia imensa. Começou a captura de aves com redes de nylon para fins de identificação e anilhamento, a gravação de vozes e fotografia de aves no campo.
A partir de poucos anos tornou-se habitual contratar ornitólogos de campo para orientar grupos de turistas interessados em aves. Estão se formando reuniões de ornitófilos, como o Clube de Observadores de Aves (COA), no Rio Grande do Sul. Referimo-nos relativamente pouco à descrição da plumagem. Demos mais destaque a problemas especiais da morfologia comparada e do comportamento, da biologia, da evolução e da distribuição. A estrutura geral do nosso livro é caracterizada pela apresentação de duas partes: (A) [dez] capítulos introdutórios, e (B) o corpo do livro, tratando todas as famílias e espécies de aves brasileiras. [As finalidades dos capítulos introdutórios são as seguintes]: 1. Dar algumas noções gerais (básicas e perspectivas mais longas) sobre os mais variados assuntos de grande interesse. Resumimos, nesses capítulos, temas complexos cuja problemática não pode ser tratada apenas sob o cabeçalho de uma espécie ou de urna família, no corpo do livro. Tem que ser esclarecida a terminologia; 2. Chamar a atenção onde, neste tratado, que junta uma enorme matéria, podem ser encontrados os assuntos relevantes. Num capítulo como, p. ex. "Hábitos", não damos um respectivo sumário, mas apontamos certas especialidades, como os hábitos de "formicar-se" e "espaçar", quase desconhecidos no Brasil. Tornam-se, assim, esses capítulos introdutórios, uma espécie de índice para o corpo do livro . Incluímos nos capítulos introdutórios quatro listas faunísticas, orientando sobre o seguinte: [1. Espécies ameaça das de extinção, 2. Espécies endêmicas, 3. Espécies visitantes setentrionais, 4. Espécies visitantes meridionais.] O corpo do livro. No corpo do livro apresentamos um texto sobre cada família, para dar urna idéia geral da mesma, depois abordamos assuntos de interesse especial, comparando também com outras famílias. Os tópicos a considerar mudam de família a família, conforme as particularidades mais importantes do grupo. Abstivemo-nos de seguir um esquema rígido, igual para todas as famílias e espécies. Uma padronização, como geralmente adotada em tipos semelhantes de livros (p. ex. "identificação, hábitat, hábitos, nidificação, distribuição"), não seria aqui adequada. Aos representantes mais interessantes, ornitologicamente ou para o povo, dedicamos o maior espaço. Consagramos textos mais .amplos às famílias típicas para o Brasil como Tinamidae, Cracidae, Psi ttacidae, Trochilidae, Furnariidae e Pipridae, e a espécies bem populares como a avoante, o joão-de-barro, , o olo bon ensis, o tico-tico, gaudério ou chopim, ensis e o pardal, sse esticus. Entre os tópicos tratados estão os seguintes: Morfologia, incluindo casos especiais como a heteroginia, espécies crípticas, mutações, polimorfismo, albinismo e variações, hibridação, ginandria, muda e desenvolvi-
) I
I
l I
INTRODUÇÃO
mento pós-embrionário (ontogênese), adaptações especiais. Classificação, parentesco filogenético (revelado também por métodos bioquímicos e ectoparasitos). Manifestações sonoras. Alimentação, modo de caçar, pescar, etc. Hábitos, incluindo, p. ex. divertimento (v. Falconidae, Hirundinidae) e canhotismo (v.Psittacidae), termorregulação. Reprodução, acasalamento, cerimônias pré-nupciais, seleção sexual, ninho, ovos, incubação, despistamento do ninho, filhotes. Adaptações antipredatórias de ninhos e ovos. Espécies parasitas. Raças fisiológicas e raças etológicas. Idade. Hábitat e distribuição. Evolução e especiação. Raças geográficas. Espécies sintópicas. Migrações e vários deslocamentos, invasões. Inimigos e outros fatores adversos, incluindo impactos atmosféricos. Parasitos e fauna nidícola. Poluição, inseticidas, etc., mortandades. Utilização, caça, guano. Nocividade suposta, problemas sanitários, freqüência. Espécies sinântropas. Declínio, preservação, reservas, povoamentos. Relações interespecíficas. Cruzamentos em natureza. Criação em cativeiro focalizan-
do repovoamentos. Domesticação. Popularidade, lendas, folclore, crendices. Nomes vulgares ou populares e nomes vernáculos artificiais. Quando as observações realizadas neste país exigiram um confronto, não hesitamos fazer alusão a fatos registra dos fora do Brasil e até em outros continentes, considerando o papel didático de nossa obra. Temos em mente uma introdução à ornitologia em geral, baseados na matéria "Aves do Brasil". Nossos esforços, no sentido de abordar o assunto do maior número de ângulos possíveis, visaram estimular tanto o especialista como o leigo a novas observações, sobretudo o estudioso brasileiro cujo abastecimento com literatura especializada é limitado. Na ornitologia de todos os países os amadores contribuem consideravelmente para a ampliação dos conhecimentos. Conhecer, saber mais da interessantíssima vida das aves, é o primeiro passo para estimular o sentimento de conservar a natureza, que atualmente passa por tantos perigos.
PARTE 1
'1 ......"
1
o País e suas Aves
i o Brasil com 8.512.oo0km2 ocupa 47,3% da superfí-
600mm anuais, com fortes disparidades de ano para ano. 5. dos Área de aprox. 400.000 km-. Entre 850 e 1.300m de altitude, revestida por bosques de araucária de diferentes densidades. Clima subtropical, úmido, precipitações relativamente bem distribuídas pelo ano todo, em seus setores mais elevados (planalto de S. Joaquim, Lajes, Curitibanos, Santa Catarina) sujeitos a eventuais nevadas. 6. Oli . Área de aprox. 80.000 km", funcionando como se fosse margem do domínio das pradarias pampeanas. Zona temperada úmida e subúmida, sujeita a algumas estiagens. Somente restritas áreas estão fora do balizamento de 1.500 a 2.000mm anuais.
cie da América do Sul, sendo o quinto país no globo em extensão territorial (após a União Soviética, Canadá, EUA e China). Considerando o fato de que as aves são dependentes do meio ambiente, apresentamos um esquema dos grandes espaços climático-geomorfológicos deste País e das respectivas biotas ou ecossistemas. Chamamos a atenção para a necessidade de se conhecer não somente a atual situação morfoclímátíco-ambíental, mas sim certos resultados da história paleogeográfica da América do Sul através dos séculos, fatores responsáveis pela formação deste continente e sua flora e fauna. Ocorreram profundas alterações do clima e da vegetação.
1.1 Ab'Saber (1973) reconhece seis grandes domínios paisagísticos e macroecológicos do Brasil, definidos por feições morfoclimáticas de grande extensão e pelos principais quadros de vegetação: 1. ou com mais de 2.5 rnilhões de quilômetros quadrados, zona de planícies de inundação labirínticas (rio Amazonas) e meândricas (maioria dos afluentes doAmazonas). Esse domínio é situado em clima constantemente quente e úmido; em Manaus e Santarém temos cerca de 2.000mm anuais, na Serra do Navio (Amapá) 2.300mm, em Uaupés (Amazonas) 2.950mm de precipitação. 2 dos ou dos recobertos por cerrados e penetrados por florestas-galerias e endaves de matas, área com cerca de dois milhões de quilômetros quadrados. Regiões de maciços planaltos. Precipitação entre 1.300e 1.800mm, concentrada no verão e relativamente baixa no inverno. 3. ou domínio dos "mares de morros". Área com aprox. 1 milhão de quilômetros quadrados. A precipitação varia entre 1.100 e 4.5OOmm.Florestas tropicais recobrindo a área, originalmente, por mais de 95% do espaço total. 4. sobre depressões interplanálticas semi-áridas do Nordeste. Área variando entre 700.000 e 850.000 km", Ritmo desigual e pouco potente das precipi tações, 350 a
Ab'Saber (1973) destaca a importância das faixas de transição e contato entre os grandes domínios paisagísticos, impossibilitando traçar limites lineares entre os domínios (v. as partes brancas do respectivo mapa). Quanto à evolução das floras do Cretáceo ao Quaternário, no Brasil, Ab'Saber chega à conclusão que entre o Médio Terciário e o Qua ternário devem ter sido elaborados todos os padrões básicos de vegetação, relacionados mais de perto com os quadros atuais da vegetação inter e subtropical brasileira: mata, cerrados, caatingas, araucárias e pradarias. Pradaria corresponde a uma cobertura vegetal formada de gramíneas com plantas herbáceas ou subarbustívas, com raras árvores. Tais floras sofreram alterações sob o controle das sucessivas mudanças climáticas, forçadas pela instável paleoclimatologia dos tempos quaternários.
1.2
e
Deparamos com duas categorias maiores de 'vegetação, verdadeiros padrões de paisagens, que o povo chama simplesmente mata e campo, duas classes de formações fitofisionômicas. A avifauna terrestre pode ser classificada, basicamente, da mesma maneira: pertencendo à mata, OU ao campo. Categoria à parte são as aves aquáticas.
1.2.1
FrrOGEOGRAFLA
Entre os vários sistemas fitogeográficos do Brasil, o primeiro e o da maior influência, foi a classificação de
24
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Azis Ab'Sáber
o
500 1000 krn ~---'-----'
Álwas _mi-6ridas com cootingas SÚJulans (cona ~J
ftoras
d~ ulepu sub..des6rtiau do """nt. )
Ce.'.nsões
Át.-as
~
r
c6niriCas
edépfcaS
(eldenSÕH
dos
~
Grandes nOcIeo. de corr_
ff~
D
N.:.dco. do
An>v<ória
0.""0<
l
bo,.o;&
frias
poIag6nicos)
(bnni
"
temperada,
c/
d
an
ino.
frios
~á.oltítudC'
Fig. 1. Domínios naturais da América do Sul, há 13.000-18.000 anos, primeira aproximação
(seg. Ab'Saber 1977a).
do c.otiogos
o PAís
Martius
(1967), amplamente empregada na (1840 a 1906, em 40 volumes) dividindo
o Brasil em cinco províncias ecológico-vegetacionais: (1) Região montano-silvestre ou floresta pluvial montana, atlântica. (2) Região cálido-seca ou da caatinga, Nordeste. (3) Região cálido-silvestre ou floresta pluvial equatorial, Amazônia. (4) Região extratropical ou da floresta de araucária. (5) Região montano-campestre ou dos campos e cerrados, Planalto Central. Barbosa Rodrigues (1903) reconheceu três grandes zonas ecológicas: a Amazônia, a Montano-Campesina e a Marina. Engler (1879-82) e Sampaio (1938) remanejaram o sistema de Martius. Adotamos a divisão fitogeográfica do Brasil por Rizzini (1963, 1979) admitindo três províncias, subdivididas em várias subprovíncias: a Atlântica, a Central e a Amazônica. I. Presentemente a melhor base para chegar-se a uma aproximação melhor no que diz respeito a uma boa representação dos grandes espaços naturais do nosso continente, é o Mapa de Vegetação da América do Sul de Kurt Hueck (1966) ou de Hueck & Seibert 1972, no qual se baseou para realizar seu trabalho Ab'Saber (1973).1
25
A vegetação primária do Brasilhoje é muito reduzida ou já desapareceu, dissipada que foi, durante séculos, pela agricultura, mineração, industrialização e urbanização. Surgiram formações secundárias, paisagens campestres e quase desertos antropógenos. Em substituição à mata primária desenvolve-se, na melhor das hipóteses, a capoeira. No Meio-Norte (Maranhão, Piauí) e também no norte do Espírito Santo a derrubada da mata virgem provoca o desenvolvimento de babaçuais (Zona dos Cocais de Sampaio 1938). Vegetação extremamente resistente é o cerrado; após desmatamento para pastagens e eventuais culturas, retorna o cerrado ..
1.2.2
E
Para o zoólogo são sobretudo interessantes as classificações biogeográficas feitas por zoólogos. Burmeister . (1855-56) reconheceu, para o Brasil, três grandes zonas: Amazônia, Brasil Central e a Floresta Atlântica. Pelzeln (1868-71), baseando-se no enorme material de aves, mamíferos e outros animais, coletado por J. Natterer, registrou apenas duas regiões, classificação semelhante à do botânico Engler (1879-82). Wallace (1876, ex Udvardy, 1969) considera para o Brasil três regiões: a amazônica, o Brasil meridional e um pedaço da região de Pampa. As quatro províncias "escorpiológicas" brasileiras de Mello-Leitão (1937 em diante) identificam-se com as províncias mastozoológicas de Cabrera & Yepes (1940): a Província Amazônica, a Província Cariri-Bororó (Nordeste, Brasil Central e o Chaco boreal), a Província Guarani (estendendo-se até o Chaco Boliviano), e a Província Tupi (florestas ~osteiras).
1.2.3
Fig. 2. Os grandes complexos de vegetação e os principais hábitats das aves do Brasil. Mapa de vegetação adaptado de Hueck & Seibert, 1972. 1. Floresta pluvial amazônica. 2. Floresta pluvial atlântica; 2.1. Floresta litorânea ou costeira; 2.2. Floresta de montanhas. 3. Floresta de araucária. 4. Cerrado de campos do Brasil central, os campos ao norte do Amazonas, restinga e campos de altitude; 4. CA Campos do rio Branco e do Amapá. 5. Caatinga e Pantanal de Mato Grosso; 5. P.Pantanal; CH Chaco. 6. Região gaúcha. 7. Manguezal: a seta em "7" indica o limite meridional dos manguezais na costa atlântica em Santa Catarina, 28"205.8. Ilhas oceânicas. 9. Ambiente aquático.
E SUAS AVES
I
A destruição da vegetação primária está implicando na dissolução dos limites dos ecossistemas como aqui definidos. Nota-se a invasão de espécies de aves do cerrado e da caatinga nos ecossistemas florestais vizinhos, onde a mata está sumindo. Assim aparecerem, por exemplo, os tinamídeos campestres cens e na parte ocidental do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. Agralha do campo, o começa a invadir o Rio de Janeiro (J. F. Pacheco) e São Paulo. O dendrocolaptídeo mais típico do cerrado do Brasil central, c s, já foi observado na ilha do Paquetá, baía da Guanabara, Rio de Janeiro: um indivíduo isolado que ocupou um ninho e se esforçou em vão para achar um companheiro (L. P. Gonzaga). No corpo do livro chamamos a atenção para esses casos.
1.3 Os
do
'propomos adotar onze grandes seções ecológicas onde vivem as aves deste país, baseando-nos, na parte
26
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
da vegetação, em Hueck & Seibert (1972) e Rizzini (1979)J Seguem algumas palavras para caracterizar esses ecossistemas e sua avifauna. Esses macrohábitats ou regiões ecológicas principais podem ser divididas em numerosos nichos ecológicos aos quais nos referiremos oportunamente no corpo do livro. Tendo em vista a distribuição das aves, a identidade florística (fundamental para o botânico) não é da . maior valia. Prevalece para as aves a fisionomia do hábitat. Uma mata seca, mesófila do Brasil central, por exemplo, pode ter uma avifauna bem semelhante a uma mata xerófila da caatinga. Há também o fenômeno de largas faixas de transição entre as regiões bem definidas, como acontece no caso da vegetação (v. Domínios morfoclimá ticos).
1.3.1
FLORESTA FLUVIAL AMAZÔNICA
J
o maior corpo florestal do planeta; ao qual Humboldt e Bonpland aplicaram o nome dé'-"Hylaea". $ a floresta equatorial que vai do Atlântico aos contrafortes dos Andes, limitada ao norte e ao sul por formações mais secas. Inclui a baixada do Orinoco e a Guiana. Essa área coincide quase exatamente com a da seringueira, a qual, aliás, serve para caracterizar a hiléia botanicamente. No Brasil se fala da "Amazônia Legal": uma área de cinco milhões quilômetros quadrados, abrangendo os estados do Amazonas, Pará, Rondônia, Amapá, Acre, Mato Grosso, parte do Maranhão e Tocantins, 1\ expressão "floresta amazônica" design~ coletiva.mente vários tipos de floresta úmida dos quais basicamente os dois seguintes devem ser considerados separadamente: a mata de terra firme e a mata de várzea. Existem muito mais formações, dentro do domínio da Amazônia, como a várzea de buritizais, as "caatingas", dos rios Negro e Solimões, as "campinas", as "savanas" e pequenas serras com matas secas (por exemplo, na Serra dos Carajás, Pará). ;Embora a idade da Amazônia seja avaliada como inferior à idade do cerrado, a floresta Neotropical existe há milhões de anos dando origem a um grupo de ecossistemas dentre os mais complexos do mundo. Oscilações climáticas no continente levaram a modificações drásticas na Amazônia, que em certo momento alcançava ô Sudeste do BrasiL! Particularidade da Amazônia é a existência de rios de cores diferentes que têm também influência sobre a flora e fauna: (1) água "branca", barrenta (rios Amazonas, .Madeira e Branco); (2) água verde-clara, transparente (rio Tapajós) e (3) água "preta", marrorn-olivácea (rios Negro e Cururu) (Sioli & Klinge 1962).;
200m), ondulados ou recortados por pequenos cursos d'água, não sujeitos a inundações fluviais; o substrato é freqüentemente areia argilosa. . Há geralmente, uma estratificação da mata, podendo-se identificar até quatro estratos. O estrato supremo (abóbada florestal) alcança 30-40m, mas não raramente desce a 20m. São muito características as emergentes que chegam a 50 e 60m; uma das emergentes mais notáveis é a castanheira-da-pará, que compõe os castanhais, Abaixo do estrato supremo há um segundo andar arbóreo, e subordinado a ele, outro andar arbóreo-arbustivo entre 2 e 5m, que forma a submata, rica em palmeiras. A riqueza em árvores da hiléia é única, porém, a dominância de determinadas espécies é moderada; por outro lado espécies representadas por um único indivíduo, numa certa área, são numerosas. O número de árvores e espécies por unidade dá uma idéia da riqueza dessas florestas: na região de Belém, Pará (150 km dis-tante do Equador e do Atlântico, a precipitação anual é de 2.800mm ou mais, a temperatura média oscila entre 25° e 26°C), conta-se por hectare 133 árvores (com diâmetro de tronco de lOcm a 120cm acima do solo) de 42 espécies; no rio Madeira, Amazônia, se encontram 111 árvores de 60 espécies e chega-se, no alto Amazonas, até a valores mais altos: 120 a 290 espécies de árvores por hectare (Gentry 1988). Na Europa central acham-se no máximo 10 espécies de árvores por hectare em média. Os censos aprofundam a compreensão da fitofisionomia. Nota-se na fauna uma evolução correspondente: riqueza em espécies, mas poucos indivíduos por espécie. Atraem a atenção raízes tabulares (sapopemas) e raízes escoras respiratórias, estas semelhantes às dos mangues. Feições típicas são, outrossim, lianas providas de caule achatado ou escalariforme (por exemplo, escada-de-macaco, Abundam plantas mirmecófilas. Comumente tais matas são limpas e de trânsito fácil. Obstáculos maiores são grossos troncos tombados. Os gigantes tombados formam com as árvores.atingidas ao redor um matagal impenetrável, por cima do qual se abre uma espécie de clareira natural na mata. MATA DE VÁRZEA
Domínio localizado em terrenos baixos e sujeitos a inundações periódicas por rios de água branca, barrenta na época das chuvas. As matas estendem-se às numerosíssimas ilhas fluviais. Um gigante da mata de várzea é o maparajuba, que atinge 40 metros de altura; as árvores ali tem em regra 20 a 30 metros. As várzeas são entrecortadas por pequenos rios e riachos, chamados igarapés. A submata é pobre em espécies vegetais. Em lugares de forte sedimentação cresce a bela sumaúma, de porte característico.
MATA DE TERRA FIRME
Existente fora da influência dos rios. É a grande e imponente floresta pluvial hileiana.A mata de terra firme está localizada em planaltos pouco elevados (30-
MATA DE [CAPÔ
.É a mata inundada por águas claras, pretas, paradas junto às margens dos rios. Formam-se tais matas tarn-
--------------------=-OPAÍSESUAsAvES
bém em plena terra firme, às margens dos riachos. O igapó passa para os buritizais, belíssima formação da palmeira buriti, sp.
brasileira. Entre os Passeriformes cam, por exemplo, Cotingidae,
il
is,
Que ul
pu
27
mais típicos se destacomo
Ceph lopt
n
issoc s lo e nod us foeiidus. O grito estridente do "tropeiro", ns, é a "voz da FORMAÇÃO RIBEIRINHA Amazônia". Abrange as praias arenosas com formação arbustiva Alegião dos papa-moscas, Tyrannidae, ocorrendo em de li oldii n coberta inteiramente por água du. todos os estratos da mata, mas dominando nos mais alrante a cheia, que dura freqüentemente cinco meses. }lma . tos, desafia o mais treinado ornitólogo que tem que cofaixa de mata baixa com C e brenhas de H letar amostras para a devida identificação. e localmente a palmeira j u marca a próDifícil é o controle da avifauna da abóboda florestal, pria beira do rio. As ilhas com arbustos desaparecem atravessada por bandos de pássaros (Thraupinae, etc.), por completo durante a enchente. ou sendo o hábitat constante de espécies como o assobiador-do-castanhal ieucotis, Vireonidae). O observador "quebra o pescoço" para descobrir e idenAS AVES DA AMAZÔNIA tificar um pássaro lá em cima cuja voz ainda não conheNão há outro lugar no mundo onde vivem tantas ce. 'Conhecer a vocalização do todo à sua volta é indisaves: em número de espécie em geral e em número de pensável no registro de aves, dia e noite, exigindo traespécies existentes no mesmo hábitat (sintópicasj.] A balho duro durante meses e anos. composição desses hábitats muda dentro da mesma mata de modo quase imperceptível para nós. Assim a fauna Frutos caindo atraem papagaios ou macacos comendo nas copas, mas é difícil achar uma lacuna na folhamuda numa adaptação evoluída durante milhares de anos; nós percebemos apenas uma parte dessas ligações .' gem para ver os animais. Os frutos, espalhados no solo, atraem tinamídeos, de encontro difícil em outros lugaíntimas. A biodiversidade fica mais fácil de entender quando estudamos os animais inferiores, vivendo na res. Árvores caídas com seus discos radiculares (radiculação superficial) dão oportunidade à nidificação vegetação e no solo. . de aves (substituto de barrancos), as clareiras naturais Nunca faltam frutos, sementes, flores e artrópodes para a farta alimentação da avifauna durante o ano todo. I atraem aves de beira da mata, 'inclusive migrantes vinPodemos dar aqui apenas uma idéia muito vaga dessados da América do Norte, como os Parulinae, durante o situação extremamente complexa. inverno de lá. As colunas vibrantes das formigas-deAAmazônia é a terra dos grandes Cracidae (rnutuns), correição denunciam-se ao longe pela gritaria excitada da passarada. prevendo corn id a fácil e farta, aproveimuitos Tinamidae (inhambus, temos que conhecer as vozes das espécies), Psittacidae (araras, papagaios e petando-se da infinidade de pequenos animais afugentariquitos, inclusive a bela ararajuba, dos pelas formigas. São atraídas as aves mais cauteloendêmico ao sul do Amazonas, símbolo nacional brasisas, como o grande cuculídeo terrícola phus, eleleiro), pitorescos Ramphastidae (tucanos e araçarís), mento notável da Amazônia. muitos Picidae (pica-paus) e muitos Passeriformes como Papagaios, araras e cotingídeos (por exemplo, por exemplo, Forrnicariidae, os mais interessantes depuni voam de uma emergente a outra. Um les correndo ou pulando no solo, por exemplo, as dos' maiores espetáculos na Amazônia são os vôos colel Os Pipridae fascinam pelas suas danças, são tivos de araras, papagaios e grandes icterídeos (japú, conhecidos como uirapurus, famosos na Amazônia. É lius) a tardinha, na procura dos locais tradiciomuito interessante prestar a atenção no folclore amazônais onde dormem. A construção de uma torre de obsernico (também mencionado no corpo do livro) ao qual vação, como foi feita primeiramente na Área de Pesquitrata freqüentemente às aves, a partir do mundo espirisas Ecológicas do Gtiamá (APEG), Belém, Pará, é muito útil. tual fantástico dos índios, donos tradicionais dessas terras há milhares de anos. Aves típicas da Amazônia, inFoi uma surpresa encontrar nos altos rios Xingu e s h cluindo o Orinoco, são a cigana (Opist Tapajós, Mato Grosso, espécies consideradas exclusivas os jacamins ( spp.) e o pavãozinho-do-pará p e us do alto Amazonas, como Cep hel o último distribuído até o México tro(Cotingidae). pical, cuja voz melodiosa, emitida no crepúsculo, chaO mais fascinante é sair à noite para tentar d'~cifrar o ma muito a atenção. Ocorrem, ainda em quantidade racoro de animais noturnos, corujas, bacuraus e urutaus, zoável. as aves-de-rapina mais possantes: o gavião-real, estes entre as aves mais esquisitas da região neotropical H e o uiraçu-falso, phnus s. !Entre os e do mundo. Existem mamíferos (roedores noturnos, beija-flores do dossel ensolarado se distingue a belíssima arborícolas do gênero o macaco-da-noite, enquanto no interior da mata mais escura abune até batráquios com uma vocalização semelhante às dam os pardos.Os Capitonidae, capitães-daig l ), pode ser aves. O canto do socó-boi mata, são pantropicais, no Brasil só ocorrem na Amazôbem parecido ao esturro distante de uma onça-pintada; nia. é um quase-endemismo da Amazônia como aprendemos no Brasil central. Em noites de luar
28
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
pode-se ouvir, em beira de rio (o "rasgar das asas" dos cujubins cujubi) que são cracídeos arborícolas, voando de uma copa a outra. A voz ventríloqua de um jacamim sp), empoleirado junto com os seus companheiros, lembra-nos que estamos em plena Amazônia. Nas matas periodicamente inundadas faltam, até certo ponto, aves terrícolas, mas ocorre durante a vazante uma notável imigração de espécies, como inharnbus, vindas dos arredores não inundados, atravessando até braços de rio, voando. Perto da costa atlântica, como na região de Belém, Pará, a mata da várzea está sujeita à maré, tornando-se inundada duas vezes por dia, período aproveitado por inda e nicollis, certas aves, como para invadir' a área. Nas praias vivem dois trinta-réis: a grande eihus e a pequena que se confunde com o rupesiris. Descansam banbacurau da praia, dos de corta-água de bicão vermelho gritante e aparece o esquisito pato-corredor, j endêmico do Neotrópico. Passam martins-pescadores, biguás e garças. É surpreendente a pobreza da avifauna aquática da Amazônia (v. sob Anatidae) e, particularmente, do rio Negro. Enquanto na água preta do rio Negro mediram-se 0,14 g/m3 (gramas por metro cúbico) de biornassa, esta mede na água mista da várzea do próprio Amazonas 6,2 g/m3, portanto 40 vezes mais (Fittkau 1975). Faltam até os mosquitos no rio Negro, designado pelos locais "rio morto" ou "rio silencioso". Finalmente lembramos das aves que sobrevoam o
Amazonas e seus tributários, como periquitos, papagaios, araras, tucanos e gaviões, vistos pelos turistas que viajam de navio. Sempre há andorinhas, sobretudo no outono e inverno meridionais (março a agosto), vindo em milhares e milhares do distante sul do continente, associando-se às tesourinhas í, da mesma procedência, "veraneando" na hiléia. As andorinhas locais e chamam menos a atenção. Caem muito na vista bandos de xexéus cicus Os hábitats criados na Amazônia pelos rios ce (fig. 3) atraíram nos últimos anos a atenção especial de ornitólogos americanos que trabalharam no Alto Amazonas, na Colômbia e no Peru. Remsen & Parker (1983) chegaram à conclusão de que uma percentagem alta (15%) das aves não aquáticas da Amazônia estão restritas a hábitats ribeirinhos.
e (2) elementos típicos do cerrado e do Pantanal/Chaco c , o rinocriptídeo paraguaio: a seriema o io as gralhas s e C. s el/us e emberizídeos da subfamília Thraupinae como e e upis [asciaia. Nessa região, no rio [aurú, Mato Grosso, registramos até o Condor-dos-Andes como visitante. FRIAGENS
No alto Amazonas, por exemplo, altos rios [uruá (Acre), Purús (Amazonas), Madeira (Rondônia) e Tapajós (Pará, observação própria) ocorrem entre junho e setembro, no tempo seco, regularmente friagens, causadas pela invasão de massas de ar frio, vindas das regiões antárticas (não dos Andes, como anteriormente suposto). Ventos fortíssimos de sudeste trazem num instante nuvens (não chuva) e a temperatura desce de 25°C a 10°C e até menos. Consta que as águas de pequenos rios e lagos podem esfriar tanto que causam mortandades de peixes. Diminui a atividade da fauna toda. Quase não há mais vocalização de aves. Não voam insetos e supomos que a alimentação de aves insetívoras fique bastante prejudicada. As formigas-de-correição, tão importantes na mata amazônica para tantas aves insetívoras (quase todas suboscines, v. sob Formicariidae), ficam no bivaque. Também aves frugívoras ficam prejudicadas, uma vez que o vento forte sacode a galhada das copas, expulsando até espécies maiores como tucanos, papagaios e mesmo cotingídeos como de s [oetidus e C ting . Beija-flores e andorinhas não aparecem; eles têm capacidade de entrar em estado de torpor para reduzir ativamente seu metabolismo (v.sob Trochilidae). A duração das friagens (conhecidas no sul do Brasil como "Friagem de São João"), não duram mais de três a cinco dias.
1.3.2
É um corpo florestal do Brasil oriental, ocorrendo do Rio Grande do Norte até Rio Grande do Sul, na faixa litorânea, restinga adentro. A floresta pluvial atlântica é constituída por dois corpos: a floresta litorânea e a floresta de montanhas, ambas com um grande número de endernisrnos. O maior índice de endemismos está mesmo no sudeste do Brasil, com aproximadamente 140 espécies florestais (Haffer 1985). ' FLORESTA
TRANSIÇÃO
AMAZÔNIA
-
REGIÃO PLATENSE
Interessantes são regiões de transição como por exemplo, aquela entre as drenagens das bacias Amazônica e Platina, na área do rio Paraguai superior ao norte de Cáceres, Mato Grosso. Lá se encontram duas faunas: (1) espécies amazônicas como o momotídeo Elec on o araçari e oglossus bito o t h , nig escens e o saí formicarídeo
ou
LITORÂNEA
'Ocorre no Nordeste (onde é chamada florest~ dos tabuleiros) até o Rio de Janeiro em ,terreno plano ou suavemente ondulado, de 20 a 200m acima do nível do mar. As condições climáticas são bem semelhantes às da Amazônia; em Caravelas, Bahia, temos 1.850mm anuais e em Ilhéus, Bahia, até 2.134mm, A flora e a fauna possuem fortes relações com a hiléia. A mata atlântica é ainda mais úmida que a Amazônia assim possui mais
'e
OPAlsESUASAVES
29
Linha Máxima D'água
Floresta Transicional
Ilha de Areia
Formação Arbustiva
Mata de Várzea
Floresta Ribeirinha
Fig. 3. Hábitats criados pelos rios no oeste da Amazônia (adaptado de Remsem
Bromeliaceae. A mata existente ao norte do rio Doce, Espírito Sant~, e no sul da Bahia, hoje muito reduzida, assemelha-se fisionomicamente bastante à floresta amazônica; um dos últimos remanescentes é o Refúgio Sooretama e a Reserva da Companhia Vale do Rio Doce, em Linhares, Espírito Santo; faltam a essas matas as grandes emergentes da Amazônia. Entre as aves da floresta litorânea há elementos amazônicos, como o mutum-do-sudeste ( jacu-estalo Cuculidae) e vários Passeriformes-suboscines, como cotingídeos, por exemplo, os gêneros Cot e l . Em ambas as áreas . ocorrem 30 espécies de não-Passeriforrnes e 67 espécies de Passeriformes em comum, embora freqüentemente reconhecíveis como subespécies (Müller 1973). O pavão ( s, existente também nos Andes, é no Brasil um elemento meridional, atingindo também altitudes. Várias outras espécies aqui listadas ocorrem tanto na floresta litorânea como na serra do Mar e seus prolongamentos no interior do país ..J-Iá vários tinarnídeos, antigamente até seis espécies simpátricas: sol e cinco espécies de inclugus, endêmico. Sejam mencionados ainsive C. n. da os seguintes exemplos de não-Passeriformes e Suboscines endêmicos ou quase endêmicos .3.ue ocorrem na floresta litorânea:
&
Parker 1983).
endêmico t , e . antigamente.
I
ACClf'ITRIDAE:
PSITTACIDAE:
u
i b
todos endêmicos; STRIGIDAE: tROCHlLIDAE:
uius
e
,
Cl
e R.
, todos endêmicos: t , endêmico BUCCONIDAE: coptil _ .PIClDAE: l is· endêmico H d gutt FORMICARIIDAE: , M. unicolo , M. is, e! , C l todos endêmicos COTlNGIDAE: , l lus, l C l c todos endêmicos , l ambos PIPRIDAE:ll endêmicos. ,
l
Pertence também à-mata atlântica litorânea a Floresta da Tijuca (Parque Nacional da Tijuca), às portas ou dentro do Rio de Janeiro que os visitantes estrangeiros costumam conhecer primeiro. É muito empobrecida quanto à avifauna mas ainda ocorrem tucanos-de-peiitellinus) e a araponga to-amarelo
------ --------------=~
30
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
nudicollis)
podem ser observados jacupembas elope Urús e juruvas gavião-da-mata se trai pela vocalização e não existem mais tinamídeos, grandes psitacídeos, Trogonidae e Galbulidae. A Floresta da Tijuca foi criada no século passado (1861), para resolver o problema de abastecimento d'água da cidade do Rio de Janeiro. A área era um mosaico de fazendas de café e outras culturas e serviu à exploração de lenha. Existem ainda hoje árvores seculares da mata primária, ao lado de eucaliptos de grande porte, árvore importada já naquele tempo da Austrália. FLORESTA ATLÂNTICA
poliono
ACCIPITRIDAE:
o
PSITTACIDAE:
e 'TROCHILlDAE:
lbicollis,
. eu uno e, s s
pil
,
eucochic s
GALBULIDAE:
,
RAMPHASTIOAE: PICIOAE:
ocopus Heliobletus
Elementos de altitude, como os formicarídeos do gêe , descem, às vezes, a altitudes mais bainero xas (cerca de 200m) quando existem matas contínuas com o alto (p.ex., região de Itaguaí e município do Rio de Janeiro) [ou mesmo ao nível do mar, Mangaratiba, Angra dos Reis, P S. M. Fonseca, J. F. Pacheco]. Certas espécies se . espalharam em direção ao interior, durante os últimos séculos que podem passar como não sendo representantes da mata atlântica, exemplo disso é o galbulídeo on que aparece no vale do Paraíba. O gênero opus começou até a colonizar o Brasil central. MATA ATLÂNTICA
DO NORDESTE
No nordeste do país, em Pernambuco e Alagoas, a mata atlântica se apresenta na forma de floresta de baixada existindo também uma floresta montana. A de baixada hoje quase não existindo mais, abriga uma fauna notavelmente amazônica, dando uma boa idéia da antiga ligação desta com a Amazônia, seguindo a costa, até o sudeste do Brasil. Um dos últimos testemunhos vivos dessa invasão amazônica é o mutum-do-nordeste, itu tu. Ocorrem também cdo e o s o. A mata de altitude de Alagoas e Pernambuco guarda maior afinidade com a mata atlântica ao sul do rio São Francisco. Ocorrem os cotingídeos n s nudicollis e s n el oee s. Duas espécies apenas descobertas em 1979, Phibfdor e Terenura sicki, representam substitutos geográficos respectivamente de P illus e . da mata atlântica do sudeste do Brasil, comprovando a antiga relação íntima dos dois corpos de mata. Por outro lado os dois representantes documentam a longa separação geoclimática das duas regiões, suficiente para permitir uma evoluçãobem diferente de táxons tão aparentados. No Nordeste do país a exploração naturalística começou no século XVII sob a administração holandesa, deixando uma boa documentação iconográfica.
onius b il/oni
s
FLORESTA DE ARAUCÁRIA
[uscus,
FURNARIlDAE:
ieucoph
.
MONTANA
~ a mata de altitude, existente na cadeia montanomarítima, do Nordeste até o Rio Grande do Sul (estendendo-se até a Argentina). Sua área principal são as Serras do Mar e da Mantiqueira, penetrando bastante no interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Ocorre entre 800 e 1.700mm, na sua forma típica.As chuvas da floresta atlântica de montanhas não diferem muito das da Amazônia, podendo haver 2-4 meses secos. 'Em Petrópolis. Rio de Janeiro, registram-se cerca de 2.200mm, e no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro, 3.100mm anuais. Nas montanhas impera um clima ameno com temperaturas médias entre 14°C e 21°C; nos cumes e no sul a temperatura pode cair abaixo de 0°. As árvores podem atingir 30 e 40m de altura. Na es edulis) e bambus subrnata ocorrem o palmito alto-escandentes em 'grande quantidade, além de fetos arborescentes. Q?eculiar nas tais matas são as numerosíssimas plantas arborícolas, destacando-se bromeliáceas de todos os tamanhos, as plantas mais decorativas da América do SuL"Rizzini (1979) dá uma lista de 792 espécies de plantas epífitas da floresta pluvial montaria. encabeçada pelos fetos, orquídeas e musgos: Há na floresta montana atlântica também um núme-ro bom de endemismo de aves, como psitacídeos e cotingídeos,' Vive ali, muito isolado, o sabiá Cichlopsis Há quatro a cinco espécies dE(.}inan:tí~eos, I./eucoge sendo obsoletus o mais encontradiço. E ou g e do Jacuaçu era domínio da jacutinga ( enelope Em espécies. endêmicas ou quase endêmicas citamos ainda a seguinte seleç~.~:
-
cine en i l e e ci l ic Conopo /in . RHINOCRYPTIDAE: ul is e, t lopus indigoticus e , s guit tus. PIPRIDAE: llic is COTlNGIDAE: ijue e condii C nis cucutl ugus oides, oen nudicol/is. A araponga é um dos componentes mais conhecidos da mata atlântica, ocorrendo em várias altitudes, sua martelada é mesma a "voz da mata atlântica". TYRANNIDAE: llos lus, He it iccus c s, seipip uetul s chlo ci us, EMBERIZIDAE, THRAUPINAE: O o , O chesiicus beil/ei FORMICARIlOAE:
tus
Ciehlo
ptes
O pinheiro-do-paraná, nas partes altas da região montanhosa
u /i , existe do Brasil rneri-
OPA!SESUASAvES 31
dional, geralmente acima de 1.200m, nas serras da Mantiqueira e do Mar, nesta em localidades opostas ao mar. Associa-se a componentes da floresta montícola (Rizzini, 1979); é a paisagem menos tropical do Brasil. As araucárias imigraram da região meridional chilenaargentina ao Brasil, vindo da sub-Antártica onde há fósseis que se ligam com a área principal atual da araucária: Austrália oriental, Oceânia e Nova Guiné; esta flora imigrou a América do Sul do lado pacífico meridional e não do lado atlântico. No Brasil as araucárias são eliminadas naturalmente pela mata subtropical-úmida. A araucária ocorre subespontaneamente do Rio de Janeiro e Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, em clima permanentemente úmido; Curitiba, Paraná, tem 1.373mm anuais. Na submata dos pinheirais há abundância de taquaost e além de fetos ra dos gêneros arborescentes, aparecendo sobretudo o pinheirinho, imigrado junto com ,as araucárias. O pinheiro é heliófilo e avança sobre áreas campestres, formando capões e matas de galerias. A única espécie de ave que conhecemos com ocorrência exclusiva nos pinheirais, é o furnarídeo i fato até comentado pelo povo no Rio Grande do Sul. A gralha-azul, sempre citada como ave típica do pinheiral, ocorre amiúde em outros tipos de mata. Os tinamídeos são os mesmos como na floresta atlântica montana. No extremo sul n p et é, periodicamente, ave de pinheiral, apreciando os pinhões. É citado do pinheiral a jacutinga, o huhul o pavão o melro corujão Ci e Freqüente no pinheiral é o pintassilgo, l .
1.3.3
CERRADO, MATA DE GALERIA, BURITIZAL E
SUAS AVES
º
CERRADO
cerrado ou campo cerrado, de uma fitofisionomia bem característica, corresponde à formação da "savana arborizada" de outros continentes tropicais. O cerrado ocupa uma área de mais de dois milhões de km-, correspendendo a cerca de 26% da superfície do Brasil. Em Goiás 69% são cerrado, no Distrito Federal até 88%. O ~uadC2..i.ª_-pai?"ªgem dominante da região Centro-Oeste, estendendo-se até o Paraguai, Pará, Amapá e Amazonas:.: A fitofisionomia campestre do' cerrado engana, até éé-rto ponto, pois o cerrado é, pela sua origem, uma formação arbórea. O grande desenvolvimento dos campos na área do cerrado é freqüentemente secundário, provocado pelo fogo. Erro muito divulgado é conside-
rar o cerrado uma formação secundária, provoca da pelo fogo. O fogo apenas modifica o cerrado. Achamos possível a ocorrência de fogo espontâneo, provocado por raios e cacos de vidro porventura existentes, que agem como uma lente ustória (o último admissível apenas em tempos pós-colombianos). Ao lado do cerrado existiram, no Brasil central, durante séculos, campos. O cerrado é uma formação subxerófila na qual predominam arbustos e árvores esparsamente disseminadas, não-altos, de galhos tortuosos, com espessa casca sulcada, folhas geralmente coriáceas. Nos troncos caem muito na vista cupinzeiros de cor avermelhada, grande atrativo para aves que ali cavam ocos para instalar seu ninho. O cerrado passa gradativamente ao "cerradão" (cuja fitofisionomia se assemelhaà mata). Freqüentemente o cerrado é bem ralo, sucessor dos ecossistemas abertos ,que, até o pleistoceno, abrigaram uma fauna de grãndes mamíferos, como cavalos (Equidae)'. Afirma-se que precursores do cerrado retrocedem a formações que, nas Guianas e no Brasil central, já existiam antes do Cretáceo, tratando-se por conseguinte de uma flora muito mais antiga do que a da atual bacia amazônica. Espalham-se os campos sujos ou limpos e a savana de cupim que, por sua vez, com mais umidade, cede o t no Brasil centerreno aos buritizais tral). Os rios são acompanhados pela mata de galeria ou mata ciliar que, em Goiás, pode ter cunho florístico e faunístico da mata atlântica que imigrou. ' AS AVES DO CERRADO
Ocorre a ema os Rheiformes eram representados nesta região já no Paleoceno superior, há cerca de 55 milhões de anos. Outra ave muito típica do cerrado é a seriema i com antecessores fósseis no terciário inferior, há mais de 50 milhões de anos. Os tinamídeos são Crfpt lus is, u e . O último pode ser confundido com a saracura sintópica . IAlista mos ainda as seguintes espécies do cerrado, uma pequena seleção, a maioria quase-endêmica ou endêmica, vivendo no cerrado ou em ecossistemas semelhantes: FALCONIDAE: COLUMBlDAE: t e quase endêmicos PSITTAClDAE: endêmico e numerosos periquitos, por exemplo, são .", os inquilinos dos mencionados cupinzeiros arbóreos
1 Há razões para discutir seriamente se o homem já participou à essa época no Brasil (Toca da Esperança, Bahia): artefatos de quartzito associados a ossos fossilizados a uma fauna quaternária extinta - aves não foram identificadas - de uma idade de cerca 300,000anos, datação pelo método do urânio e tório. As conclusões tiradas desses achados não são aceitas unanimarnente.
32
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
TROCHILIDAE: He ctin c u BUCCONIDAE: t lus u u, de larga distribuição toco RAMPHASTIDAE: PICIDAE:C is, de larga distribuição tes poeci endêmico; FURNARIIDAE: n l DENDROCOLAPTIDAE: pidocol tes t FORMICARIIDAE: us ius t RHINOCRYPTIDAE:t TYRANNIDAE: i inis, endêmico; C s endêmico; l ci cujo pio melodioso nunca falta no cerrado; Culi CORVIDAE: EMBERIZINAE: CARDINALlNAE: THRAUPINAE:
c ci
llus,
no campo cerrado
1.3.4 CAMPOS
DO RIO BRANCO EDOAMAPÂ,
CHAPADAS MINEIRAS E BAIANAS, CAMPOS ALTIMONTANOS E RESTINGA E SUAS AVES CAMPOS DO RIo BRANCO E DO AMAPÁ
Esses domínios são semelhantes ao campo cerrado aberto do Brasil central. O clima é classificado como serni-úmido, com estação seca prolongada. A precipitação média anual em Boa Vista, Roraima, é de cerca de 1.500mm. A avifauna dos campos do Rio Branco e do Amapá torna-se diferente da do cerrado do Brasil central pela existência de elementos imigrados do norte do continente: o um-do-campo, Colinus , o téu-téu-dasavana, e o pedro-celouro,
icollis, t
[asciata
A gargalhada da seriema é a "voz do cerrado". A vocalização mais forte no local é a do gralhão ( Falconidae), considerado um galináceo pelos caçadores, gritando em coro. MATA DE GALERIA
Endemismo das matas bem úmidas de galeria ou matas ciliares mais fechadas, entremeadas no cerrado ü is, de desde Goiás, é o tapaculo cendência atlântico-andina, descoberto em 1957, em Brasília. achado depois também em tais matas nas chapadas altas de Minas Gerais ocidental. Outra ave típica dessas matas ciliares do Brasil central que chama muito a atenção é piprídeo muito singular. Ocorrem os furnarídeos i ius, quase endêmico, e e o parulíneo l endêmico. Pertence às matas mais i largas de galeria o mutum-de-penacho endêmico e existe o pavão-do-mato por exemplo, no Distrito Federal, imigrado da mata atlântica. BURITIZAL
Os buritizais, belíssimos palmares do Brasil ce-ntral (na Amazônia são os miritizais) em lugares com água abundante, estão inseridos de permeio no cerrado. Endemismo singular desses palmares é o furnarídeo adapO ndo nh tou seu ninho, feito de penas coladas, às palmas pendentes. Os buritizais são ricos em Psittacidae, inclusive cinco espécies de arara: Anodorlnmchus . l e e dois maracanãs: i e Os cocos servem para alimento, os troncos ocos fornecem o melhor abrigo para a nidificação dos psitacídeos e . andorinhões
CHAPADAS MINEIRAS E DA BAHIA
Um outro tipo de campos altimontanos são as chapadas altas de Minas Gerais e Bahia, como a serra do Espinhaço e sua continuação, a chapada Diamantina. Em altitudes superiores a 700m existe alí uma vegetação arbustiva rupestre, rica em palmeirinhas Ocorrem vários endemismos em aves como os beija-flores e o emberizídeo e o pequeno tiranídeo Recentemente foi encontrado na serra do Cipó (Minas Gerais) um (Furnariidae), gênero freqüente no extremo sul do continente e nos Andes. OS CAMPOS ALTIMONTANOS
Nas serras mais altas do Sudeste, Serra da Mantiqueira e do Mar (Caparaó, Itatiaia, Serra dos Órgãos) as florestas de montanhas são substituídas, acima de 1.900m (o ltatiaia chega a 2.400m), pelos campos altimontanos ou campos de altitude ou "alpinos". Esta zona úmida acima da mata tropical daquelas serras pode ser considerado, biogeograficamente, um substituto dos "páramos" dos Andes. Uma das suas plantas dominantes é a criciúma-bengala, Em parte, esses vegetais denunciam a filiação próxima à vegetação dos Andes, na mesma altitude, por exemplo, na Bo~~. " Houve uma imigração de flora e fauna andinas/ patagônicas no Pleistoceno. Um endemismo de aves dos campos altimontanos do sudeste é o furnarídeo que tem todo o seu -parentesco nos Andes; vive ao lado de outro elemento lopus Ç) bacurau andino: o rinocriptídeo é também de proveniência andina.O beija-flor 'típico para os campos altimontanos do sudeste, ocorre em clima ameno no sul (Rio Grande do Sul) ao nível do mar (regra biogeográfica de Humboldt, 1805 du Existem dois Emberizinae semelhantes: e ,
OPAfSESUASAvES
o último endêmico; o gênero evoluiu em várias espécies no domínio dos Andes e no sul, em clima ameno. O grannoph us d tus, Thraupinae, cantor notáde vel, ocupa as serras altas do sudeste brasileiro e o leste da Argentina. Os pintassilgos l us) alegram a região montanhosa brasileira - da mesma maneira que fazem nos Andes e em montanhas daAmérica do Norte e do Velho Mundo. Foi documentado no alto Itatiaia a ocorrência de perdiz hotus ns) e da seriema i c is ambos imigrados do planalto mineiro. RESTINGA A restinga ou as planícies dos cordões marítimos se estendem do Amapá ao Rio Grande do Sul. .É a região justamarítima do Brasil oriental, sobre as areias holocênicas, desde o oceano até as primeiras elevações da Serra do Mar. Levantamentos arqueológicos documentam em sambaquís do litoral idades de c. de 4000 anos. Na desembocadura dos rios e lagunas a restinga passa a manguezais (v. a seguir). Pela sua vegetação a restinga lembra o cerrado ("cerrados do litoral").' A avifauna da restinga oferece problemas especiais. É caracterizada por elementos que se encontram também em outras paisagens abertas e meio abertas. Há, por exemplo. a rolinha-de-asa-canela '0 beija-flor l o sabiá-da-praia giluus, o vireonideo o parulinae ti e os traupinae pe e o emberizídeo nidipendulus que é base o tiranídeo H t tante comun; e é um eridernismo do sudeste. Ocorre o forrnicarídeo. recentemente descrito, ioo lit is.
1.3.5 CAATINGA E PANTANAL DE MATO GROSSO CAATINGA
_O "Polígono das secas" é a região sub-árida do Nordeste com seus solos argilosos, pedregosos ou arenosos e a estação seca irregular e intensa (7 a 8 meses e mais sem chuvas). No Raso da Catarina, Bahia, a caatinga se espalha sobre um platô, cortado por . Os arvoredos e arbustos decíduos existentes, armados freqüentemente de espinhos, são despidos de folhas durante meses, a galhada nua de cor cinzento-claro ("caa-tinga" mata branca). Há boa quantidade de plantas suculentas, cactos e bromélias terrícolas; ervas só vegetam na curta época chuvosa. Ocorrem poucas gramíneas. A caatinga, por origem, é tão pouco antropógena quanto o cerrad o.Tiá certa semelhança com a vegetação dos afloramentos de calcá rio em Minas Gerais. Sobrevindo chuva, transforma-se radicalmente o aspecto da caatinga, aparecendo a mesma como uma capoeira folhuda, verde e florida, com poças de água de onde surgem anuros e até peixinhos "sazonais" que "dormiam" no fundo seco.
33
Há uma grande transversal de formações abertas, ligando a caatinga brasileira ao chaco paraguaio, atravessando o cerrado do Brasil central; foi mais "corredor" no pleistoceno superior do que nos últimos milênios (Ab'Saber 1981), servindo à dispersão da flora e fauna campestres, Sobre as aves do Chaco v. Short (1975). Existe um bom número de endemismos de aves na e caatinga como o tinamídeo e o cracídeo Os psitacídeos estão representados por vários periquitos como quase endêmico. Os endemismos mais importantes do Nordeste são a ararinha-azul , apenas em e a arara-azul-pequena 1978 localizada no extremo nordeste da Bahia. Providenciamos ainda a seguinte seleção de aves típicas da caatinga: _ RHEIDAE: o Nordeste (Pernambuco) é a pátria da emade-bicão = originalmente abundante, hoje ainda mais reduzida que a ema do Brasil central e do sul. COLUMBIDAE: impressiona a abundância de pombinhas, sobretudo a avoante periodicamente aumentando tanto que lembra a extinta Ectopistes da América do Norte. CAPRIMULGIDAE: endêmico. TROCHILIDAE: gounellei, endêmico. ApODIDAE:localizamos um pouso invernal de muitos milhares de andorinhões no Rio Grande do Norte; ainda não sabemos onde reproduzem. P1ClDAE: Existem várias espécies endêmicas de picapauzmhos: l e FURNARIlDAE: e são endemismos notáveis; é comum. FORMICARIlDAE: e são endemismos. Encontradiço é cuja distribuição ocupa os dois pólos do "corredor" mencionado, região árida, que liga a caatinga com o chaco paraguaio. CORVIDAE: cancã, d eÍ'1'8'êiüsm'0. PARULINAE:canário-da-mata, flaueolus, bem típico para a caatinga. EMBERIZINAE: galo-de-campina dominicanay, endemismo. ICTERINAE: sofré endêrnico, como o galo-de-campina um dos pássaros mais popula_res no Nordeste. THRA-UPINAE: carretão é um endemismo notável do Nordeste, que chama muito a atenção pelo seu vozerio monótono. Nas escarpas rochosas do Nordeste nidifica o uruburei e aves de rapina como o acauã e e a águia-chilena
34
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
"", Do Nordeste veio uma surpresa paleontológica toda especial: numa jazida da chapada do Araripe, Ceará, de mais de cem milhões de anos de idade, onde o famoso naturalista americano Louis Agassiz há cem anos escavou peixes fósseis, foi achado, ao lado de pterosáurios, uma pena de ave; nunca tinham aparecido ali aves fósseis. PANTANAL
Na aludida faixa que liga a caatinga do nordeste do Brasil ao chaco paraguaio, fica o pantanal de Mato Grosso, área de 75.000km2, a maior e mais rica região em aves paludícolas do continente, com lençol de águas quase contínuo durante a cheia (dezembro a abril). Na seca tem água apenas nas lagoas ("bacias") e nos rios que formam meandros, onde ocorre também a célebre vitória-régia. A vegetação do pantanal é, em parte, aparentada àquela da caatinga nordestina; veja, por exemplo, a carandá, palmeira muito parecida à carnaúba. C e do Nordeste. No Pantanal de Mato Grosso atração toda especial é exercida pelos capões onde se concentram as aves paludícolas de grande porte como garças, colhereiros, cabeças-secas, jaburus, biguás, bigua-tingas, fala-se de "viveiros brancos" e "viveiros pretos" que, ao lado de muitos jacarés e capivaras mansas tornam o Pantanal grande atração turística,' Abundam tachãs i u t u carão está presente. É a área do aracuã-do-pantanal t n lensiss. Ocorrem três espécies de arara: us a canindé a grande azul ntú e a arara-vermelha-grande chlo Existe o n toco e o araçari lossus São comuns os caramujeiros soci lis, ocorre o gavião-belo, llus llis, especializado na pescaria, semelhante à águiapescadora, ndion s, migrante da América do Norte, que aparece por aqui anualmente. Entre os passeriformes chamam a atenção os bandos maciços do i , "cavalaria" típico para o emberizídeo oeste de Mato Grosso e os países adjacentes.
°
REGIÃO GAÚCHA
No Rio Grande do Sul alternam as coxilhas e as campinas, a "campanhav.Txtensos banhados se estendem ao redor dos lagos e lagunas. As várzeas meridionais, de águas quietas, cobertas de denso revestimento vegetal palustre, tapetes flutuantes, juncais e sarandizais, representam ricas comunidades bióticas. Nos pastos se destacam altos caraguatás sp.) e se espalham os espinhosos 'maricás sp.). Nas ribanceiras dos arroios restam poucos capões e matas de galeria. !~Entre as várias sub-regiões mencionamos: (1) o planalto no norte do Rio Grande do Sul, estendendo-se ao sul de Santa Catarina, região de campos e pinheirais, (2) as lagoas e pântanos do sul, com a Estação Ecológica de
Taim, e (3) o extremo sudoeste, o "Parque. Espinilho", com os seus algarobos espinheiros sp.), continuação da mesma formação muito espalhada no nordeste da Argentina. I !Q. Rio Grande do Sul é a província brasileira mais rica em marrecas (v.sob Anatidae), incluindo os maiores e mais vistosos representantes: a capororoca, gllus e o cisne-de-pescoço-preto, Aparece o flamingo; s chilensis, como visitante, vindo da Argentina. A espécie mais importante de psitacídeos da área é o charão ei), reunindo-se em certos pinheirais em bom número. A caturrita chusi é considerada praga. No planalto setentrional e em regiões adjacentes a Santa Catarina, ocorre o pedreiro, Cinc/odes furnarídeo descendente da fauna patagônica-andina, ocupando a área mais fria do Brasil. No Sudoeste, no "Parque Espinilho", existe uma fauna muito peculiar, sendo um dos representantes mais notáveis o grande dendrocolaptídeo D nis b meio terrícola. ~As costas do Rio Grande do Sul são a parte do país mais afluída por aves marinhas visitantes, entre elas não poucas espécies subantárticas que vêm durante o inverno meridional.
1.3.7
AMBIENTE
CAVERNÍCOLA
Um caso muito especial entre as aves que permanecem a metade de suas vidas em grutas profundas, em locais que podem estar um quilômetro da entrada da t ave noturgruta, é o do guácharo na. Ela ocorre nas serras altas de Roraima, na divisa Brasil- Venezuela. Para se orientar na escuridão absoluta, o guácharo evoluiu a ecolocação. Andorinhões, como o e procuram grutas menos profundas que estão ainda ao alcance (de um pouco) da luz (de fora) e assim não desenvolveram a ecolocação.
1.3.8
MANGUEZAL
.Os manguezais são uma vegetação pantrópica costeira que, no Brasil, alcança seu limite meridional em"?" Santa Catarina. Os maiores manguezais brasileiros, com e, estendem-se da mangue-vermelho, costa piauiense até o Amapá, chegando a larguras de 50 a 60km. À fisionomia inconfundível do mangue contribuem suas raízes-escoras (respiratórias). Os manguezais que enchem as áreas estuarinas. penetram no rio Amazonas. '~Omanguezal é muito rico em aves, inclusive Passei é exriforrnes, sebinho-do-mangue clusivamente do manguezaL Outras espécies típicas para esta formação são o guará e o caranguejeiro eog e lis) que se aproveitam da multidão de crustáceos que vivem na lama e
°
o PAÍS sobre as árvores. O savacu-de-coroa l é também do manguezal. Quando este é bem 'afbóreo ( sp. pode ter altura de seis metros) vêm papan ni i. Aparecem o cuculídeo gaios C us no e pássaros "ribeirinhos" como a l ius ulus (Rio de Janeiro). Ocorre a nenget e u ngle. Pescam saracura, pouco conhecida, Aramides martins-pescadores de todos os tamanhos. De setembro a abril os lamaçais enchem-se de Charadriiformes migrantes: maçaricos e batuíras que fogem do severo inverno setentrional.
E SUAS AVES
35
marrecas na costa, e no sul , nadando. Os flamingos sãf5 altamente adaptados a ambientes extremamente salinos. AVES MARINHAS
iente coste o, praiano. São as gaivotas, trinta-reis. atobás e tesourões que nidificam em ilhas litorâneas. Encontram-se elas nas praias. O mesmo vale para os Charadriiformes migrantes, já mencionados sob manguezal. Ecologicamente diferentes são as aves oceânicas ou pelágicas. Elas vivem no mar aberto, em alto mar, e aparecem nas costas apenas ocasional1.3.9 AMBIENTE AQUÁTICO mente, inclusive cadáveres são levados às praias pelo mar. São os pingüins e os Procoellariiformes, abrangenQuando nos referimos ao ambiente aquático utilizado pardelas. grazinas e albatrozes. Eles penetram em do por aves, temos que distinguir entre a fauna de água águas brasileiras durante extensas migrações, vindo na doce e a do mar. sua maioria de regiões sub-antárticas, Uma e-spécie reprod uz-se na Ilha de TrinAVES DE ÁGUA DOCE OU SALOBRA dade. Os rabo-de-palha reproduzem-se em A maioria das aves aquáticas vive à beira de água várias ilhas oceânicas brasileiras. estagnada, nas margens lamacentas de lagoas: biguás, atlântica do Brasil, de 7.408 quilômeA longa CQ~ garças, jabirus, marrecas, saracuras, maçaricos e narcejas. - tros, é pobre em aves marinhas em conseqüência do mar As "mais aquáticas" são os mergulhões (Podicipedidae) tropical pouco nutritivo; o extremo sul, com clima mais e a pícaparra, l . .ameno, torna-se mais favorável. O 'pacífico, ao contráchama a atenção Don rio, recebe uma correnteza fria, aquela de (Troglodytidae). endêmico do Neotrópico. No sul vivem riquíssima em bio favorecendo uma fauna variafurnarídeos e emberizídeos singulares palustres, da nas costas do Chile e do Peru. l endêmicos ou quase endêmicos como lei durante a década de 1970 um nus. Inesperada é a l ste e E e ato unilateral do Brasil estendeu o mar territorial do país pobreza em aves aquáticas na Amazônia. O pato do mato de 12 para 200 milhas como "zona econômica exclusibem conhecido domesticado, ocorre va". Cada ilha tem também 200 milhas ao seu redor. Para selvagem no Brasil todo. Enquanto o número de espéefeito do nosso livro consideramos como "brasileira" cies de garças (Ardeidae) aumenta na direção dos trópitoda a ave oceânica registrada dentro de uma faixa de cos, seguindo o padrão geral, o número de espécies de 200 milhas a contar do litoral. anatídeos decresce das altas latitudes em direção aos tróAlém de termos praias lindíssimas, paisagens parapicos. A proporção de espécies aquáticas para espécies disíacas, um sol amigo, os recursos do mar apresentam térrestes diminui drasticamente em latitudes mais baienorme significado econômico e social para o Brasil. xas, sendo mínima nos trópicos úmidos (Slud 1976). Desde a lagosta, os demais crustáceos, os peixes, os conforme o ambiente existente no alto rio quelônios até mamíferos marinhos foram e estão sendo São Francisco, Minas Gerais, onde vive o pato-merguexplorados muitas vezes à exaustão como é o caso das lhão, octoset e na beira de tais córregos onde baleias. pesca a garça [asciatum, ambos raros. Existem trêsunidades de conservação marinha: Abrode q d e além ll s, Parque N~ciS'Aai Marinho' de Fernando d~ Noroda famosa Catarata do Iguaçu, Paraná, existem inúmenha e a Reserva Biológica do Atol das Rocas. ras quedas d'água espalhadas pelo interior do país. São conhecidas em parte como "cachoeiras de andorinhas", por exemplo, no alto Madeira (Aripuanã, Mato Grosso) 1.3.10 ILHAS OCEÂNICAS (Fig. 4) e na serra do Cachimbo (Pará). Não há andorinhas nesi , se' ambiente mas sim andorinhões: As duas ilhas oceânicas principais brasileiras, Trinloides e us. dade e Fernando . deNoronha, avistadasà distância, dão O marfim-pescador; le q , e certos trintaa impressão de uma montanha abrupta eriçada de piréis pescam tanto na água doce como no mar. O mesmo cos, elevando-se acima do mar. Fernando de Noronha se observa ocasionalmente com o bem-te-vi, gus faz parte de uma cordilheira submarina de origem vuls e no extremo sul com o furnarídeo migrante cânica, cujos picos emergem neste local, formando ilhas. Cinclodes uscus que tira animalejos das pedras molhaHá, porém, praias e vegetação arbustiva e arbórea, desdas pelo mar. Durante migrações aparecem garças e tacando-se em Trindade samambaias gigantes. he
---1
36
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
alcançando 5 a 6 metros de altura. Em todas as ilhas a vegetação sofreu a influência funesta do corte e do fogo. Em Fernando de Noronha foram cortadas as árvores para evitar que fugitivos da colônia penal encontrassem material para construir barcos. Sobre as aves das ilhas oceânicas divulgaram em artigos recentemente Olson (1981), Oren (1984) e Nacinovic & Teixeira (1989).
~
:.::;.: ,,:.: .:.:
.
.;
!%i ~ :\ ~
~id Foi achada também uma saracura subfossil (Olson 1981). São residentes os dois ihon, os três 5te [uscaia, os dois us e gis. É lamentável que a ilha já tenha sido usada por pessoal do então IBDF de Pernambuco para soltar aves apreendidas no continente. Foi introsp.) que preda severamente as duzido o tejú u aves que nidificam no solo. Abundam ratos, camundongos, preás sp.), cabras e gatos. Ocorre o mocó Existiu um roedor grande (Cricetidae), conhecido apenas como fóssil. Os grandes crustáceos terrestres (até 7cm de comprimento), "land crabs", inus , constituem uma praga natural das ilhas oceânicas (Atlântico do Sul: Fernando de Noronha, Trindade etc.) e tornam-se perigo para as aves que reproduzem no solo e em buracos como pardelas. Não existe um controle para garantir o equilíbrio natural dos ecossistemas do arquipélago, abalados pela presença humana e fauna introduzida.
_ 3947
-----
~
-
/ _
OUTRAS 2782
------;.~---~ll
Tristão
da Cunha
Gough
Fig. 4. Ilhas no Atlântico meridional, com algumas distâncias em quilômetros. As flechasindicam os ventos principais na superfície do mar (seg.Olson 1973,adaptado).
TRINDADE
As aves residentes (em parte migratórias) na Ilha Trindade e Martim Vaz, 1.207 km distantes do continente, são exclusivamente marítimas: i oin e iel t t e s.sul ieni t e gis l Como migrantes são citados ie h , alguns Charadriiformes e duas andorinhas: ch eH us Fo....... ," ram introduzidos a galinha-de-Angola, o pombo, e Est ild ld. Já apareceu s ibis. O desaparecimento das matas em Trindade, assinalado desde o começo do século passado, foi provocado por queimas e falta de regeneração; depois cabras acabaram com o que restou. Também as matas de samambaiaçu em Trindade estão muito reduzidas. FERNANDO
DE NORONHA
O arquipélago de Fernando de Noronha, área sob jurisdição do Estado de Pernambuco, é 356 km distante da costa nordestina. A avifauna torna-se interessante pela existência de três espécies de aves terrestres: a avoante, e e dois Passeriformes endêmicos: Ei (s (Tyrannidae) e
ILHAS
Temos os e pdulo. (a 869 krn da costa, v. sob siolidus, Laridae) e o a 250 km da cidade de Natal, declarado como Reserva Biológica, único atol verdadeiro de corais no atlântico, onde reproduzem as seguintes aves marinhas: e S. t t siolidus e t fala-se de 60 mil aves, incluindo alguns . visitantes; existem tartarugas marinhas, (Paulo T. Z. Antas). Ilhas mais próximas ao continente são os Abrolhos, Bahia, 60 km da costa, pertencendo à plataforma contii nental, onde reproduzem S. l ni e stolidus (Coelho 1981), e as do ul, Santa Catarina. Nas Moleques do Sul, a apenas 12 km da costa, reproduzem-se 4 espécies marinhas: Ieuc t , h 1 cens, s nus e e e 3 espécies terrestres: urubu, corruíra e tico-tico (Bege & Pauli 1989).
1.3.11
AMBIENTES
AN1R6róGENOS,
A'Kí!'SÍENTt
URBANIZADO
A alteração das paisagens naturais pelo homem torna-se hoje uma quase geral neste país, até nos pontos mais longínquos. Embora o ecossistema florestal secundário, intocado por muitos anos, pode se ass.emelhar à mata primária, tanto floristicamente como à respeito da sua avifauna, notam-se sempre lacunas sérias, como, por exemplo, entre as aves terrícolas e as cinegéticas, que não voltam mais ou são sacrificadas de novo. _Monoculturas de eucalipto e de spp. são paupérrimas em aves. O néctar das flores do eucalipto atrai beija-flores. Existem no Brasil alguns levantamentos de aves em ecossistemas antropógenos, por exemplo, as
Fig. 5. Campos do rio Branco, Roraima. Lugar do téu-téu-da-savana, . Foto Harald Sioli. celouro,
Fig. 6. Amazônia/Brasil o rnutum-cavalo,
e do pedro-
Central, alto Xingu, Mato Grosso. Meandros do rio Kuluene dentro da mata alta onde ocorrem e o jacamim-de-costas-verdes, . Foto H. Sick.
,-
Fig. 7. Amazônia/Brasil Central, alto Xingu, Mato op us Grosso. Lugar do anambé-preto, Ce e do anambé-pombo, ode us joetidus. Foto H. Sick.
Fig. 8. Amazônia/Brasil Central, alto Xingu, Mato Grosso. Lugar do pavãozínho-do-parã, he s, do peixe-frito, c nellus, do arredio-do-rio, e do galo-decampina, Foto H. Sick.
\
.'.
Fig. 9. Buritizal, rio das Mortes, Mato Grosso. Lugar do canindé, do limpa-folhas, Foto H. Sick.
do andorinhão,
e .
f
~
1
.r.
".!
Fig. 10.Campo cerrado, rio das Mortes, Mato Grosso, Expedição Roncador-Xingu- Tapajós em 1946.Nos fundos uma mata de galeria. Lugar da seriema, e da perdiz, s scens. Nesse ponto a onça-pintada apanhou várias mulas da expedição. Foto H. Sick.
Fig. l1. Caatinga, Bahia. As árvores estão despidas de folhas; em frente um xique-xique. Lugar do casaca-de-couro, do sofrê, Ic e do cancã, . Foto H. Sick.
Fig. 12. Caatinga, "canyon" no Raso da Catarina, Bahia. Lugar da arara-azul-pequena, periquitão, cutic e gibão-de-couro, e gine . Foto D.M. Teixeira. Hi ndi
Fig. 13. Pinheiral, Camanducaia, Minas Gerais, 1.400Ín. Lugar do pica-pau-docampo, Col tes campesiris, do grimpeiro, sel e do melro, ept Gno i ops chopi. Foto H. Sick.
Fig. 14. Serra do Mar, interior de mata atlântica na Serra dos Órgãos, io de Janeiro, 1.500m. do Lugar do jacuaçu, enelope obsc cine e e da saudade, matracão, . Foto H. Sick.
Fig. 15. Campos altimontanos e da garrincha-chorona,
da Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro, 2.000m. Lugar do beija-flor, e e. Em frente Chusqu pini l . Foto H. Sick.
Fig. 16. Aparados da Serra, Rio Grande do Sul. Lugar do andorinhão, campestre ocorre o pedreiro, Cinc/odes p bsti. Foto M. Sander.
C pse/oides
ph n is -
Na área
-
Fig. 17. "Parque Espinilho", Rio Grande do Sul. Lugar do pica-pau, /ophotes (vários ninhos na árvore em frente) e do rabudinho,
Fig. 18. Atol das Rocas. Existem grandes colônias de aves marinhas, grande, Foto Paulo T. Z. Antas.
s, do coperete, Foto H. Sick.
corno do trinta-reis,
e
e do atobá-
----
Fig. 19.Pantanal de Mato Grosso. Ninhal de cabeça-seca, colhereiro, etc. Foto A. Sucksdorff.
'
.. ...
monoculturas de acácias no Rio Grande do Sul (Voss & Sander 1981), parques, de universidade, aeroportos e cidades.' Sobre aavifauna dos canaviais brasileiros sabemos pouco. Na Austrália (Queensland) o cuculídeo Ce antigamente raro, encontrou nos canaviais . i boas condições de vida. Os mandiocais estão sem aves. Arrozais oferecem grandes vantagens para marrecas, sarácuras e outras aves aquáticas ou palustres, entre elas a pioneira e o último utilizando o próprio arroz para substrato de seu ninho. Na expansão da Col em São Paulo a cultura do arroz teve papel importante (H. F.Alvarenga). Há nos arrozais para as aves as mesmas inconveniências como em cafezais e canaviais, que são periodicamente perturbadas ou até eliminadas pelo homem .: Os cocais no Norte, considerados antigarnenteúma categoria própria da flora natural, revelaram ser a vegetação secundária que aparece sempre após a derrubada da mata amazônica, também no Espírito Santo onde existem ou existiram tais matas amazônicas avançadas. Os cocais são muito pobres em aves, ao contrário-dos burítizais,' As hidroelétricas levam à extinção toda a fauna terrestre local e tornam-se atrativas para algumas aves aquáticas geralmente banais como garças: atraem
e
garça-branca-grande,
s
a águia-pecadora, , vindo da América do Norte, como também trinta-réis, em migração,' ~!'Jo ambiente urbano trata-se de três categorias de espécies de aves: (1) sobreviventes da paisagem existente anteriormente no local, como por exemplo, o bacurautesoura, ili , dentro de um bosque protegido, como registramos em Laranjeiras, Rio de Janeiro, há muitos anos. (2) Invasores, como no Rio outro bacurau, long a pombínha, (em Belém, Pará, é C. e as andorinhas; um papel importante no ambiente urbanizado brasileiro podem ter beija-flores. (3) Aves introduzidas: as exóc ticas e Vários tiranídecs, como us ue, gus s , tetes s e i se arranjam bem nas cidades. Às vezes og g acha nas construções humanas um substituto de escarpas ..Em certas áreas (Sudeste) andorinhões ei) costumam nidificar ern charninés residenciais. Satisfaz que oportunamente até pássaros florestais como formicarídeos se ambientam bem em p e .cidades, como no Rio de Janeiro em Rio Claro, São Paulo, ophilus do s (Y.Oniki), espécies citadas como generaiistas no forrageamento, facilitando a sua adaptação.
-
Breve história da ornitologia brasileira do século XVI ao início do século XX
2
Apresentamos um apanhado sucinto, citando algumas figuras envolvidas na história da ornitologia brasileira. Damos o essencial sobre seus trabalhos de campo neste país e suas publicações, passando depois aos trabalhos de outros, que elaboraram o material procedente do Brasil. Por detrás dos autores, surgem os museus, onde foram depositadas as coleções no Brasil: o Museu Nacional do io de Janeiro, o Museu de Zoologia, em São Paulo, e o Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará. Términamos nossa relação com Alípio Miranda Ribeiro e Olivério Pinto, ambos nascidos ainda no século passado, desenvolvendo suas atividades até nossos dias. No corpo do livro referimo-nos também a dados históricos.
2.1
éculo
I
Na época das descobertas era motivo de orgulho para os viajantes trazer animais desconhecidos. Estas criaturas serviam, principalmente, para comprovar o encontro de novos continentes. A apresentação de bichos vivos (a técnica de preparar aves e outros animais era muito rudimentar) foi muito mais sugestiva do que as narrações dos cronistas, tantas vezes' insuficientes. Adiantou muito pouco, p. ex. quando Pero Vaz de Caminha, acompanhante de Cabral, em sua carta a EI-Rei D. Manuel (1.V1500), fala sobre "papagaios verdes". Pior ainda quando os escrivães inventavam os maiores absurdos, como fez Antônio Pigafetta, cronista de Fernão de Magalhães na sua viagem circum-navegatória, que desembarcou na região do atual Rio de Janeiro em 1519. Pigafetta passou por "grande mentiroso" (Taunay 1934), quando, P: ex. descreveu uma ave marinha que punha os ovos no dorso do macho, pousando no oceano, e aí os chocava durante semanas. Esta narrativa grotesca refere-se claramente às lendas sobre aves-do-paraíso da Nova Guiné (e não do Brasil), das quais a tripulação de Magalhães trouxe as primeiras peles, que eram desprovidas de qualquer osso, inclusive os pés (no paraíso não se necessita de pés, alegavam). As aves. eram assim preparadas, para fins comerciais, durante séculos. Acontecia freqüentemente que animais desconhecidos na época, obtidos pelos navegantes, chegavam às mãos dos cientistas sem indicação precisa da procedência.
Assim Linnaeus nomeou o nosso curió O golensis, pensando que a espécie fosse de Angola, Áfrio osquiius foi considerado ca. O beija-flor procedente da Índia. Em muitos casos constou "Brasil" como procedência de uma ave, desafiando às vezes a argúcia dos cientistas até os nossos dias para descobrir onde, no Brasil, tinha sido encontrada (v. arara-azulde-Lear, chus . É claro que todas as aves capturadas para serem venou enfeite, como milhares de beijadidas corno souu flores (amiúde preparadas de asas abertas), ficaram sem indicação quanto à sua origem. Nestes casos o julgamenup, ajuda a to da técnica de preparação, o típico dar uma idéia sobre a origem. Assim, p. ex. distinguemse três tipos de preparação de peles de beija-flores, preparadas em estilo clássico para o comércio, vindas da Colômbia (Bogotá), de Trinidad e da Bahia (v. Trochilidae). Mencionamos as coleções desprovidas de procedência, de Villa-Real e Bourgain, no Museu Nacional, Rio de Janeiro. De modo geral os portugueses que primeiramente chegaram ao Novo Mundo não estavam muito interessados no Reino Animal. Aos navegadores as aves serviam apenas como indicação da proximidade da terra (referimonos a esta circunstância no corpo do livro), mas em terra perseguiam-nas para o enriquecimento do cardápio. . Os europeus impressionaram-se principalmente com os papagaios; estas são as primeiras aves citadas deste continente. Em vários dos primeiros mapas do Brasil, desenhados pelos Portugueses na época da descoberta constam araras, mais vistosas no mapa de Contino de 1502. Às vezes, as pinturas (fig. 20) são fontes precisas para se conseguir, muito antes de um registro científico, uma boa documentação sobre a fauna e flora, sobretudo numa época (começo do século XVI) na qual ainda não se conhecia a técnica de conservar aves e outros, animais. Aves tão pequenas como beija-flores eram assim documentadas. Dos contos de um viajante como Ulrich Schrnidelde Straubing. que aventurou-se de 1534 a 1554 em terras da América Meridional, inclusive o Brasil, aproveitamos pouco: Ulrich cita avestruzes (emas), galinhas (provavelmente cracídeos como jacus) e patos criaos (SchmideI1891). dos pelos aborígenes, C i
46
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Fig. 20.Pintura de Hans Burgkmair, executada em 1518 na Alemanha, mostrannobilis (L.), no do um maracanã, tronco à direita. Bayerische Staatsgemaldesammlungen (seg.Sick 1981). Informações valiosas sobre as aves do Rio de Janeiro devemos ao missionário calvinista Jean de Léry (15341611), francês, que veio a essa região na época da ilusão de uma "França Antártica". Hostilizado por católicos, entre eles o padre francês André Thevet (inferior a Léry no conhecimento dos selvagens e da fauna), Léry vivia quase refugiado entre os Tupinambá, terríveis canibais, Surgiram, desta maneira, as melhores condições para Léry conhecer o ambiente indígena. Bom lingüista, deu com primor os nomes indígenas das aves por ele encontradas nas aldeias (muito melhor do que descrições e figuras deficientes), possibilitando assim que suas indicações pudessem ser interpretadas quase que de imediato, mesmo tratando-se de espécies tão semelhantes como dois jacus, e P. fez referência ao mutum-do-sul, e ao macuco, É certo, porém, que os índios tenham recebido aves em permuta com outros
índios de tribos distintas, de forma que, p. ex. o jacuaçu e o mutum não deviam ser procedentes da sx-Guanabara, mas de algum lugar mais distante do Rio como também a ema, cujas penas os índios utilizaram para fazer o .." ararojé", que Léry, de bom humor, comparou com uma cesta repleta de galinhas, pendurada pela espinha (fig. 21). Léry conta que os índios não comiam as galinhas domésticas. mas se aproveitavam das suas penas que pintavam de vermelho (v. Phasianidae, Apêndice). Usaram como enfeite os papos amarelos dos tucanos, que mais tarde, inspiraram os imperadores brasileiros na confecção de uma murça de gala. Foi Léry que desmanchou o absurdo inventado por exploradores mentirosos que os papagaios colocassem seus ninhos, feitos de junco e raizes, sobre galhos para se salvar de cobras, afirmando que nidificavam em oco? de árvores. Em notas musicais Léry escreveu uma canção dos Tutinambá sobre o canindé, A primeira edição do seu
''''""'I
-' BREVE HISTÓRIA
DA ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
47
H. Staden em 1557. O guará tomou-se conhecido na Europa através do Duque Karl von Croy (1560-1612:). Soares de Souza, cuja obra foi escrita em 1587, trata tanto de particularidades morfológicas das aves (p. ex. escamas no tarso do macuco e o problema dos papagaios "contrafeitos"), como de pormenores biológicos (p. ex. modo do jaburu alimentar sua prole, e a pugna cidade do suiriri). Cardim foi também o primeiro que mencionou a ararajuba, candidato mais forte para ser a AVE NACIONAL (v. Psittacidae). .
2.2
SÉCULO
Numa coletânea e de figuras em aquarela e a óleo, pintadas in tn entre 1600 e 1614 na Alemanha, constam psitacídeos brasileiros (v. Psittacidae). Em 1614 foi publicada a obra His dos es os do , pelo padre Claude d' Abbeville. O autor visitou também Fernando de Noronha, onde observou a avoante cul t , 'a pombinha famosa do Nordeste. Mais tarde tornou-se conhecido o relato de Frei Cristóvão de Lisboa, Histó dos s e es do , escrito entre 1625 e 1631; contém 30 desenhos (fig. 22) a lápis ou nanquim; a estrutura da plumagem executada com a maior fidelidade, resultaram nU!fia ilustração muito
--
Fig.21.Índios Tupinambá, enfeitados para dançar, região do atual Rio de Janeiro,século XVI.O homem na frente tem um grande maço de penas de ema nas nádegas, acima dele uma arara (seg. Léry 1961).
livro saiu em 1578. Léry tornou-se mesmo o primeiro que comunicou dados seguros sobre as aves do Brasil, precedendo Cristóvão de Lisboa e Marcgrave (v.século XVII). Muito ao contrário Thevet procurou sensação, mostrando na sua iconografia "Singularidades da França Antártica" p. ex. um tucano com um bico aparentemente pesadíssimo e muito maior do que o resto do corpo, e um quadrúpede de cara humana. No seu mapa de 1557 constam nas costas brasileiras monstros horrendos ameaçando os navios. Por intermédio da obra de Thevef (republicada em 1878,;' o grande naturalista suiço, Conrad Gesner, recebeu informações sobre aves brasileiras. Na sua famosíssima Hi publicada em 1555, bem ilustrada, consta a descrição de um beija-flor. Enquanto cronistas quinhentistas como Staden, Anchieta e Gandavo forneceram subsídios de valor quase que exclusivamente para o conhecimento das tribos, Fernão Cardim e Gabriel Soares de Souza mostraram-se bastante interessados na fauna. Cardim, que chegou ao Brasil em 1583, descreveu a dança dos tangarás, Chi o p c e relata diversas fases da plumagem s e assunto já abordado por do guará, Eudoc
Fig.22.Ilustração de Cristóvão de Lisboa,começodo século XVII.Mostra o xexéu, icus cel com ninho, e l lus (seg.Cristóvão de o pica-pau,
Lisboa1967).
48
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
. Fig. 23. Frontispícioem estilo barroco da obra de MarcgraveHISTORIANATURALIS BRASILIAE, Amsterdam 1648. O casal de índios se assemelha à pinturas de "Adão e Eva" da época. No meio consta Netuno, Deus das águas dos romanos. Os animais representados lembram apenas remotamente animais neotrópicos:arara, preguiça, bugio com cara de gente, cobra,cação-martelo,jaboti, mico e tamanduá-bandeira.
melhor que as xilogravuras provisórias da obra de Marcgrave. Inclui morcegos entre as aves, corno fez' Plinius (23-79 d.e), que ensinava que morcegos eram as únicas aves que amamentavam seus filhotes. O relato de Cristóvão de Lisboa é o orgulho dos Lusitanos, uma vez que precede Marcgrave por alguns anos. A obra de de , de Diogo Fernandes Ferreira (1616), camareiro do rei .de Portugal, contém um capítulo "Dos Açores do Brasil". Ferreira menciona duas aves de rapina levadas para Portugal para serem utilizadas na praxe de altaneria na corte do Infante D. Luís (Sick 1960). Os índios do Brasil não parecem ter tido conhecimento deste tipo de caça, que só poderia desenvolver-se em terreno conveniente, quer dizer, em savanas, desertos e montanhas desprovidas de mata.
Chega em 1636, a convite do conde Maurício de Nassau-Siegen, o naturalista alemão George Marcgrave (nascido em 1610, faleceu com apenas 34 anos de idade, em Luanda, na Angola, em outra viagem de pesquisas) incumbido de executar a primeira expedição científica zoológica, botânica e astronômica em solo brasileiro. A i de Marcgrave foi editada em 1648 (fig. 23) e uma outra obra; de autoria de Piso & Marcgrave, em 1658. Segundo Cuvier, Marcgrave foi "o mais hábil, o mais exato de quantos tenham descrito a história natural dos países remotos durante os séculos XVI e XVII", Contribuiu para o sucesso de Marcgrave o interesse do próprio Conde de Nassau sobre a fauna um dos homens mais cultos de sua época. Foram feitos na época belíssimos quadros a óleo pintados por Albert Eckhout, pintor conhecidíssimo, e aquarelas, provavelmente pintadas por Zacharias Wagener (ou Wagner) e pelo próprio Marcgrave, anotadas à parte pelo próprio Conde Nassau, Muitos destes originais que foram reunidos nos pict e nunca foram publicados, estavam depositados na Biblioteca Nacional de Berlim, onde foram estudados com afinco por AvSchneider (1938), obra que em parte pudemos acompanhar. Os quadros são da maior importância pois a obra imprimida de Marcgrave foi ilustrada apenas com péssimas xilogravuras, simplificando ao mínimo os originais, dentre os quais encontramos o mutum do Nordeste, (redescoberto apenas em 1951), descrito por Linnaeus em 1766 baseado na obra de Marcgrave; não existem espécimes coletados por Marcgrave. Durante a Segunda Guerra Mundial os pic foram evacuados para a Silésia e pareciam estar perdidos, mas foram reencontrados; estão depositados atualmente na Biblioteca Jagiellon, em Cracóvia. Existe ainda o chamado (Bestiário), de Zacharias Wagener (v. Wagener 1964) e a documentação de Hoflõssnitz perto de Dresden, na Saxônia, pequeno castelo de caça. Hoflôssnitz contém 80 quadros de aves brasileiras, pintadas por Eckhout em 1644, após seu regresso à Europa .(Schaeffer 1970). Esses quadros, mais decorativos que fiéis à natureza, enfeitam o teto da grande sala do Castelo. As aves estão acompanhadas pelo seu nome popular no Brasil nassoviano. Consta a figura de um papagaio imaginário que serviu a Gmelin em 1788, para a descrição do g que, portanto, só existiu na imaseu s ginação de Eckhout. Numa das pinturas de Eckhout, de Pernambuco. consta um periquito africano, g (l provavelmente registrado tambémnos sobre a mão de um menino, ao lado de uma bonita negra, enfeitada com um chapéu de penas de pavão. A única ave africana (além da galinha dangola), ac1imatada no Brasil, é o bico-de-lacre, Es s . Em 1968 o Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro recebeu alguns quadros do acervo da Academia de Ciências de Leningrado, URSS, para uma exposição, material examinado por nós em 1982 em Leningrado; trata-se
BREVE
HISTÓRIA
DA ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
49
propriamente de cópias adicionais contemporâneas da série original. O príncipe de Nassau mandou a capitania do Rio Grande do Norte incluir nas suas armas a ema (fig. 24), "que se encontrou em grande abundância nas margens do rio Grande". Hoje a ema está extinta naquele estado; aparece freqüentemente em pinturas rupestres pré-históricas no Nordeste, v. sob Ema.
2.3
SÉCULO
Durante sua viagem ao Chile, o engenheiro militar Amédée François Frézier, aportando em 1712 na ilha de Santa Catarina, assim como Dom Pernetty, em 1763, companheiro de M. de Bougainville, encontraram o guará, Eudoci u registro mais meridional desta espécie e do maior interesse, porque é ave extinta há tempos naquela região (Berger 1979). Em 1783 veio Alexandre Rodrigues Ferreira (nascido na Bahia ep11756 e falecido em Lisboa em 1815), chefiando a "Viagem filosófica pelas capitanias do GrãoPará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá", organizada em Portugal, para fazer pesquisas durante quase dez anos. É compreensível que o plano de visitar a Amazônia, fechada à curiosidade dos naturalistas estrangeiros, foi muito elogiado pelo grande Linnaeus numa carta a Domingos Vandelli, antigo mestre de Alexandre na Universidade de Coimbra. Entre outubro de 1783 e janeiro de 1792, portanto durante quase dez anos, Alexandre estudou toda a paisagem física daquela região: flora e fauna, a população, sobretudo a indígena, condições climáticas e o extrativismo
J<.
t l,
animal e mineral, deixando urna
vastíssima documentação. Suas coleções constituíramse no primeiro material científico que foi do Brasil para a Europa. Entre os desenhos encontram-se figuras de aves tão importantes como o anambé-preto, i us o Geoffroy St. Hilaire, 1809, e o urumutum, ihoc u i (Spix 1825), portanto espécies ainda não descritas cientificamente naquele tempo. . Sobre os resultados da comissão de Rodrigues Ferreira, na época pouco divulgados, informa uma Iconografia editada pelo Conselho Federal de Cultura 'êto Rio -de Janeiro, em 1971. Entre as 51 pranchas coloridas de aves existe uma que mostra um artefato: um anubranco no qual foi colocada a cauda de uma outra ave (caracará?), situação que pode lembrar o papagaio imaginário pintado por Eckhout em Pernambuco no século XVII. Quanto ao destino das coleções conclui-se que o Museu de Lisboa cedeu o material de Rodrigues Ferreira ao Museu de Paris, onde Geoffroy de Saint-Hilaire o elaborou; não houve saque por ocasião da ocupação francesa pelas tropas napoleônicas em 1808, como é freqüentemente frisado, e sim uma doação, como afirma Arthur Cezar Ferreira Reis, a maior autoridade de história Amazônica na citada Iconografia. Essa cessão de material
Fig. 24. Armas do Rio Grande do Norte (mostrando a ema) do século XVII, sob a administração do Príncipe Maurício de Nassau (seg. Anon. 1986).
vinha aliás sendo efetuada já muito antes da invasão francesa. Com a licença das autoridades locais Geoffroy St. Hilaire inventariou o material, que ainda encaixotado em sua quase totalidade, encontrava-se em estado precário de conservação; havendo também sérios problemas com os rótulos (etiquetas) das peças coletadas., Portanto, Geoffroy até teria salvado o material do apodrecimento, levando criteriosamente as peças para a França, em porção mínima. Isto foi da maior vantagem para o Brasil, uma vez que assim as aves mais importantes, desconhecidas da ciência, foram logo descritas. Outras espécies novas da coleção de Alexandre ficaram esquecidas em Lísboa, acabando por ser coletadas mais tarde na Amazônia extra-brasileira, perdendo assim o Brasil a primazia. Consta num depoimento redigido em 1798 por H. F. Link, renomado cientista da época, acompanhando Hoffmannsegg, que eles haviam encontrado em Lisboa Alexandre R. Ferreira, adoentado e sem nenhuma atividade científica, assinalando apenas que ele havia estado muito tempo excursionado pelo Brasil. Estava também presente D. Vandelli, idoso e em total passividade. Que sejam mencionados ainda José Mariano da Conceição Velloso (1742-1811), botânico conhecido, que publicou o lico, e Diogo de Toledo Lara e Ordonhes (1752-1826), que deixou fragmentos de um de es do (Tauray 1918).
2.4
SÉCULO
I
No princípio do século XIX, o forte interesse de conhecer os países la_tino-americanos concretizou-se com a vinda de Alexander von Humboldt a este continente. Chegando em 1800 com o botânico Bompland, pelo Cassiquiare, ao Rio Negro, foi proibido de penetrar no Brasil por decisão da coroa em Lisboa. Humboldt, que incluía também aves em seus estudos (descobriu na
50
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
.Venezpela O guácharo, Humboldt, 1817, ave noturna espetacular), teve contato com o Brasil apenas em 1854, com 85 anos de idade, quando deu o parecer decisivo para delimitar as fronteiras entre a Venezuela e o Brasil (Stresemann 1950). As primeiras coleções científicas de aves que, após o material de Rodrigues Ferreira, chegaram à Europa, foram as de Luís Beltrão, do Rio de Janeiro, de F. A. Gomes, da Bahia e do Rio de Janeiro, e de F. W. Sieber, do Pará. Todas estas coleções foram incentivadas pelo Conde J. C. von Hoffmannsegg, fidalgo apaixonado pelas ciências naturais, recebendo do Brasil o material de 1800 em diante. O acervo de Hoffmannsegg constitui urna das partes fundamentais da coleção ornitológica do Museu de Berlim. No material de Gomes encontra-se o ninho singular do andorinhão Sieber, já servindo ao Conde Hoffmannsegg na Europa corno preparador, veio em 1800 a Belém onde permaneceu 11 anos na região do baixo Amazonas. Mandou 400 aves a Serlim, entre elas quase 70 espécies ainda desconhecidas na época, descritas por Carl Illiger e H. Lichtenstein (Berlim), C. J. Temrninck (Leiden), J. Wagler (Dresden), H. Kuhl e outros. Sieber tornou-se o descobridor de , , Helicolestes , uult e várias outras espécies interessantes. Hoffmannsegg e Illiger se dedicaram ao máximo à matéria de saber mais sobre a fauna interessante desse fascinante país desconhecido - o Brasil- estimulando os coletores e elaborando logo o material remetido. Assim Illiger escreveu por volta de 1803 a Gomes: "Não existe aí um cuculídeo que deposita seus ovos em ninhos de outras aves?" Gomes anotou no rótulo de uii (Kuhl, 1820) "Periquito surdo", bem aproveitado por Kuhl no nome científico da espécie; seguramente Gomes verificou o mesmo que ensina a nossa prática: esse papagainho é tão manso que nem reage ao barulho feito por bater palmas - corno se fosse surdo. Quando Gomes mandou um pingüim da Bahia, os cientistas não queriam acreditar na procedência (v. sob Spheniscidae). O conde Hoffmannsegg ensinou seus coletores a usar arsênico (não mais usado no Brasil, devido à sua alta toxidez) na preparação dos vertebrados, razão pela qual o material se tornou bem resistente. Em troca das coleções, Hoffmannsegg mandou a Gomes, que conhecera em Portugal, livros sobre zoologia e botânica de grande valor, presentados mais tarde por Gomes à nova Biblioteca pública da atual Salvador. Com a abertura dos portos, em 1808, o Brasil tornouse mais acessível. Em 1813 veio de São Petersburgo (Leningrado) ao Brasil Georg H. von Langsdorff, na qualidade de Cônsul da Rússia (era alemão). O Barão de Langsdorff, formado em medicina e naturalista entusiasta, muito viajado, membro da Academia de Ciências de Petersburgo, tornou-se figura importante para o progresso da ornitologia brasileira. Seu nome foi perpetuado no minúsculo e raro beija-flor-rabo-de-espinho, ope gsdo Temminck, 1821. Langsdorff trouxe
G. W. Freyreiss e Friedrich Sellow, mais tarde o francês E. Ménétriês. A casa de Langsdorff no Rio, em belíssima situação acima da cidade, e a sua Fazenda "Mandioca" (adquirida em 1817), situada ao pé da serra da Estrela, Inhomirim, Rio de Janeiro, tornaram-se centros de cientistas e artistas. Foram ali recebidos Wilhelm von Eschwege, fundador da mineralogia brasileira, J. Natterer, Spix e Martius, o pintor Moritz Rugendas, Hercules Florence (ao qual os naturalistas devem o original "Zoofonia"), L. Riedel (botânico) e muitos outros. As pinturas de paisagens de Rugendas são de urna beleza insuperável. Contudo, verifica-se que Rugendas, estranhamente, não se interessava muito pela fauna. As poucas aves (p. ex. papagaios e araras) e mamíferos que aparecem nos seus quadros são mal feitos. Na sombra de uma belíssima ma ta alta e frondosa, perto de Mangaratiba, Rio de Janeiro, Rugendas colocou dois flamingos - urna ignorância imperdoável que se torna mesmo inoportuna urna vez que um leigo, inocente, poderia concluir que no Brasil os flamingos viveriam dentro da mata escura e não em praias ensolaradas. Freyreiss dedicou-se a intenso trabalho de campo no Brasil oriental, fazendo grandes coleções de aves. Seu material foi elaborado por C. P. Thunberg (Estocolmo) e em que, p. ex., descreveu o cotingídeo 1823, apanhado perto do Rio. Friedrich Sellow, que teve a proteção de Humboldt, veio ao Rio de Janeiro em 1814 e trabalhou até 1831 neste país, ano em que se afogou no rio Doce. Sellow viajou no leste brasileiro, da Bahia e de Minas Gerais até o Uruguai. Associou-se por algum tempo ao naturalista F.von Olfers. No Rio Grande do Sul, Sellow registrou em 1823 urna arara azul que só podia ser odo s gl ucus, atualmente considerada extinta. Mandou ao Museu de Berlim 5.457 aves ernpalhadas, incluindo p. ex. três espécimes do atualmente raro pato-mergulhão, e gus octosei ceus, procedentes do Brasil. Coletou também ninhos, ovos e esqueletos (Stresemann 1948, 1954). Em muitos casos Sellow - e com ele o Brasil - perdeu a prioridade porque o então responsável pelo Museu de Berlim, Lichtenstein, não se dedicou suficientemente a estas coleções, que entretanto foram superadas pelas coleções de Natterer e Spix, elaboradas imediatamente por Temmínck que as recebeu, respectivamente, do Museu de Viena e de Munique. Sellow tem o maior renome corno coletor botânico, existindo a revista botânica do Herbário "Barbosa Rodrigues", editada por Raulino Reitz, em Itajaí, Santa Catarina. Em 1981 iniciou-se a série "Zoologia" da Sellowia com.o artigo "Aves do Estado de Santa Catarina". . Eugene Ménétries, jovem entomologista que esteve no Brasil de 1822 a 1825, tornou-se conhecido na ornitologia por descrever aves tão interessantes como os c opus spelunc e lo phus rinocriptídeos g ambos em 1835, procedentes de Minas Gerais; conservados no Museu de Leningrado (Petersburgo). Sabemos por intermédio de Burmeister (1856) que
II .,
-.....r
BREVE
Ménétries se orientou bem pela vocalização das aves, achando desta maneira, as espécies mais furtivas. Seu n t l nome aparece no formicarídeo enet ii (d'Orbigny, 1837). Em 1815 chegou ao Rio de Janeiro o Príncipe Maximilian von Wied Neuwied. Palmilhou o litoral e regiões adjacentes, do Rio até os campos gerais da Bahia, durante três anos. Foi acompanhado no início por Freyreiss e Sellow, em Salvador encontrou-se com F. A. Gomes. A narrativa da viagem de Maximilian, publicada em 1820/21, é um documento do mais alto interesse biogeográfico, referindo-se a tudo que se apresentava naquele tempo, sobretudo, fauna e flora e aborígenes; suas observações confrontaram-se com as de Marcgrave e Azara, o último uma autoridade contemporânea em ciências naturais no Paraguai (Don Felix de Azara). A de Wied, publica da em boa tradução portuguesa (1940), foi fartamente comentada por Olivério Pinto. Com a elaboração dos seus estudos realizados no Brage, Consil, Maximilian encheu quatro volumes (os tribuições à História Natural do Brasil, não existe tradução em português), de 2.221 páginas, apenas sobre aves, obra publica da em 1831/33, notável pelo rigor de descrição dos caracteres morfológicos (em parte ilustrados) e pela comunicação de pormenores biológicos; fez, p. ex. as primeiras observações sobre a situação única do desenvolvimento do filhote da picaparra, Helio [uiica. Relatou também nomes populares e lendas, fez desenhos muito hábeis de paisagens, índios, etc., que serviram depois aos artistas ilustradores das suas obras para realizar uma apresentação perfeita do ambiente neotropical brasileiro. O nome cientffico da maitaca do sul, ni (Kuhl 1820), do bicudo meridional, maximiliani (Cabanis 1851), e do papagaio U uiiedi (Allen 1889), citado atualmente como (Wied 1820), lembrarão para sempre o Príncipe. A coleção de aves de Maximilian, incluindo muitos tipos, está hoje sob os cuidados especiais do American Museum of Natural History, em Nova lorque t . Seja mencionado que (v. Tyrannidae, Wied viajou também na América do Norte, como naturalista. . Achamos oportuno encaixar aqui algumas observações museológicas.As coleções antigas, como as de Wied, eram todas montadas, quer dizer, as aves, mamíferos, etc., eram empalhados como se vivos, providos de olhos de vidro, bico e pés pintados, as aves freqüentemente de asas abertas, pousadas sobre galhos ou numa tábua, para servirem em exposições públicas. No início do século passado, alguns cientistas começaram a preparação em série em inglês, lg em alemão); estas eram preparadas em posição deitada simples, como recentemente morta, de olhos enchidos de algodão, como o resto do corpo; os respectivos cientistas foram acusados de comodistas que prejudicavam a apreciação pública. Coleções valiosas como as de Wied foram posteriormente desmontadas.
HISTÓRIA
DA ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
51
o material seriado tem a vantagem de representar relativamente pouco volume no transporte e, nos Museus, pode ser guardado em gavetas, obtendo, portanto, grande economia de espaço e facilitando o combate aos insetos daninhos. E somente assim as coleções podem ser protegidas rigorosamente contra a luz do dia. Esta luz e, principalmente, a luz solar direta, descora as penas e pêlos, chegando ao ponto de tudo ficar pálido, de um pardo-avermelhado lfoxy, cor da raposa européia), perdendo-se quase por completo a possibilidade de apreciar o colorido natural; ficam intactas unicamente as proporções métricas. Certos pigmentos são especialmente fugazes, como o vermelho e o amarelo intenso dos surucuás (Trogonidae), que desbotam logo após a morte, tornando-se finalmente brancos. Desbota também rapidamente o magnífico amarelo-laranja do galo-daserra, o , para dar mais um exemplo. O desbotamento das cores é acelerado em clima úmido. Por esta razão é necessário, num país tropical como o Brasil, manter as coleções de aves sob ar-condicionado, como é feito no Museu Goeldi, em Belém, Pará. Em 1816 veio ao Rio de Janeiro o botânico Auguste de Saint-Hilaire, acompanhado pelo zoólogo Antoine Delalande. St. Hilaire viajou neste país até 1822, em parte junto com Langsdorff, apanhando também aves. Suas coleções ornitológicas foram elaboradas de 1818 em diante, por Louis J. P. Vieillot. Delalande, mais interessado em beija-flores (v. e o Vieillot, 1818), ficou somente um ano coletando nos arredores do Rio; foi mais tarde empregado por Geoffroy Saint-Hilaire, como preparador, Em 1816 chegou também William Swainson, inglês, que aportou em Pernambuco e viajou até a Bahia. coletando aves, peixes, insetos e plantas; encontrou-se com Sellow e Freyreiss e regressou à pátria em 1818. Swainson foi o segundo naturalista a visitar Pernambuco (Marcgrave foi o primeiro). Swainson, cientista muito conhecido na época, criou alguns gêneros bons, como ig , Den oc g e Ch deiles, e deixou uma iconografia , obra rara, constando de 80 e tantas estampas, representando as espécies mais características. st Cabanis & Heine, 1859, é um tiranídeo comum, (Pelzeln 1858) é a famos~ maria-leque 'ci'o sudeste do Brasil, e insonii (Vigors 1825) é um gaviãozinho o campestre de vasta distribuição no interior. Quase ao mesmo tempo (chegou em 1816) trabalhou em Pernambuco e Maranhão outro inglês, Charles Wa terton; ó nome- do beija-flor ni to onii (Bourcier, 1847) lembra esse naturalista que se tornou mais conhecido por seu livro e eg ções é c do , publicado em várias edições. O ano de 1817 tornou-se significativo na história da exploração naturalística do Brasil, uma vez que chegaram os zoólogos Johannes Natterer e [ohann Baptist von Spix e o botânico Carl Friedrich Philip von Martius, to. dos fazendo parte da expedição científica que acompa-
----..,: ....
52
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
nhou a Princesa D. Leopoldina, posteriormente esposa de Pedro r. Natterer (1787-1843) foi o que mais tempo permaneceu no país, constituindo aqui família e trabalhando sem descansar durante 18 anos. Em dez grandes expedições palmilhou quase todo o Brasil: do Rio de Janeiro ao Paraná, Goiás, Mato Grosso (onde contraiu uma forte febre, vindo a morrer, nestas mesmas condições, seu companheiro austríaco Sochor), Rondônia, Amazonas até as fronteiras com a Venezuela, Roraima e Pará. Os últimos oito anos passou na região do Amazonas e de seus tributários, principalmente Mamoré, Madeira, rio Negro, rio Içaria, rio Branco e a área de Belém. Deixou de explorar o Nordeste (Maranhão à Bahia), isso devido à erupção da guerra civil no Pará, lacuna preenchida, até certo ponto, mais tarde pelo seu conterrâneo Otmar Reiser, que visitou a Bahia e o Piauí em 1903. Nas coleções de Natterer consta algum material de Pernambuco coletado por Swainson, a quem conheceu. Natterer casou-se com uma brasileira em Barcelos, no alto Rio Negro, em 1831 e regressou à Europa em 1835. . As coleções de Natterer, encaminhadas pessoalmente pela Imperatriz, que estava muito interessada nos trabalhos dos naturalistas, compreenderam 12.293 aves empalhadas (representando 1.200 espécies) mais de 1.000 mamíferos, peixes, 35.000 plantas secas, milhares de objetos indígenas, etc. St.Hilaire, que se encontrou com Natterer em Ipanerna, São Paulo, escreveu: "Era impossível deixar de admirar a beleza de suas aves; não vi uma só pena colada ou uma gota de sangue". Quando o leigo toma conhecimento hoje do volume dessas coleções antigas, fica pasmo. Naquele tempo, porém, coleções grandes eram necessárias para construir as bases da sistemática, não havendo ainda' perigo de prejudicar a fauna e a flora das regiões em questão. Natterer fez muitas anotações sobre caracteres só apreciáveis em exemplares vivos ou recentemente abatidos, tais como cor da íris, do bico, das pernas e demais partes nuas, a forma da língua, o estado de muda, conteúdo do papo e do estômago e detalhes anatômicos. Fez observações sobre o hábitat, distribuição geográfica, a voz, e tirou parasitos das aves preparadas, tudo muito semelhante ao que o Príncipe de Wied fazia. Sua morte prematura não 'lhe permitiu aproveitar os resultados obtidos. O material de Natterer foi magnificamente elaborado por August von Pelzeln, do Museu de Viena. Em muitos casos o próprio Natterer deu um nome às , pombinha do Brasuas aves, como Col sil central, uma das mais raras aves deste continente. Este nome, constando apenas nos manuscritos de Natterer, foi aproveitado por Pelzeln para descrever a nova espécie, hoje conhecida como Col u (Pelzeln 1870). Outro nome publicado por
Natterer é, p. ex., i gouldii (Natterer 1837). A maior parte das anotações de Natterer perderamse num incêndio em 1848, no Museu de Viena, cinco anos após seu falecimento. Philip L. Sclater (1829-1913), grande ornitólogo do Museu Britânico, chamou Natterer de
J ohn Gould (1804-1881 ), grande artista e cientista inglês, elaborou as mais belas iconografias sobre aves de vários continentes (deixou mais de 3.000 pranchas pintadas à mão; teve a colaboração de sua esposa, que no entanto faleceu cedo). Juntou-se a Gould, Edward Lear, artista e poeta, que se tornou mais famoso por sua s que serviu a belíssima prancha de Bonaparte em 1856 para descrever esta espécie, confundida até aquele tempo com a mais comum arara-azulgrande . h cinthinus. Gould trabalhou também na região neotropícal, publicando as monografias de beijaflores (1849-1861) e sobre tucanos (1854); descreveu algumas de nossas espécies, como os araçaris glossus e elenide . Em 1840 plu icinctus, P Gould trouxe o primeiro periquito-da-Austrália selvagem para a Inglaterra, dando início à reprodução da espécie em cativeiro (v. Psittacidae/ Apêndice). Grande contemporâneo e amigo de Gould foi o Príncipe Charles de Bonaparte, sobrinho de Napoleão, bom sistema ta em vertebrados; descreveu do Brasil, p. ex. Cop long o em 1825, redescoberto por nós em 1941; e o jnchus i, em 1856, encontrada apenas em 1978 pela primeira vez na natureza. Os nomes Spix e Martius são os mais citados no camg pelo po das ciências na turais deste país. Sua obra nos de 1817 1820 foi editada várias vezes, recentemente (1981) numa revisão competente e científica, em português. Spix (1781-1826), formado em medicina, era o mais velho e mais graduado dos dois; foi incumbido, em 1815, de preparar a expedição ao Brasil. Os dois cientistas viajaram juntos, atravessando grande parte do Brasil. Várias das espécies apanhadas por Spix pertencem às aves cinegéticas mais conhecidas, deixando bem claro que naquela época quase tudo era desconhecido. Constam 10 espécies de cracídeos: seis mutuns i, C. e C. globulo .. l ~ M. e e s, 2 jacus c e P c , o aracuã (O g e a jacutinga e cuting O uru (Odontopho ei s, duas codornas ( bo e N. dois s le e P idis) e a marreca jacamins hen são também de Spix. Achamos ótimo que Spix tenha usado em sua nomenclatura nomes populares brasileiros (Sick 1983). Sua obra, species no 1824/25, em dois volumes, foi comentada em 1906 por C. E. Hellmayr'", uma das maiores autoridades da sis-
2CharlesE.Hellmayr descreveu mais de 300espéciese subespécies de aves; 42 espécies têm o seu nome, como,p. ex.,osnossos Gya/ophy/ax hellmayri e Anthus he
t
.
l"t
. ,
BREVE
temática de aves neotropicais, confirmando 67 espécies válidas, às quais acrescem uma boa quantidade de representantes reduzidos, entretanto a subespécies, como n ulu lis di (Spix 1824). a linda Spix foi o primeiro que, por volta de 1819, coletou a spi ii (Wagler 1832), não imaararinha-azul. C ops ginando a importância desse achado; pensou tratar-se de d ijnchus h cinthinus (Latham 1790), portanto espécie já conhecida na época. Por outro lado, Spix trouxe também um casal do genuíno . thinus que, julgando ser uma espécie ainda desconhecida, descreveu li (Spix 1824), nome que caiu na como . sinonímia de . inthinus. É interessante que Spix cinthinus (e não gênero de escreveu Lacépede, 1799, válido por prioridade), reconhecendo o nome correto brasileiro "arara". Spix escreveu também corretamente enelope çu, mutilado mais tarde, na Europa, por falta do conhecimento do tupi, em (Sick 1965b). Spix notou a diferença da vocalização enili ni e distinguiu o biótopo dos tre C. spi ii e seu is fiuminis . (C. spi res.dois: in c pectivamente s ibus inc . thinus). O indivíduo de C. spi ii, apanhado pelo próprio Spix, serviu mais tarde a Wagler como tipo, para descrever esta espécie, perpetuando. assim o nome de Spix. Essa história é um exemplo de quanto trabalho dedicado foi necessário para tirar as dúvidas, estabelecendo a atual nomenclatura das aves cuja firmeza é admirada por todos. Vem ocorrendo porém, no últmo tempo, não poucas alterações na nomenclatura devido a novas técnicas aplicadas na taxonomia. Spix faleceu seis anos após seu regresso, com 45 anos de idade, enquanto que Martius teve à sua disposição 48 anos para elaborar seu material trazido do Brasil, tornando-se um dos cientistas mais conhecidos do mundo, tanto assim que, para muitos, o nome de Spix teria apenas alguma significação quando citado com o de Martius. O próprio Martius contribuiu ativamente para o estudo da fauna brasileira, p. ex. com a publicação de i liu in lin upi (v. Martius 1863). Em 1818 estiveram no Rio de Janeiro os naturalistas Quoy e Gaimard, que visitaram a Serra dos Órgãos e a região de Nova Friburgo. Numa obra bem ilustra da,. ieu (Freycinet 1825). descreveram P: ex. No início do século XIX, há um detalhe interessante que liga a ornitologia com o Império. A Corte lembrouse de fazer um manto real de gala para D. Pedro 1, confeccionado com papos de tucanos. Numa Portaria de 25 de novembro de 1822, José Bonifácio de Andrada e Silva mandou o Museu Nacional entregar todos os tucanos uiiellinus el) existentes nas coleções, exceto dois exemplares (entristecendo o pessoal daquele estabelecimento, que pouco antes os haviam coletado para o Museu). Fizeram então uma bela murça imperial, que aparece em vários quadros figurando D. Pedro I ou D. Pedro II; ~oje esta peça faz parte do Museu Imperial de
HISTÓRIA
DA ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
53
Petrópolis. Existe ainda uma segunda murça, feita de penas de galo-da-serra, upicol upico , pertencente a D. Pedro lI, que aparece no quadro a óleo de Le Chevrel, do Museu Imperial (Carvalho 1953). Em 1825 Peter Wilhelm Lund, paleontólogo dinamarquês, introduzido nas ciências naturais por Georges Cuvier e Alexander von Humboldt, veio ao Brasil onde passou grande parte de sua vida. Incluiu nos seus múltiplos trabalhos sobre as cavernas de Lagoa Santa, Minas Gerais também sobre aves fósseis, subfósseis e recentes. Reuniu na sua coleção aproximadamente 40 espécies, todas já conhecidas na época demonstrando como já ia adiantado o conhecimento das aves locais. Lund foi o primeiro a descrever a falta de estômago muscular nos gaturamos iEuphoni Thraupidae), tese de doutorado. Colaboraram com Lund os ornitólogos Oluf Winge e J. T. Reinhardt, do Museu de Kopenhagen; o último visitou o Brasil três vezes, publicando finalmente a o ento [auna dos do l (apenas em dinamarquês) em 1870. Existe outra publicação de O. Winge (1888) sobre as aves de cavernas das ossadas no Brasil, já traduzida em português por G. Hanssen. Pela publicação no vernáculo tornou-se mais conhecido, neste país, Eugênio Warming, botânico, ao qual devemos pesquisas sobre a origem do cerrado, e uma lista dos animais vertebrados da Lagoa Santa. Sobre Lund e sua contribuição à ornitologia brasileira (v. O. Pinto 1950). O célebre naturalista francês Aleide d'Orbigny que viajou pela América do Sul de 1826 a 1833, contratado pelo governo argentino, penetrou no Brasil apenas no extremo oeste de Mato Grosso e na região do Guaporé. Citamos d'Orbigny no caso da arara-azul-pequena meus gloucus. D'Orbigny elaborou ridional, suas coleções de aves no Museu de Paris, em parte junto com o Barão de Lafresnaye. Da mesma forma que d'Orbigny, os irmãos Robert e Richard Schomburgk, estes vindos das Guianas onde trabalharam de 1835 a 1844, apenas passaram nas fronteiras da Amazônia brasileira, tocando as cabeceiras dos rios Branco e Negro. Seu material foi elaborado por Jean Cabanis, do Museu de Berlim. Os Schomburgk deram informações sobre a época de reprodução de algumas aves e sua vida. Em 1831 instalou-se na Bahia (Salvador) o farma~êutico Franz Kaehne, de Prenzlau, coletando algumas aves que estão entre as muitas remessas de material de história natural comercialmente levados do Brasil para a Europa (Museu de Berlim), servindo-nos, em 19,60,para e is st se descrever o rinocriptídeo Emílio Joaquim da Silva Maia (1808-1859, v. Feio 1960a), nascido em Salvador, Bahia, e formado pela Universidade de Paris, foi nomeado Diretor de Zoologia do Museu Nacional em 1842 e fazia, entre outros, estudos sobre beija-flores; fez também comentários sobre a conservação da natureza. Sob o título Espécie no e o de o ile o, Silva Maia (1851), fala de uma ave
-,
.
54
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
da província do Rio de Janeiro que tinha o singular costume "de descer debaixo d'água e andar no fundo dela em procura dos pequenos animais de que se nutre" tal qual o melro-ribeirinho da Europa, Cinclus iicus, (referindo-se, segundo disse, a observações de J. T. Descourtilz). Silva Maia concluiu que o pássaro em questão devia ser chamado ophiius iicus, não voltando mais ao assunto. Não conhecemos nenhuma ave brasileira capaz de realizar a proeza de andar por baixo d'água como os representantes de Cinclus, Passeriformes existentes também nos Andes. No Brasil os e Cinclodes lembram um pouco ao furnarídeos o Cinclus, mas eles não mergulham. Dois zoólogos franceses, Francis Conde Castelnau e Emille Deville, no curso de sua viagem à América do Sul (1843-1847), atingiram também o Brasil. Coletaram aves e fizeram anotações biológicas sobre algumas aves amazônicas como o galo-da-serra, pico co , e a ho Levaram seu material ao cigana, Opistho Museu de Paris, onde foi estudado por O. des Murs,: Menegaux e C. E. Hellmayr. Os dois últimos descreveram o formicarídeo ophil deuillei, em 1906. Entre os viajantes mais conhecidos da Amazônia brilham os naturalistas ingleses Alfred Russel Wallace e Henry Walter Bates, que chegaram juntos em 1848. Wallace ficou 4 anos, Bates 11 anos, Ambos dedicaramse também ao estudo de aves. Bates conta como ele atirou na mariposa gloss iit n, julgando tratar-se de um beija-flor que ele desejava obter para sua coleção; fez uma boa descrição da cerimônia pré-nupcial do e s o , matéria ainda desanambé-preto, conhecida na época (achamos o priIneiro ninho e o ovo do anambé-preto no alto Xingu, Mato Grosso, em 1949). As coleções de Bates e Wallace: foram identificadas por Ph. L. Sclater e Osbert Salvin. O livro de s O tu lis no io s (original inglês de 1863), escrito divertido mas muito correto e sendo magnificamente ilustrado, continua a ser uma das publicações mais citadas da Amazônia. Wallace se tornou mais famoso pela formulação da seleção natural, em 1859, em conjunto com Charles Darwin, baseando-se em registros feitos na Amazônia e na região oriental. De 1850 a 1852 esteve no Brasil o Dr. Hermann Burmeister. Dirigiu-se a Nova Friburgo, Rio de Janeiro, para se encontrar com C. H. Bescke Jr. de Hamburgo, conhecido comerciante de objetos de ciências naturais, sobretudo material entomológico, principalmente borboletas. Bescke, cujo pai já era um famoso coletor, tinha vários fornecedores de material, razão pela qual a procedência das peças comercializadas não pode ser atribuída apenas a um lugar. Assim Bescke vendeu ao Museu de Berlim p. ex. um Eleot eptus o us, sem procedência, bacurau raro, provavelmente não da região de Nova Friburgo. Depois, interessado em fósseis, Bunneister visitou Lund e Reinhardt em Lagoa Santa, Minas Gerais. Considerando o tempo bastante reduzido em que Burmeister esteve no Brasil, é admirável que tenha dei-
xado o êndio dos s do sil, 1855/56, em três volumes, obra didática muito bem escrita, dando a impressão de uma obra moderna (em alemão). Publicou também um bonito volume i il, em português, muito bem ilustrado, e um atlas, em formato grande. Os dados sobre as aves são freqüentemente compilados e não seguros. Burmeister era primeiramente entomólogo. descreveu, p. ex., es i us, grande cuinus). pim, apreciadíssimo pelas aves (v. sob lco pe Chamado em 1856 pelo governo argentino para dirigir o Museu de Ciências Naturais em Buenos Aires, Burmeister se dedicou mais à paleontologia. Foi distinguido com um funeral oficial (1892) e um monumento no Parque Centenário da capital argentina (Ulrich 1972). Figura que ocupa um lugar todo especial é o francês João Teodoro Descourtilz, que viveu no sudeste brasileiro desde 1829. Foi naturalista viajante do Museu Nacional de 1854 a 1855, ano em que morreu no litoral espírito-santense. Deixou uma coleção preciosa de pranchas coloridas de aves, acompanhadas por anotações detalhadas sobre hábitos e costumes das espécies figuradas. Sua dedicação reflete-se na escolha das aves estudadas, entre as quais figuram representantes de difícil observação como os cotingídeos u so el e O cus i . Descourtilz pintou as aves frugívoras pousadas nos seus vegetais prediletos. No caso dos beija-flores pintou as flores procuradas por eles. Descourtilz, antes de vir ao Brasil, serviu como médico clínico nas Antilhas Francesas quando teria publicado a o dici d nti. Certa vez, passou mal após ter provado as frutinhas da marianeira, stus , Solanaceae, baga apreçiada por alguns pássaros, mas indigesta para nós por ser rica em saponinas, Descourtilz teve a sua língua fortemente intumescida e perdeu o uso da palavra por alguns dias. Não podemos deixar de mencionar Fritz Müller (1822-1897) naturalista por vocação, formado em medicina, imigrado da Alemanha em 1852. Foi durante algum tempo naturalista viajante do Museu Nacional, Rio de Janeiro, mas residia em Santa Catarina. Sua atenção estava voltada principalmente para insetos e plantas. Estudando a polinização, ocupou-se também com beijaflores. Descreve como ol quase fez malograr suas pesquisas sobre polinização artificial de tilon, pois a ave furava com seu bico a gaze com a qual o naturalista tinha envolto as flores; aconteceu que os grãos de pólen, colados no bico do beija-flor, ficaram retidos pela gaze. Os "corpúsculos de Müller" da imbaúba estão entre as inúmeras descobertas 'desse grande cientista (v. Thraupinae). As observações de Fritz Müller foram muito apreciadas por Charles Darwin, com quem se correspondia, que chamou Müller de "o príncipe dos observadores". O próprio Darwin alcançou a costa brasileira em 1832. Descreveu a matança de aves marinhas no arquipélago de São Pedro e São Paulo e nos Abrolhos e, após quatro
--
BREVE
meses na Bahia e no Rio, concluiu que a botânica e a . ornitologia, no Brasil, já seriam muito conhecidas (too ll , Di , ed. Nora Barlow, 1934:74). Darwin (1868) se interessou pelo problema dos papagaios "contrafeitos", a "tapiragem" dos índios brasileiros, descrita por Wallace (1853); v. sob Psittacidae. Em 1853 imigrou o suíço Karl Hieronymus Euler (Carlos Euler Senior 1832-1901) que se radicou como fazendeiro em Cantagalo, Rio de Janeiro. Após ter publicado, sob estímulo de J. Cabanis, Berlim, editor do i e, de 1867 a 1868, três trabalhos sobre ninhos e ovos das aves do sudeste do Brasil, chegou a acrescentar, em colaboração com H. von Ihering, mais dados, publicados na do em 1900. Um dos dedicados colaboradores de Euler foi Jean de Roure, coletor de aves, residente em Muriaé, Minas Gerais que recebeu o primeiro e até hoje único exemplar existente em Museus de e o mandou ao seu amigo Euler. Este, remetendo o pássaro a J. Cabanis, Berlirn, pediu para que nome de Roure fosse aproveitado para a denominação científica da espécie. Observamos N. em uma única oportunidade no Espírito Santo, v. Thraupinae ..O cuculídeo pouco conhecido e o tiranídeo s eul descritos por Cabanis, perpetuam o nome desse grande ornitófilo, muito citado. Euler teve contato com Karl Schreiner, funcionário do Museu Nacional, também interessado na reprodução de aves. Um filho, Carlos Euler [únior, tornou-se ilustre engenheiro ferroviário brasileiro (Minvielle, 1981). "La Expedición científica espanhola aAmérica, 18621866", sob a direção de Jiménez de Ia Espada, iniciou a sua viagem neste continente na Bahia seguindo posteriormente a costa do Rio de Janeiro, Santa Cata rina e Rio Grande do Sul (Miller 1968, Regueiro 1983). Tomaram contato com coletores residentes como o alemão Otto Wucherer na Bahia e o francês Auguste Bourguet, no Rio que ofereceu a venda de uma boa coleção de beija-flores. A expedição foi depois a Montevidéu, passou pelo estreito de Magalhães e subiu a costa pacífica em toda a sua extensão. Quatro dos expedicionários regressaram ao Brasil e desceram o Amazonas até a sua foz no Atlântico. O anfíbio / us Espada, 1870, P!8.ç~de~!e do Corcovado, Rio de Janeiro, documenta esta viagem. . Na década de 1880 residiu na província do Rio de Janeiro o pintor e viajante ornitófilo Paul Mangelsdorff que deixou várias publicações boas sobre as aves daquela região (p. ex. Mangelsdorff 1891). Entre os ornitólogos colecionadores que, na segunda metade do século XIX, trabalharam na Amazônia, sejam mencionados os seguintes: (1) Hauxwell, inglês residindo d-e1850 a 1870 em várias partes do alto Amazonas, suas coleções foram elaboradas por Gould, Selater e Salvin, vide p. ex. ieili (Sclater 1857), formicarídeo da Amazônia. (2) G. Garlepp, alemão, trabalhou também no alto Amazonas em 1883/84, era
HISTÓRIA
DA ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
55
orientado pelo Conde Berlepsch. (3) E. Layard, cônsul britânico em Belém, Pará. (4) C. Riker, norte-americano que em 1884 e 1887 passou alguns meses nos arredores de Santarém, Pará, tornando-se seu nome mais conhecido entre nós pelo furnarídeo singular e ei (Ridgway 1886), representante marcante da ornitofauna do buritizal; Riker tinha contato com Frank M. Chapman, do Museu de Nova lorque. (5) W. Schulz, alemão, que de 1892 a 1894 coletou no baixo Amazonas, apanhando P: ex. i Pelzeln), belíssima espécie de uirapu ru.: que se tornou quase lendária, pois o único exemplar conhecido naquele tempo, coletado por Natterer, se perdera, de maneira que Pelzeln tivera que se basear nas notas de campo de Natterer para descrever a espécie. (6) Domingos S. Ferreira Pena, fundador do Museu de Belém, enviou uma coleção de aves ao Museu Nacional do Rio de Janeiro (Miranda Ribeiro 1928). As atividades de outros ornitólogos coletores, da época, estão documentadas principalmente no Nordeste. A "Comissão Científica do Ceará" (1859-61), a primeira expedição científica organizada por brasileiros, após a expedição de Alexandre R. Ferreira no século anterior, acompanhada por Gonçalves Dias, obteve bastante material, que foi depositado no Museu Nacional, Rio de Janeiro. São as peças mais antigas que conseguimos localizar nesse Museu. Os respectivos espécimes, j são rep. ex. mais de 90 exemplares de conhecíveis tão-somente pela esplêndida técnica do caçador e preparador Villa-Real (Pacheco 1995a), pois não têm etiquetas. A preparação deste material lembra a de Bourgain, outro taxidermista muito bom (material do Museu Nacional, caracterizado pelo modo de amarrar os dedos internos). Os espécimes de Bourgain, entre eles aves interessantes como es gle, ticn)phes go undul trazem uma pequena s e etiqueta escrita em francês, onde encontramos dia, mês, ano (por volta de 1891), sexo, raras vezes a procedência. Em meados de 1880, o anatomista britânico W. H. Forbes trabalhou em Pernambuco, região não mais pesquisada desde Swainson; um dos seus achados foi o icterídeo us (Sc1ater 1886) espécie até há pouco mal conhecida. Na revista Ibis o próprio Forbes (1881) publicou alguns resultados. O entomologista francês Pierre Emille Gounelle, após ter trabalhado em Minas Gerais, penetrou também no Nordeste - Bahia, Pernambuco (1892/93) e Ceará, chegando até o Pará. Gounelle interessava-se principalmente por beija-flores; coletou na Serra do Caraça (1899) e stes perto de Diamantina (1903), Minas Gerais, Seu nome foi perpetuado em ídet gounellei Boucard, 1891. Em Mato Grosso e Rio Grande do Sul viajou Herbert H. Smith, cujas coleções foram elaboradas por J.A. Allen (1891-1893); o Museu Nacional do Rio de Janeiro recebeu algumas das duplicatas. Neste meio tempo, havia chegado ao Brasil (em 1880) Hermann von Ihering (1850-1930), fixando-se no Rio
. ...
\
.
56
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Grande do Sul, onde viveu longo tempo, exercendo a dupla atividade de clínico e de naturalista (sendo formado nas duas disciplinas). Foi convidado em 1894para dirigir o Museu Paulista, cargo que exerceu durante 25 anos (até 1916). Seu principal interesse era a distribuição geográfica dos animais na América do Sul, estudos que contribuíram decididamente para a realização da do publicada em 1927, sua obra pouco antes de sua morte, na Alemanha. Era um cientista universal. Trabalhou sobre todas as classes de vertebrados, sobre botânica e paleontologia; foi autoridade mundial em malacologia. H. von Ihering fez tudo para ampliar as coleções de aves do Museu Paulista, dando ênfase a reunir ao lado das coleções expostas, material seriado destinado exclusivamente ao estudo científico. Obteve a colaboração de várias pessoas; como a do farmacêutico Ricardo Krone, de Iguape, São Paulo, que mandou material também para o Museu Nacional do Rio de Janeiro e Museus da Europa e dos EUA. Embora as aves fossem a predileção de Krone (foi o primeiro a descrever o ninho da araponga, no Estado de São Paulo, em 1903), ele se tornou mais citado por suas escavações pré-históricas (sambaquis). Outros nomes conhecidos, na época, são os de J. Zech, A. Hempel, A. Hummel, Valêncio Bueno (v. lenciobuenoi Ihering, 1902), e principalmente dois naturalistas viajantes do Museu, Ernst Garbe e João Leonardo Lima. Fernando Schwanda forneceu im[asciolaia portantes peças do Maranhão, p. ex. na década de 1900 (Pinto 1945). H. von Ihering dedicou-se tanto à sistemática (classificação) como à biologia, usando o conhecimento desta para afirmar conclusões morfológicas. Estudou ninhos e ovos de pássaros. Já na virada do século começou a debater em prol da conservação da natureza, reclamando uma lei federal de caça e proteção às aves. Deixou mais de 300 trabalhos, na sua maioria referentes à zoologia, incluindo longos estudos sobre insetos sociais. Sobre aves publicou, às vezes, junto com seu amigo Berlepsch. Seu filho, Rodolfo von Ihering, trabalhando na piscicultura, tornou-se mais conhecido como divulgador, destacando-se seus livros dos nossos n eD io dos do (reeditado pela Universidade de Brasília), obras didáticas' excelentes, baseando-se exclusivamente na fauna indígena, ao contrário de outros livros de zoologia deste país. Pouco após a vinda de Ihering, veio ao Brasil o suíço Emil A. Goeldi (1859-1917), formado em Jena com o conhecido filogenista Ernst Haeckel. Durante pouco tempo foi funcionário do Museu Nacional, Rio de Janeiro, e estudou a avifauna da região de Cantagalo, neste Estado. Assumiu em 1894 o encargo de reorganizar o Museu Paraense de História Natural e Etnografia, existente desde 1866, instituto que hoje possui seu nome: Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG). Goeldi começou o estudo sistemático da Amazônia, reunindo boas coleções, sobretudo de aves e mamíferos. Adquiriu alta reputa-
ção com seus dois livrinhos de divulgação: (1893) e do (1894), este com o suplede (1900a 1906), mento ilustrativo coleção de 48 pranchas coloridas, executadas magistralmente por Ernst Lohse, excelente desenhista, pintor e litógrafo do Museu e bom conhecedor do ambiente amazônico e suas belezas, morto em 1930 na porta do Museu por revolucionários. Contribuíram, naquele tempo, para o estudo das aves da região, os funcionários do Museu, Gottfried Hagmann (suíço) e H. Meerwarth (alemão). O t do foi uma das primeiras revistas científicas brasileiras de vulto internacional. Goeldi regressou em 1905 à pátria, onde desenvolveu ainda grande atividade como professor universitário.
do
2.5
SÉCULO
XX
Chamada por Goeldi, chegou em 1905 a Dra. Emilie Snethlage (1868-1929) ao Museu de Belém, após ter trabalhado no Museu de Berlim comA. Reichenow; foi uma das primeiras mulheres que fizeram o Ph. D. na Alemanha, em 1904. Assumiu mais tarde o cargo de chefe da zoologia e de Diretora (1914) do Museu Pàraense. Oswaldo Rodrigues da Cunha. pesquisador e historiador do Museu Paraense, escreveu: "Ernilie Snethlage, em toda a América do Sul, foi a única mulher cientista a ocupar uma posição administrativa elevada em uma instituição científica de renome". Snethlage era muito ativa no serviço de campo. Procurou as áreas mais inóspitas da Amazônia, por serem justamente as mais promissoras em espécies mal estudadas. Realizou em 1909a travessia Xingu-Tapajós, Pará, expedição que lhe deu ensejo, ao lado de amplas pesquisas sobre a fauna e flora, a corrigir o mapa geográfico da região (rios Iriri, Curuá e [amauxirn) e fazer um extenso vocabulário da língua dos Chipaya e Curuahé. Prova mais eloqüente de sua coragem foi quando amputou, ela mesma, com um facão emprestado, o dedo médio de sua mão direita, machucado seriamente por piranhas. Penetrar na Amazônia mais longínqua era, naquele tempo. tarefa extremamente árdua para uma mulher. Emilie Snethlage viajava quase sempre sem outra comi,tiva que os tropeiros e remadores. Quando certa vez, um cientista do Museu Nacional, Rio de Janeiro, tentou acompanhar Snethlage a uma viagem ao interior de Goiás; a resposta dela foi negativa: "Eu, em viagem, só espero por mim." Ela tinha uma linguagem sóbria e simples. Quando certo dia recebeu uma carta endereçada "Ao Sr. Dr. Emílio Snethlage" ela disse: '/Isto convenceu-me de que havia feito trabalho de um homem." Inspirou respeito aos selvagens pela sua personalidade, bondosa mas enérgica e destemida, e pelos seus cabelos longos e cheios, pretos, dando-lhe uma dignidade igual à do cacique. Impressionou sua extrema simplicidade. "Em poucas horas tomara de assalto as simpatias da gente" (Moraes 1938)..
BREVE
Trabalharam sob sua orientação os preparadores Francisco Queirós Lima e Oscar Marfins. sendo o primeiro tratado por ela como um filho. Permaneceu a serviço do Museu Goeldi até 1921, quando se esgotaram os recursos do Estado do Pará devido à crise da borracha. Em pouco tempo, Snethlage era considerada a maior autoridade da avifauna amazônica, principalmente da região do baixo Amazonas que, na literatura especializada, era chamada "a área da Snethlage". De 1922 a 1929 Snethlage foi naturalista viajante do Museu Nacional do Rio de Janeiro, sob a Diretoria de Arthur Neiva e, nos últimos anos, Edgard Roquete Pinto. Em 1923/24 esteve no Maranhão, junto com seu primo Dr. Heinrich Snethlage (1897-1939), do Museu de Etnologia de Berlim, muito interessado em aves e que trabalhou três anos (até 1926) no Nordeste, deixando um grande relatório com notas biológicas sobre a avifauna (1928), enquanto C. E. Hellmayr (1929) realizou a apreciação sistemática. Heinrich Snethlage deixou também um trabalho botânico: a descrição de novas espécies de imbaúba, Emilie Snethlage visitou em 1925/26 o Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, em 1927, Goiás, em 1928 todos os estados meridionais até o Rio Grande do Sul e Mato Grosso, em 1929 a Serra do Caparaó, Minas Gerais e o rio Madeira. Encontrou-se na Serra do Caparaó com Emil Kaempfer, 'coletor alemão, que, de 1926 a 1931, fez gran- . des coleções de aves no Brasil oriental para o Museu Americano (American Museum of Natural History), v. . Do material, colesob o beija-flor tado por E. Snethlage para o Museu Nacional, existe, neste Museu, uma relação datilografada por ela mesma, constando a identificação específica e subespecífica, faltando apenas a relação dos espécimens da sua última viagem. Em 1926, E. Snethlage tomou posse na Academia Brasileira de Ciências como membro correspondente, homenageada por Alípio Miranda-Ribeiro (1936),com uma lista de suas publicações. Emilie Snethlage interessava-se sobretudo por zoogeografia e ecologia; queria saber mais sobre a evolução de formas vicariantes: raças geográficas e as "espécies geográficas" ou aloespécies, o fenômeno mais intrigante que o estudo da fauna amazônica apresenta. Snethlage foi uma das primeiras pesquisadoras a compreender a ação da evolução neste sentido, colhendo, ela mesma, as respectivas comprovações com a espingarda, uma Flaubert, durante seus levantamentos bem planejados. Preparou as peças coletadas com grande habilidade. Tinha uma predileção por pica-paus, papaformigas e vireonídeos. Estudando a reprodução das aves, coletou ninhos e ovos. Uma dedicação à "ornitologia de campo" que havia sido desprezada pelos.antígos sistema tas, que a consideravam uma ocupação vulgar que cabia aos coletores que forneciam as aves empalhadas aos gabinetes de história natural. Deste modo Snethlage tornou-se pioneira (v. a nossa dedicação deste livro a ela). Já passaram pelo Brasil outros pre-
HISTÓRIA
DA ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
57
cursores da ornitologia de campo como, p. ex., o príncipe de Wied. Não conseguimos saber até que ponto Snethlage estudou a vocalização das aves (o nosso interesse principal), que pode dar as melhores sugestões sobre o parentesco das aves. As coleções de Snethlage (coletou também mamíferos) são o fundamento da coleção ornitológica tanto do Museu de Belém como o do Rio de Janeiro. Snethlage descreveu aproximadamente 60 espécies e subespécies novas de aves. Outros cientistas também receberam seu material; ela tinha contato com o Conde Hans von Berlepsch (1850-1915,Castelo Berlepsch), Prof. A. Reichenow (Berlim), Dr. R. B. Sharpe (Londres), A. Menegaux (Paris), Dr. Ernst Hartert (Tring, 1859-1933), C. E. Hellmayr (Munique, 1878-1944)e ultimamente com o Prof. Dr. E. Stresemann (Berlim, 1889-1972, tornandose mestre do autor desde 1933). Snethlage identificou seu material durante visitas que fez aos museus europeus. Berlepsch, cuja coleção, rica em material brasileiro, foi posteriormente incluída aos acervos do Museu Senckenberg, Frankfurt, dedicou um gênero de tiranídeo à grande ornitóloga: . Sua maior obrá é o C t logo d s es s (1914). Outros trabalhos, publicados na Alemanha, tratam da nidificação das aves; (1935). Parece que se o maior foi publicado posiperdeu um manuscrito sobre oologia da avifauna paraense durante o preparo do VI Congresso Internacional de Ornitologia em Kopenhagen (1926). Lutando desde 1909 contra a malária, Snethlage faleceu a 25 de novembro de 1929, por um enfarte, durante uma excursão ao rio Madeira, em Porto Velho, Mato Grosso. Na sua cruz consta apenas a data de sua morte, não de seu nascimento. Soubemos em 1941 Ror Fritz von Lutzow, Baixo Guandu, Espírito Santo, anfitrião de Snethlage na- . quela cidade, que ela, considerando seu trabalho ornitológico neste país bem adiantado, pensou em regressar à Alemanha para elaborar uma extensa obra sobre as aves do Brasil. Em 1894, ano no qual Goeldi assumiu a direção do Museu de Belém, Alípio de Miranda Ribeiro (1874-1939) foi admitido como secretário interino do Museu Nacional, Rio de Janeiro, depois como chefe da zoologia. Encontrou em Carlos Schreiner, mais tarde corri Pedro P. Peixoto Velho e Bruno Lobo, colegas e amigos. Alípio. de espírito empreendedor e infatigável trabalhador, interessou-se por vários grupos de animais, principalmente peixes (fundou e dirigiu a Inspetoria de Pesca), mas também batráquios, mamíferos e aves. Percorreu quase todo o país em excursões científicas. Integrou a Comissão Rondon e suas notáveis expedições de 1908 a 1909 (Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas) e classificou o material oriundo da Expedição Ruosevelt-Rondon até o fim. As coleções. posteriores foram feitas pelos botânicos Frederico Carlos Hoehne e João Geraldo Kuhlmann. A expedição continuou até 1915 sob a chefia do próprio Rondon e Theodore Roosevelt, Participaram Henrique Reinisch
"
,
J
.
58
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
(que depois trabalhou na Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro, v. Schneider & Sick, 1962), Leo E. Miller, George K. Cherrie (os dois últimos no serviço do American Museum of Natural Hístory). e, finalmente, Emil Stolle (v. 1. Roosevelt h ough the editado s do il). Alípio depois em português como M. Ribeiro tomou posse na Academia Brasileira de Ciências em 1917. Trabalharam na época, no Museu Nacional, Carlos Moreira, especialista em crustáceos, que se tornou mais conhecido no ramo da ornitologia pela descoberta do furnarídeo l Ribeiro, 1906, aliás um dos pássaros mais comuns no alto de Itatiaia, provando como era fácil, naquele tempo, arranjar novidades. Como preparador serviu Eduardo Siqueira. Um dos colecionadores de Alípio era o fazendeiro alemão Rudolf Pfrimer, vivendo em Goiás, e José Blaser que obteve um casal do raro pato-mergulhão, us oct us, para o Museu Nacional. Alípio criou leucotis i, de Goiás. Pedro a subespécie Peixoto Velho trouxe material da Ilha da Trindade, em 1916. Miranda Ribeiro teve oportunidade de visitar a Europa e os Estados Unidos, em 1911. Em 1920 publicou sua revisão dos psitacídeos brasileiros. Boa parte dos seus trabalhos, como as monografias sobre a seriema, t (1938a), e os tinamídeos (1938b), incluiu nas suas tológic Emilie Snethlage dedicou-lhe o furnae. rídeo e o tiranídeo Idioptilon Alípio Miranda Ribeiro foi pioneiro na zoologia brasileira visto que, até os fins do século XIX, a fauna deste país foi estudada quase exclusivamente pelos naturalistas estrangeiros. Pretendia publicar uma Fauna , visando dar acesso à zoologia pátria àqueles que não contam com recursos de coleções e bibliografia das instituições científicas maiores. O Museu de Viena, Áustria, comprou no começo do século, de R. Franke, [oinville, Santa Catarina, mais de mil peças, a maioria aves cuja rotulação (1911 a 1913) freqüentemente não garante a procedência. O Paraná recebeu entre 1910 e 1924 três visitas de naturalistas poloneses sob a inic'iativa de 1. Chrostowski. Foram coletadas espécies interessantes como octoset ig e ipile O material se encontra na Academia Polonesa de Ciências em Varsóvia (Chrostowski 1912, Sztolcman 1926). Voltando aos destinos do Museu em São Paulo, verificamos que, após o término do exercício de Hermann von Ihering, as atividades da seção de Zoologia foram restringi das vários anos à boa vontade dos colecionadores Ernst Garbe e filho, João L. Lima e filho, Herrnann Lüderwaldt e José Pinto da Fonseca. Em 1929 Olivério M. de O. Pinto, formado em medicina, foi admitido como assistente do Museu, o qual era dirigido por Afonso d'Escragnole Taunay Não se podia imaginar uma pessoa mais competente para garantir de novo e em escala bastante ampliada e moderna o desenvolvimento da
coleção ornitológica do Museu Paulista e de seu s~bseqüente progresso no Departamento de Zoologia da Secretaria de Agricultura (extinta em 1939, hoje Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo), durante quatro sucessivas administrações. Olivério Pinto obedeceu rigorosamente ao programa de exploração metódica do país. O sucesso dos taxidermistas colecionadores J. L. Lima, W. Garbe e Emílio Dente manifestou-se na obtenção da pombinha rara , do Brasil central, por W. Garbe em 1940, apanhada pela última vez por seu pai, E. Garbe, em 1904, oitenta anos após a descoberta da espécie (em 1823) por Natterer. Durante expedições ao Nordeste foi , conseredescoberto o mutum de Marcgrave, guindo-se informações sobre a possível existência da arara-azul-de-Lear odo Foram adquiridas coleções de Alfonso Olalla, coletor profissional colombiano, residente ultimamente em São Paulo, conhecidíssimo pelo imenso material amazônico que ele e outros membros da família venderam a Museus, como de Estocolmo (Conde Nils Gyldenstolpe). Estreitou-se o intercâmbio com o Museum of Compara tive Zoology (Harvard), American Museum of Natural History (Nova Iorque) e os Museus da Argentina. Foi instalada uma moderna exposição de animais agrupados em seu ambiente natural. Olivério Pinto submeteu-se à elaboração meticulosa de tudo, principalmente da sistemática, baseado num conhecimento profundo da literatura e da história. Contribuição importante sobre a biologia das aves é sua publicação sobre a coleção Carlos Estevão, de peles, ninhos e ovos das aves de Belém, Pará (1953). Seu trabalho, exaustivo e extremamente apurado, é. também estilisticamente aprimorado. O renome de O. Pinto não ficou restrito ao seu meio, e sim tornou-se conhecido em amplos CÍrculos. Teve, por algum tempo, a boa colaboração de seu cunhado EuricoA. de Camargo. Em 1945 J. Lee Peters dedicou a Olivério, pintei, de Goiás. go do (1938/44), de Olivério O Pinto, cujo primeiro volume (Rheidae até Rhinocryptidae) foi reeditado em 1978 pelo próprio autor, é a base para qualquer trabalho ornitológico sisteliense mático deste país. Sua grande obra (1964, Volume I) ficou inacabada. Nestor da ornitologia brasileira, celebrou seu 80 aniversário em 1976; faleceu em 1981. Pinto era na ornitologia um dos maiores nomes internacionais. Na oportunidade da celebração do 120 aniversário de fundação do Museu Goeldi, MPEG, em 1986, foi editado um volume bem ilustrado, com texto de Oswaldo Cunha, historiador do Museu.Aseção de aves do MPEG, abandonada há muitos anos, se desenvolvera da melhor maneira com a transferência da Instituição ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e com a dedicação de Fernando C. Novaes. à reorganização de suas coleções [Silva & Oren 1992]. 0
0
3
3.1
Conservação
no
O movimento conservacionista brasileiro está enraizado em tempos coloniais; foi José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) que formulou: "A natureza fez tudo a nosso favor, nós, porém, pouco ou quase nada temos feito em favor da natureza". Destacaram-se também as preleções de Hercules Florence (1877): "Vede, por tod~ a parte neste imenso Brasil tombam aos golpes do destruidor machado e a poder de fogo e do incêndio dilatadas e seculares florestas, abrigo de inúmeros quadrúpedes e voláteis. Perdidos os sombrios recantos que lhes são precisos, tornar-se-ão cada vez mais raros, esquivos; e por fim de todo sumir-se-ão, inocentes vítimas da conquista do homem à solidão. Quem conservará a exata representação do modo por que exprimiam esses seres seus sentimentos ou modulavam seus cantos, se não for a zoofonía?" Usando um sistema modificado de notas musicais, Florence, de 1831 em diante, desenvolveu sua muito original "zoofonia": simbolizando a vocalização de animais brasileiros, sobretudo aves (Nomura 1959). , Em 1876 surgiu a primeira proposição para se criar Parques Nacionais no país. Animado com a criação em 1872 do primeiro Parque Nacional do mundo Yellowstone, nos EUA - foi proposto a criação de dois Parques Nacionais: Ilha do Bananal e Sete Quedas. Mas decorreram muitas décadas antes do surgimento em 1937, do primeiro Parque Nacional decretado no Brasil, o do Itatiaia. Em 1939 foram criados os de Iguaçu e da Serra dos Órgãos. Em 1961 foram criados vários parques, alguns até mesmo em um só dia, como os Parques Nacionais de Brasília, Caparaó, Chapada dos Veadeiros, Emas, Monte Pascoal, São Joaquim, Sete Cidades e Sete Quedas. Durante muitos anos o serviço de Parques Nacionais foi favorecido pela iniciativa de Maria Tereza Jorge Pádua (Pádua & Coimbra Filho 1979). Em 1958 foi instituída a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN), entidade não governamental, sob a iniciativa de José Cândido de Meio Carvalho, Harold E. Strang, Wanderbilt Duarte de Barros, Almirante Ibsen de Gusmão Câmara, Alceo Magnanini e outros. A FBCN tem por objetivo: recomendar e realizar uma ação nacional no sentido de conservar osrecursos naturais renováveis e não-renováveis, e em especial a flora e fauna, as águas, o solo, as paisagens e os monumentos naturais, inclusive pleiteando a reserva de áreas que tenham valor científico, histórico, estético ou que apresentam importância econômico-financeira vital ao
bem-estar futuro do povo. Com o símbolo a FBCN escolheu o curupira do folclore indígena (fig. 25), espírito bom e protetor que defende os animais e plantas, ao contrário do saci-pererê (v. sob Cuculidae, O curupira possui os pés virados para trás, característica que utiliza para despistar os predadores e destruidores da nossa natureza, fazendo-os perder a trilha ou rastro da caça; ajuda os animais feridos a se recuperarem. A entidade governamental responsável pela conservação da natureza e, em particular, dos Parques Nacionais e de mais Unidades de Conservação é hoje o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA, com a Diretoria de Ecossistemas), congregando a ex~SEMA, ex-IBDF e ex-SUDEPE. A grande preocupação dos conservacionistas brasileiros com a destruição progressiva da natureza, refletiu na fundação de duas entidades conservacionistas importantes não governamentais no mesmo ano, desde então desenvolvendo grandes atividades: em julho de 1986 foi criada em Brasília a Fundação Pró-Natureza, FUNATURA, com o objetivo de contribuir com a conservação dos recursos naturais renováveis em todas as regiões do país e em setem.bro do rnesrno ano em. São Paulo foi lançada a Fundação S.O.s. Mata Atlântica com o objetivo prioritário de defender os 5% restantes de Mata Atlântica e biomas associados, como manguezais e restingas.Ambas recebem ajuda financeira institucional externa, sobretudo dos EUA: União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais
Fig. 25. Curupira, logotipo da Fundação Brasileira para a Con~ervação da Natureza (FBCN).
60
ORNITOLOGIA
(IUCN),
BRASILEIRA
i
e (WWF),
(TNC), Conservation
International
e (CI) e
outras.
3.2
de Conse
õo c; - ' - -
O Brasil possuía em 1989, 34 Parques Nacionais, 19 Reservas Biológicas Federais e 20 Estações Ecológicas a nível nacional. Com mais algumas" Áreas de Proteção Ambiental" e "Reservas Ecológicas" o total de áreas protegidas perfaz 2,05% da extensão territorial. De acordo com estatísticas mundiais, as áreas naturais protegidas atingem no mundo uma média de 3,2% por continente. Outros países, também do terceiro mundo, apresentam percentagens bem mais expressivas que o Brasil como a Indonésia 16%, a Venezuela 8% e a Costa Rica 8%. O.estabelecimento de quadros comparativos de percentagens não é cientificamente adequado, pois o que é relevante é a representatividade de ecossistemas abrangidos pelas áreas protegidas. Há vários Parques e Reservas Biológicas a nível estadual de suma importância p. ex., Parque Estadual Carlos Botelho (37.640 ha), São Paulo onde se pode ver e o maior macaco do cona rara jacutinga, pile j cutin tinente, o mono ou muriquí, teles chnoides. A lei permite reconhecer, em todo o território nacional, como "Refúgios Particulares" áreas de propriedade privada, onde a caça de animais nativos é proibida por iniciativa do proprietário, amparado por ato específico do poder público. Tais refúgios foram registrados em bom número, p. ex. no município de Corumbá. Mato Grosso e no Paraná. O Rio Grande do Sul tornou-se pioneiro em legislação preservacionista; em 1971 foi a Associação de Proteção ao Ambiente (AGAPAN), sendo José Lützenberger um de seus fundadores. Deveríamos aproveitar as áreas que estão sob jurisdição das Forças Armadas para a preservação da fauna e repovoamentos, uma vez que estas áreas são invioláveis. É, aliás, um erro achar que a preservação da natureza se faz apenas em parques e reservas oficiais [ou que estes, a partir de sua simples decretação, garantirão a perenidade dos recursos naturais que abrangem ~m suas áreas.] Lembremos ainda que o Brasil detém 33% do que resta de matas tropicais do planeta, o maior número de espécies de psitacídeos, e o maior número de espécies de prima tas conhecidos, o maior número de plantas superiores e o maior número de espécies de peixes de água doce. O Brasil figura entre os países que abrangem a maior diversidade biológica. Este enorme patrimônio genético tem de ser preservado em sua representatividade para benefício das atuais e futuras geraçõês.
Informações sobre os hábitats e a avifauna típica das respectivas regiões acham-se no capítulo "O País e suas Aves".
3.2.1
UNIDADES
DE CONSERVAÇÃO
DA AMAZÔNIA
BRASILEIRA
(Os n
en e 26)
nteses in
lo li
dos
Estado do Amazonas Parque Nacional do Pico da Neblina (23) Parque Nacional do [aú (22) Reserva Biológica do Abufari Estação Ecológica de Anavilhanas Estado do Pará Parque Nacional de Amazônia (21) Reserva Biológica do rio Trombetas Estação Ecológica do [ari Estado de Rondônia Parque Nacional de Pacaás Novos (24) Reserva Biológica do [aru Reserva Biológica do Guaporé Estação Ecológica de Cuniã Estado do Maranhão Reserva Biológica do Curupi Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (19) Território do Amapá Parque Nacional do Cabo Orange (20) Reserva Biológica do Lago Piratuba Estação Ecológica de Maracá-Jipioca . Território de Roraima Estação Ecológica de Maracá Parque Nacional Monte Roraima (33) Estado do Acre Parque Nacional da Serra do Divisor (34) Estado do Mato Grosso Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (26) A ameaça pela qual a flora e a fauna da Amazônia passa é o resultado da ocupaçãodesordenada da região que tem assumido proporções extraordinárias.
3.2.2
UNIDADES
DE CONSERVAÇÃO
DO CERRADO
Estado de Goiás Parque Nacional do Araguaia (25) Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (30) Parque Nacional das Emas (28)
J Esta parte foi beneficiada por informações recebidas de Maria TerezaJorge Pádua, Presidente da Fundação Pró-Natureza (FUNATURA)e do AlmiranteIbsen de Gusmão Câmara,Presidente da FundaçãoBrasileirapara a conservaçãoda Natureza (FBCN).
CONSERVAÇÃO
Estado de Minas Gerais Parque Nacional da Serra da Canastra (10) Parque Nacional da Serra do Cipó (11) Parque Nacional Grande Sertão Veredas (31) Estado do Piauí Parque Nacional de Sete Cidades (18) Estação Ecológica de Uruçui-Una Distrito Federal Parque Nacional de Brasília (29) Tendo em vista a célere destruição dos ecossistemas da região do cerrado para dar lugar a imensas monoculturas de soja, arroz, e cana-de-açúcar com a geral.mente completa destruição das matas ciliares e onde não se observa os 20% de proteção exigidos por lei (Código Florestal), a fauna está sendo profundamente dizimada. Devido à esta insana destruição de hábitats, as pragas agrícolas vem aumentando por conseqüência da eliminação de seus predadores naturais, como as emas. As matas ciliares devem ser encaradas com especial atenção quando se trabalha com a preservação dos cerrados do Brasil Central e Centro-Sul.
3.2.3 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA CAATINGA Estado do Piauí Parque Nacional da Serra da Capivara
(16)
de 81,8% - hoje resta menos que 5%, quase tudo sob categorias de áreas protegidas como Parques Nacionais, Parques Estaduais, Reservas e Estações Ecológicas. Este quadro se repete em outros Estados como o Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Paraná, entre outros. Estado do Rio de Janeiro Parque Nacional do Itatiaia 4 (7) Parque Nacional da Serra dos Órgãos (9) Parque Nacional da Tijuca (8) Parque Nacional da Serra da Bocaina5 (6) Reserva Biológica de Poço das Antas Estação Ecológica dos Tamoios Estação Ecológica Piraí Estado do Espírito Reserva Biológica Reserva Biológica Reserva Biológica Lombardia) Reserva Biológica
Santo do Córrego do Veado de Sooretama Augusto Ruschi (ex-Nova de Comboios
Estado de São Paulo Estação Ecológica da [uréia Estação Ecológica dos Tupiniquins Estado de Minas Gerais Parque Nacional do Caparaó (12) Estação Ecológica de Pirapitinga
Estado do Ceará Estação Ecológica de Aiuaba Parque Nacional de Ubajara (17)
Estado da Bahia Parque Nacional de Monte Pascoal (14) Reserva Biológica de Una
Estado da Bahia Estação Ecológica do Raso da Catarina Parque Nacional da Chapada Diamantina
Estado do Paraná Estação Ecológica de Guaraqueçaba (15)
Estado de Pernambuco Reserva Biológica de Serra Negra
61
Estado do Sergipe Estação Ecológica de ltabaiana Estado de Pernambuco Estação Ecológica de Mamanguape
3.2.4 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA MATA DE ENCOSTA ATLÃNTICA, MATA ATLÃNTICA
Outrora a mata da encosta atlântica cobria toda uma faixa que começava no nordeste e ia até os estados do sul do país. Esta faixa, que sustentou o homem brasileiro por quatro séculos, recebeu pouco erp troca - foi fulminantemente destruída pelo ímpeto do desenvolvimento. Ocupando antes 350.000 km2 restou, em 1985, apenas 3% de sua área primitiva. O Estado de São Paulo, por exemplo, possuía uma cobertura florestal na ordem
4 5
Concluindo, a respeito da mata da encosta atlântica há que se ressaltar que não obstante o número relativamente grande de Parques, Reservas, Estações Ecológicas e Florestas Nacionais existentes, a soma é de apenas 300.000 ha protegidos, sob essas categorias. Felizmente existem muitos Parques e Reservas Estaduais, e Áreas de Proteção Ambiental neste bioma tão severamente depredado. Tudo o que ainda resta da Mata de Encosta Atlântica deveria ser- preservado para benefício e gozo das gerações futuras. .
O Parque Nacional do Itatiaia está localizado nos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. O Parque Nacional da Serra da Bocaina abrange áreas do Estado do Rio de Janeiro e São Paulo.
62
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
70'
10'+
50'
50'
+'0'
+
75'
0'+
32
@
34
10'+
.....
+10'
75'
32'
'"'""
-...
"' @ Parque Nacional
@
Capital Estadual
30'+ 50'
o
500 km
Fig. 26. Parques Nacionais do Brasil (mapa preparado capitais estaduais. 1 - Lagoa do Peixe (RS) 2 - Aparados da Serra (RS) 3 - São Joaquim (SC) 4 - Iguaçu (PR) 5 - Superagui (PR) 6 - Serra da Bocaina (SP IRJ) 7 - Itatiaia (RJ/MG) 8 - Tíjuca (RJ) 9 - Serra dos Órgãos (RJ) 10 - Serra da Canastra (MG) 11 - Serra do Cipó (MG) /E ) 12 - Caparaó
por Francisco 13. Pontual). Círcufõs..,~,'Parques Nacionais;
13 - Marinho de Abrolhos (BA) 14 - Monte Pascoal (BA) 15 - Chapada Diamantina (BA) 16 - Serra da Capivara (BA) 17 - Ubajara (CE) 18 - Sete Cidades (PI) 19 - Lençóis Maranhenses (MA) 20 - Cabo Orange (AP) 21 - Amazônia (=Tajapós) I AM) 22 - Jaú (AM) 23 - Pico da Neblina (AM) 24 - Pacaás Novos (RO)
Triângulos =
25 - Araguaia (TO) 26 - Chapada dos Guimarães (MT) 27 - Pantanal Matogrossense (MT) 28 - Emas (GO) .. 29 - Brasília (DF) 30 - Chapada dos Veadeiros (GO) 31 - Grande Sertão Veredas (MG) 32 - Fernando de Noronha. 356 km da costa do RN, 3°50'S, 32"25'0 33 - Monte Rorairna (RR) 34 - Serra do Divisor (AC)
CONSERVAÇÃO
3.2.5
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO PANTANAL
MATOGROSSENSE
Uma imensa região, abrangendo cerca de 200.000 km-, está situada a oeste do Brasil entre os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que abarca 2/3 de sua extensão. Ecossistema único na face da Terra, é um misto de Amazônia com Cerrado, tendo adquirido suas próprias características, ao longo do tempo. Estado de Mato Grosso Parque Nacional do Pantanal (27) Estação Ecológica de Taimã
3.2.6.
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO PLANALTO
SUL BRASILEIRO
Predominam nesta região as rochas eruptivas básicas. Engloba solos férteis, tradicionalmente usados para a agricultura e pecuária tendo assistido um desmatamento cruel. Em poucas décadas esta região foi devastada e violentada sofrendo em conseqüência um enorme processo erosivo e assoreamento do sistema fluvial o que acarreta enchentes regulares na região. Estado do Rio Grande do Sul Parque Nacional de Aparados da Serra (2) Parque Nacional da Lagoa do Peixe Estação Ecológica do Taim Estação Ecológica de Aracuri-Esmeralda Estado de Santa Catarina Parque Nacional de São Joaquim (3) Estação Ecológica de Carijós Estação Ecológica de Babitonga Estado do Paraná Parque Nacional de Iguaçu (4) Parque Nacional Superagui (5)
.3).7
UNIDADES I?.ECONSERVAÇÃO MARINHAS
Existem três unidades de conservação marinhas: o Parque Nacional Marinho de Abrolhos (13), o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (32) e a Reserva Biológica do Atol das Rocas. CONCLUSÃO
As leis para proteger a flora e a fauna brasileira são ótimas mas falta a fiscalização. O desempenho da então diretora dos Parques Nacionais Maria Tereza Jorge Pád ua, e do então Secretário especial do Meio Ambiente, Paulo Nogueira-Neto, valeu-lhes em 1982 o "Prêmio GE1TY", também chamado o "NOBEL da Conservação Mundial".
63
Pode parecer, tendo em vista onúmero de unidades de conservação, a nivel federal, criadas no Brasil que a situação é boa. No entanto, embora o número seja expressivo a soma total das áreas é Ínfima em relação à extensão territorial do país - cerca de 2% apenas. Além do mais há que se ressaltar que a maioria das unidades decretadas não sofreu implantação. Grande parte de suas terras ainda encontram-se em mãos de particulares; não existe fiscalização adequada, nem tampouco infra-estrutura administrativa e científica. Dois Parques Nacionais já foram extintos para a instalação de usinas hidroelétricas: o de Paulo Afonso que fora criado em 1948, extinto em 1968 e o de Sete Quedas que fora criado em 1961 extinto, também após 20 anos, em 1981. O Parque Nacional do Araguaia foi cortado por uma estrada para atender a um empreendimento agropecuário projetado após a criação do parque. É o potencial econômico que manda. Muitas unidades sofreram reduções drásticas em seus limites sendo o caso mais expressivo o do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado em 1961, com cerca de 600.000 ha e após sucessivos decretos' de redução encontra-se hoje . com 60.000 ha. Uma nova ameaça agora no Parque do Iguaçu são os helicópteros que sobrevoam a área para que turistas possam ver melhor as cataratas (v. Andersen et 1989, que aborda a reação de gaviões.em reprodução para com helicópteros) . Concluindo parece que as unidades de conservação do Brasil não têm dono, são terras de ninguém, onde tudo acontece, desde o fogo, a caça, a extração de madeiras,
de pedras,
a pesca predatória,
rodovias,
hidroelétricas, linhas de transmissão, etc. Das 32 Estações Ecológicas, 11 ainda aguardam decretação.
\ 3.3 O
dos
O Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos flores, em tais (PDBFF), execução na Amazônia tem como propósito pesquisar a dinâmica biológica de fragmentos florestais, focalizando a manutenção de ecossistemas, de forma a estabelecer as bases biológicas fundamentais para o planejamento e manejo de Parques e Reservas (Lovejoy & Oren 1981). Esse estudo é particularmente importante em face dos projetos agropecuários em desenvolvimento na Amazônia e do conseqüente desmatamento de grand.es áreas. Ao norte de Manaus em extensa região de mata primária (existindo até grandes mamíferos, como anta e onça), condenada a transformar-se em campos de pastagem, estão sendo delimitadas 12 áreas entre 1 e 10.000 hectares a serem consideradas reservas inalteráveis. Nestas áreas, distantes umas das outras 500 a 2.000 metros, são feitos constantes levantamentos de fauna (sobretudo de aves, por anilhamento, usando também anilhas colori-
64
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
das e radiotelemetria) bem como da flora, para estudar os efeitos do progressivo isolamento dessas parcelas, implicando um continuado empobrecimento de espécies, tanto de animais como de plantas. O projeto "Tamanho Mínimo" era executado e financiado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF-US) e o Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), tendo a duração prevista de vinte anos (Recentemente o Smithsonian Institution assumiu a posição de principal patrocinador americano). Assim se consegue os primeiros dados sobre a dinâmica de populações de animais de todas as classes em fragmentos florestais, permitindo conclusões sobre delimitações de unidades de conservação. As reservas florestais (o mesmo vale para reservas de campo primário, banhados, manguezais, etc.), localizadas no meio de uma ambiente antropogênio hostil, assemelham-se a ilhas oceânicas, separadas dos continentes aos quais estiveram ligadas em outras épocas. Entre os primeiros que chamaram a atenção para esse tipo de biogeografia dinâmica estão R. H. MacArthur e E. O. Wilson (1967). Para as reservas vale um raciocínio semelhante (não igual) ao usado para as ilhas: ilhas maiores hospedam mais espécies, tanto de animais como plantas, que ilhas menores., O lugar clássico onde foi estudado o declínio da fauna pelo isolamento da área é C lsl área de 15,6 km2 de mata tropical, que se tornou uma ilha quando foi criado um grande lago na região do Canal de Panamá, no começo do século. Barro Colorado tornou-se um espetacular laboratório natural, mas falhou como boa reserva, comprovando que a área é pequena para preservar os elementos mais sensíveis do ecossistema em questão, Levantamentos executados em três matas residuais de São Paulo (1.400, 25 e 21 hectares) revelaram que restavam 202, 146 e 93 espécies de aves, respectivamente, correspondendo a 87,8%, 63,5% e 40,4% do provável s original, isto é, numa mata extensa local, onde 'deveriam hospedar-se cerca de 230 espécies (Willis 1979). "', bs alterações humanas drásticas da paisagem implicam que o resto do ambiente natural pode tornar-se pequeno demais para abrigar espécies de animais que exigem um espaço mais amplo para sobreviver. Não é possível preservar a avifauna oferecendo-lhe apenas sobras de hábitat, p. ex. um sítio de poucos hectares, desrespeitando mínimas exigências. A densidade populacional de muitas espécies é baixa, sobretudo na Amazônia. Tanto maior tem que ser a área a proteger para a sua preservação. 'Manter aves voláteis em pequenas áreas ou lotes de mata e campos primitivos, espaços entre terrenos cultivados, impede-as de manter o ciclo biológico durante todo o ano. Muitas espécies; após a reprodução, costumam empreender migrações locais, ligadas em geral à procura de alimentos diferentes, como certas frutas e sementes cuja ocorrência pode ser local e varia durante o ano.:.É o caso p. ex. dos tucanos, papagaios e cotingídeos.
Aves de grande porte, como muitos gaviões, não se fixam logo em um território. Durante os primeiros anos de sua vida, quando ainda não se reproduzem, perambulam numa vasta região, e também durante a reprodução muitos rapineiros estão acostumados a voar para longe a fim de encontrar presas adequadas. Para um gavião-real foi calculado na Guiana Francesa um território de entre 100 e 200 km-. No cálculo da extensão de uma reserva devem ser considerados mais detalhes inesperados pelo leigo, como P: ex. o seguinte: o pavó-do-mato, u od us scu um dos maiores e mais vistosos cotingídeos ameaçados, não encontra numa área limitada de mata a quantidade adequada de machos e fêmeas para completar sua coletividade; as aves irão perder-se durante a procura malograda de mais companheiros. Entre os representantes mais ameaçados de extinção estão as espécies maiores, como gaviões, aves cinegéticas, os grandes frugívoros (papagaios, tucanos, cotingídeos, ete.) que vivem nas copas, e espécies do estrato inferior da mata que são "maus colonizadores" colonists, Terborgh & Weske 1969), como o cuculídeo e certos insetívoros terrícolas, en. A tre eles os formicarídeos maiores como as reprodução dessas aves diminui de ano para ano e não 'compensa mais a mortalidade dentro da população, levando a espécie sucessivamente à extinção sem ocorrer eventos dramáticos como destruição de hábitat e caça (Terborgh 1974). Os frugívoros são substituídos, até certo ponto, por onívoros (tiranídeos como bem-te-vis; sanhaçus e pombínhas), espécies típicas para a orla da mata. Verificamos que em restos menores de matas não aparecem mais formigas-de-correição, que, pelo seu efeito de levantar insetos e outros animalejos, tornam-se fonte importante e até indispensável de alimento para muitas aves florestais (v. sob Formicariidae). Há, em todas as espécies animais, inclusive nas aves, oscilações naturais, independentes de alterações antrópicas: aumento, declínio e extinção, freqüentemente devido a causas desconhecidas para nós. Tal processo pode ser o esgotamento genético ou o desequilíbrio intra-específico e, no decorrer dos séculos, o resultado de mudanças climáticas, como tantas vezes documentado na paleontologia. Ocorrem epizootias, capazes de erradicar uma espécie (veja sob Psittacidae). Dentre os fatores limitantes que se impõem sob con. dições ecológicas alteradas estão a escassez de lugar adequado para nidificar, como ocos em árvores de grande porte, necessários p. ex. aos tucanos e papagaios. Somem os grandes pica-paus, como Campephiius oousius, devido à falta de madeira em decomposição de onde tiram seu alimento e onde fazem seu ninho. Pica-paus ulus e enili , são mede tamanho médio, como nos atingidos. Dnjocopus / tus, do sul do Brasil, é espécie em retrocesso, ao passo que os pica-pauzinhos, tornam-se até freqüentes, tal qual também na Gl Amazônia o pequeno dendrocolaptídeo
CONSERVAÇÃO
us. No caso de Campephilus influi o tamanho considerável da espécie, que implica uma população normal de poucos indivíduos numa área relativamente extensa.Espécies grandes, como também psitacídeos e gaviões maiores, facilmente dão a falsa impressão de formar uma população estável, enquanto existe apenas um ou outro exemplar (um casal) que, pela sua longevidade, é encontrado durante muito tempo, podendo porém estar sem descendentes (sua reprodução é lenta e baixa). Quando esses indivíduos morrem ou emigram, a espécie subitamente desaparece. Na avifauna neotropica 1 existem muitas espécies de aves de tamanho médio e até pequeno que são naturalmente raras. Sua perpetuação em áreas limitadas parece ser impraticáv~l~
3.4 -,
oble ni
s de conse
o, especi
ente n
O Brasil, desde o seu descobrimento, como costuma acontecer às nações novas, sofreu um processo de desbravamento extrativista onde o machado e o fogo arrasaram tudo. O conceito de progresso e desenvolvimento significou durante séculos explorar ao máximo a flora e fauna silvestres. Valia unicamente conse~uir o domínio pleno do homem sobre omeio natural. E uma mentalidade encontrada até hoje neste país. Formulou Ab'Saber (1977b): "O brasileiro tem tido dificuldade, por uma razão ou outra, de conviver com uma paisagem onde sobreexistem florestas". Se, p. ex., alguém compra um sítio, o respectivo local tem que ser primeiramente "limpo" ("há perigo de cobras", em outras épocas eram temidos os felinos e índios que se escondiam na mata) - as árvores então são cortadas. A floresta torna-se um empecilho que precisa ser erradicada. Faltam conhecimentos da flora e da fauna. "Há que se alterar todo um contexto cultural e social para que a população brasileira, como um todo, passe a pautar seus atos por uma ética de respeito à natureza." (Ibsen de G. Câmara). O conflito entre o desenvolvimento e a conservação da natureza é um fenômeno geral a todos os países. A região amazônica é única pelas condições ecológicas que apenas durante os últimos 40 anos tem sido estudadas e esclarecidas. As noções básicas da ecologia local são até hoje pouco conhecidas. A falta de conhecimento sobre como explorar racionalmente a região leva projetos grandes ou pequenos ao fracasso. Vítima é a floresta equatorial neotrópica cuja conservação é hoje uma das primeiras prioridades na conservação da natureza mundial. Para gente não esclarecida sobre' as condições específicas do Brasil e sobretudo da Amazônia, citamos mais alguns dados adiante, inclusive alguns sobre os índios e sobre a economia local, conflitantes em alguns casos com a causa conservacionista. É válido que naturalistas que viajam neste país saibam cada vez mais sobre os problemas específicos regionais de conservação muitas vezes mal interpretados fora de sua região.
3.4.1 A
65
FLORESTA AUTO-SUSTENTÁVEL
Foi descoberto, antes de qualquer discussão, a surpreendente pobreza do solo da Amazônia em cerca de 90% das matas de "terra firme". A floresta tropical úmida da Amazônia cresce paradoxalmente sobre um solo paupérrimo, muitas vezes composto de areia quase pura, tornando-se independente da fonte edáfica de nutrientes; a floresta usa o solo somente como meio de sua fixação mecânica. A floresta arnazoruca é um sistema em equilíbrio. Durante o dia, devido a fotossíntese, as folhas sintetizam a matéria orgânica, absorvendo gás carbônico e liberando oxigênio. Durante a noite as folhas respiram, bem como os animais e m icroorganismos quando si:' dá o inverso da fotóssíntese. Assim resulta um equilíbrio entre os dois procesO diurno e noturno. Em outras palavras, a exuberância da floresta tropical deve-se a ela mesma, que produz e recicla os nutrientes para sua auto-alimentação. As matas tropicais "autofágicas" concentram cerca de 90% dos nutrientes na 'sua própria estrutura (bíosfera), enquanto as matas de regiões de clima moderado conservam apenas 3% dos nutrientes na sua biosfera e tiram mais de 90% do solo humoso. Os nutrientes da mata são acumulados quase que exclusivamente dentro da biomassa viva da floresta e estão sendo continuadamente reciclados, numa circulação fechada e constantemente repetida. A biomassa atinge seu clímax, sendo constante. A densa folhagem das árvores protege o chão contra a erosão e contra um escoamento rápido superficial das precipitações, impedindo a compactação do solo e mantendo a permeabilidade dele. As folhas aparam as gotas das chuvas e deixam a água chegar ao solo em forma de pingos ou de escorrimento ao longo dos troncos, em ambos os casos com pouquíssima energia cinética. A . metade da chuva que cai sobre as florestas amazônicas resulta duma reciclagem regional. Pela alta evapotranspiração desta floresta a outra metade das precipitações volta logo à atmosfera em forma de vapor d'água que se condensa de novo e cai outra vez como chuva. O enraizamento desta floresta é superficial, quase não atinge o lençol freático. A floresta depende da alta freqüência de chuva. A evaporação consome bastante energia térmica e, desta forma, abaixa a temperatura do ambiente florestal. Se a floresta tropical for eliminada (derrubada e queimada) as chuvas e a erosão levam logo os poucos centímetros e s, provocando desertificação. Nota-se na Amazônia que em lugares de antiga agricultura, abandonada há 10 anos, como na Transamazônica quase não existe qualquer tipo de vegetação, enquanto em outras partes do Brasil como no 'Sul com clima ameno, uma boa reconstituição de áreas desma tadas pode ocorrer em 30 anos. A mata amazônica, cortada e queimada, não volta mais.
'.'
.~
66
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
3.4.2
BIODIVERSIDADE
Na volumosa biomassa produzida pela mata neotropical se encontra a maior diversidade de nichos e organismos adaptados que nem somos capazes de conceber. Até há poucos anos avaliações do total das espécies de seres vivos existentes na Amazônia indicaram entre 1,5 e 2 milhões. Novas estimativas, baseadas em extrapolações dos números de espécies novas, especialmente de insetos, vão agora até 30 milhões. Como essas espécies vivem um enredamento gigantesco no qual todas elas dependem direta e/ ou indiretamente uma das outras, como demonstra P: ex. a polinização da castanheira-doe el uma das árvores mais caractePará e holle rísticas da Amazônia, um dos gigantes formidáveis da Amazônia: a polinização é feita por uma só espécie de abelha. Nos meses nos quais a castanheira não floresce, a abelha depende da floração de outras árvores na floresta vizinha. Nas plantações de castanheira em monocultura esta abelha não pode sobreviver aos longos meses nos quais não há floração das castanheiras; elas crescem bem mas não frutificam. As abelhas se afastam dos castanhais artificiais e não conseg.uem retomar.
3.4.3
DESMATAMENTOS
o desmatamento e o fogo põem fim a maravilha que é a mata autofágica. Durante os últimos 50 anos aconteceram três grandes tentativas ou fases de reconquista da Amazônia, ameaçando grandes partes da região que antes pareciam ser inatingíveis. A construção da Transamazônica refletiu claramente o grande problema da explosão populacional: a ocupação da Amazônia por colonos imigrantes, os "Sem terra". Houve a primeira grande desilusão, não existiam suficientes solos férteis e os poucos existentes eram aproveitados pelos índios. A Transamazônica tornou-se na boca dos colonos em "Transamargura", como eles mesmos disseram a nós na região do Tapajós, Pará em agosto de 1979. Finalmente as terras da Transamazônica foram abandonadas. Ao lado da estrada não cresce mais qualquer tipo de vegetação, senão algumas gramíneas invasoras; a floresta não retoma e em muitos trechos não é mais possível ver a mata nem no horizonte. Depois veio a fase das grandes fazendas'd~" gado. Proclamava-se oficialmente que a Amazônia seria a maior região de criação de gado bovino do mundo. Voltava a mentalidade de progresso rápido que já dominara a Amazônia pelo fim do século passado, na época áurea da borracha. Começou uma verdadeira segunda onda de conquista de uma parte da Amazônia que até então
não tinha experimentado a ação dos civilizados. A falta de compreensão dos problemas ecológicos, as práticas agrícolas agressoras ao meio ambiente e o descaso total pela natureza, tornaram-se fatais. As facilidades proporcionadas pelos incentivos fiscais da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e direcionamentos de natureza política, portanto manobras puramente econômicas na busca incessante do lucro fácil levaram fazendeiros e empresários de tedas as regiões do planeta para a floresta. A Amazônia estava sendo depredada por uma concepção neocolonialista, que visava unicamente o desenvolvimento econômico, ou melhor, um simples enriquecimento de certos grupos, sem levar em conta os aspectos ecológicos, sociais e sociológicos - uma economia predatória impulsionada pelo imediatismo. A Volkswagen derrubou 2.000km2 para semear pastos e colocar bois. Parecia ótimo, mas poucos anos depois as culturas, inclusive os pastos, começaram a degenerar. Só então os "decision makers" se lembraram das monoculturas abandonadas de borracha (H sp.) em Belterra e Fordlândia, no Tapajós, Pará, na década de 20. Apareceram pragas antes desconhecidas e os solos tornaram-se exaustos. Enquanto antes constava oficialmente que a pastagem melhorava o solo na Amazônia e subsidiava a formação de novas pastagens, foi registrado mais tarde em Rondônia que um pasto com três anos produz o dobro do capim que um pasto de 12 anos: o fósforo diminui bastante e ocorre forte compactação e erosão do solo (Fearnside 1989). Ninguém queria confessar o fracasso. Estragos foram classificados oficialmente como benfeitorias. Da flora e fauna sacrificados ninguém falou. A Volkswagen vendeu a área depois de 10 anos de tentativas malogradas. Na região a agricultura tem vida de dois a três anos, a pecuária de cinco a oito anos. A pecuarização da Amazônia é impossível. Nenhum benefício real foi computado para a Amazônia, todo o lucro foi exportado, ficando no local uma destruição triste, para sempre. Ao mesmo tempo da avalancha de grandes empreiteiros, imigraram para a Amazônia milhares de sulistas, mineiros e nordestinos sem terra à procura da floresta prometida. Associa-se muita gente que "sobrou" da mecanização das grandes culturas no sul aos garimpeiros na busca incessante do "Eldorado", Só o governo de Rondônia registrou mais de 50 mil pessoas por ano (dados de 1988), que chegaram ao Estado abandonando suas atividades originais de produtores ou trabalhadores da cultura do café, arroz, milho, feijão, borracha e outros produtos. A explosão populacional'' no Brasil é a verdadeira e crescente ameaça à natureza, flora e fauna.
6 O Brasilestá entre os países mais populosos do mundo que registram as maiores taxas de crescimento (semelhante às da China e às da índia). Nos últimos 40 anos a população do Brasil triplicou: em 1950 constavam 51.941.397habitantes, em 1989 foram estimados 150.051.784habitantes. [Dados do IEGEindicam que o crescimento da população no período 1970a 1980foi de 2,48por cento ao ano. No período 80 a 91 foi de 1,93por cento ao ano. Esta queda foi devida à redução da taxa de fecundidade da mulher brasileira que no período acima considerado reduziu-se de 4,4 filhos por mulher para 2,7 filhos por mulher (P.S. M. Fonseca).]
CONSERVAÇÃO
A constante migração não controlada de população para a Amazôni~ aumentou constantemente as taxas de desmatamento. E, aliás, muito divulgado que na Amazônia os fazendeiros desmatam, queimam e plantam pastos para assegurar a posse da terra impedindo que outros possam fazê-lo, como p. ex., posseiros, grileiros ou o Estado (Reforma Agrária). Quanto ao uso do fogo no Brasil tem que ser dito que o ~gricultor ou pecuarista deste país quase não conhece outro tipo de manejo da terra se não o fogo. O fogo exerce um verdadeiro fascínio tendo a maior popularidade, a começar com os balões iluminados de São João que levam fogo como combustível. Quando caem os balões ameaçam o meio ambiente em qualquer parte deste país. Infelizmente este pseudo-espetáculo se repete todos os anos, ignorando as proibições. Sendo o manejo da mata feito oficialmente por intermédio do fogo, o próprio governo contribuiu decididamente na incrível destruição da Amazônia quando, p. ex., por intermédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) providenciou o preparo da infra-estrutura viária em Rondônia: derrubando a mata pelos processos mais rudimentares antes de mandar queimar tudo. Rondônia tem, ou será que tinha, uma das faunas mais ricas do Brasil, inclusive aves. Justamente em Rondônia ocorreram verdadeiras explosões de desmatamentos e queimas de forma exponencial, dobrando a cada ano. Falou-se de uma taxa de destruição de 35 mil km2 ao ano - área muito maior do que a Bélgica (citada em protestos internacionais) que possui somente 25 mil km-, Esses cálculos, feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), são discutíveis. Interferem na análise queimas de cerrado, capoeiras e pastos. Consta que a concentração de gases na atmosfera de São Paulo, resultado da queima da canade-açúcar, pode ser até maior do que aquele acima para a Amazônia. Para acelerar o processo de secagem da mata antes de queimar foi usado inclusive (p. ex. no [arí, Pará) o desfolhante "agente-laranja", um veneno de incrível poder destruidor usado na guerra do Vietnam. Ninguém pode imaginar o horror que representam os desfolhantes para os animais, que ficam cegos antes de morrer; depois, a fauna toda, viva ou morta, é queimada, da lagartixa no solo até a ave e o macaco na galhada. Tantas vezes nem as madeiras de lei são aproveitadas. As queimas no [arí-foram tão.intensas que causaram fortes tempestades elétricas a 10 km da zona da ação. Em 1986 o satélite registrou uma fumaça compacta de 65.000 km2 sobre a Amazônia, produzida pelas inúmeras queimadas. Os jornais escreveram: "O Brasil vulcão" e "guerra de fogo". Foi descoberto um buraco na camada de ozônio sobre a floresta amazônica, semelhante à um tal buraco registrado sobre a Antártica. Está sendo estudada a contribuição do desmatamento para o efeito estufa, na Amazônia: Um grupo da NASA verificou que as várzeas amazônicas naturalmente inundadas periodicamen-
67
.te todos os anos, são grandes fonte do metano na atmosfera. O metano é um gás muito importante no caso do efeito estufa. Inundações maiores antrópicas da várzea poderiam duplicar a produção de metano levando a impactos globais. No Brasil central a multidão de queimadas produz na época seca (junho a setembro) a "bruma seca". Todos os aeroportos são fechados periodicamente. Tal bruma no Brasil central prejudica a fauna e flora uma vez que impede a produção de orvalho que ocorre apenas em noites claras. O orvalho é a única fonte de "precipitação" nessa época, vital para plantas e animais e alívio para nós.
3:4.4
HIDRELÉTRICAS
Outro empreendimento que ameaça a integridade da Amazônia é a construção e instalação de hidrelétricas. Na tentativa de aumentar o potencial elétrico instala-se uma grande usina hidrelétrica após a outra, implicando na inundação de imensas áreas. O primeiro grande exemplo, ainda fora da Amazônia, foi o reservatório da Itaipu Binacional, na divisa com Paraguai. Sendo seis vezes maior que a deAswan (a maior do mundo, anteriormente) foi destinado a inundar aproximadamente 1.360km2. As bacias de inundação das usinas hidrelétricas na Amazônia tantas vezes nem chegaram a ser desmatadas, os responsáveis pela obra, agindo sob pressões políticas, nem esperam o fim dos necessários estudos topográficos e pluviométricos. Inunda-se as áreas com a floresta alta ainda de pé; calculou-se, no caso da usina hidrelétrica de Tucuruí, Pará, represamento do rio Tocantins, Pará, 5,5 milhões de metros cúbicos de madeira perdidos, um inaceitável desperdício de recursos naturais. Esta usina custou 6 bilhões de dólares, dinheiro suficiente para priorizar apenas o lado econômico do projeto. Em Tucuruí foram inundados 2.430km2, um verdadeiro desastre ecológico; a decomposição da massa de substância submersa produziu gás sulfídrico que interferiu severamente na fauna e na população ribeirinha cabocla e índia, bem como na corrosão do aço das turbinas, neste último caso um problema de ordem econômica. ,. ~_I"" . A usina de Balbina (gerando pouca energia elétrica para a cidade de Manaus, Amazônia) que por sinal, possui 150km de comprimento, afogou 2.346km2 da calha do rio Uatumã, e uma parte de área indígena. A ELETRONORTE que instalou Balbina, defendeu que ilhas iriam diminuir o impacto para com a fáuna: os animais iriam se refugiar nas ilhas mantidas propositalmente ao invés de se afogarem - tolas especulações de leigos. Na realidade essas ilhas duplicaram o impacto do reservatório sobre a fauna, uma vez que os animais que para elas se dirigiram, acabaram morrendo, em processos intercompetitivos num espaço limitado. O balanço total do projeto foi apresentado como benefício às espécies vegetais e animais da região quando realmente
68
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
impactos ambientais foram altamente nocivos, sendo a extensão desses impactos incalculável. O plano de construir sete hidrelétricas na área do Xingu, Mato Grosso/Pará foi apresentado pela ELETROBRÁS ao governo Federal como "o maior projeto nacional do fim desse século e início do próximo". Em 1985 foram anunciados 76 projetos de barragens na Amazônia previstas para até o ano 2010. Falando orgulhosamente de progresso e desenvolvimento tornam-se esses entusiastas os coveiros da Amazônia. Argumentar no caso da ocupação da Amazônia com o fato de que a Amazônia é muito grande para ser destruída, significa subestimar perigosamente a moderna tecnologia. Para tornar nítida a rapidez com que se destrói a natureza, citamos o bom e forte exemplo da motoserra: leva-se três minutos e meio para cortar uma árvore que se desenvolveu em 100 anos ou mais. Entretanto a moto-serra é muitíssimo superada pelos desmatamentos com tratores e queimadas. O maior perigo são os grandes interesses envolvidos na continuação dos processos predatórios, protegidos pela permissividade das autoridades responsáveis. Continuando a progressão atual de depredação, a Amazônia deverá ser destruída em 50 anos. OS
3.4.5
SIDERÚRGICAS,
NECESSIDADE
MUNDIAL
DE
MADEIRA
Um dos problemas
mais sérios que ameaçam a re-
gião do baixo Arnazorias
é o uso ilimitado
de carvão
vegetal, capaz de se alastrar por toda a Amazônia, em pouco tempo: combustível dos fornos que transformam o minério de Carajás em ferro gusa para a exportação. A quantidade de ferro em Carajás é de 18 bilhões de toneladas; para somente 2,8 milhões de toneladas de ferro gusa são necessários 1.000 km2 de floresta queimada. Existem na área do baixo Amazonas inúmeros outros projetos, como fábricas de cimento, todos pressupondo O uso de carvão de madeira. Milhares e milhares de serrarias são montadas, a cada ano, na região. Os preços da madeira nos mercados internacionais vem subindo constantemente. sobretudo em função de estarem acabando as últimas florestas do sudeste da Ásia. Um novo perigo para as matas da Amazônia ocidental seria prolongar a Transamazônica na direção de Pucallpa, Peru passando pelo Acre, estabelecendo uma ligação direta ao Pacífico, facilitando muito a exportação das madeiras de lei ao Japão. A pressão sobre a floresta amazônica, como podemos antever, tende sempre a aumentar através dos mais diversos empreendimentos, Fala-se agora de uma plantação em grande estilo de na região do baixo Amazonas, melhor fonte de
carvão de madeira, pára ser comercializada (v. também sob reflorestamento). 3.4.6
PRESENÇA
após 16 anos
DE íNDIOS
O fato de que no Brasil existem "ainda" índios? cria problemas: O caso mais citado é aquele da ocupação desordenada da Amazônia onde os índios e seus territórios não são respeitados. Os intrusos brancos que se sentem importantes como "desbravadores" querem "limpar" as áreas de seringueiros, castanheiros, índios e outros pequenos posseiros. A situação iguala francamente à uma guerra local, à bala, à fogo e até com veneno envolvido. Aconteceu no Xingu, Pará, o seguinte: para retirar caboclos e seringueiros, os imigrantes invasores bloquearam seletivamente os castanhais e seringais, sustento dos residentes tradicionais, com Tordon, um veneno-herbicida violento, aparentado ao Agente Laranja (os pequenos aprendendo com os grandes, v-acima) acabando por expulsá-los. Compare com a ética dos Kaimurá, índios não civilizados do alto Xingu, Mato Grosso: para nós o mel das abelhas existe para servirnos, enquanto os Kaimurá consideram o mel propriedade privada das abelhas, portanto, o homem ou pede licença para usá-lo ou-comete um furto. Os invasores se recusam a admitir a idéia de que os indígenas são os verdadeiros senhores da terra na Amazônia. Os índios, culturas "primitivas" milenares sediadas na Amazônia, de origem ainda discutida (oceânica/japonesa/asiática, imigrados através do Pacífico, como sugerem
elementos
lingüísticas)
são considerados
obs-
táculos quando são planejadas rodovias, hidrelétricas etc. As terras férteis dos índios e as jazidas minerais no subsolo de áreas indígenas atraem os intrusos. Em Roraima, em pleno território Ianomami, trabalharam em 1989, de 10 a 20 mil garimpeiros. A presença dos índios não deve ser um impedimento para criação de Parques Nacionais, sob o pretexto de que os indígenas podem ser transformados em instrumentos da ação de madeireiros, como ocorre no caso dos Pataxó no Parque Nacional de Monte Pascoal, Bahia. Quando penetramos em 1947 na área do alto Xingu, Mato Grosso, encontramos uma dúzia de tribos de .1Pdios, todos eles ainda nas suas aldeias originais, firmemente aderidos à sua cultura milenar como autóctones deste continente. Nem os missionários, supérfluos nesse ambiente, tinham acesso região. Encontramos a flora e a fauna intocadas. Reinava ainda o perfeito equilíbrio entre indígenas e seu ambiente natural: um verdadeiro testemunho de um Brasil do descobrimento, como há 500 anos atrás. Uma situaçãoquase parasidíaca como não foí possível perpetuar num tempo de desenvolvimento moder-
a
7 Calcula-se atualmente (1989)que existem 136.400índios naAmazônia. No século XVI viviam na Amazônia aproximadamente dois milhões de indígenas puros, segundo estimativas de antropólogos.
CONSERVAÇÃO
no. Criou-se em 1961 o Parque Indígena do Xingu. Entretanto a área do alto Xingu é ameaçada pelos mesmos problemas de outras regiões da Amazônia, são, p. ex., planejadas várias hidrelétricas no território dos índios. Para o naturalista o índio, excelente observador da natureza, suas complexas relações com seu hábitat, é rica fonte de informações sobre assuntos da fauna e da flora. Os nomes de bichos e plantas em língua Tupí, usados pelos índios atuais, são os mesmos conhecidos desde o tempo da descoberta do Brasil pelos portugueses, constando em muitas publicações. O ornitólogo aproveita do conhecimento dos indígenas p. ex. na procura de certas aves de encontro difícil. Os adornos de penas (plumárias) revelam a ocorrência de espécies notáveis e documentam, ao mesmo tempo, o alto instinto de beleza dos aborígenes (v. pr. 46). Está se formando um grupo que trabalha com etnobiologia. Citamos A. A. [ensen, 1985, tese na Universidade de Campinas, SP, "Sistemas indígenas de classificação de aves". O sistema zoológico é visto pelos índios como conjuntos formados por uma espécie padrão ("chefe") e um reino de outras espécies, situadas estas a diferentes distâncias, segundo seu grau de semelhança com o padrão. Os agrupamentos se comparam favoravelmente com descontinuidades naturais de aves, reconhecidas na sistemática Lineana, Há diferenças interessantes no conceito de vários grupos de índios. Impressiona o conhecimento perfeito da fauna útil para os índios (p. ex. Kaiapó), como abelhas sociais sem ferrão (Meliponinae); reconhecem praticamente todas as espécies, classificadas por detalhes ecológicos (Camargo e Posey 1984). Entre os caracteres indicados pelos índios como diagnósticos para separar certas qualidades de abelhas, consta o cheiro. Lembramos que em aves do Brasil apontamos também o cheiro típico de certas famílias como surucuás (Trogonidae), bacuraus (Caprimulgidae) e papagaios (Psittacidae). Qualquer espécime vivo ou recém-morto dessas aves pode ser identificado como pertencente a uma dessas famílias pelo cheiro particular da sua plumagem ou carne. É surpreendente que uma iniciativa, parecendo primeiro só sensacionalismo, chamou a atenção do mundo para os problemas da Amazônia: o músico inglês Sting levou em 1988 o índio Kaiapó Raoní a 17 países do hemisfério norte para chamar a atenção do mundo para a Amazônia e obter ajuda. Neste conexto foi criada a Fundação Mata Virgem, ligada a um programa educativo. Em dezembro de 1989 a campanha arrecadou dois milhões de dólares, destinados à demarcação de reservas indígenas. Aqui não é o lugar para entrar em mais detalhes sobre os indígenas. É importante para nós apresentar os índios como uma parte integrante da região amazônica reclamando para eles toda a atenção. Podemos aprender ainda muito com os índios e devemos por razões éticas trabalhar no salvamento desses povos tradicionais tão ameaçados. pela civilização.
3.4.7 A
AMEAÇA
ESPECIALMENTE
69
À FAUNA AMAZÔNICA, AS AVES
Ainda não temos elementos suficientes para falar sobre a destruição da avifauna amazônica. Citamos a propaganda enganadora da ELETRONORTE, construtora das represas na Amazônia, sobre o "benefício" das ilhas da hidrelétrica Balbina. Foi calculado que a avifauna da região de Balbina, constituída de aproximadamente 400 espécies de aves (Willis & Oniki 1988), foi quase integralmente exterminada, inclusive um formicarídeo muito raro, spho o . Sempre aparecem mais ameaças. Assim, p. ex., a área. da Cachoeira Nazaré, no rio [iparaná, em Rondônia, onde recentemente uma equipe americana realizou uma pesquisa exaustiva, verificando que a avifauna é extremamente rica, será inundada. As notícias em jornais e revistas sobre ações de salvamento da população animal por ocasião da fase crítica de fechamento da barragem, não vão além do sensacionalismo. No caso de Itaipu, BrasiljParaguai, p. ex., anunciou um jornal "10.000 animais resgatados, agora a festa". É a pior demagogia. Os animais resgatados soltos na mata mais próxima, precisam disputar com as espécies residentes, aumentando o impacto predatório na área. Não se fala das centenas de milhares de animais massacrados. A bem conhecida' distribuição limitada de certas aves amazônicas, como, p. ex. Formicariidae, faz prever a extinção de espécies e subespécies, restritas p. ex., aos interflúvios. Também a fauna aquática deve ser muito atingida pelo represamento de rios, fragmentando-se a coerência do sistema potâmico do Amazonas. A piracema, as grandes migrações regulares de certos peixes para as nascentes dos rios, são interrompidas. É surpreendente que no terceiro ano após o enchimento de Turucuí, Pará, os registros de capturas de 12 espécies de peixes comercialmente importantes, se mostrararn semelhantes aos da fase de pré-enchimento.
3.5
l
e
de
A Mata Atlântica é, ao lado da Amazônia, o outro foco principal da conservação, no Brasil. Ela penetra no interior do continente em distâncias variáveis, chegando a ultrapassar as fronteiras do país na região missioneira (Argentina) e no sul do Paraguai. Constituindo a mata atlântica uma muralha vegetal ao longo da costa, dificultou no passado a penetração do colonizador ao interior. Encobrindo solos de boa qualidade para a agricultura, possibilitou plantios extensivos de café e cana (mais recentemente trigo, algodão e soja) além de bananas. Deu igualmente bom solo para a pecuária e possuía espécies arbóreas de alto valor comercial. Assim as florestas atlânticas estavam fadadas
----------------------==~~==~~----~~---~~ 70
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
ao desaparecimento, resultando uma destruição quase total. No século XVII, Maurício de Nassau (v. História) já se preocupava com o destino das então exuberantes matas costeiras do Nordeste - justamente o local onde registramos agora a extinção de um mutum. Hoje, na maior parte, os resíduos florestais são pequenos fragmentos disjuntos, floristicamente empobrecidos nos quais se torna difícil discernir sem estudos botanicamente mais aprofundados, as matas primitivas daquelas secundárias. A superfície total remanescente da mata atlântica é estimada entre um e cinco por cento da extensão original. O Estado de São Paulo que praticamente tinha toda a sua extensão coberta po mata atlântica, possuía no ano de 1911 ainda 64,7% (originalmente mais de 81%) da sua superfície cobertos de mata. Em 1919 a percentagem baixou a 15,6% e hoje a 3%. A Mata Atlântica era uma área de 1,1 milhão de quilômetros quadrados. É admirável, portanto, que ainda não presenciamos a extinção de várias aves. Até quase o final da 'primeira metade do século atual, grandes espaços de matas primitivas ainda cobriam parte do Nordeste, do sul da Bahia e de vastas .parcelas dos territórios do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, conservando relativamente bem a avifauna. As derrubadas se aceleraram desde então, com a facilidade de penetração, propiciada pelas novas estradas que à época se construiam. Ao mesmo tempo o tremendo aumento da população, o avanço agropecuário e o processo acelerado de industrialização abriram novas fronteiras. O pior eram os incentivos fiscais em prol de reflorestamento com espécies exóticas para fins energéticos e industriais. Eram autênticos incentivos à destruição. Finalmente foram poupadas apenas florestas nas áreas em que a topografia acidentada tornou difícil ou anti-econômica a exploração agrícola e a pecuária. Mesmo nessas áreas a caça e o extrativismo ilegais de produtos florestais (como madeira, o palmito, o xaxim e as plantas ornamentais) continuou, como também a ocupação de terras por invasores e a especulação imobiliária nas proximidades das áreas urbanizadas ou melhor servidas de transporte. A fauna, quando não se tratava de espécies mais vistosas (como grandes Psittacidae, Ramphastidae, Trcigonidae e Galbulidae) e, naturalmente; cinegéticas, sobreviveu por enquanto relativamente bem nas ilhas de vegetação primária ou regenerada, restos de ecossistemas fragmentados, separados por grandes extensões de pastos e áreas agrícolas ou urbanizadas. Num futuro próximo vai ser óbvio que em muitos casos as espécies assim isoladas não atingirão mais ou estarão muito próximas o tamanho mínimo tolerável para que subsista, em face do perigo da consangüinidade ou pela simples falta de indivíduos existentes. Várias espécies ou subespécies dos mico-leões ( eontopithecus sp.) foram
testadas nesse sentido, in siiu e, como medida extrema, e siiu, vale dizer: na natureza ou em cativeiro. O micoleão-dourado (L. s li ) cujo hábitat natural chegou a ser reduzido a uma minúscula parcela da baixada litorânea fluminense, está hoje em situação satisfa tória, com uma população em cativeiro mui to superior à selvagem. Quanto às aves, o mutum-do-nordeste , em Alagoas, é o representante mais ameaçado: sua sobrevivência em natureza não é mais garantida. E, infelizmente, a intervenção humana, a criação em cativeiro, também não dá resultado satisfatório neste sentido; a extinção da espécie parece ser inevitável. Outro cracídeo, o mutum-do-sudeste C bl ii, muito ao contrário, mantém uma boa população silvestre no Espírito Santo e reproduz com toda facilidade em cativeiro, permitindo pensar em repovoamentos. Os últimos, na maioria dos casos, hoje nem podem ser executados mais por falta absoluta de locais suficientemente preservados e . fiscalizados. Somos cientes de casos de extinção de aves do Brasil mesmo apenas no mutum-do-Nordeste e na arara-azulpequena ( od nchus gl no extremo sudoeste. Este balanço negativo deve ser aumentado na mata atlântica e na Amazônia até o fim deste século em conseqüência da brutal destruição das matas equatoriais. Felizmente as regiões outrora abrangidas pelas florestas atlânticas ostentam um elevado número de unidades de conservação federais e estaduais, cobrindo porém, áreas relativamente pequenas e com os males crônicos de quase todas as unidades de conservação deste país: falta de regularização fundiária, populações humanas residentes no interior de reservas e deficiência de fiscalização. Uma das melhores reservas existentes é o conjunto de Sooretama e a reserva vizinha da Companhia do Vale do Rio Doce no Espírito Santo. Também lá já houve sérias perdas: em 1939 viveu ali ainda a chlo opt jacutinga e a arara-vermelha ( O Parque Nacional do Iguaçu (170.080 ha), Paraná, representa uma das maiores extensões contínuas preservadas de floresta; por enquanto é capaz de sustentar uma população geneticamente viável do jaguar ( ís). Na distribuição das unidades de conservação existentes o pinheiral, as matas da está representada. Existem bons pinheirais nos parques nacionais dos Aparados das Serra (10.250ha), Rio Grande do Sul/Santa Catarina, e de São Joaquim (33.500 ha), Santa Catarina o último muito desvalorizado pela falta de regularização fundiária e a existência de várias serrarias trabalhando dentro do parque, A floresta de calcá rio, a chamada mata seca, florestas semi-decíduas sobre solos derivados de calcário, do Brasil central (Bahia, Coiás) estão muito ameaça das pela M. C. da Silva). Uma espécie de indústria carvoeira ave interessante aí encontrada é o beija-flor te us l gipennis tinensis.
a.
CONSERVAÇÃO
3.6 ese
o
ento e dependên bient l
d [auna.
71
1975). Na bibliografia constam trabalhos sobre plantas atrativas para aves, como os de Kuhlmann & [imbo (1957). ! ,.s matas nativas são chamadas pelos economistas brasileiros "matas improdutivas". A tremenda variação de espécies de árvores por hectare na mata neotrópica, impossibilita um aproveitamento econômico como o abastecimento regular das serrarias locais. Esta foi a razão que no [arí o empresário americano Ludwig para produzir papel, plantou milhares de hectares da verbenácea i procedente da Ásia e s . Hoje o mesmo esquema tem sido usado no bai, mas em lugares já xo Amazonas: plantação de desmatados antes. Até há poucos anos o Código Florestal Brasileiro permitiu, oficializou, substituir matas nativas pelo plantio de florestas homogêneas formadas por essências exóticas "com a finalidade de obter-se rendimento econômico". Foram dados incentivos fiscais em prol de reflorestamentos com espécies exóticas "para fins energéticos e industriais". Isto representou o fim da Mata Atlântica da qual restam 1 a 5%, bioma único no mundo, recuperável até certo ponto ao contrário da floresta tropical úmida, da Amazônia de difícil regeneração. .Existern boas iniciativas para procuraralternativas nacionais que substituam satisfatoriamente os vegetais exóticos: existem muitas espécies florestais nativas (a maioria pertencendo à família Leguminosae) que podem ser tão produtivas çomo eucalipto e Pinus, e, em muitos casos, produzem madeira de melhor qualidade, além de ser de crescimento rápido e não deixando os solos esgotados, mas enriquecidos (através da simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio do ar), e representando, ao mesmo tempo, o hábitat adequado para a fauna autóctone. lAl l:"tmasLeguminosae que melhoram o solo e beneficiam o desenvolvimento de um rico sub-bosque (geralmente não existente nas monoculturas exóticas), indispensável à fauna local, sobretudo à avifauna, são: e nig ), pau-brasil s jacarandá e t pau-ferro (C. e , angico e spp.), molungu spp.) e a bracaatinga , v. sob beija-flores), a última sendo de crescimento rápido. Os constan:tes desmatamentos e queimadas que ~em sofrendo a Área de Preservação Ambiental da Serra da Mantiqueira em São Paulo levaram os pilotos a se transformarem em fiscais alados. Foram lança das semengusti dos tes do pinheiro do Paraná aviões colaborando com o reflorestamento da região, até o momento preservada apenas no papel.
No Brasil o reflorestamento é um problema complexo difícil. Existem dois tipos de reflorestamento: o plantio comercial e o plantio "ecológico" que significa plantio com essências nativas: Quando se fala no Ér~~ilem reflorestamento, subentende-se quase sempre o reflorestamento comercial. Este se consegue muito bem com vegetais exóticos, geralmente espécies de eE l também e outros, todos com um desenvolvimento rápido. Assim são produzidas as "matas energéticas" que são mesmo uma' fábrica de madeira. As plantações de são os mais valorizados. É da maior importância aumentar essas-florestas artificiais homogêneas para salvar as matas naturais, cada vez mais devastadas. Constou em setembro de 1989 que apenas 20% dos 36 milhões de metros cúbicos de carvão vegetal consumidos anualmente no Brasil, eram de eucalipto e Pinus, sendo o restante originário da devastação de florestas nativas. impressionante como uma mono cultura exótica, como uma plantação de no Brasil, equivale, em matéria de fauna, praticamente a um deserto: falta totalmente a rica fauna neotropical que depende da maior riqueza em nichos ecológicos a começar por um rico subbosque que costuma faltar por completo nessas áreas. Fala-se, em círculos de naturalistas, mesmo de uma desertificação do Brasil com os eucaliptais e matas de . "as matas de silêncio". É interessante notar que elliottii, introduzido naAustrália, mostra-se também, aí, completamente inútil para a avifauna local (J. Forshaw). Não há condições, nem interesse, em trazer a fauna característica das matas de ou eucalipto do hemisfério setentrional ou da Austrália (Psittacidae), respectivamente, como foi sugerido. Entretanto, certos vegetais exóticos, como a palmeira t quando frutificam, são procuradíssimas por aves brasileiras, p. ex. , e tos oitellinus (Espírito Santo). O néctar do l atrai beija-flores. Na magnólia-amarela da Ásia, registramos no Brasil 14 espécies de pássaros, de 7 famílias diferentes comendo suas frutinhas, Assim vegetais exóticos podem se tornar bastante procurados por aves brasileiras.' Na parte principal do livro damos os nomes de muitas plantas cujas flores, frutas e sementes servem para atrair e alimentar aves selvagens. Pode-se coletar as fezes de aves e semear as sementes; muitas árvores e outros vegetais vieram dessa origem. Um modo simples para conseguir as fezes é coletá-Ias d ur ante os anilharnentos, sobretudo quando se trabalha com redes de neblina. Nessa oportunidade pode-se também em- ',; 3.7 , bi pregar o método de provocar a regurgitação de aves ou até uma lavagem do estômago para examinar o alimen_I.:alamos acima sobre a poluição atmosférica cauto justamente ingerido (utilização de eméticos, Tomback sada pelas queimadas. No Brasil a primeira indicação
e
J
g
72
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
sobre a existência de uma severa poluição do ar, veio do interior de Minas Gerais onde, em Congonhas, os doze profetas, elaborados em pedra sabão pelo mestre Aleijadinho, estariam em processo de degradação acelerada. Existem novas pesquisas sobre o depósito de metais pesados encontrados em aves. Impressionam os resíduos suspensos no ar achados nas penas (v. figo27). Trata-se, especificamente, do depósito de chumbo e cádmio nas penas de vôo (rêmiges e retrizes) uma vez que são as penas que têm o contato mais intensivo com a atmosfera (Ellenberg 1981, Hahn 1989). Assim aves tornam-se importantes biomonitores (bioindicadores) no controle da poluição do ar._ As aves constituem elos finais de cadeias alimentares, tendendo portanto a concentrar metais pesados através da alimentação. Foram determinados teores de mercúrio e zinco incorporados ao tecido muscular de aves trinta-réis e S. piscívoras, nidificando nos pilares da ponte Rio-Niterói que atravessa a baía da Guanabara (E. P. Coelho, V S. Alves)._ As amostras de gordura e de sangue, a serem analisadas, podem ser retiradas de aves vivas (capturadas), não havendo necessidade de sacrificá-Ias. Na Europa e nos EUA (no Brasil também deve ocorrer tal fenômeno), há um grande dec1ínio de aves de rapina que se alimentam principalmente de aves e peixes (não de roedores), nos quais encontram-se acumulados resíduos de inseticidas (fim da cadeia alimentar). Uma estatística feita na Alemanha deu o seguinte resultado da cadeia alimentar: plâncton 0,04 ppm (partes por mil);, pequenos peixes servindo como alimentos de aves aquáticas 0,17-1,23 ppm (peixes de água doce podem alcançar mais de 10 ppm); trinta-réis 3,15-5,17 ppm; pato-mer22,8 ppm. Os pesticidas, como gulhão o DDT, ingeridos com o alimento, são depositados principalmente na gordura (não na musculatura) e nos ovos. A crescente poluição de rios transformando-os em esgotos a céu aberto, leva à expulsão de aves como os marfins-pescadores, mergulhões, trinta-réis e andorinhas como As águas das barragens tornam-se tóxicas pela falta de oxigenação. A poluição agrotóxica, composta 'p'or fungicidasyherb icid as, pesticidas, inseticidas e carrapaticidas, se associa à poluição com restos de derivados de petróleo, e à poluição industrial.' . A poluição da água, problema em escala nacional, pode ser decorrente da fabricação de álcool etílico, do qual sobram grandes quantidades de vinhoto (também conhecido como vinhaça, restilo ou calda de destilaria), substância altamente tóxica para a fauna e a flora, ameaçando p. ex. o Pantanal de Mato Grosso. A primeira mortandade de peixes no Pantanal por causa de uma dessas usinas ocorreu em setembro de 1981, atingindo tributários dos rios Aquidauan~ e o Miranda, dois dos rios pantaneiros mais piscosos..
--
Enquanto o problema do vinhoto ainda não estava resolvido (falou-se de novas tecnologias para desenvolver biodigestores do vinhoto) foi chamada a atenção para outro problema sério de poluição no Pantanal, mas também no Tapajós, Pará, e em Roraima: foi registrada uma alta contaminação dos rios por mercúrio pela intensa garimpagem em conseqüência da nova corrida do ouro.
\
I Ji**\
o
....,
,.....,
I
0,1 0,2 0,3 [mgfkg]
Cd
Fig. 27. Depósito de cádmio numa rectriz (sexta)de do ic Original, E. K. Hahn. pombo,
No garimpo de Poconé, Pantanal, recentemente funcionavam mais de 700 dragas diariamente. Aparelhos que tiram a areia do fundo do rio, as dragas assoream os rios (os rios anteriormente largos se transformam em córregos rasos e sujos). O uso do mercúrio garante um rendimento melhor na produção de ouro através da técnica atualmente usada em larga escala. Análises de sedimentos no garimpo de Poconé acusaram 21.9 microgramas: 44 vezes mais do que o admissível; a água deu até 8.5 microgramas: 425 vezes mais do que o normal. O índice de mercúrio nos peixes do rio Paraguai (onde deságuam os rios vindo do Pantanal) tornou-se altíssimo: a água envenenada já tem chegado a outras partes do Pantanal. (A poluição maior da água ocorre nos manguezais devido a muitos projetos industriais e habitacionais. A maior concentração de metais pesados e agrotóxicos é registrada na região de Cubatão (já designada "a cidade mais poluída do mundo") onde existe ainda conforme informações recentes e surpreendentes o guará e . ! Os biocidas, produtos que contêrn Aldrin, usados em larga escala, matam tanto os insetos úteis como os daninhos e seus inimigos naturais; afetam as aves, os mamíferos e o próprio homem, A aplicação indiscriminada de inseticidas é de praxe nas regiões de grandes monoculturas de soja e trigo, como no Rio Grande do Sul. Entre as primeiras aves eliminadas estão os tinamídeos
\
CONSERVAÇÃO
73
:Parece que ainda faltam em nosso país provas de que campestres, codorna e perdiz, pois engolem as semenos ~esíd~os de DDT no organismo enfraquecem a tes inteiras, sem triturá-Ias, semelhante às pombas.' calcificação dos ovos' das aves; o enfraquecimento da muitos anos A. Ruschi (1950) publicou grandes casca do ovo é o sintoma mais evidente que aponta a listas de aves mortas por pulverizações com BHC, no alta acumulação de DDT no organismo das aves (v. Espírito Santo; verificou, no mesmo local, que os inse, fenômeno evidente também águia-pescadora, tos, necessários para a polinização de um grupo de mais em o g e outras aves dos EUALÉ possível de cem mangueiras, foram praticamente todos extermique o registro de ovos moles do tiranídeo ribeirinho nados, resultando que não foi produzido um só fruto. nig ic ns, observação feita por Gunnar Hoy, Pela pulverização de biocidas, efetuada por aviões, Salta, Argentina, em 1974, refira-se a este fenômeno. são sacrificados urubus e saracuras, fato comprovado No Rio Grande do Sul o combate ilegal a urubus e na Colômbia, bacuraus no Chile, corujas (Otus) nos EUA, cachorros-do-mato através de iscas e carniças enveneaves insetívoras por excelência. No Suriname ocorreram nadas acarreta muitas vezes a morte de aves cuja persemortandades de peixes após a aplicação de NaPCP em guição não estava prevista, principalmente aves de raarrozais para reduzir os caramujos Após essa pina. aplicação foram achados mortos 50 caramujeiros, A infestação do mar com petróleo. provocada por os cuja musculatura revelou alta convazamentos dos terminais marítimos da Petrobrás ou centração de pentaclorofenol. Morreram também garpetroleiros acidentados, tem como conseqüência a morças e jaçanãs. tandade de aves marinhas. No Atlântico, ao largo do Aumentam os casos' de morte de pássaros (também Brasil existem relativamente poucas aves, com~s de gaiola) no Brasil por ingestão de alimentos envenenados por biocidas, mas o grau da destruição é descoProcelariiformes e pingüins migrantes; sua autópsia re~ vela lesões dos pulmões e dos rins. As penas dos indinhecido. Trata-se, geralmente, de sementes assim prevíduos atingidos por petróleo colam e não preservam paradas para serem semeadas, como arroz. No Triângueisies g lo Mineiro morreram os icterídeos mais o corpo contra o frio. Em alto mar tais aves afundamo Uma pequena parte alcança as costas, encharcada que se alimentaram em tais arrozais. No Catálogo de Defensivos Agrícolas publicado pelo Ministério da Agride óleo. Parece que o problema da "peste do óleo" pode cultura (1981), estão relacionados como registrados 112 ser resolvido por bactérias: no laboratório a bactéria produtos inseticidas e acaricidas, 76 fungicidas e 125 dissolve o óleo. herbicidas, muitos deles contendo substâncias altamenSempre de novo há grandes mortandades de gaivote tóxicas e persistentes, como DDT, BHC, Parathion, tas e outras aves marinhas na Bahia e em São Paulo (p. ex. entre Itanhaém e Peruíbe); os cadáveres espalham-se Aldrin, Chlordane e Methoxychlor. A destruição da entre 10 e 30km de praia. As causas ainda não foram fauna alada, particularmente nos elos superiores da cabem esclarecidas. . deia alimentar, é provavelmente intensa. Os agrotóxicos proibidos em seus países de origem, cõmo os EUA, agoIyma nova grande ameaça a aves marinhas é a ra não poderão ser mais importados pelo Brasil. ingestão de corpos estranhos não digeríveis, estovando Iniciaram-se, no Rio Grande do Sul, estudos sobre ao ocupar espaço, obliterando ou mesmo ferindo as paos efeitos nocivos de inseticidas, usando a codorna, redes do estômago. Os objetos são plásticos, polímeros i como teste para apurar o grau da consintéticos, como os nódulos de polietileno usados para taminação com biocidas organoclorados. Acontece pera embalagem das mais diversas mercadorias como to dos currais que codornas comem carrapatos envenemaquinária e porcelana, transportadas pelos navios. Os nados caídos do gado. nódulos são despachados em quantidade enorme ao mar Foi demonstrado que níveis de compostos de DDT e atraem as aves pelo seu tamanho adequado para enno sul do Brasil "eram relativamente baixos, mais baigolir ..~Mais afetadas são as aves oceânicas e pelágicas xos do que em muitas localidades da América do Norte como os Procellariiformes - albatrozes e pardelas. Já (R. W. Risebrough). Porém, níveis de Mirex (considerafoi encontrada uma bolinha de polietileno no estômago do potencialmente um cancerígeno para o homem) eram de uma batuíra do . altos. Mirex é muito utilizado contra formigascortadeiras que ini.põem uma ameaça particular às plan- , tações de soja, sendo esta, atualmente, a principal cultu. 3.8 O de ~pe~spect Es ra do sul do Brasil. Níveis altos de vários compostos 10 desejo de ter um pássaro na gaiola, cuidando dele organoclorados foram encontrados em amostras de sanda 'melhor maneira, é um hábito profundamente arraigue de aves do Peru e Equador. Entretanto, os resíduos gado neste povo e não pode ser totalmente condenado. acumulados nas áreas de invernada das aves norte-ameQuerer possuir um pássaro engaiolado se nota tanto num'ricanas não foram tão importantes na limitação da recolono simples do interior, como num trabalhador qualprodução quanto se havia pensado previamente, como quer na cidade que logo pendura uma gaiola na frente no caso do Falcão Peregrino", (A. M. de sua casa recém-construída. O mesmo se observa em Springer). gente de todos os níveis. Não se pode imaginar uma loja
\
74
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
outro e o comércio clandestino resolverá o problema, de sapateiro, aberta para a rua, que não tenha seu passalogo um círculo vicioso. Dbservamos: conservar a naturinho, numa gaiola pendurada na entrada. Particularreza não significa proibir o seu uso. Porém a nossa acumente significativa no Brasil é a existência de gaiolas de sação continua e tem que ser sempre repetida: (1) para enfeite, vazias: gaiolas sem pássaros, penduradas em termos um pássaro adaptado na gaiola, são sacrificados lugares bem visíveis como em balcões e terraços, avidezenas e centenas durante a captura e a comerciasando que os donos gostam de pássaros. Há uma indúslização; (2) o pássaro preso é excluído da reprodução, tria própria que prepara gaiolas bem acabadas, de luxo, portanto sem possibilidade de deixar descendentes. O servindo unicamente para a decoração, não para abrifenômeno comentado acima dá uma idéia sobre o vulto gar pássaros. Na maioria dos casos é considerado sufido comérçio de pássaros e como a aquisição de várias ciente uma gaiola simples, sem pássaro, para enfeitar o espécies pode ser uma grande tentação. Para o ornitólogo local. Conhecemos casos em que aquela gaiola vazia é pode ser uma prova dos seus conhecimentos se ele conindumentária há vinte anos e vai continuar sendo. segue identificar as vozes daqueles pássaros mais varia'É muito difícil essa gente que deseja ter um pássaro dos engaiolados nos arredores. compreender que os pássaros mais procurados (há uma Manifesta-se sempre de novo o velho grande mistéconcentração do interesse em certos Emberizidae, como rio que neste país os pássaros presos cantam até mais e' o cardeal, o curió, O do que em natureza, apesar de estarem aprisionados hoje já se tornam raros e não podem ser fornuma gaiola pequena, sem companheiro e sem a possinecidos mais a vontade. É pouco conhecido pela maiobilidade de voar - mas cantam até a noite quando a luz ria que existe uma legislação que proíbe todo comércio é acesa. Assim eles podem agüentar muitos anos em, com aves nacionais não provenientes de criadouros auaparentemente, perfeito estado de saúde. -----.,. torizados. Essa ignorância se explica em parte pelo fato Em Caxias, Rio de Janeiro, um dos centros de comerque a maioria dos donos de pássaros de gaiola não cocio ilegal de animais (incluindo mamíferos, sobretudo nhecem e nem se interessam pela passarada no seu ammacacos e répteis) foram expostas a venda entre 1980 a biente natural. Para toda essa gente a fauna nacional não 1983, 191 espécies diferentes de aves nacionais, inclusié patrimônio valorizado que precisa ser protegida em ve várias do livro vermelho de espécies em extinção (Carestado selvagem. Reprodução de pássaros em cativeiro valho 1985). Num único dia foram contadas 80 espécies é raramente realizado - se não com canários e periquidiferentes para vender. Espécies de alta cotação são tos da Austrália. Existem no Brasil mais de 170 associa"fabricadas": como uma cortando a cauda de ções ornitológicas de amadores. Outra atividade popuuma . São pintados de amarelo as comuns lar, ligada às aves, era a caçada de macuco, jacú e marrecas, as aves "cinegéticas.II., g , deixando verde apenas as Ararajuba, Assim O comércio ilegal de aves continua a ser um . rêmiges: fabricando a valorizadíssima g Tais exemplares pintados chegaram problema extremamente sério devido a alta demanda a ser exportados, enganando cientistas estrangeiros que de pássaros de gaiolª,:O costume arraigado pela longa não conheciam os truques latinos .. tradição, onde cada brasileiro precisa ter seu passaribssim a fauna tão interessante brasileira é tratada nho, deixou prosperar o respectivo comércio. O comércomo uma simples mercadoria e tende a acabar. Não há cio ilegal é atrativo por duas razões: (1) a caçada é para fauna no mundo que resista a uma sangria como é o comuitos, sobretudo para certos adolescentes mais atraente mércio ilegal de aves do Brasil. Lembramos o caso da do que um outro trabalho qualquer (2) um bom lucro é ararinha-azul, o i, (dos últimos três) dois garantido; com razão o tráfico de aves silvestres é deindivíduos conhecidos em natureza foram capturados e signado como .um negócio de muitos milhões de dóvendidos por um dinheirão em 1988. A situação da aulares. A legislação quase ninguém conhece e ninguém toridade responsável (anteriormente IBDF, agora teme. IBAMA) é altamente ingrata: É incrível a quantidade e a qualidade de pássaros de gaiola existentes em qualquer morada do Brasil. O auOcorreu durante os últimos anos, a começar na tor destas linhas, morando em Laranjeiras, bairro ao lado década de 70, uma alteração notável da mentalidade do centro do Rio de Janeiro, pode ouvir do seu 13° anbrasileira. Não existem mais grandes jornais que não dar cerca de 20 espécies de Passeriformes nacionais encomentem algo sobre "ecologia" (confundida com a gaiolados (livres no mesmo bairro existe um número preservaçã~), a poluição e até preservação do meio semelhante, mas outras espécies) e mais quatro ambiente. E importante que o movimento brasileiro Psittacidae. Atualmente um passarinheiro que'se muecológico não seja mais um modismo passageiro. dou para o citado bairro, trouxe um le Um dos resultados dessa nova mentalidade em nosinstalado num balcão aberto, cantor excelente que alesos círculos foi a fundação do Clube dos Observadores gra todo mundo ao redor - muito mais do que o local de Aves, C.O.A., em 1974; hoje existindo em seis dos 23 livre, com canto viciado na cidade e estados da União, com cerca de 900 sócios. Era uma nocantando muito menos. Quando um dia o sabiá não canvidade absoluta no Brasil: gente nova, geralmente estutar mais (morrer, fugir) - fará muita falta e se desejará dantes, querendo excursionar para conhecer as aves em
.\
CONSERVAÇÃO
natureza. O COA pode ser muito útil naconscientização de amplos círculos ao passo que cria O interesse ativo na preservação da natureza e em particular das aves. Temos que tentar alterar a profunda afeição dos brasileiros para com a passarada engaiolada no sentido de conservá-Ia livre em natureza e usar apenas as gaiolas decorativas, sem pássaros presos. Isto seria praticamente aplicar a estratégia da CITES (Conoention on in En ed species ou "Convenção de Washington 1973": boicotando o comércio de aves nacionais. CITES distingue três categorias: 1) Espécies mais ameaçadas, cujo tráfico não é permitido exceto mediante licenças muito especiais; 2) Espécies que podem ser comercializadas mediante uma licença de exportação especial; 3) Espécies que podem ser comercializadas de acordo com as restrições estabelecidas na própria convenção,' ,O Brasil tem uma boa legislação, no que diz respeito à defesa de suas riquezas naturais, satisfazendo o conceito de que os problemas da conservação da natureza e dos recursos naturais, no mundo moderno, estão intimamente ligados ao bem-estar do homem, afetando a saúde dos povos. Contudo esta legislação tem que ser mais respeitada, o que é uma questão de educação.Necessitarnos de providências imediatas. . A destruição da natureza pelo desenvolvimento tecnológico e pelo aumento da população humana em toda a Terra torna-se um risco moderno gravíssimo e um previsível drama futuro. Uma vez extinta a fauna local típica, processo iminente em todo território nacional, ela desaparecerá para sempre da face da Terra. A conservação da natureza é tarefa primordial de um povo civilizado. Formulou muito bem o ex-Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, IBAMA, Fernando César Mesquita, se referindo especificamente à população da Amazônia: "De todo o modo é difícil falar em ecologia'' num país em que uma parte da população passa fome e acaba obrigada a recorrer à fauna e a outros recursos naturais como alternativa de sobrevivência." Quando encontramos no Parque Nacional da Amazônia um caçador, ele respondeu: "Nós caboclos temos que também comer." A caça de Tinamidae, Anatidae, Cracidae, Columbidae, Psittacidae e outros desempenhou um papel importante no interior, no sentido de abastecer a população rural com carne. Diferente é o caso quando, em certas áreas de colonização italiana, no sul do Brasil, "beija-flor no arroz" e "polenta com passarinho" são pratos populares, até os nossos dias, e quando "desportístas" abatem triunfalmente araras ainda hoje. Tornaram-se, e tornam-se perigosos coletores "científicos", enchendo caixas e caixas com ovos de gaviões raros, peles de beija-flores, etc.
8
É costume usar a palavra "ecologia" ao invés de preservação.
75
3.9 Nos últimos anos surgiu uma nova orientação. O instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), sucessor do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) promete uma nova política no vasto campo da natureza brasileira. Um desenvolvimento sem destruição. O governo tentou compensar o antigo descaso a natureza com o lançamento do programa NOSSA NATUREZA. É reconhecido que no passado a preservação da natureza foi totalmente esquecida. Não houve na história do homem na face da terra uma destruição de hábitats, flora e fauna como ocorreu na Amazônia, região mais rica no mundo em recursos naturais. São previstos uma atenção especial à Amazônia, à Mata Atlântica e ao Pantanal, os três grandes biomas (ecossistemas) mais famosos. Já existem várias propostas para o uso autosustentável das florestas amazônicas. Por exemplo fazer reservas extrativistas para retirar, lentamente, produtos de valor da floresta. É necessário a manutenção da própria floresta em pé, para o pleno desenv~ to de suas funções únicas ambientais. Precisam ser ~ encontradas mais fórmulas para o uso da floresta amazônica que não retirem as suas funções ambientais e sua diversidade biológica. É um novo tipo de silvicultura. Para não repetir o drama da Transamazônica, as novas estradas tem que ser construídas para áreas de solos férteis. Tem que se 'cortar todos os incentivos que acelerem a destruição da Amazônia como os incentivos de pecuária, para serrarias e para o ferro gusa. Aceitar pastagem como benfeitoria para fins de estabelecimento de posse de terra foi um dos grandes motivos da progressão do desmatamento na região amazônica. A silvicultura, um manejo florestal das matas primárias da terra firme com todas as espécies presentes, será uma novidade muito interessante: usar a mata autosustentável como recurso renovável. Técnicos do IBAMA e do INPE terão que preparar um atlas para a apresentação em Tóquio, no Japão, por ocasião do Ano Internacional do Espaço. O controle das alterações na Amazônia e em outras regiões do país é facilitado por novos satélites. Uma boa colaboração intemacional está se desenvolvendo, apoiada pelo progra-' ma internacional de "Florestas Tropicais". Um "Workshop - Priority conservation areas for Amazonia" em janeiro de 1990 em Manaus, Amazônia, reuniu 95 cientistas, entre eles Gillean Prance, do Royal Botanic Carden, Kew (botânico), Russel Mitterrneier, da Conservation lnternational (primatólogo) e Ted Parker, Museu de Ciências Naturais de Louisiana (ornitólogo). Trataram do planejamento de reservas na Amazônia com base científica botânica/zoológica. Houve concordância de que as áreas de preservação tem que ser grandes
-....
- -- _._-_."0"-.,.,...._ "
76
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
para garantir a sobrevivência do maior número possível de espécies. O ideal seria transformar 20% da Amazônia em parques contra 2% legalmente protegidos hoje. Até hoje os parques dos nove países amazônicos foram decretados apenas para proteger fronteiras, por se tratar de áreas imprestáveis para atividades humanas ou para abrigar espécies isoladas. Nunca se pensou no conjunto da flora e fauna, como se pretende fazer agora. [A seguir são relacionadas as espécies indicadas no texto principal das famílias e espécies (Capítulo 10) com a sigla Am acompanhadas de classificação adicional de ameaça global conforme Collar et 1994: Cr = Criticamente ameaçado, Am=ameaçado, Vu=vulnerável, Ex=Extinto, EneExtinto na natureza, Dd- Dados deficientes. Outras espécies ameaça das segundo proposta de Sick estavam indicadas através da sigla Ra, que indicava originalmente em seus manuscritos que a mesma estava rareando. As formas ameaçadas cujo tratamento taxonômico difere daquele apresentado em Collar et l. 1994 estão figuradas entre colchetes.
TABELA 3.1- Relação das espécies ameaçadas
(134)
3. f- Relação das espécies ameaçadas - continuação
TABELA
(2)
RALLIDAE
te l/us
enopie us
- Vu
(1)
SCOLOPACIDAE
enius
bo
lis - Cr
(1)
LARIDAE
(
tl
- Vu
(2)
COLUMBIDAE
Colu
is - Cr
i
Cl
- Cr
(17)
PSITTACIDAE
o
t - Dd
Cotu nicops
- Vu o ijnchus - Cr - Ex spixii - En u maracana - Vu Gu ub u - Am t auricapiila) - Vu uent t - Vu hu Ieucoiis - Ra ouii - Am ouit s - Am . - Am ho th - Am o - Am - Vu ui - Am l - Am n
h
us h hus gl
TINAMIDAE (4)
us solit o
- Ra - Vu
elíus nocti us niscus n us - Vu DIOMEDEIDAE
Oio ede
e
ince
- Vu
us
ndi ns - Cr
(2)
e
us
Dd
us
-
(1)
i - Cr
- Am
(1)
GALBULIDAE (1)
[asciatum - Ra
us
Eleot
TROCHILIDAE
it t
tl
- Am
(1)
THRESKIORNITHIDAE
Eud
- Ra ~RfMYbGIDA-E-(-2)
C
ARDEIDAE
ig iso
hus
(1)
- Vu PROCELLARIIDAE
d
(1)
CUCULIDAE
- Ra
PICIDAE (3)
içu D
e - Ra
l
- Vu tus - Cr
s
[uluescens
-
Vu
(2)
PHOENICOPTERIDAE
RHINOCRYPTIDAE (3)
hoenicpie s
- Ra
e gus oc
- Cr
oenicopie
- Cr - Am
Cljt -lopus n
FORMICARIIDAE
(4)
ACCIPITRIDAE
- Vu - Ra
H
tus pi
CRACIDAE
enelope jocucaca - Ra ipiie j tin - Vu gl - Vu
ni
t lis
- Vu
-
(1)
ANATIDAE
eucopte nis l o phnus gui nensis
ndinus - Vu
l is si t lopus ch
h
co tus - Vu - Ra
(6)
enelope oc te - Vu itu tu - En C blu - Cr
t nig opectus - Vu Dusith us plu - Vu the fluminensis - Vu t u - Cr H lo us pect s - Vu ici i ngi - Vu u - Vu - Vu o i - Am t - Am
(20)
ctoct ntes u u o io
ic
ogul is - Dd in Vu unicol - Vu - Vu lis - Am h notos - Cr b sili - Ra - Am ud - Vu - Vu
CONSERVAÇÃO
TABELA 3.1- Relação das espécies ameaçadas
- Am u - Am s
sec
l
l g
- Am - Vu DENDROCOLAPTIDAE
oco
SYLVIINAE
l
Poecilurus kollari - Vu
co
c
t
Eus
He ect
- Am
e
- Vu furcaius - Vu leuconjphus - Vu - Vu - Vu
Am
ei - Vu itei - Am e - Am s insoni) - Am
c legus
PIPRIDAE
- Vu
(2) l
o
Ra
Cono ng
is
VIREONIDAE
(1)
THRAUPINAE
(4)
s - Vu
eso
- Vu
e
COTINGIDAE
- Vu
s
eine e - Ra e o - Am o nig - Am s - Ra Co ph spi el notis - Vu
l
- Vu - Vu
e - Cr e o
us
li - Ra
- Ra
- Vu C l - Am I - Vu ugus l ides - Vu seu - Ra i s - Vu
o eus
us - Am esi - Cr
duelis
ellii - Vu]
o hil s Gube
CARDUELINAE
- Cr es - Vu
(10)
EMBERIZINAE
os
s - Ra
(12)
si
[astuosa - Am
IcTERINAE
el
(1)
- Am
(13)
bec
(1)
MOTACILLIDAE
eo g
h
ç o
-
- Ra
(1)
- Vu tes cecil tei
o - Cr
til
- Am - Vu - Vu
- Vu TYRANNIDAE
ll los
TABELA 3.1- Relação das espécies ameaçadas
(9)
FURNARIIDAE
enes l
-
77
ont lis - Am e - Vu - Am eucos - Ra c s - Am
(3) - Am
(1)
.. t : "
. ...~ ,
4
Biogeografia e Especiação
Conforme indicado, partes deste capítulo tiveram a contribuição de Jürgen Haffer, em Inglês, especialmente para a edição norte-americana, editada em 1993. A bibliografia apontada por Haffer foi consolidada junto à bibliografia geral.
4.1
i
[Sick]: O Brasil ocupa uma parte considerável da região neotrópica, a qual se estende da orla setentrional das matas pluviais do México (20 N) até o Cabo de Hornos (57°S), abrangendo toda a América do Sul, a América Central e as Antilhas. Ao sul de 300S (Porto Alegre) começa a reinar um clima moderado, a região de Parnpa.Ao sul de 40 S se estende a região patagônica, de clima frio. A região neotrópica é caracterizada pela grande extensão da planície continental na América do Sul, que abriga a maior extensão contínua de florestas pluviais da Terra (Amazônia), e pela possante cadeia dos Andes, na qual o Brasil não participa. A avifauna da região neotrópica apresenta numero0
0
Fig.28. eg neo ôpic (adaptado de Haffer 1974b). Marcaçãoda subdivisão zoogeográfica.Região cisandina(pontuada), região transandina (tracejada), região dos Andes (preto-maciça).Aregião neotrópica se estende do sul do México(20 N)até o Cabo de Homos (57°5),incluindo a parte meridional nãotrápica da Américado Sul. 0
sas espécies endêmicas, que nela evoluíram. De um total de 930 espécies da Amazônia (esta encarada como unidade ecológica, sem tomar em consideração fronteiras políticas), perto de 44% são endêmicas, envolvendo cerca de 60 gêneros endêmicos; 6 espécies alcançam Trinidad, na costa da Venezuela (Haffer 1974a). Os Suboscines (ou non-Oscines. Clamatores ou Mesomyodi), Passeriformes autóctones da região neotrópica, ocupam urna posição de destaque na América do Sul: no Brasil alcançam 36,2% do total de sua avifauna. Os Suboscines ocupam na América do Sul um certo número de nichos ecológicos que, em outros continentes, são ocupados por outras aves das mais variadas qualidades. Umpequeno número de famílias tem a supremacia numérica. As mais ricas em espécies no Brasil são., Tyrannidae, 210; Formicariidae, 168; e Furnariidae, 103; todas pertencentes aos Suboscines, e Trochilidae com 78 espécies, como representante mais numeroso dos nãoPasseriformes. ' ' Podemos reunir em cinco grupos as aves que vivem na região neotrópica (não considerando algumas aves aquáticas e marinhas): 1. Famílias neotropicais: Tinamidae, Rheidae, Anhimidae, Psophiidae, Eurypygidae, Cariamidae, Opisthocomidae, Steatornithidae, Nyctibiidae, Galbulidae, Bucconidae, Ramphastidae, Dendrocolaptidae, Furnariidae, Formicariidae, Rhinocryptidae, Cotingidae, Pipridae e Phytotomidae. Em certos casos, como Cathartidae . e Momotidae, atualmente exclusivos da região neotropical, são conhecidos fósseis do Velho Mundo. 2. Distribuição mais ou menos extensa na América doSul e do Norte: Trochilidae, Tyrannidae, Troglodytidae, Mimidae, Vireonidae. Emberizidae corno Parulinae, Coerebinae, Thraupinae, Emberizinae, Cardinalinae e Icterinae. 3. Famílias de distribuição pantropical: Anhingidae, Heliornithidae, [acanidae, Psittacidae, Trogonidae e Capitonidae. 4. Famílias oriundas do Velho Mundo: Phasianidae, Columbidae, Cuculidae, Corvidae, Muscicapidae corno Turdinae e Sylviinae e Motacillidae. 5. Largamente distribuídas no mundo inteiro: Anatidae, Accipitridae, Falconidae, Rallidae, Charadriidae, Scolopacidae, Laridae, Tytonidae, Strigidae, Caprimulgidae, Apodidae, Alcedinidae, Picidae (excetoAustrália, Nova Guiné e Madagascar) e Hirundinidae.
BIOGEOGRAFIA
Fig. 29. Centros de endemismos na avifauna das planícies florestadas. Centros transandinos (áreas pretas): (A) Cuatemala (7 spp.); (B)litoral caribenho da Costa Rica (14 spp.); (C)litoral pacífico da Costa Rica (12spp.); (O) Chocó (32 spp.): (E)Nechí (14 spp.). Centros lestebrasileiros (tracejado): (L)Recife; (M e N) Serra do Mar. Centros amazônicos (com indicação do número de espécies endêmicas) é simplificado pela omissão de algumas extensões desloca das
através dos grandes rios: (F)Napo; (G) lnambari; (H) lmerí; (1)Rondônia; (J) as Guianas; (K) Belém(adaptado de Haffer 1967, 1974b, 1975 e 1987a).
A influência africana na fauna neotrópica, p. ex. a existência da família Trogonidae, em ambas as áreas, documenta uma antiga conexão entre os dois continentes cuja separação c0n:teçou no Cretáceo, há mais de 60 milhões de anos. No Terciário (Eoceno), há 40 milhões de anos, a distância dos dois continentes ainda não era grande (Short 1971). Os quatro Anatidae africanos de água doce Dend bicol e D. tnd , l e s - podem ter atravessado o Atlântico mais tarde. As análises da descrição das avifaunas africana e asiática tropicais (Stresernann & Grote 1929; Chapin 193254; Moreau 1966), à luz da história geológica/ climática, tornaram-se o modelo para pesquisas correspondentes na América do Sul, principalmente na região amazônica, realizadas com afinco por J. Haffer (1969 em diante).
E ESPECIAÇÃO
79
Jürgen Haffer, como geólogo de petróleo profissional e com grande experiência pessoal com a avifauna do noroeste da América do Sul chegou à melhor síntese desses problemas, desenvolvendo a teoria dos refúgios florestais, neste continente. [Haffer]: A avifauna Neotropical, compreendendo aproximadamente 3.300 espécies, é a mais rica do mundo. Muitas espécies de aves distribuem-se sobre extensas áreas da América do Sul e Central, enquanto que outras espécies ocorrem em áreas de dimensão intermediária. Um número surpreendentemente grande de espécies e subespécies bem diferenciadas encontra-se agrupado em regiões relativamente restritas das planícies do Neotrópico, caracterizando um conjunto de áreas de endemismo (fig. 32): cinco nas porções florestadas da América Central, seis a sete na Amazônia e três nas florestas do leste do Brasil, cada qual com 10 a 50 (ou mais) espécies e subespécies endêmicas (Cracraft 1985; Haffer 1978,1985,1987a). Sete áreas de endemismo são conhecidas em regiões de planícies não-florestais da América do Sul. A maioria das zonas de contato entre subespécies ou espécies parapátricas estreitamente relacionadas, que se hibridizam, agrupam-se em regiões intermediárias entre os centros de endemismo. Outro fenômeno biogeogr:áfico de destaque na região Neotropical é a reampla disjunçãó na distribuição de numerosos t presentativos, proximamente relacionados (espécies e subespécíes), de aves de montanha e baixada. [Sick]: Tal é O caso dos bacuraus de cauda extremamente longa, com duas espécies nos Andes e uma, o bacurau-tesoura-gigante,.Macropsalis e g nas regiões montícolas do sudeste do Brasil. O pav ó. odel Us scuiaius, um cotíngideo, é amplamente distribuído nas montanhas da Guiana, Venezuela e Colômbia, e é um típico representante das florestas primárias do sudeste do Brasil, Paraguai e nordeste da Argentina. A garça maria-faceira, e o socó-boi, [asciatum, e várias outras aves têm distribuição semelhante. Tal distribuição altamente disjunta revela, dramaticamente, que ocorreu uma enorme extinção de populações durante séculos antes que se iniciasse a interferência do Homem. [Haffer]: Os grande rios amazônicos delimitam as áreas de distribuição de várias espécies de aves ao longo de suas porções mais largas. Entretanto, o total cumulativo de fronteiras de distribuição localizadas longe dos rios "largos é muito grande (Haffer 1978). Cerca de uma centena de espécies (15%) da avifauna terrestre da bacia amazônica está restrita a hábitats criados pelos rios, tais como praias e bancos de areia, vegetação arbustiva sobre bancos de areia, floresta ribeirinha; floresta de várzea, floresta de transição e a beira d ' água (Remsen & Parker 1983; vertambém Terborgh 1985) Dependendo da diferenciação genética alcançada por formas geográficas características, estas são consideradas como espécies, caso elas sejam ( ou presumivelmente
,t I
--------------------------------~----~~==~===- ~.~ 80
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Fig.30.Refú&iosflorestais.Distribuiçãode refúgiosflorestaispresumidos no Neotrópico durante épocas secasno Pleistoceno.A esquerda: aves (seg.Haffer 1967em diante); no meio:lagartixas do gênero (seg. Vanzolini& Willians1970);à direita:borboletas do gênero Heliconius (seg.Brown et . 1974),
sejam) reprodutivamente isoladas umas das outras, ou subespécies de uma determinada espécie biológica, caso hibridizem extensamente (ou presumivelmente hibridizem) ao longo das zonas de contato. Espécies geográficas características são designadas como aloespécies, caso não estejam em contato, e como paraespécies, caso estejam em contato sem (ou pratica-
mente sem) hibridação (semiespécies sensu são espécies que se hibridizam em parte da área de contato; Short 1969). Uma superespécie é composta por duas ou mais paraespécies ou aloespécies que derivaram diretamente de um ancestral comum (Amadon 1966a, 1968; Selander 1971). Em contraposição, uma espécie zoogeográfica é uma superespécie ou uma espécie biológica independente (que não é membro de uma superespécie; veja Mayr & Short 1970). [Sick]: A noção dessas categorias é a chave para o entendimento de complicados processos de especiação e hibridação, tais como o dos tucanos (Ramphastidae) conforme explicado por Haffer(1974b). A percentagem de aves tropicais florestais que podem ser agrupadas em superespécies é, em alguns casos, muito elevada: 75% dos aracuãs, jacus e mutuns (Cracidae), bicos-de-agulha e arirambas (Galbulidae) e tangarás e afins (Pipridae); nos araçaris e tucanos (Ramphatidae) estes valores alcançam 85%. Os papagaios, periquitos e araras (Psittacidae); arapongas, anambés e afins (Cotingidae) e os gaturamos, saíras, sanhaços e afins (Thraupinae) são grupos onde, sob este aspecto, muito trabalho ainda é necessário. A situação aloespecífica se torna interessante quando aloespécies da mesma superespécie entram em contato novamente, após terem estado isoladas. Elas podem
requerer condições ecológicas muito semelhantes e portanto competirem como rivais. Este aparenta ser o caso que ocorre com as aloespécies (Uirapuruvermelho) e [asciicauda (Uirapuru-Iaranja) da superespécie do baixo Amazonas. No caso de espécies próximas ocupando áreas contíguas, este tipo especial de alopatria é denominado distribuição parapátrica e as espécies são parapátricas. Excepcionalmente uma aloespécie pode penetrar, em maior ou menor extensão, na área de outra, sua vizinha, e ser capaz de aí permanecer resultando em simpatría (espécies simpátricas são aquelas que vivem no mesmo lugar). Isto ocorre no alto Amazonas com o araçari-castanho, e o araçari-de-dupla-cinta. lossus i aparentemente sem ocorrer mestiçagem (Haffer 1974b). [Haffer]: Na tentativa de se interpretar a origem da elevada diversidade de espécies no Neotrópico, especialmente nas regiões florestais, e a origem dos padrões biogeográficos, foram propostas três teorias que podem ser relevantes em diferentes graus para diferentes grupos faunísticos ou.diferentes níveis de diferenciação faunística (Haffer 1974b, 1982; Simpson & Haffer 1978; Prance 19~2 ):
4.1.1
TEORIA
P ALEOGEOGRÁFICA
As mudanças paleogeográficas nas distribuições das terras e mares devido a movimentos orogênicos e epirogênicos durante o Cenozóico (Terciário-Quaternário) levaram à separação e diferenciação de populações animais, de uma biota previamente contínua, em áreas terrestres isoladas e penínsulas (Chapman 1917; Emsley
-
BIOGEOGRAFIA
E ESPECIAÇÃO
81
Fig. 3l. Aspectos da distribuição de aves florestais na Amazônia (seg. Haffer 1980). À esquerda: seis núcleos de espécies endêmicas (áreas pretas). Podem ser reconhecidos quatro tipos de distribuição: (1) aves do alto Amazonas (traço-ponto), (2) aves do baixo Amazonas (traço espesso), (3) aves de larga distribuição na Amazônia, porém, não existindo no sudeste da Amazônia (traço fino), (4) aves amazônicas que faltam no nordeste da Amazônia (pontilhado). À direita: zonas de contato de espécies de aves amazônicas, setas indicam faunas que estão em expansão: (1) na região norte-central; (2) na região sul-central; e (3) no alto Amazonas.
1965; Rãsânem et . 1987; Cracraft & Prum 1988). Permanecem desconhecidos detalhes acerca da história paleogeográfica das regiões andina e da área central da América do Sul durante o Terciário - e em particular o efeito da cambiante barreira derivada do contínuo deslocamento dos leitos do rio Amazonas e seus maiores afluentes - necessários para reconstruir a história da fauna (Haffer 1974b; Cracraft & Prum 1988). Durante os períodos glaciais do Quaternário, o nível global do mar encontrava-se cerca de 80 a 100 metros abaixo do nível atual. Opostamente, durante os períodos interglaciais de elevado nível do mar, várias planícies costeiras da América do Sul foram convertidas em enormes lagos interiores de água doce ou salobra, que se estendiam à
Em
9 -10
EJ IJJ]]
7-8
CJ
2-4
.
~
5-6
oeste alcançando a bacia do Marafion, no leste do Peru. De acordo com esta teoria, as espécies e subespécies existentes, assim como seus respectivos padrões' de distribuição, são imaginados como tendo se originado devido à mudanças em larga escala na distribuição das terras e dos mares durante o Terciário e o início do Qua ternário.
4.1.2
TEORIA
DOS RIOS
o desenvolvimento do sistema fluvial, e em particular a freqüente mudança de posição dos leitos dos rios e de suas planícies de inundação nas terras baixas, como na Amazônia, é visto como causa da efetiva separação e
Fig. 32. Distribuições sobrepostas de dez espécies de aves típicas do cerrado (à esquerda) e dez da caatinga (à direita). Adaptado de Haffer 1985. A lista de espécies de Haffer, não apresentada aqui, difere ligeiramente da minha.
82
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
subseqüente especiação de aves e outras populações de vertebrados em margens opostas (Hellmayr 1910,1912; Snethlage 1913; Mayr 1942: 228; Sick 1967b; Willis 1969: 393; Hershkovitz 1977: 413; Capparella 1988; Cracraft & Prum 1988). Os trechos mais largos de vários rios da Amazônia, freqüentemente em conjunção com suas planícies de inundação, mais largas ainda, são formidáveis obstáculos para a dispersão de aves que habitam o interior da floresta. Eles efetivamente separam populações de várias espécies e subespécies de aves das florestas de terra firme [Sick]: tais como, por exemplo, da separação pelo baixo Tapajós das duas raças do jacamim-de-costas-verdes, viridis, e pelo Madeira de duas aloespécies (ver abaixo): P. viridis e o jacamim-de-costas-brancas, P. Ieucopiera. [Haffer]: Entretando, um grande número destes taxa estão em contato direto nos cursos superiores onde os rios deixam de ser barreiras efetivas (Haffer 1982). [Sick]: Tal contato entre os jacamins não ocorre no Brasil central, nos afluentes da margem sul do Amazonas, devido à ausência de condições climáticas e ecológicas para existência dos jacamins nas cabeceiras destes rios. [Haffer]: Qualquer discussão acerca da importância dos rios para a diversificação da fauna de vertebrados é incompleta sem a consideração das condições ecológicas, presentes e passadas, das cabeceiras dos rios cujos baixos cursos representam barreiras para dispersão de vários animais da floresta úmida. [Sick]: O quanto a largura de um rio possa ser ou não uma barreira para a fauna é objetivamente demonstrado pelo Periquito-da-caatinga, caciorum. Estas aves, que são excelentes voadoras, colonizaram
ambas margens do rio São Francisco no nordeste do Brasil, mas não cruzam o rio sem necessidade, acarretando que duas subespécies se desenvolveram, uma em cada lado do rio. A presença de pequenas aves fotofóbicas como os em ilhas cobertas corri florestas, um ou dois quilômetros da margem dos grandes rios amazônicos, chama a atenção para o fato de que estas aves, ao voar através dos canais fluviais, são mais capazes de colonizar do que se esperaria.
4.1.3
TEORlA DOS REFÚGIOS'
[Haffer]: As variações climático-vegetacionais provavelmente acarretaram o isolamento de populações de animais da floresta em refúgios florestais (fig. 32) durante as fases de clima árido e de animais não-florestais em refúgios não-florestais durante as fases úmidas do Cenozóico (Haffer 1969; Prance 1982, 1985; revisão crítica por Lynch 1988). Dentro dos refúgios as populações das espécies (a) se extinguem, (b) sobrevivem sem alterações, ou (c) se diferenciam ao nível de subespécie ou espécie. Na Amazônia, refúgios de floresta densa devem ter sido separados por florestas menos úmidas e mais abertas dominadas p~r cipós e palmeiras, em vez de uma
vegetação não-florestal como savana e caatinga. A sugestão original para a possível localização de refúgios florestais na América tropical foi baseada na consideração da atual distribuição regional de chuvas e no relevo, juntamente com outras evidências geocientíficas. Independentemente, os padrões de distribuição biótica sugeriram um conjunto de áreas nucleares (áreas de endemismo. figo32) para organismos florestais (Simpson e Haffer 1978; Brown 1987a,b). Uma comparação entre esses dois conjuntos de áreas, determinados de forma independente, mostra que eles são, em grande parte, coincidentes, o que sugere que as mudanças climáticas e a formação de enclaves florestais provavelmente foram a causa do padrão de especiação. Embora, possivelmente, mais pronunciados durante o Quaternário, as mudanças climático-vegetacionais também ocorreram repetidamente no precedente período Terciário. Evidência geocientífica de várias regiões na América tropical confirmam a ocorrência de mudanças climáticovegetacionais durante o Cenozóico (Haffer 1987b; Schubert 1988). Entretanto, ainda não se encontra disponível uma evidência direta para uma área em particular que tenha suportado um refúgio florestal ou um refúgio não-campestre durante um determinado período climático. Falando de uma maneira geral, pode ser muito simplista assumir a alternância de prolongados períodos de continuidade e discontinuidade de hábitats durante o Cenozóico. Mais precisamente, as constantes mudanças nos padrões climáticos podem ter causado mudanças continuamente complexas na distribuição de elementos florestais e não-florestais durante as fases frioárida, frio-úmida, quente-árida e quente-úmida. Os refúgios podem representar áreas de relativa continuidade de hábitats e de sobrevivência ordinária de certos grupos. Durante os picos de ao menos algumas fases glaciais áridas do Quatemário.ia destruição de várias comunidades fragmentadas, mais ainda identificáveis como unidades de vegetação (ex.: floresta úmida), pode ter continuado em algumas regiões, por exemplo, no norte da América do Sul, a tal ponto que somente populações muito restritas de elementos endêmicos e vários taxa de animais e plantas não endêmicos persistiram em "minirefúgios" dispersos e localizados, muito pequenos para serem documentados nos registros palinológicos (pólen fóssil) (Livingstone 1980). [Sick]: Um fenômeno peculiar, comum na Amazônia e decorrente de um isolamento anterior, é a distribuição insular de algumas aves pouco móveis, como os papaformigas (ex.: espécies de no meio da extensa floresta amazônica. Num período superúmido a floresta retornou e preencheu as lacunas de mata, mas a fauna ainda era incapaz de uma nova expansão. Para essa situação não se tinha qualquer explicação antes da interpretação histórica que postula "refúgios", noção que revoluciona a zoogeografia. A presente coexistência de várias espécies similares, tais como mais de dez espéo ul na mesma área, se torna compreencies de
BIOGEOGRAFIA
sível. Em certas localidades, de 20 a 45 espécies de e foram registradas. É impossível que estas aves proximamente aparentadas tenham evoluído no mesmo ambiente, não importando quão variadas sejam as condições ecológicas atuais na floresta amazônica. Elas devem ter evoluído quando segregados em um mosaico florestal de "refúgios". Devese mencionar que H. W. Bates, em meados do século passado, chamou a atenção para a existência de muitas biotas endêmicas na floresta amazônica. [Haffer]: Em contraste ao que ocorre na Baixa Amazônia, não há informação paleoecológica disponível para as regiões florestais da Alta e da Amazônia Central, como novamente apontado por Connor (1986), Colinvaux (1987) e Saio (1987) nas suas discussões críticas acerca da base geocientífica para a teoria do? refúgios. Mesmo que futuras pesquisas venham a sugerir que zona das florestas na Alta e na Amazônia Central meramente encolheu em extensão perifericamente, sem se fragmentar, durante os períodos climáticos áridos, ainda assim a teoria dos refúgios permanece um modelo válido por evidenciar o poder do meio ambiente na evolução e na diversificação das faunas terrestres sobre vastas regiões da América do Sul e em outros continentes, durante toda a história da Terra. [Sick]: Duas outras considerações são aqui pertinentes: (1) Evolução em ambiente campestre e imigração setentrional. A evolução da fauna campestre (fig. 32) é tão interessante quanto aquela da fauna florestal. Fator preponderante que limitou a expansão da Hiléia foi a zona relativamente seca que se estendeu do sul da Venezuela ao nordeste do Brasil, atravessando o Amazonas. Esta zona originou-se, presumivelmente, no último grande período de seca, entre 4.000 e 2.500 anos antes da época atual. Posteriormente, com nova expansão das matas, tal zona foi fechada (Haffer 1974b). Esta barreira ecológica, uma "Transamazônica" campestre natural, separava a Alta Amazônia da Baixa Amazônia e, por sua vez, deu a elementos campestres novas oportunidades de se expandirem; como abordado no caso de dois beija-flores, opel i l e Colib delphi A imigração que se originou na América do Norte aproveitou-se das áreas campestres do meio da Amazônia, tal como o Pedro-celouro, el .~ vistoso icteríneo. Sua "cabeça de ponte" que chegou mais ao sul, alcançou os campos do baixo Tocantins, Pará. Sucesso idêntico não t fasianídeo, e tiveram o Uru-do-campo, Colinus bist us, também de orio Téu-téu-da-savana, gem norte-americana, que não conseguiram transpor o
E ESPECIAÇÃO
83
Amazonas. Colinus ist ius apresenta-se ao norte do Amazonas, como um substituto ecológico das codornas, spp., e da perdiz, - tinamídeos meridionais que, por sua vez, não conseguiram trespassar o Rio Mar para o norte. Não estou aqui me referindo à grande imigração da fauna norte-americana, tanto de mamíferos como de aves, para a América do Sul, quando do encontro dos dois continentes em tempos muito distantes (Plioceno, 5 milhões de anos atrás) quando várias aves de origem norte-americana 'alcançaram o extremo sul da América do Sul (ver Oscines). (2) Imigração Andino/Patagônica. A imigração dos ecossistemas andino/patagônico para o Brasil pode ter ocorrido nos últimos 2 milhões de anos (Quaternário, dividido em Pleistoceno, e Holoceno, qual seja, os últimos 10.000 anos), durante várias mudanças climáticas. Assim o Brasil recebeu vários membros da família Rhinocryptidae, um grupo de passeriformes Suboscines geralmente silvícolas e amplamente distribuído no sul do continente e nos Andes. Os encontram-se entre eles. Dois Furnariidae tiveram a mesma história imigratória: a garricha-chorona, c e o Pedreiro, Cinclodes Enquanto que o primeiro é restrito às serras altas do sudeste do Brasil, com clima temperado onde prosperam populações isoladas de bambu C. vive em áreas abertas no extremo sul do país. É difícil decidir se os representantes brasileiros desses grupos devem ser considerados pioneiros ou relitos. Uma dispersão inversa, das regiões montanhosas do sudeste do Brasil para as encostas dos Andes, deve talvez ter ocorrido com o Matracão. cine s. e com a Tesourinha, [Haffer]: O conhecimento atual da história da América do Sul tropical durante o Terciário e o Quaternário, indica repetidas formações complexas e desaparecimentos de zonas de barreira através do continente por meio de mudanças paleogeográficas e flutuações climáticovegetacionais. Os dados geocientíficos disponíveis, entretanto, são insuficientes para permitir um mapeamento das mudanças na distribuição das terras e dos mares ou da vegetação florestal e não-florestal durante o Cenozóico, e, em particular, para se delinear a história das áreas de endemismo. Por conseguinte, ainda não se pode construir cladogramas para a história das áreas terrestres e as unidades de vegetação no Neotrópico durante o Terciário-Quaternário de forma a se comparar com cladogramas derivados de estudos taxonômicos de determinados grupos (Haffer 1985; Cracraft & Prum 1988).
----~
Morfologia
5
5.1 Reduzimos ao mínimo a informação zoológica geral, não repetindo o que costuma constar nos compêndios usuais. Selecionamos alguns fatos relativos às aves do Brasil. Defendemos a "morfologia biológica", encarando a função do organismo, a ave viva, suas múltiplas adaptações ecológicas ("morfologia ecológica") e seu comportamento. 12- morfologia das aves, a começar pelo esqueleto, é caracterizada por uma uniformidade muito grande.
5.1.1
t' I I
I
DIAGNOSE,
SACOS AÉREOS
As aves são vertebrados cobertos de penas, de membros anteriores transformados em asas (as quais podem ser transformadas em remos) e membros posteriores usados para a locomoção bipedial (ou transformados em leme), com a temperatura mais alta conhecida (pombo 300g, 41-41, S°C) entre os animais, com um sistema de
sacos aéreos distribuídos pelo corpo. Os sacos aéreos, que são insufláveis, comunicam-se com os pulmões (que são de volume fixo), o oco dos ossos e a boca. Esse sistema respiratório, único no Reino Animal, contribui para reduzir o peso e tem várias outras funções e vantagens. A mais importante é que os sacos abastecem o pulmão (que é pequeno e relativamente simples) com ar, promovendo uma circulação repetida sem nova respiração (não ocorre estagnação do ar no pulmão, como no homem), grande vantagem para as aves quando voam, mergulham e vocalizam. A rigidez dos sacos e seus prolongamentos aumentam a resistência dos ossos pneumáticos e protegem a ave contra impactos quando se precipita na água (v. sob atobá, martim-pescador). O sistema de sacos aéreos contribui para o isolamento térmico. Os sacos cervicais podem desempenhar um papel impressionante nas cerimônias pré-nupciaís (v. tesourão, Fregatidae). No tachá, o sistema de sacos aéreos é até capaz de produzir um ruído.
35
MORFOLOGIA
Fig. A - Partes exteriores da ave (em parênteses
nome em inglês). Adaptado
I. Cabeça (head) 1. alto da cabeça, píleo (pileum, top of the head) 2. fronte, testa (forehead) 3. vértice (crown) 4. occiput (occiput), v. também 27 5. faixa, lista, risca, linha superciliar ou supra-ocular, sobrancelha (superciliary stripe, eye-brow) 6. faixa transocular 7. 101'0, freio (lores) 8. íris, no centro a pupila 9. pálpebra (eyelid) 10. região perioftálmica, anel periocular (eye-ring) 11. região pós-ocular, retroocular, transocular 12. ouvido (ear) . 12A. região auricular 13. bochecha (cheek) 14. estria malar ou mistacal, bigode (moustachial, malar stripe) 15. mento (chin) 16. garganta (throat) 16A. base da garganta
n. Bico (bill) (O estojo córneo do bico é designado
como ranfoteca) 17. maxila, mandíbula superior, bico superior (upper beak, upper mandible) 18. ponta do bico 19. culmen, cume da maxila, cumeeira (culmen) 20. tôrnia, comissura (cutting edge) 21. narina, venta (nostril) 22. cera, ceroma (cere), existente, p. ex.. em gaviôes. 23. dente (tooth) 24. mandíbula, mandible (mandible, under mandible) 25. gonis (gonys, união dos dois ramos da mandíbula) 26. ricto (rictus), local onde aparecem as saliências ou carúnculos rictais de pequenos filhotes de Passeriformes.nesta área há freqüentemente cerdas (bristles, vibrissae)
Ill. Lado superior 27. nuca (nape), v. também 4 28. pescoço superior ou posterior, face dorsal do pescoço (hind neck) 29. dorso, costas (back). Uma designação um 'tanto vaga é "manto", usada para o dorso anterior ou, mais logicamente, para todo o dorso em conjunto com as coberteiras superiores das asas. 30. alto dorso, dorso anterior, região interescapular (interscapularregion) 31. escapulares (scapulars) 32. médio dorso 33. baixo dorso, dorso posterior ou inferior (Iower back) 34. uropígio, sobrecu (rurnp, em espanhol: lomo) 35. coberteiras superiores da cauda, supracaudais (uppertail coverts, em espanhol rabadilla ou supracaudales) 36. cauda, rabo, retrizes (tail, rectrices, tail-feathers)
85
de O. Pinto (1964).
IV. Lado inferior 15. mento (chin) 16. garganta (throat) 16A. base da garganta 37. pescoço inferior (fore neck) 38. pescoço anterior inferior 39. pescoço posterior inferior, região do papo 40. lados do pescoço (sides of the neck) 41. peito 42. alto peito, peito anterior (chest) 43. baixo peito, peito posterior (breast) 44. barriga, ventre, abdômen (abdomen) 45. lados do corpo (sides) 46. flancos (flanks) 47. crisso, região ao redor da cloaca (crissum) 48. coberteiras inferiores da cauda, subcaudais, infracaudais (undertail-coverts) V Membros posteriores, pernas (hind limbs, incluindo ou não opé) (O estojo córneo do pé é designado como podoteca) 49. calção, calça, polaina, coxa (thigh,tibia) 50. tarso, canela, tarso-metatarso (tarsus) 51. acrotarso 52. planta do tarso 53. 1° dedo (hind toe) 54. 2° dedo (inner toe) 55. 3° dedo (middle toe) 56. 4° dedo (outer toe); os dedos, compostos de falanges, constituem o pé (foot); a designação "pé" é usada às vezes para o conjjmto dedos-tarso; os dedos podem ser providos por membranas natatórias ou interdigitais 57. unha (claw) 58. esporão (spur), existente, p. ex., no galo doméstico; existem, às vezes, esporões da asa, p. ex. no quero-quero VI. Asa (wing) 59. encontro, curva da asa (bend of wing) 60. margem da asa, orla alar, borda metacarpal ou carpal (edge of wing) 61. dragona (epaulet), p. ex., em certos icteríneos 62. asa bastarda (bastard wing, alui a) 63. espelho, espéculo (speculum), p. ex., em anatídeos e certos emberizíneos rêmiges (remiges) I rêmiges primárias (primaries) II rêmiges secundárias (secondaries) Ill terciárias, secundárias internas (tertials), de fato não são rêmiges coberteiras, tectrices (coverts) IV grandes coberteiras superiores da asa (greater wing-coverts) V coberteiras médias superiores da asa (median wing-coverts) VI pequenas coberteiras superiores da asa (lesser wing coverts); o lado inferior da asa é coberto pelas coberteiras inferiores e as axilares.
86
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
5:1.2 ESQUELETO o estudo dos ossos está relacionado
~ [
II
II I, I' I
I
I
sobretudo à sistemática (a classificação dos seres, arrumados na provável seqüência filogenética), no campo da paleontologia e da anatomia comparada. A aquisição da faculdade de vôo implicou numa redução máxima do peso dos ossos sem prejudicar a estabilidade do esqueleto. A substância óssea da ave é extremamente dura. Muitos ossos são ocos, pneumáticos, resultando daí a surpreendente situação de o esqueleto poder ser mais leve que o integumento - as penas, a pele e os estojos córneos do bico e dos pés: ranfoteca e podoteca, respectivamente - (Brodkorb, 1955). Numa águia de o esqueleto pesou apenas 272g-(6.66% do peso total), enquanto o integumento pesou 1.044g (25.58% do peso total), a musculatura e o sistema nervoso pesaram 2.360g (57.81%) e as vísceras 247g (6.06%). ~Quando as aves perdem secundariamente a capacidade de vôo, os osso~ tornam-se compactos e pesados (p. ex., pingüim, erna). O crânio é uma das partes do esqueleto que mostram nitidamente a economia de substância óssea quando se trata de aves voadoras. Enquanto bacuraus e corujas têm um crânio levíssimo, esponjoso, marrecas que voam pouco mas mergulham muito, possuem um crânio de osso maciço. Boa parte do crânio é tomada pelos olhos, muito grandes. Que o bico caracteriza as famílias é óbvio. Sua formação obedece tanto às relações filogenéticas como a adaptações às técnicas mais variadas para apanhar a comida) circunstâncias tratadas detalhadarnente nos textos de f~mílias. S. L. Warter estudou a osteologia cranial dos tiranídeos. resolvendo problemas nessa maior família de aves nas Américas. Considerando as exigências muito grandes de vôo, o tronco ou tórax tem que ter estabilidade, na qual ajudam a estrutura da cintura escapular e as apófises i iii, que faltam nas Anhimidae. Os falconídeos apresentam a parte posterior da coluna reforçada por uma fusão de vértebras Alterações profundas ocorreram no esqueleto do tórax da ci. gana, A estrutura óssea dos membros anteriores, as asas, corresponde basicamente à dos répteis e mamíferos, sendo porém os dedos rudimentares e os ossos da mão soldados, estabilizando a asa. Referimo-nos sempre à forma da asa que depende da estrutura óssea particular e das rêmiges, resultando em diferentes tipos de vôo nas várias famílias e gêneros ..Evoluíram esporões como armas nas asas da anhuma e da jaçanã. O filhote da cigana tem duas unhas na asa. Há redução drástica daasa nas Ratitas, representadas no Brasil pela érna. A execução do vôo levou nas "Carinatas", a maioria das aves, a evolução da t ni, a quilha este ma, e da [úrcula, particularidades da classe AVES, a fúrcula já eo nas quais se insere a museuexistindo no
Fig. B- Esqueletoda ave (seg.A. Reichenow 1913). 1. crânio 2. vértebras cervicais 3. vértebras dorsais 4. sacro 5. vértebras caudais 6. pigostilo 7. costelas,com apófises uncinadas 8. esterno, com quilha esternal 9. clavícula(fúrcula) 10. coracóide 11. omoplata (escápula) 12. úmero 13. cúbito(ulna) 14. rádio 15. articulação da mão, metacarpo 16. metacarpo 17. polegar, 1°dedo da mão 18. falange do 2°dedo da mão 19. falange do 3°dedo da mão 20. fêmur 21. tíbia,tíbia-tarso 22. tarso, tarso-metatarso .23.dedo posterior (hálux), 1 dedo do pé 24. dedo interno, 2°dedo do pé 25. dedo médio, 3°dedo do pé 26. dedo externo, 4°dedo do pé FlechaCA, calcanhar,articulaçãointertarsal, designada erroneamente como "joelho" Flecha10, joelho 0
MORFOLOGIA
latura de vôo:1 Nas aves corredoras, as Ratitas, a quilha esternal desapareceu junto com a musculatura de vôo. A forma do esterno é usada na sistemática, p. ex. nos Falconiformes e Passeriformes (v. figo 198). Como apoio da cauda evoluiu o pigostilo que não existe nas aves que não desenvolvem a caud~~ como acontece com a ema e as galinhas usuras" (v. sob galinha-doméstica). Chamamos a atenção para os diversos tipos de pés, caracterizados pela eventual perda do primeiro artelho e pela orientação dos artelhos em adaptação ao uso diferente. Papagaios, tucanos e pica-paus são zigodj~los (o artelho externo deslocado para trás, junto ao hálux), martins-pescadores são sindáctilos (todos três artelhos anteriores unidos na base), surucuás heterodáctilos (dois dedos para frente e dois para trás): As garras são afiadíssimas em gaviões e corujas, caçadores de vertebrados, mas também em aves que usam as unhas para se afixar no substrato, como andorinhões (Chaeturinae) que pousam em rochas verticais, os filhotes de beija-flores que se agarram ao ninho e o pato-domato que pousa sobre galhos. As garças, o caramujeiro, a suindara, e os bacuraus têm uma garra pectinada que serve para limpeza, exemplo de evolução convergente, ocorrida em ordens não aparentadas.
,..
5.1.3.
MUSCULATURA,
LÍNGUA,
GLÃNDULAS,
CORAÇÃO,
TUBO DIGESTIVO,
OLHO, OUVIDO E SIRINGE
Temos no Brasil os casos mais diversos de evolução locomotora nas aves, basicamente variando o peso relativo da musculatura (principalmente o músculo grande do peito, o pect s o e o peso relativo do coração. Os extremos são os Tinamidae, aves pesadas terrícolas, de vôo reduzido e coração muito pequeno, e os beijaflores, aves minúsculas de vôo rapidíssimo e coração muito grande. A musculatura da mandíbula foi pesquisada no grupo dos Oscines (Passeriformes) esperando-se-achar elementos úteis na difícil classificação dessas famílias. A musculatura em geral porém, não é boa indicadora aa filogenia, uma vez que está submetida em boa parte ao uso diário, constantemente pressionado pela seleção. . Na formação do tubo digestivo, outra vez a cigana apresenta características únicas (papo extra-torácico etc.). Outros casos especiais são, p. ex.ipássaros frugívoros como os gaturamos, que não possuem o estômago-muscular, presente nas demais aves.' - A língua, assim como o bico;' reflete as condições específicas de apanhar o alimento (v.p. ex. sob beija-flores e pica-paus). Entre as glândulas tratamos das "glândulas de sal" de aves marinhas (como gaivotas), que são glândulas supra-orbitais transformadas19s lobos olfatórios de aves costumam ser pequenos; a orientação pelo faro é rara, ocorrendo em pardelas (Procellariidae), em certas espé-
87
cies de urubu e também no guácharo t t . Vestígios de faro foram encontrados p. ex. em beija-flores. Certas aves exalam um ,cheiro típico, como papagaios, surucuás, pica-paus e certos icteríneos. Urna glândula bem conhecida é a do uropígio que produz urna graxa benéfica à plumagem. Os olhos das aves permitem urna visão excelente que discutiremos no caso dos urubus e gaviões. Aves noturnas e crepusculares tem os olhos maiores proporcionalmente, sendo o exponente deste grupo o urutau, ctibius. diferenças no tamanho do olho até dentro de famílias: espécies que vivem nas copas das árvores, na luz mais intensa do dia, têm olhos menores que espécies que vivem na penumbra do solo da mata tropical densa (v. p. ex. Formicaríidae); Ocorrem duas ce lis, beneficiando a focalização, p. ex. em Falconiforrnes, Alcedinidae e Apodidae.A percepção de cores pelas aves é semelhante à do homem, como mostramos no caso dQSbeija-flores. O ouvido pode ser tão primoroso que a suindara, to, pega um rato no escuro absoluto ou quando ele corre invisível por baixo de um pano. A traquéia é às vezes transformada, amplificando a vocalízação, p. ex. nos jacus (Cracidae) e no anambépreto (Cotingidae). .A siringe, desenvolvida nos brônquios, é o aparelho fonador das aves, substituindo a laringe dos mamíferos, situado no começo superior da traquéia.A estrutura da siringe é usada para separar as duassubordens dos Passeriformes: Suboscines e Oscines.
5.1.4
SEXO
As glândulas genitais, as gônadas das aves estão localizadas junto aos rins (v. figoC). O macho tem sempre dois testículos, um em cada lado, a fêmea tem um ovário somente, no lado esquerdo. Raras vezes são achados dois ovários, às vezes em Falconiforrnes, sobretudo o gênero cipite - o kiwi da Nova Zelândia tem sempre dois ovários, mas apenas um funcionando.: O tamanho das gônadas varia muito conforme a época: no período do descanso sexual ou em imaturos podem ser tão pequenas que não se consegue localizá-Ias. Durante a reprodução aumentam enormemente, até 400 vez~s~ .Dimorfismo sexual nem sempre aparece. Em aves mantidas em cativeiro, há várias técnicas para determinar o sexo: análises fecais, análises sangüíneas e endoscopia. Fala-se também de um oentgen diagnóstico que seria o método mais elegante. (1) Análises fecais. Isolamento de hormônios femininos que, porém, existem em quantidade apreciável apenas no tempo da reprodução. (2) Análises sanguíneas. Trata-se da análise do cariótipo para isolar o cromossomo uW", peculiaridade da fêmea. O material mais apropriado para essa pesquisa é a base da pena em desenvolvimento.
88
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
--. Uma técnica um tanto parecida é o "teste de Olímpia", isolando a cromatina sexual das células do cabelo humano, técnica adaptável à pena das aves. (3) Endoscopia. Um veterinário pode executar a endoscopia, aplicável sobretudo quando se trata de uma ave maior, por uma pequena intervenção cirúrgica (laparotomia) da ave levemente narcotizada. Uma incisão de apenas 3 a 4 mm, no lado esquerdo da ave (fig. D) é suficiente para introduzir o endoscópio que ilumina o campo visual. O ovário se reconhece logo; o testículo, em ambos os lados, pode ser branco ou escuro. É basicamente a técnica aplicada pelos galinocultores chineses para a castração, já há mais de 2000 anos.
liL I,
li
"
t (((
l
<9" \
C
( \ I ~\ '
I1 I
I.
d
Q Fig.C - Orientaçãosobre a identificaçãodo sexo de uma ave. Macho (à esquerda), fêmea (à direita). C, cloaca;L, pulmão; 0, ovário; 00, oviduto; R,rim; S, dueto deferente;T,testículo (seg.Blake1977).
Fig. O - Topografiada parte traseira de uma ave para orientar sobre a execuçãoda endoscopia. Área (traço forte),onde fazer no meio uma incisão de 3 a 4mm para introduzir o endoscópio, perfurando um saco aéreo;em frente o pulmão (cor rosa), caudal os rins (pardos).Nas três costelas anteriores vêem-se as apófisesuncinadas (seg.Heidenreich 1978).
'Ocorrem .hermafroditas, o fenômeno do ginandromorfismo, ou seja a coexistência de caracteres sexuais masculinos e femininos, em um mesmo indivíduo, a plumagem do lado direito se apresentando como masculina, e a do lado esquerdo como feminina, reflexo da presença do ovário apenas no lado esquerdo. Mais raros são hermafroditas "invertidos" nos quais a plumagem masculina ocupa o lado esquerdo do corpo e a feminina o direito. Sobre hermafroditas v. Coerebinae e Emberizinae.
5.1.5
PENA,
PLUMAGEM
A plumagem, composta pelas penas, é o distintivo mais importante da classe AVES. A evolução da micro-estrutura da pena demonstra claramente a tendência de formar uma espécie de tecido resistente (os vexilos da pena) que não cede à intensa pressão do ar durante o vôo. As teorias sobre a evolução da pena foram condensadas por Parkes (1966),Lucas & Stettenheim (1972), Regal (1975) e Feduccia (1980). Lembramos que a faculdade de vôo evoluiu também em três outras classes de animais: nos insetos, há aproximadamente 235 milhões de anos, nos pterosáurios (répteis), há 180 milhões de anos, e nos morcegos (mamíferos), há 60 milhões de anos. A idade de primeira ave conhecida, é de cerca de 150 milhões de anos, v. Fósseis. O eixo da pena (fig. E) é a raque (existe às vezes um hipóptilo, cuja base é chamada de cálamo. Presos nas faces laterais da raque estão os dois vexilos (lâminas, lâmina interna e externa, e). Os vexilos são formados pelas barbas cujos eixos são os ramos irami, Os ramos são providos por sua vez das barbicelas As barbicelas anteriores (distais, apontando a ponta da pena) são providas por ganchinhos que prendem as.barbicelas posteriores (proximais) do ramo vizinho (v. sob Tinamidae). Esse mecanismo complicado dá à pena sua admirável firmeza, combinada com a maior elasticidade. Uma barbicela de meio milímetro de comprimento executa perfeita função estática, revelando, ao mesmo tempo, até certo ponto, a posição sistemática da respectiva ave (Sick 1937, Chartdler 1916). . '. A plumagem consiste: (1) nas pequenas penas do corpo: penas de contorno, incluindo as várias "coberteiras". servine a penugem, composta das plumas, se do ao isolamento térmico; (2) nas penas de vôo: as rêmiges nas asas e as retrizes na cauda (rabo}. As penas crescem em certas áreas ou fileira~'(pte as quais são separadas pelas aptérias; poucas aves, como os pingüins, carecem das pterilas, suas penas crescem em qualquer parte do corpo. O conjunto das penas é a pterilose, sua descrição a pterilografia. Há outros tipos de penas, como a penugem lanosa , que cobre toda a superfície do corpo para esquentar o mesmo; a penugem de pó (pulviplumas,
MORFOLOGIA
Fig.E - Pena de uma ave (rêmige secundária de um sabiá, asa esquerda, vista de cima),esquema. Dr, barbicelaanterior ou distal possuindo ganchinhos;F], vexilos (à direita vexiloexterno, à esquerda vexilo interno); K, raque, haste; Pr, barbicelaposterior ou cálamo, raque, canhão proximallisa; , ramo; (seg.H. Sick1937). de d ), penas que, desintegrando-se, impermeabilizavam a plumagem contra a água, substituindo, até certo ponto, a secreção oleosa da glândula do uropígio (v. p. ex. garças e papagaios); as penas de adorno~ como as egretes de garças. Pouco menciona-das, mas da maior importância para a ave, são as penas sonoras (v. P: ex. a jacutinga, Cracidae, e muitos Passeriformes). Pouco vistosas são as filoplumas, que lembram cabelos, brotando ao lado das penas de contorno em certas aves (p. ex. na upis). cabeça de icho Mais uma categoria de penas, confundida às vezes com as filopl umas, são as rígidas cerdas ( stles, tles) que podem substituir as penas de contorno em várias regiões do corpo. Chamam mais a atenção quando se acumulam ao redor do bico, formando uma joão-bobo, "barba" (v. "capitão-de-bigode", C pito sp., etc.); as cerdas ocupam o loro de gaviões e
89
corujas e compõem a poupa dourada do grou-coroado da África; apresentam-se como pestanas em certas aves .C i muitos Cuculidae, (p. ex. Opisth Trogonidae, Bucconidae). A função das cerdas. aparentemente múltipla, é discutida (Stettenheim 1974). O seu grande desenvolvimento em bacuraus (as cerdas podem ultrapassar a ponta do bico), papa-moscas, etc., parece indicar que as cerdas ajudam a capturar e segurar insetos. Contudo, em alguns representantes tipicamente insetívoros, como andorinhas e até certos bacuraus, as cerdas são pequenas ou nem existem. Suas pontas são às vezes alargadas, sugerindo uma função olfatória que, porém, não foi provada. As cerdas podem proteger as narinas contra a entrada de ciscos, como serragem e pequenos insetos (v. p. ex. pica-paus). O número das penas de contorno depende sobretudo do tamanho da ave e do controle térmico: Num beija-flor foram contadas 1.518, num bacurau 3.332, numa marreca 11.450 penas; veja sob mergulhões. As anomalias na plumagem são raras; achamos um macho adulto, rio Trombetas, uirapuru ( Pará) em perfeito estado, mas não tinha nem vestígio da cauda .. Entre as mutações se destaca mais o albinismo, melhor conhecido em sabiás no ambiente urbano. Encontrames albinismo parcial numa pequena população isolada de sara curas (v. Rallidae). Foram registra dos, entre outros, emas, urubus e pombinhas albinos, recentemente também um atobá, Existem "fases" escuras de gaviões, p. ex. Muitas corujas e bacuraus costumam ter duas fases dé"colorido da plumagem: uma cinzenta e uma mais avermelhada. Conhece-se uma mutação . O luteínismo de papamelanística em I .gaíos é em parte artificial ("tapiragem"). Reproduzir e fixar mutações é o grande interesse dos amadores. Podem aparecer nas penas de vôo, comumente nas , Hunge indiretrizes barras falhadas cando condições de estresse, carência de alimento durante a muda ou problemas de consangüinidade (v. sob n hus l
5.1.6.
MUDA
-;- .~ .-
f,.s penas são periodicamente substituídas, fenômeno provocado por uma secreção da tireóide, que pode ser induzido artificialmente pela injeção dos respectivos hormônios. A muda já se nota no fóssil de A pena que está em processo de crescimentoé um tubo curto (canhão) contendo uma polpa repleta de san.gue. A pena nova empurra a velha, exceto na muda da placa de incubação e na muda de susto (v. abaixo). A muda ocorrida após a reprodução, produzindo a plumagem de descanso sexual, é muitas vezes acompanhada por uma alteração da cor das partes nuas, sobretudo o bico (v. guará e sabiá-poca).
90
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Jreqüentemente ocorrem duas mudas anuais: 1) uma muda parcial que é pré-nupcial, ocorrendo antes da reprodução; substitui apenas as penasdo corpo (ao mesmo tempo, altera freqüentemente o colorido); e 2) uma muda completa ou pós-nupcial (chamada também muda de descanso, repouso ou inverno), substituindo tanto as ,. penas do corpo, como as rerruges e re triizes ..\
, :3 2
~;/
I 1 .2
:3.
4
5
)/f
~I
Fig. F - O processo da muda (esquema de uma fase) das rêmiges de uma ave com 10 primárias e 10 secundárias, numeradas corretamente. As primárias mudam de dentro para fora: as cinco internas já foram substituídas, a sexta, a sétima e a oitava estão crescendo, a nona e a décima são ainda rêmiges velhas. As secundárias mudam em dois sentidos: de dentro para fora, e de fora para dentro. A primeira e a segunda e a décima até a oitava secundárias já foram substituídas; a terceira e a quarta, e mais, a sétima e a sexta secundárias estão crescendo; a quinta é ainda secundária velha'.
:A muda das rêmiges (Fig. F) costuma proceder-se da seguinte maneira: as primárias são mudadas sucessivamente de dentro para fora, razão pela qual se numeram as primárias neste sentido, de 1 a 10, sendo a décima a mais externa; a maioria das aves tem 10 primárias, porém a décima primária é rudimentar em alguns grupos (v. sob Oscines), outra razão pela qual não é correto contar as primárias de fora para dentro", As secundárias, que têm número muito variável (conforme a família, a maioria dos Passeriformes tem 9 secundárias), são mudadas em dois sentidos (de fora para dentro, 1 a 4, e de dentro para fora, 8 a 5). A muda das retrizes é, na maioria dos casos, centrífuga, começando com as centrais. Há muitas exceções dessas "regras". A muda se processa simetricamente em ambos os lados (asas), principalmente em aves de boa potência de vôo. Referimo-nos, neste livro, a vários fenômenos
especiais da muda, como, p. ex., à plumagem de "eclipse" ou repouso que, no Brasil, até agora mal mereceu atenção (é melhor conhecida no hemisfério setentrional, em anatídeos), evidente, p. ex., em beija-flores, na políies, no saí-azul, , e em cia-inglesa, emberizídeos. Focalizamos a muda "em bloco", que ocorre em aves aquáticas como marrecas e saracuras: queda de todas as rêmiges ao mesmo tempo, provocando a perda periódica da capacidade de vôo.'9 modo da muda pode refletir tanto condições ecológicas (v. p. ex. Rallidae), como relações filogenéticas (v. p. ex. Accipitridae-Falconidae). A duração da muda é condicionada por muitos fatores.As espécies pequenas, como muitos pássaros e maçaricos mudam em poucas semanas, enquanto as águias necessitam de vários meses. Uma primária de 175mm de comprimento de um pombo cresce em 40 dias. A muda tem que ser integrada nos demais ciclos, sobretudo à reprodução e a migrações . .Urn fenômeno conhecido entre avicultores e anilhadores é a muda de susto que ocorre quando a ave sente-se amedrontada à morte, especialmente se for apanhada à noite, dormindo. O respectivo indivíduo deixa cair penas, sobretudo retrizes e penas da barriga. É registrada principalmente em galináceos (inclusive C pombas (C in e sabiás ( u dus), mas também em muitas . As penas asoutras aves, p. ex., papagaios sim perdidas são rapidamente substituídas. A muda de susto pode ser interpretada como uma 'espécie de "autotornia" para salvar a vida, fenômeno análogo à perda da cauda pelos lacertílios (Dathe 1955). 'Uma pena gasta que tem que ser mudada, distinguese geralmente logo pelo estado geral precário. A pena torna-se mole e de aparência apagada, desbotada e sem brilho. A abrasão começa a destruição pelas partes brancas, não coloridas, p. ex., uma faixa terminal branca das retrizes. Os pigmentos dão à pena boa resistência. Por essa razão as penas de vôo têm, geralmente, a ponta preta, l d . Sobre a abrasão (exceção p. ex. H provocada por capim cortante v. sob Motacillidae nthus). Há muita variação no ciclo da muda quando se comparam espécies diferentes e até indivíduos da mesma espécie e do mesmo local, como Snow (1976) demonstrou sobre os cotingídeos. 'Jorna-se evidente que existe uma diferença entre representantes frugívoras (como ugus) e insetívoras (como . As frugívoras mudam pelo fim da época seca, as insetívoras . no início das chuvas. O que significa que a mudarequer as melhores condições alimentares (v. também sob Reprodução). Os cotingídeos frugívoros são espécies de tamanho médio ou grande, geralmente. com dimorfismo sexual acentuado; os machos dedicam-se quase ex-
9 Quando se descreve apenas a ponta da asa, falando, P: ex., sobre o adelgaçamento das primárias dos gaviões, é lícito contar as primárias de fora para dentro, dizendo, p. ~x., "segunda primária de fora".
MORFOLOGIA
91
F
G -----------
H
J
Fig. C'- Medição da ave. A. comprimento total, com penas B. comprimento total, sem penas C. comprimento do bico: (1) comprimento do cúlmen, medido da base do bico até bico. Quando existe uma "cera" (p. ex., gavião), se mede da boda anterior da narina até a ponta do bico. 0, osso do crânio; P, contorno das penas D. altura do bico na base E. largura do bico na base F. comprimento da asa, modo de medir uma ave menor, esticando a asa , método chamado "chord" (corda); S, C. medição da asa pouco flexível de uma ave grande, p. ex., um tachã, esporões H. comprimento da cauda, medir da base das retrizes, encostando na pele, até a ponta das retrizes mais longas; C, doaca, P, coberteiras da cauda, R, cálamos das retrizes !, comprimento do tarso; CA, calcanhar J. comprimento do dedo mais comprido, com a unha
92
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
clusivamente às suas-cerimônias pré-nupciais, não participam na nidificação e na assistência aos filhotes. Machos deste tipo mudam mais cedo do que as suas fêmeas. Em espécies como cujos machos participam da nidificação, os sexos mudam ao mesmo tempo. Os subadultos (indivíduos de um ano de idade) mudam antes dos adultos. Como a muda sincroniza-se com outras exigências especiais de um ciclo diferente de reprodução, temos, p. ex., que, em gaviões, a grande fêmea que permanece no ninho, chocando e depois cuidando dos filhotes, alimentando-os com a comida que unicamente o macho traz, aproveita-se desse tempo tranqüilo, sem necessidade de voar, para mudar. Os filhotes da maioria dos Passeriformes mudam todas as penas do corpo logo após ter abandonado o ninho; rêmiges e retrizes, ainda não de comprimento definitivo, continuam a crescer.
5.1.7.
COLORIDO DAS PARTES NUAS
Damos ênfase a descrição das partes nuas ( t p is) bico, pele perioftálniica, pálpebras, íris (a cor da íris pode servir na identificação do sexo, v. p. ex. Cracidae, e da idade, v. p. ex. Psittacidaeje pernas (tarso e dedos), dados mal mencionados na literatura especializada brasileira, oferecendo-se amiúde nos nossos próprios protocolos. A grande importância do colorido berrante de certas partes nuas da ave viva depreende-se do fato de que pode ter' papel decisivo no reconhecimento intraespecífico, sendo exigidas em rituais pré-nupciais, como, p. ex., a mancha coronal da pele nua azul do beija-flor opho c . A pele de muitas aves é clara, esbranquiçada, mas pode ser também negra, p. ex., na grazina, G is alba, uma das poucas aves do-mundo de plumagem branca-pura. 'Q pigmento negro da pele resulta na absorção mais eficiente dos raios solares que se transformam em calor.
5.1.8.
MEDIçÃo
Indicamos o comprimento total em centímetros (medida da ponta do bico ao fim extremo da cauda), algarismo que costuma preceder cada descrição de espécie.
Trata-se nesse "total" de uma média que, em aves com dimorfismo sexual acentuado no tamanho, pode variar bastante. O comprimento das pernas não entra no "com- . primento total" o que, em aves pernilongas como garças, saracuras, maçaricos e Passeriformes terrícolas (como p. ex. o tovaca, engana sobre o tamanho efetivo da ave. Apontamos, nesses casos, às vezes, a "altura sobre o solo", p. ex., na ema: a altura da ave viva em pé, de pescoço esticado verticalmente. Também não entra no "total" o comprimento da asa que, p. ex., em andorinhões como Ch e pode exceder consideravelmente o comprimento da cauda. Assim um andorinhão pequeno (corpo pequeno, e cauda bem curta) parece ser do mesmo tamanho que um andorinhão de cauda mais longa, quando se coloca um pássaro ao lado do outro: devido ao comprimento da asa, que é quase igual em ambos. O "total" varia com o modo de preparar uma ave, tornando-se assim uma medida incerta. Para fins científicos, o "comprimento total" que proporciona uma boa idéia rápida sobre o tamanho, quase não é aproveitado. Quando é necessário, indicamos as medidas certas de bico, asas; cauda, tarso e dedo médio. A medida mais usada é o comprimento da asa, esticada numa régua. Mas o comprimento da asa também não corresponde sempre ao tamanho, sendo a asa sujeita à pressão da evolução: torna-se, p. ex., maior ou menor, e até atrofiada, conforme seu uso ou não. Pode haver dimorfismo sexual na forma e no tamanho da asa, possibilitando produção de som pelo macho (p. ex. beija-flores). Tal dimorfismo sexual pode ocorrer também na cauda (v. bacuraus, beija-flores). A idéia mais segura sobre o tamanho de uma ave é dada pelo peso, transmite mesmo . Há poucos . registros de pesos de aves do Brasi1. Existe alguma variação individual no peso, conforme a hora (em aves diurnas o peso costuma aumentar durante o dia), o mês, a idade, o sexo (a fêmea costuma ser mais pesada na época de pôr) e a população; os jovens que saem do ninho podem ser mais leves ou mais pesados do que os adultos, etc. As' aves de arribação, p. ex. certos maçaricos, quando se preparam para longos vôos nOI1 stop, acumulam tantas reservas de gordura como combustível, que chegam a alcançar o dobro (até mais) do peso normal.
~.i,
6
Classificação
e
Nomenclatura
A classificação científica dos animais é o campo da taxonomia ou zoologia sistemática. A taxonomia baseiase principalmente na morfologia e anatomia (sistemática tradicional), coletando e estudando corpos inteiros em líquido, esqueletos e espécimens empalhados. As aves são o grupo melhor pesquisado dos animais. Calcula-se que mais de 99% das espécies recentes sejam conhecidas. Em borboletas, p. ex., provavelmente nem a metade das espécies existentes foi descrita. As aves fósseis identificadas são escassas, mas da maior importância. Seria pouco objetivo se concluíssemos que não temos nada mais a fazer em termos de classificação de aves, conforme está sendo às vezes propalado. Nos últimos anos foram desenvolvidas novas técnicas para a' classificação de aves, sobretudo métodos bioquímicos: a quimio-taxonomia ou sistemática genética. Enquanto a sistemática tradicional trabalhava com todo o organismo, a sistemática genética trabalha apenas com as moléculas: análises comparativas de ácidos nucléicos e proteínas (biologia molecular). Foram Charles G. Sibley e [on E. Ahlquist (1972) que iniciaram essas pesquisas, começando com análises eletroforéticas da clara do ovo. Depois aperfeiçoaram essas técnicas desenvolvendo a DNA hibridação (DNA = AND, ácido desoxirribonucléico), usando o material genético contido no sangue. Com a última técnica, "calibrada" com dados geológicos, chegou-se a conclusões bastante convincentes sobre o parentesco das categorias superiores (as famílias), evoluídas durante milhões de anos. Puderam assim ser corrigidas as árvores filogenéticas das aves, esquemas construídos pelos anatomistas e paleontólogos. As conclusões dos últimos, baseando-se em fósseis, não permitem um controle bioquímico. Os dendrogramas de C. Sibley cobriram durante o XIX Congresso Internacional de Ornitologia em Ottawa, Canadá, em 1986 uma parede inteira da sala de O sistema das moléculas é incrivelmente complicado, tornando-se altamente significativa uma real semelhança de tais amostras, que representam as aves a comparar. As DNA-técnicas revolucionaram a sistemática das aves, mas geralmente confirmam as opiniões reinantes sobre o parentesco. Foi provado, p. ex., o parentesco íntimo dos tinamídeos com a erna, Em certos casos, como p. ex., na cigana, os resultados surpreendem e estamos esperando confirmações. Não faltam críticas que exigem mais requintes nas técnicas atuais de DNA hibridação (Houde 1987). Para aplicar a eletroforese em nível genérico e específico, recomenda-se preparar "skin-skeletons": corpos
inteiros com os ossos, a musculatura, as vísceras, asas e cauda, conservados em gelo seco. A melhor fonte de 1984). As proteínas material é o sangue (Johnson et da queratina de penas secas podem ser também analisadas bioquimicamente. Esse método foi usado na classi, espécie nova brasificação do cotingídeo leira muito particular (Knox 1980). Com essa técniça se pode até analisar uma espécie extinta, se ainda houver material conservado em Museus. Existem vários outros métodos modernos para pesquisar o parentesco de aves. Examinam-se relações taxonômicas e bioquímicas com base em análises de cascas de ovos (aminoácidos, Krampitz et . 1975, Paeffgen 1979) e compara-se a substância da excreção da glândula. uropigiana (Poltz & Jacob 1974, Jacob 1980). . É estudada a ultra-estrutura da casca do ovo (Becking 1975). Continua-se a trabalhar com os cromossomos, o campo da citotaxonomia (Lucca & Rocha 1992). O estudo dos cromossomos das aves é dificultado pela existência de numerosos microcromossomos (até 60 pares). V. também a análise do cariótipo (identificação do sexo, v. sob Psittacidae). Feduccia (1974) voltou ao aproveitamento da , ossinho osteologia, comparando o "stapes" do ouvido interno, que permite tirar conclusões filogenéticas uma vez que não fica sujeito diretamente a pressões mais fortes da seleção. Em conclusões filogenéticas não se deve utilizar apenas um elemento como fundamento. A moderna "taxonornia numérica", aplicada no Brasil em insetos, trabalhando-se com computador, não é ainda utilizada em aves. Temos a DNA-hibridação e outras técnicas bio-químicas que podem ser consideradas um tipo de taxonomia numérica. Uma controvérsia campea, atualmente, acerca de qual das três metodologias de classificação biológica seja a melhor: classificação fenética, cladística o~ evolutiva, Os méritos e as aparentes deficiências das três abordagens são discutíveis. Já que classificar é um procedimento de múltiplas etapas, sugere-se que os melhores componentes dos três métodos sejam usadas em cada etapa. Através de uma tal abordagem sintética pode-se construir classificações que são igualmente adequadas tanto como base de generalizações, quanto como índice para sistemas de armazenamento e resgate de informação. Referimo-nos na identificação o máximo possível ao . efeito da ave viva, que pode ser bem diferente do causado pelos espécimens de museu. Em arapaçus, Dendrocolaptidae, p. ex., a identificação de gabinete
"
,
94
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
apóia-se geralmente no desenho do lado inferior que, em natureza, mal se vê, pois a ave está sempre "colada" à árvore. Em grupos como aves marinhas e aves de rapina damos os caracteres que distinguem a ave em vôo. Com alguma experiência reconhecemos muitas vezes uma ave viva pelas suas proporções e sua atitude, mesmo pela silhueta, e além disso, pelos seus movimentos. As dificuldades que, no âmbito deste livro, envolvem a caracterização da morfologia, podem ser superadas freqüentemente por chamar a atenção à biologia incluindo a etologia dos respectivos representantes, sobretudo a vocalização que, em muitos casos, resolve o problema. c Lembramos da classificação do furnarídeo ( eoph l e, identificado pelos sistematas de s pelo estudo da vocalizagabinete como um ção e da construção do ninho foi possível incluí-Ia num gênero andino, imigrado para o Brasil no Pleistoceno (Sick 1985b). A transferência de e i dos cotingídeos aos tiranídeos se compreende imediatamente pelo seu modo de nidificação. Para identificar cientificamente uma ave, são necessárias em muitos casos, as medidas exatas, em milímetros, de asas, cauda, bico, tarso e dedos, além de uma apreciação minuciosa da plumagem, detalhes que ficam reservados a trabalhos de caráter mais profissional, baseados em espécimens coletados. Sendo assim, não pudemos abordar devidamente, p. ex., os problemas intrincados das chamadas "espécies crípticas" ou "espécies gêmeas" (sibling species, ge ino-epecies, Mayr 1942): espécies morfologicamente muito semelhantes (como certos papa-moscas, Tyrannidae), para cuja distinção são necessários os mais exatos dados sobre o ta-
manho e o colorido. Citamos somente o nome, acrescentando sua distribuição; às vezes, a voz resolve o caso. Da mesma forma tratamos algumas espécies, tanto residentes como visitantes, de ocorrência local, registradas p. ex., só nas fronteiras do Brasil, sobretudo na periferia setentrional, até há pouco de alcance difícil. Em espécies ou subespécies muito parecidas (v. p. o), pode-se estudar o comprimento relativo e o ex. adelgaçamento das primárias mais externas que formam a ponta da asa (pesquisa possível apenas quando as rêmiges não estejam em fase da muda nem muito gas.. "tas), para obter a fórmula. de asa ou o índice de asa (Lanyon 1978, Mlikovsky 1978). O adelgaçamento costuma ser mais desenvolvido em indivíduo adultos e pode ser privativo do macho (v. também Música instrumental, rêmiges sonoras). Asas acentuadamente apontadas caracterizam populações migrantes (v. p. ex. nnus s e Cinclodes). Calcula-se também o índice asa-cauda para diferenciar formas parecidas (cauda x 100: asa, ou percentagem). . Os dados que damos sobre o colorido da plumagem abrangem apenas o indispensável para a identificação, que ainda reduzimos quando consta uma figura. Abstivemos-nos de descrições mais detalhadas, que praticamente qualquer um que manuseie com prudência
espécimens empalhados ou copie livros-pode fazer. Abordamos plumagens juvenis. Mencionamos, oportunamente, certas variações do colorido, sobretudo mutações, como, P: ex., polimorfismo em aves-de-rapina, papagaios e corujas, heteroginia em formicarídeos e hermafroditismo, o último registrado nos emberizídeos. Não faltam no Brasil descendentes de cruzamentos de espécies e gêneros na natureza (v, p. ex., Emberizidae). Fenômenos morfológicos semelhantes podem ser interpretados: (1) como analogias ou convergências, refletindo adaptações especiais, ligadas ao complexo da alimentação ou às condições ambientais, ou (2) como homologias que provam um parentesco filogenético. Fazemos muitas vezes alusão a esta alternativa. Podese dizer: a evolução convergente provoca semelhanças falsas, enquanto a seleção natural ofusca o verdadeiro parentesco. Evoluíram analogias surpreendentes entre a fauna neotrópica e a fauna africana, em perfeita adaptação ao meio ambiente. O caso mais interessante é o dos beija-flores, Trochilidae, que parecem ser imitados pelos Nectariniidae, Passeriformes do Velho Mundo (África e Madagascar, Indo-Austrália). Outros casos evidentes são os bicos-de-agulha, Galbulidae (Piciformes), da região neotropical, e os abelharucos, Meropidae (Coraciiformes), do Velho Mundo. Comentamos a semelhança de tiranídeós terrícolas nossos do gênero u ic~ , com o chasco-do-monte, the sp., Muscicapidae do Velho Mundo. O "perigo" de uma convergência adaptativa foi freqüentemente subestimado. O problema é distinguir claramente entre adaptação e parentesco verdadeiro. Enquanto em ordens como Tinamiformes e Procellariiformes a monofilia (descendência de uma só raiz) parece certa, a polifilia é provável em outros grupos, como Coraciiformes e Passeriformes. Concluiu Bock (1976), que antes de 1940, a classificação das aves se baseou quase toda na morfologia comparada, enquanto após 1950 as pesquisas nãomorfológicas começaram a predominar. Os fatores morfológicos continuam a ser, porém, os caracteres mais úteis na taxonomia. O princípio dos sistematas para organizar a Classe AVESé colocar os grupos de idade geológica maior e de evolução mais lenta (pingüins e ratitas) na base do sistema, os grupos mais novos, de evolução mais rápida (Passeriformes), no fim. Uma seqüência linear, porém, nunca pode satistazer. Damos aqui uma síntese altamente simplificada, caracterizando as unidades sistemáticas (táxon): classe, ordem, família, gênero, espécie, alo, serni, super e subes~~. "
6.1. O conjunto de todas as aves é a classe. A classe AVES é dividida em duas subclasses: (1) Archaeornithes, que são as aves ancestrais, representadas por h , (v.sob cigana, Opisthocomidae). (2) Neornithes, as aves
E:
a
CLASSIFICAÇÃO
verdadeiras, entre elas há representantes fósseis, do Cretáceo, como e ambas aves marinhas. As aves recentes são grupadas em Ratitas (v.Rheidae) e Carinatas (todas as outras aves recentes).
E NOMENCLATURA
95
de gêneros (v. p. ex. Formicariidae: separação de de . Wesley E. Lanyon erigiu novos gêneros de tiranídeos baseando-se na siringe.
6.5.
ESPÉCIE
9'
I-
a
6.2.
ORDEM
Para expressar parentesco mais próximo dentro de uma classe de animais, como são as aves, esta é dividida em ordens (p. ex. Passeriformes). das ordens, entidade muito coletiva, é discutido. Até dois sistematas contemporâneos do maior renome, divergiram consideravelmente: Stresemann (1927-1934), no Velho Mundo, dividiu as aves vivas (excluindo as aves fósseis) em 48 ordens, Wetmore (1960), representante do Novo Mundo, apenas em 27 ordens. Reconhecemos 24 ordens no Brasil. Acima da categoria da ordem, Wetmore adota duas superordens de aves verdadeiras recentes: os Impennes (pingüins) e os Neognathae (as aves restantes). Os Passeriformes ou Passeres são confrontados muitas vezes ao resto da classe: os não-Passeriformes. A ordem é subdividida às vezes em subordens (v. p. ex. Charadriiformes e Passeriformes). A próxima entidade inferior é a família.
6.3.
FAMÍLIA
A família (táxon caracterizado pela sílaba terminalida e, p. ex., Anatidae) constitui a entidade mais alta reconhecida pelas leis internacionais da nomenclatura (v. sob "Espécie", 2.5.). Os membros da família têm que ser monofiléticos. Indicamos na introdução de cada família, a presumível origem da mesma e suas supostas relações de parentesco. Além da morfologia e da etologia, citamos os resultados das análises eletroforéticas de C. G. Sibley e colaboradores (v. acima). Nas aves brasileiras temos ainda dúvidas sobre a delimitação de algumas famílias de Passeriformes cuja posição sistemática é próxima, como Cotingidae e Tyrannidae ou as antigas Thraupidae e Fringillidae. Registramos em nossa primeira edição, 86-87 famílias para o Brasil. A família é, às vezes, subdividida em subfamílias, táxon caracterizado pela sílaba terminal-inae, p. ex., Anatinae. Em certos casos são adotadas superfamílias (v. Passeriformes).
6.4.
GÊNERO
A interpretação do gênero é, até certo ponto, subjetiva, arbitrária. Por isto os gêneros e a composição dos gêneros, como admitida por vários especialistas, sofrem alterações. A tendência é diminuir o número de gêneros contra A maioria das reduções de gêneros e provocada pela aplicação do novo conceito de superespécie. Às vezes é razoável aumentar o número
»=:
A espécie é representada pelo indivíduo, o pássaro que vemos. É a única unidade biológica natural ("espécie biológica") e é o elemento básico na classificação, por isto chamada também "espécie taxonômica". Enquanto a espécie é uma unidade individual, agregado reprodutivo isolado de populações intercruzantes (Mayr 1977), o gênero é uma unidade coletiva, reunindo representantes aparentados de provável origem filogenética comum. O isolamento reprodutivo das espécies é concómitante com diferenças morfológicas que podem ser mínimas (como, p. ex., em pequenos tiranídeos do e Por outro lado, certas diferenças gênero morfológicas que podem. ser muito grandes (como o dimorfismo sexual ou diferenças existentes em espécies polimórficas como gaviões) não provam uma separação específica. Quando ocorre na natureza um cruzamento fértil, os pais são considerados, geralmente, co-específicosoCasos especiais são, p. ex., o de quatro emberizídeos, residentes em orla de mata baixa e rala: o tié-sangue, e seu representante amazônico; a pipira-verrnelha, e o galinho-daserra, pileaius, e seu representante vermelho, o tico-tico-rei, Em conseqüência de uma grande expansão tornaram-se alopátricas e muito diferentes, atingindo, aparentemente, o de espécies. Posteriormente encontraram-se de novo, terminando por intergradarem-se, comportando-se tal como raças geográficas, ou seja, co-específicas. Mayr (1942) definiu este tipo de especiação como "serniespécies". Os cruzamentos de espécies e até gêneros na natureza, ocorrem no Brasil pela interferência do homem que destruiu a paisagem original, a qual servia como barreira natural entre espécies aparentadas (v. Pipridae, Emberizidae). Em cativeiro cruzam-se muitas espécies, como marrecas, galináceos, psitacídeos e emberizídeos, produzindo até descendentes férteis. O conceito da espécie segundo Linnaeus correspon.de g~ralmente à atual noção, se bem que a espécie, modernamente, não seja mais concebida como unidade estática (fixa) e, sim, formada pela dinâmica da evolução. A denominação científica (o campo da nomenclatura) pode ser demonstrada no caso do tico-tico: c pensis (Müller 1776), Emberizidae, Passeriformes,Aves, sistematização introduzida por Linnaeus em i758. Os parênteses em Müller indicam que Müller ligou o nome pensis a outro nome genérico: ngi Müller, 1776. Nomes de espécies e de pessoas devem ser escritos com inicial minúscula, nomes compostos sem traçode-união, p. ex., il Autores bem familiarizados com o latim gostam de latinizar nomes de pes-
96
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
soas na nomenclatura (p. ex. pi us, em vez de Spix), em conseqüência o respectivo nome deve ser escrito com dois i (genitivo latino); p. ex., a ararinha-azul, nopsitt (Wagler, 1832). Por outro lado, se escreve s spi Sclater, 1856, simples genitivo de Spix, sem latinização. O ato de dar nomes científicos é controlado pela Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica (ICZN), que se baseia na lei da prioridade: o nome válido é o nome mais antigo conhecido, único método para a nomenclatura científica não entrar num caos. Esses princípios abrangem também os táxons a nível de família, gênero e subespécie. Acontece que, com uma melhor apuração da literatura, são descobertos nomes mais antigos do que aqueles usados hoje. Isto implica que o nome atual tem que ser invalidado. Por exemplo no caso do tico-tico, o nome e pile Boddaert, 1783, para g passou de nsis P. L. S. Müller, 1776; os nomes dos gêneros também mudaram, Tais alterações necessárias do nome científico tornam-se mais raras hoje. Durante novas revisões de famílias, como pica-paus e tiranídeos, os nomes de alguns gêneros foram mudados. O grifo icol ( undinico ) l sem sinal de igualdade, significa, conforme as regras da ICNZ, que icol é mantida como subgênero. Facilita muito a visão de conjunto num texto quando os nomes de gênero, espécie e subespécie (v. o próximo item) são impressos em itálico (nos manuscritos devem ser sublinhados), o que em publicações científicas é norma a ser observada obrigatoriamente. É lícito omitir o nome do autor e o respectivo ano para não sobrecarregar os textos sem necessidade; neste livro, foram colocados apenas na lista de aves raras e ameaçadas, onde se acumulam nomes pouco conhecidos.
6.6.
SUBESPÉCIE
Algumas espécies são divididas em subespécies ou raças geográficas (que não têm nada a ver com raças de animais domésticos). As raças geográficas consistem de populações que se distinguem em colorido e proporções, desenvolvendo-se sob a influência do clima e demais fatores ambientais e genéticos. Populações que vivem em clima úmido e em mata densa (Amazônia) adquirem colorido mais escuro do que as que se mantêm permanentemente em clima seco, em formações ralas (cerrado, caatinga), sendo que aí atuam também as tendências crípticas. Deste modo as raças mostram, em escala reduzida, o que as espécies deixam reconhecer em grande escala. Quase sempre se vê imediatamente, pelo colorido geral, se uma ave, encontrada fora do seu ambiente, é da mata ou do campo. É verdade que certas características de cor também são peculiariedade de família e da respectiva região zoogeográfica. Assim o verde brilhante é característica geral dos bicos-de-agulha, Galbulidae, típicas aves florestais dos trópicos, nem se
destacando muito no ambiente policromo da flora local. .Referimo-nos a subespécies, apenas quando são bem diferentes, tratadas anteriormente como espécies, como acontece em Cracidae, Galbulidae, Ramphastidae e. Icterinae, ou sendo de interesse evolutivo especial, como uma raça efeminada de um caboclinho: o bico-de-ferro po ophil bou uil p . As raças geográficas morfológicas recebem um nome (denominação ternária). O nome da raça é colocado depois do nome da espécie. A denominação completa de um tico-tico, ocorrendo no Brasil centro-ocidental e estesetentrional, é: t ich c t (Lichtenstein 1823). Quando se cita uma subespécie, o nome da espécie pode ser abreviado, se não houver dúvida sobre o respectivo nome, sobretudo se a raça é a raça "típica", p. ex., . = ic Para que possamos dar a uma população o nome raça, devemos saber diferenciar 75% dos espécimens submetidos a exame. Esse critério muda consideravelmente com a qualidade da ave pesquisada e o número de espécimens disponíveis. Um mau costume muito difundido, uma pseudociência, é empregar o nome da raça, toda vez que menciona uma ave, "para ser exato", usando para tanto, simplesmente, uma estimativa superficial da zona de distribuição conhecida para a respectiva raça. A proposição de um esquema de diferenciação geográfica em subespécies é tarefa de muita responsabilidade, dados os aspectos teóricos em que implica. Sobre as raças geográficas ou subespécies informa o catálogos de O. Pinto (1944, 1978). As raças geográficas excluem-se geograficamente, mas fundem-se, intergradam-se, quando suas regiões de distribuição encontram-se uma com a outra. Às vezes, há verdadeiras cadeias de raças, que apresentam certas características de modo cada vez mais acentuado. Em tais casos fala-se de um cline, p. ex., em espécies do gênero (Formicariidae). Fora do tempo de reprodução, durante migrações, duas ou mais subespécies podem aparecer periodicamente na mesma região, como acontece com andorinhas, por exemplo, com a andorinha-do-campo, Espécies que apresentam variação geográfica, isto é, que formam raças geográficas, são chamadas espécies "poli típicas", em contraposição às que não as formam, chamadas "mono típicas", como os nossos três ciconídeos: Cicon e u c . Um fenômeno zoogeográfico geral no mundo, ligado à sensibilidade térmica de aves e mamíferos, é o seguinte: indivíduos de uma espécie de animal homotérmico que habitam regiões mais frias são maiores que os indivíduos que habitam regiões mais quentes (Lei de Bergmann). Com o aumento de talhe (tamanho), a superfície do corpo reduz-se em relação à massa do corpo acarretando menor perda de calor. A superfície do animal aumenta numa potência quadrática enquan-
CLASSIFICAÇÃO
to O volume aumenta numa cúbica 10. Veja, p. ex., Psittacidae ionus, n e dois gaviões: nis ost is e i idi lis, que na Amazônia são menores do que no sul do Brasil. É fato conhecido aos passarinheiros que os curiós da Amazônia são menores que os do sul do Brasil. Veja também nus. sob lco p Há diferenças populacionais geográficas até no comportamento. Neste caso podemos falar de uma raça etológica.
6.7.
TIPOS
Quando uma nova espécie (ou subespécie) é descrita, o autor se baseia em um ou mais exemplares
E NOMENCLATURA
97
Se apenas um é indicado como o "tipo", este exemplar é o "holótipo" e os demais, se houver, são os "pará tipos". Não sendo escolhido apenas um exemplar pelo autor, descrição original, cada um dos exemplares, de igual valor, é um "síntipo". Entre a série de síntipos pode ser em publicação posterior, selecionado um exemplar como o "tipo", sendo este chamado "lectótipo". Os demais síntipos passam, então, a ser denominados "paralectótipos", Quando são perdidos ou destruídos todos os exemplares das categorias anteriormente citadas, pode ser indicado um novo exemplar para servir como o "tipo", constituindo um "neótipo". Antigamente foi usado o termo "co-tipo" para designar tanto parátipos como síntipos. Atualmente é desaconselhado o uso do termo co-tipo.
"
10 Doiscãescom o peso de 20kge 3,2kgtêm uma superfíciede 7.500sqe 2.423sq,respectivamente. O cão maior tem que produzir para seu bem-estar 45 calorias, o pequeno 88 calorias.
' ... -,
.----~----------------~
Biologia
7
f o estudo das aves no seu ambiente natural é pOUCo' explorado neste país.' Damos aqui, tanto quanto possível, sugestões para tais observações. Almejamos com nossas recomendações incitar um intenso (observação de pássaros). Esta atividade, executada no mundo inteiro há 40 anos, freqüentemente se assemelha a um esporte e pode ser uma pesquisa bem superficial. Queremos estimular um sério interesse na biologia das aves e concomitantes estudos sobre todo o ciclo de sua vida. Em nosso pais quase tudo está ainda por fazer nesse campo, a começar pelas espécies "fáceis", que vivem em, jardins e chácaras, indo ate aquelas que nem o cientista conhece bem. É, ao mesmo tempo, o melhor estímulo para preservar a natureza e sua fauna. Reunimos, neste capítulo introdutório, alguns dados suplementares à matéria que, no corpo do livro, se refere à biologia das aves, e resumimos o exposto, Observações' realizadas no campo podem ser ampliadas por registros em cativeiro, analisando pormenores de comportamento. Apresentamos uma exposição relativamente extensa sobre manifestações sonoras de aves do Brasil, o campo da bioacústica, ao qual atribuímos a maior importância. Seguem capítulos sobre: Alimentação, Hábitos, Reprodução, Relações interespecíficas, Predação e Parasitos.
7.1. as diversas espécies animais, as manifestações sonoras são exatamente tão características como aspectos morfológicós.il-Jo Brasil nada existe que possa orientar a esse respeito. E precisamente o Brasil oferece material, dos' mais atraentes, em abundância nesse campo. j .s manifestações sonoras compreendem dois fenômenos: a vocalização e a chamada música instrument~l.
7.1.1
VOCALlZAÇÃO
7.1.1.1 -
IMPORTÂNCIA.
POBREZA
ILUSIVA DOS TRÓPICOS
A voz trai uma ave que não se vê ou que não se consegue ver suficientemente bem, ria densa vegetação, no vôo, à hora do crepúsculo ou à noite. Preqüentemente . não se chega a ver direito mais de dois terços das aves que se encontram durante uma excursão. Nós mesmos costumamos registrar aproximadamente 90% dos nossos levantamentos de aves pelo ouvido, em ambiente neotropical, de visibilidade limitada, devido à vegeta-
ção fechada. Escreveu Arthur Neiva (1929): "No Jardim Zoológico de Nova Iorque é mais fácil em um só dia ver mais representantes vivos da avifauna brasileira do que em 20 anos de existência no Brasil". O observador que não presta atenção à vocalização dos animais, se queixa da pobreza de aves no nosso país, até na Amazônia. Sua primeira impressão em qualquer mata pluvial, também na África pu na Ásia, é que existe pouca vida animal. Para compreender que isto é completamente errado, é necessário estudar, dia e noite, a vocalização e a estridulação dos animais (aves, anfíbios, mamíferos e insetos, respectivamente), vindas de todos os lados, do chão até as copas mais altas das árvores. Anfíbios e insetos traem-se freqüentemente como tais pela continuação ininterrupta desses sons por mais de 10 minutos. Admitir pobreza de vocalização nas aves dos trópicos prova ignorância no assunto. Sabemos que o método acústico não é alcançável a todos. Certas aves como sara curas (Rallidae), bacuraus (Caprimulgidae) e tapaculos (Rhinocryptidae) só são tidas como raras até se conhecer sua voz, que então prova serem elas existentes em muitos lugares. Consideramos a orientação acústica o instrumento mais eficiente do ornitólogo de campo neste país. O problema é, freqüentemente, saber se se tràta mesmo de uma ave ou de um outro animal. A atenção constante à voz de todos os animais com freqüência conduz às mais interessantes descobertas. Muitas vezes é possível identificar facilmente pela vocalização representantes de espécies extremamente semelhantes umas às outras, como espécies gêmeas que são difíceis de distinguir pelo aspecto da plumagem. Manifestações sonoras podem servir para confirmar a exatidão da classificação feita por outros métodos, sobretudo pela morfología. A classificação da voz já começa com o estudo do pedinchar característico dos filhotes, diferente em espécies aparentadas, como verificamos, p. ex., em psitacídeos. O estudo da voz é um critério ao qual, não só é admissivel, como pode até ser necessáriorecorrer no exame de condições complicadas de parentesco. Não se pode negar que certas espécies têm voz tão parecida que até o especialista encontra dificuldade em distingui-Ias, sobretudo quando não podem ser comparadas diretamente, vivas ou gravadas. Às vezes servem somente certas partes da vocalização para identificar uma espécie, p. ex., em papagaios sp.). Ao mesmo tempo em que chamamos tanta atenção para a identificação pela voz, advertimos energicamente ,con-
BIOLOGIA
tra uma identificação leviana por esse meio que equiva. le a uma desmoralização do trabalho de campo. O mesmo vale para uma identificação leviana pela vista criando posteriormente problema e prejudicando o renome do observador. No começo cada observador deve ter tido oportunidade de verificar que uma determinada voz pertence de fato a uma certa espécie. Isso pode ser muito difícil quando não se tem quem ensine ou quando não se conhece a voz por tê-Ia ouvido de exemplares engaiolados ou em gravações. Hoje já existem tantas gravações boas de aves do Brasil, feitas por naturalistas viajantes de vários países, que é possível uma preparação, excelente até, de pessoas que nunca vieram às respectivas áreas. As gravações podem ser usadas para confirmar as identificações, trabalhando com "play-back" que costuma atrair magicamente a respectiva ave na imaginária defesa do seu território, possibilitando a observação a uma distância mínima. Gravando-se ou registrando-se a voz por escrito freqüentemente é possível uma. ulterior explicação do que se ouviu, até muitos anos antes. A voz também de nada adianta quando não a ouvimos. Assim, muitos Passeriformes são difíceis de encontrar, quando durante meio ano não cantam. Mas ainda resta, então, a orientação por meio das chamadas, que são efetuadas durante o ano todo e que, por exemplo, . nos sabiás, servem pelo menos tão bem como os cantos para distinguir as espécies. A pesquisa das vozes tem a extraordinária vantagem de possibilitar um experimento real com a ave viva: reprod uzindo-se uma gravação em fita magnética na frente de um pássaro pode-se verificar se este reconhece ou não a voz em questão como sendo de sua espécie sound g, Lanyon 1969). Pode ser provado desta maneira que a respectiva voz gravada num outro local sob outras condições (que talvez sugerisse tratar-se de uma outra ave), pertence à mesma espécie. As aves pouco ou nenhum interesse têm pelas vozes de outras espécies; elas são psicologicamente isoladas. Apenas os gritos de alarma (v. Convergência) ou de desespero, são inteligíveis num âmbito maior. Quando o canto (v. definição de "canto") e a maioria dos chamados de dois representantes de aves morfologicamente muito aparentadas são diferentes, é quase certo que se trata de duas espécies, ainda mais se as aves em questão não ocorrem no mesmo local. Por outro lado podemos dizer que representantes cuja vocalização parece-nos igl:lal, costumam pertencer à mesma espécie, se não há razões morfológicas importantes para separá-Ios. Por mais essencial, pois, que possa ser a voz para a classificação de espécies e, às vezes, gêneros (p. ex. .
99
psitacídeos), é geralmente reduzido seu valor na separação de famílias e ordens (Sick 1979). É verdade que na' maioria dos casos, ouvindo a respectiva voz, podemos dizer se é "uma pomba", "um periquito", "um beija-flor" ou "um pica-pau". Mas existem não poucos chamados e cantos semelhantes em outras famílias e até ordens. O arrulhar de pombas, p. ex., pode lembrar o ulular de certos cuculídeos e corujas. A voz do pica-pau é parecida com a de certos arapaçus (Dendrocolaptidae) e a voz de papa-formigas com a de certos tapaculos. A vocalização pode prestar bons serviços na separação de gêneros difíceis como (= e fringilídeos, pesquisados no Velho Mundo (Nicolai 1957). A bioacústica é uma ciência nova que alcançou grande importância na ornitologia, sobretudo em pesquisas sobre as categorias inferiores. Pode ser coadunada perfeitamente com a conservação da fauna, pois para a sua prática não é necessário matar os indivíduos, pelo contrário, estes devem ser mantidos com vida. Na parte principal do livro, consta para a maioria das espécies, que são tratadas com mais detalhes, uma observação sobre suas manifestações sonoras. Os respectivos dados são colhidos, geralmente, em nossos diários. 7.1.1.2 -
SIRINGE E SUA CAPACIDADE
A ave produz sua voz na siringe, localizada na extremidade inferior da traquéia, na bifurcação dos brônquios. Nisso difere do homem e dos mamíferos em geral, cuja voz vem da laringe, situada na extremidade superior da traquéia; na ave esta serve sobretudo para. vedar o sistema respiratório enquanto ela bebe e come: A siringe pode ser um aparelho simples ou muito complicado/O fortalecimento da voz é em muitos casos conseguido por meio de transformação da traquéia, por exemplo, por alongamento da mesma, como nos jacus. É raro a siringe não existir, como nos urubus, que apesar disso produzem sons. ! _A capacidade da siringe se reflete na amplitude auditiva da 'ave, que corresponde aproximadamente a do ouvido humano: a capacidade de resolução acústica da ave deve, porém, ser maior do que a nossa, conforme se pode concluir, p. ex., da perfeita harmonia de alguns duetos, que mesmo no sonograma, mal podem ser desenredados, e da faculdade das corujas de localizar e apanhar uma presa na escuridão. '.s;:ada espécie reage melhor às freqüências das quais se compõe sua própria voz. Calculam os músicos que a voz das aves abrange até 8' oitavas. Parece que os sons mais graves que uma ave pode perceber situam-se aproximadamente em 40Hz11,na homem em 16 Hz (Thielcke 1970). "j
t .j
: f
~
1Hz (Hertz) = lvibração (= ciclo)por segundo 1 kHz (quiloHertz)ou 1kc/s (= quilociclopor segundo) = 1.000vibraçõespor segundo. Quanto ma:s depre:sa VIbraruma partícula de ar, tanto mais agudo é o som e tanto mais curto o comprimento de onda. Confrontem-setambem os ruídos produzidos pelo ruflar de asas dos beija-flores. 11
r
100'
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
:Entre as vozes mais graves dentre as aves, estão as dasvratítas", as maiores aves vivas, como a nossa ema (peso 33 kg);)A freqüência fundamental do urro da ema é aproximadamente de 125 Hz. Muito grave é também o "gemer" dos mutuns e jacamins. Segundo Paul Schwartz, o maior perito em bioacústica de aves neotropicais, a freqüência média da voz do rnutum-cavalo, é de 125 Hz, podendo baixar a 70-80 Hz, provavelmente até 50 Hz. Vozes extremamente graves são também aquelas do tucanuçu, toco, e do socó-boi, ,As aves atingem o limite superior de audição em 10.000 a 20.000 Hz, no que são semelhantes ao homem (Thorpe & Griffin 1962). Consta que certas aves ainda ouvem 30.000 hz quando a vibração é suficientemente forte. Iyibração alta ocorre por exemplo no canto dos (peso 3,2 g): beija-flores, como basicamente entre 5.000 e 9.000 Hz. Ao mesmo tempo, esta espécie chega a um número recorde de cantos por dia. Voz extremamente aguda, têm também, alguns emberizídeos brasileiros, p. ex., e A freqüência da voz do pequeno parulíneo que alcança o Brasil como ave de arriba(peso Sg), ção, é acima de 8.000 Hz, A estrelinha, citada como um dos pássaros de voz mais aguda da Europa, tem a freqüência principal de sua voz entre 6.000 e 8.000 Hz; ultra-sons da sua vocalização alcançam 12.000 e 18.000 Hz (Becker 1974). É surpreendente que vozes agudas de pássaros pequenos freqüentemente não sejam acompanhadas por ultra-sons e que ultra-sons em aves parecem ser sempre acompanhados por componentes sônicos (Thorpe & Griffin 1962). Os. ultra-sons parecem ser de importância limitada para as aves; seu alcance é muito restrito, podendo servir apenas para uma comunicação às menores distânciasD registro das freqüências mais altas não é, normalmente, previsto na técnica de confeccionar sonogramas. , Seja menciori.ado aqui que aves (pombos) são capazes de perceber infra-sons, de 0,06 Hz, produzidos a milhares de quilômetros de distância, como a rebentação das ondas do mar, o que poderia ajudar na orientação durante migrações (Schmidt-Koenig 1979). No sentido da teoria dos instrumentos musicais, não existe relação entre o comprimento da traquéia e a altura da voz (Greenewalt 1968). Segundo essa teoria, a traquéia de algumas aves deveria ser muito mais curta do que realmente é (quando pássaros grandes têm voz aguda) ou mais longa do que todo o pássaro (quando pássaros relativamente pequenos têm voz grave). Tambéin em pássaros pequenos, a freqüência pode ser baixa (p. ex. Rhinocryptidae). Freqüentemente são emitidos vários sons ao mesmo tempo, cinco ou mais harmônicos coexistentes. Há efeitos peculiares de som, como efeitos ventríloquos em jacamins, ou o soar de duas espécies de sons inteiramente diversos ao mesmo tempo, como na
araponga, e no tangará-rajado, o que poderia indicar uma atuação em separado dos dois brônquios. São desconhecidas ainda em grande parte as condições acústicas do aparelho vo- . cal das aves. A freqüência da voz de muitos Passeriformes é de aproximadamente 4.000 Hz, o que corresponde à freqüência aproximada da tecla mais alta do piano. A extensão da freqüência da voz de uma espécie, P: ex., do pássaro norte-americano e é indica da como sendo de 2.000 a 8.000 Hz, o que equivale a duas oitavas. A extraordinária capacidade da siringe de representantes dos Oscines torna-se clara pelo fato de não raro emitir ela 45 notas por segundo, com intervalos de 0,01 segundos. Um tom pode ter a duração de apenas 0,002 segundos. A capacidade de prod uzir cantos bastante prolongados é também admirável: os cantos do acauã o es) se estendem a 7 minutos ou mais; os cantos do gavião-relógio, g até o dobro. A seriema ainda bate este recorde. Todas estas aves intercalam pausas mais ou menos longas, sem prejudicar a unidade harmônica do canto. A escala musical da uloides, pode demorar 40 segundos, tovaca, enquanto a seqüência monótona do tapaculo prolonga-se às vezes além de um minuto;' os cantos de ambos desses Suboscines são continuados, i. e. , os intervalos entre os tons que compõem um canto, são muito curtos. O mesmo vale para vários dendrocolaptídeos, como incl e , para dar mais um exemplo. Também tem um canto muito prolongado.jChamamos a atenção para o sistema de sacos aéreosque deve influir no processo da vocalização.' Até há pouco tempo, o problema da respiração das aves durante o canto não havia sido resolvido; não havia registro de vocalização durante a fase inala tória. Finalmente, ~eutgen (1969) provou que o sabiá-shama, c , da Ásia, respira normalmente durante o ato de cantar, refletindo-se a respiração no ritmo do cantar.' 7.1.1.3 -
REPERTÓRIO
O repertório das diversas espécies varia em diferentes proporções. A um exame acurado verifica-se em todas as aves a ocorrência de diversos tipos de comunicação vocal, Para conhecer a vocalização de um sabiá, des- . de o pedinchar dos ninhegos até as variações do seu canto, temos que estudá-lo durante anos; para conhecer sua morfologia externa necessitamos de relativamente pouco tempo. A maioria das aves se distingue por uma chamada, um'grito ou um pio que emite em várias ocasiões (sobre canto v. o próximo item) ..Quando analisamos melhor a situação, fica patente que-também esta vocalização mais simples tem um sentido específico. Existem os chama-
BIOLOGIA
-
dos que orientam sobre a permanência do companheiro. Outro tipo de pio é emitido apenas quando querem voar ou voam, como acontece com o sabiapoca, linue. Fato mais evidente durante deslocamenlius possui um grito tos, o joão-congo, muito típico que serve à comunicação dentro do bando, quando este se dirige para o repouso noturno. Existem gritos especificamente de agressão. Mas um único tipo de voz pode servir a finalidades diversas, p. ex., à agressão e à defesa do território. Há gritos de desespero. Algumas chamadas são próprias só da fêmea, como as de vários anatídeos e das galinhas-d'angola; todo mundo conhece o cacarejar da galinha após a postura. Algumas aves fazem ouvir gritos diferentes de alarma ou de susto, conforme o tipo de perigo que as ameaça, que pode ser o aparecimento de um inimigo em vô.o ou estacionário. O pinto ainda dentro do ovo toma contato auditivo com seus genitores. Existe até a influência sonora recíproca de embriões através da casca, que consiste de estalos (são relacionados com a respiração, por conseguinte não se trata de voz), e por meio da qual é sincronizada a eclosão de pintos da mesma ninhada. Há várias chamadas próprias dos filhotes, destacando-se entre elas um ll) que emitem quando saem do tipo peculiar ninho para atrair sobre si a atenção de aves adultas que andam à cata de alimento, como ocorre, p. ex., no s, na mariquita, e gaudério, na figuinha, speciosum. Na maioria dos casos o repertório de uma espécie qualquer de pássaros é maior do que se supõe inicialmente. Para o anu-preto. p. ex., constam 12 pios diferentes, 6 dos quais podem ser derivados da chamada de vôo ..Em Passeriformes (Oscines) do hemisfério setentrional foram identificados 10 a 18 tipos diferentes de voz, e na galinha doméstica, segundo se afirma, 26. Willis (1973) distingue 16 tipos diferentes de vocalização do formicarídeo h nostictue l . Algumas aves marinhas, como pingüim, albatroz, atobá e tesourão, são extremamente caladas, a não ser quando estão no lugar onde nidificam; ali são barulhentas. '7.1.1.4 -
CANTO,
DUETO, CORO
Fala-se de canto, em sentido rígido, quando a ave junta uma série de notas diferentes, como faz um sabiá. O canto pode consistir também numa simples repetição . 'Pode da mesma nota, como faz um caburé, faltar um nítido limite entre chamadas e canto. O canto dos Passeriformes, que todo mundo entende imediatamente como canto, tem seu equivalente semântico na voz territorial ou proclamação de dominância de todas as outras aves; basta lembrarmos o cantar do galo. É um abuso muito difundido designar qualquer vocalização da ave (como o chamado, o alarme etc., v. item anterior) como "canto".
101
~~Dignos de maior açlmiração são os duetos, fenômeno-não raro na região neotropical, sobretudo nas , vivendo em matacambaxirras do gênero gais. Macho e fêmea harmonizam perfeitamente suas estrofes, estando pousados um perto do outro. Nem sempre é fácil distinguir um verdadeiro dueto de um canto menos elaborado, mas sincronizado, como realizam, p. ex., casais da bandoleira g (Thraupinae), pousando abertamente sobre as árvores 'esparsas da caatinga e do cerrado. A coruja canta em dueto ou diálogo. Há vários nãoPasseriformes, como periquitos e araras, que "cantam" a duas vozes. O canto conjunto do casal pode também consistir de estrofes que simplesmente duram o mesmo tempo, mas não são encadeadas umas com as outras, como no joãode-barro , no uru (Odontopho em sara curas, P: ex., co as estrofes do macho e da fêmea podem ser iguais ou diferentes. Ainda outra modalidade é discernível quando macho e fêmea cantam sua estrofe um depois do outro, como o fazem muitos papa-formigas e certas corujas'. . Mal se poderá falar aí de duetos de machos, a não ser em espécies que não vivem acasaladas, como nos tangarás (pipridae). Dois machos de o e entoam o coro defronte a uma fêmea silenciosa ou seu substituto._Ocorrem notáveis coros, coordenados ritmicamente, de indivíduos estacionários do anu-coroca, (Cuculidae) e do pardal, , enquanto, p. ex., andorinhas e caboclinhos, que durante migrações pousam em bandos nos tab uais, cantam em plena confusão. Gritaria um tanto desorganizada realizam, p. ex., gralhões, us e nus (Falconidae), aracuãs s) e traupíneos como pipiras . . Mais uma forma de vocalizar em conjunto é o modo de certos beija-flores (p. ex. s e i de se reunirem em grupos para canta~._ Em espécies de voz vigorosa, como os tropeiros gus, Cotingidae), pode vir a ocorrer coordenação de grito entre machos vizinhos, no sentido de vozearem um depois do outro, e não todos ao mesmo tempo. O mesmo acontece com os casais que compõem um bando . de uru Situação mais freqüente são os duelos de canto entre machos vizinhos (p. ex. muitos Passeriformes e corujas como Otus), ficando cada macho em seu território, amedrontando acusticamente o vizinho, à distância. Quanto mais excitados estão, tanto mais depressa torna-se a seqüência dos seus cantos. 7.1.1.5. -
CONSTÂNCIA
DA VOZ, DIALETOS
Embora ocorram diferenças individuais na voz, que podem servir,.por exemplo, para distinguir pelo canto
102
ORNITOLOGIA
-
BRASILEIRA
. -machos vizinhos, o padrão característico à espécie costuma ser tão pronunciado que permanece facilmente reconhecível, mesmo quando se trata de populações que habitam regiões tão distantes uma da outra como a Amazônia e o Brasil meridional! Mesmo populações que no decorrer de longos tempos se habituaram a outros tipos de paisagem e tanto mudaram seu aspecto exterior que as consideramos boas raças geográficas (p. ex, o jaó-do-litoral, C t llus n. e o zabelê do llus n. le), costumam conservar a Nordeste, mesma voz, no máximo formam dialetos (v. abaixo)._É raro que duas raças geográficas alterem tanto sua vocalização que elas não se reconheçam mais como perten. centes à mesma espécie (no experimento com Assim s. (Brasil) não reage ao pl b da voz de M. s. i (Argentina, Bolívia). Neste caso a morfologia também mudou consideravelmente; há áreas intermediárias onde as duas raças se aceitam e se misturam (Lanyon 1982). Verifica-se, dentro de uma população, forte tendência a padronizar o canto, o que significa, ao mesmo tempo, divergir do canto de espécies simpátricas aparentadas. O estudo da voz é um critério ao qual, não só é admissivel, como pode até ser necessário recorrer ao exame de condições de parentesco complicadas. Pode servir de teste sobremaneira convincente para a constância da voz como indicador de parentesco próximo, a vocalização de tucanos de colorido muito diferentes: o pequeno tucano de peito amarelo, uiiellinus, e o de peito branco, R. c íus. Estes foram considerados até há pouco tempo como duas espécies, devido ao seu colorido basicamente diferente - mas de fato devem ser tratados como representantes geográficos de uma só espécie, tomando-se por base circunstâncias confirmadas plenamente pela vocalização igual. Uma das dúvidas difíceis de serem eliminadas por critérios morfológicos, era se os dois gaviões ollis e t gil collis, que em alguns lugares ocorrem lado a lado, deviam ou não ser considerados espécies diferentes. Essa dúvida foi definitivamente afastada por meio do estudo meticuloso de suas vozes; elas são nitidamente diferentes (v.Schwartz 1972, Fa1conidae, bibliografia). (!Je especial importância 'são as diferenças de voz em aves noturnas, pois, para estas criaturas a comunicação acústica deve ser essencial. Por exemplo, quando corujas (Otus) que morfologicamente parecem muito semelhantes possuem vozes diferentes, deve-se logo suspeitar que se trata de espécies diferentes, ou pelo menos de populações em via de se separarem e formarem espécies distintas. Mas também acontece o caso de aves que sem dúvida são aparentadas entre si mas possuem vozes de todo diferentes, como por exemplo nos cotingídeos: as duas (cucullatus e eph lusi e as espécies de duas espécies de gus ( oci e l nioides). Tais casos devem ser examinados mais detidamente.
Divergências regionais da voz dentro da mesmaespécie (dialetos), que imediatamente despertam a atenção na área onde ocorrem, existem, por exemplo, nos' cantos de alguns de nossos emberizídeos, como no ticotico e em várias espécies de . Os dialetos podem alterar tanto o caráter do canto que, num teste de pl o indivíduo não reconhece mais o canto da sua própria espécie, gravado numa outra população; mas reage aos chamados que não são afetados pelo dialeto. Isto foi estudado, p. ex. em Turdus [umigaius, gravado no alto Xingu (rio Fontoura) por José C. R. Magalhães, testado no alto Tapajós (rio Peixoto de Azevedo). A vocalização dos Suboscines parece estar sob controle genético mais rígido do que ~ dos Oscines (v. também sob Hereditariedade). Um exame minucioso das vozes por meio de sonogramas revelará a existência de dialetos mais ou menos nítidos em muitas aves brasileiras. Além dos dialetos geográficos que correspondem, até certo ponto, às raças geográficas dos sistematas (pode ocupar áreas menores), existem dialetos locais de populações vizinhas (Sick 1939, Marler 1960). Os dialetos 10-. cais podem ocupar áreas ecológicas mais ou menos homogêneas. Podem existir nítidas diferenças no canto de indivíduos. 7.1.1.6 -
CONVERGÊNCIA
DA VOZ
Notam-se semelhanças de vozes que se originam em convergências fortuitas. A certa distância, p. ex., os grilembram tos do pica-pau-do-campo, Co es de modo surpreendente os do maçarico americano n O assobio fino de um papa-formigas, H poecil , ouvido de perto, se assemelha muito ao assobio de um cujubi e) que esteja distante. Para dar mais um exemplo: temos as semelhanças do canto do furnarídeo t s e com o canto da saracurinha e e o mergulhão fato talvez devido ao fenômeno de uma adaptação ecológica. Evoluíram autênticas convergências da vocalização em duas situações: (1) por razões físicas, ambientais, e (2) para aumentar o efeito de alarme, entre alguns Passeriformes. Finalmente nota-se uma convergência da vocalização que se pode chamar "Voz da paisagem". Temos ainda as raras convergências interespe.cíficas na vocalização de representantes aparentados simpátricos, v. sob Troglodytidae. ADAPTAÇÃO
ECOLÓGICA DA VOCAUZAÇÃO
A estrutura física da voz se adapta às condições acústicas de diversos hábitats. Sons com freqüência baixa são audíveis a maior distância do que sons de igual volum~ com freqüência alta. Entendemos melhor isto ao :~mpararmos espécies próximas (em sentido filogenetIco)
BIOLOGIA
com requisitos ecológicos diversos, p. ex. alguns de nossos tinamídeos. Vozes graves, melodiosas, éomo as do macuco. , e de in a mb us, p. ex. pt llus noct podem ser consideradas, até certo ponto, adaptação ao ambiente florestal, sobretudo ao estrato inferior, onde ocorrem muitos obstáculos: troncos, galhos e ondulações de terreno. Vozes agudas, com modulação rápida, são típicas para aves de campo como as nossas codornas. O pio de lembra um grilo. Aves de grande porte como a seriema e a ema aqui não se enquadram. Pássaros que vivem nas copas das árvores, como saíras, costumam ter voz aguda ou fina. Os parulíneos, tão fartamente representados na América do Norte, migrando em parte para o Brasil habitam todos densa vegetação, mas em .estratos diferentes; da comparação de suas vozes resulta uma perfeita correlação entre a altura em que vivem e a freqüência de seu canto a qual diminui de cima para baixo. No mesmo sentido a vegetação cerrada da mata alta tropical tenderia a eliminar vozes muito finas e elaboradas beneficiando a evolução de uma vocalização grossa, simples. A tendência de evoluir uma vocalização mais baixa em ambiente florestal e mais alta no campo, fica comprovada até em indivíduos da mesma espécie quando habitam os respectivos lugares (Marten & Marler 1977). VOZ DA PAISAGEM
Um caso peculiar de convergência é aquele em que as vozes de certas aves de determinadas regiões podem assemelhar-se umas às outras, conforme pudemos verificar já há mais de 40 anos na Europa. Notamos por exemplo, que na vegetação palustre, espécies sem qualquer parentesco entre si, cantam em estrofes perfeitamente cadenciadas e articuladas como que por metrônomo. No Brasil encontram-se neste caso p. ex. o bate-bico, (Furnariidae), a cambaxirra, Cis is (Troglodytidae), o canário-do-breb i (Fringillidae), a narceja, jo, g (Scolopacidae) e o socoí-verrnelho, ) (Ardeidae). O cerrado parece ter cunhado também um característico de voz peculiar, perceptível em representantes de várias famílias: Caprimulgidae, Trochilidae, Furnariidae, Formicariidae e Emberizidae. Na caatinga é surpreenbo u dente a semelhança da voz da codorna com a do formicarídeo ilus strigilaius, para dar mais um exemplo. É notável. o timbre semelhante da vocalização do furnarídeo neotropical, oc , habitante de córregos nos Andes e nas montanhas deste continente, incluindo o Brasil, e a da alvéola-amarela, ll cine , ocorrendo no mesmo tipo de ambiente na Europa. . Pode-se falar de um "biótopo de voz" ou de um "melótopo", lugar onde ocorre uma "melocenose": associação de aves que possuem caráter semelhante de voz.
103
Esta terminologia foi proposta por H. Stadler (1929), pioneiro na bioacústica. Cada voz tem sua maior penetração, sua maior eficiência, na paisagem, no ecossistema, onde evoluiu. Separada do seu ambiente original, a vocalização animal perde seu efeito, torna-se ininteligível, no sentido mais amplo. Lembramos da infeliz mistura de vozes que caracteriza um Jardim Zoológico: caso extremo de falta de ambiente adequado. Podemos também selecionar as vozes mais típicas, que dão a nota peculiar a uma determinada paisagem. p gus e s, Assim, a voz possante do tropeiro, do tucano, e do inambu-preto, cine eus, tornam-se a "voz da Amazônia brasileira"; o canto da seriema, pode ser chamada a "voz do Brasil Central"; o grito do cancã, c nopogon, a "voz da Caatinga" e a martelada da araponga, c nudicollis, a "voz da Mata c c Atlântica" e a voz fina do rabo-de-palha, ( e o e a "voz dos campos de altitude". A consciência de que agentes sonoros (freqüência, comprimento das ondas sonoras, padrão da vocalização, etc.) dependem de fatores ecológicos (v. item anterior), é um primeiro passo para a interpretação quantitativa do fenômeno singular tratado por nós como "voz da paisagem". CONVERGÊNCIA
DO GRITO DE ALARME
Os gritos de advertência de alguns Passeriformes não aparentados, assustados com uma ave de rapina que passa voando, podem ser muito semelhantes: emitem um assobio fino, que soa como siiiiiit , Esta vocalização foi estudada mais profundamente na Europa em representantes de , , l , og , e outros. Este assobiar começa baixinho, prog longa-se por algum tempo, e termina baixinho; é absolutamente puro, não tem sons superpostos; no melropreto, vai de 6.000 a 7.000 Hz. Este som, chegando aos ouvidos do homem, ou da ave de rapina, oferece pouco ponto de apoio para a localização por meio de diferença de fase. Por conseguinte, o pássaro que emite o grito de alarme, não põe a si próprio em muito perigo. O grito parece vir de todos os lados. O aviso de . perigo não só é compreensível para os indivíduos da mesma espécie daquele que o emite, como também para os de várias outras espécies que com eles convivem. No Brasil notamos esse tipo de alarme no sabiaúna, (Espírito Santo, Rio de Janeiro), em Turdus leuc e s (Piauí), fumigatus (Rio de Janeiro), g (Piauí) e pe u (Santa Catarina). Para advertir da presença de uma coruja no local de descanso diurno ou de uma ave de rapina pousada, que não representa perigo imediato, os mesmos pássaros utilizam um grito inteiramente diferente, cuja procedência é fácil localizar por causa da repetição em rápida sucessão, de seu tom vigoroso e de sua competição por várias
., , : :'
104
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
vibrações sobrepostas (no sabiá acima mencionado 6 tons, que vão de 200 a 8.000 hz). Este grito atrai imediatamente a atenção de vários Passeriformes e beija-flores para o ponto exato de onde é emitido: local da presença do inimigo. Verificamos que o alarme de japu e joão-congo, dado nas suas colônias, é atendido também por outras aves, residentes nos arredores. Existe certo entendimento vocal interespecífico na ocasião do aparecimento das formigas de correição. 7.1.1.7 -
SIGNIFICADO
DO CANTO, OCORRtNCIA,
CANTO DE
MADRUGADA
A voz da ave constitui importante meio de comunicação, dirigindo-se quase exclusivamente a indivíduos da mesma espécie e servindo a várias finalidades. Devese considerar, porém, que a ave não solta seus gritos de advertência para avisar as demais de algum perigo; ela' grita simplesmente porque se assustou. _O canto desempenha papel especial durante a reprodução, podendo ser estimulado pela injeção de hormônios sexuais masculinos. O canto serve para demarcar o território, por conseguinte tanto se volta contra os rivais, que são advertidos, como se destina à fêmea, que é assim atraída. Além disso é mantida por meio do canto a comunicação constante do casal. Tem lugar aí um estímulo recíproco, ativo sobretudo quando também a fêmea canta, o que em nosso meio é relativamente comum (v. sob Dueto). Machos mudos não são procurados por fêmeas .: Fenômeno peculiar, bem difundido nas Américas, são os cantos da madrugada e do crepúsculo, emitidos no auge do período de reprodução, ocorrendo em muitos papa-moscas (Tyrannidae). No Brasil pudemos também notá-Ia, em traupíneos: upis bon iensis e i i ic e até em andorinhas: t e h ine leu ho também no silviíneo olioptil dumicola. É uma notória dificuldade identificar tais cantos proferidos no escuro, pois é impossível ver o pássaro. De dia essas espécies desenvolvem outro tipo de canphus po hopt s usa uma das suas estroto. ch fes, emitidas amiúde de dia, como canto crepuscular, proferindo-a em ritmo acelerado. Uma vocalização ligada ao grau de claridade crepuscular, torna sobremodo evidente que cada espécie tem uma "claridade específica": sua atividade vocal depende de um determinado grau de claridade, fenômenomais evidente em grandes latitudes, como na Europa ou na América do Norte onde reina um período muito mais extenso de meia-luz (lusco-fusco). Dados deste tipo podem ser demonstrados em curvas, que proporcionam um quadro bem nítido da "claridade média da espécie", com fundamento em estatísticas sobre o chamado "relógio dos pássaros". O canto noturno do tico-tico, t h nsis, ligado também à época da reprodução, é de natureza um tanto diferente.
Quando ocorre um eclipse do sol, as aves se comportam como se se aproximasse a noite, tornando-se inquietas e vozeando da maneira típica, como costumam fazer no crepúsculo (v. p. ex. sabiás); registramos isto no Espírito Santo e em Mato Grosso. e , assim como a piaCertos tiranídeos, como ouinocti lis, papa-formigas e beija-flocobra, Geot pis res, p. ex. ucochlone lbicollis, emitem dois tipos de canto diurno completamente diferentes, aparentemente em situações diversas. Em algumas aves, p. ex. nos beijaflores, existe uma forma peculiar de canto, que é emitida quando o casal quer se unir ing song). Um canto não pode ser encarado como parte integrante do processo de reprodução da espécie quando ocorre em indivíduos jovens, imaturos ou em adultos cujo desenvolvimento se(p. ex., espécies de po xual ainda não começou ou já declinou. Nesses casos, o canto é executado a meia voz, soa como um monólogo, em pouco volume. É curioso que precisamente estes cantos juvenis, outonais e primaveris, que praticamente nenhum valor têm como meio de comunicação, são os mais ricos, variados de motivos, justificando o que nós classificamos como "beleza" ou qualidades emocionaisestéticas do som. Estes cantos, denominados song, subsong ou "canto secundário", costumam ser muito entremeados por chamadas, e freqüentemente Ihes faltam quase todos os motivos típicos do canto definitivo. Mesmo espécies que habitualmente não imitam vozes alheias, o fazem no canto secundário, como observamos na viúva, l t Quando, mais tarde, o canto adquire sua vigorosa função territorial (canto primário), torna-se mais padronizado, servindo melhor para um rápido reconhecimento da espécie. No Brasil e em outros países tropicais, certos pássa, t e ros, como cambaxirras ( ogl cambacicas , cantam quase todo o ano. Estas aves ocupam constantemente o mesmo território, que provavelmente costumam habitar com a mesma fêmea por longo espaço de tempo. Q período de reprodução, para cada indivíduo e para o respectivo casal, só toma uma parte do ano e é caracterizado por uma maior intensidade do canto. Durante o tempo da muda e da alimentação dos filhotes, contudo, o canto se reduz ao mí. nimo. Parece incrível que um sabia-laranjeira, mantido sozinho numa gaiola durante muitos anos, cante até durante a noite, se vislumbra uma luz proveniente de fonte artificial. Pudemos também observar um papa-capim, i llis, preso numa gaiolinha durante mais de dezoito anos, que cantava diariamente durante todo esse tempo, exceto na época de muda. O que podemos dizer nestes casos sobre o significado do canto? O canto pode ainda ser provocado pelo susto. Um tiro, por exemplo, pode fazer Q pássaro emitir um único canto, forte, ou então toda uma série de chamados (p. ex. saracuras): v também sob o canto noturno do tico-tico. A voz de muitas aves é considerada pelo povo como
BIOLOGIA
um prenúncio de chuva. De fato, p. ex. espécies paludícolas como saracuras, gritam com mais freqüência quando começa a chover. Além disso não há dúvida de que os fatores climáticos em geral, sobretudo a umidade atmosférica, exercem considerável influência no sentido de incentivar a atividade reprodutora, influenciando também o canto, por conseguinte. 7.1.1.8 - HEREDITARIEDADE IMITAÇÃO
E APRENDIZADO
DA VOZ,
DE VOZES DE OUTRAS ESPÉCIES
Um campo especial de pesquisas é o dos estudos para averiguar se a voz da ave é ou não hereditária. As condições necessárias para esses estudos são complicadas e devem ser cuidadosamente analisadas, de espécie a espécie, as vozes emitidas por indivíduos criados em ambiente à prova de som. Pode surgir aí uma fonte de erros: os pássaros assim criados não chegam a ter um desenvolvimento normal da voz por lhes faltarem as condições naturais para isso. As diversas vozes que reunimos sob a denominação de "chamadas" notes), tanto dos Passeriformes como dos não-Passeriformes, costumam ser inatas, isto é, são controladas geneticamente. São, portanto, estereotipadas, mas também nelas é possível uma ligeira modificação em dialetos. Evidentemente as chamadas das aves adultas se originam nos gritos correspondentes das jovens. Os cantos dos Passeriformes, pelo menos os dos Oscines altamente desenvolvidos, devem ser aprendidos parcialmente. Somente a base é inata. Consta que a capacidade de aprender (imitar) a voz da própria espécie é maior durante o primeiro ano de vida. A formação de dialetos é mais uma prova evidente para a aprendi-
zagem da própria voz, em natureza. Marler e Tamura (1964) indicam para a aquisição completa da voz, subentendendo-se do dialeto local, pelo.jovem, cem dias. Em cativeiro podem ocorrer as maiores deformações do caráter específico da voz quando falta um pássaro da mesma espécie para servir de mestre. Encontramos, por exemplo, no Rio de Janeiro, um coleiro, engaiolado, que cantava exata e exclusivamente como um bigodinho, Pode demorar meses até o pássaro manifestar em seu canto um tema estranho que ouviu e gravou na memória. Tem-se a impressão de que nos Suboscines as vozes são inatas em maior proporção do que no repertório dos Oscines. Estudos nesse sentido seriam de se desejar. A imitação de vozes de espécies alheias é comum entre os Oscines, no Brasil sobretudo nos emberizíneos: mas também existe entre icteríneos, turdíneos, mimídeos e corvídeos. Conhecemos tais arremedos também entre psitacídeos e cuculídeos e ranfastídeos (araçaris), mesmo em liberdade, o que constitui um fato notável. Foi sempre posto em relevo que papagaios não arremedam em natureza, o que parecia estranho considerando sua habilidade para isso em cativeiro.
105
Em regiões tropicais e subtropicais ocorrem muitos imitadores excelentes entre as aves. Em cativeiro, papagaios e outros psitacídeos, também gralhas, chegam a imitar os mais variados ruídos e até palavras, tudo produzido com a siringe. O papagaio manso pode sentir-se sobremodo estimulado a imitar a voz de seu dono por desenvolver-se nele uma autêntica relação de companheirismo com o homem. Provavelmente tenta fortalecer essa relação, aperfeiçoando a imitação (v. canto em dueto). Há às vezes perfeita associação de situações no espaço e no tempo quando, por exemplo, um papagaio pede café precisamente pela manhã, à hora certa, ou então quando late no instante em que vê um cão aproximar-se, mesmo este estando calado. Um dos melhores imitadores, fácil de se encontrar no Brasil, é o gaturamo-verdadeiro, Um único macho pode se manifestar em poucos minutos na voz de 10 a 16 espécies de 'aves diferentes; são imitações perfeitas, mas traduzidas para a sua própria força vocal reduzida, por conseguinte na maioria dos casos mais fracas do que o original. Para se determinar se se trata realmente de uma imitação ou apenas de uma convergência com uma avoz alheia, deve-se conhecer muito bem a vocalização das espécies imitadas. Constituem as melhores indicadoras algumas espécies que, no local, se destacam sobremaneira por sua voz. Quase sempre trata-se de imitação de chamadas dos citados pássaros, não de seus cantos. Que o repertório do gaturamo se-toma a cópia fiel da avifauna da região em que vive, pode ser mostrado pela comparação de quaisquer levantamentos locais, como os feitos por nós no alto Xingu, Mato Grosso, a partir de 1947 e no sudeste do Brasil. Nunca ouvimos uma ave chegar a substituir as chamadas de sua própria espécie pelas de outra; ela usa as imitações apenas no canto. Um gaturamo, p. ex., entremeia seu canto com os gritos de advertência do tico-tico: quando, porém, está inquieto, utiliza seu próprio grito de advertência. Por outro lado acontece que um sabiádo-campo em Cuba), pode imitar chamadas do anu-preto, desorientando assim um bando destas aves, que acreditam estar por perto, advertindo um indivíduo de sua espécie. Consta que em carduelíneos norte-americanos ocorre a imitação de chamados de espécies congêneres e sua aplicação correta. Não se pode simplesmente refutar que algumas zombarias não são aprendidas do original alheio, mas de indivíduos imitadores da própria espécie. As imitações tornam-se parte componente fixa do canto do indivíduo. Na imitação não existe qualquer preferência por espécies congêneres. Raramente se chega a presenciar uma imitação direta, mas na Bahia vimos um cancã arremedando um carrapateiro depois de ter este pousado perto dele e começado a gritar. É presumível que o mesmo cancã já ti-
106
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
vesse, antes, o chamado do carrapateíro em seu repertório. Alguns pássaros brasileiros, sobretudo o corrupiâo, , o sabiá-cica, , e o sabiá-da-praia, gil e ainda às vezes e , aprendem bem a imitar música humana, como P: ex., partes do hino nacional. Mesmo pássaros de certa idade ainda são capazes de aprender mais alguma coisa. Em cativeiro, as aves em geral imitam melhor do que em liberdade, o que pode ser melhor exemplificado pelos papagaios.
7.1.2.
MÚSICA
INSTRUMENTAL
Alguns sons emitidos pelas aves para fins de comunicação não o são pela siringe, nas vias respiratórias, mas de outro modo. São denominados música instrumental, em contra posição à música vocal ou voz, como definido por Darwin (1871). Em muitos casos é difícil determinar de que maneira é produzida a música instrumental.' Exist~'o estalar com o bico, às vezes reforçado até tomar-se um matracar, na maioria dos casos produzido' por aves que se sentem ameaça das por algum perigo; Em geral se acredita tratar-se de um vigoroso fechar do bico, como nas corujas e no jacu-estalo, cuculídeo florestal-É possível, porém, que este estalar venha da região da-extremidade superior da traquéia (p. ex. papagaios) ou da articulação da mandíbula com o crânio;" supomos que este último caso se daria, p. ex., em certos papa-moscas como osc tes cilis (Tyrannidae) e cambaxirras og , talvez também no estalador, Co . .Na música instrumental ocupam o primeiro lugar os ruídos produzidos com as asas. Assim, os pombos batem com as asas quando levantam o vôo, às vezes também durante o vôo. Certos bacuraus fazem um barulho semelhante em pleno vôo. Quando são assustados no pouso, os andorinhões batem com as asas, permanecendo agarrados na parede. As penas das asas ou rêmiges podem se transformar em penas sonoras, como na jacutinga, e g ou I
A
no cuspídor, g line . Ambos efetuam, de um momento para o outro, um ruído forte, tal como se nós puséssemos uma máquina em funcionamento. Normalmente voam sem ruído apreciável. Nisso contrastam com os beija-flores: o notável rumor que estes fazem ouvir quando voam não tem qualquer significado biológico peculiar, porque sempre o produzem ao voar, constituindo-se o ruído em fenômeno físico ligado à vibração das asas. A narceja, i go gu e, tem penas sonoras na cauda, com as quais emite um "balir" ou "cabritar" durante seus impetuosos vôos de mergulho, modulando o ruído por meio de curtos movimentos das asas. O go un gig e , produz um narcejão, barulhão diferente. Tangarás (Pipridae), dispostos a dançar, recorrem ao ruidoso impacto dos pés de encontro ao ramo.
li
l \"" ~ lilll!1I
"\..\. ~
",..'\,
111111
-,
/~\..\...'~
!li
r- -,\\\\\\
,...-\."
1[1111
/'"\.. -r-,
_ /~
\.. \.
(l)
-----:\---,-(4)
Pig. I - Exemplo de transcrição manual do canto do tico-tico, ono pensis, a modo de sono ou
espectrograma (Nottebohm 1969).Um canto da Colômbia (1), da Argentina (2,4)e do Brasil (3).Cada canto é representado por uma gravação (sonograma, acima), e por uma transcrição à mão, anotação de campo, pelo observador ..
'.
B
Fig. H - Oscilograma (A) e sonograma (B)da mesma estrofe da cambaxirra,
o tes
(seg. C. H. Grenewalt 1968).
BIOLOGIA
TYPE B/65 SONAGRAM "KAY ELEMETRles
107
eo. PINE BROOK, N. ~.
Fig.J - Sonograma do canto da tovaca, C e uloides, evidenciando a homogeneidade e a subida muito lenta da estrofe (gravação e sonograma Jacques Vielliard).
Entre tais ruídos, alguns são também produzidos nas via~ respiratórias, mas sem o auxílio da siringe, como o bufar ou o fungar do urubu e, talvez, o sibilar à maneira de cobra, emitido por várias aves no ninho, como defesa (v. p. ex. Cuculidae).' O tachã produz um murmúrio na grande almofada de ar que tem no tórax, ligada com o sistema de sacos aéreos. Não sabemos até que ponto este ruído atuaria como meio de comunicação. A música instrumental atinge em certos casos, proporções tão elevadas que em intensidade (alcance) iguala ou supera a "música vocal" das respectivas espécies. É o que se dá no "rasgar" ou "ruflar" das asas dos cracídeos elope, respectivamente), o "balir" da cauda e da narceja e o tamborilar dos pica-paus. No grupo dos tangarás, a música instrumental chega a um ponto culminante na rendeira, manacus. Nestes Suboscines, embora possuam siringe bem desenvolvida, a música instrumental tornou-se tão perfeito meio acústico de expressão, que substitui inteiramente a vocalização nas danças pré-nupciais. .Jem-se a impressão de que vigorosas manifestações sonoras, quer se trate de vocalização, quer de música instrumental, têm efeito contagíante. Em cativeiro, qualquer barulho é capaz de animar as aves a uma vocalização. \
7.1.3.
ANÁLISE SONOGRÁFICA E OSCILOGRÁFICA
Só com a criação de instrumentos eletromagnéticos de alta rotação, tornou-se possível uma compreensão qualitativa e quantitativa das manifestações sonoras das aves. Este é o único método objetivo e acessível que possibilita uma pesquisa científica nesse campo. Podemos fazer uma comparação com a técnica cinematográfica que, empregada na análise de movimentos
rápidos como o vôo, fornece uma figuração clara que pode ser devidamente examinada. A avaliação se dá através da leitura de sonogramas e oscilogramas (fig. H) que são uma reprodução clara e fiel dos sons em papel. Deste modo pode ser examinada a microestrutura da gravação, que transmite os caracteres mais delicados das manifestações sonoras. Pelo sonograma são apresentados número, duração, altura, amplitude e volume dos tons e o compasso. A altura, freqüência ou vibração, dos quais resulta o timbre (pitch), é representada em Hertz. O oscilograma dá um quadro opticamente divergente do sonograma, pois a' altura do tom não é perceptível visualmente, tem que ser calculada. Todavia, o oscilograma dá ainda mais informações sobre a estrutura dos tons do que o sonograma. Em vários países do mundo se está trabalhando no sentido de captar, em fita magnética sonora, as manifestações sonoras de todas as aves das diversas regiões, separando-se as vozes e reunindo-as a seguir num arquivo, numa fitoteca, onde se pode encontrar imediatamente qualquer espécie. Já, há mais de 50 anos, H. Stadler (1929) convocou os interessados para um. tal.empreendimento no Congresso Internacional de Ornitologia de Copenhaguen, numa época em que as gravações fonográficas só serviam para registrar cantigas de povos primitivos. Trabalhou-se' com o gramofone, reproduzindo os sons por meio de discos pesados de cera; todavia, a aparelhagem necessária exigia um caminhão para transportá-Ia. São centros de coleta de vozes de o tu l ounds, sobretudo os arquivos aves, ib da o g Co po on, na Inglaterra, e o to o nitholog da Co nell Uni e EUA. Em 1973 começamos a gravar sistematicamente vozes de aves do Brasil, incentivados pelo Dr. Aristides
108.
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
Pacheco Leão que há tempos mostrava um vivo interesse para com a bioacústica e convidou [acques Vielliard, da Escola Normal Superior de Paris, para trabalhar nesse setor. Foi instalada então na Academia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro, uma fitoteca de vozes de aves 'do Brasil, que se tornou o primeiro centro deste tipo na América ào Sul. Depois foi fundado um Laboratório de Bioacústica na Universidade de Campinas (UNICAMP), com um Arquivo Sonoro Neotropical, contendo em 1982 aproximadamente 750 espécies de aves representadas. [O acervo depositado nessa última instituição começa a tornar-se disponível a um público maior com o lançamento do CD n2 1 da série Guia Sonoro das Aves do Brasil (Vielliard 1995). Uma série de cassetes com vocalizações de aves, incluindo várias famílias neotropicais e iniciada em 1975, vem sendo editada pelo Laboo ratório de Bioacústica do Hist , sob a coordenação de J. W. Hardy (v. Bibliografia das famílias Tinamidae, Columbidae, Cuculidae, Strigidae, Caprimulgidae, Trogonidae, Dendrocolaptidae, Corvidae e Turdidae). São úteis também para o reconhecimento de vozes de aves brasileiras, especialmente as do sul, a série editada por Roberto Straneck (1990) para as aves argentinas. A estruturação de novos arquivos sonoros no Brasil deve aumentar na proporção do crescente interesse da matéria em nosso meio. Neste caso, encontra-se em fase de consolidação o Arquivo Sonoro Elias P. Coelho (ASEC) na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a responsabilidade de Luiz P. Gonzaga.]
7.1.4.
DESCRIÇÃO
FONÉTICA
E' DIAGRAMÁ TICA
Enquanto se pode considerar perfeita a reprodução das vozes por meio de fitas magnetofônicas, que mantêm tudo, em microestrutura, pronto para análises, pouco podem proporcionar as figuras em papel de sonogramas e ainda menos de oscilogramas quanto a uma idéia real da voz, quando não se conhece a mesma. Para transmitir ao leitor, quer seja ele especialista ou leigo, uma demonstração acústica imediatamente compreensível, deve-se inicialmente descrever em sílabas, ainda que seja de modo imperfeito, o caráter conjunto da respectiva produção de tons, poder-se-ia dizer, a macroestrutura. Uma curta caracterização fonética alcança a maior importância na identificação rápida de manifestações sonoras de aves, que é também um dos objetivos deste livro, e torna-se um auxílio à memória tão indispensável quanto as notas sobre as características físicas (colorido, etc.). Esse é o método usado em todos os modernos guias de campo, corno P: ex., a série de eld Guides de Roger Tory Peterson sobre as aves da América do Norte e Europa, a qual se tornou modelo para tais publicações sobre as aves de todas as partes do Mundo. A larga aceitação desses livros atribui-se também ao uso extenso da
descrição fonética da vocalização, que se tornou rapidamente popular. Sucintas diagnoses fonéticas são utilizadas também em trabalhos puramente científicos, p. ex. em chaves para a determinação de grupos morfológicos difíceis nos quais cabe ao cará ter da voz importância decisiva, como em corujas, Otus sp (v. Marshall 1967, Strigidae, biblioi hus spp., Lanyon 1978). grafia) e tiranídeos Uma boa alusão fonética, dão as palavras onomatopéicas ou outros termos incisivos como: urrar (canto da ema e do socó-boi), pipilar (pinto de galinha), grunhir (canto de saracura-sanã, llus n i ns), ronronar (coro de anu-coroca e dos tangarás), crocitar (chamada de anu-coroca, garça), ulular (canto de coruja), ranger (tucanuçu, h tos toco), martelar (araponga), o ophil lc os is), bufar (urubu), estridular (cigarra, sussurrar, zumbir (som das asas de beija-flor). É comum o sentido de algumas palavras não ser tomado rigorosamente na linguagem de todos os dias, como "assobio", no verdadeiro sentido sem trêmulo ("uiL", p. ex. o canto da alma-de-gato, e "apito", a rigor tremulante, como o apito do guarda de trânsito ("truit...", p. ex. no canto do inambuaçu, tu ellus obsoletus). Termos como "cantar", "piar", "gritar" são usados com sentido absolutamente generalizado. A voz pode ser, p. ex., cacarejando (aracuã), chiando (beija-flor), mugindo (anainbé-preto), flauteando (corrupião), chilreando (andorinhas, pardal) ou gemendo (mutum). O hábito de fazer da vocalização de aves (e outros animais) o nome vulgar da espécie, é tão antigo como a própria humanidade. Encontramos nomes onomatopéicos em profusão nas línguas de aborígenes deste continente. Tais nomes são muito bons, dando uma perfeita impressão da respectiva vocalização e soam agradáveis, p. ex.: nandu, jaó, coró-coró, tachã, inhuma, acauã, pinhé, caracará, quiri-quiri, carão, arara, muru-cututu, bacurau, birro e cancã. A mais simples descrição fonética requer uma terminologia que designa as partes componentes da respectiva manifestação de voz, começando pelas unidades mínimas: l. Nota, som, nota musical, elemento; as notas são separadas por curtas pausas, intervalos. 2. Frase, conjunto de notas ou sons; as frases podem ser separadas por pausas mais longas' do que as notas que as compõem. 3. Conjunto de frases ou parte de estrofe. 4. Estrofe, designa o conjunto de todas as frases que compõem uma estrofe, estrofe completa, canto; vários cantos costumam ser separados por pausas mais ou menos longas. Por meio de recursos lingüísticas só se pode reproduzir qualidades proeminentes da voz. A transfiguração excessivamente detalhada em letras e símbolos atrapalha a compreensão. Sempre que possível, deve-se fazer uma comparação com vozes de aves bem conhecidas. Muitas vozes, especialmente aquelas de andamento
BIOLOGIA
rápido, como P: ex. o canto de um caboclinho, ophil l, não se pode escrever em letras. Podemos, porém, chamar a atenção para certos elementos que as caracterizam, distinguindo-as das vozes de outras espécies do mesmo gênero. As vogais dominantes e as consoantes devem ser ouvidas atentamente: dão o timbre e os harmônicos coexistentes. Um "i", como som principal, faz ouvir um assobio agudo. Um "e" designa um som pob;e de tom, enquanto um "u" soa de modo grave e cavo. E verdade, contudo, que dependendo das condições acústicas, uma mesma vogal pode ser ouvida em várias notas. Freqüentes nas vozes das aves são as vogais ii (pronuncia-se como é), (pronuncia-se como o "e" de leu em francês = fogo) e ü (pronuncia-se como o "u" de nu em francês = nu). É comum uma vogal soar simultaneamente com uma consoante, quando então escrevem-se as letras uma em cima da outra; em reprodução datilografada ou impressa, porém, deve-se dispô-Ias uma após a outra, p. ex. "zürrr-zürrr" ou "zrrrü-zrrrü", tico-tico-do-campo da Amazônia, Uma vogal grifada significa distensão, p. ex. ü i (assobio dissilábico do saci, . Distensão mais extensa da vogal é indicada por repetição da vogal, p. ex. (alarme .de sabiá). Pontinhos significam que a respectiva letra ou a respectiva sílaba devem ser repetidas, p. ex. "d üi, düi, düi, ..." (vite-vite, tho cicus). Ocasionalmente utilizamos também pontinhos para indicar de um modo geral uma continuação da estrofe e não apenas a repetição da vogal citada por último, ou da última sílaba. Inclusão em parênteses significa que a respectiva sílaba pode ser repetida, p. ex. "zrrr (zrrr, zrrr)", o idus. O ritmo pode ser melhor gravado na memória do que a melodia. Para isto, a acentuação é da maior importância. Sem acentos e sem divisão em sílabas, separadas por espaços, e a colocação de vírgulas e traços, uma descrição com letras de uma vocalização de ave ou de outro animal torna-se inútil, uma massa amorfa que ninguém consegue interpretar. Quando o volume do tom cresce ou decresce, diz-se que ocorre um crescendo ou um decrescendo, respectivamente. O crescendo pode se assemelhar a uma escala ascendente. Também pode ocorrer que a escala do tom torna-se acelerada ou retardada. Temos que registrar se cada um dos tons ou se toda a série de tons ou de notas transcorre horizontalmente, como p. ex. "psiip", chamada de' sabiá-poca, dus linus, voando; "tzük-tsük-tsük", estrofe do matracão, cine . As notas podem ascender, p. ex. "tulid", chamada de anu-preto, C g ou podem descender, p. ex. "pí-áu", o pica-pau obuslus. Há também escalas inteiras ascendentes, como o canto da tovaca, e oides, e escalas descendentes, como a estrofe melodiosa do entufado, u Devemos observar se as notas se destacam umas das õ
109
outras, o que pode ser indicado intercalando-se espaços " entre asletras ou sílabas, ou ainda por meio de vírgulas ou acentos, p. ex. "tsoc, tsoc, tsoc" ou "tsóc tsóc tsóc" (dando mais ênfase ao st c to), canto de ci g . O contrário se dá quando as notas estão ligadas entre si, o que é indicado por meio de disposição das letras e sílabas sem intervalos, ou de ligação das letras ou frases por meio de traço de união, p. ex. "tzetzetze ...n (o tapaculo, spelunc ), "bem-te-re-ré" (o joãoteneném, is spi ). Com prática suficiente, estas anotações feitas na hora, segundo percepções do ouvido desarmado, são bem compreensíveis. Observadores experientes conseguem escrever a voz de modo muito semelhante, embora cada um na fonética de sua própria língua. Diferenças podem surgir devido ao grau diferente de percepção dos observadores, o que ressalta o caráter subjetivo dessa técnica. Baseando-se nestas anotações fonéticas pode-se decidir se uma voz corresponde a um pássaro que antes se viu e/ ou ouviu, ou então com que tipo de voz temos que contar, se ainda não ouvimos a vocalização de uma espécie, mas a vimos descrita dessa forma num guia de campo, p. ex. comunicação por carta de anotações fonéticas, feitas por alunos nossos em diferentes Estados do Brasil, já nos serviram para identificar corretamente várias aves, como o provaram exemplares taxidermizados enviados mais tarde. . A descrição fonética é o modo mais rudimentar para caracterizar a vocalização de aves, mas é indispensável. É a técnica mais acessível e adotada também neste livro. Além da reprodução fonética através de letras inventou-se uma transcrição diagramática ou gráfica. Nesta forma os tons e ruídos são representados por meio de símbolos: pontos ligados entre si (trêmulo), pontos e linhas, linhas que sobem ou descem, eventualmente em forma de escada, onduladas, dobradas ou duplas (este último caso quando há sons impuros), pontos grossos ou linhas grossas (notas fortes, claras) ou linhas finas (voz fraca, sussurros), etc. A transcrição gráfica pode ser combinada com notas musicais (v. o próximo item). Com bastante prática na análise de sonogramas, pode realizar-se. a transcrição gráfica (Fig. I) de vocalizações simples, como o canto do tico-tico, a modo do sonograma (v. Nottebohrn 1969, Emberizinae, bibliografia).
7.1.5.
CRITÉRIO MUSICAL,
APREÇO E UTILIZAÇÃO
Há séculos tenta-se apresentar as vozes de aves em notas musicais. Assim fez no Brasil, já em 1816, o Príncipe de Wied, com o assovio bissilábic~ do sací, pe n i p. ex. O talentoso Hercules Florence, companheiro de Langsdorff (v. História) protocolou em 1829, em notas musicais e transcrição gráfica, a vocalização de várias aves (p. ex. jaó, tropeiro, araponga), mamíferos (bugio, onça, ariranha) e insetos (cigarra). Florence concluiu (tradução deAlfredo d'Escragnolle Taunay, 1877):"Vede, por toda a parte neste ime.nso Brasil tombam aos golpes
.-, 110.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
do destruidor machado e a poder de fogo e do incêndio dilatadas e seculares florestas, abrigo de inúmeros quadrúpedes e voláteis. Perdidos os sombrios recantos que lhes são precisos, tornar-se-ão cada vez mais raros, esquivos; e por fim de todo sumir-se-ão, inocentes vítimas da conquista do homem à solidão. Quem conservará a exata representação do modo por que exprimiam esses seres seus sentimentos ou modulavam seus cantos, se não for a zoofonia?" Não há dúvida que as notas musicais podem servir muito bem para orientar sobre o caráter de uma vocalização da ave, sobretudo quando é simples e melodiosa. Contudo, é problemático determinar a altura das vozes, e geralmente isto é subestimado. Os tons agudos emitidos pelas aves, podem ultrapassar de muito o alcance do violino, enquanto os tons mais graves situam-se dentro da escala do piano (v. também sob "A siringe e sua capacidade"). Ao contrário dos tons dos nossos instrumentos musicais, as vozes das aves quase nunca são puras, e sim compostas de múltiplos sons. Aliás, deve ser lembrado que também para tímbales e outros instrumentos de percussão escrevem-se notas. Também não podemos corresponder as nossas notas musicais à sucessão correta de sons da voz das aves, freqüentemente muito rápida, como não podemos corresponder também aos reduzidos intervalos entre os sons, para os quais nosso sistema de pauta de 5 linhas (pentagrama), não é suficientemente minucioso. Nosso ouvido nem consegue captar tais finezas e estamos longe de poder reproduzi-Ias depois. O método mais sofisticado para superar essas dificuldades é o de Stadler & Schmitt (1914) que combina notas musicais e símbolos gráficos simples, anexados às notas. Hold (1970)dá nova apreciação da matéria. A voz das aves contém os mesmos elementos básicos de nossa música: tons, rítmica, métrica, dinâmica e fraseado. Tudo nos leva a crer que o homem desenvolveu sua música aprendendo com as aves, cuja vocalização já existia quando o homem começou a preparar uma produção sonora. A música de povos primitivos, como a dos nossos índios que forma laços sociais, dá uma idéia de como deve ter sido rudimentar esse início. Encontramos com freqüência nas aves melodia e harmonia no sentido humano. Temos exemplos impressionantes de''estrofes de estrutura harmônica, de longa distensão, p. ex. no inambuaçu, Cnjptu lue obsoletus, no socó-boi. g o , seriema, acauã, gavião-relógio, se o e tovaca, C c nison Há certos cantos curtos, compostos por duas metades que se completam de. modo convincente, atuando como pergunta e resposta de um monólogo; isto acontel to ce, p. ex. com os emberizídeos (trinca-ferro, e rabo-mole, E e s ic a primeira metade, ascendente, tem o efeito de "pergunta"; a segunda, descendente, o de "resposta". O maior aperfeiçoamento é documentado pelos duetos dos casais de certas cambaxirras.
É digno observarmos que as aves sabem transpor, -isto é, podem apresentar algumas frases ou melodias inteiras em posição ora mais alta, ora mais baixa, do que temos um exemplo no corrupião. Ocorre também a exe-~ cução em timbres diferentes pelo mesmo indivíduo, o que pode causar a impressão de estar em duas aves conversando (v., p. ex. sob gralhas). Constantemente encontramos músicos que em suas composições se deixam estimular pelas vozes das aves, como Richard Wagner, Gustav Mahler, Ottorino Respighi, Villa-Lobos e Olivier Messiaen. Asseveramos, todavia, que a voz pura da ave não pode manter-se ao lado da nossa aprimorada música clássica, pois a vocalização da ave perde então seu encanto, a não ser que se trate de uma voz muito simples como p~ex. a do cuco europeu, aproveitada por Beethoven na sua t le. Também na Música Folclórica Brasileira há exemplos do aproveitamento de vozes de aves nas composições. Assim procederam, p. ex. os nordestinos Luiz Gonzaga e Zé Dantas, imitando o melodioso canto do acauã, H e , e o maestro Tom [obim, trazendo para seu estilo vozes como a do urutau e a de dois inambus, usando, no último caso, pios de caçador (disco U WEA). Outra coisa é quando Zequinha de Abreu se inspira nos movimentos do tico-tico, criando assim uma das mais sugestivas músicas do Brasil, imitando o passarinho saltitando e se regalando com o alimento encontrado em abundância - "o Tico-Tico no Fubá". Ou quando Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira acusam a cruelchopi, para dade de cegar um "assum-preto", este não fugir (Gravação original: Luiz Gonzaga no LP de 78rpm n° 800.681da RCA Victor,em 26 de maio de 1950): t é só bele Céu de il e ) - eto, cego dos óio (olhos) (n ndo l , , c de dô (t l
(po )
ou
(ign pió
) os óio do , c
(ju ele
i to
eto,
o
t iste b
Que
l
to
ô (solto)
(n pode si de Desde que o céu, , pudesse
Ét
-
.,
g o (olh )
eu n to o teu o dos óios (olhos)
) u
A afirmação de que entre os pássaros do Brasil não existem bons cantores ou existem apenas em pequeno número (tal como em outras zonas tropicais), foi feita por europeus que desconheciam as condições do país.
.
"':.,
I
BIOLOGIA
Assim escreve E. A. Goeldi (1894): "H~ muitos.gritadores e poucos cantores realmente importantes". Dois fatores perturbam a opinião dos adventícios: (1) sentem a falta, e com razão, da inigualável concentração de cantos de pássaros que todos os anos na primavera ocorre nos países setentrionais, ao cabo de longo inverno frio e silencioso, (2) não encontram as melodias que lhes são familiares da pátria no hemisfério norte, como as do rouxinol-verdadeiro e do tordo-branco. Nada emociona tanto como as impressões recebidas na infância, no lugar onde se nasce. Este aspecto é confirmado por julgamentos de brasileiros como Gonçalves Dias, que enalteceu devidamente o canto do sabiá brasileiro. Do outro lado Gonçalves Dias não se conformou com o canto das aves da Europa: " ... as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá.", na sua."Canção do Exílio". Saber quais são os cantos mais belos é tema para muitas discussões infrutíferas. Hartshorne (1958) calculou que na região tropical do Mundo vive mais ou menos a metade das espécies de canto mais musical. Apenas cerca de 75% dos Oscines ("aves canoras", 4.000 espécies) cantam, no sentido de uma ave canora. Existem muitos ornitófilos que se entusiasmam pelos numerosos pássaros canoros deste país. Essa dedicação chega a tomar-se um esporte, culminando em aquisições caríssimas e concursos de canto (v. sob curió, Aparentemente uma araponga ou um pichochó, pendurados numa gaiola na entrada de uma loja, são utilizados, por causa de sua voz fortíssima, para chamar a atenção dos passantes e possíveis fregue-xses. Caçadores se aproveitam de pios para chamar certas aves, sobretudo tinarnídeos. Aprenderam isto com os aborígenes. Seja mencionado que os índios brasileiros, que imitam com perfeição as vozes das aves, utilizam esta arte não só durante a caça mas também para transmissão de sinais. Pode acontecer, porém, na prepa~ ração de um assalto noturno, que se traiam ao adversário conhecedor, arremedando assobios de espécies que não existem no lugar em questão, como verificamos no _alto Xingu, MT, em 1947.
7.2.
ALIMENTAÇÃO,
MODO DE CAÇAR E PESCAR,
RESfDUOS
Para a alimentação foi reservado um espaço relati....... vamente grande. Procuramos na maioria dos casos conhecer também a técnica de caçar, pescar, pastar, modo e explorar flores, ete. Certas famílias apresentam pro-cblemas especiais, como garças, aves de rapina, beija-flores, pica-paus, traupíneos e emberizíneos. , Há os mais variados tipos de regimealimentar de .....aves neste país, que podemos classificar com a seguinte terminologia: onívoro - muitos Passeriformes como "--')em-te-vi e sabiá, tucanos; carnívoro - falcão, corujão; -soiscivoro - martim-pescador, atobá; necrófago - uruou, gaivotão; insetívoro - andorinha (aérea), pica-pau
111
(em troncos), tovacuçu (no solo); malacófago caramujeiro; frugívoro. papagaio (nas árvores), inarnbu, juriti (no solo); fitófagó - cigana; nectarívoro, exsudívoro - beija-flor; granívoro - rola, canário-daterra. O curicaca é capaz de comer sapos venenosos. Devorar carrapatos, alimento que corresponde à carniça, é go, e do granparticularidade p. ex. do carrapateiro, de icteríneo . A maioria aceita uma dieta mista. ' Uma amostra do alimento ingerido por aves capturadas em redes pode ser obtida através de drogas eméticas. Foram elaboradas várias técnicas usando espécies com dieta e tamanho diferentes. Recomenda-se a aplicação de urna solução de tartarato de potássio por via oral, provocando uma regurgitação do conteúdo estomacal sem intoxicar a ave (Tomback 1975). A orientação pelo faro na procura de alimento é rara entre aves (v. sob urubus, Cathartidae, Procellariidae e e o veja também papagaios e beija-flores. Mais desenvolvido é o faro no kiwi, e da Nova Zelândia). A existência de faro foi comprovada, p. ex., nos pombos (Henton et 1966). Ocorrem associàções heterogêneas para comer. Os anus, garças, codornas e outros se aproveitam de reses para espantar artrópodes; as aves de rapina e tucanos perseguem animais afugentados por bandos de macacos ou coatis nas copas da mata alta; bandos de o o acompanham bandos-nômades de na mata inundada da Amazônia, locomovendose por baixo dos macacos e aproveitando-se dos insetos afugentados por estes (Ayres 1985, Cuculidae, bibliografia). O mergulhão
odi
us
podiceps
apanha peixes,
quando estão para escapar de uma garça; várias aves, como dendrocolaptídeos e formicarídeos, acompanham as formigas de correição obtendo por esta tática grande fração de seu alimento, nos últimos anos estudada sis- . tematicamente por E. O. Willis. Há o fenômeno da frutificação da taquara que atrai grandes quantidades de granívoros (v. Emberizinae e Columbidae). Dessas acumulações de pássaros se aproveitam os gaviões da stu collis. mata, como Mencionamos pescarias coletivas, como aquelas de biguás, biguá-tingas, atobás, jaburus e colhereiros. Há também-caçadas estimuladas por incêndios nos campos (gaviões, andorinhões, etc.). Tesourões e gaivotas-rapineiras forçam outras aves marinhas a cuspirem o alimento, para que depois possam apanhá-lo. Um caso diferente é o do gavião eo que finge ser um urubu inofensivo para subitamente atacar animais despreocupados. 'S'articularidade do sudeste do Brasil é o aproveitamento da excreção líquida adocicada de pulgões per aves, v. sob beija-flores, Parulinae e ThraupinagCitaremos o fenômeno dos "barreiros", isto é, lugares onde aves e mamíferos comem terra que possui teor salino; fenômeno mais encontrado no Brasil central (v. Psittacidae).
112.
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
Numa síntese sobre o aspecto evolutivo de aves frugívoras, Snow (1971) explica as várias interações entre as plantas e os seus dispersores, na região neotropical. As plantas produzem uma abundância de frutos, freqüentemente vermelhas, azuis ou pretas, para atrair as aves. As aves que comem os frutos, sejam estes suculentos ou não, deixam as sementes intactas (frugívoras "legítimas"). As aves frugívoras têm uma vida fácil que lhes permite extravagâncias como a poligamia; a fêmea é capaz de criar os filhotes sozinha. Isto acontece p. ex. com os cotingídeos e piprídeos, num total de aproximadamente 150 espécies, muito úteis para as plantas. Frutos comidos pelas aves podem ser comestíveis para o homem ou não (venenosa para nós é p. ex. t bell don . Frugívoras como os psitacídeos destroem as sementes quando comem o fruto. Diferente é o caso das aves insetívoras que têm que adotar as mais variadas técnicas para conseguir seu alimento. Formicarídeos e tiranídeos juntos somam mais de 590 espécies que são predominantemente insetívoras. Acumulam-se registros de atividades noturnas de forrageamento de aves diurnas sob iluminação artificial, p. ex. beija-flores e tiranídeos, mas também tico-tico, cambaxirra, um sabiá e um caminheiro. A ornitofilia é tratada sob beija-flores.
7.2.1.
PELOTAS,
DEJEÇÕES, GUANO
Referimo-nos também à formação de pelotas (vômitos, chamadas também egagrópilas, ejeção de material após a ingestão) que podem fornecer amplos dados sobre a alimentação, p. ex. de corujas, maçaricos, andorinhões e outras. A formação de pelotas, possibilitada por ossos, espinhos, penas, pelos ou quitina, é uma necessidade vital para essas aves. A densa vegetação tropical pode dificultar o encontro deste material, o que também poderá ocorrer em relação aos restos de comida (penas, ossos, ete.) deixados por aves de rapina e corujas no local da refeição. Tais despojos podem fornecer-nos melhores detalhes sobre a espécie de ave que tomou seu repasto (v. falcão). Os ossos em pelotas de corujas podem levar à descoberta de novas espécies de roedores. Em pelotas de biguás os otólitos dos peixes podem servir para identificar e contar os peixes consumidos. As dejeções de andorinhões ocne), aves rigorosamente insetívoras, que se concentram em certas grutas para dormir, podem acumular-se de tal maneira que são usadas como adubo na agricultura, correspondendo ao clássico guano de aves piscívoras como atobás (v. . A biodeposition torna-se um importante processo geoquímico (Hutchinson 1950).
., 7.3.
H
,
O OGI
Fazemos muitas alusões a respeito desta faceta da pesquisa. O comportamento varia de acordo com as es-
_pécie.s,gêneros, famílias e ordens. Tais elementos podem proporcionar indicações sobre o parentesco entre as aves, tanto mais semelhante for sua etologia. i Está certo que o forrnicar-se está ligado a uma sensação agradavelmente estimulante, talvez mais procurada por indivíduos que estão na muda e devem sentir comichões na pele. Não podemos negar de todo que a aplicação de ácido fórmico tenha um efeito de fungicida ou antiparasítico. Após ter usada a formiga dessa maneira o pássaro às vezes come o inseto. Outra "ação de conforto" é o banho, tomado na água ou na poeira, ou em ambos. Beija-flores e outros gostam de banhar-se na chuva; arrepiando as penas para facilitar a penetração da água. Muitos Passeriformes tomam banhei nas folhas molhadas pela chuva ou pelo orvalho. .Existe ainda o banho de sol. Outro tipo de conforto é a "uro-hidrosis", um hábito pouco difundido: consiste em defecar sobre os tarsos, molhando-os e refrescando-os, servindo à termorregulação; ocorre no urubu-rei, jaburu e outros urubus. O contrário acontece com beija-flores: no frio eles recolhem os pés minúsculos na rica plumagem do abdômen esquentando-os, como num regalo. O esticar das asas de biguá, biguá-tinga, socó-grande, maguari e urubus pode ser relacionado tanto à termorregulação como à secagem das mesmas. A posição deitada sobre os tarsos, como ocorre na ema, na seriema e no téu-téu-da-savana, , talvez também sirva à termorregulação. Comumente as aves aliviam-se do calor excessivo pelo ato de ofegar. O fenômeno de bocejar, abrir fortemente a boca, por razões nem sempre evidentes, ocorre em todos os vertebrados a começar com os peixes; os mamíferos (como o homem) acrescentam ao abrir a boca um profundo inalar. Vêem-se as aves bocejarem amiúde, p. ex., papagaios, pombas e beija-flores, sem se perceber o inalar. Um outro tipo de abrir a boca é agonístico executado por muitas aves, sobretudo ninhegos, p. ex. garças e bacuraus, às vezes ameaçando ainda com um sibilar de cobra: tudo herança dos répteis.' Quanto ao modo de beber, algumas aves "sugam" a água sem levantar a cabeça, veja, p. ex., pombas e o bico-de-lacre. Brincar ocorre amiúde em papagaios e araras. Registramos atividades lúdicas num falcão fingindo caçar e em filhotes de um falcão no ninho; 'também numa 'áridorínha e em beijaflores, nos últimos ocorrendo vôos acrobáticos, semelhantes aos vôos nupciais. As perseguições de gaviões ("mobbing"), realizadas por beija-flores, tiranídeos, andorinhas e outros são também em parte brincadeiras, Raro fenômeno em aves é o uso de instrumentos (tool use), observado em aves do Brasil, p. ex., garças, araras e marfins-pescadores. Problemas dos mais interessantes ligam-se à fisiologia dos sen.tidos, como, p. ex., a sensibilidade a cores que é semelhante à nossa (v. beija-flores). As aves percebem também luz ultravioleta (v. andorinhas) e luz polarizada, faculdades que aproximam as aves dos insetos. Já foi aqui mencionado o faro.
.-., I
BIOLOGIA
A percepção de-pressões atmosféricas, geomagnetismo, infra-sons e luz polarizada devem apoiar a orientação das aves durante longas migrações, sobretudo à noite. As aves dispõem de um sentido apurado de cinestesia, ajudando-as, p. ex., na localização do seu ninho. A existência de atividade onírica (sonhos) em aves podemos atestar quando observamos de perto xerimbabos que dormem, veja sob Ramphastidae e Psittacidae. Não podemos entrar em detalhes da fisiologia sensorial, mas queremos ao menos chamar a atenção para essa parte interessante da biologia das aves.
REPRODUÇÃO
7.4.1.
CICLO
ESTACIONAL
o ciclo reprodutivo, adaptado às estações do ano, constitui uma matéria complexa devido à quantidade de espécies de aves brasileiras e suas exigências. As causas principais para o desenvolvimento deste ciclo jazem: (1) no regime das chuvas e (2) na alimentação que, geralmente, depende da precipitação atmosférica. Não há influência ponderável do fotoperiodismo, que regula este ciclo em latitudes mais elevadas. O fator proeminente que condiciona as atividades reprodutivas é a fartura de alimento, facilitando a criação da prole. O começo das chuvas provoca forte aumento de insetos, beneficiando insetívoros, como os andorinhões e muitos Passeriformes florestais. Pelo fim da época seca há maior abundância de frutas, o que favorece os frugívoros, como os anambés (Cotingidae). Granívoros (p. ex. Emberizinae) são dependentes da maturação de sementes. Beija-flores aproveitam-se do auge da floração. Mas sua adaptação a vários vegetais que possuem uma periodização diferente, implica um cronograma correspendente -, A obtenção do material para a confecção do ninho pode ser decisiva. o joão-de-barro, rufus, necessita de lama úmida, que só existe após as chuvas. Beija-flores necessitam, para a construção do seu ninho, de paina que conseguem apenas numa certa época; sendo sensíveis ao encharcamento do seu ninho, reproduzem-se na época seca do inverno, julho a novembro em Belém. Também os grandes ninhos de icteríneos podem ser préjudicados por chuva pesada. As inundações impossibilitam a reprodução de aves que nidificam no solo (v. sob Impactos atmosféricos). _Aépoca de reprod ução das aves do Brasil é indica da geralmente como sendo de setembro a janeiro. É de se admirar que tanto na região de Cantagalo, interior do Rio de Janeiro (22°S, 400m, clima de serra, 1.497,Omm de precipitação anual, 140 dias de chuva, temperatura média 17,8°C) como na área de Belérn, Pará nível do mar, 150km do equador, 2.760,9mm de precipitação
113
por ano, 244 dias de chuva, temperatura quase invariável 25-26°C) a maior atividade de reprodução concentra-se em outubro, enquanto que a maior redução dessa diligência ocorra em abril e maio, correspondendo à primavera e ao outono austrais, respectivamente (Euler 1900, Pinto 1953). Porém, sob as mesmas condições climáticas, na mesma biota, pode haver uma variação muito acentuada, diferindo a cada ano..o que dificulta a compreensão do quadro, não se podendo portanto fazer uma generalização. Mas em cada espécie as atividades são sincronizadas, correspondendo a uma real adaptação hereditária. Podem ocorrer diferenças do ciclo entre várias populações da mesma espécie; fala-se então de raças fisiológicas (Miller 1960). Ao norte do equador climático, que passa a 8°N, ficando portanto fora do Brasil, o ciclo reprodutivo é inverso (Snow & Snow 1964). No Rio de Janeiro (ex-Guanabara) temos registros de nidificação no outono e inverno (junho, julho, agosto), p. ex. de tico-tico de bem-te-vis e e outros tiranídeos como o canto intensivo de em julho/agosto deve apontar também atividades reprodutivas. Em começo de agosto o andorinhão começa com suas gritarias coletivas acima do Rio, o sabiá-laranjeira, canta. No Brasil Central (alto Xingu, Mato Grosso) a reprodução de aves está em pleno desenvolvimento em julho. Ocorrem no Brasil de duas a três posturas consecutivas, depois o casal descansa e entra na muda. Verificamos, p. ex., que na baixada quente ao norte do rio Doce (Espírito Santo), no começo de dezembro, os Passeriformes examinados (Furnariidae, Tyrannidae e Thraupinae) encontravam-se todos na muda, mas suas gônadas ainda estavam bem desenvolvidas. Espécies de regiões tropicais 'têm gônadas desenvolvidas durante muitos meses, sem que contudo estejam sempre se reproduzindo. Pode-se verificar uma atividade reprodutiva individual durante 6 a 8 meses (Miller 1960). Pode haver dois períodos de reprodução por ano, separados por alguns meses. Não há uma clara separação entre as atividades reprodutivas e a muda. Um período reprodutivo contínuo durante todo o ano, em latitudes equatoriais, é muito mais raro do que o esperado. Na Amazônia , e reproduzem-se quase todos os meses, mas não os indivíduos. Na região de Cantagalo, Rio de Janeiro, encontram-se ovos do xintã, em quase todos os meses. A suindara, parece reproduzir, em várias regiões do país, durante quase todo o ano. É necessásiudies no modelo daqueles rio fazer no Brasil feitos por Margaret Morse Nice(1964) nos EUA,Alexander F. Skutch (1935 em diante, até os nossos dias) na América Central e Alden H. Miller (1960) na Colômbia. Para compreender melhor o cronograma da reprodução das nossas aves, é necessária a interpretação cor-
114
ORNITaLaGIA
BRASILEIRA
reta de muitos dados já existentes e a realização de novos registros.
7.4.2.
NIDIFICAÇÃO,
OVOS, ONTOGENIA
No grande complexo da reprodução apontamos, sobretudo, detalhes das cerimônias ou rituais pré-nupciais (v. p. ex. Fregatidae, Trochilidae, Pipridae e Cotingidae) e da nidificação. Geralmente ocorre a monogamia, que pode durar toda a vida (p. ex. papagaios e aves de rapina), ou restringir-se a um único período de reprodução (p. ex. muitos Passeriformes) . .No Brasil, são numerosos os casos de aves que não vivem aos casais.p. ex. beija-flores e tangarás (Pipridae). Temos, ainda, representantes nos quais só o macho cuida dos ovos e dos filhotes, tais como a ema, os tinarníde os e a jaçanã. Nesses casos a fêmea pode ser o sexo dominante e o comportamento pré-copulatório inverte-se, tornando-se interessante a organização populacional dessas espécies. Há vários tipos de poligamia. O processo da seleção sexual pode ser visual e / ou acústico. Há uma variedade muito grande na nidificação das aves brasileiras. Entre os casos mais interessantes do mundo, referente à falta' absoluta de providenciar um ninho, está a grazina, (Laridae), da Ilha da Trindade, o urutau várias espécies) e o bacurau Damos os maiores detalhes a respeito da nidificação de Apodidae, Trochilidae, Furnariidae e Icterinae. Existem baas publicações sobre a nidifícação de aves brasileiras, principalmente de Euler (1900), Ihering (1900),Snethlage (1935) e Pinto (1953),atualmente Yoshika Oniki e Anita Studer. Quanto a pormenores sobre a criação dos filhotes, tempo de incubação, etc., tomamos freqüentemente as indicações de Alexander F. Skutch, clássico nesta matéria, tendo de ser analisada ainda em seus detalhes a aplicabilidade dos dados da Costa Rica ao Brasil. A associação em colônias é o grande estímulo social: ver outros indivíduos da mesma espécie coletando material para a construção do ninho, executando cerimônias pré-nupciais, etc., geralmente resulta numa maior cota de proliferação.; A reprodução em colônias, mais conhecida em aves marinhas as quais, no Brasil, não são destacáveis, é mais evidente, neste país, p.ex. nos Ciconiiformes (garças, etc.), na caturrita, e em Passeriformes como icteríneos. Muitas aves desenvolvem durante o choco uma "placa de incubação". Tal placa fica localizada na parte inferior do corpo, onde caem as penas e a pele torna-se fortemente vascularizada, como que inflamada, com temperatura mais elevada do que o resto do corpo. Esse calor é transmitido diretamente aos ovos. É uma particularidade do sexo que incuba. A morfologia destas placas de incubação varia conforme a espécie;' há pouca informação a este respeito em aves brasileiras. Nos
Laridae ocorrem três placas de incubação, correspondendo aos três ovos. (Os ovos e sua incubação são descritos de maneira sumária nas textos das famílias. Para se livrar da casca o embrião usa o "diamante", uma protuberância córnea na ponta da maxila (e também da mandíbula se esta, no embrião, é mais comprida do que a maxila, como p. ex. Picidae). Consta que a dureza da casca de ovo chega perto daquela do vidro. O diamante cai pouco após a eclosão. Entre outras particularidades dos ovos mencionamos a' ultra-estrutura da casca, servindo na taxonomia. Existem diversas adaptações das ovos relacionados ao parasitismo (v. Cuculidae e Icterinae). i maioria das aves nasce nua (como muitos Passe riformes, beija-flores e aves que nidificam em buracos, como pica-paus e tucanos). Após poucos dias brota no ninhego uma finíssima penugem e e). Depois saem, das mesmas papilas, as penas definitivas, empurrando as n para fora (estas permanecendo aderidas à ponta da pena definitiva por algum tempo). Antes de mudar para a plumagem adulta, o filhote adquire às vezes uma segunda (ou até terceira) plumagem;} fala-se então do imaturo, respectivamente do subadulto.' termos que não são rigorosamente definidos. !Considerando o seu desenvolvimento pós-embrionário; distinguindo d úas categorias de filhotes: (1) nidífugos , nascem de alhos abertos, são cobertos de penugem natal (neossoptiles), são aptos a correr mal saem do ovo; geralmente são aves que nidificam no 5010,1 p. ex., Tinamiforrnes e Charadriiformes: (2) nidícoias l), nascem de olhos fechados, são incapazes de se locomover, permanecem algum tempo no ninho o qual costuma ser construído sobre árvores,l p. ex., Columbiformes e Passeriforrnes, mas também aves aquáticas como Sphenisciformes, Procellariiformes e Pelecaniforrnes que nidificam no solo ou sobre galhos. Os filhotes que estão no ninho são os ninhegoa.Urn tipo [ulica, e-special do grupo nidícola é a picaparra, cujo filhote, nascido em estado bem embrionário, é abrigado sob as penas ao lado do corpo do pai que o leva até em vôo. Os filhotes de certas espécies nidícolas, P: ex., o atobá, expostos às intempéries à beira-mar, e o andorinhão , expostos ao molhamento de cascatas, evoluíram uma penugem lanosa, que são os antecessores das dos adultos. §eja lembrado aqui que o conhecimento sobr: areprodução de uma ave (tipo de ninho e ovos, a~ar~nCla e comportamento dos filhotes, etc.) pode contnbUlr para o esclarecimento do seu parentesco com outras aves (v. , Furnariidae). Em muitos Pasp. ex. seriforrnes e também outras aves, a determinação da idade pade ser feita, até ponto, através da ossificação craniana. O crânio do ninhego consiste de cartilagem: uma única camada elástica transparente, deixando antever, de cima,' o cérebro e as vasos sangüíneos. A cartilagem é substituída progressivamente
BIOLOGIA
por osso, de aspecto esbranquiçado, pontuado, duro: duas camadas sólidas, separadas por uma área pneumática. Os últimos vestígios de cartilagem aparecem como uma ilha em cada lado do vértice,' que finalmente s do esiicus, tornam-se bem pequenos num pardal, de 4 a 5 meses de idade. A ossificação completa é alcançada às vezes apenas co~ 6 a 8 mese.:'. Movimentando a pele fina molhada do vértice de uma-ave pequena, podemos ver (não sempre) se existem tais ilhas, método aplicável, P: ex., durante o processo de anilharnento. EJI1 certas aves, entre elas os melhores voadores como andorinhões, beija-flores e muitos maça ricos, a ossificação nunca se torna completa. Damos várias indicações sobre a idade máxima das aves, p. ex., os psitacídeos e emberizídeos.
7.4.3.
PREDAÇÃO
EM NINHOS,
ADAPTAÇÕES
ANTIPREDATÓRIAS
A predação de ninhos foge na maioria dos casos a um controle direto, uma vez que os perigos.não são óbvios. Os predadores podem viver no chão, podem ser arbóreos ou aéreos. Muitas perdas têm de ser atribuídas à sagacidade de gambás (Didelphis sp.), animais de hábitos crepusculares e noturnos, e de sagüis sp.), de maior atividade diurna, ambos podendo ser abundantes também em regiões sob controle do homem. Mais freqüente do que se espera é a predação por cobras (v.p. ex. Icterinae). Até ninhos pendurados nas pontas de galhos, como aqueles de ucel (Furnariidae), são alcançados por cobras-cipó, observadas também a invadir um ninho de joão-de-barro. Deve ocorrer, regularmente, a predação de ninhos de aves por forrnigas-de-correição quando estas enchem também a galhada e os troncos, na mata, e não apenas o solo, devorando tudo (v. sob beija-flores e andorinhas). Segundo E. O. Willis as formigas-de-correição neotropicais "picam e mordem, mas são incapazes de cortar a carne de vertebrados. Apenas separam os artrópodes em suas juntas." Sobre a predação de caranguejeiras em ninhos e em outras oportunidades v. sob Predação. _Na Amazônia peruana, Maria Koepcke (1972) estabeleceu o seguinte quadro de padrões antipredatórios na nidificação, frisando que os maiores perigos' seriam macacos e tucanos: (no Brasil, achamos que seriam cobras considerando os inúmeros casos de perdas não esclarecidas em locais onde não existem macacos nem tucanos) (1) Construção do ninho em lugares inacessíveis: árvores altas (Falconiformes, Icterinae), por cima da água (Icterinae, Tyrannidae), mata cerrada (Cuculidae), palmeiras espinhentas (Troglodytidae), pontas de galhos (Formicariidae, Tyrannidae, Icterinae). (2) Nidificação em ocos (Trogonidae, Alcedinidae, Momotidae, Galbulidae, Bucconidae, Ramphastidae, --.....Picidae, Dendrocolaptidae, etc.).
115
(3) Ninhos desproporcionalmente grandes de aves pequenas podendo ~isfarçar a câmara oológica (Furnariidae, Formicariidae). . (4) Camuflagem (Trochilidae, Tinamidae; os últimos podem cobrir os ovos com folhas quando saem do ninho). (5) Nidificação em grupos ( otoph Icterinae). (6) Defesa pelos pais, incluindo despistamento do ninho (geralmente espécies que vivem no solo' ou perto dele, como Tmamiformes, Anseriformes, Charadriiformes e Caprimulgiformes). (7) Associação com vespas e formigas (Icterinae no us). Brasil também Cotingidae: G (8) Diminuição do tamanho do ninho até o extremo (Pipridae, Cotingida.&No Brasil podemos acrescentar ainda a construção do ninho sobre plantas altamente urentes (v. sob Troglodytidae), e a instalação de dois acessos por ninho, às vezes apenas simulados (v. sob Furnariidae), ou a construção de um sobreninho (v. Estrildidae). Na Amazônia brasileira Y.Oniki (1979) fez uma análise' de correlações entre o hábitat e as características de ninhos e ovos com perspectivas anti-predatórias: (1) Ovos azuis, com ou sem pintas, geralmente encontram-se em ninhos em forma de taça grossa; os ovos azuis parecem imitar as manchas de luz que incidem sobre as folhas circundantes ( g , h pis, c us). (2) Ovos róseos, com ou sem pintas, ocorrem sobre ou próximo ao chão ou em ninhos ralos, os ovos parecem folhas secas, a serrapilheira ou o solo , . (3) Ovos brancos, com ou sem pintas, são encontrados dentro de cavidades (Picidae), em ninhos em forma us), em ninhos de Columbidae onde de forno (Odont os ovos são constantemente cobertos pelos adultos, em vários ninhos em taças ralas ou grossas (Trochilidae, vários Passeriformes). Skutch (1976) concluiu que a nidificação de aves na região neotropical tem pouco sucesso devido principalmente à predação, mas que esta poderia ser reduzida se as aves tivessem menos ovos por postura, menos filhotes, e portanto menos visitas dos adultos ao ninho para alimentá-los, reduzindo assim as chances do ninho e adultos serem detectados pelos predadores. Esta teoria foi apoiada pelos trabalhos Snow & Snow (1964) na Ilha de Trinidad; de Ricklefs (i969) e WiIlis (1961) que também trabalharam na América Central e a noção de que a predação é alta nas regiões tropicais tornou-se generalizada. Entretanto, Snethlage (1935) já havia sugerido, sem apresentar dados quantitativos, que nas matas tropicais da região amazônica, a predação não era tão alta como se supunha. Os estudos de Oniki em Belém e Manaus, ampliando as sugestões de Snethlage, mostraram que as taxas de predação em ninhos de aves, às vezes são mais altas
116'
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
que em zonas temperadas, mas outras vezes são semelhantes às taxas nessas zonas. Sendo que as taxas de predação não são uniformemente altas nas zonas tropicais, o número pequeno de ovos nessas zonas não parece ser resultado de alta predação. Serão necessários estudos adicionais em matas naturais, que ainda apresentem predadores que possam controlar as populações dos predadores pequenos de ovos (cobras, etc.). Em ilhas oceânicas, como Trindade, a abundância do inus l to s, impossibilita voraz caranguejo Ge provavelmente a ocupação desses lugares por outros procelarídeos que nidificam em buracos (Olson 1981) Fomos informados no Nordeste que abelhas africanas, elli e nsoni que, nos últimos anos, se espalharam sobre o país todo, ocuparam um oco no qual maracanãs tinham sua prole e que assim foram mortas. Ocorrem perdas da prole por ações inofensivas de animais, p. ex. a ocupação fortuita de ninhos por um bicho qualquer. Assim achamos num ninho fresco do furnarídeo chi c (= eoph l os filhotes recém-nascidos de um pequeno roedor, O sp. o e sp. escolheram um ninho de Duas rãs, s, com ovos, como dormida durante o dia; os pássaros abandonaram a postura (A. Studer, Minas Gerais). Sobre a ocupação de ninhos velhos por outros animais v. p. ex. sob caturrita (Psittacidae) e Furnariidae.
7.4.4.
AVES
PARASITAS
Capítulo fascinante é o parasitismo entre as aves, caso especial da reprodução, que no Brasil pode ser observado na mais variada gradação, v. sobretudo Cuculidae e Icterinae. Também existe no Brasil um pato parasita. Descrevemos com maiores detalhes o caso do gaudério, lo bo iensis. Em certas famílias ocorre às vezes parasitismo incipiente, como o nido-parasitismo de certos tiranídeos, andorinhas e icteríneos.
7.5.
RELAÇÕES INTERESPECtFICAS
Além das relações entre indivíduos da mesma espécie(relações intra-específicas), interessam-nos as relações entre as diversas espécies (relações interespecíficas). _A maior oportunidade para a associação de várias espécies ocorre durante a busca de alimento, verificando-se em quase todas as famílias de aves. Temos a "hierarquia da bicada'" (v. sob Cathartidae). Tipo peculiar de associação é a do icteríneo us com o is d inic n (Rio Grande do Sul). tiranídeo Het Aqui se enquadra a formação de bandos mistos de pássaros que perambulam pelas florestas, fenômeno muito difundido na região neotrópica, os participantes chegando a cooperar uns com os outros. Dentro da mata tropical com sua múltipla estratificação ocorrem tais deslocamentos tanto nas copas das árvores (dominando traupíneos como h phonus), como no sub-bosque
Fig.K - Parasito externo da ave, alma-de-pombo, Hippoboscidae (seg.Watson & Amerson 1967).
) (comparecendo, p. ex. formicarídeoscomo Notam-se esses bandos durante o ano todo, participaii-' . do também indivíduos que reproduzem na área.(Cada bando tem um líder, uma sentinela, que dá um sirial de alarme, se, p. ex., aparece um gavião. Registrou C. Munn (1986) na Amazônia peruana, que a sentinela às vezes dá um alarme falso imobilizando os companheiros do bando, dando à sentinela maior chance de apanhar um inseto cobiçado. Uma interpretação antropomórfica falou então de "pássaros que mentem". É urna demonstração de que um animal também pode se beneficiar ao "ajudar" outras espécies. A marcação com anéis coloridos revelou que esses bandos não são uma conglomeração fortuita mas sim comunidades organizadas, participando certos indivíduos provavelmente a vida toda, com interrupções durante a reprodução. Podem participar na Amazônia brasileira 5 a 9 espécies, mas apenas um indivíduo ou um casal (às vezes com filhotes) de cada espécie. O bando pode reunir 10 a 40 e mais indivíduos. Há bandos insetívoros (como furnarídeos, dendrocolaptídeos e tiranídeos), participando também pequenos pica-paus, e bandos de frugívoros e nectarívoros (traupíneos, inpes), as últimas trafegando apeclusive D is e nas nas copas.Cada bando tem uma área vital defendida contra outros bandos. Quando tais bandos se encontram lutam os indivíduos coespecíficos. Uma das causas para a formação dos bandos deve ser a maior segurança. Quanto a outras associações de aves procurando alimento há ainda o fenômeno importante de formigas de correição.:_
A
B
Fig.L - Parasito externo da ave, piolhos de pena, Mallophaga.A, tipo prolongado que vive na plumagem do peito e das costas; B, tipo arredondado vivendo na plumagem da cabeçada ave (seg.Watson & Amerson 1967).
BIOLOGIA
A congregação de espécies diferentes durante migrações de maior escala é muito ligeira; cada espécie procura a companhia dos indivíduos de sua espécie, mas o seu bando segue os bandos de outras espécies. Existe pouco entendimento sonoro entre as diversas espécies (v. "Manifestações sonoras"). , 'Existem associações interespecíficas durante a nidifícação, principalmente entre as aves que formam colônias. 'Muito excepcionalmente as relações interespecíficas podem levar a um cruzamento. . Comentamos o comportamento agonístico de pássaros para com os rapineiros, corujas e outras espécies de aves, como (Tyrannidae) a qual pode assustar a passarinhada pela aparência berrante de suas asas abertas. . O complexo da predação também faz parte das relações interespecíficas, em sentido ampl~.'
7.6.
PARASITOS
MAS SANITÁRIOS,
DE ÁVES, FAUNA NlD/COLA,
ARTRÓPODES,
Não são tratados os casos dos múltiplos ácaros que vivem dentro e entre as penas, nas narinas, em sacos aéreos, etc., das aves ,(trabalhos de Herbert F. Berla, Museu Nacional, Rio de Janeiro). Em aves aquáticas, como trinta-réis e garças, existem ácaros que transmitem arboviroses letais (Kinget 1977).Carrapatos (Ixodoidea) que se fixam nas partes nuas (p. ex. região perioftálmica), não são tão freqüentes em aves (v.sob atobá). Informações sobre artrópodes parasitas são dadas ao tratarmos da fauna nidícola, v. sob Sulidae, Ciconiidae, Psittacidae, Fumariidae e Hirundinidae. Tais dados adquirem interesse sanitário quando, p. ex., nos ninhos de andorinhas vivem insetos hernípteros semelhantes aos percevejos dos galinheiros, ou nos ninhos de jaburu, cabeça-seca, caturrita e joão-de-pau aparecem barbeiros, que podem ser transmissores da tripanossomíase americana, a doença de Chagas. Ainda não foi suficientemente estudado no Brasil se de fato ocorrem tais transmissões ao homem.
PROBLE-
DOENÇAS
No Brasil, o tema torna-se mais interessante p. ex. no 'caso do pombo, do pardal e do urubu e na fauna nidícola de Fumariidae, Hirundinidae, Psittacidae (caturrita) e outros, também aves marinhas. Necessitamos de mais atenção a respeito em aves silvestres.
7.6.1.
117
FAUNA NlD/COLA
Mencionamos dípteros pupíparos ou hipoboscídeos (alma-de-pombo), que vivem em algumas aves, como o pombo e gaviões. São parasitas hematófagos. Referimo-nos ainda aos "bernes de passarinhos", larvas hematófagas de dípteros que podem concentrar-se nos filhotes de gaudério criados pelo tico-tico, o que pode significar a salvação da prole do tico-tico. Os bemes de passarinhos, is (= spp., pertencem à família Muscidae, enquanto os conhecidos bernes-debois ou bernes verdadeiros, larvas de mosca-berneira ou mosca-do-beme (que parasita também o homem) pertence aos Oestridae. são um tipo de mosca vistosa e barulhenta, que põem seus ovos ou larvas diretamente sobre os filhotes de aves, ao contrário do berne verdadeiro (D . De observação difícil são os Aphaniptera ou Siphonaptera, pulgas de aves, como a cosmopolita pulga da galinha, E l . Um tanto mais óbvio é o grupo dos malófagos, Mallophaga, piolhos das penas, que mencionamos nos tinamídeos e psitacídeos, onde estes parasitos podem permitir certas conclusões quanto ao parentesco das aves hospedeiras, situação que poderia repetir-se em outras famílias (numerosos trabalhos de Lindolpho R. Guimarães, Museu de Zoologia, São Paulo). Um fenômeno ecológico interessante é que cada região do corpo da ave, p. ex. a cabeça, as costas e as asas, podem ter seu próprio conjunto de malófagos.
7.6.2.
VERMES E OUTROS PARASITOS, DOENÇAS
Mencionamos nematóides dos olhos de certas aves, p.ex. Cracidae (oxyspirurose); tais vermes podem existir também na galinha doméstica. Nematóides das vias aéreas são os , que se localizam na traquéia, p. ex. do pardal, do sticus produzindo a singamose, o chamado" gogo". As aves se infestam com as larvas do verme que se encontram em fezes de aves ou na comida, como minhocas e gafanhotos. Não relatamos aqui os vermes (trematódeos, nematóides, cestóides) que vivem nos intestinos de muitas
aves; sobre este assunto
existe no Brasil uma das
literaturas mais ricas (Travassos et , 1969, volume de 886 páginas, e muitos trabalhos posteriores). Nos pingüins ocorremAcanthocephala. Os transmissores de ovos de cestóides que infestam as aves podem ser as formigas, pondo em consideração especial o hábito de forrnicar-se (v. Hábitos). Existem nas aves hematozoários transmitidos por insetos, que podem ser inofensivos, como aqueles que são transmitidos de um pombo a outro por pupíparos, v. sob pombo. Os vetares principais são, na Amazônia, mosquitos. Ocorrem protozoários como tripanossomas e giárdias, v. sob fauna nidícola de Fumariidae, etc. Em tucanos, na pipira-vermelha, elus o, e na carnbacíca, Co b flaueola, foram isolados protozoários de malária de aves. Sobre a toxoplasmose v. sob pombodoméstico. Ocorre o botulismo, transmitido por bactérias, p. ex. em aves aquáticas como marrecas (Smith 1977). Em garças foi isolada a bactéria l . Entre as doenças citadas em aves silvestres deste país está a aspergilose (o micróbio causador é o fungo sp.), ocorrendo p. ex., em pingüins e macucos, i ius, em cativeiro (Andrade dos Santos & Tokarnia 1960). .
"
J
118
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Há muitas conjecturas sobre doenças transmitidas pelo urubu (v. Cathartidae). As próprias aves podem ser os propaga dores de doenças, e como os patos, que podem ser veiculadores do vírus da encefalomielite. Pombos, psitacídeos, o pardal, a ema e o jacu (Nunes et 1975) são atacados pela doença de Newcastle, epizootia (vírus) largamente espalhada em galinheiros, sendo às vezes transmitida a aves silvestres, como à pomba da mata, p. ex. Colu , e periquitos como Enicog us Iepto hqnchus, ambos do Chile (Behn 1957, Sick 1969); v. também sob a odo g Talvez seja arara-azul-pequena, liquidada toda a população de certas espécies de uma das nossas reservas, se uma epizootia, como a doença de Newcastle, for introduzida. Psitacídeos bem como outras aves são acometidos de ornitose ou psitacose v. sob Psittacidae. No Chile foi achado o Diftero-Viruela aviário em (Cubillos ~t . 1979). É possível que aves migratórias procedentes da América do Norte, como hi undo, tragam parasitos como Diph llobo (Cestódeos). Seria interessante apanhar aves com evidente passividade, suspeitas de doença, p. ex. pombos, para verificar através de exame virológico e serológico, respectivamente, se 1° existe um vírus, e 2°se existem anticorpos. Em Belém, Pará, existe um centro de estudos sobre arbovírus (vírus transmitido por artrópodes); v. sob Formicariidae. Tentou-se combinar ornitologia e epidemiologia (Lovejoy 1967). Lembramos a existência dos tratados de doenças das aves de Reis et aI. (1936), Reis (1955) e Hofstad et l. (1972). É melhor falar abertamente sobre a possibilidade de aves que poderiam transmitir doenças do que querer esconder esse' detalhe. Os perigos com aves silvestres são muito reduzidos.
7.7. PREDAÇÃO,
ACIDENTES, IMPACTOS ATMOSFÉRICOS
A predação de aves, fora do ninho, executada por rapineiros e outros animais carnívoros, incluindo peixes (como pirarucu, traíra), sapos, répteis, morcegos (carnívoros e hematófagos) e aranhas-caranguejeiras (v. sob beija-flores), será tratada oportunamente. O caso clássico da predação praticada pela carangueg e sobre pássaros, é "a narração e jeira, ilustração de H. W. Bates (1863):dois emberizíneos, meio enrolados em teias de aranha sobre um- tronco, a caranguejeira no ato de sugar um deles. Existem caranguejeiras arborícolas. sp., que chupam filhotes de pássaros em ninhos, em altura média da mata (Xingu, Mato Grosso) e é muito provável que a caranguejeira . hon n (Dipluridae) que constrói grandes teias de caça no estrato inferior da mata, apanhe oportunamente pássaros e lagartixas (A. T. Costa). Uma caraneteus ocupou o ninho, com 6 guejeira do gênero e gius a ave abandoovos, de um tuim, nou sua cria (Bahia, Anita Studer). Em Trinidad uma
e apanhou um filhote recém-nascido de and orinhão, , caído acidentalmente do , em ninho (Snow 1962). Um periquito, Mato Grosso, bateu numa parede e caiu morto, foi levaconth i ti, do por uma caranguejeira, para dentro de um buraco (Claudio V. Pádua, que providenciou uma fotografia). V. também sob beija-flores. Abelhas africanas são acusadas de terem matado aves engaioladas que não podiam fugir. Aves pequenas (beija-flores, andorinhas) ficam às vezes presas nas teias muito resistentes de aranhas, como aquelas de , estica das sobre vastos espaços entre galhos ou paredes das casas. Espécies como cambacicas, C , e sanhaçus, h is, no empenho de colher material para construção do ninho, podem acidentar-se ficando presas como num laço, quando querem arrancar p. ex. uma fibra da folha de palmeira. É raro achar deformações em aves silvestres. Coletahinus com bico mos, p. ex. um uirapuru, C deformado (a ponta do bico foi virada ligeiramente para o lado). Em várias aves encontramos defeitos nos dedos. Registramos uma mutilação, provocada por piranhas, num marreção, (v. sob Anatidae). . Mencionamos ainda acidentes que ocorrem por fortes ventanias (v. p. ex. garças, andorinhões). Não podemos saber o vulto do perecimento de pequenas aves durante temporais. Registramos alguns acontecimentos durante uma chuva de granizo (Columbidae) e inundações (Tinamidae). Muitas vezes até mesmo uma chuva pesada agrada às aves, qUe tentam pousar contra o vento. Andorinhas e beija-flores ficam então de bico levantado verticalmente. Sensível ao excesso de umidade, é p.
ex.
o pardal,
s
iicus, espécie introduzi da.
As enchentes regulares da Amazônia normalmente não constituem perigo para as aves ribeirinhas e terrícolas florestais, adaptadas e este fenômeno. Estas aves emigram periodicamente (p. ex. ta-lha-mar, bacuraus).As regiões florestadas da Amazônia inundadas por mais tempo não são colonizadas por aves terrícolas como tinamídeos. A pororoca, macaréu de alguns metros de altura, que ocorre na foz do Amazonas, tem maior efeito de destruição Lembramos, nesse contexto, as mortandades, nas nossas costas, de aves marinhas procedentes da Antártica, como pardelas (Procellariidae), aparentemente caso de inanição devido aos mares distróficos. Fenômeno ainda pouco estudado, embora já mencionado por Bates (1863), são os efeitos das friagens (chamadas também de friagens de São João) sobre a avifauna: quedas bruscas de temperatura, registradas entre maio e setembro no oeste da Amazônia, principalmente no alto rios J uruá e Paraguai. Consta que estas friagens, eventos de poucos dias, podem causar até mesmo a mortandade de peixes em pequenos rios e lagos.,Numa friagem, observada por nós no alto Cururu. Para.Uulho de 1957), registramos apenas a atividade red~zlda de aves e insetos. Concluiu Willis (1976) ser possível que
BIOLOGIA
as friagens atuem no sentido de uma seleção contra aves insetívoras, favorecendo aves onívoras. São escassos os registros, por parte de naturalistas, de friagens ocorridas, vez por outra, no sul do Brasil. Conseguimos saber alguma coisa sobre os efeitos da geada de 1975 no Paraná. Duas semanas após o auge da mesma, em julho, com lençol de neve durante vários dias, apareceram jacus, enelope ob , pelas estradas
119
da mata no município de São José dos Pinheiros. As aves estavam tão fracas que podiam ser apanhadas à mão. Nos seus estômagos se acharam folhas de araçá em vez de frutas que constituem o alimento necessário dessas aves. Pássaros de várias qualidades, na procura de comida, chegaram até as casas. Em "Manifestações sonoras", citamos o efeito de um eclipse na avifauna do Brasil central.
Aves Fósseis: História da Origem e Evolução
8
F 'As aves descendem dos répteis arcossáurios, provavelmente de um tronco primitivo dos pequenos e lépidos dinossauros celurossauros. do [urássico Superior da Europa) bem conhecido por cerca de sete esqueletos/representá uma verdadeira transição entre répteis e aves: por um lado parece um réptil pelas maxilas com dentes, uma longa cauda, costelas abdominais e mãos formadas por três dedos independentes com unhas nas extremidades; por outro lado é uma autêntica ave pela caixa craniana desenvolvida, ausência do osso pós-orbital, presença de clavículas desenvolvidas e soldadas formando uma fúrcula, e principalmente pela presença de pena~~ No Cretáceo Inferior (Fig. 35) algumas aves já tinham caracteres mais modernos como (Kurochkin 1982) da Mongólia, onde a cintura escapular é muito mais desenvolvida que em grupo mais notável de aves que dominou durante o Cretáceo foram as Enantiornithes (aves opostasjxpossuíam a articulação escápulo-coracoidea e a formação do canal triósseo com importantes diferenças do encontrado nas aves atuais (Walker 1981) e o tarsometatarso era fusionado apenas na porção proximal, o oposto do que ocorre no desenvolvimento das aves modernas em que a.fusão dos metatarsos começa de distal para proximal. (As Enantiornithes eram de pequeno porte, possuíam denfes, tinham o esterno bem desenvolvido, com grande quilha, patas com garras fortes, costelas abdominais e uma cauda (óssea) relativamente longa, mas com um pigóstilo já formado. Parecem ter dominado durante todo o Cretáceo. 'Formas como (Sereno & Chenggang 1992) ê' (Zhou et . !992) são conhecidas do Cretáceo-Inferior da Asia; (Sanz & Bonaparte 1992) também do Cretáceo-Inferior da Espanha. Do Cretáceo Superior são conhecidas outras Enantiornithes como (Elzanowski 1977) da Mongólia, (Brodkorb 1976) da América do Norte, (Brett-Surrnan & Paul 1985) dasAméricas do Norte e do Sul e outras como (Walker 1981) da América do Sul e Austrália~Molnar 1986). Ainda no Cretáceo tivemos as aves Hesperornithiformes,' com, mais de uma dezena de espécies conhecidas pertencentes a sete ou oito gêneros. Eram aves marinhas com as asas totalmente atrofiadas,
atingiram até 1,5 m de comprimento, nadavam e mergulhavam, mas eram quase incapazes de permanecer em pé, levando uma vida semelhante às focas atuais. As Hesperornithiformes possuíam dentes, assim como as Ichthyornithiformes que eram menores, voavam e tinham um aspecto semelhante às atuais gaivotas~\
8.1. A
EVOLUÇÃO
DAS AVES
(,C.omesses grupos mais conhecidos de aves primitivas que dominaram o Mesozóico, não se torna f~cil perceber uma história evolutiva clara para as aves.E muito discutível que as Enantiornithes tenham se originado do tronco evolutivo de (Sauriura). Por outro 'lado, as Enantiornithes, não parecem ter sido ancestrais das aves recentes. Outros fósseis do final do Cretáceo e principalmente do início do Cenozóico, mostram algu-
to
Fig. 33. Reconstrução de Dioge e em comparação n em silhueta no com a ema atual fundo. O tamanho menor e o bico mais alto (não achatado) são as principais diferenças. Original, H. F. Alvarenga.
AVES FOSSEIS
mas transformações muito rápidas, sugerindo o surgimento abrupto de formas mais modernas (saltacionismo?). Dentre as ordens atuais de aves, somente as Cha~adriiformes (família Graculavidae, extinta) e Gaviiformes têm representantes conhe~i~ dos desde o Cretáceo Superior. (Alvarenga & Bonaparte 1992) também do Cretáceo-Superior da Argentina (Campaniano) parece ter parentesco com as aves ratitas atuais.' r Aorigem e evolução dosgrupos atuais de aves ainda nã;-estão bem esclarecidas, porém já no Mioceno os gêneros atuais estavam bem definidos. No Oligoceno, como regra geral, os gêneros não se enquadram nos atuais, ou seja, assumem caracteres mais primitivos, mas as famílias já tinham os mesmos caracteres das vivent~s.\ No Eoceno as famílias de aves não possuíam as ca> racterísticas modernas; freqüentemente os fósseis mostram aspectos de mosaico entre famílias diversas, e até ~ (Olson & mesmo de ordens Feduccia 1980a) do Eoceno Médio da América do Norte apresenta uma mistura de caracteres de Phoenicopteridae e Recurvirostridae; do Eoceno Inferior também da América do Norte, é outro exemplo de mosaico de caracteres entre Anatidae, Phoenicopteridae e Recurvirostridae (Olson & Feduccia 1980b); do Eoceno Médio da Europa apresenta caracteres de Rostratulidae, Threskiornithidae e mesmo de Gruiformes (Peters 1983). Sandcoleiformes é uma ordem descrita para o Eoceno da América do Norte (Houde & 01son 1992), com muitos caracteres comuns com as ordens Coliiformes, Piei formes e Coraciiformes. A análise desses mosaicos sugere novas interpretações para a sistemática.
121
Q::
~g
<~ o - t-- I?"~ O Z
, 10,-
HOLOCENO PLE1$TOCENO PLIOCENO
(.J
-o
{5 N
O Z
40l-
U
gent is hing eg nhil1g
Z
O
U
MIOCENO
eochen pugil
cl8 s
O
~ -c
l elodus ople s e s
OUGOCENO O Z P.!
O
~
(.J
E--<
-o
50J-
EOCENO
cit sus Preetrforms
PALEOCENO
eopsilo Dioge nis
p:;
60}-
MAASTRICHTIANO
701-
CAlvfPANIANO SANTONlANO
80-
CONIACIANO O
9 0-
u
,~
s tel
Hesp o s lchth ithes-
TURONIANO CENOMANlANO
E--< P.!
10 0-
~
u
110-
ALBIANO APTlANO
12 0NEOCOIvIIANO
130-
eo
s
pena fóssil do nordeste do brasil ite nt
s 111is io us
O
U
14 0-
Õ
eopte p
N
O (f)
P.!
150-
2 O
u Vi
16a-
(f)
~ ~
17 a-
18o190O
200-
Sd
.1R -c
21 'o-
i:2 E--<
22 o O
u 23 0- Õ N O
-,
~ p:; Fig. 34, O gigantesco ensis que viveu no Oligo-Mioceno do sudeste do Brasil. (A) parte do esqueleto usado na reconstrução da ave. (B) - reconstrução da mesma. À esquerda, silhueta de um homem de 1,75 m de altura para comparação. Original, H. F. Alvarenga.
Fig. 35. Quadro geocronológico. À esquerda, escala do tempo em milhões de anos. À direita, distribuição geocronológica de algumas aves mencionadas no texto. O final do Pleistoceno, e início do Holoceno data de aproximadamente 11 mil anos. Original, H. F. Alvarenga,
122.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
As ordens modernas de aves tiveram sua origem no Pal~oceno ou final do Cretáceo, entretanto, os Passeriformes parecem ter surgido entre o OEgoceno e Mioceno, explodindo numa rápida diversificação a partir desse períod?~'
8.2.
AVES FÓSSEIS DA AMÉRICA DO SUL
O registro mais antigo de ave para a América do Sul foi feito com a descrição de uma pena fossilizada no Cretáceo Inferior da Chapada do Araripe (Martins Neto & Kellner 1988), no nordeste brasileiro, mas a ave mais deje (Alvarenga antiga conhecida é & Bonaparte 1992) do Cretáceo Superior (Campaniano) da Argentina. (Patagopterygiformes) tinha o tamanho de uma galinha doméstica, pernas alonga das, não voava e o esterno era sem quilha, possivelmente ligada a ancestralidade das aves ratitas atuais, que hoje se distribuem nas terras derivadas do antigo continente' de Gondwana (fig. 36). Do Cretáceo Superior do Chile (Maastrichtiano) é Larnbrecht, 1929, o mais antigo (e único do Hemisfério Sul) representante dos Gaviiformes (Olson 1992), conhecido somente por um tarsometatarso. Merecem destaque ainda no Cretáceo Superior da Argentina as diversas Enantiornithes apresentadas por Walker (1981) e Chiappe & Calvo (1994). Do Cenozóico sulamericano são conhecidas várias famílias extintas, merecendo especial destaque as Phorusrhacidae (Ordem Gruiformes) com mais de uma dezena de gêneros de aves gigantescas, não voadoras e carnívoras, que durante o Cenozóico preenchiam o nicho dos mamíferos Carnívora, não existentes no Terciário sulamericano. ~}gumas Phorusrhacidae atingiam mais de 2 metros de altura e mais de 300 kg de peso. . tinha os ossos dos membros posteriores de tamanho similar aos de (a extinta aveelefante de Madagáscar), e certamente pesava muito mais, sendo provavelmente a maior ave que já existiu no planeta.jVárias Phorusrhacidae tinham a cabeça maior que a de um cavalo. Ainda no Terciário sulamericano existiram gigantescas formas de condores (Cathartidae e Teratornithidae), dentre as Campbell & Tonni 1980, que pesava cerca de 80 kg e tinha uma envergadura superior a sete metros; seus fósseis são conhecidos do Mioceno da Argentina. Durante o Terciário Médio, viveram na América do Sul diversas formas de biguatingas (Anhingidae) não voadoras e de grande porte. chilensis Alvarenga, 1995b, do Mioceno Médio do Chile media perto de 2 metros de comprimento; (Noriega 1992), também gigantesca e não voadora era do Mioceno Superior da Argentina; na 'fronteira entre o Acre e a Bolívia fragmentos fósseis coletados pela Universidade do Acre parecem confirmar a presença de c nhin naquela região (idade similar).
A
B
c Fig. 36. Origem dos continentes: todos os continentes eram unidos há 250 milhões de anos. (B) - Separação da de GOlld há 150 milhões de anos. (C) - Os continentes divididos há 50 milhões de anos.As linhas pontilhadas indicam plataformas continentais.A deriva dos continentes explicaa distribuição de muitos grandes grupos animais e vegetais no planeta (Holdgate 1987). Original, H. F.Alvarenga.
AVES FOSSEIS
8.3.
AVES FÓSSElS DO BRASIL
O primeiro trabalho sobre aves fósseis do B:asil foi escrito por O. Winge (1888), com base no material coletado por Peter Lund em cavernas da regi~o de Lag?a Santa em Minas Gerais. Este material, de idade limite entre Pleistoceno/Holoceno representa em sua quase totalidade, formas ainda viventes; apenas uma forma fóssil extinta é descrita: pugil representado por diversos segmentos do esqueleto, bem maior que a forma atual da Amazônia.' Em 1891 Lydekker descreveu uma cegonha da mesma região (Lagoa Santa), com o nome de Paleociconia australis, corrigido posli provavelmente um siteriormente para nônimo de Depois dos trabalhos acima tivemos as publicações de Shufeldt (1916) e Silva Santos (1950) sobre o encontro de penas fósseis na bacia de Taubaté (Oligo-Mioceno), Estado de São Paulo, e Ackermann (1964) que também descreveu uma pena fóssil do Mioceno de Capanema, Pará. Po~teriormente vieram alguns trabalhos descrevendo diversas aves fósseis do Oligo-Mioceno da bacia de Taubaté (Alvarenga 1982, 1983, 1985b, 1988, 1990, 1993, 1995) e do Paleoceno de ltaboraí, Rio de Janeiro (Alvarenga, 1983, 1985a).'Desta forma, as aves fósseis (e extintas) conhecidas pará" o Brasil, depois de pugil e I i, são as seguinte~=--QiQgen Alvarenga 1983 (Fig. 33): Ordem Rheiformes, Família Opisthodactilidae. Uma extinta e p-rimitiva família muito próxima de Rheidae, de pequeno porte, cerca de 90 cm de altura, com bico similar aos dos Galliformes, diferente do bico achatado da ema e do avestruz atuais. É o mais antigo representante das aves ratitas conhecido, dentro do Cenozóico. Seus fósseis procedem do Paleoceno da bacia de Itaboraí, Rio de Janeiro, cerca de 55 milhões de .anos. [austoi Alvarenga J985: Ordem Cathartiforrnes, Família Cathartidae, Um urubu fóssil do OÜgo-Mioceno da bacia de Taubaté, pouco maior que t) ius, é o mais antigo representante da família na América do Sul. nis (Alvarenga 1982) (Fig. 34): Ordem Cruiforrnes, Família Phorusrhacidae. Descrito primeiramente no gênero foi separado em gênero próprio (Alvarenga 1993) especialmente pela co_nformação da mandíbula e do tarsometatarso. Bem conhecido através de um esqueleto quase completo, era uma ave gigantesca, perto de 2 metros dealtura, não voadora.icom o tarsometatarso relativamente curto e robusto, indicando não ser uma grande corredora e provavelmente necrófaga. Outras Phorusrhacidae, como da Patagônia, ti~ nham um tarsometatarso longo e caçavam na corrida. te us it l n 1985a: Ordem Gruiformes, Família Phorusrhacidae. É o mais antigo
123
representante das aves Phorusrhacidae, ,com t~manh.o pouco maior que uma seriema atual, porem muito mais .robusto e pesado. Seus fósseis procedem do Paleoceno de ltaborai, Rio de Janeiro. Alvarenga 1988: Ordem Gruiformes, Família Rallidae. Uma saracura do porte .de que pelas características anatômicas parece ter sido mais caminhadora que de vida aquática. Sua impressão fossilizada nos folhelhos da bacia de Taubaté (Oligo-Mioceno), apresentava a região do estômago repleta de pedrinhas e marcas de sementes, indicando claramente seu hábito alimentar. us Alvarenga 1990: Ordem Phoenicopteriformes, Família Phoenicopteridae. Flamingo fóssil procedente da bacia de Taubaté (OligoMioceno) descrito em homenagem a Helmut Sick. O extinto gênero é conhecido por duas outras formas da França e Casaquistão, com morfologia óssea muito similar à forma de Taubaté, sp.: Ordem Phoenicopteriformes, Família Palaelodidae. Eram flamingos de pernas relativamerte curtas e bico quase reto, que pelas evidências anatõmicas, foram.bons nadadores e possivelmente mergulhadores. elodus foram registrados em todos os ConFósseis de tinen tes; no Brasil foram descri tos para a bacia de Taubaté (Oligo-Mioceno) fragmentos de diversos ossos de uma forma muito parecida com da Europa (Alvarenga 1990), faltando entretanto mais elementos para que se possa confirmar a espécie. e sil Alvarenga 1995a: Ordem Gallj]ormes, Família Quercymegapodíídaé: Um peque~-g~Üf~~~ede porte comparável ao' de um uru (Odontopho é o primeiro fóssil desta Ordem descrito para o Terciário da América do Sul. É representado por uma impressão fossilizada dos folhelhos da bacia de Taubaté (Oligo-Mioceno), mostrando todo o esqueleto da cintura escapular e asas. mostra uma grande afinidade com os Megapodiidae viventes da Australásia, porém é melhor enquadrado numa família próxima, Quercymegapodiidae, conhecida apenas do Terciário da França, possivelmente ancestrais dos atuais megapodiideos. Da bacia de Taubaté existem ainda fragmentos de ossos fossilizados, pertencent~? a representantes das famílias Podicipedidae, Phalacrocoracidae, Anhimidae e outras que ainda estão mal representadas e aguardam melhores espécimens para serem descritas. Grande quantidade de ossos de aves, procedentes de cavernas da Bahia e Minas Gerais (Pleistoceno/Holoceno), estão ainda por estudar, sendo necessária neste caso, uma extensa coleção de esqueletos atuais para comparação. Fato muito interessante é o relato de uma saracura (Rallidae) recentemente extinta (certamente pelo homem), identificada por inúmeros ossos, coletados por S. Olson (1977) em Fernando de Noronha, que estão ainda por estudar.
",
Composição da Avifauna Brasileira
9
9.1
o
de
l
A composição da avifauna do Brasil é caracterizada pelos mesmos fatores que já traçamos resumidamente para a região neotrópica. Parece razoável fazer uma divisão das aves do Brasil em dois grandes grupos: aves residentes (1.524 espécies) e visitantes (153 espécies). Temos que conhecer a distribuição e o regime de permanência (residente ou visitante) das aves nos diversos ecossistemas. Em países como o Brasil a distribuição das aves nem sempre é suficientemente conhecida, podendo as lacunas indicar apenas uma falta de levantamentos. Só pudemos indicar a distribuição, aqui, em grandes traços; não raro, porém, entramos em pormenores, sobretudo para informar a respeito de ocorrências até agora não registra das. Quando consta: "Sul da Bahia e Minas Gerais a Santa Catarina", isto significa qu~ a espécie, como He , ocorre em lugares adequados nessa área. Quando são conhecidas maiores lacunas mencionamos os Estados nos quais a ocorrência da espécie foi mesmo comprovada. Na literatura sobre a distribuição baseamo-nos mais nas publicações de O. Pinto (1938, 1944, 1964) e na primeira obra de Meyer de Schauensee (1966). Mantemos o designativo "Cuanabara" (= área da cidade ou do município do Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal), abolido em 1975, de grande valor prático para a formulação da distribuição da fauna e flora locais. Acrescentamos muitos dados distributivos nossos não publicados em outro lugar. Indicamos freqüentemente o ano e mês, p. ex., em relação a aves migratórias e representantes como Trochilidae, que se observa em flores, não prosperando o ano todo. Oportunamente damos também dados históricos (indicação do ano), o que se torna interessante em espécies mais raras e outras tais que estão se espalhando (v. abaixo), e considerando as constantes alterações paisagísticas provocadas pelo homem. A distribuição de uma espécie é, geralmente, estável. Há porém uma certa dinâmica natural da fauna: espécies que, espontaneamente, alargam sua área de distribuição ou espécies que se retraem. A intervenção humana pode o o s e acelerar o processo (v.sob caturrita, pardal, Sobre uma expansão espontânea ver, p. ex. sob garça-vaqueira, s ibis, gaviãopeneira, , seriema, c , anurufus e F branco, joão-de-barro, figulus, lavadeira, bírro, ugin soldado, eistes s e outros.
Para a existência das diversas espécies são necessárias certas condições ecológicas às quais se fará referência no textos descritivos das famílias e espécies. Infelizmente não é possível, no quadro deste livro, dar mais pormenores sobre o hábitat. Influem motivos históricos. No caso de uma espécie estenóica, p. ex. os vários representantes de ll s (Furnariidae), o tipo de hábitat logo indica ao perito qual espécie poder-se-ia esperar. Uma adaptação a um ecossistema diferente por uma mesma espécie, como ocorre p. ex. no jaó-do-litoral, u ellus nocti costuma ser acompanhado por uma alteração do fenótipo da espécie, evoluindo uma raça geográfica. Apontamos freqüentemente a ocorrência de várias espécies do mesmo gênero ou da mesma família no mesmo local (simpatria), também para dar uma visão mais clara dos respectivos hábitats e do padrão da sua avifauna. Chamamos, p. ex., a atenção que dois formicarídeos tão aparentados como h us sticioiho e us en is podem pousar no mesmo galho, em matas da Serra do Mar, e que os três formicarídeos ist ius, o hilus igiuüus e H lo s o oleucus habitam nas mesmas brenhas da caatinga, embora em nichos diferentes. A fim de facilitar a localização de espécies consideradas difíceis de encontrar, como o rinocriptídeo e e , indicamos alguns representantes sintópicos mais comuns que possam servir de "guia" para acharmos o respectivo biótopo. . Existe a tendência de que populações de aves brasileiras que vivem em lugares de um clima mais quente, mais perto do Equador, tenham medidas mais reduzidas, p. ex., alguns Caprimulgidae, Cotingidae e Emberizidae.
9.1.1.
ESPÉCIES
RESIDENTES
Toda e qualquer avifauna distribuída por ,um terr~tório de certa extensão tem como base as espécies resi'dentes, ou seja, aquelas que se reproduzem no lug~r, não vindo apenas periódica ou acidentalmente como rrt~grantes ou visitantes de outros lugares (v.visitantes). Contamos 1.524 residentes, no Brasil. As espécies residentes brasileiras compõem-se de todos os grupos de aves que foram estabelecidos p~r~ a região neotrópica: (1) espécies endêmicas, (2) espécies largamente difundidas na América do Sul e do Norte, (3) espécies pantropicais, (4) espécies que, segundo sua
COMPOSIÇÃO DAAVIFAUNA BRASILEIRA 125
primitiva origem, pertencem ao Velho Mundo, e (5) espécies distribuídas quase por toda a Terra (cosmopolitas). Damos aqui uma breve análise biogeográficajecológica das espécies residentes, focalizando as espécies endêmicas e "quase endêmicas" e as espécies residentes migratórias. Residentes tornaram-se também espécies introduzidas e recentemente imigradas. Residentes, no sentido mais rigoroso, são as espécies sedentárias, como muitas aves silvícolas (v. p. ex. sob trogloditídeos), que permanecem a vida toda numa área restrita, disputando seu território com indivíduos da própria espécie, como qualquer ave faz durante a reprodução. . A presença das residentes pode ser influenciada pelas estações do ano, sobretudo no sentido de só se manterem na região em questão durante o período de reprodução, dispersando-se depois por uma área mais vasta, freqüentemente ainda não bem conhecida. Sendo quase impossível, sem anilhamento, discemir os indivíduos de uma mesma espécie, num certo local, facilmente enganamo-nos ao julgar que os mesmos indivíduos estejam presentes durante o ano todo numa mesma área. De fato, algumas espécies como andorinhas se encontram na mesma área em todos os meses, contudo os indivíduos são periodicamente substituídos por outros que vêm de fora como visitantes e somem, quando os primeiros retomam para reproduzir
TABELA9.1- Relação das espécies endêmícas, En (182) TINAI\1.IDAE (2) C
el/us
nocti
t
1.ls
ACCIPITRIDAE (1) eucopt nis
l
l
CRACIDAE(9) lis s supe ci
lope enelope pi C n hii nelope och t
is
lis is itu itu
PSOP!-illDAE (1) dis
RALLIDAE(1)
COLUMBIDAE (1) Col
n
PsmACIDAE (12) l
i
C
i
gu
9.1.2.
ESPÉCIES ENDÊMICAS
(EN)
O núcleo das espécies residentes são as espécies endêmicas ou autóctones. São espécies que, por razões históricas, têm uma distribuição restrita. Vivem num certo hábitat no qual podem ser comuns. A América do Sul possui aproximadamente 440 espécies de aves terrestres que ocupam uma área menor de 50.000 km-. Os EUA, sem contar as ilhas, possuem apenas oito espécies sob o mesmo critério (Terborgh 1974). Nossa contagem para o Brasil dá 182 espécies endêmicas, aves conhecidas exclusivamente do Brasil. Pertencem a 26 famílias. Acham-se assinaladas na parte principal do livro pela sigla "En", logo após o nome científico, e constituem em geral objeto de menção especial, p. 'ex. na comparação Suboscines-Oscines. V. também sob "quase endêmicas". COMPOSIÇÃO DAAVIFAUNA ENDÊMICA Tendo em vista a magnitude da avifauna do Brasil e levando-se em conta o que foi dito sobre o alto grau de endemismo da região neotrópica, a cifra 182, apenas 11,9% das 1.524 espécies residentes, parece desproporcionalmente baixa. A causa disso é que as fronteiras políticas do Brasil de nenhum modo coincidem com a limitação das diversas regiões tisiográficas. Da hiléia amazônica participam todos os países da parte setentrional e ocidental da América do Sul. Formações característi-
u t el ionopsi
t n
ii uit su d
/tu
n
iliensis
CUCULIDAE(1)
CAPRIMULGIDAE (2) C
ulgus
les
TROCHILIDAE (12) th is l t
ius gounellei us onii i
Cl ucis doh i is opho nis h toc o
scu
GALBULIDAE (1)
BUCCONIDAE (3) u
lo is
126
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
.:rAflJ'LA 9.1
TYRANNIDAE - continuação
tictus
ectus
(5)
PrCIDAE
l
enilio
e e c
c C
He He He o
ons
nou
(5)
s opus
c
supe
es es cilis iccus nidipendulus e ino ost po ipolegus cis s s s o
ens g eus
RHrNOCRYPTIDAE
lopus
o)
(1)
CAPITONIDAE
u
9.1
TABELA
se nni indigoticus
C
ei cquettei tes ou leti cus o s He cus e He cus tus o os se nipolegus nige s i rufus lo o
-.. I
ons
pe
solo uil sbo i
llic
luctuosus
'1
(5)
PIPRIDAE
(36)
FORMICARrrDAE
i is
Cl s plu jlu
sis
snotoi s io
l
nnothe o
condit
He
pe
i
is
l
ope
oleucus ugine
h genei
D
cucull tus lo pip ugus l nioides ennis
esi u
ioo
(10)
COTINGIDAE
unicolo
C
l
c st t
g p
o
CORVIDAE (1)
i
e
n
c
nopogon
e c
n ndi si
(2)
TROGLODYTIDAE
bo g n ops
eg
longi
tho s
t
epschi oides
hoffmannsi
s VIREONIDAE
gtiseus
(1)
,
g cili o
'1
(2)
CONOPOPHAGIDAE
tho s
P ARULlNAE (1)
leuc
(19)
FURNARIIDAE
CincIodes sthe st iol s inju t l ni es lui
THRAUPINAE
figutus
i
is / Ciehloco
es
t tes l
e
s us le
s
g se
esittus
us
g os u desn D cnis nig pes
g
(4)
oco
es
h
/ is necopinus
oospi e po o
th
c longic lbog s
do
C
(8)
ospi cine plii e ph o b
(21) ICTERINAE (1)
El e
e
eus o besi
s tt
EMBERIZINAE
hoffmannsi
lo ic o
ogo s s
gu
gid i
pillus
e coss
esole
He
e
TYRANNIDAE
o
Cono
hell
DENDROCOLAPTIDAE
H/
oc
e
l
(15)
I
'""\
ops te
COMPOSIÇÃO
cas para o Brasil meridional, oriental e central, e suas respectivas avifaunas, estendem-se até o Uruguai, Argentina, Paraguai e Bolívia oriental. Deste modo o Brasil "perde" muitas espécies, endemismos da região neotrópica, e que "quase" seriam apenas do Brasil. (v. "Espécies quase endêmicas") A nossa lista atual dos endemismos brasileiros será ainda mais reduzida, quando melhor conhecimento da distribuição de certas espécies, até agora registradas apenas no Brasil, revelarem ocorrência também, p. ex., em Misiones, Argentina. Como centros' de origem dos endemismos brasileiros entre as aves silvícolas devem ser encarados os refúgios e o mapa segundo Haffer (1974b). Possivelmente poder-se-ia contar com outros centros de evolução. Em parte os endemismos são aloespécies que compõem uma superespécie ou espécie geográfica, p.ex. os dois (Trochilidae). Das raças geográficas endêmicas de aves do Brasil continental, existentes em grande número, relacionamos apenas os casos especiais, como o Mutum-de-penacho, [asciolaia Na Ilha da Trindade ocorrem raças endêmicas ou aloespécies de duas aves marinhas, e Também em Fernando de Noronha há aves terrestres endêrnicas, a saber, uma e um (ambas aparentadas de perto com espécies continentais) e uma saracura extinta. Os não-Passeriforrnes (total no Brasil 739 espécies) têm no Brasil 52 espécies endêmicas. Estão em primeiro lugar os psitacídeos e beija-flores com 12 espécies endêmicas. Entre os psitacídeos (total no Brasil 72 espécies), o endemismo no Brasil é elevado (16,6%). Nos Tinamidae (2 espécies endêmicas no Brasil), Galbulidae (1 espécie endêmica no Brasil) e Bucconidae (3 espécies endêmicas no Brasil) patenteia-se que o Brasil, pelos motivos acima mencionados, tem participação exclusiva muito pequena nas famílias endêmicas típicas da região neotrópica. Nos Cracidae (9 espécies endêmicas no Brasil) e Psophiidae (1 espécie endêmica no Brasil) torna-se agudo o problema das alo espécies que pertencem a uma superespécie distribuída além do território brasileiro. Nos Picidae (5 espécies endêmicas no Brasil) trata-se evidentemente, em parte (p. ex. de substitutos geográficos, que talvez fosse mais acertado considerar como subespécies. ..~. Os Passeriformes (total no Brasil 938 espécies) têm no Brasil 130 espécies endêmicas. Como não poderia deixar de ser, os Suboscines, tão característicos para aAmérica do Sul (Brasil, 609 espécies), estão em primeiro lugar no número das espécies endêmicas do Brasil: 102 espécies. Deste número os Formicariidae (total no Brasil 168 espécies), com 36 espécies endêmicas (número superior ao total dos endemismos entre os Oscines) perfazem 35,2%, quase tanto como as duas outras grandes famílias de Suboscines juntas: Tyrannidae (total no Brasil 210 espécies) com 21 espécies endêmicas e
DA AVIFAUNA
BRASILEIRA
127
Furnariidae (total no Brasil 103 espécies) com 19 espécies endêmicas. A estas últimas, juntam-se ainda os Dendrocolaptidae (total no Brasil 38 espécies), com 4 espécies endêmicas. As restantes 3 famílias 90S Suboscines estão representadas no Brasil da seguinte maneira, por endemismos: Cotingidae (total no Brasil 37 espécies) com 10 endêmicas, Pipridae (total no Brasil 37 espécies) com 5 endêmicas e Rhinocryptidae (total no Brasil 9 espécies) com5 endêmicas. Nos rinocriptídeos o endemismo é pois sobremaneira elevado: 55%. Os Passeriformes imigrados para a América do Sul após a junção com América do Norte, os Oscines (total no Brasil 329 espécies), que aqui numericamente estão abaixo dos Suboscines, têm no Brasil 29 espécies endêmicas. Neles os endemismos na sua maioria desenvolveram-se, no Brasil, entre os Thraupinae (total no Brasil 96 espécies), com 15 endêmicas, e entre os Emberizinae (total no Brasil 66 espécies), com 8 endêmicas. Outros endemismos entre os Oscines no Brasil são: Troglodytidae com 2 endêmicas, (total no Brasil 18 espécies) e uma espécie endêmica em cada uma das 4 famílias (ou subfamílias) seguintes: Vireonidae (total no Brasil 17 espécies), Icterinae (total no Brasil 37 espécies), Parulinae (total no Brasil 19 espécies)-e Corvidae (total no Brasil 8 espécies). E ÉCI
E D
O
Cerca de 3/4 dos endemismos do Brasil são aves silvícolas, como o jaó-d o-sul, n. gus, o mutum-do-sudeste, e o mutum-do. Igualmente certo número de beijanordeste, flores, como os e o joão-barbudo, são aves silvícolas. Entre os Passeriformes Suboscines a parte de endemismos que vive na floresta é sobremodo grande nos papa-formigas. Aparecem adaptações a diversas formações florestais, por exemplo no interior de densas e escuras matas ribeirinhas, como tuctuoeus, e a vários tipos de mata seca, como He s e Também chama a atenção nos formicarídeos ou conopofagídeos endêmicos uma distribuição por diversos estratos: perto do solo o u , ec e Conopoph a altura média alguns o nas copas das árvores o Endemismo dos campos de altitude (bregenei. . nhas) é t Todos os endemismos entre os rinocriptídeos são aves da mata. Sobremodo digno de nota é no do Brasil central, imigrado da floresta atlântica (Sick 1985b). Habitantes das matas, dando preferência as regiões mais elevadas (montanhas), são cotingídeos endêmicos, conmais pronunciadamente a saudade, e . Num levantamento da avifauna do sudeste do Brasil, D. A. Scott & M. de L. Brooke (1985) sumarizaram: "A concentração de espécies endêmicas nas florestas montanas foi evidente. Enquanto o número total de es-
128
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
pécies de aves florestais presentes numa determinada altitude diminuía constantemente de acordo com a altitude, de mais de 200 espécies abaixo de 100m para apenas 14 espécies nas florestas de montanha entre 2.100 e 2.200m, a proporção de endemismos (e o n° de espécies endêmicas) aumentava continuamente do nível do mar até 1.200m. Acima desta altitude, em torno de 50% das espécies presentes eram de aves endêmicas do sudeste do Brasil. Setenta e quatro espécies florestais endêmicas ocorriam em florestas de (ou acima de) 1.000m de altitude, i.e. quase metade das espécies florestais endêmicas do leste brasileiro e substancialmente mais da metade das endêmicas ocorrem no Rio de Janeiro. Cinqüenta e sete espécies ocorriam acima de 1.200m". As espécies florestais endêmicas entre os Oscines são na sua maioria aves que habitam a orla da mata e as , elecopas das árvores, como as saíras. mento sulino, é típico da Serra do Mar. O parulíneo é um endemismo da mata de galeria úmida do planalto vivendo ao lado de n e vive nas densas matas ribeirinhas de cunho amazônico no Brasil central. e o lo i endernismo característico do Nordeste, muda em vôo alto da mata de galeria para as palmeiras ao redor, onde também nidifica; constitui a transição para o grupo seguinte. ESPÉCIES ENOÊMICAS DE CERRADO, CAATINGA, CHAPAOÕES DE CLIMA AMENO
Existe um grupo não pequeno de endemismos que vive no cerrado, na caatinga, no campo coberto e na chapada e outros hábitats abertos ou meio abertos. O cerrado é na realidade, por sua origem, uma espécie de mata e não uma savana, tanto que as aves típicas que o habitam são arborícolas (Sick 1966); tal fato, porém, nem sempre se torna claro por ser o cerrado muitas vezes intensamente entremeado de gramíneas, o que deve ser fenômeno secundário. O cerrado tornou-se campo cerrado e as espécies de campo, ali se difundiram. Fazem parte dos endemismos do cerrado a codornamineira, o e a rolinha-do-Brasil-Central, Vive na caatinga do baixo São Francisco a ararinha, e, numa área a parte, rica em palazul meiras licurí g le , o endemismo mais importante do Nordeste. O bacurauzinho é também da caatinga. Entre os Passeriformes Suboscines, os furnarídeos e (arborícolas) são habitantes do espécie terrícocerrado 0\1 da caatinga. CincIodes Ia .campestre, e e (arbustícola) podem ser chamadas remanescentes ou reli tos glaciais. Entre os Oscines deve ser destacado, como habitante da mata ogon. Típicos endernisseca o cãncã, do nic mos da caatinga são os e lbogul ao passo que o l nog é endemismo paludícola meridional.
Os beija-flores u tes seu t tus e . lu llus ocupam os cumes (950 a 1.600m) de chapadões do interior de Minas Gerais e Bahia, regiões pedregosas com vegetação baixa xerofítica. Compartilham tais regiões sernio stictus áridas arbustivas o pequenino tiranídeo e long , o último um caso de exclusão competitiva com uma espécie aparentada g sis, Emberizinae). E ÉCI
"QUASE
Uma parte significativa das espécies residentes do Brasil meridional e central estende sua distribuição a regiões adjacentes da Argentina (Misiones) e/ ou Paraguai, Uruguai e leste da Bolívia, às vezes até o Chile (como vários ralídeos). Muitos desses representantes, que podemos designar como "quase endêmicos" para o Brasil, devem ter tido seu centro de evolução no Brasi! meridional ou centro-austral, contribuindo decididamente para dar às respectivas partes do Brasil.seu caráter típico, completando o cunho endêmico da avifauna local. Sua maioria são aves silvícolas, aparentemente oriundas da região da floresta atlântica, o "Refúgio da Serra do Mar". Aqui figuram, entre os não-Passeriformes silvícolas, o macuco s solit ius), o gavião-pombo eucopte poliono , a jacutinga ( ipile euti ), o uru e a saracura , o paruru is god id ) e vários psitacídeos, como no s h thinus, a tiriba ), o cuiu-cuiu ( ono pil ), o e e o charão papagaio-peito-roxo e ei), este último uma ave dos pinheirais; três us, ul ldi e corujas (Otus h , um surucuá s i, o tucano-deos dicol us) e vários pica-paus bico-verde nebulosus, s lenius, oeopus g , e pes i s, is spil ste e Entre os Passe riformes silvícolas estão representados numerosos Suboscines: 5 arapaçus ( iphocol tes , ptes o is, idoco tes o s us), 10 , L. [uscus e furnarídeos o de o oides, ept thenu ~ u ic p se - espécie ligada ao pinheiral, S. scens, nioleuc obsole , n cenhí s, us e P. lichtensteini ~ s leucophth e Heliobletus co e vanos papaformigas, entre eles espécies tão notáveis como as duas e e o cuspidor, Conopo lin C?nsta cine um dos formlcandeos também a grande mais vistosos; outros formicarídeos são: p leus g e ophil . Incluem-se aqui o tapaculo t lopus speh e eo bacurau ops lis (repre?entantes descobertos também em Misiones); no sudeste do Brasil, ocorrendo íb . e seus em montanhas, revelam por essa distn uiçao qu , antecessores vieram dos Andes. Lembramos dos tres
I.
.
'\
r
COMPOSiÇÃO
. ....
BRASILEIRA
129
Laurel, Maryland, EUA que esta ave, um filhote que ainda não podia voar, fora anilhada em 5 de julho de 1974 perto de Wareham, Massachusetts, EUA. e Nos anéis usados na Argentina, serviço controlado tiranídeos, como pela Fundación Miguel Lillo. Tucumán, por iniciativa He o de C. C. Olrog, desde 1961, consta: Deoueiu Instituto n . Entre os Oscines silvícolas, presentes em menor núFoi organizado em 1978 um centro brasileiro de animero, encontram-se: a gralha-azul c e Ihamento de aves: "Centro de Estudos de Migrações de e vários traupíneos. como dois gaturamos Aves" (CEMAVE), sob auspícios do então Instituto Brae E. c duas saíras g seledon e . sileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), em Brasília o tiê co e C e DF. O CEMAVE, coordenado por Paulo de Tarso Zuquim Também os Cardinalinae e Emberizinae figuAntas, iniciou seu programa de anilhamento em maio ram com vários representantes, como trinca-ferros de 1980. São usados anéis em 16 tamanhos, de 1,75mm similis e S. osus), bico-de-pimenta s (pintassilgo) a 17,50 mm (flamingo). O tamanho do anel o pichochó e a cigarra, é indicado por uma letra (p. ex. J, tamanho de uma bambu ospi unicol i. graúna). A inscrição completa de um anel, próprio para Entre as 'aves mais características do cerrado está a uma garça-branca-grande, s eo s lbus, era: ise seriema, O inambu-carapé, oniscus, é Ce C. P 34 Brasília T 00201. Nos anéis pequenos típico para o campo cerrado. uma parte da inscrição está no lado interno do anel. ProAlguns elementos campestres são: a maria-pretablemático é o anilhamerito de beija-flores devido ao tarso lophotes), o caminheiro penacho extremamente curto. e e o tico-tico-do-campo . Outro processo de marcação, usado às vezes em aves Espécies campestres-paludícola são o galito de grande porte, como urubus, grandes psitacídeos (da cinn o e o caboclinho Austrália) e trinta-réis (p, ex. te consiste no e g s. Para os campos de altitude do emprego de uma etiqueta alar de plástico colorido ou is /. Brasil oriental é característico o beija-flor alumínio ( ing . Para anatíneos podem ser usadas ocorrendo até o Paraguai e nordeste da Argenetiquetas nasais coloridas. O Canadian Wildlife Service tina. (Ottawa, Ontário) marca desde 1974 aves da praia(trintaO endemismo mais notável centro-austral é o patoréis, maçaricos, etc.), pintando certas áreas da plumagus ociose ceus (Brasil, Misiones e Pamergulhão, gem (sobre anéis coloridos v. abaixo). Sobre mais métoraguai). dos de marcação, etc. [veja o u l de ilh de es, editado pelo IBAMA (1994)]. A marcação permite obter dados seguros sobre: (1) a 9.1.3. ESPÉCIES VISITANTES, MIGRAÇÕES procedência de uma ave, (2) o tempo que uma ave ne, , obs o e cessita para chegar ao lugar onde é recuperada, e (3) Às vezes a procedência das visitantes que alcançam sobre sua idade, quando é encontrada somente anos o Brasil é comprovada .com exatidão por meio de anéis e cine e nus e depois (v. p. ex. sob de alumínio numerados, colocados nos pés destas, na e undo). O anilhamento é também útil, se não América do Norte (aves aquáticas e de rapina, andoriindispensável, para estudos de populações locais, inclunhas, etc.), Argentina (pingüins, marrecas, garças, etc.), indo aquelas que não migram. Caso encontre alguma Inglaterra (bobo-pequeno, gaivota-rapineira), Finlândia ave anilhada viva, anotar o local, a data e a inscrição (gaivota-rapineira), Alemanha ocidental (trinta-réis), (série e número, que são sempre visíveis) e soltar a ave, França (garça), Ilha Selvagem, Portugal (bobo-grande). havendo oportunidade ela será reencontrada. Para .fins Também exemplares anilhados daAntártica (pardelão especiais servem anéis coloridos de material plástico, gigante, pomba-do-cabo, gaivotas-rapineiras) já aparepossibilitando a identificação de indivíduos. Com váceram em águas brasileiras, e até mesmo da Austrália rias cores e uma disposição alterada dos anéis (perna (pardelão-gigante). As espécies com anéis estrangeiros esquerda ou direita, acima, embaixo, vários anéis) se cheencontradas com maior freqüência no Brasil são trintaga a um bom número de informações, sem capturar de réis-boreais. e hi ndo, marrecas americanas, novo a ave. Anéis coloridos foram aplicados na Améridisco s, e bobos, inuspu , o n t i dos ( ibis), trintaca do Norte em garças-vaqueiras ingleses. réis ( e undo e S. doug i) e maçaricos que podem Para dar um exemplo: no anel de uma trinta-reis. vir também para a América do Sul e o' Brasil. Apareceu o, apanhada viva por nós em Atafona, São no Suriname um id sc utus, anilhado com um anel João da Barra, Rio de Janeiro, em 16 de agosto de 1975, cor de laranja em [arries Bar, Canadá. Tem que ser regisconstou: e 772-10350. DC . trada a posição relativa dos anéis coloridos nas pernas: Soubemos, por intermédio do e g o acima ou abaixo do calcanhar ("joelho"), etc.; v também
cotingídeos: nudicollis) e
--
DA AVIFAUNA
a araponga . Finalmente os piprídeos e vários ue diops, iolus e
[unnrostris,
130.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
sob Charadriidae: bandeirolas de cores para regiões e países do Novo Mundo (tabela). Além do registro das migrações por observação direta de dia, ou de noite (com binóculos e telescópios, inclusive observações feitas a bordo de aviões e aeróstatos, e controles auditivos), é usado o registro por radar, à noite, quando se trata de bandos voando. Para controlar deslocamentos mais limitados de aves maiores poderia usar-se a telecomunicação por minúsculos rádios transistorizados, fixados nas costas das aves. É um método empregado em estudos locais, p. ex. numa o s, nos EUA. No Brapopulação do falcão, sil poderia ser utilizado p. ex. em araras e mutuns. E
I
DE
.O-
Muitas espécies residentes empreendem verdadeiras migrações, sobretudo, aquelas sulinas que, durante o inverno meridional, procuram regiões mais perto do equador, como muitas andorinhas e tiranídeos. Entre os nnus últimos destaca-se a tesourinha insetívora, um dos pássaros mais conhecidos do sul, cujas migrações chamam muito a atenção, tanto na região austral, onde reproduzem e sua presença simboliza primavera e verão, como na Amazônia, onde se apresentam em bandos migrantes às centenas e milhares, durante o inverno. Mesmo as tesouririhas do Brasil central abandonam no inverno a sua pátria e dirigem-se para a Amazônia. Assim algumas espécies "residentes" podem tornar-se visitantes em certas zonas, aparecendo como aves de arribação. Entre as aves que no outono emigram em grande número do sul (sul do Brasil e países adjacentes meridionais) para o norte, aparecendo então em grande quantidade, figuram os sabiás, sobretudo o sabiá-poca, us ochulinus. Bacuraus são também numerosos entre migrantes vindos do sul, chamando mais a atenção o corucão, od n , devido a seus hábitos diurEl noides [orficatus, é outro nos. O gavião-tesoura, migrador em grande escala. Localmente torna-se abundante o saí-andorinha, sin i idis. Existem, neste país, muitas aves frugívoras como papagaios e cotingídeos que executam migrações locais na busca do seu alimento específico. De maneira semelhante agem beija-flores, nectarívoras, para encontrarem suas flores prediletas com o néctar mais cobiçado. Lembramos as migrações altitudinais realizadas p. ex. por beija-flores, tiranídeos e emberizídeos nas serras relativamente altas do Brasil oriental e meridional, p. ex. na Mantiqueira (Itatiaia) e na Serra do Mar; v. também sob jacutinga, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Esses deslocamentos parecem de pouca importância quando comparados com aqueles executados por aves no domínio muito espaçoso dos Andes. As migrações outonais freqüentemente já começam antes do início da queda de temperatura e antes de uma
carência de alimentos nas regiões pátrias, como foi verificado, por exemplo, na população argentina do príncioceph lus inus (Hudson, 1920). Acontece tampe, bém de adultos e jovens manterem-se separados, de maneira que os adultos não podem guiar os filhotes. Até agora sabemos pouco a respeito de aves procedentes do sul que migram para além do equador. n. n chega até a Colômbia. O andorinhão iu nd ei e idion já foi encontrado no Panamá. Várias ne , andorinhas meridionais e chelidon c noleu migram igualmente para a América Central, em parte até a Nicarágua e o México. Pode então ocorrer uma sobreposição periódica de raças sedentárias setentrionais por raças migrantes meridionais, p. ex. de andorinhas. Na região do surucuá setentrional de barriga amarela, tius, aparece, no inverno, a raça sulina de barriga vermelha, ogon s. . Entre os residentes migratórios contam-se também 'aves como o frango-d'água-azul, l iini que só periodicamente vem ao Maranhão para nidificar, e a avoante, id l , que no Nordeste em certos locais, aparece a intervalos de uns poucos anos em enormes bandos. Algumas resi:dentes terrestres são encontradas durante suas migrações ocasionalmente em alto-mar, p. ex. ocep s ubinus e hu is st os tiranídeos O recorde em migrações transoceânicas de residentes cabe ao frango-d'água-azul, ph nin que, não raro, alcança as mais longínquas ilhas atlânticas e até mesmo a costa africana. Provavelmente todas essas aves são arrastadas por fortes ventos. É quase certo que não voltam à sua pátria. Tais deslocamentos nos mostram como pode dar-se a efetiva colonização de ilhas oceânicas, como no caso de Fernando de Noronha, povoada p. ex. pela avoante. Há migrações regulares de espécies residentes, provocadas por enchentes, sobretudo na Amazônia, v. P: ex. o bacurau-da-praia, Cho deiles upest is, e outras aves ribeirinhas. O nível do Amazonas oscila de 10 a 15 metros. As enchentes na Amazônia, evento regular, anual (não é acontecimento desastroso se não se trata da pororoca), lembram, até certo ponto, a maré que provoca um fluxo e refluxo de garças e aves da praia como maçaricos, na costa atlântica. Existem deslocamentos crepusculares de bacuraus (Cho eiles is e C. tipennis) no Brasil central (Sick 1950). Mais um tipo de migração em aves residentes é a reunião de marrecas em certos pântanos no tempo da muda em bloco. Deslocamentos de marrecas (D e outros) são freqüentes em várias ocasiões, em muitos lugares. É impressionante como aves migratórias obedecem a um horário certo, modificado apenas ligeiramente pelo tempo, no respectivo ano. O andorinhão ,
-
COMPOSIÇÃO
p. ex., que some do Rio de Janeiro em março/abril, costuma reaparecer na primavera entre 20 de agosto e 8 de : setembro. Registramos na Quinta da Boa Vista, no Rio, os primeiros sabiás-pocas, u dus nus, transeuntes no outono, vindos do sul, às vezes no mesmo dia, 20 de abril, em vários anos. Certas aves se deslocam para lugares de um pouso coletivo noturno. Isto acontece mais entre não-Passerit ns, o maçaricoformes, como o tesourão, de-cara-pelada, chihi, papagaios e aves de rapil go e o caramujeiro, os us na, como os dois soci bilis. Em Passeriformes notam-se tais migrações p. ex. em tiranídeos e icteríneos. Às vezes as aves se reúnem primeiro num lugar perto do dormitório, para ocupar o mesmo apenas quando anoitece (p. ex. il go ch ngo, e s lo ). Os deslocamentos para dormir em grupos podem continuar até na época da reprodução, participando p. ex. o macho, enquanto a fêmea cuida do ninho ( sp.). . Ocorrem invasões de tucanos. Sobre expansões de espécies residentes v. sob Distribuição. ESPÉCIES VISITANTES, AVES DE ARRIBAÇÃO, MIGRAÇÃO EM GRANDE ESCALA
Sob "visitantes", sensu iciu, entendemos as espécies que periódica ou acidentalmente aqui chegam, vindas de outros países, sem se reproduzirem no Brasil. Não são, portanto, aves "brasileiras", no sentido rigoroso. A alusão a aves de arribação põe em destaque o fenômeno de múltiplos aspectos das migrações de aves, incluindo o problema da orientação, discutido em todo o mundo, sobretudo no hemisfério norte, e que até agora no Brasil pouca atenção tem merecido. E precisamente no Brasil, o assunto é do máximo interesse, por haver aqui arribação em dois sentidos, do norte e do sul. Sendo a orientação das aves migrantes (também de pombos-correio, v. Columbidae) dependente em parte do magnetismo terrestre, é de importância que o equador magnético da terra passa pelo Brasil (Ceará). Não tratamos de temas gerais que não são problemas específicos do Brasil, como a orientação das aves migratórias e a origem das migrações que deve ser ligada a alterações climáticas profundas durante séculos e até a uma posição ainda diferente dos continentes. No hemisfério setentrion~l se concluiu que o rumo das migrações pode indicar o rumo em que a ave explorou a atual área de reprodução. Isto não pode ser p. ex. nas Américas onde os Passeriforrnes-Oscines apreenderam a migrar para a América do Sul - para eles ign antes da junção dos continentes. Em suas migrações, as aves visitantes ou atravessam o Brasil ou permanecem aqui durante algumas semanas ou meses. Na maioria doscasos trata-se de espécies que procuram o Brasil durante o inverno frio dos seus países de origem. De um modo geral o principal ponto de atração não é a temperatura mais elevada dos trópicos e subtrópicos, mas a maior quantidade de alimentos nas
DA
A VIFAUNA
BRASILEIRA
131
regiões quentes onde influi decididamente a sucessão dos períodos de chuva e seca. Ainda resta demónstrar nos diversos casos individuais se em invernos sobremaneira rigorosos nas regiões de origem vêm mais aves de arribação ao Brasil do que em invernos amenos. O aparecimento de aves marinhas nas nossas costas depende também de ventos fortes que sopram no Atlântico. . A permanência por tempo mais longo no Brasil leva às vezes a concluir-se erroneamente que estas visitantes se reproduzem aqui. Trata-se nestes casos geralmente de indivíduos imaturos que ainda não atingiram a idade de reprodução. Figuram entre eles aves marinhas, Charadriiformes e a águia-pescadora Espécies de certo tamanho só alcançam a fase adulta em vários anos. Uma ave marinha relativamente pequena como o bobo, inus s, só começa a nidificar comS anos. undo, às vezes Consta que a trinta-réis-boreal, t só volta à pátria setentrional ao cabo de 31 meses de permanência nos trópicos. Algumas aves, como os parulíneos norte-americanos eo cuculídeo COCClj U , voam à noite durante suas migrações. Tais migrantes noturnas se traem ao conhecedor pelos chamados que emitem em vôo, como o fazem por exemplo as sara curas e a triste-p ia, Dolichon onjzioorus. Durante sua estada entre nós, as aves de arribação, procedentes de zonas temperadas, costumam mudar de plumagem (v. P: ex. andorinhas e triste-pia). Conforme já foi indicado, há no Brasil dois grupos principais de visitantes: os que, durante suas migrações latitudinais, vêm do norte, até do Ártico, e as que vêm do sul, até doAntártico. Chegam mais visitantes elonorte do que do sul. Os bandos de maçaricos e batuíras setentrionais que, periodicamente, se aglomeram nas costas brasileiras, chegam não raro a centenas e milhares e figuram assim entre os maiores ajuntamentos de aves que podemos ver no Brasil; v. também as grandes concentrações de andorinhas setentrionais. Entre as aves norte-americanas, vindas ao Brasil, predominam habitantes da América do Norte oriental, din t ilii rigindo-se ao Brasil oriental, como (como migrante) e i g ii (como residente). As populações migrantes mais setentrionais de aves norte-americanas costumam invernar mais ao sul neste continente (v. lco g nusi. Fato singular é que também aves de arribação da costa chilena vêm à América do Sul cisandina tropical em vez de acompanhar a costa do Pacífico rumo ao norte (peru). Acontece assim que o pequeno tiranídeo El chilensis, do sul do Chile, atravessa os Andes à altura de Santiago, migrando depois, juntamente com as de sua espécie provenientes da Argentina, para a região amazônica, avançando em parte até além do equador; atinge também território brasileiro. Muitas aves árticas que vêm ao Brasil para "veranear" têm que voar muitos milhares de quilômetros; v.
h
'. ~ ,
132.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
sob maçarico branco, e . Correspondendo às diferentes épocas em que é inverno ao norte e ao sul do equador, as visitantes aparecem no Brasil em épocas diferentes do ano, de maneira que mal acontece se encontrarem; as do norte estão neste país entre setembro e abril, as do sul entre março e outubro. Alguns indivíduos, porém, são encontrados isoladamente no Brasil durante quase todo o ano (v.acima). Algumas espécies ou aloespécies ocorFem tanto no hemisfério setentrional como no meridional, em climas semelhantes (temperado ou frio, subártico respectivamente subantártico) e durante o inverno migram em direção ao equador, cada uma de seu lado. Esse é o caso, por exemplo, da gaivota-rapineira-grande C do norte, vindas e do falcão da Escócia, foram encontradas no Nordeste do Brasil, C sulinas, que nidificam na Patagônia e na zona Antártica, tiveram sua presença demonstrada até no Sudeste e Nordeste do BrasiL cuja pátria é o extremo meridional da América do Sul, segue os Andes durante suas migrações, e até agora, só foi encontrado no lado atlântico do continente até o Uruguai, onde teoricamente poderia-se encontrar com do extremo norte, que migra até a Argentina. Algumas visitantes não vêm regularmente ao.Brasil, mas apenas uma vez ou outra. Assim, por exemplo, os pingüins não atingem todos os anos a altura do Rio de Janeiro e Bahia. Às vezes as visitantes só aparecem em seus vôos de vinda ou de retorno, utilizando pois, evidentemente, rotas diferentes em suas migrações. Entre as maiores migrações conhecidas em nossa região figuram os vôos transatlânticos do frango-d'águaazul, aos quais já aludimos. Há ainda o caso de recentes imigrações, v. sob garçaibis. vaqueíra, LEVANTAMENTO
ESPECÍFICO DOS VISITANTES
Registramos 152 visitantes, o que perfaz 9,0% das aves do Brasil (1.677). Dependendo esse registro da colaboração de observadores treinados de campo, que estão sempre aumentando, o número de aves visitantes, às vezes, espécies de fácil reconhecimento, aumenta sempre. . . As visitantes são, na sua maioria (109, por conseguinte 71,7%) não-Passeriformes, Nada menos de 101 espécies (66,4%) são aves aquáticas (contamos Pandion como "aquático"). Cerca de metade dessas aves aquáticas são marinhas, como albatrozes, pardelas, gaivotas-rapineiras e trinta-réis. Na maioria dos casos as aves marinhas chegam a águas brasileiras vindas de alto-mar, não acompanhando a costa. Quando só se fazem observações em terra firme, mal se suspeita a presença de algumas delas por aparecerem periodicamente a algumas milhas de distância da costa. Um albatroz trazido casualmente por pescadores ou uma mortandade de pingüins ou faigões quando as aves em massa
são atiradas à praia pelas ondas, indicam então o quanto é rica a avifauna no oceano, pelo menos na parte meridional do mesmo. Apenas 10 espécies visitantes são não-Passeriformes não-aquáticas; a metade são Falconiformes oriundas do norte. O condor vem dos Andes. Entre elas há ainda 2 cuculídeos, 1 bacurau e 1 andorinhão, todos provenientes do norte. Entre as visitantes existem apenas 43 Passeriformes, isto é, 28,2% do total dos visitantes. Na sua maioria elas vêm do norte, como as andorinhas, os sabiás e os parulíneos. Dos tiranídeos 6 espécies vêm do norte e 7 do suL As aves migratórias que são apenas raças geográficas de espécies que vivem no Brasil, P: ex. algumas andorinhas nacionais e tiranídeos como a tesourinha, que dão, nas respectivas épocas de migração, muito na vista, não são incluídas aqui, são tratadas sob Espécies residentes migratórias. VISITANTES SETENTRiONAIS (VN) Estas espécies foram assinaladas no texto pelas letras "VN", logo após o nome científico. Do norte vêm 91 espécies, por conseguinte cerca de 60% das visitantes (152).Destas, 54 espécies são aves aquáticas, isto é, 59,3%. As aves aquáticas compõem-se de: 3 pardelas , e , 1 alma-de-mestre o pelicano-pardo, três garças e duas marrecas. Vem a seguir o grande grupo de batuíras e maçaricos: 3 caradrídeos (2 1 e 22 escolopacídeos três , sete , , , , , , e final, dois mente dois falaropcdídeos. Conforme já foi salientado, essas pernilongas podem tornar-se muito numerosas na costa. Algumas espécies, como a lis não costumam acompanhar a costa sul-americana em suas migrações, mas vão da Venezuela ao Rio Negro e ao Brasil central. No Rio Grande do Sul podem então atingir a costa atlântica. Isso se aplica também, p. ex. a e ao pisa-n'água, Phalaropodídae. Além disso vêm do norte um Rallidae, um Glareolidae, quatro gaivotas-rapineiras (três e três gaivotas e seis espécies de trin, mais freqüentemente um ta-réis trinta-réis do gênero e também a águia-pescadora norte-americana É sobremodo digno de nota que do maçaricão, , duas raças setentrionais chegam à região do Brasil, uma da América e uma da Europa, sendo que ambas foram apanhadas juntas em Fernando de Noronha, a raça da Europa provavelmente como exceção. As restantes 37 visitantes são aves terrestres. Dessas, nove são não-Passe ri formes, sendo 5 aves de rapina: dois e2
COMPOSIÇÃO DA AVIFAUNA BRASILEIRA
e eo si soni já despertaram até mesmo a atenção de repórteres no Rio e em São Paulo, respectivamente. Vêm ainda o cuculídeo Cocc us nus (a raça do leste da América do Norte), o bacurau deiles o e talvez o andorinhão e pe gic conhecido e dos americanos. [Mais recentemente outro papa-lagartas foi registrado no Brasil: e p us. Além disso 28 Passeriformes: seis tiranídeos (dois us, dois Coniopus, o stes, o , quaogne, , Hi o), três sabiás tro andorinhas us, sendo que C. fuscescens em três raças, ou seja, procedente de três regiões diferentes da América do eo, o icteríneo Dolicho o oito Norte), três parulíneos (quatro Den , eiu s, Opo nis, ilso , oph g dois Thaupinae ( g e um e ). Emberizinae Na sua maioria estes pássaros só chegam até a Amazônia, sobretudo a Amazônia setentrional e ocidental. Nas regiões próximas ao equador poucos migrantes entram na mata, ficando quase todos na beira das florestas e capoeiras e nas zonas abertas. Poucas aves migratórias são frugívoras, muitas são insetívoras (Willis 1966). O poll, De oic st i i passarinho silvícola do extremo norte da América do Norte (Alasca, etc.), vem em pequeno número ao Rio de Janeiro e ainda além. As andorinhas setentrionais avançam em quantidade pelo Brasil meridional e Argentina, sobretudo a andorinha-de-bando, Hi undo O triste-pia passa o inverno setentrional nos campos centrais da América do Sul: em Mato Grosso e no pampa argentino. Sobre as aves de arribação setentrionais que atingem o Brasil, orientam muito bem os guias de campo norteamericanos (Peterson 1980, v. Bibliografia Geral), com ilustrações de todas as espécies.
9.2 (continu
TABELA
ACCIPITRIDAE
eti
ississippiensis
p
9.2 - l
dos
t tes setent
is,
(3)
teo
e us PANDIONIDAE
(1)
FALCONIDAE
(2)
ndion h li tus
inus
co
lco
us
RALLIDAE (1)
te CHARADRIIDAE
squ ius
i
(3)
us
(22)
SCOLOPACIDAE
en i
ini
n
l ctitis hilo C l
nd us pugn is
to C is C i C is C
llis
pusii
us
l
ius i
l
tos is
enius
us
lis
lapponica
g iseus
(2)
PHALAROPODIDAE [ulicarius
pus
VN (91 espécies) p
t
lo
(1)
GLAREOLIDAE
Gl eol
us
uius
topus
lon bo
n TABELA
133
l
PROCELLARllDAE(3)
s pu inus
C lonect is
STERCORARIIDAE (4)
d th
t
u
us
iicus
ion
inus udus
(1)
HYDROBATlDAE
leuco
l
us s
(1)
PELECANIDAE
occident s ARDEIDAE (3)
us cil
ie e ie
i lli
Coc ANATIDAE
n
(2) di
us
te i till
t Chl CUCULIDAE
loides
undo
5 nsis
cin
n
i n
nige
(2) us
CAPRIMULGIDAE
us (1)
t
I \
134
ORNITOLOGIABRASILEIRA
são aves marinhas: 4 pingüins pheniscus e pteno tes), 8 albatrozes (6 Dio 2 hoebe ), 15 procelarídeos ( t 2 h ptil , o , ul us, D ption, 4 e od o 2 cell e2 e 3 almas-de-mestre ( nites, e um Sulidae). 2 ge , além de um Pelecanoididae Cinco marrecas meridionais, pl / , n e sibil t , C opt C llonett leucoph itt t , parecem ocorrer neste país apenas como visitantes. Trinta e duas espécies
TABELA 9.2 (co
(2 Eud ptes,
APODIDAE (1)
Ch tu
pelugt TYRANNTIDAE(6)
iod n tes lutei nt is nus nnus Contopus
Coniopus t illii
Empidonax
HIRUNDINIDAE (4) i
subis u
Hi
i t
do
TURDIDAE (3) C t
C
[uscescens
us
i
us ustul tus VIREONIDAE (3) i
ceus i
ltiloquus
IcTERINAE (1) Oolichon
i
us
Outras aves aquáticas que vêm do sul (região patagônica) são duas batuíras: ni e eopholus. Não existem escolopacídeos sulinos. Aqui figuram também (Chionis), um Thinocoridae, as gaia pomba-antártica vota -rapineiras C th t a gaivota s belch i e a trinta-réis n uiit i Entre as 12 aves terrestres desta seção encontram-se apenas um não-Passeriforme: o condor, It que ocasionalmente vem dos Andes até ao oeste do Brasil. Os poucos Passeriformes (15) oriundos do sul ou do sudoeste são o furnarídeo Cinclodes fuscus, 7 tiranídeos o is, l is, essoni , , 2 legus e El n biceps), o corta-ramos t duas andorinhas, mimídeo i us o icterineo l eD e os heuciicus Na identificação das aves de arribação meridionais é útil o guia de campo argentino de C. C. Olrog e Narosky & Izuriet a.
-
P ARULINAE(8) Den petechi Dend st t i n is lson n is
Dendroica fusca
THRAUPINAE (2) n
n
TABELA9.3 -
o dos i
12 Pelo menos o condor, g s, e o di executando uma migração mais longitudinal do que latitudinal.
VS (62 espécies)
c icus
lophus
DIOMEDEIDAE(8) Di Di
e ul l cnun hunchos
e
Dio Dio ede D
u
e
hoebet
[usca I (VS) Estas espécies estão assinaladas no texto pelas letras "VS", logo após o nome científico. . É uma peculiaridade da América do Sul que não exista apenas migração de aves vindas do norte, mas também do sul. A causa disso é a grande extensão deste continente em direção ao antártico, massa continental enorme; habitada- por muitas aves terrestres, bem como, se considerarmos os mares meridionais circundantes, ricos em aves pelágicas, afluindo até da Austrália. Do sul chegam ao Brasil 61 espécies, isto é, apenas cerca de 40% de todas as visitantes (152) aqui registradas. A maioria, 46 espécies (74,1%), é constituída de aves aquáticas.
is12,
t gonicus
ol
i
es
SPHENISCIDAE(4) en tes Eud ptes
CARDINALINAE (1) i
l
Oend ce Op nis gilis etoph uticil
PROCELLARlIDAE(15) c onectes
h l/i O b
i
t is
d H l
l belche
t l
o
nectes gig nieus se o lessonii o ollis t o c e us g
Puffinus g seus
PELECANOIDIDAE(1) e
u
oides
s
ni
devem vir provavelmente
do oeste ou sudoeste,
".
COMPOSIÇÃO
9.1.4.
9.3
TABELA
E
CIE
I
DA AVIFAUNA
BRASILEIRA
135
E
I
(3)
HYDROBATIDAE
A galinha-d'angola, o pombo, a galinha doméstica e o peru, foram trazidos pelos portugueses para o Brasil. Mencionamos tais espécies domésticas num apêndice nas respectivas famílias, como também o periquito-da-Austrália e o canário-do-reino. Até agora no Brasil só se introduziram 2 espécies de aves do exterior, que se tornaram comuns nas habitações humanas e ao seu redor, onde vivem livremente: o pardal, da Europa, e o bico-de-lacre. da África. . Várias aves européias introduzidas no Uruguai, por exemplo, como o verdilhão, até agora não tiveram sua presença assinalada no Brasil, talvez só por falta de controle. Veja também sob galináceos (Phasianidae), onde abordamos a questão de uma possível utilidade prática da introdução de aves exóticas para a caça e para a alimentação humana. Do ponto de vista científico a introdução de aves exóticas, praticada com a maior leviandade por amadores no mundo inteiro, naturalmente sem nhum estudo prévio de suas implicações, deve ser encarada com grande ceticismo. Ela foi proibida, e com muito acerto, pela Lei na 5.197/1967 (Proteção à Fauna). Nunca se pode prever se um adventício não virá a tornar-se praga ou um risco para a fauna nativa. No Brasil todos conhecem o caso do pardal e da abelha africana, assuntos muito discutidos. Espécies introduzidas podem ser também nacionais, que de um lugar do Brasil, onde existem em estado nativo, foram levadas pelo homem a outra região do país, onde não existiam por natureza. Tais transplantes, que a ciência não vê com bons olhos, podem conduzir a uma falsificação da fauna local. Foram efetuados p. ex. com a codorna, com o sofrê e com o baiano,
icus
SULIDAE
ul
(1)
t
(2)
PHOENICOPTERIDAE
hoenicopt
chilensis (5)
ANATIDAE
C lonett
leu nopte l
itt
(1)
CATHARTIDAE
tu CHARADRIIDAE
(2)
TlllNOCORIDAE
(1)
tus
i
hinoco us
us
(1)
O-rrONIDAE Chionis
(1)
STERCORARIIDAE
t t
n
ehilensis t LARIDAE
(2)
us belehe i
uit FURNARIIDAE
(1)
TYRANNIDAE
(7)
Cinclodes [uscus
is legus
esson
hudsoni
PHYTOTOMIDAE
(1)
HIRUNDINIDAE
(2)
t
i MIMIDAE
us
(1)
iu
(1)
EMBERIZINAE
Diu
diu CARDINALINAE
ucticus
Enquadra-se neste item a libertação indiscriminada de pássaros engaiolados, realizada pelas autoridades, sobre a qual se alega servir à preservação da fauna (v. Repovoamentos). Assim foi introduzida no Rio a caturrita, praga no Rio Grande do Sul. ibis, originalmente vine; A garça-vaqueira, da da África, cuja presença como ave que se reproduz no Brasil foi comprovada desde 1965, imigrou espontaneamente para aAmazônia brasileira, presumivelmente não da África, mas da parte seten trional da América do Sul, onde já existia em grande número há algum tempo. A imigração na cidade do' Rio de Janeiro do bacurauda-telha, que acompanhamos durante os últimos 40 anos, é também ato espontâneo.
(1)
u
9.1.5. IcTERINAE
i
(1) As aves mais conhecidas em qualquer país do mundo são as aves s~nântropas: espécies que se associam ao
136'
ORNITOLOGIA
-
BRASILEIRA
homem. O "clássico" desta categoria é o pardal ainda desconhecido em quase toda a Amazônia. Sinântropas, no Brasil, são várias pombinhas spp.) e alguns Passeriformes como a cambaxirra a cambacica e andorinhas. O urubu-preto é também sinântropo, ao contrário de outras espécies de urubu. Sinântropas são também as espécies do ambiente urbano. Espécies sinântropas seguem o homem no interior, fora do ambiente urbano, nas fazendas, etc.
9.2 O total das aves do Brasil é, aproximadamente 1.677 espécies. A contagem varia, por dois motivos: (1) são acrescentadas sempre "novas" espécies, até então mencionadas apenas para regiões vizinhas, sobretudo na Amazônia, ou para partes do Oceano Atlântico onde se trata geralmente de visitantes. Só muito raramente acontece hoje em dia, no Brasil, ser o número aumentado pela descoberta de espécies ainda desconhecidas à ciência, , escomo se deu na década passada com pécie de distribuição muito limitada na Serra do Mar em lugar pouco explorado antes - condições essas existindo mais nos Andes (Peru, etc.), produzindo novas espécies ainda com certa freqüência. [Espécies recentemente descritas, algumas depois da morte de H. Sick, figuram no corpo do livro, contrariando esse ponto de vista.] (2) o número de espécies torna-se às vezes mais reduzido em contagens modernas porque, aves consideradas espécies são hoje "rebaixadas" ao nível de subespécies, isto é, não são mais contadas como espéCi2S à parte. Goeldi (1894) citou 1.680 espécies de aves para o Brasil. O território brasileiro penetra no extremo sul um pouco na região de Pampa com sua fauna diferente. Isto se reflete na grande lista das aves do Rio Grande do Sul (v.abaixo). Este lado bem positivo compensa um pouco a falta da riquíssima fauna andina e alto-amazônica cuja posse contribui para que países relativamente pequenos como ia Colômbia, com pouco mais de um milhão de quilômetros quadrados de superfície, sejam mais ricos em espécies de aves que o Brasil, com mais de oito milhões e meio de quilômetros quadrados de superfície.' Quanto à fauna dos Andes é notável que no Pleistoceno, houve uma pequena imigração de flora e fauna andinos no sul do Brasil (v. sob Furnariidae e Rhinocryptidae). As aves terrestres distinguem os hábitats por suas características estruturais, sobretudo os aspectos fisionôrnicos da vegetação: a fitofisionomia. Durante os últimos 60 anos foram publicados muitos trabalhos focalizando censos de aves e as metodologias para executar tais levantamentos no hemisfério setentrional. Citamos apenas Lack (1937), Macarthur & Macarthur (1961), Macarthur et . (1966) e Cody (1985). A descrição de hábitats foi padronizada, modelos e estatísticas da diversidade de espécies foram desenvolvidos. Grande es-
tímulo para tais levantamentos foi a modificação da paisagem natural e a correspondente alteração da avifauna ocorrendo em todos os países da Europa e da América do Norte. Devemos no Brasil a T. E. Lovejoy (1974) e F. C. Novaes (1970) as primeiras análises populacionais realizadas por capturas em redes de algumas comunidades de aves do baixo Amazonas, permitindo estabelecer os padrões de distribuição e abundância, para dar uma idéia do índice de densidade e freqüência das aves em questão (v. p. ex. sob Trochilidae, Formicariidae, Tyrannidae e Emberizidae). O levantamento de Lovejoy, executado em parte junto com Novaes na mata de Mocambo (Área de Pesquisas Ecológicas do Cuamá, APEG), Belém, Pará, durante vários anos, incluindo todos os estratos (pela primeira vez também as copas das árvores, usando redes altas), baseia-se em mais de 200 espécies manuseadas; lá ocorrem aproximadamente 300 . espécies. Foram capturados, pesquisados e soltos 15.000 indivíduos. Muitas espécies eram bastante raras, tornandose assim o índice da abundância bem baixo. Isto confirma o fenômeno conhecido, que nos trópicos o número de espécies de animais e plantas é alto, o número de indivíduos baixo. Na elaboração desses dados foi difícil avaliar a capturabilidade diferente das espécies (certas espécies não são capturadas, outras com a maior facilidade) e possíveis outros fatores como flutuações populacionais. Sabíamos que como suplemento de um tal trabalho com redes é necessário um registro meticuloso da vocalízação e a observação direta das aves presentes - conclusão à qual hoje todos chegam. Na área metropolitana de Belérn, Pará (1.221 km), incluindo os municípios de Belém e Ananindeua foram tegistradas 472 espécies de aves (F. C. Novaes). Na Reserva Ducke perto de Manaus, Amazônia (10 x 10 km), Willis (1977) fez uma lista de 289 espécies, sendo 218 florestais. No alto Purús, rio Curanja ao redor de Balta, em território peruano, perto do Brasil (o Purus cruza o território do Acre no meio antes de desaguar mais de 1.000 km distante no rio Amazonas) J. P. O'Neill registrou dentro de uma área de uma milha (um quilômetro e meio), 408 espécies de aves e anotou que iriam aparecer mais espécies ainda com mais tempo de observação. Isto é a conseqüência de existir pouquíssimos indivíduos coespecíficos naquelas áreas, com um máximo de espécies simpátricas. Os censos das aves exigem meses. Abstraindo migrantes, restaram para a área em questão (Balta) 300 espécies florestais, pelo menos. Amadon conclui que a Amazônia supera de longe a riqueza em aves , do Congo africano (Amadon 1973~"': _9uanto mais variáveis as condições ecológicas, tanto maior o número de seres vivos que podem viver nesse ecossistema. As comunidades mais ricas em espécies de aves, mas de número muito reduzido de indivíduos, se acham próximo aos Andes em matas superúmidas
DA A VIFAUNA
COMPOSIÇÃO
_.
intocadas, de regiões planas do alto Amazonas. Temos um projeto do INPA/WWF sobre a Diversidade Biológica na América Latina (BIOLAT), sendo conduzido recentemente (1989) na Bolívia e no Peru. Os maiores índices de diversidade natural existem em território brasileiro em Rondônia e no Acre, áreas ainda pouco exploradas em dinâmica de populações de faunai.. constam P: ex. 11 espécies de (Formicariidae) para Rondõnia (D. F. Stotz); no Rio de Janeiro se encontram normalmente 3 espécies, no máximo 6 (L. \. Gonzaga). Prevê-se que Rondônia, área de 243.044 km, poderá se transformar num gigantesco deserto até o começo do próximo século devido a atual ocupação desordenada. . [Fora da Amazônia, do sul para o norte, segundo alguns levantamentos regionais disponíveis, o total de espécies assinaladas por Estado é o seguinte: Rio Grande do Sul, 610 espécies (Belton 1994); Santa Catarina, 596 (L. A. Rosário); Paraná, 669 (Scherer Neto & Straube 1995); São Paulo, 735 (E. O. Willis, Y. Oniki); Rio de Janeiro, 690 (J. F. Pacheco); Espírito Santo, 602 (C. Bauer, J. F.Pacheco); Minas Gerais, 774 . 1993); Bahia, 733 (Souza 1996); Pernambuco, 480 (Farias et . Paraíba, 340 (Schulz Neto 1995b) e Maranhão, 636 (Oren 1991),..Mesmo em algumas áreas menores que Estados, mas que foram sistematicamente estudadas e estão em regiões biogeograficamente privilegiadas, o total de espécies inventaria das pode ser expressivo como é o caso do município do Rio de Janeiro, ex-Guanabara (1.171km2) , onde a lista de aves tem cerca de 490 espécies (H. Sick, J. F. Pacheco), enquanto que para os limites do Distrito Federal (5.814 Km2), encravado no Estado de Goiás, foram listadas 429 espécies (Negret et . 1984). Num trabalho intenso durante mais de 10 anos no Rio Grande do Sul (282.184 km) Belton (1984 - 85) chegou a um total de 586 espécies, das quais pelo menos 419 reproduziam no Estado. Com a elaboração cuidadosa desse material, o Rio Grande do Sul tornou-se naquela ocasião o Estado melhor pesquisa do do Brasil em orni tologia. É óbvio que é muito difícil comparar os censos citados referindo-se a áreas tão diferentes em tamanho e caracteres físicos, e sendo as metodologias completamente diferentes. No sul do Brasil (São Paulo, 22° 45/50'S, 47/48 W) E. Willis (1979) examinou três áreas florestais, uma de 1.400 ha com 202 espécies de aves (reproduzindo 175), outra área de 250 ha com 146 espécies (reproduzindo 119) e outra de 21 ha com 93 espécies (76 reproduzindo). Foi calculado que o número de espécies de aves nas três áreas devia ter sido originalmente cerca de 230. Dois tipos de recenseamento foram utilizados censo de uma hora e censo geral. Desde 1974 J. Vielliard se 'dedica a levantamentos' quántitativos (censos) de aves. Testou três métodos básicos: (1) localização dos territórios das espécies presentes numa certa área, "quadro", (2) contar todos os indi-
BRASILEIRA
1:;7
víduos encontrados num certo percurso, "transecto", e (3) a amostragem por pontos, baseando-se em prioridade na identificação auditiva. A última metodologia, aplicada em áreas da mata do planalto de São Paulo, mostrou-se a melhor em terreno heterogêneo e mais fácil na interpretação matemática, resultando numa diversidade (índice de Shannon-Wiener) de 3,89; este valor é o maior já obtido para uma comunidade de aves. O levantamento qualitativo ("exaustivo") que foi realizado junto com a amostragem por ponto deu um total de 272 espécies em 350 horas de observação em diversos hábitats; este número de espécies, corrigido em função do tempo de observação e da variedade de hábitat, é equivalente aos valores do Equador (Pearson 1971, Vuilleumier 1978), Peru e Bolívia (Pearson 1977).
9.3 9.3.1.
,
O
Seguimos a disposição proposta por R. Meyer de Schauensee (1966, 1970), a respeito da seqüência das ordens, famílias, gêneros e espécies, corri poucas exceções, . quando reconhecemos outras relações filogenéticas ou em adaptação melhor às condições brasileiras. Elevamos os flamingos ao nível de ordem: Phoenicopteriformes, Colocamos a cigana também numa ordem à parte: Opisthocomiformes. Incluímos os dois o galo, e a araponguinha, nos da-serra, Cotingidae. Colocamos a tijerila, c no fim dos Tyrannidae. Meyer de Schauensee baseou-se no sistema de Alexander Wetmore (1960), nestor da orthe s nitologia americana e [ames L. Peters the o Lamentamos que, no Brasil, esse procedimento crie alguma confusão, pois aqui todos estão acostumados com o sistema de Olivério Pinto, em curso há 50 anos. Queremos destacar, nesta oportunidade, a grande importância dos livros de Meyer de Schauensee, que abriram mesmo o caminho para uma orientação fácil sobre a multidão das aves do nosso continente; o seu livro tornou-se a nossa "Bíblia". Para a atual edição do nosso livro, em parte, aceitamos as conclusões da última edição do (1983). Turdinae, Sylviinae forarn incluí- '-">-' das como sub-famílias da grande família Muscicapidae do Velho Mundo, aves praticamente desconhecidas em países neotropicais como o Brasil. Mas cientificamente é do maior interesse saber que os Turdinae e Sylviinae são bem aparentados aos Muscicapidae que se espalharam durante os milênios até a América do Norte e de lá colonizaram a América do Sul, relevando como houve grandes alterações nos movimentos dos continentes e climas da terra e mudanças do dinâmica distribucional dessas aves. Thraupinae, Parulinae e Icterinae, três unidades que são de fenótipo bem característico (o mesmo que vale para Turdinae e Sylviinae) foram incluídas na
'.1'
!
138
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
grande família Emberizidae como conseqüência de novas pesquisas, abrangendo o grupo maior de. Passeriformes-Oscines, de larga distribuição no Mundo e de classificação polêmica. Antes de existirem as publicações de Meyer de Schauensee, possuíamos, sobre o Brasil, apenas as obras t logo d ic s de E. de O. Pinto, o Snethlage (1914), s es do il de E. Goeldi (1894) com o de nic (1900-1906, reeditado pela Universidade de Brasília), e as publicações dos von Ihering (1907, etc., v. sob História). Daí tínhamos que recorrer a cada hora ao monumental Catálogo de Cory Conover & Hellmayr (1918-1949), em 15 volumes, referindo-se às aves das três Américas. A obra que dá os necessários pormenores sobre a nomenclatura d-as espécies e subespécies é a Ch -list the ds the ld, iniciada por [ames L. Peters, 1931 em diante, continuada por E. Mayr, J. C. Greenway Jr., R. A. Paynter [r, e outros, total de 15 volumes (I-VI nonPasseriformes, VII-XV Passeriformes); os primeiros volumes foram reeditados, Tínhamos à disposição a grande biblioteca do Museu Nacional, Rio, que é notável pela riqueza de obras do século passado; o problema eram as publicações modernas, inclusive os periódicos científicos. Os únicos livros populares disponíveis sobre aves brasileiras durante as últimas décadas foram os de eij o e os do l Eurico Santos: (1938/40). Não possuíamos discos ou fitas de vozes de aves brasileiras. Na década de 60 apareceu o primeiro disco de J. Dalgas Frisch, C tos de do il que teve grande aceitação popular também fora do Brasil. Seguis d co o len io nto do ram os discos ú, Ecos do I no e de e outros, e o livro do mesmo autor b ile s, primeiro passo para produzir um guia de campo de aves do Brasil. Também na década de 60, Paul Schwartz, Rancho Grande, Venezuela, autoridade na vocalização de aves neotropicais começou a editar uma série de discos i en o Schwartz reuniu, em sua época, o maior arquivo de vozes de aves neotropicais, hoje depositado no da Universidade de Cornell. Ithaca, EUA. Para a identificação das aves da Amazônia servemuito bem o guia de campo das aves da Venezuela de R. Meyer de Schauensee e W. H. Phelps (1978), com 53 pranchas e o livro de S. L. Hilty e W. 1..Brown (1986) com 69 pranchas, sobre a Colômbia, ambos próprios também para a Amazônia brasileira. Chamamos a atenção em especial nestas obras quando, no corpo do livro, damos a algumas espécies amazônicas apenas poucos dados e a distribuição, a qual se estende aos países adjacentes, sobretudo Venezuela, Colômbia e Peru, onde essas aves são melhor conhecidas. No extremo sul do Brasilos guias de campo das aves da Argentina de C. C. Olrog (1984) e de T. Naroski D. Izurieta (1987) sobre Argentina e Uruguai podem ser úteis.
e
A bibliografia que figura no final de cada família, no corpo do nosso livro, pode servir a uma ampliação dos . conhecimentos no respectivo setor. Os títulos citados só representam uma seleção. Na bibliografia geral citamos ainda outras fontes, incluindo algumas obras gerais sobre ornitologia. Com as facilidades atuais de viajar (d uran+a o nosso trabalho no Brasil Central de 1946 e 1957 tínhamos apenas os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB); não existiam estradas) e o correspondente desenvolvimento do turismo, surgem no mundo inteiro, publicações sobre as aves locais. Vimos, neste país, até listas de nomes populares de aves, de uma certa região, compiladas por uma agência de turismo. As listas das espécies de certas regiões ajudam, quando são feitas com todo o critério, como os americanos estão fazendo há muito tempo. As listas cuja qualidade depende do seu autor tornam-se ainda melhor informativas e fidedignas quando se referem às bases utilizadas, como: levantamentos bibliográficos (B), levantamentos de coleções de museus (M), e levantamentos de campo (C), como fizemos para Santa Catarina (Sick et ., 1981).
9.3.2.
-
DE
Enquanto a nomenclatura científica das aves está estabelecida há mais de 200 anos, a denominação vernáculo-popular, sendo produto da imaginação do povo, não guarda sistematização. Sob "denominação vernácula" queremos dizer duas coisas muito distintas: (1) nomes populares, vulgares ou comuns, são os nomes adotados pelo povo que vive nas regiões onde vivem os respectivos animais. São os melhores nomes para a fauna. (2) nomes vernáculos criados por técnicos, quando não existe os nomes populares para os respectivos animais.
Ao designar uma ave, o povo procura relacioná-Ia, p. ex ..com o colorido ("sangue-de-boi", "polícia-inglesa"), a forma do bico ("colflereiro", "maçarico"), a alimentação ("caramujeiro", "carrapateiro"), o modo de caçar ("bico-rasteiro"), manifestações sonoras (voz: "vivi"; música instrumental: "cascavel"), vários hábitos ("pica-pau", "dançador"), nidificação ("joão-de-barro", "fura-barreira"), relação ao tempo ("primavera", "verão"), relação à hora quando cantam ("maria-já-é-dia"), biótopo ("fura-mato"), ocupações humanas ("lavadeira", "rendeira") e lendas ("mãe-da-iua"). Nomes' onomatopéicos parecem estranhos à maioria, que nâo conhece as respectivas manifestações sonoras. Tais nomes estão constituídos freqüentemente de frases como: "tem-cachaça-aí" ou "gente-de-fora-vem" (ambos para us C l his nsis), "joão-corta-pau" (para l go undul i n e rufusv, "água-só" (para "chupa-dente" (para g . Os nomes
'-'
COMPOSIÇÃO
onomatopéicos indígenas são melhores. Nesses nomes está a alma do povo, os nomes fazem parte da cultura. Um nome popular antigo, arraigado, passa de pai para filho, não muda nunca. Os nomes vulgares ou populares de aves do Brasil são de origem lusa ou tupi, às vezes corruptelas de ambos. A confusão começou quando os portugueses, logo após a descoberta do país, aplicaram nomes de aves da Europa a aves do Brasil. Estas quase nunca são as mesmas espécies e nem mesmo aparentadas às suas homônimas européias. É, p.ex. o caso do urubu, que, por ser negro e gostar de carniça, como o corvo europeu, foi impropriamente chamado "corvo". A solução satisfatória era usar o nome indígena: urubu. Como sabemos, muitas designações são regionais ou locais. Outro obstáculo é que o mesmo nome pode ser aplicado para duas ou várias espécies. Por outro lado, há espécies de elevado interesse para o povo (como certos columbídeos) que possuem nomes regionais em profusão. Na pomba o macho é tratado como "rola-azul", a fêmea como "rola-vermelha", na mesma região. tem 8 nomes populares no Brasil, 9, 10. 14 e 16. Uma ave popular na Alemanha, como a alvéola-branca, tem lá mais de Ido nomes populares. Grande, todavia, o número de aves deste país que permaneceu sem nome popular específico algum, pois em geral dizemos delas que são pássaros e nada mais. O resultado é que a nomenclatura brasileira de aves revela tanta deficiência que a maioria dos cientistas nem se atreve a uma discussão a respeito. Contudo, em todos os países de crescente consciência da conservação do meio ambiente onde se elaboraram, durante os últimos anos, livros de maior penetração sobre a fauna, a denominação vernácula das aves tornou-se premente como nunca o tinha sido. O Brasil não faz exceção. Isto se nota em comparação com outros grupos, como lagartos, que, nem de longe, possuem a popularidade das aves. Já Hermann vonIhering (1899) formulou: "Creio que é dever dos naturalistas contribuir para a apuração e codificação da denominação vulgar das aves mais conhecidas". é-
NOMES
VERNÁCULOS
DA A VIFAUNA
BRASILEIRA
139
Uma comissão instituída em 1956 para uniformizar a nomenclatura zoológica vernácula, foi prejudicada pela morte-do seu idealizador, José Oiticica Filho, do Museu Nacional, Rio de Janeiro. O projeto não teve a necessária continuidade. Na década de 1970 foi organizada uma comissão gaúcha para organizar um código de nomes vernáculos das aves do Rio Grande do Sul. É um fato que até ornitólogos profissionais, de qualquer parte do mundo, preferem os nomes vernáculos, da sua língua. O uso do nome científico exige um esforço extra, empregado somente quando não existe nome vernáculo. A prática diária mostra claramente que a boa vontade de círculos mais amplos, dispostos a colaborar, é logo frustrada quando queremos forçá-Ios a usar os nomes científicos. A falta de uma nomenclatura vernácula paralisa também a conservação: como agir em benefício de uma ave que nem sabem nomear? Em publicações ornitológicas científicas em inglês (não somente em publicações de divulgação científica), desde muito menciona-se o nome científico de uma espécie apenas na primeira citação, junto com o respectivo nome vernáculo, usando-se depois exclusivamente o último, que então todos entendem. Qualquer adventício que fale inglês encontra no livro de Meyer de Schauensee (1970) um nome inglês para cada espécie de ave deste continente, se bem que esses nomes sejam artificiais, nada tendo a ver com nomes populares. Os nomes ingleses são úteis, pois são descritivos e ajudam a memória, são feitos para isto; são adotados imediatamente também pelos ornitólogos profissionais de língua inglesa. É relativamente fácil americanos estabelecerem uma nomenclatura em inglês para todos os países latinoamericanos, não há obstáculo. Muito diferente é a elaboração da nomenclatura vernácula dos países latinos nos seus próprios idiomas, pois estão impregnados de tradições lingüísticas locais que precisam ser consideradas. Vai ser ainda um longo caminho até que comissões mistas, compostas de ornitólogos e filólogos, tenham elaborado um código razoável, ou até uma lista oficial (existente em vários países) de nomes vernáculos das aves do Brasil. É certo que nunca se poderia agradar a todos, pois cada região desejaria que seu nome local fosse utilizado. Para tirar as dúvidas.neste caso vai ser necessário, por enquanto, citarmos dois ou mais nomes.
ARTIFICIAIS
Na Argentina formaram em 1916 uma los de de 1: 40), à qual se reuniram posteriormente outros países sul-americanos de língua espanhola; não chegaram a um acordo. Ultimamente, Olrog (1963) tentou padronizar essa nomenclatura para a Argentina. Na nomenclatura popular argentina luta-se também com sinônimos e há divergências entre os autores: as opiniões divergem das nossas; p. ex. para as espécies de é usado "perdiz", em vez do nosso "inarnbu",
PRÁTICA ADOTADA NESTE LIVRO
Para satisfazer às exigências deste livro, para o qual era indispensável dispormos de um nome brasileiro, pelo menos para as espécies principais e cabeçalhos, utilizamo-nos de três recursos: (1) Consultamos a biblíografia a respeito, sobretudo o catálogo de aves do Brasil de Olivério Pinto 1938/1944, e a grande lista de nomes vulgares de aves do Brasil de Carlos o. C. Vieira, 1936. Há outros numerosos subsído de dios, como R. von Ihering (1899),
140.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
R. von Ihering (1940), Dic e Paulo Nogueira Neto (1973),
dos
do de
Foi publicado pela SOM e pelo IBDF do da autoria de GabrielA. deAndrade (1982). Temos neste país um estoque grande de bons nomes vernáculos que são os nomes populares, vulgares ou comuns. Contribuição valiosa à interpretação de nomes indígenas é o estudo de Rodolpho Garcia (1913, 1929):
s de
es
.
(2) Coletamos durante as nossas viagens pelo Brasil nomes vulgares, interrogando caçadores e outros observadores, merecedores de crédito, inclusive índios, sobretudo do grupo tupi, do Brasil central. (3) Quando não encontramos nomes vulgares, nem na literatura, nem por intermédio de informantes pessoais, adaptamos palavras existentes ou baseamo-nos em caracteres importantes das respectivas espécies, sejam da morfologia, da biologia ou indicando a região geográfica. Coordenamos os nossos resultados com os da comissão gaúcha, mencionada acima. Tivemos, em certos casos, a orientação lingüística do Dr. Antônio Houaiss, da Academia Brasileira de Letras. Sugestões úteis para a formação de nomes vernáculos em qualquer língua dão Eisenmann & Poor (1946). O critério adotado na escolha de nomes brasileiros foi de, sempre que possível, usar-se o nome popular, desde que ele não pudesse ser confundido com outra espécie. As dificuldades, além daquelas já citadas, são muitas, por exemplo: o mesmo nome aparece em aves pertencentes a famílias distintas, contrariando a sistemática zoológica, como "jacu-estalo", e phus o , cuculídeo que se assemelha a um jacu.Aumen-
taria a confusão querendo eliminar um nome popular razoável deste, usado há muito tempo, para substituí10 por um nome artificial desconhecido que seria correto cientificamente. Não há solução sem compromisso. . Os nomes que aludem ao tamanho (gigante, grande, médio, pequeno) referem-se ou a uma comparação dentro do gênero ou dentre gêneros afins. Eliminamos, geralmente, a palavra "comum", porque pode haver regiões onde a respectiva espécie não seja comum. Para diferenciar as espécies dentro de um gênero, não há outra solução (caso não existam nomes populares) senão a de adicionar-se ao nome uma qualificação simples, distintiva (como é feito nos nomes vernáculos em outras línguas), como p. ex. "anambé-de-asa-branca": e p inged Cot , l Relacionamos no cabeçalho da respectiva espécie dois nomes quando estes são bem conhecidos, ou quando um deles tem uma significação diferente em grande chotus ns, parte do Brasil. É, p. ex. o caso de conhecido como "perdiz" no Brasil central, sendo este nome usado no extremo sul do país para ul , enquanto h nchotus é lá chamado "perdigão". No fim do parágrafo dedicado a cada espécie citamos, conforme o caso, mais nomes populares existentes, adicionando freqüentemente o nome do estado onde é usado. Os nomes compostos escrevem-se com traço-deunião ou hífen, facilitando o 'reconhecimento de um nome próprio, p. ex. "maria-cavaleira" (espécies de us, Tyrannidae). Não aceitamos a regra ortográfica de 1943 de escrever nomes geográficos e nomes de pessoas em palavras compostas com inicial minúscula; o que pode se tornar até ridículo como, p. ex. "Pombado-cabo", referindo-se ao Cabo da Boa Esperança e não a um cabo de vassoura.
-
'"\ PARTE 2
, !, "I.
j
-
SINOPSE ILUSTRADA DAS ORDENS E FAMÍLIAS DAS AVES BRASILEIRAS
ORDEMTINAMIFORMES
Família Procellariidae Família Tinamidae
Pardelas, Bobos, Pomba-do-cabo e afins
Macucos, Inambus, Perdiz, Codornas
p.178
p.153
ORDEMRHEIFORMES Família Rheidae
Família Hydrobatidae
Emas
Andorinhas-do-mar
p.168
p.184
ORDEMPODICIPEDIFOEMES Família Pelecanoididae
Família Podicipedidae
Petréis-mergulhadores
Mergulhões
p. 185
p.l72
ORDEMPROCELLARIlFORMES
ORDEMSPHENISCIFORMES
Família Diomedeidae Albatrozes p.175
Família Spheniscidae Pingüins .,
p. 186
I
144
ORNITOLOGIABRASILEIRA
ORDEMPELICANIFORMES Família Phaethontidae
Família Fregatidae
~-....::::==
Rabos-de-palha
Tesourões
p. 189
p.198
ORDEMCICONlIFORMES Família Sulidae
Família Ardeidae
Atobás
Garças, Socós
p.190
p.201
1-
-... I
Família Pelecanidae Pelicanos I
!o-..
p.193
Família Cochleariidae Arapapá p.210 I""
I 1--. 1
Família Phalacrocoracidae
Família Threskiornithidae
Bíguás
Curicacas, Corocoró; Guará, Colhereiro e afins
p.194
p.212
Família Anhingidae
Família Ciconiidae [aburu, Maguari, Cabeç-a-seca.
Biguatinga p.217 p.196
SINOPSE DAS ORDENS E FAMILIAS
145
ORDEMGALLIFORMES Família Cathartidae Urubus, Condor
Família Cracidae Aracuãs, [acus, [acutíngas. Mutuns
p.221
p.270
ORDEMPHOENICOPTERIFORMES
Família Phoenicopteridae Flamingos
Família Phasianidae Urus e afins, Galinha-doméstica
ORDEMANSERIFORMES
p.283
Família Anatidae Marrecas, Patos, Cisnes e afins p.229
ORDEMOPISTHOCOMIFORMES Família Opisthocomidae Cigana p.287
Família Anhimidae Anhuma, Tachã p.241
ORDEMGRUIFORMES Família Aramidae Carão p.290
ORDEMFALCONIFORMES Família Accipitridae Gaviões, Águias e afins p.243
Família Psophiidae Jacamins Família Pandionidae Águia-pescadora
p.292
p.258
Família Falconidae Acauã, Gavião-mateiro, Gralhão, Carrapateiro, Caracará, Falcões e afins
Família Rallidae Saracuras, Frangos-d'água, Carquejas
p.260
p.294
146
ORNITOLOGIABRASILEIRA
Família Heliornithidae Patinho-d'água
Família Haematopodidae p.302
Piru-pirus p.310
Família Charadriidae Quero-quero,
Família Eurypygidae
Batuíras e afins
p.311
Pavãozinho-do-pará p.304
Farrúlia Scolopacidae Maçaricos, Narcejas p.318
Família Cariamidae Seriemas p.305
Família Recurvirostridae . Pemilongos
ORDEMCHARADRIFORMES p.325
Família' Phalaropodidae Família J acanidae
Písa-n'água, Falaropos
[açanãs p.325 p.307
Farrúlia Rostratulidae
Família Burhinídae
Narcejas-de-bico-torto
Téu-téu-da-savana p.326
.....,
SINOPSE DAS ORDENS E FAMfL1AS
Família Glareolidae
147
Família Rynchopidae
Andorinhas-do-deserto
Corta-águas
p.327 p.339
ORDEMCOLUMBIFORMES 'Família Thinocoridae Puco-pucos
Família Columbidae
p.327
Pombas, Rolas, Juritis e afins, Pombo doméstico p.341
ORDEMPSITIACIFORMES
Família Psittacidae Família Chionididae Pomba-antártica
Araras, Maracanãs, Periquitos, Papagaios e afins
p.328
p.351
ORDEMCUCULIFORMES
Família Stercorariidae
Família Cuculidae
Gaivotas-rapineiras
. Almas-de-gato, afins
p.329
Anus, Saci e
p.383
ORDEMSTRIGFO~ES
Família Laridae Gaivotas, Trinta-réis p.331
Família Tytonidae Suindaras p.393
.,
1
148
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Família Trochilidae Beija-flores
Família Strigidae Corujas, Mochos, Caburés
p.433
p.395
ORDEMTROGONIFORMES
ORDEMCAPRIMULGIFORMES Família Steatomithidae Guácharo p.406
Família Trogonidae Surucuás p.467
Família Nyctibiidae Mães-da-Iua,
Urutaus
p.408
ORDEMCORACIIFORMES
Família Alcedinidae Martins-pescadores p.472
Família Caprimulgidae Bacuraus, Curiangos
-
p.412
ORDEMAPODIFORMES Família Momotidae [uruvas, Udus
Família Apodidae Andorinhães p.422
p.476
SINOPSE
DAS ORDENS
E FAMluAS
ORDEMPICIFORMES Família Ramphastidae. Tucanos, Araçaris
Família Galbulidae
p.492
Bicos-de-agulha, Arirambas-da-rnata p.479
Família Picidae Pica-paus
Família Bucconidae João-bobo, Bicos-de-brasa afins p.484
Família Capitonidae Capitães-de-bigode p.490
e
p.504
149
150
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
ORDEMPASSERIFORMES SUBORDEMSUBOSCINES
Farrúlia Rhinocryptidae Tapaculos
Família Tyrannidae
p.521
Papa-moscas, Bentevis, Lavadeiras, Verão, Tesourinha, Patinho e afins p.590
Família Formicariidae Papa-formigas, Chocas, Tovacas e afins p.527
Família Conopophagidae
Família Pipridae
Chupa-dentes,
Tangará, Dançador, Rendeira, e afins
Cuspidores
p.555
p.636
Família Furnariidae João-de-barro, afins
João-teneném
e
p.557
Família Cotingidae Arapongas,Anambés, Galo-da-serra e afins p.654
Família Dendrocolaptidae Arapaçus p.582
Família Phytotomidae Corta-ramos p.672
-
SINOPSE DAS ORDENS E FAMíLIAS
SUBORDEM OSCINES
Família Hirundinidae
Subfamília Turdinae
Andorinhas p.675
Família Corvidae Gralhas
Família Mimidae Sabiá-da-praia, Sabiá-do-campo
p.683
p.708
Família Troglodytidae Corruíras, Cambaxirra, Uirapurus, [apacanim e afins
Família Motacillidae Caminheiros
p.688
p.711
Subfamília Sylvinae Bico-assovelado, e afins
Balança-rabo
Família Vireoniclae Pitiguari, Juruviara, Vite-vite e afins p.714
p.696
151
152
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
Subfamilia Icterinae Chopirn, Pássaro-preto, Corrupião e afins
J apu,
Subfamília Parulinae Mariquita, Pula-pula e afins .
p.785
p.719
Subfamília Coerebinae p.725
Família Fringillidae Pin tassilgos e afins
Subfamília Thraupinae Gaturamo, afins
p.808
saíra, sanhaço e
p.727
Família Passeridae Pardal p.810
Subfamília Emberezinae e Cardinalidae Cardeal, tiziu, papa-capim, curió, canário-da-terra, tico-tico, trinca-ferros, azulão e afins
Família Estrildidae Bico-de-lacre p.815
--
Famílias e Espécies
10
ORDEM TINAMIFORMES
MACUCOS,
--
INHAMBUS,
PERDIZ,
CODORNAS:
FAMÍLIA
As aves de aparência galinácea; significativa família endêmica do neotrópico, ocorrem do México à Patagônia ocupando inclusive os Andes até altitudes consideráveis; a perdiz-da-puna, otis pe vive a 4.800 m de altitude. São muito citadas devido a seu grande valor cinegético. Pertencem à avifauna mais antiga deste continente. Fósseis procedem do Plioceno da Argentina (4 milhões de anos); no Brasil há registros de fósseis pleistocênicos (15 a 20 mil anos) das cavernas de Minas Gerais. As semelhanças esqueléticas e do cariótipo (cromossomos) com os ratitas são grandes e foram confirmadas por dados bioquímicos (Sibley & Ahlquist 1982). O crânio de um é muito parecido ao de uma ratita, ambos têm pálato ósseo íntegro: Paleognathae. O fato de que os tinamídeos "ainda" voam . faz com que estes pareçam mais primitivos que os ratitas, que chegaram ao máximo da adaptação à vida terrícola. Os tinamídeos não são ancestrais das e mas devem ter um antepassado comum no extinto continente meridional: a Os tinamídeos seriam assim um grupo-irmão dos ratitas. Uma codorna, no seu ambiente natural, pode parecer uma miniatura de ema: ambas vivem nos mesmos campos. A voz do inambu-relógio, assemelha-se à do pinto da ema. A semelhança dos tinamídeos com os Galliformes é efeiparalela. to de uma convergência orruvoluçãó
A
8
Fig. 37. Três tipos diferentes de bicos de tinamídeos. A, Inambú, s B, Codorna, o C, Perdigão, ens (seg. Krieg & Schuhmancher 1936).
c
TINAMIDAE
(23)
Há muitas particularidades na osteologia, em parte como crânio ("Paleognathae") e o esterno - já bem =xaminadas no século passado (v. em Stresemann, 19271934).Atualmente é também estudada a morfologia comparada da língua. As várias espécies são semelhantes no aspecto geral, diferindo bastante rio tamanho oniscus é pouco maior que um pinto de galinha enquanto a fêmea da azulona chega a pesar quase dois quilos). Possuem a cabeça pequena, bico fino e mole exceto em e (fig. 37); o pescoço aparenta ser longo e fino
Fig. 38. Estrutura da pena (rêmige) do ma cuco, s solit A, pena inteira, com a localização do setor ampliado. B, ampliação 135x, pedaço de um ramo com algumas barbicelas posteriores que se fundiram, na sua ponta, a uma barra sólida - as barbicelas de outras aves estão soltas na ponta (seg. Chandler 1916).
:
,I
,.
154
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
devido às suas penas curtas. Corpo volumoso, com a parte posterior mais alta pela' plumagem cheia, rica em pó ou "cinza". A estrutura microscópica das penas dos Tinamidae é única em toda a classe; as partes terminais unem-se através de uma barra das barbícelas, ou sólida, notável sobretudo nas rêmiges (fig. 38).Asas bem desenvolvidas e arredondadas; cauda frouxa, às vezes rudimentar, pode faltar o pigostilo. Pernas grossas e moles, com a planta do tarso, no , coberta de duras escamas imbricadas. gênero A coloração do tarso pode ser característica; recurso oportuno em espécies parecidas quanto ao padrão da plumagem (v. p. ex., nocti gus e C. e th pus). Pés com três dedos curtos relativamente fracos. Possuem um pênis semelhante ao dos Ratitae, dos us patos e dos jacus, sendo o mesmo, nos gêneros e chotus, espiralado lembrando o hemipênis dos Squamata (lagartos e cobras) sem ser entretanto bífido. Tal estrutura permite a pronta visão do sexo dos indivíduos adultos, principalmente na época da reprodução. As fêmeas possuem pequeno órgão fálico. Dimorfismo sexual notável quanto ao padrão da pluellus magem ocorre no inhambu-relógio s gulosus) geralmente as fêmeas distinguem-se somen. te por serem maiores que os machos, mas as medidas respectivas podem interpenetrar-se quando se comparam sexos opostos de duas espécies diferentes (p. ex. t os e ino , llus o s e C. ). Também existem ligeiras diferenças de tamalhu nho dentre certas populações da codorna culo A identificação do sexo da codorna, lo , pode ser realizada, com 100% de acerto, através da morfometria da pelve óssea por meio de palpação ou com auxílio de uma régua padrão. Outro critério é a cor
Fig. 39. (1) e (2)- Pés de macuco s solit ius), mostrando a conformação e disposição das escamas salientes, com uma" serra". (3)- Pé de inambu do s, no qual se nota a diferente gênero conformaçãodas placas que são lisas.
.'
Fig.40.Corte transversal pelo tórax de um inambu. Escápula (1),costela (2),fúrcula (3), esterno com a c ist sterni (4)e músculos pecto is (5) (seg.H. O. 'Wagner 1949).
Fig.41. Macuco, solit us, empoleirado. A ave repousa no tarso, do mesmo modo como repousa no solo, não usa os dedos (seg.fotografia de Wemer Bokermann).
da íris das codornas adultas; a tendência é: macho com íris amarela, fêmea com íris pardo-laranja. Quando perseguidos, os Tinamidae cansam-se rapidamente. O vôo é uma mistura de vôo ativo com batidas rápidas das asas, seguido de períodos de vôo plana-do. Deslocam-se geralmente apenas por algumas dezenas de metros e voltam em seguida ao solo. Tal debilidade não é causada por uma musculatura pouco desenvolvida e sim por uma irrigação arterial ineficiente para os esforços prolongados. Por incrível que pareça, estas aves possuem. a musculatura de vôo tão desenvolvida (28,6% a 40% do peso total) quanto a de um beija-flor (28,3% a 34,4°/~do peso total). A massa desses músculos é a razão principal para o seu alto valor cinegético. Já o diâmetro dos vasos é muito reduzido, sendo os pulmões e o coração muito pequenos. A quantidade de sangue é mínima. Chegam mesmo a ter o menor coração dentre todas as aves (Hartman 1961), atingindo este apenas 0,16 a .0,30% do peso total enquanto tal relação eleva-se a
TINAMrDAE
1,25% no pombo doméstico (v. também beija-flores). Tal deficiência na irrigação sangüínea dá uma coloração branca esverdeada à carne dos tinamídeos sendo a mesma, aliás como a plumagem, tão frouxa que se desfaz ante o menor impacto. O esqueleto é bem pneumatizado (descendência de voadores melhores I), mas o peso total da ave é relativamente grande.
155
As vocalizações servem para confirmar o parentesco de certos representantes. Pode-se assim, agrupar alguns em : 12-
C. e obsoleius, C. também
opus e C. nocti gus. o e C. . e
pt llus Há pouca vocalização de alarme (p.ex., e o ) ou de chamada; o codornil o vive na caatinga em pequenos bandos cujos componentes contactam-se mutuamente por intermédio de um pipilar baixo e constante que, ao mesmo tempo, liga os bandos vizinhos entre si. Situação semellus lhante ocorre em um inambu florestal, C opus, sendo que no caso os indivíduos associados andam menos juntos. Este tipo de comunicação dentro do bando lembra os galináceos como os urus, Odontopho s, e Colinus. A codorna, th l que foge voando, emite às vezes um "tü, tü, tü ..." que pode ser tomado por um barulho de asa, mas é vocalização. Existem ainda outras vozes, como os pios fracos que o pai emite para chamar os filhotes e os próprios gritos destes últimos. No macuco pode-se registrar uma meia' dúzia de vocalizações diferentes. Uma fêmea de inhambuaçu de quatro meses de idade já canta no ritmo da mãe, embora mais debilmente, emitindo apenas estrofes curtas.
t
As principais vozes dos Tinamidae correspondem ao canto territorial de outras aves (p. ex., Passeriformes) sendo-lhes, geralmente, as únicas vocalizações perceptíveis. Os assobios das espécies de e são fortes e melodiosos; suas vozes baixas e cheias são uma adaptação ao denso hábitat florestal repleto de obstáculos que impedem a livre propagação das ondas sonoras. Já a voz das codornas, que são campestres, é fina, podendo ter o timbre daquele de um grilo. É notável que entre as espécies de (todas florestais), a es, pareça ser a que possui a voz pécie menor, . mais grave, contrariando o esperado. A vocalização representa o auxílio mais significativo na identificação destas aves e, seguramente, mesmo para elas deve ser o meio mais importante ele reconhecimento intra-específico. Cada espécie possui vários assobios ligeiramente diversos; nos inambus freqüentemente ambos os sexos fazem ouvir uma seqüência mais curta e outra mais longa; os piados dos sexos são discerníveis; a voz da fêmea de C. gulosus é mais baixa do que a do macho. Vocalizam mais em certos períodos, no auge da época de reprodução assobiam incansavelmente. O jaó, C s , por exemplo, pode piar 30 minutos ininterruptamente, com pios sucedendo-se a intervalos de 5 a 18 segundos (média de 12,5 segundos). É nesta época que o macuco e a azulona executam o "chororocado", tipo peculiar de voz emitido insistentemente às vezes durante minutos a fio; o chororocado do macho é mais baixo, mais curto e de tremular mais rápi- . do que o da fêmea; vocalizam no poleiro. Piam mais comumente à tardinha e de manhã. canta com maior vigor durante alguns -rninutos em certo período do crepúsculo após o pôr-dosol, espécie amazônica florestal, chega ao auge do seu canto nas horas mais quentes do dia. Periodicamente vocalizam mesmo de noite, sobretudo em noites de lua cheia, do seu ponto de pouso, como o fazem mutuns e urus. obsoletus (São Há dialetos, p. ex., os dos Cnj Paulo e Mato Grosso) e ellus (Espírito Santo e Maranhão). Emitem sua voz esticando verticalmente o pescoço, erguendo obliquamente a cabeça e abrindo largamente o bico. Quando não cantam, os Tinamidae passam totalmente despercebidos, parecendo não existir.
Comem não só bagas, frutas caídas (p. ex., merindibas, tangerinas e coquinhos de palmito; u ellus us come sobretudo os' coquinhos do açaí, Euie pe ole ), como folhas e sementes duras (o macuco e o inhambuaçu, p. ex., foram observados, em São Paulo, u enchendo o papo com sementes do taquaruçu, supe Em todo caso é certo que preferem as sementes, não ligam para a polpa dos frutos. Freqüentemente 2/3 do conteúdo do papo e do estômago são compostos de sementes que são digeridas; tinamídeos não são díspersores de plantas. Também procuram pequenos artrópodes e moluscos que se escondem no tapete de folhagem apodrecida; viram as folhas e paus podres com o bico à procura do alimento, jamais esgravatando o solo com os pés como fazem os galináceos (uma exceção v. sob Reprodução). Os inhambus às vezes pulam para apanhar algum inseto. Um macuco em cativeiro comeu admiravel"mente uma caranguejeira após a ter desmembrado. Pode-se atrair um macuco arremedando um grilo. O perdigão, nchotus, que é dotado de bico forte, longo e curvo, cava a terra jogando-a para o lado, procurando e arrancando tubérculos e raízes; gosta imensamente de gafanhotos e de amendoim, que é engolido com casca. Um único indivíduo desta espécie havia engolido 707 cupins. Seu trabalho de cavar cupinzeiros _
156
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
praticado do mesmo modo por
- é facilitado
nos casos em que o cupinzeiro foro. danificado c depoie
reparado pelos cupins com material fresco. Contudo é capaz de perfurar a superfície dura de cupinzeiros intatos, abrindo buracos de vários centímetros de diâmetro. ocasionalmente caça pequenos vertebrados como lagartixas, ratinhos e até pequenas cobras. Apanham raizes sobretudo no inverno, quando escasseiam os insetos. As codornas catam carrapatos nos pastos e se aproveitam da movimentação do gado no meio da vegetação para apanhar insetos (p. ex., gafanhotos) quando são examiespantados. De 117 codornas nadas, 109, ou seja, cerca de 91%, ingeriram tanto alimento animal como vegetal. Em um segundo lote de 100 exemplares, 93% se alimentaram de substâncias vegetais e o restante de matérias animais. A imensa "utilidade" da codorna resulta dos seguintes levantamentos feitos no Rio Grande do Sul: das 44 espécies vegetais usa14 eram nocidas como alimento por vas aos cultivos, às pastagens ou ao gado. Das 28 espécies animais de que as codornas se alimentaram, 26 eram consideradas nocivas à agricultura e/ou pecuária. 1982). Também cavam a terra à procu(Menegheti et ra de raízes tenras e tubérculos, porém em pequena escala; desta forma, o fato de tanto como terem as narinas colocadas na base do bico pode ter uma razão funcional-ecológica. É interessante notar que parece ser o único representante do gênero que possui tal 1isposição sendo, ao mesmo tempo, o mais campestre de todos. Os Tinarnidae bebem regularmente sempre que há água. Engolem pedrinhas; os filhotes dependem de alimento animal. Bebem sugando, não levantam a cabeça para engolir a água (v. Columbidae).
Desconfiados, imobilizam-se instantaneamente de pescoço ereto, parte posterior do corpo levantada ou deitam-se; neste último caso, depois do primeiro susto, ficam novamente de pé e procuram ângulo melhor para examinar o perigo escondendo-se atrás de folhas ou capim. Indivíduos assustados por um tiro às vezes fingemse de mortos. As codorrtasse escondem ocasionalmente em buracos. Vimos uma codorna atravessar uma estrada, andando às furta delas para não chamar a nossa atenção; em cada passo deitou o tarso no solo enquanto puxou a outra perna, ficando sempre de corpo abaixado, executando todos os movimentos em câmara lenta. Não esgravatam o solo com os pés.quando procuram comida (v. sob Alimentação), mas tais movimentos são executados pela fêmea convidando o macho para galar (v. sob Reprodução). Alçam vôo apenas como último recurso, sendo o mesmo pesado e retilíneo; são quase que incapazes de evitar obstáculos, mas pilotam relativamente bem quando
planam para aterrissar. Excepcionalmente ocorrem vôos lonti05; João Moojen um ínambu-xínta, encurralado pelo fogo, atravessar o rio Paraíba do Sul em vôo livre de mais de 350 metros. Para constam 700 a vôos livres de 50 a 270 metros, para 1.300 metros. Até certo ponto vôos longos de tinamídeos devem ser um ato regular na Amazônia, provocados pelas enchentes periódicas, forçando p. ex. um a sobrevoar 500 metros de água aberta para alcançar uma ilha no meio do rio (Remsen & Parker 1983, Ayres & Marigo 1995). Conforme observações de A. Aguirre entre outros, há perdas consideráveis dentre os Tinamidae na ocasião da cheia, quando a água invade as ilhas. Nesta ocasião, "narnbus" como o procuram ganhar a terra firme caindo na água, pois a distância a vencer é grande demais ou por já estarem esgotados, ou ainda por chocarem-se com o muro verde da margem. Os moradores locais aproveitam-se de tais eventos. Fazem estrepitoso ruído com as asas quando deconam - bu", "o que sai com lam ("inambu" do tupi: estrondo"), as espécies campestres, voando, produzem sonoro sussuro, principalmente De maneira geral estas primeiras voam muito melhor do que aquelas silvestres, adaptadas à vegetação alta, exceção feita pelo inambu-carapé, que embora campestre está em vias de perder a capacidade de vôo. Tanto ocorre o banho de água (macuco, deixando as "cinzas" das penas na superfície dos poços ou córregos) como poeira inhambuxintã, codornas) além de banhos de sol. A plumagem das codornas freqüentemente adquire, por estar impregnada, a cor da terra do local. Sob chuva pesada adotam uma posição ereta (sua silhueta então assemelha-se à' de uma garrafa) deixando a água escorrer sobre a plumagem. As espécies de empoleiram-se para dormir. Para pouso, o macuco elege um galho horizontal no mínimo a dois metros acima do solo, freqüentemente a quatro metros ou mais. A ave sobe estrepitosamente (ouve-se de longe), decolando quase que a prumo, em uma trajetória previamente escolhida e que deve estar totalmente desobstruída; tendo alcançado o poleiro costuma virar-se para o lado de onde veio para então acomodar-se. Exige um galho que lhe possibilite deitar so-?" bre os tarsos escamosos e ásperos os quais, em poleiros freqüentados por algum tempo, raspam os líquens pelo uso. Não usam os dedos para se segurar (detalhe observado já por Fernão Cardim no século XVI), nem em poleiros mais finos, equilibrando-se pelo peso docorpo (fig. 41). Não se acham fezes sob os pousos, mas o chão apresenta-se como que varrido pelo turbilhão das asas. O tururim, que possui o tarso liso, às vezes também empoleira, mas em um leito de ramaria (Schãffer 1954). Quando assumem atitude agressiva arrepiam as penas, estendem a cabeça para a frente (geralmente não chegam a bicar), abrem as asas, prontos para bater.
-
-
TINAMIDAE
ciclo Para vencer os obstáculos que os reservados tinamídeos opõem à observação direta de sua vida, são utilizados pios (ver sob "caça"). As aves assim atraídas e abatidas, principalmente durante a época de reprodução, fornecem um material de valor relativo para uma análise da relação numérica entre os sexos, base da organização populacional de uma espécie. Ao mesmo tempo obtêm-se dados seguros sobre o estudo de desenvolvimento dos órgãos sexuais. Nestas caçadas influi decididamente se o caçador pia como macho ou como fêmea e qual sexo é mais territorial no período em questão. Às vezes vários exemplares atendem a um mesmo chamado, como observamos em undulaius, Muitos tinamídeos são atraídos pelo pio de seu próprio sexo. Concluiu-se assim, por exemplo, que havia predominância numérica de fêmeas no macuco solitarius. Tal resultado porém foi conseqüência do fato de ser a "macuca" mais agressiva que o macho, atendendo mais prontamente ao pio. Em o piar do macho é sempre atendido por 0)1tros machos. O mesmo ocorre com C. Levantamentos meticulosos de J. Carlos R. Magalhães acerca do macuco, revelaram que no início da época de reprodução (junho-julho) atendem ao pio mais ma: chos, em agosto as percentagens entre machos e fêmeas se equilibram e de setembro em diante a percentagem de fêmeas aumenta caso se pie tipicamente como fêmea. Parece portanto haver equilíbrio numérico entre os sexos no macuco. É surpreençl.ente que na azulona, , substituto amazônico da anterior, exista, aparentemente, um nítido predomínio de machos em uma relação de 2,2 para 1 (baseado no exame de 224 espécimens do alto Xingu coletados de maio a setembro). Restam-nos ainda algumas dúvidas pois estes dados, tal como os outros já citados, são oriundos de coletas através de pios e não de um exame efetivo da população. Deve-se considerar ainda se a área de coleta está intacta ou se caçadas anteriores já eliminaram parte das aves que atenderam ao pio. Se fizermos extrapolações para a população total, como foi calculado por J. Carlos R. Magalhães, chegaremos, na azulona, ao resultado de 1,5~iomachos por fêmea. Tal excedente de machos sugeriria um estoque biológico, sendo os machos sujeitos a maiores riscos de predação no choco, condições que se agravam na hiléia. Entre e há grande diferença entre os respectivos hábitos reprodutivos. As fêmeas de T fazem uma postura de seis ovos, por estação, incubados por um macho. Já as fêmeas de acasalarn, consecutivamente, com dois machos, dando a cada um três ovos. Para o chororão na Guiana, consta até uma proporção ainda maior de machos (4 machos para 1 fêmea); esta espécie, porém, apresenta uma situação peculiar, pois sua época de reprodução é
157
mais prolongada e a fêmea põe apenas um ovo por ninho. Vários Tinamidae (como o macuco, o inhambuguaçu, o chororó, o xintã e a codorna, andam aos casais; em um certo local o macuco foi encontrado aos casais durante todo o ano. Por falta de controle individual não sabemos quantas vezes a composição dos pares muda e em quais períodos. A situação complicase ainda mais se considerarmos que o indivíduo, com a idade, muda de comportamento; um macho pode ser monógamo quando novo e polígamo se mais velho, conforme foi demonstrado no caso de um tinamídeo andino O sistema de reprodução da família revela-se muito eficiente, como se pode comprovar pela abundância dessas aves em áreas virgens ou quando não são perseguidas. A poliandria é o caminho mais certo para uma multiplicação mais rápida. Trabalhando com oito espécies florestais de tinamídeos na Amazônia, entre latitudes de 100 e 15° S, J. C. R. Magalhães identificou um nítido ciclo reprodutivo que principia em maio, atinge o auge em julho e declina de setembro em diante. Esse ciclo reprodutivo é provocado por um período de intensa luminosidade decorrente da diminuição das chuvas e conseqüente aumento do número de horas de brilho solar efetivo. Portanto, um estímulo luminoso que independe do comprimento dos dias cuja variação é muito pequena nessas baixas latitudes. Durante o cortejo e na intimidação de rivais, os inhambus e o macuco baixam o peito até o chão e levantam a parte posterior do corpo até a vertical, simulando serem bem maiores do que o são na realidade. Ao simularem esta posição, exibem, para um observador frontal, todo o lado superior e, se visto de trás ou lateralmente, mostram as coberteiras inferiores da cauda e as penas laterais, ambas muito desenvolvidas e bem marcadas. Essas cerimônias podem lembrar os respectivos comportamentos de certos faisões (Davidson 1976). Embora a fêmea muito mais ativa, seja o sexo dominante, esta situação pode se inverter nas relações prénupciais. Registramos em cerimônias pré-copulatórias surpreendentes da fêmea. Baixando o peito até o solo, ela estica ao máximo as pernas ._. (mais para os lados do que para trás), raspando, com os dedos abertos, fortemente o chão. Isto pode ser uma simbolização do preparo do ninho: limpar o chão de folhas e esgravatar uma depressão onde pôr os ovos. Independente disto a fêmea toma a seguinte atitude estranha: levanta as asas até a vertical e curva ó' pescoço para baixo. Os indivíduos territoriais medem-se por intermédio de vocalizações, piam horas a fio sem saírem de suas respectivas áreas, respondendo-se e atiçando-se mutuamente. Tais disputas são extraordinariamente impressionantes entre e C. Quando brigam utilizam-se das asas e não dos pés como instrumento contundente. Sobre o tamanho do territó-
158
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
pado duas ou mais fêmeas como também leva a crer diferenças de tamanho e cor dentre ovos do mesmo ninho. g põe apenas um ovo por pos.tura (Mato Grosso). Quando se ausenta o macho cobre o ninho cuidadosamente com folhas (macuco, azulona, jaó) ou com pe, nas (perdigão), camuflando-o e ocultando assim os ovos lustrosos. As espécies florestais põem em uma depressão natuQuando incomodada, a ave que choca abre as asas e ral coberta de folhas junto a um tronco; inhambus camsaindo do ninho, solta trinado (p. ex. no chororó e xintã) pestres como o chororó, numa cavidade de terra junto a fingindo estar ferida, desta maneira atraindo para si o uma moita de capim. O macho do perdigão cava o nipredador e afastando-o do ninho. nho na terra forrando-o com palhas secas. Não encontramos placa de incubar na codorna Os ovos são geralmente grandes em comparação com Entretanto, J. Carlos R. Magalhães coo corpo da fêmea e variam consideravelmente na for. munica-nos que abateu, em fins de outubro (época de ma. Mas acontece que uma espécie grande como us alta probabilidade de choco), um macho de macuco que não tenha ovos tão maiores que uma espécie bem chamou-lhe a atenção por ter o ventre totalmente bon (Schãffer 1954). A menor, como implume cuja pele apresentava-se avermelhada, indicancasca é tão fina que possibilita uma observação do emdo intensa vascularização. brião sem abrir o ovo. Os ovos assumem a forma oval ptu ellus A incubação tem duração-de 17 dias, em regular ou elíptica, por exemplo, nas espécies pequenas (seg. Werner Bokermann, ao qual devemos de tornando-se bem mais esféricas nos muitos dados valiosos sobre nossos tinamídeos), de 19 sendo isto ainda mais .pronunciado para' a 20 dias, em so e de 19 a 21 dias, em gulosus. e C. iaiaupa e us escens. Seus ovos estão entre os mais belos que se conheApós a eclosão do último ovo os pintaínhos abandocem; vivamente unicoloridos, são brilhantes, como que nam o ninho sob a guarda do pai, que abriga a prole sob polidos ou esmaltados, parecendo ser de porcelana. Tal as asas e que, ao defendê-Ia, arrosta até mesmo o hocoloração, porém, descora em poucos dias; por exemmem. Estando mais distantes do pai, os filhotes imobiliplo, de púrpura ou cor-de-vinho, os ovos de zam-se em caso de perigo, levantando a traseira e conpassam para o plúmbeo claro. Esta é uma das razões fundindo-se completamente com o solo. Inhambuzinhos por que encontramos tantas divergências nas descrições que atravessem um espaço livre de vegetação correm dos ovos dos Tinamídeos. tal qual pintos de saracura, podendo ser confundidos Há, entre as espécies brasileiras, ovos de cores: com ratos. O desenho do pinto do macuco imita o pa1- Verde-turquesa ou azul: spp. e drão escuro e manchado de folhas secas no solo da mata, ellus . mas se destaca muito uma mancha branca atrás do ou2 - Chocolate ou cor-de-vinho tinto: sp. vido que tem um efeito dissipador. O pinto de exceto as citadas em 1 e 3), e otus, que se assemelha ao da erna, é todo estriado spp. em fundo bem claro, resultando num grande efeito 3 - Róseo, passando para cinzento ou violáceo s o s é críptico no campo. O pinto de e C. gulosus) ou unicolorido pardacento. . amarelado (C. Durante os primeiros dias o macuco protege a prole no solo, inclusive à noite, não empoleirando. O pai apeO colorido característico dos ovos serve às vezes para nas empoleira quando todos os pintinhos conseguem confirmar a separação de espécies, por exemplo, C. cinco dias o gus e e pus. Consta que excejJ'"' acompanhá-lo. Com aproximadamente . macuquinho já é capaz de voar a um poleiro de um metro cionalmente ocorrem ovos brancos puros, por exemplo, em e pouco de altura seguindo o pai, acomodando-se tanto trepado nas costas paternas como agachado ao seu lado Estão entre as poucas aves nas quais o macho se incumbe da tarefa de chocar e criar filhotes, sistema de ou entre as suas pernas firmemente deitado na "serra" do tarso como o pai, não usando os dedos. Os filhotes reprodução que envolve a Poligamia (poliandria e poliginia). podem ter tamanhos diversos se o choco iniciou-se antes de ter completado a postura. A "macuca" põe a intervalos de três ou quatro dias, p ellus st igulosue às vezes em dias consecutivos. Nos primeiros dias enquanto os pintos se aproveiSeis ovos seriam uma postura completa de macuco (Rio tam ainda da reserva embrionária de nutrientes o pai de Janeiro, São Paulo); entretanto, em cativeiro, uma captura artrópodes pequenos colocando-os diante do macuca alimentada com ração conseguiu uma postura filhote. Mais tarde estes são muito ágeis na perseguição de doze ovos. Em posturas maiores (ocorrem de 9 a 16 de qualquer inseto pequeno. ovos por ninho, p. ex., em inhambus) devem ter particiO fato excepcional de encontrar-se uma fêmea junto rio de espécies florestais v. sob Preservação. Menegheti (1985) calculou a densidade populacional da codorna, , no Rio Grande do Sul, tomando o número de indivíduos levantados por um cão por unidade de tempo.
TINAMIDAE
a filhotes pode ser sinal destes terem perdido o pai. Encontramos pintainhos amoitados sob poleiro de uma macuca e uma fêmea adulta de inhambuguaçu com dois filhotes já crescidos. O fato de nem a fêmea da perdiz, nem a dos inhambus estarem propensas a zelar pela prole é facilmente aquilatável em cativeiro, pela agressividade da mãe para com os filhotes.
e
o
A quadra reprodutiva do macuco é limitada, iniciando-se no meio do inverno, atingindo o auge no meio da primavera; há nesse intervalo duas incubações (São Paulo). Conforme foi verificado no Estado de Mato Grosso, a reprodução da azulona ocorre mais cedo, atingindo o auge em pleno inverno. No Rio Grande do Sul a codorna efetua de duas a três incubações por ano sendo a última em abril. Em cativeiro, um macho de perdigão, inseparável de duas fêmeas mas muito agressivo para com outros machos, realizou (de novembro a janeiro) três incubações; as fêmeas continuaram a vocalizar e a pôr ovos regularmente em um total de mais de trinta, que no hábitat natural seguramente teriam confiado a outros machos de ninhos ainda não lotados. Imagina-se que o mesmo deva ocorrer na azulona e no chororão. Duas outras fêmeas de perdigão puseram, entre 20 de maio e 24 de setembro, 85 ovos e uma de tururirn, isolada em cativeiro, mais de 20 ovos em uma única estação c. R. Magalhães). Também cativa uma macuca, sempre privada do seus ovos, não parou de pôr de agosto a fevereiro, produzindo quase 60 ovos (Rio de Janeiro). Uma fêmea de xintã, em cativeiro com dois machos, realizou um total de cinco posturas de junho a setembro, sendo três delas (de seis ovos) para o ninho de um dos machos e as outras duas (de dois e cinco ovos) para' o ninho do outro. No Rio de Janeiro encontram-se ovos de xintã em quase todos os meses (Euler 1900). Pode acontecer que um macho de chororão, que ainda esteja cuidando dos filhotes, comece a incubar novamente.
a.
H
,
, e
[oiciore
Embora considerados remanescentes de aves "primitivas", os tinamídeos são produto coroado de muito sucesso na América do Sul, tendo se adaptado perfeitamente às condições ecológicas mais variadas. No Brasil há maior variação específica no âmbito florestal. No Rio de Janeiro existiam, ainda recentemente, p ellus soui, C. em certos lugares, quatro espécies: obsoletus, C. tus e C. i i antes ocorrendo também C. noctiu gus e n us solit ius. O tururim e o inhambuguaçu vivem no sub-bosque fechado quer de matas altas ou baixas enquanto que o macuco ocupa florestas altas e limpas, isto é, com pouca vegetação baixa. Na Amazônia há por vezes três espécies de e
159
ellus nas mesmas matas embomais espécies de ra cada uma possua suas próprias exigências ecológicas. As exigências específicas podem variar conforme a ellus nocti O jaó-verdadeiregião, v. p. ex. s, tão típico para as matas ribeiro, C t ellus rinhas, vive igualmente em matas secas longe de quaisquer mananciais. Também o macuco, a azulona e o zabelê não dependem da água para seu bem-estar. Nas secas devem ali passar meses sem nada beber, pois, dentro das matas há pouco orvalho. Como Paul Schwartz notou na Venezuela existe urna adaptação a certos micro-hábitats na floresta, possibilitando uma distribuição parapátrica em mosaico de espécies semelhantes como p. ex. C uptu ellus und ius e C. igulosus. Quando tinamídeos ocorrem sintopica. mente existe uma diferença de porte das espécies (situação semelhante à dos jacus, Cracidae); ocorre, p. ex., us gutt us junto com e . i , espécies maiores. Para espécies campestres, como tus e , a altura da vegetação é decisiva, o primeiro vivendo em vegetação mais alta, o segundo em vegetação mais baixa. Tinamídeos amazônicos alcançaram o Nordeste (p. tu lus s ulosus) e, acompanhando a floresta ex. s atlântica, chegaram ao Rio de Janeiro ( ieg s). Através do Brasil central o jaó (C pt llus undul , penetrou no sul do país (interior do Paraná). A florestal azulona, n us t o, nossa maior espécie, pode ser considerada "aloespécie" do macuco, in soli us, constituindo com ele uma "superespécie": são, portanto, descendentes do mesmo antecessor, que evoluíram devido à formação da Amazônia como região florestal independente; poderiam ser tratados até como raças geográficas de uma só espécie; no Nordeste há uma área remanescente que nos mostra a intergradação entre a azulona e o ma cuco, demonstrando a antiga conexão da floresta atlântica com a hiléia. evoluíram duas raças, Em C tu llus nocti uma de coloração escura, adaptada à sombria mata nocti gus higrófila do Brasil oriental (C t llus nocti e uma segunda pálida, adaptada às matas llus secas e claras da caatinga (o zabelê, C nocti . l pode-se.falar.nesse caso de raças ecológicas. Ainda neste gênero, com numerosas espécies florestais, observamos que o xintã representa um tipo ecológico de transição entre a mata e o campo (é encontrado na caatinga junto com as codornas); já o chororó apresenta-se ainda mais campestre, avançando do Brasil central e Nordeste às áreas campestres ao longo do rio Amazonas, começando também a povoar a Ilha de Marajó, Pará. Notamos que os representantes campestres meritus escens e spp.) não ultradionais ( passam o rio Amazonas, sendo substituídos alhures pelo uru-do-carnpo, Colinus ius, galináceo setentrional que, em contrapartida, também não passa da margem
160.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
norte do Amazonas para o sul. A distribuição das codornas na vasta região de cerrados e caatingas pode ser local; verificamos que codornas podem faltar inteiramente em áreas extensas, p. ex., em Mato Grosso ". Endemismos do Brasil central são a codorna-mineira, thu e o inhambu-carapé, niscus n nus. Distribuições disjuntas observam-se, P: ex., no us obsoletus, (que concomitaninhambuguaçu, temente mostra notável adaptação a climas tão diversos como aqueles de montanhas e de baixadas) e na o bo Esta última apresenta-se em duas populações, uma na caatinga e outra no Chaco, em caso paralelo ao o chilus s igil tus. do formicarídeo Achamos interessante que a lenda brasileira se interessou no profundo antagonismo ecológico de jaó e perdiz. Dizem que os dois viviam inseparáveis, ora no mato ora nos campos. Um dia brigaram e se separaram. O jaó foi ao fundo das florestas e a perdiz ficou nos campos. Tempos depois, o jaó, solitário e triste, saudoso da perdiz, veio até a orla da mata e lançou seu canto magoado: "Vamos fazer as pazes?" Mas a perdiz, ainda cheia de raiva, respondeu: "Eu, nunca mais".
Na região de Parati (Rio .de Janeiro), H. F. Berla enus solit us, uma sanguessucontrou no macuco, ga ainda não identifica da localizada por debaixo da pele da testa da ave, provocando ali uma intumescência de onde o parasito esticava-se alcançando o globo ocular, aparentemente para se alimentar, executando sobre o mesmo um movimento análogo ao de um limpa-vidros de automóvel. Este caso lembra o dos vermes nernatóides que se instalam sob a membrana nictitante . de mutuns, tucanos e outras aves (v.também C Há muitos registros de nematódeos, cestódeos e trematódeos que parasitam Tinamidae (Travassos et . 1969). Foi encontrado em codornas, ihu ii, mantidas em cativeiro no Colorado. EUA, um plasmódio da malária pedioceiti, conhecido de galináceos residentes naquela região (Stabler et q/. 1973). Em certos campos as codornas são grandemente infestadas por um carrapato de tatu que não lhes serve de alimento. A fauna de ácaros encontrada nos Tinamidae é muito rica e original; parece ter um pouco mais afinidade com os ácaros dos Galliformes que com os dos Ratita (Gaud et . 1972).
Ini gos Segundo L. 'R. Guimarães, conhecem-se mais de 240 espécies de malófagos ("piolhos das penas") em 45 espécies de Tinamidae. Em um único indivíduo de inhambu chegaram a ser encontradas nove espécies de piolhos. A maioria dos ectoparasitos encontrados nos Tinamidae lhes é exclusiva, sendo alguns deles restritos a certos gêneros ou espécies. Desta maneira, os levantamentos sobre a sistemática dos malófagos levaram a uma confirmação dos resultados anteriormente obtidos pelos ornitólogos na classificação destas aves. Sob este ângulo ressaltá-se o parentesco entre us so s e o e entre i e . j além disso cada uma das quatro espécies possui sua própria fauna de malófagos. Baseando-se em tais critérios, L. R. Guimarães divielíus em três grupos principais: diu o gênero C 1-
e/lus cine eus. llus soui, C. obsoleius, C. b i s, C. u ius, C. os s, C. i p , ressaltandose a semelhança entre os malófagos destes dois últimos. 3ellus undul ius, C. nocti us, C. st losus mais outras espécies do alto Amazonas. 2 -
pt
Os Tinamidae também são. parasitados por hipoboscídeos hematófagos. Encontramos, por exemplo, p podopost no jaó, C tu lus undul . (Mato Crosso), e O e si holopie em nchotus. 13 Foi descoberta uma população de ihu l Magalhães,representantes bem pequenos e escuros.
Predadores naturais são, por exemplo, gatos-domato, raposas, guaxinins, furões, iraras, gambás; não é raro encontrarem-se na floresta as penas de um inharnbu vitimado por alguns destes carnívoros. Soubemos com mateiros no Pará que os vários gatos-do-mato caçam de preferência os tinamídeos silvestres, sobretudo na época em que os gatos têm filhotes. Lenda sempre muito citada é aquela que conta que os felinos, especialmente a onça pintada, sabem imitar o piado do macuco para assim atraí-Io e abocanhá-lo: o que poderia acontecer, porém, é de um caçador ter piado como um tinamídeo atraindo assim um gato-do-mato (ou mesmo uma onça) que aproximar-se-ia supondo realmente encontrar uma presa. Isto demonstra que os felinos estão entre os inimigos mais constantes dos tinamídeos. Os ninhos podem ser saqueados, por cobras, macacos, gambás e até mesmo pelo tarnanduá-bandeira, que, na Ilha de Marajó, Pará, foi visto quebrando, com as otus, para sugar-lhe o unhas, os ovos da perdiz, conteúdo. No Cururu-açu, alto Tapajós, Pará, encontramos o ninho de um predado por uma jibóia, que estava enrolada ao redor do ninho. Achamos um ovo no esôfago da cobra e outro no seu estômago; restavam ainda quatro dos belíssimos ovos )'erdeazulados brilhantes, no ninho. Entre os gaviões que caçam tinamídeos na mata es. Um o oleucus apanhou uma cotão os dorna que acabou de levantar vôo no campo.
muito isolada na região do Roncador,bacia do Araguaia, por J. c. R.
I
-II
~l! í
---I
-
TiNAMIDAE
A azulona empoleirada e as outras espécies de us que empoleiram, com sua pele finíssima, devem ser vítimas prediletas dos vampiros (v.sob Cracidae).
,
suposto
Estão entre as mais importantes aves cinegéticas brasileiras, fornecendo à população rural parte das proteínas indispensáveis; foi calculado, por exemplo, que no Ceará uma família de sete elementos consome por ano cerca de 60 codornas, além de 200 pombas e rolinhas e vários mamíferos Moojen). Os Tinamidae são os troféus mais cobiçados por qualquer caçador, seja o ma cuco, a peça mais nobre da paciente caçada de pio na floresta, seja a perdiz ou codorna, levantados pelo perdigueiro nos campos, para o tiro . da caça em vôo. A primeira modalidade é herdeira da atividade venatória do indígena, dando origem Q. típica indústria artesanal de "pios" no Sudeste do país, indústria esta ligada a nomes como Antônio Procópio (São Paulo) e Maurilio Coelho (Espírito Santo). A técnica dos silvícolas pode também ser sentida em outros momentos da caçada do macuco e outras espécies florestais, através da utilização do "embaiá" (choça de folhagem que dissimula o caçador ante os olhos da presa arisca) que foi transmitida ao caboclo, e deste ao caçador desportista. Modo tradicional é a captura em armadilhas (arapuca, mundéus); já um novo perigo para os macucos são as caçadas noturnas facilitadas pelas modernas e possantes lâmpadas que não têm dificuldade em localizar a ave no poleiro. Antigamente os Tinamidae eram tão numerosos que chegaram a ser vendidos em feiras urbanas, inclusive no Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, o perdigão foi industrializado até o ano de 1935 por uma fábrica de conservas. O perdigão causa, às vezes prejuízo comendo raizes de mandioca e aipim, além de amendoim pronto para a colheita.Acodorna freqüentemente sai dos capinzais penetrando nos trigais, arrozais e outras lavouras de cereais.
a.
, declínio,
ç
o chororó, o xintã, as codornas e mesmo a perdiz se aproveitam do desmatamento e se infiltram até em áreas cultivadas. A introdução de grarníneas altamente sementíferas como o murubu (Panicum sp.) fornece farto alimento ao chororó (Distrito Federal). Consta que o xintã revela extraordinária resistência às modificações ambientais e que o tururim adapta-se bem a certasmatas secundárias (Rio de Janeiro, Pará); no caso a espécie tem a vantagem de exigir apenas territórios bem pequenos, p. ex., 20 x 50 m. No que tange à área territorial de cada casal de azulona, s o, maior dos nossos Tinamídeos, Magalhães (1972) indica aproximadamente 10ha.
161
A codorna, hu eu/ , deixa os campos incultos em demanda das plantações de milho e algodoais; os trigais do planalto médio e as Missões (Rio Grande do Sul) são-lhe também muito favoráveis, e ainda estende sua área ao Nordeste (Pernambuco). Contudo ressaltamos que os Tinamidae campestres estão ameaçados pelo emprego de inseticidas (p. ex., Aldrin), espalhados indiscriminadamente por toda a parte. As codornas comem formigas cortadeiras envenenadas por iscas granuladas e carrapatos mortos caídos do gado tratado (seria uma preocupação útil manter o gado estabulado até que os carrapatos caíssem). Além disso, as posturas das espécies campestres são prejudicadas pelas queimadas e trabalhos agrícolas entre agosto e novembro. Consta que nos trigais rio-grandenses-do-sul, os tratoristas enchiam sacolas de "perdizinhas" durante o trabalho noturno, executando-se assim um extermínio criminoso (A. Closs). Nas modernas rodovias do Nordeste e Sul, as codornas são atropeladas em quantidade em qualquer época do ano sem que haja o mínimo aproveitamento. Espécies florestais como o macuco, o chororão e o jaó do litoral (C tu lus n. noeti gus) estão ameaçados pela destruição ambiental; o representante mais duramente atingido é provavelmente o macuco-do-nordeste, solit ius oucensis. Medidas urgentes deveriam ser tomadas no sentido de preservar nossos Tinamiformes, aves das mais interessantes dentre as que possuímos.
o Os Tinamidae foram levados pelo homem de um local ao outro, inclusive para fora do país, devido ao seu grande valor cinegético (v. sob perdiz, nehotus seens). Fala-se da introdução da codorna nos arredores de Campos (Rio de Janeiro), no começo deste século; contudo, o princípe Maximiliano de Wied, já no começo do século passado, assinalava aquela espécie nesta região, tratada por ele como "Campo dos Goitacazes". Talvez a codorna realmente tenha sido ali introduzida apesar de já existir na região em número reduzido. É possível que h tus tenha sido introduzido na Ilha de Marajó (Pará); contudo sua ocorrência na foz do Amazonas encontra certo paralelo com a do chororó, C llus paruirosiris. Veja também item seguinte e povoamentos com Galliformes (Phasianidae).
Ci
i o,
entos
A reprodução de Tinamidae em cativeiro é relativamente fácil, embora até recentemente tenha sido considerada pouco promissora e apenas excepcionalmente posta em prática; não foi tentada pelos índios, não havendo portanto domesticação verdadeira, como de resto também não ocorreu com jacus, mutuns e urus. A criação
"j
1
162'
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
de chororós em Minas Gerais e perdizes no Rio Grande do Sul recentemente, tem dado bons resultados, que poderiam ser vantajosamente aplicados nos repovoamentos (sobre o potencial reprodutivo v. item específico). Em Minas Gerais foi criado o inambuxororó (C. em "baterias" como a codorna japonesa. Houve três a quatro posturas anuais. Constam que tinamídeos são resistentes a doenças que atacam a galinha doméstica (Nogueira Neto 1973). Em cativeiro ocorrem cruzamentos entre espécies, congêneres, p. ex., e C. (Jardim Zoológico de São Paulo), e N. (criadouros argentinos). e cruzam com facilidade, sendo o produto da hibridação fecundo, como é de se esperar, sendo eles parentes tão chegados. Os Cruzamentos com galinhas domésticas, embora freqüentemente citados, não foram comprovados. As galinhas "suras" são raças domésticas puras e não híbridos; da mesma maneira ovos esverdeados ou azuis denunciam a presença da galinha araucana do Chile, na ascendência, e não uma hibridação com o macuco. Deve-se ainda desfazer a confusão com relação às "codornas" criadas em "baterias" para o fornecimento de ovos e carne; tratam-se de Galliformes (Phasianidae) de origem japonesa e não Tinamiformes. (v.Phasianidae, Apêndice).
dos de espécies Existem dois grupos naturais que se podem elevar como subfamílias, distinguindo-se em traços da morfologia e da ecologia (florestais ou campestres, respectivamente): Subfamília Tinaminae: Gênero (14) Subfamília Nothurinae: Gênero Gênero (3), Gênero MACUCO,
(4), Gênero (1), (1) Am
Pr, 1, 1
48cm, 1.200g a 1.500g (macho), 1.300g a 1.800g (fêmea). O maior dos representantes meridionais. Inconfundível. Dorso pardo-azeitonado, ventre cinza-claro.' piado grave, monossilábico "fón"; tanto o macho como a fêmea podem piar mais grosso ou mais fino ou sustentar a nota por tempo variável; o macho costuma piar menos e parece não executar repetições. Ao instalarem-se no poleiro à tardinha (v. Introdução) piam três ou mais vezes em seguida "fó ó ó". No auge da reprodução ambos os sexos "chororocam": uma vocalização trêmula e prolongada, cheia e melodiosa. Ovos verde-turquesa. Apesar de gostar de mata limpa é encontradiço em áreas bem acidentadas como córregos e grotas de difícil acesso, p. ex., na Serra do
Mar. R~gião florestada do Brasil oriental, de Pernambuco ao Rio Grande do Sul (Aparados da Serra), Minas Gerais (alto rio Doce), sul de Goiás (fumas floresta das de afluentes da margem direita do rio Paranaíba: rios Meia Ponte e dos Bois) e sudeste de Mato Grosso (rio Paraná: rio Amapaí, chocando em outubro); Paraguai e Argentina. Aproxima-se de em Mato Grosso e Goiás. A sua existência hoje em qualquer mata do país é um bom sinal no sentido de que a área em questão é pouco caçada. Em muitos lugares tornou-se escasso ou extinguiuse. Ocorre ainda principalmente nas cercanias do litoral onde poderá sobreviver se seus derradeiros redutos forem respeitados e a caça praticada prudentemente, sendo suspensa tão logo se notem sinais de declínio populacional. Antigamente existia até mesmo nas matas do Corcovado na cidade do Rio de Janeiro. No Norsolit ius deste é representado pela "macuca" (En, Am), que constitui transição entre a pe t. do baixo Amazonas; o reforma típica e presentante nordestino acha-se bastante ameaçado pelo desmatamento, resistindo ainda em matas residuais de Alagoas, conforme verificámos em 1976 e 1979. AZULONA,
42,5-49cm, é ligeiramente maior (macho 1.300g 1.800g, fêmea 1.400g - 1.990g) que a anterior. Dorso ardósia-cinza-azulado, ventre cinza-chumbo claro. Voz e cor dos ovos muito parecidos com as do macuco. Na Amazônia brasileira confinado ao sul do baixo Amazonas até a margem direita do rio Madeira, penetra pelas matas de galeria que acompanham os cursos d'água na região do cerrado no Brasil central, até Tangará da Serra, Mato Grosso (Bacia do Prata, W. Bokermann) e até o rio Pindaíba e alto rio das Garças, leste de Mato Grosso; localmente em.tributários orientais doAraguaia, no oeste de Goiás (Jussara, 1960-61); norte de Tocantins (Gurupi) e leste do Pará (rio Capim). Também na Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e Guiana. "Inharnbuaçu",: "Inhambu-tona", "Inharnbu-peba" (Amazonas), "Inamu" (Kamaiurá, Mato Grosso), "Ubu" (Menaco, Mato Grosso). INHAMBU-DE-CABEÇA-VERMELHA,
41cm, de 950g a 1.150g. Espécie amazônica abundante e de vasta distribuição. De tamanho médio, possui cocuruto cor de ferrugem e dorso verde-azeitonado. piado grave, cheio, de'duas a dez notas monótonas, parte delas trêmulas, podendo consistir, e o é com freqüência, uma estrofe prolongada. Ovo arredondado, verdeazulado ou azul-esverdeado, como uma edição reduzida daquele da azulona. Habita a mata de terra firme e várzeas (Amazonas). Ocorre do México à Bolívia, norte de Mato Grosso (Teles Pires) e Pará (Cachimbo e Belém). "Inharnbu-grande", "Inhambu-serra", "Inhambu-toró",
TiNAMIDAE
"Inharnbu-galinha" (Amazonas), "Macuco-do-pantanal" .
"Inhambuaçu"?",
Pr. 1, 2
lNHAMBU-GALINHA,
34cm. Menor representante do gênero. Distinguível pela presença de pintas amarelo-claras nas coberteiras superiores das asas e cauda e pelas coberteiras inferiores da cauda castanhas. piado ainda mais grave que o do anterior; dissilábico, a primeira nota é longa, ascendente em sua parte final, enquanto que a segunda, emitida após intervalo marcante, tem a mesma altura da nota anterior sendo apenas mais curta. Ovo de azul a verde-turquesa. Habita a mata de terra firme, onde pode encontrar-se com o precedente. Distribuição amazônica: da Venezuela ao alto Amazonas; Bolívia, Mato Grosso (altos rios Tapajós e Xingu), leste do Pará (Belém) e .Maranhão. "Inhambu-serra", "Nambu", "Macuquinho",
INHAMBu-PRETO,
ellus
29cm. Representante amazônico de cor quase uniformemente cinza-anegrada; raques das penas dos lados da cabeça brancas. .Voz: assobio simples, agudo, elevando-se no fim, a cada um ou dois segundos. Ovo chocolate escuro. Habita as terras inundáveis com mata densa, capoeira e plantações adjacentes, abundante em matas de várzea no alto Amazonas; vive extremamente escondido. Ocorre das Guianas e Colômbia à Bolívia e Mato Grosso, para o sul, e ao Amapá, leste do Pará (Belém, Marajó) e Maranhão, a leste. "Inarnbu-pixuna" (Amazonas), "Narnbu-sujo" (Pará).
TURURIM, SURURINA,
soui
23cm. Pequeno tinamídeo florestal de vasta distribuição. Canela-pardacento imaculado, garganta branca, pernas esverdeadas. piado bem variável, sempre de timbre brando e trêmulo, soando corno "tu-ri-rim"; também seqüências mais prolongadas, ascendentes, e assobios descendentes. Ovo cor de chocolate. Vive à beira de mata fechada, capoeira densa, mata secade restinga etc. As vezes empoleira em trançados de cipó, em grupos de 3 a 5 indivíduos, no que lembra o uru. Ocorre do México à Bolívia e Brasil para o sul até o Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grosso. No Rio de Janeiro nas baixadas até a quota de aproximadamente 400 m (Serra dos Órgãos). "Sovi" (Amazonas, Pará).
.INHAMBU-GUAçU,
obsoletus
Pr. 1,3
29cm. É típico das matas densas das serras do Sudeste do Brasil (Itatiaia, Petrópolis etc.), também em certos lugares ao nível do mar como em florestas da Baixada Fluminense onde, porém, está bastante reduzido (Rio
163
de Janeiro: Magé, lugares pantanosos, 1969, A. Aguirre; ieg s, 1958, H. F. Berla; estrada Guapí, ao lado de C. Rio-Petrópolis, rio Iguaçu, 1948, H. F. Berla). Colorido muito peculiar: castanho-chocolate-escuro com o mento e garganta cinzentos, píleo cinzento-escuro; pernas esverdeadas. o fortíssimo assobiar de timbre de um silvo de guarda de trânsito: chamada simples vibrante ou estrofe composta, admiravelmente longa, começando pausadamente, depois acelerando à medida que ascende, terminando em um tremular mais grave; a fêmea emite pios mais fortes e séries de piados mais prolongados. Esquematicamente podemos dizer que o macho emite: (1) um pio único, fortíssimo (briga) e (2) seqüência ascendente relativamente curta, sendo os pios emitidos ligeiramente, sem pausas longas (canto). Já a fêmea emitiria: (1) seqüência ascendente extremamente prolongada, inicialmente com pausas acentuadas e acelerada no fim, tornando-se então fortíssima (canto); (2) seqüência ascendente curta de pios fortes e iguais (resposta ao macho); (3) seqüência irregular de pios suaves e fracos ("chororocado" para chamar o macho). Há diferença da voz (dialetos): timbre "trinado" (São Paulo) e timbre "arranhado" (Mato Grosso). Ovo chocolate. Habita a mata. Ocorre do sul da Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina; populações isoladas ao sul do Amazonas, por exemplo, no norte de Mato Grosso (rio Peixoto de Azevedo), no sul do Pará (rio Cristalino, entre a Serra do Cachimbo e rio Cururu) e no baixo Tapajós; também da Venezuela ao Equador e Bolívia. Na região andina pode estar confinado a certas zonas, por exemplo, entre 1.700m a 2.400m. "Inharnbu-açu". "Inharnbubico-preto" (Iguaçu, Paraná). Exames da fauna de malófagos sugerem a separação dos obsoletus do Brasil central (inclusive de C. obsoietus g ei ent do sul do Amazonas) das populações do alto Amazonas e da porção setentrional da América do Sul.
JAÓ,
ellus
undul ius
Pr. 1, 4
31cm. Espécie Comum no Brasil central e em grande parte da Amazônia. Distingue-se pelo desenho vermiculado das partes superiores e pescoço anterior, o qual varia conforme a região (há quatro raças geográficas reconhecidas no Brasil); pernas esverdeadas. piado melancólico de três a quatro sílabas de flexão interrogativa, portanto ascendente na parte terminal: "dó dó doó?" ("eu sou jaó?"); a estrofe curta trissilábica, "sou jaó" parece ser privilégio da fêmea. Ovo quase esférico, rosa-claro ou cinzento-claro. Habita a mata de várzea e galeria, capoeirão, matas secas e ralas, cerrado. Ocorre da Venezuela, Guiana Inglesa, Colômbia e Peru ao Paraguai, Argentina e Brasil: da região Norte (e partes adjacences do Nordeste) ao Centro-Oeste até São Paulo, Minas Gerais e Paraná. "Macucauá", "Sururina" (Amazonas, Pará).
r -~
,
164
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
CHOROROZINHO,
JA6-DO-SUL,
llus nocti gus
ZABELÊ,
En Am Pr.l,S 24cm. Representante amazônico pouco maior que o tururim. Assemelha-se a uma miniatura do chororão, tendo porém o bico mais curto (2cm ao invés de 3cm), os flancos menos manchados etc.; pernas esverdeadas. Habita a mata da várzea, às vezes (p. ex. no Acre) na mesma área que o chororão. Ocorre dos rios Negro e Madeira ao Amapá e Guiana Francesa. Inclui C. do sul do Solimões."lnhambucarijó*"
CHORORÃO,
28cm. Espé.cie média de vasta distribuição. Partes superiores grosseiramente barradas de preto e ferrugem, garganta branca, peito e pescoço destacados por uma cor canela intensa; pernas esverdeadas. estrofe melancólica de quatro a seis sílabas, todas elas geralmente tremulantes, a primeira descendente e isolada das subseqüentes, as quais são ascendentes; esta voz tremulada lembra a do tururim (o qual às vezes é seu vizinho), sendo porém bem mais forte. Ovo chocolate-claro. Habita a mata de diversos tipos. Ocorre das Guianas e Venezuela ao Peru, norte do Mato Grosso, leste do Pará (Belém) e Maranhão; também no Brasil oriental, do sudeste da Bahia ao Espírito Santo (norte do rio Doce, ao lado de C. nocti gus), Rio de Janeiro (Cuapí, ao lado de C. obsoletus e C. soui, 1958, 1969, H. F. Berla; Cachoeiras de Macacu, 1963, A. Aguirre) e Minas Gerais. No Brasil oriental mui"Inarnbu-onça", to reduzido, tal qual C. nocti us. "Inambu-relógio", "Inhambu-anhangá*", "Chorão".
INHAMBu-DE-PERNA-VERMELHA,
27cm. Representante da Amazônia setentrional, de pernas vermelho-claras. Partes superiores avermelhado-escuras (a fêmea podendo tê-Ia barrada de amarelo lembrando aquela do C. garganta branca, peito superior cinzento. pio claro "soiso-la"; um baixo "wup-wup" serve como chamada quando as aves, associadas em pequenos grupos esparsos, andam pela floresta. Ovo cinzento-avermelhado ou cor-de-rosa amarelado. Habita a mata seca decídua, ilhas de mata. Oc~rre das Guianas e Venezuela até a margem setentrional do baixo Amazonas: Amazonas (Manaus), Pará (Faro, Monte Alegre) e Amapá. A coloração das pernas e dos ovos não th us com C. confirmam a reunião de C. oc da Amazônia e C. nocti gus do sul, como foi proposto por alguns autores. "Macauã"".
35cm. Maior espécie do gênero. A forma do Brasil ellus n. nocti gus, En, Am), caracterioriental za-se pelos tarsos azeitona e pela plumagem de vivo colorido: papo cor de chumbo contrastando com a garganta amarelada e o peito vermelho-escuro; já a forma be/e), em adaptação ao amnordestina (C. noctiu us biente ensolarado da caatinga, apresenta-se mais pálida, destacando-se larga faixa superciliar esbranquiçada; tarsos amarelos. baixa, profunda, de três a quatro sílabas, a primeira acentuada, fortemente descendente e prolongada, as outras curtas, sem flexão, seguindo horizontalmente em um nível ainda mais b-aixo; a voz é .mais grave e cheia que a do C. undu s e se destaca pelo caráter descendente da estrofe; não há tremulado, ao contrário de C. eg us. A voz do zabelê, ouvida por nós em várias partes da Bahia, é muito parecida com a do representante meridional, pelo menos em sua macro-estrutura. Ovo azul-claro, desbotando em poucos dias para um cinza-claro. Do sul da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais (alto rio Doce), Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul; (C llus n. noct gus "jaó" Rio de Janeiro, "[uó" São Paulo, "[aó do litoral"). Do norte de Minas Gerais ele "zabelê" ao Piauí e Pernambuco (C. nociiu gus Bahia, "jaó" Piauí); no noroeste da Bahia penetra na mata úmida na beira de rios mas não o ouvimos nos mesmos locais em que ocorre C. und , que ali é menos freqüente. A forma típica, anteriormente comum no Sudeste, tornou-se escassa ou desapareceu por completo de certas regiões (p. ex. ex-Estado da Guanabara); a diminuição do [aó do litoral na mata Atlântica é pelo menos tão evidente como a do macuco. A forma nordestina ainda se mantém em número regular, sendo o representante que habitualmente se vê em cativeiro. Localmente (p. ex., no norte do Espírito Santo e sul da Bahia) sintópico com o chororão.
INHAMBu-DE-COROA-PRETA,
us 28-31cm: Espécie restrita ao sudoeste da Amazônia. Assinalada pela primeira vez no Brasil apenas em 1994 no oeste do Acre, região de Taumaturgo, através de documentação sonora (A. Whittaker). Anteriormente conhecida apenas do sudeste do Peru e norte da Bolívia.
INHAMBu-DE-PÉ-CINZA
*,
ellus duid e
[28,5-31cm. 'Confinada às florestas do noroeste da Amazônia, Colômbia e sul da Venezuela, embora ainda pouco conhecida. No Brasil apenas para a região da Cabeça do Cachorro, rio Papuri, afluente do Uaupés (Novaes 1978b).]
TINAMIDAE
Pr. 1, 6 28cm. Representante amazônico de porte mediano. Apresenta notável dimorfismo sexual, partes superiores avermelhadas uniformes no macho (v. prancha) ou dorso inferior e asas listradas de amarelo-claro (fêmea). Garganta c lados da cabeça ferrugíneos vivos, peito cinzento, centro do abdômen branco; tarsos cinzentos, o fácil de identificar pelo can. unhas esbranquiçadas. to, que se compõe de piado melodioso, prol~ng~do e ininterrupto começando com um crescendo e finalizando decrescentemente; o piado da fêmea é algo mais grave. Cantam quando o sol aquece as matas, concorrendo então com o estridular das cigarras. Sua vocalização lembra aquela do pinto da ema. Ovo quase esférico, de tonalidade lilás muito clara lavada de róseo, lembrando o de C. undu us, do qual difere por ser menor e mais arredondado. Habita a mata de terra firme, freus t Vive ao sul do qüentemente ao lado de i Amazonas, desde a foz (Belém, Pará) ao Peru e Bolívia para oeste; ao sul até Mato Grosso (alto Xingu). Também no nordeste do Brasil (Maranhão, Pernambuco e Alagoas). "Macucauá da mata" (Amazonas). V. Cnjpíu llus e j us.
lNHAMBU-USTRADO*,
Crupiurellus
iqui e
[25,5-27cm]Semelhante à anterior, mas de costas com faixas transversais negras e ferrugíneas. [Conhecida de poucos pontos na região fronteiriça da Colômbia, Venezuela e Brasil.]
INHAMBU-CHOROR6,
~
lNHAMBU-CHINTÃ,
INHAMBU-RELóGro,
ellus
s
Pr. 1, 9 21cm. O menor representante do gênero; espécie campestre de vasta distribuição no interior. Extrema. mente parecido com a espécie seguinte, tendo porém o bico menor (menos de 2cm); e o tarso mais curto (menos de 3cm); ambos têm colorido vermelho pálido.. .o seqüência prolongada de notas agudas e ásperas, as primeiras retardadas, depois acelerando, e ascendentes e em seguida decrescentes, terminando em dois ou três trinados baixos. Um chamado apagado dissilábico "prrr prrr" (fêmea). Pia mais nas horas quentes. Ovo chocolate violáceo-claro. Habita os campos sujos primários e secundários, cerrado, campos de cultivo (p. ex., milharais, algodoais) etc. Ocorre ao sul do Amazonas, do Pará (Santarém, Belém e Marajó) ao nordeste, leste (Minas Gerais, Espírito Santo), sul (São Paulo, Paraná ao Rio Grande do Sul) e Centro-Oeste do Brasil. Também no Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina. "Ch o ror (onomatopéico); "Inambuzinho". ó
"
165
24cm. Semelhante ao anterior sendo porém maior e tendo o bico vermelho vivo (com a ponta negra no macho). Difere do anterior também pelos tarsos arroxeados, píleo mais escuro (ardósia), pelo manto castanho-escuro e pelo desenho dos flancos ser mais contrastante. O macho costuma ser nitidamente menor que a fêmea. bem mais forte que a do chororó, atingindo um volume notável para ave de tal tamanho. Compõe-se de uma série, mais curta ou mais longa, de ásperas notas em escala decrescente "prrr prrr prrr prrrr" ou "prrr prrr prrr prrr prrr prrrrr", As vocalizações dos sexos podem ser nitidamente diversas: Macho (1) seqüência longa e descendente, pelo fim um pouco acelerada (canto); (2) apenas três pios bem destacados em escala descendente (briga). Fêmea - seqüência longa ou curta descendente, ambas terminando fortemente aceleradas. Quando assustado emite um tremulado. Ovo chocolate-claro rosáceo. Habita a mata secundária qualquer, capoeirões secos, caatinga, canaviais (portanto lugares de vegetação mais alta onde o chororó não penetra). Ocorre no Nordeste, leste (inclusive o ex-Estado da Guanabara), Sul (até o Rio Grande do Sul) e Centro-Oeste do Brasil; também no Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina. "Inambumirirn", "Bico-de-lacre". Designado às vezes como "chororó", o que cria confusão com a espécie anterior.
PERDIZ, PERDIGÃO,
nchotus
escens
Pr. I, 10 37,Scm. Maior Tinamidae campestre nacional; inconfundível. Bico forte utilizado para escavar raízes. piado alto e plangente de três frases sendo a primeira espaçada das outras três (mais unidas) das quais a última é mais baixa: "tchilí-dí-dídí", repetido a intervalos de 16 a 20 segundos quando o cantor está animado. Ovo vináceo ou chocolate-violáceo. São mais ativos nas horas quentes. Antigamente abundante em regiões campestres, cerrados e buritizais (gosta de hábitat úmido); também nos planaltos descampados (Itatiaia, Rio de Janeiro, com postura em novembro): Ocorre da-Argentina e Bolívia aos campos semeados na hiléia, ao sul do rio Amazonas (p. ex. entre a serra do Cachimbo e o rio Cururu no Pará). Registrado na Ilha de Marajó (Pará) em 1897 e 1918, parecendo aí subsistir em certos locais até nossos dias (observação pessoal, 1965); é pouco conhecido nesta região, achamos possível que tenha sido introduzida. É prejudicado pelas queimadas (agosto em diante) no período em que se reproduz (v. Introdução). , Em qualquer lugar onde ocorra é carne das mais procuradas, sofrendo lento extermínio pela ação dos caçadores, pelo envenenamento com inseticidas e outros males da civilização. Pode se aproveitar do aumento da área campestre do país. Na divisa Minas Gerais/Espírito San-
166
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
to imigrou desde 1968, após o desmatamento (A. Aguirre). [Está plenamenfe estabelecido no sul d.a Bahia e norte do Espírito Santo, vivendo nos pastos sUJos(J. F. Pacheco).] A denominação "perdiz" é a mais corrente para a espécie no Brasil, à exceção do Rio Grande do Sul onde tal termo é reservado para as codornas assumindo o nome de perdigão. No século passado. quando estavam em moda certas transplantações, o foi levado para vários países europeus e para os EUA, não obtendo tal empreendimento, contudo, resultados duradouros.
CODORNA-DO-NORDESTE,
25cm. Espécie relativamente grande, típica do Nordeste do Brasil. Distingue-se pelo nítido topete vertical negro, pelas partes inferiores brancas, pelos tarsos amarelos vivos e pelo vexilo interno das primárias negro uniforme (no que difere de finíssimo pio prolongado descendente terminalmente, emitido a intervalos de 4-5 segundos (canto); timbre semelhante à voz do formicarídeo o qual pode inclusive fazer-se ouvir nos mesmos locais ("voz da paisagem"). Baixo "bit, bit, bit. .."; emitido por indivíduos associados que se respondem mutuamente; levantando vôo produz um ruído forte, ressonante, "psuit-psuit-psuit...." bem típico. Ovo chocolate-claro, menos brilhante que o de N. maculosa. Em pequenos bandos. Caatinga, campo sujo, às vezes perto de N. , caso a e e até mesmo C. caatinga seja densa (Piauí); penetra na mata ribeirinha (noroeste da Bahia); ocorre do nordeste do Brasil a Minas Gerais (Pirapora); reaparece no Paraguai e Bolívia em formações correspondentes à caatinga. "Codornil" (Minas Gerais); "Codorna-baiana", "Codorna-de-cabeça-preta=",
CODORNA-MINEIRA,
BURAQUEIRA,
En Am 19,5cm. De ocorrência restrita ao Brasil central; no tamanho reduzido assemelha-se ao macho de N. diferindo pelos tarsos e pés mais delgados, bico menor, alto da cabeça e costas castanhas e primárias externas geralmente sem riscos no vexilo interno. Habita o cerrado; às vezes na mesma região que N. porém freqüenta campos mais sujos. Ocorre de Minas Gerais (Paracatu, Diamantina etc.) a São Paulo (Botucatu, Itararé etc.), Goiás e Mato Grosso (Campo Grande, Chapada). V também , o qual é ainda menor: "Codorna-buraquaira".
CODORNA-COMUM,
PERDIZINHO,
Pr. 1,8 23cm. Geralmente a espécie mais conhecida do gênero. Seu colorido altera-se freqüentemente conforme a cor da terra que impregna a plumagem; caracteriza-se por ter todas as primárias barradas de amarelo (tanto no vexilo interno como no externo) ao contrário das anteriores. O tamanho dos sexos pode variar consideravelmente. Os indivíduos pequenos não são maiores que os da espécie anterior. o canto compõe-se de uma seqüência horizontal de curtos pios finos que se aceleram, durando aproximadamente oito segundos e tendo como arremate alguns pios curtos que descem abruptamente: "ti, til ti... tirrr". Seqüência mais destacada, monótona (advertência, emitida tanto enquanto foge correndo ou voando); o timbre de sua voz se assemelha ao do grilo que é abundante nos mesmos campos (Rio Grande do Sul). Ovo chocolate-escuro' arroxeado. Habita os campos ralos e baixos, campos de cultivo.(soja, milho, trigo e arroz, neste último em terra firme). Ocorre da Argentina, Uruguai e Paraguai ao Brasil (Sul, leste, Norensis - e Centro-Oesdeste - raça pequena e clara, te), porém apenas muito localmente, faltando em muitos lugares onde existe (p. ex., no Paraná e Mato Grosso) O nome rio-grandense-do-sul "Perdiz" causa confusão (v. "Perdizinho" (Rio Grande do Sul), "Codorna-amarelat".
INHAMBU-CARAPÉ,
Am
Pr.
1, 7
13em. Menor dos tinarnidae, sendo seu porte infeo adulta (inclusive ihu rior ao de qualquer . Pouco conhecido. Pernas bem curtas, amarelas; seu aspecto geral é quase de uma pombinha. Costas anegradas finamente vermiculadas de branco, partes inferiores creme esbranquiçadas, peito e lados do corpo grosseiramente barrados de preto: rêmiges uniformemente anegradas, sem quaisquer faixas transversais. A voz tem o mesmo timbre da de "tzirrrrrr-ti-ti-ti..." o trino no começo dura dois a três segundos, depois 6 a 10 pios isolados, como A. Negret anotou em Brasília de 1980 em diante: houve inicialmente confusão com (Rallidae) que ocorre na mesma área. Habita o cerrado e campo sujo. Quase não voa, esconde-se em buracos. Às vezes sintópico com . Ocorre no Brasil central e meridional: Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal (1965, 1966 e 1967), interior de São Paulo e Paraná; também na Argentina. Em comparação à saracurinha g dizemos que não arrebita a cauda à feição daquela e tem o corpo mais volumoso. O nome "earapé" vem do g . tupi, significando anão. V. sob
TINAMIDAE
og
e
t
ib
Aguirre, A. 1959. Con ibui o estudo do uco Tinamus solitarius (Vieillot). Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura. Amadon, D. 1959. u . no. 1955 ( e . , sistemática) Ayres, J. M. & L. C. Marigo. 1995. b 3:70-72. (Cnjptll lllls und s, enchente na Amazônia)' Beebe, W 1925. l . 6:195-227 (Cnjptll lls us, hábitos) Blake, E. R. 1979. Order Tinamiformes. Pp. 12-47. In: Chec List b the VaI. l. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zool t . 69:169-92 (sistemática) Boetticher, H. V. 1934. en Sér.Misc. 1:79-85 Bohérques, G. & N. Carnevalli. 1985. Ihe ul dimorfismo sexual) s biologi do Bokermann, W. C. A. 1991. in us solit ius. Tese de Doutorado: USE' Brodkorb, E 1961. u 78:257. (fósseis) Bump, G. &J. W Bump. 1969. no. 120. ( u hábitos) . Conover, B. 1950. ield
U. S.
/d/
/. 31. no. 37.
,
l
, sistemática)
Davison, G. W H. 1976. Ibis 118:123-26. (padrões de cauda e coberteiras da cauda em faisões) Gaud, J.,W. T. Atyeo & H.F.Berla. 1972. Acaralogia 14:393453.(TInamidae, ácaros) Gonzaga, L. E, J. F. Pacheco, C. Bauer & G. D. A. Castiglioni. 1995. i d Cons Int . 5:289-90. (C ptu ellus obsoletus, montanhas do sul da Bahia)" p . ulo 2:15-37 (Mallophaga) Guimarães, L. R. 1942. Hanke, B. 1957. onn. /. . 8:1-4. (histologia do esôfago) Hardy,
J. W,
J. Vielliard
& R. Straneck.
o (vocalizações)" Krieg, H. & E. Schuhmancher. (Comparação dos hábitos e Phasianidae) Jimbo, S. 1957. p. uls. alimentação)' Lancaster, D. A. 1964.
1993. Gainesville:
the . ARA Records.
1936. . . no campo entre Tinamidae,
ool. S.
ulo 13:99-108. (
thu
21 1-18. Cracidae
u
ull. t.Hisl. 12 273-314. seens, biologia) onog de I es , Liebermann, J. 1936. de su do esti ión. Buenos Aires: ed. do autor. es os II Cong . s. oo/.,C 523. Lucca, E. J. 1985. (
167
tho oc
(Tinarnidae
ein
e Ratitae, parentesco)
Magalhães,
J. C. R. 1972.
Magalhães,
J. C. R. 1994.
o ulo 2:4-9. in hábitos) CEO, São Paulo 10:16-26. (hábitos)' . ool. 63:27-38. u l
Menegheti, J. O. 1983. Ihe e h nehotus coexistência) Menegheti,
u
ns,
Menegheti, variação
J. O. 1985a. I n curva de crescimento)
J. O.1985b.l
,
ise. 1:47-54. ise.1 55-69.
nchotus u
ul
anual de densidade)
Menegheti, J. O. 1985c. Ih in 1:71-8. u , ciclo anual reprodutivo) Menegheti, J. O. & T. H. A. Arigony. 1982. ist 9 4065. alimentação) . . 3. (hábitos) Olalla,A. M. C. Magalhães. 1956. Pacheco, S., N. Y. Silva, R. Ribon, J. E. Simon & R. T. Pinheiro. 1994. . o/. 54:435-41. (Tmamidae de 1i'ês Marias, MG, manejo do cerrado)' 3:55-56. us, alimentação)' Penha, J. M. F. 1995. Pinto, O. M. O. 1949. Ho 9:80-83. (Cnjptu ellus us, sistemática) Sander, M. 1982. Schaffer, E. 19~.
J.
, . 33:17-22. no 95:219-32 t t
nehotus, alimentação)' us bo biologia) Pp. 425-26. In: Encqciop i t n
Sick, H. 1974. Tinarniformes 15 Ed. Chicago: Helen Hemigway Benton, Publ. i (B. Sick, H. 1985. Tmamou Pp. 594-95. 1n: A Dietio Campbell & E. Lack, eds). Calton: T & A D Poyser e Vermillion: Buteo Books. Silva, F. & M. Sander. 1981. lhe ingi , , alimentação)
.
58:65-77.
Skutch, A. F. 1963. Condo 65:224-31. ellus soui, hábitos) 5 Stabler, R. M., N. J. Kitzmiller & C. E. Braun. 1973.]. (plasmódio) Straube, F. C. 1991. 2:93-94. (C lus nociiu Paraná)' Teixeira, D. M. & A. Negret. 1984. u 101:188-89. t iscus Teixeira, D. M. &J. B. Nacinovic. 1990. 1:13-14. plumagem natal)'
h
5.
nus)
H. O. 1949. Pp. 240-46 1n: thologie is biologische 28 eit is u 60. Gebu ts g E t nn (E. Mayr & E. Schüz, eds.). Heidelberg: Carl Winter. (anatomia)
Wagner,
i
Ent. oe.
Ward, R. A. 1957.
50:335-53. (Mallophaga)
Whitney, B. M. 1995. (Resenha de) Voices of the Tmamous. J. W Hardy, J. Vielliard &R. Straneck, 1993. o cousiics 9-51.* Willis, E. O. 1983. de correição)'
.
.
43:19-22. (seguidores
de formigas
'li I
-ORDEM RHEIFORMES
EMAS:
FAMíLIA
RHEIDAE
(1)
Aves pernaltas de grande porte, não voadoras", pertencentes ao grupo das ratitas, que estão representadas na África pelo avestruz a maior ave viva, ultrapassando os 100 kg de peso), na Austrália pelo casuar e emu e na Nova Zelândia pelo quivi Restritas a América do Sul, possuem ancestrais registra dos neste continente desde o Paleoceno Superior (55 milhões de anos) do Brasil, além de outros fósseis do Terciário e do Pleistoceno. Figuram portanto entre as aves mais antigas deste continente; do Cretáceo Superior (80 milhões de anos) da Patagônia, parece estar ligado também aos ancestrais das emas. Veja o capítulo sobre aves fósseis. A hipótese monofilética da origem das ratitas, modernarnente novamente contestado, foi sugerida tanto por dados morfológicos e bioquímicos como pelo comportamento e achados parasitológicos. Sua distribuição atual, extremamente disjunta, indica conexões antigas entre os continentes meridionais. Presume-se que tanto os antecessores dos pingüins como os dos Galliformes, Suboscines e ratitas, tenham se originado no continente de Gondwana, e portanto antes da separação entre América do Sul e África, que se supõe ter começado no Cretáceo, há ca. 80 milhões de anos. Estudos osteológicos, a ultraestrutura das penas e da casca dos ovos, os cromossomos e análises bioquímicas revelam que os nandus são estreitamente aparentados aos tínamídeos, outro grupo antiquíssimo de aves na América do Sul. Baseando-se na estrutura do crânio, Rheidae e Tinamidae são reunidos como Paleognathae, ao contrário de todas as outras aves que são os Neognathae (pálato bipartido). As ratitas são altamente especializadas na vida terrícola, sobre a redução dos dedos do pé v. abaixo. Existem duas espécies atuais de nandu: a nossa ema e um representante mais meridional, andino, , que não alcança o Brasil.
As ratitas se distinguem das carinatas pela falta da (carena) na qual se fixa a musculatura de vôo das carinatas. Esse particular, que se nota já no embrião das ratitas, evidencia a impossibilidade de voar. dessas aves. Por outro lado a existência de penas e sua microestrutura provam que os ancestrais das ratitas eram voadoras; não são conhecidas aves primariamente não voadoras.
EMA,
Fig.42
Altura 134-170cm, conforme a postura adotada. É a maior é mais pesada ave brasileira, o macho atinge 34,4 kg e a fêmea 32kg. As macias e cinzentas penas das asas (incluindo as "plumas", que nas outras aves correspondem às rêmiges) se dirigem obliquamente de cima para baixo formando um manto que se eleva em uma corcova dorsal e que envolve todo o corpo exceto o traseiro, que é branco e coberto por curtas penas piliformes. Falta inteiramente a cauda e o pigostilo, no que difere do avestruz africano (no qual tanto as retrizes como as rêmiges são transformadas em plumas). As emas estão entre .as poucas aves que não possuem glând ula uropigiana. A cloaca é marcada por uma mancha escura visível de longe. Há separação de fezes e urina, ao contrário das outras aves. Os machos adultos possuem um grande pênis, que é posto para fora da cloaca com certa freqüência. Cabeça e pescoço emplumados de cinzapardacento, sendo que o macho distingue-se por ter a base do pescoço, peito anterior e parte mediana do dorso anterior negros ("papo-preto", Rio Grande do Sul). A base do pescoço é encoberta por um tufo de penas laterais cinzentas, de modo que o preto do dorso aparece apenas quando a ave se inclina para frente. Além de ser mais robusto, o macho adulto tem a cabeça mais perfilada e seu pescoço e suas pernas são mais grossas.
14 A perda de vôo ocorre,durante as épocas geológicas,mais depressa do que se pensa. Certas aves hojenão voadoras do Hawaí, como p. ex. um íbis, que podia alcançar essas ilhas apenas voando, atravessando 2000 milhas de mar aberto, desistiram, como residentes das ilhas, completamente de voar. A resposta do organismo foi:eliminar a musculatura de vôo e a carena. Uma vez que se sabe quando as ilhas emergiram do mar, existe uma base para calcular o tempo necessáriopara essas aves perderem a faculdade de voar: menos que seis milhões de anos (Olson 1983).
RHEIDAE
A população do Nordeste (Maranhão, Pernambuco) de bico maior .
Fig. 42. Ema,
macho adulto
No tempo da reprodução (julho a setembro, Mato Grosso), o macho emite um urro forte, ventríloquo, bissilábico: "bu-úp" ("nan-dú"), lembrando o bramido de um grande mamífero como um boi; prepara-se para urrar enchendo o peito com bastante ar emitindo depois o urro de bico fechado; urra até mesmo de noite (novembro, Rio Grande do Sul). O alcance do urro da ema é de um quilômetro é provavelmente bem mais quando não há vento contrário. Por outro lado acontece que não se consegue descobrir uma ema urrando próximo se a caatinga ou o cerrado são fechados. Alarme: grasnido rouco. Os filhotes extraviados emitem assobios melodiosos, lembrando o canto do inambu-relógio, que o pai responde com leve estalo de bico. Comem folhas, inclusive as espinhosas e ardidas, frutinhas, sementes, insetos, sobretudo gafanhotos. Caça pacientemente moscas em qualquer lugar, procurando-as perto de carne em putrefação. Apanha qualquer pequeno animal ao seu alcance, tais como lagartixas, rãs e cobras, mas não é propriamente ofiófago; até agora nada encontramos que comprovasse a afirmação corrente de que a ema come cobras venenosas. Neiva & Pena (1916) que tiveram o ensejo de examinar o tubo digestivo de várias destas aves, jamais encontraram cobras. Procuram queimadas, onde acham coquinhos caídos e animais moribundos, ingerem pedrinhas, ou qualquer coisa que lhes auxilie a trituração do alimento. O dito
169
popular "tem estômago de avestruz" é extensível à ema. Pastám devagar e andam ininterruptamente, razão pela qual se afastam quase que imperceptivelmente sumindo nos campos onde, apesar de seu tamanho e de ser o capim baixo, pouco se destacam. Tornam-se excelentes dispersores de plantas. De sementes marcadas colhidas depois nas fezes dessas aves 66% originaram novas mudas com até 100 metros de distância do ponto original. Sementes colocadas diretamente para germinar geraram apenas 25% de novas mudas no mesmo período (Magnani & Paschoal 1990). h , Aves terrícolas por excelência. A ema possui "ainda" três dedos, enquanto o avestruz africano os reduziu a dois, sendo isto o máxi. mo de adaptação do pé de uma ave que vive constantemente no solo. Perseguida pelo homem, a ema foge a grande velocidade, dando passos de um metro e meio. Corre executando ziguezagues, os quais são controlados pelas asas que são abaixadas e levantadas alternadamente, demonstrando assim a grande utilidade de uma asa longe. para uma ave sem capacidade de vôo. Correndo à frente de um automóvel uma ema alcançou mais de sessenta quilômetros por hora. A ema corre mais rápido do que um cachorro mas é menos resistente. Andando tranqüilamente movimenta as asas ritmicamente. Esconde-se deitando no solo (p. ex. atrás de uma moita) sumindo total e inesperadamente, o que talvez tenha dado origem à lenda que a ema (e o avestruz) enfia a cabeça na areia para fugir ao perigo (daí o termo "política de avestruz"); os tinamídeos têm comportamento semelhante. Com vento forte a ema costuma também deitar. Descansam sentados sobre os tarsos, às vezes entram em decúbito ventral com as pernas esticadas para trás. Dormem com o pescoço esticado horizontalmente no chão ou dobrado para as costas. Durante o auge do calor ofegam de bico meio aberto refrescando-se. Gostam de tomar banho, metem-se nos brejos e atravessam rios a nado. São dotadas de vista aguda e, graças aos olhos salientes, conseguem ver para todos os lados. Vivem em bandos, procuram a companhia de ovelhas, vacas e veados campeiros. O macho adulto expulsa os rivais e reúrié Um grupo de três a seis fêmeas, que permanecem juntas enquanto que ele costuma andar só. Aparentemente as fêmeas têm relações com mais de um macho e parece existir mais fêmeas (Mato Grosso). Reina franca poligamia, tanto poliginia como poliandria (v. Tinamidae). Os machos lutam a bicadas entrelaçando os pescoços e girando engalfinhados. Fazem corte às fêmeas esticando as asas horizontalmente (posição típica do macho); correm fazendo roda, abrindo e agitando as asas, executando, então, exibição arrebatadora que chega a confundir o espectador pela exuberância das "plumas" macias eriçadas que a mais leve brisa faz tremular. No auge desta dança as asas parecem desenvolver vida própria, e uma ema adquire, de súbito, a aparência de duas
I
170.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
ou três, e não sabemos mais qual é a sua parte dianteira e qual é a traseira. Levantam a parte posterior do corpo, cerimônia que serve também para a intimidação de rivais e lembra a respectiva atitude dos tinamídeos. O macho prepara uma depressão no solo como ninho, aproveitando-se, p. ex., de uma concavidade escavada por um touro. Com o bico corta o capim ou qualquer folhagem ao redor do ninho pisando a vegetação e puxando o material obtido para a escavação, o que resulta em uma área perfeitamente limpa de dois a três metros de raio. Essa providência serve em primeiro lugar para acolchoar o ninho e pode ter um valor ainda mais vital ao impedir a aproximação oculta de inimigos e evitar que o fogo das queimadas atinja os ovos. Somente o macho incuba, e o número de ovos de cada ninho depende do número de fêmeas presentes e do número de machos aos quais as fêmeas podem confiar . seus ovos. Pode-se considerar completa uma postura de 20 a 30 ovos. Em cativeiro se notou que posturas de 12 a 18 ovos apresentam o melhor índice de nascimentos (Paschoal & Magnani 1990). Consta que antigamente, quando a população de emas era muito mais densa; 60 ou mais ovos acumulavam-se em um só ninho, o que tornava impossível a incubação. Uma fêmea é capaz de pôr de 10 a 18 ovos em um só período, com intervalos de dois dias: os últimos ovos que cada fêmea põe não são férteis (aproximadamente 30% do total). Muitos ovos (os chamados "guaxos" ou "órfãos", Rio Grande do Sul) espalham-se e apodrecem no solo ao redor, embora o macho tenha forte instinto de arrastar para o ninho não só ovos distantes de até vários metros, mas também qualquer objeto que a eles se assemelhe. Durante a incubação ingere tanto os ovos que se quebram como as moscas que são atraídas pelos "guaxos". O peso dos ovos varia muito; a média pode ser, p.ex., de 605g (Mato Grosso), o que corresponde a cerca de uma dúzia de ovos de galinha. Há ovos de diversos tamanhos dentro de um mesmo ninho, tanto mais por ser o total da postura proveniente de várias fêmeas. Os ovos são elípticos (geralmente não esféricos como os do avestruz africano), brilhantes e dourados, tornando-se brancos após cinco ou seis dias de exposição ao sol: É interessante observar que a outra espécie de ema (v. Introdução), o casuar e o emu da Austrália, põe ovos verdes (os ovos do emu tornam-se quase pretos dentro de pouco tempo), cuja cor lembra aquela dos ovos do macuco O macho que choca altera freqüentemente sua posição, girando uma volta completa (360°) a cada vinte e quatro horas. Cada vez que se ajeita no choco, puxa dois ou três ovos da beira para dentro da concavidade, deste modo garantindo que, p.ex., uma postura de vinte ovos seja chocada regularmente. A incubação começa cinco ou oito dias após as fêmeas terem iniciado a postura (o que implica períodos de incubação com até doze dias de diferença) e pode durar de vinte e sete a quarenta e
um dias. Os filhotes nascem todos no mesmo dia, com apenas algumas horas de diferença. Talvez a forte vocalização emitida pelos embriões prontos para sair de dentro dos ovos tenha um efeito mutuamente estimulante, levando a essa sincronização. Após 24 horas o filhote já se mantém firme nos próprios pés. O macho no choco defende o ninho com o pescoço esticado horizontalmente e serpenteando no chão, sibilando como uma cobra, em atitude extremamente atemorizadora. Adverte os assaltantes pequenos bicandoos e defende-se dos maiores a pontapés. O animal mais pernicioso para a postura da ema é o grande lagarto teiú sp.) que espera pela saída do macho para então empurrar, por todos os lados, os ovos para fora da escavação, o que pode acarretar o abandono do ninho. Entre os predadores dos ovos estão os tatus. O cheiro ativo exalado pelos ovos em eclosão atrai grande número de moscas, que os recém-nascidos caçam em torno de si a após cinco ou seis horas de vida; além disso comem avidamente as fezes do pai, pretas nesse período. O pai zela pelos filhotes, que se alimentam sozinhos formando bando bem unido; cuida também de filhotes órfãos ou desgarrados, razão pela qual os componentes de uma mesma "creche" são, às vezes, de diversas idades. Em caso de perigo os pequenos agacham-se, de pescoço esticado rente ao solo, ou procuram abrigo sob as asas paternas. Para amedrontar um inimigo que desponta à distância, o macho ergue-se em toda a sua altura exibindo o negro em torno da base do pescoço. Com seis meses de idade os filhotes são fortes e têm praticamente o tamanho das fêmeas adultas; tornam-se maduros
com dois ou três anos de idade. Fora
da época 'de reprodução, as emas formam progressivamente grandes bandos mistos de adultos e filhotes. , utili , desenhos stóRegiões campestres e cerrados desde que haja água. Sul do Pará (campos dos Mundurucu), Nordeste, incluindo Maranhão e campos gerais do vale do São Francisco, Sul e Centro-Oeste; Paraguai, Bolívia, Argentina e Uruguai. "Avestruz" (Rio Grande do Sul. usado mais para o macho, a fêmea é a "ema"), "Nhandu" (Tupi, Mato Grosso), "Congo".(somente o macho, Bahia). No Ceará e Rio Grande do Norte, onde a ema está extinta hoje, a ema perambulou em bandos de 20 a 30 no começo do século. Foi designada ave símbolo do Rio Grande do Norte. Ocorre ainda no Piauí de onde é levada, ainda em 1987, para o Ceará para "limpar as fazendas de cobras peçonhentas" (R. Otoch). As cercas, além de impedir as emas de perambular em liberdade, freqüentemente prendem-nas entre' seus fios. Caçadas "recreativas" ou destinadas a 'suprir o comércio de espanadores (sobre o valor das plumas da ema consta que não chega a atingir um décimo do valor das plumas de avestruz) eliminaram ou dizimaram drasticamente os bandos da maioria das regiões onde abundavam. Durante séculos as plumas foram exportadas, sendo Cuiabá (Mato Grosso) um dos centros
RHEIDAE
de comércio. Tal atividade continua clandestinamente até hoje naquele Estado, sendo que o produto obtido é mandado, via Paraguai, para fora do continente. As chamadas "Fábricas de Espanadores" não passavam de um trabalho feito artesanalmente. Consta que no Ceará não havia mercado consumidor para as penas da erna, no começo do século (Malveira 1986). No Rio Grande do Sul, os gaúchos tinham o costume de arrebanharem emas em currais cercando-as com redes baleando-as de cima dos seus cavalos; as aves eram soltas após terem suas plumas arrancadas, sendo tal processo tão brutal que causava profundos ferimentos na maioria delas. Para os indígenas, a erna representava tanto uma fonte de plumas aproveitadas na confecção de ornatos, corno uma peça de caça, p. ex., para os índios Canela (Maranhão) e Parecis (Mato Grosso). Estes últimos caçavam-na, e também à seriema e ao perdigão; dissimulados pelo "zaiacuti", escudo constituído por um arcabouço de varas revestidas com folhas de indaiá. Na vastidão do interior, a ema foi, ou ainda é, muito aproveitada pelas populações rurais; seus ovos entram em receitas de várias iguarias; sua gordura é aplicada contra picadas de cobras, suas unhas utilizadas como cabos de faca etc. Da carne são aproveitadas as "coxas"; o restante é considerado muito duro. A ema limpa os pastos de uma infinidade de insetos e plantas daninhas o que lhe valeu a proteção de fazendeiros mais esclarecidos. A ema figura com destaque no folclore brasileiro, usando-se suas plumas no bailado popular "boi suribim" ou "bumba-meu-boi" do Nordeste e a mesma é motivo para uma série de quadrinhas populares. Destacamos ainda que os índios da nação Bororo (Mato Grosso), vêem no Cruzeiro do Sul o símbolo do nhandu. Entretanto, de algum tempo para cá, as emas têm sido até consideradas nocivas. Nas regiões onde se cultiva a
(
ti
g
euue
se
. 65:609-772.
o Cong .,
Britto, P. M. 1949. hábitos)
c.
de
D. F. 1975.
Zool. 89. (criação,
13:251-94. (hábitos)
e
2. (êxito
J. 1974. Ibis 116:494-521. (filogenia)
Cracraft,
DíOliveira-Araújo,
oolog
do
(
ic
)
nejo e
Fundação R. G. & C. Cesino. 1995. , o ss 96. (extinção
Faust, R. 1962.
dto
. (criação) 26:163-75. (criação)
W. H. 1927. Ho e
4:52-59. (hábitos)
de
X no
Norte)' Faust, R. 1960. Hudson,
(Ratitae,
39-54. (Ratitae, estudo
Codenotti, T. L. 1991. s osl reprodutivo em Butiá, RS) Dani, 5.1993. Belo Horizonte:
soja, a alfafa, a batata e o feijão (p. ex. Rio Grande do Sul), são acusadas de pisotearem a lavoura e arrancarem as plantas pequenas (hábito que efetivamente possuem), sendo por isso impiedosamente dizimadas, o que consiste na dilapidação de um recurso natural importante, pois é facílimo criar emas em fazendas como se faz com o avestruz africano há mais de cem anos e com ótimos resultados na exploração regular de penas. Em tal mister poderiam ser utilizadas fazendas de criação de bovinos e de eqüinos (Rio Grande do Sul). O Jardim Zoológico de Sapucaia do Sul, RS cria emas em boa quantidade e as vende. Consta que já se pode realizar a primeira extração de penas em indivíduos de dez meses de idade e repeti-Ia, depois, uma vez por ano. É necessário cortar e não arrancar as penas, pois estas oferecem bastante resistência. Criam-se emas nos EUA com toda facilidade (Wright 1977). Apesar de tão grandes potencialidades, em um mundo onde tudo se traduz imediatamente em lucro, a ema é uma espécie que marcha a passos largos para a extinção se não for criada sistematicamente. Há contaminação por agrotóxicos usados em grande quantidade em lavouras de soja e feijão p. ex. em Serranópolis, Goiás, em 1990: morreram 20 emas ao comer sementes tratadas com o veneno. A ema é freqüente em desenhos rupestres préhistóricos do Nordeste, p. ex. no Rio Grande do Norte (micro-região do Seridó). No Piauí pinturas de emas na Serra da Capivara, aparecem durante vários séculos, de 12.000 até 9000;8000 a.c. (N. Cuidou). As figuras mais antigas são pequenas, aquelas das épocas finais enormes. Existem também desenhos de rastros da ema. Na Argentina, com muito material de tais desenhos, vários mais antigos, pode-se reconhecer um "impressionismo" que depois passa a um "expressioriismo" - bem comparável à pintura clássica da Europa.
l)
Blotzheim, U. G. 1958. filogenia) Bock, W. J. 1963. Int. cranial, filogenia)
Brunning,
171
Grande
do
[ehl, J. R. 1971. n Diego oco . Hist. Tinarnídae, filhotes) Magnani, F. S. & F. R. Paschoal. 1990. es 173. (dispersão de sementes) Malveira, A. N. 1986. O elho se o autor.
s. 16:291-302. (Rheidae e s
II Cong . de Janeiro:
ool., Ed. do
Pp. 7-9. In: C - ist Mayr, E; 1979. Order Struthioniformes. o the o Vol, 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museurn of Compara tive Zoolog Olalla,A. M. &A. C. Magalhães. 1956. . ool. 1. (hábitos) Parkes, K. C. & G. A. Clark, Jr. 1966. Cond 68:459-71. (parentesco) II Cong l., Paschoal, F. R. & F. S. Magnani. 1990. s os 173. (manejo de ovos) o Sibley, C. G. & J. E. Ahlquist. 1981. Int. Cong. ic d E olution Biol.: 301-34. (Ratitae, filogenia) Sick, H. 1985. Rhea Pp. 509-10. In: Oictio s (B. Campbell & E. Lack, eds). Calton: T &A O Poyser e Vermillion: Buteo Books. . 18:127-31. (hábitos) Steinbacher, G. 1951. ool. ette 26:8-10. (conservação) Wright, M. B. 1977.
ORDEM PODICIPEDIFORMES
FAMÍLIA PODICIPEDIDAE
MERGULHÕE5:
(4)
Grupo de vasta distribuição; fósseis do Mi~ce~o Inferior da Europa e da América do Norte (20 ml~~oes .de anos).As afinidades destas aves com outras famílias amda não foram esclarecidas. No Brasil apenas modestamente representados, freqüentando rios e lagos. y~r também carqueja , Rallidae), picaparra (He~lO marrecas (Anatidae) e biguá ). Nao eXIStem galgueiros (Gaviidae) na América do Sul.
s
~~~Im~mm~~~~-~ Ht
Sp
, Pernas implantadas bem atrás no corpo, facilitando, durante mergulhos; a natação, a qual é impulsionada exclusivamente por intermédio dos pés, que operam como a cauda de um peixe; não se utilizam jamais das asas para tal azáfama, mantendo-as ocultas sob a densa plumagem dos flancos. Dedos sem nadadeiras, porém marginados de lóbulos servindo de remos. Apenas excepcionalmente saem da água, ficando então bem eretos, pousados nas margens; praticamente não andam. Diferenciam-se facilmente dos patos pelo bico pontiagudo e deprimidolateralmente. Voam bem, porém decolam da água com alguma dificuldade; durante a muda perdem por completo a capacidade de voar (muda .simultânea das rêmiges, v. marrecas). Neste grupo, os prmcipais caracteres, que nos permitem uma diagnose específica, estão localizados na cabeça; sexos parecidos; no inverno assumem uma plumagem de modesta coloração (plumagem de repouso). A disposição das penas do ventre formam um colchão de ar, bastante funcional (fig. 43); situação típica muito semelhante à de outras . aves aquáticas, sendo exceção o biguá-tinga, As aves aquáticas têm o maior número de penas; foram contadas 15.016 penas de contorno num podiceps num sabiá-de-carnpo, , registraram-se 3.297 penas enquanto numa águia 7.182 penas (Brodkorb 1951). O macho pode ser um pouco maior podiceps).
,
,
A vocalização
abrange tanto altos trinados que lembra certas saracuras), quanto gritos baixos podiceps, do timbre do carão,
Fig. 43 .Plumagem ventral do mergulhão odiceps stutus, formando alta almofada pneumática que isola o corpo contra o frio e a umidade. Pele (Ht); raque de pena de contorno (5), integrando a superfície sólida, impermeável da plumagem (Ock);penugem (As, Dn, Pd) (seg.H. Sick 1937).
As espécies brasileiras alimentam-se de peixinhos, larvas ou imagos de insetos aquáticos (p. ex., da barata d'água sp. e lavandeiras Aeschnidae), crustáceos e vegetais. Vimos um devorar uma cobra d'água de 40cm de comprimento. A forma do bico, bem distinta nos vários gêneros, já indica que a alimentação das espécies em questão deve ser diferente; ceps por exemplo, tem o seu em forma de punhal, como o do biguatinga. Apanham o alimento geralmente sob a água, mergulhando com afinco. A duração das submersões depende dos vários fatores ecológicos, por exemplo, da profundidade da massa d'água. Foi verificado que o ptus submerge de 8,7 a 14,7 segundos; já em relação ào o us podiceps, foram anotados na Colômbia mergulhos de até 34, 37 e 43 segundos. A primeira espécie pode deslocar-se 3m, 5m e até 8m submerso, tanto para pescar como para fugir. Há muitas particularidades na técnica piscatória dos i nadar rapida,me~~e mergulhões; vimos um na superfície de um rio o qual, de tão ralo, não permitia que a ave submergisse. Esta, então, mantinha apenas pescoço, cabeça e pés sob a água tocando corn-o bico, a curtos intervalos, o fundo lodacento; quando um peixe escondido saiu, foi perseguido a toda velocidade pela ocaave, sempre com o corpo à flor d'água. odi sionalmente aproveita-se de garças para espantar os pei-
PODICIPEDIDAE
xes, à semelhança de anus que acompanham o gado; seu bico grosso parece ser uma adaptação para quebrar crustáceos. Consta que o bico impressionante de não é usado como punhal, ao contrário do g Os mergulhões engolem penas em biguatinga, quantidade, sendo as mesmas acumuladas no piloro e estômago; ingerem tanto as próprias penas do corpo, que por exemplo perdem durante a arrumação da plumagem, como engolem aquelas de outras aves (p. ex., garças) que porventura encontrem. A utilidade, ou talvez mesmo necessidade, de tais ingestões é ainda discutida. Fala-se tanto da proteção dos intestinos contra espinhas como de uma função filtradora da massa formada na retenção da qui tina. A ingestão de penas parece ser vital pois os pais já as administram aos filhotes. Expelem pelo tas. s mostra às vezes uma técnica singular 'de submergir; no local onde está, afunda verticalmente como uma pedra, sem fazer os costumeiros movimentos de mergulhar, que consistem em agitar as pernas projetando a cabeça para frente. Supomos que o mergulhão "espreme" o ar que conserva, em apreciável volume, no espesso colchão de penas do corpo, afundando. Este tipo de mergulho está ligado à fuga e não à pesc.a. Certas espécies, como o bus podiceps, dedicamse, com freqüência, a banhos de sol: boiando calmamente n'água e eriçando a plumagem da parte traseira do corpo; deste modo, a pele, que aí é negra, fica exposta à absorção dos raios solares para aquecimento (Storer et . 1975).
Têm cerimônias pré-nupciaís específicas. Fazem um volumoso ninho flutuante, do qual apenas uma parte emerge, sendo todo material molhado. Põem 4 a 6 ovos, Podilvmbus, (Minas Gerais) pequenos, alongados, brancos com uma crosta calcária, tornando-se manchados (ou totalmente pardos) pelo contato com detritos vegetais úmidos, ainda mais que são recobertos pela ave quando esta deixa o ninho. O período de incubação é de 22 a 24 dias em o s e 21 dias em s do inicus. Mostram-se brigúentos quando criam. Os filhotes, no início negros, de cabeça e pescoço riscados de preto e branco, trepam sobre o dorso materno que os leva' nadando,.ou abriga-os sob as asas. Consta que quebra peixes batendo-os na superfície da água para facilitar a alimentação dos filhotes pequenos, embora estes sejam capazes de deglutir bocados bem grandes.
no e no Nordeste provavelmente. elTl_cons.eqüência do regime variável de águas. Entre seus inimigos estão os grandes peixes carnívoros (como o pirarucu) na Amazônia. São parasitados por sanguessugas que se afixam nos seus pés. A poluição dos lagos e rios acaba por eliminar os mergulhões.
MERGULHÃO-PEQUENO,
es,
gos,
igos
Fora da época reprodutiva são migratórios; seu número aumenta no sul do país sob a influência do inver-
c
ptus
cus
Figo 44 23cm. Menor mergulhão do continente. Pardoacinzentado com a garganta preta na época reprodutiva; asas com grande espelho branco (aliás como outras espécies do gênero) que chamam a atenção quando a ave arruma as penas ou voa rente à superfície d'água; olhos amarelo-claros. agudo "tirrí", "kirr-kirr", gritos guturais que podem lembrar a voz do macaco-prego; violenta seqüência monótona que soa como um açoitar (canto), podendo ser prolongada; lembra, à distância, o canto da saracurinha lius o ius sendo porém mais forte. Há dueto do casal; filhotes barulhentos: "bibibi ...", São encontrados em qualquer massa d'água, até em poços artificiais bem pequenos, contanto que não estejam cobertos por plantas aquáticas (p. ex., escavações ao lado de rodovias). Do sul dos EUA ao norte da Argentina, fodo o Brasil. "Mergulhãopompom*".
o
MERGULHÃO-DE-CARA-BRANCA,
30,Scm. Preto, lado inferior castanho. Inconfundível pelo desenho branco berrante dos lados da cabeça. Habita do Peru ao Uruguai, Argentina, Chile também o extremo sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pantanal). Espécie comum na Argentina. "Mergulhãode-orelha-branca>" V. a e~pécie anterior. o
MERGULHÃO-GRANDE~ CHORONA,
eps
l crn. Possui um pequeno, porém distinto; topete occipital, bico longo e pescoço comprido, vermelho ou branco. forte e sonora, assemelha-se a um miado descendente ... , Nidifica no Rio Grande do Sul (o,!tubro, novembro). Durante as migrações é
g
173
174.
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
aparece na costa, pescando perto da arrebentação, às vezes ao lado de pingüins (Rio Grande do Sul, agosto). Espécie meridional, indo da Terra do Fogo ao Uruguai. Paraguai e Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo). "Huala" (Chile).
odil
MERGULHÃO,
us podiceps
33cm. Bico grosso, ausência de branco na asa. Bico
ibliog ( ej t
branco, durante a época reprodutiva aparece com uma cinta negra ao redor do bico, garganta negra. cheia, "kó", "kau-kau kau" às vezes dueto do casal. Ocorrem da América do Norte ao Chile, Argentina e no Brasil oriental, é freqüente nos açudes do Nordeste; falta, ao que parece, a oeste do rio Araguaia. Vivem nos mesmos lugares que h nicus, distinguindo-se imediatamente deste pela diferença de tamanho (v:também marrecas que mergulham, "Mergulhão-caçador*".
odicipedi é
g
l)
Borrero H., J. r. 1972. oe. Cienc. 29:477-86. o podiceps, alimentação e reprodução) c . ei. 12(4). (número de penas) Brodkorb, P. 1951. Harrison, P. 1983. ds, tion guide. London & Sidney: Croom Helm. (guia de campo) Heintzelmann, D. S. 1964. ilson uli. 76:291. (mergulho) Miranda-Ribeiro.A. 1927. I. Mus. . de o 3:57-59. (foto monstrando um mergulhão carregando um filhote) . ool. S. o 1:237-39. (construção Pinto, O. M. O. 1941. do ninho) . Sick, H. 1964. . uls. . io de nei o 49. (proteção contra a umidade) Storer, R. W. 1963. C 65:279-88. s hábitos) 1963. oc.13th lnte n. no C , Ith c 562-69. (cortejo, Storer, R. filogenia)
W:
~.
Storer, R. W. 1967. Ho e o 10:339-50. ( ol nd, hábitos) 69:469-78. (padrão de plumagem) Storer, R. W. 1967. Co Storer, R. W. 1976. n Diego oe. Hist. s. 113-26. s do , hábitos e parentesco) Storer, R. W. 1979. Order Podicipediformes. Pp. 140-55. In: Chec List ihe Vol. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Comparative Zoology" O nilholo Storer, R. W. & T. Getty. 1985. Pp. 921-31. In: e (P. A. Buckley, M. S. Forster, E. 5: Morton, R. S. Ridgely, F. G. Buckley, eds). Lawrence: A.O.U. (Omith. Monog r.çSé). b ptus do cus, variação geográfica) 14 45Storer, R. w., W. R. Siegfried &J. Kinhan. 1975. he uing 57. (banho de sol) . s. ol. Uni n Zusi, R. L. &R. W.Storer. 1969. Misc. 139. od , os teologia e miologia)
ORDEM PROCELLARIIFORMES
A ordem dos Procellariiformes reúne a maior parte das aves marinhas, embora em número de espécies a ordem Charadriiformes (maçaricos, trinta-réis e gaivotas) este-
ALBATROZES:
FAMÍLIA
DIOMEDEIDAE
(8)
Aves oceânicas de grande porte, na sua maioria do hemisfério sul. Numerosos fósseis conhecidos desde o Oligoceno Superior da América do Norte (25 milhões de anos). Aparentados aos pingüins e não às gaivotas.
,
ja em primeiro lugar. Enquanto os Charadriiformes são aves costeiras, os Procellariiformes são aves oceânicas ou pelágicas. São encontrados sobretudo no hemisfério sul.
,
A família abrange as maiores aves voadoras do munpode exceder do . também Condor); os três metros e meio de envergadura, ultrapassando o peso de sete quilos. Albatrozes fósseis são ainda maiores. Corpo pesadão. Longas asas rígidas, muito estreitas, cujas pontas jamais se abrem, não deixando ver primárias isoladas (ao contrário do urubu, por exemplo); no esqueleto destaca-se o braço muito longo. Bico muito forte, curvado em gancho e composto de múltiplas peças. Cauda tão curta que o leigo, quando vê um exemplar capturado, pensa que as retrizes foram cortadas a tesoura. Para decolar têm de correr vários metros sobre a superfície da água tal qual as pardelas (Procellariidae). Voam planando. A maestria deste tipo de vôo se baseia no braço longo com um grande número de secundárias curtas (38 a 40; uma marreca tem 12). Medimos num Dio ed e is, recentemente morto na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, uma envergadura das asas de 1,94 m, e uma largura máxima da asa (no meio das secundárias) de apenas 18cm. Não batem com as asas ao contrário das gaivotas que voam mais alto. Aproveitam-se de correntes atmosféricas que; sobre o mar, são totalmente horizontais; mantêm altura sem o menor esforço físico visível, ganhando até mesmo altura se voam contra o vento. Desta maneira seguem a baixa altura sobre as ondas em uma trajetória ondulada, serpenteando, subindo e descendo transversalmente ao vento. Sem esta técnica os albatrozes seriam incapazes de executar vôo planado, pois o peso por unidade de superfície de sua área é grande demais. O mesmo modo de voar ("planar dinâmico") é apresentado pelos bobos e pardelas (Puffinus, etc.).
Pés grandes providos de nadadeiras semelhantes às das gaivotas, parecendo tão leves como estas quando deitados na superfície do mar. Decolam com dificuldade, correndo pela superfície d'água, ou no solo, contra o vento. Mantêm-se calados enquanto permanecem em nossas costas. Alimentam-se de pequenos animais, sobretudo Cephalopoda e Crustácea, que se aproximam da flor d'água; seguem navios para apanhar detritos. Como em outros Procellariiformes a metade do conteúdo estomacal de um albatroz consiste de um líquido oleoso, derivado da comida (Prince 1980). Não se preocupam com tempestades de alto-mar. Procuram a terra geralmente apenas para nidificar (o que não ocorre em nosso país); excepcionalmente aparecem nas praias atraídos por peixes mortos.
Há, em águas br asi leir as, representantes de Procellariiformes durante todo o ano, em sua maioria indivíduos imaturos que perambulam pelos oceanos até; atingirem a maturidade sexual (os albatrozes criam apenas com seis ou mais anos de idade). Consideramos, no nosso livro, como "brasileira" toda a ave oceânica registrada dentro de uma faixa de 200 milhas, a contar do litoral (zona "econômica exclusiva"). Cada ilha, como Trindade engloba ao seu redor também 200 milhas. O mar territorial do país é de 12 milhas. Os albatrozes realizam migrações espetaculares; consta que, na região ns australasiana, um exemplar anilhado de D fez 2.950 milhas em 22 dias (média diária de 214,5 km). O número de Procellariiformes nos mares aumenta no outono e inverno austrais, de março a setembro. Aparecem, nesta época, em nossas costas, sobretudo nas porções meridionais, geralmente sob a ação de tempestades que os forcem em direção ao continente; nestas .oportunidades aparecem albatrozes junto com pardelas e atobás (estes últimos muito menos pelágicos), o que facilita sobremodo a estimativa do tamanho das diversas espécies, o que é bastante difícil em mar aberto.
. ,
176'
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
Durante as longas fases não reprodutivas (consta que a fase juvenil de dura nove anos) os Procellariiformes são levados no hemisfério sul por fortes ventos oeste, na direção leste, resultando em migrações latitudinais circumpolares seguindo a massa produtiva dos mares. A região neotropical é muito rica em Procellariiformes em conseqüência da América do Sul avançar bastante pela região Antártica, pátria de muitas dessas aves. Com mais observações no alto mar serão registradas no Brasil mais espécies de aves pelágicas. O nome "albatroz" é corruptela de "alcatraz", não derivando de alvo (branco).
São Paulo (março), Rio de Janeiro (março, maio, junho, julho, e outros meses), ex-Estado' da Guanabara (junho, novembro, dezembro) e até mais ao norte. Dentre os filhotes anilhados nas ilhas Falkland (Malvinas), 46 foram encontrados em costas brasileiras em fevereiro de 1976, sendo 41 entre o Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, 4 na Bahia, um em Sergipe e um em Alagoas. Um indivíduo anilhado ainda filhote nas Malvinas, em fevereiro, foi capturado a 32 km da costa do Rio Grande do Sul (entre Solidão e Mostardas), em maio do mesmo ano. "Caivotão", "Antenal", "Pardelão" (Rio Grande do Sul).
e
ALBATROZ-DE-NARIZ-AMARELO,
dos
VS
Encontramos na costa do Rio Grande do Sul e sujos de petróleo; espécimens de o na costa do Paraná, um exemplar de o. sucumbiu ante a mesma poluição. Os mares tornam-se cheios de plásticos flutuantes e redes abandonadas que tantas vezes significam a morte de aves oceânicas. V também sob Procellariidae.
ALBATROZ-GIGANTE,
VS
Am
120cm. Maior das espécies. Enorme bico amarelo ou rosado; as narinas abrem para cima; plumagem totalmente nívea exceto na ponta da asa que é negra; imaturos predominantemente pardos, semelhantes aos de outras espécies da família. Pelágico. Encontra-se acidentalmente na costa brasileira, por exemplo, no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro (Cabo Frio, julho). Nidifica em ilhas subantárticas. "Albatroz-viageiro*".
ALBATROZ-REAL,
VS
lIOcm. Muito parecido com o anterior, porém de bico menos grosso e com a parte cortante da maxila anegrada; as narinas abrem para a frente. Ocasionalmente encontrado nas costas de São Pa ulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Um indivíduo anilhado como filhote em Nova Zelândia em outubro de 1976, foi encontrado morto em Tramandaí, 'Rio Grande do Sul, em ag~sto de 1977.
ALBATROZ-DE-SOBRANCELHA,
79cm, envergadura 190cm. Menor representante do gênero (do porte de uma gaivota grande), sendo porém de cauda mais longa em relação ao corpo. Na plumagem semelhante ao anterior, distinguindo-se imediatamente pelo bico negro de cúlmen amarelo vivo. Localizado, por ex., no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro nos meses de abril, maio e agosto. Em geral não é visível na costa, sendo comum em alto-mar; em maio de 1971, por exemplo; cerca de uma dúzia deles foram avistados dois quilômetros ao largo da peninsula de Búzios (Rio de Janeiro); já em maio de 1964 foram vistos, entre o Rio e Cabo Frio, tanto indivíduos isolados como em grupos de até meia dúzia, neste último caso sempre em companhia de igual número de n exemplares de Oio e
e
ALBATROZ-DE-CABEÇA-CINZA ".
VS . . [70-80cm] Mar aberto de São Paulo e Santa Catarina, maio (Sick 1979), lembra o. chlo h nchos, também pequeno, cúlmen e mandíbula amarelos. No Rio de Janeiro em setembro.
VS
ALBATROZ-ARISCO,
91-99cm. Como visitante pelágico está assinalado para as costas do Peru, Chile e Argentina ..Primeiro registro para o Brasil provém de uma fêmea jovem encontrada morta na península de Mostardas, litoral do Rio Grande do Sul em abril de 1990 (Petry et i. 1991).
VS Pr. 2, 4 83-93cm, envergadura de 2 metros, sendo a largura da asa de apenas 16cm. Espécie relativamente abundante em nosso litoral meridional. Bico amarelo, olhos atra'vessados por uma curta faixa cinzenta; face superior das asas e cauda negras ao contrário das duas espécies anteriores, uropígio branco. Imaturo mais escuro, com bico, alto da cabeça e lado superior do pescoço anegrados. Nidifica na Argentina (p. ex., Terra do Fogo); migra até
PIAU-PRETO*,
sc
VS
84-89cm. Pelágico, reproduz em ilhas do sul dos oceanos Atlântico e Índico. O exemplar encontrado morto na praia de Bertioga, São Paulo em 28 de agosto de 1954, inicialmente identificado comoP. p lpeb (Pinto 1964), foi considerado como pertencente a P. (Willis & Oniki 1985). Embora esta identificação tenha sido em
.... ,-.;:; .
.
OIOMEDElDAE
seguida contestada (Teixeira et . 1988), os dados apresentados ultimamente para validar a identificação como são perfeitamente pertinentes (Willis & Oniki P. s 1991). Existe um registro adicional (setembro) para o Brasil em alto mar, cerca de 33°S, costa do Rio Grande do Sul (Rumboll & Jehl 1977).
Di ( ej
I'"' I -
PIAU-OE-COSTA-CLARA*,
oe
pe
177
i
VS 72cm. Totalmente cor de fuligem com cabeça, asas e cauda anegradas; em torno do olho um anel branco não contínuo; bico negro. Rio Grande do Sul.
deid liog
i G
l)
Harper, P. C. & F. C. Kinsky. 1974. t l Identiji tion Cuide. Victoria: Victoria University Press. Harrison, P. 1983. e bi s, iden n guide. London & Sidney: Croom Helm. (guia de campo) [ouanin, C. & J. L. Mougin. 1979. Order Procellariiformes. Pp. 48121. In: Ch st b lhe ld. Vol. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W.Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museurn of Compara tive Zoology* MartuscelJi, P. 1992. I E elot 82-83. chl i chus, Ilha do Cardoso, SP)* Miranda-Ribeiro, A. 1928. i. io de o, 4 55-61. (espécies brasileiras) Moraes, V. S. & R. Krul. 1994. esu I Cong . Om. 45.
(dados de captura. de s e O. s no Paraná)" Petry, M. v., G. A. Bencke & G. N. Klein. 1991. uli. B. O. C. 1ll:18990 (D u , primeiro registro no Brasil)' Prince, P. A. 1980. Ibis 122:476-88 , alimentação) s. Diego . Hist. RumbolJ, M.A. E. &J. R. Jehl, Jr. 1977. 1 1-16. t ju registro em águas do sul do Brasil)' Sick, H. 1979. li. B. O. C. 99:116. ch t primeiro encontro no Brasil). de l e êis do Vooren, C. M. &A. C. Fernandes. 1989. l do . Porto Alegre: Sagra. Willis, E. O. & Y. Oniki. 1991. li. B. O. C. 113:60-61. i , confirmação da identificação)"
t,
178.
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
PAR DELAS,
BOBOS,
POMBA-DO-CABO
e afins:
Aves oceânicas de aspecto e costumes semelhantes aos dos albatrozes. não atingindo geralmente o porte destes. Fóssil do Mioceno da Flórida (há 25 milhões de anos). Numerosas espécies visitantes em nossas costas, sua identificação não é fácil, exigindo literatura mais especializada. Existem na literatura muitas indicações erradas, baseadas em sig eco , como em coleções de museus. Fonte segura para a obtenção de espécimens são aquelas praias onde o mar lança indivíduos mortos ou moribundos, cuja cabeça (sobretudo o bico) geralmente permite a diagnose; todavia tais carcaças se desfazem rapidamente. Um único representante, inioni n reproduz no Brasil, na Ilha da Trindade. e [Acrescente-se aqui, possivelmente, Puffinus ssi lh inie i, conforme evidências recentes.] Restos de procelarídeos são encontrados em sítios arqueológicos pré-columbianos no sudeste do Brasil (V também pingüins). Espécies de procelarídeos pertencem às aves mais numerosas do mundo, p. ex. Puffinus griseus cujo total foi calculado em um bilhão. Muito mais numerosas são cerda África tas espécies de ploceídeos, como Quele que meridional, calculados em vários bilhões.
ologi
h bitos,
e
Ff>.MíLIA
em lugares onde há concentração de peixes (comensalismo). Foi provado que os Procellariidae se orientam pelo faro para achar comida e para localizar suas colônias situadas em pequenas ilhas no meio dos oceanos. O índice lobo olfatóriojhemisférios é de 29% em várias espécies de Procellariiformes, muito maior do que o da maioria dos Passeriformes; o índice do pombo é 20%. Todos os procelarídeos têm um cheiro penetrante de almíscar que também permanece por tempo inde-
,
-,
,-
-
'";I , ,
, -
-
I
Fig. 45. Pardela, Puffinus puffinus, em vôo planado dinâmico, visto da praia de Copacabana, Rio de Janeiro; d. direção do vento. Abaixo projeção vertical da mesma situação, em escala reduzida. O rumo da ave procede num ziguezague, acompanhando os lombos e vales das ondas, ascendendo e descendendo, a ave se tornando visível apenas quando sobe, destacando-se então contra o horizonte. A ave se aproveita do vento que sopra sobre a superfície do mar como único meio propulsor, abstendo-se inteiramente de batidas das asas. Da mesma maneira voam os albatrozes, no altomar.
o
Narinas tubulosas coladas uma à outra junto à base do cúlmen ("Tubinares"). Por esses túbulos corre a secreção de sal feita pela "glândula de sal" (v. Laridae) para a ponta do bico por um sulco entre o culminicórnio e o latericórnio. Voam velozmente rente à superfície do mar, planando e batendo, às vezes rapidamente as asas; fazem curvas abruptas virando o corpo de um lado para o outro. Tal como os albatrozes, seguem uma trajetória sinuosa, serpenteando sobre o mar aproveitando-se da ação das correntes aéreas horizontais. Concentram-se na área da plataforma continental onde a alimentação é mais rica; aproveitam-se dos cardumes de peixes jovens, atraíus g is chega a merdos por barcos pesqueiros; gulhar para apossar-se de uma isca usando as asas como remos (v. também ec oides). As pardelas do gênero l vivem do plâncton que filtram no bico através de um sistema de lamelas que lembram as barbatanas das baleias (v. também sob pingüins). Num vôo rente à superfície do mar os l capturam com o bico aberto e submerso o que zooplâncton (sobretudo crustáceos, como Euph aflora durante a noite; muitos desses organismos minúsculos são luminosos, orientando as aves. Os com seu bico forte de gavião têm o hábito de arrancar pedaços de grandes Cefalópodes ou lulas ("fura-bucho"). Associam-se várias espécies de pardelas e aparentados
(21)
PROCELLARIlDAE
finido em exemplares taxidermizados e até em coleções oológicas. l , D tion, certos e também As as almas-de-mestre (Hydrobatidae) são tão adaptadas à vida em alto-mar que em terra não sabem andar nem conseguem se manter em pé; escavam (o que não faz e n i galeri'á's subterrâneas que posnectes, pousam atingir em vôo direto; o pardelão, sa na terra como uma gaivota, onde procura cadáveres e tira ovos e filhotes de aves costeiras.
ig Puffinus puffinue executa migrações anuais regulares entre a Europa e América do Sul (Atlântico Sul), são portanto, migrações transequatoriais. Os recém-nascidos acumulam depósito de gordura tão grande que devem ser capazes de viajar direto do mar da Irlanda às águas do Brasil. C ect is procedente da Il~a
179
PROCELLARIIDAE
da Madeira, vem ocasionalmente à costa da América do Sul. Inversamente, is procria no Atlântico meridional, migrando ao Atlântico setentrional onde permanece durante o verão, regressando na primavera austral; faz 9.000 km em 35 dias (300 km por dia). Calcuis migra 24.000 km por ano, P s la-se que P até 35.000 km. Há durante todo ano numerosos procelarídeos espalhados pelos mares, pois tornam-se adultos apenas com cinco ou mais anos de idade, tendo antes folga para perambular pelos oceanos (v. albatrozes). Em nossas águas já foram apanhados diversos representantes desta família que haviam sido anilhados, sobretudo o bobopequeno, procedentes da I.nglaterra. O aparecimento de Procellariiformes ao longo dos grandes rios no meio do continente parece bastante estranho; existem vários registros destes p. ex. para , e is e até para Mato Grosso.
n Algumas espécies, sobretudo as , têm sua presença assinalada no litoral brasileiro somente quando ocorrem mortandades. Seus restos são então atirados em grande quantidade a certas praias sem que se saibam as causas que levaram a tal morticínio (v. pingüins). Mortandades de nas costas do Suriname ficaram também sem explicação. Foi ventilada a falta de comida naqueles mares tropicais distróficos, que essas aves têm que atravessar durante suas migrações regulares para chegar das águas eutróficas antárticas às águas correspondentes árticas (Mees 1976). Esta interpretação é confirmada por observações nossas: em 11 km de praia foram encontrados em julho de 1982, 2000 , alguns ainda com vida (L. A. Rosário, B. T. Pauli, Santa Catarina). Visto que os autopsiados tinham estômago vazio, poder-se-ia concluir que as aves morreram de inanição. O problema é que os i vivem de plâncton ou alimento semelhante diminuto cuja detecção no estômago é difícil, até em material fresco; poderia-se obter mais amostras utilizando pequenos e breves bombeamentos no ,tubo digestivo. Mais significativo é quando não se acha vestígio de gordura e o peso das aves está abaixo da média. Após uma tempestade (inverno de 1987) que durou quatro dias, com vento leste de velocidade variando entre 20 e 40 nós, foi percorrido um trecho de 21 km na praia do Cassino, Rio Grande do Sul, onde foram encontrados 2 l o , 50 g c , 10 s, 1 e l spp., 1 Muitos destes indivíduos lessonii e 6 apresentavam estômagos com alimento: cefalópodes, peixes, plásticos (enchendo completamente o estômago de um indivíduo), também patas de pequenos
procelarídeos (Costalunga & Chiaradia 1988). Procellariiformes costumam fugir das frentes de mal tempo, aparecendo então longe da sua região típica; nesses casos podem seguir rios chegando até mesmo a Mato Grosso. Os procelarídeos são ameaçados por engolir plásticos e partículas de polietileno e pela poluição por petróleo, o que registramos sobretudo em pu (Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro).
s
PAROELÃO-GIGANTE,
VS
88cm. Porte de um albatroz, porém tendo as asas bem mais curtas e largas. Uniformemente fuligem, bico excepcionalmente grosso e alto na base, os túbulos nasais são muito compridos, estendendo-se sobre todo o culminicórnio, a cor do bico é amarelo-claro, o que chama a atenção. Voa com rápidas batidas de asas, int=rcalando um curto planeio. Pesca, ataca e devora outras aves marinhas. O costume dessas aves de vomitar o conteúdo estomacal fedorento, quando são apanhadas, possibilita controlar o seu alimento e até parasitas internos. Migrante austral, nidifica, p. ex., nas Malvinas; chega até São Paulo e Rio de Janeiro (agosto), sendo freqüente no Rio Grande do Sul. Um exemplar capturado em 14 de junho de 1961, fora anilha do ainda filhote numa ilha ao sul da Austrália, em 3 de janeiro de 1961. Outros três indivíduos, anilhados na Antártica (S. Orkney) foram encontrados no Brasil: dois no Rio Grande do Sul (março, junho) e Rio de Janeiro (junho). Estão envolvidas duas espécies crípticas (sibling specie onectes gig e M. halli, e até híbridos dos dois que não são raros na Antártica (Iohnstone 1974). M. gig tem a ponta do bico verde, M. halli avermelhada. "Petrel-gigante*". Ver gaivota-rapineira-grande (Stercorariidae). PETREL-G,IGANTE-OO-NORTE,
es
VS 81-94cm. Considerada espécie gêmea de M. gig s, assinalada ao longo da costa da América do Sul para o norte até o Uruguai, apenas recentemente foi registrada no Brasil. Martuscelli et l. (1995) divulgaram o encontro de um exemplar imaturo encontrado morto em 27 de setembro de 1994 na praia de Ilha Comprida, litoral sul de São Paulo. PAROELÃO-PRATÚOO,
l
es
VS
50cm.Ave grande de corpo pesado, bico alto.adunco e cor-de-rosa. Plumagem cinzenta bem clara (manto), cabeça e partes inferiores brancas; asas com uma grande área branca na base das primárias internas, lembrando D ption. Migrante meridional que aparece ocasionalmente em número razoável. Por exemplo: Rio Grande do Sul (novembro), Rio de Janeiro (setembro), Rio Grande do Norte (São Roque). Considerado substituto geográ-
180
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
fico do setentrional c do*". V Introdução, mortandades.
"Fulmar-pratea-
VS Fig. 46
POMBA-DO-CABO,
36cm. A espécie de maior ocorrência e abundância dentre as que seguem navios: inconfundível pelo desenho xadrez do dorso e pela presença de duas áreas brancas maiores sobre cada asa. Procedente do Antártico, aproxima-se da costa, tendo aparecido em Cabo Frio (Rio
Fig. 47. Pardela-da-trindade.
dades naturais dos picos fonolíticos ou protegido por vegetação rasteira. Põe um único ovo branco; parece que reproduz durante o ano todo. É diurno (ao contrário de outras pardelas) e é, conseqüentemente, de observação fácil. Sobre uma aproximação ao continente não há dados seguros; a identificação pelo binóculo é precária, já existem tais observações; não é migratório, mas é levado às vezes por tempestades até a América do Norte. "Fura-buxo", "Grazina-da-trindade*". P . o é substituto geográfico de e o o neg/ec do Pacífico e do Índico (Mauritius).
FURA-BUXO-DE-CAPUZ,
VS
Am
Fig. 46. Pomba-do-cabo, D ption
pense, mostrando o
44cm, envergadura Ll.Ocrn.Espécie grande, cor de chocolate, também lado inferior das asas e infracaudais, garganta salpica da, barriga branca. Comum no Atlântico Sul, reproduz em Tristão da Cunha, aparece em águas do Rio Grande do Sul, tanto ao largo (cerca de 100km da costa, setembro a novembro, em número razoável), como morto nas praias (Cassino, novembro), Santa Catarina (Florianópolis, novembro) e Rio de Janeiro (novembro), por exemplo. "Grazina-de-barriga-branca*".
típicopadrão xadrez. GRAZINA-DE-BICO-CURTO*,
de Janeiro) e no ex-Estado da Guanabara (novembro) . . Dois exemplares anilhados em S. Orkney foram apanhados no Brasil no mês de setembro, um em Santa Catarina e outro em São Paulo, a 70 milhas ao largo de Santos. "Pintado" (espanhol).
PARDELA-DA- TRINDADE,
Fig. 47 40cm. Um dos poucos representantes da família que procriam em território nacional. Inteiramente cor de fuligem ou com áreas brancas de extensão variável no lado inferior, havendo muita variação. Quando em vôo e 'visto de cima, destaca-se pequena área branca na base das primárias (que possuem raques amarelas), lembrando uma gaivota-rapineira. semelhante à do trinta-réis. Abundante na Ilha da Trindade onde nidifica em cavi-
VS [36cm. Um macho capturado perto de Salvador, Bahia em setembro de 1985 (Teixeira et aI. 1988). Um exemplar de sexo indeterminado foi encontrado na praia do Cassino, Rio Grande do Sul (Vooren & Fernandes 1989). Pelágico, reproduz em ilhas do Atlântico Sul e oceano Índico. A alegada ocorrência de P no Brasil baseia-se na hipotética e esquemática área de dispersão da espécie por mares do sul, atingindo as latitudes, de 25° ou 30° (Harríson 1983). Sua permanência na lista de aves do Brasil carece agora de evidência adicional, pois o registro de P t baseado em duas peles oriundas de Santos, litoral de São Paulo (Pinto 1938), que interferiu certamente para delimitação desta amplitude de dispersão, provou mais tarde tratar-se de nus g após reexame do material (Teixeira et aI. 1985).
PROCELLARIIDAE
GRAZINA -DE-CABEÇA-BRANCA *,
lessonii
VS
[40-45cm. Vagamente indicado como ocorrente na costa sul do Brasil (Meyer de Schauensee 1966), a espécie foi encontrada morta na praia do Cassino, no inverno de 1987 (Costalunga & Chiaradia 1988) e registrada no litoral de Santa Catarina (T. R. Azevedo). Reproduz nos mares do sul estando na América do Sul assinalado também para o Chile; Argentina e Uruguai.]
VN Am
DIABLOTIM*,
[35-46cm. Único procelarídeo em declínio e ameaçado de extinção mencionado para o Brasil (Collar et at. 1992). Afora vagos registros de ocorrência em águas brasileiras (Mathews 1934, Peters 1931), consta q~e entre 1987 e 1988 foi encontrada nas ilhas de Trindade e Martin Vaz (Nacinovic et aI. 1989). Reproduz atualmente em ilhas do mar do Caribe: Cuba, Haiti e República Dominicana. ]
VS
GRAZINA-MOLE*,
[34-38cm. Assinalado no Brasil para o litoral do Rio Grande do Sul, setembro, outubro e novembro (Paessler 1911, Belton 1984, Vooren & Fernandes 1989) e Paraná, maio (Moraes & KruI1994). Pelágica, reproduz em ilhas localizadas no sul do oceano Atlântico e Índico.]
VS
PRIÃO-AZUL ".
29cm. Semelhante aos í fronte esbranquiçada. Búzios, Rio de Janeiro, julho de 1984 (Teixeira et 1985).
VS
PARDELA-DE-BICO-DE-PATO,
29cm. Parecida com a espécie que se descreve a seguir, porém tendo o bico largo e intumescido (13,6mm a 16,Omm de largura, contra 11,5mm ou menos para . apresentando lamelas bem distintas. Por exemplo em São Paulo (julho, agosto), Rio de Janeiro (julho, agosto), Pernambuco (julho) e Praia do Cassino, Rio Grande do Sul, (outubro) (Belton 1984). Inclui de acordo com Sinclair (1987). "Prião-de-bico-largot".
F AIGÃO,
VS
28cm. Menor dos procelarídeos. De bico singular (v. o anterior): Partes superiores cinza-azuladas, partes inferiores brancas; sobre as asas uma faixa negra que liga as escapulares com o encontro e este às primárias, de modo que quando em vôo, a ave apresenta algo como um "M" marcante (aliás, caráter geral de todo o gêne-
181
ro). Gregário como seus congêneres. Pelágico, sendo registrado na costa apenas quando ocorrem mortandades; em uma delas, ocorrida em 30 de agosto de 1972, em Búzios (Rio de Janeiro), foram contados restos de 200 exemplares desta espécie (havia também cadáveres de a um quilômetro da praia. Ao mesmo tempo (25 de agosto de 1972) foram encontrados mais restos na praia de Jacarepaguá (ex-Estado da Guade P nabara), distante do local anterior 150km pela linha da costa; seguramente ambos os locais testemunhavam a mesma mortandade, o que nos dá idéia do vulto do acontecimento. Ignoramos em quantos quilômetros além da área indicada as praias ficaram juncadas de cadáveres atirados à costa pelo mar. Registraram-se outras mortandades entre São Paulo (junho a agosto) e Rio Grande . do Sul (junho). "Gaivota" (Rio Grande do Sul), "Pardela" .(ex-Estado da Cuanabara), "Prião-de-bico-fínot".
VS
PARDELA-PRETA,
55cm, envergadura 138cm. Porte avantajado, asas estreitas. Inteiramente cor de fuligem com o mento branco (o que nem sempre é visível durante o vôo) ou escura como o corpo; bico relativamente curto mas forte, esbranquiçado, com desenho preto. Visitante meridional abundante em alto-mar (Rio Grande do Sul, abril), também aparecendo na praia sob a forma de indivíduos isolados. São Paulo, Rio de janeiro (abril, agosto), Ilha de Marajó e embocadura do Tocantins (Pará), por exemplo. "Pardelão-de-queixo-branco", "Corvo-de-bico-branco", "Procelária-de-bico-branco*". Mencionado por Marcgrave em 1648. P ARDELA-CINZA,
e
cin
VS
48cm. Um indivíduo morto foi encontrado na praia de Rio Grande (32"5), Rio Grande do Sul em novembro de 1982 (Vooren & Femandes 1989). Dois outros registros antigos foram feitos em alto-mar na altura da costa do Rio Grande do Sul (Belton 1984). "Procelária-de-asa-preta*".
BOBO-GRANDE,
VN
49cm. Tem o porte e o aspectoda espécie mé'nc'lO-na-. da a seguir, diferindo desta por ter o boné mais claro (pardacento) e o bico amarelado, ponta escura. Visitante setentrional, no alto-mar na altura de Pernambuco e Espírito Santo (maio), Bahia (maio). Dois indivíduos anilhados na Ilha Selvagem (entre Madeira e Canárias) foram encontrados mortos na costa do Ceará (dezembro) e do Rio Grande do Sul (Tramandaí, fevereiro); um terceiro cadáver não anilhado deu às costas de Santa Catarina (dezembro) e mais um no Rio de Janeiro (junho). "Pardela-de-bico-amarelo+". [Um sumário de suas aparições na costa brasileira está apresentado em Pacheco & Maciel (1995).]
182'
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
nus
BOBO-GRANDE-DE-SOBRE-BRANCO,
VS . SOem, envergadura ll1cm. Um dos maiores representantes do grupo, distinguível pelo boné e manto cor de fuligem escura, asas e cauda negras em contraste com um colar, uma cinta na base da cauda e as partes, inferiores brancas; bico negro, nadadeiras rosadas. Visitante meridional que atinge as águas brasileiras em número considerável durante suas migrações regulares (v. Introdução) quando se dirige, entre abril e maio, para o Atlântico setentrional aproximando-se da costa em grandes bandos neste ínterim, por exemplo no litoral do Rio Grande do Sul (setembro a novembro) e Ceará (maio, voando rumo norte); às vezes grupos de 50 a 100 ao redor de navios perto do litoral (Búzios, Rio de Janeiro, maio; um cadáver lançado à praia (ex-Estado da Guanabara, julho); Bahia (maio) Paraíba, Ceará, ao largo. Nidifica em grandes colônias no arquipélago de Tristão da Cunha no período de setembro a abril e, provavelmente, também nas Ilhas Malvinas. "Pardela", "Pardela-de-bico-preto*" .
inus
BOBO-ESCURO,
VS
44cm. Espécie média totalmente cor de fuligem, exceto pelo. lado inferior das asas que é branco; bico e nadadeiras negras. Visitante meridional infreqüente, assinalado por ex.: no Rio Grande do Sul (maio, agosto), Barra da Tijuca, Rio de Janeiro (julho) e Bahia. Uma das aves mais numerosas do mundo. "Pardela-preta*".
reproduz na Europa (também na Islândia e nas Bermudas; outras raças no Havaí, na Nova Zelândia etc.) imigrando durante o inverno setentrional ao Atlântico meridional onde permanece durante alguns meses em altomar; neste período não é raro em nossas águas. Em 1962 foram localizados nove indivíduos, anilhados na Inglaterra, na faixa de costa entre o Rio Grande do Sul e o exEstado da Guanabara; dentre estes, um exemplar capturado em 16 de outubro, em Caiaguatatuba (São Paulo), fora anilhado 45 dias antes em Skokholm, País de Gales, ainda filhote. Um outro indivíduo, achado morto na ponta norte da Ilha de Santa Catarina (Praia Brava) em 25 de setembro de 1980, fora anilhado em 30 de agosto de 1970, também na Ilha de Skokholm. Até novembro de 1975 foram registra dos em águas brasileiras 80 indivíduos anilhados na Inglaterra. Tanto no Uruguai como na Argentina foram encontrados espécimens anilhados. Procriam apenas com cinco anos de idade (v. Introdu- . ção), "Pardela", " Cerva", "Pardela-sombriat".
lis
*,
PARDELA-PEQUENA
[25-28cm) Um exemplar capturado em Fernando de Noronha em 21 de março de 1989 (Antas et 1990) Depois se falou até numa pequena colônia nessa ilha do , 23 agosto de 1990). [A reprodução em fendas nas rochas, na ilha Morro da Viuvinha, Fernando de Noronha foi constatada em duas oportunidades (Schulz Neto 1995a).]
PARDELA-DE-ASA-LARGA,
BOBO-PEQUENO,
VN
Puffinus
35cm. Espécie pequena de bico fino; partes superiores negras uniformes, inclusive os lados da cabeça e do pescoço; partes inferiores brancas. Puffinus p.
g ( ej t
Puffinus lherminieri
29-31cm. Encontrado recentemente reproduzindo no arquipélago da Itatiaia, costa do Espírito Santo (Efe & Musso 1994), tratando-se da primeira menção para o Brasil. De ampla distribuição nos oceanos tropicais, reproduz, p. ex., a forma típica em ilhas do Caribe.
el é
g
Antas, P. T. Z., A. Filippini t 79-80. Brasil)'
) & S. M. Azevedo-Iuníor, s ss , primeiro
Brenning, U. & W. Mahnke. (migração)
1971.
eit .
1992. is registro para o
ge . 1
-103.
ls.1972.Ibis114 245-51. (aves pelágicas na costa Cooke, F. & E. L. da Argentina) s os Cong . s. Costalunga, A. L. & 'A. Chiaradia. 1988. ool. . 466. (mortalidade na praia do Cassino) Efe, M. A. & C. M. Musso. 1994. os Cong s. o 82. primeiro registro no Brasil)" eo Gill, F. B., C. Jouanin &R. W. Storer. 1970. 87:514-21. , biologia) Harris, M. P. & L. Hansen. (migração)
1974.
.
o
.
68 117-37.
Harrison, P. 1983. s, n identi c on guide. London & Sidney: Croom Helm. (guia de campo) F. 1971.[. O no 112:459-60. s, migração) Haverschmidt, Johnstone, gêmeas)
G. W. 1974.
1 nectes, espécies
74:209-18.
[ouanin, c. & J. L. Mougin. 1979. Order Procellariiformes. Pp. 48121. In: C si o bi ds the ld. Vol. 1. 2,d ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Zaology.* .Krul, R. & V. S. Moraes.
1994.
Mass.: Museum
os
Cong
of Compara tive
o-«
onec s dio ede dados de captura no Paraná)" II C . . o G Luígí, G. 1992.
eci
105.
Martuscelli, Paulo)'
injon n P. 1992. n
biologia)' E V, elot
82. (
i71U g
86. is, São
PROCELLARIIDAE
Martuscelli, P. 1992. 82-83. ides, Ilha do Cardoso, SP)' Martuscelli, P.,F.Olmos & R. Silva e Silva. 1995. .o.C. 11 187primeiro registro no Brasil)" 88. Mathews, G. M. 1934. it. . 39:151-206 (lista sistemática e distribuição )' Mees, G. F. 1976. . . . 269-71. (mortandades) Metcalf, W. G. 1966.Ibis 108:138-40. u inus is, costa brasileira) Moraes, V.S. &R. Krul. 1994. 45. mollis e dados de captura de outras espécies encontradas no Paraná)" Nacinovíc, J. B., G. Luigi, D. M. Teixeira, E. Kischlat & R. Novelli. esu I l. 135. t Trindade)" Novaes, F. C. 1952. . 12:219-28. ilha Trindade)
183
Novaes, F. C. 1959. 61:299 rio Amazonas)' 3:82-83. c Pacheco, J. F. & N. C. Maciel. 1995. sumário de aparições no Brasil)" Paessler, R. 1911. . Rio Grande doSul)* Perrins, C. M., M. P. Harris & C. K. Britton. 1973. Ibis 11 -48. (Puffinus, população) Rurnboll, M. A. E. & J. R. Jehl. 1977. Oiego . Hist. . 1:1-16. (primavera no Atlântico Sul) Straube, F. C. & M. R. Bornschein. 1991. I . l 32-33. tPuffinus Bahia, Paraná e Santa Catarina)* 111:378-92.(muda e Stresemann, E. & V. Stresemann. 1970. J. migração) 130-40. tPuffinus, migração) Thomson,A. 1.1969. Vooren, C. M. &A. C. Fernandes. 1989. de e éis do do . Porto Alegre: Sagra.
fI
184
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
ANDORINHAS-DO-MAR:
FAMÍLIA HYDROBATIDAE
(4)
As menores dentre as aves oceânicas; uma alma-demestre pesa apenas 20 gramas, enquanto um albatroz, representante da mesma ordem, Procellariiformes, pode pesar mais de 8 quilogramas. Fósseis do Mioceno Superior da Califórnia (10 milhões de anos).
Têm apenas o tamanho de uma andorinha; voam tão rente ao mar que logo desaparecem atrás das ondas maiores. Sua trajetória errática de vôo pode lembrar a dos morcegos, manobram com os pés pendentes como se andassem sobre a superfície d'água, daí o nome "Calcamar", "Ave de São Pedro", "Petrel", "Danzarin". Suas pernas são tão fracas que, sobre o solo, estas aves arrastam-se sobre o ventre apoiando-se com as asas (v. também família anterior). Crepusculares e noturnos como muitos Procellariiformes porém, também ativos de dia. Sobre olfato veja sob Procellariidae. A excreção do sal do mar (cloreto de sódio), pelas glândulas supraorbitais, processa-se através das narinas tubuliformes, num jato semelhante ao de uma pistola de água (v. sob Laridae). Durante tempestades refugiam-se nas baías e até nos portos. Procriam em ilhas oceânicas, fora do Brasil. Não guardam parentesco nem com as andorinhas e andorinhões, nem com os trinta-réis.
Oce
ALMA-DE-MESTRE,
es
VS
Fig.48 18cm. Ave delgada de cauda curta e quase retangular. Totalmente fuligem com o uropígio branco; pernas longas (maiores que a cauda), membranas natatórias amarelas, o que, em vôo, chama-nos muito a atenção. Visitante austral que nidifica nas Malvinas, por exemplo; chega até oAtlântico setentrional. Comum nas águas brasileiras em alto-mar, sapateando na superfície da água e fazendo até pequenos saltos, pescando, às vezes em bando, por exemplo, entre o Rio e Cabo Frio (maio, as. sociadas a albatrozes-de-sobrancelha) ou isoladas entre ilhas (Santos, São Paulo, maio, julho); ex-Estado da Guanabara (novembro), Rio de Janeiro (maio, agosto, novembro), Pernambuco (março). "Andorinha-das-tormentas".
ibliog
Fig. 48. Alma-de-mestre, Oce ites oce
s.
T APERElRA,
·
VN
21cm. Cauda relativamente longa e algo bifurcada (o entalhe é pouco nítido); pernas curtas, nadadeiras negras; uropígio branco, dividido longitudinalmente por uma área negra. Amapá (maio, dezembro), Bahia (fevereiro) e Rio de Janeiro. Visitante doAtlântico setentrional. "Painho-decauda-forcada*".
PAlNHO-DE-BARRIGA-BRANCA
".
VS 20cm. Lado superior anegrado, uropígio branco; lado inferior branco como nas coberteiras inferiores das asas. A espécie seguinte é muito semelhante. Em alto mar entre Rio de Janeiro e Bahia (outubro, Coelho et i. 1985).
PAlNHO-DE-BARRIGA-PRETA
*,
e
c
VS
[19-21cm] Ao largo de S. Pedro e S. Paulo e Femando de Noronha (Teixeira et I. 1986).
e b
li
Ge l)
Bourne, W. R. P. 1985. Storm-petrel. Pp. 454-56. In: Dicti s (B. Campbell & E. Lack, eds). Calton: T & A D Poyser e Vermillion: Buteo Books." Escalante, R. 1988. Co ol. us. Hist. nt ideo 12: 167. (O no o leu Uruguai)
Harrison, P. 1983. ds, identi tion gu London & Sidney: Croom Helm. (guia de campo) [ouanin, C. & J. L. Mougin. 1979. Order Procellariiformes. Pp. 48121. In: Che ist b s the o ld. Vol. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum ofComparative Zoology.*
PELECANOIDIDAE
.-.
PETRÉIS-MERGULHADORES:
FAMíLIA
PELECANOIDIDAE
Pequenas aves marinhas lembrando bastante as alcas (Alcidae, como os papagaios-da-mar, c do hemisfério setentrional - uma admirável evolução convergente. Eles vivem mais nadando e mergulhando que voando, adquiriram até uma muda em bloco (v. marrecas). Mergulhando usam as asas como remos (v. pingüins). Vôo vibrando, baixinho sobre o mar.
bl
185
(1)
PErREL-I\.1ERGULHAOOR-DE-MAGAUiÃES*,
ele
s
VS 20cm. Lado superior preto, lado inferior branco; vestígio de um colar branco visível de lado, secundárias com pontas brancas, escapulares com ou sem (imaturo) desenho branco. Costa sul do Rio Grande do Sul (Vooren 1985). Reproduzem no sul na Patagônia e no Chile.
elec oidid t
i Ge
Bourne, W. R. P. 1985. Diving-petrel. Pp. 455-56. In: D (B. Campbel! & E. Lack, eds). Calton: T & A D Poyser e Vermillion: Buteo Books." s, identi ion guide. London & Sidney: Harrison, P. 1983. Croom Helm. (guia de campo)
[ouanin, c. & J. L. Mougin. 1979. Order Procel!ariiformes. Pp. 48121. In: C ist the ld. Vol. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W.Cottrel!, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zoology" os II C . . 266-67. Vooren, C. M. 1985. (presença no Rio Grande do Sul)
ORDEM SPHENISCIFORMES
PINGÜINS:
FAMÍLIA SPHENISCIDAE
(4)
Aves oceânicas por excelência, confinadas ao hemisfério austral. São as aves mais típicas e mais numerosas da zona subantártica (ao sul de 35°S) e antártica (Círculo Polar Antártico, em aproximadamente 66°S), constituindo mais de 90% da biomassa da avifauna dessa região. Perfazem 18 espécies, 7 das quais na América do Sul, uma reproduzindo nas costas do Peru, Chile, outra nas Ilhas Galápagos, 5 nas Ilhas Malvinas. No Brasil, apenas como visitantes. Numerosos fósseis do Terciário, desde o Eoceno Superior (40 milhões de anos); da ilha Seymour (Antártica) atingiu proporções gigantescas. Existe certo parentesco com os ancestrais dos albatrozes, dos quais já teriam se separado no Mesozóico. Substituem junto com os Pelecanoididae no hemisfério sul a família dosAlcidae (subordern Alcae, orde~ Charadriiformes) das regiões setentrionais. Em sítios arqueológicos (sambaquis, Rio de Janeiro, Santa Catarina, datados com cerca de 4000 anos) são encontrados ossos de pingüins, mostrando a utilização dessas aves para a subsistência dos ocupantes pré-históricos daqueles sítios. Aparecem em sambaquís belíssimas figuras zoomórficas escavadas em pedra polida, de abstração moderna, como um pingüim nadando de 30cm de comprimento. A datação dos objetos de sambaquis, tantas vezes remexidos, torna-se difícil uma vez que se trata de material acumulado durante séculos; fala-se de restos primitivos de 30.000 anos e mais.
,
,
Sem faculdade do vôo, descendem porém de espécies voadoras. Não possuem pterílias, as penas estão distribuídas igualmente por toda superfície da pele como . os cabelos nos mamíferos. São as aves melhor adaptadas à vida na água, sendo portanto especializadíssimas. Pesadas, seus ossos não são pneumáticos; aparecem à flor d'água apenas para respirar ou descansar, no último caso boiando à vontade, virando-se de lado; distinguem-se do biguá pelo pescoço e bico mais grossos. Remam com as asas transformadas em aletas, como se "voassem" embaixo da água. Usam "os pés munidos de nadadeiras, como leme; o primeiro dedo (o'posterior das outras aves) é dirigido mais ou menos para a frente integrando a membrana natatória. Pernas curtas, situadas muito atrás. Cauda muito curta, em vários representantes quase rudimentar. Seja frisado que
pingüins têm penas (até altamente especializadas) como outras aves, razão pela qual achamos pouco feliz a designação "Impennes" (= "sem penas") para a super-ordem dos pingüins. As narinas dos pingüins são fendas quase imperceptíveis. Glândulas nasais bem desenvolvidas servindo para a excreção dó cloreto de sódio con- . tido, em alta taxa, na água salgada (v.gaivotas). A posição lateral dos olhos não permite visão binocular. Devido a certas adaptações morfológicas especiais enxergam muito bem dentro da água onde apanham toda comida; fora d'água a visão é reduzida. Parece que são capazes de ecolocação dentro da água (v. Steatornithidae). Adaptados ao frio através de espessa almofada de penas - contendo grande quantidade de ar - e grossa camada de gordura; ao darem constantes impulsos para subirem à superfície d'água produzem calor pela incessante mobilidade. Nadam debaixo da água com notável velocidade fugindo dos seus inimigos, os lobos-marinhos, b que alcançam apenas os mais fracos; consta que chegam a 10 metros por segundo, falando-se de 36 a 40 km/h. Agüentam. submersos alguns minutos, as espécies grandes meia hora ou mais; vão além dos 10 metros de profundidade. Vivem de pequenos peixes, polvos, crustáceos planctônicos, sobretudo Eup usis o alimento principal das baleieniscus, de bico forte, apanham peixes perto as. Os da superfície do mar. Sobem à terra apenas nos lugares onde procriam ou quando estão exaustos. Andam eretos, "sentam" na cauda e deslizam sobre a barriga.
Procriam pelo fim do ano no distante sul em grandes colônias, quer nas ilhas oceânicas, quer nas costas, tanto sob o clima antártico como subantártico, regiões eniscus g nicus ricas em vida marinha em geral. cava tocas onde choca; nessa época zurra muito, dia e noite ("burro"). Os Eud ptes são adaptados à vida em lugares pedregosos, nidificando sobre áreas de cascalho, não escavando a terra. Impressiona o destemor dos pingüins em relação ao homem.
es e Após a reprodução abandonam as colônias em mar-
I
SPHENISCIDAE
ço e passam à vida pelágica, até setembro, permanecendo em geral na área da plataforma continental. Quando viajamos de navio, pingüins e outras aves oceânicas como procelarídeos e gaivotas-rapineiras, começam a aparecer a partir de 40 milhas da costa. São trazidos para nossas águas pelas correntezas frias (corrente de Falkland) e tempestades, mas migram ativamente, nadando. Na maioria, 95% dos casos trata-se de indivíduos novos, de certo modo excedentes da população, que não regressam à região de origem. Arribam freqüentemente enfraquecidos, "naufragados", talvez por inanição no mar tropical distrófico (v. Procellariidae). Sofrem amiúde de aspergiloses das vias respiratórias e verminoses (Acanthocephala). É a deficiência de cloreto de sódio que favorece o desenvolvimento de rnicoses, como atestam indivíduos mantidos em cativeiro. São muito sensíveis contra qualquer poluição da água e do ar. Já foi anunciada a existência de DDT em águas da Antártica (1981). Foram encontradas pesticidas organoclorados na gordura de pingüins na Antártica. Um novo e grave perigo, sem valor seletivo, os amea-. ça: a poluição dos mares por petróleo. A plumagem grudada perde o efeito de proteger o corpo contra o frio. No tratamento de pingüins petrolizados efetuou-se o abrandamento com uso do óleo de soja. A Marinha brasileira levou, certa vez, pingüins capturados na costa a Correnteza de Falkland. no alto rr:ar. Ocorrem mortandades de pingüins, durante as quais o mar lança centenas de cadáveres às costas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul (v. p ard e las, Procellariidae). Na cavidade nasal de pinguis mortos foi encontrado um pequeno crustáceo necrófago:
VS
[PINGÜIM-REI,
90-97,5cm. 15kg. O segundo maior pingüim (supe. reprorado apenas pelo pingüim-imperador, duz-se na região circumpolar antártica, região do Cabo Horn e ilhas dos Estados. Dispersa após o período reprodutivo moderadamente pelos mares do sul. Raramente visita a costa continental da América do Sul. Um pingüim-rei foi capturado em 5 de janeiro de 1995 na praia de Saquarema, litoral do Estado do Rio de Janeiro e incorporado ao plante! do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro (Pacheco et 1995). Trata-se do ponto mais setentrional relatado para a espécie, superando as duas recentes aparições na costa da Província de BuenosAires, Árgentina (Battaglia & Salerno 1986, Fiaineni 1992).]
PINGÜIM-DE-MAGALHÃES,
VS Fig. 49 65cm, 4,5kg. Adulto com duas faixas negras através do peito anterior, pouco visíveis quando bóiam na superfície do mar. Sexos semelhantes. Imaturos sem de-
187
senho distinto no peito. No Brasil predominam imaturos (v.Introdução) que variam muito na coloração. Ocorrem no Chile e na Argentina. As colônias mais próximas do Brasil estão na costa patagônica.
Fig. 49. Pingüim-de-magalhães, e s, imaturo, nadando.
niscus
Nem nas suas migrações se afastam muito da terra, permanecendo nos domínios da plataforma continental (60 a 100 km distante da costa), onde há, em água menos profunda, a maior fartura em peixes (sardinhas) e outros organismos aquáticos, o que determina também a ocorrência de outras aves marinhas como pardelas. Pescam em bandos, às vezes logo além ou dentro da rebentação (Rio Grande do Sul). Sob influência do inverno (maioa agosto) chegam até o Rio de Janeiro e Bahia, excepcionalmente Alagoas, invadindo até baías, p.ex., de Sepetiba, Rio de Janeiro e de Todos os Santos, Bahia, Maior número de exemplares chega em julho e agosto; há ocorrências até em outubro. Há anos em que as praias, p.ex., de Laguna, Santa Catarina, ficam literalmente coalhadas de cadáveres de pingüins após ventos Sul e Sudeste. Em 14-6-1971 foi encontrado na Barra da Tíjuca, de Janeiro, um indivíduo anilhadó ainda como filhote, em 15 de janeiro do mesmo ano, em Punta Tombo (Chubut, Argentina), a 2.500km em linha reta; ocorreram mais três recuperações de pingüins anilhados no mesmo ano (Florianópolis, Itapema e Pântano do Sul, Santa Catarina, julho, agosto). Na marcação dos pingüins são usados "clips" do tipo aleta. Ao sul de São Paulo aparecem às vezes do lado do mergulhão odiceps o ou mais comumente do biguá (v. Introdução). "Pato-marinho", "Pato-do-mar" (Santa Catarina).
PINGÜIM-DE-TESTA-AMARELA,
olophus
VS
[45cm] Lados da cabeça providos de um tufo de penas cor de laranja, ligado após a fronte por uma faixa da mesma cor. Antártico, subantártico, nicllfica nas Malvinas e em outras zonas subantárticas do globo. Ocasionalmente transviado até o Rio Grande do Sul: barra do Arroio Chuí em 5 de julho de 1964, bando de mais de dez exemplares completamente exaustos. "Pínguíno-rnacaroní", "Pinguino-de-penacho-anaranjado" (Argentina).
188
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
PINGÜIM-DE-PENACHO-AMARELO,
ch s
e
VS
[40cm] Bem parecido com o precedente, porém menor, tufos amarelo pálido e não conectados por qualquer faixa. Um indivíduo no Museu de Pelotas,
iog
Rio Grande do Sul; uma fêmea encontrada morta na praia de Mostardas, Rio Grande do Sul (agosto 1980, F. Silva, C. Taffarel); espécie que vem mais regularmente ao Uruguai. Zona subantártica, reproduz nas Malvinas e na porção meridional da América do Sul.
hoppe
.
heniscid l
G
l)
Barbieri, E. & C. M. Vooren. 1993. nte 7:18-22 (recuperação de pingüins oleados)" es 11:8-9. d Battaglia, G. E. & J. C. Salerno. 1986. p nicus em BuenosAires)* Belton, W. 1978. u 95:413. (registros de Eud ptes c soco e e E. c hus no Brasil) / . 17:89-103. (migração) Brenníng, U. & w. Mahnke. 1971. e . Fiameni, M. A. 1992. uest 27:28. n nicus em BuenosAires)* Harrison, P. 1983. , n identi guide. London & Sidney: Croom Helm. (guia de campo) [acobus, A. L., M. Gazzaneo & S. Momberger. 1988. esu 465. ( pheniscus l presença Con . . . Cu ti
em sítios arqueológicos) [ouanín, C. & J. L. Mougin. 1979. Order Sphenisciformes. Pp. 12134. In: C ist VoI. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zoology.* Pacheco, J. E, V Ramos, Jr. & L. P. Fedullo. 1995. 64: 4. tes p , primeiro registro no Brasil)' i ing i 3:45-64. (hábitos) Pettingill, O. S.,Jr. 1964. Sander, M., M. N. Strieder, M. V Petry & V L. Bastos. 1986. II 223. (técnicas de captura e anilhamento) E de g uins. New York:Macmillan. Stonehouse, B. 1975. he (monografia) Williams, T.D. 1995. guins. Oxford: Oxford University Press."
ORDEM PELECANIFORMES
RABOS-DE-PALHA:
n
FAMÍLIA
PHAETHONTIDAE
(2)
Aves marinhas de distribuição pantropical. Fóssil do Terciário Inferior (Eoceno, há 50 milhões de anos) da Inglaterra e do Quaternário das Bermudas (há 8.000 anos). Lembram os trinta-réis, com os quais não são aparentados.
, Do tamanho de um pombo ao qual se assemelham inclusive na maneira rápida e reta de voar, não sendo perturbados nem por tempestades. Suas retrizes medianas são extremamente alongadas e adelgaçadas do meio para a extremidade, dando-lhes uma aparência graciosa sem igual nas aves marinhas; as pontas das suas retrizes prolongadas quebram durante a nidificação. Bico forte, pontiagudo, com narinas externas (ao contrário dos atobás): bordos das mandíbulas serrilhados. Sexos iguais. Deixam-se cair no mar de uma altura considerável (tal como os atobás), mergulhando de três a quatro metros para capturar peixes e polvos; portam grande membrana natatória (v. Pelecanidae). Seu alimento principal nos Abrolhos são peixes-voadores (Coelho 1981). Descansam de cauda levantada, pousados sobre a água; bóiam com mais facilidade do que uma gaivota. Decolam com alguma dificuldade; aterrissam "de barriga", não sabem andar direito nem podem ficar de pé. Suas vozes lembram as dos trinta-réis. Criam em ilhas oceânicas, nas escarpas com buracos onde põem, sobre a areia ou entre pedras, ovos densamente manchados, ao contrário de outros Pelecaniformes que têm ovos uniformemente brancos ou azulados. Foram registrados em dois filhotes (Abrolhos). Tornam-se competidores de outras aves marinhas, desalojam, p. ex., pardelas dos seus buracos. A incubação (28 dias) e a permanência dos filhotes no ninho (63 dias) de são longas, situação típica para aves que são pouco ameaçadas durante ~ reprodução.
og (
t
Fig. 50
RABO-DE-PALHA,
Cerca de Irn, dos quais quase 40cm correspondem à cauda. Branco, de costas listradas de negro e ponta dasasas também negra (vexilo externo das primárias é escuro); bico vermelho coral. Imaturos de cauda curta e bico amarelo. Nidifica em Abrolhos (sul da Bahia) e Fernando de Noronha, ocasionalmente visita a costa (Maranhão); um indivíduo observado em Cabo Frio, Rio de Janeiro (março 1984, Teixeira et . 1985). Parece que nada consta sobre sua presença na Ilha da Trindade. Ocorrem regularmente no Pacífico, nas Antilhas e em outros mares quentes. "Rabo-de-junco", "Crazina" (Abrolhos), "Rabo-de-palha-de-bico-vermelho"".
RABO-DE-PALHA-DE-BICO-LARANJA
*,
É algo menor o que só se nota observando-o ao lado da anterior. Difere ainda pelo dorso imaculadamente branco e o bico laranja. Imaturo semelhante ao da espécie precedente, sendo porém menor. Fernando de Noronha, Mar das Antilhas e outros mares quentes.
Fig. 50.
-de
,
ihon
elhe eus.
o é
g
Ge
Dorst, J. & J. L. Mougin. 1979. Order Pelecaniformes. Pp. 155-93. In: Ch st o lhe Vol. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Comparative .Zoology' Efe, M. A., G. S. Couto, A. B. A. Soares & A. Schulz Neto. 1992. os Il Cong , r.49. s,
reprodução em Abrolhos, BAl' Harrison, P 1983. ident ic tion guide. London & Sidney: Croom Helm. (guia de campo) Snow, B. K. 1985. Tropicbird. Pp. 610-11. In: Dic o s (B. Campbell & E. Lack, eds). Calton: T & A O Poyser e Vermillion: Buteo Books."
190
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
ATOBÁS:
FAMíUA
SULIDAE
(4)
Aves marinhas de vasta distribuição. Grande número de fósseis conhecidos desde o Oligoceno Inferior da França (35 milhões de anos).
o
,
es
Do porte de gaivotas, possuem porém as asas mais compridas e estreitas. Singular cauda cuneiforme; grandes membranas natatórias (v. Pelecanidae). Bico pontudo e serrilhado, não apresentam narinas externas, o que poderia ser uma adaptação para impedir que a água do mar invadisse os dutos respiratórios em conseqüência do choque de penetração sofrido por estas aves ao lançarem-se impetuosamente à superfície do mar para pesethon, que à feicar; notamos que os rabos-de-palha, ção das 5u/ lançam-se ao mar na faina da pesca, possuem narinas abertas externamente. A conseqüência mais óbvia de tal disposição é que os atobás têm de respirar de bico aberto, o mesmo acontecendo com os biguás (Phalacrocoracidae); os embriões de ul possuem narinas abertas externamente. Um albino de Atobá, /e g e , foi encontrado na costa do Rio de Janeiro (Coelho & Alves 1987). Glândulas nasais utilizadas na excreção. do sal como ocorre em outras aves marinhas. Um sistema de lacunas pneumáticas subcutâneas, largamente difundido nas partes inferiores dos atobás e rabos-de-palha; e também um sistema de grandes sacos aéreos entre a musculatura, são interpretados como tendo o papel de proteger a ave contra os violentos impactos sofridos quando esta se choca contra a superfície do mar (mas essa pneumaticidade é caráter geral da maioria dos nebou ii, da costa Pelecaniformes). Consta que equatoriana, lança-se ao mar a 110 km/h, ou seja, 30,56 m/seg (Rüppell 1975). A profundidade do mergulho chega a mais de 20 m em lo s s nus. Os mares tropicais oferecem as melhores condições para a execução deste tipo de pescaria, pois suas águas são bem transparentes devido à escassez de plâncton, o que permite uma visibilidade de vários metrosabaixo d'água. O modo de pescar do nosso atobá, leucog ste , freqüentemente não é espetacular; tira, sem ser visto, as iscas dos pescadores, ensaia pescarias coletivas. Vento contrário forte facilita-lhes parar em pleno ar e observar os cardumes, apanha peixes pequenos como sardinhas e pescadinhas além de lulas: Quando não pescam, voam, formando compridas filas, rente ao mar, alternando uma série de batidas de asa com um planeio. Para alçar vôo do mar necessitam correr alguns metros para tomar impulso; pousados nas rochas lançam-se ao ar. Notamos deslocamentos de S. Ieu t no litoral do Rio de Janeiro, correspondendo, aparentemente, a mi-
grações regulares. Um dos primeiros atobás anilhados em Santa Catarina como filhote foi recuperado na Ilha do Governador, Rio de Janeiro.
e
.1
o
Procriam em colônias situadas em ilhas; nesta ocasião tornam-se barulhentos, suas vozes lembram o latir de cães; fora desta época mantêm-se calados. d ciijl t e l sie nidificam no solo, o ninho do último pode ser bem arrumado, de pedrinhas e/ou material vegetal, dependendo do local. Para Sula sul consta que constrói sobre árvores ou montes de galhos empilhados quando a mata foi destruída, como na Ilha Trindade, onde porém Olson (1981) encontrou-o nidificando no solo. Cada espécie forma sua própria colônia separada da espécie vizinha; no Atol das Rocas, ul nidifica de permeio com as grandes colônias de trinta-réis 5 [uscaia. Nota-se atividade reprodutiva de S. l t a maior parte do ano. As colônias podem ter muitos milhares de casais, p. ex. em s s nus, na Europa. Põem dois ovos pequenos cobertos por uma crosta calcária branco-azulada que, se raspada, deixa ver o fundo pardo-azulado (5ul leuc t Colocam os pés por cima dos ovos conforme fazem outros Pelecaniformes, ao que parece mais para segurá-Ios e apertá-los contra o abdômen do que para esquentá-los, pois a temperatura dos pés não é suficientemente alta para o mister do choco. Não possuem placa de incubar. O período de choco, t varia de 40 a 42 dias. Costuma deem ul l senvolver-se apenas um filhote, que nasce nu sendo suscetível às inclemências do sol, podendo sucumbir caso o ninho não seja sombreado; adultos e filhotes defendem-se da canícula ofegando, fazendo tremular o saco guiar ou os pés quando voam. O segundo ovo é chamado "ovo de segurança". Quando nasce o primeiro filhote o segundo ovo é posto fora do ninho. O modo de descansar dos filhotes de pescoço esticado leva no caso de . S. sul que não nidifica no solo mas sim sobre galhos, estranha situação em que as aves permanecendo de cabeça e pescoço pendentes, de olhos fechados, passem a impressão de estarem mortas. Os pais de ul ste podem revelar seu nervosismo ao pegarem, com o bico, um grave to, reminiscência da construção do ninho, fazendo o mesmo em cerimônias pré-nupciais ("comportamento deslocado"). Os sexos se distinguem pela cor.da face nua que se altera durante os ciclos reprodutivos. A vocalização do casal também é diferente. à
G Nas ilhas mais freqüentadas
por estas aves houve
)
'"
SULlDAE
acúmulo de excrementos formando substância designada como "guano", P: ex., no litoral de Santa Catarina. Uma análise feita de material da Ilha dos Alcatrazes (São Paulo), revelou a seguinte composição: água 6,32%, matéria orgânica 22,25%, matéria mineral 71,42%, nitrogênio 0,97%, fósforo 2,94% e potássio 0,56%. Comparada com a que se acumula nas rochas costeiras do Peru, a quantidade de guano encontrada nas costas brasileiras é reduzida devido ao pequeno número de aves produto~as e a razões climáticas: as chuvas freqüentes removem as fezes a curtos intervalos, o que ocorre também nos Penedos de São Pedro e São Paulo, situados no meio do Atlântico e que abrigam grandes colônias de stoliduse . Em Fernando de Noronha existiu no século passado uma pequena jazida de guano que chegou a ser explorada. produzida nidificando sobre árvores. Na década de por ul 1950 uma empresa francesa voltou a explorar comercialmente o guano desse arquipélago com o auxílio de maquinário, terminando por arrasar a ilha Rata. Tanto no Peru como na costa da África meridional ambos de clima bem seco, o trio formado por atobá, biguá e pelicano é que contribui para a deposição do guano. Compare o . guano de aves insetívoras (veja Apodidae).
n
nidícol
Os ninhos de l l e S. podem abrigar fauna nidícola característica: grandes carrapatos (146 indivíduos de uma espécie, retirados de um único ninho de S. l pseudo-escorpiões e besouros das famílias Tenebrionidae, e Trogidae (Arquipélago de Abrolhos, Bahia, J. Becker, em Coelho 1981).
itos São parasitados por dípteros hematófagos espécie políxena (Hippoboscidae): Ol que atormenta também outros Pelecaniformes, Procellariifonnes e Charadriiformes. Consta que, em regiões tropicais, os ninhos de diversas aves marinhas são severamente infestados por carrapatos argásidos que podem transmitir um arbovírus que lhes é fatal; ninhos e até colônias inteiras (p. ex. de 5 Laridae) são abandonados.
Ini igos Como várias outras aves marinhas, são importunadas pelos tesourões, . Para escapar a estes ataques, os atobás deslastram-se vomitando o peixe que haviam devorado, o que é precisamente o que o tesourão queria, apresando o butim; às vezes os atobás tentam iludir o cerco das t mergulhando. Nas ilhas mais próximas do continente, os filhotes pequenos são vítimas de urubus.
end s,
191
es n to, deno
Afirma-se que foram os atobás que chamaram a atenção de Colombo ao aproximar-se da terra; a maioria dos representantes desta família não se afasta da terra (v.também Tesourão, Fregatidae). A pele dura dos atobás deu origem a um artesanato original em Fernando de Noronha: a confecção de chinelos, técnica executada em ilhas subantárticas usando pele de pingüins. O nome "alcatraz", de origem árabe, como parece, é a denominação portuguesa mais correta para as espécies de e não para as eg (Fregatidae).
ol . Nas praias do Rio de Janeiro se nota durante os últimos anos mortandade de atobás por peixes envenenados pela poluição do mar.
ATOBÃ-GRANDE,
l
Fig.52
i l
86crn. A maior espécie, branca como a seguinte, diferindo dela pelos pés escuros, oliváceos ou plúmbeos. Lança-se de uma altura de 10 metros ou mais em pique vertical no mar profundo, mergulhando vários metros na perseguição aos peixes. Nidifica nos Abrolhos (setembro), Atol das Rocas e Fernando de Noronha. Aparece periodicamente na Ilha da Trindade. Foi observado em alto-mar ao largo de Recife (Pernambuco, maio) Visitante regular, mas não freqüente, em pontos da costa; Cabo Frio, banco de São Tomé e Macaé (Rio de Janeiro) (nestes dois últimos locais parece às vezes nidificar) e Salvador (Bahia). Santa Catarina (Moleques do Sul, janeiro 1983, um indivíduo, Lenir A. Rosário). Espécie de vasta distribuição no hemisfério meridional. "Pilotobranco" (Abrolhos), "Atobá-mascarado*".
l sul
ATOBÃ-DE-PÉ-VERMELHO,
7Dcm. Espécie pequena que apenas acidentalmente aparece nas costas brasileiras. Branco como a espécie anterior, diferindo desta por seu porte inferior e pés vermelhos; bico azulado. Espécie polimórfica. existe um morfo todo pardo, semelhante ao imaturo, mas de pés vermelhos (em vez de amarelados). Comum em Fernando de Noronha, onde a maioria se apresenta na fase branca. Nidifica em Fernando de Noronha e Trin-
Fig. 52. Atobá-grande,
ui
t
.
192'
ORNITOLOGIABRASILEIRA
dade. Registrado voando em alto-mar ao norte de Salvador, Bahia, junto com (maio 1964, I. Vogelsang); dois exemplares observados na Ilha Redonda defronte ao Rio de Janeiro, perseguidos por (Victor Wellisch, verão de 1978). Espécie de vasta distribuição, ocorrendo também no oceano Pacífico. A mais pelágica das "Mombebo branco" (Fernando de Noronha).
l
ATOBÁ, ALCATRAZ,
Pr. 2,5
74cm. O mais comum dos sulídeos nas costas do Brasil. Pardo-escuro, peito posterior e barriga brancas, bico esbranquiçado. Sexos reconhecíveis pelas cores das partes nuas, sobretudo a região perioftálmica (incluindo as pálpebras) a qual no macho é azulada-escura e amarela-clara na fêmea, destacando nesta, ainda, uma mancha anegrada ("olho falso") em frente do olho (o macho tem uma mancha loral escura pouco definida); as cores da face e também dos pés, cuja cor combina com a da face, variam conforme a população, a idade, a estação e até a fase da reprodução. De uma maneira geral o macho é menor e varia mais quanto ao colorido, tendo a voz bem mais fraca (vocalização dentro da colônia). A fêmea se destaca; pelo bico mais grosso. Imaturo pardo-escuro uniforme, mais claro no abdômen, bico cinzento-claro, pode lembrar à distância uma gaivota-rapineira, Ninhego inteiramente branco; as primeiras penas definitivas que surgem são as rêmiges e as retrizes pretas. , pesca precipitandoAo contrário de se obliquamente de média altura, geralmente em águas rasas, perto de praias e rochedos; submerge por completo; para decolar corre alguns passos sobre a superfície d'água. Ao cair da tarde, voando rente à água em fila indiana, demandam as ilhas aonde pernoitam. Nidificam em ilhas como as do arquipélago dos Abrolhos (Bahia, setembro), as de Macaé (Rio de Janeiro, julho) e a das
g
Cagarras (ex-Estado da Guanabara, de setembro em diante). O ninho é uma pequena concavidade no solo levemente forrada (v. Introdução). Nas ilhas onde resi-. dem empoleiram-se pacificamente ao lado de tesourões (v. Introdução), nem chegando a investir sobre urubus pousados no solo (embora os ataquem caso estes sobrevoem os locais de nidificação); quando pousam sobre touceiras de cactáceas furam por vezes as membranas natatórias (Ilha do Francês, Macaé, Rio de Janeiro). Durante o período reprodutivo são ativos dia e noite. Espécie tropical e subtropical, meridionalmente atinge o Paraná e Santa Catarina, podendo chegar até mesmo à Argentina. Uma colônia na Ilha Moleques do Sul, seis milhas da costa sul da Ilha de Santa Catarina, parece ser o local mais meridional da América do Sul onde ocorre nidificação. Habita também o oceano Pacífico e outros mares de clima quente ao redor do globo. "Mergulhão", "Mumbebo" (Pernarnbuco). "Freira", "Piloto", e "Piloto-pardo" (Abrolhos), "Atobá-patdo*". ATOSÁ-AUSTRALIANO,
VS
A superespécie da Europa (grande, branca, com extenso amarelo na nuca, primárias pretas, cauda branca ou com as centrais pretas) tem dois substitutos nos trópicos, muito semelhantes entre si, não idens s na África, e s tificáveis a distância: na Austrália. Um representante deste grupo foi registrado em alto-mar, em frente do Rio Grande do Sul, em julho de 1982 e em abril de 1983 por Vooren (1985). Concluímos que um indivíduo apanhado no litor~e Santa Catarina, na Ilha Moleques do Sul (Bege & Pauli to1987), em junho de 1987, pertencia a o tal100cm, estria guIar com apenas 45mm (a estria guiar de c pensis e M. b nus é bem mais longa); o exemplar taxidermizado foi depositado no Museu Nacional, Rio de Janeiro.
li é
i iog
Ge
)
Alves, V.S. 1992. Ciênci Hoje 84:58-59. (conservação)' Azevedo Júnior, S. M., W. R. Telino Júnior & R. M. de L. Neves. 1994. s s I Cong s. O no c 81. ( c t , Pernambuco)" B. o. C. 110:93-94.( o , Bege, L. R. & B.T. Pauli. 1990. primeiro registro no Brasil)" 2:85-86. ieuc te , Coelho, E. P. & V. S.Alves, 1991. albinismo)"
Dorst, J. & J. L. Mougin. 1979. Order Pelecaniformes. Pp. 155-93.In: Chec s o the o Vol. ~. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.), Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zoology.* Harrison, P.1983. , on guide. London & Sidney:
Croom Helm. (guia de campo) Howell, T. R. & G. A. Bartholomew. 1962. Cond 6 6-18. (termorregulação) Nelson, J. B. 1972. oc. 15/h lni. C he H u 371-88. (hábitos) /s nd Oxford: Oxford Nelson, J. B. 1978. e University Press. Rüppell, G. 1975. J. O n. 116:168-80.(mergulho) Simmons, K. E. L. 1967. he ng i 6:187-212. (ecologia) Vooren, C. M. 1985. u II C . 266-67. s nsis. no Rio Grande do Sul) i 225 1156-58 White, S. J., R. E. C. White & w. H. Thorpe.1970. (reconhecimento individual da vocalização)
~.
-
PELECANlDAE
PELICANOS:
FAMÍLIA
PELECANIDAE
(1)
Grandes aves aquáticas de certas zonas da América do Norte e do Velho Mundo. Fóssil do Mioceno da Argentina (há 20 milhões de anos).
Bico desproporcionalmente longo: bolsa gutural elástica (cuja .presença quase não se nota caso esteja vazia) que se expande largamente para os lados, servindo como uma rede de pesca e não como depósito. A língua é quase rudimentar. Entre os poucos caracteres evidentes na morfologia externa tanto dos pelicanos como dos outros representantes desta ordem estão as extensas nadadeiras que unem os quatro dedos, portanto também o hállux, ao contrário dos Anseriformes. Existem muitas lendas sobre os pelicanos. Foram domesticados no antigo Egito e na Ásia e venerados pelos muçulmanos. Especial popularidade ganhou o símbolo do pelicano que alimentava os seus filhotes com o próprio sangue, emblema assumido mais tarde para o sacrifício de Cristo. Esta lenda peculiar baseia-se no fato de o pelicano alimentar a sua prole regurgitando comida que os filhotes retiram ativamente do fundo do papo dos pais.
PELICANO-PARDO,
e
193
pernoitam empoleirados em manguezais. Nidificam nas Antilhas etc., migrando para o sul seguindo em pequeno número a costa do continente até o Amazonas, subindoo às vezes (rio Tapajós, rio Branco). Na costa do Peru, onde é chamado de "alcatraz", está entre os principais produtores de guano. Excepcionalmente na costa do Rio de Janeiro (Mitchell 1957). "Pelicano-do-mar". A observação de um pelicano branco, pescando durante dois dias na barra da Baía da Guanabara, voando até a Urca, registrado por Victor Wellisch, Rio de Janeiro, em dezembro de 1960, pode-se referir (se não a um . albino) apenas ao el en da América , do Norte migrando, normalmente, até a Guatemala e, acidentalmente, a Cuba. Seria, ao que parece, o primeiro registro da espécie para a América do Sul.
VN
Fig.51 126cm, envergadura de dois metros. Visitante ocasional no norte do Brasil. Os bandos voam vagarosamente rente à água, em fila indiana, com o pescoço encolhido: após algumas batidas de asa, cuja freqüência lembra a dos tesourões g ), planam. Pousados na água flutuam como cortiça, mantendo as asas meio levantadas e a ponta do bico encostado no peito, observando os peixes que porventura passem ao redor. Pescam também em águas rasas e enquanto voam sobre o mar, lançando-se então com ímpeto na água. Planam freqüentemente à grande altura e por muito tempo:
bliog
eIe
Fig. 51. Pelicano-pardo,
le
s
e
ibli Dorst, J. & J. L. Mougin. 1979. Order Pelecaniformes. Pp. 155-93. In: C st bi ds the o Vol. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Comparative Zoology.* ident tion guide. London & Sidney: Harrison, P. 1983. Croom Helm. (guia de campo)
Schreiber, R. W. 1979. C
.
s
C
s. 317,
(reprodução)"
Urban, E. K. 1985. Pelicano Pp. 442-43-55. In: Dictio ds (B. CampbelI & E. Lack, eds). Calton: T & A D Poyser e VermilIion: Buteo Books."
"
, ;:
194
ORNITOLOGIA
BlGUÁS:
FAMÍLIA
BRASILEIRA
PHALACROCORACIDAE
(1)
Aves aquáticas do porte de um pato, de vasta distribuição por todo o mundo, inclusive em regiões de clima frio. Melhor representados na costa pacífica da América do Sul, onde encontram ambiente mais favorável, propiciado pela corrente de Humboldt, sendo ali importantes produtores de guano. No Brasil inexistem biguás marítimos ou pelágicos. Fósseis numerosos sendo os mais antigos do Eo-oligoceno da França (37 milhões de anos).
Corpo pesado, bico estreito e adunco; plumagem escura ("corvos marinhos"). Nadam meio submersos com o bico um pouco levantado; são exímios mergulhadores, propelem-se unicamente com os pés fortes providos de amplas membranas natatórias, utilizam a cauda rígida e longa como um leme. O escasso valor dos membros anteriores dessas aves para a sobrevivência ressalta-se no fato de haver uma espécie de biguá nas ilhas Galápagos que possui as asas tão reduzidas que perdeu a capacidade de voar. Já o nosso biguá não voa mal; bate as asas rápida e continuamente, não plana, voa com o pescoço obliquamente esticado, sobe a boa altura para alcançar locais distantes: seus bandos podem lembrar aqueles de marrecas, distinguindo-se, contudo, por voarem em formações cuneiformes bem abertas (p. ex. em 160°) que são interpretadas geralmente como sendo de vantagem aerodinâmica, podendo haver explicações, porém mais simples, tais como a de manter livre o campo visual de cada indivíduo. Descansam pousados na beira da água, sobre pedras, árvores, estacas ou mesmo sobre cabos. Esticam as asas, tal como os urubus, para secar a plumagem e/ou para servir à termorregulação; tanto o biguá como o biguatinga encharcarn-se totalmente durante seus mergulhos, ao contrário de outras aves aquáticas como os mergulhões (Podicipedidae) e marrecas (Anatidae).
Piscívoros, apanham freqüentemente presas sem valor comercial, como, por exemplo, peixes providos de acúleos; o suco gástrico do biguá é capaz de desagregar espinhas. Eliminam, geralmente, peixes doentes. Na Argentina Szidat & Nani (1951) descobriram que larvas de trernatódeos se instalam em quantidade (300 a 500 a cada vítima) no cérebro de certos peixes de água doce, P: ex. sp. Tais larvas penetram também nos
cristalinos dos peixes. Os peixes debilitados tornam-se vítimas fáceis dos biguás em cujos intestinos as larvas amadurecem e se reproduzem. As pelotas de biguás são cobertas por uma membrana gelatinosa e contêm otólitos e cristalinos dos peixes, os quais são protegidos à rápida digestão no estômago, possibilitando a identificação e quantificação dos peixes consumidos. Os biguás, no Brasil, comem também crustáceos como camarões de água doce (Palaemonidae) e espécies de Realizam grandes mergulhos; os casais e grupos (de às vezes duzentos, como vimos no Rio Grande do S1,lI) reúnem-se para pescarias coletivas e estratégicas: todos nadam lado a lado no mesmo sentido, bloqueando um canaJ.--ou uma enseada fluvial, mergulhando quando um peixe aparece e quer fugir. Mergulham a 20m e mais. Biguás são treinados na Ásia para apanhar peixes pelos pescadores locais de forma semelhante com a técnica utilizada através de pelicanos adestrados no antigo Egito.
BlGVÁ,
I
I
~I
Pr. 2, 2
15cm, 1,3 kg (macho). Preto, saco guIar amarelo; durante a época de reprodução com penas brancas beirando a garganta nua e com um tufo branco atrás da região auricular. Imaturos, cor de fuligem. um grito "biguá", "oák". O coro de muitos indivíduos soa ao longe como o ruído de um motor. Nidifica sobre árvores em matas alagadas, sarandizais etc., às vezes entre colônias de garças. Ovos pequenos, cobertos por uma crosta calcária, azul claros; manchas eventuais procedem de sujeira, incubação em torno de 24 dias. As fezes ácidas dos biguás destroem as árvores mas adubam a água _(v. sob garças). ) Habitam, os lagos, grandes rios e estuários; não se afastam da costa para se aventurarem ao mar, mas voam para as ilhas perto da costa, como a Ilha Alfavaca, em frente ao Rio de Janeiro, onde alguns nidificam. Pescam às vezes dentro da arrebentação pousando na praia (Rio Grande do Sul). Após a nidificação emigram. Ocorrem concentrações enormes, muitos milhares, congregando, na região amazônica, p. ex. nos rios Solimões-Japurá, em outubro (L. C. Marigo). Nos grandes bandos.que aparecem em fins de agosto na Lagoa dos Patos (Rio Grande do Sul),foram encontrados exemplares anilhados ainda como filhotes em maio e junho em Santiago del Estero (Argentina), a 1.400km de distância (v.também marrecão). Ocorrem do México à América do Sul (toda); parente próximo de P do hemisfério norte. "Biguá-una*".
~I
-
195
PHAlACROCORACIDAE
g
c oco cid e
t Bó, N. A. 1956. H n 10:147-57. (morfologia, etologia) lson i. 101:101-06. c Browníng, M. R. 1986. us, nomenclatura)' Dorst,J. &J. L. Mougin. 1979. Order Pelecaniformes. Pp.155-93. In: Ch sl lhe . VoI. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum oi Compara tive Zoology.* Harrison, P. 1983. Croorn Helm. (guia de campo)
guide. London & Sidney:
Heruiques, L. M. P. 1993. III (30.000 estimados no lago Mamirauá,
.
Om.
l
r. 35.
AM)*
Gales, R. P. 1988. lbis 130:418-26. (otólitos) Gould, L. L. & F. Heppner. em vôo)
1
91:494-506. (formação do bando
r
Rijke, A. M. 1968. E . . 48:185-89. (impermebealidade)" Cient.Inst. t ct. Chileno Schlatter, R. P. & C. A. Moreno. 1976. 4:69-88 '(pelotas) Szidat, L. & A. Nani. 1951. Inst. 1:323-84. (trematódeos em cérebros
Cienc. de peixes).
.
196.
ORNITOLOGIA
BIGUATINGA:
BRASILEIRA
FAMíLIA ANHINGIDAE
'""
(1)
Singulares aves aquáticas das regiões tropicais das Américas, África, Ásia e Austrália. O mais antigo fóssil data do Eoceno (mais de 40 milhões de anos) da Sumatra. Os biguatingas se distinguem nitidamente dos biguás, na morfologia, oologia e etologia. O nome Anhinga é nome antigo tupi, equivalendo à "cabeça pequena". O nome foi aproveitado por Marcgrave e introduzido na nomenclatura científica por Linnaeus em 1766.
revestido, provoca uma impulsão ascensional, uma vez que elimina o peso do corpo. Ao contrário dos demais Pelecaniformes, os Anhingidae processam muda simultânea de rêmiges o que os incapacita periodicamente para o vôo (v. também Anatidae). Dimorfismo sexual acentuado.
BIGUATINGA,
CARARÁ
I -"
Fig. 54
Pr. 2, 1 Pescoço fino e muito longo (20 vértebras), tipicamente angulado mediana mente, lembrando as garças e diferindo daquele do biguá. Bico longo, muito pontiagudo e serrilhado (não se apresentando adunco), próprio para fisgar peixes. Cauda ainda mais longa do que a do biguá, tendo a forma espatulada e a estrutura peculiar, pois as retrizes são rígidas e onduladas transversalmente lembrando uma chapa, construção adequada para reforçar as penas que servem de leme quando nadam abaixo d'água. O biguatinga apresenta, ainda mais que o biguá, a tendência de afundar quando nada tranqüilamente; seu esqueleto é ainda menos pneumáticoe seus sacos aéreos não estão em comunicação com os ossos. As penas do corpo encharcam, perdendo a função de formar um colchão de ar. Com isso a ave ganha peso, o que facilita o ato de mergulhar. Entende-se que, no caso (do mergulhão (Podicipedidae), um invólucro de ar do qual está
88cm, l,2kg (macho). Negro com rico desenho branco sobre a asa, ponta ~a cauda clara (acinzentada), macho; fêmea de pescoço e peito pardacento-daros; imaturo de dorso pardo, quase não possuindo branco na asa, e de bico amarelo. um grasnido. , Trepam através da ramagem que se encontra sobre a água calma ficando à espera de insetos aquáticos, crustáceos etc., que apanham com rápido bote, com o bico, sem deixar o poleiro. Mergulham destes postos na perseguição de peixes, propelem-se com os pés; às vezes abrem as asas durante as perseguições mas jamais remam com elas. A anatomia singular de seupescoço permite-lhes dar botes rápidos e vigorosos como os de uma cobra, espetando lateralmente os peixes com segura punhalada. Vimos um biguatinga espetar um peixe com o bico um pouco aberto, a maxila e mandíbula agindo como dois punhais independentes que cravaram-se simultaneamente no corpo da vítima, a qual tinha cerca de 20ém. Para engolir a presa vem à tona, desprendendo-a através de sacudidelas verticais da cabeça e engolindo-a em seguida. Há quem afirme que os "Meuás" reúnem-se em certo número formando um cír-
Fig.53.Biguatinga, a cabeça.
submerso, exceto
Fig.54.Biguatinga, g repousando de asas abertas.
g , macho adulto,
ANHINGIDAE
culo à procura de concentrar peixes em um espaço restrito (Maranhão); esta observação pode se referir ao . biguá, , Quando não pescam, nadam devagar, deixando emerso apenas um pouco do pescoço e a cabeça ou somente esta última, que é tão estreita que parece continuação daquele, dando a impressão de estarmos defronte de uma cobra d'água; quando nadam nessa posição mantêm o bico levantado quase que na vertical. Foge mergulhando como o biguá. Empoleirado permanece freqüentemente de asas abertas, impressionando então o tamanho e a forma côncava das mesmas. A razão para esticar as asas deve ser tripla: (1) secar as asas, (2) acumular calor em horas de temperatura baixa, e (3) SE: livrar de um excesso de calor. Pousa sobre as árvores secas. Voa alternando batidas de asas com
197
planeios. Paira a grande altura, sua silhueta então assemélha-se a uma delgada cruz negra, impressionando a longa cauda. Ocorrem migrações locais dentro da Amazônia. ep oduç Vivem aos casais, às vezes dentre colônias de garças. Ninho sobre árvores. É estranho que os ovos dos biguatingas, alongados, brancos ou azulados, não se assemelham aos ovos dos biguás mas sim aos dos mergulhões, Podicipedidae (Schbnwetter 1967).Chocam semelhante aos Sulidae, colocando os pés por cima dos ovos. Fora da época de reprodução encontram-se em bandos ou esparsos entre os biguás. Vivem à beira de rios e lagos orlados de mata. Aparece em represas piscosas. América do Sul tropical, todo o Brasil; setentrionalmente até o México e sul dos EUA. "Calmaria" (Rio Grande do Sul), "Peru d'água", "Mergulhão-serpente". O nome tupi "biguatinga" significa biguá com desenho.branco.
io t Becker, Dorst,
ibliog
Ge l)
J. J. 1986. u . 103:804-8. (fóssil) J. & J. L. Mougin. 1979. Order Pelecaniformes.
Pp. 155-93. In: Chec st bi ds o the ld. Vol. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zoology.*
-'
Owre, O. T. 1967.
lhe Double-
pt tions
l
n
eeding in lhe
Washington:
i
A.O.U (Ornith.
Monogr.6.)* ds (B. Campbell Tets, G. F.van. 1985. Darter. P. 130. In: Diction j . &E. Lack, eds). Calton: T &AD Poysere Vermillion: Buteo Books."
198.
_.
ORNITOLOGIA
TESOURÕES:
BRASILEIRA
FAMíLIA
FREGATIDAE
(3)
Aves de ilhas oceânicas tropicais, fósseis já no Terciário (Eoceno); também em depósitos quaternários das Antilhas (8.000 anos).
l Macho menor que a fêmea. Figuram entre os voadores mais elegantes: possuem asas extremamente longas, estreitas e angulosas. Consta que são as aves de menor peso por unidade de superfície de asa. O total das penas de uma pesa mais que o seu esqueleto ressecado. Os ossos muito pneumáticos, leves e elásticos; um pelicano que tenha a.mesma envergadura pesa quatro vezes mais. Cauda profundamente bifurcada corno duas lâminas de tesoura e, à semelhança destas, com capacidade de abrir e fechar; as pontas de tais "lâminas" podem ter comprimento diverso devido à muda. Bico longo, recurvado; pernas e pés bem pequenos, membranas interdigitais reduzidas. Nunca pousam sobre o mar (encharcam-se rapidamente) ou sobre a praia; descansam planando, pernoitam empoleirados, suas unhas são muito apropriadas para se agarrarem firmemente em galhos e no ninho, um fato de particular importância para os filhotes.
ni icens pesca na superfície do mar sem molhar-se, executando movimento elegante de cabeça. Apanha filhotes de peixes que sobem à flor d'água em cardumes, apanham peixes voadores. Perto da ilha Grande (Rio de Janeiro) vimo-Ia pegar um pequeno peixeespada; apanham também bagres que sobram do serviço dos pescadores, quebrando os três acúleos duros desses peixes; parp tal deixam-nos cair tornando a pegá-Ios em pleno vôo, manobrando-os de tal forma até conseguirem vencer seus espinhos. Quando o butim cai no mar, ocorre inevitavelmente competição com outros tesourões ou gaivotas. Devido ao seu característico vôo de .altura os tesourões são muito mais eficientes na localização de barcos de pesca que atobás ou outras aves marinhas de vôo baixo. Rouba dos atobás e trinta-réis a presa ingerida, perseguindo-os com vôos acrobáticos até que vomitem a comida, que é apanhada ainda no ar. Um tesourão pode tirar o roubo de outro tesourão, sendo o prejudicado, em geral, um imaturo. Chega a tocar nas' vítimas, pegando-as pela ponta da cauda ou a té pela asa; podendo mesmo machucá-Ias (o que não presenciamos na costa do Brasil). A freqüência deste comportamento predatório (cleptoparasitismo), que nem sempre logra obter êxito, depende da população local de tesourões e da situação respectiva. arrebata filhotes Voando rente à areia,
de tartaruga recém-nascidos do ovo e que se dirigem para o mar (ilha da Trindade). Os vários nomes dados a esta ave no mundo inteiro referem-se a tais hábitos agressivos: "Fregata", que se originou de "Fragata", antigo navio à vela muito veloz, usado tanto na guerra corno na pirataria; "Águia-do-o(v. também gaivota-rapineira). mar",
itos São severamente incomodados por hipoboscídeos, dípteros hematófagos: Ol spini (Bahia, Paraná). Tais moscas, parasitos monóxenos restritos ao gênero, enfiam-se entre as penas para alcançar a pele da ave. Voejam-lhes em enxames ao redor, quando a ave está pousada.
TE50URÃO, RABO-FORCADO, JOÃO-GRANDE,
g
s
Pr. 2, 3
98cm, a envergadura pode exceder dois metros, o peso é de apenas 1,5kg. Macho inteiramente negro com forte brilho violáceo no dorso; apenas excepcionalmente visualiza-se nele urna "gravata vermelha" (parte do saco gular, ver abaixo). Fêmea com peito branco; imaturo, de cabeça e partes inferiores brancas, além de ter o lado superior da asa com barra parda. Filhote de plumas brancas, sendo as escapulares (pardas) entre as primeiras penas definitivas que aparecem. H Sob a influência de correntes aéreas ascendentes no litoral montanhoso pairam junto aos urubus, podendo alçar vôo tão alto que se perdem de vista. Lembram remotamente o gavião-tesoura, El , mas voam freqüentemente de cauda fechada; quando os dois . se encontram sobre a terra, o último afugenta a Pescam no mar perto da costa, nos portos e ao redor de navios pesqueiros. Para tornar banho sobrevoam lagunas e lagos litorâneos de água doce. Descendo, molham a cauda e sobem. Peneiram então desajeitadamente, terminando por se deixarem cair alguns metros sacudindo toda a plumagem e, desta maneira, espalhando a água por todo o corpo (Rio de Janeiro). Coçam-se e arrumam a plumagem voando; possuem urna unha pectinada assim corno os atobás e algumas outras aves. À tardinha se dirigem em grupos de meia dúzia, planando em círculos, em demanda de certas ilhas arborizadas (p. ex. Ilha Redonda, Rio de Janeiro), onde dormem em conjunto às centenas; pousam ainda depois do anoitecer. Os tesourões podem ficar à noite pairando a grande altura, deixando-se apenas levar pela brisa, supomos cochilando (v. sob andorinhões, Apodidae). Devido ao seu peso redu-
-
FREGATlDAE
zido podem pousar sobre galhos finos podendo-se falar, portanto, de "aves marinhas arborícolas". Durante o período reprodutivo o macho mostra-se disposto a inflar o "saco guiar" (um prolongamento dos sacos aéreos cervicais) que, fora desta época, permanece coberto pela plumagem. A exibição desse saco dá-se apenas na área de procriação; enchem-se até que este forme como que uma grande bola encarnada (desbotando após a reprodução) quando se dirigem para a fêmea acenam com a cabeça (e com o saco) lateralmente da direita para a esquerda, mantendo-a jogada para trás, e deixam ouvir um estranho bulício. Executam este ritual pousados sobre as árvores agindo todos os machos simultaneamente quando uma fêmea sobrevoa o local; exibem-se também os machos que sobrevoam a colônia. As fêmeas soltam um arrulho muito forte. Ocorre um bater de mandíbulas. Fazem seu ninho na cerrada parte superior de árvores e arbustos capororoca), às vezes sobre tufos e moitas de capim mais elevados (Abrolhos), ou até sobre a rocha aberta (F. Trindade, Olson 1981). A destruição da vegetação pode provocar o abandono das respectivas ilhas pelos tesourões, como aconteceu nas Ilhas Cagarras, defronte ao Rio de Janeiro. Quando a chuva faz crescer a vegetação de modo a interferir nos ninhais; as.fragatas procuram árvores mais destacadas, caso existam (Moleques do Sul, Santa Catarina, L. A. Rosário). O ninho é uma pequena plataforma ou bacia rasa de galhos; coletam o material quebrando pontas de galhos de árvores mortas ou tirando-o dos vizinhos (o último processo talvez agravado pela escassez de material, provocada pelas atividades do homem); requerem também palha. Um ninho desocupado por alguns minutos pode ter todo o seu material retirado pelos vizinhos. Com o tempo os gravetos soltos são colados pelas fezes. Os machos são mais ativos no processo de construção. Põem geralmente apenas um ovo branco puro (agosto em diante, Santa Catarina), às vezes dois ou três (setembro, outubro, São Paulo). O casal reveza-se na incubação; os machos podem ser muito ativos nisso, invadindo até outros ninhos (Abrolhos, Coelho 1981). A incubação é extremamente demorada, sendo calculada de seis e meia a oito semanas (Diamond 1972). O ato dê . eclosão pode alongar-se por 24 horas, em Os adultos têm de vigiar constantemente ovos e filhotes pequenos para evitar saques por parte de tesourões vizinhos (e urubus); afirma-se que os filhotes só deixam o ninho com cinco meses de idade ou mais. Foi observado, em uma colônia das Antilhas, que quando os filhotes têm de três a quatro meses os machos abandonam a colônia, passando provavelmente por uma completa muda pós-nupcial. Os filhotes depois de habilitarem-se ao vôo, são alimentados ainda por quatro meses pela mãe; pode-se concluir daí que as fêmeas só chegam a nidificar de dois em dois anos, como se dá com as grandes aves de rapina, e que deve existir maior número de fêmeas.
199
Conhecemos poucas colônias de tesourão no litoral brasileiro, por exemplo, nos arquipélagos de Cabo Frio e Macaé (Rio de Janeiro), também defronte da cidade do Rio de Janeiro (Ilha Redonda), no arquipélago dos Abrolhos (Bahia), Ilha dos Alcatrazes (São Pau10), no litoral do Paraná (Ilhas Currais, uma colônia grande) e nas Ilhas Moleques do Sul (Santa Catarina). Perambulando pela costa a espécie ocorre do Amapá ao Rio Grande do Sul e Argentina, sendo mais freqüente na área sob a maior influência da corrente quente do Brasil (ao sul até São Paulo e Paraná). É a única espécie que registramos na costa do Brasil. Ocorrem de e concentrações migratórias (p. ex. perto de Santos, São anilhado como filhote na ilha Paulo, abril). Um e dos Currais, Paraná, em março de 1984, foi recuperado na ilha Dorninica, Antilhas, em maio de 1986 (Scherer Neto 1986).. Residente também em Fernando de Noronha (nidificando), Ilha do Cabo Verde, mar das Antilhas, costas pacíficas da América do Sul, Galápagos e México. "Tesoura", "Crapirá" (de = ave = peixe), "Catraia" (Pernambuco); consta que originalmente a denominação "Alcatraz" aplicava-se a espécies de e não as de eg , "Tesourão-magnífico*". Nas ilhas de Trindade e g Martim Vaz ocorrem duas outras espécies, e , em número reduzido ou apenas periodicamente. É possível que'a destruição da vegetação arbórea e arbustiva, da qual essas aves necessitam para nidificar, dificulte-lhes a permanência nestas ilhas; na Ilha da Trindade um casal de F. fez seu ninho sobre um tronco caído de (Rhamnaceae), árvore de madeira vermelha semelhante à do pau-brasil. Sobre a vinda dos tesourões daquelas ilhas distantes ao continente, parece nada haver de concreto. Já aos marinheiros do tempo da descoberta da América, a prática ensinou que os tesourões não se afastam muito de suas ilhas e, por conseguinte, sua presença é indício de terra próxima; os tesourões que nidificam na Ilha dos Alcatrazes (São Paulo) partem com a aurora para procurar alimento principalmente nas imediações do continente e não no alto-mar. Isto não impede, contudo, que essas aves efetuem migrações em certas épocas e às vezes, quando planam a grande altura, sejam levadas para longe pelos ventos; daí vem o fato de ocuparem as ilhas oceânicas maís afastadas. TESOURÃO-GRANDE*,
[93cm] Muito parecida com a F. . O macho diferindo daquele da espécie anterior pelo dorso de brilho verde com ligeiro tom violáceo; já a fêmea desta distingue-se daquela da primeira pela garganta pardacenta ao invés de negra. Imaturo de cabeça e pescoço anterior ferrugíneos, o que chama a atenção. Ocorre na Ilha da Trindade: maio, julho e dezembro (nidificando); não foi encontrado por Olson, em 1975 (Olson 1081). Também no Oceano Pacífico.
200.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
iel
TDSOVMO-PEQVENO"',
78cm. Menor espécie do gênero, macho caracterizado por uma nódoa branca em cada lado do corpo que é negro. Fêmea com um colar claro (parda cento ) sobre o pescoço superior. Ocorre em Trindade: agosto, dezern-
bro (nidificando). A raça arie] i descrita -por A. Miranda Ribeiro em 1919, é restrita às Ilhas de Trindade (não encontrado por Olson em 1975 v. Olson 1981)e Martim Vaz; reproduzia-se antigamente também em Santa Helena. A presente espécie é mais difundida no Pacífico e no indico.
bli (
Ge
)
Diamond, A. W. 1973. Condo 75:200-209 (reprodução) Dorst, J. & J. L. Mougin. 1979. Order Pelecaniformes. Pp. 155-93. In: ist bi ihe o d. Vol. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zoology on 49:32-51. (desaparecimento Eyde, R. H. & S. L. Olson. 1983. das árvores na ilha da Trindade) ius. . 4:179-90. (ectoparasitas) Guimarães, L. R. 1945. Harrison, p. 1983. e , ide tíon guide. London & Sidney: Croom Helm. (guia de campo)
Lobo, B. 1919. . s. de 22:107-58. (reprodução) Lüderwaldt, H. & J. P. Fonseca. 1923. . s. . . (hábitos) su os !lI Cong . . o elo P.26. eg Luigi, G. 1993. el, F. i , Ilha da Trindade, s s Mahoney, S. A. 1984. 101:181-85. (plumagem) 35:1-5. (associação Rezende, M. A. 1987. i. Inst. oce og S. de t ni ns e /eucog e ) Scherer Neto, P. 1986. s II Rio de Janeiro: 202 (migração)
-
"' --, '""\ i_ ~.
'""'" --'\
--. '""
"' +-,
" ......
ORDEM CICONIIFORMES15
GARÇAS,
SOCÓS:
FAMíLIA
ARDEIDAE
(21)
Aves de vasta distribuição, sendo na sua maioria paludícolas. Fósseis do Terciário (Eoceno, há 40 milhões de anos, e Plioceno, há 10 milhões de anos) da América do Norte. Parece não existir um parentesco mais chegado aos Ciconiidae (Sibley 1982). Veja também Arapapá. . A ordem é chamada às vezes GRESSORES. Foi utilizada a nomenclatura adotada por Hancock & Kushlan . o(1984) que mantém os gêneros e são incluídos em Eg . O gênero d e H C cdius é mantido seguindo a chec list (1983).
Tanto a plumagem como o colorido das partes nuas tornam-se mais vistosos no período reprodutivo, fenômeno bem conhecido através das "egretas", penas de adorno do dorso que desenvolvem-se em certas espécies durante a temporada de cria (v. sob utilização). chus em Sexos parecidos, exceto no socoí (I eb ilus existem duas fases cromáticas independentes do sexo. Várias espécies apresentam plumagem diversa da adulta quando são jovens; em parte já podem nidificar neste estágio ( ubulcus). Uma mutação melanística é conhecida para I ob ilis.
i o De aparência extremamente elegante, possuem pernas e dedos compridos, pescoço fino e bico longo pontiagudo. O bico de s é relativamente curto. A ponta do bico de u es (e outros) é provido, por dentro, de finíssimas serrilhas, próprias para segurar qualquer objeto. O porte varia muito indo desde o socoí, o chus ilis, apenas do tamanho de uma jaçanã até o baguarí. e cocoi, que ultrapassa um metro de altura. Devido ao pescoço muito extensível, à cauda curta e às pernas longas, a medida do comprimento total destas aves dá apenas uma vaga aproximação do seu tamanho real. O pescoço chama a atenção por ser dupla e abruptamente angulado, o que deve-se à organização da coluna vertebral e a um tendão elástico que funciona como uma mola, colocando o pescoço automaticamente em tal posição; coisa semelhante ocorre no biguatinga. Como várias. outras aves, garças possuem uma unha pectinada no dedo médio. A plumagem é rica em pó, o qual é produzido por plumas de pó concentradas no peito e nos lados do corpo. Ocorrem três ou quatro áreas de plumas de pós. Este pó substitui a gordura da glândula uropigiana (a qual é pouco desenvolvida nas garças) no mister de manter a elasticidade das penas e a impermeabilidade da plumagem. A existência de uma alteração na" cor da plumagem sem a ocorrência da muda; como observamos em , é também decorrente desse mesmo pó das penas.
15
o
Grasnido baixo e rouco, com exceção da Mariaig ). O socó-boi, g i line tem um faceira "canto" elaborado, composto de estrofe prolongada que lembra o esturro da onça pintada. As vozes dos socoís podem passar por aquelas de sapos.
.1 t
~
ent São difamadas como destruidoras de nossa ictiofauna, o que é injusto, pois os peixes são apenas parte de sua dieta (v. abaixo): Apanham igualmente insetos aquáticos (imagos e larvas), caranguejos, moluscos, ans e odius fíbios (até sapos do gênero Bufo) e répteis. e engolem às vezes cobras e preás; o socó grande, ocasionalmente, jacarés pequenos (Mato Grosso) . . s, ig , e odius e Eg e l são os representantes mais insetívoros; os dois primeiros caçam gafanhotos distante d'água; o primeiro e o último execu.tam estranhos movimentos laterais com o pesco: ço antes de desencadear o bote certeiro que irá capturar, por exemplo, uma mosca; considerando-se o ímpeto com que avançam sobre presas tão pequenas é de admirar-se que o bico não toque o substrato. Seria interessante pesquisa r; em nosso país embasamento que. valide o nome inglês i -he (garça-carrapateira) para ubulcus. aproveitam-se do gado para esulcus e E t pantar insetos. , caçando também insetos no seco, se associa às vezes a curicacas, h ticus. Na água, as
Os flamíngos, Phoenicopteridae, tradicionalmente incluídos nos Ciconiiformes, foram separados numa ordem própria.
., i
202.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
garças podem aproveitar-se. de capivaras, como batedores. Durante a cheia, na Amazônia, garças brancas pescam às vezes peneirando sobre a água profunda. come restos de comida caídos dos ninhos de outras aves que integram a colônia, não repudia nem os filhotes mortos dos vizinhos, pesca às vezes sobrevoando água profunda. apanha regularmente pequenos animais vivos, moribundos ou mortos, atirados à praia pela arrebentação, o que ocasionalmente é feito por e cocoi. As garças empregam vários métodos para espantar animais ocultos na lama dentro d'água. A garça-brancapequena, por exemplo tremula ou vibra os dedos enquanto que a garça-azul e o socoí movem o pé lentamente corno um ancinho; tais movimentos dos pés, que facilitam bastante a pescaria, são hábitos muito úteis apresentados por outras aves aquáticas corno os Ciconiidae (cabeça-seca) e Charadriidae (quero-quero); em um poço pequeno vimos uma solitária pular de lá para cá como que dançando. As garças geralmente não bebem. Observamos em 1966 no Jardim de E. Béraut, Rio de Janeiro, que urna não comeu pedacinhos de carne crua jogados perto dela na água, mas deixouos para atrair peixinhos. Certos pescam com isca que eles mesmos arranjam: quando a garça percebe um peixe, abaixa-se para não ser vista e joga uma isca, como um pedaço de pão ou um inseto, para atrair o peixe para dentro do seu raio de ação. Jovens usam corno isca material, não comestível, uma pena, melhorando essa técnica aos poucos (Higuchi 1986).
Andam como que se esgueirassem, a passos largos e bem calculados como se observassem um perigo ou uma oportunidade. cocoie ficando em pé, podem chamar a atenção por dispor as asas em sentido horizontal viradas para cima, em forma de uma concha deitada, como faz o maguari (Ciconiidae), atitude que provavelmente serve à termorregulação. Voam devagar, com o pescoço encolhido (ao contrário das cegonhas e curicacas) e as pernas esticadas corno todas as aves pernilongas (ou descendentes de formas tem vôo mais de pernas longas). O savacu firme, podendo lembrar um gavião. O nervosismo manifesta-se no balançar da cauda, que é mantida pendente; executa movimento vertical (abaixa a cauda levantando-a depois rapidamente corno que impelida por uma mola), já e executam Um balanço lateral; fecha e abre rapidamente as retrizes. Tanto o socó como o socoí imobilizam-se instantaneamente e erguem o bico perfeitamente na vertical quando desconfiam de algo; nesses
momentos podem passar por um pau ou urna vara qualquer espetada no brejo. Essa reação se nota até em indivíduos de Botaurinae assustados no ninho. também imobiliza-se, porém com o pescoço esticado obliquamente. Para dormir, as garças não voltam a cabeça para trás, e sim mantêm o bico dirigido para a frente. c põe o bico verticalmente para baixo de encontro ao peito dentre a plumagem, a qual o oculta completamente, no que se assemelha ao arapapá. Diversas espécies são ativas tanto de dia corno nas horas do crepúsculo; todas gostam de dias chuvosos e escuros, encontrando-se então à vontade tanto espécies noturnas como diurnas. À tardinha, quando confluem para certas ilhas de mata, os bandos das duas garças brancas e da garça-azul E. fornecem um dos mais belos e impressionantes espetáculos (costa atlântica setentrional). Esses pousos coletivos não são idênticos às colônias (ou "ninhais") usadas dia e noite na época de reprodução.
Há múltiplas cerimônias de casais. Fazem ninho sobre árvores (às vezes a 10 ou 20 metros de altura) ou arbustos nos brejais, em ilhàs de mata, nos campos inundáveis e manguezais. Associam-se geralmente em colônias ("ninhais", "garçaís", "viveiros") freqüentemente mistas, compostas por várias espécies de garças, colhereiros, cabeças-secas, biguás e biguatingas. No Pan, tanal, Mato Grosso, as colônias de e são designadas como "viveiros brancos", e as colônias de , coco i, e corno "viveiros pretos". Dentro da colônia cada espécie ocupa uma dada área; geralmente os melhores lugares são ocupados pelos mais fortes. No litoral criam colônias em ilhas oceânicas não longe da costa, corno no Rio de Janeiro (ilha Alfavaca, e Paraná (Ilha dos Currais, P. Scherer Neto). Consta que da Europa seria polígino. Ovos esverdeados ou verde-azulados (às vezes brancos ou esbranquiçados), uniformes à exceção de e cujos ovos são levemente manchados lembrando os de saracuras. O período de incubação é de 25 a 26 dias nas duas garças brancas e de 22 a 23 dias no savacu os filhotes deste último permanecem trinta dias no ninho (Rio de Os adultos costumam coletar o alimento da prole a grande distância do ninhal. Impressiona o barulhoproduzido por uma colônia na qual pode haver simultaneamente todas as fases doprocesso reprodutivo: desde casais em cerimônias pré-nupciais até pares com filhotes já crescidos (p. ex. . A procriação procede geralmente no início ou no fim da estação seca, quando o alimento, para as aves aquáticas é normalmencocoi, nidifica te mais farto; consta que o baguari,
\'"
ARDEIDAE
no estuário do Amazonas (Ilha Mexiana) em plena época das chuvas, assim como fazem o biguatinga e o patodo-mato na mesma região. No Amapá o baguari foi encontrado nidificando em julho, junto com a garça-branca-grande e biguatingas.
Dis ibui o, h
ibis.
Notável distribuição disjunta ocorre em espécie singular sob diversos ângulos, e em [asciaium, o qual possui vasta distribuição em rios encachoeirados nos Andes e uma população remanesé restrito ao litocente no Brasil. O savacu, ral. A ocorrência de certos representantes (como t é local. O belo é a espécie mais florestal; e vivem em locais pouco alagados passam desou secos. Os socoís, e I i . percebidos facilmente, também
As populações de quase todas as espécies de garças flutuam. Vários representantes são migratórios, até mesmo em larga escala, como foi comprovado por anilhamentos no norte da Argentina: filhotes de dispersaram-se muito, até a 1.200 km para o norte e 700 km para o sul; uma i foi recuperada a 1.400 km no Paraná e outra a 3.500 km na Amazônia. Campeã em migrações é a garça-vaqueira, ibis, espécie africana recentemente imigrada para o Brasil, provavelmente via Guianas. Recentemente surgiu uma outra espécie exótica na foz do Amazonas, da Europa, aparentemente um indiví. _" }l.uo que se perdeu (Novaes 1978). O socó-boi, foi registrado várias vezes na Inglaterra. Migrações eventuais entre o Velho e o Novo Mundo foram documentadas para e em junho de 1986 em Fernando de Noronha, aliás ao lado de um Bubulcus ibis (Teixeira et al. 1987).
Várias s cus
quitos garças , g
As várias espécies de garças mostram diferentes sensibilidades para com mosquitos: enquanto pescadores, como acostumados a espreitar a vítima, toleram bem mosquitos que lhe pousam na face e nas pernas, garças insetívoras como se defendem vigorosa mente contra os insetos (Edman et aI. 1986).
t
A metade dos gêneros que aqui ocorrem existe também no Velho Mundo, às vezes até com as mesmas espécies e por exemplo). é cosmopolita. de larga distribuição nas zonas quentes do Velho Mundo (África, Austrália, etc.) e com representante próximo na América do Norte, deve ter imigrado às Américas, vindo da África, antecipando a invasão de
tos,
203
como,
por exemplo, além de Co hospedam o pupíparo
cocoi, e
i
utili
p
Sobre a possível nocividade das garças quanto aos seus hábitos piscívoros, numerosos estudos na América do Sul comprovaram que: (1) o item peixes na dieta dessas aves é de menor importância na dieta de garças sulamericanas que na dieta de garças que habitam regiões mais frias; (2) quando o item peixes está mesmo presente, trata-se geralmente de exemplares miúdos, de poucos centímetros; quando os peixes são maiores, são, geralmente, doentes ou mortos. As garças atingem apenas peixes que aparecem perto da superfície, Pode-se dizer até que a presença de garças e martimpescadores em lagos e rios é uma necessidade para manter o equilíbrio biológico. Quanto mais predadores de peixes tanto mais peixes, quanto mais peixes tanto mais alimento para os peixes. Além disso, há de considerar-se o fato de que os garçais, bem como os dormitórios, proporcionam acúmulo de matéria orgânica (restos de comida, pelotas, cascas de ovos, filhotes mortos, fezes) que, ao caírem na água, beneficiam a microfauna o que se reflete em um aumento da população de peixes ao redor dos ninhais, compensando assim o consumo de peixes por parte das garças. Pode-se até dizer que quanto mais aves piscívoras tanto mais peixes; os ninhais também contribuem para o sustento da fauna vertebrada terrestre, representada por carnívoros como o mão-pelada e gato-do-mato que integram o ecossistema em questão. O excesso de acidez nas evacuações das garças pode queimar a folhagem; acontece, também, dos galhos se quebrarem sob o peso das aves. Há lugares, sobretudo na Amazônia, onde os ovos de garças são coleta dos, seja para o consumo local, seja para a comercialização, tal e qual ocorre com gaivotas e trinta-réis em outras localidades. A garça-vaqueira tornou-se muito "útil"; consta que um único indivíduo apanha uma média de 17 insetos por minuto quando perambula pelos campos caçando. As garças foram muito perseguidas pelos "garceiros", particularmente na Amazônia, para a obtenção das "penas egretas"; as aves eram abatidas nos ninhais quando vinham alimentar os filhotes, época em que as "egretas" atingem sua máxima formosura. Por volta de 1914, por exemplo, na região do rio Negro um comerciante tinha 80 garceiros empregados na faina de caçar garças; para a obtenção de um único quilo de egretas cocoi ou eram necessárias 300 C e odius ou 250 100 Eg .
204
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Durante ventanias e chuvas de granizo (como ocorreu no ex-Estado da Guanabara, em 1974) filhotes e ovos de garça-branca-grande são arrancados do ninho e atirados ao solo; as chuvas de granizo possuem, no caso, um efeito indireto à medida que espantam os filhotes fazendo-os pular do ninho para a morte, que amiúde vêm não pela queda em si, mas sim pelo enganchamento nas tramas das galhadas da árvore. Ventos fortes empurram até mesmo uma garça adulta, por exemplo, um odius pile s, do poleiro, o que pode ser fatal para ela, que perece enforcada na ramaria. Observamos indivíduos de C dius tão sujos de petróleo que possivelmente estavam condenados à morte (Rio de Janeiro). Foi registrada uma garça no conteúdo estomacal de um gig no Ceará. Vimos uma traíra Pirarucu, (Hopli sp.) apanhar um socoí, ides s s, pescando na beira do rio, após chuvas pesadas. Nas colônias de garças pode ocorrer depredação por urubus e caracarás que pousam nas imediações dos ninhos e tiram ovos e filhotes pequenos quando os pais se afastam (Pantanal, Mato Grosso), como acontece com a aproximação de turistas que querem fotografar. Uma boa medida seria recomendar os ninhais e pousos coletivos de garças à especial proteção dos donos das terras e tornálos invioláveis quando estivessem em áreas pertencentes ao Estado. Foram encontrados, no sul dos EUA, resíduos de inseticidas (em maior percentagem DDT mas também ld in, Die e He em ovos e filhotes de Eg c e as cascas de ovos de mostraram-se de 17% a 18% mais finas que o normal. O uso extensivo de inseticidas e herbicidas em plantações de arroz está ameaçando toda a fauna aquática, da qual também as garças dependem.
inopse
ç
s
A diversidade do colorido da maioria das espécies dificulta a elaboração de um sistema simples. Para outras aves que lembram garças, ver nas três famílias relacionadas a seguir: Arapapá (Cochlearidae), cegonhas (Ciconiidae) e curicacas (Threskiornithidae). Ver também e o pavãozinho do Pará g o carão ( 1-
2-
Brancas essencialmente. 1.1,E e imaturo de E. c 1.2 ubulcus, e l/oides 1.3 e s Cor predominantemente cinza ou azulada. cocoi 2.1 2.2 , . 2.3 - E. c ul adulto e E. co 2.4 es 2.5 2.6 g 2.7 ctic e n s adultos
e
2.8 3-
(v. também 3.2)
Pardo, manchado 3.1 is (ambas espécies) us (a fase respectiva) 3.2 3.3 us (ambas espécies) 3.4 i tico e 3.5 -
GARÇA-ROXA",
de pu u e
imaturos
VN
[79cm] Um indivíduo observado em Fernando de Noronha em junho de 1986, ao lado ubulcus e . De vasta distribuição no sul da Europa e da Ásia. Primeiro registro no âmbito do Novo Mundo (Teixeira et aI. 1987).
GARÇA-REAL-EUROPÉIA,
de
cin
VN
[90-98cm] Um indivíduo capturado em dezembro de 1973 em Capitão Poço, Ourém, Pará, que fora anilhado em maio do mesmo ano na França (Novaes 1978). Registrado também em Trinidad. V. a espécie seguinte que é semelhante. "Garça-cinza?",
SOCÓ-GRANDE,
cocoi
125cm, envergadura 180cm, 3,2kg. Maior de nossas espécies. Cinzenta-clara uniforme, pescoço branco, alto da cabeça, rêmiges e algum desenho das partes inferiores negro; bico amarelado, pernas anegradas. fortíssimo "rrab (rrab rrab)", baixo profundo. Geralmente solitário. Termorregutação v. Introdução. Ocorre do Panamá ao Chile e Argentina, e em todo o Brasil. "JoãoGrande", "Maguari" (v. também Ciconia), "Baguari" "Garça-moura"". "Socó" significa: a ave que se apóia num pé só. Parecida com a garça-real, do Velho Mundo.
GARÇA-BRANCA-GRANDE,
s
odius
s
88cm. Branca, a filigrana dás egretas pode estenderse para trás qual curto véu; tais penas chegam ao comprimento de SOcm ou mais, nascendo em julho / agosto (Rio de Janeiro), no começo da reprodução (utilização v. Introdução). Bico e íris amarelos, o loro pode ser esverdeado, pernas e dedos pretos. bissilábico "hatá"; quando voa baixo um "rat, rat, raL.". Comum à beira de lagos, rios e banhados. Migratório, por exemplo em bandos de centenas em um total de mais de mil indivíduos pousados descansando na Lagoa de Itaipu (Rio de Janeiro) e nos lodaçais da Baía da Guanabara (julho/agosto), com algumas poucas Eg ett i entremeadas (v.Introdução). Ocorre da América do Norte ao estreito de Magalhães, em todo o Brasil, e também no Velho Mundo. A população que nidifica no sul dos
ARDEIDAE
EUA migra até o norte da Colômbia. pode ser incluído no gênero ou "Garça-gran-. de", "Garça-real", "Guira-tinga" (Pará). "Guará" é usado em Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro, para todos as garças brancas. V. a espécie seguinte e a garçavaqueira.
GARÇA-BRANCA-PEQUENA,
Pr. 4, 2 54cm. A espécie mais conhecida junto com a anterior. Totalmente branca; bico e tarsos negros, loro, íris e dedos amarelos chamando a atenção em vôo; em plumagem nupcial com as egretas mais desenvolvidas, com as pontas viradas=para cima desenvolvendo-se de março em diante. Imaturo, com planta do tarso esverdeada. Bem menor que voando, conseqüentemente com uma maior freqüência de batidas de asa que a daquela espécie, com a qual muitas vezes está associada, sendo porém menos abundante. Vive tanto na água doce como em água salobra e até mesmo na praia para capturar presas que o mar lança na areia. Ocorre na maior parte da América do Sul e em todo o Brasil; setentrionalmente até o sudoeste dos EUA e Antilhas. "Carcinha-branca", "Garça-pequena". Tem índole menos confiada do que a garça-azul a cujo imaturo assemelha-se; à distância pode ser confundida Parece-se com do Velho Mundo, v. sob
GARÇA-VAQUEIRA,
ibis
205
Fig. 55
49cm. Registrada há, relativamente, poucos anos no Brasil. De aspecto semelhante ao de , sendo menos delgada e de pescoço mais grosso aparentando possuir um papo. Totalmente branca com o bico, íris e tarsos amarelos, dedos pardacentos; durante a reprodução, de vértice, peito e costas cor de ferrugem, bico e pernas fortemente avermelhadas. Imaturos de bico, tarsos e dedos anegrados, às vezes já se reproduzem nesta fase (Colômbia). Indivíduos subadultos com bico amarelo, tarsos e dedos pretos e solas dos pés amareladas, assemelhando-se a miniaturas d. . Consta que adquirem a completa plumagem de núpcias e o colorido vivo das partes nuas já no primeiro ano de vida (África).
GARÇA-AZUL,
52cm. Coloração totalmente ardósia, tingindo-se de violáceo no pescoço e cabeça; bico, tarso e dedos anegrados. Imaturo branco lembrando a espécie anterior; muda sucessivamente para a plumagem adulta, tornando-se igual aos pais em um ano de idade. Tem movimentos mais lentos do que muitas outras garças. Lamaçais do litoral, zona intertidal, é a garça mais adaptada à exploração dos lamaçais da vazante. Do sul dos EUA e América Central ao Peru, Colômbia e Brasil, acompanhando o litoral até o Rio Grande do Sul; também Mato Grosso (Pantanal), [médio Solimões (J. F. Pacheco)] e Uruguai. "Garça morena". Ocorrem raros híbridos entre E. e E. os quais despertam a atenção pelo padrão mesclado que não altera pela muda (Sprunt 1954).
GARÇA-TRICOLOR*,
[60-70cm] Semelhante à anterior, porém de barriga e uropígio brancos, garganta e pescoço anterior adjacente branquicentos manchados de ferrugíneo. Manguezais, do sul dos EUA ao Brasil até o Piauí e Ceará (Pinto & Camargo 1961), Colômbia e Peru.
Fig. 55. Garça-vaqueira,
ibis
Insetívora; emprega tática original para obter moscas, a qual consiste em aproximar a cabeça da presq mantendo-a absolutamente firme enquanto execula vaivéns laterais do pescoço de maneira toda especial. Na Ilha de Marajó encontramo-Ia associada aos búfalos sobre os quais pousa (tal como faz na África com hipopótamos e elefantes) para ampliar seu campo visual em lugar de capim alto, o que também faz, ocasionalmente. No pantanal, Mato Grosso, pousa às vezes sobre veados. Devem dar caça às cigarrinhas da pastagem (Cercopidae), grande tormento dos pecuaristas. Em um exame do conteúdo estomacal realizado por H. F. Alvarenga, em Taubaté (São Paulo, outubro de 1974), contaram-se 23 aranhas, 17 gafanhotos, 5 grilos, 8 moscas, uma lagarta e duas pequenas rãs.
1 I /.
206'
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
no Campos secos e baixos como aquele de pangola, (São Paulo), facilitando a localização e captura de insetos; é quase sempre encontrado em companhia de gado. Quando o gado deita para ruminar, alça vôo e procura outro lote que esteja pastando. Não é especie da zona intertidal ou de manguezais; aparece em água aberta ao lado de outras garças apenas durante migrações. Registrada no Brasil pela primeira vez em setembro de 1964 na Ilha de Marajó, associada a búfalos, nidificando em bom número junto a outras espécies de garças; existia na localidade ao menos desde 1962 (Sick 1965). Zona de Bragantina, Santa Maria, Tracuateuá (Pará), 1968, 1970; alto rio Curuá, Pará, 1984.Amazonas (Manaus, 1976). [Atualmente disseminada por toda a Amazônia; Roraima (Moskovitz et 1985), Acre. e Rondônia (Forrester; 1993) Amápá e médio Solimões O. F. Pacheco)] Brasília (Distrito Federal, 24 de outubro de 1971, bando de 30 exemplares). Rio Grande do Sul (Camaquã, 1973 em diante). Mato Grosso (Pantanal, Município de Cáceres, 1974 e provavelmente em época anterior; rio das Mortes, Município Barra do Garça, 1977); São Paulo (Taubaté, 5 de outubro de 1974, dois exemplares coletados). Rio de Janeiro (ex-Estado da Guanabara) em 1976, um indivíduo subadulto junto a um grupo de garças selvagens em um dos tanques do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro (D. M. Teixeira); 1981 em bandos junto ao gado na área de Santa Cruz, Rio. Santa Catarina (Serra da Boa Vista, 1979). Penedos de São Pedro e São Paulo, ilhas brasileiras situadas no meio do Atlântico, a mais de 2.000 km ao largo da foz do Amazonas (1968, fotografia mais tarde interpretada como [substituto geográfico de E. muito parecido com este, proveniente da África ou da Europa] que seria uma espécie nova para o Brasil, Benson & Dowsett 1969). Fernando de Noronha 1986 e Trindade 1987,Atol das Rocas, fevereiro de 1990 alguns indivíduos O. Goerck). A perspectiva é que em futuro próximo a garçavaqueira seja encontrada em muitas outras regiões do país. F. Silva noticiou nidificação no Rio Grande do Sul entre outubro e dezembro de 1980-83.(Belton 1985).Existem poucas informações sobre sua reprodução no Brasil. O aparecimento de indivíduos com tons amarelos na plumagem sugere nidificação em vários lugares. [Esta predição de Sick sobre ocorrência e reprodução disseminada por todo o país é uma realidade atualmente.] A garça-vaqueira é originária do Velho Mundo (África, Espanha meridional, etc.), acreditando-se que começou a invadir as Américas pelo final do século passado. O registro de seu 'aparecimento em várias ilhas oceânicas e o fato de indivíduos terem, por mais de uma vez, procurado abrigo em navios em altomar prova que a espécie atravessa o Atlântico voando (distância Dakar-Georgetown, 2.800 km); sua chegada ao norte da América do Sul seria facilitada pelos ventos alísios.
Assinalada na ~lliatlé).já entre 1877 e 1882 (Wetmore 1963), em 1973 já havia ocupado todos os países setentrionais da América do Sul; alcançou o Chile, Bolívia e Paraguai, aparecendo e reproduzindo-se em diversas partes da Argentina (1970 em diante); já foi vista na Terra do Fogo (1974) e na Antártica, (Schlatter & Duarte 1979). Das Antilhas passou, já em 1942, para a Flórida, tendo sido registrada até no Canadá. Seu número aumentou também na África; colonizou também a Austrália. Tornou-se tão abundante nas porções setentrionais da América do Sul (no Suriname foram contados mais de 5.500 exemplares em um dormitório, 1965;na Colômbia, em 1966, avaliou-se que 15.000 indivíduos confluíram para um único local de pouso) que de lá pôde facilmente colonizar outras áreas (como por exemplo o Brasil) sem que seja necessário supormos que novos contingentes tenham cruzado o oceano. O impulso decisivo para essa explosão populacional e espetacular aceleramento do ritmo de propagação de foi dado pelo imenso incremento da criação de gado na América do Sul, no período em questão, pois a garça-vaqueira é espécie largamente sinântropa: na Colômbia e países vizinhos quase não há vaca que não esteja acompanhada por um ou mais da mesma maneira. que os anus-pretos, as garças andam atrás das reses aproveitando-se dos insetos (p. ex., gafanhotos) que são espantados; sob este ângulo as máquinas agrícolas também são objeto de atração na medida que desempenham o mesmo papel para as centenas de garçasvaqueiras que as seguem (Colômbia). O potencial biótico de é maior do que o de muitas outras garças, pois começam a procriar já no final do primeiro ano de vida e fazem freqüentemente duas posturas por estação [Em Cabo Frio, reproduziu em todos os meses do ano em 1993-94 com ' supremacia numérica em relação a outras garças (J. F. Pacheco, C. Bauer)]. A população desta espécie costuma estar sujeita a oscilações; enquanto em certos lugares aumenta, em outros diminui ou até desaparece, abandonando colônias. Parece que nada indica uma competição com as garças indígenas, por explorarem nichos ecológicos diversos. "Garça-da-gado", "Carça-boiadeira", "Garça-boiadeira" (São Paulo );~'Trat
SOCOZINHO,
Pr. 3, 8
36cm. Em qualquer lugar que haja água. Inconfundível; p'ernas curtas e amarelas, anda agachado à feição de uma saracurà grande. Solitário, às vezes nidifica em colônias. Voz. "kiák" (diagnóstico), "tataca", Tanto no interior do continente como nos manguezais. Migratório (Rio de Janeiro). Quase toda a América do Sul (inclusive todo o Brasil) até a América do Norte também na África, Ásia, Austrália e ilhas do oeste do Pacífico. Considerado co-específico a da América do Norte e ilhas Galápagos, com o qual hibridiza na
ARDElDAE
América Central. A espécie ocorre também no sul do Velho Mundo, são descritas cerca de 30 raças geográficas. "Socó-estudante". ["Socó-tripa" (Argel-de-Oliveira 1992), "Socó-mijão" (Solimões, J. F. Pacheco).]
VN
GARÇA-CARANGUEJEIRA,
[46cm] Um indivíduo observado em Fernando de Noronha em junho de 1986, ao lado de ubulcus e . De vasta distribuição no sul da Europa e da Asia. Primeiro registro no âmbito do Novo Mundo (Teixeira et . 1987).
Pr. 3, 2
GARÇA-DA-MATA,
73cm. De proporções únicas: bico extremamente longo (14-15cm), finíssimo, comparável a um flore te, pes~ coço muito longo e fino na parte distal com uma g tarso e dedos surpreenangulação lembrando dentemente curtos, adaptação à vida arbórea. É a nossa garça mais policroma. Imaturo pardo-anegrado com peito estriado. Escondido na beira de córregos e lagos dentro da mata; solitário mas reproduz em pequenas colônias (Marín 1989, Nascimento 1990). Encontramos peixes em seu estômago. Do México à Amazônia brasileira. "Socó-azul", "Socó-beija-flor", "Garça-da-Guiana" "Garça -beija -flór=".
avermelhado em sua parte mediana. ventríloquo "wup - wúp - wup" enquanto abaixa a cabeça diante de seu parceiro abrindo o topete nucal. Habita rios e lagos orlados de mata, solitário, não sendo comum em lugar nenhum; aparece em poços ao lado da "Transamazônica" o que corresponde a uma nova colonização. Do Panamá ao Paraguai, Bolívia e no Brasil, exceto o Rio Grande do Sul e a generalidade do Nordeste. Difere de g , por exemplo, pelo manto branco (e não cinzento), bico mais longo, etc. "Garcinha", "Garça-de-cabeça-preta".
SAVACU,
c
60cm. Espécie de hábitos noturnos e crepusculares. Bem menos delgada que as espécies anteriores, bico e pernas mais maciças, olhos grandes e vermelhos. Alto da ~abeça e dorso negros., asas cinzentas, testa, partes inferiores e alongadas penas nucais brancas. Imaturo, pardo manchado com as coberteiras superiores e rêmiges pardas, cada qual com distinta nódoa apical esbranquiçada ou creme. seu crocitar "o-ák" escuta-se à noite até sobre cidades como o Rio de Janeiro. Espécie comum. Ocorre do Canadá à Terra do Fogo, inclusive quase todo o Brasil; também no Velho Mundo. "Socó", "Dorminhoco", "Taquiri" "Garça-dorminhoca*". V. Arapapá (Cochlearidae) e a espécie seguinte.
io
SAVACU-DE-COROA,
sibi
MARIA-FACE IRA,
Pr. 3, 4
53cm. Espécie policroma, popular no sul do país. Aparência e hábitos singulares. Face azul-clara, bico róseo. Na plumagem aparece e desaparece a cor amarela provocada pelo rico pó das penas (ou secreção da glândula uropigiana?). muito diferente daquela de outros ardeídeos, um sibilo melodioso repetido sem pressa: "i, i, i" que é emitido com o bico largamente aberto e pescoço esticado. As asas aparentam estar dispostas sob o eixo do corpo; voa de pescoço menos encolhido do que outras garças, batendo as asas em uma amplitude pequena e rapidamente, rapidez esta que se acelera mais quando a ave grita. Ocorre um vôo de exibição do macho defronte da fêmea. Atividade estritamente diurna. Habita campos secos, arrozais, etc. Nidifica em Santa Catarina sobre velhos pinheiros onde também 'pernoita, Ocorre do Rio de Janeiro e Minas Gerais à Argentina, Paraguai e Bolívia, [recentemente observado no Piauí (Olmos 1993)] também-na Venezuela e Colômbia (v. a espécie seguinte).
GARÇA-REAL,
l
....------------------~----
(
Fig. 56
60cm. Lembra a anterior, a qual é sua vizinha nos manguezais. O branco da cabeça torna-se mais vistoso no lusco-fusco. Imaturo, semelhante ao de . Gosta de aquecer-se ao sol da manhã pousado nas copas dos manguezais. Do litoral dos EUA ao norte do Peru e Brasil meridional até o litoral norte do Rio Grande do Sul.
ius
[51-59cm] Lembra um pouco a anterior. Branca-amarelada com pescoço às vezes de intensa cor creme, boné negro, nuca com algumas longas penas brancas; região perioftálmica e base do bico vivamente azuis, bico
207
Fig.56. Savacu-de-coroa,
n s
iol
208
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
SOCÓ-BOI,
Pr. 3, 1
93cm. Espécie grande de bico extremamente longo.A plumagem adulta é adquirida apenas aos dois anos de idade, distinguindo-se pelo pescoço castanho e manto pardo-acinzentado, vermiculado de acanelado. Plumagem imatura, sujeita a algumas alterações durante a muda, é basicamente amarela-clara com faixas transversais negTas, garganta e ventre brancos; bico relativamente curto. fortíssimo "canto" emitido na época de reprodução lembrando o esturro da onça-pintada: estrofe prolongadade "róko ...", inicialmente crescente e depois decrescente terminando em um profundo gemido; baixo e profundo timbre de um bugio (chamada); um mugir profundo e monossilábico (ambos os sexos). Desconfiado, estica o pescoço obliquamente, arrepiando as longas plumas da nuca (que ficam salientes como um grande dente), e balança a cauda (v. sob "Hábitos", figo 57). Habita regiões florestais, nidifica no alto das árvores. Solitário e crepuscular, vive escondido na vegetação ribeirinha. Ocorre da América Central à Bolívia e Argentina, todo o Brasil. "Socó-pintado" "Socó-boi-ferrugem"", "Iocó-pinim" (Pará),.IIJurukú" (Jurunas, Mato Grosso). V. a seguinte.
sa sobre rochas no meio da corredeira, o mesmo ambiente onde vive o pato-mergulhador, e gus ocio s. Ocorre da Bolívia à Argentina (Tucuman, Misiones), Colômbia, Venezuela e Costa Rica. No Brasil (T. . c foi encontrado em Mato Grosso, Chapada dos Guimarães, cabeceiras do rio Guaporé, Chapada dos Veadeiros, ponto culminante de Goiás, ao lado de (Yamashita & Valle 1990); Santa Catarina, Brusque 1950 (G. Hoffmann); Rio Grande do Sul, Taquara (Berlepsch & Ihering 1885). [Acrescente-se a essa distribuição: Rio de Janeiro, localidade - tipo (Eisenmann 1965) e Paraná, onde é conhecido de 5 localidades (Straube 1991).]
.
o posição da ave Fig. 57. Soco-boi, desconfiada; a longa plumagem do pescoço é expandida, resultando uma proeminência no pescoço superior. Original H. Sick.
SOCÓ-Bor-ESCURO",
Am
Fig.58 [66cm] Pouco conhecida. Bico e pernas relativamente curtos, inclusive nos adultos (cúlmen geralmente menor que 95 mm). Vértice negro (e não castanho como , pescoço e manto xistáceos vermiculados em de amarelo, sendo o desenho formado espaçado (e não denso como em flancos uniformemente xistáceos; possui, ao contrário da espécie anterior, área interescapular de plumas de pó. Solitário. Habita rios encachoeirados nas serras o que corresponde também ao hábitat da espécie nos Andes onde pode ocorrer ao lado da marreca-de-corredeira, eg e t Pou-
Fig. 58. Socó-boi-escuro, g so pousado na pedra em rio encachoeirado. Original F.B.Pontual, baseado em Harcock & Kushlan 1984.
SOCOÍ-VERMELHO,
Pr. 4, 3
28Cln, 64,5 g. Anão do grupo, lembra uma saracura. Partes superiores pretas e castanhas, partes inferiores canela; fêmea sem negro no dorso e com as coberteiras superiores da asa também canela. Uma mutação rara, descrita primeiramente dos EUA, é , de lado superior anegrado e lado inferior cor castanha (Taubaté, São Paulo, Teixeira & Alvarenga 1985). profundo "rro-rro-rro ..." (canto, emitido de manhã e à tardinha continuamente); "raab" crocitante co "ga-a". Trepa e pula com extrelembrando ma agilidade através da densa vegetação de brejos bem encharcados; geralmente torna-se visível apenas quando levanta vôo. Ocorre da América do Norte à Argentina, maior parte do Brasil (da Amazônia ao Sudeste, Nordeste, Goiás, Mato Grosso e Santa Catarina). V. as seguintes.
I,
.
ARDEIDAE
SOCOf-AMARELO,
I b
hus in l
s
[28-33cm] Amarelo ferrugíneo, vértice e costas estriados de negro. Juncais abertos. Ocorre nas Guianas, Venezuela e Colômbia, Maranhão, Piauí (Olmos & Sou1986), e no sudeste e sul za 1988), Sergipe (Teixeira et do Brasil. Do Espírito Santo (T. A. Parker), Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, Uruguai, Paraguai, Argentina, Bolívia e Chile.
b iius undul
SOCOÍ-ZIGUEZAGUE,
s
81cm. De bico curto e grosso; partes superiores negras e castanhas, vermiculadas transversalmente de amarelo; mandíbula e íris podem ser amarelas, também os dedos. Habita pequenos brejos, movimenta-se na ramaria densa baixa, perto ou acima da água. Sua locomoção é pulando no solo, lembrando um tovacuçu, (D. A. Scott). Entra na água. Ocorre das Guia-
209
nas até a margem meridional do rio Amazonas, Rondônia, Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela. "Socoí-pulador=".
oi
SOCÓ-BOI-BAIO,
us pinn ius
74cm. Espécie de porte avantajado que lembra, quanto à plumagem, o imaturo de apresentando contudo desenho negro longitudinal e tendo também os dedos duas vezes maiores' que os do socóboi (p. ex. dedo médio 12cm). "ro-ro-ro" levantando vôo; seu "canto" é um mugido profundo e monossilábico. Quando alarmado estica o pescoço verticalmente assemelhando-se a um mourão. Demonstra . nervosismo por ligeira oscilação lateral do pescoço (o qual é mantido ereto), imitando o oscilar dos juncos sob a brisa. Habita brejos abertos, juncais; de ocorrência local. Ocorre em todo o Brasil, localmente; do México à Argentina. Parente próximo de B. lentiginosus da América do Norte. "Socó-bci-marrom?".
ibli ej
é
g
Argel-de-Oliveira, para Belton, W. 1974.
Ge l)
M. M. 1992. . CEO 8:22-27. (socá-tripa, nome em Rondônia e Ceará)" , Rio Grande do Sul)* 45:59.
86:806 (Eg Benson, C. W. & R. J. Dowsett. 1969. Bock, W. J. 1956. s. it. no. 1779. (revisão genérica) Borrera, H., J. I.. 1972. Cespede 1:387-479. , hábitos) Dekeiser, P. L. & A. J. Negret. 1978. . No des I. Biol. 1:97-103. , distribuição na região Neotrapical) Edrnan, J. D., J. F. Day & E. D. Walker. 1986. Condo 8 -92. (adaptação antimosquito) Eisenmann, E. 1965. Ho 10:225-34. , taxonomia) Cavino, G. & R. W. Dickerman. 1972. 74:72-79. des, nidificação, México) . s. e 2:27-42. (conservação) Goeldi, E. A. 1895. Greenberg, R. E. 1971. on 83:95-97. (inseticidas) o London: Craom Hancock, J. &J. Kushlan. 1984. he Helm. Higuchi, H. 1986. Ibis 128:285-90. o es tus, utilização de isca) 13/h In/. o Cong . lth Humphrey, P. S. & K. C. Parkes. 1963. 84-90. , sistemá tica) Kahl, M. P. 1971. son . 83:302-03. hábitos)
ing Lancaster, D. A. 1970. Marin A, M. 1989. CondoI 91:215-17. Maurício,
G. N. 1993.
, hábitos)
9:167-94.
g i III g. s ino
g s.
, reprodução) elo P.14.
otn e todos os meses em Pelotas, RS)* s 1II Cong Maurício, G. N., A. J. Witeck & R. A. Dias. 1993. s. 01'11. elo s P. 66. iEg , Pelotas e Taim, RS)* Meyerriecks, A. J. 1971. /so11 uli. 83:435-38. (hábitos)
J. L. X. 1990. Nascimento, reprodução)"
1:79-83.
g
,
i. 100:51-11. (I Olmos, F. & M. F. B. Souza. 1988. ilson inuoluc s no Nordeste) opic 15:82-88. (anilhamento) Olrog, C. C. 1969. g46 207-12.
Olrog, C. C. 1975.
(movimentos
chus
migratórios)
R. B. 1979. Family Ardeidae. Pp. 194-244. ln: Chec b ds ihe ld. VaI. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Carnbridge, Mass.:Museum ofComparative Zoology.* Payne, R. B. & C. J. Risley 1976. sc. ls. 200/. Un . chi n 150. (sistemática e evolução) Payne,
Pinto, O. M. O. 1946. p. sucessão de plumagens) Preston,
C. R. 1986.
lson
I/ls.
oo/. S.
ulo 7:45-50.
98:613-14. (uso de inseto como isca)
Reinert, B. L. 1991. s I Congl . o s em Joinville, SC)' em monocultura de Schlatter, R. P & N. E. Duarte. 1979. e . Cieni. lnst. 25/26 45-48. cus na Antártica)
lson Short, L. L. 1969. . . Sick, H. 1965. registro para o Brasil) Sprunt,A. ,Jr. 1 Straube, F. C. 1991.
81:330-31.
s. Cienc. 37:567-70.
3
-35. (colônia Chileno
, cerimônias) cus, primeiro
71:314. (híbrido entre Eg ett c 2:93-94. ( g so s
Teixeira, D. M. & H. M. F. Alvarenga. ne em Taubaté, SP) Teixeira,
g s
1985.
D. M. & M. C. S. Carvalho.Iêêê. ilhe odius pile s, biologia)
,
e E. Pararia)"
u 102:413. tl n.
c.
chus
l iog
01'11.
-15.
1. oc. l iog Teixeira, D. M. & J. B. Nacinovic. 1982. 12. o s pi , biologia) iol. eopold 6:247-48. (E ttn Voss, W. A. 1984. ct Grande do Sul)" Wetmore, A. 1963. 80:547. ( bulclls, distribuição) Yarnashita, C. & M. P. Valle. 1990. u 1:107-09. s na Chapada dos Veadeiros, Goiás)*
O no le ,
iso
o
",
,
210.
ORNITOLOGIA
ARAPAPÁ:
BRASILEIRA
FAMÍLIA
COCHLEARIIDAE
(1)
. Uma única espécie restrita à América tropical; até o momento não se conhecem fósseis. Distingue-se das garças por vários aspectos tanto morfológicos quanto comportamentais. Foi proposto incluí-lo nos Ardeidae formando uma tribo, Cochlearini, ao lado dos Nycticoracini (savacus) aos quais seria mais aparentado. Bock (1956) considera um tipo aberrante de A técnica de hibridação do DNA-DNA revelou que é o parente mais próximo (Sheldon , são 1987). Os ovos de ambos, e manchados no polo rombo, caráter alheio a outras garças. O filhote do arapapá carece de topete típico de filhotes de Ardeidae. ARAPAPÁ,
Pr.3,3
54cm, 620 g (macho). Ave paludícola com a aparência de uma garça, e mais particularmente de um savacu distinguindo-se, porém, pelo bico peculiar extremamente largo e chato, cuja maxila assemelha-se a um barco de quilha alta virado de ponta-cabeça. Olhos muito grandes e salientes, sugerindo imediatamente atividades crepusculares; quando iluminados à noite produzem um reflexo alaranjado. Ambos os sexos podem apresentar um longo penacho nucal negro (geralmente mais longo e espetacular no macho) que contrasta com o manto cinza-claro. Caso seja visto frontalmente impressiona o branco puro da fronte e do pescoço anterior; peito e abdômen de ferrugíneos a castanho-claros, flancos negros, alto dorso atravessado por uma faixa negra que pouco dá na vista. Na fase juvenil pardo (mais claro na fronte), com o boné e topete nucal negros e ventre creme esbranquiçado, sendo levemente estriado de pardo; já se reproduz numa plumagem de transição (exEstado da Guanabara). "hágagagagogo", "pst-pstpst", "pit-pit-pít", pode estalar o bico. , De dia descansa sobre galhos bem sombreados onde fica absolutamente quieto, passando despercebido facilmente; mantém então o bico sempre abaixado sobre o peito como se mergulhado em profundas meditações. Quando realmente dorme inclina a cabeça para o lado colocando o bico sob a asa fazendo-o desaparecer por completo (v. Pesca à noite, no crepúsculo, em dias de chuva e, excepcionalmente, em dias claros; anda devagar na água rasa apanhando anfíbios, peíxinhos, crustáceos, insetos, folhas e também pequenos mamíferos. Balança o corpo lateralmente lembrando de certo modo Vive solitário ou aos casais, temporariamente em pequenos bandos. Ocorre freqüentemente na mesma área que o savacu, pousando às vezes ao seu lado em um matagal escuro logo acima d'água, por exemplo um igarapé.
Quando irritado abaixa a cabeça abrindo o penacho em forma de maravilhoso leque ou cocar, em cerimônia bastante impressionante; o casal toca-se nos bicos. Vimos um macho cortejar sua companheira colocando-se por detrás dela bicando-lhe delicadamente a plumagem do pescoço e tentando colher-lhe o bico. Quando conseguiu este intento, o bico da fêmea mergulhou inteiramente naquele do macho que, fechando o seu, reuniu-se firmemente a ela. Ambos então começaram a executar uma série de movimentos rítmicos e fortes como se quisessem interpenetrar-se ainda mais; tal cerimônia durou vários minutos dando a falsa impressão de tratar-se de uma pugna. Finalmente o casal separou-se fazendo movimentos convulsivos de engolir algo, bebendo em seguida. Cremos que desta maneira o macho passou algum alimento de seu papo à fêmea. Também observamos um jovem tentar obter alimento de um dos seus pais pelo mesmo processo. Faz ninho de galhos como as garças, localizando-o sobre a ramagem de mata alaga da; associa-se às vezes em grupos, gosta da vizinhança de garças e guarás. Põe de dois a três ovos de casca fina que vão do verde-desmaiado ao br anco-az ul a d o, sendo recobertos por fina camada calcária (Rio de Janeiro); consta que na América Central ocorrem ovos mosqueados com diminutas manchinhas escuras. Oólogos afirmam que seus ovos assemelham-se mais àqueles dos íbis do que aos das garças. Incubação de 23 dias (Rio de Janeiro); ninhego coberto de penugens, tendo a aparência diversa da de outros filhotes de garças por ter um boné justo, cor de fuligem, ao invés de um topete alto e eriçado. Os pais, sobretudo a mãe, são muito agressivos na defesa do ninho, pondo em 'fuga outras aves que se aproximem e protestando com veemência ante o acercamento de seres humanos; tal agressividade é notável em comparação à de outras garças. O nervosismo da fêmea aboletada no ninho exprime-se por movimentos laterais . do corpo e, se é pressionada ainda mais, acaba por chegar às vias de fato, atacando o intruso com o topete eriçado, pescoço totalmente esticado para a frente e asas entreabertas, emitindo coaxos e batendo o bico. Quando atormentados, os filhotes sobem com grande habilidade pelos galhos acima do ninho, regressando quando tudo se acalma. H , Habita' as margens de lagos erros com densa vegetação arbórea, aningais, manguezais. Ocorre do México à Bolívia e Argentina, em quase todo o Brasil, da Amazônia ao Mato Grosso, Goiás, Maranhão. Piauí, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. "Savacu", "Colhereiro", "Socóde-bico-largo" (Piauí), "Arataiaçu" (Amazônia).
COCHLEARIIDAE
iog
Cochl ibl
211
id G
Biderman, J. O. & R. W. Dickerman. 1978. 1 -37. (alimentação) Bock, W. 1956. no. 1779. (revisão taxonômica) Cracraft, J. 1967. 84:529-33. (posição sistemática) Dickerman, R. W. & C. Juarez. 1971. 59:1-16. (nidificação, sistemática)
Dickerman, R. W., K. C. Parkes & J. Bell. 1982. i ing 20. (plumagens) Haverschmidt, F. 1969. 86:130-31. (nidificação) Mock, D. W. 1975. u 92:590-92 (hábitos) Sheldon, F. J. 1987. u 104:97-108. (filogenia)
19 115-
J
J.
i I I
. ,.,."
f*""""
r 212'
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
I
-!
CURICACAS,
COROCORÓ,
GUARÁ,
COLHEREIRO
Grupo mais aparentado aos Ciconiidae que aos ardeídeos, chamado também Plataleidae. De vasta distribuição no globo, numerosos fósseis registrados desde o Eoceno Médio da Europa (45 milhões de anos). O íbis sagrado, embalsamado pelos egípcios na antigüidade, personifica esta família mundialmente conhecida como íbis. O guará é uma das mais belas aves do Globo.
e BiCQlongo, curvo ou em forma de colher, pernas menos altas do que nas três outras famílias de Ciconiiformes. Macho e fêmea parecidos, desenvolvendo-se certo dimorfismo sexual durante a reprodução (guará, colhereiro). Há a tendência do macho ser de maior porte. O imaturo pode ter colorido bem diferente, sendo seu bico mais curto.
Na dieta do guará e do colhereiro desempenham papel importante pequenos crustáceos, responsáveis pela intensa pigmentação vermelha que estas aves apresentam em estado selvagem, pigmentação esta que desmaia nos exemplares cativos sendo entretanto recuperada se adicionar-se cantaxantina ou cenouras no alimento que lhes é fornecido (v. também flamingo e o tiranídeo "verão", oceph lus). Para constam no Rio Grande do Sul moluscos e caranguejos como alimento. O estômago de vários colhereiros da área do Rio de Janeiro, estavam repletos de "cracas", larvas de s (v. s ensis). Os colhereiros executam pescarias coletivas. e sticus ius come às vezes sapos ( g nulosusi, fato notável visto ser o veneno desses batráquios mortal por via gástrica para a maioria dos nodon e (Carvalho animais, exceto a boipeva, 1940).
H bitos,
g
es
Voam de pescoço levemente curvado para baixo; as asas dispondo-se côncavas como grandes conchas, sendo batidas mais rapidamente do que nos Ardeidae; algumas vezes alternam curto planeio que, por exemplo, omite quando voa para longe. São sociáveis, mas os bandos de diversas espécies mantêm-se segregados. Chamam a atenção quando se reúnem para dormir ou quando se deslocam para postos distantes, para comer. No Rio Grande do Sul os vôos crepusculares de g chihi tornam-se um espetácu-
e afins:
FAMíLIA
THRESKIORNITHIDAE
(8)
Ia, com as aves vindo e indo em correntes numerosas, em direção sul-norte (Estação Ecológica do Taim, janeiro); encontramo-Ias, depois, dormindo em massa compacta nos banhados abertos, pousadas no solo. Simultaneamente à mencionada migração de percorria menor número de hi sus inju tus a área do Taim, num trajeto leste-oeste, dirigindo-se para o seu dormitório, separado. No Pantanal, Mato Grosso, se reúnem bandos enormes de voando alto para o local de dormida, voltando de manhã espalhados, voando baixo, procurando comida. Os guarás aparecem em certos lugares e logo depois somem. A população anilha da dis chihi de Santa Fé, Argentina, passa o inverno de regularmente no Rio Grande do Sul. Um colhereiro, anilhado no Rio Grande do Sul, deslocou-se para o Rio de Janeiro (Silva 1988).
e
uç o
Associam-se, na maioria, em colônias. Os dois isticus, inibis e reproduzem-se isolados aos casais. Nidificam sobre árvores (p. ex. Eudoci e ), nos juncais ( is e e sobre árvores ou rochas semeadas nos campos ( isticus). Os ovos são de variados tipos, tanto unicolormente azulados us e is), verdes inibis), brancom pequenas manchas escuras ou cos ou pardacentos salpicados ( e isticus e l verde-claro numerosamente borrados de pardo (Eudoc A incubação varia de 23 a 24 dias no colhereiro. Os filhotes são alimentados por regurgitação (Eudoci us). .
Utili
, declínio, inte esse epid
iológico, pe gos
Na Amazônia o guará é apreciado como xerimbabo; limpa o quintal de insetos, passando a ser muito asseado (daí o dito "limpo como um guará"). Foi extinto em grande parte de sua área brasileira pela intensa caça que lhe moveram' (a fim de aproveitar-se suas penas para adorno), coleta de ovos e destruição de seus ninhais. No Pantanal de Mato Grosso nota-se um declínio do colhereiro, cujos ninhos são depredados pelo caracará, ol o colhereiro é menos eficiente na defesa do que as garças com seu bico pontiagudo. Com registraram-se problemas em relação a inseticidas que foram ingeridos com os alimentos. Colonos de Santa Catarina suspeitam com certa razão que o curicaca, e sticus c , contribui para a disseminação da febre aftosa, voando de um pasto ao outro. Normalmente o curicaca é protegido pelos fazendeiros como um controlador biológico, não deixando que se acentue o número de pequenos animais considerados nocivos.
-
THRESKIORNITHIDAE
No Pantanal, Mato Grosso, foram registrados como ( ticus predadores dos ovos do maçarico-real e macacos (Cebus e o gavião-preto lus g . A ave defendeu o ninho tenazmente, mas sem sucesso. É porém muito provável que consiga afastar predadores como gambás, gralhas e urubus (Olmos 1990). Foi observado que o guará (E logo abandona o ninho quando importunado.
isticus
MAÇARIC0-REAL,
s
73cm. Representante meridional grande, distinguindo-se pelas penas nucais fortemente alongadas e pela plumagem cheia e sulcada do pescoço. Cinza-escuro ou pardacento, com rêmiges e retrizes negras; algum branco na fronte. semelhante à da espécie seguinte mas unissilábicas, estrofe ressonante e descendente, "kí-kíkí...", "gü-gü-gü ...'', Habita os banhados, onde pega moluscos aquáticos etc., semelhante ao e que é com freqüência seu vizinho (Rio Grande do Sul); pode ocorrer ao lado da espécie adiante referida. Ocorre da Argentina ao Rio Grande do Sul e Mato Grosso (Pantanal). [Recentemente assinalada para o Ceará, aparição excepcional (Teixeira et . 1993).] Pouco conhecido, não sendo comum. "Curicaca-cinza?".
Pr. 3,5
CURICACA,
69cm, altura 43cm. Espécie grande de coloração clara e asas largas. Quando voa exibe grande mancha branca sobre o lado superior da asa, ao contrário do lado inferior, inteiramente negro. gritos fortes, curtos, do timbre dos de uma galinha-d'angola, "kí-kí-kí", si o, "go-gí", "tau-tá-ko". O casal e o bando que se reúnem para pernoitar gritam juntos; no auge do vozerio jogam a cabeça para trás. Anda abertamente nos campos secos (inclusive campos de aviação), procura queimadas; apanha gafanhotos, aranhas, centopéias, lagartixas, cobras, ratos etc. Para extrair larvas de besouro mergulha o bico na terra fofa até a base. É diurno e crepuscular. Plana a grande altura. No sul do Brasil pernoita e nidifica sobre pinheiros (p. ex. em Santa Catarina), no estuário do Amazonas nos mungubais e carobais. Ocorre da Colômbia à Terra do Fogo; também nos Andes; grande parte do Brasil, inclusive nas regiões Nordeste e Sul. "Despertador" (pantanal de Mato Grosso) "Curicaca-comum*".
TROMBETEIRO,
C
is
70cm. Negro esverdeado; pele ao redor do olho, bico e pernas vermelhas. lembra a do anterior, sendo mais suave, nasal, por exemplo, "ag-ag". Habita o campo. Ocorre da Venezuela e Guianas à Colômbia e Brasil, apenas no noroeste (rio Negro) norte (Rio Branco, Moskovitz et l. 1985) e oeste (rio Guaporé). Savana em beira de rio. "Tarã".
COROCORÓ,
s
213
Pr. 4, 4
58~~. Única espécie florestal. Verde-escuro, bico e pernas negro-esverdeadas. melodiosa, "Korro ... gogogo", "koró-koró ...", timbre de anu-coroca. ouvido com mais freqüência ao crepúsculo. Margens de rios, lagos dentro da mata, aningais (Amazônia). Come insetos, vermes e plantas; nos intestinos de dois indivíduos autopsiados foi encontrada grande quantidade de material vegetal fibroso, ao lado de pequenos vermes e vários insetos, sobretudo besouros (Linhares, Espírito Santo, novembro). Do Panamá ao Paraguai, Argentina (Misiones) e Brasil (quase todo}, por exemplo, no Espírito Santo, Rio de Janeiro (junho, J. F. Pacheco), São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul (janeiro), às vezes indivíduos isolados, de passagem. Abundante na Amazônia. "Tapicuru", "Caraúna", ["Curubá" (Solimões, J. F. Pacheco)]. V Carão, s.
TAPICURU-DE-CARA-PELADA,
54cm. Negro de brilho esverdeado, cabeça anterior nua e vermelho-clara, bico esbranquiçado (a cor varia), "pernas anegradas. fraco" gü-gü-gü", freqüentemente mudo. Banhados, campos recentemente arados, etc.; procura alimento na água rasa caminhando lentamente com 'um quarto do bico submerso, à feição do guará. Come inclusive matérias vegetais (sementes e folhas). Periodicamente uma das aves mais numerosas do Pantanal (Mato Grosso), portanto altamente migratório, em outras partes pouco comum ou ausente. Das Guianas e Venezuela à Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil (Roraima, Meio-Norte, Leste e Sul; também no Centro-Oeste). "Maçarico-de-bico-branco", "Maçarico-preto", "Tapicuru", "Frango d'água" (Pantanal), "Chapéuvelho". V dis chihi.
GUARÁ,
Am Pr. 3, 6
58cm. Uma das aves mais espetaculares do Globo; típico para os manguezais da costa atlântica setentrional da América do Sul. Sua magnífica plumagem vermelha carmesim decorre do carotenóide cantaxantina. Durante a reprodução o bico do macho torna-se negro brilhante; as pernas continuando sempre com a coloração vermelha-clara. A fêmea mantém inalteradamente o bico (que é mais fino) pardacento com a ponta enegrecida e as pernas verrnelho-esbranquiçadas. Registrames às vezes o vestígio de um maciço saquinho de pele nua 'cor-de-rosa de cada lado da garganta; tal dispositivo, que se forma durante a reprodução, ocorre relbus, representante gularmente na fêmea de E mais setentrional. Imaturo pardo-escuro com o baixo dorso e coberteiras superiores da cauda brancos, abdômen branco-amarelado. Ninhego coberto de plumas negras; nessa idade o bico é reto. É hoje geralmente acei-
., !
--------------=-~ ~~ 2'P'
214'
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
to considerar E. e E. férteis entre si reproduzindo Venezuela.
coespecíficos. Eles são juntos nos llanos da
Anda vagarosamente na água rasa, com a ponta do bico submersa, abrindo e fechando as mandíbulas aceleradamente em busca de caranguejos, caramujos e insetos. O alimento básico em sua dieta são pequenos caranguejos tais como o "chama-maré" ou "sarará", sp., e o "maraquani", abundantes na zona intertidal. A espécie de caranguejo varia localmente, dependendo do teor salino da água, que difere, por exemplo, ao sul e ao norte da foz do Amazonas, conforme as correntes de água doce que atinjam a costa setentrional; é abundante também em rios e lagos salobres. Antes de devorá-los, o guará extirpa-lhes aquela maior. Na costa do Amapá aparece junto a maçaricões, migrante setentrional, mariscando os mesmos "sararás" no lodo. Surgem sempre em bandos, para dormir e nidificar procuram densa vegetação, por exemplo, extensos manguezais aturizais e siriubais . Impressionam seus vôos coletivos para atingir tais pousos. Vôos que podem estender-
O"
o
se de 60 a 70 quilômetros até' os lamaçais onde se ali~ mentam de dia (foz do Amazonas). Os imaturos podem formar bandos separados. Partilham de ninhais com colhereiros e cabeças-secas. Costumam usar ninhos já existentes que ficam a uma altura média nos manguezais. Os pais vistosíssimos demoram apenas um mínimo de tempo no ninho quando trazem comida para os filhotes. Fomos informados que nidificam no começo da seca, de julho a setembro (Pará), embora conste que se reproduzem, nas Guianas, no período chuvoso. Existem no Brasil duas populações disjuntas do Guará, uma no norte e outra no sul. Antigamente ocorria no litoral brasileiro até a Ilha de Santa Catarina (Séc. XVIII, Berger 1979), portanto até o término austral dos manguezais na costa atlântica (28°20íS), sob influência da Corrente do Brasil. No Paraná (Murretas, perto de Paranaguá, ninhais), foi encontrado por A. Saint-Hilaire em 1820, observados ainda em 1977 três indivíduos na baía de Antonina-Paranaguá (P. Scherer Neto); nomes como Guaratuba (guará-tuba: muitos guarás), cidade do Paraná, perpetuam sua memória na região em questão. Do litoral paulista há re-
46'
48'
44'
100 km
Oceano Atlântico N=5.345
l'
-'
PARA
MARANHÃO'
.25-50
201-300
51-100
301-400
.101-150
151-200
401-500 44'
Fig. 59. Censo aéreo do guará,
, na costa do Pará e do Maranhão
em janeiro de 1986 (seg. Morrison et
. 1986).
THRESKIORNITHIDAE
gistros do século XVI, sendo os ninhais disputados entre os Tupinambás e Tupiniquins que utilizavam suas penas na confecção de adereços (H. Staden 1557, na Ilha de Santo Amara, v. História). Foi uma grande surpresa que guarás reapareceram nos manguezais de São Paulo, baixada Santista, Cubatão, de 1982 em diante, P: ex. um bando de 42 em setembro de 1984, todos adultos (foi tirada uma boa foto), e no inverno de 1986 até 82 indivíduos, mariscando no lodo e águas rasas ou pousadas nas árvores emergentes do manguezal (W. Bokermann). O local do registra atual é próximo do local onde Staden, prisioneiro dos Tupinambá em 1554, fez as suas observações. Também na área de Cubatão foi observado em janeiro de 1989 um bando de ca. 100 guarás; falou-se até de um ninho atendido por um casal (Marcondes-Machado et . 1989). Na Baía de Guanabara (manguezais da Ilha do Governador) ocorria ainda por volta de 1929; pessoas fidedignas asseveram que um bando de 15 a 20 indivíduos, predominantemente imaturos (o que sugere a existência de ninhal não muito distante), foi visto entre maio e agosto de 1952 na foz do rio Magé, nos fundos da mesma baía. Há mais informações nesse sentido sugerindo que existem ainda populações meridionais (1977). Em novembro de 1979 um guará adulto foi visto na Lagoa da Tijuca (Luiz P. Gonzaga) e em fevereiro de 1985 apareceram outros dois (seu bico não era preto, v. acima) na baixada de Guaratiba, RJ (J. B. Nacinovic, J. F. Pacheco). Setentrionalmente estende-se às costas de todos os países do norte da América do Sul, desde a Colômbia e Equador; também em Trinidad (onde o guará é Ave Nacional) às vezes Antilhas e América Central. Foi introduzido na Flórida. região do guará branco, Eudoc bus (que ocorre também na Venezuela, em número reduzido), com o qual cruza. O guará, que era "a ave mais comum entre os voláteis aquáticos da região amazônica" (Goeldi 1894), tornou-se ali escasso, sendo. quase totalmente eliminado do sudeste do país. Segundo informações feitas por H. F. Alvarenga, J. L. Freire e F. C. Novaes (1970/1972) aguará é ainda relativamente abundante na costa do Amapá, por exemplo, na foz do rio Araguari e na Ilha Vitória (ninhais) e nos arredores da cidade doAmapá (ninhais); visita também rios e lagos no interior da região. Durante levantamento sistemático feito por A. L. Spaans (que sobrevoou as costas da Guiana e Amapá de 1970 a 1972) encontraram-se guarás em maior número, em território brasileiro, sobretudo acima do paralelo 3°N, sendo localizado um ninhal, em agosto de 1971, no estuário do Oiapoque (Cabo Orange). Para registros mais recentes veja Teixeira & Best (1981). Num censo aéreo em 1981/ 1982 foi registrado perto da ilha Caviana, na foz do Amazonas, um grupo de aproximadamente 7.500 adultos; as aves se escondem nos manguezais e escapam facilmente a qualquer controle, sobretudo os imaturos. Existe ainda na Ilha de Marajó (Soure, Salva terra, Muaná; ninhais. 1972). Desapareceram os ninhais
215
registra dos, no fim do século passado, perto de Arari (Marajó) e da Ilha de Caviana, desaparecendo também os ninhais do lado do braço norte do Amazonas. Belém (baías de Pirabas, Pilões e Quatipuru), Vigia e São Caetano de Odivelas (Pará); subsiste a oeste da foz do rio Gurupi, Viseu e Limondéu, Pará (1972, ninhais). Observamos que os locais utilizam a expressão "ninhal" indistintamente tanto para locais de nidificação como para pousas onde as aves (guarás, garças, etc.) apenas vão dormir. Às vezes, o guará sobe o Amazonas e seus tributários, exemplares isolados aparecem, por exemplo, no rio Trombetas, Oriximiná (Pará). O guará vive meio nomádico, muda espontaneamente suas colônias e se afasta para longe dos locais tradicionais. Habitam a costa do Maranhão, entre (Guimarães) e Turiaçu (ninhais, 1972). Litoral do Ceará (perto de Fortaleza) como visitante (1973). É anunciado erroneamente, como existente no Pantanal de Mato Grosso, confusão que fazem com o colhereiro. Uma ocorrência de Eudoci us no Pantanal onde existem águas salobras (formadas ali mesmo, não são reminiscências marinhas) não parece tão estranha considerando que ele penetra nos lhanos da Venezuela de água doce, onde reproduz em grande quantidade. Contribui para a confusão no Pantanal que o cartão-postal mais vendido mostra um bando de guará em vôo, foto provavelmente tirada na ilha de Marajó, Pará. Soubemos que em 1984 na Venezuela as colônias do guará estavam se deslocando do litoral (onde são mais perturbados) para o interior; 50% do total da população atualmente existente dos guarás ocorrem na Venezuela. Por questões alimentares o hábitat preferido dos guarás são os manguezais, cuja degradação é ampla, começando com a poluição do mar e retirada do arvoredo. Acaça e a pilhagem de-ninhos e ovos comprometem mais ainda a sobrevivência dessa ave sensível. "Cuará-vermelho*".
CARAÚNA, TAPICURU,
eg
chihi
53cm. De porte ainda mais delgado que o de hi us, o qual às vezes aparece ao seu lado (Rio Crande do Sul). Quanto ao aspecto pode lembrar um u plumagem castanho-chocolate, maçaricão, com asas e cauda verdes violáceo-purpúreo; bico e pés escuros, loros nus. Pelo final do ano muda para uma plumagem de descanso, colorindo-se suas faces de branco, que é conservada até junho ou agosto. Voz:"baixinho "go-go-go", "guack ... ", lembrando o grasnar das marrecas. Arrozais, banhados abertos. Quando voam podem passar' por marrecas-piadeiras; alinham-se em formações cuneiformes e longas filas. Migratório. Indivíduos anilhados em Santa Fé (Argentina), ainda como filhotes, foram encontrados em setembro e novembro do mesmo ano no Rio Grande do Sul, 1.400 km ao Nor-
. r:
t
I , t: I
1
216'
ORNITOLOGIABRASILEIRA
deste. Do Chile e Argentina (Patagônia) à Bolívia, C()- . lômbia e Brasil: Rio Grande do Sul (onde é comum) a São Paulo e Rio de Janeiro (agosto, 1968) e Mato Grosso. "Maça rico-preto" (Rio Grande do Sul) "Caraúna-decara-branca". Setentrionalmente substituída por P. [alcinellus espécie muito parecida e cosmopolita, que nidifica na Venezuela, América do Norte e Velho Munus. do. V Carão,
Pr. 3, 7
COLHEREIRO, AJAJÁ,
87cm. Único pela forma do bico. Plumagem rosea pela presença dos carotenóides cantaxantina e astaxantina (v. guará); seu colorido é intenso apenas durante a época de reprodução. A faixa vinácea na asa é adquirida por uma muda nupcial (w. Bokermann). O macho é maior. Estão maduros apenas após aos três anos de idade. Imaturo esbranquiçado (incluindo a cabeça a qual é empenada, ao contrário do adulto), de loros nus, bico e pernas pardacentos e rêmiges negras. grunhidos e grasnados. Aos bandos, procura alimento na água rasa mergulhando e sacudindo a "colher" do bico lateralmente, pe-
og t
}~~irando a água; apanha assim animalejos aquáticos tais como peixinhos, insetos, moluscos e crustáceos, inclus), sobretudo larvas mas também sive "cracas" adultos (como evidenciam pedaços de carapaças encontrados em conteúdos estomacais no ex-Estado da Guanabara). Vimos colhereiros realizarem pescarias coletivas, dez a vinte indivíduos andando lado a lado mariscando na água rasa (Rio Grande do Sul). Voa de pescoço esticado, lembrando um pouco os Ciconi diferindo destes obviamente por ser muito menor e por alternar uma série de batidas de asa com um planar como fazem as curicacas. Após a reprodução os imaturos brancos formam bandos que podem-se confundir, de longe, com garças. Habita praias lamacentas no interior ou no litoral, manguezais; ninhais de permeio com os de garças e guarás. Habita a região neotropical, do sul dos EUA à Argentina, grande parte do Brasil, inclusive toda a região Sul; nidificava na Ilha do Governador, às portas da cidade do Rio de Janeiro. "Colhereiro-americano*". Parente próximo do colhereiro do Velho Mundo, que é maior e todo branco. É confundido com o guará (que é menor) e o flamingo (que é muito maior).
es o ibliog
G
l)
Antas, P.T. Z., P. Roth. & R. 1.G. Morrison. 1990. I . conservação)' 11 130-136. (Eudcci Argel-de-Oliveira, M. M., V K. Lo, P. Develey, D. R. C. Buzzeti & L. O. Marcondes-Machado. 1993. u III Cong s. o us em São Paulo, conservação)' 64. t is II de Bokermann, W C. A. & J. C. C. Guix. 1986. . o 206-07. tEu s em São Paulo) E l 72 Bokerrnann, W C. A. &J. C. C. Guix.1990.Anais iEudoci em São Paulo, reprodução)' . Inst. O. 35:375-376. (batracofagia) Carvalho, A. L. 1940. III Cong . . ool. 545. ( s Cintra, R. 1986. u lescens, nidificação) Dubs, B. 1988. [. O . 129:363-65. ( s ulescen s, reprodução) ffrench, R. P. & E Haverschmidt. 1970. iuing 9 47-65. tEudoc s, geral) Lago-Paiva, C. 1994. et iol. eop. 16:119-24. tE us em São Paulo, histórico e conservação)' . Marcondes-Machado, L. O. & E. L. A. Monteiro-Filho. 1989. Ci e Cultu 41:1213-14. iEu doci us em São Paulo, conservação)' Marcondes-Machado, L. O. & E. L.A. Monteiro-Filho. 1990. O. C 110:123-126.(Eudoci us em São Paulo)' Morrison, R. 1.G., R. K. Ross, P. Canevari, P. T. Z. Antas, B. Jong, B. Ramdial, E Spinosa, M. Madriz & J. Mago. 1985. C og . 148. (censos aéreos na América do Wildlife Sul) Morrison, R. I. G., R. K. Kloss & P.T.Z. Antas. 1986.E o, e n ento 4. iEudoci us , costa do Pará e Maranhão, distribuição)
Nascimento, J. L. X., P. T Z. Antas & I. N. Castro. lQ92. es os II Cong . . G . n , censo aéreo)' Olmos, F. 1990. son . 102:169-70. (predação do ninho de s c Olrog, C. C. 1989. c 15:82-88. (anilhamento) 3:67-68. (Eudoc s ube Rodrigues, A A. E 1995. reprodução na ilha do Cajual, MA)' Rodrigues,A.A E &M. Fernandes.199LResumos ICong . n. colônia na ilha dos Pássaros, litoral (Eudoc do Pará)' Roma, J. C, L S. Gorayeb &J. M. Ayres. 1996. os Cong . s. 106. (Eudo s grande colônia na ilha Canelas, e PA)' San Martin, P. R 1962. . oe. g té 1:79-84. (alimentação) Scherer-Neto, P. 1982. 13:145-49. e isticus us, biologia) is III V, o 79. ( , Silva, E '1988. anilhamento de ninhegos)" Spaans.A, L. 1975. Cons . 7:245-53. , distribuição) Steinbacher, J. 1979. Family Threskiornithidae. Pp. 253-68. 1n:Che si the . Vol, 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.), Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zoology" Teixeira, D. M., J. B. Nacinovic & J. L. Dujardin. 1990. I peci Publ. 11:124-129. (Eudocimus, distribuição, conservação)' Toseli. C. 1985. s g . . s 269. j na Baía de Guanabara) Villela, G. G. 1968. . Cienc. 40:391-99. (pigmentos) Weller, M. W. 1962. lbis 109:409, dis chihi, plumagem reprodutiva)
CrcONIlDAE
JABURU,
MAGUARI,
CABEÇA-SECA:
FAMÍLIA
O jaburu 16, o maguari e o socó-grande (Ardeidae) são as maiores aves brasileiras após a ema. Os Ciconiidae possuem bico muito grande, de formato diverso, e plumagem branca ou branca e preta. Sexos parecidos, macho mais robusto, notando-se também geralmente uma diferença na forma do bico. A cauda do maguari é singular. O povo identifica uma pessoa de porte desajeitado como "jaburu".
,
(3)
CICONIIDAE
Aves grandes de aspecto de garças, de vasta distribuição no globo. A África vale como "o continente das cegonhas", destacando-se, p. ex. os grotescos marabus A cegonha-branca, é uma das aves mais populares da Europa, considerada de bom augúrio e responsável por trazer as crianças, conforme a lenda. São adaptadas à água doce. Fóssil mais antigo do Oligoceno Inferior do Egito (35 milhões de anos); no Brasil, fósseis de 20 mil anos nas cavernas de Minas Gerais. Já em 1870, A.B. Garrod chamou a atenção para a semelhança anatômica dos Ciconiidae com os abutres do Novo Mundo, informação renovada nos nossos dias por Ligon (1967) e Kõníg (1982). A confirmação veio através da pesquisa bioquímica: Ciconiidae e Cathartidae são parentes próximos que evoluíram de ancestrais comuns, separando-se em dois grupos há 35/40 milhões de anos (Sibley & Ahlquist 1986). A semelhança dos abutres do Velho Mundo e do Novo Mundo é pura convergência em adaptação à necrofagia.
de bico
São quase mudos (siringe rudimentar) sendo, porém, capazes de matraquear com o auxílio do bico, por exemplo, "peb-peb-peb" (jaburu, maguari). Consta que também o cabeça-seca bate com o bico durante a cópula. O maguari bufa quando irritado, Os filhotes assobiam solicitando comida (jaburu) e podem ser barulhentos.
de São onívoros. Apanham animais dos mais diversos desde insetos, caranguejos e caramujos até rãs e peixes. Os três representantes que ocorrem no Brasil possuem técnicas de captura de presas. inteiramente diversas. O cabeça-seca permanece estacionado ou caminha lentamente na água rasa (que pode ter a superfície tomada
217
de vegetação flutuante) com o bico abaixado e ligeiramente aberto, com as pontas mergulhadas na água; enquanto isto mexe com um dos pés embaixo d'água, fazendo movimento de vai-e-vem; alterna ora o pé direito ora o esquerdo nesta azáfama, que visa espantar animalejos ocultos no lodo, os quais são apanhados quando tocam a ponta do bico, dando-se a captura, portanto, independente da visão. Por estas razões o cabeça-seca parece ser muito "calmo" enquanto procura alimento. Já o jaburu, ao contrário do anterior, anda energicamente de lá para cá a passos largos e, em cada um deles, mergulha o bico na água, impelindo-a violentamente, a fim de espantar peixes escondidos; sai da água quando tem dificuldade de dominar um peixe que, quando lhe escapa caindo ao solo em seco; é mais fácil de recapturar. Pesca bagres (Siluridae) cujos grandes.acúleos parte virando a presa no bico (Pantanal, Mato Grosso). Vimos uma dessas aves pular na água rasa aparentemente também para espantar animais enterrados no substrato. Pega filhotes de jacaré (os quais mata batendo-os contra um e e cobras, chegando mesgalho), tartarugas mo a levar pequenos exemplares de sucuri para o ninho' (Mato Grosso, A. Sucksdorff). Às vezes executam uma batida em regra, associando-se em grupos; marcham então lado a lado em direção à margem, assustando peixes que fogem para água rasa, sendo então facilmente capturados. O maguari caça de espreita dentre a vegetação aquática mais alta. Tanto ele como o cabeça-seca engolem também matéria vegetal. A caçada do maguari é visual, enquanto a do jaburu é predominantemente tátil, aquela do cabeça-seca é quase toda tátil. Para todas as três espécies o melhor período (inclusive para reprodução) é o do começo da época seca, quando ocorre a maior concentração de animais aquáticos que lhes servem de presas. Já quando as águas começam a descer aparecem em bandos junto a garças e outros pernaltas, em busca de peixes ou outras presas mortas ou moribundas que sucumbem nas poças que a água deixou ao baixar, e que vão lentamente sendo se-o cas pelo sol. Nas planícies do Mato Grosso e da Amazônia, o jaburu exerce saliente papel de saneador na medida que devora incrível quantidade de peixes mortos; não rejeitam nem mesmo pedaços de carniça grande arrancados por urubus.
, Voam de pescoço esticado; no que diferem dos Ardeidae; são mestres no vôo planado, aproveitando-se
16 O nome "jaburu" é usado por vezes para todas as três espéciessul-americanasda família.Usamo-Iano textogeral da família apenas para bi u cte
218
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
das correntes aéreas quentes ascendentes; todas três espécies podem subir tão alto que se perdem de vista. Desta maneira alcançam os melhores lugares para pescar, distantes às vezes 30 km ou mais do seu pouso, ao qual regressam depois através do mesmo método, gastando assim um mínimo de energia. Reúnem-se em formaçães cuneifonnes quando voam para locais afastados (p. ex. O cabeça-seca desloca-se regularmente entre os sistemas fluviais do Orinoco e do Amazonas, de modo a ter sempre faixas marginais de água rasa à disposição. Na própria bacia amazônica recua rio abaixo ou rio acima conforme as inundações periódicas. Ocorrem migrações também no sul; foi registrado, p. ex., em início de fevereiro, perto de Capivari, município de Osório, Rio Grande do Sul, uma aglomeração de 500 a 1.000 cabeças-secas, pousados no chão e alimentando-se nos campos de pastagem alagados pela chuva (F.Wildholzer). filhotões anilhados no Pantanal, Mato Grosso, pelo fim do ano, foram recuperados no Rio Grande do Sul (fevereiro) e em Santa Fé, Argentina (janeiro do ano seguinte).
São capazes de usar suas pernas longas (que são providas de uma ramificação reticular arteriovenosa: para a termorregulação, a medida em que as molham com urina cuja evaporação resulta em um refrescar imediato por esta razão apresentam-se freqüentemente com as pernas sujas de branco (v. também urubus). A freqüência de urinar, servindo à urohidrose e não à eliminação de líquido excretório pelos rins aumenta com a intensidade do calor e chega a uma carga por minuto, enquanto o ato de urinar normal ocorre uma vez em dez minutos observado na África). Para que o ja to acerte bem o tarso-metatarso, este é levantado e aproximado à cloaca. Parece que o freqüente esticar de asas que se vê nos ciconídeos teria função termorreguladora. O cabeça-seca abre as asas expandindo-as ao máximo como fazem os biguás e urubus. Já o maguari tem' hábito síngular.qúê vimos em três exemplares (um deles jovem) no Rio Grande do Sul, em janeiro de 1966; as aves tomavam banho de sol pouco antes do ocaso, abrindo as asas deixando porém a mão pendente e expondo ao sol todas as partes inferiores incluindo as das asas, cujas pontas descaídas estavam atrás dos tarsos. Tudo isto em posição tão ereta que até as coberteiras inferiores da cauda estavam sob a ação dos eflúvios solares; mantinham-se de bico aberto, absolutamente imóveis, ficando assim por tempo considerável. Tal modo de esticar as asas, descrito e figurado por Kahl (1971a) para da Índia (delocorre também no cabeça-seca vimo-lo cocoi e . mesmo em
Tanto cabeça-seca como o jaburu nidificam sobre árvores, o primeiro em colônias ("ninhais") às vezes grandes e mistas, com o colhereiro e alguns em matas alagadas. O jaburu é solitário, fazendo seu ninho sobre as árvores mais sobranceiras e, geralmente, isoladas; utilizase destes lugares, que são mesmo estratégicos, por muitos anos, tratando-se provavelmente do mesmo casal que a longo prazo é substituído por outro. Nidificam também em palmeiras (p. ex. buritis), instalando-se sobre seu penacho, o que pode acabar matando a palmeira. Trazem galhos grandes de um metro de comprimento ou mais, e Sem de grossura e montões de material fofo; o ninho é forrado de capim. Ocorrem lutas ferrenhas entre jaburus territoriais (setembro, Pantanal). O ninho novo do jaburu é relativamente pequeno mas é aumentado a cada período de reprodução. O ninho torna-se um amontoado volumoso de galhos, lodo e capim que pode atingir o diâmetro de 1,5 a 2,0 metros e altura de 1,0 a 1,5 metro. No Pantanal de Mato Grosso a reprodução do jaburu toma o período seco todo, de junho a outubro/novembro. Semelhantes são as condições no Rio Grande do Sul, referentes ao maguari. O maguari nidifica no solo, em taboais e juncais sem árvores, escolhendo locais de água rasa onde acumula um monte de capim e hastes secas (p. ex. de grandes ciperáceas - "papiro") que pode chegar ao diâmetro de 2 metros e à altura de SOem, assemelhando-se ao ninho do tachã. Limpa as cercanias do ninho, utilizando as plantas arrancadas na sua confecção. Às vezes vários casais associam-se 'para nidificar, o que fazem a alguns metros uns dos outros. E a única espécie da família em todo o mundo que nidifica no solo, embora o faça também em árvores, por exemplo, na Venezuela (B. T. Thomas). Os ovos dos Ciconiidae são de um branco puro, nada semelhantes aos da garça. O jaburu põe de dois a três ovos, até quatro; já vimos três filhotes no ninho do jaburu e do maguari, quatro. O período de incubação' do cabeça-seca oscila entre 28 e 32 dias, sendo que seus filhotes voam aproximadamente no quinquagésimo quinto dia de vida. Se faltar comida em anos muito secos, não se reproduzem. Consta que o maguari dá de beber aos filhotes, regurgitando água. Kushlan (1975) demonstrou uma relação matemática entre a vazante e o período da reprodução do cabeça-seca, na Flórida, EUA. ," Sobre a longevidade do jaburu constam 36 anos, do " maguari 20 e do cabeça-seca 27 anos.
Uma recente revisão dos Ciconiidae do mundo (Kahl 1972), que se baseia inclusive no comportamento dessas aves, revelou que os três representantes sul-americanos
!
i-
CICONIIDAE
podem ser atribuídos a três grupos diferentes, cada um deles com elementos que os representam no Velho Mundo, o que dá uma perspectiva zoogeográfica interessan, te. Assim teríamos Mycteriini incluindo Ciconiini abrangendo Ci e Leptoptilini com , concluindo-se que as nossas três espécies são I}lenos aparentadas entre si do que a certas outras da Africa e índia. A inclusão do gênero em é também apoiada pelo comportamento, P: ex. o -do (jogar a cabeça para trás, matraqueando com o bico) típico para todas as espécies do gênero; é executado já por maguaris ninhegos (fig. 60).
Inquilinos dos ninhos
eos
O enorme amontoado de galhos que é o ninho do jaburu consiste em ponto de atração para várias aves da região que se instalam na sua base, ali construindo seus ninhos, como fazem por exemplo a graúna t gus) e a caturrita bem-te-vi t a qual até presta bons serviços ao jaburu na medida que reforça a base deste com o material que traz para a confecção do seu próprio, além de servir de sentinela. O catatau, , apanha material fofo na base do ninho do jaburu para construir (Pantanal, Mato Grosso).
219
Na Venezuela não existe a caturrita que no Sul poderia introduzir os barbeiros nos ninhos dos ciconídeos.
CABEÇA-SECA, PASSARÃO,
Pr. 4, 1 95cm, 2,8 kg. Cabeça e pescoço nus e negros assim como as pernas; dedos rosados. Plumagem totalmente branca apenas com as rêmiges e retrizes negras. Macho maior que a fêmea. Imaturo, de cabeça e pescoço ernplumados e bico curvo amarelo claro ou rosado, o qual é mantido freqüentemente. abaixado, no que lembra um pouco aguará. Empoleira-se freqüentemente. A mais gregária das três espécies sul-americanas; os imaturos associam-se vivendo à parte dos casais. Ninhais em capões alagados. Vive em banhados interrompidos por matas. Antigamente uma das aves aquáticas mais comuns da Amazônia; é considerada peça de caça. Ocorre do sul dos EUA à Argentina, quase todo o Brasil (incluindo as regiões Leste e Sul). Pelo uso de nomes iguais, tanto científicos como vulgares, há às vezes confusão com os dois outros ciconídeos, principalmente o jaburu. e . "[aburu-moleque", "Padre" (Rio Granood lbis (inglês). de do Sul), "Cabeça-de-pedra?", Chamado anteriormente de ntulus locul io .
MACUARI, JOÃO-GRANDE,
. Fig. 60. Maguari, Jovem no ninho executando o movimento de A ave neste estágio é negra, com a garganta amarela. Original H. Sick.
De interesse epidemiológico é o fato de em ninhos de e e cte instalarem-se barodnius prolixus, Triatorninae) principais vetares beiros da doença de Chagas (o protozoário é o i), conforme foi observado na Venezuela; em seus deslocamencos as aves transportam larvas e ovos do percevejo dentro da plumagem, disseminando o vetar.
140cm, altura 108cm, peso 4,5 kg. Branco, com penas alongadas no pescoço anterior; rêmiges, coberteiras grandes superiores, região escapular e cauda negras. Esta última é bifurcada e menor do que as suas coberteiras inferiores as quais são rígidas, sobressaindo além das retrizes em um triângulo ou retângulo branco que se destaca no vôo; desta maneira as subcaudais pra ticamente substituem as retrizes em sua função de leme. Quando a ave está pousada, as pontas das asas apresentamse como um "prolongamento preto" da parte traseira do corpo, o que não ocorre no cabeça-seca que parece "curto" e todo branco (suas rêmiges negras são cobertas pelo manto). Bico reto e cinza-az u lad o, de ponta averrnelhada, região perioftálmica, pele nua da base do bico e pernas vermelhas; olhos amarelos. Batem com o bico como outros Voa de pescoço esticado como . outros ciconídeos, v. Introdução. Nidifica no solo (v. Introdução), de dois a quatro filhotes, brancos ao nascer, passando logo a seguir a um anegrado no qual destaca-se a garganta laranja; após três meses de idade assemelham-se aos adultos (Thomas 1979). Reúnem-se fora da época de reproduçãoem beiras abertas de lagoas para pernoitar; descansam deitados sobre o ventre. Vivem em banhados e brejos com pouca vegetação alta. Na Amazônia é considerado caça tal como o tuiuiú. Ocorrem em grande parte da América do Sul, todo o Brasil (mais comum no Rio Grande do Sul e extremamente restrito na Amazônia e no Nordes-
.,
220
ORNITOLOGIABRASILEIRA
Fig. 61. [aburu, [abiru
te
.
te). "Cauauã" (Paraná), "Cegonha", "Tabuiaiá" (Pantanal, Mato Grosso), "[aburu-moleque". V também socó e cocoi. grande,
Fig. 61
JABURU, TUIUIÚ,
140cm, altura 107cm, envergadura 260cm, peso 8 kg. Bico colossal (menor na fêmea), ligeiramente curvado para cima. Partes nuas negras como carvão, occiput com algumas penas brancas. Pescoço dilatável (quase sempre espantosamente disforme), de base vermelha (assim bliog t
como pequena mancha na sua parte anterior, mancha esta freqüentemente oculta pelo bico abaixado); esta coloração muda de intensidade tornando-se escarlate quando a ave se excita, supomos que por aporte de sangue nos vasos. No Pantanal (Mato Grosso), há localmente uma variação de "partes nuas" (cabeça e pescoço) inteiramente vermelhas em contraste com o bico negro (o qual também pode ter vestígios de vermelho); tarsos também vermelhos (Sick 1979). Plumagem inteiramente nívea, ao contrário das espécies anteriores. Voa com o pescoço totalmente esticado como os outros cicônidas, dando a impressão de que retrai um pouco o pescoço ao voar, devido a um chumaço de pele frouxa pendente junto à base do mesmo. Alterna algumas batidas de asa com rápido planeio. Nidifica isoladamente sobre árvores altas ou palmeirais. O filhote é pardo-escuro (de cabeça e corpo emplumados). Para comer associam-se em bandos. Considerada ave de caça na Amazônia, sua carne lembra a do ganso quanto ao paladar; mais apreciados são os "filhotões", que são muito gordos. Vive nas margens de grandes rios e lagos com árvores esparsas, campos úmidos semeados de capões. Quando 'pousado abertamente na margem de um rio pode passar por um ser humano. Ocorre da América Central (até o México) ao norte da Argentina e Brasil (.até São Paulo e Santa Catarina) [Recentemente encontrado no Rio Grande do Sul (Belton 1994)]. A maior população é encontrada no Pantanal, Mato Grosso (onde foi escolhido símbolo), e no Chaco oriental, Paraguai. Na literatura mais antiga designado como e"Tuiuiú-coral" (Mato Grosso), "[aburu-moleque", ic "Jabiru
ll
Ciconiid og
Ge /)
Encarnação, C. D. &M. G. Diniz.1993. esu II1 Con O . r. 14. ( te e [abiru, dados da nidificação na bacia do elo Paracatu, MG)' Kahl, M. P. 1963. ol. /. 36:141-51. (termorregulação) Kahl, M. P. 1964. Ecol. onog . 34:97-117. ct , alimentação) 10:151-70. (hábitos, taxonomia) Kahl, M. P. 1971a. e ing u, Cico , hábitos) Kahl, M. P. 1971b. Condo 73:220-29. Kahl, M. P. 19?~c. u 88:715-22. (hábitos) Kahl. M. P. 1972. . ool. ( ondon) 167:451-61. (taxonomia) st ds Kahl, M. P.1979. Family Ciconiidae. Pp. 245-52. In: C lhe d. Vol. 1. 2nd ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zoology.* Koníg, C. 1982. t. .12 259-67. (sistemática) Krebs, L R. 1978. 7:299-314. (nidificação em colônia) ish íl to ood Kushlan, J.A. 1975. el iion to e uction in lhe n E des, o id . Tallahasse: U.S. Dept. Int. Geol. Surv. 93:464-74. (predação) Kushlan, J. A. 1976. Kushlan, ]. A. 1978. Ecolog 59:649-53. (alimentação) .1979. . . . 43:756-60. (efeitos do helicóptero Kushlan, sobre colônias) Kushlan, ]. A. 1986. Col. 9:155-62. (flutuação do nível d'agua)
Kushlan, ]. A. & M. S. Kushlan. 1975. . 1-38. t estação reprodutiva) . ol. 29:487-560.(fauna nidícola) Lent, H. &]. ]urberg. 1969. Ligon, ]. D. 1967. . 651. t , parentesco) s Cong . de Oliveira, D. M. M. 1987. 147. alimentação de filhotes) Pacheco,]. F.1988. oi. C 23:104-20. no Rio de [aneiro)" Schulz, H. 1987. 34:107-17. (termorregulação) t. 254 82-92. Sibley, C. G. & ]. E. Ahlquist. 1986. (parentesco) . B. o. C. 99:115-20. e variação)' Sick, H. 1979. e . Cienc. . 34:239-241. (Ciconi Thornas, B. T. 1979. oi. c. g i, sucessão de plumagens) Thornas, B. T. 1981. Condo 83:84-85. bi u t , nidificação) g (P. A. Thomas, B. T. 1985. Pp. 921-31. In: Buckley, M. S. Forster, E. S. Morton, R. S. Ridgely, F. G Buckley, eds). Lawrence: A.O.U. (Ornith. Monogr.,36). (coexistência das três espécies de Ciconidae sulamericanos) 88:26-34. (Cí i, hábitos, Thornas, B. T. 1986. C reprodução) Yamashita, C. & M. P Valle. 1986. is II E , io de e o 19697. anílhamento)
CATHARTIDAE
URUBUS,
CONDOR:
FAMíLIA
CATHARTIDAE
(6)
Os abutres do mundo são separados em dois grupos anatomicamente diversos. Para os americanos foi criada uma família à parte (Cathartidae), ao passo que os abutres do Velho Mundo são incluídos na família Accipitridae da ordem Falconiformes. Dados da anatomia comparada e do comportamento indicam parentesco próximo dos abutres do Novo Mundo com os Ciconiidae (Ciconiiformes): o pé dos urubus não serve para segurar o alimento (geralmente um bicho morto) com os dedos, mas apenas para pisar nele, pois o primeiro dedo (o traseiro), ficando em posição mais elevada, não alcança a presa e ao mesmo tempo o segundo dedo (o interno) não se curva para baixo, devido ao alongamento da falange basal (v. figo 62). O bico pe e), a siringe faldos catartídeos é perfurado (n ta; a ave ocasionalmente bate com o bico e pratica a urohidrose (Kónig 1982). A confirmação se deu através de análise bioquímica (DNA). Os catartídeos são por homologia cegonhas e por analogia necrófagos. Alguns ancestrais dos atuais Cathartidae eram voadores enormes entretanto, os maiores gigantes eram da família Teratornithid ae, muito afim dos Cathartidae, como por exemplo, is gni do Terciário da Patagônia, que tinha envergadura superior a 7 metros e peso perto de 80 kg, maior ave voadora conhecida no mundo. Os mais antigos fósseis conhecidos de Cathartidae datam do Eo-oligoceno da França, do Oligoceno Inferior da América do Norte e do Brasil.
g ~
221
líquidas, brancas primeiro a uma perna e depois à outra, cobrindo totalmente a cor amarela dos tarsos. Pesquisas de laboratório revelaram que as partes nuas na cabeça e no pescoço têm também papel importante na termorregulação (Larochelle et aI. 1982). As penas de us tem um forte cheiro típico.
ç o, inuiç o d popul
, n
de supost ,
o
Como consumidores de carne em putrefação desempenham importante papel saneador, eliminando matérias orgânicas em decomposição. São imunes, aparentemente, ao botulismo, doença que ataca o homem e a outras aves (v. doenças) por ingestão de alimentos enlatados, como patê, contaminados pela bactéria Clost i botulin As toxinas botulínicas são proteínas, constituindo-se nos mais potentes venenos conhecidos ..O suco gástrico dos urubus é bioquimicamente tão ativo que neutraliza as toxinas cadavéricas e bactérias, eliminando perigos posteriores de infecção. Quando são alimentados em cativeiro com carne fresca são limpos e sem mau cheiro.
es
Cabeça e pescoço nus, o que facilita a higiene após seus banquetes repugnantes; um denso colar de penas é geralmente interpretado como um obstáculo à descida do repasto meio líquido à plumagem. Narinas vazadas. Bico e unhas menos possantes do que nas aves de rapina. O bico fino de tesé próprio para se aproveitar de bichos mortos pequenos, enquanto o bico forte de Co serve para rasgar a pele de cadáveres maiores, Os obra ainda melhor executada pelo Sarcoramphus. carúnculos do macho do último parecem possuir função tátil. O hallux é elevado e curto, ao contrário da maioria dos Falconiformes. O macho pode ser maior do que a fêmea. Locomovem-se no solo a custa de longos pulos elásticos. As pernas são relativamente longas. Mudos, não possuem siringe, sabem porém bufar fortemente, subsg ps emite um "koa": tituindo muito bem uma voz, já dentro do ovo o filhote emite uma espécie de grito rouco ou bufar. Para a termorregulação abrem as asas e defecam sobre as pernas ("urohidrosis", V. também Ciconiidae), o que registramos, por exemplo, para e C . co phus "atira" as fezes
. I
0' .
~ 1\: ,
I
i ii 1/:
.'
,
...
~-.:.
'.
l
Fig. 62. Pé direito do grifo (Gyps [ulous, abutre do l gryphus, B), e da VelhoMundo, A), do condor cegonha-branca ciconi , C), abaixo os respectivos esqueletos.A flecha aponta a primeira falange(a basal) do dedo interno: curta em Gyps (Falconiforrnes), comprida em u (Cathatidae)e Ciconi (Ciconiiformes)(seg.Kõnig 1982).
,
,,
222
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Dotado de vista muito aguda, circulando nas alturas já de madrugada e ainda no crepúsculo, o urubu comum e o urubu-rei tudo observam, localizando a grande distância cadáveres de animais de porte avantajado o que não é tão difícil, considerando a posição peculiar de um bicho morto e o comportamento de outros urubus, notando quando estes encontram algo e descem, o que dá para ver a uma distância de aproximadamente 90 km quando a ave voa numa altura de 700 m; um objeto de 30cm de comprimento é detectado pelos urubus a 3.000m de altura. Aproveitam-se das correntes ascendentes de ar quente ao redor de colinas e serras para elevar-se, planam por horas a fio com um mínimo de dispêndio energético, quando a temperatura é alta. O escritor J. Guimarães Rosa escreveu: "O urubu é que faz castelos no ar". Podem ser tanto vôos de passeio como de inspeção. o. fato da onça cobrir um animal abatido que não pode comer de uma vez pode ser uma adaptação para burlar a acuidade visual dos urubus; porém a onça costuma arrastar suas vítimas para dentro de densa vegetação. e C. u possuem olfato bem desenvolvido", conseguindo localizar cadáveres ocultos voando baixo, encontrando, por exemplo, um macaco abatido que ficou preso em uma forquilha dentro de uma densa copa de árvore ou um araçari morto no solo da alta mata amazônica, como registramos no alto Cururu, Pará. O urubu-de-cabeça-vermelha é capturado em armadilhas postas para pequenos mamíferos dentro da mata fechada; come pequenos animais mortos (sapos, cobras, ratos), patrulha as estradas em busca de animais atropelados; também ingere fezes e gosta de frutas, inclusive de cocos de palmeiras como a macaúba o sc o e o dendê is guineensis) (esta última introduzida da África) (Pinto 1965), tornando-se até nocivo nestas plantações na Amazônia. O urubu-decabeça-amarela tem especial predileção por peixes podres. Tal "carne branca" (como também cobras e outros répteis) atrai sobretudo espécies de C es, enquanto "carne vermelha" é a comida obrigatória de g . Procuram nas queimadas animais moribundos e frutos caídos. Os urubus são os grandes saneadores naturais. Na África os abutres locais, vivendo nas imensas savanas com muita caça, aprendem a associar o estampido de tiro 'à 'expectativa de um bicho morto, significando comida futura. Os cadáveres inicialmente têm os olhos e a língua devorados, depois são atacados nas partes anais e vísceras. g ataca ocasionalmente animais vivos impedidos de fugir (p. -ex. filhotes de tartaruga e cordeiros recém-nascidos); em ilhas, como as Moleques do Sul, Santa Catarina, nidifica no meio das colônias de aves marinhas e rouba tudo que consegue na vizinhança (L. A. Rosário). Urubus-reis no Jardim co do Rio de Janeiro, mostraram-se inofensivos mesmo 17
para gatos recém-nascidos depositados abertamente pela mãe em seu viveiro. Um Sarcoramphus em cativeiro não era capaz de localizar carne escondida. Urubus gostam muito de ingerir sal. As afirmações de serem os urubus disseminadores de epizootias como o carbúnculo (o agente etiológico é o s cis), a febre aftosa, a cólera e as salmoneloses, em geral não passam de suposições. Entretanto a concentração de urubus em depósitos de lixo nas cercanias de aeroportos constitui ameaça para a aviação. Surgem notícias sobre a diminuição do número destas aves no Brasil (Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Rio Grande do Norte) na Colômbia e no México. Ser necrófago não protege da ação letal dos 'inseticidas, como foi amplamente documentado em Israel. Consta que urubus morrem ao comer cadáveres envenenados, mas colonos informaram-nos que certos venenos, como estricnina e cianureto de potássio, são pressentidos pelos urubus que vomitam imediatamente a carne ingerida, que deve ter um gosto repelente especial, salvando-os. Quando os urubus se aproveitam de um bicho morto a tiro correm o risco de engolir chumbo, o que torna-se fatal, como aconteceu com alguns Condores-daCalifórnia. Acham-se às vezes urubus mumificados o que pode ser o resultado de um envenenamento específico. Pode contribuir à diminuição dos urubus o fato de que hoje há muito menos cadáveres de gado espalhados pelos pastos, devido ao melhor tratamento das reses (vacinação etc.), escasseando assim o alimento dos urubus. Cadáveres são até removidos dos pastos (Rio Grande do Sul). É provável que a falta de alimento tenha causado o declínio .do Condor-da-Califórnia provocado pela extinção da fauna de grandes mamíferos no Pleistoceno. Bichos atropelados nas estradas são geralmente bichos menores, aproveitados pelo caracará. Urubus pousados, de asas esticadas, morrem às vezes por choque elétrico em torres de alta tensão (Paulo Afonso, Bahia). Há muitas manifestações literárias sobre o urubu, g , tanto acusações severas como homenagens populares. O urubu "exerce verdadeira atração sobre a curiosidade humana, pela sua pacífica convivência com a morte, dela extraindo sua própria vida" (Conzaga 1981).
Os urubus têm o hábito de esticar as asas quando descansam, semelhante aos ciconídeos. Um co phus, se diverte mexendo com o papo que, normalmente, está escondido sob as penas. O pap~ então aparece como uma ..bola impressionante, nua e vermelha (cinzenta no imaturo). Há um caso singular da "imitação" de um urubu por um rapineiro, eo onot tus, tratando-se de um mimetismo agressivo.
A orientação em larga escala pelo olfato em aves é uma exceção.
1
CATHARTIDAE
'-
Como tantas outras aves de porte, tomam-se maduros apenas com alguns anos de idade; o Condor dos Andes (que não se reproduz no Brasil), por exemplo, só atinge a fase adulta aos oito anos. g corteja a fêmea no solo, pulando com as asas abertas, e no ar, realizando maravilhosos vôos nupciais, mostrando-se muito ágil, descendo a pique com verdadeiro estrondo. o faz empoleirado ou no solo, abre e fecha as asas e exibe o vértice vivamente colorido, abaixando a cabeça; inclinam-se da mesma maneira quando estão desconfiados e observam algo com atenção - posição adotada também por vários gaviões. Tanto como nidificam bem escondidos entre rochas de acesso difícil, ou sob raízes. Fomos informados, no Noroeste da Bahia, que ali ambas as espécies nidificam no alto de buritizeiros mortos. .us procura árvores ocas. Consta que C. Sarcoramphus faz seu ninho em paredões ou sobre árvores altas, como, P: ex: um jequitibá centenário (Sul de Minas, J. F. Pacheco). Em extensas áreas planas, cobertas de mata, como na Amazônia, deposita seus ovos em buracos abertos entre as raízes de uma grande árvore tombada. Na cidade de São Paulo, entre outras, reproduz regularmente sobre edifícios altos (HilI & Scherer-Neto 1991). Põe de dois a três ovos brancos uniformes ou fortemente salpicados e manchados , os períodos de incubação e de permanência dos filhotes no ninho são longos, sendo de 49 dias, no caso dos e de 50 a 56 dias nos . O corpo dos filhotes de está coberto de penugem ainda com oito semanas; com dez semanas ou mais saem do ninho voando. Quando incomodados vomitam e sopram fortemente. Os pais revezam-se no ninho, ministrando a seus pequenos comida liquefeita; alimentam os filhotes durante meses.
No alto Amazonas reúnem, às vezes, quatro espé, e C. cies bu u ao redor de um único cadáver na beira de um rio, sendo possível mesmo a associação de uma quinta espécie, . Geralmente só depois que o urubu-rei está saciado é que os outros urubus se lançam à carniça; ocasionalmente este permite a presença de outros catartídeos, tanto Co g como por esta razão, o último recebeu o nome de "urubu-ministro" (Ceará) -,o rei com os seus ministros. A presença do urubu-rei, ave forte, é útil para os outros urubus, pois ele dilacera o cadáver com mais facilidade. Na região neotrópica existem muitos insetos, larvas de moscas e besouros que destroem rapidamente uma carniça.
223
Co g afugenta es e este C. b ou a. hierarquia existente, quer inter ou intra-específica, é organizada segundo o tamanho, força e fome dos concorrentes; nas suas investidas, que são rápidas, exibem os sinais brancos das asas, levantando-as, tática utilius dão pontapés. zada também pelo caracará, A competição intra-específica é maior que a inter-específica. Costuma ser difícil distinguir-se as espécies de no campo, tantas são as variações de cor da cabeça, mal definidas em indivíduos imaturos. O melhor indicador é a coloração das rêmiges.
Há muitos deslocamentos de urubus que constituem mesmo migrações. W. Voss e F. Silva registraram muitas centenas de urubus-de-cabeça-amarela, es ou , na altura de Tapes, Rio Grande do Sul, em abril, voando de direção nordeste a sudoeste. Ocorrem também migrações de urubus-de-cabeça-vermelha, C. , mais conhecidas da Colômbia e dos EUA. É óbvio que condores, que apareceram em Mato Grosso, vieram de longe.
São freqüentemente parasitados phus, C hospedam, por exemplo, e e
CONDOR-DOS-ANDES,
g
por pupíparos e es
u VS
110cm, a envergadura pode ultrapassar três metros; o filhote recém-saído do ovo pesa 230 g e com meio ano de idade atinge o peso normal da espécie (11 kg a 12 kg). Negro, espesso colar de plumas e grande área sobre a asa brancos; cabeça nua vermelho-amarelada; macho maior que a fêmea, apresentando também alta crista carnuda na testa. Imaturo inteiramente pardo e já com gargantilha destacada. Habita toda a cordilheira dos Andes, existindo ainda acima de 5.000 m, penetra em território brasileiro na região do rio [auru (Mato Grosso) a oeste de Cáceres (maio, 1973), em busca de carniça trazida pela correnteza daquele rio que acumula durante a seca, em uma certa baía da "ilha dos urubus", onde se encontra com e (Sick 1979). [Outro registro, divulgado recentemente, provém do oeste do Paraná (Straube et . 1991)]. Recentemente restos do condor foram achados nas cavernas da Lapa Vermelha, complexo de Lagoa Santa, Minas Gerais (datação aprox. 13.000 anos, I:I. F.Alvarenga). Voa de asas esticadas bem horizontalmente, lembranies e oios, sendo as mesdo a um certo grau mas relativamente estreitas lembrando as do gênero C es e ao contrário das de C g s e co
-, i
224.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
Sua envergadura geralmente não alcança a do albatroz gigante, mas seu peso é maior. Existe uma segunda espécie, originária do oeste dos EUA, sobrevivendo agora apenas em cativeiro.
URUBU-REI,
79cm, envergadura 180cm, peso 3 kg. Voando lembra uma' pela grande quantidade branco e pelas asas largas, cujo desenho branco e preto é quase igual, tanto na face superior como na inferior. Cabeça e pescoço nus violáceo-vermelhos, sobre a cera uma carúncula carnosa amarelo-alaranjada, maior e pendente no macho. Imaturo cor de fuligem, sendo reconhecível pelo tamanho; filhote coberto de penugem branca. Regiões permeadas e matas e campos, distante dos centros urbanos. Circula bem alto, do México à Bolívia, norte da Argentina e Uruguai. No Brasil escasseia, sendo perseguido como troféu tal qual as grandes rapineiras, mais regularmente encontrado no Norte, Meio-Norte e Brasil Central. "Corvo-branco", "Urububranco".
URUBU-DE-CABEÇA-VERMELHA,
Pr. 6,2 73cm, envergadura 137-180cm, peso 1,2 kg a 2 kg. Cabeça e pescoço róseos ou vermelhos, occipui branco ou amarelo, freqüentemente transfaciado de azul, vértice esbranquiçado ou azulado, colar de penas bem destacado. Filhotes brancos. Em comparação com a espécie anterior tem as asas e cauda bem mais compridas e estreitas. Destaca-se a face inferior cinzenta-clara de todas as rêmiges, contrastando com as coberteiras inferiores negras; não se forma zona branca na área da mão, possui raques das primárias denegri das. Voa com as asas ligeiramente angulosas, levantadas como um V, bate as asas lentamente; executa o vôo acelerado, inclinando ligeiramente o corpo da direita para a esquerda com majestosa maestria; desloca-se rente ao solo procurando carniça miúda. Vive fora das cidades; tanto em regiões campestres como florestais (v. Introdução). Ocorre do Canadá à Argentina e Chile, todo o Brasil. "Urubu-caçador", "Jereba" (Pará), "Urubu-campeiro" (Rio de Janeiro), "Xem-xem" (Pará). V. que parece imitar as três espécies do gênero.
URUBU -DE-CABEÇA -PRETA, URUBU-COMUM,
URUBU-DE-CABEÇA-AMARELA,
Pr. 6, 1 62cm, envergadura 143cm, peso 1,6kg. Uma das aves que mais chama a atenção de qualquer observador no Brasil; comumente associa-se ao homem. Cabeça e pescoço nus, cinza-escuros. Voa pesadamente, alternando algumas rápidas batidas de asa com o planeio, no qual são mestres; suas asas são largas, sendo suas extremidades mantidas a abertas durante o vôo, podendo divisarse distintamente as pontas das cinco primárias externas cujas bases formam área esbranquiçada que falta na espécie seguinte. Cria dois filhotes, pardo-amarelados, quando recém-nascidos, tornando-se ,em seguida mais alvacentos e por fim branco puros. E o mais sociável dos catartídeos, os' casais ficam unidos no seio do bando. Amplamente distribuído, foi beneficiado pela colonização pós-colombiana, expandindo-se ainda mais atualmente, acompanhando a ocupação humana; faltou, p. ex., nos sertões de Parecis (Mato Grosso), nos campos da Serra do Caparaó (Minas Gerais, 1941, obs. pessoal) e em certas partes do Rio Grande do Sul; falta também em regiões largamente floresta das (várias partes da Amazônia). Foi exterminado de algumas áreas rurais por envenenamento de cadáveres do gado (Uruguai, Rio Grande do Sul); parece sucumbir ante as extensas pulverizações com inseticidas (v. Introdução). É possível que a falta de correntes aéreas ascendentes em regiões planas concorra para ausência local da espécie no Rio Grande do Sul. Habita da América do Norte até a Argentina e Chile. "Corvo" "Urubu-preto*".
[S3-6Scm] Bem semelhante ao anterior, sendo um pouco menor. Abaixo do olho uma área de intenso alaranjado ou amarelo pálido, adiante do olho uma nódoa negra, vértice violáceo ou azulado. Plumagem do dorso alcança até a nuca, ficando nus apenas os lados amarelos do pescoço. Voa de modo parecido ao do anterior, do qual não é fácil de discernir se a luz não permite distinguir as cores da cabeça ou as raques das primárias, as quais são esbranquiçadas, brancas ou cor de palha ("urubutinga") o que chama atenção em vôo. Vive geralmente distante de áreas cultivadas, freqüenta beiras de rio cercadas de mata e pântanos. Ocorre do México ao norte da Argentina, localmente em diversas regiões do Brasil, mais comum no Nordeste e na Amazônia. No Rio de Janeiro é predominante nas restingas F. Pacheco). "Urubu-peba" (Pará).
a.
URUBU-DA-MATA*,
[63,S-7Scm] Com a cabeça menos vivamente colorida do que a anterior, sendo amarela clara sem matiz alaranjado ou vermelho, vértice e mancha azul nos loros. Voa de asas esticadas horizontalmente ao contrário das espécies anteriores, alçando-se geralmente mais alto. Distingue-se de seus dois outros congêneres por ter a face inferior das secundárias cinzentas, sendo o resto da plumagem negra assim como a raque das primárias. Habita as florestas. Ocorre do alto ao baixo Amazonas,
-
CATHARTlDAE
no Pará (Belém, Marajó, rios Xingu e Tapanas Cuianas, Venezuela, Colômbia, Equae Bolívia. Descrito apenas em 1964, por A.
por exemplo
jós), também dor, Peru
ibli
225
Wetmore embora seja a espécie mais comum da Amazônia. A esta espécie talvez corresponda o "urubu-fidalgo" ou "urubu-pedrez" dos matutos.
C t t
G
Alvarenga, H. M. F. 1996. . 4. gnjphus no Holoceno da região de Lagoa Santa, MG)* Amadon, D. 1977. Condo 79:413-16. (taxonomia) . -4. Antas, P. T. Z. & C. L. Silveira. 1980. lni. (Sarcommphus, cativeiro) Coleman, J. S., J. D. Fraser & C. A. Pringle. 1985. 87 291-92. (evolução) Cracraft, J. & P. V. Rich. 1972. Condo 74:272-83. (evolução) Feduccia, A. 1977. e 266:719-20. (parentesco) . 13:781. (hábitos) Fonseca, J. P. 1922. Gonzaga, L. P. 1981. 24:10-11. (urubu na cultura popular) t 26:38-39. (C t Graves, G. R. 1992. J. olfato)" Hatch, D. E. 1970. 87:111-24. (termorregulação) Hero, J-M., A. Lima & L. Joseph. 1992. H 13:235. tos, alimentação)" . 173-76. Hill, J. R. III & P. Scherer-Neto. 1991. J. ield tjps, nidificação em edifícios)" Houston, D. C. 1984. ibis 126:67-69. localização do alimento) Houston, D. C. 1988. lbis 130:402-17. (competição entre os Cathartidae por alimento)"
Kôníg, C. 1974.
Larochelle, 60:49i-94.
J.,
J. J.
115:289-320. (hábitos) . 123:259-67. (sistemática) J. Delson & K. Schimidt-Nielsen. 1982. termorregulação)
Kõníg, C. 1982.
J.
200/.
Ligon, J. D. 1967. 651. parentesco) Mendelssohn, H. 1972. li. I 11:75-104. (biocidas) Parrnalee, P. W. 1954. 71:443-53. no Texas) 10:276-77. (dendêna dieta Pinto, O. M. 0.1 . 105:195-96. Ramo, C. & B. Busto, 1988. nidificação) Schlatter, R., G. Reinhardt & L. Burchard. 1 . disseminação de doenças) . 27. t Sick, H. 1979. B. o. C. 99:115-20. g primeiro registro no Brasil)" Stager, K. E. 1964. 81. (olfato) Straube, F. C., M. R. Bornschein & D. M. Teixeira. 1991. u I 01 31-32. gnjphus, relato da presença na década de 1920 no Paraná)" . Coll. 146(6). (taxonomia) Wetmore, A. 1964. Yamashita, C. & M. P. Valle. 1985. 279. (hábito saprófago)
.
,",.,,'
ORDEM PHOENICOPTERIFORMES
FLAMINGOS:
FAMíLIA
PHOENICOPTERIDAE
(3)
Grandes pernaltas, dentre as mais pitorescas aves do mundo. Fósseis do Terciário da América do Norte e da Europa, portanto formando o grupo muito antigo; no Pleistoceno da Argentina. Sua posição sistemática é muito discutida. Enquanto historicamente os flamingos foram atribuídos aos Ciconiiformes ou Anseriformes, 01son & Feduccia (1980) apresentaram as mais diversas evidências (Osteologia, miologia, oologia, parasitos internos, bionomia) para apontar descendência remota a partir dos Charadriiformes (Recurvirostridae). O fóssilo (fig. 64) (v.Anatidae). chave é l elodus foi um gênero de flamingos extintos, de pernas relativamente curtas, mais adaptado a nadar; numerosos restos fósseis foram encontrados na França, e. recentemente também no Brasil na bacia de Taubaté, ainda inédito (H. F. Alvarenga). Preferimos colocar os flamingos numa ordem à parte, perto dos Charadriiformes. O mais interessante é a evolução do aparelho de filtragem, ligado a um desenvolvimento descomunal da língua, estrutura perceptível (em vestígio) em certos Charadriiformes.
Fig. 63. Flamingo,
oenicopte us
pelo aspecto geral. Alcançam a plumagem adulta apenas com três anos de idade. A cada dois anos, aproximadamente, ocorre uma muda simultânea das rêmiges, lembrando a muda "em bloco" dos anatídeos. No Brasil aparecem dois flamingos muito semelhantes: um no extremo norte, o outro no 'extremo sul onde em 1989 se acrescentou uma terceira espécie, procedente do Chile. As espécies se distinguem mais facilmente pela cor das partes nuas.
e
o De porte excepcionalmente delgado, bico curvado para baixo em ângulo abrupto, sendo provido de lâminas transversais lembrando, por convergência, a disposição das barbatanas na baleia que são muito semelhantes, uma das analogias mais notáveis no Reino Animal; uma adaptação evoluída para a ingestão de plâncton. V. também , Procellariiformes. A estrutura do aparelho de filtragem dos flamingos é basicamente diferente da dos anatídeos. Sexos parecidos, fêmea um tanto menor. Imaturo de cor variada "suja", inconfundível
Fig. 64. Filogenia provável das marrecas e flamingos. Um ancestral Charadriiforme (a). esb o is (b) que poderia ter dado a origem as marrecas (c) e aos flamingos (d) (seg. Olson & Feduccia 1980).
e
o, h
tos,
c l
o
Pescam na água salgada rasa de pescoço curvado para baixo dispondo a cabeça de tal modo que a maxila, que é mais fina que a mandíbula, fica voltada para o
227
PHOENICOPTERlDAE
fundo lodoso. Com este bico singular filtram o alimento, composto de minúsculos animais aquáticos tais como larvas de moscas sp.), moluscos, pequenos crustáceos (p. ex. e algas, dentre os quais alguns ricos em carotenóides que dão à plumagem a cor vermelha intensa, tal como ocorre no guará e colhereiro. . Das penas dos flamingos foram isoladas e Se não ingere carotenóides durante seis meses, um flamingo apresenta decréscimo de 86% do nível deste pigmento vermelho no sangue (Villela 1976). Sua silhueta em vôo assemelha-se à de uma cruz; enfileiram-se em linha oblíqua ou em formação cuneiforme, sendo o cabeça do bando substituído por outro a curtos intervalos, à semelhança do que ocorre no maguari, biguá e 'outras aves. Voam às vezes a grandes alturas. São altamente gregários. Pousam nas praias ermas, distantes das regiões habitadas. áspero grasnar , quase como o do pato, soando como um guincho.
o colhereiro e o guará. Ameaçado no Amapá em seus últimos redutos pela extensão da rizicultura na região de lagunas, pelas salinas ao longo da costa e ainda pelo aumento da caça (a carne e os ovos são apreciados) em conseqüência de novas estradas que facilitam o acesso. É arisca.
FLAMINGO,
e
e
Am
Fig.63
106cm, altura 90cm. Cor-de-rosa-claro, asas carmim, rêmiges negras. Bico vermelho-alaranjado, de base branca e ponta negra. Pernas e nadadeiras verrnelho-acinzentadas, articulação tarsiana e dedos vermelho-escuros. Norte do continente e Antilhas, até Flórida, reproduz no Amapá. Antigamente até o Rio Grande do Norte, como prova uma pintura pré-histórica (fig. 65). De vasta distribuição no Velho Mundo. "Ganso-cor-de-rosa" (Ama pá), "Maranhão", "Flamingo-grande*".
declínio Lagunas rasas salobras sem vegetação e beira do mar, construindo nas primeiras seu ninho de lama em forma de pequeno cone com a parte apical formando uma panela rasa, o que reduz o perigo de um alagamento; entretanto o material do ninho rapidamente amolece se a água sobe, pondo a perder ovos e filhotes. Ocasionalmente fazem a postura direto no solo. Esta é composta de um único uniformemente branco, muito grande, de casca grossa. A gema do ovo é vermelha como sangue, devido a presença de astaxantina (o mesmo ocorrendo nos belos turacos da África). Os filhotes assemelham-se àqueles dos gansos, sendo alimentados às custas de uma secreção vermelha produzida no esôfago dos pais, analogia com o "leite de pombo", tendo gerado histórias sobre brigas sangrentas entre os flamingos. Os filhotes de dois meses são ainda alimentados pelos pais, uma vez que seu bico é ainda mole. Os flamingos são muito irregulares no nidificar. Antigamente com ninhais no sul doAmapá (Lago Piratuba, terra adentro no Cabo Norte) e na Ilha de Marajó (Cabo Maguarinho), locais que talvez pudessem servir para criar reservas e tentar um repovoamento utilizando-se exemplares, por exemplo, da Flórida, onde ocorre a mesma espécie. Chegaram até o Ceará, conforme testemunham eloqüentemente nomes tais como "Lago dos Gansos" e pinturas pré-históricas rupestres achadas no Rio Grande do Norte (Souza & Medeiros 1982). Atualmente muito escasso, parece nidificar ainda na costa do Amapá ao norte do Rio Cassiporé (1971); registrado em 1978 por Teixeira & Best (1981) na ilha de Maracá (Estação Ecológica da SEMA) e na costa adjacente. É citado erroneamente como próprio do Pantanal do Mato Grosso e outras regiões do interior; confusão que fazem com
Fig.65.Pintura rupestre pré-histórica de um flamingo, RioGrande do Norte, município de SãoRafael,"Pedra Ferrada", gravado em vermelho (ao lado de formas de mãos humanas) sobre um grande blocoliso de rocha granítica (Souza & Medeiros 1982). Não existeuma datação específicasegura; podendo ser avaliado em 5.000 anos, como os sambaquis no sul do país (v.pingüins).
FLAMINGO-CHILENO
oenicopt us chilensis
VS
[105cm] Bico amarelado de ponta negra. Pernas cinza-rosadas, articulação tarsal e nadadeiras vermelhosangüíneas. Restrito à América do Sul, até a Terra do Fogo. Visitante de inverno no Rio Grande do Sul, de abril a setembro, na Lagoa do Peixe e na praia adjacente, às vezes bandos de centenas, aparecendo também imaturos de cor pardacenta e de tamanho diferente. Excepcio-
., I
228
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
nalmente em Santa Catarina (Sick et 1981). A colônia mais próxima está em Santa Fé, Argentina. "Guanaco" (Rio Grande do Sul).
FLAMINGO-GRANOE-OOs-ANDES,
s
VS [Ilücm] Ainda maior do que o anterior, de três dedos apenas, pernas amarelas (imaturo de pernas pretas).
j
ibliog
G
l)
Antas, P. T. Z. 1992. n I E el 80-81. ( oenicop us ndinus no Rio Grande do Sul)" . B. O. C. 110:93-94. Bege, L. R. & B. T. Pauli.1990. primeiro registro no Brasil)" s. n. C Bornschein, M. R. 1992. es os II Con . 55 (registro adicional de hoenicop s ndinus para Santa Catarina)" Feduccia, A. 1976. 93:587-601. (parentesco) Kahl, M. P. 1979. Order Phoenicopteriformes. Pp. 245-52. In: C st bi o the d. Vol. 1. 2,d ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Carnbridge, Mass.:Museum of Comparative Zoology.*
"~"I:.
Um jovem, anilhado com cinco meses, fõi encontrado debilitado em Erval-Velho, Santa Catarina, em 19 de maio de 1989, procedente de uma colônia em boa altitude nos Andes (2.300m, onde na respectiva latitude, está acima das florestas), Sallar de Punta Negra, Antofagasta, Chile. [Em abril de 1990 foi registrado um indivíduo subadulto na barra da Lagoa do Peixe, Rio Grande do Sul, alimentando-se ao lado do comum flamingo-chileno (Antas 1992) "Flamingo-andino*".]
J.
& N. Ouplaix-Hall, eds. 1975. oc. lnt. ingo (fotos de todas as espécies e subespécies) J. L. X., P. T. Z. Antas & L N. Castro. 1992. Nascimento,
. Kear,
Cong .
. O n. C
Amapá, censo aéreo)' Olson, S. L. & A. Feduccia. (evolução) Olson, S. L. & A. Feduccia. (evolução)
e 00.
Conl .
1980. 1980.
II
us
no
ol. 316.
iihsoni
tos , Souza, M. S. & O. Medeiros. 1982. 2, 214. (pinturas em rocha no Rio Grande Võlker, O. 195 99:209-17. (pigmentação)
. 323. seu do Norte)
."
r_ . "-qIII;.,.t,
ORDEM ANSERIFORMES
-
MARRECAS,
PATOS, CISNES
e afins:
FAMÍLIA ANATIDAE
Uma das famílias mais conhecidas, beneficiando-se o homem com a domesticação de certas espécies, dentre as quais o sul-americano pato-do-mato. O maior e mais vistoso dos representantes brasileiros é o cisne-de-pescoço-preto; os cisnes estão entre as maiores aves voadoras do globo. Em comparação com regiões de climas mais temperados (tanto meridionais como setentrionais), o Brasil não é muito rico em Anatidae, tendo o Rio Grande do Sul 21 espécies, a zona que mais diversidade apresenta. A descendência dos Anatidae era enigmática até a descoberta do fóssil do Eoceno Inferior (Terciário, há 50 milhões de anos) dos EUA-que lembra um Charadriiforme com a cabeça de um pato. A mesma descendência se atribui aos flamingos (v. 64). As pernas curtas dos anatídeos são consideradas aquisição posterior, adaptação à vida em lagos de água rasa salina, situação que, ao mesmo tempo, levou à evolução do aparelho de filtragem do bico (Feduccia 1978, Olson & Feduccia 1980).
, Bico equipado com lâminas transversais ("lamellirostres") as quais, junto com a língua grossa e muito sensível, formam aparelho próprio para coar da água ou da lama, alimento minúsculo; técnica comparável à da baleia ao filtrar o plâncton (v. flamingo e as pardelas, em representantes que vivem de alimento maior (p. ex. , as lamelas são pouco desenvolvidas, lembrando as Anhimidae (fig. 66).
, Fig.66.Bicodo pato-da-mato, mostrando as lamélulas cómeas das mandíbulas e os bordos cómeos da língua (seg.Grassé 1950).
(25)
Pernas curtas; palmípedes, dedos providos de membranas natatórias. Na base da mão de ochen e nota-se a presença de um calo que serve para aumentar o efeito dos golpes dados com as asas durante as brigas, lembrando os esporões dos anhimídeos. Machos corri órgão copulador designado pelos matutos como "saca-rolhas" (v. também jacu, macuco, etc.). Glândula uropigiana grande, cuja secreção é usada para engraxar as penas e conservar a elasticidade de sua estrutura microscópica, pois é a disposição perfeita desta que garante a impermeabilidade da plumagem. Na maioria das espécies destaca-se uma série de penas alares (secundárias e respectivas coberteiras superiores) de colorido esplêndido (é freqüente a presença de um branco muito vivo) formando a zona chamada vulgarmente de "espelho". Em muitas das espécies .brasileiras, por exemplo o g eochen e alguns o dimorfismo sexual quanto ao colorido, tão patente em Anatidae setentrionais, é pouco pronunciado. O macho do pato-da-mato, espécie polígama, é muito maior do que a fêmea; o contrário dá-se com a marreca-de-cabe, espécie parasita. ça-preta, Hete o Registra-se, nas espécies das regiões boreais, a ocorrência de uma "plumagem de eclipse", na qual os machos assumem uma vestimenta modesta semelhante à das respectivas fêmeas e imaturos, executando uma muda completa coincidindo com a "desasagem". Mantêm esta plumagem durante aproximadamente três meses (verão local), readquirindo a subseqüente plumagem nupcial por meio de uma parcial muda adicional; podemos travar contato melhor com este tipo de fenômeno através de espécies setentrionais (p. ex. que nos chegam como migrantes fugidos do inverno (v. !l nett ). Geralmente a "plumagem de eclipse", que corresponde até certo ponto a um período de descanso reprodutivo, não se apresenta em Anatidae tropicais e subtropicais, o que faz crer serem essas espécies menos rígidas em seu ciclo reprodutivo, podendo adaptar-se com maior facilidade aos períodos de chuva ..os quais são mais ou menos irregulares e governam a época de reprodução dessas aves. Há "plumagem de eclipse" de curta duração (por exemplo, s ). O vôo das espécies pequenas é bastante veloz; uma marreca de 300 g voa 33 m/seg o que equivale a 118km/h. Segundo o que se afirma, um marrecão pode chegar aproximadamente aos 88 km/h. Os Anatidae
230
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
voam através de rápidas batidas de asa, não planando senão quando vão aterrissar, mantendo o pescoço horizontalmente esticado. Ocorrem rêmiges sonoras (p. ex. que aumentam o sibilo produzido peem De oc las batidas de asa, sendo este forte em espécie grande e volumosa como o pato-do-mato. Os Anatidae mudam simultaneamente as rêmiges (muda em bloco, "desasagem"), ficando obviamente incapacitados de voar. Nesta ocasião tornam-se muito vulneráveis a qualquer perseguição, necessitando de proteção absoluta; defendem-se ocultando-se nos pântanos mais inacessíveis; quando são surpreendidas em água aberta, mergulham, podendo escapar assim à perseguição sobretudo quando a água está crispada pelo vento, impedindo a visão de onde as aves afloram para respirar," A muda em bloco é mais rápida do que a muda sucessiva, o que significa uma vantagem biológica. Marrecas pequenas podem voar após três, maiores após quatro semanas, depois do começo da muda. , eochen, Dend e os s ernpoleiram-se regularmente para descansar. Um dito popular ensina: "A moral é tão alta como poleiro de pato". descansa flutuando também sobre o mar. Tem acontecido de irerês, voando à noite sob chuva pesada, terem confundido o asfalto úmido de uma estrada ou praça com um rio ou lago e ali aterrissarem. Os anatídeos são aves sociáveis que podem ocorrer em grandes concentrações.
A vocalização da maioria dos anatídeos não é muito impressionante; contudo o assoviar dos ire rês é uma das vozes mais conhecidas deste país. A voz singular do macho se ouve apenas num período muito curto durante o acasalamento, valendo por isso certas espécies como "mudas". A risada ventríloqua de O do c consiste em manifestação sonora bastante estranha. É notávelo dueto do pato-corredor, u A vocalização de macho e fêmea dos anatídeos é distinta devido ao aparelho fonador diferente dos sexos.
Alimentam-se de pequenas sementes e folhas, apanham vermes, larvas de insetos e pequenos crustáceos. Entre as plantas flutuantes consumidas por De oc gn tndu constam e , e (Magnanini e Coimbra-Pilho 1964); no litoral do Ceará a mesma espécie farta-se com um pequeno caranguejo du1cícola cha-
b h nsis, que mado acertadamente de "fartura". passa porvegetariana, algumas vezes literalmente se entope de larvas de "cracas" (crustáceo l us), a um ponto tal que o paladar de sua carne torna-se estragado J. Moojen). apanha (Baía da Guanabara, moluscos como i os , caracóis, crustáceos, pequenos peixes e sementes (Mato Grosso, Pará). Os pintainhos de ananaí são hábeis em caçar insetos, até mesmo mosquitos e moscas (Coimbra Filho 1964). Marrecas podem contribuir à dispersão de plantas aquáticas, sendo certas sementes, constando nas suas fezes, capazes de germinar. O controle do conteúdo de esôfagos de 41 marrecões ( et no sul do Rio Grande do Sul mostrou que 75,6% do volume de alimento era i e 16,4% capim-arroz arroz (O usg lli) (Bretschneider 1981). Todas as nossas espécies necessitam de água rasa (eutrófica) para se alimentarem bem; todas as espécies de n s, e ocasionalmente também outros representantes, comem remexendo a água, levantando verticalmente a parte terminal do corpo (d bling). O comprimento do pescoço corresponde geralmente à profundidade da qual as marrecas (também gansos e cisnes) são capazes de retirar alimento, sem mergulhar. O e Hete one mergulham regularmente à cata de alimento, já outros, como De i (tanto bicoio , apenas o adulto como pintainhos) e Dend oojgn fazem às vezes. Foi observado que inic pode permanecer sob a água duas vezes mais tempo (de 11,0 a 26,6 segundos) que o mergulhão, hijb ius do nicus (jenni 1969); a duração de tais mergulhos pode ser mais função das condições ecológicas do que caráter específico, assim, quanto mais desimpedida de vegetação estiver a massa d'água, mais demorados serão os merguus oct s, espécie lhos. Cabe ressaltar que ictiófaga, apanha todo o seu alimento mergulhando, ao contrário de O que se alimenta mais na superfície; utiliza-se exclusivamente dos pés para propulsar-se sob a água. Enquanto muitos anatídeos são basicamente consumidores primários (alimentando-se de sementes, raízes e vegetação aquática), eles trocam, durante a reprodução, suas dietas para um nível trófico mais alto, selecionando mais invertebrados aquáticos, adquirindo, desta 'maneira as proteínas necessárias para a formação dos seus ovos e a alimentação dos seus filhotes. Marrecas gostam de molhar a comida na água. n s t e Espécies como Cosco ob l pastam em campos secos. As marrecas são freqüentemente crepusculares, favorecidas pela sensibilidade do bico, que permite o ato da alimentação sem controle visual.
18 Marrecasboreais (Cl l lis) que tinham perdido todas as rêmiges, conseguiram fugir, voando baixo sobre a água; suas batidas foram rápidas, as coberteiras grandes substituíram as rêmiges (Kartchev 1962).
,
..--
i, ANATIDAE
L
-
Há cerimônias pré-nupciais bem variadas, cuja análise aponta o parentesco de certos grupos de espécies e . gêneros dentro da família (v.p. ex., e Hete Geralmente monógamos: os machos tornam-se muito ciosos de suas fêmeas durante a reprodução. Pouco conhecido é o cerimonial de en t o macho, andando ao redor e esticando as asas, fica tão ereto que às vezes cai para trás. A fêmea acompanha a marcha do macho e ambos conversam, de vozes diferentes. Destacamos' o fato de ser polígamo. Nas espécies sem dimorfismo sexual o macho participa na criação dos filhotes. Ninho bem elaborado ou mais rústico, quase sempre forrado de penugem ("arminho") que a fêmea (p. ex. no pato-do-mato) arranca do próprio peito. . Cos nidifica sobre ilhotas secas nos banhados, construindo às vezes mesmo sobre a plataforma erigida por ratões-do-banhado (Rio Grande do Sul). C gnus executa uma espécie de colchão de folhas co dentro d'água, ocultando-o dentre os sarandizais alanis fazem seu~ ~inhos sobre gados. e árvores, o último, por exemplo, nos buritis mortos e o primeiro entre folhas de palmeiras, sobre galhos grossos cobertos por plantas epífitas, e utilizando-se também de ninhos abandonados de gaviões, jaburus, etc., situados no alto das árvores e às vezes a mais de 5 km da água; uma instalou-se em oco de buriti cuja entrada estava 4 metros de altura e o fundo a apenas SOemdo solo; os pintinhos pulam do ninho de qualquer altura, a mãe espera-os no solo para levá-los à água. Ocorre também nidificação no solo por entre a vegetação densa (influência de domesticação?). oc gn lis nidifica em ocos de pau, gn i t e penachos de palmeira ou no solo; Den bicolo tendem, da mesma maneira, a nidificar sobre o solo; instalam-se no lado protegido da árvore, isto é, na face para a qual pende a inclinação do tronco; constroem o ninho outrossim entre a vegetação herbácea ou arbustiva nas proximidades da água. e s utilizam buracos de árvores, às vezes a boa altura do solo, para alojarem seus ninhos: o primeiro pode mesmo ocultar o seu entre o capim e arbustos, à beira do rio . (Xingu, Mato Grosso). . 'r _ , n s serve-se de cavidades, situadas normalmente no solo, para nidificar, aproveitando-se, em algumas ocasiões, dos grandes ninhos fechados da caturrita quando não acha outro esconderijo (Rio Grande do Sul). Os ovos são uniformemente brancos, esverdeados ou azulados; as posturas são grandes, podendo atingir quatorze ovos onet O período de incubação é de 25 a 26 dias na ananaí, 27 a 29 dias na irerê e de 30 a 35 dias no pato-do-mato; as espécies grandes de s (p. ex., o pato doméstico) incubam por 28 dias. Os ovos são cobertos por plumas pelo adulto quando este sai do ninho.
231
As plumagens dos filhotes são distintas nas diferentes espécies; os pintainhos do pato-do-mato podem ..ser .. uniformemente negros. C s eC carregam os filhotes sobre as costas, mas não enquanto voam conforme diz a crença popular. À aproximação do homem, adultos, por exemplo de nett que estejam perto do ninho ou guiando filhotes, fingem-se de feridos atraindo sobre si a atenção do possível agressor. Ocorrem certas irregularidades na reprodução, por exemplo em Dend c gn . Pode ocorrer de mais de uma fêmea de' D. t is pôr em um único ninho. Há certa tendência de impingir ovos próprios em ninhos alheios, havendo casos de irerês pondo em ninhos de caneleira; pode-se observar uma fêmea de D. d t apascentando um grupo misto de pintainhos de D. e os seus próprios. No Pantanal matogrossense, D. t is põe freqüentemente em ninhos o qual cria os filhotes alheios junto aos seus, de C i de resto, fêmeas de i ocasionalmente adotam ninhadas procedentes de um outro ninho de sua própria espécie, o que pode ser percebido pelo tamanho diferente dos filhotes. As irregularidades registradas em Dend cugn 'durante a postura lembram, até certo ponicensis to, aquelas dos anus (Cuculidae). Em O (norte-americana, representante de O. itt t ocorre parasitismo incipiente. H nett tornou-se parasito, pondo sempre em ninhos alheios; consta que ocasionalmente recorre até a ninhos de gaviões l chi ngo e os us) os pintainhos não correm perigo pois permanecem apenas algumas horas no ninho de tão peculiar "padrasto". O período de incubação requerido por esta espécie é curto (24 a 25 dias, dando ao filhote intruso maior chance de eclodir antes de seus irmãos de criação), menor por. exemplo que o requerido pela ul (24,5 a 29 dias), principal hospedeiro de Het onett na Argentina. Comparado com o parasitismo de outras aves (gaudério, tt é perfeito no sentido etc.), o parasitismo de H que não danifica ovos ou filhotes da espécie ludibriada e nem o pintainho exige alimentação.
Dis
o, h bit t
O fato de uma mesma espécie .ocorrer tanto no Brasil como no Velho Mundo, caso raro em outras famílias, ocorre em quatro Anatidae de nossa fauna: a irerê e o paturi-preto são encontrados não só na América do Sul como na África; a caneleira e o pato-de-crista habitam também a África e índia, entre outros lugares; aparentemente houve travessias transatlânticas -(v. garçavaqueira). Interessante é a ocorrência de um representante dos patos-mergulhões (Merginae), grupo de vasta distribuição holártica, freqüentemente de hábitos marinhos; nossa espécie ocorre bem no centro da América do Sul, extremamente isolada de seus congêneres portanto; não é
------~
~DP. ~
~
232
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
aparentada com as marrecas-de-corredeíra dos Andes ). Fato peculiar é que a Amazônia, tão rica em rios e lagos, seja pobre em espécies de Anatidae. Uma hipótese seria que os peixes teriam exigências tróficas um tanto semelhantes às de certas marrecas e, por serem muito abundantes, impediriam o desenvolvimento ideal do grupo. Existe estreito relacionamento entre a floresta amazônica e os peixes, sobretudo na época das cheias, época de mais fartura para os peixes. Das numerosas espécies de Anatidae que são registra das no extremo sul do Brasil (Rio Grande do Sul), com seus vastos banhados litorâneos, 20 espécies ao todo, pelo menos 4/5 ali se reproduzem, as outras aparecendo apenas como visitantes. A área de reprodução de uma dada espécie meridional pode ser bastante ampla, a de , por exemplo, se estende do Rio Grande do Sul à Geórgia do Sul, ilha situada no meio do Atlântico, à mesma latitude da extremidade mais austral da América do Sul, na região subantártica. Ao contrário do que ocorre no hemisfério norte e nas porções mais austrais da América do Sul, não há no Brasil Anatidae que habitem constantemente o mar (v.também sob tampouco ocorrem, entre nós, gansos verdadeiros.
de Quase todas as nossas espécies são migratórias por razões de ordem diversa, por exemplo, tróficas: alimentação propriamente dita e alterações no nível d' água (tanto excesso corno falta d'água); ou procura de locais seguros tanto para dormir como para a muda. Os anatídeos tornam-se assim meio nômades. Grandes concentrações de Anatidae migrantes ocorrem no Rio Grande do Sul, Pantanal mato-grossense, Nordeste e no Amapá. Na Amazônia há migrações decorrentes das enchentes, que expulsam aves aquáticas dependentes de água clara ou rasa para se alimentarem por causa das enchentes rio acima, as marrecas recuam para além das corredeiras, nas porções mais setentrionais passam periodicamente do sistema do Amazonas para o do Orinoco. Na foz do Amazonas a pororoca provoca deslocamentos de marrecas (Sick 1967). -' Na costa setentrional do Maranhão, bandos de D. e D. voam para ilhas, ali passando o período das chuvas. No Nordeste, entre outras regiões, a irerê e outras marrecas migram, aparecendo por exemplo no começo do ano aos milhares no oeste da Paraíba, sem ali reproduzir-se. No Ceará as migrações da mesma espécie (chamada de "viuvinha") oscilam entre o litoral e o interior ("sertão"), o qual com as chuvas tornase ambiente adequado para a alimentação e nidificação destas aves. No litoral do Rio de Janeiro bandos de irerês dirigem-se à tardinha da região de Maricá rumo ao poente, ao longo da costa, atravessando em bandos de 50 a 150 o arquipélago defronte à cidade do Rio de Janeiro,
em vôo baixo sobre o mar, na direção da Ilha Alfavaca (p. ex. maio, agosto). Foram encontrados no Rio Grande do Sul exemplares de e anilhados na Argentina. Desta maneira, descobriu-se que o curso dos marrecões argentinos descreve um círculo que atinge o Brasil meridional no inverno. Há muitos registros de exemplares anilhados marreca norte-americana, em sua maioria oriundas' do norte do país, mas alcançando também o Rio Grande do Sul. Um anilhamento de 1.149 na região litorânea do Rio Grande do Sul (Lagoa do Peixe) nos meses de janeiro a março revelou uma grande concentração dessa espécie, todos os indivíduos trocando às rêmiges. Um exemplar foi recapturado na costa pacífica do Chile. Deslocamentos locais de bandos de irerês são provocados pelo oferecimento regular de comida destinada a aves aquáticas mantidas em sítios e parques zoológicos. Sobre cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo ouve-se às vezes, à noite, o sibilar estridente de bandos de irerês. Para sabermos mais acerca dos itinerários de nossos Anatidae e sobre as migrações que se projetam além de fronteiras políticas. seria necessário um anilhamento em grande escala. Um grande aumento da distribuição está ocorrendo com . V. também N.
Dentre estes estão, na Amazônia, jacarés e grandes. peixes carnívoros. Encontramos exemplares de eochen de pés mutilados por piranhas, sendo que um indivíduo havia perdido todo o tarso, tendo o mesmo cicatrizado (alto Xingu, Mato Grosso, 1947). Em açudes cearenses foram registrados diversos casos de "paturis", devorados por pirarucus, não sendo impossível que tais vítimas fossem, pelo menos em parte, indivíduos machucados ou mortos (Menezes 1960). Na bacia do rio da Prata, inclusive no rio Paraná, o dourado, representa um perigo para os marrequinhos. Teiús alcançam os ninhos de marrecas nadando para chupar os ovos.
, Os Anatidae constituem importante reserva econô'.mica para o país, na medida que representam alimento apreciado e fonte de renda resultante do comércio ligado à cinegética .. A caça das marrecas é executada tradicionalmente com a exposição de indivíduos amarrados ou mansoS que servem como "chamariz". Curioso processo para apanhar patos e marrecas, empregado por matutos, por
--..
ANATIDAE
exemplo de Minas Gerais e do Araguaia (Goiás), consiste em um homem mascarado por uma cabaça, aproximar-se, nadando ou andando vagarosamente com todo o corpo sob a água, de suas presas atraídas por um chamariz, para tomar-Ihes as pernas e arrastá-Ias para baixo d'água. São utilizadas também armadilhas, as utilizadas por exemplo na região baiana do rio São Francisco, consistem em cercados de tela de arame com mais de um quilômetro de extensão; em uma única captura efetuada em janeiro foram apanhadas 5.000 aves as quais, após moqueadas, foram levadas em caminhões para as cidades. Métodos mais modernos de caça (a prática do tiro de espera ou ao vôo, auxiliado por cães para as batidas e recolhimento das peças abatidas) receberam na Ilha de Marajó (Pará) um reforço que excede qualquer limite de tolerância, o qual consiste em um canhão municiável com cargas especiais de chumbo; desta maneira abateram-se marrecas às toneladas. Abuso inadmissível é a perseguição consagrada às marrecas durante o período da desasagem (marrecas "broncas" ou marrecas "pina"), que coincide localmente com a queimada dos campos. Soubemos que em 1964, em uma só fazenda do Amapá, foram mortas 60.000 si. marrecas (principalmente De oc gn No-Rio Grande do Sul, um dos estados pioneiros em matéria de manejo de recursos naturais, consta que havia, em 1973,aproximadamente 8.000 hectares de banhados, centros de afluxo de palmípedes e outras aves aquáticas, sob o controle de caçadores; são feitas muitas compras e arrendamentos de banhados para fins de caça esportiva. Há no Rio Grande do Sul aproximadamente 10.000 caçadores de "palmípedes" legalizados (1974). Das vinte espécies de Anatidae ocorrentes naquele estado apenas cinco são consideradas como "aves de caça", a saber a marreca piadeira, a caneleira, a parda, o marrecão e a.de pés-vermelhos. As peças mais cobiçadas pelos caçadores brasileiros são o marrecão e o pato-do-mato. Em todo o Brasil, assim como em diversos outros países, os Anseriformes são utilizados no embelezamento de tanques e açudes, estando entre as espécies nacionais mais apreciadas o irerê; é freqüente, na Amazônia, terse a marreca-cabocla, De lis, solta nos qi.lintáis como xerimbabo. Cria-se bem gnus. Em cativeiro geralmente as mais variadas espécies de anatídeos cruzam-se, provando serem estreitamente relacionadas. Tais mestiçagens que não ocorrem ou ocorrem excepcionalmente no hábitat natural dessas aves, é bastante indesejável sob o ponto de vista da preservação. da fauna indígena, na medida que híbridos produzidos em aviários ou em regime de serniliberdade podem associar-se a bandos selvagens tornando-se foco: de mais hibridações, A maioria dos híbridos é fértil, mesmo os híbridos intergenéricos e intertribais, Exceção é C (v. abaixo). não cruzam com os ouAs espécies de De oc gn
233
tros Anatidae, embora o façam entre si, o que demonstra a singularidade do gênero. D g ut is foi achado em sítios arqueológicos de tempos pré-colombianos, C é a única ave que foi domesticada por aborígines sul-americanos, sendo o termo usado em senso restrito como aquele utilizado em relação à galinha. O pato doméstico do Velho Mundo, produto de criação humana durante séculos, é o p -peou pato grande branco uniforme, de bico e pés amarelos, pesando três quilogramas.
os, noci
e supos , doen
Espécies de Dend n e tt pepos podem causar sérios prejuízos nos arrozais irrigados, mas é imprudente livrar-se das aves através de envenenamento como tem sido feito às vezes, medida que resultou no desaparecimento quase completo do marrecão no Rio Grande do Sul em certos anos. Em São Paulo e Goiás: D D. u n lis e t provocam estragos nas riziculturas. Rizicultores do Paraná frisam que as marrecas apenas fazem estragos pelo pisoteio, pousando nos arrozais em brotação em bandos. Sob o ponto de vista sanitário ponderou-se que o marrecão, às vezes portador do vírus da encefalomielite eqüina, poderia transmitir esta doença na região de Santiago dei Estero (Argentina) e de Porto Alegre (Rio Grande do Sul). De Curitiba, Paraná, foi relatado um surto de botulismo em Den gn uidu t e tt pep vivendo num parque aquático (Schonhofen & Garcia 1981).
Cons
o
O processo de destruição que ameaça quase todos os banhados é incessante. Medidas eficientes para conter seu avanço seriam, além da criação de reservas e parques nacionais, a instituição de incentivos fiscais em benefício de particulares que conservassem seus alagadiços como criadouros naturais. De grande valor, comprovadamente, seria a instalação de reservas dentre arrozais regulares, plantações. de arroz destinadas unicamente às' marrecas e outras aves aquáticas que, deste modo, seriam desviadas das plantações economicamente ativas. Talmedida seria das mais importantes ainda pelo fato, observado no Rio Grande do Sul, de que marrecas como a piadeira e a caneleira gostarem de procriar nos arrozais. .., Os mesmos benefícios adviriam do tratamento adequado de açudes, o qual consiste essencialmente na manutenção de plantas aquáticas adequadas nas margens das represas de pouca profundidade. Desta maneira pode-se recompor em parte áreas outrora paludosas, perdidas por aterros ou drenagens para fins de saneamento ou agricultura. Açudes servem para o pouso de anatídeos
234
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
~igrantes. i!'s terras interessantes para a avifauna aquática: banhados, charcos, lamaçais, brejaís, pantanais e várzeas inundáveis são regiões baixas, cobertas de água rasa, permanente ou temporária, sendo consideradas antigamente como "inúteis" e insalubres. Na realidade exercem função importante no equilíbrio natural, sendo tão indispensáveis para o homem quanto as florestas. Temos que reconsiderar os nossos valores econômicos, recreativos, educacionais, científicos e estéticos em relação aos alagadiços, mas de nada adianta um conservacionismo romântico e desvinculado do interesse primordial da coletividade. Necessitamos de um acordo internacional de proteção aos nossos anatídeos que podem cruzar três ou quatro fronteiras internacionais (Brasil, Argentina, Uruguai, Chile) duas vezes por ano.
dos de espécies Subfamília Anserinae Tribo Dendrocygníni (3) Gênero Tribo Anserini (2) Gêneros e Subfamília Anatinae Tribo Tadornini (1) Gênero Tribo Anatini (10) Gênero Tribo Aythyini (2) Gênero Tribo Cairinini (3) Gêneros Tribo Mergini (1) Gênero Tribo Oxyurini (3) Gêneros e
bém na África e índia, não forma raças geográficas: "X enxem """M arreca-peba*".
IRERÊ,
Fig. 67
. 44cm. De porte ereto, máscara branca (que falta nos Imaturos), flancos finamente listrados e asas largas negras, sem branco; bico e pés plúmbeos. ainda mais aguda que 'a da espécie seguinte, "wis-wis-wiã", a fê~ea.pia mais fra~amente. Voando lembra , mas nao intercala penodos de planeio com os de bater asas; antes ~e pousar descreve círculos pipilando. Para alçarem voo ou pousarem usam um vôo quase vertical, ao contrário, p. ex. de Mais ativo no crepúsculo, à noite sobrevoa cidades, assobiando, principalmente durante as chuvas. Durante o dia descansa em bandos compactos, ficando de pé à beira de banhados e campos inundáveis onde também se alimenta; pousa igualmente nas praias, à beira-mar, descansando durante o dia, e até mesmo sobre o mar quando atravessa uma enseada maior. Habita a região tropical da América do Sul até a Bolívia, Argentina e Uruguai; todo o Brasil (~bundante inclusive no Sudeste do país); também na Africa de onde, provavelmente, colonizou a América do . Sul. "Marreca-Piadeira" (Rio Grande do Sul), "Paturi", "Paturi-i?", "Viuvinha" (Ceará), ''Marreca-viúva'' (paraíba).
e
Fig.67. Scott1957).
, casal se acariciando(seg.
MARRECA-CANELElRA,
48cm. Do porte de um pequeno ganso, tem o corpo curto, pescoço longo, bico relativamente comprido, pernas altas e asas bem largas, tudo portanto ao inverso das outras marrecas. Parda-acanelada com a plumagem dos lados do pescoço sulcada de anegrado à semelhança dos gansos, flancos listrados de amarelo, coberteiras superiores da cauda brancas, asas sem branco algum; bico e pés (estes bem grandes) cor de chumbo. mui.to diferente da dos seus congêneres, de tom nasal particular "gse-gsãa", "tzí-biã". Crepuscular. Alimenta-se de vegetação aquática que tira mergulhando à feição das carquejas. Vive em banhados. Encontra-se da Califórnia à Argentina e todo o Brasil, contudo sendo raro ou aparecendo apenas periodicamente em muitos locais; tarn-
ASA-BRANCA,
Pr. 5, 1
48êm. De porte semelhante ao das espécies anteriores, distingue-se delas pela cara cinzenta, barriga preta e grande mancha branca na asa, visível apenas quando a ave voa; bico e pés vermelhos. Imaturo, pardoacinzentado, inclusive bico e pés. assobio de quatro a cinco sílabas, "tjüi-tjüi-tji-tji-tji", repetido pelos membros do bando. Pastam no capim baixo alagado, como gansos; às vezes nos manguezais. Podem empoleirar alto para pernoitar ou para dormir de dia, deitados sobre os tarsos. Seus bandos não se mesclam com ire rês e outras marrecas. Pelo menos tão crepuscu-
ANATlDAE
lar como as anteriores e, ao contrário destas, restrita às Américas. Ocorrem do Texas à Bolívia e Argentina; grande parte do Brasil (subespécie comum na Amazônia, torna-se rara, desaparece ou ainda surge apenas periodicamente no Sudeste do país. [Mesmo no Rio Grande do Sul (Belton 1994).] "Marreca-cabocla", "Marreca-grande-de-marajó", "Paturiaçu" (Maranhão), "Marajoara" (Goiás).
CAPOROROCA,
1-
100cm, 3,5 kg. Representante meridional bastante grande, de aspecto de cisne. Branco com a ponta das asas negras, bico e pés vermelhos. Fêmea menor que o macho. Imaturo, marmoreado de pardo. Filhote brancoacinzentado de bico e patas avermelhadas. forte "gógo goá", "coscoroba". Banhados nas proximidades do mar, pousam em praias lacustres e marinhas; afastamse da terra nadando como cisnes e gansos, com o pescoço verticalmente esticado. Pastam na água rasa, afastamse ocasionalmente para longe d'água. Ocorrem da Patagônia e Chile ao Paraguai e Brasil, no litoral do Rio Grande do Sul; criam regularmente no referido estado, na mesma região da espécie que se segue. [Outros registros recentes de populações visitantes foram feitos em 1978 para Laguna (Sick et 1981), em 1991 para Tubarão G. F. Pacheco), ambas em Santa Catarina e três ocorrências - 1988/1990 - para o Pantanal de Nhecolândia, Corurnbá, Mato Grosso do Sul (Lourival & Herrera 1992).] "Pato-arminho".
CrSNE-DE-PESCoçO-PREfO,
C
e
Fig.68 120cm, 4,0~5,3 kg. Asas inteiramente brancas e curtas em comparação com as do capororoca; pescoço negro aparentando ser mais grosso. Base do bico e pés vermelhos; a fêmea, além de ser menor, possui apenas uma pequena carúncula flácida, distinguindo-se ainda por uma faixa pós-ocular amarelada que se estende até o occiput. Imaturo, fuligem e sem carúnculas; os cisnes jovens têm bico e patas cinzentas. voando emite pio monossilábico e melodioso, "o". Vôo pesado e barulhen-
to; decola com dificuldade, no que difere inteiramente do Pousa na água para descansar com o pescoço esticado verticalmente. Anda muito pouco, ao contrário da espécie anterior. Come boiando na água rasa o suficiente para que alcance o alimento do fundo mergulhando a cabeça e pescoço. Vive em banhados extensos, inclusive os salobres; gosta de descansar sobre o mar, boiando em longas filas indianas cerradas que logo se afastam se aparece alguém na praia. Ocorrem do Chile e Argentina (onde são abundantes) até o litoral do Sudeste do Brasil (Rio Grande do Sul e, ocasionalmente até o sul de São Paulo) [e, aparentemente, Rio de Janeiro (Nacinovic et . 1989).] "Patoarrninho" (Rio Grande do Sul), "Ganso-de-pescoço-preto" (ide "Cabeça-preta" (ide "Pato-argentino" (ide
PATO-CORREDOR,
gnus
co
s,
Pr.
5, 2
53cm. Espécie singular e interiorana, de ocorrência local. De estatura de um ganso e porte exageradamente ereto; pescoço comprido, surpreendentemente grosso e arrepiado, sendo mantido verticalmente esticado. Bico e pés vermelhos. Amarelado da cabeça ao peito, costas e ventre castanhos, asas negras com uma área branca. O macho é maior. é diferente nos sexos, por exemplo um casal voando, "chüit chüit" (macho) e "aog ..." (fêmea); o casal pousado na praia "dueta": cada sexo com uma vocalização. Corre de maneira única, voa pouco, pousa em troncos e galhos. Praias abertas, pedregosas, de rios das regiões quentes. Está desaparecendo nos rios navegáveis. Ocorre da Venezuela à Bolívia, Paraguai, Argentina e Brasil (Amazônia e Brasil central). "Ganso", "Marrecão-do-banhado", "Marrecão", "Roncad or ", "Wa-na-ná" (Kamaiurá, Mato Grosso). Aparentado aos dos Andes e das regiões austrais da América do Sul.
is
MARRECA-PARDINHA,
. 41,5cm. Espécie meridional de cauda curta, peito salpicado, vértice anegrado e bico amarelo. Ocorre da Terra do Fogo ao Rio Grande do Sul (nidificando) e, pelos Andes, até a Venezuela. [Recentemente foi encontrada no litoral do Rio de Janeiro (Nacinovic 1991b) e Santa Catarina (Bornschein & Arruda 1991).] "Danadinha", "Chur ia-z inha", "Parda-pequena", "Marrecag .. assobiadeira?", "Marreca-pintada=". V
MARRECA-OVElRA,
Fig. 68. Cisne-de-pescoço-preto, macho.
235
s
VS
51cm. Visitante meridional grande, com zona branca muito vistosa logo por detrás do bico azulado (lembra remotamente disco flancos ferrugíneos. Ocorre do Chile e Argentina ao Paraguai e Brasil (Rio Grande do Sul, pouco freqüente); nidifica no extremo sul do continente.
236
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
ensis
MARRECA-TOICINHO,
37cm. Representante de vasta distribuição, facilmente reconhecível pelos lados da cabeça brancos assim como a garganta, pelo canela da cauda pontiaguda e da borda posterior da asa (tanto no macho como na fêmea) e pelo bico azul de base vermelha. Fêmea semelhante ao macho, sendo mais franzina e com a mancha vermelha do bico e o branco das bochechas menos berrantes. Mergulha; sobre alimentação v. Introdução. Ocorre das Índias Ocidentais ao Chile e Argentina; localmente no Brasil leste-setentrional e oriental (Rio de Janeiro, inclusive), excepcionalmente no Rio Grande do Sul. "Paturi-do-mato".
MARRECA
PARDA,
geo
60cm. Espécie meridional muito semelhante à s is quanto ao colorido da plumagem e do bico, diferindo porém pela cauda longa e pontiaguda (um pint iI) e pela cabeça avermelhada e mais comprida. Ocorre da Terra do Fogo a São Paulo e, pelos Andes, até a Colômbia. [Eventualmente em Roraima (Shattuck 1926) e Ceará (Teixeira et I. 1993).] Nidifica no Rio Grande do Sul, inclusive em lagoinhas do planalto, freqüentemens o s. "Marreca-danada". te associada a
VN
MARRECA-ARREBIO,
[56-66cm] Oito indivíduos observados em Fernando de Noronha em dezembro de 1988, em plumagem de eclipse. Espécie de distribuição holártica. Tendo em vista a relativa freqüência de aves originárias do Paleártico em Fernando de .Noronha, é bem possível que essas marrecas excelentes voadoras, tenham cruzado o Atlântico, vindo da costa africana (Antas et I.. 1992). [Excepcionalmente no Rio de Janeiro (Nacinovic 1991a).]
MARRECA-CRICRI,
MARRECA-COLORADA,
n
c nopt
VS
40cm. Pequeno visitante meridional, pardo-avermelhado vivo, de crisso preto, tendo sobre a asa uma grande área cinza-azulada semelhante às existentes e pI I e na espécie anterior. Ocorre nas porções meridionais e ocidentais da América do Sul, acidentalmente até o Rio Grande do Sul; possui representante residente septe ion is) que na América do Norte (A. nopt migra ao norte da América do Sul, em típica plumagem de eclipse.
MARRECA-COLHEREIRA,
n
p
l
VS
SOem. Visitante meridional caracterizado pelo bico longo em forma de espátula que faz a ave parecer maior do que é. Ocorre na América do Sul meridional até o Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil, ocasionalmente até o Rio Grande do Sul e excepcionalmente até o Rio de Ja. neiro (Schneider & Sick 1962).
u
40cm. Visitante meridional pequeno e bonito; de bochechas e garganta esbranquiçadas (lembrando ensis), boné preto, e flancos raiados de alvinegro; bico azul, base amarela. Ocorre do Chile e Argentina ao Paraguai, Bofívia e Brasil no Rio Grande do Sul, onde é, em certos períodos, relativamente comum, inclusive nidificando. "Quiri-quiri", "Pato-argentino". [Assinalado recentemente para Santa Catarina (Bege & Marterer 1991) e Rio de Janeiro (Nacinovic 1991a).]
MARRECA-DE-ASA-AZUL,
branco logo por trás do bico negro: 'tal sinal é mal esboçado na fase de eclipse do macho (julho a novembro) e falta na fêmea. Migrante norte-americano, periodicamente abundante nas regiões mais setentrionais da América do Sul, vindo em número apreciável ao norte do Brasil (Pará, Maranhão; de fevereiro a abril); penetra mais para o sul, por exemplo atingindo o Rio de Janeiro (abril a agosto) e Rio Grande do Sul (novembro), chegando até o Uruguai, Argentina e Chile; a ocorrência da espécie na América do Sul não está, portanto, restrita ao período de rigoroso inverno setentrional. Foram registrados no Brasil, entre 1951 e 1978, 99 indivíduos anilhados no EUA, correspondendo a cerca de 3% do total de exemplares recuperados. "Sará" (Maranhão) "Marreca-sará"", -unnged .
VN
38cm. Visitante setentrional do porte de uma ananaí; distingue-se pelas coberteiras superiores das asas azulclaras ou acinzentadas, lembrando as duas espécies que se seguem. Partes inferiores pardo-claras, ricamente pintadas de pardo-escuro; macho adulto com largo crescente
MARRECA-DE-COLElRA,
C llone
leucoph
30cm. Espécie meridional pequena de bico azulado; distingue-se imediatamente em vôo por uma pequena mácula arredondada e branca sobre as asas,' tanto do macho como da fêmea. Lados da cabeça e pescoço brancos, posteriormente debruados e ressaltados de negro no macho. Habita a mata alagada, ao lado de C i (Formosa, Argentina). Ocorre do norte da Argentina à Bolívia, Paraguai e Brasil: Mato Grosso, Ri0 Grande do Sul, São Paulo (Pindamonhangaba, Alvarenga 1990). [Também no Distrito Federal (Negret et al. 1984) e Minas Gerais (Mattos et I. 1993).
MARRECÃO,
t
55cm, 1,0 kg ou mais. Espécie meridional de porte avantajado; inconfundível pela cabeça grande e pelo bico
J.. ANATIDAE
alto e intumescido na base, vermelho no macho e cinzento na fêmea. Cabeça e pescoço negros no macho; fê; mea pardacenta-escura. Em vôo é distinguível uma grande área branca sobre as estreitas asas negras; lado inferior das asas branco. Reproduz em certas áreas do Rio Grande do Sul (Belton 1984) e aparece em bandos procedentes da Argentina ocidental (p. ex.. indivíduos anilhados em San.tiago dei Estero, a 1400 km de distância) que se dirigem em seguida para o sul, para nidificar no litoral argentino. Localmente no Rio Grande do Sul também no verão em bandos. [Recentemente o marrecão tem sido assinalado como visitante, para os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo (Paulínia, J. L. Pegoraro em 1987; Taubaté, Alvarenga 1990); seu limite norte conhecido é a lagoa Feia, norte do Rio de Janeiro (Rocha 1978).] É a peça favorita dos caçadores gaúchos; os bandos causam prejuízo aos rizicultores, às vezes mais pelo pisoteio do que por comer sementes; a matança dessas aves é paga localmente por cabe.ça, como ocorre com a caturrita (v. Introdução). "Marrecão-da-Patagônia", "Pato-picazo",
Fig. 69. Putrião, o s /nnotos, durante a reprodução (crista intumescida).
densa. Ocorre das Guianas e Venezuela até a Argentina e todo o Brasil, onde é um dos Anatidae mais abatidos pelos caçadores. "Marreca-ananaí", "Marreca-assobiadeira", "Marreca-espelho", "Marreca-pé-vermelho?".
PurRlÃO, PATURI-PRETA,
t
Pr. 5, 3
tt
PATO-DE-CRISTA,
is
Fig.69
l
43cm. Espécie de vasta distribuição, sendo contudo local, aumentando consideravelmente durante os últimos anos. Marrom bem escura (macho brilhante) de bico azulado, asas com uma larga faixa branca, visível apenas em vôo, que atravessa a base das rêmiges; olhos vermelhos ou amarelos. Ocorre p. ex. no Brasil oriental, Ceará (1958, 1987), Piauí, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro (lagoa Feia, reproduzindo, não .raro, em 1965); São Paulo (Taubaté, reproduzindo, Alvarenga 1990), Brasilia, DF (fevereiro, agosto, Antas & LaraResende 1983); localmente do Surinarne, Venezuela e Colômbia à Argentina e Chile, também na África ocidental e meridional "Negrinha*". [Outros Estados com registros a saber: Rio Grande do Norte Q. F. Pacheco, N. C. Maciel), Paraíba (Zenaide 1953), Minas Gerais (Meio [unior 1992) e Paraná (Lara 1992).]
PÉ-VERMELHO, ANANAÍ,
237
liensis
82cm, 2,0 kg ou mais (macho). Inconfundível com sua coloração branca e preta; macho de pescoço amarelado durante a época de reprodução (pelo fim do ano) quando também a tuberosidade que possui sobre o bico torna-se desenvolvida ao máximo, permanecendo pouco saliente e flácida o resto do ano. Fêmea semelhante, sendo porém bem menor. geralmente calado, é porém capaz de roncar forte e baixo. Os .bandos voam em fila indiana, chamando a atenção pelas grandes asas negras. Gosta de pousar nas praias de rios e lagos, empoleirado. Habita regiões pantanosas. Ocorre da América Central à Argentina; no Brasil localmente na Amazônia, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul (p. ex. no Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul); também na África, índia e China "Pato-cachamorro" (Goiás), "Pato-argentino" (Rio Grande do Sul), "Paturi" (Minas Gerais, Mato Grosso), "Pato-ganso" (Mato Grosso).
PATO-DO-MATO,
Fig. 70
85cm, envergadura 120cm, peso do macho adulto 40cm, 500 g. Espécie pequena e comum, de pés ver- _ selvagem 2,2 kg, domesticado chega a 4,5 kg; a fêmea melhos; o espelho alar tanto pode apresentar-se como alcança' pouco mais que a metade. Espécie da maior negro, verde ou azulado brilhante, conforme a incidênimportância na medida em que originou o pato domésci= da luz; destaca-se um triângulo branco assim como tico sul-americano. É a única ave domesticada pelos as axilas. Macho de bico vermelho, fêmea de bico aborígines desse continente. Ambos os sexos distinguemazulado, pescoço posterior preto e duas manchas claras se dos outros Anatidae pela cabeça grande alta, como na face, garganta branca. No período não reprodutivo que intumescida no vértice, o que se deve à presença de adquire uma plumagem de "eclipse", sem contrastes e um topete ereto, maior no macho que na fêmea. Pluma"prit-prit.", "dlüid-dlüid", "âtcom os pés rosados. gem negra com algum branco na asa, estando este reduii.t-ii.t";surpreendentemente baixo "qusk". Banhados e zido ou mesmo ausente na fêmea, que por sua vez tamaçudes, mesmo os menores, ricos em vegetação baixa e bém, quase não tem carúnculas na base do bico, faltan-
238
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
do-lhe completamente o penacho nucal e o topete frontal. Em ambos os sexos o bico é atravessado medianamente por uma faixa branquicenta. um bufar surdo. Empoleíra-se sobre galhos desfolhados (p. ex. os das embaúbas) para observar os arredores, descansar e pernoitar; seu poleiro noturno, onde podem reunir-se vários indivíduos, é denunciado pelo acúmulo de dejeções no solo. Tem unhas compridas e afiadas, com as quais se agarra nos galhos, utilizando-as também durante as brigas o que também faz com a tuberosidade que possui no encontro e com a qual assesta violentos golpes. Voando em bandos os sexos costumam segregar-se. e oduç Um macho adulto exige algumas fêmeas; o casal cumprimenta-se com a cabeça levantada, batendo as mandíbulas. Nidificam sobre as árvores (v. Introdução). Os patinhos descendentes de pais selvagens são inteiramente negros, ao passo que aqueles oriundos de pais domesticados são manchados de amarelo; há, porém, informações de filhotes manchados também no ambiente natural (Ilha Mexiana, Pará); pintos de penugem preta, ao nascerem, tornam-se, quando adultos, de um preto mais intenso e brilhoso. Pais de fenótipo selvagem podem produzir, dentro da mesma postura, ambos os tipos de filhotes. H bit , declín Habita lagos e rios cercados de matas ou não muito distantes delas. Vive no leste e sul do Brasil já muito reduzido, em conseqüência da destruição ambiental e da caça. Entre as aves aquáticas é a mais cobiçada pelos caçadores; torna-se muito arisco pela constante perseguição. Dist ibuiç o Ocorre do México ao norte da Argentina, todo o Brasil. "Pato-bravo", "Pato-selvagem", "Asabranca", "Pato-picaço" (Rio Grande do Sul), "Zewãt" (Karnaiurá, Mato Grosso), "Pato-brava-verdadeiro". Os nomes osc , "Pato-almiscarado", etc., poderiam derivar de "Muisca", nome de uma tribo colombiana, pois C i in não tem cheiro almiscarado algum. O gênero em questão ocorre também no Velho Mundo. D tic Já foi criado no Peru pré-incaico, sendo a única ave doméstica (no sentido rigoroso do termo) neste continente. Sobre a sua domesticação por parte dos in-
Fig. 70.Pato-do-mato,
s
macho.
-dígenas- brasileiros resta alguma dúvida; o padre Anchieta (1585) relata que "bois, galinhas, perus, carneiros e patos vieram do Reino", enquanto Gabriel Soares de Souza (1587) menciona que os índios tomavam os patos-do-mato quando estes eram novos e criavam-nos em casa. Os Tupinambás do Rio não comiam os seus patos domésticos pois imaginavam que isso os tornariam lentos no correr (Léry 1578). Devido à domesticação há forte tendência ao aumento das áreas brancas na plumagem e do vermelho das carúnculas, sendo designados como. "corais" aqueles que as têm mais exuberantes; em indivíduos silvestres a face é negra e não inchada. Este "pato-crioulo" torna-se mais pesado que seu antecessor selvagem; quando se aproxima de um ano de idade pára de crescer, contudo continua a ganhar peso. C , int no É muito provável terem os portugueses introduzido logo no começo, junto com as galinhas, o grande pato doméstico branco chamado "pequim" ou "pequinês", procedente do Velho Mundo, que cruza facilmente com nosso pato-domato; o híbrido, chamado de "paturi", é infértil, devido ao reduzido parentesco dos progenitores, pois o "pequim" é descendente do pato-real, pl h , espécie de ampla distribuição no hemisfério norte da qual descendem todas as formas domésticas (exceto obviamente os de patos do mundo. No século XVI espanhóis e portugueses levaram o pato-da-mato para a Europa, onde o mesmo foi designado como "pato-da-turquia" ou "pato-moscovita" o que significaria apenas "pato estranho".
e
PATO-MERGULHÃO,
ociose ceus
Am
Pr. 5, 4 55cm. Uma das poucas aves brasileiras adaptadas a rios de regiões montanhosas, hábitat semelhante da rarai . Lembra um biguá (o qual pode garça aparecer nos mesmos locais) diferindo dele por ser mais delgado, e ter o bico mais fino, estreito e serrilhado; penacho nuca I desenvolvido (principalmente no macho), asas com espelho branco, pés vermelhos. Habita rios caudalosos -de altitude, encaixados em falhas, formando corredeiras, onde mergulha, pescando. Voa baixo vocalizando ao longo do rio do qual não se afasta, pousa em rochas e árvores caídas na água. A voz é um "krack-krack" (alarme). Nidifica no oco das árvores na beira do rio (julho, Misiones, Partridge 1956).. . Ocorre no oeste de Minas Gerais, serras divisoras de águas entre os rios Paranaíba e São Francisco: Serra da Canastra, 1.200m, 1979 e anos subseqüentes, onde a população foi estudada por J.M. Dietz e um casal foi fotografado em agosto de 1984 com 6 filhotes pequenos (Bartmann 1988). Registrado também em 1973 na encosta da Serra Negra, ribeirão Salitre, cabeceiras do rio Dourados (G. T. Mattos); indivíduos foram coletados por
ANATIDAE
1
239
I
F. Sellow, antes de 1823 (Stresemann 1954) em Minas Ge- rais. Goiás, Chapada dos Veadeiros 1986/87, (Yamashita & Valle 1990). Registros também na região do alto Tocantins 1953, 1960 e 1972 e Nova Roma em 1950, (Miranda Ribeiro 1937). São Paulo, Itararé, observada por J. Natterer. Paraná, Salto da Ariranha (Szto1cman 1926). Santa Catarina, Blumenau, antes de 1871 (Stresemann 1954). Um exemplar foi visto em setembro de 1956 por Jean Delacour acima das Cataratas do Iguaçu, no lado' argentino. Historicamente conhecido adicionalmente de Misiones, Argentina, num afluente do Rio Paraná, além do Paraguai. Considerado até há pouco tempo como uma das aves mais raras da América do Sul. "Merganso-do-sul "". [Dados mais detalhados de sua distribuição no Brasil e países vizinhos e seu si tus de conservação encontram-se em Collar et . 1992. MARRECA-PÉ-NA-BUNDA,
O
VS
[36-40cm] Vive apenas no extremo sul do país, como visitante; é muito parecida com a espécie adiante descrita, sendo um pouco maior. Macho com a cabeça totalmente negra, fêmea apenas com uma faixa horizontal clara no lado da cabeça, faltando-lhe a linha superciliar branca de O. do inic Ocorre da Terra do Fogo ao Para. guai, ~ comum no norte da Argentina (Salta), ocasionalmente no Rio Grande do Sul. Considerada representante de O. icensis da América do Norte, desenvolve, tal como ela, plumagem de eclipse no inverno. "Marrecãozinho" "Marreca-de-rabo-duro".
Fig.?l
BICO-ROXO,
37cm. Espécie pequena de vasta distribuição, chama pouco a atenção pois vive muito escondida na vegetação aquática cerrada. Cauda singular, rígida, a qual ergue verticalmente e abre em leque quando se exibe. Macho de cabeça e pescoço castanhos, apenas a máscara é negra (ver a anterior); bico alto e azul berrante, na one asa; mancha branca marcante lembrando leucoph s. Fêmea e certos machos (junho, Minas Gerais) pardo-claros com píleo preto e duas listras negras horizontais de cada lado da cabeça; uma das quais atravessando o olho; bico anegrado. risada ventríloqua m-tiito original, a s~b~r: seqüência fortemente descendente de cinco gritos sonoros, parecidos com voz hu-
Fig.71. Bico-roxo,O u
do
ic , macho.
mana, "glú-glú, glu, glo, gla". De temperamento calmo, mansa; anda com dificuldade mas mergulha bem, para tirar certos vegetais subaquáticos; tem vôo rasante. Como cerimônia pré-nupcial, o macho incha o pescoço e a garganta mantendo o bico um pouco levantado e bóia sobre a água, sem se movimentar. Habita lagos e pastos alagados. Ocorre do Texas à Argentina, grande parte do Brasil (inclusive Rio de Janeiro). "Marre quinha ", "Marreca-rã" (Rio Grande do Sul) "Marreca-de-bicoroxo=". Marreca -tururu "", O singular processo de inchar o pescoço lembra a espécie que se segue.
MARRECA-DE-CABEÇA-PRETA,
Hete
36cm. Pequena espécie meridional. Macho caracterizado pela combinação da cabeça negra e bico azul com uma linha vertical vermelha na base da maxila; quando abre as asas nota-se a presença de estreita faixa branca; fêmea algo maior que o macho, sendo parda com faixa superciliar clara. Em caso de perigo prefere ocultar-se, embora voe muito bem. O macho, disposto a cortejar, incha o pescoço que lembra então aquele nu e alargado de urubu ou sapo ("pato-sapo"), assinalando talvez parentesco com o gênero anterior. É espécie parasita. Põe seus ovos em qualquer ninho acessível de altura sobre a água até um metro, de uma ave aproximadamente do seu porte, sobretudo aquelas aquáticas e abundantes como, por exemplo na Argentina, os marrecões e as ulic (v. Introdução). Habita banhados sem vegetação alta; ocorre do Chile e Argentina ao Rio Grande do Sul (novernbro, maio, em bandos) [Santa Catarina (Bege & Marterer 1991)], Paraguai e Bolívia. Sobre migrações' v. Introdução.
og ( j t
ibliog
)
Alvarenga, H. M. F. 1990. u 1:115-17. ( ett leucophrfs, tt e th ophin e tt pep no leste de São Paulo)" Antas, P. T. Z., A. Filippini & S. M. Azevedo-Junior. 1992. s VI E , elo s 79-80. ( s nd em Fernando de Noronha)" Antas, P. T. Z. & S. M. Lara-Resende. 1983. 100:220-21. e e ophth em Brasília)"
Baratini, L. P. & R. Escalante. 1971. C de I ug es. Montevideo: Mus. Dámaso Antonio e 2. nse i Larraüaga. Bartmann, W. 1988. I 7-14. gus octoset us) Bertoni,A. de W. 1901. s u dei C t ogo de I dei gu . Asunción: Talleres Nacionales H. Kraus.
240
ORNITOLOGIA BRASILEIRA
M. R. & S. D. Arruda. 1991. IC .O o 33. ( s st Santa Catarina)" Bomschein, M. R., B. L. Reinert & M. Picho rim. 1993. III COl1g s. o P.26. (Cosco ob litoral do Paraná)" , ool. 58:31-39. ( U pepos c , Brettschneider, D. S. 1981. alimentação) Coimbra-Filho, A. F. 1964. . s. io/. 24:383-91. , hábitos) Coimbra-Filho, A. F. 1965. . s. . 25:387-94. (C , hibridacão) Coimbra-Filho, A. F. 1969a. io/. 29:87-95. tt , distribuição) /. 4:23-29. (conservação) Coimbra-Filho, A. F. 1969b. Cooke, R. G. & S. L. Olson. 1984. Con 86:493-94. (D oid , registro arqueológico) Delacow; J. 1954-64. e l tire . 4 vols. London: Country Life Bornschein,
C
po G nd
Feduccia,
A. 1977.
f.
eo . io/. 67:715-21. (parentesco)
Jenni, D. A. 1969. u 86:355-56. (mergulho) Johnsgard, P. A. 1961. Ibis 103:71-85. (taxonomia)
l lu Ithaca: Cornell Johnsgard, P. A. 1965. Univ. Press. Johnsgard, P. A. 1979. Order Anseriformes. Pp. 425-506. In: Chec st b s lhe ld. Vol. 1. 20d ed. (E. Mayr & G. W. Cottrell, eds.). Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zoology." [ohnson.A, &J. C. Chebez.1985.Hisl. t. 1:1-16. ( gusoctoset na Argentina) 103:297-98. (C l h is, Kartachev, N. N. 1962. f. desasagern)" no C G 52. Lara, A. r. 1992. es os II Con pepos e e th hih no Paraná)" II C . Lourival, R. F. F. & H. Herrera, 1992. no Pantanal Sul Matogrossense)" C G nd 103. (C Madge, S. & H. Burn. 1987. te l, Ident ic ion Guide to the DII , Geese, nd o s. Boston: Houghton Mifflin. 1964. 1 147-66. Magnanini, A. & A. F. Coimbra-Filho. (Dendrocfgna tnduata, alimentação) Meio [unior, T. A. 1992. o 17:14. ( t e t phtlu em Belo Horizonte)' . oc. Ce . g on. 1:177-78. (inimigos) Menezes, R. 5.1960. o, dezembro: 49-54, 57. ils Míranda-Ribeiro, A. 1937. O C octoset eus adquirido do Sr. Blaser para o Museu nacional)' J. B. 1982. . oco g variação anatômica da face) Nacinovic, J. B. 1991a. es os C s ue i , observadas ClIt e Nacinovic,
O no 3:27-29. (C
in
l.
374.
osc
no Rio de Janeiro)'
J. B. 1991b. esu os I Con os s, Rio de Janeiro)'
Nacinovic,
I
Nacinovic,
J. B.,
n
25-26.
r. M.
Schloemp, M. Raposo & F. M. Marti. 1989. 28. (C meianconjphus na Lagoa de Maricá, Rio de [aneiro)"
esu
E
J.
Nascimento,
nett Nascimento,
i1,
L. X. & P. T. Z. Antas.
1990.
1 5-90.
brasiliensis, anilhamento)" J. L. X. & P. T. Z. Antas.
3 62-65.
1995. spp., anilharriento)* Olrog, C. C. 1968. 14:17-22. (anilhamento) ic 21:17-19. (anilhamento) Olrog, C. C. 1975.
Olson, S. L. &A. Feduccia. 1980. ithson n C . 323. (fósseis) Ortega, V. R., F. S. C. Almeida & A. Audi. 1987. is III i1, o 87-88. (anilhamento) eopol hábitos) Partridge, W. H. 1956. u 73:473-88. Rees, E. C. & N. Hillgarth. , reprodução)
1984.
Condo
Reichholf, J. 1975. O o Ges. Reichholf, J. 1983. . . Ges. aquáticas no rio Negro)
onet
86:242-50.
n 14:1-69. (ecologia) 23:525-28. (pobreza de aves .
10:1-17. (C geral) Rossi, J. A. H. 1953. H Santos, P. M. R. dos & J. F. Pacheco. 1994. IV C . n h t pressão de caça no médio Solimões)" n., 80. Schonhofen, C. A. & P. G. F. Garcia. 1981. q. iol. ecno/. 24:433-35. (botulismo) Seott, P. 1957. Colou The Wildfowl Trust.
to ihe
i
the
G. C. 1926. Cont . H lnst, i em Rorairna)" Sick, H. & L. A. R. Bege. 1984. oe. e t pe em Santa Catarina)" Shattuck,
Silva, F. 1986. II io de anilhamento) Teixeira, D. M. &J. B. Nacinovic. 1981.
22.
ett
e
o
WeUer, M. W. 1968a. Weller, M. W. 1968b.
l he
) ing
oct
iol.
. 4
.
l
u Coiás)"
s
geo g .
d 7:169-207. (Hel 80:189-212. (hábitos)
C. & M. de P. Valle. 1990. us, Chapada dos Veadeiros,
-282.
5:3-6.
211-12.
o 20:55-58. (perigo Weller, M. W. 1969. espécies exóticas) Wildholzer, F. L. & w. A. Vosso 1978. (C gnus cativeiro) 2:101-02. Willis, E. O. 1991. expansão geográfica em São Paulo)' Yamashita,
. Slimbridge:
o 2 19hábitos)
na introdução
i
5
de
-29. ,
1:107-09.
ANHIMIDAE
ANHUMA,
TACHÃ:
FAMÍLIA
ANHIMIDAE
(2)
Grupo endêmico da América do Sul, tão peculiar que já foi colocado numa ordem à parte. São Anseriformes. A existência de lamélulas rudimentares no bico de i e un prova o real parentesco com os anatídeos. Isto, ao mesmo tempo, sugere não serem os anhimídeos representantes "primitivos" e sim um tipo mais evoluído que abandonou a técnica de filtragem (Olson& Feduccia 1980). O fato de não serem palmípedes dá-lhes, até certo ponto, aparência galinácea. Representados por no Pleistoceno da Argentina (há 20.000 anos). No Brasil vivem duas espécies, urna meridional e outra predominantemente amazônica, de larga distribuição, havendo urna terceira que aqui não ocorre sendo restrita ao noroeste da América do Sul.
i
t
241
tos
Aves corpulentas de bico ficticiamente galináceo. As lamelas esboçadas no interior da maxila (menos visíveis na mandíbula) quase não deixam adivinhar que são vestígios do complicado aparelho de filtragem dos patos (v.figo66). Têm pernas robustas e curtas e dedos enormes (adaptação a ambiente paludícola) desprovidos de membranas natatórias, ao contrário dos outros Anseriformes brasileiros. Nadam apenas ocasionalmente e devagar; os filhotes porém fazem-no com facilidade.
Empoleiram nas copas das árvores onde podem passar por urubus. Gostam de se banhar, molhando-se tanto que mal podem levantar vôo; secam-se de asas esticadas. Reúnem-se periodicamente em bandos para migrarem localmente, podendo tais ajuntamentos congregarem centenas de indivíduos (Uruguai, Argentina). [Foi observada urna concentração de cerca de 1.400 tachãs no banhado do Taim em 11 de janeiro de 1990 F. Pacheco, P S. M. Fonseca, R. Parrini).] Sexos parecidos, sendo a fêmea menor.
a.
t Amedrontam com um sibilo de cobra e batem levemente as mandíbulas. Deixam ouvir um ventríloquo "bú", procedente provavelmente da pele esponjosa. Gritos baixos e fortes com fundo melodioso. O casal canta em dueto, tendo o macho voz mais baixa; também há dimorfismo nas chamadas, lembrando, de , certo modo, o pato-corredor
Folhas de plantas aquáticas, capim; apanha artrópodos e qualquer animal pequeno morto que encontre enquanto pasta.
São as únicas aves nas quais faltam os
nas costelas, os quais contribuem decididamente para a firmeza do tórax (tronco). No encontro das asas existem dois esporões, armas poderosas em caso de usarem as asas na defesa do ninho (v. também jaçanã e quero-quero). Há pouca documentação de 'pugnas entre tachãs, mas encontram-se às vezes as coberturas córneas dos esporões (as quais periodicamente são mudadas à semelhança da plumagem, não sendo, portanto, muito fixas) cravadas na carne do peito dessas aves. Na pterilose não há separação em pterílas e aptérias. Pele esponjosa provida de um sistema de lacunas comunicantes com os sacos aéreos e pulmões, lembrando os pelicanos. A esponjosidade se estende até os dedos. É curioso corno a plumagem, quando pressionada com as mãos solta estalinhos. Pescoço curto, mantido esticado durante o vôo. De asas m~ito largas, vôo pesado e barulhento. Nas horas quentes o tachá plana tão alto que some da vista do observador podendo passar por um urubu ou gavião grande, comportamento estranho paraAnseriformes, lembrando, nisto, os Ciconiidae. Anhumas e tachãs voando comodamente de um lado para o outro chamam a atenção de quem sobrevoa os pântanos de avião. O tachã muda de rêmiges sucessivamente e não em bloco corno os anatídeos.
Aos casais; mostram-se carinhosos, acariciando-se mutuamente na cabeça com o bico. Fazem grande ninho de folhas e talos dentre os brejais, este podendo lembrar aquele de O ninho da anhuma é baixo e meio flutuante. O tachã põe de dois a três ovos brancos (que se amarelam à medida que se vão sujando) parecidos aos de grandes Anatidae; a anhuma põe dois ovos parda centooliváceos. O casal reveza-se na incubação (que no tachã oscila entre os 44 e .1~dias). Cobre~. -9s ovos quando saem do ninho.
U
colisões
Não são apreciados corno caça pois, com (reqüência, a pele esponjosa inspira repugnância. Os matutos abominam no sul o tachã e no norte a anhuma na medida em que ambos, com se~s gritos, avisam respectivamente o gado bravio e a caça (p. ex. veados) da presença de vaqueiros e caçadores. São bons sentinelas, acusando qualquer novidade com sua gritaria fortíssima, que pode ser provocada também por um tiro ou qualquer ruído. Ao "chifre" frontal pulverizado da anhuma são atri-
.,
242.
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
buídos diversos poderes curativos; passa por preserva. tivo e tem fama de ser poderoso agente antiofídico, o que já no século XVII os índios de Pernambuco ensinaram ao conde Maurício de Nassau. Por ocasião da implantação das primeiras redes elétricas junto ao hábitat de tachãs no Rio Grande do Sul, essas aves ocasionaram inúmeros acidentes que mais tarde foram evitados, quase que totalmente com distanciamento dos condutores (Tessmer 1989).
Fig. 72
ANHUMA,
80cm., altura 61cm, envergadura 170cm, peso 3.150g. Espécie tipicamente amazônica de peculiar apêndice frontal ("chifre") implantado no crânio, lembrando uma
um tanto ventríloquo "wíbu wíbu", o casaljunto, a fêmea começando, o macho respondendo, de voz um pouco mais baixa, interpretado pelo povo como "João Gomes, que comes tu? Minhoca, minhoca"; séries de melodioso "uo, uo, uo ..."; "hu-úrn-hu" como uma grande pomba ou mutum. Habita pântanos, até pequenos brejos e lagoinhas dentro da mata. Vivem aos casais e grupos familiares, também em bandos pequenos ou algo maiores. Emigram quando secam certos braços de rios e lagos que habitam durante as chuvas (alto rio Xingu, Mato Grosso). São encontrados em quase toda a Amazônia, chegando até o interior do Ceará, Bahia, Minas Gerais (Parque do rio Doce), Mato Grosso (onde pode ouvir-se no norte do Pantanal, anhumas e tachãs no mesmo local), São Paulo e Paraná (rio Paracaí); também na Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela e Guianas. Comum onde a avifauna aquática é, em geral, rica, portanto em locais apartados da civilização. "Inhuma", "Inhaúma", "Unicorne", "Licorne", ["Alencó", corruptela de Alencorne. médio Solimões, J. F Pacheco], Ave símbolo de Goiás.
TACHÃ,
Fig. 72. Anhuma, nhi
co
.
antena, a qual tanto pode ser reta como curvada para trás ou parafrente, às vezes chegando quase a alcançar a ponta do bico, tocando portanto o substrato quando a ave come. Tal apêndice, que no indivíduo jovem brota escondido dentre a plumagem do píleo, apresenta-se, no adulto, elástico mas friável, regenerando-se. Plumagem alvinegra, durante o vôo destaca-se uma faixa pardaclara sobre a borda anterior das grandes asas negras. Pernas negras. Imaturo pardo-escuro, de "chifre" curto.
ibli
un
Pr. 5, 5
80cm. Espécie meridional cabeçuda e topetuda. Parda acinzentada-escura, pescoço contornado por uma gola negra realçada por uma segunda de penugem branca. Face superior da asa negra com uma grande área branca visível durante o vôo; face inferior da asa totalmente branca. Região perioftálmica, anel nu ao redor do pescoço (nem sempre visível) e pernas vermelhas. fortíssima, lembrando a dos gansos, podendo ser ouvida a mais de 3 km de distância, "graía-gragrá" canto, dueto do casal, fêmea de voz bem mais fraca; "chlarü" (desconfiado). Quando grita levanta a cabeça, sacudindo-a; o casal conversa voando: o macho grita baixinho "ta-há", a fêmea responde alto "tü-hü". Em vôo a ave lembra uma "catalina", manobrando desajeitadamente com os pés meio pendurados. Pousa durante horas sobre árvores. Forma grandes bandos para pernoitar nos banhados, ficando em pé na água rasa. Em qualquer época do ano há agrupamentos menores ou maiores de indivíduos que aparentemente não procriam mas pastam juritos tranqüilamente; em alguns locais são até considerados concorrentes das ovelhas (Rio Grande do Sul). Da Argentina e Bolívia até Mato Grosso, Rio Grande do Sul e São Paulo. "Inhuma-poca", "Chajá", "Anhuma-dopantanal" (Mato Grosso), "Iachã-do-sult".
d e é
l
l)
Fontana, C. S., C. V.Cademartori, R. A. Ramos, C. J. Drehmer &A. E. Tavares.1994. iociênci s, Porto Alegre 2:125-33. (C un variação de abundância)' Haffer, J. 1968. 85:633-38. (muda da asa e cauda)
Olson, S. L. & A. Feduccia. 1980. s . 323. (fósseis) Veiga, L. A. & A. T. Oliveira. 1996. e os . s. ool. o e . to q , indivíduo albino no Taim, RS)*
. .
ORDEM FALCONIFORMES19 GAVIÕES,
ÁGUIAS
e afins:
FAMÍLIA
ACCIPITRIDAE
Formam grande família cosmopolita. A América Latina é a região mais rica (e menos investigada) em aves de rapina. Mais de dez gêneros são restritos ao neotrógus, o s, e nis, pico - por exemplo, eH . Facilmente reconhecíveis pelo bico adunco e garras afiadas, caracteres que partilham com as águias pescadoras e falcões. Grupo um tanto semelhante é o das corujas. Fósseis mais antigos do Eooligoceno da França (37 milhões de anos); também presentes no Pleistoceno do Brasil (15-20 mil anos).
Variam no talhe, havendo tanto aqueles do tamanho de um sabiá como representantes de envergadura de quase dois metros; o gavião-real é incontestavelmente a -mais possante das rapineiras do mundo. Um dos caracteres decisivos da anatomia dos Falconiformes é a forma do esterno e da cintura escapular; quando se prepara um gavião para coleção é conveniente conservar a seco essa parte do esqueleto em conjunto. A forma do bico varia bastante, sendo notável a presença de dois fortes dentes em cada lado da maxila em característica que lembra (Falconidae). Em vários gêneros ocorre uma fusão das falanges basais do segundo (interno) dedo. possui uma unha pectinada no dedo médio que deve prestar bons serviços na remoção de muco dos moluscos, do qual se alimenta, presos a sua plumagem. As águias têm uma visão duas (não dez) vezes mais apurada que a do homem. Efetuam a muda das primárias do meio para a ponta da asa, ou seja, mudam inicialmente a primeira (mais interna), terminando com a décima (mais externa) - ao contrário dos Fa1conidae cuja muda começa com a quarta primária, daí descendo até.a décima e ascendendo até a primeira. Em espécies grandes uma rêmige individual pode durar dois anos ou mais, de maneira que se acham, ao mesmo tempo, várias gerações de rêmiges em uso. Os Accipitridae possuem geralmente asas mais largas e mais arredondadas do que os Falconidae; eles planam muito, intercalando às vezes algumas batidas rápidas. Os sexos quase sempre se assemelham quanto ao co-
(44)2°
bu oni, que apresenta acentualorido, exceto em do dimorfismo sexual neste plano. Macho e fêmea distinguem-se geralmente pelo tamanho, sendo freqüentemente esta maior que aquele, podendo mesmo ser um terço maior do que seu companheiro, parecendo perten). Esse dicer a outra espécie (p. ex. ccipite e morfismo sexual invertido, mais nítido quando se comparam os pesos e não os tamanhos dos respectivos sexos, é mais pronunciado em representantes como iu , pite e lco, que apanham presas relativamente grandes e ativas (aves) sendo menos pronunciaeo e do em predadores de roedores e insetos como s. O fato da quase ausente em necrófagos como o i ndi do cafêmea ser maior pode basear-se no sal, evitando assim que o macho que é bem mais agressivo, torne-se perigoso para sua fêmea (Amadon 1975). A grande fêmea é melhor defensora da prole, aproveitando esse tempo de repouso para mudar as penas de vôo. A muda das rêmiges leva vários meses, O macho muda após ter criado os filhotes. As aves de rapina freqüentemente apresentam os dois ovários desenvolvidos em vez de apenas o esquerdo como nas outras aves. Imaturos muitas vezes não possuem os caracteres mais distintivos dos adultos; durante muito tempo julcipit p st em plumagem juvenil gou-se que constituísse uma espécie, a qual foi denominada de ipit pe is, sendo tal erro descoberto apenas recentemente, depois de se registrarem ambas as fases de plumagem como espécies independentes por mais de cem anos (Partridge 1961). Os gaviões maiores conservam a plumagem imatura por mais de um ano, razão pela qual observam-se mais indivíduos nesta situação ou em uma plumagem mista, "subadulta". Para complicar ainda mais, ocorrem em algumas espécies fases uieo lbic tus e melanísticas (p.rex. Chond ohie s consta que a fase negra pode aparecer regularmente em indivíduos novos, como no caso de uteo poluosoma dos Andes. Ocorrem entre espécies não aparentadas semelhanças que deixam o observador perplegus diodon xo, como são os casos de bi ou ccipit poliog adulto e t ollei (Falconidae).
I .
\
I' I'
" Os Cathartidae. os abutres do Novo Mundo, os urubus, constando antes como primeira família dos Falconiformes, foram transferidos para os Ciconiforrnes. ~oN~s itens introdutórios das famílias desta Ordem citamos membros da Ordem toda, tendo, nesse caso, a separação em famílias interesse secundário.
',.; r
244
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
É freqüente destacarem-se os "calções" (tíbias) conspicuamente coloridos; da maior importância para a identificação das espécies, são o padrão e colorido da cauda. Plumagem rica em pó, por exemplo, e quando esta última sacode-se levanta uma nuvem de pó. A base do bico, a cera e as pernas são muitas vezes de cor viva.
l Durante o acasalamento emitem seus gritos, semelhantes em várias espécies, sendo geralmente compostos de assobios finos, o que causa estranheza em representantes de grande porte como as águias. Exceção é, p. unicincius que tem um grito baixo, rouco. ex., Certas espécies, por exemplo vocalizam durante todo o ano.
de As espécies brasileiras mostram nítida preferência por artrópodos como gafanhotos, percevejos, formigas, vespas, cupins e aranhas; caçam também répteis, anfíbios e roedores. e outros apanham morcegos; o urubitinga, cobras, mesmo as venenosas. Algumas especializaram-se; os caramujeiros, e Helicolestes por exemplo, são malacófagos, comendo unicamente caramujos aquáticos, o mesmo ocorrendo llus t em relação 'a caranguejos com i e llus em e, em menor escala, com relação respectivamente a caracóis terrestres e peixes. possui uma articulação intertarsal .mais móvel para facilitar a exploração de certas cavidades. Encontram-se também especializações no plano individual, havendo por exemplo indivíduos de e que sabem como encontrar cobras-de-duascabeças animais de vida subterrânea, saindo, eventualmente, na chuva. g e Diversas espécies, tais como l eo ius, procuram queimadas para capturar, no solo ou em pleno ar animais espantados ou intoxicados pela fumaça. gus, , c , gni , , s e outros aproveitam-se das formigas-de-correição (Willis et I. 1983) e dos bandos de macacos, ou quatis como "batedores"; algumas espécies comem ocasionalmente carniça , Ge , ou frutas (El . As grandes fêmeas caçam com freqüência animais maiores do que aqueles apressados pelos machos, evitando-se uma competição. Caso notável é o de eo n s, que imita perfeitamente um simulando, portanto. ser incapaz de atacar presa viva. E. Willis (1966) observou como um , após circular de asas esticadas horizontalmente (como um ) e depois levantando as asas a maneira de
es desceu e apanhou um pássaro em vôo rente a uma árvore isolada; nenhuma ave nos arredores deu alarme - o gavião perfeitamente mimetizado não foi reconhecido como perigo. Um tal mimetismo agressivo (v. Ramphastidae) foi sugerido também para bicolo , hábil caçador de aves, "imitando" diodon, insetívoro (Amadon 1961). Quanto à freqüência do alimento tudo leva a crer que, na natureza, o gavião-real caça apenas duas vezes por semana, exigindo então uma presa mais avantajada como um símio; pode jejuar uma ou duas semanas. Para seu filhote, entretanto, leva comidaurna vez por dia, podendo contudo intercalar intervalos de até cinco dias durante os quais suspende a alimentação (Fowler & Cope 1964). Em geral os gaviões caçam apenas algumas horas por dia (p. ex. três) e seu sucesso é mais limitado do que se pensa, p. ex. 11%, em cipite nisus, grande leuc s, da caçador de pássaros, da Europa. Em Califórnia, foi registrado que 39% das investidas contra roedores foram bem-sucedidas (Warner & Rudd 1975). V. também Falconidae. No que concerne aos métodos empregados na caça, dizemos que as aves de rapina (incluindo Pandionidae e Falconidae) possuem dois principais, a saber: 1) Ficam à espreita em um galho ou qualquer outro poleiro, de onde precipitam-se sobre a presa que porventura se aproxime, no solo ou na água. Estas espécies costumam ter dedos curtos como, por exemplo os h Quando a vítima (por exemde e plo um rato) está no solo é ali literalmente "pregado" pelas garras do predador. Atrativo para eo é o minhocuçu sp.) que pode chegar a um metro ou mais, com diâmetro de até 5cm; fica bem próximo da superfície, saindo do solo em dias de chuva - oportunidade que provavelmente ajudou um apanhar o em São Paulo uma cobra coral falsa o ops I. Sazima). i) e uma jararaca A evolução de um "disco facial", como o que apresentam o gavião-real e o gavião-do-mangue, deve facilitar a localização de suas vítimas através da orientação dada até pelos mais suaves ruídos produzidos, o que lembra as corujas. Variante deste método de caça é quando a ave "peneira" antes de descer sobre a presa ( us, cus, e certos falconídeos, adaptação especial a ambiente onde faltam pousos elevados). Em vez de peneirar, imobiliza-se em pleno ar, permanecendo parado mesmo"vários minutos como se estivesse suspenso por fio invisível, graças ao estratagemade afrontar o vento forte (sobretudo em lugar de serra) com as asas estica das e imóveis; desta maneira escrutina o solo em busca de presas. Outras espécies patrulham voando rente ao substrato a fim de apanhar, p. ex., insetos pousados nas folhas ou caramujos que sobem à flor d'água. Mais uma técnica enquadrável neste item é a empregada por Cho oh e Ge nospi e descrita nos textos respectivos das espécies.
ACCIPITRIDAE
2) Perseguem insetos ou aves que passam voando; ora o caçador procura suas vítimas voando ativamente, ora as aguarda passar pousado em um poleiro lançando-se dali na perseguição. Caçadores deste estilo, por exemplo e costumam ter dedos longos e plantas dos pés ásperas, de modo a segurar melhor a presa que tudo faz para escapar; são capazes de abater vítimas quase do seu tamanho, mas geralmente estas têm , apenas um terço ou a metade do seu peso. os e várias espécies de apanham grandes cupins em revoadat'. e consomem as larvas de marimbondos e os próprios marirnbondos em quantidade. Capturam sua presa com os pés, passando-a em seguida para o bico a fim de devorá-Ia, o que realizam às vezes mesmo sem empoleirarern (p. ex. e quando caçam saúvas em revoada). Presas pequenas são engolidas inteiras; apenas quando pegam uma ave maior nas garras é que lhe arrancam pelo menos as rêmiges e retrizes antes de comê-Ia; é interessante observarmos com atenção tais restos espalhados pelo chão, pois estes podem nos proporcionar dados muito úteis tanto sobre o caçador como da caça. As várias espécies e certos indivíduos desenvolvem técnicas próprias de lidar com as presas; um gavião-preto g por exemplo, devorou apenas as grandes pernas traseiras de anfíbios apanhados (Espírito Santo). Regurgitam sob a forma de pelotas somente as penas, pêlos e escamas ingeridos pois, ao contrário das corujas, têm geralmente a capacidade de digerir ossos. Costumam produzir uma pelota diária, dependendo das circunstâncias. Quanto a especializações aerodinâmicas relativas à caça há, nos gaviões, três tipos principais: 1)Asas curtas e redondas e cauda longa, conjunto próprio para facilitar as manobras dentro da mata fechada; , , e por exemplo. 2) Asas compridas e largas de "pontas abertas" (últimas primárias discerníveis durante o vôo) tal como os urubus, cauda curta, conjunto apropriado para planar em espaços abertos; , , etius, tal qual os urubus. , 3) Asas estreitas e fechadas, cauda média, exímios caçadores em vôo acima da mata ou no campo aberto, por exemplo, e . . As aves de rapina geralmente não bebem, no que são semelhantes às corujas.
Há exibições aéreas do macho (p. ex. em e sabemos pouco sobre a eo nidificação dos representantes brasileiros. espécie campestre, -constróí sobre árvores ou rochas entre gravatás; os gaviões-do-mangue, 21
Quando
245
no solo em pântanos. O caramujeiro nidifica freqüentemente em colônias, às vezes instaladas nos juncais; H faz ninho grande como o do jaburu, acontecendo ser o mesmo utilizado uma vez pelo gavião e outra pelo ciconídeo. o s reproduz em escarpas rochosas. Ovos geralmente manchados, de cor muito variável, até dentro de uma mesma postura. Ovos uniformemen, Buieo te brancos ou branco sujo são a regra em us, B. nitidus, g o , etus, s e Ge o , mas também g e o s. ocorrem manchados em e Um ovo de ainda não sujo, era de cor cinzenta com forte caiação branca preenchendo os poros dispostos por toda a superfície. A variação é tão grande que a presença ou ausência de desenhos nos ovos de acipitrídeos tem pouca importância taxonômica. co atinge 100 g, senUm ovo de do 10 g concernentes à casca; um de chega aos 113g enquanto o de Co g (Cathartidae) atinge 105 g. Algumas espécies põem um único ovo (p. ex. eog e e u ellus nig ollis). O tempo de incubação, em uma espécie pequena s, é de 30 a 32 dias chegando, nas como espécies grandes, a 50 dias ou mais 52 dias). Embora haja freqüentemente dois ovos é comum desenvolver-se apenas um filhote (p. ex. na pi ). Consta que na eliminação do segundo contribui decisivamente o intervalo de eclosão entre os dois pintainhos e a índole agressiva do filhote mais crescido ("cainismo"). Se o primeiro filhote já é bem ativo quando nasceu seu irmão menor, este tem pouca chance de sobreviver. s g ensis que vigia o ninho A fêmea de (como tantas vezes é o macho que se encarrega da comida) consegue regularmente um galho com folhas verdes que distribui no ninho, além de limpar o ninho dos restos de comida (Bierregaard 1984). Os filhotes das espécies grandes dependem de cuidados paternos durante meio ano ou mais, tornando-se adultos apenas com 2-3 anos de idade. Pode acontecer de se reproduzirem enquanto ainda ostentam a plumagem imatura (p. ex. em o s). As espécies grannão nidificam todos os anos; elas nedes como H cessitam bem mais que um ano para completar um ciclo de reprodução. Uma vez que criam apenas um único filhote, têm um índice muito baixo de proliferação. Como predador do junho de phnus cita-se a irara, da família dos mustelídeos.
e desaparecem das regiões mais austrais (do Espírito Santo para o sul) durante o nosso inverno; consta que também o gavião-real seja migratório no Rio Grande do Sul. Em Sapucaia do Sul, Rio Grande
oides apanha em vôo uma lagarta na folhagem,tira-ajunto coma respectivafolha,deixandoesta logodepoiscair.
", ,
~ ~
t
I
246
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
do Sul, avistou W. Voss em outubro milhares de indivíduos de caramujeiros, vindos do norte, e se dirigindo ao sul, voando contra o vento forte reinante; consta que abandona a região do Taim nos meses de abril e maio. Alguns Accipitridae norte-americanos atingem o eo Brasil como visitantes s e B. O encontro de suninsoni predominantemente no Brasil ocidental e austral (entre eles quatro indivíduos anilha dos nos EUA) sugere que esse gavião tem uma rota semelhante àquela de certos maçaricos norte-americanos (como que seguem da Venezuela diretamente ao alto Amazonas e ao Brasil Central, atingindo a costa do Atlântico no Rio Grande do Sul. Ocorrem deslocamentos crepusculares entre os caramujeiros quando estes se reúnem para dormir em certos capões alagados. Tais migrações locais se observam também nos chimangos.
e São freqüentes dípteros hipobóscidos; por exemplo, abriga sobre polio 11is achamos duas outras espécies, . e sendo a primeira encontrada também em e Foi descrita uma microfilária do sangue de (Mazza et 1927).
de Certos pássaros lançam um grito especial de alarme quando aparece um rapineiro (ver também em corujas); nem sempre discernem se um gavião lhes é perigoso ou não (v. sob andorinhas). Desta maneira, por exemplo, assusta-se com um caranguejeiro, que consome exclusivamente crustáceos, e andorinhas-de-casa, , atacam caramujeiros, aves excl usivamente malacófagas. Na realidade para eles existe apenas um padrão generalizado de "ave de rapina" que lhes causa terror. É divertido ver como um carrapateiro, falconídeo lerdo por natureza, acelera seu vôo, faz curvas abruptas e deixa-se até cair um bom pedaço, fugindo de um suiriri impertinente, que segue rente à sua cauda. Gaviões maiores causam inquietação em rapineiros de menor porte; vimos por exemplo o chimango perseguir carcarás. gaviões-caboclo, águias-chilenas e mesmo urubus.
do
o
Foi registrado na Amazônia, através de radiotelemetria, que o peixe-boi, inunguis, gosta de deterse sob pernoites coletivos do caramujeiro, os
(R. Best). Aparentemente isto é um fenômeno semelhante ao registrado por nós em colônias de garças: as fezes acumuladas por baixo dessas colônias de aves, provocam um enriquecimento de nutrientes adicionais, favorecendo o desenvolvimento de mais plantas e animais aquáticos.
,
declínio,
São freqüentemente acusados de apanhar animais domésticos; de fato acontece, pegarem um pinto ou uma rola e até um frango ou pombo, mas não resta dúvida que tais "estragos" são amplamente compensados pelo grande número de animais "sem valor" ou até "nocivos" que consomem, classificação aliás antiquada e inadequada, indigna de um povo culto. Ressalte-se o fato das aves de rapina terem papel indispensável no equilíbrio da fauna como reguladores da seleção. Auxiliam a evitar uma superpopulação de roedores e aves pequenas além de eliminar indivíduos defeituosos (antes mesmo que estes passem seus defeitos à descendência) e doentes, evitando assim epizootias. Verificou-se, na América do Norte, que nas regiões onde os rapineiros declinaram, as populações de roedores aumentaram rapidamente. Há alguns casos raros em que aves de rapina (p. ex. o carcará, Falconidae) podem realmente tornar-se prejudiciais. Nomes populares de gaviões tendem a realçar a periculosidade dessas aves ("gavião-pegapinto", "pega-macaco", etc.). Os gaviões em sua maioria estão ameaçados pela destruição ambiental e caça indiscriminada. O caramujeiro é indiretamente expulso pela introdução da (Cichlidae), pois estes peixes herbívoros eliminam as plantas aquáticas que são o hábitat dos caramujos, único alimento do acipitrídeo, sendo prejudicado, além disso, pelo incessante processo de destruição dos banhados ante aos avanços agrícolas e rodoviários. Sobre a eliminação do caramujeiro por biocidas v. Poluição, nos capítulos introdutórios desse livro. Faltam-nos indicações sobre os efeitos funestos dos inseticidas entre os rapineiros brasileiros mas tudo nos leva a crer que tais já existem; os mais ameaçados seriam aqueles que vivem de pássaros e peixes (v. Pandionidae), predadores de mamíferos geralmente não são prejudicados. A concentração de pesticidas nos ovos e filhotes de s da Flórida é impressionante (Sykes 1985). Até há pouco tempo instituições científicas e colecionadores particulares de ovos tiveram papel bastante daninho em relação às aves de rapina. Sugerese a marcação dos ovos de espécies cobiçadas, tornando-os desinteressantes para os coletores, sem afetar os embriões (Olsen et l. 1982). Destacamos o fato de que os silvícolas, embora utilizem as retrizes e rêmiges das espécies grandes para a confecção de cocares e guarnição de setas, não constitu-
..
ACCIPITRIDAE
em ameaça. Índios do Xingu (Mato Grosso) mantêm um gavião-real cativo a fim de aproveitarem-se de ~uas penas de vôo (uma primária atinge 50cm), garantmdo assim sua fonte de penas e, ao mesmo tempo, poupando a vida de outros indivíduos. Estes índios desconhecem a arte de caçar com aves de rapina, de preferência falcões, treinadas (falconaria, altanaria), praticada tanto no Velho Mundo como por aborígines sul-americanos (Chile, Peru). Consta que "açores" foram levados daqui para Portugal a fim de serem empregados em tal mister (Sick 1960).. Os construtores do Palácio do Catete foram bem intencionados ao mandar esculpir uma ave de rapina com topete um tanto exagerado, tendo em mente, sem dúvida, o gavião-real. O Teatro Municipal, do Rio de Janeiro, ao contrário, foi decorado com uma águia estrangeira, o que pode ser justificado pelo palco internacional da casa. Uma das espécies pouco ou não atingidas pelas atinis is. vidades humanas é o gavião-carijó, Os 'representantes pequenos de e vivem tão escondidos nas matas mais fechadas que freqüentemente sua presença nas imediações das cidades nem é percebida. [Neste caso está um indivíduo de cipit siriaius que vivia nos jardins da casa do paisagista Burle Marx, nos subúrbios da cidade do Rio de Janeiro, bem longe da Floresta da Tijuca F. Pacheco).] O gavião-de-rabobranco, eo tus, amplia sua área de distribuição aproveitando-se do desmatamento; outra espécie , aumenta suas populações em várias campestre, partes da extensa região onde ocorre (Eisenrnann 1971).
a.
5) Gavião-do-mangue e gavião-pernilongo, respeccus (2), aves paludícolas e cosmotivamente gêneros politas, e G nosp (1), neotropical. Gaviões delgados, fêmea maior que o macho.
PENEIRA,
35cm. Espécie de asas e cauda longas; partes superiores cinza-claros como as de uma gaivota, coberteiras superiores das asas formando larga mancha negra, lados da cauda brancos. Partes inferiores brancas com uma nódoa negra alar na região da-mão. Imaturo estriado, com as costas pardas. Caça peneirando demoradamente contra o vento, examinando o solo a uma altura de cerca de 30 metros; mantém as asas bastante elevadas e os pés pendentes com os dedos feçhados. Come pequenos mamíferos (Marsupialia, p. ex., jupatis; Rodentia, v. Introdução), lagartixas e insetos. Nos campos com árvores esparsas, pousa sobre fios balançando a cauda. Da Argentina e Chile à América do Norte; todo o Brasil [restrito na Amazônia], tornando-se localmente numeroso, o que foi anteriormente registrado também nas Américas do Norte e Central, beneficiado pelos avanços das zonas agrícolas; aparece mesmo em zonas abertas dentro de cidades como o Rio de Janeiro (Ilha do Governador), Brasília (Distrito Federal) e PortoAlegre(Rio Grande do Sul). "Cavião-peneirad or". "Gavião-peneira'", "Penereiro-cinzen to?".
GAVIÃOZINHO,
dos (
de espécies
b
s
ênteses)
1) Grupo dos chamados "kites" nos países de língua inglesa: (1), (1), (1), ptodon (1), (1), gus (2), (2), (1) e Helicolestes (1); são gaviões relativamente dóceis, geralmente insetívoros ou vi:rendo de moluscos, Sociáveis em parte; sexos iguais. A exceção de s, todos os outros são restritos às Américas. 2) c (4), gênero rico em espécies no Novo e Velho mundo; de asas redondas e cauda longa, são exímios caçadores; fêmea bem maior que o macho. 3) uteo (6) e afins: po nis (1), st (1), G n ius (1), uteo (1), (6), us ellus (3) e etus (1). De asas longas e (1), uteog largas e cauda curta, disposição própria para o planar. Sexos semelhantes. De todos os gêneros supracitados, apenas ocorre no Velho Mundo. 4) Cav iôe s-d e-p errach o, "águias" americanas: o us (1), (1), iu (1) e tus (2). Caçadores poderosos, fêmea maior que o macho. Ge o e (v. item anterior) também podem ser designados como "águias".
247
G
ps
nsonii
Pr.
8,4
22cm, 113 g (fêmea). Menor gavião do Brasil, tem o tamanho de um sabiá, aparentado a e El "kit-kit-kit", "tzi ü, ü, ü ü". Come insetos, pequenas aves e lagartixas que espreita empoleirado; quando pousado sacode a cauda; costuma planar a grande altura. Habita à beira de rios e o cerrado. Ocoire da América Central ao norte da Argentina; Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, atingindo também o oeste de Minas Gerais (São Francisco) e o oeste de São Paulo. No aspecto geral assemelha-se a um falcão o que é confirmado pelo ritmo da muda (razão pela qual preferíamos incluí10 nos Falconidae), porém pormenores anatômicos.e a .. " fauna de malófagos desta ave indicaram tratar-se de um parente dos "kites" (Plótnik 1956). "Cri-cri" (Pantanal matogrossense).
GAVIÃO-TESOURA,
oides [orficatus -Pr- 7, 1
60cm, envergadura 120cm. Único pela cauda profundamente forcada à semelhança do tesourão, g Corpo fino, pernas e dedos curtos. "bit-dluid-dluid". Voa tranqüilo sobre a mata, freqüentemente em bandos, à procura de revoadas de cupins ou formigas; em tais ocasiões também pousa sobre os cupinzeiros para en-
t
I~ "l r
I
248
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
golir OS insetos que saem em massa para o nupcial. Seu normal lembra o de uma gaivota. Passa rasante sobre as árvores em busca de lagartas, lagartixas e mesmo frutas do murici sp.) e do camboatá vermelho l também dá caça a cobras-cipó e rãs. Apanha vespas com grande ferrão. Dorme em árvores altas e desfolhadas. Nas regiões sulinas emigra no inverno, o mesmo dando-se com as populações serranas do Espírito Santo; em conseqüência de tais deslocamentos aparecem periodicamente em bandos maiores. Ocorre da América do Norte à Argentina; todo o Brasil. Observamos ainda que a forma norte-americana, forficaius, distingue-se do nosso pelas asas e cauda mais longas e dorso de brilho esverdeado ou azulado ao invés de purpúreo; inverna 'na América do Sul; um filhote anilhado na Flórida, em 17 de junho de 1965, foi abatido em Curiúva, Paraná, em 22 de dezembro do mesmo ano (Mager 1967); outros exemplares marcados foram encontrados em Mato Grosso (outubro, novembro).
e insetos; também caça pulando de galho em galho. Circula em vôos de reconhecimento. Ocorre do México à Argentina, localmente no Brasil para o sul até Paraná, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. "Gavião-de-bico. de-gancho". V. Ge
diodon
GAVIÃO-BOMBACHINHA,
33cm. Parece ser "imitado" por cipite bicolo tus (v. Métodos de caça). Cinzento, com as coberteiras inferiores das asas (vôol) e os calções castanhos uniformes tendo (como H. bide uma listra preta na linha mediana da garganta. Imaturo de partes inferiores estriadas e calções castanhos. assobio rítmico "wiuwíu-wít", voando acima das matas. Come grandes insetos (p. ex., cigarras ou esperanças, Pacheco 1988); associa-se ocasionalmente as coortes das formigas-decorreição, Eciton. Habita a mata não muito densa. Ocorre das Guianas ao Paraguai, Argentina e Brasil nas regiões Norte e Centro-Oeste (localmente), Leste e Sul. Ver e bicol , . e .
GAVIÃO-DA-CABEÇA-CINZA,
54cm. Espécie florestal pouco comum fora da Amazônia. Cabeça cinzenta, dorso anegrado, partes inferiores brancas sendo a face inferior da cauda e asas barradas de negro; imaturo de cabeça e coberteiras inferiores das asas brancas, boné preto. gutural "kjo, kjo, kjo...", Come insetos, lembrando eH inclusive marimbondos, rãs, lagartixas arbóreas, e passarinhos. Florestal, espreita abertamente de um galho.
Ocorre do México a Argentina, regiões floresta das de todo o Brasil, inclusive Rio de Janeiro (Teresópolis, Serra do Mendanha, às portas da cidade do Rio de Janeiro, Pacheco 1988), São Paulo (Boracéia e zona litorânea, por exemplo) e Rio Grande do Sul. Consideramos o , descrito do Nordeste uma variedade desta espécie altamente variável (Foste r 1971), embora exista opi1987). nião contrária (Teixeira et
CARACOLEIRO,
Ch
hi
uncin
Pr. 9, 3 42cm. De asas compridas e largas, cauda longa e bico notavelmente adunco e forte. Loros com uma mancha laranja viva, olhos brancos. Plumagem muito variável, freqüentemente de par~es superiores pardas e partes inferiores transfaciadas de cinzento (adulto); há exemplares negros com duas faixas cinzentas na cauda e outros de abdômen inteiramente branco. Imaturo com colar' ferrugíneo. hê-tetetete". Espreita dissimuladamente, pousado a média altura na mata, beira de brejo, etc., para capturar caracóis que engole com casca, ao contrário do caramujeiro. Apanha caramujos arborícolas e os grandes lus terrícolas, come também aranhas
RIPINA,
H
Pr. 8,2
33cm. Gavião pequeno, atarracado, de bico grosso com dois dentes. Partes superiores e lados da cabeça cinzentos, partes inferiores ferrugíneas, abdômen e calções barrados de branco, garganta "bipartida" (v. espécie anterior); fêmea mais distintamente barrada no lado inferior. Imaturo pardo no lado superior e branco estriado no inferior, tendo os calções uniformemente brancos. Freqüenta diversos estratos arbóreos; espreita insetos e lagartixas tanto dentro da mata como em sua orla; tem índole um tanto preguiçosa assim como a espécie anterior. Ocorre do México a Bolívia e Brasil na Amazônia e no leste do Brasil, nas florestas de baixada de Pernambuco ao Rio de Janeiro. Compare o imaturo com is e o anterior. "Gavião-ripina*".
SOVI,
Pr. 7, 4
34cm. Espécie pequena e comum, de asas estreitas e . Inteiramente cincompridas podendo lembrar um za-ardósia com a face inferior das primárias intensamente castanha; olhos vermelhos como na espécie anterior; pernas alaranjadas. Imaturo de partes inferiores brancas estriadas, tendo manchado também de branco o vértice. "hí-hi hr-hi". "rjip-tjip". Caça formigas, cupins e outros insetos em pleno vôo apanhando-os com seus pequenos pés (que freqüentemente ficam pendentes), comendo-os em pleno ar; procura queimadas onde apa~ nha pequenos répteis no solo (Minas Gerais). Gosta de associar-se em bandos. Ocorre do México à Argentina; todo o Brasil, desaparece do leste e do Sul durante o inverno. "Cavião-sauveiro", "Gavião-pomba", "Sauveiro*".
ACCIPITRIDAE
[SAUVEIRO-OO-NORTE
1, Ictini
s
VN [34-37cm] Periodicamente vem da América do Norte. Distingue-se da anterior pela ausência de castanho nas rêmiges, cauda escura uniforme e pelos tarsos escuros, pardacentos e não-amarelos. Meridionalmente chega até a Argentina. Um exemplar anilhado no Texas foi recuperado na Bolívia (Davis 1989), passando portanto pelo Brasil. [Recentemente foi divulgado uma observação específica para território brasileiro: arquipélago de Anavilhanas,21 de novembro de 1985 (Stotzet al. 1992).] CARAMUJEIRO,
soc
Pr. 7, 7
41cm. Espécie paludícola inconfundível, bico extremamente adunco. Macho cinza-ardósia com a base da cauda branca, sendo' visível tanto por cima como por baixo; cera e pés laranja. Fêmea e imaturo com faixa supraocular e garganta esbranquiçadas além do lado inferior estriado de creme, podendo lembrar um imaturo de carrapateiro ou de gavião-caboclo. balido iiga-ga-ga-ga" ou grito "korra", Malacófago, vive do molusco aquático chamado "ar uá" Ampullariidae), sendo absolutamente dependente da existência destes gastrópodes. Procura-os sobrevoando os banhados, descendo de pernas pendentes para arrebatá-los com um só pé, passando-os às vezes para o bico em seguida; caso apanhe uma concha vazia deixaa simplesmente cair. Uma vez de posse de uma presa empoleira-se para comer; segura o caramujo entre os dedos de um ou ambos os pés e introduz a recurvada e afilada maxila entre a face interna do opérculo e a colurnela, cortando o músculo columelar, o que afrouxa
imediatamente a resistência do molusco; desprende então toda a lesma da concha engolindo-a enquanto a casca vazia, ilesa, vai ao chão. Esta habilidade chegou inclusive a sugerir a Hugo de Souza Lopes do Instituto Oswaldo Cruz, Rio, uma perfeita técnica de obtenção das partes moles sem destruição da casca, utilizando uma lâmina exatamente com a forma do bico do caramujeiro (Lopes 1956). Ao redor de um pouso predileto (que pode ser um mero monte de terra) acumulamse cascas e opérculos de presas, estes em menor número, pois apenas ocasionalmente são arrancadas pela ave. Localmente, p. ex. no Pantanal, Mato Grosso, (como também na Venezuela), caranguejos do gênero Diloc inus são capturados; na Flórida, EUA, foi registrada uma pequena tartaruga (Beissinger 1990). V.o carão, Pernoita aos bandos, que podem ser grandes, em banhados extensos, chamando a atenção quando confluem para os pontos de dormida no crepúsculo. Nidifica freqüentemente em colônias; realiza no períodoreprodutivo elegantes vôos de exibição, como, por exemplo, piques e "loopings". Ameaçado pela aplicação de biocidas etc., v. Intrcdução, também migrações. Da Flórida e México à Argentina e Uruguai, todo o Brasil
onde quer que haja pântanos. "Gavião-de-aruá" pá), "Gavião-caramujeiro*".
GAVIÃO-OO-IGAPÓ*,
Helicolestes
249
(Ama-
s
[37-41cm]. Espécie amazônica similar a ost us (às vezes colocada no mesmo gênero)que possui o mesmo tipo de bico, vivendo exclusivamente às expensas de moluscos aquáticos. Inteiramente cinzenta sem branco; região perioftálmica e base do bico amarelo-laranja, íris branca (não escura como no anterior); tarso amarelo ou vermelho. O imaturo apresenta de duas a quatro faixas brancas na cauda, tarso preto. Dá suas investidas sempre a partir de um poleiro, técnica pouco adotada pelo anterior. Do Maranhão, Amapá (Macapá) e Pará (Belérn, Santarém) até o Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela e Guianas. [Relativamente freqüente na Estação Ecológica Mamirauá, médio Solimões, Amazonas onde recebe o mesmo nome vulgar "Gavião-bicode-gancho" utilizado para osih us bilis (J. F. Pacheco).]
GAVIÃO-BOMBACHINHA-GRANOE,
ipi t
_35cm. Espécie florestal de partes superiores acinzentadas e partes inferiores cinza-claras. Calções e coberteiras inferiores das asas castanhas, estas últimas podendo ser brancas, sobretudo na população amazônica. Vimos um exemplar, no Espírito Santo, associar-se a um bando de Cebus a fim de apanhar insetos espantados pelos símios e presenciamos um outro caçar um sabiálaranjeira (Rio Grande do Sul). Do México à Argentina e Chile, todo o Brasil. No Brasil cisamazônico ccipite bicolo pil us semelhante ao H p gus diodon (v.Alimentação). "Gavião-bombacha*".
GAVIÃO-MIUDINHO,
ccipit
supe ciliosus
26cm. Uma das menores rapineiras. De cauda relativamente curta, tem as partes superiores cinza-ardósias sendo as inferiores e calções brancos densamente fasciados de estreitas faixas pardacentas lembrando tu iicoilis (Falconidae). Vive em mata baixa e emaranhada, também em florestas altas nas copas das árvores. Hábil caçador de aves, apanha também beijaflores. Ocorre da América Central à Argentina; grande. parte do Brasil, indo da Amazônia (p. ex. Serra do Cachimbo, Pará) ao Sudeste e Sul (Santa Catarina),
TAUATÓ-PINTAOO,
cipit
pol
i ,
49cm. O mais robusto representante do gênero. Partes superiores negro-pardacentas, partes inferiores brancas, cauda barrada de negro. O imaturo, considerado até
,
250
ORNITOLOGIA
BRASILEIRA
há pouco como espécie independente, . lembra quanto ao colorido o gavião-de-penacho, (v. este e Introdução). De ocorrência local; pouco conhecido. Ocorre do norte da América do Sul a Bolívia e Argenhna; Brasil amazônico e centro-meridional, inclusive no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
GAVIÃO-MIúDo,
Fig. 73
30cm. Espécie pequena (o macho tem somente o porte de um sabiá), excepcionalmente delgada, tendo a cauda e dedos muito longos e o corpo delicado. Flancos e calções ferrugíneos uniformes. Caça pequenas aves. O alimento de um nos EUA constitui-se em 97,7% de aves e 2,3% de mamíferos (Storer 1966). Embora geralmente mantenha-se oculto na mata fechada, ocasionalmente voa abertamente de uma mata a outra exibindo então as partes inferiores barradas; também freqüenta as cercanias de habitações. Ocorre da América do Norte à Argentina; Brasil central e merídio-oriental (inclusive o ex-Estado da Guanabara) até o Rio Grande
GAVIÃO-DE-RABO-BRANCO,
Pr. 9, 6 55cm. Espécie campestre grande relativamente comum em lugares abertos. De asas compridas e largas e cauda curta, branca com faixa negra subterminal; grande mancha ferrugínea nas escapulares. O branco das partes inferiores por vezes estende-se até o mento. Há indivíduos totalmente negros mas com a cauda branca; imaturo de cauda cinzenta finamente barra da de preto e ventre manchado. "gliii klia-klia-klia", "güli ..." sendo este último grito emitido durante seus imponentes vôos nupciais. Come grandes insetos, sapos (p. ex. dos quais retira apenas as pernas), ratos, gambás e cobras; apanha após a chuva minhocões Glossoscole gig nteus (Oligochaeta) que podem atingir mais de um metro (Itatiaia, Rio de Janeiro). Plana muito. Habita regiões campestres, cerrado, buritizais, campos de altitude (p. ex. no Itatiaia). Ocorre do México à Argentina; na Amazônia apenas em algumas áreas campestres (Marajó, Amapá e Roraima). Amplia sua ocorrência no leste do Brasil favorecido pelo desmatamento; pode aparecer dentro de um grande centro urbano (cidade do Rio de Janeiro). "Gavião-fumaça". V. (que tem cauda semelhante) e "Cavião-de-cauda-branca=",
Fig.73.Gavião-miúdo, fêmea imatura.
s como do Sul. [Foi proposto recentemente tratar . superespécie composta de quatro aloespécies, cuja forseria a única ocorrente no Brasil ma . (Sibley & Monroe 1990). O seu encontro recente no sul do Ceará estende ao Nordeste sua área de dispersão (Pacheco & Whitney 1995).]
ÁGUIA-CHILENA,
em vôo, mal sobressai do contorno.posterior das asas que são muito largas; cabeça bastante protusa. Partes superiores ardósias, as coberteiras superiores das asas formam larga área cinza-esbranquiçada: partes inferiores brancas, papo pardacento. Imaturo estria do apresentando a cauda mais longa. São citados como presa: pequenos mamíferos, répteis e aves. Encontramo-lo comendo carniça; foi visto quebrar um ninho de joão-de-barro .para tirar-lhe os filhotes. Grande planador. Vive em regiões campestres e montanhosas. Ocorre da Terra do Fogo pelos Andes até a Colômbia e Venezuela; também chega ao Brasil no Rio Grande do Sul (nidificando), Santa Catarina, Paraná e, ocasionalmente, por exemplo em São Paulo, Minas Gerais (Caraça, julho de 1974 e Serra do Cipó), noroeste da Bahia (agosto de 1976), Piauí (Sick 1979), Rio Grande do Norte (nidificando, outubro) e Maranhão.
noleucus
66cm, envergadura de quase dois metros. Espécie meridional de grande porte tendo a cauda tão curta que,
GAVIÃO-DE-RABO-BARRADO,
SOcm.Em vôo imita quase perfeitamente um urubude-cabeça-vermelha, distinguindo-se pela cabeça emplumada de negro e não glabra e "seca" como a do e pela cauda mais retangular atravessada por três marcantes faixas cinzentas; lado inferior das asas com o padrão típico de duas cores distintas exatamente como em C es. Ima turo de cauda finamente barrada. Lança-se sobre pequenos animais terrícolas (v. Introdução). Vive nas paisagens abertas, por exemplo, na caa-