MARCUSE, Herbert. O caráter afirmativo da cultura .
1 - Cultura na filosofia antiga
Na filosofia antiga a relação da cultura com a pr!is era um dos elementos essenciais. Arist"teles. Na luta pela e!ist#ncia os $omens necessita%am da busca pela %erdade, por&ue a eles não est re%ela do o &ue ' bom, con%eniente e (usto. Contudo, embora Arist"teles defendesse o carter prtico do con$ecimento, ao mesmo tempo institu)a uma separação definida entre os con$ecimentos. Estabelecia uma ordem de %alores &ue ia desde os con$ecimentos prticos at' o pensamento filos"fico, o mais ele%ado. Começa a&ui a separação entre o necessrio e o belo. Essa di%isão dei!a o camin$o aberto para o materialismo da classe burguesa de um lado e, por outro, para a satisfação da felicidade no plano e!clusi%o da cultura. Argumenta*se &ue a felicidade não pode ad%ir das con&uistas materiais, pois estas são fruto do acaso, e &uem se abandona a isso torna*se escra%o dos $omens e das coisas. Mais ainda, a filosofia se preocupa com a felicidade dos $omens e a eudaimonia ' o ponto mais alto alme(ado por ela+ ou se(a, da materialidade não se pode sacar a felicidade, para isso tem*se &ue transcender a facticidade. E igual ao mundo f)sico, a alma tamb'm ' di%idida em superior e inferior ra-ão e sensibilidade. Classifica*se do uni%erso sens)%el como mau não por si mesmo, mas por&ue se situa numa ordem m. As partes inferiores da alma ligam o $omem gan/ncia e a posse, compra e %enda. 0or isso 0latão c$ama a parte apetiti%a da alma, a&uela &ue se dirige ao pra-er sens)%el, a amante do dine$rio, por&ue a satisfação de apetites desse tipo são satisfeitos pelo din$eiro. Em todas as definiç1es do mundo antigo est presente uma noção &ue considera a inferioridade da realidade social na &ual a pr!is não participa do con$ecimento da %erdade. 2 mundo do %erdadeiro, do bom e do belo ' considerado um mundo ideal na medida em &ue se situa mais al'm do uni%erso da satisfação das necessidades. E na medida em &ue a reprodução da %ida material se reali-a sob o signo da mercadori a, criando continu adamente a mis'ria na sociedade de classes, então o bom, o belo e o %erdadeiro transcendem essa %ida. 0or trs dessa separação est não somente o rec$aço, mas tamb'm a defesa de uma forma de $ist"rica e!ist#ncia. 2 mundo material ' mera materialidade, ligada mais ao não ser do &ue ao ser e &ue se torna realidade somente na medida &ue participa do mundo 3superior4. A separação dos %alores trs consigo uma despreocupação da filosofia idealista com a materialidade. partindo de uma determinada forma $ist"rica da di%isão social de trabal$o e da
di%isão de classes, se cria uma forma eterna, metafisica, das relaç1es entre o necessrio e o belo, a mat'ria e a %ida.
2 – Cultura na época burguesa
5ransformaç1es dessa ideia na 'poca burguesa Ao in%'s da teoria de &ue cada um est predestinado a um determinado trabal$o, surge agora a tese da uni%ersalidade da cultura. 6ogo, se a relação de cada indi%)duo com a mercadoria 7capitalismo8burguesia9 ' imediata, tamb'm o de%e ser a relação com a bele-a e a cultura superior. Assim como na pr!is material se separa o produto do produtor e o torna independente sob a forma geral do 3bem4, assim tamb'm na pr!is cultural se consolida a obra, seus conte:do em uma 3%alo r4 de %alidade uni%ersal. Sem distinção de se!o ou nascimento, ou sua posição no processo de produção, todos os indi%)duos t#m &ue se submeter aos %alores culturais. Conceito de cultura ; este conceito se refere ao todo da %ida social na medida em &ue tanto o /mbito da reprodução ideal, como o da reprodução material constitu em uma unidade $ist"rica, diferenç%el e apreens)%el. Conceito de cultura < em outra definição, o mundo espiritual ' completamente abstra)do da totalidade social e dessa maneira se ele%a a cultura a uma categoria de falso patrim=nio coleti%o e uni%ersalidade. Esse conceito contrap1e a parte material da ideal. Conceito > dessa :ltima definição surge o conceito de cultura afirmati%a, a&uela &ue pertence 'poca burguesa e &ue ao longo de seu pr"prio desen%ol%imento condu-iu a uma separação do mundo an)mico*espiritual, en&uanto reino independente de %alores, da ci%ili-ação, colocando a&uele por cima dessa. Sua caracter)stica fundamental ' a afirmação de um mundo %alioso, obrigat"rio para todos, &ue $ de ser afirmado incondicionalmente e &ue ' eternamente superior, essencialmente diferente da luta cotidiana pela e!ist#ncia, mas &ue todo indi%)duo 3desde sua interioridade4, sem modificar a&uela situação fat)dica, pode reali-ar por si mesmo. Contudo, ao internali-ar o gratuito e o belo e transforma*los, mediante a &ualidade da obrigatoriedade geral e da bele-a sublime, em %alores da burguesia, se cria no campo da cultura um reino de unidade e liberdade aparentes na &ual se apa-igua as relaç1es antag=nicas da e!ist#ncia. A cultura afirma e oculta as no%as condiç1es de %ida. 2 burgu#s se tornou o portador de uma no%a e!ig#ncia de felicidade ( não ' o representante de generalidades superiores, mas &ue o pr"prio indi%)duo particular de%e, ele mesmo, tomar a seu cargo o cuidado com a e!ist#ncia, a satisfação de suas necessidades. A possibilidade da satisfação de suas necessidades e seus ob(eti%os sem a mediação eclesistica,
social e pol)tica do feudalismo outorga%a ao indi%)duo um /mbito maior de aspiraç1es e satisfaç1es indi%iduais ? um /mbito em &ue a crescente produção capitalista tratou de enc$er com uma &uantidade maior de mais %ariada de ob(etos sob a forma da mercadoria. Com isso, desaparece de imediato o postulado de %alide- uni%ersal da cultura, ( &ue a igualdade abstrata dos indi%)duos se reali-a na produção capitalista como desigualdade abstrata somente uma pe&uena parte dos $omens possui o poder de a&uisição necessria para garantir a felicidade. A igualdade desaparece &uando se trata das condiç1es para garantir a obtenção dos meios. 0ara a burguesia basta%a a liberdade abstrata+ essa era tamb'm a condição &ue garantia o dom)nio da burguesia. 2 destino do $omem &ue não pode reali-ar a liberdade na e!ist#ncia concreta fica fi!ado no n)%el ideal. Contra a ordem feudal 7f' e religião9 a burguesia assentou seu pro(eto na ra-ão e na liberdade. 0or'm, esses ideais não foram mais al'm ao &ue l$es con%in$a, e a cada ata&ue a burguesia respondia com a cultura afirmati%a, essencialmente idealista.
3 – Contraponto da cultura burguesa
Ao mesmo tempo, por'm, o idealismo burgu#s não ' somente ideologia ele cont'm não s" a (ustificação da forma atual de e!ist#ncia, mas tamb'm a dor &ue pro%oca sua e!ist#ncia, não somente tran&uili-a ante o &ue ', mas tamb'm recorda a&uilo &ue poderia ser. A arte burguesa, ao pintar com cores fortes a liberdade e a bele-a dos $omens e das coisas e uma felicidade supraterrena, infundiu na base da %ida burgu#s, con(untamente com o mal consolo e uma bendição falsa, tamb'm uma nostalgia real. Ressaltou &ue um mundo assim s" ' poss)%el com a supressão do atual. @esta maneira, a arte alimentou a esperança de &ue a $ist"ria s" foi at' $o(e a pr'*$ist"ria de uma e!ist#ncia %indoura. E a filosofia tomou essa ideia suficientemente em s'rio como para encarregar*se de sua reali-ação. A cultura de%e tomar para si a pretensão de felicidade dos indi%)duos. 0or'm, os antagonismos sociais &ue se encontram em sua base, somente permitem &ue esta pretensão ingresse na cultura, internali-ada e racionali-ada. A reali-ação, contudo, ada felicidade não pode se dar em um /mbito ideal, &ue posterga sua reali-ação ao não alcanç%el. Somente opondo*se cultura idealista pode*se alcançar essa satisfação. A satisfação dos indi%)duos se apresenta como a e!ig#ncia de uma modificação real das relaç1es materiais de e!ist#ncia. Ainda &ue o idealismo entrega a terra sociedade burguesa e torna irreali-% el suas pr"prias ideias ao conformar*se com o c'u e com a alma, a filosofia materialista se preocupa seriamente pela felicidade e luta pela sua reali-ação na $ist"ria. Essa cone!ão se %# claramente na filosofia do iluminismo.
Contudo, a unidade &ue a arte representa, a pura $umanidade de seus personagens, ' irreal+ ' o oposto da&uilo &ue acontece na realidade social. Nesse sentido, a cultura significa, mais &ue um mundo mel$or, um mundo mais nobre um mundo &ue se pode c$egar sem a transformação da ordem material, mas somente atra%'s de algo &ua acontece na alma do indi%)duo. @esta maneira, a cultura ele%a o indi%)duo sem liberta*lo. A bele-a da cultura ', sobretudo, uma bele-a interna, e a e!terna somente pode pro%ir dela. Seu reino ' essencialmente o reino da alma.
4 – Conceito de Alma
2 interesse da cultura pelos %alores do esp)rito ', desde Heder, um elemento constituti%o do conceito afirmati%o de cultura. Contudo, o conceito de alma &ue ' a base dessa concepção, ' algo mais &ue a totalidade das forças e mecanismos ps)&uicos alude ao ser corporal do $omem em tanto &ue substancia propriamente dita do indi%)duo. 7@efinição alma em @escartes9 sepa ração do eu 7res cogitan s9 em mente, esp)rito , e alma, pai!1es. A alma ' um reino intermedirio, não dominado, entre a auto consci#ncia do puro pensar e a certe-a f)sico*matemtica do ser material. A&uilo &ue depois constituir a alma os sentimentos, os dese(os, os instintos ficam, desde o começo, fora do sistema da filosofia da ra-ão. ant tamb'm não se atre%e a estuda*la. A principal dist/ncia &ue separa a filosofia da ra-ão com respeito a alma di- respeito impossibilidade dessa :ltima participar do processo social de trabal$o. 2 conceito de alma com &ue trabal$a a cultura afirmati%a não %em da filosofia, mas sim da literatura do renascimento o reino da alma, da %ida interior, ' o correlato das ri&ue-as da %ida e!terior recentemente descobertas. Contudo, essa pretensão an)mica se apresenta como uma promessa não cumprida. A ideia de desen%ol%imento natural ficou, mas unicamente como desen%ol%imento interno. No mundo e!terno esses %alores da alma não podem se desen%ol%er li%remente em %irtude das condiç1es impostas por um capitalismo &ue tem como base o sistema de satisfação atra%'s das mercadorias. Com a alma, a cultura afirmati%a protesta contra a coisificação, para, sem embargo, cair nela. Contudo, essa &ualidade negati%a da alma a con%erte na :nica garantia, ainda não maculada, dos ideais burgueses. Em uma sociedade &ue est determinada pela lei dos %alores econ=micos, o ideal &ue situa o $omem por cima de todas as diferenças sociais e naturais, s" pode estar representada pela alma. 0ode e!istir uma alma bela em um corpo enfermo e %ice %ersa. H algo de %erdade na afirmação de &ue o &ue acontece com o corpo não pode afetar a
alma. E essa %erdade ad&uiriu uma forma terr)%el na atualidade. A liberdade da alma tem sido utili-ada para (ustificar a mis'ria, o mart)rio e a ser%idão do corpo. A alma funda uma grande comunidade interna dos $omens atra%'s do s'culos. A educação da alma e sua grande-a unificam, no reino da cultura, a desigualdade e a falta de liberdade da compet#ncia cotidiana, na medida &ue nela aparecem os indi%)duos como seres li%re e iguais. Em primeiro lugar, se contrap1es a alma ao corpo uma submissão dos sentidos ao dom)nio da alma, &ue em :ltimo caso, recai em uma ren:ncia ao pra-er. 2 indi%)duo nessa sociedade ' considerado como uma m=noda independente. Sua relação com o mundo ' uma relação imediatamente abstrata o indi%iduo constitui em si mesmo o mundo ou uma relação abstrata mediati-ada, determinada pelas leis cegas da produção de mercadorias e de mercado. Em todos os casos não supera a alienação do indi%iduo. Sua superação significaria o estabelecimento de uma solidariedade real, o &ue sup1e uma superação da sociedade indi%idualista por uma forma superior de e!ist#ncia social. A alma possui uma caracter)stica conciliadora, de conciliar no /mbito interior o &ue não pode ser conciliado no e!terior. A alma se assusta frente a dura %erdade da teoria &ue assinala a necessidade de transformação da nature-a miser%el da e!ist#ncia. Ela se dei!a abrandar e amansar obedecendo a fatos &ue, em :ltima instancia, tampouco l$e interessam. @esta maneira, a alma pode con%erter*se em um fator :til da t'cnica de dom)nio das massas na 'poca em &ue os estados totalitrios necessitaram mobili-ar todas as forças dispon)%eis contra uma modificação real da e!ist#ncia social. Com a a(uda da alma, a burguesia da :ltima 'poca pode enterrar seus antigos ideais. @i-er &ue o &ue importa ' a alma ' :til &uando o :nico &ue interessa ' o poder.
5 – Cultura afirmativa e arte
2 ideal cultural recol$eu o dese(o de uma %ida mel$or a $umanidade, bondade, alegria. 0or'm, tudo le%a o selo afirmati%o não fa- parte do cotidiano. 5odas essas forças são internali-adas como de%eres da alma indi%idual ou são representadas como ob(etos da arte. Na arte, (ustifica*se por&ue a burguesia somente tolerou a reali-ação de seus pr"prios ideais na arte, e somente a&ui os le%ou a s'rio, como e!ig#ncia uni%ersal. No m'dium da bele-a os $omens podem participar da felicidade. 0or'm, somente no ideal da arte a bele-a foi afirmada com a consci#ncia tran& uila, pois na realidade a&uela tem um poder perigoso &ue ameaça a organi-ação dada da e!ist#ncia. 0erigo de uma sociedade &ue tem &ue racionali-ar e regular a felicidade. A bele-a ', em %erdade, impudica mostra a&uilo &ue não pode ser mostrado publicamente e &ue maioria est negado. Contudo,
&uando o pra-er não est situado na alma, mas em &ual&uer outra parte, então o go-o ( não ' belo e sua e!pressão carece de gosto e graça. Somente no /mbito da bele-a ideal, na arte, pode reprodu-ir*se a felicidade, tanto como %alor cultura no todo da %ida social. A bele-a ideal foi a forma sobre a &ual se podia e!pressar o dese(o e go-ar*se da felicidade+ desta maneira a arte se con%erteu em precursor de uma %erdade poss)%el. A est'tica clssica alemã concebeu a relação entre bele-a e %erdade na ideia de uma educação est'tica do g#nero $umano. Sc$iller di-ia &ue o problema pol)tico de uma mel$or organ i-ação da sociedade de%e seguir o camin$o do est'tico, por&ue ' a bele-a &ue nos le%a a liberdade. Contudo, a bele-a da arte, diferente da %erdade da teoria, ' suport%el em um presente de pen:rias. 0roporciona um instante de felicidade. Buando mostra o camin$o da reforma, não nos consola reconciliando*nos com o presente. Contudo, em um mundo desgraçado a felicidade tem &ue ser sempre um consolo o consolo do instante belo na cadeia intermin%el de desgraças. 2 go-o da felicidade est limitado ao instante de um epis"dio. Mas o instante le%a consigo a amargura de sua desaparição . E dado o al$eamento dos indi%)duos solitrios, não $ ningu'm &ue conser%e a pr"pria felicidade depois da desaparição do instante. Mesmo assim, a cultura afirmati%a eterni-a o instante belo na felicidade &ue nos oferece+ eterni-a o transit"rio. No carter de apar#ncia da bele-a encontra*se a possibilidade de solução. 0or um lado, o go-o da felicidade pode estar permitido somente sob uma forma ameni-ada, ideali-ada. 0or outro, a ideali-ação anula o sentido de felicidade o ideal não pode ser go-ado+ todo pra-er l$e ' estran$o, destruiria o rigor e a pure-a &ue tem &ue possuir na realidade carente de ideais desta sociedade, para poder cumprir sua função de internali-ação e disciplina. 0ara &ue o indi%)duo possa se submeter ao ideal de tal maneira &ue ele reencontre seus dese(os e necessidades fticas como reali-adas e satisfeitas, o ideal tem &ue ter a apar#ncia da satisfação atual. Essa ' a realidade &ue nem a filosofia nem a religião alcançam+ somente a arte consegue ? precisamente pelo m'dium da bele-a. Neste conte!to, o decisi%o não ' &ue a arte represente a realidade ideal, mas &ue a mostre como realidade bela. raças a apar#ncia, $ algo &ue aparece na bele-a da obra de arte, por um instante, o dese(o se torna completo, &uem contempla sente felicidade. E uma %e- &ue essa bele-a tem a forma da obra de arte, ' poss)%el repetir sempre esse instante belo a obra de arte o torna eterno. Se, portanto, por um lado a cultura afirmati%a liberou as relaç1es e!ternas da responsabilidade pelo destino do $omem, por'm, ao mesmo tempo, l$e contrap1e a imagem de uma ordem mel$or, cu(a reali-ação se encomenda no presente. A imagem est deformada, e essa deformação falseis todos os %alores da burguesia. Na arte não ' necessrio fa-er (ustiça
a realidade a&ui o &ue interessa ' o $omem, não sua profissão ou lugar na sociedade. 2 mundo aparece outra %e- como o &ue ' por tra- da forma da mercadoria uma paisagem ' realmente uma paisagem, um $omem realmente uma coisa. Esse aspecto da cultura afirmati%a foi tamb'm utili-ado como forma de doutrinação, de apa-iguamento. Doi necessrio uma educação secular para fa-er suport%el o enorme s$oc cotidiano por um lado, a pr'dica permanente liberdade, a grande-a e a dignidade inalien%el da pessoa, a autonomia da ra-ão, por outro, a $umil$ação, a irracionalidade dos processos sociais. Ao in(etar a felicidade cultural na desgraça, ao ameni-ar os sentidos, se atenua a pobre-a e a precariedade desta %ida, con%ertendo*a em uma sã capacidade para o trabal$o. Este ' o %erdadeiro milagre da cultura afirmati%a os $omens podem se sentir feli-es mesmo &uando não o são. 0ersonalidade a partir de ant, a personalidade ' dona de sua e!ist#ncia somente em tanto &ue su(eito an)mico e 'tico. 2 /mbito da reali-ação e!terna ' muito pe&ueno, en&uanto &ue o interno se torna cada %e- maior. 0ersonalidade ', sobretudo, o $omem &ue renuncia, o &ue imp1e sua reali-ação dentro das circunstancias ( dadas, por mais pobre &ue se(am. 0or'm, ainda &ue se uma forma tão empobrecida, a personalidade cont'm um momento progressista, &ue em :ltimo momento se ocupa do indi%)duo em seu sentido liberal, permite &ue o indi%)duo como pessoa siga e!istindo na medida em &ue não perturbe o processo de trabal$o.
6 – Cultura afirmativa e capitalismo monopolista
Contudo, esse processo se modifica na medida em &ue o c/mbio nas relaç1es de produção, com o a%anço do capitalismo, necessita não mais de uma mobili-ação parcial das forças an)micas do su(eito, como e!plicitado acima, mas sim uma mobili-ação total. A mobili-ação total da 'poca do capitalismo monopolista não ' concili%el com a&uele momento progressista da cultura, &ue esta%a centrado ao redor da personalidade. Começa a auto eliminação. A mudança de conte:do se apresenta de maneira muito clara na ideia de internali-ação a transformação dos instintos e forças e!plosi%as do indi%)duo no an)mico. A cultura afirmati%a $a%ia superado os antagonismos sociais em uma abstrata generalidade interna em sua pessoa, interna, os indi%)duos t#m o mesmo %alor. Mas no :ltimo per)odo da cultura afirmati%a, a comunidade interna se con%erte em uma comunidade e!terna igualmente abstrata. 2 indi%)duo ' locali-ado dentro de uma falsa coleti%idade, sangue, raça, solo. Essa re%ira%olta tem a função de ren:ncia ao e!istente, &ue se torna suport%el perante a apar#ncia de satisfação.
A cultura afirmati%a sempre foi uma cultura da alma, não do esp)rito. 2 esp)rito foi sempre algo suspeito ' mais apreens)%el, mas real e mais e!igente &ue a alma. 2 esp)rito não pode subtrair*se realidade sem anular*se a si mesmo+ a alma pode e de%e fa-#*lo. 2 &ue se p=s em marc$a desde 6utero a educação intensi%a para a liberdade interna se con%erte em falta de liberdade e!terna. Fi%emos em um per)odo da $ist"ria &ue tudo depende de uma enorme mobili-ação e concentração de forças dispon)%eis+ mobili-ação para o mundo do trabal$o, a transformação de toda a e!ist#ncia ao ser%iço dos interesses econ=micos mais fortes. @esde a&ui tamb'm se determinam as e!ig#ncias de uma no%a cultura a necessria intensificação e e!pansão da disciplina do trabal$o representa mostra toda a ocupação com os ideais de uma ci#ncia ob(eti%a e uma arte &ue e!iste somente por si mesma como perda de tempo. E na medida em &ue essa cultura ten$a &ue apontar para o enri&uecimento, embele-amento e segurança do estado totalitrio, le%a consigo os signos de sua função social organi-ar a sociedade de acordo com o interesse de alguns poucos grupos economicamente mais poderosos+ $umildade, esp)rito de sacrif)cio, pobre-a e cumprimento do de%er de uma parte, %ontade de poder, impulso de e!pansão, perfeição t'cnica e militar por outra. Se a anterior formação cultural tin$a &ue satisfa-er o dese(o pessoal de felicidade, agora a felicidade do indi%)duo ter &ue desaparecer ante os ares de grande-a do po%o. Não importa mel$orar a %ida do trabal$ador, mas sim proporcionar*l$e um sentido supremo, fundamental. 5amb'm a&ui a 3formação cultural4 substitui a transformação. Assim, pois, essa redução da cultura ' a e!pressão da grande agudi-açao de tend#ncias &ue a muito tempo se encontra%am na base da cultura afirmati%a. Sua %erdadeira superação não condu-ir a uma redução da cultura em geral, mas sim a eliminação do seu carter afirmati%o. A cultura afirmati%a era a imagem oposta de uma ordem em &ue a reprodução social não dei!a%a nem espaço nem tempo para a&ueles /mbitos da e!ist#ncia &ue os antigos c$ama%am de belo. 2 ponto de partida de toda a filosofia tradicional ' a distinção entre cultura e ci%ili-ação, e a separação da&uela dos processos materiais da %ida. A reincorporação da cultura aos processos sociais ' considerada um pecado contra o esp)rito. Contudo, a reincorporação aconteceu at' agora unicamente sob a forma do utilitarismo, &ue ' e!atamente o re%erso da cultura afirmati%a. 2 :til ' entendido a&ui como a utilidade do $omem de neg"cios, &ue inclui a felicidade na conta dos gastos ine%it%eis, como dieta e descanso. No utilitarismo, o interesse do indi%)duo se une aos interesses fundamentais da ordem e!istente. Sua felicidade ' inofensi%a. Contudo, a afirmação de &ue a cultura se tornou desnecessria, cont'm um elemento din/mico. S" o fato de &ue a falta de ob(eto da
cultura no estado autoritrio não resulta da satisfação da consci#ncia do &ue o manter desperto o dese(o de satisfação ' algo perigoso na situação atual. 5odo o intento de esboçar a imagem oposta cultura afirmati%a esbarra no clic$' ine!tirp%el do para)so terreno. 0or'm, contudo, ' sempre mel$or aceitar esse clic$' e não a&uele da transformação da terra em uma gigantesca fbrica de educação popular, &ue parece sub(a-er a algumas teorias da cultura. Se fala da uni%ersali-ação dos %alores, do direito de todo o po%o aos bens culturais e de mel$orar a educação. 0or'm, isso significaria tão somente con%erter a ideologia de uma sociedade combati%a na forma consciente de %ida de outra, erigir uma no%a %irtude em defeito. Em toda a cultura eu se &ueira erigir $a%er sempre luta, pen:ria e necessidade se não se superar a cultura.